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Superexploração da Força de Trabalho e Concentração de Riqueza ...

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Em geral, os <strong>de</strong>bates colocados em nível <strong>da</strong> dinâmica econômica, não obstante a integração<br />

macroeconômica <strong>da</strong>s economias, estabelecem-se mesmo em nível <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. 23 Este é<br />

precisamente o caso do <strong>de</strong>bate a respeito <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza no Brasil.<br />

Em Tavares (1975), há uma discussão <strong>da</strong>s razões estruturais para o recorrente processo <strong>de</strong><br />

concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong> e riqueza que ocorria no Brasil nos anos 1970. 24 A tese é que a<br />

recorrente concentração traduzia elementos estruturais, que operavam como resultado do<br />

processo histórico <strong>de</strong> industrialização <strong>de</strong> transição ao capitalismo.<br />

Além <strong>de</strong> contribuição própria, Tavares se sustentava na interpretação Kaleckiana <strong>da</strong><br />

diferenciação entre as dinâmicas <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> economias capitalistas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s. Em Kalecki (1980), a razão <strong>de</strong> fundo para a diferenciação entre essas duas<br />

dinâmicas está liga<strong>da</strong> à existência <strong>de</strong> distintas vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento no âmbito do<br />

capitalismo 25 .<br />

Segundo ele, nos países avançados, o <strong>de</strong>senvolvimento histórico aproximava gradualmente o<br />

consumo dos trabalhadores do consumo dos capitalistas, ampliando a escala do mercado e,<br />

assim, do processo <strong>de</strong> acumulação em nível nacional. Nos países sub<strong>de</strong>senvolvidos, ao<br />

contrário, reproduzia-se a segmentação do consumo <strong>da</strong>s duas classes, limitando assim o<br />

mercado doméstico. Configuram-se <strong>de</strong>sta forma dois padrões <strong>de</strong> acumulação.<br />

Segundo Tavares (1975:37), o padrão <strong>de</strong> acumulação é <strong>de</strong>finido como uma articulação<br />

dinâmica específica entre o processo <strong>de</strong> diferenciação <strong>da</strong> estrutura produtiva (o investimento)<br />

e uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> estrutura <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>. 26 Embora os fenômenos motivadores<br />

sejam do <strong>de</strong>senvolvimento brasileiro, a discussão preten<strong>de</strong>-se mais geral, abarcando o<br />

conjunto dos países <strong>da</strong> América Latina.<br />

Para <strong>de</strong>monstrar isso, ela assinala que em qualquer economia industrializa<strong>da</strong>, mesmo que<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>tectar pelo menos dois setores produtivos – o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />

consumo e o <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> produção -, on<strong>de</strong> a solução à oposição salários-lucros dá-se no<br />

contexto <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> acumulação em que as relações intersetoriais são fun<strong>da</strong>mentais.<br />

A compreensão <strong>de</strong>ste processo, em ca<strong>da</strong> padrão histórico (concreto) <strong>de</strong> acumulação, requer a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>da</strong>s relações básicas entre a estrutura <strong>da</strong> produção e repartição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> –<br />

inerente ao processo <strong>de</strong> acumulação – e o modo pelo qual as condições <strong>de</strong> reprodução do<br />

sistema repõem ou modificam essa articulação básica <strong>da</strong> estrutura produtiva.<br />

Ain<strong>da</strong> segundo Tavares, tal processo não po<strong>de</strong> ser apreendido pelos esquemas <strong>de</strong> reprodução<br />

<strong>de</strong> Marx, que mostram essencialmente as condições <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “equilíbrio”<br />

(compatibili<strong>da</strong><strong>de</strong>) entre a produção e a realização <strong>de</strong> mais-valia, <strong>da</strong><strong>da</strong> a distribuição <strong>de</strong> ren<strong>da</strong><br />

23 Importante registrar que estamos nos referindo ao <strong>de</strong>bate que ocorreu no âmbito do pensamento<br />

crítico, nas suas diversas vertentes. Este <strong>de</strong>bate alcançou a ortodoxia, mas aí o campo <strong>da</strong> discussão<br />

fixou-se nos fenômenos, no nível aparencial do processo <strong>de</strong> concentração <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>.<br />

24 O <strong>de</strong>bate se estabeleceu a partir <strong>da</strong> divulgação dos <strong>da</strong>dos do Censo brasileiro <strong>de</strong> 1970. A comparação<br />

<strong>de</strong>sses <strong>da</strong>dos com os do Censo <strong>de</strong> 1960 mostravam concentração <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, num contexto histórico em<br />

que os governos militares brasileiros difundiam uma perspectiva favorável do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

brasileiro. O livro organizado por Tolipan e Tinelli (1975) con<strong>de</strong>nsavam diferentes visões <strong>de</strong>sse<br />

fenômeno<br />

25 Esta é uma interpretação, pois ele trata apenas <strong>de</strong> dois grupos <strong>de</strong> economias, as <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s e<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s. Daí <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma economia global capitalista divi<strong>da</strong> nesses dois<br />

grupos. Registre-se que no seu período histórico <strong>de</strong> produção teórica Kalecki conviveu intensamente<br />

com a polarização i<strong>de</strong>ológica e geopolítica do mundo, <strong>de</strong> maneira que a questão em princípio diz<br />

respeito ao âmbito do capitalismo, embora se saiba <strong>da</strong>s suas preocupações com economias socialistas<br />

sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s.<br />

26 Esta <strong>de</strong>finição e os seus <strong>de</strong>sdobramentos está mais bem explica<strong>da</strong> em Almei<strong>da</strong> Filho (1993).<br />

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