eletroforese de proteínas e imunofixação - Hermes Pardini
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1. INTRODUÇÃO<br />
Provas <strong>de</strong> Função Tireoidiana<br />
- 1 -<br />
imunologia<br />
Nos últimos 40 anos, ocorreu uma melhora substancial na sensibilida<strong>de</strong> e<br />
especificida<strong>de</strong> dos testes tireoidianos principalmente com o <strong>de</strong>senvolvimentos dos métodos<br />
imunométricos não isotópicos. Avaliaremos a utilida<strong>de</strong> clínica e os possíveis fatores <strong>de</strong><br />
interferência nas dosagens do TSH (hormônio tireotrópico), T4 (tiroxina) e T3<br />
(triiodotironina).<br />
2. FATORES PRÉ-ANALÍTICOS<br />
2.1 . Variáveis Fisiológicas<br />
A função tireoidiana po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminada diretamente pela medida dos seus<br />
hormônios (T4 e T3) ou indiretamente através da ação <strong>de</strong>sses hormônios na secreção <strong>de</strong><br />
TSH. Se a unida<strong>de</strong> hipotálamo-hipofisária funciona normalmente, as concentrações <strong>de</strong> TSH<br />
estarão inversamente relacionadas à função tireoidiana. A medida do TSH é mais sensível<br />
para a <strong>de</strong>tecção da disfunção tireoidiana. Isto ocorre por dois motivos: o primeiro é que a<br />
sua concentração sérica e do T4 têm uma relação log-linear tal que pequenas<br />
anormalida<strong>de</strong>s no T4 irá produzir uma resposta amplificada do TSH (fig. 1); o segundo<br />
motivo é que estudos conduzidos em gêmeos <strong>de</strong>monstram um setpoint <strong>de</strong>terminado<br />
geneticamente para o T4, <strong>de</strong>ssa forma nos estágios precoces da disfunção tireoidiana a<br />
anormalida<strong>de</strong> do TSH será anterior à do T4.<br />
Figura 1 – Relação entre as concentrações séricas do TSH e do T4 livre.<br />
Deve-se reconhecer que a dosagem isolada do TSH po<strong>de</strong> apresentar-se ina<strong>de</strong>quada em<br />
algumas situações: anormalida<strong>de</strong> da função hipotálamo-hipofisária; fase precoce da<br />
correção do hipotireoidismo e do hipertireoidismo, tumores produtores <strong>de</strong> TSH e drogas<br />
que influenciam a secreção do TSH.
- 2 -<br />
imunologia<br />
2.2 . Fatores Demográficos e Individuais<br />
O período neonatal, infância e senilida<strong>de</strong> apresentam alterações na função tireoidiana<br />
assim como os estados <strong>de</strong> <strong>de</strong>snutrição (baixos níveis <strong>de</strong> T3). Para outras variáveis como<br />
gênero, raça, fase do ciclo menstrual, tabagismo, exercício, jejum e estação do ano não se<br />
observaram diferenças clinicamente significativas. Deve-se lembrar que a gestação produz<br />
um aumento na TBG (proteína transportadora <strong>de</strong> T4) falseando os níveis <strong>de</strong> T4 total.<br />
2.3. Variação Biológica<br />
As variações intra-individuais dos hormônios tireoidianos são muito estáveis num<br />
período <strong>de</strong> 1 a 4 anos. O mesmo não ocorre com as variações inter-individuais. Veja a<br />
tabela abaixo:<br />
Tabela – 1 Marcadores <strong>de</strong> Função Tireoidiana<br />
Hormônio Período entre as avaliações % CV* % CV**<br />
T4T e T4L 1 semana<br />
3,5<br />
10.8<br />
6 semanas<br />
5,3<br />
13,0<br />
4 anos<br />
7,3<br />
14,8<br />
T3T e T3L 1 semana<br />
8,7<br />
18,0<br />
6 semanas<br />
5,6<br />
14,8<br />
4 anos<br />
15,1<br />
19,2<br />
TSH 1 semana<br />
19,3<br />
19,7<br />
6 semanas<br />
20,6<br />
53,3<br />
4 anos<br />
21,2<br />
45,0<br />
*Intraindividual **Interindividual<br />
CV = Coeficiente <strong>de</strong> variação<br />
As flutuações diurnas do TSH ocorrem <strong>de</strong>ntro da faixa <strong>de</strong> referência do exame.<br />
2.4. Variáveis Patológicas<br />
A- Medicamentos.<br />
Os glicocorticói<strong>de</strong>s em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m reduzir o nível sérico do T3 e<br />
inibir a secreção do TSH. A dopamina inibe a secreção do TSH e po<strong>de</strong>, também,<br />
reduzir o seu nível aumentado no hipotireoidismo primário a valores normais em<br />
pacientes hospitalizados. Fenitoína e carbamazepina causam uma redução nos<br />
níveis <strong>de</strong> T4T e T4L (para o T4L quando se utiliza um método <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção direto –<br />
ultrafiltração por exemplo - esse efeito não é observado). O propranolol,<br />
eventualmente, po<strong>de</strong> causar uma elevação do TSH <strong>de</strong>vido à sua ação <strong>de</strong> inibir a<br />
conversão periférica do T4 em T3. A amiodarona po<strong>de</strong> levar ao hipotireoidismo e ao<br />
hipertireoidismo em indivíduos predispostos. O lítio causa hipotireoidismo em 5 a<br />
10% dos usuários, principalmente naqueles com anticorpos positivos. Em alguns<br />
casos po<strong>de</strong> causar hipertireoidismo. Furosemida e heparina po<strong>de</strong>m inibir a ligação<br />
do T4 às <strong>proteínas</strong> séricas in vitro.<br />
B- Doença Não Tireoidiana.<br />
Em pacientes hospitalizados as provas <strong>de</strong> função tireodiana po<strong>de</strong>m não mostrar<br />
utilida<strong>de</strong>. Confira a figura 2.
Figura 2<br />
- 3 -<br />
imunologia<br />
C – Outras Interferências:<br />
T4 em soro é estável por meses quando armazenado a 4 o C e por anos quando<br />
congelado a –10 o C. O TSH é estável por vários anos no soro congelado. Hemólise,<br />
lipemia e hiperbilirrubinemia não produzem interferência significativa nos<br />
imunoensaios. Entretanto, os ácidos graxos livres po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>slocar o T4 das <strong>proteínas</strong> <strong>de</strong><br />
ligação o que, em parte, explicaria os baixos níveis <strong>de</strong> T4T freqüentemente vistos no<br />
eutireoidiano doente. Os anticorpos heterofílicos são encontrados com mo<strong>de</strong>rada<br />
freqüência no soro dos pacientes. Po<strong>de</strong>m criar valores falsamente baixos ou altos<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da metodologia utilizada pelo laboratório. O valor ina<strong>de</strong>quado não precisa<br />
ser necessariamente anormal, apenas inapropriadamente normal. É importante o<br />
contato do médico assistente com o laboratório para a correta suspeição <strong>de</strong>sses casos.<br />
O armazenamento do soro a –20 o C é recomendado se o ensaio for <strong>de</strong>morar mais do que<br />
24 horas para ser realizado.<br />
3. DOSAGEM DE T3 E T4 TOTAIS<br />
Tecnicamente é mais fácil mensurar as concentrações totais dos hormônios tireoidianos<br />
do que as frações não ligadas às <strong>proteínas</strong>. Isso ocorre <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que as<br />
concentrações totais serem mensuradas em nanomoles, enquanto a fração livre é medida<br />
em picomoles.<br />
Existem gran<strong>de</strong>s diferenças entre os métodos <strong>de</strong> dosagem para T4T e T3T. Essas<br />
diferenças ocorrem <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> ensaios padronizados <strong>de</strong> referência para T4T e T3T.<br />
Além disso, existem diferenças quanto à sensibilida<strong>de</strong> do instrumento, quanto ao soro<br />
humano e a matriz do calibrador. Concentrações anormais <strong>de</strong> T4T e T3T são comumente<br />
encontradas como o resultado <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s das <strong>proteínas</strong> <strong>de</strong> ligação e não à disfunção<br />
tireodiana. Alguns pacientes contêm outras <strong>proteínas</strong> anormais como autoanticorpos<br />
contra hormônios tireoidianos que alteram a dosagem dos hormônios tireoidianos totais.
- 4 -<br />
imunologia<br />
4. Dosagem <strong>de</strong> T3 e T4 livres<br />
Os testes para a fração livre dos hormônios tireoidianos são realizados por métodos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>tecção indireta, que requerem dois testes separados, ou técnicas <strong>de</strong> imunoensaio direto.<br />
4.1. Métodos indiretos<br />
• Índice utilizando a medida da TBG: índices utilizando a medida da TBG (por exemplo,<br />
T4T/TBG) são raramente utilizados por não mostrarem utilida<strong>de</strong> diagnóstica superior<br />
aos índices indiretos utilizando a taxa <strong>de</strong> ligação do hormônio tireoidiano.<br />
• Resina ligadora <strong>de</strong> hormônio tireoidiano/T3 Retenção: nesse ensaio uma quantida<strong>de</strong><br />
conhecida e marcada <strong>de</strong> T3 é adicionada ao soro do paciente. A amostra é então<br />
incubada com um agente ligador não específico (uma resina, por exemplo). Após o<br />
equilíbrio, a resina é separada do soro e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> T3 marcado capturado pela<br />
resina é medida. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> radioativida<strong>de</strong> ligada à resina é inversamente<br />
proporcional ao número <strong>de</strong> locais <strong>de</strong> ligação disponíveis no soro. Veja a tabela abaixo:<br />
Dosagem <strong>de</strong> T4 T3 Retenção Condição<br />
Hipertireoidismo<br />
Hipotireoidismo<br />
Hiper-TBGnemia<br />
Hipo-TBGnemia<br />
Obs: estes testes po<strong>de</strong>m produzir, ocasionalmente, índices <strong>de</strong> T4 livre<br />
inapropriadamente anormal quando os pacientes têm alteração muito pronunciadas das<br />
<strong>proteínas</strong> <strong>de</strong> ligação (extremos <strong>de</strong> concentração anormal <strong>de</strong> TBG, hipertiroxinemia<br />
disalbuminêmica familiar, autoanticorpos contra hormônios tireoidianos e o<br />
eutireoidiano doente).<br />
4.2. Métodos diretos<br />
A dosagem direta dos hormônios tireoidianos po<strong>de</strong> ser realizada por métodos absolutos<br />
ou comparativos. Os métodos absolutos requerem um isolamento físico da fração livre da<br />
fração ligada às <strong>proteínas</strong> antes <strong>de</strong> empregar um imunoensaio sensível. Esse isolamento é<br />
conseguido através <strong>de</strong> uma câmara <strong>de</strong> diálise, uma técnica <strong>de</strong> ultrafiltração ou pelo uso <strong>de</strong><br />
uma coluna <strong>de</strong> adsorção. Como são métodos trabalhosos e caros, estão restritos a alguns<br />
centros <strong>de</strong> pesquisa. Os métodos comparativos baseiam-se, usualmente, na captura do<br />
hormônio livre por anticorpo anti-hormônio específico. São métodos mais simples e que<br />
permitem a automação. A quantificação <strong>de</strong>ssa captura po<strong>de</strong> ser feita por radioativida<strong>de</strong>,<br />
fluorescência ou quimioluminescência. São realizados em uma ou duas etapas. A utilização<br />
da <strong>de</strong>terminação livre e não total do hormônio tireoidiano melhora a acurácia diagnóstica<br />
na <strong>de</strong>tecção do hipo ou hipertireoidismo. No entanto, para validação das faixas <strong>de</strong><br />
referência usualmente empregadas, <strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interferências possíveis: a síndrome do eutireoidiano doente; a hipertiroxinemia<br />
disalbuminêmica familiar; a possibilida<strong>de</strong> da presença <strong>de</strong> anticorpos anti-T4 e anti-T3 e os<br />
anticorpos heterofílicos. Todas essas situações po<strong>de</strong>m interferir no ensaio, trazendo<br />
confusão para sua interpretação. Os resultados inusitados são encontrados <strong>de</strong>vido à<br />
presença <strong>de</strong> substâncias que são falsamente <strong>de</strong>tectadas pelos anticorpos (reação cruzada);<br />
auto-anticorpos endógenos; interferências por drogas e anticorpos heterofílicos.
5. DOSAGEM DE TSH<br />
- 5 -<br />
imunologia<br />
Houve uma gran<strong>de</strong> melhora na metodologia da dosagem do TSH, possibilitando a sua<br />
utilização como teste <strong>de</strong> rastreio para as disfunções tireoidianas. Apesar <strong>de</strong>ssa gran<strong>de</strong><br />
melhora na sua sensibilida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>, os ensaios para TSH não estão isentos <strong>de</strong><br />
algumas interferências. Por exemplo, pacientes com hipotireoidismo central ocasionado por<br />
disfunção pituitária ou hipotalâmica, secretam isoformas com glicosilação anormal e<br />
reduzida ativida<strong>de</strong> biológica que são medidas como concentrações paradoxalmente<br />
normais <strong>de</strong> TSH pela maioria dos métodos. De outra forma, concentrações séricas normais<br />
<strong>de</strong> TSH po<strong>de</strong>m ser vistas quando pacientes têm hipertireoidismo por tumores produtores <strong>de</strong><br />
TSH, que parecem secretar isoformas <strong>de</strong> TSH com elevada ativida<strong>de</strong> biológica. Outras<br />
possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interferência são os anticorpos heterófilos e a contaminação da amostra<br />
por heparina; o primeiro levando a valores falsamente elevados e o segundo a valores<br />
falsamente baixos. Um conceito importante ao analisar a sensibilida<strong>de</strong> do teste <strong>de</strong> TSH é<br />
sua sensibilida<strong>de</strong> funcional, calculada como o limite máximo <strong>de</strong> 20% para o coeficiente <strong>de</strong><br />
variação inter-ensaio. Essa sensibilida<strong>de</strong> funcional seria o menor valor clinicamente<br />
relevante do teste.<br />
Anormalida<strong>de</strong> transitórias do nível <strong>de</strong> TSH po<strong>de</strong>m ser encontradas em pacientes<br />
hospitalizados. Deve-se ter precaução na sua análise nessa condição. Os níveis <strong>de</strong> TSH são<br />
caracteristicamente mais altos na ida<strong>de</strong> neonatal e valores apropriados <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>vem<br />
ser utilizados. De uma forma geral os ensaios <strong>de</strong> TSH são menos suscetíveis a interferência<br />
do que os ensaios para T4L.<br />
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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