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politizando

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P O L I T I Z A N D O<br />

concreto em crise? Claro que<br />

sim, pois não há trabalho abstrato<br />

que não seja a realização de<br />

um ato de trabalho concreto. Se<br />

não há emprego, não há como<br />

as pessoas que são pedreiros,<br />

marceneiros, mecânicos, etc.,<br />

continuarem a serem o que são<br />

profissionalmente.<br />

A questão, todavia, me parece<br />

ser outra: o trabalho estaria deixando<br />

de ser a categoria fundante<br />

do ser social devido à crise<br />

do capital? Certamente que<br />

não. A crise do capital tem evidenciado<br />

ainda mais claramente<br />

o caráter fundante do trabalho:<br />

pensemos, por exemplo, nos impactos<br />

para a totalidade social<br />

do desemprego.<br />

Politizando: Se o trabalho é a categoria<br />

fundante do ser social por<br />

que ele se tornou alienado e por<br />

que Marx previa a libertação dos<br />

homens e mulheres do trabalho?<br />

Prof. Sérgio Lessa: A primeira<br />

questão refere-se, parece-me, às<br />

alienações que brotam da propriedade<br />

privada. Em relação a<br />

estas: porque o pouco desenvolvimento<br />

das forças produtivas<br />

não possibilitou que a humanidade<br />

fizesse a história de modo<br />

consciente. Durante milênios a<br />

exploração do homem pelo homem<br />

foi a mediação historicamente<br />

mais eficiente para o desenvolvimento<br />

das forças produtivas:<br />

daí porque por milhares de<br />

anos as sociedades de classe<br />

predominaram incontestes...<br />

Quanto ao final da pergunta, seria<br />

interessante que fosse citada<br />

apenas uma frase em que Marx<br />

(ou Engels, ou Mészáros, ou Lukács...)<br />

mencionem a superação<br />

do trabalho que não seja a superação<br />

do trabalho abstrato. Se o<br />

trabalho é a categoria fundante<br />

do mundo dos homens para todos<br />

esses pensadores, a superação<br />

do trabalho tout court apenas<br />

poderia se dar com a destruição<br />

da humanidade.<br />

Outra coisa é a contraposição<br />

entre o reino da liberdade e o<br />

reino da necessidade, que é o<br />

trabalho: trata-se aqui do reconhecimento<br />

de que mesmo o trabalho<br />

mais emancipado possível<br />

implica sempre em um atendimento<br />

ao que é objetivamente<br />

necessário para a reprodução do<br />

ser social – daqui ser ele o reino<br />

da necessidade. Para além dele<br />

é que teríamos o reino da necessidade:<br />

mas este último apenas<br />

seria possível pelo atendimento às<br />

A<br />

revolução proletária,<br />

é a grande<br />

tarefa hoje possível<br />

à humanidade.<br />

Fora disso, apenas o velho<br />

requentar do antigo, apenas<br />

novas formas do velho...<br />

Não é isso que a história<br />

dos últimos anos nos tem<br />

mostrado?<br />

necessidades pelo trabalho, portanto<br />

o trabalho é o fundamento<br />

do reino da liberdade. Para colocar<br />

uma complexa questão em<br />

algumas poucas linhas.<br />

Politizando: Se, com a obsolescência<br />

do regime de produção<br />

fordista/taylorista, houve crescente<br />

redução do proletariado fabril<br />

estável, que tipo de proletariado<br />

vem se conformando desde então?<br />

É possível falar, nos dias de<br />

hoje, da existência de uma classe<br />

proletária?<br />

Prof. Sérgio Lessa: A classe operária,<br />

tal como na época de Marx,<br />

é composta por aqueles trabalhadores<br />

manuais que convertem<br />

a natureza nos meios de produção<br />

e de subsistência. Eles produzem<br />

o "conteúdo material da riqueza<br />

social" (Marx) porque atendem<br />

à primeira e fundante necessidade<br />

humana: o trabalho, o<br />

intercâmbio orgânico com a natureza.<br />

Há tanta possibilidade his-<br />

tórica de se produzir um "novo<br />

proletariado" sob o capitalismo<br />

como havia, sob o escravismo,<br />

de se produzir uma nova classe<br />

de escravos! As classes fundamentais<br />

de um modo de produção<br />

não têm suas essências alteradas<br />

a não ser pela superação<br />

do próprio modo de produção.<br />

Não há um novo proletariado, e<br />

as pesquisas empíricas confirmam<br />

as evidências teóricas. O<br />

que há são novas formas de o<br />

capital empregar os trabalhadores:<br />

mas, sabemos, a alteração<br />

nas formas de emprego não significa<br />

a alteração das relações<br />

de produção. Relações de emprego,<br />

hoje, infelizmente são<br />

muito rapidamente tomadas por<br />

relações de produção. E a confusão<br />

teórica é gigantesca!<br />

Politizando: Que diz das atuais<br />

políticas de ativação (dos pobres)<br />

para o mercado de trabalho,<br />

adotadas nos Estados Unidos<br />

e na Europa, onde prevalece um<br />

mercado de trabalho altamente<br />

flexível?<br />

Prof. Sérgio Lessa: Desconheço<br />

tais políticas. Ignorância minha,<br />

nada mais que isso.<br />

Politizando: Que questão<br />

gostaria de acrescentar às implícitas<br />

nas perguntas formuladas<br />

pelo Politizando?<br />

Prof. Sérgio Lessa: Que a revolução<br />

proletária, aquela que tem<br />

os trabalhadores, liderados pelo<br />

proletariado, de um lado da barricada<br />

e a burguesia e seus aliados<br />

do outro, aquela revolução<br />

cujo programa estratégico é a<br />

superação da propriedade privada,<br />

do Estado, das classes sociais<br />

e do casamento monogâmico:<br />

esta é a grande tarefa hoje<br />

possível à humanidade. Fora<br />

disso, apenas o velho requentar<br />

do antigo, apenas novas formas<br />

do velho... não é isso que a história<br />

dos últimos muitos anos nos<br />

tem mostrado?<br />

P á g i n a 7

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