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os relatos dos viajantes estrangeiros no brasil oitocentista - Uesc

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das condições materiais encontradas em seus respectiv<strong>os</strong> lugares de origem na Europa<br />

ou nas primeiras estadias em terra <strong>brasil</strong>eira na cidade do Rio de Janeiro.<br />

De grande valia também é a riqueza d<strong>os</strong> silênci<strong>os</strong> de um discurso. Em uma<br />

primeira leitura em “Viagem ao Brasil”, de Spix e Martius, percebe-se a atenção dado à<br />

descrição d<strong>os</strong> utensíli<strong>os</strong> de um ambiente freqüentado quando há o desconforto (<strong>no</strong><br />

trecho acima). Do contrário, n<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>no</strong> Rio de Janeiro, em condições<br />

materiais, talvez, mais dignas e comuns ao olhar estrangeiro, a atenção dada à descrição<br />

minuci<strong>os</strong>a d<strong>os</strong> utensíli<strong>os</strong> de acomodação se faz ausente frente a outr<strong>os</strong> aspect<strong>os</strong>.<br />

Quem chega convencido de encontrar uma parte do mundo, descoberta só desde três sécul<strong>os</strong>,<br />

com a natureza inteiramente rude, forte e não vencida, poder-se-ia julgar, ao men<strong>os</strong> aqui na<br />

capital do Brasil, fora dela; tanto fez a influência da cultura da velha e educada Europa para<br />

remover deste ponto da colônia <strong>os</strong> característic<strong>os</strong> da selvajaria americana, e dar-lhe o cunho da<br />

mais alta civilização. Língua, c<strong>os</strong>tumes, arquitetura e afluxo d<strong>os</strong> produt<strong>os</strong> da indústria de todas<br />

as partes do mundo dão à praça do Rio de Janeiro feição européia. (SPIX e MARTIUS, 1980,<br />

p.46)<br />

Um estudo sobre as condições materiais <strong>no</strong> litoral e <strong>no</strong> interior do Brasil n<strong>os</strong><br />

relat<strong>os</strong> d<strong>os</strong> <strong>viajantes</strong> seria um trabalho interessante a meu ver, visto o referencial comum<br />

ao viajante (<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> urban<strong>os</strong> europeus) e o maior desenvolvimento e concentração<br />

urbana <strong>no</strong> litoral <strong>brasil</strong>eiro, porta de entrada d<strong>os</strong> <strong>viajantes</strong>, em relação ao interior.<br />

O historiador consciente também deve estar atento a<strong>os</strong> risc<strong>os</strong> desse tipo de fonte.<br />

A ênfase exagerada em situações de desconforto também pode ser identificada como<br />

característica do gênero “literatura de viagem” 6 haja vista uma p<strong>os</strong>sível intenção de dar<br />

uma feição de epopéia à escrita de viagem visando o sucesso <strong>no</strong> mercado editorial<br />

europeu.<br />

É importante salientar que a descrição d<strong>os</strong> utensíli<strong>os</strong> encontrad<strong>os</strong> em viagem não<br />

esteve restrita apenas a questões de desconforto. Outr<strong>os</strong> fatores também propiciaram a<br />

atenção à cultura material, em especial a admiração frente ao desconhecido.<br />

6 Termo usado por Ilka Boaventura Leite, em “Antropologia da Viagem: Escrav<strong>os</strong> e Libert<strong>os</strong> em Minas<br />

Gerais <strong>no</strong> Século XIX”, para caracterizar esse tipo de fonte.

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