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PARTE II | O <strong>RUGI<strong>DO</strong></strong> <strong>DO</strong> <strong>LEÃO</strong> <strong>DO</strong> <strong>NORTE</strong> | <strong>DO</strong> ORGULHO DA RESTAURAÇÃO ÀS REVOLUÇÕES LIBERTÁRIAS |47 IV <strong>DO</strong> ORGULHO DA RESTAURAÇÃO ÀS REVOLUÇÕES LIBERTÁRIAS EXPERIÊNCIA HISTÓRICA E IDENTIDADE Ao longo da vida, vivenciamos determinadas experiências que preferimos esquecer e outras que fazemos questão de lembrar. É a partir desse jogo de lembrança e esquecimento — componentes daquilo que chamamos de “memória” — que a nossa identidade vai sendo construída. Grosso modo, o mesmo pode ser dito em relação às sociedades humanas, que, ao longo de sua experiência histórica, fazem de determinados momentos dessa experiência os “marcos fundadores” daquilo que são. Momentos que, como tais, são coletivamente lembrados ou, em português mais claro, “comemorados”. Na história de Pernambuco, um dos momentos fundantes de sua identidade é o da Restauração Pernambucana (1645-1654), durante o período de finalização e logo após a dominação holandesa. Isso pode ser facilmente constatado num passeio pela cidade do Recife, onde os nomes de João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e Felipe Camarão — a chamada “tetrarquia dos restauradores” — surgem em monumentos, ruas e travessas, para citar apenas alguns exemplos. Nesse mesmo passeio, encontraríamos ainda referências aos “Guararapes” e, em tempos passados, às “Trincheiras” e à própria “Restauração”. Essa memória da Restauração tornou-se, por meio de seus narradores, o alicerce da identidade pernambucana, dando origem ao nativismo. O movimento restaurador de Pernambuco aos seus “verdadeiros donos”, segundo esses narradores, forjou o ser pernambucano, imprimindo-lhe no caráter o amor à “pátria” (conceito que, no Brasil Colônia, possuía um sentido estritamente local), o zelo pela liberdade e o senso de vanguarda. Ao mesmo tempo, a luta contra um inimigo comum teria irmanado brancos, índios e negros, inaugurando o espírito de “brasilidade”. O discurso nativista também inspirou o sentimento de autonomia que embalou a Guerra dos Mascates, no século XVIII, apesar de seu caráter interno, e os Movimentos Revolucionários