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Ilustração: Alfredo de Barros<br />
É tudo sempre tão igual. Será?<br />
Os ponteiros do relógio correm invariavelmente para o mesmo lado, num ritmo inalterado, sem direito<br />
a desvios, paradas ou contrapés. Cada segundo parece sufocar as cobiças e a cada minuto mais<br />
um desejo é sepultado. São assim que as badaladas marcam as horas, compassam os dias e findam os<br />
anos. Nada é contemporâneo, no máximo, inventismo requentado. O que se vê agorinha pipocando<br />
nas passarelas das semanas de moda é o mesmo que já deu pinta em décadas atrás: ombreiras destoantes,<br />
alfaiataria desconstruída, cintura marcada, vazados aqui e acolá, preto sobre branco, branco<br />
sobre preto e um dicionário capaz de denominar centenas de cores idênticas. Se o enredo fashion confunde<br />
com seus tons de cereja, rouge, carmim, rosa intenso, vermelho queimado, ferrugem e rubi, em<br />
passadas paralelas, desalinhadas aos avisos do Cuco, a bossa é nova. Enquanto a maioria dos estilistas<br />
brasucas renega a alta-costura (por medo das agulhadas!), nosso editor de estilo Ray Mendel se joga<br />
de corpo e alma nos moldes alongados e esvoaçantes. A pitada fresh vem com a escolha dos tecidos<br />
e das estampas grafitadas com o melhor da arte marginal. No ponto seguinte, os tesouros privativos<br />
revelam a elegância vista em proporções distintas. Da dona de casa estilosa às garotas de programa e<br />
as candidatas à santa, nos lambuzamos com carne de primeira e depois ancoramos entre as polaroides<br />
de Andy Warhol, o profeta dos quinze minutinhos de fama, as obras contundentes de Basquiat e JGor,<br />
e os caldeirões em ponto de ebulição das saunas. Fim de papo – está aí mais uma edição que veio pra<br />
provar que é possível transformar conceitos sem se refestelar no óbvio.<br />
sans nom