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O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas - USP

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ganhar corpo e institucionalizar-se. Um dos<br />

grandes inspiradores do movimento ecu-<br />

mênico foi o arcebispo lutera<strong>no</strong> da Suécia<br />

Nathan Söderblom (1866-1931), professor<br />

de história da religião em Upsala. Söder-<br />

blom conseguiu ultrapassar sua formação<br />

evangélica avivalista ao encontrar-se com<br />

a teologia liberal protestante e, <strong>no</strong> seu ideal<br />

de união dos cristãos, ultrapassou ambas as<br />

correntes. De fato, o movimento ecumênico,<br />

então institucionalizado, pretendia estar<br />

acima das divisões tanto eclesiásticas como<br />

teológicas dos cristãos ao firmar-se sobre<br />

os princípios essenciais do cristianismo que<br />

pudessem ser aceitos por todos.<br />

Nesse ponto, estava armado todo o<br />

cenário confuso e contraditório do protes-<br />

tantismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Várias alternativas, ver-<br />

dadeiras <strong>encruzilhadas</strong>, se lhe ofereceriam<br />

a partir dos a<strong>no</strong>s seguintes.<br />

PERÍODO DE 1952 A 1962:<br />

A CHEGADA DE “UM BANDO DE<br />

TEOLOGIAS NOVAS”<br />

Entre as diversas <strong>encruzilhadas</strong> do<br />

<strong>protestantismo</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, esse período de<br />

dez a<strong>no</strong>s representa de fato a grande e de-<br />

cisiva encruzilhada desse <strong>protestantismo</strong>, o<br />

momento decisivo em que ele poderia ter<br />

assumido a realidade brasileira e passado a<br />

participar da história do país. Fatores his-<br />

tóricos, muitos de natureza internacional,<br />

interromperam o processo, que culmina em<br />

1962 com a Conferência do Nordeste e tem<br />

seu melancólico fim <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70.<br />

No período anterior, que transcorre em<br />

sua maior parte na Era Vargas, caracterizado<br />

pelo movimento unionista, o nacionalismo<br />

protestante girou em tor<strong>no</strong> de movimentos<br />

de auto<strong>no</strong>mia administrativa das igrejas,<br />

mas não abriu caminhos para a auto<strong>no</strong>mia<br />

cultural ou, melhor dizendo, para que seu<br />

rosto se voltasse para o lado brasileiro.<br />

Exemplo disso foi a literatura destinada à<br />

educação religiosa, unificada e usada pe-<br />

las igrejas participantes da Confederação<br />

Evangélica. Não obstante ter a redação do<br />

material ficado sob a responsabilidade de<br />

pastores brasileiros, como o competente<br />

educador Erasmo Braga, o modelo vinha<br />

dos Estados Unidos e era aqui traduzido<br />

e adaptado. Era incongruente com a reali-<br />

dade brasileira porque retratava o padrão<br />

burguês da cultura <strong>no</strong>rte-americana. As<br />

crianças, principalmente, viam e aprendiam<br />

na igreja coisas que pouco ou nada tinham<br />

a ver com <strong>suas</strong> vidas, embora as casas dos<br />

protestantes, em geral de classe média ou<br />

em ascensão, ostentassem traços sensíveis<br />

de algo próximo ao wasp (8). João do Rio<br />

(1976, p. 87) parece ter sido o primeiro a<br />

observar e registrar em <strong>suas</strong> deliciosas crô-<br />

nicas esse traço curioso do <strong>protestantismo</strong><br />

ainda incipiente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Auto<strong>no</strong>mia po-<br />

lítica (poder), mas não cultural, era o que,<br />

de fato, as igrejas ostentavam.<br />

Vargas, deposto em 1945, logo após o fim<br />

da guerra, deixara uma herança mesclada de<br />

alguns avanços, como as leis trabalhistas,<br />

o início da industrialização, bem como um<br />

atraso político que ameaçava o país com a<br />

volta das mazelas da Primeira República.<br />

Embora a Constituição de 1946 fosse re-<br />

conhecida como boa, grandes mudanças<br />

sociais exigiam reformas econômicas e<br />

políticas de base. Nova consciência política<br />

brota entre intelectuais e jovens estudantes<br />

que passam a clamar pelas chamadas então<br />

“reformas de base”. O nacionalismo volta<br />

com muita força e exige um desenvolvi-<br />

mento econômico e social autô<strong>no</strong>mo. A in-<br />

dustrialização e o conseqüente crescimento<br />

das cidades geram tensões entre as classes<br />

médias rurais e urbanas, ao mesmo tempo<br />

em que fazem aumentar a pobreza nas pe-<br />

riferias das grandes cidades. Esse cenário,<br />

propício para uma profunda revolução so-<br />

cial, iria afetar muito de perto, parece que<br />

pela primeira vez em <strong>no</strong>ssa história, o quadro<br />

religioso incluindo o <strong>protestantismo</strong>.<br />

O <strong>protestantismo</strong>, já em sua terceira<br />

geração <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, formara em seu seio<br />

uma juventude burguesa intelectualizada<br />

pelo acesso às universidades que foram<br />

surgindo <strong>no</strong> período anterior. Treinados<br />

para liderança em <strong>suas</strong> igrejas, esses jo-<br />

vens começaram a ter logo parte ativa <strong>no</strong>s<br />

8 Wasp: white, anglo-saxon and<br />

protestant.<br />

REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/<strong>no</strong>vembro 2005 59

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