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o controle do mercado industrial de mesas para bilhar no sul do ...

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Universida<strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Londrina<br />

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS<br />

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS<br />

LÉIA APARECIDA VEIGA<br />

O Controle <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Industrial <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong><br />

Bilhar <strong>no</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil por<br />

Jaguapitã-PR<br />

LONDRINA-PR<br />

2008


LÉIA APARECIDA VEIGA<br />

O CONTROLE DO MERCADO INDUSTRIAL DE MESAS<br />

PARA BILHAR NO SUL DO BRASIL<br />

POR JAGUAPITÃ-PR<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong><br />

Geografia - Bacharela<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong><br />

ao Departamento <strong>de</strong> Geociências da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina.<br />

Orienta<strong>do</strong>ra: Profª. Drª. Tânia Maria<br />

Fresca<br />

LONDRINA<br />

2008<br />

i


LÉIA APARECIDA VEIGA<br />

O CONTROLE DO MERCADO INDUSTRIAL DE MESAS<br />

PARA BILHAR NO SUL DO BRASIL<br />

POR JAGUAPITÃ-PR<br />

Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso <strong>de</strong><br />

Geografia - Bacharela<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong><br />

ao Departamento <strong>de</strong> Geociências da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina.<br />

COMISSÃO EXAMINADORA<br />

_______________________________<br />

Drª. TÂNIA MARIA FRESCA<br />

Profª. Orienta<strong>do</strong>ra<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina<br />

_______________________________<br />

Drª. MÁRCIA SIQUEIRA DE CARVALHO<br />

Profª. Componente da Banca<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina<br />

Londrina, 01 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2008.<br />

_______________________________<br />

Dr. CLÁUDIO ROBERTO BRAGUETO<br />

Profº. Componente da Banca<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina<br />

ii


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço a minha orienta<strong>do</strong>ra Drª Tânia Maria Fresca não só pela constante<br />

orientação neste trabalho, mas sobretu<strong>do</strong> pela sua amiza<strong>de</strong>.<br />

Á prof. Drª Márcia Siqueira <strong>de</strong> Carvalho e Prof. Drº Claudio Roberto Bragueto,<br />

pelas valiosas contribuições enquanto membros da minha banca <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa.<br />

À secretaria <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Geociências, nas pessoas da Edna e Regina<br />

pelas vezes que me aten<strong>de</strong>ram e ajudaram a provi<strong>de</strong>nciar <strong>do</strong>cumentos ou<br />

esclarecer dúvidas burocráticas.<br />

À minha família e em especial ao meu irmão Daniel pelo apoio durante as<br />

entrevistas na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre-RS.<br />

À Dona “Zefa” e sua família, por terem me recebi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma carinhosa durante<br />

o perío<strong>do</strong> que permaneci na Gran<strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Aos industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, que atenciosamente me conce<strong>de</strong>ram as<br />

entrevistas e contribuíram com informações valiosas sobre o processo<br />

<strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>no</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Aos meus amigos e amigas, pessoas queridas sempre presentes em minha<br />

vida. Em especial a Andresa Lourenço da Silva, pela amiza<strong>de</strong> sincera!<br />

Ao Alan Alievi pelo apoio e carinho dispensa<strong>do</strong>s a mim durante a elaboração<br />

<strong>de</strong>sse trabalho.<br />

Enfim, a to<strong>do</strong>s que <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra contribuíram <strong>para</strong> a realização<br />

<strong>de</strong>sse trabalho.<br />

iii


LISTA DE MAPAS<br />

Mapa 01 Localização <strong>de</strong> algumas áreas com significativo número <strong>de</strong><br />

indústrias <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>.<br />

Mapa 02 Merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma micro-empresa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Mapa 03 Merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma micro-empresa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Mapa 04 Principais áreas que concentram o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r das<br />

indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Mapa 05 Em <strong>de</strong>staque algumas linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> locadas na<br />

Região Sul por uma micro-indústria <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2007.<br />

iv<br />

34<br />

44<br />

45<br />

46<br />

48


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 01 Localização <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. 2006 02<br />

v


LISTA DE TABELAS<br />

Tabela 01 Lucros Bruto e Líqui<strong>do</strong> Obti<strong>do</strong>s a Partir da Comercialização e<br />

da Locação <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong> Bilhar<br />

Tabela 02 Principais Áreas <strong>de</strong> Locação das Indústrias <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong><br />

Bilhar <strong>de</strong> Jaguapitã-PR em 2006<br />

vi<br />

41<br />

50


SUMÁRIO<br />

LISTA DE MAPAS.................................................................................... iv<br />

LISTA DE FIGURAS................................................................................. v<br />

LISTA DE TABELAS................................................................................ vi<br />

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 01<br />

2. A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE MESAS PARA BILHAR EM JAGUAPITÃ-<br />

PR................................................................................................................ 05<br />

2.1 A Gênese da Produção Industrial <strong>de</strong> Mesa <strong>para</strong> Bilhar em<br />

Jaguapitã-PR.................................................................................<br />

2.2 A Expansão <strong>do</strong> Número <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s Industriais <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong><br />

Bilhar..............................................................................................<br />

3. CARACTERÍSTICAS ATUAIS DO SETOR INDUSTRIAL DE MESAS PARA<br />

BILHAR M JAGUAPITÃ-PR...................................................................... 19<br />

3.1 Caracterização da Matéria-prima e<br />

Acessórios.....................................................................................<br />

3.2 Caracterização da Mão-De-Obra.................................................. 22<br />

3.3 Sistema Produtivo.........................................................................<br />

4. A DINÂMICA DE COMERCIALIZAÇÃO E O CONTROLE DO MERCADO<br />

POR JAGUAPITÃ-PR NO SUL DO BRASIL............................................... 33<br />

4.1 O Processo <strong>de</strong> Comercialização e Locação das Mesas <strong>para</strong><br />

Bilhar............................................................................................<br />

4.2 A Expansão das Linhas <strong>de</strong> Locação <strong>no</strong> Sul brasileiro: o caso <strong>do</strong><br />

Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul........................................................................<br />

4.3 O Controle <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Exerci<strong>do</strong> por Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Sul <strong>do</strong><br />

Brasil.............................................................................................<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 64<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 66<br />

05<br />

14<br />

19<br />

28<br />

35<br />

51<br />

56<br />

vii


1- INTRODUÇÃO<br />

A princípio, se faz necessário ressaltar que os capítulos iniciais<br />

<strong>de</strong>sse trabalho foram discuti<strong>do</strong>s anteriormente na dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong><br />

intitulada “Jaguapitã-PR: pequena cida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> urbana <strong>no</strong>rte-<strong>para</strong>naense<br />

especializada na produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>”. A continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

estu<strong>do</strong>s está relacionada ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ampliar o conhecimento acerca <strong>de</strong> um<br />

setor <strong>industrial</strong> que diferentemente <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, não comercializa o produto,<br />

mas que produz quase que exclusivamente <strong>para</strong> locação.<br />

Essa característica <strong>de</strong> locar as <strong>mesas</strong> em estabelecimentos<br />

comerciais, forman<strong>do</strong> as linhas ao invés <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r com a venda <strong>do</strong> produto,<br />

faz com que o <strong>industrial</strong> na perspectiva <strong>de</strong> maior obtenção <strong>de</strong> lucro, busque<br />

<strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> locação, levan<strong>do</strong>-o em muitos casos a ampliar o seu merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r e as interações espaciais com centros urba<strong>no</strong>s <strong>de</strong> diferentes<br />

Esta<strong>do</strong>s. Veiga (2007), verificou em seus estu<strong>do</strong>s que as áreas com linhas <strong>de</strong><br />

locação <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, englobava em 2006 esta<strong>do</strong>s das<br />

Regiões Norte, Centro-Oeste, Su<strong>de</strong>ste e Sul, sen<strong>do</strong> a maior concentração <strong>de</strong><br />

linhas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e naqueles que compõem o Sul <strong>do</strong><br />

Brasil.<br />

Nesse sentin<strong>do</strong>, partin<strong>do</strong> das análises realizadas por Veiga<br />

(2007) sobre o processo <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na pequena cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, objetiva-se com esse trabalho enten<strong>de</strong>r os elementos que<br />

possibilitaram a expansão das linhas <strong>de</strong> locação e o <strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r por parte <strong>de</strong>sses industriais na Região Sul, mais precisamente <strong>no</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Para tanto os procedimentos operacionais foram<br />

estabeleci<strong>do</strong>s através <strong>de</strong> fontes primárias, <strong>no</strong> caso, levantamentos <strong>de</strong> campo<br />

na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre em julho <strong>de</strong> 2008 e a partir <strong>de</strong> fontes<br />

secundárias.<br />

Localizada a cerca <strong>de</strong> 50 km <strong>de</strong> Londrina-PR senti<strong>do</strong> <strong>no</strong>roeste<br />

conforme figura 01, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR foi criada a partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1930, quan<strong>do</strong> agricultores oriun<strong>do</strong>s principalmente <strong>de</strong> São Paulo, se<br />

instalaram na porção <strong>de</strong> terras que engloba hoje o município por intermédio <strong>de</strong><br />

posses e passaram a se <strong>de</strong>dicar ao cultivo <strong>de</strong> gêneros alimentícios, além da<br />

criação <strong>de</strong> porcos. Dentre essas famílias duas <strong>de</strong>stacaram-se, a <strong>de</strong> Isalti<strong>no</strong>


Rodrigues e Antonio Pinto Corrêa, que ao chegarem a área, diferentes das<br />

<strong>de</strong>mais, optaram pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao<br />

comércio, dan<strong>do</strong> assim origem ao povoa<strong>do</strong> (VEIGA, 2007).<br />

Figura 01: Localização <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. 2006.<br />

Fonte: Veiga, 2007<br />

A autora <strong>no</strong>s chama a atenção <strong>para</strong> o caso <strong>de</strong> Isalti<strong>no</strong><br />

Rodrigues, que mesmo não possuin<strong>do</strong> ainda a proprieda<strong>de</strong> jurídica da terra, foi<br />

o responsável por fundar o primeiro estabelecimento comercial na área on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolveria mais tar<strong>de</strong> o núcleo urba<strong>no</strong>. Ressalta-se então, que a gênese<br />

<strong>de</strong>sse núcleo urba<strong>no</strong> está relacionada a iniciativa <strong>de</strong> Isalti<strong>no</strong> Rodrigues, que ao<br />

inaugurar um armazém <strong>de</strong> secos e molha<strong>do</strong>s tor<strong>no</strong>u-se o funda<strong>do</strong>r da cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

Essa cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1947 1 até o final <strong>de</strong> 1960, atendia todas as<br />

<strong>de</strong>mandas <strong>do</strong> campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a coleta pelos compra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> café e cereais, o<br />

1 A<strong>no</strong> que marca a elevação <strong>do</strong> distrito à condição <strong>de</strong> se<strong>de</strong> municipal na hierarquia<br />

administrativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> sob o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

2


eneficiamento pelos maquinistas, até a comercialização, transporte e<br />

prestação <strong>de</strong> serviços bancários, exercen<strong>do</strong> assim o <strong>controle</strong> sobre o campo.<br />

Embora Jaguapitã-PR não tenha <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao<br />

comércio atacadista <strong>de</strong> forma significativa e as ativida<strong>de</strong>s comerciais e<br />

presta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> serviços fossem pouco diversificadas qualitativa e<br />

quantitativamente, a mesma satisfazia as necessida<strong>de</strong>s imediatas <strong>de</strong> consumo<br />

<strong>de</strong> bens e serviços diários da sua população rural e urbana. Por conta <strong>de</strong>ssas<br />

ativida<strong>de</strong>s urbanas, as interações espaciais estabelecidas estavam<br />

circunscritas <strong>de</strong> maneira geral às capitais regionais da re<strong>de</strong> urbana, <strong>no</strong> caso<br />

Londrina e Maringá <strong>para</strong> comprar merca<strong>do</strong>rias <strong>no</strong> ataca<strong>do</strong> e satisfazer<br />

necessida<strong>de</strong>s mais complexas cujo núcleo urba<strong>no</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR não<br />

ofertava; às cida<strong>de</strong>s paulistas, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> a capital São Paulo e com o<br />

Porto <strong>de</strong> Paranaguá, <strong>para</strong> on<strong>de</strong> era escoada a produção cafeeira.<br />

A partir <strong>de</strong> 1970, em meio as transformações na agropecuária<br />

<strong>no</strong>rte-<strong>para</strong>naense, Jaguapitã-PR passou por uma série <strong>de</strong> mudanças seja <strong>no</strong><br />

campo -proprieda<strong>de</strong> da terra, produtos cultiva<strong>do</strong>s, uso da terra, relações sociais<br />

<strong>de</strong> trabalho e distribuição da população- seja na cida<strong>de</strong> - comércio e prestação<br />

<strong>de</strong> serviços-. Em meio a esse contexto <strong>de</strong> significativas alterações, teve início o<br />

processo <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na cida<strong>de</strong>. Setor esse que tinha<br />

concentra<strong>do</strong> apenas na área urbana 54 fábricas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, das<br />

quais 46 estavam em plena ativida<strong>de</strong> em 2006. Além <strong>de</strong> ser o segun<strong>do</strong> setor<br />

responsável pela geração <strong>de</strong> empregos <strong>no</strong> município, tem contribuí<strong>do</strong> <strong>para</strong> a<br />

dinamização da eco<strong>no</strong>mia local movimentan<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> o lucro das <strong>mesas</strong><br />

locadas nas mais diferentes cida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

Estruturamos o trabalho <strong>de</strong> maneira a discutir <strong>no</strong> primeiro<br />

capítulo aspectos referentes à gênese da produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> e à expansão <strong>do</strong> número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais a partir <strong>de</strong> 1970. Assim<br />

foi feita uma caracterização da matéria-prima, mão-<strong>de</strong>-obra e <strong>do</strong> sistema<br />

produtivo.<br />

Na seqüência abor<strong>do</strong>u-se o processo <strong>de</strong> comercialização e<br />

locação das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, com enfoque <strong>para</strong> a locação por ser essa a<br />

sistemática pre<strong>do</strong>minante tanto entre os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR como<br />

entre os <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. Nesse capítulo, embasa<strong>do</strong>s <strong>no</strong> conceito <strong>de</strong><br />

3


mais-valia elabora<strong>do</strong> por Marx (1985) e na idéia <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação discutida por<br />

Schumpeter (1982, 1984), buscou-se a compreensão <strong>do</strong>s elementos que<br />

possibilitam o <strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Sul por parte <strong>do</strong> jaguapitaenses.<br />

4


2- A PRODUÇÃO INDUSTRIAL DE MESAS PARA BILHAR EM<br />

JAGUAPITÃ-PR<br />

Em linhas gerais o setor <strong>industrial</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR,<br />

segun<strong>do</strong> Veiga (2007), <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1985-2004, apresentou<br />

um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>industrial</strong> relativamente fraco, embora a quantida<strong>de</strong> total<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais e <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uma forma geral, tenha ti<strong>do</strong><br />

acréscimos <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s, principalmente <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2004, quan<strong>do</strong><br />

existiam 71 estabelecimentos industriais que empregavam 523 trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Uma evidência <strong>de</strong> que o processo <strong>industrial</strong> embora <strong>de</strong> forma discreta, tenha<br />

si<strong>do</strong> amplia<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> cita<strong>do</strong>.<br />

No entanto, chamamos a atenção <strong>para</strong> o setor <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong>, que após 1970, mediante a ação <strong>de</strong> agentes sociais locais, passou a<br />

concentrar um número significativo <strong>de</strong> indústrias, ao ponto <strong>de</strong> tornar Jaguapitã-<br />

PR o centro urba<strong>no</strong> brasileiro com o maior número <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong>sse ramo,<br />

segun<strong>do</strong> Veiga (2007).<br />

No presente capítulo será discuti<strong>do</strong> inicialmente a gênese da<br />

produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, segui<strong>do</strong> da expansão, caracterização<br />

da matéria-prima e da mão-<strong>de</strong>-obra, bem como aspetos referentes ao sistema<br />

produtivo <strong>de</strong>sse setor <strong>industrial</strong>.<br />

2.1- A Gênese da Produção Industrial <strong>de</strong> Mesa <strong>para</strong> Bilhar em<br />

Jaguapitã-PR<br />

De acor<strong>do</strong> com estu<strong>do</strong>s já realiza<strong>do</strong>s por Veiga (2007), a<br />

produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> ocorreu a partir da iniciativa <strong>de</strong> Levi<br />

Vieira e Nestor Ananias Cruz, agentes sociais locais <strong>de</strong> origem urbana que<br />

trabalhavam como representantes comerciais <strong>de</strong> artigos <strong>para</strong> vestuário <strong>no</strong><br />

Norte <strong>do</strong> Paraná, e resolveram em 1967, ainda <strong>de</strong> forma mo<strong>de</strong>sta, iniciar a<br />

produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>no</strong> município. Tal iniciativa surgiu<br />

após um proprietário <strong>de</strong> estabelecimento comercial (bar) <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

5


<strong>no</strong>rte-<strong>para</strong>naense ter solicita<strong>do</strong> a Levi e Nestor que trouxessem <strong>de</strong> Ponta<br />

Grossa-PR 2 uma mesa <strong>para</strong> pebolim, e assim que a merca<strong>do</strong>ria fora entregue,<br />

os <strong>do</strong>is amigos perceberam que era uma ativida<strong>de</strong> lucrativa, inician<strong>do</strong> a partir<br />

<strong>de</strong> então a produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> pebolim. Veiga (2007) chama atenção<br />

<strong>para</strong> o fato <strong>de</strong>ssa primeira unida<strong>de</strong> fabril ter si<strong>do</strong> criada <strong>no</strong> final <strong>de</strong> década <strong>de</strong><br />

1960, num perío<strong>do</strong> em que a eco<strong>no</strong>mia brasileira passava por uma fase <strong>de</strong><br />

expansão em seu <strong>de</strong>senvolvimento econômico, época essa que ficou<br />

conhecida como “milagre brasileiro” -1968-1973.<br />

Com a produção das primeiras <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> pebolim, Levi e<br />

Nestor resolveram também fabricar <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, ao perceberem que <strong>no</strong>s<br />

bares os fregueses preferiam esse jogo ao <strong>de</strong> pebolim, que geralmente era<br />

mais joga<strong>do</strong> por crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Então os funcionários 3 responsáveis<br />

pela produção a partir <strong>de</strong> uma mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> adquirida pelos proprietários da<br />

Cruz & Vieira, <strong>de</strong>smontaram e produziram na seqüência as peças parte a parte<br />

<strong>para</strong> a reprodução <strong>de</strong> outras <strong>mesas</strong>, dan<strong>do</strong> assim início à produção <strong>industrial</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Como a preferência pelas <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>no</strong>s<br />

estabelecimentos comerciais era maior, as <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> pebolim ficaram em<br />

segun<strong>do</strong> pla<strong>no</strong> 4 , segun<strong>do</strong> Veiga (2007).<br />

A partir <strong>de</strong> capital oriun<strong>do</strong> <strong>de</strong> financiamento bancário e rendas<br />

pessoais <strong>de</strong> seus salários, os sócios compraram uma camionete, a matéria-<br />

prima (ma<strong>de</strong>ira, teci<strong>do</strong>, bolas, etc.) e um barracão on<strong>de</strong> eram fabricadas<br />

carroças, inician<strong>do</strong> a produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> pebolim, e na seqüência <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Nos primeiros a<strong>no</strong>s os sócios enfrentaram muita dificulda<strong>de</strong> em<br />

relação à obtenção da matéria-prima (taco, teci<strong>do</strong>, bola, <strong>para</strong>fuso), que só era<br />

encontrada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo-SP. Em virtu<strong>de</strong> disso, se <strong>de</strong>slocavam duas<br />

vezes por mês <strong>para</strong> comprarem tais produtos, (VEIGA, 2007).<br />

2Até o final da década <strong>de</strong> 1960, não eram produzidas <strong>no</strong> Norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> o<br />

pebolim e nem <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>.<br />

3A indústria Cruz & Vieira possuía três marceneiros <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> instalação, sen<strong>do</strong><br />

um <strong>de</strong>les Carlos Cruz, irmão <strong>de</strong> Nestor Ananias Cruz.<br />

4 Até 2006, embora em escala reduzida, praticamente todas as indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

ainda produziam <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> o jogo <strong>de</strong> pebolim. Segun<strong>do</strong> eles, é uma forma <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r o <strong>do</strong><strong>no</strong><br />

<strong>do</strong> estabelecimento quan<strong>do</strong> este também <strong>de</strong>seja ter uma mesa <strong>para</strong> pebolim. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

local on<strong>de</strong> a concorrência é gran<strong>de</strong>, se o <strong>industrial</strong> não tem a mesa <strong>para</strong> pebolim, o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong><br />

estabelecimento procura outro que possua as duas <strong>mesas</strong>.<br />

6


Inicialmente, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Veiga (2007), <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à pequena<br />

produção <strong>industrial</strong>, a locação 5 das <strong>mesas</strong> era feita apenas em bares <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>s na região <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Paraná como Jacarezinho, Venceslau Braz,<br />

entre outras. Somente em 1973 e 1974 conseguiram expandir a locação <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, incluso a capital, em<br />

função <strong>de</strong> contatos estabeleci<strong>do</strong>s durante as viagens <strong>para</strong> comprarem matéria-<br />

prima. Com isso, após 1975, a margem <strong>de</strong> lucros passou a ser maior, fator que<br />

possibilitou o aumento da produção e conseqüente ampliação da locação <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> São Paulo, além <strong>de</strong> propiciar <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

seguintes a expansão <strong>para</strong> outras áreas como em cida<strong>de</strong>s litorâneas <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina e na região metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre-RS.<br />

Esse crescimento da produção e das áreas <strong>de</strong> locação<br />

<strong>de</strong>man<strong>do</strong>u primeiramente a contratação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra principalmente <strong>para</strong><br />

fazer a linha 6 , pois apenas os <strong>do</strong>is proprietários não conseguiam realizar to<strong>do</strong> o<br />

serviço. Na seqüência houve a ampliação das instalações físicas da indústria,<br />

em função da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço <strong>para</strong> os equipamentos adquiri<strong>do</strong>s, <strong>para</strong> a<br />

matéria-prima e <strong>mesas</strong> que estavam sen<strong>do</strong> produzidas agora numa quantida<strong>de</strong><br />

maior que na década anterior. Assim, ocorreu a transferência da indústria da<br />

Avenida São Paulo <strong>para</strong> as atuais instalações na Avenida Paraná, na área<br />

central da cida<strong>de</strong>, (VEIGA, 2007).<br />

A segunda unida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> foi criada<br />

ainda <strong>no</strong> final da década <strong>de</strong> 1960, por iniciativa <strong>do</strong> pai <strong>de</strong> José Antônio Zago.<br />

Essa família <strong>de</strong> origem urbana e com experiência na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcenaria -<br />

carroças e móveis - migrou <strong>de</strong> Iepê-SP em 1950 <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Lupionópolis-PR, on<strong>de</strong> montou outra marcenaria e continuou produzin<strong>do</strong><br />

carroças, carrocerias <strong>para</strong> caminhões e móveis como <strong>mesas</strong>, ca<strong>de</strong>iras,<br />

armários, entre outros, <strong>para</strong> serem vendi<strong>do</strong>s na região. Em 1966, a família<br />

5 Na indústria <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> após a fabricação, os industriais não ven<strong>de</strong>m o produto, eles<br />

fazem um acor<strong>do</strong> comercial, ten<strong>do</strong> como base um percentual estipula<strong>do</strong> <strong>no</strong> acor<strong>do</strong> entre o<br />

<strong>industrial</strong> e o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento comercial. Esse percentual é sobre o total <strong>de</strong> dinheiro<br />

arrecada<strong>do</strong> pela venda das fichas em cada mesa num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> quinze a vinte dias <strong>de</strong> cada<br />

mês.<br />

6 Fazer a linha é uma expressão que <strong>de</strong>signa o <strong>de</strong>slocamento periódico <strong>de</strong> funcionários <strong>de</strong> uma<br />

indústria <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> a diferentes cida<strong>de</strong>s a fim <strong>de</strong> realizarem as seguintes tarefas:<br />

receber o lucro <strong>de</strong> cada mesa a partir da venda das fichas, fazer a manutenção das<br />

danificadas; locar mais <strong>mesas</strong> em outros bares e quan<strong>do</strong> necessário retirar <strong>mesas</strong> <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos cujos proprietários não <strong>de</strong>sejam mais.<br />

7


mu<strong>do</strong>u-se <strong>para</strong> Jaguapitã-PR e com o dinheiro obti<strong>do</strong> com a venda da<br />

marcenaria anterior, montou outro estabelecimento <strong>para</strong> continuar <strong>no</strong> mesmo<br />

ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> (VEIGA, 2007).<br />

Contu<strong>do</strong>, como em 1969, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), a produção <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> estava <strong>de</strong>spontan<strong>do</strong> como ativida<strong>de</strong> lucrativa na cida<strong>de</strong>, a<br />

família Zago que já tinha sua própria marcenaria resolveu diversificar a<br />

produção e começou a fabricar <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Para tanto não precisou<br />

dispor <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos investimentos, pois as máquinas que eram utilizadas na<br />

produção <strong>de</strong> carroças e móveis foram facilmente adaptadas <strong>para</strong> a fabricação<br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Tão pouco a família precisou adquirir camionetes <strong>para</strong> o<br />

transporte <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> locação, pelo fato <strong>de</strong> restringir-se apenas à produção<br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> num primeiro momento. Portanto esse <strong>industrial</strong> passou a fabricar as<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e ven<strong>de</strong>r as mesmas <strong>para</strong> pessoas que estavam começan<strong>do</strong><br />

a montar apenas as linhas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Mato Grosso e Goiás,<br />

além <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Somente em abril <strong>de</strong> 1987 a família Zago investiu na<br />

locação <strong>de</strong> suas próprias <strong>mesas</strong>, passan<strong>do</strong> a estabelecer linhas em várias<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Paraná e <strong>do</strong> Mato Grosso.<br />

A partir da década <strong>de</strong> 1970, ocorreu uma outra forma <strong>de</strong><br />

expansão da ativida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> em Jaguapitã-PR. Várias pessoas com poucos<br />

recursos, ingressaram <strong>no</strong> ramo pela locação das <strong>mesas</strong>. Essas pessoas, por<br />

caminhos diversos, estabeleceram linhas em diferentes Esta<strong>do</strong>s brasileiros<br />

on<strong>de</strong> locavam as <strong>mesas</strong>. Para a obtenção das mesmas, eles compravam toda<br />

a matéria-prima e pagavam pela mão-<strong>de</strong>-obra <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminada indústria. É o<br />

caso da indústria da família Zago, a Bilhar Zago<strong>mesas</strong>, que durante muito<br />

tempo apenas se <strong>de</strong>dicou à produção das <strong>mesas</strong>, ven<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-as <strong>para</strong> outros<br />

que estabeleceram linhas. Muitas pessoas que tinham a linha, a partir <strong>de</strong> certo<br />

acúmulo <strong>de</strong> dinheiro construíram a unida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong>. Dentre essas pessoas,<br />

Veiga (2007), <strong>de</strong>stacou em seu trabalho o senhor Antônio Domingues Neto, <strong>de</strong><br />

origem rural que chegou ao município em 1943 ainda recém-nasci<strong>do</strong> junto com<br />

seus pais, oriun<strong>do</strong>s da área rural <strong>do</strong> município <strong>de</strong> Aria<strong>do</strong>, <strong>sul</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

O objetivo <strong>do</strong> <strong>de</strong>slocamento era cultivar café <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte <strong>do</strong> Paraná e, <strong>para</strong> tanto<br />

adquiriram uma proprieda<strong>de</strong> rural <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze alqueires paulista <strong>de</strong> terras em<br />

Jaguapitã-PR.<br />

8


Nessa proprieda<strong>de</strong> o café era o produto principal em termos<br />

econômicos, mas também eram cultiva<strong>do</strong>s outros gêneros alimentícios como<br />

arroz, milho e feijão. Mas <strong>no</strong> início, durante a formação <strong>do</strong> cafezal, perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

quatro a cinco a<strong>no</strong>s naquela época, a renda familiar era complementada com<br />

trabalho <strong>de</strong> fretes com carros <strong>de</strong> boi na área rural e urbana. Em 1965, diante <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sejo das filhas estudarem, os pais resolveram morar na cida<strong>de</strong>, mas não se<br />

<strong>de</strong>sfizeram da proprieda<strong>de</strong> e continuaram trabalhan<strong>do</strong> na agricultura, (VEIGA,<br />

2007).<br />

Por volta <strong>de</strong> 1971, Antônio Domingues Neto, foi convida<strong>do</strong> por<br />

um amigo <strong>para</strong> ser ajudante em uma linha <strong>para</strong> o Triângulo Mineiro 7 , e a partir<br />

<strong>de</strong>sse convite não <strong>de</strong>ixou mais <strong>de</strong> viajar. Essa linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> era<br />

<strong>de</strong> Laércio Soares com um sócio, e como eles não tinham a indústria, pagavam<br />

<strong>para</strong> outra indústria fabricar as <strong>mesas</strong>. Essa linha em Minas Gerais tinha em<br />

tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 150 <strong>mesas</strong> locadas em várias casas comerciais como bares,<br />

mercearias, salão <strong>de</strong> barbearia, salões <strong>de</strong> jogos, etc (VEIGA, 2007).<br />

Em 1972, Antônio Domingues Neto <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser ajudante<br />

<strong>para</strong> ser o responsável pela linha, contratan<strong>do</strong> outra pessoa <strong>para</strong> o auxiliar.<br />

Isso ocorreu porque a socieda<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>sfeita e seu Laércio Soares comprou a<br />

parte <strong>do</strong> sócio - este iria abrir outra linha em Governa<strong>do</strong>r Valadares-MG. E<br />

assim Antônio Domingues Neto ficou trabalhan<strong>do</strong> como emprega<strong>do</strong> até 1982,<br />

momento em que Laércio Soares passou a <strong>de</strong>dicar-se mais as suas lojas <strong>de</strong><br />

teci<strong>do</strong>s em Maringá, <strong>de</strong><strong>no</strong>minadas Casas Milanezas. Então o mesmo arren<strong>do</strong>u<br />

sua linha <strong>para</strong> o funcionário, estipulan<strong>do</strong> um preço simbólico. Nos <strong>do</strong>is a<strong>no</strong>s<br />

seguintes Antônio Domingues Neto investiu na linha, melhoran<strong>do</strong> o rendimento<br />

da mesma, ou seja, parte <strong>do</strong> dinheiro obti<strong>do</strong> com as <strong>mesas</strong> já locadas foi<br />

aplica<strong>do</strong> na aquisição <strong>de</strong> mais <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, amplian<strong>do</strong> assim o número<br />

<strong>de</strong> locação na sua linha, (VEIGA, 2007).<br />

Em 1984, Laércio Soares passou a se <strong>de</strong>dicar apenas à sua<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> lojas <strong>de</strong> teci<strong>do</strong>s e ven<strong>de</strong>u a linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e o veículo <strong>para</strong><br />

Antônio Domingues Neto, com pagamento parcela<strong>do</strong> mensalmente, com a<br />

renda obtida nas <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e sem juros. Essas condições <strong>de</strong><br />

pagamento facilitaram-lhe o início como proprietário da linha, quitan<strong>do</strong> as<br />

7 Antônio Domingues Neto já tinha um pouco <strong>de</strong> experiência como ajudante, pois em 1969 e<br />

1970 havia feito algumas viagens na linha <strong>de</strong> Heitor Cruz, irmão <strong>de</strong> Nestor A. Cruz, sócioproprietário<br />

da indústria precursora em <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR.<br />

9


dívidas referentes à linha e a camionete num perío<strong>do</strong> relativamente curto,<br />

(VEIGA, 2007).<br />

O bom retor<strong>no</strong> da ativida<strong>de</strong> levou Antônio Domingues Neto a<br />

instalar sua indústria em 1985. De início era um peque<strong>no</strong> barracão com<br />

algumas máquinas <strong>para</strong> marcenaria, que empregava apenas uma pessoa, o<br />

marceneiro, que também viajava junto com o proprietário. Foi a partir da<br />

instalação <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> que ele ampliou a margem <strong>de</strong> lucro, pois além <strong>de</strong> não<br />

ter mais que pagar outro <strong>industrial</strong> <strong>para</strong> fazer suas <strong>mesas</strong>, passou a fabricar<br />

também <strong>para</strong> outras pessoas que estavam inician<strong>do</strong> ativida<strong>de</strong>s nesse ramo.<br />

Com a expansão da produção houve a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar a <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-<br />

obra, re<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong> na contratação <strong>de</strong> outro marceneiro e mais funcionários <strong>para</strong><br />

viajarem em 1989, segun<strong>do</strong> Veiga (2007).<br />

No <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1980, outras famílias que residiam<br />

na cida<strong>de</strong> e tinham proprieda<strong>de</strong> rural em Jaguapitã-PR também investiram na<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> da <strong>bilhar</strong>, entre elas a família Ceccatto, que segun<strong>do</strong> Veiga<br />

(2007), chegou à cida<strong>de</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1950, quan<strong>do</strong> o senhor Antônio Ceccatto<br />

que trabalhava na área rural <strong>de</strong> Campo Largo-PR resolveu ainda solteiro,<br />

migrar <strong>para</strong> Jaguapitã-PR se instalan<strong>do</strong> na fazenda <strong>de</strong> um conheci<strong>do</strong> da família<br />

<strong>para</strong> trabalhar como assalaria<strong>do</strong> na realização <strong>de</strong> serviços gerais.<br />

Seu Antônio Ceccatto, que <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> tempo casou-se e<br />

teve quatro filhos, permaneceu na fazenda <strong>de</strong> João Antônio Prosdócimo por<br />

volta <strong>de</strong> 24 a<strong>no</strong>s e oito meses. Mediante seu trabalho, acumulou eco<strong>no</strong>mias,<br />

que somadas a empréstimos (sem juros) feitos por seu patrão, propiciaram a<br />

compra da primeira proprieda<strong>de</strong> rural da família <strong>no</strong> município, cerca <strong>de</strong> 20<br />

hectares, (VEIGA, 2007).<br />

A partir <strong>de</strong> 1974, a família passou a trabalhar em sua<br />

proprieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> além da cafeicultura, criavam ga<strong>do</strong> leiteiro. Os seus filhos<br />

ajudavam <strong>no</strong>s trabalhos da proprieda<strong>de</strong>, além <strong>de</strong> fazerem fretes (transporte <strong>de</strong><br />

bois <strong>para</strong> o frigorífico) com um caminhão que a família havia compra<strong>do</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong><br />

anterior. Em 1975, em busca <strong>de</strong> serviços básicos como a energia elétrica, a<br />

família transferiu-se <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong> e os irmãos continuaram com as ativida<strong>de</strong>s<br />

na proprieda<strong>de</strong> rural, (VEIGA, 2007).<br />

Na primeira meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1980, um <strong>do</strong>s quatro filhos<br />

<strong>do</strong> Sr. Ceccatto percebeu que os <strong>do</strong><strong>no</strong>s das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

10


estavam obten<strong>do</strong> bons lucros com a locação, então <strong>de</strong>cidiu entrar nesse ramo<br />

e convenceu o pai e os <strong>de</strong>mais irmãos a investirem nessa ativida<strong>de</strong>. De início<br />

começaram apenas com a locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> que eram produzidas pela fábrica<br />

<strong>do</strong> José Zago, ou seja, eles compravam em diferentes lugares toda a matéria-<br />

prima necessária <strong>para</strong> a fabricação da mesa como a ma<strong>de</strong>ira em Cascavel-PR,<br />

as bolas, o teci<strong>do</strong> e o taco em São Paulo-SP, a caçapa <strong>de</strong> alumínio <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Minas Gerais e o prego, <strong>para</strong>fuso, cola, <strong>de</strong>ntre outros, em Londrina-PR e<br />

pagavam <strong>para</strong> essa indústria fabricar as <strong>mesas</strong>. Os recursos utiliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a<br />

aquisição da matéria-prima, a compra das camionetes e pagamento da mão-<br />

<strong>de</strong>-obra utilizada na fabricação das <strong>mesas</strong> foram obti<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s fretes<br />

realiza<strong>do</strong>s com o caminhão e da renda gerada pelas ativida<strong>de</strong>s praticadas <strong>no</strong><br />

sítio, (VEIGA, 2007).<br />

Em 1982, em função <strong>de</strong> possuírem pouco capital disponível,<br />

produziram cerca <strong>de</strong> 20 <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> que foram locadas em<br />

estabelecimentos comerciais em Campo Largo-PR e cida<strong>de</strong>s próximas, on<strong>de</strong><br />

montaram seu primeiro <strong>de</strong>pósito 8 . No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s, com o lucro obti<strong>do</strong> a<br />

partir da locação <strong>de</strong>ssas primeiras <strong>mesas</strong>, a família investiu na linha e adquiriu<br />

mais <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> serem locadas nessa mesma área, atingin<strong>do</strong> um total <strong>de</strong> 100<br />

unida<strong>de</strong>s. A partir <strong>de</strong> então a família dividiu as tarefas: <strong>do</strong>is irmãos ficaram<br />

responsáveis pelo trabalho <strong>de</strong> cobrança e manutenção das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e<br />

os outros <strong>do</strong>is, juntamente com o pai, realizavam o trabalho <strong>no</strong> sítio e os fretes<br />

com o caminhão. Ressalta-se que o lucro obti<strong>do</strong> com a locação <strong>de</strong>ssas <strong>mesas</strong><br />

era reverti<strong>do</strong> <strong>para</strong> a manutenção das <strong>mesas</strong>, das camionetes e pagamento da<br />

mão-<strong>de</strong>-obra e matéria-prima utilizada na fabricação das mesmas, (VEIGA,<br />

2007).<br />

De acor<strong>do</strong> com Veiga (2007), os irmãos Ceccatto <strong>no</strong> final da<br />

década <strong>de</strong> 1980, ao instalarem a fábrica <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, não receberam<br />

nenhum tipo <strong>de</strong> apoio da prefeitura. Para tanto utilizaram recursos próprios<br />

oriun<strong>do</strong>s das ativida<strong>de</strong>s realizadas <strong>no</strong> sítio, eco<strong>no</strong>mias <strong>do</strong>s fretes até então<br />

realiza<strong>do</strong>s e dinheiro obti<strong>do</strong> com a venda <strong>do</strong> próprio caminhão <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong><br />

instalação da unida<strong>de</strong> fabril, em 1987. Com a instalação da indústria eles<br />

8 Lugar on<strong>de</strong> os irmãos Ceccatto, responsáveis pelas ativida<strong>de</strong>s da linha, permaneciam <strong>de</strong><br />

quinze a vinte dias <strong>para</strong> o recebimento <strong>do</strong> dinheiro e reformas das <strong>mesas</strong> locadas <strong>no</strong>s<br />

estabelecimentos comerciais das cida<strong>de</strong>s da região <strong>de</strong> Campo Largo-PR.<br />

11


conseguiram <strong>de</strong> início, além da região <strong>de</strong> Campo Largo-PR, expandir a locação<br />

<strong>de</strong> suas <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> a região Sul <strong>do</strong> Paraná, atingin<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s, a<br />

região metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre-RS, além das áreas litorâneas <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina.<br />

Veiga (2007) ao analisar os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s <strong>no</strong>s levantamentos<br />

<strong>de</strong> campo, verificou que <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1970 poucas fábricas foram<br />

instaladas em Jaguapitã-PR. Essa ativida<strong>de</strong> tomou impulso maior na cida<strong>de</strong><br />

nas décadas seguintes, quan<strong>do</strong> a eco<strong>no</strong>mia mundial e brasileira entrou na fase<br />

recessiva <strong>do</strong> quarto ciclo longo (4º Kondratieff) inicia<strong>do</strong> em 1973, com a crise<br />

<strong>do</strong> petróleo (RANGEL, 1986), sempre relacionada às iniciativas <strong>de</strong> agentes<br />

sociais locais. Essas iniciativas e investimentos locais, segun<strong>do</strong> Fresca (2004),<br />

implicam em transferência <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s urbanas e rurais em direção<br />

à instalação <strong>de</strong> indústrias.<br />

No <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1970/1980, vários estabelecimentos<br />

comerciais como os bares foram instala<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong> com o objetivo <strong>de</strong> terem<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> locadas. Assim, as unida<strong>de</strong>s fabris começaram a se<br />

<strong>de</strong>senvolver, tornan<strong>do</strong>-se uma alternativa <strong>para</strong> muitos agricultores que se<br />

<strong>de</strong><strong>para</strong>vam com problemas nessa ativida<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que a partir <strong>do</strong> final<br />

da década <strong>de</strong> 1970 e início <strong>de</strong> 1980 que as transformações na agropecuária se<br />

concretizaram em Jaguapitã-PR, via mecanização da lavoura, (VEIGA, 2007).<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> ampliação das áreas ocupadas pelas<br />

culturas da soja, <strong>do</strong> trigo e <strong>do</strong> algodão e <strong>de</strong> redução da área <strong>de</strong>stinada a<br />

cafeicultura, acresci<strong>do</strong> <strong>de</strong> mudanças nas relações sociais <strong>de</strong> trabalho <strong>no</strong><br />

campo, on<strong>de</strong> o porcenteiro e colo<strong>no</strong> foram substituí<strong>do</strong>s paulatinamente pelo<br />

trabalha<strong>do</strong>r assalaria<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), agricultores resolveram ou<br />

foram obriga<strong>do</strong>s a migrarem <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong> e passaram a investir a renda<br />

acumulada nas ativida<strong>de</strong>s agrícolas - com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> a cafeicultura - nas<br />

indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> que já <strong>de</strong>spontavam como empreendimento<br />

lucrativo, conservan<strong>do</strong> a proprieda<strong>de</strong> rural como um complemento da renda,<br />

mediante a criação <strong>de</strong> ga<strong>do</strong> bovi<strong>no</strong> ou culturas mecanizadas. Cerca <strong>de</strong> 60%<br />

<strong>do</strong>s atuais proprietários <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> tiveram origem rural<br />

e apenas 40% se <strong>de</strong>dicavam às ativida<strong>de</strong>s urbanas, anterior à produção<br />

<strong>industrial</strong>.<br />

12


A análise da origem da produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR realizada por Veiga (2007), lhe permitiu afirmar que a<br />

primeira indústria instalada por Levi Vieira e Nestor Ananias da Cruz foi<br />

precursora, pelo fato que a partir <strong>de</strong>sta fábrica outras foram instaladas<br />

mediante a formação e posterior dissolução <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> seguida <strong>de</strong> criação<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>va empresa pelo ex-sócio, ou por experiência adquirida pelos funcionários<br />

que <strong>de</strong>pois iniciaram ativida<strong>de</strong>s industriais próprias (FRESCA, 2005).<br />

Outro elemento importante assinala<strong>do</strong> por Veiga (2007), diz<br />

respeito à ampliação <strong>do</strong> número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s fabris <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em<br />

Jaguapitã-PR, que ocorreu justamente numa fase recessiva mundial e<br />

agravada <strong>no</strong> Brasil a partir <strong>de</strong> 1980, conhecida como “década perdida” em<br />

função da perda <strong>do</strong> ritmo <strong>de</strong> crescimento com<strong>para</strong>tivo ao perío<strong>do</strong> anterior, com<br />

<strong>de</strong>staque <strong>para</strong> a redução da produção <strong>industrial</strong> e os altos índices inflacionários<br />

(RANGEL, 1986). Essa etapa recessiva levou agentes sociais locais a<br />

buscarem e implantarem medidas e soluções que naquele momento pu<strong>de</strong>ssem<br />

fazer frente à perda <strong>de</strong> ritmo <strong>do</strong> crescimento econômico (FRESCA, 2004a).<br />

Noutras palavras, partin<strong>do</strong> das proposições <strong>de</strong> Cheptulin<br />

(1982), enten<strong>de</strong>mos que as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realização criadas a partir da<br />

incidência <strong>de</strong> processos gerais, concretizaram-se mediante a combinação <strong>do</strong><br />

necessário com o contingente. Ou seja, a realização <strong>do</strong> processo <strong>industrial</strong><br />

enquanto uma das possibilida<strong>de</strong>s emanadas <strong>do</strong> to<strong>do</strong> <strong>no</strong> referi<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, só<br />

ocorreu em Jaguapitã-PR a partir da existência correlacionada <strong>de</strong> aspectos<br />

inter<strong>no</strong>s (o necessário) com circunstâncias ou variáveis externas (o<br />

contingente).<br />

Veiga (2007), <strong>de</strong>staca as iniciativas locais <strong>do</strong>s peque<strong>no</strong>s<br />

proprietários rurais, comerciantes ou <strong>do</strong>s ex-funcionários com técnicas e<br />

habilida<strong>de</strong>s, por serem estes os responsáveis <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr das décadas <strong>de</strong><br />

1970-2000 pela implantação e consolidação <strong>do</strong> setor produtivo <strong>industrial</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR, que contava com 46 unida<strong>de</strong>s fabris<br />

ativas em 2006, ocupan<strong>do</strong> <strong>no</strong> cenário nacional o patamar <strong>de</strong> município com<br />

maior número <strong>de</strong> fábricas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Segun<strong>do</strong> a autora, a<br />

consolidação <strong>de</strong>sse setor <strong>industrial</strong> inseriu essa pequena cida<strong>de</strong> numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

relações diversas com outros núcleos urba<strong>no</strong>s numa escala nacional, seja<br />

através da obtenção <strong>de</strong> matéria-prima ou através da locação das <strong>mesas</strong>.<br />

13


2.2- A Expansão <strong>do</strong> Número <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s Industriais <strong>de</strong> Mesas<br />

<strong>para</strong> Bilhar<br />

A criação da indústria Cruz & Vieira <strong>no</strong> final <strong>de</strong> década <strong>de</strong> 1960<br />

e o sucesso alcança<strong>do</strong> pela mesma <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguintes, re<strong>sul</strong>tou na instalação<br />

<strong>de</strong> outras indústria <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Ou seja, a<br />

ampliação das áreas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr da década <strong>de</strong> 1970 pela indústria<br />

precursora e a visível lucrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is sócios, <strong>de</strong>spertou o interesse<br />

<strong>de</strong> outras pessoas <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr das décadas seguintes. A ação <strong>de</strong>sses agentes<br />

sociais re<strong>sul</strong>tou na ampliação <strong>do</strong> número <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

nessa pequena cida<strong>de</strong>, principalmente a partir da década <strong>de</strong> 1980.<br />

A partir <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por Veiga (2007), foi possível<br />

caracterizar os agentes sociais que <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> profundas transformações<br />

na agropecuária municipal, passaram a investir nessa ativida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong>.<br />

Levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração a ativida<strong>de</strong> anterior <strong>de</strong>senvolvida pelos mesmos, a<br />

autora agrupou tais agentes em quatro grupos distintos, sen<strong>do</strong> o primeiro<br />

composto por proprietários rurais, que diante da <strong>de</strong>sestruturação da estrutura<br />

produtiva que até então era baseada na cafeicultura e <strong>no</strong> cultivo <strong>de</strong> cereais e<br />

matéria-prima e da introdução <strong>de</strong> cultura mecanizadas, transferiram parcela<br />

das rendas <strong>para</strong> investimento <strong>no</strong> ramo <strong>industrial</strong> que estava emergin<strong>do</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Dentre esses encontram-se aqueles que fizeram<br />

transferência <strong>de</strong> renda acumulada nas ativida<strong>de</strong>s agropecuárias ou mesmo <strong>de</strong><br />

dinheiro obti<strong>do</strong> a partir venda <strong>de</strong> veículos e/ou casas <strong>para</strong> a instalação da<br />

unida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> não precisan<strong>do</strong> dispor da proprieda<strong>de</strong> rural. Outros<br />

dispuseram <strong>de</strong> parte das terras como forma <strong>de</strong> obter o capital necessário <strong>para</strong><br />

a instalação da indústria.<br />

No segun<strong>do</strong> grupo, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Veiga (2007), estariam os<br />

filhos e/ou genros cujos pais ou sogros proprietários rurais, diante das<br />

perspectivas <strong>de</strong> lucros na indústria <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

encaminhar o filho ou genro <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um negócio próprio,<br />

optaram por apoiá-los na instalação da unida<strong>de</strong> fabril. Para tanto dispuseram<br />

<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> terras, da renda obtida com safra <strong>de</strong> café ou soja e <strong>de</strong> imóveis<br />

como forma <strong>de</strong> obter o capital necessário <strong>para</strong> a fabricação das <strong>mesas</strong> e da<br />

14


linha ou <strong>para</strong> a instalação da fábrica. Indústrias essas que passaram a ser <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> e responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> filho ou genro.<br />

Os ex-funcionários e ex-sócios das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> foram agrupa<strong>do</strong>s pela autora num terceiro grupo, por serem agentes<br />

sociais que a partir da experiência prévia como funcionários <strong>de</strong><br />

produção/comercialização ou <strong>do</strong> setor administrativo da empresa passaram a<br />

investir na instalação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais próprias. No caso <strong>do</strong> ex-sócio, o<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> convivência administrativa na socieda<strong>de</strong> permitiu o conhecimento<br />

<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> fatores referentes ao funcionamento da indústria, como a<br />

produção e locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> o jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>, além <strong>do</strong> contato com os<br />

fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> matéria-prima e acessórios. Os ex-funcionários tanto os<br />

marceneiros como os responsáveis pelo trabalho na linha, após o acúmulo <strong>de</strong><br />

experiência e <strong>de</strong> certa poupança também passaram a investir na instalação <strong>de</strong><br />

uma indústria própria.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o contato direto com a ativida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> um elemento que importante <strong>para</strong> o surgimento <strong>de</strong> outras<br />

indústrias <strong>de</strong>sse ramo, ressalta-se que alguns industriais antes <strong>de</strong> instalarem<br />

suas fábricas já possuíam linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, acumulan<strong>do</strong> assim além<br />

<strong>do</strong> capital certa experiência. Ou então, esses elementos soma<strong>do</strong>s a outras<br />

fontes <strong>de</strong> rendimento re<strong>sul</strong>taram na abertura <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais.<br />

Chamamos a atenção <strong>para</strong> a origem <strong>de</strong> outras indústrias, que embora tenham<br />

si<strong>do</strong> citadas em outros grupos, as mesmas também tiveram os rendimentos da<br />

proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> soma<strong>do</strong>s ao montante <strong>de</strong><br />

capital utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> sua fundação.<br />

As pessoas ligadas às ativida<strong>de</strong>s urbanas como comércio,<br />

fabricação <strong>de</strong> móveis, beneficiamento <strong>de</strong> café ou que eram profissionais<br />

liberais formaram o último grupo na análise feita por Veiga (2007). No caso<br />

<strong>de</strong>sses agentes sociais, ocorreu o investimento <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mias acumuladas nas<br />

ativida<strong>de</strong>s anteriores ou então da quantia recebida como acerto com o patrão<br />

<strong>para</strong> a instalação <strong>de</strong> suas indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Está incluída nesse<br />

conjunto a precursora Cruz & Vieira, que foi criada a partir <strong>de</strong> eco<strong>no</strong>mias <strong>do</strong><br />

salário <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is sócios e <strong>de</strong> um financiamento bancário, já comenta<strong>do</strong><br />

anteriormente.<br />

15


Esse levantamento a respeito da origem <strong>do</strong> capital utiliza<strong>do</strong><br />

<strong>para</strong> a instalação da unida<strong>de</strong> fabril, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), evi<strong>de</strong>ncia que<br />

diferentemente <strong>do</strong> que ocorreu com as agroindústrias avícolas que receberam<br />

incentivos fiscais e terre<strong>no</strong> <strong>para</strong> sua instalação na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, a<br />

maioria <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> não contaram com o apoio <strong>de</strong><br />

órgãos públicos durante a instalação das unida<strong>de</strong>s industriais na cida<strong>de</strong>.<br />

De acor<strong>do</strong> com os levantamentos <strong>de</strong> campo 2005/2006, fica<br />

evi<strong>de</strong>nte que esses estabelecimentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua origem eram pequenas<br />

unida<strong>de</strong>s produtivas, que em sua maior parte iniciaram o trabalho <strong>industrial</strong><br />

com pouco capital e poucos funcionários, sen<strong>do</strong> a produção na maioria das<br />

indústrias nessa fase inicial <strong>de</strong> instalação, maior que quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong>da a<br />

produção <strong>de</strong> 2006. Isso <strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong> que <strong>no</strong> início da ativida<strong>de</strong>, a<br />

<strong>de</strong>manda pelas <strong>mesas</strong> era maior em função da montagem das linhas, ou seja,<br />

eles precisavam <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> locarem <strong>no</strong>s<br />

estabelecimentos comerciais. Portanto, em quase todas as indústrias a<br />

produção inicial sempre foi gran<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> reduzida paulatinamente à medida<br />

que os industriais iam estabelecen<strong>do</strong> suas linhas.<br />

A análise <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> instalação <strong>do</strong>s 27 industriais<br />

entrevista<strong>do</strong>s em 2005/2006 por Veiga (2007), permite assinalar que entre<br />

1967 – 1977, foram criadas 4 indústrias, entre o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1980-1990 foram<br />

criadas 10; entre 1991-2000, 10 empresas e <strong>no</strong> início <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s 2000, 03 outras<br />

unida<strong>de</strong>s industriais. Sen<strong>do</strong> assim, fica claro que na década <strong>de</strong> 1980 e 1990<br />

foram criadas o maior número <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em<br />

Jaguapitã-PR, décadas essas on<strong>de</strong> a <strong>de</strong><strong>no</strong>minada crise econômica nacional foi<br />

mais intensa. Isso <strong>de</strong>monstra as possibilida<strong>de</strong>s entreabertas <strong>de</strong> como agentes<br />

sociais diversos encontram e implantam ativida<strong>de</strong>s produtivas <strong>para</strong> fazer frente<br />

à crise.<br />

Ainda em relação ao número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais presentes<br />

em Jaguapitã-PR, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), existiam em 2006 o total <strong>de</strong> 54<br />

unida<strong>de</strong>s industriais <strong>do</strong> ramo na cida<strong>de</strong>. No entanto, durante os levantamentos<br />

<strong>de</strong> campo, a autora observou que <strong>de</strong>sse total 08 estavam <strong>de</strong>sativadas<br />

temporariamente, seja por problemas pessoais <strong>do</strong> proprietário, seja <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o<br />

falecimento <strong>do</strong> proprietário ou problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong><strong>no</strong> da indústria. No<br />

entanto, 04 industriais <strong>de</strong>sativaram a unida<strong>de</strong> fabril mas não ven<strong>de</strong>ram as<br />

16


linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, as mesmas foram arrendadas <strong>para</strong> outros industriais<br />

da cida<strong>de</strong>, com um pagamento apoia<strong>do</strong> em um percentual <strong>do</strong>s lucros. O <strong>do</strong><strong>no</strong><br />

da linha passou a receber cerca <strong>de</strong> 30% <strong>do</strong>s rendimentos líqui<strong>do</strong>s, fican<strong>do</strong> <strong>para</strong><br />

o arrendatário as <strong>de</strong>spesas com a manutenção, com o custo <strong>do</strong>s funcionários,<br />

transporte, matéria-prima e acessórios <strong>para</strong> a reforma das <strong>mesas</strong> <strong>de</strong>ssas<br />

linhas.<br />

É necessário <strong>de</strong>stacar que <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> expansão <strong>do</strong> setor<br />

produtivo <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, não<br />

houve um direcionamento por parte <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público local, <strong>para</strong> uma área ou<br />

criação <strong>de</strong> distritos industriais capazes <strong>de</strong> abrigar a maior parte das unida<strong>de</strong>s<br />

produtivas. Diante disso, a maioria <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s está localizada <strong>no</strong>s bairros<br />

resi<strong>de</strong>nciais, ten<strong>do</strong> apenas 05 <strong>no</strong>s parques industriais até o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2007 e uma<br />

quantida<strong>de</strong> pequena na área central. Essa dispersão das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na área urbana, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), está estritamente<br />

correlacionada à falta <strong>de</strong> áreas previamente <strong>de</strong>stinadas por parte das<br />

autorida<strong>de</strong>s municipais <strong>para</strong> a localização das mesmas até mea<strong>do</strong>s da década<br />

<strong>de</strong> 1990 e também às condições econômicas em que se <strong>de</strong>u a instalação <strong>de</strong><br />

cada uma. Cada <strong>industrial</strong> a partir <strong>de</strong> capital próprio investiu na abertura <strong>de</strong> sua<br />

empresa em terre<strong>no</strong> livre <strong>no</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> quintal da própria casa ou adquiriu outro,<br />

que geralmente teria fim resi<strong>de</strong>ncial, <strong>para</strong> a construção <strong>do</strong> galpão on<strong>de</strong> se<br />

realizaria todas as etapas produtivas da indústria.<br />

Em sua maioria, o conjunto <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, é composto por estabelecimentos<br />

pre<strong>do</strong>minantemente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s micro-empresas, segun<strong>do</strong> a classificação <strong>do</strong><br />

Serviço Brasileiro <strong>de</strong> Apoio às Micro e Pequenas Empresa - SEBRAE. Este,<br />

utiliza o número <strong>de</strong> funcionários como elemento básico <strong>para</strong> a classificação das<br />

indústrias 9 . Durante os levantamentos <strong>de</strong> campo realiza<strong>do</strong>s por Veiga (2007),<br />

verificou-se que das 46 indústrias atuantes em 2006, apenas 04 possuíam<br />

entre 21 e 25 funcionários formais emprega<strong>do</strong>s na produção, nas linhas <strong>de</strong><br />

locação e <strong>no</strong> administrativo, empregan<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> 03 a 20 pessoas<br />

formalmente, lembran<strong>do</strong> que essas não empregam funcionários <strong>no</strong><br />

administrativo, sen<strong>do</strong> essa função realizada pelo proprietário ou familiares.<br />

9 Micro-Empresa: até 20 funcionários, Pequena-Empresa: <strong>de</strong> 21 a 100 funcionários, Média-<br />

Empresa: <strong>de</strong> 101 a 500 funcionários, Gran<strong>de</strong>-Empresa: acima <strong>de</strong> 500 funcionários.<br />

17


Assim, segun<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> funcionários po<strong>de</strong>-se afirmar que em 2006,<br />

existiam 04 pequenas-empresas e 42 micro-empresas <strong>do</strong> ramo <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong>, ressaltan<strong>do</strong> que Veiga (2007) utilizou os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com os<br />

levantamentos <strong>de</strong> campo. Contu<strong>do</strong>, se faz necessário frisar que há a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas indústrias contarem com um número maior <strong>de</strong><br />

funcionários, especialmente aquelas que prestam serviços em condições<br />

informais, o que afetaria a caracterização estabelecida em micro e pequena<br />

empresa.<br />

Em relação ao aspecto administrativo, Veiga (2007) verificou o<br />

pre<strong>do</strong>mínio da gestão empresarial familiar, estan<strong>do</strong> todas as indústrias<br />

organizadas em socieda<strong>de</strong> limitada, estabelecida entre sócios com vínculos <strong>de</strong><br />

parentesco - socieda<strong>de</strong> entre irmãos, casal, pais e filhos, cunha<strong>do</strong>s, e outros, e<br />

com vínculos <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> estabeleci<strong>do</strong>s em trabalhos anteriores, na vizinhança,<br />

entre outros.<br />

A partir <strong>do</strong> que foi exposto sobre a criação e expansão <strong>do</strong><br />

número das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR, fica evi<strong>de</strong>nte<br />

que esse processo ocorreu vincula<strong>do</strong> ao que Fresca (2000) <strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u contato<br />

próximo. Ou seja, o lucro obti<strong>do</strong> pelas primeiras indústrias <strong>de</strong>spertou o<br />

interesse <strong>de</strong> outras pessoas na cida<strong>de</strong>, que passaram a investir na implantação<br />

<strong>de</strong> <strong>no</strong>vas fábricas com recursos próprios, não haven<strong>do</strong> apoio político e<br />

financeiro local ou estadual, tão pouco <strong>de</strong> agentes priva<strong>do</strong>s nesse processo <strong>de</strong><br />

expansão das indústrias.<br />

18


3- CARACTERISTICAS ATUAIS DO SETOR INDUSTRIAL DE<br />

MESAS PARA BILHAR M JAGUAPITÃ-PR<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), o crescente número <strong>de</strong> indústrias<br />

principalmente a partir <strong>de</strong> 1980, <strong>de</strong>man<strong>do</strong>u um <strong>de</strong>slocamento cada vez maior<br />

<strong>de</strong> pessoas, merca<strong>do</strong>rias, informações e capital. Dentre os elementos<br />

analisa<strong>do</strong>s pela autora, a seguir <strong>no</strong>s reportaremos a matéria-prima e a mão-<strong>de</strong>-<br />

obra empregada pelos industriais <strong>do</strong> ramo <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>.<br />

3.1- Caracterização da Matéria-prima e Acessórios<br />

Em relação à matéria-prima e acessórios, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />

estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por Veiga (2007), na década <strong>de</strong> 1970, os mesmos eram<br />

adquiri<strong>do</strong>s em apenas três esta<strong>do</strong>s brasileiros, sen<strong>do</strong> eles o Paraná, São Paulo<br />

e Mato Grosso. No entanto, em 2006, durante os levantamentos <strong>de</strong> campo<br />

realiza<strong>do</strong>s pela autora, os industriais informaram que estavam compran<strong>do</strong><br />

matéria-prima e acessórios <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Santa Catarina, Bahia, Goiás,<br />

Maranhão, Minas Gerais, Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e Rondônia. Essa crescente<br />

expansão da área <strong>para</strong> obtenção da matéria-prima está correlacionada às<br />

melhorias nas vias <strong>de</strong> transportes e <strong>de</strong> comunicações ocorridas nas últimas<br />

décadas <strong>no</strong> território brasileiro, fator esse que possibilitou aos industriais uma<br />

opção maior <strong>de</strong> escolha tanto em qualida<strong>de</strong> como <strong>no</strong> preço <strong>do</strong> produto <strong>no</strong><br />

ataca<strong>do</strong>.<br />

Dentre as matérias-primas utilizadas pelos industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), entre os fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e<br />

compensa<strong>do</strong>s, o Paraná foi o responsável pelo fornecimento <strong>de</strong> parte<br />

significativa <strong>de</strong>ssa matéria-prima tanto na década <strong>de</strong> 1970 como em 2006,<br />

embora o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mato Grosso tenha forneci<strong>do</strong> também nas referidas<br />

épocas muita ma<strong>de</strong>ira <strong>para</strong> as indústrias <strong>do</strong> ramo. Em relação as varieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira mais utilizadas o pinho, o cedrilho e o eucalipto <strong>de</strong>stacavam-se,<br />

mas segun<strong>do</strong> o relato <strong>de</strong> alguns industriais, os mesmos também recorriam a<br />

Santa Bárbara e Grevilha <strong>para</strong> a fabricação das <strong>mesas</strong>, espécies essas<br />

encontradas facilmente nas proprieda<strong>de</strong>s rurais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR e região. Em<br />

19


elação aos compensa<strong>do</strong>s e aglomera<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>stacavam-se Guarapuava-PR e<br />

Irati-PR como principais fornece<strong>do</strong>res em 2006.<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), o consumo <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pelas indústrias<br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> era maior <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1970 a 1990. Tal <strong>de</strong>manda po<strong>de</strong><br />

ser relacionada, primeiramente, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> a montagem das<br />

linhas <strong>de</strong> locação nas décadas iniciais, e aos tacos que eram fabrica<strong>do</strong>s pelos<br />

próprios industriais tanto em 1970 como em 1980. Ressalta-se que a produção<br />

<strong>de</strong> tacos foi diminuin<strong>do</strong> ao ponto <strong>de</strong> em 2006 apenas uma unida<strong>de</strong> fabrica-los;<br />

a maioria <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> produzir em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> custo <strong>de</strong> produção ser maior que a<br />

aquisição <strong>de</strong> tacos já prontos. Em relação à indústria que produzia em 2006 os<br />

seus próprios tacos, a mesma continuou com essa prática porque conseguia<br />

adquirir a ma<strong>de</strong>ira por preços baixos na Região Norte. Além <strong>do</strong> preço<br />

acessível, essa ma<strong>de</strong>ira adquirida em Rondônia também era <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>,<br />

re<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong> num produto final mais resistente e sem imperfeições.<br />

Embora em me<strong>no</strong>r quantida<strong>de</strong>, uma parcela <strong>de</strong> industriais<br />

estava compran<strong>do</strong> ma<strong>de</strong>ira e <strong>de</strong>mais matérias-primas e acessórios em<br />

Jaguapitã-PR e em Londrina-PR. Tal fato, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), <strong>de</strong>corria <strong>do</strong><br />

aumento <strong>de</strong> reformas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> e da conseqüente redução da fabricação <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>no</strong>vas. Assim, como as reformas não <strong>de</strong>mandam tanta matéria-prima e<br />

acessórios como a fabricação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, os industriais preferiam adquirir os<br />

produtos em Jaguapitã-PR e Londrina-PR, por preços semelhantes aos<br />

pratica<strong>do</strong>s em São Paulo e outros esta<strong>do</strong>s, baratean<strong>do</strong> assim os custos em<br />

razão <strong>do</strong> transporte.<br />

A aquisição <strong>de</strong> matéria-prima e acessórios realizada na própria<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, era viabilizada por <strong>do</strong>is estabelecimentos comerciais<br />

atacadistas, ambos origina<strong>do</strong>s a partir da iniciativa <strong>de</strong> agentes sociais locais,<br />

<strong>no</strong> limiar da década <strong>de</strong> 1990 e início <strong>de</strong> 2000. A instalação <strong>do</strong> primeiro, Art<br />

Pedras, ocorreu em 1999, quan<strong>do</strong> um funcionário <strong>do</strong> Banco <strong>do</strong> Brasil da<br />

cida<strong>de</strong>, que já tinha na revenda <strong>de</strong> ardósia uma ativida<strong>de</strong> <strong>para</strong>lela <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996,<br />

resolveu <strong>de</strong>ixar a ativida<strong>de</strong> e se <strong>de</strong>dicar somente à revenda <strong>de</strong> tais produtos,<br />

montan<strong>do</strong> assim o seu próprio estabelecimento comercial com o dinheiro que<br />

recebera <strong>do</strong> acerto com o banco. Com a abertura <strong>de</strong> sua loja <strong>de</strong> acessórios, ele<br />

passou a reven<strong>de</strong>r além da ardósia to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais acessórios e matérias-<br />

primas <strong>para</strong> as indústrias <strong>de</strong> Jaguapitã-PR e <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s. Segun<strong>do</strong> o<br />

20


entrevista<strong>do</strong>, em Jaguapitã-PR ele reven<strong>de</strong> apenas 30% <strong>do</strong> seu estoque, o<br />

restante é comercializa<strong>do</strong> em uma filial <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e outra <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> Goiás.<br />

No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2000 foi instala<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> estabelecimento<br />

comercial atacadista, a Valpedras, quan<strong>do</strong> por dissolução <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

numa indústria <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, um <strong>do</strong>s sócios resolveu com o dinheiro<br />

obti<strong>do</strong> reven<strong>de</strong>r matéria-prima <strong>para</strong> as indústrias, <strong>no</strong> caso apenas a ardósia,<br />

que era adquirida em Trombu<strong>do</strong> Central (SC) e revendida em Jaguapitã-PR e<br />

<strong>para</strong> outras cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Minas Gerais, Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, São Paulo e<br />

Paraná. Além da revenda <strong>de</strong>ssa matéria-prima, o mesmo possuía algumas<br />

máquinas como a “máquina <strong>de</strong> lixar a ardósia”, o que viabilizava a prestação <strong>de</strong><br />

serviços <strong>para</strong> outros <strong>do</strong><strong>no</strong>s <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> da cida<strong>de</strong> que<br />

ainda não possuíam tal equipamento (VEIGA, 2007).<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), a partir <strong>do</strong> comércio atacadista <strong>de</strong><br />

matéria-prima e acessórios <strong>para</strong> as indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, percebe-se<br />

que a produção das referidas <strong>mesas</strong> era significativa em vários esta<strong>do</strong>s.<br />

Segun<strong>do</strong> os levantamentos realiza<strong>do</strong>s pela autora, numa or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

importância, <strong>no</strong> tocante à produção <strong>de</strong>stacavam-se os esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo,<br />

Minas Gerais, Paraná e Rio <strong>de</strong> Janeiro. Além <strong>de</strong>sses, outros esta<strong>do</strong>s, embora<br />

em me<strong>no</strong>r proporção, estavam apresentan<strong>do</strong> um crescimento significativo<br />

nesse setor como Bahia, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Goiás e Rio Gran<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Sul.<br />

A respeito da comercialização da matéria-prima e acessórios<br />

por esses estabelecimentos, Veiga (2007) coloca que o pagamento das<br />

mesmas por parte significativa <strong>do</strong>s industriais era feito na maioria <strong>do</strong>s casos a<br />

prazo, <strong>para</strong> trinta dias ou parcela<strong>do</strong> em duas, três ou mais vezes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

da quantida<strong>de</strong> adquirida pelo <strong>industrial</strong>. Os casos <strong>de</strong> pagamentos a vista<br />

estavam relaciona<strong>do</strong>s às compras pequenas <strong>de</strong> materiais como pregos, artigos<br />

plásticos, lamina<strong>do</strong>s, etc. que faltavam <strong>para</strong> concluir a mesa em processo <strong>de</strong><br />

fabricação ou <strong>de</strong> reforma.<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), tanto os industriais como os<br />

estabelecimentos comerciais atacadistas instala<strong>do</strong>s <strong>no</strong> início <strong>de</strong> 2000,<br />

passaram a estabelecer relações espaciais longínquas ao interagirem com<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras re<strong>de</strong>s urbanas, amplian<strong>do</strong> assim as relações comerciais com<br />

21


egiões brasileiras distintas. Nesse contexto, os estabelecimentos atacadistas<br />

<strong>de</strong> matérias-primas e acessórios são responsáveis pelas relações comerciais<br />

mais distantes como <strong>no</strong> caso da ardósia, adquirida em Santa Catarina e Minas<br />

Gerais, <strong>do</strong>s tacos que são adquiri<strong>do</strong>s em Goiás e Maranhão, as fechaduras e<br />

puxa<strong>do</strong>res compra<strong>do</strong>s na Bahia, entre outros.<br />

Percebe-se a partir <strong>do</strong> que foi exposto sobre a aquisição <strong>de</strong><br />

matérias-primas e acessórios, que as interações espaciais estabelecidas por<br />

essa pequena cida<strong>de</strong> via indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, foram ampliadas<br />

significativamente <strong>no</strong>s últimos 30 a<strong>no</strong>s.<br />

3.2- Caracterização da Mão-De-Obra<br />

Nosso segun<strong>do</strong> elemento <strong>de</strong> análise diz respeito à mão-<strong>de</strong>-<br />

obra empregada nas indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. A esse<br />

respeito, Veiga (2007), n os coloca que <strong>no</strong> caso <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> indústria os<br />

funcionários são forma<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is grupos distintos: o primeiro responsável<br />

pela produção e reformas das <strong>mesas</strong>, <strong>no</strong> caso marceneiros e ajudantes. E o<br />

outro grupo responsável pelo trabalho nas linhas <strong>de</strong> locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>,<br />

conheci<strong>do</strong>s localmente por “meseiros”.<br />

Em relação aos marceneiros, primeiramente <strong>para</strong> a contratação<br />

<strong>do</strong>s mesmos exige-se alguma experiência anterior seja <strong>no</strong> trabalho com<br />

ma<strong>de</strong>ira em marcenarias ou serrarias, seja na produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> o jogo<br />

<strong>de</strong> <strong>bilhar</strong> em outras indústrias. Esses funcionários quan<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s<br />

formalmente são remunera<strong>do</strong>s mensalmente, não ten<strong>do</strong> um piso salarial fixo<br />

<strong>para</strong> essa categoria, isso porque o valor pago a cada marceneiro varia <strong>de</strong><br />

acor<strong>do</strong> com o porte da empresa, ocorren<strong>do</strong> uma oscilação <strong>de</strong> R$ 600,00 a R$<br />

800,00 ao mês, chegan<strong>do</strong> esse valor em algumas indústrias a R$1.200,00<br />

mensais. No caso <strong>do</strong>s auxiliares <strong>de</strong> marcenaria, a média salarial é <strong>de</strong> R$<br />

500,00 mensais, segun<strong>do</strong> Veiga (2007).<br />

No entanto, <strong>de</strong>ntre os industriais entrevista<strong>do</strong>s, alguns<br />

dispensaram os marceneiros contrata<strong>do</strong>s formalmente por não estarem<br />

produzin<strong>do</strong> uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> anualmente. Nessas<br />

unida<strong>de</strong>s fabris a presença <strong>do</strong> marceneiro só ocorria em perío<strong>do</strong>s em que o<br />

<strong>industrial</strong> precisava produzir mais <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> serem locadas em suas linhas<br />

22


ou então quan<strong>do</strong> tinha muitas <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> serem reformadas. Nesses casos, o<br />

processo <strong>de</strong> contratação era temporário, <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong>s por eles <strong>de</strong> regime <strong>de</strong><br />

empreita, on<strong>de</strong> o valor da remuneração era negocia<strong>do</strong> entre marceneiro e<br />

<strong>industrial</strong> segun<strong>do</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> que seriam fabricadas ou<br />

reformadas (VEIGA, 2007).<br />

Segun<strong>do</strong> a autora, este processo <strong>de</strong> contratação <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r <strong>para</strong> a produção propriamente dita das <strong>mesas</strong> <strong>no</strong>s revela uma fraca<br />

divisão social <strong>do</strong> trabalho <strong>no</strong> interior da unida<strong>de</strong> produtiva. Ao mesmo tempo<br />

<strong>de</strong>monstra <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais claro o nível da super exploração da força <strong>de</strong><br />

trabalho durante a produção da mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Nesse caso a extração da<br />

mais-valia pelos industriais que ven<strong>de</strong>ram a merca<strong>do</strong>ria po<strong>de</strong> ser entendida a<br />

partir <strong>do</strong> seguinte raciocínio: nas indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> um<br />

marceneiro recebe mensalmente <strong>de</strong> R$ 600,00 a R$ 800,00 <strong>para</strong> a produção<br />

das <strong>mesas</strong>. Quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong>mos esse salário pago com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> que po<strong>de</strong>riam ser produzidas num mês - caso a indústria estivesse<br />

produzin<strong>do</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forma sistemática to<strong>do</strong>s os meses - com a estimativa<br />

<strong>de</strong> lucro a partir da venda <strong>de</strong> cada mesa, as evidências da exploração <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r são mais perceptíveis.<br />

A esse respeito, Veiga (2007), apresentou a seguinte idéia<br />

hipotética: o marceneiro que tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir uma mesa a cada<br />

<strong>do</strong>is dias, recebe o salário mensal acima menciona<strong>do</strong>. Levan<strong>do</strong> em<br />

consi<strong>de</strong>ração 20 dias <strong>de</strong> trabalho com jornada <strong>de</strong> 8 horas por dia – porque as<br />

indústrias não funcionam aos sába<strong>do</strong>s – <strong>no</strong> final <strong>do</strong> mês esse marceneiro teria<br />

produzi<strong>do</strong> uma média <strong>de</strong> 10 <strong>mesas</strong>. Para o <strong>industrial</strong> o custo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

cada mesa po<strong>de</strong> alcançar o valor médio <strong>de</strong> R$ 550,00; sen<strong>do</strong> necessário nesse<br />

caso <strong>para</strong> a produção <strong>de</strong> 10 <strong>mesas</strong> o total <strong>de</strong> R$ 5.500,00; valor esse que diz<br />

respeito ao capital fixo (máquinas e equipamentos + matéria-prima) e ao capital<br />

variável (salário). Essas <strong>mesas</strong> que foram produzidas a um preço médio <strong>de</strong> R$<br />

550,00, po<strong>de</strong>m ser comercializadas por preços que oscilam <strong>de</strong> R$ 700,00 a R$<br />

900,00, alcançan<strong>do</strong> em áreas com pouca concorrência o valor <strong>de</strong> R$ 1.000,00.<br />

Assim, ten<strong>do</strong> por base esses preços, a me<strong>no</strong>r taxa <strong>de</strong> lucro<br />

obtida com a venda <strong>de</strong> 10 <strong>mesas</strong> será <strong>de</strong> R$ 2.500,00 e a maior <strong>de</strong> R$<br />

4.500,00. Embora sejam números estima<strong>do</strong>s tanto <strong>para</strong> o custo <strong>de</strong> produção<br />

como <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> cada mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, os mesmos <strong>no</strong>s permitem a<br />

23


compreensão <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> mais-valia durante a produção da<br />

merca<strong>do</strong>ria, <strong>no</strong> caso a mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Entretanto, segun<strong>do</strong> Veiga (2007),<br />

<strong>para</strong> os industriais frente às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganhos com a locação das<br />

<strong>mesas</strong>, essa margem <strong>de</strong> lucro que po<strong>de</strong> ser obtida com a venda não é<br />

interessante. Isso porque o processo <strong>de</strong> locação com a obtenção <strong>do</strong> lucro<br />

parcela<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s, amplia ainda mais o retor<strong>no</strong> <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong><br />

<strong>industrial</strong>, ao mesmo tempo po<strong>de</strong> significar uma exploração maior <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r que produz a mesa.<br />

No sistema <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> pelos industriais <strong>de</strong> empreita, a<br />

exploração <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r po<strong>de</strong> ser ainda mais intensa, isso porque o <strong>industrial</strong><br />

terá seu custo <strong>de</strong> produção reduzi<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que o capital variável<br />

(salário sem os encargos trabalhistas) será utiliza<strong>do</strong> apenas em perío<strong>do</strong>s pré-<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s e não mais mensalmente, como nas empresas com marceneiros<br />

formais. Ainda nesse regime <strong>de</strong> contratação temporária <strong>do</strong> funcionário,<br />

segun<strong>do</strong> Veiga (2007), os preços salariais pratica<strong>do</strong>s em função da oferta <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra po<strong>de</strong>m ser maiores ou me<strong>no</strong>res que <strong>do</strong>s emprega<strong>do</strong>s formais,<br />

isso porque ocorrem perío<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> a produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> diminui, geran<strong>do</strong><br />

certo <strong>de</strong>semprego <strong>para</strong> os marceneiros. Ressalta-se que embora o marceneiro<br />

<strong>do</strong>mine todas as etapas produtivas <strong>de</strong> uma mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, a alienação <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r se faz presente.<br />

O outro grupo <strong>de</strong> funcionários, segun<strong>do</strong> a autora, trabalhava<br />

nas linhas <strong>de</strong> locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong> por pessoas tanto<br />

<strong>de</strong> origem rural como <strong>do</strong> setor <strong>industrial</strong>, comercial e <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços,<br />

que foram contrata<strong>do</strong>s principalmente sob a forma <strong>de</strong> indicação, pessoas <strong>de</strong><br />

confiança e funcionários que passaram as referências <strong>do</strong> candidato ao<br />

emprego. Assim o treinamento <strong>para</strong> o trabalho nas linhas acaba sen<strong>do</strong><br />

realiza<strong>do</strong> <strong>no</strong> próprio local <strong>de</strong> trabalho, não sen<strong>do</strong> necessária uma qualificação<br />

formal. O contrata<strong>do</strong> formal inicia como auxiliar <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>do</strong> <strong>de</strong> ajudante pelos<br />

industriais, na linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser promovi<strong>do</strong> <strong>para</strong><br />

responsável <strong>de</strong> uma linha. Para exercer a função <strong>de</strong> auxiliar ou <strong>de</strong> responsável<br />

pela linha não é exigida nenhuma experiência anterior, nem nível <strong>de</strong><br />

escolarida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> apenas estritamente necessário a carteira <strong>de</strong> habilitação<br />

<strong>para</strong> o responsável pela linha, que geralmente é o motorista durante to<strong>do</strong> o<br />

trajeto <strong>de</strong> trabalho na linha. Algumas indústrias passaram a exigir a carteira <strong>de</strong><br />

24


habilitação nas últimas décadas também <strong>para</strong> o auxiliar, em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo<br />

colaborar como condutor <strong>do</strong> veículo durante o longo trajeto <strong>de</strong> algumas linhas.<br />

Esses <strong>do</strong>is funcionários eram responsáveis pelo recebimento, manutenção,<br />

locação e retiradas das <strong>mesas</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), esse trabalho <strong>do</strong> funcionário na linha <strong>de</strong><br />

locação consistia <strong>no</strong>: a) recebimento: <strong>no</strong>s estabelecimentos comerciais o<br />

funcionário verifica a renda mensal <strong>de</strong> cada mesa <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong> locada por<br />

ele e já faz a divisão <strong>do</strong> percentual com o locatário, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> os 60% <strong>de</strong>le e<br />

reservan<strong>do</strong> os 40% <strong>do</strong> <strong>industrial</strong>; b) manutenção das <strong>mesas</strong> locadas: o<br />

funcionário também faz a verificação <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> físico <strong>de</strong> cada mesa locada,<br />

proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> com a reforma da mesa <strong>no</strong> próprio estabelecimento quan<strong>do</strong> esta é<br />

simples. Quan<strong>do</strong> os da<strong>no</strong>s são maiores a mesa é reformada <strong>no</strong> <strong>de</strong>pósito ou na<br />

indústria; c) locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>: durante o tempo <strong>de</strong> permanência na linha o<br />

funcionário visita os estabelecimentos que não possuem ainda <strong>mesas</strong> locadas<br />

a fim <strong>de</strong> locar mais <strong>mesas</strong> da indústria <strong>para</strong> a qual trabalha, amplian<strong>do</strong> assim<br />

sua linha <strong>de</strong> locação, e por último, d) a retirada <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas: <strong>para</strong>lelo aos<br />

<strong>de</strong>mais trabalhos na “linha”, também são feitas retiradas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>do</strong>s<br />

estabelecimentos quan<strong>do</strong> o comerciante não <strong>de</strong>seja mais continuar como<br />

loca<strong>do</strong>r ou então, essas retiradas são realizadas a partir <strong>do</strong> momento que as<br />

<strong>mesas</strong> não estão sen<strong>do</strong> lucrativas.<br />

Os funcionários que trabalhavam nas linhas também não<br />

possuíam um piso salarial fixo, em função da comissão que recebiam sobre a<br />

produção mensal das <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> suas linhas. Entre as indústrias ocorria uma<br />

variação gran<strong>de</strong> em relação à remuneração mensal <strong>de</strong>sses funcionários, on<strong>de</strong><br />

uns recebiam cerca <strong>de</strong> R$ 500, 00 por mês e outros alcançavam um montante<br />

acima <strong>de</strong> R$ 1.400,00 mensais, oscilação essa relacionada ao tamanho da<br />

linha, ou seja, ao número <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas numa linha, que podia variar <strong>de</strong><br />

200 a 300 <strong>mesas</strong> locadas.<br />

No entanto, um outro fator que acabava interferin<strong>do</strong> na<br />

produção mensal da linha e consequentemente na variação da remuneração<br />

<strong>do</strong> responsável pela mesma, era a diferença <strong>no</strong> preço da ficha <strong>para</strong> o jogo nas<br />

Regiões Brasileiras, diferença essa que existentia por causa da concorrência<br />

em lugares que estão satura<strong>do</strong>s com a presença <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. No<br />

Paraná e Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, por exemplo, eram pratica<strong>do</strong>s os preços mais<br />

25


aixos das fichas, com isso o lucro mensal das linhas nesses Esta<strong>do</strong>s era bem<br />

me<strong>no</strong>r que as linhas montadas <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Região Norte. O mesmo ocorria<br />

com os auxiliares (ajudantes <strong>de</strong> linha), que apesar <strong>de</strong> terem o percentual fixo<br />

<strong>de</strong> 5%, acabavam receben<strong>do</strong> salários diferencia<strong>do</strong>s em função da variação que<br />

ocorre na lucrativida<strong>de</strong> mensal <strong>de</strong> cada linha. Ressalta-se que os funcionários<br />

que trabalhavam formalmente nas linhas, eram registra<strong>do</strong>s com salário fixo na<br />

carteira <strong>de</strong> trabalho, como forma <strong>de</strong> ter garanti<strong>do</strong> um mínimo a receber <strong>no</strong> final<br />

<strong>do</strong> mês (VEIGA, 2007).<br />

A respeito <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is grupos <strong>de</strong> funcionários, Veiga (2007)<br />

não quantificou o número <strong>de</strong> funcionários existentes nas indústrias <strong>no</strong> perío<strong>do</strong><br />

estuda<strong>do</strong>. Primeiramente por não ter ti<strong>do</strong> acesso a to<strong>do</strong>s os industriais e<br />

também pelo fato <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r informal estar presente em parcela<br />

significativa <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s, não sen<strong>do</strong> os mesmos <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s durante as<br />

entrevistas em algumas empresas. No entanto, segun<strong>do</strong> a autora, as indústrias<br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> presentes na cida<strong>de</strong>, eram responsáveis em 2003 pela<br />

geração <strong>de</strong> 510 empregos diretos. Nesse senti<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração a<br />

oferta <strong>de</strong> empregos na cida<strong>de</strong>, o conjunto <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

era até 2007, o setor responsável pela segunda maior fonte <strong>de</strong> geração <strong>de</strong><br />

empregos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, sen<strong>do</strong> as duas agroindústrias avícolas –<br />

Avebom e Jaguafrango - as que empregavam o maior número <strong>de</strong> funcionários.<br />

Veiga (2007), relaciona essa informalida<strong>de</strong> presente <strong>no</strong> setor<br />

aos baixos preços das fichas apresentadas a partir da década <strong>de</strong> 1990, on<strong>de</strong><br />

em meio às sucessivas altas <strong>do</strong> petróleo e <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s pedágios, matéria-<br />

prima, etc, e da crescente concorrência <strong>no</strong> setor, os industriais não<br />

conseguiram elevar o preço das fichas <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, o que repercutiu na redução<br />

<strong>do</strong> lucro parcela<strong>do</strong> das linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas. Isso tu<strong>do</strong> soma<strong>do</strong> aos<br />

encargos sociais sobre os funcionários, po<strong>de</strong> ter re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> na contratação<br />

informal <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong>res por parte <strong>do</strong>s industriais.<br />

Além <strong>do</strong>s funcionários formais e informais na produção e<br />

locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, em função <strong>de</strong>ssas indústrias apresentarem características<br />

<strong>de</strong> gestão familiar, a mão-<strong>de</strong>-obra era composta também por familiares, seja<br />

em funções produtivas seja em administrativas (gerência), seja com trabalho<br />

nas linhas <strong>de</strong> locação. Quan<strong>do</strong> eram contrata<strong>do</strong>s funcionários <strong>para</strong> as funções<br />

<strong>de</strong> secretário e gerente administrativo - na maioria das indústrias esse trabalho<br />

26


era realiza<strong>do</strong> pelo proprietário ou por membros da família - a exigência era o<br />

Ensi<strong>no</strong> Médio e <strong>no</strong> caso <strong>do</strong>s gerentes, um curso técnico contábil ou ensi<strong>no</strong><br />

superior na área administrativa ou contábil (VEIGA, 2007).<br />

Ainda a respeito <strong>do</strong> trabalho realiza<strong>do</strong> nas linhas <strong>de</strong> locação <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), duas estavam a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> um sistema<br />

diferencia<strong>do</strong> das <strong>de</strong>mais nas suas linhas: o arrendamento <strong>de</strong> linhas <strong>para</strong> os<br />

próprios funcionários. Os industriais que implantaram o sistema <strong>de</strong><br />

arrendamento o fizeram como forma <strong>de</strong> driblar os problemas comuns na<br />

ativida<strong>de</strong> como questões administrativas com funcionários, com encargos<br />

salariais, com o rendimento da linha, entre outros. Embora o faturamento <strong>para</strong><br />

o <strong>industrial</strong> seja me<strong>no</strong>r com redução <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20% em cada linha, quan<strong>do</strong><br />

com<strong>para</strong><strong>do</strong> ao outro méto<strong>do</strong>, esses <strong>do</strong>is industriais ainda preferiam o sistema<br />

<strong>de</strong> arrendamento, pelo fato <strong>do</strong> mesmo gerar me<strong>no</strong>s problemas que o mo<strong>do</strong><br />

convencional <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> locação pratica<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong>mais industriais.<br />

Esse arrendamento era viabiliza<strong>do</strong> mediante o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> um contrato com duração <strong>de</strong> três a<strong>no</strong>s entre as partes interessadas, com<br />

cláu<strong>sul</strong>as que especificavam os <strong>de</strong>veres <strong>do</strong> <strong>industrial</strong> e <strong>do</strong> arrendatário.<br />

Segun<strong>do</strong> as <strong>no</strong>rmas estabelecidas <strong>no</strong> contrato <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas indústrias, ao<br />

<strong>industrial</strong> cabia: o fornecimento da linha com as <strong>mesas</strong> já locadas com to<strong>do</strong>s os<br />

acessórios necessários <strong>para</strong> o funcionamento da mesma nesse primeiro<br />

momento e a mão-<strong>de</strong>-obra <strong>para</strong> a produção <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas <strong>mesas</strong> ou <strong>para</strong> a reforma<br />

daquelas que foram danificadas eram fornecidas pelo <strong>industrial</strong>, sen<strong>do</strong> os<br />

funcionários responsáveis pela produção os únicos com vínculos empregatícios<br />

na indústria.<br />

Ao funcionário que estava passan<strong>do</strong> <strong>para</strong> a posição <strong>de</strong><br />

arrendatário da linha, foram estabelecidas as seguintes atribuições <strong>de</strong> acor<strong>do</strong><br />

com contrato:<br />

a) Responsabilizar-se por todas as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> manutenção e<br />

conservação das <strong>mesas</strong> tais como: substituição <strong>do</strong> teci<strong>do</strong>, <strong>de</strong> tabelas,<br />

caçapas, tampões, revestimentos, gavetas, pés, ficheiros e relógios<br />

avaria<strong>do</strong>s, entre outras;<br />

b) Proce<strong>de</strong>r sempre com a reforma das <strong>mesas</strong> em funcionamento quan<strong>do</strong><br />

necessário;<br />

27


c) Repor a mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> quan<strong>do</strong> a mesma for perdida seja por roubo,<br />

extravio, <strong>de</strong>terioração ocasionada por incêndio, mau uso como penhora<br />

ou apreensão por quaisquer órgãos.<br />

d) Fazer continuamente uma seleção <strong>do</strong>s locatários que forem utilizar as<br />

<strong>mesas</strong> a fim <strong>de</strong> manter um eleva<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> rentabilida<strong>de</strong> na linha.<br />

e) Responsabilizar-se pelo transporte das <strong>mesas</strong> <strong>de</strong>vidamente<br />

acompanhadas pelos <strong>do</strong>cumentos fiscais exigi<strong>do</strong>s pela legislação<br />

vigente;<br />

Além <strong>de</strong>ssas atribuições, o arrendatário <strong>de</strong>veria ser proprietário<br />

<strong>de</strong> uma camionete <strong>para</strong> o transporte na linha e se responsabilizar pela<br />

contratação <strong>do</strong> auxiliar que lhe ajudaria na realização <strong>do</strong> trabalho. Em relação à<br />

camionete, esses industriais repassaram o financiamento <strong>para</strong> a obtenção <strong>do</strong><br />

veículo que já estavam pagan<strong>do</strong> e todas as responsabilida<strong>de</strong>s sobre a mesma<br />

<strong>para</strong> o arrendatário.<br />

Ao final <strong>de</strong> cada mês, o arrendatário teria que pagar ao<br />

<strong>industrial</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 20,00 da lucrativida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> cada mesa locada na<br />

linha. Esse valor foi estabeleci<strong>do</strong> <strong>para</strong> o perío<strong>do</strong> entre abril <strong>de</strong> 2004 a abril <strong>de</strong><br />

2007 <strong>no</strong> contrato analisa<strong>do</strong> por Veiga (2007). Sen<strong>do</strong> o mesmo valor altera<strong>do</strong><br />

apenas se houvesse reajuste <strong>no</strong>s preços das fichas <strong>de</strong> locação. Ao final <strong>de</strong>sses<br />

três a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> arrendamento, a linha retornaria <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong> que po<strong>de</strong>ria ou<br />

não arrendá-la <strong>no</strong>vamente.<br />

Mesmo com a redução <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 20% <strong>no</strong> faturamento <strong>de</strong><br />

cada linha <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong>, esse processo em <strong>de</strong> arrendamento em 2007 ainda<br />

era vantajoso segun<strong>do</strong> esses industriais, pelo fato <strong>do</strong>s mesmos não terem mais<br />

custos com as <strong>de</strong>spesas com funcionários, manutenção da linha e camionetes,<br />

segun<strong>do</strong> a autora.<br />

3.3- Sistema Produtivo<br />

A produção e organização <strong>do</strong> trabalho nas indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, <strong>de</strong>scritas por Veiga (2007), evi<strong>de</strong>nciram algo diferente <strong>do</strong> que vem<br />

sen<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> na maioria das indústrias brasileiras. Isso porque, a produção<br />

das <strong>mesas</strong> não era realizada <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s produtivos taylorista e nem fordista,<br />

28


ou seja, não foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s nessas indústrias os princípios básicos <strong>de</strong><br />

organização científica <strong>do</strong> trabalho, inexistin<strong>do</strong> a produção em massa, o<br />

parcelamento das tarefas e especialização <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r com um número<br />

limita<strong>do</strong> <strong>de</strong> gestos repeti<strong>do</strong>s constantemente durante a jornada <strong>de</strong> trabalho, a<br />

linha <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong>ntre outros aspectos (GOUNET, 1999, p. 18-19). Tão<br />

pouco foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s princípios da produção preconiza<strong>do</strong>s pelo sistema<br />

toyotista, que po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntre outros aspectos pela organização<br />

flexível e integrada <strong>do</strong> trabalho nas indústrias (CORIAT, 1994).<br />

Segun<strong>do</strong> a autora, to<strong>do</strong> o processo produtivo das <strong>mesas</strong><br />

estava restrito ao marceneiro e seus auxiliares, funcionários esses que<br />

<strong>do</strong>minavam todas as etapas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma mesa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o corte da<br />

ma<strong>de</strong>ira até o acabamento final, ten<strong>do</strong> os mesmos ple<strong>no</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s<br />

equipamentos. Esses funcionários da produção fabricavam todas as partes da<br />

mesa (o corpo ou base da mesa, o quadro, as tabelas, os pés e fazem to<strong>do</strong> o<br />

acabamento final em cada mesa montada). Ressalta-se aqui que os <strong>de</strong>mais<br />

funcionários que viajavam nas linhas não tinham acesso à produção das<br />

<strong>mesas</strong>, mesmo <strong>no</strong>s perío<strong>do</strong>s que não estavam viajan<strong>do</strong>. Os mesmos somente<br />

ajudavam na reforma das <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> suas linhas, evitan<strong>do</strong> assim que se<br />

tornassem futuros concorrentes. Diante disso, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Veiga (2007),<br />

po<strong>de</strong>-se afirmar que essas unida<strong>de</strong>s industriais estavam estruturadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

seu surgimento, na década <strong>de</strong> 1970, da mesma maneira: um marceneiro ao ter<br />

contato com uma mesa já fabricada conseguiu reproduzir todas as etapas <strong>de</strong><br />

produção da mesma, a partir <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> produção manufatureiro, sen<strong>do</strong><br />

o marceneiro o responsável por todas as etapas <strong>de</strong> produção.<br />

Essa forma <strong>de</strong> organização da produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

era similar em todas as indústrias presentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR até<br />

2007, isso porque as técnicas produtivas iniciais <strong>de</strong>senvolvidas pelo<br />

marceneiro da unida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong> pioneira, foram absorvidas e aprimoradas<br />

pelas <strong>de</strong>mais indústrias que passaram a ser instaladas a partir da década <strong>de</strong><br />

1970. Organização produtiva essa que re<strong>sul</strong>tava na produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>no</strong>s<br />

mesmos mol<strong>de</strong>s e com formatos semelhantes (VEIGA, 2007).<br />

Assim, em todas as indústrias, o trabalho <strong>do</strong> marceneiro<br />

envolvia basicamente as seguintes etapas: corte da ma<strong>de</strong>ira e similares,<br />

montagem da mesa, colagem <strong>do</strong>s lamina<strong>do</strong>s e acabamento final, por último a<br />

29


colocação <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> sobre a ardósia. O marceneiro também realizava o<br />

trabalho <strong>de</strong> lixar e polir os tacos e as bolas, fabricava o suporte <strong>para</strong> mesa - os<br />

pés - além <strong>de</strong> lixar a ardósia antes <strong>de</strong> revesti-la com teci<strong>do</strong>.<br />

Além da fabricação, conforme Veiga (2007), quan<strong>do</strong> necessário<br />

os marceneiros eram responsáveis pela reforma das <strong>mesas</strong> que foram<br />

danificadas durante a locação <strong>no</strong>s estabelecimentos comerciais, trabalho esse<br />

que consistia na verificação <strong>do</strong>s da<strong>no</strong>s e troca <strong>de</strong> peças ou partes que<br />

apresentavam problemas. Ressalta-se que na maioria das indústrias os<br />

funcionários que faziam à linha eram também os responsáveis por parte das<br />

reformas das <strong>mesas</strong>. Depen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong>s problemas apresenta<strong>do</strong>s pelas <strong>mesas</strong><br />

locadas, a reforma girava em tor<strong>no</strong> da substituição <strong>do</strong> teci<strong>do</strong>, já em outros era<br />

realizada em cerca <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> uma mesa ou fazia-se uma reforma total, sen<strong>do</strong><br />

nesses casos necessária a presença <strong>do</strong> marceneiro.<br />

Ainda em relação à produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, Veiga (2007), salienta<br />

que a locação das <strong>mesas</strong> acaba impon<strong>do</strong> relativa produção. Com isto, o<br />

trabalho <strong>do</strong> marceneiro passa a ser direciona<strong>do</strong> principalmente <strong>para</strong> as<br />

reformas das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>.<br />

Outro aspecto <strong>de</strong>sse setor analisa<strong>do</strong> por Veiga (2007) diz<br />

respeito aos equipamentos e i<strong>no</strong>vações tec<strong>no</strong>lógicas, que diferentemente <strong>de</strong><br />

outras indústrias apresentaram poucas alterações em relação àqueles<br />

utiliza<strong>do</strong>s nas décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980. Isso em parte po<strong>de</strong> ser relaciona<strong>do</strong> a<br />

forma <strong>de</strong> organização <strong>do</strong> trabalho nessas indústrias, on<strong>de</strong> o marceneiro é o<br />

responsável por todas as etapas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma mesa. Produto esse com<br />

baixíssimo grau <strong>de</strong> exigência durante a fabricação, não requeren<strong>do</strong> portanto a<br />

utilização <strong>de</strong> máquinas mais sofisticadas. Com isso os equipamentos simples<br />

<strong>para</strong> o trabalho com a ma<strong>de</strong>ira acabam por satisfazer as necessida<strong>de</strong>s<br />

imediatas <strong>de</strong> fabricação das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e <strong>de</strong> pebolim.<br />

Até o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2007, as indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

utilizavam máquinas e equipamentos <strong>de</strong> fabricação brasileira - em sua maioria<br />

<strong>para</strong> o trabalho com a ma<strong>de</strong>ira -, produtos esses facilmente encontra<strong>do</strong>s <strong>no</strong><br />

território brasileiro. Dentre os fornece<strong>do</strong>res <strong>de</strong> máquinas e equipamentos <strong>para</strong><br />

as indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> estava o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, com<br />

<strong>de</strong>staque <strong>para</strong> o grupo <strong>industrial</strong> Invicta Vigorelli Metalúrgica Ltda, localiza<strong>do</strong> na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Limeira-SP. Outra indústria paulista responsável pelo fornecimento<br />

30


<strong>de</strong> equipamentos <strong>para</strong> o setor era a Indústria Lanametal Ltda, localizada em<br />

Ribeirão Preto-SP.<br />

Ao com<strong>para</strong>rmos os equipamentos utiliza<strong>do</strong>s nas décadas <strong>de</strong><br />

1970 e 1980 com os utiliza<strong>do</strong>s a partir <strong>de</strong> 2000, Veiga (2007) percebeu que a<br />

introdução <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas máquinas <strong>no</strong> setor foi pequena. Os equipamentos básicos<br />

utiliza<strong>do</strong>s pelas indústrias nas décadas iniciais como a <strong>de</strong>sengrossa<strong>de</strong>ira, a<br />

serra circular, a tupia, fura<strong>de</strong>ira horizontal e a fura<strong>de</strong>ira vertical, ainda eram<br />

utiliza<strong>do</strong>s até 2007 <strong>para</strong> fabricação das <strong>mesas</strong>. Quanto à manutenção <strong>de</strong> tais<br />

equipamentos, a mesma era realizada por técnicos das próprias indústrias<br />

fornece<strong>do</strong>ras que estavam presentes nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Maringá-PR e Londrina-<br />

PR, ou então, por outros técnicos que prestavam serviços nessa área <strong>de</strong><br />

equipamentos <strong>para</strong> ma<strong>de</strong>ira. A autora consi<strong>de</strong>rou enquanto i<strong>no</strong>vação a a<strong>do</strong>ção<br />

<strong>de</strong> alguns equipamentos que facilitaram o acabamento das <strong>mesas</strong> e <strong>do</strong>s<br />

acessórios como as lixa<strong>de</strong>iras manuais, o tor<strong>no</strong>, as máquinas <strong>de</strong> polir bolas e<br />

lixar os tacos, e principalmente a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> uma máquina <strong>de</strong> acabamento das<br />

peças <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e da ardósia, a lixa. Essa máquina <strong>no</strong>meada <strong>de</strong> “lixão” pelos<br />

industriais e funcionários, era fabricada sob encomenda <strong>do</strong>s industriais.<br />

Em relação aos equipamentos que facilitam o acabamento das<br />

<strong>mesas</strong> e <strong>do</strong>s acessórios, nem todas as micro-empresas possuíam os mesmos<br />

até 2007. Sen<strong>do</strong> assim, aquelas que adquiriram essas máquinas acabavam<br />

prestan<strong>do</strong> serviços <strong>para</strong> as <strong>de</strong>mais, seja na fabricação seja na reforma <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> (VEIGA, 2007).<br />

Fica evi<strong>de</strong>nte <strong>no</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Veiga (2007), que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

estruturação inicial da primeira unida<strong>de</strong> fabril em 1970 até a instalação das<br />

<strong>de</strong>mais indústrias <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr das décadas seguintes, poucas foram as<br />

alterações técnicas a<strong>do</strong>tadas pelos industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, re<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong><br />

assim num investimento relativamente baixo na aquisição <strong>de</strong> maquinários. Isso<br />

se <strong>de</strong>ve às características <strong>de</strong> um produto que exige quantida<strong>de</strong> pequena <strong>de</strong><br />

máquinas <strong>para</strong> o trabalho com a ma<strong>de</strong>ira e também a forma <strong>de</strong> produção, que<br />

por ser manufatureira, não <strong>de</strong>manda a utilização <strong>de</strong> muitos equipamentos<br />

sofistica<strong>do</strong>s.<br />

Para Veiga (2007), talvez seja esse sistema manufatureiro,<br />

com baixíssimo nível <strong>de</strong> divisão social <strong>do</strong> trabalho e o trabalho com uso <strong>de</strong><br />

equipamentos muito simples que permitiram até certo ponto, a forte presença e<br />

31


expansão das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> contrarian<strong>do</strong> as tendências da<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minada reestruturação produtiva 10 <strong>do</strong> setor <strong>industrial</strong> que vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1980 e 1990 impon<strong>do</strong> a cada dia, maior incorporação <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações<br />

como um <strong>do</strong>s caminhos <strong>para</strong> a competitivida<strong>de</strong> oligopólica <strong>de</strong> certos setores<br />

produtivos.<br />

Outro ponto que <strong>de</strong>ve ser assinala<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a autora, diz<br />

respeito à composição orgânica <strong>do</strong> capital 11 <strong>de</strong>sses industriais, que<br />

diferentemente <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais setores industriais, po<strong>de</strong> ser caracterizada como<br />

baixa. Isso porque o montante <strong>de</strong> maquinário, matérias-primas e tu<strong>do</strong> que é<br />

necessário <strong>para</strong> produzir uma mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em relação à força <strong>de</strong> trabalho<br />

necessária, em termos <strong>de</strong> valor, torna-se baixo quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong> aos <strong>de</strong>mais<br />

ramos industriais.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Veiga (2007), <strong>de</strong>staca a baixa composição<br />

orgânica <strong>do</strong> capital como um elemento que contribuiu <strong>para</strong> a ampliação <strong>do</strong><br />

número <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s fabris nas décadas recessivas <strong>de</strong> 1980 e 1990, ten<strong>do</strong><br />

em vista que justamente <strong>no</strong>s perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> crise, o setor <strong>industrial</strong> necessita <strong>de</strong><br />

me<strong>no</strong>r capital <strong>de</strong> giro, mão-<strong>de</strong>-obra mais barata, equipamentos <strong>de</strong> baixo custo,<br />

etc. O <strong>industrial</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à crise não po<strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> eleva<strong>do</strong> capital (fixo ou<br />

variável) <strong>para</strong> produzir, caso contrário corre o risco <strong>de</strong> ter prejuízo.<br />

10 As indústrias brasileiras a partir da década <strong>de</strong> 1990 passaram a ser submetidas à uma<br />

significativa reestruturação produtiva, por conta da exposição à concorrência internacional e da<br />

tendência à valorização cambial (essa última já vinha ocorren<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os fins da década <strong>de</strong><br />

1980). Dentre as principais estratégias a<strong>do</strong>tadas <strong>de</strong>stacam-se aquelas que privilegiaram a<br />

especialização produtiva <strong>no</strong>s segmentos <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> em que <strong>de</strong>tinham maior po<strong>de</strong>r competitivo<br />

e buscaram alterar o processo produtivo, <strong>para</strong> ganhar (ou não per<strong>de</strong>r) espaço <strong>no</strong> merca<strong>do</strong><br />

inter<strong>no</strong> e, se possível, também <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong> (BRAGUETO, 2007).<br />

11 Segun<strong>do</strong> Marx (1985) composição orgânica <strong>do</strong> capital seria é a proporção entre parte <strong>do</strong><br />

capital constante (valor da matéria-prima, máquinas, equipamentos e instalações) e parte <strong>do</strong><br />

capital variável (força <strong>de</strong> trabalho).<br />

32


4- A DINÂMICA DE COMERCIALIZAÇÃO E O CONTROLE DO<br />

MERCADO POR JAGUAPITÃ-PR NO SUL DO BRASIL<br />

A produção <strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>no</strong> Sul brasileiro<br />

encontra-se espraiada, ten<strong>do</strong> inúmeras indústrias dispersas por to<strong>do</strong>s os<br />

esta<strong>do</strong>s da Região. A partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s durante as entrevistas com<br />

industriais e funcionários <strong>do</strong> setor, foi possível apontar algumas das principais<br />

áreas <strong>no</strong> Sul brasileiro (mapa 01), on<strong>de</strong> estão localizadas indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, sen<strong>do</strong> elas: Jaguapitã e Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba <strong>no</strong><br />

Paraná; o litoral catarinense com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> Joinville, São Bento <strong>do</strong> Sul e a<br />

Região Metropolitana <strong>de</strong> Florianópolis, e <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul as indústrias<br />

estão concentradas na Gran<strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Ainda em relação ao mapa, chamamos a atenção <strong>para</strong> a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Bento <strong>do</strong> Sul, na qual encontra-se instalada a indústria <strong>de</strong><br />

móveis Rudnick-S.A. Essa indústria criada em 1938, que inicialmente realizava<br />

seus trabalhos numa marcenaria instalada em peque<strong>no</strong> galpão localiza<strong>do</strong> na<br />

Estrada Dona Francisca, interior <strong>do</strong> município <strong>de</strong> São Bento <strong>do</strong> Sul – SC, é<br />

composta atualmente por um grupo <strong>de</strong> cinco fábricas, que produzem móveis<br />

<strong>para</strong> <strong>do</strong>rmitórios, cozinhas, salas <strong>de</strong> estar, salas <strong>de</strong> jantar, escritórios <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. A produção das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> fica por conta da empresa <strong>do</strong><br />

grupo <strong>de</strong><strong>no</strong>minada Artesol, que tem produzi<strong>do</strong> exclusivamente <strong>para</strong><br />

exportação. Dentre toda sua produção, cerca <strong>de</strong> 80% tem si<strong>do</strong> comercializada<br />

com a Brunswick Billiards, <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s que importa os produtos e faz a<br />

distribuição mundial. Des<strong>de</strong> a primeira exportação em 1984, a Artesol já<br />

entregou 50 mil <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>para</strong> a Brunswick Billiards. O restante é<br />

vendi<strong>do</strong> na Europa e América Latina (MACIEL, ).<br />

Em função da exigência <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> exter<strong>no</strong>, a Artesol tem<br />

fabrica<strong>do</strong> suas <strong>mesas</strong> com ma<strong>de</strong>ira maciça e materiais <strong>de</strong> alto padrão além <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra qualificada, executan<strong>do</strong> um trabalho preciso e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. A<br />

união <strong>de</strong> matéria-prima e acessórios <strong>de</strong> alto padrão e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializada tem re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> em produtos <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> <strong>no</strong> merca<strong>do</strong><br />

exter<strong>no</strong>, chegan<strong>do</strong> cada mesa a custar cerca <strong>de</strong> R$ 8 mil reais (MACIEL,<br />

).<br />

33


Mapa 01: Localização <strong>de</strong> algumas áreas com significativo número <strong>de</strong> indústrias <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong>.<br />

Org.: Veiga, 2008.<br />

34


Diferentemente, da Artesol <strong>do</strong> grupo Rudnick S.A., a maior<br />

parte das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>do</strong> Sul brasileiro produz <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

a montagem <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> inter<strong>no</strong>. Como <strong>no</strong> caso das<br />

indústrias <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, que a partir <strong>de</strong> 1990 expandiram suas áreas <strong>de</strong><br />

locação <strong>para</strong> a Região Sul, como po<strong>de</strong> ser observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sse<br />

capítulo, que além <strong>de</strong> abordar o processo <strong>de</strong> comercialização e locação, a<br />

expansão das linhas <strong>de</strong> locação principalmente <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, também<br />

discute o <strong>controle</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> exerci<strong>do</strong> por Jaguapitã-PR <strong>no</strong> referi<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

4.1 O Processo <strong>de</strong> Comercialização e Locação das Mesas <strong>para</strong><br />

Bilhar<br />

O estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Veiga (2007), contemplou um setor<br />

<strong>industrial</strong> que diferentemente <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais, tem um número significativo <strong>de</strong><br />

unida<strong>de</strong>s fabris produzin<strong>do</strong> <strong>para</strong> a locação e não <strong>para</strong> a comercialização <strong>do</strong><br />

produto. No caso das indústrias estudadas em Jaguapitã-PR, das 46 unida<strong>de</strong>s,<br />

apenas duas produziam <strong>para</strong> a venda em 2007.<br />

De acor<strong>do</strong> com a autora, o procedimento <strong>de</strong> locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> consistia num acor<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> entre o <strong>industrial</strong> e/ou funcionário da<br />

indústria e o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento comercial, on<strong>de</strong> o primeiro fornecia a<br />

mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e toda a manutenção da mesma durante o mês e o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong><br />

estabelecimento além <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r área <strong>para</strong> a mesa, ficava responsável pela<br />

venda <strong>de</strong> fichas e pelo bom uso da mesa durante os jogos <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>. Ao final <strong>de</strong><br />

cada mês, o dinheiro arrecada<strong>do</strong> em cada mesa a partir da venda das fichas<br />

era dividi<strong>do</strong> entre o <strong>industrial</strong> e o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento, oscilan<strong>do</strong> em tor<strong>no</strong><br />

<strong>de</strong> 40% <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong> e 60% <strong>para</strong> o estabelecimento comercial (VEIGA,<br />

2007).<br />

Ao se aprofundar <strong>no</strong> entendimento <strong>de</strong>sse ramo <strong>industrial</strong>, Veiga<br />

(2007) <strong>no</strong>tou uma peculiarida<strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo, que diferentemente <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais<br />

gêneros industriais presentes na cida<strong>de</strong> e na região <strong>no</strong>rte-<strong>para</strong>naense não<br />

vendia a merca<strong>do</strong>ria produzida, pelo fato da mesma ser <strong>de</strong>stinada à montagem<br />

das linhas. Esse processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> cuja finalida<strong>de</strong> é a<br />

35


locação, segun<strong>do</strong> a autora, envolve uma discussão bastante instigante a<br />

respeito da apropriação <strong>do</strong> lucro.<br />

Partin<strong>do</strong> da idéia que o <strong>industrial</strong> se apropria da mais-valia<br />

extraída <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>no</strong> ato <strong>de</strong> produção da merca<strong>do</strong>ria e que a<br />

obtenção <strong>do</strong> lucro é concretizada <strong>no</strong> momento da venda <strong>do</strong> produto (MARX,<br />

1985), os industriais que produzem as <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> a venda extraem <strong>de</strong><br />

imediato o seu lucro, algo que não ocorre com aqueles que locam as <strong>mesas</strong>.<br />

Isso porque o <strong>industrial</strong> que possui <strong>mesas</strong> locadas, ao realizar a produção das<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> não obtém <strong>de</strong> imediato a mais-valia, porque esta merca<strong>do</strong>ria<br />

não é vendida, mas sim, locada. Po<strong>de</strong>-se dizer que a mais-valia está<br />

aprisionada na merca<strong>do</strong>ria e que o <strong>industrial</strong> vai obten<strong>do</strong> parceladamente, ou<br />

seja, mês a mês ele vai obten<strong>do</strong> uma parcela <strong>de</strong>sse lucro, os 40% sobre o<br />

rendimento mensal <strong>de</strong> cada mesa – basea<strong>do</strong> <strong>no</strong> preço da ficha <strong>de</strong> jogo –<br />

correspon<strong>de</strong> ao lucro <strong>do</strong> <strong>industrial</strong>. Lucro esse que está condiciona<strong>do</strong> ao preço<br />

<strong>de</strong> cada ficha, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a concorrência.<br />

Mas o <strong>industrial</strong> também obtém mais-valia sobre os<br />

trabalha<strong>do</strong>res que realizam a linha, ou seja, os responsáveis pela mesma que<br />

são o motorista e também o seu ajudante. Estes, em gran<strong>de</strong> parte das<br />

indústrias, além <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> locação e recebimento, realizam algumas<br />

reformas necessárias às <strong>mesas</strong>, como a substituição <strong>do</strong> teci<strong>do</strong>, <strong>de</strong> caçapa, <strong>de</strong><br />

ficheiro, da ponteira <strong>do</strong> taco, <strong>de</strong> alguma peça <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira que está danificada,<br />

etc., sen<strong>do</strong> essa reforma, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> que está danifica<strong>do</strong>, realizada <strong>no</strong><br />

próprio estabelecimento comercial, <strong>no</strong> <strong>de</strong>pósito ou na indústria. Também foram<br />

observa<strong>do</strong>s casos on<strong>de</strong> os responsáveis pela linha auxiliavam o marceneiro na<br />

reforma geral das <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong>, conforme Veiga (2007).<br />

No entanto, conforme Veiga (2007), esse lucro parcela<strong>do</strong><br />

representa apenas 40% <strong>do</strong> rendimento mensal <strong>de</strong> cada mesa, sen<strong>do</strong> que a<br />

maior parte <strong>de</strong>sse lucro é absorvida por outro agente, mediante o acor<strong>do</strong><br />

comercial. Ou seja, 60% <strong>do</strong> rendimento mensal <strong>de</strong> cada mesa foi apropria<strong>do</strong><br />

pelo <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento comercial que fez o acor<strong>do</strong> com o <strong>industrial</strong>,<br />

percentual esse entendi<strong>do</strong> enquanto uma renda.<br />

Segun<strong>do</strong> a autora, <strong>no</strong>s <strong>de</strong><strong>para</strong>mos com um rentista diferente<br />

daquele discuti<strong>do</strong> por Marx (1985) e Engels (1985), cujo conceito é aplica<strong>do</strong><br />

àquele capitalista que emprega seu capital na produção <strong>de</strong> imóveis, via<br />

36


indústria <strong>de</strong> construção civil, e a partir daí os aluga auferin<strong>do</strong> uma renda.<br />

Situação essa explicada por Engels (1985) ao tratar das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.<br />

Assim não se assemelha ao rentista representa<strong>do</strong> pelo capitalista que aufere<br />

renda a partir da terra tornada merca<strong>do</strong>ria. A caracterização <strong>do</strong> <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong><br />

estabelecimento comercial enquanto um rentista, se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>do</strong> mesmo ter<br />

cedi<strong>do</strong> uma área <strong>de</strong> seu estabelecimento <strong>para</strong> a mesa pertencente ao<br />

<strong>industrial</strong>, em troca <strong>de</strong> um percentual <strong>de</strong> participação <strong>no</strong> lucro que será obti<strong>do</strong><br />

com a venda das fichas <strong>para</strong> o jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>. Esse comerciante passa a<br />

receber também <strong>de</strong> forma parcelada, a maior parte <strong>do</strong> lucro aprisiona<strong>do</strong> em<br />

cada mesa, mas que <strong>no</strong> entanto não po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> como lucro por<br />

não ter si<strong>do</strong> este o responsável pela produção da mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> e<br />

exploração <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r que gera a mais-valia. Para Veiga (2007), o mesmo<br />

aufere renda a partir da presença das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em seu<br />

estabelecimento comercial.<br />

Pelo fato da indústria ter seu lucro pauta<strong>do</strong> nesse sistema <strong>de</strong><br />

locação, o <strong>industrial</strong> objetiva ter o maior número possível <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas e<br />

assim cada proprietário vai montan<strong>do</strong> pontos estratégicos <strong>de</strong> locação e<br />

concentran<strong>do</strong> as suas <strong>mesas</strong> em áreas próximas, a fim <strong>de</strong> facilitar o trabalho<br />

<strong>de</strong> manutenção e cobrança mensal, surgin<strong>do</strong> assim as chamadas linhas <strong>de</strong><br />

locação. A autora ressalta que esses locais que compõem uma linha <strong>de</strong><br />

locação po<strong>de</strong>m estar concentra<strong>do</strong>s numa mesma área metropolitana ou<br />

cida<strong>de</strong>s/regiões e Esta<strong>do</strong>s diferentes.<br />

Segun<strong>do</strong> a autora, essas linhas eram montadas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

a <strong>de</strong>manda da área, ou seja, os funcionários ou o próprio <strong>industrial</strong> faziam o<br />

levantamento da área na qual pretendiam montar a linha, procuran<strong>do</strong> observar<br />

se os estabelecimentos comerciais eram movimenta<strong>do</strong>s, se estavam<br />

localiza<strong>do</strong>s num ponto comercial favorável e se naquela cida<strong>de</strong> tinha muitos<br />

concorrentes. Feito isso, eles passavam <strong>no</strong>s estabelecimentos oferecen<strong>do</strong> as<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, utilizan<strong>do</strong> os seguintes argumentos: qualida<strong>de</strong> das <strong>mesas</strong> e<br />

atendimento durante o mês. Eles também <strong>de</strong>stinavam os primeiros trinta dias<br />

<strong>do</strong> rendimento da mesa como brin<strong>de</strong> ao <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento comercial e<br />

em épocas <strong>de</strong> torneios <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>, os industriais forneciam os troféus aos <strong>do</strong><strong>no</strong>s<br />

<strong>do</strong>s estabelecimentos.<br />

37


No entanto, algumas linhas também podiam ser adquiridas já<br />

montadas, ou seja, com as <strong>mesas</strong> <strong>no</strong>s estabelecimentos comerciais. Isso era<br />

viabiliza<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> um <strong>industrial</strong> resolvia se <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas linhas ou<br />

quan<strong>do</strong> não <strong>de</strong>sejava mais atuar <strong>no</strong> ramo ou por dissolução <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>.<br />

Nesse caso a linha era vendida <strong>para</strong> outra pessoa que passaria a administrar o<br />

trabalho mensal na mesma (VEIGA, 2007).<br />

Objetivan<strong>do</strong> o entendimento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> compra e venda<br />

<strong>de</strong> uma linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, Veiga (2007), <strong>de</strong>screveu tal processo da<br />

seguinte maneira: o interessa<strong>do</strong> em adquirir uma linha observa inicialmente a<br />

concorrência na área, o tempo <strong>de</strong> montagem da linha, a distância até a<br />

indústria ou cida<strong>de</strong> que resi<strong>de</strong>, se o ponto comercial é bom e se tem gran<strong>de</strong><br />

fluxo <strong>de</strong> pessoas <strong>no</strong> estabelecimento comercial on<strong>de</strong> está a mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>;<br />

após realiza-se um cálculo a fim <strong>de</strong> verificar se o movimento mensal <strong>de</strong>ssa<br />

linha vai ser lucrativo ou não diante <strong>do</strong> montante que será investi<strong>do</strong> na<br />

aquisição da mesma. Esse cálculo consiste em multiplicar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> locadas nessa linha pelo preço da produção <strong>de</strong> cada mesa 12 a fim <strong>de</strong> se<br />

obter o valor <strong>do</strong> capital que será investi<strong>do</strong>. Na seqüência faz-se a multiplicação<br />

<strong>do</strong> total <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas pelo lucro mensal <strong>de</strong> uma mesa 13 a fim <strong>de</strong> obter o<br />

rendimento mensal da linha como um to<strong>do</strong>. Nesse caso <strong>de</strong> venda <strong>de</strong> uma linha<br />

já com <strong>mesas</strong> locadas, o <strong>industrial</strong> ao comercializar suas <strong>mesas</strong> extrai numa<br />

única parcela a mais-valia que ficou aprisionada em cada uma, passan<strong>do</strong> o<br />

compra<strong>do</strong>r da linha, que ainda não abriu sua unida<strong>de</strong> <strong>industrial</strong>, a receber uma<br />

renda mensal das <strong>mesas</strong> tornan<strong>do</strong>-se assim um rentista temporário. Situação<br />

essa comum entre os industriais, on<strong>de</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a gênese já discutida<br />

anteriormente, vários iniciaram como rentistas por possuírem apenas as linhas<br />

<strong>de</strong> locação, passan<strong>do</strong> posteriormente a extrair a mais-valia ao produzirem suas<br />

próprias <strong>mesas</strong>.<br />

12 O custo final <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em média perpassa o valor <strong>de</strong> R$550,00,<br />

<strong>no</strong> entanto essas <strong>mesas</strong> quan<strong>do</strong> comercializadas atingem um preço maior, varian<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

R$700,00 a 900,00, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> alcançar R$ 1.100,00 o preço <strong>de</strong> cada mesa.<br />

13 A produção mensal <strong>de</strong> uma mesa envolve a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fichas que foram vendidas e o<br />

preço <strong>de</strong> cada uma. Como ocorre uma variação entre esses fatores numa mesma linha, uma<br />

mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> acaba ten<strong>do</strong> o lucro mensal diferencia<strong>do</strong> da outra, sen<strong>do</strong> feito assim o cálculo<br />

a partir <strong>de</strong> uma média <strong>de</strong> lucro <strong>para</strong> cada mesa numa <strong>de</strong>terminada linha, média essa que varia<br />

<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a região, em função principalmente da concorrência que influencia muito <strong>no</strong><br />

preço <strong>de</strong> cada ficha.<br />

38


Ainda a respeito das linhas <strong>de</strong> locação, é necessário dizer<br />

conforme Veiga (2007), que cada <strong>industrial</strong> <strong>de</strong>stinava uma camionete e <strong>do</strong>is<br />

funcionários <strong>para</strong> o trabalho em cada linha, sen<strong>do</strong> um o responsável pela<br />

organização e realização <strong>do</strong> trabalho na linha e o outro o ajudante. Ambos<br />

tinham sob sua responsabilida<strong>de</strong>, em média, um total <strong>de</strong> 200 a 250 <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> locadas. To<strong>do</strong>s os meses eles se <strong>de</strong>slocavam <strong>para</strong> o trabalho na linha;<br />

geralmente a saída ocorria sempre <strong>no</strong> início da primeira quinzena e o retor<strong>no</strong><br />

<strong>para</strong> Jaguapitã-PR <strong>no</strong> final da segunda quinzena <strong>de</strong> cada mês.<br />

Segun<strong>do</strong> a autora, quan<strong>do</strong> os funcionários estavam na linha,<br />

perío<strong>do</strong> que durava cerca <strong>de</strong> 15 dias 14 , os mesmos eram responsáveis pelo<br />

recebimento <strong>do</strong> lucro <strong>de</strong> cada mesa; pela manutenção da mesa proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />

com uma reforma ou troca das <strong>mesas</strong> danificadas, assim como pela locação <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vas <strong>mesas</strong> em estabelecimentos comerciais que ainda não possuíam as<br />

mesmas, e ainda retiravam <strong>mesas</strong> <strong>de</strong> estabelecimentos que tinham baixo<br />

faturamento mensal ou porque o comerciante não estava pagan<strong>do</strong> o percentual<br />

combina<strong>do</strong> <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong>.<br />

Durante a permanência quinzenal na linha, esses funcionários<br />

geralmente ficavam em um barracão da própria empresa, o qual eles<br />

<strong>de</strong><strong>no</strong>minavam <strong>de</strong>pósito. Esse <strong>de</strong>pósito se encontrava na cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> tinha a<br />

maior aglomeração <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, <strong>para</strong> facilitar o trabalho diário <strong>do</strong>s<br />

funcionários. Além da cida<strong>de</strong> com maior concentração <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, eles<br />

faziam cobranças em outras cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> possuíam <strong>mesas</strong> locadas, mas isso<br />

se dava durante o trajeto <strong>de</strong> ida <strong>para</strong> <strong>de</strong>pósito ou durante o retor<strong>no</strong> <strong>para</strong><br />

Jaguapitã-PR. Por exemplo, em uma linha <strong>de</strong> Jaguapitã-PR a Porto Alegre-RS<br />

que possuía 200 <strong>mesas</strong> locadas, os <strong>do</strong>is funcionários recebiam a renda mensal<br />

<strong>de</strong> uma mesa numa cida<strong>de</strong> litorânea <strong>de</strong> Santa Catarina, sen<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mais<br />

cobranças e to<strong>do</strong> o trabalho realiza<strong>do</strong>s na região metropolitana <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre-RS, mais precisamente nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alvorada-RS, on<strong>de</strong> a<br />

indústria <strong>para</strong> qual trabalhavam tinha um barracão (<strong>de</strong>pósito). Neste, os<br />

funcionários ficavam abriga<strong>do</strong>s, guardavam as <strong>mesas</strong> que seriam reformadas e<br />

as <strong>no</strong>vas <strong>para</strong> serem locadas.<br />

14 Em algumas empresas os funcionários permanecem mais tempo na linha, cerca <strong>de</strong> 20 dias,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, que chega a 300 unida<strong>de</strong>s ou até mesmo ultrapassam esse<br />

número.<br />

39


Embora o percentual <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong> que era <strong>de</strong> 60% na<br />

década <strong>de</strong> 1970 sobre o preço da ficha, tenha si<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong> <strong>para</strong> 40% em<br />

2006 15 , a locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> ainda tem si<strong>do</strong> lucrativa. Durante as<br />

entrevistas, conseguimos obter algumas informações que <strong>no</strong>s possibilitaram<br />

enten<strong>de</strong>r o custo da manutenção da linha e o lucro obti<strong>do</strong> com a mesma.<br />

Vamos <strong>de</strong>monstrar tal entendimento através <strong>de</strong> um exemplo hipotético levan<strong>do</strong><br />

em consi<strong>de</strong>ração o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r da Região Sul, a partir <strong>de</strong> uma linha<br />

<strong>de</strong> locação com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> estimada em 250 unida<strong>de</strong>s. Ten<strong>do</strong><br />

cada mesa <strong>de</strong>ssa linha uma arrecadação mensal <strong>de</strong> R$ 50,00 <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong>;<br />

ao final <strong>do</strong> mês o mesmo obterá um lucro bruto <strong>de</strong> R$12.500,00. É o valor bruto<br />

porque <strong>de</strong>sse montante serão <strong>de</strong>sconta<strong>do</strong>s o custo <strong>de</strong> manutenção mensal da<br />

linha <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, como o combustível, o pedágio, o aluguel <strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito,<br />

a alimentação, telefone usa<strong>do</strong>s pelos funcionários, além <strong>do</strong> almoxarifa<strong>do</strong>, o<br />

teci<strong>do</strong>, tacos, bolas, giz, etc. que foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> as reformas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

<strong>de</strong>ssa linha.<br />

Enfim, após to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>scontos, resta <strong>para</strong> o <strong>industrial</strong> ainda<br />

uma quantia <strong>de</strong> aproximadamente R$ 8.000,00 mensais, <strong>do</strong> qual ainda será<br />

<strong>de</strong>sconta<strong>do</strong> o salário <strong>do</strong>s funcionários que trabalham na linha, cerca <strong>de</strong> 10%<br />

<strong>para</strong> o responsável pela linha e 5% <strong>para</strong> o ajudante. Ao final <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o<br />

processo, o <strong>industrial</strong> terá um lucro <strong>de</strong> cerca R$ 6.700,00 por mês. Levan<strong>do</strong>-se<br />

em consi<strong>de</strong>ração o custo médio <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> uma mesa que varia <strong>de</strong> 400,00<br />

reais a 700,00 reais, variação essa que ocorre <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as condições <strong>de</strong><br />

produção como preço da matéria-prima, preço da mão-<strong>de</strong>-obra, etc, a produção<br />

e locação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> tem si<strong>do</strong> um investimento rentável como po<strong>de</strong><br />

ser observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> raciocínio a seguir.<br />

Ten<strong>do</strong> por base os seguintes elementos: a quantida<strong>de</strong><br />

estimada <strong>de</strong> 250 <strong>mesas</strong>, com preço médio <strong>de</strong> venda estima<strong>do</strong> em R$ 900,00<br />

<strong>para</strong> cada mesa e o valor <strong>de</strong> R$ 6.700,00 como lucro parcela<strong>do</strong> estima<strong>do</strong> <strong>para</strong><br />

uma linha com 250 <strong>mesas</strong> locadas, enten<strong>de</strong>mos que o <strong>industrial</strong> que produz<br />

<strong>para</strong> a locação, a longo prazo obterá um lucro, embora parcela<strong>do</strong>, maior que<br />

aquele que produziu a mesma quantia <strong>para</strong> ven<strong>de</strong>r, conforme po<strong>de</strong> ser<br />

observa<strong>do</strong> na tabela 01 a seguir:<br />

15 Alguns industriais que possuíam linhas <strong>no</strong> Centro-Oeste e Norte <strong>do</strong> Brasil conseguiam fazer o<br />

acor<strong>do</strong> <strong>de</strong> 50%, segun<strong>do</strong> conversas informais em 2006.<br />

40


Tabela 01: Lucros Bruto e Líqui<strong>do</strong> Obti<strong>do</strong>s a Partir da Comercialização e da<br />

Locação <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong> Bilhar.<br />

Comercialização (venda) <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

Qt<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

Custo médio <strong>de</strong><br />

produção<br />

Preço médio <strong>de</strong><br />

venda<br />

Lucro bruto Lucro Líqui<strong>do</strong><br />

250 R$ 550,00 R$ 900,00 R$ 225.000,00 R$ 87.500,00<br />

Mesas locadas em linhas<br />

Qt<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

Custo médio <strong>de</strong><br />

produção<br />

Preço médio <strong>de</strong><br />

venda<br />

Lucro bruto<br />

(mensal)<br />

Lucro Líqui<strong>do</strong><br />

250 R$ 550,00 xxxxxxxxxxxx R$ 12.500,00 R$ 6.700,00<br />

Fonte: Conversas informais, 2006.<br />

Org.: Léia Aparecida Veiga<br />

Os valores apresenta<strong>do</strong>s na tabela 01, embora hipotéticos,<br />

<strong>de</strong>monstram que o processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> locação tem si<strong>do</strong><br />

mais lucrativo, isso porque, as 250 <strong>mesas</strong> vendidas ao preço médio <strong>de</strong> R$<br />

900,00, re<strong>sul</strong>tarão num lucro líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$ 87.500. Já o mesmo número <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> locadas numa linha com lucro líqui<strong>do</strong> mensal <strong>de</strong> R$ 6.700,00, ao final<br />

<strong>de</strong> 12 meses o <strong>industrial</strong> terá obti<strong>do</strong> R$80.400,00; <strong>no</strong> final <strong>de</strong> 24 a<strong>no</strong>s R$<br />

160.800,00 e com perspectiva <strong>de</strong> lucro a cada a<strong>no</strong> <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da linha.<br />

Assim, o capital inicial <strong>de</strong> R$ 137.500,00 investi<strong>do</strong> <strong>para</strong><br />

produzir 250 <strong>mesas</strong> a um custo <strong>de</strong> produção médio <strong>de</strong> R$ 550,00, <strong>no</strong> final <strong>de</strong><br />

60 meses ou 5 a<strong>no</strong>s po<strong>de</strong> re<strong>sul</strong>tar num lucro líqui<strong>do</strong> <strong>de</strong> R$ 402.000,00 - isso se<br />

mantida a expectativa <strong>de</strong> arrecadação média <strong>de</strong> R$ 50,00 por mesa, ao mês,<br />

<strong>para</strong> o <strong>industrial</strong>. Além <strong>de</strong>sse lucro líqui<strong>do</strong> parcela<strong>do</strong> das <strong>mesas</strong> numa linha <strong>de</strong><br />

locação, esse <strong>industrial</strong> ainda <strong>de</strong>tém a proprieda<strong>de</strong> das <strong>mesas</strong> que<br />

representam um tipo particular <strong>de</strong> capital imobiliza<strong>do</strong>, algo que aquele <strong>industrial</strong><br />

que ven<strong>de</strong>ra as <strong>mesas</strong> não possui mais. Ressalta-se ainda que o tempo útil <strong>de</strong><br />

cada mesa gira em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 5 a 20 a<strong>no</strong>s, estan<strong>do</strong> o mesmo relaciona<strong>do</strong> à<br />

qualida<strong>de</strong> da matéria-prima utilizada pelo <strong>industrial</strong> e às condições <strong>de</strong><br />

exposição da mesa <strong>no</strong> estabelecimento comercial 16 .<br />

Embora a obtenção <strong>do</strong> lucro seja maior com a locação, em<br />

2007 na cida<strong>de</strong> ocorria a comercialização <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, on<strong>de</strong> o<br />

<strong>industrial</strong> vendia as <strong>mesas</strong> produzidas <strong>para</strong> outros industriais que possuíam<br />

linhas e compravam <strong>para</strong> repor ou ampliar sua linha. Ou então eles vendiam<br />

16 Segun<strong>do</strong> os levantamentos <strong>de</strong> campo em 2006, as <strong>mesas</strong> expostas aos raios solares, a água<br />

da chuva e a presença <strong>de</strong> insetos como cupins, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandarem maior manutenção<br />

mensal, acabam ten<strong>do</strong> me<strong>no</strong>r tempo <strong>de</strong> vida útil, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 5 a<strong>no</strong>s.<br />

41


<strong>para</strong> industriais da Região Metropolitana <strong>de</strong> São Paulo-SP que adquiriam essas<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> posteriormente reven<strong>de</strong>rem-nas <strong>para</strong> industriais que num da<strong>do</strong><br />

momento efetuam a reposição 17 ou <strong>para</strong> pessoas que possuíam apenas linhas<br />

<strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>. Ocorria ainda, embora em me<strong>no</strong>r quantida<strong>de</strong>, a venda <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>do</strong><strong>no</strong>s <strong>de</strong> estabelecimentos comerciais (hotéis, pousadas,<br />

restaurantes, clubes, associações como AABB, entre outros). No entanto,<br />

<strong>de</strong>ntre os industriais que produziam <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> a venda, os mesmos<br />

<strong>de</strong>stacavam a não lucrativida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong> ao processo <strong>de</strong> locação<br />

(VEIGA, 2007).<br />

No caso <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, <strong>do</strong>s 46 atuantes apenas <strong>do</strong>is<br />

industriais que possuíam quantida<strong>de</strong> pequena <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas optaram pela<br />

comercialização <strong>de</strong> uma parte das <strong>mesas</strong> que fabricavam. Nesse caso,<br />

conforme assinala<strong>do</strong> pela autora, é importante <strong>de</strong>stacar que o <strong>industrial</strong> que<br />

produzia a mesa apenas <strong>para</strong> a venda não estava conseguin<strong>do</strong> uma taxa <strong>de</strong><br />

lucro que viabilizasse a continuida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s produtivas. Isto porque<br />

talvez o gran<strong>de</strong> segre<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse ramo <strong>industrial</strong> seja a locação, pois a mesma<br />

permite a obtenção <strong>de</strong> lucro parcela<strong>do</strong> <strong>no</strong> <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da<br />

linha. Como <strong>no</strong> caso <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, essas <strong>mesas</strong> eram<br />

locadas em <strong>de</strong>z esta<strong>do</strong>s brasileiros e em algumas cida<strong>de</strong>s da Argentina,<br />

Uruguai e Paraguai até 2007, os mesmos tinham acesso a um amplo e varia<strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Em relação ao merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, o valor da ficha <strong>para</strong> o<br />

jogo numa mesa <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> variava <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>para</strong> outro, <strong>de</strong> R$ 0,30 a R$<br />

0,70 centavos em média, sen<strong>do</strong> os preços mais baixos pratica<strong>do</strong>s na Região<br />

Sul, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a concorrência com as <strong>de</strong>mais indústrias existentes nesses três<br />

esta<strong>do</strong>s e principalmente, pela disputa <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> entre os próprios industriais<br />

<strong>de</strong> Jaguapitã-PR que possuíam <strong>mesas</strong> locadas em Santa Catarina, Rio Gran<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Sul e Paraná (VEIGA, 2007).<br />

17 Principalmente entre as micro-empresas isso ocorre, ten<strong>do</strong> em vista que várias <strong>de</strong>ssas<br />

unida<strong>de</strong>s por possuírem poucas linhas com <strong>mesas</strong> locadas acabam dispensan<strong>do</strong> o marceneiro,<br />

sen<strong>do</strong> portanto mais barato comprar a mesa pronta <strong>do</strong> que fabricá-la quan<strong>do</strong> a reposição é <strong>de</strong><br />

apenas uma a três <strong>mesas</strong>. No entanto, quan<strong>do</strong> esse mesmo <strong>industrial</strong> precisa <strong>de</strong> uma<br />

quantida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, seja <strong>para</strong> reposição ou <strong>para</strong> <strong>no</strong>vas locações, o mesmo contrata<br />

um marceneiro temporário e compra a matéria-prima e os acessórios, pois nesse caso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

quantida<strong>de</strong>, o custo com a compra é muito superior, sen<strong>do</strong> mais lucrativo a fabricação das<br />

<strong>mesas</strong>.<br />

42


Dentre os <strong>de</strong>z esta<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> os industriais possuíam <strong>mesas</strong><br />

locadas, a lucrativida<strong>de</strong> era maior na Região Norte, entretanto segun<strong>do</strong> Veiga<br />

(2007), os mesmos não explicaram por que as pessoas em Rondônia ou<br />

Amazonas recorriam mais ao jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>. Acredita-se que além <strong>do</strong> preço<br />

maior das fichas <strong>no</strong> Norte <strong>do</strong> Brasil, aproximadamente R$ 0,70, um outro<br />

elemento que contribuía <strong>para</strong> a alta lucrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada mesa até 2007, seria<br />

o fato <strong>de</strong>ssas <strong>mesas</strong> serem locadas em estabelecimentos comerciais <strong>de</strong><br />

peque<strong>no</strong>s centros urba<strong>no</strong>s, como <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Amazonas, on<strong>de</strong> existiam<br />

<strong>mesas</strong> locadas tanto na Região Metropolitana <strong>de</strong> Manaus como em peque<strong>no</strong>s<br />

povoa<strong>do</strong>s mais distantes da capital, com a maior parte da população<br />

empregada em carvoarias e na pesca. De acor<strong>do</strong> com a autora, estes acabam<br />

recorren<strong>do</strong> ao jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>no</strong>s finais <strong>de</strong> semana como umas das opções<br />

principais <strong>de</strong> lazer.<br />

Veiga (2007), chama a atenção <strong>para</strong> o fato <strong>de</strong>sse merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r não ser exigente quanto a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s acessórios e da mesa<br />

como o <strong>do</strong> Centro-Sul, o que re<strong>sul</strong>ta em me<strong>no</strong>r número <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas na<br />

Região Norte <strong>para</strong> os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Caso o grau <strong>de</strong> exigência<br />

fosse o mesmo que <strong>no</strong> Centro-Sul - como por exemplo <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,<br />

que será discuti<strong>do</strong> a seguir -, a <strong>de</strong>manda pelas <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> produzidas<br />

em Jaguapitã-PR seria maior, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a qualida<strong>de</strong> das mesmas quan<strong>do</strong><br />

com<strong>para</strong>das com aquelas produzidas pelos industriais <strong>de</strong> Manaus-AM.<br />

Com a crescente concorrência, as pequenas empresas<br />

conseguiam montar linhas <strong>de</strong> locação em esta<strong>do</strong>s mais distantes <strong>do</strong> Paraná,<br />

como Rondônia, Acre, Amazonas, Sul <strong>de</strong> Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso,<br />

fican<strong>do</strong> assim com parcelas maiores <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, já que a micro-<br />

empresas <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o custo <strong>de</strong> produção e manutenção das linhas, se restringiam<br />

a montagem das mesmas <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s mais próximo e <strong>no</strong> próprio Paraná.<br />

No entanto, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), o número <strong>de</strong> <strong>mesas</strong><br />

locadas não po<strong>de</strong> ser toma<strong>do</strong> como elemento indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>stas,<br />

ten<strong>do</strong> em vista que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas e <strong>de</strong> funcionários nem sempre é<br />

proporcional à fabricação <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>. Num primeiro momento, a partir da análise<br />

da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas e produção mensal <strong>de</strong> <strong>mesas</strong>, a autora exemplifica a<br />

seguinte situação: uma micro-empresa com linhas <strong>no</strong> Mato Grosso (mapa 02),<br />

São Paulo e <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s da Região Sul, não produziu nenhuma mesa em<br />

43


2007, se limitan<strong>do</strong> apenas às reformas. O mesmo não aconteceu com uma<br />

micro-empresa que tinha linhas apenas <strong>no</strong> <strong>no</strong>rte, <strong>no</strong>r<strong>de</strong>ste e su<strong>do</strong>este <strong>do</strong><br />

Paraná (mapa 03), que produziu 1 mesa mensal, além das reformas.<br />

O mesmo ocorreu quan<strong>do</strong> Veiga (2007) analisou o número <strong>de</strong><br />

funcionários e da produção mensal, on<strong>de</strong> a autora constatou que indústrias<br />

classificadas enquanto pequenas-empresas por possuírem acima <strong>de</strong> 20<br />

funcionários, tiveram uma produção mensal me<strong>no</strong>r que algumas micro-<br />

indústrias, que produziram em média 27 e 18 <strong>mesas</strong> mensalmente e não<br />

possuíam nem 10 funcionários <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2006. Para a autora, esses<br />

elementos analisa<strong>do</strong>s indicam que a dinâmica da produção era distinta nas<br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR, ten<strong>do</strong> em vista que uma micro-empresa<br />

po<strong>de</strong>ria produzir mais que pequenas empresas. Ainda a respeito da produção,<br />

a autora ressaltou que em 2006 e 2007, a maioria das indústrias <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR estavam <strong>de</strong>dican<strong>do</strong>-se principalmente à manutenção das linhas ten<strong>do</strong> com<br />

isso mais reformas que produção.<br />

Mapa 02: Merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma micro-empresa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Fonte: Veiga, 2007.<br />

44


Mapa 03: Merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma micro-empresa <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Fonte: Veiga, 2007.<br />

Conforme já menciona<strong>do</strong>, com o aumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong><br />

fábricas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, as áreas <strong>de</strong> locação<br />

das mesmas também foram ampliadas, passan<strong>do</strong> a englobar esta<strong>do</strong>s da<br />

porção Norte e Centro-Sul. Dentre essas áreas, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), a maior<br />

porção <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR em 2006 concentrava-se <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s da Região Centro-<strong>sul</strong><br />

pre<strong>do</strong>minantemente, ou seja, a maior quantida<strong>de</strong> das linhas estavam em São<br />

Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, conforme<br />

representa<strong>do</strong> <strong>no</strong> mapa 04. Esses Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da década <strong>de</strong> 1970,<br />

tornaram-se área preferencial <strong>de</strong> locação das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> produzidas por<br />

Jaguapitã-PR, principalmente os <strong>do</strong> Sul e cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> interior <strong>de</strong> São Paulo, em<br />

virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> amplo merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r gera<strong>do</strong> pela baixa concorrência nas<br />

décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980.<br />

45


Mapa 04: Principais áreas que concentram o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r das indústrias <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2006.<br />

Fonte: Veiga (2007).<br />

Embora o referi<strong>do</strong> mapa também evi<strong>de</strong>ncie que <strong>no</strong>vas áreas<br />

<strong>de</strong> locação começaram a ser exploradas a partir da década <strong>de</strong> 1990, por uma<br />

parcela <strong>de</strong> industriais que passaram a buscar <strong>no</strong>vos merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res e<br />

uma saída <strong>para</strong> o enfrentamento da concorrência -Centro-Oeste e Norte-, a<br />

abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas linhas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s da Região Sul ainda ocorreu<br />

a partir <strong>de</strong> 2000. Da mesma forma, os esforços daqueles industriais que<br />

objetivavam manter suas linhas nesses esta<strong>do</strong>s foram significativos <strong>no</strong>s últimos<br />

a<strong>no</strong>s, principalmente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o preço das fichas <strong>de</strong> jogo que até 2006 eram<br />

mais baixos que as <strong>de</strong>mais áreas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> Su<strong>de</strong>ste, Centro-Oeste e Norte<br />

<strong>do</strong> Brasil.<br />

Segun<strong>do</strong> Veiga (2007), o valor da ficha <strong>para</strong> o jogo numa mesa<br />

<strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> variava <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong> <strong>para</strong> outro, <strong>de</strong> R$ 0,30 a R$ 0,70 centavos<br />

em média, sen<strong>do</strong> os preços me<strong>no</strong>res pratica<strong>do</strong>s na Região Sul, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

46


concorrência com as <strong>de</strong>mais indústrias existentes nesses três esta<strong>do</strong>s e<br />

principalmente, pela disputa <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> entre os próprios industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR que possuíam <strong>mesas</strong> locadas em Santa Catarina, Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Sul e Paraná. Ressalta-se que <strong>de</strong>ntre esses três Esta<strong>do</strong>s, os preços me<strong>no</strong>res<br />

estavam ocorren<strong>do</strong> até 2008 <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

A partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Veiga (2007) e <strong>do</strong>s<br />

levantamentos <strong>de</strong> campo feitos em 2008 na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre, percebe-se que a presença <strong>de</strong> industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR é gran<strong>de</strong><br />

nesses Esta<strong>do</strong>s, fican<strong>do</strong> estes com a maior parcela <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Esse <strong>controle</strong> <strong>de</strong> parte signifficativa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, fica mais<br />

evi<strong>de</strong>nte, segun<strong>do</strong> Veiga (2007), a partir da observação <strong>de</strong> apenas um<br />

<strong>industrial</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR com linhas na Região Sul –mapa 05.<br />

No referi<strong>do</strong> mapa, as cores representam as linhas, sen<strong>do</strong> cada<br />

linha <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>is funcionários. Cada ponto <strong>de</strong>marca<strong>do</strong> <strong>no</strong><br />

mapa diz respeito a uma cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o <strong>industrial</strong> possui inúmeras <strong>mesas</strong> <strong>para</strong><br />

<strong>bilhar</strong> locadas. A legenda organizada ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong> mapa faz referência às linhas,<br />

que recebem <strong>de</strong><strong>no</strong>minações específicas <strong>para</strong> melhor gerenciamento <strong>do</strong><br />

trabalho. Essa micro-indústria possui quantida<strong>de</strong> maior <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

locadas <strong>no</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Paraná e <strong>de</strong> Santa Catarina, sen<strong>do</strong> em me<strong>no</strong>r<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, on<strong>de</strong> possui <strong>mesas</strong> locadas em apenas 21<br />

cida<strong>de</strong>s. Percebe-se assim que tanto a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s com <strong>mesas</strong><br />

locadas pelo mesmo como a extensão <strong>de</strong> suas linhas <strong>de</strong> locação são<br />

significativas e garantem a este <strong>industrial</strong> lucros satisfatórios ao final <strong>de</strong> cada<br />

mês.<br />

47


Mapa 05: Em <strong>de</strong>staque algumas linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> locadas na Região Sul<br />

por uma micro-indústria <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, 2007.<br />

Fonte: Veiga, 2007.<br />

Ainda em relação ao referi<strong>do</strong> mapa, levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração<br />

a quantida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> por linha <strong>de</strong> locação, cerca <strong>de</strong> 250 unida<strong>de</strong>s em<br />

cada, percebe-se que a empresa possuía uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> locadas <strong>no</strong> Paraná e Santa Catarina, numa estimativa <strong>de</strong> 500 e <strong>de</strong> 1000<br />

<strong>mesas</strong>, respectivamente. No Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, esse <strong>industrial</strong> possui me<strong>no</strong>s<br />

48


<strong>mesas</strong> locadas, pouco mais <strong>de</strong> 350 unida<strong>de</strong>s. Ainda que essa média tenha si<strong>do</strong><br />

obtida a partir <strong>de</strong> conversas informais em 2006, a mesma auxilia na<br />

compreensão tanto da lucrativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> setor como <strong>do</strong> mo<strong>no</strong>pólio temporário<br />

que esses industriais têm exerci<strong>do</strong> até o momento, na referida área.<br />

A tabela 02 a seguir, <strong>de</strong>staca as áreas <strong>de</strong> montagem das linhas<br />

<strong>de</strong> locação <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s da Região Sul por vários industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

Dentre os 27 industriais entrevista<strong>do</strong>s em 2006 por Veiga (2007), 23 possuíam<br />

linhas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> Paraná, em Santa Catarina e/ou <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Embora o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> algumas particularida<strong>de</strong>s relativas ao<br />

preço da ficha e ao processo competitivo, tenha recebi<strong>do</strong> <strong>de</strong>staque nesse<br />

estu<strong>do</strong>, as informações expressas <strong>no</strong>s mapas anteriores e na tabela 02,<br />

evi<strong>de</strong>nciam que tanto <strong>no</strong> Paraná como em Santa Catarina, esses industriais até<br />

2006, tinham inúmeras linhas <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> locadas, indican<strong>do</strong> um expressivo<br />

<strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r por parte <strong>do</strong>s mesmos, <strong>no</strong>s referi<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s.<br />

Com base nestas análises, enten<strong>de</strong>mos que a produção<br />

<strong>industrial</strong> <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> visan<strong>do</strong> à montagem <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> locação e a<br />

expansão das mesmas <strong>no</strong>s esta<strong>do</strong>s da Região Sul, tem re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> em lucros<br />

significativos <strong>para</strong> esses industriais.<br />

49


Tabela 02: Principais Áreas <strong>de</strong> Locação das Indústrias <strong>de</strong> Mesas <strong>para</strong> Bilhar<br />

<strong>de</strong> Jaguapitã-PR em 2006*.<br />

Indústria Finalida<strong>de</strong> Áreas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

1 locação Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Sul <strong>do</strong> Mato Grosso, Norte <strong>de</strong> Rondônia<br />

2 locação Sul e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Paraná, Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Mato Grosso<br />

3 locação Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre – RS, Sul <strong>do</strong> Paraná, Sul <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, Oeste <strong>de</strong> São Paulo e Sul <strong>do</strong> Mato Grosso<br />

4 locação Norte, Noroeste e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Paraná<br />

5 locação Norte <strong>de</strong> São Paulo, Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba, Sul e<br />

Su<strong>do</strong>este Mato Grosso Sul, Sul <strong>do</strong> Mato Grosso, extremo Leste <strong>do</strong><br />

Paraguai, Norte e Noroeste <strong>de</strong> Rondônia e Região Metropolitana <strong>de</strong><br />

Manaus – AM<br />

6 locação Litoral e Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Santa Catarina, Norte, Oeste e Sul <strong>do</strong> Paraná,<br />

Norte e Oeste <strong>de</strong> São Paulo, Sul <strong>de</strong> Goiás<br />

7 locação Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre – RS, Litoral <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina, Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba – PR, Nor<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, Su<strong>do</strong>este Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Sul <strong>de</strong> são Paulo e Sul<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais<br />

8 locação Região Sul, interior <strong>de</strong> São Saulo e <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul<br />

9 locação Norte <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Su<strong>do</strong>este <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

10 locação Oeste <strong>do</strong> Paraná, Noroeste <strong>do</strong> Mato Grosso, Leste da Argentina,<br />

Norte, Oeste e Sul <strong>de</strong> Rondônia<br />

11 locação Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul, Sul Mato Grosso, Norte <strong>de</strong> São<br />

Paulo, Região Metropolitana <strong>de</strong> Florianópolis – SC, Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba – PR<br />

12 locação Norte <strong>do</strong> Paraná e Norte <strong>de</strong> São Paulo.<br />

13 locação Norte <strong>de</strong> São Paulo, Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

14 locação Região metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre – RS, Sul e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong><br />

Paraná, Sul <strong>de</strong> Santa Catarina<br />

15 locação Norte e Oeste <strong>do</strong> Paraná<br />

16 locação Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Santa Catarina, Oeste <strong>do</strong> Paraná<br />

17 locação Noroeste <strong>de</strong> Minas Gerais, Sul <strong>de</strong> Goiás<br />

18 locação Litoral <strong>de</strong> Santa Catarina<br />

19 locação Região Metropolitana <strong>de</strong> Curitiba – PR, Litoral e Su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina<br />

20 locação Noroeste <strong>do</strong> Paraná, Su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> São Paulo, Sul <strong>do</strong> Mato Grosso,<br />

Su<strong>do</strong>este <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

21 Locação Norte e Sul <strong>do</strong> Paraná, Oeste e Sul <strong>de</strong> São Paulo<br />

22 locação Norte <strong>de</strong> São Paulo, Litoral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

23 locação Sul e Su<strong>do</strong>este <strong>de</strong> São Paulo<br />

24 locação Su<strong>do</strong>este <strong>de</strong> São Paulo, Oeste <strong>do</strong> Paraná, Sul <strong>do</strong> Mato Grosso<br />

25 locação Norte, Oeste e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Paraná, Sul e Su<strong>do</strong>este <strong>do</strong> Mato Grosso<br />

26 locação Região Sul e Norte <strong>de</strong> São Paulo<br />

27 locação Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre – RS, Sul e Norte <strong>do</strong> Mato<br />

Grosso<br />

* Essa tabela diz respeito às informações obtidas durante as entrevistas realizadas por Veiga<br />

(2007) em 27 indústrias das 46 existentes na cida<strong>de</strong>.<br />

Fonte: Adapta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Veiga, 2007.<br />

50


4.2. A Expansão das Linhas <strong>de</strong> Locação <strong>no</strong> Sul brasileiro: o<br />

caso <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul<br />

Embora <strong>no</strong>ssos estu<strong>do</strong>s indiquem que os industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR controlam o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r na Região Sul, <strong>no</strong>s<br />

reportaremos ao caso <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, que além <strong>de</strong> ser o esta<strong>do</strong> com<br />

me<strong>no</strong>r preço <strong>de</strong> ficha <strong>de</strong> jogo quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong> aos <strong>de</strong>mais <strong>do</strong> Brasil, <strong>no</strong><br />

mesmo até 2008, a disputa travada entre industriais locais e <strong>de</strong> Jaguapitã-PR<br />

era mais acirrada.<br />

De acor<strong>do</strong> com os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s por Veiga (2007), foi a<br />

partir <strong>do</strong> final da década <strong>de</strong> 1980 e início <strong>de</strong> 1990, quan<strong>do</strong> os preços das fichas<br />

<strong>de</strong> jogo eram maiores que os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR passaram a<br />

conquistar <strong>de</strong> maneira agressiva o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,<br />

principalmente a Região Metropolitana e seu em tor<strong>no</strong>. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong><br />

mencionar que nas décadas <strong>de</strong> 1980 e 1990, ocorreu a criação <strong>do</strong> maior<br />

número <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em Jaguapitã-PR, aumentan<strong>do</strong><br />

assim a procura por merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Mas, <strong>no</strong>ssos levantamentos <strong>de</strong> campo em 2008 na Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre, apontaram outro fator importante que contribuiu<br />

<strong>para</strong> a inserção e <strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r por parte <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul: a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto e <strong>do</strong> atendimento<br />

oferta<strong>do</strong>s pelos mesmos.Ou seja, as <strong>mesas</strong> fabricadas e o atendimento<br />

realiza<strong>do</strong> pelos responsáveis das linhas <strong>de</strong> Jaguapitã-PR eram superiores em<br />

qualida<strong>de</strong> àqueles oferta<strong>do</strong>s pela maioria <strong>do</strong>s industriais locais – estima-se que<br />

em to<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> em 2008 haviam cerca <strong>de</strong> 30 indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>,<br />

estan<strong>do</strong> a maior parte concentrada na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre -,<br />

a <strong>no</strong>sso ver fatores esses <strong>de</strong>cisivos <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> locar a mesa num<br />

estabelecimento comercial.<br />

Segun<strong>do</strong> informações obtidas nas entrevistas, quan<strong>do</strong> os<br />

industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR começaram a ampliar as linhas <strong>de</strong> locação<br />

principalmente na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre, as indústrias locais<br />

começaram a per<strong>de</strong>r sua clientela, já que as <strong>mesas</strong> ofertadas pelas fábricas <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR eram superiores em qualida<strong>de</strong>. Isso porque as <strong>mesas</strong> fabricadas<br />

51


<strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul até o final da década <strong>de</strong> 1980 eram mais simples: a parte<br />

superior (campo da mesa) era recoberta com ma<strong>de</strong>ira ao invés da ardósia<br />

muito utilizada pelos industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Outras diferenças estavam<br />

relacionadas à ausência <strong>de</strong> pés nivela<strong>do</strong>res da mesa e <strong>do</strong>s lamina<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong><br />

utilizada uma ma<strong>de</strong>ira envernizada <strong>no</strong> lugar <strong>do</strong>s lamina<strong>do</strong>s <strong>para</strong> recobrir as<br />

laterais da mesa.<br />

Além <strong>de</strong>ssas diferenças relacionadas à matéria-prima e<br />

componentes da mesa, os industriais locais não dispunham <strong>de</strong> máquinas e<br />

equipamentos semelhantes àqueles utiliza<strong>do</strong>s pelos industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR. Ou seja, máquinas como a <strong>de</strong> polir bolas e <strong>de</strong> lixar a ardósia não eram<br />

comuns entre os industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, assim como alguns tipos <strong>de</strong><br />

serras e máquinas <strong>para</strong> o acabamento da mesa - Serra Circular com mesa<br />

móvel, Plaina <strong>de</strong>sengrossa<strong>de</strong>ira, Desempena<strong>de</strong>ira, Tupia, etc.- No caso <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>ssos entrevista<strong>do</strong>s, os mesmos utilizavam equipamentos mais simples como<br />

fura<strong>de</strong>iras e serras manuais - sen<strong>do</strong> algumas <strong>de</strong>ssas serras adaptadas pelo<br />

próprio <strong>industrial</strong>. Outra máquina adaptada era a Tupia, o proprietário fizera<br />

alterações numa máquina já existente a fim <strong>de</strong> conseguir rendimento próximo<br />

aquele obti<strong>do</strong> com uma Tupia original. Ainda segun<strong>do</strong> o entrevista<strong>do</strong>, a sua<br />

indústria possuía uma Serra Circular <strong>de</strong> fabricação inglesa, adquirida num<br />

leilão <strong>de</strong> máquinas e equipamentos usa<strong>do</strong>s, por um preço bem acessível.<br />

Percebe-se que a maioria <strong>do</strong>s industriais da Região<br />

Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre, utilizavam máquinas e equipamentos <strong>para</strong> o<br />

trabalho e acabamento da ma<strong>de</strong>ira ainda mais simples que aqueles<br />

emprega<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Essas diferenças, seja na matéria- prima<br />

e alguns componentes, seja <strong>no</strong>s equipamentos e máquinas utilizadas,<br />

acabavam por comprometer o produto final quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong> ao produzi<strong>do</strong><br />

por Jaguapitã-PR, repercutin<strong>do</strong> assim <strong>no</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, que passou a<br />

optar pelas <strong>mesas</strong> com qualida<strong>de</strong> maior.<br />

Chamamos atenção <strong>para</strong> a composição orgânica <strong>do</strong> capital<br />

<strong>de</strong>ssas indústrias <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, que por não utilizarem as mesmas<br />

matérias-primas e um número me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> máquinas e equipamentos - <strong>de</strong>ntre os<br />

quais alguns não foram adquiri<strong>do</strong>s originalmente das fábricas e sim adapta<strong>do</strong>s<br />

<strong>para</strong> o trabalho na marcenaria-, fornecem indícios <strong>de</strong> uma baixa composição<br />

orgânica <strong>do</strong> capital, mais baixa que aquela <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

52


Contu<strong>do</strong>, a adaptação <strong>de</strong> máquinas não <strong>de</strong>ve ser entendida como sinônimo <strong>de</strong><br />

perda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> em geral. No Brasil é comum a adaptação <strong>de</strong> máquinas e<br />

equipamentos que re<strong>sul</strong>tam em gran<strong>de</strong>s melhorias na produção, e talvez em<br />

i<strong>no</strong>vação.<br />

Além da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto final, percebemos que outro<br />

fator interferia diretamente <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> locar as <strong>mesas</strong> <strong>no</strong>s<br />

estabelecimentos comerciais, <strong>no</strong> caso, o atendimento ofereci<strong>do</strong> pelos<br />

funcionários que faziam à linha. Segun<strong>do</strong> <strong>no</strong>ssos entrevista<strong>do</strong>s, a mão-<strong>de</strong>-obra<br />

<strong>para</strong> esse trabalho na linha era qualitativamente inferior quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong>da à<br />

<strong>de</strong> Jaguapitã-PR, isso porque faltava aos funcionários da Gran<strong>de</strong> Porto Alegre<br />

a experiência e eficiência <strong>para</strong> conquistar a “fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>” <strong>do</strong> <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong><br />

estabelecimento comercial, assim como <strong>para</strong> encontrar pontos <strong>de</strong> locação<br />

lucrativos. Ressalta-se que a “fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>” nesse caso é muito importante, pois<br />

com a crescente concorrência é comum funcionários <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> outros<br />

industriais ofertarem <strong>mesas</strong> com um percentual maior <strong>de</strong> renda <strong>para</strong> o<br />

comerciante, fator esse que leva o <strong>do</strong><strong>no</strong> <strong>do</strong> estabelecimento a romper o acor<strong>do</strong><br />

com o <strong>industrial</strong> anterior e aceitar a <strong>no</strong>va proposta.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, em função da falta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada<br />

<strong>para</strong> o trabalho nas linhas <strong>de</strong> locação, os salários <strong>de</strong>sses funcionários que<br />

faziam as linhas das fábricas locais eram superiores àqueles pagos pelos<br />

industriais jaguapitaenses. Segun<strong>do</strong> os entrevista<strong>do</strong>s, um funcionário que<br />

<strong>de</strong>sempenhava um bom trabalho na linha <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,<br />

recebia em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2.000,00 a 2.200,00 reais ao mês. Valores salariais esses<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s satisfatórios quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong>s àqueles recebi<strong>do</strong>s pelos<br />

funcionários <strong>de</strong> Jaguapitã-PR com bom <strong>de</strong>sempenho nas linhas <strong>de</strong> locação,<br />

que recebiam <strong>no</strong> máximo cerca <strong>de</strong> R$ 1.500,00, remuneração visivelmente<br />

me<strong>no</strong>r que a praticada <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Outro aspecto importante observa<strong>do</strong> <strong>no</strong> perío<strong>do</strong> em que foram<br />

realizadas as entrevistas na Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre, diz respeito<br />

ao preço das fichas <strong>de</strong> jogo <strong>de</strong> <strong>bilhar</strong>. Os industriais relataram que <strong>no</strong> início <strong>de</strong><br />

mês <strong>de</strong> julho/2008, por iniciativa <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, fora realizada<br />

uma reunião <strong>para</strong> discutir o preço da ficha <strong>de</strong> jogo. Na mesma estavam<br />

presentes to<strong>do</strong>s os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR que tinham <strong>mesas</strong> locadas <strong>no</strong><br />

esta<strong>do</strong> e parte <strong>do</strong>s industriais locais. Quan<strong>do</strong> indaga<strong>do</strong>s sobre o transcorrer<br />

53


das dicussões, pouco <strong>no</strong>s informaram, mas ficou claro que os industriais <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul que não partici<strong>para</strong>m da reunião, estavam insatisfeitos com a<br />

presença <strong>do</strong>s indústriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR <strong>no</strong> esta<strong>do</strong>, pelos mesmos terem<br />

toma<strong>do</strong> <strong>para</strong> si o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r que eles controlavam. Uma frase dita<br />

por um <strong>do</strong>s industriais locais resume esse sentimento: “Quan<strong>do</strong> os<br />

<strong>para</strong>naenses chegaram não se preocu<strong>para</strong>m com a gente, se íamos ter<br />

prejuizo ou não. E agora ficam queren<strong>do</strong> fazer reunião <strong>para</strong> <strong>de</strong>cidir preço <strong>de</strong><br />

ficha, montar associação? Nos negamos a discutir com eles”. Fica evi<strong>de</strong>nte na<br />

fala <strong>do</strong> mesmo, que os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR tomaram <strong>para</strong> si os pontos<br />

<strong>de</strong> locação que antes os pertenciam, causan<strong>do</strong> prejuízo e consequente clima<br />

<strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> com os <strong>para</strong>naenses. Para estes fabricantes locais, seria<br />

mais viável se essa expansão das <strong>mesas</strong> produzidas pelos jaguapitaenses<br />

tivesse ocorri<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma subordinada aos mesmos e não da maneira como<br />

vem ocorren<strong>do</strong>.<br />

Posteriormente, durante conversas informais com funcionários<br />

<strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, sobre os aspectos aborda<strong>do</strong>s na reunião, os<br />

mesmos informaram que a discussão girou em tor<strong>no</strong> <strong>do</strong> preço das fichas <strong>de</strong><br />

jogo, que com a crescente concorrência vem sen<strong>do</strong> rebaixa<strong>do</strong>, chegan<strong>do</strong> ao<br />

ponto <strong>de</strong> em alguns estabelecimentos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> a ficha custar cerca <strong>de</strong> R$<br />

0,25. Como forma <strong>de</strong> enfrentamento <strong>do</strong> problema, os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR propuseram a elevação <strong>do</strong> preço da ficha <strong>para</strong> R$ 0,70 a partir <strong>do</strong> mês <strong>de</strong><br />

agosto e também discutiram a formação <strong>de</strong> uma Associação com o objetivo<br />

principal <strong>de</strong> regulamentar, <strong>de</strong>ntre outros aspectos, o preço da ficha <strong>no</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

A respeito <strong>do</strong> preço da ficha, este foi eleva<strong>do</strong> <strong>para</strong> R$ 0,70, sen<strong>do</strong> “obrigatório”<br />

<strong>para</strong> to<strong>do</strong>s que ali se faziam presentes, mesmo que alguns industriais locais<br />

não tenham concorda<strong>do</strong> com essa elevação <strong>do</strong> preço.<br />

Mas a discussão sobre a formação da Associação não teve<br />

progressos, primeiramente porque faltou representantes <strong>de</strong> número<br />

significativo das indústrias locais, a maioria era <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Outro entrave<br />

à formação da mesma foi a composição da diretoria: os industriais <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul presentes não concordaram com a presença <strong>de</strong> industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR na função <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte, geran<strong>do</strong> então um impasse <strong>para</strong> a<br />

composição <strong>de</strong>sse grupo que iria representar e coor<strong>de</strong>nar os interesses <strong>do</strong>s<br />

fabricantes tanto <strong>do</strong> Paraná como <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

54


Como essa reunião ocorreu em julho/2008, a repercussão <strong>do</strong><br />

aumento <strong>de</strong> preço só se <strong>de</strong>u em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> agosto, quan<strong>do</strong> os funcionários<br />

das linhas retornariam <strong>para</strong> o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, a fim <strong>de</strong> realizarem suas<br />

funções e informarem aos <strong>do</strong><strong>no</strong>s <strong>do</strong>s estabelecimentos comerciais sobre a alta<br />

<strong>do</strong> preço da ficha. Durante to<strong>do</strong> o final <strong>do</strong> mês <strong>de</strong> julho e início <strong>de</strong> agosto,<br />

alguns funcionários estavam apreensivos, por saberem que ao aumentarem o<br />

preço estavam corren<strong>do</strong> o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>rem o ponto <strong>para</strong> outro <strong>industrial</strong> local<br />

com preço me<strong>no</strong>r. Outro motivo seria o fato da clientela <strong>de</strong> alguns pontos <strong>de</strong><br />

locação não po<strong>de</strong>r pagar pelo <strong>no</strong>vo preço, ten<strong>do</strong> assim o funcionário que<br />

manter o preço anterior, comprometen<strong>do</strong> a renda mensal das <strong>mesas</strong> locadas e<br />

a comissão <strong>do</strong> mesmo <strong>no</strong> final <strong>do</strong> mês.<br />

No final <strong>de</strong> agosto, já era possível ter uma <strong>no</strong>ção <strong>do</strong> impacto<br />

gera<strong>do</strong> por esse aumento <strong>do</strong> preço. Na maioria <strong>do</strong>s estabelecimentos o preço<br />

foi eleva<strong>do</strong> conforme discuti<strong>do</strong> na reunião, fican<strong>do</strong> <strong>no</strong>s <strong>de</strong>mais o preço anterior<br />

ou ocorreu a substituição das <strong>mesas</strong> <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR pelas <strong>do</strong>s<br />

industriais locais que não a<strong>de</strong>riram ao aumento <strong>do</strong> preço da ficha. Em linhas<br />

gerais, as perdas <strong>para</strong> os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR nesse primeiro momento<br />

<strong>de</strong> ajuste não foram significativas. No entanto, os mesmos estavam atentos<br />

<strong>para</strong> os meses seguintes, em virtu<strong>de</strong> da ação <strong>do</strong>s industriais locais que não<br />

a<strong>de</strong>riram a elevação <strong>do</strong> preço da ficha, colocan<strong>do</strong> em risco os pontos <strong>de</strong><br />

locação <strong>do</strong>s <strong>para</strong>naenses.<br />

A partir <strong>do</strong> que foi exposto, percebe-se que os industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR acabam por impor não só a qualida<strong>de</strong> das <strong>mesas</strong> e o ritmo <strong>de</strong><br />

trabalho nas linhas <strong>de</strong> locação, mas também o preço das fichas <strong>de</strong> jogo <strong>no</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, restan<strong>do</strong> aos industriais locais a prática <strong>do</strong><br />

me<strong>no</strong>r <strong>do</strong> preço da ficha como uma forma <strong>de</strong> obter uma pequena parcela <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, que prefere o preço me<strong>no</strong>r ao invés <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> tanto<br />

<strong>do</strong> produto oferta<strong>do</strong> como <strong>no</strong> atendimento.<br />

55


4.3. O Controle <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> Exerci<strong>do</strong> por Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Sul<br />

<strong>do</strong> Brasil<br />

Embasa<strong>do</strong>s na premissa que <strong>no</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> produção capitalista<br />

o processo <strong>de</strong> concorrência “[...] caracteriza<strong>do</strong> pela tentativa das firmas <strong>de</strong><br />

construir vantagens competitivas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> produção ou comercialização<br />

<strong>de</strong> bens ou serviços que diferencie os por elas oferta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais [...]”<br />

(POSSAS, 1999, p. 130), enten<strong>de</strong>mos que o <strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

<strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul pelos industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, é re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>ssa tendência comum <strong>no</strong> processo competitivo 18 trava<strong>do</strong> entre os industriais.<br />

Não preten<strong>de</strong>mos realizar uma discussão teórica acerca da<br />

concorrência e to<strong>do</strong>s os seus mecanismos estratégicos, mas apenas retomar<br />

alguns elementos relevantes <strong>para</strong> o entendimento <strong>de</strong>sse <strong>controle</strong> exerci<strong>do</strong> por<br />

Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Sul brasileiro, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> o Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Inicialmente, <strong>de</strong>ntre os mecanismos estratégicos <strong>de</strong><br />

concorrência, <strong>no</strong> caso das indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>, chamamos atenção<br />

<strong>para</strong> a diferenciação <strong>do</strong>s produtores 19 , <strong>no</strong> caso aquela existente entre os<br />

fabricantes <strong>de</strong> Jaguapitã-PR e <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul. A primeira diferenciação<br />

po<strong>de</strong> ser relacionada ao capital variável. Os industriais <strong>para</strong>naenses, em<br />

virtu<strong>de</strong> da crescente oferta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR – pelo longo tempo <strong>de</strong> presença das indústrias e formação <strong>do</strong>s<br />

trabalha<strong>do</strong>res na prática- tanto <strong>para</strong> produção como <strong>para</strong> o trabalho nas linhas<br />

<strong>de</strong> locação, produzem <strong>mesas</strong> por um custo me<strong>no</strong>r que os industriais <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, levan<strong>do</strong>-se em consi<strong>de</strong>ração os salários pratica<strong>do</strong>s pelos<br />

mesmos. Nesse caso, a diferenciação na concorrência estaria correlacionada à<br />

mais-valia, discutida por Marx (1985), ou seja, tais ganhos po<strong>de</strong>m gerar o<br />

aumento da escala produtiva, que ampliaria as diferenças relativas <strong>no</strong>s<br />

méto<strong>do</strong>s produtivos e elevaria os ganhos <strong>do</strong>s industriais. Algo que não tem<br />

ocorri<strong>do</strong> entre os industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, pois o custo maior com a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra tem comprometi<strong>do</strong> investimentos em máquinas/equipamentos e<br />

matérias-primas, inviabiliza<strong>do</strong> até certo ponto possíveis melhorias <strong>no</strong> processo<br />

18 Segun<strong>do</strong> Possas (1999, p. 173), ser competitivo é ter condições <strong>de</strong> alcançar bons re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong>s<br />

<strong>no</strong> processo <strong>de</strong> concorrência.<br />

19 De acor<strong>do</strong> com Possas (1999) a diferenciação entre produtores não se trata apenas da<br />

diferenciação <strong>de</strong> produto, mas <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o que possa dar a cada produtor uma vantagem sobre<br />

os <strong>de</strong>mais, até mesmo alterações <strong>no</strong>s custos.<br />

56


<strong>de</strong> fabricação da mesa, dificultan<strong>do</strong> assim a competição com as indústrias <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR.<br />

Um outro elemento <strong>de</strong> diferenciação relaciona<strong>do</strong> aos<br />

produtores seria a i<strong>no</strong>vação, que segun<strong>do</strong> Schumpeter (1982) não diz respeito<br />

apenas à introdução <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos méto<strong>do</strong>s produtivos, mas também <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos<br />

produtos, <strong>no</strong>vas formas <strong>de</strong> organização da produção, a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos<br />

merca<strong>do</strong>s, <strong>no</strong>vas fontes <strong>de</strong> matérias-primas, ou seja, a i<strong>no</strong>vação está<br />

relacionada a qualquer ação <strong>do</strong> <strong>industrial</strong> que re<strong>sul</strong>te na diferenciação <strong>de</strong> seus<br />

produtos <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais concorrentes e que repercuta <strong>no</strong>s seus custos e/ou na<br />

<strong>de</strong>manda pelos mesmos. Na interpretação shumpeteriana, essas i<strong>no</strong>vações<br />

são impulsionadas por indivíduos -ou organizações- empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res 20 que<br />

mediante sua iniciativa e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber e implementar estratégias<br />

acabam por perceber oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e <strong>de</strong> possíveis ganhos.<br />

A correlação das idéias <strong>de</strong> Schumpeter (1982) sobre i<strong>no</strong>vações<br />

e indivíduo empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r com as indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> em questão,<br />

po<strong>de</strong> ser feita a <strong>no</strong>sso ver, em <strong>do</strong>is momentos. O primeiro está relaciona<strong>do</strong> ao<br />

início da ativida<strong>de</strong> em Jaguapitã-PR, <strong>no</strong> final da década <strong>de</strong> 1960 e início <strong>de</strong><br />

1970, quan<strong>do</strong> os sócios pioneiros resolveram investir na produção <strong>industrial</strong><br />

das <strong>mesas</strong>, mediante o <strong>de</strong>smonte e cópia das peças <strong>de</strong> uma mesa adquirida<br />

pelos mesmos. Chamamos a atenção <strong>para</strong> o ato empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong>sses sócios<br />

<strong>no</strong> referi<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que os mesmos tomaram a iniciativa <strong>de</strong><br />

produzir algo que não era fabrica<strong>do</strong> na região e muito me<strong>no</strong>s na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, num momento <strong>de</strong> profundas transformações na agropecuária<br />

<strong>no</strong>rte-<strong>para</strong>naense. Mas como assinala<strong>do</strong> por Schumpeter (1982), esses<br />

empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res per<strong>de</strong>ram tal característica, na medida que outros agentes<br />

sociais passaram a instalar outras indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> na cida<strong>de</strong> e<br />

paulatinamente houve <strong>de</strong>créscimo <strong>do</strong>s lucros extraordinários em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

crescente concorrência.<br />

A saída encontrada por um grupo <strong>de</strong> industriais <strong>para</strong> retomar<br />

lucros semelhantes ao que recebiam os sócios pioneiros <strong>no</strong> final da década <strong>de</strong><br />

1960 e em 1970 ou <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s manter uma margem satisfatória, foi o<br />

20 Para Schumpeter (1984) um indivíduo só é empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r quan<strong>do</strong> realmente empreen<strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>vas combinações, e per<strong>de</strong> essa característica logo que sua firma se estabiliza. Por isso,<br />

ninguém é empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r to<strong>do</strong> o tempo e ninguém po<strong>de</strong> ser somente empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r. Os<br />

empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>res não formam uma classe social, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ter várias origens: trabalha<strong>do</strong>res,<br />

aristocratas, faxineiros, artistas, etc.<br />

57


aperfeiçoamento <strong>do</strong> produto a partir <strong>de</strong> modificações tanto na matéria-prima<br />

como <strong>no</strong>s equipamentos/máquinas utilizadas. Assinalamos aqui a i<strong>no</strong>vação sob<br />

a forma <strong>de</strong> imitação criativa, que envolve cópia e aperfeiçoamento <strong>do</strong> produto,<br />

como assinala<strong>do</strong> por teóricos neoshumpeteria<strong>no</strong>s (CASALI, 2007).<br />

Em relação à matéria-prima, se na década <strong>de</strong> 1970 a base da<br />

mesa era fabricada com ma<strong>de</strong>ira -cedro e pinho- invernizada, a parte superior<br />

(campo <strong>de</strong> jogo) com ma<strong>de</strong>ira compensada com apenas duas caçapas e eram<br />

utilizadas apenas seis bolas <strong>para</strong> o jogo; em 1980 as <strong>mesas</strong> já possuíam seis<br />

caçapas e oito bolas <strong>de</strong> jogo numeradas, as bases passaram a ter o<br />

acabamento <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>irite revesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> lamina<strong>do</strong>s -fórmicas-, a parte superior<br />

começou a ser fabricada com aglomera<strong>do</strong> e foi introduzi<strong>do</strong> o ficheiro. Em busca<br />

<strong>de</strong> um produto competitivo, em 1990 outras alterações foram realizadas, como<br />

a substituição <strong>do</strong> aglomera<strong>do</strong> na parte superior pela ardósia, das caçapas <strong>de</strong><br />

plástico pelas <strong>de</strong> alumínio e o uso <strong>de</strong> pés nivela<strong>do</strong>res nas <strong>mesas</strong>. Sem contar<br />

os cuida<strong>do</strong>s com os tacos, que passaram a não ter mais imperfeições, segun<strong>do</strong><br />

entrevista concedida por José Zago em 29/08/2005. Alterações também foram<br />

feitas na forma <strong>de</strong> produzir, com a introdução <strong>de</strong> máquinas <strong>para</strong> lixar os tacos,<br />

<strong>para</strong> polir as bolas, <strong>para</strong> lixar e dar o acabamento final na ardósia e peças das<br />

laterais da mesa, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

Essas modificações <strong>de</strong>senvolvidas por alguns industriais tanto<br />

na matéria-prima como <strong>no</strong>s equipamentos/máquinas, re<strong>sul</strong>taram em <strong>mesas</strong> e<br />

acessórios com maior qualida<strong>de</strong> que aquelas produzidas nas décadas<br />

anteriores, garantin<strong>do</strong> assim abertura <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong> locação ou<br />

manutenção das linhas já instaladas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s anteriores.<br />

No entanto, por esses industriais conviverem numa cida<strong>de</strong><br />

pequena, on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> se sabe tu<strong>do</strong> se vê e também pelo fato <strong>do</strong> produto ser um<br />

bem <strong>de</strong> fabricação simples ao ponto <strong>de</strong> qualquer marceneiro hábil conseguir<br />

reproduzi-la, essas modificações paulatinamente foram incorporadas por todas<br />

as 46 indústrias instaladas em Jaguapitã-PR, interferin<strong>do</strong> assim <strong>no</strong> lucro<br />

extraordinário daqueles industriais que tinham realiza<strong>do</strong> as mudanças <strong>no</strong><br />

produto a partir <strong>de</strong> 1980.<br />

Como o objetivo <strong>do</strong> <strong>industrial</strong> é sempre aumentar ou <strong>no</strong> mínimo<br />

manter a margem <strong>de</strong> lucro, os fabricantes <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR, frente a concorrência criada com o crescente número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s fabris<br />

58


na cida<strong>de</strong> e conseqüente melhoria <strong>do</strong> produto, mais uma vez encontraram na<br />

i<strong>no</strong>vação a saída. Mas <strong>de</strong>ssa vez i<strong>no</strong>varam ao <strong>de</strong>scobrirem <strong>no</strong>vas áreas <strong>para</strong><br />

montarem suas linhas <strong>de</strong> locação, ou seja, esses industriais criaram <strong>no</strong>vos<br />

merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res <strong>para</strong> seus produtos (SCHUMPETER, 1982), ten<strong>do</strong> por<br />

base a qualida<strong>de</strong> das <strong>mesas</strong> fabricadas pelos mesmos. É importante assinalar<br />

que nem to<strong>do</strong>s os industriais que expandiram suas linhas <strong>para</strong> <strong>no</strong>vas áreas <strong>de</strong><br />

locação obtiveram lucros extraordinários, a maioria frente esse <strong>no</strong>vo merca<strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r, teve a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter a margem <strong>de</strong> lucro necessária <strong>para</strong><br />

a continuida<strong>de</strong> da firma. Isso porque essa expansão <strong>de</strong>man<strong>do</strong>u investimento<br />

em veículos, a contratação <strong>de</strong> mais funcionários <strong>para</strong> fazerem a linha e<br />

<strong>de</strong>spesas com aluguel <strong>de</strong> alojamentos <strong>para</strong> os funcionários permanecerem o<br />

perío<strong>do</strong> da cobrança.<br />

A <strong>no</strong>sso ver, se num primeiro momento as i<strong>no</strong>vações<br />

caracterizadas enquanto imitação criativa estavam circunscritas a melhoria <strong>do</strong><br />

produto, essa expansão da locação <strong>para</strong> outras áreas e a i<strong>no</strong>vação enquanto<br />

criação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, principalmente a partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s da<br />

década <strong>de</strong> 1980, marca o segun<strong>do</strong> momento <strong>de</strong> análise visto que passou a<br />

envolver além das indústrias jaguapitaenses aquelas presentes nessas <strong>no</strong>vas<br />

áreas <strong>de</strong> locação.<br />

Como dito anteriormente, se <strong>para</strong> os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-<br />

PR, a montagem <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas linhas <strong>de</strong> locação tem significa<strong>do</strong> o aumento ou<br />

manutenção da margem <strong>de</strong> lucro, em algumas <strong>de</strong>ssas mesmas áreas, <strong>para</strong> os<br />

industriais locais ou regionais com produções qualitativamente inferiores, um<br />

processo contrário passou a ocorrer. Como <strong>no</strong> caso <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul,<br />

on<strong>de</strong> os industriais locais passaram a ser submeti<strong>do</strong>s a um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

adaptação, ou na interpretação <strong>de</strong> Schumpeter (1984), esses industriais<br />

estariam passan<strong>do</strong> pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição criativa.<br />

Segun<strong>do</strong> o autor, o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição criativa passa a<br />

existir quan<strong>do</strong> numa situação <strong>de</strong> equilíbrio inicial, ocorre a introdução primeira<br />

<strong>de</strong> uma i<strong>no</strong>vação <strong>de</strong> qualquer natureza por parte <strong>de</strong> um empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>r,<br />

restan<strong>do</strong> aos <strong>de</strong>mais à adaptação à <strong>no</strong>va situação ou a falência e eliminação<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.<br />

Nos remeten<strong>do</strong> ao caso <strong>do</strong>s industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, a<br />

chegada das <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Esta<strong>do</strong>, significou <strong>no</strong><br />

59


<strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s a<strong>no</strong>s a perda <strong>de</strong> parcela significativa <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />

Diante <strong>de</strong>sse fato, indústrias locais introduziram modificações <strong>no</strong> produto –<br />

mesa- e nas máquinas e equipamentos, com o objetivo <strong>de</strong> produzir <strong>mesas</strong><br />

semelhantes àquelas oferecidas pelos industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. Esse<br />

mesmo grupo passou também a investir na contratação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

qualificada, já que além <strong>de</strong> ofertar um produto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, os funcionários<br />

jaguapitaenses que realizavam o trabalho na linha se sobressaíam quan<strong>do</strong><br />

com<strong>para</strong><strong>do</strong>s àqueles contrata<strong>do</strong>s pelas indústrias <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Segun<strong>do</strong> os <strong>no</strong>ssos entrevista<strong>do</strong>s, esse grupo <strong>de</strong> industriais que passaram a<br />

investir tanto na fabricação <strong>do</strong> produto como na contratação <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

mais qualificada principalmente <strong>para</strong> o trabalho nas linhas, estavam<br />

conseguin<strong>do</strong> auferir lucros significativos, mesmo frente à concorrência imposta<br />

pelos industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR até mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2008.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, a maioria <strong>do</strong>s fabricantes <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong><br />

que ainda insistiam na fabricação segun<strong>do</strong> os mol<strong>de</strong>s anteriores e que não<br />

investiram na contratação <strong>de</strong> funcionários qualifica<strong>do</strong>s nas linhas, ficaram com<br />

parcela reduzida <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, re<strong>sul</strong>tan<strong>do</strong> em prejuízos e até<br />

mesmo em casos <strong>de</strong> falência.<br />

Percebe-se assim, que embora um grupo <strong>de</strong> industriais da<br />

região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre esteja a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> as modificações<br />

necessárias <strong>no</strong> produto, equipamentos e forma <strong>de</strong> trabalhar nas linhas <strong>para</strong><br />

permanecerem <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>, o número <strong>de</strong> fábricas que até 2008 não tinham<br />

introduzi<strong>do</strong> tais alterações ainda era significativo, situação essa que tem<br />

contribuí<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>cisiva <strong>para</strong> a expansão das linhas <strong>de</strong> locação das<br />

indústrias <strong>de</strong> Jaguapitã-PR não só na referida área, mas por to<strong>do</strong> o <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Esse <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, a partir <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações <strong>no</strong> produto e <strong>no</strong> atendimento nas linhas <strong>de</strong><br />

locação, po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>do</strong> enquanto uma mo<strong>no</strong>polização temporária <strong>de</strong><br />

uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>, cujo re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser a obtenção <strong>de</strong> lucros<br />

extraordinários, por um certo tempo. Segun<strong>do</strong> Possas (1999, p. 40-41), esse<br />

mo<strong>no</strong>pólio é entendi<strong>do</strong> como temporário porque<br />

60


[...] cada produtor está permanentemente tentan<strong>do</strong> ser<br />

mo<strong>no</strong>polista <strong>de</strong> algum item <strong>do</strong> processo produtivo, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong><br />

que os outros concorrentes não consigam fabricar produto tão<br />

barato ou tão bem aceito. É a perspectiva <strong>do</strong> lucro <strong>de</strong><br />

mo<strong>no</strong>pólio que incentiva a i<strong>no</strong>vação [...] Tal busca <strong>de</strong>ve levar<br />

em consi<strong>de</strong>ração as especificida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> bem ou serviço<br />

produzi<strong>do</strong> e <strong>de</strong> seu merca<strong>do</strong>. Com freqüência essas vantagens<br />

são obtidas pela introdução <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações e se dissipam mais<br />

ou me<strong>no</strong>s rapidamente segun<strong>do</strong> a rapi<strong>de</strong>z da ocorrência <strong>de</strong><br />

sua difusão. Caso esta última seja incompleta, os lucros<br />

extraordinários se mantêm e as vantagens das firmas<br />

i<strong>no</strong>va<strong>do</strong>ras tornam-se obstáculos à livre mobilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> capital.<br />

Entretanto essas vantagens não são tão permanentes quanto<br />

possa parecer, pois i<strong>no</strong>vações adicionais feitas por firmas<br />

concorrentes po<strong>de</strong>m ultrapassá-las e torna-las obsoletas.<br />

Como dito anteriormente, embora ainda sejam poucos os<br />

industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> da Gran<strong>de</strong> Porto Alegre que estejam<br />

proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> com mudanças <strong>no</strong> produto e <strong>no</strong> trabalho nas linhas, ou melhor<br />

dizen<strong>do</strong> imitações, tal fato po<strong>de</strong> ser indício <strong>de</strong> uma futura ruptura <strong>de</strong>sse<br />

mo<strong>no</strong>pólio exerci<strong>do</strong> por Jaguapitã-PR. Assinalamos que po<strong>de</strong> ser, por<br />

consi<strong>de</strong>rarmos o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sdiferenciação enquanto uma estratégia <strong>de</strong><br />

concorrência. Esse processo segun<strong>do</strong> Possas (1999, p. 42) seria aquele em<br />

que os produtores “[...] quer sejam <strong>no</strong>vos <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>, quer se trate <strong>do</strong>s que<br />

ficaram <strong>para</strong> trás, tentam se aproximar <strong>do</strong>s que estão a frente <strong>para</strong> não serem<br />

seleciona<strong>do</strong>s <strong>para</strong> fora <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>”. Essa aproximação ou até mesmo a<br />

quebra <strong>do</strong> mo<strong>no</strong>pólio estabeleci<strong>do</strong> pelos jaguapitaenses, po<strong>de</strong> ser viabilizada<br />

mediante a introdução/<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação, sen<strong>do</strong> a imitação criativa<br />

o caminho <strong>de</strong>linea<strong>do</strong> até o presente momento pelos industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> Sul. Ressalta-se que por enten<strong>de</strong>rmos a “[...] a concorrência enquanto um<br />

processo sem térmi<strong>no</strong>, contínuo e sem tréguas” (POSSAS, 1999, p. 31), a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ruptura <strong>do</strong> mo<strong>no</strong>pólio exerci<strong>do</strong> por Jaguapitã-PR acima<br />

<strong>de</strong>lineada não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação <strong>do</strong>s industriais locais,<br />

mas também da mesma capacida<strong>de</strong> por parte <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR.<br />

E que essa ruptura só será concretizada caso os jaguapitaenses não<br />

introduziam i<strong>no</strong>vações que possam manter ou até mesmo ampliar o mo<strong>no</strong>pólio<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>no</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil.<br />

61


Ainda a respeito <strong>do</strong> mo<strong>no</strong>pólio exerci<strong>do</strong> pelos industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR <strong>no</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil, o mesmo até julho <strong>de</strong> 2008 não se assemelhava<br />

às práticas mo<strong>no</strong>polísticas 21 amplamente utilizadas por diversos ramos<br />

industriais, <strong>no</strong> caso cartel, truste, conglomera<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntre outras. Esse mo<strong>no</strong>pólio<br />

tem ocorri<strong>do</strong> como já assinala<strong>do</strong> anteriormente, por conta <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações e<br />

conseqüentes diferenciações <strong>no</strong> produto, equipamentos e <strong>no</strong> trabalho nas<br />

linhas <strong>de</strong> locação.<br />

Além disso, é importante colocar que esse mo<strong>no</strong>pólio <strong>do</strong><br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r na Região Sul, tem ocorri<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma distinta. Nos<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Paraná e <strong>de</strong> Santa Catarina, <strong>no</strong> processo competitivo com<br />

indústrias <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s o enfrentamento não é tão<br />

acirra<strong>do</strong> como <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, o que tem re<strong>sul</strong>ta<strong>do</strong> num <strong>controle</strong><br />

horizontal <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Já <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, os industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, como já menciona<strong>do</strong> anteriormente, observou-se uma tentativa<br />

<strong>de</strong> formação <strong>de</strong> Associação cujo objetivo principal seria o <strong>controle</strong> <strong>do</strong> preço<br />

pratica<strong>do</strong>. Caso ocorra a concretização <strong>de</strong>ssa Associação, os industriais<br />

jaguapitaenses conseguirão não só elevar o preço da ficha e por seguinte<br />

extraírem lucros extraordinários, como po<strong>de</strong>rão impor <strong>de</strong> forma mais rígida o<br />

preço das fichas <strong>de</strong> jogo <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong>.<br />

Assinalamos aqui, a tentativa <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> “cartel”<br />

por parte <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, quan<strong>do</strong> os mesmos manifestam o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> Associação <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s acima <strong>de</strong>scrito e mobilizam-se<br />

<strong>para</strong> tentar “unir” industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e <strong>de</strong> Jaguapitã-PR. O que<br />

foi <strong>de</strong>scrito também evi<strong>de</strong>ncia que <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, diferentemente <strong>do</strong><br />

Paraná e Santa Catarina, entre os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR era comum até<br />

2008 a idéia <strong>de</strong> <strong>controle</strong> vertical <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, como forma <strong>de</strong><br />

manter as linhas <strong>de</strong> locação e as perspectivas <strong>de</strong> lucros.<br />

21 Cartel é um grupo <strong>de</strong> empresas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes que formalizam um acor<strong>do</strong> <strong>para</strong> sua atuação<br />

coor<strong>de</strong>nada com vistas a interesse comum. O tipo mais freqüente <strong>de</strong> cartel é o <strong>de</strong> empresas<br />

que produzem artigos semelhantes, <strong>de</strong> forma a constituir um mo<strong>no</strong>pólio <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>. Truste é<br />

um tipo <strong>de</strong> estrutura empresarial na qual várias empresas, já <strong>de</strong>ten<strong>do</strong> a maior parte <strong>de</strong> um<br />

merca<strong>do</strong>, combinam-se ou fun<strong>de</strong>m-se <strong>para</strong> assegurar esse <strong>controle</strong>, estabelecen<strong>do</strong> preços<br />

eleva<strong>do</strong>s que lhes garantam elevadas margens <strong>de</strong> lucros. Conglomera<strong>do</strong> é um tipo <strong>de</strong><br />

organização <strong>no</strong> qual várias empresas que atuam <strong>no</strong>s mais diferentes setores e ramos da<br />

eco<strong>no</strong>mia pertencem à mesma holding. O que caracteriza o conglomera<strong>do</strong> é a diversida<strong>de</strong><br />

(SANDRONI, 2005).<br />

62


Não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> discutir sobre o preço da ficha <strong>de</strong><br />

jogo, já que o lucro e lucro extraordinário <strong>de</strong>sse setor <strong>industrial</strong> está<br />

intimamente relaciona<strong>do</strong> ao preço cobra<strong>do</strong> por cada ficha. Para os industriais<br />

<strong>de</strong> Jaguapitã-PR, o rebaixamento <strong>do</strong> preço da ficha <strong>de</strong> jogo significou a<br />

redução <strong>do</strong>s lucros extraordinários. Isso porque mesmos com preços baixos,<br />

esses industriais em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> baixo custo <strong>de</strong> produção 22 , estavam<br />

conseguin<strong>do</strong> até 2008 auferir lucros necessários <strong>para</strong> a manutenção <strong>no</strong><br />

merca<strong>do</strong>. Assim sen<strong>do</strong>, um aumento <strong>do</strong> preço da ficha, seria uma tentativa <strong>de</strong><br />

retomada <strong>do</strong>s lucros extras. O mesmo não po<strong>de</strong> ser atribuí<strong>do</strong> aos industriais <strong>do</strong><br />

Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, ao passo que os preços baixos inviabilizam não só a<br />

margem <strong>de</strong> lucro como a manutenção <strong>de</strong> muitos <strong>no</strong> merca<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o custo<br />

maior <strong>de</strong> produção e manutenção quan<strong>do</strong> compra<strong>do</strong>s aos industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR.<br />

A par <strong>do</strong> que foi <strong>de</strong>linea<strong>do</strong>, enten<strong>de</strong>mos que o preço da ficha<br />

<strong>de</strong> jogo a ser pratica<strong>do</strong> é apenas uma parte da <strong>de</strong>cisão acerca da estratégia<br />

que as firmas traçam neste processo concorrencial, não ocupan<strong>do</strong> lugar <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ntre as estratégias <strong>de</strong> concorrência utilizadas pelos industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR, ten<strong>do</strong> em vista que a principal estratégia está relacionada ao<br />

produto (matéria-prima e equipamentos/máquinas) e ao trabalho nas linhas, ou<br />

seja, ao caráter <strong>de</strong> i<strong>no</strong>vação.<br />

22 Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os gastos me<strong>no</strong>res com salários, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> o excesso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada<br />

existente em Jaguapitã-PR e a proximida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> com os principais centros fornece<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> matéria-prima e acessórios, como São Paulo, por exemplo, enten<strong>de</strong>mos que os custos <strong>de</strong><br />

produção <strong>do</strong>s industriais jaguapitaenses é me<strong>no</strong>r que o <strong>do</strong>s industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

63


5- CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As idéias <strong>de</strong>lineadas ao longo <strong>de</strong>sse estu<strong>do</strong> evi<strong>de</strong>nciam que os<br />

industriais <strong>de</strong> <strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, ten<strong>do</strong> a i<strong>no</strong>vação enquanto<br />

principal estratégia competitiva conseguiram a partir <strong>de</strong> 1980, estabelecer<br />

linhas <strong>de</strong> locação em inúmeras cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Sul brasileiro, passan<strong>do</strong> a controlar<br />

a maior parte <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r nessa Região, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> o Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, on<strong>de</strong> o enfrentamento competitivo tem si<strong>do</strong> muito mais acirra<strong>do</strong><br />

que os <strong>de</strong>mais esta<strong>do</strong>s, em virtu<strong>de</strong> da resistência oferecida pelos industriais <strong>de</strong><br />

<strong>mesas</strong> <strong>para</strong> <strong>bilhar</strong> da Região Metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre-RS.<br />

Apesar <strong>de</strong>ssa intensa disputa por áreas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> produto e <strong>de</strong> atendimento por parte <strong>do</strong>s<br />

funcionários das linhas <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR até 2008, têm<br />

consegui<strong>do</strong> limitar a ação <strong>do</strong>s industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, que ficam<br />

circunscritos apenas a uma pequena parcela <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong>, não haven<strong>do</strong> até o presente momento possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expansão <strong>do</strong>s<br />

mesmos numa escala estadual e tão pouco <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong><br />

locação em outros Esta<strong>do</strong>s ou países, como tem ocorri<strong>do</strong> nas ultimas décadas<br />

com os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR, conforme apresenta<strong>do</strong> por Veiga (2007).<br />

No entanto, a <strong>no</strong>sso ver, por se tratar <strong>de</strong> um produto com<br />

gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reprodução e aprimoramento, a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

<strong>controle</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r por parte <strong>do</strong>s industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR não<br />

só <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, mas em toda a Região, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> i<strong>no</strong>vações seja na produção seja nas linhas <strong>de</strong> locação, <strong>para</strong> que os<br />

mesmos não corram o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r áreas <strong>de</strong> locação <strong>no</strong> esta<strong>do</strong> <strong>para</strong> os<br />

industriais <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, que a partir da aproximação e convivência<br />

com os jaguapitaenses, aos poucos estão via imitação criativa, promoven<strong>do</strong><br />

alterações <strong>no</strong> produto e investin<strong>do</strong> em funcionários qualifica<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o trabalho<br />

nas linhas.<br />

Embora tenhamos assinala<strong>do</strong> uma mobilização <strong>para</strong> a<br />

formação <strong>de</strong> Associação, com características <strong>de</strong> cartel entre os industriais <strong>de</strong><br />

Jaguapitã-PR que atuam <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, acreditamos que enquanto os<br />

industriais <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> não a<strong>de</strong>rirem, essa possibilida<strong>de</strong> dificilmente será<br />

64


concretizada e os acor<strong>do</strong>s <strong>para</strong> elevação <strong>do</strong> preços <strong>de</strong> fichas não se efetivarão<br />

como <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> pelo jaguapitaenses, pelo me<strong>no</strong>s é o que se tem observa<strong>do</strong> <strong>no</strong>s<br />

últimos meses. Segun<strong>do</strong> conversas informais com funcionários <strong>de</strong> linhas, <strong>de</strong><br />

julho/2008, época <strong>do</strong>s levantamentos <strong>de</strong> campo, até <strong>no</strong>vembro/2008, em vários<br />

estabelecimentos comerciais o preço <strong>de</strong> R$ 0,70 que tinha si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong> na<br />

reunião realizada em mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> 2008, teve que ser rebaixa<strong>do</strong> em alguns<br />

pontos <strong>de</strong> locação, justamente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> essa não a<strong>de</strong>são <strong>do</strong>s industriais <strong>do</strong> Rio<br />

Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.<br />

Além <strong>do</strong> que foi exposto até o momento, chamamos a<br />

atenção <strong>para</strong> algumas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s futuros acerca <strong>de</strong>sse setor<br />

<strong>industrial</strong>. Primeiramente, ten<strong>do</strong> como ponto <strong>de</strong> partida o processo<br />

concorrencial estabeleci<strong>do</strong> <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> e<br />

entendimento das estratégias <strong>de</strong> concorrência utilizadas em esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outras<br />

regiões brasileiras ficam entreabertas, já que os industriais <strong>de</strong> Jaguapitã-PR<br />

expandiram suas áreas <strong>de</strong> locação <strong>para</strong> o Su<strong>de</strong>ste, Centro-Oeste e Norte,<br />

conforme assinala<strong>do</strong> por Veiga (2007).<br />

Outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ampliação <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> a <strong>no</strong>sso ver, ainda<br />

mais instigante, estaria relacionada às características da produção, que <strong>no</strong><br />

caso <strong>de</strong> Jaguapitã-PR e <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, apresentam alguns aspectos <strong>do</strong><br />

sistema manufatureiro e principalmente, são indústrias com baixa composição<br />

orgânica <strong>do</strong> capital. Essas características <strong>no</strong> atual contexto on<strong>de</strong> estratégias e<br />

capacitações vinculadas à reestruturação produtiva vêm sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>tadas<br />

amplamente por inúmeros setores industriais que buscam a manutenção ou<br />

melhoria <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho competitivo, evi<strong>de</strong>nciam que enquanto <strong>de</strong>terminadas<br />

unida<strong>de</strong>s industriais realizam a produção por intermédio <strong>do</strong> toyotismo, outras<br />

tantas utilizam-se <strong>de</strong> sistemas fordistas e por vezes inúmeros elementos <strong>do</strong><br />

toyotismo em suas produções. A par disso, <strong>no</strong>s perguntamos: Será que numa<br />

escala nacional, todas as indústrias <strong>de</strong>sse setor estão organizadas sob a<br />

mesma forma <strong>de</strong> organização <strong>do</strong> trabalho e da produção? Se não, quais seriam<br />

as diferenças?<br />

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