Uma história de Dignidade - contribuindo para a - Grupo Dignidade
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Ainda em junho <strong>de</strong> 1994, o novo secretário <strong>de</strong> Segurança<br />
Pública, Rolf Koerner Junior, nomeia um <strong>de</strong>legado<br />
<strong>para</strong> investigar assassinatos não-resolvidos. Envia<br />
também um ofício <strong>de</strong> resposta <strong>para</strong> o <strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong>,<br />
que cobrava providências e soluções.<br />
Mas no início <strong>de</strong> 1995, um assassinato abalaria toda<br />
a comunida<strong>de</strong> LGBT <strong>de</strong> Curitiba e do Brasil. Durante<br />
o VIII Encontro Brasileiro <strong>de</strong> Lésbicas, Gays, Bissexuais<br />
e Transsexuais, na noite <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> janeiro, seria<br />
assassinada, após sair da se<strong>de</strong> do <strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong>, a<br />
vice-presi<strong>de</strong>nte do <strong>Grupo</strong> Esperança, Gisele Gagá. De<br />
acordo com os organizadores do evento, integrantes<br />
do Dignida<strong>de</strong>, foi um dos acontecimentos mais tristes<br />
da <strong>história</strong> do movimento.<br />
Gisele Gagá foi assassinada por um soldado da Polícia<br />
Militar, que queria fazer um programa sem pagar. O<br />
advogado Dálio Zappin, que atuou como assistente <strong>de</strong><br />
acusação do caso, conta que “Gisele não quis fazer <strong>de</strong><br />
graça. Ele imediatamente sacou <strong>de</strong> uma arma e <strong>de</strong>sferiu<br />
uma coronhada na cabeça da Gisele, que caiu <strong>de</strong> joelhos.<br />
Ele encostou a arma na boca <strong>de</strong>la e a matou ali<br />
mesmo, na Travessa Bufrem, esquina com a Riachuelo.<br />
Saiu correndo e foi preso umas quadras <strong>de</strong>pois”.<br />
O acusado foi con<strong>de</strong>nado a nove anos <strong>de</strong> prisão. E<br />
isso foi uma gran<strong>de</strong> conquista. Além <strong>de</strong> conseguirem<br />
que um militar fosse julgado pela justiça comum, foi<br />
o primeiro caso a ter uma solução, fruto também da<br />
ação do <strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong>. Houve muita resistência e<br />
preconceito da própria justiça. Dr. Dálio conta que o<br />
1998<br />
Morre João Antônio Mascarenhas, fundador<br />
do Movimento Homossexual Brasileiro.<br />
juiz era favorável aos militares e tinha um perfil completamente<br />
homofóbico. “Tiveram vários outros crimes.<br />
As autorida<strong>de</strong>s policiais têm muito preconceito. E acham<br />
que é direito matar os homossexuais. Na época da Gisele<br />
Gagá, os jornais fizeram divulgações preconceituosas e<br />
começou a acontecer muita violência. Tinha um ponto<br />
<strong>de</strong> prostituição na Praça do Atlético, e os travestis eram<br />
agredidos não apenas pelos clientes, mas também pela<br />
polícia”, esclarece o advogado.<br />
Todo o movimento em Curitiba se uniu. Eram feitas manifestações<br />
em frente ao Tribunal do Júri e o pai da Gisele<br />
acompanhou todo o julgamento. Vânia Galliciano<br />
lembra que um dia ele <strong>de</strong>clarou que não importava o<br />
que era seu filho, mas sim que se fizesse justiça: “<strong>de</strong>monstrou<br />
muita maturida<strong>de</strong> <strong>para</strong> conviver com aquela<br />
situação, sem preconceito. A gente vive em um país no<br />
qual lei só funciona no papel. Mas pro Movimento, ter a<br />
lei no papel já era um avanço. Pelo menos a gente po<strong>de</strong>ria<br />
ter ao que recorrer”, indigna-se.<br />
Em relação à Polícia, às Forças Armadas e ao próprio Judiciário<br />
há dificulda<strong>de</strong> <strong>para</strong> investigar a violência que<br />
atinge lésbicas, gays, travestis, transexuais e bissexuais<br />
e punir os criminosos. Pesquisas apontam <strong>para</strong> a persistência<br />
nessas instituições <strong>de</strong> concepções preconceituosas<br />
e equivocadas que <strong>de</strong>terminam um alto grau<br />
<strong>de</strong> impunida<strong>de</strong>, principalmente quando tratam <strong>de</strong> violência<br />
cometida contra travestis. Muitos policiais juízes<br />
ou promotores continuam a tratar a homossexualida<strong>de</strong><br />
/ bissexualida<strong>de</strong> como “doença”, “perversão sexual” ou<br />
“<strong>de</strong>generescência moral”.<br />
<strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong> | <strong>Uma</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong> Dignida<strong>de</strong>... | PARTE IV<br />
Na verda<strong>de</strong>, eu lembro até do vestidinho que ela<br />
estava no dia. A Gisele Gagá participou efetivamente<br />
da organização do Encontro. Esteve presente o<br />
dia inteiro no evento, que terminaria no dia seguinte.<br />
Estava todo mundo com aquele espírito <strong>de</strong> mudança<br />
e transformação. Eu me lembro <strong>de</strong> ter ido em<br />
casa e quando voltei o Toni me contou. Eu lembro<br />
que ele disse: ‘Não Vânia! Isso não vai ficar assim!<br />
Vai ter que ter uma solução!’. E a gente chorou junto<br />
aquele dia por causa disso.<br />
Vânia Galliciano lamenta ao <strong>de</strong>screver a morte<br />
da Gisele.<br />
1999<br />
Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Psicologia aprova Resolução<br />
proibindo que psicólogos participem <strong>de</strong> clínicas ou<br />
terapias <strong>para</strong> “curar” homossexuais.