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O protestantismo no Brasil e suas encruzilhadas - USP

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das próprias igrejas. Para muitos protestantes,<br />

a prioridade era converter pessoas ao pro-<br />

testantismo e promover o crescimento das<br />

igrejas; para outros, era necessário “educar<br />

para civilizar”, causa que era óbvia na men-<br />

talidade missionária <strong>no</strong>rte-americana. Um<br />

<strong>protestantismo</strong> entusiasta e em desenvolvi-<br />

mento, mas já com crises internas, caracteriza<br />

esse primeiro período. Crises principalmente<br />

geradas por mentalidades diferentes e com<br />

prioridades divergentes.<br />

PROJETO DE COOPERAÇÃO<br />

E UNIONISMO: DE 1916 A 1952<br />

Momento histórico importante para<br />

o <strong>protestantismo</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na América<br />

Latina foi o Congresso da Obra Cristã<br />

na América Latina, realizado na Zona do<br />

Canal do Panamá, em fevereiro de 1916.<br />

Esse congresso, conhecido simplesmente<br />

por Congresso do Panamá, foi uma reação<br />

à Conferência Missionária de Edimburgo,<br />

Escócia, realizada em 1910. Essa conferên-<br />

cia, infl uenciada pela amplitude colonialista<br />

da Inglaterra, fi rmou o princípio de que as<br />

missões só deveriam ter como objetivo o<br />

mundo não-cristão, o que excluía as áreas<br />

ocupadas pela Igreja Católica e punha em<br />

xeque todo o arcabouço missionário pro-<br />

testante na América Latina.<br />

Mas a história, muitas vezes irônica,<br />

pregou mais uma vez uma de <strong>suas</strong> peças.<br />

O Panamá, que pretendia fi rmar o princípio<br />

de que era necessário fazer missão também<br />

<strong>no</strong>s países católicos por razões de ordem<br />

teológica, não contava com outras razões,<br />

estas de caráter mais forte porque geradas<br />

<strong>no</strong> âmbito político internacional, e acabou<br />

provocando um impasse dentro do próprio<br />

<strong>protestantismo</strong> lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>. A políti-<br />

ca do pan-americanismo, provocada pelo<br />

presidente <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> James Monroe<br />

(1817-25), não desejava desagradar os<br />

países lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, todos católicos,<br />

alguns ainda mantendo a ligação Igreja-<br />

Estado. Assim, a pauta do congresso, toda<br />

preparada <strong>no</strong>s Estados Unidos, praticamente<br />

manteve a política de Edimburgo ao decidir<br />

pela prudência em relação à Igreja Católica.<br />

A mensagem fi nal do congresso recomen-<br />

dou que a ação missionária deveria buscar<br />

áreas não atendidas pela Igreja Católica,<br />

principalmente entre os índios.<br />

O pastor e educador presbiteria<strong>no</strong> bra-<br />

sileiro Erasmo Braga (1877-1932), consi-<br />

derado um dos pioneiros do movimento<br />

ecumênico, foi encarregado de resumir e<br />

publicar o pensamento ofi cial do congres-<br />

so, isto é, o movimento pela unidade dos<br />

cristãos lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, o que fez em<br />

seguida escrevendo a obra emblemática<br />

do evento Panamericanismo, Aspecto Reli-<br />

gioso, publicada em Nova York (1916) em<br />

português e espanhol. A idéia de unidade<br />

dos cristãos, aqui entendida como unidade<br />

dos protestantes, foi posta em ação pela<br />

organização, em 1917, da Comissão Bra-<br />

sileira de Cooperação. Fizeram parte da<br />

comissão presbiteria<strong>no</strong>s, presbiteria<strong>no</strong>s<br />

independentes, metodistas, congregacionais<br />

e episcopais, e o objetivo era produzir litera-<br />

tura religiosa em português, uma imprensa<br />

e livraria <strong>no</strong> Rio de Janeiro, uma revista da<br />

família, uma universidade protestante e um<br />

orfanato (Pierson, s/d).<br />

Esse ambicioso projeto, com fundos<br />

que excediam um milhão de dólares, era<br />

inteiramente subsidiado pelas igrejas <strong>no</strong>rte-<br />

americanas. Parte do projeto foi realizada,<br />

principalmente a partir da fundação da<br />

Confederação Evangélica do <strong>Brasil</strong>, em<br />

1934, embora já houvesse fracassado o Se-<br />

minário Unido do Rio de Janeiro (1918-33),<br />

talvez o que viria ser semente da sonhada<br />

Universidade Protestante. Sempre em pauta<br />

a disputa entre brasileiros e missionários<br />

<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Contudo, sob a tutela<br />

da confederação, foram publicados vários<br />

textos de instrução religiosa, principalmente<br />

revistas para as escolas dominicais mediante<br />

trabalho exaustivo do educador Erasmo<br />

Braga. Buscava-se a unidade dentro da<br />

diversidade do <strong>protestantismo</strong>.<br />

De fato, durante muitos a<strong>no</strong>s foi possível<br />

participar de cultos e escolas dominicais<br />

da maioria das igrejas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> portando a<br />

mesma versão da Bíblia, o mesmo livro de<br />

hi<strong>no</strong>s e a mesma revista de escola domini-<br />

REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.67, p. 48-67, setembro/<strong>no</strong>vembro 2005 55

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