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Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...

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entre salários e lucros líquidos, com uma taxa constante <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital. Esses<br />

esquemas permitem trabalhar com as leis abstratas <strong>de</strong> constituição e reprodução do modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista, mas não dão indicações sobre como o movimento histórico <strong>de</strong><br />

acumulação permite ir modificando o próprio padrão <strong>de</strong> acumulação.<br />

Sua opção é utilizar os conceitos básicos dos esquemas <strong>de</strong> reprodução para chegar a uma visão<br />

<strong>de</strong> como se modificam as características básicas <strong>da</strong> articulação endógena entre distribuição <strong>de</strong><br />

ren<strong>da</strong> e acumulação, em distintos padrões históricos <strong>de</strong> acumulação. A i<strong>de</strong>ia é buscar as<br />

formas pelas quais se resolve dinamicamente a contradição entre produção e realização <strong>de</strong> um<br />

exce<strong>de</strong>nte, levando em consi<strong>de</strong>ração a ênfase do progresso técnico e do processo <strong>de</strong><br />

acumulação em ca<strong>da</strong> um dos três gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>partamentos do sistema econômico em<br />

expansão.<br />

A construção é feita a partir dos esquemas <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> Kalecki, on<strong>de</strong> o D1 é o<br />

<strong>de</strong>partamento produtor <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital, o D2 é o produtor <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo capitalista<br />

e o D3 o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> trabalhadores. Nesses, o esquema é feito a preços <strong>de</strong><br />

mercado e não em valor, o que permite visualizar a redistribuição intersetorial <strong>de</strong> lucros<br />

(transferência <strong>de</strong> mais-valia) tanto pela via <strong>da</strong> modificação nos preços relativos entre os<br />

<strong>de</strong>partamentos, quanto pela via <strong>da</strong>s transferências <strong>de</strong> capital.<br />

Ocorre que esta característica do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro e, por extensão, do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento latino-americano, não chega a ser aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>. Como a formulação<br />

estabelece-se ao nível <strong>da</strong> acumulação <strong>de</strong> capital, privilegia-se o plano <strong>da</strong> concorrência, <strong>da</strong><br />

dinâmica mais estrita do capital, abstrai-se a luta <strong>de</strong> classes.<br />

Ora a luta <strong>de</strong> classes é indispensável para se enten<strong>de</strong>r o caráter extraordinário do processo <strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza que ocorre no Brasil e na América Latina. 27 Este é<br />

precisamente o foco do trabalho <strong>de</strong> Rui Mauro Marini. Ao eleger a superexploração <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho como característica distintiva do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro e latino-americano,<br />

ele preten<strong>de</strong> apontar um nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social acima <strong>da</strong>quela que é constitutiva do<br />

capitalismo como or<strong>de</strong>m social.<br />

Sustenta-se aqui que a afirmação do caráter particularmente concentrador <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> a partir<br />

<strong>da</strong> evidência <strong>da</strong> superexploração <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho coloca um elemento a mais na discussão<br />

<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento capitalista na periferia, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> relevância<br />

que possa ter (e tem) a superexploração para a dinâmica <strong>da</strong> acumulação no Centro do<br />

Capitalismo.<br />

5. Síntese conclusiva<br />

O artigo recupera a formulação <strong>da</strong> superexploração do trabalho como marca do capitalismo<br />

periférico latino-americano nos termos <strong>de</strong> Ruy Mauro Marini. A recuperação é feita com<br />

ênfase nos efeitos <strong>da</strong> superexploração para a dinâmica <strong>da</strong> economia e para o processo <strong>de</strong><br />

acumulação <strong>de</strong> capital, posto em nível nacional. Desta forma, propõe-se uma aproximação<br />

<strong>de</strong>ssa formulação com outras que tratam especificamente <strong>da</strong> dinâmica econômica.<br />

A justificativa para essa proposição está coloca<strong>da</strong> na insuficiência <strong>da</strong>s análises do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento brasileiro que se sustentam parcialmente em Marx e privilegia<strong>da</strong>mente em<br />

Kalecki e Keynes. Embora sejam análises importantes para a apreensão <strong>da</strong> natureza do<br />

27 Há referências a este fenômeno em diversos trabalhos <strong>de</strong> interpretes do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro –<br />

Caio Prado Jr, Francisco <strong>de</strong> Oliveira, Celso Furtado, Maria <strong>da</strong> Conceição Tavares, Ignácio Rangel,<br />

Fernando Henrique Cardoso – e também em trabalhos mais recentes – Arandia (1992), Almei<strong>da</strong> Filho<br />

(1994), Cardoso Jr e Pochmann (2000), Ferreira (2000), <strong>de</strong>ntre outros. Portanto, trata-se <strong>de</strong> um<br />

fenômeno estrutural, que afeta <strong>de</strong>cisivamente a dinâmica <strong>de</strong> acumulação no Brasil.<br />

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