Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...
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Fernando Henrique Cardoso 13 . Contudo, a melhor passagem é ain<strong>da</strong> <strong>da</strong> Dialética <strong>da</strong><br />
Dependência:<br />
Pois bem, os três mecanismos i<strong>de</strong>ntificados – a intensificação do trabalho, a prolongação <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong> trabalho e a expropriação <strong>de</strong> parte do trabalho necessário ao operário para repor sua força <strong>de</strong><br />
trabalho – configuram um modo <strong>de</strong> produção fun<strong>da</strong>do exclusivamente na maior exploração do<br />
trabalhador e não no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva. Isto é congruente com o baixo<br />
nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s forças produtivas na economia latino-americana, mas também com os<br />
tipos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que se realizam nela. De fato, mais que na indústria fabril, on<strong>de</strong> um aumento <strong>de</strong><br />
trabalho implica pelo menos num maior gasto <strong>de</strong> matérias-primas, na indústria extrativa e na<br />
agricultura o efeito do aumento é muito menos sensível, sendo possível, pela simples ação do homem<br />
sobre a natureza, incrementar a riqueza produzi<strong>da</strong> sem um capital adicional. Compreen<strong>de</strong>-se que<br />
nestas circunstâncias a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva se baseia sobretudo no uso extensivo e intensivo <strong>da</strong> força<br />
<strong>de</strong> trabalho, o que, agregado à intensificação do grau <strong>de</strong> exploração do trabalho, faz com que se<br />
elevem simultaneamente as taxas <strong>de</strong> mais-valia e <strong>de</strong> lucro.<br />
É necessário observar além disso que, nos três mecanismos consi<strong>de</strong>rados, a característica essencial<br />
está <strong>da</strong><strong>da</strong> pelo fato <strong>de</strong> que se nega ao trabalhador as condições necessárias para repor o <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong><br />
sua força <strong>de</strong> trabalho: nos dois primeiros casos, porque ele é obrigado a um dispêndio <strong>de</strong> força <strong>de</strong><br />
trabalho superior ao que <strong>de</strong>veria proporcionar normalmente, provocando-se assim seu esgotamento<br />
prematuro; no último porque se retira <strong>de</strong>le inclusive a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> consumir o estritamente<br />
indispensável para conservar sua força <strong>de</strong> trabalho em estado normal. Em termos capitalistas, estes<br />
mecanismos (que além disso se po<strong>de</strong>m <strong>da</strong>r e normalmente se dão, <strong>de</strong> forma combina<strong>da</strong>) significam<br />
que o trabalho se remunera por baixo <strong>de</strong> seu valor e correspon<strong>de</strong>m, então, a uma superexploração<br />
do trabalho. (MARINI, 2000: 125-126)<br />
Sugere-se que o ponto <strong>de</strong> controvérsia foi menos a <strong>de</strong>finição abstrata <strong>de</strong> superexploração e,<br />
muito mais, a sua expressão histórica como elemento <strong>de</strong>finidor do capitalismo latinoamericano.<br />
Os pontos mais específicos <strong>de</strong> discussão se concentraram na possível evidência<br />
histórica <strong>da</strong> superexploração como marca, por exemplo, do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, além<br />
<strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong>sta condição no âmbito do <strong>de</strong>senvolvimento capitalista<br />
global. 14 Neste caso, trata-se <strong>da</strong> discussão a respeito <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> transferência <strong>de</strong> maisvalia<br />
<strong>da</strong> América Latina para o centro do capitalismo, acelerando-se por lá a dinâmica <strong>da</strong><br />
acumulação.<br />
Para os propósitos <strong>de</strong>ste artigo, importa retomar essa discussão no contexto histórico <strong>de</strong><br />
hegemonia do Neoliberalismo, dos anos 1990 em diante. Isto vem sendo feito com crescente<br />
repercussão, sobretudo nos meios acadêmicos. Além <strong>da</strong> publicação em português do Dialética<br />
<strong>da</strong> Dependência em 2000, há pelos menos três publicações indispensáveis para enten<strong>de</strong>r o<br />
alcance <strong>da</strong> discussão. A primeira <strong>de</strong>las é o livro <strong>de</strong> Jaime Osório (2004) – Crítica <strong>da</strong> Economia<br />
Vulgar –, autor citado por Marini em suas Memórias como um dos autores que procuravam<br />
avançar nas suas interpretações.<br />
Um segundo livro é o <strong>de</strong> Roberta Traspadini e João Pedro Stédile (2005) – Ruy Mauro Marini,<br />
vi<strong>da</strong> e obra –, que tem o propósito <strong>de</strong> retomar a discussão <strong>de</strong> Marini como parte <strong>de</strong> um<br />
esforço <strong>de</strong> politização <strong>de</strong> quadros no âmbito do Movimento dos Sem Terra, além <strong>de</strong> divulgar<br />
trabalhos <strong>de</strong>le em português. Finalmente, o terceiro, organizado por Carlos Eduardo Martins e<br />
Adrián Sotelo Valencia e coor<strong>de</strong>nado por Emir Sa<strong>de</strong>r e Theotônio dos Santos (2009) – A<br />
América Latina e os Desafios <strong>da</strong> Globalização – ensaios <strong>de</strong>dicados a Ruy Mauro Marini, serve<br />
como balanço histórico <strong>da</strong> contribuição do autor.<br />
13<br />
Veja-se “As razões do neo<strong>de</strong>senvolvimentismo (resposta a Fernando Henrique Cardoso e a José<br />
Serra)” Marini (2000:167-242).<br />
14<br />
Este artigo reproduz um <strong>de</strong>bate circunscrito ao <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, pela origem dos<br />
contentores e pela importância do Brasil no âmbito <strong>da</strong> América Latina.<br />
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