BHD 27 - Núcleo de Estudos em História Demográfica - Tripod
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
.<br />
BOLETIM DE HISTÓRIA DEMOGRÁFICA<br />
Ano X, no. <strong>27</strong>, janeiro <strong>de</strong> 2003<br />
SUMÁRIO<br />
Apresentação<br />
Artigos<br />
Resenha<br />
Resumos<br />
Notícia Bibliográfica<br />
Publicações Recebidas<br />
Notícias e Informes<br />
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Apresentação<br />
Além <strong>de</strong> vir enriquecido com três artigos e notícias <strong>de</strong> novos lançamentos <strong>em</strong> nossa área, este número <strong>de</strong><br />
nosso Boletim traz um substantivo número <strong>de</strong> resumos <strong>de</strong> trabalhos apresentados <strong>em</strong> importantes<br />
reuniões <strong>de</strong> associações nacionais; <strong>de</strong>stacam-se aqui os encontros da ABEP (Associação Brasileira <strong>de</strong><br />
<strong>Estudos</strong> Populacionais) e da ANPEC (Associação Nacional dos Centros <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong><br />
Economia). Assim, como se po<strong>de</strong>rá observar, o balanço das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na área da história<br />
<strong>de</strong>mográfica nos últimos meses <strong>de</strong> 2002 mostra-se das mais ricas e anuncia um ano <strong>de</strong> 2003 pleno <strong>de</strong><br />
novas realizações.<br />
Artigos<br />
RENATO PINTO VENANCIO. Pobreza carioca: uma sondag<strong>em</strong> nos registros <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong><br />
fins do século XVIII. Comunicação apresentada originalmente no Segundo Encontro <strong>de</strong><br />
<strong>História</strong> Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001.<br />
RESUMO. Conforme é sabido, a ausência <strong>de</strong> fontes produzidas diretamente por qu<strong>em</strong><br />
vivenciou a dolorosa experiência da pobreza não impediu que historiadores<br />
<strong>de</strong>senvolvess<strong>em</strong> várias formas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar esses grupos nas socieda<strong>de</strong>s do passado.<br />
Um dos procedimentos adotados nessas pesquisas consiste <strong>em</strong> analisar as instituições<br />
<strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. Tal abordag<strong>em</strong>, quando feita a partir <strong>de</strong> um enfoque metodológico serial,<br />
permite que se conheça, pelo menos parcialmente, a população socialmente<br />
consi<strong>de</strong>rada pobre. Por outro lado, a investigação das variações anuais e <strong>de</strong>cenais do<br />
número <strong>de</strong> assistidos informa a respeito <strong>de</strong> conjunturas específicas, nas quais as<br />
fronteiras da pobreza abrangia maior ou menor número <strong>de</strong> indivíduos. O presente texto<br />
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t<strong>em</strong> por objetivo explorar a riqueza das fontes paroquiais, para o caso específico dos<br />
óbitos <strong>de</strong> pobres do Rio <strong>de</strong> Janeiro colonial. Para ler a versão integral<br />
EDSON FERNANDES. A ESCRAVIDÃO NA FRONTEIRA: Um estudo da escravidão negra<br />
numa "boca <strong>de</strong> sertão" paulista. Lençóes, 1860-1887.<br />
RESUMO. Mediante a análise <strong>de</strong> inventários post-mort<strong>em</strong> procuramos caracterizar o<br />
contingente <strong>de</strong> escravos e a estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos na região <strong>de</strong> Lençóes quando esta<br />
era consi<strong>de</strong>rada "boca <strong>de</strong> sertão": fronteira entre o mundo dito civilizado e o sertão<br />
<strong>de</strong>sconhecido. Para ler a versão integral<br />
CACILDA MACHADO. Casamento & Desigualda<strong>de</strong> Jurídica: Primeiras notas <strong>de</strong> um estudo<br />
<strong>em</strong> uma área da região paulista no período colonial.<br />
APRESENTAÇÃO. Estou dando início a um projeto que preten<strong>de</strong> concentrar esforços no<br />
estudo do casamento e do concubinato mistos no Paraná nos séculos XVIII e início do XIX. A<br />
escolha <strong>de</strong> tal locus social justifica-se, <strong>em</strong> primeiro lugar, porque sua história é ex<strong>em</strong>plo da<br />
dinâmica povoadora <strong>de</strong> abertura sucessiva <strong>de</strong> fronteiras do período colonial. Por causa disso -e<br />
essa é a segunda razão -- no período colonial a região caracterizou-se por apresenta<br />
expressivos contingentes nos três grupos raciais formadores da população brasileira. Finalmente, o<br />
estudo do comportamento matrimonial me pareceu significativo <strong>em</strong> função das características<br />
econômicas locais: no litoral, Paranaguá, por sua tradição mineradora e por conter um porto, teve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
início da colonização uma população que, se não se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> urbana, era pelo menos<br />
para-urbana, e o comércio s<strong>em</strong>pre teve ali importância econômica igual ou maior à pecuária. Fisionomia<br />
distinta se encontra nas vilas do planalto, mais voltadas para a produção <strong>de</strong> gado, e para a lavoura <strong>de</strong><br />
subsistência. Litoral e planalto, por sua vez, foram ambientes on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveu uma vida econômica e<br />
social muito diversa daquela gestada nos engenhos e gran<strong>de</strong>s fazendas coloniais do Su<strong>de</strong>ste e do<br />
Nor<strong>de</strong>ste. Para ler a versão integral<br />
Resenha<br />
PAIVA, Eduardo França & ANASTACIA, Carla Maria Junho (orgs.). O Trabalho Mestiço:<br />
Maneiras <strong>de</strong> Pensar e Formas <strong>de</strong> Viver, Séculos XVI a XIX. São Paulo/Belo<br />
Horizonte, Annablume/PPGH-UFMG, 2002, 530 p.<br />
Os textos ora trazidos a público foram elaborados <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um conceito e <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>a,<br />
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exclusivamente para ser<strong>em</strong> discutidos <strong>em</strong> Tira<strong>de</strong>ntes, Minas Gerais, durante a quarta versão do<br />
Congresso promovido pelos m<strong>em</strong>bros do CERMA – Centre <strong>de</strong>s Recherches sur les Mon<strong>de</strong>s Américains –<br />
École <strong>de</strong>s Hautes Étu<strong>de</strong>s en Sciences Sociales-EHESS, Paris, <strong>em</strong> parceria com a linha <strong>de</strong> pesquisa<br />
"<strong>História</strong> Social da Cultura", do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação <strong>em</strong> <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong><br />
Minas Gerais, realizado <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001. O conceito é o <strong>de</strong> Mediadores Culturais e o t<strong>em</strong>a,<br />
Relações <strong>de</strong> Trabalho e Mestiçagens: Maneiras <strong>de</strong> Pensar e Formas <strong>de</strong> Viver – séculos XVI a XIX. Os<br />
Mediadores Culturais, tradução do conceito multinacional Passeurs Culturels, são agentes responsáveis<br />
pelo trânsito <strong>de</strong> e entre culturas, no t<strong>em</strong>po e no espaço, diferent<strong>em</strong>ente da idéia que uma primeira leitura<br />
da expressão po<strong>de</strong> evocar, isto é, a <strong>de</strong> arbitrag<strong>em</strong> ou <strong>de</strong> julgamento. Já o trabalho (técnicas, formas <strong>de</strong><br />
organização, discursos, representações, especializações) no contexto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s miscigenadas é um<br />
t<strong>em</strong>a que não apenas nos permitiu reler o passado sob essa lente especial, como nos indicou chaves para<br />
pensá-lo hoje, diante <strong>de</strong> nossa realida<strong>de</strong> globalizada, incluindo nossas culturas, ainda que s<strong>em</strong> per<strong>de</strong>rmos<br />
as distinções, as peculiarida<strong>de</strong>s e as nossas diversas heranças históricas. Especialistas brasileiros e<br />
estrangeiros <strong>de</strong> várias procedências (México, Peru, Estados Unidos, França, Bélgica, Itália, Índia)<br />
<strong>de</strong>svelam nos textos a circularida<strong>de</strong> cultural entre as partes do mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI. Os<br />
resultados são animadores, como se po<strong>de</strong>rá constatar nesse livro, ansiosamente aguardado pelos<br />
estudiosos das culturas <strong>de</strong> vários países. Os autores entregaram ao público estudioso e interessado nas<br />
dinâmicas histórico-culturais um livro referência para reflexões conceituais, metodológicas e t<strong>em</strong>áticas<br />
instigantes e sedutoras. Os textos apresentados têm como gran<strong>de</strong> mérito ser<strong>em</strong>, eles próprios, produtos da<br />
atuação <strong>de</strong> agentes mediadores culturais – os autores –, que propõ<strong>em</strong> algumas maneiras <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r<br />
o gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong> globalização <strong>de</strong>senvolvido nesses últimos 500 anos.<br />
Resumos<br />
MACEDO, Hel<strong>de</strong>r Alexandre Me<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>. Vivências índias, mundos mestiços: relações interétnicas na<br />
Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó entre o final do século XVIII e início do século XIX.<br />
Caicó, Monografia (Graduação <strong>em</strong> <strong>História</strong> - Licenciatura e Bacharelado) - Centro <strong>de</strong> Ensino Superior do<br />
Seridó da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, 167 p. E-mail: hel<strong>de</strong>r@seol.com.br<br />
RESUMO. A t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>ste estudo é a <strong>História</strong> Indígena do Seridó norte-rio-gran<strong>de</strong>nse.<br />
Tradicionalmente, a historiografia potiguar t<strong>em</strong> afirmado que as populações indígenas do Rio<br />
Gran<strong>de</strong> do Norte haviam sido riscadas do mapa após as Guerras dos Bárbaros. Historiadores<br />
eruditos que direcionaram seus enfoques para questões históricas regionais evi<strong>de</strong>nciaram a<br />
presença <strong>de</strong> índios nos assentos paroquiais da Freguesia da Gloriosa Senhora Santa Ana do Seridó<br />
entre os séculos XVIII e XIX. Essas evidências <strong>em</strong>píricas nos serviram <strong>de</strong> pista para a pesquisa que<br />
<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>mos. A in<strong>de</strong>xação dos registros <strong>de</strong> batismos, casamentos e óbitos da Freguesia <strong>de</strong> Santa<br />
Ana -- utilizando a metodologia da D<strong>em</strong>ografia Histórica e <strong>de</strong>ntro do limite cronológico que vai <strong>de</strong><br />
1788 a 1857 -- nos permitiu encontrar, junto aos <strong>de</strong>mais grupos étnicos da região, populações<br />
indígenas participando <strong>de</strong> rituais religiosos. Embora envoltos pelo mundo colonial, a pesquisa<br />
evi<strong>de</strong>nciou alguns <strong>de</strong>svios das tradições cristãs entre os índios, como o sepultamento fora dos<br />
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t<strong>em</strong>plos, o não recebimento dos sacramentos e as uniões informais. A conclusão mais patente a que<br />
chegamos é a da presença indígena inconteste no Sertão do Seridó entre, pelo menos, a última<br />
década do século XVIII e as primeiras do século XIX, resultado este que se contrapõe à idéia<br />
veiculada pelos estudos clássicos da historiografia norte-rio-gran<strong>de</strong>nse. A lógica que perceb<strong>em</strong>os<br />
no Sertão do Seridó do período estudado é a da "mestiçag<strong>em</strong>" (conforme a concebe Serge<br />
Gruzinsky). Mundos e horizontes culturais se misturaram a partir <strong>de</strong> suas especificida<strong>de</strong>s, suas<br />
representações e seus corpos: o dos brancos, o dos negros, o dos pardos e o dos índios. Esferas que<br />
se interseccionavam através <strong>de</strong> mestiçagens biológicas, quebrando as barreiras étnicas e<br />
sobrevivendo da mistura. A mescla <strong>de</strong> práticas cotidianas, <strong>de</strong> hábitos e <strong>de</strong> costumes provocaria<br />
mestiçagens culturais cujos resultados são visíveis até hoje no estrato i<strong>de</strong>ntitário dos habitantes da<br />
região do Seridó. Se a sobrevivência biológica dos índios no Seridó -- que só foi possível porque os<br />
mesmos elaboraram estratégias <strong>de</strong> "resistência" ao esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> dominação do mundo oci<strong>de</strong>ntal -- é<br />
um dos pontos evi<strong>de</strong>nciados por esse trabalho, o outro é a sobrevivência cultural dos índios, que,<br />
mesmo adormecidos ou <strong>em</strong>baralhados no restante da população, estão presentes nos pequenos<br />
hábitos e gestos do cotidiano. Conseguiram "resistir" silenciosamente, já que herdamos alguns <strong>de</strong><br />
seus nomes na toponímia regional, <strong>em</strong> alguns <strong>de</strong> nossos paladares e acessórios domésticos <strong>de</strong> palha<br />
e <strong>de</strong> barro. Resistência esta que se expressaria através da circularida<strong>de</strong> cultural (conforme a<br />
pressupõe Carlo Ginzburg) entre as culturas branca e indígena. A opressão colonial não suprimiu<br />
totalmente a ânsia <strong>de</strong> viver e tampouco os traços culturais dos índios. Esse estudo não conseguiu<br />
respon<strong>de</strong>r a todos os questionamentos. Contudo, as conclusões a que chegamos constitu<strong>em</strong> um<br />
ponto <strong>de</strong> partida na revisão da <strong>História</strong> Indígena do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, por tantos anos<br />
encoberta pela máscara do etnocentrismo e da rejeição ao passado nativo. Num futuro próximo, se<br />
as pesquisas avançar<strong>em</strong> progressivamente, é possível que venhamos a falar <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s<br />
indígenas no Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, <strong>em</strong> "mundos mestiços" <strong>em</strong> que a retomada da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
étnica só será efetuada pelo processo da etnogênese. (A versão integral <strong>de</strong>ste trabalho encontra-se<br />
disponível para download no site www.hel<strong>de</strong>rmacedo.hpg.com.br).<br />
BASSANEZI, Maria Silvia C. Beozzo & BACELLAR, Carlos <strong>de</strong> Almeida Prado. Levantamentos <strong>de</strong><br />
população publicados da Província <strong>de</strong> São Paulo no século XIX. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais. ABEP, Campinas, v. 19, n. 1, p. 113-129, jan./jun. 2002.<br />
RESUMO. No período marcado pela transição do trabalho escravo para o livre e pela expansão da<br />
cafeicultura no território paulista foram realizadas várias tentativas <strong>de</strong> conhecer os efetivos populacionais<br />
e <strong>de</strong>mais estatísticas da Província <strong>de</strong> São Paulo. Três <strong>de</strong>las, ocorridas respectivamente <strong>em</strong> 1836, 1854-44<br />
e 1886, tiveram seus resultados sist<strong>em</strong>atizados, impressos e publicados. O contexto e o conteúdo <strong>de</strong>sses<br />
levantamentos regionais, o discurso <strong>de</strong> seus i<strong>de</strong>alizadores e realizadores, e as “venturas e <strong>de</strong>sventuras” na<br />
execução e no uso <strong>de</strong>sses censos são objeto <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ste artigo.<br />
MOTTA, José Flávio; NOZOE, Nelson & COSTA, Iraci <strong>de</strong>l Nero da. A posse <strong>de</strong> escravos<br />
<strong>em</strong> uma paróquia fluminense: São Cristóvão, 1879. Comunicação apresentada no XXX<br />
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Encontro Nacional <strong>de</strong> Economia da ANPEC, Nova Friburgo, <strong>de</strong>z. 2002.<br />
RESUMO. Estudamos a estrutura da posse <strong>de</strong> escravos <strong>de</strong> São Cristóvão com base <strong>em</strong><br />
levantamento populacional efetuado <strong>em</strong> 1870, quando essa freguesia já integrava o<br />
perímetro urbano da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Os resultados apresentados, pois,<br />
representam um recorte <strong>de</strong> como se revelava a referida estrutura às vésperas da<br />
Abolição <strong>em</strong> um centro urbano dos mais dinâmicos do Império. Esses resultados<br />
reafirmam o padrão estabelecido pela historiografia com respeito ao escravismo<br />
brasileiro: forte presença <strong>de</strong> escravistas <strong>de</strong> porte mo<strong>de</strong>sto ¾79% <strong>de</strong>les, com até 5<br />
escravos, <strong>de</strong>tinham 46% do total <strong>de</strong> cativos¾, difusão relativamente ampla da instituição<br />
¾<strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 25% dos fogos havia escravos¾ e inexistência <strong>de</strong> uma forte concentração<br />
na posse <strong>de</strong> cativos ¾o que se corrobora pelo índice <strong>de</strong> Gini (0,46). Os valores da média<br />
(3,8), moda (1) e mediana (3) atestam o predomínio das posses <strong>de</strong> pequeno porte. Em<br />
suma, o escravismo parece apresentar <strong>em</strong> seus momentos finais, para o caso <strong>de</strong> São<br />
Cristóvão, o mesmo perfil básico que já se <strong>de</strong>senhava, no início do século XVIII, nos<br />
mais diversos pontos do território brasileiro.<br />
SCOTT, Ana Silvia Volpi. Alternativas regionais e locais à <strong>em</strong>igração para o Brasil no final do século<br />
XIX: o ex<strong>em</strong>plo do Concelho <strong>de</strong> Guimarães. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais. ABEP,<br />
Campinas, v. 19, n. 1, p. 95-111, jan./jun. 2002.<br />
RESUMO. A partir do estudo <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> minhota, examina-se a questão da industrialização e<br />
da <strong>em</strong>igração <strong>em</strong> Portugal no último quartel do século XIX, procurando-se colocar <strong>em</strong> evidência que<br />
n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre os mo<strong>de</strong>los gerais produzidos para privilegiar a perspectiva nacional são a<strong>de</strong>quados para a<br />
análise da repercussão <strong>de</strong>sses fenômenos <strong>em</strong> nível local e regional. O estudo <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> do<br />
noroeste português foi o ponto <strong>de</strong> partida para questionar-se a situação particular <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong><br />
que, à primeira vista, marcharia na contracorrente nacional. Embora o país como um todo apresentasse<br />
taxas <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração crescentes, a comunida<strong>de</strong> estudada apresentou tendência contrária. Enten<strong>de</strong>r como e<br />
porque isso ocorreu é o que preten<strong>de</strong> este artigo.<br />
TEIXEIRA, Paulo Eduardo. O processo migratório na formação <strong>de</strong> Campinas: 1765-1830. Revista<br />
Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais. ABEP, Campinas, v. 19, n. 1, p. 75-93, jan./jun. 2002.<br />
RESUMO. Ao estudarmos a formação da Vila <strong>de</strong> Campinas, no início <strong>de</strong> século XIX, notamos como foi<br />
importante o processo migratório para o povoamento <strong>de</strong>ssa localida<strong>de</strong>. Utilizando as Listas Nominativas<br />
<strong>de</strong> Habitantes para os anos <strong>de</strong> 1804 e 1829 e os Registros Paroquiais <strong>de</strong> Casamentos <strong>de</strong> 1774-1826 foi<br />
possível estabelecer algumas relações entre a naturalida<strong>de</strong> dos chefes <strong>de</strong> domicílios e outros parâmetros,<br />
tais como a ocupação econômica e a cor, levando-nos a perceber os processo <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong><br />
mobilida<strong>de</strong> espacial na constituição do espaço que foi <strong>de</strong>nominado Velho Oeste Paulista.<br />
VERSIANI, Flávio Rabelo & Vergolino, José Raimundo O. Preços <strong>de</strong> escravos <strong>em</strong><br />
Pernambuco no século XIX. Comunicação apresentada no XXX Encontro Nacional <strong>de</strong><br />
Economia da ANPEC, Nova Friburgo, <strong>de</strong>z. 2002.<br />
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RESUMO. O artigo apresenta uma série <strong>de</strong> preços <strong>de</strong> escravos para Pernambuco, <strong>em</strong><br />
1800-1887, baseada <strong>em</strong> amostra <strong>de</strong> 4.085 escravos constantes <strong>de</strong> inventários<br />
provenientes da Zona da Mata, Agreste e Sertão pernambucanos. Comparações <strong>de</strong>ssa<br />
série com dados para Minas Gerais e Salvador revelam gran<strong>de</strong> similarida<strong>de</strong> nas<br />
tendências gerais <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong> preços, indicando que o mercado <strong>de</strong> escravos nas<br />
três regiões estava submetido às mesmas influências. Uma comparação entre<br />
Pernambuco e Cuba mostra o mesmo fato e, surpreen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, uma evolução<br />
praticamente coinci<strong>de</strong>nte entre 1850 e 1860, o que evi<strong>de</strong>ncia que a idéia, geralmente<br />
aceita, <strong>de</strong> que a elevação <strong>de</strong> preços <strong>de</strong> escravos no Brasil, após 1850, <strong>de</strong>correu da<br />
extinção do tráfico <strong>de</strong>ve ser revista.<br />
Comunicações apresentadas no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
Associação Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
SCOTT, Ana Sílvia Volpi. Aproximando a Metrópole da Colônia: família, concubinato e<br />
ilegitimida<strong>de</strong> no noroeste português (século XVIII e XIX). Comunicação apresentada no<br />
XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Embora sejam recorrentes as afirmações da historiografia brasileira e<br />
latino-americana, que insist<strong>em</strong> na especificida<strong>de</strong> dos comportamentos familiares<br />
peculiares ao mundo colonial (caracterizados por altos índices <strong>de</strong> ilegitimida<strong>de</strong> e uniões<br />
baseadas no concubinato), é necessário relativizar estes conceitos a partir da recente<br />
produção da historiografia da família <strong>em</strong> Portugal, que aponta a existência <strong>de</strong><br />
comportamentos que incluíam, além do casamento e da família legitimamente<br />
constituídos, uma importante percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> indivíduos que utilizaram estratégias <strong>de</strong><br />
reprodução biológica e social que incluíam concubinato e a natalida<strong>de</strong> ilegítima. É<br />
nosso objetivo, nesta comunicação, apresentar os resultados obtidos a partir do estudo<br />
<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> localizada na região Noroeste <strong>de</strong> Portugal, on<strong>de</strong> além das uniões<br />
legitimadas pela Igreja encontramos formas alternativas <strong>de</strong> organizações familiares,<br />
on<strong>de</strong> o concubinato e a bastardia ocupam lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Vale ressaltar que os<br />
resultados obtidos para a comunida<strong>de</strong> analisada não são exceção, como <strong>de</strong>monstram<br />
os recentes estudos que se ocupam do exame da família portuguesa. Há que se<br />
<strong>de</strong>stacar, ainda, a diversida<strong>de</strong> regional dos sist<strong>em</strong>as familiares na metrópole<br />
portuguesa. O confronto dos resultados obtidos para Portugal com o que se conhece<br />
sobre a família no Brasil colonial po<strong>de</strong> suscitar novas e interessantes vias <strong>de</strong> análise, a<br />
partir <strong>de</strong> estudos comparativos.<br />
CUNHA, Alexandre Men<strong>de</strong>s. Paisag<strong>em</strong> e população: algumas vistas <strong>de</strong> dinâmicas<br />
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espaciais e movimentos da população nas Minas do começo do Dezenove.<br />
Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Este trabalho t<strong>em</strong> como pano <strong>de</strong> fundo o final do século XVIII e o início do XIX<br />
<strong>em</strong> Minas Gerais, na conjuntura marcada pelo arrefecimento final da economia<br />
mineradora. O impacto disto sobre a comarca <strong>de</strong> Vila Rica t<strong>em</strong> clara tradução nas<br />
continuadas perdas populacionais dos antigos núcleos mineradores. A comarca do Rio<br />
das Mortes, entretanto, marca um <strong>de</strong>stacado crescimento populacional e econômico no<br />
período, calcado nas ativida<strong>de</strong>s agropecuárias. As trocas populacionais entre as duas<br />
comarcas, particularmente <strong>em</strong> relação aos livres, são sugestão antiga na historiografia,<br />
mas que poucas vezes mereceu reflexões aprofundadas. Isto, junto das rearticulações<br />
dos espaços produtivos e dos lugares do urbano e do rural na dinâmica histórica das<br />
Minas, completam nosso quadro <strong>de</strong> referência. A intenção central é oferecer um<br />
panorama compreensivo <strong>de</strong>ssa probl<strong>em</strong>ática se valendo <strong>de</strong> algumas fontes capazes <strong>de</strong><br />
captar sutilezas pouco visitadas <strong>de</strong>ssas dinâmicas, particularmente: as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong><br />
paisagens urbanas e rurais nos relatos <strong>de</strong> viajantes e a iconografia disponível para o<br />
período; as fontes e estimativas populacionais para o Dezoito e Dezenove passíveis <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sagregações ao nível <strong>de</strong> comarcas; e finalmente, as distribuições etárias da<br />
população livre elaboradas para alguns distritos selecionados a partir das listas<br />
nominativas <strong>de</strong> 1831-2. Essas fontes subsidiam primeiramente uma discussão dos<br />
casos <strong>de</strong> Vila Rica e São João Del Rey, tanto <strong>em</strong> relação às transformações no meio<br />
urbano, quanto aos movimentos da população livre <strong>de</strong>ssas vilas, favorecendo assim a<br />
análise <strong>de</strong> dinâmicas econômicas locais a partir <strong>de</strong> referências espaciais e<br />
<strong>de</strong>mográficas. Das cida<strong>de</strong>s para a discussão das comarcas, interessa atentar para os<br />
ritmos da ocupação do sul <strong>de</strong> Minas, tecendo inferências sobre áreas diversas da<br />
comarca do Rio das Mortes, a partir dos <strong>de</strong>sequilíbrios anotados na razão <strong>de</strong><br />
masculinida<strong>de</strong> dos dados das distribuições etárias para a população livre. Tomados <strong>em</strong><br />
conjunto com informações sobre a diversificação econômica e os fluxos <strong>de</strong> comércio,<br />
estes cortes <strong>de</strong>mográficos e espaciais ajudam a marcar com maior precisão os<br />
momentos e pontos <strong>de</strong> força da vigorosa transformação que se processa no território<br />
mineiro entre o Dezoito e o Dezenove.<br />
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. Imigração e família <strong>em</strong> Minas Gerais no final do século<br />
XIX. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A imigração estrangeira e as migrações entre estados constitu<strong>em</strong> fenômenos<br />
<strong>de</strong>mográficos dos mais significativos do final do século XIX no Brasil. Influenciado por<br />
fatores internos (fim do trabalho escravo, secas nos estados nor<strong>de</strong>stinos) e externos (o<br />
movimento <strong>de</strong> expulsão <strong>de</strong> populações protagonizado por diversos países europeus),<br />
provocou transformações significativas <strong>em</strong> muitos estados brasileiros, especialmente<br />
no Su<strong>de</strong>ste e no Sul. Minas Gerais também se viu influenciada por tal fenômeno, <strong>em</strong>bora<br />
<strong>em</strong> menor escala que os <strong>de</strong>mais estados da região. Entretanto, <strong>em</strong> fins do século XIX e<br />
princípios do século XX estes fluxos migratórios atingiram proporções significativas,<br />
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especialmente <strong>de</strong>vido à construção <strong>de</strong> Belo Horizonte e à expansão da lavoura cafeeira<br />
na região sul e na Zona da Mata. A porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong>stes migrantes era, sobretudo, a<br />
Hospedaria Horta Barbosa, <strong>em</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora. A partir dos registros do ano <strong>de</strong> 1896,<br />
preten<strong>de</strong>-se conhecer algumas características <strong>de</strong>stes contingentes adventícios: sua<br />
composição etária, sua orig<strong>em</strong> e a composição dos grupos familiares que migravam.<br />
VIEIRA JÚNIOR, Antônio Otaviano. O açoite da seca: família e migração no Ceará<br />
(1780-1850). Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A seca marcou o cotidiano do Ceará <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial, impondo à sua<br />
população uma constante necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação diante <strong>de</strong> um contun<strong>de</strong>nte quadro<br />
<strong>de</strong> miséria. A morte dos rebanhos, a perda dos roçados, o aumento exorbitante dos<br />
preços <strong>de</strong> gêneros alimentícios, o crescimento da violência e as epi<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> varíola<br />
eram el<strong>em</strong>entos que integravam o cenário esboçado pela escassez <strong>de</strong> chuvas. A<br />
solução era migrar. Pessoas <strong>de</strong> vários grupos sociais pisavam nas estradas <strong>de</strong>ixando<br />
cadáveres e procurando refrigérios nas vilas mais povoadas e próximas ao litoral, ou<br />
nas áreas serranas que resistiam mais firm<strong>em</strong>ente às irregularida<strong>de</strong>s pluviométricas.<br />
Essa pesquisa sintetiza o esforço <strong>de</strong> analisar algumas repercussões sociais gestadas a<br />
partir <strong>de</strong>sse movimento populacional, <strong>em</strong> especial compreen<strong>de</strong>r a família e suas<br />
estratégias <strong>de</strong> sobrevivência diante da presença constante do açoite da seca ¾ para<br />
tanto se privilegiou o Ceará entre os anos <strong>de</strong> 1780 e 1850.<br />
MOTTA, José Flávio & VALENTIN, Agnaldo. A família escrava e a partilha <strong>de</strong> bens: um<br />
estudo <strong>de</strong> caso. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Refletimos, neste trabalho, sobre a estabilida<strong>de</strong> das famílias escravas. Isto é<br />
feito mediante o estudo das relações familiares estabelecidas entre os integrantes <strong>de</strong><br />
um gran<strong>de</strong> plantel <strong>de</strong> cativos <strong>de</strong> Apiaí (SP). A partir do cruzamento dos informes<br />
constantes do inventário da proprietária <strong>de</strong>sse plantel (<strong>de</strong> 11/05/1819), <strong>de</strong> seu<br />
testamento (<strong>de</strong> 12/11/1818), das listas nominativas dos habitantes da localida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> 1798<br />
a 1835) e dos registros <strong>de</strong> casamentos <strong>de</strong> escravos (<strong>de</strong> 1780 a 1818), verificamos que a<br />
maioria dos m<strong>em</strong>bros da escravaria examinada estava ligada por laços familiares. Por<br />
ex<strong>em</strong>plo, uma das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> parentesco i<strong>de</strong>ntificadas envolveu onze famílias completas<br />
(várias gerações, mais <strong>de</strong> 50 indivíduos, com média <strong>de</strong> 3,7 filhos presentes) originadas<br />
<strong>de</strong> três casais que, possivelmente, estabeleceram relações na segunda meta<strong>de</strong> do séc.<br />
XVIII. Atestamos a extensão, durabilida<strong>de</strong> e estabilida<strong>de</strong> das relações familiares<br />
formadas e sedimentadas sobre um pano <strong>de</strong> fundo econômico dado pela <strong>de</strong>cadência<br />
que se seguiu ao apogeu mineratório ocorrido <strong>em</strong> Apiaí, relações estas que sofreram<br />
a<strong>de</strong>mais o impacto da morte da escravista e da partilha <strong>de</strong> seus bens por um conjunto<br />
formado por 19 her<strong>de</strong>iros.<br />
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ANDREAZZA, Maria Luíza. Olhares para a or<strong>de</strong>m social na freguesia <strong>de</strong> Santo Antônio da Lapa,<br />
1763-1798. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A comunicação que está sendo proposta consiste numa investigação <strong>de</strong>dicada a mapear a<br />
organização familiar <strong>em</strong> Santo Antônio da Lapa, localida<strong>de</strong> dos Campos Gerais, da Capitania <strong>de</strong> São<br />
Paulo, elevada a freguesia <strong>em</strong> 1763. Para realizar esta tarefa vou me apoiar nos censos <strong>de</strong> população e<br />
nos registros <strong>de</strong> batismo, casamento e óbito da freguesia, produzidos entre 1763 e 1798. Não se trata <strong>de</strong><br />
utilizar estas fontes para construir indicadores <strong>de</strong>mográficos ¾ até porque já foram elaborados ¾, mas <strong>de</strong><br />
um esforço no sentido <strong>de</strong> <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r uma reflexão a respeito dos discursos que estariam sustentando e<br />
garantindo a legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas configurações familiares. Isto porque, se o caráter seriado das<br />
listas nominativas e das fontes paroquiais se presta às investigações <strong>de</strong> fenômenos ligados à composição<br />
e estrutura familiar e doméstica, não po<strong>de</strong>mos per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista que, enquanto documentos, têm relação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência para com uma <strong>de</strong>terminada verda<strong>de</strong>. Logo, o plano analítico <strong>de</strong>ste estudo manteve assente<br />
que, não obstante o regalismo, as atas <strong>de</strong> catolicida<strong>de</strong> e os <strong>de</strong>mais registros produzidos por párocos são<br />
<strong>de</strong> natureza religiosa; <strong>em</strong> contrapartida, as listas <strong>de</strong> população são resultado <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>manda secular.<br />
Isto posto, a realização <strong>de</strong>stas escrituras se faz<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong> olhares diferenciados e interessou ao estudo<br />
entrever os discursos subjacentes aos registros das práticas familiares. Se elas são exercício <strong>de</strong> uma<br />
verda<strong>de</strong>, não é <strong>de</strong>mais retomar a advertência <strong>de</strong> Foucault quanto ao fato <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> orientadas por uma<br />
subjetivação, para cuja construção concorr<strong>em</strong> inúmeros el<strong>em</strong>entos. Nestes termos, na freguesia <strong>de</strong> Santo<br />
Antônio da Lapa estaria <strong>em</strong> circulação uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> subjetivações, pois sua composição era <strong>em</strong> tudo<br />
similar à do restante da colônia ¾ variada <strong>em</strong> orig<strong>em</strong>, dividida pela escravidão e matizada <strong>em</strong> cores e<br />
hierarquias.<br />
VASCONCELLOS, Márcia Cristina Roma <strong>de</strong>. Casamento e maternida<strong>de</strong> entre escravas<br />
<strong>de</strong> Angra dos Reis, século XIX. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong><br />
<strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Nosso objetivo será pensar nos possíveis significados que a procriação,<br />
importante el<strong>em</strong>ento formador <strong>de</strong> famílias, tinha para a população escrava que vivia e<br />
trabalhava numa área até então não estudada: Angra dos Reis durante o século XIX.<br />
Dentro do atual estágio dos estudos sobre famílias escravas surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
compreen<strong>de</strong>r como os cativos, <strong>em</strong> diversos espaços e t<strong>em</strong>pos, se comportavam diante<br />
<strong>de</strong> alguns dos aspectos ligados às suas famílias, sendo que o referente à maternida<strong>de</strong><br />
ainda pe<strong>de</strong> investigações que trarão novas luzes sobre os conhecimentos acerca da<br />
socieda<strong>de</strong> escravista, não só para a historiografia como para a cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>.<br />
Para tal, analisar<strong>em</strong>os também alguns dos caminhos encontrados para a procriação, o<br />
casamento e relações consi<strong>de</strong>radas consensuais. O estudo baseia-se no cruzamento <strong>de</strong><br />
1.517 registros <strong>de</strong> batismo, 96 <strong>de</strong> casamento, realizados entre 1830 e 1871, e 19<br />
inventários post-mort<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravistas, abertos entre 1840 e 1881.<br />
TEIXEIRA, Paulo Eduardo. Mulheres chefes <strong>de</strong> domicílio: Campinas, 1765-1850.<br />
Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
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RESUMO. Estudamos a chefia f<strong>em</strong>inina dos domicílios <strong>em</strong> Campinas a partir do<br />
processo <strong>de</strong> povoamento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado na Capitania <strong>de</strong> São Paulo <strong>em</strong> 1765, marcado<br />
pelo incentivo ao comércio que se baseava na agricultura <strong>de</strong> exportação. Na segunda<br />
década do século XIX, a chefia f<strong>em</strong>inina da família compunha quase um quarto do total<br />
<strong>de</strong> domicílios da vila campineira, sendo a maior parte <strong>de</strong> viúvas e brancas, vindo <strong>em</strong><br />
seguida as mulheres solteiras. Em suma, a chefia f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> Campinas foi realida<strong>de</strong><br />
num momento <strong>em</strong> que a vila se caracterizou por ser uma área rural e <strong>de</strong> expansão da<br />
fronteira agrícola no Oeste paulista.<br />
MARTINS, Maria do Carmo Salazar; SILVA, Helenice Carvalho Cruz da & LIMA, Maurício<br />
Antônio <strong>de</strong> Castro. Mineirida<strong>de</strong>: a diversida<strong>de</strong> uniforme. Retrato <strong>de</strong> Minas no terceiro<br />
quartel do século XIX: população e economia. Comunicação apresentada no XIII<br />
Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A historiografia mineira, principalmente no que diz respeito à história<br />
econômica e <strong>de</strong>mográfica do século XIX, v<strong>em</strong> sofrendo limitações significativas quando<br />
se trata <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> dados confiáveis para a segunda meta<strong>de</strong> dos Oitocentos.<br />
Afortunadamente uma pesquisa recente no acervo do Arquivo Público Mineiro revelou<br />
uma nova fonte <strong>de</strong> informação relativa ao ano <strong>de</strong> 1861. Nesse ano, o governo provincial<br />
<strong>em</strong>itiu uma or<strong>de</strong>m para todos os juízes <strong>de</strong> paz e párocos on<strong>de</strong> exigia que fosse<br />
respondido um questionário relativo à população e produção econômica <strong>de</strong> cada<br />
localida<strong>de</strong>. Felizmente chegaram até nós 172 respostas a esse questionário,<br />
correspon<strong>de</strong>ntes ao mesmo número <strong>de</strong> paróquias. Essas respostas relacionam o<br />
número <strong>de</strong> habitantes livres e escravos, o número <strong>de</strong> indivíduos que exerciam o tipo <strong>de</strong><br />
profissão ou ocupação discriminada no questionário, o número <strong>de</strong> fazendas <strong>de</strong><br />
agricultura e/ou pecuária, o número <strong>de</strong> lavras minerais, o tipo <strong>de</strong> produto agropecuário e<br />
industrial predominante; a comercialização <strong>de</strong>sses produtos e a condição das vias <strong>de</strong><br />
comunicação (estradas) <strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong>. Nesse trabalho nos propomos apresentar<br />
as tabulações <strong>de</strong>sses dados, particularizando as possibilida<strong>de</strong>s analíticas vislumbradas<br />
a partir <strong>de</strong> algumas variáveis econômicas e <strong>de</strong>mográficas constituídas <strong>de</strong> acordo com<br />
esta base <strong>de</strong> dados. Nosso intuito é, portanto, oferecer um olhar sobre a província<br />
mineira no terceiro quartel do século XIX utilizando dados <strong>em</strong>píricos.<br />
MARQUES, Cláudia Eliane Parreiras. Repensando a historiografia mineira: aspectos<br />
<strong>de</strong>mográfico, econômicos e sociais no século XIX. Comunicação apresentada no XIII<br />
Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Propõe-se investigar, nesse artigo, aspectos do processo econômico, social e<br />
<strong>de</strong>mográfico <strong>de</strong> Minas Gerais no século XIX. O município rural ¾ Bonfim do Paraopeba<br />
¾ será o foco principal da análise. O dinamismo econômico e social que será<br />
evi<strong>de</strong>nciado no trabalho está inserido num amplo leque <strong>de</strong> discussões iniciadas na<br />
década <strong>de</strong> 1980. Utiliza-se como fontes principais os inventários post-mort<strong>em</strong>, os<br />
censos provinciais, as listas nominativas <strong>de</strong> habitantes e os relatos dos viajantes<br />
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estrangeiros. A análise dos referidos documentos permite apresentar/discutir pontos<br />
essenciais da historia econômica, social e populacional do período imperial mineiro.<br />
Estar-se-á não só pontuando o <strong>de</strong>bate historiográfico, como também apresentando<br />
novos dados e questões concernentes a esse t<strong>em</strong>a. O estudo das faixas da posse <strong>de</strong><br />
escravos, o perfil populacional <strong>de</strong> homens e mulheres livres e cativos, e as ocupações e<br />
relações do mundo do trabalho faz<strong>em</strong> parte dos objetivos tratados nesse artigo.<br />
Parte-se do pressuposto que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cativos <strong>de</strong>finia o perfil sócio-econômico<br />
das famílias escravistas. Outras questões serão abordadas, tais como: a produção e a<br />
circulação <strong>de</strong> mercadorias, as altas taxas <strong>de</strong> africanos e o importante papel da fiação e<br />
tecelag<strong>em</strong> na economia <strong>de</strong> mercado. Tal abordag<strong>em</strong>, baseada na história regional,<br />
evi<strong>de</strong>ncia a importância <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>sta natureza contribuindo, assim, para a<br />
discussão dos probl<strong>em</strong>as sócio-econômicos da Província <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />
MARCONDES, Renato Leite & GARAVAZO, Juliana. A proprieda<strong>de</strong> escrava e a hipótese<br />
<strong>de</strong> crescimento vegetativo <strong>em</strong> Batatais: a classificação dos escravos (1875).<br />
Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A partir dos dados contidos na Lista <strong>de</strong> Classificação dos Escravos para<br />
Emancipação, <strong>de</strong> Batatais (SP), conseguimos estudar a população cativa <strong>de</strong> uma<br />
economia voltada para o mercado interno, com ênfase na pecuária e no cultivo <strong>de</strong><br />
subsistência. Num momento <strong>de</strong> transição do sist<strong>em</strong>a escravista brasileiro (1875),<br />
observamos, nessa localida<strong>de</strong>, a existência <strong>de</strong> um contingente escravo expressivo e <strong>de</strong><br />
uma posse cativa centrada nas mãos <strong>de</strong> pequenos proprietários. Nesta realida<strong>de</strong>,<br />
aventamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento vegetativo nos plantéis escravistas como<br />
uma forma alternativa <strong>de</strong> manutenção do sist<strong>em</strong>a, <strong>em</strong> razão do final do tráfico africano.<br />
Algumas características da população escrava ¾ ligeira predominância numérica do<br />
sexo masculino no total, expressiva participação <strong>de</strong> crianças nesse contingente e<br />
elevada razão criança-mulher ¾ apontam para a possibilida<strong>de</strong> da reprodução natural.<br />
Salientamos o papel do crescimento vegetativo como uma das fontes para a<br />
manutenção da escravidão <strong>em</strong> Batatais.<br />
MACHADO, Cacilda. Casamento & <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> jurídica. Primeiras notas <strong>de</strong> um estudo<br />
<strong>em</strong> uma área da região paulista no período colonial. Comunicação apresentada no XIII<br />
Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. No <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> explicar a simultaneida<strong>de</strong> da escravidão e do racismo com a<br />
alta miscigenação, na historiografia sobre a América Latina e, <strong>em</strong> especial, no Brasil, o<br />
t<strong>em</strong>a das relações raciais esteve s<strong>em</strong>pre atrelado ao da família. E, <strong>de</strong> maneira geral,<br />
concorda-se que <strong>em</strong>bora o tráfico <strong>de</strong> escravos, a preação <strong>de</strong> indígenas e a imigração<br />
européia permanent<strong>em</strong>ente alimentass<strong>em</strong> <strong>de</strong> homens os grupos hierarquicamente<br />
dispostos na socieda<strong>de</strong>, pela miscigenação esta hierarquia ganhou infindáveis matizes.<br />
E mais, conquanto a socieda<strong>de</strong>, a Igreja e o Estado foss<strong>em</strong> as principais instâncias<br />
<strong>de</strong>finidoras da distinção entre senhor e escravo, legítimo e bastardo, livre e liberto,<br />
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branco, negro, índio e mestiços, era no âmbito das relações interpessoais que se <strong>de</strong>finia<br />
a mobilida<strong>de</strong> dos indivíduos por essas categorias. Finalmente, sabe-se que, a <strong>de</strong>speito<br />
das condições <strong>em</strong> que ocorreram, estas uniões entre <strong>de</strong>siguais foram po<strong>de</strong>rosos<br />
instrumentos <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong> aculturação. Uma das formas <strong>de</strong> se mapear essa<br />
experiência é tentar resgatar as trajetórias <strong>de</strong> indivíduos que buscaram cônjuges no<br />
interior <strong>de</strong> grupos racial e/ou juridicamente <strong>de</strong>siguais. Por meio do cruzamento do maior<br />
número possível <strong>de</strong> informações, constantes <strong>em</strong> fontes <strong>de</strong> teor e <strong>de</strong> natureza variados,<br />
preten<strong>de</strong>-se avaliar as condições <strong>de</strong>terminantes ou facilitadoras <strong>de</strong>ssa escolha, e <strong>de</strong> que<br />
forma tal união redimensionou suas vidas e as vidas <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Nosso<br />
lócus é São José dos Pinhais, localida<strong>de</strong> dos sertões <strong>de</strong> Curitiba, na capitania <strong>de</strong> São<br />
Paulo, povoada a partir do século XVII. Nesse processo, <strong>de</strong>staco a pertinência da<br />
operacionalização do conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> social, posto que este privilegia os processos e<br />
as interações sociais, no caso presente, permitindo abordar as escolhas matrimoniais<br />
como parte dos sist<strong>em</strong>as relacionais que envolv<strong>em</strong> a família.<br />
TEIXEIRA, Heloísa Maria. A não-infância: crianças como mão-<strong>de</strong>-obra compulsória <strong>em</strong><br />
Mariana (1850-1900). Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Esta comunicação apresentará os primeiros resultados <strong>de</strong> uma pesquisa que<br />
investiga o interesse pelo trabalho da criança negra na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX<br />
entre os senhores marianenses. Essa busca po<strong>de</strong> ser feita na verificação da<br />
comercialização <strong>de</strong> crianças escravas isoladas, dos altos valores que as mesmas<br />
recebiam, da valorização dos serviços dos ingênuos, das ações <strong>de</strong> tutela dos filhos <strong>de</strong><br />
ex-escravas pelos seus antigos senhores e até mesmo do furto <strong>de</strong> crianças com vistas<br />
ao trabalho compulsório.<br />
LOPES, Cristiane Fernan<strong>de</strong>s. A população <strong>de</strong> Campinas segundo os processos <strong>de</strong><br />
divórcio e <strong>de</strong>squite do Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Campinas durante a Primeira República<br />
(1890-1938). Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Apresenta-se uma análise da população da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas através dos<br />
processos <strong>de</strong> divórcio e <strong>de</strong>squite propostos ao Tribunal <strong>de</strong> Justiça <strong>de</strong> Campinas<br />
durante a Primeira República (1890-1934). Com os resultados aferidos é possível traçar<br />
um perfil da população campineira que, ao ser<strong>em</strong> comparados com as informações dos<br />
censos e <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> pesquisadores para a mesma época, traz<strong>em</strong> à luz<br />
características comuns entre as pessoas envolvidas nas ações e o conjunto da<br />
população. Através dos dados obtidos nos processos consegue-se <strong>de</strong>terminar no grupo<br />
dos divorciandos e <strong>de</strong>squitandos o índice <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong>, a média <strong>de</strong> separações anuais<br />
e <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> casamento, freqüência <strong>de</strong> casamento por grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e sexo, tipos <strong>de</strong><br />
profissões, naturalida<strong>de</strong>, condição material e conflitos familiares mais comuns. As<br />
informações obtidas nos processos permit<strong>em</strong> não somente a avaliação <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> são as<br />
pessoas envolvidas nas ações como também como a démarche histórica influenciou os<br />
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movimentos populacionais provocando mudanças na sua composição e na estrutura<br />
familiar.<br />
TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. Resistência ou transformação? Os números da<br />
educação f<strong>em</strong>inina nos recenseamentos gerais da população. Estado <strong>de</strong> São Paulo,<br />
1940-1970. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Correlacionando <strong>de</strong>mografia histórica à categoria gênero, este trabalho t<strong>em</strong><br />
por objetivo promover uma análise diacrônica da educação f<strong>em</strong>inina no Estado <strong>de</strong> São<br />
Paulo. Privilegiando o ensino formal busca i<strong>de</strong>ntificar mecanismos e fins <strong>de</strong> uma prática<br />
educativa que, sustentada <strong>em</strong> diferenças sexuais, pré-<strong>de</strong>termina o espaço <strong>de</strong><br />
realizações político-econômcas <strong>de</strong> sua clientela. Baseia-se <strong>em</strong> fontes quantitativas ¾<br />
recenseamentos gerais da população brasileira e, <strong>em</strong> particular, da população paulista<br />
¾ que, traduzidas <strong>em</strong> números, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser inseridas no contexto das sucessivas<br />
reformas educacionais promovidas pelo Estado, <strong>em</strong> comum acordo com a Igreja e<br />
outros agentes da socieda<strong>de</strong> civil. Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que explicita a i<strong>de</strong>ologia que<br />
perpassa a ação educativa, essa contextualização fundamenta objetivos, diretrizes,<br />
papéis e limites <strong>de</strong> participação social da mulher paulista. Utiliza como marco t<strong>em</strong>poral<br />
inicial o IV Recenseamento Geral do Brasil, realizado <strong>em</strong> 1940, momento histórico <strong>em</strong><br />
que, sob diretrizes corporativas do Estado Novo, seus organizadores consi<strong>de</strong>raram<br />
ativa a imensa maioria das mulheres que exerciam ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dona-<strong>de</strong>-casa,<br />
incluindo <strong>de</strong>ntro do domicílio a realização <strong>de</strong> tarefas ligadas à educação <strong>de</strong> seus filhos.<br />
Na lógica mo<strong>de</strong>rnizadora do Estado e <strong>de</strong> setores organizados da socieda<strong>de</strong> civil, a<br />
profissionalização <strong>de</strong>sse papel “natural” da mulher correspondia, então, aos limites da<br />
atuação f<strong>em</strong>inina. E finaliza, trinta anos <strong>de</strong>pois, com dados do VIII Recenseamento Geral<br />
do Brasil, ocasião <strong>em</strong> que, mesmo sob normas autoritárias, com a institucionalização da<br />
Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases, a escola <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> promover a pré-seleção <strong>de</strong> currículos,<br />
abandonando regras e comportamentos <strong>de</strong>terminados pelo sexo <strong>de</strong> sua clientela e<br />
amplia as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo e opções profissionais para as mulheres paulistas.<br />
NADER, Maria Beatriz. Mudanças econômicas, mulher e casamento <strong>em</strong> Vitória,<br />
1970-2000. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória, no começo da década <strong>de</strong> 1970 vivia novos t<strong>em</strong>pos, com<br />
um processo <strong>de</strong> urbanização que crescia sob uma ocupação populacional vinda do<br />
interior do Estado do Espírito Santo e <strong>de</strong> outras regiões do país. A explosão<br />
<strong>de</strong>mográfica ocorrida, nessa época, <strong>de</strong>ve-se, sobretudo, à <strong>de</strong>cadência do mo<strong>de</strong>lo<br />
econômico primário-exportador e às possibilida<strong>de</strong>s ocasionadas pela implantação dos<br />
“Gran<strong>de</strong>s Projetos Industriais”. A coexistência <strong>de</strong> migrantes do interior e <strong>de</strong> diferentes<br />
cida<strong>de</strong>s brasileiras, juntamente com os capixabas, caracterizou uma socieda<strong>de</strong><br />
multifacetada, integrando valores e hábitos típicos do mundo rural com a inquietação<br />
ocasionada pela complexida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> industrialização e urbanização que<br />
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ocorria <strong>em</strong> Vitória. Des<strong>de</strong> essa época, Vitória tornou-se um campo muito rico para a<br />
investigação científica. A dinâmica econômica, social e cultural que se processou na<br />
cida<strong>de</strong> mostra que seu cotidiano passou por transformações profundas, alterando a<br />
vida pacata da cida<strong>de</strong> e das pessoas que nela se aglomeravam. Dentre as diversas<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa oferecidas pela socieda<strong>de</strong> capixaba e ante a inexistência <strong>de</strong><br />
pesquisas históricas sobre t<strong>em</strong>as que envolvam estudos <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> família, <strong>de</strong><br />
casamento e <strong>de</strong> divórcio, optamos por realizar um estudo estatístico sobre as<br />
conseqüências do impacto das mudanças sócio-econômicas da cida<strong>de</strong> na vida das<br />
mulheres, notadamente <strong>em</strong> suas relações com o casamento e o divórcio, entre o<br />
período <strong>de</strong> 1970 e 2000. Os censos <strong>de</strong>mográficos e os livros dos Cartórios <strong>de</strong> Registro<br />
Civil da cida<strong>de</strong> foram os instrumentos usados para a pesquisa. Os resultados obtidos<br />
salientam o impacto da vida urbana sobre a mudança nos números <strong>de</strong> casamentos e<br />
mostram que padrões <strong>de</strong> comportamento antes muito importantes para a vida da mulher<br />
já não condiz<strong>em</strong> com os objetivos sociais f<strong>em</strong>ininos.<br />
RESENDE, Rodrigo Castro; GONÇALVES, Mariângela Porto; ARAÚJO, Regina Men<strong>de</strong>s<br />
& MATA, Karina Paranhos da. Os proprietários <strong>de</strong> escravos nas Minas Gerais <strong>em</strong><br />
1718-1719: um estudo comparativo dos Distritos <strong>de</strong> Vila do Carmo e Vila Rica.<br />
Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. O trabalho t<strong>em</strong> como objetivo principal traçar o perfil dos proprietários <strong>de</strong><br />
escravos <strong>de</strong> dois distritos importantes da Capitania <strong>de</strong> Minas Gerais no período 1718 –<br />
1719. A análise é feita <strong>em</strong> separado para os distritos <strong>de</strong> Vila do Carmo e <strong>de</strong> Vila Rica a<br />
fim <strong>de</strong> possibilitar a observação das diferenças e similitu<strong>de</strong>s existentes entre essas<br />
regiões. Deve-se <strong>de</strong>stacar a relevância <strong>de</strong>ste estudo para uma melhor compreensão das<br />
características sócio-econômicas dos senhores <strong>de</strong> escravos vinculados à mineração da<br />
capitania mineira no século XVIII, contribuindo para o enriquecimento da <strong>de</strong>mografia<br />
histórica brasileira. Os perfis foram obtidos a partir das informações sobre sexo, título<br />
honorífico, nível <strong>de</strong> alfabetização, tamanho da posse <strong>de</strong> escravos e condição social dos<br />
proprietários <strong>de</strong> cativos, contidas nas listas dos Quintos Reais da Coleção Casa dos<br />
Contos. A documentação manuscrita encontra-se no Arquivo Público Mineiro e, <strong>em</strong><br />
formato digital, no Centro <strong>de</strong> Pesquisa Histórica da PUC-MG. Desta forma, um segundo<br />
objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é apresentar o banco <strong>de</strong> dados construído graças ao<br />
financiamento do IPEA/ANPEC sob orientação do Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho, o<br />
qual contém todas as informações presentes nas listas. Trata-se da ampliação das<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, já que o meio digital facilita tanto o processamento <strong>de</strong><br />
dados quantitativos, quanto o acesso a eles.<br />
BIVAR, Vanessa dos Santos Bodstein. O universo familiar <strong>de</strong> relações: a base cotidiana<br />
dos estrangeiros (São Paulo, 18<strong>27</strong> – 1878). Comunicação apresentada no XIII Encontro<br />
Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. “A história da humanida<strong>de</strong> é a história das migrações e <strong>de</strong> suas<br />
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conseqüências”, afirma Carlos Fouquet ressaltando a importância da migração como<br />
fenômeno histórico que caracteriza o movimento dos homens <strong>em</strong> um contexto mundial<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da civilização humana. No Brasil, a Abertura dos Portos ocorrida<br />
<strong>em</strong> 1808 marcou o processo <strong>de</strong> imigração para esse território, tornando possível e mais<br />
constante a presença <strong>de</strong> estrangeiros na vida brasileira. Logo, a confluência <strong>de</strong> diversas<br />
nacionalida<strong>de</strong>s fez com que <strong>em</strong> especial São Paulo apresentasse uma estrutura<br />
populacional complexa, pela integração <strong>de</strong> várias etnias, ultrapassando, inclusive, os<br />
limites da situação social dos habitantes ao mesclar livres e cativos. É nesse contexto<br />
do universo <strong>de</strong> imigrantes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo que se insere este trabalho, tomando,<br />
então, como fonte, os testamentos por eles <strong>de</strong>ixados entre 18<strong>27</strong> e 1878. É tortuoso e<br />
difícil o <strong>de</strong>svendar do cotidiano dos estrangeiros na dita cida<strong>de</strong>, até mesmo se<br />
refletirmos sobre as limitações das fontes primárias e escritas. Contudo, <strong>de</strong>ve-se<br />
ressalvar que a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> ser um universo aparent<strong>em</strong>ente restrito <strong>de</strong> análise, os<br />
documentos dos 80 testadores aqui focados não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser encarados apenas como<br />
casos específicos, mas como mo<strong>de</strong>los indicadores dos processos mais gerais entre os<br />
estrangeiros. Nesse âmbito se encerra a importância da família como alicerce <strong>de</strong><br />
sobrevivência e <strong>de</strong> relações sociais, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> advém a sua conexão vital para com a<br />
socieda<strong>de</strong>. Os testamentos são mina inesgotável <strong>de</strong> informações sobre a família. Nele,<br />
muitas vezes, seu futuro era <strong>de</strong>cidido, preocupações eram aventadas e <strong>de</strong>cisões<br />
tomadas com relação ao governar e partilhar dos bens, o caminhar e a sobrevivência do<br />
cônjuge, dos filhos, <strong>de</strong>mais parentes, vizinhos e amigos, revelando uma série <strong>de</strong> laços<br />
<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, amiza<strong>de</strong> e gratidão, assim como contendas que permeavam as<br />
relações vivenciadas entre os m<strong>em</strong>bros da família. Os relatos testamentários ainda<br />
inclu<strong>em</strong> passagens que interligam o país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> e o Império brasileiro, explicitando<br />
relações que contam acerca da família <strong>de</strong>ixada na terra natal, assim como da integração<br />
à comunida<strong>de</strong> local com a formação <strong>de</strong> novos grupos familiares e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, s<strong>em</strong>,<br />
contudo, per<strong>de</strong>r os liames com o país <strong>de</strong> <strong>em</strong>igração. É sob a riqueza <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos,<br />
n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre lineares, que mergulhar<strong>em</strong>os no passado buscando reconstituir a família<br />
do testador imigrante e para tal enveredando por diversos caminhos, como o do<br />
casamento; dos filhos; da estima; da ilegitimida<strong>de</strong> e da herança. Estes fatores nos<br />
permitirão recuperar, ao menos <strong>em</strong> parte, o cotidiano e o universo <strong>de</strong> relações porque<br />
passava a São Paulo do século XIX.<br />
CAVAZZANI, André Luiz M. Dos avestruzes que põ<strong>em</strong> ovos: expostos na Vila <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora da Luz dos Pinhais <strong>de</strong> Curytiba (1760-1800). Comunicação apresentada no XIII<br />
Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Há aproximadamente dois anos, motivado pela concessão <strong>de</strong> uma bolsa <strong>de</strong><br />
iniciação científica pelo CNPq, iniciei junto ao CEDOPE ¾ Centro <strong>de</strong> Documentação e<br />
Pesquisa do Paraná; século XVIII ¾ um estudo que procura compreen<strong>de</strong>r, no contexto<br />
da Vila <strong>de</strong> Curitiba na segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII (1760-1800), um fenômeno<br />
amplamente difundido no Brasil colonial: o abandono <strong>de</strong> recém-nascidos. Tal fenômeno,<br />
que encontra lamentável recorrência nos dias <strong>de</strong> hoje, v<strong>em</strong> sendo i<strong>de</strong>ntificado também<br />
<strong>em</strong> outras épocas e lugares, variando apenas as explicações, os motivos, as<br />
circunstâncias, a relação com o conjunto <strong>de</strong> nascimentos e as sensibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste fato.<br />
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No <strong>de</strong>correr dos anos <strong>de</strong> 1999 e 2000, foram levantados dados dos registros paroquiais<br />
e das listas nominativas, referentes às décadas <strong>de</strong> 1760 e 1770, para i<strong>de</strong>ntificar os<br />
expostos e caracterizar seus domicílios receptores. Nesta primeira fase da pesquisa, o<br />
acompanhamento do exposto ficou, pelo caráter das fontes, restrito a duas fases <strong>de</strong> sua<br />
vida: ao momento do batismo e ao período <strong>em</strong> que o exposto aparece, ainda solteiro,<br />
integrado na estrutura domiciliar da família receptora. Não houve intenção <strong>de</strong><br />
acompanhar sua trajetória <strong>de</strong> vida. Mas, se naquele biênio a pesquisa esteve ocupada<br />
com o exposto <strong>em</strong> sua fase infantil, os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos entre 2000 e 2001<br />
ampliaram a base documental, agregando os registros <strong>de</strong> casamento e levantamentos<br />
censitários das décadas <strong>de</strong> 1780 e 1790 para, reconstruindo o processo <strong>de</strong> sua inserção<br />
social na ida<strong>de</strong> adulta, tentar compreen<strong>de</strong>r qual a sua situação naquela socieda<strong>de</strong>.<br />
CUNHA, Maísa Faleiros da. A população escrava no município <strong>de</strong> Franca, 1836-1888.<br />
Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Este trabalho busca analisar as características da população escrava no<br />
município <strong>de</strong> Franca, e suas relações com o contexto sócio-econômico local entre 1836<br />
e 1888, à luz da literatura já produzida e tendo como fonte básica <strong>de</strong> pesquisa os<br />
levantamentos <strong>de</strong> população publicados para o século XIX e os registros paroquiais.<br />
Naquele período, o município <strong>de</strong> Franca ainda não estava inserido na cafeicultura e na<br />
malha ferroviária paulista. No entanto, a população escrava representava um papel<br />
importante para a economia local, participando da produção <strong>de</strong> bens para o mercado<br />
interno, ou seja, para o abastecimento <strong>de</strong> áreas diversificadas como o Nor<strong>de</strong>ste<br />
paulista, Triângulo Mineiro, Goiás e outras. Os resultados até agora obtidos mostram<br />
s<strong>em</strong>elhanças e também diferenças com os achados sobre a população escrava para<br />
outras áreas da província e/ou do Brasil. Estes diz<strong>em</strong> respeito a aspectos<br />
sócio-<strong>de</strong>mográficos como: estrutura <strong>de</strong>mográfica, família, nupcialida<strong>de</strong>, legitimida<strong>de</strong>,<br />
compadrio etc.<br />
SMITH, Roberto. A presença da componente populacional indígena na <strong>de</strong>mografia<br />
histórica da capitania <strong>de</strong> Pernambuco e suas anexas na segunda meta<strong>de</strong> do século<br />
XVIII. Comunicação apresentada no XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da<br />
ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. O trabalho apresenta uma análise sist<strong>em</strong>ática das fontes <strong>de</strong>mográficas<br />
históricas pesquisadas que cobr<strong>em</strong> a segunda meta<strong>de</strong> do século XVIII referentes ao<br />
território da capitania <strong>de</strong> Pernambuco e suas anexas (Paraíba, Rio Gran<strong>de</strong> e Ceará),<br />
matriz genética da formação do regionalismo nor<strong>de</strong>stino. Abrange portanto o período<br />
proto-estatístico da análise da <strong>de</strong>mografia histórica assinalado por Marcílio, e se<br />
enquadra necessariamente num referencial mais amplo <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> controle da crise<br />
colonial, por parte da Coroa Portuguesa, <strong>de</strong> 1750 <strong>em</strong> diante. A análise subjacente ao<br />
Diretório e à geopolítica pombalina permite estabelecer algumas diferenças<br />
significativas entre as capitanias, tais discrepâncias evi<strong>de</strong>nciam práticas sociais com<br />
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respeito às quais se <strong>de</strong>staca a importância da componente indígena circunscrita às<br />
Vilas e Freguesias <strong>de</strong> Índios. O estudo nesse sentido procura contribuir para tornar<br />
mais evi<strong>de</strong>nte características próprias, diferenciadas e socialmente construídas, <strong>de</strong> um<br />
complexo processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> relações sociais <strong>de</strong> produção e dominação,<br />
localizado mais para além, para oeste do território canavieiro da escravidão mercantil.<br />
SILVEIRA, Alessandra da Silva. O amor possível: um estudo sobre o concubinato no<br />
Bispado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, fins do século XVIII e início do XIX. Trabalho apresentado na<br />
Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro<br />
Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. A produção historiográfica sobre a família no Brasil t<strong>em</strong>-se diversificado<br />
muito nos últimos anos. Neste contexto, estudos acerca da família escrava <strong>em</strong> regiões<br />
específicas, ou mesmo sobre a <strong>de</strong> homens pobres livres, têm sido objeto constante <strong>de</strong><br />
trabalhos <strong>de</strong> historiadores. Este trabalho enquadra-se nesta tendência atual. Ele<br />
constitui parte <strong>de</strong> uma tese <strong>de</strong> doutoramento sobre as relações concubinárias no<br />
Bispado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, fins do século XVIII e início do XIX, e também é o resultado<br />
<strong>de</strong> reflexões anteriores da autora sobre a formação da família cativa na mesma região. O<br />
trabalho anterior suscitou inquietações acerca <strong>de</strong> aspectos que marcaram a vida e<br />
famílias escravas, pelo menos as existentes <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s plantéis do Rio <strong>de</strong> Janeiro nos<br />
séculos XVIII e XIX. Entre eles <strong>de</strong>staca-se a gran<strong>de</strong> presença das chamadas “mães<br />
solteiras” ou ainda um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> crianças batizadas como ilegítimas. O<br />
presente estudo se propõe traçar um perfil do concubinato na região citada, assim<br />
como o <strong>de</strong> indivíduos que estiveram envolvidos nesse tipo <strong>de</strong> relação conjugal, através<br />
da análise <strong>de</strong> uma fonte ainda pouco explorada pelos historiadores da família no Brasil:<br />
as Visitas Pastorais. Documentação s<strong>em</strong>elhante a esta, a Devassa Eclesiástica, foi<br />
utilizada <strong>em</strong> estudos sobre a família <strong>em</strong> Minas Gerais, século XVIII, ou mesmo sobre o<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro no mesmo período. A estrutura das duas fontes é apreciada. Ambas eram<br />
feitas a mando do Bispado; não raro, era o próprio Bispo o encarregado <strong>de</strong> visitar<br />
freguesias. Outra possibilida<strong>de</strong> era a presença <strong>de</strong> um Juiz Visitador que, como o Bispo,<br />
possuía amplos po<strong>de</strong>res. A Visita Pastoral tinha uma gran<strong>de</strong> abrangência; contudo, a<br />
por nós escolhida cuidou especialmente da vigilância e punição dos costumes e<br />
práticas conjugais do Bispado do Rio <strong>de</strong> Janeiro no início do século XIX. É provável que<br />
esta visita esteja associada a um outro momento <strong>de</strong> vigilância do Bispado: uma<br />
Devassa Eclesiástica, promovida <strong>em</strong> fins do século XVIII, na região <strong>de</strong> Mato Grosso. É<br />
importante o número <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias existentes nas visitas pastorais. São casos <strong>de</strong> rapto,<br />
sedução, adultério e, principalmente, <strong>de</strong> relações concubinárias. A estrutura do<br />
documento se presta a uma análise <strong>de</strong>mográfica, à medida que as questões levantadas<br />
pelos visitadores se repet<strong>em</strong> ao longo dos dois anos <strong>em</strong> que a visita durou. A partir<br />
<strong>de</strong>sta constatação, foi possível construir séries quantitativas acerca das características<br />
que teriam marcado, segundo a observação dos visitadores, o concubinato no período.<br />
Construímos dados referentes por freguesia visitada, tais como o número <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>nunciados, a condição social dos mesmos, a existência <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> impedimentos<br />
matrimoniais, o número <strong>de</strong> pessoas “dispensadas” dos entraves eclesiásticos ao<br />
casamento, entre outros dados. A fonte permitiu, ainda, fazer uma análise qualitativa<br />
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dos dados, o que acabou favorecendo o resgate <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s, que não estariam<br />
cont<strong>em</strong>pladas <strong>em</strong> uma análise puramente quantitativa. É importante ressaltar que a<br />
análise <strong>de</strong>mográfica veio potencializar o estudo <strong>de</strong>sta documentação, fundamental para<br />
o conhecimento das relações familiares <strong>de</strong> grupos populares no Brasil nesse período.<br />
Vale afirmar, finalmente, que a pesquisa t<strong>em</strong> indicado que o concubinato não se tratava,<br />
obrigatoriamente, <strong>de</strong> um estigma da família legítima, ou que representasse uma suposta<br />
dissolução dos costumes. Desta maneira, o trabalho revê mo<strong>de</strong>los familiares <strong>de</strong> homens<br />
pobres, vistos por parte <strong>de</strong> alguns estudiosos como <strong>de</strong>sregrados ou situados à marg<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo familiar legítimo. Mostramos que as relações concubinárias constituíram<br />
um espaço diferenciado do mo<strong>de</strong>lo familiar, <strong>em</strong> sentido mais amplo, <strong>de</strong> certos grupos<br />
sociais <strong>em</strong> fins do período colonial e início do século XIX; muito a relação concubinária<br />
se ass<strong>em</strong>elhava à estrutura <strong>de</strong> funcionamento do matrimônio da época.<br />
ESPÍRITO SANTO, Cláudia Coimbra do. Crédito e economia cotidiana: a participação<br />
f<strong>em</strong>inina nas <strong>de</strong>mandas judiciais <strong>em</strong> Vila Rica, 1730-1770. Trabalho apresentado na<br />
Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro<br />
Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Nos estudos sobre a história econômica <strong>de</strong> Vila Rica no Setecentos<br />
prevaleceu a análise da produção aurífera voltada para o comércio externo, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>trimento da existência <strong>de</strong> um mercado interno consumidor e das relações comerciais<br />
que se forjaram <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outros parâmetros. Portanto, este trabalho procura preencher<br />
uma lacuna no que tange ao conhecimento da experiência econômica <strong>de</strong>corrente das<br />
trocas efetivadas no dia-a-dia dos moradores das minas. As fontes primárias que<br />
subsidiam esta pesquisa estão sob a custódia do Arquivo Histórico do Museu da<br />
Inconfidência (Ouro Preto), as quais formam um riquíssimo corpus documental inédito<br />
para o estudo da história <strong>de</strong>mográfica através do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> crédito e da economia<br />
cotidiana dos habitantes da então <strong>de</strong>nominada Nossa Senhora do Pilar <strong>de</strong> Vila Rica <strong>de</strong><br />
Ouro Preto, durante o Setecentos. As ações <strong>de</strong> alma, instrumento jurídico utilizado<br />
pelos moradores para cobrança <strong>de</strong> dívidas e créditos ¾ contraídos por gran<strong>de</strong>s<br />
comerciantes, mas também através do pequeno comércio <strong>de</strong> produtos e serviços ¾<br />
junto à Justiça Civil <strong>de</strong> Vila Rica, é uma importante série documental que revela a forma<br />
através da qual as trocas comerciais cotidianas basearam-se no <strong>em</strong>penho da alma como<br />
valor monetário, <strong>de</strong>corrente da carência <strong>de</strong> moeda como meio circulante. Esta prática<br />
apoiava-se juridicamente na legislação civil portuguesa, e a Igreja Católica com seu<br />
arcabouço mental, fundamentava a crença <strong>em</strong> seu valor simbólico. Neste contexto<br />
sócio-econômico e cultural on<strong>de</strong> a mulher estava alijada do acesso aos po<strong>de</strong>res<br />
institucionais, encontrei um expressivo número <strong>de</strong>las que recorriam à Justiça, <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>mandas originadas <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> cobrança <strong>de</strong> créditos validadas pelo <strong>em</strong>penho da<br />
alma, figurando ora como autoras, ora como rés. A documentação compulsada permitiu<br />
visualizar um universo no qual a palavra da mulher ¾ mesmo sendo forra, pobre e<br />
negra ¾, tinha seu valor reconhecido juridicamente.<br />
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ALMEIDA. Joseph César Ferreira <strong>de</strong>. O testamento no âmbito da herança: uma análise<br />
<strong>de</strong>mográfica. Trabalho apresentado na Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong><br />
<strong>Estudos</strong> Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Este trabalho visa à análise ou à interpretação dos dados relativos sobre a<br />
existência, e a relação dos testadores com seus her<strong>de</strong>iros forçados, que são os<br />
ascen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> linha direta com o testador, ou seja, filhos e netos, e<br />
avós e bisavós, no estado <strong>de</strong> São Paulo durante o período <strong>de</strong> 1763 a 1863. Além disso,<br />
muitos testadores utilizavam seus testamentos para reparação <strong>de</strong> erros do passado<br />
como, por ex<strong>em</strong>plo, o reconhecimento <strong>de</strong> her<strong>de</strong>iros, que na prática seriam os filhos<br />
bastardos, numa tentativa <strong>de</strong> salvação da alma a partir da confissão e do conserto dos<br />
pecados da carne, aos quais chamavam “fragilida<strong>de</strong> humana”. Ou, ao contrário, muitos<br />
testadores usavam seus testamentos para negar com ve<strong>em</strong>ência a paternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> filhos<br />
tidos publicamente como seus. Dessa maneira, procurar<strong>em</strong>os enfocar as estratégias<br />
dos testadores para transmissão <strong>de</strong> suas riquezas. Envolvendo um estudo da partilha<br />
dos bens e do direito das sucessões nos testamentos. Portanto, essa pesquisa<br />
utiliza-se <strong>de</strong> documentos cartoriais, até certo ponto estatísticos, como testamentos,<br />
para uma exploração qualitativa e quantitativa dos dados relativos à probl<strong>em</strong>ática dos<br />
her<strong>de</strong>iros forçados.<br />
CÂMARA, Leandro C.; SILVA, André Félix M. da & DOMINGUES, Vanessa Kely. São<br />
Paulo, 18<strong>27</strong>: uma análise <strong>de</strong>mográfica – Penha, Nossa Senhora do Ó e Santana.<br />
Trabalho apresentado na Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Este trabalho t<strong>em</strong> por objetivo <strong>de</strong>senvolver uma análise <strong>de</strong>mográfica sobre os<br />
bairros que cercavam o núcleo urbano paulista ¾ Santana, Penha <strong>de</strong> França, Nossa<br />
Senhora do Ó ¾ aos quais <strong>de</strong>nominamos periféricos, através das listas nominativas<br />
referentes ao ano <strong>de</strong> 18<strong>27</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Apesar da existência <strong>de</strong> trabalhos<br />
que se utilizam <strong>de</strong>sses levantamentos <strong>de</strong>mográficos, notamos a ausência <strong>de</strong> estudos<br />
específicos sobre os bairros acima referidos, que dê<strong>em</strong> conta <strong>de</strong> resgatar a estrutura da<br />
população relacionando-a às ativida<strong>de</strong>s econômicas e à composição dos domicílios.<br />
Observando os dados estatísticos somados às informações fornecidas pela<br />
historiografia, realizar<strong>em</strong>os análises necessárias para compreen<strong>de</strong>r a estrutura das<br />
populações localizadas nesses bairros, que atuavam como zona <strong>de</strong> transição entre a<br />
área urbana e rural. Apesar da relativa proximida<strong>de</strong> entre esses bairros periféricos e o<br />
núcleo central notamos peculiarida<strong>de</strong>s que merecess<strong>em</strong> ser melhor trabalhadas.<br />
STANCZYK FILHO, Milton. Alianças matrimoniais e estratégias <strong>de</strong> b<strong>em</strong>-viver no espaço<br />
social da Vila <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lux dos Pinhais <strong>de</strong> Curytiba (1690-1790). Trabalho<br />
apresentado na Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais<br />
da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Muito se t<strong>em</strong> escrito sobre a família no Brasil colônia. A historiografia<br />
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brasileira que se v<strong>em</strong> ocupando com a t<strong>em</strong>ática apresenta-nos uma socieda<strong>de</strong> na qual a<br />
organização familiar expressa uma busca <strong>de</strong> alianças com fins estratégicos. Isto é, as<br />
alianças matrimoniais, especialmente entre as “elites”, buscavam manter o status e a<br />
honra familiar. Nesse sentido, a presente pesquisa busca observar as alianças<br />
matrimoniais e as estruturas familiares no espaço social da Vila <strong>de</strong> Nossa Senhora da<br />
Lux dos Pinhais <strong>de</strong> Curytiba entre 1690 e 1790. Sobre a proposta <strong>de</strong> análise<br />
microscópica, ou seja, <strong>de</strong> discutir com a historiografia e perceber os comportamentos<br />
ou conjuntos <strong>de</strong> normas que regiam a socieda<strong>de</strong> e que pressionavam as <strong>de</strong>cisões e as<br />
escolhas individuais, busco arrolar principalmente nos inventários, testamentos e<br />
registros paroquiais existentes na Paróquia <strong>de</strong> Curitiba entre 1700 e 1800, quais eram os<br />
mecanismos <strong>de</strong> vivência <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong> prestígio que se instalou na Vila <strong>de</strong> Curitiba.<br />
No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> quatro gerações da família Rodrigues Seixas buscarei expor suas<br />
“estratégias <strong>de</strong> b<strong>em</strong> viver”, tendo como pano <strong>de</strong> fundo os anseios e atitu<strong>de</strong>s da<br />
metrópole para com a colônia, o que traz à tona toda uma justificativa do “viver <strong>em</strong><br />
colônia”. Vale ressaltar que este trabalho é fruto <strong>de</strong> pesquisas que venho<br />
<strong>de</strong>senvolvendo como ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bolsista do Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica<br />
(PIBIC-CNPq) junto ao Centro <strong>de</strong> Documentação e Pesquisa, Paraná século XVIII<br />
(CEDOPE), pertencente ao corpo docente do Departamento <strong>de</strong> <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Luiza Andreazza.<br />
GALVÃO, Rafael Ribas. Bastardia e ilegitimida<strong>de</strong> na Curitiba dos séculos XVIII e XIX.<br />
Trabalho apresentado na Sessão <strong>de</strong> Pôsteres do XIII Encontro Nacional <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais da ABEP, Ouro Preto, nov. 2002.<br />
RESUMO. Des<strong>de</strong> a publicação do clássico Casa Gran<strong>de</strong> & Senzala, <strong>de</strong> Gilberto Freyre,<br />
<strong>em</strong> 1933, acostumamo-nos a atribuir o elevado número <strong>de</strong> filhos naturais no Brasil<br />
Colônia ao intercurso sexual <strong>de</strong> senhores com escravas. Da mesma maneira, existia<br />
para a época a visão das mulheres brancas s<strong>em</strong>pre enclausuradas e imaculadas.<br />
Entretanto, insatisfeitos com essa versão da história, muitos historiadores retomaram<br />
os estudos sobre o assunto, utilizando, entre outras fontes, as séries paroquiais.<br />
Descobriram, <strong>de</strong>ssa forma, que o fenômeno da ilegitimida<strong>de</strong> não era apenas uma<br />
característica dos “<strong>de</strong>sclassificados” sociais, mas também da elite branca da colônia.<br />
Nessa direção, tendo como ponto <strong>de</strong> partida os registros <strong>de</strong> batismo <strong>de</strong> crianças<br />
ilegítimas, o presente trabalho preten<strong>de</strong> contribuir com os estudos críticos dos registros<br />
paroquiais, principalmente no que se refere às diferenças regionais na forma e conteúdo<br />
das atas batismais. Diferenças cujos indícios se apontam, apesar das normas dispostas<br />
pelas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. A pesquisa também preten<strong>de</strong><br />
contribuir para o estudo da “ilegitimida<strong>de</strong>”, verificando a existência <strong>de</strong> categorias<br />
diferenciadas do fenômeno social, s<strong>em</strong>pre com base nos registros paroquiais. Para<br />
verificar as mudanças na forma e no conteúdo das mencionadas atas, <strong>em</strong> um estudo <strong>de</strong><br />
“longa duração”, <strong>de</strong>limitamos como balizas t<strong>em</strong>porais os séculos XVIII (estendido) e<br />
XIX, selecionando, aleatoriamente, um ano por década para o período estudado. Em<br />
seguida, foram arrolados, transcritos e <strong>de</strong>vidamente tabulados (<strong>de</strong> acordo com<br />
categorias propostas por Sérgio Odilon Nadalin) todos os dados quantitativos e<br />
qualitativos dos registros <strong>de</strong> batismos pertencentes à referida amostra. Analisando<br />
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estes dados, sob uma metodologia experimental proposta neste trabalho, pu<strong>de</strong>mos<br />
traçar um panorama <strong>de</strong> como se davam os fenômenos relacionados à bastardia na<br />
socieda<strong>de</strong> curitibana dos séculos XVIII e XIX.<br />
Artigos <strong>de</strong> interesse da área <strong>de</strong> história <strong>de</strong>mográfica presentes <strong>em</strong> Historiografia brasileira <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>bate: “olhares, recortes e tendências”<br />
ALANIZ, Anna Gicelle García. A pequena Cândida: a criança como sujeito da ação<br />
histórica. In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate:<br />
“olhares, recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH / USP, 2002, (Cursos e<br />
Eventos, Nova Série, 3), p. 55-63.<br />
RESUMO. Estudo <strong>de</strong> caso. A partir <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> tutela já anteriormente trabalhado<br />
<strong>em</strong> nossa dissertação <strong>de</strong> mestrado, reconstituímos a trajetória <strong>de</strong> uma criança nascida<br />
livre <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da legislação <strong>de</strong> 1871. Refletindo sobre o espaço <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ssa criança<br />
enquanto sujeito histórico, passamos a formular algumas questões sobre a relevância<br />
científica dos estudos <strong>de</strong> caso e os cuidados que o pesquisador <strong>de</strong>ve tomar ao usar<br />
esse tipo <strong>de</strong> metodologia.<br />
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. <strong>História</strong> da população brasileira: balanços e<br />
perspectivas. In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate:<br />
“olhares, recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH / USP, 2002, (Cursos e<br />
Eventos, Nova Série, 3), p. 165-191.<br />
RESUMO. Procurei refletir neste trabalho sobre os rumos e, principalmente, sobre as<br />
lacunas observáveis nos estudos sobre a população brasileira no t<strong>em</strong>po. De maneira<br />
geral, parece-me que há evi<strong>de</strong>ntes probl<strong>em</strong>as com a carência generalizada <strong>de</strong><br />
informações. A <strong>de</strong>struição sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> documentos, especialmente aqueles <strong>de</strong><br />
caráter local, torna difícil recuperar uma parcela importante da trajetória seguida por<br />
nossa população. Entretanto, creio que o principal fator limitante <strong>de</strong>stes avanços t<strong>em</strong><br />
sido a falta <strong>de</strong> estudos mais sist<strong>em</strong>áticos e organizados, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as que sejam<br />
realmente relevantes no <strong>de</strong>svendamento <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>mografia. De maneira geral, o uso<br />
criativo das fontes <strong>de</strong> que dispomos e o socorro a arsenais mais sofisticados da<br />
<strong>de</strong>mografia formal po<strong>de</strong>m resolver parte consi<strong>de</strong>rável dos probl<strong>em</strong>as que hoje<br />
imputamos às fontes. Faltaria, pois, a disposição para enfrentar tal tarefa.<br />
MARQUES, Cláudia Eliane Parreiras. A história da população numa perspectiva regional.<br />
In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate: “olhares,<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH / USP, 2002, (Cursos e Eventos,<br />
Nova Série, 3), p. 95-126.<br />
RESUMO. Investigamos o dinamismo econômico <strong>de</strong> um distrito rural <strong>de</strong> Minas Gerais no<br />
século XIX ¾Bonfim do Paraopeba. Para isso, concentramos a análise nas faixas da<br />
posse <strong>de</strong> escravos e, através <strong>de</strong>las, perceb<strong>em</strong>os aspectos econômicos, <strong>de</strong>mográficos e<br />
sociais. Partimos do pressuposto <strong>de</strong> que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cativos <strong>de</strong>finia o perfil<br />
socioeconômico das famílias escravistas. Outras questões foram abordadas, tais como<br />
a produção e a circulação <strong>de</strong> mercadorias (inventários post-mort<strong>em</strong>) e as altas taxas <strong>de</strong><br />
africanos encontradas nas listas nominativas <strong>de</strong> habitantes <strong>de</strong> 1831/32. Tal abordag<strong>em</strong><br />
¾baseada na história regional¾ evi<strong>de</strong>ncia a importância <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>sta natureza,<br />
contribuindo, <strong>de</strong>ssa forma, para o <strong>de</strong>bate historiográfico.<br />
MOTTA, José Flávio. A família escrava na historiografia brasileira: os últimos 25 anos.<br />
In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate: “olhares,<br />
recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH / USP, 2002, (Cursos e Eventos,<br />
Nova Série, 3), p. 235-254.<br />
RESUMO. Acompanham-se, <strong>em</strong> retrospecto, os caminhos trilhados pela historiografia<br />
<strong>de</strong>dicada ao t<strong>em</strong>a da família escrava no Brasil. Até cerca <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 1970<br />
atribuía-se diminuta relevância às relações familiares entre os cativos. Des<strong>de</strong> então,<br />
alterou-se a perspectiva <strong>de</strong> enfoque da família escrava e seu estudo aprofundou-se:<br />
examinaram-se os casais cativos, as mães solteiras, a legitimida<strong>de</strong> da prole, o<br />
compadrio etc. A partir dos anos 1990, os tópicos cont<strong>em</strong>plados ampliam-se. Não se<br />
trata mais <strong>de</strong> discutir sobre a existência ou não das aludidas relações familiares;<br />
procura-se, agora, aprofundar cada vez mais a análise das características apresentadas<br />
pelas famílias cativas, sua estabilida<strong>de</strong> possível, seus vínculos com a ativida<strong>de</strong><br />
econômica encetada e com o tamanho dos plantéis <strong>de</strong> escravos. Sobretudo, estuda-se a<br />
questão da natureza mesma <strong>de</strong>ssa instituição familiar e o papel a ela reservado no<br />
período escravista brasileiro.<br />
PASQUA, Suzana P. Mortalida<strong>de</strong> na infância, no passado e no presente: indicador eficaz<br />
das condições <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> toda uma população. In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita<br />
(org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate: “olhares, recortes e tendências”. São Paulo,<br />
Humanitas / FFLCH / USP, 2002, (Cursos e Eventos, Nova Série, 3), p. 65-79.<br />
RESUMO. Faz<strong>em</strong>os uma análise da evolução da mortalida<strong>de</strong> na socieda<strong>de</strong> paulistana,<br />
mais especificamente no bairro do Brás, entre 1894 e 1920. As <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s perante a<br />
morte são um claro reflexo das inúmeras contradições entre o viver, o adoecer e o<br />
morrer, com <strong>de</strong>terminantes biológicas e sociais. As tabelas e os gráficos que ilustram o<br />
texto, e que nos permitiram chegar a algumas reflexões, são fruto do cotejo dos<br />
Anuários D<strong>em</strong>ográficos da Seção <strong>de</strong> Estatística D<strong>em</strong>ógrafo-Sanitária e dos Livros <strong>de</strong><br />
Inumações do C<strong>em</strong>itério do Brás, com as Políticas Urbano-Sanitaristas da época. Ao fim<br />
<strong>de</strong> nosso trabalho, pu<strong>de</strong>mos verificar algumas <strong>de</strong> nossas hipóteses: a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
Paulo não foi organizada <strong>de</strong> forma uniforme, fato que <strong>de</strong>flagrou condições<br />
sócio-ambientais diversas, tanto no passado, como no presente.<br />
SCOTT, Ana Silvia Volpi. As diferentes formas <strong>de</strong> organização familiar <strong>em</strong> Portugal<br />
(séculos XVIII e XIX). In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia brasileira <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>bate: “olhares, recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH / USP, 2002,<br />
(Cursos e Eventos, Nova Série, 3), p. 199-234.<br />
RESUMO. Preten<strong>de</strong>-se neste artigo discutir os recentes avanços da historiografia<br />
portuguesa no que diz respeito aos diferentes sist<strong>em</strong>as familiares que caracterizaram o<br />
território português nos últimos séculos. Da mesma forma, procura-se enquadrar esta<br />
produção <strong>em</strong> uma perspectiva que sublinhe a diversida<strong>de</strong> e as especificida<strong>de</strong>s dos<br />
sist<strong>em</strong>as familiares da Europa Mediterrânea, inserindo-se as questões inerentes à<br />
probl<strong>em</strong>ática da complexida<strong>de</strong> do pequeno reino português, <strong>de</strong>vido à <strong>em</strong>igração<br />
estrutural <strong>de</strong> sua população. Por fim, as discussões são aprofundadas utilizando-se o<br />
ex<strong>em</strong>plo da situação do Noroeste Português.<br />
TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. A <strong>de</strong>mografia numa perspectiva histórica: a<br />
produção da ABEP – 1978/1998, In: SAMARA, Eni <strong>de</strong> Mesquita (org.). Historiografia<br />
brasileira <strong>em</strong> <strong>de</strong>bate: “olhares, recortes e tendências”. São Paulo, Humanitas / FFLCH /<br />
USP, 2002, (Cursos e Eventos, Nova Série, 3), p. 1<strong>27</strong>-163.<br />
RESUMO. Efetua-se um balanço historiográfico da produção <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong>mográficos<br />
<strong>de</strong>senvolvidos numa perspectiva histórica e apresentados sob a forma <strong>de</strong><br />
artigos/comunicações à Associação Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Populacionais (ABEP), nas<br />
duas primeiras décadas <strong>de</strong> sua constituição. Dando continuida<strong>de</strong> à pesquisa<br />
anteriormente realizada, dados sobre as instituições <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> dos pesquisadores, o<br />
período estudado, a localização geográfica dos estudos, o tipo da população<br />
pesquisada, os t<strong>em</strong>as tratados e as fontes utilizadas são alguns dos referenciais<br />
extraídos dos Anais dos Encontros Nacionais e da Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong><br />
Populacionais.<br />
Notícia Bibliográfica<br />
LANÇAMENTOS<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
ZANETTI, Valéria. Calabouço urbano: escravos e libertos <strong>em</strong> Porto Alegre (1840-1860). Passo Fundo<br />
(RS), UPF, 2002. (Coleção Malungo).<br />
RESUMO. A escravidão s<strong>em</strong>pre esteve <strong>em</strong> pauta na historiografia brasileira. Nos últimos anos o t<strong>em</strong>a é<br />
caracterizado pela contenda entre historiadores a respeito da natureza da escravidão e do escravo. Seria o<br />
escravo apenas um instrumento <strong>de</strong> trabalho, um b<strong>em</strong> s<strong>em</strong>ovente? Seria um sujeito histórico? Até on<strong>de</strong><br />
iria a subjetivida<strong>de</strong> contida inegavelmente no ser humano escravizado? Até on<strong>de</strong> iria a objetivação da<br />
socieda<strong>de</strong> escravista marcada literalmente a ferro e fogo no corpo coisificado do escravo?<br />
São questões cruciais para os historiadores abordadas com a serieda<strong>de</strong> e suavida<strong>de</strong> características da<br />
personalida<strong>de</strong> da autora. Sutilmente, Valéria Zanetti <strong>de</strong>ixa correr solto o diálogo com as fontes históricas.<br />
É nos fragmentos das histórias <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> pessoas como as escravas Rosa João, viúva Zeferina e Maria,<br />
estuprada com oito anos, que po<strong>de</strong>mos sentir todo o horror e a violência da escravidão, e particularmente,<br />
da escravidão urbana. A cida<strong>de</strong>, e sua ilusão <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, talvez possa enganar a alguns, mas Valéria<br />
Zanetti não se <strong>de</strong>ixou envolver pela mirag<strong>em</strong> fácil <strong>de</strong> uma falsa liberda<strong>de</strong>. Calabouço Urbano, com uma<br />
cuidadosa seleção <strong>de</strong> fontes, <strong>de</strong>ixa transparecer as finas teias do cotidiano social que ligam e entrelaçam,<br />
violentam e pren<strong>de</strong>m os diferentes sujeitos da história. O cotidiano <strong>de</strong> Valéria Zanetti não é um passeio<br />
através dos hábitos e costumes da gente <strong>de</strong> Porto Alegre, mas um mergulho nas práticas sociais <strong>de</strong> uma<br />
formação social consciente <strong>de</strong> sua opção escravagista. As gra<strong>de</strong>s simbólicas do calabouço urbano tomam<br />
forma e se objetivam na violência diária sofrida pelos escravos e forros que viv<strong>em</strong> na cida<strong>de</strong>. Visão<br />
reveladora essa que nos <strong>de</strong>ixa a pensar sobre nossos próprios calabouços. (Apresentação escrita pela<br />
Profa. Maria José Acedo <strong>de</strong>l Olmo).<br />
PAIVA, Eduardo França & ANASTACIA, Carla Maria Junho (Orgs.). O Trabalho Mestiço:<br />
Maneiras <strong>de</strong> Pensar e Formas <strong>de</strong> Viver, Séculos XVI a XIX. São Paulo, Annablume / PPGH-UFMG,<br />
2002, 530 p.<br />
Livros:<br />
Veja resenha estampada acima.<br />
Trabalhos publicados por Jaime Rodrigues, Diretor do Arquivo Histórico da Prefeitura<br />
Municipal <strong>de</strong> São Paulo.<br />
O infame comércio: propostas e experiências no final do tráfico <strong>de</strong> africanos para o<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
Brasil (1800-1850). Campinas, Ed. da Unicamp, 2000.<br />
O tráfico <strong>de</strong> escravos para o Brasil. São Paulo: Ática, 1997; 2ª ed. 1998; 3ª ed. 1999.<br />
(Coleção <strong>História</strong> <strong>em</strong> Movimento).<br />
Artigos:<br />
"Introdução". Revista do Arquivo Municipal <strong>de</strong> São Paulo, 201: 2002 (<strong>em</strong> colaboração com<br />
Zélia M. Ramos Carneiro).<br />
"Ecos da escravidão". Revista E, 7 (6): 39-40. jan.2001.<br />
"A re<strong>de</strong> miúda do tráfico: os pumbeiros e o comércio <strong>de</strong> escravos <strong>em</strong> Angola no final do<br />
século XVIII". <strong>História</strong> & Perspectivas, 23:67-83, jul./<strong>de</strong>z.2000.<br />
Fios <strong>de</strong> O Fio da M<strong>em</strong>ória". Revista <strong>de</strong> <strong>História</strong>, 141:179-182, jul./<strong>de</strong>z. 1999.<br />
"Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (sécs. XVIII e<br />
XIX)". Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>História</strong>, 19 (38): 15-53, 1999.<br />
"Ferro, trabalho e conflito: os africanos livres na Fábrica <strong>de</strong> Ipan<strong>em</strong>a". <strong>História</strong> Social,<br />
4/5: 29-42, 1997/98.<br />
"Festa na chegada: o tráfico e o mercado <strong>de</strong> escravos do Rio <strong>de</strong> Janeiro". In: SCHWARCZ,<br />
Lilia & REIS, Letícia V. S. (orgs.) Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no<br />
Brasil. São Paulo: Edusp; Estação Ciência, 1996, pp. 93-115.<br />
"Os traficantes <strong>de</strong> africanos e seu ‘infame comércio' (18<strong>27</strong>-1860)". Revista Brasileira <strong>de</strong><br />
<strong>História</strong>, 15 (29): 139-155, 1995.<br />
"Liberda<strong>de</strong>, humanida<strong>de</strong> e proprieda<strong>de</strong>: os escravos e a Ass<strong>em</strong>bléia Constituinte <strong>de</strong> 1823".<br />
Revista do Instituto <strong>de</strong> <strong>Estudos</strong> Brasileiros da USP, 39: 159-167, 1995.<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
"Índios e africanos: do ‘pouco ou nenhum’ fruto do trabalho à criação <strong>de</strong> ‘uma classe<br />
trabalhadora'". <strong>História</strong> Social, 2: 9-24, 1995.<br />
"Crise da Primeira República: classes médias e Estado na década <strong>de</strong> 20". Ciência e Cultura,<br />
São Paulo, SBPC, 4l(2): 146-157, fev.1989.<br />
Tradução:<br />
Seymour Dresher. "A abolição brasileira <strong>em</strong> perspectiva comparativa". <strong>História</strong> Social, 2:<br />
115-162, 1995. (Tradução <strong>de</strong> "Brazilian Abolition in Comparative Perspective". Hispanic<br />
American Historical Review, 68(3): 429-460, 1988).<br />
Colaborador/pesquisador:<br />
Viag<strong>em</strong> pela <strong>História</strong> do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.<br />
Beneficência Portuguesa <strong>de</strong> São Paulo: o hospital do Brasil. São Paulo: Pancrom, 1997.<br />
M<strong>em</strong>órias da saú<strong>de</strong> pública: a fotografia como test<strong>em</strong>unha. São Paulo: Hucitec, 1995.<br />
Escola Politécnica: c<strong>em</strong> anos <strong>de</strong> tecnologia brasileira. São Paulo: Grifo Projetos Históricos e<br />
Editoriais, 1994.<br />
Pátria Amada Esquartejada. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico/SMC, 1992.<br />
Guia preliminar do Arquivo <strong>de</strong> Negativos. São Paulo: Departamento do Patrimônio<br />
Histórico/SMC. 1992.<br />
O acervo fotográfico do Departamento do Patrimônio Histórico: processamento técnico e<br />
informatização. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico/SMC, 1992.<br />
Ca<strong>de</strong>rnos Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: Praça do Patriarca-Praça Ramos <strong>de</strong> Azevedo-Viaduto do Chá<br />
/ Largo Santa Efigênia-Largo São Bento-Viaduto Santa Efigênia / Parque da In<strong>de</strong>pendência /<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
Largo São Francisco / Largo da M<strong>em</strong>ória / Praça da Sé / Pátio do Colégio. São Paulo: Instituto<br />
Cultural Itaú, 1992.<br />
Publicações Recebidas<br />
Botelho, Tarcísio Rodrigues et alii. <strong>História</strong> Quantitativa e Serial no Brasil: um balanço.<br />
Goiânia, ANPUH-MG, 2001, 492p.<br />
Reún<strong>em</strong>-se nesse volume, que se distingue pela varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfoques e pela <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> das análises nele<br />
expendidas, os trabalhos apresentados no I S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>História</strong> Quantitativa e Serial, realizado <strong>em</strong><br />
Ouro Preto <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro a 1o. <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2000. As comunicações distribuíram-se por quatro<br />
áreas: história <strong>de</strong>mográfica; história econômica; história econômica e <strong>de</strong>mográfica e, por fim, história e<br />
ciências sociais. A relação <strong>de</strong> tais estudos, acompanhada <strong>de</strong> alguns resumos, foi divulgada no número 21<br />
<strong>de</strong>ste <strong>BHD</strong>, a ele r<strong>em</strong>et<strong>em</strong>os o leitor interessado <strong>em</strong> rever os títulos ora publicados.<br />
BOLEDA, Mario. Concentración <strong>de</strong> la población en el Noroeste Argentino (2). Salta, Grupo <strong>de</strong> Estudios<br />
Socio-<strong>de</strong>mográficos, Universidad Nacional <strong>de</strong> Salta - Argentina, 1995, 95 p. (Cua<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong>l GREDES,<br />
n. 23).<br />
En este Cua<strong>de</strong>rno se publica la segunda parte <strong>de</strong>l estudio relativo a la concentración <strong>de</strong> poblácion, cuya<br />
primera sección fue editada en el número 22. Se incluyen, en este número 23, diversas estimaciones<br />
basadas en procedimientos e indicadores frecuent<strong>em</strong>ente utilizados cuando se estudia este t<strong>em</strong>a. Pue<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cirse, <strong>em</strong>pero, que el punto central es el tamaño <strong>de</strong> los aglomerados, un aspecto que si<strong>em</strong>pre ha sido <strong>de</strong><br />
principal importancia y que constituye, en consecuencia, un capítulo sobresaliente <strong>de</strong> los análisis <strong>de</strong> la<br />
concentración.<br />
Notícias e Informes<br />
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<strong>BHD</strong> <strong>27</strong><br />
Conheça a nova página dos Arquivos Históricos do Centro <strong>de</strong> M<strong>em</strong>ória<br />
da Unicamp na Internet:<br />
http://www.unicamp.br/suarq/cmu/arqhist/<br />
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Pobreza carioca: uma sondag<strong>em</strong> nos registros <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> fins<br />
do século XVIII<br />
Renato Pinto Venancio<br />
DEHIS/UFOP<br />
Pesquisador do CNPq<br />
Conforme é sabido, a ausência <strong>de</strong> fontes produzidas diretamente por qu<strong>em</strong><br />
vivenciou a dolorosa experiência da pobreza não impediu que historiadores<br />
<strong>de</strong>senvolvess<strong>em</strong> várias formas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar esses grupos nas socieda<strong>de</strong>s do passado. Um<br />
dos procedimentos adotados nessas pesquisas consiste <strong>em</strong> analisar as instituições <strong>de</strong><br />
carida<strong>de</strong>. Tal abordag<strong>em</strong>, quando feita a partir <strong>de</strong> um enfoque metodológico serial, permite<br />
que se conheça, pelo menos parcialmente, a população socialmente consi<strong>de</strong>rada pobre 1 . Por<br />
outro lado, a investigação das variações anuais e <strong>de</strong>cenais do número <strong>de</strong> assistidos informa<br />
a respeito <strong>de</strong> conjunturas específicas, nas quais as fronteiras da pobreza abrangia maior ou<br />
menor número <strong>de</strong> indivíduos.<br />
O presente texto t<strong>em</strong> por objetivo explorar a riqueza das fontes paroquiais, para o<br />
caso específico dos óbitos <strong>de</strong> pobres do Rio <strong>de</strong> Janeiro colonial 2 . Nossa escolha está longe<br />
1 Do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo, a <strong>de</strong>limitação do grupo socialmente consi<strong>de</strong>rado "pobre" é probl<strong>em</strong>ática. Em<br />
tal análise, é necessário <strong>de</strong>finir previamente a opção pela noção <strong>de</strong> “pobreza relativa”, ou seja,<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>; ou <strong>de</strong> “pobreza absoluta”, ou seja, fome; assim como optar pela noção <strong>de</strong> pobreza<br />
“individual” ou “familiar”. Em geral, os métodos <strong>de</strong> avaliação quantitativos baseiam-se <strong>em</strong> noções<br />
“standard” (indicação, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> um critério <strong>de</strong> rendimento médio) ou <strong>de</strong> “agregação”(combinação<br />
<strong>de</strong> diversas medidas), <strong>de</strong>limitando assim a “linha da pobreza”. Em nosso caso, utlizamos a noção <strong>de</strong><br />
“pobreza estrutural”, procurando i<strong>de</strong>ntificar o segmento da população que, no momento da morte,<br />
<strong>de</strong>pendia da assistência. WOOLF, Stuart. The poor in Western Europe in the Eighteenth and Nineteenth<br />
centuries. Londres: Methuen, 1986, p. 1-6.<br />
2 Há muito, uma criteriosa análise das atas <strong>de</strong> óbitos da paróquia <strong>de</strong> Antonio Dias <strong>de</strong> Vila Rica, 1719-1818,<br />
indicou que essa informação era coletada no período colonial. COSTA, Iraci Del Nero. Vila Rica:<br />
população(1719-1826). São Paulo: IPE/USP, 1981, pp. 238 Infelizmente, porém, os <strong>de</strong>mais estudos <strong>de</strong><br />
D<strong>em</strong>ografia Histórica não levaram <strong>em</strong> conta esse dado.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 2<br />
<strong>de</strong> ser aleatória. Partimos da hipótese <strong>de</strong> que a referida cida<strong>de</strong> conviveu, na segunda meta<strong>de</strong><br />
do século XVIII, com uma gama bastante variada <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, sendo<br />
algumas <strong>de</strong>las <strong>de</strong>stinadas ao enterro <strong>de</strong> indigentes. Tal situação, <strong>em</strong> certo sentido, <strong>de</strong>corria<br />
do fato <strong>de</strong> o Rio ter-se tornado, entre 1763 e 1808, a cida<strong>de</strong> mais populosa do Brasil<br />
colonial 3 e uma das cinco maiores da América Latina; época <strong>em</strong> que seus índices <strong>de</strong><br />
crescimento foram superiores aos dos principais centros urbanos portugueses.<br />
Infelizmente, porém, é tarefa difícil analisar as várias etapas <strong>de</strong>sse crescimento<br />
<strong>de</strong>mográfico. A documentação carioca, além <strong>de</strong> escassa, apresenta divergências entre uma<br />
fonte e outra. Além disso, os cariocas não dispõ<strong>em</strong> - ou pelo menos não foram até agora<br />
i<strong>de</strong>ntificadas - <strong>de</strong> listas nominativas, tais quais as localizadas para São Paulo e Minas<br />
Gerais. Os registros eclesiásticos – material clássico dos estudos <strong>de</strong> D<strong>em</strong>ografia Histórica –<br />
indicam apenas os nascimentos, casamentos e óbitos; quando muito, informando o número<br />
<strong>de</strong> indivíduos maiores <strong>de</strong> sete anos passíveis da comunhão e confissão anual obrigatória.<br />
Para avaliar as variações do número total <strong>de</strong> habitantes da capital carioca colonial,<br />
os historiadores têm recorrido à documentação diversificada, principalmente aquela<br />
produzida por vice-reis, oficiais da câmara, cronistas e viajantes. Na Tabela I, reunimos<br />
informações populacionais com o objetivo <strong>de</strong> mostrar que, na década antece<strong>de</strong>nte à<br />
chegada da família real, o Rio já havia se tornado o mais importante centro urbano da<br />
América portuguesa.<br />
3 O conceito <strong>de</strong> “urbanização” também apresenta vários sentidos, po<strong>de</strong>ndo significar: a) “<strong>de</strong>mographic<br />
urbanization”: concentração <strong>de</strong> população; b) “behavioural urbanization”: surgimento <strong>de</strong> uma “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
urbana”, ou seja, <strong>de</strong> comportamentos e visões <strong>de</strong> mundo; e c) “structural urbanization”: concentração, <strong>em</strong><br />
espaços restritos, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s coor<strong>de</strong>nadas, como, por ex<strong>em</strong>plo, a produção <strong>de</strong> mercadorias. VRIES, Jan<br />
<strong>de</strong>. European Urbanization: 1500-1800. Cambridge: Harvard University Press, 1984, pp. 10-12. No<br />
presente trabalho, utilizamos a primeira <strong>de</strong>finição.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 3<br />
Tabela I. População das principais cida<strong>de</strong>s da América portuguesa, 1760-1808<br />
Cida<strong>de</strong> 1760 1779 1789 1796 1799 1804 1808<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro 32.746 36.932 43.376 50.144<br />
Salvador 39.466 40.398 40.912 43.147<br />
Ouro Preto c.20.000 8.867<br />
São Paulo c.20.000 21.304 24.311<br />
Recife c.15.000 c.25.000<br />
Belém c.9.000 c.11.000<br />
Curitiba c.7.000 6.478 7.804<br />
Porto Alegre c.2.000 c.6.000<br />
Fontes: JOHNSON, M. H. Money and prices in Rio <strong>de</strong> Janeiro. L’histoire quantitative du Brésil. Paris:<br />
CNRS, 1973, p. 44; NASCIMENTO, Ana Amélia Vieira. Dez freguesias da cida<strong>de</strong> do Salvador. Salvador:<br />
Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1986, p. 65; MORSE, Richard M (ed.). The urban <strong>de</strong>velopment of<br />
Latin America, 1750-1920. Stanford: Center for Latin American Studies, 1971, pp. 23-111; COSTA, Iraci Del<br />
Nero da. Vila Rica: população(1719-1826). São Paulo: IPE/USP, p. 1979, p. 243; COSTA, Iraci Del Nero da<br />
e GUTIERREZ, Horácio. Paraná: mapas <strong>de</strong> habitantes, 1798-1830. São Paulo: IPE/USP, 1985, p <strong>27</strong> e 53;<br />
MARCILIO, Maria Luíza. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo: povoamento e população, 1750-1850. São Paulo:<br />
Pioneira/ 1 EDUSP, 1973, p. 1<strong>27</strong>; Notícias <strong>de</strong> todos os governos e população do Brasil(1782). Biblioteca do<br />
Palácio da Ajuda, Lisboa, cód. 54-V-12, n. 5.<br />
Contudo, antes <strong>de</strong> compararmos os dados das diversas localida<strong>de</strong>s indicadas na<br />
Tabela I, cabe salientar que nela não aceitamos as estimativas produzidas por viajantes.<br />
Conforme é sabido, tais test<strong>em</strong>unhos, no caso específico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, eram afetados<br />
por especificida<strong>de</strong>s locais. Ao contrário <strong>de</strong> outros núcleos coloniais -, a capital carioca<br />
constituiu-se <strong>em</strong> território bastante restrito. Espr<strong>em</strong>ido entre praias, montanhas e pântanos,<br />
o espaço urbano do Rio <strong>de</strong> Janeiro cobria uma faixa restrita <strong>de</strong> território. Influenciadas pela<br />
forte <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional carioca, a maioria dos viajantes fazia estimativas elevadas, e<br />
até mesmo exorbitantes, do número local <strong>de</strong> habitantes. Assim, Nicoles Louis <strong>de</strong> la Caille,<br />
francês que visitou o Rio <strong>em</strong> 1751, avaliou <strong>em</strong> 50 mil a população local; cifra que eqüivalia<br />
a aproximadamente o dobro do que constava da documentação administrativa. Outra<br />
estimativa exagerada foi aquela avançada por John Barrow que, <strong>em</strong> 1792, indicou que a<br />
população local era <strong>de</strong> 60 mil almas; número atingido somente duas décadas mais tar<strong>de</strong>.<br />
Mais surpreen<strong>de</strong>nte ainda foi o caso <strong>de</strong> James Nelson que, <strong>em</strong> 1796, permaneceu uma<br />
s<strong>em</strong>ana no Rio, e, muito impressionado com a intensa movimentação das ruas cariocas,
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 4<br />
registrou uma estimativa espetacular: a capital colonial contaria com 200 mil habitantes;<br />
cifra, cabe l<strong>em</strong>brar, cinco vezes mais elevada do que a oficial 4 .<br />
Frente ao test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> viajantes, as fontes administrativas são b<strong>em</strong> mais<br />
confiáveis e a razão disso é <strong>de</strong> fácil compreensão. Os vice-reis e oficiais da câmara<br />
necessitavam conhecer <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhes o número <strong>de</strong> habitantes e <strong>de</strong> domicílios, pois <strong>de</strong>ssa<br />
informação <strong>de</strong>pendia a cobrança <strong>de</strong> impostos e o recrutamento militar. A Tabela I, <strong>de</strong>ssa<br />
maneira, consi<strong>de</strong>ra apenas os dados que foram colhidos <strong>em</strong> documentos oficiais. Na<br />
referida tabela, como po<strong>de</strong> ser percebido, a população <strong>de</strong> Salvador também é registrada<br />
com gran<strong>de</strong> precisão numérica. O mesmo, porém, não po<strong>de</strong> ser afirmado <strong>em</strong> relação a<br />
outras localida<strong>de</strong>s. Em Ouro Preto, por ex<strong>em</strong>plo, a estimativa populacional <strong>de</strong> 1796 foi<br />
produzida por fonte administrativa portuguesa e conservada no Palácio da Ajuda <strong>de</strong><br />
Lisboa 5 . Apesar <strong>de</strong>ssa orig<strong>em</strong>, ela é bastante vaga, não indicando as paróquias incluídas na<br />
contag<strong>em</strong>. Probl<strong>em</strong>a s<strong>em</strong>elhante é percebido no levantamento populacional <strong>de</strong> outros<br />
centros coloniais. O que, no entanto, não impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitá-las, principalmente quando<br />
compl<strong>em</strong>entadas por avaliações precisas, avançadas por Maria Luíza Marcílio, Iraci <strong>de</strong>l<br />
Nero da Costa e Horácio Gutiérrez.<br />
Se aceitarmos esse conjunto <strong>de</strong> estimativas, perceber<strong>em</strong>os que Salvador, até por<br />
volta <strong>de</strong> 1790, era o núcleo urbano mais importante do Brasil colonial. Na referida data, o<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro ultrapassa a antiga capital, talvez refletindo um processo <strong>de</strong> recuperação<br />
econômica que vinha sendo registrado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década anterior. À época da chegada da<br />
família real, o Rio havia consolidado a supr<strong>em</strong>acia urbana colonial. Em relação às <strong>de</strong>mais<br />
4 FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Visões do Rio <strong>de</strong> Janeiro: antologia <strong>de</strong> textos, 1531-1800. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
José Olympio/EDUERJ, 1999, p. 98 e 217<br />
5 Cifra também reproduzida <strong>em</strong> "mapas <strong>de</strong> população, Ouro Preto, 1796-1797, Arquivo Público Mineiro,<br />
planilhas 2037", RAMOS, Donald. Vila Rica: profile of a colonial brazilian urban center. The Americas,<br />
vol. XXXV (4), p. 496, 1979.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 5<br />
capitais, essa diferença era ainda mais pronunciada: <strong>em</strong> 1808, os cariocas eram duas vezes<br />
mais numerosos que os recifenses e oito vezes mais que os porto-alegrenses.<br />
Mesmo tomando-se como critério os padrões europeus, o Rio <strong>de</strong> Janeiro podia ser<br />
consi<strong>de</strong>rada uma “gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>”. Na Tabela III, apresentamos o resultado da comparação<br />
entre a evolução populacional carioca e a registrada nos principais centros urbanos<br />
portugueses – ou seja, aqueles que na época possuíam mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil habitantes.<br />
Conforme po<strong>de</strong> ser percebido, Lisboa era, s<strong>em</strong> sombra <strong>de</strong> dúvida, a maior cida<strong>de</strong> do<br />
Império português e uma das maiores da Europa. N<strong>em</strong> mesmo o <strong>de</strong>vastador terr<strong>em</strong>oto <strong>de</strong><br />
1755 conseguiu abalar essa primazia, comprometendo apenas os índices <strong>de</strong> crescimento<br />
local. Quando comparada aos <strong>de</strong>mais gran<strong>de</strong>s centros urbanos metropolitanos, a capital<br />
carioca vinha <strong>em</strong> segundo lugar, apresentando um perfil muito s<strong>em</strong>elhante ao da cida<strong>de</strong> do<br />
Porto, tanto <strong>em</strong> números absolutos quanto <strong>em</strong> índices anuais <strong>de</strong> crescimento populacional.<br />
No Novo Mundo, o Rio também ocupava papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, sendo, na América Latina,<br />
superada apenas pela cida<strong>de</strong> do México, Puebla, Lima e Havana 6 ; e, mais ao norte, por<br />
Filadélfia e Nova Iorque 7 .<br />
Tabela II. População do Rio <strong>de</strong> Janeiro e das principais cida<strong>de</strong>s portuguesas<br />
(estimativas aproximadas)<br />
Cida<strong>de</strong> 1750 1760 1800 % <strong>de</strong> Variação Média anual<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro 32.000 43.000 + 34,3 + 0,85<br />
Lisboa 185.000 195.000 + 5,4 + 0,10<br />
Porto 30.000 43.000 + 43,3 + 0,86<br />
Braga 15.000 16.000 + 6,6 + 0,13<br />
Évora 15.000 12.000 - 20,0 - 0,40<br />
Coimbra 14.000 15.000 + 7,1 + 0,14<br />
Fontes: Tabela I e BAIROCH, Paul et al. La population <strong>de</strong>s villes européennes: banque <strong>de</strong> donnés et analyse<br />
sommaire <strong>de</strong>s résultats: 800-1850. Géneve: Droz, 1988, p. 57.<br />
6<br />
Em 1793, a cida<strong>de</strong> do México possuía 113 mil habitantes; Puebla , 57.090, Lima, 53.000; e Havana, 51 mil,<br />
MORSE, Richard. op. cit., p. 23-111.<br />
7<br />
Em 1800, Filadélfia possuía 62 mil habitantes, enquanto New York contava com 61 mil. NASH, Gary B. The<br />
social evolution of preindustrial american cities, 1700-1820. Jounal of urban history, 13(2), pp.115, 1987.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 6<br />
Tendo <strong>em</strong> vista o padrão <strong>de</strong>mográfico da época, a ocorrência <strong>de</strong> um rápido<br />
crescimento populacional urbano <strong>de</strong>ve ser visto como algo excepcional. Quanto a isso,<br />
basta dizer que, no início do século XVI, uma “gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>” européia seria toda aquela<br />
que contasse, no mínimo, entre 15 e 20 mil habitantes; ao passo que, no início do século<br />
XIX, essa cifra oscilaria entre 50 e 70 mil indivíduos 8 . Não era raro, portanto, que, durante<br />
a Época Mo<strong>de</strong>rna, uma cida<strong>de</strong> levasse duzentos anos para dobrar o número <strong>de</strong> habitantes.<br />
O Rio, como vimos, tal qual a cida<strong>de</strong> do Porto, fugia a esse padrão. A que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os<br />
atribuir esse crescimento? Uma forma <strong>de</strong> o explicarmos é proporcionada pela análise<br />
comparativa. Entre 1750 e 1800, a Inglaterra li<strong>de</strong>rou o processo mundial <strong>de</strong> urbanização.<br />
Da primeira à última data acima mencionada, Londres registrou um aumento populacional<br />
<strong>de</strong> 40%, beirando, no início do século XIX, um milhão <strong>de</strong> habitantes. Na mesma época,<br />
Liverpool e Manchester apresentaram índices <strong>de</strong> aumento da população extraordinários,<br />
vivenciando taxas <strong>de</strong> crescimento da 5 a 7% por ano. Nesse quadro europeu <strong>de</strong> urbanização<br />
intensa, <strong>em</strong> segundo lugar, vinha a Rússia, on<strong>de</strong> Moscou e São Petesburgo registravam, nas<br />
referidas datas, taxas <strong>de</strong> incr<strong>em</strong>ento populacional anual da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 2 a 3%.<br />
Ora, <strong>de</strong> acordo com as pesquisas existentes, as razões que levavam a esse intenso<br />
aumento populacional variaram <strong>de</strong> acordo com a socieda<strong>de</strong> analisada. No caso inglês, como<br />
seria <strong>de</strong> esperar, a rápida transformação das cida<strong>de</strong>s tinha raízes econômicas, <strong>de</strong>correndo da<br />
revolução industrial. Já na Rússia, o fenômeno urbano era expressão do processo <strong>de</strong><br />
oci<strong>de</strong>ntalização estimulado pelo governo monárquico 9 .<br />
8 MEYER, Jean. Quelques vues sur l’histoire <strong>de</strong>s villes à l’époque mo<strong>de</strong>rne. Annales E.S.C, n. 29(6), p. 1555,<br />
1974.<br />
9 BAIROCH, Paul et al. op. cit, p. 267.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 7<br />
O Rio <strong>de</strong> Janeiro parece se situar no meio termo. Embora a cida<strong>de</strong>, obviamente,<br />
estivesse longe <strong>de</strong> viver um processo s<strong>em</strong>elhante ao inglês, a expansão da ativida<strong>de</strong><br />
comercial criava condições favoráveis ao crescimento populacional local 10 . Por outro lado,<br />
os efeitos da “oci<strong>de</strong>ntalização” do espaço urbano carioca não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>scartados. Se<strong>de</strong><br />
da Colônia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1763, o Rio foi alvo <strong>de</strong> melhoramentos urbanísticos, principalmente no<br />
governo do Marquês do Lavradio (1769-1779), fato que <strong>de</strong>ve ter feito do local um polo <strong>de</strong><br />
atração da elite – que, por sua vez, trazia consigo numerosos escravos -, assim como <strong>de</strong><br />
homens livres pobres <strong>em</strong> busca da oferta <strong>de</strong> trabalho proporcionada pela abertura <strong>de</strong> ruas,<br />
aterros <strong>de</strong> pântanos e <strong>de</strong>mais obras públicas.<br />
O processo <strong>de</strong> urbanização <strong>em</strong> um contexto escravista tinha conseqüências nefastas.<br />
À medida que a cida<strong>de</strong> crescia, os cativos tendiam a substituir os homens livres até mesmo<br />
<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s que tradicionalmente esse grupo dominava, como era o caso do artesanato e<br />
do pequeno comércio 11 . Entre os ex-escravos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, os riscos da pobreza<br />
eram ainda maiores, principalmente quando l<strong>em</strong>bramos o caráter exclu<strong>de</strong>nte da socieda<strong>de</strong><br />
colonial, voltada preferencialmente para a economia <strong>de</strong> exportação.<br />
A tabela III ilustra essa situação. Nela é perceptível o fato <strong>de</strong> que, tendo <strong>em</strong> vista a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cativos existentes, inúmeros brancos cariocas não podiam se tornar<br />
proprietários <strong>de</strong> escravos. A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tornar<strong>em</strong> senhores <strong>de</strong>veria ser ainda mais<br />
freqüente entre os negros e pardos livres. A multiplicação dos "homens livres não<br />
10 A condição <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> portuária n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre favorecia o crescimento <strong>de</strong>mográfico. Às vezes, o inverso é<br />
que ocorria, <strong>de</strong>vido ao recrutamento constante <strong>de</strong> homens adultos para o trabalho marítimo, cujas taxas <strong>de</strong><br />
mortalida<strong>de</strong> eram elevadíssimas. Esse dado, aliás, é l<strong>em</strong>brado para explicar o fraco crescimento<br />
<strong>de</strong>mográfico das cida<strong>de</strong>s portuárias francesas: " la mortalité frappe lour<strong>de</strong>ment les milieux maritimes...<br />
60% <strong>de</strong>s gens <strong>de</strong> mer meurent avant les quarante ans...". BUTEL, Paul. Européens et espaces maritimes<br />
(vers 1690-vers 1790).Bor<strong>de</strong>aux: Presses Universitaires <strong>de</strong> Bor<strong>de</strong>aux, 1997, p. 178.<br />
11 Em algumas regiões brasileiras esse processo foi muito b<strong>em</strong> documentado. De acordo com os dados <strong>de</strong><br />
Douglas Libby, os trabalhadores livres, na socieda<strong>de</strong> escravista mineira, tendiam a se transformar <strong>em</strong><br />
lump<strong>em</strong>proletariado, pois as ocupações produtivas eram quase todas monopolizadas por escravos.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 8<br />
proprietários <strong>de</strong> escravos" dava orig<strong>em</strong> à pobreza no mundo colonial 12 . Ao longo do século<br />
XVIII, o crescimento <strong>de</strong>sse segmento po<strong>de</strong> ser percebido através das constantes queixas das<br />
autorida<strong>de</strong>s portuguesas, t<strong>em</strong>erosas das possíveis <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns causadas por <strong>de</strong>sclassificados<br />
sociais.<br />
Tabela III. População do Rio <strong>de</strong> Janeiro – 1799<br />
Condição N. Abs. %<br />
Brancos 19.578 45,1<br />
Negros e Pardos Livres 8.812 20,3<br />
Negros e Pardos Escravos 14.986 34,5<br />
Total 43.376 100,0<br />
Fonte: Resumo total da população que existia no ano <strong>de</strong> 1799, compreendidas as quatro freguesias <strong>de</strong>sta<br />
cida<strong>de</strong>s do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, vol XXI, pp. 216-217,<br />
1858.<br />
O já mencionado Marquês <strong>de</strong> Lavradio, <strong>em</strong> sua gestão como vice-rei,<br />
sist<strong>em</strong>aticamente <strong>de</strong>gredou homens e mulheres pobres para Índia, Moçambique e Angola,<br />
ou então, internamente, para Porto Seguro, Santa Catarina e Colônia <strong>de</strong> Sacramento; o vice-<br />
rei também <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a criação <strong>de</strong> Casas Pias, tais quais as workhouses inglesas, on<strong>de</strong> os<br />
cariocas s<strong>em</strong> ocupação seriam obrigados a trabalhar 13 . Em outras palavras, <strong>de</strong> maneira<br />
s<strong>em</strong>elhante a outras autorida<strong>de</strong>s coloniais, Lavradio procurou tornar os pobres úteis ao<br />
projeto colonial 14 .<br />
LIBBY, Douglas Cole. Transformação e trabalho <strong>em</strong> uma economia escravista - Minas Gerais no século<br />
XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 91<br />
12 Com certeza, não <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar todos os “homens livres não proprietários <strong>de</strong> escravos” como pobres,<br />
pois existiam nesse meio muitos camponeses e artesãos que sobreviviam graças ao trabalho familiar. No<br />
entanto, seria absurdo <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, dadas as características da socieda<strong>de</strong> escravista, as possibilida<strong>de</strong>s –<br />
que não <strong>de</strong>viam ser pequenas - <strong>de</strong>sses “homens livres” resvalar<strong>em</strong> na pobreza, SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello.<br />
Desclassificados do Ouro: a pobreza mineira no século XVIII. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1982, p. 63.<br />
COSTA, Iraci <strong>de</strong>l Nero. Arraia-miúda: um estudo sobre os não-proprietários <strong>de</strong> escravos no Brasil. São<br />
Paulo: MGSP Editores, 1992.<br />
13 ALDEN, Dauril. Royal Government in Colonial Brazil – with special reference to the administration of the<br />
Marquis of Lavradio, Viceroy , 1769-1779 .Berkeley: University od California Press, 1968, pp. 354 e<br />
436.<br />
14 SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello. op. cit, p. 71.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 9<br />
Outro <strong>de</strong>stino reservado aos pobres relacionava-se ao vínculo que eles mantinham<br />
com a tradição evangélica. Segundo preceitos bíblicos, reafirmados por teólogos ao longo<br />
dos séculos, a pobreza <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhava um papel fundamental no plano divino: ela permitia o<br />
exercício da carida<strong>de</strong>, a prática da bonda<strong>de</strong> e do gesto misericordioso. Entre ricos e pobres<br />
haveria uma compl<strong>em</strong>entarida<strong>de</strong>, pois, se os primeiros possuíam as chaves da terra, os<br />
últimos <strong>de</strong>tinham as do céu 15 .<br />
Tal qual <strong>em</strong> outras cida<strong>de</strong>s da cristanda<strong>de</strong>, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, a pobreza era vista<br />
tanto como fator <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e pecado, quanto <strong>de</strong> graça e salvação. Uma documentação<br />
abundante quanto a esse último traço ficou registrada nos testamentos transcritos junto às<br />
atas <strong>de</strong> óbitos cariocas. Nos textos paroquiais, os gestos <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>, individual ou<br />
institucional, eram corriqueiros. Assim, era comum a mencionada documentação registrar<br />
test<strong>em</strong>unhos como o seguinte:<br />
Declaro que meu corpo será enterrado <strong>em</strong> Nossa Senhora da<br />
Boa Morte e amortalhado no hábito <strong>de</strong> Santo Antonio e me<br />
acompanharão doze clérigos até minha sepultura e será<br />
levado meu corpo na tumba da Misericórdia e se lhe dará a<br />
esmola costumada e me acompanharão os meninos órfãos e<br />
se lhes dará também a esmola costumada 16<br />
A presença <strong>de</strong> pobres, tidos como intercessores celestes, era consi<strong>de</strong>rada uma forma<br />
<strong>de</strong> garantir a salvação da alma. As esmolas consistiam na retribuição a essa presença e<br />
faziam do dinheiro – fonte <strong>de</strong> pecado na tradição católica – um instrumento da carida<strong>de</strong><br />
cristã:<br />
Declaro que o meu corpo seja amortalhado <strong>em</strong> lençol e<br />
<strong>de</strong>pois encomendado por meu Reverendo Pároco, levado <strong>em</strong><br />
15 “La véritable complémentarité s<strong>em</strong>ble donc rési<strong>de</strong>r en ceci que le riche détient les clés <strong>de</strong> la terre, le pauvre<br />
celles du ciel”, SASSIER, Philippe. Du bom usage <strong>de</strong>s pauvres: histoire d’un thème politique, XVIe-XXe<br />
siècle. Paris: Fayard, 1990, p. 53.<br />
16 Testamento <strong>de</strong> Pedro Ferreira, 29/08/1750. Livro <strong>de</strong> óbitos da Sé, 1746-1758. Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo nosso.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 10<br />
uma re<strong>de</strong> por oito pretos pobres que acompanhe até a Igreja<br />
S. B. J. do Calvário e nela ser sepultada. Logo na entrada da<br />
porta principal da dita Igreja meu testamenteiro dará cada<br />
um <strong>de</strong>stes ditos meia pataca 17 .<br />
Declaro e or<strong>de</strong>no que meu corpo seja amortalhado no santo<br />
hábito da Mãe Santíssima do Monte do Carmo, don<strong>de</strong> sou<br />
terceiro professo, levado <strong>em</strong> um caixão coberto <strong>de</strong> preto com<br />
toda humilda<strong>de</strong> e s<strong>em</strong> outro nenhum adorno, carregado por<br />
seis pobres e acompanhado <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas dúzias <strong>de</strong><br />
pobres ... e cujos pobres que me carregu<strong>em</strong> lhes dará uma<br />
pataca por esmola a cada um, e aos outros que me<br />
acompanh<strong>em</strong> se lhes dará seis vinténs <strong>de</strong> esmola a cada<br />
um... 18 .<br />
Embora os valores individuais das esmolas foss<strong>em</strong> baixos, os recursos totais<br />
<strong>de</strong>stinadas a elas não o eram. No ex<strong>em</strong>plo abaixo, que está longe <strong>de</strong> ser excepcional, o<br />
montante <strong>de</strong>stinado a tal fim equivalia a aproximadamente 20% do preço <strong>de</strong> um escravo<br />
adulto 19 :<br />
Declaro aos meus testamenteiros da minha fazenda darão por<br />
esmola aos pobres no dia <strong>de</strong> meu falecimento vinte e cinco<br />
mil seiscentos réis <strong>de</strong> esmola, a cada um, <strong>de</strong> c<strong>em</strong> réis 20 .<br />
Valores ainda maiores eram <strong>de</strong>stinados às instituições, como era o caso das<br />
irmanda<strong>de</strong>s leigas. No ex<strong>em</strong>plo abaixo, a doação total atingiu duzentos mil réis, cifra que<br />
quase daria para comprar dois escravos adultos:<br />
Declaro que nesta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixo ... esmolas seguintes a<br />
Coração <strong>de</strong> Jesus na Igreja <strong>de</strong> São José, a São José, a Nossa<br />
Senhora da Glória don<strong>de</strong> sou Irmão, a Nossa Senhora do<br />
17 Testamento <strong>de</strong> Maria Thomasia Rita, 06/05/1794. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, Catedral,<br />
1790-1798, Arquivo da Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo nosso.<br />
18 Testamento <strong>de</strong> Antonio Carvalho <strong>de</strong> Oliveira, 31/08/1750. Livro <strong>de</strong> óbitos da Sé, 1746-1758, Arquivo da<br />
Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo nosso.<br />
19 Por essa época, um escravo adulto, do sexo masculino, custava 120 mil réis, MATTOSO, Kátia <strong>de</strong> Queirós.<br />
Ser escravo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1982,p. 92.<br />
20 Testamento <strong>de</strong> Manuel Antunes Lima, 16/02/1750. Livro <strong>de</strong> óbitos da Sé, 1746-1758, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo nosso. Cabe sublinhar que, tendo <strong>em</strong> conta os valores<br />
monetários indicados, o testador esperava que o próprio enterro fosse acompanhado por 250 pobres ...
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 11<br />
Bonsucesso na Misericórdia, a Nossa Senhora da Boa<br />
Viag<strong>em</strong> da outrabanda ... a cada uma <strong>de</strong>sta parte a cinqüenta<br />
mil réis 21 .<br />
Conforme é sabido, uma parte significativa <strong>de</strong>sses recursos era aplicada na<br />
construção <strong>de</strong> t<strong>em</strong>plos e manutenção dos capelães. No entanto, tais donativos também<br />
<strong>de</strong>stinavam-se à edificação <strong>de</strong> hospitais. No Rio, ao longo do século XVIII, há mesmo uma<br />
proliferação <strong>de</strong>ssas instituições, somando-se à antiga Santa Casa da Misericórdia, <strong>de</strong> 1582,<br />
são criados os seguintes estabelecimentos: Hospital Real Militar (17<strong>27</strong>), Hospital dos<br />
Lázaros (1741), Hospital da Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> Nossa Senhora do Monte do Carmo (1743)<br />
e Hospital da Venerável Or<strong>de</strong>m Terceira <strong>de</strong> São Francisco da Penitência (1763) 22 . Ora,<br />
apesar <strong>de</strong> os dois primeiros estabelecimentos ser<strong>em</strong> fruto <strong>de</strong> iniciativa do governo<br />
metropolitano, podiam receber doações piedosas, tal qual ocorria com presos na ca<strong>de</strong>ia<br />
pública carioca:<br />
Declaro que no dia <strong>de</strong> meu falecimento dará meu marido<br />
testamenteiro a doze pobres na porta a esmola <strong>de</strong> dois vinténs<br />
e mais a doze pobres presos na ca<strong>de</strong>ia a esmola <strong>de</strong> dois<br />
vinténs... 23 .<br />
Graças a doações similares era possível que os hospitais enterrass<strong>em</strong> os pobres s<strong>em</strong><br />
cobrar<strong>em</strong> a seus familiares os custos da cerimônia. Assim, po<strong>de</strong>mos afirmar que, <strong>em</strong> 1799,<br />
dos 1451 óbitos <strong>de</strong> livres, registrados no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 288 diziam respeito a enjeitados e<br />
pobres falecidos no Hospital da Misericórdia 24 . Portanto, <strong>em</strong> fins do século XVIII, no<br />
mínimo, 19,8% da população livre carioca morria <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> indigência; percentual<br />
21 Testamento <strong>de</strong> Bento Gonçalves dos Santos, 01/01/1750. Livro <strong>de</strong> óbitos da Sé, 1746-1758, Arquivo da<br />
Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód.<br />
22 ARAUJO, Achilles Ribeiro. A assistência médica hospitalar no Rio <strong>de</strong> Janeiro no século XIX. Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro: Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Cultura, 1982, pp. 31-54.<br />
23 Testamento <strong>de</strong> Esperança Correa da Conceição, preta forra, 09/04/1750. Livro <strong>de</strong> óbitos da Sé, 1746-1758,<br />
Arquivo da Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo meu.<br />
24 Resumo total da população. op. cit., p. 216.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 12<br />
que cresceria ainda mais se contáss<strong>em</strong>os com informações dos <strong>de</strong>mais estabelecimentos<br />
hospitalares 25 .<br />
No que diz respeito às análises ao longo do t<strong>em</strong>po, mesmo se contáss<strong>em</strong>os com os<br />
dados hospitalares, teríamos gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para a constituição <strong>de</strong> séries estatísticas<br />
<strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> informações a respeito do total <strong>de</strong> óbitos ocorridos localmente. O<br />
mesmo, porém, não po<strong>de</strong> ser dito quando da análise <strong>de</strong> paróquias urbanas isoladas. Para<br />
alguns períodos, as atas <strong>de</strong> óbito cariocas não só foram conservadas como também se<br />
encontram <strong>em</strong> bom estado. Nessa documentação, ficavam registradas duas “marcas”,<br />
indicadoras da condição <strong>de</strong> pobreza do indivíduo. Uma <strong>de</strong>las dizia respeito aos enterros<br />
“por amor <strong>de</strong> Deus”, ou seja, com recursos paroquiais, reproduzindo assim a prática comum<br />
aos hospitais; o outro indicador era aquele relativo ao ser pobre, s<strong>em</strong> menção ao<br />
pagamento dos custos da cerimônia fúnebre. Vejamos dois ex<strong>em</strong>plos relativos ao primeiro<br />
caso:<br />
... faleceu Theodoro Joaquim, casado com Gertru<strong>de</strong>s<br />
Joaquina, natural da freguesia <strong>de</strong> Magé ...e não constou que<br />
fizesse testamento, foi encomendado com licença minha pelo<br />
amor <strong>de</strong> Deus, por se dizer que era pobríssimo <strong>de</strong> que fiz este<br />
assento que assinei 26 .<br />
Maria da Asumpção, mulher solteira, moradora atrás <strong>de</strong> São<br />
Francisco <strong>de</strong> Paula, na rua do cano... <strong>em</strong> casa <strong>de</strong> Ana Maria<br />
da Conceição, sua sobrinha, pelo amor <strong>de</strong> Deus foi<br />
encomendada por mim e sepultada <strong>em</strong> minha Igreja, e não<br />
fez testamento, por ser mui pobre <strong>de</strong> que fiz este assento e o<br />
assinei <strong>27</strong> .<br />
O segundo tipo <strong>de</strong> ata não indica o enterro gratuito:<br />
25 I<strong>de</strong>m, p. 17. Em relação ao Hospital Real Militar são indicados 77 óbitos, mas, como a própria fonte indica,<br />
nesse número estão incluídos não só os indigentes como também os oriundos das “tropas <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong>”.<br />
26 Ata <strong>de</strong> óbito, 28/01/1792. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo meu.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 13<br />
... faleceu só com o sacramento da penitência, Clara da Cruz,<br />
parda forra, viúva, e não me souberam dizer <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>, muito<br />
pobre, segundo constou, vivia <strong>de</strong> esmolas, moradora na Rua<br />
do Piolho, foi encomendada com licença minha se sepultada<br />
na Igreja do Hospício 28 .<br />
... faleceu Rosa Maria da Conceição, preta forra, viúva, não<br />
fez testamento por ser pobre, foi sepultada na mesma<br />
freguesia da Sé é moradora na rua da Vala 29 .<br />
A reunião <strong>de</strong>sses dados permite uma avaliação estatística aproximada da pobreza<br />
carioca. Na tabelas IV indicamos, através <strong>de</strong> uma pequena amostrag<strong>em</strong>, a potencialida<strong>de</strong><br />
dos registros paroquiais <strong>de</strong> óbitos.<br />
Tabela IV. Presença <strong>de</strong> pobres nos registro <strong>de</strong> óbitos<br />
da Catedral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1791-1794<br />
Tipo <strong>de</strong> “marca” <strong>de</strong> pobreza N. Abs %<br />
“enterrado pelo amor <strong>de</strong> Deus” 3 0,9<br />
“é pobre” 33 9,9<br />
Total 333 100,0<br />
Fonte: Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, s/cód<br />
Conforme po<strong>de</strong> ser observado, o percentual <strong>de</strong> indigentes enterrados gratuitamente<br />
com recursos paroquiais é ínfimo, sugerindo assim que os hospitais - que mantinham<br />
c<strong>em</strong>itérios para isso -, na maioria das vezes <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavam essa função. A tabela também<br />
indica que a categoria intermediária - constituída por aqueles que não estavam no nível da<br />
<strong>27</strong> Ata <strong>de</strong> óbito, 16/09/1792. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo meu.<br />
28 Ata <strong>de</strong> óbito, 20/09/1792. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo meu. É interessante observar que as listas nominativas<br />
coloniais distinguiam a "mulher pobre" daquela que vivia "<strong>de</strong> esmolas". Essa última <strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> uma<br />
autorização oficial, concessão que não era estendida aos homens, assimilados, quando esmolavam, à<br />
condição <strong>de</strong> "vadios". SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Pobreza f<strong>em</strong>inina no Brasil colonial. Revista <strong>de</strong><br />
Ciências Históricas, v. XI, 1996, p. 93-94.<br />
29 Ata <strong>de</strong> óbito, <strong>27</strong>/02/1793. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód. Grifo meu.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 14<br />
miséria absoluta, mas eram consi<strong>de</strong>rados pertencentes a estratos que beiravam a essa<br />
condição - era relativamente numerosa:<br />
... faleceu com todos os sacramentos Antonio<br />
Brandão, casado com Bárbara <strong>de</strong> tal, hom<strong>em</strong> mui<br />
pobre, que vivia do ofício <strong>de</strong> carpinteiro, agregado<br />
<strong>em</strong> casa <strong>de</strong> José Domingues Monteiro, morador na<br />
rua Nova do Lavradio assim <strong>de</strong>nominada 30 .<br />
... faleceu da vida presente Francisco Borges Quintal,<br />
casado com Rosa Maria das Neves, ambos pardos<br />
forros, com todo os sacramentos que vivia <strong>de</strong> caixeiro<br />
<strong>de</strong> uma banca <strong>de</strong> peixe, hom<strong>em</strong> pobre, s<strong>em</strong> b<strong>em</strong><br />
algum, morador na rua Velha 31 .<br />
Nessa atas, a condição <strong>de</strong> não-indigente também po<strong>de</strong> ser percebida <strong>em</strong> razão da<br />
indicação da profissão. Em casos limites, po<strong>de</strong>-se mesmo imaginar que alguns senhores <strong>de</strong><br />
escravos ingressass<strong>em</strong> nesse grupo 32 . Aliás, é s<strong>em</strong>pre bom ter <strong>em</strong> mente que os cativos<br />
domésticos idosos - cujos preços no mercado eram irrisórios - podiam representar uma<br />
carga e não uma fonte <strong>de</strong> trabalho para os domicílios. As doenças e aci<strong>de</strong>ntes também<br />
suprimiam rendimentos advindos dos escravos <strong>de</strong> aluguel ou "<strong>de</strong> ganho". A viuvez ou a<br />
separação, por sua vez, lançavam muitas mulheres na condição <strong>de</strong> pobreza e, com elas, seus<br />
cativos 33 . Mais importante ainda é o fato <strong>de</strong> os "óbitos <strong>de</strong> pobres" - na medida <strong>em</strong> que<br />
inclu<strong>em</strong> segmentos aparent<strong>em</strong>ente integrados à socieda<strong>de</strong> colonial - permitir<strong>em</strong> análises <strong>de</strong><br />
variações conjunturais sensíveis aos processos <strong>de</strong> <strong>em</strong>pobrecimento.<br />
30 Ata <strong>de</strong> óbito, 01/10/1792. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód<br />
31 Ata <strong>de</strong> óbito 20/09/1792. Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód<br />
32 Ao analisar uma lista nominativa <strong>de</strong> Salvador, relativa ao ano <strong>de</strong> 1775, Maria Beatriz Nizza da Silva<br />
i<strong>de</strong>ntificou quatro senhoras <strong>de</strong> escravos classificadas como "pobres", op. cit, p. 95.<br />
33 Nizza da Silva menciona o caso <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> divórcio, i<strong>de</strong>ntificado no Arquivo da Cúria<br />
Metropolitana <strong>de</strong> São Paulo, datado <strong>de</strong> 1801, <strong>em</strong> que a solicitante alega ter sido abandonada pelo marido,<br />
que a obrigava a viver do "mendigar dos seus próprios escravos ". I<strong>de</strong>m, p. 98.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 15<br />
As atas paroquiais po<strong>de</strong>m ainda ser <strong>de</strong>sdobradas <strong>em</strong> análises por gênero e condição<br />
civil. Na Tabela V, percebe-se a complexida<strong>de</strong> do mundo da pobreza colonial. Assim, cabe<br />
salientar que, pelo menos no meio urbano carioca <strong>de</strong> fins do século XVIII, a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> as mulheres morrer<strong>em</strong> na pobreza era duas vezes superior à dos homens. Entre as<br />
solteiras e viúvas, esse índice era quatro vezes maior do que o das casadas, sugerindo <strong>de</strong>ssa<br />
forma a razão <strong>de</strong> muitas cariocas setecentistas aceitar<strong>em</strong> viver <strong>em</strong> precárias relações <strong>de</strong><br />
concubinato, assim como <strong>de</strong> encaminhar<strong>em</strong> os filhos à Roda dos Expostos 34 . Entre os<br />
homens, a situação era inversa: os casados pobres e indigentes eram registrados <strong>em</strong> uma<br />
proporção três vezes mais elevada do que os solteiros. Seria tal situação conseqüência dos<br />
encargos econômicos <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> uma família? Eis uma questão a que somente<br />
pesquisas mais profundas, e com documentação mais extensa, po<strong>de</strong>rão respon<strong>de</strong>r.<br />
Outros <strong>de</strong>sdobramentos são possíveis. Assim, cabe l<strong>em</strong>brar que, na paróquia<br />
estudada, cerca <strong>de</strong> 10,8% dos que morreram foram consi<strong>de</strong>rados pobres e indigentes.<br />
Quando faz<strong>em</strong>os esse mesmo cálculo exclusivamente entre os forros, o percentual sobe<br />
para 16,6%, indicando que o risco dos ex-escravos acabar<strong>em</strong> na miséria era cerca <strong>de</strong> 50%<br />
mais elevados que o dos livres. A distribuição dos pobres no espaço urbano é outra<br />
importante informação presente nas atas. Em nosso levantamento, <strong>de</strong>zoito <strong>de</strong>las<br />
transcrev<strong>em</strong> os nomes dos locais <strong>de</strong> moradia <strong>de</strong>sses indivíduos, sendo que, na maioria dos<br />
casos, é indicada a Rua dos Piolhos, <strong>de</strong>nominação também presente <strong>em</strong> outras cida<strong>de</strong>s<br />
coloniais e que talvez indique o local <strong>de</strong> concentração das populações mais carentes.<br />
34 Os dados da paróquia <strong>de</strong> São José, do centro do Rio <strong>de</strong> Janeiro, revelam que, durante a segunda meta<strong>de</strong> do<br />
século XVIII, cerca <strong>de</strong> 40% das crianças batizadas localmente eram ilegítimas ou expostas. No primeiro<br />
caso, apenas 8,6% dos pais e mães foram registrados nas atas. Em contrapartida, 83,8% das atas indicam<br />
apenas o nome da mãe, acrescentando: "filho <strong>de</strong> pai incógnito". VENANCIO, Renato Pinto. Famílias<br />
abandonadas: assistência à criança <strong>de</strong> camadas populares no Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>em</strong> Salvador, séculos<br />
XVIII e XIX. Campinas: Papirus, 1999, p. 90. Ver também: FARIA, Sheila <strong>de</strong> Castro. A Colônia <strong>em</strong><br />
Movimento: fortuna e família no cotidiano colonial. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1998, p. 55.
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 16<br />
Tabela V. Indigentes e pobres <strong>de</strong> acordo com o gênero e condição civil<br />
nos registros <strong>de</strong> óbitos da Catedral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1791-1794<br />
Mulheres N. Abs. <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong><br />
indigentes e pobres<br />
Total <strong>de</strong> óbitos* %<br />
Viúvas 9 49 18,3<br />
Solteiras 15 72 20,8<br />
Casadas 3 52 5,7<br />
Total<br />
Homens<br />
<strong>27</strong> 173 15,6<br />
Viúvos 1 19 5,2<br />
Solteiros 1 31 3,2<br />
Casados 7 69 10,1<br />
Total 9 119 7,5<br />
Fonte: Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, s/cód.<br />
*excluídas 41 atas <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> crianças.<br />
Last but nor least, as atas <strong>de</strong> óbitos fornec<strong>em</strong> informações sobre instituições<br />
não mencionadas na documentação civil. É isso que l<strong>em</strong>os no <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro registro <strong>de</strong> Maria<br />
Josefa, viúva, e se não po<strong>de</strong> saber <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>, moradora na casa dos pobres, foi<br />
encomendada <strong>de</strong> licença ... amortalhada com lençol e sepultada <strong>em</strong> N.S. dos Homens, <strong>de</strong><br />
que fiz esse assento e assinei... 35 A pobre Josefa, provavelmente senil, pois antes <strong>de</strong> falecer<br />
n<strong>em</strong> mesmo sabia dizer com qu<strong>em</strong> havia sido casada, residia, como indica a ata, na Casa<br />
dos Pobres, instituição <strong>de</strong>sconhecida, até o presente momento, pela historiografia<br />
especializada da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Enfim, nosso exercício <strong>de</strong> exploração dos registros paroquiais, diga-se <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>,<br />
não teve por objetivo chegar a conclusões <strong>de</strong>finitivas, mas sim o <strong>de</strong> procurar <strong>de</strong>monstrar a<br />
riqueza <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> fonte documental para a elaboração <strong>de</strong> uma história social da pobreza<br />
no Brasil colonial.<br />
35 Ata <strong>de</strong> óbito, 15/12/1792 Livro <strong>de</strong> óbitos <strong>de</strong> Santíssimo Sacramento, 1790-1797, Arquivo da Cúria<br />
Arquidiocesana do Rio <strong>de</strong> Janeiro, s/cód
Comunicação apresentada no 2° Encontro <strong>de</strong> Historia Quantitativa e Serial, Belo Horizonte, 2001 17
A ESCRAVIDÃO NA FRONTEIRA<br />
Um estudo da escravidão negra numa "boca <strong>de</strong> sertão" paulista.<br />
Lençóes, 1860-1887<br />
Edson Fernan<strong>de</strong>s<br />
Resumo<br />
Através da análise <strong>de</strong> inventários post-mort<strong>em</strong> procuramos caracterizar<br />
o contingente <strong>de</strong> escravos e a estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos na região <strong>de</strong> Lençóes<br />
quando esta era consi<strong>de</strong>rada “boca <strong>de</strong> sertão”, fronteira entre o mundo dito<br />
civilizado e o sertão <strong>de</strong>sconhecido.<br />
1. UMA REGIÃO DE FRONTEIRA<br />
1.1 Introdução<br />
A historiografia t<strong>em</strong> dado pouco <strong>de</strong>staque à existência do trabalho<br />
escravo <strong>em</strong> regiões não integradas ao circuito comercial <strong>de</strong> longa distância. No<br />
caso da Província <strong>de</strong> São Paulo, muito se t<strong>em</strong> estudado a escravidão nas zonas<br />
cafeeira e açucareira, ou seja, aquelas mais diretamente ligadas à exportação.<br />
Com relação às áreas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>stinada aos mercados locais e regionais, as<br />
atenções já não têm a mesma intensida<strong>de</strong>. Quando se trata das chamadas “bocas<br />
<strong>de</strong> sertão”, o que se verifica é uma verda<strong>de</strong>ira lacuna na historiografia. O objetivo<br />
<strong>de</strong>ste estudo é caracterizar o contingente escravo e a estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong><br />
cativos nesta área periférica do povoamento, comparando-a com outras áreas<br />
on<strong>de</strong> também se utilizou o trabalho escravo.<br />
“Boca do sertão” era o nome que se dava ao último povoado ocupado<br />
pelo hom<strong>em</strong> branco, área não isenta <strong>de</strong> conflitos entre os primeiros povoadores<br />
brancos e os últimos r<strong>em</strong>anescentes indígenas. Segundo Martins, fronteira é<br />
essencialmente o lugar do encontro dos que são diferentes entre si, lugar <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scoberta do outro e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sencontro. E este <strong>de</strong>sencontro não é apenas o <strong>de</strong><br />
diferentes concepções <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> visões <strong>de</strong> mundo, mas o <strong>de</strong>sencontro <strong>de</strong><br />
t<strong>em</strong>poralida<strong>de</strong>s históricas, pois os que se encontram na fronteira estão situados<br />
diversamente no t<strong>em</strong>po da <strong>História</strong> (MARTINS, 1997, 150-151).<br />
Lençóes foi “boca <strong>de</strong> sertão” paulista quando a escravidão dava seus<br />
últimos passos, a partir <strong>de</strong> meados do século XIX. Ali o hom<strong>em</strong> branco foi<br />
disputando os espaços com os indígenas, foi se estabelecendo com suas<br />
lavouras, sua pecuária, seu t<strong>em</strong>po histórico, seu modo <strong>de</strong> vida. E seus escravos,<br />
pois ali a escravidão também floresceu. Não a escravidão dos gran<strong>de</strong>s plantéis<br />
dos engenhos <strong>de</strong> cana do litoral e das extensas lavouras <strong>de</strong> café do vale do<br />
Paraíba. Mas a escravidão <strong>de</strong> pequenos plantéis, <strong>de</strong> lavouras <strong>de</strong>stinadas aos<br />
mercados locais e regionais, <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>s próprias. A escravidão <strong>de</strong> uma<br />
realida<strong>de</strong> singular, a fronteira.<br />
1.2 Lençóes, “boca do sertão”<br />
O avanço da cultura cafeeira estimulou o povoamento da região serrana<br />
<strong>de</strong> Botucatu. Lavradores das vilas próximas, criadores <strong>de</strong> gado e mineiros -<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos antigos paulistas que haviam partido para as regiões<br />
1
mineradoras - expulsos <strong>de</strong> sua terra <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>cadência da mineração se<br />
estabeleceram com suas lavouras e gado na fronteira da civilização. Foragidos da<br />
justiça e exterminadores <strong>de</strong> índios também fizeram parte da paisag<strong>em</strong> humana<br />
<strong>de</strong>stes primeiros t<strong>em</strong>pos. A eclosão da Guerra do Paraguai, <strong>em</strong> 1864, fez com que<br />
muitas pessoas se <strong>em</strong>brenhass<strong>em</strong> no sertão paulista, fugindo do alistamento<br />
militar (DONATO, 1954, p.40-67).<br />
As novas condições <strong>de</strong>mográficas e econômicas <strong>de</strong> São Paulo –<br />
escravos, imigrantes, café, ferrovias – aceleraram a criação <strong>de</strong> inúmeras vilas pelo<br />
<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento <strong>de</strong> territórios pertencentes a municípios mais antigos. A<br />
fronteira se expandiu e as “bocas <strong>de</strong> sertão” foram <strong>em</strong>purradas para oeste.<br />
Itapetininga <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brou-se <strong>de</strong> Sorocaba, um importante centro on<strong>de</strong><br />
se comercializava gado, <strong>em</strong> 1770. Botucatu, por sua vez, <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brou-se <strong>de</strong><br />
Itapetininga <strong>em</strong> 1855. Por fim, Lençóes, que havia se tornado freguesia no ano <strong>de</strong><br />
1858, <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>brou-se <strong>de</strong> Botucatu <strong>em</strong> 1865, quando foi elevada à categoria <strong>de</strong><br />
vila (MARCÍLIO, 2000, p.139). Lençóes tornou-se a nova “boca do sertão” paulista.<br />
Sob sua jurisdição estendia-se um vasto território que ia do rio Tietê, ao norte, até<br />
próximo às margens do Paranapan<strong>em</strong>a, ao sul.<br />
Gravura 1<br />
A penetração dos mineiros no século XIX.<br />
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo: Hucitec-Polis, 1977, p.134<br />
2
1.3 Aspectos econômicos <strong>de</strong> Lençóes<br />
Entre 1860 e 1887, período abarcado por este estudo, a economia <strong>de</strong><br />
Lençóes girava <strong>em</strong> torno da produção agrícola e pecuária <strong>de</strong> pequeno porte.<br />
Indicações <strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s são constantes <strong>em</strong> inventários e contratos da época.<br />
Os lavradores e criadores da região, não estando integrados no comércio <strong>de</strong> longa<br />
distância, <strong>de</strong>stinavam sua pequena produção aos mercados local e regional.<br />
Deve-se ressaltar que as dificulda<strong>de</strong>s impostas ao escoamento da produção para<br />
o litoral – das quais, a ausência <strong>de</strong> ferrovias é a uma clara indicação –<br />
praticamente <strong>de</strong>sestimulava o investimento neste sentido.<br />
Pelos inventários é possível caracterizar a pecuária como <strong>de</strong> pequeno<br />
porte. A título <strong>de</strong> ilustração, um inventário <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1873, realizado por<br />
ocasião do falecimento da mulher <strong>de</strong> um conhecido bugreiro que andou pela<br />
região, relaciona os seguintes animais: 2 burros, 2 cavalos, 25 porcos magros, 2<br />
vacas com cria e 4 novilhas. Este era o padrão da produção pecuária da região i .<br />
Na produção agrícola, além das roças <strong>de</strong> milho, parte <strong>de</strong>la<br />
provavelmente <strong>de</strong>stinada à criação dos animais, há registros <strong>de</strong> canaviais e<br />
engenhos, como nos mostra um inventário <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> proprietário da região,<br />
realizado no dia 09 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1864. Além <strong>de</strong> numerosos animais, são listadas<br />
e avaliadas, entre outras, duas proprieda<strong>de</strong>s com engenho e canavial ii .<br />
Em meados do século XIX, enquanto o vale do Paraíba li<strong>de</strong>rava a<br />
produção cafeeira <strong>de</strong> São Paulo e do Brasil, a região <strong>de</strong> Lençóes – a Alta<br />
Sorocabana - ainda não se <strong>de</strong>stacava como centro produtor, fato que só iria<br />
acontecer a partir da década <strong>de</strong> 1880, quando a produção da região representou<br />
1,46% da produção da província, algo <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 151.000 arrobas (MATOS,<br />
1990, p. 49).<br />
Em 1880, no dia 5 <strong>de</strong> junho, foi registrado no cartório da villa <strong>de</strong><br />
Lençóes um contrato <strong>de</strong> locação <strong>de</strong> serviços <strong>em</strong> que se acertou com dois<br />
locadores o trato <strong>de</strong> pés <strong>de</strong> café. Com um primeiro, contratou-se o serviço <strong>de</strong><br />
manutenção <strong>de</strong> 2500 pés <strong>de</strong> dois anos para ser<strong>em</strong> entregues <strong>em</strong> 2 anos e 500<br />
pés <strong>de</strong> um ano para ser<strong>em</strong> entregues <strong>em</strong> 3 anos. Para um segundo locador,<br />
entregou-se 2000 pés <strong>de</strong> 2 anos e outros 2000 <strong>de</strong> um ano, para ser<strong>em</strong> entregues,<br />
respectivamente, <strong>em</strong> 2 e 3 anos, ambos os locadores <strong>de</strong>vendo trazê-los s<strong>em</strong>pre<br />
no limpo e s<strong>em</strong> falhas iii .<br />
No dia 06 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1887, dois locadores foram contratados para<br />
<strong>de</strong>rrubar mata <strong>de</strong> capoeira e plantar 6 mil pés <strong>de</strong> café ao preço <strong>de</strong> $400 por pé<br />
formado <strong>em</strong> 4 anos, $300 por pé <strong>de</strong> 3 anos, e $200 por pé <strong>de</strong> dois anos. O<br />
locatário fez um adiantamento <strong>de</strong> 200$000, se propondo a fornecer a cada locador<br />
c<strong>em</strong> mil réis (100$000) todos os finais <strong>de</strong> ano e um alqueire <strong>de</strong> mata para cada um<br />
on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> plantar uma roça <strong>de</strong> subsistência iv .<br />
Estes ex<strong>em</strong>plos nos mostram que a cultura cafeeira fazia sua entrada na<br />
região, ocupando os espaços ao redor da antiga Lençóes. No início da década <strong>de</strong><br />
1890, estimava-se <strong>em</strong> 3 milhões os pés <strong>de</strong> café da vila (CHITTO, s/d, p. 73).<br />
1. 4 A mão-<strong>de</strong>-obra escrava<br />
A “boca do sertão” também se utilizou da mão-<strong>de</strong>-obra escrava, <strong>em</strong>bora<br />
não estivesse integrada no circuito comercial <strong>de</strong> longa distância. Segundo o censo<br />
<strong>de</strong> 1872, eram 954 escravos (7,7% da população), entre uma população total <strong>de</strong><br />
3
12.437 habitantes, espalhados pelas fazendas da região (MARQUES, 1980, p.<br />
83). A análise dos inventários, das escrituras <strong>de</strong> compra e venda e dos batismos<br />
<strong>de</strong> escravos do período nos dão indicações da estrutura <strong>de</strong> posse dos cativos e<br />
condições <strong>de</strong> comparação com outras regiões, épocas e condições <strong>em</strong> que o<br />
trabalho escravo foi utilizado.<br />
2. FONTES E METODOLOGIA<br />
As fontes consistentes disponíveis para o estudo da escravidão na<br />
região <strong>de</strong> Lençóes encontradas até o momento restring<strong>em</strong>-se a registros<br />
paroquiais e inventários conservados, respectivamente, no Arquivo da Cúria <strong>de</strong><br />
Botucatu e no Fórum <strong>de</strong> Agudos, ambas cida<strong>de</strong>s vizinhas. Além disso, há registros<br />
esparsos espalhados por cartórios da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lençóis Paulista, a antiga<br />
Lençóes, referentes à escritura <strong>de</strong> compra e venda <strong>de</strong> escravos, registros <strong>de</strong><br />
óbitos e outros que abordam algum aspecto da escravidão <strong>de</strong> maneira marginal.<br />
Os registros paroquiais englobam os batizados, casamentos e óbitos dos<br />
escravos.<br />
As fontes privilegiadas no presente estudo são os inventários. Foram<br />
localizados 154 <strong>de</strong>les, sendo que <strong>em</strong> 53 estão arrolados escravos entre os bens<br />
dos inventariantes. Com base nestes documentos, estudou-se as características<br />
da população cativa <strong>de</strong> Lençóes dividindo-a por faixa etária e sexo. Num segundo<br />
momento, os escravos foram distribuídos por faixas <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> plantéis com o<br />
intuito <strong>de</strong> se estudar a estrutura <strong>de</strong> posse.<br />
Os resultados alcançados foram, então, comparados com os obtidos<br />
por pesquisadores que estudaram outras áreas, algumas <strong>de</strong>las <strong>de</strong> características<br />
diferentes da região <strong>de</strong> Lençóes.<br />
São conhecidas as limitações do uso <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> fonte, uma vez que<br />
ela engloba apenas uma parcela dos proprietários, numa <strong>de</strong>terminada ocasião (a<br />
da morte) e pertencentes à uma faixa etária mais elevada, além <strong>de</strong> outras<br />
limitações. No entanto, <strong>de</strong>vido à ausência, até o presente momento, <strong>de</strong> outras<br />
fontes mais completas relativas ao trabalho escravo para a região <strong>de</strong> Lençóes,<br />
pensamos que os inventários po<strong>de</strong>riam nos dar condições <strong>de</strong> preencher esta<br />
lacuna na historiografia.<br />
3. A ESTRUTURA DE POSSE DE CATIVOS<br />
3.1 A estrutura <strong>de</strong> posse <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> povoamento mais antigo<br />
Utilizando como fontes os Maços <strong>de</strong> População relativos a 10<br />
localida<strong>de</strong>s paulistas (Campinas, Curitiba, Guaratinguetá, Iguape, Itu, Jacareí,<br />
Lorena, Mogi das Cruzes, São Sebastião e Sorocaba) no início do século XIX,<br />
Luna e Costa estudaram as características da proprieda<strong>de</strong> escrava, incluindo<br />
tamanho <strong>de</strong> plantel, distribuição segundo o sexo e a ida<strong>de</strong> dos escravos, além <strong>de</strong><br />
dados relativos aos proprietários (LUNA & COSTA, 1983, p. 211-221).<br />
Segundo os autores, duas conclusões básicas po<strong>de</strong>m ser estabelecidas<br />
com relação aos cativos: o relativo equilíbrio entre os sexos, com exceção <strong>de</strong><br />
Campinas e Itu, on<strong>de</strong> os homens representavam, respectivamente, 65% e 60%<br />
dos escravos; e a maior porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravos do sexo masculino nas<br />
4
localida<strong>de</strong>s nas quais os engenhos <strong>de</strong> açúcar se faziam presentes <strong>em</strong> escala<br />
significativa.<br />
Do mesmo modo, as mesmas localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a produção <strong>de</strong> açúcar<br />
era significativa abrigavam as maiores concentrações <strong>de</strong> escravos na ida<strong>de</strong> ativa<br />
(15 aos 64 anos): 71,2%, <strong>em</strong> Campinas; 76, 2%, <strong>em</strong> Itu; 67,9%, <strong>em</strong><br />
Guaratinguetá; 65,9%, <strong>em</strong> São Sebastião. Nas <strong>de</strong>mais localida<strong>de</strong>s, as<br />
porcentagens para esta faixa etária variavam <strong>de</strong> 56,2% até 64,6%. Na faixa <strong>de</strong> 0-<br />
14 anos, os dados mostram <strong>de</strong> 21,5% a 41,9% <strong>de</strong> escravos. A população escrava<br />
acima <strong>de</strong> 64 anos era relativamente pequena, variando <strong>de</strong> 0,8% até 2,7%.<br />
Com relação à estrutura <strong>de</strong> posse, verifica-se a predominância <strong>de</strong><br />
proprietários <strong>de</strong> pequenos plantéis (<strong>de</strong> 1 a 5 escravos). Nas <strong>de</strong>z localida<strong>de</strong>s<br />
analisadas, a porcentag<strong>em</strong> dos proprietários que possuíam plantéis nesta faixa<br />
variava <strong>de</strong> 60,1% até 79,2%, sendo que, levando-se <strong>em</strong> conta todas as<br />
localida<strong>de</strong>s reunidas, 26% dos proprietários tinham apenas 1 escravo. Por outro<br />
lado, os maiores plantéis (mais <strong>de</strong> 40 escravos) se localizavam naquelas<br />
localida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> a ativida<strong>de</strong> açucareira era significativa, representando 4,5%, <strong>em</strong><br />
Itu; 2,8%, <strong>em</strong> São Sebastião; 2,4%, <strong>em</strong> Campinas; e 1,2%, <strong>em</strong> Guaratinguetá.<br />
Marcon<strong>de</strong>s estudou a estrutura da posse <strong>de</strong> cativos nas lavouras<br />
cafeeiras <strong>de</strong> Taubaté para o início da década <strong>de</strong> 1870, utilizando-se das<br />
matrículas <strong>de</strong> escravos (MARCONDES, 1998, p.35-54). Concluiu que os<br />
possuidores <strong>de</strong> plantéis unitários representavam um terço do total <strong>de</strong> proprietários<br />
(33,5%). Na faixa <strong>de</strong> 2 a 4 cativos, encontrou 37,6% <strong>de</strong> proprietários; <strong>de</strong> 5 a 9<br />
cativos, 12,7%; <strong>de</strong> 10 a 19, 9,1%; <strong>de</strong> 20 a 39, 4,4%; 40 ou mais escravos, 2,7% <strong>de</strong><br />
proprietários. Ou seja, 92,9% dos proprietários tinham menos <strong>de</strong> 20 escravos.<br />
Para as faixas etárias, os dados mostram o amplo predomínio dos<br />
escravos com ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 15 a 49 anos (60,1%); os maiores <strong>de</strong> 50 anos<br />
representavam 13,4% da escravaria, enquanto que os menores <strong>de</strong> 14 eram<br />
26,5%.<br />
A razão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> estudada por Marcon<strong>de</strong>s para o plantel<br />
taubateano aponta variações segundo o tamanho dos plantéis. Nos plantéis<br />
unitários, a predominância era <strong>de</strong> mulheres (razão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 91,3).<br />
Para as seguintes faixas <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> plantéis, a razão era: <strong>de</strong> 2 a 4 cativos,<br />
120,5; <strong>de</strong> 5 a 9, 138,4; <strong>de</strong> 10 a 19, 140,3; <strong>de</strong> 20 a 39, 165,0; 40 ou mais, 177,0. No<br />
total, a razão <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> era 145,8.<br />
Luna estudou a estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos <strong>de</strong> algumas localida<strong>de</strong>s<br />
mineiras (Pitangui, Serro Frio, Congonhas do Sabará, São Caetano e Vila Rica)<br />
entre 1718 e 1804, ou seja, ao longo do predomínio da mineração, com base <strong>em</strong><br />
livros <strong>de</strong> arrecadação tributária dos quintos e censos populacionais (LUNA, 1982,<br />
p. 31-55). Segundo ele, nas Gerais se <strong>de</strong>senvolveu uma estrutura escrava singular<br />
<strong>de</strong>vido às peculiarida<strong>de</strong>s da ativida<strong>de</strong> mineira. Verificou a elevada porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
senhores com plantel reduzido e a absoluta prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> senhores com até<br />
cinco cativos, neste caso superando 70% dos proprietários, excetuando-se uma<br />
das localida<strong>de</strong>s – Pitangui, <strong>em</strong> 1718 (57,1%); e <strong>em</strong> 1723 (69,6%).<br />
Analisando a estrutura etária da população escrava, Luna encontrou<br />
predomínio masculino, uma característica <strong>de</strong> áreas minerais, com os números<br />
variando <strong>de</strong> um máximo <strong>de</strong> 85,6% <strong>de</strong> homens para a vila <strong>de</strong> Pitangui, <strong>em</strong> 1818,<br />
para 58% <strong>em</strong> Vila Rica, no ano <strong>de</strong> 1804, portanto, já no <strong>de</strong>clínio da mineração.<br />
5
Quanto a estrutura etária, apenas duas localida<strong>de</strong>s pu<strong>de</strong>ram ser<br />
estudadas. Em ambas, verifica-se o predomínio da faixa etária correspon<strong>de</strong>nte à<br />
ida<strong>de</strong> produtiva, entre 15 e 39 anos. Este segmento participava com 82,7% dos<br />
escravos <strong>de</strong> Serro Frio, e 56,1% <strong>em</strong> São Caetano.<br />
Costa estudou a posse <strong>de</strong> escravos na Comarca <strong>de</strong> Bananeiras,<br />
situada na Paraíba, região <strong>de</strong> transição entre a Zona da Mata e o sertão da<br />
Província (COSTA, 1992, p. 23-50). Foram analisados 447 inventários relativos<br />
aos anos <strong>de</strong> 1833 a 1888, período abarcado pelo estudo. A economia <strong>de</strong><br />
Bananeiras se caracterizava pela produção <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong>stinados à exportação<br />
(cana e algodão) e aos mercados locais e regionais (mandioca e criação <strong>de</strong> gado).<br />
Também neste caso, a predominância <strong>de</strong> pequenos plantéis é flagrante: 55,7%<br />
dos escravistas <strong>de</strong>tinham pequenos plantéis (1 a 3 escravos). Somando-se os que<br />
tinham pequenos e médios plantéis (1 a 9 escravos), chega-se a 87% dos<br />
proprietários.<br />
A análise dos dados mostra que o setor voltado à exportação (cana e<br />
algodão) concentrava a maior parte da população escrava (64%). Este mesmo<br />
setor se caracterizava por uma acentuada presença masculina (58%) e tinha<br />
predominância <strong>de</strong> escravos adultos (faixa etária <strong>de</strong> 15 a 40 anos). Estes eram<br />
60%, nos pequenos plantéis; 46%, nos médios, e 41% nos gran<strong>de</strong>s.<br />
Nos setores voltados aos mercados local e regional, a gran<strong>de</strong> maioria<br />
dos escravos (70% ) vivia <strong>em</strong> pequenos plantéis, ao passo que nas lavouras <strong>de</strong><br />
cana, a maioria (53%) vivia <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s plantéis.<br />
Estes quatro estudos nos serviram <strong>de</strong> contraponto aos resultados<br />
alcançados para uma região <strong>de</strong> “boca do sertão”, Lençóes, nos anos finais da<br />
escravidão no Brasil.<br />
3.2 A estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos numa “boca do sertão”.<br />
Lençóes, 1860-1887<br />
Para este estudo foram analisados todos os 154 inventários<br />
encontrados para o período <strong>de</strong> 1860 a 1887. Destes, 53 tinham escravos<br />
arrolados entre os bens, correspon<strong>de</strong>ndo a 34,4% do total.<br />
3.2.1 Sexo e estrutura etária<br />
Não se observou uma clara predominância <strong>de</strong> um dos sexos na<br />
população escrava <strong>de</strong> Lençóes. Os homens eram 53% e as mulheres, 47%,<br />
conforme mostra a tabela 1. Este relativo equilíbrio po<strong>de</strong> ser observado também<br />
nas diversas faixas etárias <strong>em</strong> que se dividiu a escravaria (tabela 2).<br />
Tabela 1<br />
População escrava <strong>de</strong> Lençóes por sexo, 1860-1887<br />
Sexo Nº absoluto %<br />
Homens 160 53<br />
Mulheres 142 47<br />
Total 302 100<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos.<br />
6
Po<strong>de</strong>-se notar, conforme a tabela 3, que os escravos <strong>em</strong> ida<strong>de</strong><br />
produtiva (<strong>de</strong> 10 a 49 anos) se divi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> 52,6% <strong>de</strong> homens e 47,4 <strong>de</strong> mulheres.<br />
Os homens predominam entre os mais velhos (65,6% na faixa <strong>de</strong> 50 anos ou<br />
mais) e as mulheres entre as crianças (56,7% na faixa <strong>de</strong> 0 a 9 anos).<br />
Tabela 2<br />
Sexo dos escravos por faixa etária.<br />
Faixas etárias Homens % Mulheres % Total<br />
0-4 9 39,1 14 60,9 23<br />
5-9 17 45,9 20 54,1 37<br />
10-14 22 61,1 14 38,9 36<br />
15-19 16 45,7 19 54,3 35<br />
20-24 14 50 14 50 28<br />
25-29 10 55,6 8 44,4 18<br />
30-34 7 36,8 12 63,2 19<br />
35-39 10 58,8 7 41,2 17<br />
40-44 12 52,2 11 47,8 23<br />
45-49 9 64,3 5 35,7 14<br />
50-54 4 33,3 8 66,7 12<br />
55-59 5 83,3 1 16,7 6<br />
60 ou mais 12 85,7 2 14,3 14<br />
Não consta 13 65 7 35 20<br />
Total 160 142 302<br />
Obs.: as porcentagens somam 100% na linha horizontal.<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos.<br />
Tabela 3<br />
Sexo dos escravos por faixa etária.<br />
Faixa etária Homens % Mulheres % Total<br />
0-9 26 43,3 34 56,7 60<br />
10-49 100 52,6 90 47,4 190<br />
50 ou mais 21 65,6 11 34,4 32<br />
Não consta 13 65 7 35 20<br />
Total 160 142 302<br />
Obs.: as porcentag<strong>em</strong>s somam 100% na linha horizontal.<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos<br />
O relativo equilíbrio entre os sexos também não se altera com a<br />
variação do tamanho dos plantéis. Pela tabela 4 po<strong>de</strong>mos notar que nos plantéis<br />
pequenos, <strong>de</strong> 1 a 5 cativos, as mulheres representavam 48% e os homens, 52%.<br />
A discrepância, neste caso, fica por conta dos plantéis com 5 escravos <strong>em</strong> que os<br />
escravos homens se sobressaíam (66,7%) e nos plantéis com 21 escravos ou<br />
mais. Uma explicação po<strong>de</strong> ser a pequena amostra nos dois casos, já que se<br />
contabilizou apenas 3 proprietários no primeiro caso e 2 no segundo.<br />
7
Tabela 4<br />
Sexo dos escravos por tamanho <strong>de</strong> plantéis<br />
FTP Homens % Mulheres % Total<br />
1 4 40 6 60 10<br />
2 9 56 7 44 16<br />
3 7 46,7 8 53,3 15<br />
1 4 22 50 22 50 44<br />
5 10 66,7 5 33,3 15<br />
1 a 5 52 52 48 48 100<br />
6 a 10 28 53,8 24 46,2 52<br />
11 a 20 44 48,9 46 51,1 90<br />
21 ou mais 36 60 24 40 60<br />
Total 160 142 302<br />
Obs.1. as porcentagens somam 100% na linha horizontal.<br />
Obs. 2. FTP – Faixas <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> plantéis.<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos.<br />
Com relação à ida<strong>de</strong> dos cativos, po<strong>de</strong>-se dizer que a escravaria <strong>de</strong><br />
Lençóes era basicamente composta por jovens, mesmo levando-se <strong>em</strong> conta que<br />
após a lei do Ventre Livre a ida<strong>de</strong> média dos escravos apontada pelos inventários<br />
tendia a subir pela exclusão dos nascidos. Os menores <strong>de</strong> 20 anos representavam<br />
43,4% dos escravos (tabela 5).<br />
Tabela 5<br />
Escravos: distribuição segundo a faixa etária<br />
Faixa etária Nº absoluto %<br />
0-4 23 7,6<br />
5-9 37 12,3<br />
10-14 36 11,9<br />
15-19 35 11,6<br />
20-24 28 9,3<br />
25-29 18 6,0<br />
30-34 19 6,3<br />
35-39 17 5,6<br />
40-44 23 7,6<br />
45-49 14 4,6<br />
50-54 12 4,0<br />
55-59 6 2,0<br />
60 e mais 14 4,6<br />
Não consta 20 6,6<br />
Total 302 100<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos.<br />
8
3.2.2 Estrutura <strong>de</strong> posse dos cativos<br />
Aqui também se verifica a ampla predominância dos pequenos plantéis.<br />
Conforme a tabela 6, quase 70% dos proprietários possuíam <strong>de</strong> 1 a 5 escravos.<br />
Por outro lado, controlavam apenas 1/3 <strong>de</strong>sta mão-<strong>de</strong>-obra. No outro extr<strong>em</strong>o,<br />
17% dos proprietários controlavam a meta<strong>de</strong> da escravaria <strong>em</strong> seus plantéis <strong>de</strong><br />
mais <strong>de</strong> 10 escravos. A elite escravista apontada pelos inventários, os possuidores<br />
<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 20 escravos, eram apenas 3,8% dos proprietários que possuíam 1/5<br />
dos escravos. Os proprietários <strong>de</strong> apenas 1 escravo eram 18,9%. Juntos,<br />
<strong>de</strong>tinham apenas 3,3% da mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
Tabela 6<br />
Estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos por faixas <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> plantéis<br />
FTP Proprietários % Escravos %<br />
1 10 18,9 10 3,3<br />
2 8 15,1 16 5,3<br />
3 5 9,4 15 5,0<br />
4 11 20,7 44 14,5<br />
5 3 5,7 15 5,0<br />
1 a 5 37 69,8 100 33,1<br />
6 a 10 7 13,2 52 17,2<br />
11 a 20 7 13,2 90 29,8<br />
21 ou mais 2 3,8 60 19,9<br />
Total 53 100 302 100<br />
Obs.: FTP – Faixas <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> plantéis.<br />
Fonte: 53 inventários. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong> Agudos.<br />
4. Conclusão<br />
Os dados disponíveis até o momento nos permit<strong>em</strong> concluir que os<br />
padrões <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> escravos na fronteira do povoamento são s<strong>em</strong>elhantes a<br />
outras áreas <strong>de</strong> povoamento mais antigo pesquisadas e mencionadas neste<br />
trabalho, ou seja, verifica-se a ampla predominância dos proprietários <strong>de</strong><br />
pequenos plantéis (<strong>de</strong> 1 a 5 escravos) que, por outro lado, <strong>de</strong>tinham uma pequena<br />
parcela da mão-<strong>de</strong>-obra. Esta é uma indicação do padrão <strong>de</strong> riqueza dos<br />
indivíduos que se colocavam na vanguarda do povoamento, sob os riscos <strong>de</strong><br />
conflitos com os indígenas enquanto a segurança representada pela efetiva<br />
ocupação e integração da área ao comércio <strong>de</strong> exportação não se concretizava.<br />
Também se verificou um equilíbrio entre os sexos, característica esta<br />
encontrada <strong>em</strong> áreas voltadas à produção <strong>de</strong>stinada aos mercados local e<br />
regional, como a estudada por Costa no sertão da Paraíba, e diferent<strong>em</strong>ente das<br />
áreas on<strong>de</strong> a produção era <strong>de</strong>stinada à exportação, como <strong>de</strong>monstrado por<br />
Marcon<strong>de</strong>s para a região cafeeira <strong>de</strong> Taubaté; Luna & Costa para os centros<br />
açucareiros <strong>de</strong> Campinas e Itu, e Luna para as regiões mineradoras. Do mesmo<br />
modo, nestas últimas áreas a concentração <strong>de</strong> cativos na ida<strong>de</strong> ativa era flagrante,<br />
enquanto que as regiões não integradas à economia exportadora apresentavam<br />
uma característica etária distinta. A população escrava <strong>de</strong> Lençóes era, como<br />
9
vimos, predominant<strong>em</strong>ente jov<strong>em</strong>, o que po<strong>de</strong> indicar a importância <strong>de</strong> seu<br />
crescimento natural.<br />
A estrutura <strong>de</strong> posse <strong>de</strong> cativos, assim como as características gerais<br />
da população escrava <strong>de</strong> uma “boca do sertão”, eram basicamente as mesmas <strong>de</strong><br />
outras áreas <strong>em</strong> que a produção era <strong>de</strong>stinada aos mercados local e regional.<br />
Comparando-se com economias <strong>de</strong> exportação, as diferenças básicas se refer<strong>em</strong><br />
à faixa etária e à composição quanto ao sexo. Em ambas, no entanto, é nítida a<br />
predominância <strong>de</strong> pequenos plantéis.<br />
As características singulares da fronteira <strong>de</strong> povoamento à época <strong>em</strong><br />
que Lençóes era “boca <strong>de</strong> sertão” não permitiram a formação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s plantéis,<br />
e tampouco que as características básicas da escravaria das regiões exportadoras<br />
– predominância da ida<strong>de</strong> adulta e do sexo masculino – se impusess<strong>em</strong>, pois<br />
quando a “boca <strong>de</strong> sertão” se <strong>de</strong>slocou para oeste a escravidão já estava extinta<br />
no Brasil.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CHITTO, Alexandre. Lençóis Paulista, boca do sertão. Edição especial <strong>de</strong> "O Eco",<br />
s/d.<br />
COSTA. Dora Isabel Paiva da. Posse <strong>de</strong> escravos e produção no agreste<br />
Paraibano: um estudo sobre Bananeiras, 1830-1888. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong><br />
<strong>História</strong>) – UNICAMP, 1992.<br />
DONATO, Hernani. Achegas para a história <strong>de</strong> Botucatu. 2ª ed. Do autor, 1954.<br />
LUNA, Francisco Vidal & COSTA, Iraci <strong>de</strong>l Nero da. Posse <strong>de</strong> escravos <strong>em</strong> São<br />
Paulo no início do século XIX. <strong>Estudos</strong> Econômicos. V. 13, nº 1, jan./abr. 1983, p.<br />
211-221.<br />
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& COSTA, Iraci <strong>de</strong>l Nero da. Minas Colonial: economia e socieda<strong>de</strong>. São Paulo:<br />
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MARCÍLIO, Maria Luiza. Crescimento <strong>de</strong>mográfico e evolução agrária paulista,<br />
1700-1836. São Paulo: Hucitec, Edusp, 2000.<br />
MARCONDES, Renato Leite. A pequena e a média proprieda<strong>de</strong> na gran<strong>de</strong> lavoura<br />
cafeeira do Vale do Paraíba. Locus: Revista <strong>de</strong> <strong>História</strong>, vol.4, nº 2, 1998, p. 35-<br />
54.<br />
10
MARQUES, Manuel Eufrásio <strong>de</strong> Azevedo, 1825-1878. Apontamentos históricos,<br />
geográficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da província <strong>de</strong> São Paulo. v.2.<br />
Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1980.<br />
MARTINS, José <strong>de</strong> Souza. Fronteira. A <strong>de</strong>gradação do outro nos confins do<br />
humano. São Paulo: Hucitec, 1997.<br />
MATOS, Odilon Nogueira <strong>de</strong>. Café e ferrovias. A evolução ferroviária <strong>de</strong> São<br />
Paulo e o <strong>de</strong>senvolvimento da cultura cafeeira. 4ª ed. Campinas: Pontes, 1990.<br />
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazen<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> São Paulo. São Paulo: Hucitec-<br />
Polis, 1977.<br />
i<br />
Inventário <strong>de</strong> Francelina Maria da Conceição, 14 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1873. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong><br />
Agudos SP.<br />
ii<br />
Inventário <strong>de</strong> Gertru<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Almeida Leite, 09 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1864. Cartório do 1º Ofício da Comarca <strong>de</strong><br />
Agudos SP.<br />
iii<br />
Livros <strong>de</strong> Contratos e Notas Antigas. 1º Cartório <strong>de</strong> Notas <strong>de</strong> Lençóis Paulista SP.<br />
iv<br />
Livros <strong>de</strong> Contratos e Notas Antigas. 1º Cartório <strong>de</strong> Notas <strong>de</strong> Lençóis Paulista SP.<br />
11
Casamento & Desigualda<strong>de</strong> Jurídica<br />
Primeiras notas <strong>de</strong> um estudo<br />
<strong>em</strong> uma área da região paulista no período colonial<br />
Palavras-chave: casamentos mistos, relações sociais, re<strong>de</strong>s sociais<br />
1. Introdução<br />
Cacilda Machado<br />
Depto. <strong>História</strong> UFPR<br />
Escola <strong>de</strong> Serviço Social -UFRJ<br />
A historiografia brasileira hoje <strong>de</strong> maneira geral aceita que o casamento e<br />
o concubinato entre <strong>de</strong>siguais — do ponto <strong>de</strong> vista racial ou pela condição jurídica —<br />
são fenômenos relevantes para o <strong>de</strong>svelamento das relações sociais no Brasil escravista<br />
como um todo. Afinal, conquanto a Igreja e o Estado foss<strong>em</strong> as principais instituições<br />
<strong>de</strong>finidoras da distinção entre livre, liberto e escravo, legítimo e bastardo, branco, negro,<br />
índio e mestiços, 1 era no âmbito das relações sociais que se <strong>de</strong>finia a mobilida<strong>de</strong> dos<br />
indivíduos por essas categorias, movimento perceptível ao longo das gerações e, por<br />
vezes, <strong>de</strong> uma única trajetória <strong>de</strong> vida. E o casamento e o concubinato, nos parece, são<br />
instâncias privilegiadas para se acessar as famílias e as mais diversas re<strong>de</strong>s sociais,<br />
permitindo pois a percepção do teor das relações estabelecidas entre os grupos que<br />
compõ<strong>em</strong> a hierarquia social.<br />
Para o maior conhecimento dos mecanismos que permitiram, entre nós,<br />
conforme a visão arguta <strong>de</strong> Freyre, a simultaneida<strong>de</strong> da miscigenação e do racismo, da<br />
1 Existe uma vasta historiografia sobre a ação da Igreja e da Coroa portuguesa nas colônias,<br />
particularmente acerca das prerrogativas e privilégios da “nobreza da terra”- a elite da população<br />
branca -, dos direitos e restrições a indígenas, negros (escravos, forros ou livres), concubinos e<br />
bastardos. Ver, por ex<strong>em</strong>plo: BOXER (1977), CAMPOS (1986), DEL PRIORI (1987), LONDOÑO<br />
1
familiarida<strong>de</strong> e da hierarquia, é preciso incr<strong>em</strong>entar as pesquisas sobre relações inter-<br />
grupais. Para tanto seria preciso resgatar as condições <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>terminavam o encontro entre <strong>de</strong>siguais e tentar i<strong>de</strong>ntificar os mecanismos <strong>de</strong><br />
eqüalização das ambigüida<strong>de</strong>s eventualmente a partir <strong>de</strong>le instaladas. Mapear<br />
historicamente essa experiência é, igualmente, querer saber dos <strong>de</strong>stinos dos indivíduos<br />
nascidos <strong>de</strong>ssas uniões.<br />
Para tocar <strong>em</strong> algumas das questões relativas a tão vasto campo <strong>de</strong><br />
possibilida<strong>de</strong>s, estou dando início a um projeto que preten<strong>de</strong> concentrar esforços no<br />
estudo do casamento e do concubinato mistos no Paraná nos séculos XVIII e início do<br />
XIX . A escolha <strong>de</strong> tal locus social justifica-se, <strong>em</strong> primeiro lugar, porque sua história é<br />
ex<strong>em</strong>plo da dinâmica povoadora <strong>de</strong> abertura sucessiva <strong>de</strong> fronteiras do período colonial. 2<br />
Por causa disso — e essa é a segunda razão — no período colonial a região<br />
caracterizou-se por apresentar expressivos contingentes nos três grupos raciais<br />
formadores da população brasileira. 3 Finalmente, o estudo do comportamento<br />
matrimonial me pareceu significativo <strong>em</strong> função das características econômicas locais: no<br />
litoral, Paranaguá, por sua tradição mineradora e por conter um porto, teve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
(1988), RAMOS (1990), MELLO E SOUZA (1997), VAINFAS (1997).<br />
2 No século XVII, com a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> ouro nos ribeiros na baía <strong>de</strong> Paranaguá, teve início a migração <strong>de</strong><br />
levas populacionais provenientes <strong>de</strong> Cananéia, São Vicente, Santos, São Paulo e até Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em<br />
1656 Paranaguá tornou-se centro da então recém-criada Capitania <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário <strong>de</strong><br />
Paranaguá -- subordinada ao Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em 1711, a capitania passou à condição <strong>de</strong> comarca da<br />
Capitania <strong>de</strong> São Paulo. Durante o período colonial a região litorânea tornou-se também ela um pólo<br />
fornecedor <strong>de</strong> levas migratórias. Visando num primeiro momento o ouro e <strong>de</strong>pois o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
pecuária, <strong>de</strong> Paranaguá teve continuida<strong>de</strong> a rápida expansão <strong>em</strong> direção ao litoral sul e, principalmente,<br />
aos campos dos planaltos paranaenses, serra acima. Já <strong>em</strong> 1660 fundou-se a Vila <strong>de</strong> São Francisco do<br />
Sul, no litoral do atual Estado <strong>de</strong> Santa Catarina. No litoral do Paraná, próximo à Paranaguá, foram<br />
criadas as povoações <strong>de</strong> Antonina (1714), Morretes (1733) e Guaratuba (1771). Na serra, Curitiba data<br />
<strong>de</strong> 1693, São José dos Pinhais <strong>de</strong> 1757, Lapa <strong>de</strong> 1769, Castro <strong>de</strong> 1770. Ao longo do XVIII,<br />
principalmente após a abertura da Estrada do Viamão, que ligava o Sul a Sorocaba, a região dos campos<br />
do planalto paranaense viveu um período <strong>de</strong> intenso <strong>de</strong>senvolvimento da pecuária, com a chegada <strong>de</strong><br />
novas levas populacionais paulistas. Nesse processo, Paranaguá foi paulatinamente per<strong>de</strong>ndo sua<br />
heg<strong>em</strong>onia econômica e política local, até que <strong>em</strong> 1812 a se<strong>de</strong> da comarca foi transferida <strong>de</strong> lá para a<br />
Vila <strong>de</strong> Curitiba. (Cf. NASCIMENTO JR., 1980, WACHOWICZ 1988, DICIONÁRIO...., 1991 e<br />
LEÃO, 1994).<br />
3 Em Paranaguá, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> 1772, <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 3.193 habitantes da vila, 44% (1414) eram<br />
escravos. Aceitando-se que no interior da população livre se po<strong>de</strong>ria encontrar negros, índios e<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>stes, têm-se uma idéia do caráter pluri-racial <strong>de</strong>sta população. (Cf. Balhana, Machado &<br />
Westphalen, 1969). E se <strong>em</strong> 1798 a vila possuía uma proporção menor <strong>de</strong> escravos <strong>em</strong> sua população<br />
(20,2%), ainda era significativo o número <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> cor parda e preta no conjunto dos habitantes:<br />
<strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 4848 moradores, 3303 foram recenseados como brancos, 871 como pardos, e 674 como<br />
pretos, compondo pois, os indivíduos <strong>de</strong> cor, cerca <strong>de</strong> 32% da população total. (Cf. COSTA &<br />
GUTIÉRREZ,1985, p.36 a 38).<br />
2
início da colonização uma população que, se não se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> urbana, era pelo<br />
menos para-urbana, e o comércio s<strong>em</strong>pre teve ali importância econômica igual ou maior<br />
à da pecuária (RITTER, 1980). Fisionomia distinta se encontra nas vilas do planalto,<br />
mais voltadas para a produção e o comércio <strong>de</strong> gado, e para a lavoura <strong>de</strong> subsistência.<br />
Litoral e planalto, por sua vez, foram ambientes on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolveu uma vida<br />
econômica e social muito diversa daquela gestada nos engenhos e gran<strong>de</strong>s fazendas<br />
coloniais do Su<strong>de</strong>ste e do Nor<strong>de</strong>ste.<br />
O ponto <strong>de</strong> partida da pesquisa será a mudança das escala <strong>de</strong> observação, 4<br />
<strong>de</strong> forma a permitir um novo tratamento a fontes tradicionais. Parte-se do princípio <strong>de</strong><br />
que, se o âmbito da pesquisa for suficient<strong>em</strong>ente circunscrito, as séries documentais<br />
particulares po<strong>de</strong>m sobrepor-se na duração e no espaço, permitindo-nos assim encontrar<br />
o mesmo indivíduo <strong>em</strong> contextos sociais diversos. Nesse processo reelaborativo se dará<br />
especial atenção às re<strong>de</strong>s sociais, 5 a fim <strong>de</strong> tornar mais evi<strong>de</strong>ntes as interações entre os<br />
indivíduos e os contextos sociais <strong>em</strong> que se encontram e atuam.<br />
Desse modo, o foco <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser a estrutura social <strong>em</strong> si, para<br />
privilegiar os processos e as interações no interior da socieda<strong>de</strong> estudada. No caso<br />
presente, objetiva-se a reconstrução <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as relacionais <strong>de</strong> modo a incluir a família na<br />
socieda<strong>de</strong> à sua volta, <strong>em</strong> suas relações <strong>de</strong> parentesco, residência e vizinhança,<br />
estratégias matrimoniais e sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> herança, <strong>em</strong> seus vínculos <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e<br />
solidarieda<strong>de</strong>, e <strong>em</strong> todo o universo <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que se insere o indivíduo<br />
(GONZÁLEZ, 1995: p. 334). A<strong>de</strong>mais, a operacionalização do conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> social<br />
abre para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apreen<strong>de</strong>r a constituição da família como um processo<br />
4 A escala microscópica, a meu ver, permite o acesso à experiência <strong>de</strong> indivíduos e grupos, e às<br />
sucessivas transformações <strong>de</strong> um fenômeno, <strong>de</strong> acordo ao contexto. E afinal, já se observou que a<br />
ressonância da apresentação articulada das propostas da micro-história se faz “quando enfrenta a tarefa<br />
<strong>de</strong> conciliar os dois eixos da história social que ten<strong>de</strong>ram a se apartar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 60, estrutura e<br />
experiência, formulando <strong>de</strong> maneira clara a questão da liberda<strong>de</strong> e inteligibilida<strong>de</strong> da ação humana na<br />
história” (CASTRO, 1997, p. 54).<br />
5 Ao conceito <strong>de</strong> "re<strong>de</strong> social", tomado da micro-sociologia, se po<strong>de</strong> outorgar um triplo conteúdo: “El<br />
primero se refiere a su aspecto morfológico: la red es una estructura constituida por un conjunto <strong>de</strong><br />
puntos y líneas que materializan lazos y relaciones mantenidas entre un conjunto <strong>de</strong> individuos. El<br />
segundo se refiere a su contenido relacional: la red es un sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> intercambios que permite la<br />
circulación <strong>de</strong> bienes y servicios. Finalmente, la red consiste en un sist<strong>em</strong>a sometido a una dinámica<br />
relacional regida por un principio <strong>de</strong> transversalidad <strong>de</strong> los lazos, y susceptible <strong>de</strong> movilizarse en aras<br />
<strong>de</strong> una finalidad precisa. En consecuencia, se pue<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir la red social como un complejo sist<strong>em</strong>a<br />
relacional que permite la circulación <strong>de</strong> bienes y servicios, tanto materiales como immateriales, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> un conjunto <strong>de</strong> relaciones establecidas entre sus mi<strong>em</strong>bros, que los afecta a todos, directa o<br />
indirectamente, aunque <strong>de</strong> manera muy <strong>de</strong>sigual.” (BERTRAND, 1999, p.7)<br />
3
por meio do qual se vai tocando <strong>em</strong> (e tecendo) numerosas re<strong>de</strong>s (BERTRAND, 1999:<br />
p. 10).<br />
Para tanto buscar-se-á elaborar uma prosopografia (biografias coletivas) 6<br />
<strong>de</strong> homens e mulheres que viveram na região litorânea ou nos campos gerais do atual<br />
estado do Paraná, durante o século XVIII e início do XIX, e que efetuaram matrimônio<br />
ou concubinato com um parceiro <strong>de</strong> condição <strong>de</strong>sigual a sua. Tal prosopografia,<br />
acredito, po<strong>de</strong>rá ser efetuada pelo cruzamento <strong>de</strong> documentação eclesiástica variada —<br />
registros <strong>de</strong> nascimento, casamento e sepultamento; processos <strong>de</strong> crimes, autos cíveis,<br />
dispensas matrimoniais, esponsais e livros diversos — com as listas nominativas <strong>de</strong><br />
habitantes. 7 Isto permitirá isolar os indivíduos que constituirão nossa amostra,<br />
selecionando-os <strong>de</strong>ntre os que apresentar<strong>em</strong> o maior número e/ou as mais ricas<br />
informações <strong>de</strong> suas trajetórias <strong>de</strong> vida. Suas biografias serão compl<strong>em</strong>entadas o mais<br />
intensamente possível, por meio <strong>de</strong> dados constantes <strong>em</strong> documentos <strong>de</strong> natureza variada<br />
que estejam disponíveis.<br />
No presente texto apresento os primeiros resultados <strong>de</strong> um estudo, ainda<br />
<strong>em</strong> andamento, sobre casamentos <strong>de</strong> livres (e libertos) com escravos, realizados entre<br />
meados do XVIII e início do XIX <strong>em</strong> São José dos Pinhais — cida<strong>de</strong> vizinha a Curitiba,<br />
a atual capital do Estado do Paraná. Este é, na verda<strong>de</strong>, o resultado <strong>de</strong> um "primeiro<br />
olhar" <strong>em</strong> direção ao comportamento matrimonial da população a ser estudada,<br />
particularmente voltado àqueles indivíduos que se casaram fora <strong>de</strong> seu grupo. As fontes<br />
consultadas e manipuladas, por ora, foram os mapas <strong>de</strong> população <strong>de</strong> São José dos<br />
Pinhais, 80 registros <strong>de</strong> casamentos <strong>em</strong> que apenas um dos cônjuges era escravo, quatro<br />
listas <strong>de</strong> habitantes, e alguns autos <strong>de</strong> casamento. 8<br />
6 Sobre o uso <strong>de</strong> prosopografia <strong>em</strong> pesquisa histórica ver, por ex<strong>em</strong>plo, FIGUEIREDO (1997).<br />
7 Sobre a metodologia <strong>de</strong> cruzamento <strong>de</strong> Listas nominativas com registros paroquiais ver: BACELLAR<br />
(1997, cap. 1). Neste livro, Bacellar realizou um extenuante trabalho <strong>de</strong> cruzamento <strong>de</strong> registros<br />
paroquiais e listas nominativas <strong>de</strong> habitantes referentes à população <strong>de</strong> Sorocaba, nos séculos XVIII e<br />
XIX, compl<strong>em</strong>entado por documentação cartorária,o qual lhe permitiu penetrar nos meandros das<br />
relações e das tensões do cotidiano <strong>de</strong> diferentes grupos sociais.<br />
8 Os mapas estão publicados <strong>em</strong> COSTA & GUTIÉRREZ,1985) Os <strong>de</strong>mais documentos foram<br />
consultados no CEDOPE (Depto. <strong>História</strong> da WFPR), on<strong>de</strong> estão <strong>de</strong>positadas cópias <strong>em</strong> papel e<br />
microfilmes <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> documentos sobre o Paraná resgatados <strong>em</strong> diversos arquivos<br />
brasileiros. Utilizou-se, ainda, a genealogia da família Rocha Loures construída a partir <strong>de</strong> registros<br />
4
2. A população da Freguesia <strong>de</strong> São José dos Pinhais<br />
O início da constituição da povoação <strong>de</strong> São José dos Pinhais provavelmente data<br />
do final do século XVII e início do XVIII, a partir do estabelecimento <strong>de</strong> arraiais <strong>de</strong><br />
mineradores, ambulantes e nôma<strong>de</strong>s dos sertões curitibanos. Em 1758 a povoação foi<br />
elevada à categoria <strong>de</strong> freguesia e, ainda no século XVIII, ao lado <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong><br />
subsistência ali se estabelec<strong>em</strong> os primeiros oficiais <strong>de</strong> sapateiro, ferreiro, b<strong>em</strong> como<br />
lojas <strong>de</strong> secos e molhados, <strong>de</strong> fazendas e outros (SBRAVATI, 1980: p. 40-45).<br />
Como as <strong>de</strong>mais povoações dos campos do planalto paranaense, nos séculos<br />
XVIII e XIX parte da população <strong>de</strong> São José envolveu-se no transporte e comércio <strong>de</strong><br />
gado eqüino <strong>de</strong>stinado ao Su<strong>de</strong>ste, região <strong>de</strong> mineração e <strong>de</strong> cafeicultura. Em paralelo a<br />
essa ativida<strong>de</strong>, porém, <strong>de</strong>senvolveu-se s<strong>em</strong>pre uma economia <strong>de</strong> subsistência e, para o<br />
século XIX, exist<strong>em</strong> notícias <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo na Freguesia <strong>de</strong> São José<br />
dos Pinhais, como milho, trigo, feijão, fumo, erva-mate, charque, toucinho, havendo<br />
ainda criação <strong>de</strong> gado, cavalos e carneiros. Alguns <strong>de</strong>stes produtos, como o feijão, eram<br />
exportados (SBRAVATI, 1980: p. 45).<br />
Em carta <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1720, Rafael Pires Pardinho assinalava que nas duas<br />
Freguesias <strong>de</strong> Curitiba haveria 200 casais e mais <strong>de</strong> 1400 pessoas <strong>de</strong> confissão. O<br />
ouvidor se referia à freguesia <strong>de</strong> São José e do Senhor Bom Jesus do Perdão e à <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais <strong>de</strong> Curitiba. Porém, dados mais completos sobre a<br />
população <strong>de</strong> São José especificamente só são possíveis a partir <strong>de</strong> 1772, ano <strong>de</strong><br />
elaboração do “Mapa Geral da Capitania <strong>de</strong> São Paulo". Neste censo, no qual são<br />
contabilizadas 7.6<strong>27</strong> pessoas vivendo no território hoje paranaense, São José aparece<br />
com 833 habitantes — 10,9% da população do Paraná, e 19,6% da população do<br />
planalto curitibano (SBRAVATI, 1980: p. 45-51). Segundo levantamento nos mapas <strong>de</strong><br />
população, no século XIX, até 1830, o peso populacional <strong>de</strong> São José <strong>em</strong> relação ao<br />
Paraná <strong>de</strong>cresceu um pouco, ainda que mantendo-se significativo (tabela 1).<br />
Ainda a partir dos mapas <strong>de</strong> população é possível observar que na freguesia a<br />
população escrava não era numericamente significativa, pelo menos não tanto como nos<br />
núcleos urbanos maiores e nas regiões <strong>de</strong> agricultura <strong>de</strong> exportação à época, porém seu<br />
eclesiásticos e cartorários, realizada pelo Professor Hélio Rocha (digitada) e a nós gentilmente cedida.<br />
5
peso percentual era provavelmente próximo dos índices da maior parte dos vilarejos do<br />
Brasil colonial, notadamente os do Sul: <strong>em</strong> 1798, apenas 15% da população <strong>de</strong> São José<br />
era escrava, sendo que esse número <strong>de</strong>cresce até 1830, quando chega a 10,2%. 9 Além<br />
disso, a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escravos não era uma prática muita diss<strong>em</strong>inada: na Lista Geral<br />
<strong>de</strong> Habitantes da Freguesia <strong>de</strong> São José <strong>de</strong> 1783, por ex<strong>em</strong>plo, dos 170 domicílios, 70%<br />
(119) não tinham escravos; 38 (22,3%) abrigavam <strong>de</strong> 1 a 5 escravos; 9 domicílios<br />
possuíam <strong>de</strong> 6 a 10 escravos, e somente 4 <strong>de</strong>tinham entre 11 e 15 escravos. Nesta mesma<br />
lista, porém, foram computados 14 domicílios com administrados (28 indivíduos no<br />
total), 5 domicílios com agregados, 4 com expostos e <strong>27</strong> domicílios com parentes fora<br />
do núcleo conjugal (principalmente netos, irmãos e sobrinhos), indicando formas<br />
alternativas (mas não <strong>de</strong>sprezíveis) <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra. 10<br />
Provavelmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primórdios a povoação era composta por uma<br />
população bastante miscigenada. Em 1798, <strong>de</strong> seus 1460 habitantes, 48,0% foram<br />
consi<strong>de</strong>rados brancos, 8,2% negros e 43,7% pardos; <strong>em</strong> 1830, para 36.701 habitantes,<br />
esses índices eram <strong>de</strong> 52,5%, 5,6% e 38,8%, respectivamente (tabela 2) 11 —<br />
observando-se que a população indígena geralmente era contabilizada como parda, e<br />
muitos <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes incluídos na população branca.<br />
Ao longo dos anos aqui consi<strong>de</strong>rados, <strong>em</strong> média apenas 16,4% da população<br />
parda <strong>de</strong> São José dos Pinhais era escrava, enquanto para a população <strong>de</strong> cor preta esse<br />
índice médio é <strong>de</strong> 88,0% (tabela 3). A <strong>de</strong>speito disso, porém, o segmento escravo <strong>de</strong> São<br />
José foi s<strong>em</strong>pre expressivamente <strong>de</strong> cor parda: 46.1% dos cativos foram computados<br />
nessa categoria <strong>de</strong> cor <strong>em</strong> 1798; 64,4% <strong>em</strong> 1804; 73,0% <strong>em</strong> 1810; 30,2% <strong>em</strong> 1816;<br />
51,0% <strong>em</strong> 1824, e 59,0% <strong>em</strong> 1830. Eles eram representativos também na população<br />
9 Indíces inferiores aos <strong>de</strong> MARCÍLIO (2000). A partir <strong>de</strong> levantamento amostral <strong>de</strong> listas nominativas<br />
<strong>de</strong> habitantes <strong>de</strong> vilas da capitania/província <strong>de</strong> São Paulo (não incluída a capital), a autora calculou,<br />
para 1798, um percentual <strong>de</strong> 23% <strong>de</strong> escravos no conjunto da população paulista, subindo este índice<br />
para 29% <strong>em</strong> 1828. Evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente tais percentuais são mais altos por englobar<strong>em</strong> freguesias e vilas <strong>de</strong><br />
regiões <strong>de</strong> economia exportadora com intensiva utilização <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra escrava.<br />
10 Em seu estudo clássico sobre a população paulista, Marcílio acentuou, como características <strong>de</strong>ssa<br />
socieda<strong>de</strong>, a utilização intensiva <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra infantil e f<strong>em</strong>inina, <strong>de</strong> agregados, parentes ou não, nos<br />
domicílios com menos recursos. De uma maneira geral, a pequena roça produtora <strong>de</strong> mantimentos para<br />
o consumo do grupo doméstico, largamente difundida no território paulista, não comportava o trabalho<br />
servil. Este apareceu fundamentalmente no setor da agricultura ou da pecuária, mais voltado para a<br />
produção comercial do circuito interno exportador. (MARCÍLIO, 2000, p.104-108).<br />
11 Marcílio calculou um percentual <strong>de</strong> pardos b<strong>em</strong> menor para o conjunto da população paulista: 16%<br />
<strong>em</strong> 1798 e 21,3% <strong>em</strong> 1828 (p.119). No território que hoje compõe o Paraná os índices, segundo os<br />
mapas <strong>de</strong> população, eram <strong>de</strong> 24,9% <strong>de</strong> pardos <strong>em</strong> 1798 e 29,5% <strong>em</strong> 1830.<br />
6
livre: 43,3% <strong>em</strong> 1798, 22,5% <strong>em</strong> 1804, 40,1% <strong>em</strong> 1810, 36,3% <strong>em</strong> 1816, 38,6% <strong>em</strong><br />
1824 e 39,9% <strong>em</strong> 1830.<br />
Tabela 1: População do Paraná e <strong>de</strong> São José dos Pinhais (1772 a 1830)<br />
Ano Paraná São José dos Pinhais<br />
# # %<br />
1772 7.6<strong>27</strong> 833 10,9<br />
1798 20.999 1.460 7,0<br />
1804 26.370 1.894 7,2<br />
1810 <strong>27</strong>.589 2.160 7,9<br />
1816 28.470 2.326 8,2<br />
1824 32.887 2.753 8,4<br />
1830 36.701 3.240 8,8<br />
Fonte: COSTA, Iraci Del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio. Paraná.<br />
Mapas <strong>de</strong> Habitantes 1798-1830. São Paulo: IPE-USP, 1985<br />
Tabela 2: População <strong>de</strong> São José dos Pinhais (PR) por cor (1798 a 1830)<br />
Ano<br />
Branca Parda Preta<br />
# % # % # %<br />
1798 701 48,0 639 43,7 120 8,2<br />
1804 1.297 68,4 519 <strong>27</strong>,4 78 4,1<br />
1810 1.117 51,7 955 44,2 88 4,1<br />
1816 1.306 56,1 831 35,7 189 8,1<br />
1824 1.486 53,9 1.100 39,9 167 6,1<br />
1830 1.702 52,5 1.357 41,8 181 5,6<br />
Média - 55,1 - 38,8 - 6,1<br />
Fonte: COSTA, Iraci Del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio. Paraná.<br />
Mapas <strong>de</strong> Habitantes 1798-1830. São Paulo: IPE-USP, 1985<br />
Tabela 3: Percentual <strong>de</strong> escravos nos grupos <strong>de</strong> cor parda e preta,<br />
na população <strong>de</strong> São José dos Pinhais (PR), 1798 a 1830<br />
Ano<br />
parda preta<br />
total escrava total escrava<br />
# # % # # %<br />
1798 639 101 15,8 120 118 98,3<br />
1804 519 141 <strong>27</strong>,1 78 78 100,0<br />
1810 955 195 19,6 88 72 81,8<br />
1816 831 71 8,5 189 164 86,7<br />
1824 1.100 151 13,7 167 145 86,8<br />
1830 1.357 195 13,9 181 135 74,6<br />
Média - - 16,4 - - 88,0<br />
Fonte: COSTA, Iraci Del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio.<br />
Paraná. Mapas <strong>de</strong> Habitantes 1798-1830. São Paulo: IPE-USP, 1985<br />
7
Esses dados sobre os pardos são indicativos <strong>de</strong> que o tráfico transoceânico não<br />
era a principal fonte <strong>de</strong> reposição da escravaria, e <strong>em</strong>bora escravos pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser<br />
adquiridos, ao que tudo indica quase s<strong>em</strong>pre no mercado interno — pois <strong>em</strong> todos os<br />
anos observados os contingentes <strong>de</strong> população escrava nas faixas entre 10 e 30 anos, <strong>de</strong><br />
ambos os sexos, são s<strong>em</strong>pre maiores que os contingentes <strong>de</strong> até 10 anos —, as taxas <strong>de</strong><br />
masculinida<strong>de</strong> apontam para uma reprodução predominant<strong>em</strong>ente endógena da<br />
escravaria: entre 1798 e 1830, a taxa média <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> da população livre (<strong>de</strong><br />
49,2%) e mesmo a da população branca (<strong>de</strong> 48,6%) estão muito próximas, <strong>em</strong>bora<br />
inferiores, da taxa média da população escrava (<strong>de</strong> 50,3%).<br />
Os dados da tabela 2 referentes ao ano <strong>de</strong> 1804 nos revelam, ainda, da<br />
ocorrência, nessa pequena povoação colonial, da histórica e conhecida dificulda<strong>de</strong><br />
sociológica <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição da cor da população no Brasil. Se consi<strong>de</strong>rarmos o índice médio<br />
<strong>de</strong> população parda livre ao longo dos anos consi<strong>de</strong>rados (tabela 4), intui-se que o<br />
encarregado da elaboração do mapa populacional <strong>de</strong> 1804 provavelmente incluiu na<br />
categoria <strong>de</strong> cor branca boa parte da população livre antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sse ano tida como<br />
parda.<br />
Tabela 4: População não-branca <strong>de</strong> São José dos Pinhais (PR)<br />
por condição jurídica (1798 a1830), <strong>em</strong> relação a população total<br />
Ano<br />
parda preta<br />
livre escrava livre escrava<br />
# % # % # % # %<br />
1798 538 36,8 101 6,9 02 0,1 118 8,1<br />
1804 378 20,9 141 3,6 - - 78 4,1<br />
1810 760 35,2 195 9,0 16 0,7 72 3,3<br />
1816 760 32,6 71 3,0 25 1,1 164 7,0<br />
1824 949 34,4 151 5,5 22 0,8 145 5,2<br />
1830 1.162 35,8 195 6,0 46 1,4 135 4,1<br />
média - 32,6 - 5,6 - 0,7 - 5,3<br />
Fonte: COSTA, Iraci Del Nero da & GUTIÉRREZ, Horácio. Paraná.<br />
Mapas <strong>de</strong> Habitantes 1798-1830. São Paulo: IPE-USP, 1985<br />
8
3. Casamentos mistos envolvendo escravos <strong>em</strong> São José dos Pinhais<br />
Depois <strong>de</strong> Freyre, inúmeros pesquisadores já pu<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>monstrar que,<br />
particularmente fora das gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s escravistas, o casamento e o concubinato<br />
envolvendo indivíduos <strong>de</strong> cor e/ou condição jurídica diferentes ocorriam especialmente<br />
entre homens e mulheres das camadas pobres. Eram essas uniões geralmente a expressão<br />
da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> garantir a sobrevivência s<strong>em</strong> ter <strong>de</strong> se submeter à prostituição, ajuda<br />
econômica surgida do trabalho a dois, esperança na compra da alforria com o concurso<br />
do outro, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma companheira s<strong>em</strong> os entraves do casamento, segurança e<br />
proteção masculinas (LONDOÑO, 1999: p. 104-105).<br />
Graças a essa historiografia sab<strong>em</strong>os também que o casamento entre<br />
forros e escravos foi prática comum no Brasil colonial, <strong>em</strong> algumas regiões sendo mais<br />
freqüentes que as uniões sacramentadas entre dois escravos, e que nas capitanias on<strong>de</strong> a<br />
população indígena era numerosa, o casamento geralmente unia el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>ssa<br />
população com escravos negros. Goldschmidt, por ex<strong>em</strong>plo, constatou que, entre 1728 e<br />
1755, 73% dos casamentos mistos da capitania <strong>de</strong> São Paulo tinham um cônjuge<br />
indígena. Segundo a autora, na capitania os colonos seguiram uma estratégia muito clara<br />
<strong>de</strong> promover estas uniões inter-raciais, sobretudo no início do séc. XVIII, a fim <strong>de</strong><br />
assegurar a mão <strong>de</strong> obra das índias administradas, b<strong>em</strong> como dos filhos que viess<strong>em</strong> a<br />
nascer. Além disso, eram freqüentes na Colônia as uniões, geralmente ilícitas, entre<br />
homens brancos e mulheres <strong>de</strong> cor, escravas ou não. Pelo contrário, raros eram os<br />
casamentos e as mancebias entre brancas e homens <strong>de</strong> cor. Luis Mott só contou três<br />
brancas amasiadas com pardos e duas com negros, <strong>em</strong> seu estudo da <strong>de</strong>vassa feita <strong>em</strong><br />
1813 no Sul da Bahia. (193), e um único caso <strong>de</strong> casamento <strong>de</strong> escravo negro com<br />
branca foi localizado na documentação eclesiástica paulista.(SILVA, 1998: p. 182-187).<br />
Na tabela 5 têm-se um quadro geral das uniões matrimoniais ocorridas ao longo<br />
<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um século na paróquia <strong>de</strong> São José dos Pinhais. Como ela foi construída a<br />
partir <strong>de</strong> uma listag<strong>em</strong> dos casamentos pré-existente, na qual apenas a condição jurídica<br />
era indicada apenas para os escravos, não se pô<strong>de</strong> distinguir estatisticamente as uniões<br />
matrimoniais envolvendo cônjuges livres e forros das uniões <strong>em</strong> que ambos os cônjuges<br />
9
eram livres ou forros. De qualquer forma, a manipulação dos dados disponíveis po<strong>de</strong> nos<br />
dar alguns el<strong>em</strong>entos acerca dos casamentos <strong>de</strong> escravos fora <strong>de</strong> seu grupo.<br />
Período<br />
Tabela 5: Casamentos <strong>em</strong> São José dos Pinhais (1759 a 1888),<br />
por condição jurídica dos cônjuges e por década<br />
EL LE EF FE Subtotal LL/FF/LF/FL EE Total<br />
# # # # # % # % # % #<br />
1759-1768 - 01 - - 01 1,5 54 84,3 09 14,0 64<br />
1769-1778 - - 01 01 02 2,7 57 78,1 14 19,2 73<br />
1779-1788 02 01 02 - 05 5,1 85 86,7 08 8,1 98<br />
1789-1808 01 04 01 01 07 8,3 72 85,7 05 5,9 84<br />
1809-1818 04 07 01 - 12 8,2 129 88,3 05 3,4 146<br />
1819-1828 02 02 - - 04 1,8 212 95,0 07 3,1 223<br />
1829-1838 05 02 02 02 11 4,4 229 92,7 07 2,8 247<br />
1839-1848 - - - 02 02 0,7 288 98,9 01 0,3 291<br />
1849-1858 07 01 01 - 09 3,3 260 95,5 03 1,1 <strong>27</strong>2<br />
1859-1868 02 04 - - 06 1,4 401 81,5 03 0,7 411<br />
1869-1878 05 01 - - 05 1,0 485 98,5 02 0,4 492<br />
1879-1888 09 06 - - 15 2,6 565 98,8 02 0,3 572<br />
TOTAL 37 29 08 06 80 2,7 2837 95,4 56 1,9 2973<br />
EL = escravo e livre, LE = livre e escrava, EF = escravo e forra, FE = forro e escrava, LL = livre e livre,<br />
FF = forro e forra, LF = livre e forra, FL = forro e livre, EE = escravo e escrava<br />
Um primeiro aspecto a se observar: consi<strong>de</strong>rando o seu peso populacional no<br />
vilarejo, a população escrava casava muito menos do que a livre, pois dos 5946<br />
indivíduos que ali selaram uniões matrimoniais no período entre 1759 e 1888, apenas 192<br />
eram escravos, ou seja, 3,2%. Este é um dado <strong>de</strong> forma alguma inusitado. Sabe-se que<br />
<strong>em</strong>bora as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707) <strong>de</strong>finiss<strong>em</strong> que os<br />
escravos e escravas po<strong>de</strong>riam casar com outras pessoas cativas, ou livres, e seus<br />
senhores lhe não po<strong>de</strong>riam impedir o matrimônio, n<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong>le <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po e lugar<br />
conveniente, os altos preços do casamento, o <strong>de</strong>sinteresse dos cônjuges e mesmo a<br />
resistência senhorial trabalhavam no sentido contrário. Já se observou que a Igreja do<br />
século XVIII não conseguiu eliminar a ilegitimida<strong>de</strong>, mas logrou alguns resultados na<br />
difusão do casamento no mundo livre e muito pouco no meio escravo (VENÂNCIO,<br />
1986).<br />
Destaque-se, no entanto, que entre a população escrava o casamento com<br />
el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> estatuto jurídico diferente do seu era ali muito freqüente, pois dos 192<br />
10
cativos que se casaram no período, 41,6% (80) o fizeram com cônjuge <strong>de</strong> condição<br />
jurídica diferente da sua. Observe-se, ainda, que este comportamento era lev<strong>em</strong>ente mais<br />
marcante na população masculina: dos casamentos <strong>de</strong> escravos, 44,6% foram com<br />
cônjuges forras ou livres; enquanto entre as escravas esse índice é <strong>de</strong> 38.5%.<br />
Tudo isso nos leva a supor que <strong>de</strong>veriam ser também muito freqüentes as uniões<br />
consensuais <strong>de</strong> livres ou forros com escravos, b<strong>em</strong> como as uniões legalizadas e<br />
consensuais <strong>de</strong> forros com livres. Po<strong>de</strong>-se, ainda, aventar duas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
explicação para o maior índice <strong>de</strong> casamentos mistos entre escravos do sexo masculino.<br />
A primeira é que as escravas envolviam-se mais <strong>em</strong> relações "ilícitas" ou consensuais<br />
com livres e forros — e <strong>de</strong> fato, o celibato <strong>de</strong>finitivo era mais alto entre as escravas (uma<br />
taxa média <strong>de</strong> 57,5%, contra 30,13% para os escravos, 24,15% para as mulheres livres e<br />
12,40% para os homens livres com mais <strong>de</strong> 50 anos). E nesse caso ganharia força o<br />
argumento <strong>de</strong> estudos como Trópico dos Pecados, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a idéia <strong>de</strong> que vigia<br />
no Brasil colonial um patriarcalismo misógino e racista. 12 A segunda hipótese é que<br />
pressões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mográfica estão por trás <strong>de</strong>sses números, uma vez que a taxa média<br />
geral <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong> entre escravos era um pouco mais alta que a dos livres (50,3%<br />
contra 49,2%, como se viu acima), diferença ainda mais pronunciada quando se calcula<br />
essa mesma taxa para as faixas etárias entre 10 e 40 anos: <strong>de</strong> 46,8% para a população<br />
livre, e <strong>de</strong> 50,6% para a população escrava. Na falta <strong>de</strong> mulheres escravas, é provável<br />
que os escravos do sexo masculino buscass<strong>em</strong> cônjuges na população forra e livre. Ainda<br />
com base na tabela 5 po<strong>de</strong>-se observar a principal tendência <strong>de</strong>sses casamentos: é nítido<br />
o predomínio <strong>de</strong> uniões <strong>de</strong> escravos com el<strong>em</strong>entos das camadas livres da população:<br />
dos 80 escravos envolvidos <strong>em</strong> uniões mistas, 82,5% casaram-se com livres, sendo que<br />
os 45 escravos, 37 casaram-se com mulheres livres, e das 35 escravas, 29 uniram-se a<br />
homens livres.<br />
12 Segundo seu autor, aqui e na Europa se <strong>de</strong>fendia o direito e a legitimida<strong>de</strong> da fornicação com<br />
mulheres consi<strong>de</strong>radas prostitutas. A diferença é que na Europa as prostitutas ou mulheres s<strong>em</strong> marido<br />
provinham da miséria, filhas ou viúvas <strong>de</strong> gente pobre, vítimas <strong>de</strong> abandonos, estupros ou violações; no<br />
Brasil eram tudo isso, e também geralmente índias, negras, mulatas, mamelucas. Daí a generalização do<br />
concubinato. Para Vainfas, <strong>em</strong> sua maioria o concubinato entre nós resultou do colonialismo, da<br />
escravidão e do racismo, a estimular<strong>em</strong> transitorieda<strong>de</strong>, pobreza, sujeição e múltiplas barreiras sociais<br />
impeditivas do casamento ou <strong>de</strong> uniões duradouras. (VAINFAS, 1997).<br />
11
Resta saber qu<strong>em</strong> eram esses homens e mulheres livres e forros que contraíram<br />
matrimônio com escravos. Para tanto levantamos as informações contidas <strong>em</strong> todos os<br />
80 registros <strong>de</strong> casamentos mistos envolvendo escravos realizados naquela paróquia.<br />
Inicialmente <strong>de</strong>staque-se que, entre os noivos, apenas 23 (28%) não eram<br />
nascidos na freguesia e <strong>de</strong>pois vila e cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São José dos Pinhais; entre as noivas,<br />
apenas 12 (15%). Portanto, po<strong>de</strong>-se supor que boa parte <strong>de</strong>ssas uniões tenham tido<br />
orig<strong>em</strong> na convivência e contato entre pais e/ou parentes dos cônjuges, seja por<br />
vizinhança ou amiza<strong>de</strong> ou mesmo relação <strong>de</strong> parentesco: dos registros <strong>de</strong> casamento<br />
estudados, <strong>em</strong> cinco <strong>de</strong>les fez-se referência à dispensa matrimonial (por afinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
primeiro e segundo graus, <strong>de</strong> segundo grau <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> primeiro grau <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong><br />
por cópula ilícita, <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> ilícita <strong>em</strong> linha transversal no segundo grau e um último<br />
impedimento não explicitado). Finalmente, <strong>em</strong>bora quase nunca os vigários anotass<strong>em</strong> a<br />
cor dos cônjuges, essa documentação revela que, além dos 14 forros, pelo menos 10 dos<br />
cônjuges livres tinham ascen<strong>de</strong>ntes escravos ou ex-escravos, 2 foram administrados e 2<br />
eram expostos — e é provável que esse número seja muito maior.<br />
Para saber mais sobre esses homens e mulheres livres ou libertos casados com<br />
escravos, b<strong>em</strong> como sobre os contextos que propiciaram tais uniões, preten<strong>de</strong>-se<br />
realizar o cruzamento das informações contidas nos registros <strong>de</strong> casamentos com outras<br />
fontes disponíveis. Esse é um procedimento ainda <strong>em</strong> fase <strong>em</strong>brionária, e no presente<br />
texto apresentamos apenas os primeiros resultados.<br />
3.1. Casamentos mistos e re<strong>de</strong>s sociais<br />
Em 6 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1766 casaram-se, na Paróquia <strong>de</strong> São José, Izidoro Soares<br />
da Silva — nascido <strong>em</strong> Paranaguá e filho natural <strong>de</strong> Luzia Soares — com Marianna ,<br />
escrava <strong>de</strong> Nazário Ferreira. Foram test<strong>em</strong>unhas o próprio senhor <strong>de</strong> Marianna e Manoel<br />
Pinto Ribeiro. Consultando-se o Livro <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças da Vila <strong>de</strong> Curitiba, <strong>de</strong> 1765,<br />
<strong>de</strong>scobriu-se que Izidoro, <strong>de</strong> 40 anos, era um agregado no domicílio <strong>de</strong> Nazário Ferreira<br />
(56 anos), casado com Maria Alves da Rocha e com 8 escravos. 13 A outra test<strong>em</strong>unha,<br />
13 Este Livro <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças traz a relação apenas <strong>de</strong> homens (e quando casados consta o nome <strong>de</strong> suas<br />
12
Manoel Pinto Ribeiro, era um vizinho <strong>de</strong> 45 anos, casado com Francisca Xavier <strong>de</strong><br />
Chagas, que possuía um escravo.<br />
Os autos do casamento <strong>de</strong> Izidoro e Marianna nos fornec<strong>em</strong> mais dados sobre o<br />
noivo. Nele consta que sua mãe já era falecida e que não houve registro do seu batismo,<br />
mas obtém licença para casar pois o então pároco <strong>de</strong> Paranaguá habilita como legítima a<br />
<strong>de</strong>claração <strong>de</strong> uma test<strong>em</strong>unha <strong>de</strong> que "haverá posto (...) nove anos pouco mais ou<br />
menos que o Padre Pedro da Silva Pereira o batizou na Igreja Matriz <strong>de</strong>sta vila e que<br />
por ser já muito velho lhe não po<strong>de</strong>m fazer o assento <strong>de</strong> seu batismo e teve por<br />
padrinho a Salvador da Silva e Madrinha a Ignes Soares já <strong>de</strong>funta e que assim o<br />
<strong>de</strong>punha pelo ouvir muitas vezes ao padrinho ser seu afilhado do batismo o<br />
justificante."<br />
Embora socialmente distinguidos, pois que <strong>de</strong> condição jurídica diferente, e muito<br />
provavelmente <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> racial também distinta, Izidoro e Marianna compartilhavam<br />
cotidianamente as mesmas experiências: viviam sob o mesmo teto há pelo menos um<br />
ano, provavelmente enfrentavam juntos a labuta diária e tinham os mesmos amigos —<br />
escravos e agregados da casa e das vizinhanças —, obe<strong>de</strong>ciam a um só "senhor".<br />
Em 19 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1777 uniam-se pelo matrimônio Vicente Francisco e<br />
Antônia, ele, nascido <strong>em</strong> Curitiba e filho <strong>de</strong> Lourenço <strong>de</strong> Siqueira e <strong>de</strong> Tomázia<br />
Francisca, ela, nascida <strong>em</strong> São José, escrava <strong>de</strong> Manoel Gonçalves Padilha e filha natural<br />
da falecida Maria, escrava <strong>de</strong> Manoel Correia <strong>de</strong> Castro. Foram test<strong>em</strong>unhas o senhor da<br />
noiva e Diogo Bueno Barbosa, ambos da freguesia. Os autos do casamento dos dois<br />
reproduz<strong>em</strong> os registros <strong>de</strong> seus batismos, e assim fica-se sabendo que Antônia nasceu<br />
<strong>em</strong> 16 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1759, como escrava <strong>de</strong> Manoel Correia <strong>de</strong> Castro. Vicente era mais<br />
velho — nasceu <strong>em</strong> 1. o <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1755 — e tinha ascendência indígena, pois consta<br />
no registro que seus pais eram administrados <strong>de</strong> Miguel Francisco. Um dos padrinhos <strong>de</strong><br />
batismo <strong>de</strong> Vicente foi o Capitão Amador Bueno da Rocha.<br />
Graças a um processo-crime <strong>de</strong> 1757 po<strong>de</strong>mos supor que Vicente e Antônia<br />
conheciam-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra infância. Nele, Amador Bueno da Rocha e Manoel<br />
Correia <strong>de</strong> Castro aparec<strong>em</strong> entre os vários <strong>de</strong>nunciados, acusados <strong>de</strong> ocultação <strong>de</strong><br />
parentesco <strong>de</strong> consangüinida<strong>de</strong> <strong>em</strong> 4. o grau entre João da Silva <strong>de</strong> Abreu e Luzia <strong>de</strong><br />
esposas). Assim, com exceção das esposas, as mulheres resi<strong>de</strong>ntes não estão listadas, e portanto não é<br />
13
Morais Castro, cujo casamento fora realizado naquele mesmo ano. Manoel Correia <strong>de</strong><br />
Castro era o pai da noiva e Amador Bueno da Rocha fora uma das test<strong>em</strong>unhas do<br />
casamento. Mais que isso, eles eram cunhados: segundo um dos <strong>de</strong>poentes no processo,<br />
a esposa <strong>de</strong> Manoel, Escolástica Rodrigues do Prado, era irmã <strong>de</strong> Amador Bueno da<br />
Rocha.<br />
Vicente era, portanto, afilhado do irmão da senhora <strong>de</strong> Maria e sua filha Antônia.<br />
E n<strong>em</strong> mesmo a morte da mãe e a transferência da proprieda<strong>de</strong> da filha para Manoel<br />
Gonçalves Padilha <strong>de</strong>ram fim a uma relação que resultou <strong>em</strong> casamento. Po<strong>de</strong>-se<br />
imaginar, igualmente, que os vínculos <strong>de</strong> Vicente com o padrinho foss<strong>em</strong> b<strong>em</strong> estreitos,<br />
pois Diogo Bueno Barbosa, a outra test<strong>em</strong>unha do casamento, po<strong>de</strong> muito b<strong>em</strong> ser<br />
parente <strong>de</strong> Amador Bueno da Rocha. Mais do que convivência cotidiana, t<strong>em</strong>os aqui<br />
indícios <strong>de</strong> laços <strong>de</strong> parentesco <strong>de</strong> famílias livres que envolviam seus escravos e<br />
administrados.<br />
Em 16 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1779 casaram-se Joaquim Antônio Barbosa, nascido <strong>em</strong><br />
Paranaguá, e freguês <strong>de</strong> São José — filho natural <strong>de</strong> Mariana, forra administrada que foi<br />
<strong>de</strong> José <strong>de</strong> Aguiar, já falecido, natural da freguesia <strong>de</strong> São José — com Quitéria, nascida<br />
na freguesia — escrava do Capitão-mor Antônio <strong>de</strong> Souza Pereira, filha <strong>de</strong> Miguel e <strong>de</strong><br />
Catharina, já falecidos, escravos <strong>de</strong> Rosa Maria Gue<strong>de</strong>s, todos fregueses <strong>de</strong>sta freguesia.<br />
Foram test<strong>em</strong>unhas Sirino Dias Castilho, casado, e Paulo, solteiro, escravo <strong>de</strong> Antônio<br />
Bueno, ambos <strong>de</strong> São José dos Pinhais.<br />
Os autos <strong>de</strong>ste casamento também foram localizados, e sua leitura revelou<br />
informações <strong>de</strong> múltiplos interesses. A começar pelo teor do registro <strong>de</strong> batismo <strong>de</strong><br />
Quitéria. Ela nasceu <strong>em</strong> 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1760, e sua mãe era <strong>de</strong> nação Angola. Os pais, e<br />
portanto também ela, eram por então proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Felipe Pereira Magalhães (marido<br />
<strong>de</strong> Rosa Maria Gue<strong>de</strong>s). 14 Os padrinhos do batismo foram Mariana, <strong>de</strong> nação Angola,<br />
escrava <strong>de</strong> João Bastos Coimbra (genro <strong>de</strong> Felipe Pereira Magalhães e Rosa Maria<br />
Gue<strong>de</strong>s) 15 e Paulo, solteiro, também <strong>de</strong> nação Angola, escravo <strong>de</strong> Amador Bueno da<br />
Rocha (também parente, <strong>em</strong>bora mais longínquo). 16 Tais informações revelam a<br />
possível saber da presença <strong>de</strong> filhas, irmãs, sobrinhas e outras agregadas, parentes ou não.<br />
14 Segundo genealogia do Professor Hélio Rocha)<br />
15 I<strong>de</strong>m<br />
16 I<strong>de</strong>m<br />
14
existência <strong>de</strong> uma teia <strong>de</strong> relações ligando escravos <strong>de</strong> senhores aparentados, e também<br />
<strong>de</strong> uma certa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> étnica entre eles, já que uma mãe Angola convida africanos <strong>de</strong><br />
sua etnia para o batismo da filha (todos eles po<strong>de</strong>m, inclusive, ter sido comprados pela<br />
família numa mesma leva <strong>de</strong> africanos recém-chegados). E o fato <strong>de</strong> que o Paulo Angola<br />
que batizou Quitéria possa ser o mesmo que test<strong>em</strong>unhou seu casamento (já que Antônio<br />
Bueno era filho <strong>de</strong> Amador Bueno da Rocha), 17 indica a reiteração, no t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> um<br />
parentesco espiritual ligando escravos, b<strong>em</strong> como a valorização dos sacramentos cristãos<br />
por parte <strong>de</strong>sses africanos.<br />
A polêmica acerca do batismo <strong>de</strong> Joaquim Antônio Barbosa, que ocupa boa parte<br />
dos autos <strong>de</strong>sse casamento, po<strong>de</strong> igualmente apontar para questões <strong>de</strong> relevo. Como não<br />
constava registro do batismo <strong>de</strong> Joaquim <strong>em</strong> Paranaguá, as test<strong>em</strong>unhas <strong>de</strong>clararam que<br />
ele fora efetivamente batizado, e que a falta do registro teria sido produto da negligência<br />
do pároco da época. Declaram ainda que aos 3 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais ou menos, Joaquim<br />
mudou-se para São José, e que estaria no momento com 18 ou 19 anos — ou seja, teria<br />
vindo para São José por volta <strong>de</strong> 1763. De fato, no Livro <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças <strong>de</strong> 1765 consta,<br />
na freguesia <strong>de</strong> São José, o domicílio <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Aguiar, com 60 anos por então, casado<br />
com Izabel Veiga da Silva, e mantendo quatro agregados: Manoel (23 anos), Francisco<br />
(15), Joaquim (5) e Victorino (1). É praticamente certo que esse Joaquim <strong>de</strong> 5 anos seja<br />
o mesmo Joaquim Antônio Barbosa que ocupa nossas atenções.<br />
Se esse batismo <strong>em</strong> Paranaguá ocorreu realmente já não importa agora. Mais vale<br />
atentar para o fato <strong>de</strong> que esses test<strong>em</strong>unhos, além <strong>de</strong> apontar<strong>em</strong> para a manutenção <strong>de</strong><br />
laços <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência entre a mãe <strong>de</strong> Joaquim e seu antigo senhor, indica que essa<br />
<strong>de</strong>pendência esten<strong>de</strong>u-se ao filho livre, muito provavelmente até a morte <strong>de</strong> Aguiar —<br />
uma vez que uma das test<strong>em</strong>unhas dos autos informa que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 3 anos Joaquim viveu<br />
s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> São José, saindo da vila somente uma vez, "numa leva <strong>de</strong> soldados para<br />
Santos e sua ausência não se <strong>de</strong>morou senão cinco meses". Apenas mais uma<br />
observação: <strong>de</strong>ntre essas test<strong>em</strong>unhas estava Antônio <strong>de</strong> Souza Pereira, zeloso senhor<br />
17 No Livro <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>nanças <strong>de</strong> 1765 constam Antonio Bueno, com 17 anos, e Manoel rocha, <strong>de</strong> 20 anos,<br />
filhos <strong>de</strong> Amador Bueno, então viuvo, com 66 anos. Na lista nominativa <strong>de</strong> São José dos Pinhais, <strong>de</strong><br />
1783, Antônio Bueno da Rocha, agora com 37 anos, aparece casado com Veríssima <strong>de</strong> Veja, 28 anos,<br />
com uma filha <strong>de</strong> 2 anos, Maria, o filho João, <strong>de</strong> 13 anos, e ainda com 2 escravos.<br />
15
<strong>em</strong>penhado na legalização da união matrimonial <strong>de</strong> Quitéria e Joaquim, talvez <strong>de</strong> olho<br />
nos serviços <strong>de</strong>sse agregado que, com a morte <strong>de</strong> Aguiar, tornou-se um <strong>de</strong>sgarrado.<br />
3.2. Casamentos mistos, arranjos domiciliares e <strong>de</strong>stinos pessoais<br />
Nada sab<strong>em</strong>os sobre o <strong>de</strong>stino dos casais Izidoro e Marianna, Vicente Francisco<br />
e Antônia, Joaquim Antônio Barbosa e Quitéria. Na lista <strong>de</strong> habitantes da Freguesia <strong>de</strong><br />
São José <strong>de</strong> 1783, uma das poucas que até o momento se teve t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> manipular, não<br />
há qualquer registro <strong>de</strong>les. E <strong>em</strong>bora nela tenha-se encontrado a anotação dos domicílios<br />
<strong>de</strong> Nazário Ferreira (senhor <strong>de</strong> Marianna) e <strong>de</strong> Manoel Gonçalves Padilha (senhor <strong>de</strong><br />
Antônia), não é possível saber se as duas estão entre seus escravos (10 no domicílio <strong>de</strong><br />
Nazário e 2 no <strong>de</strong> Padilha), pois por esta época as listas apenas quantificavam os cativos<br />
por domicílio, s<strong>em</strong> especificar nomes, sexo ou ida<strong>de</strong>. Já se pô<strong>de</strong>, porém, levantar<br />
algumas notícias sobre os cônjuges <strong>de</strong> outros casamentos mistos.<br />
Em agosto <strong>de</strong> 1783 casaram-se Antônio e Gertru<strong>de</strong>s L<strong>em</strong>e. Ele era viúvo, e<br />
escravo <strong>de</strong> Paulo da Rocha; ela era filha <strong>de</strong> Gregório L<strong>em</strong>e e Domingas do Rosário.<br />
Consultando a lista nominativa <strong>de</strong> 1783 fica-se sabendo que o pai <strong>de</strong> Gertru<strong>de</strong>s era um<br />
forro <strong>de</strong> 60 anos, e que a mãe, Domingas do Rosário, já havia falecido. Gertru<strong>de</strong>s, então<br />
com 14 anos, vivia na companhia do pai e das irmãs Izabel (<strong>de</strong> 25 anos) e Maria (<strong>de</strong> 10<br />
anos). Quatorze anos <strong>de</strong>pois Gertru<strong>de</strong>s encontrava-se vivendo como agregada no<br />
domicílio <strong>de</strong> Paulo Rocha, porém s<strong>em</strong> o marido, que po<strong>de</strong> ter falecido: no domicílio<br />
estão arrolados somente Paulo Rocha, esposa e 4 filhos, e os escravos Antônio (<strong>de</strong> 7<br />
anos), José (<strong>de</strong> 18 anos), Manoel (<strong>de</strong> 5 anos), Francisca (<strong>de</strong> 30 anos) e Catharina (<strong>de</strong> 6<br />
anos). Como agregada aparece também Izabel, <strong>de</strong> 5 anos, que b<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser filha <strong>de</strong><br />
Gertru<strong>de</strong>s.<br />
João Coelho, hom<strong>em</strong> livre natural da Vila <strong>de</strong> Sorocaba, casou-se <strong>em</strong> São José<br />
dos Pinhais <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1823 com a escrava Brízida, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Anna <strong>de</strong><br />
Oliveira Menezes. Nove anos <strong>de</strong>pois, e então com 25 anos, Brízida já está viúva e ainda<br />
vive cativa no domicílio <strong>de</strong> sua senhora — uma fazenda <strong>de</strong> gado e <strong>de</strong> plantação <strong>de</strong> milho,<br />
feijão e erva mate. No domicílio moravam também três filhos <strong>de</strong> Anna Menezes, um<br />
16
<strong>de</strong>les casado e com um filho. É possível que Adão (<strong>de</strong> 10 anos) e Lúcio (<strong>de</strong> 5 anos),<br />
também listados como cativos, sejam os frutos da união <strong>de</strong> João e Brízida.<br />
Em nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1829 Joanna Lopes uniu-se <strong>em</strong> matrimônio ao escravo<br />
Américo. Ele era proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Catharina Teixeira, e Joanna era filha <strong>de</strong> Jerônimo<br />
Lopes e Maria Morato. Na lista nominativa <strong>de</strong> São José, <strong>de</strong> 1836, encontra-se o casal<br />
vivendo no domicílio da senhora <strong>de</strong> Américo. Além <strong>de</strong> Joanna (registrada como preta<br />
livre <strong>de</strong> 26 anos, casada), estão ali agregados as crianças Maria (<strong>de</strong> 7 anos, preta livre),<br />
Mathias (<strong>de</strong> 2 anos, preto livre) e Escolástica (1 ano, preta livre), muito provavelmente<br />
filhos <strong>de</strong> Américo e Joanna. Além <strong>de</strong> Américo, Catharina t<strong>em</strong> mais uma escrava <strong>de</strong> 24<br />
anos.<br />
Estes são casos indicativos <strong>de</strong> que o casamento com um livre muitas vezes <strong>em</strong><br />
nada contribuía para mudanças no status social do escravo, e que o casamento com um<br />
cativo podia arrastar um indivíduo livre para uma situação <strong>de</strong> escravidão informal,<br />
envolvendo-o numa relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e subordinação com o senhor <strong>de</strong> seu cônjuge<br />
(<strong>em</strong>bora não saibamos se João Coelho, marido da escrava Brízida, viveu na casa senhor<br />
<strong>de</strong>sta entre seu casamento e seu falecimento). A historiografia, como se observou antes,<br />
t<strong>em</strong> mesmo enfatizado que os casamentos mistos eram <strong>em</strong> boa parte estratégias<br />
senhoriais para obtenção da mão-<strong>de</strong>-obra dos cônjuges livres e mesmo <strong>de</strong> seus<br />
<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes. Porém, casar com um escravo po<strong>de</strong>ria ser também a garantia <strong>de</strong> um lugar<br />
para viver, ainda que não saibamos das condições <strong>de</strong> vida dos livres Joanna Lopes e João<br />
Coelho antes <strong>de</strong> seus respectivos casamentos.<br />
E além disso, outras histórias são possíveis.<br />
Em junho <strong>de</strong> 1780 casaram-se, na paróquia <strong>de</strong> São José, Lauriano, escravo <strong>de</strong><br />
Joanna Franca Moreira, e Anna Maria <strong>de</strong> Jesus, filha <strong>de</strong> Geraldo da Veiga e <strong>de</strong> Gertru<strong>de</strong>s<br />
Maria, esta última, uma liberta. Três anos <strong>de</strong>pois encontramos Ana, então com 26,<br />
vivendo com o pai, <strong>de</strong> 80 anos, e agora viúvo, e com os irmãos Francisca (20 anos) e<br />
José (9 anos). No domicílio viv<strong>em</strong> ainda os seguintes netos <strong>de</strong> Geraldo da Veiga: Maria<br />
(6 anos), Rita (5 anos) e Custódio (1 ano). De Lauriano não se t<strong>em</strong> notícia, pois não é<br />
possível verificar se foi registrado no fogo <strong>de</strong> sua senhora, visto que esta lista traz<br />
somente a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escravos por domicílio.<br />
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A parda liberta Maria Moreira e o escravo Joaquim, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joaquim<br />
Álvares, casaram-se <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1829. Em 1836 ela aparece na Lista <strong>de</strong> habitantes<br />
<strong>de</strong> São José chefiando o domicílio <strong>de</strong> número <strong>27</strong>: um sítio com produção <strong>de</strong> milho, feijão<br />
e erva. Não sab<strong>em</strong>os se essa proprieda<strong>de</strong> é anterior ao casamento, mas sab<strong>em</strong>os que por<br />
ocasião <strong>de</strong>le Maria já tinha uma família constituída, pois <strong>em</strong> 1836 com ela viviam os<br />
filhos Joaquim (<strong>de</strong> 16 anos) e Maria (<strong>de</strong> 13 anos), portanto nascidos antes <strong>de</strong> 1829 e,<br />
qu<strong>em</strong> sabe, filhos ilegítimos que teve com o próprio Joaquim. No sítio <strong>de</strong> Maria Moreira<br />
viviam também a parda Francisca (30 anos) e duas crianças: José (4 anos) e Maria (3<br />
anos). Nessa mesma lista nominativa, <strong>em</strong> domicílio próximo (número 29), o marido <strong>de</strong><br />
Maria Moreira mantém-se como cativo <strong>de</strong> Joaquim Álvares, ao lado <strong>de</strong> mais 4 escravos e<br />
um agregado<br />
Em maio <strong>de</strong> 1831 uniram-se <strong>em</strong> matrimônio Luciano da Rocha Dantas — filho <strong>de</strong><br />
Ângela, cativa <strong>de</strong> José da Rocha Dantas — e a escrava Joanna, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> José<br />
Teixeira da Cruz. Os noivos foram dispensados <strong>de</strong> impedimento <strong>de</strong> primeiro grau <strong>de</strong><br />
afinida<strong>de</strong> por cópula ilícita. Cinco anos mais tar<strong>de</strong> o casal reaparece, agora formando um<br />
domicílio conjugal. Na lista nominativa <strong>de</strong> 1836 Luciano (com 44 anos, pardo, livre,<br />
sapateiro) aparece como proprietário <strong>de</strong> um sítio e vivendo com a esposa Joanna, então<br />
com 29 anos. Não se faz menção à condição jurídica <strong>de</strong>la.<br />
Desses três últimos casos <strong>de</strong>staco duas questões: a primeira, mais relacionada às<br />
trajetórias <strong>de</strong> Lauriano e Ana Maria e <strong>de</strong> Joaquim e Maria Moreira, refere-se a já antiga<br />
discussão acerca da distinção necessária, quando se manipula listas <strong>de</strong> habitantes, entre<br />
domicílio e família. E mais do que expressar a existência <strong>de</strong> "famílias invisíveis" no<br />
interior dos fogos, ou <strong>de</strong> uma "família extensa invisível" englobando dois ou mais fogos,<br />
esses dois casos falam da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> arranjos conjugais baseados <strong>em</strong><br />
dois domicílios. A segunda questão diz respeito a união <strong>de</strong> Luciano e Joanna: um ótimo<br />
ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> como o casamento com um indivíduo livre podia trabalhar, no Brasil<br />
escravista, <strong>em</strong> favor da ascensão social <strong>de</strong> um escravo. Em cinco anos, a jov<strong>em</strong> cativa<br />
tornou-se a respeitável senhora <strong>de</strong> um sapateiro e proprietário <strong>de</strong> um sítio avaliado <strong>em</strong><br />
100$000, valor mo<strong>de</strong>sto por certo, mas equivalente a meta<strong>de</strong> do valor do sítio <strong>de</strong><br />
Joaquim Álvares, terra que naquele ano garantia o sustento <strong>de</strong> nove pessoas (5 livres e 4<br />
escravos).<br />
18
4. Conclusão: marcas da socieda<strong>de</strong> nas trajetórias individuais<br />
O Brasil escravista po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente ser caracterizado como um meio social<br />
profundamente hierarquizado — pois que se constituiu, <strong>em</strong> sua essência, a partir da<br />
diferenciação entre livres e escravos. Por uma combinação <strong>de</strong> nascimento, raça e<br />
condição socioeconômica, contudo, essa hierarquia comportava, entre o seu topo —<br />
on<strong>de</strong> predominava a população branca <strong>de</strong> cabedais, nascida <strong>em</strong> Portugal — e a sua base<br />
— on<strong>de</strong> estava a população <strong>de</strong> escravos africanos —, uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> categorias<br />
intermediárias historicamente construídas, as quais são o mais contun<strong>de</strong>nte test<strong>em</strong>unho<br />
da complexida<strong>de</strong> das relações que envolviam livres e escravos, e <strong>de</strong> que as categorias<br />
"livre" e "escravo" eram (e precisavam ser) a todo momento re<strong>de</strong>finidas.<br />
Acredito que o intensivo e minucioso acompanhamento <strong>de</strong> trajetórias <strong>de</strong><br />
indivíduos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que realizado <strong>de</strong> modo a resgatar as relações e interações por eles<br />
efetivadas, seja uma seara potencialmente fecunda para se chegar ao estabelecimento <strong>de</strong><br />
padrões explicativos que espelh<strong>em</strong> mais a complexida<strong>de</strong> da vida social no Brasil<br />
escravista. Nesse intento, reputo como especialmente estratégica a atenção ao casamento<br />
e ao concubinato entre "<strong>de</strong>siguais", pois que, no Brasil escravista e tri<strong>de</strong>ntino, são atos a<br />
partir dos quais se inscreve nos indivíduos algumas das principais marcas <strong>de</strong> distinção: <strong>de</strong><br />
legítimo ou ilegítimo, <strong>de</strong> mestiço (<strong>em</strong> suas diversas e também hierarquizadas<br />
combinações) e <strong>de</strong> livre ou escravo.<br />
Se é certo que nossa pesquisa acerca da trajetória <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssas e <strong>de</strong> outras<br />
pessoas ainda está dando os seus primeiros passos, que inúmeros documentos precisam<br />
ser consultados e suas informações cruzadas <strong>de</strong> modo a fazer <strong>em</strong>ergir uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
contextos e <strong>de</strong> experiências individuais, é igualmente certo, porém, que o levantamento<br />
até aqui efetuado já permitiu o início <strong>de</strong> um movimento <strong>em</strong> direção à experiência<br />
coletiva. As histórias <strong>de</strong>sses nove casamentos — incompletas, fragmentadas — a meu<br />
ver já se constitu<strong>em</strong> como os primeiros traços do <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma intrincada re<strong>de</strong> na qual<br />
se cruzam e se interligam laços <strong>de</strong> subordinação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, relações familiares,<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s sociais e étnicas, estratégias <strong>de</strong> sobrevivência e <strong>de</strong> ascensão social.<br />
19
O mais importante, contudo, é que tais laços, relações, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e estratégias,<br />
<strong>em</strong> função da forma como pu<strong>de</strong>ram ser observadas, já tornam também possível, me<br />
parece, realizar um esboço dos contextos <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>senvolveram. Em primeiro lugar<br />
<strong>de</strong>staque-se que, nesse meio social on<strong>de</strong> mesmo os indivíduos mais b<strong>em</strong> posicionados<br />
são senhores <strong>de</strong> poucos escravos, casar seus cativos com pessoas livres podia realmente<br />
ser uma das muitas estratégias possíveis para arregimentar mão-<strong>de</strong>-obra. Da mesma<br />
forma, unir-se a um escravo po<strong>de</strong>ria ser uma das opções para o indivíduo livre s<strong>em</strong> eira<br />
n<strong>em</strong> beira garantir sua sobrevivência. Porém, os casos aqui analisados apresentam,<br />
igualmente, indícios <strong>de</strong> que a relação pautada <strong>em</strong> interesses estritamente econômicos diz<br />
muito pouco <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong>. O que neles se entrevê é a vigência <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
tipo <strong>de</strong> relacionamento político entre diferentes grupos sociais, caracterizado por<br />
<strong>de</strong>senvolver-se no âmbito das relações pessoais e, principalmente, por incorporar um<br />
espectro social b<strong>em</strong> mais amplo do que aquele formado por senhores e escravos. E tais<br />
casamentos parec<strong>em</strong> ter funcionado como um dos mecanismos, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>de</strong><br />
produção e reiteração <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> relacionamento. A união <strong>de</strong> Joaquim Barbosa e<br />
Quitéria induz-nos, ainda, a imaginar que essa "cultura relacional" estava presente<br />
mesmo no interior do grupo escravo, inclusive do africano.<br />
Finalmente, o estudo permitiu inferir que a vigência da escravidão e <strong>de</strong> uniões<br />
mistas aponta para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência — mais ou menos relevante do ponto <strong>de</strong><br />
vista quantitativo, <strong>de</strong> acordo ao meio <strong>em</strong> que nos <strong>de</strong>bruçamos — <strong>de</strong> famílias conjugais<br />
perpassando dois fogos. Nesse sentido, não somente traz à tona a distinção necessária<br />
entre domicílio e família, como observou-se antes, como po<strong>de</strong> renovar o <strong>de</strong>bate acerca<br />
dos domicílios chefiados por mulheres aparent<strong>em</strong>ente sozinhas.<br />
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Listas <strong>de</strong> Habitantes da Freguesia <strong>de</strong> São José dos Pinhais <strong>de</strong> 1783, 1797, digitado (CEDOPE - UFPR).<br />
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Listas <strong>de</strong> Habitantes da Freguesia <strong>de</strong> São José dos Pinhais <strong>de</strong> 1798 e 1836, fotocópia (CEDOPE - UFPR_<br />
Autos <strong>de</strong> casamentos <strong>de</strong> 1766, 1777 E 1779, microfilmes (CEDOPE - UFPR)<br />
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