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eVOcAçÕes cróNicAs cuLturA & ActuALiDADe NOticiAs DA APe ...

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Orgão de informação, cultura e recreio da Associação dos Pupilos do exército, Fundado em Julho de 1943<br />

Boletim<br />

AssOciAçãO DOs PuPiLOs DO eXÉrcitO<br />

ANO LXV - N.º 215<br />

<strong>NOticiAs</strong> DO imPe<br />

Imposição de Insígnias<br />

Abertura do Ano Lectivo<br />

convívio de alunos e veteranos<br />

<strong>NOticiAs</strong> <strong>DA</strong> <strong>APe</strong><br />

Encontro de Veteranos<br />

Pupilos Distinguidos<br />

<strong>cróNicAs</strong><br />

A Gala<br />

Forte Coimbra<br />

Outubro a Dezembro 2009<br />

<strong>eVOcAçÕes</strong><br />

O Cigarro<br />

Azares de um Burro<br />

PubLicAçãO<br />

trimestrAL<br />

distribuição<br />

gratuita<br />

aos sócios<br />

Preço de caPa<br />

4.00 euros<br />

issN N.º 1645 - 975x<br />

<strong>cuLturA</strong> &<br />

<strong>ActuALi<strong>DA</strong>De</strong><br />

Sistema Solar<br />

Sexismos


BOLETIM <strong>DA</strong> ASSOCIAÇÃO<br />

DOS PUPILOS DO EXÉRCITO<br />

EDITORIAL<br />

Publicação Trimestral<br />

ano LxiV- N.º 215 - outubro a dezembro de 2009<br />

ProPriedade da<br />

associação dos PuPiLos do exÉrcito<br />

rua Major Neutel de abreu, N.º 20 s/l - e<br />

1500-411 Lisboa<br />

telefone: 217 782 980 - Fax: 217 788 694<br />

e-mail: ape@ape.pt<br />

apexercito@gmail.com<br />

website: http:\\www.ape.pt<br />

boletim.ape@gmail.com<br />

FuNdador:<br />

alberto silva santos Lino<br />

director:<br />

américo de abreu Ferreira<br />

editor eMÉrito:<br />

augusto dias<br />

edição e Produção:<br />

Fernando Pires<br />

MarKetiNg e PubLicidade:<br />

José rosado<br />

redacção:<br />

david sequerra, augusto dias,<br />

rui telo, José Lencastre<br />

coLaboradores (nesta edição):<br />

ana sousa Martins, aníbal duarte Ferreira,<br />

alexandre correia, antónio b. Pinheiro, antónio<br />

J. barroso, antónio ribeiro da silva, cândido<br />

de azevedo, duran clemente, Filipe santos,<br />

Humberto Lola dos reis, Jacinto rego de almeida,<br />

J. F. Leandro, José g. b. Pereira, Licínio granada,<br />

Mariana terra da Mota, Margarida W. Pereira,<br />

Paulo Mendes Pinto, Pedro sabali, sofia Pontares,<br />

rui Vargas.<br />

execução grÁFica e iMPressão<br />

sMiprint - artes gráficas e design, Lda.<br />

Núcleo empresarial | rua de entremuros,<br />

54 arm. t | 2660-533 são Julião do tojal<br />

tel.: 21 011 73 19 | smiprint@mail.telepac.pt<br />

issN: 1645-975x<br />

depósito Legal: 98621/96<br />

tiragem: 1.100 exemplares<br />

<br />

Os artigos publicados são da exclusiva<br />

responsabilidade dos autores<br />

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Untitled-1 1 09/12/21 16:58:28<br />

Foto da Capa: Fernando Pires<br />

Acabámos de iniciar o ano em que Portugal comemora<br />

os 100 anos do regime republicano. Sendo os Pupilos<br />

do Exército uma escola fruto da revolução de 5<br />

de Outubro, tal não significa necessariamente que<br />

os seus antigos alunos sejam todos republicanos.<br />

Contudo, nos traços que nos unem, há vestígios do mais simples,<br />

do mais profundo e salutar humanismo que herdámos desse<br />

momento genesíaco de 1910.<br />

Liberdade, Igualdade, Fraternidade, são chaves ideológicas que os<br />

republicanos de há um século retiraram da Revolução Francesa.<br />

A Fraternidade é a Mãe do espírito dos que, em 1932, criaram o,<br />

então, Grémio dos Pupilos do Exército.<br />

Hoje, tão premente como em 1919 ou em 1932,<br />

a Fraternidade tem que ser o que nos une,<br />

muito para além do que cada um de nós conseguiu<br />

em termos de sucesso ou de reconhecimento<br />

público. A Fraternidade nasce, enquanto<br />

ideia, da palavra latina frater, irmão.<br />

Américo Ferreira<br />

(19650038)<br />

- Presidente da<br />

Direcção<br />

É isso que se coloca como desafio neste século<br />

XXI, nesta abertura do ano em que a República<br />

comemora os seus 100 anos.<br />

Todos dizem estar o associativismo em crise.<br />

Mas todos afirmam serem as estruturas associativas<br />

o foco futuro do amparo e do apoio<br />

social que os Estados cada vez menos conseguem proporcionar.<br />

A APE não tem os meios para se constituir com essa função. Mas<br />

a APE deve, cada vez mais, procurar os seus associados que necessitam<br />

de apoio. Não pela institucionalização, mas pela reunião<br />

de boas vontades, devemos construir uma associação que<br />

possa ser o estandarte da proximidade que nos irmana aos sermos,<br />

todos nós, pilões.<br />

Neste ano de 2010, os desígnios que levaram á fundação dos Pupilos<br />

do Exército, se bem que com linguagens diferentes, são da<br />

maior actualidade.<br />

A APE, herdeira desses desígnios, apela aos seus membros para<br />

que a dotem do indispensável à prossecução desses valore:<br />

apoiar os mais necessitados.<br />

Existem alunos que estão a estudar na “nossa casa” e que não o podem<br />

fazer com a mínima dignidade ou que, pior, não poderão prosseguir<br />

com esses estudos se não forem auxiliados financeiramente.<br />

A Nossa capa<br />

a valorizar, intensamente, o convívio dos ex-alunos veteranos, a presença<br />

dos actuais alunos, felizes pela oportunidade de conhecer os “cotas”,<br />

constituiu um momento de raro simbolismo. a imagem ajuda a perceber<br />

como foi magnífica a convivência de 13 de Novembro.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 5


editorial / Ficha técnica ...............<br />

sumário / Nota do editor .............<br />

evocações ...........................................<br />

O Cigarro, Uma Foto... À Lupa, Rapidissímas,<br />

Soltas, Apontamento, No<br />

Pilão. Encontro com o Passado - X,<br />

Azares de um Burro, Desvanecer, A<br />

Propósito de Comandantes de Batalhão,<br />

Lembrando Ruy Cinatti.<br />

crónicas ..............................................<br />

A Gala, Reflexões: Dos Claustros à<br />

Madalena, Um Outro Olhar, Portugueses<br />

Pelo Oriente, A Última Fronteira:<br />

Forte Coimbra, Os Meus Cães.<br />

Noticias da <strong>APe</strong> ...............................<br />

Pupilos Distinguidos, Praça CMG FZE<br />

Rebordão de Brito, Marketing e Comunicação<br />

Política, Stock Options, Importante<br />

Debate Sobre Formação Profissional,<br />

O Veterano, Os “Dozemais”, Festa<br />

de Natal da APE, Almoço de Natal da<br />

APE, O Que Representam Estas Pinturas?,<br />

10ª Mini Maratona de Portugal<br />

Vodafone, Novos Sócios, Vamos à Índia<br />

em 2010?, Gonçalo Vasconcelos Santos<br />

Couceiro, Obituário, Almoço em<br />

Loures, Comemoração dos 50 Anos de<br />

Saída do IMPE, Almoço de 13/XI.<br />

bibliografia ........................................<br />

Leituras & Públicações Recebidas<br />

Noticias do imPe .............................<br />

Imposição de Insígnias, Cerimónia de<br />

Abertura Solene do Ano Lectivo, O<br />

IMPE Recebeu O Galardão Bandeira<br />

Verde, O IMPE nas Comemorações<br />

do Museu da Presidência da República,<br />

Marcante Presença no 1º de Dezembro,<br />

Mensagem Exarada.<br />

escritas ...............................................<br />

A Cor do Vento,Jogos Florais de Castelo<br />

de Vide, Os Tupinambás<br />

cultura e Actualidade ....................<br />

Evolução e Estabilidade do Sistema<br />

Solar, Sexismos, Querer é Poder...<br />

Com Saúde.<br />

Viagens & Lazer ...............................<br />

Viagem a Berlim<br />

Passatempo<br />

6 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

SUMáRIO<br />

OUTUBRO A DEZEMBRO DE 2009<br />

1<br />

2<br />

4<br />

16<br />

26<br />

34<br />

36<br />

40<br />

44<br />

47<br />

5<br />

22<br />

29<br />

37<br />

42<br />

44<br />

47<br />

NOTA DO EDITOR<br />

Neste número a rubrica a Voz dos Pilões<br />

não aparece porque não foram<br />

atingidos os objectivos a que nos propusemos<br />

e que passavam pelo desafio,<br />

a toda a nossa comunidade “pilónica”,<br />

para participar na renovação do Boletim.<br />

Não queremos desistir deste objectivo, antes<br />

pelo contrário, pretendemos sim repensar e<br />

construir um novo modelo que seja mais apelativo<br />

e que produza os resultados pretendidos. O<br />

seu autor, Manuel Barbosa Pereira, irá apresentar<br />

uma nova proposta no próximo número.<br />

Mas, já que falamos na reacção dos nossos leitores,<br />

registe-se que tivemos o grato prazer de receber<br />

respostas e comentários sobre o nosso trabalho.<br />

Foram comentários e criticas positivas e<br />

construtivas que registo e que se sobrepõem a<br />

um caso isolado que considero menos justo.<br />

Continuamos a contar com novos colaboradores<br />

e com o regresso de quem já escreveu nestas páginas.<br />

Temos uma nova rubrica da autoria da<br />

professora Ana Cristina Sousa Martins, familiar<br />

de “pilão”, uma crónica de Mariana Terra<br />

Mota, neta de “pilão”, a estreia do Lola dos Reis e<br />

os regressos do Paulo Mendes Pinto e do António<br />

Ribeiro da Silva. Os nossos agradecimentos<br />

pela sua colaboração e votos para que a suas<br />

contribuições se mantenham por muito tempo.<br />

O programa Viagens APE é para continuar mas,<br />

como a primeira proposta, Viagem à Índia, ainda<br />

não produziu resultados significativos, chamamos<br />

a atenção para a folha que juntamos a<br />

esta edição, que, ao ser devolvida, para a sede da<br />

APE, devidamente preenchida, deverá ser acompanhada<br />

de cheque bancário (cruzado) de 500€,<br />

referente ao pagamento da inscrição.<br />

Na sequência das acções que estamos a desenvolver,<br />

de modo a garantir a concretização desta<br />

viagem, iremos realizar, na primeira quinzena<br />

de Janeiro, na sede da APE, um colóquio sobre a<br />

Índia orientado por um especialista do Operador<br />

que, em parceria com o Boletim da APE, organiza<br />

este programa.<br />

Fernando Baptista Pires<br />

(1955.0275)


Evocações<br />

Oespaço por debaixo do refeitório,<br />

na primeira Secção,<br />

era, no meu tempo, e quando<br />

as secções ainda se encontravam<br />

divididas para<br />

Comércio e Indústria – já lá vão mais de<br />

sessenta anos – um espaço aberto onde,<br />

no canto oposto às escadas que dão<br />

acesso ao refeitório e claustros, se encontrava<br />

também a barbearia.<br />

Este pequeno preâmbulo serve para<br />

situar um local com múltiplos usos,<br />

desde abrigo da chuva, antecâmara<br />

para revisão de<br />

matérias para o<br />

ponto que se iria<br />

ter a seguir, biblioteca<br />

de leitura das<br />

aventuras do “Cavaleiro<br />

Andante”,<br />

que algum abastado<br />

comprara, escri-<br />

António Barroso<br />

(19460120)<br />

tório onde se combinavam<br />

assaltos<br />

aos “comes”, anfiteatro<br />

de exaltação à<br />

última exibição da<br />

equipa portuguesa no campeonato<br />

mundial de hóquei, captada através<br />

duma galena na noite anterior, ou santuário<br />

de iniciação, às escondidas, do vício<br />

do tabaco, através dumas primeiras fumaças<br />

cujas tossidelas iniciais não impediam<br />

a continuação, isto sob a orientação<br />

de quem já era perito na matéria.<br />

Adquirido o vício, o grande problema<br />

era alimentá-lo.<br />

É certo que havia os comerciantes<br />

de tabaco avulso, usurários que, apenas<br />

por trinta centavos, vendiam um cigarro,<br />

ou dois por cinquenta centavos, mas<br />

porque se vivia sempre numa situação<br />

8 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

O cIgARRO<br />

de crise, e o deficit orçamental excedia<br />

sempre os limites do autorizado, tornava-se<br />

dificílimo conseguir tão grande<br />

quantia. Quando isso sucedia, era então<br />

aquele lugar que servia de esconderijo<br />

aos fumadores onde, perante a aproximação<br />

de alguém estranho, um “chui”<br />

oportuno fazia desaparecer quaisquer<br />

vestígios do delito.<br />

Outro local também muito utilizado<br />

para o efeito, era a Madalena, mas aí a entrada<br />

só era permitida aos consagrados,<br />

àqueles que recebiam uma boa mesada,<br />

ou tinham a possibilidade de “fanar” os<br />

cigarritos que os coitados dos putos julgavam<br />

ter bem escondidos. Assim, à miudagem<br />

só restava aquele lugar, em frente<br />

da parada, ou qualquer outro que oferecesse<br />

uma certa camuflagem.<br />

Foi deste modo que adquiri esse<br />

maldito vício, de que me desvinculei,<br />

com enorme sacrifício, somente há cerca<br />

de uma década. Dependia da pequena<br />

nota ensebada – mas tão agradável<br />

ao tacto – de vinte escudos, que meu pai<br />

me mandava a cada dois meses, duns<br />

cravanços que ia efectuando, mas cuja<br />

persistência levava a diminuir a sua eficácia,<br />

ou então da venda de serviços.<br />

Neste último caso, e porque, desde<br />

novo, mostrei sempre uma certa habilidade,<br />

ou jeito, para alinhavar uns quantos<br />

escritos, havia sempre quem recorresse<br />

aos meus serviços para escrever<br />

uma carta à namorada ou à pretendente.<br />

Consoante os casos e de acordo com<br />

a complexidade da situação (por vezes<br />

até metia uma pequena poesia que encarecia<br />

o contrato), assim cobrava três<br />

ou cinco cigarros o que, à falta de concorrência<br />

até eram preços bastante em<br />

conta.<br />

Vejam pois as voltas que tinha de dar<br />

ao bestunto para sustentar a dependência.<br />

Recordo-me até que havia duas palavras<br />

de que fazia um uso bastante regular<br />

- galicismo e pleonasmo -cujos significados<br />

não sei se, na altura, estariam<br />

bem apreendidos. Estivessem ou não,<br />

eram duas palavras que me despertavam<br />

enorme prazer e que muito me faziam<br />

subir no conceito dos interessados.<br />

Tenho em mente que muitas das minhas<br />

cartas começavam sempre da mesma<br />

forma “Não são precisos rendilhados de<br />

frase, nem pleonasmos ou galicismos...”<br />

frase que por ninguém era conhecida,<br />

uma vez que nunca se mostravam, aos<br />

outros, as cartas de amor.<br />

Bem, adiante.<br />

Porque naquela idade, 14/15 anos,<br />

não me apercebia ainda das dificuldades<br />

por que meu pai passava, e a nota<br />

bimensal era insuficiente para as minhas<br />

necessidades, resolvi escreverlhe,<br />

com a ousadia da juventude, a coragem<br />

do forte e... a segurança da distância.<br />

Assim, comecei com umas frases<br />

cheias dos tais rendilhados que atrás<br />

referi, a que fui introduzindo umas certas<br />

considerações filosóficas, para acabar<br />

num choradinho pungente. Só uma<br />

pessoa muito dura não se comoveria<br />

com descrição tão dramática dum caso<br />

a precisar de resolução urgente.<br />

Resumindo, informava-o de que fumava<br />

e precisava de dinheiro para o tabaco.<br />

Passada cerca de uma semana, recebi<br />

uma carta de meu pai que, apressada<br />

e sofregamente, abri, com euforia, pensando<br />

que o meu pedido tinha resultado<br />

e que, dentro daquele envelope, poderia<br />

estar o pequeno rectângulo por<br />

que tanto ansiava. Nada, apenas uma<br />

pequena folha de papel onde meu pai,<br />

no seu escrever simples, directo e vernáculo,<br />

me dizia:<br />

Meu filho:<br />

A carta que escreveste na segunda,<br />

recebia-a, com agrado, na terça,<br />

e respondo-te, já na quarta<br />

para que ainda a recebas na quinta,<br />

e, então, pensares bem na sexta,<br />

que se não deixas de fumar no sábado,<br />

levas uma carga de porrada no domingo.<br />

Coincidência ou não, passados dois<br />

ou três dias, recebi uma carta da minha<br />

avó, com a nota que eu pretendia.


David Sequerra<br />

(19430333)<br />

UMA FOTO… À LUPA! Evocações<br />

Data: 25 – Maio – 1943 (32º aniversário do Instituto)<br />

Local: Oficina de Carpintaria (2ª Secção) domínio especial dos Mestres Fernandes e Pereira, dois dos 8<br />

figurantes da foto.<br />

Relevo principal: O do Marechal Óscar Fragoso Carmona, de clássico chapéu de coco, muito<br />

atento às explicações técnicas do Mestre Fernandes com o Coronel Henrique Santos Nogueira, a seu<br />

lado.<br />

Mais nomes: Do General Tasso de Miranda Cabral, grande amigo “pilónico” e do Major Bastos Lima,<br />

Regente da 2ª Secção, além do sóbrio e diligente Mestre Pereira (Carpintaria Civil).<br />

Ficam por reconhecer o senhor de chapéu cinzento, com vistoso emblema da M.P. na lapela e o<br />

Oficial Superior da Armada, á direita do General Miranda Cabral.<br />

A foto, devidamente datada, pertence ao espólio memorativo da nossa Associação.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 9


Evocações<br />

Embora já “velhota” (relativamente) esta rubrica mereceu<br />

juízo de continuidade na renovação “boletinesca”<br />

de que tanto se espera. Continuará a ser aligeirada colectânea<br />

de algumas notas ao correr da pena, falando de “pilões”<br />

e suas tão variadas peripécias, sempre de uma forma<br />

rapidíssima.<br />

Assim sendo, sob o signo da continuidade, mantemos<br />

o expediente de dar conta dos “arquitectos” de cada edição,<br />

os colaboradores, sempre inspirados, recebidos de<br />

braços abertos e lidos avidamente.<br />

Na penúltima edição de 2009 (Boletim 214), já sob a<br />

tutela do novo “chefão”, Fernando Pires, a cifra atingiu os<br />

22 inspirados “pilões” com a honrosa companhia de um<br />

notável cientista, o Prof. Dr. Alexandre Morgado Correia,<br />

da Universidade de Aveiro, candidato à condição de “honoris<br />

causa”. O “record” absoluto do número de colaboradores<br />

está para breve.<br />

Com apreciável direito a notável e renovado grafismo,<br />

muito “abonecado” em fotos de Fernando Pires (parabéns!),<br />

o número de “arquitectos da escrita” que deram<br />

vida nova ao mais recente Boletim quedou-se pelos 22,<br />

ainda um pouco distante do “record” a que temos feito referência<br />

mas com a valia adicional de um bom naipe, de<br />

novidades, tais como as do Jacinto d’Almeida e de Duran<br />

Clemente sem desdouro dos demais. Vamos no bom caminho,<br />

rumo às comemorações dos 100 anos do Instituto<br />

e ao saudarmos os “novatos” nestas andanças “boletinescas”<br />

não esquecemos alguns dos “faltosos” da edição 214,<br />

tais como Teodoro Rita, o Dagoberto e o Orlando Junça,<br />

todos eles indispensáveis para os tempos próximos.<br />

E, felizmente, vai sendo difícil “encaixar” todas as colaborações<br />

“pilónicas” em menos de 60 páginas...<br />

Já temos tido ensejos de sublinhar e aplaudir a variedade<br />

de opções profissionais de ex-alunos, da Medicina<br />

à Religião, das Artes à Literatura. Um rico manancial<br />

que muito valoriza o quase centenário Instituto. Mas<br />

creio que em tal desfile de méritos e vocações nunca tinha<br />

aparecido quem houvesse trilhado uma carreira diplomática,<br />

de muito bom nível, como a do Jacinto d’Almeida<br />

(1952.0049) por terras de Vera Cruz, além Atlântico.<br />

Após várias décadas de afastamento, esse nosso colega<br />

“pilão” regressou às origens, no coração do Ribatejo,<br />

exactamente Alcanhões, a “dois passos” da velha Scalabis<br />

romana. Ficámos a saber da sua diáspora mercê do<br />

apreciado texto de sua autoria no mais recente número<br />

do “Boletim”, com apetecida promessa de continuidade.<br />

O Jacinto escreve bem, tem obra publicada e muito<br />

10 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

RAPIDISSíMAS<br />

A sAgA DOs “bRIDgEDEIROs” - E NãO só<br />

Do regressaDo Jacinto D’almeiDa<br />

ao ficcionista rui telo<br />

para nos contar. Vai agora completar 67 anos (ante-véspera<br />

do Natal) e esteve no Instituto entre Outubro de 1952 e<br />

Agosto de 1961. Benvindo Jacinto d’Almeida. Salve!<br />

Rui Vargas é um caldense<br />

O de adopção e, embora um<br />

pouco distante da capital, merece<br />

o elogio do permanente<br />

interesse que mantém para<br />

com o “Boletim”.<br />

É um dos mais destacados<br />

membros da “geração de continuidade”<br />

que conta com “pilões”<br />

de boa estirpe como o<br />

Lencastre, o Albuquerque, o<br />

David Rosado e a devotadíssima<br />

Margarida Pereira, entre outros mais. Tem vindo a<br />

destacar-se na área de investigação biográfica de ex-alunos<br />

distinguidos e julgamos que será um dos bons pilares de<br />

apoio para o novo leader Fernando Pires. Recentemente,<br />

voltámos a conviver de perto com o Rui caldense e gostámos<br />

das suas ideias e bem vincada devoção associativa.<br />

Com o “Zé” Oliveira e o Rui Vargas não há dúvida que<br />

os “pilões” estão muito bem representados nas Caldas da<br />

Rainha.<br />

Membros da extensa família “pilónica” que fazem<br />

pela vida bem longe da “santa terrinha” são muitos<br />

– e bons! Sem citar nomes, refiro-me a largas dezenas de<br />

ex-alunos a exercerem meritórias actividades em Angola,<br />

Macau, Espanha, França, Bélgica, Canadá, Estados Unidos<br />

e, logicamente, Brasil. E abro aqui a excepção referindo-me,<br />

em concreto, ao Eng.º Cláudio Barroso (1961.0117),<br />

perseverante alentejano (Vila Viçosa), já doutorado, de<br />

notável carreira Técnica, mal aproveitado em Portugal,<br />

muito bem aceite no Brasil.<br />

Através do seu irmão primogénito, recente “aquisição”<br />

do Boletim como colaborador (poético e não só...) tivemos<br />

notícias do Cláudio, em vésperas das suas “bodas<br />

de ouro” como aluno novo. Parabéns pelos êxitos profissionais<br />

e... até breve!<br />

Quem venha mais vezes até à nossa Associação – e deviam<br />

ser em maior número os visitantes! Sabe-se<br />

quem são os denominados “bridgedeiros”, quase todos<br />

militares, incluindo autênticos brigadeiros, agora referenciados<br />

como Major-General, o que faz alguma confusão<br />

para uns quantos, entre os quais nos incluímos. Mas<br />

adiante, para falarmos dos tão convictos brigadeiros da


APE, às 3ªs e 5ªs feiras com o “Sor” Mourão e também o<br />

diligente Almeida (1948.0221) a servirem de acolhedores<br />

cicerones.<br />

E quem são e o que fazem de verdade os nossos “bridgedeiros”?<br />

Jogam “bridge” para além de conviverem com<br />

agrado e algum abastecimento de líquidos no bar vizinho.<br />

São todos eles Oficiais-Superiores, de muito bom timbre,<br />

conhecidos “pilonicamente” desde há muito. O veterano<br />

do grupo é o Jaime Leite (1941.0031) e o principal<br />

“mirone” bem treinado em dicas apreciativas, é o António<br />

Madeira Peste (1943.0321), uma espécie de jogador de<br />

bancada, apto a intervir.<br />

Tais práticas de “bridge”, belíssimo exercício de memória<br />

e de treino de raciocínio, são para maiores de 60anos de<br />

idade (ou mais...). Meritoriamente, é através dessa “rapaziada”<br />

que a Associação se anima mais 10 horas por semana.<br />

Ainda bem! E VIVAM as “bridgedeiros”!<br />

Rui Cabral Telo é um “pilâo” de especialíssimos atri-<br />

O butos: escreve bem, convive muito bem, tem piada<br />

fácil e gosta muito da APE. É um dos bons componentes<br />

da equipa do Boletim e vai, por certo, desculpar-nos da<br />

pequena “traição” de revelarmos que tem praticamente<br />

pronta uma muito interessante obra literária sob o sugestivo<br />

título de “Pedras Negras de Vermelho”.<br />

Já pudémos ler alguns trechos de mais essa produção<br />

“teliana” e gostámos francamente. Talvez possamos voltar a<br />

falar da obra no próximo “Boletim”, publicando até algum<br />

extracto da sua deliciosa prosa. É para continuar, Rui!<br />

Há bem pouco tempo, ao longo de Outubro p.p., muito<br />

se falou de Amália Rodrigues sob a égide de justíssima<br />

homenagem à diva do fado, de excepcional repercussão<br />

internacional. Muito se disse e muito se publicou<br />

para a louvável posteridade e não nos passou despercebido<br />

o conjunto de referências a um dos seus mais categorizados<br />

acompanhantes, o “pilão” José Nunes (1925.0373)<br />

de quem os mais antigos ex-alunos no nosso convívio<br />

ainda se lembram bem - Augusto Dias, “Manel” Espírito<br />

Santo, José Nascimento, Armando Rosas, etc.<br />

Daí a inclusão deste lembrete nestas “Rapidíssimas”<br />

evocações<br />

evocando mais um caso de um “pilão” em evidência: o<br />

guitarrista José Nunes, caloiro de 1925, habilidoso nato,<br />

muito senhor de si mesmo, componente de uma muito<br />

louvável geração de “pilões” muito dedicados à APE, tais<br />

como o Fernando Pimenta, Hugo Baptista, Joaquim Rodrigues<br />

de Carvalho, Pinto Marques, Ludgero, Pinto Bastos<br />

(Gica),etc.<br />

Nascido no Porto (Santo Ildefonso), em 28.12.1916, José<br />

Nunes (Alves Costa) entrou para o Instituto com 8 anos<br />

de idade (7.10.1925) para a tão “badalada” 3ª classe. Foi<br />

aluno até 24.07.1937, já com 20 anos de idade, ao nível do<br />

2º ano do Curso Médio de Engenharia (ME), não prosseguindo<br />

os estudos porque a “voz do fado” soou mais forte,<br />

com crescente qualidade artística, consagrada nos anos<br />

40, quando Amália Rodrigues começava a destacar-se.<br />

Se não fosse tão reservado e optasse por 100% de guitarrista,<br />

José Nunes teria ido mais longe. Mas, de pleno direito,<br />

faz parte da emocionante História do Fado, de prestígio<br />

reflexo para o “Pilão”.<br />

ideia-força do muito re-<br />

A cente almoço de veteranos<br />

(maiores de 65 anos, entrados<br />

no “Pilão” até 1955) foi<br />

de plena oportunidade e alargado<br />

interesse.<br />

Creio que o rastilho da feliz<br />

iniciativa coube ao Carlos Albuquerque<br />

(1949.0219) que<br />

bem merece menção honrosa.<br />

Pleno de optimismo pensou ser possível reunir muito<br />

perto de 200 convivas, fasquia super-elevada e, por isso,<br />

não atingida. Mas foi bom como se relata noutras páginas<br />

desta edição, deixando em aberto o desejo de repetição<br />

em 2010 já com muita informação sobre as comemorações<br />

do Centenário. A “malta” de 1966 e 1967, categorizados<br />

sessentões, vai ter acesso. E o Carlos Albuquerque,<br />

sempre entusiasta, vai continuar a pensar no “batalhão”<br />

de 200 componentes.<br />

D.S.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 11


Evocações<br />

NOTAS<br />

Na sua época (anos 40) o Dagoberto Campos Lima, popularizado<br />

como “Alfarazes” (1940-0246) marcou<br />

presença “pilónica” muito especial. A partir de 1950, encetou<br />

uma carreira de sucessos e pode hoje, já “oitentão”,<br />

considerar-se um homem feliz. E isso por variadas razões<br />

com particular relevo para se poder orgulhar (... e muito!)<br />

dos seus descendentes – uma Médica e dois Engenheiros,<br />

Um dos mais antigos e devotados associados, o C.Alm.<br />

Humberto Lola dos Reis (1941.0159), após um difícil<br />

período de limitações físicas como rescaldo de um antigo<br />

acidente, está agora em plena recuperação, voltando aos<br />

as recentes eleições autárquicas (Out.09) houve “pi-<br />

N lões” em planos de evidência, com especial destaque<br />

para Carlos Teixeira e Joaquim Gomes que renovaram<br />

os seus mandatos como presidentes das Câmaras Municipais<br />

de Loures e de Almeirim, respectivamente.<br />

Em Lisboa, o José Vitorino Cardoso da Silva não se recandidatou<br />

para o exercício de Vereador, apesar do bom<br />

Reforçando perspectivas de repetida presença olímpica,<br />

em Londres (2012), o “pilão” Joaquim Videira obteve,<br />

recentemente, um muito honroso 5º lugar no “Mundial”<br />

de Espada, entre mais de uma centena de atiradores,<br />

perdendo por muito pouco acesso ao podium (13-15 no<br />

combate decisivo). Se conseguir, como se espera, conju-<br />

Recente reforço do “núcleo duro” da nossa Associação,<br />

devotando-lhe a novidade do seu tempo livre, após<br />

tão meritória carreira profissional, o Fernando Pires teve,<br />

no nº 214 do nosso “Boletim” auspiciosa estreia como seu<br />

Editor, renovando, ampliando a rede de colaboradores e<br />

Tal qual o dito espirituoso de Vasco Santana, sobre os<br />

chapéus, podemos dizer que lapsos há muitos, sob a<br />

capa de desculpáveis imprecisões.<br />

No âmbito “pilónico”, de raiz distinta, cabe-nos evocar<br />

duas delas em publicações recentes, de insofismável interesse.<br />

No pequeno opúsculo “VIVER O IMPE”, da autoria<br />

do Dr. Carlos Correia (1961.0167), contendo a oração protocolar<br />

da sessão de abertura de 2009/10, a pág. 6, com<br />

fotos elucidativas, diz-se que o Medina Carreira (“Jacaré”)<br />

foi o guarda-redes da badalada equipa dos 7-0 (em<br />

1948) e que o Nicolau Matias (“Perdigão”) era “ponta-delança”<br />

da mesma formação.<br />

Dois erros de uma só vez: o “keeper” dos 7-0 foi o “nosso”<br />

Coronel Caseiro, radicado tranquilamente em Tomar<br />

e um pouco fugidio das lides da A.P.E.<br />

12 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

sOLTAs<br />

DagoBerto lima – um homem feliz !<br />

lola Dos reis em Plena recuPeraÇÃo<br />

“PilÕes” & autarQuias<br />

JoaQuim ViDeira em Plena eViDÊncia<br />

ParaBÉns fernanDo!<br />

imPrecisÕes “PilÓnicas”<br />

de óptimas carreiras profissionais: Dagoberta, Pedro Miguel<br />

e João Carlos, cujos “curricula” ocupam mais de 10<br />

páginas!<br />

Em breve, na rubrica apropriada, pormenorizaremos<br />

esses CV de um tão notável “triunvirato”. Para o “Alfarazes”,<br />

antecipadamente, os nossos Parabéns.<br />

nossos regulares convívios e retomando a sua actividade<br />

artística como “hobbie” de muita qualidade. As melhoras<br />

e os votos de muita inspiração para novas telas que tanto<br />

apreciamos.<br />

exercício cumprido desde 2007.<br />

Na condição de “pilão” no jeito de “honoris causa”,<br />

por ser filho do “Zé” Caro Proença, o Eng. Vitor Proença<br />

voltou a ser eleito para a presidência da Câmara de Santiago<br />

do Cacém.<br />

Se houver mais casos similares, “apitem” por favor,<br />

completando esta notícia.<br />

gar bem as suas actividades profissionais como Engenheiro<br />

e as exigências de treino, Joaquim Videira não faltará,<br />

certamente, nos Jogos da XXXI Olimpíada, na capital<br />

britânica.<br />

Felicidades e muita genica “pilónica”.<br />

afirmando a sua boa “costela” de autêntico “pilão”<br />

Recebemo-lo de braços abertos e aqui estamos a endereçar-lhe<br />

os bem merecidos parabéns.<br />

É para continuar, Fernando!<br />

Aquele abraço. Salvé!<br />

Era o 277, de 1941 e nesse longínquo 1948 o Medina<br />

Carreira tinha só 16 anos e não se havia aventurado a ser<br />

“keeper”.<br />

O saudoso Nicolau, o 110 de 1940, era defesa direito<br />

ou, mais raramente central, quando o Clemente Ferreira<br />

abria vaga e na verdade, nunca foi émulo de ”Peyroteu”.<br />

—<br />

Também no livro dos C.B. (ed.2008), a pág. 75, diz-se<br />

que o 1977.0041, José Manuel Tavares Magro foi titular<br />

dos estrelinhas em 1986/87 quando tal distinção coube<br />

aos seu irmão, ambos descendentes directos do Manuel<br />

José (1946.0067), C.B. em 1953/54 e que foi informador<br />

atento desse lapso que hoje rectificamos, com as nossa<br />

desculpas á tão categorizada família Magro.<br />

Lapsos há muitos! – e nós vamos dando-lhe luta.<br />

D.S.


Lamentavelmente, ao longo do<br />

transacto mês de Outubro, muito<br />

se falou do Colégio Militar<br />

(bastante mais) e dos Pupilos do<br />

Exército (menos...) por idênticas<br />

razões – as de actos de violências praticados<br />

por alunos mais velhos em cumprimento<br />

de mais do que duvidosas (e<br />

repugnantes!) praxes.<br />

Com alguma dose de exagero, a que<br />

já estamos habituados, as manchetes de<br />

alguns jornais divulgavam situações insólitas<br />

que teriam ocorrido naqueles estabelecimentos<br />

de ensino, de cariz prómilitar,<br />

embora sem pormenores de circunstâncias<br />

e reportados a 2007/08.<br />

Tudo isso nos fez voltar aos longínquos<br />

tempos da minha meninice e adolescência<br />

vividos no PILÃO, durante um<br />

pouco mais de 9 anos, entre 1943 e 1952.<br />

Recorrendo aos confins da memória,<br />

a constante “matéria prima” destes meus<br />

“Apontamentos” dei por mim a perguntar-me<br />

se naquele período de tempo me<br />

recordava de quaisquer violências,<br />

agressões ou outros excessos dos mais<br />

velhos para com os mais novos, sob o negativo<br />

subterfúgio de cumprir praxes ou<br />

outras idiotices do género.<br />

E a resposta veio, firme e categórica:<br />

NÃO!<br />

Quanto muito uns “caldaços”, uns<br />

aligeirados tabefes ou bofetes, um mais<br />

enérgico puxão de orelhas ou uma chuli-<br />

TAbEFEs, CHULIPAs & CIA.<br />

pa bem dada que as nádegas suportavam<br />

bem. Só isso – e nada mais!<br />

Relembro, de mim próprio, uma<br />

“galheta”/tabefe aplicada por um graduado<br />

(Comandante de Companhia)<br />

em 1944/1945, já na 2ªSecção, sem que<br />

se consiga evocar o que terei feito para<br />

essa episódica punição.<br />

Meia dúzia de anos decorridos, também<br />

me lembro da minha condição de<br />

“agressor”, sei lá bem porquê, a um<br />

“puto” que eu achava demasiadamente<br />

acomodado e apático, tentando espevitálo<br />

com uns “caldos” e aligeirados sopapos<br />

quase que inofensivos, vincadamente<br />

amigáveis.<br />

Esse rapazinho, o 377 dos anos 50,<br />

“caixa-de-óculos” e pouco militarizado,<br />

espigou bem e depressa só o reencontrando,<br />

quase 40 anos depois, na condição<br />

de bem cotado Oficial do nosso Exército,<br />

sem lhe sentir qualquer espécie de<br />

azedume para comigo, antes achando<br />

“piada” aos espevitamentos recebidos.<br />

Ao que parece, infelizmente, esse espírito<br />

de controlada autoridade interna,<br />

com o seu quê de bonomia, tem-se degradado<br />

no nosso actual Instituto, sem<br />

atingir, todavia, os tão preocupantes<br />

contornos de violências cometidas no<br />

Colégio Militar. Serão múltiplas as hipóteses<br />

de explicação (!?...) para tais “cenas”<br />

mas todas elas, decerto, com o sinete reprovativo<br />

do inaceitável.<br />

APONTAMENTO Evocações<br />

E, coloca-se a dúvida: não haverá por<br />

trás de tais acusações elevadas doses de<br />

exagero e,ainda, “misteriosos” intuitos<br />

de deitar abaixo instituições que detém<br />

preciosas áreas urbanizáveis em Lisboa?<br />

**<br />

terminus ideal deste APONTA-<br />

C omo<br />

MENTO recorro à transcrição de um<br />

trecho da entrevista concedida pelo “piloníssimo”<br />

Augusto Dias ao seu devotado<br />

“neto”, a 40 anos de distância, José<br />

Lencastre (1954.0319). Atente-se bem:<br />

A vida interna – No que se refere às<br />

relações de amizade e entreajuda, entre<br />

os mais antigos e os jovens alunos, eram<br />

de uma maneira geral, muito afectivas e<br />

proteccionistas. Os alunos mais idosos<br />

protegiam e auxiliavam os mais novos,<br />

ajudando-os nos estudos e no convívio<br />

fraterno do quotidiano “pilónico”.<br />

E ainda naquela tão sumarenta entrevista<br />

podia ler-se o seguinte: “Naquele<br />

tempo não haviam as chamadas praxes...<br />

o que havia na 1ª Secção eram umas<br />

lutas nas camaratas ao deitar com as almofadas<br />

mas sem violências...”<br />

Deste jeito, junto ao magnífico depoimento<br />

do “xefe” Augusto a minha própria<br />

memória de uma década bem preenchida.<br />

Não se pode tomar por actos de<br />

nociva violência uns simples tabefes,<br />

episódicas chulipas ou “caldaços” à maneira.<br />

Para que conste!<br />

D.S.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 13


Evocações<br />

Corria tranquilamente o<br />

ano de 1950 ou 1951, mas<br />

não guardo memória do<br />

mês nem do dia. A manhã<br />

rompera fresca com o céu<br />

plúmbeo a prenunciar chuva e à cautela<br />

vesti a samarra, antes de deixar a<br />

minha camarata, na 1ª Companhia, a<br />

caminho do refeitório<br />

para o pequeno-almoço.<br />

Terminado este, o<br />

tempo amenizara,<br />

com uma fímbria<br />

de sol a romper as<br />

nuvens, desvane-<br />

Licínio Granada<br />

(19490154)<br />

cendo-se assim a<br />

ameaça de chuva.<br />

E o frio também<br />

abrandou, tor-<br />

nando-se agora desnecessária a samarra.<br />

Por isso, antes de partir para<br />

as aulas, na 2ª secção, em formatura<br />

militar, como era a regra nesse tempo,<br />

voltei à camarata com a intenção<br />

de ali deixar a samarra. Mas a porta<br />

encontrava-se fechada à chave e não<br />

encontrei forma de remediar este<br />

contratempo. Que fazer agora? Ao<br />

passar junto à casa do 1º sargento<br />

Quintas, bem perto da camarata,<br />

ocorreu-me solicitar à sua esposa o<br />

favor de me guardar a dita peça de<br />

vestuário até ao meu regresso das aulas<br />

nesse dia. Ao que a simpática senhora<br />

acedeu, sugerindo-me que deixasse<br />

a samarra num pequeno estendal<br />

existente à porta da sua residência,<br />

em local recolhido da passagem e<br />

acesso públicos. O casal Quintas<br />

eram pais do nosso colega José António<br />

Inês Quintas, o 156 de 1948, infe-<br />

14 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

NO PILÃO. ENcONTRO cOM O PASSADO – X<br />

histÓria atriBulaDa De uma samarra<br />

lizmente.<br />

Quando terminada na 2ª secção a<br />

actividade lectiva e o batalhão escolar<br />

retornou, no declinar da tarde, à<br />

quietude da 1ª secção, logo fui procurar<br />

a samarra no local onde a havia<br />

deixado. Mas – desoladora surpresa<br />

– aquela desaparecera sem deixar sinal.<br />

Contactada a esposa do 1º sargento<br />

Quintas, ela alegou nada saber<br />

do paradeiro da samarra nem se ter<br />

apercebido do seu desaparecimento.<br />

Procurei-a de imediato nos locais<br />

mais previsíveis, mas não encontrei<br />

qualquer rasto da mesma, embora<br />

conservando a esperança de que alguém<br />

viesse a encontrá-la e me fosse<br />

restituída. E enquanto as minhas<br />

buscas decorriam, intrigado perguntava<br />

a mim próprio o que seria feito<br />

da minha samarra, em que andanças<br />

a teriam metido. Certamente que ela<br />

não se volatilizaria e era facílima a<br />

identificação do aluno a quem pertencia,<br />

por ter o seu número cosido<br />

na gola. Até que, após tanto procurar,<br />

considerei perdida a negregada samarra.<br />

Entretanto decorrera cerca de<br />

uma semana quando recebo ordem<br />

para me apresentar ao comandante<br />

da minha Companhia, o major Castanheira,<br />

longe de prever o motivo dessa<br />

chamada. Logo que entro no gabinete<br />

deste, depara-se-me a sua figura<br />

robusta e altiva que de braço em riste<br />

me entrega a tão procurada samarra,<br />

sem fazer qualquer comentário, apenas<br />

murmurando num tom lacónico<br />

e seco: – Está aqui a tua samarra! Recebi-a<br />

com satisfação e alívio e agradeci<br />

com um convicto – Obrigado,<br />

meu major – Finalmente a samarra<br />

Muitas são as coisas maravilhosas,<br />

mas nenhuma maior do que o Homem.<br />

Sófocles (Antígona)<br />

apareceu. Sorte minha, pensei, enquanto<br />

dava o assunto por encerrado<br />

e fui pacatamente à minha vida. Porém,<br />

a história não acabava aqui.<br />

Para meu pesar, decorrida mais<br />

uma semana é publicado em “ordem<br />

de serviço” que o aluno nº 154 fora<br />

punido com “dois domingos privado<br />

de sair do Instituto “ por ter abandonado<br />

uma samarra à porta do 1º sargento<br />

Quintas.” Estas palavras bateram-me<br />

na mente e ecoaram pelo refeitório,<br />

onde aquele documento era<br />

habitualmente lido, deixando-me<br />

hirto de espanto, diria mesmo, com<br />

uma pontinha de revolta. Eu não tinha<br />

abandonado a samarra; guardara-a<br />

cuidadosamente fora da camarata<br />

por razões justificadas e empenhara-me<br />

na sua procura. Nunca soube<br />

(e também não adiantava saber) por<br />

que forma a malograda samarra chegou<br />

às mãos do major Castanheira.<br />

Por outro lado, também não nutria<br />

ilusões de que tendo em conta o espírito<br />

da época, de nada me valia voltar<br />

à sua presença e pôr a claro como<br />

tudo se passara. Restou-me encolher<br />

os ombros e conformar-me com a<br />

sanção. Cumpri a privação de sair e<br />

confesso que durante bastante tempo<br />

a imagem mental daquele superior<br />

me convulsionava. Até que tudo se<br />

dissipou no meu espírito. E se hoje<br />

conto esta pequena história, fi-lo porque<br />

ela se adequa ao tema da presente<br />

série memorialista que iniciei há<br />

quase três anos. Aqui fica, pois, mais<br />

esta breve resenha, fugaz percurso<br />

pelas veredas de um tempo que o incessante<br />

rodar dos anos há muito<br />

deixou para trás.


Evocações<br />

Nunca enviei para publicação no<br />

Boletim da Associação qualquer escrito.<br />

Ao ler o último Boletim, o nº 214,<br />

senti que o deveria fazer, embora não<br />

tenha dotes de bom escritor. Mas<br />

como a história, verídica, passada há<br />

muitos anos, para ser mais concreto<br />

em 1951, com mais dois ex-alunos que<br />

saíram dos Pupilos no mesmo ano do<br />

que eu e que comigo concorreram e<br />

entraram na Escola<br />

Naval, o Francisco<br />

dos Santos<br />

Domingues, também<br />

conhecido<br />

pelo “FIXE” e o<br />

Júlio Sebastião<br />

Aparício (infelizmente<br />

já falecido)<br />

H. Lola dos Reis<br />

tem muita graça,<br />

(19410159)<br />

será certamente<br />

bem recebida. Só<br />

espero que o Domingues, meu grande<br />

amigo de sempre, não leve a mal que<br />

eu dê publicidade ao acontecimento,<br />

tanto mais que já no passado a contei<br />

no Livro de Curso da Escola Naval. Na<br />

altura não ficou muito “encabulado”,<br />

pelo que, espero, após tantos anos<br />

passados, e quando já somos velhotes,<br />

ele não me leve a mal.<br />

Posso contar com isso, amigo Domingues?<br />

Então, com tua licença, cá vai a<br />

história.<br />

16 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

AZARES DE UM BURRO<br />

No final do último ano da Escola<br />

Naval, os cadetes do<br />

Curso de Administração<br />

Naval, faziam um estágio de<br />

cerca de um mês na Escola<br />

Prática de Administração Militar. O<br />

Aparício não foi porque estava doente.<br />

Como na referida Escola havia aulas<br />

de condução de “viaturas-auto”, nós pedimos<br />

para tirar a carta de condução.<br />

Deferido o pedido, o instrutor designado<br />

para nos dar as aulas era um tenente<br />

de Administração Militar, também exaluno<br />

do I. P. E. e nosso amigo, mas de<br />

quem já não me lembro o nome.<br />

Eu já sabia conduzir. O Ataíde (nosso<br />

colega vindo de um Instituto do Porto)<br />

tinha habilidade natural, mas o Domingues<br />

ficava sempre muito contraído<br />

quando se sentava ao volante e as coisas<br />

nem sempre lhe saíam bem. Portanto,<br />

teve mais dificuldades. Muitos anos depois,<br />

ele próprio reconhecia que assim<br />

era, mas, na altura, ficava sempre irritado<br />

quando “entravamos” com ele. Por<br />

isso o instrutor insistia mais com o amigo<br />

“Fixe”, o que o punha irritadiço e<br />

nervoso. As aulas práticas eram feitas<br />

numa velha carrinha militar “AUS-<br />

TIN”, daquelas com um assento à frente<br />

ao lado do condutor e dois bancos<br />

corridos atrás, um de cada lado da caixa.<br />

Os dois que não estavam a conduzir<br />

iam sentados nos bancos de trás, largando<br />

constantes piadas ao que ia ao<br />

volante, com as correspondentes gargalhadas<br />

pelas imperfeições sucedidas…<br />

Uma manhã, numa estreita rua de<br />

Lisboa, o instrutor virou-se para o Domingues,<br />

que conduzia, e alertou-o:<br />

- Domingues, cuidado com o burro!<br />

Efectivamente, a algumas dezenas<br />

de metros à frente, estava um burro parado,<br />

com as cangalhas cheias de mercadoria<br />

(hortaliça, fruta, etc.) que o<br />

dono estava a vender.<br />

- Estou a ver, foi a resposta!<br />

Mais uma dezena de metros percorridos<br />

e o instrutor voltou a falar, já com<br />

um tom de voz mais alto:<br />

- Domingues, olha o burro! Vai mais<br />

devagar!<br />

- Já disse que o estou a ver, respondeu<br />

o Domingues com muita convicção<br />

e autoconfiança.<br />

Passados mais uns metros…novo<br />

aviso e nova profissão de domínio da situação:<br />

- ESTOU A VER!<br />

Pois é, ver o burro via e muito bem,<br />

mas quando o instrutor tentou corrigir<br />

“a rota de colisão” e travar, já não foi a<br />

tempo e TRÁS … em cheio!<br />

Barulho, gritaria, protestos, o burro<br />

meio deitado a tentar levantar-se, as<br />

cangalhas viradas, a mercadoria rua<br />

fora, o dono do animal aos berros e a<br />

gesticular com o instrutor que tinha<br />

saído para tentar salvar a situação, e os<br />

dois cá atrás rindo com sadias gargalhadas,<br />

enquanto o amigo “Fixe”, sentado<br />

ao volante, olhava atónito e incrédulo<br />

para toda aquela barafunda e,<br />

possivelmente, repetindo para si que<br />

tinha a certeza absoluta de bem ter visto<br />

o burro…<br />

Hoje…passadas que estão duas gerações,<br />

também ele ri, e com que saudades,<br />

não é verdade meu bom amigo?


Não sei exactamente em<br />

que dia me cruzei pela<br />

primeira vez com o Cláudio.<br />

Teria eu uns 11 anos,<br />

escassos no que de vida<br />

eles implicavam, prenhes de convencimentos<br />

no que deitavam de esperanças<br />

para o futuro.<br />

Fizemos todos uma prova de ritmo<br />

para ver se algum de nós atingia o lugar<br />

mais desejado<br />

de todos: vir a ser<br />

o baterista da orquestra.<br />

O Professor<br />

Raul Miranda<br />

repetia, um a um,<br />

os gestos e as palmas<br />

que deveríamos<br />

imitar. Ao<br />

Paulo Mendes Pinto<br />

(19810353)<br />

nosso empenho,<br />

as mãos não respondiam<br />

no momento<br />

certo – isso<br />

de ter ritmo não era coisa simples,<br />

pensei então.<br />

Ao fim das rondas pelas turmas,<br />

fomos informados: um “puto” do 1º<br />

ano – um ano mais novo que nós! – tinha<br />

ficado com o lugar. Chamava-se<br />

Brito, anos mais tarde acrescentei<br />

Cláudio, quando a proximidade se realizou.<br />

Os anos passaram e o Cláudio Brito<br />

era tudo o que os restantes não conseguiam<br />

ser. Como ele marcava o início<br />

apoteótico do Jesus Christ Superstar<br />

que o Prof. Raul Miranda orquestrara!<br />

Ele era virtuoso num misto de<br />

simplicidade e de orgulho. Sabia o<br />

que fazia. Mais, sabia o que valia.<br />

Muitas vezes inacessível, o Cláudio<br />

era o único “puto” entre os mais velhos<br />

da orquestra. Ele não era um deles,<br />

mas também não era exactamente<br />

um de nós.<br />

Não sei se exagero, mas quebrando<br />

regras, como essa da separação<br />

das idades, o Cláudio remetia-se para<br />

um nível de quase herói. Genial nas<br />

suas interpretações, humano e dramático<br />

nas explosões, surpreendente<br />

na generosidade tal como desconcertante<br />

no delírio e no gozo.<br />

DESVANEcER<br />

UMA MEMÓRIA DO cLáUDIO BRITO (1982.0440)<br />

Nada fazia crer que algum dia eu<br />

me cruzasse com ele. As diferenças<br />

eram assombrosas. Mas aconteceu na<br />

aventura dos Enkoma, um grupo sem<br />

definição estética muito precisa, mas<br />

com o empenho típico dos adolescentes<br />

que pensam e sonham vir a ser estrelas<br />

de rock.<br />

Nesse grupo, experimentei pela<br />

primeira vez a mistura acre do sonho<br />

e da glória, matizada com a desolação.<br />

À subida a níveis de grande sucesso,<br />

sucediam-se descidas rápidas a fossos<br />

onde eu me confrontava comigo<br />

mesmo. Sim, comigo e com o Cláudio.<br />

O Cláudio era o baterista, mas era<br />

ele que sabia tocar de forma exímia<br />

todos os restantes instrumentos. Mais<br />

que alma, ele era a constante visão do<br />

que eu poderia ser, mas não era. Ele<br />

pegava na guitarra e… tocava! Era<br />

imanente. Comigo era esforço, com<br />

ele era prazer.<br />

Os Enkome terminaram num Verão<br />

qualquer típico da idade, e eu nunca<br />

mais toquei numa guitarra. Tentado<br />

a ser guitarrista sem vocação, a visão<br />

do que era, sem sombra para dúvidas,<br />

uma vocação plena, levara-me a equacionar<br />

tudo. Vi a minha mediocridade<br />

nos dedos com que o Cláudio percorria<br />

as cordas da mesma guitarra onde<br />

eu apenas trauteava.<br />

A vida do Cláudio transformavase,<br />

ano após ano, numa tensão de drama<br />

que resultaria, mais tarde ou mais<br />

cedo, naquilo que era o inevitável: a<br />

Evocações<br />

saída dos Pupilos. Entretanto, as nossas<br />

músicas, algumas das vezes com<br />

letras dele, iam repetindo frases duras<br />

e de desespero. “Com ninguém<br />

podes contar” repetia-se numa das<br />

últimas músicas.<br />

Poucas mais vezes o vi. Terão passado<br />

uns 15 anos até que o drama se<br />

transformou, quem sabe, se no que<br />

seria, também aqui, o inevitável. Foi<br />

por e-mail que soube da sua morte.<br />

Salvo erro, fomos apenas três ao seu<br />

funeral.<br />

Nesse dia, fiz também a minha catarse.<br />

Fui bem mais cedo para estar<br />

com as memórias que dele tinha. Mas,<br />

especialmente, com as memorias que<br />

ele me trazia de mim mesmo. No ano e<br />

meio em que mais convivi com o Cláudio,<br />

fui um outro eu. Nesse dia, na zona<br />

de Sintra, num cemitério perdido no<br />

meio do campo, reencontrei esse miúdo<br />

de dezasseis anos que sonhava. Não<br />

sabia com o quê, mas sonhava.<br />

Terminando esse sonho que eu<br />

abandonara, o Cláudio colocara fim à<br />

vida, colocando também um fim a<br />

uma imagem que toda minha geração<br />

tinha de irreverência. Ele fora aquilo<br />

que muitos de nós queríamos ter sido,<br />

mas para o qual nunca tivemos coragem.<br />

Chorei por ele. Chorei por uma geração.<br />

Chorei por mim.<br />

Há três anos que tencionava escrever<br />

este texto. Foi só hoje que ele decidiu<br />

quebrar a última barreira.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 17


Evocações<br />

Descobri há dias o livro<br />

“Os Comandantes de<br />

Batalhão no Instituto<br />

(1916 – 2008)”, da autoria<br />

de David Sequerra e<br />

Augusto Dias, editado pela APE em<br />

Junho de 2008, cujas 95 páginas<br />

consultei com curiosidade e apreço.<br />

Foi agradável constatar que –<br />

para além dos que foram meus contemporâneos<br />

em Benfica nos anos<br />

60 – também reconhecielementos<br />

de outras gerações,<br />

com alguns<br />

dos quais<br />

privei e admiro.<br />

Aqui recordo<br />

alguns dos mais<br />

antigos:<br />

A. Ribeiro da Silva<br />

(19600093)<br />

2º - 1917.0018<br />

- José da Cruz<br />

Barroso Júnior<br />

(1912.0003), não<br />

me passou despercebida a simpatia<br />

da sua assídua presença na sede da<br />

Rua da Misericórdia, onde no final<br />

dos anos 60 frequentávamos “os<br />

bailes da Associação”, bem como,<br />

passados 20 anos, nas reuniões que<br />

precederam a aquisição da actual<br />

sede na Rua Neutel de Abreu. Várias<br />

vezes fez parte dos Corpos Gerentes<br />

da APE, com o Brigadeiro<br />

Álvaro de Oliveira, Sertório Sequeira,<br />

Luizélio Saraiva e outros.<br />

8º - 1923.0024 – José Coelho<br />

da Fonseca (1914.0158), Director<br />

Financeiro da SONEFE, em Lisboa,<br />

empresa onde estagiei no fim do<br />

Curso de Contabilistas e onde vim a<br />

trabalhar de 1972 a 1975 (Luanda,<br />

Angola).<br />

13º - 1928.0029 - Tomo agora<br />

consciência que José Maria da<br />

Mota Freitas (1919.0267), nome<br />

proferido com respeito pelo meu pai<br />

como grande referência da GNR no<br />

Norte do País (Quartel do Carmo -<br />

Porto), foi aluno dos Pupilos do<br />

Exército e Comandante de Batalhão<br />

em 1928/29.<br />

Logo ao folhear este livro aperce-<br />

18 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

A PROPÓSITO DE cOMAN<strong>DA</strong>NTES DE BATALhÃO<br />

bi-me da existência de lacunas de<br />

conteúdo bem como de episódicas<br />

imprecisões em relação às notas biográficas<br />

de alguns dos “batalhões”<br />

com quem convivi na nossa Escola.<br />

Adquiri de imediato alguns<br />

exemplares com o objectivo de proceder<br />

à sua difusão junto dessa geração,<br />

no intuito de tentar colmatar<br />

essas falhas e contribuir para o enriquecimento<br />

do trabalho realizado<br />

pelos autores acima referidos.<br />

Dos resultados da minha pesquisa<br />

aqui virei dar testemunho, começando<br />

hoje pelos irmãos Cardoso,<br />

Comandantes de Batalhão da década<br />

de 60:<br />

49º - 1964.0065 - António<br />

Manuel Henriques Cardoso<br />

(1957.0246)<br />

Entrou para o Instituto em 1957,<br />

com 10 anos, onde concluíu o Curso<br />

de Contabilistas em 1965, ficando na<br />

história como o “Pena Branca” devido<br />

à madeixa branca que ostentava<br />

no cabelo.<br />

Cumpriu o serviço militar como<br />

Oficial miliciano na Força Aérea na<br />

DSIC - Direcção dos Serviços de Intendência<br />

e Contabilidade, após<br />

uma curta passagem pelo Exército,<br />

na EPAM - Escola Prática de Administração<br />

Militar, no Lumiar.<br />

É licenciado em Economia pelo<br />

ISCEF – Instituto Superior de Ciên-<br />

cias Económicas e Financeiras e<br />

Mestre em Gestão pela Universidade<br />

Autónoma de Lisboa na área de<br />

Planeamento Estratégico.<br />

Fez carreira profissional na<br />

SHELL Portuguesa, como quadro<br />

superior de diversos departamentos.<br />

Foi ainda Consultor de empresas<br />

no domínio da Gestão Estratégica<br />

e Professor no Instituto Politécnico<br />

de Tomar – sua terra natal,<br />

onde leccionou cadeiras de Gestão e<br />

de Estratégia Empresarial.<br />

52º - 1967.0068 - Carlos<br />

Alberto Henriques Cardoso<br />

(1959.0053)<br />

Na minha qualidade de Comandante<br />

da 4ª Companhia, tive oportunidade<br />

privar de perto com o Carlos<br />

Alberto, que foi assim o meu último<br />

Comandante de Batalhão em<br />

1967/68, ano em que fomos finalistas<br />

e ele concluiu a parte curricular<br />

do então Curso Médio de Electrotecnia<br />

e Máquinas, realizando o estágio<br />

profissional no ano seguinte,<br />

já como aluno externo.<br />

Cumpriu o serviço militar como<br />

Oficial miliciano na Força Aérea na<br />

Direcção de Comunicações e Tráfego<br />

Aéreo, após uma curta passagem<br />

pelo Exército, na Escola do Serviço<br />

de Material, em Sacavém.<br />

É Engenheiro de Electrónica e<br />

Telecomunicações pelo IST – Insti-


tuto Superior Técnico, Mestre em<br />

Engenharia da Saúde pela UCP –<br />

Universidade Católica Portuguesa,<br />

Master em Economia e Planeamento<br />

de Energia pela UTL – Universidade<br />

Técnica de Lisboa e Pós-Graduado<br />

em Gestão de Unidades de<br />

Saúde pela UCP. Foi Professor de<br />

cadeiras de Física e de Electrónica<br />

em Cursos de Engenharia de Electrónica<br />

e Telecomunicações, nomeadamente<br />

nos Pupilos do Exército,<br />

nossa escola.<br />

Como Consultor em Engenharia<br />

e Gestão de Tecnologia tem desenvolvido<br />

e liderado projectos em<br />

Portugal e na América Latina, em<br />

especial no Brasil, onde residiu alguns<br />

anos, na qualidade de Consultor<br />

e Representante da Comissão<br />

Europeia, na área da energia.<br />

É Partner Fundador de uma empresa<br />

de gestão da inovação tecnológica<br />

e, no âmbito da sua actividade<br />

como Investigador, prepara Dissertação<br />

em “tecnologia de medicina<br />

molecular em oncologia” para<br />

Doutoramento em Engenharia Clínica.<br />

A título de curiosidade, cabe<br />

aqui referir uma situação insólita<br />

ocorrida nesse ano lectivo de<br />

1967/68.<br />

Decorria já o 2º Período, no âmbito<br />

duma conversa informal com o<br />

Comandante do Corpo de Alunos,<br />

perguntou o Carlos Alberto Cardoso<br />

se havia uma razão objectiva<br />

para que um finalista do Curso de<br />

Contabilistas não fosse graduado.<br />

Como resultado dessa conversa, foi<br />

o 1960.0195 – Alfredo José de Jesus<br />

de Sousa, graduado em Comandante<br />

de Pelotão, como reza a Ordem de<br />

Serviço nº 3 de 5 de Janeiro de 1968,<br />

perdendo assim o seu estatuto de<br />

“lacerda” (que então designava um<br />

finalista não graduado).<br />

Nestas circunstâncias – e tanto<br />

quanto sei - o Carlos Alberto Cardoso<br />

terá sido assim o único Comandante<br />

de Batalhão a contar no<br />

seu séquito com dois ajudantes.<br />

LEMBRANDO RUY cINATTI Evocações<br />

Aprezada amiga Dr.ª Fernanda Damas<br />

Cabral e indefectível membro<br />

da “Família Pilónica”, ofereceu-nos<br />

recentemente um exemplar do livro<br />

ILHAS de Sofia de Mello Breiner<br />

Andersen, editado por Maria<br />

Andersen de Sousa Tavares e<br />

Luís Manuel Gaspar no qual<br />

se poderá ler na página 40, a,<br />

Augusto Dias<br />

(19290077)<br />

DEDICATÓRIA<br />

<strong>DA</strong> TERCEIRA EDIÇÃO<br />

Do «CORAL AO RUY CINATTI»<br />

Para o Ruy Cinatti porque neste livro<br />

De folha em folha passaram gestos seus<br />

Assim como de folha em folha em arvoredo<br />

A brisa perde ao sussurrar seus dedos.<br />

Ruy Cinatti, de seu nome completo “Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes”,<br />

nasceu em Londres, Inglaterra, a 8 de Março de 1915. Filho de António Vaz<br />

Monteiro Gomes e de Hermínia<br />

Celeste Cinatti.<br />

Em 1926, no dia 1 de Novembro,<br />

com 11 anos de idade ingressou<br />

no Instituto Profissional<br />

dos Pupilos do Exército IPE<br />

e atribuíram-lhe o número 171 e<br />

por isso passou a ser o “pilão”<br />

(1926.0173).<br />

Durante a sua permanência<br />

no nosso Instituto frequentou e<br />

concluiu com bom aproveitamento<br />

escolar, do Curso Preparatório<br />

de Comércio e Indústria.<br />

Mais tarde, já como ex-aluno<br />

do nosso Instituto frequentou e<br />

concluiu com bom aproveitamento<br />

o Curso de Agronomia.<br />

Profissionalmente como Engenheiro<br />

agrónomo exerceu a<br />

sua actividade em vários pontos<br />

de Portugal Continental e Ultramarino,<br />

em especial na longínqua<br />

Timor.<br />

Em 1969 Ruy Cinatti foi distinguido<br />

com o prémio Nacional de Poesia.<br />

Ruy Cinatti foi sócio efectivo da Associação dos Pupilos do Exército com<br />

o número (1926.0173) desde 18 de Julho de 1968 até ao seu falecimento.<br />

Nota: 81) – Na APE não consta a data do seu falecimento, consta apenas<br />

a sua última residência: Travessa da Palmeira 12, 3º Dto em Lisboa.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 19


Crónicas<br />

A gALA<br />

N<br />

ão sou melómano, muito<br />

longe disso, talvez por natureza,<br />

provincianismo, falta<br />

de educação musical, ou - o<br />

que é bem pior - completa<br />

ausência de “ouvido”, mas em determinados<br />

momentos, no sossego reconfortante<br />

duma sala vazia, um pouco escura<br />

e silenciosa, numa penumbra que,<br />

languidamente, me envolva, adoro ouvir<br />

algumas peças de música clássica<br />

ou erudita, como a classificam muitos<br />

puristas das claves, com doutoramento<br />

adquirido, ou candidatos a uma formação<br />

intelectual reconhecida<br />

pelos<br />

seus pares.<br />

Nunca falo destes<br />

meus instantes<br />

de íntimo devaneio,<br />

pequenos víciosdesconhecidos,<br />

com receio de<br />

ser obrigado a en-<br />

António Barroso veredar por um<br />

(19460120) diálogo formal que<br />

me obrigue a mostrar<br />

conhecimentos que não possuo,<br />

numa reciprocidade de datas, momentos,<br />

locais ou nomes. É que a minha<br />

sabedoria não vai muito além dos apelidos<br />

duns quantos génios sobejamente<br />

conhecidos que, muitas vezes, ou<br />

quase sempre, não associo às respectivas<br />

obras; dumas tantas óperas, operetas<br />

ou afins que me ficaram na memória;<br />

dalguns intérpretes que, de tão<br />

repetidos, é quase obrigação conhecer;<br />

e duma escala musical que, aí sim, me<br />

orgulho de recitar da frente para trás,<br />

e de trás para a frente, para além de ser<br />

uma preciosa auxiliar na resolução<br />

dos problemas de palavras cruzadas!...<br />

Porém não consigo ler uma única<br />

nota musical nem destrinçar uma colcheia<br />

duma semifusa, se é que estas referências<br />

conhecidas por ouvir, estão,<br />

musicalmente, correctas.<br />

Há dias, telefonou-me o meu filho<br />

que, sem me dar tempo sequer a respirar,<br />

me perguntou à queima-roupa, se<br />

queria assistir ao concerto de gala da<br />

banda da Guarda Nacional Republicana,<br />

a realizar no teatro de S. Carlos. Seria<br />

caso para pensar, maduramente,<br />

até para meter logaritmos, já que, num<br />

ápice, numa ligeira fracção de segundo,<br />

me senti totalmente embrulhado num<br />

fato cheirando a naftalina, apertado<br />

numa gravata que jurara nunca mais<br />

enrolar ao pescoço, atamancado nuns<br />

20 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

sapatos que me fazem calosidades e<br />

transpirando como obeso em banho<br />

turco.<br />

Assim, a minha primeira reacção,<br />

que não cheguei a expressar, foi duma<br />

rotunda negativa. Depois, ainda dentro<br />

da tal fracção de segundo – e é<br />

curioso como, nuns microscópicos instantes,<br />

passam, pela mente, tantas imagens<br />

– a curiosidade do acontecimento,<br />

a altura de conhecer um teatro tão famoso,<br />

a certeza de poder ouvir uma das<br />

bandas mais conceituadas do mundo,<br />

levaram-me a mudar o meu veredicto e<br />

a responder pela positiva. Como ligeira<br />

tábua de salvação, ainda perguntei a<br />

minha mulher se queria ir. Ante um<br />

“sim” peremptório e altissonante, acabei<br />

por me decidir.<br />

O evento realizou-se ontem.<br />

Enquanto me ajustava, com os vagares<br />

que antecedem todos os tormentos,<br />

e me ia sujeitando aos inúmeros<br />

suplícios que já antevira, vociferei cobras<br />

e lagartos por não ter dado ouvidos<br />

à minha voz inicial.<br />

Finalmente, ajaezado como uma<br />

montada de desporto em dia de apresentação<br />

festiva, farto dos chocarreiros<br />

elogios de apreço, deixei-me arrastar,<br />

apático, abúlico e conformado, apenas<br />

numa melancólica aparência, já que,<br />

interiormente, o arrependimento era<br />

uma constante e os raios e coriscos<br />

faiscavam em todas as direcções.<br />

No carro, fizeram-me sentar no “lugar<br />

do morto” com a insinuação falsa,<br />

maldosa e descabida de que a minha<br />

obesidade iria dificultar os arranjos do<br />

banco de trás. O que vale é que eu já estou<br />

habituado a estes comentários malévolos<br />

e há muito que me deixaram de<br />

incomodar as apreciações irreais e<br />

subjectivas.<br />

O condutor, para meu completo<br />

(des)conforto, voava bem baixo e eu, jurava,<br />

para mim mesmo, nunca mais<br />

entrar num carro conduzido por semelhante<br />

motorista que, na sua ânsia de<br />

celeridade, passava todos os cruzamentos<br />

sem me deixar tempo para o<br />

informar que os sinais estavam encarnados.<br />

Coitado do senhor, talvez fosse<br />

daltónico!<br />

O teatro de S. Carlos é um edifício<br />

bem antigo, imponente, por onde já tinha<br />

passado, anteriormente, dezenas<br />

de vezes, sem nele ter reparado em pormenor,<br />

ou porque não me apercebia do<br />

lugar onde estava, ou porque seguia<br />

um outro rumo, previamente, decidido.<br />

Austero e suportado por altos pilares<br />

de pedra que não me mereceram, à<br />

primeira vista, destaque de maior,<br />

apresentava, nesse momento, o grande<br />

átrio exterior de tal forma iluminado<br />

que, esperando pelo início do espectáculo,<br />

nele se pavoneavam dezenas de<br />

fardas de gala repletas de dourados e<br />

pejadas de todo o tipo de reluzentes<br />

condecorações, e as vaporosas damas<br />

em roupagens de fazer inveja pela sua<br />

beleza e sobriedade, ou a provocar o<br />

riso sufocado pela ousadia duma originalidade<br />

sem gosto.<br />

O que não posso porém deixar de<br />

referir, pelo olhar de soslaio e roído de<br />

inveja das mulheres e a boca boquiaberta<br />

e “pavloviana” dos homens, foi a<br />

presença duma mulher polícia convidada,<br />

na ordem dos vinte e seis a trinta<br />

anos, extremamente loira, extremamente<br />

bonita, extremamente elegante,<br />

extremamente capa de revista, extremamente...Se<br />

as estrelas que brilhavam<br />

nos ombros da jaqueta de cerimónia,<br />

que vestia com todo o esmero, são<br />

indicativos de chefe de esquadra ou similar,<br />

imagino o trabalho burocrático<br />

da corporação para despachar os inúmeros<br />

requerimentos de todos os seus<br />

correligionários pedindo transferência<br />

para o local que ela comanda.<br />

É por estas e por outras que os polícias<br />

não andam nas ruas!<br />

Por dentro, o teatro é lindo, nota-se<br />

bem a sua antiguidade e, embora sóbrio,<br />

tem um bom ambiente e encontrase<br />

bem conservado. Desde as cadeiras<br />

de tecido rosa velho acetinado, aos lustres<br />

de cristal espalhados ao longo do<br />

teto, passando pelos camarotes presidenciais,<br />

ou mesmo pelos de palco,<br />

tudo aponta uma época de realeza que<br />

a nossa mente imagina através dos relatos,<br />

mais ou menos fidedignos, que<br />

de geração em geração, até nós chegaram.<br />

Depois de confortavelmente instalado<br />

e olhando, à minha volta, de soslaio,<br />

acabei por aliviar um pouco o nó<br />

da gravata e desapertar o primeiro botão<br />

do colarinho. O meu ah! de alívio<br />

denotava mais prazer que as palmas de<br />

acolhimento pela chegada do presidente<br />

da república, ou da expressão do<br />

maestro que, de batuta em punho, se<br />

preparava para iniciar a função.<br />

O concerto irrompeu, então, com<br />

uma melodia que, após os primeiros<br />

compassos de expectativa, quase me<br />

fez gritar para toda a assistência: - Eu<br />

conheço esta!... Sim, já a ouvi várias ve-


zes!... Eu conheço!...Conheço, juro!... -<br />

Porém, o nome da composição ou do<br />

respectivo autor não conseguiam trepar<br />

pelo precário encadeado de filamentos<br />

que os deviam transportar até<br />

ao visor do meu conhecimento, por<br />

mais que carregasse no acelerador.<br />

Não há dúvida, este sistema de<br />

transportes tem de ser revisto!<br />

Então socorri-me do programa que<br />

minha mulher usava em substituição<br />

do leque que, há uma centena de anos,<br />

fazia parte obrigatória da indumentária<br />

feminina – na tal época da realeza<br />

– e logo me apelidei de burro, de cretino,<br />

não uma mas várias vezes. Claro!<br />

Que estupidez a minha! Tratava-se,<br />

muito simplesmente, de “As Alegres<br />

Comadres de Windsor”, uma comédia<br />

burguesa de Otto Nicolai. Olhei, com<br />

receio, para todos os lados, não fosse<br />

alguém ter-me lido os pensamentos e<br />

corroborado os epítetos com que me<br />

estava mimoseando. Mais descansado,<br />

refastelei-me para ouvir a continuação<br />

da obra.<br />

Como solista, na interpretação de<br />

“Canções Portuguesas” de Francisco<br />

de Lacerda, actuou a afamada meiosoprano<br />

Liliana Bizineche, solista na<br />

Ópera de Cluj, intérprete dos papéis de<br />

Cherubino nas “Bodas de Fígaro”, Dorabella<br />

em “Cosa fan tutti”, Susuki em<br />

“Madame Butterfly”, Rosina em “Il<br />

Barbieri di Seviglia”, etc., etc., etc.<br />

Eh! Alto aí! Nada de confusões! Não<br />

me alcunhem de enciclopédico nem<br />

me atribuam méritos que não possuo.<br />

Tudo aquilo que referi, aquela longa<br />

dissertação do período anterior, foi extraído<br />

do programa que minha mulher<br />

deixou, por momentos, de utilizar<br />

como abano, termo que teria sido usado<br />

pela minha amiga Josefa do Ó, vizinha<br />

do monte alentejano do meu irmão,<br />

se tivesse estado presente na<br />

gala.<br />

Outro solista conhecido no mundo<br />

inteiro que, como habitualmente me<br />

encantou, foi o Raul Mendes com a sua<br />

harmónica, a qual, ainda na voz da minha<br />

amiga Josefa, não passaria duma<br />

vulgar gaita de beiços com que os moços<br />

da aldeia tocam modinhas. Este<br />

músico, mundialmente conhecido, tanto<br />

o solo, como em duo ou trio com as<br />

filhas, campeão do mundo nas três categorias,<br />

acabou por se afastar da competição,<br />

a pedido dos organizadores,<br />

para dar possibilidades a outros concorrentes.<br />

A banda, sob a batuta do Major Ja-<br />

cinto Coito Abrantes Montezo, interpretou<br />

ainda obras de Jorge Enesco,<br />

James Moody, Gioachino Rossini e<br />

Dirk Brossé para, finalmente, depois<br />

de largos aplausos, nos brindar, extra<br />

programa, com uma fabulosa execução<br />

do “Voo do Moscardo” do grande<br />

compositor russo Nicolau Andreievich<br />

Rimsky-Korsakof. Este último, por<br />

ser extra programa, não estava referenciado<br />

no tal abano da minha amiga<br />

Josefa e, por isso, socorri-me da enciclopédia.<br />

O que é preciso é ter imaginação.<br />

Muito custa ser-se intelectual!...<br />

A saída, com as aglomerações e filas<br />

do costume, era uma massa compacta<br />

de azuis e pretos bordejados a ouro,<br />

mas onde sobressaía o loiro inconfundível<br />

da formosa mulher polícia. Houvesse<br />

possibilidades do laboratório de<br />

criminologia demonstrar o significado<br />

dos olhares odientos ou conspícuos, e<br />

toda aquela gente teria ido conhecer os<br />

calabouços, as mulheres por associação<br />

criminosa numa completa tentativa<br />

de assassinato, e os homens pela<br />

prática pública de actos íntimos.<br />

Depois de todas estas apreciações<br />

finais, punha-se, agora, a questão do<br />

regresso. Sorrateiro, tentando passar<br />

despercebido, ainda<br />

me escusei a<br />

ocupar o lugar da<br />

frente, mas a afirmação<br />

conjunta<br />

de que eu era gordo<br />

e ocupava muito<br />

espaço no banco<br />

de trás, falsa<br />

afirmação que<br />

apenas servia<br />

para justificar o<br />

lugar que me tinha<br />

sido destinado,<br />

não me deixou<br />

alternativas. Gordo?...<br />

Eu?... Bah!...<br />

Conformado,<br />

iniciei a viagem<br />

de regresso.<br />

Ou porque o<br />

mesmo condutor<br />

da GNR já estava<br />

há muitas horas<br />

de serviço e desejava<br />

chegar a casa<br />

o mais cedo possível<br />

(neste caso, o<br />

menos tarde), ou<br />

porque confiava<br />

nos seus colegas<br />

da Brigada de<br />

crónicas<br />

Trânsito, o que é certo é que, quando<br />

lhe chamava a atenção, a medo, para o<br />

conta quilómetros, respondia, todo<br />

ufano mas galhofeiro, que já tinha conduzido<br />

a duzentos e cinquenta quando<br />

fez o percurso Lisboa-Madrid em cerca<br />

de três horas, afirmação que, não sei<br />

porque motivo, não me conseguia acalmar.<br />

E eu ficava ainda mais aflito quando<br />

virando-se para trás e gesticulando<br />

com ambas as mãos, procurava a confirmação<br />

junto do meu filho com um<br />

“Não é verdade, senhor doutor?”.<br />

Agora, já mais refeito dos percalços<br />

de ontem, e retendo apenas os momentos<br />

agradáveis vividos, dou por muito<br />

bem empregue o tempo passado naquele<br />

evento. É que nem só de pão vive<br />

o homem, como teria dito a minha amiga<br />

Josefa do Ó no seu filosofar rural.<br />

Um pouco de cultura não faz mal a ninguém.<br />

Só que a cultura entre mim e ela,<br />

tem significados diferentes. O dela refere-se<br />

à terra com que lida, todos os<br />

dias, arduamente, e que lhe garante o<br />

parco sustento; o meu aponta para o<br />

intelecto que o pouco uso fez emperrar<br />

por falta de lubrificação.<br />

Em suma, mais hortaliça, menos<br />

hortaliça...<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 21


Crónicas<br />

“...Sabe-se que pertencia a Inocêncio Cani<br />

o dedo que premiu o gatilho. Conhecem-se<br />

os nomes dos dois mais importantes cabecilhas<br />

da conspiração, Mamadou Turé e<br />

Aristides Barbosa…Sabe-se, onde, quando,<br />

como e porquê o crime ocorreu. Mas<br />

continua por descobrir com exactidão<br />

quem esteve por detrás destes três homens e<br />

mandou matar Amílcar Cabral naquela<br />

noite de 20 de Janeiro de 1973,na sua residência<br />

no bairro Minière, em Conakry. A<br />

lista de hipóteses é comprida e variada.”<br />

(in «Quem Mandou Matar Amílcar<br />

Cabral» de J. Pedro Castanheira,Ed.Relógio<br />

D’Água-1995)<br />

“…Amlicar Cabral<br />

explica como a<br />

luta de libertação é<br />

não só um facto cultural<br />

mas também<br />

um factor de cultura<br />

, ultrapassando assim<br />

o objectivo de<br />

Duran Clemente<br />

(19530030)<br />

movimentos como a<br />

Négritude e o Pana-<br />

Africanismo, que,<br />

para A. Cabral so-<br />

frem de uma fundamental limitação - o de<br />

terem sido concebidos em espaços culturais<br />

exteriores à África Negra.”<br />

“Ninguém de boa fé pode negar que na<br />

derrota dos EUA no Vietname tenha desempenhado<br />

um papel fundamental a consciência<br />

nacional, a ideologia dos tenacíssimos<br />

guerrilheiros vietnamitas…”<br />

“De um ponto de vista mais especificamente<br />

social, um dos papéis mais relevantes<br />

da ideologia é o desenvolvimento no<br />

processo de formação nacional. As premissas<br />

de qualquer nação são, como é sabido,<br />

a comunidade étnica, constituída através<br />

de séculos de história económico-política<br />

comum, a comunidade de interesses, de<br />

território, de cultura…”…”Assim se compreende<br />

como é sempre operante uma ideologia<br />

catalisadora (nacional ou não) em<br />

todos os movimentos de libertação do colonialismo”.<br />

“É difícil encontrar hoje um estudioso...que<br />

considere suficiente aquilo que os<br />

clássicos... escreveram a respeito da colonização<br />

europeia em África, ou que não se<br />

ponha o problema de saber se é ou não<br />

22 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

REFLEXÕES: DOS cLAUSTROS À MA<strong>DA</strong>LENA<br />

AMILcAR cABRAL: VISIONáRIO DUMA UNI<strong>DA</strong>DE NAcIONAL.<br />

oportuno aplicar à África ou à América<br />

Latina o mesmo esquema de análise das<br />

classes válido para a Europa”<br />

“Para Frantz Fanon, a libertação do<br />

colonialismo é necessariamente um facto<br />

violento, um embate entre duas forças<br />

«congenitamente antagónicas» no qual o<br />

colonizado, se quiser vencer, não poderá<br />

contemporizar. Longe portanto daquele<br />

conceito «senghoriano» que consegue encontrar<br />

em De Gaulle um paladino da independência<br />

africana. Também Fanon é<br />

um defensor esforçado da recuperação da<br />

cultura nacional, mas contra a cultura colonial,<br />

opõe a luta armada de libertação<br />

como necessidade frente ao colonizador<br />

que jamais renunciaria de maneira indolor<br />

aos seus seculares privilégios”<br />

(in «Sociologia da Negritude» de Maria<br />

Carrilho, Edições 70 -1976/Edi.Roma<br />

1974)<br />

Naquela noite de 20 de Janeiro, há<br />

36 anos, foi assassinado um dos mais<br />

carismáticos e inteligentes, chefe e pensador,<br />

dos Movimentos de Libertação.<br />

Matou-o o inimigo da Liberdade,<br />

interno ou externo ao seio do seu<br />

PAIGC, seu Partido e seu instrumento<br />

vital para que as populações da<br />

Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde<br />

assumissem o seu papel na construção<br />

dos seus destinos. Amílcar Cabral<br />

afirmou sempre que a «unidade e<br />

a consciência nacionais são essenciais<br />

para o desenvolvimento das estruturas<br />

politicas, sociais e culturais da nação<br />

em formação.»<br />

A. Cabral tinha perfeita consciência<br />

que uma vez alcançado o poder, o<br />

partido protagonista da independência<br />

(no qual a burguesia nascente africana<br />

tem muitas vezes um papel determinante)<br />

corre o risco de comportar-se<br />

como partido étnico, dando lugar,<br />

não já a uma vulgar ditadura mas<br />

a uma ditadura tribal (militar): os ministros,<br />

os chefes de gabinete, os embaixadores,<br />

os prefeitos, são escolhidos<br />

na etnia do líder, por vezes mesmo<br />

da sua família.<br />

Amílcar Cabral não se queria impor<br />

recordando a sua vida e dos seus<br />

companheiros como heróicos, recordando<br />

as lutas travadas em nome do<br />

povo…constituindo com isso uma cortina.<br />

Para si a sua função socio-política<br />

era criar à sua volta a unidade nacional,<br />

aglutinar as várias tribos, os<br />

vários estratos da população. Não<br />

queria a unidade como um acordo de<br />

vértice entre vários senhores poderosos.<br />

Queria efectivamente a participação<br />

das gentes. Há por isso analistas<br />

que viriam a considerá-lo como<br />

um visionário. Seria?<br />

E ainda mais depois do rumo seguido<br />

pelo PAIGC, alcançado o poder,<br />

e pela dramática involução que, 36<br />

anos depois da independência daquele<br />

novo país, o histórico dirigente nunca<br />

desejou nem sonhou que acontecesse.<br />

Mas infelizmente aconteceu. Não<br />

sendo caso único ousa-se reflectir: são<br />

razões endógenas de África ou foi o colonialismo<br />

e a sua divisão artificial e<br />

forçada (conferência de Berlim/1884-<br />

85) de centenas de povos africanos em<br />

50 países que provocaram os dramas e<br />

tragédias conhecidos?


Crónicas<br />

Prendo o meu olhar no<br />

passado. É verdade, este<br />

não é extenso e, logo, a<br />

minha experiência de<br />

vida não é longa. No entanto,<br />

não considero esta desvantagem<br />

como algo que invalide a essência<br />

dos meus sentimentos.<br />

Invocando o exemplo duma criança,<br />

deparo-me com uma realidade<br />

assustadora: os meus sentimentos<br />

são tão simples, tão mais inocentes,<br />

mas tão mais puros<br />

do que os dos<br />

adultos. E desenganem-se:<br />

esta realidade<br />

não está<br />

associada à falta<br />

de experiência de<br />

vida ou á ingenuidadecaracterísti-<br />

Mariana Terra<br />

Mota (14 Anos)<br />

cas. Apenas acontece<br />

porque as<br />

crianças olham o<br />

mundo de uma<br />

forma simples e fácil.<br />

É tempo de voltar a pousar o olhar<br />

no passado. Já fomos todos crianças,<br />

já vivemos todos o maravilhoso<br />

tempo que é a infância, e já olhámos<br />

todos o mundo de outra forma, com<br />

um olhar tão diferente.<br />

No entanto a vida encarrega-se de<br />

afogar toda esta pureza, colocandonos<br />

obstáculos no caminho que nos<br />

obrigam a fechar os olhos. Mas,<br />

quando os abrimos, tudo está diferente,<br />

com os tons acinzentados e<br />

escuros. A nossa visão é mais negra.<br />

Ou porque conhecemos a maldade,<br />

o desgosto, a traição, a desconfiança<br />

ou a mentira, os nossos olhos já não<br />

mais encontram a verdadeira essência<br />

de cada coisa que nos rodeia.<br />

È como um manto escuro, que sufoca<br />

qualquer visão relativa à verdadeira<br />

beleza, á beleza simples, á beleza<br />

primária. Assim, tal como os<br />

olhos se habituam á claridade, reagem<br />

rapidamente com naturalidade<br />

ás visões maldosas e julgadoras<br />

com que se deparam.<br />

É aqui que a nossa intervenção, enquanto<br />

seres humanos, é funda-<br />

24 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

UM OUTRO OLhAR<br />

mental e imprescindível. Um marinheiro<br />

não pode ficar imóvel perante<br />

um possível naufrágio do seu<br />

barco e, assim, também nós não podemos<br />

assistir à nossa mudança de<br />

uma forma impávida e serena. Temos<br />

que fazer mais do que isso, ir<br />

mais além. Aqui, apelo a uma recordação<br />

do passado como forma<br />

de ganharmos força<br />

e coragem para esta<br />

luta contra nós próprios.<br />

O chilrear dum pássaro,<br />

a beleza de fazer<br />

um amigo na<br />

praia, as pétalas de<br />

uma flor, o murmurar<br />

das ondas ou um<br />

“amo-te” proclamado<br />

pelas nossas<br />

mães não eram coisas<br />

pequenas que<br />

nos faziam sentir<br />

enormes? Mas com<br />

o tal manto preto a<br />

encobri-las, já não<br />

conseguimos ver a<br />

beleza, apenas maldizê-las<br />

e desconfiar.<br />

Então, não era tudo<br />

mais bonito e puro<br />

com a nossa visão de<br />

crianças? Era, mas<br />

não quero conjugar<br />

este verbo no passado.<br />

É Cabe-nos a nós<br />

decidir como queremos olhar o<br />

mundo. Basta rasgar o manto negro,<br />

e conseguimos apreciar a verdadeira<br />

beleza das coisas, a essência<br />

das suas origens e a pureza de<br />

cada ser.<br />

Assim, garanto-vos, seremos felizes.


Domingo. 10 horas da manhã!<br />

Um frio gélido, cortante<br />

mesmo, percorre Pequim,<br />

com os seus 12º negativos.<br />

Flocos de neve semeiam o<br />

branco por todo o lado. Por trás dos vidros<br />

da minha sala aquecida, qual cobarde,<br />

recuso-me mais uma vez a sair e<br />

cumprir o programa já adiado por diversas<br />

vezes: ir conhecer a multicentenária<br />

ponte Marco Pólo, nos arredores<br />

da cidade, um marco<br />

de vaidade e humilhação<br />

na história<br />

da China: vaidade<br />

porque quiseram<br />

os chineses<br />

distinguir o primeiro<br />

europeu que<br />

a este Império do<br />

Cândido Azevedo<br />

(19600364)<br />

Meio chegou e colaborou,<br />

em 1275,<br />

dando-lhe o seu<br />

nome; humilhação<br />

porque por esta via quis o general japonês<br />

Aoki começar a ocupação de Pequim<br />

e da China, em Agosto de 1937.<br />

Lá fora, no largo passeio, visualizo<br />

algumas bancas de venda chinesas onde<br />

as mercadorias não se expõem, mas empilham-se,<br />

tais como pirâmides de roupas,<br />

gorros e luvas, resmas de tecidos,<br />

cones de especiarias, etc. Outras, quais<br />

pequenos cafés, expõem frituras e xaropes<br />

coloridos. Uma outra tenda faz de<br />

esquisita barbearia… Disse frio, ventos<br />

gélidos, neve? Isso não existe para este<br />

povo trabalhador. Indiferentes aos rigores<br />

climatéricos, os passantes tudo<br />

vêem, tudo mexem mas não dão mostras<br />

de querer comprar; acocorados e<br />

indiferentes, os vendedores, com um<br />

sorriso permanente no rosto, parecem<br />

não esperar vender…. Meditei como as<br />

ambições daquela humilde gente eram<br />

nenhumas, nem os objectivos planeados<br />

ou os seus sonhos tão quiméricos.<br />

Somente sobreviver, qual destino de séculos.<br />

Estes imigrantes urbanos ou<br />

camponeses que fogem à miséria dos<br />

campos, que procuram a sobrevivência<br />

nas migalhas, são portadores de uma<br />

cultura radicalmente diferente da nossa,<br />

e vivem sob um regime duro criado<br />

nos valores confucionistas e taoistas, a<br />

que depois se juntou o marxismo e,<br />

como é sabido, nenhuma destas filoso-<br />

PORTUgUESES PELO ORIENTE Crónicas<br />

EU, ACObAR<strong>DA</strong>DO ME CONFEssO…<br />

fias se dá com os nossos valores, os ocidentais,<br />

como a liberdade individual e<br />

direitos humanos …prefiro parar aqui,<br />

pois não desejo o tipo de vida deste povo,<br />

sempre servil e acocorado, para nós portugueses!<br />

Mas agora preocupa-me mais a minha<br />

cobardia! Porque algo nunca sentido<br />

anteriormente, procuro as razões…<br />

Algum sufoco pelo excesso de calor na<br />

sala super aquecida? Não é razão para<br />

isso…. Descobri! É o medo, o medo de<br />

enfrentar lá fora esse vento cortante, gélido,<br />

destruidor, que a todos toca… Sim,<br />

é cobardia, porque não? É tão cobardia<br />

como as outras que vamos ganhando e<br />

que são a nossa sina actual, a nossa, dos<br />

portugueses de hoje, vivendo neste malestar<br />

difuso, que alastra e mina em nós a<br />

confiança de um futuro melhor; que nos<br />

tolhe ao ponto de já nem termos ânimo<br />

em dizer as palavras “basta e chega!”.<br />

Razões? É ler a imprensa diária, qual<br />

“passarelle” para uma moda em desfile<br />

permanente dos modelos, digo, reverenciados<br />

heróis de hoje: por lá desfilam os<br />

banqueiros ou supostas pretensões, os<br />

donos da bola, os políticos de alma menor,<br />

os comprados, os vendidos, os ingénuos<br />

que tudo assinam, os distraídos,<br />

os mandados em paz (apanhados de pistola<br />

na mão, eu sei, eu sei, era só para<br />

assustar, claro!), etc.<br />

Cobarde como eu, perante as intempéries,<br />

não foi certamente António Andrade.<br />

Este missionário português do<br />

século XVII, que na defesa do seu ideal,<br />

levou de vencida meses a fio, os ventos<br />

gélidos, o frio, a neve, os precipícios, a<br />

falta de alimentos e outras dificuldades<br />

e tormentas que quase lhe custaram a<br />

vida, apenas com “um cambolim para<br />

se cobrir, e um alforge com alguma cousa<br />

pera comer”, numa viagem bem dolorosa<br />

e sofrida. Do que foi a terrível viagem<br />

para as altas montanhas, iniciada<br />

em Agra (Índia) a 30 de Março de 1624 e<br />

disfarçado de muçulmano, conseguimos<br />

imaginar. Porém, para além destas<br />

dificuldades próprias da natureza, teve<br />

este missionário que vencer também,<br />

como sempre e em todo o lado, as impostas<br />

pelos homens, como os condicionalismos<br />

e as contrariedades injustas a<br />

que o sujeitou o Rajá de Srinagar, por<br />

ser Andrade cristão e não mercador. Já<br />

nas terras do Dalai Lama e após atraves-<br />

sar os Himalaias pela porta de Mana, foi<br />

bem acolhido pelo rei de Guge, um dos<br />

reinos do Tibete, que, maravilhado pela<br />

fé inabalável daquele homem que sofrera<br />

as piores agruras para lhe trazer a lei<br />

do seu deus, recebeu-o com todas as<br />

honras. Aqui, na cidade real de Chaparanque,<br />

a 5.604 metros de altitude, estabeleceu<br />

António Andrade o primeiro<br />

centro missionário, lançando a 12 de<br />

Abril de 1626, a primeira pedra da igreja<br />

dedicada à Virgem da Esperança. Só<br />

quase 200 anos depois, em 1807, outros<br />

europeus, os oficiais ingleses Webb e<br />

Raper percorreriam o mesmo caminho<br />

daquele beirão de Oleiros.<br />

Perante a “coragem” deste português<br />

de então, é ou não razão para dizer que<br />

eu, um entre muitos portugueses de<br />

hoje, acobardado me encontro…? Aqui<br />

relembro as palavras de Neruda quando<br />

avisava “não te esqueças que a causa<br />

do teu futuro será o teu presente”. Que a<br />

referida Virgem da Esperança retire de<br />

mim, e de outros portugueses, esta e outras<br />

cobardias, e nos devolva novamente<br />

a coragem para poder sorrir, não fazendo<br />

de nós um povo acocorado, indiferente<br />

e servil!<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 25


Crónicas<br />

Face às ambições de Espanha<br />

em relação ao território<br />

do oeste do Brasil colónia<br />

e aos ataques constantes<br />

de índios Paiaguás e<br />

Guaicurus, o Marquês de Pombal<br />

determinou a construção de uma<br />

fortaleza num lugar longínquo nas<br />

margens do rio Paraguai. O Forte<br />

Coimbra, obra emblemática da arquitectura<br />

militar portuguesa, foi<br />

construído numa das poucas elevações<br />

existentes<br />

no Pantanal e<br />

fundado em Setembro<br />

de 1775.<br />

O Marquês<br />

não imaginava<br />

que poucas décadas<br />

depois o Pa-<br />

Jacinto Almeida<br />

(19510049<br />

raguai (em 1811) e<br />

o Brasil (em 1822)<br />

se tornariam independentes<br />

e<br />

que cerca de um século depois da<br />

sua determinação, o governo paraguaio<br />

declararia guerra ao Brasil<br />

(em 13 de Dezembro de 1864) e no<br />

dia 26 iniciaria um feroz ataque ao<br />

Forte Coimbra.<br />

Uma imagem de Nossa Senhora<br />

do Carmo que se tornou heroína durante<br />

o ataque da grande frota de<br />

navios paraguaios tem honras de<br />

general de brigada, disse-me o capitão<br />

Nivaldo Gramosa, comandante<br />

do Forte, após perfilar-se e fazer a<br />

continência à imagem.<br />

Na noite anterior ao capitão Nivaldo<br />

me ter mostrado a imagem<br />

numa dependência do Forte Coimbra,<br />

entrei num restaurante chamado<br />

“Baís do chopp”, no porto de Corumbá,<br />

um prédio bem iluminado<br />

de tijolo aparente, construído no século<br />

XIX, para sede da Wanderley,<br />

Bais & Cia, empresa de importação,<br />

exportação, consignações, despachos,<br />

operações bancárias e navegação.<br />

“Aqui temos os peixes da região,<br />

pintado, pacu e temos também caldo<br />

de piranha”, disse a proprietária,<br />

Marisa Machado. O restaurante es-<br />

26 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

A ÚLTIMA FRONTEIRA: FORTE cOIMBRA<br />

tava vazio e a dona queixou-se, “os<br />

turistas que chegam querem sexo e<br />

tenho a certeza de que a grande casa<br />

de massagens da região, aqui bem<br />

perto, está cheia de gente”. “Qualquer<br />

dia abandono tudo e volto para<br />

S. Paulo”, acrescentou. Enquanto<br />

jantava, troquei impressões sobre a<br />

viagem que faria no dia seguinte, de<br />

Corumbá, pela estrada Parque, até<br />

ao hotel Tarumã, onde um barco me<br />

aguardava para me levar ao Forte<br />

Coimbra, segundo Marisa “uma pequena<br />

povoação, no meio do nada, a<br />

poucos quilómetro das fronteiras<br />

fluviais com a Bolívia e o Paraguai”.<br />

“Prepare-se, pois são cerca de duas<br />

horas de barco em lancha voadora”,<br />

acrescentou.<br />

Saí cedo, passei por pequenos<br />

hotéis em estrada de terra no coração<br />

do pantanal, que acolhem turistas,<br />

em geral pescadores. No meio<br />

da intensa humidade, da vegetação<br />

densa e do calor que crescia com o<br />

avançar das horas, passava por uma<br />

ou outra boite, lugares de aparência<br />

modesta. Fechadas aquela hora, deviam<br />

“ferver durante a noite” como<br />

me disse um pantaneiro. O barqueiro<br />

Sebastião já me aguardava no hotel<br />

Tarumã. Era um homem experiente<br />

de meia-idade, completamente<br />

calvo, sabia cortar caminho nos<br />

braços do rio Paraguai, escolher os<br />

bons atalhos e cerca de duas horas<br />

depois o Forte Coimbra surgiu imponente<br />

numa curva da margem esquerda<br />

do rio. Em grandes letras<br />

pretas na imensa parede pintada de<br />

branco, a frase: “REPELIR O INI-<br />

MIGO OU SEPULTAR-SE DEBAI-<br />

XO <strong>DA</strong>S RUÍNAS DO FORTE”. O<br />

capitão Nivaldo Gramosa depois de<br />

me cumprimentar recordou que o<br />

Marquês de Pombal no quadro de<br />

um plano estratégico de defesa das<br />

fronteiras do Brasil determinara a<br />

construção da fortificação que ele se<br />

orgulhava de comandar.<br />

Um jovem tenente mostrou-me a<br />

vila ao redor da Fortaleza com cerca<br />

de seiscentos habitantes, a escola<br />

municipal Ludovina Portocarrero e<br />

as instalações militares, o fosso, a<br />

casa da pólvora, os quartéis… Num<br />

pequeno museu há peças de madeiras<br />

e louças portuguesas e as cinzas<br />

do coronel Ricardo Franco, um herói<br />

que baptizou índios e morreu na<br />

fortaleza. Em frente ao hotel de<br />

trânsito da marinha, onde almoçámos,<br />

viam-se capivaras e “aparece<br />

um ou outro jacaré”. “Alguns marinheiros<br />

que aqui prestam serviço,<br />

depois de dispensados das forças<br />

armadas, continuam a morar na<br />

vila”, disse o comandante.<br />

A cerca de oito quilómetros, quarenta<br />

minutos de lancha, chega-se


ao destacamento de Puerto Busch, a<br />

fronteira boliviana. Trata-se de uma<br />

pequena guarnição, completamente<br />

isolada, com militares precariamente<br />

fardados, alguns deles descalços,<br />

que caçam e pescam para se alimentarem<br />

e onde o comandante ainda<br />

aplica castigos corporais com chicote.<br />

Pouco mais de trinta quilómetros<br />

depois, sempre pelo rio, chega-se a<br />

Porto Yuqueri, uma vilória fronteiriça<br />

paraguaia muito pobre. “Os militares<br />

da guarnição são extremamente<br />

corruptos e lá as mães chegam<br />

a oferecer as filhas menores à<br />

prostituição. “Ir até lá sem conhecer<br />

ninguém, é perigoso”, alertou-me<br />

um oficial.<br />

Pensava nas histórias que me foram<br />

contadas sobre o Forte Coimbra<br />

enquanto percorria o caminho<br />

de regresso ao hotel Turumã, quando<br />

uma tempestade desabou sobre<br />

nós. Devido à velocidade da lancha<br />

os grossos pingos de água pareciam<br />

furar a nossa pele. Sebastião procurava<br />

os melhores atalhos no labirinto<br />

de braços do rio, a vida dá voltas,<br />

voltas… tenho a certeza que o Marquês<br />

de Pombal quando determinou<br />

a construção do Forte Coimbra, o<br />

transporte das pedras e dos canhões,<br />

nunca poderia ter imaginado<br />

os acontecimentos que se iriam passar<br />

nesta região. Se tivesse imagina-<br />

do apenas uma pequena parte, talvez<br />

não tivesse mandado construir<br />

o forte e agora não seria lembrado<br />

pelo capitão Nivaldo, pensei, enquanto<br />

Sebastião continuava às voltas<br />

pelos labirintos do rio Paraguai.<br />

A vida dá muitas voltas, mas<br />

aqui, na última fronteira, a realidade<br />

mais consistente é a vida selvagem.<br />

A chuva parou, pequenas tartarugas<br />

atiravam-se à água quando<br />

a lancha se aproximava da margem,<br />

pássaros cruzavam o céu, aves de<br />

rapina espreitavam. Aves de rapina<br />

e tartarugas, reportei-me para a<br />

Grécia de Ésquilo. Por que raio iame<br />

lembrar, ali no rio Paraguai, de<br />

crónicas<br />

um escritor trágico com uma grande<br />

cabeça, inteiramente calvo (como<br />

o barqueiro Sebastião)? Talvez por<br />

que na Grécia antiga a tragédia surgia<br />

quando referências sólidas eram<br />

rompidas. E o século XIX, um século<br />

de esperança para a América Latina,<br />

foi o cenário da Guerra do Paraguai,<br />

a maior tragédia sul-americana<br />

desse século que tem, justamente,<br />

no Forte Coimbra um marco<br />

histórico. Dizem que Ésquilo estava<br />

sentado no campo, talvez a meditar,<br />

quando uma ave de rapina, imaginemos<br />

uma águia, que levava uma<br />

tartaruga em suas presas para partir<br />

o casco (o casco da tartaruga é de<br />

quilónio, difícil de partir), deixou-a<br />

cair sobre a sua cabeça. Ésquilo<br />

morreu instantaneamente. A águia<br />

terá confundido a cabeça calva do<br />

escritor com uma rocha, supõe-se.<br />

Essas aves deixam cair, do alto, as<br />

tartarugas sobre rochas para partir<br />

o casco e comerem a sua carne. “Sebastião,<br />

talvez seja melhor você pôr<br />

um boné”, gritei para o barqueiro.<br />

“Não vale a pena, estamos a chegar”,<br />

respondeu-me.<br />

Quando chegámos ao hotel Turumã<br />

alguns turistas preparavam<br />

as lanchas para a pescaria de fim de<br />

tarde. Reparei que todos estavam de<br />

boné, talvez conheçam a história da<br />

morte de Ésquilo, pensei.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 27


Crónicas<br />

Quando saio de casa para um<br />

giro pelas redondezas sinto<br />

imensas saudades do meu<br />

cão de companhia. Quando<br />

vou à caça recordo imenso o<br />

prazer que sentia quando o meu cão de<br />

caça me acompanhava e ajudava na actividade.<br />

Um cão é uma espécie do grilo<br />

do “Pinóquio”, uma consciência que<br />

nos devolve as nossas dúvidas e anseios<br />

com respostas que queremos mas muitas<br />

vezes não pomos em prática. Ao cão<br />

“dizemos” coisas que teríamos dificuldade<br />

de dizer a outrem.<br />

D e s de mu i t o<br />

novo que fui habituado<br />

a conviver<br />

com cães. O meu<br />

Pai era caçador e<br />

não prescindia dos<br />

fiéis amigos que o<br />

ajudavam e lhe fa-<br />

Rui Cabral Telo<br />

(19480265)<br />

ziam companhia.<br />

Apesar de ser ele o<br />

“dono”, eu era o<br />

grande companheiro<br />

de brinca-<br />

deiras dos nossos cachorros. Quando<br />

chegava a casa, ao fim de semana vindo<br />

do Pilão, a primeira coisa a fazer era<br />

soltar os cães e levá-los até às serranias<br />

próximas onde eu e eles nos recriávamos<br />

em correrias e brincadeiras. E chegaram<br />

a ser nove, pai, mãe e sete crias<br />

que a pouco e pouco fomos oferecendo,<br />

ficando apenas com uma cadela.<br />

Durante a semana, no Pilão, o “Bily”,<br />

um mestiço de “Yorkshire” que por lá<br />

apareceu e adiu, era também o meu<br />

companheiro de caçadas às ratas no<br />

28 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

OS MEUS cÃES<br />

muro da ribeira.<br />

Quando casei e saí da casa paterna,<br />

muito me custou deixar lá um canito<br />

“rafeirote” que por minha insistência<br />

foi adoptado por toda a família.<br />

A minha mulher, quer em criança<br />

quer depois de adulta nunca teve um<br />

cão e não estava muito virada para isso.<br />

Cães dão imenso trabalho, largam pelos<br />

e sujam as casas, só que eu sentia imensa<br />

falta de um companheiro de quatro<br />

patas, principalmente durante a caça.<br />

Por outro lado, custava-me que o meu<br />

filho não crescesse na companhia de<br />

um cão. Sou de opinião que um cão é indispensável<br />

na formação das crianças.<br />

O tomar conta, o cumprir certas obrigações,<br />

os cuidados com a alimentação e a<br />

amizade que se vai fomentando, são<br />

factores importantíssimos para a formação<br />

de carácter.<br />

«Ao cão “dizemos” coisas<br />

que teríamos dificuldade<br />

de dizer a outrem.»<br />

Certo dia, um Coronel Veterinário<br />

com quem eu conversava imenso no<br />

serviço, informou-me que tinha dois<br />

“setters” irlandeses lá no consultório,<br />

que uma senhora lhe tinha deixado,<br />

com a missão de os dar só a quem ele<br />

soubesse que trataria bem deles. Fui<br />

ver os bichos e fiquei encantado com<br />

um deles. Tinham dois meses e eram<br />

lindos. Aquele ao qual deitei logo o olho<br />

foi-se entretendo a furar-me os dedos<br />

com aqueles dentinhos fininhos como<br />

alfinetes e deixou-me completamente<br />

apaixonado. Não resisti e levei-o para<br />

casa, muito a medo claro, pois não sabia<br />

qual ia ser a reacção da “patroa”.<br />

O bicho foi um sucesso. Mulher e filho<br />

ficaram rendidos àquela gracinha<br />

de quatro patas. Tornou-se um lindo bicho.<br />

Esbelto, cabeça grande, pelo sedoso<br />

de cor de fogo. Corria como um galgo<br />

com aquela cauda comprida, ruiva e em<br />

forma de pluma. Como parecia um raio<br />

pus-lhe o nome de “Flint” (como uma<br />

faísca produzida por uma pedra de isqueiro).<br />

Foi companheiro de brincadeiras do<br />

meu filho e o acompanhante caseiro da<br />

minha mulher que por ele apanhou tremenda<br />

“paixoneta” ao ponto de se deitar<br />

debaixo da cama a brincar com ele,<br />

tendo inúmeras conversas com o bicho<br />

que parecia compreendê-la totalmente.<br />

O trabalho ficou comigo, claro. Levar o<br />

bicho à rua, lavá-lo e escová-lo todas as<br />

semanas, vacinas, veterinário, medicações,<br />

etc. … Mas só assim compreendo<br />

que se tenham animais domésticos.<br />

Acarinhá-los e tratá-los como merecem.<br />

O Flint só tinha um contra. Com<br />

muito desgosto meu não servia para a<br />

caça. Cada vez que dava ao gatilho, o bichano,<br />

parecia que ganhava asas e fugia<br />

a sete patas tremendo como varas verdes.<br />

Nunca consegui tirar-lhe os medos.<br />

E também tinha muita “personalidade”,<br />

era teimoso como um burro! Era mais<br />

ele que mandava em mim do que eu<br />

nele. Gostava imenso de água e na praia


nadava comigo brincando nas ondas.<br />

Gostava tanto de água que, em pleno Inverno,<br />

se deitava à chuva no meio da<br />

relva dos jardins deixando-se estar deliciado<br />

não ligando nenhuma aos meus<br />

chamamentos. Ao chegar a casa tinha<br />

um trabalhão a limpá-lo e secá-lo para<br />

evitar sujeiras.<br />

Quando fui mobilizado para Moçambique<br />

nem pensámos duas vezes,<br />

nunca seria possível separarmo-nos do<br />

nosso companheiro. Tive de lhe pagar o<br />

transporte na TAP e não foi pouco. Foi,<br />

por lá andou e voltou, só que a alimentação<br />

de lá era menos cuidada e o bicho<br />

ressentiu-se. Um ano depois do regresso<br />

morreu com uma cirrose aos sete<br />

anos de vida. Foi um desgosto enorme e<br />

resolvemos não voltar a ter outro. Passar<br />

pelo mesmo seria muito doloroso.<br />

Ainda na vivência do “Flint”, arranjei<br />

outro cachorro para a caça. Um mestiço<br />

de “pointer” e perdigueira, completamente<br />

preto, ao qual pus o nome de<br />

“Black”. Desde os quatro meses começou<br />

a revelar um instinto nato para a<br />

caça e aos seis meses já parava codornizes<br />

e perdizes. Ter dois cães num andar<br />

era impensável e também não queria<br />

que os demasiados carinhos da mulher<br />

e filho o estragassem como aconteceu<br />

com o outro. Ficou num canil, que con-<br />

segui, mesmo no local de trabalho e todos<br />

os dias o ia ver, soltar e dar um giro.<br />

Foi um companheiro assíduo, um caçador<br />

extraordinário e demonstrava por<br />

mim um amor total. Passámos boas jornadas<br />

cinegéticas e fazia-me imensa<br />

companhia. Muitas vezes ia buscá-lo ao<br />

canil e levava-o para o meu gabinete de<br />

crónicas<br />

trabalho deitando-se no tapete até eu<br />

sair.<br />

Também tinha o seu defeito. Tinha<br />

mau dente para os outros cães e, apesar<br />

de não ser muito corpulento, chegou a<br />

matar cães muito maiores do que ele.<br />

Mordia, agarrava e abanava até o opositor<br />

deixar de lutar. Tive montes de problemas<br />

com ele na caça pois o bicho que,<br />

não atacava mas não suportava ser confrontado,<br />

era muitas vezes provocado<br />

pelos outros e lá tinha de ser eu a pôr<br />

cobro às lutas. Por isso nunca misturei<br />

os meus dois cães. Este sobreviveu ao<br />

“setter”. Era mais novo e como mestiço<br />

que era, mais resistente. Morreu com<br />

onze anos e caçou até ao fim. Mais um<br />

companheiro que perdi e mais um desgosto.<br />

O mal é que estas bichezas, normalmente,<br />

duram menos do que nós.<br />

Actualmente não tenho cães. A idade é<br />

outra e a paciência não tanta, mas a<br />

saudade perdura e nos meus passeios<br />

recordo-os.<br />

Quer um quer outro foram grandes<br />

companheiros e amigos. Mas o meu filho<br />

tem uma cadela “Labrador”. Ficoulhe<br />

o amor aos cachorros. Eu mato saudades<br />

quando a cadela está ao pé de nós<br />

levando-a a passear. Não tenho cão,<br />

mas às vezes, usufruo da companhia da<br />

minha “neta” canina.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 29


NOTÍCIAS<br />

30 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

PUPILOs DIsTINgUIDOs<br />

A CRUZ DE gUERRA NO PEITO DE UM PUPILO EgREssO*<br />

RELEMBRAR A CORAGEM DE UM PILãO<br />

Em 1969, faz agora precisamente 40 anos, escrevia o<br />

Coronel Adelino de Miranda Vassalo Pandayoi nas<br />

páginas do nosso Boletimii :<br />

“E não tardou que ali lhe fosse confiada uma arriscada<br />

missão, porventura no género das que modernamente se designam<br />

por “operações de comandos”: uma lancha, uns quantos<br />

homens, um embarque num ponto A e um desembarque<br />

num ponto B, para efeitos determinados. O mar encapelavase<br />

cada vez mais; os ventres elevados e os nodos profundos da<br />

ondulação alterosa, tornavam a procela assustadora; os homens<br />

assombrados enchem-se de medo; esboça-se uma rebelião;<br />

eles pretendem negar-se a seguir viagem! Confusão; o<br />

espectro do pânico parece adejar minaz e ao jovem sargento<br />

que os comandava, dirigiam-se clamores de recusa e até de<br />

ameaças! Julgavam eles, sem arrepsia, que a aparente timidez<br />

daquele, seria presa fácil dos seus transvios. Mas o glabro<br />

sargento era um ex-pupilo, […] Eivado do mais nobre sentimento<br />

do dever, habituado à obediência consentida, férrea<br />

vontade que se fundiu num cresal de disciplina e de amor pátrio,<br />

ânimo corajoso, tenaz e forte como um roble, empunha<br />

energicamente a sua espingarda, que carrega de frente para os<br />

transviados e brada-lhes deste jeito: “Ó covardes! O primeiro<br />

dentre vós que ousar desobedecer-me, será já abatido como se<br />

fora um cão raivoso”. “Temos de cumprir a nossa missão;<br />

impõe-nos o nosso dever de portugueses e soldados”. Estupefactos,<br />

cabisbaixos, sem dúvida envergonhados, perante tal<br />

exemplo de coragem e decisão, afinal dum imberbe rapazito…<br />

emudeceram! A viagem prosseguiu e a missão fora cumprida!<br />

Uma Cruz de Guerra surgiu então no peito de um herói.”<br />

Referia-se o Coronel Pandayo na sua deliciosa prosa a<br />

um jovem sargento, antigo aluno do nosso Instituto, que<br />

em 1917, na África Oriental Portuguesa, combatia os alemães<br />

na vertente africana da Grande Guerra. Mas por<br />

deferência a uma natural modéstia, que parece ser marca<br />

de grandes Pilões através dos tempos, Vassalo Pandayo<br />

não revela o seu nome. Apenas nos deixa uma pista:<br />

“Trata-se do ex-pupilo com o número 2 de matrícula no<br />

contingente da inauguração do Templo que a República fundou<br />

e que se chama Instituto dos Pupilos do Exército.”<br />

Tão intrigante relato teve em mim, 40 anos depois da<br />

sua publicação, o feito contrário que o jovem sargento<br />

terá pretendido. É impossível permanecer anónimo após<br />

determinados actos de bravura. É injusto permanecer<br />

anónimo.<br />

O primeiro aluno do IPE a<br />

quem foi atribuído o número de<br />

ordem 2 foi Virgílio Aureleano<br />

Guerra de Matos Sueiroiii . Nasceu<br />

em Elvas a 21.07.1899, e foi admitido<br />

no nosso Instituto na sua<br />

primeira geração de alunos a<br />

15.01.1912, tendo sido abatido ao<br />

O esquecimento é o verdadeiro sudário dos mortos.<br />

George Sand<br />

efectivo a 04.09.1916. Portanto à data dos factos passados<br />

em Moçambique, o jovem sargento teria cerca de 18 anos!<br />

Mas, e a Cruz de Guerra iv que Vassalo Pandayo refere?<br />

Fomos tentar encontrar informações. Não foi fácil,<br />

visto que nem sempre os nomes publicados em documento<br />

oficiais correspondem aos verdadeiros v .<br />

Reza assim um Decreto de 31 de Março de 1927 (Ordem<br />

do Exército 3 e 7 / II Série / 1927) assinado pelo Presidente<br />

da República António Óscar de Fragoso Carmona:<br />

Tendo em consideração os altos serviços prestados à Pátria<br />

e à Humanidade por muitos Oficiais e Praças que nos<br />

campos de batalha em França e em África praticaram brilhantes<br />

feitos de armas onde evidenciaram excepcional valor<br />

e comprovada abnegação, tornando-se por esse facto merecedores<br />

de recompensa especial. Usando da faculdade que me<br />

confere o nº 3º do artigo 2º do Decreto nº 12.740, de 26 de<br />

Novembro de 1926, sob proposta do Ministro da Guerra vi : hei<br />

por bem decretar que os Oficiais e Praças a seguir mencionados<br />

sejam condecorados com as classes da Cruz de Guerra que<br />

respectivamente lhes vão indicadas. […]<br />

Medalha de Cruz de Guerra de 2ª classe, modelo 1917<br />

2º Sargento nº 233 do Quadro dos Sargentos do Secretariado<br />

Militar, Virgílio Aureliano Guerra – por se<br />

ter oferecido voluntariamente para ir por mar em uma lancha<br />

buscar mantimentos, lancha que foi arrastada pelo temporal<br />

para o mar largo, correndo o risco de se perder e andando<br />

doze dias sem rumo, conseguindo através de muitos perigos<br />

desempenhar-se cabalmente da missão e chegar ao seu destino,<br />

mostrando muita coragem, intrepidez, sangue frio e correndo<br />

risco de vida, sendo este louvor considerado como conferido<br />

em Ordem do Comando da Expedição a Moçambique.<br />

Virgílio Aureleano Guerra de Matos Sueiro seguiu a carreira<br />

das armas, tendo alcançado o oficialato. Foi o sócio do<br />

Grémio dos Pupilos do Exército, depois Associação dos Pupilos<br />

do Exército, com o n.º 98. Faleceu em Setembro de 1980.<br />

Evocar o Pupilo Virgílio Aureleano Guerra de Matos<br />

Sueiro é contribuir com um notável testemunho para<br />

consolidação da nossa imagem colectiva e fornecer um<br />

exemplo para os Pupilos do futuro.<br />

Evocar o Pupilo Virgílio Aureleano Guerra de Matos


Sueiro é prestar uma homenagem pública a quem sendo<br />

jovem soube ser Homem, a quem sendo bravo foi modes-<br />

* EGRESSO - Pode-se entender Pupilo Egresso como antigo Pupilo, aquele que saiu da instituição.<br />

No passado dia 18 de Setembro,<br />

o Corpo de Fuzileiros<br />

atribuiu a designação<br />

“Capitão-de-mar-e-guerra<br />

FZE Rebordão de Brito” à<br />

Praça do Museu dos Fuzileiros,<br />

situada no interior da<br />

Escola de Fuzileiros.<br />

Em cerimónia presidida pelo Comandante do Corpo de<br />

Fuzileiros, Contra-Almirante Luís Miguel de Matos Cortes<br />

Picciochi, e perante os Oficiais do Corpo, Base e Escola de<br />

Fuzileiros, e representações de Sargentos e Praças, foi descerrada<br />

uma placa que perpetua o nome do Comandante<br />

Alberto Rebordão de Brito (Pupilo 1953.0191) naquela que é<br />

a casa-mãe dos fuzileiros navais portugueses. Após a leitura<br />

dos dados biográficos do homenageado, o próprio CALM<br />

Picciochi usou da palavra enaltecendo a sua carreira militar<br />

e a sua actividade na Guiné, durante a Guerra do Ultramar.<br />

A placa, que foi descerrada pela família de Rebordão de<br />

Brito, regista na alvura do mármore o nome do insigne Oficial,<br />

que assim ficará para sempre ligado à Escola de Fuzileiros.<br />

A ilustrar a placa figuram as três mais distintas conde-<br />

to, a quem demonstrou em momentos decisivos a natureza<br />

excelsa da sua formação.<br />

RV<br />

iCoronel de Infantaria, Antigo aluno 1913.0105<br />

iiRecordando A “Cruz de Guerra” no peito de um PUPILO egresso, Boletim da APE, n.º 56/57, Agosto/Novembro de 1969.<br />

iiiRegisto Cronológico - Alunos Entrados no Instituto em 1912, Boletim da APE, n.º 76, Abril/Junho de 1974.<br />

ivA medalha da cruz de guerra destina-se a galardoar actos ou feitos de bravura praticados em campanha por cidadãos, militares ou não, nacionais ou estrangeiros. A medalha da<br />

cruz de guerra compreende quatro classes, sendo a 1.ª classe a mais elevada e a 4.ª classe a menos elevada. A sua atribuição é independente da graduação ou patente do condecorado.<br />

Foi criada pelo Decreto n.º 2870, de 30 de Novembro de 1916, numa clara inspiração na Croix de Guerre francesa.<br />

vÉ devido um agradecimento ao eminente Falerista Dr. Paulo Jorge Estrela pela colaboração e apoio na pesquisa das fontes. Ao Pupilo Manuel Andrade (1963.0298) agradeço a<br />

cedência da foto de Virgílio Sueiro.<br />

viAbílio Augusto Valdês de Passos e Sousa (1881-1966), Ministro da Guerra entre 29 de Novembro de 1926 e 18 de Abril de 1928.<br />

Recentemente editado pela editora Sílabo, o livro intitulado<br />

“Marketing e Comunicação Política” faz uma abordagem<br />

às temáticas relacionadas com o conceito de Marketing<br />

político, em geral, e com as disciplinas mais importantes<br />

que actuam na vertente política da Comunicação.<br />

Visando dar um contributo prático a estudantes, profissionais<br />

de comunicação e<br />

marketing, políticos e interessados<br />

pela ciência política em<br />

geral, a compilação efectuada<br />

pretende explanar os pormenores<br />

inerentes às novas tendências<br />

do Marketing e à sua<br />

evolução.<br />

Os acontecimentos não têm<br />

todos a mesma importância e nem todos podem ser integrados<br />

nas agendas dos jornalistas, tanto os eventos políticos<br />

como outros estão sujeitos à hierarquização que<br />

PRAÇA CMg FZE REbORDãO DE bRITO<br />

corações nacionais, a<br />

Ordem da Torre e Espada,<br />

e as medalhas de Valor<br />

Militar e de Cruz de<br />

Guerra que, entre outras,<br />

lhe douravam o peito.<br />

Esta homenagem,<br />

que naturalmente merece<br />

o nosso maior aplauso,<br />

é mais um reconhecimento<br />

público das extraordinárias<br />

qualidades e<br />

virtudes militares que o<br />

Pupilo Alberto Rebordão<br />

de Brito personificava,<br />

e que as coloca na devida<br />

evidência para todos<br />

os militares da Armada<br />

que cursam na Escola de Fuzileiros.<br />

MARKETINg E COMUNICAÇãO POLÍTICA<br />

Rui Santos Vargas<br />

(1981.0132)<br />

cada órgão de comunicação social<br />

faz.<br />

Como forma de transportarmos<br />

para a realidade política todas<br />

as temáticas abordadas neste livro,<br />

os autores apresentam casos<br />

da vida real através dos quais se<br />

pretende apresentar exemplos<br />

práticos da aplicação das técnicas<br />

e métodos exemplificados neste livro<br />

no campo político.<br />

Com prefácio do euro deputado e professor universitário<br />

Joel Hasse-Ferreira, o livro tem Joaquim Caetano e<br />

J. Martins Lampreia na coordenação científica e como<br />

autores, Maria Manuel Simões, Marisa Dias Antunes,<br />

João Cunha, Carlos Lopes (deputado), Acílio Marques e<br />

Inácio Beirão (1972.0179).<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 31


NOTÍCIAS<br />

32 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

“sTOCK OPTIONs”<br />

********<br />

A DINâMICA NAs CIêNCIAs ECONóMICAs E EMPREsARIAIs<br />

Mais dois LiVros de autoria “PiLóNica”<br />

eve lugar no Pavilhão Atlântico em 25 de Setembro<br />

T p.p., o lançamento do livro “Stock Options - Elementos<br />

Financeiros, Contabilísticos e Fiscais” da autoria<br />

do Pilão Renato Pereira (19830268), Paulo Faria (Auditor<br />

do Tribunal de Contas Europeu) e José Vieira dos Reis (1º<br />

Bastonário da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas).<br />

A relevância deste tema na actual conjuntura financeira<br />

internacional bem como a escassez de bibliografia<br />

técnica no mercado português, suscitou desde logo o interesse<br />

da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas dadas<br />

as obrigações profissionais dos seus membros numa matéria<br />

de crescente<br />

acuidade para o<br />

tecido empresarial<br />

nacional.<br />

A apresentação<br />

pública da obra,<br />

por ocasião do III<br />

Congresso daquela<br />

Câmara realizado<br />

no Pavilhão Atlântico<br />

em Lisboa, foi assumida por Domingues Azevedo,<br />

seu Presidente e fundador bem como autor do respectivo<br />

prefácio, que salientou perante os numerosos TOCs e financeiros<br />

presentes os vários méritos desta publicação<br />

pioneira no preenchimento da importante lacuna nos<br />

instrumentos de trabalho disponíveis para profissionais<br />

na complexa área das “Stock Options”.<br />

Continuando um bom esforço de vitalizar contactos com<br />

“pilões” com assumidas carreiras de gestores e empresários,<br />

cumpriu-se na manhã de 26 de Setembro pp., em Évora,<br />

mais um bom Encontro de ex-alunos de diversas gerações<br />

e elogiáveis actividades, sob a égide da APE, com o nosso<br />

Presidente, Américo Ferreira, em particular destaque<br />

promovendo este tipo de convívios.<br />

Bem recebidos<br />

no Anfiteatro do<br />

Centro de Instrução<br />

e Doutrina de Évora,<br />

da superintendência<br />

do General<br />

Mascarenhas que<br />

enviou uma simpática<br />

mensagem e se<br />

fez representar pelo<br />

Major Passos, uns convictos 30 “pilões” debateram o tema<br />

fulcral da Formação Profissional e ficaram a saber das novidades<br />

do Portal Rede Activa, magnifica ideia sob a liderança<br />

do Hélder Grilo (1978.0349). Em breves palavras, Américo<br />

Ferreira saudou os participantes e lançou a série de intervenções,<br />

cabendo à “piloa”, Ana Paula Oliveira (1978.1097)<br />

a tarefa moderadora na condição de Docente do Instituto,<br />

Foi também, em data posterior,<br />

mais precisamente no dia 5 de Novembro<br />

passado, lançado por este<br />

nosso colega “pilão”, na cidade de<br />

Maceió (AL) Brasil, o livro intitulado<br />

“A Dinâmica Nas Ciências<br />

Económicas e Empresariais –<br />

Contributo para uma Visão<br />

Abrangente –“ este evento ocorreu<br />

aquando da Conferência Internacional,<br />

realizada nesta cidade, sob o<br />

titulo A “Dinâmica” Enquanto Dimensão<br />

Caracterizadora dos Sistemas<br />

Económicos e Empresariais.<br />

O Renato entrou no IMPE em 1983 tendo completado o<br />

Curso Superior de Contabilidade e Administração em<br />

1994. Inspirado porventura no nosso conhecido “Querer é<br />

Poder”, o Renato prosseguiu de imediato um esforçado<br />

projecto formativo que culminou com o Doutoramento em<br />

Ciências de Gestão na Université Paris Dauphine (França)<br />

em 2003. E, posteriormente, frequentou ainda formação<br />

avançada em Corporate Strategy no M.I.T. (EUA).<br />

Nos últimos anos tem concentrado as suas actividades<br />

como professor universitário das matérias da sua especialidade.<br />

Com orgulho e satisfação o Boletim da APE endereça<br />

os seus parabéns ao “pilão” Renato Pereira, pelo sucesso<br />

patenteado.<br />

IMPORTANTE DEbATE sObRE FORMAÇãO PROFIssIONAL<br />

muito por dentro da<br />

temática escolhida.<br />

Sucessivamente<br />

e ao longo de<br />

mais de uma hora,<br />

os nossos colegas<br />

Jorge Zózimo da<br />

Fonseca (Professor<br />

no IPE há mais de<br />

20 anos), Rogério<br />

Santos e José Crespo falaram do Ensino Profissional no<br />

IMPE, da Formação no Ramo Automóvel (marca Premium)<br />

e de Novas Tecnologias da Formação à distância,<br />

respectivamente, com oportunas visões em “data-show”.<br />

Entrou-se, depois, no período de debate de questões colocadas<br />

aos palestrantes, sob a moderação de Ana Paula Oliveira.<br />

Entre outros, Fernando Franco Leandro, João Bencatel,<br />

António José Ambrósio, Ana Paula Videira Fernandes,<br />

David Sequerra e Américo Ferreira animaram a sessão, permitindo<br />

novas e valiosas intervenções dos palestrantes.<br />

Cumprindo o programa, bem dentro da hora (parabéns<br />

aos organizadores!) Américo Ferreira encerrou o Encontro<br />

com palavras de vincado optimismo quanto aos rumos do<br />

Instituto, informando sobre as próximas iniciativas congé-


neres, ainda em 2009, solicitando entusiástica adesão “pilónica”.<br />

Do Anfiteatro seguiu-se para a Messe dos Oficiais, em<br />

Évora, (Igreja da Graça) onde decorreu animado almoçoconvívio,<br />

com as fotos da praxe, a pedido expresso do Fernando<br />

Pires (1955.0275), uma das mais recentes “conquis-<br />

tas” da APE, na área tão importante deste nosso “Boletim”.<br />

E o dia terminou com uma bem conduzida visita cultural à<br />

denominada Cidade-Museu, avivando expectativas para<br />

próximos encontros deste género.<br />

D. S.<br />

O VETERANO DO ANO<br />

“MaNeL” esPírito saNto c.b. de HÁ 70 aNos<br />

malta mais velha decidiu e fê-lo saber no entusiástico<br />

A almoço – convívio de 13 de Novembro: Cada ano será<br />

distinguido um ex-aluno maior de 65 anos como o “VE-<br />

TERANO DO ANO”. Critérios e candidatos não vão faltar<br />

e para um bom começo relativamente a 2009, não poderia<br />

haver melhor escolha da que foi revelada relativamente<br />

ao ilustre pré-nonagenário Manuel Espírito Santo,<br />

o 41 de 1929 e que foi o 2º Comandante de Batalhão da<br />

nova era (1939.40), de permanente devoção à A.P.E.<br />

O popular “Manel” nasceu em Leiria (4 de Maio de 1920)<br />

e veio fazer a 3ª classe ao Instituto com 9 anos de idade mantendo-se<br />

como distinguido aluno até Agosto de 1940.<br />

Concluiu com brilho o seu curso de Contabilistas e<br />

partiu para uma notável carreira profissional de que<br />

muito se orgulha, com plena justiça.<br />

oram 146 os “pilões” veteranos que se reuniram nos<br />

F claustros da 1ª Secção, numa bela experiência a repetir.<br />

Como registo histórico aqui fica a listagem dos 12 mais<br />

antigos:<br />

1929.0077 Augusto M. Dias; 1929.0041 Manuel Espírito Santo;<br />

1938.0297 Eugénio R. Coelho; 1939.0264 José Carneiro Rua;<br />

1940.0165 Américo Ribeiro; 1940.0040 João Matos Cruz;<br />

1940.0114 Rosalino Pacheco; 1940.0246 Dagoberto Campos<br />

FEsTA DE NATAL <strong>DA</strong> APE<br />

No dia 12 de Dezembro realizou-se, na sala de alunos da<br />

1ª Secção do IMPE, a habitual festa de Natal dedicada<br />

aos filhos de “pilões”, com idades compreendidas entre 1<br />

ano e os 12 anos.<br />

Foram momentos<br />

em que pais e filhos<br />

participaram<br />

alegremente e assistiram<br />

ao espectáculo<br />

a estes dedicado.<br />

No fim o Presidente<br />

da Direcção<br />

Américo Ferreira,<br />

coadjuvado pelo<br />

Aníbal Ferreira,<br />

procedeu à esperada entrega de prendas de Natal<br />

para os mais pequenos.<br />

De destacar o trabalho do Presidente da APE, do Aníbal<br />

Duarte Ferreira e do incansável senhor Mourão.<br />

Os “DOZEMAIs”<br />

Sempre atento<br />

aos ideais da Associação,<br />

descobriu<br />

como que um mágico<br />

elixir de se manter<br />

jovem de óptima<br />

memória e um aspecto<br />

de fazer inveja<br />

aos “putos” de 65<br />

anos.<br />

Não o medalhámos<br />

mas aplaudimos,<br />

vibrantemente, a sua eleição. Parabéns, Manel!<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 33<br />

D. S.<br />

Lima; 1941.0241 Diamantino Reis; 1941.0031 Jaime S. Leite;<br />

1941.0089 José P. Weber; 1941.0134 Ilídio Raposo.<br />

Até 1945, inclusive, participaram no convívio mais 22 “pilões”<br />

de boa cepa.<br />

É para continuar. Salvé<br />

ALMOÇO DE NATAL <strong>DA</strong> APE<br />

David Sequerra<br />

1943.0333<br />

A pós este salutar convívio teve lugar no Refeitório do<br />

Instituto um almoço em que participou um grupo de 12<br />

pessoas constituído por “pilões” e seus familiares.<br />

Este almoço foi planeado e organizado pelo Augusto<br />

Dias que, a seu tempo,<br />

obteve a inscrição<br />

da participação<br />

de 27 pessoas, entre<br />

sócios e seus familiares.<br />

De forma estranha,<br />

que não é fácil<br />

compreender,<br />

foram 15 as ausências.<br />

Numa quadra especial, em que se promove o convívio e a<br />

amizade, não era esperada uma situação que produziu também<br />

resultados negativos em termos de custos logísticos.


NOTÍCIAS<br />

34 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

urante um almoço o meu camarada de curso, e grande<br />

D amigo, António Cândido Pereira Carneiro, (1948.0089),<br />

pergunta-me: Tu já viste uns “bonecos” desenhados nuns<br />

portões de ferro que existem ali para os lados da Av João<br />

XXI? Claro que a minha resposta foi não.<br />

Então um dia temos que passar por lá, já que, cá para<br />

mim, diz o Carneiro, os desenhos representam dois Pilões<br />

devidamente fardados<br />

e equipados<br />

para desfilarem na<br />

Av da Liberdade.<br />

Tempos mais<br />

tarde, após novo almoço,<br />

demos corda<br />

aos sapatos e fomos<br />

em visita de estudo<br />

ao local onde os<br />

portões com os desenhos<br />

se encontram e que é, nem mais nem menos, o Jardim<br />

Fernando Pessa, (traseira da R. de Cervantes) bem<br />

perto da Pç. do Areeiro.<br />

Prometi que ia fotografar os desenhos e tentar publicar<br />

O QUE REPREsENTAM EsTAs PINTURAs?<br />

as fotos no Boletim<br />

da Assiciação. Como<br />

a minha veia de fotógrafo<br />

é muito fraca,<br />

socorri-me de outro<br />

grande amigo, não<br />

ex-aluno, o Rui Valle.<br />

As fotos são dele e<br />

estão óptimas.<br />

Embora existam<br />

algumas discrepâncias<br />

entre o fardamento e o equipamento dos desenhos e os<br />

que os Pilões usam,parece-me que os mesmos dizem respeito<br />

a um Pilão, a mirar-se ao espelho(?) a fim de se certificar<br />

que se encontra perfeitamente equipado. Será assim?<br />

Talvez...<br />

Esperemos que o proprietário dos portões, ex-aluno ou<br />

familiar, ou tão somente alguém conhecedor do assunto,<br />

nos possa esclarecer, se sim se não...! Aguardemos que o Boletim<br />

vá ter às mãos de pessoa entendida nesta matéria.<br />

J. Franco Leandro<br />

(1951.0321)<br />

10ª MINI MARATONA DE PORTUgAL VO<strong>DA</strong>FONE<br />

No passado dia 4 de Outubro, a APE participou em<br />

mais um evento desportivo, desta vez foi a conhecida<br />

10ª Mini Maratona de Portugal Vodafone, para quem não<br />

sabe consiste em percorrer a ponte Vasco da Gama, onde<br />

constou com a participação dos ex-alunos Dinis Afonso<br />

(19940153), Vasco Afonso (20000199), Miguel Eufémio<br />

(19970033), João Eufémio (19980038), Pedro Sabali<br />

(19960594), Filipe Santos (19970063) e Alexandre Ferreira<br />

(19990123), que percorreram (7km) com a camisola<br />

da APE vestida. É de realçar que o pai de dois ex-alunos,<br />

o senhor José Afonso, também foi correr com as cores da<br />

nossa Associação. O nosso presidente Américo Ferreira<br />

estava cheio de energia e participou na meia-maratona.<br />

O tempo nessa manha não estava o mais apelativo<br />

NOVOs sóCIOs<br />

para a corrida, pois brindou-nos com nuvens bem grandes<br />

e acinzentadas, o que nos pregou um valente susto e<br />

nada mais, porque depois no início da corrida já não exista<br />

muito perigo de chuva mas continuou bastante húmido<br />

o tempo, o que torna o ar bastante mais “pesado”, dificultando<br />

assim um pouco a nossa respiração.<br />

O início neste tipo de provas é sempre o mais complicado,<br />

devido ao enorme número de participantes que não<br />

quiseram deixar passar uma óptima oportunidade de fazer<br />

um passeio de confraternização com uma vista bastante<br />

diferente do habitual sobre o tabuleiro da ponte<br />

Vasco da Gama o que dificulta um bocado o progresso na<br />

corrida, mas nada que os nossos pilões não consigam ultrapassar,<br />

fora essas confusões, mais nada nos impediu<br />

de chegar ao local da meta.<br />

Chegado ao fim da prova, onde o esforço foi nítido por<br />

parte do grupo fomos recompensados com uma variedade<br />

de águas e sumos, e até um gelado que nos deliciou a<br />

todos. Contudo foi uma ideia baste positiva e agradável<br />

tanto para o convívio dos ex-alunos como para estimular<br />

o desporto. Para a próxima lá estaremos e serão muito<br />

bem vindos os que se aliarem a nós na próxima corrida.<br />

Esperamos pela vossa participação na próxima corrida!<br />

Filipe Santos (19970063)<br />

Pedro Sabali (19960596)<br />

Nos meses de Outubro a Dezembro foram admitidos como sócios efectivos os seguintes ex-alunos do I.M.P.E.:<br />

Fernando Gomes Palma (1950.0097), Euclides Inocêncio Alves dos Reis (1950.0273),<br />

António Maria Cunha (1951.0095), Filipe José Godinho Passinhas (1978.0368).


VAMOs à ÍNDIA EM 2010?<br />

ViageM Histórico-cuLturaL de 16 a 27 de abriL<br />

ste programa resultante do acordo estabelecido entre o<br />

E Boletim da APE e um Operador especializado nesta área,<br />

não produziu, até esta data, os resultados esperados.<br />

Não acreditamos em falta de interesse, da nossa comunidade<br />

“pilónica”, mas sim que a mensagem não foi correctamente<br />

passada a todos a quem a leitura do Boletim da APE<br />

se destina.<br />

Apesar dos 10 casos que à data procuraram explicações<br />

e manifestaram interesse, ao fim de 2 meses, não se registou<br />

qualquer inscrição.<br />

Continuaremos a desenvolver acções, na promoção desta<br />

iniciativa, na expectativa de atingir o número mínimo necessário<br />

de 25 inscrições para a sua concretização.<br />

Em Janeiro realizaremos um colóquio, na sede da APE,<br />

gONÇALO VAsCONCELOs sANTOs COUCEIRO (1966.0044)<br />

OMinistério da Cultura informa que procedeu à nomeação,<br />

Para o cargo de director do Instituto de Gestão<br />

do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar),<br />

do Dr. Gonçalo Vasconcelos Santos Couceiro;<br />

Gonçalo Couceiro é licenciado em História da Arte<br />

pela Universidade Nova de Lisboa e Mestre pela École<br />

Pratique des Hautes Études (Sorbonne). É engenheiro<br />

técnico electrotécnico pelo Instituto Militar dos Pupilos<br />

do Exército. Exercia desde Abril de 2007 o cargo de<br />

Director Regional de Cultura do Algarve.<br />

De Março de 1996 a Julho de 2005, foi consultor para<br />

Durante os meses de Outubro a Dezembro tivemos conhecimento<br />

do falecimento dos “Pilões” a seguir indicados,<br />

dos quais guardamos saudosa memória da sua<br />

presença entre nós. Aos seus familiares enviamos as nossas<br />

sentidas condolências.<br />

Guilherme Frederico Carlos Pimenta (1933.0026)<br />

Vasco Santélices Lima (1933.0320)<br />

Francisco Maria Vargas de Sousa (1940.0096)<br />

Domingos José Rio Ferreira Braga (1944.0018)<br />

Júlio da Silva Vilarinho (1946.0300)<br />

ObITUÁRIO<br />

sobre este Programa Histórico-cultural à Índia.<br />

Temos planos para futuros programas, a realizar nos<br />

próximos anos, em que vertente histórico-cultural será o<br />

principal objectivo.<br />

Pensamos que esta é uma forma de associar dois aspectos<br />

muito importantes: o prazer das viagens e o enriquecimento<br />

de conhecimentos sobre países e culturas que gostaremos<br />

de revisitar.<br />

Nota: Chamamos a atenção para a folha que juntamos a<br />

esta edição, que, ao ser devolvida, para a sede da APE, depois<br />

de preenchida, deverá ser acompanhada de cheque bancário<br />

(cruzado) de 500€, referente ao pagamento da inscrição.<br />

Fernando Pires<br />

os Assuntos Culturais da Casa Civil da Presidência da<br />

República. Técnico superior da Direcção Regional de<br />

Cultura do Algarve, foi assessor sénior de Intervenção<br />

Urbana na Lisboa 94 – Capital Europeia da Cultura. É<br />

membro da Associação de Estudos Portugueses, da Associação<br />

Portuguesa de Historiadores de Arte e do Conselho<br />

Geral da Fundação Alter Real, estando credenciado<br />

profissionalmente na Associação Nacional de Engenheiros<br />

Técnicos. Em 2006 concluiu o Curso Avançado de<br />

Gestão Pública (Cagep), no Instituto Nacional de Administração.<br />

José Tenório Janeiro Carvalho (1947.0180)<br />

Albertino Manuel dos Santos Amador (1950.0228)<br />

Manuel Jorge Lopes (1951.0056)<br />

José Carreira Marques (1951.0126)<br />

Jorge António Rodrigues Lopes (1957.0033)<br />

Armindo D. Rodrigues Teixeira (1966.0184)<br />

* As informações prestadas nesta rubrica “Obituário”,<br />

são obtidas por via telefónica ou escrita, de familiares ou<br />

de ex-alunos, amigos/contemporâneos dos falecidos.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 35


NOTÍCIAS<br />

36 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

<strong>DA</strong> APE<br />

No passado dia 15 de Outubro reuniram-se em Loures<br />

26 Pilões que, à volta da mesa, no Restaurante<br />

“A Horta”, tiveram ocasião de conviver num ambiente<br />

de sadia camaradagem.<br />

Aqui fica a lista dos participantes, capitaneados<br />

pelo decano Manuel Espírito Santo, entrado para o Pilão<br />

em 1929:<br />

1929.0141 - Manuel Espírito Santo<br />

1938.0297 - Eugénio Rodrigues Coelho<br />

1941.0031 - Jaime Oliveira Leite<br />

1945.0007 - José Alberto Marmelo<br />

1946.0173 - João Barreto Fernandes<br />

1947.0031 - Manuel Martins Veríssimo<br />

1947.0354 - José Duarte Moura<br />

1948.0013 - Fernando Barroso<br />

João Pedro Barroso (filho do 1948.0013)<br />

1948.0221 - António de Almeida<br />

1948.0244 - Raul da Costa Dionísio<br />

1948.0249 - António Ferreira da Costa<br />

1949.0159 - António Santos Policarpo<br />

1951.0177 - Ivo Estudante<br />

1952.0201 - João Matos<br />

1953.0123 - António Viegas de Carvalho<br />

1954.0248 - Jorge Cruz Galego<br />

1958.0056 - Domingos Rita Ribeiro<br />

1960.0093 - António Ribeiro da Silva<br />

1960.0303 - José Pais<br />

1961.0126 - Carlos Raimundo<br />

1962.0261 - João Teves Costa<br />

1962.0289 - José Cupertino Henriques<br />

1963.0209 - Carlos Lestre<br />

1964.0200 - António Simões Gonçalves<br />

1967.0279 - Carlos Teixeira<br />

Assinalamos a presença do Carlos Teixeira, que<br />

sendo o mais novo dos convivas, inicia agora o seu 3º<br />

mandato como Presidente da Câmara de Loures, cargo<br />

para o qual acaba de ser reeleito com maioria absoluta.<br />

Parabéns ao autarca.<br />

Para além do Augusto Dias (1929.0077), alma deste<br />

Boletim nos últimos anos, foi ainda notada a ausência<br />

de outros habituais participantes do ano de 1960, ano<br />

de entrada do escriba destas notas, para tal designado<br />

por ter levado a máquina fotográfica que registou as<br />

ALMOÇO EM LOUREs: 15 OUT 2009<br />

imagens que aqui se publicam.<br />

Estes almoços tiveram o sei início em 1995, reunindo<br />

Pilões de Loures e Odivelas, a que se foram associando<br />

outros elementos provenientes, maioritaria-<br />

mente, da zona da Grande Lisboa, tendo os primeiros<br />

encontros ocorrido em restaurantes de Odivelas<br />

A reorganização administrativa do País ditou a<br />

criação do concelho de Odivelas em 19Nov1998.<br />

Em 27 de Fevereiro de 2003, uns quantos carolas,<br />

por iniciativa dos “4 mosqueteiros”: Carlos Lestre<br />

(1963.0209), Carlos Raimundo (1961.0126), Luís Manuel<br />

Veiga (1960.0343) e Ivo Estudante (1951.0177),<br />

criaram o Núcleo da APE em Loures.<br />

O Núcleo de Loures - cuja assembleia constituinte<br />

se realizou no Salão Nobre dos Passos do Concelho -<br />

conta com umas dezenas de membros que então elegeram<br />

o Ivo Estudante para Presidente, continua a dinamizar<br />

estes convívios, que têm lugar à Quinta-feira,<br />

quatro a cinco vezes por ano.<br />

O “saldo de gerência” de cada uma destas reuniões,<br />

embora de valor reduzido, é simbolicamente entregue<br />

na Tesouraria da APE, conforme previsto nos Estatutos<br />

do Núcleo de Loures.<br />

Pela voz de trovão do Carlos Lestre, foi anunciado<br />

que o próximo almoço / convívio terá lugar no dia 3 de<br />

Dezembro (5ª Feira), igualmente no restaurante “A<br />

Horta”, que dispõe de confortável parque estacionamento,<br />

mesmo no centro de Loures.<br />

O Núcleo de Loures espera poder vir a contar com a<br />

vossa presença.<br />

António R. da Silva<br />

(1960.0093)


COMEMORAÇãO DOs 50 ANOs DE sAÍ<strong>DA</strong> DO IMPE (1959/2009)<br />

No dia 17 de Outubro de 2009, finalistas de 1959 comemoraram<br />

50 anos de saída do IMPE, num dia de convívio<br />

passado nas instalações do Instituto e na sede da<br />

APE. Estiveram presentes 14 Pilões e alguns familiares:<br />

1950.0078 - Aníbal Duarte Ferreira; 1950.0097 - Fernando<br />

Gomes Palma; 1950.0234 - José Júlio Barroso; 1050.0273 - Euclides<br />

Alves Reis; 1951.0028 - Artur Mendonça Carvalho;<br />

1951.0050 - Hélder André Domingues; 1951.0095 - António<br />

Maria Cunha; 1951.0021 - José Gerardo Barbosa Pereira;<br />

1951.0328 - José Pereira; 1951.0364 - José dos Santos Carreiro;<br />

1952.0090 - Augusto P. Sousa Neves; 1951.0111 - Luís Manchete<br />

Eusébio; 1952.0157 - Alberto J. Fernandes Guimarães;<br />

1952.0206 - Firmino Ribeiro Magro<br />

Voltámos ao local onde vivemos o “… rigor de um regime<br />

escolar que exigia grandes homens de pequenos rapazes, numa<br />

vida de estudante que começava cedo … com a alvorada, ao toque<br />

de clarim.” 1 , Onde crescemos perseguindo as máximas do<br />

Fundador do IMPE, nomeadamente: “É absolutamente indispensável<br />

ser superior: superior pelo carácter, pelo coração, pelo<br />

espírito, pela educação e pela instrução” e, por isso, onde aprendemos<br />

a conhecer, aprendemos a fazer, aprendemos a ser<br />

e aprendemos a conviver, afinal os quatro pilares fundamentais<br />

do paradigma educativo do IMPE2 .<br />

Recordámos e revisitámos a nossa história pessoal<br />

porque “O passado é sagrado … é dele que tiramos sentido para o<br />

presente e para o futuro e é ele que nos permite ser fiéis a nós próprios<br />

no que é essencial.” 3<br />

E na equação pessoal que cada um vai escrevendo e resolvendo,<br />

apesar das discrepâncias quanto à imagem que<br />

construímos do IMPE, todos sentimos um enorme amor a<br />

esta Escola.<br />

Como escreveu o antigo aluno Alexandre Cabral, numa dedicatória<br />

de um exemplar do seu livro Malta Brava: “Muito do<br />

que hoje sou, devo-o em<br />

grande parte à educação<br />

espartana que lá,<br />

no IMPE, me ministraram,<br />

não só ao nível da<br />

docência, mas sobretudo<br />

da discência - da camaradagem<br />

dos meus<br />

condiscípulos” 4<br />

Aqui fica o nosso<br />

“Querer é Poder!”<br />

1 ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 42<br />

2 Recordando Adaptado de ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 549<br />

3 Registo ALVES, Laurinda – Atitude XIS, Dafundo, 2007, p. 237<br />

4 ROSADO, David Pascoal - Pupilos do Exército. Uma interpretação sociológica, MailTec, 2008, p. 42<br />

ALMOÇO DE 13/XI<br />

“NIAgARA” DE ENTUsIAsMO AVALANCHE DE EMOÇÕEs<br />

oi na manhã e tarde de 13 de Novembro em S. Domin-<br />

F gos de Benfica, sob o rótulo sonante de Convívio de<br />

Veteranos, pilões entrados até 1955, com idades compreendidas<br />

entre os 65 e os 92 anos. A ideia partiu do animoso<br />

Carlos Albuquerque (1949.0219) há meia dúzia de meses<br />

e teve bons seguidores, incluindo a Direcção da APE,<br />

logicamente, e o indispensável Senhor MOURÃO. O “pilão”<br />

Carlos Albuquerque sonhou com 200 veteranos alegremente<br />

reunidos e foram 146 com 12 desistências de<br />

última hora por ponderosas razões. Assim sendo, a cifra<br />

poderia ser de 158 e não ficaria muito longe do belo sonho<br />

do Albuquerque. E foi aquilo a que se pode chamar uma<br />

“niagara” de entusiasmo e intensa saudade, criando natural<br />

expectativa para 2010.<br />

O almoço foi volante, nos claustros com uma boa centena<br />

de alunos a conviver com os “cotas” e a significativas<br />

presenças do Director e do “Sub” do Instituto.<br />

Anibal D. Ferreira<br />

(1950.00.78)<br />

O reencontro de “pilões” que não se viam há largos<br />

anos, proporcionou uma apreciada avalanche de emoções.<br />

O Major General Alves Rosa, Director do IMPE dirigiu<br />

à “malta” breves mas interessantes palavras de acolhimento<br />

à “Casa Mãe” e, em nome da Comissão Organizadora<br />

do evento, falou David Sequerra (1943.0333), um dos<br />

mais antigos ex-alunos do convívio proporcionado, agradecendo<br />

o usufruto de instalações, as palavras do Director,<br />

enaltecendo o papel primordial do Carlos Albuquerque<br />

(1949.0219) e anunciando o propósito de repetição<br />

anual em busca da tal cifra dos 200 participantes. Entre<br />

aplausos revelou ainda o estabelecimento da eleição do<br />

“VETERANO” do ANO” que, em estreia, coube ao Manuel<br />

Espírito Santo (1929.0041) conforme se notifica separadamente.<br />

E todos nós voltámos a “penates mais felizes.<br />

D.S.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 37


Bibliografia<br />

38 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

LEITURAS & PÚBLIcAçÕES REcEBI<strong>DA</strong>S<br />

Pretende-se nesta rubrica "Leituras" divulgar as mais recentes obras da autoria de antigos alunos do IMPE, ou quem esteve (ou esteja)<br />

ligado ao Instituto, por nele ter sido professor, militar, etc. Neste sentido, solicita-se a colaboração dos autores para que nos enviem<br />

um exemplar, para que possamos divulgar entre os leitores deste Boletim. Estamos certos que no universo referido, muitas serão as<br />

obras a divulgar.<br />

“a Lousã e o seu coNceLHo”<br />

do dr. ÁLVaro ViaNa de LeMos<br />

aNtigo e iNsigNe ProFessor do iMPe<br />

Por oferta do ex-aluno João Matos<br />

Cruz (1940.0040), de há muito radicado<br />

na Lousã, a nossa Biblioteca ficou<br />

enriquecida com uma valiosa edição<br />

da C.M. da Lousã intitulada “ A Lousã<br />

e o seu Concelho”, da autoria de um<br />

notável pedagogo, que muito enobreceu<br />

o nosso Instituto, nas sua primeiras<br />

décadas – O Dr. Álvaro Viana de<br />

coMitÉ oLíMPico de PortugaL<br />

O Comité Olímpico de Portugal comemorou,<br />

em fins de Novembro pp., 100<br />

anos de existência. Entre 206 Comités<br />

nacionais, o de Portugal é o nº 13 de<br />

muito prestigio.<br />

Entre as várias edições comemorativas<br />

pode destacar-se um belíssimo<br />

texto do Dr. Conrado Durantez, figura<br />

grada do Olimpísmo, sobre a louvável<br />

intervenção das “Academias Olímpi-<br />

CORREIO <strong>DA</strong> IMPRENSA<br />

Lemos (1881-1972), antigo Oficial do<br />

Exército (até 1920), marcando toda<br />

uma geração de ex-alunos até aos primórdios<br />

dos anso 30. São 170 páginas<br />

de sugestiva leitura de onde ressalta a<br />

invulgar sapiência do Autor. Para o<br />

João Matos Cruz os nossos agradecimentos.<br />

cas” em todos os continentes.<br />

A edição de 56 páginas, tem na capa a<br />

foto do Barão de Coubertan, o reanimador<br />

dos Jogos Olímpicos da Era<br />

Moderna, em 1894.<br />

A obra está disponível na nossa Biblioteca.<br />

Os nossos agradecimentos<br />

ano Comité Português, com os parabéns<br />

pelos 100 anos.<br />

Nos meses de Outubro a Dezembro recebemos as publicações a seguir indicadas, que estão na nossa<br />

biblioteca à disposição dos nossos associados para consulta e leitura:<br />

– JORNAL DO EXÉRCITO<br />

– REVIsTA MILITAR<br />

– REVIsTA <strong>DA</strong> ARMA<strong>DA</strong><br />

– bOLETIM <strong>DA</strong> AsMIR<br />

– ELO – Jornal dos Deficientes das Forças Armadas<br />

– O CAsAPIANO<br />

– JORNAL <strong>DA</strong> AMADORA<br />

– O sEsIMbRENsE<br />

– REVIsOREs E AUDITOREs


ELECTRÓNICA<br />

BANCA<strong>DA</strong>S TÉCNICAS<br />

BATERIAS MILITARES VENTILADORES<br />

KITS DE FERRAMENTAS LANTERNAS TÁCTICAS<br />

SHELTERS DE<br />

COMUNICAÇÕES<br />

EQUIPAMENTOS DE TESTE E MEDI<strong>DA</strong><br />

CAPACETES COM<br />

INTERCOMUNICAÇÕES<br />

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INIBIDORES DE FREQUÊNCIAS<br />

EQUIPAMENTOS NBQ DE COMBATE<br />

SISTEMAS DE HIDRATAÇÃO<br />

COLDRES<br />

CAPACETES DE COMBATE<br />

DEFESA E PROTECÇÃO<br />

CLIMATIZAÇÃO PARA ABRIGOS<br />

ATRELADOS DE SUBSISTÊNCIA EM CAMPANHA<br />

COLETES TÁCTICOS<br />

E BALÍSTICOS<br />

EQUIPAMENTO ANTI-MOTIM<br />

ÓCULOS DE PROTECÇÃO<br />

Rua Bento de Jesus Caraça, nº 5 A-B<br />

Tercena 2730-027 BARCARENA<br />

Telf.: 214 389 410 Fax: 214 380 592<br />

Email: geral@lasi.pt<br />

FATO<br />

ANTI-BOMBA


NOTÍCIAS<br />

40 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

DO IMPE<br />

DO IMPE<br />

Exmo. Sr. Major General Director do Instituto Militar dos<br />

Pupilos do Exército, Exmo. Sr. Presidente da Direcção da<br />

Associação dos Pupilos do Exército, Exma. Sra. Presidente<br />

da Associação de Pais do Instituto Militar dos Pupilos do<br />

Exército, Militares, Professores e Pessoal Civil do Instituto,<br />

Caros Alunos e Ex-alunos, Ilustres convidados.<br />

A imposição de insígnias a que acabamos de assistir não é<br />

mais que um acto simbólico do assumir das funções para as<br />

quais estes alunos foram seleccionados, de acordo com o seu<br />

perfil, as suas capacidades e aptidões e acima de tudo, em<br />

função da conduta demonstrada ao longo dos anos em que<br />

foram permanecendo nesta “Casa tão bela e tão ridente”, de<br />

tradições quase seculares.<br />

Alunos Graduados: O dever do Aluno Graduado do Instituto<br />

é honrar a atribuição que lhe foi conferida, mantendo<br />

em todos os actos inerentes ao exercício desta nobres funções,<br />

uma conduta irrepreensível, quer no trato com os Militares,<br />

Professores e Funcionários Civis do Instituto, quer no relacionamento<br />

com os demais alunos.<br />

Lembrai-vos sempre do Versículo escrito no livro da vida<br />

em Provérbios Capítulo 22 Versículo 6.<br />

“Instrui a Criança no caminho em que deve andar e até<br />

quando envelhecer não se desviará dele”<br />

Saliento, ainda, a importância que os Alunos Graduados<br />

têm na cadeia de comando do Corpo de Alunos. No que se<br />

refere ao funcionamento da estrutura, espero da vossa parte<br />

que continuem a manter um espírito de colaboração que se<br />

reflicta em melhorias visíveis na manutenção da disciplina,<br />

no controlo das formaturas, na conduta a adoptar pelos alunos<br />

mais novos no interior do Instituto e nas condições de<br />

habitabilidade do Internato. No âmbito do relacionamento<br />

entre os alunos, passa por vós o desenvolvimento de um espírito<br />

de corpo salutar que permita o são convívio entre todos<br />

os alunos do Batalhão Escolar, como garante de uma vida<br />

mais agradável no Instituto. Neste sentido e na medida em<br />

que estas são as vertentes basilares da vossa actuação, enquanto<br />

alunos graduados, é vosso dever, ou melhor, vossa<br />

obrigação, incutir através do exemplo, nos alunos mais novos<br />

o código de honra do Aluno do IMPE e em que, permitam-me<br />

o uso de um pouco de Português vernáculo, o “cábula”, o<br />

“baldas” o indisciplinado não são modelos válidos na sociedade<br />

em que vivemos e que apenas o estudante com sucesso,<br />

empenhado e disciplinado é exemplo a seguir pelos alunos<br />

do IMPE, como perspectiva de um futuro que se augura que<br />

seja próspero.<br />

Novos Alunos: A vossa integração na comunidade educativa<br />

passa por estes alunos graduados. Como alunos mais<br />

velhos, mais experientes e mais conhecedores da vivência diária<br />

do Pilão, é sua obrigação manter um acompanhamento<br />

permanente, estar sempre prontos a dar um conselho face a<br />

uma atitude menos própria da vossa parte e, fundamentalmente,<br />

estender-vos a mão amiga nas más horas que irão surgir<br />

durante o longo ano lectivo que agora se inicia. Contem<br />

com eles e face ao seu procedimento, seleccionem os bons<br />

exemplos, os quais serão modelos a seguir no futuro.<br />

IMPOsIÇãO DE INsÍgNIAs 2009/2010*<br />

É ciente das dificuldades que têm sentido neste período de<br />

adaptação, que vos digo:<br />

Nada temais, pois são os vossos graduados que vos integrarão<br />

na vivência escolar e interna do Instituto, são eles que<br />

vos acompanharão permanentemente nos vossos medos, vos<br />

apoiarão nos vossos anseios e vos aconselharão quando a<br />

vossa atitude tenha<br />

sido menos<br />

própria. Procurai-os<br />

pois, sempre<br />

que necessitardes<br />

de um<br />

conselho amigo.<br />

Alunos Lacerdas:<br />

vós sois<br />

também uma<br />

peça importante<br />

no acompanhamento<br />

dos alunos<br />

mais novos e<br />

no auxílio aos<br />

alunos graduados,trazendolhes<br />

a eles os problemas<br />

que os<br />

alunos mais novos<br />

não lhes sabem dizer. Sois vós também o elemento regulador<br />

das sãs tradições do Instituto.<br />

Aproveitando a oportunidade, permitam-me salientar:<br />

Ao presidente da APE: uma palavra de reconhecimento<br />

pelo apoio prestado ao longo destes anos de existência. Contudo,<br />

o Instituto espera de vós um maior apoio e empenho,<br />

em prol dos projectos que estão em desenvolvimento.<br />

Aos representantes da Associação de Pais, porta-voz dos<br />

Encarregados de Educação e, como primeiros responsáveis<br />

pela educação dos vossos filhos, exorto-vos, de uma forma<br />

edificante, a continuar a apoiar e consolidar a acção educativa<br />

do Instituto.<br />

Perante a presença do corpo docente, deixem-me salientar<br />

que este corpo de graduados conta convosco e que só uma ligação<br />

harmoniosa entre Corpo de Alunos, Professores e Encarregados<br />

de Educação permitirá uma vivência institucional<br />

consequente e activa.<br />

Só através de uma articulação efectiva e uma congregação<br />

de vontades da comunidade educativa do Instituto se desenvolverá<br />

o Projecto Educativo desta “casa, tão bela e tão ridente”<br />

cuja missão nunca será formar elites, mas sim, transformar<br />

jovens em cidadãos úteis à Pátria, conforme estipulado<br />

pelo saudoso fundador, Gen. Xavier Correia Barreto a 25 de<br />

Maio de 1911.<br />

Tenho dito<br />

* Texto: “site” do IMPE<br />

Paulo Alexandre Teixeira de Almeida<br />

Maj. Inf<br />

(1978.0039)


IMPOsIÇãO DE INsÍgNIAs 2009/2010<br />

DIsCURsO DO ALUNO COMAN<strong>DA</strong>NTE DE bATALHãO*<br />

Exmo. Sr. Major General Director do Instituto Militar dos<br />

Pupilos do Exército, Exmos. Representantes da Associação<br />

dos Pupilos do Exército, Exma. Sra. Presidente da Associação<br />

de Pais e Encarregados de Educação, Senhores Oficiais,<br />

Professores, Sargentos, Praças e Funcionários Civis do<br />

Instituto, Ilustres Convidados, Pais e Encarregados de Educação,<br />

Caros Camaradas Pilões.<br />

É com grande orgulho e honra que me dirijo para todos<br />

vós na qualidade de Comandante de Batalhão desta casa que<br />

de menino me fez homem com valores que mais nenhuma<br />

casa me ensinaria e é meu dever juntamente com o restante<br />

corpo de graduados<br />

garantir a passagem<br />

desses mesmos valores<br />

enaltecendo este instituto<br />

ao qual chamamos<br />

a nossa casa tão bela e<br />

tão ridente.<br />

Não posso deixar<br />

de dar as boas vindas<br />

aos novos alunos desta<br />

casa, que se tornam um<br />

incentivo, para todos<br />

nós e aos quais iremos<br />

transmitir da melhor<br />

forma a nossa mensagem<br />

como, alunos mais<br />

velhos, a estas novas<br />

gerações “pilónicas”.<br />

A vós alunos, a camaradagem<br />

é essencial<br />

para que juntos atravessemos estas mudanças e tempos difíceis<br />

e de mudança que atravessamos. Respeitem os vossos<br />

graduados olhem para eles como vossos irmãos mais velhos.<br />

A este novo Corpo de Graduados deixo desde já a seguinte<br />

mensagem:<br />

“O que vos é posto aos ombros nunca em caso algum vos<br />

suba à cabeça, mas sim que desça para o vosso coração para<br />

que com humildade continuem a amar esta casa!”. Cumpram<br />

o vosso dever com dignidade sendo exemplo para todos os<br />

alunos que vos estão subordinados, ensinem o verdadeiro<br />

significado do espírito “pilónico”, sejam verdadeiros líderes e<br />

conduzam os alunos sob o vosso comando pelos caminhos<br />

mais correctos<br />

nesta sociedade<br />

em constante<br />

evolução. Não<br />

esquecendo sobretudo<br />

o verdadeiro<br />

motivo<br />

pela qual estais<br />

nesta Casa, estudar.<br />

Como evoca o<br />

hino do Instituto:<br />

“ao estudo e<br />

ao trabalho<br />

producente dediquemos<br />

com<br />

alma e com prazer<br />

toda a nossa<br />

atenção e alegremente saibamos este Instituto enobrecer!”<br />

que seja este o nosso mote. A Luz emanada pelo “farol”<br />

que se constitui a missão para o presente ano lectivo.<br />

Aos pais e familiares destes alunos recém graduados é importante<br />

que os incentivem e apoiem a cumprir a sua missão<br />

que é sem dúvida uma mais valia para o seu futuro.<br />

Digníssimos Convidados e Presentes, esta casa está a atravessar<br />

grandes mudanças a nível académico com a implementação<br />

dos cursos profissionais que remontam um pouco<br />

à historia do nosso Instituto desde a sua fundação,<br />

não podemos esquecer também o facto de sermos recentemente<br />

uma eco-escola, que par de outras estratégias nos coloca<br />

ao nível das melhoras escolas de excelência da Europa.<br />

Tenhamos grande sentido de responsabilidade, saibamos<br />

lidar com os problemas sempre de cabeça erguida e sempre<br />

com o lema desta Casa cravado no peito:<br />

“Querer é Poder!”<br />

Tenho dito!<br />

CERIMóNIA DE AbERTURA sOLENE DO ANO LECTIVO 2009/2010*<br />

E m 13 de Novembro de 2009, realizou-se a cerimónia de Abertura<br />

Solene do Ano Lectivo 2009/2010 a qual, foi presidida pelo<br />

Exmo. Tenente General Comandante da Instrução e Doutrina.<br />

Cerca das quinze horas, foram prestadas as Honras Militares a<br />

esta entidade ao que se seguiu a sessão de cumprimentos.<br />

Na abertura da cerimónia, o MGEN Director do IMPE proferiu<br />

uma Alocução e o Dr. António Carlos Dias, professor decano, ministrou<br />

a Lição Inaugural. Posteriormente, procedeu-se à entrega<br />

de Prémios, das condecorações e dos diplomas do Centro de Novas<br />

Oportunidades. * Texto: “site” do IMPE<br />

Diogo Ruivo nº 62<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 41


NOTÍCIAS<br />

42 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

DO IMPE<br />

DO IMPE<br />

O IMPE RECEbEU O gALARDãO bANDEIRA VERDE*<br />

Aos 29 dias do mês de Setembro de 2009, o Instituto Militar foi agraciado,<br />

em Santa Maria da Feira, com o Galardão Bandeira Verde. Este prémio foi<br />

atribuído pela Associação Bandeira Azul da Europa em reconhecimento das boas<br />

práticas ambientais realizadas no ano lectivo 2008/09 nos estabelecimentos de<br />

ensino.<br />

Foram notórios o orgulho e satisfação estampados no semblante dos representantes<br />

das escolas galardoadas com este importante troféu.<br />

O programa ECO-ESCOLAS pretende encorajar e premiar o trabalho desenvolvido<br />

pela escola na melhoria do seu desempenho ambiental, motivar para a<br />

necessidade de mudança de atitudes e de adopção de comportamentos sustentáveis.<br />

O IMPE NAs COMEMORAÇÕEs DO MUsEU <strong>DA</strong> PREsIDêNCIA <strong>DA</strong> REPúbLICA*<br />

o dia 04 de Outubro, os alunos do 8º ano e 9º<br />

N ano, participaram no programa de animação<br />

pedagógica, que teve lugar nos jardins do Palácio<br />

de Belém no âmbito das comemorações do 5º aniversário<br />

do Museu da Presidência da República.<br />

Igualmente estiveram presentes as alunas do<br />

Instituto de Odivelas, que concorreram com os<br />

alunos em actividades e jogos diversos.<br />

* Texto: “site” do IMPE<br />

As s o ci A ç ã o d o s Pu Pi lo s d o Ex é r ci to<br />

Pretendo assinar o Boletim da Associação dos Pupilos do Exército<br />

Para encomendar basta fotocopiar este cupão e enviar para Associação dos<br />

Pupilos do Exército – Rua Major Neutel de Abreu, Nº 20 S/L – E<br />

1500-411 Lisboa - Fax: 217 782 980 - e-mail: boletim.ape@gmail.com<br />

Nome____________________________________________________ Profissão_____________________<br />

Morada___________________________________________________________________________________<br />

Código postal__________ - _______Localidade_____________________Tel._________________<br />

Ex-aluno IMPE: Nº____________Ano __________<br />

Assinatura Anual- Continente e Ilhas: € 16 :Via Aéra Países Europeus € 41<br />

– Restantes Países € 61<br />

Para pagamento da minha assinatura:<br />

* Texto: “site” do IMPE<br />

Transferência Bancária: Nacional 0010 0000 1386 4790 00189<br />

Associação dos Pupilos do Exército.no valor de __________________________________<br />

MARCANTE PREsENÇA<br />

NO 1º DE DEZEMbRO<br />

No decurso das comemorações do<br />

369º aniversário do histórico<br />

“Dia da Independência”, com relevante<br />

sessão na Praça dos Restauradores,<br />

o IMPE marcou significativa<br />

presença com um escol de alunos,<br />

lado a lado com as representações do<br />

C. Militar e de I. de Odivelas.<br />

O garbo dos ”pilões” em patriótica<br />

missão não passou despercebido,<br />

com um dueto de alunos africanos a<br />

deporem a já tradicional coroa de flores<br />

na base do Monumento, com espigadote<br />

São-Tomense 41 a evidenciar-se<br />

na tarefa homenageante para<br />

que foi seleccionado.<br />

Em memória de tão intenso patriotismo,<br />

o “Pilão” disse presente!<br />

D.S.


Na minha primeira visita ao IMPE nas funções<br />

de Comandante da Instrução e Doutrina desejo<br />

expressar ao seu director e a todos os oficiais,<br />

sargentos, praças, funcionários civis e professores<br />

o maior apreço e consideração pelo seu trabalho e<br />

valor.<br />

Aos oficiais, exorto para através da sua inteligência<br />

e dedicação resolverem todos os problemas<br />

que se colocam; aos professores, o maior empenho<br />

para fazermos dos alunos bons profissionais e<br />

bons cidadãos e aos alunos para, no maior respeito<br />

da regra e das relações, serem modelos de estudantes<br />

e da juventude Portuguesa que se deseja responsável,<br />

decidida e empenhada.<br />

O IMPE, Escola Profissional, deverá ser no futuro<br />

próximo uma escola de referência nas escolas<br />

Portuguesas – este é o referencial, e para tal todos<br />

nós, devemos colaborar com a maior dedicação,<br />

cada qual cumprindo a sua missão, em prol do<br />

“produto” que são os alunos.<br />

Reiteiro aos professores que considero a sua<br />

profissão uma das mais nobres que existem porque<br />

têm como objectivo formar os homens e as mulheres<br />

para o futuro que hão-de conduzir o país a<br />

ser a pátria onde se vive melhor e com maior justiça<br />

e onde a cidadania é a regra geral.”<br />

* Texto: “site” do IMPE<br />

MENsAgEM EXARA<strong>DA</strong><br />

POR sUA EXCELêNCIA<br />

O TgEN COMAN<strong>DA</strong>NTE<br />

<strong>DA</strong> INsTRUÇãO E<br />

DOUTRINA NO LIVRO<br />

DE HONRA DO IMPE*<br />

António José Maia de Mascarenhas<br />

Tenente – General<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 43


Escritas<br />

António B. Pinheiro<br />

(19460033)<br />

Diante da sua tela<br />

Pega a paleta o pintor<br />

Para pintar o vento…<br />

Será que o vento tem cor?<br />

Que p’ra poder definir<br />

Será preciso saber,<br />

O que o vento é então?<br />

É só ar em movimento,<br />

Que resulta da diferença,<br />

Da diferença, de pressão,<br />

Que faz o ar deslocar<br />

Quando muda de lugar…<br />

Que vai da brisa ligeira<br />

Ao violento furacão…<br />

Mas afinal meus senhores,<br />

Se assim é… quais são as cores<br />

Que o artista ali vislumbra?<br />

44 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

«a cor Do Vento…»<br />

Um leve tom de cinzento,<br />

Suave e brando esse vento<br />

Que nos convida a sonhar…<br />

E se o dia clarear<br />

Em manhã fresca e suave<br />

Com a brisa matinal<br />

Deixa no ar um sinal<br />

Talvez em tom de azulado<br />

Dum céu limpo sem ter nuvens…<br />

Anti-ciclone dos Açores…<br />

Não há vento… não tem cores…<br />

Lá se perde a ilusão<br />

Da ligeira sensação<br />

De leveza no pairar…<br />

Mas se em vez disso a “borrasca”<br />

De uma gélida invernia<br />

Vira forte tempestade…<br />

Qual a cor que de verdade<br />

Tem o vento aos nossos olhos…<br />

Vento que arrasa ao passar<br />

Tudo aquilo que encontrar…<br />

Será negro… ou talvez não?<br />

Depende da sensação<br />

Do sentir de quem estiver<br />

No seu caminho fatal!<br />

Tudo destrói afinal…<br />

Mas será que no deserto,<br />

Em tempestade de areia<br />

Vira amarelo… ou lá perto,<br />

Numa cor, dita tão quente<br />

Pelo calor que a gente sente,<br />

E o sentido da visão?<br />

Talvez sim… ou talvez não…<br />

Porque afinal meus senhores,<br />

Isto do vento ter cores<br />

Não passa de uma ilusão…<br />

E se for na Primavera<br />

Quando despontam as flores?<br />

Um ventinho de quimera<br />

Que poderá ter mil cores…<br />

Cores que também eu quisera<br />

Nesse sonho vislumbrar…<br />

Mas que afinal o pintor<br />

Não lhe conseguiu dar cor…<br />

Pois talvez seja o poeta,<br />

Na sua imaginação,<br />

Que possa alcançar tal meta.<br />

Com um pouco d’inspiração…<br />

Em 3 de Outubro de 2009<br />

NOTA: O Livro de poemas (oferta do Boavida Pinheiro à APE), “CEM POEMAS... Diversos” está a venda na<br />

Associação pelo preço de 13E.


3º. Prémio – soneto<br />

(um soneto antigo que adaptei ao tema “a solidão tem dedos de veludo”)<br />

António Barroso<br />

(19460120)<br />

JOgOs FLORAIs DE CAsTELO DE VIDE – 03/10/2009<br />

Solidão<br />

É bem triste viver-se acompanhado<br />

De tanta gente, à volta, à nossa beira,<br />

Mas não ter ninguém a nosso lado,<br />

Ter só a solidão por companheira.<br />

Um ombro amigo, alguém interessado<br />

Em conversa sublime ou mais ligeira<br />

É, tantas vezes, momento esperado,<br />

Como fogo que aquece na lareira.<br />

Mas o mundo que, em correria louca,<br />

Louva e bajula mas, abaixo, apouca,<br />

E vai, sem compaixão, calcando tudo,<br />

Não sabe o que é viver no abandono,<br />

Mãos frias afagando o nosso Outono,<br />

Que a solidão tem dedos de veludo.<br />

1º. Prémio do Xii concurso Literário Algarve - brasil / 2009 - tema livre<br />

Eu penso que a consciência<br />

É um Deus dentro de nós,<br />

Fala à nossa inteligência,<br />

Concede o perdão sem voz.<br />

2º. Prémio do concurso de Quadras Populares do clube da simpatia,<br />

Olhão - tema “Ânimo”<br />

Ter ânimo ante a desgraça<br />

Que, por todo o lado, adeja,<br />

É ajudar a quem passa<br />

Sem se importar de quem seja.<br />

escritas<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 45


Escritas<br />

Os TUPINAMbÁs: O CICLO gUERRA-VINgANÇA-ANTROPOFAgIA<br />

Retomo o tema dos dois últimos<br />

artigos que publiquei<br />

sobre História do Brasil, sobre<br />

algumas das suas sociedades<br />

ameríndias. Aviso<br />

que alguns dos factos relatados neste<br />

artigo são, ou podem ser, chocantes.<br />

Vimos ( nos artigos que publiquei<br />

nos Boletins N.ºs 211 e 212) vários aspectos<br />

da vida<br />

dos Tupinambás,<br />

descendentes dos<br />

Tupis, que ocuparam<br />

grande parte<br />

da costa brasileira<br />

depois de expulsarem<br />

os seus<br />

anteriores habi-<br />

José G. B. Pereira<br />

(19510211)<br />

tantes, mas a sua<br />

divisão em grupos<br />

rivais deu<br />

origem a um estado<br />

de guerra per-<br />

manente.<br />

No segundo artigo começámos a<br />

tratar o ciclo guerra – vingança – antropofagia,<br />

que hoje continuaremos,<br />

baseados na bibliografia indicada e<br />

especialmente no testemunho presencial<br />

do alemão Hans Staden, feito<br />

prisioneiro em meados de 1554, após<br />

um naufrágio junto à costa perto da<br />

povoação de S. Vicente.<br />

O seu cativeiro durou cerca de<br />

nove meses aguardando vez de ser<br />

devorado no cerimonial em uso, e, entretanto,<br />

ia testemunhando a tortura<br />

e devoração de outros prisioneiros.<br />

Foi salvo por um resgate oportuno<br />

dos franceses que, nesta época, tudo<br />

faziam para ocupar aquela região do<br />

Brasil que abrangia a baía da Guanabara<br />

(Rio de Janeiro).<br />

Ora, como vimos, a guerra era<br />

identificada como a principal instituição<br />

das sociedades tupi- guaranis,<br />

com particular realce para a tupinambá,<br />

sendo considerada como o<br />

mecanismo central da reprodução social<br />

e de manutenção do equilíbrio<br />

cosmológico.<br />

Eram encarados como potenciais<br />

inimigos os grupos locais com quem<br />

não existissem laços de aliança. Daí<br />

que as guerras intertribais assumissem,<br />

frequentemente, um carácter endémico,<br />

tanto com o objectivo de conquistar<br />

habitats privilegiados, como<br />

para superar tensões internas e capturar<br />

inimigos. Também se podia<br />

46 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

considerar como objectivo, o de favorecer<br />

o crescimento dos grupos maiores<br />

e de fraccionar os grupos menores<br />

até que sucumbissem. Esta actuação<br />

pode ser ilustrada através da estratégia<br />

adoptada pelos Tamoios de atacar<br />

incessantemente os Temiminós e os<br />

Maracajás, até os confinar a alguns<br />

núcleos, onde seriam gradualmente<br />

exterminados. Essas intenções não se<br />

concretizaram plenamente, porque,<br />

entretanto, chegava o período da colonização<br />

e, o que restava do grupo perseguido,<br />

como nos diz André Thevet,<br />

encontrou refúgio e protecção nas<br />

áreas controladas pelos Portugueses.<br />

O estado de guerra a que estas sociedades<br />

se entregavam frequentemente,<br />

como observa Carlos Fausto,<br />

não conduzia à subjugação, nem à escravização<br />

ou à extracção de tributos<br />

por uma elite cada vez mais poderosa,<br />

que erguia monumentos ao seu<br />

próprio poder. O que produzia era<br />

um movimento peculiar, voltado literalmente<br />

para o consumo de inimigos<br />

– não de sua força de trabalho, mas de<br />

suas capacidades subjectivas – sendo<br />

que tudo que deles restava eram bens<br />

imateriais: nomes, cantos e memória.<br />

Fazer prisioneiros, por exemplo, é<br />

em si um acto que depende da capacidade<br />

de uma partida atacante de evitar<br />

contra-ataques e emboscadas<br />

quando do seu regresso a casa. Quando<br />

a partida atacante é pequena e<br />

quando tem de percorrer distâncias<br />

consideráveis através de regiões em<br />

que o inimigo pode retaliar antes de<br />

se atingir território seguro, a captura<br />

de inimigos pode ser totalmente posta<br />

de parte. Nestas circunstâncias, só<br />

se podem trazer pedaços do inimigo<br />

para validar a contagem de corpos essencial<br />

a reclamação das recompen-<br />

sas sociais e materiais, reservadas à<br />

excelência e bravura no combate. Daqui<br />

vem o costume de trazer cabeças,<br />

escalpes, dedos e outras partes do<br />

corpo em lugar do cativo vivo. (Marvin<br />

Harris, Canibais e Reis, Lisboa,<br />

Edições 70, 1990, p. 149) Havendo<br />

poucos prisioneiros, o seu tratamento<br />

temporário (quase como convidados)<br />

não é de surpreender. Sejam<br />

quais forem as ambivalências psicológicas<br />

profundas que possam existir<br />

nos espíritos dos captores, o prisioneiro<br />

é uma posse valiosa – uma posse<br />

por quem os seus anfitriões arriscaram<br />

literalmente a vida. Contudo,<br />

não havendo geralmente maneira de<br />

o absorver no grupo, e uma vez que<br />

não pode ser enviado de volta para o<br />

inimigo, tem de ser morto. E a tortura<br />

tem a sua economia macabra própria.<br />

Se ser torturado é, como se diz, morrer<br />

mil mortes, então torturar um pobre<br />

cativo é matar mil inimigos. Observa<br />

Harris que a tortura é também<br />

um espectáculo, que tem sido posto à<br />

prova para aprovação das audiências<br />

ao longo das épocas.<br />

No que concerne às interpretações<br />

dos rituais antropofágicos, Marvin<br />

Harris não se satisfaz com algumas<br />

teorias elaboradas na tradição freudiana<br />

que afirmam que a tortura, o sacrifício<br />

e o canibalismo são inteligíveis<br />

como expressões de instintos de amor<br />

e de agressão. Como acontece que as<br />

vítimas são por vezes tratadas com<br />

amabilidade antes de dar início à sua<br />

tortura, esta situação levou alguns autores<br />

a sugerirem que os executores<br />

estão apenas a reconstituir a sua relação<br />

de amor-ódio com os seus pais.<br />

Porém, considera Harris que estas<br />

abordagens iludem a questão de que<br />

o acto de comer prisioneiros de guerra,<br />

não pode ter lugar, sem que haja as<br />

guerras em que eles são capturados.<br />

Além disso, os prisioneiros nem sempre<br />

são amimados, torturados, sacrificados<br />

e comidos, e qualquer teoria<br />

que pretenda explicar porque ocorre<br />

este complexo deve ser também capaz<br />

de explicar por que não ocorre.<br />

Vejamos a opinião de Hans Staden<br />

acerca do canibalismo praticado pelos<br />

Tupinambás:<br />

«Fazem isto, não para matar a<br />

fome, mas por hostilidade, por


grande ódio, e quando na guerra<br />

escaramuçam uns com os outros,<br />

gritam entre si, cheios de fúria:”<br />

Debe marãpá xe remiu ram begué,<br />

sobre ti cáia toda desgraça, tu és<br />

meu pasto. Nde acanga ajucá aipotá<br />

curi ne, quero ainda hoje moerte<br />

a cabeça. Xe anamapoepica que<br />

ze aju, aqui estou para vingar em<br />

ti a morte dos meus amigos. Nde<br />

roó, xe mocaen serã ar eima riré,<br />

etc. tua carne hoje ainda, antes que<br />

o sol se deite, deve ser meu manjar”.<br />

«Isto tudo fazem por imensa<br />

hostilidade». (Hans Staden, Duas<br />

viagens ao Brasil, Belo Horizonte,<br />

Editora Itatiaia L.da, 988, p. 176)<br />

A execução ritual podia tardar vários<br />

meses. Nesse intervalo, o cativo<br />

vivia na casa de seu captor, que lhe cedia<br />

irmã ou filha como esposa; a sua<br />

condição só se alterava nas vésperas<br />

da execução, quando era reinimizado<br />

e submetido a um rito de captura,<br />

para, a seguir, ser morto e devorado.<br />

Era um momento especial no ciclo<br />

de vida das sociedades ameríndias e<br />

estava ligado a concepções sobre o<br />

prestígio e o destino póstumo. Vários<br />

autores salientam a centralidade da<br />

guerra e da antropofagia ritual entre<br />

os Tupinambás, considerando que<br />

eram dispositivos cruciais na articu-<br />

lação dos conjuntos multicomunitários,<br />

ocupando uma posição que, em<br />

outros sistemas nativos, caberia à circulação<br />

de bens de prestígio e utilidades.<br />

(Carlos Fausto, Os índios antes<br />

do Brasil, 3.ª ed., Rio de Janeiro, Zahar<br />

Ed.2005, p. 80)<br />

O ritual antropofágico<br />

Vejamos como se passava este ritual.<br />

Sigamos o testemunho ocular de<br />

Staden, que diz dada passagem do<br />

seu livro:<br />

«Fazem então uma fogueira, a dois<br />

passos mais ou menos do escravo, de<br />

sorte que este necessariamente a vê, e<br />

uma mulher se aproxima correndo<br />

com a maça, o ibirapema, ergue ao<br />

alto as borlas de pena, dá gritos de<br />

alegria e passa correndo em frente do<br />

prisioneiro a fim de que ele o veja. Depois<br />

um homem toma o tacape, coloca-se<br />

com ele em frente do prisioneiro<br />

para que ele o aviste. Entrementes<br />

afasta-se aquele que o vai matar, com<br />

outros treze ou catorze, e pintam os<br />

corpos de cor plúmbeos, com cinza.<br />

«Quando retorna ao prisioneiro,<br />

com os seus companheiros, para o pátio,<br />

entrega-lhe o tacape aquele que com<br />

ele se acha em pé, em frente ao capturado;<br />

vem então o principal da cabana,<br />

toma a arma e mete-lhe entre as pernas.<br />

Consideram isto uma honra.<br />

«A seguir retoma o tacape aquele<br />

que vai matar o prisioneiro e diz: “ Sim,<br />

aqui estou eu, quero matar-te, pois tua<br />

gente também matou e comeu muitos<br />

dos meus amigos”. Responde-lhe o<br />

prisioneiro: “ Quando estiver morto,<br />

terei ainda muitos amigos que saberão<br />

vingar-me”. Depois golpeia o prisioneiro<br />

na nuca de modo que lhe saltam<br />

os miolos, e imediatamente levam as<br />

mulheres o morto, arrastam-no para o<br />

fogo, raspam-lhe toda a pele, fazendo-o<br />

inteiramente branco [...]». (Hans Staden,<br />

op.cit., p. 182)<br />

Era habitual as velhas precipitarem-se<br />

para beber o sangue quente e<br />

as crianças mergulhavam as mãos<br />

nele. O corpo era cortado em quartos<br />

e assado, enquanto «as velhas que<br />

eram as que mais ansiavam pela carne<br />

humana lambiam a gordura que<br />

caía dos paus que formavam a grelha».<br />

( Marvin Harris, op.cit., p. 147)<br />

Observa, ainda, Hans Staden:<br />

«Quem matou o prisioneiro recebe<br />

ainda uma alcunha, e o principal<br />

escritas<br />

da choça arranha-lhe os braços, em<br />

cima, com o dente de um animal selvagem.<br />

Quando esta arranhadura<br />

sara, vêem-se as cicatrizes que valem<br />

por ornato honroso. Durante esse dia,<br />

deve o carrasco permanecer numa<br />

rede, em repouso. Dão-lhe um pequeno<br />

arco, com uma flecha, com que<br />

deve passar o tempo, atirando num<br />

alvo de cera. Assim procedem para<br />

que seus braços não percam a pontaria,<br />

com a impressão da matança.<br />

Tudo isso eu vi, e assisti». (Hans Staden,<br />

op.cit., p. 185)<br />

O procedimento que adoptavam<br />

para com os prisioneiros foi descrito<br />

por Staden nestes termos:<br />

«Dão de comer bem ao prisioneiro.<br />

Conservam-no por algum tempo e<br />

então se preparam. Para tanto fabricam<br />

muitas vasilhas, nas quais põem<br />

suas bebidas e queimam também vasilhame<br />

especial para os ingredientes<br />

com que o pintam e enfeitam. Além<br />

disso fazem borlas de penas, que<br />

amarram ao tacape com que o matam.<br />

Fabricam também uma longa corda,<br />

chamada mussurana. Com esta o<br />

amarram, antes de executá-lo». (Hans<br />

Staden, op.cit., p. 179)<br />

Por fim, para comemorar, segundo<br />

Alfred Métraux, os guerreiros reuniam-se<br />

numa pequena elevação, bebendo<br />

caulim, executando danças e<br />

cantos em honra de seu maracá, a que<br />

agradeciam a ajuda recebida.<br />

Fontes<br />

Hans Staden, Duas viagens ao Brasil, Belo<br />

Horizonte, Editora Itatiaia L.da, 1988 [1.ª<br />

ed. língua alemã, Magdeburgo, 1557]<br />

Bibliografia<br />

Jorge Couto, A Construção do Brasil, 1.ª<br />

edição, Lisboa, Cosmos, 1995.<br />

Carlos Fausto, Os índios antes do Brasil,<br />

3.ª ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, Editor,<br />

2005 [1.ª ed. 2000]<br />

Marvin Harris, Canibais e Reis, Col. Perspectivas<br />

do Homem, Lisboa, Edições 70,<br />

1990 [Cannibal and Kings-The origins of cultures,<br />

1.ªed. líng. inglesa, 1977]<br />

Alfred Métraux, La Religion des Tupinamba<br />

et ses rapports avec celle des autres tribus Tupi-Guarani,<br />

Paris, Lib. Ernest Leroux, 1928.<br />

André Thevet, As Singularidades da França<br />

Antárctica, Belo Horizonte, S. Paulo, 1978<br />

[1.ª ed. 1557]<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 47


Cultura &<br />

Actualidade<br />

OSistema Solar é composto<br />

pelo Sol, oito planetas e<br />

respectivas luas, alguns<br />

planetas anões (como Plutão)<br />

e milhares de asteróides<br />

e cometas. Na antiguidade, para<br />

além da Terra, eram apenas conhecidos<br />

os cinco planetas mais próximos<br />

do Sol (de Mercúrio a Saturno), visíveis<br />

à vista desarmada. Apesar de incompreendido,<br />

o movimento dos planetas<br />

era tido como perfeito e regular,<br />

pois tudo o que se encontrava na esfera<br />

celeste estava estreitamente relacionado<br />

com o divino.<br />

Gerações de<br />

astrónomos e matemáticosprocuraramcompreender<br />

estes movimentos,<br />

sendo a<br />

explicação mais<br />

bem sucedida a de<br />

Alexandre<br />

Morgado Correia<br />

Kepler por volta<br />

de 1605, que mostrou<br />

que os planetas<br />

se moviam em<br />

torno do Sol em<br />

órbitas com a forma de elipses. Estes<br />

movimentos eram periódicos, extremamente<br />

regulares e previsíveis, tendo<br />

esta descoberta contribuído grandemente<br />

para a revolução científica<br />

levada a cabo durante o século XVII.<br />

A questão da evolução e sobretudo<br />

da estabilidade do Sistema Solar foi<br />

colocada um pouco mais tarde, com a<br />

descoberta da lei da gravitação universal<br />

de Newton, publicada em 1687.<br />

A partir desta lei extremamente simples,<br />

Newton conseguiu demonstrar<br />

as leis de Kepler para um sistema formado<br />

pelo Sol e por apenas um planeta.<br />

Porém, como o Sistema Solar era<br />

48 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

EVOLUçÃO E ESTABILI<strong>DA</strong>DE DO SISTEMA SOLAR<br />

composto por mais do que um planeta,<br />

estes também deveriam interagir<br />

gravitacionalmente uns com os outros,<br />

conduzindo a perturbações nas<br />

suas órbitas. A principal consequência<br />

destas perturbações é que modificam<br />

as órbitas ao longo do tempo, alterando<br />

assim a sua configuração inicial.<br />

Foi aliás a partir de perturbações<br />

na órbita de Urano que se conseguiu<br />

prever a existência de Neptuno, descoberto<br />

em 1846. Embora as órbitas<br />

actuais dos planetas sejam regulares<br />

e impeçam colisões entre eles, ao evoluírem<br />

poderia haver a possibilidade<br />

de alguns planetas se aproximarem<br />

demasiado e a estabilidade do sistema<br />

ser posta em causa. Este problema<br />

fascinou os cientistas até aos dias de<br />

hoje.<br />

Cedo se compreendeu que tantos<br />

asteróides, como cometas eram facilmente<br />

destabilizados das suas órbitas<br />

actuais; daí o elevado número de crateras<br />

observadas, por exemplo, na<br />

Lua. Mas com os planetas os cálculos<br />

não eram tão fáceis e, apesar das órbitas<br />

variarem ao longo do tempo, estas<br />

variações aparentavam ser cíclicas.<br />

Durante o século XVIII, Laplace e Lagrange<br />

demonstraram que as órbitas<br />

eram estáveis, quando se tinham em<br />

conta apenas as perturbações mais<br />

importantes (ditas de primeira ordem).<br />

Já no século XIX, Poisson e<br />

Poincaré mostraram que este resultado<br />

é ainda válido para as perturbações<br />

de segunda ordem. A estabilidade<br />

do Sistema Solar parecia assim estar<br />

assegurada. Porém, Poincaré notou<br />

que as perturbações de ordem<br />

superior, apesar de extremamente pequenas,<br />

continham termos não lineares<br />

que poderiam crescer em importância<br />

com o tempo e dar origem a<br />

comportamentos caóticos e imprevisíveis.<br />

Só na segunda metade do século<br />

XX, com o surgimento dos super computadores<br />

foi possível simular a evolução<br />

do Sistema Solar de uma forma<br />

rigorosa. A natureza caótica do sistema<br />

foi confirmada, o que complicou<br />

ainda mais a questão da estabilidade:<br />

o sistema actual pode evoluir em direcções<br />

diferentes, algumas estáveis,<br />

mas outras possivelmente instáveis.<br />

A resposta final a esta questão chegou<br />

apenas em 2009, num artigo publicado<br />

em Abril por Jacques Laskar (Observatório<br />

de Paris), na prestigiada<br />

revista Nature. A evolução do Sistema<br />

Solar foi simulada em 2500 computadores<br />

diferentes, cada uma com<br />

condições inicias ligeiramente diferentes<br />

(dentro das incertezas de medição<br />

nas órbitas actuais). Concluiuse<br />

que durante os próximos 5 mil milhões<br />

de anos (o tempo de vida estimado<br />

para o Sol), 99% das simulações<br />

eram estáveis. Porém, existe a probabilidade<br />

de 1% da órbita de Mercúrio<br />

aumentar de tamanho de forma significativa,<br />

vindo perturbar as órbitas de<br />

Vénus, da Terra e de Marte. Nesta situação,<br />

observaram-se colisões entre<br />

todos estes planetas. Ao contrario do<br />

que se pensou ao longo de muitos séculos,<br />

podemos dizer hoje que o Sistema<br />

Solar não é estável, embora a probabilidade<br />

de este poder vir a ser destruído<br />

seja extremamente baixa.


SEXISMOS - SERá A LíNgUA SEXISTA?<br />

PPilar del Río, mulher do<br />

prémio Nobel e presidente<br />

da Fundação José Saramago,<br />

acha que sim. Disse ela,<br />

em entrevista ao DN<br />

(6/07/08): «Só os<br />

ignorantes é que<br />

me chamam presidente».<br />

Pilar del<br />

Río considera-se<br />

«presidenta». Para<br />

chegar a «presidenta»<br />

teve de se<br />

esforçar e ser boa<br />

Ana Martins<br />

«estudanta», possivelmente<br />

até «di-<br />

rigenta» estudantil; enfim, ontem,<br />

como hoje, «amanta» das letras.<br />

Estou a parodiar, claro, mas note-se que<br />

o dicionário Porto Editora (2006) já regista<br />

«presidenta», a par de «presidente».<br />

Mas, curioso, se presidente figura aí<br />

como sendo um substantivo masculino<br />

e feminino, para que serve «presidenta»?<br />

Possivelmente, para ir ao encontro da<br />

declaração de vontade de mulheres e<br />

homens que embandeiram a igualdade<br />

dos sexos.<br />

Mas, atenção, que este igualitarismo não<br />

desemboca numa solução uniforme.<br />

Há quem defenda que se transmute o<br />

género das palavras a eito para passarmos<br />

então a ter «generalas», «majoras»,<br />

«oficialas», etc. E para os casos<br />

em que a morfologia da palavra já<br />

contempla os dois géneros, há quem<br />

advogue em favor de uma terceira: em<br />

vez de «actriz», «actora»; em vez de<br />

«embaixatriz», «embaixadora»…<br />

Acresce que Natália Correia considerava-se<br />

«poeta», e não «poetisa»; e a nossa<br />

maestrina, Joana Carneiro, diz que é<br />

«maestro» …Outro exemplo: no rescaldo<br />

das eleições autárquicas, o jornal Públi-<br />

Ana Cristina de Sousa Martins<br />

A. Borges Pires &Associados - Sociedade Civil de Advogados, RL<br />

ÁREAS PREFERENCIAIS:<br />

DIREITO LABORAL, DIREITO COMERCIAL, DIREITO CIVIL,<br />

CONTENCIOSO CIVIL, LABORAL E COMERCIAL<br />

António Borges Pires: abp@scadvogados.com<br />

Henrique Santos Pereira: hsp@scadvogados.com<br />

Cultura &<br />

Actualidade<br />

co noticiou que Valentim Loureiro chorou<br />

por três mulheres: «As três são os<br />

vereadores que Valentim perdeu nas últimas<br />

eleições» (Público, 5/11/09).<br />

Aquilo que se conclui, para já, é que<br />

uma potencial mudança a este nível<br />

nunca seria estrutural ou sistemática:<br />

veja-se, só a título de exemplo, que<br />

«governanta» não é um simples feminino<br />

de «governante» …<br />

E o que fazer com os pronomes neutros,<br />

que coincidem com a forma de masculino,<br />

como «isso» e «ele», em «Isso é que<br />

era bom» ou «Ele há cada coisa! …»<br />

A língua reflecte o pensamento dominante?<br />

Claro que sim, porque a língua<br />

é praxis social. Não há dicionário ou<br />

“declaração de autoridade” capaz de<br />

estipular o que deve ser dito, seja essa<br />

imposição motivada por uma perspectiva<br />

normativista da língua, seja por<br />

esta ou por aquela deriva ideológica.<br />

É Doutora em Linguística pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Investigadora do<br />

Centro de Linguística da Universidade do Porto e Bolseira da FCT para realização de pós-doutoramento<br />

em Aquisição de Português Língua Segunda na Universidade de Lisboa<br />

RUA RODRIGO <strong>DA</strong> FONSECA, 24, PISO 6, 1250-193 LISBOA | TEL.: +351 213 712 630 / FAX: +351 213 712 631<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 49


Cultura &<br />

Actualidade<br />

Sofia W. Pontares<br />

Hipertensão arterial (não controlada)<br />

Aterosclerose<br />

Hipercolesterolémia<br />

Diabetes mellitus<br />

Doenças reumatológicas e cardíacas<br />

50 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

QUERER é PODER... cOM SAÚDE<br />

Nesta edição do boletim resolvi falar-vos de um problema que, infelizmente, atinge cada vez<br />

mais pessoas em todo o Mundo, e do qual certamente muitos já ouviram falar: o Acidente<br />

Vascular Cerebral (AVC).<br />

O QUE É?<br />

Um AVC consiste numa situação resultante da diminuição ou ausência do fluxo sanguíneo e,<br />

consequentemente, de oxigénio ao nível dos tecidos das estruturas encefálicas, ocorrendo uma rápida<br />

perda da função neurológica. Neste contexto, consideram-se dois tipos de AVC: os isquémicos<br />

(por falta de suprimento sanguíneo) e os hemorrágicos (ruptura de um vaso sanguíneo cerebral).<br />

É POssÍVEL PREVENIR?<br />

Como em todas as doenças vasculares, e outras, o melhor tratamento passa pela prevenção, pelo<br />

que é importante identificarmos os factores de risco, para os podermos combater:<br />

Idade (aumento da idade associado a uma maior probabilidade de ocorrência)<br />

Sexo (até aos 50 anos os homens apresentam maior propensão; depois dessa idade<br />

o risco iguala-se)<br />

Obesidade (por aumento do risco de hipertensão arterial, diabetes...)<br />

Anticoncepcionais hormonais<br />

Consumo excessivo de bebidas alcoólicas e tabagismo<br />

COMO IDENTIFICAR UM AVC?<br />

Há alguns sinais e sintomas que devemos saber reconhecer. Assim, pode ocorrer perda brusca do conhecimento,<br />

cefaleias fortes, agitação e ansiedade, e dificuldade de articulação das palavras ou de compreensão da linguagem. Simultaneamente<br />

pode ocorrer um compromisso motor, traduzido em descoordenação, perda de equilíbrio, ou até incapacidade<br />

de realização de certos movimentos (ex.: andar), com diminuição/perda da força na face, braço ou perna de um dos<br />

lados do corpo. Palidez, sudorese, insensibilidade a estímulos tácteis (pode haver sensação de dormência) e anisocória<br />

(pupilas de tamanhos diferentes) são também sinais a ter em conta, para além da paralisia facial, com repuxamento da<br />

comissura labial para um dos lados.<br />

O QUE FAZER?<br />

Se verificar o aparecimento súbito de falta de força num braço, boca ao lado e/<br />

ou dificuldade em falar, ligue de imediato 112 (número nacional de emergência).<br />

Nestas situações não deve recorrer ao hospital pelos seus próprios meios, pelo que o<br />

Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) orientará os doentes para o hospital<br />

adequado, onde será feito o diagnóstico e iniciado o trata ento adequado. É fundamental<br />

percebermos que, se estes sinais forem reconhecidos a tempo, ligar o 112 é a forma<br />

mais rápida de ser tratado, e de avistar um prognóstico mais favorável.<br />

Têm sido diversas as campanhas de prevenção e promoção da saúde desenvolvidas no nosso país nos últimos anos,<br />

e o AVC não foi excepção. Neste âmbito, foi lançado recentemente um programa de sensibilização pública intitulado<br />

“Seja mais rápido que um AVC”. Para mais informações pode consultar o site do INEM (www.inem.pt), o Portal da Saúde<br />

(www.min-saude.pt/portal/) ou o site do Alto Comissariado da Saúde (www.acs.min-saude.pt/). Se estiver alerta<br />

pode salvar a sua vida e a dos outros!


5 Dias, partida à Quinta-feira<br />

e regresso Segunda-feira<br />

Quando viajar<br />

Dependendo do gosto de cada um,<br />

não esquecendo que o Inverno é muito<br />

frio, a Primavera ou até mes mo o Verão,<br />

serão as alturas<br />

mais agradáveis.<br />

Como viajar<br />

Como a TAP<br />

não voa directamente<br />

para Berlim,<br />

a solução é adquirir<br />

um bilhete via<br />

Frankfurt ou Zurique.<br />

Como mínimo<br />

Fernando B. Pires<br />

(19550275)<br />

programar um fimde-semanaprolongado,<br />

esta sugestão<br />

de 5 dias permite<br />

ver o essencial e ficar com uma ideia<br />

muito boa sobre esta importante cidade.<br />

Para este efeito, dispondo de poucos<br />

dias, a viagem deverá ser muito bem<br />

planeada, tanto no que diz respeito aos<br />

locais a visitar como na utilização do<br />

tempo disponível. A Internet e um livro<br />

Guia de viagem são muito úteis. O Aeroporto<br />

de Tegel fica a cerca de 8 quilómetros<br />

do centro da cidade, para lá chegar<br />

pode-se optar pelo autocarro, carreira<br />

109, que pára junto à estação de<br />

caminho de ferro e do jardim zoológico,<br />

na zona de Kufurstendamm, ou então<br />

pelo táxi até ao hotel escolhido.<br />

Onde ficar<br />

Na zona do Kufurstendamm – na<br />

antiga área ocidental, perto do Jardim<br />

Zoológico e da Estação de caminho de<br />

ferro – encontram-se bons hotéis, facilidade<br />

de transportes e bons Restaurantes.<br />

Mesmo em frente à Igreja, em ruínas<br />

da guerra (Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche),<br />

sai o “city tour” “Hop on<br />

Hop off”.<br />

Locais a visitar<br />

Uma das melhores formas de visitar<br />

esta cidade é, logo no primeiro dia, de<br />

manhã bem cedo, embarcar num dos<br />

autocarros “Sightseeing Hop On Hop<br />

Off” e fazer uma primeira volta comple-<br />

ta por toda a cidade, depois, seguindo as<br />

instruções do mapa que nos entregam,<br />

planear as paragens conforme os locais<br />

que queremos visitar mais em detalhe.<br />

Para mencionar a lista, mais ou menos<br />

completa, por áreas, dos locais a visitar,<br />

a cidade de Berlim está organizada<br />

da seguinte maneira: Unter den Linden<br />

(onde se encontram as Portas de Brandenburger,<br />

o Museu da História da Alemanha<br />

a Ópera Estatal e o Gendarmenmarkt,<br />

entre outros); Ilha dos Musesus<br />

(onde se encontra a Catedral e o Altes<br />

Museum com destaque para a colecção<br />

de antiguidades gregas e romanas);<br />

Tiergarten (onde se encontra a Praça de<br />

Potsdamer, o Palácio Bellevue, a Casa de<br />

Cultura Mundial, O Reichstag e a Estátua<br />

do soldado soviético); Kreuzberg<br />

(onde fica o Checkpoint Charlie – célebre<br />

fronteira entre os sectores america-<br />

no e soviético –, a Topografia dos Horrores<br />

– escavações no local onde era a antiga<br />

sede da Gestapo e dos SS que tem patente<br />

uma exposição de fotografias bastante<br />

chocantes sobre os crimes nazis –<br />

O Museu de Berlim e o Museu Judaico);<br />

Kurfustendamm (onde fica o Jardim<br />

Zoológico e a Kaiser-Wilhelm-Gedachtniskirche);<br />

A leste do Centro (onde se<br />

encontra a Alexanderplatz e a Câmara<br />

Municipal).<br />

Moeda e custos<br />

Como é sabido na Alemanha a moeda<br />

é o Euro.<br />

O preço da viagem de ida e volta,<br />

com escala em Zurique, para duas pessoas,<br />

ronda os 733€.<br />

O preço duma noite, para 2 pessoas,<br />

BERLIM Viagens<br />

& Lazer<br />

no Swisshotel (5 estrelas) ronda os 180€,<br />

e os Restaurantes da zona de Kurfustendamm<br />

são bons e os preços são razoáveis.<br />

Se optar pela compra dum pacote<br />

completo o custo da viagem para duas<br />

pessoas e hotel de 4 estrelas, para 3 noites,<br />

poderá orçar os 1.100,00€.<br />

O custo do táxi, do aeroporto para o<br />

centro da cidade ronda os 15 euros e demora<br />

cerca de 15 minutos.<br />

O preço do city tour Hop on Hop Off<br />

ronda os 12€. Lembro que esta modalidade<br />

de tour permite viajar e percorrer<br />

todo o circuito o número de vezes que se<br />

pretender durante um dia inteiro. O<br />

percurso tem um determinado número<br />

de paragens que permite entrar e sair<br />

sempre que se pretende. Esta é uma maneira<br />

fácil de se visitar todos os pontos<br />

de maior interesse turístico da cidade.<br />

Mas, como a cidade é extensa e os locais<br />

a visitar são muitos, um dia não será suficiente<br />

para se efectuar o circuito completo.<br />

As redes de metropolitano e autocarros<br />

são muito boas.<br />

Recomendações<br />

Para que gosta de sentir os locais que<br />

visita, esta é uma cidade onde, apesar de<br />

haver muito por onde andar a pé, não se<br />

torna tão cansativo por ser quase tudo<br />

em terreno plano. O vestuário deverá<br />

ser prático e o calçado confortável e próprio<br />

para caminhar<br />

Informações úteis<br />

Não é necessário passaporte nem<br />

visto de entrada. Sendo país da EU basta<br />

a apresentação do BI ou cartão de Cidadão.<br />

O comércio está aberto normalmente<br />

das 10 da manhã às 8 da noite e aos<br />

Sábados encerra às 4 da tarde.<br />

Berlim tem uma hora mais do que<br />

Portugal<br />

A não perder<br />

Para além dos passeios a pé nas zonas<br />

do Reichstag e portas de Brandenburger,<br />

percorrer a Alexanderplatz,<br />

Potsdamerplatz e a Topografia dos horrores,<br />

exposição fotográfica junto às escavações<br />

das antigas sedes das SS e Gestapo.<br />

Associação dos Pupilos do Exército | 51


Viagens<br />

& Lazer<br />

PASSATEMPOS<br />

GeocachinG: uma “caça ao tesouro”<br />

dos tempos modernos<br />

O geocaching é um passatempo de ar livre,<br />

por muitos considerado também como um<br />

desporto. Este passatempo consiste em encontrar<br />

uma “cache” colocada em qualquer local<br />

(há caches por todo o mundo), com a ajuda de<br />

um GPS (Sistema de Posicionamento Global).<br />

Uma cache típica é uma pequena caixa, ou tupperware, fechada e à prova de água, que<br />

contém um livro de registos (logbook) e alguns objectos, tais como lápis, moedas ou<br />

bonecos para troca. Para muitos, incluindo os geocachers, este passatempo pode ser<br />

Margarida Pereira considerado um jogo, uma actividade ou mesmo apenas uma razão para passear e co-<br />

(1977.1051)<br />

nhecer locais que doutra forma muito dificilmente conheceriam. Apesar de acessível<br />

a todos, por vezes esta actividade pode obrigar a um esforço físico significativo, dependendo<br />

do local onde foi escondida. Por isso, as geocaches são classificadas de 1 a 5, consoante o seu grau de<br />

dificuldade. O grau de dificuldade varia muito, havendo caches escondidas em parques públicos, monumentos,<br />

cidades, até caches escondidas em altas montanhas, desertos e até na Antártida.<br />

Uma das características desta actividade é, pelo menos idealmente, estar associada a alguma consciência<br />

ambientalista. Deve, por isso, ser feito um esforço no sentido de preservar a natureza. Um verdadeiro<br />

geocacher deverá remover o lixo (caso ele exista) das áreas onde pratica geocaching. Deverá, assim, deixar<br />

o local em igual ou melhor estado do que o que encontrou (Cash in, Trash out).<br />

Numa cache tradicional o geocacher coloca um livro de registos, caneta ou lápis e os pequenos tesouros.<br />

Os “donos” das caches anotam as coordenadas (latitude e longitude) e estas, juntamente com mais informações<br />

sobre o local do esconderijo, são publicadas na Internet. Cabe aos ”descobridores” consultarem<br />

essa informação e, com receptores GPS partirem à descoberta. Quando bem sucedidos, devem registar o<br />

achado nessa página da net, bem como deixar os seus “vestígios” no logbook existente dentro da cache. Os<br />

geocachers são livres de colocar ou retirar objectos da cache, de modo a haver sempre uma recordação<br />

para trazer.<br />

Há vários tipos de caches:<br />

Micro-cache: (as mais comuns são caixas de rolos fotográficos)<br />

Multi-cache: são necessários, um ou mais pontos intermédios para determinar as coordenadas da<br />

cache final<br />

Cache-mistério: O geocacher terá que resolver um enigma para encontrá-la<br />

Cache-evento: um encontro de geocachers<br />

Virtual: local a visitar, sem caixas escondidas, mas que tem que ter algo bonito ou interessante. A visita<br />

tem que ser “provada” através da revelação de algo que garanta que o geocacher esteve presente.<br />

Se não conhecia esta actividade, experimente um dia destes. Pode ser praticada em família ou em pequenos<br />

grupos, mas é sempre uma forma diferente de ocupar, ao ar livre, algum do seu tempo de lazer. Eu<br />

já experimentei e gostei!<br />

Endereço internet: www.geocaching.com<br />

Humor (rir faz bem ao coração) :<br />

A professora pergunta ao menino:<br />

- O que é que queres ser quando fores grande?<br />

- Quero ser o Pai Natal!<br />

- Porquê?<br />

- Porque assim só trabalho uma vez por ano!<br />

52 | Associação dos Pupilos do Exército<br />

- Pai, hoje fui expulso da escola.<br />

- O quê??? O que é que fizeste?<br />

- Meti dinamite debaixo da<br />

cadeira da professora.<br />

- Maldito! Vais já à escola pedir<br />

desculpas à tua professora!<br />

- Qual escola?!?

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