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A leitura infanto-juvenil na formação do leitor e cidadão crítico ...

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1<br />

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOÍAS<br />

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE MORRINHOS<br />

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS<br />

ANA FLÁVIA DE OLIVEIRA<br />

LILLIANE RODRIGUES DA SILVA<br />

MONOGRAFIA<br />

A LEITURA INFANTO-JUVENIL NA FORMAÇÃO DO<br />

LEITOR E CIDADÃO CRÍTICO<br />

Morrinhos<br />

2008


Oliveira, A<strong>na</strong> Flávia de.<br />

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2<br />

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS - UEG<br />

Biblioteca Professor Sebastião França<br />

Ficha Catalográfica <strong>na</strong> Fonte<br />

A <strong>leitura</strong> <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> e <strong>cidadão</strong> <strong>crítico</strong>. A<strong>na</strong> Flávia de Oliveira, Lilliane<br />

Rodrigues da Silva. Morrinhos, 2008.<br />

49 f.<br />

Trabalho de conclusão de curso apresenta<strong>do</strong> à Universidade Estadual de Goiás – UEG, Unidade<br />

de Morrinhos como requisito parcial para a obtenção <strong>do</strong> grau de Licencia<strong>do</strong> no Curso de Licenciatura<br />

Ple<strong>na</strong> em Letras.<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Professor Doutor Ewerton de Freitas Ignácio.<br />

1. Literatura <strong>infanto</strong> <strong>juvenil</strong>. 2. Crítica. 3. Trabalho de Conclusão de Curso. 4. TCC. I. Silva, Lilliane<br />

Rodrigues da.<br />

CDU: 82-93:37.02<br />

CUTTER: O48l


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3<br />

ANA FLÁVIA DE OLIVEIRA<br />

LILLIANE RODRIGUES DA SILVA<br />

A LEITURA INFANTO-JUVENIL NA FORMAÇÃO DO<br />

LEITOR E CIDADÃO CRÍTICO<br />

Morrinhos<br />

2008<br />

Trabalho de Conclusão de Curso<br />

apresenta<strong>do</strong> ao Departamento de Letras,<br />

da Universidade Estadual de Goiás –<br />

Unidade de Morrinhos, como requisito<br />

parcial à obtenção de grau de Licenciatura<br />

Ple<strong>na</strong> em Português e inglês e respectivas<br />

literaturas, sob a orientação <strong>do</strong> Professor<br />

Doutor Ewerton de Freitas Ignácio.


FOLHA DE APROVAÇÃO<br />

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4<br />

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE<br />

GRADUAÇÃO EM LETRAS PORTUGUÊS E INGLÊS E SUAS RESPECTIVAS<br />

LITERATURAS.<br />

DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS – UNIDADE DE MORRINHOS, COMO<br />

PARTE DAS EXIGÊNCIAS NECESSÁRIAS PARA OBTENÇÃO DE TÍTULO DE<br />

GRADUAÇÃO.<br />

Aprovada em _________ de ___________________ de 2008.<br />

Nota obtida _______________.<br />

----------------------------------------------------------------------------------<br />

Orienta<strong>do</strong>r: Professor Doutor Ewerton de Freitas Ignácio<br />

----------------------------------------------------------------------------------<br />

Professor Mestre Ro<strong>na</strong>l<strong>do</strong> Elias Borges<br />

------------------------------------------------------------------------------<br />

Professora Especialista Célia Aparecida Ribeiro Rodrigues


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5<br />

SUMÁRIO<br />

INTRODUÇÃO..................................................................................................................10<br />

CAPÍTULO I: A LITERATURA INFANTO-JUVENIL.....................................................14<br />

1.1 A literatura Infanto-Juvenil no contexto escolar............................................................20<br />

1.2 Da escrita e legitimidade da literatura infantil..............................................................22<br />

1.3 Opiniões de autores sobre a literatura Infanto-Juvenil..................................................22<br />

CAPÍTULO II: PERCURSO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />

BRASILEIRA....................................................................................................................25<br />

CAPÍTULO III: DIDÁTICA DA LEITURA DA LITERATURA INFANTO-<br />

JUVENIL..........................................................................................................................31<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................38<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................40<br />

ANEXOS..........................................................................................................................41


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6<br />

Na verdade, acho que as crianças deviam aprender a ler nos livros de Hegel e<br />

em longos trata<strong>do</strong>s de metafísica. Só elas tem a visão adequada à densidade <strong>do</strong><br />

texto, o<br />

gosto pela abstração e tempo disponível para lidar com o infinito. E <strong>na</strong> velhice, com<br />

a<br />

sabe<strong>do</strong>ria acumulada numa vida de <strong>leitura</strong>s, com as letras fican<strong>do</strong> progressivamente<br />

maiores à medida que nossos olhos se cansavam, estaríamos então prontos para<br />

enfrentar o conceito básico de que vovô vê a uva, e viva o vovô.<br />

Toda essa inquietação, nossa perplexidade e nossa busca termi<strong>na</strong>riam <strong>na</strong><br />

resolução deste enigma primordial...<br />

Nosso último livro seria a cartilha. E a nossa última aventura intelectual, a<br />

contemplação enternecida da letra A. Ah o A, com suas grandes per<strong>na</strong>s abertas.<br />

(Luís Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong> Veríssimo)


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7<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Agradecemos primeiramente a Deus, que em sua infinita bondade e sabe<strong>do</strong>ria, guiou os<br />

nossos passos e permitiu que chagássemos até aqui, pois nos proporcionou a chance de<br />

demonstrar a nossa capacidade para a realização deste trabalho que, apesar de árduo, hoje nos<br />

proporcio<strong>na</strong> orgulho. Mais uma vez, agradecemos a nosso professor e amigo Ewerton de<br />

Freitas, que nos orientou para que aqui pudéssemos estar. Agradecemos, ainda, a to<strong>do</strong>s que,<br />

direta ou indiretamente, nos ajudaram para a concretização deste sonho.<br />

A to<strong>do</strong>s, muito obriga<strong>do</strong>!


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8<br />

DEDICATÓRIA<br />

Dedicamos este trabalho àquelas pessoas que, mesmo de longe, estiveram torcen<strong>do</strong> por nós,<br />

avôs, pais, mari<strong>do</strong>, tios, filhos e irmãos que suportaram nossa ausência para que<br />

alcançássemos mais um passo <strong>na</strong> estrada da vida estudantil, agora com muito orgulho<br />

concretizada e com um patamar a mais: a graduação. São eles nossos exemplos de força e<br />

amor.<br />

Nosso eterno amor a to<strong>do</strong>s vocês que, mesmo distantes, mandaram suas energias para que<br />

nosso trabalho fosse revitaliza<strong>do</strong> pela força <strong>do</strong> amor.<br />

A vocês, nossa vitória.


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9<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho tem por fi<strong>na</strong>lidade demonstrar as faces da <strong>leitura</strong>, incluin<strong>do</strong> em nossa<br />

pesquisa aspectos forma<strong>do</strong>res de um indivíduo, que por meio da <strong>leitura</strong>, torne-se critico e<br />

também consciente em relação ao poder da <strong>leitura</strong> e da escrita, usan<strong>do</strong> assim seu poder de<br />

<strong>formação</strong>.<br />

Palavras-chave: Leitura, Literatura Infanto-Juvenil, Crítica.


ABSTRACT<br />

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10<br />

This paper aims to demonstrate the diversity of literature including in our research aspects of<br />

an individual trainer that through reading becomes critical and also aware of the power of<br />

reading and writing, using as their power training.<br />

Key words: Reading, Child and Young Literature, Criticism.


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11<br />

INTRODUÇÃO<br />

Apresentamos o seguinte trabalho não com o intuito de revelar a verdade sobre a<br />

Literatura Infanto-Juvenil, mas, sim, para descrever quão grande é o fascínio causa<strong>do</strong> por<br />

meio da <strong>leitura</strong>, mesmo que seja momentâneo, e lembrar que a Literatura Infanto-Juvenil pode<br />

e deve influenciar <strong>na</strong> <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>cidadão</strong>, seja de forma crítica, social e até mesmo<br />

emocio<strong>na</strong>l.<br />

Em face de uma realidade não muito fomentada <strong>na</strong> <strong>leitura</strong>, em que pais mal<br />

cursaram o 4º ano primário, famílias para as quais a <strong>leitura</strong> não é o principal anseio, mas sim<br />

o alimento de cada dia, faz com que a tarefa torne-se concreta e desafiante, que tor<strong>na</strong>-se cada<br />

vez mais urgente uma nova reflexão sobre a Educação e o Ensino, pois é nessa área que os<br />

novos princípios orde<strong>na</strong><strong>do</strong>res da sociedade serão defini<strong>do</strong>s, equacio<strong>na</strong><strong>do</strong>s e transmiti<strong>do</strong>s a<br />

to<strong>do</strong>s, para que uma nova civilização se construa. Desde os anos 70 e 80, as experiências,<br />

debates e propostas para reformas educacio<strong>na</strong>is vêm se multiplican<strong>do</strong> de maneira<br />

significativa, principalmente no âmbito da Língua e da Literatura. E com especial cunho<br />

polêmico <strong>na</strong> área da Literatura Infanto-Juvenil. Tal pre<strong>do</strong>minância pode até parecer absurda<br />

aos distraí<strong>do</strong>s que ainda não descobriram que a verdadeira evolução de um povo se faz ao<br />

nível da mente, ao nível de consciência de mun<strong>do</strong> que cada um vai assimilan<strong>do</strong> desde a<br />

infância. Ou ainda não descobriram que o caminho essencial para se chegar a esse nível é a<br />

palavra, ou melhor, é a Literatura.<br />

É ao livro, à palavra escrita, que atribuímos a maior responsabilidade <strong>na</strong><br />

<strong>formação</strong> da consciência de mun<strong>do</strong> das crianças e <strong>do</strong>s jovens. Apesar de to<strong>do</strong>s os<br />

prognósticos pessimistas acerca <strong>do</strong> futuro <strong>do</strong> livro (ou melhor, da Literatura), nesta nossa era<br />

de imagem e comunicação instantânea, a verdade é que a palavra literária escrita está mais<br />

viva <strong>do</strong> que nunca. E, segun<strong>do</strong> Paulo Freire em seu livro “A importância <strong>do</strong> ato de ler”,<br />

parece já fora de qualquer dúvida que nenhuma outra forma de ler o mun<strong>do</strong> é tão rica e eficaz<br />

quanto a que a Literatura nos permite.<br />

A Literatura Infanto-Juvenil, nosso principal objeto de estu<strong>do</strong>, é muito complexa<br />

quan<strong>do</strong> partimos para sua conceituação, acreditamos que ela interfere de mo<strong>do</strong> agradável e<br />

diferente em torno de cada indivíduo e que sua <strong>leitura</strong>, no processo de ensino-aprendizagem,<br />

constitui-se de uma fonte para a abertura da <strong>formação</strong> de uma nova mentalidade. Constatamos


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12<br />

sua complexidade ao seguirmos seu percurso histórico, e depararmos com o fato de que, em<br />

suas origens elas surgiram desti<strong>na</strong>das ao público adulto, e com o tempo, através de um<br />

misterioso processo, se transformaram em literatura para pequenos.<br />

Vulgarmente, a expressão Literatura Infanto- Juvenil remete de imediato à idéia<br />

de belos livros colori<strong>do</strong>s desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s à distração e ao prazer das crianças em lê-los, folheá-los,<br />

ou ouvir o enre<strong>do</strong> conta<strong>do</strong> por alguém. Ou, a uma literatura minimizada, adaptada, livre de<br />

dificuldades de linguagem, de digressões ou reflexões que estariam acima da compreensão<br />

infantil. Mas, em essência, sua <strong>na</strong>tureza é a mesma que se desti<strong>na</strong> aos adultos, a diferença está<br />

<strong>na</strong> singularidade determi<strong>na</strong>da pela <strong>na</strong>tureza de seu <strong>leitor</strong>/receptor: a criança.<br />

Drummond, diante dessa constatação, sugere questio<strong>na</strong>mentos <strong>na</strong> tentativa de<br />

descobrir o que existiria origi<strong>na</strong>lmente em tais obras, para que este processo de trans<strong>formação</strong><br />

tenha opera<strong>do</strong>, visto que certas obras passavam a interessar às crianças e outras não. Então,<br />

antes de se conceituarem em Literatura Infantil, os chama<strong>do</strong>s clássicos eram obras da<br />

Literatura Popular (de gente grande), que tinha a intenção de passar determi<strong>na</strong><strong>do</strong>s valores e<br />

padrões a serem respeita<strong>do</strong>s pela comunidade ou incorpora<strong>do</strong>s pelo indivíduo em seu<br />

comportamento, o que dá ao gênero Literatura Infantil existência duvi<strong>do</strong>sa como Drummond<br />

sugere, lembramos também que tal citação será mais uma vez remetida ao presente trabalho<br />

de forma a justificar o porquê de sua presença neste trabalho acadêmico.<br />

Todas essas indagações nos levam, por sua vez, a uma nova indagação: Qual seria<br />

a identidade existente entre a Literatura Popular e a Literatura Infanto- Juvenil para que tal<br />

trans<strong>formação</strong> se tivesse da<strong>do</strong> no processo de construção <strong>do</strong>s valores de uma sociedade (ou<br />

ainda se dê) por meio da <strong>formação</strong> de <strong>leitor</strong>es.<br />

Para tentarmos encontrar os caminhos que levam a esta identidade, dividiremos<br />

este estu<strong>do</strong> em capítulos. No primeiro trataremos sobre as diversas pontes estabelecidas pela<br />

Literatura Popular e Infanto–Juvenil, relacio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o <strong>leitor</strong> com o mun<strong>do</strong> que o cerca e o real<br />

motivo da criação de uma literatura Infanto-Juvenil. No segun<strong>do</strong>, trabalharemos a Trajetória<br />

da literatura Infanto-Juvenil ao longo das décadas e a atuação da Literatura Popular e Infanto–<br />

Juvenil <strong>na</strong> construção <strong>do</strong>s valores de uma sociedade, incluin<strong>do</strong> seu aspecto lúdico-imaginário,<br />

diante da realidade da globalização, sen<strong>do</strong> a literatura uma forma de desenvolvimento da<br />

criticidade <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>. E no terceiro capítulo falaremos, sobre a didática da <strong>leitura</strong> da Literatura<br />

Infanto-Juvenil.


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13<br />

Chegamos a estes tópicos de estu<strong>do</strong>, uma vez que, segun<strong>do</strong> o estudioso René<br />

Húbert, a identidade da Linguagem infantil e Linguagem de gente grande podem estar <strong>na</strong><br />

mentalidade primária de apreender o eu interior ou da realidade exterior (seja o outro, seja o<br />

mun<strong>do</strong>). O sentimento <strong>do</strong> eu (pessoa) pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> sobre a percepção <strong>do</strong> outro (seres ou coisas<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior). Fica claro que esta relação homem <strong>do</strong> povo (mente iletrada) e a criança<br />

(mente imatura) se estabelecem basicamente através da sensibilidade, <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e das<br />

emoções. O conhecimento da realidade tanto para um quanto para o outro, se dá através <strong>do</strong><br />

sensível, <strong>do</strong> emotivo, da intuição, e não através <strong>do</strong> racio<strong>na</strong>l ou da inteligência intelectiva,<br />

como acontece com a mente adulta e culta (alicerçada em fórmulas, teses e resulta<strong>do</strong>s). Em<br />

ambos pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> o pensamento mágico, com sua lógica própria. Daí que o popular e o<br />

infantil se sintam atraí<strong>do</strong>s pelas mesmas realidades.<br />

Dessa forma, toda <strong>leitura</strong> que, consciente ou inconscientemente, se faça em<br />

sintonia com a essencialidade <strong>do</strong> texto li<strong>do</strong>, resultará <strong>na</strong> <strong>formação</strong> de determi<strong>na</strong>da consciência<br />

de mun<strong>do</strong> no espírito <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>; resultará <strong>na</strong> representação de determi<strong>na</strong>da realidade ou valores<br />

que tomam corpo em sua mente. Dessa forma, deduz-se que o poder de propagação de idéias,<br />

padrões ou valores que são inerentes ao fenômeno literário. É, portanto, uma relação que se<br />

estabelece entre o eu e o outro (tu<strong>do</strong> que não seja o próprio eu), que <strong>na</strong>sce a consciência, e<br />

desta resulta o conhecimento. Como nos afirma o pedagogo e psicólogo francês René Hubert,<br />

1957: “a consciência se descobre como relação entre um objeto e um sujeito claramente<br />

distintos um ao outro, opostos um ao outro e, ao mesmo tempo, uni<strong>do</strong>s um ao outro”.<br />

Nosso trabalho também apresentará alguns anexos com o intuito unicamente de<br />

exemplificação e constatação da real opinião que alguns autores tem sobre a literatura Infanto-<br />

Juvenil. Seguiram, como anexos, os seguintes textos: “A história da Leitura no Mun<strong>do</strong><br />

Ocidental” por Roger Chartier e Guglielmo Cavallo que reforça os princípios históricos <strong>do</strong><br />

nosso tema. Já no texto “A liberdade infinita da literatura <strong>juvenil</strong>” de André Forasteri, temos<br />

a discussão <strong>do</strong> que realmente seria um livro <strong>juvenil</strong>, e fi<strong>na</strong>lizan<strong>do</strong>, temos uma entrevista de<br />

opinião com Alberto Manguel, autor da obra “Uma história da <strong>leitura</strong>”, <strong>na</strong> presente<br />

entrevista temos o diálogo <strong>do</strong> escritor responden<strong>do</strong> sobre <strong>leitura</strong>.


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14<br />

I CAPÍTULO<br />

LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />

O presente trabalho e as considerações nele tecidas estão embasadas no livro de<br />

Regi<strong>na</strong> Zilberman e Marisa Lajolo, intitula<strong>do</strong> Literatura infantil brasileira: história e histórias<br />

(1985), obra de que partimos e a qual nos remetemos neste trecho <strong>do</strong> trabalho.<br />

A história da Literatura começa a se delinear no início <strong>do</strong> século XVIII, quan<strong>do</strong> a<br />

criança passa a ser considerada um ser diferente <strong>do</strong> adulto, com necessidades e características<br />

próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida <strong>do</strong>s mais velhos e receber uma educação<br />

especial, que a preparasse para a vida adulta. Antes disso, a criança acompanhava a vida<br />

social <strong>do</strong> adulto, participan<strong>do</strong> também da sua literatura.<br />

As primeiras obras publicadas visan<strong>do</strong> o público infantil apareceram no merca<strong>do</strong><br />

<strong>na</strong> primeira metade <strong>do</strong> século XVIII. Antes disto, ape<strong>na</strong>s durante o classicismo francês, no<br />

século XVII, foram escritas histórias que vieram a ser englobadas como literatura também<br />

apropriada à infância: as Fábulas, de La Fontaine, editadas entre 1668 e 1694, As aventuras<br />

de Telêmaco, de Fénelon, lançadas postumamente, em 1717, e os Contos da Mamãe Gansa,<br />

cujo titulo origi<strong>na</strong>l era Histórias ou <strong>na</strong>rrativas <strong>do</strong> tempo passa<strong>do</strong> com moralidades, que<br />

Charles Perrault publicou em 1697.<br />

A literatura Infanto-Juvenil é um ramo da literatura dedica<strong>do</strong> especialmente às<br />

crianças e jovens a<strong>do</strong>lescentes. Isto inclui histórias fictícias infantis e juvenis, biografias,<br />

novelas, poemas, obras folclóricas ou culturais ou simplesmente obras que contenham e<br />

expliquem fatos da vida real (ex: artes, ciências, matemática e outros).<br />

Zilberman (1985), vem mostrar, em seu texto, que a nossa cultura está ainda muito<br />

impreg<strong>na</strong>da <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> as crianças eram afastadas de to<strong>do</strong>s os<br />

objetos culturais. Os livros não eram produzi<strong>do</strong>s para as crianças, eram como se a infância<br />

não existisse. As crianças eram consideradas como adultos, compartilhan<strong>do</strong> o mesmo espaço<br />

destes. Surge então a necessidade de mudar esse conceito de infância, para que a criança<br />

pudesse ter seu espaço, ser tratada como criança e a afetividade se fizesse mais presente em<br />

sua vida.<br />

Devi<strong>do</strong> à necessidade dessa mudança, foram escritos os primeiros textos para<br />

crianças no fim <strong>do</strong> século XVII e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII. O encontro da literatura com a<br />

escola não aconteceu por acaso, professores e pedagogos escreveram seus textos com uma


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15<br />

intenção educativa e por isso não foi aceita como arte. Essa literatura tinha como objetivo<br />

manter o <strong>do</strong>mínio sobre a criança. As fábulas são um exemplo de <strong>do</strong>mínio desses valores<br />

moralizantes desti<strong>na</strong>das a ilustrar um preconceito, e sua conclusão oferece sempre uma lição e<br />

um julgamento, acentuan<strong>do</strong> os compromissos da literatura infantil com a pedagogia e com a<br />

<strong>do</strong>utri<strong>na</strong>ção que vem desde o início histórico da produção infantil.<br />

A produção de literatura Infanto-Juvenil no Brasil é relativamente recente, ten<strong>do</strong><br />

surgi<strong>do</strong> em mea<strong>do</strong>s da Proclamação da República, perío<strong>do</strong> de grande turbulência política,<br />

econômica e social. O fortalecimento <strong>do</strong> novo governo requeria a imagem de um Brasil em<br />

modernização, no qual se defendia a substituição da mão-de-obra escrava e uma política<br />

econômica que favorecesse a produção cafeeira. O fortalecimento da venda da produção<br />

literária teve maior destaque, pois, houve o favorecimento das camadas médias, consolidan<strong>do</strong><br />

o merca<strong>do</strong> de consumo.<br />

Dessa forma, o consumo de bens, como livros de literatura, refletia o ideal de<br />

escolarização e cultura com os quais essas camadas desejavam se identificar, cujo<br />

representante era a alta burguesia. Assim, entre o fim <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> século XX,<br />

atrela<strong>do</strong> ao processo de urbanização, há o surgimento da literatura Infanto-Juvenil como bem<br />

de consumo das massas urba<strong>na</strong>s.<br />

Foi nesse momento que se percebeu a carência, no merca<strong>do</strong>, de material adequa<strong>do</strong><br />

às crianças brasileiras, pois grande parte das obras Infanto-Juvenis em circulação provinha de<br />

traduções e adaptações de obras estrangeiras que circulavam geralmente em edições<br />

portuguesas, manten<strong>do</strong> grande diferença entre sua produção literária e a realidade das crianças<br />

brasileiras. Em conseqüência, intelectuais, jor<strong>na</strong>listas e professores iniciaram esforços para<br />

produzir livros <strong>infanto</strong>-juvenis para os estudantes, obras que se encarregavam de traduzir os<br />

valores <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is de modernização e patriotismo.<br />

Assim, antes da instituição da Literatura infantil, a criança tinha acesso a uma<br />

literatura diferente. A criança da nobreza era orientada por preceptores e lia geralmente os<br />

grandes clássicos, enquanto que as crianças das classes desprivilegiadas liam ou ouviam as<br />

histórias de cavalaria, de aventuras. As lendas e contos folclóricos formavam uma literatura<br />

de cordel, de grande interesse das classes populares.<br />

Sobre o surgimento da literatura infantil, com a ascensão da burguesia, comenta<br />

Regi<strong>na</strong> Zilberman (1994):


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16<br />

Antes da constituição deste modelo familiar burguês, inexistia uma consideração<br />

especial para com a infância. Essa faixa etária não era percebida como um tempo<br />

diferente, nem o mun<strong>do</strong> da criança como um espaço separa<strong>do</strong>. Pequenos e grandes<br />

compartilhavam <strong>do</strong>s mesmos eventos, porém nenhum laço amoroso especial os<br />

aproximava. A nova valorização da infância gerou maior união familiar, mas<br />

igualmente os meios de controle <strong>do</strong> desenvolvimento intelectual da criança e<br />

manipulação de suas emoções. Literatura Infantil e escola inventada a primeira e<br />

reformada a segunda, são convocadas para cumprir esta missão (1994, p. 15).<br />

Nos livros que fazem referência à história da literatura, encontramos, que além da<br />

literatura considerada universal, podemos citar alguns autores que vão trazen<strong>do</strong> para o mun<strong>do</strong><br />

literário algumas propostas diversificadas são eles: Andersen, Carlo Collodi, Amicis, Lewis<br />

Caroll, J. M. Barrie, Mark Twain, Charles Dickens, Ferenc Mol<strong>na</strong>r.<br />

No Brasil, não foi diferente, a literatura Infanto-Juvenil teve início com obras<br />

pedagógicas e, adaptações de produções portuguesas, demonstran<strong>do</strong> a dependência também<br />

literária em relação às colônias. Essa fase inicial da literatura infantil brasileira é representada<br />

em especial por Carlos Jansen (Contos seletos das mil e uma noites, Robinson Crusoé, As<br />

viagens de Gulliver a terras desconhecidas), Figueire<strong>do</strong> Pimentel (Contos da carochinha),<br />

Coelho Neto e Olavo Bilac (Contos Pátrios) e Tales de Andrade (Saudade).<br />

Estas obras, dentre outras, se identificariam com a intenção <strong>do</strong> novo governo de<br />

legitimar a imagem de um país em modernização e configuravam um instrumento que<br />

traduzia seus ideais <strong>na</strong>scentes de unidade, identidade e modernidade em decorrência da<br />

consolidação <strong>do</strong> Brasil enquanto país independente. Foram estas as condições, dentre outras,<br />

que permitiram o surgimento de uma literatura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista, que exaltava a pátria e criava a<br />

identidade <strong>do</strong> <strong>cidadão</strong> brasileiro. Essa literatura esteve presente <strong>na</strong>s práticas escolares, já que<br />

fazia parte de um projeto ideológico e educativo que vislumbrava, <strong>na</strong> literatura Infanto-<br />

Juvenil, uma oportunidade de inserção <strong>do</strong>s ideais de modernização. Tal sentimento<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista pode ser verifica<strong>do</strong> no seguinte excerto:<br />

“A esta Terra, onde o engenho divino<br />

Esgotou seu poder cria<strong>do</strong>r,<br />

Brasileiros, cantemos um hino,<br />

Hino feito de glória e amor.<br />

Terra ideal, de extensões infinitas,<br />

Cheia de ouro e de amor, Terra ideal,


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17<br />

Que, amorosa e cativa, palpitas,<br />

Ás carícias de um sol tropical.<br />

Pátria amada, onde a luz tanto brilha,<br />

Esplen<strong>do</strong>res são tantos os teus<br />

Que és a maior maravilha<br />

Das que existem criadas por Deus”.<br />

(“Hino à Pátria” – Francisca Júlia-1912)<br />

Por meio desse trecho, podemos verificar uma literatura <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lista que exalta a<br />

pátria brasileira, constituin<strong>do</strong> um grande instrumento para a valorização <strong>do</strong> sentimento<br />

<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.<br />

O incentivo ao civismo contribuiu, por um la<strong>do</strong>, para a constituição e<br />

desenvolvimento da literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> como gênero, garantin<strong>do</strong> sua perpetuação. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, também contribuiu para mantê-la dentro de um conserva<strong>do</strong>rismo contraditório, no<br />

qual permaneceu por muito tempo.<br />

Devi<strong>do</strong> ao aumento das classes populares <strong>na</strong> escola e, conseqüentemente, ao<br />

aumento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> livro <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> com função didática, houve, <strong>na</strong> década de 20, uma<br />

grande produção de obras de literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong>. Mas, como essa produção de obras de<br />

literatura tinha por fi<strong>na</strong>lidade somente didática <strong>do</strong> livro o Esta<strong>do</strong> controlava sua produção, o<br />

que significa que os textos se prendiam, quase que exclusivamente, aos conteú<strong>do</strong>s escolares,<br />

ou seja, o livro ofereci<strong>do</strong> pelo Esta<strong>do</strong> era uma forma de repressão às pessoas que detinham um<br />

gênero contesta<strong>do</strong>r.<br />

Quase toda obra literária infantil possui algumas características em comum, embora exceções<br />

existam:<br />

• Ausência de temas adultos ou não apropria<strong>do</strong>s a crianças. Isto inclui guerras, crimes<br />

hedion<strong>do</strong>s e drogas, por exemplo;<br />

• São textos relativamente curtos – não possuem mais <strong>do</strong> que 80 a 100 pági<strong>na</strong>s;<br />

• Presença de estímulos visuais (cores, imagens, fotos, etc.)<br />

• Escrito em uma linguagem simples, apresentan<strong>do</strong> um fato ou uma historia de maneira<br />

clara;


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18<br />

• São de caráter didático, ensi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> ao jovem <strong>leitor</strong> regras da sociedade ou<br />

comportamentos sociais;<br />

No caso de obras fictícias (novela, histórias):<br />

• Possuem mais diálogos e diferentes acontecimentos, com poucas descrições;<br />

• Crianças são os principais perso<strong>na</strong>gens da história;<br />

• Normalmente possuem um fi<strong>na</strong>l feliz.<br />

A literatura <strong>juvenil</strong> é um ramo da literatura dedicada a <strong>leitor</strong>es entre dez e quinze anos de<br />

idade. Fatos comuns a obras literárias juvenis em geral incluem:<br />

• Geralmente, apresentam temas de interesse ao jovem a<strong>do</strong>lescente, controversos, como<br />

sexo, violência, drogas, relacio<strong>na</strong>mentos amorosos, etc;<br />

• Perso<strong>na</strong>gens, especialmente protagonistas, da mesma faixa etária <strong>do</strong>s <strong>leitor</strong>es;<br />

• Podem possuir imagens e fotos, mas não necessariamente; são basicamente<br />

constituídas de texto;<br />

• Obras literárias juvenis geralmente apresentam um número maior de pági<strong>na</strong>s, poden<strong>do</strong><br />

alcançar 200 a 300 pági<strong>na</strong>s em vários casos;<br />

Ela denota a forma de expressão das experiências huma<strong>na</strong>s objetivan<strong>do</strong> um<br />

público muito específico e difícil de agradar. O público-alvo da literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> são<br />

<strong>leitor</strong>es em <strong>formação</strong>, crianças, pré-a<strong>do</strong>lescentes e jovens em idade escolar. Como sabemos,<br />

as crianças e jovens são extremamente <strong>crítico</strong>s e verdadeiros. Dentro de sua espontaneidade,<br />

eles não titubeiam ao elogiar ou criticar um novo livro. A literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> é um <strong>do</strong>s<br />

maiores instrumentos de conscientização desse grupo ainda imaturo, mas evidentemente<br />

esperto, para perceber os problemas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> moderno. Ela mexe com suas emoções e<br />

sentimentos, e atua diretamente <strong>na</strong> <strong>formação</strong> de conceitos. Um bom livro pode interagir<br />

diretamente <strong>na</strong> assimilação <strong>do</strong> conhecimento e <strong>na</strong> construção da afetividade, elementos<br />

essenciais para a <strong>formação</strong> e desenvolvimento <strong>do</strong> ser humano e sua promoção social. Sobre<br />

isso, Fanny Abramovich (1994) afirma:<br />

Querer saber de to<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> o processo que acontece <strong>do</strong> <strong>na</strong>scimento, até a morte,<br />

faz parte da curiosidade <strong>na</strong>tural da criança, pois se trata da vida em geral e da sua<br />

própria em particular... Saber sobre seu corpo, sua sexualidade, seus problemas de<br />

crescimento, sua relação (fácil ou dificultosa) com os outros faz parte <strong>do</strong> seu


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19<br />

perguntar sobre si mesma e <strong>do</strong> precisar encontrar respostas... Querer discutir<br />

relações familiares fáceis/ difíceis/ conflituadas/ dispersivas/ gregárias/ simpáticas<br />

etc., e até a nova estruturação das famílias – nestas décadas quan<strong>do</strong> há tantos<br />

casamentos desfeitos e refeitos – faz parte <strong>do</strong> repertorio indagativo e questio<strong>na</strong><strong>do</strong>r<br />

de toda pessoa... Querer saber mais sobre aflições, tristezas, dificuldades, conflitos<br />

duvidas, sofrências, descobertas, que outros enfrentam, para poder compreender<br />

melhor as suas próprias... Querer se enfronhar mais <strong>na</strong>s questões <strong>do</strong> poder, no jogo<br />

das manipulações políticas, <strong>na</strong>s discussões sobre o mun<strong>do</strong> circundante, faz parte da<br />

curiosidade de qualquer um que veja o noticiário da TV ou escute o <strong>do</strong> rádio ou leia<br />

jor<strong>na</strong>l... (1994, p.98)<br />

Dentre os grandes autores, estão Ruth Rocha, Ziral<strong>do</strong>, Monteiro Lobato, Maria<br />

Clara Macha<strong>do</strong>, e muitos outros.<br />

1.1 A literatura Infantil no contexto escolar<br />

A literatura Infantil <strong>na</strong> escola é um <strong>do</strong>s grandes avanços pedagógicos, em que o<br />

público-alvo é a criança em <strong>formação</strong>, possibilitan<strong>do</strong> a reflexão, compreensão, refletin<strong>do</strong><br />

assim, de forma decisiva <strong>na</strong> estruturação da própria identidade, em que a criança possa ser<br />

capaz de interagir no contexto social, relatan<strong>do</strong> o seu surgimento e a fi<strong>na</strong>lidade com que foi<br />

introduzida no âmbito escolar.<br />

Mas, além de haver literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> <strong>na</strong> escola, é preciso que o professor<br />

saiba como trabalhar tais textos.<br />

A <strong>leitura</strong> é um meio de propagação de ideologias, responsável pela mudança<br />

social de cada um. Abramovich (1994) assevera:<br />

Ao ler uma história a criança também desenvolve to<strong>do</strong> um potencial <strong>crítico</strong>. A partir<br />

daí ela pode pensar, duvidar, se perguntar, questio<strong>na</strong>r... Pode se sentir inquietada,<br />

cutucada, queren<strong>do</strong> saber mais e melhor ou perceben<strong>do</strong> que se pode mudar de<br />

opinião... E isso não sen<strong>do</strong> feito uma vez ao ano... Mas fazen<strong>do</strong> parte da roti<strong>na</strong><br />

escolar, sen<strong>do</strong> sistematiza<strong>do</strong>, sempre presente – o que não significa trabalhar em<br />

cima dum esquema rígi<strong>do</strong> e ape<strong>na</strong>s repetitivo. (1994, p.143).<br />

Com a inserção da literatura no âmbito escolar temos um instrumento que irá<br />

auxiliar <strong>na</strong> inoculação de normas e valores.


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20<br />

No momento em que nossos pequenos <strong>leitor</strong>es ouvem uma história e<br />

compartilham com o grupo sua opinião e/ou compreensão <strong>do</strong> que foi li<strong>do</strong>, estarão exploran<strong>do</strong><br />

não somente da<strong>do</strong>s da história, mas também suas concepções, vivências, cultura e diferentes<br />

maneiras de pensar. É fundamental que a <strong>leitura</strong> não seja associada e reduzida a tarefas.<br />

O que acontece, <strong>na</strong> maioria das escolas, entretanto, são atividades de <strong>leitura</strong> para<br />

nota, cobranças, ou seja, a <strong>leitura</strong> limita-se ao objetivo de ler para receber um conceito em<br />

troca, sem aprofundar os conhecimentos que o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s livros propõe e sem relacioná-la<br />

com a vida <strong>do</strong>s alunos ou a outras discipli<strong>na</strong>s. Os professores precisam motivar os alunos para<br />

que possam, através da literatura infantil, construir seu processo de <strong>leitura</strong> e escrita. O mun<strong>do</strong><br />

das letras já é apresenta<strong>do</strong> aos alunos no seu cotidiano: por mais que seus familiares não leiam<br />

jor<strong>na</strong>is, revistas, precisam ler placas, indicações e decodificar símbolos no seu dia-a-dia.<br />

Nesse contexto, é tarefa <strong>do</strong>s professores darem continuidade a esse processo com <strong>leitura</strong>s que<br />

sejam uma extensão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> infantil, ou seja, ver a <strong>leitura</strong> como parte da vida e não como<br />

algo estanque ou somente restrito à sala de aula.<br />

1.2 Da escrita e legitimidade da literatura Infanto-Juvenil<br />

A literatura, em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta<br />

sociedade em trans<strong>formação</strong>: a de servir como agente de <strong>formação</strong>, seja no espontâneo<br />

convívio <strong>leitor</strong>/livro, seja no diálogo <strong>leitor</strong>/texto estimula<strong>do</strong> pela escola.<br />

A literatura para a juventude é uma comunicação histórica (quer dizer localizada<br />

no tempo e no espaço) entre um locutor ou um escritor adulto (emissor) e um desti<strong>na</strong>tário<br />

criança (receptor) que, por definição, de algum mo<strong>do</strong>, no decurso <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>, não<br />

dispõe senão de forma parcial da experiência <strong>do</strong> real das estruturas lingüísticas, intelectuais,<br />

afetivas e outras que caracterizam a idade adulta. Outros criticam certas posições <strong>do</strong>gmáticas<br />

que fazem o livro, tanto a imagem como o texto, estar dependente da apreciação <strong>do</strong> adulto,<br />

consideran<strong>do</strong> que a questão da apreciação tem varia<strong>do</strong> conforme as épocas e os mo<strong>do</strong>s<br />

culturais. Regra geral mantém-se ainda, e infelizmente, a atitude dirigista e <strong>do</strong>gmática <strong>do</strong>s<br />

adultos que encerram para crianças como um terreno onde é aceitável decretar funções e<br />

mo<strong>do</strong>s de utilização.


1.3 Opiniões de autores sobre a literatura Infanto-Juvenil<br />

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21<br />

Ruth Rocha afirma: “Escrevo pra dizer o que penso. Quero reclamar de governos<br />

autoritários. Quero mostrar a existência de desigualdade entre o homem e a mulher. Não fujo<br />

muito de temas que, supostamente, não pertencem ao universo infantil. Acho que to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

é capaz de aprender.” (1980, p.23). Assim, Zilberman se pronuncia:<br />

Dessa maneira, o escritor, invariavelmente um adulto, transmite a seu <strong>leitor</strong> um<br />

projeto para a realidade histórica, buscan<strong>do</strong> a adesão afetiva ou intelectual daquele.<br />

Em vista desse aspecto, a literatura para crianças pode ser vaga, dan<strong>do</strong> vazão à<br />

representação de um ambiente perfeito e, por decorrência, distante. Porém, pela<br />

mesma razão, poucos gêneros deixam tão evidentes a <strong>na</strong>tureza utópica da arte<br />

literária que, de vários, mo<strong>do</strong>s, expõe, em geral, um projeto para a realidade, em vez<br />

de ape<strong>na</strong>s <strong>do</strong>cumentá-la fotograficamente. (1985, p.19).<br />

Diante das citações anteriores, temos pontos que se diferenciam e ao mesmo<br />

tempo se unem. Tratam da relação existente entre a forma que a literatura em si é utilizada pra<br />

dissemi<strong>na</strong>ção de idéias. Apesar de uma forma bem sutil, e as autoras se divergirem, ainda<br />

temos uma ligação intrínseca <strong>do</strong> que seja literatura para ambas desde uma forma de<br />

demonstrar o que se pensa, até a retratação da realidade por meio da <strong>leitura</strong>.<br />

Podemos dizer, de forma indireta, que existem autores que questio<strong>na</strong>m a<br />

existência de uma literatura dedicada exclusivamente à fase denomi<strong>na</strong>da de infância e<br />

a<strong>do</strong>lescência que em nosso trabalho é caracterizada como literatura Infanto-Juvenil. Um<br />

exemplo de autor que faz esse tipo de questio<strong>na</strong>mento é Carlos Drummond de Andrade<br />

(1964):<br />

O gênero ‘literatura infantil’ tem, a meu ver, existência duvi<strong>do</strong>sa. Haverá musica<br />

infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de constituir<br />

alimento para o espírito da criança ou <strong>do</strong> jovem e se dirige ao espírito <strong>do</strong> adulto?<br />

Qual o bom livro para crianças, que não seja li<strong>do</strong> com interesse pelo homem feito?<br />

Qual o livro de viagens ou aventuras, desti<strong>na</strong><strong>do</strong> a adultos, que não possa ser da<strong>do</strong> a<br />

crianças, desde que vaza<strong>do</strong> em linguagem simples e isento de matéria de escândalo?<br />

Observa<strong>do</strong>s alguns cuida<strong>do</strong>s de linguagem e decência, a distinção preconceituosa se<br />

desfaz. Será a criança um ser à parte, estranho ao homem, e reclaman<strong>do</strong> uma<br />

literatura também à parte? Ou será literatura infantil algo de mutila<strong>do</strong>, de reduzi<strong>do</strong>,<br />

de desvitaliza<strong>do</strong> – porque coisa primária, fabricada <strong>na</strong> persuasão de que a imitação<br />

da infância é a própria infância? Vêm-me à lembrança as miniaturas de árvores, com


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22<br />

que se diverte o sadismo botânico <strong>do</strong>s japoneses: não são organismos <strong>na</strong>turais e<br />

plenos; são anões vegetais. A redução <strong>do</strong> homem que a literatura infantil implica dá<br />

produtos semelhantes. Há uma tristeza cômica no espetáculo desses cavalheiros<br />

amáveis e dessas senhoras não menos gentis, que, em visita a amigos, se detêm a<br />

conversar com as crianças de colo, estas inocentes e sérias, dizen<strong>do</strong>-lhes toda sorte<br />

de frases em linguagem infantil, que vem a ser a mesma linguagem de gente grande,<br />

ape<strong>na</strong>s deformada no fi<strong>na</strong>l das palavras e educa<strong>do</strong>ra <strong>na</strong> pronúncia... Essas pessoas<br />

fazem oralmente, e sem o saber, literatura infantil. (1964, p.591).<br />

A citação acima pode vir a ser uma “faca de <strong>do</strong>is gumes” em relação ao presente<br />

trabalho, mas, o objetivo é justamente o questio<strong>na</strong>mento, pois sem questio<strong>na</strong>mento a<br />

Literatura Infanto-Juvenil não teria senti<strong>do</strong>, Drummond vai de encontro ao tema proposto no<br />

trabalho devi<strong>do</strong> à sua criticidade, caso o autor não lesse, e não tivesse um bom relacio<strong>na</strong>mento<br />

social, provavelmente ele não questio<strong>na</strong>ria a existência da Literatura Infantil, o que queremos<br />

mostrar, ou melhor, defender é que o poder de crítica só é capaz de ser aguça<strong>do</strong> por meio da<br />

<strong>leitura</strong>, pois de <strong>na</strong>da adiantaria demonstrar ape<strong>na</strong>s o la<strong>do</strong> que é a favor da existência da<br />

Literatura Infantil se sabemos que ela foi uma fonte de <strong>leitura</strong> para aqueles que hoje<br />

questio<strong>na</strong>m a sua existência.


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23<br />

II CAPÍTULO<br />

TRAJETÓRIA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL AO LONGO DAS<br />

DÉCADAS<br />

Monteiro Lobato (1882 – 1948) foi o grande divisor de águas <strong>na</strong> área da Literatura<br />

Infanto-Juvenil, rompen<strong>do</strong> com convenções estereotipadas e inovan<strong>do</strong> através de uma<br />

linguagem coloquial e popular. Sua obra insere o <strong>leitor</strong> em um projeto de exercício de<br />

consciência crítica, perpetuan<strong>do</strong> sua produção. Esta constituiu uma nova literatura que<br />

permitiu o desenvolvimento da criticidade <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, discutin<strong>do</strong> temas políticos, sociais e<br />

econômicos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>.<br />

Assim, Lobato principiou, através de sua obra, a conquista <strong>do</strong> verdadeiro espaço<br />

para a Literatura Infanto-Juvenil Brasileira. Em sua obra Lobato inventou perso<strong>na</strong>gens tais<br />

como Do<strong>na</strong> Benta, figura que serviu para recontar histórias estrangeiras como as de Dom<br />

Quixote e Peter Pan. Também criou algumas “aventuras didáticas”; <strong>na</strong>s quais utilizou<br />

aventuras vividas por perso<strong>na</strong>gens de sua obra para perpassar a aprendizagem, como em<br />

História <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> para crianças (1933) Emília no país da gramática (1934), Histórias das<br />

invenções (1935), Geografia de Do<strong>na</strong> Benta (1937), dentre outras. Nas <strong>na</strong>rrativas, Lobato se<br />

utilizou de um local imaginário, o Sítio <strong>do</strong> Pica-pau Amarelo, como espaço em que<br />

aconteceriam as aventuras de seus perso<strong>na</strong>gens. Nesse senti<strong>do</strong>, é no cenário bucólico <strong>do</strong> Sítio<br />

que aconteceriam as aventuras infantis, sen<strong>do</strong> que este local se tor<strong>na</strong>rá uma “escola paralela”<br />

por se tratar <strong>do</strong> espaço em que as aventuras se traduzirão em momentos de aprendizagem,<br />

conhecimento e muito mais.<br />

A obra lobatia<strong>na</strong> mostra que o autor acreditava <strong>na</strong> criança como agente<br />

transforma<strong>do</strong>r da sociedade, pois tratam de questões sociais como política e ciência, refletin<strong>do</strong><br />

acerca <strong>do</strong>s problemas sociais de sua época. É o que se observa em A chave <strong>do</strong> tamanho, obra<br />

<strong>na</strong> qual o autor discute as conseqüências da guerra. Lobato introduz o folclore em sua obra,<br />

como em O Saci, em que buscam no folclore alguns elementos para dar origem a novas<br />

criações.<br />

Não há dúvida de que o grande valor da invenção literária de Lobato e o amplo<br />

sucesso obti<strong>do</strong> junto aos pequenos <strong>leitor</strong>es, não se deveram ape<strong>na</strong>s à sua prodigiosa<br />

imagi<strong>na</strong>ção ao inventar perso<strong>na</strong>gens e tramas cheias de pitoresco e de humor sadio,


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concretizadas em uma linguagem origi<strong>na</strong>l e viva. Como em toda grande obra, o seu<br />

mérito maior está <strong>na</strong> perfeita adequação entre sua matéria literária, as idéias e os<br />

valores que lhe servem de húmus e as imposições da época em que ela foi escrita.<br />

(COELHO, 1984, p. 192)<br />

São também <strong>do</strong> mesmo perío<strong>do</strong> obras como Histórias da Velha Totônia (1936),<br />

de José Lins Rego, As aventuras <strong>do</strong> avião vermelho (1936), de Érico Veríssimo, Histórias<br />

para crianças (1934), de Viriato Correia, dentre outros. Algumas obras aludiam ao folclore e<br />

às histórias populares, outras ressaltavam o <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lismo.<br />

No perío<strong>do</strong> de 1920 a 1945 houve um crescimento significativo da produção<br />

literária para o público infantil, relacio<strong>na</strong><strong>do</strong> ao aumento <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r e que<br />

contribuiu para estimular as editoras a investirem <strong>na</strong> produção para esse merca<strong>do</strong> em<br />

<strong>formação</strong>.<br />

A literatura Infanto-Juvenil cresceu no âmbito escolar, em harmonia com a<br />

expansão da rede escolar e com a nova política educativa, ainda que impreg<strong>na</strong>da da<br />

intencio<strong>na</strong>lidade pedagógica com que vinha se desenvolven<strong>do</strong> anteriormente.<br />

O panorama <strong>do</strong>s anos 30/40 mostra que, além <strong>do</strong>s livros de Lobato e das obras<br />

clássicas traduzidas ou adaptadas, ape<strong>na</strong>s alguns escritores, entre os que escreveram<br />

<strong>na</strong> época, atingiram a desejável literariedade. No geral, pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong> o imediatismo<br />

das informações úteis e da <strong>formação</strong> cívica. (COELHO, 1984, p.198)<br />

Em resposta ao merca<strong>do</strong> que estava se firman<strong>do</strong> e expandin<strong>do</strong>, no perío<strong>do</strong> de 40 a<br />

60 houve uma produção intensa e fabricação em série de livros. Entretanto, apesar <strong>do</strong> volume<br />

considerável de obras, a quantidade não significou uma real qualidade <strong>na</strong> produção. São desse<br />

perío<strong>do</strong> obras como A mi<strong>na</strong> de ouro e O cachorrinho Samba <strong>na</strong> Bahia (1940), de Maria<br />

Dupré; posteriormente a mesma autora lançou Éramos seis, um grande sucesso de vendas.<br />

Com as políticas de incentivo à produção <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l de livros e a sofisticação das<br />

mídias houve, <strong>na</strong> década de 70, uma maior divulgação e oferta de livros, geran<strong>do</strong> a<br />

diversificação das produções literárias. A literatura infantil, que se tinha principalmente ao<br />

ambiente escolar, passou a ter maior divulgação. Estas alterações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> afetam a<br />

literatura tanto como instituição quanto como texto.


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25<br />

O desenvolvimento cultural <strong>do</strong>s anos 60 e 70 só aprofun<strong>do</strong>u a relação de<br />

dependência entre literatura Infanto-Juvenil e a desti<strong>na</strong>ção escolar <strong>do</strong>s livros. Nos dizeres de<br />

Zilberman (1986):<br />

Se, desde o seu <strong>na</strong>scimento, a desti<strong>na</strong>ção escolar <strong>do</strong>s livros fazia com que a literatura<br />

para crianças se apoiasse, para legitimar sua existência e arregimentar seus <strong>leitor</strong>es,<br />

<strong>na</strong>s instituições vizinhas da escola (quan<strong>do</strong> não da própria), o já aponta<strong>do</strong><br />

desenvolvimento de uma infra-estrutura cultural nos anos 60 e 70 só vai aprofundar<br />

esta relação de dependência. Com muito mais desenvoltura que a não Infanto-<br />

Juvenil, a literatura para crianças, fiel a sua origem, presta-se bem à mediação<br />

institucio<strong>na</strong>l. (1986, p.174)<br />

Na década de 80, a literatura infantil passa a assumir um caráter mais reflexivo<br />

por conta <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> político pelo qual o país passava. Alguns autores utilizaram-se de<br />

reformulações de contos de fadas e perso<strong>na</strong>gens fortes para transpor barreiras sociais, como<br />

Pedro Bandeira em O mistério da Feiurinha (2001).<br />

Outros produziram livros mais populares, desti<strong>na</strong><strong>do</strong>s ao consumo das massas,<br />

como o conto <strong>do</strong> horror, o conto policial, a ficção científica, etc. Nesse senti<strong>do</strong>, houve uma<br />

abertura à criatividade proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> o surgimento de obras inova<strong>do</strong>ras e cativantes, como<br />

O barulho fantasma (1984) de Sônia Junqueira e a obra de Tatia<strong>na</strong> Belinky A operação <strong>do</strong> tio<br />

Onofre (1985).<br />

Autores como A<strong>na</strong> Maria Macha<strong>do</strong>, Clarice Lispector, Ruth Rocha, Lygia<br />

Bojunga Nunes, Ziral<strong>do</strong>, dentre outros, utilizam-se da literatura Infanto-Juvenil para protestar<br />

contra a ditadura vigente através de relações implícitas presentes <strong>na</strong> produção. A obra Infanto-<br />

Juvenil passa a viabilizar valores que instigam o <strong>leitor</strong> à reflexão. Os textos passam a defender<br />

a importância da mobilização social <strong>na</strong> defesa <strong>do</strong> interesse coletivo, instigan<strong>do</strong> o <strong>leitor</strong> a<br />

refletir sobre sua liberdade em ple<strong>na</strong> ditadura. É o que se verifica no seguinte trecho da obra<br />

“O que os olhos não vêem” de Ruth Rocha:<br />

(...) “E o povo foi despreza<strong>do</strong>,<br />

Pouco a pouco, lentamente.<br />

Enquanto que o próprio rei<br />

Vivia muito contente;<br />

Pois o que os olhos não vêem,<br />

Nosso coração não sente.


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26<br />

E o povo foi perceben<strong>do</strong><br />

Que estava sen<strong>do</strong> esqueci<strong>do</strong>;<br />

Que trabalhava bastante,<br />

Mas que nunca era atendi<strong>do</strong>;<br />

Que por mais que se esforçasse<br />

Não era reconheci<strong>do</strong>.<br />

Cada pessoa <strong>do</strong> povo<br />

Foi chegan<strong>do</strong> à convicção,<br />

Que eles mesmos é que tinham<br />

Que encontrar a solução<br />

Pra termi<strong>na</strong>r a tragédia.<br />

Pois quem monta <strong>na</strong> garupa<br />

Não pega nunca <strong>na</strong> rédea!<br />

Eles então se juntaram,<br />

Discutiram, pelejaram,<br />

E chegaram à uma conclusão<br />

Que, se a voz de um era fraca,<br />

Juntan<strong>do</strong> as vozes de to<strong>do</strong>s<br />

Mais parecia um trovão.” (...)<br />

(Ruth Rocha – “O que os olhos não vêem”)<br />

Esta literatura retoma o projeto lobatiano, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> à criança uma literatura<br />

de qualidade, que desenvolve sua criticidade, estimula sua criatividade e imagi<strong>na</strong>ção e<br />

desperta indagações e questio<strong>na</strong>mentos sobre a vida, compreenden<strong>do</strong> a criança <strong>leitor</strong>a nos<br />

diversos aspectos que abrangem a sua <strong>formação</strong>.<br />

Na década de 90, a produção de livros ofereceu à criança uma gama imensa de<br />

produções <strong>na</strong>s mais variadas formas, gêneros, autores, temas e projetos gráficos o merca<strong>do</strong><br />

editorial consolida as produções para esse público.<br />

A história da literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong>, ainda que apresentada neste capítulo de<br />

forma esquemática sugere que a produção voltada para a criança e o a<strong>do</strong>lescente, se amplia e<br />

diversifica ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

Conceitos sobre o que seria este gênero “literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong>” mudaram<br />

também durante esses <strong>do</strong>is séculos. Houve momentos em que esta agregava valores


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<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>listas, morais; em outros momentos, ele era constituí<strong>do</strong> de valores <strong>crítico</strong>s, sociais e<br />

políticos; como também houve momentos em que a literatura significava preocupação com<br />

literariedade.


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28<br />

III CAPÍTULO<br />

A DIDÁTICA DA LEITURA DA LITERATURA INFANTO-JUVENIL<br />

No que diz respeito a esse aspecto, qual seja a didática da literatura Infanto-<br />

Juvenil, observa-se que há textos que tratam sobre os mo<strong>do</strong>s de trabalhar a Literatura Infanto-<br />

Juvenil envolven<strong>do</strong> o <strong>leitor</strong>, <strong>na</strong> escola ou fora dela.<br />

Entendemos que se encaixam neste foco os seguintes autores: Ruth Rocha (1983);<br />

Yêda Maria da Costa Lima Varlotta (1987); Inês Aparecida Silva Mobrice (1990); Marly<br />

Amarilha de Oliveira (1991); Núbio Delanne Ferraz Mafra (2000) e Marcelo Moreira<br />

Ganzarolli (2005).<br />

Como fazer o <strong>leitor</strong> <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> gostar da literatura? Quais as práticas que<br />

fomentam o gosto pela literatura no <strong>leitor</strong>? Como trabalhar a Literatura Infanto-Juvenil<br />

especificamente no âmbito escolar? Estas são algumas questões que os textos tentaram<br />

responder.<br />

Ter o livre arbítrio para decidir o que se quer ler é uma forma propícia para o<br />

estímulo <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> principalmente quan<strong>do</strong> este é um jovem a<strong>do</strong>lescente. Rocha (1983) <strong>na</strong><br />

entrevista intitulada: “Para não vaci<strong>na</strong>r a criança contra <strong>leitura</strong>” propõe alguns<br />

encaminhamentos <strong>na</strong> <strong>leitura</strong> de suas obras, bem como alguns procedimentos para estimular a<br />

fruição da <strong>leitura</strong>, retratan<strong>do</strong> específicamente o ambiente escolar. “A literatura deve ser<br />

seletiva, deve ser uma coisa muito dirigida, deve-se procurar aquela melhor literatura. A<br />

fruição, o gosto é que deve ser livre, deve ser espontâneo, porque é sempre novo, porque a<br />

criança é sempre nova.” (p. 10).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, entendemos que a Literatura a ser trabalhada <strong>na</strong> escola deva ser<br />

bem selecio<strong>na</strong>da pelos professores, deve ser uma literatura de qualidade. E qualidade não está<br />

relacio<strong>na</strong>da ao movimento ao qual o autor pertence ou à época <strong>na</strong> qual a obra foi produzida,<br />

mas sim ao significa<strong>do</strong> que aquela <strong>leitura</strong> proporcio<strong>na</strong> ao <strong>leitor</strong>. Para Rocha, o gosto deve ser<br />

orientar a escolha <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, de forma não imposta pelo adulto. A criança ou o jovem deve ter<br />

a liberdade de escolher entre os diversos livros e autores que lhe são ofereci<strong>do</strong>s.<br />

É acerca desse significa<strong>do</strong> que Varlotta (1987) fala em seu artigo “Literatura<br />

Infantil <strong>na</strong>s séries iniciais: desafio à reflexão ou possibilidade de trabalho”:


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29<br />

Acredito que se for dada à criança a oportunidade de ler textos com significa<strong>do</strong> (...)<br />

enquanto está aprenden<strong>do</strong> a ler, ela aprenderá a buscar, por detrás <strong>do</strong> significante, o<br />

significa<strong>do</strong>, como fazemos nós, os <strong>leitor</strong>es adultos. E, len<strong>do</strong> guiada pelo significa<strong>do</strong>,<br />

poderá encontrar as várias possibilidades de <strong>leitura</strong> que um texto oferece. (p. 35)<br />

Assim como Rocha Varlotta, destaca a importância de o adulto selecio<strong>na</strong>r e<br />

oferecer textos de qualidade para que a criança e o jovem possam ir construin<strong>do</strong> o seu<br />

caminho como <strong>leitor</strong>. A didática apontada é a oferta de uma literatura que oferece múltiplos<br />

significa<strong>do</strong>s, e múltiplas <strong>leitura</strong>s, permitin<strong>do</strong> que a criança e o jovem usem sua <strong>leitura</strong> de<br />

mun<strong>do</strong>.<br />

Como esta pode ser uma tática favorável temos também aqueles que dizem que<br />

nesse contexto a literatura Infanto-Juvenil adquire uma conotação negativa, pois se tor<strong>na</strong> um<br />

instrumento de repressão, como coloca Oliveira (1991) em “Aventuras e tribulações <strong>na</strong><br />

literatura <strong>na</strong> escola”: “Ao se utilizar da literatura como estratégia improvisada <strong>na</strong> prática<br />

pedagógica, o professor não só descaracteriza a própria função da <strong>leitura</strong> <strong>na</strong> escola, como<br />

também expõe o vazio de toda a sua atuação” (p. 43).<br />

Há também práticas que “ensi<strong>na</strong>m” os adultos, os professores, a seduzir o <strong>leitor</strong><br />

para a Literatura Infanto-Juvenil. Em um <strong>do</strong>s artigos presentes <strong>na</strong> seção resenha, denomi<strong>na</strong><strong>do</strong><br />

“Encantamentos e delicias: a criança em contato com a literatura infantil”, Mobrice (1990)<br />

a<strong>na</strong>lisa uma obra de Fanny Abramovich que sugere alguns procedimentos para cativar os<br />

<strong>leitor</strong>es de literatura Infanto-Juvenil:<br />

Fanny inicia seu livro falan<strong>do</strong> sobre o primeiro contato da criança com o texto, que<br />

se dá pela audição de histórias. Aqui já pode ser desperta<strong>do</strong> o gosto da criança pela<br />

<strong>leitura</strong>. “Ouvir histórias é o inicio da aprendizagem para ser um <strong>leitor</strong>, e ser um<br />

<strong>leitor</strong> é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>” (ABRAMOVICH, 1989, p. 16 apud MOBRICE 1990, p.45). Através de<br />

uma história, a criança pode “ficar saben<strong>do</strong> de História, Geografia, Filosofia,<br />

Política, Sociologia, sem precisar saber o nome disso tu<strong>do</strong>, e muito menos achar que<br />

tem cara de aula...” (Abramovich, 1989, p. 17) para tanto, faz-se necessário ‘saber’<br />

como contar uma história e como aproveitar o texto ao máximo, de mo<strong>do</strong> a<br />

estimular a criação dan<strong>do</strong> asas à imagi<strong>na</strong>ção. (MOBRICE, 1990 p. 45).


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30<br />

Mafra, em seu relato “No ser e no ler, desconforto: literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong> e<br />

a<strong>do</strong>lescente <strong>leitor</strong>” discute o papel <strong>do</strong> professor <strong>na</strong> escola como media<strong>do</strong>r da <strong>leitura</strong>. O<br />

estudioso entende que:<br />

... <strong>na</strong> escola básica, a literatura precisa ser trabalhada através da mediação de um<br />

<strong>leitor</strong> mais experiente, no caso o professor. (...) O prazer experimenta<strong>do</strong> pelo <strong>leitor</strong><br />

pode ser transforma<strong>do</strong> em fruição desde que o professor respeite e até mesmo<br />

trabalhe a história de <strong>leitura</strong>s deste jovem, assumin<strong>do</strong>-se como media<strong>do</strong>r desse<br />

processo. (2000, p. 79).<br />

Em seu texto “Leitura, Literatura Infantil e Biblioteca Escolar: alquimia para a<br />

constituição <strong>do</strong> sujeito <strong>leitor</strong>”, Ganzarolli procura discutir a funcio<strong>na</strong>lidade e as contribuições<br />

da biblioteca como espaço para a <strong>leitura</strong>, produção de senti<strong>do</strong>s e aproximação com objetos de<br />

valor cultural, contribuin<strong>do</strong> para o gosto pela <strong>leitura</strong>:<br />

A biblioteca como um espaço de <strong>leitura</strong> dentro da escola põe à disposição <strong>do</strong> aluno<br />

um acervo cultural composto por revistas, dicionários, manuais, livros, filmes,<br />

jor<strong>na</strong>is, mapas, etc., poden<strong>do</strong> explorá-lo, desvendan<strong>do</strong> e questio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> suas<br />

incertezas, fazen<strong>do</strong> as apropriações da <strong>leitura</strong> e produzin<strong>do</strong> os seus senti<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> a<br />

possibilidade de agir com maior autonomia e discernimento sobre o mun<strong>do</strong> que o<br />

cerca. (p. 41)<br />

Dessa forma, Ganzarolli mostra a preocupação em relação a esse espaço de <strong>leitura</strong><br />

– a biblioteca – e a forma como vem sen<strong>do</strong> utilizada pelos profissio<strong>na</strong>is da educação no<br />

senti<strong>do</strong> de incentivar o gosto pela <strong>leitura</strong>, e, em última instância pela Literatura Infanto-<br />

Juvenil.<br />

Assim, percebemos que os artigos anteriormente cita<strong>do</strong>s, tratam em geral sobre as<br />

práticas relacio<strong>na</strong>das ao âmbito escolar, numa preocupação em relação à atitude <strong>do</strong>s<br />

profissio<strong>na</strong>is da educação em relação à utilização da Literatura Infanto-Juvenil <strong>na</strong> sala de<br />

aula.<br />

Tratam <strong>do</strong>s mo<strong>do</strong>s, caminhos, estratégias para se educar o <strong>leitor</strong> para uma<br />

linguagem tão singular como o da literatura. Os artigos destacam aspectos importantes e<br />

necessários quan<strong>do</strong> se tem a literatura como objeto de <strong>leitura</strong>: selecio<strong>na</strong>r bons textos com<br />

múltiplos significa<strong>do</strong>s; saber contar história.


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31<br />

Essa preocupação se explicita <strong>na</strong> maioria <strong>do</strong>s autores deste foco, tanto <strong>na</strong>s<br />

sugestões <strong>do</strong> que fazer no espaço escolar quanto <strong>na</strong>s críticas às atitudes <strong>do</strong>s professores.<br />

Um estu<strong>do</strong> feito <strong>na</strong> Boston University School of Medicine, <strong>do</strong>s EUA, demonstrou<br />

que a <strong>leitura</strong> em voz alta para crianças em idade pré-escolar melhora o desenvolvimento da<br />

linguagem e aumenta a bagagem lingüística. “As histórias trabalham a parte cognitiva e<br />

emocio<strong>na</strong>l da criança, pois passam mensagens sublimi<strong>na</strong>res que pregam atitudes positivas,<br />

além de mostrarem noção de tempo e espaço, desenvolven<strong>do</strong> o la<strong>do</strong> matemático”, explicou a<br />

professora de literatura Patrícia Lane, <strong>do</strong> programa "Viven<strong>do</strong> EU Conto" e especializada em<br />

educação infantil, de Salva<strong>do</strong>r.<br />

A pesquisa america<strong>na</strong> foi feita pelo pediatra Barry Zuckerman e publicada nos<br />

Archives of Disease in Childhood (Arquivos de Doenças Infantis) para comprovar que ler para<br />

os pequenos realmente é um ato benéfico para a comunicação da criança. Isso acontece<br />

porque o ser humano aprende a falar por imitação <strong>do</strong>s sons. Quan<strong>do</strong> uma mãe lê uma história<br />

para seu filho, essa criança vai assimilar os sons das palavras que estão sen<strong>do</strong> lidas e, como<br />

essas palavras são diferentes daquelas normalmente utilizadas pelos adultos, a criança<br />

aumenta a quantidade de combi<strong>na</strong>ções lingüísticas <strong>na</strong> mente. “As histórias aumentam o<br />

repertório das crianças, além de resgatar fatos da vida, o que vai desenvolver melhor a<br />

capacidade de raciocínio”, comentou Camila Quino, psicóloga da Associação viva e deixe<br />

viver, associação especializada em atendimentos infantis (07/2007).<br />

Veremos agora alguns autores que escreveram tanto sobre o ato de ler, quanto o<br />

processo de relação entre professor e <strong>leitura</strong>.<br />

Marisa Lajolo em seu livro ‘A <strong>formação</strong> <strong>do</strong> professor e a literatura <strong>infanto</strong><strong>juvenil</strong>’,<br />

relacio<strong>na</strong> a questão da literatura e seus usos educacio<strong>na</strong>is com a <strong>formação</strong> deste<br />

professor de língua mater<strong>na</strong>. Enumera os conteú<strong>do</strong>s considera<strong>do</strong>s fundamentais para a<br />

<strong>formação</strong> deste profissio<strong>na</strong>l e a<strong>na</strong>lisa a construção histórica <strong>do</strong>s conceitos de criança e jovem.<br />

Tanto a criança à qual se desti<strong>na</strong> a literatura infantil é uma construção, quanto o<br />

jovem ao qual se desti<strong>na</strong> a literatura <strong>juvenil</strong> é outra construção, igualmente social. E,<br />

como construção social resultante, tanto o infantil de uma quanto o <strong>juvenil</strong> de outra<br />

são conceitos móveis: o que é literatura infantil, para um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> contexto,<br />

pode ser <strong>juvenil</strong> para outro e vice-versa, infinitamente... (LAJOLO, 1988, p.34).


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32<br />

Muitas vezes, sentimos curiosidade de saber que idéias e sentimentos a<br />

experiência da <strong>leitura</strong> provoca no <strong>leitor</strong>, Davi Arrigucci Junior em sua obra ‘Leitura: entre o<br />

fascínio e o pensamento’ faz considerações sobre a <strong>leitura</strong> como caminho da sabe<strong>do</strong>ria, fonte<br />

de felicidade, forma de despertar o espírito para a reflexão, espaço de liberdade e reflexão.<br />

(...) a experiência da <strong>leitura</strong> é a nossa aventura, a história romanesca em que<br />

penetramos pelo simples ato de abrir um livro. Algo <strong>do</strong> encanto da descoberta<br />

infantil permanece sempre nessa experiência. (...) os livros que cativam nossa<br />

atenção para o mun<strong>do</strong> das letras são também formas de despertar nosso espírito para<br />

a reflexão. Guardam em si to<strong>do</strong> o fascínio, mas também as chispa que faz disparar o<br />

pensamento (...). (JUNIOR, 1994).<br />

Partimos <strong>do</strong> pressuposto de que a <strong>leitura</strong> é uma necessidade básica de to<strong>do</strong><br />

indivíduo que integra uma comunidade letrada, e que como tantas outras ações huma<strong>na</strong>s não<br />

são tão fáceis de ser praticada. Entretanto, constituímos necessidades, que perpassam a <strong>leitura</strong><br />

a partir de um rótulo de alimento no supermerca<strong>do</strong> até as <strong>leitura</strong>s que trazem a to<strong>na</strong> uma<br />

época, um povo, seus hábitos, valores e costumes da <strong>leitura</strong>, precisa ser uma prática com a<br />

qual os sujeitos estejam, ou pelo menos, procurem estar familiariza<strong>do</strong>s, para o seu próprio<br />

bem e para que possa conhecer e respeitar o trabalho <strong>do</strong> outro.<br />

Assim, o desenvolvimento da competência de <strong>leitura</strong> <strong>do</strong>s estudantes não se dará,<br />

entretanto, por meio da decodificação de códigos ou da memorização mecânica para posterior<br />

reprodução. Mas sim, por meio de uma proposta centrada <strong>na</strong> <strong>leitura</strong> como atividade principal<br />

que como, tantas outras, precisa ser estimulada pela escola, fato de ser ela um espaço<br />

privilegia<strong>do</strong> para a aquisição de conhecimentos, e que para boa parte <strong>do</strong>s estudantes é o único<br />

local em que entram em contato com os conhecimentos sistematiza<strong>do</strong>s.<br />

No estu<strong>do</strong> sobre a <strong>formação</strong> <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> <strong>crítico</strong>, é pertinente considerar que formar<br />

um <strong>leitor</strong> com esta característica é também desenvolver uma prática de <strong>leitura</strong> que desperte e<br />

cultive o desejo de ler, ou seja, uma prática pedagógica eficiente que dê suporte ao aluno para<br />

realizar o esforço intelectual da <strong>leitura</strong> não só textos simples, mas também, aqueles nos quais<br />

precisará utilizar e pôr a prova todas as suas estratégias de <strong>leitura</strong>. Para Eco (2000, p. 31) “um<br />

texto é um universo aberto onde o intérprete pode descobrir uma infinidade de conexões”. Ou<br />

seja, um texto é um conjunto de significa<strong>do</strong>s amplos e abertos e permite ao <strong>leitor</strong> mergulhar<br />

nele e relacioná-lo com outras diferentes situações com as quais tem contato no seu dia a dia<br />

e/ou com conteú<strong>do</strong> das mais diversas áreas de conhecimento, proporcio<strong>na</strong>n<strong>do</strong> ao <strong>leitor</strong>


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33<br />

preencher as lacu<strong>na</strong>s deixadas pelo escritor para que a este mesmo texto, seja acresci<strong>do</strong> de<br />

novas idéias e argumentos, com o intuito de que, a cada <strong>leitura</strong>, sejam criadas expectativas<br />

novas em relação ao seu conteú<strong>do</strong>.


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34<br />

CONCLUSÃO<br />

É necessário ler para se apropriar <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> da experiência huma<strong>na</strong> acumulada<br />

ao longo <strong>do</strong> tempo e ler para tor<strong>na</strong>r-se um sujeito <strong>crítico</strong>, reflexivo e um <strong>cidadão</strong> imbuí<strong>do</strong> de<br />

princípios éticos, morais e sociais para nortear sua inserção social. Diante disso, o mais<br />

importante é que as crianças e os a<strong>do</strong>lescentes sejam orienta<strong>do</strong>s para a realização de<br />

atividades de <strong>leitura</strong>, que despertem o seu senso <strong>crítico</strong> e principalmente desperte o gosto e<br />

estimule o hábito da <strong>leitura</strong> uma vez que formar um <strong>leitor</strong> <strong>crítico</strong> requer uma prática constante<br />

de <strong>leitura</strong> crítica.<br />

Frente ao crescimento acelera<strong>do</strong> das novas tecnologias de comunicação e<br />

in<strong>formação</strong>, faz-se cada vez mais necessária a <strong>formação</strong> de <strong>leitor</strong>es <strong>crítico</strong>s que sejam capazes<br />

de ler e compreender o que lêem, para que possam compreender melhor o mun<strong>do</strong> e sua<br />

própria realidade. É preciso, também, preocuparmo-nos com a <strong>formação</strong> <strong>do</strong> professor no que<br />

compete à <strong>leitura</strong> crítica, por entender-se que muitos desses profissio<strong>na</strong>is não gostam de ler<br />

e/ou não cultivam este hábito e, por isso, não desenvolvem práticas de <strong>leitura</strong>s eficientes em<br />

suas salas de aulas.<br />

Com os procedimentos mencio<strong>na</strong><strong>do</strong>s anteriormente, queremos contribuir para a<br />

<strong>formação</strong> de <strong>leitor</strong>es <strong>crítico</strong>s, sensibilizan<strong>do</strong> os educan<strong>do</strong>s de que essa <strong>formação</strong> depende de<br />

uma prática de interpretação de textos, de uma constante atividade de <strong>leitura</strong>. E vale a pe<strong>na</strong><br />

argumentar que, para se realizar um trabalho significativo com a <strong>leitura</strong> o qual possa resultar<br />

em um <strong>leitor</strong> <strong>crítico</strong>, é preciso se desprender de atividades de reprodução que visam tão<br />

somente fazer o aluno-<strong>leitor</strong> passar os olhos sobre o texto, decodifican<strong>do</strong> as palavras e se<br />

prenden<strong>do</strong> à superficialidade <strong>do</strong> escrito. Portanto, formar o <strong>leitor</strong> <strong>crítico</strong> é uma necessidade de<br />

se construir <strong>cidadão</strong>s também <strong>crítico</strong>s, para lutarem por seus espaços <strong>na</strong> sociedade e no<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho, sen<strong>do</strong> autônomos e realizan<strong>do</strong> seus ofícios com competência.<br />

Consideramos a <strong>leitura</strong> como ferramenta ímpar <strong>na</strong> aquisição da autonomia<br />

crítica, autonomia esta, que possibilita visões ampliadas de passa<strong>do</strong>, presente e futuro.<br />

Autonomia que abraça conceitos além das linguagens, figuras, significa<strong>do</strong>s e significantes, e<br />

entrega ao homem uma arma poderosa, o conhecimento.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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35<br />

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil, Gostosura e Bobices. 5. ed. São Paulo: Scipione,<br />

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BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise <strong>do</strong>s Contos de Fadas. 8ª. Ed. p.56. Paz e Terra. – Rio<br />

de Janeiro, 1980.<br />

COELHO, Nelly Novaes. A literatura Infantil: história, teoria, análise: das origens orientais<br />

ao Brasil de hoje – São Paulo: Quíron, 1981.<br />

COELHO, Noelly Novaes. Literatura Infantil: teoria, análise didática. São Paulo: Moder<strong>na</strong>,<br />

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19-24. Série Idéias n.13.<br />

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regi<strong>na</strong>. Literatura infantil brasileira. História e Histórias.<br />

5ª ed. São Paulo: Ática. Série Fundamentos, 1991.<br />

LAJOLO, Marisa. A <strong>formação</strong> <strong>do</strong> professor e a literatura <strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong>. Série Idéias n. 5.<br />

São Paulo: FDE, 1988. p. 29-34.<br />

MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. 3ª ed. São Paulo: Sammus, [Brasília]:<br />

INL, 1979.<br />

MOBRICE. I.A.S. Encantamentos e delicias: a criança em contato com a literatura infantil.<br />

São Paulo: Brasiliense, 1990.<br />

Revista: Teória e Prática: nº 18 – Leitura. Dezembro de 1991.<br />

ROCHA, Ruth. Para não vaci<strong>na</strong>r a criança contra <strong>leitura</strong>. Leitura: Teoria e Prática<br />

Campi<strong>na</strong>s, São Paulo, 1983.<br />

VARLOTTA, Yêda Maria da Costa Lima. Literatura Infantil <strong>na</strong>s séries iniciais: desafio à<br />

reflexão ou possibilidade de trabalho. Rio de Janeiro: Record 1987.<br />

VIGOTSKI, Lev Semenovich. A <strong>formação</strong> da mente: o desenvolvimento <strong>do</strong>s processos<br />

psicológicos superiores; org. Michael Cole... [et al] – 6ª ed – São Paulo: Martins Fontes,<br />

1998. (psicologia e pedagogia).<br />

ZILBERMAN, Regi<strong>na</strong>. A literatura infantil <strong>na</strong> escola. 8ª ed. São Paulo: Global, 1994.<br />

www.prof2000.pt/users/isis/forma<strong>do</strong>r/2006af08/materiais/albertomanguel_lerepoder.html -<br />

www.folha.uol.com.br/folha/si<strong>na</strong>pse/ult1063u210.shtml - 26k –


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36


(Roger Chartier e Guglielmo Cavallo)<br />

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37<br />

A História Da Leitura No Mun<strong>do</strong> Ocidental<br />

Na obra História da Leitura no Mun<strong>do</strong> Ocidental 1, Guglielmo Cavallo e Roger Chartier<br />

reconstituem a evolução da <strong>leitura</strong> e das diversas formas de ler que caracterizam as sociedades<br />

ocidentais. Remontam a história da <strong>leitura</strong> desde a Antigüidade grega e helenística, passan<strong>do</strong><br />

por Roma, Idade Média e Idade Moder<strong>na</strong>. Já <strong>na</strong> introdução da obra, os historia<strong>do</strong>res afirmam<br />

que um texto existe porque há um <strong>leitor</strong> para dar-lhe significação, e que to<strong>do</strong>s aqueles que<br />

lêem textos, o fazem de maneiras diferentes, ou seja, para cada comunidade de <strong>leitor</strong>es<br />

existem maneiras de ler e interpretações diferenciadas. "A <strong>leitura</strong> não é ape<strong>na</strong>s uma operação<br />

abstrata: ela é o uso <strong>do</strong> corpo, inscrição dentro de um espaço, relação consigo mesma ou com<br />

os outros". Na Antigüidade grega a escrita é colocada a serviço da cultura oral e da<br />

conservação <strong>do</strong> texto, onde a <strong>leitura</strong> era feita por poucos alfabetiza<strong>do</strong>s. A partir da época<br />

helenística, a literatura passa a depender da escrita e <strong>do</strong> livro, cujo formato padrão era o<br />

volumen ou rolo, dan<strong>do</strong> início à uma nova organização <strong>na</strong> produção literária. Surgem as<br />

grandes bibliotecas helenísticas que representavam muito mais si<strong>na</strong>is de grandeza e de poder,<br />

<strong>do</strong> que propriamente a difusão da <strong>leitura</strong>. Roma herda <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> grego a estrutura <strong>do</strong> volumen<br />

e as práticas de <strong>leitura</strong>. A <strong>leitura</strong> é um hábito exclusivo das classes privilegiadas, dan<strong>do</strong><br />

origem às bibliotecas particulares, símbolos de uma sociedade culta. O códex, um livro com<br />

pági<strong>na</strong>s, substitui o rolo a partir <strong>do</strong> século II d.C, e essa trans<strong>formação</strong> <strong>do</strong> livro trás em si,<br />

novas práticas <strong>leitor</strong>as. Durante a Idade Média, a prática da <strong>leitura</strong> concentrou-se no interior<br />

das igrejas, das celas, <strong>do</strong>s refeitórios, <strong>do</strong>s claustros e das escolas religiosas, geralmente<br />

restritas às Sagradas Escrituras. Com o códex, <strong>na</strong> Alta Idade Média surge a maneira silenciosa<br />

de ler, sobretu<strong>do</strong> textos religiosos que exigiam uma <strong>leitura</strong> meditativa. Entre os séculos XI e<br />

XIV, quan<strong>do</strong> re<strong>na</strong>scem as cidades e com elas as escolas, desenvolven<strong>do</strong> a alfabetização, surge<br />

uma nova era da história da literatura, pois o livro passa a representar um instrumento de<br />

trabalho intelectual, de onde chega o saber. Ao mesmo tempo inovam-se os modelos de<br />

biblioteca, cujo espaço organiza<strong>do</strong> e silencioso é desti<strong>na</strong><strong>do</strong> à <strong>leitura</strong>. É nessa época que<br />

aparece o livro em língua vulgar, escrito às vezes pelo próprio <strong>leitor</strong>, e que circula entre a<br />

burguesia, paralelo a um modelo de <strong>leitura</strong> da corte, da aristocracia culta européia. Na Idade<br />

Moder<strong>na</strong> a prática da <strong>leitura</strong> no mun<strong>do</strong> ocidental está vinculada às evoluções históricas, à<br />

alfabetização, à religião e ao processo de industrialização. A técnica da reprodução de textos,<br />

e produção de livros, são inova<strong>do</strong>s por Gutemberg; o que permite que cada <strong>leitor</strong> tenha acesso


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38<br />

a um número maior de livros. Além disso, a grande revolução da <strong>leitura</strong> acontece pelo modelo<br />

escolástico da escrita, onde o livro se transforma num instrumento de trabalho intelectual. A<br />

<strong>leitura</strong> silenciosa se estabelece através da relação íntima, secreta e mais livre <strong>do</strong> <strong>leitor</strong> com o<br />

livro, tor<strong>na</strong>n<strong>do</strong> mais ágil a <strong>leitura</strong>. Surge aqui, o "<strong>leitor</strong> extensivo"; que consome numerosos<br />

impressos, diferentes e efêmeros, len<strong>do</strong> com rapidez e sob um olhar <strong>crítico</strong>. A difusão <strong>do</strong> livro<br />

se dá mais rapidamente, <strong>na</strong>scen<strong>do</strong> o romance com a capacidade de envolver o <strong>leitor</strong>,<br />

geralmente a <strong>leitor</strong>a; que nele se identifica e decifra sua própria vida. A <strong>leitura</strong> de cordel, os<br />

textos de venda ambulante fomentam o crescimento da produção de livros e a proliferação de<br />

livrarias, que são responsáveis por uma mudança de mentalidade, principalmente <strong>na</strong> França.


A liberdade infinita da literatura <strong>juvenil</strong><br />

ANDRÉ FORASTIERI<br />

especial para a Folha de S.Paulo<br />

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39<br />

Existem livros mágicos. Quem lê um deles vai para sempre acreditar no poder mágico <strong>do</strong>s<br />

livros, <strong>do</strong> livro. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" é um <strong>do</strong>s mais impressio<strong>na</strong>ntes. A escala e<br />

a velocidade de seu sucesso sugerem alquimias secretas. O jovem bruxo não se materializou<br />

por encanto. Mas gerou um furacão inespera<strong>do</strong>. Fez <strong>do</strong> segmento "livro <strong>juvenil</strong>" o mais<br />

quente da indústria editorial. Com conseqüências no cinema, no merchandising, nos<br />

videogames e <strong>na</strong> TV. Mas que é um livro <strong>juvenil</strong>? Até recentemente, a indústria <strong>do</strong> livro<br />

dividia a literatura em <strong>do</strong>is grupos principais, "adulta" e "infantil" (ou "<strong>infanto</strong>-<strong>juvenil</strong>", outro<br />

nome, mesmo significa<strong>do</strong> vago). Neste último segmento, agrupava álbuns colori<strong>do</strong>s para<br />

nenês e tijolos de 700 pági<strong>na</strong>s. Para fazer uma idéia: em dezembro de 2001, a revista<br />

"Publisher's Weekly", bíblia <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> editorial, publicou a lista <strong>do</strong>s 276 livros infantis que<br />

venderam mais de um milhão de cópias nos EUA. O mais vendi<strong>do</strong> é "Charlotte's Web", de<br />

E.B. White, cria<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> ratinho Stuart Little. Em seguida, vêm "Outsiders", escrito aos 18<br />

anos por S.E. Hinton e filma<strong>do</strong> por Francis Ford Coppola. Nada a ver um com o outro. Cabe<br />

de tu<strong>do</strong> <strong>na</strong> lista. Das Tartarugas Ninja a gente como Dr. Seuss ("O Grinch"), R.L. Stine (da<br />

coleção de terror <strong>juvenil</strong> "Goosebumps") e Roald Dahl ("A Incrível Fábrica de Chocolate").<br />

No Brasil também se mistura ba<strong>na</strong><strong>na</strong> com laranja. Nossas listas atuais de best-sellers <strong>infanto</strong>juvenis<br />

revelam "1984" e "A Revolução <strong>do</strong>s Bichos", de George Orwell, e "Admirável Mun<strong>do</strong><br />

Novo", de Al<strong>do</strong>us Huxley, ao la<strong>do</strong> de Cinderela e Cebolinha.<br />

O escritor de ficção-científica Thomas M. Disch diz que os bons autores de livros para<br />

a<strong>do</strong>lescentes devem manter a clareza e a inocência de garotos sabi<strong>do</strong>s como Peter Pan. Chama<br />

neotenia. É como os biólogos batizaram a retenção de características imaturas ou larvais no<br />

estágio adulto. Para Disch, "os jovens não são seres inferiores, nem miniadultos. São ape<strong>na</strong>s<br />

diferentes <strong>do</strong>s adultos". Têm outras necessidades, outros interesses, outro humor, menos<br />

respeito pelo passa<strong>do</strong>, muita curiosidade sobre o futuro, pouca paciência com regras que não<br />

criaram imagi<strong>na</strong>ção fértil e muita pressa.<br />

O homem é uma espécie que conta histórias, conta o biólogo Steven Pinker. Para ele, a<br />

criança que se encanta com um conto de fadas está fazen<strong>do</strong> uso de uma herança genética da


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40<br />

humanidade. Pinker defende que essa capacidade é uma vantagem evolutiva. Em to<strong>do</strong>s os<br />

cantos <strong>do</strong> planeta, as linguagens são divididas em objetos e ações: substantivos e verbos. Elas<br />

nos permitem transmitir informações sobre o que vai acontecer depois, organizan<strong>do</strong> fatos<br />

numa seqüência temporal.<br />

Não há maneira melhor de transmitir in<strong>formação</strong> densa <strong>do</strong> que por meio de uma história. Por<br />

isso elas têm poder. E os livros incorporam esse poder. Cada livro li<strong>do</strong> nos muda. Passa a<br />

fazer parte da nossa história pessoal. A seqüência das obras lidas por cada um é única, pessoal<br />

e intransferível.<br />

A a<strong>do</strong>lescência é nosso perío<strong>do</strong> de liberdade máxima como <strong>leitor</strong>es. Já temos repertório e<br />

ambição suficientes para encarar qualquer "lista telefônica". E não temos, ainda, as obrigações<br />

sociais que fazem de boa parte da <strong>leitura</strong> madura um tedioso desfile de manuais (como dar um<br />

jeito <strong>na</strong> economia, <strong>na</strong> carreira, escolher o vinho, diminuir a barriga etc.), castigo que já<br />

começa com as <strong>leitura</strong>s obrigatórias para o vestibular (a maldição de "Iracema").<br />

O psicólogo Jean Piaget defendia que, nessa fase, "o ser humano está tentan<strong>do</strong> <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r os<br />

elementos que lhe faltam para a razão adulta. Precisa aprender a lidar com idéias abstratas e,<br />

por isso, precisa ler livros que lidem com abstrações". Deve, portanto, ler histórias fantásticas<br />

e selvagens. Quan<strong>do</strong> você não sabe exatamente <strong>do</strong> que é capaz, precisa de horizontes distantes<br />

e idéias desafia<strong>do</strong>ras. Exige viver aventuras perigosas que testem seus limites.<br />

É por essa razão que to<strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, nessa fase, a<strong>do</strong>ra se apossar de livros escritos para adultos.<br />

Pode ser uma velharia desbeiçada e empoeirada da estante, herança <strong>do</strong> irmão mais velho ou<br />

<strong>do</strong> avô.<br />

Hoje, no Brasil, é inevitável que os jovens acabem len<strong>do</strong> Paulo Coelho, Luís Fer<strong>na</strong>n<strong>do</strong><br />

Veríssimo, Rubem Fonseca. Ou algum desses livros históricos-fantásticos, estrela<strong>do</strong>s por<br />

Cleópatra, Alexandre, Júlio César, Jesus Cristo, faraós, Rei Arthur, Bórgias, Medicis. Os<br />

"technothrillers" de Tom Clancy, os dramas legais de John Grisham, o horror suburbano de<br />

Stephen King, os melodramas góticos de Anne Rice.<br />

Qualquer <strong>leitor</strong> esperto de 13 anos digere numa boa um best-seller típico, que muitas vezes é<br />

um livro <strong>juvenil</strong> para adultos, disfarça<strong>do</strong>. E quem já passou <strong>do</strong>s 30 e não leu Sidney Shel<strong>do</strong>n,<br />

Danielle Steel, Irving Wallace ou Morris West no ginásio que atire a primeira pedra. A<br />

a<strong>do</strong>lescência também é o momento em que alguns de nós se apaixo<strong>na</strong>m perdidamente por<br />

gêneros - principalmente, o policial ou a ficção científica. Com duas vantagens. Uma, você


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sempre tem uma noção <strong>do</strong> que te espera. Outra, você tem a história inteira <strong>do</strong> gênero à sua<br />

disposição. Quem se apaixo<strong>na</strong> por Agatha Christie vai descobrir Georges Simenon e<br />

Raymond Chandler. Quem fica louco por Isaac Asimov acaba encontran<strong>do</strong> H.G. Wells e<br />

William Gibson. Tipo da paixão que bate e fica.<br />

Nenhum desses autores buscava o <strong>leitor</strong> <strong>juvenil</strong>. Nem os grandes autores de aventura, como<br />

Robert Louis Stevenson e Jack Lon<strong>do</strong>n. Zorro, Drácula, Sherlock Holmes, Co<strong>na</strong>n e o Capitão<br />

Nemo foram cria<strong>do</strong>s para a diversão de pais, não de filhos. Deram origem e foram<br />

parcialmente substituí<strong>do</strong>s pelas histórias em quadrinhos e, mais recentemente, pelos jogos<br />

eletrônicos. Essas obras continuam clássicas e são lidas até hoje.<br />

Os romances escritos especificamente para a<strong>do</strong>lescentes são diferentes e muito fáceis de<br />

reconhecer. São estrela<strong>do</strong>s por garotos e meni<strong>na</strong>s da mesma faixa etária <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>, <strong>do</strong>s 10 aos<br />

15 anos, sain<strong>do</strong> de seu cotidiano e adentran<strong>do</strong> um universo desconheci<strong>do</strong>. Enfrentam bruxas,<br />

desvendam conspirações, escondem-se em foguetes, lideram piratas. Muitas vezes, também<br />

sofrem e sangram. Alguns apresentam universos paralelos para onde o <strong>leitor</strong> a<strong>do</strong>raria se<br />

mudar, ou de onde ele fugiria voan<strong>do</strong>. Os melhores apresentam as virtudes e desvantagens de<br />

cada la<strong>do</strong> <strong>do</strong> espelho, com os protagonistas simultaneamente abraçan<strong>do</strong> e rejeitan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is<br />

campos opostos. Exatamente como o a<strong>do</strong>lescente, que mantém um pé <strong>na</strong> infância enquanto dá<br />

um passo maior que as per<strong>na</strong>s em direção à maturidade. O maior clássico <strong>juvenil</strong> desse tipo é<br />

"O Apanha<strong>do</strong>r no Campo de Centeio", de J.D. Salinger - melhor se li<strong>do</strong> até os 15 anos e reli<strong>do</strong><br />

periodicamente depois disso. A inglesa Joanne Kathleen Rowling, cria<strong>do</strong>ra de Harry Potter,<br />

escreve livros assumidamente juvenis e é o novo paradigma <strong>do</strong> segmento. Soube combi<strong>na</strong>r<br />

muito bem duas vertentes tradicio<strong>na</strong>is da literatura de seu país: os livros que se passam em<br />

inter<strong>na</strong>tos e a paixão pelo ocultismo.<br />

Aventuras divertidas em colégios internos rígi<strong>do</strong>s são populares <strong>na</strong> Inglaterra há muito tempo.<br />

É uma realidade muito distante da nossa e nunca pegou por aqui. A principal exceção é a série<br />

de Jennings (no Brasil, Johnny, publica<strong>do</strong> pela Ediouro). São 25 livros escritos entre 1950 e<br />

1994 por Anthony Buckeridge, que estabeleceram as convenções <strong>do</strong> gênero. O <strong>crítico</strong> inglês<br />

Francis Spufford tem uma boa explicação para o sucesso desses livros. As escolas inter<strong>na</strong>s são<br />

"cidades de crianças". Não há pais por perto. É um espaço de liberdade, onde as regras -<br />

justamente por serem exter<strong>na</strong>s e impostas— podem ser quebradas ou enfrentadas, sem culpa.<br />

O que importa são as regras de convivência estabelecidas pelas próprias crianças - como<br />

aprendemos a conviver com nossos semelhantes e diferentes. Inclusive o garoto riquinho e


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meti<strong>do</strong> da turma inimiga, o velho mestre misterioso, a professora insuportável e a garota<br />

tapada. É por isso que Harry e seus <strong>leitor</strong>es a<strong>do</strong>ram o colégio Hogwarts.<br />

Esses livros de inter<strong>na</strong>to fazem parte <strong>do</strong> que Spufford chama de "estágio da cidade", quan<strong>do</strong> o<br />

jovem <strong>leitor</strong> passa a se interessar por livros que exploram a convivência realista entre as<br />

pessoas. Seja numa fazenda, numa ilha secreta, num vilarejo <strong>do</strong> velho oeste ou num inter<strong>na</strong>to.<br />

Na Inglaterra, essas obras exploram também a relação entre as classes sociais. O ambiente<br />

escolar é a única grande diferença entre Harry e o perso<strong>na</strong>gem Tim Hunter, cria<strong>do</strong> por Neil<br />

Gaiman, em 1990, <strong>na</strong> minissérie em quadrinhos "Os Livros da Magia". Tim é um garoto<br />

órfão, míope, tími<strong>do</strong> e moreno, de 13 anos. Um dia é leva<strong>do</strong> para conhecer o universo da<br />

magia. Se cumprir seu trei<strong>na</strong>mento, poderá se tor<strong>na</strong>r o maior mago <strong>do</strong> universo. Ganha um<br />

mascote/totem para sua jor<strong>na</strong>da: uma coruja, símbolo da sabe<strong>do</strong>ria secreta. Bem pareci<strong>do</strong> com<br />

Harry, que só estreou sete anos depois. Gaiman garante que Rowling não plagiou sua criação,<br />

mas se inspirou <strong>na</strong> mesma fonte que ele: a tradição mágica britânica. Há desconfianças de que<br />

houve acor<strong>do</strong> entre os autores. Realmente as artes <strong>na</strong> Inglaterra têm ligação tradicio<strong>na</strong>l com o<br />

oculto. E não só em tempos antigos. A ilha deu ao mun<strong>do</strong> o mais famoso mago <strong>do</strong> Século 20,<br />

Aleister Crowley. A partir <strong>do</strong>s anos 60, presenciou a renovação <strong>do</strong> misticismo e o<br />

aparecimento de uma nova geração de cria<strong>do</strong>res fortemente envolvi<strong>do</strong>s com magia. Entre os<br />

mais conheci<strong>do</strong>s estão os escritores de livros e quadrinhos Alan Moore ("A Voz de Fogo" e<br />

"Do Inferno") e Grant Morrison, cuja cultuada série "Os Invisíveis" é a matriz de "Matrix", o<br />

filme.<br />

No Reino Uni<strong>do</strong>, até as obras de respeitáveis acadêmicos cristãos, como o inglês J.R.R.<br />

Tolkien e o irlandês C.S. Lewis, têm componentes místicos muito fortes. Ambos andam mais<br />

populares <strong>do</strong> que nunca e têm si<strong>do</strong> muito li<strong>do</strong>s por a<strong>do</strong>lescentes à espera <strong>do</strong> quinto episódio<br />

de "Harry Potter". Amigos e contemporâneos, os <strong>do</strong>is faziam parte <strong>do</strong> grupo de intelectuais<br />

conheci<strong>do</strong> como "os cristãos de Oxford", cria<strong>do</strong> nessa universidade <strong>na</strong> década de 30.<br />

Colocaram to<strong>do</strong> seu fervor religioso <strong>na</strong>s obras que lhes deram fama, "O Senhor <strong>do</strong>s Anéis" e<br />

"As Crônicas de Narnia". Tolkien, estudioso da literatura saxônica, pretendia, com a "saga <strong>do</strong><br />

anel", criar uma mitologia artificial, mas crível, e tipicamente inglesa, à altura <strong>do</strong> que<br />

imagi<strong>na</strong>va que o país merecesse. Foi mais bem sucedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> que poderia imagi<strong>na</strong>r. Sua<br />

influência se espalhou pela cultura mundial e está nos lugares mais inespera<strong>do</strong>s - até no filme<br />

"Xuxa e os Duendes". Tolkien assumia que a Terra Média era um mun<strong>do</strong> pré-cristão, cuja<br />

história se passava antes <strong>do</strong> peca<strong>do</strong> origi<strong>na</strong>l. Não se incomodava com os paralelos entre o pão<br />

<strong>do</strong>s Elfos e a eucaristia, ou entre Galadriel e a Virgem Maria. Só admitiu que "Gandalf é um


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anjo". Lewis foi além. As sete "Crônicas de Narnia" são o mais explícito proselitismo cristão,<br />

com meninos e meni<strong>na</strong>s exploran<strong>do</strong> um universo paralelo muito imagi<strong>na</strong>tivo, onde rei<strong>na</strong> o<br />

leão Aslan, o Cristo dessa outra realidade. O primeiro livro, "O Leão, a Bruxa e o Guarda-<br />

Roupa", voltou às listas de mais vendi<strong>do</strong>s pelo mun<strong>do</strong> afora e é muito recomenda<strong>do</strong> por<br />

igrejas cristãs da Inglaterra e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. É um <strong>do</strong>s autores prediletos de J.K.<br />

Rowling.<br />

Outra grande influência <strong>na</strong> criação de Harry Potter é Dia<strong>na</strong> Wynne Jones, a grande dama da<br />

fantasia inglesa. Escreven<strong>do</strong> para jovens desde 1973, já têm vários clássicos no currículo,<br />

inclusive os quatro volumes das "Crônicas de Chrestomanci", iniciadas em 1977 e agora<br />

popularizadas fora da Inglaterra. Seu perso<strong>na</strong>gem principal, o garoto Christopher Chant, é um<br />

mago que guarda os portais entre os mun<strong>do</strong>s.<br />

Também anterior à "explosão Potter" é Terry Pratchett, o autor mais vendi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong><br />

nos anos 90, em qualquer gênero. Somente agora está fican<strong>do</strong> popular em outras línguas. A<br />

série "Discworld", iniciada por "A Cor da Magia", une fantasia aluci<strong>na</strong>da com o mais<br />

idiossincrático humor inglês.<br />

Os principais companheiros contemporâneos de Harry Potter <strong>na</strong>s listas de best-sellers são a<br />

família Baudelaire, o ladrãozinho Artemis Fowl e a poderosa Lyra da Língua Mágica - to<strong>do</strong>s<br />

em breve num cinema perto de você.<br />

Os nove livros de "Desventuras em Série", escritas por Daniel Handler sob o pseudônimo de<br />

Lemony Snicket, merecem ser li<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s os fãs da "Família Addams". Contam a<br />

desgraçada vida <strong>do</strong>s três órfãos Baudelaire, às voltas com criminosos encardi<strong>do</strong>s e roupas<br />

pinicantes.<br />

"Artemis Fowl" é outro astro. O maquiavélico menino prodígio <strong>do</strong> crime usa<br />

supercomputa<strong>do</strong>res para engambelar fadas e enfrentar exércitos mitológicos. O irlandês Eoin<br />

Colfer dispara frases secas de tira americano como "a voz que ema<strong>na</strong>va <strong>do</strong> alto-falante era tão<br />

séria quanto um inverno nuclear". Philip Pulmann ocupa um lugar especial. Ganhou prêmios<br />

literários importantes e tem admira<strong>do</strong>res e detratores igualmente apaixo<strong>na</strong><strong>do</strong>s. A razão é que<br />

sua trilogia "Fronteiras <strong>do</strong> Universo" é herética, um libelo anti-religioso e anticristão.<br />

Inspirada no "Paraíso Perdi<strong>do</strong>", de John Milton, a série relata a batalha fi<strong>na</strong>l entre a<br />

Autoridade, as forças <strong>do</strong> controle e <strong>do</strong> ritual, que aprisio<strong>na</strong>m a humanidade há milênios, e a<br />

República <strong>do</strong> Paraíso, que vem lutan<strong>do</strong> pela liberdade desde que os anjos se rebelaram contra


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Deus. Pulmann é um para<strong>do</strong>xo: coloca sua imagi<strong>na</strong>ção incomparável a serviço de um elogio<br />

<strong>do</strong> materialismo. Diz que "depois de comida, teto e companhia, não há <strong>na</strong>da que o homem<br />

deseje tanto quanto histórias".<br />

André Forastieri, 37, é editor e co-funda<strong>do</strong>r da Conrad Editora, especializada no <strong>leitor</strong> jovem. Agradece a<br />

Valderez, sua mãe, por tê-lo ensi<strong>na</strong><strong>do</strong> a ler, e a João Carlos, seu pai, pela coleção completa <strong>do</strong> Sítio <strong>do</strong> Picapau<br />

Amarelo, que ganhou em 1972.


Opinião<br />

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45<br />

Alberto Manguel - Ler é poder<br />

Quan<strong>do</strong> tinha 16 anos, o jovem argentino Alberto Manguel trabalhava numa livraria em<br />

Buenos Aires. Certo dia, viu entrar pela porta, acompanha<strong>do</strong> de sua mãe, um homem cego, já<br />

de meia-idade, que havia encomenda<strong>do</strong> uma obra esquisita – um dicionário de anglo-saxão.<br />

To<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> conhecia o homem: era Jorge Luis Borges, um <strong>do</strong>s mais importantes escritores<br />

<strong>do</strong> continente latino-americano e, para muitos, um <strong>do</strong>s mais importantes <strong>do</strong> século. Manguel<br />

atendeu o escritor. E este, quan<strong>do</strong> já estava para ir embora, resolveu fazer-lhe uma proposta:<br />

que tal se <strong>na</strong>s horas livres o rapaz fosse até sua casa, para ajudá-lo com os textos que ele não<br />

podia mais enxergar? Nos <strong>do</strong>is anos seguintes, foi exatamente o que aconteceu. Ele leu em<br />

voz alta para Borges. Para si mesmo, enquanto isso, confirmou sua paixão pela <strong>leitura</strong>. Hoje,<br />

aos 55 anos, ele é um especialista de renome inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l nesse tema. Sua obra mais<br />

conhecida é Uma História da Leitura, que, lançada pela editora Companhia das Letras, chegou<br />

a freqüentar as listas de mais vendi<strong>do</strong>s no Brasil. Com justiça. Escrito em linguagem clara e<br />

atraente, repleto de histórias e curiosidades, o ensaio aborda o assunto das mais diversas<br />

perspectivas – da iniciação à literatura à relação <strong>do</strong> texto escrito com as imagens e as novas<br />

tecnologias. Filho de diplomata, Manguel – que se lembra de ter decifra<strong>do</strong> o significa<strong>do</strong> das<br />

letras de um cartaz pela primeira vez aos 4 anos – já viveu em diversos países, da Itália ao<br />

Taiti, e é fluente em cinco línguas. Atualmente, é <strong>cidadão</strong> <strong>do</strong> Ca<strong>na</strong>dá, "um país onde sua voz é<br />

escutada sem que você precise ser um político". Viven<strong>do</strong> em Calgary, participa neste ano de<br />

um programa para escritores <strong>na</strong> universidade local e escreve Uma História <strong>do</strong> Amor e <strong>do</strong><br />

Ódio, a ser lança<strong>do</strong> até dezembro. Foi lá que Manguel deu a VEJA a seguinte entrevista:<br />

Veja – Numa época em que pre<strong>do</strong>mi<strong>na</strong>m as imagens, por que a <strong>leitura</strong> ainda é importante?<br />

Manguel – A atual cultura de imagens é superficialíssima, ao contrário <strong>do</strong> que acontecia <strong>na</strong><br />

Idade Média e <strong>na</strong> Re<strong>na</strong>scença, épocas também marcadas por uma forte imagética. Pense, por<br />

exemplo, <strong>na</strong>s imagens veiculadas pela publicidade. Elas captam a nossa atenção por ape<strong>na</strong>s<br />

poucos segun<strong>do</strong>s, sem nos dar chance para pensar. Essa é a tendência geral em to<strong>do</strong>s os meios<br />

visivos. Assim, a palavra escrita é, mais <strong>do</strong> que nunca, a nossa principal ferramenta para<br />

compreender o mun<strong>do</strong>. A grandeza <strong>do</strong> texto consiste em nos dar a possibilidade de refletir e<br />

interpretar. Prova disso é que as pessoas estão len<strong>do</strong> cada vez mais, assim como mais livros


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estão sen<strong>do</strong> publica<strong>do</strong>s a cada ano. Bill Gates, presidente da Microsoft, propõe uma sociedade<br />

sem papel. Mas, para desenvolver essa idéia, ele publicou um livro. Isso diz alguma coisa.<br />

Veja – Que diferenças existem entre ler um livro e ler a mesma obra numa tela de<br />

computa<strong>do</strong>r?<br />

Manguel – Os livros de hoje derivam <strong>do</strong>s pergaminhos e estes, das tábuas. Ou seja, são<br />

resulta<strong>do</strong> de um processo que visou facilitar a vida <strong>do</strong> <strong>leitor</strong>. O formato atual <strong>do</strong> livro permite<br />

carregá-lo para qualquer lugar, folheá-lo sem esforço e anotar em suas margens. Também<br />

possibilita que saibamos exatamente seu tamanho, o que era difícil no caso <strong>do</strong> pergaminho.<br />

As palavras impressas no papel são tangíveis, você quase pode tocar a tinta, e têm uma<br />

durabilidade incrível. No museu de arqueologia de Nápoles, vi papiros queima<strong>do</strong>s <strong>na</strong> erupção<br />

<strong>do</strong> Vesúvio que destruiu Pompéia. Ainda é possível ler o que está escrito nesses fragmentos.<br />

Já se um disquete cair <strong>na</strong> água o texto nele conti<strong>do</strong> desaparecerá para sempre. No computa<strong>do</strong>r,<br />

o texto não tem uma realidade sólida, além de ser extremamente frágil – se você apertar um<br />

coman<strong>do</strong> erra<strong>do</strong>, adeus texto. Quan<strong>do</strong> falamos em ler um livro, nosso vocabulário é<br />

gastronômico: "Devoramos um livro" ou "Saboreamos um texto". Já em relação ao<br />

computa<strong>do</strong>r usamos palavras que têm a ver com superfície, como "surfar <strong>na</strong> internet" ou<br />

"escanear um texto". É impossível interiorizar o texto que aparece <strong>na</strong> tela luminosa. Isso me<br />

faz pensar que não lidamos com a informática de maneira correta. Veja o caso <strong>do</strong> CD-ROM.<br />

Insistimos em utilizá-lo como artifício para enriquecer a edição de uma obra, quan<strong>do</strong> o melhor<br />

recipiente para um texto é o livro convencio<strong>na</strong>l. A história mostra que esse tipo de problema<br />

ocorre sempre que a<strong>do</strong>tamos uma nova tecnologia. No fi<strong>na</strong>l <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, dizia-se que,<br />

com o <strong>na</strong>scimento da fotografia, a pintura morreria. Da mesma forma, acredita-se hoje que a<br />

mídia eletrônica substituirá a imprensa. Bobagem. Assim como a fotografia encontrou uma<br />

linguagem própria, a informática também achará a sua.<br />

Veja – O senhor usa a internet?<br />

Manguel – Não muito. O processo de pesquisa <strong>na</strong> internet não me leva rapidamente ao tipo<br />

de in<strong>formação</strong> que busco. Estou bem mais acostuma<strong>do</strong> a pesquisar em bibliotecas.<br />

Veja – O filme Mensagem para Você mostra que as mega livrarias america<strong>na</strong>s, como a<br />

Barnes & Noble, estão abocanhan<strong>do</strong> as peque<strong>na</strong>s. O que o senhor acha dessa tendência?


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Manguel – Odeio a Barnes & Noble, mas não há muito o que fazer a respeito. A noção de<br />

livraria como um supermerca<strong>do</strong> onde os vende<strong>do</strong>res não sabem o que estão venden<strong>do</strong> é uma<br />

idéia infeliz, movida por razões econômicas. Para o <strong>leitor</strong>, a única vantagem é o grande<br />

número de títulos disponíveis. Houve uma perda qualitativa com o advento das mega lojas,<br />

porque um freqüenta<strong>do</strong>r de livraria não ia a um estabelecimento ape<strong>na</strong>s para comprar um<br />

livro. Ia também para conversar sobre literatura, receber recomendações de obras, ter uma<br />

seleção mais pessoal. As livrarias tinham uma identidade, ao contrário da Barnes & Noble. O<br />

mesmo raciocínio vale para uma livraria virtual, como a Amazon.<br />

Veja – É melhor ler publicações sem qualidade <strong>do</strong> que não ler <strong>na</strong>da?<br />

Manguel – Essa pergunta pressupõe que certos livros são necessariamente melhores <strong>do</strong> que<br />

outros. Não acredito em hierarquias absolutas no campo da <strong>leitura</strong>. Nos países árabes, que<br />

valorizavam a filosofia e a poesia em detrimento da ficção, As Mil e Uma Noites eram vistas<br />

como literatura barata. No Ocidente, porém, o livro tornou-se um clássico. A dimensão de<br />

uma obra depende também da experiência pessoal de cada um, de quanto sua vida foi<br />

transformada por ela. É um tanto arrogante dizer "esse é o livro que você deve ler e esse é o<br />

que você não deve". Há obras certas para diferentes momentos de sua existência.<br />

Veja – Que autores tiveram grande influência sobre o senhor?<br />

Manguel – Um nome que me ocorre é o <strong>do</strong> brasileiro Monteiro Lobato, autor <strong>do</strong> Sítio <strong>do</strong><br />

Pica-Pau Amarelo. Ter li<strong>do</strong> Monteiro Lobato numa certa fase de minha vida foi mais<br />

enriquece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que ter li<strong>do</strong> Camões, há cinco anos. Camões é interessante, levou-me a


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pensar em questões profundas, mas não mu<strong>do</strong>u minha vida. Tive contato com as obras de<br />

Lobato aos 8 anos, logo depois de mudar para a Argenti<strong>na</strong>. Eu relacio<strong>na</strong>va alguns episódios<br />

protagoniza<strong>do</strong>s pela boneca Emília com certas dificuldades que tive <strong>na</strong> escola nova, por causa<br />

<strong>do</strong> idioma que eu não falava.<br />

Veja – O senhor conhece Macha<strong>do</strong> de Assis?<br />

Manguel – Gosto muito <strong>do</strong> autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Macha<strong>do</strong> de Assis é<br />

um <strong>do</strong>s escritores fundamentais de nosso tempo. O fato de ele não ter exerci<strong>do</strong> uma influência<br />

inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l deve-se exclusivamente a circunstâncias culturais e econômicas. Ele viveu no<br />

Brasil, um país remoto no século passa<strong>do</strong>, apesar de seu tamanho. Se Macha<strong>do</strong> de Assis<br />

tivesse escrito em inglês, ele teria si<strong>do</strong> um precursor, e não um herdeiro de determi<strong>na</strong>das<br />

concepções literárias.<br />

Veja – O que se perde ao ler um livro traduzi<strong>do</strong>?<br />

Manguel – Tu<strong>do</strong>. Um livro é a língua <strong>na</strong> qual ele foi escrito. Sua tradução é outra obra – que<br />

às vezes pode até ser melhor <strong>do</strong> que a origi<strong>na</strong>l. Quem sabe alemão, francês, italiano, espanhol<br />

e sueco tem a literatura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiro a sua disposição. Se você fala ape<strong>na</strong>s inglês, não. Os<br />

países de língua inglesa não traduzem muito. Têm uma cultura profundamente arrogante, que<br />

acredita que a civilização termi<strong>na</strong> nos limites de seu próprio idioma.<br />

Veja – Uma criança é capaz de entender obras clássicas, como as <strong>do</strong> inglês William<br />

Shakespeare?<br />

Manguel – Não, Shakespeare escreve numa linguagem antiga. Uma criança pode entender<br />

algo desde que seus textos sejam verti<strong>do</strong>s para uma linguagem mais simples. Ainda assim, as<br />

crianças só compreenderão Shakespeare até certo ponto, dada sua parca experiência de vida e<br />

limitada <strong>formação</strong> intelectual.<br />

Veja – As adaptações de clássicos para crianças são uma boa idéia?<br />

Manguel – Não as acho necessárias. Por que uma criança deve ser obrigada a ler obras<br />

clássicas? Ela pode começar len<strong>do</strong> livros próprios para sua idade e, depois de crescida, chegar<br />

a Shakespeare. Mais <strong>do</strong> que uma simplificação, a adaptação de uma obra implica uma<br />

intervenção i<strong>na</strong>dmissível em seu conteú<strong>do</strong>. No limite, ela pode tirar da pessoa o desejo de ler


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um clássico <strong>na</strong> versão integral. Não há por que tratar a <strong>leitura</strong> de grandes livros como<br />

obrigação. Não há prazer <strong>na</strong> obrigação e devemos ler ape<strong>na</strong>s por prazer.<br />

Veja – É correto forçar uma criança a ler?<br />

Manguel – Da mesma maneira que não podemos fazer com que uma criança goste de alguém,<br />

não temos a capacidade de transformá-la num <strong>leitor</strong>. O que devemos fazer, como adultos<br />

responsáveis, é colocar a literatura à disposição da garotada. Uma das razões pelas quais às<br />

vezes não apreciamos um determi<strong>na</strong><strong>do</strong> livro é por termos si<strong>do</strong> força<strong>do</strong>s a lê-lo <strong>na</strong> escola ou<br />

por nossos pais terem li<strong>do</strong> e nos obriga<strong>do</strong> a fazer o mesmo. Parte da maravilha e da riqueza da<br />

<strong>leitura</strong> vem da liberdade que ela sugere e da possibilidade de vagar por florestas de<br />

prateleiras, escolhen<strong>do</strong> o livro certo para aquele momento, como se nós fôssemos seu<br />

primeiro <strong>leitor</strong> ou estivéssemos chegan<strong>do</strong> a um país desconheci<strong>do</strong>. Essa é uma experiência<br />

que não devemos tirar de nossas crianças. Devemos deixá-las escolher, dizen<strong>do</strong>: "Você será<br />

uma pessoa melhor, mais feliz e mais sábia quan<strong>do</strong> encontrar seu livro".<br />

Veja – Quem lê muito necessariamente escreve bem?<br />

Manguel – Muitos escritores preferem não ler enquanto estão escreven<strong>do</strong>, para não<br />

influenciar seu trabalho. Mas só há uma forma de aprender a escrever bem: len<strong>do</strong>. Len<strong>do</strong> você<br />

pode descobrir como os escritores fizeram suas obras e ter noção <strong>do</strong> processo da escrita. Mas<br />

não há regras. O escritor inglês Somerset Maugham dizia que "existem três regras para<br />

escrever bem. Infelizmente ninguém sabe quais são elas".<br />

Veja – A censura a livros é um instrumento váli<strong>do</strong> para impedir que certas idéias perniciosas<br />

se disseminem?<br />

Manguel – A história <strong>do</strong> livro sempre caminhou la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong> com a censura, mas não canso de<br />

repetir: censurar é uma idiotice. Os livros bani<strong>do</strong>s voltam de uma forma ou de outra,<br />

independentemente de seu conteú<strong>do</strong>. Conheço um professor de filosofia que foi prisioneiro de<br />

um campo de concentração <strong>na</strong> Alemanha <strong>na</strong>zista. Por ter <strong>na</strong> mente muitos <strong>do</strong>s clássicos, ele<br />

servia de biblioteca viva para os outros prisioneiros. Sempre se procura desculpa para a<br />

censura. Hoje ela é a pornografia infantil. Mas a única maneira de evitar as eventuais<br />

influências negativas de um texto é por meio da educação, ensi<strong>na</strong>n<strong>do</strong> às pessoas como ler.<br />

Livros, por si sós, não incitam à violência ou propiciam o <strong>na</strong>scimento <strong>do</strong> anti-semitismo. O


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homem que matou John Lennon estava len<strong>do</strong> O Apanha<strong>do</strong>r no Campo de Centeio, de J.D.<br />

Salinger, uma das obras mais singelas e idealistas da literatura america<strong>na</strong>.<br />

Veja – Qual é o país que detém o maior índice de <strong>leitura</strong>?<br />

Manguel – Estatísticas mostram que é a Islândia. O curioso é que esse da<strong>do</strong> não vem de<br />

agora. No século passa<strong>do</strong>, o francês Júlio Verne criou uma interessante passagem a respeito<br />

no romance Viagem ao Centro da Terra. Ao chegar à biblioteca de Reykjavik, capital daquele<br />

país, seus heróis encontraram as prateleiras quase vazias. Os livros estavam empresta<strong>do</strong>s a<br />

ávi<strong>do</strong>s <strong>leitor</strong>es.<br />

Veja – Por que o a<strong>na</strong>lfabetismo é crônico em tantas <strong>na</strong>ções, apesar de ser um problema fácil e<br />

barato de ser resolvi<strong>do</strong>?<br />

Manguel – Porque ter acesso à palavra escrita significa a possibilidade de <strong>do</strong>mi<strong>na</strong>r um<br />

instrumento de poder chama<strong>do</strong> linguagem formal. É <strong>na</strong> linguagem formal que estão escritos<br />

os códigos, as leis de um país. Manter grande parte da população no a<strong>na</strong>lfabetismo é uma das<br />

maneiras utilizadas por gover<strong>na</strong>ntes que querem perpetuar-se no poder, sem sofrer ameaças.<br />

Mas existe outro tipo de a<strong>na</strong>lfabetismo – aquele defini<strong>do</strong> por São Jerônimo como a<br />

"ignorância desejada", que ele considerava um peca<strong>do</strong>.<br />

Veja – O que é a "ignorância desejada"?<br />

Manguel – É a atitude de quem, deliberadamente, não dá importância à cultura, mesmo ten<strong>do</strong><br />

um grau satisfatório de escolaridade. Há um grande número de a<strong>na</strong>lfabetos desse tipo nos<br />

países desenvolvi<strong>do</strong>s.<br />

Veja – O senhor tem um lugar preferi<strong>do</strong> para ler?<br />

Manguel – A<strong>do</strong>ro ler nos trens, meu transporte predileto. Gosto também de ler <strong>na</strong> cama e leio<br />

no banheiro, claro. O lugar mais desconfortável é a mesa de trabalho.<br />

Texto: Entrevista de Alberto Manguel à Revista VEJA por Tania Me<strong>na</strong>i - 07.julho.1999

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