Uma história de Dignidade - contribuindo para a - Grupo Dignidade
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08<br />
<strong>de</strong> umas tantas verda<strong>de</strong>s inconvenientes. Não <strong>de</strong>u<br />
outra – o Dignida<strong>de</strong> virou uma grife – uma grife social,<br />
mas ainda assim uma grife. Arrisca até a dona<br />
Mariazinha do Xaxim saber do que se trata.<br />
Claro – provavelmente os últimos 15 anos não foram<br />
nenhum mar <strong>de</strong> rosas. Em meio às recordações<br />
que todo jornalista curitibano tem sobre o Dignida<strong>de</strong>,<br />
lembro uma que traduz, e muito bem, a pedreira<br />
que <strong>de</strong>ve ter sido <strong>para</strong> o grupo vencer a resistência da<br />
cida<strong>de</strong>. E as caras e bocas dos que acharam episódios<br />
como o enlace <strong>de</strong> Toni Reis e David Ian Harrad o final<br />
dos tempos.<br />
No início dos anos 2000, sugeri a um grupo <strong>de</strong> alunos<br />
<strong>de</strong> Jornalismo fazer uma daquelas famosas inserções<br />
– um par <strong>de</strong> horas passados num único lugar, experiência<br />
que atrai <strong>de</strong> repórteres ainda em fraldas a veteranos<br />
cansados <strong>de</strong> guerra. Passaríamos um dia no<br />
Dignida<strong>de</strong>. No fundo, a intenção era repetir a dose<br />
da “nave espacial” vista na Tobias <strong>de</strong> Macedo, anos<br />
antes, em companhia <strong>de</strong> punks e trans. Por pouco<br />
não viramos uma Challenger em frangalhos.<br />
As moças da turma pareciam animadas teen li<strong>de</strong>rs.<br />
Mas, entre gran<strong>de</strong> parte dos rapazes, a proposta veio<br />
seguida <strong>de</strong> risinhos encabulados, <strong>de</strong> “vai você, vai<br />
você” e <strong>de</strong> “hê, pare!” <strong>para</strong> finalmente resultar no<br />
“não é preconceito, mas não queremos ir...” A pauta<br />
do Dignida<strong>de</strong> só não caiu graças às mulheres que<br />
dizem sim. O episódio, felizmente, envelheceu como<br />
um retrato. Há fatos melhores a recordar. Dia <strong>de</strong>sses,<br />
três universitários me mostraram orgulhosos o<br />
resultado <strong>de</strong> uma reportagem com Carla do Amaral<br />
e Samantha Wolkan, lí<strong>de</strong>res do Transgrupo Marcela<br />
Prado, outro filhote <strong>de</strong> Reis. Quem diria! Para mim,<br />
a mudança <strong>de</strong> mentalida<strong>de</strong> só confirma o que já<br />
se sabia nas redações: o <strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong> civilizou<br />
Curitiba.<br />
Claro – não se trata <strong>de</strong> ver a vida em cor-<strong>de</strong>-rosa.<br />
Para escrever esse texto, tive acesso a uma parte do<br />
acervo <strong>de</strong> matérias <strong>de</strong> jornal e <strong>de</strong> revistas colecionados<br />
pela turma da ONG. <strong>Uma</strong> seleção <strong>de</strong>sses textos<br />
bem po<strong>de</strong>ria chegar às redações e faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Jornalismo – como exemplos do holocausto que a<br />
imprensa po<strong>de</strong> promover em mal traçadas linhas. O<br />
preconceito velado da mídia ainda sobrevive, apesar<br />
da freqüência com que os meios <strong>de</strong> comunicação exploram<br />
relevantes temas como a homofobia, a violência,<br />
a educação sexual e aids, entre outros assuntos<br />
pautados por grupos como o Dignida<strong>de</strong>.<br />
<strong>Grupo</strong> Dignida<strong>de</strong> | <strong>Uma</strong> <strong>história</strong> <strong>de</strong> Dignida<strong>de</strong>...<br />
Ora são publicados estudos científicos capazes <strong>de</strong> provar<br />
que o cérebro dos homossexuais é diferente ou que<br />
o mapa genético <strong>de</strong>sse grupo é sui generis; ora ganham<br />
<strong>de</strong>staque informações pouco confiáveis sobre terapias<br />
<strong>de</strong> recuperação dos gays. Sem falar nas últimas do<br />
Vaticano. Nesses casos, quase sempre a abordagem é<br />
passiva, uma prova <strong>de</strong> que a nave espacial está cheia<br />
<strong>de</strong> gente – mas ainda não está pronta <strong>para</strong> partir. Vida<br />
longa ao Dignida<strong>de</strong>.<br />
José Carlos Fernan<strong>de</strong>s é jornalista da Gazeta do Povo e<br />
professor no curso <strong>de</strong> Jornalismo na Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />
Católica do Paraná (PUC-PR).