ANA TERESA CIRIGLIANO VILLEL - Semesp
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Resumo<br />
ENGENHARIAS E TECNOLOGIAS - Arquitetura e Urbanismo<br />
ECLETISMO ARQUITETÔNICO EM UBERABA (MG)<br />
Autor: <strong>ANA</strong> <strong>TERESA</strong> <strong>CIRIGLIANO</strong> <strong>VILLEL</strong>A<br />
Instituição: Universidade de Uberaba (UNIUBE)<br />
Orientador: Adriana Capretz Borges da Silva Manhas<br />
A pesquisa consiste na catalogação e estudo da produção arquitetônica da<br />
cidade de Uberaba (MG) do final do século XIX ao início do século XX, chamada<br />
“eclética”, a partir de uma amostragem de cem edificações. O ecletismo, embora não<br />
tenha avançado em termos construtivos, formado da mistura dos estilos históricos<br />
anteriores, teve grande importância enquanto estética construtiva das cidades<br />
industriais do século XIX e traduziu o gosto da nova burguesia. Chegou ao Brasil<br />
com os imigrantes italianos, que no final do século XIX formaram um contingente de<br />
mão-de-obra branco, livre e assalariado. No caso de Uberaba, as construções<br />
ecléticas foram incorporadas à paisagem urbana e passaram a definir sua<br />
identidade, desde as primeiras histórias da época da formação de seu povoado até o<br />
período de introdução da raça de gado Zebu na região, quando então é marcado o<br />
apogeu deste estilo.<br />
Introdução<br />
Como argumentou Annateresa Fabris (1987), embora o ecletismo tenha de<br />
fato sido sinônimo de modernidade e modernização no Brasil, a questão eclética<br />
sempre foi envolta por preconceitos oriundos da ortodoxia e ideologia modernista. O<br />
historiador Carlos Lemos (1989) ainda completa, afirmando que o patrimônio<br />
arquitetônico eclético nunca teve o devido valor no Brasil pelo estudo acadêmico,<br />
mas que após o ano 2000 este quadro mudaria, pois o século XIX deixaria de ser<br />
apenas o “século passado” e ganharia o devido respeito.<br />
O ecletismo, embora não tenha contribuído para a inovação da arquitetura, não<br />
passando de um “estilo”, constitui a estética construtiva da maior parte das cidades<br />
brasileiras que surgiram após a Revolução Industrial, por ocasião da Lei de Terras<br />
ou nas trilhas abertas pelas estradas de ferro. As construções ecléticas foram<br />
naturalmente incorporados à paisagem urbana das novas cidades do século XIX e<br />
passaram a definir sua identidade, testemunhando as primeiras histórias da época<br />
da formação de seu povoado. Portanto, este patrimônio tem seu valor enquanto<br />
parte de um conjunto de transformações socioeconômicas de um período e mais,<br />
como testemunhas presentes de uma “pré-história”, cuja arquitetura se manifesta<br />
como o representante cultural mais próximo da população.<br />
No caso da cidade em questão, Uberaba, devido ao fato de pertencer ao Estado de<br />
Minas Gerais, uma pesquisa deste tipo ainda vem a contribuir para a divulgação de<br />
uma história desconhecida pelos próprios habitantes como também para o país.<br />
Sempre se associou “arquitetura mineira” ao “barroco mineiro”, com todo o entalhe<br />
do ouro presente nas igrejas. O que houve entre o século XVIII e o XX nunca
ecebeu destaque, exceto na suntuosidade da arquitetura neoclássica do conjunto<br />
da Praça da Liberdade, construído especialmente para a nova capital, a partir de<br />
1895. As demais cidades que se formaram no século XIX – e foram a maioria – e<br />
tiveram influência dos imigrantes, sobretudo aquelas presentes do Triângulo Mineiro,<br />
nunca mereceram destaque nem sequer importância. E assim como o restante do<br />
país, sofrem com a degradação e descaracterização acentuada.<br />
Objetivos<br />
A pesquisa consiste em catalogar, caracterizar e registrar a produção<br />
arquitetônica eclética de Uberaba (MG), tendo como principal fonte empírica a<br />
análise de seus desenhos técnicos – elaborados para este estudo - a partir de uma<br />
amostragem de cem edificações. Paralelamente, retoma o processo de evolução<br />
física da cidade, que aconteceu de maneira atípica, ao redor de sete colinas.<br />
Metodologia<br />
A metodologia empregada consta de duas partes: uma empírica e teórica.<br />
Para a pesquisa empírica, foram analisados os documentos existentes no Arquivo<br />
Público de Uberaba e na Fundação Cultural, a fim de se encontrar fotos antigas das<br />
edificações, algumas datas e arquivos daquelas que apresentam o registro de<br />
tombamento oficial. A segunda parte da pesquisa constou do levantamento<br />
fotográfico, que teve início com o registro de fachadas dos edifícios de<br />
características consideradas ecléticas. Após escolhidos os edifícios, foi verificado no<br />
setor de Cadastro Imobiliário e no Arquivo Geral a existência de projetos técnicos e<br />
como já era esperado, a maioria das construções não apresentava registros. Foram<br />
feitos então os levantamentos das dimensões no local, acompanhados de fotos,<br />
sobretudo dos detalhes, para execução dos desenhos técnicos. Finalizados os<br />
desenhos das cem construções, foram analisadas e comparadas suas<br />
características, retomando a leitura da bibliografia indicada.<br />
Desenvolvimento<br />
A Segunda Revolução Industrial iniciada na Europa ocasionou profundas<br />
transformações na distribuição dos habitantes sobre o território. As cidades não<br />
estavam preparadas para receber a massa de população que migrou do campo e<br />
ficaram congestionadas, sem infra-estrutura suficiente para todos. Além de originar<br />
um grande número de cortiços, o preço do desconforto nas cidades atingia a todas<br />
as classes sociais, levando à baixa salubridade, altas taxas de mortalidade e baixa<br />
esperança de vida, proliferação de doenças e prejuízos com perdas de jornadas de<br />
trabalho, além da degradação da família.<br />
Diante desta realidade, a urbanística entre 1830 e 1850 renovou-se nos estudos da<br />
experiência dos defeitos da cidade industrial, por mérito dos técnicos e dos<br />
higienistas que se esforçam por remediá-los através de reformas sanitárias (e por<br />
isso, o urbanismo da época foi chamado de "sanitarista"). O processo de<br />
desodorização do espaço urbano procurava disciplinar o proletariado e controlar os<br />
atos do trabalhador, e a noção de conforto passou a ser associada à civilidade.
Vários planos de remodelação urbana foram executados a partir de então visando<br />
preparar, sobretudo, cidades que concentravam um grande número de pessoas -<br />
como Paris, Viena, Barcelona, Nova Iorque, São Paulo, Rio de Janeiro – para a nova<br />
era industrial (BENÉVOLO, 2001).<br />
O ferro, então utilizado na construção de ferrovias, locomotivas, navios, maquinarias,<br />
sistemas de instalações sanitárias e de gás, passou a ser empregado também na<br />
construção civil, começando pela introdução de elementos construtivos préfabricados<br />
produzidos na Europa e exportados para todo o mundo, provocando uma<br />
revolução estética na arquitetura. Após 1889, definiu-se um novo sistema de<br />
edificação com a utilização do concreto armado, que invadiu as edificações comuns<br />
aumentando a força de sustentação e possibilitando uma modelação plástica do<br />
cimento. Com isso, houve um rápido processo de industrialização da arquitetura e foi<br />
possível a rápida construção da infra-estrutura da cidade.<br />
Em meio a tantas inovações técnicas implementadas pelos engenheiros, os<br />
arquitetos insistiam no decorativismo de fachadas e nas composições de estilos<br />
históricos, num ecletismo sem precedentes. A arte também entrou em crise, tanto<br />
pelas discussões sobre o uso dos materiais novos, como sobre as relações com a<br />
ciência.<br />
ARGAN (1995) explica que durante o plano de remodelação de Paris, os arquitetos<br />
desempenharam um pequeno papel nas decisões e também ocasionaram<br />
discussões sobre os estilos. Essas discussões acabaram por apressar a crise da<br />
cultura acadêmica e a polêmica entre neoclassicismo e neogótico teve seu ponto<br />
culminante em 1846. Em 1863, Viollet le Duc e os racionalistas defenderam a<br />
desvinculação do ensino com Academia, em uma luta polêmica, defendendo o<br />
ensino livre e propondo uma volta aos ideais clássicos incluindo no programa o<br />
estudo da Idade Média, da Antigüidade e do Renascimento. Justificava que os<br />
jovens arquitetos eram exigidos a projetar sem conhecimento dos materiais e sem a<br />
instrução sobre os modos de construir adotados em todas as épocas. Contrapondo o<br />
gótico ao classicismo, ele propôs o uso apropriado dos materiais e a obediência às<br />
necessidades funcionais, bem como o uso do ferro com suas características<br />
peculiares e não como substituto dos materiais tradicionais.<br />
A Academia defendia a existência da categoria dos arquitetos com a habitual<br />
didática tradicional, porém a necessidade de se estudar estilos estava sendo muito<br />
criticada, eles eram considerados “hábitos contingentes”. Os pontos que realmente<br />
importavam eram as discussões sobre estilos, decorativismo e historicismo. Não<br />
cabia ao arquiteto essas funções medíocres a que estavam sendo subestimados<br />
pela Academia. Contudo, o ecletismo tradicional sobreviveu por muitas décadas,<br />
ocupando contudo posições sempre mais retrógradas.<br />
No Brasil, o neoclássico havia sido introduzido no país em 1816, com a Missão<br />
Artística Francesa no Rio de Janeiro, seguindo-se para uma série de alterações na<br />
fachada das casas durante o século XIX, quando então passaram e coexistir os<br />
diversos estilos (como colonial e neoclássico). Soluções novas vindas do exterior<br />
não chegaram a alterar as cidades estruturalmente, porém a aparência sofreu<br />
profundas transformações, com o uso de ornamentos pré-fabricados.<br />
Por volta de 1900, o panorama da arquitetura no Brasil apresentava edifícios sem<br />
originalidade e medíocres e alguns não passavam de meras cópias da arquitetura<br />
que estava sendo construída na Europa, como reproduções de palácios florentinos e<br />
chalés suíços em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo e, em menor grau, nas<br />
demais cidades.
O Estado de Minas Gerais também teve o academicismo, onde cópias de estilos<br />
compuseram cidades mais “progressistas”, como a nova capital Belo Horizonte. Nem<br />
as dificuldades das rotas de comunicação com o Rio de Janeiro e distância das<br />
grandes novidades não impediam a chegada das mudanças e sua utilização nos<br />
edifícios. As cidades à margem da ferrovia ingressaram mais cedo na modernidade<br />
e os edifícios das estações foram construídos segundo protótipos importados. Os<br />
trilhos de ferro traziam não apenas produtos, mas também idéias, e assim, nas<br />
construções começavam-se a generalizar o emprego do tijolo e ganhar aspectos<br />
italianos ao invés de portugueses, como a platibanda no lugar do beiral português.<br />
Uberaba foi um exemplo disso, dada à sua localização estratégica, na Estrada do<br />
Anhangüera, que correspondia à trilha rumo à Goiás que os paulistas traçaram entre<br />
as rotas de penetração no interior, no fim do século XVII (PONTES, 1978).<br />
A chegada dos trilhos da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro em 1889 na<br />
cidade possibilitou a vinda de imigrantes, que por sua vez trouxeram consigo novos<br />
“estilos” e técnicas construtivas, aumentando a demanda por materiais de<br />
construção. A disseminação dos padrões neoclássicos fazia dos revestimentos,<br />
como a pintura naturalista, a ornamentação das fachadas e a decoração dos<br />
interiores, a principal modificação necessária para adequar aos padrões da<br />
província, bem como a utilização da tecnologia do “ferro-cimento-estuque”. Os novos<br />
materiais que chegavam pela ferrovia eram os mais diversos, entre eles:<br />
travejamentos de aço, as madeiras, o cimento, ferragens, tintas, telhas francesas,<br />
moldes de décor pré-fabricado e até mobiliários. A expansão industrial buscou<br />
mercado para a absorção de produtos fabricados em série e também se refletiu nos<br />
edifícios das estações ferroviárias, todas em ferro. A partir daí, as construções<br />
começaram a apresentar detalhamentos mais apurados e estilos mais definidos: as<br />
platibandas surgiram com os ornamentos de estátuas e apliques em estuque; as<br />
colunas passaram a imitar os estilos jônico e coríntio e os arcos plenos foram<br />
utilizados nas esquadrias.<br />
Figura 1 – Platibandas ornamentadas, característica importante do ecletismo (Foto:<br />
Renata Gutierrez, 2005)<br />
Assim, em 1893, por Lei Municipal, todas as casas que fossem construídas ou<br />
reconstruídas em Uberaba eram obrigadas a possuir platibandas, quando<br />
encostadas no alinhamento dos passeios, de acordo com a Lei n.º 8 de 21 de março<br />
de 1893, que foi alterada no ano seguinte.
Figura 2 - Casa alinhada ao passeio (Foto: Renata Gutierrez, 2005)<br />
Os antigos elementos coloniais e neocoloniais foram substituídos das fachadas pelo<br />
ecletismo, dando origens a “protótipos estandartizados”, além de ordens estilísticas<br />
“mistas”, sobretudo após 1912. Algumas construções na cidade de Uberaba retratam<br />
essa mistura como o Palácio São Luís:<br />
Figura 3 – Palácio São Luiz (Foto: Renata Gutierrez, 2005)<br />
Foram os imigrantes também os responsáveis pela mão-de-obra qualificada, graças<br />
à prosperidade econômica do comércio e da criação de gado. Assim, os projetistas,<br />
mestres-de-obras, marmoristas, pintores, estucadores e marceneiros foram os<br />
disseminadores das novas ordens arquitetônicas.<br />
A maioria das construções era comprimida, embora localizada em grandes<br />
quarteirões de 120 metros, pois a maioria dos lotes apresentava apenas 10 metros<br />
de frente por 50 metros de profundidade. Com isso, as casas no limite da rua<br />
acabavam por deixar vazios e abandonados os miolos das quadras, onde a<br />
profundidade do terreno chegava a 40 metros. Associada às limitações da taipa,<br />
essa situação prejudicava a iluminação e a ventilação dos interiores e induzira à<br />
distribuição feita no sentido frente-fundos, em detrimento a privacidade. Com a<br />
compra do terreno vizinho, havia a possibilidade de modificação da fachada com a<br />
construção de uma varanda e jardim lateral, comum nos palacetes da cidade.
Figura 4 – Exemplo de fachada comprimida em lotes com grande profundidade<br />
(Foto: Renata Gutierrez, 2005)<br />
Até por volta de 1916, a forma de habitação que se generalizou em Uberaba foi a<br />
térrea, de alpendre com jardim. A largura estreita dos terrenos deslocou a entrada<br />
para o jardim lateral, protegida por grades e portões de ferro. A escada pequena, em<br />
geral com corrimão gradeado, levava ao alpendre circundado por lambrequins, como<br />
na casa na Praça Comendador Quintino. Persistia o porão alto, sob as janelas da<br />
sala, que, no alinhamento da rua, multipartiam-se em vãos, com decoração<br />
assimétrica na mesma fachada: apliques florais, molduras e, muitas vezes, balcões<br />
(SALGUEIRO, 1987).<br />
Figura 5 – Casa com jardim lateral e detalhe da escada com grades de ferro (Foto:<br />
Renata Gutierrez, 2005)<br />
No início do século XX, os alpendres passaram a receber formatos diversos com<br />
escadas ornamentadas, que podiam utilizar até toda a extensão do prédio. Eram em<br />
estrutura metálica, cobertos com vidros ou telhas, com forro em madeira<br />
artisticamente decorado ou em concreto armado e pinturas parietais. Nos terrenos<br />
em declive, os alpendres foram substituídos por varandas em um dos lados. As<br />
janelas largas, bi e tripartidas, com curvas ora simétricas ora desiguais, sempre com<br />
vidros coloridos, geometricamente de formas diversas, passaram a dominar as<br />
construções.
Figura 6 – Detalhes de interior rico em ornamentos (Foto: Renata Gutierrez,2005)<br />
O sobrado foi um tipo de residência com comércio muito usado em Uberaba, e que<br />
reunia o trabalho masculino ao domicílio, através do uso do comércio no porão da<br />
casa. Para HOMEM (1996), os programas do palacete revelaram o ideário burguês,<br />
atendido por uma arquitetura que propunha a individualização da casa e a<br />
conciliação dos estilos, espelhando o êxito socioeconômico do proprietário.<br />
Entre 1934 e 1945, durante o segundo apogeu do gado Zebu, o estilo Art Déco<br />
invadiu a cidade, demonstrando, por meio da arquitetura, o poder dos grandes<br />
criadores.<br />
Resultados<br />
A partir das cem casas estudadas, verificou-se que neste período, a forma de<br />
habitação que se generalizou foi térrea, de alpendre com jardins particulares. A<br />
largura estreita dos terrenos deslocou a entrada para o jardim lateral, protegida por<br />
grades e portões de ferro. A escada pequena, em geral com corrimão gradeado,<br />
levava ao alpendre circundado por lambrequins. Persistia o porão alto, sob as<br />
janelas da sala, que, no alinhamento da rua, multipartiam-se em vãos, com<br />
decoração assimétrica na mesma fachada: apliques florais, molduras e, muitas<br />
vezes, balcões. Os alpendres passaram a receber formatos diversos com escadas<br />
ornamentadas em estrutura metálica, cobertos com vidros ou telhas, com forro em<br />
madeira artisticamente decorado ou em concreto armado e pinturas parietais e<br />
alguns utilizavam toda a extensão do prédio. Nos terrenos em declive, os alpendres<br />
foram substituídos por varandas em um dos lados. As janelas largas, bi e tripartidas,<br />
passaram a dominar as construções, com curvas simétricas ou desiguais, vidros<br />
coloridos, em formas diversas.<br />
O ecletismo arquitetônico em Uberaba foi classificado seguindo três vertentes: a<br />
primeira, com a convivência da arquitetura colonial tradicional com o Neoclássico,<br />
incluindo variantes neogóticos; a segunda, com a implantação de alpendre e jardim<br />
lateral com apliques de estuques e elementos em estilo Art Nouveau (principamente<br />
nas esquadrias em ferro); a terceira, visível nos grandes palacetes durante do<br />
apogeu do gado Zebu, a partir de 1917, com ricos ornamentos e elementos<br />
decorativos, construídos inteiramente por imigrantes italianos. No auge do estilo, em<br />
1921, os motivos ecléticos não mais se limitaram à aplicação sobre caixa de<br />
alvenaria, passando a influir no partido construtivo.
Considerações finais<br />
A arquitetura eclética em Uberaba marcou o período da introdução do gado<br />
Zebu no final do século XIX, momento que coincidiu com a expansão industrial e<br />
consolidação do capitalismo no mundo, tendo como reflexo no país a substituição do<br />
trabalho escravo pelo livre. A localização estratégica da cidade também foi<br />
responsável pela chegada dos trilhos da Companhia Mojiana de Estradas de Ferro<br />
e, em 1889, do caminho que daria origem a Rodovia Anhangüera. Com a ferrovia,<br />
chegaram também os imigrantes, que se dedicaram a diversas atividades tais como<br />
a exploração de cal no distrito de Peirópolis, oficinas e pequenas fábricas, além da<br />
construção civil. O estilo se estendeu para todas as camadas da população, sendo<br />
que até a segunda metade do século XX os antigos elementos coloniais e<br />
neocoloniais foram substituídos das fachadas, que foram demolidas e receberam<br />
protótipos estandardizados e ordens estilísticas mistas, passando a dominar uma<br />
decoração em massa e gesso.<br />
Pôde-se perceber, a partir da pesquisa em campo, que embora bastante degradado<br />
em muitos casos, os exemplares da arquitetura eclética em Uberaba ainda se<br />
encontram numerosos e não se concentram em apenas um ponto da cidade, como é<br />
comum em outras localidades, nem sofreram, em sua maior parte, grandes<br />
alterações construtivas.<br />
Espera-se que o material produzido venha a contribuir para a preservação do<br />
patrimônio histórico arquitetônico da cidade de Uberaba, tanto na publicação de um<br />
livro para a divulgação entre a população, quanto na disponibilização do material<br />
pesquisado para os órgãos públicos de preservação patrimonial, no auxílio de<br />
processos de tombamentos, bem como para os próprios moradores que não<br />
disponiblizam do registro técnico de seus domicílios.<br />
Fontes consultadas<br />
ARGAN, G. C. Arte Moderna - Do Iluminismo aos movimentos contemporâneos.<br />
São Paulo: Companhia das Letras,1995.<br />
BENÉVOLO, L. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva. 2001.<br />
FABRIS, Annateresa. O ecletismo à luz do modernismo. In: FABRIS, Annateresa<br />
(org.) Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo: Nobel; Editora da<br />
Universidade de São Paulo, 1987.<br />
HOMEM, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outras formas urbanas<br />
de morar da elite cafeeira : 1867-1918. São Paulo : Martins Fontes, 1996.<br />
LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria burguesa: breve história da arquitetura<br />
residencial de tijolos em São Paulo a partir do ciclo econômico liderado pelo<br />
café. São Paulo: Nobel, 1989.<br />
PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a civilização no Brasil Central.<br />
Uberaba, Ed. da A.L.T.M., 1978.
SALGUEIRO, Heliana Angotti. O ecletismo em Minhas Gerais: Belo Horizonte 1894-<br />
1930. In: FABRIS, Annateresa. Ecletismo na Arquitetura Brasileira. São Paulo:<br />
Nobel; Editora da Universidade de São Paulo, 1987.