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Baú de Memórias<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong><br />
(Dr. Léco)
Índice<br />
Prefácio 01<br />
Oferecimentos 02<br />
Agradecimentos 03<br />
Introdução 04<br />
Minha Infância 05<br />
Tempos de Seminário 09<br />
Ginásio São Miguel 10<br />
São José dos Campos 11<br />
Rio de Janeiro 13<br />
Tempos de Faculdade 14<br />
A Profissão 21<br />
A Família 39<br />
Atuação Política 43<br />
Mandato de Prefeito 47<br />
Mensagens e Homenagens Recebidas 58<br />
Entrevistas 67<br />
Conclusão 69
Prefácio<br />
Esta obra sugere, para não se perderem no<br />
tempo, pitorescos casos que só o nosso médico, líder<br />
político e amigo dr. <strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong>, o querido e<br />
popular dr. Léco, pode contar! São realidades ouvidas<br />
do povo, nas longas caminhadas pelos bairros da zona<br />
rural e da cidade de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, querida Terra!<br />
Sinto-me honrada ao participar da obra do<br />
médico que escolheu a terra amada para viver e<br />
trabalhar - prestando, ainda, colaborações às<br />
instituições pousoaltenses, em especial à Educação e<br />
à Saúde. O que bem eu sei, pois a ele me recorria nas<br />
necessidades, como diretora escolar - e lá vinha mais<br />
uma vitória para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>...<br />
Vitória, também, para o médico escritor!<br />
Deliciemo-nos, então, com o Santo de Casa Faz Milagre.<br />
E que venham outras obras literárias...<br />
MARINA DA CONCEIÇÃO OLIVEIRA<br />
Professora<br />
1
Oferecimentos<br />
Ofereço este trabalho à Zélia e a toda a nossa<br />
família; aos meus irmãos, na pessoa do Geraldinho<br />
(que colaborou na digitação deste trabalho); ao dr.<br />
Delfim, à irmã Carmelita e à nossa saudosa d. Isaura,<br />
que tanto me ajudaram no início da minha carreira<br />
como médico na comunidade pousoaltense e, enfim,<br />
a todo o povo de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> - terra querida e amada.<br />
2
Agradecimentos<br />
Agradeço, especialmente, à Prefeitura<br />
Municipal de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> , cujo apoio através do Órgão<br />
Municipal de Educação e do Conselho Municipal do<br />
Patrimônio Histórico e Cultural de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> foi<br />
decisivo para o lançamento desta obra.<br />
3
Introdução<br />
Este nosso baú de memórias está sendo escrito<br />
sem nenhuma grande pretensão, a não ser a de<br />
presentear meus filhos, irmãos e amigos.<br />
A idéia de escrever nasceu do meu médico (hoje<br />
grande amigo) dr. Sérgio Levicovitz.<br />
Sabendo que exercia a<br />
Medicina e era prefeito de<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, ele achava que eu<br />
teria muitos “causos” para<br />
contar.<br />
Então, vamos lá...<br />
4
Minha Infância<br />
Nasci no bairro Mesquita, no município de<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, em 14 de fevereiro de 1941. Morávamos<br />
de “parede e meia” com a família dos tios Vicente<br />
Sapateiro e Ana, que tinham 20 filhos. À noite, tia Ana<br />
colocava uma grande bacia, cheia de brasas, que<br />
usávamos para tomar banho. Ficávamos ao redor da<br />
bacia, ouvindo tio Vicente contar “causos” de<br />
assombração. Embora gostássemos, morríamos de<br />
medo.<br />
Papai - o famoso Quinquim <strong>Mira</strong> - resolveu se<br />
mudar para a cidade, para facilitar nossos estudos.<br />
Moramos um bom tempo na casa da rua Barão de<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, hoje de propriedade do compadre<br />
“Massada”. Estudamos todos no Grupo Escolar<br />
“Ribeiro da Luz”, que teve como primeiro diretor o tio<br />
Paulino Vito <strong>Nogueira</strong>, casado com tia Matilde, com<br />
quem teve nove filhos. Entre eles, Donana <strong>Nogueira</strong><br />
de Luca - que já completou 110 anos e, em recente<br />
matéria publicada em um jornal da região, foi<br />
intitulada a “Dama de Três Séculos”. Ela teve vários<br />
filhos, entre eles os doutores <strong>Paulo</strong> e Nestor <strong>Nogueira</strong><br />
de Luca que, residindo em São Sebastião do Rio Verde,<br />
prestaram serviços à Santa Casa de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Hoje,<br />
<strong>Paulo</strong> mora em Passa Quatro e Nestor no município<br />
de Cristina.<br />
Tio Paulino ficou viúvo aos 48 anos, casando-se<br />
novamente com Leopoldina, com quem não teve filhos.<br />
Passou a morar no Mesquita, ficando mais próximo<br />
do Grupo Escolar de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Fez o curso Normal<br />
em Campanha, para onde ia a cavalo. No período em<br />
que esteve casado com tia Matilde, residia com sua<br />
sogra, d. Chiquinha, no bairro Natividade (município<br />
de São Sebastião do Rio Verde). Ele vinha dar aulas<br />
em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, fazendo todo o trajeto a pé.<br />
5
Ia até o bairro do Barreiro, onde atravessava o rio<br />
Verde de canoa e vinha pelo caminho do Mesquita até<br />
chegar à cidade.<br />
Mesmo morando na cidade, papai deixou uma<br />
pequena propriedade rural no Mesquita, onde tirava<br />
leite todos os dias. Com freqüência, ele me levava na<br />
garupa de nossa mula, de nome Morena (que era<br />
muito mansa, inclusive “de barranco”). Um dia, papai<br />
saiu sem que eu percebesse; quando percebi, fui<br />
correndo atrás dele. Grávida da Inês (minha irmã, já<br />
falecida), mamãe corria atrás de mim e me gritava.<br />
Como era muito pequeno e gordo, não consegui me<br />
livrar dela - levando, assim, umas boas palmadas.<br />
Digo “boas” porque os tapas que ela dava não doíam.<br />
Certo dia, eu e papai íamos para o nosso curral<br />
no Mesquita. Tio Paulino estava, como de costume,<br />
sentado em um banquinho fixo, à beira da estrada.<br />
Chamou-me e disse: “Na volta, pare por aqui, que eu<br />
tenho um presente para lhe dar”.<br />
Seguimos nosso caminho para<br />
o que papai tinha a fazer. No entanto,<br />
estava louco para voltar e receber o<br />
tal presente. Pensava numa bola de<br />
futebol ou, quem sabe até, numa<br />
simples varinha de pescar (já que tio<br />
Paulino, apesar de raramente pegar<br />
um peixe, ia pescar todo dia). Qual<br />
não foi meu desapontamento<br />
quando ele me disse: “Eu me chamo<br />
Paulino. Este quadro de São <strong>Paulo</strong><br />
fica melhor para você, que se chama<br />
<strong>Paulo</strong>”. E deu-me um quadro do<br />
santo de quem tenho o mesmo nome.<br />
Fiquei, no mínimo, desapontado.<br />
Tio Paulino, 1º diretor do<br />
Grupo Escolar “Ribeiro da Luz”.<br />
6
Tive uma infância muito agradável. Nadava no<br />
Ribeirão de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, onde tio Vicente, muito<br />
caprichoso, represava poços e fazia escadinha com<br />
cana-da-índia, para facilitar nossa saída do rio. Antes<br />
de chegar em nossa casa, havia uma capoeirinha à<br />
direita da estrada. Lá eu fazia armadilhas para caçar<br />
pombas legítimas (tomara que a polícia florestal não<br />
leia este livro!). Fazíamos, também, "paris" no rio.<br />
“Paris” eram armadilhas para pegar peixes, feitas no<br />
tempo do inverno. A gente amanhecia na beira do rio,<br />
em ranchos improvisados para, de madrugada, ir<br />
pegar os peixes que haviam caído na armadilha.<br />
Nossa casa era bem perto da de Tiulina, que<br />
tinha uma predileção velada pelo Quim, meu irmão<br />
mais velho e pela Néia, filha do tio Vicente. Tiulina<br />
colhia bananas-da-terra e selecionava as melhores<br />
para o Quim. Nós ganhávamos as mais “passadas”.<br />
Fazíamos, ainda, alegres passeios no Barreiro<br />
(município de São Sebastião do Rio Verde); para se<br />
chegar lá, era preciso atravessar uma pontezinha<br />
sobre o rio Verde que fazia lembrar as pontes dos<br />
filmes do Tarzan. Lá residiam tios Pedro e Rita,<br />
solteirões muito interessantes que moravam juntos e,<br />
também, tia Rita e tio Quito, primos e casados.<br />
Porém, a figura mais engraçada de lá era o Zé<br />
Neco, que contava estórias miraculosas. Três<br />
“pérolas” dele: 1) havia plantado um “pé de pedra”,<br />
que nasceu e só não foi adiante por falta de cuidado<br />
dos familiares em aguá-lo; 2) atravessou o rio Verde<br />
com uma enchente enorme, dentro de uma lata de<br />
querosene; 3) havia uma mandioca na beira do rio<br />
que atravessou até a outra margem, próximo a um<br />
chiqueirão. Um porco comeu o miolo da mandioca,<br />
fazendo um túnel por ela que saía do outro lado.<br />
7
Por que “Léco”?<br />
Nem mamãe sabia me explicar o motivo do meu<br />
apelido “Léco”. Gosto muito do meu nome (<strong>Paulo</strong>),<br />
mas me identifico muito mais com meu apelido.<br />
Acredito que já nasci Léco. Tenho dois xarás no<br />
município de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>: o Léco da família Ribeiro<br />
(bairro Campainha), de nome Weskley e o Léco da<br />
família do Targino (da minha querida Cachoeira), que<br />
também se chama <strong>Paulo</strong>.<br />
Eu e meus nove irmãos, tendo ao centro (sentados) meus pais<br />
Joaquim e Escolástica. Da esquerda para a direita: Maria José,<br />
Joaquim, Zélia, Pedro, Maria Dorotéa, eu e Inês. À frente do<br />
papai: Geraldo, Dalva e Doroti (no colo da mamãe).<br />
8
Tempos de Seminário<br />
Minha obsessão por <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> manifestou-se<br />
logo na infância. Terminado o curso primário, na<br />
Escola Estadual “Ribeiro da Luz”, eu queria exercer<br />
uma atividade que me permitisse ficar na minha<br />
cidade. De família muito religiosa, já era coroinha do<br />
padre Hélvio. Resolvi ir para o Seminário da<br />
Campanha, onde fui contemporâneo do saudoso<br />
monsenhor Fuad e do hoje professor João Carlos<br />
Vilela. Fui, também, coroinha de dom Inocêncio,<br />
bispo da Diocese da Campanha.<br />
No entanto, com um mês de Seminário eu já<br />
queria sair. As cartas que escrevia para casa<br />
passavam pelo crivo do monsenhor Domingos, que<br />
não as deixava passar. Então, ficava desesperado e<br />
indignado, diante da suposta indiferença de minha<br />
família.<br />
Posteriormente, monsenhor Domingos<br />
adoeceu e foi se tratar em Varginha. Na sua ausência,<br />
assumiu a reitoria o jovem padre José Hugo, recémordenado,<br />
que permitiu que a minha correspondência<br />
seguisse seu caminho.<br />
Algum tempo depois, numa noite, estávamos<br />
assistindo a um filme do “Gordo e o Magro”, no salão<br />
de estudos do Seminário e eu fui chamado. Era o<br />
padre Hélvio que, a pedido de meus pais, tinha ido me<br />
buscar. E após um semestre no Seminário, encerrei<br />
minha carreira de futuro sacerdote.<br />
9
Bênção de um órgão público, realizada pelo meu grande amigo<br />
padre Hélvio. Apareço ao lado dele, como coroinha, segurando<br />
a água benta (à esquerda, o sr. José Capistrano de Paiva,<br />
farmacêutico e juiz de paz).<br />
Ginásio “São Miguel”<br />
Voltei para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e fui estudar no Ginásio<br />
“São Miguel”, em Passa Quatro. Durante os quatro<br />
anos em que lá estive, fui coroinha do padre<br />
Domingos (argentino bravo pra danar). Trabalhei,<br />
também, no barzinho do Ginásio, que era do padre<br />
Orlandi (um italiano que fumava muito), onde<br />
também trabalhou o Mauro Vilela (que hoje é dentista<br />
em São José dos Campos/SP).<br />
10
Time do Ginásio “São Miguel” (sou o 1º - direita para esquerda).<br />
Eu era um bom lateral-esquerdo, hoje, sou hemiplégico esquerdo.<br />
Coincidência?<br />
São José dos Campos<br />
Terminado o ginásio, fui fazer o científico no<br />
Colégio Estadual “Cel. João Cursino”, em São José<br />
dos Campos/SP. Naquele tempo, os colégios<br />
estaduais eram muito disputados. Havia, inclusive,<br />
exame de seleção.<br />
Fui morar no bairro Santana, na casa da tia<br />
Maria (onde já residia, há algum tempo, meu primo<br />
Vigário, filho do tio Antônio e da tia Donana). No<br />
primeiro dia de aula, já pronto para ir pro colégio em<br />
manga de camisa, veio o Vigário e me disse: “Você tem<br />
que colocar paletó! Pensa que está em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>”?<br />
Então, segui a determinação dele e coloquei o<br />
único paletó que tinha, um jaquetão cinza. Quando<br />
cheguei ao colégio, fui recebido por meus primos<br />
Wander, Lafaiete (filhos do tio Chiquinho e da tia Didi,<br />
que residiam em São José) e Haroldo (filho de meu tio<br />
e padrinho João, de Carmo de Minas). Eles e seus<br />
11
colegas me receberam com ovos e farinha de trigo. Era<br />
o trote que, naquele tempo, os veteranos dos colégios<br />
estaduais - por serem muito disputados - davam nos<br />
calouros. Seguimos, então, pela rua Sete (eu já no<br />
meio do grupo) e, no passeio defronte ao Banco da<br />
Lavoura (hoje Banco Real), estava o Vigário, rindo.<br />
Não fosse minha timidez, teria saído do grupo para<br />
dar-lhe uns safanões, mesmo sendo mais fraco do<br />
que ele. Mas, intimamente, mandei-o para aquele<br />
lugar...<br />
Meus três anos de científico em São José dos<br />
Campos foram, sem dúvida, a época mais difícil da<br />
minha vida. Eu, que queria fazer Medicina, estava<br />
estudando num colégio que preparava alunos para o<br />
vestibular do famoso Instituto Tecnológico de<br />
Aeronáutica (ITA). Do Colégio “João Cursino”, guardo<br />
até hoje saudades de minha colega de classe Maria<br />
Helena Pires, atualmente ginecologista com<br />
consultório em Jacareí/SP. Eu e Maria Helena,<br />
curiosamente, iríamos nos reencontrar em outros<br />
períodos de nossas vidas.<br />
“Trote” em nós, calouros do Colégio Estadual “Cel. João Cursino”.<br />
Estou ao centro, com a inscrição “Daria tudo para ela voltar”;<br />
eu era o único de paletó.<br />
12
Rio de Janeiro<br />
Terminado o científico, tentei vestibular na<br />
Universidade Federal de MG (UFMG), de Belo<br />
Horizonte. Reprovado, fui para o Rio de Janeiro, onde<br />
prestei vestibular na Escola Nacional de Medicina,<br />
onde também não passei. Apesar disto, do meu tempo<br />
de Rio de Janeiro guardo ótimas recordações. Morava<br />
na pensão de d. Olga, uma velhinha de família de<br />
Carmo de Minas. Lá morou, também, meu<br />
conterrâneo e amigo Jacinto Russano - apesar de ter<br />
seus pais, sr. Lucas e d. Maria, residindo na rua<br />
Marechal Trompovski, na Tijuca. Bairro onde<br />
também morava (e mora até hoje) meu conterrâneo e<br />
amigo Renato Russano (pai do meu genro Rodrigo).<br />
Na pensão morava, também, um garçom<br />
chamado Manolo, que trabalhava na Churrascaria<br />
Tijucana. Sendo nosso companheiro, muitas vezes<br />
íamos comer na churrascaria, pedíamos apenas uma<br />
refeição e comíamos muito mais - com a devida e<br />
imprescindível colaboração dele.<br />
Fazíamos muita bagunça na pensão - tanto que,<br />
certa vez, d. Olga se recusou a fazer refeições pra nós.<br />
Por uns 15 dias, comemos à custa dos vizinhos da rua,<br />
já que éramos muito bem quistos por eles, pois<br />
prestigiávamos todos os eventos lá ocorridos: festas<br />
juninas, aniversários e, até, velórios.<br />
Nós na pensão com a d. Olga (à esquerda).<br />
Sou o 2º agachado, da esquerda para a direita.<br />
13
Tempos de Faculdade<br />
Voltando para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, li no jornal:<br />
“Vestibular para Medicina na Escola Federal de<br />
Uberaba”. Pensei com meus botões: “Uberaba fica no<br />
Triângulo Mineiro, região distante e com acesso difícil.<br />
Portanto, deve ser fácil passar lá”. Contrariando meus<br />
pais, fui, fiz o vestibular e... não passei. Resolvi, então,<br />
ficar por lá, estudar mais e tentar novamente.<br />
No cursinho, fiquei conhecendo o meu grande<br />
amigo Jesus - amizade que dura até hoje. Sou<br />
padrinho, afilhado e compadre do Jesus. Somos<br />
irmãos. Considerava a casa do seu cunhado Tiveron e<br />
de sua irmã Calina como minha segunda casa. Tinha<br />
pelos seus pais, “seu” Aniceto e d. Filhinha, o carinho<br />
e afeto de como se fossem mesmo meus pais.<br />
Pedro, meu irmão, fugia de tudo quanto era<br />
colégio da nossa região. Assim, mamãe me pediu que<br />
o levasse para Uberaba. Dividíamos um quarto numa<br />
pensão de freiras administrada pelo casal sr. Antônio<br />
e d. Cornélia, pais do Toninho (hoje dono de um curso<br />
de inglês em Goiânia/GO) e do Telô (atualmente<br />
dentista em Cruzeiro/SP). Matriculei o Pedrinho num<br />
curso de Contabilidade. Aprendi muito com ele,<br />
durante o ano em que vivemos juntos.<br />
Terminado o primeiro ano do curso, Pedro<br />
resolveu voltar para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Para minha surpresa,<br />
deixou-me uma carta agradecendo por tudo e dizendo<br />
que iria ser padre. Chegando a <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, mamãe me<br />
disse que ele estava querendo ir para o Seminário,<br />
com o que papai não concordava, pois queria que<br />
terminasse o curso de Contabilidade. Conversei com<br />
papai e o convenci, dizendo: “Deixe que o Pedrinho vá,<br />
pois vai parar muito pouco no Seminário. E, saindo, ele<br />
terminará o curso de Contabilidade”. Estávamos<br />
enganados. Pedrinho ordenou-se padre e exerceu o<br />
14
Ministério por dez anos, como vigário de nossa cidade.<br />
A propósito, as opções de vida minha e do Pedro<br />
nos renderam um comentário bastante engraçado, de<br />
autoria do sr. Geraldo Braz (um dos componentes do<br />
famoso banco da venda do tio Luiz): “O dr. Léco mata,<br />
o padre Pedro encomenda e o Quinquim enterra” (isto<br />
porque, na época, papai ficava com a chave do<br />
cemitério). Hoje, Pedro é advogado e professor,<br />
casado com a Terezinha do "seu" Totonho Miguel e d.<br />
Aparecida. Eles têm um filho chamado Pedro Augusto.<br />
Após o segundo vestibular em Uberaba (no qual<br />
achava que tinha ido muito bem), voltei para <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>. Deixei Jesus e Toninho encarregados de, caso<br />
não tivesse sido aprovado, me passarem um<br />
telegrama de tal maneira que só eu entendesse que<br />
não tinha passado. Uns dez dias depois, já em <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>, ainda estava deitado e fui acordado por minha<br />
prima Clarita, aos gritos de “Parabéns!” e querendo<br />
me abraçar. Aí então eu disse: “Calma lá! O que<br />
aconteceu”? Ela respondeu:“Chegou um telegrama<br />
falando que você passou”! Repliquei: “Quero ver o<br />
telegrama”. E este dizia: "Venha. Inscrições até dia tal<br />
(não me lembro da data). Assinado: Toninho e Jesus”!<br />
A Clarita tinha confundido inscrição com matrícula.<br />
Eram inscrições para o terceiro vestibular em<br />
Uberaba.<br />
Estávamos no carnaval e eu perdi totalmente o<br />
rebolado, não comentando nada com ninguém. Voltei<br />
a Uberaba e quis arrumar minha bagagem,<br />
desistindo de fazer Medicina. Porém, Jesus e Toninho<br />
- muito entusiasmados - me falaram: “Começamos a<br />
estudar juntos e assim iremos até nos formar”!<br />
Toninho, o mais entusiasmado, dizia: “Léco, eu vou<br />
fazer concurso para o Banco do Brasil e irei passar em<br />
primeiro lugar, pois preciso ficar em Uberaba. Eu, você<br />
e Jesus vamos prestar outro vestibular, passar e<br />
15
continuar juntos”. Fiz, então, meu terceiro vestibular<br />
em Uberaba. Eu e Jesus passamos; Toninho não foi<br />
aprovado no vestibular nem no concurso do Banco do<br />
Brasil. Mas como Deus sempre tem um prêmio para<br />
as pessoas puras e bondosas de coração, ele foi<br />
lecionar inglês num colégio de freiras onde<br />
estudavam as moças de “classe A” de Uberaba,<br />
casou-se com uma delas e ganhou do sogro, de<br />
presente, uma escola de inglês em Goiânia. Está rico e<br />
realizado. Era e é um excelente professor.<br />
Começo da Faculdade - Finalmente, consegui<br />
entrar para a Medicina, juntamente com meu amigo<br />
Jesus. Éramos 53 alunos no primeiro ano do curso.<br />
Eu era o único que já sabia o que queria: ser<br />
generalista e médico em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>.<br />
Guardo muitas e boas recordações de meus<br />
tempos de Faculdade. Senão, vejamos: dos muitos<br />
lugares que morei em Uberaba, tenho ótimas<br />
lembranças do tempo de pensão da d. Cornélia. Já na<br />
nossa república do bairro da Abadia, morava Zé<br />
Rubens (dono da casa que ocupava um quarto<br />
sozinho). Eu e Maurício dividíamos um quarto. Pioli e<br />
Luchezi, conterrâneos de Americana/SP, dividiam<br />
outro. Em dois quartinhos no quintal, moravam<br />
Paulão e Cláudio. Pioli era um “excelente” repentista:<br />
sabia tocar somente a introdução de “Malagueña”.<br />
Mas, por outro lado, tinha uma musiquinha para<br />
cada colega.<br />
Lembro-me bem da do Cláudio, por ser a mais<br />
interessante: “O Cláudio Teotônio Leota Araújo que<br />
mora lá em casa, no quarto mais sujo”. Isto porque o<br />
Cláudio era muito desorganizado e deixava o quarto<br />
numa bagunça danada. Porém, não tenho dúvidas: o<br />
Cláudio, psiquiatra em São <strong>Paulo</strong>, “boa pinta” como é<br />
e se vestindo muito bem, deve ter seu consultório<br />
cheio de madames neuróticas.<br />
16
Eu e meu grande amigo Jesus,<br />
enquanto tomávamos o “trote” da Faculdade.<br />
Do Paulão, também psiquiatra em São <strong>Paulo</strong>,<br />
não tenho tido notícias. Já o Pioli, apesar de suas<br />
extravagâncias, era muito inteligente e, até certo<br />
ponto, bom aluno. Tinha um bom consultório de<br />
doenças circulares periféricas em Americana (sua<br />
terra natal). Era, mais ou menos, da minha idade.<br />
Infelizmente, morreu ainda jovem. O José Rubens,<br />
com certeza, está exercendo a profissão e tem uma<br />
concessionária de carros em Caldas/MG. Quanto ao<br />
Maurício, saímos juntos da república para morar<br />
num quarto de casa de família, ao lado do Uberaba<br />
Tênis Clube - onde um aeromodelista nos “enchia o<br />
saco” o dia inteiro, com aqueles aviõezinhos. Daí,<br />
fomos morar no Hospital Santa Maria, de propriedade<br />
de nosso amigo dr. Olavo - ao lado da clínica<br />
ortopédica dos irmãos Barsante, com os quais<br />
saíamos com freqüência para auxiliar em cirurgias,<br />
nas cidades vizinhas a Uberaba. Como era bom!<br />
Comíamos um bom peixe no almoço, às vezes no<br />
jantar e, além disso, levávamos uma graninha que<br />
aumentava o nosso faturamento mensal.<br />
17
Eu e Maurício iríamos morar juntos,<br />
novamente, nos hospitais da Suzeme (rede de<br />
hospitais da Prefeitura do Rio de Janeiro), onde<br />
fizemos internato. E trabalhávamos, também, numa<br />
rede de hospitais pediátricos de Nova Iguaçu/RJ. O<br />
Maurício é, hoje, ginecologista em Presidente<br />
Wenceslau/SP.<br />
Outro colega que também esteve comigo, nos<br />
internatos no Rio, foi o Walter Florentino, que foi<br />
levado para a cidade de Cruzeiro/SP pelo dr. Lídio<br />
Toledo (durante muito tempo, médico da Seleção<br />
Brasileira de Futebol), onde exerce a profissão como<br />
ortopedista até hoje - sendo, também professor de<br />
Educação Física naquela cidade do Vale do Paraíba.<br />
Havia falado de minha colega de científico em<br />
São José dos Campos, Maria Helena Pires.<br />
Curiosamente ela fez vestibular para Medicina na<br />
mesma sala que eu. Passou e fizemos o curso até o<br />
final em Uberaba. A Maria Helena era muito amiga do<br />
Paulinho de Carvalho, colega nosso que trabalha<br />
como pediatra em São <strong>Paulo</strong>. Achávamos, até, que os<br />
dois iriam se casar um dia. O Paulinho casou-se com<br />
a Ednéia (eles têm dois filhos: Luciana e Paulinho) e<br />
somos muito amigos até hoje. Maria Helena, por sua<br />
vez, casou-se com Arildo (engenheiro do ITA), que<br />
participou de vários de nossos encontros depois que<br />
nos formamos. Infelizmente, ele teve um câncer e<br />
morreu ainda jovem. Maria Helena trabalha até hoje<br />
em Jacareí.<br />
Como médico formado em Uberaba, não<br />
poderia deixar de citar o “bar do Mirréis”, pois todos<br />
nós tínhamos nossa conta para pendurar o café da<br />
manhã (um delicioso “pingado” com pão e manteiga).<br />
Com que emoção eu e Zélia fomos recebidos pelo<br />
Mirréis e d. Maria nos encontros de nossa turma,<br />
promovidos em Uberaba, quando por lá passamos<br />
18
para tomar nosso cafezinho.<br />
Quanto ao meu padrinho, afilhado, compadre e<br />
irmão Jesus, infelizmente os compromissos e<br />
dificuldades de cada um nos impedem de nos<br />
falarmos e, principalmente, nos vermos sempre.<br />
Jesus reside em Brasília, tendo atuado como<br />
otorrinolaringologista. Do seu casamento com a<br />
minha querida comadre Ana Luiza, teve três filhos (os<br />
quais considero como se meus fossem): Igor, Virgínia<br />
e Vítor. A relação de nossas famílias é intensa e<br />
marcante: eu, ele, Zélia, Ana e nossos filhos, embora<br />
quase nunca nos encontremos (devido à longa<br />
distância geográfica que nos separa), temos uma<br />
amizade pra toda a vida. Tanto que Marcos, meu filho,<br />
morou por um bom tempo na casa da Ana e dos<br />
meninos em Brasília, que o acolheram com todo o<br />
carinho e atenção. Ele costuma dizer que lá é sua<br />
“eterna segunda casa”. Atualmente, Jesus vive com a<br />
amiga Marina.<br />
No período de residência nos hospitais da<br />
Suzeme (Rio de Janeiro), eu e mais cinco colegas<br />
fomos encarregados de fazer chegar até o presidente<br />
Juscelino Kubitschek o convite para ser o patrono da<br />
nossa turma. Isto porque Juscelino, como<br />
governador, criou nossa Escola e, como presidente, a<br />
federalizou; ela está, hoje, entre as dez melhores do<br />
Brasil. Não sei como, eu e Galdino conseguimos<br />
descobrir o endereço em Copacabana de uma das<br />
filhas de JK. Fomos até o apartamento dela e<br />
transmitimos o convite a Rodrigo, seu marido. Ele nos<br />
adiantou que, embora fosse certamente ficar muito<br />
satisfeito com o convite, Juscelino não iria aceitá-lo<br />
por causa do AI-5, temendo se expor demais. Então,<br />
JK se fez representar por seu amigo fraterno Renato<br />
Azeredo.<br />
Minha formatura foi no dia 17 de dezembro de<br />
19
1967. Naquele tempo, a rodovia Anhanguera (pela<br />
qual fomos a Uberaba) ainda não era asfaltada. Nossa<br />
colação de grau foi às 20h, no Cine Metrópole de<br />
Uberaba, após missa celebrada na Catedral<br />
Metropolitana pelo monsenhor Juvenal. Eu, papai,<br />
mamãe e Zélia (que já era minha noiva) fomos às<br />
lágrimas quando foi colocado o anel de formatura em<br />
meu dedo, única vez em que o usei. Terminada a<br />
cerimônia, perguntei a meus pais, meus irmãos e à<br />
Zélia se topariam viajar para São <strong>Paulo</strong> naquela<br />
mesma noite (no ônibus das 22h) e, com a<br />
concordância deles, viajamos. No mesmo ônibus<br />
estava o Paulinho de Carvalho.<br />
Minha turma da Faculdade, durante comemoração de<br />
formatura. Eu sou o 13º (fileira de cima), da esquerda<br />
para a direita.<br />
20
A Profissão<br />
Chegamos em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> na tarde de 18 de<br />
dezembro de 1967. Muito cansado, tomei um banho e<br />
fui dormir. Por volta das 21h, a Isaura (saudosa<br />
amiga que trabalhava na Santa Casa) me chamou<br />
para fazer um parto - o meu primeiro como médico em<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Quando a criança nasceu, perguntei:<br />
“Isaura, que horas são”? Ela respondeu: “Onze da<br />
noite”. Então eu disse: “A esta hora a minha turma<br />
está dançando no baile de formatura”.<br />
Um dos fatores que mais pesou para que<br />
escolhesse a Medicina foi o fato de ser a única<br />
profissão que me permitiria ficar em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>.<br />
Assim, tinha que estar muito bem preparado em tudo<br />
e, principalmente, em obstetrícia (“bicho-papão” de<br />
médico de interior). Para tanto, além do excelente<br />
curso na faculdade, fiz estágios no Rio de Janeiro, na<br />
maternidade Fernando Magalhães (que tinha uma<br />
média de 30 nascimentos por dia) e em São <strong>Paulo</strong>, na<br />
maternidade Leonor Mendes de Barros, na equipe do<br />
professor Domingos Delacio (melhor serviço de<br />
obstetrícia existente na época). Fiz, ainda, internato<br />
de pediatra no Hospital Jesus e de pronto-socorro nos<br />
hospitais da Suzeme (Miguel Couto, Souza Aguiar e<br />
outros), todos no Rio de Janeiro. Vim, assim, bem<br />
preparado para atender as comunidades de <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong> e São Sebastião do Rio Verde.<br />
Estava firmemente decidido a voltar a morar na<br />
minha querida terra. Para se ter uma idéia de tal<br />
determinação, o prefeito de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> à época, sr.<br />
João Mancilha, ofereceu-me um salário de<br />
NCr$ 100,00 por mês e o provedor da Santa Casa, sr.<br />
Benedito Noel de Souza, propôs a mesma quantia<br />
para que eu trabalhasse no hospital. Em termos<br />
comparativos de salário, por um plantão de 24 horas<br />
21
(8h da manhã de sábado até 8h da manhã do<br />
domingo) no hospital de pediatria Prontonil, em Nova<br />
Iguaçu, ganhava-se NCr$ 600,00. Sendo assim,<br />
aceitei as propostas e, também, a de São Sebastião;<br />
permaneci no plantão de Nova Iguaçu durante dois<br />
anos.<br />
Santa Casa<br />
Quando vim para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> em 1967, já como<br />
médico, a Santa Casa possuía só uma “enfermeira”, d.<br />
Isaura (coloco entre aspas porque, apesar de não<br />
deter conhecimento técnico-profissional na área,<br />
tratava-se de uma grande amiga, sempre disponível e<br />
dedicada ao trabalho). Éramos eu, ela e o dr. Delfim -<br />
que, é fundamental ressaltar, só tinha compromisso<br />
de atendimento de quatro horas pela manhã, pois era<br />
funcionário do Posto de Saúde. Mesmo assim, ele nos<br />
dava uma retaguarda espetacular, sem a qual teria<br />
sido impossível “tocar” a Santa Casa. O também<br />
grande amigo dr. Ciro Mancilha, de Itamonte, era o<br />
médico anestesista do hospital.<br />
D. Isaura nos ajudava e muito. Ela era casada<br />
com o “Pãozinho”, meu primo, residindo “parede e<br />
meia” com o bar do “Zé Tico”, também meu primo.<br />
Certo dia, “Pãozinho” estava bebendo no bar “vizinho”,<br />
em companhia de alguns amigos, quando apareceu a<br />
d. Isaura e o “colocou por frente”. Não demorou muito<br />
e “Pãozinho” voltou ao bar. A gozação da turma que o<br />
acompanhava foi fenomenal. Ao que ele respondeu:<br />
“Vão lá em casa ver a cara dela”! Todos foram olhar e,<br />
rindo, voltaram dizendo ao “Pãozinho”: “Não vimos<br />
nada, ela está do mesmo jeito”. E ele retrucou: “É<br />
porque eu lhe disse poucas e boas”!<br />
Fiz mais de 5.000 partos normais e cesarianas<br />
na Santa Casa - sem contar os realizados em<br />
domicílios, muitos deles na zona rural (hábito na<br />
22
época). Fiz, também, alguns partos na Santa Casa de<br />
Virgínia, na ausência do dr. Guilhermino.<br />
O início da minha carreira em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, em 1968<br />
(apareço à direita, ao lado do prefeito João Mancilha<br />
e seu chefe de gabinete, Macário Pinto Dias Neto).<br />
Provedoria - À época, era provedor da Santa<br />
Casa o amigo Benedito Noel de Souza - o popular<br />
“Dito da Dona Juraci”, com quem me dava muito bem.<br />
Em 1975, teria que ser eleita a nova diretoria. “Seu”<br />
Dito me chamou em particular e disse que, em<br />
hipótese alguma, aceitaria continuar como provedor.<br />
Sendo assim, eu disse a ele que seria candidato.<br />
Então, montamos uma chapa única, onde fui eleito<br />
provedor e o meu grande amigo João Pereira Netto Jr.<br />
(o popular e querido “Pipoca”), que já era tesoureiro,<br />
permaneceu na função.<br />
Assim se passaram mais de 20 anos, com a<br />
Santa Casa dirigida por nós dois. E graças ao nosso<br />
trabalho, principalmente à dedicação, disponibilidade<br />
do “Pipoca” e, é lógico, à cooperação de todo o<br />
povo do município, conseguimos trocar todo o forro<br />
da Santa Casa, de estuque para laje pré-moldada e<br />
23
colocamos laje de piso - para que, se algum dia<br />
houvesse a necessidade da construção de um<br />
segundo piso, a base já estaria pronta. Fizemos,<br />
também, uma central de oxigênio, com bicos de<br />
oxigênio em todos os leitos do hospital. A Santa Casa<br />
só tinha uma “bala” de oxigênio. Fizemos, então, uma<br />
central de oxigênio com oito “balas”, distribuindo-o<br />
por todo o hospital (um bico de oxigênio em cada leito),<br />
mantendo uma “bala” no centro cirúrgico.<br />
Construímos toda a área do ambulatório (que não<br />
existia no hospital), o berçário, a pediatria e<br />
banheiros nas enfermarias e nos quartos.<br />
Adquirimos o terreno em se instalou o Parque<br />
de Festas da Santa Casa (conseguido no curto<br />
mandato do governador Ozanan Coelho), onde são<br />
realizadas as tradicionais festas anuais (todo mês de<br />
julho). Em nossa administração, viabilizamos o<br />
aterro e todas as construções, com exceção dos<br />
banheiros. Para tais empreendimentos, eu e o<br />
“Pipoca” - com recursos próprios - viajamos inúmeros<br />
quilômetros, “correndo” atrás dos políticos.<br />
Contamos, para isto, com a colaboração ativa e<br />
efetiva dos saudosos dr. Aureliano Chaves e deputado<br />
Cristovam Chiaradia.<br />
Em uma das nossas grandes realizações, da<br />
qual muito me orgulho, conseguimos através do<br />
padre Francisco <strong>Mira</strong> (vigário de Itamonte) a vinda,<br />
para a nossa Santa Casa, das Irmãs Salesianas do<br />
Sagrado Coração de Maria (ordem religiosa que teve<br />
como fundador o padre José Augert, missionário<br />
francês amigo do padre Francisco <strong>Mira</strong>). Vieram,<br />
então, as irmãs Carmelita, Clementina e Nair.<br />
Passaram por aqui, também, as irmãs Guilhermina,<br />
Terezinha, Vera e Luci (costumo dizer que conheci,<br />
pessoalmente, dois santos: Papa João <strong>Paulo</strong> II e irmã<br />
Carmelita, com quem Deus me deu a ventura de<br />
24
conviver durante 25 anos).<br />
Algum tempo depois, graças ao trabalho do<br />
meu grande amigo Nelson Marques (então prefeito de<br />
São Sebastião do Rio Verde), em parceria com o então<br />
prefeito de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, Lázaro Soares (“Lazinho”), foi<br />
contratada a enfermeira-padrão Luiza Helena, sem<br />
custos para a Santa Casa. Ela continua trabalhando<br />
conosco até hoje, como chefe do Departamento de<br />
Enfermagem, prestando-nos um excelente serviço -<br />
não só do ponto de vista técnico, mas, principalmente,<br />
pelo que transmite de carinho e calor humano<br />
(diretamente ou através de suas comandadas) aos<br />
pacientes.<br />
A “santa” a quem me referi várias vezes no livro.<br />
Irmã Carmelita, minha “Negra Santa”, obrigado por tudo!<br />
(foto: Missa Comemorativa dos meus 25 Anos de Formatura)<br />
25
Eu ladeado pelos meus amigos dr. Ivan e dr. Cirinho,<br />
em jantar dos médicos da Festa da Santa Casa.<br />
Agradecimento que fazia em todo último dia<br />
da Festa da Santa Casa, nos 25 anos<br />
em que fui provedor.<br />
26
Primeira provedora - Pela primeira vez em sua<br />
história, a Santa Casa tem, atualmente, um diretor<br />
do sexo feminino, a provedora “Lourdes do Nego”. No<br />
seu pouco tempo de gestão, conseguiu muitos<br />
equipamentos e cerca de R$ 500.000,00 dos governos<br />
estadual e federal. Com a “estrela” que tem, estamos<br />
certos de que irá conseguir, também, aumentar o<br />
número de contribuintes do Carnê-Doação,<br />
melhorando as condições financeiras do hospital.<br />
O quadro atual da Santa Casa é composto pelos<br />
seguintes funcionários:<br />
Corpo Clínico<br />
Dr. Léco (diretor clínico desde 1967)<br />
Dr. Delfim<br />
Dr. Ivan<br />
Dr. “Neném”<br />
Chefe do Depto. de Enfermagem: Luiza Helena<br />
Enfermeira-padrão: Fernanda<br />
Técnicos de Enfermagem: Rogério, Mauro e Juliano<br />
Técnicas de Enfermagem: Maria, Lídia, Lucimar,<br />
Maria Olívia, Lila, Margarida, Denise, Cida, Dulcilene<br />
Responsável pelo Laboratório (Farmacêutica-<br />
Bioquímica): Cristiane<br />
Auxiliar de Laboratório: Valéria<br />
Técnico/Raio-X: Fabrício<br />
Secretária-Administrativa: Leni<br />
Secretária: Roseli<br />
Serviçais: Zezé da Cozinha, Zezé da Copa, Irene, Cida,<br />
Maria das Graças e Adriana<br />
27
Eu, ladeado por dr. Delfim Pinho Neto (meu “irmão mais<br />
velho” na profissão) e dr. José Geraldo dos Santos Vilela -<br />
dr. “Neném” (nosso “irmão caçula”).<br />
Posto de Saúde<br />
Sucedeu ao dr. Nestor, no Posto de Saúde, meu<br />
amigo, padrinho e irmão mais velho dr. Delfim, a<br />
quem muito devo - inclusive o emprego no Posto de<br />
Saúde, já que, apesar de concursado, eu não contava<br />
com a simpatia dos nossos líderes políticos da época,<br />
com exceção do querido tio Luiz (prefeito durante<br />
aquele período e meu ídolo entre os homens públicos<br />
de nossa cidade). Outro grande amigo, que tanto me<br />
ajudou no início da minha carreira profissional, foi o<br />
saudoso dr. Aureliano Chaves - amizade esta que se<br />
estenderia, por longos anos, para seu filho Antônio<br />
Aureliano, com quem Marcos, meu filho, trabalhou<br />
durante alguns anos, na Secretaria de Transportes do<br />
Distrito Federal, na Câmara dos Deputados e na<br />
Secretaria de Transportes e Obras de Minas Gerais<br />
(neste período, era chefe de gabinete meu também<br />
grande amigo Eugênio Cabral).<br />
28
Estando determinado a morar em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>,<br />
preferi vir disputar com os colegas da região uma vaga<br />
no Posto de Saúde. Fiz concurso e fui aprovado, mas<br />
um certo político local impedia a todo custo minha<br />
nomeação. Meu “irmão” dr. Delfim, então titular do<br />
Posto de Saúde e já praticamente transferido para o<br />
de Itanhandu (que era o que lhe interessava, por ser<br />
sua cidade natal), ficou em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> “segurando” a<br />
vaga até que o entrave político deixasse de existir para<br />
que eu fosse nomeado.<br />
Passei, então, a ir a Belo Horizonte tentar a<br />
minha nomeação. Tio Luiz (então prefeito, juiz de paz<br />
e provedor da Santa Casa) me chamou, autorizandome<br />
a oferecer 800 votos para o deputado estadual que<br />
me ajudasse a ser nomeado. Conversei com a Zélia e<br />
fui para Belo Horizonte disposto a “armar barraco”<br />
até conseguir o que era meu, de direito. Procurei um<br />
deputado estadual de Uberaba que eu conhecia;<br />
mesmo ele não sabendo quem eu era, fiz a ele a<br />
proposta: “Deputado, arranjo- lhe 800 votos em <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>, se o senhor conseguir minha nomeação”. Ele me<br />
respondeu: “Dr. <strong>Paulo</strong>, eu não tenho interesse em ter<br />
uma votação tão expressiva numa cidade tão distante<br />
do Triângulo Mineiro. O sr. está me oferecendo um 'filé',<br />
mas eu não vou aceitar, porque não terei condições de<br />
dar assistência tão merecida por uma cidade que me<br />
dará, de 'mão beijada', tantos votos. Ainda mais que<br />
seu caso é de direito, já que foi aprovado num concurso<br />
público. Porém, vou lhe apresentar um colega de Santa<br />
Rita do Sapucaí que, com certeza, irá aceitar sua<br />
proposta”. Conheci, então, o deputado Francisco<br />
Bilac - pai do atual deputado federal Olavo Bilac Pinto<br />
(“Bilaquinho”), nosso grande amigo. Apresentei-me<br />
como sendo de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e propus os mesmos 800<br />
votos em troca da nomeação. Ele me respondeu:<br />
“Estive em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> na casa de um turco, que me<br />
29
disse já ter compromisso com o deputado estadual<br />
Andradinha. Gostei até da honestidade dele”. E eu lhe<br />
respondi: “Deputado, este senhor é meu tio, chama-se<br />
Luiz Círio <strong>Nogueira</strong> e nada tem de turco. E é com a<br />
autorização e o grande prestígio dele que lhe ofereço<br />
estes 800 votos, em troca de minha nomeação”.<br />
Finalmente, consegui.<br />
Fiquei sabendo da publicação da minha<br />
nomeação através de um amigo que trabalhava no<br />
telégrafo. Ele chegou à minha casa e, através do vitrô<br />
do banheiro (onde eu tomava banho), disse o<br />
seguinte: “Dr. Léco, acabo de receber um telegrama:<br />
sua nomeação saiu”!<br />
Após muita luta, assumi a direção do Posto de<br />
Saúde, que tinha como funcionários dr. Ademar da<br />
Silva Dias - “Mazinho” (dentista que respondia<br />
interinamente, até então, pela chefia), Braz, “Quilina”,<br />
Sílvio da Cota e Ana do Tio Antônio. Fiz uma<br />
correspondência para o secretário de Saúde,<br />
solicitando que meu grande amigo “Mazinho”<br />
continuasse como chefe, pois ficava constrangido de<br />
ser o chefe, sendo o “Mazinho” bem mais velho do que<br />
eu, tanto de idade quanto de tempo de casa. A<br />
Secretaria informou que o chefe do Posto tinha que<br />
ser, obrigatoriamente, um médico.<br />
“Mazinho” me chamava, carinhosamente, de<br />
“chefinho”. Na época, uma das salas do posto estava<br />
quase até o teto cheia de várias edições do jornal<br />
"Diário Oficial do Estado". Falei em vendê-las e fui<br />
repreendido pelo “Mazinho”, dizendo que não podia<br />
porque estava escrito em cada número do jornal:<br />
“Arquivo do Posto de Saúde”. Aí eu respondi: “O<br />
Senhor está parecendo um menteca”! E, dando uma<br />
de “chefinho”, gritei: “Sílvio, por favor, leve estes<br />
jornais e venda-os para o açougue do compadre<br />
'Tucano'”.<br />
30
Foi muito divertido o meu tempo de Posto de<br />
Saúde. Em dias de chuva, podíamos contar certo com<br />
café e bolinhos da “Quilina”. Braz, homenzarrão com<br />
quem demos tantas risadas, tinha o hábito de pegar<br />
criancinhas e jogar para o alto, deixando-as<br />
“arrepiadas” de medo. Mas elas adoravam o “Jipão”.<br />
Certa feita, o Braz fez uma que parece mentira, mas<br />
vou narrar. Após atender uma criança, passei um<br />
medicamento em pó, no qual deveria ser acrescida<br />
água fervida. O “Jipão” entregou o remédio para a<br />
mãe, orientando-a para agitar a medicação antes de<br />
dar à criança. Só que ele esqueceu de falar que tinha<br />
que ser na água. Dias depois, a mãe voltou dizendo<br />
que a criança não tinha melhorado. Perguntei, então,<br />
se ela tinha dado a medicação direitinho. Ela me<br />
respondeu: “O AAS Infantil eu dei. Porém, fiquei com o<br />
braço doendo de tanto sacudir aquele do pozinho, mas<br />
o mesmo não virou líquido”.<br />
O Sílvio sempre tinha suas historinhas.<br />
Quando a Olávia (figura folclórica de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>)<br />
passava em frente ao Posto, com uma enxadinha nas<br />
costas e um saco de capim, dizia o Sílvio: “Ainda vou<br />
ser Governador do Estado e nomear a Olávia<br />
presidente da Emater”.<br />
Nas eleições Jânio/Lott, Sílvio andava com um<br />
balde de cola de farinha de trigo, panfletando toda a<br />
cidade na calada da noite. Isto lhe valeu o apelido de<br />
“Sílvio Quadros”. Ele foi, também, representante da<br />
Cesta de Natal Amaral. Fazia propaganda assim:<br />
“Falem mal, mas falem do Amaral”. Assim, ficou<br />
também conhecido conhecido como “Sílvio Amaral”.<br />
Quanto à Ana e à “Quilina”, todos duvidávamos<br />
que, quando tivessem tempo para aposentar, o<br />
fizessem, tão grandes eram o amor e a dedicação de<br />
ambas para com o Posto de Saúde.<br />
31
Hotel Serraverde<br />
Ano de 1979: nasce o imponente Hotel<br />
Serraverde, orgulho de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>!<br />
Como entusiasta do Serraverde, procurei estar<br />
perto da sua construção e, por isso, tornei-me amigo e<br />
admirador de seu proprietário, o jornalista Hélio<br />
D’Alessandro Sarmento, nosso saudoso “Gugu”, com<br />
quem convivi durante anos. Além da grande amizade<br />
e confiança (sendo eu seu médico e de sua família), ele<br />
me proporcionou contatos muitos interessantes com<br />
personalidades de diversas esferas.<br />
Abrigou, também no Hotel, o “13º Congresso<br />
Sul-Mineiro de Cardiologia”, do qual fui um dos<br />
organizadores. Neste evento, esteve presente a<br />
cúpula da cardiologia nacional, incluindo o<br />
memorável dr. Euryclides de Jesus Zerbini, um dos<br />
maiores cardiologistas do mundo, autor do primeiro<br />
transplante de coração no Brasil.<br />
Entregando placa de agradecimento ao memorável dr. Zerbini,<br />
por sua marcante participação no Congresso.<br />
Minha ligação com o “seu” Hélio era tão íntima<br />
que, certa vez, sentiu-se ele à vontade para me pedir<br />
que pernoitassem, em minha residência, o dr.<br />
Aureliano Chaves e sua esposa, d. Vivi. Eles voltavam<br />
de um velório de um parente no Rio de Janeiro e,<br />
como o Hotel Serraverde estava com lotação completa<br />
(por ocasião do então feriado de Semana Santa), não<br />
32
teve como hospedá-los. Na manhã seguinte, eu e Zélia<br />
convidamos amigos e políticos locais e de São<br />
Sebastião do Rio Verde para um café da manhã com<br />
nossos convidados tão especiais - quando estiveram<br />
também presentes “Gugu” e o jornalista e colunista<br />
do jornal “Estado de Minas”, Nicolau Neto (que se<br />
encontrava hospedado no Hotel), o qual “tomou<br />
conta” do evento, contando “causos” envolvendo,<br />
principalmente, políticos mineiros que marcaram<br />
época, como Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves,<br />
Benedito Valadares, José Maria Alckmin e outros.<br />
Café da manhã em minha casa com dr. Aureliano Chaves,<br />
d. Vivi, amigos e políticos locais.<br />
Devido ao excelente relacionamento que<br />
mantínhamos com o Hélio, eu e o “Pipoca” (com quem<br />
administrava a Santa Casa) conseguimos trazer<br />
várias atrações de peso para a Festa da Santa Casa.<br />
Por vários anos, nossa Festa pôde contar com artistas<br />
famosos, com hospedagem gratuita no Serraverde e<br />
sem nenhum custo para o nosso Hospital. Entre eles,<br />
o famoso e interessante Oswaldo Sargentelli, já<br />
falecido (conhecida personalidade do showbizz<br />
carioca, que apresentava um apreciado show<br />
33
de mulatas). Estando em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> por ocasião de<br />
um show durante a Festa da Santa Casa, ele -<br />
torcedor fanático do Botafogo - me deu o prazer de<br />
uma longa conversa, quando afirmou: “Léco, sua<br />
cidade é muito interessante. Aqui até as vacas são<br />
botafoguenses”. Ele se referia às vacas da raça<br />
holandesa (que têm cores preta e branca),<br />
predominantes em nossa região.<br />
Dentre tantos casos relacionados ao Hotel<br />
Serraverde (os quais seriam suficientes para escrever<br />
um novo livro), outro interessante foi quando conheci,<br />
“na intimidade”, um senador da República, ao<br />
atendê-lo - no Hotel - com crise de hemorróida.<br />
São Sebastião do Rio Verde<br />
Eu e meu vizinho e amigo, <strong>Paulo</strong> Alair (dentista),<br />
tivemos algumas coisas em comum em nossas vidas.<br />
Primeiro, trabalhamos juntos numa promoção do<br />
vigário da cidade de São Bento Abade/MG (próxima a<br />
Três Corações). O evento se chamava “Missão de<br />
Férias”. O <strong>Paulo</strong> extraiu um bocado de dentes. Eu<br />
atendi um sem número de consultas. Fiz, também,<br />
várias pequenas cirurgias. Tratava-se, é lógico, de<br />
trabalho voluntário.<br />
Trabalhamos juntos, também, contratados<br />
pelo prefeito de São Sebastião do Rio Verde, Sílvio<br />
Fonseca. Nosso consultório ficava na casa do sr.<br />
Manoel “Goiaba”, em frente à farmácia do sr. Ivã. O<br />
<strong>Paulo</strong> trabalhava muito. Eu, porém, ficava a ver<br />
moscas, ou melhor, a ver o quanto a farmácia do sr.<br />
Ivã ficava cheia. O <strong>Paulo</strong> ficou em São Sebastião por<br />
pouco tempo, enquanto eu trabalhei lá por uns 20<br />
anos. A princípio contratado pela Prefeitura até que,<br />
um dia, o dr. Francisco Barros (diretor da Diretoria<br />
Regional de Saúde de Varginha) me procurou em<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, pedindo que fosse com ele até o prefeito<br />
34
José <strong>Mira</strong>, de São Sebastião do Rio Verde.<br />
Lá chegando, para surpresa minha, o dr.<br />
Francisco falou ao “seu” José <strong>Mira</strong>: “Prefeito, tenho<br />
uma boa notícia para o senhor! O Estado está<br />
contratando um médico para cá”. Ao que o “seu” José<br />
<strong>Mira</strong> respondeu: “Boa por um lado e ruim por outro. O<br />
Léco terá que sair”? Dr. Francisco, então, respondeu:<br />
“Senhor prefeito, a contratação é um ato político. Cabe<br />
ao senhor indicar quem quiser”. Então o José <strong>Mira</strong><br />
falou: “Sendo assim, está indicado o dr. Léco”.<br />
Sou, com muito orgulho, cidadão honorário de<br />
São Sebastião do Rio Verde - por sinal, o único ainda<br />
vivo.<br />
Maria da Fé<br />
Certa vez, recebi uma proposta de trabalho do<br />
meu amigo dr. Nestor de Luca, que já trabalhara<br />
como médico em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Era para trabalhar na<br />
cidade de Maria da Fé. Fomos eu e Zélia até Cristina,<br />
na casa do Nestor, que nos levaria até aquela cidade.<br />
Chovia muito e a estrada entre Cristina e Maria da Fé<br />
era muito ruim; então, Zélia ficou na casa do Nestor, o<br />
qual me levou até Maria da Fé. Lá, teríamos casa para<br />
morar, emprego de imediato para mim no Posto de<br />
Saúde e, para a Zélia, de professora na escola pública<br />
local. No entanto, o desejo de morar em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> foi<br />
maior e, gentilmente, recusei a proposta.<br />
Fatos Pitorescos da Profissão<br />
As passagens curiosas na minha vida de<br />
médico começaram a ocorrer ainda quando<br />
acadêmico.<br />
“Batizados” - Certa vez, fui escalado pelo<br />
professor José Gomes, juntamente com o Paulinho de<br />
Carvalho (hoje pediatra em São <strong>Paulo</strong>) para fazer um<br />
parto. O Paulinho entrou como neonatologista. A<br />
35
criança, logo que nasceu, foi entregue a ele, que me<br />
disse: “Xará, esse neném não está bem”. Então, pedi à<br />
enfermeira que me arranjasse uma vasilha com água<br />
morna. Era uma madrugada muito fria. O Paulinho<br />
pensou: “o que será que o xará irá fazer com essa água<br />
morna”? Já naquela época, eu tinha o hábito de<br />
batizar todos os recém-nascidos que não nasciam<br />
bem e "mandei brasa": “<strong>Paulo</strong>, eu te batizo em nome do<br />
Pai, do Filho e do Espírito Santo”.Só depois ficamos<br />
sabendo que o neném era uma menina...<br />
Substituindo a parteira - Ainda acadêmico, já<br />
havia feito vários partos. Num deles, estava dormindo<br />
na minha casa, em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, quando tocou a<br />
campainha. Levantei e fui atender. Era o Chico (irmão<br />
do “Belezinha”) à procura do Quim, meu irmão, para<br />
que ele fosse buscar (com seu Fusquinha) uma<br />
parteira que fizesse o primeiro parto de sua filha.<br />
Falei com ele: “Chico, vá pra casa que o Quim me leva e<br />
eu faço o parto”. E assim ocorreu.<br />
Partos e amigos - A esposa e os dois filhos do<br />
dr. José Geraldo dos Santos Vilela (dr. “Neném”)<br />
nasceram comigo, assim como o casal de filhos do dr.<br />
Guilhermino (outro grande amigo, que morava em<br />
Virgínia e que hoje reside em Itajubá). Um dos filhos<br />
do então prefeito de Virgínia, Lúcio Brito, também<br />
“veio ao mundo” por minhas mãos. Nesta ocasião, era<br />
meu aniversário. Eu fiz o parto e saí do hospital para<br />
atender no Posto de Saúde. Quando descia de volta<br />
pra Santa Casa, a banda de música do Juvêncio (que<br />
viera tocar para o recém-nascido) subiu ao meu<br />
encontro, ao som de “Parabéns pra você”.<br />
Momento difícil - Outro fato marcante se deu<br />
no querido bairro da Cachoeira (zona rural de <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>). Fui chamado para atender uma paciente que,<br />
pelas informações preliminares, estava tendo um<br />
aborto e sangrava muito. Chamei irmã Carmelita<br />
36
(uma santa com quem convivi por 25 anos), arrumei a<br />
caixa de curetagem uterina, coloquei em meu<br />
Fusquinha 63 e fomos até onde deu. Daí, passamos<br />
para um jipe e andamos mais um tanto. Depois para<br />
um cavalo e, como a irmã não era uma boa amazona,<br />
acabamos de chegar a pé. Constatamos que, de fato,<br />
era um aborto natural, sem as mínimas condições de<br />
locomoção. Colocamos a paciente deitada,<br />
“atravessada” em uma cama de casal, pedindo ao<br />
marido que mantivesse as duas pernas dela encolhi-<br />
das, sustentando nos joelhos. Irmã Carmelita dizia<br />
palavras ao ouvido da mulher (as quais somente ela<br />
saberia dizer) e fiz a curetagem contando com esta<br />
providencial “anestesia”.<br />
Silêncio - A situação mais constrangedora por<br />
que passei na minha vida profissional ocorreu no<br />
distrito de Santana do Capivari (município de <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>). Por volta das 22h, fui chamado por uma<br />
senhora para ver seu marido, já idoso. A mulher era,<br />
por razões políticas, minha adversária, chegando até<br />
a não me cumprimentar. Lá pelas 2h, o velho faleceu.<br />
Era uma madrugada de julho, muito fria. Então,<br />
solicitei a ela que fizesse um café. Por um bom tempo,<br />
ficamos os dois absolutamente calados - eu, tomando<br />
café e fumando. Às 5h fui à rua, encontrei alguns<br />
“madrugadores” e pedi a eles, então, que me<br />
socorressem naquela situação. Diante de minha<br />
solicitação, várias pessoas se dirigiram para a casa.<br />
Então, pedi licença e saí. A dona da casa não<br />
perguntou o preço dos meus honorários e sequer me<br />
agradeceu. Eu, claro, não guardei mágoas, só achei<br />
muita graça da situação.<br />
De surpresa - Um dia, estando por acaso na<br />
Santa Casa de Caxambu, uma irmãzinha de caridade<br />
que lá trabalhava me chamou, apavorada, com o<br />
surgimento de uma gestante em trabalho de parto<br />
37
pélvico, sendo que não havia nenhum médico do<br />
hospital naquele momento. Apesar de totalmente<br />
inesperada, foi uma experiência marcante.<br />
Incômodos jocosos - Em ambulatórios de<br />
cidades do interior, depara-se com comentários<br />
interessantes de alguns pacientes. Certa vez atendi<br />
uma velhinha que, muito desconcertada, queixou-se:<br />
“Doutor, estou com uma coceira danada na<br />
perseguida”. Em outra oportunidade, um velhinho<br />
acanhado foi consultar por estar com gonorréia.<br />
Morri de inveja!<br />
“Bolinha” - Certa vez, tive que “dar uma de<br />
veterinário”. Tínhamos uma cadela (da raça<br />
pequenês) chamada “Bolinha”, adorada pela Zélia e<br />
nossos filhos. Estando prenha, entrou em trabalho de<br />
parto e não conseguia dar à luz. Já eram 22h, Zélia<br />
dizia que “Bolinha” iria morrer e as crianças estavam<br />
em prantos.<br />
Resolvi ligar para um veterinário amigo meu, o<br />
qual me respondeu que cesariana, em animal de<br />
pequeno porte, levava fatalmente ao óbito.<br />
Comecei, então, a induzir o parto, com o medicamento<br />
orastina em doses proporcionais. Era madrugada,<br />
“Bolinha” latia muito. Indo olhar o que acontecia,<br />
notei que a bolsa d'água já estava visível. Calcei um<br />
par de luvas, furei a bolsa e esmaguei a cabeça do<br />
cachorrinho que se apresentava. Pela manhã, o<br />
cachorrinho que eu sacrificara havia saído. Então,<br />
pensei: “saiu um, os outros porventura existentes<br />
nascerão”. Como estava enganado! Bolinha sofreu o<br />
dia inteiro. À tardinha, resolvi intervir. Com anestesia<br />
local, eu, Rafael Vilela e João Viana (o qual, brincávamos,<br />
foi o “anestesista”) fizemos a cesárea e retiramos<br />
quatro filhotes ainda vivos. Anos depois, “Bolinha”<br />
engravidou novamente e teve parto tranqüilo, dando<br />
cria a três lindos cachorrinhos.<br />
38
A Família<br />
Nunca fui de namorar muito. Praticamente,<br />
minha única namorada foi a Zélia. Tinha meus<br />
“namoricos” de férias. Como diz aquele ditado:<br />
“acabou o frango, acabou o resguardo”. Com o fim das<br />
férias, acabavam os namoricos.<br />
Eu ainda era acadêmico e o dr. Nestor de Luca<br />
era médico em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e São Sebastião do Rio<br />
Verde. Eu o acompanhava no hospital, no posto de<br />
saúde e nos seus chamados para atendimento em<br />
domicílios. Um dia, passávamos em seu jipe pela<br />
praça do bar do Zé Lázaro quando a Zélia, com seu<br />
uniforme de ginásio, passou defronte o carro e o<br />
Nestor me chamou a atenção, dizendo: “Que garota<br />
bonitinha, Léco! Tem namorado”? Repliquei: “Tem”. E<br />
ele respondeu: “Você toma dele fácil, fácil”. Mal sabia<br />
eu que estava ali a mãe dos meus quatro filhos e a avó<br />
dos meus quatro netos.<br />
Casei-me com a Zélia em 14 de julho de 1968,<br />
depois de um longo noivado. Já estávamos sendo<br />
vítimas de gozação na cidade - sendo comparados a<br />
um casal que quase fez “bodas de prata de noivado”.<br />
Daqui a 11 anos, faremos Bodas de Ouro e já estamos<br />
programando aquela festa...<br />
Paula, minha primeira filha, nasceu um ano<br />
depois que me casei. Tivemos mais três filhos: Marcos,<br />
Karine e Mateus. Hoje temos quatro netos (Pedro Ivo,<br />
Joana Paula, Ana Luiza e Rodrigo), dois genros -<br />
Carlos Roberto (“Cabeto”) e Rodrigo - e uma nora<br />
(Elka). Minha sobrinha, Jocely (”Gu”), morou conosco<br />
por muito tempo; sempre a considerei (e considero)<br />
como filha. Ela tem dois filhos: Bruno e Naíra.<br />
39
Eu, Zélia, nossos filhos, genros, nora e netos.<br />
40
Momentos de felicidade em nossas Bodas de Prata.<br />
Zélia, eu te amo!<br />
Eu, Zélia, minha filha Paula e meu genro Carlos Roberto<br />
(“Cabeto”), em baile-coquetel promovido pela Unimed Circuito<br />
das Águas (São Lourenço), em cerimônia na qual fui um dos<br />
homenageados por ocasião do Dia do Médico (2005).<br />
41
Alcoolismo - Como é difícil admitir esta<br />
doença! Comecei a beber quando já estava no<br />
segundo ano de Medicina em Uberaba. Toda sexta e<br />
sábado, eu, Toninho e Jesus “entornávamos o caldo”.<br />
Formado, vim para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e todos os sábados<br />
havia almoço no rancho do “Panela”, onde bebia-se<br />
bastante. Havia, também, o porão do seu Ivo - lugar<br />
em que não faltava bebida e “tira-gosto”, funcionando<br />
de segunda a segunda (ainda por cima, gratuito).<br />
Como foi difícil parar de beber! Felizmente<br />
consegui - graças a Deus, à minha vontade e à<br />
determinação e luta da Zélia, além dos amigos dos<br />
Alcoólicos Anônimos (AA) e Al-Anon. Uma palavra da<br />
irmã Carmelita pesou muito pra mim: “Meu filho,<br />
deixe de beber! O povo confunde muito quem bebeu<br />
com quem está bêbado”.<br />
Importante citar, também, a valiosa ajuda do<br />
meu grande amigo e calouro de faculdade, dr. José<br />
Viotti (Baependi). Conversamos um sábado inteiro<br />
sobre o meu alcoolismo. Essa conversa foi fator<br />
preponderante para que eu decidisse, definitivamente,<br />
parar de beber. Obrigado, Viotti!<br />
42
Atuação Política<br />
Gosto de política desde os tempos de Faculdade.<br />
Como era boa a política estudantil! Terminada a<br />
apuração, vencidos e vencedores íamos todos para a<br />
Lind Lanches, de Uberaba, comemorar o término das<br />
eleições.<br />
Vim para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> já envolvido com a política<br />
local, pois o chefe político da época (não sei explicar o<br />
porquê) estava encrencado com meu pai - que fôra<br />
seu fiel escudeiro, num passado não muito distante, a<br />
ponto de promover trocas de cédulas dos eleitores que<br />
saíam para votar, chegando ao absurdo de tirar tais<br />
cédulas dos soutiens das mulheres. Êta tempos<br />
danados!<br />
Cheguei a <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, então, comprometido<br />
com a política. Cheguei UDN, depois fui ARENA e<br />
fiquei PFL.<br />
Comarca - Um fato marcante da nossa política<br />
local ocorreu entre um líder político muito influente e<br />
um senhor da Estação (atual São Sebastião do Rio<br />
Verde), sem recursos financeiros, que tinha prestígio<br />
e pretensão de ser prefeito. O primeiro negociou com<br />
ele: “Eu elejo você prefeito nesta eleição e você me<br />
ajuda a me eleger na próxima”. E assim aconteceu. O<br />
senhor de São Sebastião se elegeu prefeito do<br />
município de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, transferindo a sede da<br />
Comarca para São Sebastião. Na eleição seguinte,<br />
conforme combinado, o então prefeito do município<br />
de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, com seu prestígio, elegeu o líder<br />
pousoaltense prefeito de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>.<br />
De imediato, este retornou a sede da Comarca<br />
para o nosso município, trazendo também os<br />
postinhos de luz de nossas praças - que haviam sido<br />
levados para a praça e o portão do cemitério de São<br />
Sebastião do Rio Verde. Os do portão do cemitério<br />
43
ele não conseguiu trazer, devido ao protesto de um<br />
grupo de senhoras de São Sebastião.<br />
Com a vinda da CEMIG para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, os<br />
postinhos foram abandonados no quintal de uma<br />
senhora chamada Maria Rosa (conhecida como<br />
“Maria Louca”), que morava onde hoje mora o Jeovani<br />
do cartório. Assim, eu peguei os postinhos cedidos<br />
pelo então prefeito José (“Teté”) Russano, recupereios<br />
e trouxe para minha residência, onde tenho cinco<br />
(fotos - página seguinte). Os outros quatro levei para<br />
meu sítio onde, hoje, funciona a Empresa de Águas<br />
Minerais <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> - que iluminam a fonte externa<br />
da empresa, de propriedade do meu amigo Carloman.<br />
Foi figura marcante em minha vida o tio Luiz<br />
Círio <strong>Nogueira</strong>, prefeito, juiz de paz e presidente do<br />
Setor/CNEC que mantinha, à época, o Ginásio de<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> (fundado por Felipe Tiago Gomes, amigo<br />
fraterno dos meus primos Jorge e Cidóca <strong>Mira</strong>).<br />
Outros políticos com quem muito aprendi: “Dico” (pai<br />
do atual prefeito e amigo, Vicente Wagner - “Pé”),<br />
“Teté” Russano, João Mancilha e José “Josino”<br />
(<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>); “Lili”, Nelson Marques, José <strong>Mira</strong> e<br />
Maurício (São Sebastião do Rio Verde). Apesar de<br />
44
sempre estarmos em lados opostos, José Ribeiro Pires<br />
foi um dos grandes líderes políticos de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>.<br />
Encontro - Hotel Brasil (São Lourenço): Valdir Guimarães (São<br />
Sebastião do Rio Verde); João Mancilha (prefeito/<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>) e<br />
Maria de Lourdes (esposa); governador de MG, Aureliano Chaves;<br />
eu, Nelson Marques (prefeito/S. S. Rio Verde), tio Luiz e “Pipoca”.<br />
JK na região - Tinha eu 17 anos e o presidente<br />
Juscelino Kubitschek veio inaugurar o asfalto <strong>Alto</strong> da<br />
Serra da Mantiqueira/Caxambu, em 1958. Houve<br />
um churrasco no <strong>Alto</strong> da Serra, após o que a comitiva<br />
presidencial desceu para reconhecimento do trecho<br />
asfaltado. Terminado o churrasco, toda a comitiva<br />
voltou para os seus lugares nos carros. JK, como de<br />
hábito, ficou para trás, acenando para multidão de<br />
curiosos, que respondiam ao aceno. Porém, um<br />
caboclo (na certa um paulista despeitado, por ser<br />
Juscelino nosso presidente mineiro) não respondia ao<br />
aceno. Só o fez depois do décimo aceno - quando,<br />
então, respondeu gritando: “Até quinta, presidente”!<br />
JK, então, voltou para seu lugar na comitiva,<br />
intrigado com o que lhe dissera o caboclo. Contou nos<br />
45
dedos e começou a rir sem parar - deixando seus<br />
companheiros de viagem sem nada entender. Até que<br />
a comitiva parou em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e Juscelino, então,<br />
contou o que havia ocorrido. Aí o riso foi geral. A<br />
explicação do caso: era segunda-feira. Então, contem<br />
até quinta-feira - com os dedos partindo do mindinho<br />
até o indicador - e vejam o que o homem queria dizer.<br />
Aí não tive dúvidas de que o nosso caboclo nada tinha<br />
de bobo mas, sim, de muito inteligente e espirituoso.<br />
Já em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, JK e sua comitiva se<br />
deslocaram até a residência do sr. Zé Pires. O fato foi<br />
registrado através de fotos (uma delas abaixo) da<br />
amiga Helena Brito, que trabalhou comigo na<br />
Prefeitura (trabalha lá até hoje). Ela me deu outra das<br />
fotografias - com a qual presenteei meu caro dr.<br />
Delfim que, como bom pessedista, ficou muito<br />
satisfeito.<br />
Passagem do presidente Juscelino Kubitschek (ao centro)<br />
por <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. À direita, o sr. Juca Vilela e o padre Hélvio.<br />
46
Mandato de Prefeito<br />
Em minha carreira política aqui em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>,<br />
tive atuação ativa e efetiva na eleição de todos os<br />
prefeitos, com raríssimas exceções. Sempre “mexi”<br />
com política em <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> nos bastidores, até que<br />
chegou a minha vez. Fui prefeito no mandato<br />
1997/2000. Ganhei uma eleição muito difícil,<br />
enfrentando uma dupla de ex-prefeitos que, na época,<br />
desfrutava de grande prestígio. Foi uma campanha<br />
dura e disputada; mesmo assim, venci.<br />
Dr. Delfim em meu palanque na campanha.<br />
Slogan da campanha:<br />
47
Durante a campanha vitoriosa para a Prefeitura de<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> (1996): eu, meu vice-prefeito Silvio Paulino;<br />
nossos grandes amigos e apoiadores dr. Aureliano Chaves<br />
e deputado federal Antônio Aureliano; Moacir Bernardino<br />
(candidato a vereador). Ao fundo: atual prefeito Vicente<br />
Wagner (“Pé”); ex-presidente da Câmara, João Candinho;<br />
ex-prefeito João Mancilha; Rafael Vilela e Zé Santana<br />
(candidatos a vereador eleitos).<br />
Apoio da família do saudoso sr. “Dico” (ex-prefeito) durante minha<br />
campanha/Prefeitura, na pessoa da querida comadre Vera Lúcia.<br />
48
Posse como prefeito de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> - 1º de janeiro de 1997.<br />
49
Assumi uma Prefeitura com dificuldades<br />
financeiras (situação comum em cidades menores,<br />
devido aos poucos recursos disponíveis). Após seis<br />
meses, consegui colocar o pagamento do<br />
funcionalismo em dia e acertar os débitos com os<br />
fornecedores. Passei, então, uma determinação ao<br />
setor de Contabilidade: “Chegando o dinheiro do<br />
Fundo de Participação dos Municípios (FPM), retirem o<br />
equivalente ao pagamento da folha de funcionários,<br />
porque não quero saber de atraso com o salário do<br />
funcionalismo até o final de meu mandato”.<br />
Arborizamos toda a cidade. Criamos um<br />
sistema de coleta de lixo e entulho, mantendo assim a<br />
cidade bastante limpa. Com a ajuda do deputado<br />
federal Antônio Aureliano e do deputado estadual<br />
Bilac Pinto (”Bilaquinho”), muramos o campo de<br />
futebol da cidade. Construímos o vestiário do campo<br />
de futebol de Capivari. Colocamos abrigo de ônibus<br />
em todos os bairros que margeiam a BR-354.<br />
Mantivemos as estradas rurais transitáveis -<br />
tanto no período das secas quanto no período das<br />
águas. Tivemos uma preocupação especial com os<br />
setores de saúde e educação, mantendo a farmácia<br />
básica do Centro de Saúde e pagando a subvenção da<br />
Santa Casa em dia. Construímos quatro salas de aula<br />
na Escola Estadual “Ribeiro da Luz” para absorver os<br />
alunos das escolas rurais.<br />
Na área social, com verba do orçamento da<br />
União, construímos mais de 30 casas no bairro Nova<br />
Esperança, além de calçarmos as duas principais<br />
avenidas. Como melhorias no saneamento básico,<br />
construímos redes de esgotos nos bairros Várzea dos<br />
Lopes, Córrego das Pedras, Ribeirão, Taboão e<br />
distrito de Santana do Capivari.<br />
Instituímos relógio de ponto e melhoramos o<br />
serviço de informatização. Com o repasse de verba<br />
50
para a Câmara Municipal, demos autonomia ao órgão<br />
legislativo.<br />
Como prefeito, fui inúmeras vezes a Belo<br />
Horizonte buscar recursos para o município. Muito<br />
me ajudaram os então deputados estadual Olavo<br />
Bilac Pinto (“Bilaquinho”) e federal Antônio Aureliano<br />
(que chegou a ser secretário de Transportes e Obras<br />
Públicas no governo Eduardo Azeredo). Numa de<br />
minhas idas, o governador Azeredo estava em franca<br />
campanha para reeleição. Encontrei-me, então, com<br />
os três: “Bilaquinho”, Azeredo e Antônio Aureliano.<br />
Comício durante campanha de reeleição do então<br />
governador de MG, Eduardo Azeredo (à direita),<br />
juntamente com o então deputado estadual Bilac Pinto.<br />
Assinatura de convênio com o então secretário de<br />
Transportes e Obras Públicas de MG, Antônio Aureliano.<br />
51
Em virtude de um acidente vascular cerebral<br />
(AVC) que sofri em outubro de 1998, fiquei<br />
hemiplégico esquerdo (com os movimentos do lado<br />
esquerdo do corpo prejudicados), o que me faz levar<br />
na gozação, dizendo: “entrei na Prefeitura andando e<br />
com dois carros. Deixei a mesma mancando e somente<br />
com um Monza usado 95/96. O meu Fusquinha ficou<br />
na estrada, de tanto rodar comigo acompanhando<br />
obras pelo nosso extenso Município”.<br />
Foi para mim muito gratificante ter, como viceprefeito,<br />
o fiel amigo Silvinho Paulino. Tive um<br />
primeiro escalão de muita categoria, composto por:<br />
Luiz <strong>Paulo</strong> Quirino - “Grego” (meu cunhado,<br />
funcionário concursado que, além de chefe do<br />
Departamento de Contabilidade, era também um dos<br />
meus conselheiros); Maria Angélica Martins Vilela<br />
(secretária de Educação); Pedro <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong><br />
(querido irmão) e Pedro César da Silva (assessores<br />
jurídicos); Tomás Antônio de Biasi - “Martelo” (gestor<br />
de Saúde, que já havia trabalhado comigo no Centro<br />
de Saúde de São Sebastião do Rio Verde) e José<br />
Raimundo da Silva - “Zé Perciliano” (secretário de<br />
Obras e um dos meus conselheiros, grande amigo<br />
desde os tempos de Grupo Escolar).<br />
52
POUSO ALTO<br />
“Pequena na sua extensão,<br />
grandiosa no seu valor.<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> você é minha,<br />
vive na minha lembrança,<br />
vive no meu coração...”<br />
53
Discurso de Posse como Prefeito<br />
Há 29 anos, exerço minha profissão em nossa<br />
terra. Ao longo destes anos, tive participação efetiva<br />
em todas as atividades de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, tais como:<br />
setores educacional, cultural, habitacional,<br />
movimentos religiosos e, mais marcadamente, fui<br />
provedor da Santa Casa até antes da minha eleição.<br />
Em todo esse tempo, perdi a conta das vezes que viajei<br />
para Belo Horizonte e Brasília em busca de recursos<br />
para nossas entidades. Tive oportunidade de viajar<br />
com todos os prefeitos, a pedido deles, dado o meu<br />
relacionamento nas esferas políticas de BH e da<br />
Capital Federal. Participei ativa e decisivamente de<br />
todos as eleições que ocorreram neste período - com<br />
exceção do pleito de 1988 que, devido à minha<br />
omissão, teve o resultado que todos devem se lembrar.<br />
Apesar das minhas limitações próprias de todo ser<br />
humano, e com sacrifício até de minha família, fui<br />
sempre doação a <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>. Cometi erros, é claro,<br />
mas sempre na tentativa de acertar. Jamais usei de<br />
minha liderança e prestígio para prejudicar quem<br />
quer que fosse. Nos quatro meses que antecederam<br />
as eleições, fui vítima de uma campanha difamatória<br />
realizada por elementos inescrupulosos, que<br />
desconhecem totalmente a nossa realidade e que<br />
queriam, a qualquer custo, chegar ao poder. De certa<br />
forma, eu até lhes agradeço por terem revelado suas<br />
verdadeiras faces, porque é através das atitudes que<br />
melhor avaliamos o caráter. Adquiri, durante a<br />
campanha, o amadurecimento que não consegui nos<br />
meus 55 anos de existência; acredito que,<br />
conscientes que estamos da realidade<br />
socioeconômica do País, teremos que fazer um<br />
governo austero, em que algumas medidas a serem<br />
tomadas necessitarão da compreensão de todos.<br />
Aceitaremos, de bom grado, críticas e sugestões. A<br />
54
Câmara de Vereadores será sempre fortalecida, à<br />
medida que elabore leis que permitam uma melhor<br />
participação do povo. Com as bênçãos de Deus e a<br />
Padroeira do Município, juntamente com a<br />
colaboração da Câmara Municipal e dos<br />
<strong>Pouso</strong>altenses, fazemos arregaçar as mangas e dizer:<br />
“Escuta <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, acorda! O dia raiou para ti! É uma<br />
aurora que surge: dorme feliz, desperta a sorrir”. Ao<br />
assumir o cargo máximo do Município, quero dizer<br />
aos conterrâneos que estou consciente da<br />
responsabilidade que pesa sobre meus ombros.<br />
Responsabilidade que procurarei repartir com meu<br />
companheiro Silvinho, com os membros da Câmara<br />
Municipal recém-empossados, com os ocupantes de<br />
cargos de confiança que escolhemos e com todos os<br />
funcionários da Prefeitura, para a concretização<br />
desta nobre tarefa: trabalhar por e para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>.<br />
Serão quatro anos de dedicação e disponibilidade, em<br />
que nos ombrearemos em prol de uma <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong><br />
mais feliz, alegre, vigorosa e, principalmente, uma<br />
cidade onde volte a reinar a fraternidade e o respeito<br />
entre todos. Queridos conterrâneos, o prefeito<br />
municipal não pode e não quer se isolar, queremos<br />
fazer uma administração o mais participativa<br />
possível, todos somos responsáveis por dias melhores.<br />
Fomos eleitos os representantes de todos os<br />
<strong>Pouso</strong>altenses, deixem de lado o fervor da campanha,<br />
pois, para nós, o momento eleitoral terminou em 3 de<br />
outubro. Estamos no início de 1997, na arrancada<br />
para um novo milênio. Aos pés da Senhora da<br />
Conceição, pedimos para que possamos, à sua<br />
semelhança, nestes quatro anos: "Faça-se em nós<br />
segundo a Tua Palavra”. Que possamos fazer a<br />
vontade de Deus, realizando o sonho maior: tornar<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> uma comunidade unida em favor do bem<br />
comum. Obrigado!<br />
55
Discurso de Transmissão de Cargo<br />
Gostaríamos de iniciar nossa fala agradecendo:<br />
- a Deus, pela força que nos deu durante os quatro<br />
anos de nossa Administração;<br />
- à minha família, pelo apoio incessante em todos os<br />
momentos, alegres e difíceis;<br />
- ao Silvinho, companheiro de todas as horas;<br />
- ao José Santana, que aqui representa toda a<br />
Câmara que trabalhou conosco nesse período;<br />
- à Angélica, que aqui representa todo o pessoal da<br />
área da educação;<br />
- ao Tomaz, o popular “Martelo”, que aqui representa<br />
todo o pessoal da área da saúde;<br />
- ao Paulinho, que aqui representa todo o pessoal dos<br />
serviços internos da Prefeitura;<br />
- ao “Zé Perciliano”, que aqui representa todo o<br />
pessoal dos serviços externos - e aqui cabe citar,<br />
também, ao Geovane, que me conduziu pelo<br />
município e cidades vizinhas com atenção e carinho;<br />
- ao povo de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, pela compreensão e amizade<br />
demonstradas durante a nossa Administração.<br />
Estamos passando o comando do município<br />
em boas condições de ser administrado. Os<br />
vencimentos do funcionalismo público se encontram<br />
em dia e não temos dívidas com fornecedores.<br />
Não precisamos divulgar, detalhadamente,<br />
todas as obras que fizemos - porque temos, como<br />
testemunha, o nosso povo. No entanto, gostaríamos<br />
de enumerar as seguintes realizações:<br />
- avançamos na área educacional, com a construção<br />
de salas de aula e melhorias no transporte escolar em<br />
todo o município;<br />
- da mesma forma na área da saúde, com a<br />
contratação de médicos, enfermeira, farmacêutico e<br />
repasse regular de medicamentos para o Posto de<br />
Saúde, distribuídos à população mais necessitada;<br />
56
- conclusão e construção de casas populares,<br />
consolidando a Vila Nova Esperança;<br />
- as estradas da zona rural estão em bom estado para<br />
tráfego, com a construção de várias pontes e<br />
colocação de mata-burros. Instalamos, ainda,<br />
abrigos rodoviários às margens da rodovia BR-354,<br />
servindo principalmente à população dos bairros<br />
rurais;<br />
- nossa frota de veículos foi aumentada, estando em<br />
perfeitas condições de uso;<br />
- reconstruímos o matadouro municipal;<br />
- instalamos telefones públicos na cidade e na zona<br />
rural;<br />
- plantamos diversas árvores, embelezando as vias<br />
urbanas;<br />
- promovemos melhoramentos nas praças José<br />
Capistrano de Paiva e Desembargador Ribeiro da Luz,<br />
com a conclusão de um coreto nesta última;<br />
- a Câmara Municipal foi remodelada, com mobiliário,<br />
equipamentos e informatização adequados ao seu<br />
bom funcionamento.<br />
Senhores Prefeito, Vice-Prefeito e Vereadores<br />
Eleitos: que Deus os abençoe para bem conduzirem<br />
os destinos de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> nos próximos quatro anos.<br />
Muito obrigado!<br />
57
Mensagens e Homenagens Recebidas<br />
D. Cidóca <strong>Mira</strong><br />
Caríssimo dr. <strong>Paulo</strong>:<br />
Muitas vezes, na nossa família, você foi capaz de<br />
suavizar nossas almas aflitas, trazendo-nos sua<br />
presença amiga, vigiando e sofrendo conosco. Por<br />
tudo isso, nós aprendemos a amá-lo como a um<br />
verdadeiro irmão e a desejar-lhe paz, para que as<br />
bênçãos de Deus lhe fossem constantes e numerosas...<br />
Sua presença no nosso movimento de Igreja é,<br />
também, uma aleluia para nós! Você, que tem feito da<br />
sua carreira um sacerdócio, há de estar gozando<br />
daquela paz que o mundo desconhece; há de estar<br />
colhendo os frutos dos bens que sempre procura fazer.<br />
Ternamente,<br />
Cidóca<br />
(28/04/1978)<br />
Boas Festas<br />
São Sebastião do Rio Verde, 10/12/2005.<br />
Caríssimo dr. <strong>Paulo</strong>: Paz e Bem!<br />
O povo desta "Pequena e Grande Amiga" muito o ama<br />
e tem para com o Senhor os sentimentos de respeito,<br />
amor e gratidão. Assim, logo que cheguei aqui há sete<br />
anos, senti o quanto esta comunidade o venera; esse<br />
espírito de reconhecimento fez brotar no meu coração<br />
um sentimento de carinho e amizade para com o<br />
médico que por longos anos passou fazendo bem a<br />
esta comunidade. Deus o recompense!<br />
Com um abraço de Boas Festas do amigo,<br />
Monsenhor Fuad<br />
58
Boas Festas<br />
Caríssimo dr. <strong>Paulo</strong>:<br />
Como é bom se ter a oportunidade de poder conhecer<br />
e conviver um pouco com as pessoas. A gente fica<br />
sabendo que, neste mundo, ainda existem a Bondade,<br />
a Justiça, o Amor e, acima de tudo, a Medicina<br />
exercida em Cristo e para Cristo!<br />
É assim que eu e Homero, infelizmente em condições<br />
de tanto sofrimento, aprendemos a conhecer melhor o<br />
senhor. Ficamos maravilhados com o que vimos e<br />
com o que recebemos do senhor e de toda sua equipe<br />
de trabalho.<br />
O que podemos pedir a Jesus, neste Natal, é que lhe<br />
cubra de bênçãos e de graças, juntamente com toda<br />
sua querida família, renovando em seu coração todo<br />
esse espírito de “Médico Pai, Irmão e Amigo”, que a<br />
todos socorre e consola.<br />
Queremos também estender nossos votos de um Feliz<br />
Natal e nosso agradecimento a todos do Hospital que,<br />
juntamente com o senhor, foram tão solícitos e<br />
amigos para conosco.<br />
Como nosso profundo reconhecimento e admiração,<br />
Celeste e Homero<br />
Dia do Médico<br />
Soledade de Minas, 18/10/2005.<br />
Doutor <strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong>:<br />
Parabéns pelo dia daquele que não tem dia nem hora<br />
para salvar vidas!<br />
Com amizade, respeito e admiração,<br />
Família David Nunes de Oliveira<br />
59
Bilhete de minha filha Paula<br />
Meu pai... Conselho e encorajamento quando eu<br />
preciso. Importa-se com as coisas que são<br />
importantes para mim. Fica feliz com meu sucesso,<br />
com a minha felicidade. Eu tenho muito orgulho e sou<br />
muito feliz por ter você. Agradeço pela força, pelos<br />
abraços, risos, alegrias, momentos especiais a cada<br />
dia... Por todas as maneiras com que você demonstra<br />
o quanto ama e se importa comigo... Por tudo que fez e<br />
faz por mim. Eu amo você.<br />
Bilhete de minha filha Karine<br />
Paizinho, como seu estado inspira zelo e carinho lhe<br />
ofereço esse anjinho, bordado no cartão, protetor<br />
para lhe acompanhar nos momentos em que eu não<br />
puder estar a seu lado. Que ele represente o meu<br />
pensamento e meu sentimento que estão sempre com<br />
você. Que o Natal seja tranqüilo e que o ano que chega<br />
venha repleto de conquistas. Te amo muito!<br />
60
Bodas de Prata (25 Anos) como Médico<br />
Por ocasião desta data, prestaram-me uma<br />
homenagem que envolveu pessoas das comunidades<br />
de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> e São Sebastião do Rio Verde. Guardo,<br />
com carinho, um álbum que registra esta<br />
homenagem. Nele, diz: “Hoje, nossa terra se faz toda<br />
em festa. Festa de amor... de gratidão... de alegria... e<br />
de ternura... Faz bem à alma de toda a gente provar<br />
pelo primeiro médico que nos deu, há 25 anos, fazendo<br />
de sua vida um verdadeiro sacerdócio. VOCÊ, a<br />
grande oferta que hoje colocamos sobre o altar do Pai e<br />
jubilamos com essas crianças que nasceram pelas<br />
suas mãos... mãos de médico, amigo, irmão...”<br />
A homenagem começou com uma missa. Fui<br />
recepcionado na porta da igreja ao som de “Eu quero<br />
ter um milhão de amigos” (Roberto Carlos), por três<br />
gerações que nasceram comigo. A festa terminou com<br />
um coquetel no salão nobre da então Escola da<br />
Comunidade “Felizarda Russano” (Escofer), que ficou<br />
completamente lotado. Havia, inclusive, vários<br />
colegas da região, que também ficaram felizes com o<br />
sentido da homenagem.<br />
Dr. <strong>Paulo</strong>:<br />
Nós o parabenizamos e bendizemos a Deus por esta<br />
celebração de bodas.<br />
Há 25 anos, você percorre um caminho de amor,<br />
trajetória simples de abnegação total. Por isso, o dia<br />
de hoje ficará gravado para sempre, em letras de<br />
prata, no coração de todos nós. Saiba, dr. <strong>Paulo</strong>, que<br />
nós o admiramos muito, não só pelo profissional<br />
eficiente que é, mas sobretudo pelo espírito<br />
humanitário que possui.<br />
Você sempre soube fazer de sua profissão um<br />
sacerdócio e a ele se entregar de corpo e alma, muitas<br />
62
vezes esquecendo-se de si próprio para acolher um<br />
doente necessitado. Sua abnegação e bondade<br />
assemelham-se a São Vicente de <strong>Paulo</strong>, o Santo da<br />
Fraternidade, o amigo fiel. De sua pessoa irradiam<br />
um carisma especial e uma humildade tão grandes<br />
que contagiam todos que o cercam - principalmente<br />
os que na Santa Casa trabalham e, particularmente,<br />
as Irmãs que o estimam não só como amigo mas como<br />
um verdadeiro irmão.<br />
Dr. <strong>Paulo</strong>, nestes 25 anos de lutas e noites maldormidas<br />
em prol da vida do irmão, é mais do que<br />
justo prestarmos-lhe uma homenagem singela, mas<br />
de coração.<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> reconhece que muito lhe deve, de coração<br />
sincero e agradecido só tem uma palavra a lhe dizer:<br />
Deus lhe pague, amigo! Deus o abençoe, irmão!<br />
Funcionários da Santa Casa<br />
Ao dr. <strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong>:<br />
Toda a gratidão do Conselho Deliberativo, da<br />
Diretoria e dos Funcionários da Santa Casa de<br />
Misericórdia São Vicente de <strong>Paulo</strong>.<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, 18/12/1992.<br />
“Oh meu Deus, escutai minha oração, atendei minhas<br />
palavras.” (Salmo 50)<br />
Ao Amigo dr. <strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong>:<br />
Nossa admiração, amizade e gratidão pelas gentilezas<br />
dispensadas nesses anos de nossa convivência.<br />
Nosso abraço afetuoso, com votos de muitas<br />
realizações.<br />
Funcionários do Centro de Saúde de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong><br />
(18/12/1992)<br />
63
Léco:<br />
Não é a arte de curar que o torna grande, mas é o<br />
homem que você é que torna grande a sua arte de<br />
curar.<br />
Deus lhe pague por tudo!<br />
Um abraço afetuoso de seus amigos Rafael, Angélica,<br />
Júnior e Henrique.<br />
(Dezembro/1992)<br />
Dr. <strong>Paulo</strong> <strong>Nogueira</strong> <strong>Mira</strong>:<br />
Você me cativou porque é simples, é humano, é amigo,<br />
por ter sido e ser gente, no verdadeiro sentido da<br />
palavra.<br />
Parabéns!<br />
D. Geralda <strong>Nogueira</strong> e Família<br />
25 Anos de Medicina (18/12/1992)<br />
64
Mensagens recebidas pelos meus<br />
66 anos de vida (14/02/2007)<br />
De minha amiga e comadre Vera Lúcia<br />
Guimarães<br />
Ao nosso Léco<br />
<strong>Paulo</strong> de Paulus, nome dos fortes líderes<br />
<strong>Paulo</strong> de missão, de serviço, de vida<br />
<strong>Paulo</strong> de doação aos mais necessitados<br />
<strong>Paulo</strong> de família, <strong>Paulo</strong> de <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong><br />
<strong>Paulo</strong> de Dr. Léco, <strong>Paulo</strong> da Santa Casa<br />
Quanto amor, quanta dedicação!<br />
<strong>Paulo</strong>, meu amigo Léco<br />
Sua vida não é só sua<br />
Suas alegrias não são só suas<br />
Mas de todos nós<br />
Pelos seus 66 anos<br />
De amor à vida!<br />
É bênção de Deus!<br />
Léco, parabéns pelo seu aniversário!<br />
Um abraço da<br />
Vera Lúcia<br />
65
De nossos amigos João Pereira Netto Jr. -<br />
“Pipoca” e família<br />
Léco, emprestamos de Almir Sater e Renato Teixeira<br />
estes versos, para cumprimentá-lo neste dia:<br />
Ando devagar porque já tive pressa<br />
E levo esse sorriso porque já chorei demais<br />
Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe<br />
Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei<br />
E nada sei<br />
Penso que cumprir a vida seja simplesmente<br />
Compreender a marcha e ir tocando em frente<br />
Como um velho boiadeiro levando a boiada<br />
Eu vou tocando os dias pela longa estrada, eu vou<br />
Estrada, eu sou<br />
Que você seja muito feliz e que sua estrada seja bem<br />
longa para que possamos tê-lo sempre ao nosso lado,<br />
pois companheiro assim é difícil de se encontrar.<br />
Por tudo o que passamos juntos, um abração do<br />
“Pipoca”, Catarina e família<br />
De minha amiga Márcia Negreiros de Paiva<br />
Dr. Léco:<br />
“Feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para<br />
viver” (Dom Helder Câmara)<br />
“O passado deve ser um trampolim, não um sofá”<br />
Parabéns, felicidades!<br />
Deus o abençoe!<br />
Márcia Paiva<br />
66
Entrevistas<br />
Concedida a aluno da Escola Municipal “São<br />
José” - São Sebastião do Rio Verde<br />
Aluno: Há quantos anos o senhor vem exercendo a<br />
profissão?<br />
Léco: Formei-me em 17 de dezembro de 1967 -<br />
portanto, há 26 anos.<br />
Aluno: Qual o motivo mais forte que o fez optar pela<br />
Medicina?<br />
Léco: Em 1952 comecei a estudar no Seminário de<br />
Campanha. Apenas um semestre foi o suficiente para<br />
concluir que o sacerdócio não era minha vocação.<br />
Naquele ano decidi ser médico, optando assim por<br />
outra carreira que me possibilitava ficar aqui.<br />
Aluno: Nunca lhe passou pela mente a idéia de trocar<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> por um centro maior?<br />
Léco: Nunca. Aliás, voltar para <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong> foi um dos<br />
fatos que muito pesaram para minha opção por<br />
Medicina.<br />
Aluno: Houve, em sua carreira de médico, um fato que<br />
particularmente o tenha impressionado?<br />
Léco: Sim. Uma paciente, por sinal de São Sebastião<br />
do Rio Verde em tratamento de câncer em São <strong>Paulo</strong>,<br />
ficou sabendo que estava grávida de dois meses.<br />
Nestes casos, as leis brasileiras permitem um aborto.<br />
O médico que tratava dela em São <strong>Paulo</strong> explicou-lhe<br />
os riscos que ela correria se deixasse a gravidez<br />
prosseguir, e propôs-lhe o aborto. Ela não aceitou,<br />
voltou para São Sebastião do Rio Verde e me relatou o<br />
fato. Mesmo concordando com o médico de São <strong>Paulo</strong>,<br />
acompanhei o pré-natal até sete meses e meio,<br />
quando fiz a cesárea dela. Esta senhora, tenho<br />
certeza, está no céu e sua filha é uma moça linda.<br />
Aluno: O que representa o paciente na sua vida?<br />
Léco: Em reuniões que realizávamos na Santa Casa,<br />
67
sou até repetitivo, digo em todas as reuniões: “a<br />
pessoa mais importante aqui na Santa Casa não é a<br />
Irmã Carmelita ou eu, nem tampouco a Luiza Helena,<br />
mas sim o paciente”.<br />
Aluno: Sente-se plenamente realizado como médico?<br />
Léco: Graças a Deus, sim. Não consigo me imaginar<br />
exercendo qualquer outra atividade.<br />
Aluno: Quais as recomendações que o senhor faria a<br />
um jovem médico em início de carreira?<br />
Resposta: Que ele procure ser eficiente tecnicamente.<br />
Mas em Medicina, mais do que em outras atividades,<br />
a honestidade e a ética são requisitos indispensáveis.<br />
Concedida a aluno da Escola Municipal do<br />
Taboão - <strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong><br />
Aluno: Doutor, o que o senhor iria fazer se não fosse<br />
médico?<br />
Léco: Eu iria estudar e fazer vestibular para Medicina<br />
na Escola Federal de Medicina do Triângulo Mineiro<br />
em Uberaba e, formando, viria trabalhar em <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong>.<br />
Complemento do aluno: Estou satisfeito com a<br />
resposta, que dispensa outras perguntas.<br />
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Conclusão<br />
Vocês devem estar se perguntando até agora:<br />
“mas por que o nome 'Santo de Casa Faz Milagre'”?<br />
Quando voltei para exercer minha profissão em<br />
<strong>Pouso</strong> <strong>Alto</strong>, minha querida tia Laura Costa <strong>Nogueira</strong><br />
(esposa do saudoso tio Luiz) disse-me: “pense bem,<br />
pois santo de casa não faz milagre”.<br />
Pelo que expus ao longo de toda a presente obra,<br />
pode-se concluir que tia Laura estava, ao menos<br />
neste ponto, enganada.<br />
Tenho certeza de que possuo uma grande folha<br />
de serviços prestados à minha terra. Além de todo o<br />
trabalho profissional relatado, fui prefeito de <strong>Pouso</strong><br />
<strong>Alto</strong> e sou cidadão honorário de São Sebastião do Rio<br />
Verde (aliás, o único ainda vivo). Prova de que o povo<br />
de ambas as comunidades me quer bem.<br />
Dizem que um homem, para ser completo, tem que ter<br />
um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.<br />
Filhos, tenho quatro; árvores, plantei várias - como nesta<br />
foto com meu neto mais velho, Pedro Ivo, que registra o<br />
plantio de um flamboyant-mirim em frente à minha residência.<br />
Assim, com este livro tento cumprir o terceiro item para<br />
completar minha missão.<br />
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