eVOcAçÕes cróNicAs cuLturA & ActuALiDADe NOticiAs DA APe ...
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Orgão de informação, cultura e recreio da Associação dos Pupilos do exército, Fundado em Julho de 1943<br />
Boletim<br />
AssOciAçãO DOs PuPiLOs DO eXÉrcitO<br />
ANO LXV - N.º 215<br />
<strong>NOticiAs</strong> DO imPe<br />
Imposição de Insígnias<br />
Abertura do Ano Lectivo<br />
convívio de alunos e veteranos<br />
<strong>NOticiAs</strong> <strong>DA</strong> <strong>APe</strong><br />
Encontro de Veteranos<br />
Pupilos Distinguidos<br />
<strong>cróNicAs</strong><br />
A Gala<br />
Forte Coimbra<br />
Outubro a Dezembro 2009<br />
<strong>eVOcAçÕes</strong><br />
O Cigarro<br />
Azares de um Burro<br />
PubLicAçãO<br />
trimestrAL<br />
distribuição<br />
gratuita<br />
aos sócios<br />
Preço de caPa<br />
4.00 euros<br />
issN N.º 1645 - 975x<br />
<strong>cuLturA</strong> &<br />
<strong>ActuALi<strong>DA</strong>De</strong><br />
Sistema Solar<br />
Sexismos
BOLETIM <strong>DA</strong> ASSOCIAÇÃO<br />
DOS PUPILOS DO EXÉRCITO<br />
EDITORIAL<br />
Publicação Trimestral<br />
ano LxiV- N.º 215 - outubro a dezembro de 2009<br />
ProPriedade da<br />
associação dos PuPiLos do exÉrcito<br />
rua Major Neutel de abreu, N.º 20 s/l - e<br />
1500-411 Lisboa<br />
telefone: 217 782 980 - Fax: 217 788 694<br />
e-mail: ape@ape.pt<br />
apexercito@gmail.com<br />
website: http:\\www.ape.pt<br />
boletim.ape@gmail.com<br />
FuNdador:<br />
alberto silva santos Lino<br />
director:<br />
américo de abreu Ferreira<br />
editor eMÉrito:<br />
augusto dias<br />
edição e Produção:<br />
Fernando Pires<br />
MarKetiNg e PubLicidade:<br />
José rosado<br />
redacção:<br />
david sequerra, augusto dias,<br />
rui telo, José Lencastre<br />
coLaboradores (nesta edição):<br />
ana sousa Martins, aníbal duarte Ferreira,<br />
alexandre correia, antónio b. Pinheiro, antónio<br />
J. barroso, antónio ribeiro da silva, cândido<br />
de azevedo, duran clemente, Filipe santos,<br />
Humberto Lola dos reis, Jacinto rego de almeida,<br />
J. F. Leandro, José g. b. Pereira, Licínio granada,<br />
Mariana terra da Mota, Margarida W. Pereira,<br />
Paulo Mendes Pinto, Pedro sabali, sofia Pontares,<br />
rui Vargas.<br />
execução grÁFica e iMPressão<br />
sMiprint - artes gráficas e design, Lda.<br />
Núcleo empresarial | rua de entremuros,<br />
54 arm. t | 2660-533 são Julião do tojal<br />
tel.: 21 011 73 19 | smiprint@mail.telepac.pt<br />
issN: 1645-975x<br />
depósito Legal: 98621/96<br />
tiragem: 1.100 exemplares<br />
<br />
Os artigos publicados são da exclusiva<br />
responsabilidade dos autores<br />
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Untitled-1 1 09/12/21 16:58:28<br />
Foto da Capa: Fernando Pires<br />
Acabámos de iniciar o ano em que Portugal comemora<br />
os 100 anos do regime republicano. Sendo os Pupilos<br />
do Exército uma escola fruto da revolução de 5<br />
de Outubro, tal não significa necessariamente que<br />
os seus antigos alunos sejam todos republicanos.<br />
Contudo, nos traços que nos unem, há vestígios do mais simples,<br />
do mais profundo e salutar humanismo que herdámos desse<br />
momento genesíaco de 1910.<br />
Liberdade, Igualdade, Fraternidade, são chaves ideológicas que os<br />
republicanos de há um século retiraram da Revolução Francesa.<br />
A Fraternidade é a Mãe do espírito dos que, em 1932, criaram o,<br />
então, Grémio dos Pupilos do Exército.<br />
Hoje, tão premente como em 1919 ou em 1932,<br />
a Fraternidade tem que ser o que nos une,<br />
muito para além do que cada um de nós conseguiu<br />
em termos de sucesso ou de reconhecimento<br />
público. A Fraternidade nasce, enquanto<br />
ideia, da palavra latina frater, irmão.<br />
Américo Ferreira<br />
(19650038)<br />
- Presidente da<br />
Direcção<br />
É isso que se coloca como desafio neste século<br />
XXI, nesta abertura do ano em que a República<br />
comemora os seus 100 anos.<br />
Todos dizem estar o associativismo em crise.<br />
Mas todos afirmam serem as estruturas associativas<br />
o foco futuro do amparo e do apoio<br />
social que os Estados cada vez menos conseguem proporcionar.<br />
A APE não tem os meios para se constituir com essa função. Mas<br />
a APE deve, cada vez mais, procurar os seus associados que necessitam<br />
de apoio. Não pela institucionalização, mas pela reunião<br />
de boas vontades, devemos construir uma associação que<br />
possa ser o estandarte da proximidade que nos irmana aos sermos,<br />
todos nós, pilões.<br />
Neste ano de 2010, os desígnios que levaram á fundação dos Pupilos<br />
do Exército, se bem que com linguagens diferentes, são da<br />
maior actualidade.<br />
A APE, herdeira desses desígnios, apela aos seus membros para<br />
que a dotem do indispensável à prossecução desses valore:<br />
apoiar os mais necessitados.<br />
Existem alunos que estão a estudar na “nossa casa” e que não o podem<br />
fazer com a mínima dignidade ou que, pior, não poderão prosseguir<br />
com esses estudos se não forem auxiliados financeiramente.<br />
A Nossa capa<br />
a valorizar, intensamente, o convívio dos ex-alunos veteranos, a presença<br />
dos actuais alunos, felizes pela oportunidade de conhecer os “cotas”,<br />
constituiu um momento de raro simbolismo. a imagem ajuda a perceber<br />
como foi magnífica a convivência de 13 de Novembro.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 5
editorial / Ficha técnica ...............<br />
sumário / Nota do editor .............<br />
evocações ...........................................<br />
O Cigarro, Uma Foto... À Lupa, Rapidissímas,<br />
Soltas, Apontamento, No<br />
Pilão. Encontro com o Passado - X,<br />
Azares de um Burro, Desvanecer, A<br />
Propósito de Comandantes de Batalhão,<br />
Lembrando Ruy Cinatti.<br />
crónicas ..............................................<br />
A Gala, Reflexões: Dos Claustros à<br />
Madalena, Um Outro Olhar, Portugueses<br />
Pelo Oriente, A Última Fronteira:<br />
Forte Coimbra, Os Meus Cães.<br />
Noticias da <strong>APe</strong> ...............................<br />
Pupilos Distinguidos, Praça CMG FZE<br />
Rebordão de Brito, Marketing e Comunicação<br />
Política, Stock Options, Importante<br />
Debate Sobre Formação Profissional,<br />
O Veterano, Os “Dozemais”, Festa<br />
de Natal da APE, Almoço de Natal da<br />
APE, O Que Representam Estas Pinturas?,<br />
10ª Mini Maratona de Portugal<br />
Vodafone, Novos Sócios, Vamos à Índia<br />
em 2010?, Gonçalo Vasconcelos Santos<br />
Couceiro, Obituário, Almoço em<br />
Loures, Comemoração dos 50 Anos de<br />
Saída do IMPE, Almoço de 13/XI.<br />
bibliografia ........................................<br />
Leituras & Públicações Recebidas<br />
Noticias do imPe .............................<br />
Imposição de Insígnias, Cerimónia de<br />
Abertura Solene do Ano Lectivo, O<br />
IMPE Recebeu O Galardão Bandeira<br />
Verde, O IMPE nas Comemorações<br />
do Museu da Presidência da República,<br />
Marcante Presença no 1º de Dezembro,<br />
Mensagem Exarada.<br />
escritas ...............................................<br />
A Cor do Vento,Jogos Florais de Castelo<br />
de Vide, Os Tupinambás<br />
cultura e Actualidade ....................<br />
Evolução e Estabilidade do Sistema<br />
Solar, Sexismos, Querer é Poder...<br />
Com Saúde.<br />
Viagens & Lazer ...............................<br />
Viagem a Berlim<br />
Passatempo<br />
6 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
SUMáRIO<br />
OUTUBRO A DEZEMBRO DE 2009<br />
1<br />
2<br />
4<br />
16<br />
26<br />
34<br />
36<br />
40<br />
44<br />
47<br />
5<br />
22<br />
29<br />
37<br />
42<br />
44<br />
47<br />
NOTA DO EDITOR<br />
Neste número a rubrica a Voz dos Pilões<br />
não aparece porque não foram<br />
atingidos os objectivos a que nos propusemos<br />
e que passavam pelo desafio,<br />
a toda a nossa comunidade “pilónica”,<br />
para participar na renovação do Boletim.<br />
Não queremos desistir deste objectivo, antes<br />
pelo contrário, pretendemos sim repensar e<br />
construir um novo modelo que seja mais apelativo<br />
e que produza os resultados pretendidos. O<br />
seu autor, Manuel Barbosa Pereira, irá apresentar<br />
uma nova proposta no próximo número.<br />
Mas, já que falamos na reacção dos nossos leitores,<br />
registe-se que tivemos o grato prazer de receber<br />
respostas e comentários sobre o nosso trabalho.<br />
Foram comentários e criticas positivas e<br />
construtivas que registo e que se sobrepõem a<br />
um caso isolado que considero menos justo.<br />
Continuamos a contar com novos colaboradores<br />
e com o regresso de quem já escreveu nestas páginas.<br />
Temos uma nova rubrica da autoria da<br />
professora Ana Cristina Sousa Martins, familiar<br />
de “pilão”, uma crónica de Mariana Terra<br />
Mota, neta de “pilão”, a estreia do Lola dos Reis e<br />
os regressos do Paulo Mendes Pinto e do António<br />
Ribeiro da Silva. Os nossos agradecimentos<br />
pela sua colaboração e votos para que a suas<br />
contribuições se mantenham por muito tempo.<br />
O programa Viagens APE é para continuar mas,<br />
como a primeira proposta, Viagem à Índia, ainda<br />
não produziu resultados significativos, chamamos<br />
a atenção para a folha que juntamos a<br />
esta edição, que, ao ser devolvida, para a sede da<br />
APE, devidamente preenchida, deverá ser acompanhada<br />
de cheque bancário (cruzado) de 500€,<br />
referente ao pagamento da inscrição.<br />
Na sequência das acções que estamos a desenvolver,<br />
de modo a garantir a concretização desta<br />
viagem, iremos realizar, na primeira quinzena<br />
de Janeiro, na sede da APE, um colóquio sobre a<br />
Índia orientado por um especialista do Operador<br />
que, em parceria com o Boletim da APE, organiza<br />
este programa.<br />
Fernando Baptista Pires<br />
(1955.0275)
Evocações<br />
Oespaço por debaixo do refeitório,<br />
na primeira Secção,<br />
era, no meu tempo, e quando<br />
as secções ainda se encontravam<br />
divididas para<br />
Comércio e Indústria – já lá vão mais de<br />
sessenta anos – um espaço aberto onde,<br />
no canto oposto às escadas que dão<br />
acesso ao refeitório e claustros, se encontrava<br />
também a barbearia.<br />
Este pequeno preâmbulo serve para<br />
situar um local com múltiplos usos,<br />
desde abrigo da chuva, antecâmara<br />
para revisão de<br />
matérias para o<br />
ponto que se iria<br />
ter a seguir, biblioteca<br />
de leitura das<br />
aventuras do “Cavaleiro<br />
Andante”,<br />
que algum abastado<br />
comprara, escri-<br />
António Barroso<br />
(19460120)<br />
tório onde se combinavam<br />
assaltos<br />
aos “comes”, anfiteatro<br />
de exaltação à<br />
última exibição da<br />
equipa portuguesa no campeonato<br />
mundial de hóquei, captada através<br />
duma galena na noite anterior, ou santuário<br />
de iniciação, às escondidas, do vício<br />
do tabaco, através dumas primeiras fumaças<br />
cujas tossidelas iniciais não impediam<br />
a continuação, isto sob a orientação<br />
de quem já era perito na matéria.<br />
Adquirido o vício, o grande problema<br />
era alimentá-lo.<br />
É certo que havia os comerciantes<br />
de tabaco avulso, usurários que, apenas<br />
por trinta centavos, vendiam um cigarro,<br />
ou dois por cinquenta centavos, mas<br />
porque se vivia sempre numa situação<br />
8 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
O cIgARRO<br />
de crise, e o deficit orçamental excedia<br />
sempre os limites do autorizado, tornava-se<br />
dificílimo conseguir tão grande<br />
quantia. Quando isso sucedia, era então<br />
aquele lugar que servia de esconderijo<br />
aos fumadores onde, perante a aproximação<br />
de alguém estranho, um “chui”<br />
oportuno fazia desaparecer quaisquer<br />
vestígios do delito.<br />
Outro local também muito utilizado<br />
para o efeito, era a Madalena, mas aí a entrada<br />
só era permitida aos consagrados,<br />
àqueles que recebiam uma boa mesada,<br />
ou tinham a possibilidade de “fanar” os<br />
cigarritos que os coitados dos putos julgavam<br />
ter bem escondidos. Assim, à miudagem<br />
só restava aquele lugar, em frente<br />
da parada, ou qualquer outro que oferecesse<br />
uma certa camuflagem.<br />
Foi deste modo que adquiri esse<br />
maldito vício, de que me desvinculei,<br />
com enorme sacrifício, somente há cerca<br />
de uma década. Dependia da pequena<br />
nota ensebada – mas tão agradável<br />
ao tacto – de vinte escudos, que meu pai<br />
me mandava a cada dois meses, duns<br />
cravanços que ia efectuando, mas cuja<br />
persistência levava a diminuir a sua eficácia,<br />
ou então da venda de serviços.<br />
Neste último caso, e porque, desde<br />
novo, mostrei sempre uma certa habilidade,<br />
ou jeito, para alinhavar uns quantos<br />
escritos, havia sempre quem recorresse<br />
aos meus serviços para escrever<br />
uma carta à namorada ou à pretendente.<br />
Consoante os casos e de acordo com<br />
a complexidade da situação (por vezes<br />
até metia uma pequena poesia que encarecia<br />
o contrato), assim cobrava três<br />
ou cinco cigarros o que, à falta de concorrência<br />
até eram preços bastante em<br />
conta.<br />
Vejam pois as voltas que tinha de dar<br />
ao bestunto para sustentar a dependência.<br />
Recordo-me até que havia duas palavras<br />
de que fazia um uso bastante regular<br />
- galicismo e pleonasmo -cujos significados<br />
não sei se, na altura, estariam<br />
bem apreendidos. Estivessem ou não,<br />
eram duas palavras que me despertavam<br />
enorme prazer e que muito me faziam<br />
subir no conceito dos interessados.<br />
Tenho em mente que muitas das minhas<br />
cartas começavam sempre da mesma<br />
forma “Não são precisos rendilhados de<br />
frase, nem pleonasmos ou galicismos...”<br />
frase que por ninguém era conhecida,<br />
uma vez que nunca se mostravam, aos<br />
outros, as cartas de amor.<br />
Bem, adiante.<br />
Porque naquela idade, 14/15 anos,<br />
não me apercebia ainda das dificuldades<br />
por que meu pai passava, e a nota<br />
bimensal era insuficiente para as minhas<br />
necessidades, resolvi escreverlhe,<br />
com a ousadia da juventude, a coragem<br />
do forte e... a segurança da distância.<br />
Assim, comecei com umas frases<br />
cheias dos tais rendilhados que atrás<br />
referi, a que fui introduzindo umas certas<br />
considerações filosóficas, para acabar<br />
num choradinho pungente. Só uma<br />
pessoa muito dura não se comoveria<br />
com descrição tão dramática dum caso<br />
a precisar de resolução urgente.<br />
Resumindo, informava-o de que fumava<br />
e precisava de dinheiro para o tabaco.<br />
Passada cerca de uma semana, recebi<br />
uma carta de meu pai que, apressada<br />
e sofregamente, abri, com euforia, pensando<br />
que o meu pedido tinha resultado<br />
e que, dentro daquele envelope, poderia<br />
estar o pequeno rectângulo por<br />
que tanto ansiava. Nada, apenas uma<br />
pequena folha de papel onde meu pai,<br />
no seu escrever simples, directo e vernáculo,<br />
me dizia:<br />
Meu filho:<br />
A carta que escreveste na segunda,<br />
recebia-a, com agrado, na terça,<br />
e respondo-te, já na quarta<br />
para que ainda a recebas na quinta,<br />
e, então, pensares bem na sexta,<br />
que se não deixas de fumar no sábado,<br />
levas uma carga de porrada no domingo.<br />
Coincidência ou não, passados dois<br />
ou três dias, recebi uma carta da minha<br />
avó, com a nota que eu pretendia.
David Sequerra<br />
(19430333)<br />
UMA FOTO… À LUPA! Evocações<br />
Data: 25 – Maio – 1943 (32º aniversário do Instituto)<br />
Local: Oficina de Carpintaria (2ª Secção) domínio especial dos Mestres Fernandes e Pereira, dois dos 8<br />
figurantes da foto.<br />
Relevo principal: O do Marechal Óscar Fragoso Carmona, de clássico chapéu de coco, muito<br />
atento às explicações técnicas do Mestre Fernandes com o Coronel Henrique Santos Nogueira, a seu<br />
lado.<br />
Mais nomes: Do General Tasso de Miranda Cabral, grande amigo “pilónico” e do Major Bastos Lima,<br />
Regente da 2ª Secção, além do sóbrio e diligente Mestre Pereira (Carpintaria Civil).<br />
Ficam por reconhecer o senhor de chapéu cinzento, com vistoso emblema da M.P. na lapela e o<br />
Oficial Superior da Armada, á direita do General Miranda Cabral.<br />
A foto, devidamente datada, pertence ao espólio memorativo da nossa Associação.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 9
Evocações<br />
Embora já “velhota” (relativamente) esta rubrica mereceu<br />
juízo de continuidade na renovação “boletinesca”<br />
de que tanto se espera. Continuará a ser aligeirada colectânea<br />
de algumas notas ao correr da pena, falando de “pilões”<br />
e suas tão variadas peripécias, sempre de uma forma<br />
rapidíssima.<br />
Assim sendo, sob o signo da continuidade, mantemos<br />
o expediente de dar conta dos “arquitectos” de cada edição,<br />
os colaboradores, sempre inspirados, recebidos de<br />
braços abertos e lidos avidamente.<br />
Na penúltima edição de 2009 (Boletim 214), já sob a<br />
tutela do novo “chefão”, Fernando Pires, a cifra atingiu os<br />
22 inspirados “pilões” com a honrosa companhia de um<br />
notável cientista, o Prof. Dr. Alexandre Morgado Correia,<br />
da Universidade de Aveiro, candidato à condição de “honoris<br />
causa”. O “record” absoluto do número de colaboradores<br />
está para breve.<br />
Com apreciável direito a notável e renovado grafismo,<br />
muito “abonecado” em fotos de Fernando Pires (parabéns!),<br />
o número de “arquitectos da escrita” que deram<br />
vida nova ao mais recente Boletim quedou-se pelos 22,<br />
ainda um pouco distante do “record” a que temos feito referência<br />
mas com a valia adicional de um bom naipe, de<br />
novidades, tais como as do Jacinto d’Almeida e de Duran<br />
Clemente sem desdouro dos demais. Vamos no bom caminho,<br />
rumo às comemorações dos 100 anos do Instituto<br />
e ao saudarmos os “novatos” nestas andanças “boletinescas”<br />
não esquecemos alguns dos “faltosos” da edição 214,<br />
tais como Teodoro Rita, o Dagoberto e o Orlando Junça,<br />
todos eles indispensáveis para os tempos próximos.<br />
E, felizmente, vai sendo difícil “encaixar” todas as colaborações<br />
“pilónicas” em menos de 60 páginas...<br />
Já temos tido ensejos de sublinhar e aplaudir a variedade<br />
de opções profissionais de ex-alunos, da Medicina<br />
à Religião, das Artes à Literatura. Um rico manancial<br />
que muito valoriza o quase centenário Instituto. Mas<br />
creio que em tal desfile de méritos e vocações nunca tinha<br />
aparecido quem houvesse trilhado uma carreira diplomática,<br />
de muito bom nível, como a do Jacinto d’Almeida<br />
(1952.0049) por terras de Vera Cruz, além Atlântico.<br />
Após várias décadas de afastamento, esse nosso colega<br />
“pilão” regressou às origens, no coração do Ribatejo,<br />
exactamente Alcanhões, a “dois passos” da velha Scalabis<br />
romana. Ficámos a saber da sua diáspora mercê do<br />
apreciado texto de sua autoria no mais recente número<br />
do “Boletim”, com apetecida promessa de continuidade.<br />
O Jacinto escreve bem, tem obra publicada e muito<br />
10 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
RAPIDISSíMAS<br />
A sAgA DOs “bRIDgEDEIROs” - E NãO só<br />
Do regressaDo Jacinto D’almeiDa<br />
ao ficcionista rui telo<br />
para nos contar. Vai agora completar 67 anos (ante-véspera<br />
do Natal) e esteve no Instituto entre Outubro de 1952 e<br />
Agosto de 1961. Benvindo Jacinto d’Almeida. Salve!<br />
Rui Vargas é um caldense<br />
O de adopção e, embora um<br />
pouco distante da capital, merece<br />
o elogio do permanente<br />
interesse que mantém para<br />
com o “Boletim”.<br />
É um dos mais destacados<br />
membros da “geração de continuidade”<br />
que conta com “pilões”<br />
de boa estirpe como o<br />
Lencastre, o Albuquerque, o<br />
David Rosado e a devotadíssima<br />
Margarida Pereira, entre outros mais. Tem vindo a<br />
destacar-se na área de investigação biográfica de ex-alunos<br />
distinguidos e julgamos que será um dos bons pilares de<br />
apoio para o novo leader Fernando Pires. Recentemente,<br />
voltámos a conviver de perto com o Rui caldense e gostámos<br />
das suas ideias e bem vincada devoção associativa.<br />
Com o “Zé” Oliveira e o Rui Vargas não há dúvida que<br />
os “pilões” estão muito bem representados nas Caldas da<br />
Rainha.<br />
Membros da extensa família “pilónica” que fazem<br />
pela vida bem longe da “santa terrinha” são muitos<br />
– e bons! Sem citar nomes, refiro-me a largas dezenas de<br />
ex-alunos a exercerem meritórias actividades em Angola,<br />
Macau, Espanha, França, Bélgica, Canadá, Estados Unidos<br />
e, logicamente, Brasil. E abro aqui a excepção referindo-me,<br />
em concreto, ao Eng.º Cláudio Barroso (1961.0117),<br />
perseverante alentejano (Vila Viçosa), já doutorado, de<br />
notável carreira Técnica, mal aproveitado em Portugal,<br />
muito bem aceite no Brasil.<br />
Através do seu irmão primogénito, recente “aquisição”<br />
do Boletim como colaborador (poético e não só...) tivemos<br />
notícias do Cláudio, em vésperas das suas “bodas<br />
de ouro” como aluno novo. Parabéns pelos êxitos profissionais<br />
e... até breve!<br />
Quem venha mais vezes até à nossa Associação – e deviam<br />
ser em maior número os visitantes! Sabe-se<br />
quem são os denominados “bridgedeiros”, quase todos<br />
militares, incluindo autênticos brigadeiros, agora referenciados<br />
como Major-General, o que faz alguma confusão<br />
para uns quantos, entre os quais nos incluímos. Mas<br />
adiante, para falarmos dos tão convictos brigadeiros da
APE, às 3ªs e 5ªs feiras com o “Sor” Mourão e também o<br />
diligente Almeida (1948.0221) a servirem de acolhedores<br />
cicerones.<br />
E quem são e o que fazem de verdade os nossos “bridgedeiros”?<br />
Jogam “bridge” para além de conviverem com<br />
agrado e algum abastecimento de líquidos no bar vizinho.<br />
São todos eles Oficiais-Superiores, de muito bom timbre,<br />
conhecidos “pilonicamente” desde há muito. O veterano<br />
do grupo é o Jaime Leite (1941.0031) e o principal<br />
“mirone” bem treinado em dicas apreciativas, é o António<br />
Madeira Peste (1943.0321), uma espécie de jogador de<br />
bancada, apto a intervir.<br />
Tais práticas de “bridge”, belíssimo exercício de memória<br />
e de treino de raciocínio, são para maiores de 60anos de<br />
idade (ou mais...). Meritoriamente, é através dessa “rapaziada”<br />
que a Associação se anima mais 10 horas por semana.<br />
Ainda bem! E VIVAM as “bridgedeiros”!<br />
Rui Cabral Telo é um “pilâo” de especialíssimos atri-<br />
O butos: escreve bem, convive muito bem, tem piada<br />
fácil e gosta muito da APE. É um dos bons componentes<br />
da equipa do Boletim e vai, por certo, desculpar-nos da<br />
pequena “traição” de revelarmos que tem praticamente<br />
pronta uma muito interessante obra literária sob o sugestivo<br />
título de “Pedras Negras de Vermelho”.<br />
Já pudémos ler alguns trechos de mais essa produção<br />
“teliana” e gostámos francamente. Talvez possamos voltar a<br />
falar da obra no próximo “Boletim”, publicando até algum<br />
extracto da sua deliciosa prosa. É para continuar, Rui!<br />
Há bem pouco tempo, ao longo de Outubro p.p., muito<br />
se falou de Amália Rodrigues sob a égide de justíssima<br />
homenagem à diva do fado, de excepcional repercussão<br />
internacional. Muito se disse e muito se publicou<br />
para a louvável posteridade e não nos passou despercebido<br />
o conjunto de referências a um dos seus mais categorizados<br />
acompanhantes, o “pilão” José Nunes (1925.0373)<br />
de quem os mais antigos ex-alunos no nosso convívio<br />
ainda se lembram bem - Augusto Dias, “Manel” Espírito<br />
Santo, José Nascimento, Armando Rosas, etc.<br />
Daí a inclusão deste lembrete nestas “Rapidíssimas”<br />
evocações<br />
evocando mais um caso de um “pilão” em evidência: o<br />
guitarrista José Nunes, caloiro de 1925, habilidoso nato,<br />
muito senhor de si mesmo, componente de uma muito<br />
louvável geração de “pilões” muito dedicados à APE, tais<br />
como o Fernando Pimenta, Hugo Baptista, Joaquim Rodrigues<br />
de Carvalho, Pinto Marques, Ludgero, Pinto Bastos<br />
(Gica),etc.<br />
Nascido no Porto (Santo Ildefonso), em 28.12.1916, José<br />
Nunes (Alves Costa) entrou para o Instituto com 8 anos<br />
de idade (7.10.1925) para a tão “badalada” 3ª classe. Foi<br />
aluno até 24.07.1937, já com 20 anos de idade, ao nível do<br />
2º ano do Curso Médio de Engenharia (ME), não prosseguindo<br />
os estudos porque a “voz do fado” soou mais forte,<br />
com crescente qualidade artística, consagrada nos anos<br />
40, quando Amália Rodrigues começava a destacar-se.<br />
Se não fosse tão reservado e optasse por 100% de guitarrista,<br />
José Nunes teria ido mais longe. Mas, de pleno direito,<br />
faz parte da emocionante História do Fado, de prestígio<br />
reflexo para o “Pilão”.<br />
ideia-força do muito re-<br />
A cente almoço de veteranos<br />
(maiores de 65 anos, entrados<br />
no “Pilão” até 1955) foi<br />
de plena oportunidade e alargado<br />
interesse.<br />
Creio que o rastilho da feliz<br />
iniciativa coube ao Carlos Albuquerque<br />
(1949.0219) que<br />
bem merece menção honrosa.<br />
Pleno de optimismo pensou ser possível reunir muito<br />
perto de 200 convivas, fasquia super-elevada e, por isso,<br />
não atingida. Mas foi bom como se relata noutras páginas<br />
desta edição, deixando em aberto o desejo de repetição<br />
em 2010 já com muita informação sobre as comemorações<br />
do Centenário. A “malta” de 1966 e 1967, categorizados<br />
sessentões, vai ter acesso. E o Carlos Albuquerque,<br />
sempre entusiasta, vai continuar a pensar no “batalhão”<br />
de 200 componentes.<br />
D.S.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 11
Evocações<br />
NOTAS<br />
Na sua época (anos 40) o Dagoberto Campos Lima, popularizado<br />
como “Alfarazes” (1940-0246) marcou<br />
presença “pilónica” muito especial. A partir de 1950, encetou<br />
uma carreira de sucessos e pode hoje, já “oitentão”,<br />
considerar-se um homem feliz. E isso por variadas razões<br />
com particular relevo para se poder orgulhar (... e muito!)<br />
dos seus descendentes – uma Médica e dois Engenheiros,<br />
Um dos mais antigos e devotados associados, o C.Alm.<br />
Humberto Lola dos Reis (1941.0159), após um difícil<br />
período de limitações físicas como rescaldo de um antigo<br />
acidente, está agora em plena recuperação, voltando aos<br />
as recentes eleições autárquicas (Out.09) houve “pi-<br />
N lões” em planos de evidência, com especial destaque<br />
para Carlos Teixeira e Joaquim Gomes que renovaram<br />
os seus mandatos como presidentes das Câmaras Municipais<br />
de Loures e de Almeirim, respectivamente.<br />
Em Lisboa, o José Vitorino Cardoso da Silva não se recandidatou<br />
para o exercício de Vereador, apesar do bom<br />
Reforçando perspectivas de repetida presença olímpica,<br />
em Londres (2012), o “pilão” Joaquim Videira obteve,<br />
recentemente, um muito honroso 5º lugar no “Mundial”<br />
de Espada, entre mais de uma centena de atiradores,<br />
perdendo por muito pouco acesso ao podium (13-15 no<br />
combate decisivo). Se conseguir, como se espera, conju-<br />
Recente reforço do “núcleo duro” da nossa Associação,<br />
devotando-lhe a novidade do seu tempo livre, após<br />
tão meritória carreira profissional, o Fernando Pires teve,<br />
no nº 214 do nosso “Boletim” auspiciosa estreia como seu<br />
Editor, renovando, ampliando a rede de colaboradores e<br />
Tal qual o dito espirituoso de Vasco Santana, sobre os<br />
chapéus, podemos dizer que lapsos há muitos, sob a<br />
capa de desculpáveis imprecisões.<br />
No âmbito “pilónico”, de raiz distinta, cabe-nos evocar<br />
duas delas em publicações recentes, de insofismável interesse.<br />
No pequeno opúsculo “VIVER O IMPE”, da autoria<br />
do Dr. Carlos Correia (1961.0167), contendo a oração protocolar<br />
da sessão de abertura de 2009/10, a pág. 6, com<br />
fotos elucidativas, diz-se que o Medina Carreira (“Jacaré”)<br />
foi o guarda-redes da badalada equipa dos 7-0 (em<br />
1948) e que o Nicolau Matias (“Perdigão”) era “ponta-delança”<br />
da mesma formação.<br />
Dois erros de uma só vez: o “keeper” dos 7-0 foi o “nosso”<br />
Coronel Caseiro, radicado tranquilamente em Tomar<br />
e um pouco fugidio das lides da A.P.E.<br />
12 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
sOLTAs<br />
DagoBerto lima – um homem feliz !<br />
lola Dos reis em Plena recuPeraÇÃo<br />
“PilÕes” & autarQuias<br />
JoaQuim ViDeira em Plena eViDÊncia<br />
ParaBÉns fernanDo!<br />
imPrecisÕes “PilÓnicas”<br />
de óptimas carreiras profissionais: Dagoberta, Pedro Miguel<br />
e João Carlos, cujos “curricula” ocupam mais de 10<br />
páginas!<br />
Em breve, na rubrica apropriada, pormenorizaremos<br />
esses CV de um tão notável “triunvirato”. Para o “Alfarazes”,<br />
antecipadamente, os nossos Parabéns.<br />
nossos regulares convívios e retomando a sua actividade<br />
artística como “hobbie” de muita qualidade. As melhoras<br />
e os votos de muita inspiração para novas telas que tanto<br />
apreciamos.<br />
exercício cumprido desde 2007.<br />
Na condição de “pilão” no jeito de “honoris causa”,<br />
por ser filho do “Zé” Caro Proença, o Eng. Vitor Proença<br />
voltou a ser eleito para a presidência da Câmara de Santiago<br />
do Cacém.<br />
Se houver mais casos similares, “apitem” por favor,<br />
completando esta notícia.<br />
gar bem as suas actividades profissionais como Engenheiro<br />
e as exigências de treino, Joaquim Videira não faltará,<br />
certamente, nos Jogos da XXXI Olimpíada, na capital<br />
britânica.<br />
Felicidades e muita genica “pilónica”.<br />
afirmando a sua boa “costela” de autêntico “pilão”<br />
Recebemo-lo de braços abertos e aqui estamos a endereçar-lhe<br />
os bem merecidos parabéns.<br />
É para continuar, Fernando!<br />
Aquele abraço. Salvé!<br />
Era o 277, de 1941 e nesse longínquo 1948 o Medina<br />
Carreira tinha só 16 anos e não se havia aventurado a ser<br />
“keeper”.<br />
O saudoso Nicolau, o 110 de 1940, era defesa direito<br />
ou, mais raramente central, quando o Clemente Ferreira<br />
abria vaga e na verdade, nunca foi émulo de ”Peyroteu”.<br />
—<br />
Também no livro dos C.B. (ed.2008), a pág. 75, diz-se<br />
que o 1977.0041, José Manuel Tavares Magro foi titular<br />
dos estrelinhas em 1986/87 quando tal distinção coube<br />
aos seu irmão, ambos descendentes directos do Manuel<br />
José (1946.0067), C.B. em 1953/54 e que foi informador<br />
atento desse lapso que hoje rectificamos, com as nossa<br />
desculpas á tão categorizada família Magro.<br />
Lapsos há muitos! – e nós vamos dando-lhe luta.<br />
D.S.
Lamentavelmente, ao longo do<br />
transacto mês de Outubro, muito<br />
se falou do Colégio Militar<br />
(bastante mais) e dos Pupilos do<br />
Exército (menos...) por idênticas<br />
razões – as de actos de violências praticados<br />
por alunos mais velhos em cumprimento<br />
de mais do que duvidosas (e<br />
repugnantes!) praxes.<br />
Com alguma dose de exagero, a que<br />
já estamos habituados, as manchetes de<br />
alguns jornais divulgavam situações insólitas<br />
que teriam ocorrido naqueles estabelecimentos<br />
de ensino, de cariz prómilitar,<br />
embora sem pormenores de circunstâncias<br />
e reportados a 2007/08.<br />
Tudo isso nos fez voltar aos longínquos<br />
tempos da minha meninice e adolescência<br />
vividos no PILÃO, durante um<br />
pouco mais de 9 anos, entre 1943 e 1952.<br />
Recorrendo aos confins da memória,<br />
a constante “matéria prima” destes meus<br />
“Apontamentos” dei por mim a perguntar-me<br />
se naquele período de tempo me<br />
recordava de quaisquer violências,<br />
agressões ou outros excessos dos mais<br />
velhos para com os mais novos, sob o negativo<br />
subterfúgio de cumprir praxes ou<br />
outras idiotices do género.<br />
E a resposta veio, firme e categórica:<br />
NÃO!<br />
Quanto muito uns “caldaços”, uns<br />
aligeirados tabefes ou bofetes, um mais<br />
enérgico puxão de orelhas ou uma chuli-<br />
TAbEFEs, CHULIPAs & CIA.<br />
pa bem dada que as nádegas suportavam<br />
bem. Só isso – e nada mais!<br />
Relembro, de mim próprio, uma<br />
“galheta”/tabefe aplicada por um graduado<br />
(Comandante de Companhia)<br />
em 1944/1945, já na 2ªSecção, sem que<br />
se consiga evocar o que terei feito para<br />
essa episódica punição.<br />
Meia dúzia de anos decorridos, também<br />
me lembro da minha condição de<br />
“agressor”, sei lá bem porquê, a um<br />
“puto” que eu achava demasiadamente<br />
acomodado e apático, tentando espevitálo<br />
com uns “caldos” e aligeirados sopapos<br />
quase que inofensivos, vincadamente<br />
amigáveis.<br />
Esse rapazinho, o 377 dos anos 50,<br />
“caixa-de-óculos” e pouco militarizado,<br />
espigou bem e depressa só o reencontrando,<br />
quase 40 anos depois, na condição<br />
de bem cotado Oficial do nosso Exército,<br />
sem lhe sentir qualquer espécie de<br />
azedume para comigo, antes achando<br />
“piada” aos espevitamentos recebidos.<br />
Ao que parece, infelizmente, esse espírito<br />
de controlada autoridade interna,<br />
com o seu quê de bonomia, tem-se degradado<br />
no nosso actual Instituto, sem<br />
atingir, todavia, os tão preocupantes<br />
contornos de violências cometidas no<br />
Colégio Militar. Serão múltiplas as hipóteses<br />
de explicação (!?...) para tais “cenas”<br />
mas todas elas, decerto, com o sinete reprovativo<br />
do inaceitável.<br />
APONTAMENTO Evocações<br />
E, coloca-se a dúvida: não haverá por<br />
trás de tais acusações elevadas doses de<br />
exagero e,ainda, “misteriosos” intuitos<br />
de deitar abaixo instituições que detém<br />
preciosas áreas urbanizáveis em Lisboa?<br />
**<br />
terminus ideal deste APONTA-<br />
C omo<br />
MENTO recorro à transcrição de um<br />
trecho da entrevista concedida pelo “piloníssimo”<br />
Augusto Dias ao seu devotado<br />
“neto”, a 40 anos de distância, José<br />
Lencastre (1954.0319). Atente-se bem:<br />
A vida interna – No que se refere às<br />
relações de amizade e entreajuda, entre<br />
os mais antigos e os jovens alunos, eram<br />
de uma maneira geral, muito afectivas e<br />
proteccionistas. Os alunos mais idosos<br />
protegiam e auxiliavam os mais novos,<br />
ajudando-os nos estudos e no convívio<br />
fraterno do quotidiano “pilónico”.<br />
E ainda naquela tão sumarenta entrevista<br />
podia ler-se o seguinte: “Naquele<br />
tempo não haviam as chamadas praxes...<br />
o que havia na 1ª Secção eram umas<br />
lutas nas camaratas ao deitar com as almofadas<br />
mas sem violências...”<br />
Deste jeito, junto ao magnífico depoimento<br />
do “xefe” Augusto a minha própria<br />
memória de uma década bem preenchida.<br />
Não se pode tomar por actos de<br />
nociva violência uns simples tabefes,<br />
episódicas chulipas ou “caldaços” à maneira.<br />
Para que conste!<br />
D.S.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 13
Evocações<br />
Corria tranquilamente o<br />
ano de 1950 ou 1951, mas<br />
não guardo memória do<br />
mês nem do dia. A manhã<br />
rompera fresca com o céu<br />
plúmbeo a prenunciar chuva e à cautela<br />
vesti a samarra, antes de deixar a<br />
minha camarata, na 1ª Companhia, a<br />
caminho do refeitório<br />
para o pequeno-almoço.<br />
Terminado este, o<br />
tempo amenizara,<br />
com uma fímbria<br />
de sol a romper as<br />
nuvens, desvane-<br />
Licínio Granada<br />
(19490154)<br />
cendo-se assim a<br />
ameaça de chuva.<br />
E o frio também<br />
abrandou, tor-<br />
nando-se agora desnecessária a samarra.<br />
Por isso, antes de partir para<br />
as aulas, na 2ª secção, em formatura<br />
militar, como era a regra nesse tempo,<br />
voltei à camarata com a intenção<br />
de ali deixar a samarra. Mas a porta<br />
encontrava-se fechada à chave e não<br />
encontrei forma de remediar este<br />
contratempo. Que fazer agora? Ao<br />
passar junto à casa do 1º sargento<br />
Quintas, bem perto da camarata,<br />
ocorreu-me solicitar à sua esposa o<br />
favor de me guardar a dita peça de<br />
vestuário até ao meu regresso das aulas<br />
nesse dia. Ao que a simpática senhora<br />
acedeu, sugerindo-me que deixasse<br />
a samarra num pequeno estendal<br />
existente à porta da sua residência,<br />
em local recolhido da passagem e<br />
acesso públicos. O casal Quintas<br />
eram pais do nosso colega José António<br />
Inês Quintas, o 156 de 1948, infe-<br />
14 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
NO PILÃO. ENcONTRO cOM O PASSADO – X<br />
histÓria atriBulaDa De uma samarra<br />
lizmente.<br />
Quando terminada na 2ª secção a<br />
actividade lectiva e o batalhão escolar<br />
retornou, no declinar da tarde, à<br />
quietude da 1ª secção, logo fui procurar<br />
a samarra no local onde a havia<br />
deixado. Mas – desoladora surpresa<br />
– aquela desaparecera sem deixar sinal.<br />
Contactada a esposa do 1º sargento<br />
Quintas, ela alegou nada saber<br />
do paradeiro da samarra nem se ter<br />
apercebido do seu desaparecimento.<br />
Procurei-a de imediato nos locais<br />
mais previsíveis, mas não encontrei<br />
qualquer rasto da mesma, embora<br />
conservando a esperança de que alguém<br />
viesse a encontrá-la e me fosse<br />
restituída. E enquanto as minhas<br />
buscas decorriam, intrigado perguntava<br />
a mim próprio o que seria feito<br />
da minha samarra, em que andanças<br />
a teriam metido. Certamente que ela<br />
não se volatilizaria e era facílima a<br />
identificação do aluno a quem pertencia,<br />
por ter o seu número cosido<br />
na gola. Até que, após tanto procurar,<br />
considerei perdida a negregada samarra.<br />
Entretanto decorrera cerca de<br />
uma semana quando recebo ordem<br />
para me apresentar ao comandante<br />
da minha Companhia, o major Castanheira,<br />
longe de prever o motivo dessa<br />
chamada. Logo que entro no gabinete<br />
deste, depara-se-me a sua figura<br />
robusta e altiva que de braço em riste<br />
me entrega a tão procurada samarra,<br />
sem fazer qualquer comentário, apenas<br />
murmurando num tom lacónico<br />
e seco: – Está aqui a tua samarra! Recebi-a<br />
com satisfação e alívio e agradeci<br />
com um convicto – Obrigado,<br />
meu major – Finalmente a samarra<br />
Muitas são as coisas maravilhosas,<br />
mas nenhuma maior do que o Homem.<br />
Sófocles (Antígona)<br />
apareceu. Sorte minha, pensei, enquanto<br />
dava o assunto por encerrado<br />
e fui pacatamente à minha vida. Porém,<br />
a história não acabava aqui.<br />
Para meu pesar, decorrida mais<br />
uma semana é publicado em “ordem<br />
de serviço” que o aluno nº 154 fora<br />
punido com “dois domingos privado<br />
de sair do Instituto “ por ter abandonado<br />
uma samarra à porta do 1º sargento<br />
Quintas.” Estas palavras bateram-me<br />
na mente e ecoaram pelo refeitório,<br />
onde aquele documento era<br />
habitualmente lido, deixando-me<br />
hirto de espanto, diria mesmo, com<br />
uma pontinha de revolta. Eu não tinha<br />
abandonado a samarra; guardara-a<br />
cuidadosamente fora da camarata<br />
por razões justificadas e empenhara-me<br />
na sua procura. Nunca soube<br />
(e também não adiantava saber) por<br />
que forma a malograda samarra chegou<br />
às mãos do major Castanheira.<br />
Por outro lado, também não nutria<br />
ilusões de que tendo em conta o espírito<br />
da época, de nada me valia voltar<br />
à sua presença e pôr a claro como<br />
tudo se passara. Restou-me encolher<br />
os ombros e conformar-me com a<br />
sanção. Cumpri a privação de sair e<br />
confesso que durante bastante tempo<br />
a imagem mental daquele superior<br />
me convulsionava. Até que tudo se<br />
dissipou no meu espírito. E se hoje<br />
conto esta pequena história, fi-lo porque<br />
ela se adequa ao tema da presente<br />
série memorialista que iniciei há<br />
quase três anos. Aqui fica, pois, mais<br />
esta breve resenha, fugaz percurso<br />
pelas veredas de um tempo que o incessante<br />
rodar dos anos há muito<br />
deixou para trás.
Evocações<br />
Nunca enviei para publicação no<br />
Boletim da Associação qualquer escrito.<br />
Ao ler o último Boletim, o nº 214,<br />
senti que o deveria fazer, embora não<br />
tenha dotes de bom escritor. Mas<br />
como a história, verídica, passada há<br />
muitos anos, para ser mais concreto<br />
em 1951, com mais dois ex-alunos que<br />
saíram dos Pupilos no mesmo ano do<br />
que eu e que comigo concorreram e<br />
entraram na Escola<br />
Naval, o Francisco<br />
dos Santos<br />
Domingues, também<br />
conhecido<br />
pelo “FIXE” e o<br />
Júlio Sebastião<br />
Aparício (infelizmente<br />
já falecido)<br />
H. Lola dos Reis<br />
tem muita graça,<br />
(19410159)<br />
será certamente<br />
bem recebida. Só<br />
espero que o Domingues, meu grande<br />
amigo de sempre, não leve a mal que<br />
eu dê publicidade ao acontecimento,<br />
tanto mais que já no passado a contei<br />
no Livro de Curso da Escola Naval. Na<br />
altura não ficou muito “encabulado”,<br />
pelo que, espero, após tantos anos<br />
passados, e quando já somos velhotes,<br />
ele não me leve a mal.<br />
Posso contar com isso, amigo Domingues?<br />
Então, com tua licença, cá vai a<br />
história.<br />
16 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
AZARES DE UM BURRO<br />
No final do último ano da Escola<br />
Naval, os cadetes do<br />
Curso de Administração<br />
Naval, faziam um estágio de<br />
cerca de um mês na Escola<br />
Prática de Administração Militar. O<br />
Aparício não foi porque estava doente.<br />
Como na referida Escola havia aulas<br />
de condução de “viaturas-auto”, nós pedimos<br />
para tirar a carta de condução.<br />
Deferido o pedido, o instrutor designado<br />
para nos dar as aulas era um tenente<br />
de Administração Militar, também exaluno<br />
do I. P. E. e nosso amigo, mas de<br />
quem já não me lembro o nome.<br />
Eu já sabia conduzir. O Ataíde (nosso<br />
colega vindo de um Instituto do Porto)<br />
tinha habilidade natural, mas o Domingues<br />
ficava sempre muito contraído<br />
quando se sentava ao volante e as coisas<br />
nem sempre lhe saíam bem. Portanto,<br />
teve mais dificuldades. Muitos anos depois,<br />
ele próprio reconhecia que assim<br />
era, mas, na altura, ficava sempre irritado<br />
quando “entravamos” com ele. Por<br />
isso o instrutor insistia mais com o amigo<br />
“Fixe”, o que o punha irritadiço e<br />
nervoso. As aulas práticas eram feitas<br />
numa velha carrinha militar “AUS-<br />
TIN”, daquelas com um assento à frente<br />
ao lado do condutor e dois bancos<br />
corridos atrás, um de cada lado da caixa.<br />
Os dois que não estavam a conduzir<br />
iam sentados nos bancos de trás, largando<br />
constantes piadas ao que ia ao<br />
volante, com as correspondentes gargalhadas<br />
pelas imperfeições sucedidas…<br />
Uma manhã, numa estreita rua de<br />
Lisboa, o instrutor virou-se para o Domingues,<br />
que conduzia, e alertou-o:<br />
- Domingues, cuidado com o burro!<br />
Efectivamente, a algumas dezenas<br />
de metros à frente, estava um burro parado,<br />
com as cangalhas cheias de mercadoria<br />
(hortaliça, fruta, etc.) que o<br />
dono estava a vender.<br />
- Estou a ver, foi a resposta!<br />
Mais uma dezena de metros percorridos<br />
e o instrutor voltou a falar, já com<br />
um tom de voz mais alto:<br />
- Domingues, olha o burro! Vai mais<br />
devagar!<br />
- Já disse que o estou a ver, respondeu<br />
o Domingues com muita convicção<br />
e autoconfiança.<br />
Passados mais uns metros…novo<br />
aviso e nova profissão de domínio da situação:<br />
- ESTOU A VER!<br />
Pois é, ver o burro via e muito bem,<br />
mas quando o instrutor tentou corrigir<br />
“a rota de colisão” e travar, já não foi a<br />
tempo e TRÁS … em cheio!<br />
Barulho, gritaria, protestos, o burro<br />
meio deitado a tentar levantar-se, as<br />
cangalhas viradas, a mercadoria rua<br />
fora, o dono do animal aos berros e a<br />
gesticular com o instrutor que tinha<br />
saído para tentar salvar a situação, e os<br />
dois cá atrás rindo com sadias gargalhadas,<br />
enquanto o amigo “Fixe”, sentado<br />
ao volante, olhava atónito e incrédulo<br />
para toda aquela barafunda e,<br />
possivelmente, repetindo para si que<br />
tinha a certeza absoluta de bem ter visto<br />
o burro…<br />
Hoje…passadas que estão duas gerações,<br />
também ele ri, e com que saudades,<br />
não é verdade meu bom amigo?
Não sei exactamente em<br />
que dia me cruzei pela<br />
primeira vez com o Cláudio.<br />
Teria eu uns 11 anos,<br />
escassos no que de vida<br />
eles implicavam, prenhes de convencimentos<br />
no que deitavam de esperanças<br />
para o futuro.<br />
Fizemos todos uma prova de ritmo<br />
para ver se algum de nós atingia o lugar<br />
mais desejado<br />
de todos: vir a ser<br />
o baterista da orquestra.<br />
O Professor<br />
Raul Miranda<br />
repetia, um a um,<br />
os gestos e as palmas<br />
que deveríamos<br />
imitar. Ao<br />
Paulo Mendes Pinto<br />
(19810353)<br />
nosso empenho,<br />
as mãos não respondiam<br />
no momento<br />
certo – isso<br />
de ter ritmo não era coisa simples,<br />
pensei então.<br />
Ao fim das rondas pelas turmas,<br />
fomos informados: um “puto” do 1º<br />
ano – um ano mais novo que nós! – tinha<br />
ficado com o lugar. Chamava-se<br />
Brito, anos mais tarde acrescentei<br />
Cláudio, quando a proximidade se realizou.<br />
Os anos passaram e o Cláudio Brito<br />
era tudo o que os restantes não conseguiam<br />
ser. Como ele marcava o início<br />
apoteótico do Jesus Christ Superstar<br />
que o Prof. Raul Miranda orquestrara!<br />
Ele era virtuoso num misto de<br />
simplicidade e de orgulho. Sabia o<br />
que fazia. Mais, sabia o que valia.<br />
Muitas vezes inacessível, o Cláudio<br />
era o único “puto” entre os mais velhos<br />
da orquestra. Ele não era um deles,<br />
mas também não era exactamente<br />
um de nós.<br />
Não sei se exagero, mas quebrando<br />
regras, como essa da separação<br />
das idades, o Cláudio remetia-se para<br />
um nível de quase herói. Genial nas<br />
suas interpretações, humano e dramático<br />
nas explosões, surpreendente<br />
na generosidade tal como desconcertante<br />
no delírio e no gozo.<br />
DESVANEcER<br />
UMA MEMÓRIA DO cLáUDIO BRITO (1982.0440)<br />
Nada fazia crer que algum dia eu<br />
me cruzasse com ele. As diferenças<br />
eram assombrosas. Mas aconteceu na<br />
aventura dos Enkoma, um grupo sem<br />
definição estética muito precisa, mas<br />
com o empenho típico dos adolescentes<br />
que pensam e sonham vir a ser estrelas<br />
de rock.<br />
Nesse grupo, experimentei pela<br />
primeira vez a mistura acre do sonho<br />
e da glória, matizada com a desolação.<br />
À subida a níveis de grande sucesso,<br />
sucediam-se descidas rápidas a fossos<br />
onde eu me confrontava comigo<br />
mesmo. Sim, comigo e com o Cláudio.<br />
O Cláudio era o baterista, mas era<br />
ele que sabia tocar de forma exímia<br />
todos os restantes instrumentos. Mais<br />
que alma, ele era a constante visão do<br />
que eu poderia ser, mas não era. Ele<br />
pegava na guitarra e… tocava! Era<br />
imanente. Comigo era esforço, com<br />
ele era prazer.<br />
Os Enkome terminaram num Verão<br />
qualquer típico da idade, e eu nunca<br />
mais toquei numa guitarra. Tentado<br />
a ser guitarrista sem vocação, a visão<br />
do que era, sem sombra para dúvidas,<br />
uma vocação plena, levara-me a equacionar<br />
tudo. Vi a minha mediocridade<br />
nos dedos com que o Cláudio percorria<br />
as cordas da mesma guitarra onde<br />
eu apenas trauteava.<br />
A vida do Cláudio transformavase,<br />
ano após ano, numa tensão de drama<br />
que resultaria, mais tarde ou mais<br />
cedo, naquilo que era o inevitável: a<br />
Evocações<br />
saída dos Pupilos. Entretanto, as nossas<br />
músicas, algumas das vezes com<br />
letras dele, iam repetindo frases duras<br />
e de desespero. “Com ninguém<br />
podes contar” repetia-se numa das<br />
últimas músicas.<br />
Poucas mais vezes o vi. Terão passado<br />
uns 15 anos até que o drama se<br />
transformou, quem sabe, se no que<br />
seria, também aqui, o inevitável. Foi<br />
por e-mail que soube da sua morte.<br />
Salvo erro, fomos apenas três ao seu<br />
funeral.<br />
Nesse dia, fiz também a minha catarse.<br />
Fui bem mais cedo para estar<br />
com as memórias que dele tinha. Mas,<br />
especialmente, com as memorias que<br />
ele me trazia de mim mesmo. No ano e<br />
meio em que mais convivi com o Cláudio,<br />
fui um outro eu. Nesse dia, na zona<br />
de Sintra, num cemitério perdido no<br />
meio do campo, reencontrei esse miúdo<br />
de dezasseis anos que sonhava. Não<br />
sabia com o quê, mas sonhava.<br />
Terminando esse sonho que eu<br />
abandonara, o Cláudio colocara fim à<br />
vida, colocando também um fim a<br />
uma imagem que toda minha geração<br />
tinha de irreverência. Ele fora aquilo<br />
que muitos de nós queríamos ter sido,<br />
mas para o qual nunca tivemos coragem.<br />
Chorei por ele. Chorei por uma geração.<br />
Chorei por mim.<br />
Há três anos que tencionava escrever<br />
este texto. Foi só hoje que ele decidiu<br />
quebrar a última barreira.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 17
Evocações<br />
Descobri há dias o livro<br />
“Os Comandantes de<br />
Batalhão no Instituto<br />
(1916 – 2008)”, da autoria<br />
de David Sequerra e<br />
Augusto Dias, editado pela APE em<br />
Junho de 2008, cujas 95 páginas<br />
consultei com curiosidade e apreço.<br />
Foi agradável constatar que –<br />
para além dos que foram meus contemporâneos<br />
em Benfica nos anos<br />
60 – também reconhecielementos<br />
de outras gerações,<br />
com alguns<br />
dos quais<br />
privei e admiro.<br />
Aqui recordo<br />
alguns dos mais<br />
antigos:<br />
A. Ribeiro da Silva<br />
(19600093)<br />
2º - 1917.0018<br />
- José da Cruz<br />
Barroso Júnior<br />
(1912.0003), não<br />
me passou despercebida a simpatia<br />
da sua assídua presença na sede da<br />
Rua da Misericórdia, onde no final<br />
dos anos 60 frequentávamos “os<br />
bailes da Associação”, bem como,<br />
passados 20 anos, nas reuniões que<br />
precederam a aquisição da actual<br />
sede na Rua Neutel de Abreu. Várias<br />
vezes fez parte dos Corpos Gerentes<br />
da APE, com o Brigadeiro<br />
Álvaro de Oliveira, Sertório Sequeira,<br />
Luizélio Saraiva e outros.<br />
8º - 1923.0024 – José Coelho<br />
da Fonseca (1914.0158), Director<br />
Financeiro da SONEFE, em Lisboa,<br />
empresa onde estagiei no fim do<br />
Curso de Contabilistas e onde vim a<br />
trabalhar de 1972 a 1975 (Luanda,<br />
Angola).<br />
13º - 1928.0029 - Tomo agora<br />
consciência que José Maria da<br />
Mota Freitas (1919.0267), nome<br />
proferido com respeito pelo meu pai<br />
como grande referência da GNR no<br />
Norte do País (Quartel do Carmo -<br />
Porto), foi aluno dos Pupilos do<br />
Exército e Comandante de Batalhão<br />
em 1928/29.<br />
Logo ao folhear este livro aperce-<br />
18 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
A PROPÓSITO DE cOMAN<strong>DA</strong>NTES DE BATALhÃO<br />
bi-me da existência de lacunas de<br />
conteúdo bem como de episódicas<br />
imprecisões em relação às notas biográficas<br />
de alguns dos “batalhões”<br />
com quem convivi na nossa Escola.<br />
Adquiri de imediato alguns<br />
exemplares com o objectivo de proceder<br />
à sua difusão junto dessa geração,<br />
no intuito de tentar colmatar<br />
essas falhas e contribuir para o enriquecimento<br />
do trabalho realizado<br />
pelos autores acima referidos.<br />
Dos resultados da minha pesquisa<br />
aqui virei dar testemunho, começando<br />
hoje pelos irmãos Cardoso,<br />
Comandantes de Batalhão da década<br />
de 60:<br />
49º - 1964.0065 - António<br />
Manuel Henriques Cardoso<br />
(1957.0246)<br />
Entrou para o Instituto em 1957,<br />
com 10 anos, onde concluíu o Curso<br />
de Contabilistas em 1965, ficando na<br />
história como o “Pena Branca” devido<br />
à madeixa branca que ostentava<br />
no cabelo.<br />
Cumpriu o serviço militar como<br />
Oficial miliciano na Força Aérea na<br />
DSIC - Direcção dos Serviços de Intendência<br />
e Contabilidade, após<br />
uma curta passagem pelo Exército,<br />
na EPAM - Escola Prática de Administração<br />
Militar, no Lumiar.<br />
É licenciado em Economia pelo<br />
ISCEF – Instituto Superior de Ciên-<br />
cias Económicas e Financeiras e<br />
Mestre em Gestão pela Universidade<br />
Autónoma de Lisboa na área de<br />
Planeamento Estratégico.<br />
Fez carreira profissional na<br />
SHELL Portuguesa, como quadro<br />
superior de diversos departamentos.<br />
Foi ainda Consultor de empresas<br />
no domínio da Gestão Estratégica<br />
e Professor no Instituto Politécnico<br />
de Tomar – sua terra natal,<br />
onde leccionou cadeiras de Gestão e<br />
de Estratégia Empresarial.<br />
52º - 1967.0068 - Carlos<br />
Alberto Henriques Cardoso<br />
(1959.0053)<br />
Na minha qualidade de Comandante<br />
da 4ª Companhia, tive oportunidade<br />
privar de perto com o Carlos<br />
Alberto, que foi assim o meu último<br />
Comandante de Batalhão em<br />
1967/68, ano em que fomos finalistas<br />
e ele concluiu a parte curricular<br />
do então Curso Médio de Electrotecnia<br />
e Máquinas, realizando o estágio<br />
profissional no ano seguinte,<br />
já como aluno externo.<br />
Cumpriu o serviço militar como<br />
Oficial miliciano na Força Aérea na<br />
Direcção de Comunicações e Tráfego<br />
Aéreo, após uma curta passagem<br />
pelo Exército, na Escola do Serviço<br />
de Material, em Sacavém.<br />
É Engenheiro de Electrónica e<br />
Telecomunicações pelo IST – Insti-
tuto Superior Técnico, Mestre em<br />
Engenharia da Saúde pela UCP –<br />
Universidade Católica Portuguesa,<br />
Master em Economia e Planeamento<br />
de Energia pela UTL – Universidade<br />
Técnica de Lisboa e Pós-Graduado<br />
em Gestão de Unidades de<br />
Saúde pela UCP. Foi Professor de<br />
cadeiras de Física e de Electrónica<br />
em Cursos de Engenharia de Electrónica<br />
e Telecomunicações, nomeadamente<br />
nos Pupilos do Exército,<br />
nossa escola.<br />
Como Consultor em Engenharia<br />
e Gestão de Tecnologia tem desenvolvido<br />
e liderado projectos em<br />
Portugal e na América Latina, em<br />
especial no Brasil, onde residiu alguns<br />
anos, na qualidade de Consultor<br />
e Representante da Comissão<br />
Europeia, na área da energia.<br />
É Partner Fundador de uma empresa<br />
de gestão da inovação tecnológica<br />
e, no âmbito da sua actividade<br />
como Investigador, prepara Dissertação<br />
em “tecnologia de medicina<br />
molecular em oncologia” para<br />
Doutoramento em Engenharia Clínica.<br />
A título de curiosidade, cabe<br />
aqui referir uma situação insólita<br />
ocorrida nesse ano lectivo de<br />
1967/68.<br />
Decorria já o 2º Período, no âmbito<br />
duma conversa informal com o<br />
Comandante do Corpo de Alunos,<br />
perguntou o Carlos Alberto Cardoso<br />
se havia uma razão objectiva<br />
para que um finalista do Curso de<br />
Contabilistas não fosse graduado.<br />
Como resultado dessa conversa, foi<br />
o 1960.0195 – Alfredo José de Jesus<br />
de Sousa, graduado em Comandante<br />
de Pelotão, como reza a Ordem de<br />
Serviço nº 3 de 5 de Janeiro de 1968,<br />
perdendo assim o seu estatuto de<br />
“lacerda” (que então designava um<br />
finalista não graduado).<br />
Nestas circunstâncias – e tanto<br />
quanto sei - o Carlos Alberto Cardoso<br />
terá sido assim o único Comandante<br />
de Batalhão a contar no<br />
seu séquito com dois ajudantes.<br />
LEMBRANDO RUY cINATTI Evocações<br />
Aprezada amiga Dr.ª Fernanda Damas<br />
Cabral e indefectível membro<br />
da “Família Pilónica”, ofereceu-nos<br />
recentemente um exemplar do livro<br />
ILHAS de Sofia de Mello Breiner<br />
Andersen, editado por Maria<br />
Andersen de Sousa Tavares e<br />
Luís Manuel Gaspar no qual<br />
se poderá ler na página 40, a,<br />
Augusto Dias<br />
(19290077)<br />
DEDICATÓRIA<br />
<strong>DA</strong> TERCEIRA EDIÇÃO<br />
Do «CORAL AO RUY CINATTI»<br />
Para o Ruy Cinatti porque neste livro<br />
De folha em folha passaram gestos seus<br />
Assim como de folha em folha em arvoredo<br />
A brisa perde ao sussurrar seus dedos.<br />
Ruy Cinatti, de seu nome completo “Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes”,<br />
nasceu em Londres, Inglaterra, a 8 de Março de 1915. Filho de António Vaz<br />
Monteiro Gomes e de Hermínia<br />
Celeste Cinatti.<br />
Em 1926, no dia 1 de Novembro,<br />
com 11 anos de idade ingressou<br />
no Instituto Profissional<br />
dos Pupilos do Exército IPE<br />
e atribuíram-lhe o número 171 e<br />
por isso passou a ser o “pilão”<br />
(1926.0173).<br />
Durante a sua permanência<br />
no nosso Instituto frequentou e<br />
concluiu com bom aproveitamento<br />
escolar, do Curso Preparatório<br />
de Comércio e Indústria.<br />
Mais tarde, já como ex-aluno<br />
do nosso Instituto frequentou e<br />
concluiu com bom aproveitamento<br />
o Curso de Agronomia.<br />
Profissionalmente como Engenheiro<br />
agrónomo exerceu a<br />
sua actividade em vários pontos<br />
de Portugal Continental e Ultramarino,<br />
em especial na longínqua<br />
Timor.<br />
Em 1969 Ruy Cinatti foi distinguido<br />
com o prémio Nacional de Poesia.<br />
Ruy Cinatti foi sócio efectivo da Associação dos Pupilos do Exército com<br />
o número (1926.0173) desde 18 de Julho de 1968 até ao seu falecimento.<br />
Nota: 81) – Na APE não consta a data do seu falecimento, consta apenas<br />
a sua última residência: Travessa da Palmeira 12, 3º Dto em Lisboa.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 19
Crónicas<br />
A gALA<br />
N<br />
ão sou melómano, muito<br />
longe disso, talvez por natureza,<br />
provincianismo, falta<br />
de educação musical, ou - o<br />
que é bem pior - completa<br />
ausência de “ouvido”, mas em determinados<br />
momentos, no sossego reconfortante<br />
duma sala vazia, um pouco escura<br />
e silenciosa, numa penumbra que,<br />
languidamente, me envolva, adoro ouvir<br />
algumas peças de música clássica<br />
ou erudita, como a classificam muitos<br />
puristas das claves, com doutoramento<br />
adquirido, ou candidatos a uma formação<br />
intelectual reconhecida<br />
pelos<br />
seus pares.<br />
Nunca falo destes<br />
meus instantes<br />
de íntimo devaneio,<br />
pequenos víciosdesconhecidos,<br />
com receio de<br />
ser obrigado a en-<br />
António Barroso veredar por um<br />
(19460120) diálogo formal que<br />
me obrigue a mostrar<br />
conhecimentos que não possuo,<br />
numa reciprocidade de datas, momentos,<br />
locais ou nomes. É que a minha<br />
sabedoria não vai muito além dos apelidos<br />
duns quantos génios sobejamente<br />
conhecidos que, muitas vezes, ou<br />
quase sempre, não associo às respectivas<br />
obras; dumas tantas óperas, operetas<br />
ou afins que me ficaram na memória;<br />
dalguns intérpretes que, de tão<br />
repetidos, é quase obrigação conhecer;<br />
e duma escala musical que, aí sim, me<br />
orgulho de recitar da frente para trás,<br />
e de trás para a frente, para além de ser<br />
uma preciosa auxiliar na resolução<br />
dos problemas de palavras cruzadas!...<br />
Porém não consigo ler uma única<br />
nota musical nem destrinçar uma colcheia<br />
duma semifusa, se é que estas referências<br />
conhecidas por ouvir, estão,<br />
musicalmente, correctas.<br />
Há dias, telefonou-me o meu filho<br />
que, sem me dar tempo sequer a respirar,<br />
me perguntou à queima-roupa, se<br />
queria assistir ao concerto de gala da<br />
banda da Guarda Nacional Republicana,<br />
a realizar no teatro de S. Carlos. Seria<br />
caso para pensar, maduramente,<br />
até para meter logaritmos, já que, num<br />
ápice, numa ligeira fracção de segundo,<br />
me senti totalmente embrulhado num<br />
fato cheirando a naftalina, apertado<br />
numa gravata que jurara nunca mais<br />
enrolar ao pescoço, atamancado nuns<br />
20 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
sapatos que me fazem calosidades e<br />
transpirando como obeso em banho<br />
turco.<br />
Assim, a minha primeira reacção,<br />
que não cheguei a expressar, foi duma<br />
rotunda negativa. Depois, ainda dentro<br />
da tal fracção de segundo – e é<br />
curioso como, nuns microscópicos instantes,<br />
passam, pela mente, tantas imagens<br />
– a curiosidade do acontecimento,<br />
a altura de conhecer um teatro tão famoso,<br />
a certeza de poder ouvir uma das<br />
bandas mais conceituadas do mundo,<br />
levaram-me a mudar o meu veredicto e<br />
a responder pela positiva. Como ligeira<br />
tábua de salvação, ainda perguntei a<br />
minha mulher se queria ir. Ante um<br />
“sim” peremptório e altissonante, acabei<br />
por me decidir.<br />
O evento realizou-se ontem.<br />
Enquanto me ajustava, com os vagares<br />
que antecedem todos os tormentos,<br />
e me ia sujeitando aos inúmeros<br />
suplícios que já antevira, vociferei cobras<br />
e lagartos por não ter dado ouvidos<br />
à minha voz inicial.<br />
Finalmente, ajaezado como uma<br />
montada de desporto em dia de apresentação<br />
festiva, farto dos chocarreiros<br />
elogios de apreço, deixei-me arrastar,<br />
apático, abúlico e conformado, apenas<br />
numa melancólica aparência, já que,<br />
interiormente, o arrependimento era<br />
uma constante e os raios e coriscos<br />
faiscavam em todas as direcções.<br />
No carro, fizeram-me sentar no “lugar<br />
do morto” com a insinuação falsa,<br />
maldosa e descabida de que a minha<br />
obesidade iria dificultar os arranjos do<br />
banco de trás. O que vale é que eu já estou<br />
habituado a estes comentários malévolos<br />
e há muito que me deixaram de<br />
incomodar as apreciações irreais e<br />
subjectivas.<br />
O condutor, para meu completo<br />
(des)conforto, voava bem baixo e eu, jurava,<br />
para mim mesmo, nunca mais<br />
entrar num carro conduzido por semelhante<br />
motorista que, na sua ânsia de<br />
celeridade, passava todos os cruzamentos<br />
sem me deixar tempo para o<br />
informar que os sinais estavam encarnados.<br />
Coitado do senhor, talvez fosse<br />
daltónico!<br />
O teatro de S. Carlos é um edifício<br />
bem antigo, imponente, por onde já tinha<br />
passado, anteriormente, dezenas<br />
de vezes, sem nele ter reparado em pormenor,<br />
ou porque não me apercebia do<br />
lugar onde estava, ou porque seguia<br />
um outro rumo, previamente, decidido.<br />
Austero e suportado por altos pilares<br />
de pedra que não me mereceram, à<br />
primeira vista, destaque de maior,<br />
apresentava, nesse momento, o grande<br />
átrio exterior de tal forma iluminado<br />
que, esperando pelo início do espectáculo,<br />
nele se pavoneavam dezenas de<br />
fardas de gala repletas de dourados e<br />
pejadas de todo o tipo de reluzentes<br />
condecorações, e as vaporosas damas<br />
em roupagens de fazer inveja pela sua<br />
beleza e sobriedade, ou a provocar o<br />
riso sufocado pela ousadia duma originalidade<br />
sem gosto.<br />
O que não posso porém deixar de<br />
referir, pelo olhar de soslaio e roído de<br />
inveja das mulheres e a boca boquiaberta<br />
e “pavloviana” dos homens, foi a<br />
presença duma mulher polícia convidada,<br />
na ordem dos vinte e seis a trinta<br />
anos, extremamente loira, extremamente<br />
bonita, extremamente elegante,<br />
extremamente capa de revista, extremamente...Se<br />
as estrelas que brilhavam<br />
nos ombros da jaqueta de cerimónia,<br />
que vestia com todo o esmero, são<br />
indicativos de chefe de esquadra ou similar,<br />
imagino o trabalho burocrático<br />
da corporação para despachar os inúmeros<br />
requerimentos de todos os seus<br />
correligionários pedindo transferência<br />
para o local que ela comanda.<br />
É por estas e por outras que os polícias<br />
não andam nas ruas!<br />
Por dentro, o teatro é lindo, nota-se<br />
bem a sua antiguidade e, embora sóbrio,<br />
tem um bom ambiente e encontrase<br />
bem conservado. Desde as cadeiras<br />
de tecido rosa velho acetinado, aos lustres<br />
de cristal espalhados ao longo do<br />
teto, passando pelos camarotes presidenciais,<br />
ou mesmo pelos de palco,<br />
tudo aponta uma época de realeza que<br />
a nossa mente imagina através dos relatos,<br />
mais ou menos fidedignos, que<br />
de geração em geração, até nós chegaram.<br />
Depois de confortavelmente instalado<br />
e olhando, à minha volta, de soslaio,<br />
acabei por aliviar um pouco o nó<br />
da gravata e desapertar o primeiro botão<br />
do colarinho. O meu ah! de alívio<br />
denotava mais prazer que as palmas de<br />
acolhimento pela chegada do presidente<br />
da república, ou da expressão do<br />
maestro que, de batuta em punho, se<br />
preparava para iniciar a função.<br />
O concerto irrompeu, então, com<br />
uma melodia que, após os primeiros<br />
compassos de expectativa, quase me<br />
fez gritar para toda a assistência: - Eu<br />
conheço esta!... Sim, já a ouvi várias ve-
zes!... Eu conheço!...Conheço, juro!... -<br />
Porém, o nome da composição ou do<br />
respectivo autor não conseguiam trepar<br />
pelo precário encadeado de filamentos<br />
que os deviam transportar até<br />
ao visor do meu conhecimento, por<br />
mais que carregasse no acelerador.<br />
Não há dúvida, este sistema de<br />
transportes tem de ser revisto!<br />
Então socorri-me do programa que<br />
minha mulher usava em substituição<br />
do leque que, há uma centena de anos,<br />
fazia parte obrigatória da indumentária<br />
feminina – na tal época da realeza<br />
– e logo me apelidei de burro, de cretino,<br />
não uma mas várias vezes. Claro!<br />
Que estupidez a minha! Tratava-se,<br />
muito simplesmente, de “As Alegres<br />
Comadres de Windsor”, uma comédia<br />
burguesa de Otto Nicolai. Olhei, com<br />
receio, para todos os lados, não fosse<br />
alguém ter-me lido os pensamentos e<br />
corroborado os epítetos com que me<br />
estava mimoseando. Mais descansado,<br />
refastelei-me para ouvir a continuação<br />
da obra.<br />
Como solista, na interpretação de<br />
“Canções Portuguesas” de Francisco<br />
de Lacerda, actuou a afamada meiosoprano<br />
Liliana Bizineche, solista na<br />
Ópera de Cluj, intérprete dos papéis de<br />
Cherubino nas “Bodas de Fígaro”, Dorabella<br />
em “Cosa fan tutti”, Susuki em<br />
“Madame Butterfly”, Rosina em “Il<br />
Barbieri di Seviglia”, etc., etc., etc.<br />
Eh! Alto aí! Nada de confusões! Não<br />
me alcunhem de enciclopédico nem<br />
me atribuam méritos que não possuo.<br />
Tudo aquilo que referi, aquela longa<br />
dissertação do período anterior, foi extraído<br />
do programa que minha mulher<br />
deixou, por momentos, de utilizar<br />
como abano, termo que teria sido usado<br />
pela minha amiga Josefa do Ó, vizinha<br />
do monte alentejano do meu irmão,<br />
se tivesse estado presente na<br />
gala.<br />
Outro solista conhecido no mundo<br />
inteiro que, como habitualmente me<br />
encantou, foi o Raul Mendes com a sua<br />
harmónica, a qual, ainda na voz da minha<br />
amiga Josefa, não passaria duma<br />
vulgar gaita de beiços com que os moços<br />
da aldeia tocam modinhas. Este<br />
músico, mundialmente conhecido, tanto<br />
o solo, como em duo ou trio com as<br />
filhas, campeão do mundo nas três categorias,<br />
acabou por se afastar da competição,<br />
a pedido dos organizadores,<br />
para dar possibilidades a outros concorrentes.<br />
A banda, sob a batuta do Major Ja-<br />
cinto Coito Abrantes Montezo, interpretou<br />
ainda obras de Jorge Enesco,<br />
James Moody, Gioachino Rossini e<br />
Dirk Brossé para, finalmente, depois<br />
de largos aplausos, nos brindar, extra<br />
programa, com uma fabulosa execução<br />
do “Voo do Moscardo” do grande<br />
compositor russo Nicolau Andreievich<br />
Rimsky-Korsakof. Este último, por<br />
ser extra programa, não estava referenciado<br />
no tal abano da minha amiga<br />
Josefa e, por isso, socorri-me da enciclopédia.<br />
O que é preciso é ter imaginação.<br />
Muito custa ser-se intelectual!...<br />
A saída, com as aglomerações e filas<br />
do costume, era uma massa compacta<br />
de azuis e pretos bordejados a ouro,<br />
mas onde sobressaía o loiro inconfundível<br />
da formosa mulher polícia. Houvesse<br />
possibilidades do laboratório de<br />
criminologia demonstrar o significado<br />
dos olhares odientos ou conspícuos, e<br />
toda aquela gente teria ido conhecer os<br />
calabouços, as mulheres por associação<br />
criminosa numa completa tentativa<br />
de assassinato, e os homens pela<br />
prática pública de actos íntimos.<br />
Depois de todas estas apreciações<br />
finais, punha-se, agora, a questão do<br />
regresso. Sorrateiro, tentando passar<br />
despercebido, ainda<br />
me escusei a<br />
ocupar o lugar da<br />
frente, mas a afirmação<br />
conjunta<br />
de que eu era gordo<br />
e ocupava muito<br />
espaço no banco<br />
de trás, falsa<br />
afirmação que<br />
apenas servia<br />
para justificar o<br />
lugar que me tinha<br />
sido destinado,<br />
não me deixou<br />
alternativas. Gordo?...<br />
Eu?... Bah!...<br />
Conformado,<br />
iniciei a viagem<br />
de regresso.<br />
Ou porque o<br />
mesmo condutor<br />
da GNR já estava<br />
há muitas horas<br />
de serviço e desejava<br />
chegar a casa<br />
o mais cedo possível<br />
(neste caso, o<br />
menos tarde), ou<br />
porque confiava<br />
nos seus colegas<br />
da Brigada de<br />
crónicas<br />
Trânsito, o que é certo é que, quando<br />
lhe chamava a atenção, a medo, para o<br />
conta quilómetros, respondia, todo<br />
ufano mas galhofeiro, que já tinha conduzido<br />
a duzentos e cinquenta quando<br />
fez o percurso Lisboa-Madrid em cerca<br />
de três horas, afirmação que, não sei<br />
porque motivo, não me conseguia acalmar.<br />
E eu ficava ainda mais aflito quando<br />
virando-se para trás e gesticulando<br />
com ambas as mãos, procurava a confirmação<br />
junto do meu filho com um<br />
“Não é verdade, senhor doutor?”.<br />
Agora, já mais refeito dos percalços<br />
de ontem, e retendo apenas os momentos<br />
agradáveis vividos, dou por muito<br />
bem empregue o tempo passado naquele<br />
evento. É que nem só de pão vive<br />
o homem, como teria dito a minha amiga<br />
Josefa do Ó no seu filosofar rural.<br />
Um pouco de cultura não faz mal a ninguém.<br />
Só que a cultura entre mim e ela,<br />
tem significados diferentes. O dela refere-se<br />
à terra com que lida, todos os<br />
dias, arduamente, e que lhe garante o<br />
parco sustento; o meu aponta para o<br />
intelecto que o pouco uso fez emperrar<br />
por falta de lubrificação.<br />
Em suma, mais hortaliça, menos<br />
hortaliça...<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 21
Crónicas<br />
“...Sabe-se que pertencia a Inocêncio Cani<br />
o dedo que premiu o gatilho. Conhecem-se<br />
os nomes dos dois mais importantes cabecilhas<br />
da conspiração, Mamadou Turé e<br />
Aristides Barbosa…Sabe-se, onde, quando,<br />
como e porquê o crime ocorreu. Mas<br />
continua por descobrir com exactidão<br />
quem esteve por detrás destes três homens e<br />
mandou matar Amílcar Cabral naquela<br />
noite de 20 de Janeiro de 1973,na sua residência<br />
no bairro Minière, em Conakry. A<br />
lista de hipóteses é comprida e variada.”<br />
(in «Quem Mandou Matar Amílcar<br />
Cabral» de J. Pedro Castanheira,Ed.Relógio<br />
D’Água-1995)<br />
“…Amlicar Cabral<br />
explica como a<br />
luta de libertação é<br />
não só um facto cultural<br />
mas também<br />
um factor de cultura<br />
, ultrapassando assim<br />
o objectivo de<br />
Duran Clemente<br />
(19530030)<br />
movimentos como a<br />
Négritude e o Pana-<br />
Africanismo, que,<br />
para A. Cabral so-<br />
frem de uma fundamental limitação - o de<br />
terem sido concebidos em espaços culturais<br />
exteriores à África Negra.”<br />
“Ninguém de boa fé pode negar que na<br />
derrota dos EUA no Vietname tenha desempenhado<br />
um papel fundamental a consciência<br />
nacional, a ideologia dos tenacíssimos<br />
guerrilheiros vietnamitas…”<br />
“De um ponto de vista mais especificamente<br />
social, um dos papéis mais relevantes<br />
da ideologia é o desenvolvimento no<br />
processo de formação nacional. As premissas<br />
de qualquer nação são, como é sabido,<br />
a comunidade étnica, constituída através<br />
de séculos de história económico-política<br />
comum, a comunidade de interesses, de<br />
território, de cultura…”…”Assim se compreende<br />
como é sempre operante uma ideologia<br />
catalisadora (nacional ou não) em<br />
todos os movimentos de libertação do colonialismo”.<br />
“É difícil encontrar hoje um estudioso...que<br />
considere suficiente aquilo que os<br />
clássicos... escreveram a respeito da colonização<br />
europeia em África, ou que não se<br />
ponha o problema de saber se é ou não<br />
22 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
REFLEXÕES: DOS cLAUSTROS À MA<strong>DA</strong>LENA<br />
AMILcAR cABRAL: VISIONáRIO DUMA UNI<strong>DA</strong>DE NAcIONAL.<br />
oportuno aplicar à África ou à América<br />
Latina o mesmo esquema de análise das<br />
classes válido para a Europa”<br />
“Para Frantz Fanon, a libertação do<br />
colonialismo é necessariamente um facto<br />
violento, um embate entre duas forças<br />
«congenitamente antagónicas» no qual o<br />
colonizado, se quiser vencer, não poderá<br />
contemporizar. Longe portanto daquele<br />
conceito «senghoriano» que consegue encontrar<br />
em De Gaulle um paladino da independência<br />
africana. Também Fanon é<br />
um defensor esforçado da recuperação da<br />
cultura nacional, mas contra a cultura colonial,<br />
opõe a luta armada de libertação<br />
como necessidade frente ao colonizador<br />
que jamais renunciaria de maneira indolor<br />
aos seus seculares privilégios”<br />
(in «Sociologia da Negritude» de Maria<br />
Carrilho, Edições 70 -1976/Edi.Roma<br />
1974)<br />
Naquela noite de 20 de Janeiro, há<br />
36 anos, foi assassinado um dos mais<br />
carismáticos e inteligentes, chefe e pensador,<br />
dos Movimentos de Libertação.<br />
Matou-o o inimigo da Liberdade,<br />
interno ou externo ao seio do seu<br />
PAIGC, seu Partido e seu instrumento<br />
vital para que as populações da<br />
Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde<br />
assumissem o seu papel na construção<br />
dos seus destinos. Amílcar Cabral<br />
afirmou sempre que a «unidade e<br />
a consciência nacionais são essenciais<br />
para o desenvolvimento das estruturas<br />
politicas, sociais e culturais da nação<br />
em formação.»<br />
A. Cabral tinha perfeita consciência<br />
que uma vez alcançado o poder, o<br />
partido protagonista da independência<br />
(no qual a burguesia nascente africana<br />
tem muitas vezes um papel determinante)<br />
corre o risco de comportar-se<br />
como partido étnico, dando lugar,<br />
não já a uma vulgar ditadura mas<br />
a uma ditadura tribal (militar): os ministros,<br />
os chefes de gabinete, os embaixadores,<br />
os prefeitos, são escolhidos<br />
na etnia do líder, por vezes mesmo<br />
da sua família.<br />
Amílcar Cabral não se queria impor<br />
recordando a sua vida e dos seus<br />
companheiros como heróicos, recordando<br />
as lutas travadas em nome do<br />
povo…constituindo com isso uma cortina.<br />
Para si a sua função socio-política<br />
era criar à sua volta a unidade nacional,<br />
aglutinar as várias tribos, os<br />
vários estratos da população. Não<br />
queria a unidade como um acordo de<br />
vértice entre vários senhores poderosos.<br />
Queria efectivamente a participação<br />
das gentes. Há por isso analistas<br />
que viriam a considerá-lo como<br />
um visionário. Seria?<br />
E ainda mais depois do rumo seguido<br />
pelo PAIGC, alcançado o poder,<br />
e pela dramática involução que, 36<br />
anos depois da independência daquele<br />
novo país, o histórico dirigente nunca<br />
desejou nem sonhou que acontecesse.<br />
Mas infelizmente aconteceu. Não<br />
sendo caso único ousa-se reflectir: são<br />
razões endógenas de África ou foi o colonialismo<br />
e a sua divisão artificial e<br />
forçada (conferência de Berlim/1884-<br />
85) de centenas de povos africanos em<br />
50 países que provocaram os dramas e<br />
tragédias conhecidos?
Crónicas<br />
Prendo o meu olhar no<br />
passado. É verdade, este<br />
não é extenso e, logo, a<br />
minha experiência de<br />
vida não é longa. No entanto,<br />
não considero esta desvantagem<br />
como algo que invalide a essência<br />
dos meus sentimentos.<br />
Invocando o exemplo duma criança,<br />
deparo-me com uma realidade<br />
assustadora: os meus sentimentos<br />
são tão simples, tão mais inocentes,<br />
mas tão mais puros<br />
do que os dos<br />
adultos. E desenganem-se:<br />
esta realidade<br />
não está<br />
associada à falta<br />
de experiência de<br />
vida ou á ingenuidadecaracterísti-<br />
Mariana Terra<br />
Mota (14 Anos)<br />
cas. Apenas acontece<br />
porque as<br />
crianças olham o<br />
mundo de uma<br />
forma simples e fácil.<br />
É tempo de voltar a pousar o olhar<br />
no passado. Já fomos todos crianças,<br />
já vivemos todos o maravilhoso<br />
tempo que é a infância, e já olhámos<br />
todos o mundo de outra forma, com<br />
um olhar tão diferente.<br />
No entanto a vida encarrega-se de<br />
afogar toda esta pureza, colocandonos<br />
obstáculos no caminho que nos<br />
obrigam a fechar os olhos. Mas,<br />
quando os abrimos, tudo está diferente,<br />
com os tons acinzentados e<br />
escuros. A nossa visão é mais negra.<br />
Ou porque conhecemos a maldade,<br />
o desgosto, a traição, a desconfiança<br />
ou a mentira, os nossos olhos já não<br />
mais encontram a verdadeira essência<br />
de cada coisa que nos rodeia.<br />
È como um manto escuro, que sufoca<br />
qualquer visão relativa à verdadeira<br />
beleza, á beleza simples, á beleza<br />
primária. Assim, tal como os<br />
olhos se habituam á claridade, reagem<br />
rapidamente com naturalidade<br />
ás visões maldosas e julgadoras<br />
com que se deparam.<br />
É aqui que a nossa intervenção, enquanto<br />
seres humanos, é funda-<br />
24 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
UM OUTRO OLhAR<br />
mental e imprescindível. Um marinheiro<br />
não pode ficar imóvel perante<br />
um possível naufrágio do seu<br />
barco e, assim, também nós não podemos<br />
assistir à nossa mudança de<br />
uma forma impávida e serena. Temos<br />
que fazer mais do que isso, ir<br />
mais além. Aqui, apelo a uma recordação<br />
do passado como forma<br />
de ganharmos força<br />
e coragem para esta<br />
luta contra nós próprios.<br />
O chilrear dum pássaro,<br />
a beleza de fazer<br />
um amigo na<br />
praia, as pétalas de<br />
uma flor, o murmurar<br />
das ondas ou um<br />
“amo-te” proclamado<br />
pelas nossas<br />
mães não eram coisas<br />
pequenas que<br />
nos faziam sentir<br />
enormes? Mas com<br />
o tal manto preto a<br />
encobri-las, já não<br />
conseguimos ver a<br />
beleza, apenas maldizê-las<br />
e desconfiar.<br />
Então, não era tudo<br />
mais bonito e puro<br />
com a nossa visão de<br />
crianças? Era, mas<br />
não quero conjugar<br />
este verbo no passado.<br />
É Cabe-nos a nós<br />
decidir como queremos olhar o<br />
mundo. Basta rasgar o manto negro,<br />
e conseguimos apreciar a verdadeira<br />
beleza das coisas, a essência<br />
das suas origens e a pureza de<br />
cada ser.<br />
Assim, garanto-vos, seremos felizes.
Domingo. 10 horas da manhã!<br />
Um frio gélido, cortante<br />
mesmo, percorre Pequim,<br />
com os seus 12º negativos.<br />
Flocos de neve semeiam o<br />
branco por todo o lado. Por trás dos vidros<br />
da minha sala aquecida, qual cobarde,<br />
recuso-me mais uma vez a sair e<br />
cumprir o programa já adiado por diversas<br />
vezes: ir conhecer a multicentenária<br />
ponte Marco Pólo, nos arredores<br />
da cidade, um marco<br />
de vaidade e humilhação<br />
na história<br />
da China: vaidade<br />
porque quiseram<br />
os chineses<br />
distinguir o primeiro<br />
europeu que<br />
a este Império do<br />
Cândido Azevedo<br />
(19600364)<br />
Meio chegou e colaborou,<br />
em 1275,<br />
dando-lhe o seu<br />
nome; humilhação<br />
porque por esta via quis o general japonês<br />
Aoki começar a ocupação de Pequim<br />
e da China, em Agosto de 1937.<br />
Lá fora, no largo passeio, visualizo<br />
algumas bancas de venda chinesas onde<br />
as mercadorias não se expõem, mas empilham-se,<br />
tais como pirâmides de roupas,<br />
gorros e luvas, resmas de tecidos,<br />
cones de especiarias, etc. Outras, quais<br />
pequenos cafés, expõem frituras e xaropes<br />
coloridos. Uma outra tenda faz de<br />
esquisita barbearia… Disse frio, ventos<br />
gélidos, neve? Isso não existe para este<br />
povo trabalhador. Indiferentes aos rigores<br />
climatéricos, os passantes tudo<br />
vêem, tudo mexem mas não dão mostras<br />
de querer comprar; acocorados e<br />
indiferentes, os vendedores, com um<br />
sorriso permanente no rosto, parecem<br />
não esperar vender…. Meditei como as<br />
ambições daquela humilde gente eram<br />
nenhumas, nem os objectivos planeados<br />
ou os seus sonhos tão quiméricos.<br />
Somente sobreviver, qual destino de séculos.<br />
Estes imigrantes urbanos ou<br />
camponeses que fogem à miséria dos<br />
campos, que procuram a sobrevivência<br />
nas migalhas, são portadores de uma<br />
cultura radicalmente diferente da nossa,<br />
e vivem sob um regime duro criado<br />
nos valores confucionistas e taoistas, a<br />
que depois se juntou o marxismo e,<br />
como é sabido, nenhuma destas filoso-<br />
PORTUgUESES PELO ORIENTE Crónicas<br />
EU, ACObAR<strong>DA</strong>DO ME CONFEssO…<br />
fias se dá com os nossos valores, os ocidentais,<br />
como a liberdade individual e<br />
direitos humanos …prefiro parar aqui,<br />
pois não desejo o tipo de vida deste povo,<br />
sempre servil e acocorado, para nós portugueses!<br />
Mas agora preocupa-me mais a minha<br />
cobardia! Porque algo nunca sentido<br />
anteriormente, procuro as razões…<br />
Algum sufoco pelo excesso de calor na<br />
sala super aquecida? Não é razão para<br />
isso…. Descobri! É o medo, o medo de<br />
enfrentar lá fora esse vento cortante, gélido,<br />
destruidor, que a todos toca… Sim,<br />
é cobardia, porque não? É tão cobardia<br />
como as outras que vamos ganhando e<br />
que são a nossa sina actual, a nossa, dos<br />
portugueses de hoje, vivendo neste malestar<br />
difuso, que alastra e mina em nós a<br />
confiança de um futuro melhor; que nos<br />
tolhe ao ponto de já nem termos ânimo<br />
em dizer as palavras “basta e chega!”.<br />
Razões? É ler a imprensa diária, qual<br />
“passarelle” para uma moda em desfile<br />
permanente dos modelos, digo, reverenciados<br />
heróis de hoje: por lá desfilam os<br />
banqueiros ou supostas pretensões, os<br />
donos da bola, os políticos de alma menor,<br />
os comprados, os vendidos, os ingénuos<br />
que tudo assinam, os distraídos,<br />
os mandados em paz (apanhados de pistola<br />
na mão, eu sei, eu sei, era só para<br />
assustar, claro!), etc.<br />
Cobarde como eu, perante as intempéries,<br />
não foi certamente António Andrade.<br />
Este missionário português do<br />
século XVII, que na defesa do seu ideal,<br />
levou de vencida meses a fio, os ventos<br />
gélidos, o frio, a neve, os precipícios, a<br />
falta de alimentos e outras dificuldades<br />
e tormentas que quase lhe custaram a<br />
vida, apenas com “um cambolim para<br />
se cobrir, e um alforge com alguma cousa<br />
pera comer”, numa viagem bem dolorosa<br />
e sofrida. Do que foi a terrível viagem<br />
para as altas montanhas, iniciada<br />
em Agra (Índia) a 30 de Março de 1624 e<br />
disfarçado de muçulmano, conseguimos<br />
imaginar. Porém, para além destas<br />
dificuldades próprias da natureza, teve<br />
este missionário que vencer também,<br />
como sempre e em todo o lado, as impostas<br />
pelos homens, como os condicionalismos<br />
e as contrariedades injustas a<br />
que o sujeitou o Rajá de Srinagar, por<br />
ser Andrade cristão e não mercador. Já<br />
nas terras do Dalai Lama e após atraves-<br />
sar os Himalaias pela porta de Mana, foi<br />
bem acolhido pelo rei de Guge, um dos<br />
reinos do Tibete, que, maravilhado pela<br />
fé inabalável daquele homem que sofrera<br />
as piores agruras para lhe trazer a lei<br />
do seu deus, recebeu-o com todas as<br />
honras. Aqui, na cidade real de Chaparanque,<br />
a 5.604 metros de altitude, estabeleceu<br />
António Andrade o primeiro<br />
centro missionário, lançando a 12 de<br />
Abril de 1626, a primeira pedra da igreja<br />
dedicada à Virgem da Esperança. Só<br />
quase 200 anos depois, em 1807, outros<br />
europeus, os oficiais ingleses Webb e<br />
Raper percorreriam o mesmo caminho<br />
daquele beirão de Oleiros.<br />
Perante a “coragem” deste português<br />
de então, é ou não razão para dizer que<br />
eu, um entre muitos portugueses de<br />
hoje, acobardado me encontro…? Aqui<br />
relembro as palavras de Neruda quando<br />
avisava “não te esqueças que a causa<br />
do teu futuro será o teu presente”. Que a<br />
referida Virgem da Esperança retire de<br />
mim, e de outros portugueses, esta e outras<br />
cobardias, e nos devolva novamente<br />
a coragem para poder sorrir, não fazendo<br />
de nós um povo acocorado, indiferente<br />
e servil!<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 25
Crónicas<br />
Face às ambições de Espanha<br />
em relação ao território<br />
do oeste do Brasil colónia<br />
e aos ataques constantes<br />
de índios Paiaguás e<br />
Guaicurus, o Marquês de Pombal<br />
determinou a construção de uma<br />
fortaleza num lugar longínquo nas<br />
margens do rio Paraguai. O Forte<br />
Coimbra, obra emblemática da arquitectura<br />
militar portuguesa, foi<br />
construído numa das poucas elevações<br />
existentes<br />
no Pantanal e<br />
fundado em Setembro<br />
de 1775.<br />
O Marquês<br />
não imaginava<br />
que poucas décadas<br />
depois o Pa-<br />
Jacinto Almeida<br />
(19510049<br />
raguai (em 1811) e<br />
o Brasil (em 1822)<br />
se tornariam independentes<br />
e<br />
que cerca de um século depois da<br />
sua determinação, o governo paraguaio<br />
declararia guerra ao Brasil<br />
(em 13 de Dezembro de 1864) e no<br />
dia 26 iniciaria um feroz ataque ao<br />
Forte Coimbra.<br />
Uma imagem de Nossa Senhora<br />
do Carmo que se tornou heroína durante<br />
o ataque da grande frota de<br />
navios paraguaios tem honras de<br />
general de brigada, disse-me o capitão<br />
Nivaldo Gramosa, comandante<br />
do Forte, após perfilar-se e fazer a<br />
continência à imagem.<br />
Na noite anterior ao capitão Nivaldo<br />
me ter mostrado a imagem<br />
numa dependência do Forte Coimbra,<br />
entrei num restaurante chamado<br />
“Baís do chopp”, no porto de Corumbá,<br />
um prédio bem iluminado<br />
de tijolo aparente, construído no século<br />
XIX, para sede da Wanderley,<br />
Bais & Cia, empresa de importação,<br />
exportação, consignações, despachos,<br />
operações bancárias e navegação.<br />
“Aqui temos os peixes da região,<br />
pintado, pacu e temos também caldo<br />
de piranha”, disse a proprietária,<br />
Marisa Machado. O restaurante es-<br />
26 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
A ÚLTIMA FRONTEIRA: FORTE cOIMBRA<br />
tava vazio e a dona queixou-se, “os<br />
turistas que chegam querem sexo e<br />
tenho a certeza de que a grande casa<br />
de massagens da região, aqui bem<br />
perto, está cheia de gente”. “Qualquer<br />
dia abandono tudo e volto para<br />
S. Paulo”, acrescentou. Enquanto<br />
jantava, troquei impressões sobre a<br />
viagem que faria no dia seguinte, de<br />
Corumbá, pela estrada Parque, até<br />
ao hotel Tarumã, onde um barco me<br />
aguardava para me levar ao Forte<br />
Coimbra, segundo Marisa “uma pequena<br />
povoação, no meio do nada, a<br />
poucos quilómetro das fronteiras<br />
fluviais com a Bolívia e o Paraguai”.<br />
“Prepare-se, pois são cerca de duas<br />
horas de barco em lancha voadora”,<br />
acrescentou.<br />
Saí cedo, passei por pequenos<br />
hotéis em estrada de terra no coração<br />
do pantanal, que acolhem turistas,<br />
em geral pescadores. No meio<br />
da intensa humidade, da vegetação<br />
densa e do calor que crescia com o<br />
avançar das horas, passava por uma<br />
ou outra boite, lugares de aparência<br />
modesta. Fechadas aquela hora, deviam<br />
“ferver durante a noite” como<br />
me disse um pantaneiro. O barqueiro<br />
Sebastião já me aguardava no hotel<br />
Tarumã. Era um homem experiente<br />
de meia-idade, completamente<br />
calvo, sabia cortar caminho nos<br />
braços do rio Paraguai, escolher os<br />
bons atalhos e cerca de duas horas<br />
depois o Forte Coimbra surgiu imponente<br />
numa curva da margem esquerda<br />
do rio. Em grandes letras<br />
pretas na imensa parede pintada de<br />
branco, a frase: “REPELIR O INI-<br />
MIGO OU SEPULTAR-SE DEBAI-<br />
XO <strong>DA</strong>S RUÍNAS DO FORTE”. O<br />
capitão Nivaldo Gramosa depois de<br />
me cumprimentar recordou que o<br />
Marquês de Pombal no quadro de<br />
um plano estratégico de defesa das<br />
fronteiras do Brasil determinara a<br />
construção da fortificação que ele se<br />
orgulhava de comandar.<br />
Um jovem tenente mostrou-me a<br />
vila ao redor da Fortaleza com cerca<br />
de seiscentos habitantes, a escola<br />
municipal Ludovina Portocarrero e<br />
as instalações militares, o fosso, a<br />
casa da pólvora, os quartéis… Num<br />
pequeno museu há peças de madeiras<br />
e louças portuguesas e as cinzas<br />
do coronel Ricardo Franco, um herói<br />
que baptizou índios e morreu na<br />
fortaleza. Em frente ao hotel de<br />
trânsito da marinha, onde almoçámos,<br />
viam-se capivaras e “aparece<br />
um ou outro jacaré”. “Alguns marinheiros<br />
que aqui prestam serviço,<br />
depois de dispensados das forças<br />
armadas, continuam a morar na<br />
vila”, disse o comandante.<br />
A cerca de oito quilómetros, quarenta<br />
minutos de lancha, chega-se
ao destacamento de Puerto Busch, a<br />
fronteira boliviana. Trata-se de uma<br />
pequena guarnição, completamente<br />
isolada, com militares precariamente<br />
fardados, alguns deles descalços,<br />
que caçam e pescam para se alimentarem<br />
e onde o comandante ainda<br />
aplica castigos corporais com chicote.<br />
Pouco mais de trinta quilómetros<br />
depois, sempre pelo rio, chega-se a<br />
Porto Yuqueri, uma vilória fronteiriça<br />
paraguaia muito pobre. “Os militares<br />
da guarnição são extremamente<br />
corruptos e lá as mães chegam<br />
a oferecer as filhas menores à<br />
prostituição. “Ir até lá sem conhecer<br />
ninguém, é perigoso”, alertou-me<br />
um oficial.<br />
Pensava nas histórias que me foram<br />
contadas sobre o Forte Coimbra<br />
enquanto percorria o caminho<br />
de regresso ao hotel Turumã, quando<br />
uma tempestade desabou sobre<br />
nós. Devido à velocidade da lancha<br />
os grossos pingos de água pareciam<br />
furar a nossa pele. Sebastião procurava<br />
os melhores atalhos no labirinto<br />
de braços do rio, a vida dá voltas,<br />
voltas… tenho a certeza que o Marquês<br />
de Pombal quando determinou<br />
a construção do Forte Coimbra, o<br />
transporte das pedras e dos canhões,<br />
nunca poderia ter imaginado<br />
os acontecimentos que se iriam passar<br />
nesta região. Se tivesse imagina-<br />
do apenas uma pequena parte, talvez<br />
não tivesse mandado construir<br />
o forte e agora não seria lembrado<br />
pelo capitão Nivaldo, pensei, enquanto<br />
Sebastião continuava às voltas<br />
pelos labirintos do rio Paraguai.<br />
A vida dá muitas voltas, mas<br />
aqui, na última fronteira, a realidade<br />
mais consistente é a vida selvagem.<br />
A chuva parou, pequenas tartarugas<br />
atiravam-se à água quando<br />
a lancha se aproximava da margem,<br />
pássaros cruzavam o céu, aves de<br />
rapina espreitavam. Aves de rapina<br />
e tartarugas, reportei-me para a<br />
Grécia de Ésquilo. Por que raio iame<br />
lembrar, ali no rio Paraguai, de<br />
crónicas<br />
um escritor trágico com uma grande<br />
cabeça, inteiramente calvo (como<br />
o barqueiro Sebastião)? Talvez por<br />
que na Grécia antiga a tragédia surgia<br />
quando referências sólidas eram<br />
rompidas. E o século XIX, um século<br />
de esperança para a América Latina,<br />
foi o cenário da Guerra do Paraguai,<br />
a maior tragédia sul-americana<br />
desse século que tem, justamente,<br />
no Forte Coimbra um marco<br />
histórico. Dizem que Ésquilo estava<br />
sentado no campo, talvez a meditar,<br />
quando uma ave de rapina, imaginemos<br />
uma águia, que levava uma<br />
tartaruga em suas presas para partir<br />
o casco (o casco da tartaruga é de<br />
quilónio, difícil de partir), deixou-a<br />
cair sobre a sua cabeça. Ésquilo<br />
morreu instantaneamente. A águia<br />
terá confundido a cabeça calva do<br />
escritor com uma rocha, supõe-se.<br />
Essas aves deixam cair, do alto, as<br />
tartarugas sobre rochas para partir<br />
o casco e comerem a sua carne. “Sebastião,<br />
talvez seja melhor você pôr<br />
um boné”, gritei para o barqueiro.<br />
“Não vale a pena, estamos a chegar”,<br />
respondeu-me.<br />
Quando chegámos ao hotel Turumã<br />
alguns turistas preparavam<br />
as lanchas para a pescaria de fim de<br />
tarde. Reparei que todos estavam de<br />
boné, talvez conheçam a história da<br />
morte de Ésquilo, pensei.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 27
Crónicas<br />
Quando saio de casa para um<br />
giro pelas redondezas sinto<br />
imensas saudades do meu<br />
cão de companhia. Quando<br />
vou à caça recordo imenso o<br />
prazer que sentia quando o meu cão de<br />
caça me acompanhava e ajudava na actividade.<br />
Um cão é uma espécie do grilo<br />
do “Pinóquio”, uma consciência que<br />
nos devolve as nossas dúvidas e anseios<br />
com respostas que queremos mas muitas<br />
vezes não pomos em prática. Ao cão<br />
“dizemos” coisas que teríamos dificuldade<br />
de dizer a outrem.<br />
D e s de mu i t o<br />
novo que fui habituado<br />
a conviver<br />
com cães. O meu<br />
Pai era caçador e<br />
não prescindia dos<br />
fiéis amigos que o<br />
ajudavam e lhe fa-<br />
Rui Cabral Telo<br />
(19480265)<br />
ziam companhia.<br />
Apesar de ser ele o<br />
“dono”, eu era o<br />
grande companheiro<br />
de brinca-<br />
deiras dos nossos cachorros. Quando<br />
chegava a casa, ao fim de semana vindo<br />
do Pilão, a primeira coisa a fazer era<br />
soltar os cães e levá-los até às serranias<br />
próximas onde eu e eles nos recriávamos<br />
em correrias e brincadeiras. E chegaram<br />
a ser nove, pai, mãe e sete crias<br />
que a pouco e pouco fomos oferecendo,<br />
ficando apenas com uma cadela.<br />
Durante a semana, no Pilão, o “Bily”,<br />
um mestiço de “Yorkshire” que por lá<br />
apareceu e adiu, era também o meu<br />
companheiro de caçadas às ratas no<br />
28 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
OS MEUS cÃES<br />
muro da ribeira.<br />
Quando casei e saí da casa paterna,<br />
muito me custou deixar lá um canito<br />
“rafeirote” que por minha insistência<br />
foi adoptado por toda a família.<br />
A minha mulher, quer em criança<br />
quer depois de adulta nunca teve um<br />
cão e não estava muito virada para isso.<br />
Cães dão imenso trabalho, largam pelos<br />
e sujam as casas, só que eu sentia imensa<br />
falta de um companheiro de quatro<br />
patas, principalmente durante a caça.<br />
Por outro lado, custava-me que o meu<br />
filho não crescesse na companhia de<br />
um cão. Sou de opinião que um cão é indispensável<br />
na formação das crianças.<br />
O tomar conta, o cumprir certas obrigações,<br />
os cuidados com a alimentação e a<br />
amizade que se vai fomentando, são<br />
factores importantíssimos para a formação<br />
de carácter.<br />
«Ao cão “dizemos” coisas<br />
que teríamos dificuldade<br />
de dizer a outrem.»<br />
Certo dia, um Coronel Veterinário<br />
com quem eu conversava imenso no<br />
serviço, informou-me que tinha dois<br />
“setters” irlandeses lá no consultório,<br />
que uma senhora lhe tinha deixado,<br />
com a missão de os dar só a quem ele<br />
soubesse que trataria bem deles. Fui<br />
ver os bichos e fiquei encantado com<br />
um deles. Tinham dois meses e eram<br />
lindos. Aquele ao qual deitei logo o olho<br />
foi-se entretendo a furar-me os dedos<br />
com aqueles dentinhos fininhos como<br />
alfinetes e deixou-me completamente<br />
apaixonado. Não resisti e levei-o para<br />
casa, muito a medo claro, pois não sabia<br />
qual ia ser a reacção da “patroa”.<br />
O bicho foi um sucesso. Mulher e filho<br />
ficaram rendidos àquela gracinha<br />
de quatro patas. Tornou-se um lindo bicho.<br />
Esbelto, cabeça grande, pelo sedoso<br />
de cor de fogo. Corria como um galgo<br />
com aquela cauda comprida, ruiva e em<br />
forma de pluma. Como parecia um raio<br />
pus-lhe o nome de “Flint” (como uma<br />
faísca produzida por uma pedra de isqueiro).<br />
Foi companheiro de brincadeiras do<br />
meu filho e o acompanhante caseiro da<br />
minha mulher que por ele apanhou tremenda<br />
“paixoneta” ao ponto de se deitar<br />
debaixo da cama a brincar com ele,<br />
tendo inúmeras conversas com o bicho<br />
que parecia compreendê-la totalmente.<br />
O trabalho ficou comigo, claro. Levar o<br />
bicho à rua, lavá-lo e escová-lo todas as<br />
semanas, vacinas, veterinário, medicações,<br />
etc. … Mas só assim compreendo<br />
que se tenham animais domésticos.<br />
Acarinhá-los e tratá-los como merecem.<br />
O Flint só tinha um contra. Com<br />
muito desgosto meu não servia para a<br />
caça. Cada vez que dava ao gatilho, o bichano,<br />
parecia que ganhava asas e fugia<br />
a sete patas tremendo como varas verdes.<br />
Nunca consegui tirar-lhe os medos.<br />
E também tinha muita “personalidade”,<br />
era teimoso como um burro! Era mais<br />
ele que mandava em mim do que eu<br />
nele. Gostava imenso de água e na praia
nadava comigo brincando nas ondas.<br />
Gostava tanto de água que, em pleno Inverno,<br />
se deitava à chuva no meio da<br />
relva dos jardins deixando-se estar deliciado<br />
não ligando nenhuma aos meus<br />
chamamentos. Ao chegar a casa tinha<br />
um trabalhão a limpá-lo e secá-lo para<br />
evitar sujeiras.<br />
Quando fui mobilizado para Moçambique<br />
nem pensámos duas vezes,<br />
nunca seria possível separarmo-nos do<br />
nosso companheiro. Tive de lhe pagar o<br />
transporte na TAP e não foi pouco. Foi,<br />
por lá andou e voltou, só que a alimentação<br />
de lá era menos cuidada e o bicho<br />
ressentiu-se. Um ano depois do regresso<br />
morreu com uma cirrose aos sete<br />
anos de vida. Foi um desgosto enorme e<br />
resolvemos não voltar a ter outro. Passar<br />
pelo mesmo seria muito doloroso.<br />
Ainda na vivência do “Flint”, arranjei<br />
outro cachorro para a caça. Um mestiço<br />
de “pointer” e perdigueira, completamente<br />
preto, ao qual pus o nome de<br />
“Black”. Desde os quatro meses começou<br />
a revelar um instinto nato para a<br />
caça e aos seis meses já parava codornizes<br />
e perdizes. Ter dois cães num andar<br />
era impensável e também não queria<br />
que os demasiados carinhos da mulher<br />
e filho o estragassem como aconteceu<br />
com o outro. Ficou num canil, que con-<br />
segui, mesmo no local de trabalho e todos<br />
os dias o ia ver, soltar e dar um giro.<br />
Foi um companheiro assíduo, um caçador<br />
extraordinário e demonstrava por<br />
mim um amor total. Passámos boas jornadas<br />
cinegéticas e fazia-me imensa<br />
companhia. Muitas vezes ia buscá-lo ao<br />
canil e levava-o para o meu gabinete de<br />
crónicas<br />
trabalho deitando-se no tapete até eu<br />
sair.<br />
Também tinha o seu defeito. Tinha<br />
mau dente para os outros cães e, apesar<br />
de não ser muito corpulento, chegou a<br />
matar cães muito maiores do que ele.<br />
Mordia, agarrava e abanava até o opositor<br />
deixar de lutar. Tive montes de problemas<br />
com ele na caça pois o bicho que,<br />
não atacava mas não suportava ser confrontado,<br />
era muitas vezes provocado<br />
pelos outros e lá tinha de ser eu a pôr<br />
cobro às lutas. Por isso nunca misturei<br />
os meus dois cães. Este sobreviveu ao<br />
“setter”. Era mais novo e como mestiço<br />
que era, mais resistente. Morreu com<br />
onze anos e caçou até ao fim. Mais um<br />
companheiro que perdi e mais um desgosto.<br />
O mal é que estas bichezas, normalmente,<br />
duram menos do que nós.<br />
Actualmente não tenho cães. A idade é<br />
outra e a paciência não tanta, mas a<br />
saudade perdura e nos meus passeios<br />
recordo-os.<br />
Quer um quer outro foram grandes<br />
companheiros e amigos. Mas o meu filho<br />
tem uma cadela “Labrador”. Ficoulhe<br />
o amor aos cachorros. Eu mato saudades<br />
quando a cadela está ao pé de nós<br />
levando-a a passear. Não tenho cão,<br />
mas às vezes, usufruo da companhia da<br />
minha “neta” canina.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 29
NOTÍCIAS<br />
30 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
PUPILOs DIsTINgUIDOs<br />
A CRUZ DE gUERRA NO PEITO DE UM PUPILO EgREssO*<br />
RELEMBRAR A CORAGEM DE UM PILãO<br />
Em 1969, faz agora precisamente 40 anos, escrevia o<br />
Coronel Adelino de Miranda Vassalo Pandayoi nas<br />
páginas do nosso Boletimii :<br />
“E não tardou que ali lhe fosse confiada uma arriscada<br />
missão, porventura no género das que modernamente se designam<br />
por “operações de comandos”: uma lancha, uns quantos<br />
homens, um embarque num ponto A e um desembarque<br />
num ponto B, para efeitos determinados. O mar encapelavase<br />
cada vez mais; os ventres elevados e os nodos profundos da<br />
ondulação alterosa, tornavam a procela assustadora; os homens<br />
assombrados enchem-se de medo; esboça-se uma rebelião;<br />
eles pretendem negar-se a seguir viagem! Confusão; o<br />
espectro do pânico parece adejar minaz e ao jovem sargento<br />
que os comandava, dirigiam-se clamores de recusa e até de<br />
ameaças! Julgavam eles, sem arrepsia, que a aparente timidez<br />
daquele, seria presa fácil dos seus transvios. Mas o glabro<br />
sargento era um ex-pupilo, […] Eivado do mais nobre sentimento<br />
do dever, habituado à obediência consentida, férrea<br />
vontade que se fundiu num cresal de disciplina e de amor pátrio,<br />
ânimo corajoso, tenaz e forte como um roble, empunha<br />
energicamente a sua espingarda, que carrega de frente para os<br />
transviados e brada-lhes deste jeito: “Ó covardes! O primeiro<br />
dentre vós que ousar desobedecer-me, será já abatido como se<br />
fora um cão raivoso”. “Temos de cumprir a nossa missão;<br />
impõe-nos o nosso dever de portugueses e soldados”. Estupefactos,<br />
cabisbaixos, sem dúvida envergonhados, perante tal<br />
exemplo de coragem e decisão, afinal dum imberbe rapazito…<br />
emudeceram! A viagem prosseguiu e a missão fora cumprida!<br />
Uma Cruz de Guerra surgiu então no peito de um herói.”<br />
Referia-se o Coronel Pandayo na sua deliciosa prosa a<br />
um jovem sargento, antigo aluno do nosso Instituto, que<br />
em 1917, na África Oriental Portuguesa, combatia os alemães<br />
na vertente africana da Grande Guerra. Mas por<br />
deferência a uma natural modéstia, que parece ser marca<br />
de grandes Pilões através dos tempos, Vassalo Pandayo<br />
não revela o seu nome. Apenas nos deixa uma pista:<br />
“Trata-se do ex-pupilo com o número 2 de matrícula no<br />
contingente da inauguração do Templo que a República fundou<br />
e que se chama Instituto dos Pupilos do Exército.”<br />
Tão intrigante relato teve em mim, 40 anos depois da<br />
sua publicação, o feito contrário que o jovem sargento<br />
terá pretendido. É impossível permanecer anónimo após<br />
determinados actos de bravura. É injusto permanecer<br />
anónimo.<br />
O primeiro aluno do IPE a<br />
quem foi atribuído o número de<br />
ordem 2 foi Virgílio Aureleano<br />
Guerra de Matos Sueiroiii . Nasceu<br />
em Elvas a 21.07.1899, e foi admitido<br />
no nosso Instituto na sua<br />
primeira geração de alunos a<br />
15.01.1912, tendo sido abatido ao<br />
O esquecimento é o verdadeiro sudário dos mortos.<br />
George Sand<br />
efectivo a 04.09.1916. Portanto à data dos factos passados<br />
em Moçambique, o jovem sargento teria cerca de 18 anos!<br />
Mas, e a Cruz de Guerra iv que Vassalo Pandayo refere?<br />
Fomos tentar encontrar informações. Não foi fácil,<br />
visto que nem sempre os nomes publicados em documento<br />
oficiais correspondem aos verdadeiros v .<br />
Reza assim um Decreto de 31 de Março de 1927 (Ordem<br />
do Exército 3 e 7 / II Série / 1927) assinado pelo Presidente<br />
da República António Óscar de Fragoso Carmona:<br />
Tendo em consideração os altos serviços prestados à Pátria<br />
e à Humanidade por muitos Oficiais e Praças que nos<br />
campos de batalha em França e em África praticaram brilhantes<br />
feitos de armas onde evidenciaram excepcional valor<br />
e comprovada abnegação, tornando-se por esse facto merecedores<br />
de recompensa especial. Usando da faculdade que me<br />
confere o nº 3º do artigo 2º do Decreto nº 12.740, de 26 de<br />
Novembro de 1926, sob proposta do Ministro da Guerra vi : hei<br />
por bem decretar que os Oficiais e Praças a seguir mencionados<br />
sejam condecorados com as classes da Cruz de Guerra que<br />
respectivamente lhes vão indicadas. […]<br />
Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, modelo 1917<br />
2º Sargento nº 233 do Quadro dos Sargentos do Secretariado<br />
Militar, Virgílio Aureliano Guerra – por se<br />
ter oferecido voluntariamente para ir por mar em uma lancha<br />
buscar mantimentos, lancha que foi arrastada pelo temporal<br />
para o mar largo, correndo o risco de se perder e andando<br />
doze dias sem rumo, conseguindo através de muitos perigos<br />
desempenhar-se cabalmente da missão e chegar ao seu destino,<br />
mostrando muita coragem, intrepidez, sangue frio e correndo<br />
risco de vida, sendo este louvor considerado como conferido<br />
em Ordem do Comando da Expedição a Moçambique.<br />
Virgílio Aureleano Guerra de Matos Sueiro seguiu a carreira<br />
das armas, tendo alcançado o oficialato. Foi o sócio do<br />
Grémio dos Pupilos do Exército, depois Associação dos Pupilos<br />
do Exército, com o n.º 98. Faleceu em Setembro de 1980.<br />
Evocar o Pupilo Virgílio Aureleano Guerra de Matos<br />
Sueiro é contribuir com um notável testemunho para<br />
consolidação da nossa imagem colectiva e fornecer um<br />
exemplo para os Pupilos do futuro.<br />
Evocar o Pupilo Virgílio Aureleano Guerra de Matos
Sueiro é prestar uma homenagem pública a quem sendo<br />
jovem soube ser Homem, a quem sendo bravo foi modes-<br />
* EGRESSO - Pode-se entender Pupilo Egresso como antigo Pupilo, aquele que saiu da instituição.<br />
No passado dia 18 de Setembro,<br />
o Corpo de Fuzileiros<br />
atribuiu a designação<br />
“Capitão-de-mar-e-guerra<br />
FZE Rebordão de Brito” à<br />
Praça do Museu dos Fuzileiros,<br />
situada no interior da<br />
Escola de Fuzileiros.<br />
Em cerimónia presidida pelo Comandante do Corpo de<br />
Fuzileiros, Contra-Almirante Luís Miguel de Matos Cortes<br />
Picciochi, e perante os Oficiais do Corpo, Base e Escola de<br />
Fuzileiros, e representações de Sargentos e Praças, foi descerrada<br />
uma placa que perpetua o nome do Comandante<br />
Alberto Rebordão de Brito (Pupilo 1953.0191) naquela que é<br />
a casa-mãe dos fuzileiros navais portugueses. Após a leitura<br />
dos dados biográficos do homenageado, o próprio CALM<br />
Picciochi usou da palavra enaltecendo a sua carreira militar<br />
e a sua actividade na Guiné, durante a Guerra do Ultramar.<br />
A placa, que foi descerrada pela família de Rebordão de<br />
Brito, regista na alvura do mármore o nome do insigne Oficial,<br />
que assim ficará para sempre ligado à Escola de Fuzileiros.<br />
A ilustrar a placa figuram as três mais distintas conde-<br />
to, a quem demonstrou em momentos decisivos a natureza<br />
excelsa da sua formação.<br />
RV<br />
iCoronel de Infantaria, Antigo aluno 1913.0105<br />
iiRecordando A “Cruz de Guerra” no peito de um PUPILO egresso, Boletim da APE, n.º 56/57, Agosto/Novembro de 1969.<br />
iiiRegisto Cronológico - Alunos Entrados no Instituto em 1912, Boletim da APE, n.º 76, Abril/Junho de 1974.<br />
ivA medalha da cruz de guerra destina-se a galardoar actos ou feitos de bravura praticados em campanha por cidadãos, militares ou não, nacionais ou estrangeiros. A medalha da<br />
cruz de guerra compreende quatro classes, sendo a 1.ª classe a mais elevada e a 4.ª classe a menos elevada. A sua atribuição é independente da graduação ou patente do condecorado.<br />
Foi criada pelo Decreto n.º 2870, de 30 de Novembro de 1916, numa clara inspiração na Croix de Guerre francesa.<br />
vÉ devido um agradecimento ao eminente Falerista Dr. Paulo Jorge Estrela pela colaboração e apoio na pesquisa das fontes. Ao Pupilo Manuel Andrade (1963.0298) agradeço a<br />
cedência da foto de Virgílio Sueiro.<br />
viAbílio Augusto Valdês de Passos e Sousa (1881-1966), Ministro da Guerra entre 29 de Novembro de 1926 e 18 de Abril de 1928.<br />
Recentemente editado pela editora Sílabo, o livro intitulado<br />
“Marketing e Comunicação Política” faz uma abordagem<br />
às temáticas relacionadas com o conceito de Marketing<br />
político, em geral, e com as disciplinas mais importantes<br />
que actuam na vertente política da Comunicação.<br />
Visando dar um contributo prático a estudantes, profissionais<br />
de comunicação e<br />
marketing, políticos e interessados<br />
pela ciência política em<br />
geral, a compilação efectuada<br />
pretende explanar os pormenores<br />
inerentes às novas tendências<br />
do Marketing e à sua<br />
evolução.<br />
Os acontecimentos não têm<br />
todos a mesma importância e nem todos podem ser integrados<br />
nas agendas dos jornalistas, tanto os eventos políticos<br />
como outros estão sujeitos à hierarquização que<br />
PRAÇA CMg FZE REbORDãO DE bRITO<br />
corações nacionais, a<br />
Ordem da Torre e Espada,<br />
e as medalhas de Valor<br />
Militar e de Cruz de<br />
Guerra que, entre outras,<br />
lhe douravam o peito.<br />
Esta homenagem,<br />
que naturalmente merece<br />
o nosso maior aplauso,<br />
é mais um reconhecimento<br />
público das extraordinárias<br />
qualidades e<br />
virtudes militares que o<br />
Pupilo Alberto Rebordão<br />
de Brito personificava,<br />
e que as coloca na devida<br />
evidência para todos<br />
os militares da Armada<br />
que cursam na Escola de Fuzileiros.<br />
MARKETINg E COMUNICAÇãO POLÍTICA<br />
Rui Santos Vargas<br />
(1981.0132)<br />
cada órgão de comunicação social<br />
faz.<br />
Como forma de transportarmos<br />
para a realidade política todas<br />
as temáticas abordadas neste livro,<br />
os autores apresentam casos<br />
da vida real através dos quais se<br />
pretende apresentar exemplos<br />
práticos da aplicação das técnicas<br />
e métodos exemplificados neste livro<br />
no campo político.<br />
Com prefácio do euro deputado e professor universitário<br />
Joel Hasse-Ferreira, o livro tem Joaquim Caetano e<br />
J. Martins Lampreia na coordenação científica e como<br />
autores, Maria Manuel Simões, Marisa Dias Antunes,<br />
João Cunha, Carlos Lopes (deputado), Acílio Marques e<br />
Inácio Beirão (1972.0179).<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 31
NOTÍCIAS<br />
32 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
“sTOCK OPTIONs”<br />
********<br />
A DINâMICA NAs CIêNCIAs ECONóMICAs E EMPREsARIAIs<br />
Mais dois LiVros de autoria “PiLóNica”<br />
eve lugar no Pavilhão Atlântico em 25 de Setembro<br />
T p.p., o lançamento do livro “Stock Options - Elementos<br />
Financeiros, Contabilísticos e Fiscais” da autoria<br />
do Pilão Renato Pereira (19830268), Paulo Faria (Auditor<br />
do Tribunal de Contas Europeu) e José Vieira dos Reis (1º<br />
Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas).<br />
A relevância deste tema na actual conjuntura financeira<br />
internacional bem como a escassez de bibliografia<br />
técnica no mercado português, suscitou desde logo o interesse<br />
da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas dadas<br />
as obrigações profissionais dos seus membros numa matéria<br />
de crescente<br />
acuidade para o<br />
tecido empresarial<br />
nacional.<br />
A apresentação<br />
pública da obra,<br />
por ocasião do III<br />
Congresso daquela<br />
Câmara realizado<br />
no Pavilhão Atlântico<br />
em Lisboa, foi assumida por Domingues Azevedo,<br />
seu Presidente e fundador bem como autor do respectivo<br />
prefácio, que salientou perante os numerosos TOCs e financeiros<br />
presentes os vários méritos desta publicação<br />
pioneira no preenchimento da importante lacuna nos<br />
instrumentos de trabalho disponíveis para profissionais<br />
na complexa área das “Stock Options”.<br />
Continuando um bom esforço de vitalizar contactos com<br />
“pilões” com assumidas carreiras de gestores e empresários,<br />
cumpriu-se na manhã de 26 de Setembro pp., em Évora,<br />
mais um bom Encontro de ex-alunos de diversas gerações<br />
e elogiáveis actividades, sob a égide da APE, com o nosso<br />
Presidente, Américo Ferreira, em particular destaque<br />
promovendo este tipo de convívios.<br />
Bem recebidos<br />
no Anfiteatro do<br />
Centro de Instrução<br />
e Doutrina de Évora,<br />
da superintendência<br />
do General<br />
Mascarenhas que<br />
enviou uma simpática<br />
mensagem e se<br />
fez representar pelo<br />
Major Passos, uns convictos 30 “pilões” debateram o tema<br />
fulcral da Formação Profissional e ficaram a saber das novidades<br />
do Portal Rede Activa, magnifica ideia sob a liderança<br />
do Hélder Grilo (1978.0349). Em breves palavras, Américo<br />
Ferreira saudou os participantes e lançou a série de intervenções,<br />
cabendo à “piloa”, Ana Paula Oliveira (1978.1097)<br />
a tarefa moderadora na condição de Docente do Instituto,<br />
Foi também, em data posterior,<br />
mais precisamente no dia 5 de Novembro<br />
passado, lançado por este<br />
nosso colega “pilão”, na cidade de<br />
Maceió (AL) Brasil, o livro intitulado<br />
“A Dinâmica Nas Ciências<br />
Económicas e Empresariais –<br />
Contributo para uma Visão<br />
Abrangente –“ este evento ocorreu<br />
aquando da Conferência Internacional,<br />
realizada nesta cidade, sob o<br />
titulo A “Dinâmica” Enquanto Dimensão<br />
Caracterizadora dos Sistemas<br />
Económicos e Empresariais.<br />
O Renato entrou no IMPE em 1983 tendo completado o<br />
Curso Superior de Contabilidade e Administração em<br />
1994. Inspirado porventura no nosso conhecido “Querer é<br />
Poder”, o Renato prosseguiu de imediato um esforçado<br />
projecto formativo que culminou com o Doutoramento em<br />
Ciências de Gestão na Université Paris Dauphine (França)<br />
em 2003. E, posteriormente, frequentou ainda formação<br />
avançada em Corporate Strategy no M.I.T. (EUA).<br />
Nos últimos anos tem concentrado as suas actividades<br />
como professor universitário das matérias da sua especialidade.<br />
Com orgulho e satisfação o Boletim da APE endereça<br />
os seus parabéns ao “pilão” Renato Pereira, pelo sucesso<br />
patenteado.<br />
IMPORTANTE DEbATE sObRE FORMAÇãO PROFIssIONAL<br />
muito por dentro da<br />
temática escolhida.<br />
Sucessivamente<br />
e ao longo de<br />
mais de uma hora,<br />
os nossos colegas<br />
Jorge Zózimo da<br />
Fonseca (Professor<br />
no IPE há mais de<br />
20 anos), Rogério<br />
Santos e José Crespo falaram do Ensino Profissional no<br />
IMPE, da Formação no Ramo Automóvel (marca Premium)<br />
e de Novas Tecnologias da Formação à distância,<br />
respectivamente, com oportunas visões em “data-show”.<br />
Entrou-se, depois, no período de debate de questões colocadas<br />
aos palestrantes, sob a moderação de Ana Paula Oliveira.<br />
Entre outros, Fernando Franco Leandro, João Bencatel,<br />
António José Ambrósio, Ana Paula Videira Fernandes,<br />
David Sequerra e Américo Ferreira animaram a sessão, permitindo<br />
novas e valiosas intervenções dos palestrantes.<br />
Cumprindo o programa, bem dentro da hora (parabéns<br />
aos organizadores!) Américo Ferreira encerrou o Encontro<br />
com palavras de vincado optimismo quanto aos rumos do<br />
Instituto, informando sobre as próximas iniciativas congé-
neres, ainda em 2009, solicitando entusiástica adesão “pilónica”.<br />
Do Anfiteatro seguiu-se para a Messe dos Oficiais, em<br />
Évora, (Igreja da Graça) onde decorreu animado almoçoconvívio,<br />
com as fotos da praxe, a pedido expresso do Fernando<br />
Pires (1955.0275), uma das mais recentes “conquis-<br />
tas” da APE, na área tão importante deste nosso “Boletim”.<br />
E o dia terminou com uma bem conduzida visita cultural à<br />
denominada Cidade-Museu, avivando expectativas para<br />
próximos encontros deste género.<br />
D. S.<br />
O VETERANO DO ANO<br />
“MaNeL” esPírito saNto c.b. de HÁ 70 aNos<br />
malta mais velha decidiu e fê-lo saber no entusiástico<br />
A almoço – convívio de 13 de Novembro: Cada ano será<br />
distinguido um ex-aluno maior de 65 anos como o “VE-<br />
TERANO DO ANO”. Critérios e candidatos não vão faltar<br />
e para um bom começo relativamente a 2009, não poderia<br />
haver melhor escolha da que foi revelada relativamente<br />
ao ilustre pré-nonagenário Manuel Espírito Santo,<br />
o 41 de 1929 e que foi o 2º Comandante de Batalhão da<br />
nova era (1939.40), de permanente devoção à A.P.E.<br />
O popular “Manel” nasceu em Leiria (4 de Maio de 1920)<br />
e veio fazer a 3ª classe ao Instituto com 9 anos de idade mantendo-se<br />
como distinguido aluno até Agosto de 1940.<br />
Concluiu com brilho o seu curso de Contabilistas e<br />
partiu para uma notável carreira profissional de que<br />
muito se orgulha, com plena justiça.<br />
oram 146 os “pilões” veteranos que se reuniram nos<br />
F claustros da 1ª Secção, numa bela experiência a repetir.<br />
Como registo histórico aqui fica a listagem dos 12 mais<br />
antigos:<br />
1929.0077 Augusto M. Dias; 1929.0041 Manuel Espírito Santo;<br />
1938.0297 Eugénio R. Coelho; 1939.0264 José Carneiro Rua;<br />
1940.0165 Américo Ribeiro; 1940.0040 João Matos Cruz;<br />
1940.0114 Rosalino Pacheco; 1940.0246 Dagoberto Campos<br />
FEsTA DE NATAL <strong>DA</strong> APE<br />
No dia 12 de Dezembro realizou-se, na sala de alunos da<br />
1ª Secção do IMPE, a habitual festa de Natal dedicada<br />
aos filhos de “pilões”, com idades compreendidas entre 1<br />
ano e os 12 anos.<br />
Foram momentos<br />
em que pais e filhos<br />
participaram<br />
alegremente e assistiram<br />
ao espectáculo<br />
a estes dedicado.<br />
No fim o Presidente<br />
da Direcção<br />
Américo Ferreira,<br />
coadjuvado pelo<br />
Aníbal Ferreira,<br />
procedeu à esperada entrega de prendas de Natal<br />
para os mais pequenos.<br />
De destacar o trabalho do Presidente da APE, do Aníbal<br />
Duarte Ferreira e do incansável senhor Mourão.<br />
Os “DOZEMAIs”<br />
Sempre atento<br />
aos ideais da Associação,<br />
descobriu<br />
como que um mágico<br />
elixir de se manter<br />
jovem de óptima<br />
memória e um aspecto<br />
de fazer inveja<br />
aos “putos” de 65<br />
anos.<br />
Não o medalhámos<br />
mas aplaudimos,<br />
vibrantemente, a sua eleição. Parabéns, Manel!<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 33<br />
D. S.<br />
Lima; 1941.0241 Diamantino Reis; 1941.0031 Jaime S. Leite;<br />
1941.0089 José P. Weber; 1941.0134 Ilídio Raposo.<br />
Até 1945, inclusive, participaram no convívio mais 22 “pilões”<br />
de boa cepa.<br />
É para continuar. Salvé<br />
ALMOÇO DE NATAL <strong>DA</strong> APE<br />
David Sequerra<br />
1943.0333<br />
A pós este salutar convívio teve lugar no Refeitório do<br />
Instituto um almoço em que participou um grupo de 12<br />
pessoas constituído por “pilões” e seus familiares.<br />
Este almoço foi planeado e organizado pelo Augusto<br />
Dias que, a seu tempo,<br />
obteve a inscrição<br />
da participação<br />
de 27 pessoas, entre<br />
sócios e seus familiares.<br />
De forma estranha,<br />
que não é fácil<br />
compreender,<br />
foram 15 as ausências.<br />
Numa quadra especial, em que se promove o convívio e a<br />
amizade, não era esperada uma situação que produziu também<br />
resultados negativos em termos de custos logísticos.
NOTÍCIAS<br />
34 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
urante um almoço o meu camarada de curso, e grande<br />
D amigo, António Cândido Pereira Carneiro, (1948.0089),<br />
pergunta-me: Tu já viste uns “bonecos” desenhados nuns<br />
portões de ferro que existem ali para os lados da Av João<br />
XXI? Claro que a minha resposta foi não.<br />
Então um dia temos que passar por lá, já que, cá para<br />
mim, diz o Carneiro, os desenhos representam dois Pilões<br />
devidamente fardados<br />
e equipados<br />
para desfilarem na<br />
Av da Liberdade.<br />
Tempos mais<br />
tarde, após novo almoço,<br />
demos corda<br />
aos sapatos e fomos<br />
em visita de estudo<br />
ao local onde os<br />
portões com os desenhos<br />
se encontram e que é, nem mais nem menos, o Jardim<br />
Fernando Pessa, (traseira da R. de Cervantes) bem<br />
perto da Pç. do Areeiro.<br />
Prometi que ia fotografar os desenhos e tentar publicar<br />
O QUE REPREsENTAM EsTAs PINTURAs?<br />
as fotos no Boletim<br />
da Assiciação. Como<br />
a minha veia de fotógrafo<br />
é muito fraca,<br />
socorri-me de outro<br />
grande amigo, não<br />
ex-aluno, o Rui Valle.<br />
As fotos são dele e<br />
estão óptimas.<br />
Embora existam<br />
algumas discrepâncias<br />
entre o fardamento e o equipamento dos desenhos e os<br />
que os Pilões usam,parece-me que os mesmos dizem respeito<br />
a um Pilão, a mirar-se ao espelho(?) a fim de se certificar<br />
que se encontra perfeitamente equipado. Será assim?<br />
Talvez...<br />
Esperemos que o proprietário dos portões, ex-aluno ou<br />
familiar, ou tão somente alguém conhecedor do assunto,<br />
nos possa esclarecer, se sim se não...! Aguardemos que o Boletim<br />
vá ter às mãos de pessoa entendida nesta matéria.<br />
J. Franco Leandro<br />
(1951.0321)<br />
10ª MINI MARATONA DE PORTUgAL VO<strong>DA</strong>FONE<br />
No passado dia 4 de Outubro, a APE participou em<br />
mais um evento desportivo, desta vez foi a conhecida<br />
10ª Mini Maratona de Portugal Vodafone, para quem não<br />
sabe consiste em percorrer a ponte Vasco da Gama, onde<br />
constou com a participação dos ex-alunos Dinis Afonso<br />
(19940153), Vasco Afonso (20000199), Miguel Eufémio<br />
(19970033), João Eufémio (19980038), Pedro Sabali<br />
(19960594), Filipe Santos (19970063) e Alexandre Ferreira<br />
(19990123), que percorreram (7km) com a camisola<br />
da APE vestida. É de realçar que o pai de dois ex-alunos,<br />
o senhor José Afonso, também foi correr com as cores da<br />
nossa Associação. O nosso presidente Américo Ferreira<br />
estava cheio de energia e participou na meia-maratona.<br />
O tempo nessa manha não estava o mais apelativo<br />
NOVOs sóCIOs<br />
para a corrida, pois brindou-nos com nuvens bem grandes<br />
e acinzentadas, o que nos pregou um valente susto e<br />
nada mais, porque depois no início da corrida já não exista<br />
muito perigo de chuva mas continuou bastante húmido<br />
o tempo, o que torna o ar bastante mais “pesado”, dificultando<br />
assim um pouco a nossa respiração.<br />
O início neste tipo de provas é sempre o mais complicado,<br />
devido ao enorme número de participantes que não<br />
quiseram deixar passar uma óptima oportunidade de fazer<br />
um passeio de confraternização com uma vista bastante<br />
diferente do habitual sobre o tabuleiro da ponte<br />
Vasco da Gama o que dificulta um bocado o progresso na<br />
corrida, mas nada que os nossos pilões não consigam ultrapassar,<br />
fora essas confusões, mais nada nos impediu<br />
de chegar ao local da meta.<br />
Chegado ao fim da prova, onde o esforço foi nítido por<br />
parte do grupo fomos recompensados com uma variedade<br />
de águas e sumos, e até um gelado que nos deliciou a<br />
todos. Contudo foi uma ideia baste positiva e agradável<br />
tanto para o convívio dos ex-alunos como para estimular<br />
o desporto. Para a próxima lá estaremos e serão muito<br />
bem vindos os que se aliarem a nós na próxima corrida.<br />
Esperamos pela vossa participação na próxima corrida!<br />
Filipe Santos (19970063)<br />
Pedro Sabali (19960596)<br />
Nos meses de Outubro a Dezembro foram admitidos como sócios efectivos os seguintes ex-alunos do I.M.P.E.:<br />
Fernando Gomes Palma (1950.0097), Euclides Inocêncio Alves dos Reis (1950.0273),<br />
António Maria Cunha (1951.0095), Filipe José Godinho Passinhas (1978.0368).
VAMOs à ÍNDIA EM 2010?<br />
ViageM Histórico-cuLturaL de 16 a 27 de abriL<br />
ste programa resultante do acordo estabelecido entre o<br />
E Boletim da APE e um Operador especializado nesta área,<br />
não produziu, até esta data, os resultados esperados.<br />
Não acreditamos em falta de interesse, da nossa comunidade<br />
“pilónica”, mas sim que a mensagem não foi correctamente<br />
passada a todos a quem a leitura do Boletim da APE<br />
se destina.<br />
Apesar dos 10 casos que à data procuraram explicações<br />
e manifestaram interesse, ao fim de 2 meses, não se registou<br />
qualquer inscrição.<br />
Continuaremos a desenvolver acções, na promoção desta<br />
iniciativa, na expectativa de atingir o número mínimo necessário<br />
de 25 inscrições para a sua concretização.<br />
Em Janeiro realizaremos um colóquio, na sede da APE,<br />
gONÇALO VAsCONCELOs sANTOs COUCEIRO (1966.0044)<br />
OMinistério da Cultura informa que procedeu à nomeação,<br />
Para o cargo de director do Instituto de Gestão<br />
do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar),<br />
do Dr. Gonçalo Vasconcelos Santos Couceiro;<br />
Gonçalo Couceiro é licenciado em História da Arte<br />
pela Universidade Nova de Lisboa e Mestre pela École<br />
Pratique des Hautes Études (Sorbonne). É engenheiro<br />
técnico electrotécnico pelo Instituto Militar dos Pupilos<br />
do Exército. Exercia desde Abril de 2007 o cargo de<br />
Director Regional de Cultura do Algarve.<br />
De Março de 1996 a Julho de 2005, foi consultor para<br />
Durante os meses de Outubro a Dezembro tivemos conhecimento<br />
do falecimento dos “Pilões” a seguir indicados,<br />
dos quais guardamos saudosa memória da sua<br />
presença entre nós. Aos seus familiares enviamos as nossas<br />
sentidas condolências.<br />
Guilherme Frederico Carlos Pimenta (1933.0026)<br />
Vasco Santélices Lima (1933.0320)<br />
Francisco Maria Vargas de Sousa (1940.0096)<br />
Domingos José Rio Ferreira Braga (1944.0018)<br />
Júlio da Silva Vilarinho (1946.0300)<br />
ObITUÁRIO<br />
sobre este Programa Histórico-cultural à Índia.<br />
Temos planos para futuros programas, a realizar nos<br />
próximos anos, em que vertente histórico-cultural será o<br />
principal objectivo.<br />
Pensamos que esta é uma forma de associar dois aspectos<br />
muito importantes: o prazer das viagens e o enriquecimento<br />
de conhecimentos sobre países e culturas que gostaremos<br />
de revisitar.<br />
Nota: Chamamos a atenção para a folha que juntamos a<br />
esta edição, que, ao ser devolvida, para a sede da APE, depois<br />
de preenchida, deverá ser acompanhada de cheque bancário<br />
(cruzado) de 500€, referente ao pagamento da inscrição.<br />
Fernando Pires<br />
os Assuntos Culturais da Casa Civil da Presidência da<br />
República. Técnico superior da Direcção Regional de<br />
Cultura do Algarve, foi assessor sénior de Intervenção<br />
Urbana na Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura. É<br />
membro da Associação de Estudos Portugueses, da Associação<br />
Portuguesa de Historiadores de Arte e do Conselho<br />
Geral da Fundação Alter Real, estando credenciado<br />
profissionalmente na Associação Nacional de Engenheiros<br />
Técnicos. Em 2006 concluiu o Curso Avançado de<br />
Gestão Pública (Cagep), no Instituto Nacional de Administração.<br />
José Tenório Janeiro Carvalho (1947.0180)<br />
Albertino Manuel dos Santos Amador (1950.0228)<br />
Manuel Jorge Lopes (1951.0056)<br />
José Carreira Marques (1951.0126)<br />
Jorge António Rodrigues Lopes (1957.0033)<br />
Armindo D. Rodrigues Teixeira (1966.0184)<br />
* As informações prestadas nesta rubrica “Obituário”,<br />
são obtidas por via telefónica ou escrita, de familiares ou<br />
de ex-alunos, amigos/contemporâneos dos falecidos.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 35
NOTÍCIAS<br />
36 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
<strong>DA</strong> APE<br />
No passado dia 15 de Outubro reuniram-se em Loures<br />
26 Pilões que, à volta da mesa, no Restaurante<br />
“A Horta”, tiveram ocasião de conviver num ambiente<br />
de sadia camaradagem.<br />
Aqui fica a lista dos participantes, capitaneados<br />
pelo decano Manuel Espírito Santo, entrado para o Pilão<br />
em 1929:<br />
1929.0141 - Manuel Espírito Santo<br />
1938.0297 - Eugénio Rodrigues Coelho<br />
1941.0031 - Jaime Oliveira Leite<br />
1945.0007 - José Alberto Marmelo<br />
1946.0173 - João Barreto Fernandes<br />
1947.0031 - Manuel Martins Veríssimo<br />
1947.0354 - José Duarte Moura<br />
1948.0013 - Fernando Barroso<br />
João Pedro Barroso (filho do 1948.0013)<br />
1948.0221 - António de Almeida<br />
1948.0244 - Raul da Costa Dionísio<br />
1948.0249 - António Ferreira da Costa<br />
1949.0159 - António Santos Policarpo<br />
1951.0177 - Ivo Estudante<br />
1952.0201 - João Matos<br />
1953.0123 - António Viegas de Carvalho<br />
1954.0248 - Jorge Cruz Galego<br />
1958.0056 - Domingos Rita Ribeiro<br />
1960.0093 - António Ribeiro da Silva<br />
1960.0303 - José Pais<br />
1961.0126 - Carlos Raimundo<br />
1962.0261 - João Teves Costa<br />
1962.0289 - José Cupertino Henriques<br />
1963.0209 - Carlos Lestre<br />
1964.0200 - António Simões Gonçalves<br />
1967.0279 - Carlos Teixeira<br />
Assinalamos a presença do Carlos Teixeira, que<br />
sendo o mais novo dos convivas, inicia agora o seu 3º<br />
mandato como Presidente da Câmara de Loures, cargo<br />
para o qual acaba de ser reeleito com maioria absoluta.<br />
Parabéns ao autarca.<br />
Para além do Augusto Dias (1929.0077), alma deste<br />
Boletim nos últimos anos, foi ainda notada a ausência<br />
de outros habituais participantes do ano de 1960, ano<br />
de entrada do escriba destas notas, para tal designado<br />
por ter levado a máquina fotográfica que registou as<br />
ALMOÇO EM LOUREs: 15 OUT 2009<br />
imagens que aqui se publicam.<br />
Estes almoços tiveram o sei início em 1995, reunindo<br />
Pilões de Loures e Odivelas, a que se foram associando<br />
outros elementos provenientes, maioritaria-<br />
mente, da zona da Grande Lisboa, tendo os primeiros<br />
encontros ocorrido em restaurantes de Odivelas<br />
A reorganização administrativa do País ditou a<br />
criação do concelho de Odivelas em 19Nov1998.<br />
Em 27 de Fevereiro de 2003, uns quantos carolas,<br />
por iniciativa dos “4 mosqueteiros”: Carlos Lestre<br />
(1963.0209), Carlos Raimundo (1961.0126), Luís Manuel<br />
Veiga (1960.0343) e Ivo Estudante (1951.0177),<br />
criaram o Núcleo da APE em Loures.<br />
O Núcleo de Loures - cuja assembleia constituinte<br />
se realizou no Salão Nobre dos Passos do Concelho -<br />
conta com umas dezenas de membros que então elegeram<br />
o Ivo Estudante para Presidente, continua a dinamizar<br />
estes convívios, que têm lugar à Quinta-feira,<br />
quatro a cinco vezes por ano.<br />
O “saldo de gerência” de cada uma destas reuniões,<br />
embora de valor reduzido, é simbolicamente entregue<br />
na Tesouraria da APE, conforme previsto nos Estatutos<br />
do Núcleo de Loures.<br />
Pela voz de trovão do Carlos Lestre, foi anunciado<br />
que o próximo almoço / convívio terá lugar no dia 3 de<br />
Dezembro (5ª Feira), igualmente no restaurante “A<br />
Horta”, que dispõe de confortável parque estacionamento,<br />
mesmo no centro de Loures.<br />
O Núcleo de Loures espera poder vir a contar com a<br />
vossa presença.<br />
António R. da Silva<br />
(1960.0093)
COMEMORAÇãO DOs 50 ANOs DE sAÍ<strong>DA</strong> DO IMPE (1959/2009)<br />
No dia 17 de Outubro de 2009, finalistas de 1959 comemoraram<br />
50 anos de saída do IMPE, num dia de convívio<br />
passado nas instalações do Instituto e na sede da<br />
APE. Estiveram presentes 14 Pilões e alguns familiares:<br />
1950.0078 - Aníbal Duarte Ferreira; 1950.0097 - Fernando<br />
Gomes Palma; 1950.0234 - José Júlio Barroso; 1050.0273 - Euclides<br />
Alves Reis; 1951.0028 - Artur Mendonça Carvalho;<br />
1951.0050 - Hélder André Domingues; 1951.0095 - António<br />
Maria Cunha; 1951.0021 - José Gerardo Barbosa Pereira;<br />
1951.0328 - José Pereira; 1951.0364 - José dos Santos Carreiro;<br />
1952.0090 - Augusto P. Sousa Neves; 1951.0111 - Luís Manchete<br />
Eusébio; 1952.0157 - Alberto J. Fernandes Guimarães;<br />
1952.0206 - Firmino Ribeiro Magro<br />
Voltámos ao local onde vivemos o “… rigor de um regime<br />
escolar que exigia grandes homens de pequenos rapazes, numa<br />
vida de estudante que começava cedo … com a alvorada, ao toque<br />
de clarim.” 1 , Onde crescemos perseguindo as máximas do<br />
Fundador do IMPE, nomeadamente: “É absolutamente indispensável<br />
ser superior: superior pelo carácter, pelo coração, pelo<br />
espírito, pela educação e pela instrução” e, por isso, onde aprendemos<br />
a conhecer, aprendemos a fazer, aprendemos a ser<br />
e aprendemos a conviver, afinal os quatro pilares fundamentais<br />
do paradigma educativo do IMPE2 .<br />
Recordámos e revisitámos a nossa história pessoal<br />
porque “O passado é sagrado … é dele que tiramos sentido para o<br />
presente e para o futuro e é ele que nos permite ser fiéis a nós próprios<br />
no que é essencial.” 3<br />
E na equação pessoal que cada um vai escrevendo e resolvendo,<br />
apesar das discrepâncias quanto à imagem que<br />
construímos do IMPE, todos sentimos um enorme amor a<br />
esta Escola.<br />
Como escreveu o antigo aluno Alexandre Cabral, numa dedicatória<br />
de um exemplar do seu livro Malta Brava: “Muito do<br />
que hoje sou, devo-o em<br />
grande parte à educação<br />
espartana que lá,<br />
no IMPE, me ministraram,<br />
não só ao nível da<br />
docência, mas sobretudo<br />
da discência - da camaradagem<br />
dos meus<br />
condiscípulos” 4<br />
Aqui fica o nosso<br />
“Querer é Poder!”<br />
1 ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 42<br />
2 Recordando Adaptado de ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 549<br />
3 Registo ALVES, Laurinda – Atitude XIS, Dafundo, 2007, p. 237<br />
4 ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 42<br />
ALMOÇO DE 13/XI<br />
“NIAgARA” DE ENTUsIAsMO AVALANCHE DE EMOÇÕEs<br />
oi na manhã e tarde de 13 de Novembro em S. Domin-<br />
F gos de Benfica, sob o rótulo sonante de Convívio de<br />
Veteranos, pilões entrados até 1955, com idades compreendidas<br />
entre os 65 e os 92 anos. A ideia partiu do animoso<br />
Carlos Albuquerque (1949.0219) há meia dúzia de meses<br />
e teve bons seguidores, incluindo a Direcção da APE,<br />
logicamente, e o indispensável Senhor MOURÃO. O “pilão”<br />
Carlos Albuquerque sonhou com 200 veteranos alegremente<br />
reunidos e foram 146 com 12 desistências de<br />
última hora por ponderosas razões. Assim sendo, a cifra<br />
poderia ser de 158 e não ficaria muito longe do belo sonho<br />
do Albuquerque. E foi aquilo a que se pode chamar uma<br />
“niagara” de entusiasmo e intensa saudade, criando natural<br />
expectativa para 2010.<br />
O almoço foi volante, nos claustros com uma boa centena<br />
de alunos a conviver com os “cotas” e a significativas<br />
presenças do Director e do “Sub” do Instituto.<br />
Anibal D. Ferreira<br />
(1950.00.78)<br />
O reencontro de “pilões” que não se viam há largos<br />
anos, proporcionou uma apreciada avalanche de emoções.<br />
O Major General Alves Rosa, Director do IMPE dirigiu<br />
à “malta” breves mas interessantes palavras de acolhimento<br />
à “Casa Mãe” e, em nome da Comissão Organizadora<br />
do evento, falou David Sequerra (1943.0333), um dos<br />
mais antigos ex-alunos do convívio proporcionado, agradecendo<br />
o usufruto de instalações, as palavras do Director,<br />
enaltecendo o papel primordial do Carlos Albuquerque<br />
(1949.0219) e anunciando o propósito de repetição<br />
anual em busca da tal cifra dos 200 participantes. Entre<br />
aplausos revelou ainda o estabelecimento da eleição do<br />
“VETERANO” do ANO” que, em estreia, coube ao Manuel<br />
Espírito Santo (1929.0041) conforme se notifica separadamente.<br />
E todos nós voltámos a “penates mais felizes.<br />
D.S.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 37
Bibliografia<br />
38 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
LEITURAS & PÚBLIcAçÕES REcEBI<strong>DA</strong>S<br />
Pretende-se nesta rubrica "Leituras" divulgar as mais recentes obras da autoria de antigos alunos do IMPE, ou quem esteve (ou esteja)<br />
ligado ao Instituto, por nele ter sido professor, militar, etc. Neste sentido, solicita-se a colaboração dos autores para que nos enviem<br />
um exemplar, para que possamos divulgar entre os leitores deste Boletim. Estamos certos que no universo referido, muitas serão as<br />
obras a divulgar.<br />
“a Lousã e o seu coNceLHo”<br />
do dr. ÁLVaro ViaNa de LeMos<br />
aNtigo e iNsigNe ProFessor do iMPe<br />
Por oferta do ex-aluno João Matos<br />
Cruz (1940.0040), de há muito radicado<br />
na Lousã, a nossa Biblioteca ficou<br />
enriquecida com uma valiosa edição<br />
da C.M. da Lousã intitulada “ A Lousã<br />
e o seu Concelho”, da autoria de um<br />
notável pedagogo, que muito enobreceu<br />
o nosso Instituto, nas sua primeiras<br />
décadas – O Dr. Álvaro Viana de<br />
coMitÉ oLíMPico de PortugaL<br />
O Comité Olímpico de Portugal comemorou,<br />
em fins de Novembro pp., 100<br />
anos de existência. Entre 206 Comités<br />
nacionais, o de Portugal é o nº 13 de<br />
muito prestigio.<br />
Entre as várias edições comemorativas<br />
pode destacar-se um belíssimo<br />
texto do Dr. Conrado Durantez, figura<br />
grada do Olimpísmo, sobre a louvável<br />
intervenção das “Academias Olímpi-<br />
CORREIO <strong>DA</strong> IMPRENSA<br />
Lemos (1881-1972), antigo Oficial do<br />
Exército (até 1920), marcando toda<br />
uma geração de ex-alunos até aos primórdios<br />
dos anso 30. São 170 páginas<br />
de sugestiva leitura de onde ressalta a<br />
invulgar sapiência do Autor. Para o<br />
João Matos Cruz os nossos agradecimentos.<br />
cas” em todos os continentes.<br />
A edição de 56 páginas, tem na capa a<br />
foto do Barão de Coubertan, o reanimador<br />
dos Jogos Olímpicos da Era<br />
Moderna, em 1894.<br />
A obra está disponível na nossa Biblioteca.<br />
Os nossos agradecimentos<br />
ano Comité Português, com os parabéns<br />
pelos 100 anos.<br />
Nos meses de Outubro a Dezembro recebemos as publicações a seguir indicadas, que estão na nossa<br />
biblioteca à disposição dos nossos associados para consulta e leitura:<br />
– JORNAL DO EXÉRCITO<br />
– REVIsTA MILITAR<br />
– REVIsTA <strong>DA</strong> ARMA<strong>DA</strong><br />
– bOLETIM <strong>DA</strong> AsMIR<br />
– ELO – Jornal dos Deficientes das Forças Armadas<br />
– O CAsAPIANO<br />
– JORNAL <strong>DA</strong> AMADORA<br />
– O sEsIMbRENsE<br />
– REVIsOREs E AUDITOREs
ELECTRÓNICA<br />
BANCA<strong>DA</strong>S TÉCNICAS<br />
BATERIAS MILITARES VENTILADORES<br />
KITS DE FERRAMENTAS LANTERNAS TÁCTICAS<br />
SHELTERS DE<br />
COMUNICAÇÕES<br />
EQUIPAMENTOS DE TESTE E MEDI<strong>DA</strong><br />
CAPACETES COM<br />
INTERCOMUNICAÇÕES<br />
www.lasi.pt<br />
INIBIDORES DE FREQUÊNCIAS<br />
EQUIPAMENTOS NBQ DE COMBATE<br />
SISTEMAS DE HIDRATAÇÃO<br />
COLDRES<br />
CAPACETES DE COMBATE<br />
DEFESA E PROTECÇÃO<br />
CLIMATIZAÇÃO PARA ABRIGOS<br />
ATRELADOS DE SUBSISTÊNCIA EM CAMPANHA<br />
COLETES TÁCTICOS<br />
E BALÍSTICOS<br />
EQUIPAMENTO ANTI-MOTIM<br />
ÓCULOS DE PROTECÇÃO<br />
Rua Bento de Jesus Caraça, nº 5 A-B<br />
Tercena 2730-027 BARCARENA<br />
Telf.: 214 389 410 Fax: 214 380 592<br />
Email: geral@lasi.pt<br />
FATO<br />
ANTI-BOMBA
NOTÍCIAS<br />
40 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
DO IMPE<br />
DO IMPE<br />
Exmo. Sr. Major General Director do Instituto Militar dos<br />
Pupilos do Exército, Exmo. Sr. Presidente da Direcção da<br />
Associação dos Pupilos do Exército, Exma. Sra. Presidente<br />
da Associação de Pais do Instituto Militar dos Pupilos do<br />
Exército, Militares, Professores e Pessoal Civil do Instituto,<br />
Caros Alunos e Ex-alunos, Ilustres convidados.<br />
A imposição de insígnias a que acabamos de assistir não é<br />
mais que um acto simbólico do assumir das funções para as<br />
quais estes alunos foram seleccionados, de acordo com o seu<br />
perfil, as suas capacidades e aptidões e acima de tudo, em<br />
função da conduta demonstrada ao longo dos anos em que<br />
foram permanecendo nesta “Casa tão bela e tão ridente”, de<br />
tradições quase seculares.<br />
Alunos Graduados: O dever do Aluno Graduado do Instituto<br />
é honrar a atribuição que lhe foi conferida, mantendo<br />
em todos os actos inerentes ao exercício desta nobres funções,<br />
uma conduta irrepreensível, quer no trato com os Militares,<br />
Professores e Funcionários Civis do Instituto, quer no relacionamento<br />
com os demais alunos.<br />
Lembrai-vos sempre do Versículo escrito no livro da vida<br />
em Provérbios Capítulo 22 Versículo 6.<br />
“Instrui a Criança no caminho em que deve andar e até<br />
quando envelhecer não se desviará dele”<br />
Saliento, ainda, a importância que os Alunos Graduados<br />
têm na cadeia de comando do Corpo de Alunos. No que se<br />
refere ao funcionamento da estrutura, espero da vossa parte<br />
que continuem a manter um espírito de colaboração que se<br />
reflicta em melhorias visíveis na manutenção da disciplina,<br />
no controlo das formaturas, na conduta a adoptar pelos alunos<br />
mais novos no interior do Instituto e nas condições de<br />
habitabilidade do Internato. No âmbito do relacionamento<br />
entre os alunos, passa por vós o desenvolvimento de um espírito<br />
de corpo salutar que permita o são convívio entre todos<br />
os alunos do Batalhão Escolar, como garante de uma vida<br />
mais agradável no Instituto. Neste sentido e na medida em<br />
que estas são as vertentes basilares da vossa actuação, enquanto<br />
alunos graduados, é vosso dever, ou melhor, vossa<br />
obrigação, incutir através do exemplo, nos alunos mais novos<br />
o código de honra do Aluno do IMPE e em que, permitam-me<br />
o uso de um pouco de Português vernáculo, o “cábula”, o<br />
“baldas” o indisciplinado não são modelos válidos na sociedade<br />
em que vivemos e que apenas o estudante com sucesso,<br />
empenhado e disciplinado é exemplo a seguir pelos alunos<br />
do IMPE, como perspectiva de um futuro que se augura que<br />
seja próspero.<br />
Novos Alunos: A vossa integração na comunidade educativa<br />
passa por estes alunos graduados. Como alunos mais<br />
velhos, mais experientes e mais conhecedores da vivência diária<br />
do Pilão, é sua obrigação manter um acompanhamento<br />
permanente, estar sempre prontos a dar um conselho face a<br />
uma atitude menos própria da vossa parte e, fundamentalmente,<br />
estender-vos a mão amiga nas más horas que irão surgir<br />
durante o longo ano lectivo que agora se inicia. Contem<br />
com eles e face ao seu procedimento, seleccionem os bons<br />
exemplos, os quais serão modelos a seguir no futuro.<br />
IMPOsIÇãO DE INsÍgNIAs 2009/2010*<br />
É ciente das dificuldades que têm sentido neste período de<br />
adaptação, que vos digo:<br />
Nada temais, pois são os vossos graduados que vos integrarão<br />
na vivência escolar e interna do Instituto, são eles que<br />
vos acompanharão permanentemente nos vossos medos, vos<br />
apoiarão nos vossos anseios e vos aconselharão quando a<br />
vossa atitude tenha<br />
sido menos<br />
própria. Procurai-os<br />
pois, sempre<br />
que necessitardes<br />
de um<br />
conselho amigo.<br />
Alunos Lacerdas:<br />
vós sois<br />
também uma<br />
peça importante<br />
no acompanhamento<br />
dos alunos<br />
mais novos e<br />
no auxílio aos<br />
alunos graduados,trazendolhes<br />
a eles os problemas<br />
que os<br />
alunos mais novos<br />
não lhes sabem dizer. Sois vós também o elemento regulador<br />
das sãs tradições do Instituto.<br />
Aproveitando a oportunidade, permitam-me salientar:<br />
Ao presidente da APE: uma palavra de reconhecimento<br />
pelo apoio prestado ao longo destes anos de existência. Contudo,<br />
o Instituto espera de vós um maior apoio e empenho,<br />
em prol dos projectos que estão em desenvolvimento.<br />
Aos representantes da Associação de Pais, porta-voz dos<br />
Encarregados de Educação e, como primeiros responsáveis<br />
pela educação dos vossos filhos, exorto-vos, de uma forma<br />
edificante, a continuar a apoiar e consolidar a acção educativa<br />
do Instituto.<br />
Perante a presença do corpo docente, deixem-me salientar<br />
que este corpo de graduados conta convosco e que só uma ligação<br />
harmoniosa entre Corpo de Alunos, Professores e Encarregados<br />
de Educação permitirá uma vivência institucional<br />
consequente e activa.<br />
Só através de uma articulação efectiva e uma congregação<br />
de vontades da comunidade educativa do Instituto se desenvolverá<br />
o Projecto Educativo desta “casa, tão bela e tão ridente”<br />
cuja missão nunca será formar elites, mas sim, transformar<br />
jovens em cidadãos úteis à Pátria, conforme estipulado<br />
pelo saudoso fundador, Gen. Xavier Correia Barreto a 25 de<br />
Maio de 1911.<br />
Tenho dito<br />
* Texto: “site” do IMPE<br />
Paulo Alexandre Teixeira de Almeida<br />
Maj. Inf<br />
(1978.0039)
IMPOsIÇãO DE INsÍgNIAs 2009/2010<br />
DIsCURsO DO ALUNO COMAN<strong>DA</strong>NTE DE bATALHãO*<br />
Exmo. Sr. Major General Director do Instituto Militar dos<br />
Pupilos do Exército, Exmos. Representantes da Associação<br />
dos Pupilos do Exército, Exma. Sra. Presidente da Associação<br />
de Pais e Encarregados de Educação, Senhores Oficiais,<br />
Professores, Sargentos, Praças e Funcionários Civis do<br />
Instituto, Ilustres Convidados, Pais e Encarregados de Educação,<br />
Caros Camaradas Pilões.<br />
É com grande orgulho e honra que me dirijo para todos<br />
vós na qualidade de Comandante de Batalhão desta casa que<br />
de menino me fez homem com valores que mais nenhuma<br />
casa me ensinaria e é meu dever juntamente com o restante<br />
corpo de graduados<br />
garantir a passagem<br />
desses mesmos valores<br />
enaltecendo este instituto<br />
ao qual chamamos<br />
a nossa casa tão bela e<br />
tão ridente.<br />
Não posso deixar<br />
de dar as boas vindas<br />
aos novos alunos desta<br />
casa, que se tornam um<br />
incentivo, para todos<br />
nós e aos quais iremos<br />
transmitir da melhor<br />
forma a nossa mensagem<br />
como, alunos mais<br />
velhos, a estas novas<br />
gerações “pilónicas”.<br />
A vós alunos, a camaradagem<br />
é essencial<br />
para que juntos atravessemos estas mudanças e tempos difíceis<br />
e de mudança que atravessamos. Respeitem os vossos<br />
graduados olhem para eles como vossos irmãos mais velhos.<br />
A este novo Corpo de Graduados deixo desde já a seguinte<br />
mensagem:<br />
“O que vos é posto aos ombros nunca em caso algum vos<br />
suba à cabeça, mas sim que desça para o vosso coração para<br />
que com humildade continuem a amar esta casa!”. Cumpram<br />
o vosso dever com dignidade sendo exemplo para todos os<br />
alunos que vos estão subordinados, ensinem o verdadeiro<br />
significado do espírito “pilónico”, sejam verdadeiros líderes e<br />
conduzam os alunos sob o vosso comando pelos caminhos<br />
mais correctos<br />
nesta sociedade<br />
em constante<br />
evolução. Não<br />
esquecendo sobretudo<br />
o verdadeiro<br />
motivo<br />
pela qual estais<br />
nesta Casa, estudar.<br />
Como evoca o<br />
hino do Instituto:<br />
“ao estudo e<br />
ao trabalho<br />
producente dediquemos<br />
com<br />
alma e com prazer<br />
toda a nossa<br />
atenção e alegremente saibamos este Instituto enobrecer!”<br />
que seja este o nosso mote. A Luz emanada pelo “farol”<br />
que se constitui a missão para o presente ano lectivo.<br />
Aos pais e familiares destes alunos recém graduados é importante<br />
que os incentivem e apoiem a cumprir a sua missão<br />
que é sem dúvida uma mais valia para o seu futuro.<br />
Digníssimos Convidados e Presentes, esta casa está a atravessar<br />
grandes mudanças a nível académico com a implementação<br />
dos cursos profissionais que remontam um pouco<br />
à historia do nosso Instituto desde a sua fundação,<br />
não podemos esquecer também o facto de sermos recentemente<br />
uma eco-escola, que par de outras estratégias nos coloca<br />
ao nível das melhoras escolas de excelência da Europa.<br />
Tenhamos grande sentido de responsabilidade, saibamos<br />
lidar com os problemas sempre de cabeça erguida e sempre<br />
com o lema desta Casa cravado no peito:<br />
“Querer é Poder!”<br />
Tenho dito!<br />
CERIMóNIA DE AbERTURA sOLENE DO ANO LECTIVO 2009/2010*<br />
E m 13 de Novembro de 2009, realizou-se a cerimónia de Abertura<br />
Solene do Ano Lectivo 2009/2010 a qual, foi presidida pelo<br />
Exmo. Tenente General Comandante da Instrução e Doutrina.<br />
Cerca das quinze horas, foram prestadas as Honras Militares a<br />
esta entidade ao que se seguiu a sessão de cumprimentos.<br />
Na abertura da cerimónia, o MGEN Director do IMPE proferiu<br />
uma Alocução e o Dr. António Carlos Dias, professor decano, ministrou<br />
a Lição Inaugural. Posteriormente, procedeu-se à entrega<br />
de Prémios, das condecorações e dos diplomas do Centro de Novas<br />
Oportunidades. * Texto: “site” do IMPE<br />
Diogo Ruivo nº 62<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 41
NOTÍCIAS<br />
42 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
DO IMPE<br />
DO IMPE<br />
O IMPE RECEbEU O gALARDãO bANDEIRA VERDE*<br />
Aos 29 dias do mês de Setembro de 2009, o Instituto Militar foi agraciado,<br />
em Santa Maria da Feira, com o Galardão Bandeira Verde. Este prémio foi<br />
atribuído pela Associação Bandeira Azul da Europa em reconhecimento das boas<br />
práticas ambientais realizadas no ano lectivo 2008/09 nos estabelecimentos de<br />
ensino.<br />
Foram notórios o orgulho e satisfação estampados no semblante dos representantes<br />
das escolas galardoadas com este importante troféu.<br />
O programa ECO-ESCOLAS pretende encorajar e premiar o trabalho desenvolvido<br />
pela escola na melhoria do seu desempenho ambiental, motivar para a<br />
necessidade de mudança de atitudes e de adopção de comportamentos sustentáveis.<br />
O IMPE NAs COMEMORAÇÕEs DO MUsEU <strong>DA</strong> PREsIDêNCIA <strong>DA</strong> REPúbLICA*<br />
o dia 04 de Outubro, os alunos do 8º ano e 9º<br />
N ano, participaram no programa de animação<br />
pedagógica, que teve lugar nos jardins do Palácio<br />
de Belém no âmbito das comemorações do 5º aniversário<br />
do Museu da Presidência da República.<br />
Igualmente estiveram presentes as alunas do<br />
Instituto de Odivelas, que concorreram com os<br />
alunos em actividades e jogos diversos.<br />
* Texto: “site” do IMPE<br />
As s o ci A ç ã o d o s Pu Pi lo s d o Ex é r ci to<br />
Pretendo assinar o Boletim da Associação dos Pupilos do Exército<br />
Para encomendar basta fotocopiar este cupão e enviar para Associação dos<br />
Pupilos do Exército – Rua Major Neutel de Abreu, Nº 20 S/L – E<br />
1500-411 Lisboa - Fax: 217 782 980 - e-mail: boletim.ape@gmail.com<br />
Nome____________________________________________________ Profissão_____________________<br />
Morada___________________________________________________________________________________<br />
Código postal__________ - _______Localidade_____________________Tel._________________<br />
Ex-aluno IMPE: Nº____________Ano __________<br />
Assinatura Anual- Continente e Ilhas: € 16 :Via Aéra Países Europeus € 41<br />
– Restantes Países € 61<br />
Para pagamento da minha assinatura:<br />
* Texto: “site” do IMPE<br />
Transferência Bancária: Nacional 0010 0000 1386 4790 00189<br />
Associação dos Pupilos do Exército.no valor de __________________________________<br />
MARCANTE PREsENÇA<br />
NO 1º DE DEZEMbRO<br />
No decurso das comemorações do<br />
369º aniversário do histórico<br />
“Dia da Independência”, com relevante<br />
sessão na Praça dos Restauradores,<br />
o IMPE marcou significativa<br />
presença com um escol de alunos,<br />
lado a lado com as representações do<br />
C. Militar e de I. de Odivelas.<br />
O garbo dos ”pilões” em patriótica<br />
missão não passou despercebido,<br />
com um dueto de alunos africanos a<br />
deporem a já tradicional coroa de flores<br />
na base do Monumento, com espigadote<br />
São-Tomense 41 a evidenciar-se<br />
na tarefa homenageante para<br />
que foi seleccionado.<br />
Em memória de tão intenso patriotismo,<br />
o “Pilão” disse presente!<br />
D.S.
Na minha primeira visita ao IMPE nas funções<br />
de Comandante da Instrução e Doutrina desejo<br />
expressar ao seu director e a todos os oficiais,<br />
sargentos, praças, funcionários civis e professores<br />
o maior apreço e consideração pelo seu trabalho e<br />
valor.<br />
Aos oficiais, exorto para através da sua inteligência<br />
e dedicação resolverem todos os problemas<br />
que se colocam; aos professores, o maior empenho<br />
para fazermos dos alunos bons profissionais e<br />
bons cidadãos e aos alunos para, no maior respeito<br />
da regra e das relações, serem modelos de estudantes<br />
e da juventude Portuguesa que se deseja responsável,<br />
decidida e empenhada.<br />
O IMPE, Escola Profissional, deverá ser no futuro<br />
próximo uma escola de referência nas escolas<br />
Portuguesas – este é o referencial, e para tal todos<br />
nós, devemos colaborar com a maior dedicação,<br />
cada qual cumprindo a sua missão, em prol do<br />
“produto” que são os alunos.<br />
Reiteiro aos professores que considero a sua<br />
profissão uma das mais nobres que existem porque<br />
têm como objectivo formar os homens e as mulheres<br />
para o futuro que hão-de conduzir o país a<br />
ser a pátria onde se vive melhor e com maior justiça<br />
e onde a cidadania é a regra geral.”<br />
* Texto: “site” do IMPE<br />
MENsAgEM EXARA<strong>DA</strong><br />
POR sUA EXCELêNCIA<br />
O TgEN COMAN<strong>DA</strong>NTE<br />
<strong>DA</strong> INsTRUÇãO E<br />
DOUTRINA NO LIVRO<br />
DE HONRA DO IMPE*<br />
António José Maia de Mascarenhas<br />
Tenente – General<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 43
Escritas<br />
António B. Pinheiro<br />
(19460033)<br />
Diante da sua tela<br />
Pega a paleta o pintor<br />
Para pintar o vento…<br />
Será que o vento tem cor?<br />
Que p’ra poder definir<br />
Será preciso saber,<br />
O que o vento é então?<br />
É só ar em movimento,<br />
Que resulta da diferença,<br />
Da diferença, de pressão,<br />
Que faz o ar deslocar<br />
Quando muda de lugar…<br />
Que vai da brisa ligeira<br />
Ao violento furacão…<br />
Mas afinal meus senhores,<br />
Se assim é… quais são as cores<br />
Que o artista ali vislumbra?<br />
44 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
«a cor Do Vento…»<br />
Um leve tom de cinzento,<br />
Suave e brando esse vento<br />
Que nos convida a sonhar…<br />
E se o dia clarear<br />
Em manhã fresca e suave<br />
Com a brisa matinal<br />
Deixa no ar um sinal<br />
Talvez em tom de azulado<br />
Dum céu limpo sem ter nuvens…<br />
Anti-ciclone dos Açores…<br />
Não há vento… não tem cores…<br />
Lá se perde a ilusão<br />
Da ligeira sensação<br />
De leveza no pairar…<br />
Mas se em vez disso a “borrasca”<br />
De uma gélida invernia<br />
Vira forte tempestade…<br />
Qual a cor que de verdade<br />
Tem o vento aos nossos olhos…<br />
Vento que arrasa ao passar<br />
Tudo aquilo que encontrar…<br />
Será negro… ou talvez não?<br />
Depende da sensação<br />
Do sentir de quem estiver<br />
No seu caminho fatal!<br />
Tudo destrói afinal…<br />
Mas será que no deserto,<br />
Em tempestade de areia<br />
Vira amarelo… ou lá perto,<br />
Numa cor, dita tão quente<br />
Pelo calor que a gente sente,<br />
E o sentido da visão?<br />
Talvez sim… ou talvez não…<br />
Porque afinal meus senhores,<br />
Isto do vento ter cores<br />
Não passa de uma ilusão…<br />
E se for na Primavera<br />
Quando despontam as flores?<br />
Um ventinho de quimera<br />
Que poderá ter mil cores…<br />
Cores que também eu quisera<br />
Nesse sonho vislumbrar…<br />
Mas que afinal o pintor<br />
Não lhe conseguiu dar cor…<br />
Pois talvez seja o poeta,<br />
Na sua imaginação,<br />
Que possa alcançar tal meta.<br />
Com um pouco d’inspiração…<br />
Em 3 de Outubro de 2009<br />
NOTA: O Livro de poemas (oferta do Boavida Pinheiro à APE), “CEM POEMAS... Diversos” está a venda na<br />
Associação pelo preço de 13E.
3º. Prémio – soneto<br />
(um soneto antigo que adaptei ao tema “a solidão tem dedos de veludo”)<br />
António Barroso<br />
(19460120)<br />
JOgOs FLORAIs DE CAsTELO DE VIDE – 03/10/2009<br />
Solidão<br />
É bem triste viver-se acompanhado<br />
De tanta gente, à volta, à nossa beira,<br />
Mas não ter ninguém a nosso lado,<br />
Ter só a solidão por companheira.<br />
Um ombro amigo, alguém interessado<br />
Em conversa sublime ou mais ligeira<br />
É, tantas vezes, momento esperado,<br />
Como fogo que aquece na lareira.<br />
Mas o mundo que, em correria louca,<br />
Louva e bajula mas, abaixo, apouca,<br />
E vai, sem compaixão, calcando tudo,<br />
Não sabe o que é viver no abandono,<br />
Mãos frias afagando o nosso Outono,<br />
Que a solidão tem dedos de veludo.<br />
1º. Prémio do Xii concurso Literário Algarve - brasil / 2009 - tema livre<br />
Eu penso que a consciência<br />
É um Deus dentro de nós,<br />
Fala à nossa inteligência,<br />
Concede o perdão sem voz.<br />
2º. Prémio do concurso de Quadras Populares do clube da simpatia,<br />
Olhão - tema “Ânimo”<br />
Ter ânimo ante a desgraça<br />
Que, por todo o lado, adeja,<br />
É ajudar a quem passa<br />
Sem se importar de quem seja.<br />
escritas<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 45
Escritas<br />
Os TUPINAMbÁs: O CICLO gUERRA-VINgANÇA-ANTROPOFAgIA<br />
Retomo o tema dos dois últimos<br />
artigos que publiquei<br />
sobre História do Brasil, sobre<br />
algumas das suas sociedades<br />
ameríndias. Aviso<br />
que alguns dos factos relatados neste<br />
artigo são, ou podem ser, chocantes.<br />
Vimos ( nos artigos que publiquei<br />
nos Boletins N.ºs 211 e 212) vários aspectos<br />
da vida<br />
dos Tupinambás,<br />
descendentes dos<br />
Tupis, que ocuparam<br />
grande parte<br />
da costa brasileira<br />
depois de expulsarem<br />
os seus<br />
anteriores habi-<br />
José G. B. Pereira<br />
(19510211)<br />
tantes, mas a sua<br />
divisão em grupos<br />
rivais deu<br />
origem a um estado<br />
de guerra per-<br />
manente.<br />
No segundo artigo começámos a<br />
tratar o ciclo guerra – vingança – antropofagia,<br />
que hoje continuaremos,<br />
baseados na bibliografia indicada e<br />
especialmente no testemunho presencial<br />
do alemão Hans Staden, feito<br />
prisioneiro em meados de 1554, após<br />
um naufrágio junto à costa perto da<br />
povoação de S. Vicente.<br />
O seu cativeiro durou cerca de<br />
nove meses aguardando vez de ser<br />
devorado no cerimonial em uso, e, entretanto,<br />
ia testemunhando a tortura<br />
e devoração de outros prisioneiros.<br />
Foi salvo por um resgate oportuno<br />
dos franceses que, nesta época, tudo<br />
faziam para ocupar aquela região do<br />
Brasil que abrangia a baía da Guanabara<br />
(Rio de Janeiro).<br />
Ora, como vimos, a guerra era<br />
identificada como a principal instituição<br />
das sociedades tupi- guaranis,<br />
com particular realce para a tupinambá,<br />
sendo considerada como o<br />
mecanismo central da reprodução social<br />
e de manutenção do equilíbrio<br />
cosmológico.<br />
Eram encarados como potenciais<br />
inimigos os grupos locais com quem<br />
não existissem laços de aliança. Daí<br />
que as guerras intertribais assumissem,<br />
frequentemente, um carácter endémico,<br />
tanto com o objectivo de conquistar<br />
habitats privilegiados, como<br />
para superar tensões internas e capturar<br />
inimigos. Também se podia<br />
46 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
considerar como objectivo, o de favorecer<br />
o crescimento dos grupos maiores<br />
e de fraccionar os grupos menores<br />
até que sucumbissem. Esta actuação<br />
pode ser ilustrada através da estratégia<br />
adoptada pelos Tamoios de atacar<br />
incessantemente os Temiminós e os<br />
Maracajás, até os confinar a alguns<br />
núcleos, onde seriam gradualmente<br />
exterminados. Essas intenções não se<br />
concretizaram plenamente, porque,<br />
entretanto, chegava o período da colonização<br />
e, o que restava do grupo perseguido,<br />
como nos diz André Thevet,<br />
encontrou refúgio e protecção nas<br />
áreas controladas pelos Portugueses.<br />
O estado de guerra a que estas sociedades<br />
se entregavam frequentemente,<br />
como observa Carlos Fausto,<br />
não conduzia à subjugação, nem à escravização<br />
ou à extracção de tributos<br />
por uma elite cada vez mais poderosa,<br />
que erguia monumentos ao seu<br />
próprio poder. O que produzia era<br />
um movimento peculiar, voltado literalmente<br />
para o consumo de inimigos<br />
– não de sua força de trabalho, mas de<br />
suas capacidades subjectivas – sendo<br />
que tudo que deles restava eram bens<br />
imateriais: nomes, cantos e memória.<br />
Fazer prisioneiros, por exemplo, é<br />
em si um acto que depende da capacidade<br />
de uma partida atacante de evitar<br />
contra-ataques e emboscadas<br />
quando do seu regresso a casa. Quando<br />
a partida atacante é pequena e<br />
quando tem de percorrer distâncias<br />
consideráveis através de regiões em<br />
que o inimigo pode retaliar antes de<br />
se atingir território seguro, a captura<br />
de inimigos pode ser totalmente posta<br />
de parte. Nestas circunstâncias, só<br />
se podem trazer pedaços do inimigo<br />
para validar a contagem de corpos essencial<br />
a reclamação das recompen-<br />
sas sociais e materiais, reservadas à<br />
excelência e bravura no combate. Daqui<br />
vem o costume de trazer cabeças,<br />
escalpes, dedos e outras partes do<br />
corpo em lugar do cativo vivo. (Marvin<br />
Harris, Canibais e Reis, Lisboa,<br />
Edições 70, 1990, p. 149) Havendo<br />
poucos prisioneiros, o seu tratamento<br />
temporário (quase como convidados)<br />
não é de surpreender. Sejam<br />
quais forem as ambivalências psicológicas<br />
profundas que possam existir<br />
nos espíritos dos captores, o prisioneiro<br />
é uma posse valiosa – uma posse<br />
por quem os seus anfitriões arriscaram<br />
literalmente a vida. Contudo,<br />
não havendo geralmente maneira de<br />
o absorver no grupo, e uma vez que<br />
não pode ser enviado de volta para o<br />
inimigo, tem de ser morto. E a tortura<br />
tem a sua economia macabra própria.<br />
Se ser torturado é, como se diz, morrer<br />
mil mortes, então torturar um pobre<br />
cativo é matar mil inimigos. Observa<br />
Harris que a tortura é também<br />
um espectáculo, que tem sido posto à<br />
prova para aprovação das audiências<br />
ao longo das épocas.<br />
No que concerne às interpretações<br />
dos rituais antropofágicos, Marvin<br />
Harris não se satisfaz com algumas<br />
teorias elaboradas na tradição freudiana<br />
que afirmam que a tortura, o sacrifício<br />
e o canibalismo são inteligíveis<br />
como expressões de instintos de amor<br />
e de agressão. Como acontece que as<br />
vítimas são por vezes tratadas com<br />
amabilidade antes de dar início à sua<br />
tortura, esta situação levou alguns autores<br />
a sugerirem que os executores<br />
estão apenas a reconstituir a sua relação<br />
de amor-ódio com os seus pais.<br />
Porém, considera Harris que estas<br />
abordagens iludem a questão de que<br />
o acto de comer prisioneiros de guerra,<br />
não pode ter lugar, sem que haja as<br />
guerras em que eles são capturados.<br />
Além disso, os prisioneiros nem sempre<br />
são amimados, torturados, sacrificados<br />
e comidos, e qualquer teoria<br />
que pretenda explicar porque ocorre<br />
este complexo deve ser também capaz<br />
de explicar por que não ocorre.<br />
Vejamos a opinião de Hans Staden<br />
acerca do canibalismo praticado pelos<br />
Tupinambás:<br />
«Fazem isto, não para matar a<br />
fome, mas por hostilidade, por
grande ódio, e quando na guerra<br />
escaramuçam uns com os outros,<br />
gritam entre si, cheios de fúria:”<br />
Debe marãpá xe remiu ram begué,<br />
sobre ti cáia toda desgraça, tu és<br />
meu pasto. Nde acanga ajucá aipotá<br />
curi ne, quero ainda hoje moerte<br />
a cabeça. Xe anamapoepica que<br />
ze aju, aqui estou para vingar em<br />
ti a morte dos meus amigos. Nde<br />
roó, xe mocaen serã ar eima riré,<br />
etc. tua carne hoje ainda, antes que<br />
o sol se deite, deve ser meu manjar”.<br />
«Isto tudo fazem por imensa<br />
hostilidade». (Hans Staden, Duas<br />
viagens ao Brasil, Belo Horizonte,<br />
Editora Itatiaia L.da, 988, p. 176)<br />
A execução ritual podia tardar vários<br />
meses. Nesse intervalo, o cativo<br />
vivia na casa de seu captor, que lhe cedia<br />
irmã ou filha como esposa; a sua<br />
condição só se alterava nas vésperas<br />
da execução, quando era reinimizado<br />
e submetido a um rito de captura,<br />
para, a seguir, ser morto e devorado.<br />
Era um momento especial no ciclo<br />
de vida das sociedades ameríndias e<br />
estava ligado a concepções sobre o<br />
prestígio e o destino póstumo. Vários<br />
autores salientam a centralidade da<br />
guerra e da antropofagia ritual entre<br />
os Tupinambás, considerando que<br />
eram dispositivos cruciais na articu-<br />
lação dos conjuntos multicomunitários,<br />
ocupando uma posição que, em<br />
outros sistemas nativos, caberia à circulação<br />
de bens de prestígio e utilidades.<br />
(Carlos Fausto, Os índios antes<br />
do Brasil, 3.ª ed., Rio de Janeiro, Zahar<br />
Ed.2005, p. 80)<br />
O ritual antropofágico<br />
Vejamos como se passava este ritual.<br />
Sigamos o testemunho ocular de<br />
Staden, que diz dada passagem do<br />
seu livro:<br />
«Fazem então uma fogueira, a dois<br />
passos mais ou menos do escravo, de<br />
sorte que este necessariamente a vê, e<br />
uma mulher se aproxima correndo<br />
com a maça, o ibirapema, ergue ao<br />
alto as borlas de pena, dá gritos de<br />
alegria e passa correndo em frente do<br />
prisioneiro a fim de que ele o veja. Depois<br />
um homem toma o tacape, coloca-se<br />
com ele em frente do prisioneiro<br />
para que ele o aviste. Entrementes<br />
afasta-se aquele que o vai matar, com<br />
outros treze ou catorze, e pintam os<br />
corpos de cor plúmbeos, com cinza.<br />
«Quando retorna ao prisioneiro,<br />
com os seus companheiros, para o pátio,<br />
entrega-lhe o tacape aquele que com<br />
ele se acha em pé, em frente ao capturado;<br />
vem então o principal da cabana,<br />
toma a arma e mete-lhe entre as pernas.<br />
Consideram isto uma honra.<br />
«A seguir retoma o tacape aquele<br />
que vai matar o prisioneiro e diz: “ Sim,<br />
aqui estou eu, quero matar-te, pois tua<br />
gente também matou e comeu muitos<br />
dos meus amigos”. Responde-lhe o<br />
prisioneiro: “ Quando estiver morto,<br />
terei ainda muitos amigos que saberão<br />
vingar-me”. Depois golpeia o prisioneiro<br />
na nuca de modo que lhe saltam<br />
os miolos, e imediatamente levam as<br />
mulheres o morto, arrastam-no para o<br />
fogo, raspam-lhe toda a pele, fazendo-o<br />
inteiramente branco [...]». (Hans Staden,<br />
op.cit., p. 182)<br />
Era habitual as velhas precipitarem-se<br />
para beber o sangue quente e<br />
as crianças mergulhavam as mãos<br />
nele. O corpo era cortado em quartos<br />
e assado, enquanto «as velhas que<br />
eram as que mais ansiavam pela carne<br />
humana lambiam a gordura que<br />
caía dos paus que formavam a grelha».<br />
( Marvin Harris, op.cit., p. 147)<br />
Observa, ainda, Hans Staden:<br />
«Quem matou o prisioneiro recebe<br />
ainda uma alcunha, e o principal<br />
escritas<br />
da choça arranha-lhe os braços, em<br />
cima, com o dente de um animal selvagem.<br />
Quando esta arranhadura<br />
sara, vêem-se as cicatrizes que valem<br />
por ornato honroso. Durante esse dia,<br />
deve o carrasco permanecer numa<br />
rede, em repouso. Dão-lhe um pequeno<br />
arco, com uma flecha, com que<br />
deve passar o tempo, atirando num<br />
alvo de cera. Assim procedem para<br />
que seus braços não percam a pontaria,<br />
com a impressão da matança.<br />
Tudo isso eu vi, e assisti». (Hans Staden,<br />
op.cit., p. 185)<br />
O procedimento que adoptavam<br />
para com os prisioneiros foi descrito<br />
por Staden nestes termos:<br />
«Dão de comer bem ao prisioneiro.<br />
Conservam-no por algum tempo e<br />
então se preparam. Para tanto fabricam<br />
muitas vasilhas, nas quais põem<br />
suas bebidas e queimam também vasilhame<br />
especial para os ingredientes<br />
com que o pintam e enfeitam. Além<br />
disso fazem borlas de penas, que<br />
amarram ao tacape com que o matam.<br />
Fabricam também uma longa corda,<br />
chamada mussurana. Com esta o<br />
amarram, antes de executá-lo». (Hans<br />
Staden, op.cit., p. 179)<br />
Por fim, para comemorar, segundo<br />
Alfred Métraux, os guerreiros reuniam-se<br />
numa pequena elevação, bebendo<br />
caulim, executando danças e<br />
cantos em honra de seu maracá, a que<br />
agradeciam a ajuda recebida.<br />
Fontes<br />
Hans Staden, Duas viagens ao Brasil, Belo<br />
Horizonte, Editora Itatiaia L.da, 1988 [1.ª<br />
ed. língua alemã, Magdeburgo, 1557]<br />
Bibliografia<br />
Jorge Couto, A Construção do Brasil, 1.ª<br />
edição, Lisboa, Cosmos, 1995.<br />
Carlos Fausto, Os índios antes do Brasil,<br />
3.ª ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, Editor,<br />
2005 [1.ª ed. 2000]<br />
Marvin Harris, Canibais e Reis, Col. Perspectivas<br />
do Homem, Lisboa, Edições 70,<br />
1990 [Cannibal and Kings-The origins of cultures,<br />
1.ªed. líng. inglesa, 1977]<br />
Alfred Métraux, La Religion des Tupinamba<br />
et ses rapports avec celle des autres tribus Tupi-Guarani,<br />
Paris, Lib. Ernest Leroux, 1928.<br />
André Thevet, As Singularidades da França<br />
Antárctica, Belo Horizonte, S. Paulo, 1978<br />
[1.ª ed. 1557]<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 47
Cultura &<br />
Actualidade<br />
OSistema Solar é composto<br />
pelo Sol, oito planetas e<br />
respectivas luas, alguns<br />
planetas anões (como Plutão)<br />
e milhares de asteróides<br />
e cometas. Na antiguidade, para<br />
além da Terra, eram apenas conhecidos<br />
os cinco planetas mais próximos<br />
do Sol (de Mercúrio a Saturno), visíveis<br />
à vista desarmada. Apesar de incompreendido,<br />
o movimento dos planetas<br />
era tido como perfeito e regular,<br />
pois tudo o que se encontrava na esfera<br />
celeste estava estreitamente relacionado<br />
com o divino.<br />
Gerações de<br />
astrónomos e matemáticosprocuraramcompreender<br />
estes movimentos,<br />
sendo a<br />
explicação mais<br />
bem sucedida a de<br />
Alexandre<br />
Morgado Correia<br />
Kepler por volta<br />
de 1605, que mostrou<br />
que os planetas<br />
se moviam em<br />
torno do Sol em<br />
órbitas com a forma de elipses. Estes<br />
movimentos eram periódicos, extremamente<br />
regulares e previsíveis, tendo<br />
esta descoberta contribuído grandemente<br />
para a revolução científica<br />
levada a cabo durante o século XVII.<br />
A questão da evolução e sobretudo<br />
da estabilidade do Sistema Solar foi<br />
colocada um pouco mais tarde, com a<br />
descoberta da lei da gravitação universal<br />
de Newton, publicada em 1687.<br />
A partir desta lei extremamente simples,<br />
Newton conseguiu demonstrar<br />
as leis de Kepler para um sistema formado<br />
pelo Sol e por apenas um planeta.<br />
Porém, como o Sistema Solar era<br />
48 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
EVOLUçÃO E ESTABILI<strong>DA</strong>DE DO SISTEMA SOLAR<br />
composto por mais do que um planeta,<br />
estes também deveriam interagir<br />
gravitacionalmente uns com os outros,<br />
conduzindo a perturbações nas<br />
suas órbitas. A principal consequência<br />
destas perturbações é que modificam<br />
as órbitas ao longo do tempo, alterando<br />
assim a sua configuração inicial.<br />
Foi aliás a partir de perturbações<br />
na órbita de Urano que se conseguiu<br />
prever a existência de Neptuno, descoberto<br />
em 1846. Embora as órbitas<br />
actuais dos planetas sejam regulares<br />
e impeçam colisões entre eles, ao evoluírem<br />
poderia haver a possibilidade<br />
de alguns planetas se aproximarem<br />
demasiado e a estabilidade do sistema<br />
ser posta em causa. Este problema<br />
fascinou os cientistas até aos dias de<br />
hoje.<br />
Cedo se compreendeu que tantos<br />
asteróides, como cometas eram facilmente<br />
destabilizados das suas órbitas<br />
actuais; daí o elevado número de crateras<br />
observadas, por exemplo, na<br />
Lua. Mas com os planetas os cálculos<br />
não eram tão fáceis e, apesar das órbitas<br />
variarem ao longo do tempo, estas<br />
variações aparentavam ser cíclicas.<br />
Durante o século XVIII, Laplace e Lagrange<br />
demonstraram que as órbitas<br />
eram estáveis, quando se tinham em<br />
conta apenas as perturbações mais<br />
importantes (ditas de primeira ordem).<br />
Já no século XIX, Poisson e<br />
Poincaré mostraram que este resultado<br />
é ainda válido para as perturbações<br />
de segunda ordem. A estabilidade<br />
do Sistema Solar parecia assim estar<br />
assegurada. Porém, Poincaré notou<br />
que as perturbações de ordem<br />
superior, apesar de extremamente pequenas,<br />
continham termos não lineares<br />
que poderiam crescer em importância<br />
com o tempo e dar origem a<br />
comportamentos caóticos e imprevisíveis.<br />
Só na segunda metade do século<br />
XX, com o surgimento dos super computadores<br />
foi possível simular a evolução<br />
do Sistema Solar de uma forma<br />
rigorosa. A natureza caótica do sistema<br />
foi confirmada, o que complicou<br />
ainda mais a questão da estabilidade:<br />
o sistema actual pode evoluir em direcções<br />
diferentes, algumas estáveis,<br />
mas outras possivelmente instáveis.<br />
A resposta final a esta questão chegou<br />
apenas em 2009, num artigo publicado<br />
em Abril por Jacques Laskar (Observatório<br />
de Paris), na prestigiada<br />
revista Nature. A evolução do Sistema<br />
Solar foi simulada em 2500 computadores<br />
diferentes, cada uma com<br />
condições inicias ligeiramente diferentes<br />
(dentro das incertezas de medição<br />
nas órbitas actuais). Concluiuse<br />
que durante os próximos 5 mil milhões<br />
de anos (o tempo de vida estimado<br />
para o Sol), 99% das simulações<br />
eram estáveis. Porém, existe a probabilidade<br />
de 1% da órbita de Mercúrio<br />
aumentar de tamanho de forma significativa,<br />
vindo perturbar as órbitas de<br />
Vénus, da Terra e de Marte. Nesta situação,<br />
observaram-se colisões entre<br />
todos estes planetas. Ao contrario do<br />
que se pensou ao longo de muitos séculos,<br />
podemos dizer hoje que o Sistema<br />
Solar não é estável, embora a probabilidade<br />
de este poder vir a ser destruído<br />
seja extremamente baixa.
SEXISMOS - SERá A LíNgUA SEXISTA?<br />
PPilar del Río, mulher do<br />
prémio Nobel e presidente<br />
da Fundação José Saramago,<br />
acha que sim. Disse ela,<br />
em entrevista ao DN<br />
(6/07/08): «Só os<br />
ignorantes é que<br />
me chamam presidente».<br />
Pilar del<br />
Río considera-se<br />
«presidenta». Para<br />
chegar a «presidenta»<br />
teve de se<br />
esforçar e ser boa<br />
Ana Martins<br />
«estudanta», possivelmente<br />
até «di-<br />
rigenta» estudantil; enfim, ontem,<br />
como hoje, «amanta» das letras.<br />
Estou a parodiar, claro, mas note-se que<br />
o dicionário Porto Editora (2006) já regista<br />
«presidenta», a par de «presidente».<br />
Mas, curioso, se presidente figura aí<br />
como sendo um substantivo masculino<br />
e feminino, para que serve «presidenta»?<br />
Possivelmente, para ir ao encontro da<br />
declaração de vontade de mulheres e<br />
homens que embandeiram a igualdade<br />
dos sexos.<br />
Mas, atenção, que este igualitarismo não<br />
desemboca numa solução uniforme.<br />
Há quem defenda que se transmute o<br />
género das palavras a eito para passarmos<br />
então a ter «generalas», «majoras»,<br />
«oficialas», etc. E para os casos<br />
em que a morfologia da palavra já<br />
contempla os dois géneros, há quem<br />
advogue em favor de uma terceira: em<br />
vez de «actriz», «actora»; em vez de<br />
«embaixatriz», «embaixadora»…<br />
Acresce que Natália Correia considerava-se<br />
«poeta», e não «poetisa»; e a nossa<br />
maestrina, Joana Carneiro, diz que é<br />
«maestro» …Outro exemplo: no rescaldo<br />
das eleições autárquicas, o jornal Públi-<br />
Ana Cristina de Sousa Martins<br />
A. Borges Pires &Associados - Sociedade Civil de Advogados, RL<br />
ÁREAS PREFERENCIAIS:<br />
DIREITO LABORAL, DIREITO COMERCIAL, DIREITO CIVIL,<br />
CONTENCIOSO CIVIL, LABORAL E COMERCIAL<br />
António Borges Pires: abp@scadvogados.com<br />
Henrique Santos Pereira: hsp@scadvogados.com<br />
Cultura &<br />
Actualidade<br />
co noticiou que Valentim Loureiro chorou<br />
por três mulheres: «As três são os<br />
vereadores que Valentim perdeu nas últimas<br />
eleições» (Público, 5/11/09).<br />
Aquilo que se conclui, para já, é que<br />
uma potencial mudança a este nível<br />
nunca seria estrutural ou sistemática:<br />
veja-se, só a título de exemplo, que<br />
«governanta» não é um simples feminino<br />
de «governante» …<br />
E o que fazer com os pronomes neutros,<br />
que coincidem com a forma de masculino,<br />
como «isso» e «ele», em «Isso é que<br />
era bom» ou «Ele há cada coisa! …»<br />
A língua reflecte o pensamento dominante?<br />
Claro que sim, porque a língua<br />
é praxis social. Não há dicionário ou<br />
“declaração de autoridade” capaz de<br />
estipular o que deve ser dito, seja essa<br />
imposição motivada por uma perspectiva<br />
normativista da língua, seja por<br />
esta ou por aquela deriva ideológica.<br />
É Doutora em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Investigadora do<br />
Centro de Linguística da Universidade do Porto e Bolseira da FCT para realização de pós-doutoramento<br />
em Aquisição de Português Língua Segunda na Universidade de Lisboa<br />
RUA RODRIGO <strong>DA</strong> FONSECA, 24, PISO 6, 1250-193 LISBOA | TEL.: +351 213 712 630 / FAX: +351 213 712 631<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 49
Cultura &<br />
Actualidade<br />
Sofia W. Pontares<br />
Hipertensão arterial (não controlada)<br />
Aterosclerose<br />
Hipercolesterolémia<br />
Diabetes mellitus<br />
Doenças reumatológicas e cardíacas<br />
50 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
QUERER é PODER... cOM SAÚDE<br />
Nesta edição do boletim resolvi falar-vos de um problema que, infelizmente, atinge cada vez<br />
mais pessoas em todo o Mundo, e do qual certamente muitos já ouviram falar: o Acidente<br />
Vascular Cerebral (AVC).<br />
O QUE É?<br />
Um AVC consiste numa situação resultante da diminuição ou ausência do fluxo sanguíneo e,<br />
consequentemente, de oxigénio ao nível dos tecidos das estruturas encefálicas, ocorrendo uma rápida<br />
perda da função neurológica. Neste contexto, consideram-se dois tipos de AVC: os isquémicos<br />
(por falta de suprimento sanguíneo) e os hemorrágicos (ruptura de um vaso sanguíneo cerebral).<br />
É POssÍVEL PREVENIR?<br />
Como em todas as doenças vasculares, e outras, o melhor tratamento passa pela prevenção, pelo<br />
que é importante identificarmos os factores de risco, para os podermos combater:<br />
Idade (aumento da idade associado a uma maior probabilidade de ocorrência)<br />
Sexo (até aos 50 anos os homens apresentam maior propensão; depois dessa idade<br />
o risco iguala-se)<br />
Obesidade (por aumento do risco de hipertensão arterial, diabetes...)<br />
Anticoncepcionais hormonais<br />
Consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo<br />
COMO IDENTIFICAR UM AVC?<br />
Há alguns sinais e sintomas que devemos saber reconhecer. Assim, pode ocorrer perda brusca do conhecimento,<br />
cefaleias fortes, agitação e ansiedade, e dificuldade de articulação das palavras ou de compreensão da linguagem. Simultaneamente<br />
pode ocorrer um compromisso motor, traduzido em descoordenação, perda de equilíbrio, ou até incapacidade<br />
de realização de certos movimentos (ex.: andar), com diminuição/perda da força na face, braço ou perna de um dos<br />
lados do corpo. Palidez, sudorese, insensibilidade a estímulos tácteis (pode haver sensação de dormência) e anisocória<br />
(pupilas de tamanhos diferentes) são também sinais a ter em conta, para além da paralisia facial, com repuxamento da<br />
comissura labial para um dos lados.<br />
O QUE FAZER?<br />
Se verificar o aparecimento súbito de falta de força num braço, boca ao lado e/<br />
ou dificuldade em falar, ligue de imediato 112 (número nacional de emergência).<br />
Nestas situações não deve recorrer ao hospital pelos seus próprios meios, pelo que o<br />
Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) orientará os doentes para o hospital<br />
adequado, onde será feito o diagnóstico e iniciado o trata ento adequado. É fundamental<br />
percebermos que, se estes sinais forem reconhecidos a tempo, ligar o 112 é a forma<br />
mais rápida de ser tratado, e de avistar um prognóstico mais favorável.<br />
Têm sido diversas as campanhas de prevenção e promoção da saúde desenvolvidas no nosso país nos últimos anos,<br />
e o AVC não foi excepção. Neste âmbito, foi lançado recentemente um programa de sensibilização pública intitulado<br />
“Seja mais rápido que um AVC”. Para mais informações pode consultar o site do INEM (www.inem.pt), o Portal da Saúde<br />
(www.min-saude.pt/portal/) ou o site do Alto Comissariado da Saúde (www.acs.min-saude.pt/). Se estiver alerta<br />
pode salvar a sua vida e a dos outros!
5 Dias, partida à Quinta-feira<br />
e regresso Segunda-feira<br />
Quando viajar<br />
Dependendo do gosto de cada um,<br />
não esquecendo que o Inverno é muito<br />
frio, a Primavera ou até mes mo o Verão,<br />
serão as alturas<br />
mais agradáveis.<br />
Como viajar<br />
Como a TAP<br />
não voa directamente<br />
para Berlim,<br />
a solução é adquirir<br />
um bilhete via<br />
Frankfurt ou Zurique.<br />
Como mínimo<br />
Fernando B. Pires<br />
(19550275)<br />
programar um fimde-semanaprolongado,<br />
esta sugestão<br />
de 5 dias permite<br />
ver o essencial e ficar com uma ideia<br />
muito boa sobre esta importante cidade.<br />
Para este efeito, dispondo de poucos<br />
dias, a viagem deverá ser muito bem<br />
planeada, tanto no que diz respeito aos<br />
locais a visitar como na utilização do<br />
tempo disponível. A Internet e um livro<br />
Guia de viagem são muito úteis. O Aeroporto<br />
de Tegel fica a cerca de 8 quilómetros<br />
do centro da cidade, para lá chegar<br />
pode-se optar pelo autocarro, carreira<br />
109, que pára junto à estação de<br />
caminho de ferro e do jardim zoológico,<br />
na zona de Kufurstendamm, ou então<br />
pelo táxi até ao hotel escolhido.<br />
Onde ficar<br />
Na zona do Kufurstendamm – na<br />
antiga área ocidental, perto do Jardim<br />
Zoológico e da Estação de caminho de<br />
ferro – encontram-se bons hotéis, facilidade<br />
de transportes e bons Restaurantes.<br />
Mesmo em frente à Igreja, em ruínas<br />
da guerra (Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche),<br />
sai o “city tour” “Hop on<br />
Hop off”.<br />
Locais a visitar<br />
Uma das melhores formas de visitar<br />
esta cidade é, logo no primeiro dia, de<br />
manhã bem cedo, embarcar num dos<br />
autocarros “Sightseeing Hop On Hop<br />
Off” e fazer uma primeira volta comple-<br />
ta por toda a cidade, depois, seguindo as<br />
instruções do mapa que nos entregam,<br />
planear as paragens conforme os locais<br />
que queremos visitar mais em detalhe.<br />
Para mencionar a lista, mais ou menos<br />
completa, por áreas, dos locais a visitar,<br />
a cidade de Berlim está organizada<br />
da seguinte maneira: Unter den Linden<br />
(onde se encontram as Portas de Brandenburger,<br />
o Museu da História da Alemanha<br />
a Ópera Estatal e o Gendarmenmarkt,<br />
entre outros); Ilha dos Musesus<br />
(onde se encontra a Catedral e o Altes<br />
Museum com destaque para a colecção<br />
de antiguidades gregas e romanas);<br />
Tiergarten (onde se encontra a Praça de<br />
Potsdamer, o Palácio Bellevue, a Casa de<br />
Cultura Mundial, O Reichstag e a Estátua<br />
do soldado soviético); Kreuzberg<br />
(onde fica o Checkpoint Charlie – célebre<br />
fronteira entre os sectores america-<br />
no e soviético –, a Topografia dos Horrores<br />
– escavações no local onde era a antiga<br />
sede da Gestapo e dos SS que tem patente<br />
uma exposição de fotografias bastante<br />
chocantes sobre os crimes nazis –<br />
O Museu de Berlim e o Museu Judaico);<br />
Kurfustendamm (onde fica o Jardim<br />
Zoológico e a Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche);<br />
A leste do Centro (onde se<br />
encontra a Alexanderplatz e a Câmara<br />
Municipal).<br />
Moeda e custos<br />
Como é sabido na Alemanha a moeda<br />
é o Euro.<br />
O preço da viagem de ida e volta,<br />
com escala em Zurique, para duas pessoas,<br />
ronda os 733€.<br />
O preço duma noite, para 2 pessoas,<br />
BERLIM Viagens<br />
& Lazer<br />
no Swisshotel (5 estrelas) ronda os 180€,<br />
e os Restaurantes da zona de Kurfustendamm<br />
são bons e os preços são razoáveis.<br />
Se optar pela compra dum pacote<br />
completo o custo da viagem para duas<br />
pessoas e hotel de 4 estrelas, para 3 noites,<br />
poderá orçar os 1.100,00€.<br />
O custo do táxi, do aeroporto para o<br />
centro da cidade ronda os 15 euros e demora<br />
cerca de 15 minutos.<br />
O preço do city tour Hop on Hop Off<br />
ronda os 12€. Lembro que esta modalidade<br />
de tour permite viajar e percorrer<br />
todo o circuito o número de vezes que se<br />
pretender durante um dia inteiro. O<br />
percurso tem um determinado número<br />
de paragens que permite entrar e sair<br />
sempre que se pretende. Esta é uma maneira<br />
fácil de se visitar todos os pontos<br />
de maior interesse turístico da cidade.<br />
Mas, como a cidade é extensa e os locais<br />
a visitar são muitos, um dia não será suficiente<br />
para se efectuar o circuito completo.<br />
As redes de metropolitano e autocarros<br />
são muito boas.<br />
Recomendações<br />
Para que gosta de sentir os locais que<br />
visita, esta é uma cidade onde, apesar de<br />
haver muito por onde andar a pé, não se<br />
torna tão cansativo por ser quase tudo<br />
em terreno plano. O vestuário deverá<br />
ser prático e o calçado confortável e próprio<br />
para caminhar<br />
Informações úteis<br />
Não é necessário passaporte nem<br />
visto de entrada. Sendo país da EU basta<br />
a apresentação do BI ou cartão de Cidadão.<br />
O comércio está aberto normalmente<br />
das 10 da manhã às 8 da noite e aos<br />
Sábados encerra às 4 da tarde.<br />
Berlim tem uma hora mais do que<br />
Portugal<br />
A não perder<br />
Para além dos passeios a pé nas zonas<br />
do Reichstag e portas de Brandenburger,<br />
percorrer a Alexanderplatz,<br />
Potsdamerplatz e a Topografia dos horrores,<br />
exposição fotográfica junto às escavações<br />
das antigas sedes das SS e Gestapo.<br />
Associação dos Pupilos do Exército | 51
Viagens<br />
& Lazer<br />
PASSATEMPOS<br />
GeocachinG: uma “caça ao tesouro”<br />
dos tempos modernos<br />
O geocaching é um passatempo de ar livre,<br />
por muitos considerado também como um<br />
desporto. Este passatempo consiste em encontrar<br />
uma “cache” colocada em qualquer local<br />
(há caches por todo o mundo), com a ajuda de<br />
um GPS (Sistema de Posicionamento Global).<br />
Uma cache típica é uma pequena caixa, ou tupperware, fechada e à prova de água, que<br />
contém um livro de registos (logbook) e alguns objectos, tais como lápis, moedas ou<br />
bonecos para troca. Para muitos, incluindo os geocachers, este passatempo pode ser<br />
Margarida Pereira considerado um jogo, uma actividade ou mesmo apenas uma razão para passear e co-<br />
(1977.1051)<br />
nhecer locais que doutra forma muito dificilmente conheceriam. Apesar de acessível<br />
a todos, por vezes esta actividade pode obrigar a um esforço físico significativo, dependendo<br />
do local onde foi escondida. Por isso, as geocaches são classificadas de 1 a 5, consoante o seu grau de<br />
dificuldade. O grau de dificuldade varia muito, havendo caches escondidas em parques públicos, monumentos,<br />
cidades, até caches escondidas em altas montanhas, desertos e até na Antártida.<br />
Uma das características desta actividade é, pelo menos idealmente, estar associada a alguma consciência<br />
ambientalista. Deve, por isso, ser feito um esforço no sentido de preservar a natureza. Um verdadeiro<br />
geocacher deverá remover o lixo (caso ele exista) das áreas onde pratica geocaching. Deverá, assim, deixar<br />
o local em igual ou melhor estado do que o que encontrou (Cash in, Trash out).<br />
Numa cache tradicional o geocacher coloca um livro de registos, caneta ou lápis e os pequenos tesouros.<br />
Os “donos” das caches anotam as coordenadas (latitude e longitude) e estas, juntamente com mais informações<br />
sobre o local do esconderijo, são publicadas na Internet. Cabe aos ”descobridores” consultarem<br />
essa informação e, com receptores GPS partirem à descoberta. Quando bem sucedidos, devem registar o<br />
achado nessa página da net, bem como deixar os seus “vestígios” no logbook existente dentro da cache. Os<br />
geocachers são livres de colocar ou retirar objectos da cache, de modo a haver sempre uma recordação<br />
para trazer.<br />
Há vários tipos de caches:<br />
Micro-cache: (as mais comuns são caixas de rolos fotográficos)<br />
Multi-cache: são necessários, um ou mais pontos intermédios para determinar as coordenadas da<br />
cache final<br />
Cache-mistério: O geocacher terá que resolver um enigma para encontrá-la<br />
Cache-evento: um encontro de geocachers<br />
Virtual: local a visitar, sem caixas escondidas, mas que tem que ter algo bonito ou interessante. A visita<br />
tem que ser “provada” através da revelação de algo que garanta que o geocacher esteve presente.<br />
Se não conhecia esta actividade, experimente um dia destes. Pode ser praticada em família ou em pequenos<br />
grupos, mas é sempre uma forma diferente de ocupar, ao ar livre, algum do seu tempo de lazer. Eu<br />
já experimentei e gostei!<br />
Endereço internet: www.geocaching.com<br />
Humor (rir faz bem ao coração) :<br />
A professora pergunta ao menino:<br />
- O que é que queres ser quando fores grande?<br />
- Quero ser o Pai Natal!<br />
- Porquê?<br />
- Porque assim só trabalho uma vez por ano!<br />
52 | Associação dos Pupilos do Exército<br />
- Pai, hoje fui expulso da escola.<br />
- O quê??? O que é que fizeste?<br />
- Meti dinamite debaixo da<br />
cadeira da professora.<br />
- Maldito! Vais já à escola pedir<br />
desculpas à tua professora!<br />
- Qual escola?!?