Bancos e desenvolvimento industrial. - BBS Business School
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<strong>Bancos</strong> e <strong>desenvolvimento</strong> <strong>industrial</strong><br />
1. O capital estrangeiro e<br />
investimentos industriais em<br />
uma economia capitalista<br />
retardatária<br />
Acompreensão do mecanismo institucional<br />
que permite financiar projetos<br />
industriais em uma economia<br />
agrário-exportadora des-<br />
provida de um vigoroso<br />
setor bancário é uma questão<br />
permanente na história<br />
econômica do Brasil. As<br />
tentativas para elucidá-la<br />
esbarram em dificuldades<br />
teóricas e de fontes.<br />
Assim, permanece essa<br />
lacuna na compreensão<br />
do processo histórico de crescimento da<br />
produção <strong>industrial</strong> brasileira entre a década<br />
de 1870 e os anos 30.<br />
Voltamos a esse tema a partir do exame<br />
da trajetória da cervejaria Brahma,<br />
surgida no primeiro semestre de 1888<br />
como uma pequena empresa e extraordinariamente<br />
ampliada ao longo da década<br />
de 1890, a ponto de praticamente partilhar<br />
o mercado doméstico de cerveja com<br />
a cervejaria Antárctica, de São Paulo, surgida<br />
no mesmo ano como um grande projeto<br />
<strong>industrial</strong> para os padrões da época (LINS,<br />
1967, p. 74; LLOYD, 1913). Como a trajetória<br />
da Brahma teve importantes pontos<br />
de contato com a do banco Brasilianische Bank<br />
für Deutschland, examinamos a possibilidade<br />
desse banco ter contribuído positivamente<br />
para o crescimento da cervejaria, a exemplo<br />
do papel desempenhado por grandes<br />
bancos alemães na <strong>industrial</strong>ização alemã<br />
pós-1870.<br />
A escolha do objeto se justifica porque<br />
o caso da Brahma revela facetas peculiares<br />
das estratégias adotadas pelos industriais<br />
dos anos 1890 para levar adiante<br />
planos de expansão. Em torno da empresa<br />
O caso da Brahma revela<br />
facetas peculiares das<br />
estratégias adotadas pelos<br />
industriais dos anos 1890<br />
para levar adiante<br />
planos de expansão<br />
História e Economia Revista Interdisciplinar<br />
gravitam bancos estrangeiros e empresas<br />
exportadoras, formando-se uma comunidade<br />
de negócios onde os dirigentes da<br />
Brahma encontraram financiamento para<br />
ampliar a empresa, contrataram gerentes e<br />
técnicos, fornecedores de matéria-prima e<br />
de equipamentos. Chama atenção o fato de<br />
o modelo de financiamento adotado ter se<br />
baseado, em larga medida, na emissão de<br />
debêntures, justamente uma modalidade de<br />
propriedade que sofreu importantes modificações<br />
no seu estatuto jurídico a partir<br />
de 1890. Como a legislação republicana foi<br />
particularmente pródiga em revestir as debêntures<br />
com garantias, criaram-se incentivos<br />
para os investidores aplicarem nesse<br />
tipo de títulos privados.<br />
O estudo explora, primeiro, a atuação<br />
do capital financeiro estrangeiro em um<br />
setor muito dinâmico da indústria do País<br />
e, segundo, a prática de financiamento a<br />
projetos industriais, e as mudanças financeiras<br />
na legislação econômica instituídas<br />
pelo governo republicano. Supõe-se que o<br />
ambiente institucional do país que abriga<br />
o investimento, mais do que as práticas<br />
comerciais vigentes nas economias originárias<br />
do capital, determina os vínculos<br />
contratuais entre empresas produtivas e financeiras.<br />
Sugerimos a existência de tais<br />
vínculos e propomo-nos a discutir a natureza<br />
contratual dessas ligações a fim de<br />
elucidar a origem e a expansão de um importante<br />
ramo da indústria.<br />
Como os liames da comunidade de<br />
negócios alemã no Brasil eram tecidos por<br />
pessoas que participavam ora de uma empresa,<br />
ora de outra, fazendo, com isso, circular<br />
saber técnico e informações sobre os<br />
empreendimentos, o estudo reconstitui<br />
essa comunidade também a partir de pessoas<br />
que exerceram cargos-chave de comando.<br />
Não se trata de vício de uma concepção<br />
de história personalizada, como é<br />
usual encontrar em estudos de história