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20º aniversário da reelevação a vila - Gazeta Das Caldas

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Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

<strong>20º</strong> <strong>aniversário</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>reelevação</strong><br />

a <strong>vila</strong><br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

Alfeizerão Alfeizerão – – uma<br />

uma<br />

história história antiga antiga e<br />

e<br />

interessante<br />

interessante<br />

Este suplemento faz parte integrante <strong>da</strong> edição 4872 <strong>da</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s, Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s de 12 de Agosto de 2011 e não pode ser vendido separa<strong>da</strong>mente<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão é uma <strong>vila</strong> com uma história antiga<br />

e interessante, que tem um potencial<br />

económico importante e está localiza<strong>da</strong><br />

estrategicamente – e com boas<br />

acessibili<strong>da</strong>des - entre Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha,<br />

Alcobaça e S. Martinho do Porto.<br />

Neste suplemento que a <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />

Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s lhe dedica, aproveitando a<br />

comemoração do <strong>20º</strong> <strong>aniversário</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>reelevação</strong> a <strong>vila</strong>, tentamos evidenciar o valor<br />

<strong>da</strong> terra e <strong>da</strong>s suas gentes, bem como<br />

conhecer o que pensam algumas <strong>da</strong>s<br />

pessoas que nela nasceram e residem.<br />

Alfeizerão é uma <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong>des de eleição<br />

nas nossas colunas graças à permanente<br />

colaboração de alguns amigos que<br />

sau<strong>da</strong>mos, bem como sau<strong>da</strong>mos todos os<br />

seus naturais e residentes, incentivando-os a<br />

continuarem a bater-se por uma freguesia<br />

melhor.<br />

Recor<strong>da</strong>mos a origem do pão de ló de<br />

Alfeizerão e <strong>da</strong> sua importância, sobretudo<br />

nos tempos em que todo o tráfego rodoviário<br />

entre Lisboa e Porto passava<br />

obrigatoriamente por aquela <strong>vila</strong>. Hoje<br />

prolifera esse doce em inúmeras partes do<br />

país, mas para nós o autêntico pão de ló de<br />

Alfeizerão é precisamente... o de Alfeizerão.<br />

Fica esta recor<strong>da</strong>ção e o nosso voto de que<br />

esta <strong>vila</strong> continue a afirmar-se no contexto<br />

regional e nacional.<br />

1<br />

12 | Agosto | 2011


2<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

“Se “Se há há coisas coisas boas boas neste neste cargo cargo é é a a concretização concretização de de ob<br />

ob<br />

Nativi<strong>da</strong>de Nativi<strong>da</strong>de Marques, Marques, presidente presidente <strong>da</strong> <strong>da</strong> Junta Junta de de Freguesia<br />

Freguesia<br />

Nativi<strong>da</strong>de Nativi<strong>da</strong>de Marques Marques está está à à frente frente dos dos destinos destinos <strong>da</strong> <strong>da</strong> Junta Junta de<br />

de<br />

Freguesia Freguesia de de Alfeizerão Alfeizerão há há 14 14 anos<br />

anos<br />

Nativi<strong>da</strong>de Marques é presidente <strong>da</strong> Junta de Alfeizerão há 14<br />

anos. Esta professora de Ciências e Matemática, natural de<br />

Casal Velho (Alfeizerão) chegou ao executivo em finais de<br />

1997, com 40 anos.<br />

A sua carreira autárquica é fruto de um acaso, como a própria<br />

faz questão de contar. Em Julho de 1997 o então presidente<br />

<strong>da</strong> Junta, o social-democrata Manuel Vizoso, convidou Nativi<strong>da</strong>de<br />

Marques para fazer parte <strong>da</strong> lista em número dois, ao que<br />

esta anuiu.<br />

Contudo, Manuel Vizoso, que se encontrava doente, acabaria<br />

por falecer poucos dias depois de ter ganho as eleições,<br />

acabando Nativi<strong>da</strong>de Marques por assumir a presidência <strong>da</strong><br />

freguesia, apesar de não ter qualquer experiência autárquica.<br />

Mesmo não conhecendo na altura os meandros <strong>da</strong> política, a<br />

autarca diz que “no “no “no “no “no início início início início início foi foi foi foi foi mais mais mais mais mais fácil fácil fácil fácil fácil do do do do do que que que que que ooo<br />

oo<br />

é é é é é actualmente”<br />

actualmente”<br />

actualmente”. actualmente”<br />

actualmente” Reconhece que ain<strong>da</strong> falta fazer muito<br />

pela freguesia, mas acredita que ain<strong>da</strong> conseguirá ter o centro<br />

escolar que, embora já previsto, a Câmara de Alcobaça desistiu<br />

<strong>da</strong> sua construção para pagar os que foram construídos em<br />

Alcobaça e na Benedita.<br />

GAZETA GAZETA DAS DAS CALDAS CALDAS – – Considera Considera que que há há 14 14 anos anos era era mais<br />

mais<br />

fácilfácil ser ser presidente presidente de de Junta. Junta. Porquê? Porquê? A A população população era era meme-<br />

nos nos exigente?<br />

exigente?<br />

NATIVIDADE NATIVIDADE MARQUES MARQUES – Sim, hoje há uma maior exigência por<br />

parte <strong>da</strong> população e, por outro lado, há uma redução de verbas para a<br />

Junta, quer por parte <strong>da</strong> administração central quer por parte <strong>da</strong> autarquia<br />

[de Alcobaça].<br />

G.C. G.C. - - As As dificul<strong>da</strong>des dificul<strong>da</strong>des financeiras financeiras financeiras são são são o o maior maior obstáculo obstáculo obstáculo <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong><br />

Junta Junta de de Freguesia?<br />

Freguesia?<br />

N.M. N.M. - Sim. Temos uma freguesia grande e com um problema imenso<br />

que é a dispersão. Existem lugares muito distantes <strong>da</strong> sede de freguesia e<br />

todos têm carências. Todos precisam de estra<strong>da</strong>s alcatroa<strong>da</strong>s, de saneamento,<br />

enfim, <strong>da</strong>s condições básicas de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

G.C. G.C. - - - Ain<strong>da</strong> Ain<strong>da</strong> há há falta falta de de saneamento saneamento básico? básico? básico? É É essa essa a a vossa<br />

vossa<br />

priori<strong>da</strong>de?<br />

priori<strong>da</strong>de?<br />

priori<strong>da</strong>de?<br />

N.M. N.M. - - Nesta altura temos muitas priori<strong>da</strong>des. É necessário alargar os<br />

dois cemitérios, precisamos do centro escolar e também desse complemento,<br />

que é o saneamento e o asfalto.<br />

G.C. G.C. - - As As pessoas pessoas reivindicam-nos?<br />

reivindicam-nos?<br />

N.M. N.M. - Sim, e é natural que assim seja. Temos 23 lugares nesta freguesia.<br />

G.C.- G.C.- Destes, Destes, quantos quantos é é que que ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> não não têm têm saneamento<br />

saneamento<br />

básico básico concluído?<br />

concluído?<br />

N.M. N.M. - São seis ou sete lugares nessa situação. E não são os mais rurais<br />

e afastados <strong>da</strong> sede de freguesia. A locali<strong>da</strong>de de Vale Maceira, por<br />

exemplo, ain<strong>da</strong> não tem o saneamento básico completo e situa-se relativamente<br />

perto.<br />

G.C.- G.C.- Mas Mas as as principais principais carências carências carências <strong>da</strong> <strong>da</strong> freguesia, freguesia, situam-se<br />

situam-se<br />

ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> ao ao nível nível do do saneamento saneamento básico básico e e de de equipamentos?<br />

equipamentos?<br />

N.M. N.M. - Era necessário um incentivo, um empurrão para conseguirmos<br />

fixar as pessoas. A grande necessi<strong>da</strong>de é o emprego, porque depois o<br />

resto, como as infra-estruturas, vem por acréscimo.<br />

Precisamos mesmo de criação de emprego e fixação <strong>da</strong>s pessoas.<br />

Temos menos crianças do que há 10 anos, muito pelas circunstâncias em<br />

que as famílias ca<strong>da</strong> vez têm menos filhos, mas também pela deslocação<br />

dos pais para trabalhar noutras locali<strong>da</strong>des, levando os seus filhos consigo.<br />

G.C.- G.C.- G.C.- Alfeizerão Alfeizerão é é uma uma terra terra terra com com bastante bastante desemprego?<br />

desemprego?<br />

N.M. N.M. - - Muitas pessoas trabalham fora <strong>da</strong> terra, principalmente nas<br />

Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha e em Alcobaça. Alfeizerão tem poucas empresas, é<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente composto por comércio e agricultura.<br />

Depois, há uma percentagem grande de jovens licenciados que procuram<br />

um emprego em Lisboa. A mão-de-obra qualifica<strong>da</strong> vai para fora.<br />

A nível particular estão a ser feitas obras de vulto para responder às<br />

necessi<strong>da</strong>des sociais. É o caso <strong>da</strong> creche, ATL e jardim-de-infância do<br />

Centro Paroquial, que foi inaugura<strong>da</strong> o ano passado, e <strong>da</strong> obra <strong>da</strong> Santa<br />

Casa <strong>da</strong> Misericórdia para centro de dia, apoio domiciliário e quartos para<br />

internamento, que se encontra em construção.<br />

São respostas sociais para a população envelheci<strong>da</strong>. Os novos saem de<br />

Alfeizerão.<br />

G.C.- G.C.- Como Como poderá poderá ser ser feita feita essa essa dinamização dinamização dinamização económica<br />

económica<br />

em em Alfeizerão?<br />

Alfeizerão?<br />

N.M. N.M. - - Estamos em colaboração com o município para que na revisão<br />

do PDM seja defini<strong>da</strong> uma área industrial em Alfeizerão com o objectivo de<br />

colocarmos uma pequena uni<strong>da</strong>de industrial.<br />

“ESTOU “ESTOU CONVICTA CONVICTA QUE QUE QUE VAMOS VAMOS VAMOS TER TER UM UM CENTRO CENTRO CENTRO EDUCATIVO”<br />

EDUCATIVO”<br />

G.C.- G.C.- Chegou Chegou a a haver haver haver a a possibili<strong>da</strong>de possibili<strong>da</strong>de de de instalação instalação do do Hos- HosHospitalpital Oeste Oeste Oeste Norte Norte em em Alfeizerão, Alfeizerão, que que que acabou acabou por por por não não não se se concon-<br />

cretizar. cretizar. Esse Esse era era o o incremento incremento necessário?<br />

necessário?<br />

necessário?<br />

N.M. N.M. - Sim.<br />

G.C.- G.C.- Mas Mas o o terreno, terreno, terreno, que que que é é <strong>da</strong> <strong>da</strong> autarquia, autarquia, poderá poderá ser ser apro- aproaproveitado veitado veitado para para outros outros outros usos. usos. Já Já está está alguma alguma coisa coisa defini<strong>da</strong>?<br />

defini<strong>da</strong>?<br />

N.M. N.M. - - Neste momento não há nenhum uso definido para o terreno e,<br />

sem querer ser ingénua, diria que ain<strong>da</strong> temos uma esperança ao fundo<br />

do túnel. Esta esperança poderá vir, eventualmente, a passar pela criação<br />

de uma uni<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>.<br />

O que pretendo é que a Câmara não descure esta possibili<strong>da</strong>de ao nível<br />

<strong>da</strong> saúde, que poderá ser um incremento económico e um pólo dinamizador<br />

<strong>da</strong> terra.<br />

Em relação à criação do novo hospital, as nossas maiores expectativas<br />

e empenho eram pelas possibili<strong>da</strong>des que nos vinha trazer, não só pelo<br />

edifício, mas por tudo o que obrigaria a aparecer em seu redor.<br />

Esse é o grande pedido que temos para a Câmara - que não descure<br />

esta situação.<br />

G.C.- G.C.- Estava Estava prevista prevista a a construção construção de de um um centro centro educativo<br />

educativo<br />

em em Alfeizerão, Alfeizerão, mas mas devido devido aos aos problemas problemas com com as as verbas verbas dos<br />

dos<br />

outros outros centros, centros, a a Câmara Câmara Câmara de de Alcobaça Alcobaça não não não avançou avançou com com com ele.<br />

ele.<br />

Este Este equipamento equipamento faz faz falta falta em em Alfeizerão?<br />

Alfeizerão?<br />

N.M. N.M. - - Faz falta e estou convenci<strong>da</strong> que vamos tê-lo. Tanto quanto tenho<br />

conhecimento, a Câmara irá fazer nova candi<strong>da</strong>tura e estamos em crer<br />

que vamos tê-lo.<br />

G.C.- G.C.- Quando?<br />

Quando?<br />

N.M. N.M. - - Isso não sei.<br />

Antiga Antiga adega adega converti<strong>da</strong> converti<strong>da</strong> em em sede sede <strong>da</strong> <strong>da</strong> Junta Junta e e Centro Centro Cultural<br />

Cultural<br />

A A Junta Junta de de Freguesia Freguesia Freguesia esta esta sedea<strong>da</strong> sedea<strong>da</strong> no no mesmo mesmo edifício edifício edifício do do centro centro cultural cultural local, local, que que foi foi em em tempos tempos uma uma adega<br />

adega<br />

emblemática emblemática <strong>da</strong> <strong>da</strong> terra<br />

terra<br />

Ficha<br />

Ficha Técnica Técnica<br />

Técnica<br />

G.C.- G.C.- As As crianças crianças continuam continuam a a ter ter aulas aulas em em Alfeizerão Alfeizerão ou<br />

ou<br />

foram foram deslocaliza<strong>da</strong>s?<br />

deslocaliza<strong>da</strong>s?<br />

N.M. N.M. - - Muitas escolas foram-nos fecha<strong>da</strong>s. Quando entrei para a Junta<br />

de Freguesia, em 1997, tínhamos sete escolas a funcionar e neste momento<br />

temos apenas três escolas.<br />

Actualmente temos menos alunos, mas seria bom que o centro educativo<br />

fosse construído o mais rápido possível para lhes poder <strong>da</strong>r as condições<br />

necessárias.<br />

Neste momento algumas crianças têm refeições nas escolas e outras<br />

nas associações que se situam próximas. Não têm as condições que<br />

consideramos ideais, pelo que entendemos que faz falta um centro escolar<br />

em Alfeizerão.<br />

G.C.- G.C.- Este Este é é o o seu seu último último man<strong>da</strong>to. man<strong>da</strong>to. Como Como é é que que sai sai após após 14<br />

14<br />

anos anos a a coman<strong>da</strong>r coman<strong>da</strong>r os os destinos destinos <strong>da</strong> <strong>da</strong> Junta Junta de de Freguesia?<br />

Freguesia?<br />

N.M. N.M. - Nós temos sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s coisas boas e se há coisas boas neste<br />

cargo, uma delas é a concretização de obras. O que nos dá prazer é a<br />

obra feita.<br />

Diria que fica muita obra por fazer, como a conclusão do saneamento<br />

básico e outras pequenas coisas, como um jardim ou uma estra<strong>da</strong> para<br />

alcatroar. Julgo mesmo que é isso que faz com que nós não nos vamos<br />

A Junta de Freguesia de Alfeizerão funciona desde 2005 numa antiga adega, totalmente requalifica<strong>da</strong>,<br />

no centro <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. De acordo com a presidente Nativi<strong>da</strong>de Marques, trata-se <strong>da</strong> obra “mais “mais emblemá- emblemáemblemá- tica” tica” feita durante os seus man<strong>da</strong>tos.<br />

O espaço, convertido em sede <strong>da</strong> Junta e também em Centro Cultural, foi comprado em 1998 e<br />

depois foi pedido ao gabinete de arquitectura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra que fizesse o projecto. Antes<br />

a Junta chegou a estar a funcionar num contentor, que já tinha albergado os alunos <strong>da</strong> telescola.<br />

Mantendo a traça original, o edifício no seu interior continua a “mostrar” os depósitos de vinho. Ca<strong>da</strong><br />

gabinete está instalado dentro de um depósito e, por cima <strong>da</strong> porta, ain<strong>da</strong> mantém a indicação <strong>da</strong><br />

litragem de vinho. O gabinete de Nativi<strong>da</strong>de Marques, por exemplo, tem por cima <strong>da</strong> porta a indicação<br />

de 38 mil litros.<br />

“Era “Era uma uma adega adega emblemática emblemática emblemática para para a a locali<strong>da</strong>de locali<strong>da</strong>de porque porque porque albergava albergava uma uma quanti- quanti- quantiquanti- <strong>da</strong>de <strong>da</strong>de considerável considerável de de vinho” vinho”, vinho” explica a presidente <strong>da</strong> Junta, acrescentando que a produção de<br />

vinho teve um peso importante na economia <strong>da</strong> terra.<br />

F.F.<br />

F.F.<br />

EDIÇÃO: EDIÇÃO: <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s / DIRECTOR: DIRECTOR: José Luíz de Almei<strong>da</strong> Silva / COORDENAÇÃO:<br />

COORDENAÇÃO: COORDENAÇÃO: Carlos Cipriano / REDACÇÃO: REDACÇÃO: Fátima Ferreira; Joana Fialho; Joel Ribeiro; Natacha Narciso e Pedro Antunes / PAGINAÇÃO: PAGINAÇÃO: Carla Caiado e Joel Ribeiro /<br />

DEP. DEP. COMERCIAL: COMERCIAL: Carlos Reis; Carmo Pereira e Teófilo Antunes / IMPRESSÃO: IMPRESSÃO: Naveprinter / TIRAGEM: TIRAGEM: 11000 exemplares / Nº Nº DE DE REGISTO: REGISTO: REGISTO: ICS106.891 / DEPÓSITO DEPÓSITO LEGAL LEGAL Nº Nº 1432 / GAZETA GAZETA GAZETA GAZETA GAZETA DAS DAS DAS DAS DAS CALDAS, CALDAS CALDAS CALDAS CALDAS EDIÇÃO nº4873, de 12 de Agosto de 2011


as, ras, diz<br />

diz<br />

embora. Chegamos ao fim do man<strong>da</strong>to e pensamos: ain<strong>da</strong> precisava de ter<br />

feito isto e não consegui, e lá se vai mais uma vez.<br />

G.C.- G.C.- Se Se não não houvesse houvesse a a limitação limitação dos dos man<strong>da</strong>tos, man<strong>da</strong>tos, continu- continucontinu- aria aria a a candi<strong>da</strong>tar-se?<br />

candi<strong>da</strong>tar-se?<br />

candi<strong>da</strong>tar-se?<br />

N.M. N.M. - - Não sei se continuaria... Mas sim, havia mais para fazer.<br />

G.C.- G.C.- O O quê, quê, por por por exemplo?<br />

exemplo?<br />

N.M. N.M. - - Estou convicta que ain<strong>da</strong> vamos construir o centro educativo<br />

neste man<strong>da</strong>to.<br />

A nossa obra a mais curto prazo será a colocação de um piso sintético<br />

no campo de futebol, que há-de estar a começar para ficar concluí<strong>da</strong> em<br />

Setembro.<br />

Temos também o projecto para fazer o ajardinamento <strong>da</strong> rotun<strong>da</strong> à<br />

entra<strong>da</strong> de Alfeizerão, junto à A8, e estamos a trabalhar no alargamento<br />

dos cemitérios.<br />

G.C.- G.C.- Mas Mas condicionados condicionados condicionados pelo pelo orçamento?<br />

orçamento?<br />

N.M. N.M. N.M. - - Sim, sempre. O orçamento deste ano ron<strong>da</strong> os 122 mil euros,<br />

teve uma redução de 8,7%, que foi o aprovado em Orçamento de Estado.<br />

A redução no ano passado já tinha sido de 6%.<br />

Temos ain<strong>da</strong> outro contra. Não temos nenhuma fonte de rendimentos,<br />

alem dos dinheiros do Estado e <strong>da</strong> Câmara.<br />

A Junta de Freguesia funciona diariamente, com uma funcionária administrativa<br />

e mais quatro funcionários para os trabalhos exteriores.<br />

“SE “SE “SE ALFEIZERÃO ALFEIZERÃO FOR FOR AGRUPADA, AGRUPADA, SERÁ SERÁ COM COM OUTRAS<br />

OUTRAS<br />

FREGUESIAS FREGUESIAS DO DO CONCELHO CONCELHO DE DE ALCOBAÇA”<br />

ALCOBAÇA”<br />

G.C.- G.C.- G.C.- Como Como Como vê vê a a possibili<strong>da</strong>de possibili<strong>da</strong>de de de extinção extinção <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Juntas Juntas Juntas de<br />

de<br />

Freguesia, Freguesia, tal tal como como prevê prevê a a troika?<br />

troika?<br />

N.M. N.M. - - Não vai ser fácil para as pessoas. Não sabemos ain<strong>da</strong> quais<br />

serão os critérios a utilizar, como se vão agrupar as freguesias. Parece que<br />

a ideia inicial, que era pelo número de eleitores, já está posta de parte e<br />

não será esse o único critério. Por isso, estamos todos na expectativa.<br />

G.C.- G.C.- Alfeizerão Alfeizerão Alfeizerão iria iria iria perder perder perder muito muito ao ao deixar deixar de de ser ser ser fregue- freguefregue- sia?<br />

sia?<br />

N.M. N.M. - - Creio que sim, mas também ain<strong>da</strong> não sei como será feito. Falase<br />

em agrupamentos de freguesias, mas não sabemos se os serviços<br />

continuam a funcionar nas antigas sedes.<br />

Fala-se que existirá um “gestor” a gerir todo o agrupamento. Tudo vai<br />

depender de como será o financiamento, que é o nosso problema de base.<br />

Se o bolo for maior poderá ser gerido de outra forma.<br />

Mas é importante que pelo menos se mantenham os serviços nos locais<br />

para as pessoas resolverem os assuntos de forma mais directa.<br />

G.C.- G.C.- G.C.- Com Com Com esta esta esta alteração alteração alteração haverá haverá haverá a a a possibili<strong>da</strong>de possibili<strong>da</strong>de possibili<strong>da</strong>de de de de Alfeize-<br />

AlfeizeAlfeizerão rão rão se se juntar juntar juntar ao ao concelho concelho <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s?<br />

Cal<strong>da</strong>s?<br />

N.M. N.M. - - Penso que não, porque se Alfeizerão for agrupa<strong>da</strong>, será com<br />

outras freguesias do concelho de Alcobaça.<br />

Abertamente não se fala na extinção de concelhos, portanto, parece-me<br />

que não haverá aqui trocas de freguesias.<br />

G.C.- G.C.- Mas Mas Mas de de de vez vez vez em em em quanto quanto existem existem existem movimentações movimentações movimentações nesse nesse<br />

nesse<br />

sentido.<br />

sentido.<br />

N.M. N.M. - - As movimentações que houve, e que eventualmente possam<br />

aparecer, não vão no sentido de agrupar a uma freguesia, mas de a<br />

freguesia de Alfeizerão passar para o concelho <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s.<br />

Não me parece que agora venha a ser fácil porque, pelo que conseguimos<br />

perceber, a opção deverá ser pelo agrupamento ou extinção de<br />

freguesias, ao invés <strong>da</strong> sua deslocalização para outro concelho.<br />

Pub.<br />

Fátima Fátima Fátima Ferreira Ferreira<br />

Ferreira<br />

fferreira@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

~<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

O Movimento Independentes Terra Viva surgiu nas últimas eleições<br />

autárquicas (2009) como alternativa à única lista concorrente, do PSD, e<br />

está actualmente representado com quatro elementos, em nove, na Assembleia<br />

de Freguesia.<br />

José Machado, deste movimento, garante que não são oposição. “A<br />

“A<br />

oposiçãooposição é é uma uma Junta Junta de de Freguesia Freguesia Freguesia que que não não está está empenhaempenha-<br />

<strong>da</strong> <strong>da</strong> em em desenvolver desenvolver a a sua sua terra” terra”, terra” diz, acrescentado que mesmo<br />

não ganhando as eleições, já conseguiram mu<strong>da</strong>r muita coisa em Alfeizerão.<br />

Nenhum dos elementos desta lista independente tinha qualquer experiência<br />

autárquica. “Mas “Mas também também não não é é preciso” preciso”, preciso” responde, de<br />

imediato José Machado, fazendo ver que nas autarquias os eleitos não<br />

são, na ver<strong>da</strong>de, políticos, mas sim apenas ci<strong>da</strong>dãos “interessados<br />

“interessados<br />

em em defender defender a a a sua sua terra, terra, terra, como como é é o o nosso nosso caso, caso, pessoas<br />

pessoas<br />

independentes”<br />

independentes”.<br />

independentes”<br />

As comemorações <strong>da</strong> re-elevação de Alfeizerão a <strong>vila</strong> foram uma<br />

proposta deste movimento, e que teve o “apoio apoio envergonhado envergonhado <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong><br />

Junta Junta de de Freguesia, Freguesia, a a nível nível logístico” logístico”, logístico” tendo sido posteriormente<br />

forma<strong>da</strong> uma comissão para avançar com os eventos.<br />

“Queremos “Queremos que que Alfeizerão Alfeizerão seja seja uma uma terra terra mais mais alegre”<br />

alegre”, alegre”<br />

reivindica José Machado, que ali vive e exerce também a sua profissão<br />

de comerciante. Denuncia que há “lixeiras “lixeiras por por por todo todo o o lado” lado” e<br />

faltam espaços verdes. E dá mesmo o seu exemplo: “há “há dias dias para<br />

para<br />

brincarbrincar com com o o meu meu neto neto tive tive que que ir ir ir para para o o parque parque parque <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s CalCal<strong>da</strong>s.<strong>da</strong>s.<br />

Aqui Aqui não não há há um um bocadinho bocadinho de de espaço espaço verde verde onde onde onde pospos-<br />

samos samos <strong>da</strong>r <strong>da</strong>r um um pontapé pontapé numa numa bola” bola”. bola”<br />

Aquele que foi um dos mentores do movimento chama a atenção para<br />

a necessi<strong>da</strong>de de envolver as pessoas no desenvolvimento <strong>da</strong> terra e diz<br />

que os primeiros passos nesse sentido estão a ser <strong>da</strong>dos, e com sucesso.<br />

“Nestas “Nestas comemorações comemorações conseguimos conseguimos que que quase quase to<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as as<br />

as<br />

instituições instituições colaborassem, colaborassem, assim assim como como as as pessoas” pessoas”, pessoas” afirma,<br />

acrescentando que, também nas Assembleias de Freguesia, é visível a<br />

“evangelização” “evangelização” que têm feito.<br />

“Na “Na anterior anterior legislatura legislatura costumavam costumavam estar estar duas duas duas ou ou ou três<br />

três<br />

pessoaspessoas a a assistir assistir assistir às às reuniões, reuniões, enquanto enquanto que que nestas nestas a a mémémédiadia é é 40 40 a a 50 50 pessoas, pessoas, porque porque sentem sentem o o apoio apoio apoio do do movimenmovimenmovimen- to to nessas nessas assembleias”<br />

assembleias”, assembleias” relata.<br />

O Movimento de Independentes Terra Viva é composto essencialmente<br />

por “bons “bons ci<strong>da</strong>d ci<strong>da</strong>d ci<strong>da</strong>dãos” ci<strong>da</strong>d ci<strong>da</strong>d ãos” ãos”, ãos” pessoas que não vão abdicar desses deveres e<br />

direitos de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, garante o responsável, acrescentando que vão continuar<br />

a denunciar o que está mal e a apresentar propostas.<br />

Reclamam a construção de uma ciclovia que ligue Alfeizerão a S.<br />

Martinho do Porto, numa extensão aproxima<strong>da</strong> de três quilómetros. Haveria<br />

muito mais gente a deslocar-se, acredita José Machado, acrescentando<br />

que é agradável o passeio, com um piso plano. Também não tem dúvi<strong>da</strong>s<br />

que desta forma iriam entrar menos carros em S. Martinho e por outro lado,<br />

desenvolvia-se a ligação entre aquela estância balnear e Alfeizerão.<br />

Trata-se de uma promessa eleitoral do PSD de cujo cumprimento os<br />

independentes se queixam <strong>da</strong> demora. “A “A estra<strong>da</strong>, estra<strong>da</strong>, tal tal como como está, está, é é<br />

é<br />

muito muito perigosa perigosa e e há há muitas muitas pessoas pessoas a a circular circular de de bicicleta<br />

bicicleta<br />

e e a a pé” pé”, pé” explica.<br />

O centro escolar também está no rol <strong>da</strong>s suas preocupações, lembrando<br />

que este equipamento já estava previsto e orçamentado na Câmara<br />

de Alcobaça, mas que depois foi-lhes roubado para pagar a divi<strong>da</strong>s<br />

dos centros escolares de Alcobaça e Benedita. “Isto “Isto é é uma uma traição<br />

traição<br />

que que se se se faz faz a a Alfeizerão Alfeizerão e e quem quem quem é é que que se se se opôs opôs opôs a a isso? isso? isso? Que Que<br />

Que<br />

eu eu saiba saiba neste neste momento momento só só a a Associação Associação de de Pais” Pais”. Pais” É que José<br />

Machado diz que nunca ouviu a Junta de Freguesia pronunciar-se sobre<br />

esta situação e pedir o apoio <strong>da</strong> população para a resolver.<br />

O autarca considera que este equipamento faz muita falta na terra e<br />

diz mesmo que não sabe como irá funcionar o próximo ano lectivo na<br />

freguesia pois há escolas, como as do Valado de Santa Quitéria e Casal<br />

Pardo, que vão fechar e as crianças terão que ser desloca<strong>da</strong>s, e em<br />

Alfeizerão não há espaço.<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

3<br />

12 | Agosto | 2011<br />

Terra Terra Terra Terra Terra Viva Viva Viva Viva Viva quer quer que que Alfeizerão Alfeizerão seja<br />

seja<br />

uma uma terra terra “mais “mais alegre”<br />

alegre”<br />

“Se “Se man<strong>da</strong>sse, man<strong>da</strong>sse, o o que que eu eu faria faria neste neste momento momento era era acabar acabar com com<br />

com<br />

as as lixeiras lixeiras em em Alfeizerão”, Alfeizerão”, diz diz José José Machado, Machado, elemento elemento do<br />

do<br />

Movimento Movimento Independente Independente Independente “Terra “Terra Viva”<br />

Viva”<br />

CRIAÇÃO CRIAÇÃO DE DE UM UM EQUIPAMENTO EQUIPAMENTO SOCIAL SOCIAL NO NO TERRENO<br />

TERRENO<br />

COMPRADO COMPRADO PARA PARA O O HOSPITAL HOSPITAL OESTE OESTE NORTE<br />

NORTE<br />

Alfeizerão foi uma <strong>da</strong>s freguesias do concelho de Alcobaça que perdeu<br />

habitantes. Segundo os <strong>da</strong>dos preliminares de 2011, esta freguesia<br />

perdeu 41 habitantes, ficando com 3808 indivíduos residentes.<br />

“Isso “Isso acontece acontece porque porque Alfeizerão Alfeizerão não não não é é atractiva” atractiva”, atractiva” responde<br />

José Machado, que chegou a sugerir que fosse ali cria<strong>da</strong> uma pequena<br />

zona industrial.<br />

A Junta de Freguesia também não tem receitas próprias, “mas “mas tam- tamtam- bém bém não não tenta tenta criá-las” criá-las”, criá-las” adianta.<br />

Sobre o terreno previsto para a localização do Hospital Oeste Norte,<br />

defende o seu aproveitamento para a criação de um equipamento social.<br />

“Acho “Acho que que se se devia devia fazer fazer tudo tudo para para que que o o espaço espaço não<br />

não<br />

fossefosse vendido vendido e e que que passasse passasse até até para para a a freguesia freguesia de de AlfeiAlfei-<br />

zerão” zerão”, zerão” diz, realçando que, devido ao tamanho do terreno (cerca de 12<br />

hectares) poderia ali concentrar-se o parque desportivo, o centro escolar<br />

e zona de lazer. Por outro lado, sugere a ven<strong>da</strong> dos locais onde actualmente<br />

funcionam esses equipamentos, permitindo à Junta a realização<br />

de algum dinheiro.<br />

“Quando “Quando coloco coloco coloco questões questões dessas dessas à à Junta Junta de de Freguesia Freguesia só<br />

só<br />

me me me dizem dizem dizem que que não não não sabem” sabem” sabem”, sabem” sabem” remata.<br />

José Machado mostra algum receio em relação à nova divisão administrativa<br />

(que tem por base a concentração) porque esta freguesia tem<br />

vindo a degra<strong>da</strong>r-se e S. Martinho tem crescido muito. Ain<strong>da</strong> assim,<br />

mostra-se convencido que Alfeizerão não será anexa<strong>da</strong> a S. Martinho.<br />

O elemento dos independentes diz também que as pessoas de Alfeizerão<br />

revêem-se mais nas Cal<strong>da</strong>s, embora a parte a nascente <strong>da</strong> freguesia<br />

provavelmente esteja mais liga<strong>da</strong> a Alcobaça.<br />

Quanto à possibili<strong>da</strong>de de Alfeizerão poder passar para as Cal<strong>da</strong>s,<br />

José Machão diz que não encabeçaria nenhum movimento nesse sentido<br />

porque não vê que trouxesse grandes vantagens, a não ser a diminuição<br />

<strong>da</strong> distância. “De “De qualquer qualquer maneira, maneira, se se assim assim estamos estamos na<br />

na<br />

extremi<strong>da</strong>deextremi<strong>da</strong>de do do concelho concelho de de Alcobaça, Alcobaça, <strong>da</strong> <strong>da</strong> outra outra forma forma ficafica-<br />

ríamos ríamos na na extremi<strong>da</strong>de extremi<strong>da</strong>de do do concelho concelho <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s” Cal<strong>da</strong>s”, Cal<strong>da</strong>s” afirma.<br />

Em relação ao agrupamento <strong>da</strong>s freguesias vê vantagens, assim como<br />

de alguns concelhos, nomea<strong>da</strong>mente ao nível de despesas publicas.<br />

José Machado acrescenta ain<strong>da</strong> que, mesmo continuando o mapa administrativo<br />

como está, as Juntas de Freguesia deveriam unir-se mais e<br />

trabalhar em conjunto.<br />

Natural <strong>da</strong> freguesia de Alfeizerão, José Machado gosta <strong>da</strong> sua terra e<br />

diz que “sofre “sofre muito” muito” muito” com “certas “certas “certas mal<strong>da</strong>des” mal<strong>da</strong>des” que lhe fazem.<br />

Comerciante e actor amador, sente que se calhar começou tarde a<br />

lutar, mas garante que está disponível para ir em frente e defender a sua<br />

terra, juntamente com o movimento.<br />

Fátima Fátima Ferreira<br />

Ferreira<br />

fferreira@gazetacal<strong>da</strong>s.com


4<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

Fenícios, romanos, árabes e lusitanos, são alguns dos povos que se julga terem<br />

tido presença em Alfeizerão, mas até vestígios de dinossauros já foram encontrados<br />

naquela região.<br />

Em 1908 o geólogo Paul Choffat encontrou o fóssil de um ovo, atribuído a um<br />

Dacentrus, um dinossauro <strong>da</strong> família do Estegossauro, que viveu no Jurássico<br />

inferior entre os 163-150 milhões de anos AC. Foram também encontrados nesta<br />

região vários instrumentos pré-históricos.<br />

Nas Ramalheiras, um lugar <strong>da</strong> freguesia, foi encontrado um marco miliário,<br />

que se julga ser do ano 121. Estes marcos assinalavam as milhas nas estra<strong>da</strong>s<br />

romanas.<br />

Vieram depois os árabes, que se julga terem construído o antigo castelo. Essa<br />

fortificação foi depois conquista<strong>da</strong> por D. Afonso Henriques, a caminho de Lisboa,<br />

durante a reconquista cristã.<br />

Em 1153 Alfeizerão passaria a fazer parte dos Coutos de Alcobaça, mantendose<br />

sob o domínio <strong>da</strong> Ordem de Cister até à sua extinção, em 1834.<br />

CANIÇO CANIÇO OU OU FORTIFICAÇÃO?<br />

FORTIFICAÇÃO?<br />

A história de Alfeizerão é assim rica em factos, mas também em alguma<br />

polémica que começa logo na origem do seu nome.<br />

Nos finais do século XVII, o frei João de Sousa, no seu livro “Vestigios <strong>da</strong> Lingua<br />

Arabica em Portugal (…)”, defendeu que Alfeizerão significaria “caniço ou canavial<br />

miúdo”.<br />

Nascido em Damasco, de onde veio para Portugal com cerca de 20 anos,<br />

João de Sousa foi professor de árabe e tradutor dos “Documentos Arábicos” <strong>da</strong><br />

Torre do Tombo.<br />

No século XX outros autores reforçaram esta ideia, defendendo que Alfeizerão<br />

é um étimo (vocábulo considerado como origem de outro) de “al-khaizuran” (e<br />

não o anterior “alcheizaran) que significa “cana, junco, bambu”.<br />

Mas num estudo recente sobre esta região, publicado no livro “Cinco Mil Anos<br />

de Cultura a Oeste” em 2005, Moisés Espírito Santo (etnólogo e especialista em<br />

estudos de toponímia) aponta outra origem para o nome. Na sua opinião, as<br />

antigas estruturas existentes no local serão do tempo dos fenícios (século VIII a.C.)<br />

e sustenta que o topónimo tem origem nos dialectos púnicos que, assegura, os<br />

lusitanos falavam. O significado seria assim fortificação.<br />

Sem certezas quanto à ver<strong>da</strong>deira origem, certo é que os alfeizerenses não<br />

gostam que as pessoas de fora pronunciem o nome <strong>da</strong> sua terra como “Alfazeirão”,<br />

como acontece muitas vezes.<br />

UMA UMA VILA VILA QUE QUE COMEÇOU COMEÇOU POR POR SER SER PORTUÁRIA<br />

PORTUÁRIA<br />

As terras entre Alfeizerão e São Martinho do Porto estiveram em tempos<br />

inun<strong>da</strong><strong>da</strong>s de águas. Alfeizerão foi por isso uma <strong>vila</strong> portuária.<br />

Na obra “A baía de S. Martinho do Porto”, coordena<strong>da</strong> por Maria Cândi<strong>da</strong><br />

Proença, é explicado que há cerca de seis mil anos o mar penetrou pelo território<br />

do continente e inundou os vales e áreas mais baixas, <strong>da</strong>ndo lugar a estuários e<br />

lagunas. Foi assim que se formaram os estuários lagunares de Alfeizerão, Óbidos<br />

e Pederneira (Nazaré).<br />

“O O movimento movimento geral geral de de desci<strong>da</strong> desci<strong>da</strong> do do mar mar até até ao ao nível nível nível actual<br />

actual<br />

desencadeou desencadeou nova nova vaga vaga de de erosão erosão que que que produziu produziu sedimentos sedimentos sedimentos para para<br />

para<br />

aa formação formação de de restingas restingas restingas e e cordões cordões litorais. litorais. Com Com o o desenvolvidesenvolvi-<br />

mento mento destas destas formas, formas, formas, a a comunicação comunicação <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s lagunas lagunas com com o o mar mar foi,<br />

foi,<br />

progressivamente, progressivamente, sendo sendo comprometido<br />

comprometido<br />

comprometido”, comprometido<br />

comprometido acrescenta a autora.<br />

Nessa altura a comunicação com o mar era também estabeleci<strong>da</strong> na barra de<br />

São Martinho e a foz dos rios e ribeiros situavam-se no limite interior deste<br />

estuário.<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

<strong>Das</strong> <strong>Das</strong> pega<strong>da</strong>s pega<strong>da</strong>s de de dinossauros dinossauros à à <strong>reelevação</strong> <strong>reelevação</strong> a a <strong>vila</strong>,<br />

<strong>vila</strong>,<br />

muita muita História História para para contar<br />

contar<br />

Em Em 1514 1514 o o o rei rei D. D. Manuel Manuel I I mandou mandou erigir erigir um um pelourinho pelourinho que que<br />

que<br />

seria seria demolido demolido no no séc. séc. XIX XIX e e reconstruído reconstruído no no final final do do séc. séc. XX XX<br />

XX<br />

Ilustração Ilustração do do livro livro “A “A baía baía de de S. S. Martinho Martinho do do Porto” Porto” do do estuário estuário<br />

estuário<br />

lagunar lagunar de de Alfeizerão Alfeizerão há há cerca cerca de de seis seis mil mil anos anos<br />

anos<br />

DOS DOS ROMANOS ROMANOS A A D. D. AFONSO AFONSO HENRIQUES<br />

HENRIQUES<br />

Os romanos tiveram uma presença forte na região de Alcobaça, onde terão<br />

estado de forma mais intensa partir do século II (a .C.).<br />

Durante muitos anos, julgava-se que era nesta zona que teria existido a ci<strong>da</strong>de<br />

Eburobritium, até se descobrirem os vestígios desta povoação romana no concelho<br />

de Óbidos.<br />

A forma e extensão do estuário lagunar de Alfeizerão mantiveram-se pouco<br />

altera<strong>da</strong>s até ao século XIV, “período período em em que que funcionavam funcionavam funcionavam em em pleno pleno pleno os os<br />

os<br />

portos portos de de Alfeizerão Alfeizerão e e Salir, Salir, domínio domínio do do mosteiro mosteiro de de de Alcobaça Alcobaça”, Alcobaça<br />

indica Maria Cândi<strong>da</strong> Proença.<br />

Antes disso, em 1147, o castelo de Alfeizerão tinha sido conquistado aos<br />

mouros por D. Afonso Henriques. Depois <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> definitiva de Santarém e<br />

Lisboa, em 1153, o rei doou à Ordem de Cister os denominados Coutos de<br />

Alcobaça, dos quais faziam parte a região de Alfeizerão (onde construíram mais<br />

tarde um dos seus grandes celeiros). Para além <strong>da</strong> agricultura, pontificavam a<br />

produção de sal, a pesca e os estaleiros, onde eram construídos e reparados<br />

barcos.<br />

Este domínio teve um longo período que durou até à extinção <strong>da</strong>s ordens<br />

religiosas, já no século XIX.<br />

O documento mais antigo em que o topónimo aparece é uma carta de doação<br />

<strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 1287. “Doaçam <strong>da</strong>s cousas que entrarem pollo porto de selir a Rainha<br />

dona ysabel a fora certas cousas (...). Dante eno alfeysarã. IX dias de Juynho”, lêse<br />

nesse documento.<br />

Os concelhos integrados no couto de Alcobaça foram organizados ao longo <strong>da</strong><br />

segun<strong>da</strong> metade do século XIII e inícios do seguinte. Maria Cândi<strong>da</strong> Proença<br />

refere o facto de Alfeizerão ser o último a receber carta de povoamento, que é de<br />

1332. Numa altura em que, segundo a investigadora, a povoação já estaria<br />

forma<strong>da</strong> há muito tempo.<br />

“Sabemos Sabemos que que o o juiz juiz juiz de de Alfeizerão Alfeizerão (…) (…) era era era escolhido escolhido no no no dia dia dia de<br />

de<br />

S. S. S. Miguel, Miguel, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong>ta <strong>da</strong>ta em em que que a a assembleia assembleia municipal municipal tinha tinha tinha que que se se<br />

se<br />

reunir reunir para para o o efeito efeito”, efeito escreveu Maria Cândi<strong>da</strong> Proença. O foral seria renovado<br />

pelos monges de Cister em 1422.<br />

O livro “A baía de S. Martinho do Porto” abor<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> o ano de 1481, altura em que<br />

as torres e barreiras do castelo de Alfeizerão começaram a ser repara<strong>da</strong>s. “Todos Todos os<br />

os<br />

moradores moradores do do do couto couto foram foram chamados chamados ao ao trabalho trabalho”, trabalho refere-se.<br />

A mesma obra refere que “estamos estamos perante perante perante uma uma fortificação fortificação fortificação senhosenho-<br />

rial rial” rial e que seria a partir deste castelo que se vigiava e controlava a lagoa de<br />

Alfeizerão.<br />

Maria Zulmira Furtado Marques, no livro “Por Terras dos Antigos Coutos de<br />

Alcobaça”, escreveu que o castelo terá sido edificado pelos mouros e tomado por<br />

D. Afonso Henriques. “Foi Foi Foi de de tal tal importância importância e e grandeza grandeza que que que aí aí se se<br />

se<br />

hospe<strong>da</strong>ram hospe<strong>da</strong>ram El-Rei El-Rei D. D. D. Dinis Dinis e e a a Rainha Rainha Santa Santa Isabel Isabel Isabel a a 9 9 de de Junho<br />

Junho<br />

de de 1228 1228”, 1228 conta.<br />

Ao longo dos anos a sua decadência acentuou-se e “em em em meados meados de de<br />

de<br />

setecentos setecentos só só se se viam viam nas nas nas ruínas ruínas do do castelo castelo as as sobra<strong>da</strong>s sobra<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s<br />

casas casas do do Príncipe Príncipe Príncipe D. D. D. Abade Abade”. Abade Abade<br />

ALFEIZERÃO ALFEIZERÃO FICOU FICOU SEM SEM PORTO<br />

PORTO<br />

“O O antigo antigo porto porto de de Alfeizerão Alfeizerão ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> no no reinado reinado reinado de de D. D. Manuel Manuel I I reco- reco- reco- recolhia<br />

lhia lhia os os navios navios de de alto alto alto bordo. bordo. Diz Diz a a len<strong>da</strong> len<strong>da</strong> que que que lá lá existiu existiu um um rochedo rochedo em<br />

em<br />

queque estavam estavam estavam crava<strong>da</strong>s crava<strong>da</strong>s três três grandes grandes argolas argolas que que serviam serviam para para a a amaramar-<br />

ração ração de de barcos barcos”, barcos relata Maria Zulmira Furtado Marques na sua obra.<br />

A partir do século XIV verificou-se um ritmo acelerado de assoreamento <strong>da</strong><br />

lagoa de Alfeizerão. Estas alterações levaram a que no final do século XV fosse<br />

Nesta Nesta planta planta conjectural, conjectural, no no período período do do Neolítico, Neolítico, todo todo o o território<br />

território<br />

entre entre Famalicão Famalicão e e e Mouraria Mouraria (Chão (Chão <strong>da</strong> <strong>da</strong> Para<strong>da</strong>) Para<strong>da</strong>) eram eram uma uma extensa<br />

extensa<br />

lagoa lagoa e e e a a Torna<strong>da</strong> Torna<strong>da</strong> e e o o Campo Campo estariam estariam à à beira beira <strong>da</strong> <strong>da</strong> água<br />

água<br />

abandonado o porto de Alfeizerão “por porpor falta falta de de condições condições de de navegabinavegabi-<br />

li<strong>da</strong>de li<strong>da</strong>de li<strong>da</strong>de”. li<strong>da</strong>de li<strong>da</strong>de<br />

Pouco a pouco, as lagunas transformaram-se em sapais, que evoluíram para<br />

pauis e posteriormente para planícies aluviais. “A A várzea várzea ou ou planície planície aluvial<br />

aluvial<br />

existente existente entre entre São São Martinho, Martinho, Alfeizerão Alfeizerão e e Torna<strong>da</strong> Torna<strong>da</strong> é é semelhante semelhante<br />

semelhante<br />

às às contíguas contíguas <strong>da</strong> <strong>da</strong> Cela-Valado Cela-Valado e e Óbidos-Arelho<br />

Óbidos-Arelho”, Óbidos-Arelho refere ain<strong>da</strong> o livro.<br />

Em 1514, o rei D. Manuel I outorgou-lhe novo foral e concedeu a esta locali<strong>da</strong>de<br />

“a a categoria categoria de de sede sede de de concelho concelho e e estatuto estatuto estatuto de de <strong>vila</strong>, <strong>vila</strong>, man<strong>da</strong>ndo<br />

man<strong>da</strong>ndo<br />

erigir erigir um um pelourinho pelourinho”, pelourinho refere o sítio <strong>da</strong> Câmara de Alcobaça.<br />

Segundo o livro “Por Terras dos Antigos Coutos de Alcobaça”, entre o século XV<br />

e XVI foi construí<strong>da</strong> a capela de Santo Amaro, no final <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> medieval que<br />

ligava a <strong>vila</strong> <strong>da</strong> Pederneira a Alfeizerão. A Igreja Matriz, de São João Baptista, terá<br />

sido construí<strong>da</strong> em 1663, mas o seu interior foi completamente remodelado na<br />

déca<strong>da</strong> de 60.<br />

O pelourinho foi demolido no século XIX e reconstruído no final do século XX,<br />

junto à Igreja Matriz. O coreto foi construído nos inícios do século XX e recebeu mais<br />

tarde a nova cobertura, mantendo o restante aspecto original.<br />

Durante 332 anos Alfeizerão foi sede de concelho com alcaide, foro e juízes, e a<br />

sua paróquia era vigararia. O concelho seria extinto por decreto de 6 de Novembro<br />

de 1836, e a locali<strong>da</strong>de foi integra<strong>da</strong> no concelho de São Martinho do Porto.<br />

Mais tarde, com a extinção do concelho de São Martinho, em 1842, as duas<br />

locali<strong>da</strong>des foram integra<strong>da</strong>s no concelho de Alcobaça, passando posteriormente<br />

para as Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha, tendo regressado mais tarde, a 13 de Janeiro de<br />

1898, a Alcobaça.<br />

Entretanto perdeu o estatuto de <strong>vila</strong>, que viria a recuperar a 16 de Agosto de<br />

1991, <strong>da</strong>ta em que a elevação a <strong>vila</strong> foi publica<strong>da</strong> em Diário <strong>da</strong> República. Era<br />

nessa altura presidente <strong>da</strong> Junta de Freguesia de Alfeizerão, Manuel Vizoso, que<br />

foi também o responsável pela reconstrução do pelourinho e o primeiro provedor<br />

<strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia de Alfeizerão.<br />

O projecto de lei para a <strong>reelevação</strong> a <strong>vila</strong>, aprovado na Assembleia <strong>da</strong> República<br />

a 20 de Junho de 1991, foi <strong>da</strong> autoria do deputado Poças Santos.<br />

Pedro Pedro Antunes<br />

Antunes<br />

pantunes@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

Agradecimentos: Carlos Casimiro de Almei<strong>da</strong> (autor do livro “Alfeizerão - Apontamentos<br />

para a sua História”), Cipriano Simão (director <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong> Cultura) e<br />

Teófilo Antunes


Por: Por: Sérgio Sérgio Neto<br />

Neto<br />

À <strong>da</strong>ta do primeiro censo <strong>da</strong> população realizado durante a vigência <strong>da</strong> República, em<br />

1911, a freguesia de Alfeizerão contava 722 fogos e 2.811 habitantes de residência<br />

habitual; enquanto, em 1920, possuía 803 fogos e 3.246 habitantes. A percentagem de<br />

alfabetizados ron<strong>da</strong>va 15% em 1911 e 18% em 1920, sendo ligeiramente superior no<br />

sexo masculino. Eram 34 as povoações que compunham a freguesia, a qual dispunha<br />

de um punhado de comerciantes, um médico, um farmacêutico, dois professores (um<br />

para ca<strong>da</strong> sexo, leccionando em edifícios arren<strong>da</strong>dos para o efeito), duas agências de<br />

seguros e, a partir de 1925, uma mercearia. Uma mão cheia de agricultores, recorrendo<br />

a assalariados, assegurava uma significativa produção de cereais, de leguminosas e de<br />

vinho. Por exemplo, em 1916, à escala concelhia, Alfeizerão liderava a produção de arroz,<br />

de feijão, de batata de sequeiro e de mosto.<br />

Anualmente, como nos dias de hoje, entre 14 e 16 de Janeiro, tinha lugar a Feira/Festa<br />

de Santo Amaro, a qual, “além <strong>da</strong>s cerimonias de igreja”, contava com “os atractivos do<br />

arraial”: ven<strong>da</strong> de gado, “grande numero de feirantes d’outras especiali<strong>da</strong>des”, “ven<strong>da</strong> de<br />

fogaça, procissão”, sem esquecer “fogueiras, illuminações e fogos d’artificio”. Em 1914,<br />

era inaugurado o Grémio Beneficente e Recreativo, local onde subiram à cena algumas<br />

comédias famosas na época e se realizaram “actos de varie<strong>da</strong>des”, que incluíam<br />

“canções do Minho, coros, monologos e cançonetas”. Por vezes, Vitorino Fróis (1862-<br />

1934), afamado toureiro e filho <strong>da</strong> terra, organizava vaca<strong>da</strong>s e outros entretenimentos de<br />

inspiração tauromáquica.<br />

Todos estes <strong>da</strong>dos trazem à luz do dia uma reali<strong>da</strong>de não muito diferente de tantas<br />

outras locali<strong>da</strong>des dos inícios do século XX. Um espaço predominantemente rural, cuja<br />

população, mais ou menos indiferente ao tipo de regime, estava habitua<strong>da</strong> a votar nas<br />

listas dos partidos favoráveis à monarquia. De resto, antes de 1910, no âmbito do<br />

concelho, apenas os eleitores de Alcobaça <strong>da</strong>vam vantagem ao Partido Republicano, o<br />

qual se lamentava de “o caciquismo impenitente e corruptor” lançar “mão de to<strong>da</strong>s as<br />

Pub.<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

Alfeizerão Alfeizerão e e a a Primeira Primeira República<br />

República<br />

O O Partido Partido Evolucionista, Evolucionista, liderado liderado por por António António António José José de de Almei<strong>da</strong><br />

Almei<strong>da</strong><br />

(na (na foto), foto), <strong>da</strong>va <strong>da</strong>va razão razão ao ao abaixo-assinado abaixo-assinado que que que pedia pedia a a integra- integra- integra- integra-<br />

ção ção de de Alfeizerão Alfeizerão no no concelho concelho <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>da</strong> Rainha<br />

Rainha<br />

suas velhas bal<strong>da</strong>s [...] engo<strong>da</strong>ndo o eleitor inconsciente com vinho, pão e carne e<br />

usando <strong>da</strong> força dos caceteiros”. Mas, uma vez implanta<strong>da</strong> a República, as polémicas<br />

não desceram de tom. Logo em 1911, no rescaldo <strong>da</strong>s eleições para o parlamento, o<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

5<br />

12 | Agosto | 2011<br />

jornal Semana Alcobacense noticiava que os 108 votos “para a lista <strong>da</strong> opposição”,<br />

escrutinados na assembleia de S. Martinho do Porto, provinham de Alfeizerão, “onde<br />

houve promessas varias a engo<strong>da</strong>r o eleitorado, exactamente como nos tempos <strong>da</strong><br />

corrupção monarchica”.<br />

No entanto, o episódio mais significativo, que chegou, inclusive, à Câmara dos<br />

Deputados, deveu-se a um abaixo-assinado, que as fontes <strong>da</strong> época diziam subscrito por<br />

mais de dois terços dos habitantes, manifestando o desejo de Alfeizerão “desintegrar-se do<br />

concelho de Alcobaça e passar para o <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha, cuja sede fica muito mais<br />

proxima <strong>da</strong>quela povoação”. Corria o ano de 1914. Vários jornais participaram num<br />

aceso debate: a Semana Alcobacense e a Leiria Ilustra<strong>da</strong>, próximas do Partido Democrático,<br />

liderado por Afonso Costa, atacavam os signatários <strong>da</strong> petição; enquanto A República,<br />

principal órgão do Partido Evolucionista, liderado por António José de Almei<strong>da</strong>, <strong>da</strong>va razão ao<br />

abaixo-assinado. Na génese do contencioso esteve o veto camarário ao aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> casa em que funcionava a escola, a qual pertencia ao vereador por Alfeizerão, afecto ao<br />

Partido Evolucionista. Por outro lado, a freguesia considerava que as verbas anuais atribuí<strong>da</strong>s<br />

pela câmara, geri<strong>da</strong> pelo Partido Democrático, eram insuficientes. O discurso foi endurecendo<br />

ao longo de Março e Abril, com ambos os lados a evocarem argumentos históricogeográficos<br />

e de natureza política, a favor ou contra a desanexação.<br />

Certamente que o quadro não estaria completo sem uma referência à Primeira<br />

Guerra Mundial. Sabendo-se que vários naturais engrossaram as fileiras do Corpo Expedicionário<br />

Português (CEP), que rumou à Flandres, de igual modo se sabe <strong>da</strong>s carências<br />

que afectaram a freguesia, o concelho e quase to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de nacional. Em breve, a<br />

especulação do preço dos cereais e o racionamento faziam-se sentir, com dois comerciantes<br />

alfeizerenses, logo em 1916, a requerem milho à câmara, para fazer face à<br />

carestia generaliza<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> jovem, a Primeira República caminhava a passos largos<br />

para o declínio.<br />

*Professor *Professor e e investigador<br />

investigador


6<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

UUUUUMA MA MA MA MA EE<br />

EE<br />

, , VV<br />

EMPRESA MPRESA MPRESA MPRESA MPRESA, , , VÁRIAS VV<br />

ÁRIAS ÁRIAS ÁRIAS ÁRIAS GERAÇÕES GG<br />

ERAÇÕES ERAÇÕES ERAÇÕES ERAÇÕES<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

“Cinderela “Cinderela de de Alfeizerão” Alfeizerão” – – um um negócio negócio trazido trazido de de Nampu<br />

Nampu<br />

Nascido a 27 de Agosto de<br />

1942, na locali<strong>da</strong>de de Casal <strong>da</strong><br />

Marinha (freguesia de Santa Catarina),<br />

Manuel Maria Delgado foi<br />

ain<strong>da</strong> moço trabalhar para a Pastelaria<br />

Machado, para as Cal<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> Rainha. Foi lá que, a partir dos<br />

14 anos, aprendeu os truques <strong>da</strong><br />

doçaria. E foi lá que se enamorou<br />

por Maria Beatriz Muchenga, uma<br />

moça <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de, natural <strong>da</strong><br />

freguesia de Alfeizerão, que servia<br />

ao balcão <strong>da</strong> emblemática<br />

pastelaria caldense.<br />

Aos 18 anos, o serviço militar<br />

obrigou o pasteleiro a deixar para<br />

trás a farinha e os ovos e a partir<br />

para Moçambique. E, à semelhança<br />

de muitos que serviram o país<br />

nas então colónias ultramarinas,<br />

também Manuel Delgado se deixou<br />

cativar pelos encantos de África<br />

e por lá ficou.<br />

Aos 24 anos, Manuel e Maria<br />

Beatriz casaram por procuração<br />

e pouco depois ela juntava-se ao<br />

já marido na ci<strong>da</strong>de de Nampula,<br />

onde o casal abriu a pastelaria<br />

“Cinderela”. “Nampula “Nampula era era ma- mama- ravilhosa” ravilhosa”, ravilhosa” ravilhosa” diz Maria Beatriz, que<br />

GG<br />

Manuel Manuel Manuel e e Maria Maria Beatriz, Beatriz, fun<strong>da</strong>dores fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> <strong>da</strong> “Cinderela “Cinderela de de Alfeizerão” Alfeizerão”<br />

Paula, Paula, Maria Maria Beatriz Beatriz e e e Jorge Jorge Delgado, Delgado, o o presente presente e e e o o o passado passado de de uma uma casa casa que que tem tem tem raízes raízes em em terras terras africanas<br />

africanas<br />

Foi a Alfeizerão comprar uma máquina de fazer pão e acabou<br />

por comprar a própria pa<strong>da</strong>ria. Foi assim que Manuel Maria<br />

Delgado (1942-2007) abriu naquela <strong>vila</strong>, em 1986, a “Cinderela<br />

de Alfeizerão”, que alguns anos depois se viria a tornar uma<br />

réplica exacta do estabelecimento que Manuel tinha em<br />

Nampula (Moçambique), de onde regressou após o 25 de Abril.<br />

Um quarto de século depois, a pastelaria e pa<strong>da</strong>ria pertencem<br />

a Jorge Delgado, filho do fun<strong>da</strong>dor, e <strong>da</strong> esposa, Paula Delgado.<br />

Ele assume as rédeas <strong>da</strong> cozinha e, embora admita que ser<br />

pasteleiro nunca foi o seu sonho, não conseguiu voltar as<br />

costas ao negócio iniciado pelo pai. Ela gosta de estar ao<br />

balcão e diz que não se imagina a fazer outra coisa.<br />

guar<strong>da</strong> bem vivas as memórias<br />

de uma ci<strong>da</strong>de repleta de portugueses.<br />

Quando o quartel-general<br />

<strong>da</strong> tropa passou de Lourenço<br />

Marques (actual Maputo) para<br />

Nampula, o movimento na ci<strong>da</strong>de<br />

aumentou ain<strong>da</strong> mais. “To- “To“To- dos dos os os militares militares que que iam<br />

iam<br />

<strong>da</strong>qui <strong>da</strong>qui para para Moçambique,<br />

Moçambique,<br />

iamiam para para Nampula Nampula Nampula e e tínhatínhamosmos<br />

muitos muitos muitos clientes clientes <strong>da</strong> <strong>da</strong> rere-<br />

gião” gião”, gião” conta.<br />

Localiza<strong>da</strong> bem perto <strong>da</strong> estrutura<br />

militar, “a “a “a Cinderela Cinderela era<br />

era<br />

o o ponto ponto de de encontro encontro em em<br />

em<br />

Nampula, Nampula, <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s senhoras, senhoras,<br />

senhoras,<br />

dos dos oficiais, oficiais, dos dos tenentes,<br />

tenentes,<br />

dos dos coronéis” coronéis”. coronéis” E os laços que<br />

se criavam entre proprietários e<br />

clientes eram bem fortes. “Não<br />

“Não<br />

há há como como África África para para viver viver a<br />

a<br />

todos todos os os níveis. níveis. Em Em África África<br />

África<br />

todostodostodos nós nós somos somos uma uma uma fafa-<br />

mília” mília”, mília” recor<strong>da</strong> Maria Beatriz.<br />

Em Nampula, e com o negócio<br />

a correr de feição, o casal teve<br />

cinco filhos: Fernando, Jorge, Luís,<br />

Maria do Carmo e Paulo. Mas<br />

com a revolução de 1974, a família<br />

viu-se obriga<strong>da</strong> a regressar<br />

a Portugal. “Se “Se não não fosse fosse o o 25<br />

25<br />

de de Abril, Abril, nunca nunca vinha” vinha”, vinha” garante<br />

a mãe.<br />

De regresso ao país natal, a família<br />

foi viver para o Casal <strong>da</strong> Marinha<br />

e Manuel Delgado abriu uma<br />

loja de móveis em Rio Maior. Mas o<br />

patriarca <strong>da</strong> família sempre gostou<br />

de arranjar e restaurar máquinas de<br />

pastelaria e an<strong>da</strong>va sempre à procura<br />

de um exemplar com que se<br />

pudesse entreter. Foi isso que o levou<br />

em 1986, à Pa<strong>da</strong>rias Reuni<strong>da</strong>s<br />

de Alfeizerão, um estabelecimento<br />

na principal rua <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. “Quando<br />

“Quando<br />

cácá chegou chegou o o dono dono <strong>da</strong> <strong>da</strong> pastepaste-<br />

laria laria disse-lhe disse-lhe ‘a ‘a máquina máquina só<br />

só<br />

não não não vendemos, vendemos, vendemos vendemos é<br />

é<br />

tudo” tudo”, tudo” conta o filho, Jorge. “E “E o<br />

o<br />

meu meu pai pai comprou” comprou”. comprou”<br />

A 1 de Março de 1986, Manuel<br />

Maria Delgado e Maria Beatriz<br />

Muchenga Delgado tornaram-se<br />

proprietários <strong>da</strong> Pa<strong>da</strong>rias Reuni<strong>da</strong>s<br />

de Alfeizerão e mu<strong>da</strong>m-se de<br />

armas e bagagens para esta locali<strong>da</strong>de.<br />

“E “E “E eu eu to<strong>da</strong> to<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a a vi<strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong><br />

disse disse que que era era a a última última terra<br />

terra<br />

para para onde onde ia”, ia” ia”<br />

ia” diz a mãe, garantindo<br />

que nunca tinha sequer<br />

ponderado voltar à sua freguesia<br />

de origem.<br />

Num pequeno espaço, praticamente<br />

reduzido a um balcão, pouco<br />

mais se vendia ali além de pão,<br />

arrufa<strong>da</strong>s e tranças. Em redor, um<br />

quintal e barracões onde era guar<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a lenha dos fornos. To<strong>da</strong> a<br />

família aju<strong>da</strong>va no negócio.<br />

Uns anos depois de ter comprado<br />

a pa<strong>da</strong>ria, Manuel Delgado<br />

construiu um prédio, com a<br />

pastelaria no rés-do-chão. Inaugurado<br />

em Novembro de 1994, o<br />

estabelecimento era uma réplica<br />

<strong>da</strong> pastelaria que o casal tinha<br />

explorado em Nampula. Até no<br />

nome. Nasce assim a “Cinderela<br />

de Alfeizerão”.<br />

Dos cinco filhos, apenas dois<br />

trabalhavam a tempo inteiro com<br />

os pais – Jorge e Paulo, um jovem<br />

com graves problemas de<br />

saúde. Os outros três irmãos seguiram<br />

rumos diferentes. Mas era<br />

Manuel Delgado que tratava de<br />

tudo o que tinha a ver com bolos<br />

e doces, <strong>da</strong> confecção à decoração.<br />

A esmagadora maioria dos<br />

produtos que ali se vendiam eram<br />

de fabrico próprio e a clientela foise<br />

fidelizando, não só os alfeizerenses,<br />

mas também pessoas vin<strong>da</strong>s<br />

de outros pontos <strong>da</strong> região,<br />

sobretudo <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha.<br />

Nos meses de Verão passavam<br />

também pela “Cinderela de Alfeizerão”<br />

muitos dos veraneantes de São<br />

Martinho do Porto, alguns dos quais<br />

voltavam sempre, ano após ano.<br />

Jorge garante que pensou muitas<br />

vezes em mu<strong>da</strong>r de vi<strong>da</strong>. Aos<br />

14 anos, ain<strong>da</strong> a viver no Casal<br />

<strong>da</strong> Marinha, o rapaz começou a<br />

<strong>da</strong>r serventia a pedreiros e ain<strong>da</strong><br />

hoje diz que o que gosta mesmo<br />

é de an<strong>da</strong>r nas obras. Ain<strong>da</strong> chegou<br />

a ser desafiado para emigrar<br />

e ir trabalhar para a construção<br />

na Suíça. Outra hipótese com que<br />

se deparou foi a de embarcar e<br />

de se juntar à vi<strong>da</strong> de embarcadiço<br />

que o irmão escolheu. “Mas<br />

“Mas<br />

o o meu meu pai pai comprou comprou isto, isto, foi<br />

foi<br />

umum investimento investimento muito muito grangran-<br />

de, de, investiu investiu aqui aqui para para <strong>da</strong>r <strong>da</strong>r<br />

<strong>da</strong>r<br />

trabalho trabalho aos aos filhos filhos e e foi-se<br />

foi-se<br />

tudo tudo embora” embora”, embora” diz Jorge, explicando<br />

a razão que o levou sempre<br />

a ficar.<br />

“Chegou “Chegou “Chegou uma uma altura altura altura em<br />

em<br />

que que o o meu meu pai, pai, felizmente,<br />

felizmente,<br />

já já não não não precisava precisava disto disto para para<br />

para<br />

viver viver e e dizia dizia ‘comprei ‘comprei isto<br />

isto<br />

para para a a gente gente gente e e agora agora estou<br />

estou<br />

aquiaqui sozinho, sozinho, sou sou um um um escraescra-<br />

vo vo aqui aqui dentro’ dentro’, dentro’ e eu acabei<br />

por comprar a pastelaria. A 1 de<br />

Janeiro de 1999, Jorge Delgado<br />

torna-se proprietário <strong>da</strong> “Cinderela<br />

de Alfeizerão”. Ao seu lado estava<br />

a esposa, Paula Cristina de<br />

Sousa Delgado.<br />

Joana Joana Joana Fialho<br />

Fialho<br />

jfialho@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

Jorge Jorge Delgado Delgado (à (à (à direita), direita), com com os os irmãos irmãos Fernando Fernando e e Paulo, Paulo, numa numa fotografia fotografia tira<strong>da</strong> tira<strong>da</strong> na na déca<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de de 90<br />

90


la la pela pela família família Delgado<br />

Delgado<br />

Localiza<strong>da</strong> Localiza<strong>da</strong> num num local local de de de passagem, passagem, a a pastelaria pastelaria tem tem como como clientes clientes muitas muitas pessoas pessoas de de fora,<br />

fora,<br />

algumas algumas <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s quais quais veraneantes veraneantes de de de São São São Martinho<br />

Martinho<br />

Quando Jorge Delgado agarrou<br />

no negócio, o pai ain<strong>da</strong> se<br />

manteve a trabalhar no estabelecimento.<br />

“Eu “Eu sempre sempre fui fui pa- papa- deiro, deiro, o o meu meu pai pai é é que que era<br />

era<br />

o o pasteleiro pasteleiro e e fazia fazia fazia tudo tudo<br />

tudo<br />

sozinho” sozinho”, sozinho” <strong>da</strong> pastelaria corrente<br />

às lampreias, passando pelos<br />

bolos de <strong>aniversário</strong>.<br />

Mas as coisas não correram<br />

muito bem entre pai e filho e Manuel<br />

deixou de trabalhar no estabelecimento<br />

cerca de cinco meses<br />

depois. “Foi “Foi muito muito com- comcom- plicado” plicado”, plicado” diz o filho. “Nunca “Nunca<br />

“Nunca<br />

tinhatinha acabado acabado bolo bolo nene-<br />

nhum, nhum, no no sábado sábado seguinte<br />

seguinte<br />

tive tive tive logo logo quatro quatro bolos bolos de<br />

de<br />

<strong>aniversário</strong><strong>aniversário</strong> para para fazer, fazer, chochoreirei<br />

tanto. tanto. Comecei Comecei na na sexsex-<br />

ta-feira ta-feira à à tarde, tarde, acabei acabei à<br />

à<br />

hora hora de de entregar entregar os os os bolos,<br />

bolos,<br />

nem nem escrever escrever ‘parabéns’ ‘parabéns’<br />

‘parabéns’<br />

sabia” sabia”, sabia” recor<strong>da</strong> Jorge.<br />

Ora… para grandes males, grandes<br />

remédios. No início <strong>da</strong> semana<br />

seguinte já Jorge Delgado estava<br />

em contacto com um primo,<br />

professor no Centro de Formação<br />

Profissional para o Sector<br />

Alimentar, na Pontinha. Pouco<br />

tempo depois estava a estu<strong>da</strong>r,<br />

em horário pós-laboral. “Tirei<br />

“Tirei<br />

decoração, decoração, que que era era o o meu<br />

meu<br />

principal objectivo. Depois<br />

tireitireitirei massa massa folha<strong>da</strong>, folha<strong>da</strong>, folha<strong>da</strong>, semisemi-<br />

frios, frios, frios, doçaria doçaria doçaria conventual,<br />

conventual,<br />

pastilhagem, pastilhagem, andei andei andei uma uma<br />

uma<br />

parga parga parga de de de anos anos a a caminho<br />

caminho<br />

de de lá. lá. Foi Foi a a minha minha sorte” sorte”, sorte”<br />

lembra.<br />

À necessi<strong>da</strong>de de aprender a<br />

fazer bolos e doces, juntou-se a<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

“Não “Não sou sou pasteleiro, pasteleiro, sou sou é é muito muito curioso”<br />

curioso”<br />

responsabili<strong>da</strong>de nas questões<br />

administrativas <strong>da</strong> empresa. “Nun- “Nun- “Nun- “Nun-<br />

ca ca tinha tinha mexido mexido num num papel,<br />

papel,<br />

depois depois tive tive que que fazer fazer tudo,<br />

tudo,<br />

pagarpagarpagar aos aos empregados, empregados, papa-<br />

gar gar segurança segurança social, social, tudo” tudo”. tudo”<br />

Os primeiros tempos de Jorge à<br />

frente do negócio foram ain<strong>da</strong> marcados<br />

por várias obras no estabelecimento.<br />

Casado desde os 22 anos, Jorge<br />

tinha a esposa a trabalhar com<br />

ele, depois de esta ter sido dispensa<strong>da</strong><br />

de uma fábrica de cerâmicas<br />

onde trabalhou durante três<br />

anos. Paula chegou a estar num<br />

posto de ven<strong>da</strong> que a “Cinderela<br />

de Alfeizerão” tinha em Vale Maceira<br />

e an<strong>da</strong>r na rua, na distribuição<br />

de pão. Mas é ao balcão que Paula<br />

gosta de estar. “Eu “Eu “Eu nem nem me<br />

me<br />

imaginoimagino a a fazer fazer outro outro trabatraba-<br />

lho” lho”, lho” afiança. “Às “Às vezes vezes vezes tenho<br />

tenho<br />

que que passar passar algum algum tempo tempo tempo no<br />

no<br />

escritório escritório mas mas aquilo aquilo para<br />

para<br />

mim mim é é uma uma morte, morte, morte, não não não vejo<br />

vejo<br />

ninguém” ninguém”. ninguém”<br />

Além <strong>da</strong> distribuição de pão e<br />

do posto em Vale Maceira, o estabelecimento<br />

teve ain<strong>da</strong> um posto<br />

no mercado <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. E durante algum<br />

tempo a “Cinderela de Alfeizerão”<br />

fez reven<strong>da</strong> de bolos para<br />

outros estabelecimentos. Hoje,<br />

mantém-se apenas a distribuição<br />

e a pastelaria que, garantem os<br />

proprietários, granjeou fama não<br />

só em Alfeizerão, mas também nas<br />

terras vizinhas e foi conquistando<br />

ao longo dos anos muitos clientes<br />

habituais.<br />

“Eu “Eu “Eu segui segui a a a linha linha do do do meu<br />

meu<br />

pai.pai. Há Há Há sítios sítios onde onde se se se enen-<br />

chem chem os os bolos bolos de de manteiga<br />

manteiga<br />

fresca, fresca, aqui aqui não. não. A A linha linha do<br />

do<br />

meu meu pai pai é é muito muito tradicional,<br />

tradicional,<br />

coisinhas coisinhas leves, leves, e e os os bolos<br />

bolos<br />

não não são são muito muito carregados.<br />

carregados.<br />

A A base base é é é o o doce doce de de ovos, ovos, a<br />

a<br />

não não ser ser que que o o cliente cliente peça<br />

peça<br />

outraoutra coisa, coisa, coisa, e e sempre sempre poupou-<br />

quinho” quinho”, quinho” explica Paulo, que se foi<br />

habituando a fazer um pouco de<br />

tudo. “E “E é é uma uma uma cópia cópia cópia do do pai” pai”, pai”<br />

garante a mãe.<br />

Ultrapassados os problemas<br />

dos primeiros meses, a relação<br />

entre Jorge e Manuel normalizou e<br />

o pai voltava à pastelaria para <strong>da</strong>r<br />

uma mão ao filho nas épocas mais<br />

festivas, em que as pessoas procuram<br />

mais bolos, como o Natal e<br />

a Páscoa. Há uns anos, Manuel<br />

teve um acidente nas vésperas de<br />

Natal, “e “e eu eu tive tive que que me me de- dedesenrascarsenrascar sozinho. sozinho. Nunca Nunca titi-<br />

nha nha feito feito uma uma lampreia, lampreia, tive<br />

tive<br />

que que me me fazer fazer à à vi<strong>da</strong>” vi<strong>da</strong>”, vi<strong>da</strong>” explica<br />

Jorge. “Eu “Eu costumo costumo dizer dizer que<br />

que<br />

não não sou sou pasteleiro, pasteleiro, sou sou é<br />

é<br />

muito muito muito curioso. curioso. curioso. Ponho-me Ponho-me Ponho-me a a<br />

a<br />

inventar, inventar, a a pensar pensar no no no que que o<br />

o<br />

meu meu pai pai fazia” fazia”, fazia” acrescenta.<br />

Não obstante, a quali<strong>da</strong>de é<br />

algo que não dispensa, tal como<br />

acontece com o pormenor com<br />

que os bolos saem <strong>da</strong> sua cozinha.<br />

“Eu “Eu “Eu demoro demoro muito muito mais<br />

mais<br />

a a acabar acabar um um bolo, bolo, mas mas é<br />

é<br />

tudotudo feito feito à à mão, mão, como como emem-<br />

blemas blemas e e bonecos” bonecos” bonecos”. bonecos” bonecos” A única<br />

excepção é quando o bolo leva<br />

uma fotografia.<br />

Já Paula diz que a única coisa<br />

que faz na cozinha são as trouxas<br />

de ovos. “Não “Não se se pode pode apren- apren- apren-<br />

der der muito muito muito lá lá dentro, dentro, senão senão ele<br />

ele<br />

passa passa passa a a pasta” pasta”, pasta” diz.<br />

Mas Jorge era capaz de deixar<br />

de fazer doces? “Era, “Era, “Era, vou vou ser<br />

ser<br />

muito muito sincero. sincero. Eu Eu faço faço isto,<br />

isto,<br />

mas mas não não gosto” gosto”. gosto” E ao contrário<br />

do que possa parecer, a confissão<br />

não traz nenhum arrependimento<br />

por ter agarrado no negócio iniciado<br />

pelo pai. “Os “Os primeiros primeiros primeiros anos<br />

anos<br />

foram foram foram muito muito difíceis, difíceis, mas<br />

mas<br />

tudo tudo o o que que eu eu tenho tenho é é fruto<br />

fruto<br />

do do meu meu trabalho trabalho trabalho aqui” aqui” aqui”, aqui” afirma.<br />

Mas há outra razão para Jorge<br />

não se arrepender. O pai faleceu<br />

em 2007 e Jorge esteve sempre<br />

do lado dele. “Sinto-me “Sinto-me feliz<br />

feliz<br />

porque porque usufrui usufrui o o o máximo máximo do<br />

do<br />

meu meu pai” pai” pai”. pai” pai” E o mesmo diz do irmão<br />

mais novo, que faleceu aos 32 anos,<br />

e que “já “já bem bem doente doente continua- continua- continuacontinuava va va a a aju<strong>da</strong>r” aju<strong>da</strong>r” no negócio. “Se “Se ti- titi- vesse vesse ido ido embora embora embora não não podia<br />

podia<br />

dizer dizer o o mesmo” mesmo”, mesmo” aponta Jorge.<br />

Se o passado é olhado sem mágoas,<br />

o futuro é ain<strong>da</strong> muito incerto.<br />

Jorge e Paula têm dois filhos –<br />

Inês de 16 anos e Francisco de 12<br />

– e ambos aju<strong>da</strong>m os pais nos<br />

negócios. “A “A minha minha filha filha filha aju- ajuaju<strong>da</strong>-me<strong>da</strong>-me<strong>da</strong>-me muito. muito. muito. Eu Eu fui fui de de fériféri-<br />

as as e e ela ela fez-me fez-me fez-me aí aí aí uma uma mão mão<br />

mão<br />

cheia cheia cheia de de bolos bolos bolos sozinha”, sozinha”<br />

sozinha” diz o<br />

pai. Mas os planos de futuro <strong>da</strong><br />

rapariga parecem passar muito<br />

ao lado <strong>da</strong> pastelaria. Com o filho<br />

a história é outra. . “O “O “O meu meu meu filho filho<br />

filho<br />

nãonão gosta gosta na<strong>da</strong> na<strong>da</strong> na<strong>da</strong> disto. disto. disto. VemVem-<br />

me me aju<strong>da</strong>r aju<strong>da</strong>r e e quando quando vou vou a<br />

a<br />

olhar olhar já já já cá cá cá não não está” está”. está” E a avó<br />

acrescenta: “foge “foge <strong>da</strong>qui <strong>da</strong>qui <strong>da</strong>qui como como<br />

como<br />

o o diabo diabo <strong>da</strong> <strong>da</strong> cruz” cruz”. cruz”<br />

“Não “Não vou vou pressionar pressionar para<br />

para<br />

eles eles continuarem continuarem aqui” aqui”, aqui” garante<br />

o pai, mas admite que gostava<br />

que os filhos lhe seguissem as pisa<strong>da</strong>s,<br />

“principalmente “principalmente porque<br />

porque<br />

sese eles eles ficarem ficarem aqui aqui eu eu tetenhonho<br />

capaci<strong>da</strong>de capaci<strong>da</strong>de de de os os ajuaju-<br />

<strong>da</strong>r” <strong>da</strong>r”. <strong>da</strong>r”<br />

Com oito funcionários e um volume<br />

de negócios de 150 mil euros<br />

anuais, a “Cinderela de Alfeizerão”<br />

é, tal como era a “Cinderela”<br />

em Nampula, um ponto de encontro,<br />

sobretudo para os amigos dos<br />

proprietários. “Temos “Temos um um um gru- grugru- po po de de amigos amigos que que todos todos os<br />

os<br />

diasdias vem vem aqui aqui tomar tomar o o pepe-<br />

queno-almoço queno-almoço connosco connosco às<br />

às<br />

8h00” 8h00” 8h00”, 8h00” 8h00” diz Jorge, que orienta o<br />

seu trabalho para que, a essa hora,<br />

se possa sentar em amena cavaqueira<br />

com os companheiros, “já<br />

“já<br />

lá lá vão vão mais mais de de dez dez dez anos” anos”. anos”<br />

Em plena estra<strong>da</strong> que liga a A8<br />

a S. Martinho do Porto, o estabelecimento<br />

atrai ain<strong>da</strong> muita gente de<br />

passagem. Clientes que param ali<br />

Cronologia<br />

Cronologia<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

7<br />

12 | Agosto | 2011<br />

O O estabelecimento estabelecimento <strong>da</strong> <strong>da</strong> “Cinderela “Cinderela de de Alfeizerão” Alfeizerão” é é uma uma réplica réplica do do estabelecimento estabelecimento que que Manuel Manuel e<br />

e<br />

Maria Maria Beatriz Beatriz tiveram tiveram em em Nampula<br />

Nampula<br />

todos os anos, “que “que se se man- manman- têm têm desde desde que que que a a casa<br />

casa<br />

abriu” abriu”, abriu” garante Maria Beatriz,<br />

que assistiram ao crescimento<br />

dos filhos dos actuais proprietários.<br />

E entre as iguarias que os fazem<br />

parar há algumas especiali<strong>da</strong>des<br />

de uma casa onde tudo é<br />

fabrico próprio, à excepção <strong>da</strong>s<br />

tranças. A “Cinderela de Alfeizerão”<br />

é a única <strong>da</strong> terra a fazer<br />

pastéis de cerveja, muito semelhantes<br />

aos pastéis de Lamego,<br />

mas sem amêndoa. “Também<br />

“Também<br />

somossomossomos os os únicos únicos a a fazerfazer-<br />

mos mos mos bolos bolos secos secos aqui aqui e e sou<br />

sou<br />

eu eu que que faço faço tudo” tudo”, tudo” afirma Jorge<br />

Delgado. Tentações para provar<br />

num estabelecimento que<br />

apenas está fechado ao domingo<br />

à tarde e nos dias de Páscoa,<br />

Natal e Ano Novo.<br />

Joana Joana Fialho<br />

Fialho<br />

jfialho@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

1942 1942 – – Nascem Manuel Maria Delgado e Maria Beatriz Muchenga Delgado<br />

1953 1953 – – Manuel vai trabalhar como pasteleiro para a Pastelaria Machado<br />

1959 1959 – – Maria Beatriz vai servir ao balcão na Pastelaria Machado<br />

1960 1960 – – Manuel Delgado vai cumprir o serviço militar para Moçambique e<br />

acaba por ficar<br />

1966 1966 – – Manuel e Beatriz casam por procuração e ela vai juntar-se ao marido<br />

em Nampula, onde têm cinco filhos e abrem a pastelaria “Cinderela”<br />

1970 1970 – – Nasce Jorge Manuel Delgado<br />

1972 1972 – – Nasce Paula Cristina de Sousa Delgado<br />

1974 1974 1974 – – – Dá-se a Revolução do 25 de Abril e a família regressa a Portugal<br />

1986 1986 – – Manuel Delgado compra a Pa<strong>da</strong>rias Reuni<strong>da</strong>s de Alfeizerão<br />

1994 1994 – – É construído o actual estabelecimento, uma réplica <strong>da</strong> pastelaria que<br />

os proprietários tinham em Moçambique<br />

1999 1999 – – Jorge Manuel compra o negócio iniciado pelo pai, que desde então<br />

gere com a esposa, Paula Delgado<br />

2007 2007 – Morre o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong>s Cinderelas de Nampula e de Alfeizerão, Manuel<br />

Maria Delgado


8<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

Batem-se três ovos inteiros com 150 gramas de açúcar. Juntam-se nove<br />

gemas de ovo e 75 gramas de farinha e volta-se a bater muito bem, até ficar uma<br />

massa homogénea. Leva-se ao forno numa forma forra<strong>da</strong> a papel vegetal durante<br />

10 a 15 minutos.<br />

Esta receita é apenas uma <strong>da</strong>s muitas que se encontram na Internet de um dos<br />

mais conhecidos bolos do país - o Pão de Ló de Alfeizerão. Uma ver<strong>da</strong>deira<br />

iguaria que remontará aos tempos em que as monjas cistercienses habitavam o<br />

Mosteiro de Cós, e que há largas déca<strong>da</strong>s torna a <strong>vila</strong> num ponto de paragem<br />

obrigatório para os mais gulosos.<br />

Quando se fala neste bolo, há duas referências incontornáveis: a Casa do Pão<br />

de Ló de Alfeizerão e o Café Ferreira, os estabelecimentos que há mais tempo<br />

comercializam o ex-libris <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. Não se conhece a receita que é usa<strong>da</strong> nos dois<br />

espaços, mas há uma coisa que é certa: a experiência é fun<strong>da</strong>mental para fazer<br />

o bolo húmido.<br />

A provável origem desta ‘versão’ do bolo à base de farinha, ovos e açúcar que<br />

fica com um creme de ovo líquido no seu interior, tem passado oralmente de<br />

geração em geração. As gentes <strong>da</strong> terra defendem que a receita chegou a<br />

Alfeizerão pela mão de algumas monjas de Cós que ali se refugiaram por volta de<br />

1834, na sequência <strong>da</strong> extinção <strong>da</strong>s ordens religiosas pelo ministro <strong>da</strong> Justiça <strong>da</strong><br />

altura, Joaquim António de Aguiar.<br />

As religiosas terão sido acolhi<strong>da</strong>s pela família de Amália Grilo, cedendo-lhes a<br />

receita. Foi no seio desta família abasta<strong>da</strong> que começou a ser feito o bolo que em<br />

1932 o jornal “Ecos do Alcoa” chamava de “pão de ló <strong>da</strong> Tia Amália”. Já antes, em<br />

1906, Joaquim Vieira Nativi<strong>da</strong>de incluiu numa <strong>da</strong>s suas publicações o Pão de Ló<br />

de Alfeizerão nas indústrias tradicionais e caseiras <strong>da</strong> região.<br />

Hoje, longe dos tempos em que o bolo era batido à mão ou cozido em forno<br />

de lenha, a iguaria continua a ser feita com todos os cui<strong>da</strong>dos. E quem põe ‘as<br />

mãos na massa’ diz que é como se o bolo lhes corresse nas veias.<br />

UM UM NEGÓCIO NEGÓCIO INICIADO INICIADO PELA PELA NORA NORA DE DE AMÁLIA AMÁLIA AMÁLIA GRILO<br />

GRILO<br />

Foi precisamente a nora de Amália Grilo que em 1947 abriu o Café Ferreira,<br />

depois de duas déca<strong>da</strong>s a fazer o bolo no âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de A.S. Ferreira &<br />

Companhia. Viúva, a proprietária contava com a aju<strong>da</strong> dos três filhos para levar<br />

o negócio por diante e apenas três anos depois as coisas corriam tão bem que<br />

foi preciso ampliar as instalações, chegando o Café Ferreira a funcionar em dois<br />

edifícios distintos.<br />

Na história <strong>da</strong>quele espaço há histórias que a família não quer ver esqueci<strong>da</strong>s.<br />

Dali saiu um bolo com um quilograma e meio para ser oferecido à Rainha Isabel<br />

II, de Inglaterra, quando esta veio a Portugal e saíram muitos bolos para serem<br />

vendidos nas praias de São Martinho do Porto e Nazaré.<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

O O ex-libris ex-libris ex-libris ex-libris ex-libris <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>vila</strong> <strong>vila</strong> - - o o Pão Pão de de Ló<br />

Ló<br />

Pub.<br />

Café Café Ferreira Ferreira Ferreira e e Casa Casa do do Pão Pão de de Ló Ló são são são os os dois dois estabelecimentos estabelecimentos que que insistem insistem em em manter manter a a tradição tradição e e a a quali<strong>da</strong>de quali<strong>da</strong>de quali<strong>da</strong>de de de uma uma uma iguaria iguaria ímpar, ímpar, que que não não encontra encontra par par nos nos supermercados<br />

supermercados<br />

Na déca<strong>da</strong> de 80, depois <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>dora, a exploração do Café<br />

Ferreira foi cedi<strong>da</strong> à neta mais velha <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>dora e ao seu marido. O estabelecimento<br />

acabaria por fechar em 1996, cinco anos depois <strong>da</strong> morte <strong>da</strong> neta que<br />

tinha ficado à frente do negócio. Um ano mais tarde as portas voltam a reabrir,<br />

com o estabelecimento a ser gerido por uma socie<strong>da</strong>de composta pelos filhos <strong>da</strong><br />

anterior gerente e por uma prima, João Gonçalves, Fátima Gonçalves e Maria<br />

Fátima Lopes. As duas, bisneta e neta <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>dora, mantêm-se ain<strong>da</strong> hoje à<br />

frente do estabelecimento.<br />

Perto <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> A8, e à beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, o Café Ferreira depende muito <strong>da</strong><br />

passagem de pessoas e do seu poder de compra. “Hoje Hoje o o Pão Pão de de Ló Ló Ló de<br />

de<br />

Alfeizerão Alfeizerão continua continua a a vender-se, vender-se, talvez talvez não não tanto tanto como como noutros<br />

noutros<br />

tempos,tempos,tempos, pois pois nós nós não não somos somos diferentes diferentes dos dos outros, outros, outros, também também sofresofre-<br />

mos mos com com com a a crise” crise”, crise” diz Maria Fátima Lopes. Além <strong>da</strong> crise, a “concorrência<br />

“concorrência<br />

altamente altamente desleal desleal que que são são são os os hipermercados” hipermercados” e a falta de protecção<br />

de que sofrem os produtos tradicionais e regionais, são outras maleitas que<br />

afectam o “mais mais antigo antigo antigo e e mais mais conhecido conhecido conhecido bolo bolo do do do concelho concelho de de<br />

de<br />

Alcobaça” Alcobaça”, Alcobaça” lamentam as proprietárias do espaço, que garantem a quali<strong>da</strong>de do<br />

bolo vendido no Café Ferreira, que não tem quaisquer conservantes.<br />

A A CASA CASA DO DO DO PÃO PÃO DE DE LÓ<br />

LÓ<br />

A escassos metros do Café Ferreira está a Casa do Pão de Ló de Alfeizerão, um<br />

negócio que nasce <strong>da</strong> vontade de comercializar o bolo por parte do pároco que<br />

estava na terra em 1925, João Matos Vieira, e <strong>da</strong> sua irmã, Adília Matos Vieira. O<br />

J F<br />

estabelecimento actual só seria inaugurado em 1948. Até aí o negócio desenrolava-se<br />

numa casa do outro lado <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>.<br />

Longe dos tempos em que auto-estra<strong>da</strong>s encurtaram as distâncias e facilitaram<br />

as viagens, o estabelecimento era ponto de paragem obrigatório para quem<br />

viajava na estra<strong>da</strong> que então ligava Lisboa ao Porto e muitos dos clientes são,<br />

desde o início, pessoas de fora. Durante as déca<strong>da</strong>s de 60 e 70 aquele espaço<br />

foi também um ponto de encontro para os jovens e muitos foram os que ali<br />

começaram a namorar. As memórias desses tempos mantêm-se bem vivas,<br />

aju<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo espaço que ain<strong>da</strong> hoje mantém grande parte <strong>da</strong>s características<br />

dos tempos iniciais, incluindo o mobiliário, feito na déca<strong>da</strong> de 90 de acordo com<br />

os moldes usados nos anos 40.<br />

Falar <strong>da</strong> Casa do Pão de Ló de Alfeizerão é também falar <strong>da</strong> D. Ema, a sobrinha<br />

de Adília Matos Vieira, vin<strong>da</strong> do Alentejo, que durante cerca de meio século foi<br />

referência <strong>da</strong> casa. Hoje com 85 anos, a D. Ema continua a ser muito acarinha<strong>da</strong><br />

por quem guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Casa do Pão de Ló as melhores recor<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> sua<br />

juventude.<br />

Hoje, o estabelecimento é precisamente de um desses jovens que tinha<br />

naquele espaço um local de convívio e diversão, José Luís Monteiro de Castro.<br />

Juntamente com a esposa, Helena Monteiro de Castro, José Luís deixou a capital,<br />

onde vivia, para regressar às origens e não deixar morrer o espaço.<br />

Muitos dos clientes que ali paravam nas primeiras déca<strong>da</strong>s continuam a<br />

frequentar o estabelecimento. A estes juntam-se os novos clientes, trazidos pela<br />

A8 (que de alguma forma voltou a pôr este estabelecimento no eixo Lisboa-Porto),<br />

e os estrangeiros que têm segun<strong>da</strong> habitação ou são habitués de São Martinho do<br />

Porto. “Nós “Nós hoje, hoje, se se nos nos nos podemos podemos queixar queixar queixar de de alguma alguma coisa coisa é é <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong><br />

falta falta de de dinheiro, dinheiro, não não não <strong>da</strong> <strong>da</strong> falta falta de de acessibili<strong>da</strong>des”<br />

acessibili<strong>da</strong>des”, acessibili<strong>da</strong>des” diz Helena Monteiro<br />

de Castro.<br />

A proprietária também defende que o Pão de Ló devia ser mais protegido.<br />

“Ca<strong>da</strong> “Ca<strong>da</strong> vez vez mais mais vamos vamos aos aos supermercados supermercados e e vemos vemos lá lá bolos bolos a<br />

a<br />

dizerem dizerem pão pão de de ló ló de de Alfeizerão Alfeizerão quando quando não não o o são. são. E E eu eu acho acho que<br />

que<br />

a a genuini<strong>da</strong>de genuini<strong>da</strong>de do do produto produto devia devia ser ser preserva<strong>da</strong>” preserva<strong>da</strong>”, preserva<strong>da</strong>” uma tarefa que não<br />

deve ser apenas dos produtores, mas também do poder autárquico. “Os “Os “Os tem- tem- tem- tem-<br />

pos pos não não são são fáceis, fáceis, mas mas tem tem que que se se tentar tentar preservar preservar os os produtos<br />

produtos<br />

tradicionais, tradicionais, senão senão qualquer qualquer dia dia é é tudo tudo igual” igual”, igual” refere.<br />

Joana Joana Fialho<br />

Fialho<br />

jfialho@gazetacal<strong>da</strong>s.com


<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

História História e e quali<strong>da</strong>de quali<strong>da</strong>de na na maior maior loja loja de de antigui<strong>da</strong>des<br />

antigui<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> <strong>da</strong> região<br />

região<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

9<br />

12 | Agosto | 2011<br />

Há Há mais mais mais de de duas duas déca<strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s que que José José Luiz Luiz Esteves Esteves trocou trocou a a docência docência por por uma uma vi<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dedica<strong>da</strong> dedica<strong>da</strong> ao<br />

ao<br />

mobiliário mobiliário e e às às antigui<strong>da</strong>des<br />

antigui<strong>da</strong>des<br />

Móveis Móveis de de quali<strong>da</strong>de, quali<strong>da</strong>de, quali<strong>da</strong>de, em em madeira madeira maciça maciça e e rara rara são são a a grande grande aposta aposta <strong>da</strong> <strong>da</strong> loja<br />

loja<br />

Licenciado em Educação Física, tendo sido professor durante alguns anos, Os objectos que ali se encontram não correspondem obrigatoriamente a um a a vi<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sejam sejam vendáveis” vendáveis”, vendáveis” móveis de madeira maciça feitos em pau-santo,<br />

José Luiz Esteves teve sempre gosto por coisas antigas, mas nunca tinha pensado estilo ou a um período histórico. Recupera-se, isso sim, o cui<strong>da</strong>do, o detalhe, as câmbala, vinhático, pau-rosa e pau-ferro, entre outras madeiras. “Coisas “Coisas que que é<br />

é<br />

fazer disso a sua vi<strong>da</strong>. Um dia comprou um recheio de uma casa a uma pessoa madeiras, as proporções e o gosto que ditavam as regras do mobiliário nacional raro raro encontrar encontrar noutras noutras lojas” lojas”, lojas” refere.<br />

de ascendência aristocrática e depois de escolher os móveis que queria para si antes <strong>da</strong> produção deste se ter massificado com a industrialização, perdendo-se Os que pensam que só pessoas abasta<strong>da</strong>s são clientes <strong>da</strong> Antiqualha, desen-<br />

próprio, decidiu vender o que restava através de anúncio no jornal.<br />

a quali<strong>da</strong>de e o bom gosto. “Eu “Eu “Eu sou sou um um resistente resistente contra contra essa essa massifi- massifi- massifi- ganem-se. Numa loja que o responsável acredita ser a que tem mais varie<strong>da</strong>de<br />

Não foi preciso muito para que surgisse a ideia de abrir uma loja dedica<strong>da</strong> a cação.cação. Aposto Aposto em em móveis móveis de de quali<strong>da</strong>de, quali<strong>da</strong>de, quali<strong>da</strong>de, estilos estilos nacionais, nacionais, nacionais, mãomão-<br />

no país, dentro do género, também se encontram ver<strong>da</strong>deiras pechinchas. É tudo<br />

antigui<strong>da</strong>des e foi assim, “por “por “por acaso” acaso”, acaso” acaso” que nasceu, em 1990, a Antiqualha. de-obra de-obra realmente realmente boa boa e e uma uma ligação ligação ligação ao ao cliente cliente cliente muito muito directa” directa”, directa” directa” uma questão de gosto e de vontade de ter em casa peças que não são descar-<br />

O primeiro espaço comercial abriu em Óbidos, seguiu-se Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha, afirma José Luiz Esteves, apontando a grande diferença que existe entre o seu táveis, que podem ser usa<strong>da</strong>s durante várias gerações e que têm sempre um<br />

onde ain<strong>da</strong> hoje se mantém a oficina <strong>da</strong> loja. Mas há cerca de um ano e meio espaço comercial e as grandes lojas de móveis que lideram o mercado nos dias valor intrínseco.<br />

que os móveis – antigui<strong>da</strong>des, cópias ou restauros – de José Luiz Esteves se que correm.<br />

E se os clientes <strong>da</strong> Antiqualha são sobretudo portugueses, muitos dos quais<br />

podem encontrar em Alfeizerão, num espaço com dois pisos e cerca de mil Embora na Antiqualha também se encontrem peças restaura<strong>da</strong>s e artigos familiares de várias gerações diferentes, também há estrangeiros, sobretudo os<br />

metros quadrados localizado na Rua 25 de Abril, a principal rua <strong>da</strong> <strong>vila</strong>. antigos, a esmagadora maioria dos móveis que ali se vendem são produzidos que têm segun<strong>da</strong> habitação no país. Talvez por isso José Luiz Esteves diga que o<br />

Por entre sofás, mesas, cadeiras, caixas de jóias e valores, estantes e um sem hoje, mas de acordo com costumes de outros tempos. “Mesmo “Mesmo quando quando faço<br />

faço negócio “não “não se se se tem tem sentido sentido muito muito com com com a a crise” crise” crise”. crise” O proprietário lamenta,<br />

número de artigos, há ver<strong>da</strong>deiras relíquias, feitas à mão por alguns dos melhores móveis móveis modernos modernos é é com com princípios princípios e e regras regras de de de equilíbrio equilíbrio <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> assim, que a tradição do bom mobiliário se esteja a perder e que não haja<br />

artesãos portugueses.<br />

nossa nossa história história e e do do nosso nosso gosto” gosto” gosto”, gosto” gosto” explica o proprietário. E esteticamente, no país uma escola dedica<strong>da</strong> à arte (como aconteceu até 1825), onde se<br />

“Esta “Esta não não é é uma uma loja loja de de decoração decoração igual igual às às outras, outras, não não há<br />

há os móveis <strong>da</strong> loja são também muito pensados. “Em “Em determina<strong>da</strong>s determina<strong>da</strong>s alturas<br />

alturas apren<strong>da</strong> a ser um artesão de mão cheia.<br />

fotografias,fotografias, não não há há catálogos, catálogos, as as peças peças são são únicas, únicas, únicas, não não se se se reperepe-<br />

há há explosões explosões de de exageros exageros de de estilos, estilos, que que vão vão abaixo, abaixo, abaixo, depois<br />

depois<br />

tem tem e e as as que que se se repetem repetem são são sempre sempre diferentes” diferentes”, diferentes” garante o proprietá- voltam, voltam, voltam, mas mas há há sempre sempre sempre uma uma linha linha contínua contínua contínua e e é é essa essa linha linha que que eu<br />

eu<br />

Joana Joana Fialho<br />

Fialho<br />

rio. E são raros os casos em que as peças não são produzi<strong>da</strong>s em Portugal.<br />

Pub.<br />

quero quero manter” manter”, manter” garante. A aposta é, sobretudo, feita “em “em coisas coisas que que que to<strong>da</strong><br />

to<strong>da</strong><br />

jfialho@gazetacal<strong>da</strong>s.com


10<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

José José Almei<strong>da</strong>, Almei<strong>da</strong>, um um alfeizerense alfeizerense que<br />

que<br />

deu deu várias várias voltas voltas ao ao mundo mundo no no mar<br />

mar<br />

Alfeizerão sempre foi terra de embarcadiços e são muitos os que, agora reformados, têm histórias de navios e de oceanos, de<br />

longas viagens em cargueiros e do glamour dos paquetes turísticos.<br />

Este é um dos vários testemunhos possíveis em Alfeizerão. José Almei<strong>da</strong> andou 42 anos no mar e fez tantas viagens que, ao<br />

todo somariam várias voltas ao mundo. Começou a sua carreira na marinha mercante portuguesa transportando tropas para<br />

guerra colonial e, mais tarde, passou a trabalhar para um armador grego subindo na hierarquia <strong>da</strong> carreira de Hotelaria que tirou<br />

na Escola de Caxias, aos 18 anos. Hoje tem 61 e diz que “sempre “sempre ganhei ganhei ganhei muito muito muito bem bem no no no mar” mar”. mar”<br />

José Almei<strong>da</strong> tem 61 anos e é natural de Alfeizerão. Tal como muitos trabalhar pois precisava de ganhar dinheiro. “Não “Não tenho tenho tenho más más recor<strong>da</strong>- recor<strong>da</strong>- recor<strong>da</strong>- recor<strong>da</strong>-<br />

José José Almei<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong> recor<strong>da</strong> recor<strong>da</strong> recor<strong>da</strong> com com sau<strong>da</strong>de sau<strong>da</strong>de o o tempo tempo que que que passou passou no no mar.<br />

mar.<br />

Conheceu Conheceu o o mundo mundo e e diz diz que que entre entre os os seus seus países países favoritos favoritos estão estão o<br />

o<br />

jovens <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de que viviam nos concelhos <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s e de Alfeizerão, ções” ções”, ções” disse o marítimo, à excepção de quando parava nas colónias e<br />

Brasil, Brasil, Israel, Israel, Escócia Escócia Escócia e e Noruega Noruega<br />

Noruega<br />

cedo tomou a resolução de fazer vi<strong>da</strong> no mar. “Ganhava-se “Ganhava-se nos nos nos navios<br />

navios<br />

muito muito melhor melhor do do que que em em em terra, terra, onde onde os os salários salários eram eram muito<br />

muito<br />

baixos” baixos”, baixos” conta, acrescentando que na locali<strong>da</strong>de muitos rapazes optavam<br />

por esta forma de vi<strong>da</strong> e “eram “eram as as pessoas pessoas que que viviam viviam melhor” melhor”. melhor”<br />

José olhava à sua volta e via rapazes <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de “que “que “que tinham tinham me- memelhor lhor lhor vi<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do do que que que a a minha minha pois pois os os seus seus pais pais já já eram eram marítimos” marítimos”. marítimos”<br />

E por isso os seus pais tentaram colocá-lo a trabalhar no mar, tal como<br />

fizeram com o seu irmão, João Almei<strong>da</strong>, de 55 anos que ain<strong>da</strong> an<strong>da</strong> embarcado.<br />

Em 1968, José Almei<strong>da</strong>, então com 18 anos, integra a Escola <strong>da</strong> Marinha<br />

Mercante em Caxias e “de “de certo certo modo modo ficávamos ficávamos livres livres de de de ir ir ir para<br />

para<br />

a a guerra” guerra”, guerra” disse. Isto porque, apesar de ter que cumprir o serviço militar<br />

quando chegasse à i<strong>da</strong>de, o facto de integrar a Marinha Mercante fazia com<br />

que não tivesse que ir para os teatros de guerra nas então províncias ultrama-<br />

perguntava por alguns militares que tinham transportado e que tinham<br />

morrido em combate.<br />

José Almei<strong>da</strong> casou com 21 anos com Isil<strong>da</strong> Almei<strong>da</strong>, também de Alfeizerão,<br />

quando este veio cumprir o serviço militar. Para tal teve que sair do<br />

Infante D. Henrique mas uma vez cumprido o dever, logo regressou ao<br />

navio.<br />

As vin<strong>da</strong>s a casa implicavam esta<strong>da</strong>s entre oito a dez dias e José Almei<strong>da</strong><br />

ain<strong>da</strong> se lembra do seu primeiro salário de 7800$00 (38,9 euros). Nessa<br />

altura, a média de salários em terra não passava os 1000$00 (cinco euros).<br />

“A “A “A minha minha mãe mãe até até chorou” chorou”, chorou” recor<strong>da</strong>.<br />

O salário base era de três contos de ordenado mas falta somar as horas<br />

extraordinárias “ao “ao todo todo nunca nunca tirava tirava menos menos de de sete sete contos contos (35<br />

(35<br />

euros)” euros)”. euros)” euros)”<br />

Aos 22 anos o marítimo conseguiu ter dinheiro para construir a sua<br />

<strong>da</strong>s Caraíbas e do Brasil que ia sempre que era Inverno na Europa. Recor<strong>da</strong><br />

ain<strong>da</strong> que quando rebentou a 1ª Guerra no Golfo an<strong>da</strong>vam a fazer cruzeiros<br />

entre Israel, Chipre e Egipto com passageiros ingleses. Pouco tempo depois<br />

“todos “todos os os paquetes paquetes de de turismo turismo turismo vieram vieram embora embora pois pois guerra guerra e<br />

e<br />

turismo turismo é é algo algo que que não não se se coaduna” coaduna”, coaduna” disse.<br />

Na memória ficou-lhe um grande temporal que apanhou no mar do Norte,<br />

quando viajava no Funchal <strong>da</strong> Suécia para Lisboa. A violência <strong>da</strong>s vagas fez<br />

desprender as âncoras que estavam amarra<strong>da</strong>s na proa, rasgando a bor<strong>da</strong><br />

do navio e este tivesse começado a meter água.<br />

Num dos cinco bares <strong>da</strong>quele paquete encontrava-se um piano Steinway<br />

& Sons que está aparafusado com cavilhas em ferro ao chão. “O “O piano<br />

piano<br />

arrancou-se arrancou-se e e foi foi espetar-se espetar-se contra contra o o tecto, tecto, tendo tendo ficado ficado ficado feito<br />

feito<br />

em em palitinhos palitinhos”, palitinhos recordou.<br />

rinas. Em troca “tínhamos “tínhamos que que an<strong>da</strong>r an<strong>da</strong>r embarcados embarcados seis seis anos anos em<br />

em<br />

navios navios portugueses”<br />

portugueses”, portugueses” pelo que José Almei<strong>da</strong> esteve embarcado em<br />

própria casa, graças ao que juntava no mar.<br />

Nos navios <strong>da</strong> marinha mercante portuguesa José Almei<strong>da</strong> esteve sem-<br />

DISCIPLINA DISCIPLINA A A BORDO BORDO É É PARA PARA CUMPRIR<br />

CUMPRIR<br />

navios de passageiros <strong>da</strong> Companhia Colonial de Navegação.<br />

Na escola, José Almei<strong>da</strong> tirou o curso de Hotelaria e, passados dez meses<br />

pre ligado aos bares.<br />

Após o 25 de Abril e a descolonização, e também com a massificação do “As “As regras regras no no mar mar são são diferentes diferentes de de terra. terra. São São mesmo mesmo para<br />

para<br />

já estava nos navios mercantes, trabalhando nos bares.<br />

transporte aéreo, não se justificava que Portugal mantivesse uma frota cumprir cumprir à à risca” risca” . Palavras de José Almei<strong>da</strong>,que acrescenta que um<br />

O primeiro paquete em que embarcou – já tinha 19 anos - foi o Império, mercante desta dimensão. “Alguns “Alguns navios navios navios foram foram vendid vendidos vendid s ao ao desdes-<br />

navio é como um avião, ou seja, não espera por ninguém. As refeições<br />

que estava fretado ao Estado e transportava as tropas para África. Eram barato barato e e outros outros desmantelados”<br />

desmantelados”, desmantelados” lamenta José Almei<strong>da</strong>.<br />

também têm horários rígidos a cumprir. Por norma, os cruzeiros têm a<br />

grandes navios que transportavam três mil homens para as frentes de com- Durante seis meses ain<strong>da</strong> integrou a tripulação do paquete Rita Maria <strong>da</strong> duração de uma semana com entra<strong>da</strong> a um domingo e saí<strong>da</strong> no seguinte,<br />

bate, que ficavam instalados nos camarotes, mas também em alojamentos Socie<strong>da</strong>de Geral e fez carreiras Lisboa-Cabo Verde que depois também mas há outras ofertas de vários meses quando se trata de <strong>da</strong>r a volta ao<br />

improvisados nas cobertas dos porões. José Almei<strong>da</strong> não esquece as áreas terminaram. “Tive “Tive que que procurar procurar outra outra coisa, coisa, coisa, sobretudo sobretudo sobretudo junto junto dos<br />

dos mundo.<br />

de dois mil metros quadrados cheias de beliches onde as tropas viajavam. navios navios estrangeiros”<br />

estrangeiros”, estrangeiros” afirmou.<br />

Por estar ligado aos bares, a sua vi<strong>da</strong> no mar esteve sempre relaciona<strong>da</strong><br />

Seguiam também profissionais de várias áreas que escolhiam as colónias<br />

para viver e trabalhar. Seis meses passados e José Almei<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptava-se<br />

muito bem à vi<strong>da</strong> de marítimo.<br />

“Nunca “Nunca enjoei” enjoei” enjoei”, enjoei” enjoei” conta, explicando que a rota de África implicava passagens<br />

por S. Tomé, Angola África do Sul e Moçambique. No regresso paravase<br />

também na Madeira.<br />

Passado meio ano, e ain<strong>da</strong> no Império, viveu o seu primeiro acidente no<br />

mar. O navio teve um rombo sério na casa <strong>da</strong>s máquinas, quando passava<br />

Dakar, a caminho de Angola.<br />

“Ficámos “Ficámos “Ficámos no no mar mar durante durante dois dois dias dias à à deriva” deriva”, deriva” contou José Almei<strong>da</strong>.<br />

O governo português mandou um avião <strong>da</strong> Força Aérea Portuguesa para<br />

poder vigiar a embarcação e dois navios mais pequenos “para “para o o caso caso do<br />

do<br />

navionavio ir ir ao ao fundo fundo e e para para se se poder poder transferir transferir as as pessoas, pessoas, sobresobre-<br />

Entretanto o armador grego George Photomianus comprou o paquete<br />

Funchal e José Almei<strong>da</strong> foi para aquele paquete onde se inicia como<br />

barman. Uns anos depois o mesmo responsável comprou o Infante D.<br />

Henrique e “como “como sabia sabia sabia que que eu eu tinha tinha an<strong>da</strong>do an<strong>da</strong>do muitos muitos muitos anos anos na- na- na- na- na-<br />

quele quele navio, navio, navio, convidou-me convidou-me para para lá lá lá trabalhar” trabalhar”. trabalhar”<br />

No Funchal, para onde foi trabalhar em finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e onde<br />

esteve 12 anos, chegou a chefe dos bares, tendo passado a auferir 300<br />

contos (1496 euros) de salário base. Até ao final <strong>da</strong> sua carreira vai ficar<br />

ligado à mesma companhia e duplicar o vencimento base.<br />

Ao longo do seu percurso profissional acabou por levar para o mar muita<br />

gente de Alfeizerão e <strong>da</strong> zona <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s pois “as “as “as pessoas pessoas estavam<br />

estavam<br />

sem sem trabalho trabalho e e eu eu conseguia-lhes conseguia-lhes bons bons bons lugares” lugares”, lugares” disse. José<br />

Almei<strong>da</strong> conta como se tornou amigo do patrão grego que lhe <strong>da</strong>va carta<br />

com as festivi<strong>da</strong>des e os shows. “Num “Num cruzeiro cruzeiro cruzeiro praticamente praticamente todos todos<br />

todos<br />

os os dias dias há há festas” festas”, festas” disse, comentando ain<strong>da</strong> que o seu lugar também lhe<br />

exigia fazer de Relações Publicas.<br />

Por todo o lado há sempre muita fartura de comi<strong>da</strong> desde o pequenoalmoço<br />

até à noite e, muitas vezes, José Almei<strong>da</strong> fazia com frequência<br />

refeições só de fruta por ter enjoa<strong>da</strong> as lautas refeições.<br />

“Sei “Sei “Sei qualquer qualquer coisa coisa de de inglês inglês inglês e e um um pouco pouco pouco de de francês francês tam- tamtam- bém” bém”, bém” disse o marítimo, o suficiente para uma carreira bem sucedi<strong>da</strong> .<br />

E quais são os países que mais gostou? José Almei<strong>da</strong> aprecia os <strong>da</strong><br />

América do Sul e entre eles elege o Brasil como “o “o mais mais lindo” lindo”, lindo” sem<br />

deixar de referir também a Argentina.<br />

Diz que Israel é também especial, assim como a Suécia e a Noruega.<br />

tudo, tudo, as as tropas” tropas”. tropas”<br />

branca para organizar as necessi<strong>da</strong>des do sector do navio onde trabalhava. Deixou-se também encantar pela Escócia e pelo Egipto e refere a diferen-<br />

O rombo não se resolveu no mar e por ordens do Ministério <strong>da</strong> Marinha “foi “foi um<br />

um “Faziam “Faziam o o que que eu eu pedisse” pedisse”, pedisse” conta José Almei<strong>da</strong>, relembrando que era ça e a efervescência de Istambul ao passo que os países europeus “já “já se<br />

se<br />

reboque reboque grego grego que que estava estava estaciona<strong>da</strong> estaciona<strong>da</strong> na na Guiné Guiné que que veio veio ao ao ao nosso<br />

nosso um trabalho onde não há folgas, feriados ou domingos. “É “É um um trabalho<br />

trabalho parecem parecem todos todos uns uns uns com com os os outros” outros”. outros”<br />

encontro encontro rebocar-nos rebocar-nos rebocar-nos para para Cabo Cabo Verde, Verde, durante durante quatro quatro dias” dias”, dias” disse. em em contínuo contínuo e e eu eu eu começava começava às às às sete sete <strong>da</strong> <strong>da</strong> manhã manhã manhã e e só só só terminava<br />

terminava No Infante D. Henrique - que entretanto mudou o nome para Vasco <strong>da</strong><br />

O Império foi acompanhado por uma fragata e dois draga-minas <strong>da</strong> Mari- de de madruga<strong>da</strong>”<br />

madruga<strong>da</strong>”, madruga<strong>da</strong>” disse.<br />

Gama – José Almei<strong>da</strong> passou a ser hotel superviser, e finalmente chegou a<br />

nha de Guerra pois o governo português “receava “receava ataques ataques ataques de de países<br />

países Fazia então cruzeiros em to<strong>da</strong> a parte do mundo. Desde os fiordes na hotel manager. Foi com este cargo que se reformou no final de 1992, a<br />

hostis hostis hostis a a Portugal” Portugal” Portugal”. Portugal”<br />

Noruega, passando pela Suécia, Escócia e Finlândia. Havia também a zona pedido sobretudo <strong>da</strong> família que o desejava em terra.<br />

O navio ficou a reparar em Cabo Verde e José Almei<strong>da</strong> veio com a maioria<br />

<strong>da</strong> tripulação para Portugal noutro barco <strong>da</strong> companhia, o paquete Pátria,<br />

“gémeo” do Império.<br />

“A “A Marinha Marinha Mercante Mercante portuguesa portuguesa portuguesa era era a a segun<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> maior maior <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong><br />

Europa Europa e e tinha tinha a a segun<strong>da</strong> segun<strong>da</strong> maior maior frota frota mercante mercante de de paquetes” paquetes”, paquetes”<br />

disse o marítimo que regressa a Lisboa em 1969, após o incidente.<br />

A Companhia Colonial de Navegação disponibilizou a José Almei<strong>da</strong> a<br />

possibili<strong>da</strong>de de embarcar em três navios: o paquete Santa Maria, o Vera<br />

Cruz e o Infante D. Henrique. O primeiro ia para os EUA e os restantes<br />

seguiam a rota africana. “O “O Infante Infante D. D. Henrique Henrique era era o o maior maior maior e e o<br />

o<br />

mais mais recente recente entre entre os os paquetes paquetes e e e foi foi na na sua sua sua tripulação tripulação que<br />

que<br />

ingressei” ingressei”, ingressei” ingressei” contou.<br />

A viagem de i<strong>da</strong> e volta pelos países africanos levava no total cerca de 50<br />

E hoje sente sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no mar? “Claro, “Claro, então então já já viu viu a a vi<strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong><br />

que que eu eu tinha?” tinha?”, tinha?” responde José Almei<strong>da</strong>.<br />

Os navios de hoje continuam a ser autênticas ci<strong>da</strong>des, com lojas, ginásios,<br />

cabeleireiro e massagista e assiste-se a uma maior rentabilização <strong>da</strong>s embarcações,<br />

como acontece com o Funchal que de 400 passará a poder<br />

transportar 700 pessoas.<br />

Hoje já não se ganha tão bem como no tempo de José Almei<strong>da</strong>, sobretudo<br />

porque agora se aposta nas tripulações mistas indo os armadores contratar<br />

pessoas a países onde os salários são baixos, o que fez reduzir a média dos<br />

rendimentos pagos às tripulações.<br />

“Só “Só se se ganha ganha bem bem nos nos bons bons lugares” lugares” lugares”, lugares” lugares” diz José Almei<strong>da</strong>, que sente<br />

que ain<strong>da</strong> poderia regressar à firma Transworld Cruise pois continua sem<br />

dias e “era “era um um prazer prazer ver ver aquela aquela gare gare marítima marítima de de Luan<strong>da</strong>,<br />

Luan<strong>da</strong>,<br />

falhar à festa de Natal que esta organiza em Lisboa.<br />

sempre sempre sempre cheia cheia cheia de de de gente gente à à à nossa nossa chega<strong>da</strong>” chega<strong>da</strong>” chega<strong>da</strong>”, chega<strong>da</strong>” chega<strong>da</strong>” contou José Almei<strong>da</strong>. Na<br />

E o que é necessário para se trabalhar hoje em dia num cruzeiro? “Na<br />

“Na<br />

sua opinião Portugal naquela época “era “era uma uma ver<strong>da</strong>deira ver<strong>da</strong>deira potência” potência”, potência” e<br />

base base é é preciso preciso preciso saber saber bem bem inglês inglês e e serserser uma uma pessoa pessoa com com basbas-<br />

ain<strong>da</strong> se lembra do tempo em “que “que o o escudo escudo era era era tão tão bom bom como como o<br />

o<br />

tante tante genica” genica”, genica” disse José Almei<strong>da</strong>, que considera que os navios são dos<br />

dólar dólar e e muito muito superior superior à à peseta” peseta”. peseta”<br />

transportes mais seguros do mundo para viajar, a par com os comboios. “Os<br />

“Os<br />

acidentes acidentes são são rarísssimos. rarísssimos. Ouve-se Ouve-se muito muito mais mais tragédias tragédias com<br />

com<br />

GANHAR GANHAR SETE SETE VEZES VEZES MAIS MAIS DO DO QUE QUE EM EM TERRA<br />

TERRA<br />

Aos Aos 19 19 anos anos no no Infante Infante D. D. Henrique Henrique e e vinte vinte anos anos depois depois depois como<br />

como<br />

chefe chefe chefe dos dos bares bares no no mesmo mesmo mesmo paquete paquete paquete entretanto entretanto adquirido adquirido por por um um<br />

um<br />

os os aviões” aviões”, aviões” rematou José Almei<strong>da</strong>.<br />

Este alfeizerense esteve na rota africana durante seis anos, inicialmente a armador armador grego grego que que mudou mudou o o nome nome do do navio navio para para Vasco Vasco <strong>da</strong> <strong>da</strong> Gama Gama<br />

Gama<br />

Natacha Natacha Narciso<br />

Narciso<br />

trabalhar nos bares. Conta que não foi duro, já que tinha muita vontade de<br />

nnarciso@gazetacal<strong>da</strong>s.com


Não é alfeizerense de nascença, mas foi lá que se criou a partir dos seis anos<br />

de i<strong>da</strong>de e é ele quem traz as notícias de Alfeizerão que regularmente vão<br />

chegando às páginas <strong>da</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s. Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Hoje aposentado, só passa os<br />

meses quentes em Alfeizerão, mas mesmo assim faz questão de saber as<br />

novi<strong>da</strong>des ao longo de todo o ano para escrever, sempre que se justifica, uma<br />

notícia fresca. Apesar de não se considerar jornalista - nunca teve formação para<br />

isso -, gosta que se fale <strong>da</strong> terra que adoptou como sua e é o feedback que vai<br />

recebendo que o motiva a continuar.<br />

Foi em 1983 que Teófilo Antunes, empregado no Thomaz dos Santos desde<br />

1953, escreveu a sua primeira notícia. Não foi ain<strong>da</strong> na <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s, Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s<br />

mas no extinto Notícias <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s. A história recor<strong>da</strong>-a bem. Ia na companhia de<br />

um conterrâneo almoçar a casa, em Alfeizerão, e pelo caminho saiu um carro de<br />

bombeiros para uma chama<strong>da</strong> a um incêndio numa pa<strong>da</strong>ria em Vale de Maceira,<br />

mas foi uma chama<strong>da</strong> falsa. “Aquilo “Aquilo “Aquilo tocou-me tocou-me e e escrevi escrevi um um um texto,<br />

texto,<br />

que que ain<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> tenho tenho lá lá arquivado” arquivado”, arquivado” recor<strong>da</strong> Teófilo Antunes.<br />

Depois dessa primeira incursão pelo jornalismo foi convi<strong>da</strong>do pelo director<br />

<strong>da</strong>quele jornal, José Eduardo Martins, para continuar a escrever sempre que<br />

acontecesse alguma coisa.<br />

Entre outras coisas, escrevia as crónicas dos jogos do Sport União Alfeizerense<br />

(SUA) e foi José Campos, responsável pelo desporto <strong>da</strong> <strong>Gazeta</strong>, <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> quem o convidou<br />

para colaborar quando o Notícias <strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s encerrou. “Ele “Ele encontrava- encontravaencontrava- me me lá lá lá nos nos jogos jogos e e convidou-me”<br />

convidou-me”, convidou-me” lembra.<br />

E assim começou uma ligação que já dura 27 anos.<br />

Nas páginas deste semanário Teófilo Antunes continuou a escrever os jogos do<br />

SUA, destacando a presença do clube na III Divisão Nacional na época 1989/90.<br />

Depois de se ter aposentado do Thomaz dos Santos, em 1999, passou a ter<br />

mais tempo e começou a dedicar-se mais aos temas sociais, situações com<br />

interesse para a população <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de. “As “As coisas coisas que que os os ’tribunais’<br />

’tribunais’<br />

discutem” discutem”, discutem” aponta.<br />

Quem não se recor<strong>da</strong> <strong>da</strong> saga dos semáforos, as passadeiras ou a falta de<br />

iluminação na Rua 25 de Abril, ou o acidente que <strong>da</strong>nificou o pelourinho?<br />

Mas houve uma notícia que Teófilo Antunes reportou que recor<strong>da</strong> de forma<br />

especial. A Caixa de Crédito Agrícola decidiu suprimir um posto de trabalho, o que<br />

causou grande transtorno aos clientes, gerando grandes filas ao balcão. “A<br />

“A<br />

notícia notícia notícia foi foi publica<strong>da</strong> publica<strong>da</strong> e e depois depois depois de de tomar tomar conhecimento conhecimento conhecimento a a sede sede <strong>da</strong><br />

<strong>da</strong><br />

CCA CCA em em em Alcobaça Alcobaça acabou acabou por por repor repor o o posto posto de de trabalho” trabalho”, trabalho” conta.<br />

É considerado como um segundo autarca, porque conversa muito com as<br />

pessoas em relação aos problemas <strong>da</strong> terra. E quando se justifica, transporta-os<br />

para as notícias.<br />

Nunca teve qualquer tipo de formação na área e nunca aderiu às novas<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a a Vila<br />

Vila<br />

Teófilo Teófilo Antunes Antunes é é o o “repórter” “repórter” de<br />

de<br />

Alfeizerão Alfeizerão há há quase quase 30 30 anos<br />

anos<br />

Pub.<br />

“Posso “Posso “Posso dizer dizer sem sem vai<strong>da</strong>de vai<strong>da</strong>de vai<strong>da</strong>de que que a a <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> é é hoje hoje o o jornal jornal de<br />

de<br />

referência referência em em Alfeizerão, Alfeizerão, diz diz Teófilo Teófilo Antunes Antunes<br />

Antunes<br />

tecnologias para construir as suas notícias. Mas tem rigor no que faz. “Nunca<br />

“Nunca<br />

escrevo escrevo escrevo na<strong>da</strong> na<strong>da</strong> de de trinta trinta e e um um de de boca, boca, escrevo escrevo do do que que que vejo, vejo, vejo, ou ou de de<br />

de<br />

coisas coisas que que vou vou ver ver porque porque me me chamaram chamaram a a atenção” atenção”, atenção” aponta.<br />

Um passatempo que sempre fez com muito gosto e por carolice. “Faço “Faço “Faço para<br />

para<br />

pôr pôr Alfeizerão Alfeizerão no no mapa, mapa, para para que que se se fale fale de de Alfeizerão” Alfeizerão” Alfeizerão”, Alfeizerão” sustenta.<br />

Apesar de Alfeizerão pertencer ao concelho de Alcobaça, a <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>da</strong>s<br />

Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s Cal<strong>da</strong>s é o jornal de referência na locali<strong>da</strong>de e o trabalho de Teófilo Antunes tem<br />

nisso quota parte. “Posso “Posso dizer dizer sem sem vai<strong>da</strong>de vai<strong>da</strong>de que que a a <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> <strong>Gazeta</strong> é é é hoje hoje o<br />

o<br />

jornal jornal de de referência referência em em Alfeizerão, Alfeizerão, as as pessoas pessoas gostam gostam de de ler,<br />

ler,<br />

compram, compram, são são assinantes, assinantes, e e se se passam passam duas duas ou ou três três semanas<br />

semanas<br />

semsem notícias notícias de de Alfeizerão, Alfeizerão, perguntam-me perguntam-me se se estou estou de de de férias férias porpor-<br />

que que gostam gostam de de ler ler coisas coisas <strong>da</strong> <strong>da</strong> terra” terra”, terra” salienta.<br />

É esse contacto, não só <strong>da</strong>s pessoas que moram na terra, mas também dos<br />

que se mu<strong>da</strong>ram para as Cal<strong>da</strong>s e principalmente dos emigrantes, que lhe dá<br />

alento para continuar, apesar de ter uma vi<strong>da</strong> familiar que lhe ocupa bastante<br />

tempo. “Os “Os emigrantes emigrantes vêm vêm ter ter comigo comigo e e agradecem agradecem o o que que escre- escreescre- vo, vo, dizem dizem que que para para eles eles são são como como cartas cartas de de família” família”, família” conta.<br />

Acabado de completar 76 anos, Teófilo Antunes continua a ter gosto no que faz,<br />

mas gostava que surgisse outra pessoa para continuar o seu trabalho.<br />

Joel Joel Ribeiro<br />

Ribeiro<br />

jribeiro@gazetacal<strong>da</strong>s.com<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

11<br />

12 | Agosto | 2011


12<br />

Alfeizerão<br />

Alfeizerão<br />

12 | Agosto | 2011<br />

Pub.<br />

<strong>20º</strong> <strong>20º</strong> Aniversário Aniversário <strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong> Reelevação Reelevação a a Vila<br />

Vila<br />

Imagens Imagens do do antes antes e e do do depois depois de de uma uma <strong>vila</strong> <strong>vila</strong> com com História<br />

História<br />

A A rua rua 25 25 de de Abril, Abril, que que que anteriormente anteriormente anteriormente se se chamava chamava rua rua Dr. Dr. António António António Oliveira Oliveira Salazar, Salazar, é é a a principal principal artéria artéria <strong>da</strong> <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de<br />

locali<strong>da</strong>de<br />

A A escola escola primária primária num num tempo tempo em em que que a a rua rua nem nem era era asfalta<strong>da</strong>, asfalta<strong>da</strong>, e e na na actuali<strong>da</strong>de, actuali<strong>da</strong>de, após após obras obras de de requalificação<br />

requalificação

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