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Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...

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A partir <strong>da</strong> Revolução <strong>de</strong> 30, quando se estabeleceu o projeto <strong>de</strong> industrialização, que já era<br />

tardio em comparação com as fases <strong>de</strong> industrialização originária ocorri<strong>da</strong>s no centro do<br />

capitalismo mundial, gran<strong>de</strong> parte do custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho foi<br />

externalizado <strong>da</strong> estrutura interna <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> empresa. Em outras palavras, além <strong>de</strong> cobrir<br />

alimentação e vestuário, o salário recebido mensalmente pelo empregado urbano teve que<br />

cobrir também <strong>de</strong>spesas com moradia, previdência e assistência, educação, saú<strong>de</strong>, entre outros.<br />

Nesse sentido, ganharam importância a <strong>de</strong>finição do salário mínimo (criado em 1940) e a<br />

estrutura <strong>de</strong> tributação elabora<strong>da</strong> com vistas ao financiamento, pelo Estado, <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong>, previdência e assistência. To<strong>da</strong>via, essa nova possível articulação<br />

<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s forças sociais não logrou constituir um amplo sistema <strong>de</strong> proteção social associado<br />

ao avanço <strong>da</strong> base urbano-industrial. Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, foi estabelecido um sistema <strong>de</strong> proteção<br />

social <strong>de</strong> natureza meritocrática e particularista, voltado tão somente aos trabalhadores<br />

assalariados com carteira assina<strong>da</strong>. Como a maior parte <strong>da</strong>s classes trabalhadoras encontravase<br />

no campo, apenas os empregados urbanos foram beneficiados pelo salário mínimo, assim<br />

como por to<strong>da</strong> a legislação social e trabalhista (Consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Leis do <strong>Trabalho</strong>).<br />

(POCHMANN, 2004:7-8)<br />

Portanto, a tese <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> superexploração como marca do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />

brasileiro exige <strong>de</strong>terminações mais amplas do que aquelas originalmente coloca<strong>da</strong>s por<br />

Marini. Por outro lado, é certo que o processo <strong>de</strong> constituição do mercado <strong>de</strong> trabalho no<br />

Brasil é submetido ao processo <strong>de</strong> industrialização <strong>de</strong> transição ao capitalismo avançado e que<br />

este mesmo processo tem importantes implicações para a distribuição <strong>de</strong> riqueza.<br />

4. Implicações <strong>da</strong> superexploração para a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, riqueza<br />

e <strong>de</strong>pendência, e os seus efeitos sobre a dinâmica <strong>da</strong> acumulação <strong>de</strong><br />

capital no Brasil<br />

Em O Capital, o tema <strong>da</strong> distribuição <strong>de</strong> riqueza (ren<strong>da</strong>) é tratado em nível <strong>da</strong>s relações sociais<br />

<strong>de</strong> produção, isto é, em nível do conflito <strong>de</strong> classes. A dinâmica <strong>de</strong> acumulação segue<br />

elementos estruturais do processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> valores, <strong>da</strong>dos pela taxa <strong>de</strong> exploração,<br />

pela jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho e pelo progresso técnico. A síntese <strong>de</strong>sses elementos é <strong>da</strong><strong>da</strong> pelas<br />

categorias forças produtivas e relações sociais <strong>de</strong> produção. As características <strong>de</strong>sses<br />

elementos conformam um padrão <strong>de</strong> reprodução do capital, que indica o potencial e a escala<br />

do processo produtivo concreto. 19<br />

Esses são elementos fun<strong>da</strong>mentais para a compreensão <strong>da</strong> natureza do capitalismo e <strong>da</strong> sua<br />

forma <strong>de</strong> reprodução social. Além disto, são elementos suficientes para mostrar a<br />

característica concentradora <strong>de</strong> riqueza, imanente ao processo <strong>de</strong> produção.<br />

Não obstante, o <strong>de</strong>bate social sobre a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza estabeleceu-se<br />

historicamente no Brasil num plano distinto, que po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finido como plano <strong>da</strong> dinâmica<br />

econômica 20 . A influência direta que o pensamento marxista logrou sobre este tema foi<br />

19 “El patrón <strong>de</strong> reproducción <strong>de</strong>l capital apunta a <strong>da</strong>r cuenta <strong>de</strong> las formas cómo el capital se reproduce<br />

en periodos históricos específicos y en espacios económico-geográficos y sociales <strong>de</strong>terminados, sean<br />

regiones o formaciones económicas sociales. En este sentido el patrón <strong>de</strong> reproducción <strong>de</strong> capital es<br />

una categoría que permite establecer mediaciones entre los niveles más generales <strong>de</strong> análisis y niveles<br />

menos abstractos o históricos concretos. De esta forma se alimenta <strong>de</strong> los aportes interpretativos,<br />

conceptuales y metodológicos presentes en los niveles más abstractos, pero que reclama <strong>de</strong> categorías<br />

y metodologías que le son propias.” (OSORIO, 2004: 36)<br />

20 Esta é uma questão polêmica que divi<strong>de</strong> autores que se abrigam na perspectiva marxista. Em Possas<br />

(1989) há uma proposição <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do objeto <strong>de</strong> Marx em O Capital, argumentando-se que a<br />

apreensão <strong>da</strong> natureza mais geral <strong>de</strong> movimento do capital – a forma <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

capitalista – não é suficiente para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> dinâmica real. “(...) o importante a ressaltar aqui é a<br />

impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reduzir a dinâmica real, em suas <strong>de</strong>terminações teóricas mais concretas, a mera<br />

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