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Revista Eu Tenho Futuro - Cesumar

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Maringá, novembro de 2008<br />

Distribuição gratuita<br />

<strong>Eu</strong> tenho<br />

FUTURO


<strong>Eu</strong> tenho<br />

FUTURO<br />

EDITOR<br />

Fábio Massalli<br />

EDITORIALISTA<br />

Carina Veltrini<br />

REDAÇÃO<br />

André Dias<br />

André Leandro de Mello<br />

Carina Veltrini<br />

Daiane Siqueira<br />

Danielle Sgorlon<br />

Danilo Donato<br />

Elise Yoshida<br />

Fernanda Steigenberg<br />

Flávia Torres<br />

Gutembergue Lima<br />

Heloísa Beraldo<br />

Jaqueline Souza<br />

Jheine Evelim<br />

Leonardo Suzuki<br />

Michely Massa<br />

Rogério Mori<br />

Thales Paiva<br />

Tiago Santos<br />

Vanessa Cancian<br />

CAPA<br />

Vanessa Cancian/DV Studio<br />

EDITORES DE FOTOGRAFIA<br />

Danilo Donato<br />

Vanessa Cancian<br />

DIAGRAMAÇÃO<br />

Gutembergue Lima<br />

Rogério Mori<br />

IMPRESSÃO<br />

Gráfica Arenito<br />

A revista <strong>Eu</strong> <strong>Tenho</strong> FUTURO é uma publicação<br />

experimental dos alunos do 4º ano de Comunicação Social<br />

(Jornalismo), na disciplina de Edição.<br />

Centro Universitário de Maringá (<strong>Cesumar</strong>)<br />

Av. Guedner, 1.610, Jardim Aclimação<br />

Maringá - Paraná - CEP 87050-2390<br />

Telefone: (44) 3027-6360 - www.cesumar.br<br />

Reitor: Wilson de Matos Silva<br />

Vice-reitor: Wilson de Matos Silva Filho<br />

Coordenadora de Comunicação Social: Cibele Abdo Rodella<br />

Professor responsável e edição final: Fábio Massalli (MTb 3545)<br />

Endereço eletrônico: revistaeutenho@gmail.com<br />

Proibida a reprodução deste material sem autorização<br />

prévia e escrita do editor. Todas as informações e opiniões<br />

são de responsabilidade dos respectivos autores.<br />

Bibliografia<br />

Boa alimentação garante futuro melhor<br />

www.saude.gov.br<br />

www.portalamozonia.locaweb.com.br<br />

www.cetcafe.com.br<br />

www.bandilu.blogspot.com<br />

Fotografias e gráficos<br />

As fotografias e gráficos que aparecem nas páginas 6, 8, 24, 29, 30, 31, 32, 40,<br />

53, 54 e 55 da revista são reproduzidas sob as condições de “justo uso” para fins<br />

educacionais.


<strong>Futuro</strong> do presente<br />

Carina Veltrini<br />

Duas sementes se unem em uma só e, não se sabe como nem onde – ou, ao<br />

menos, por que –, um instante depois do presente, nasce ali o futuro. O futuro,<br />

formado por grandes expectativas, esperanças e todo o tempo que está por vir. Esse<br />

segundo inquestionável e inevitável – não é possível, ainda, parar no tempo -, que<br />

vem com todas as leis da física, biologia, química, com a ação da gravidade, do tempo,<br />

com todos os sintomas e conseqüências. O futuro está ali.<br />

Que nos resta senão esperá-lo? Ansiosa e medrosamente, o ser humano espera<br />

pelo que vai vir, pelo destino, que, talvez sim, talvez não, esteja traçado em livros<br />

celestiais. Mas o ser humano não sabe esperar, muito menos algo que nunca vem,<br />

o instante que nunca chega, o algo que é feito de tempo. O futuro é longínquo, puro<br />

mistério do não-saber. E é exatamente esse não-saber é o que instiga e excita a<br />

imaginação.<br />

Foi isso que estimulou cineastas, pensadores, meros mortais a pensarem no<br />

futuro. Algumas dessas previsões, criadas por imaginações supremas, ainda não se<br />

materializaram. Outras deveriam ter sido feitas há tempos, para que pudéssemos<br />

prever a falta de água, de comida, o aquecimento global, até mesmo a pobreza.<br />

As previsões podem mover o mundo. George Orwell moveu mentes com o<br />

“1984”, profetas moveram a fé, Nostradamus move a imaginação. Não moramos, mas<br />

pisamos na Lua com Neil Armstrong; e – o melhor – o mundo não acabou em 2000.<br />

Como em um livro de Clarice Lispector, estamos “grávidos do futuro”. Ele se faz<br />

em nós e simplesmente se materializa, como mágica, como um presente dado todos<br />

os dias, horas, minutos. Vivemos por causa dele.<br />

Muito mais do que simples objeto de estudos, de teorias, muito mais do que tempo<br />

lexical, tempo que está por vir, recheado por uma infinidade de mistério, o futuro não<br />

passa de uma construção. Construção, esta, realizada com nossas próprias<br />

mãos. Com as suas também.<br />

Boa leitura.<br />

6<br />

3


sumário<br />

<strong>Eu</strong> tenho<br />

FUTURO<br />

A vida após o câncer<br />

[10]<br />

Viver significa escolher<br />

eternamente [6]<br />

Planeta do mar<br />

de areia [29]<br />

O caminho promissor<br />

do agronegócio [21]<br />

O amanhã a partir da História [8], O tempo passa e se p<br />

anos [15], Curtindo a vida adoidado [18], Transgênico t<br />

colher o futuro [27], Tecnologia pode estabelecer novo p<br />

dades batem à porta e o amor pula a janela [48], Web 2


Boa alimentação<br />

garante futuro<br />

melhor [33]<br />

Poupando para o<br />

futuro [44]<br />

O camaleão da<br />

comunicação busca<br />

novos estilos<br />

tecnológicos [50]<br />

Passado de Maringá<br />

pode não ter futuro<br />

[56]<br />

Vinil não é espécie<br />

em extinção [61]<br />

erpetua em “Era uma vez...” [13], O futuro pertence aos que têm mais de 60<br />

raz mais benefícios para a saúde e para o bolso [23], Plantar fl orestas para<br />

apel para professor [36], Troca que auxilia e investe no futuro [40], Difi cul-<br />

.0: os novos rumos da internet [52], Robôs programados para amar [54]


6<br />

Viver significa escolher<br />

eternamente<br />

Na concepção de Sartre, existir significa<br />

projetar-se adiante de si; assim, o homem<br />

vive por antecipação o futuro almejado<br />

André Dias de Andrade<br />

“O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se<br />

constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias<br />

é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral.” Com essa<br />

avaliação, pronunciada em 1945 na Conferência “O existencialismo<br />

é um humanismo”, o pensador francês Jean-Paul Sartre considera,<br />

enfim, que todas as ações humanas não são motivadas,<br />

mas intencionais e visam algo que não existe ou ainda não foi<br />

alcançado. A mola propulsora de toda ação seria antes o futuro do<br />

que o passado ou o presente.<br />

O futuro, no entendimento da filosofia existencialista de Sartre<br />

(uma das únicas que considera essa temática como determinante),<br />

representa a causa fundamental dos atos e vivências<br />

humanas. O “desejo de futuro” que cada um possui é, antes de<br />

tudo, a razão principal de sua existência. Assim, o homem é um<br />

ser que existe e se auto-determina indefinidamente, baseando-se<br />

em projetos que objetivam conseguir algo que ele não possui no<br />

presente momento. A realidade presente ou o passado, então,<br />

influem no homem negativamente, já que representam algo que<br />

está condenado a desaparecer.<br />

Esse homem que se define indeterminadamente ao longo de<br />

sua vida é, para Sartre, livre para escolher, pois não possui uma è<br />

James Andanson Sygma<br />

“<br />

o homem ao fazer<br />

escolhas, vai se auto<br />

determinar como<br />

ser existente<br />


natureza dada, acabada. Quando<br />

o filósofo argumenta que “a<br />

existência [do homem] precede<br />

a essência” quer, primeiramente,<br />

afirmar que o ser humano é um<br />

processo de existir, marcado mais<br />

pela mudança do que pela permanência.<br />

No entender do PhD em<br />

filosofia José Belluci Caporallini,<br />

o que caracteriza as escolhas humanas<br />

é a vontade insaciável de<br />

cumprir algum objetivo, alcançando<br />

o futuro tão desejado. “O homem<br />

nasce e tem de fazer suas<br />

escolhas, vivê-las independentemente<br />

para onde essas escolhas o<br />

possam levar. Esse homem nasce<br />

livre, vive livre e tem de escolher<br />

em virtude de sua própria existência.<br />

Não existe ninguém que em<br />

face da vida possa viver de modo<br />

neutro. Deste modo, o homem ao<br />

fazer escolhas, vai se auto determinar<br />

como ser existente que está<br />

sendo e existente que enfim será<br />

até o término de sua vida”, explica.<br />

“<br />

O homem é<br />

condenado a<br />

ser livre<br />

”<br />

7<br />

Danilo Donato<br />

A liberdade de escolha figura,<br />

nesse ponto, como sendo de<br />

essencial importância para compreender<br />

o homem e o porquê de<br />

suas ações. Para a psicóloga e<br />

gestalt-terapeuta (linha humanista-existencial<br />

da Psicologia) Giordane<br />

Andrade de Paula, “todo ato<br />

humano é intencional e deve ser<br />

compreendido através de si próprio,<br />

já que o próprio homem é o<br />

melhor interprete de si e é o único<br />

ser capaz de projetar-se e antecipar<br />

a si mesmo. O homem é aquilo<br />

que decide ser e em constante<br />

transformação”.<br />

Viver, então, significa escolher<br />

e escolher significa adquirir responsabilidades<br />

por essa ação ou,<br />

como expressava Sartre na década<br />

de 1960 e auge do movimento<br />

existencialista, “o homem é condenado<br />

a ser livre; porque uma<br />

vez inserido no mundo, ele é responsável<br />

por cada ato seu”.<br />

6


8<br />

O amanhã a partir da<br />

HISTÓRIA<br />

Perspectivas de futuro a<br />

partir do que aconteceu<br />

no passado; a sociedade,<br />

e em conseqüência muitos<br />

teóricos, sempre tentaram<br />

traçar uma previsão para o<br />

futuro da humanidade na<br />

Terra.<br />

Danilo Donato<br />

Marc Wathieu<br />

O tempo sempre foi e sempre será um problema para o ser humano<br />

e tentar prever o dia de amanhã sempre rodeou seu imaginário. Até a<br />

Idade Média, a sociedade nunca se importou muito com o seu futuro<br />

em longo prazo. A partir da Revolução Industrial, porém, o homem<br />

começa a traçar perspectivas - otimistas e pessimistas - em relação a<br />

sua permanência na Terra.<br />

“A preocupação com o futuro surge somente quando o dinheiro passa<br />

a ter mais importância na sociedade e quando começa a surgir uma<br />

nova classe social: a burguesia”, explica o professor de História do<br />

Colégio Objetivo de Maringá, Kleber Men. Até essa época, só existiam<br />

três classes sociais: o clero, a monarquia e os servos. A burguesia é a<br />

primeira classe social a começar a planejar o futuro, por meio do máximo<br />

acúmulo de capital possível para conseguir ter uma vida de nobre.<br />

Mas é na era Moderna que acontecesse a maior transformação da<br />

ação do homem sobre o tempo por meio da primeira Revolução Industrial.<br />

Segundo o historiador Renato Moscatelli, que leciona História<br />

da Filosofia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), os povos do<br />

ocidente tiveram mudanças significativas no modo de vida. Só o fato<br />

da formação de indústrias acarretou uma série de mudanças, seja nos<br />

hábitos alimentares ou no ritmo do cotidiano, que passou a ser condicionado<br />

pela ditadura implacável do relógio, seja nas relações de trabalho,<br />

que passam a ter características do capitalismo. “É a partir da<br />

Revolução Industrial que o tempo passa ter maior valor”, conta Men.


Previsões otimistas<br />

e pessimistas<br />

As formas de produções durante<br />

o processo de industrialização<br />

se tornaram tão rápidas que a<br />

preocupação com o futuro estava<br />

estritamente ligada à idéia de uma<br />

sociedade progressista. “O futuro<br />

tende a ser melhor que o passado,<br />

já que este ajuda a construir o<br />

futuro. Com isso, a sociedade vai<br />

evoluindo para um fi nal feliz”, diz<br />

o professor de fi losofi a da UEM,<br />

Vladimir Chaves, ao explicar a<br />

teoria judaico-cristã do tempo. A<br />

crença no progresso alavancou os<br />

sonhos de muitas pessoas, principalmente<br />

na economia, na ciência<br />

e na política.<br />

Porém, essas expectativas começaram<br />

a ser abaladas nas últimas<br />

décadas do século XIX,<br />

quando a primeira grande crise<br />

do capitalismo deixou claro que a<br />

expansão desenfreada não pode-<br />

De acordo com o historiador Renato Moscatelli,<br />

o momento da história em que vivemos atualmente<br />

é de transformação. Por isso, muitos teóricos<br />

sobre o tema esboçam algumas perspectivas<br />

para o futuro, sejam elas otimistas ou não.<br />

O norte-americano Francis Fukuyama, em<br />

seu livro “O fi m da história e o último homem”<br />

(Rocco, 1992), acredita que a humanidade chegou<br />

ao ponto mais alto dentro do atual modelo social,<br />

político e econômico típico do capitalismo globalizado<br />

e da democracia liberal. Já os irmãos Alvin<br />

e Heidi Toffl er, segundo Moscatelli, falam de uma<br />

“terceira onda” que estaria varrendo o mundo em<br />

nossos dias (as duas primeiras ondas teriam sido a<br />

da Revolução Agrícola e a da Revolução Industrial),<br />

ao passo que a característica da “terceira onda”<br />

seria a “civilização do computador”. “Todavia, os<br />

Toffl er pensam que, no futuro, a ‘terceira onda’ revolucionará<br />

o modo de vida de todo o globo, tendo<br />

como resultado uma civilização diferente e melhor”,<br />

conta o historiador.<br />

Porém, nem todos são tão otimistas quanto<br />

ao futuro. Segundo Moscatelli, Samuel Phillips<br />

Huntington apresentou a teoria de que no séc. XXI<br />

o mundo não será mais formado basicamente por<br />

Estados-nação, mas por múltiplas civilizações (tais<br />

como a ocidental, a islâmica, a africana e a latinoamerica),<br />

que estarão em confronto devido às diferenças<br />

culturais. “Apesar de ter recebido críticas,<br />

a previsão de Huntington chama a atenção para<br />

ria continuar para sempre. “Tanto<br />

para os camponeses quanto<br />

para o proletariado fabril, o futuro<br />

não parecia muito promissor”,<br />

conta Renato Moscatelli. Para o<br />

historiador, as perspectivas desses<br />

trabalhadores passaram a se<br />

ampliar graças ao surgimento de<br />

movimentos que iam contra o capitalismo,<br />

como o socialismo, o<br />

anarquismo e o comunismo. Karl<br />

Marx chegou a prever que um dia<br />

o capitalismo sucumbiria, recebendo<br />

o golpe fatal das mãos dos<br />

proletários que ele mesmo havia<br />

criado, pondo fi m à exploração do<br />

trabalho.<br />

Na prática, a teoria do fi lósofo<br />

alemão não deu muito certo. O<br />

século XX foi o principal palco da<br />

disputa entre os modos de produção<br />

capitalista e socialista. De um<br />

lado, os socialistas procuravam<br />

inspirar nos cidadãos o sonho de<br />

que o comunismo, um dia, seria o<br />

sistema existente em todo o mundo<br />

e que nessa época tudo seria<br />

E O NOSSO FUTURO?<br />

9<br />

ainda melhor. “Quanto mais o<br />

tempo passava, mais fi cava difícil<br />

acreditar nas antigas promessas e<br />

a ‘era de abundância para todos’<br />

nunca chegou”, explica Moscatelli.<br />

Enquanto isso, do outro lado, o<br />

capitalismo oferecendo total liberdade<br />

aos seus seguidores em troca<br />

do consumismo desenfreado,<br />

com abundância em excesso para<br />

certas classes sociais e a outra<br />

parte lutava para chegar ao status<br />

de quem estava no poder no<br />

sistema. O capitalismo, com sua<br />

“ideologia libertária”, se consolidou<br />

no mundo todo, enquanto o<br />

socialismo perdia força diante de<br />

seus próprios pés.<br />

Apesar de muitos teóricos já<br />

traçarem uma projeção para o<br />

futuro (veja o box), o historiador<br />

é cauteloso quanto ao tema.<br />

“Não podemos prever com certeza<br />

como será o futuro, mas a história<br />

nos ensina que os grandes períodos<br />

de mudanças nem sempre<br />

trazem rupturas completas com<br />

os tempos que os antecederam.”<br />

os riscos de se subestimar a diversidade cultural<br />

em nome da difusão de um modelo político e econômico<br />

único para todo o mundo.” O historiador<br />

cita como exemplo a difi culdade em que os Estados<br />

Unidos estão enfrentando para implantar no<br />

Iraque, pós-Saddam Hussein, um sistema democrático<br />

que eles consideram universalmente válido.<br />

“Afi nal, por mais que a globalização e as tecnologias<br />

da informação estejam se difundindo pelo<br />

mundo e transformando nossa forma de viver, elas<br />

não conseguiram fazer uma tabula rasa do passado”,<br />

conclui Moscatelli.<br />

Para Mocatelli o momento em que vivemos é de<br />

trasformação que se justifi ca pela globalização<br />

Danilo Donato<br />

6


10<br />

A vida após o diagnóstico<br />

câncer<br />

de<br />

A doença pode tanto destruir quanto<br />

reconstruir um futuro; apoio familiar e<br />

acompanhamento psicológico ajudam<br />

a enfrentar o problema<br />

Daiane Siqueira<br />

Ricardo Andretto Fonseca<br />

Você já imaginou fazer exames<br />

de rotina e, ao ver os resultados,<br />

descobrir que aquelas dores repentinas,<br />

ou até mesmo freqüentes,<br />

podem representar sinais de<br />

uma doença séria, provocando<br />

uma grande reviravolta em sua<br />

vida? Essa situação é mais comum<br />

do que se imagina. Uma simples<br />

dor de cabeça pode ser sinal de<br />

uma doença que atinge um número<br />

signifi cativo da população:<br />

câncer.<br />

Segundo o Instituto Nacional<br />

de Câncer (Inca), só em 2006<br />

cerca de 130 mil pessoas morreram<br />

vítimas da doença no Brasil.<br />

A previsão é de que até o próximo<br />

ano sejam registrados quase<br />

470 mil novos casos. Os dados<br />

também revelam que o câncer é<br />

responsável por 13% das mortes<br />

em todo o mundo e que, só<br />

no País, os gastos com o tratamento<br />

da doença somam R$ 1,2<br />

bilhão - despesa que, segundo o<br />

instituto, deve aumentar com o<br />

envelhecimento da população.<br />

É difícil pensar em futuro vivendo<br />

uma situação dessas.<br />

Ainda mais quando os números<br />

se mostram desfavoráveis<br />

a recuperação das pessoas que<br />

descobrem ter a doença. Nesses<br />

casos, é preciso ter muita força,<br />

pois as pessoas que encaram<br />

um diagnóstico de câncer experimentam<br />

uma série de emo-<br />

Palmira Castellani ao lado do seu bisneto<br />

“você tem de manter a família de pé”<br />

ções, estresses e aborrecimentos.<br />

O tratamento nem sempre é fácil<br />

e existem “feridas” que podem<br />

permanecer abertas para o resto<br />

da vida.<br />

A psicóloga Alessandra Herranz<br />

Gazquez, especialista em Saúde<br />

Mental, lida com o assunto há<br />

mais de dez anos em seu trabalho<br />

voluntário na Rede Feminina<br />

de Combate ao Câncer de Maringá.<br />

De acordo com ela, uma das<br />

primeiras reações sentidas pelos<br />

pacientes é a tristeza. “As pessoas<br />

fi cam apáticas, abatidas, não querem<br />

conversar, se mostram muito<br />

tristes e preocupadas.” No entanto,<br />

Alessandra afi rma que também<br />

há um lado bom relacionado<br />

com a família. “Outra reação muito<br />

comum é o amor. Os parentes


se aproximam do paciente, que<br />

se voltam muito para a família de<br />

uma forma bem bonita que antes<br />

não percebiam.”<br />

Depressão<br />

A depressão, muitas vezes associada<br />

às pessoas que são diagnosticadas<br />

com câncer, nem sempre<br />

é uma das conseqüências da<br />

doença. Alessandra afirma que<br />

existem alguns sintomas que são<br />

diagnosticáveis nesses casos e<br />

que há até mesmo uma tipologia<br />

específica para isso. “Existem pacientes<br />

que não têm a depressão.<br />

Há um tipo de personalidade que<br />

é mais voltado para desenvolver a<br />

depressão. São pessoas mais fechadas,<br />

mais carentes, mais entristecidas.<br />

É um perfil que quando<br />

diagnosticado, as chances de<br />

ter a depressão é bem maior do<br />

que a pessoa que não tem esse<br />

perfil.”<br />

Sobre os casos em que as pessoas<br />

desenvolvem a patologia da<br />

depressão, voltar a ter uma perspectiva<br />

de futuro é algo que precisa<br />

ser trabalhado para que os<br />

pacientes não pensem somente<br />

no problema. No tratamento, a<br />

psicóloga conta que relaciona a<br />

questão com um histórico da própria<br />

pessoa, abrindo um leque de<br />

possibilidades para sua cura. “Nós<br />

trabalhamos a depressão resga-<br />

tando o que essas pessoas fizeram<br />

de bom, falamos na cura da<br />

doença pela emoção. [Fazemos]<br />

A pessoa perceber o que ela pode<br />

ter na vida, para estar melhorando<br />

e modificando. [Mostramos] Como<br />

é o seu relacionamento com os<br />

familiares, como ela se relaciona<br />

com as pessoas que ama, o que<br />

pode dar de si e absorver o que há<br />

de melhor, não de pior.”<br />

O câncer<br />

O paciente como um ser social<br />

Palmira Torres Simino, 48, secretária<br />

geral de um colégio público<br />

da cidade, descobriu que tinha<br />

um carcinoma (câncer de estômago),<br />

em julho de 2006. Ao receber<br />

a confirmação de que estava com<br />

um tumor cancerígeno, Palmira<br />

diz ter analisado toda sua história.<br />

“<strong>Eu</strong> fiz um balanço da minha vida.<br />

O que eu havia feito de bom ou<br />

não, o que eu tinha feito ou deixei<br />

de fazer para os meus filhos. Pensava<br />

no que iria deixar para eles.<br />

Passava tudo isso na minha cabeça,<br />

mas o que me fez superar tudo<br />

foi justamente eles [os filhos] e o<br />

meu marido. Eles foram tudo que<br />

eu precisava para me recuperar.”<br />

Nessa situação, é comum que<br />

o paciente apresente uma nãoperspectiva<br />

de futuro, já que a doença<br />

acaba se tornando o centro<br />

das atenções. Foi o que aconteceu<br />

com Palmira Simino, que inicialè<br />

Interagir com o mundo e, principalmente, aceitar o problema pode<br />

ser muito importante. Para a psicóloga Alessandra Herranz Gazquez,<br />

esse tipo de reação com a vida é crucial. Ela ressalta a importância<br />

do acompanhamento, não só profissional, mas também<br />

familiar desses pacientes. “Depois do tratamento, a visão de mundo<br />

se modifica muito. A valorização do que realmente é importante<br />

vem à tona. Coisa que nós, saudáveis, nem paramos para pensar.<br />

Quando você tem uma doença como essa, começa a valorizar, como<br />

que se voltasse ao que realmente é importante para a vida.”<br />

É preciso também tomar cuidado para não confundir o câncer como<br />

uma doença que transforma a pessoa em incapaz. Alessandra afirma<br />

que muitas pessoas ainda carregam um preconceito quanto ao<br />

problema e isso pode prejudicar a perspectiva de futuro dos pacientes.<br />

“Há um certo preconceito ao associar o câncer a um estado<br />

ruim, como se a pessoa se tornasse inútil e a família começa a fazer<br />

tudo, não dando espaço para o paciente. Não podemos confundir<br />

amor e dedicação e passar a fazer tudo pelo paciente.”<br />

“<br />

Manter-se forte<br />

perante a família<br />

pode a ajudar na<br />

recuperação<br />

11<br />


12<br />

mente diz não ter imaginado um<br />

futuro para si, mas que se apegou<br />

muito à família durante a sua recuperação.<br />

”Você só pensa no pior,<br />

em como vai ser a vida dos filhos<br />

sem você. Mas eu sempre tive a esperança<br />

de me recuperar, de voltar<br />

ao trabalho e ver meus filhos crescer.<br />

Você se volta para o futuro da<br />

família.”<br />

Como o seu tumor era pequeno,<br />

uma operação bastou para resolver<br />

o problema. Por isso, a secretária<br />

não teve de passar por sessões de<br />

radio ou quimioterapia. Na cirurgia,<br />

os médicos chegaram a retirar<br />

60% de seu estômago. “Na época<br />

eu cheguei a perder 10 quilos, mas<br />

a minha recuperação foi ótima. <strong>Eu</strong><br />

não tive complicação nenhuma.<br />

Com cinco dias já estava em casa<br />

comendo bem. Hoje me alimento<br />

normalmente, não sinto nada diferente.”<br />

Já a dona de casa Palmira Castellani<br />

de Souza, 60, não teve muita<br />

opção. O caso dela foi um pouco<br />

mais complicado e, frente a isso,<br />

preferiu não revelar à reportagem<br />

onde o câncer estava localizado.<br />

Ela teve de passar por inúmeras<br />

sessões de radioterapia e quimioterapia<br />

e revela que, desde o primeiro<br />

momento, o médico já havia<br />

deixado claro que iria tentar curála,<br />

mas que não tinha certeza do<br />

resultado. Situação muito comum<br />

no tratamento do câncer. “Ele não<br />

deu esperança nenhuma. Disse que<br />

iria tentar fazer uma limpa, tentar<br />

retirar o câncer, mas não garantia<br />

nada. A palavra ‘curada’ não saiu<br />

da boca dele.”<br />

Palmira Castellani diz não ter<br />

sofrido muito com o diagnóstico<br />

da doença, mas conta que, ao se<br />

dar conta de que tinha câncer, sua<br />

vida teve uma reviravolta. “Você<br />

não pensa no futuro, não pensa em<br />

mais nada, sua vida pára, estaciona.<br />

Você não pode continuar trabalhando,<br />

porque tem que ficar indo<br />

ao Hospital do Câncer e à clínica de<br />

radioterapia. Não pode levar uma<br />

vida normal, sua rotina muda.”<br />

O tratamento do câncer nem<br />

sempre é fácil e os sentimentos dos<br />

pacientes que passam por isso po-<br />

“<br />

Planos para o<br />

futuro permanecem<br />

iguais aos de<br />

qualquer pessoa<br />

”<br />

dem ser influenciados. Palmira Castellani,<br />

apesar de não ter tido problemas<br />

com o diagnóstico, também<br />

teve que passar por uma cirurgia. A<br />

dona de casa conta, com certo desconforto,<br />

o que sofreu ao tratar a<br />

doença. “Na cirurgia foi normal, não<br />

senti nada, dor alguma, mas terrível<br />

foi o tratamento. Você começa<br />

a fazer a quimio [terapia] e a radio<br />

[terapia] junto, daí vai sentindo que<br />

a sua alma vai indo embora. Durante<br />

todo o tratamento eu fui ficando<br />

cada vez mais fraca, e aquele cheiro<br />

da clínica parece que nos persegue.”<br />

Manter-se forte perante a família<br />

nessas horas pode vir a ajudar, e<br />

muito, na recuperação do paciente.<br />

Palmira Castellani seguiu esse conselho<br />

e diz ter se esforçado para superar,<br />

com fé, o problema. “Quanto<br />

pior você estiver de espírito, você<br />

leva a família junto. Você tem de<br />

manter a família ‘de pé’ porque o<br />

que você sentir, eles sentem dobrado.<br />

Então você tem de se esforçar.<br />

A pessoa que tiver de passar por<br />

esse problema tem de enfrentar,<br />

mas primeiro deposita tudo na mão<br />

de Deus. Sei que aquela pessoa que<br />

você era nunca mais volta, pelo menos<br />

eu não voltei a ser a mesma<br />

pessoa.”<br />

Palmira Castellani diz que hoje os<br />

planos para o futuro permanecem<br />

iguais ao de qualquer outra pessoa<br />

que não tenha tido a doença.<br />

6


O tempo passa<br />

e se perpetua em<br />

‘Era uma vez...’<br />

Desafiando o tempo, o hábito de contar histórias<br />

volta às cidades no século 21 para transmitir<br />

valores, conhecimentos e tradições<br />

André Leandro de Mello<br />

Contação de histórias. É estranho<br />

ouvir o termo, mas é exatamente<br />

assim que a atividade, quase<br />

uma profissão, é oficialmente<br />

conhecida nos dias de hoje. Contadores<br />

de histórias explicam que<br />

o ato resiste ao tempo, atravessa<br />

fronteiras, passa de geração em<br />

geração e faz parte de diferentes<br />

culturas, até mesmo distantes de<br />

sua terra de origem.<br />

Hoje, além do teatro e dos livros,<br />

as histórias também passaram<br />

a ser narradas pelo cinema e<br />

pela internet. Apesar das conquis-<br />

tas tecnológicas, a arte de narrar<br />

em “viva voz” está voltando, fortalecendo-se<br />

a cada dia. O costume<br />

se mantém nas próprias famílias<br />

e continua aceso em centros culturais<br />

de comunidades de todas<br />

as classes ou mesmo em espaços<br />

comerciais.<br />

Há quem faz disso uma profissão.<br />

É o caso de Lucimara Rinaldi<br />

da Silva. Quando trabalhava como<br />

vendedora em uma livraria, usava<br />

uma tática infalível: nos colégios<br />

de Maringá, começava a contar<br />

as histórias e parava no clímax. O<br />

jeito era a molecada correr para<br />

13<br />

André Leandro de Mello<br />

comprar os livros e descobrir o final<br />

da história. Lucimara diz que o<br />

desafio mudou a vida dela de forma<br />

surpreendente.<br />

A primeira história contada por<br />

Lucimara foi “O Macaquinho e o<br />

Minhoco”, do livro “Meio ao Meio”.<br />

Passados alguns anos como vendedora<br />

de livros, recebeu o convite<br />

para ser funcionária exclusiva<br />

do Colégio Santa Cruz, onde<br />

trabalha até hoje. No decorrer da<br />

profissão, foi aprendendo a lidar<br />

com o imaginário das crianças.<br />

É na “Hora do Conto”, projeto


14<br />

desenvolvido para estimular a leitura<br />

no Colégio Santa Cruz, que,<br />

durante 20 minutos, ela mexe<br />

com o imaginário das crianças.<br />

Lucimara conta que os alunos<br />

chegam ansiosos à sala para saber<br />

qual história será contada e<br />

logo se sentam no chão ao redor<br />

do palco. “<strong>Eu</strong> adoro ouvir as histórias,<br />

pareço fazer parte do conto<br />

junto com os personagens”, conta<br />

a estudante Mariana Gomez de<br />

Castilho, 10 anos.<br />

Segundo Lucimara, não existe<br />

idade para ouvir história. “Escutar<br />

história faz bem à saúde. Outro<br />

dia abri a reunião de pais contando<br />

uma história, do mesmo jeito<br />

que conto para as crianças. Dias<br />

depois, o pai de um aluno me disse<br />

que estava tão estressado a<br />

ponto de arrebentar tudo e fi cou<br />

aliviado depois de ouvi-la.”<br />

A contadora revela ainda que<br />

uma história não pode ser “contada<br />

por contar”, tem de ter emoção.<br />

“Transmitir sentimentos pelos<br />

olhos, fazer as pessoas sentir o<br />

que você está sentindo, compartilhar<br />

o seu sentimento. As crianças<br />

estão me ouvindo, sentem o frio<br />

que eu sinto, o medo que eu também<br />

tenho. Entram no meu imaginário.<br />

Isso é maravilhoso.”<br />

É difícil saber ao certo como<br />

será o futuro da profi ssão de contador<br />

de histórias, principalmente<br />

pela difi culdade em achar profi ssional<br />

que trabalha na área, já<br />

que não há curso universitário. No<br />

entanto, o hábito de contar histórias<br />

não está em crise. Na maioria<br />

das vezes, é mantida por pessoas<br />

que ouviam quando crianças e repassam<br />

para os fi lhos. Um exemplo<br />

disso vem da secretária Sheila<br />

Franco Veneruci de Oliveira, que<br />

diz contar histórias para o fi lho de<br />

9 anos. “Quando eu era pequena,<br />

meus pais contavam histórias<br />

quando eu ia dormir. A que mais<br />

gostava era da ‘Bela Adormecida’.<br />

Meu fi lho adora ouvir histórias.<br />

Passo adiante um costume que<br />

minha família tem há gerações”,<br />

explica.<br />

O mesmo acontece com a<br />

professora Maria Francisca Gal-<br />

Bibliotecas preservam hábito<br />

de contar histórias<br />

Em Maringá, as bibliotecas municipais promovem o Clubinho de<br />

Leitura, como e caso da Biblioteca Bento Munhoz da Rocha Netto<br />

(Biblioteca Central) no primeiro sábado de cada mês às 10h. Crianças<br />

a partir dos 6 anos, e até mesmo adultos, fazem uma roda ao<br />

redor das contadoras ou de profi ssionais, e juntos viajam no mundo<br />

da fantasia. “Gosto de ir a Biblioteca Central só para ouvir a tia<br />

contar historinhas. Me divirto muito”, diz o estudante da segunda<br />

serie da Rede Municipal de Ensino, Yago Pereira da Cruz.<br />

A estagiária da Biblioteca Central Janine Saraiva Tagua conta história<br />

para a criançada no Clubinho de Leitura. Ela diz se divertir ao<br />

contar histórias para as crianças. “É muito legal contar histórias.<br />

Isso é um incentivo a leitura. Têm muitas crianças que vem aqui na<br />

biblioteca, ouvem as histórias e levam livros para casa.’’<br />

Para a aposentada Alice Maria da Silva, ouvir histórias é voltar no<br />

tempo e se sentir criança. “Gosto de trazer minha neta que na<br />

biblioteca, isso também mexe com a minha imaginação. Lembro<br />

de quando era pequena e ouvia os contos que meu avô contava. É<br />

muito bom poder pensar nas situações de cada personagem. Faz<br />

um bem muito grande para minha memória.”<br />

gatianne.“Conto para minhas<br />

fi lhas histórias<br />

que minha mãe<br />

e avó contavam<br />

para mim<br />

quando eu era<br />

pequena. Parecem viajar quando<br />

conto histórias para elas de tanto<br />

que gostam. Nem piscam.”<br />

Curso para contação<br />

“<br />

É difícil saber ao<br />

certo qual será o<br />

futuro da profi ssão<br />

Em relação ao salário de um<br />

contador de histórias, Lucimara<br />

revela que diante da situação<br />

brasileira, dá para se manter, e<br />

que hoje existem muitas profi ssões<br />

com salários pequenos e outros<br />

enormes. “O meu salário de<br />

contadora de histórias é razoável.<br />

<strong>Tenho</strong> um complemento extra no<br />

curso que dou de como se contar<br />

uma boa história. Ensino como<br />

um contador deve tirar os vícios<br />

de linguagens nos contos sem ter<br />

repetições de palavras e também,<br />

como expressar os sentimentos. É<br />

um verdadeiro<br />

sucesso na cidade.<br />

Mas é es-<br />

”<br />

sencial ter amor<br />

naquilo que se<br />

faz e não pensar<br />

só no dinheiro”,<br />

explica Lucimara.<br />

A professora do ensino fundamental,<br />

Cleonice Pereira dos Santos<br />

fez o curso de contadora de<br />

histórias, aperfeiçoou o jeito de<br />

contar histórias e pensa em montar<br />

uma escola de contação de historias.<br />

“Depois de ter feito o curso,<br />

consegui segurar mais a atenção<br />

dos meus alunos durante o conto.<br />

A difi culdade que tinha era de fi car<br />

repetindo palavras como ‘é’, ‘aí...<br />

‘ e ‘então... ‘. Eliminei esse hábito<br />

tornando a contação bem mais<br />

atrativa e muito mais dinâmica.<br />

Contar historias dá dinheiro e abrir<br />

uma escola para formar profi ssionais<br />

para atuar nessa profi ssão.<br />

O curso dá mais dinheiro do que<br />

contar histórias”, revela.<br />

6


O futuro pertence aos que têm<br />

mais de 60 anos<br />

Aumento na expectativa de vida do<br />

brasileiro pode gerar confl itos, mas também<br />

sanar desigualdades e preconceitos<br />

Damaris Santos<br />

Dados do Instituto Brasileiro de Geografi a e<br />

Estatística (IBGE) revelam que a expectativa<br />

de vida do brasileiro subiu de 70,5 anos, em<br />

2000, para 72,3 anos, em 2006. Os números<br />

fazem parte das Tábuas Completas de Mortalidade,<br />

divulgadas pelo IBGE desde 1999.<br />

Informações signifi cativas neste sentido foram<br />

publicadas ainda na pesquisa “Idosos no<br />

Brasil”, realizada pela Fundação Perseu Abramo<br />

em parceria com o Sesc (Serviço Social<br />

do Comércio), de São Paulo. De acordo com<br />

a investigação, a imagem de velhice<br />

está principalmente associada a<br />

aspectos negativos, tanto para os<br />

próprios idosos (88%) como para<br />

os não idosos (90%).<br />

Outro fator bastante importante<br />

levantado pela análise da<br />

Abramo e do Sesc, que poderá<br />

ter um efeito negativo no futuro,<br />

é o fato de que um terço da<br />

população brasileira (35%) não<br />

tem fi lhos, enquanto que, entre<br />

os idosos, apenas 6% não foram<br />

pais. Essa drástica diminuição da<br />

fecundidade poderá criar incompatibilidade<br />

entre o número de<br />

idosos que constituirão a próxima<br />

geração. Esta geração é a dos idosos<br />

e seus fi lhos; a próxima será a<br />

dos idosos sem fi lhos - cenário um<br />

tanto complicado que poderá confi -<br />

gurar possíveis confl itos na área da<br />

previdência social.<br />

Informações do IBGE apontam<br />

que o crescimento da população idosa<br />

com mais de 60 anos pode passar<br />

dos 7,8% atuais para 13% em 2020<br />

(aproximadamente 27 milhões de<br />

pessoas). Deste modo, o sistema preè<br />

Já estou nos 68, quase 70 estou<br />

muito bem”, afi rma Lazara Ramirez<br />

15<br />

Damaris Santos


16<br />

“O marketing já<br />

direciona determinado<br />

tipo de produção<br />

publicitária para<br />

atender a população<br />

idosa, os bancos estão<br />

abrindo linha de<br />

empréstimo para<br />

aposentados. O idoso<br />

pode ser considerado<br />

uma população que<br />

está inserida no<br />

mercado e na<br />

sociedade como um<br />

todo.”<br />

Calvino Camargo<br />

videnciário brasileiro, que já é defi<br />

citário, fi cará ainda mais sobrecarregado.<br />

Para agravar o cenário,<br />

a população em idade ativa (de 15<br />

a 60 anos), que, por meio de suas<br />

contribuições,cooperam com os<br />

recursos para pagar os benefícios<br />

da previdência, terá diminuído<br />

consideravelmente.<br />

“O que afeta em geral a situação<br />

econômica das pessoas idosas<br />

é a perda de contato com a força<br />

de trabalho, a obsolescência de<br />

suas atividades, a desvalorização<br />

de seus vencimentos e pensões e<br />

a pobreza generalizada da sociedade,<br />

no mundo”, esclarece a psicóloga<br />

Jhainieiry Cordeiro Famelli<br />

Ferret.<br />

Para o doutor em Psicologia Social,<br />

Calvino Camargo, o problema<br />

é que, na sociedade contemporânea,<br />

a produção e o trabalho<br />

são os elementos fundamentais<br />

para a manutenção<br />

da vida.<br />

“Hipoteticamente,<br />

o idoso deixa de<br />

ser produtivo e,<br />

quando isso<br />

a c o n t e c e ,<br />

ele não tem<br />

r e c u r s o s<br />

suficientes<br />

para<br />

pertencer<br />

ao<br />

mercado<br />

d e<br />

consumo.”<br />

Entretanto, dados positivos em<br />

relação à condição fi nanceira dos<br />

idosos apontam que a ampliação<br />

de aposentadorias, pensões e benefícios<br />

mostra um expressivo índice<br />

(92%) de pessoas com mais<br />

de 60 anos e com alguma fonte de<br />

renda. O idoso já ocupa a posição<br />

de colaborador fi nanceiro ou até<br />

mesmo de provedor principal, o<br />

que certamente aumenta sua importância<br />

no núcleo familiar.<br />

“Existem pesquisas apontando<br />

que muitos idosos são responsáveis<br />

pelo sustento da família. A<br />

maioria encontra-se aposentado e<br />

assume a responsabilidade pelos<br />

netos para que seus fi lhos possam<br />

trabalhar”, explica a psicóloga<br />

Jhainieiry.<br />

Calvino Camargo complementa<br />

que segmentos econômicos, como<br />

as agências fi nanceiras, também<br />

estão atentos a esses potenciais<br />

consumidores. “O marketing já di-


eciona determinado tipo de produção<br />

publicitária para atender a<br />

população idosa, os bancos estão<br />

abrindo linha de empréstimo para<br />

aposentados. O idoso pode ser<br />

considerado uma população<br />

que está inserida no mercado e<br />

na sociedade como um todo.”<br />

De acordo com Camargo,<br />

a população idosa não é única<br />

e característica. A maneira<br />

com que enfrentam a velhice<br />

depende muito das peculiares<br />

de cada um. “Alguns têm uma<br />

experiência de vida extremamente<br />

jovial, mexem na internet,<br />

estão disponíveis para o<br />

aprendizado. Outras pessoas,<br />

que nem são tão idosas, têm<br />

uma vida muito restrita, certas<br />

angústias e, por isso, são muito<br />

mais dadas àquilo que nós chamamos<br />

de patologias [doenças<br />

sintomáticas] ou difi culdades da<br />

terceira idade”.<br />

“ Pesquisas<br />

apontam que muitos<br />

idosos são<br />

responsáveis pelo<br />

sustento da família<br />

”<br />

6<br />

“Enquanto você vive tem de ter<br />

esperança”, diz D. Dalva<br />

Damaris Santos<br />

Equilíbrio é a chave<br />

para vida saudável<br />

O geriatra Daniel Marchiotti<br />

conta que, na maioria das vezes,<br />

as pessoas pensam naquele velho<br />

doente, complicado, com qualidade<br />

de vida zero. Contudo, essa<br />

visão pode não corresponder à<br />

realidade – inclusive a da medicina.<br />

“Uma coisa é a geriatria clínica,<br />

outra coisa é a gerontologia<br />

preventiva. A geriatria clínica trata<br />

o idoso doente, que está com<br />

um tumor, atrofi ado, tem ponte<br />

de safena, insufi ciência renal etc.<br />

A gerontologia preventiva, lembra<br />

que nós nascemos geneticamente<br />

para viver 120 a 150 anos,<br />

no mínimo. Esse tipo de medicina<br />

avançada, de primeiro mundo,<br />

diz que todas as doenças são<br />

evitáveis, pois nós não nascemos<br />

para fi car doentes.”<br />

Conforme o geriatra, as pessoas<br />

fi cam enfermas pelo que<br />

inalam de ar contaminado; pelos<br />

alimentos prejudiciais ingeridos;<br />

pelo sono irregular e pela falta de<br />

atividade física. O geriatra acredita<br />

que a base para uma vida<br />

saudável, com energia, longevidade<br />

e jovialidade é ter equilíbrio,<br />

controle e mais do que força<br />

de vontade. “Nós estamos falan-<br />

“O anoitecer da vida<br />

deve também possuir<br />

um signifi cado<br />

próprio e não pode<br />

ser, apenas, um<br />

apêndice lamentável<br />

da manhã da vida”<br />

Carl Gustav Jung<br />

17<br />

do de quem não quer, meramente,<br />

viver um pouco, mas de quem<br />

quer viver bem, bastante, com<br />

qualidade e boa aparência.”<br />

Marchiotti defende que o envelhecimento<br />

é uma doença causada<br />

fundamentalmente pelo desequilíbrio<br />

hormonal. O elixir da<br />

juventude seria a reposição de<br />

hormônios combinada as atividades<br />

do Pentágono do Bem Viver.<br />

“Com o aparecimento dos hormônios<br />

na fase da adolescência<br />

teremos grande desenvolvimento<br />

e, com a diminuição deles, teremos<br />

grandes atrofi as. Mas, medicina<br />

preventiva é para quem<br />

pode e não para quem quer. Tudo<br />

que se faz é alguma coisa, mas<br />

ainda está longe do ideal.”<br />

A psicóloga Jhainieiry Ferret<br />

acredita que o envelhecimento<br />

bem-sucedido deve ser a meta a<br />

ser atingida. “Como dizia Jung, ‘o<br />

anoitecer da vida deve também<br />

possuir um signifi cado próprio e<br />

não pode ser, apenas, um apêndice<br />

lamentável da manhã da<br />

vida’.”


18<br />

Curtindo a<br />

vida adoidado<br />

Terceira idade busca, cada vez<br />

mais, novas formas de ocupar o<br />

tempo livre e conquistar espaço<br />

ativo na sociedade<br />

Heloísa Beraldo


Heloísa Beraldo<br />

O que esperar da vida aos 60<br />

anos? Talvez você aí esteja se<br />

imaginando casado; com filhos;<br />

tranqüilo com sua aposentadoria;<br />

pouco disposto querendo mesmo<br />

descansar e curtir os netos. Esta<br />

é a visão que se tinha da terceira<br />

idade. Mas essa perspectiva está<br />

mudando.<br />

De acordo com a psicóloga Mileny<br />

Marchi, atualmente, há uma<br />

preocupação da terceira idade em<br />

buscar atividades que relacionem<br />

o conjunto corpo e mente. “É de<br />

extrema importância essa busca<br />

pela ajuda psicológica. Com a<br />

psicoterapia e as terapias de grupo,<br />

por exemplo, eles podem entender<br />

melhor a fase que estão<br />

vivendo e, assim, compartilhar<br />

suas angústias, vivenciar o seu<br />

progresso e o de outras pessoas<br />

que também passam por isso. O<br />

acompanhamento psicológico propõe<br />

a visão de novas alternativas,<br />

a busca de um novo olhar sobre si<br />

neste momento.”<br />

Para ela, a mudança de comportamento<br />

veio junto com os interesses<br />

da ciência. “Antigamente,<br />

as pessoas não davam o valor<br />

necessário a isso. Se formos ver,<br />

os estudos na área são recentes.<br />

Hoje em dia, fala-se mais em terapias<br />

e há mais pesquisas sobre<br />

o bem-estar. Antigamente, isso<br />

era mais restrito.”<br />

A vida em primeiro lugar<br />

O que é ser velho nos dias de<br />

hoje? Foi esse pensamento que<br />

levou a aposentada Julieta Andrade,<br />

62, a pensar em como levaria<br />

a velhice. “Velhice” como termo<br />

questionável. “Sempre houve jovens<br />

velhos e velhos jovens”, afirma.<br />

A ousadia de Julieta levou-a a<br />

prestar vestibular no início deste<br />

ano. Hoje, ela está cursando o primeiro<br />

ano de Direito. “Fui muitíssimo<br />

bem recebida. Sou líder de<br />

classe eleita por unanimidade.”<br />

Para Julieta, a faculdade tornou-se<br />

um ótimo passatempo e<br />

foi o ponta-pé inicial para a nova<br />

vida. “Não gosto de cachorros. En-<br />

tão, em vez de comprar um, como<br />

a maioria na minha idade faz, decidi<br />

ir à faculdade”, brinca.<br />

Segundo ela, o espírito não<br />

acompanhou o físico e na hora da<br />

bagunça sempre está no meio. “O<br />

elixir que eu uso é o bom humor”,<br />

revela. Embora esbanje saúde<br />

e disposição Julieta diz não fazer<br />

planos a longo prazo. “Vivo o<br />

hoje”.<br />

De acordo com a psicóloga Mileny<br />

Marchi, atualmente, a terceira<br />

idade desenvolve um papel mais<br />

ativo na sociedade. “Com a facilidade<br />

proporcionada pela tecnologia,<br />

a realidade do homem está<br />

em constante mudança. A terceira<br />

idade com toda sua bagagem<br />

cultural poderá, e já compartilha,<br />

suas experiências de vida. Eles<br />

têm mais saúde e disposição. A<br />

minha visão de futuro é que cada<br />

vez mais os idosos terão espaço<br />

dentro de nossa sociedade e viverão<br />

cada vez melhor.”<br />

Para o aposentado Antônio Barandas,<br />

63 anos, a velhice deve<br />

ser encarada com naturalidade.<br />

”Somos iguais aos outros. Todas<br />

as fases da vida me apresentaram<br />

limitações. Hoje eu busco<br />

equilíbrio, respeito, sei dos meus<br />

direitos e deveres. Olhando para<br />

mim, eu sei que hoje não posso<br />

mais me aventurar em correr, pular,<br />

essas coisas. Mas este sou eu.<br />

Não significa que o meu amigo da<br />

minha idade não possa fazer isso.<br />

A terceira idade faz muitas coisas.<br />

Minhas limitações são físicas. <strong>Eu</strong><br />

ainda faço planos e sonho com<br />

eles, como antes. Se estou vivo,<br />

eu tenho futuro.”<br />

Anos de experiência<br />

Sentada com três amigas, em<br />

volta de uma mesa de jogos, com<br />

direito a toalha temática, fichas<br />

coloridas e um bom vinho português,<br />

a professora aposentada<br />

<strong>Eu</strong>nice de Oliveira, 65 anos, não<br />

aparenta ter a idade que tem.<br />

Olhando por cima dos óculos moderno,<br />

ao mesmo tempo em que<br />

fechava a partida de cartas, <strong>Eu</strong>nice<br />

disse acreditar que nunca esteve<br />

tão bem em sua vida. “Antigamente,<br />

costumava dizer que, a<br />

è<br />

19<br />

“Geralmente,<br />

quem procura um<br />

relacionamento<br />

depois dos 60 anos<br />

busca companhia.<br />

Há também aqueles<br />

que buscam uma forma<br />

de se reafirmarem”<br />

Mileny Marchi


20<br />

“Hoje, minha vida é<br />

diferente.<br />

Estou aproveitando<br />

agora. Pela primeira<br />

vez estou cuidando<br />

mais de mim”<br />

<strong>Eu</strong>nice de Oliveira, 65 anos<br />

esta altura do campeonato, deitaria<br />

em um berço esplêndido para<br />

esperar a morte. Mas estou muito<br />

bem. Sinto-me amada e respeitada<br />

pela minha família, pelo meu<br />

marido. E eu ainda tenho muito<br />

dinheiro para ganhar destas ‘velhinhas’”,<br />

brinca, apontando para<br />

as amigas.<br />

Em meio a boas risadas e piadinhas,<br />

surge um papo sério para<br />

elas: a saúde. “A idade chega para<br />

todas. <strong>Eu</strong> já passei por muita coisa.<br />

É um susto atrás do outro. Fazer<br />

operações e passar por cirurgias<br />

começa a fazer parte da nossa<br />

vida. A gente costuma brincar que<br />

quem falta em nossas reuniões<br />

[para jogar baralho] está internada<br />

ou presa, porque o nosso grupo<br />

é muito animado. Não queremos<br />

levar a vida que tínhamos antes.<br />

Estamos nos adaptando constantemente”,<br />

diz a moça de alma.<br />

<strong>Eu</strong>nice se emociona ao falar de<br />

sua vida e diz acreditar que aos 60<br />

anos ainda se tem muito a fazer.<br />

“<strong>Eu</strong> tive uma vida difícil. Comecei a<br />

trabalhar muito cedo. Tinha minha<br />

mãe doente e quatro irmãs mais<br />

novas em casa. Depois, trabalhei<br />

duro para criar meus três filhos,<br />

sozinha. Quais poderiam ser meus<br />

planos para o futuro? Hoje, minha<br />

vida é diferente. Estou aproveitando<br />

agora. Pela primeira vez estou<br />

cuidando mais de mim”, revela.<br />

Para ela, ir ao salão de beleza<br />

duas vezes por semana é um<br />

luxo que não podia pensar antes.<br />

“<strong>Eu</strong> sou vaidosa, gosto de saltos<br />

e bons perfumes. Não abro mão<br />

desta ‘atençãozinha’. <strong>Tenho</strong> muito<br />

chão pela frente, quero ensinar o<br />

que sei para os meus netos e bisnetos<br />

e cuidar para que eles possam<br />

ter uma vida melhor que a<br />

minha”, conta, sorridente.<br />

Quando o assunto é o amor, todos<br />

concordaram com a hipótese<br />

de ter um segundo casamento,<br />

acreditando que a sensação de estar<br />

apaixonado dá mais sentido à<br />

vida e desperta um olhar otimista<br />

do futuro. Para a psicóloga Mileny<br />

Marchi, o relacionamento, nesta<br />

idade, precisa de maior cuidado e<br />

compreensão. ”Geralmente, quem<br />

procura um relacionamento depois<br />

dos 60 anos busca companhia. Há<br />

também aqueles que buscam uma<br />

forma de se reafirmarem”.<br />

Maria da Conceição Ornellas,<br />

64 anos, dona de uma agência<br />

de casamentos em Maringá, diz<br />

entender bem este assunto. Com<br />

aparência conservada e olhar de<br />

menina, sentada na varanda de<br />

sua casa na Zona Norte de Maringá,<br />

Maria sorriu ao se descrever<br />

como cupido e disse já ter formado<br />

mais de 40 casais. “A procura<br />

por um parceiro na agência é<br />

maior pela terceira idade. Nesta<br />

fase, nós já sabemos do que gostamos,<br />

aí a busca fica mais fácil.<br />

Geralmente, a companhia precisa<br />

ser agradável, precisa gostar de<br />

conversar.”<br />

Maria revelou ter se casado recentemente<br />

com Dizmo Rotta, 72<br />

anos. ”Nos conhecemos através<br />

da minha agência. Ele veio, preencheu<br />

a ficha e vi que nos tínhamos<br />

interesses em comum. <strong>Eu</strong> adoro o<br />

meu trabalho. Cada dia que passa<br />

me surpreendo mais com a vida.”<br />

Quando questionada sobre a duração<br />

dos relacionamentos, Maria<br />

não se intimidou. “Nesta idade,<br />

a única coisa que queremos é alguém<br />

para passar bons momentos<br />

ao nosso lado. <strong>Eu</strong> acredito no<br />

amor, para mim é ‘até que a morte<br />

separe’. Sou otimista.”, brinca.<br />

Antonio Barandas, de 63 anos,<br />

também revelou estar apaixonado.<br />

“Pretendo me casar o ano que vêm<br />

[em 2009]. Há vinte anos fiquei viúvo<br />

e somente agora resolvi me dar<br />

uma segunda chance”, confessa.<br />

Hoje, Barandas ocupa o cargo<br />

de síndico em um prédio de Maringá<br />

e garante que não é um trabalho<br />

fácil. “Os moradores, muitas<br />

vezes, apresentam opiniões opostas<br />

e cabe a mim mediar e decidir<br />

o que é melhor para o grupo. Lido<br />

com dúvidas, problemas físicos<br />

e psicológicos de todo o prédio.”<br />

Para ele, a aposentadoria não<br />

significou que sua missão estava<br />

cumprida. Descansar ainda não<br />

faz parte de seus planos. “Considero-me<br />

um homem sadio. Faço<br />

caminhada e continuo trabalhando.<br />

A carcaça pode estar sofrida,<br />

mas ainda me sinto jovem”.<br />

6


Especialistas confiam em<br />

bons resultados para o<br />

setor, mesmo com<br />

produtores rurais<br />

migrando para outras áreas<br />

O caminho promissor do<br />

agronegócio<br />

Flávia Torres<br />

O agronegócio sempre foi uma das atividades que mais cresceu no<br />

mundo, fonte de rendas e empregos, sendo um dos setores mais estratégicos<br />

para estabilizar a economia brasileira. Hoje, o País é destaque<br />

na área em termos de produtividade e no emprego de alta tecnologia.<br />

Cenário que também se repete no Paraná. De acordo com o chefe do<br />

núcleo regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná<br />

(SEAB), Renato Cardoso Machado, atualmente, o estado é o primeiro<br />

em produção de grãos no Brasil, mesmo ocupando apenas 2,3%<br />

do território nacional. A dúvida que surge, no momento, é até quando<br />

o crescimento vai durar.<br />

Produtores rurais e aqueles que dependem da atividade para sobreviver<br />

fazem planos com resultados nem sempre certos. A urbanização<br />

do homem do campo e a busca por atividades menos arriscadas também<br />

colocam em risco o futuro do setor agropecuário no Brasil.<br />

Por depender de aspectos naturais e condições climáticas, muitos<br />

agricultores deixam de investir para procurar outras áreas que garantam<br />

estabilidade. “Comecei minha plantação de maracujá acreditando<br />

no sucesso da produção, mas as pragas e a falta de incentivo me<br />

è<br />

21<br />

Flávia Torres


22<br />

“<br />

Para especialistas,<br />

não seria exagero<br />

prever nos<br />

próximos dez anos<br />

a duplicação<br />

da produção<br />

brasileira de grãos<br />

”<br />

desanimaram. Então, fui atrás de<br />

outra coisa que eu sei fazer. Hoje,<br />

trabalho em uma oficina”, relata o<br />

ex-produtor rural Laurindo Hernandes.<br />

Mesmo diante de tantas adversidades,<br />

o chefe do núcleo regional<br />

da Secretaria da Agricultura e do<br />

Abastecimento do Paraná (SEAB),<br />

Renato Cardoso Machado, mostrase<br />

otimista. “<strong>Eu</strong> vejo o agronegócio,<br />

como um todo, com bastante otimismo.<br />

É verdade que há períodos<br />

de picos em qualquer das atividades,<br />

principalmente as commodities<br />

[mercadoria usada como referência<br />

aos produtos em estado bruto ou<br />

com pequeno grau de industrialização]<br />

como a soja, que passa por<br />

períodos de menor valorização.”<br />

Especialistas afirmam que não<br />

seria exagero prever para os próximos<br />

dez anos a duplicação da<br />

produção brasileira de grãos. “Esse<br />

cenário veio para ficar. A demanda<br />

deve continuar aquecida e até acreditamos<br />

que, para os próximos anos,<br />

vamos ter condições melhores em<br />

nível de preço e de demanda, principalmente,<br />

internacional”, constata<br />

o ministro da Agricultura, Pecuária<br />

e Abastecimento, Reinhold Stephanes.<br />

Segundo ele, são expressivos<br />

os planos do governo para manter<br />

os bons resultados do setor. “Vejo<br />

um futuro promissor em função do<br />

aumento da população do Brasil<br />

e do mundo e da necessidade de<br />

alimentação. Isso faz com que tenhamos<br />

que buscar maior produtividade<br />

por meio de tecnologias, de<br />

pesquisas. Essa busca não termina<br />

nunca”, diz Renato Machado.<br />

Mas, para que haja crescimento<br />

do setor agropecuário, o chefe<br />

regional da SEAB alerta para uma<br />

busca maior de inovações para as<br />

propriedades rurais. “O produtor<br />

rural tem de estar buscando inovar,<br />

investir, mas com cautela. Deve-se<br />

adquirir novas tecnologias, novos<br />

equipamentos existentes no mercado<br />

em busca do aumento da produtividade<br />

para o futuro”, aconselha.<br />

<strong>Futuro</strong> que, para o ministro da<br />

agricultura Reinhold Stephanes, é<br />

altamente promissor. “O Brasil tem<br />

um bom clima, tem suas terras,<br />

tem tecnologia e tem organização<br />

de produção e isso é uma boa notícia<br />

para manter boas perspectivas<br />

para o futuro.”<br />

6<br />

Flávia Torres


TRAnSGênICO<br />

traz benefícios para a saúde e para o bolso<br />

Pesquisas mostram que esse tipo de<br />

produto já ocupa uma parte<br />

significante na mesa do consumidor;<br />

Brasil está em terceiro na produção<br />

Vanessa Cancian<br />

O alimento transgênico é aquele em que as sementes<br />

foram alteradas com o DNA (material genético<br />

localizado no interior das células) de um<br />

outro ser vivo, uma bactéria, por exemplo, para<br />

funcionar como inseticidas naturais ou resistirem a<br />

um determinado tipo de herbicida. Alimentos como<br />

grãos, óleos, leite e carnes de animais alimentados<br />

com transgênicos já se encontram em muitas mesas<br />

de toda a população brasileira.<br />

Dados do relatório do Serviço Internacional para<br />

a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia<br />

(ISAAA) apontam que, somente no Brasil, entre<br />

2006 e 2007, o cultivo de alimentos transgênicos<br />

aumentou em 30% - índice superado apenas pela<br />

Índia (63%). Em área cultivada, houve aumento<br />

de 3,5 milhões de hectares, o maior aumento absoluto<br />

em todo o mundo.<br />

Apesar do aumento no cultivo e na área de<br />

lavouras, o Brasil manteve a posição de terceiro<br />

maior produtor mundial de culturas transgênicas<br />

– com 15 milhões de hectares de soja e algodão<br />

modificados geneticamente - ficando atrás apenas<br />

dos Estados Unidos (com 57,7 milhões de hectares<br />

plantados) e da Argentina (com 19,1 milhões de<br />

hectares).<br />

Segundo a ISAAA, a área de cultivo de sementes<br />

transgênicas cresceu 12% em 2007, chegando<br />

a 114,3 milhões de hectares em todo o mundo, o<br />

segundo maior crescimento em termos de área nos<br />

últimos cinco anos (12,3 milhões de hectares).<br />

Para o agrônomo Otoniel Costa Araújo Júnior, a<br />

produção tem aumentado nos últimos anos devido<br />

ao grande interesse econômico direcionado ao<br />

desenvolvimento da tecnologia no setor. Porém, o<br />

governador do Paraná, Roberto Requião, proibiu o<br />

plantio, a manipulação, a comercialização e a indus-<br />

23<br />

Vanessa Cancian


24<br />

trialização do produto conforme a<br />

lei. nº 14.162, anteriormente foi<br />

aprovada pela Assembléia Legislativa<br />

do Estado. Requião declarou<br />

que as sementes transgênicas<br />

prejudicam os produtores paranaenses,<br />

por causa dos interesses<br />

que visam o lucro e também monopólios<br />

de multinacionais.<br />

Na década de 1970, 7 mil indústrias<br />

produziam sementes no<br />

mundo. Em 2006, as 10 maiores<br />

corporações do setor abocanharam<br />

57% do mercado de vendas,<br />

sendo que as três maiores (Monsanto,<br />

Dupont e Syngenta) ficaram<br />

com 39%. A Monsanto, por<br />

exemplo, é líder mundial de sementes<br />

transgênicas e controla<br />

sozinha 88% do mercado global<br />

de transgênicos.<br />

Enquanto o alimento geneticamente<br />

modificado oferece benefícios<br />

a quem o produz e já que não<br />

necessita grande volume de pesticidas<br />

e oferece possibilidade maior<br />

de lucro, organizações ecológicas,<br />

como o Greenpeace, questionam<br />

a eficácia e apontam perigos, mas<br />

deixam claro que não existe ainda<br />

O mapa da mina<br />

“ Há quase 40 anos,<br />

7 mil indústrias<br />

produziam<br />

sementes no<br />

mundo.<br />

Em 2006 já<br />

possuíam 57%<br />

do mercado<br />

”<br />

evidência científica que respalde a<br />

preocupação.<br />

O jornalista Rafael Soares diz<br />

não concordar com esse tipo de<br />

alimento, explica que o avanço<br />

da produção não basta. “O cultivo<br />

do transgênico pode prejudicar o<br />

solo e trazer algumas complicações<br />

para a saúde humana”, e finaliza<br />

dizendo que não consome<br />

o alimento modificado.<br />

Vantagens<br />

O agrônomo Juarez Gabardo,<br />

do Departamento de Genética<br />

Vegetal da Universidade Federal<br />

do Paraná diz acreditar que,<br />

por conter a mesma composição<br />

dos grãos convencionais, os<br />

transgênicos são ricos em proteínas<br />

e que ajudam numa melhor<br />

alimentação. “Os alimentos<br />

modificados geneticamente são<br />

tão seguros ou representam os<br />

mesmos riscos para a saúde dos<br />

alimentos naturais”, afirma.<br />

O agrônomo Otoniel Júnior<br />

Costa explica que as vantagens<br />

do plantio desse produto são<br />

inúmeras, entre elas, aumento<br />

da produção de alimentos, maior<br />

resistência e durabilidade do alimento<br />

durante a armazenagem<br />

do produto, maior facilidade na<br />

produção e condução das lavouras<br />

e melhoria do conteúdo nutricio-


nal do alimento.<br />

O professor João Alencar Anfili,<br />

mestre e doutor em agronomia na<br />

área de genética na UEM (Universidade<br />

Estadual de Maringá), explica<br />

que ao inserir proteínas ricas<br />

nutricionalmente nos alimentos,<br />

suas funcionalidades aumentam.<br />

“São inúmeras as suas utilidades<br />

quando se consegue introduzir um<br />

gene de interesse, por exemplo. O<br />

conteúdo adicionado irá aumentar<br />

a sua funcionalidade, que será capaz<br />

de representar uma melhoria<br />

da qualidade de vida dos indivíduos,<br />

de todas as classes sociais, do<br />

ponto de vista da saúde.”<br />

Anfili diz que para uma alimentação<br />

balanceada, nutricionistas<br />

indicam alimentos transgênicos<br />

no cardápio caseiro. “Para que nós<br />

tenhamos uma alimentação balanceada<br />

é necessário termos um<br />

pouco de tomate, cenoura, batata<br />

no arroz ou no feijão, pois existem<br />

características importantes contidas<br />

nesses tipos de legumes”.<br />

Os alimentos transgênicos que<br />

são colocados nas prateleiras podem<br />

ser consumidos sem problemas,<br />

pois, quando eles estão à<br />

venda, já foram autorizados para<br />

a comercialização, como explica<br />

Anfili: ““[Antes de ser comercializado]<br />

Compara-se a constituição<br />

química do alimento transgênico<br />

com o alimento não transgênico<br />

para ver se os dois alimentos são<br />

equivalentes substancialmente<br />

e se o alimento transgênico não<br />

produz nenhuma substância que<br />

possa provocar alergia. É analisado<br />

qualidades nutricionais como<br />

produção de vitaminas, aminoácidos”,<br />

explica.<br />

O professor do Departamento<br />

de Genética da UFPR, Juarez Gabardo<br />

afirma que são realizados<br />

testes para que seja avaliado o<br />

potencial alérgico de cada novo<br />

produto que aparece no mercado.<br />

Existem comissões atreladas<br />

a cada instituto de pesquisa que<br />

estão vinculadas ao conselho nacional<br />

de biosegurança, que trata<br />

dos cuidados necessários para que<br />

não ocorram perigos no consumo<br />

desses produtos e haja uma dimi-<br />

nuição de riscos potenciais nas alterações<br />

em alimentos.<br />

Existe uma análise da constituição<br />

química dos alimentos transgênicos<br />

e existe uma comparação<br />

desses alimentos com os não<br />

transgênicos chamados de análise<br />

da equivalência substancial, em<br />

que se verifica se os dois alimentos<br />

são equivalentes do ponto de<br />

vista nutricional e se eles têm a<br />

mesma segurança para consumo.<br />

Um outro fator importante é<br />

com relação à economia, que beneficiou<br />

a diminuição nos gastos<br />

com a lavoura. “Já ocorreu uma<br />

diferença mais significativa entre<br />

os custos de produção, hoje, os<br />

custos de produção das lavouras<br />

transgênicas estão bem próximos,<br />

isto acontecia principalmente porque<br />

os agricultores brasileiros estavam<br />

plantando lavouras transgênicas<br />

na clandestinidade. Com<br />

isto eles não eram obrigados a<br />

pagar os royalties (direitos de patente)<br />

desta tecnologia à empresa<br />

detentora da mesma, no entanto,<br />

com a regulamentação dos transgênicos<br />

no Brasil, passou-se a cobrar<br />

os direitos de patente sobre<br />

os agricultores que utilizam esta<br />

tecnologia”, argumenta o agrônomo<br />

Bruno Sgorlon.<br />

O produtor rural Jefferson Bagini<br />

de Campo Mourão diz preferir<br />

plantar sementes transgênicas<br />

pelas vantagens que elas trazem.<br />

“O principal motivo é a facilidade<br />

na condução das lavouras, quando<br />

comparamos uma lavoura transgênica<br />

e outra tradicional (sem o<br />

uso de sementes transgênicas).<br />

Diminui o número de aplicações<br />

de produtos agroquímicos, como<br />

exemplo. Para a soja, conduzida<br />

tradicionalmente, por exemplo, o<br />

agricultor precisaria entrar na lavoura<br />

para controlar ervas daninhas,<br />

entre três a cinco vezes. No<br />

caso das lavouras transgênicas,<br />

de duas a quatro vezes, ou seja,<br />

estaríamos ganhando uma aplicação”.<br />

Segundo Bagini, esta diferença<br />

é acentuada em áreas de<br />

terra onde a infestação de mato é<br />

maior.<br />

O professor João Anfili diz acre-<br />

25<br />

“O conteúdo<br />

adicionado irá<br />

aumentar a sua<br />

funcionalidade,<br />

que será capaz de<br />

representar uma<br />

melhoria da qualidade<br />

de vida dos indivíduos,<br />

de todas as classes<br />

sociais, do ponto de<br />

vista da saúde.”<br />

João Alencar Anfili


26<br />

“ Transgênicos vão<br />

ser os futuros<br />

aliados no combate<br />

a fome no mundo,<br />

pelo fato de<br />

poderem apresentar<br />

valor nutricional<br />

maior em relação<br />

aos alimentos<br />

não-transgênicos<br />

”<br />

ditar que os alimentos geneticamente<br />

modificados serão à maioria<br />

no futuro devido aos pontos<br />

positivos que eles apresentam<br />

para a sociedade. “[Os transgênicos]<br />

Eles não serão só o futuro, é<br />

o presente. A engenharia genética<br />

tem trazido grandes avanços na<br />

qualidade de vida da população<br />

mundial, por exemplo, na indústria<br />

farmacêutica, muitos produtos<br />

como a insulina”, referindo-se<br />

à insulina humana produzida a<br />

partir de bactérias.<br />

O professor considera que os<br />

transgênicos poderão ser considerados<br />

vacinas naturais no tratamento<br />

de doenças. “As plantas<br />

transgênicas se tornarão verdadeiros<br />

biorreatores (equipamentos<br />

capazes de multiplicar muda<br />

de plantas com mais higiene, segurança<br />

e economia) na produção<br />

de medicamentos, serão empregadas<br />

na eliminação de lixo tóxicas<br />

no ambiente, o que chamamos<br />

de bioremediação”, prevê.<br />

Anfili também explica que os<br />

transgênicos vão ser os futuros<br />

aliados para combater a fome<br />

no mundo, pelo fato de poderem<br />

apresentar valor nutricional maior<br />

em relação aos não-transgênicos.<br />

“Imagino que naqueles paí-<br />

Painel<br />

O que as pessoas pensam sobre os transgênicos?<br />

Naiara Silveira<br />

20 anos<br />

É contra por não ter<br />

conhecimento sobre a<br />

procedência do produto<br />

João Paulo Marques<br />

20 anos<br />

É à favor. “Pelo fato de ser<br />

um alimento modificado<br />

pode ajudar a ser mais<br />

completo e assim trazer<br />

benefícios à saúde”.<br />

ses mais pobres com ambientes<br />

inóspitos, onde há maior escassez<br />

de alimento, se você oferecer<br />

um feijão transgênico com maior<br />

índice de proteína, vitaminas e<br />

mais resistente à doença – o que<br />

aumenta e muito a produção por<br />

Denise Timoteo<br />

21 anos<br />

É contra pelo fato do<br />

produto não ser natural<br />

Camila Eliane da Silva<br />

21 anos<br />

Não é contra nem a favor. “Do<br />

mesmo modo que o produto<br />

transgênico traz benefícios,<br />

na economia por exemplo,<br />

pode também ser maléfico à<br />

saúde, pois não é natural”.<br />

Fotos: Vanessa Cancian<br />

hectare de terra plantada – você<br />

estará contribuindo para a diminuição<br />

da fome no planeta. Dessa<br />

forma, efetivamente, aumenta-se<br />

a possibilidade do acesso de famílias<br />

muitos carentes a alimentos<br />

importantes”, idealiza. 6


Plantar fl orestas<br />

para colher o futuro<br />

Uma cultura diferenciada que procura criar sistemas de fl orestas produtivas, em vez de<br />

monoculturas, pode ser o diferencial no cuidado com o meio ambiente<br />

Jaqueline Souza<br />

Quantas vezes o leitor já deve ter ouvido falar nas mudanças climáticas,<br />

aquecimento do planeta, degelo dos pólos, as diversas catástrofes ecológicas<br />

que poderiam ser evitadas pelo simples hábito de parar de agredir o<br />

meio ambiente? O assunto é mesmo sério e o número de pessoas que lutam<br />

por essa causa é grande. Mas, para salvar o planeta do próprio homem, é<br />

preciso se preocupar mais com hábitos diários que prejudicam a natureza.<br />

Imagine, por exemplo, uma sociedade em que a população pudesse cultivar<br />

princípios que estimulam a criação de ambientes sustentáveis, produtivos,<br />

dentro de um padrão economicamente aceitável para o progresso de<br />

um país e também para a preservação do meio ambiente. Sonho? Realidade:<br />

essa prática já existe em mais de cem países. É a permacultura.<br />

De acordo com dados da Universidade Federal de Santa Catarina (www.<br />

cca.ufsc.br/permacultura), o método consiste em uma cultura permanente<br />

e diversifi cada, criando-se fl orestas produtivas para substituir as monoculturas.<br />

Para isso, foi preciso misturar conhecimentos de culturas antigas com<br />

ciência moderna.<br />

A agricultura permanente foi desenvolvida nos anos 1970, na Austrália,<br />

pelo professor universitário Bill Mollison. De lá para cá, passaram a existir<br />

diversos institutos de permacultura e cerca de uma dezena de experiências<br />

è<br />

27<br />

Jaqueline Souza


28<br />

“(...) [a permacultura]<br />

ajuda principalmente<br />

as famílias de baixa<br />

renda, que têm pouco<br />

acesso a produtos de<br />

melhor qualidade”<br />

Odacir Antonio Zanatta<br />

bem sucedidas no Brasil.<br />

O agrônomo, professor e coordenador<br />

do curso de agronomia<br />

do Centro Universitário de Maringá<br />

(<strong>Cesumar</strong>), Odacir Antonio<br />

Zanatta, explica que esse tipo de<br />

cultivo tem por objetivo imitar<br />

o máximo possível o ambiente<br />

natural, utilizando a cultura permanente<br />

– árvores frutíferas e<br />

madeireiras – e semi- permanente<br />

– mandioca, bananeiras etc.<br />

“O que há de mais interessante<br />

é que a vegetação permanente<br />

acaba criando um ambiente natural<br />

de alojamento de inimigos<br />

naturais das pragas, não atacando<br />

a cultura, o que é uma vantagem”,<br />

afirma.<br />

Benefícios<br />

A permacultura não é apenas<br />

uma agricultura diferenciada na<br />

questão dos métodos convencionais.<br />

O sistema tem como princípios<br />

fatores sanitários, sociais e<br />

econômicos, como ética, cuidados<br />

com o planeta, com as pessoas,<br />

compartilhamento de excedentes.<br />

Em linhas gerais, como Bill<br />

Mollison definiu, visa a criação de<br />

ambientes humanos sustentáveis<br />

e produtivos em equilíbrio e harmonia<br />

com a natureza. Em áreas<br />

onde se pratica a permacultura,<br />

não é de se estranhar, por exemplo,<br />

hortas em meio a uma área<br />

de entulho onde, outrora, funcionou<br />

um “lixão”.<br />

Falta de divulgação<br />

De acordo com Zanatta, mesmo<br />

a permacultura sendo um<br />

método válido e viável para as<br />

pessoas dispostas a plantar o<br />

próprio alimento, não há muita<br />

divulgação do assunto pela mídia.<br />

“Isso [a permacultura] ajuda<br />

principalmente as famílias de baixa<br />

renda, que têm pouco acesso<br />

a produtos de melhor qualidade”,<br />

garante.<br />

Segundo ele, poucos conhecem<br />

o termo ou mesmo no que<br />

consiste a prática. O motivo é<br />

claro: a agricultura, atualmente,<br />

utilizada em larga escala com o<br />

objetivo de alimentar o maior nú-<br />

mero de pessoas. Zanatta explica<br />

que a divulgação da permacultura<br />

não é interessante para o sistema<br />

produtivo. A situação financeira<br />

de diversos brasileiros não permite<br />

que eles tenham acesso a uma<br />

alimentação de qualidade, baseada<br />

em produtos orgânicos. Assim,<br />

acabam comprando produtos de<br />

larga escala. Afinal, segundo ele,<br />

praticamente 60% da população<br />

brasileira vive com um salário mínimo.<br />

“ Ano passado, a<br />

agropecuária foi a<br />

atividade que mais<br />

cresceu no Brasil,<br />

segundo IBGE<br />

”<br />

Ao ser questionado sobre a viabilidade<br />

da permacultura no Paraná,<br />

o agrônomo diz ser viável visto<br />

que o principal foco da economia<br />

do Estado é a agricultura. Dados<br />

do Instituto Brasileiro de Geografia<br />

e Estatística (IBGE) apontam<br />

que, em 2007, a agropecuária foi<br />

a atividade de maior crescimento<br />

no País. Mesmo assim, alerta o<br />

professor, para que a permacultura<br />

pudesse acontecer em terras<br />

paranaenses, seria necessário<br />

mudar todo o sistema fundiário. O<br />

que, segundo ele, seria difícil de<br />

acontecer.<br />

O único projeto que a reportagem<br />

teve conhecimento, em<br />

Maringá, que visa praticar a agricultura<br />

permanente foi o “Projeto<br />

Vida no Campo: A vida em harmonia<br />

com a natureza”, do agrônomo<br />

Marcos Alberto Seguese. A iniciativa<br />

será desenvolvida na fazenda<br />

do <strong>Cesumar</strong>. No entanto, não foi<br />

possível falar com ele até o fechamento<br />

desta edição.<br />

6


Planeta do<br />

mar de areia<br />

O uso irracional, associado à degradação e a poluição ambiental, pode levar, em um<br />

futuro não tão distante, à escassez da água potável no planeta<br />

Danielle Sgorlon<br />

Estudiosos apontam que a realidade retratada na música “Planeta<br />

Água”, de Guilherme Arantes, está comprometida e que o homem é o<br />

principal responsável por isso. Ao contrário do que propõe a canção,<br />

esqueceu-se, ou se fingiu esquecer, que a utilização e a conservação<br />

dos recursos hídricos estão diretamente associadas à preservação da<br />

vida; que a água está entre as principais necessidades das plantações,<br />

matas e florestas, sendo a principal responsável pela biodiversidade do<br />

planeta e nutrição dos seres vivos e permitindo que a vida se mantenha<br />

e perpetue. Em outras palavras, passa-se despercebido que sem<br />

água, não há sobrevivência.<br />

É o que constata José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional<br />

de Ecologia de São Carlos (SP), biólogo especializado no<br />

estudo das águas e pesquisador dos mecanismos de funcionamento de<br />

rios, lagos e reservatórios, em seu livro “Água no século XXI – Enfrentando<br />

a Escassez”. “Embora dependam da água para a sobrevivência e<br />

para o desenvolvimento econômico, as sociedades humanas poluem e<br />

degradam esse recurso, tanto às águas superficiais quanto as subterrâneas.”<br />

è<br />

“ No planeta<br />

apenas 3% da água<br />

é doce;<br />

a questão é que<br />

75% dessa água<br />

está congelada nos<br />

pólos<br />

29<br />

Lorenzo & Samia<br />


30<br />

À primeira vista, a imensidão<br />

dos oceanos e a grande quantidade<br />

de rios ainda conseguem ludibriar<br />

os olhares de homens que<br />

acreditam que a água é um recurso<br />

inesgotável. Mas, segundo<br />

Tundisi, há uma pequena quantidade<br />

de água doce no planeta.<br />

Somente 3% de toda a água disponível.<br />

Desse total, 75% está<br />

congelada nas calotas polares e<br />

cerca de 10% está em reservas<br />

subterrâneas de difícil acesso,<br />

retidas em rochas no interior da<br />

Terra. De toda a água doce existente<br />

no planeta, apenas 15%<br />

está disponível para consumo.<br />

Tudo se torna mais complexo<br />

quando se constata que esse recurso<br />

está sendo mal utilizado,<br />

degradado e poluído.<br />

Darco TT<br />

Sidinei Magela Thomaz, doutor<br />

em Ecologia de Ambientes Aquáticos<br />

Continentais em Maringá, alerta<br />

que a preocupação com a questão<br />

da água é válida e importante,<br />

e, para evitar a escassez futura,<br />

deve ser pensada agora. “A água<br />

é um recurso esgotável, quando<br />

analisamos que a poluição e a degradação<br />

a deixam imprópria para<br />

o consumo. Hoje, a maior parte<br />

dos rios e lagos está contaminada,<br />

muitas vezes, com metais pesados.<br />

O consumo dessa água pode<br />

ocasionar problemas de saúde; às<br />

vezes, bastante sérios. Além disso,<br />

toda a fauna e a flora do ambiente<br />

aquático contaminado são<br />

prejudicadas. Os peixes também<br />

se contaminam, tornando-os impróprios<br />

para alimentação.” è<br />

“ Carta virtual<br />

disponível na<br />

internet exibe<br />

reprodução da<br />

vida no planeta<br />

em 2070<br />


Thomaz traça um cenário não<br />

muito animador para os homens.<br />

Ele lembra que não vai demorar<br />

para que a água seja motivo de<br />

conflitos, visto que, futuramente,<br />

será produto escasso. “Sabemos<br />

que não existe vida sem água.<br />

Logo, se não houver uma conscientização<br />

e um censo de preservação,<br />

não demorará muito para<br />

que comecem a acontecer brigas<br />

e até mesmo guerras pelo domínio<br />

da água doce. Já vemos hoje,<br />

em algumas partes do mundo,<br />

pessoas morrendo por falta de<br />

água. Não porque não chove, mas<br />

porque não há água potável em<br />

algumas regiões. A falta de água<br />

traz, junto com ela, a escassez de<br />

alimentos, o que impossibilita a<br />

vida na Terra.”<br />

Muito além do dia da água<br />

Há algum tempo, algumas<br />

autoridades têm se preocupado<br />

com a questão da preservação da<br />

água. Tanto que a ONU (Organização<br />

das Nações Unidas), instituiu,<br />

no dia 22 de março de 1992, o Dia<br />

Mundial da Água. Desde então,<br />

todo dia 22 de março é dedicado<br />

a discussões, debates e questionamentos<br />

na tentativa de preservação<br />

dos recursos hídricos. Para<br />

José Vladimir<br />

a doutora em Educação Ambiental<br />

Ana Tiemi Obara isso é muito pouco,<br />

pois ainda é necessária uma<br />

grande conscientização da população<br />

na tentativa de se evitar a futura<br />

escassez. “Não adianta instituir<br />

dia mundial, direitos da água,<br />

se as pessoas não se conscientizarem<br />

de que os recursos hídricos<br />

podem realmente acabar e que<br />

muitos poderão morrer de sede e<br />

de fome em um futuro próximo.<br />

‘A Carta 2070’ [vídeo disponível<br />

no site www.youtube.com.br que<br />

tenta mostrar como será a vida na<br />

Terra no ano de 2070; quando se<br />

supõe que não haverá quase água<br />

disponível para consumo] é uma<br />

realidade e pode ser que não leve<br />

nem tanto tempo para chegarmos<br />

à situação descrita no vídeo.”<br />

A revolução química, iniciada<br />

após a 2ª Guerra Mundial, produziu<br />

uma enorme variedade de<br />

compostos químicos que deveriam<br />

ser usados para ajudar a população<br />

na fabricação de remédios,<br />

produção de alimentos, mas, por<br />

ironia, estão colocando em risco<br />

a vida, pois os resíduos estão<br />

sendo lançados nos rios e lagos,<br />

contaminando pessoas, matando<br />

animais e plantas, afetando todo<br />

o ecossistema. è<br />

31<br />

“Se não houver uma<br />

conscientização e um<br />

censo de preservação,<br />

não demorará muito<br />

para que comecem a<br />

acontecer brigas e até<br />

mesmo guerras pelo<br />

domínio da água doce.”<br />

Sidinei Magela Thomaz


32<br />

Os direitos da água<br />

Em 22 de março de 1.992 a ONU (Organização das<br />

Nações Unidas) instituiu o “Dia Mundial da Água”, que<br />

vem sendo lembrado por entidades governamentais<br />

e não governamentais em todo o mundo como mais<br />

um dia de luta em defesa da preservação da Natureza.<br />

Na tentativa de defesa e conscientização das pessoas<br />

com relação aos cuidados e preservação dos<br />

recursos hídricos, a ONU redigiu um documento intitulado<br />

“Declaração Universal<br />

dos Direitos da Água”<br />

1. -A água faz parte do<br />

patrimônio do planeta. Cada<br />

continente, cada povo, cada nação,<br />

cada região, cada cidade,<br />

cada cidadão, é plenamente responsável<br />

aos olhos de todos.<br />

2. -A água é a seiva de nosso<br />

planeta. Ela é condição essencial<br />

à vida de todo vegetal,<br />

animal ou ser humano. Sem ela<br />

não poderíamos conceber como<br />

seriam a atmosfera, o clima, a<br />

vegetação, a cultura ou a agricultura.<br />

3. -Os recursos naturais de<br />

transformação da água em água<br />

potável são lentos, frágeis e<br />

muito limitados. Assim sendo, a<br />

água deve ser manipulada com<br />

racionalidade, precaução e parcimônia.<br />

4.-O equilíbrio e o futuro de<br />

nosso planeta dependem da<br />

preservação da água e de seus<br />

ciclos. Estes devem permanecer<br />

intactos e funcionando normalmente<br />

para garantir a continuidade<br />

da vida sobre a Terra. Este<br />

equilíbrio depende em particular,<br />

da preservação dos mares<br />

e oceanos, por onde os ciclos<br />

começam.<br />

5. -A água não é somente herança<br />

de nossos predecessores;<br />

ela é, sobretudo, um empréstimo<br />

aos nossos sucessores. Sua<br />

proteção constitui uma necessidade<br />

vital, assim como a obriga-<br />

ção moral do homem para com<br />

as gerações presentes e futuras.<br />

6. -A água não é uma doação<br />

gratuita da natureza; ela<br />

tem um valor econômico: precisa-se<br />

saber que ela é, algumas<br />

vezes, rara e dispendiosa e que<br />

pode muito bem escassear em<br />

qualquer região do mundo.<br />

7. -A água não deve ser desperdiçada,<br />

nem poluída, nem<br />

envenenada. De maneira geral,<br />

sua utilização deve ser feita com<br />

consciência e discernimento para<br />

que não se chegue a uma situação<br />

de esgotamento ou de deterioração<br />

da qualidade das reservas<br />

atualmente disponíveis.<br />

8. -A utilização da água implica<br />

em respeito à lei. Sua proteção<br />

constitui uma obrigação<br />

jurídica para todo homem ou<br />

grupo social que a utiliza. Esta<br />

questão não deve ser ignorada<br />

nem pelo homem nem pelo Estado.<br />

9. -A gestão da água impõe<br />

um equilíbrio entre os imperativos<br />

de sua proteção e as necessidades<br />

de ordem econômica,<br />

sanitária e social.<br />

10. -O planejamento da<br />

gestão da água deve levar em<br />

conta a solidariedade e o consenso<br />

em razão de sua distribuição<br />

desigual sobre a Terra.<br />

“O que está acabando<br />

com a água é a falta de<br />

cuidado com rios, lagos,<br />

reservatórios. É nesse<br />

ponto que temos de nos<br />

fixar, na preservação das<br />

fontes”<br />

Ana Obara<br />

Por isso, segundo a doutora<br />

Ana Obara, é preciso aliar o bom<br />

uso dos recursos existentes com<br />

a preservação, pois, mesmo que<br />

água se renove, o processo leva<br />

muito tempo. Para a doutora, o que<br />

está acabando com a água não é o<br />

consumo – o banho das pessoas,<br />

a lavagem das roupas, a preparação<br />

de comida, mas a poluição. “O<br />

que está acabando com a água é<br />

a falta de cuidado com rios, lagos,<br />

reservatórios. É nesse ponto que<br />

temos de nos fixar, na preservação<br />

das fontes, nas nascentes dos<br />

rios constantemente poluídas com<br />

metais pesados, agrotóxicos, lixo<br />

industrial e resíduos.” Ela vai além<br />

e enfatiza que não adianta apenas<br />

ficar mandando fechar as torneiras<br />

para escovar os dentes, pois<br />

mesmo que o consumo consciente<br />

e racional seja importante, é o mínimo<br />

a se fazer.<br />

6


“ Tendência no<br />

consumo de frutas<br />

está em queda<br />

desde 1974; em<br />

contrapartida,<br />

refrigerantes<br />

aumentaram as<br />

vendas em 400%<br />

Boa alimentação<br />

garante futuro melhor<br />

”<br />

Jheine Evelim<br />

O brasileiro se alimenta relativamente bem. O equilíbrio, de acordo<br />

com pesquisas, está no famoso casal “arroz com feijão”, que acaba por<br />

fornecer nutrientes necessários para uma alimentação saudável. Ambos<br />

fornecem vitaminas do complexo B, ferro e outros nutrientes que<br />

ajudam no bom funcionamento do organismo. Mas, muito além da dupla<br />

dinâmica, o que pesa na saúde dos brasileiros são os acompanhamentos,<br />

também chamados de “mistura”. Carnes vermelhas, massas<br />

em geral, lanches e as tentadoras sobremesas recheadas de calorias<br />

tiram o espaço das frutas e legumes do cardápio brasileiro.<br />

Dados do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br) revelam que, no<br />

Brasil, a tendência do consumo de frutas está em queda desde 1974,<br />

caindo 31% até 2003. O consumo de refrigerantes, em contrapartida,<br />

aumentou em 400%. As refeições prontas e misturas industrializadas<br />

aumentaram a participação em 82% no período, indicando uma mudança<br />

no comportamento alimentar. Isso signifi ca que a tendência para<br />

a má alimentação aumenta cada vez mais no País.<br />

De acordo com uma pesquisa realizada em parceria do Ministério<br />

da Saúde com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e<br />

Saúde da Universidade de São Paulo, 40% dos brasileiros adultos estão<br />

acima do peso, podendo ser considerados obesos. Os hábitos alimentares<br />

refl etem isso: das 54 mil pessoas entrevistadas, 32,8% ingerem<br />

com freqüência carnes com excesso de gordura, enquanto apenas<br />

17,7% ingeriam cinco porções de frutas, como recomenda a Organiza-<br />

33<br />

Vanessa Cancian


34<br />

“Antigamente,<br />

não era como agora.<br />

A gente comia de tudo.<br />

<strong>Eu</strong> tomava muito café<br />

e muita gente fala que<br />

faz mal. Agora é que<br />

as pessoas passaram a<br />

se preocupar mais com<br />

a alimentação”<br />

D. Maria José<br />

ção Mundial da Saúde (OMS).<br />

São diversos os números que<br />

demonstram que boa alimentação<br />

é sinônimo de melhor qualidade<br />

de vida. Muitos problemas relacionados<br />

à saúde podem ser evitados<br />

por meio de alimentos saudáveis.<br />

Estudos mostram que muitas doenças<br />

são decorrentes de alimentação<br />

inadequada, tanto pela qualidade,<br />

quanto pela quantidade de<br />

alimentos ingeridos. Doenças cardiovasculares,<br />

estresse e doenças<br />

crônicas são alguns dos males decorrentes<br />

desses maus hábitos.<br />

A nutricionista e coordenadora<br />

do curso de Nutrição do <strong>Cesumar</strong><br />

(Centro Universitário de Maringá),<br />

Gersislei Antônia Salado, afirma<br />

que alimentos saudáveis são essenciais<br />

para uma boa saúde. “É<br />

por meio da boa alimentação que<br />

se mantém uma melhoria na saúde.<br />

Ela [boa alimentação] é a base<br />

da nossa vida e ajuda a evitar<br />

muitos problemas relacionados à<br />

saúde”, diz.<br />

De acordo com Gersislei, benefícios<br />

como melhor cicatrização e<br />

impossibilidade do agravo de doenças<br />

são alguns dos pontos positivos<br />

que os alimentos saudáveis<br />

trazem. “A boa alimentação permite<br />

uma cicatrização precoce de<br />

ferimentos e principalmente a cicatrização<br />

mais rápida de feridas<br />

cirúrgicas. Evita também que doenças<br />

se agravem e ainda serve<br />

para diminuir o tempo de hospitalização”,<br />

explica.<br />

A boa alimentação ajuda também<br />

no desenvolvimento do organismo,<br />

possibilitando qualidade de<br />

vida no futuro. “É importante que<br />

desde a infância se tenha bons hábitos<br />

alimentares. O adolescente,<br />

jovem ou criança que não se alimenta<br />

bem poderá ter problemas<br />

no futuro”, afirma a nutricionista.<br />

Com os nutrientes necessários,<br />

uma pessoa alimentada de forma<br />

adequada tem mais disposição e<br />

energia para desenvolver as atividades<br />

do dia-a-dia. Melhoria de<br />

memória, raciocínio e bom humor<br />

são outros benefícios.<br />

Os bons hábitos alimentares<br />

ajudam também na formação dos<br />

ossos. “O cálcio faz a densida-<br />

de óssea até os 30 anos. Depois<br />

disso a densidade não aumenta<br />

mais. Se a pessoa, na formação<br />

da densidade óssea, não se alimentar<br />

bem, ela terá problemas<br />

no futuro, como uma possibilidade<br />

maior de ter osteoporose”, explica<br />

Gersislei.<br />

Os dois lados da alimentação<br />

O estudante Bruno Vinícius,<br />

20, afirma não ter bons hábitos<br />

alimentares. “Como muito lanche,<br />

inclusive cachorro-quente. Para<br />

falar a verdade, como ‘cachorrão’<br />

todo dia. Não como muitos<br />

alimentos [saudáveis] como saladas”.<br />

Mas Bruno sabe que a saúde<br />

dele pode estar em perigo. “<strong>Tenho</strong><br />

consciência que isso [má alimentação]<br />

pode prejudicar a minha<br />

saúde. Na verdade já estou sendo<br />

prejudicado. Estou me sentindo<br />

mais gordo, mas pretendo entrar<br />

em uma academia para não ter<br />

minha saúde danificada mais para<br />

frente”, afirma.<br />

Já a personal trainer Terezinha<br />

Pelissari Kravchychyn, 45, pratica<br />

esportes e diz ter uma boa<br />

alimentação. “Durante a semana<br />

mantenho o controle alimentar.<br />

Orientada pela minha nutricionista,<br />

procuro comer alimentos mais<br />

saudáveis. Também pratico esportes.<br />

Mas isso não significa que não<br />

como alimentos como doces. <strong>Eu</strong><br />

como, mas de forma controlada<br />

e só nos finais de semana. Com<br />

alimentação saudável, me sinto<br />

mais disposta para as tarefas do<br />

dia-a-dia. Sou feliz assim.”<br />

Terezinha acredita que por meio<br />

de seus bons hábitos alimentares<br />

terá um bom futuro. “Estou plantando<br />

agora para colher no meu<br />

futuro. Creio que ele [futuro] estará<br />

garantido e, claro, para bem<br />

melhor.”<br />

A estudante do curso de nutrição<br />

do <strong>Cesumar</strong> e filha de Terezinha,<br />

Ana Cláudia Kravchychyn,<br />

19, diz seguir o exemplo da mãe.<br />

“<strong>Eu</strong> procuro manter uma boa alimentação.<br />

Como bastante frutas e<br />

saladas, até mesmo porque, aqui<br />

em casa, é bem controlado e eu<br />

também faço faculdade de nutrição.<br />

Com certeza isso [bons hábi-


tos alimentares] vai me trazer uma qualidade de vida<br />

melhor no futuro”, constata.<br />

O curioso é que há tempos a preocupação com a<br />

alimentação não era tão intensiva quanto atualmente.<br />

É o caso de Dona Maria José, aposentada, 82, que<br />

diz não ter tido muitos cuidados com a alimentação no<br />

passado. ”Antigamente, não era como agora. A gente<br />

comia de tudo. <strong>Eu</strong> tomava muito café e muita gente<br />

fala que faz mal. Agora é que as pessoas passaram a<br />

se preocupar mais com a alimentação.” Má alimentação<br />

que trouxe conseqüências. “Hoje eu tenho diabete alta.<br />

Se tivesse tomado cuidado antes, minha saúde estaria<br />

bem melhor.”<br />

A lógica da<br />

pirâmide<br />

alimentar<br />

O consumo de alimentos deve seguir a lógica<br />

da pirâmide alimentar. A base da pirâmide<br />

indica os alimentos que devem ser<br />

consumidos em maior quantidade, para um<br />

bom funcionamento do organismo. Já o topo<br />

da pirâmide contém os alimentos que devem<br />

ser evitados ou ingeridos em menor<br />

quantidade.<br />

Plumberry Lane<br />

6<br />

De vilões a mocinhos<br />

35<br />

O chocolate é um alimento que antes era<br />

considerado como prejudicial a saúde. Hoje,<br />

segundo pesquisas, o chocolate<br />

escuro é visto como um bom antioxidante.<br />

Promove a saúde do coração, ajuda<br />

a prevenir o câncer, além de combater a<br />

hipertensão. Outro vilão era o café. Hoje,<br />

segundo pesquisas do Instituto Ameri-<br />

cano Kaiser Permanente, ajuda a<br />

prevenir a cirrose. O cientista<br />

Tomas De Paulis, da norte-americana<br />

Vanderbilt University Institut<br />

for Coffee Studies, realizou<br />

19 mil testes com o café e obteve<br />

bons resultados com crianças e idosos. O<br />

teste constatou que as crianças crianças que que tomam tomam<br />

café com com leite têm menos chance de desendesenvolver depressão. Para os os mais mais velhos, velhos, a<br />

redução de colesterol e ainda ainda a prevenção<br />

de males, como o de Parkinson e e Alzheimer,<br />

Alzheimer,<br />

também podem ser evitados evitados com com o consumo<br />

do café.


36<br />

Tecnologia pode estabelecer novo<br />

papel para o professor<br />

Diversas fontes de pesquisa e de interação com o mundo<br />

rompem os limites de tempo e espaço, construindo um<br />

novo cenário para o profissional da educação Vinícius Durval Dorne<br />

Vinícius Durval Dorne<br />

Ao contrário de poucos anos<br />

atrás, hoje, é possível assistir do<br />

Brasil a uma aula de Comunicação<br />

Social de uma importante instituição<br />

de ensino superior do outro<br />

lado mundo, ao vivo, reclinado em<br />

uma poltrona de descanso no escritório.<br />

Nesse cenário, o acesso a<br />

grande número de informações e<br />

a interação com qualquer parte do<br />

mundo surgem como apenas algumas<br />

das muitas possibilidades<br />

que o desenvolvimento da tecnologia<br />

permitiu à educação e suscitam<br />

discussões sobre o atual e o<br />

futuro papel do professor.<br />

Segundo a diretora de Desenvolvimento<br />

Institucional do <strong>Cesumar</strong><br />

(Centro Universitário de<br />

Maringá), Maria Helena Krüger,<br />

para se integrar ao novo cenário,<br />

o professor deve, além de estar<br />

atualizado, conhecer as diversas<br />

tecnologias que pode utilizar em<br />

sala de aula, eventos, seminários,<br />

como, também, a dinâmica a ser<br />

aplicada. Ela explica que, além da<br />

tecnologia eletrônica, existem as<br />

de formas de aprendizagem que<br />

demonstram a globalidade do<br />

mundo e a rapidez com que tudo<br />

vem acontecendo. “Senão, não<br />

conduz o aluno ao conhecimento”,<br />

conclui.<br />

O profissional da educação que<br />

deseja se preparar para o futuro,<br />

segundo a doutora em História e<br />

Filosofia da Educação Isilda Campaner<br />

Palangana, da UNIFAMMA<br />

– Faculdade Metropolitana de Maringá,<br />

deve também primar pela<br />

atualização contínua. Ela explica<br />

que o professor precisa buscar<br />

cursos de formação docente,<br />

como a especialização, mestrado e<br />

doutorado, transcendendo às demandas<br />

mercadológicas e visando<br />

o humano em todas as suas dimensões.<br />

Para isso, Isilda ressalta<br />

a relevância para outras necessidades<br />

dos professores, como remuneração<br />

digna, direitos sociais<br />

preservados e tempo condizente<br />

com o que requer a função.<br />

O doutor em Educação Walter<br />

Lúcio de Alencar Praxedes, da<br />

Universidade Estadual de Maringá<br />

(UEM), também defende que<br />

a capacitação é necessária, mas<br />

explica que é, ao mesmo tempo,<br />

parodoxal. “Mesmo com as condições<br />

de trabalho mais precárias,<br />

é exigido do professor universitário<br />

inúmeras competências que só<br />

são formadas após um longo período<br />

de preparação e que demandam<br />

muitos recursos e disponibilidade<br />

de tempo. Tempo de estudo<br />

que é subtraído do tempo de lazer<br />

e com a família”, aponta. Para ele,<br />

os alunos podem até não conhecer<br />

a fundo os assuntos tratados<br />

pelos professores, mas percebem<br />

se ele está ou não bem preparado<br />

e, frente a isso, “não há outro caminho<br />

[para o professor] que não<br />

seja o estudo contínuo”.<br />

Professor-máquina<br />

Maria Helena Krüger expõe que


há necessidade de formar o professor<br />

que possa ser o condutor,<br />

o guia que orientará o aluno para<br />

utilizar o conhecimento e a tecnologia<br />

existente, desvinculando-se<br />

da idéia de profissional da educação<br />

que apenas transmite ou dá<br />

conhecimento. Até porque, segundo<br />

ela, o conhecimento hoje<br />

não precisa estar numa sala de<br />

aula. Ela explica que é necessário<br />

ensinar os alunos a usarem e<br />

selecionarem fontes fidedignas de<br />

informação na internet, de forma<br />

que possam usar o conhecimento<br />

apreendido na web, tanto no desenvolvimento<br />

profissional como<br />

no pessoal. “Talvez, o maior desafio<br />

do nosso século seja como conduzir<br />

o aluno de forma que saiba<br />

bem utilizar aquele conhecimento<br />

e aquela informação.”<br />

No mundo que prima, cada vez<br />

mais, pela informatização e constante<br />

atualização, um questionamento<br />

levantado é a substituição<br />

do professor, em um tempo não<br />

muito distante, por programas de<br />

computador. Para a professora de<br />

informática do <strong>Cesumar</strong>, Veridiana<br />

Duarte, a palavra “substituir”<br />

é muito forte, pois, as tecnologias<br />

podem ser mais um recurso<br />

no processo ensino didático-pedagógico<br />

e não mero substituto<br />

do educador. Baseada nas experiências<br />

que diz ter tido com o<br />

EAD (Ensino à Distância), ela diz<br />

acreditar que este processo educacional<br />

se torna mecânico e frio,<br />

sendo imprescindível a presença<br />

física do professor. “[No EAD] Não<br />

existe uma sala de aula com colegas<br />

e contato físico, mas um ambiente<br />

virtual. Acredito que o ser<br />

humano necessita deste contato<br />

[físico], principalmente no aspecto<br />

educacional, para extrair dúvidas<br />

imediatamente. Ao contrário<br />

do que acontece no EAD,em que é<br />

preciso agendar um horário para<br />

que o ‘tutor’ tire as dúvidas.”<br />

Maria Helena segue a mesma<br />

linha de pensamento de Veridiana<br />

e explica que os alunos devem<br />

estar formados a entender que<br />

a tecnologia não vai substituir o<br />

professor. “A tecnologia deve ser<br />

uma ferramenta do professor para<br />

que o aluno possa interpretar e<br />

acessar o conhecimento”, explica.<br />

Livros impressos com dias<br />

contados<br />

Estaria, hoje, a educação muito<br />

diferente se comparada a de<br />

15 anos atrás? Tanto a professora<br />

Veridiana como a diretora institucional<br />

Maria Helena expõem que a<br />

maior mudança estaria no acesso<br />

mais fácil a informação. “Mudou<br />

o formato de exposição das aulas<br />

com apoio de recursos visuais;<br />

há facilidade de pesquisa com<br />

a introdução da internet no meio<br />

acadêmico, em meados de 1995”,<br />

explica Veridiana. Para Maria Helena,<br />

há cerca de 20 anos, a informação<br />

era tão restrita que alguns<br />

professores sequer indicavam a<br />

bibliografia utilizada na disciplina,<br />

para que o aluno não conhecesse<br />

a fonte de onde preparavam as<br />

aulas. “Era como se fosse um segredo”,<br />

brinca.<br />

O professor deve estimular o<br />

aluno, criar debates e dar fontes<br />

para isso. É a idéia que Maria<br />

Helena defende. A educação,<br />

nesse sentido, estaria bem longe<br />

da idéia de dominação. “O desafio<br />

não é quem domina quem,<br />

mas como vamos conduzir o aluno<br />

para que possa ser um agente<br />

transformador no seu meio. O que<br />

tenho de conhecimento enquanto<br />

professor que, a partir dele, possa<br />

somar com o aluno.” Ela vai além<br />

e decreta: “O professor tradicional<br />

que ainda tenta esconder a fonte<br />

de onde tirou a excelente aula é<br />

um bicho em extinção”.<br />

Livros impressos com dias<br />

contados<br />

Um dos avanços da tecnologia<br />

que já se refletiu em transformações<br />

na educação foi a substituição<br />

do livro impresso por outros<br />

de suportes digitais, como os ebooks,<br />

chamados de livros virtuais.<br />

A professora Veridiana Duarte<br />

defende que, atualmente, o mercado<br />

ainda não segue essa tendência.<br />

Ela cita Bill Gates, que, no<br />

livro “A estrada do <strong>Futuro</strong>”, esboçou<br />

a idéia de um futuro envolvido<br />

100% pela tecnologia e uma sociedade<br />

praticamente robotizada.<br />

Para ela, por mais influenciado que<br />

o ser humano possa ser, ele ainda<br />

não se deixou dominar totalmen-<br />

“O desafio não é<br />

quem domina quem,<br />

mas como vamos<br />

conduzir o aluno para<br />

que possa ser um<br />

agente transformador<br />

no seu meio”<br />

Maria Helena Krüger<br />

37


38<br />

te pelo apelo tecnológico imposto<br />

pelo mercado. “Quando tentaram<br />

estimular o mercado dos e-books,<br />

as editoras e autores acharam que<br />

os livros impressos seriam substituídos.<br />

No entanto, pelo contrário,<br />

a bienal do livro do ano passado<br />

nunca vendeu tanto, e o principal<br />

público consumidor são os jovens<br />

estudantes”, informa.<br />

Mas nem todos pensam assim.<br />

A diretora Institucional do<br />

<strong>Cesumar</strong> Maria Helena Krüger diz<br />

acreditar que, por mais que a suplantação<br />

do livro impresso ainda<br />

não seja uma realidade concreta,<br />

tal processo é irreversível. Numa<br />

viagem onírica das possibilidades<br />

futuras permitidas pelo avanço da<br />

tecnologia, ela explica que não há<br />

como ficar indiferente à evolução:<br />

“Vejo-me daqui a 20 anos uma<br />

velhinha ativa, sentada em minha<br />

sala, de forma confortável, podendo<br />

abrir um aparelho que projeta<br />

na parede ou outro meio, um livro<br />

que gostaria de ler e poder marcar,<br />

selecionar nele o que desejo.<br />

Pode ser que já exista, mas que<br />

estejam atrasando sua entrada<br />

no mercado, pois a sociedade não<br />

consegue acompanhar a velocidade<br />

com que cresce a tecnologia.”<br />

A paciência<br />

O doutor Walter Praxedes argumenta<br />

que o ofício do professor,<br />

atualmente e também no futuro,<br />

exige equilíbrio emocional para<br />

dialogar com os alunos, que chegam<br />

cada dia menos preparados<br />

ao ensino superior, sem capacidade<br />

de concentração para assistir e<br />

participar de uma aula e sem treinamento<br />

e disciplina para a leitura<br />

e a escrita. Em um contexto de<br />

evolução e no limiar de uma sociedade<br />

que prima pelo desenvolvimento<br />

constante da tecnologia,<br />

ele ressalta um problema que,<br />

talvez, não esteja nos domínios<br />

e competências do professor: os<br />

alunos querem o diploma, mas<br />

não gostam de estudar. “Etimologicamente,<br />

em sua origem, a<br />

palavra ‘estudo’ tem o significado<br />

de ‘paixão’. É terrível que os alunos<br />

não gostem ou não se sintam<br />

apaixonados pela sua ‘paixão’, ou<br />

seja, seus estudos.”<br />

6<br />

As tridimensões das disciplinas<br />

A possibilidade de ver os anéis de Saturno de diferentes ângulos,<br />

mostrar e explicar o que há dentro do intestino delgado ou, quem<br />

sabe, as formações rochosas escondidas debaixo da água do mar<br />

já é uma realidade possível. No site “O caderno popular”, caderno<br />

especial “Cenário XXI” [disponível em http://www.cpopular.com.br/<br />

cenarioxxi], a jornalista Tatiana Favaro informa que a inovação se<br />

deve ao software P3D, criado pelo Prodigy 3D, empresa de tecnologia<br />

de imagem incubada no Centro Incubador de Empresas<br />

Tecnológicas (Cietec), em São Paulo. Graças ao programa, ensinar<br />

Geografia, Química, Biologia, Física e Matemática a alunos do ensino<br />

fundamental e médio pode se tornar uma atividade muito mais<br />

prazerosa.<br />

O programa, que possibilita interagir com imagens por meio de recursos<br />

tridimensionais, já foi exportado para países como a Espanha<br />

e vendeu licenças para o uso em Portugal, Inglaterra e México. A<br />

escola não compra o software, mas paga uma mensalidade e tem<br />

todo o treinamento para o uso e licença para usar em quantos pontos<br />

quiser. É o ensino do futuro, hoje.<br />

O supercomputador nacional<br />

Uma outra novidade, também apontada pelo “O caderno popular”,<br />

é o “supercomputador” – ao custo de R$ 1 milhão; R$ 800 mil<br />

apenas no equipamento e o restante em softwares – instalado no<br />

Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad)<br />

da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pretende<br />

impulsionar a pesquisa nacional favorecendo alunos e professores<br />

de diversas instituições de ensino superior do País. Entre as vantagens<br />

do novo equipamento, está a realização de procedimentos,<br />

que, até então, não podiam ser desenvolvidos no Brasil por falta de<br />

ferramentas. A máquina realiza cálculos, simulações e análises de<br />

dados equivalentes a mil computadores pessoais funcionando conjuntamente.<br />

É a transposição de uma barreira imprescindível para<br />

diversas pesquisas.<br />

Desde o começo de abril o computador está ao alcance e uso de<br />

pesquisadores e alunos de todo o País, principalmente aos das áreas<br />

de nanotecnologia e ciência de materiais, e dispõe de processadores<br />

Intel de 176 “cores”, 480 gigabites de memória RAM e capacidade<br />

de processamento de 1,12 Tflops, o que equivale a um trilhão de<br />

operações por segundo.<br />

Para os pesquisadores aventureiros que desejam utilizar a máquina,<br />

é preciso encaminhar projetos, que vão passar por uma avaliação<br />

do centro de processamento. Uma vez aprovados os projetos, os<br />

pesquisadores podem realizá-los em seus computadores pessoais,<br />

independentemente do lugar do mundo em que estejam. Uma autorização<br />

de uso é encaminhada, bem como a definição do tempo<br />

disponível para a utilização do sistema. A partir daí, por uma tela<br />

de entrada no sistema, os pesquisadores enviam os dados que vão<br />

ser avaliados e passarão pelos cálculos feitos pelos computadores,<br />

recebendo os resultados por e-mail para avaliação. Além das universidades,<br />

também podem desfrutar dessas vantagens instituições<br />

de pesquisa governamentais de diversos setores e empresas que<br />

investem em pesquisa.


A mão amiga das cirurgias e dos cegos<br />

Boas novas também vêm do Centro de Pesquisa Renato Archer (CenPRA), instituição do Ministério da<br />

Ciência e Tecnologia. Dentro do Centro, há dois setores que têm realizado pesquisas interessantes: o de<br />

Prototipagem Rápida em Medicina (Promed) e a Divisão de Robótica e Visão Computacional (DRVC).<br />

De acordo com matéria veiculada em “O caderno popular”, no Promed surgiu o software de nome InVesalius,<br />

constantemente atualizado, que tem ajudado tanto cirurgiões, especialmente os de hospitais da<br />

rede pública mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e que, não obstante, também pode servir<br />

como importante ferramenta para professores e estudantes da área. O programa permite transformar<br />

imagens bidimensionais, obtidas por tomografias computadorizadas ou ressonâncias magnéticas, em<br />

tridimensionais. O software é livre e pode ser obtido gratuitamente pelo site www.softawarepublico.gov.<br />

br.<br />

A partir do desenvolvimento constante do software, já é possível planejar uma cirurgia com exatidão<br />

antes de realizá-la, dada a possibilidade de visualizar qualquer parte do corpo. A partir das imagens do<br />

programa, são feitos protótipos de diferentes materiais, auxiliando em avaliações de cirurgias ainda mais<br />

detalhadas e confecção de próteses perfeitas. Uma das metas, agora, é poder trabalhar em próteses com<br />

matérias-primas que sejam biointegráveis, ou seja, aquelas nas quais as células se integrem e se desenvolvam,<br />

fazendo com que se torne quase uma parte natural do corpo do paciente.<br />

Além de ajudar esses ramos da medicina, os protótipos feitos pelos aparelhos do CenPRA também têm<br />

buscado ajudar alunos deficientes visuais a criar a noção do espaço em que estão entrando. Ao utilizar<br />

imagens do local, como uma universidade pública, por exemplo, a máquina é capaz de produzir maquetes<br />

perfeitas, mostrando a parte interior, exterior, as diversas salas e setores. A partir da maquete<br />

disposta na entrada do local, o aluno deficiente pode usar o tato para saber onde está e o caminho a<br />

percorrer para chegar onde quer.<br />

A interatividade para as diversidades<br />

Já na Divisão de Robótica e Visão Computacional (DRVC) está em curso o desenvolvimento de equipamentos<br />

especiais para o uso de deficientes físicos, com o objetivo de auxiliá-los na interatividade, com<br />

diferentes equipamentos e sistemas computacionais. O Projeto Auxilis é desenvolvido juntamente com<br />

a Universidade do Vale da Paraíba (Univap), há cerca de um ano e meio. Estão sendo aprimorados protótipos<br />

de equipamentos que vão auxiliar pessoas com problemas motores, até os mais severos. São<br />

aparelhos dispostos de sensores que, ao menor movimento, podem acionar sistemas computacionais e<br />

equipamentos, cadeiras de rodas motorizadas, por exemplo. Josué Ramos, um dos coordenadores da<br />

pesquisa, explica que se a pessoa puder somente sugar e soprar, ela poderá usar isso para acionar um<br />

instrumento e utilizar os softwares desejados.<br />

Os protótipos vão ser utilizados por pessoas que, depois de o usarem por um tempo, vão poder apontar<br />

falhas e propor sugestões para o aprimoramento. Ramos explica que o objetivo é desenvolver os produtos<br />

e depois repassar o projeto para indústrias, afim de que possam fabricar os aparelhos. As pesquisas<br />

apontam que os equipamentos produzidos no Brasil podem custar de 10 a 50 vezes menos do que os<br />

similares importados. É esperado que, com as pesquisas, possa-se chegar, em um futuro não muito distante,<br />

em produtos ainda mais sofisticados, quem sabe sensíveis a um simples piscar de olhos.<br />

A robótica na sala de aula<br />

E para quem pensa que as pesquisas e o conhecimento em robótica vão ficar restritos aos núcleos de<br />

pesquisa do CenPRA, a Divisão de Robótica e Visão Computacional propõe o contrário: a popularização da<br />

robótica. O objetivo principal da divisão é levar a robótica aos estudantes de todo o País, sob o nome de<br />

Projeto Robótica Pedagógica de Baixo Custo, que está sendo desenvolvido em cooperação com o Núcleo<br />

de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Está em<br />

curso a idéia de implantação de um projeto-piloto em uma escola técnica de Campinas, São Paulo.<br />

Josué Ramos, um dos coordenadores da pesquisa, explica que não deseja fazer os estudantes brincarem<br />

de robótica, mas fazê-los aprender os conceitos da área com equipamentos acessíveis. O equipamento<br />

ainda em desenvolvimento – composto por um carrinho de controle remoto e motores, computador de<br />

controle com sensores, incluindo os de luz – deve custar, aproximadamente, R$ 85. Os pesquisadores<br />

esperam que, depois da implantação do projeto-piloto, o trabalho se volte para o desenvolvimento de<br />

plataformas robóticas de baixo custo em demais escolas do Ensino Fundamental do Brasil e, primordialmente,<br />

que a popularização da robótica seja capaz de gerar mais investimentos e pesquisas futuras, com<br />

a formação de novos pesquisadores.<br />

39


40<br />

Troca que auxilia e<br />

investe no futuro<br />

Existem programas de intercâmbio para todas as<br />

épocas, idades, gostos e fi nalidades; em todos os casos,<br />

o futuro é o maior incentivador para buscar esse<br />

tipo de experiência<br />

Elise Yoshida<br />

Dizem que quanto maior a experiência<br />

de vida, maior é o conhecimento<br />

do ser humano. E,<br />

muitas vezes, essa experiência é<br />

atribuída à idade. Afi nal, a velhice<br />

é sinônimo de experiência, aprendizado<br />

e conhecimento. Mas nem<br />

sempre tais virtudes vêm com o<br />

tempo. Uma prática que está sendo<br />

bastante procurada por jovens<br />

de todo o mundo é o intercâmbio.<br />

Seja para conhecer novas culturas,<br />

para estudar ou trabalhar,<br />

muitas pessoas recorrem a essa<br />

alternativa e garantem conhecimentos<br />

para a vida toda.<br />

Mas, o que é intercâmbio? Segundo<br />

o Dicionário da Língua Portuguesa<br />

On-Line, o intercâmbio é<br />

uma permuta, uma troca. Atribuise<br />

“intercâmbio” à troca de países.<br />

Contudo, quem já viveu a experiência<br />

sabe que o termo vai muito<br />

além.<br />

Ricardo Seiti Gondo, 23, fez o<br />

curso de Engenharia de Controle<br />

e Automação na Universidade Federal<br />

de Santa Catarina (UFSC) e<br />

hoje é Engenheiro júnior de uma<br />

empresa. Ele fi cou durante seis<br />

meses em um estágio na Alemanha,<br />

permutou de país, mas também<br />

garantiu uma troca cultural e<br />

profi ssional.<br />

Gondo diz que participou do intercâmbio<br />

com o objetivo de “poder<br />

trabalhar com tecnologia em<br />

um dos países mais avançados<br />

em Engenharia no mundo”, além<br />

de ter a oportunidade de “conviver<br />

com uma cultura bastante<br />

diferente, conhecer países com<br />

uma história e uma realidade diferentes<br />

do Brasil”. O resultado foi<br />

exatamente o esperado. “No<br />

início, tive um pouco de receio,<br />

já que esse intercâmbio<br />

atrasaria minha formatura<br />

em um semestre. Mas depois,<br />

percebi que a experiência<br />

valeu muito a pena. Além<br />

disso, as oportunidades para<br />

fi car um semestre no exterior<br />

são bem maiores durante a<br />

universidade do que depois<br />

de formado”, relata Gondo.<br />

A diretora de uma agência<br />

especializada em programas<br />

de intercâmbio, fi lial de uma<br />

rede que possui agências em<br />

todo o Brasil, Evelise Vendrametto<br />

Hubner, 28, concorda.<br />

“Sempre falo que, enquanto<br />

se está na universidade, o<br />

universo de oportunidades é<br />

imensamente maior do que<br />

depois de graduado. A maioria<br />

dos programas exige o<br />

vínculo universitário e coloca<br />

um limite de idade.”<br />

Mas isso não signifi ca que<br />

só universitários se benefi -<br />

ciam do intercâmbio. A estudante<br />

Caroline de Oliveira<br />

Kanegusuku, 17, está se preparando<br />

para um intercâmbio<br />

cultural do Rotary Club. Com<br />

destino a Taiwan, em agosto<br />

deste ano, a estudante vai<br />

morar em casas de famílias<br />

durante um ano e<br />

conviver com estudantes<br />

do ensino médio.<br />

As expectativas de<br />

bons resultados<br />

já são grandes.<br />

“Você conquista<br />

sua independência,autoconfiança,responsabilidade<br />

e ama-<br />

Arquivo pessoal<br />

Ricardo Gondo aproveitou o estágio<br />

na Alemanha e também conheceu<br />

bastante da cultura local


durecimento. Aprende que estar<br />

distante dos parentes e amigos é<br />

fundamental para deixar a timidez<br />

de lado e fazer novas amizades”,<br />

afirma Caroline.<br />

Na área profissional, a estudante,<br />

que pretende cursar Medicina,<br />

também enxerga os pontos positivos<br />

do intercâmbio, mesmo que<br />

ela tenha de perder um ano de estudos.<br />

“A gente fica mais seguro<br />

em entrevistas, além de aprender<br />

uma língua estrangeira. No futuro,<br />

essas novas qualificações poderão<br />

ajudar na obtenção de um emprego<br />

e até na definição da carreira<br />

acadêmica e profissional.” Caroline<br />

ainda acredita que a capacidade<br />

de relacionar-se mais facilmente,<br />

tolerando e desenvolvendo habilidades<br />

para conviver com diferentes<br />

estilos de vida, também é um<br />

diferencial que pode ser adquirido<br />

nesse tipo de experiência.<br />

A grande procura<br />

De acordo com a Brazilian Educational<br />

& Language Travel Association<br />

- associação de agências<br />

de intercâmbio (Belta), aproximadamente<br />

42 mil brasileiros, na<br />

faixa de 18 a 30 anos, realizaram<br />

algum programa de intercâmbio<br />

no ano de 2004. Em 2003, haviam<br />

sido 35 mil.<br />

A diretora da agência, Evelise<br />

Vendrametto Hubner conta que,<br />

atualmente, a procura pelos programas<br />

também é grande. Só no<br />

ano passado, mais de mil estudantes<br />

foram para outro país em um<br />

dos programas, em que o enviado<br />

trabalha durante as férias. Evelise<br />

não possui os dados de toda a<br />

rede, mas enumera os diferentes<br />

tipos de programas oferecidos.<br />

“São vários, desde os mais antigos<br />

e conhecidos, como o colegial<br />

no exterior, até os mais atuais,<br />

como trabalho voluntário na África.<br />

Cursos de idiomas, trabalhos e<br />

estágios no exterior, programa de<br />

aupair [trabalho remunerado em<br />

outro país que consiste em morar<br />

com uma família e cuidar das<br />

crianças da casa], pós-graduação<br />

e outros.”<br />

Segundo a professora mestra<br />

de língua estrangeira do curso de<br />

Turismo e Hotelaria do <strong>Cesumar</strong><br />

(Centro Universitário de Maringá),<br />

Leizy Regina Fracasso Stefano,<br />

45, a grande procura tem explicação.<br />

Ela acredita na importância<br />

da prática do intercâmbio, não somente<br />

para o futuro da vida pessoal,<br />

mas também para um (re)<br />

conhecimento maior do próprio<br />

país. “É como estudar uma língua<br />

estrangeira. Você não estuda<br />

realmente a língua. Mais do que<br />

nunca, você pensa na sua língua,<br />

analisa como é sua língua, para<br />

entender como é a língua do outro.<br />

Então, quando você vai para<br />

outro país, é claro, aprende aqueles<br />

costumes, mas também faz o<br />

retroativo de como é a sua própria<br />

cultura. Você se compreende<br />

mais como ser humano e vai ser<br />

um profissional muito mais competente<br />

para isso.”<br />

Outros pontos<br />

Além das informações básicas<br />

para se preparar para uma<br />

aventura de intercâmbio, Evelise<br />

Vendrametto Hubner ressalta as<br />

vantagens em participar de um<br />

programa como esse. “Conhecer<br />

como outras culturas vivem faz<br />

com que a gente pense como vivemos,<br />

com que queiramos melhorar<br />

e mudar alguma coisa na<br />

nossa própria cultura. Viver no exterior<br />

faz a gente se tornar mais<br />

maduro. Qualquer empresa aprecia<br />

num funcionário a capacidade<br />

de adaptação, de ter vivido uma<br />

experiência no exterior, da fluência<br />

do idioma, entre muitos outros<br />

aspectos.”<br />

Evelin diz acreditar que, talvez,<br />

inúmeras guerras não existiriam<br />

se houvesse maior tolerância en-<br />

41<br />

Arquivo pessoal


42<br />

“ Intercâmbio<br />

prolongado no<br />

exterior pode<br />

prejudicar a<br />

convivência no país<br />

de origem<br />

”<br />

tre os povos, as pessoas conhecessem<br />

mais sobre outras culturas.<br />

“Viajar e viver em outros<br />

lugares possibilita enxergar onde<br />

podemos melhorar, onde devemos<br />

mudar e o que devemos preservar.”<br />

Mas nem tudo são flores. Para<br />

a professora Leizy Stefano, o intercâmbio<br />

tem um limite. “Tanto<br />

turístico quanto por motivos profissionais,<br />

o intercâmbio é fundamental.<br />

Desde o mínimo de duas<br />

semanas, três meses ou um ano,<br />

quando é mais que isso perturba<br />

o desenvolvimento aqui no País”,<br />

enfatiza. O tempo prolongado no<br />

exterior pode prejudicar a convivência<br />

no País de origem, já que<br />

há transformações de níveis culturais,<br />

além da perda de oportunidades<br />

e costumes. O intercambista<br />

passa a aderir à cultura do<br />

outro e esquece da sua.<br />

Para quem quer se aventurar<br />

em uma experiência de intercâmbio,<br />

além de levar em consideração<br />

a duração do programa, a<br />

diretora Evelise Hubner também<br />

lembra que cada opção de viagem<br />

possui suas especificações. “Cada<br />

programa tem uma característica<br />

diferente e os requisitos para participar<br />

podem variar bastante. O<br />

importante é a pessoa verificar as<br />

suas possibilidades antes de buscar<br />

um programa. O investimento<br />

que pode fazer, a época que quer<br />

viajar, se fala fluentemente ou<br />

não, se pretende apenas estudar<br />

ou se quer trabalhar também.”<br />

6<br />

O futuro em outro lugar<br />

Seis meses, dez dias, um<br />

ano. Trabalhar, passear ou estagiar.<br />

Há intercâmbios de todos<br />

os estilos e durações, mas tem<br />

gente que começa com uma<br />

viagem e acaba<br />

traçando a vida inteira<br />

em outro país.<br />

É o caso de Graziele<br />

Everaldo Nogueira<br />

Martins, 27. No final<br />

de 2005, ela começou<br />

os preparativos<br />

para um intercâmbio<br />

de trabalho.<br />

O objetivo desse<br />

tipo de viagem é ficar<br />

durante o período de<br />

férias (da universidade<br />

ou de cursos de<br />

pós-graduação, mestrado<br />

e doutorado)<br />

trabalhando em outro<br />

país, ganhando experiência,<br />

cultura e, claro,<br />

dinheiro. Ela conta<br />

que decidiu fazer o intercâmbio<br />

de trabalho<br />

já com a intenção de<br />

residir no país destino,<br />

os Estados Unidos. “Era<br />

a única forma de entrar<br />

nos EUA conseguindo<br />

os documentos fundamentais,<br />

como o social<br />

security e, conseqüentemente,<br />

a carteira de motorista<br />

americana”, conta por email.<br />

Hoje, ela vive na cidade de<br />

Centerville, no estado de Massachussets.<br />

Graziele era psicóloga na Associação<br />

de Pais e Amigos dos<br />

Excepcionais (APAE) de Mandaguari,<br />

cidade localizada a 30<br />

quilômetros de Maringá, tinha<br />

sua própria clínica e era a psicóloga<br />

responsável de um centro<br />

de oncologia e radioterapia.<br />

Mesmo com uma carreira profissional<br />

garantida e com os planos<br />

de continuar trabalhando,<br />

aumentando sua renda, casarse<br />

e ter filhos aqui no Brasil, as<br />

facilidades que os Estados Unidos<br />

prometem e que, segun-<br />

do ela, proporcionaram, foram<br />

mais atraentes. “Aqui [nos Estados<br />

Unidos] é muito mais fácil<br />

de se ter conforto e melhor<br />

qualidade de vida, trabalhando<br />

o mesmo tanto que estaria<br />

trabalhando no Brasil.<br />

Foi a forma que eu e meu marido<br />

encontramos de ter condições<br />

financeiras para casar. Inclusive,<br />

casamos dez dias antes<br />

de embarcar.”<br />

A ex-psicóloga, e agora supervisora<br />

de uma fábrica, diz<br />

acreditar que o futuro é mais<br />

promissor em terras estrangeiras.<br />

“O custo de vida no Brasil<br />

é mais alto. Penso, então, que<br />

aqui nos EUA tem mais oportunidade<br />

de trabalho e é mais valorizado<br />

financeiramente. Isso<br />

já proporciona a idéia de um futuro<br />

melhor.”


Diversos tipos para todos os gostos<br />

As opções de programas de intercâmbio são muitas. Idade, escolaridade, países, objetivos, cada<br />

item é levado em conta para que todos possam ter uma opção de escolha.<br />

Estados Unidos para traçar um<br />

caminho de vida<br />

Arquivo pessoalGraziele e Rafael escolheram os<br />

- Cursos de idiomas: com a duração de,<br />

no mínimo, duas semanas, os cursos de idioma<br />

podem ser feitos em diversos países. Nesse intercâmbio,<br />

o interessado pode fazer cursos de<br />

idiomas regular, preparatório para exames de<br />

proficiência, cursos de terminologia e preparatórios<br />

para universidade. Não há limite de idade e<br />

os cursos têm especificidades para crianças, adolescentes,<br />

jovens e executivos.<br />

- High School: somente estudantes do ensino<br />

médio podem participar deste tipo de intercâmbio.<br />

O aluno freqüenta as aulas em uma escola e<br />

mora com uma família local, como se fosse um<br />

filho. Caso preferir, é possível viver em internatos.<br />

Há também a escolha entre escola particular<br />

e pública.<br />

43<br />

- Férias: exclusivo para adolescentes, este<br />

programa é realizado durante o período de férias<br />

do colégio; engloba cursos de idioma, atividades<br />

sociais e esportivas, excursões e passeios. O estudante<br />

pode optar por morar em casas de família<br />

ou residências estudantis.<br />

- Cursos profissionalizantes: para quem já<br />

tem um bom nível de conhecimento do idioma<br />

estrangeiro é, basicamente, um curso técnico no<br />

exterior na área específica de trabalho.<br />

- Curso para executivos: esse programa é<br />

direcionado para profissionais e/ou estudantes<br />

que já atuam em alguma área no mercado de<br />

trabalho. Os cursos são de curta duração e estuda<br />

conceitos da área de negócios e a prática do<br />

idioma.<br />

- Universidade: é possível optar pela graduação,<br />

pós-graduação ou extensão universitária<br />

em instituições, reconhecidas academicamente,<br />

de outros países. A duração mínima é de um<br />

ano.<br />

- Estágio: programa para jovens universitários<br />

que querem ter treinamento profissional<br />

na área de formação e receber por isso. Esta<br />

opção pode ser iniciada em qualquer época do<br />

ano. A duração varia de 02 a 18 meses, dependendo<br />

do país escolhido e das escolhas em<br />

relação ao estágio. As áreas disponíveis também<br />

mudam de país para país.<br />

- Au pair: é um programa de trabalho remunerado<br />

que consiste em morar em outro país, por<br />

um determinado período, cuidando de crianças e<br />

morando com a família.<br />

- Trabalho: durante o período de férias (da<br />

universidade ou de cursos de pós-graduação,<br />

mestrado e doutorado) os interessados têm trabalho<br />

legalizado e remunerado em outro país,<br />

seja em empresas, fábricas ou comércio. A duração<br />

do programa varia de 2 a 15 meses.<br />

- Voluntário: para quem quiser a experiência<br />

de trabalhar em projetos sociais, humanitários<br />

ou de preservação da vida selvagem em outros<br />

países, cuidando de pessoas ou animais e contribuindo<br />

em construções de escolas, clínicas, etc.<br />

O investimento nesses cursos e intercâmbios<br />

varia conforme a escolha do país, do programa e<br />

da agência de suporte.


44<br />

Carina Veltrini<br />

Poupando<br />

Previdência privada?<br />

para o futuro<br />

Poupança?<br />

Eles têm pouca idade e já pensam<br />

em renda para o futuro;<br />

mas, ao invés do antigo cofrinho,<br />

eles economizam em poupanças<br />

bancárias e até investem<br />

na bolsa de valores<br />

Bolsa de valores?


Carina Veltrini<br />

O tempo passa, o tempo voa,<br />

mas o hábito de poupar só em cofrinhos<br />

de porquinhos já está mudando.<br />

Claro que, hoje, os porquinhos<br />

são mais atrativos: maiores,<br />

mais bonitos, de materiais diferentes.<br />

Ou nem precisam necessariamente<br />

ser porquinhos – cofres<br />

de gesso com flocos de nylon<br />

no formato do Cristo Redentor,<br />

ovelha, poodle, ou mesmo disfarçados<br />

de bichinho de pelúcia que,<br />

ao receber uma moeda, faz algum<br />

ruído ou mexe a cabeça.<br />

Os cofrinhos evoluíram – e o<br />

pensamento dos jovens que juntavam<br />

os trocados também. Hoje,<br />

eles pensam no futuro investindo<br />

o dinheiro ganho com mesadas e<br />

salários em poupança, previdência<br />

privada e até na bolsa de valores.<br />

Palavra de doutor<br />

Para o doutor em economia de<br />

empresas e professor do curso de<br />

Ciências Econômicas da Universidade<br />

Estadual de Maringá (UEM),<br />

Neio Lúcio Peres Gualda, a preocupação<br />

dos jovens em investir<br />

ou mesmo poupar o dinheiro recebido<br />

como mesada ou salário<br />

é bastante positiva em razão da<br />

sociedade capitalista de consumo.<br />

Para ele, a melhor forma de um<br />

jovem poupar é através da boa e<br />

velha caderneta de poupança. “O<br />

Estado garante risco zero, a remuneração<br />

é sempre positiva, acima<br />

da inflação, além de ser isento de<br />

impostos.”<br />

Mas pensar na aposentadoria<br />

também é muito importante, segundo<br />

o doutor. Para ele, investir<br />

na previdência privada é uma boa<br />

alternativa. Mas algumas pessoas<br />

ainda têm receio desse tipo de investimento.<br />

“No Brasil, há cerca<br />

de 45 anos, havia vários planos<br />

de previdências privadas associadas<br />

a categorias profissionais,<br />

sindicatos e outros. Infelizmente,<br />

não existia fiscalização do Estado,<br />

fazendo com que as previdências<br />

privadas quebrassem. O Estado<br />

assumiu a quebra e jogou tudo<br />

dentro da previdência geral.” Mas<br />

hoje, o Brasil é outro. Já existe<br />

fiscalização do governo, o que dá<br />

mais segurança ao investidor.<br />

Para Gualda, investir na previdência<br />

privada pode ser bastante<br />

vantajoso Principalmente para<br />

complementar a previdência social,<br />

em que existe um teto, um<br />

valor máximo na aposentadoria.<br />

“Na previdência privada, o valor é<br />

de acordo com o que você paga.<br />

Além de que o dinheiro sempre<br />

retorna. Se acontece de um filho<br />

falecer, o pai pode resgatar o<br />

dinheiro, o que não acontece na<br />

previdência geral.”<br />

Geralmente, são os pais que<br />

fazem a previdência para os filhos<br />

– atitude que tem aumentado nos<br />

últimos anos. De acordo com o balanço<br />

anual da Federação Nacional<br />

de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi),<br />

a modalidade de planos<br />

para menores de 18 anos cresceu<br />

71,12% em 2007.<br />

Bolsa de (muitos) valores<br />

Outro meio de pensar no futuro<br />

financeiro é colocar o dinheiro em<br />

fundos de renda variável, como a<br />

bolsa de valores, em que os riscos<br />

são altos, mas o resultado pode<br />

ser compensador. Mas, apostar<br />

nesse tipo de investimento exige<br />

mais experiência, espírito aventureiro,<br />

além de dinheiro extra para<br />

cobrir as possíveis perdas.<br />

Para Gualda, investir em bolsa<br />

de valores é ainda um processo arriscado<br />

para jovens que têm pouco<br />

capital e muita despesa. “Uma<br />

maneira de amenizar os riscos é<br />

formar clubes de investimentos<br />

e contratar uma corretora.” Clubes<br />

de investimento são formados<br />

por grupos de pessoas que, com<br />

pequenas quantias de dinheiro,<br />

investem na bolsa de valores por<br />

intermédio de uma corretora, distribuidora<br />

de títulos ou do banco.<br />

Esse tipo de investimento é menos<br />

arriscado porque atua em diversas<br />

empresas, comprando ações de<br />

muitas delas, não só de uma, e é<br />

muito utilizado por universitários.<br />

Mas não foi isso o que fez o<br />

jovem Bruno Gustavo Atencio.<br />

Ele tem apenas 24 anos, mas já<br />

é operador de uma corretora de<br />

Maringá. E começou bem mais<br />

cedo: com apenas 18 anos, Aten-<br />

45<br />

“ A preocupação<br />

dos jovens em<br />

investir ou mesmo<br />

poupar o dinheiro<br />

recebido como<br />

mesada ou salário é<br />

bastante positiva em<br />

razão da sociedade<br />

capitalista de<br />

consumo<br />


46<br />

“Quando se fala em<br />

bolsa de valores, já<br />

se pensa que é bem<br />

sucedido. O retorno<br />

financeiro é em<br />

função do risco que<br />

se assume. E isso<br />

depende da<br />

personalidade, do<br />

perfil da pessoa”<br />

Bruno Gustavo Atencio<br />

cio resolveu investir na bolsa de<br />

valores. A atitude veio de um incentivo<br />

paterno. “Um dia, meu pai<br />

jogou uma revista no meu colo e<br />

disse ‘dá uma olhada, isso pode<br />

ser interessante’.” Na capa, muitos<br />

homens com telefones ao ouvido<br />

e de aparência estressada. “<strong>Eu</strong> vi<br />

aqueles malucos ao telefone, li a<br />

matéria, me interessei e comecei<br />

a ler bastante sobre o assunto.”<br />

Ele começou a aplicar dinheiro na<br />

bolsa de valores sem orientação,<br />

mas diz que foi aprendendo com o<br />

tempo. “Freqüentei cursos, aprendi<br />

bastante. Até consegui um estágio<br />

na área.”<br />

Hoje, a empresa em que trabalha<br />

realiza cursos para pessoas<br />

que querem aprender a investir<br />

na bolsa de valores. Segundo ele,<br />

a maioria dos interessados são jovens.<br />

“A bolsa de valores atrai os<br />

jovens porque está o tempo todo<br />

na mídia, no noticiário, além de<br />

ser um investimento menos comum.<br />

É emocionante, todo dia é<br />

diferente. Os jovens gostam dessa<br />

adrenalina.”<br />

Para Atencio, a renda variável é<br />

uma opção viável para os jovens<br />

porque não há um mínimo para se<br />

investir. “A bolsa é acessível a todo<br />

mundo. Custos baratos e informação<br />

toda hora, fácil de acompanhar.<br />

Mas a maneira que vai atuar<br />

depende muito do perfil individual<br />

de cada um.”<br />

Atencio também aponta outro<br />

motivo para o grande interesse<br />

dos jovens nesse tipo de investimento:<br />

a possibilidade de crescer<br />

financeiramente – o que, claro,<br />

não é certeza. “Quando se fala em<br />

bolsa de valores, já se pensa que<br />

é bem sucedido. O retorno financeiro<br />

é em função do risco que se<br />

assume. E isso depende da personalidade,<br />

do perfil da pessoa. Se<br />

a pessoa quer o dinheiro protegi-<br />

Economizar, poupar,<br />

investir...<br />

Tudo diz respeito a dinheiro, mas<br />

o que cada um quer dizer? Saiba<br />

a seguir:<br />

ECONOMIZAR: procurar pagar<br />

o menor preço por um serviço<br />

ou produto, administrar gastos;<br />

POUPAR: Aumentar os recursos<br />

para consumir no futuro, juntar<br />

uma quantia de dinheiro durante<br />

um tempo;<br />

INVESTIR: aumentar os recursos<br />

para consumir no futuro;<br />

aqui, o dinheiro trabalha quase<br />

sozinho.


Interior da Bovespa; adrenalina e<br />

corre-corre chama atenção de jovens<br />

investidores<br />

“ No Japão,<br />

é muito forte o<br />

hábito de separar<br />

20% do que se<br />

ganha para<br />

investimentos ou<br />

poupança<br />

for4saken<br />

”<br />

do de riscos, é melhor aplicar em<br />

renda fixa. Para aplicar na bolsa,<br />

é preciso ter perfil mais agressivo,<br />

permitir correr um risco maior<br />

para um ganho maior. Mas há o<br />

risco de perder mais, também.”<br />

Questão cultural<br />

Para Neio Lúcio Peres Gualda,<br />

poupar é uma necessidade no<br />

mundo capitalista. “A sociedade<br />

capitalista é, ao mesmo tempo,<br />

sociedade de investimento. E para<br />

investir, é preciso capital. É preciso<br />

guardar parte do dinheiro que<br />

se recebe para adquirir bens, adquirir<br />

patrimônio.” Mas, para ele,<br />

o hábito de poupar é uma questão<br />

cultural. Ele cita o exemplo do<br />

Japão, onde é muito forte separar<br />

20% do que se ganha para investimentos<br />

ou poupança.<br />

Isso ainda não é um hábito do<br />

brasileiro – e para que isso aconteça,<br />

é preciso educar. “O jovem<br />

deve receber essa educação financeira<br />

desde os primeiros anos<br />

escolares, aprendendo a controlar<br />

pequenos valores, fazendo sempre<br />

reserva para despesas imprevistas.<br />

Ao longo da vida, isso vai<br />

ser importante.”<br />

Alexandre Suguyama teve esse<br />

tipo de educação. Ele é universitário<br />

e abriu uma poupança conjunta<br />

com a namorada há três anos,<br />

quando ela entrou na faculdade.<br />

Ele teve uma poupança quando<br />

criança, feita pelos pais, mas a<br />

iniciativa partiu da namorada. “Ela<br />

começou a pesquisar sobre isso<br />

para a formatura da faculdade e<br />

sugeriu que abríssemos uma poupança,<br />

para ir economizando.”<br />

O casal está junto há mais de<br />

cinco anos e a poupança foi pensada<br />

para o futuro dos dois. “Não<br />

é exatamente para uma festa de<br />

casamento. É para quando precisarmos”,<br />

diz ele. O dinheiro veio<br />

de várias fontes. “<strong>Eu</strong> sempre trabalhei,<br />

então o dinheiro da minha<br />

parte era do meu trabalho, mesmo.<br />

Minha namorada não trabalhava<br />

no primeiro ano da faculdade,<br />

ela tinha que pedir pros pais.<br />

Hoje, ela trabalha com eles, além<br />

de fazer estágio remunerado.”<br />

Suguyama acha importante<br />

47<br />

“Existem pessoas que<br />

acham que não devem<br />

se preocupar com o<br />

futuro, outras acham<br />

que pensar no passado<br />

é bobeira. <strong>Eu</strong> acredito<br />

que todo tempo<br />

é importante.“<br />

Alexandre Suguyama<br />

pensar no futuro financeiro, enquanto<br />

jovem. Mas ele mesmo<br />

admite que esse pensamento não<br />

está presente em todas as decisões.<br />

“Existem situações em que<br />

sou muito mais de viver o presente<br />

e deixar o futuro acontecer.<br />

Mas, em outros casos, penso bastante<br />

no futuro. Acredito que essa<br />

maneira de pensar vem muito da<br />

educação que se recebe, das situações<br />

que se vive e das oportunidades<br />

que vivenciou. Existem<br />

pessoas que acham que não devem<br />

se preocupar com o futuro,<br />

outras acham que pensar no passado<br />

é bobeira. <strong>Eu</strong> acredito que<br />

todo tempo é importante. Cada<br />

um dá uma lição e um aprendizado.<br />

”<br />

Renda fixa: são investimentos<br />

que pagam juros. São exemplos<br />

de renda fixa: títulos públicos,<br />

títulos privados, caderneta de<br />

poupança e fundos de renda<br />

fixa.<br />

Renda variável: são investimentos<br />

de valorização ou<br />

desvalorização de capital que<br />

dependem de vários fatores,<br />

como inflação, cenário político,<br />

mercado internacional. São exemplos<br />

de renda variável: ações,<br />

câmbio, ouro, obras de arte.<br />

6


48<br />

As dificuldades<br />

batem à porta e o<br />

amor pula a janela<br />

Manter as finanças em dia, poupando para o futuro, é uma forma de evitar<br />

que o vermelho do orçamento azede as relações entre marido e mulher, pais<br />

e filhos<br />

Rogério Mori<br />

Discussões por causa de dinheiro<br />

é o fator de distúrbio mais<br />

freqüente dentro das famílias. Em<br />

pesquisa realizada nos Estados<br />

Unidos pelo Instituto Mathew Greenwald<br />

& Associates para a revista<br />

“Money”, nada menos que 84%<br />

das pessoas entrevistadas responderam<br />

que o dinheiro é a maior<br />

causa das tensões no casamento<br />

e 13% delas disseram brigar por<br />

esse motivo várias vezes ao mês. O<br />

que mais tem gerado brigas entre<br />

casais, de acordo com a pesquisa,<br />

são os desentendimentos sobre o<br />

que é prioridade financeira.<br />

O economista Edmilson Andrade<br />

de Oliveira da cidade de Faxinal<br />

do Céu no Paraná, alerta que as<br />

divergências em relação ao dinheiro<br />

acabam causando traumas psicológicos<br />

em todos os membros da<br />

família, principalmente nas crianças.<br />

“Por isso, é bom que todos se<br />

entendam desde cedo com relação<br />

às finanças, que envolvam até os<br />

filhos, para que todos conquistem<br />

a independência financeira. A família<br />

pode ser feliz financeiramente,<br />

mas é preciso ter persistência e<br />

entender que isso envolve mudanças<br />

comportamentais.”<br />

Para o economista, o equilíbrio<br />

do orçamento doméstico depende<br />

da participação de todos e só começa<br />

com reuniões entre todos os<br />

membros da família. “Você só consegue<br />

a saúde financeira se todos<br />

comungarem dos mesmos ideais.<br />

Nessa conversa, a família vai tirar<br />

uma fotografia da sua realidade,<br />

abordando questões como: temos<br />

dinheiro? Temos divida: qual<br />

o peso delas? Quais os bens que<br />

possuímos? Qual a receita líquida<br />

mensal da família? E, por fim, em<br />

que gastamos o dinheiro?”, ensina.<br />

O gasto não programado é um<br />

problema na família do editor de<br />

vídeo Franki Anderson Luvizetto,<br />

casado há seis anos com Franciele<br />

Sorri. Segundo o casal, planejar o<br />

orçamento nunca foi o forte deles.<br />

“Compramos muito por impulso,<br />

achando que o produto está barato<br />

e é hora de aproveitar a oferta,<br />

mas, depois, o orçamento explodia<br />

e no final do mês as brigas apareciam<br />

com mais freqüência.”<br />

Luvizetto e Franciele acusam a<br />

facilidade na aprovação de crédito<br />

como o maior causador das dívidas<br />

a longo prazo. “Hoje em dia, o<br />

crédito é aprovado facilmente. As<br />

parcelas a perder de vista atraem<br />

consumidores como nós, excitando<br />

a comprar mais e mais, não percebendo<br />

que estamos comprometendo<br />

além do orçamento mensal”,<br />

revelam o casal.<br />

Com a família do operador de<br />

máster Clodoaldo Jorge e sua esposa<br />

Ângela Barreto Jorge, a situação<br />

é diferente. Eles contam que<br />

as dificuldades financeiras sempre<br />

foram superadas com muita racionalidade.<br />

O casal explica que a<br />

renda da família sempre foi baixa,<br />

mas que isso nunca foi motivo de<br />

desentendimentos na relação dos<br />

dois. “Priorizamos as necessidades<br />

básicas da família. Conta de água,<br />

luz, mercado, roupas e outras despesas<br />

com as crianças. Tudo é planejado.<br />

Assim, podemos guardar<br />

as sobras e investir em um futuro<br />

próximo, algo para o nosso bem<br />

próprio, como trocar um móvel,<br />

um eletrodoméstico e até de carro”,<br />

diz o casal.<br />

Para a economista Célia Branco<br />

da cidade de Barra doTurvo no Paraná,<br />

a família deve por na mesa<br />

seus sonhos de curto, médios e<br />

longos prazos. “Deve-se chegar a<br />

um consenso para o bem geral de<br />

todos”, afirma. A economista expli-


Rogério Mori<br />

Contas e mais contas deixa casal com dor de cabeça na hora de organizar os pagamentos<br />

no final do mês<br />

ca que isso envolve desde a compra<br />

de uma geladeira a uma aposentadoria,<br />

passando pelo curso<br />

superior do filho. Célia recomenda<br />

que a família evite ao máximo o<br />

crediário. “Se a meta é comprar<br />

uma geladeira ou trocar de carro,<br />

vá juntando o dinheiro mensalmente<br />

e procure pagar à vista”.<br />

Economizar faz bem para o<br />

futuro da família<br />

Proprietário de uma facção e<br />

casado com Maria Isabel de Faria,<br />

José Ângelo de Faria conta que<br />

eles dividem as despesas em partes<br />

iguais para que ninguém fique<br />

no vermelho no final do mês. “Somos<br />

casados e isso é uma forma<br />

de economizar. Assim, podemos<br />

pensar em grandes investimentos<br />

a longo prazo”, explica Faria.<br />

O comerciante, no entanto,<br />

ressalta que não foi sempre assim.<br />

O casal já passou por muitas<br />

dificuldades no decorrer do<br />

casamento, e que algumas foram<br />

motivos de brigas. “Hoje, temos o<br />

luxo de aproveitar esse momento<br />

bom que estamos passando”,<br />

constata o casal.<br />

Para os economistas consultados<br />

pela reportagem, um bom<br />

negócio para o futuro de famílias<br />

interessadas em investir nas<br />

aplicações de longo prazo são<br />

planos de previdência privada ou<br />

em ações de empresas de gran-<br />

49<br />

de porte, como Petrobrás, Vale<br />

do Rio Doce e Banco do Brasil. A<br />

curto prazo, pode-se por o dinheiro<br />

em poupança ou em fundos de<br />

investimentos. Outra medida importante<br />

é fazer seguro de vida<br />

para todos ou, pelo menos, para<br />

os geradores de renda da família.<br />

“Se houver folga no bolso, um<br />

plano de previdência privada para<br />

os filhos também é uma aplicação<br />

saudável. Nesse caso, quanto<br />

mais cedo começar, melhor”, diz a<br />

economista Célia Branco.<br />

Virada de mesa<br />

Segundo a economista Célia<br />

Branco, para resolver o problema<br />

de gastos excessivos é<br />

necessário que sejam acompanhados<br />

os gastos diários, desde<br />

mais simples aos mais pesados,<br />

durante noventa dias.<br />

“Normalmente, levamos um<br />

susto depois da avaliação, porque<br />

descobrimos os ralos por<br />

onde escorrem os pequenos dinheiros”,<br />

conta Célia. Passado<br />

o susto, a economista explica<br />

que a família deve se adequar<br />

ao padrão de vida em que está<br />

inserida, observando os gastos<br />

e objetivos. É nesse momento<br />

que também se descobrem as<br />

despesas que podem ser cortadas<br />

para pagar dívidas, resgatar<br />

o cheque especial ou quitar<br />

o cartão de credito.<br />

Em casos extremos, deve-se<br />

renegociar as dívidas, sempre<br />

buscando taxas de juros menores<br />

e prazos maiores. Caso<br />

seja possível vender um bem<br />

é a melhor saída para quitar<br />

os débitos. “A família só será<br />

independente financeiramente<br />

se poupar mensalmente. Não<br />

há outra alternativa”, constata<br />

o economista Edmilson Andrade<br />

de Oliveira. Ele explica que<br />

se deve evitar aplicar em bens<br />

como imóveis ou carro, pois somente<br />

o dinheiro garante liquides<br />

financeira. “Se um imóvel<br />

fica desocupado, acaba gerando<br />

despesa. Agora onde e como<br />

aplicar o dinheiro depende dos<br />

sonhos da meta da família.”<br />

6


Fernanda Steigenberg<br />

50<br />

Fernanda Steigenberg<br />

A comunicação é uma ciência que foi desenvolvida e<br />

aprimorada pela humanidade ao longo de milênios. O<br />

que antes era apenas falas jogadas ao vento, ganhou<br />

símbolos chamados de letras, e assim se formou outro<br />

tipo de comunicação: a escrita. Com o desenvolvimento<br />

da ciência e da sociedade, os meios de comunicação<br />

primitivos foram revitalizados tecnologicamente e sofreram<br />

uma progressão: sinais de fogo, correio, telegrama,<br />

rádio, telefone, televisão, computadores.<br />

Não há como conceber a idéia de um dia a sociedade<br />

viver sem a comunicação. Segundo a especialista em<br />

Histórias dos Movimentos Sociais do Brasil, Liana Lopes<br />

Bassi, o homem é um comunicador. Conseqüentemente,<br />

a ação de comunicar é a reprodução do momento<br />

sócio-histórico em que ele se encontra. Antigamente,<br />

por exemplo, os fatos eram representados apenas por<br />

rabiscos nas cavernas e hoje são até imagens na televisão.<br />

O CAMALEÃO<br />

da comunicação busca<br />

novos estilos tecnológicos<br />

“<br />

As grandes mídias<br />

apenas vendem seus<br />

produtos para as<br />

minorias<br />


Não foi apenas a tecnologia<br />

que evoluiu, mas também o<br />

modo de usá-la. Meios de Comunicação<br />

de Massa (MCM),<br />

como a televisão e o rádio,<br />

podem ser empregados como<br />

mecanismo de controle. “Esses<br />

meios de comunicação são<br />

utilizados para propagação de<br />

uma cultura, idéias, valores,<br />

noções e doutrinas do modo<br />

capitalista”, diz Liana Bassi.<br />

A comunicação é instrumento<br />

de socialização e existe<br />

para suprir as necessidades<br />

econômicas, políticas em que<br />

o homem vive em um determinado<br />

momento da história.<br />

Hoje, pode-se ver, com apenas<br />

alguns segundos de atraso, fatos<br />

ocorridos do outro lado do<br />

mundo. “Foi o modo de produção<br />

capitalista que unificou<br />

a economia e, conseqüentemente,<br />

a comunicação”, conta<br />

Reginaldo Aliçandro Bordin,<br />

mestre em Fundamentos da<br />

Educação.<br />

A diversidade de produção<br />

não foi a única mudança na<br />

comunicação. Estudos e pesquisas,<br />

como a Teoria Hipodérmica,<br />

Funcionalismo, entre<br />

outras, foram obtidas a partir<br />

dos MCM. De acordo com Bordin,<br />

existe uma teoria alemã,<br />

que teve seus estudos datados<br />

de 1920, que questiona justamente<br />

os meios de comunicação<br />

de massa e a repercussão<br />

desses na sociedade. “A Escola<br />

de Frankfurt já havia analisado<br />

a tendência das sociedades se<br />

massificarem. Há uma fabricação<br />

do consenso por parte das<br />

agências e meios de comunicação<br />

social. A comunicação<br />

exerce poder, que é resultado<br />

de uma relação econômica que<br />

concentra capital e informação”,<br />

afirma Reginaldo Bordin.<br />

Ele, como professor de filosofia<br />

de vários cursos do Centro<br />

Universitário de Maringá (<strong>Cesumar</strong>),<br />

afirma que “quanto ao<br />

futuro, não há como prever sem<br />

uma margem de erro. Essa é a<br />

primeira lição de casa que um<br />

historiador deve aprender”.<br />

O futuro da TV digital<br />

no Brasil<br />

De acordo com a doutora em<br />

Semiótica Ana Paula Machado<br />

Velho, é difícil acreditar que, um<br />

dia, os meios de comunicação serão<br />

democratizados e todos terão<br />

a mesma oportunidade de expor<br />

suas idéias.<br />

“As grandes mídias apenas<br />

vendem seus produtos para as<br />

minorias [gays, punks, skinheads,<br />

etc], mas isso não é democratização.<br />

O que querem é ganhar<br />

dinheiro”, diz Ana Paula.<br />

Reginaldo concorda: “notícia boa<br />

é aquela que dá lucro”.<br />

Atualmente, há uma discussão<br />

singular entre os profissionais<br />

da área de Comunicação sobre a<br />

próxima façanha tecnológica que<br />

já está na incubadora brasileira.<br />

Essa tecnologia tem como objetivo<br />

a interatividade com o telespectador.<br />

Mas há também quem<br />

questione esta possibilidade.<br />

“Existem coisas que não deram<br />

certo e a TV digital é uma delas,<br />

ou seja, uma tecnologia que, por<br />

algum motivo, não deu certo. Se<br />

temos a internet no nível em que<br />

temos hoje, já era para ter isso<br />

na televisão há muito tempo”, diz<br />

Ana Paula. Ela ainda sugere que<br />

um dos possíveis fatores para a<br />

possibilidade dessa tecnologia<br />

ser inviável é o alto custo.<br />

São tantos os meios da humanidade<br />

se comunicar, tantas<br />

as possibilidades que ao longo<br />

da história foram proporcionadas.<br />

Antes, levava-se meses para<br />

saber informações sobre o outro<br />

lado do mundo. Hoje, utilizando<br />

alguns botões e um aparelho,<br />

tem-se o mundo nas mãos. Não é<br />

por acaso que filósofos como Gilles<br />

Lipovetsky defendem a idéia<br />

de que hoje a humanidade vive<br />

em um caos organizado e que o<br />

futuro é o próprio homem quem<br />

cria. Não há como ter certeza do<br />

futuro dos meios de comunicação,<br />

nem da convivência em sociedade.<br />

Mas, certamente, o homem<br />

continuará se comunicando.<br />

6<br />

“Existem coisas que<br />

não deram certo e<br />

a TV digital é uma<br />

delas”<br />

Ana Paula Machado<br />

51


52<br />

Web 2.0: os novos<br />

Com a implantação do novo conceito, a rede virtual amplia o espaço democrático em<br />

que o usuário tem um controle ainda maior do meio<br />

Leonardo Suzuki<br />

Usufruir de softwares sem necessitar<br />

do CD de instalação. Páginas da web mais<br />

dinâmicas, contendo todos os elementos<br />

para se manter informado. Um universo<br />

onde o internauta, além de receptor é<br />

também produtor; de mero coadjuvante<br />

a ator principal. Essas são algumas das<br />

novidades da Web 2.0, um novo conceito<br />

para a internet, que já começa a ser realidade<br />

no mundo on-line. As facilidades<br />

do novo formato prometem mudar os rumos<br />

do universo digital.<br />

Considerada a segunda geração de<br />

serviços on-line, a Web 2.0 tem por característica<br />

principal ampliar a interação<br />

entre os participantes da internet e<br />

potencializar as formas de publicação,<br />

compartilhamento e organização das informações.<br />

O doutor e professor de Comunicação<br />

Social da Universidade Federal<br />

do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alex<br />

Primo explica no artigo “O aspecto relacional<br />

das interações na Web 2.0” que<br />

esse novo conceito não é apenas uma<br />

combinação de técnicas de informáticas,<br />

mas se refere, também, a um determinado<br />

período tecnológico, a um conjunto<br />

de novas estratégias mercadológicas<br />

e a processos de comunicação mediados<br />

pelo computador.<br />

Primo ressalta que a Web 2.0 traz repercussões<br />

sociais importantes ao potencializar<br />

processos de trabalho coletivo, de<br />

troca afetiva, de produção e circulação<br />

de informações: a construção social de<br />

conhecimento apoiada pela informática.<br />

O termo Web 2.0 foi criado, em 2004,<br />

pelo irlandês fundador da O’Reilly Media,<br />

Tim O’Reilly. A empresa “criadora”<br />

dessa nova plataforma foi a Google. O<br />

intuito é de, cada vez mais, mostrar<br />

agilidade e simplicidade ao usuário de<br />

internet. Exemplo disso é o serviço de<br />

e-mail Gmail, da Google, que vai além<br />

do já conhecido serviço de e-mail. “No<br />

meu e-mail tenho acesso a informações<br />

que acontecem em todo mundo,<br />

posso ver, por exemplo, a<br />

temperatura, bater um papo<br />

instantâneo com os amigos”,<br />

diz a universitária Caroline Farinha<br />

Fernandes. Há, ainda,<br />

outros recursos como o armazenamento<br />

de outras contas<br />

de e-mails, busca rápida e<br />

mais de um gigabyte de espaço<br />

para armazenar as mensagens.<br />

Esses são alguns dos atrativos<br />

que fazem da Web 2.0<br />

uma das apostas da Google.<br />

A empresa está readequando<br />

todos os serviços para<br />

esse padrão, em programas<br />

como o Google Talk (programa<br />

de conversa instantânea)<br />

e o Docs and Spreadsheets,<br />

(programa de armazenamento<br />

de documentos de textos e<br />

planilhas disponibilizados na<br />

Web – um Word virtual), que<br />

não requer instalação. “Logo<br />

quando comprei meu notebook,<br />

não estava instalado o<br />

pacote do [Microsoft] Office.<br />

Tive que procurar uma alternativa<br />

para fazer meus traba-


umos da internet<br />

Leonardo Suzuki<br />

lhos da faculdade. Então, encontrei<br />

na internet essas ferramentas<br />

práticas e que, por sinal, me ajudaram<br />

muito”, conta a estudante<br />

Pamela Pereira.<br />

Proporcionar mais praticidade<br />

ao usuário, que é, também, quem<br />

faz a internet, está entre os objetivos<br />

do Web 2.0. “O usuário deixa<br />

de ser passivo e transforma-se<br />

em ativo nessa nova era da web”,<br />

diz Tarciso Velame, desenvolvedor<br />

web da Tecbra (Tecnologias Avançadas<br />

do Brasil e Software Ltda).<br />

Velame ressalta que o maior<br />

be-nefício para o usuário é a<br />

grande gama de conteúdo ao alcance<br />

dele. “Como exemplo [de<br />

benefícios] podemos citar o site<br />

Wikipédia [www.wikipedia.com],<br />

que é uma espécie de enciclopé-<br />

Contrapontos<br />

53<br />

dia virtual totalmente alimentada<br />

por usuários com conteúdo riquíssimo.<br />

Outros sites famosos como<br />

o Youtube [www.youtube.com] e<br />

Orkut [www.orkut.com] também<br />

são padrão Web 2.0”, cita.<br />

Juan Diego Polo, dono da empresa PoolDigital, escritor e proprietário<br />

do blog sobre Web 2.0 mais lido em espanhol, WwwHatsnew<br />

(wwwhatsnew.com), diz que esse novo jeito de acabar com a figura<br />

do webmaster, responsável pelo conteúdo da web, e delegar a responsabilidade<br />

aos leitores é uma das característica do novo formato.<br />

O fato de, aos poucos, a figura do webmaster ficar escassa,<br />

provoca hipóteses do conteúdo publicado na rede não ser de qualidade<br />

e não ser confiável. “Isso faz que a quantidade de lixo digital<br />

aumente muito. Assim, dá mais responsabilidade ao internauta na<br />

hora de divulgar o que, realmente, é de qualidade”, explica Polo.<br />

O lixo eletrônico, ocasionado pela má administração das informações<br />

que são inseridas na web, é algo negativo e, ao mesmo<br />

tempo, positivo para o desenvolvedor de web Tarciso Velame. Ele<br />

afirma que pelo fato de o usuário ser o responsável pelo conteúdo,<br />

a veracidade das informações, muitas vezes, pode não ser comprovada.<br />

“No Wikipédia [www.wikipedia.com], por exemplo, quem<br />

escreve são os internautas. Então, vemos muitas contradições com<br />

a verdade. Se pesquisarmos, um exemplo, sobre mitologia grega e<br />

romana, vemos em uns artigos uma coisa e, em outros, falando coisas<br />

diferentes. Portanto, não tem como nos fundamentarmos pelo<br />

Wikipédia”, aconselha.<br />

Jornalismo 2.0<br />

Há, aproximadamente, sete anos apareceram os blogs como uma<br />

alternativa para difundir a informação. Jornalista ou não, o usuário<br />

se apropriou de um linguajar do cotidiano para transmitir os fatos<br />

ocorridos, sem ter obrigações editoriais. A partir disso, criaram-se<br />

também os fotologs e videologs. O novo mundo multimídia, aliado<br />

às novas ferramentas de interatividade, encontra-se em processo<br />

de expansão até os dias atuais. Cada dia, mais pessoas procuram<br />

esses meios para se informar e os sites de notícias já estão se adaptando<br />

ao padrão Web 2.0, disponibilizando, por exemplo, um espaço<br />

de interação, como o comentário em notícias.<br />

Aos poucos, o novo padrão vai se encaixando na nova era do<br />

mundo digital. “O processo da transformação está sendo o mais<br />

natural possível, chegando ao ponto de ser quase imperceptível aos<br />

olhos [dos usuários]”, afirma Velame.<br />

“Os maiores portais brasileiros, como Globo [www.globo.com]<br />

e Terra [www.terra.com.br], já se adequaram à nova realidade da<br />

web e têm, inclusive, reportagens enviadas pelos próprios usuários.<br />

Isso é Web 2.0”, enfatiza.<br />

6


54<br />

Robôs programados para amar<br />

Pesquisador britânico afirma que humanos se apaixonarão por máquinas cada vez mais<br />

semelhantes aos homens na aparência e nas ações<br />

Tiago Santos<br />

Michely Massa<br />

Tiago Santos<br />

Programar o preparo de alimentos no microondas ou o trajeto de um carro<br />

no piloto automático já não é novidade, mas uma máquina programa para amar,<br />

sim. Pesquisas apontam que a realidade retratada no filme de Steven Spielberg<br />

“Inteligência Artificial” será possível em um futuro não muito distante. É o que<br />

afirma o britânico David Levy. O pesquisador em Inteligência Artificial (IA) da<br />

Universidade de Maastrich, na Holanda, que concluiu em 2007 seu PhD sobre as<br />

relações entre humanos e robôs, afirma que o conhecimento, a atenção e o afeto<br />

da “pessoa amada” poderão ser programados e sentidos por uma máquina.<br />

Segundo Levy, as pessoas vão se apaixonar por robôs. Ele acredita que o que<br />

leva à paixão são os gostos em comum e a admiração pelo conhecimento do outro,<br />

o que poderia ser programado. Na pesquisa, ele afirma que a dúvida já não<br />

é saber se isso vai acontecer, mas quando essa realidade vai se tornar possível.<br />

A previsão é que seja ainda neste século.<br />

Para Sérgio Souza, professor de Inteligência Artificial do curso de Informática<br />

da Universidade Estadual de Maringá (UEM), apesar do rápido avanço na área,


tais projeções são pouco prováveis.<br />

“As evoluções tecnológicas<br />

estão além do que é apresentado<br />

ao grande público. Existem pesquisas,<br />

inclusive em robótica, que<br />

poucos têm acesso. Mas, acho que<br />

casar ou mesmo se apaixonar por<br />

máquinas é inimaginável, pelo<br />

menos num futuro próximo.”<br />

Souza diz acreditar que, justamente<br />

pela velocidade das transformações<br />

em IA, prever a realidade<br />

dos próximos 50 ou 100<br />

anos pode ser tão complexo como<br />

as relações humanas. “Ser humano<br />

vai além de reações físicas,<br />

que até podem ser programadas.<br />

É uma relação entre mente e corpo.<br />

Agora, afirmar que a criação<br />

de uma consciência em um robô<br />

que o torne ‘humano’ não vai existir<br />

pode ser perigoso. Humanos se<br />

apaixonam por humanos, se relacionam<br />

afetivamente e sexualmente<br />

com humanos. Se daqui a<br />

100 anos isso vai acontecer com<br />

máquinas, não sei.”<br />

Para a psicopedagoga Anna Carolina<br />

Taddei, sentimentos como a<br />

paixão poderão ser direcionados<br />

aos robôs se estes tiverem aparência<br />

muito próxima aos humanos.<br />

“Hoje, é praticamente impossível<br />

alguém se apaixonar por<br />

Cinema futurista<br />

uma máquina porque o que se vê<br />

não é nada parecido com a gente,<br />

é apenas máquina. Mas, se no futuro<br />

o robô tiver traços humanos<br />

e, principalmente, a figura de uma<br />

perfeição física, o que é buscada<br />

cada vez mais, acredito que as<br />

pessoas poderão se apaixonar por<br />

eles. Inclusive eu”, vislumbra.<br />

Máquina de prazer<br />

Segundo a reportagem “Robôs<br />

travam batalhas em torneio japonês”,<br />

publicada no site “Folha Online”<br />

(www.folhaonline.com.br),<br />

em 24 de março deste ano, o Japão<br />

é responsável pela produção<br />

de 40% da tecnologia robótica do<br />

mundo. Lá, já existem robôs que<br />

jogam bola, cuidam de crianças,<br />

respondem a diversas perguntas,<br />

auxiliam no cuidado com os idosos,<br />

entre outras funções.<br />

Apesar do avanço, ainda não<br />

se tem falado muito de robôs que<br />

pratiquem sexo. Segundo o pesquisador<br />

David Levy, caso um humano<br />

venha a se relacionar afetivamente<br />

com um robô, isso não<br />

será problema. Umas das possíveis<br />

novidades é que os humanóides<br />

(robôs com características<br />

semelhantes aos humanos) poderão<br />

fazer sexo com movimentos e<br />

Se na robótica atual a relação do homem com máquinas - que estão cada vez mais parecidas, física e<br />

comportamentalmente, com os seres humanos - está há longos passos da realidade, no cinema isso já<br />

é assunto antigo. Confira a relação de alguns filmes que já retrataram o envolvimento do homem com<br />

robôs:<br />

• Metrópolis - 1926<br />

• 2001 - Uma Odisséia no Espaço - 1968<br />

• Westworld - Onde Ninguém Tem Alma - 1973<br />

• Ano 2003 - Operação Terra – 1976<br />

• Blade Runner, O Caçador de Andróides – 1982<br />

• O Exterminador do <strong>Futuro</strong> I, II e III (1984, 1991 e 2003)<br />

• Robocop I, II e III (1987, 1990 e 1993)<br />

• Bill & Ted - Dois Loucos no Tempo – 1991<br />

• O Soldado do <strong>Futuro</strong> – 1998<br />

• O Homem Bicentenário – 1999<br />

• Matrix, Matrix Reloaded e Matrix Revolution (1999, 2003 e 2003)<br />

• Inteligência Artificial – 2001<br />

• Capitão Sky e o Mundo de Amanhã – 2004<br />

• <strong>Eu</strong>, Robô – 2004<br />

• Daft Punk’s Electroma – 2006<br />

• Transformers – 2007<br />

• Série Guerra nas Estrelas;<br />

55<br />

sussurros idênticos aos humanos.<br />

O estudante de Mecatrônica do<br />

Centro Universitário de Maringá<br />

(<strong>Cesumar</strong>) Gleison Oberlaitner é<br />

pesquisador em robótica. No ano<br />

passado, ele desenvolveu um robô<br />

com habilidades para sair de qualquer<br />

tipo de labirinto. Oberlaitner<br />

diz acreditar que, mediante a realidade<br />

da robótica de hoje, o tipo<br />

de previsão feita por Levy pode<br />

não acontecer tão rápido como o<br />

previsto. “Não acredito que essa<br />

tecnologia seja para agora. Se fôssemos<br />

pensar a estrutura de um<br />

robô, hoje, seria impossível uma<br />

relação mais íntima entre um robô<br />

e um ser humano. Não agüentaríamos<br />

sequer o peso do braço de<br />

uma máquina dessas.”<br />

A psicóloga Gláucia Brida, especialista<br />

em psicologia social, diz<br />

acreditar que o relacionamento do<br />

homem com a máquina está cada<br />

vez mais intenso. Pensar em uma<br />

aproximação como a que Levy<br />

prevê, é mergulhar num mundo<br />

de suposições infinitas. “É muito<br />

mais fácil um ser humano direcionar<br />

amor e carinho a um animal<br />

de estimação do que a um robô.<br />

Um robô jamais poderá retribuir<br />

afeto a um humano.”<br />

Divulgação<br />

6


56<br />

Passado de Maringá pode<br />

Vanessa Cancian<br />

Especialistas e moradores da cidade divergem quanto à demolição de construções como a<br />

rodoviária velha; há risco de não se conservar valores culturais


não ter futuro<br />

Gutembergue Lima<br />

57<br />

O município de Maringá, localizado<br />

na região noroeste do<br />

Paraná, embora em 2008 tenha<br />

completado 61 anos, pode até ser<br />

considerado jovem se comparado<br />

a outros do Estado como a capital<br />

Curitiba, que tem 315 anos e Paranaguá,<br />

360. A história da Cidade<br />

Canção está ligada à colonização<br />

da região Norte e Noroeste do<br />

estado, iniciada logo na segunda<br />

década do século passado.<br />

Pioneiros vindos de todos os<br />

cantos, especialmente de São<br />

Paulo, ajudaram a construir a cidade<br />

que desponta como uma das<br />

melhores para se viver no Brasil.<br />

Seis décadas depois, começa<br />

um debate: a conservação de um<br />

passado recente; entre o que é ou<br />

não relevante para o patrimônio<br />

histórico da cidade.<br />

A questão tem sido observada<br />

de perto pela Promotoria de<br />

Defesa do Meio Ambiente, órgão<br />

público responsável em Maringá<br />

pelos processos envolvendo<br />

o patrimônio público. De acordo<br />

com o promotor de Justiça Manoel<br />

Ilecir Heckert, 63, foi feita uma<br />

recomendação administrativa ao<br />

município para que se fi zesse um<br />

levantamento das construções sujeitas<br />

a tombamentos. No entanto,<br />

não houve manifestação da<br />

prefeitura. “Até hoje aguardamos<br />

essa resposta do município”, comenta.<br />

A situação se agravou ainda<br />

mais com as discussões em torno<br />

da demolição do prédio da Estação<br />

Rodoviária Américo Ferraz,<br />

conhecida por “rodoviária velha”,<br />

inaugurada em 1962. O prédio,<br />

localizado no centro da cidade, foi<br />

interditado no fi nal de 2006 após<br />

um temporal que causou o desabamento<br />

de parte da estrutura<br />

metálica. De lá para cá, diversos<br />

setores, públicos e privados, começaram<br />

a discutir o que fazer<br />

com o prédio, agora abandonado.<br />

A discussão pode ser a ponta<br />

do iceberg de uma questão que<br />

necessita de refl exão: o passado<br />

de Maringá pode não ter futuro. O


58<br />

“Pelo ponto de vista<br />

social, acredito que<br />

a rodoviária tem um<br />

estereótipo de local<br />

propício para ponto de<br />

prostituição e consumo<br />

e venda de drogas”<br />

Aliomar Temporini Reis<br />

alerta é feito por especialistas que<br />

afirmam que a pouca idade não<br />

limita o armazenamento de histórias<br />

de vida e valores culturais<br />

guardados em diversos pontos da<br />

cidade. “A história não pode ser<br />

preservada apenas na memória<br />

ou em livros, precisa da conservação<br />

em um aspecto vivo, ou seja,<br />

mantendo prédios e construções<br />

significativas”, argumenta o promotor<br />

Heckert.<br />

Além da antiga estação rodoviária,<br />

a cidade dispõe de outros<br />

lugares históricos, como os dois<br />

museus, da Bacia do Paraná e Multidisciplinar,<br />

instalados no campus<br />

da UEM (Universidade Estadual<br />

de Maringá), parte do prédio da<br />

CMNP (Companhia Melhoramentos<br />

do Norte do Paraná), construtora<br />

que fundou a cidade, que foi reformado<br />

para abrigar uma repartição<br />

pública. Outros pontos como<br />

o Hotel Bandeirantes e as capelas<br />

Santa Cruz e São Bonifácio também<br />

figuram na lista do patrimônio<br />

local.<br />

Na opinião do historiador João<br />

Laércio Lopes Leal, 41, a cidade<br />

possui história e elementos suficientes<br />

para justificar a fundação<br />

de um museu histórico maior,<br />

como vem sendo defendido por<br />

outros especialistas. “A própria<br />

estação rodoviária representa o<br />

movimento migratório, o ir e vir.<br />

Concentra a parte da história do<br />

município. A carga histórica existe<br />

em várias partes da cidade, independentemente<br />

do valor arquitetônico<br />

ou cultural.”<br />

Outros locais podem ser tombados<br />

Será que existe planejamento<br />

para que o crescimento de Maringá<br />

preserve, de alguma forma, as<br />

características originais que no futuro<br />

poderão ser considerados elementos<br />

históricos? Esta é a preocupação<br />

do Ministério Público do<br />

Paraná, que encomendou à UEM<br />

uma pesquisa sobre a importância<br />

histórica e cultural de alguns<br />

locais no município.<br />

O estudo iniciado ano passado<br />

avalia pelo menos 50 construções.<br />

O desenvolvimento está a cargo<br />

de três professores da UEM. O arquiteto<br />

Oigres Leici Macedo, a historiadora<br />

e doutora em Patrimônio<br />

Histórico Sílvia Zanirato e a pósdoutoranda<br />

e coordenadora do<br />

Observatório das Metrópoles, Ana<br />

Lúcia Rodrigues foram nomeados<br />

pela universidade como membros<br />

da comissão multidisciplinar responsável<br />

pela entrega dos laudos.<br />

O primeiro relatório entregue<br />

pela comissão teve como objeto<br />

de análise a estação rodoviária e<br />

concluiu que o prédio não deveria<br />

ser demolido. “O local compõe<br />

a paisagem do planejamento<br />

original feito para Maringá pelos<br />

engenheiros [da CMNP]. É uma<br />

testemunha da história não só<br />

da cidade, mas, como do início<br />

da chegada de muitas famílias à<br />

cidade”, diz Ana Lúcia Rodrigues,<br />

45. Ela defende ainda o valor de<br />

memória do local. “É uma construção<br />

que encerra a tipologia modernista<br />

na arquitetura brasileira”,<br />

justifica.<br />

A moradora Veroni Friedrich,<br />

35, organizou um dos abaixo-assinados<br />

entregues à Promotoria<br />

Pública e que embasam uma ação<br />

civil pública que corre na Justiça.<br />

Formada em História, Veroni é<br />

uma das defensoras da preservação<br />

do patrimônio de Maringá, especialmente<br />

do prédio da rodoviária<br />

velha. Ela questiona a decisão<br />

da Comissão de Patrimônio Histórico<br />

que, no ano passado, bateu o<br />

martelo pela demolição do local.<br />

Para moradores como Satilla<br />

Castro, 20, é preciso conscientização.<br />

“Maringá pode ser nova e<br />

tudo, mas o pouco de história que<br />

tem precisa ser guardado”, avalia.<br />

No entanto, para outros moradores,<br />

conservar certos locais da<br />

cidade seria desnecessário diante<br />

de outras carências. O auxiliar<br />

administrativo Aliomar Temporini<br />

dos Reis, 25, diz acreditar que do<br />

ponto de vista histórico seria uma<br />

“lástima” a demolição de construções<br />

como a velha estação.<br />

No entanto, Temporini condena<br />

a permanência do prédio por sua<br />

carga negativa. “Pelo ponto de<br />

vista social, acredito que a rodovi-


“<br />

Historiador diz<br />

que, Maringá possui<br />

história e elementos<br />

suficientes para<br />

justificar a fundação<br />

de museu histórico<br />

maior<br />

”<br />

ária tem um estereótipo de local propício<br />

para ponto de prostituição e consumo e<br />

venda de drogas. Mesmo que restaurem,<br />

não perderia esse rótulo”.<br />

Argumentos como estes são combatidos<br />

na visão da Promotoria, como afirma<br />

Manoel Ilecir Heckert. “Esses problemas<br />

[como algazarra, consumo de<br />

drogas e prostituição] acontecem em<br />

outras praças como as da Prefeitura e<br />

da Catedral. Deveríamos então pedir a<br />

demolição desses lugares também?”,<br />

argumenta. Ainda na opinião do promotor,<br />

esses problemas devem ser<br />

combatidos com a assistência social<br />

e com a segurança pública em ações<br />

efetivas e não com demolições.<br />

A professora de artes Lucimar Gasparoto,<br />

42, tem a mesma opinião. Ela<br />

diz ser a favor da preservação de todo<br />

e qualquer patrimônio histórico, desde<br />

que o mesmo não ponha em risco<br />

a segurança da população. “Refazer<br />

as estruturas da rodoviária velha iria<br />

custar muito caro aos cofres públicos<br />

e não sei se o dinheiro seria bem empregado.”<br />

Para Aliomar Temporini uma opção<br />

para revitalizar o local seria a construção<br />

de um calçadão, devido ao fluxo de<br />

pessoas que acessam o terminal urbano.<br />

Lucimar não concorda. Na opinião<br />

da professora do estado, o poder público<br />

deveria priorizar a investimentos<br />

em saúde e educação. “O dinheiro público<br />

em primeiro lugar deve ser utilizado<br />

na preservação de pessoas. Os<br />

monumentos históricos também precisam<br />

ser conservados, mas não é a<br />

Acervo Museu da Bacia do Paraná/UEM<br />

59


60<br />

Acervo/UEM<br />

“ Na avaliação do<br />

promotor Heckert,<br />

problemas de<br />

desordem social<br />

também acontecem<br />

em outros locais<br />

como as praças da<br />

Prefeitura e da<br />

Catedral.<br />

‘Deveríamos pedir<br />

a demolição desses<br />

lugares também?’<br />

”<br />

prioridade para a população”. Nos<br />

planos da Prefeitura de Maringá,<br />

no local deverá ser construído um<br />

novo edifício comercial com 36<br />

andares, o mais alto do centro da<br />

cidade.<br />

A comunidade deve se empenhar<br />

para a preservação do patrimônio<br />

histórico e cultural. Esta é<br />

a recomendação do promotor do<br />

Meio Ambiente, Manoel Ilecir Heckert.<br />

“Qualquer pessoa pode fazer<br />

um abaixo-assinado e encaminhar<br />

para a Secretaria de Cultura.<br />

Caso isso não surta efeito, pode<br />

ser encaminhado à Promotoria.”<br />

Órgão administra<br />

patrimônio<br />

há duas décadas<br />

Em 1984, o município<br />

criou uma gerência<br />

para o patrimônio histórico,<br />

que funciona<br />

no segundo piso do<br />

Teatro Calil Haddad.<br />

O órgão ligado à Secretaria<br />

de Cultura conserva inúmeros<br />

documentos, fotos e objetos que<br />

ajudam a contar a história de Maringá. O historiador<br />

João Laércio Lopes Leal trabalha na gerência<br />

há 23 anos e faz questão de enfatizar que a cidade possui<br />

muita história para contar, mesmo tendo poucas décadas de<br />

existência. “A questão da preservação desses locais, como a<br />

antiga rodoviária, não se prende a questões de tempo e sim às<br />

relações sociais”.<br />

Painel<br />

Moradores divergem. Será mesmo que a cidade não se<br />

preocupa com a preservação do patrimônio histórico?<br />

Aliomar Temporini Reis<br />

25 anos<br />

“Seria lamentável a demolição<br />

de construções como a<br />

velha rodoviária. Mas acho<br />

que neste caso será necessário.<br />

A carga negativa é muito<br />

grande.”<br />

De acordo com Ana Lúcia Rodrigues,<br />

levantar dados no processo<br />

de avaliação das construções<br />

apontadas pelo MP como<br />

possíveis pontos para tombamento<br />

tem sido uma tarefa difícil.<br />

“Quando os dados já estão no<br />

projeto Memória [da Secretaria<br />

de Cultura], ajuda bastante”, re-<br />

Satilla Castro<br />

20 anos<br />

“Maringá pode ser nova e<br />

tudo, mas o pouco de história<br />

que tem precisa ser bem<br />

guardado”<br />

vela. A professora conta ainda que<br />

encontra difi culdades no acesso a<br />

documentos e nomes de possíveis<br />

fontes. “Não é fácil. Quando a difi<br />

culdade não é a própria inexistência<br />

de fontes, esbarramos na<br />

demora para liberação dos dados<br />

pelos órgãos responsáveis”, desabafa.<br />

6


Alfon<br />

Vinil<br />

não é espécie<br />

em extinção<br />

Mesmo com diminuição da produção, o famoso “bolachão” ainda é<br />

preferência de muitos; de acordo com o eBay, maior site de leilões<br />

do mundo, seis LPs são comercializados a cada minuto<br />

61


62<br />

Thales de Paiva<br />

Com a invenção do Compact<br />

Disc (CD) no final da década de<br />

1980, imaginou-se que os dias do<br />

Long Play (LP) estavam contados.<br />

A inovação prometia vantagens<br />

sobre o vinil. O tamanho, a durabilidade<br />

e a qualidade do som<br />

(esta, muitas vezes questionada)<br />

pareciam ameaçar a existência<br />

dessa mídia desenvolvida no início<br />

da década de 1950.<br />

Entretanto, os CDs, que surgiram<br />

para substituir o LP, perdem<br />

mais espaço a cada download.<br />

A venda de músicas em formato<br />

digital cresceu 60% em 2007,<br />

enquanto a venda de CDs caiu<br />

19,3%. A informação é da empresa<br />

que registra o comércio de música<br />

nos Estados Unidos e Canadá,<br />

Nielsen SoundScan. Enquanto<br />

isso, o vinil, depois de quase 30<br />

anos, parece resistir ao tempo,<br />

mesmo com novas tecnologias.<br />

Cada vez mais considerado objeto<br />

de estima, o LP, que se restringiu<br />

nos últimos anos ao universo<br />

dos sebos e da música eletrônica,<br />

está reaparecendo, ainda que em<br />

um mercado alternativo. O eBay,<br />

maior site de leilões do mundo, ao<br />

ser questionado sobre o volume<br />

de vendas de LPs entre os usuários,<br />

respondeu que cerca de seis<br />

discos são comercializados a cada<br />

minuto. Considerando-se que esta<br />

média seja mantida, são mais de<br />

três milhões de vinis por ano.<br />

Para a Associação Brasileira<br />

dos Produtores de Discos (ABPD),<br />

o vinil deixou de existir em 1997,<br />

quando as últimas grandes gravadoras<br />

deixaram de produzi-los.<br />

Mas, na <strong>Eu</strong>ropa, Japão e Estados<br />

Unidos, não é bem o que acontece.<br />

Nesses países é comum encontrar<br />

lançamentos em vinil, mesmo que<br />

a produção seja em volume bem<br />

menor do que a anos atrás.<br />

Dentro do mercado pop não há<br />

mais produção em LP, salvo exceções<br />

como pequenas tiragens promocionais<br />

junto ao lançamento<br />

do CD. Já, no cenário da música<br />

eletrônica, o vinil ainda é produzido<br />

em diversos subgêneros, especialmente<br />

no reggae e derivados.<br />

“O vinil é fabricado no formato<br />

single [apenas uma música] e tem<br />

encontrado maior uso dentro do<br />

mercado de dancehall, dubstep,<br />

raggae e drum’n’bass [estilos derivados<br />

do reggae]. Sua produção<br />

caiu significativamente, mas acredita-se<br />

que o formato não irá se<br />

extinguir”, conta Xerxes de Oliveira,<br />

mais conhecido por Dj Xerxes,<br />

que apesar de não trabalhar mais<br />

com vinis, diz apreciar o formato.<br />

Mesmo com falta de lançamentos<br />

e o mercado restrito no que<br />

tange à produção, a diferença de<br />

realidades não desanima os que<br />

gostam do som analógico do vinil.<br />

Dono de um sebo no centro de<br />

Maringá há seis anos, Robespierre<br />

Lima afirma que a procura por LPs<br />

é considerável. “Mesmo em dias<br />

mais fracos [de movimento], tenho,<br />

em média, vinte clientes que<br />

procuram e compram LPs.” Ele diz<br />

também preferir os vinis, mas que<br />

devem estar juntos a um toca-dis-<br />

“<br />

Iphan pretende<br />

conceder à última<br />

fábrica de LPs no<br />

Brasil registro de<br />

patrimônio cultural<br />

imaterial<br />


cos adequado.<br />

Danilo Donatto<br />

Ao perceber a demanda por vinis,<br />

algumas fábricas apostam em<br />

novos modelos de toca-discos. Um<br />

exemplo é o aparelho japonês ELP<br />

Corp, uma nova vitrola que, em<br />

vez da tradicional agulha, dispõe<br />

de um leitor a laser. Mas, assim<br />

como o produto da inglesa Vestax,<br />

que faz a conversão do vinil para<br />

arquivos MP3, os novos toca-discos<br />

têm preços não muito acessíveis,<br />

ao contrário dos Long Plays.<br />

No Brasil, a última fábrica de<br />

LPs, a Polysom, vive um dilema<br />

entre fechar ou não as portas. No<br />

fim de 2007, a fábrica localizada<br />

em Belford Roxo (RJ), anunciou<br />

o fim de suas atividades. Porém,<br />

atendendo ao pedido do Ministério<br />

da Cultura, o Iphan (Instituto<br />

do Patrimônio Histórico e Artístico<br />

Nacional) pretende conceder<br />

à fábrica o registro de Patrimônio<br />

Cultural Imaterial. Com o tombamento,<br />

seria permitido à Polysom<br />

captar recursos pela Lei Rouanet.<br />

Com ou sem lançamentos em<br />

vinil, o fato é que esse mercado<br />

alternativo, no qual os discos usados<br />

continuam sendo comercializados,<br />

tem muita procura. Ainda<br />

que a preços bem variados. Afinal,<br />

é comum encontrar bons títulos<br />

por menos de R$ 3,00 e, ao mesmo<br />

tempo, raridades que podem<br />

custar mais de R$ 10 mil a unidade,<br />

como os primeiros discos dos<br />

Beatles.<br />

As características desse mercado<br />

têm se mostrado realmente<br />

atrativas para muitos. O acadêmico<br />

do curso de música da UEM<br />

José Gustavo Ruiz diz comprar vinis<br />

com freqüência. Além do gosto<br />

pela sonoridade que o formato<br />

proporciona, ele aponta os preços<br />

acessíveis e a diversidade como<br />

pontos favoráveis. “<strong>Eu</strong> sempre<br />

encontro coisas interessantes nos<br />

sebos. Os títulos de música erudita<br />

são muito baratos e os discos<br />

sempre estão bem conservados.”<br />

Outro fator relevante é que<br />

muitos títulos lançados em vinil<br />

não chegaram a ser produzidos<br />

em CD. O coordenador do curso<br />

de música da Universidade Estadual<br />

de Maringá (UEM), Marcus<br />

Alessi Bitencourt, conta que esse<br />

é um dos motivos pelo qual chegou<br />

a formar uma coleção de mais<br />

de mil vinis. “Era a maneira mais<br />

acessível de se formar um acervo<br />

de qualidade por um custo baixo.<br />

Além disso, o trabalho de muitos<br />

compositores, especialmente do<br />

início do século 19, só podem ser<br />

encontrados em vinil”, diz Bitercourt.<br />

O LP é a escolha da maioria dos<br />

audiófilos (aqueles que primam<br />

pela alta fidelidade do som). Eles<br />

argumentam a preferência pelo<br />

fato do armazenamento de áudio<br />

ser mais fiel ao som original. A escolha<br />

também é daqueles que querem<br />

ter o disco sem pagar muito<br />

por isso, independentemente do<br />

conceito de qualidade de áudio. A<br />

decadência precoce dos Compact<br />

Disc faz parecer que indispensável<br />

mesmo, só o bom e velho vinil.<br />

6<br />

“Sempre encontro<br />

coisas interessantes<br />

nos sebos. Os títulos<br />

de música erudita são<br />

muito baratos e os<br />

discos sempre estão<br />

bem conservados”<br />

José Gustavo Ruiz<br />

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