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40. Ânfora<br />
Ática de fi guras<br />
negras, do Pintor<br />
do Conservatori,<br />
c. 530-520 a. C.<br />
Alt. 28 cm<br />
Musei Capitolini,<br />
Roma<br />
104<br />
AS COMPETIÇÕES HÍPICAS<br />
A amostra em estudo abrange quatro elementos pertencentes ao estilo de fi guras<br />
negras, representando competições hípicas.<br />
Cada uma das três peças cerâmicas descrevendo a prova com quadrigas, possui<br />
uma beleza estética a enaltecer, pela cativante representação frontal, estilizada e simétrica<br />
da quadriga; pela acção ou energia que os cavalos e o auriga dão a perceber; e<br />
pela assumida vitalidade ou dinamismo, associado à corrida propriamente dita. Neste<br />
último vaso, é transmitida uma força e uma “vibração” difícil de defi nir. Os cavalos são<br />
lançados num galope selvagem ou numa correria infi ndável, os aurigas defi nem uma<br />
postura de grande expressividade e empenhamento e a corrida com os seus diversos<br />
concorrentes representados não numa “fi la indiana”, mas numa amálgama de patas,<br />
cavalos, carros, rodas e aurigas em que a intencionalidade do pintor foi conseguida<br />
na transmissão de uma intensidade e ritmo assinaláveis.<br />
Um dos vasos da amostragem apresenta os animais com um vigoroso e esbelto<br />
porte e os condutores dos mesmos com uma postura agressiva e uma constituição<br />
física débil, quando comparada com o tamanho do animal.<br />
Seriam jovens?!...
105<br />
41. Ânfora<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
negras, do Pintor<br />
de Euphilétos,<br />
c. 530 a. C.<br />
Alt. 29 cm<br />
Museo Archeologico<br />
Nazionale,<br />
Tarquinia<br />
42. Ânfora<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
negras, do Pintor<br />
de Euphilétos,<br />
c. 530 a. C.<br />
Alt. 29 cm<br />
Museo Archeologico<br />
Nazionale,<br />
Tarquinia<br />
43. Ânfora panatenaica<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
negras, do início<br />
do séc. V a. C.<br />
British Museum,<br />
London
44. Kylix<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
vermelhas,<br />
c. 480 a. C.<br />
Alt. 9,5 cm,<br />
Diâm. 43 cm<br />
Museo Nazionale<br />
di Villa Giulia,<br />
Roma<br />
106<br />
O TREINO E A PREPARAÇÃO PARA AS COMPETIÇÕES<br />
A participação nas diversas provas atléticas e nos variados jogos gregos exigia uma<br />
aturada e exigente preparação para todo o competidor, inclusive desde a mais tenra idade.<br />
“A medicina praticada nos templos tinha bastante êxito devido, fundamentalmente,<br />
à infl uência das medidas higiénicas, do regime dietético, da hidroterapia, do repouso<br />
e, seguramente, dos exercícios físicos” (Garcia, 1988).<br />
Os gregos não somente conheciam o treino e alguns dos seus diversos métodos,<br />
como possuiam uma atenção particular sobre a alimentação do desportista e os<br />
diversos meios de recuperação psíco-física.<br />
A massagem apoiava-se na experiência de vários séculos, sendo conhecido um<br />
número considerável de sistemas ou técnicas. Galeno, célebre médico grego, diferenciava<br />
dezoito métodos distintos, havendo manobras totais e parciais, estimulantes e<br />
calmantes, fortes e suaves.<br />
No kylix (Ver imagem 44), representando com um grande realismo a massagem e<br />
suas manobras específi cas, o atleta é massajado na zona postero-inferior do seu tronco,<br />
com a utilização da totalidade da mão direita do massagista. O olhar atento e direccionado<br />
para a referida mão transmite uma “consciencialização” gestual do homem que massaja.<br />
Tudo leva a crer que, pela posição da mão do massagista, se trata da técnica de<br />
afl oramento. Esta é uma manobra superfi cial, ligeira, de pressão quase nula, consistindo<br />
no deslizamento da mão ou dedos pela pele, nunca perdendo o seu contacto. A<br />
direcção do movimento far-se-á sempre no sentido da circulação de retorno. Parecenos,<br />
pois, que a mão direita do massagista executa um trajecto de baixo para cima,<br />
enquanto a outra espera o seu tempo de actuação. Refere a teoria que, no caso de se
utilizarem as duas mãos, serão usadas alternadamente, começando uma antes de a<br />
outra terminar completamente o movimento, o que poderá confi rmar a intencionalidade<br />
do artista na forma como coloca as duas extremidades dos membros superiores<br />
na representação.<br />
O atleta, em atitude de sentado com braços apoiados no solo ao lado do corpo,<br />
a qual imprime uma dada tensão muscular no tronco e membros superiores, foge<br />
um pouco da posição comumente utilizada na actualidade pelos indivíduos sujeitos<br />
a massagem. Nos nossos dias, a massagem é efectuada, quase na sua totalidade, na<br />
posição de decúbito (dorsal e ventral), questionando-nos se a posição adoptada na<br />
representação corresponde à postura que na altura era utilizada (o que duvidamos...)<br />
ou se foi um mero artifício de representação usado pelo pintor na decoração deste<br />
kylix. Inclinamo-nos para esta segunda hipótese, pelo facto de que, se o atleta sujeito<br />
à massagem fosse representado em posição de deitado, o seu corpo se prolongava ao<br />
longo do kylix, preenchendo-o num grande espaço, o que limitaria a confl uência representativa<br />
de outros fi gurantes de igual ou maior importância no conjunto da cena.<br />
A marcação da massa muscular no atleta e no massagista surge-nos exemplarmente<br />
elaborada e proporcionada. A representação minuciosa dos músculos nadegueiros,<br />
dorsal, triceps, biceps e trapézio, no caso do atleta, e dos músculos deltoides, biceps,<br />
triceps, recto abdominal, trapézio e massas musculares dos membros inferiores, no<br />
caso do massagista, permite-nos concluir do rigoroso conhecimento da máquina<br />
anatómica humana por parte dos decoradores de vasos. (Ver imagem 44)<br />
Outra peça cerâmica deste grupo integra, além de situações de treino de luta,<br />
a fi guração de um atleta em plena fase de preparação no vestiário, o qual era repre-<br />
107<br />
45. Kylix<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
vermelhas,<br />
c. 490-480 a. C.<br />
Alt. 8 cm,<br />
Diâm. 23,5 cm<br />
Th e State Hermitage<br />
Museum, Saint<br />
Petersburg
sentado simbolicamente por um banco – “hypopodion”. O pintor retratou uma das<br />
tarefas primordiais dos atletas de algumas especialidades atléticas, a “infi bulação”,<br />
que consistia na protecção dos orgãos sexuais com uma (ou mais) tiras de couro. A<br />
mesma cena integra alguns utensílios como estrigilo – raspador utilizado para libertar<br />
a pele das suas impurezas – e aryballos 1 – pequeno pote de formato globular, usado<br />
para conter óleos perfumados para o banho. (Ver imagem 45)<br />
“O exercício terminava sempre com o banho, considerado elemento regenador<br />
físico por excelência.<br />
Antes do banho, para retirar o óleo e a areia da pele, usavam os atletas um instrumento,<br />
curvo e estriado, em forma de foice, muitas vezes trabalhado artisticamente”<br />
(Ramos,1983).<br />
<strong>As</strong> faces da cratera que se segue representam fi elmente algumas das tarefas tidas<br />
como necessárias e fundamentais para a prática do treino ou de preparação para as<br />
competições. Vejamos:<br />
1. Adulto efectuando infi bulação na presença de um jovem, estando este com uma<br />
atenção permanente e expectante. O jovem quase toca no joelho do atleta. Entre as<br />
duas fi guras e junto delas, surge a tal determinante inscrição Ho Pais Kalos (“O rapaz<br />
é belo), associada a um nome próprio, que se julga ser “Leandros”;<br />
2. Lançador de disco em prática de treino juntamente com o seu “paidotriba”,<br />
assumindo este um determinante “papel” interventivo;<br />
3. Atleta que recebe das mãos de um jovem um manto, julgamos que para se cobrir;<br />
4. “O servo Traníon massaja os pés do atleta Hipomedón” (Spazari, 1992);<br />
– Que pretenderá representar a mão direita de Hipomedón na cabeça do servo?!...<br />
Apoio para não se desiquilibrar ou intimismo ?!...<br />
5. Atleta derramando do seu “aryballos” para a mão esquerda uma certa quantidade<br />
de óleo perfumado;<br />
6. Atleta despindo o seu manto. Um jovem, ou servo, aguarda.<br />
Uma análise mais pormenorizada a este vaso permite-nos concluir o que já foi<br />
dito (e redito) sobre o domínio perfeito das noções anatomo-funcionais do corpo<br />
humano. Os corpos são representados com seriedade, com rigor, com medida, com<br />
precisão, ou seja, com beleza.<br />
1 Ver imagem pág. 57<br />
108
109<br />
46. Kratêr<br />
(pormenor)<br />
Ática de Figuras<br />
vermelhas,<br />
de Eufronio,<br />
c. 510-500 a. C.<br />
Staaliche Museen,<br />
PreuB. Kulturbesitz,Antikenmuseum,<br />
Berlin<br />
47. Kratêr<br />
(pormenor)<br />
Ática de Figuras<br />
vermelhas,<br />
de Eufronio,<br />
c. 510-500 a. C.<br />
Staaliche Museen,<br />
PreuB. Kulturbesitz,Antikenmuseum,<br />
Berlin
110<br />
A COROAÇÃO E A RECOMPENSA DOS VENCEDORES<br />
Em todos os jogos gregos ao vencedor era atribuída, pelo menos, uma coroa.<br />
Vejamos: “... para receber a coroa de oliveira – árvore da paz – os campeões olímpicos<br />
colocavam uma faixa de lã vermelha envolvendo a testa (“cinta do triunfo”, para<br />
Durantez) e levavam uma palma na mão direita. Recebiam das mãos dos juízes mais<br />
antigos – Helanodikes – a referida coroa num acto de religioso simbolismo.<br />
A “inocente” coroa de oliveira encerrava, no seu mais esquemático signifi cado,<br />
uma conjunta e sólida encarnação de forças biológicas e espirituais, que, com o acto<br />
de investidura, era transmitido à pessoa do vencedor...”<br />
<strong>As</strong> ânforas de “fi guras vermelhas”, ao lado, representam em idêntica pose a mesma<br />
fi gura, Niké.<br />
Niké era a deusa grega da vitória. Hesíodo, poeta do séc IX – VIII a. C. menciona-a<br />
como fi lha do titã Palas e de Estige, irmã de Zelos (Rivalidade), Cratos (Vigor) e Bia<br />
(Força).<br />
Esta deusa transporta nas suas mãos uma fi ta. Destina-se à coroação do vencedor,<br />
do campeão, do “eterno”.<br />
Se rodarmos 180 graus uma das ânforas deste grupo, apercebemo-nos da sequência<br />
que se encontra representada. Nesta segunda face, um atleta vencedor, de perfi l, segura<br />
nas suas mãos um ramo ou palma e com o seu corpo (coxa e braço), atado com tiras<br />
de lã vermelhas, aguarda atentamente o momento da sua coroação das mãos da, já<br />
referida, Niké (a tal que se encontra na outra face da peça cerâmica).<br />
Outros vasos transmitem idêntica situação, com a curiosidade de o campeão já<br />
possuir a sua coroa no cimo da cabeça e segurar outra nas suas mãos, em sinal de<br />
outras vitórias; representam fi dedignamente o preciso momento da coroação, com o<br />
atleta na posse de todo o instrumentarium já referido, e descrevem ofertas e sacrifícios<br />
aos deuses como agradecimento das vitórias nas competições atléticas.
111<br />
48. Ânfora<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
ver melhas, do Pintor<br />
Doris, c. 490 a. C.<br />
Alt. 30,8 cm.<br />
Th e State Hermitage<br />
Museum, Saint<br />
Petersburg<br />
49. Ânfora<br />
(pormenor)<br />
Ática de fi guras<br />
ver melhas, do Pintor<br />
Doris, c. 490 a. C.<br />
Alt. 30,8 cm.<br />
Th e State Hermitage<br />
Museum, Saint<br />
Petersburg
50. Kylix<br />
Ática de fi guras vermelhas,<br />
pelo Pintor<br />
de Oltos,<br />
c. 520-510 a. C.<br />
Alt. 10,8 cm,<br />
Diâm. 30,7 cm<br />
Diâm. Tondo. 13 cm<br />
Staaliche Museen,<br />
PreuB. Kulturbesitz,<br />
Antikenmuseum,<br />
Berlin<br />
51. Kantharos<br />
Ática de fi guras<br />
negras de Amasis<br />
Musée du Louvre,<br />
Paris<br />
112
57<br />
5. Vasos Gregos<br />
in, Lucie-Smith,<br />
Edward,<br />
“Dicionário<br />
de Termos de Arte”,<br />
Lisboa, Publicações<br />
D . Quixote, 1995.