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Maringá, novembro de 2008<br />
Distribuição gratuita<br />
<strong>Eu</strong> tenho<br />
FUTURO
<strong>Eu</strong> tenho<br />
FUTURO<br />
EDITOR<br />
Fábio Massalli<br />
EDITORIALISTA<br />
Carina Veltrini<br />
REDAÇÃO<br />
André Dias<br />
André Leandro de Mello<br />
Carina Veltrini<br />
Daiane Siqueira<br />
Danielle Sgorlon<br />
Danilo Donato<br />
Elise Yoshida<br />
Fernanda Steigenberg<br />
Flávia Torres<br />
Gutembergue Lima<br />
Heloísa Beraldo<br />
Jaqueline Souza<br />
Jheine Evelim<br />
Leonardo Suzuki<br />
Michely Massa<br />
Rogério Mori<br />
Thales Paiva<br />
Tiago Santos<br />
Vanessa Cancian<br />
CAPA<br />
Vanessa Cancian/DV Studio<br />
EDITORES DE FOTOGRAFIA<br />
Danilo Donato<br />
Vanessa Cancian<br />
DIAGRAMAÇÃO<br />
Gutembergue Lima<br />
Rogério Mori<br />
IMPRESSÃO<br />
Gráfica Arenito<br />
A revista <strong>Eu</strong> <strong>Tenho</strong> FUTURO é uma publicação<br />
experimental dos alunos do 4º ano de Comunicação Social<br />
(Jornalismo), na disciplina de Edição.<br />
Centro Universitário de Maringá (<strong>Cesumar</strong>)<br />
Av. Guedner, 1.610, Jardim Aclimação<br />
Maringá - Paraná - CEP 87050-2390<br />
Telefone: (44) 3027-6360 - www.cesumar.br<br />
Reitor: Wilson de Matos Silva<br />
Vice-reitor: Wilson de Matos Silva Filho<br />
Coordenadora de Comunicação Social: Cibele Abdo Rodella<br />
Professor responsável e edição final: Fábio Massalli (MTb 3545)<br />
Endereço eletrônico: revistaeutenho@gmail.com<br />
Proibida a reprodução deste material sem autorização<br />
prévia e escrita do editor. Todas as informações e opiniões<br />
são de responsabilidade dos respectivos autores.<br />
Bibliografia<br />
Boa alimentação garante futuro melhor<br />
www.saude.gov.br<br />
www.portalamozonia.locaweb.com.br<br />
www.cetcafe.com.br<br />
www.bandilu.blogspot.com<br />
Fotografias e gráficos<br />
As fotografias e gráficos que aparecem nas páginas 6, 8, 24, 29, 30, 31, 32, 40,<br />
53, 54 e 55 da revista são reproduzidas sob as condições de “justo uso” para fins<br />
educacionais.
<strong>Futuro</strong> do presente<br />
Carina Veltrini<br />
Duas sementes se unem em uma só e, não se sabe como nem onde – ou, ao<br />
menos, por que –, um instante depois do presente, nasce ali o futuro. O futuro,<br />
formado por grandes expectativas, esperanças e todo o tempo que está por vir. Esse<br />
segundo inquestionável e inevitável – não é possível, ainda, parar no tempo -, que<br />
vem com todas as leis da física, biologia, química, com a ação da gravidade, do tempo,<br />
com todos os sintomas e conseqüências. O futuro está ali.<br />
Que nos resta senão esperá-lo? Ansiosa e medrosamente, o ser humano espera<br />
pelo que vai vir, pelo destino, que, talvez sim, talvez não, esteja traçado em livros<br />
celestiais. Mas o ser humano não sabe esperar, muito menos algo que nunca vem,<br />
o instante que nunca chega, o algo que é feito de tempo. O futuro é longínquo, puro<br />
mistério do não-saber. E é exatamente esse não-saber é o que instiga e excita a<br />
imaginação.<br />
Foi isso que estimulou cineastas, pensadores, meros mortais a pensarem no<br />
futuro. Algumas dessas previsões, criadas por imaginações supremas, ainda não se<br />
materializaram. Outras deveriam ter sido feitas há tempos, para que pudéssemos<br />
prever a falta de água, de comida, o aquecimento global, até mesmo a pobreza.<br />
As previsões podem mover o mundo. George Orwell moveu mentes com o<br />
“1984”, profetas moveram a fé, Nostradamus move a imaginação. Não moramos, mas<br />
pisamos na Lua com Neil Armstrong; e – o melhor – o mundo não acabou em 2000.<br />
Como em um livro de Clarice Lispector, estamos “grávidos do futuro”. Ele se faz<br />
em nós e simplesmente se materializa, como mágica, como um presente dado todos<br />
os dias, horas, minutos. Vivemos por causa dele.<br />
Muito mais do que simples objeto de estudos, de teorias, muito mais do que tempo<br />
lexical, tempo que está por vir, recheado por uma infinidade de mistério, o futuro não<br />
passa de uma construção. Construção, esta, realizada com nossas próprias<br />
mãos. Com as suas também.<br />
Boa leitura.<br />
6<br />
3
sumário<br />
<strong>Eu</strong> tenho<br />
FUTURO<br />
A vida após o câncer<br />
[10]<br />
Viver significa escolher<br />
eternamente [6]<br />
Planeta do mar<br />
de areia [29]<br />
O caminho promissor<br />
do agronegócio [21]<br />
O amanhã a partir da História [8], O tempo passa e se p<br />
anos [15], Curtindo a vida adoidado [18], Transgênico t<br />
colher o futuro [27], Tecnologia pode estabelecer novo p<br />
dades batem à porta e o amor pula a janela [48], Web 2
Boa alimentação<br />
garante futuro<br />
melhor [33]<br />
Poupando para o<br />
futuro [44]<br />
O camaleão da<br />
comunicação busca<br />
novos estilos<br />
tecnológicos [50]<br />
Passado de Maringá<br />
pode não ter futuro<br />
[56]<br />
Vinil não é espécie<br />
em extinção [61]<br />
erpetua em “Era uma vez...” [13], O futuro pertence aos que têm mais de 60<br />
raz mais benefícios para a saúde e para o bolso [23], Plantar fl orestas para<br />
apel para professor [36], Troca que auxilia e investe no futuro [40], Difi cul-<br />
.0: os novos rumos da internet [52], Robôs programados para amar [54]
6<br />
Viver significa escolher<br />
eternamente<br />
Na concepção de Sartre, existir significa<br />
projetar-se adiante de si; assim, o homem<br />
vive por antecipação o futuro almejado<br />
André Dias de Andrade<br />
“O homem faz-se; ele não está pronto logo de início; ele se<br />
constrói escolhendo a sua moral; e a pressão das circunstâncias<br />
é tal que ele não pode deixar de escolher uma moral.” Com essa<br />
avaliação, pronunciada em 1945 na Conferência “O existencialismo<br />
é um humanismo”, o pensador francês Jean-Paul Sartre considera,<br />
enfim, que todas as ações humanas não são motivadas,<br />
mas intencionais e visam algo que não existe ou ainda não foi<br />
alcançado. A mola propulsora de toda ação seria antes o futuro do<br />
que o passado ou o presente.<br />
O futuro, no entendimento da filosofia existencialista de Sartre<br />
(uma das únicas que considera essa temática como determinante),<br />
representa a causa fundamental dos atos e vivências<br />
humanas. O “desejo de futuro” que cada um possui é, antes de<br />
tudo, a razão principal de sua existência. Assim, o homem é um<br />
ser que existe e se auto-determina indefinidamente, baseando-se<br />
em projetos que objetivam conseguir algo que ele não possui no<br />
presente momento. A realidade presente ou o passado, então,<br />
influem no homem negativamente, já que representam algo que<br />
está condenado a desaparecer.<br />
Esse homem que se define indeterminadamente ao longo de<br />
sua vida é, para Sartre, livre para escolher, pois não possui uma è<br />
James Andanson Sygma<br />
“<br />
o homem ao fazer<br />
escolhas, vai se auto<br />
determinar como<br />
ser existente<br />
”
natureza dada, acabada. Quando<br />
o filósofo argumenta que “a<br />
existência [do homem] precede<br />
a essência” quer, primeiramente,<br />
afirmar que o ser humano é um<br />
processo de existir, marcado mais<br />
pela mudança do que pela permanência.<br />
No entender do PhD em<br />
filosofia José Belluci Caporallini,<br />
o que caracteriza as escolhas humanas<br />
é a vontade insaciável de<br />
cumprir algum objetivo, alcançando<br />
o futuro tão desejado. “O homem<br />
nasce e tem de fazer suas<br />
escolhas, vivê-las independentemente<br />
para onde essas escolhas o<br />
possam levar. Esse homem nasce<br />
livre, vive livre e tem de escolher<br />
em virtude de sua própria existência.<br />
Não existe ninguém que em<br />
face da vida possa viver de modo<br />
neutro. Deste modo, o homem ao<br />
fazer escolhas, vai se auto determinar<br />
como ser existente que está<br />
sendo e existente que enfim será<br />
até o término de sua vida”, explica.<br />
“<br />
O homem é<br />
condenado a<br />
ser livre<br />
”<br />
7<br />
Danilo Donato<br />
A liberdade de escolha figura,<br />
nesse ponto, como sendo de<br />
essencial importância para compreender<br />
o homem e o porquê de<br />
suas ações. Para a psicóloga e<br />
gestalt-terapeuta (linha humanista-existencial<br />
da Psicologia) Giordane<br />
Andrade de Paula, “todo ato<br />
humano é intencional e deve ser<br />
compreendido através de si próprio,<br />
já que o próprio homem é o<br />
melhor interprete de si e é o único<br />
ser capaz de projetar-se e antecipar<br />
a si mesmo. O homem é aquilo<br />
que decide ser e em constante<br />
transformação”.<br />
Viver, então, significa escolher<br />
e escolher significa adquirir responsabilidades<br />
por essa ação ou,<br />
como expressava Sartre na década<br />
de 1960 e auge do movimento<br />
existencialista, “o homem é condenado<br />
a ser livre; porque uma<br />
vez inserido no mundo, ele é responsável<br />
por cada ato seu”.<br />
6
8<br />
O amanhã a partir da<br />
HISTÓRIA<br />
Perspectivas de futuro a<br />
partir do que aconteceu<br />
no passado; a sociedade,<br />
e em conseqüência muitos<br />
teóricos, sempre tentaram<br />
traçar uma previsão para o<br />
futuro da humanidade na<br />
Terra.<br />
Danilo Donato<br />
Marc Wathieu<br />
O tempo sempre foi e sempre será um problema para o ser humano<br />
e tentar prever o dia de amanhã sempre rodeou seu imaginário. Até a<br />
Idade Média, a sociedade nunca se importou muito com o seu futuro<br />
em longo prazo. A partir da Revolução Industrial, porém, o homem<br />
começa a traçar perspectivas - otimistas e pessimistas - em relação a<br />
sua permanência na Terra.<br />
“A preocupação com o futuro surge somente quando o dinheiro passa<br />
a ter mais importância na sociedade e quando começa a surgir uma<br />
nova classe social: a burguesia”, explica o professor de História do<br />
Colégio Objetivo de Maringá, Kleber Men. Até essa época, só existiam<br />
três classes sociais: o clero, a monarquia e os servos. A burguesia é a<br />
primeira classe social a começar a planejar o futuro, por meio do máximo<br />
acúmulo de capital possível para conseguir ter uma vida de nobre.<br />
Mas é na era Moderna que acontecesse a maior transformação da<br />
ação do homem sobre o tempo por meio da primeira Revolução Industrial.<br />
Segundo o historiador Renato Moscatelli, que leciona História<br />
da Filosofia na Universidade Estadual de Maringá (UEM), os povos do<br />
ocidente tiveram mudanças significativas no modo de vida. Só o fato<br />
da formação de indústrias acarretou uma série de mudanças, seja nos<br />
hábitos alimentares ou no ritmo do cotidiano, que passou a ser condicionado<br />
pela ditadura implacável do relógio, seja nas relações de trabalho,<br />
que passam a ter características do capitalismo. “É a partir da<br />
Revolução Industrial que o tempo passa ter maior valor”, conta Men.
Previsões otimistas<br />
e pessimistas<br />
As formas de produções durante<br />
o processo de industrialização<br />
se tornaram tão rápidas que a<br />
preocupação com o futuro estava<br />
estritamente ligada à idéia de uma<br />
sociedade progressista. “O futuro<br />
tende a ser melhor que o passado,<br />
já que este ajuda a construir o<br />
futuro. Com isso, a sociedade vai<br />
evoluindo para um fi nal feliz”, diz<br />
o professor de fi losofi a da UEM,<br />
Vladimir Chaves, ao explicar a<br />
teoria judaico-cristã do tempo. A<br />
crença no progresso alavancou os<br />
sonhos de muitas pessoas, principalmente<br />
na economia, na ciência<br />
e na política.<br />
Porém, essas expectativas começaram<br />
a ser abaladas nas últimas<br />
décadas do século XIX,<br />
quando a primeira grande crise<br />
do capitalismo deixou claro que a<br />
expansão desenfreada não pode-<br />
De acordo com o historiador Renato Moscatelli,<br />
o momento da história em que vivemos atualmente<br />
é de transformação. Por isso, muitos teóricos<br />
sobre o tema esboçam algumas perspectivas<br />
para o futuro, sejam elas otimistas ou não.<br />
O norte-americano Francis Fukuyama, em<br />
seu livro “O fi m da história e o último homem”<br />
(Rocco, 1992), acredita que a humanidade chegou<br />
ao ponto mais alto dentro do atual modelo social,<br />
político e econômico típico do capitalismo globalizado<br />
e da democracia liberal. Já os irmãos Alvin<br />
e Heidi Toffl er, segundo Moscatelli, falam de uma<br />
“terceira onda” que estaria varrendo o mundo em<br />
nossos dias (as duas primeiras ondas teriam sido a<br />
da Revolução Agrícola e a da Revolução Industrial),<br />
ao passo que a característica da “terceira onda”<br />
seria a “civilização do computador”. “Todavia, os<br />
Toffl er pensam que, no futuro, a ‘terceira onda’ revolucionará<br />
o modo de vida de todo o globo, tendo<br />
como resultado uma civilização diferente e melhor”,<br />
conta o historiador.<br />
Porém, nem todos são tão otimistas quanto<br />
ao futuro. Segundo Moscatelli, Samuel Phillips<br />
Huntington apresentou a teoria de que no séc. XXI<br />
o mundo não será mais formado basicamente por<br />
Estados-nação, mas por múltiplas civilizações (tais<br />
como a ocidental, a islâmica, a africana e a latinoamerica),<br />
que estarão em confronto devido às diferenças<br />
culturais. “Apesar de ter recebido críticas,<br />
a previsão de Huntington chama a atenção para<br />
ria continuar para sempre. “Tanto<br />
para os camponeses quanto<br />
para o proletariado fabril, o futuro<br />
não parecia muito promissor”,<br />
conta Renato Moscatelli. Para o<br />
historiador, as perspectivas desses<br />
trabalhadores passaram a se<br />
ampliar graças ao surgimento de<br />
movimentos que iam contra o capitalismo,<br />
como o socialismo, o<br />
anarquismo e o comunismo. Karl<br />
Marx chegou a prever que um dia<br />
o capitalismo sucumbiria, recebendo<br />
o golpe fatal das mãos dos<br />
proletários que ele mesmo havia<br />
criado, pondo fi m à exploração do<br />
trabalho.<br />
Na prática, a teoria do fi lósofo<br />
alemão não deu muito certo. O<br />
século XX foi o principal palco da<br />
disputa entre os modos de produção<br />
capitalista e socialista. De um<br />
lado, os socialistas procuravam<br />
inspirar nos cidadãos o sonho de<br />
que o comunismo, um dia, seria o<br />
sistema existente em todo o mundo<br />
e que nessa época tudo seria<br />
E O NOSSO FUTURO?<br />
9<br />
ainda melhor. “Quanto mais o<br />
tempo passava, mais fi cava difícil<br />
acreditar nas antigas promessas e<br />
a ‘era de abundância para todos’<br />
nunca chegou”, explica Moscatelli.<br />
Enquanto isso, do outro lado, o<br />
capitalismo oferecendo total liberdade<br />
aos seus seguidores em troca<br />
do consumismo desenfreado,<br />
com abundância em excesso para<br />
certas classes sociais e a outra<br />
parte lutava para chegar ao status<br />
de quem estava no poder no<br />
sistema. O capitalismo, com sua<br />
“ideologia libertária”, se consolidou<br />
no mundo todo, enquanto o<br />
socialismo perdia força diante de<br />
seus próprios pés.<br />
Apesar de muitos teóricos já<br />
traçarem uma projeção para o<br />
futuro (veja o box), o historiador<br />
é cauteloso quanto ao tema.<br />
“Não podemos prever com certeza<br />
como será o futuro, mas a história<br />
nos ensina que os grandes períodos<br />
de mudanças nem sempre<br />
trazem rupturas completas com<br />
os tempos que os antecederam.”<br />
os riscos de se subestimar a diversidade cultural<br />
em nome da difusão de um modelo político e econômico<br />
único para todo o mundo.” O historiador<br />
cita como exemplo a difi culdade em que os Estados<br />
Unidos estão enfrentando para implantar no<br />
Iraque, pós-Saddam Hussein, um sistema democrático<br />
que eles consideram universalmente válido.<br />
“Afi nal, por mais que a globalização e as tecnologias<br />
da informação estejam se difundindo pelo<br />
mundo e transformando nossa forma de viver, elas<br />
não conseguiram fazer uma tabula rasa do passado”,<br />
conclui Moscatelli.<br />
Para Mocatelli o momento em que vivemos é de<br />
trasformação que se justifi ca pela globalização<br />
Danilo Donato<br />
6
10<br />
A vida após o diagnóstico<br />
câncer<br />
de<br />
A doença pode tanto destruir quanto<br />
reconstruir um futuro; apoio familiar e<br />
acompanhamento psicológico ajudam<br />
a enfrentar o problema<br />
Daiane Siqueira<br />
Ricardo Andretto Fonseca<br />
Você já imaginou fazer exames<br />
de rotina e, ao ver os resultados,<br />
descobrir que aquelas dores repentinas,<br />
ou até mesmo freqüentes,<br />
podem representar sinais de<br />
uma doença séria, provocando<br />
uma grande reviravolta em sua<br />
vida? Essa situação é mais comum<br />
do que se imagina. Uma simples<br />
dor de cabeça pode ser sinal de<br />
uma doença que atinge um número<br />
signifi cativo da população:<br />
câncer.<br />
Segundo o Instituto Nacional<br />
de Câncer (Inca), só em 2006<br />
cerca de 130 mil pessoas morreram<br />
vítimas da doença no Brasil.<br />
A previsão é de que até o próximo<br />
ano sejam registrados quase<br />
470 mil novos casos. Os dados<br />
também revelam que o câncer é<br />
responsável por 13% das mortes<br />
em todo o mundo e que, só<br />
no País, os gastos com o tratamento<br />
da doença somam R$ 1,2<br />
bilhão - despesa que, segundo o<br />
instituto, deve aumentar com o<br />
envelhecimento da população.<br />
É difícil pensar em futuro vivendo<br />
uma situação dessas.<br />
Ainda mais quando os números<br />
se mostram desfavoráveis<br />
a recuperação das pessoas que<br />
descobrem ter a doença. Nesses<br />
casos, é preciso ter muita força,<br />
pois as pessoas que encaram<br />
um diagnóstico de câncer experimentam<br />
uma série de emo-<br />
Palmira Castellani ao lado do seu bisneto<br />
“você tem de manter a família de pé”<br />
ções, estresses e aborrecimentos.<br />
O tratamento nem sempre é fácil<br />
e existem “feridas” que podem<br />
permanecer abertas para o resto<br />
da vida.<br />
A psicóloga Alessandra Herranz<br />
Gazquez, especialista em Saúde<br />
Mental, lida com o assunto há<br />
mais de dez anos em seu trabalho<br />
voluntário na Rede Feminina<br />
de Combate ao Câncer de Maringá.<br />
De acordo com ela, uma das<br />
primeiras reações sentidas pelos<br />
pacientes é a tristeza. “As pessoas<br />
fi cam apáticas, abatidas, não querem<br />
conversar, se mostram muito<br />
tristes e preocupadas.” No entanto,<br />
Alessandra afi rma que também<br />
há um lado bom relacionado<br />
com a família. “Outra reação muito<br />
comum é o amor. Os parentes
se aproximam do paciente, que<br />
se voltam muito para a família de<br />
uma forma bem bonita que antes<br />
não percebiam.”<br />
Depressão<br />
A depressão, muitas vezes associada<br />
às pessoas que são diagnosticadas<br />
com câncer, nem sempre<br />
é uma das conseqüências da<br />
doença. Alessandra afirma que<br />
existem alguns sintomas que são<br />
diagnosticáveis nesses casos e<br />
que há até mesmo uma tipologia<br />
específica para isso. “Existem pacientes<br />
que não têm a depressão.<br />
Há um tipo de personalidade que<br />
é mais voltado para desenvolver a<br />
depressão. São pessoas mais fechadas,<br />
mais carentes, mais entristecidas.<br />
É um perfil que quando<br />
diagnosticado, as chances de<br />
ter a depressão é bem maior do<br />
que a pessoa que não tem esse<br />
perfil.”<br />
Sobre os casos em que as pessoas<br />
desenvolvem a patologia da<br />
depressão, voltar a ter uma perspectiva<br />
de futuro é algo que precisa<br />
ser trabalhado para que os<br />
pacientes não pensem somente<br />
no problema. No tratamento, a<br />
psicóloga conta que relaciona a<br />
questão com um histórico da própria<br />
pessoa, abrindo um leque de<br />
possibilidades para sua cura. “Nós<br />
trabalhamos a depressão resga-<br />
tando o que essas pessoas fizeram<br />
de bom, falamos na cura da<br />
doença pela emoção. [Fazemos]<br />
A pessoa perceber o que ela pode<br />
ter na vida, para estar melhorando<br />
e modificando. [Mostramos] Como<br />
é o seu relacionamento com os<br />
familiares, como ela se relaciona<br />
com as pessoas que ama, o que<br />
pode dar de si e absorver o que há<br />
de melhor, não de pior.”<br />
O câncer<br />
O paciente como um ser social<br />
Palmira Torres Simino, 48, secretária<br />
geral de um colégio público<br />
da cidade, descobriu que tinha<br />
um carcinoma (câncer de estômago),<br />
em julho de 2006. Ao receber<br />
a confirmação de que estava com<br />
um tumor cancerígeno, Palmira<br />
diz ter analisado toda sua história.<br />
“<strong>Eu</strong> fiz um balanço da minha vida.<br />
O que eu havia feito de bom ou<br />
não, o que eu tinha feito ou deixei<br />
de fazer para os meus filhos. Pensava<br />
no que iria deixar para eles.<br />
Passava tudo isso na minha cabeça,<br />
mas o que me fez superar tudo<br />
foi justamente eles [os filhos] e o<br />
meu marido. Eles foram tudo que<br />
eu precisava para me recuperar.”<br />
Nessa situação, é comum que<br />
o paciente apresente uma nãoperspectiva<br />
de futuro, já que a doença<br />
acaba se tornando o centro<br />
das atenções. Foi o que aconteceu<br />
com Palmira Simino, que inicialè<br />
Interagir com o mundo e, principalmente, aceitar o problema pode<br />
ser muito importante. Para a psicóloga Alessandra Herranz Gazquez,<br />
esse tipo de reação com a vida é crucial. Ela ressalta a importância<br />
do acompanhamento, não só profissional, mas também<br />
familiar desses pacientes. “Depois do tratamento, a visão de mundo<br />
se modifica muito. A valorização do que realmente é importante<br />
vem à tona. Coisa que nós, saudáveis, nem paramos para pensar.<br />
Quando você tem uma doença como essa, começa a valorizar, como<br />
que se voltasse ao que realmente é importante para a vida.”<br />
É preciso também tomar cuidado para não confundir o câncer como<br />
uma doença que transforma a pessoa em incapaz. Alessandra afirma<br />
que muitas pessoas ainda carregam um preconceito quanto ao<br />
problema e isso pode prejudicar a perspectiva de futuro dos pacientes.<br />
“Há um certo preconceito ao associar o câncer a um estado<br />
ruim, como se a pessoa se tornasse inútil e a família começa a fazer<br />
tudo, não dando espaço para o paciente. Não podemos confundir<br />
amor e dedicação e passar a fazer tudo pelo paciente.”<br />
“<br />
Manter-se forte<br />
perante a família<br />
pode a ajudar na<br />
recuperação<br />
11<br />
”
12<br />
mente diz não ter imaginado um<br />
futuro para si, mas que se apegou<br />
muito à família durante a sua recuperação.<br />
”Você só pensa no pior,<br />
em como vai ser a vida dos filhos<br />
sem você. Mas eu sempre tive a esperança<br />
de me recuperar, de voltar<br />
ao trabalho e ver meus filhos crescer.<br />
Você se volta para o futuro da<br />
família.”<br />
Como o seu tumor era pequeno,<br />
uma operação bastou para resolver<br />
o problema. Por isso, a secretária<br />
não teve de passar por sessões de<br />
radio ou quimioterapia. Na cirurgia,<br />
os médicos chegaram a retirar<br />
60% de seu estômago. “Na época<br />
eu cheguei a perder 10 quilos, mas<br />
a minha recuperação foi ótima. <strong>Eu</strong><br />
não tive complicação nenhuma.<br />
Com cinco dias já estava em casa<br />
comendo bem. Hoje me alimento<br />
normalmente, não sinto nada diferente.”<br />
Já a dona de casa Palmira Castellani<br />
de Souza, 60, não teve muita<br />
opção. O caso dela foi um pouco<br />
mais complicado e, frente a isso,<br />
preferiu não revelar à reportagem<br />
onde o câncer estava localizado.<br />
Ela teve de passar por inúmeras<br />
sessões de radioterapia e quimioterapia<br />
e revela que, desde o primeiro<br />
momento, o médico já havia<br />
deixado claro que iria tentar curála,<br />
mas que não tinha certeza do<br />
resultado. Situação muito comum<br />
no tratamento do câncer. “Ele não<br />
deu esperança nenhuma. Disse que<br />
iria tentar fazer uma limpa, tentar<br />
retirar o câncer, mas não garantia<br />
nada. A palavra ‘curada’ não saiu<br />
da boca dele.”<br />
Palmira Castellani diz não ter<br />
sofrido muito com o diagnóstico<br />
da doença, mas conta que, ao se<br />
dar conta de que tinha câncer, sua<br />
vida teve uma reviravolta. “Você<br />
não pensa no futuro, não pensa em<br />
mais nada, sua vida pára, estaciona.<br />
Você não pode continuar trabalhando,<br />
porque tem que ficar indo<br />
ao Hospital do Câncer e à clínica de<br />
radioterapia. Não pode levar uma<br />
vida normal, sua rotina muda.”<br />
O tratamento do câncer nem<br />
sempre é fácil e os sentimentos dos<br />
pacientes que passam por isso po-<br />
“<br />
Planos para o<br />
futuro permanecem<br />
iguais aos de<br />
qualquer pessoa<br />
”<br />
dem ser influenciados. Palmira Castellani,<br />
apesar de não ter tido problemas<br />
com o diagnóstico, também<br />
teve que passar por uma cirurgia. A<br />
dona de casa conta, com certo desconforto,<br />
o que sofreu ao tratar a<br />
doença. “Na cirurgia foi normal, não<br />
senti nada, dor alguma, mas terrível<br />
foi o tratamento. Você começa<br />
a fazer a quimio [terapia] e a radio<br />
[terapia] junto, daí vai sentindo que<br />
a sua alma vai indo embora. Durante<br />
todo o tratamento eu fui ficando<br />
cada vez mais fraca, e aquele cheiro<br />
da clínica parece que nos persegue.”<br />
Manter-se forte perante a família<br />
nessas horas pode vir a ajudar, e<br />
muito, na recuperação do paciente.<br />
Palmira Castellani seguiu esse conselho<br />
e diz ter se esforçado para superar,<br />
com fé, o problema. “Quanto<br />
pior você estiver de espírito, você<br />
leva a família junto. Você tem de<br />
manter a família ‘de pé’ porque o<br />
que você sentir, eles sentem dobrado.<br />
Então você tem de se esforçar.<br />
A pessoa que tiver de passar por<br />
esse problema tem de enfrentar,<br />
mas primeiro deposita tudo na mão<br />
de Deus. Sei que aquela pessoa que<br />
você era nunca mais volta, pelo menos<br />
eu não voltei a ser a mesma<br />
pessoa.”<br />
Palmira Castellani diz que hoje os<br />
planos para o futuro permanecem<br />
iguais ao de qualquer outra pessoa<br />
que não tenha tido a doença.<br />
6
O tempo passa<br />
e se perpetua em<br />
‘Era uma vez...’<br />
Desafiando o tempo, o hábito de contar histórias<br />
volta às cidades no século 21 para transmitir<br />
valores, conhecimentos e tradições<br />
André Leandro de Mello<br />
Contação de histórias. É estranho<br />
ouvir o termo, mas é exatamente<br />
assim que a atividade, quase<br />
uma profissão, é oficialmente<br />
conhecida nos dias de hoje. Contadores<br />
de histórias explicam que<br />
o ato resiste ao tempo, atravessa<br />
fronteiras, passa de geração em<br />
geração e faz parte de diferentes<br />
culturas, até mesmo distantes de<br />
sua terra de origem.<br />
Hoje, além do teatro e dos livros,<br />
as histórias também passaram<br />
a ser narradas pelo cinema e<br />
pela internet. Apesar das conquis-<br />
tas tecnológicas, a arte de narrar<br />
em “viva voz” está voltando, fortalecendo-se<br />
a cada dia. O costume<br />
se mantém nas próprias famílias<br />
e continua aceso em centros culturais<br />
de comunidades de todas<br />
as classes ou mesmo em espaços<br />
comerciais.<br />
Há quem faz disso uma profissão.<br />
É o caso de Lucimara Rinaldi<br />
da Silva. Quando trabalhava como<br />
vendedora em uma livraria, usava<br />
uma tática infalível: nos colégios<br />
de Maringá, começava a contar<br />
as histórias e parava no clímax. O<br />
jeito era a molecada correr para<br />
13<br />
André Leandro de Mello<br />
comprar os livros e descobrir o final<br />
da história. Lucimara diz que o<br />
desafio mudou a vida dela de forma<br />
surpreendente.<br />
A primeira história contada por<br />
Lucimara foi “O Macaquinho e o<br />
Minhoco”, do livro “Meio ao Meio”.<br />
Passados alguns anos como vendedora<br />
de livros, recebeu o convite<br />
para ser funcionária exclusiva<br />
do Colégio Santa Cruz, onde<br />
trabalha até hoje. No decorrer da<br />
profissão, foi aprendendo a lidar<br />
com o imaginário das crianças.<br />
É na “Hora do Conto”, projeto
14<br />
desenvolvido para estimular a leitura<br />
no Colégio Santa Cruz, que,<br />
durante 20 minutos, ela mexe<br />
com o imaginário das crianças.<br />
Lucimara conta que os alunos<br />
chegam ansiosos à sala para saber<br />
qual história será contada e<br />
logo se sentam no chão ao redor<br />
do palco. “<strong>Eu</strong> adoro ouvir as histórias,<br />
pareço fazer parte do conto<br />
junto com os personagens”, conta<br />
a estudante Mariana Gomez de<br />
Castilho, 10 anos.<br />
Segundo Lucimara, não existe<br />
idade para ouvir história. “Escutar<br />
história faz bem à saúde. Outro<br />
dia abri a reunião de pais contando<br />
uma história, do mesmo jeito<br />
que conto para as crianças. Dias<br />
depois, o pai de um aluno me disse<br />
que estava tão estressado a<br />
ponto de arrebentar tudo e fi cou<br />
aliviado depois de ouvi-la.”<br />
A contadora revela ainda que<br />
uma história não pode ser “contada<br />
por contar”, tem de ter emoção.<br />
“Transmitir sentimentos pelos<br />
olhos, fazer as pessoas sentir o<br />
que você está sentindo, compartilhar<br />
o seu sentimento. As crianças<br />
estão me ouvindo, sentem o frio<br />
que eu sinto, o medo que eu também<br />
tenho. Entram no meu imaginário.<br />
Isso é maravilhoso.”<br />
É difícil saber ao certo como<br />
será o futuro da profi ssão de contador<br />
de histórias, principalmente<br />
pela difi culdade em achar profi ssional<br />
que trabalha na área, já<br />
que não há curso universitário. No<br />
entanto, o hábito de contar histórias<br />
não está em crise. Na maioria<br />
das vezes, é mantida por pessoas<br />
que ouviam quando crianças e repassam<br />
para os fi lhos. Um exemplo<br />
disso vem da secretária Sheila<br />
Franco Veneruci de Oliveira, que<br />
diz contar histórias para o fi lho de<br />
9 anos. “Quando eu era pequena,<br />
meus pais contavam histórias<br />
quando eu ia dormir. A que mais<br />
gostava era da ‘Bela Adormecida’.<br />
Meu fi lho adora ouvir histórias.<br />
Passo adiante um costume que<br />
minha família tem há gerações”,<br />
explica.<br />
O mesmo acontece com a<br />
professora Maria Francisca Gal-<br />
Bibliotecas preservam hábito<br />
de contar histórias<br />
Em Maringá, as bibliotecas municipais promovem o Clubinho de<br />
Leitura, como e caso da Biblioteca Bento Munhoz da Rocha Netto<br />
(Biblioteca Central) no primeiro sábado de cada mês às 10h. Crianças<br />
a partir dos 6 anos, e até mesmo adultos, fazem uma roda ao<br />
redor das contadoras ou de profi ssionais, e juntos viajam no mundo<br />
da fantasia. “Gosto de ir a Biblioteca Central só para ouvir a tia<br />
contar historinhas. Me divirto muito”, diz o estudante da segunda<br />
serie da Rede Municipal de Ensino, Yago Pereira da Cruz.<br />
A estagiária da Biblioteca Central Janine Saraiva Tagua conta história<br />
para a criançada no Clubinho de Leitura. Ela diz se divertir ao<br />
contar histórias para as crianças. “É muito legal contar histórias.<br />
Isso é um incentivo a leitura. Têm muitas crianças que vem aqui na<br />
biblioteca, ouvem as histórias e levam livros para casa.’’<br />
Para a aposentada Alice Maria da Silva, ouvir histórias é voltar no<br />
tempo e se sentir criança. “Gosto de trazer minha neta que na<br />
biblioteca, isso também mexe com a minha imaginação. Lembro<br />
de quando era pequena e ouvia os contos que meu avô contava. É<br />
muito bom poder pensar nas situações de cada personagem. Faz<br />
um bem muito grande para minha memória.”<br />
gatianne.“Conto para minhas<br />
fi lhas histórias<br />
que minha mãe<br />
e avó contavam<br />
para mim<br />
quando eu era<br />
pequena. Parecem viajar quando<br />
conto histórias para elas de tanto<br />
que gostam. Nem piscam.”<br />
Curso para contação<br />
“<br />
É difícil saber ao<br />
certo qual será o<br />
futuro da profi ssão<br />
Em relação ao salário de um<br />
contador de histórias, Lucimara<br />
revela que diante da situação<br />
brasileira, dá para se manter, e<br />
que hoje existem muitas profi ssões<br />
com salários pequenos e outros<br />
enormes. “O meu salário de<br />
contadora de histórias é razoável.<br />
<strong>Tenho</strong> um complemento extra no<br />
curso que dou de como se contar<br />
uma boa história. Ensino como<br />
um contador deve tirar os vícios<br />
de linguagens nos contos sem ter<br />
repetições de palavras e também,<br />
como expressar os sentimentos. É<br />
um verdadeiro<br />
sucesso na cidade.<br />
Mas é es-<br />
”<br />
sencial ter amor<br />
naquilo que se<br />
faz e não pensar<br />
só no dinheiro”,<br />
explica Lucimara.<br />
A professora do ensino fundamental,<br />
Cleonice Pereira dos Santos<br />
fez o curso de contadora de<br />
histórias, aperfeiçoou o jeito de<br />
contar histórias e pensa em montar<br />
uma escola de contação de historias.<br />
“Depois de ter feito o curso,<br />
consegui segurar mais a atenção<br />
dos meus alunos durante o conto.<br />
A difi culdade que tinha era de fi car<br />
repetindo palavras como ‘é’, ‘aí...<br />
‘ e ‘então... ‘. Eliminei esse hábito<br />
tornando a contação bem mais<br />
atrativa e muito mais dinâmica.<br />
Contar historias dá dinheiro e abrir<br />
uma escola para formar profi ssionais<br />
para atuar nessa profi ssão.<br />
O curso dá mais dinheiro do que<br />
contar histórias”, revela.<br />
6
O futuro pertence aos que têm<br />
mais de 60 anos<br />
Aumento na expectativa de vida do<br />
brasileiro pode gerar confl itos, mas também<br />
sanar desigualdades e preconceitos<br />
Damaris Santos<br />
Dados do Instituto Brasileiro de Geografi a e<br />
Estatística (IBGE) revelam que a expectativa<br />
de vida do brasileiro subiu de 70,5 anos, em<br />
2000, para 72,3 anos, em 2006. Os números<br />
fazem parte das Tábuas Completas de Mortalidade,<br />
divulgadas pelo IBGE desde 1999.<br />
Informações signifi cativas neste sentido foram<br />
publicadas ainda na pesquisa “Idosos no<br />
Brasil”, realizada pela Fundação Perseu Abramo<br />
em parceria com o Sesc (Serviço Social<br />
do Comércio), de São Paulo. De acordo com<br />
a investigação, a imagem de velhice<br />
está principalmente associada a<br />
aspectos negativos, tanto para os<br />
próprios idosos (88%) como para<br />
os não idosos (90%).<br />
Outro fator bastante importante<br />
levantado pela análise da<br />
Abramo e do Sesc, que poderá<br />
ter um efeito negativo no futuro,<br />
é o fato de que um terço da<br />
população brasileira (35%) não<br />
tem fi lhos, enquanto que, entre<br />
os idosos, apenas 6% não foram<br />
pais. Essa drástica diminuição da<br />
fecundidade poderá criar incompatibilidade<br />
entre o número de<br />
idosos que constituirão a próxima<br />
geração. Esta geração é a dos idosos<br />
e seus fi lhos; a próxima será a<br />
dos idosos sem fi lhos - cenário um<br />
tanto complicado que poderá confi -<br />
gurar possíveis confl itos na área da<br />
previdência social.<br />
Informações do IBGE apontam<br />
que o crescimento da população idosa<br />
com mais de 60 anos pode passar<br />
dos 7,8% atuais para 13% em 2020<br />
(aproximadamente 27 milhões de<br />
pessoas). Deste modo, o sistema preè<br />
Já estou nos 68, quase 70 estou<br />
muito bem”, afi rma Lazara Ramirez<br />
15<br />
Damaris Santos
16<br />
“O marketing já<br />
direciona determinado<br />
tipo de produção<br />
publicitária para<br />
atender a população<br />
idosa, os bancos estão<br />
abrindo linha de<br />
empréstimo para<br />
aposentados. O idoso<br />
pode ser considerado<br />
uma população que<br />
está inserida no<br />
mercado e na<br />
sociedade como um<br />
todo.”<br />
Calvino Camargo<br />
videnciário brasileiro, que já é defi<br />
citário, fi cará ainda mais sobrecarregado.<br />
Para agravar o cenário,<br />
a população em idade ativa (de 15<br />
a 60 anos), que, por meio de suas<br />
contribuições,cooperam com os<br />
recursos para pagar os benefícios<br />
da previdência, terá diminuído<br />
consideravelmente.<br />
“O que afeta em geral a situação<br />
econômica das pessoas idosas<br />
é a perda de contato com a força<br />
de trabalho, a obsolescência de<br />
suas atividades, a desvalorização<br />
de seus vencimentos e pensões e<br />
a pobreza generalizada da sociedade,<br />
no mundo”, esclarece a psicóloga<br />
Jhainieiry Cordeiro Famelli<br />
Ferret.<br />
Para o doutor em Psicologia Social,<br />
Calvino Camargo, o problema<br />
é que, na sociedade contemporânea,<br />
a produção e o trabalho<br />
são os elementos fundamentais<br />
para a manutenção<br />
da vida.<br />
“Hipoteticamente,<br />
o idoso deixa de<br />
ser produtivo e,<br />
quando isso<br />
a c o n t e c e ,<br />
ele não tem<br />
r e c u r s o s<br />
suficientes<br />
para<br />
pertencer<br />
ao<br />
mercado<br />
d e<br />
consumo.”<br />
Entretanto, dados positivos em<br />
relação à condição fi nanceira dos<br />
idosos apontam que a ampliação<br />
de aposentadorias, pensões e benefícios<br />
mostra um expressivo índice<br />
(92%) de pessoas com mais<br />
de 60 anos e com alguma fonte de<br />
renda. O idoso já ocupa a posição<br />
de colaborador fi nanceiro ou até<br />
mesmo de provedor principal, o<br />
que certamente aumenta sua importância<br />
no núcleo familiar.<br />
“Existem pesquisas apontando<br />
que muitos idosos são responsáveis<br />
pelo sustento da família. A<br />
maioria encontra-se aposentado e<br />
assume a responsabilidade pelos<br />
netos para que seus fi lhos possam<br />
trabalhar”, explica a psicóloga<br />
Jhainieiry.<br />
Calvino Camargo complementa<br />
que segmentos econômicos, como<br />
as agências fi nanceiras, também<br />
estão atentos a esses potenciais<br />
consumidores. “O marketing já di-
eciona determinado tipo de produção<br />
publicitária para atender a<br />
população idosa, os bancos estão<br />
abrindo linha de empréstimo para<br />
aposentados. O idoso pode ser<br />
considerado uma população<br />
que está inserida no mercado e<br />
na sociedade como um todo.”<br />
De acordo com Camargo,<br />
a população idosa não é única<br />
e característica. A maneira<br />
com que enfrentam a velhice<br />
depende muito das peculiares<br />
de cada um. “Alguns têm uma<br />
experiência de vida extremamente<br />
jovial, mexem na internet,<br />
estão disponíveis para o<br />
aprendizado. Outras pessoas,<br />
que nem são tão idosas, têm<br />
uma vida muito restrita, certas<br />
angústias e, por isso, são muito<br />
mais dadas àquilo que nós chamamos<br />
de patologias [doenças<br />
sintomáticas] ou difi culdades da<br />
terceira idade”.<br />
“ Pesquisas<br />
apontam que muitos<br />
idosos são<br />
responsáveis pelo<br />
sustento da família<br />
”<br />
6<br />
“Enquanto você vive tem de ter<br />
esperança”, diz D. Dalva<br />
Damaris Santos<br />
Equilíbrio é a chave<br />
para vida saudável<br />
O geriatra Daniel Marchiotti<br />
conta que, na maioria das vezes,<br />
as pessoas pensam naquele velho<br />
doente, complicado, com qualidade<br />
de vida zero. Contudo, essa<br />
visão pode não corresponder à<br />
realidade – inclusive a da medicina.<br />
“Uma coisa é a geriatria clínica,<br />
outra coisa é a gerontologia<br />
preventiva. A geriatria clínica trata<br />
o idoso doente, que está com<br />
um tumor, atrofi ado, tem ponte<br />
de safena, insufi ciência renal etc.<br />
A gerontologia preventiva, lembra<br />
que nós nascemos geneticamente<br />
para viver 120 a 150 anos,<br />
no mínimo. Esse tipo de medicina<br />
avançada, de primeiro mundo,<br />
diz que todas as doenças são<br />
evitáveis, pois nós não nascemos<br />
para fi car doentes.”<br />
Conforme o geriatra, as pessoas<br />
fi cam enfermas pelo que<br />
inalam de ar contaminado; pelos<br />
alimentos prejudiciais ingeridos;<br />
pelo sono irregular e pela falta de<br />
atividade física. O geriatra acredita<br />
que a base para uma vida<br />
saudável, com energia, longevidade<br />
e jovialidade é ter equilíbrio,<br />
controle e mais do que força<br />
de vontade. “Nós estamos falan-<br />
“O anoitecer da vida<br />
deve também possuir<br />
um signifi cado<br />
próprio e não pode<br />
ser, apenas, um<br />
apêndice lamentável<br />
da manhã da vida”<br />
Carl Gustav Jung<br />
17<br />
do de quem não quer, meramente,<br />
viver um pouco, mas de quem<br />
quer viver bem, bastante, com<br />
qualidade e boa aparência.”<br />
Marchiotti defende que o envelhecimento<br />
é uma doença causada<br />
fundamentalmente pelo desequilíbrio<br />
hormonal. O elixir da<br />
juventude seria a reposição de<br />
hormônios combinada as atividades<br />
do Pentágono do Bem Viver.<br />
“Com o aparecimento dos hormônios<br />
na fase da adolescência<br />
teremos grande desenvolvimento<br />
e, com a diminuição deles, teremos<br />
grandes atrofi as. Mas, medicina<br />
preventiva é para quem<br />
pode e não para quem quer. Tudo<br />
que se faz é alguma coisa, mas<br />
ainda está longe do ideal.”<br />
A psicóloga Jhainieiry Ferret<br />
acredita que o envelhecimento<br />
bem-sucedido deve ser a meta a<br />
ser atingida. “Como dizia Jung, ‘o<br />
anoitecer da vida deve também<br />
possuir um signifi cado próprio e<br />
não pode ser, apenas, um apêndice<br />
lamentável da manhã da<br />
vida’.”
18<br />
Curtindo a<br />
vida adoidado<br />
Terceira idade busca, cada vez<br />
mais, novas formas de ocupar o<br />
tempo livre e conquistar espaço<br />
ativo na sociedade<br />
Heloísa Beraldo
Heloísa Beraldo<br />
O que esperar da vida aos 60<br />
anos? Talvez você aí esteja se<br />
imaginando casado; com filhos;<br />
tranqüilo com sua aposentadoria;<br />
pouco disposto querendo mesmo<br />
descansar e curtir os netos. Esta<br />
é a visão que se tinha da terceira<br />
idade. Mas essa perspectiva está<br />
mudando.<br />
De acordo com a psicóloga Mileny<br />
Marchi, atualmente, há uma<br />
preocupação da terceira idade em<br />
buscar atividades que relacionem<br />
o conjunto corpo e mente. “É de<br />
extrema importância essa busca<br />
pela ajuda psicológica. Com a<br />
psicoterapia e as terapias de grupo,<br />
por exemplo, eles podem entender<br />
melhor a fase que estão<br />
vivendo e, assim, compartilhar<br />
suas angústias, vivenciar o seu<br />
progresso e o de outras pessoas<br />
que também passam por isso. O<br />
acompanhamento psicológico propõe<br />
a visão de novas alternativas,<br />
a busca de um novo olhar sobre si<br />
neste momento.”<br />
Para ela, a mudança de comportamento<br />
veio junto com os interesses<br />
da ciência. “Antigamente,<br />
as pessoas não davam o valor<br />
necessário a isso. Se formos ver,<br />
os estudos na área são recentes.<br />
Hoje em dia, fala-se mais em terapias<br />
e há mais pesquisas sobre<br />
o bem-estar. Antigamente, isso<br />
era mais restrito.”<br />
A vida em primeiro lugar<br />
O que é ser velho nos dias de<br />
hoje? Foi esse pensamento que<br />
levou a aposentada Julieta Andrade,<br />
62, a pensar em como levaria<br />
a velhice. “Velhice” como termo<br />
questionável. “Sempre houve jovens<br />
velhos e velhos jovens”, afirma.<br />
A ousadia de Julieta levou-a a<br />
prestar vestibular no início deste<br />
ano. Hoje, ela está cursando o primeiro<br />
ano de Direito. “Fui muitíssimo<br />
bem recebida. Sou líder de<br />
classe eleita por unanimidade.”<br />
Para Julieta, a faculdade tornou-se<br />
um ótimo passatempo e<br />
foi o ponta-pé inicial para a nova<br />
vida. “Não gosto de cachorros. En-<br />
tão, em vez de comprar um, como<br />
a maioria na minha idade faz, decidi<br />
ir à faculdade”, brinca.<br />
Segundo ela, o espírito não<br />
acompanhou o físico e na hora da<br />
bagunça sempre está no meio. “O<br />
elixir que eu uso é o bom humor”,<br />
revela. Embora esbanje saúde<br />
e disposição Julieta diz não fazer<br />
planos a longo prazo. “Vivo o<br />
hoje”.<br />
De acordo com a psicóloga Mileny<br />
Marchi, atualmente, a terceira<br />
idade desenvolve um papel mais<br />
ativo na sociedade. “Com a facilidade<br />
proporcionada pela tecnologia,<br />
a realidade do homem está<br />
em constante mudança. A terceira<br />
idade com toda sua bagagem<br />
cultural poderá, e já compartilha,<br />
suas experiências de vida. Eles<br />
têm mais saúde e disposição. A<br />
minha visão de futuro é que cada<br />
vez mais os idosos terão espaço<br />
dentro de nossa sociedade e viverão<br />
cada vez melhor.”<br />
Para o aposentado Antônio Barandas,<br />
63 anos, a velhice deve<br />
ser encarada com naturalidade.<br />
”Somos iguais aos outros. Todas<br />
as fases da vida me apresentaram<br />
limitações. Hoje eu busco<br />
equilíbrio, respeito, sei dos meus<br />
direitos e deveres. Olhando para<br />
mim, eu sei que hoje não posso<br />
mais me aventurar em correr, pular,<br />
essas coisas. Mas este sou eu.<br />
Não significa que o meu amigo da<br />
minha idade não possa fazer isso.<br />
A terceira idade faz muitas coisas.<br />
Minhas limitações são físicas. <strong>Eu</strong><br />
ainda faço planos e sonho com<br />
eles, como antes. Se estou vivo,<br />
eu tenho futuro.”<br />
Anos de experiência<br />
Sentada com três amigas, em<br />
volta de uma mesa de jogos, com<br />
direito a toalha temática, fichas<br />
coloridas e um bom vinho português,<br />
a professora aposentada<br />
<strong>Eu</strong>nice de Oliveira, 65 anos, não<br />
aparenta ter a idade que tem.<br />
Olhando por cima dos óculos moderno,<br />
ao mesmo tempo em que<br />
fechava a partida de cartas, <strong>Eu</strong>nice<br />
disse acreditar que nunca esteve<br />
tão bem em sua vida. “Antigamente,<br />
costumava dizer que, a<br />
è<br />
19<br />
“Geralmente,<br />
quem procura um<br />
relacionamento<br />
depois dos 60 anos<br />
busca companhia.<br />
Há também aqueles<br />
que buscam uma forma<br />
de se reafirmarem”<br />
Mileny Marchi
20<br />
“Hoje, minha vida é<br />
diferente.<br />
Estou aproveitando<br />
agora. Pela primeira<br />
vez estou cuidando<br />
mais de mim”<br />
<strong>Eu</strong>nice de Oliveira, 65 anos<br />
esta altura do campeonato, deitaria<br />
em um berço esplêndido para<br />
esperar a morte. Mas estou muito<br />
bem. Sinto-me amada e respeitada<br />
pela minha família, pelo meu<br />
marido. E eu ainda tenho muito<br />
dinheiro para ganhar destas ‘velhinhas’”,<br />
brinca, apontando para<br />
as amigas.<br />
Em meio a boas risadas e piadinhas,<br />
surge um papo sério para<br />
elas: a saúde. “A idade chega para<br />
todas. <strong>Eu</strong> já passei por muita coisa.<br />
É um susto atrás do outro. Fazer<br />
operações e passar por cirurgias<br />
começa a fazer parte da nossa<br />
vida. A gente costuma brincar que<br />
quem falta em nossas reuniões<br />
[para jogar baralho] está internada<br />
ou presa, porque o nosso grupo<br />
é muito animado. Não queremos<br />
levar a vida que tínhamos antes.<br />
Estamos nos adaptando constantemente”,<br />
diz a moça de alma.<br />
<strong>Eu</strong>nice se emociona ao falar de<br />
sua vida e diz acreditar que aos 60<br />
anos ainda se tem muito a fazer.<br />
“<strong>Eu</strong> tive uma vida difícil. Comecei a<br />
trabalhar muito cedo. Tinha minha<br />
mãe doente e quatro irmãs mais<br />
novas em casa. Depois, trabalhei<br />
duro para criar meus três filhos,<br />
sozinha. Quais poderiam ser meus<br />
planos para o futuro? Hoje, minha<br />
vida é diferente. Estou aproveitando<br />
agora. Pela primeira vez estou<br />
cuidando mais de mim”, revela.<br />
Para ela, ir ao salão de beleza<br />
duas vezes por semana é um<br />
luxo que não podia pensar antes.<br />
“<strong>Eu</strong> sou vaidosa, gosto de saltos<br />
e bons perfumes. Não abro mão<br />
desta ‘atençãozinha’. <strong>Tenho</strong> muito<br />
chão pela frente, quero ensinar o<br />
que sei para os meus netos e bisnetos<br />
e cuidar para que eles possam<br />
ter uma vida melhor que a<br />
minha”, conta, sorridente.<br />
Quando o assunto é o amor, todos<br />
concordaram com a hipótese<br />
de ter um segundo casamento,<br />
acreditando que a sensação de estar<br />
apaixonado dá mais sentido à<br />
vida e desperta um olhar otimista<br />
do futuro. Para a psicóloga Mileny<br />
Marchi, o relacionamento, nesta<br />
idade, precisa de maior cuidado e<br />
compreensão. ”Geralmente, quem<br />
procura um relacionamento depois<br />
dos 60 anos busca companhia. Há<br />
também aqueles que buscam uma<br />
forma de se reafirmarem”.<br />
Maria da Conceição Ornellas,<br />
64 anos, dona de uma agência<br />
de casamentos em Maringá, diz<br />
entender bem este assunto. Com<br />
aparência conservada e olhar de<br />
menina, sentada na varanda de<br />
sua casa na Zona Norte de Maringá,<br />
Maria sorriu ao se descrever<br />
como cupido e disse já ter formado<br />
mais de 40 casais. “A procura<br />
por um parceiro na agência é<br />
maior pela terceira idade. Nesta<br />
fase, nós já sabemos do que gostamos,<br />
aí a busca fica mais fácil.<br />
Geralmente, a companhia precisa<br />
ser agradável, precisa gostar de<br />
conversar.”<br />
Maria revelou ter se casado recentemente<br />
com Dizmo Rotta, 72<br />
anos. ”Nos conhecemos através<br />
da minha agência. Ele veio, preencheu<br />
a ficha e vi que nos tínhamos<br />
interesses em comum. <strong>Eu</strong> adoro o<br />
meu trabalho. Cada dia que passa<br />
me surpreendo mais com a vida.”<br />
Quando questionada sobre a duração<br />
dos relacionamentos, Maria<br />
não se intimidou. “Nesta idade,<br />
a única coisa que queremos é alguém<br />
para passar bons momentos<br />
ao nosso lado. <strong>Eu</strong> acredito no<br />
amor, para mim é ‘até que a morte<br />
separe’. Sou otimista.”, brinca.<br />
Antonio Barandas, de 63 anos,<br />
também revelou estar apaixonado.<br />
“Pretendo me casar o ano que vêm<br />
[em 2009]. Há vinte anos fiquei viúvo<br />
e somente agora resolvi me dar<br />
uma segunda chance”, confessa.<br />
Hoje, Barandas ocupa o cargo<br />
de síndico em um prédio de Maringá<br />
e garante que não é um trabalho<br />
fácil. “Os moradores, muitas<br />
vezes, apresentam opiniões opostas<br />
e cabe a mim mediar e decidir<br />
o que é melhor para o grupo. Lido<br />
com dúvidas, problemas físicos<br />
e psicológicos de todo o prédio.”<br />
Para ele, a aposentadoria não<br />
significou que sua missão estava<br />
cumprida. Descansar ainda não<br />
faz parte de seus planos. “Considero-me<br />
um homem sadio. Faço<br />
caminhada e continuo trabalhando.<br />
A carcaça pode estar sofrida,<br />
mas ainda me sinto jovem”.<br />
6
Especialistas confiam em<br />
bons resultados para o<br />
setor, mesmo com<br />
produtores rurais<br />
migrando para outras áreas<br />
O caminho promissor do<br />
agronegócio<br />
Flávia Torres<br />
O agronegócio sempre foi uma das atividades que mais cresceu no<br />
mundo, fonte de rendas e empregos, sendo um dos setores mais estratégicos<br />
para estabilizar a economia brasileira. Hoje, o País é destaque<br />
na área em termos de produtividade e no emprego de alta tecnologia.<br />
Cenário que também se repete no Paraná. De acordo com o chefe do<br />
núcleo regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná<br />
(SEAB), Renato Cardoso Machado, atualmente, o estado é o primeiro<br />
em produção de grãos no Brasil, mesmo ocupando apenas 2,3%<br />
do território nacional. A dúvida que surge, no momento, é até quando<br />
o crescimento vai durar.<br />
Produtores rurais e aqueles que dependem da atividade para sobreviver<br />
fazem planos com resultados nem sempre certos. A urbanização<br />
do homem do campo e a busca por atividades menos arriscadas também<br />
colocam em risco o futuro do setor agropecuário no Brasil.<br />
Por depender de aspectos naturais e condições climáticas, muitos<br />
agricultores deixam de investir para procurar outras áreas que garantam<br />
estabilidade. “Comecei minha plantação de maracujá acreditando<br />
no sucesso da produção, mas as pragas e a falta de incentivo me<br />
è<br />
21<br />
Flávia Torres
22<br />
“<br />
Para especialistas,<br />
não seria exagero<br />
prever nos<br />
próximos dez anos<br />
a duplicação<br />
da produção<br />
brasileira de grãos<br />
”<br />
desanimaram. Então, fui atrás de<br />
outra coisa que eu sei fazer. Hoje,<br />
trabalho em uma oficina”, relata o<br />
ex-produtor rural Laurindo Hernandes.<br />
Mesmo diante de tantas adversidades,<br />
o chefe do núcleo regional<br />
da Secretaria da Agricultura e do<br />
Abastecimento do Paraná (SEAB),<br />
Renato Cardoso Machado, mostrase<br />
otimista. “<strong>Eu</strong> vejo o agronegócio,<br />
como um todo, com bastante otimismo.<br />
É verdade que há períodos<br />
de picos em qualquer das atividades,<br />
principalmente as commodities<br />
[mercadoria usada como referência<br />
aos produtos em estado bruto ou<br />
com pequeno grau de industrialização]<br />
como a soja, que passa por<br />
períodos de menor valorização.”<br />
Especialistas afirmam que não<br />
seria exagero prever para os próximos<br />
dez anos a duplicação da<br />
produção brasileira de grãos. “Esse<br />
cenário veio para ficar. A demanda<br />
deve continuar aquecida e até acreditamos<br />
que, para os próximos anos,<br />
vamos ter condições melhores em<br />
nível de preço e de demanda, principalmente,<br />
internacional”, constata<br />
o ministro da Agricultura, Pecuária<br />
e Abastecimento, Reinhold Stephanes.<br />
Segundo ele, são expressivos<br />
os planos do governo para manter<br />
os bons resultados do setor. “Vejo<br />
um futuro promissor em função do<br />
aumento da população do Brasil<br />
e do mundo e da necessidade de<br />
alimentação. Isso faz com que tenhamos<br />
que buscar maior produtividade<br />
por meio de tecnologias, de<br />
pesquisas. Essa busca não termina<br />
nunca”, diz Renato Machado.<br />
Mas, para que haja crescimento<br />
do setor agropecuário, o chefe<br />
regional da SEAB alerta para uma<br />
busca maior de inovações para as<br />
propriedades rurais. “O produtor<br />
rural tem de estar buscando inovar,<br />
investir, mas com cautela. Deve-se<br />
adquirir novas tecnologias, novos<br />
equipamentos existentes no mercado<br />
em busca do aumento da produtividade<br />
para o futuro”, aconselha.<br />
<strong>Futuro</strong> que, para o ministro da<br />
agricultura Reinhold Stephanes, é<br />
altamente promissor. “O Brasil tem<br />
um bom clima, tem suas terras,<br />
tem tecnologia e tem organização<br />
de produção e isso é uma boa notícia<br />
para manter boas perspectivas<br />
para o futuro.”<br />
6<br />
Flávia Torres
TRAnSGênICO<br />
traz benefícios para a saúde e para o bolso<br />
Pesquisas mostram que esse tipo de<br />
produto já ocupa uma parte<br />
significante na mesa do consumidor;<br />
Brasil está em terceiro na produção<br />
Vanessa Cancian<br />
O alimento transgênico é aquele em que as sementes<br />
foram alteradas com o DNA (material genético<br />
localizado no interior das células) de um<br />
outro ser vivo, uma bactéria, por exemplo, para<br />
funcionar como inseticidas naturais ou resistirem a<br />
um determinado tipo de herbicida. Alimentos como<br />
grãos, óleos, leite e carnes de animais alimentados<br />
com transgênicos já se encontram em muitas mesas<br />
de toda a população brasileira.<br />
Dados do relatório do Serviço Internacional para<br />
a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia<br />
(ISAAA) apontam que, somente no Brasil, entre<br />
2006 e 2007, o cultivo de alimentos transgênicos<br />
aumentou em 30% - índice superado apenas pela<br />
Índia (63%). Em área cultivada, houve aumento<br />
de 3,5 milhões de hectares, o maior aumento absoluto<br />
em todo o mundo.<br />
Apesar do aumento no cultivo e na área de<br />
lavouras, o Brasil manteve a posição de terceiro<br />
maior produtor mundial de culturas transgênicas<br />
– com 15 milhões de hectares de soja e algodão<br />
modificados geneticamente - ficando atrás apenas<br />
dos Estados Unidos (com 57,7 milhões de hectares<br />
plantados) e da Argentina (com 19,1 milhões de<br />
hectares).<br />
Segundo a ISAAA, a área de cultivo de sementes<br />
transgênicas cresceu 12% em 2007, chegando<br />
a 114,3 milhões de hectares em todo o mundo, o<br />
segundo maior crescimento em termos de área nos<br />
últimos cinco anos (12,3 milhões de hectares).<br />
Para o agrônomo Otoniel Costa Araújo Júnior, a<br />
produção tem aumentado nos últimos anos devido<br />
ao grande interesse econômico direcionado ao<br />
desenvolvimento da tecnologia no setor. Porém, o<br />
governador do Paraná, Roberto Requião, proibiu o<br />
plantio, a manipulação, a comercialização e a indus-<br />
23<br />
Vanessa Cancian
24<br />
trialização do produto conforme a<br />
lei. nº 14.162, anteriormente foi<br />
aprovada pela Assembléia Legislativa<br />
do Estado. Requião declarou<br />
que as sementes transgênicas<br />
prejudicam os produtores paranaenses,<br />
por causa dos interesses<br />
que visam o lucro e também monopólios<br />
de multinacionais.<br />
Na década de 1970, 7 mil indústrias<br />
produziam sementes no<br />
mundo. Em 2006, as 10 maiores<br />
corporações do setor abocanharam<br />
57% do mercado de vendas,<br />
sendo que as três maiores (Monsanto,<br />
Dupont e Syngenta) ficaram<br />
com 39%. A Monsanto, por<br />
exemplo, é líder mundial de sementes<br />
transgênicas e controla<br />
sozinha 88% do mercado global<br />
de transgênicos.<br />
Enquanto o alimento geneticamente<br />
modificado oferece benefícios<br />
a quem o produz e já que não<br />
necessita grande volume de pesticidas<br />
e oferece possibilidade maior<br />
de lucro, organizações ecológicas,<br />
como o Greenpeace, questionam<br />
a eficácia e apontam perigos, mas<br />
deixam claro que não existe ainda<br />
O mapa da mina<br />
“ Há quase 40 anos,<br />
7 mil indústrias<br />
produziam<br />
sementes no<br />
mundo.<br />
Em 2006 já<br />
possuíam 57%<br />
do mercado<br />
”<br />
evidência científica que respalde a<br />
preocupação.<br />
O jornalista Rafael Soares diz<br />
não concordar com esse tipo de<br />
alimento, explica que o avanço<br />
da produção não basta. “O cultivo<br />
do transgênico pode prejudicar o<br />
solo e trazer algumas complicações<br />
para a saúde humana”, e finaliza<br />
dizendo que não consome<br />
o alimento modificado.<br />
Vantagens<br />
O agrônomo Juarez Gabardo,<br />
do Departamento de Genética<br />
Vegetal da Universidade Federal<br />
do Paraná diz acreditar que,<br />
por conter a mesma composição<br />
dos grãos convencionais, os<br />
transgênicos são ricos em proteínas<br />
e que ajudam numa melhor<br />
alimentação. “Os alimentos<br />
modificados geneticamente são<br />
tão seguros ou representam os<br />
mesmos riscos para a saúde dos<br />
alimentos naturais”, afirma.<br />
O agrônomo Otoniel Júnior<br />
Costa explica que as vantagens<br />
do plantio desse produto são<br />
inúmeras, entre elas, aumento<br />
da produção de alimentos, maior<br />
resistência e durabilidade do alimento<br />
durante a armazenagem<br />
do produto, maior facilidade na<br />
produção e condução das lavouras<br />
e melhoria do conteúdo nutricio-
nal do alimento.<br />
O professor João Alencar Anfili,<br />
mestre e doutor em agronomia na<br />
área de genética na UEM (Universidade<br />
Estadual de Maringá), explica<br />
que ao inserir proteínas ricas<br />
nutricionalmente nos alimentos,<br />
suas funcionalidades aumentam.<br />
“São inúmeras as suas utilidades<br />
quando se consegue introduzir um<br />
gene de interesse, por exemplo. O<br />
conteúdo adicionado irá aumentar<br />
a sua funcionalidade, que será capaz<br />
de representar uma melhoria<br />
da qualidade de vida dos indivíduos,<br />
de todas as classes sociais, do<br />
ponto de vista da saúde.”<br />
Anfili diz que para uma alimentação<br />
balanceada, nutricionistas<br />
indicam alimentos transgênicos<br />
no cardápio caseiro. “Para que nós<br />
tenhamos uma alimentação balanceada<br />
é necessário termos um<br />
pouco de tomate, cenoura, batata<br />
no arroz ou no feijão, pois existem<br />
características importantes contidas<br />
nesses tipos de legumes”.<br />
Os alimentos transgênicos que<br />
são colocados nas prateleiras podem<br />
ser consumidos sem problemas,<br />
pois, quando eles estão à<br />
venda, já foram autorizados para<br />
a comercialização, como explica<br />
Anfili: ““[Antes de ser comercializado]<br />
Compara-se a constituição<br />
química do alimento transgênico<br />
com o alimento não transgênico<br />
para ver se os dois alimentos são<br />
equivalentes substancialmente<br />
e se o alimento transgênico não<br />
produz nenhuma substância que<br />
possa provocar alergia. É analisado<br />
qualidades nutricionais como<br />
produção de vitaminas, aminoácidos”,<br />
explica.<br />
O professor do Departamento<br />
de Genética da UFPR, Juarez Gabardo<br />
afirma que são realizados<br />
testes para que seja avaliado o<br />
potencial alérgico de cada novo<br />
produto que aparece no mercado.<br />
Existem comissões atreladas<br />
a cada instituto de pesquisa que<br />
estão vinculadas ao conselho nacional<br />
de biosegurança, que trata<br />
dos cuidados necessários para que<br />
não ocorram perigos no consumo<br />
desses produtos e haja uma dimi-<br />
nuição de riscos potenciais nas alterações<br />
em alimentos.<br />
Existe uma análise da constituição<br />
química dos alimentos transgênicos<br />
e existe uma comparação<br />
desses alimentos com os não<br />
transgênicos chamados de análise<br />
da equivalência substancial, em<br />
que se verifica se os dois alimentos<br />
são equivalentes do ponto de<br />
vista nutricional e se eles têm a<br />
mesma segurança para consumo.<br />
Um outro fator importante é<br />
com relação à economia, que beneficiou<br />
a diminuição nos gastos<br />
com a lavoura. “Já ocorreu uma<br />
diferença mais significativa entre<br />
os custos de produção, hoje, os<br />
custos de produção das lavouras<br />
transgênicas estão bem próximos,<br />
isto acontecia principalmente porque<br />
os agricultores brasileiros estavam<br />
plantando lavouras transgênicas<br />
na clandestinidade. Com<br />
isto eles não eram obrigados a<br />
pagar os royalties (direitos de patente)<br />
desta tecnologia à empresa<br />
detentora da mesma, no entanto,<br />
com a regulamentação dos transgênicos<br />
no Brasil, passou-se a cobrar<br />
os direitos de patente sobre<br />
os agricultores que utilizam esta<br />
tecnologia”, argumenta o agrônomo<br />
Bruno Sgorlon.<br />
O produtor rural Jefferson Bagini<br />
de Campo Mourão diz preferir<br />
plantar sementes transgênicas<br />
pelas vantagens que elas trazem.<br />
“O principal motivo é a facilidade<br />
na condução das lavouras, quando<br />
comparamos uma lavoura transgênica<br />
e outra tradicional (sem o<br />
uso de sementes transgênicas).<br />
Diminui o número de aplicações<br />
de produtos agroquímicos, como<br />
exemplo. Para a soja, conduzida<br />
tradicionalmente, por exemplo, o<br />
agricultor precisaria entrar na lavoura<br />
para controlar ervas daninhas,<br />
entre três a cinco vezes. No<br />
caso das lavouras transgênicas,<br />
de duas a quatro vezes, ou seja,<br />
estaríamos ganhando uma aplicação”.<br />
Segundo Bagini, esta diferença<br />
é acentuada em áreas de<br />
terra onde a infestação de mato é<br />
maior.<br />
O professor João Anfili diz acre-<br />
25<br />
“O conteúdo<br />
adicionado irá<br />
aumentar a sua<br />
funcionalidade,<br />
que será capaz de<br />
representar uma<br />
melhoria da qualidade<br />
de vida dos indivíduos,<br />
de todas as classes<br />
sociais, do ponto de<br />
vista da saúde.”<br />
João Alencar Anfili
26<br />
“ Transgênicos vão<br />
ser os futuros<br />
aliados no combate<br />
a fome no mundo,<br />
pelo fato de<br />
poderem apresentar<br />
valor nutricional<br />
maior em relação<br />
aos alimentos<br />
não-transgênicos<br />
”<br />
ditar que os alimentos geneticamente<br />
modificados serão à maioria<br />
no futuro devido aos pontos<br />
positivos que eles apresentam<br />
para a sociedade. “[Os transgênicos]<br />
Eles não serão só o futuro, é<br />
o presente. A engenharia genética<br />
tem trazido grandes avanços na<br />
qualidade de vida da população<br />
mundial, por exemplo, na indústria<br />
farmacêutica, muitos produtos<br />
como a insulina”, referindo-se<br />
à insulina humana produzida a<br />
partir de bactérias.<br />
O professor considera que os<br />
transgênicos poderão ser considerados<br />
vacinas naturais no tratamento<br />
de doenças. “As plantas<br />
transgênicas se tornarão verdadeiros<br />
biorreatores (equipamentos<br />
capazes de multiplicar muda<br />
de plantas com mais higiene, segurança<br />
e economia) na produção<br />
de medicamentos, serão empregadas<br />
na eliminação de lixo tóxicas<br />
no ambiente, o que chamamos<br />
de bioremediação”, prevê.<br />
Anfili também explica que os<br />
transgênicos vão ser os futuros<br />
aliados para combater a fome<br />
no mundo, pelo fato de poderem<br />
apresentar valor nutricional maior<br />
em relação aos não-transgênicos.<br />
“Imagino que naqueles paí-<br />
Painel<br />
O que as pessoas pensam sobre os transgênicos?<br />
Naiara Silveira<br />
20 anos<br />
É contra por não ter<br />
conhecimento sobre a<br />
procedência do produto<br />
João Paulo Marques<br />
20 anos<br />
É à favor. “Pelo fato de ser<br />
um alimento modificado<br />
pode ajudar a ser mais<br />
completo e assim trazer<br />
benefícios à saúde”.<br />
ses mais pobres com ambientes<br />
inóspitos, onde há maior escassez<br />
de alimento, se você oferecer<br />
um feijão transgênico com maior<br />
índice de proteína, vitaminas e<br />
mais resistente à doença – o que<br />
aumenta e muito a produção por<br />
Denise Timoteo<br />
21 anos<br />
É contra pelo fato do<br />
produto não ser natural<br />
Camila Eliane da Silva<br />
21 anos<br />
Não é contra nem a favor. “Do<br />
mesmo modo que o produto<br />
transgênico traz benefícios,<br />
na economia por exemplo,<br />
pode também ser maléfico à<br />
saúde, pois não é natural”.<br />
Fotos: Vanessa Cancian<br />
hectare de terra plantada – você<br />
estará contribuindo para a diminuição<br />
da fome no planeta. Dessa<br />
forma, efetivamente, aumenta-se<br />
a possibilidade do acesso de famílias<br />
muitos carentes a alimentos<br />
importantes”, idealiza. 6
Plantar fl orestas<br />
para colher o futuro<br />
Uma cultura diferenciada que procura criar sistemas de fl orestas produtivas, em vez de<br />
monoculturas, pode ser o diferencial no cuidado com o meio ambiente<br />
Jaqueline Souza<br />
Quantas vezes o leitor já deve ter ouvido falar nas mudanças climáticas,<br />
aquecimento do planeta, degelo dos pólos, as diversas catástrofes ecológicas<br />
que poderiam ser evitadas pelo simples hábito de parar de agredir o<br />
meio ambiente? O assunto é mesmo sério e o número de pessoas que lutam<br />
por essa causa é grande. Mas, para salvar o planeta do próprio homem, é<br />
preciso se preocupar mais com hábitos diários que prejudicam a natureza.<br />
Imagine, por exemplo, uma sociedade em que a população pudesse cultivar<br />
princípios que estimulam a criação de ambientes sustentáveis, produtivos,<br />
dentro de um padrão economicamente aceitável para o progresso de<br />
um país e também para a preservação do meio ambiente. Sonho? Realidade:<br />
essa prática já existe em mais de cem países. É a permacultura.<br />
De acordo com dados da Universidade Federal de Santa Catarina (www.<br />
cca.ufsc.br/permacultura), o método consiste em uma cultura permanente<br />
e diversifi cada, criando-se fl orestas produtivas para substituir as monoculturas.<br />
Para isso, foi preciso misturar conhecimentos de culturas antigas com<br />
ciência moderna.<br />
A agricultura permanente foi desenvolvida nos anos 1970, na Austrália,<br />
pelo professor universitário Bill Mollison. De lá para cá, passaram a existir<br />
diversos institutos de permacultura e cerca de uma dezena de experiências<br />
è<br />
27<br />
Jaqueline Souza
28<br />
“(...) [a permacultura]<br />
ajuda principalmente<br />
as famílias de baixa<br />
renda, que têm pouco<br />
acesso a produtos de<br />
melhor qualidade”<br />
Odacir Antonio Zanatta<br />
bem sucedidas no Brasil.<br />
O agrônomo, professor e coordenador<br />
do curso de agronomia<br />
do Centro Universitário de Maringá<br />
(<strong>Cesumar</strong>), Odacir Antonio<br />
Zanatta, explica que esse tipo de<br />
cultivo tem por objetivo imitar<br />
o máximo possível o ambiente<br />
natural, utilizando a cultura permanente<br />
– árvores frutíferas e<br />
madeireiras – e semi- permanente<br />
– mandioca, bananeiras etc.<br />
“O que há de mais interessante<br />
é que a vegetação permanente<br />
acaba criando um ambiente natural<br />
de alojamento de inimigos<br />
naturais das pragas, não atacando<br />
a cultura, o que é uma vantagem”,<br />
afirma.<br />
Benefícios<br />
A permacultura não é apenas<br />
uma agricultura diferenciada na<br />
questão dos métodos convencionais.<br />
O sistema tem como princípios<br />
fatores sanitários, sociais e<br />
econômicos, como ética, cuidados<br />
com o planeta, com as pessoas,<br />
compartilhamento de excedentes.<br />
Em linhas gerais, como Bill<br />
Mollison definiu, visa a criação de<br />
ambientes humanos sustentáveis<br />
e produtivos em equilíbrio e harmonia<br />
com a natureza. Em áreas<br />
onde se pratica a permacultura,<br />
não é de se estranhar, por exemplo,<br />
hortas em meio a uma área<br />
de entulho onde, outrora, funcionou<br />
um “lixão”.<br />
Falta de divulgação<br />
De acordo com Zanatta, mesmo<br />
a permacultura sendo um<br />
método válido e viável para as<br />
pessoas dispostas a plantar o<br />
próprio alimento, não há muita<br />
divulgação do assunto pela mídia.<br />
“Isso [a permacultura] ajuda<br />
principalmente as famílias de baixa<br />
renda, que têm pouco acesso<br />
a produtos de melhor qualidade”,<br />
garante.<br />
Segundo ele, poucos conhecem<br />
o termo ou mesmo no que<br />
consiste a prática. O motivo é<br />
claro: a agricultura, atualmente,<br />
utilizada em larga escala com o<br />
objetivo de alimentar o maior nú-<br />
mero de pessoas. Zanatta explica<br />
que a divulgação da permacultura<br />
não é interessante para o sistema<br />
produtivo. A situação financeira<br />
de diversos brasileiros não permite<br />
que eles tenham acesso a uma<br />
alimentação de qualidade, baseada<br />
em produtos orgânicos. Assim,<br />
acabam comprando produtos de<br />
larga escala. Afinal, segundo ele,<br />
praticamente 60% da população<br />
brasileira vive com um salário mínimo.<br />
“ Ano passado, a<br />
agropecuária foi a<br />
atividade que mais<br />
cresceu no Brasil,<br />
segundo IBGE<br />
”<br />
Ao ser questionado sobre a viabilidade<br />
da permacultura no Paraná,<br />
o agrônomo diz ser viável visto<br />
que o principal foco da economia<br />
do Estado é a agricultura. Dados<br />
do Instituto Brasileiro de Geografia<br />
e Estatística (IBGE) apontam<br />
que, em 2007, a agropecuária foi<br />
a atividade de maior crescimento<br />
no País. Mesmo assim, alerta o<br />
professor, para que a permacultura<br />
pudesse acontecer em terras<br />
paranaenses, seria necessário<br />
mudar todo o sistema fundiário. O<br />
que, segundo ele, seria difícil de<br />
acontecer.<br />
O único projeto que a reportagem<br />
teve conhecimento, em<br />
Maringá, que visa praticar a agricultura<br />
permanente foi o “Projeto<br />
Vida no Campo: A vida em harmonia<br />
com a natureza”, do agrônomo<br />
Marcos Alberto Seguese. A iniciativa<br />
será desenvolvida na fazenda<br />
do <strong>Cesumar</strong>. No entanto, não foi<br />
possível falar com ele até o fechamento<br />
desta edição.<br />
6
Planeta do<br />
mar de areia<br />
O uso irracional, associado à degradação e a poluição ambiental, pode levar, em um<br />
futuro não tão distante, à escassez da água potável no planeta<br />
Danielle Sgorlon<br />
Estudiosos apontam que a realidade retratada na música “Planeta<br />
Água”, de Guilherme Arantes, está comprometida e que o homem é o<br />
principal responsável por isso. Ao contrário do que propõe a canção,<br />
esqueceu-se, ou se fingiu esquecer, que a utilização e a conservação<br />
dos recursos hídricos estão diretamente associadas à preservação da<br />
vida; que a água está entre as principais necessidades das plantações,<br />
matas e florestas, sendo a principal responsável pela biodiversidade do<br />
planeta e nutrição dos seres vivos e permitindo que a vida se mantenha<br />
e perpetue. Em outras palavras, passa-se despercebido que sem<br />
água, não há sobrevivência.<br />
É o que constata José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional<br />
de Ecologia de São Carlos (SP), biólogo especializado no<br />
estudo das águas e pesquisador dos mecanismos de funcionamento de<br />
rios, lagos e reservatórios, em seu livro “Água no século XXI – Enfrentando<br />
a Escassez”. “Embora dependam da água para a sobrevivência e<br />
para o desenvolvimento econômico, as sociedades humanas poluem e<br />
degradam esse recurso, tanto às águas superficiais quanto as subterrâneas.”<br />
è<br />
“ No planeta<br />
apenas 3% da água<br />
é doce;<br />
a questão é que<br />
75% dessa água<br />
está congelada nos<br />
pólos<br />
29<br />
Lorenzo & Samia<br />
”
30<br />
À primeira vista, a imensidão<br />
dos oceanos e a grande quantidade<br />
de rios ainda conseguem ludibriar<br />
os olhares de homens que<br />
acreditam que a água é um recurso<br />
inesgotável. Mas, segundo<br />
Tundisi, há uma pequena quantidade<br />
de água doce no planeta.<br />
Somente 3% de toda a água disponível.<br />
Desse total, 75% está<br />
congelada nas calotas polares e<br />
cerca de 10% está em reservas<br />
subterrâneas de difícil acesso,<br />
retidas em rochas no interior da<br />
Terra. De toda a água doce existente<br />
no planeta, apenas 15%<br />
está disponível para consumo.<br />
Tudo se torna mais complexo<br />
quando se constata que esse recurso<br />
está sendo mal utilizado,<br />
degradado e poluído.<br />
Darco TT<br />
Sidinei Magela Thomaz, doutor<br />
em Ecologia de Ambientes Aquáticos<br />
Continentais em Maringá, alerta<br />
que a preocupação com a questão<br />
da água é válida e importante,<br />
e, para evitar a escassez futura,<br />
deve ser pensada agora. “A água<br />
é um recurso esgotável, quando<br />
analisamos que a poluição e a degradação<br />
a deixam imprópria para<br />
o consumo. Hoje, a maior parte<br />
dos rios e lagos está contaminada,<br />
muitas vezes, com metais pesados.<br />
O consumo dessa água pode<br />
ocasionar problemas de saúde; às<br />
vezes, bastante sérios. Além disso,<br />
toda a fauna e a flora do ambiente<br />
aquático contaminado são<br />
prejudicadas. Os peixes também<br />
se contaminam, tornando-os impróprios<br />
para alimentação.” è<br />
“ Carta virtual<br />
disponível na<br />
internet exibe<br />
reprodução da<br />
vida no planeta<br />
em 2070<br />
”
Thomaz traça um cenário não<br />
muito animador para os homens.<br />
Ele lembra que não vai demorar<br />
para que a água seja motivo de<br />
conflitos, visto que, futuramente,<br />
será produto escasso. “Sabemos<br />
que não existe vida sem água.<br />
Logo, se não houver uma conscientização<br />
e um censo de preservação,<br />
não demorará muito para<br />
que comecem a acontecer brigas<br />
e até mesmo guerras pelo domínio<br />
da água doce. Já vemos hoje,<br />
em algumas partes do mundo,<br />
pessoas morrendo por falta de<br />
água. Não porque não chove, mas<br />
porque não há água potável em<br />
algumas regiões. A falta de água<br />
traz, junto com ela, a escassez de<br />
alimentos, o que impossibilita a<br />
vida na Terra.”<br />
Muito além do dia da água<br />
Há algum tempo, algumas<br />
autoridades têm se preocupado<br />
com a questão da preservação da<br />
água. Tanto que a ONU (Organização<br />
das Nações Unidas), instituiu,<br />
no dia 22 de março de 1992, o Dia<br />
Mundial da Água. Desde então,<br />
todo dia 22 de março é dedicado<br />
a discussões, debates e questionamentos<br />
na tentativa de preservação<br />
dos recursos hídricos. Para<br />
José Vladimir<br />
a doutora em Educação Ambiental<br />
Ana Tiemi Obara isso é muito pouco,<br />
pois ainda é necessária uma<br />
grande conscientização da população<br />
na tentativa de se evitar a futura<br />
escassez. “Não adianta instituir<br />
dia mundial, direitos da água,<br />
se as pessoas não se conscientizarem<br />
de que os recursos hídricos<br />
podem realmente acabar e que<br />
muitos poderão morrer de sede e<br />
de fome em um futuro próximo.<br />
‘A Carta 2070’ [vídeo disponível<br />
no site www.youtube.com.br que<br />
tenta mostrar como será a vida na<br />
Terra no ano de 2070; quando se<br />
supõe que não haverá quase água<br />
disponível para consumo] é uma<br />
realidade e pode ser que não leve<br />
nem tanto tempo para chegarmos<br />
à situação descrita no vídeo.”<br />
A revolução química, iniciada<br />
após a 2ª Guerra Mundial, produziu<br />
uma enorme variedade de<br />
compostos químicos que deveriam<br />
ser usados para ajudar a população<br />
na fabricação de remédios,<br />
produção de alimentos, mas, por<br />
ironia, estão colocando em risco<br />
a vida, pois os resíduos estão<br />
sendo lançados nos rios e lagos,<br />
contaminando pessoas, matando<br />
animais e plantas, afetando todo<br />
o ecossistema. è<br />
31<br />
“Se não houver uma<br />
conscientização e um<br />
censo de preservação,<br />
não demorará muito<br />
para que comecem a<br />
acontecer brigas e até<br />
mesmo guerras pelo<br />
domínio da água doce.”<br />
Sidinei Magela Thomaz
32<br />
Os direitos da água<br />
Em 22 de março de 1.992 a ONU (Organização das<br />
Nações Unidas) instituiu o “Dia Mundial da Água”, que<br />
vem sendo lembrado por entidades governamentais<br />
e não governamentais em todo o mundo como mais<br />
um dia de luta em defesa da preservação da Natureza.<br />
Na tentativa de defesa e conscientização das pessoas<br />
com relação aos cuidados e preservação dos<br />
recursos hídricos, a ONU redigiu um documento intitulado<br />
“Declaração Universal<br />
dos Direitos da Água”<br />
1. -A água faz parte do<br />
patrimônio do planeta. Cada<br />
continente, cada povo, cada nação,<br />
cada região, cada cidade,<br />
cada cidadão, é plenamente responsável<br />
aos olhos de todos.<br />
2. -A água é a seiva de nosso<br />
planeta. Ela é condição essencial<br />
à vida de todo vegetal,<br />
animal ou ser humano. Sem ela<br />
não poderíamos conceber como<br />
seriam a atmosfera, o clima, a<br />
vegetação, a cultura ou a agricultura.<br />
3. -Os recursos naturais de<br />
transformação da água em água<br />
potável são lentos, frágeis e<br />
muito limitados. Assim sendo, a<br />
água deve ser manipulada com<br />
racionalidade, precaução e parcimônia.<br />
4.-O equilíbrio e o futuro de<br />
nosso planeta dependem da<br />
preservação da água e de seus<br />
ciclos. Estes devem permanecer<br />
intactos e funcionando normalmente<br />
para garantir a continuidade<br />
da vida sobre a Terra. Este<br />
equilíbrio depende em particular,<br />
da preservação dos mares<br />
e oceanos, por onde os ciclos<br />
começam.<br />
5. -A água não é somente herança<br />
de nossos predecessores;<br />
ela é, sobretudo, um empréstimo<br />
aos nossos sucessores. Sua<br />
proteção constitui uma necessidade<br />
vital, assim como a obriga-<br />
ção moral do homem para com<br />
as gerações presentes e futuras.<br />
6. -A água não é uma doação<br />
gratuita da natureza; ela<br />
tem um valor econômico: precisa-se<br />
saber que ela é, algumas<br />
vezes, rara e dispendiosa e que<br />
pode muito bem escassear em<br />
qualquer região do mundo.<br />
7. -A água não deve ser desperdiçada,<br />
nem poluída, nem<br />
envenenada. De maneira geral,<br />
sua utilização deve ser feita com<br />
consciência e discernimento para<br />
que não se chegue a uma situação<br />
de esgotamento ou de deterioração<br />
da qualidade das reservas<br />
atualmente disponíveis.<br />
8. -A utilização da água implica<br />
em respeito à lei. Sua proteção<br />
constitui uma obrigação<br />
jurídica para todo homem ou<br />
grupo social que a utiliza. Esta<br />
questão não deve ser ignorada<br />
nem pelo homem nem pelo Estado.<br />
9. -A gestão da água impõe<br />
um equilíbrio entre os imperativos<br />
de sua proteção e as necessidades<br />
de ordem econômica,<br />
sanitária e social.<br />
10. -O planejamento da<br />
gestão da água deve levar em<br />
conta a solidariedade e o consenso<br />
em razão de sua distribuição<br />
desigual sobre a Terra.<br />
“O que está acabando<br />
com a água é a falta de<br />
cuidado com rios, lagos,<br />
reservatórios. É nesse<br />
ponto que temos de nos<br />
fixar, na preservação das<br />
fontes”<br />
Ana Obara<br />
Por isso, segundo a doutora<br />
Ana Obara, é preciso aliar o bom<br />
uso dos recursos existentes com<br />
a preservação, pois, mesmo que<br />
água se renove, o processo leva<br />
muito tempo. Para a doutora, o que<br />
está acabando com a água não é o<br />
consumo – o banho das pessoas,<br />
a lavagem das roupas, a preparação<br />
de comida, mas a poluição. “O<br />
que está acabando com a água é<br />
a falta de cuidado com rios, lagos,<br />
reservatórios. É nesse ponto que<br />
temos de nos fixar, na preservação<br />
das fontes, nas nascentes dos<br />
rios constantemente poluídas com<br />
metais pesados, agrotóxicos, lixo<br />
industrial e resíduos.” Ela vai além<br />
e enfatiza que não adianta apenas<br />
ficar mandando fechar as torneiras<br />
para escovar os dentes, pois<br />
mesmo que o consumo consciente<br />
e racional seja importante, é o mínimo<br />
a se fazer.<br />
6
“ Tendência no<br />
consumo de frutas<br />
está em queda<br />
desde 1974; em<br />
contrapartida,<br />
refrigerantes<br />
aumentaram as<br />
vendas em 400%<br />
Boa alimentação<br />
garante futuro melhor<br />
”<br />
Jheine Evelim<br />
O brasileiro se alimenta relativamente bem. O equilíbrio, de acordo<br />
com pesquisas, está no famoso casal “arroz com feijão”, que acaba por<br />
fornecer nutrientes necessários para uma alimentação saudável. Ambos<br />
fornecem vitaminas do complexo B, ferro e outros nutrientes que<br />
ajudam no bom funcionamento do organismo. Mas, muito além da dupla<br />
dinâmica, o que pesa na saúde dos brasileiros são os acompanhamentos,<br />
também chamados de “mistura”. Carnes vermelhas, massas<br />
em geral, lanches e as tentadoras sobremesas recheadas de calorias<br />
tiram o espaço das frutas e legumes do cardápio brasileiro.<br />
Dados do Ministério da Saúde (www.saude.gov.br) revelam que, no<br />
Brasil, a tendência do consumo de frutas está em queda desde 1974,<br />
caindo 31% até 2003. O consumo de refrigerantes, em contrapartida,<br />
aumentou em 400%. As refeições prontas e misturas industrializadas<br />
aumentaram a participação em 82% no período, indicando uma mudança<br />
no comportamento alimentar. Isso signifi ca que a tendência para<br />
a má alimentação aumenta cada vez mais no País.<br />
De acordo com uma pesquisa realizada em parceria do Ministério<br />
da Saúde com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e<br />
Saúde da Universidade de São Paulo, 40% dos brasileiros adultos estão<br />
acima do peso, podendo ser considerados obesos. Os hábitos alimentares<br />
refl etem isso: das 54 mil pessoas entrevistadas, 32,8% ingerem<br />
com freqüência carnes com excesso de gordura, enquanto apenas<br />
17,7% ingeriam cinco porções de frutas, como recomenda a Organiza-<br />
33<br />
Vanessa Cancian
34<br />
“Antigamente,<br />
não era como agora.<br />
A gente comia de tudo.<br />
<strong>Eu</strong> tomava muito café<br />
e muita gente fala que<br />
faz mal. Agora é que<br />
as pessoas passaram a<br />
se preocupar mais com<br />
a alimentação”<br />
D. Maria José<br />
ção Mundial da Saúde (OMS).<br />
São diversos os números que<br />
demonstram que boa alimentação<br />
é sinônimo de melhor qualidade<br />
de vida. Muitos problemas relacionados<br />
à saúde podem ser evitados<br />
por meio de alimentos saudáveis.<br />
Estudos mostram que muitas doenças<br />
são decorrentes de alimentação<br />
inadequada, tanto pela qualidade,<br />
quanto pela quantidade de<br />
alimentos ingeridos. Doenças cardiovasculares,<br />
estresse e doenças<br />
crônicas são alguns dos males decorrentes<br />
desses maus hábitos.<br />
A nutricionista e coordenadora<br />
do curso de Nutrição do <strong>Cesumar</strong><br />
(Centro Universitário de Maringá),<br />
Gersislei Antônia Salado, afirma<br />
que alimentos saudáveis são essenciais<br />
para uma boa saúde. “É<br />
por meio da boa alimentação que<br />
se mantém uma melhoria na saúde.<br />
Ela [boa alimentação] é a base<br />
da nossa vida e ajuda a evitar<br />
muitos problemas relacionados à<br />
saúde”, diz.<br />
De acordo com Gersislei, benefícios<br />
como melhor cicatrização e<br />
impossibilidade do agravo de doenças<br />
são alguns dos pontos positivos<br />
que os alimentos saudáveis<br />
trazem. “A boa alimentação permite<br />
uma cicatrização precoce de<br />
ferimentos e principalmente a cicatrização<br />
mais rápida de feridas<br />
cirúrgicas. Evita também que doenças<br />
se agravem e ainda serve<br />
para diminuir o tempo de hospitalização”,<br />
explica.<br />
A boa alimentação ajuda também<br />
no desenvolvimento do organismo,<br />
possibilitando qualidade de<br />
vida no futuro. “É importante que<br />
desde a infância se tenha bons hábitos<br />
alimentares. O adolescente,<br />
jovem ou criança que não se alimenta<br />
bem poderá ter problemas<br />
no futuro”, afirma a nutricionista.<br />
Com os nutrientes necessários,<br />
uma pessoa alimentada de forma<br />
adequada tem mais disposição e<br />
energia para desenvolver as atividades<br />
do dia-a-dia. Melhoria de<br />
memória, raciocínio e bom humor<br />
são outros benefícios.<br />
Os bons hábitos alimentares<br />
ajudam também na formação dos<br />
ossos. “O cálcio faz a densida-<br />
de óssea até os 30 anos. Depois<br />
disso a densidade não aumenta<br />
mais. Se a pessoa, na formação<br />
da densidade óssea, não se alimentar<br />
bem, ela terá problemas<br />
no futuro, como uma possibilidade<br />
maior de ter osteoporose”, explica<br />
Gersislei.<br />
Os dois lados da alimentação<br />
O estudante Bruno Vinícius,<br />
20, afirma não ter bons hábitos<br />
alimentares. “Como muito lanche,<br />
inclusive cachorro-quente. Para<br />
falar a verdade, como ‘cachorrão’<br />
todo dia. Não como muitos<br />
alimentos [saudáveis] como saladas”.<br />
Mas Bruno sabe que a saúde<br />
dele pode estar em perigo. “<strong>Tenho</strong><br />
consciência que isso [má alimentação]<br />
pode prejudicar a minha<br />
saúde. Na verdade já estou sendo<br />
prejudicado. Estou me sentindo<br />
mais gordo, mas pretendo entrar<br />
em uma academia para não ter<br />
minha saúde danificada mais para<br />
frente”, afirma.<br />
Já a personal trainer Terezinha<br />
Pelissari Kravchychyn, 45, pratica<br />
esportes e diz ter uma boa<br />
alimentação. “Durante a semana<br />
mantenho o controle alimentar.<br />
Orientada pela minha nutricionista,<br />
procuro comer alimentos mais<br />
saudáveis. Também pratico esportes.<br />
Mas isso não significa que não<br />
como alimentos como doces. <strong>Eu</strong><br />
como, mas de forma controlada<br />
e só nos finais de semana. Com<br />
alimentação saudável, me sinto<br />
mais disposta para as tarefas do<br />
dia-a-dia. Sou feliz assim.”<br />
Terezinha acredita que por meio<br />
de seus bons hábitos alimentares<br />
terá um bom futuro. “Estou plantando<br />
agora para colher no meu<br />
futuro. Creio que ele [futuro] estará<br />
garantido e, claro, para bem<br />
melhor.”<br />
A estudante do curso de nutrição<br />
do <strong>Cesumar</strong> e filha de Terezinha,<br />
Ana Cláudia Kravchychyn,<br />
19, diz seguir o exemplo da mãe.<br />
“<strong>Eu</strong> procuro manter uma boa alimentação.<br />
Como bastante frutas e<br />
saladas, até mesmo porque, aqui<br />
em casa, é bem controlado e eu<br />
também faço faculdade de nutrição.<br />
Com certeza isso [bons hábi-
tos alimentares] vai me trazer uma qualidade de vida<br />
melhor no futuro”, constata.<br />
O curioso é que há tempos a preocupação com a<br />
alimentação não era tão intensiva quanto atualmente.<br />
É o caso de Dona Maria José, aposentada, 82, que<br />
diz não ter tido muitos cuidados com a alimentação no<br />
passado. ”Antigamente, não era como agora. A gente<br />
comia de tudo. <strong>Eu</strong> tomava muito café e muita gente<br />
fala que faz mal. Agora é que as pessoas passaram a<br />
se preocupar mais com a alimentação.” Má alimentação<br />
que trouxe conseqüências. “Hoje eu tenho diabete alta.<br />
Se tivesse tomado cuidado antes, minha saúde estaria<br />
bem melhor.”<br />
A lógica da<br />
pirâmide<br />
alimentar<br />
O consumo de alimentos deve seguir a lógica<br />
da pirâmide alimentar. A base da pirâmide<br />
indica os alimentos que devem ser<br />
consumidos em maior quantidade, para um<br />
bom funcionamento do organismo. Já o topo<br />
da pirâmide contém os alimentos que devem<br />
ser evitados ou ingeridos em menor<br />
quantidade.<br />
Plumberry Lane<br />
6<br />
De vilões a mocinhos<br />
35<br />
O chocolate é um alimento que antes era<br />
considerado como prejudicial a saúde. Hoje,<br />
segundo pesquisas, o chocolate<br />
escuro é visto como um bom antioxidante.<br />
Promove a saúde do coração, ajuda<br />
a prevenir o câncer, além de combater a<br />
hipertensão. Outro vilão era o café. Hoje,<br />
segundo pesquisas do Instituto Ameri-<br />
cano Kaiser Permanente, ajuda a<br />
prevenir a cirrose. O cientista<br />
Tomas De Paulis, da norte-americana<br />
Vanderbilt University Institut<br />
for Coffee Studies, realizou<br />
19 mil testes com o café e obteve<br />
bons resultados com crianças e idosos. O<br />
teste constatou que as crianças crianças que que tomam tomam<br />
café com com leite têm menos chance de desendesenvolver depressão. Para os os mais mais velhos, velhos, a<br />
redução de colesterol e ainda ainda a prevenção<br />
de males, como o de Parkinson e e Alzheimer,<br />
Alzheimer,<br />
também podem ser evitados evitados com com o consumo<br />
do café.
36<br />
Tecnologia pode estabelecer novo<br />
papel para o professor<br />
Diversas fontes de pesquisa e de interação com o mundo<br />
rompem os limites de tempo e espaço, construindo um<br />
novo cenário para o profissional da educação Vinícius Durval Dorne<br />
Vinícius Durval Dorne<br />
Ao contrário de poucos anos<br />
atrás, hoje, é possível assistir do<br />
Brasil a uma aula de Comunicação<br />
Social de uma importante instituição<br />
de ensino superior do outro<br />
lado mundo, ao vivo, reclinado em<br />
uma poltrona de descanso no escritório.<br />
Nesse cenário, o acesso a<br />
grande número de informações e<br />
a interação com qualquer parte do<br />
mundo surgem como apenas algumas<br />
das muitas possibilidades<br />
que o desenvolvimento da tecnologia<br />
permitiu à educação e suscitam<br />
discussões sobre o atual e o<br />
futuro papel do professor.<br />
Segundo a diretora de Desenvolvimento<br />
Institucional do <strong>Cesumar</strong><br />
(Centro Universitário de<br />
Maringá), Maria Helena Krüger,<br />
para se integrar ao novo cenário,<br />
o professor deve, além de estar<br />
atualizado, conhecer as diversas<br />
tecnologias que pode utilizar em<br />
sala de aula, eventos, seminários,<br />
como, também, a dinâmica a ser<br />
aplicada. Ela explica que, além da<br />
tecnologia eletrônica, existem as<br />
de formas de aprendizagem que<br />
demonstram a globalidade do<br />
mundo e a rapidez com que tudo<br />
vem acontecendo. “Senão, não<br />
conduz o aluno ao conhecimento”,<br />
conclui.<br />
O profissional da educação que<br />
deseja se preparar para o futuro,<br />
segundo a doutora em História e<br />
Filosofia da Educação Isilda Campaner<br />
Palangana, da UNIFAMMA<br />
– Faculdade Metropolitana de Maringá,<br />
deve também primar pela<br />
atualização contínua. Ela explica<br />
que o professor precisa buscar<br />
cursos de formação docente,<br />
como a especialização, mestrado e<br />
doutorado, transcendendo às demandas<br />
mercadológicas e visando<br />
o humano em todas as suas dimensões.<br />
Para isso, Isilda ressalta<br />
a relevância para outras necessidades<br />
dos professores, como remuneração<br />
digna, direitos sociais<br />
preservados e tempo condizente<br />
com o que requer a função.<br />
O doutor em Educação Walter<br />
Lúcio de Alencar Praxedes, da<br />
Universidade Estadual de Maringá<br />
(UEM), também defende que<br />
a capacitação é necessária, mas<br />
explica que é, ao mesmo tempo,<br />
parodoxal. “Mesmo com as condições<br />
de trabalho mais precárias,<br />
é exigido do professor universitário<br />
inúmeras competências que só<br />
são formadas após um longo período<br />
de preparação e que demandam<br />
muitos recursos e disponibilidade<br />
de tempo. Tempo de estudo<br />
que é subtraído do tempo de lazer<br />
e com a família”, aponta. Para ele,<br />
os alunos podem até não conhecer<br />
a fundo os assuntos tratados<br />
pelos professores, mas percebem<br />
se ele está ou não bem preparado<br />
e, frente a isso, “não há outro caminho<br />
[para o professor] que não<br />
seja o estudo contínuo”.<br />
Professor-máquina<br />
Maria Helena Krüger expõe que
há necessidade de formar o professor<br />
que possa ser o condutor,<br />
o guia que orientará o aluno para<br />
utilizar o conhecimento e a tecnologia<br />
existente, desvinculando-se<br />
da idéia de profissional da educação<br />
que apenas transmite ou dá<br />
conhecimento. Até porque, segundo<br />
ela, o conhecimento hoje<br />
não precisa estar numa sala de<br />
aula. Ela explica que é necessário<br />
ensinar os alunos a usarem e<br />
selecionarem fontes fidedignas de<br />
informação na internet, de forma<br />
que possam usar o conhecimento<br />
apreendido na web, tanto no desenvolvimento<br />
profissional como<br />
no pessoal. “Talvez, o maior desafio<br />
do nosso século seja como conduzir<br />
o aluno de forma que saiba<br />
bem utilizar aquele conhecimento<br />
e aquela informação.”<br />
No mundo que prima, cada vez<br />
mais, pela informatização e constante<br />
atualização, um questionamento<br />
levantado é a substituição<br />
do professor, em um tempo não<br />
muito distante, por programas de<br />
computador. Para a professora de<br />
informática do <strong>Cesumar</strong>, Veridiana<br />
Duarte, a palavra “substituir”<br />
é muito forte, pois, as tecnologias<br />
podem ser mais um recurso<br />
no processo ensino didático-pedagógico<br />
e não mero substituto<br />
do educador. Baseada nas experiências<br />
que diz ter tido com o<br />
EAD (Ensino à Distância), ela diz<br />
acreditar que este processo educacional<br />
se torna mecânico e frio,<br />
sendo imprescindível a presença<br />
física do professor. “[No EAD] Não<br />
existe uma sala de aula com colegas<br />
e contato físico, mas um ambiente<br />
virtual. Acredito que o ser<br />
humano necessita deste contato<br />
[físico], principalmente no aspecto<br />
educacional, para extrair dúvidas<br />
imediatamente. Ao contrário<br />
do que acontece no EAD,em que é<br />
preciso agendar um horário para<br />
que o ‘tutor’ tire as dúvidas.”<br />
Maria Helena segue a mesma<br />
linha de pensamento de Veridiana<br />
e explica que os alunos devem<br />
estar formados a entender que<br />
a tecnologia não vai substituir o<br />
professor. “A tecnologia deve ser<br />
uma ferramenta do professor para<br />
que o aluno possa interpretar e<br />
acessar o conhecimento”, explica.<br />
Livros impressos com dias<br />
contados<br />
Estaria, hoje, a educação muito<br />
diferente se comparada a de<br />
15 anos atrás? Tanto a professora<br />
Veridiana como a diretora institucional<br />
Maria Helena expõem que a<br />
maior mudança estaria no acesso<br />
mais fácil a informação. “Mudou<br />
o formato de exposição das aulas<br />
com apoio de recursos visuais;<br />
há facilidade de pesquisa com<br />
a introdução da internet no meio<br />
acadêmico, em meados de 1995”,<br />
explica Veridiana. Para Maria Helena,<br />
há cerca de 20 anos, a informação<br />
era tão restrita que alguns<br />
professores sequer indicavam a<br />
bibliografia utilizada na disciplina,<br />
para que o aluno não conhecesse<br />
a fonte de onde preparavam as<br />
aulas. “Era como se fosse um segredo”,<br />
brinca.<br />
O professor deve estimular o<br />
aluno, criar debates e dar fontes<br />
para isso. É a idéia que Maria<br />
Helena defende. A educação,<br />
nesse sentido, estaria bem longe<br />
da idéia de dominação. “O desafio<br />
não é quem domina quem,<br />
mas como vamos conduzir o aluno<br />
para que possa ser um agente<br />
transformador no seu meio. O que<br />
tenho de conhecimento enquanto<br />
professor que, a partir dele, possa<br />
somar com o aluno.” Ela vai além<br />
e decreta: “O professor tradicional<br />
que ainda tenta esconder a fonte<br />
de onde tirou a excelente aula é<br />
um bicho em extinção”.<br />
Livros impressos com dias<br />
contados<br />
Um dos avanços da tecnologia<br />
que já se refletiu em transformações<br />
na educação foi a substituição<br />
do livro impresso por outros<br />
de suportes digitais, como os ebooks,<br />
chamados de livros virtuais.<br />
A professora Veridiana Duarte<br />
defende que, atualmente, o mercado<br />
ainda não segue essa tendência.<br />
Ela cita Bill Gates, que, no<br />
livro “A estrada do <strong>Futuro</strong>”, esboçou<br />
a idéia de um futuro envolvido<br />
100% pela tecnologia e uma sociedade<br />
praticamente robotizada.<br />
Para ela, por mais influenciado que<br />
o ser humano possa ser, ele ainda<br />
não se deixou dominar totalmen-<br />
“O desafio não é<br />
quem domina quem,<br />
mas como vamos<br />
conduzir o aluno para<br />
que possa ser um<br />
agente transformador<br />
no seu meio”<br />
Maria Helena Krüger<br />
37
38<br />
te pelo apelo tecnológico imposto<br />
pelo mercado. “Quando tentaram<br />
estimular o mercado dos e-books,<br />
as editoras e autores acharam que<br />
os livros impressos seriam substituídos.<br />
No entanto, pelo contrário,<br />
a bienal do livro do ano passado<br />
nunca vendeu tanto, e o principal<br />
público consumidor são os jovens<br />
estudantes”, informa.<br />
Mas nem todos pensam assim.<br />
A diretora Institucional do<br />
<strong>Cesumar</strong> Maria Helena Krüger diz<br />
acreditar que, por mais que a suplantação<br />
do livro impresso ainda<br />
não seja uma realidade concreta,<br />
tal processo é irreversível. Numa<br />
viagem onírica das possibilidades<br />
futuras permitidas pelo avanço da<br />
tecnologia, ela explica que não há<br />
como ficar indiferente à evolução:<br />
“Vejo-me daqui a 20 anos uma<br />
velhinha ativa, sentada em minha<br />
sala, de forma confortável, podendo<br />
abrir um aparelho que projeta<br />
na parede ou outro meio, um livro<br />
que gostaria de ler e poder marcar,<br />
selecionar nele o que desejo.<br />
Pode ser que já exista, mas que<br />
estejam atrasando sua entrada<br />
no mercado, pois a sociedade não<br />
consegue acompanhar a velocidade<br />
com que cresce a tecnologia.”<br />
A paciência<br />
O doutor Walter Praxedes argumenta<br />
que o ofício do professor,<br />
atualmente e também no futuro,<br />
exige equilíbrio emocional para<br />
dialogar com os alunos, que chegam<br />
cada dia menos preparados<br />
ao ensino superior, sem capacidade<br />
de concentração para assistir e<br />
participar de uma aula e sem treinamento<br />
e disciplina para a leitura<br />
e a escrita. Em um contexto de<br />
evolução e no limiar de uma sociedade<br />
que prima pelo desenvolvimento<br />
constante da tecnologia,<br />
ele ressalta um problema que,<br />
talvez, não esteja nos domínios<br />
e competências do professor: os<br />
alunos querem o diploma, mas<br />
não gostam de estudar. “Etimologicamente,<br />
em sua origem, a<br />
palavra ‘estudo’ tem o significado<br />
de ‘paixão’. É terrível que os alunos<br />
não gostem ou não se sintam<br />
apaixonados pela sua ‘paixão’, ou<br />
seja, seus estudos.”<br />
6<br />
As tridimensões das disciplinas<br />
A possibilidade de ver os anéis de Saturno de diferentes ângulos,<br />
mostrar e explicar o que há dentro do intestino delgado ou, quem<br />
sabe, as formações rochosas escondidas debaixo da água do mar<br />
já é uma realidade possível. No site “O caderno popular”, caderno<br />
especial “Cenário XXI” [disponível em http://www.cpopular.com.br/<br />
cenarioxxi], a jornalista Tatiana Favaro informa que a inovação se<br />
deve ao software P3D, criado pelo Prodigy 3D, empresa de tecnologia<br />
de imagem incubada no Centro Incubador de Empresas<br />
Tecnológicas (Cietec), em São Paulo. Graças ao programa, ensinar<br />
Geografia, Química, Biologia, Física e Matemática a alunos do ensino<br />
fundamental e médio pode se tornar uma atividade muito mais<br />
prazerosa.<br />
O programa, que possibilita interagir com imagens por meio de recursos<br />
tridimensionais, já foi exportado para países como a Espanha<br />
e vendeu licenças para o uso em Portugal, Inglaterra e México. A<br />
escola não compra o software, mas paga uma mensalidade e tem<br />
todo o treinamento para o uso e licença para usar em quantos pontos<br />
quiser. É o ensino do futuro, hoje.<br />
O supercomputador nacional<br />
Uma outra novidade, também apontada pelo “O caderno popular”,<br />
é o “supercomputador” – ao custo de R$ 1 milhão; R$ 800 mil<br />
apenas no equipamento e o restante em softwares – instalado no<br />
Centro Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Cenapad)<br />
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que pretende<br />
impulsionar a pesquisa nacional favorecendo alunos e professores<br />
de diversas instituições de ensino superior do País. Entre as vantagens<br />
do novo equipamento, está a realização de procedimentos,<br />
que, até então, não podiam ser desenvolvidos no Brasil por falta de<br />
ferramentas. A máquina realiza cálculos, simulações e análises de<br />
dados equivalentes a mil computadores pessoais funcionando conjuntamente.<br />
É a transposição de uma barreira imprescindível para<br />
diversas pesquisas.<br />
Desde o começo de abril o computador está ao alcance e uso de<br />
pesquisadores e alunos de todo o País, principalmente aos das áreas<br />
de nanotecnologia e ciência de materiais, e dispõe de processadores<br />
Intel de 176 “cores”, 480 gigabites de memória RAM e capacidade<br />
de processamento de 1,12 Tflops, o que equivale a um trilhão de<br />
operações por segundo.<br />
Para os pesquisadores aventureiros que desejam utilizar a máquina,<br />
é preciso encaminhar projetos, que vão passar por uma avaliação<br />
do centro de processamento. Uma vez aprovados os projetos, os<br />
pesquisadores podem realizá-los em seus computadores pessoais,<br />
independentemente do lugar do mundo em que estejam. Uma autorização<br />
de uso é encaminhada, bem como a definição do tempo<br />
disponível para a utilização do sistema. A partir daí, por uma tela<br />
de entrada no sistema, os pesquisadores enviam os dados que vão<br />
ser avaliados e passarão pelos cálculos feitos pelos computadores,<br />
recebendo os resultados por e-mail para avaliação. Além das universidades,<br />
também podem desfrutar dessas vantagens instituições<br />
de pesquisa governamentais de diversos setores e empresas que<br />
investem em pesquisa.
A mão amiga das cirurgias e dos cegos<br />
Boas novas também vêm do Centro de Pesquisa Renato Archer (CenPRA), instituição do Ministério da<br />
Ciência e Tecnologia. Dentro do Centro, há dois setores que têm realizado pesquisas interessantes: o de<br />
Prototipagem Rápida em Medicina (Promed) e a Divisão de Robótica e Visão Computacional (DRVC).<br />
De acordo com matéria veiculada em “O caderno popular”, no Promed surgiu o software de nome InVesalius,<br />
constantemente atualizado, que tem ajudado tanto cirurgiões, especialmente os de hospitais da<br />
rede pública mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e que, não obstante, também pode servir<br />
como importante ferramenta para professores e estudantes da área. O programa permite transformar<br />
imagens bidimensionais, obtidas por tomografias computadorizadas ou ressonâncias magnéticas, em<br />
tridimensionais. O software é livre e pode ser obtido gratuitamente pelo site www.softawarepublico.gov.<br />
br.<br />
A partir do desenvolvimento constante do software, já é possível planejar uma cirurgia com exatidão<br />
antes de realizá-la, dada a possibilidade de visualizar qualquer parte do corpo. A partir das imagens do<br />
programa, são feitos protótipos de diferentes materiais, auxiliando em avaliações de cirurgias ainda mais<br />
detalhadas e confecção de próteses perfeitas. Uma das metas, agora, é poder trabalhar em próteses com<br />
matérias-primas que sejam biointegráveis, ou seja, aquelas nas quais as células se integrem e se desenvolvam,<br />
fazendo com que se torne quase uma parte natural do corpo do paciente.<br />
Além de ajudar esses ramos da medicina, os protótipos feitos pelos aparelhos do CenPRA também têm<br />
buscado ajudar alunos deficientes visuais a criar a noção do espaço em que estão entrando. Ao utilizar<br />
imagens do local, como uma universidade pública, por exemplo, a máquina é capaz de produzir maquetes<br />
perfeitas, mostrando a parte interior, exterior, as diversas salas e setores. A partir da maquete<br />
disposta na entrada do local, o aluno deficiente pode usar o tato para saber onde está e o caminho a<br />
percorrer para chegar onde quer.<br />
A interatividade para as diversidades<br />
Já na Divisão de Robótica e Visão Computacional (DRVC) está em curso o desenvolvimento de equipamentos<br />
especiais para o uso de deficientes físicos, com o objetivo de auxiliá-los na interatividade, com<br />
diferentes equipamentos e sistemas computacionais. O Projeto Auxilis é desenvolvido juntamente com<br />
a Universidade do Vale da Paraíba (Univap), há cerca de um ano e meio. Estão sendo aprimorados protótipos<br />
de equipamentos que vão auxiliar pessoas com problemas motores, até os mais severos. São<br />
aparelhos dispostos de sensores que, ao menor movimento, podem acionar sistemas computacionais e<br />
equipamentos, cadeiras de rodas motorizadas, por exemplo. Josué Ramos, um dos coordenadores da<br />
pesquisa, explica que se a pessoa puder somente sugar e soprar, ela poderá usar isso para acionar um<br />
instrumento e utilizar os softwares desejados.<br />
Os protótipos vão ser utilizados por pessoas que, depois de o usarem por um tempo, vão poder apontar<br />
falhas e propor sugestões para o aprimoramento. Ramos explica que o objetivo é desenvolver os produtos<br />
e depois repassar o projeto para indústrias, afim de que possam fabricar os aparelhos. As pesquisas<br />
apontam que os equipamentos produzidos no Brasil podem custar de 10 a 50 vezes menos do que os<br />
similares importados. É esperado que, com as pesquisas, possa-se chegar, em um futuro não muito distante,<br />
em produtos ainda mais sofisticados, quem sabe sensíveis a um simples piscar de olhos.<br />
A robótica na sala de aula<br />
E para quem pensa que as pesquisas e o conhecimento em robótica vão ficar restritos aos núcleos de<br />
pesquisa do CenPRA, a Divisão de Robótica e Visão Computacional propõe o contrário: a popularização da<br />
robótica. O objetivo principal da divisão é levar a robótica aos estudantes de todo o País, sob o nome de<br />
Projeto Robótica Pedagógica de Baixo Custo, que está sendo desenvolvido em cooperação com o Núcleo<br />
de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Está em<br />
curso a idéia de implantação de um projeto-piloto em uma escola técnica de Campinas, São Paulo.<br />
Josué Ramos, um dos coordenadores da pesquisa, explica que não deseja fazer os estudantes brincarem<br />
de robótica, mas fazê-los aprender os conceitos da área com equipamentos acessíveis. O equipamento<br />
ainda em desenvolvimento – composto por um carrinho de controle remoto e motores, computador de<br />
controle com sensores, incluindo os de luz – deve custar, aproximadamente, R$ 85. Os pesquisadores<br />
esperam que, depois da implantação do projeto-piloto, o trabalho se volte para o desenvolvimento de<br />
plataformas robóticas de baixo custo em demais escolas do Ensino Fundamental do Brasil e, primordialmente,<br />
que a popularização da robótica seja capaz de gerar mais investimentos e pesquisas futuras, com<br />
a formação de novos pesquisadores.<br />
39
40<br />
Troca que auxilia e<br />
investe no futuro<br />
Existem programas de intercâmbio para todas as<br />
épocas, idades, gostos e fi nalidades; em todos os casos,<br />
o futuro é o maior incentivador para buscar esse<br />
tipo de experiência<br />
Elise Yoshida<br />
Dizem que quanto maior a experiência<br />
de vida, maior é o conhecimento<br />
do ser humano. E,<br />
muitas vezes, essa experiência é<br />
atribuída à idade. Afi nal, a velhice<br />
é sinônimo de experiência, aprendizado<br />
e conhecimento. Mas nem<br />
sempre tais virtudes vêm com o<br />
tempo. Uma prática que está sendo<br />
bastante procurada por jovens<br />
de todo o mundo é o intercâmbio.<br />
Seja para conhecer novas culturas,<br />
para estudar ou trabalhar,<br />
muitas pessoas recorrem a essa<br />
alternativa e garantem conhecimentos<br />
para a vida toda.<br />
Mas, o que é intercâmbio? Segundo<br />
o Dicionário da Língua Portuguesa<br />
On-Line, o intercâmbio é<br />
uma permuta, uma troca. Atribuise<br />
“intercâmbio” à troca de países.<br />
Contudo, quem já viveu a experiência<br />
sabe que o termo vai muito<br />
além.<br />
Ricardo Seiti Gondo, 23, fez o<br />
curso de Engenharia de Controle<br />
e Automação na Universidade Federal<br />
de Santa Catarina (UFSC) e<br />
hoje é Engenheiro júnior de uma<br />
empresa. Ele fi cou durante seis<br />
meses em um estágio na Alemanha,<br />
permutou de país, mas também<br />
garantiu uma troca cultural e<br />
profi ssional.<br />
Gondo diz que participou do intercâmbio<br />
com o objetivo de “poder<br />
trabalhar com tecnologia em<br />
um dos países mais avançados<br />
em Engenharia no mundo”, além<br />
de ter a oportunidade de “conviver<br />
com uma cultura bastante<br />
diferente, conhecer países com<br />
uma história e uma realidade diferentes<br />
do Brasil”. O resultado foi<br />
exatamente o esperado. “No<br />
início, tive um pouco de receio,<br />
já que esse intercâmbio<br />
atrasaria minha formatura<br />
em um semestre. Mas depois,<br />
percebi que a experiência<br />
valeu muito a pena. Além<br />
disso, as oportunidades para<br />
fi car um semestre no exterior<br />
são bem maiores durante a<br />
universidade do que depois<br />
de formado”, relata Gondo.<br />
A diretora de uma agência<br />
especializada em programas<br />
de intercâmbio, fi lial de uma<br />
rede que possui agências em<br />
todo o Brasil, Evelise Vendrametto<br />
Hubner, 28, concorda.<br />
“Sempre falo que, enquanto<br />
se está na universidade, o<br />
universo de oportunidades é<br />
imensamente maior do que<br />
depois de graduado. A maioria<br />
dos programas exige o<br />
vínculo universitário e coloca<br />
um limite de idade.”<br />
Mas isso não signifi ca que<br />
só universitários se benefi -<br />
ciam do intercâmbio. A estudante<br />
Caroline de Oliveira<br />
Kanegusuku, 17, está se preparando<br />
para um intercâmbio<br />
cultural do Rotary Club. Com<br />
destino a Taiwan, em agosto<br />
deste ano, a estudante vai<br />
morar em casas de famílias<br />
durante um ano e<br />
conviver com estudantes<br />
do ensino médio.<br />
As expectativas de<br />
bons resultados<br />
já são grandes.<br />
“Você conquista<br />
sua independência,autoconfiança,responsabilidade<br />
e ama-<br />
Arquivo pessoal<br />
Ricardo Gondo aproveitou o estágio<br />
na Alemanha e também conheceu<br />
bastante da cultura local
durecimento. Aprende que estar<br />
distante dos parentes e amigos é<br />
fundamental para deixar a timidez<br />
de lado e fazer novas amizades”,<br />
afirma Caroline.<br />
Na área profissional, a estudante,<br />
que pretende cursar Medicina,<br />
também enxerga os pontos positivos<br />
do intercâmbio, mesmo que<br />
ela tenha de perder um ano de estudos.<br />
“A gente fica mais seguro<br />
em entrevistas, além de aprender<br />
uma língua estrangeira. No futuro,<br />
essas novas qualificações poderão<br />
ajudar na obtenção de um emprego<br />
e até na definição da carreira<br />
acadêmica e profissional.” Caroline<br />
ainda acredita que a capacidade<br />
de relacionar-se mais facilmente,<br />
tolerando e desenvolvendo habilidades<br />
para conviver com diferentes<br />
estilos de vida, também é um<br />
diferencial que pode ser adquirido<br />
nesse tipo de experiência.<br />
A grande procura<br />
De acordo com a Brazilian Educational<br />
& Language Travel Association<br />
- associação de agências<br />
de intercâmbio (Belta), aproximadamente<br />
42 mil brasileiros, na<br />
faixa de 18 a 30 anos, realizaram<br />
algum programa de intercâmbio<br />
no ano de 2004. Em 2003, haviam<br />
sido 35 mil.<br />
A diretora da agência, Evelise<br />
Vendrametto Hubner conta que,<br />
atualmente, a procura pelos programas<br />
também é grande. Só no<br />
ano passado, mais de mil estudantes<br />
foram para outro país em um<br />
dos programas, em que o enviado<br />
trabalha durante as férias. Evelise<br />
não possui os dados de toda a<br />
rede, mas enumera os diferentes<br />
tipos de programas oferecidos.<br />
“São vários, desde os mais antigos<br />
e conhecidos, como o colegial<br />
no exterior, até os mais atuais,<br />
como trabalho voluntário na África.<br />
Cursos de idiomas, trabalhos e<br />
estágios no exterior, programa de<br />
aupair [trabalho remunerado em<br />
outro país que consiste em morar<br />
com uma família e cuidar das<br />
crianças da casa], pós-graduação<br />
e outros.”<br />
Segundo a professora mestra<br />
de língua estrangeira do curso de<br />
Turismo e Hotelaria do <strong>Cesumar</strong><br />
(Centro Universitário de Maringá),<br />
Leizy Regina Fracasso Stefano,<br />
45, a grande procura tem explicação.<br />
Ela acredita na importância<br />
da prática do intercâmbio, não somente<br />
para o futuro da vida pessoal,<br />
mas também para um (re)<br />
conhecimento maior do próprio<br />
país. “É como estudar uma língua<br />
estrangeira. Você não estuda<br />
realmente a língua. Mais do que<br />
nunca, você pensa na sua língua,<br />
analisa como é sua língua, para<br />
entender como é a língua do outro.<br />
Então, quando você vai para<br />
outro país, é claro, aprende aqueles<br />
costumes, mas também faz o<br />
retroativo de como é a sua própria<br />
cultura. Você se compreende<br />
mais como ser humano e vai ser<br />
um profissional muito mais competente<br />
para isso.”<br />
Outros pontos<br />
Além das informações básicas<br />
para se preparar para uma<br />
aventura de intercâmbio, Evelise<br />
Vendrametto Hubner ressalta as<br />
vantagens em participar de um<br />
programa como esse. “Conhecer<br />
como outras culturas vivem faz<br />
com que a gente pense como vivemos,<br />
com que queiramos melhorar<br />
e mudar alguma coisa na<br />
nossa própria cultura. Viver no exterior<br />
faz a gente se tornar mais<br />
maduro. Qualquer empresa aprecia<br />
num funcionário a capacidade<br />
de adaptação, de ter vivido uma<br />
experiência no exterior, da fluência<br />
do idioma, entre muitos outros<br />
aspectos.”<br />
Evelin diz acreditar que, talvez,<br />
inúmeras guerras não existiriam<br />
se houvesse maior tolerância en-<br />
41<br />
Arquivo pessoal
42<br />
“ Intercâmbio<br />
prolongado no<br />
exterior pode<br />
prejudicar a<br />
convivência no país<br />
de origem<br />
”<br />
tre os povos, as pessoas conhecessem<br />
mais sobre outras culturas.<br />
“Viajar e viver em outros<br />
lugares possibilita enxergar onde<br />
podemos melhorar, onde devemos<br />
mudar e o que devemos preservar.”<br />
Mas nem tudo são flores. Para<br />
a professora Leizy Stefano, o intercâmbio<br />
tem um limite. “Tanto<br />
turístico quanto por motivos profissionais,<br />
o intercâmbio é fundamental.<br />
Desde o mínimo de duas<br />
semanas, três meses ou um ano,<br />
quando é mais que isso perturba<br />
o desenvolvimento aqui no País”,<br />
enfatiza. O tempo prolongado no<br />
exterior pode prejudicar a convivência<br />
no País de origem, já que<br />
há transformações de níveis culturais,<br />
além da perda de oportunidades<br />
e costumes. O intercambista<br />
passa a aderir à cultura do<br />
outro e esquece da sua.<br />
Para quem quer se aventurar<br />
em uma experiência de intercâmbio,<br />
além de levar em consideração<br />
a duração do programa, a<br />
diretora Evelise Hubner também<br />
lembra que cada opção de viagem<br />
possui suas especificações. “Cada<br />
programa tem uma característica<br />
diferente e os requisitos para participar<br />
podem variar bastante. O<br />
importante é a pessoa verificar as<br />
suas possibilidades antes de buscar<br />
um programa. O investimento<br />
que pode fazer, a época que quer<br />
viajar, se fala fluentemente ou<br />
não, se pretende apenas estudar<br />
ou se quer trabalhar também.”<br />
6<br />
O futuro em outro lugar<br />
Seis meses, dez dias, um<br />
ano. Trabalhar, passear ou estagiar.<br />
Há intercâmbios de todos<br />
os estilos e durações, mas tem<br />
gente que começa com uma<br />
viagem e acaba<br />
traçando a vida inteira<br />
em outro país.<br />
É o caso de Graziele<br />
Everaldo Nogueira<br />
Martins, 27. No final<br />
de 2005, ela começou<br />
os preparativos<br />
para um intercâmbio<br />
de trabalho.<br />
O objetivo desse<br />
tipo de viagem é ficar<br />
durante o período de<br />
férias (da universidade<br />
ou de cursos de<br />
pós-graduação, mestrado<br />
e doutorado)<br />
trabalhando em outro<br />
país, ganhando experiência,<br />
cultura e, claro,<br />
dinheiro. Ela conta<br />
que decidiu fazer o intercâmbio<br />
de trabalho<br />
já com a intenção de<br />
residir no país destino,<br />
os Estados Unidos. “Era<br />
a única forma de entrar<br />
nos EUA conseguindo<br />
os documentos fundamentais,<br />
como o social<br />
security e, conseqüentemente,<br />
a carteira de motorista<br />
americana”, conta por email.<br />
Hoje, ela vive na cidade de<br />
Centerville, no estado de Massachussets.<br />
Graziele era psicóloga na Associação<br />
de Pais e Amigos dos<br />
Excepcionais (APAE) de Mandaguari,<br />
cidade localizada a 30<br />
quilômetros de Maringá, tinha<br />
sua própria clínica e era a psicóloga<br />
responsável de um centro<br />
de oncologia e radioterapia.<br />
Mesmo com uma carreira profissional<br />
garantida e com os planos<br />
de continuar trabalhando,<br />
aumentando sua renda, casarse<br />
e ter filhos aqui no Brasil, as<br />
facilidades que os Estados Unidos<br />
prometem e que, segun-<br />
do ela, proporcionaram, foram<br />
mais atraentes. “Aqui [nos Estados<br />
Unidos] é muito mais fácil<br />
de se ter conforto e melhor<br />
qualidade de vida, trabalhando<br />
o mesmo tanto que estaria<br />
trabalhando no Brasil.<br />
Foi a forma que eu e meu marido<br />
encontramos de ter condições<br />
financeiras para casar. Inclusive,<br />
casamos dez dias antes<br />
de embarcar.”<br />
A ex-psicóloga, e agora supervisora<br />
de uma fábrica, diz<br />
acreditar que o futuro é mais<br />
promissor em terras estrangeiras.<br />
“O custo de vida no Brasil<br />
é mais alto. Penso, então, que<br />
aqui nos EUA tem mais oportunidade<br />
de trabalho e é mais valorizado<br />
financeiramente. Isso<br />
já proporciona a idéia de um futuro<br />
melhor.”
Diversos tipos para todos os gostos<br />
As opções de programas de intercâmbio são muitas. Idade, escolaridade, países, objetivos, cada<br />
item é levado em conta para que todos possam ter uma opção de escolha.<br />
Estados Unidos para traçar um<br />
caminho de vida<br />
Arquivo pessoalGraziele e Rafael escolheram os<br />
- Cursos de idiomas: com a duração de,<br />
no mínimo, duas semanas, os cursos de idioma<br />
podem ser feitos em diversos países. Nesse intercâmbio,<br />
o interessado pode fazer cursos de<br />
idiomas regular, preparatório para exames de<br />
proficiência, cursos de terminologia e preparatórios<br />
para universidade. Não há limite de idade e<br />
os cursos têm especificidades para crianças, adolescentes,<br />
jovens e executivos.<br />
- High School: somente estudantes do ensino<br />
médio podem participar deste tipo de intercâmbio.<br />
O aluno freqüenta as aulas em uma escola e<br />
mora com uma família local, como se fosse um<br />
filho. Caso preferir, é possível viver em internatos.<br />
Há também a escolha entre escola particular<br />
e pública.<br />
43<br />
- Férias: exclusivo para adolescentes, este<br />
programa é realizado durante o período de férias<br />
do colégio; engloba cursos de idioma, atividades<br />
sociais e esportivas, excursões e passeios. O estudante<br />
pode optar por morar em casas de família<br />
ou residências estudantis.<br />
- Cursos profissionalizantes: para quem já<br />
tem um bom nível de conhecimento do idioma<br />
estrangeiro é, basicamente, um curso técnico no<br />
exterior na área específica de trabalho.<br />
- Curso para executivos: esse programa é<br />
direcionado para profissionais e/ou estudantes<br />
que já atuam em alguma área no mercado de<br />
trabalho. Os cursos são de curta duração e estuda<br />
conceitos da área de negócios e a prática do<br />
idioma.<br />
- Universidade: é possível optar pela graduação,<br />
pós-graduação ou extensão universitária<br />
em instituições, reconhecidas academicamente,<br />
de outros países. A duração mínima é de um<br />
ano.<br />
- Estágio: programa para jovens universitários<br />
que querem ter treinamento profissional<br />
na área de formação e receber por isso. Esta<br />
opção pode ser iniciada em qualquer época do<br />
ano. A duração varia de 02 a 18 meses, dependendo<br />
do país escolhido e das escolhas em<br />
relação ao estágio. As áreas disponíveis também<br />
mudam de país para país.<br />
- Au pair: é um programa de trabalho remunerado<br />
que consiste em morar em outro país, por<br />
um determinado período, cuidando de crianças e<br />
morando com a família.<br />
- Trabalho: durante o período de férias (da<br />
universidade ou de cursos de pós-graduação,<br />
mestrado e doutorado) os interessados têm trabalho<br />
legalizado e remunerado em outro país,<br />
seja em empresas, fábricas ou comércio. A duração<br />
do programa varia de 2 a 15 meses.<br />
- Voluntário: para quem quiser a experiência<br />
de trabalhar em projetos sociais, humanitários<br />
ou de preservação da vida selvagem em outros<br />
países, cuidando de pessoas ou animais e contribuindo<br />
em construções de escolas, clínicas, etc.<br />
O investimento nesses cursos e intercâmbios<br />
varia conforme a escolha do país, do programa e<br />
da agência de suporte.
44<br />
Carina Veltrini<br />
Poupando<br />
Previdência privada?<br />
para o futuro<br />
Poupança?<br />
Eles têm pouca idade e já pensam<br />
em renda para o futuro;<br />
mas, ao invés do antigo cofrinho,<br />
eles economizam em poupanças<br />
bancárias e até investem<br />
na bolsa de valores<br />
Bolsa de valores?
Carina Veltrini<br />
O tempo passa, o tempo voa,<br />
mas o hábito de poupar só em cofrinhos<br />
de porquinhos já está mudando.<br />
Claro que, hoje, os porquinhos<br />
são mais atrativos: maiores,<br />
mais bonitos, de materiais diferentes.<br />
Ou nem precisam necessariamente<br />
ser porquinhos – cofres<br />
de gesso com flocos de nylon<br />
no formato do Cristo Redentor,<br />
ovelha, poodle, ou mesmo disfarçados<br />
de bichinho de pelúcia que,<br />
ao receber uma moeda, faz algum<br />
ruído ou mexe a cabeça.<br />
Os cofrinhos evoluíram – e o<br />
pensamento dos jovens que juntavam<br />
os trocados também. Hoje,<br />
eles pensam no futuro investindo<br />
o dinheiro ganho com mesadas e<br />
salários em poupança, previdência<br />
privada e até na bolsa de valores.<br />
Palavra de doutor<br />
Para o doutor em economia de<br />
empresas e professor do curso de<br />
Ciências Econômicas da Universidade<br />
Estadual de Maringá (UEM),<br />
Neio Lúcio Peres Gualda, a preocupação<br />
dos jovens em investir<br />
ou mesmo poupar o dinheiro recebido<br />
como mesada ou salário<br />
é bastante positiva em razão da<br />
sociedade capitalista de consumo.<br />
Para ele, a melhor forma de um<br />
jovem poupar é através da boa e<br />
velha caderneta de poupança. “O<br />
Estado garante risco zero, a remuneração<br />
é sempre positiva, acima<br />
da inflação, além de ser isento de<br />
impostos.”<br />
Mas pensar na aposentadoria<br />
também é muito importante, segundo<br />
o doutor. Para ele, investir<br />
na previdência privada é uma boa<br />
alternativa. Mas algumas pessoas<br />
ainda têm receio desse tipo de investimento.<br />
“No Brasil, há cerca<br />
de 45 anos, havia vários planos<br />
de previdências privadas associadas<br />
a categorias profissionais,<br />
sindicatos e outros. Infelizmente,<br />
não existia fiscalização do Estado,<br />
fazendo com que as previdências<br />
privadas quebrassem. O Estado<br />
assumiu a quebra e jogou tudo<br />
dentro da previdência geral.” Mas<br />
hoje, o Brasil é outro. Já existe<br />
fiscalização do governo, o que dá<br />
mais segurança ao investidor.<br />
Para Gualda, investir na previdência<br />
privada pode ser bastante<br />
vantajoso Principalmente para<br />
complementar a previdência social,<br />
em que existe um teto, um<br />
valor máximo na aposentadoria.<br />
“Na previdência privada, o valor é<br />
de acordo com o que você paga.<br />
Além de que o dinheiro sempre<br />
retorna. Se acontece de um filho<br />
falecer, o pai pode resgatar o<br />
dinheiro, o que não acontece na<br />
previdência geral.”<br />
Geralmente, são os pais que<br />
fazem a previdência para os filhos<br />
– atitude que tem aumentado nos<br />
últimos anos. De acordo com o balanço<br />
anual da Federação Nacional<br />
de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi),<br />
a modalidade de planos<br />
para menores de 18 anos cresceu<br />
71,12% em 2007.<br />
Bolsa de (muitos) valores<br />
Outro meio de pensar no futuro<br />
financeiro é colocar o dinheiro em<br />
fundos de renda variável, como a<br />
bolsa de valores, em que os riscos<br />
são altos, mas o resultado pode<br />
ser compensador. Mas, apostar<br />
nesse tipo de investimento exige<br />
mais experiência, espírito aventureiro,<br />
além de dinheiro extra para<br />
cobrir as possíveis perdas.<br />
Para Gualda, investir em bolsa<br />
de valores é ainda um processo arriscado<br />
para jovens que têm pouco<br />
capital e muita despesa. “Uma<br />
maneira de amenizar os riscos é<br />
formar clubes de investimentos<br />
e contratar uma corretora.” Clubes<br />
de investimento são formados<br />
por grupos de pessoas que, com<br />
pequenas quantias de dinheiro,<br />
investem na bolsa de valores por<br />
intermédio de uma corretora, distribuidora<br />
de títulos ou do banco.<br />
Esse tipo de investimento é menos<br />
arriscado porque atua em diversas<br />
empresas, comprando ações de<br />
muitas delas, não só de uma, e é<br />
muito utilizado por universitários.<br />
Mas não foi isso o que fez o<br />
jovem Bruno Gustavo Atencio.<br />
Ele tem apenas 24 anos, mas já<br />
é operador de uma corretora de<br />
Maringá. E começou bem mais<br />
cedo: com apenas 18 anos, Aten-<br />
45<br />
“ A preocupação<br />
dos jovens em<br />
investir ou mesmo<br />
poupar o dinheiro<br />
recebido como<br />
mesada ou salário é<br />
bastante positiva em<br />
razão da sociedade<br />
capitalista de<br />
consumo<br />
”
46<br />
“Quando se fala em<br />
bolsa de valores, já<br />
se pensa que é bem<br />
sucedido. O retorno<br />
financeiro é em<br />
função do risco que<br />
se assume. E isso<br />
depende da<br />
personalidade, do<br />
perfil da pessoa”<br />
Bruno Gustavo Atencio<br />
cio resolveu investir na bolsa de<br />
valores. A atitude veio de um incentivo<br />
paterno. “Um dia, meu pai<br />
jogou uma revista no meu colo e<br />
disse ‘dá uma olhada, isso pode<br />
ser interessante’.” Na capa, muitos<br />
homens com telefones ao ouvido<br />
e de aparência estressada. “<strong>Eu</strong> vi<br />
aqueles malucos ao telefone, li a<br />
matéria, me interessei e comecei<br />
a ler bastante sobre o assunto.”<br />
Ele começou a aplicar dinheiro na<br />
bolsa de valores sem orientação,<br />
mas diz que foi aprendendo com o<br />
tempo. “Freqüentei cursos, aprendi<br />
bastante. Até consegui um estágio<br />
na área.”<br />
Hoje, a empresa em que trabalha<br />
realiza cursos para pessoas<br />
que querem aprender a investir<br />
na bolsa de valores. Segundo ele,<br />
a maioria dos interessados são jovens.<br />
“A bolsa de valores atrai os<br />
jovens porque está o tempo todo<br />
na mídia, no noticiário, além de<br />
ser um investimento menos comum.<br />
É emocionante, todo dia é<br />
diferente. Os jovens gostam dessa<br />
adrenalina.”<br />
Para Atencio, a renda variável é<br />
uma opção viável para os jovens<br />
porque não há um mínimo para se<br />
investir. “A bolsa é acessível a todo<br />
mundo. Custos baratos e informação<br />
toda hora, fácil de acompanhar.<br />
Mas a maneira que vai atuar<br />
depende muito do perfil individual<br />
de cada um.”<br />
Atencio também aponta outro<br />
motivo para o grande interesse<br />
dos jovens nesse tipo de investimento:<br />
a possibilidade de crescer<br />
financeiramente – o que, claro,<br />
não é certeza. “Quando se fala em<br />
bolsa de valores, já se pensa que<br />
é bem sucedido. O retorno financeiro<br />
é em função do risco que se<br />
assume. E isso depende da personalidade,<br />
do perfil da pessoa. Se<br />
a pessoa quer o dinheiro protegi-<br />
Economizar, poupar,<br />
investir...<br />
Tudo diz respeito a dinheiro, mas<br />
o que cada um quer dizer? Saiba<br />
a seguir:<br />
ECONOMIZAR: procurar pagar<br />
o menor preço por um serviço<br />
ou produto, administrar gastos;<br />
POUPAR: Aumentar os recursos<br />
para consumir no futuro, juntar<br />
uma quantia de dinheiro durante<br />
um tempo;<br />
INVESTIR: aumentar os recursos<br />
para consumir no futuro;<br />
aqui, o dinheiro trabalha quase<br />
sozinho.
Interior da Bovespa; adrenalina e<br />
corre-corre chama atenção de jovens<br />
investidores<br />
“ No Japão,<br />
é muito forte o<br />
hábito de separar<br />
20% do que se<br />
ganha para<br />
investimentos ou<br />
poupança<br />
for4saken<br />
”<br />
do de riscos, é melhor aplicar em<br />
renda fixa. Para aplicar na bolsa,<br />
é preciso ter perfil mais agressivo,<br />
permitir correr um risco maior<br />
para um ganho maior. Mas há o<br />
risco de perder mais, também.”<br />
Questão cultural<br />
Para Neio Lúcio Peres Gualda,<br />
poupar é uma necessidade no<br />
mundo capitalista. “A sociedade<br />
capitalista é, ao mesmo tempo,<br />
sociedade de investimento. E para<br />
investir, é preciso capital. É preciso<br />
guardar parte do dinheiro que<br />
se recebe para adquirir bens, adquirir<br />
patrimônio.” Mas, para ele,<br />
o hábito de poupar é uma questão<br />
cultural. Ele cita o exemplo do<br />
Japão, onde é muito forte separar<br />
20% do que se ganha para investimentos<br />
ou poupança.<br />
Isso ainda não é um hábito do<br />
brasileiro – e para que isso aconteça,<br />
é preciso educar. “O jovem<br />
deve receber essa educação financeira<br />
desde os primeiros anos<br />
escolares, aprendendo a controlar<br />
pequenos valores, fazendo sempre<br />
reserva para despesas imprevistas.<br />
Ao longo da vida, isso vai<br />
ser importante.”<br />
Alexandre Suguyama teve esse<br />
tipo de educação. Ele é universitário<br />
e abriu uma poupança conjunta<br />
com a namorada há três anos,<br />
quando ela entrou na faculdade.<br />
Ele teve uma poupança quando<br />
criança, feita pelos pais, mas a<br />
iniciativa partiu da namorada. “Ela<br />
começou a pesquisar sobre isso<br />
para a formatura da faculdade e<br />
sugeriu que abríssemos uma poupança,<br />
para ir economizando.”<br />
O casal está junto há mais de<br />
cinco anos e a poupança foi pensada<br />
para o futuro dos dois. “Não<br />
é exatamente para uma festa de<br />
casamento. É para quando precisarmos”,<br />
diz ele. O dinheiro veio<br />
de várias fontes. “<strong>Eu</strong> sempre trabalhei,<br />
então o dinheiro da minha<br />
parte era do meu trabalho, mesmo.<br />
Minha namorada não trabalhava<br />
no primeiro ano da faculdade,<br />
ela tinha que pedir pros pais.<br />
Hoje, ela trabalha com eles, além<br />
de fazer estágio remunerado.”<br />
Suguyama acha importante<br />
47<br />
“Existem pessoas que<br />
acham que não devem<br />
se preocupar com o<br />
futuro, outras acham<br />
que pensar no passado<br />
é bobeira. <strong>Eu</strong> acredito<br />
que todo tempo<br />
é importante.“<br />
Alexandre Suguyama<br />
pensar no futuro financeiro, enquanto<br />
jovem. Mas ele mesmo<br />
admite que esse pensamento não<br />
está presente em todas as decisões.<br />
“Existem situações em que<br />
sou muito mais de viver o presente<br />
e deixar o futuro acontecer.<br />
Mas, em outros casos, penso bastante<br />
no futuro. Acredito que essa<br />
maneira de pensar vem muito da<br />
educação que se recebe, das situações<br />
que se vive e das oportunidades<br />
que vivenciou. Existem<br />
pessoas que acham que não devem<br />
se preocupar com o futuro,<br />
outras acham que pensar no passado<br />
é bobeira. <strong>Eu</strong> acredito que<br />
todo tempo é importante. Cada<br />
um dá uma lição e um aprendizado.<br />
”<br />
Renda fixa: são investimentos<br />
que pagam juros. São exemplos<br />
de renda fixa: títulos públicos,<br />
títulos privados, caderneta de<br />
poupança e fundos de renda<br />
fixa.<br />
Renda variável: são investimentos<br />
de valorização ou<br />
desvalorização de capital que<br />
dependem de vários fatores,<br />
como inflação, cenário político,<br />
mercado internacional. São exemplos<br />
de renda variável: ações,<br />
câmbio, ouro, obras de arte.<br />
6
48<br />
As dificuldades<br />
batem à porta e o<br />
amor pula a janela<br />
Manter as finanças em dia, poupando para o futuro, é uma forma de evitar<br />
que o vermelho do orçamento azede as relações entre marido e mulher, pais<br />
e filhos<br />
Rogério Mori<br />
Discussões por causa de dinheiro<br />
é o fator de distúrbio mais<br />
freqüente dentro das famílias. Em<br />
pesquisa realizada nos Estados<br />
Unidos pelo Instituto Mathew Greenwald<br />
& Associates para a revista<br />
“Money”, nada menos que 84%<br />
das pessoas entrevistadas responderam<br />
que o dinheiro é a maior<br />
causa das tensões no casamento<br />
e 13% delas disseram brigar por<br />
esse motivo várias vezes ao mês. O<br />
que mais tem gerado brigas entre<br />
casais, de acordo com a pesquisa,<br />
são os desentendimentos sobre o<br />
que é prioridade financeira.<br />
O economista Edmilson Andrade<br />
de Oliveira da cidade de Faxinal<br />
do Céu no Paraná, alerta que as<br />
divergências em relação ao dinheiro<br />
acabam causando traumas psicológicos<br />
em todos os membros da<br />
família, principalmente nas crianças.<br />
“Por isso, é bom que todos se<br />
entendam desde cedo com relação<br />
às finanças, que envolvam até os<br />
filhos, para que todos conquistem<br />
a independência financeira. A família<br />
pode ser feliz financeiramente,<br />
mas é preciso ter persistência e<br />
entender que isso envolve mudanças<br />
comportamentais.”<br />
Para o economista, o equilíbrio<br />
do orçamento doméstico depende<br />
da participação de todos e só começa<br />
com reuniões entre todos os<br />
membros da família. “Você só consegue<br />
a saúde financeira se todos<br />
comungarem dos mesmos ideais.<br />
Nessa conversa, a família vai tirar<br />
uma fotografia da sua realidade,<br />
abordando questões como: temos<br />
dinheiro? Temos divida: qual<br />
o peso delas? Quais os bens que<br />
possuímos? Qual a receita líquida<br />
mensal da família? E, por fim, em<br />
que gastamos o dinheiro?”, ensina.<br />
O gasto não programado é um<br />
problema na família do editor de<br />
vídeo Franki Anderson Luvizetto,<br />
casado há seis anos com Franciele<br />
Sorri. Segundo o casal, planejar o<br />
orçamento nunca foi o forte deles.<br />
“Compramos muito por impulso,<br />
achando que o produto está barato<br />
e é hora de aproveitar a oferta,<br />
mas, depois, o orçamento explodia<br />
e no final do mês as brigas apareciam<br />
com mais freqüência.”<br />
Luvizetto e Franciele acusam a<br />
facilidade na aprovação de crédito<br />
como o maior causador das dívidas<br />
a longo prazo. “Hoje em dia, o<br />
crédito é aprovado facilmente. As<br />
parcelas a perder de vista atraem<br />
consumidores como nós, excitando<br />
a comprar mais e mais, não percebendo<br />
que estamos comprometendo<br />
além do orçamento mensal”,<br />
revelam o casal.<br />
Com a família do operador de<br />
máster Clodoaldo Jorge e sua esposa<br />
Ângela Barreto Jorge, a situação<br />
é diferente. Eles contam que<br />
as dificuldades financeiras sempre<br />
foram superadas com muita racionalidade.<br />
O casal explica que a<br />
renda da família sempre foi baixa,<br />
mas que isso nunca foi motivo de<br />
desentendimentos na relação dos<br />
dois. “Priorizamos as necessidades<br />
básicas da família. Conta de água,<br />
luz, mercado, roupas e outras despesas<br />
com as crianças. Tudo é planejado.<br />
Assim, podemos guardar<br />
as sobras e investir em um futuro<br />
próximo, algo para o nosso bem<br />
próprio, como trocar um móvel,<br />
um eletrodoméstico e até de carro”,<br />
diz o casal.<br />
Para a economista Célia Branco<br />
da cidade de Barra doTurvo no Paraná,<br />
a família deve por na mesa<br />
seus sonhos de curto, médios e<br />
longos prazos. “Deve-se chegar a<br />
um consenso para o bem geral de<br />
todos”, afirma. A economista expli-
Rogério Mori<br />
Contas e mais contas deixa casal com dor de cabeça na hora de organizar os pagamentos<br />
no final do mês<br />
ca que isso envolve desde a compra<br />
de uma geladeira a uma aposentadoria,<br />
passando pelo curso<br />
superior do filho. Célia recomenda<br />
que a família evite ao máximo o<br />
crediário. “Se a meta é comprar<br />
uma geladeira ou trocar de carro,<br />
vá juntando o dinheiro mensalmente<br />
e procure pagar à vista”.<br />
Economizar faz bem para o<br />
futuro da família<br />
Proprietário de uma facção e<br />
casado com Maria Isabel de Faria,<br />
José Ângelo de Faria conta que<br />
eles dividem as despesas em partes<br />
iguais para que ninguém fique<br />
no vermelho no final do mês. “Somos<br />
casados e isso é uma forma<br />
de economizar. Assim, podemos<br />
pensar em grandes investimentos<br />
a longo prazo”, explica Faria.<br />
O comerciante, no entanto,<br />
ressalta que não foi sempre assim.<br />
O casal já passou por muitas<br />
dificuldades no decorrer do<br />
casamento, e que algumas foram<br />
motivos de brigas. “Hoje, temos o<br />
luxo de aproveitar esse momento<br />
bom que estamos passando”,<br />
constata o casal.<br />
Para os economistas consultados<br />
pela reportagem, um bom<br />
negócio para o futuro de famílias<br />
interessadas em investir nas<br />
aplicações de longo prazo são<br />
planos de previdência privada ou<br />
em ações de empresas de gran-<br />
49<br />
de porte, como Petrobrás, Vale<br />
do Rio Doce e Banco do Brasil. A<br />
curto prazo, pode-se por o dinheiro<br />
em poupança ou em fundos de<br />
investimentos. Outra medida importante<br />
é fazer seguro de vida<br />
para todos ou, pelo menos, para<br />
os geradores de renda da família.<br />
“Se houver folga no bolso, um<br />
plano de previdência privada para<br />
os filhos também é uma aplicação<br />
saudável. Nesse caso, quanto<br />
mais cedo começar, melhor”, diz a<br />
economista Célia Branco.<br />
Virada de mesa<br />
Segundo a economista Célia<br />
Branco, para resolver o problema<br />
de gastos excessivos é<br />
necessário que sejam acompanhados<br />
os gastos diários, desde<br />
mais simples aos mais pesados,<br />
durante noventa dias.<br />
“Normalmente, levamos um<br />
susto depois da avaliação, porque<br />
descobrimos os ralos por<br />
onde escorrem os pequenos dinheiros”,<br />
conta Célia. Passado<br />
o susto, a economista explica<br />
que a família deve se adequar<br />
ao padrão de vida em que está<br />
inserida, observando os gastos<br />
e objetivos. É nesse momento<br />
que também se descobrem as<br />
despesas que podem ser cortadas<br />
para pagar dívidas, resgatar<br />
o cheque especial ou quitar<br />
o cartão de credito.<br />
Em casos extremos, deve-se<br />
renegociar as dívidas, sempre<br />
buscando taxas de juros menores<br />
e prazos maiores. Caso<br />
seja possível vender um bem<br />
é a melhor saída para quitar<br />
os débitos. “A família só será<br />
independente financeiramente<br />
se poupar mensalmente. Não<br />
há outra alternativa”, constata<br />
o economista Edmilson Andrade<br />
de Oliveira. Ele explica que<br />
se deve evitar aplicar em bens<br />
como imóveis ou carro, pois somente<br />
o dinheiro garante liquides<br />
financeira. “Se um imóvel<br />
fica desocupado, acaba gerando<br />
despesa. Agora onde e como<br />
aplicar o dinheiro depende dos<br />
sonhos da meta da família.”<br />
6
Fernanda Steigenberg<br />
50<br />
Fernanda Steigenberg<br />
A comunicação é uma ciência que foi desenvolvida e<br />
aprimorada pela humanidade ao longo de milênios. O<br />
que antes era apenas falas jogadas ao vento, ganhou<br />
símbolos chamados de letras, e assim se formou outro<br />
tipo de comunicação: a escrita. Com o desenvolvimento<br />
da ciência e da sociedade, os meios de comunicação<br />
primitivos foram revitalizados tecnologicamente e sofreram<br />
uma progressão: sinais de fogo, correio, telegrama,<br />
rádio, telefone, televisão, computadores.<br />
Não há como conceber a idéia de um dia a sociedade<br />
viver sem a comunicação. Segundo a especialista em<br />
Histórias dos Movimentos Sociais do Brasil, Liana Lopes<br />
Bassi, o homem é um comunicador. Conseqüentemente,<br />
a ação de comunicar é a reprodução do momento<br />
sócio-histórico em que ele se encontra. Antigamente,<br />
por exemplo, os fatos eram representados apenas por<br />
rabiscos nas cavernas e hoje são até imagens na televisão.<br />
O CAMALEÃO<br />
da comunicação busca<br />
novos estilos tecnológicos<br />
“<br />
As grandes mídias<br />
apenas vendem seus<br />
produtos para as<br />
minorias<br />
”
Não foi apenas a tecnologia<br />
que evoluiu, mas também o<br />
modo de usá-la. Meios de Comunicação<br />
de Massa (MCM),<br />
como a televisão e o rádio,<br />
podem ser empregados como<br />
mecanismo de controle. “Esses<br />
meios de comunicação são<br />
utilizados para propagação de<br />
uma cultura, idéias, valores,<br />
noções e doutrinas do modo<br />
capitalista”, diz Liana Bassi.<br />
A comunicação é instrumento<br />
de socialização e existe<br />
para suprir as necessidades<br />
econômicas, políticas em que<br />
o homem vive em um determinado<br />
momento da história.<br />
Hoje, pode-se ver, com apenas<br />
alguns segundos de atraso, fatos<br />
ocorridos do outro lado do<br />
mundo. “Foi o modo de produção<br />
capitalista que unificou<br />
a economia e, conseqüentemente,<br />
a comunicação”, conta<br />
Reginaldo Aliçandro Bordin,<br />
mestre em Fundamentos da<br />
Educação.<br />
A diversidade de produção<br />
não foi a única mudança na<br />
comunicação. Estudos e pesquisas,<br />
como a Teoria Hipodérmica,<br />
Funcionalismo, entre<br />
outras, foram obtidas a partir<br />
dos MCM. De acordo com Bordin,<br />
existe uma teoria alemã,<br />
que teve seus estudos datados<br />
de 1920, que questiona justamente<br />
os meios de comunicação<br />
de massa e a repercussão<br />
desses na sociedade. “A Escola<br />
de Frankfurt já havia analisado<br />
a tendência das sociedades se<br />
massificarem. Há uma fabricação<br />
do consenso por parte das<br />
agências e meios de comunicação<br />
social. A comunicação<br />
exerce poder, que é resultado<br />
de uma relação econômica que<br />
concentra capital e informação”,<br />
afirma Reginaldo Bordin.<br />
Ele, como professor de filosofia<br />
de vários cursos do Centro<br />
Universitário de Maringá (<strong>Cesumar</strong>),<br />
afirma que “quanto ao<br />
futuro, não há como prever sem<br />
uma margem de erro. Essa é a<br />
primeira lição de casa que um<br />
historiador deve aprender”.<br />
O futuro da TV digital<br />
no Brasil<br />
De acordo com a doutora em<br />
Semiótica Ana Paula Machado<br />
Velho, é difícil acreditar que, um<br />
dia, os meios de comunicação serão<br />
democratizados e todos terão<br />
a mesma oportunidade de expor<br />
suas idéias.<br />
“As grandes mídias apenas<br />
vendem seus produtos para as<br />
minorias [gays, punks, skinheads,<br />
etc], mas isso não é democratização.<br />
O que querem é ganhar<br />
dinheiro”, diz Ana Paula.<br />
Reginaldo concorda: “notícia boa<br />
é aquela que dá lucro”.<br />
Atualmente, há uma discussão<br />
singular entre os profissionais<br />
da área de Comunicação sobre a<br />
próxima façanha tecnológica que<br />
já está na incubadora brasileira.<br />
Essa tecnologia tem como objetivo<br />
a interatividade com o telespectador.<br />
Mas há também quem<br />
questione esta possibilidade.<br />
“Existem coisas que não deram<br />
certo e a TV digital é uma delas,<br />
ou seja, uma tecnologia que, por<br />
algum motivo, não deu certo. Se<br />
temos a internet no nível em que<br />
temos hoje, já era para ter isso<br />
na televisão há muito tempo”, diz<br />
Ana Paula. Ela ainda sugere que<br />
um dos possíveis fatores para a<br />
possibilidade dessa tecnologia<br />
ser inviável é o alto custo.<br />
São tantos os meios da humanidade<br />
se comunicar, tantas<br />
as possibilidades que ao longo<br />
da história foram proporcionadas.<br />
Antes, levava-se meses para<br />
saber informações sobre o outro<br />
lado do mundo. Hoje, utilizando<br />
alguns botões e um aparelho,<br />
tem-se o mundo nas mãos. Não é<br />
por acaso que filósofos como Gilles<br />
Lipovetsky defendem a idéia<br />
de que hoje a humanidade vive<br />
em um caos organizado e que o<br />
futuro é o próprio homem quem<br />
cria. Não há como ter certeza do<br />
futuro dos meios de comunicação,<br />
nem da convivência em sociedade.<br />
Mas, certamente, o homem<br />
continuará se comunicando.<br />
6<br />
“Existem coisas que<br />
não deram certo e<br />
a TV digital é uma<br />
delas”<br />
Ana Paula Machado<br />
51
52<br />
Web 2.0: os novos<br />
Com a implantação do novo conceito, a rede virtual amplia o espaço democrático em<br />
que o usuário tem um controle ainda maior do meio<br />
Leonardo Suzuki<br />
Usufruir de softwares sem necessitar<br />
do CD de instalação. Páginas da web mais<br />
dinâmicas, contendo todos os elementos<br />
para se manter informado. Um universo<br />
onde o internauta, além de receptor é<br />
também produtor; de mero coadjuvante<br />
a ator principal. Essas são algumas das<br />
novidades da Web 2.0, um novo conceito<br />
para a internet, que já começa a ser realidade<br />
no mundo on-line. As facilidades<br />
do novo formato prometem mudar os rumos<br />
do universo digital.<br />
Considerada a segunda geração de<br />
serviços on-line, a Web 2.0 tem por característica<br />
principal ampliar a interação<br />
entre os participantes da internet e<br />
potencializar as formas de publicação,<br />
compartilhamento e organização das informações.<br />
O doutor e professor de Comunicação<br />
Social da Universidade Federal<br />
do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alex<br />
Primo explica no artigo “O aspecto relacional<br />
das interações na Web 2.0” que<br />
esse novo conceito não é apenas uma<br />
combinação de técnicas de informáticas,<br />
mas se refere, também, a um determinado<br />
período tecnológico, a um conjunto<br />
de novas estratégias mercadológicas<br />
e a processos de comunicação mediados<br />
pelo computador.<br />
Primo ressalta que a Web 2.0 traz repercussões<br />
sociais importantes ao potencializar<br />
processos de trabalho coletivo, de<br />
troca afetiva, de produção e circulação<br />
de informações: a construção social de<br />
conhecimento apoiada pela informática.<br />
O termo Web 2.0 foi criado, em 2004,<br />
pelo irlandês fundador da O’Reilly Media,<br />
Tim O’Reilly. A empresa “criadora”<br />
dessa nova plataforma foi a Google. O<br />
intuito é de, cada vez mais, mostrar<br />
agilidade e simplicidade ao usuário de<br />
internet. Exemplo disso é o serviço de<br />
e-mail Gmail, da Google, que vai além<br />
do já conhecido serviço de e-mail. “No<br />
meu e-mail tenho acesso a informações<br />
que acontecem em todo mundo,<br />
posso ver, por exemplo, a<br />
temperatura, bater um papo<br />
instantâneo com os amigos”,<br />
diz a universitária Caroline Farinha<br />
Fernandes. Há, ainda,<br />
outros recursos como o armazenamento<br />
de outras contas<br />
de e-mails, busca rápida e<br />
mais de um gigabyte de espaço<br />
para armazenar as mensagens.<br />
Esses são alguns dos atrativos<br />
que fazem da Web 2.0<br />
uma das apostas da Google.<br />
A empresa está readequando<br />
todos os serviços para<br />
esse padrão, em programas<br />
como o Google Talk (programa<br />
de conversa instantânea)<br />
e o Docs and Spreadsheets,<br />
(programa de armazenamento<br />
de documentos de textos e<br />
planilhas disponibilizados na<br />
Web – um Word virtual), que<br />
não requer instalação. “Logo<br />
quando comprei meu notebook,<br />
não estava instalado o<br />
pacote do [Microsoft] Office.<br />
Tive que procurar uma alternativa<br />
para fazer meus traba-
umos da internet<br />
Leonardo Suzuki<br />
lhos da faculdade. Então, encontrei<br />
na internet essas ferramentas<br />
práticas e que, por sinal, me ajudaram<br />
muito”, conta a estudante<br />
Pamela Pereira.<br />
Proporcionar mais praticidade<br />
ao usuário, que é, também, quem<br />
faz a internet, está entre os objetivos<br />
do Web 2.0. “O usuário deixa<br />
de ser passivo e transforma-se<br />
em ativo nessa nova era da web”,<br />
diz Tarciso Velame, desenvolvedor<br />
web da Tecbra (Tecnologias Avançadas<br />
do Brasil e Software Ltda).<br />
Velame ressalta que o maior<br />
be-nefício para o usuário é a<br />
grande gama de conteúdo ao alcance<br />
dele. “Como exemplo [de<br />
benefícios] podemos citar o site<br />
Wikipédia [www.wikipedia.com],<br />
que é uma espécie de enciclopé-<br />
Contrapontos<br />
53<br />
dia virtual totalmente alimentada<br />
por usuários com conteúdo riquíssimo.<br />
Outros sites famosos como<br />
o Youtube [www.youtube.com] e<br />
Orkut [www.orkut.com] também<br />
são padrão Web 2.0”, cita.<br />
Juan Diego Polo, dono da empresa PoolDigital, escritor e proprietário<br />
do blog sobre Web 2.0 mais lido em espanhol, WwwHatsnew<br />
(wwwhatsnew.com), diz que esse novo jeito de acabar com a figura<br />
do webmaster, responsável pelo conteúdo da web, e delegar a responsabilidade<br />
aos leitores é uma das característica do novo formato.<br />
O fato de, aos poucos, a figura do webmaster ficar escassa,<br />
provoca hipóteses do conteúdo publicado na rede não ser de qualidade<br />
e não ser confiável. “Isso faz que a quantidade de lixo digital<br />
aumente muito. Assim, dá mais responsabilidade ao internauta na<br />
hora de divulgar o que, realmente, é de qualidade”, explica Polo.<br />
O lixo eletrônico, ocasionado pela má administração das informações<br />
que são inseridas na web, é algo negativo e, ao mesmo<br />
tempo, positivo para o desenvolvedor de web Tarciso Velame. Ele<br />
afirma que pelo fato de o usuário ser o responsável pelo conteúdo,<br />
a veracidade das informações, muitas vezes, pode não ser comprovada.<br />
“No Wikipédia [www.wikipedia.com], por exemplo, quem<br />
escreve são os internautas. Então, vemos muitas contradições com<br />
a verdade. Se pesquisarmos, um exemplo, sobre mitologia grega e<br />
romana, vemos em uns artigos uma coisa e, em outros, falando coisas<br />
diferentes. Portanto, não tem como nos fundamentarmos pelo<br />
Wikipédia”, aconselha.<br />
Jornalismo 2.0<br />
Há, aproximadamente, sete anos apareceram os blogs como uma<br />
alternativa para difundir a informação. Jornalista ou não, o usuário<br />
se apropriou de um linguajar do cotidiano para transmitir os fatos<br />
ocorridos, sem ter obrigações editoriais. A partir disso, criaram-se<br />
também os fotologs e videologs. O novo mundo multimídia, aliado<br />
às novas ferramentas de interatividade, encontra-se em processo<br />
de expansão até os dias atuais. Cada dia, mais pessoas procuram<br />
esses meios para se informar e os sites de notícias já estão se adaptando<br />
ao padrão Web 2.0, disponibilizando, por exemplo, um espaço<br />
de interação, como o comentário em notícias.<br />
Aos poucos, o novo padrão vai se encaixando na nova era do<br />
mundo digital. “O processo da transformação está sendo o mais<br />
natural possível, chegando ao ponto de ser quase imperceptível aos<br />
olhos [dos usuários]”, afirma Velame.<br />
“Os maiores portais brasileiros, como Globo [www.globo.com]<br />
e Terra [www.terra.com.br], já se adequaram à nova realidade da<br />
web e têm, inclusive, reportagens enviadas pelos próprios usuários.<br />
Isso é Web 2.0”, enfatiza.<br />
6
54<br />
Robôs programados para amar<br />
Pesquisador britânico afirma que humanos se apaixonarão por máquinas cada vez mais<br />
semelhantes aos homens na aparência e nas ações<br />
Tiago Santos<br />
Michely Massa<br />
Tiago Santos<br />
Programar o preparo de alimentos no microondas ou o trajeto de um carro<br />
no piloto automático já não é novidade, mas uma máquina programa para amar,<br />
sim. Pesquisas apontam que a realidade retratada no filme de Steven Spielberg<br />
“Inteligência Artificial” será possível em um futuro não muito distante. É o que<br />
afirma o britânico David Levy. O pesquisador em Inteligência Artificial (IA) da<br />
Universidade de Maastrich, na Holanda, que concluiu em 2007 seu PhD sobre as<br />
relações entre humanos e robôs, afirma que o conhecimento, a atenção e o afeto<br />
da “pessoa amada” poderão ser programados e sentidos por uma máquina.<br />
Segundo Levy, as pessoas vão se apaixonar por robôs. Ele acredita que o que<br />
leva à paixão são os gostos em comum e a admiração pelo conhecimento do outro,<br />
o que poderia ser programado. Na pesquisa, ele afirma que a dúvida já não<br />
é saber se isso vai acontecer, mas quando essa realidade vai se tornar possível.<br />
A previsão é que seja ainda neste século.<br />
Para Sérgio Souza, professor de Inteligência Artificial do curso de Informática<br />
da Universidade Estadual de Maringá (UEM), apesar do rápido avanço na área,
tais projeções são pouco prováveis.<br />
“As evoluções tecnológicas<br />
estão além do que é apresentado<br />
ao grande público. Existem pesquisas,<br />
inclusive em robótica, que<br />
poucos têm acesso. Mas, acho que<br />
casar ou mesmo se apaixonar por<br />
máquinas é inimaginável, pelo<br />
menos num futuro próximo.”<br />
Souza diz acreditar que, justamente<br />
pela velocidade das transformações<br />
em IA, prever a realidade<br />
dos próximos 50 ou 100<br />
anos pode ser tão complexo como<br />
as relações humanas. “Ser humano<br />
vai além de reações físicas,<br />
que até podem ser programadas.<br />
É uma relação entre mente e corpo.<br />
Agora, afirmar que a criação<br />
de uma consciência em um robô<br />
que o torne ‘humano’ não vai existir<br />
pode ser perigoso. Humanos se<br />
apaixonam por humanos, se relacionam<br />
afetivamente e sexualmente<br />
com humanos. Se daqui a<br />
100 anos isso vai acontecer com<br />
máquinas, não sei.”<br />
Para a psicopedagoga Anna Carolina<br />
Taddei, sentimentos como a<br />
paixão poderão ser direcionados<br />
aos robôs se estes tiverem aparência<br />
muito próxima aos humanos.<br />
“Hoje, é praticamente impossível<br />
alguém se apaixonar por<br />
Cinema futurista<br />
uma máquina porque o que se vê<br />
não é nada parecido com a gente,<br />
é apenas máquina. Mas, se no futuro<br />
o robô tiver traços humanos<br />
e, principalmente, a figura de uma<br />
perfeição física, o que é buscada<br />
cada vez mais, acredito que as<br />
pessoas poderão se apaixonar por<br />
eles. Inclusive eu”, vislumbra.<br />
Máquina de prazer<br />
Segundo a reportagem “Robôs<br />
travam batalhas em torneio japonês”,<br />
publicada no site “Folha Online”<br />
(www.folhaonline.com.br),<br />
em 24 de março deste ano, o Japão<br />
é responsável pela produção<br />
de 40% da tecnologia robótica do<br />
mundo. Lá, já existem robôs que<br />
jogam bola, cuidam de crianças,<br />
respondem a diversas perguntas,<br />
auxiliam no cuidado com os idosos,<br />
entre outras funções.<br />
Apesar do avanço, ainda não<br />
se tem falado muito de robôs que<br />
pratiquem sexo. Segundo o pesquisador<br />
David Levy, caso um humano<br />
venha a se relacionar afetivamente<br />
com um robô, isso não<br />
será problema. Umas das possíveis<br />
novidades é que os humanóides<br />
(robôs com características<br />
semelhantes aos humanos) poderão<br />
fazer sexo com movimentos e<br />
Se na robótica atual a relação do homem com máquinas - que estão cada vez mais parecidas, física e<br />
comportamentalmente, com os seres humanos - está há longos passos da realidade, no cinema isso já<br />
é assunto antigo. Confira a relação de alguns filmes que já retrataram o envolvimento do homem com<br />
robôs:<br />
• Metrópolis - 1926<br />
• 2001 - Uma Odisséia no Espaço - 1968<br />
• Westworld - Onde Ninguém Tem Alma - 1973<br />
• Ano 2003 - Operação Terra – 1976<br />
• Blade Runner, O Caçador de Andróides – 1982<br />
• O Exterminador do <strong>Futuro</strong> I, II e III (1984, 1991 e 2003)<br />
• Robocop I, II e III (1987, 1990 e 1993)<br />
• Bill & Ted - Dois Loucos no Tempo – 1991<br />
• O Soldado do <strong>Futuro</strong> – 1998<br />
• O Homem Bicentenário – 1999<br />
• Matrix, Matrix Reloaded e Matrix Revolution (1999, 2003 e 2003)<br />
• Inteligência Artificial – 2001<br />
• Capitão Sky e o Mundo de Amanhã – 2004<br />
• <strong>Eu</strong>, Robô – 2004<br />
• Daft Punk’s Electroma – 2006<br />
• Transformers – 2007<br />
• Série Guerra nas Estrelas;<br />
55<br />
sussurros idênticos aos humanos.<br />
O estudante de Mecatrônica do<br />
Centro Universitário de Maringá<br />
(<strong>Cesumar</strong>) Gleison Oberlaitner é<br />
pesquisador em robótica. No ano<br />
passado, ele desenvolveu um robô<br />
com habilidades para sair de qualquer<br />
tipo de labirinto. Oberlaitner<br />
diz acreditar que, mediante a realidade<br />
da robótica de hoje, o tipo<br />
de previsão feita por Levy pode<br />
não acontecer tão rápido como o<br />
previsto. “Não acredito que essa<br />
tecnologia seja para agora. Se fôssemos<br />
pensar a estrutura de um<br />
robô, hoje, seria impossível uma<br />
relação mais íntima entre um robô<br />
e um ser humano. Não agüentaríamos<br />
sequer o peso do braço de<br />
uma máquina dessas.”<br />
A psicóloga Gláucia Brida, especialista<br />
em psicologia social, diz<br />
acreditar que o relacionamento do<br />
homem com a máquina está cada<br />
vez mais intenso. Pensar em uma<br />
aproximação como a que Levy<br />
prevê, é mergulhar num mundo<br />
de suposições infinitas. “É muito<br />
mais fácil um ser humano direcionar<br />
amor e carinho a um animal<br />
de estimação do que a um robô.<br />
Um robô jamais poderá retribuir<br />
afeto a um humano.”<br />
Divulgação<br />
6
56<br />
Passado de Maringá pode<br />
Vanessa Cancian<br />
Especialistas e moradores da cidade divergem quanto à demolição de construções como a<br />
rodoviária velha; há risco de não se conservar valores culturais
não ter futuro<br />
Gutembergue Lima<br />
57<br />
O município de Maringá, localizado<br />
na região noroeste do<br />
Paraná, embora em 2008 tenha<br />
completado 61 anos, pode até ser<br />
considerado jovem se comparado<br />
a outros do Estado como a capital<br />
Curitiba, que tem 315 anos e Paranaguá,<br />
360. A história da Cidade<br />
Canção está ligada à colonização<br />
da região Norte e Noroeste do<br />
estado, iniciada logo na segunda<br />
década do século passado.<br />
Pioneiros vindos de todos os<br />
cantos, especialmente de São<br />
Paulo, ajudaram a construir a cidade<br />
que desponta como uma das<br />
melhores para se viver no Brasil.<br />
Seis décadas depois, começa<br />
um debate: a conservação de um<br />
passado recente; entre o que é ou<br />
não relevante para o patrimônio<br />
histórico da cidade.<br />
A questão tem sido observada<br />
de perto pela Promotoria de<br />
Defesa do Meio Ambiente, órgão<br />
público responsável em Maringá<br />
pelos processos envolvendo<br />
o patrimônio público. De acordo<br />
com o promotor de Justiça Manoel<br />
Ilecir Heckert, 63, foi feita uma<br />
recomendação administrativa ao<br />
município para que se fi zesse um<br />
levantamento das construções sujeitas<br />
a tombamentos. No entanto,<br />
não houve manifestação da<br />
prefeitura. “Até hoje aguardamos<br />
essa resposta do município”, comenta.<br />
A situação se agravou ainda<br />
mais com as discussões em torno<br />
da demolição do prédio da Estação<br />
Rodoviária Américo Ferraz,<br />
conhecida por “rodoviária velha”,<br />
inaugurada em 1962. O prédio,<br />
localizado no centro da cidade, foi<br />
interditado no fi nal de 2006 após<br />
um temporal que causou o desabamento<br />
de parte da estrutura<br />
metálica. De lá para cá, diversos<br />
setores, públicos e privados, começaram<br />
a discutir o que fazer<br />
com o prédio, agora abandonado.<br />
A discussão pode ser a ponta<br />
do iceberg de uma questão que<br />
necessita de refl exão: o passado<br />
de Maringá pode não ter futuro. O
58<br />
“Pelo ponto de vista<br />
social, acredito que<br />
a rodoviária tem um<br />
estereótipo de local<br />
propício para ponto de<br />
prostituição e consumo<br />
e venda de drogas”<br />
Aliomar Temporini Reis<br />
alerta é feito por especialistas que<br />
afirmam que a pouca idade não<br />
limita o armazenamento de histórias<br />
de vida e valores culturais<br />
guardados em diversos pontos da<br />
cidade. “A história não pode ser<br />
preservada apenas na memória<br />
ou em livros, precisa da conservação<br />
em um aspecto vivo, ou seja,<br />
mantendo prédios e construções<br />
significativas”, argumenta o promotor<br />
Heckert.<br />
Além da antiga estação rodoviária,<br />
a cidade dispõe de outros<br />
lugares históricos, como os dois<br />
museus, da Bacia do Paraná e Multidisciplinar,<br />
instalados no campus<br />
da UEM (Universidade Estadual<br />
de Maringá), parte do prédio da<br />
CMNP (Companhia Melhoramentos<br />
do Norte do Paraná), construtora<br />
que fundou a cidade, que foi reformado<br />
para abrigar uma repartição<br />
pública. Outros pontos como<br />
o Hotel Bandeirantes e as capelas<br />
Santa Cruz e São Bonifácio também<br />
figuram na lista do patrimônio<br />
local.<br />
Na opinião do historiador João<br />
Laércio Lopes Leal, 41, a cidade<br />
possui história e elementos suficientes<br />
para justificar a fundação<br />
de um museu histórico maior,<br />
como vem sendo defendido por<br />
outros especialistas. “A própria<br />
estação rodoviária representa o<br />
movimento migratório, o ir e vir.<br />
Concentra a parte da história do<br />
município. A carga histórica existe<br />
em várias partes da cidade, independentemente<br />
do valor arquitetônico<br />
ou cultural.”<br />
Outros locais podem ser tombados<br />
Será que existe planejamento<br />
para que o crescimento de Maringá<br />
preserve, de alguma forma, as<br />
características originais que no futuro<br />
poderão ser considerados elementos<br />
históricos? Esta é a preocupação<br />
do Ministério Público do<br />
Paraná, que encomendou à UEM<br />
uma pesquisa sobre a importância<br />
histórica e cultural de alguns<br />
locais no município.<br />
O estudo iniciado ano passado<br />
avalia pelo menos 50 construções.<br />
O desenvolvimento está a cargo<br />
de três professores da UEM. O arquiteto<br />
Oigres Leici Macedo, a historiadora<br />
e doutora em Patrimônio<br />
Histórico Sílvia Zanirato e a pósdoutoranda<br />
e coordenadora do<br />
Observatório das Metrópoles, Ana<br />
Lúcia Rodrigues foram nomeados<br />
pela universidade como membros<br />
da comissão multidisciplinar responsável<br />
pela entrega dos laudos.<br />
O primeiro relatório entregue<br />
pela comissão teve como objeto<br />
de análise a estação rodoviária e<br />
concluiu que o prédio não deveria<br />
ser demolido. “O local compõe<br />
a paisagem do planejamento<br />
original feito para Maringá pelos<br />
engenheiros [da CMNP]. É uma<br />
testemunha da história não só<br />
da cidade, mas, como do início<br />
da chegada de muitas famílias à<br />
cidade”, diz Ana Lúcia Rodrigues,<br />
45. Ela defende ainda o valor de<br />
memória do local. “É uma construção<br />
que encerra a tipologia modernista<br />
na arquitetura brasileira”,<br />
justifica.<br />
A moradora Veroni Friedrich,<br />
35, organizou um dos abaixo-assinados<br />
entregues à Promotoria<br />
Pública e que embasam uma ação<br />
civil pública que corre na Justiça.<br />
Formada em História, Veroni é<br />
uma das defensoras da preservação<br />
do patrimônio de Maringá, especialmente<br />
do prédio da rodoviária<br />
velha. Ela questiona a decisão<br />
da Comissão de Patrimônio Histórico<br />
que, no ano passado, bateu o<br />
martelo pela demolição do local.<br />
Para moradores como Satilla<br />
Castro, 20, é preciso conscientização.<br />
“Maringá pode ser nova e<br />
tudo, mas o pouco de história que<br />
tem precisa ser guardado”, avalia.<br />
No entanto, para outros moradores,<br />
conservar certos locais da<br />
cidade seria desnecessário diante<br />
de outras carências. O auxiliar<br />
administrativo Aliomar Temporini<br />
dos Reis, 25, diz acreditar que do<br />
ponto de vista histórico seria uma<br />
“lástima” a demolição de construções<br />
como a velha estação.<br />
No entanto, Temporini condena<br />
a permanência do prédio por sua<br />
carga negativa. “Pelo ponto de<br />
vista social, acredito que a rodovi-
“<br />
Historiador diz<br />
que, Maringá possui<br />
história e elementos<br />
suficientes para<br />
justificar a fundação<br />
de museu histórico<br />
maior<br />
”<br />
ária tem um estereótipo de local propício<br />
para ponto de prostituição e consumo e<br />
venda de drogas. Mesmo que restaurem,<br />
não perderia esse rótulo”.<br />
Argumentos como estes são combatidos<br />
na visão da Promotoria, como afirma<br />
Manoel Ilecir Heckert. “Esses problemas<br />
[como algazarra, consumo de<br />
drogas e prostituição] acontecem em<br />
outras praças como as da Prefeitura e<br />
da Catedral. Deveríamos então pedir a<br />
demolição desses lugares também?”,<br />
argumenta. Ainda na opinião do promotor,<br />
esses problemas devem ser<br />
combatidos com a assistência social<br />
e com a segurança pública em ações<br />
efetivas e não com demolições.<br />
A professora de artes Lucimar Gasparoto,<br />
42, tem a mesma opinião. Ela<br />
diz ser a favor da preservação de todo<br />
e qualquer patrimônio histórico, desde<br />
que o mesmo não ponha em risco<br />
a segurança da população. “Refazer<br />
as estruturas da rodoviária velha iria<br />
custar muito caro aos cofres públicos<br />
e não sei se o dinheiro seria bem empregado.”<br />
Para Aliomar Temporini uma opção<br />
para revitalizar o local seria a construção<br />
de um calçadão, devido ao fluxo de<br />
pessoas que acessam o terminal urbano.<br />
Lucimar não concorda. Na opinião<br />
da professora do estado, o poder público<br />
deveria priorizar a investimentos<br />
em saúde e educação. “O dinheiro público<br />
em primeiro lugar deve ser utilizado<br />
na preservação de pessoas. Os<br />
monumentos históricos também precisam<br />
ser conservados, mas não é a<br />
Acervo Museu da Bacia do Paraná/UEM<br />
59
60<br />
Acervo/UEM<br />
“ Na avaliação do<br />
promotor Heckert,<br />
problemas de<br />
desordem social<br />
também acontecem<br />
em outros locais<br />
como as praças da<br />
Prefeitura e da<br />
Catedral.<br />
‘Deveríamos pedir<br />
a demolição desses<br />
lugares também?’<br />
”<br />
prioridade para a população”. Nos<br />
planos da Prefeitura de Maringá,<br />
no local deverá ser construído um<br />
novo edifício comercial com 36<br />
andares, o mais alto do centro da<br />
cidade.<br />
A comunidade deve se empenhar<br />
para a preservação do patrimônio<br />
histórico e cultural. Esta é<br />
a recomendação do promotor do<br />
Meio Ambiente, Manoel Ilecir Heckert.<br />
“Qualquer pessoa pode fazer<br />
um abaixo-assinado e encaminhar<br />
para a Secretaria de Cultura.<br />
Caso isso não surta efeito, pode<br />
ser encaminhado à Promotoria.”<br />
Órgão administra<br />
patrimônio<br />
há duas décadas<br />
Em 1984, o município<br />
criou uma gerência<br />
para o patrimônio histórico,<br />
que funciona<br />
no segundo piso do<br />
Teatro Calil Haddad.<br />
O órgão ligado à Secretaria<br />
de Cultura conserva inúmeros<br />
documentos, fotos e objetos que<br />
ajudam a contar a história de Maringá. O historiador<br />
João Laércio Lopes Leal trabalha na gerência<br />
há 23 anos e faz questão de enfatizar que a cidade possui<br />
muita história para contar, mesmo tendo poucas décadas de<br />
existência. “A questão da preservação desses locais, como a<br />
antiga rodoviária, não se prende a questões de tempo e sim às<br />
relações sociais”.<br />
Painel<br />
Moradores divergem. Será mesmo que a cidade não se<br />
preocupa com a preservação do patrimônio histórico?<br />
Aliomar Temporini Reis<br />
25 anos<br />
“Seria lamentável a demolição<br />
de construções como a<br />
velha rodoviária. Mas acho<br />
que neste caso será necessário.<br />
A carga negativa é muito<br />
grande.”<br />
De acordo com Ana Lúcia Rodrigues,<br />
levantar dados no processo<br />
de avaliação das construções<br />
apontadas pelo MP como<br />
possíveis pontos para tombamento<br />
tem sido uma tarefa difícil.<br />
“Quando os dados já estão no<br />
projeto Memória [da Secretaria<br />
de Cultura], ajuda bastante”, re-<br />
Satilla Castro<br />
20 anos<br />
“Maringá pode ser nova e<br />
tudo, mas o pouco de história<br />
que tem precisa ser bem<br />
guardado”<br />
vela. A professora conta ainda que<br />
encontra difi culdades no acesso a<br />
documentos e nomes de possíveis<br />
fontes. “Não é fácil. Quando a difi<br />
culdade não é a própria inexistência<br />
de fontes, esbarramos na<br />
demora para liberação dos dados<br />
pelos órgãos responsáveis”, desabafa.<br />
6
Alfon<br />
Vinil<br />
não é espécie<br />
em extinção<br />
Mesmo com diminuição da produção, o famoso “bolachão” ainda é<br />
preferência de muitos; de acordo com o eBay, maior site de leilões<br />
do mundo, seis LPs são comercializados a cada minuto<br />
61
62<br />
Thales de Paiva<br />
Com a invenção do Compact<br />
Disc (CD) no final da década de<br />
1980, imaginou-se que os dias do<br />
Long Play (LP) estavam contados.<br />
A inovação prometia vantagens<br />
sobre o vinil. O tamanho, a durabilidade<br />
e a qualidade do som<br />
(esta, muitas vezes questionada)<br />
pareciam ameaçar a existência<br />
dessa mídia desenvolvida no início<br />
da década de 1950.<br />
Entretanto, os CDs, que surgiram<br />
para substituir o LP, perdem<br />
mais espaço a cada download.<br />
A venda de músicas em formato<br />
digital cresceu 60% em 2007,<br />
enquanto a venda de CDs caiu<br />
19,3%. A informação é da empresa<br />
que registra o comércio de música<br />
nos Estados Unidos e Canadá,<br />
Nielsen SoundScan. Enquanto<br />
isso, o vinil, depois de quase 30<br />
anos, parece resistir ao tempo,<br />
mesmo com novas tecnologias.<br />
Cada vez mais considerado objeto<br />
de estima, o LP, que se restringiu<br />
nos últimos anos ao universo<br />
dos sebos e da música eletrônica,<br />
está reaparecendo, ainda que em<br />
um mercado alternativo. O eBay,<br />
maior site de leilões do mundo, ao<br />
ser questionado sobre o volume<br />
de vendas de LPs entre os usuários,<br />
respondeu que cerca de seis<br />
discos são comercializados a cada<br />
minuto. Considerando-se que esta<br />
média seja mantida, são mais de<br />
três milhões de vinis por ano.<br />
Para a Associação Brasileira<br />
dos Produtores de Discos (ABPD),<br />
o vinil deixou de existir em 1997,<br />
quando as últimas grandes gravadoras<br />
deixaram de produzi-los.<br />
Mas, na <strong>Eu</strong>ropa, Japão e Estados<br />
Unidos, não é bem o que acontece.<br />
Nesses países é comum encontrar<br />
lançamentos em vinil, mesmo que<br />
a produção seja em volume bem<br />
menor do que a anos atrás.<br />
Dentro do mercado pop não há<br />
mais produção em LP, salvo exceções<br />
como pequenas tiragens promocionais<br />
junto ao lançamento<br />
do CD. Já, no cenário da música<br />
eletrônica, o vinil ainda é produzido<br />
em diversos subgêneros, especialmente<br />
no reggae e derivados.<br />
“O vinil é fabricado no formato<br />
single [apenas uma música] e tem<br />
encontrado maior uso dentro do<br />
mercado de dancehall, dubstep,<br />
raggae e drum’n’bass [estilos derivados<br />
do reggae]. Sua produção<br />
caiu significativamente, mas acredita-se<br />
que o formato não irá se<br />
extinguir”, conta Xerxes de Oliveira,<br />
mais conhecido por Dj Xerxes,<br />
que apesar de não trabalhar mais<br />
com vinis, diz apreciar o formato.<br />
Mesmo com falta de lançamentos<br />
e o mercado restrito no que<br />
tange à produção, a diferença de<br />
realidades não desanima os que<br />
gostam do som analógico do vinil.<br />
Dono de um sebo no centro de<br />
Maringá há seis anos, Robespierre<br />
Lima afirma que a procura por LPs<br />
é considerável. “Mesmo em dias<br />
mais fracos [de movimento], tenho,<br />
em média, vinte clientes que<br />
procuram e compram LPs.” Ele diz<br />
também preferir os vinis, mas que<br />
devem estar juntos a um toca-dis-<br />
“<br />
Iphan pretende<br />
conceder à última<br />
fábrica de LPs no<br />
Brasil registro de<br />
patrimônio cultural<br />
imaterial<br />
”
cos adequado.<br />
Danilo Donatto<br />
Ao perceber a demanda por vinis,<br />
algumas fábricas apostam em<br />
novos modelos de toca-discos. Um<br />
exemplo é o aparelho japonês ELP<br />
Corp, uma nova vitrola que, em<br />
vez da tradicional agulha, dispõe<br />
de um leitor a laser. Mas, assim<br />
como o produto da inglesa Vestax,<br />
que faz a conversão do vinil para<br />
arquivos MP3, os novos toca-discos<br />
têm preços não muito acessíveis,<br />
ao contrário dos Long Plays.<br />
No Brasil, a última fábrica de<br />
LPs, a Polysom, vive um dilema<br />
entre fechar ou não as portas. No<br />
fim de 2007, a fábrica localizada<br />
em Belford Roxo (RJ), anunciou<br />
o fim de suas atividades. Porém,<br />
atendendo ao pedido do Ministério<br />
da Cultura, o Iphan (Instituto<br />
do Patrimônio Histórico e Artístico<br />
Nacional) pretende conceder<br />
à fábrica o registro de Patrimônio<br />
Cultural Imaterial. Com o tombamento,<br />
seria permitido à Polysom<br />
captar recursos pela Lei Rouanet.<br />
Com ou sem lançamentos em<br />
vinil, o fato é que esse mercado<br />
alternativo, no qual os discos usados<br />
continuam sendo comercializados,<br />
tem muita procura. Ainda<br />
que a preços bem variados. Afinal,<br />
é comum encontrar bons títulos<br />
por menos de R$ 3,00 e, ao mesmo<br />
tempo, raridades que podem<br />
custar mais de R$ 10 mil a unidade,<br />
como os primeiros discos dos<br />
Beatles.<br />
As características desse mercado<br />
têm se mostrado realmente<br />
atrativas para muitos. O acadêmico<br />
do curso de música da UEM<br />
José Gustavo Ruiz diz comprar vinis<br />
com freqüência. Além do gosto<br />
pela sonoridade que o formato<br />
proporciona, ele aponta os preços<br />
acessíveis e a diversidade como<br />
pontos favoráveis. “<strong>Eu</strong> sempre<br />
encontro coisas interessantes nos<br />
sebos. Os títulos de música erudita<br />
são muito baratos e os discos<br />
sempre estão bem conservados.”<br />
Outro fator relevante é que<br />
muitos títulos lançados em vinil<br />
não chegaram a ser produzidos<br />
em CD. O coordenador do curso<br />
de música da Universidade Estadual<br />
de Maringá (UEM), Marcus<br />
Alessi Bitencourt, conta que esse<br />
é um dos motivos pelo qual chegou<br />
a formar uma coleção de mais<br />
de mil vinis. “Era a maneira mais<br />
acessível de se formar um acervo<br />
de qualidade por um custo baixo.<br />
Além disso, o trabalho de muitos<br />
compositores, especialmente do<br />
início do século 19, só podem ser<br />
encontrados em vinil”, diz Bitercourt.<br />
O LP é a escolha da maioria dos<br />
audiófilos (aqueles que primam<br />
pela alta fidelidade do som). Eles<br />
argumentam a preferência pelo<br />
fato do armazenamento de áudio<br />
ser mais fiel ao som original. A escolha<br />
também é daqueles que querem<br />
ter o disco sem pagar muito<br />
por isso, independentemente do<br />
conceito de qualidade de áudio. A<br />
decadência precoce dos Compact<br />
Disc faz parecer que indispensável<br />
mesmo, só o bom e velho vinil.<br />
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“Sempre encontro<br />
coisas interessantes<br />
nos sebos. Os títulos<br />
de música erudita são<br />
muito baratos e os<br />
discos sempre estão<br />
bem conservados”<br />
José Gustavo Ruiz<br />
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