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CPVO cursinho que mais aprova na FGV

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<strong>FGV</strong> Direito — 11/11/2007<br />

LÍNGUA PORTUGUESA<br />

CPV fgv071dnovdir<br />

CPV O <strong>cursinho</strong> <strong>que</strong> <strong>mais</strong> <strong>aprova</strong> <strong>na</strong> <strong>FGV</strong><br />

54<br />

54<br />

54% das das vagas vagas da da GV D DDireito<br />

D ireito ficaram ficaram ficaram para para os os alunos alunos alunos do do CPV<br />

Abaixo foi transcrita uma pe<strong>que</strong><strong>na</strong> passagem do capítulo “A borboleta preta”, do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.<br />

Leia-a, observando os recursos estilísticos, sobretudo a<strong>que</strong>les manifestados <strong>na</strong> forma de utilização das classes gramaticais para a<br />

produção especial de sentidos.<br />

“O gesto brando com <strong>que</strong>, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, <strong>que</strong><br />

me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tornei lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo<br />

lugar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.<br />

Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a <strong>na</strong> palma da<br />

mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fi<strong>que</strong>i um pouco<br />

aborrecido, incomodado.”<br />

Machado de Assis. Obra Completa. Aguilar.<br />

Questão A<br />

A.a) Observe e a<strong>na</strong>lise as expressões do primeiro trecho, destacadas abaixo. Tendo em vista <strong>que</strong> inscrevem um olhar do <strong>na</strong>rrador,<br />

identifi<strong>que</strong> e nomeie a figura criada por elas. A seguir, nomeie também a figura criada pela seqüência de ações resultantes<br />

desse olhar e discorra sobre seu efeito de sentido. (1)<br />

“O gesto brando com <strong>que</strong>, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, <strong>que</strong> me aborreceu muito.”<br />

Resolução:<br />

Na expressão gesto brando, a figura utilizada pelo <strong>na</strong>rrador foi a sinestesia, pois gesto remete à esfera visual e brando à esfera táctil. Já em<br />

escarninho, adjetivo referente a escárnio ou zombaria, a figura utilizada foi a prosopopéia, pois atribui à borboleta uma característica<br />

huma<strong>na</strong>.<br />

Quanto à figura criada pela seqüência de ações resultantes do olhar do <strong>na</strong>rrador, é possível identificá-la como gradação, pois observa-se<br />

uma progressão de idéias <strong>que</strong> vai do primeiro contato com o inseto à morte deste.<br />

A.b) No segundo parágrafo, constrói-se um sentido de contradição do <strong>na</strong>rrador em relação às suas ações manifestadas no<br />

primeiro. Escolha três expressões verbais <strong>que</strong> justifi<strong>que</strong>m essa contradição e as a<strong>na</strong>lise no contexto da passagem. (2)<br />

Resolução: A contradição pode ser constatada <strong>na</strong>s expressões “Apiedei-me”, “tomei-a <strong>na</strong> palma da mão”, “Fi<strong>que</strong>i um pouco aborrecido,<br />

incomodado” relativamente ao comportamento e às atitudes do <strong>na</strong>rrador no primeiro parágrafo, no qual ele interpreta a presença da<br />

borboleta preta como uma afronta e, a partir daí, toma de uma toalha para matá-la.<br />

A.c) Tendo como base a ambígua relação entre a borboleta preta e o <strong>na</strong>rrador, desenvolva uma análise <strong>mais</strong> aprofundada, levando<br />

em consideração a leitura do livro, sobre o efeito de sentido produzido pela figura da sinédo<strong>que</strong> “farpinhas da cabeça” e “<strong>na</strong><br />

palma da mão”. (3)<br />

Resolução: O aprofundamento a<strong>na</strong>lítico necessário para corroborar a ambigüidade da relação entre a borboleta preta e o <strong>na</strong>rrador, passa<br />

pelo entendimento de <strong>que</strong> as sinédo<strong>que</strong>s encontradas em “farpinhas da cabeça” e em “palma da mão” (a parte pelo todo), mostram a<br />

postura de arrependimento do <strong>na</strong>rrador relativamente à sua atitude e seu comportamento iniciais, revelando um jogo de sentidos contraditórios<br />

entre aborrecimento e pe<strong>na</strong>, ódio e amor , raiva e afeto.<br />

Pode haver alguma dúvida quanto a se as expressões “farpinhas da cabeça” e “palma da mão” seriam realmente sinédo<strong>que</strong>s. No entanto,<br />

pode-se partir da simples visão dessas figuras como representantes da relação parte/todo, como também fazer uso de uma análise <strong>mais</strong><br />

profunda, baseada no livro como um todo, e dizer <strong>que</strong> o olhar prepotente ou arrogante do <strong>na</strong>rrador — <strong>que</strong> sempre busca desculpas para<br />

justificar sua postura projetando a culpa no outro — vê a borboleta como algo insignificante (ou seja, operando uma redução no sentido<br />

básico de “farpas da cabeça” e uma ampliação do sentido de “palma da mão”, fazendo com <strong>que</strong>, mesmo essa parte do seu corpo seja bem<br />

maior <strong>que</strong> a do inseto). Têm-se, portanto, sinédo<strong>que</strong>s nessas expressões.<br />

1


2<br />

fgv - 11/11/2007 CPV o <strong>cursinho</strong> <strong>que</strong> <strong>mais</strong> <strong>aprova</strong> <strong>na</strong> <strong>FGV</strong><br />

Texto para as <strong>que</strong>stões B e C<br />

“Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu, um<br />

círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedras, clareando vagamente os pés do va<strong>que</strong>iro, os joelhos da mulher e os<br />

meninos deitados. De quando em quando estes se mexiam, por<strong>que</strong> o lume era fraco e ape<strong>na</strong>s a<strong>que</strong>cia pedaços deles. Outros pedaços<br />

esfriavam recebendo o ar <strong>que</strong> entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando<br />

iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não eram<br />

propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”<br />

CPV fgv071dnovdir<br />

Graciliano Ramos. Vidas Secas.Livraria Martins Editora.<br />

Questão B: “Fabiano esfregou as mãos satisfeito e empurrou os tições com a ponta da alpercata. As brasas estalaram, a cinza caiu,<br />

um círculo de luz espalhou-se em redor da trempe de pedras, clareando vagamente os pés do va<strong>que</strong>iro, os joelhos da mulher e os<br />

meninos deitados.”<br />

B.a) As ações de Fabiano nesse primeiro trecho desencadearam outras ações com efeitos plásticos e semânticos no contexto.<br />

Partindo dessa afirmação, a<strong>na</strong>lise, <strong>na</strong>s orações destacadas em itálico, os sentidos criados pela seqüência dos verbos, tanto<br />

sob o ponto de vista físico, quanto sob o ponto de vista simbólico, denunciando o estado das perso<strong>na</strong>gens. (4)<br />

Resolução: As orações destacadas são todas coorde<strong>na</strong>das assindéticas, configurando uma justaposição de orações absolutas, numa<br />

sobreposição de imagens descritivas. Do ponto de vista físico, observa-se a presença predomi<strong>na</strong>nte da figura de linguagem prosopopéia,<br />

resultando numa gradação de sentido <strong>que</strong> parte do estado inerte para o movimento. Do ponto de vista simbólico, as brasas ilumi<strong>na</strong>m partes<br />

do corpo das perso<strong>na</strong>gens em um jogo de luz (precária) e sombra <strong>que</strong> remete à própria condição dessas, em <strong>que</strong> momentos de esperança<br />

e de desespero se alter<strong>na</strong>m ao longo da <strong>na</strong>rrativa.<br />

B.b) Em clareando vagamente os pés do va<strong>que</strong>iro, os joelhos da mulher e os meninos deitados, Graciliano Ramos se vale de<br />

técnicas <strong>que</strong> se assemelham às do cinema, como se fosse o olhar da câmera. Expli<strong>que</strong> esse mecanismo e contextualize seu<br />

efeito de sentido com base <strong>na</strong> obra lida. (5)<br />

Resolução: O mecanismo cinematográfico a <strong>que</strong> a técnica utilizada pelo <strong>na</strong>rrador remete é o do traveling, em <strong>que</strong> a câmera se move para<br />

mostrar diversos aspectos de um cenário. Essa técnica permite associar a condição de miséria das perso<strong>na</strong>gens à condição de miséria da<br />

paisagem em elas se inserem.


CPV fgv071dnovdir<br />

CPV o <strong>cursinho</strong> <strong>que</strong> <strong>mais</strong> <strong>aprova</strong> <strong>na</strong> <strong>FGV</strong> fgv - 11/11/2007<br />

Questão C: “De quando em quando estes se mexiam, por<strong>que</strong> o lume era fraco e ape<strong>na</strong>s a<strong>que</strong>cia pedaços deles. Outros pedaços<br />

esfriavam recebendo o ar <strong>que</strong> entrava pelas rachaduras das paredes e pelas gretas da janela. Por isso não podiam dormir. Quando<br />

iam pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não eram<br />

propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”<br />

C.a) O caráter realista da descrição se vale de vocábulos de <strong>na</strong>tureza concreta <strong>que</strong> imprimem formas distintas de sensações à<br />

expressão verbal. Escolha três palavras de categorias gramaticais diferentes <strong>que</strong> sejam decisivas <strong>na</strong> construção da ce<strong>na</strong><br />

visual e justifi<strong>que</strong> as suas escolhas. (6)<br />

Resolução: Dentre os substantivos utilizados no texto, poderiam ser selecio<strong>na</strong>dos lume, rachadura, gretas, parede, janela, trempe (três<br />

pedras em forma de triângulo); dentre os adjetivos, fraco, soltas, espaçadas; e dentre os verbos mexiam, esfriavam, entrava, arrepiavamse,<br />

chegavam-se, ouviam. A justificativa para a escolha desses vocábulos remete à idéia de coisas concretas, objetivas ou palpáveis. Por<br />

tratar-se de uma descrição de ce<strong>na</strong> realista, esses vocábulos constroem a situação vivenciada pelas perso<strong>na</strong>gens da <strong>na</strong>rrativa de forma<br />

verossímil.<br />

C.b) Na passagem, o modo “descritivo” de <strong>na</strong>rrar e o uso de determi<strong>na</strong>dos núcleos de sujeito em relação aos predicados verbais<br />

sugerem uma forma de desumanização, de reificação dos meninos. Expli<strong>que</strong> esse procedimento valendo-se de elementos do<br />

texto. (7)<br />

Resolução: Os meninos não têm nomes, as referências a eles são feitas por meio de pronomes demonstrativos e indefinidos, como no caso<br />

de “estes se mexiam” (núcleo do sujeito é o pronome demonstrativo estes) e de “Outros pedaços esfriavam” (núcleo pedaços fazendo<br />

referência a partes do corpo).<br />

C.c) Assi<strong>na</strong>lando alguns termos dos três últimos períodos da passagem, temos: “Por isso não podiam dormir. Quando iam<br />

pegando no sono, arrepiavam-se, tinham precisão de virar-se, chegavam-se à trempe e ouviam a conversa dos pais. Não<br />

eram propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.”<br />

No trecho, o <strong>que</strong> se percebe é a ocorrência do efeito de negatividade incidindo sobre duas ações por motivos diferentes.<br />

A<strong>na</strong>lise a <strong>na</strong>tureza dos referidos motivos dentro do contexto do romance. (8)<br />

Resolução: O efeito de negatividade incide sobre “não podiam dormir” e “não eram propriamente conversa”. O não poder dormir está<br />

ligado à causa de o ar (frio) entrar pelas rachaduras da parede e pelas gretas da janela; já não ser propriamente conversa está ligado à<br />

causa de a comunicação entre Sinha Vitória e Fabiano ocorrer por meio de frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências.<br />

Dentro do romance, dadas as condições sociais e geográficas em <strong>que</strong> as perso<strong>na</strong>gens estão inseridas, estas encontram-se privadas do<br />

mínimo <strong>que</strong> tor<strong>na</strong> as pessoas “huma<strong>na</strong>s”, como, por exemplo, uma casa e uma cama decentes (<strong>que</strong>ixa de Sinha Vitória) e acesso à cultura<br />

letrada (<strong>que</strong>ixa de Fabiano).<br />

Comentário do CPV<br />

Todos os assuntos foram<br />

dados em aula no CPV<br />

A prova da <strong>FGV</strong>-Direito de 2007 pode ser considerada difícil, por sua abordagem perspicaz à interpretação de textos e à necessidade de um<br />

conhecimento superior para a aplicação dos componentes estruturais da gramática.<br />

A prova prestigiou a interrelação dos conhecimentos gramaticais do candidato à estilística e à semântica, procurando verificar a competência deste<br />

no <strong>que</strong> toca ao entendimento profundo do relacio<strong>na</strong>mento entre os componentes do plano da expressão da Língua.<br />

3

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