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novembro 2011 www .revistaconexao.com.br - Revista Conexão ...

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<strong>Conexão</strong> VILA MONUMENTO<<strong>br</strong> />

O lativas<<strong>br</strong> />

Em São Paulo recrudescia a luta entre duas famosas famílias, a<<strong>br</strong> />

dos Pires e a dos Camargos. O governador-geral do Brasil, Francisco<<strong>br</strong> />

Barretos de Meneses, sem poder se deslocar à capitania, incumbiu<<strong>br</strong> />

da paz o Ouvidor geral da Repartição do Sul, Dr. Pedro<<strong>br</strong> />

de Mustre Portugal. Estando os dois partidos exaustos, este conseguiu<<strong>br</strong> />

fazer assinar a paz em 1º de janeiro de 1660.<<strong>br</strong> />

No livro O Garatuja, José de Alencar faz uma narrativa romanceada<<strong>br</strong> />

baseada neste fato real. Um dos atrativos desta leitura é o<<strong>br</strong> />

meticuloso trabalho de recuperação da linguagem da época, <strong>com</strong><<strong>br</strong> />

toques de humor bem regional e temporal.<<strong>br</strong> />

Portanto, prezados leitores, <strong>com</strong> a palavra, José de Alencar:<<strong>br</strong> />

“(...)<<strong>br</strong> />

À rua da Misericórdia, próximo do Beco do Cotovelo, onde tinha<<strong>br</strong> />

residência, estava o Ouvidor Geral, Dr. Pedro de Mustre Portugal,<<strong>br</strong> />

em sua recâmera particular, atarefado <strong>com</strong> o despacho de<<strong>br</strong> />

processos.<<strong>br</strong> />

(...)<<strong>br</strong> />

Sem consultar a ordenação, nem recorrer ao sujo canhenho, travou<<strong>br</strong> />

o nosso magistrado da pena, e escreveu dum jacto Indeferido,<<strong>br</strong> />

tendo o cuidado de calcar a mão para fazer uma letra bem<<strong>br</strong> />

grossa, já que não podia em voz ainda mais grossa chimpar o<<strong>br</strong> />

despacho lacônico e peremptório na bochecha do bacharel.<<strong>br</strong> />

Destas ingenuidades que tinha o Mustre a sós e entre si, não vão<<strong>br</strong> />

fazer mau juízo a seu respeito. Passava por um dos magistrados<<strong>br</strong> />

mais honestos, que desde a criação dá Ouvidoria-Geral do Rio<<strong>br</strong> />

de Janeiro haviam nela servido.<<strong>br</strong> />

Em seu tempo, e isto basta para honrar sua memória, cessou uma<<strong>br</strong> />

balela que toda a gente repetia na cidade.<<strong>br</strong> />

(...)<<strong>br</strong> />

Ninguém ousou jamais suspeitar o Dr. Mustre de uma peita ou<<strong>br</strong> />

suborno. Cumpria à risca a ordenação não recebendo cartas re-<<strong>br</strong> />

Novem<strong>br</strong>o <strong>2011</strong><<strong>br</strong> />

uvidor Portugal<<strong>br</strong> />

13<<strong>br</strong> />

a demandas; e levava este escrúpulo ao ponto de tratar as<<strong>br</strong> />

partes desa<strong>br</strong>idamente, quando o procuravam.<<strong>br</strong> />

Tinha pois a consciência de ser um magistrado integérrimo. E<<strong>br</strong> />

seguro de que não o podiam <strong>com</strong>prar; nem influir por empenho<<strong>br</strong> />

ou ameaça, no exercício de sua jurisdição, do mais não se preocupava.<<strong>br</strong> />

(...)<<strong>br</strong> />

É esta a pior espécie dos maus juízes. Acastelados na sua honestidade,<<strong>br</strong> />

que nem sempre é inexpugnável, põem a Justiça ao serviço<<strong>br</strong> />

de suas paixões e venetas; e quando vem o clamor, não falta<<strong>br</strong> />

quem os defenda <strong>com</strong>o íntegros, lançando à conta de erro, o que<<strong>br</strong> />

aliás foi astúcia.”<<strong>br</strong> />

Obs.: As o<strong>br</strong>as de José de Alencar já são de domínio público. Se<<strong>br</strong> />

você, leitor, quiser ler o livro inteiro, acesse o link abaixo:<<strong>br</strong> />

http://pt.wikisource.org/wiki/O_Garatuja/XVIII

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