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RESUMOS ACAFE 2012 - Escola Apoio

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"É proibido pisar na grama"<br />

(Chacal)<br />

O jeito é deitar e rolar<br />

"As aparências revelam"<br />

(Cacaso)<br />

Afirma uma Firma que o Brasil<br />

confirma: "Vamos substituir o<br />

Café pelo Aço".<br />

Vai ser duríssimo descondicionar o<br />

paladar<br />

Não há na violência<br />

que a linguagem imita<br />

algo da violência<br />

propriamente dita?<br />

PARTE 4 - "A vida que para" - poemas centrados em instantes, momentos fugazes nos quais se faz sentir a<br />

capacidade de o autor registrar, poeticamente, os resultados do acaso, uma descoberta ou ainda uma nova forma de<br />

enxergar o mundo.<br />

"Como abater uma nuvem a tiros"<br />

(Paulo Leminski)<br />

Sirenes, bares em chamas,<br />

carros se chocando,<br />

a noite me chama,<br />

a coisa escrita em sangue<br />

nas paredes das danceterias<br />

e dos hospitais,<br />

os poemas incompletos<br />

e o vermelho sempre verde dos sinais<br />

"Ulisses"<br />

(Francisco Alvim)<br />

O búzio junto ao ouvido<br />

ouço o mar<br />

O mar: apenas<br />

quarteirão e meio de onde moro<br />

Prefiro ouvi-lo no búzio<br />

(calmo, calmo)<br />

No quarto<br />

(a vida que para)<br />

ouço o mar<br />

(Paulo Leminski)<br />

Sombras<br />

derrubam<br />

sombras<br />

quando a treva<br />

está madura<br />

sombras<br />

Um poema curtíssimo, telegráfico, na melhor tradição da poesia modernista<br />

de Oswald de Andrade e do Modernismo brasileiro de primeira fase<br />

(1922/1930), defende a revolução, o sentimento de subversão, a<br />

desobediência civil de uma forma bem-humorada, ironizando as regras<br />

impostas e, sobretudo, rebelando-se contra uma ordem estabelecida.<br />

Neste poema, a revelação do processo de industrialização por que<br />

passava o Brasil agrário de final da década de sessenta para o Brasil<br />

urbano e industrial que surgia à época dessas publicações. Perceba-se<br />

que o poema trata da dificuldade de "descondicionar" um paladar<br />

habituado ao mato e à natureza, preconizando a violência que tal<br />

processo demanda. O poema, na sua linguagem, ressalta o caráter<br />

violento incorporado pela linguagem ela mesma, encarregada de<br />

traduzir esses processos, sempre tão dolorosos.<br />

Uma pincelada descritiva retrata a noite urbana, repleta de símbolos<br />

daquilo que é passageiro - sirenes, acidentes de trânsito etc. - e o<br />

eu lírico que cede ao chamado noturno. Ressalte-se a referência à<br />

poesia como forma de gravar aquilo que é efêmero, aquilo que<br />

passa, ideia que aparece no verso "os poemas incompletos".<br />

Nessa noite de caos e velocidade, ninguém respeita qualquer sinal,<br />

o semáforo está sempre verde para a urgência da vida noturna.<br />

Este é um dos raros poemas que referem a natureza. No entanto, percebase<br />

que o eu lírico, que escuta o mar pelo som de uma concha, opta por ouvilo<br />

dessa forma artificial, ainda que ele lhe seja próximo ('quarteirão e meio<br />

de onde moro'). Dessa forma, o eu lírico escolhe um 'mar seguro', contido<br />

pelas paredes do quarto, como que para recolher este instante e guardá-lo<br />

'(a vida que para)'. Além disso, cabe ressaltar que o navegante "Ulisses" é<br />

protagonista de um belo poema-épico grego. Dessa forma, a poesia<br />

marginal reverencia a tradição clássica.<br />

Centrado no anoitecer, quando a sombra da noite apaga as possíveis<br />

sombras produzidas sob a luz do sol, este poema resgata justamente o<br />

crepúsculo, o declínio do dia tragado pela noite que tudo absorve, como um<br />

vento que a tudo carrega, e que assinala a efemeridade, o caráter passageiro<br />

de todas as coisas.<br />

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