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Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...

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Segundo Marx, o valor a partir do qual as mercadorias são troca<strong>da</strong>s é <strong>da</strong>do pela quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho necessária à sua produção. O trabalho é fruto do esforço humano no processo<br />

produtivo, que no capitalismo, é feito pelo trabalhador, que ven<strong>de</strong> a sua força <strong>de</strong> trabalho ao<br />

capitalista. A força <strong>de</strong> trabalho constitui a mercadoria diferencia<strong>da</strong> que <strong>da</strong>rá origem ao lucro<br />

oriundo do processo produtivo. Esta é paga pelo seu custo <strong>de</strong> produção, pelas mercadorias<br />

necessárias à reprodução do trabalhador enquanto tal, e utiliza<strong>da</strong> pelo capitalista por um<br />

<strong>de</strong>terminado período <strong>de</strong> tempo no qual ele se apropria <strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, a<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> produzir valor. A diferença entre o valor pago e o extraído no processo<br />

produtivo é a mais-valia, ou sobretrabalho.<br />

Um sentido possível <strong>de</strong> superexploração em Marx é o <strong>de</strong> rompimento <strong>da</strong>s características<br />

básicas que regulam as trocas com base na lei do valor. Os limites <strong>da</strong> extração <strong>da</strong> mais-valia na<br />

exposição <strong>de</strong> Marx estão <strong>da</strong>dos pela jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho e pelo custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força<br />

<strong>de</strong> trabalho. A análise histórica <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho mostra que as condições<br />

históricas presentes tanto na Inglaterra como em outros países <strong>da</strong> Europa eram bastante<br />

adversas.<br />

A Factory Act atualmente [1867] em vigor permite como média diária <strong>de</strong> trabalho nos dias <strong>de</strong><br />

semana 10 horas, a saber, para os primeiros 5 dias <strong>da</strong> semana 12 horas, <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> manhã até as<br />

6 <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, <strong>da</strong>s quais, porém, <strong>de</strong>sconta-se, por lei, ½ hora para o café <strong>da</strong> manhã e 1 hora para o<br />

almoço, restando, portanto, 10 ½ horas <strong>de</strong> trabalho; e 8 horas aos sábados, <strong>da</strong>s 6 <strong>da</strong> manhã até<br />

as 2 horas <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, <strong>da</strong>s quais subtrai-se ½ hora para o café <strong>da</strong> manhã. Restam 60 horas <strong>de</strong><br />

trabalho, 10 ½ para os primeiros 5 dias <strong>da</strong> semana (MARX, 1983:193)<br />

Marx mostra neste capítulo <strong>da</strong> Jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Trabalho</strong> que em muitos casos não havia limites<br />

legais e mesmo na presença <strong>de</strong>les registra relatos <strong>de</strong> inspetores <strong>de</strong> fábrica que mostram as<br />

burlas dos limites. Nesses casos, Marx se refere a um impulso voraz por mais-trabalho, mas<br />

não <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> superexploração. Da mesma forma, ele o faz para a situação <strong>de</strong> pagamento<br />

insuficiente para a reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Não nos parece ser inapropriado chamar <strong>de</strong> superexploração a extrapolação dos limites à<br />

produção <strong>de</strong> mais-valia <strong>da</strong>dos pela jorna<strong>da</strong> e pelo custo <strong>de</strong> reprodução <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho.<br />

Entretanto, é preciso ter sempre presente que aí estamos <strong>da</strong>ndo uma conotação distinta<br />

<strong>da</strong>quela utiliza<strong>da</strong> por Marx. A justificativa <strong>de</strong> Marini é a seguinte:<br />

Vimos que o problema que coloca o intercâmbio <strong>de</strong>sigual para a América Latina não é<br />

precisamente o <strong>de</strong> se contrapor à transferência <strong>de</strong> valor que implica, mas compensar uma<br />

per<strong>da</strong> <strong>de</strong> mais-valia e que, incapaz <strong>de</strong> impedi-la em nível <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> mercado, a reação <strong>da</strong><br />

economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é compensá-la no plano <strong>da</strong> própria produção. O aumento <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

do trabalho aparece, nesta perspectiva, como um aumento <strong>de</strong> mais-valia, consegui<strong>da</strong> através<br />

<strong>de</strong> uma maior exploração do trabalhador e não do incremento <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva. O<br />

mesmo se po<strong>de</strong>ria dizer <strong>da</strong> prolongação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> trabalho, isto é, do aumento <strong>da</strong> maisvalia<br />

absoluta em sua forma clássica; à diferença do primeiro, se trata aqui <strong>de</strong> aumentar<br />

simplesmente o tempo <strong>de</strong> trabalho exce<strong>de</strong>nte, que é aquele em que o operário segue<br />

produzindo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter criado um valor equivalente ao dos meios <strong>de</strong> subsistência para seu<br />

próprio consumo. Dever-se-ia observar, finalmente, um terceiro procedimento, que consiste em<br />

reduzir o consumo do operário além <strong>de</strong> seu limite normal pelo qual “o fundo necessário do<br />

operário se converte <strong>de</strong> fato, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> certos limites, em um fundo <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> capital”,<br />

implicando assim um modo específico <strong>de</strong> aumentar o tempo <strong>de</strong> trabalho exce<strong>de</strong>nte. (MARINI,<br />

2000: 123-124)<br />

A proposição <strong>da</strong> dialética <strong>da</strong> <strong>de</strong>pendência está, portanto, na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma forma<br />

específica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do capitalismo global, propagando-se a partir <strong>de</strong> um núcleo<br />

central, orgânico. 10 A propagação se dá a partir <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> consumo, que engendra uma<br />

10 Em Arrighi (1995) há uma formulação <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong>finindo-se o Núcleo Orgânico do Capitalismo,<br />

formado pelos países que <strong>de</strong>finem os rumos do <strong>de</strong>senvolvimento global.<br />

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