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Título: O Acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o ... - UFF

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<strong>Título</strong>:<br />

O <strong>Acolhimento</strong> e <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>: o caso <strong>de</strong><br />

Betim (MG)<br />

“ User´s <strong>em</strong>brac<strong>em</strong>ent” and the working process in health: Betim´s<br />

case (MG)<br />

Autores:<br />

Túlio Batista Franco<br />

Pesquisador, Psicólogo da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Betim<br />

R. Gama Cerqueira Nº 10 Aptº 502<br />

Nova Suiça<br />

30 460- 360 - Belo Horizonte - MG<br />

Wan<strong>de</strong>rlei Silva Bueno<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina Preventiva e Social / UNICAMP<br />

Campus Universitário - UNICAMP<br />

Campinas - SP<br />

Emerson Elias Merhy<br />

Departamento <strong>de</strong> Medicina Preventiva e Social / UNICAMP<br />

Campus Universitário - UNICAMP<br />

Campinas - SP<br />

1


RESUMO - Este <strong>trabalho</strong> relata experiência <strong>de</strong> inversão do mo<strong>de</strong>lo tecnoassistencial<br />

para a saú<strong>de</strong>, a partir da diretriz operacional do <strong>Acolhimento</strong>. O<br />

<strong>Acolhimento</strong> propõe que o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> seja organizado, <strong>de</strong> forma<br />

usuário- centrada, partindo d<strong>os</strong> seguintes princípi<strong>os</strong>: 1. Aten<strong>de</strong>r a todas as<br />

pessoas que procuram <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, garantindo a acessibilida<strong>de</strong><br />

universal; 2. Reorganizar o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, <strong>de</strong> forma que este <strong>de</strong>sloque<br />

seu eixo central do médico para uma equipe multiprofissional - “Equipe <strong>de</strong><br />

<strong>Acolhimento</strong>” -, que se encarrega da escuta do usuário, se comprometendo a<br />

resolver seu probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; e, 3. Qualificar a relação trabalhadorusuário,<br />

que <strong>de</strong>ve se dar por parâmetr<strong>os</strong> humanitári<strong>os</strong>, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e<br />

cidadania. Através da investigação realizada, se pô<strong>de</strong> observar: A) aumento<br />

significativo do rendimento profissional, d<strong>os</strong> servidores “não médic<strong>os</strong>”, que<br />

passaram a atuar na assistência. B) o elevado rendimento profissional,<br />

<strong>de</strong>terminou por conseqüência maior oferta e o aumento extraordinário da<br />

acessibilida<strong>de</strong> a<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. C) A “Equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>”,<br />

disp<strong>os</strong>itivo organizado para a escuta d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> que chegam à Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, conseguiu, após 9 meses <strong>de</strong> experiência na assistência, resolver mais<br />

<strong>de</strong> 50% d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> recorrer a outr<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> na Unida<strong>de</strong>.<br />

Estes resultad<strong>os</strong>, se associam à elevada motivação d<strong>os</strong> trabalhadores da<br />

saú<strong>de</strong> para trabalhar<strong>em</strong> a nova diretriz e a uma experiência <strong>de</strong> gestão<br />

colegiada, que permitiu process<strong>os</strong> criativ<strong>os</strong> e criadores no processo <strong>de</strong><br />

<strong>trabalho</strong>, instituintes <strong>de</strong> novas práticas na operacionalização do <strong>trabalho</strong>.<br />

Abstrat - The subject of this paper is the health care changed when we use<br />

“user´s <strong>em</strong>brac<strong>em</strong>ent” like a strategic aim. The “user´s <strong>em</strong>brac<strong>em</strong>ent”<br />

prop<strong>os</strong>e that the client would be the center of the health services<br />

organization, and inclu<strong>de</strong>: 1) to attend everybody who <strong>de</strong>mands the health<br />

service, guaranteeing universal acessibility; 2) to reorganiza the working<br />

process, so that it´s central axle get dislocated from the doctor to a<br />

multiprofessional team - “user´s <strong>em</strong>brac<strong>em</strong>ent team” - which is responsable<br />

to “listen” the user and to get engaged with the resolution of his health<br />

probl<strong>em</strong>s; and 3) to consi<strong>de</strong>r solidarity, humanity and citizenship as<br />

parameters for users and workers relationship. Throught researching we<br />

observed: a) the improv<strong>em</strong>ent of the no-medical attendants´ produtivity at<br />

care assistance; b) hight professional profit has established nore assistance<br />

and acessibility for the health service users; c) after nine months the “user´s<br />

<strong>em</strong>brac<strong>em</strong>ent team” resolved, by th<strong>em</strong>selves, 50% of the health probl<strong>em</strong>s.<br />

The above mentioned effects too are linked to the worker´s motivation, what<br />

has led to new working process creation.<br />

Palavras- Chave Processo <strong>de</strong> Trabalho; <strong>Acolhimento</strong>, Acesso, Auto- análise,<br />

Autogestão<br />

Key´s words Working Process; “User´s Embrac<strong>em</strong>ent”; Acessibility; Self-<br />

Conducting<br />

2


PARTE I - O que é isto <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong><br />

A medida que vam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> aproximando d<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> relações d<strong>os</strong><br />

usuári<strong>os</strong> com <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>os</strong> seus trabalhadores, para<br />

verificarm<strong>os</strong> o seu funcionamento, vam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> surpreen<strong>de</strong>ndo com a<br />

<strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que: s<strong>em</strong>pre que houver um “processo relacional” <strong>de</strong> um<br />

usuário com um trabalhador haverá uma dimensão individual do <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong><br />

saú<strong>de</strong>, realizado por qualquer trabalhador, que comporta um conjunto <strong>de</strong><br />

“ações clínicas”.<br />

“ Ações clínicas” no sentido do encontro <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s com<br />

process<strong>os</strong> <strong>de</strong> intervenção tecnologicamente orientad<strong>os</strong>, que visam “operar”<br />

sobre o campo das necessida<strong>de</strong>s que se faz presente neste encontro, na<br />

busca da perseguição <strong>de</strong> fins implicad<strong>os</strong> com a manutenção e/ou<br />

recuperação <strong>de</strong> um certo modo <strong>de</strong> viver a vida.<br />

Estes encontr<strong>os</strong> inter- individuais, a dois, é produzido <strong>em</strong> um espaço<br />

intercessor (5) no qual uma dimensão tecnológica do <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

clinicamente evi<strong>de</strong>nte, sustenta- se: a da tecnologia das relações, território<br />

próprio das tecnologias leves (7).<br />

Olhando estes moment<strong>os</strong> - tanto pelo do <strong>trabalho</strong> do médico, quanto<br />

<strong>de</strong> um porteiro <strong>de</strong> um serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - n<strong>os</strong> são reveladas questões chaves<br />

sobre <strong>os</strong> process<strong>os</strong> <strong>de</strong> produção <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, n<strong>os</strong> quais o <strong>Acolhimento</strong> adquire<br />

uma expressão significativa.<br />

Isto é, <strong>em</strong> todo lugar <strong>em</strong> que ocorre um encontro - enquanto <strong>trabalho</strong><br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> - entre um trabalhador e um usuário, opera process<strong>os</strong> tecnológic<strong>os</strong><br />

(<strong>trabalho</strong> vivo <strong>em</strong> ato) que visam a produção <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> escutas e<br />

responsabilizações, que se articulam com a constituição d<strong>os</strong> víncul<strong>os</strong> e d<strong>os</strong><br />

compromiss<strong>os</strong> <strong>em</strong> projet<strong>os</strong> <strong>de</strong> intervenção, que objetivam atuar sobre<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> busca da produção <strong>de</strong> “algo” que p<strong>os</strong>sa representar a<br />

“conquista <strong>de</strong> controle do sofrimento (enquanto doença) e/ou a produção da<br />

saú<strong>de</strong>.<br />

3


Estes process<strong>os</strong> intercessores - como o <strong>Acolhimento</strong> - é atributo <strong>de</strong><br />

uma prática clínica realizada por qualquer trabalhador <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, e focá-lo<br />

analiticamente é criar a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “pensar” a micropolítica do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e suas implicações no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminad<strong>os</strong><br />

mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> atenção, ao permitir pensar sobre <strong>os</strong> process<strong>os</strong> institucionais por<br />

on<strong>de</strong> “circulam” o <strong>trabalho</strong> vivo <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, expondo o seu modo privado <strong>de</strong><br />

agir à um <strong>de</strong>bate público no interior do coletivo d<strong>os</strong> trabalhadores, a partir <strong>de</strong><br />

uma ótica usuário- centrada.<br />

No entanto, o t<strong>em</strong>a do <strong>Acolhimento</strong> apresenta- n<strong>os</strong> um outra<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>: a <strong>de</strong> argüir sobre o processo <strong>de</strong> produção da relação usuário-<br />

serviço sob o olhar específico da acessibilida<strong>de</strong>, no momento das ações<br />

“receptoras” d<strong>os</strong> “clientes” <strong>de</strong> um certo estabelecimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Olhando, assim, como uma etapa <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> produção o<br />

<strong>Acolhimento</strong> funciona como um disp<strong>os</strong>itivo a provocar ruíd<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong><br />

moment<strong>os</strong> n<strong>os</strong> quais o serviço constitui seus mecanism<strong>os</strong> <strong>de</strong> recepção d<strong>os</strong><br />

usuári<strong>os</strong>, enquanto certas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> que se<br />

centram na produção <strong>de</strong> um mútuo reconhecimento <strong>de</strong> direit<strong>os</strong> e<br />

responsabilida<strong>de</strong>s, institucionalizad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> acordo com cert<strong>os</strong><br />

mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.<br />

Como etapa do conjunto do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que o serviço<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia, na sua relação como o usuário, o <strong>Acolhimento</strong> po<strong>de</strong><br />

analiticamente evi<strong>de</strong>nciar as dinâmicas e <strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>s a<br />

que <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> (portadores das necessida<strong>de</strong>s centrais e finalísticas <strong>de</strong> um<br />

serviço) estão submetid<strong>os</strong>, nas suas relações com “o quê” <strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

atenção constitu<strong>em</strong> como verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> camp<strong>os</strong> <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

para si.<br />

Os encontr<strong>os</strong> e <strong>de</strong>sencontr<strong>os</strong> nesta etapa po<strong>de</strong>m, ao gerar ruíd<strong>os</strong> e<br />

estranhament<strong>os</strong> para um olhar analisador (<strong>em</strong> produção no interior da<br />

equipe <strong>de</strong> trabalhadores), revelar uma dinâmica instituinte que se abre a<br />

novas linhas <strong>de</strong> p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s, no <strong>de</strong>senho do modo <strong>de</strong> se trabalhar <strong>em</strong><br />

saú<strong>de</strong>, permitindo a introdução <strong>de</strong> modificações no cotidiano do serviço <strong>em</strong><br />

torno <strong>de</strong> um processo usuário- centrado, mais comprometido com a <strong>de</strong>fesa da<br />

vida individual e coletiva.<br />

4


Em síntese o que propom<strong>os</strong> é agir com um <strong>Acolhimento</strong> como um<br />

disp<strong>os</strong>itivo que interroga process<strong>os</strong> intercessores que constró<strong>em</strong> “relações<br />

clínicas” das práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e que permite escutar “ruíd<strong>os</strong>” do modo<br />

como o <strong>trabalho</strong> vivo é capturado conforme cert<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> assistência,<br />

<strong>em</strong> todo lugar que há “relações clínicas” <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>; além <strong>de</strong> expor a “re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> petição e compromisso” que há entre “etapas” <strong>de</strong> certas linhas <strong>de</strong><br />

produção constituídas <strong>em</strong> cert<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, interrogando<br />

centralmente as relações <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>.<br />

Qual a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> atuar sobre estes “ruíd<strong>os</strong>” e process<strong>os</strong>?<br />

Na medida que nas práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, individual e coletiva, o que<br />

buscam<strong>os</strong> é a produção da responsabilização clínica e sanitária e da<br />

intervenção resolutiva, tendo <strong>em</strong> vista as “pessoas”, como caminho para<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a vida, reconhec<strong>em</strong><strong>os</strong> que s<strong>em</strong> “acolher” e “vincular”, não há<br />

produção <strong>de</strong>sta responsabilização e n<strong>em</strong> “otimização tecnológica” das<br />

resolutivida<strong>de</strong>s que efetivamente impactam <strong>os</strong> process<strong>os</strong> sociais <strong>de</strong><br />

produção da saú<strong>de</strong> e da doença.<br />

Baseado nessas pr<strong>em</strong>issas, vejam<strong>os</strong> adiante, com a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um<br />

processo iniciado junto a uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, no âmbito<br />

municipal, as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> introduzir estes percurs<strong>os</strong>, na busca <strong>de</strong><br />

“impactar” <strong>os</strong> mecanism<strong>os</strong> <strong>de</strong> acesso e <strong>de</strong> “explorar” as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

nov<strong>os</strong> <strong>de</strong>senh<strong>os</strong> micropolític<strong>os</strong> no modo cotidiano <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> cert<strong>os</strong><br />

mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.<br />

Parte II - Relato <strong>de</strong> uma experiência<br />

Em Betim, vivia- se no ano <strong>de</strong> 1996, intensa mobilização na re<strong>de</strong> básica<br />

assistencial, para a implantação do <strong>Acolhimento</strong>, diretriz do mo<strong>de</strong>lo tecno-<br />

assistencial, orientado n<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Propõe<br />

principalmente, reorganizar o serviço, no sentido da garantia do acesso<br />

universal, resolubilida<strong>de</strong> e atendimento humanizado. “Oferecer s<strong>em</strong>pre uma<br />

resp<strong>os</strong>ta p<strong>os</strong>itiva ao probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentado pelo usuário”, como<br />

tradução da idéia básica do <strong>Acolhimento</strong>, que se construiu como diretriz<br />

operacional.<br />

5


Pelo lugar estratégico ocupado por esta prop<strong>os</strong>ta, acham<strong>os</strong> que o<br />

<strong>Acolhimento</strong> <strong>de</strong>veria ser estudado, para se verificar a sua eficácia e assim<br />

oferecer subsídi<strong>os</strong> à consolidação do <strong>Acolhimento</strong> nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po que procurar viabilizar seu aperfeiçoamento, enquanto<br />

tecnologia <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A motivação para este estudo, partiu inicialmente da incessante<br />

inquietação na busca <strong>de</strong> uma resp<strong>os</strong>ta alternativa para <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

que f<strong>os</strong>se consistente o suficiente para abstrair- se <strong>em</strong> uma nova utopia.<br />

Este estudo, é <strong>de</strong>vedor <strong>de</strong> uma investigação realizada pela Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Investigação <strong>em</strong> Sist<strong>em</strong>as e Serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Cone Sul (8), e estam<strong>os</strong><br />

certo que, ao aprofundar o conhecimento através <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> t<strong>em</strong>a<br />

tão relevante para o mo<strong>de</strong>lo assistencial, como o <strong>Acolhimento</strong>, e ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, ao manterm<strong>os</strong> este estudo, <strong>em</strong> interlocução com as entida<strong>de</strong>s<br />

formuladoras <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e formadoras <strong>de</strong> Recurs<strong>os</strong> Human<strong>os</strong>,<br />

estam<strong>os</strong> no fundamental, exercitando a práxis como método <strong>de</strong> construção<br />

<strong>de</strong> novas prop<strong>os</strong>tas, substantivas o suficiente para dar resp<strong>os</strong>tas à altura d<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>safi<strong>os</strong> na organização <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as e Serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Além do mais, <strong>em</strong> boa parte, reproduz o fruto do <strong>trabalho</strong> coletivo da<br />

equipe da UBS R<strong>os</strong>a Capuche. Contribuiram outr<strong>os</strong> atores do SUS/Betim, que<br />

compõ<strong>em</strong> <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> diretiv<strong>os</strong> e assessores da SESA. Tiveram papel relevante<br />

no processo, <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> da Unida<strong>de</strong>, organizad<strong>os</strong> no Conselho<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Local.<br />

Caracterização Geral da Unida<strong>de</strong><br />

A UBS R<strong>os</strong>a Capuche, situa- se no município <strong>de</strong> Betim, no bairro Jardim<br />

Petrópolis. Sua área <strong>de</strong> abrangência compreen<strong>de</strong> <strong>os</strong> seguintes bairr<strong>os</strong>: Granja<br />

São João, Jardim Petrópolis, Parque do Sol, Parte da Vila Recreio, Resi<strong>de</strong>ncial<br />

Mira-Sol, Vila Monte Líbano. É classificada como UBS - Tipo 1, aten<strong>de</strong> às<br />

especialida<strong>de</strong>s básicas (Clínica Médica, Pediatria e Gineco/Obstetrícia), ações<br />

próprias <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> (Enfermeira, Técnica e Auxiliares <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>) e<br />

Serviço Social. O <strong>trabalho</strong> preventivo é realizado a partir d<strong>os</strong> programas <strong>de</strong><br />

6


atenção à saú<strong>de</strong> da mulher, materno- infantil, saú<strong>de</strong> do adulto e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

educação à saú<strong>de</strong> e imunização, realizadas junto à comunida<strong>de</strong>.<br />

P<strong>os</strong>sui Conselho Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com participação da comunida<strong>de</strong>, Conselho<br />

Gestor da Unida<strong>de</strong> e ainda o Fórum Saú<strong>de</strong>, que se reún<strong>em</strong> periodicamente e<br />

discut<strong>em</strong> todas as questões relacionadas à organização do serviço, tendo<br />

inclusive, participado do planejamento local.<br />

A população é estimada <strong>em</strong> 10.256 pessoas, para o ano <strong>de</strong> 1996, <strong>de</strong> acordo<br />

com o IBGE. Está distribuída da seguinte forma:<br />

POPUL<br />

1996 < 1 GESTAN- MULHERES ADOLES- > 35<br />

.<br />

TOTAL MASC FEM ANO TES ID. FÉRTIL CENTES ANOS<br />

10.25 5.069 5.186 249 410 3333 2355 2544<br />

6<br />

Antes do <strong>Acolhimento</strong><br />

No ano <strong>de</strong> 1995 (consi<strong>de</strong>rando Mar/95 a Fev/96 - antes da implantação<br />

do <strong>Acolhimento</strong>), a Unida<strong>de</strong> fez 1.342 atendiment<strong>os</strong> <strong>em</strong> média por mês, com<br />

1.456 horas trabalhadas, entre tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> profissionais da assistência. O<br />

processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> era, o tradicionalmente conhecido, centrado na figura e<br />

no saber do médico para o atendimento a<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Em vista à baixa oferta<br />

<strong>de</strong> consultas médicas, utilizava- se o velho sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> “fichas” para o acesso<br />

às mesmas. Esta era a única forma <strong>de</strong> administrar o serviço oferecido frente<br />

à <strong>de</strong>manda da população. Os que procuravam consulta e não conseguiam<br />

ficha, sequer entravam na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, “era do portão pra casa” ou<br />

para a peregrinação <strong>em</strong> outr<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>.<br />

Tudo isso resultava <strong>em</strong> profundo incômodo, não apenas para <strong>os</strong><br />

usuári<strong>os</strong>, mas para <strong>os</strong> trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que não viam alternativa no<br />

mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial, impl<strong>em</strong>entado até então, que p<strong>os</strong>sibilitasse<br />

aten<strong>de</strong>r a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Várias alternativas <strong>de</strong> modificar o processo <strong>de</strong><br />

7


marcação <strong>de</strong> consultas foram tentadas, contando com a colaboração<br />

inclusive do Conselho Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Todas elas, não conseguiram passar<br />

<strong>de</strong> mudanças na forma <strong>de</strong> administrar a fila e a ficha para as consultas. Na<br />

verda<strong>de</strong>, estava provado que aquela tecnologia <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>,<br />

não conseguia aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma satisfatória. A velha concepção do <strong>trabalho</strong><br />

centrado no médico e a forma ortodoxa <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>,<br />

m<strong>os</strong>travam objetivamente que aquela técnica estava obsoleta e seria<br />

incapaz <strong>de</strong> inverter o mo<strong>de</strong>lo assistencial, <strong>de</strong> acordo com as diretrizes e <strong>os</strong><br />

princípi<strong>os</strong> preconizad<strong>os</strong> pelo SUS.<br />

Em mead<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1995, contando com a assessoria do Laboratório <strong>de</strong><br />

Planejamento e Administração <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - LAPA/UNICAMP, o<br />

grupo dirigente da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Betim (incluindo aí o corpo<br />

gerencial) discutiu a prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> inversão do mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial,<br />

baseado nas diretrizes do Acesso, <strong>Acolhimento</strong>, Vínculo e Resolubilida<strong>de</strong>. Foi<br />

a partir daí que a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong><br />

implantar o <strong>Acolhimento</strong> <strong>em</strong> toda a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>.<br />

Em que consiste o <strong>Acolhimento</strong> enquanto diretriz operacional<br />

O <strong>Acolhimento</strong> propõe inverter a lógica <strong>de</strong> organização e<br />

funcionamento do serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, partindo d<strong>os</strong> seguintes princípi<strong>os</strong>:<br />

1. Aten<strong>de</strong>r a todas as pessoas que procuram <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

garantindo a acessibilida<strong>de</strong> universal. Assim, o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

assume sua função precípua, a <strong>de</strong> acolher, escutar e dar uma<br />

resp<strong>os</strong>ta p<strong>os</strong>itiva, capaz <strong>de</strong> resolver <strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da<br />

população. Fazendo isto, <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> criam p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s para o<br />

restabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> confiança e apoio do usuário.<br />

2. Reorganizar o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, <strong>de</strong> forma que este <strong>de</strong>sloque seu<br />

eixo central do médico para uma equipe multiprofissional - “equipe<br />

<strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>” - , que se encarrega da escuta do usuário, se<br />

comprometendo a resolver seu probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A consulta<br />

médica, é requisitada, só para <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>em</strong> que ela se justifica.<br />

Desta forma, tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> profissionais <strong>de</strong> nível superior e ainda as<br />

8


auxiliares e técnicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, participam da assistência<br />

direta ao usuário, aumentando enorm<strong>em</strong>ente o potencial <strong>de</strong> serviço<br />

da Unida<strong>de</strong>.<br />

3. Qualificar a relação trabalhador- usuário, que <strong>de</strong>ve se dar por<br />

parâmetr<strong>os</strong> humanitári<strong>os</strong>, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e cidadania. Essa é a<br />

argamassa capaz <strong>de</strong> unir solidamente <strong>os</strong> trabalhadores e usuári<strong>os</strong>,<br />

<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> interesses comuns, quais sejam, a constituição <strong>de</strong> um<br />

serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, com atenção integral, que atenda a<br />

tod<strong>os</strong> e esteja sob controle da comunida<strong>de</strong>.<br />

Implantação do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

É importante ressaltar que, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir implantar o <strong>Acolhimento</strong>,<br />

houve um período <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> todo o corpo gerencial da Secretaria <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, realizado através do Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento Gerencial,<br />

coor<strong>de</strong>nado pelo LAPA-UNICAMP, com objetivo <strong>de</strong> preparar <strong>os</strong> gerentes para<br />

a gestão, direcionando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então para a inversão do mo<strong>de</strong>lo tecno-<br />

assistencial. Nesse período, a equipe da SESA e <strong>os</strong> gerentes, já vinham sendo<br />

orientad<strong>os</strong> para proce<strong>de</strong>r às modificações n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, tendo sido<br />

organizado inclusive, como parte <strong>de</strong>ste processo, o Grupo <strong>de</strong> Apoio à Gestão<br />

(GAG), formado por dirigentes e técnic<strong>os</strong> da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, para apoiar<br />

as ativida<strong>de</strong>s nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

O ponto <strong>de</strong> partida para a implantação do <strong>Acolhimento</strong>, foi a <strong>de</strong>cisão<br />

do grupo dirigente da SESA, feita através d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> colegiad<strong>os</strong> <strong>de</strong> direção,<br />

quais sejam, o Grupo <strong>de</strong> Direção Estratégica (que reunia a Secretária <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> e <strong>os</strong> gerentes d<strong>os</strong> projet<strong>os</strong> estratégic<strong>os</strong>) e o Colegiado Gestor<br />

(formado pelo GDE e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> gerentes <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>). Essa <strong>de</strong>cisão,<br />

partia <strong>de</strong> alguns pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> básic<strong>os</strong>, quais sejam:<br />

1. A maioria das pessoas que necessitavam <strong>de</strong> atendimento <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

estavam excluídas d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, daí a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança e mesmo<br />

opinião negativa que <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> têm d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

2. As pessoas que procuravam a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, majoritariamente<br />

o faziam <strong>em</strong> busca da consulta médica, estrangulando<br />

completamente este serviço. Por outro lado, um gran<strong>de</strong> número<br />

9


<strong>de</strong>stas mesmas pessoas, não necessitavam da consulta médica,<br />

mesmo que essa f<strong>os</strong>se sua <strong>de</strong>manda individual.<br />

3. O <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, era centrado na pessoa e no saber<br />

médico, ficando <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> profissionais, subestimad<strong>os</strong> no processo<br />

<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, tendo o seu potencial para a assistência, enorm<strong>em</strong>ente<br />

oprimido, reduzindo a oferta <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>.<br />

4. A relação trabalhador- usuário, sofria <strong>de</strong> crônica <strong>de</strong>generação,<br />

causada pela alienação d<strong>os</strong> trabalhadores do seu processo <strong>de</strong><br />

<strong>trabalho</strong>, ou seja, este se realizava compartimentado, com <strong>os</strong><br />

procediment<strong>os</strong> s<strong>em</strong> a necessária integração multidisciplinar. O<br />

objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> “probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>” <strong>de</strong>ssa forma, recebia um<br />

tratamento sumário e burocrático, numa relação impessoal com o<br />

usuário. O mais comum era mesmo a sua exclusão. Por outro lado,<br />

trabalhadores <strong>em</strong>bora conscientes d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as, se sentiam<br />

impotentes para mudar aquela situação existente, lamentada por<br />

eles própri<strong>os</strong>. O contexto sugeria então, aparente contradição <strong>de</strong><br />

interesses entre trabalhadores e usuári<strong>os</strong> d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A partir da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> implantar o <strong>Acolhimento</strong>, esse processo iniciou<br />

ao nível local, com discussões para sensibilização d<strong>os</strong> trabalhadores e<br />

planejamento da Unida<strong>de</strong>. É preciso consi<strong>de</strong>rar que a gerente, como uma<br />

lí<strong>de</strong>r local do projeto que se preten<strong>de</strong> implantar, estabelece a sua<br />

coor<strong>de</strong>nação diária, acompanhando, discutindo e convencendo <strong>os</strong><br />

trabalhadores e usuári<strong>os</strong> da nova prop<strong>os</strong>ta. Esse procedimento, é<br />

fundamental para a manutenção e sucesso do <strong>Acolhimento</strong> na Unida<strong>de</strong>.<br />

Definiu- se pela organização <strong>de</strong> uma “Equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>”,<br />

comp<strong>os</strong>ta pel<strong>os</strong> profissionais <strong>de</strong> nível superior, técnica e auxiliares <strong>de</strong><br />

enfermag<strong>em</strong>, sendo que <strong>os</strong> médic<strong>os</strong> ficaram na “retaguarda”, ou seja,<br />

aten<strong>de</strong>ndo n<strong>os</strong> consultóri<strong>os</strong> <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> encaminhad<strong>os</strong> pela equipe que fazia<br />

a escuta no <strong>Acolhimento</strong>. Eliminou- se a ficha e a fila <strong>de</strong> madrugada, abrindo<br />

as portas da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com atendimento a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> que a<br />

procurasse. Organizou- se a “sala <strong>de</strong> espera”, substituindo a recepção, on<strong>de</strong><br />

um profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> se mantém para orientar o fluxo d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>.<br />

10


O Conselho Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> teve um papel importante para a<br />

implantação do <strong>Acolhimento</strong>. Isso se <strong>de</strong>u principalmente, no período da<br />

s<strong>em</strong>ana anterior à data prevista, quando o Conselho procurou avisar à<br />

comunida<strong>de</strong>, o novo funcionamento da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Além disto, no dia<br />

<strong>em</strong> que iniciou o <strong>Acolhimento</strong>, <strong>os</strong> conselheir<strong>os</strong> foram para a Unida<strong>de</strong>, orientar<br />

<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> sobre o procedimento a adotar mediante a nova organização do<br />

serviço. Mais do que isto, no mês <strong>de</strong> abril, o Conselho Local <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> fez<br />

uma enquete para saber da satisfação d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> <strong>em</strong> relação ao<br />

<strong>Acolhimento</strong>, constatando uma aprovação superior a 80%.<br />

Na s<strong>em</strong>ana <strong>em</strong> que inaugurou o <strong>Acolhimento</strong>, houve uma verda<strong>de</strong>ira<br />

“invasão” da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> pel<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Alguns, por acreditar que o<br />

atendimento a tod<strong>os</strong> iria durar pouco t<strong>em</strong>po, e então seria necessário<br />

usufruir da oportunida<strong>de</strong> criada, e outr<strong>os</strong> para se beneficiar da nova forma <strong>de</strong><br />

funcionamento, procurando o atendimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas há muito t<strong>em</strong>po não<br />

atendidas. Este movimento extraordinário nas primeiras s<strong>em</strong>anas, se<br />

estabilizou <strong>em</strong> patamares suportáveis algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois.<br />

O Processo <strong>de</strong> Trabalho no <strong>Acolhimento</strong> .<br />

O <strong>Acolhimento</strong>, modifica radicalmente o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. O<br />

impacto da reorganização do <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong>, se dá principalmente<br />

sobre <strong>os</strong> profissionais não médic<strong>os</strong>, que faz<strong>em</strong> a assistência. No caso da UBS<br />

R<strong>os</strong>a Capuche consi<strong>de</strong>ra- se, a enfermeira, assistente social, técnica e auxiliar<br />

<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Na atual situação, a “Equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>” passa a ser o<br />

centro da ativida<strong>de</strong> no atendimento a<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Os profissionais não<br />

médic<strong>os</strong> passam a usar todo seu arsenal tecnológico, o conhecimento para a<br />

assistência, na escuta e solução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, trazid<strong>os</strong> pela<br />

população usuária d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> da Unida<strong>de</strong>.<br />

A enfermeira, além <strong>de</strong> acolher, garante a retaguarda do atendimento<br />

realizado pelas auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Essa retaguarda é feita <strong>em</strong><br />

perfeita sintonia com as Auxiliares <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, através <strong>de</strong> orientação<br />

sobre as condutas, e na utilização <strong>de</strong> protocol<strong>os</strong>, elaborad<strong>os</strong> pela equipe<br />

técnica da Unida<strong>de</strong>. Os protocol<strong>os</strong> indicam <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> a ser<strong>em</strong><br />

11


adotad<strong>os</strong> diante das queixas mais comuns feitas à equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>.<br />

São elaborad<strong>os</strong> seguindo o padrão técnico da Clínica e <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> as<br />

atribuições d<strong>os</strong> profissionais no atendimento. No caso da enfermeira, esta<br />

<strong>de</strong>finição é feita <strong>de</strong> acordo com a legislação própria que regulamenta seu<br />

exercício profissional. Na UBS R<strong>os</strong>a Capuche, <strong>os</strong> protocol<strong>os</strong> orientam para<br />

que o enfermeiro prescreva vári<strong>os</strong> exames e medicament<strong>os</strong>, o que aumenta<br />

<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> medida a resolubilida<strong>de</strong> do enfermeiro na assistência,<br />

favorecendo enorm<strong>em</strong>ente o fluxo d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. No mo<strong>de</strong>lo anterior, pela<br />

assistência estar centrada no médico, o enfermeiro não realiza todo o seu<br />

potencial técnico, reduzindo sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção. No novo<br />

mo<strong>de</strong>lo, <strong>os</strong> dad<strong>os</strong> <strong>de</strong> rendimento, <strong>em</strong> estudo comparado com o período<br />

anterior ao <strong>Acolhimento</strong>, m<strong>os</strong>tram que seu rendimento agora, é aumentado<br />

<strong>em</strong> 600%. (ver planilha e gráfico).<br />

Esse novo papel da enfermag<strong>em</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com<br />

<strong>Acolhimento</strong>, não se <strong>de</strong>u s<strong>em</strong> tensões. Subjaz a este processo, a disputa pela<br />

supr<strong>em</strong>acia do saber e do po<strong>de</strong>r no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, até então, monopólio<br />

médico. Como parte <strong>de</strong>sse polêmico processo, registra- se a convocação da<br />

Secretária Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> para <strong>de</strong>poimento na Câmara d<strong>os</strong> Vereadores<br />

para esclarecimento das modificações no atendimento n<strong>os</strong> Centr<strong>os</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e do fato das enfermeiras estar<strong>em</strong> “fazendo atendimento”. Foi importante<br />

também um concorrido <strong>de</strong>bate sobre o <strong>Acolhimento</strong>, promovido pelo<br />

Sindicato d<strong>os</strong> Médic<strong>os</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais, que contou com o relato <strong>de</strong><br />

diferentes experiências <strong>de</strong> implantação da nova diretriz do mo<strong>de</strong>lo tecno-<br />

assistencial.<br />

Tensionamento interno aliado a pressões externas, fizeram com que o<br />

Conselho Regional <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> f<strong>os</strong>se convidado pela Secretaria Municipal<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, para discutir e arbitrar a questão: - Que condutas a enfermeira<br />

po<strong>de</strong> executar no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>? O COREM por sua vez, homologou <strong>os</strong><br />

procediment<strong>os</strong> que já haviam sido estabelecid<strong>os</strong> na organização do <strong>trabalho</strong><br />

da enfermeira no <strong>Acolhimento</strong>, com respaldo da legislação e d<strong>os</strong> protocol<strong>os</strong><br />

da SESA/Betim, conforme já foi dito.<br />

É importante registrar que, além <strong>de</strong> utilizar todo seu arsenal técnico, a<br />

enfermeira com a reorganização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e instrumentalizada<br />

12


pel<strong>os</strong> protocol<strong>os</strong>, se vê dotada <strong>de</strong> MAIOR AUTONOMIA na função que exerce.<br />

Essa autonomia que n<strong>os</strong> referim<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ve ser entendida dialeticamente como<br />

a condição do profissional <strong>de</strong>cidir sobre seu <strong>trabalho</strong>, o exercício pleno do<br />

“saber- fazer” no momento do procedimento assistencial. Permanece<br />

portanto, perfeitamente integrada ao <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> equipe, como condição<br />

para o funcionamento do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Em relação à Auxiliar <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, seu <strong>trabalho</strong> anterior à<br />

implantação do <strong>Acolhimento</strong>, se resumia às ativida<strong>de</strong>s próprias da sua<br />

função (curativo, injeção, vacina, distribuição <strong>de</strong> medicament<strong>os</strong>) e apoio a<strong>os</strong><br />

médic<strong>os</strong>, como b<strong>em</strong> relata Léa Maria Flora, Auxiliar <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da UBS<br />

R<strong>os</strong>a Capuche: - “Antes a gente trabalhava muito, trabalhava até mais, mas<br />

não era reconhecido. Tinha a pré- consulta que a gente fazia para <strong>os</strong> médic<strong>os</strong><br />

e <strong>de</strong>ixava tudo amarrado para ele, fichas, prontuári<strong>os</strong>, dad<strong>os</strong> vitais<br />

verificad<strong>os</strong>”. Hoje, a relação da Auxiliar com <strong>os</strong> médic<strong>os</strong>, é do <strong>Acolhimento</strong><br />

para a retaguarda, após realizar a escuta do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do usuário,<br />

ou seja, é uma relação circunscrita ao exercício multiprofissional. Não há<br />

subalterno, mas divisão <strong>de</strong> tarefas on<strong>de</strong> cada um cumpre sua função, <strong>de</strong><br />

acordo com o lugar que ocupa na assistência ao usuário. A Auxiliar <strong>de</strong><br />

Enfermag<strong>em</strong>, ao contrário do que era no mo<strong>de</strong>lo anterior, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

apenas um acessório na organização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, para assumir a plenitu<strong>de</strong> da sua profissão <strong>em</strong> benefício do<br />

atendimento com qualida<strong>de</strong>.<br />

A Assistente Social, participa do <strong>Acolhimento</strong> e coor<strong>de</strong>na <strong>os</strong> grup<strong>os</strong><br />

programátic<strong>os</strong>. Consi<strong>de</strong>rada ativida<strong>de</strong> fundamental para garantir a<br />

integralida<strong>de</strong> da assistência, <strong>os</strong> programas são fator importante na garantia<br />

do sucesso do <strong>Acolhimento</strong>. Isto porque resolve gran<strong>de</strong> parte da <strong>de</strong>manda,<br />

com ações dirigidas para grup<strong>os</strong> prioritári<strong>os</strong> <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>. Na UBS<br />

R<strong>os</strong>a Capuche, hoje estão organizad<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> programátic<strong>os</strong> para<br />

atendimento a Diabetes, Hipertensão, Puericultura, Vermin<strong>os</strong>e (crianças),<br />

Pré-Natal, Planejamento Familiar, Sexualida<strong>de</strong>/DST-AIDS. Além <strong>de</strong>stes<br />

grup<strong>os</strong>, as Assistentes Sociais participam do <strong>trabalho</strong> extra- mur<strong>os</strong>, <strong>de</strong><br />

vigilância à saú<strong>de</strong>.<br />

13


No caso específico d<strong>os</strong> médic<strong>os</strong>, nota- se que seu processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong><br />

não foi modificado, tanto quanto seria necessário para causar impacto na<br />

assistência, a partir do seu <strong>trabalho</strong> específico. O seu <strong>trabalho</strong> foi organizado<br />

<strong>de</strong> forma que o médico ficou às vezes na retaguarda (consultas a<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong><br />

encaminhad<strong>os</strong> pela equipe <strong>de</strong> acolhimento), outras vezes na equipe <strong>de</strong><br />

acolhimento. Houve inclusive redução do agendamento, porém, s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong><br />

sucesso na sua inserção no novo mo<strong>de</strong>lo. Observa- se diversas tentativas <strong>de</strong><br />

modificação do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> d<strong>os</strong> médic<strong>os</strong>, o que <strong>de</strong>monstra a busca<br />

incessante da equipe da UBS R<strong>os</strong>a Capuche <strong>de</strong> chegar ao nível ótimo da<br />

atenção à saú<strong>de</strong>, através do <strong>Acolhimento</strong>. O probl<strong>em</strong>a é que, todas as<br />

alternativas tentadas para alterar o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> d<strong>os</strong> médic<strong>os</strong>,<br />

inserindo- <strong>os</strong> no <strong>Acolhimento</strong>, <strong>de</strong>ram pouco resultado. Isto, porque <strong>em</strong> todas<br />

elas permanecia incólume a velha lógica da consulta/agenda, <strong>de</strong>terminante<br />

neste processo. Voltar<strong>em</strong><strong>os</strong> a esse t<strong>em</strong>a mais à frente.<br />

Os Númer<strong>os</strong> do <strong>Acolhimento</strong><br />

A seguir, relacionam<strong>os</strong> o resultado da aplicação <strong>de</strong> divers<strong>os</strong><br />

indicadores, que diz<strong>em</strong> respeito a medidas <strong>de</strong> avaliação da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> e do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

A) ACESSIBILIDADE AOS SERVIÇOS DA UNIDADE DE SAÚDE<br />

Tabela 1 - Média Mensal <strong>de</strong> Atendiment<strong>os</strong> Realizad<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> Servidores da<br />

UBS R<strong>os</strong>a Capuche, no Ano <strong>de</strong> 1995 e 1996. Média Mensal <strong>de</strong> Horas<br />

Trabalhadas e Rendimento d<strong>os</strong> Servidores.<br />

Período Média At. Mês Hs.<br />

Trabalhadas<br />

Março/95 a Fev/96 1.342 1.456 /<br />

mês<br />

Março/96 a Fev/97 4.455 1.665,7 /<br />

mês<br />

ACRÉSCIMO (+ 332%) ( + 14,4%)<br />

Fonte <strong>de</strong> dad<strong>os</strong>: Boletim <strong>de</strong> Produção Ambulatorial e Folha <strong>de</strong> Freqüência da<br />

UBS R<strong>os</strong>a Capuche.<br />

14


Os dad<strong>os</strong> comparad<strong>os</strong> <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> a<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, <strong>de</strong>monstram o<br />

aumento extraordinário do atendimento geral da Unida<strong>de</strong>, com a<br />

implantação do <strong>Acolhimento</strong> e a reorganização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. O<br />

rendimento será <strong>de</strong>talhado a seguir, com indicador específico.<br />

Em relação ao Acesso, as palavras <strong>de</strong> Márcia da Conceição Camp<strong>os</strong>,<br />

enfermeira da UBS R<strong>os</strong>a Capuche, contribu<strong>em</strong> no entendimento da<br />

modificação ocorrida com a implantação do <strong>Acolhimento</strong>: - “Uma das coisas<br />

que o Porta Aberta fez, foi isso, a gente passou a enxergar o que não<br />

enxergava antes, porque a porta barrava e as pessoas não chegavam aqui<br />

<strong>de</strong>ntro. Então a gente começou a enten<strong>de</strong>r que vivíam<strong>os</strong> numa área crítica e<br />

que tínham<strong>os</strong> que dar conta <strong>de</strong> alguns probl<strong>em</strong>as, porque eles começaram a<br />

aparecer aqui <strong>de</strong>ntro com o <strong>Acolhimento</strong>. Antes, a porta estava fechada pra<br />

eles, porque o usuário não tinha acesso”. “... começam<strong>os</strong> a conhecer n<strong>os</strong>so<br />

usuário”.<br />

B) INDICADOR DE RENDIMENTO<br />

1. Para avaliação da UBS, através <strong>de</strong> estudo comparado <strong>de</strong> dad<strong>os</strong>, antes e<br />

após a implantação do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Período: Março a Ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 1995 e 1996<br />

Nº <strong>de</strong> consultas realizadas .<br />

Nº <strong>de</strong> horas trabalhadas por especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nível superior<br />

Objetivo: Medir o RENDIMENTO d<strong>os</strong> profissionais <strong>de</strong> nível superior, antes e<br />

após o <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Fonte: Numerador - BPA no serviço <strong>de</strong> Bioestatística da SESA.<br />

Denominador - Quadro <strong>de</strong> freqüência da UBS R<strong>os</strong>a Capuche.<br />

Obs.: Na análise comparada <strong>de</strong> dad<strong>os</strong>, verifica- se se há alteração do<br />

rendimento d<strong>os</strong> profissionais, na nova modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização d<strong>os</strong><br />

serviç<strong>os</strong>, <strong>de</strong> acordo com a diretriz do <strong>Acolhimento</strong>, que propicie aumento da<br />

oferta <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> e consequent<strong>em</strong>ente, do ACESSO.<br />

Resultad<strong>os</strong>:<br />

Tabela 2 - Rendimento d<strong>os</strong> profissionais <strong>de</strong> nível superior, da UBS R<strong>os</strong>a<br />

Capuche, por período <strong>de</strong> um ano, antes e após o <strong>Acolhimento</strong>.<br />

15


Cl.Médica Pediatria Gin/Obstet<br />

r.<br />

Cons.Enfer Ass. Social<br />

Rendimento<br />

/95<br />

2,3 2 1,9 0,2 0,2<br />

Rendimento<br />

/96<br />

2,4 2,7 2,2 1,4 0,5<br />

Percentual ( + ) 4,3% ( + ) 35% ( + )<br />

15,7%<br />

( + ) 600% ( + ) 150%<br />

Fonte: BPA no serviço <strong>de</strong> Bioestatística da SESA.<br />

Quadro <strong>de</strong> freqüência da UBS R<strong>os</strong>a Capuche.<br />

Rendimento<br />

3<br />

2,5<br />

2<br />

1,5<br />

1<br />

0,5<br />

0<br />

Pesquisa <strong>Acolhimento</strong> - UBS R<strong>os</strong>a Capuche - Rendimento d<strong>os</strong><br />

Profissionais <strong>de</strong> Nível Superior - Nº Consultas / Horas Trabalhadas -<br />

MÉDIA MARÇO/AGOSTO 95/96 -<br />

Cl.Médica<br />

Pediatria<br />

Avaliação d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>:<br />

Gin/Obstet<br />

r.<br />

Especialida<strong>de</strong>s<br />

Cons.Enfe<br />

rm<br />

Ass.<br />

Social<br />

Rendimento/95<br />

Rendimento/96<br />

Constata- se pel<strong>os</strong> dad<strong>os</strong> <strong>de</strong> produção/horas trabalhadas, o aumento<br />

extraordinário do rendimento da enfermeira e As. Social.<br />

O dado acima confirma a tese <strong>de</strong> que a enfermeira e assistente social,<br />

com a reorganização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, utilizam todo o seu potencial<br />

para a assistência. Este rendimento, associado ao das auxiliares <strong>de</strong><br />

enfermag<strong>em</strong>, garante impacto extraordinário no acesso a<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>.<br />

C) INDICADOR DE RESOLUBILIDADE* DA EQUIPE** DE ACOLHIMENTO<br />

Para avaliação do <strong>Acolhimento</strong>, <strong>em</strong> estudo longitudinal.<br />

16


Nº <strong>de</strong> pessoas que tiveram seus probl<strong>em</strong>as resolvid<strong>os</strong> pela equipe <strong>de</strong><br />

<strong>Acolhimento</strong>.<br />

Nº <strong>de</strong> pessoas atendidas pela equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong><br />

* Como “Resolubilida<strong>de</strong>”, neste caso, consi<strong>de</strong>ra- se a solução <strong>de</strong> queixas pela<br />

equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>, s<strong>em</strong> outro tipo <strong>de</strong> encaminhamento.<br />

** Como “Equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>”, consi<strong>de</strong>ra- se a equipe multiprofissional,<br />

organizada na Unida<strong>de</strong>, para fazer a escuta d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> trazid<strong>os</strong><br />

pel<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong>. Na UBS R<strong>os</strong>a Capuche, essa equipe foi organizada contando<br />

com a enfermeira, assistente social e auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.<br />

Objetivo: Verificar a resolubilida<strong>de</strong> da equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Fonte: Boletim do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Resultad<strong>os</strong>:<br />

Tabela 3 - Distribuição d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que se apresentaram à<br />

equipe <strong>de</strong> acolhimento da UBS R<strong>os</strong>a Capuche, segundo a Resolubilida<strong>de</strong> e<br />

encaminhament<strong>os</strong> adotad<strong>os</strong>, apresentad<strong>os</strong> <strong>em</strong> freqüência relativa, por<br />

períod<strong>os</strong> mensais.<br />

Mar/9 Abr/9 Mai/9 Jun/96 Jul/96 Ago/9<br />

6 6 6<br />

6<br />

Resolvido pela equipe <strong>de</strong><br />

39,60% 23,30 28,60 13,60 25,00 21,50%<br />

<strong>Acolhimento</strong><br />

% % % %<br />

Marcado atend. p/ outro setor da 46,50% 51,20 69,50 70,90 47,20 61,30%<br />

Unida<strong>de</strong><br />

% % % %<br />

Referenciado para re<strong>de</strong> SUS 7,55% 9,30% 1% 4,90% 23,60<br />

%<br />

5,40%<br />

Não anotado 6,30% 16,30 1% 10,70 4,20% 11,80%<br />

%<br />

%<br />

Set/96 Out/9 Nov/9 Dez/9 Jan/97 Fev/97<br />

6 6 6<br />

Resolvido pela equipe <strong>de</strong><br />

10,70% 32,30 59,50 53,40 54,90 58,30%<br />

<strong>Acolhimento</strong><br />

% % % %<br />

Marcado atend. p/ outro setor da 71,40% 60,60 32,50 43,20 43,10 31,70%<br />

Unida<strong>de</strong><br />

% % % %<br />

Referenciado para re<strong>de</strong> SUS 3,60% 2,00% 1% 2,30% 1,90% 3,30%<br />

Não anotado 14,30% 5,00% 7,90% 1,10% 4,20% 6,70%<br />

Fonte <strong>de</strong> dad<strong>os</strong>: Boletim do <strong>Acolhimento</strong> da UBS R<strong>os</strong>a Capuche.<br />

17


Resolubilida<strong>de</strong> da Equipe <strong>de</strong><br />

<strong>Acolhimento</strong> (%)<br />

<strong>Acolhimento</strong> - UBS R<strong>os</strong>a Capuche - RESOLUBILIDADE<br />

DA EQUIPE DE ACOLHIMENTO<br />

Resolvido pela equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong><br />

Marcado atend. p/ outro setor da Unida<strong>de</strong><br />

Referenciado para re<strong>de</strong> SUS<br />

80,00%<br />

Não anotado<br />

70,00%<br />

60,00%<br />

50,00%<br />

40,00%<br />

30,00%<br />

20,00%<br />

10,00%<br />

0,00%<br />

Mar/96<br />

Abr/96<br />

Mai/96<br />

Avaliação d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>:<br />

Jun/96<br />

Jul/96<br />

Ago/96<br />

Set/96<br />

Meses do Ano<br />

Corroboram para a resolubilida<strong>de</strong> da equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>, fatores<br />

que atuam junt<strong>os</strong> e simultaneamente, quais sejam:<br />

1. Discussões permanentes entre a equipe da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, para<br />

avaliar e reprocessar o <strong>Acolhimento</strong>.<br />

2. Capacitação da equipe, adquirida com a própria experiência no<br />

atendimento. A experiência adquirida proporciona segurança para<br />

<strong>de</strong>cidir, efetivamente “fazer” a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado “saber”<br />

adquirido na vivência da assistência ao usuário.<br />

3. Utilização <strong>de</strong> protocol<strong>os</strong>, elaborad<strong>os</strong> pela equipe técnica da UBS, <strong>os</strong><br />

quais indicam a conduta a ser adotada diante d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> que mais se apresentam no <strong>Acolhimento</strong>. Os protocol<strong>os</strong> são<br />

uma referência técnica segura para <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> no<br />

<strong>Acolhimento</strong>.<br />

4. Interação da equipe, com enfermeiras e médic<strong>os</strong> fazendo a<br />

retaguarda do <strong>Acolhimento</strong> e a capacitação <strong>em</strong> serviço. A indicação<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada conduta, pressupõe uma <strong>de</strong>cisão do profissional que<br />

no mo<strong>de</strong>lo tradicional, se apresenta como um ato isolado, solitário.<br />

Out/96<br />

Nov/96<br />

Dez/96<br />

Jan/96<br />

Fev/96<br />

18


Com o <strong>Acolhimento</strong>, este ato é dividido com a equipe, contando com<br />

o apoio e a cumplicida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> profissionais.<br />

5. Funcionamento d<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> programátic<strong>os</strong>, que haviam <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong><br />

funcionar, no início da implantação do <strong>Acolhimento</strong>, dado à<br />

priorização do <strong>trabalho</strong> exclusivamente assistencial naquele<br />

momento específico.<br />

A gestão da Unida<strong>de</strong> com <strong>Acolhimento</strong><br />

O processo <strong>de</strong> gestão da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é compatível com o<br />

mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial. Assim, o <strong>Acolhimento</strong> só é p<strong>os</strong>sível se a gestão for<br />

participativa, baseada <strong>em</strong> princípi<strong>os</strong> <strong>de</strong>mocrátic<strong>os</strong> e <strong>de</strong> interação entre a<br />

equipe. Isto, porque a inversão do mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial, com mudanças<br />

estruturais no processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, pressupõe a a<strong>de</strong>são d<strong>os</strong> trabalhadores à<br />

nova diretriz. Este compromisso com a mudança, com a construção do <strong>de</strong>vir,<br />

só é p<strong>os</strong>sível quando <strong>os</strong> profissionais discut<strong>em</strong> e efetivamente po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>cidir<br />

sobre a organização d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Os fóruns <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação interna, (Colegiado Gestor, formado pela<br />

gerente da Unida<strong>de</strong> e representantes d<strong>os</strong> trabalhadores, eleit<strong>os</strong> entre <strong>os</strong><br />

própri<strong>os</strong> e o Fórum Saú<strong>de</strong>, formado pela gerente e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> trabalhadores da<br />

Unida<strong>de</strong>), na UBS R<strong>os</strong>a Capuche, foram organizad<strong>os</strong> antes da implantação do<br />

<strong>Acolhimento</strong>. Mas, ganharam vitalida<strong>de</strong>, dinâmica e funções b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas<br />

após a implantação da nova prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> organização d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>. O<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate interno que se <strong>de</strong>senvolveu no período pós <strong>Acolhimento</strong>,<br />

se caracterizou por uma troca permanente <strong>de</strong> reflexões na condução das<br />

questões pertinentes a<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, quanto na extr<strong>em</strong>a criativida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

encontrar soluções para <strong>os</strong> nov<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as que surgiam, a partir da<br />

reorganização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. D<strong>em</strong>onstrativo disto, são as diversas<br />

tentativas <strong>de</strong> modificar o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> d<strong>os</strong> médic<strong>os</strong>, a partir da sua<br />

inserção no <strong>Acolhimento</strong>.<br />

A gestão <strong>de</strong>mocrática e participativa, criou oportunida<strong>de</strong> para que se<br />

experimentasse na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, um processo pedagógico, auto-<br />

conduzido, <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a riqueza. Os trabalhadores passaram a conhecer o<br />

usuário, a partir do momento que este a<strong>de</strong>ntrou à Unida<strong>de</strong>. Por outro lado, o<br />

19


permanente contato com a assistência, as inúmeras reuniões d<strong>os</strong> fóruns,<br />

discussões técnicas, <strong>de</strong> grup<strong>os</strong> programátic<strong>os</strong>, o <strong>de</strong>bate sobre a política <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, levaram a que <strong>os</strong> trabalhadores assimilass<strong>em</strong> um conhecimento<br />

importante acerca da sua realida<strong>de</strong> e da realida<strong>de</strong> institucional. Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong><br />

dizer que eles adquiriram capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto- análise o que <strong>de</strong>u-lhes<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autogestão na organização do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e por<br />

conseqüência, d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>. O Colegiado Gestor e o Fórum Saú<strong>de</strong>, se<br />

tornaram assim, por excelência, disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> auto- analític<strong>os</strong> e<br />

autogestionári<strong>os</strong>, que protagonizaram um processo instituinte e organizante<br />

no interior da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. É ilustrativo <strong>de</strong>sta questão, o fato d<strong>os</strong><br />

trabalhadores, <strong>de</strong>cidir<strong>em</strong> nestas instâncias, inúmeras vezes, formas novas <strong>de</strong><br />

<strong>trabalho</strong>, criativas, numa tentativa cotidiana <strong>de</strong> criar e recriar alternativas ao<br />

velho método.<br />

O <strong>Acolhimento</strong> portanto, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> afirmar, criou uma gran<strong>de</strong><br />

mobilização na Unida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong>, com repercussões inclusive<br />

para a comunida<strong>de</strong> e até mesmo para outr<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> sociais. Detona<br />

process<strong>os</strong> importantes, favorecendo a instalação do novo, <strong>em</strong> permanente<br />

mudança, processada pel<strong>os</strong> trabalhadores, numa troca incessante <strong>de</strong><br />

experiências, <strong>de</strong>bates e formulações novas, criativas e criadoras <strong>de</strong><br />

instrument<strong>os</strong> originais para o <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Associa- se a esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão, o planejamento estratégico<br />

situacional, incorporado no instrumental <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

através da colaboração do LAPA-UNICAMP e com a interferência do Grupo <strong>de</strong><br />

Apoio à Gestão - GAG. Foi muito importante, a utilização <strong>de</strong>ste potente<br />

instrumental na construção <strong>de</strong> um projeto alternativo, como se coloca o<br />

<strong>Acolhimento</strong>. Isto, pelo fato <strong>de</strong> p<strong>os</strong>sibilitar a análise real da situação vivida<br />

pela Unida<strong>de</strong>, a influência <strong>de</strong> cada Ator Social nesta dada realida<strong>de</strong> e as<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s para o futuro. Para além <strong>de</strong>sta análise, o planejamento<br />

p<strong>os</strong>sibilita visualizar a construção do projeto como processo e colocar toda<br />

equipe <strong>em</strong> movimento para <strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong>. O planejamento contribui<br />

ainda para a avaliação permanente do <strong>trabalho</strong> que está sendo <strong>de</strong>senvolvido.<br />

20


PARTE III - Concluindo<br />

O <strong>Acolhimento</strong> como fator <strong>de</strong> mudança<br />

O que transparece <strong>de</strong> forma enfática <strong>em</strong> todo o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong><br />

investigação sobre o <strong>Acolhimento</strong>, é sua cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>, ou seja, a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se colocar no n<strong>os</strong>so t<strong>em</strong>po, mobilizar energias adormecidas,<br />

reacen<strong>de</strong>r a esperança e colocar <strong>em</strong> movimento segment<strong>os</strong> importantes d<strong>os</strong><br />

serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como grup<strong>os</strong> sujeito que se propõ<strong>em</strong> à construção do<br />

novo, a fazer no t<strong>em</strong>po presente, aquilo que é o objetivo no futuro.<br />

Discutindo um pouco mais esta questão, l<strong>em</strong>br<strong>em</strong><strong>os</strong> que a história<br />

brasileira, é marcada pela exclusão social da gran<strong>de</strong> maioria da população.<br />

Apesar <strong>de</strong> se modificar<strong>em</strong>, ao longo do t<strong>em</strong>po, o cenário político nacional, <strong>os</strong><br />

grup<strong>os</strong> dominantes no po<strong>de</strong>r, <strong>em</strong> todas as épocas, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>fine s<strong>em</strong>pre, pela exclusão <strong>de</strong> significativ<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> sociais.<br />

A conjuntura política na década <strong>de</strong> 80, com a <strong>de</strong>rrota da ditadura<br />

militar, o ascenso d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> populares urban<strong>os</strong>, criou um ambiente<br />

favorável às mudanças. A conjunção <strong>de</strong>stes fatores, criou no país uma<br />

atm<strong>os</strong>fera política favorável à ruptura com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> assistência à saú<strong>de</strong><br />

do passado, po<strong>de</strong>ndo assim, <strong>os</strong> proponentes da reforma sanitária, partir para<br />

a construção <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com diretrizes <strong>de</strong>finidas a partir do<br />

entendimento <strong>de</strong> que a saú<strong>de</strong> é um direito, concluindo com <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

cidadania.<br />

A prop<strong>os</strong>ta do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, neste sentido, mobilizou<br />

extensas e profundas energias. A sua natureza e formação, combinam ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po profundas raízes na socieda<strong>de</strong> cont<strong>em</strong>porânea, representação<br />

político- institucional e tecnicamente a nova prop<strong>os</strong>ta se m<strong>os</strong>tra bastante<br />

substantiva e consistente. Desta forma, o SUS para todo o segmento da<br />

saú<strong>de</strong> e mesmo fora <strong>de</strong>ste espaço, é a síntese do novo, representado nas<br />

profundas transformações políticas da época. A nova prop<strong>os</strong>ta traz no seu<br />

bojo, a perspectiva da realização <strong>de</strong> sonh<strong>os</strong> cultivad<strong>os</strong> por várias gerações.<br />

Mais do que encarnar a esperança <strong>de</strong> mudança, ele é, no imaginário popular,<br />

a própria mudança.<br />

21


Ato contínuo à aprovação do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> na “Constituição<br />

Cidadã”, promulgada <strong>em</strong> 1988 e já no contexto da sua regulamentação<br />

através das Leis Orgânicas da Saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> 1990, o SUS foi notoriamente<br />

secundarizado pel<strong>os</strong> govern<strong>os</strong> fe<strong>de</strong>rais que se suce<strong>de</strong>ram n<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>.<br />

A sabotag<strong>em</strong> se inicia a partir das reduzidas verbas <strong>de</strong>stinadas à saú<strong>de</strong> pelo<br />

governo fe<strong>de</strong>ral, até a resistência ao cumprimento d<strong>os</strong> pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>finid<strong>os</strong> <strong>em</strong> Lei, <strong>de</strong> organização e funcionamento do Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Os objetiv<strong>os</strong> conquistad<strong>os</strong> no final d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 80, se dissipam e<br />

agonizam n<strong>os</strong> an<strong>os</strong> 90. Novo <strong>de</strong>safio se coloca a<strong>os</strong> que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m uma<br />

política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> voltada a<strong>os</strong> interesses da maioria da população, qual seja:<br />

Além da <strong>de</strong>núncia enfática da política governamental, era necessário<br />

articular uma prop<strong>os</strong>ta que reacen<strong>de</strong>sse a esperança, criando um ambiente<br />

favorável a que se abrisse novo ciclo <strong>de</strong> luta. Isto só é p<strong>os</strong>sível, se se<br />

constituir uma nova utopia, capaz <strong>de</strong> falar a ampl<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> sociais.<br />

Po<strong>de</strong> até não ser esta, a intenção inicial da prop<strong>os</strong>ta do <strong>Acolhimento</strong>,<br />

mas no imaginário coletivo, ele é a realização da utopia construída com o<br />

advento do SUS e perdida no momento seguinte, com a constituição <strong>de</strong> uma<br />

heg<strong>em</strong>onia neoliberal n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> do<br />

<strong>Acolhimento</strong>, <strong>de</strong> articulação junto a espaç<strong>os</strong> correlat<strong>os</strong> a<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

e mesmo, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que ele é capaz <strong>de</strong> formar com ampl<strong>os</strong> segment<strong>os</strong><br />

sociais, t<strong>em</strong> razões que se explicam através da recente história das políticas<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e por conseqüência, t<strong>em</strong> raízes sociais significativas. É notório que<br />

o <strong>Acolhimento</strong>, enquanto diretriz do mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial aparece<br />

consoante à conjuntura <strong>de</strong> mudanças, que estão sendo disputadas, no<br />

cenário das Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> no Brasil.<br />

O <strong>Acolhimento</strong> portanto, associa na forma exata, o discurso da<br />

inclusão social, da <strong>de</strong>fesa do SUS a um arsenal técnico extr<strong>em</strong>amente<br />

potente, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a reorganização d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a partir do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, até à constituição <strong>de</strong> disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> auto- analític<strong>os</strong> e<br />

autogestionári<strong>os</strong>, passando por um processo <strong>de</strong> mudanças estruturais na<br />

forma <strong>de</strong> gestão da Unida<strong>de</strong>. O resultado esperado, <strong>de</strong> imediato é a inversão<br />

do mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial. Porém, como um processo <strong>em</strong> construção que<br />

se firma ao longo do t<strong>em</strong>po, outras resultantes po<strong>de</strong>m ser esperadas, <strong>de</strong><br />

22


médio prazo, com o acúmulo que vai se formando ao longo do t<strong>em</strong>po e da<br />

experiência acumulada.<br />

Potencializa a prop<strong>os</strong>ta do <strong>Acolhimento</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer<br />

a<strong>de</strong>são entre <strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> e trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, particularmente. Os<br />

primeir<strong>os</strong> pela satisfação com <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong>, diante do atendimento no<br />

serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>os</strong> trabalhadores, na motivação, por encontrar<strong>em</strong> uma<br />

alternativa profissional satisfatória, <strong>de</strong> realização pessoal e coletiva que o<br />

<strong>Acolhimento</strong> proporciona. Esse enca<strong>de</strong>amento político fortalece<br />

sobr<strong>em</strong>aneira a prop<strong>os</strong>ta.<br />

No <strong>de</strong>correr do relato d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> <strong>de</strong>sta pesquisa, já foram<br />

apresentadas as espetaculares vantagens que o <strong>Acolhimento</strong> trouxe à<br />

organização d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> da Unida<strong>de</strong> Básica R<strong>os</strong>a Capuche. Por isto mesmo,<br />

na conclusão, vam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> ater a<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as verificad<strong>os</strong> junto à<br />

impl<strong>em</strong>entação da nova prop<strong>os</strong>ta, p<strong>os</strong>sibilitando sua discussão, numa<br />

tentativa <strong>de</strong> superação d<strong>os</strong> limites do <strong>Acolhimento</strong>.<br />

Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> primeira hora<br />

O primeiro probl<strong>em</strong>a enfrentado, para implantação do <strong>Acolhimento</strong>, diz<br />

respeito ao t<strong>em</strong>or, próprio da condição humana, <strong>de</strong> encarar o novo, por<br />

excelência o <strong>de</strong>sconhecido. Por maior que seja o conhecimento teórico da<br />

inversão do mo<strong>de</strong>lo tecno- assistencial, e foi assim com o <strong>Acolhimento</strong>, na<br />

hora <strong>de</strong> implantar, aparece o medo, sentimento próprio d<strong>os</strong> mortais. Isso, se<br />

expressa muito b<strong>em</strong>, nas palavras da gerente da UBS R<strong>os</strong>a Capuche, Marly<br />

Gay Calazans Resen<strong>de</strong>: “...O que <strong>de</strong>morou a implantar o <strong>Acolhimento</strong> foi o<br />

medo <strong>de</strong> enfrentar o usuário, medo <strong>de</strong> abrir a porta”. ... “Durante muit<strong>os</strong><br />

an<strong>os</strong>, toda n<strong>os</strong>sa vida, nós n<strong>os</strong> ac<strong>os</strong>tumam<strong>os</strong> com a fila. Isso ficou muito<br />

arraigado nas pessoas. Acho que é o medo até <strong>de</strong> mudar o processo <strong>de</strong><br />

<strong>trabalho</strong>. Agora, <strong>de</strong>pois do planejamento local, sentim<strong>os</strong> que se a gente não<br />

abraçasse a questão do <strong>Acolhimento</strong>, não adiantava discutir mais nada na<br />

Unida<strong>de</strong>”. De fato, observa- se que a discussão do <strong>Acolhimento</strong> prolongou por<br />

mais <strong>de</strong> 9 meses entre as diversas reuniões da equipe e d<strong>os</strong> fóruns<br />

colegiad<strong>os</strong>, até a <strong>de</strong>cisão da sua implantação no final <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1996.<br />

23


Vencida esta primeira dificulda<strong>de</strong>, o <strong>Acolhimento</strong> chegou, encontrando<br />

uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, que vinha há muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong> funcionando com reduzida<br />

oferta <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>, baixa presença d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> <strong>de</strong>vido à inacessibilida<strong>de</strong> à<br />

Unida<strong>de</strong> e por conseqüência, incalculável <strong>de</strong>manda reprimida, não apenas<br />

para <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> da UBS, mas como também para <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong><br />

especializad<strong>os</strong>. Implantando o <strong>Acolhimento</strong>, aqueles probl<strong>em</strong>as<br />

anteriormente existentes no serviço, apareceram <strong>de</strong> forma enfática, muito<br />

mais evi<strong>de</strong>ntes. Embora p<strong>os</strong>sa parecer paradoxal, isto foi p<strong>os</strong>itivo, porque<br />

tornou claro o quanto a organização do serviço estava <strong>de</strong>fasada <strong>em</strong> relação<br />

às necessida<strong>de</strong>s da população. Assim, o processo <strong>de</strong> mobilização criado a<br />

partir do <strong>Acolhimento</strong>, forçou soluções para todas estas questões. Estas<br />

soluções vieram <strong>em</strong> parte da própria Unida<strong>de</strong>, ou mesmo através da<br />

Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> ou do Governo Municipal.<br />

Olhando um pouco sobre alguns med<strong>os</strong> <strong>em</strong> torno do <strong>Acolhimento</strong>, vale<br />

<strong>de</strong>stacar aquele que se refere a falsa noção <strong>de</strong> que o mesmo leva a UBS a se<br />

tornar um “peazão”. Do mesmo modo que <strong>em</strong> Belo Horizonte, on<strong>de</strong> o<br />

<strong>Acolhimento</strong> já é uma realida<strong>de</strong> mais ampla e experimentada, o <strong>Acolhimento</strong><br />

permite a <strong>de</strong> fato tornar a UBS <strong>em</strong> um verda<strong>de</strong>iro estabelecimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> se faça saú<strong>de</strong> pública, pois uma coisa é o uso até do “pronto<br />

atendimento” como um recurso a mais para abordar o usuário, e outra coisa<br />

é reduzir a UBS <strong>em</strong> um lugar exclusivo on<strong>de</strong> só se faz “pea”. T<strong>em</strong><strong>os</strong> visto que<br />

o <strong>Acolhimento</strong> t<strong>em</strong> aberto a unida<strong>de</strong> a receber e incorporar <strong>os</strong> grup<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

risc<strong>os</strong> como uma realida<strong>de</strong> sua à qual <strong>de</strong>ve dar uma resp<strong>os</strong>ta individual e<br />

coletiva, e pela qual t<strong>em</strong> que se responsabilizar.<br />

Limites do <strong>Acolhimento</strong><br />

Após um ano <strong>de</strong> implantação do <strong>Acolhimento</strong> na Unida<strong>de</strong>,<br />

permanec<strong>em</strong> três questões que se impõ<strong>em</strong> como limites à nova diretriz,<br />

sobre <strong>os</strong> quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong><strong>os</strong> n<strong>os</strong> <strong>de</strong>bruçar para encontrar as alternativas técnicas<br />

para sua consolidação, quais sejam:<br />

24


1. A pequena inserção d<strong>os</strong> profissionais médic<strong>os</strong> no <strong>Acolhimento</strong>. Isto,<br />

não diz respeito apenas à sua participação, o que inclusive acontece,<br />

mas o processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> do médico se altera pouco, <strong>em</strong> vista d<strong>os</strong><br />

outr<strong>os</strong> profissionais. O dado <strong>de</strong> RENDIMENTO, verificado no gráfico, é<br />

um d<strong>os</strong> indicadores <strong>de</strong>ste probl<strong>em</strong>a.<br />

2. O agendamento <strong>de</strong> consultas médicas permanece como um nó<br />

crítico no serviço. A diretriz do <strong>Acolhimento</strong> pressupõe agenda aberta<br />

para <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> que necessit<strong>em</strong>, porém isto permanece negociado (e<br />

não s<strong>em</strong> tensões) com <strong>os</strong> médic<strong>os</strong>. À questão “Participa do<br />

<strong>Acolhimento</strong> ou Consulta”, a equipe da Unida<strong>de</strong> tenta encontrar um<br />

caminho, on<strong>de</strong> o médico faça <strong>os</strong> dois, s<strong>em</strong> contudo, chegar a uma<br />

solução satisfatória.<br />

3. Um terceiro <strong>de</strong>safio, é a conciliação do <strong>trabalho</strong> da assistência,<br />

<strong>de</strong>ntro da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com o <strong>trabalho</strong> “extra- mur<strong>os</strong>”, muito<br />

enfatizado pela equipe da UBS R<strong>os</strong>a Capuche. Os relat<strong>os</strong> <strong>de</strong>ixam<br />

claro que o <strong>Acolhimento</strong> absorveu o <strong>trabalho</strong> d<strong>os</strong> profissionais, não<br />

restando t<strong>em</strong>po para a “vigilância à saú<strong>de</strong>”, na área <strong>de</strong> abrangência.<br />

Após algum período, e com a incorporação <strong>de</strong> nov<strong>os</strong> profissionais ao<br />

<strong>trabalho</strong> da Unida<strong>de</strong>, essas ativida<strong>de</strong>s foram retomadas, mas <strong>de</strong><br />

forma incipiente e aquém do que era antes, insatisfatória, na opinião<br />

<strong>de</strong> alguns.<br />

Desafi<strong>os</strong> para a consolidação da inversão do mo<strong>de</strong>lo assistencial<br />

Po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> começar por refletir sobre <strong>os</strong> limites do <strong>Acolhimento</strong>,<br />

relacionad<strong>os</strong> acima. Uma primeira questão que fica evi<strong>de</strong>nte é a seguinte:<br />

Por quê não se conseguiu incorporar o profissional médico, a ponto da sua<br />

participação específica causar impacto na solução d<strong>os</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

da população usuária?<br />

A primeira questão a ser pensada é a seguinte: O <strong>trabalho</strong> n<strong>os</strong><br />

estabeleciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e entre eles, na Unida<strong>de</strong> Básica, é organizado,<br />

tradicionalmente, <strong>de</strong> forma extr<strong>em</strong>amente parcelado. Em eixo verticalizado,<br />

organiza- se o <strong>trabalho</strong> do médico e entre estes, <strong>de</strong> cada especialida<strong>de</strong><br />

médica. Assim, sucessivamente, <strong>em</strong> colunas verticais vai se organizando o<br />

25


<strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> profissionais. Essa divisão do <strong>trabalho</strong> se dá, <strong>de</strong> um lado<br />

pela consolidação n<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das corporações profissionais, e por<br />

outro, no caso d<strong>os</strong> médic<strong>os</strong>, pela especialização do saber e<br />

consequent<strong>em</strong>ente do <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

A organização parcelar do <strong>trabalho</strong>, fixa <strong>os</strong> trabalhadores <strong>em</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada etapa do projeto terapêutico. A super especialização, o <strong>trabalho</strong><br />

fracionado, faz<strong>em</strong> com que o profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> se aliene do próprio<br />

objeto <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Desta forma, ficam <strong>os</strong> trabalhadores s<strong>em</strong> interação com o<br />

produto final da sua ativida<strong>de</strong> laboral, mesmo que tenham <strong>de</strong>le participado,<br />

pontualmente. Como não há interação, não haverá compromisso com<br />

resultado do seu <strong>trabalho</strong>.<br />

O <strong>Acolhimento</strong>, ao reprocessar o <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, com<br />

base na formação <strong>de</strong> uma equipe multiprofissional “Equipe <strong>de</strong> <strong>Acolhimento</strong>”,<br />

conseguiu quebrar a verticalida<strong>de</strong> da organização do <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong>,<br />

mexendo radicalmente no processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> d<strong>os</strong> profissionais não<br />

médic<strong>os</strong>. Contudo, não foi p<strong>os</strong>sível romper com a lógica do <strong>trabalho</strong> médico,<br />

que se dá <strong>em</strong> torno da “agenda/consulta”. Assim, enquanto <strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

profissionais interag<strong>em</strong> <strong>em</strong> equipe, <strong>de</strong> forma extr<strong>em</strong>amente dinâmica,<br />

acompanhando o resultado do seu <strong>trabalho</strong>, <strong>os</strong> médic<strong>os</strong> permanec<strong>em</strong><br />

fechad<strong>os</strong> num círculo vici<strong>os</strong>o, visualizando parcialmente a realida<strong>de</strong>.<br />

E como po<strong>de</strong>ria ser resolvida essa questão, finalmente?<br />

N<strong>os</strong>sas reflexões a partir <strong>de</strong> então, segu<strong>em</strong> <strong>em</strong> sintonia e<br />

cumplicida<strong>de</strong> com as formulações recentes do Laboratório <strong>de</strong> Planejamento e<br />

Administração <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> - LAPA (DMPS-UNICAMP). Estes,<br />

consi<strong>de</strong>ram o Vínculo, como a diretriz que acoplada ao <strong>Acolhimento</strong>, é capaz<br />

<strong>de</strong> garantir o real reor<strong>de</strong>namento do processo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, resolvendo <strong>de</strong>finitivamente a divisão <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> compartimentada e<br />

saindo da lógica “agenda/consulta” para uma outra da responsabilização <strong>de</strong><br />

uma equipe multiprofissional, com o resultado do <strong>trabalho</strong> <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, o que<br />

Gastão Wagner <strong>de</strong> Sousa Camp<strong>os</strong> chama <strong>de</strong> “A Obra”. Assim, “...<strong>em</strong> relação<br />

ao <strong>trabalho</strong> clínico, não haveria como valorizar- se a Obra s<strong>em</strong> um processo<br />

<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> que garantisse <strong>os</strong> maiores coeficientes <strong>de</strong> Vínculo entre<br />

26


profissional e paciente.” (3). Consi<strong>de</strong>ra- se Vínculo, a responsabilização pelo<br />

probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do usuário, individual e coletivo.<br />

O atendimento <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> seria feito através da adscrição da clientela<br />

a <strong>de</strong>terminada equipe da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, formada no mínimo pelo<br />

médico, enfermeiro, pediatra, gineco- obstetra e auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.<br />

Esta equipe passaria a se responsabilizar pelas pessoas inscritas, <strong>de</strong>vendo<br />

para isto, mobilizar tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> <strong>de</strong>ntro e fora da Unida<strong>de</strong>, que p<strong>os</strong>sam<br />

favorecer a este objetivo, seja exames, consultas especializadas, internação,<br />

etc...<br />

A equipe <strong>de</strong>ve ter autonomia para agir, mobilizar <strong>os</strong> recurs<strong>os</strong><br />

necessári<strong>os</strong> para fazer saú<strong>de</strong>. É importante, a avaliação permanente do seu<br />

<strong>trabalho</strong>, agora facilitado, na medida que este resultado é produto do labor<br />

<strong>de</strong> um mesmo grupo multiprofissional, ou seja, foram as mesmas pessoas,<br />

que <strong>de</strong>senvolveram todo o processo vivido pelo usuário, individual ou<br />

coletivo no seu processo saú<strong>de</strong>- doença.<br />

O <strong>trabalho</strong> extra- mur<strong>os</strong> po<strong>de</strong>ria ser feito <strong>de</strong> duas formas. Uma<br />

primeira, <strong>de</strong>ve ser realizado pelas equipes multiprofissionais da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, que ao responsabilizar- se pela sua clientela, po<strong>de</strong> mobilizar recurs<strong>os</strong><br />

inclusive <strong>de</strong> visitas e internações domiciliares, ou mesmo outr<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong><br />

que se encontram junt<strong>os</strong> à comunida<strong>de</strong>. Uma outra forma, diz respeito à<br />

vigilância à saú<strong>de</strong>. Esta, <strong>de</strong>ve ser feita, combinada com o Planejamento e<br />

Gestão d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>em</strong> perfeita sintonia com a realida<strong>de</strong> social,<br />

econômica, epi<strong>de</strong>miológica local e as necessida<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> usuári<strong>os</strong> daquela<br />

região. Este <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>ve ser executado por uma equipe, formada<br />

especificamente com este objetivo, po<strong>de</strong>ndo atuar vinculada à Unida<strong>de</strong> ou a<br />

várias Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma mesma região da cida<strong>de</strong>, e auto intitulada “Equipe<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública”.<br />

Estas diretrizes gerais faz<strong>em</strong> parte da mais recente experiência <strong>de</strong><br />

organização <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, alinhad<strong>os</strong> à perspectiva <strong>de</strong> efetiva<br />

construção <strong>de</strong> um Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> com base no acesso a tod<strong>os</strong>, equida<strong>de</strong>,<br />

integralida<strong>de</strong> das ações, eficaz, com atendimento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e<br />

humanizado e sob controle social.<br />

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