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Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...

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<strong>Superexploração</strong> <strong>da</strong> <strong>Força</strong> <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong> e <strong>Concentração</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Riqueza</strong>: temas fun<strong>da</strong>mentais para uma política <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento no Capitalismo Periférico Brasileiro<br />

1. Introdução<br />

Como criador <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> uso, como trabalho útil, é<br />

o trabalho, por isso, uma condição <strong>de</strong> existência do<br />

homem, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, eterna necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> natural <strong>de</strong> mediação<br />

do metabolismo entre homem e natureza e, portanto,<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. (Marx, 1996: 172)<br />

As condições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> adversas dos trabalhadores são mostra<strong>da</strong>s por Marx em diversas<br />

passagens <strong>da</strong> sua obra, sobretudo naquelas em que ele trata dos primórdios do capitalismo<br />

industrial inglês no Século XIX. Essas condições po<strong>de</strong>m eventualmente ser interpreta<strong>da</strong>s como<br />

<strong>de</strong> superexploração, servindo para realçar circunstâncias que a princípio seriam insustentáveis,<br />

porque insuficientes para reproduzir, em longo prazo, a própria força <strong>de</strong> trabalho. O sentido <strong>da</strong><br />

superexploração, neste caso, é <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> salários sistematicamente abaixo do custo <strong>de</strong><br />

reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho e paroxismo na jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho.<br />

Em Ruy Mauro Marini, a superexploração está no centro <strong>da</strong> sua interpretação sobre a natureza<br />

do capitalismo periférico latino-americano. Na sua obra mais importante – Dialética <strong>da</strong><br />

Dependência (1973 [2000]) – Marini mostra que justamente por essa especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> o<br />

capitalismo latino-americano é <strong>de</strong>formado, se comparado ao observado nos países avançados.<br />

Neste caso, a superexploração constitui-se como categoria, traduzindo elementos <strong>de</strong> limitação<br />

<strong>de</strong> escala à dinâmica <strong>de</strong> acumulação, <strong>da</strong><strong>da</strong> pela recorrente concentração extraordinária <strong>da</strong><br />

ren<strong>da</strong> e riqueza. 1<br />

Nesse contexto, a opção política <strong>de</strong> Marini é claramente revolucionária. Mesmo assim, há na<br />

sua produção análises <strong>de</strong> confrontação com as políticas <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> governo, no plano <strong>da</strong><br />

conjuntura. Este é o caso do artigo “Dialética do Desenvolvimento Capitalista no Brasil” (1966<br />

[2000]) e do “A Crise do Desenvolvimentismo” (1994 [2010]). Essas análises, embora<br />

inequivocamente mantenham a perspectiva revolucionária, colocam criticamente proposições<br />

<strong>de</strong> política, sugerindo que haveria espaço para uma ação reformista tática que diminuísse o<br />

peso <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />

Nesta esteira, o presente artigo preten<strong>de</strong> recuperar <strong>de</strong>terminações estruturais do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento histórico brasileiro, que se sustentem nas análises <strong>de</strong> Marini a respeito <strong>da</strong><br />

natureza do capitalismo periférico latino-americano, e que venham a permitir a discussão <strong>de</strong><br />

proposições <strong>de</strong> políticas transformadoras no plano <strong>da</strong> conjuntura. A intenção é associar<br />

superexploração e concentração <strong>de</strong> riqueza, mostrando que à natureza sui generis do<br />

capitalismo periférico correspon<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza acima <strong>da</strong> observa<strong>da</strong> no<br />

capitalismo <strong>de</strong>senvolvido.<br />

1 Como está muito bem colocado em Hirsch (2010:209-217), a limitação <strong>de</strong> escala imposta pelo<br />

subconsumo dos trabalhadores po<strong>de</strong> ser supera<strong>da</strong> pelo consumo capitalista (sobretudo pelo consumo<br />

<strong>de</strong> bens <strong>de</strong> produção), contudo há prováveis repercussões dinâmicas, como será visto mais à frente no<br />

artigo.<br />

1


O texto está organizado em três seções, além <strong>de</strong>sta introdução. Na primeira há uma<br />

comparação entre o status conferido por Marini ao conceito <strong>de</strong> superexploração e ao que<br />

po<strong>de</strong>ria ser extraído <strong>da</strong>s analises <strong>de</strong> Marx. Na segun<strong>da</strong>, há uma proposta <strong>de</strong> atualização <strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> superexploração no âmbito <strong>da</strong>s proposições <strong>de</strong> Marini. Na terceira, discutem-se<br />

as implicações <strong>da</strong> superexploração para a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, riqueza e <strong>de</strong>pendência no<br />

Brasil, e os seus efeitos sobre a dinâmica <strong>da</strong> acumulação. Finalmente, há uma breve síntese<br />

conclusiva.<br />

2. Significado <strong>da</strong> <strong>Superexploração</strong> em Marx e em Marini<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> superexploração não aparece diretamente nos escritos <strong>de</strong> Marx em O Capital 2 . O<br />

tema <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho surge no contexto <strong>da</strong> exposição <strong>da</strong> Lei do Valor, no<br />

capítulo inicial <strong>da</strong> Mercadoria, revisitado por ele em diversos momentos <strong>da</strong> sua exposição ao<br />

longo dos <strong>de</strong>mais capítulos do livro I, particularmente na Seção III, Cap. VII, que trata <strong>da</strong> taxa<br />

<strong>de</strong> mais-valia. A passagem abaixo do Capítulo I traduz bem a importância do tema:<br />

A mercadoria apareceu-nos, inicialmente, como algo dúplice, valor <strong>de</strong> uso e valor <strong>de</strong> troca.<br />

Depois se mostrou que também o trabalho, à medi<strong>da</strong> que é expresso no valor, já não possui as<br />

mesmas características que lhe advém como produtor <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> uso. Essa natureza dupla<br />

<strong>da</strong> mercadoria foi criticamente <strong>de</strong>mostra<strong>da</strong> por mim. Como esse ponto é o ponto crucial em<br />

torno do qual gira a compreensão <strong>da</strong> Economia Politica, ele <strong>de</strong>ve ser examinado mais <strong>de</strong> perto.<br />

(MARX, 1996: 171)<br />

O exame é feito <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente, com explicação didática e exaustiva sobre a natureza<br />

distintiva <strong>da</strong> mercadoria força <strong>de</strong> trabalho, a partir <strong>da</strong> qual se extrai o lucro. A questão gira em<br />

torno <strong>da</strong> duali<strong>da</strong><strong>de</strong> do custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho e do seu uso social pelo<br />

capitalista. A passagem abaixo <strong>de</strong> um texto anterior a O Capital, que aparece na edição <strong>de</strong><br />

1996 – Salário, Preço e Lucro –, vai direto ao ponto que aqui interessa:<br />

[...] há certos traços peculiares que distinguem o valor <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as <strong>de</strong>mais<br />

mercadorias. O valor <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho é formado por dois elementos, um dos quais<br />

puramente físico, o outro <strong>de</strong> caráter social. Seu limite físico é <strong>de</strong>terminado pelo elemento físico,<br />

quer dizer - para po<strong>de</strong>r manter-se e se reproduzir, para perpetuar a sua existência física, a<br />

classe operaria precisa obter os artigos <strong>de</strong> primeira necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, absolutamente indispensáveis<br />

à vi<strong>da</strong> e à sua multiplicação. O valor <strong>de</strong>sses meios <strong>de</strong> subsistência indispensáveis constitui, pois,<br />

o limite mínimo do valor do trabalho. Por outra parte, a extensão <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho<br />

também tem seus limites máximos, se bem que sejam mais elásticos. Seu limite máximo é <strong>da</strong>do<br />

pela forca física do trabalhador. Se o esgotamento diário <strong>de</strong> suas energias vitais exce<strong>de</strong> um<br />

certo grau, ele não po<strong>de</strong>rá fornece-las outra vez, todos os dias. Mas, como dizia, este limite é<br />

muito elástico. Uma sucessão rápi<strong>da</strong> <strong>de</strong> gerações raquíticas e <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> curta manterá abastecido<br />

o mercado <strong>de</strong> trabalho tão bem quanto uma serie <strong>de</strong> gerações robustas e <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> longa. Além<br />

<strong>de</strong>sse mero elemento físico, na <strong>de</strong>terminação do valor do trabalho entra o padrão <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

tradicional em ca<strong>da</strong> pais. Não se trata somente <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> física, mas também <strong>da</strong> satisfação <strong>de</strong><br />

certas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que emanam <strong>da</strong>s condições em que vivem e se criam os homens. (MARX,<br />

1996:113-114)<br />

Em resumo, o valor <strong>da</strong> mercadoria correspon<strong>de</strong> à quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho necessária à sua<br />

produção. O trabalho é realizado pelo trabalhador que ven<strong>de</strong> a sua força <strong>de</strong> trabalho ao<br />

capitalista pelo seu valor <strong>de</strong> reprodução. A diferença entre o valor <strong>da</strong> mercadoria e o <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho é a mais-valia. Da relação entre a mais-valia e o valor <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho Marx<br />

calcula a taxa <strong>de</strong> exploração.<br />

2 Isto é mencionado por estudiosos do pensamento <strong>de</strong> Marini. Veja-se, por exemplo, Osorio (2004: 90).<br />

2


Carcanholo (2012) mostra que <strong>da</strong> proposição <strong>de</strong> Marx se po<strong>de</strong> extrair que a compra <strong>da</strong><br />

mercadoria força <strong>de</strong> trabalho dá o direito legal, social, ao capitalista <strong>de</strong> utilizar esta força como<br />

bem quiser, <strong>de</strong> modo que para ele o sentido do termo exploração é <strong>de</strong> utilização ou <strong>de</strong><br />

aproveitamento. Assim, não seria incorreto dizer que a taxa <strong>de</strong> exploração po<strong>de</strong>ria ser<br />

também entendi<strong>da</strong> como taxa <strong>de</strong> utilização, sentido nem sempre observado pelos leitores <strong>da</strong><br />

obra 3 .<br />

O sentido mais amplo <strong>da</strong> discussão <strong>de</strong> Marx n’O Capital é <strong>de</strong> <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r a lei econômica <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> burguesa, num contexto histórico <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção do capitalismo industrial,<br />

sobretudo na Inglaterra, país on<strong>de</strong> viveu no período <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> obra. O contexto político<br />

era <strong>de</strong> revolução burguesa em diversos países <strong>da</strong> Europa, <strong>de</strong> modo que se tratava <strong>de</strong><br />

instrumentalizar politicamente as classes subalternas:<br />

[...] em O Capital, a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> do autor consistiu em <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>r a lei econômica <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong><strong>de</strong> burguesa ou, em diferente formulação, as leis do nascimento,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e morte do modo <strong>de</strong> produção capitalista.<br />

Numa época em que prevalecia a concepção mecanicista nas ciências físicas, Marx foi<br />

capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>svencilhar-se <strong>de</strong>ssa concepção e formular as leis econômicas<br />

precipuamente como leis ten<strong>de</strong>nciais. Ou seja, como leis <strong>de</strong>terminantes do curso dos<br />

fenômenos em meio a fatores contrapostos, que provocam oscilações, <strong>de</strong>svios e<br />

atenuações provisórias. (GORENDER, 1983: pag. XXVIII)<br />

Por outro lado, o contexto histórico em que Marini formula sua interpretação sobre a natureza<br />

do capitalismo periférico é <strong>de</strong> hegemonia do <strong>de</strong>senvolvimentismo na América Latina, via <strong>de</strong><br />

regra embalado por ditaduras militares. 4 Segundo sua autobiografia 5 , as bases teóricas que<br />

viriam a compor o Dialética <strong>da</strong> Dependência (1973) foram frutifica<strong>da</strong>s na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> dos<br />

anos 1960 e começo dos anos 1970, no período <strong>de</strong> transição entre o que Marini chama <strong>de</strong> seu<br />

primeiro e segundo exílios (México e Chile).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimentismo po<strong>de</strong> ser entendido como um i<strong>de</strong>ário que <strong>de</strong>u base a projetos sociais<br />

<strong>da</strong> classe dominante. 6 No campo <strong>da</strong> economia, o <strong>de</strong>senvolvimentismo tinha nas proposições<br />

<strong>da</strong> CEPAL seu suporte mais importante, pois esta agência legitimava políticas econômicas<br />

mo<strong>de</strong>rnizadoras, sem colocar em risco a opção pelo capitalismo.<br />

Com efeito, a CEPAL colocava-se criticamente no contexto <strong>da</strong>s Teorias do Desenvolvimento do<br />

pós Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial 7 . Entretanto, suas proposições atinham-se à discussão <strong>da</strong><br />

inserção internacional <strong>da</strong>s economias <strong>da</strong> América Latina, tomando como elemento empírico as<br />

pautas e preços <strong>de</strong> importação/exportação. Sustentava-se que o <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />

3 O sentido mais comum que se dá ao termo exploração é <strong>de</strong> “abuso <strong>da</strong> boa-fé, <strong>da</strong> ignorância ou <strong>da</strong><br />

especial situação <strong>de</strong> alguém, para auferir interesse ilícito”. Este é um dos onze significados possíveis<br />

segundo o Mo<strong>de</strong>rno Dicionário <strong>da</strong> Língua Portuguesa. No Aurélio este significado <strong>de</strong> conotação negativa<br />

sequer aparece como um dos significados possíveis.<br />

4<br />

Veja-se lista <strong>de</strong> ditaduras no mundo em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar, acesso em<br />

22/01/2012. Na América Latina são registra<strong>da</strong>s ditaduras militares na Argentina (1966-1983), Bolívia<br />

(1971-1985), Brasil (1964-1985), Chile (1973-1989), Colômbia, (1953-1957), Cuba (1933-1959), República<br />

Dominicana (1989-1899; 1930-1961), El Salvador (1931-1979), Equador (1972-1979), Guatemala (1970-<br />

1985), Haiti (1988-1990; 1991-1994), Honduras (1963-1974), México (1853-1855; 1876-1910), Nicarágua<br />

(1967-1979), Panamá (1968-1989), Paraguai (1954-1989), Peru (1968-1980), Suriname (1980-1988),<br />

Uruguai (1973-1984) e Venezuela (1908-1935; 1952-1958).<br />

5<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, trata-se <strong>de</strong> um Memorial Descritivo, exigência acadêmica feita pela UnB no processo <strong>de</strong><br />

reintegração após seu retorno ao Brasil.<br />

6<br />

Veja-se Fonseca (2004).<br />

7<br />

Veja-se a este respeito Bonente e Almei<strong>da</strong> Filho (2008), Almei<strong>da</strong> Filho e Corrêa (2011) e Bonente<br />

(2011)<br />

3


não seria viável na América Latina a menos que se alterasse a divisão internacional do trabalho<br />

que prevalecia até os anos 1940. As políticas econômicas que po<strong>de</strong>riam viabilizar esta<br />

mu<strong>da</strong>nça histórica eram <strong>de</strong> industrialização.<br />

O ponto importante a observar é que Marini contestava esta possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele entendia que a<br />

industrialização não gerava transformação naquilo que era para ele a marca do<br />

sub<strong>de</strong>senvolvimento, ou seja, a superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Feitas essas observações, parece lícito dizer que a formulação do capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

Marini é fruto <strong>de</strong> duas influências. A primeira, <strong>de</strong> sua inserção social, <strong>da</strong> sua trajetória <strong>de</strong> vi<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> militante <strong>de</strong> esquer<strong>da</strong> que faz uma opção consciente pela luta política <strong>de</strong> transformação<br />

social. A segun<strong>da</strong>, do <strong>de</strong>bate teórico, no qual realçam em contraponto às suas proposições as<br />

vertentes do ISEB, <strong>da</strong> CEPAL e a do partido comunista brasileiro. 8<br />

No plano histórico concreto, a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Marini está em introduzir justamente a<br />

superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho como elemento categorial. A visão crítica do capitalismo<br />

é to<strong>da</strong> ela sustenta<strong>da</strong> em Marx, porém numa condição geográfica e social que lhe permitia<br />

claramente perceber que o <strong>de</strong>senvolvimento capitalista não ocorria <strong>de</strong> maneira homogênea,<br />

apenas subvertendo modos <strong>de</strong> produção anteriores. Ao contrário, o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento capitalista histórico se fazia a partir <strong>da</strong>s estruturas <strong>de</strong> dominação existentes,<br />

<strong>de</strong> modo que as formações sociais apresentavam especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s bem mais relevantes do que<br />

a princípio sugeria a leitura d’O Capital e particularmente do Manifesto Comunista. 9<br />

É <strong>de</strong>sta convicção que vem a proposição do capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte latino-americano:<br />

Ao invés <strong>de</strong> seguir esse raciocínio e fiel a meu princípio <strong>de</strong> que o sub<strong>de</strong>senvolvimento é a outra cara<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento, eu analisava em que condições a América Latina havia-se integrado ao mercado<br />

mundial e como essa integração: a) funcionara para a economia capitalista mundial e b) alterara a<br />

economia latino-americana. A economia exportadora, que surge a meados do século XIX nos países<br />

pioneiros (Chile e Brasil), generalizando-se <strong>de</strong>pois, aparecia, nessa perspectiva, como o processo e o<br />

resultado <strong>de</strong> uma transição ao capitalismo e como a forma que assume esse capitalismo, no marco<br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> divisão internacional do trabalho. Aceito isto, as transferências <strong>de</strong> valor que <strong>da</strong>í<br />

advinham não podiam ser vistas como uma anomalia ou um estorvo, mas antes como consequência<br />

<strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong> própria do mercado mundial e como um acicate ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> produção<br />

capitalista latino-americana, sobre a base <strong>de</strong> duas premissas: abundância <strong>de</strong> recursos naturais e<br />

superexploração do trabalho (a qual pressupunha abundância <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra). A primeira premissa<br />

<strong>da</strong>va como resultado a monoprodução; a segun<strong>da</strong>, os indicadores próprios <strong>da</strong>s economias<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s. A industrialização opera<strong>da</strong> posteriormente estaria <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelas relações <strong>de</strong><br />

produção internas e externas, conforma<strong>da</strong>s sobre a base <strong>de</strong>ssas premissas. Resolvi<strong>da</strong> assim, no meu<br />

enten<strong>de</strong>r, a questão fun<strong>da</strong>mental, isto é, o modo como o capitalismo afetava o cerne <strong>da</strong> economia<br />

latino-americana -a formação <strong>da</strong> mais-valia- eu passava a me preocupar com a transformação <strong>de</strong>sta<br />

em lucro e com as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s que essa metamorfose encerrava. Algumas indicações referentes<br />

ao ponto a que chegou minha pesquisa estão conti<strong>da</strong>s no texto e em outros trabalhos escritos nessa<br />

época, mas eu só solucionaria realmente o problema alguns anos <strong>de</strong>pois, no México. (MARINI,<br />

Memórias, disponível em http://www.marini-escritos.unam.mx/001_memoria_port.htm , acesso em<br />

21/01/2012)<br />

É importante reconhecer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo que a superexploração não é apenas uma exploração<br />

(utilização) intensa, conforme o apontamento já feito. Ela é também isto. Contudo, o aspecto<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> superexploração exige revisitar a explicação <strong>de</strong> Marx sobre a mais-valia.<br />

8<br />

Uma boa recuperação <strong>da</strong>s visões em disputa nos anos 1960 no Brasil está em Bresser-Pereira (1985,<br />

cap1. - Seis Interpretações sobre o Brasil),<br />

disponível em http://www.bresserpereira.org.br/papers/1982/82-SeisInterpretacoes.p.pg.pdf , acesso em<br />

08/03/2012.<br />

9<br />

Para uma discussão instigante a este respeito veja-se Arrighi (2008).<br />

4


Segundo Marx, o valor a partir do qual as mercadorias são troca<strong>da</strong>s é <strong>da</strong>do pela quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho necessária à sua produção. O trabalho é fruto do esforço humano no processo<br />

produtivo, que no capitalismo, é feito pelo trabalhador, que ven<strong>de</strong> a sua força <strong>de</strong> trabalho ao<br />

capitalista. A força <strong>de</strong> trabalho constitui a mercadoria diferencia<strong>da</strong> que <strong>da</strong>rá origem ao lucro<br />

oriundo do processo produtivo. Esta é paga pelo seu custo <strong>de</strong> produção, pelas mercadorias<br />

necessárias à reprodução do trabalhador enquanto tal, e utiliza<strong>da</strong> pelo capitalista por um<br />

<strong>de</strong>terminado período <strong>de</strong> tempo no qual ele se apropria <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir valor. A diferença entre o valor pago e o extraído no processo<br />

produtivo é a mais-valia, ou sobretrabalho.<br />

Um sentido possível <strong>de</strong> superexploração em Marx é o <strong>de</strong> rompimento <strong>da</strong>s características<br />

básicas que regulam as trocas com base na lei do valor. Os limites <strong>da</strong> extração <strong>da</strong> mais-valia na<br />

exposição <strong>de</strong> Marx estão <strong>da</strong>dos pela jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho e pelo custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho. A análise histórica <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho mostra que as condições<br />

históricas presentes tanto na Inglaterra como em outros países <strong>da</strong> Europa eram bastante<br />

adversas.<br />

A Factory Act atualmente [1867] em vigor permite como média diária <strong>de</strong> trabalho nos dias <strong>de</strong><br />

semana 10 horas, a saber, para os primeiros 5 dias <strong>da</strong> semana 12 horas, <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> manhã até as<br />

6 <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, <strong>da</strong>s quais, porém, <strong>de</strong>sconta-se, por lei, ½ hora para o café <strong>da</strong> manhã e 1 hora para o<br />

almoço, restando, portanto, 10 ½ horas <strong>de</strong> trabalho; e 8 horas aos sábados, <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> manhã até<br />

as 2 horas <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, <strong>da</strong>s quais subtrai-se ½ hora para o café <strong>da</strong> manhã. Restam 60 horas <strong>de</strong><br />

trabalho, 10 ½ para os primeiros 5 dias <strong>da</strong> semana (MARX, 1983:193)<br />

Marx mostra neste capítulo <strong>da</strong> Jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong> que em muitos casos não havia limites<br />

legais e mesmo na presença <strong>de</strong>les registra relatos <strong>de</strong> inspetores <strong>de</strong> fábrica que mostram as<br />

burlas dos limites. Nesses casos, Marx se refere a um impulso voraz por mais-trabalho, mas<br />

não <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> superexploração. Da mesma forma, ele o faz para a situação <strong>de</strong> pagamento<br />

insuficiente para a reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Não nos parece ser inapropriado chamar <strong>de</strong> superexploração a extrapolação dos limites à<br />

produção <strong>de</strong> mais-valia <strong>da</strong>dos pela jorna<strong>da</strong> e pelo custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Entretanto, é preciso ter sempre presente que aí estamos <strong>da</strong>ndo uma conotação distinta<br />

<strong>da</strong>quela utiliza<strong>da</strong> por Marx. A justificativa <strong>de</strong> Marini é a seguinte:<br />

Vimos que o problema que coloca o intercâmbio <strong>de</strong>sigual para a América Latina não é<br />

precisamente o <strong>de</strong> se contrapor à transferência <strong>de</strong> valor que implica, mas compensar uma<br />

per<strong>da</strong> <strong>de</strong> mais-valia e que, incapaz <strong>de</strong> impedi-la em nível <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> mercado, a reação <strong>da</strong><br />

economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é compensá-la no plano <strong>da</strong> própria produção. O aumento <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do trabalho aparece, nesta perspectiva, como um aumento <strong>de</strong> mais-valia, consegui<strong>da</strong> através<br />

<strong>de</strong> uma maior exploração do trabalhador e não do incremento <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva. O<br />

mesmo se po<strong>de</strong>ria dizer <strong>da</strong> prolongação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho, isto é, do aumento <strong>da</strong> maisvalia<br />

absoluta em sua forma clássica; à diferença do primeiro, se trata aqui <strong>de</strong> aumentar<br />

simplesmente o tempo <strong>de</strong> trabalho exce<strong>de</strong>nte, que é aquele em que o operário segue<br />

produzindo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter criado um valor equivalente ao dos meios <strong>de</strong> subsistência para seu<br />

próprio consumo. Dever-se-ia observar, finalmente, um terceiro procedimento, que consiste em<br />

reduzir o consumo do operário além <strong>de</strong> seu limite normal pelo qual “o fundo necessário do<br />

operário se converte <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certos limites, em um fundo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital”,<br />

implicando assim um modo específico <strong>de</strong> aumentar o tempo <strong>de</strong> trabalho exce<strong>de</strong>nte. (MARINI,<br />

2000: 123-124)<br />

A proposição <strong>da</strong> dialética <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência está, portanto, na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma forma<br />

específica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo global, propagando-se a partir <strong>de</strong> um núcleo<br />

central, orgânico. 10 A propagação se dá a partir <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> consumo, que engendra uma<br />

10 Em Arrighi (1995) há uma formulação <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong>finindo-se o Núcleo Orgânico do Capitalismo,<br />

formado pelos países que <strong>de</strong>finem os rumos do <strong>de</strong>senvolvimento global.<br />

5


divisão internacional do trabalho, apreendi<strong>da</strong> numa dialética <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s, no sentido <strong>de</strong> exercício do potencial que o modo <strong>de</strong> produção capitalista<br />

apresenta. 11<br />

A condição <strong>de</strong> superexploração está registra<strong>da</strong> historicamente em diferentes contextos<br />

históricos e formações sociais. Porém, na América Latina esta condição não só esteve presente<br />

como se reproduziu, ganhando o sentido <strong>de</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>. As razões estão coloca<strong>da</strong>s em<br />

passagens dos textos <strong>de</strong> Marini já transcritas, relaciona<strong>da</strong>s às bases econômicas <strong>de</strong><br />

monocultura e à abundância <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

3. <strong>Superexploração</strong> nas condições históricas do Século XXI no Brasil<br />

A categoria <strong>de</strong> superexploração foi objeto <strong>de</strong> polêmica a partir do momento em que passou a<br />

ser utiliza<strong>da</strong> para caracterizar o capitalismo latino-americano contemporâneo (dos anos 1960<br />

em diante).<br />

Como vimos, o custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho equivale à soma do valor <strong>da</strong>s<br />

mercadorias necessárias à reposição <strong>da</strong> condição geral do trabalhador. Este seria equivalente<br />

ao custo mínimo necessário à reprodução tanto <strong>da</strong> energia do trabalhador gasta no processo<br />

produtivo quanto <strong>da</strong> sua condição mesma <strong>de</strong> trabalhador ao longo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, nas condições<br />

históricas, políticas e culturais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A superexploração se estabelece quando a<br />

remuneração do trabalho situa-se abaixo <strong>de</strong>ste valor, consi<strong>de</strong>rando-se como <strong>da</strong><strong>da</strong>s a jorna<strong>da</strong> e<br />

a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho. 12<br />

Parte <strong>da</strong> polêmica pretensamente ocorreria no campo marxista. No método <strong>de</strong> exposição <strong>de</strong><br />

Marx a interpretação <strong>da</strong> natureza do capitalismo é feita num plano abstrato, teórico, para<br />

gradualmente ocorrer aproximação às condições histórico-concretas, <strong>da</strong>í a contestação.<br />

Numa exposição simplifica<strong>da</strong>, diz Marx:<br />

Os economistas do século XVII, por exemplo, começam sempre por uma totali<strong>da</strong><strong>de</strong> viva: população,<br />

Nação, Estado, diversos Estados; mas acabam sempre por formular, através <strong>da</strong> análise, algumas<br />

relações gerais abstratas <strong>de</strong>terminantes, tais como a divisão do trabalho, o dinheiro, o valor, etc. A<br />

partir do momento em que esses fatores isolados foram mais ou menos fixados e teoricamente<br />

formulados, surgiram sistemas econômicos que partindo <strong>de</strong> noções simples tais como o trabalho, a<br />

divisão do trabalho, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o valor <strong>de</strong> troca, se elevavam até o Estado, às trocas<br />

internacionais e ao mercado mundial. Este segundo método é evi<strong>de</strong>ntemente o método científico<br />

correto. O concreto é concreto por ser a síntese <strong>de</strong> múltiplas <strong>de</strong>terminações, logo, uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. É por isso que ele é para o pensamento um processo <strong>de</strong> síntese, um resultado, e não um<br />

ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, apesar <strong>de</strong> ser o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> e portanto igualmente o ponto <strong>de</strong><br />

parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> observação imediata e <strong>da</strong> representação. (MARX, 1983: 218-219)<br />

A questão é que na perspectiva marxista é preciso que a proposição tenha relação efetiva com<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento histórico, o que traz problemas para a consi<strong>de</strong>ração <strong>da</strong> superexploração<br />

como categoria. Marini fez um esforço importante <strong>de</strong> esclarecimentos <strong>de</strong> suas proposições na<br />

discussão interna ao Aporte <strong>da</strong> Dependência, especialmente no confronto direto com<br />

11 O <strong>de</strong>senvolvimento, neste sentido preciso, é <strong>de</strong> alcance <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as dimensões possíveis <strong>da</strong><br />

sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista. Bonente (2011) mostra que em Marx o <strong>de</strong>senvolvimento é ontológico,<br />

guar<strong>da</strong>ndo o sentido potencial <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as dimensões <strong>da</strong> sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> capitalista. Esta<br />

forma <strong>de</strong> compreensão do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista em Marx permite <strong>de</strong>duzir limites ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, que não são permanentes, mas que engendram crises, seja em nível <strong>da</strong>s formações<br />

sociais, seja em nível global.<br />

12 Como veremos mais adiante, há mu<strong>da</strong>nças históricas que afetam esses dois elementos,<br />

particularmente a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do trabalho que ocorre a partir dos anos 1970 e especialmente nos anos<br />

1990.<br />

6


Fernando Henrique Cardoso 13 . Contudo, a melhor passagem é ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> Dialética <strong>da</strong><br />

Dependência:<br />

Pois bem, os três mecanismos i<strong>de</strong>ntificados – a intensificação do trabalho, a prolongação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> trabalho e a expropriação <strong>de</strong> parte do trabalho necessário ao operário para repor sua força <strong>de</strong><br />

trabalho – configuram um modo <strong>de</strong> produção fun<strong>da</strong>do exclusivamente na maior exploração do<br />

trabalhador e não no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva. Isto é congruente com o baixo<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s forças produtivas na economia latino-americana, mas também com os<br />

tipos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se realizam nela. De fato, mais que na indústria fabril, on<strong>de</strong> um aumento <strong>de</strong><br />

trabalho implica pelo menos num maior gasto <strong>de</strong> matérias-primas, na indústria extrativa e na<br />

agricultura o efeito do aumento é muito menos sensível, sendo possível, pela simples ação do homem<br />

sobre a natureza, incrementar a riqueza produzi<strong>da</strong> sem um capital adicional. Compreen<strong>de</strong>-se que<br />

nestas circunstâncias a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva se baseia sobretudo no uso extensivo e intensivo <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho, o que, agregado à intensificação do grau <strong>de</strong> exploração do trabalho, faz com que se<br />

elevem simultaneamente as taxas <strong>de</strong> mais-valia e <strong>de</strong> lucro.<br />

É necessário observar além disso que, nos três mecanismos consi<strong>de</strong>rados, a característica essencial<br />

está <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo fato <strong>de</strong> que se nega ao trabalhador as condições necessárias para repor o <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong><br />

sua força <strong>de</strong> trabalho: nos dois primeiros casos, porque ele é obrigado a um dispêndio <strong>de</strong> força <strong>de</strong><br />

trabalho superior ao que <strong>de</strong>veria proporcionar normalmente, provocando-se assim seu esgotamento<br />

prematuro; no último porque se retira <strong>de</strong>le inclusive a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir o estritamente<br />

indispensável para conservar sua força <strong>de</strong> trabalho em estado normal. Em termos capitalistas, estes<br />

mecanismos (que além disso se po<strong>de</strong>m <strong>da</strong>r e normalmente se dão, <strong>de</strong> forma combina<strong>da</strong>) significam<br />

que o trabalho se remunera por baixo <strong>de</strong> seu valor e correspon<strong>de</strong>m, então, a uma superexploração<br />

do trabalho. (MARINI, 2000: 125-126)<br />

Sugere-se que o ponto <strong>de</strong> controvérsia foi menos a <strong>de</strong>finição abstrata <strong>de</strong> superexploração e,<br />

muito mais, a sua expressão histórica como elemento <strong>de</strong>finidor do capitalismo latinoamericano.<br />

Os pontos mais específicos <strong>de</strong> discussão se concentraram na possível evidência<br />

histórica <strong>da</strong> superexploração como marca, por exemplo, do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, além<br />

<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong>sta condição no âmbito do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />

global. 14 Neste caso, trata-se <strong>da</strong> discussão a respeito <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> transferência <strong>de</strong> maisvalia<br />

<strong>da</strong> América Latina para o centro do capitalismo, acelerando-se por lá a dinâmica <strong>da</strong><br />

acumulação.<br />

Para os propósitos <strong>de</strong>ste artigo, importa retomar essa discussão no contexto histórico <strong>de</strong><br />

hegemonia do Neoliberalismo, dos anos 1990 em diante. Isto vem sendo feito com crescente<br />

repercussão, sobretudo nos meios acadêmicos. Além <strong>da</strong> publicação em português do Dialética<br />

<strong>da</strong> Dependência em 2000, há pelos menos três publicações indispensáveis para enten<strong>de</strong>r o<br />

alcance <strong>da</strong> discussão. A primeira <strong>de</strong>las é o livro <strong>de</strong> Jaime Osório (2004) – Crítica <strong>da</strong> Economia<br />

Vulgar –, autor citado por Marini em suas Memórias como um dos autores que procuravam<br />

avançar nas suas interpretações.<br />

Um segundo livro é o <strong>de</strong> Roberta Traspadini e João Pedro Stédile (2005) – Ruy Mauro Marini,<br />

vi<strong>da</strong> e obra –, que tem o propósito <strong>de</strong> retomar a discussão <strong>de</strong> Marini como parte <strong>de</strong> um<br />

esforço <strong>de</strong> politização <strong>de</strong> quadros no âmbito do Movimento dos Sem Terra, além <strong>de</strong> divulgar<br />

trabalhos <strong>de</strong>le em português. Finalmente, o terceiro, organizado por Carlos Eduardo Martins e<br />

Adrián Sotelo Valencia e coor<strong>de</strong>nado por Emir Sa<strong>de</strong>r e Theotônio dos Santos (2009) – A<br />

América Latina e os Desafios <strong>da</strong> Globalização – ensaios <strong>de</strong>dicados a Ruy Mauro Marini, serve<br />

como balanço histórico <strong>da</strong> contribuição do autor.<br />

13<br />

Veja-se “As razões do neo<strong>de</strong>senvolvimentismo (resposta a Fernando Henrique Cardoso e a José<br />

Serra)” Marini (2000:167-242).<br />

14<br />

Este artigo reproduz um <strong>de</strong>bate circunscrito ao <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, pela origem dos<br />

contentores e pela importância do Brasil no âmbito <strong>da</strong> América Latina.<br />

7


Uma forma <strong>de</strong> retomar a discussão no contexto histórico dos anos 1990 em diante é recuperar<br />

alguns dos elementos <strong>da</strong> discussão histórica <strong>de</strong> Marini na resposta a Fernando Henrique<br />

Cardoso:<br />

O objetivo <strong>de</strong> meus “críticos” é <strong>de</strong>monstrar que o intercâmbio <strong>de</strong>sigual, como eu o analiso, não é,<br />

nem leva os países <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes a reagirem contra ele apelando para a superexploração do trabalho<br />

(ain<strong>da</strong> que a causa primária <strong>de</strong>sta não resi<strong>da</strong> ali, como já indiquei). [...] se trata <strong>de</strong> provar que é<br />

absurdo meu raciocínio no sentido <strong>de</strong> que as exportações latino-americanas <strong>de</strong> alimentos, ao reduzir<br />

o valor do capital variável e aumentar como consequência a composição <strong>de</strong> valor do capital,<br />

agravam a tendência à baixa <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> lucro, nos países capitalistas avançados. Para esse fim, e<br />

valendo-se inclusive <strong>da</strong>s matemáticas, as Desventuras 15 <strong>de</strong>monstram que, ao diminuir o capital<br />

variável, crescem a massa e taxa <strong>de</strong> mais-valia, assim como, em consequência, <strong>de</strong> lucro. O que é<br />

óbvio. Acrescentam nossos “críticos”: “não seria lógico supor, por outro lado, que porque diminui V,<br />

graças às exportações latino-americanas <strong>de</strong> alimentos, C teria que aumentar” [...] Não, não seria em<br />

absoluto lógico supor que, porque diminui o capital variável, pela causa menciona<strong>da</strong>, o capital<br />

constante <strong>de</strong>va aumentar. No entanto, meus <strong>de</strong>sventurados “críticos”, o ponto <strong>de</strong> que parto é<br />

rigorosamente o oposto: o <strong>de</strong> que a exportação latino-americana <strong>de</strong> alimentos se realiza em função<br />

<strong>da</strong> revolução industrial europeia e coadjuva (não <strong>de</strong>termina <strong>de</strong> maneira exclusiva) a diminuição do<br />

capital variável, necessária para a elevação <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, sobre a base do aumento do capital<br />

constante, não pressionasse [sic] para baixo a taxa <strong>de</strong> lucro (DD, p. 26). Como indiquei no texto, isto<br />

correspon<strong>de</strong> à inserção dinâmica <strong>da</strong> América Latina na divisão mundial do trabalho imposta pela<br />

gran<strong>de</strong> indústria, que permitiu aos países avançados concentrar-se na produção manufatureira,<br />

<strong>de</strong>scui<strong>da</strong>ndo a produção agrícola, e que levará em segui<strong>da</strong> à especialização <strong>da</strong> periferia também na<br />

produção <strong>de</strong> matérias-primas industriais. [...] (MARINI, 2000: 175-176)<br />

O ponto em discussão não é diretamente a superexploração do trabalho 16 , mas a dinâmica do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo mundial e <strong>da</strong> inserção nele <strong>da</strong>s economias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Não<br />

parece ser objeto <strong>da</strong> polêmica as condições adversas do trabalho na América Latina, mas sim a<br />

sua reprodução estrutural, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do processo <strong>de</strong> industrialização que estava em curso<br />

extensivamente na região nos anos 1950 e 1960.<br />

Na distorção <strong>da</strong>s minhas análises, as Desventuras não utilizam apenas o método <strong>da</strong> inversão, como<br />

também o <strong>da</strong> adição. Assim, consi<strong>de</strong>ram que eu suponho que a produção latino-americana para<br />

exportação aumentou “em condições necessárias <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>crescente (ou estagna<strong>da</strong>)”,<br />

suposição que não se encontra em nenhum <strong>de</strong> meus textos. A única coisa que sustento é que, em<br />

condições <strong>de</strong> intercâmbio marca<strong>da</strong>s por uma clara superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> tecnológica dos países<br />

avançados, as economias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>veriam lançar mão <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> compensação<br />

que, permitindo o aumento <strong>da</strong> massa <strong>de</strong> valor e <strong>de</strong> mais-valia realiza<strong>da</strong>, assim como <strong>de</strong> sua taxa,<br />

se contrapusesse, pelo menos parcialmente, às per<strong>da</strong>s <strong>de</strong> mais-valia a que tinha que se sujeitar;<br />

esse mecanismo foi a superexploração do trabalho. Esta explica o forte <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong><br />

economia exportadora latino-americana, apesar do intercâmbio <strong>de</strong>sigual. É <strong>de</strong> se supor que meus<br />

“críticos” não preten<strong>de</strong>m que, diante <strong>da</strong> transferência <strong>de</strong> valor que este implicava, as economias<br />

latino-americanas po<strong>de</strong>riam reagir mediante a elevação <strong>de</strong> seu nível tecnológico a um ritmo igual ao<br />

que faziam os países avançados. Isso não implica <strong>de</strong> forma alguma que sua produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> tenha se<br />

estagnado ou <strong>de</strong>crescido, mas que sempre esteve atrás. Tampouco é preciso <strong>de</strong>rivar do que foi dito o<br />

que não foi dito: a superexploração do trabalho incentiva<strong>da</strong> pelo intercâmbio <strong>de</strong>sigual, mas não se<br />

<strong>de</strong>riva <strong>de</strong>le e sim <strong>da</strong> febre <strong>de</strong> lucro que cria o mercado mundial e se baseia fun<strong>da</strong>mentalmente na<br />

formação <strong>de</strong> uma superpopulação relativa. Porém, uma vez posto em marcha um processo<br />

econômico sobre a base <strong>da</strong> superexploração, se põem em marcha um mecanismo monstruoso, cuja<br />

15 Referência resumi<strong>da</strong> ao texto crítico <strong>de</strong> Desventuras <strong>da</strong> Dialética <strong>da</strong> Dependência, <strong>de</strong> José Serra e<br />

Fernando Henrique Cardoso, escrito em janeiro <strong>de</strong> 1978, disponível em<br />

http://www.cebrap.org.br/v1/upload/biblioteca_virtual/as_<strong>de</strong>sventuras_<strong>da</strong>_dialetica.pdf, acesso em<br />

22/01/2012.<br />

16 Como está apresentado em Carcanholo (2012), melhor seria dizer superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong><br />

trabalho. Aparentemente, Marini está fazendo uma referência estrutural do capitalismo latino-americano,<br />

<strong>da</strong>í a referência à superexploração do trabalho, produto <strong>da</strong> dominação <strong>de</strong> classe.<br />

8


perversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, longe <strong>de</strong> diminuir, é acentua<strong>da</strong> ao apelar a economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para o aumento <strong>da</strong><br />

produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mediante o <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico. (MARINI, 2000: 176-177)(grifos próprios)<br />

Como aponta Carcanholo (2012), está em discussão o status <strong>da</strong> superexploração na<br />

interpretação do capitalismo latino-americano proposta por Marini. Ao tomar a<br />

superexploração como categoria, Marini a consi<strong>de</strong>ra indispensável à caracterização que faz do<br />

capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O procedimento metodológico é <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> abstração<br />

em relação a Marx, fazendo uma aproximação <strong>de</strong> concretu<strong>de</strong>. 17<br />

Como se viu, a superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> uma categoria em<br />

Marx, até em função do nível <strong>de</strong> abstração em que ele estava em O Capital. Ao contrário, para a<br />

teoria marxista <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência, em um menor nível <strong>de</strong> abstração em relação a Marx, trata-se <strong>de</strong><br />

enten<strong>de</strong>r a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> do capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Como afirmamos antes, preten<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>monstrar agora que a superexploração não é apenas um conjunto <strong>de</strong> mecanismos que levam à<br />

elevação <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> mais-valia, mas, para além disso, constitui-se em uma categoria central - aliás a<br />

mais importante – <strong>da</strong> teoria marxista <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência. (CARCANHOLO, 2012:8)<br />

A respeito <strong>da</strong> possível observação empírica <strong>da</strong> superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho, é preciso<br />

antes acertar a leitura que Marini faz <strong>da</strong> constituição do capitalismo brasileiro, e mesmo<br />

dialogar com outras interpretações. Isto parece ser possível pelo distanciamento histórico que<br />

uma análise hoje apresenta em relação ao <strong>de</strong>bate teórico e político do qual Marini fez parte.<br />

Registre-se que a discussão que ocorreu nos anos 1970 e 1980 foi eminentemente política. Isto<br />

po<strong>de</strong> ser percebido por dois aspectos. O primeiro pelo tom <strong>de</strong> argumentação do artigo feito<br />

por Serra e Fernando Henrique Cardoso, que é flagrantemente <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação ao trabalho<br />

<strong>de</strong> Marini. O segundo pela interdição <strong>da</strong> leitura dos textos <strong>de</strong> Marini nos programas <strong>de</strong> pósgraduação<br />

em economia, surpreen<strong>de</strong>nte, sobretudo, naqueles poucos programas<br />

consi<strong>de</strong>rados heterodoxos (ALMEIDA FILHO, 2011). 18<br />

À parte o uso <strong>da</strong> superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho como centro <strong>da</strong> interpretação, Marini<br />

tem aproximação bastante perceptível à interpretação do Capitalismo Tardio (MELLO, 1985),<br />

bastante difundi<strong>da</strong> no Brasil (ALMEIDA FILHO, op.cit). Em ambos os casos, trata-se <strong>de</strong> mostrar<br />

como o capitalismo avançado se <strong>de</strong>senvolve no Brasil, pais que po<strong>de</strong> ser tomado como<br />

expressão <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> região, no sentido <strong>de</strong> ser a maior economia em termos <strong>de</strong><br />

população, território e potencial <strong>de</strong> produção.<br />

Em Mello (1985), a caracterização do capitalismo brasileiro é duplamente feita, pela origem -<br />

uma economia colonial -, vincula<strong>da</strong> à metrópole Portugal, e pelo momento em que ocorre a<br />

transição ao capitalismo avançado, entendido como aquele em que as condições <strong>de</strong> produção<br />

são especificamente capitalistas. Este momento é <strong>de</strong>marcado pela emergência do trabalho<br />

assalariado como norma dominante do processo produtivo e pela Abolição <strong>da</strong> Escravatura.<br />

17 Esta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> abstração está aponta<strong>da</strong> em Osorio (2004:90): “Las categorías y relaciones<br />

<strong>de</strong> aquella obra [O Capital] constituyen el punto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para analizar la organización <strong>de</strong> las uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> análisis menos abstracta (o más concretas), pero no las agotan. De allí la necesi<strong>da</strong>d <strong>de</strong> nuevas<br />

categorías para abor<strong>da</strong>r el análisis <strong>de</strong>l sistema mundial capitalista, los patrones <strong>de</strong> reproducción <strong>de</strong>l<br />

capital, las formaciones económico-sociales y la coyuntura. […] La noción <strong>de</strong> superexploitation explica la<br />

forma como en las economías <strong>de</strong>pendientes se reproduce el capital, en el marco <strong>de</strong>l <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> dicho<br />

sistema. Su tratamiento, como el <strong>de</strong>l imperialismo o las categorías para el análisis <strong>de</strong> coyuntura, en las<br />

encontraremos en la obra mayor <strong>de</strong> Marx, porque las uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> análisis que ellas expresan no es el<br />

que se abor<strong>da</strong> en El Capital.”<br />

18 Os trabalhos tanto <strong>de</strong> Rui Mauro Marini quanto os <strong>de</strong> Theotônio dos Santos são mais bem conhecidos<br />

em outros países <strong>da</strong> América Latina, como México, Chile, Argentina, Venezuela e Cuba do que no Brasil.<br />

Esta informação consta do prefácio ao “Dialética <strong>da</strong> Dependência” escrito por Emir Sa<strong>de</strong>r e na<br />

Introdução <strong>da</strong> Coletânea Rui Mauro Marini – vi<strong>da</strong> e obra.<br />

9


Assume-se que as condições <strong>de</strong> transição entre formas <strong>de</strong> trabalho terão repercussão para a<br />

constituição do mercado <strong>de</strong> trabalho, porém, sem que esta repercussão seja discuti<strong>da</strong>. Daí em<br />

diante a análise é to<strong>da</strong> ela formula<strong>da</strong> ao nível do processo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital,<br />

abstraindo-se a luta <strong>de</strong> classes própria ao capitalismo.<br />

Para Marini, essas condições iniciais incluiriam ain<strong>da</strong> a superexploração do trabalho, aqui<br />

entendi<strong>da</strong> no sentido amplo <strong>de</strong> sistemático pagamento <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho abaixo do seu<br />

valor. Portanto, para ele a luta <strong>de</strong> classes está no centro <strong>da</strong> análise e <strong>da</strong> dinâmica do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento brasileiro.<br />

Um dos pontos que po<strong>de</strong>m gerar discussão no contexto atual é justo sobre a transição e sobre<br />

a presença extensiva <strong>da</strong> superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho, num período <strong>de</strong><br />

revolucionarização <strong>da</strong>s forcas produtivas, com diferenciação <strong>de</strong> ramos industriais e assim <strong>da</strong>s<br />

ocupações produtivas. A medi<strong>da</strong> do valor <strong>da</strong> forca <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Marx teria que ser aplica<strong>da</strong><br />

em diferentes níveis, <strong>de</strong> modo que firmar a existência extensiva <strong>da</strong> superexploração se tornava<br />

polêmico. Mais difícil ain<strong>da</strong> era firmar isto numa fase <strong>de</strong> produção capitalista avança<strong>da</strong>.<br />

Uma i<strong>de</strong>ia simples que lembraríamos aqui é a <strong>de</strong> que a compressão salarial, na proporção em<br />

que ocorreu, não se <strong>de</strong>veu exclusivamente a uma lógica inexorável <strong>da</strong> economia do<br />

“capitalismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte” a qual teria obe<strong>de</strong>cido cegamente à repressão política, que<br />

efetivamente se <strong>de</strong>u e que anulou as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> organização e protesto dos setores<br />

populares. Por certo, <strong>da</strong><strong>da</strong> a correção <strong>de</strong> forças que tomou o po<strong>de</strong>r em 1964, havia limites<br />

“estruturais” para as soluções possíveis à crise econômica <strong>de</strong> 1963-64. Mas foi o reacionarismo<br />

<strong>da</strong>quelas forças e a consi<strong>de</strong>rável fraqueza dos sindicatos e agrupamentos políticos afins que<br />

levaram o arrocho salarial e as políticas econômicas “antissociais” tão longe como foram. E<br />

uma vez que a economia encontrou o caminho <strong>da</strong> recuperação, em condições <strong>de</strong> um patamar<br />

salarial mais baixo “embutido” nos seus esquemas <strong>de</strong> acumulação, tornou-se muito mais difícil<br />

promover qualquer alteração significativa na política previamente adota<strong>da</strong>, sobretudo se vin<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> “cima para baixo”. Não foi por menos que mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1968 e até 1973, em pleno auge<br />

do “milagre”, com a inflação praticamente estabiliza<strong>da</strong> e o PIB crescendo a uma média<br />

elevadíssima, manteve-se uma política oficial <strong>de</strong> forte restrição salarial, ficando as melhorias<br />

eventualmente obti<strong>da</strong>s nesse terreno sujeitas às “forças <strong>de</strong> mercado” e não por conta seja <strong>da</strong><br />

política governamental (que permaneceu restritiva), seja <strong>da</strong> ação sindical ou do protesto social,<br />

que se seguiram tão ou mais reprimidos e existentes que antes. (SERRA E CARDOSO, pag. 75)<br />

Por esta razão, sustenta-se aqui que os elementos históricos <strong>de</strong> configuração <strong>da</strong><br />

superexploração precisariam ser ampliados, <strong>de</strong>senhando-se um nível <strong>de</strong> abstração em que as<br />

condições <strong>de</strong> constituição do Estado brasileiro, e, portanto, o âmbito <strong>da</strong> política esteja posto,<br />

pois ele é indispensável para mostrar que as condições históricas <strong>de</strong> superexploração,<br />

indiscutíveis no período <strong>de</strong> uso do trabalho compulsório, ganham, por diferentes razões,<br />

contornos estruturais no período republicano, especialmente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1930. Dali em diante,<br />

o Estado brasileiro passa a cumprir as funções típicas <strong>de</strong> um Estado capitalista.<br />

É importante lembrar que a antiga e primária base industrial – originária em simultâneo com o<br />

êxito <strong>da</strong> economia cafeeira – encontrava-se prisioneira <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestão do trabalho<br />

completamente ultrapassado (ausência <strong>de</strong> regulação pública sobre o trabalho e a concorrência<br />

intercapitalista). Por isso, <strong>de</strong>staca-se o papel <strong>da</strong> regulação pública do trabalho naquela<br />

oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no Brasil, porque ela foi sendo consoli<strong>da</strong><strong>da</strong> justamente quando a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

industrial nacional ganhava espaço, <strong>de</strong>ixando no segundo plano as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do meio rural.<br />

Até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30, por exemplo, o empregador industrial absorvia praticamente a totali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do custo <strong>de</strong> reprodução do seu trabalhador no preço final do produto ou serviço comercializado.<br />

Como uma espécie <strong>de</strong> herança do período escravista, o empregado industrial tinha<br />

praticamente a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do seu custo <strong>de</strong> reprodução internalizado na estrutura <strong>da</strong> produção,<br />

significando, na maior parte <strong>da</strong>s vezes, a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> empresa pela constituição e<br />

manutenção, além do salário, <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s vilas operárias (moradia, educação, saú<strong>de</strong>,<br />

previdência e assistência, entre outros custos).<br />

10


A partir <strong>da</strong> Revolução <strong>de</strong> 30, quando se estabeleceu o projeto <strong>de</strong> industrialização, que já era<br />

tardio em comparação com as fases <strong>de</strong> industrialização originária ocorri<strong>da</strong>s no centro do<br />

capitalismo mundial, gran<strong>de</strong> parte do custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho foi<br />

externalizado <strong>da</strong> estrutura interna <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> empresa. Em outras palavras, além <strong>de</strong> cobrir<br />

alimentação e vestuário, o salário recebido mensalmente pelo empregado urbano teve que<br />

cobrir também <strong>de</strong>spesas com moradia, previdência e assistência, educação, saú<strong>de</strong>, entre outros.<br />

Nesse sentido, ganharam importância a <strong>de</strong>finição do salário mínimo (criado em 1940) e a<br />

estrutura <strong>de</strong> tributação elabora<strong>da</strong> com vistas ao financiamento, pelo Estado, <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, previdência e assistência. To<strong>da</strong>via, essa nova possível articulação<br />

<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s forças sociais não logrou constituir um amplo sistema <strong>de</strong> proteção social associado<br />

ao avanço <strong>da</strong> base urbano-industrial. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi estabelecido um sistema <strong>de</strong> proteção<br />

social <strong>de</strong> natureza meritocrática e particularista, voltado tão somente aos trabalhadores<br />

assalariados com carteira assina<strong>da</strong>. Como a maior parte <strong>da</strong>s classes trabalhadoras encontravase<br />

no campo, apenas os empregados urbanos foram beneficiados pelo salário mínimo, assim<br />

como por to<strong>da</strong> a legislação social e trabalhista (Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis do <strong>Trabalho</strong>).<br />

(POCHMANN, 2004:7-8)<br />

Portanto, a tese <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> superexploração como marca do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />

brasileiro exige <strong>de</strong>terminações mais amplas do que aquelas originalmente coloca<strong>da</strong>s por<br />

Marini. Por outro lado, é certo que o processo <strong>de</strong> constituição do mercado <strong>de</strong> trabalho no<br />

Brasil é submetido ao processo <strong>de</strong> industrialização <strong>de</strong> transição ao capitalismo avançado e que<br />

este mesmo processo tem importantes implicações para a distribuição <strong>de</strong> riqueza.<br />

4. Implicações <strong>da</strong> superexploração para a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, riqueza<br />

e <strong>de</strong>pendência, e os seus efeitos sobre a dinâmica <strong>da</strong> acumulação <strong>de</strong><br />

capital no Brasil<br />

Em O Capital, o tema <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong> riqueza (ren<strong>da</strong>) é tratado em nível <strong>da</strong>s relações sociais<br />

<strong>de</strong> produção, isto é, em nível do conflito <strong>de</strong> classes. A dinâmica <strong>de</strong> acumulação segue<br />

elementos estruturais do processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> valores, <strong>da</strong>dos pela taxa <strong>de</strong> exploração,<br />

pela jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho e pelo progresso técnico. A síntese <strong>de</strong>sses elementos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelas<br />

categorias forças produtivas e relações sociais <strong>de</strong> produção. As características <strong>de</strong>sses<br />

elementos conformam um padrão <strong>de</strong> reprodução do capital, que indica o potencial e a escala<br />

do processo produtivo concreto. 19<br />

Esses são elementos fun<strong>da</strong>mentais para a compreensão <strong>da</strong> natureza do capitalismo e <strong>da</strong> sua<br />

forma <strong>de</strong> reprodução social. Além disto, são elementos suficientes para mostrar a<br />

característica concentradora <strong>de</strong> riqueza, imanente ao processo <strong>de</strong> produção.<br />

Não obstante, o <strong>de</strong>bate social sobre a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza estabeleceu-se<br />

historicamente no Brasil num plano distinto, que po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finido como plano <strong>da</strong> dinâmica<br />

econômica 20 . A influência direta que o pensamento marxista logrou sobre este tema foi<br />

19 “El patrón <strong>de</strong> reproducción <strong>de</strong>l capital apunta a <strong>da</strong>r cuenta <strong>de</strong> las formas cómo el capital se reproduce<br />

en periodos históricos específicos y en espacios económico-geográficos y sociales <strong>de</strong>terminados, sean<br />

regiones o formaciones económicas sociales. En este sentido el patrón <strong>de</strong> reproducción <strong>de</strong> capital es<br />

una categoría que permite establecer mediaciones entre los niveles más generales <strong>de</strong> análisis y niveles<br />

menos abstractos o históricos concretos. De esta forma se alimenta <strong>de</strong> los aportes interpretativos,<br />

conceptuales y metodológicos presentes en los niveles más abstractos, pero que reclama <strong>de</strong> categorías<br />

y metodologías que le son propias.” (OSORIO, 2004: 36)<br />

20 Esta é uma questão polêmica que divi<strong>de</strong> autores que se abrigam na perspectiva marxista. Em Possas<br />

(1989) há uma proposição <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do objeto <strong>de</strong> Marx em O Capital, argumentando-se que a<br />

apreensão <strong>da</strong> natureza mais geral <strong>de</strong> movimento do capital – a forma <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

capitalista – não é suficiente para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> dinâmica real. “(...) o importante a ressaltar aqui é a<br />

impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a dinâmica real, em suas <strong>de</strong>terminações teóricas mais concretas, a mera<br />

11


pequena, pois neste momento o confronto político, social, centrava-se na disputa i<strong>de</strong>ológica,<br />

em condições marca<strong>da</strong>mente adversas para os <strong>de</strong>fensores do socialismo, e mesmo para os<br />

<strong>de</strong>fensores <strong>de</strong> uma reforma mais profun<strong>da</strong> do capitalismo brasileiro. O foco <strong>da</strong> discussão se<br />

<strong>de</strong>u em torno <strong>da</strong> divergência <strong>de</strong> interpretação a respeito dos <strong>da</strong>dos empíricos <strong>da</strong> concentração<br />

<strong>de</strong> ren<strong>da</strong> apresentados pelo Censo <strong>de</strong> 1970. Esses <strong>da</strong>dos, ao serem comparados aos <strong>da</strong>dos do<br />

Censo <strong>de</strong> 1960, mostravam inequivocamente concentração <strong>de</strong> riqueza. 21<br />

Esclareça-se que o plano <strong>da</strong> dinâmica é um plano teórico próprio ao movimento do capital, no<br />

qual os <strong>de</strong>mais elementos são tomados como subordinados. Isto significa abstrair, para fins <strong>de</strong><br />

análise, algumas <strong>da</strong>s relações contraditórias internas ao movimento do capital,<br />

particularmente a luta <strong>de</strong> classes, central à análise marxiana, e privilegiar o movimento<br />

autonomizado do capital.<br />

O capital revela [...] <strong>de</strong> início, um duplo caráter: um caráter antagônico e um caráter<br />

progressivo. Seu caráter antagônico <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> própria relação social que lhe é<br />

subjacente: o capital se fun<strong>da</strong> na apropriação do tempo <strong>de</strong> trabalho, se contrapõe <strong>de</strong><br />

“modo hostil e antagônico” ao trabalhador e o reproduz reitera<strong>da</strong>mente como<br />

trabalhador assalariado. O capital é, por outro lado, progressivo, porque seu objetivo,<br />

a valorização máxima, supõe a apropriação máxima <strong>de</strong> trabalho não-pago, que implica<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento máximo <strong>da</strong>s forças produtivas e, portanto, a acumulação máxima.<br />

A “produção pela produção”, a tendência ao “<strong>de</strong>senvolvimento absoluto <strong>da</strong>s forças<br />

produtivas”, a “acumulação progressiva” constituem, assim, uma lei imanente do<br />

regime <strong>de</strong> produção capitalista, no sentido <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>duzem e se a<strong>de</strong>quam ao<br />

conceito mesmo <strong>de</strong> capital, enquanto valor que se valoriza através <strong>da</strong> apropriação <strong>de</strong><br />

trabalho não-pago. (MAZZUCCHELLI, 1985:20)<br />

Assim, o plano <strong>da</strong> dinâmica po<strong>de</strong> ser entendido como o plano <strong>da</strong> concorrência entre os<br />

capitais, on<strong>de</strong> os elementos mais gerais expostos por Marx para apreen<strong>de</strong>r a dinâmica mesma<br />

do modo <strong>de</strong> produção avançam em concretu<strong>de</strong>, via-<strong>de</strong>-regra alcançando a <strong>de</strong>limitação <strong>da</strong><br />

jurisdição dos Estados Nacionais. 22 São muitos os que sugerem que se trata <strong>de</strong> um plano em<br />

que a contribuição <strong>de</strong> outros autores é indispensável:<br />

[...] partindo <strong>da</strong>s <strong>de</strong>terminações conceituais do capital, trata-se <strong>de</strong> alcançar um duplo<br />

objetivo. De um lado, através <strong>da</strong> inclusão <strong>da</strong> concorrência e suas <strong>de</strong>terminações,<br />

estabelecer os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> dinâmica capitalista, tarefa que não po<strong>de</strong><br />

prescindir <strong>da</strong>s contribuições <strong>de</strong> Keynes, Kalecki, Schumpeter e Steindl, entre outros. O<br />

fato <strong>de</strong> tais autores partirem <strong>de</strong> um marco teórico por vezes estranho a Marx, na<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong> pouco interessa: o que importa é que seus resultados se inscrevem num plano<br />

– o <strong>da</strong> concorrência – não estu<strong>da</strong>do <strong>de</strong> modo sistemático por Marx, e sobre o qual não<br />

são poucas suas referências à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma “investigação especial”. (i<strong>de</strong>m,<br />

ibi<strong>de</strong>m, pag. 10)<br />

‘expressão’ exterior <strong>de</strong> uma ou mais leis do movimento” (POSSAS, 1989:24). A proposição do autor é<br />

<strong>de</strong>limitar, além do objeto <strong>de</strong> Marx em O Capital, o objeto do que seria a Dinâmica Econômica, isto é, do<br />

movimento <strong>de</strong> acumulação em nível <strong>da</strong> plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos capitais, no qual a natureza monetária <strong>da</strong><br />

economia (Keynes) é privilegia<strong>da</strong>. Osório (2004:90) chama este plano <strong>de</strong> conjuntural.<br />

21 Veja-se Malta (2011: 196-199).<br />

22 Esta característica foi mais importante até os anos 1970. Daí em diante, com o avanço do processo <strong>de</strong><br />

financeirização do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista e a integração crescente <strong>da</strong>s economias nacionais, a<br />

dimensão macroeconômica passou virtualmente a se i<strong>de</strong>ntificar com a dinâmica econômica.<br />

12


Em geral, os <strong>de</strong>bates colocados em nível <strong>da</strong> dinâmica econômica, não obstante a integração<br />

macroeconômica <strong>da</strong>s economias, estabelecem-se mesmo em nível <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. 23 Este é<br />

precisamente o caso do <strong>de</strong>bate a respeito <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza no Brasil.<br />

Em Tavares (1975), há uma discussão <strong>da</strong>s razões estruturais para o recorrente processo <strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza que ocorria no Brasil nos anos 1970. 24 A tese é que a<br />

recorrente concentração traduzia elementos estruturais, que operavam como resultado do<br />

processo histórico <strong>de</strong> industrialização <strong>de</strong> transição ao capitalismo.<br />

Além <strong>de</strong> contribuição própria, Tavares se sustentava na interpretação Kaleckiana <strong>da</strong><br />

diferenciação entre as dinâmicas <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> economias capitalistas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s. Em Kalecki (1980), a razão <strong>de</strong> fundo para a diferenciação entre essas duas<br />

dinâmicas está liga<strong>da</strong> à existência <strong>de</strong> distintas vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no âmbito do<br />

capitalismo 25 .<br />

Segundo ele, nos países avançados, o <strong>de</strong>senvolvimento histórico aproximava gradualmente o<br />

consumo dos trabalhadores do consumo dos capitalistas, ampliando a escala do mercado e,<br />

assim, do processo <strong>de</strong> acumulação em nível nacional. Nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, ao<br />

contrário, reproduzia-se a segmentação do consumo <strong>da</strong>s duas classes, limitando assim o<br />

mercado doméstico. Configuram-se <strong>de</strong>sta forma dois padrões <strong>de</strong> acumulação.<br />

Segundo Tavares (1975:37), o padrão <strong>de</strong> acumulação é <strong>de</strong>finido como uma articulação<br />

dinâmica específica entre o processo <strong>de</strong> diferenciação <strong>da</strong> estrutura produtiva (o investimento)<br />

e uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>. 26 Embora os fenômenos motivadores<br />

sejam do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, a discussão preten<strong>de</strong>-se mais geral, abarcando o<br />

conjunto dos países <strong>da</strong> América Latina.<br />

Para <strong>de</strong>monstrar isso, ela assinala que em qualquer economia industrializa<strong>da</strong>, mesmo que<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>tectar pelo menos dois setores produtivos – o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />

consumo e o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> produção -, on<strong>de</strong> a solução à oposição salários-lucros dá-se no<br />

contexto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> acumulação em que as relações intersetoriais são fun<strong>da</strong>mentais.<br />

A compreensão <strong>de</strong>ste processo, em ca<strong>da</strong> padrão histórico (concreto) <strong>de</strong> acumulação, requer a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s relações básicas entre a estrutura <strong>da</strong> produção e repartição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> –<br />

inerente ao processo <strong>de</strong> acumulação – e o modo pelo qual as condições <strong>de</strong> reprodução do<br />

sistema repõem ou modificam essa articulação básica <strong>da</strong> estrutura produtiva.<br />

Ain<strong>da</strong> segundo Tavares, tal processo não po<strong>de</strong> ser apreendido pelos esquemas <strong>de</strong> reprodução<br />

<strong>de</strong> Marx, que mostram essencialmente as condições <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “equilíbrio”<br />

(compatibili<strong>da</strong><strong>de</strong>) entre a produção e a realização <strong>de</strong> mais-valia, <strong>da</strong><strong>da</strong> a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><br />

23 Importante registrar que estamos nos referindo ao <strong>de</strong>bate que ocorreu no âmbito do pensamento<br />

crítico, nas suas diversas vertentes. Este <strong>de</strong>bate alcançou a ortodoxia, mas aí o campo <strong>da</strong> discussão<br />

fixou-se nos fenômenos, no nível aparencial do processo <strong>de</strong> concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>.<br />

24 O <strong>de</strong>bate se estabeleceu a partir <strong>da</strong> divulgação dos <strong>da</strong>dos do Censo brasileiro <strong>de</strong> 1970. A comparação<br />

<strong>de</strong>sses <strong>da</strong>dos com os do Censo <strong>de</strong> 1960 mostravam concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, num contexto histórico em<br />

que os governos militares brasileiros difundiam uma perspectiva favorável do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

brasileiro. O livro organizado por Tolipan e Tinelli (1975) con<strong>de</strong>nsavam diferentes visões <strong>de</strong>sse<br />

fenômeno<br />

25 Esta é uma interpretação, pois ele trata apenas <strong>de</strong> dois grupos <strong>de</strong> economias, as <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s. Daí <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma economia global capitalista divi<strong>da</strong> nesses dois<br />

grupos. Registre-se que no seu período histórico <strong>de</strong> produção teórica Kalecki conviveu intensamente<br />

com a polarização i<strong>de</strong>ológica e geopolítica do mundo, <strong>de</strong> maneira que a questão em princípio diz<br />

respeito ao âmbito do capitalismo, embora se saiba <strong>da</strong>s suas preocupações com economias socialistas<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s.<br />

26 Esta <strong>de</strong>finição e os seus <strong>de</strong>sdobramentos está mais bem explica<strong>da</strong> em Almei<strong>da</strong> Filho (1993).<br />

13


entre salários e lucros líquidos, com uma taxa constante <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital. Esses<br />

esquemas permitem trabalhar com as leis abstratas <strong>de</strong> constituição e reprodução do modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista, mas não dão indicações sobre como o movimento histórico <strong>de</strong><br />

acumulação permite ir modificando o próprio padrão <strong>de</strong> acumulação.<br />

Sua opção é utilizar os conceitos básicos dos esquemas <strong>de</strong> reprodução para chegar a uma visão<br />

<strong>de</strong> como se modificam as características básicas <strong>da</strong> articulação endógena entre distribuição <strong>de</strong><br />

ren<strong>da</strong> e acumulação, em distintos padrões históricos <strong>de</strong> acumulação. A i<strong>de</strong>ia é buscar as<br />

formas pelas quais se resolve dinamicamente a contradição entre produção e realização <strong>de</strong> um<br />

exce<strong>de</strong>nte, levando em consi<strong>de</strong>ração a ênfase do progresso técnico e do processo <strong>de</strong><br />

acumulação em ca<strong>da</strong> um dos três gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>partamentos do sistema econômico em<br />

expansão.<br />

A construção é feita a partir dos esquemas <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> Kalecki, on<strong>de</strong> o D1 é o<br />

<strong>de</strong>partamento produtor <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital, o D2 é o produtor <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo capitalista<br />

e o D3 o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> trabalhadores. Nesses, o esquema é feito a preços <strong>de</strong><br />

mercado e não em valor, o que permite visualizar a redistribuição intersetorial <strong>de</strong> lucros<br />

(transferência <strong>de</strong> mais-valia) tanto pela via <strong>da</strong> modificação nos preços relativos entre os<br />

<strong>de</strong>partamentos, quanto pela via <strong>da</strong>s transferências <strong>de</strong> capital.<br />

Ocorre que esta característica do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro e, por extensão, do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento latino-americano, não chega a ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>. Como a formulação<br />

estabelece-se ao nível <strong>da</strong> acumulação <strong>de</strong> capital, privilegia-se o plano <strong>da</strong> concorrência, <strong>da</strong><br />

dinâmica mais estrita do capital, abstrai-se a luta <strong>de</strong> classes.<br />

Ora a luta <strong>de</strong> classes é indispensável para se enten<strong>de</strong>r o caráter extraordinário do processo <strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza que ocorre no Brasil e na América Latina. 27 Este é<br />

precisamente o foco do trabalho <strong>de</strong> Rui Mauro Marini. Ao eleger a superexploração <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho como característica distintiva do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro e latino-americano,<br />

ele preten<strong>de</strong> apontar um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social acima <strong>da</strong>quela que é constitutiva do<br />

capitalismo como or<strong>de</strong>m social.<br />

Sustenta-se aqui que a afirmação do caráter particularmente concentrador <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> a partir<br />

<strong>da</strong> evidência <strong>da</strong> superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho coloca um elemento a mais na discussão<br />

<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento capitalista na periferia, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> relevância<br />

que possa ter (e tem) a superexploração para a dinâmica <strong>da</strong> acumulação no Centro do<br />

Capitalismo.<br />

5. Síntese conclusiva<br />

O artigo recupera a formulação <strong>da</strong> superexploração do trabalho como marca do capitalismo<br />

periférico latino-americano nos termos <strong>de</strong> Ruy Mauro Marini. A recuperação é feita com<br />

ênfase nos efeitos <strong>da</strong> superexploração para a dinâmica <strong>da</strong> economia e para o processo <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> capital, posto em nível nacional. Desta forma, propõe-se uma aproximação<br />

<strong>de</strong>ssa formulação com outras que tratam especificamente <strong>da</strong> dinâmica econômica.<br />

A justificativa para essa proposição está coloca<strong>da</strong> na insuficiência <strong>da</strong>s análises do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento brasileiro que se sustentam parcialmente em Marx e privilegia<strong>da</strong>mente em<br />

Kalecki e Keynes. Embora sejam análises importantes para a apreensão <strong>da</strong> natureza do<br />

27 Há referências a este fenômeno em diversos trabalhos <strong>de</strong> interpretes do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro –<br />

Caio Prado Jr, Francisco <strong>de</strong> Oliveira, Celso Furtado, Maria <strong>da</strong> Conceição Tavares, Ignácio Rangel,<br />

Fernando Henrique Cardoso – e também em trabalhos mais recentes – Arandia (1992), Almei<strong>da</strong> Filho<br />

(1994), Cardoso Jr e Pochmann (2000), Ferreira (2000), <strong>de</strong>ntre outros. Portanto, trata-se <strong>de</strong> um<br />

fenômeno estrutural, que afeta <strong>de</strong>cisivamente a dinâmica <strong>de</strong> acumulação no Brasil.<br />

14


processo brasileiro <strong>de</strong> transição ao capitalismo, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram aspectos essenciais para a<br />

compreensão <strong>da</strong> natureza particularmente <strong>de</strong>sigual do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro.<br />

Para Marini, a condição <strong>de</strong> superexploração está registra<strong>da</strong> historicamente em diferentes<br />

contextos históricos e formações sociais. Porém, na América Latina esta condição não só<br />

esteve presente como se reproduziu, ganhando o sentido <strong>de</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>. As razões estão<br />

apresenta<strong>da</strong>s em passagens dos textos <strong>de</strong> Marini transcritas, relaciona<strong>da</strong>s às bases<br />

econômicas <strong>de</strong> monocultura e à abundância <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

Contudo, a tese <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> superexploração como marca do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />

brasileiro, assim como no caso <strong>de</strong> outras formações sociais, exige <strong>de</strong>terminações mais amplas<br />

do que aquelas originalmente coloca<strong>da</strong>s por ele. Ressalta-se no artigo a importância <strong>de</strong> se<br />

incorporar a dimensão <strong>da</strong> regulação e operação do Estado, em razão <strong>da</strong> importância <strong>de</strong>cisiva<br />

que esta instituição cumpre na dinâmica do capital e, portanto, para a reprodução <strong>da</strong>s<br />

condições extraordinárias <strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza. 28<br />

Neste sentido, o artigo implicitamente sustenta que há elementos a serem trabalhados,<br />

sobretudo se a pretensão é <strong>de</strong> afirmar a existência contemporânea <strong>da</strong> superexploração como<br />

marca relevante do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro e latino-americano.<br />

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28 O livro <strong>de</strong> Joaquim Hirsch (2010) – Teoria Materialista do Estado – é certamente referência para esta<br />

incorporação. Ele sustenta que: “O aparelho <strong>de</strong> Estado é o terreno on<strong>de</strong> se gera uma regulação – pela<br />

força ou pelo consenso – <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> classe, e on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> surgir uma política do capital<br />

relativamente consistente que ultrapassa as relações concorrenciais existentes. No sistema <strong>de</strong> Estados<br />

refletem-se tanto as relações concorrenciais capitalistas, como as relações antagônicas <strong>de</strong> classe. Disso<br />

po<strong>de</strong> resultar uma dinâmica expansiva que não é produto direto dos interesses econômicos <strong>de</strong><br />

valorização, como no caso do consenso social ser conseguido por meio <strong>de</strong> projeções sob o inimigo<br />

externo, ou guando problemas <strong>de</strong> legitimação interna são compensados por agressões externas. Isto é,<br />

o ‘comércio’ po<strong>de</strong> seguir inteiramente a ban<strong>de</strong>ira.” (págs. 215-16)<br />

15


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