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PELA ÁGUAURGENTE - Amanco

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ANO 8 | 2012 | Nº 16<br />

COMPROMISSO<br />

<strong>ÁGUAURGENTE</strong><br />

INTERGERACIONAL<br />

<strong>PELA</strong><br />

ISSN 1659-2697


C<br />

M<br />

J<br />

CM<br />

MJ<br />

CJ<br />

CMJ<br />

N<br />

annonce_finale_port_bresil.pdf 1/09/11 18:05:42<br />

worldwaterforum6.org<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

ANO 8 | 2012 | N°16<br />

ANO 8 | 2012 | N. 16<br />

ANO 8 | 2012 | Nº 16<br />

COMPROMISSO<br />

INTERGERACIONAL<br />

<strong>PELA</strong> <strong>ÁGUAURGENTE</strong><br />

Benedito Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial da Água<br />

(WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de<br />

São Paulo (USP), Brasil.<br />

Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP)<br />

Costa Rica e membro do Comitê Diretivo da GWP América Central.<br />

Claudio Osório | Consultor Internacional de Água e Saneamento.<br />

Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008.<br />

DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos<br />

Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil<br />

DIRETORA DE REDAÇÃO | Luciana de Paula<br />

Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil<br />

PRODUÇÃO EDITORIAL:<br />

Satori Editorial | www.satorieditorial.com<br />

EDITOR CHEFE | Boris Ramírez<br />

EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo<br />

DESIGN GRÁFICO | Gerson Tung<br />

CORREÇÃO DE ESTILO | María del Mar Gómez<br />

CAPA | Animaux Corp.<br />

COLABORADORES<br />

Maude Barlow, Presidente do Conselho Canadense, Presidente da Food<br />

and Water Watch, Prêmio Nobel Alternativo 2005.<br />

Bill e Melinda Gates, Fundação Gates Yong Jiang. Enciclopédia da Terra.<br />

Eduardo Orecchia e Miguel tInstituto Nacional de Tecnologia Agropecuária<br />

da Argentina.<br />

Eduardo Padilla Ascencio, Sistema de Água Potável e Rede de<br />

Esgoto de León, México.<br />

Ton Vlugman , Assessor em Saúde e Meio Ambiente da<br />

Organização Panamericana da Saúde / Organização Mundial da Saúde.<br />

ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO<br />

Luis Alonso Ramírez e Juliana Gebrin<br />

TRADUÇÃO E EDIÇÃO EM PORTUGUÊS<br />

Pampa Tradução e Interpretação<br />

FALE CONOSCO | aquavitae@mexichem.com<br />

Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem<br />

ISSN 1659-2697


CONTEÚDO<br />

PERSPECTIVA<br />

ECONOMIA<br />

CASOS: URBANO E RURAL<br />

AMBIENTE<br />

BREVES DO MUNDO<br />

INTERNACIONAL<br />

OPINIÃO<br />

CULTURA<br />

SITES INTERESSANTES<br />

61<br />

16<br />

05<br />

16<br />

22<br />

36<br />

40<br />

45<br />

49<br />

61<br />

66<br />

06<br />

26<br />

41<br />

50<br />

57<br />

MATÉRIA DE CAPA<br />

URGENTE:<br />

COMPROMISSO INTERGERACIONAL <strong>PELA</strong> ÁGUA<br />

Autoridades latino-americanas fazem um balanço sobre o que tem sido feito e o que vem<br />

falhando neste compromisso fundamental. Jovens de vários países da América Latina ergueram<br />

suas vozes e nos contaram seus desejos e desafi os sobre a água.<br />

LEGISLAÇÃO<br />

BALANÇO DA LEI<br />

Incertezas em matéria de legislação detêm avanços na América Latina.<br />

Compilado e revisão das legislações da água na região.<br />

TECNOLOGIA<br />

SANITÁRIO 2.0:<br />

O novo desafio tecnológico de Bill Gates:<br />

Revolucionar o mercado da computação há 36 anos com a criação do Microsoft Windows não<br />

foi sufi ciente para ele. Agora, Bill Gates pretende promover o que chama de “reinvenção do<br />

vaso sanitário”.<br />

SAÚDE<br />

A ÁGUA EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA<br />

Após os desastres, a água passou a ser o bem mais importante para a população afetada, de<br />

modo que a escassez ou contaminação deste recurso pode ter consequências bastante graves<br />

para a saúde pública.<br />

ALTO PERFIL<br />

ALTO PERFIL: ENTREVISTA EXCLUSIVA COM BENEDITO BRAGA<br />

Presidente do 6º. Fórum Mundial da Água<br />

“Devemos promover pragmatismo e efi ciência. Só conseguiremos resolver efetivamente o<br />

problema da água na medida em que a equação econômica e política seja devidamente resolvida”.<br />

36


4<br />

AquA VitAe<br />

Foto: Estefanía Abad


A<br />

sobrevivência da humanidade depende da formação<br />

e do desenvolvimento de seus futuros líderes. A<br />

Aqua Vitae levantou questões relevantes para líderes<br />

latinoamericanos sobre este importante assunto, para elucidar<br />

pontos fortes e fracos na tarefa do compromisso entre<br />

gerações com o setor de água e saneamento. Isto não se<br />

trata de um assunto de pouca importância. As novas gerações<br />

serão as sucessoras naturais para continuar a luta contra<br />

os desafios da água, especialmente o de eliminar a desigualdade<br />

de recursos hídricos.<br />

Porém não ficamos na visão adultocêntrica, mas sim solicitamos<br />

às crianças e aos jovens de nossos países, que, de forma<br />

natural e espontânea, compartilhassem conosco seus desejos<br />

e desafios. É também este tema que decidimos desenvolver<br />

em uma entrevista exclusiva com o brasileiro Beneditto Braga,<br />

responsável por reunir todas as gerações em Marselha, na<br />

França, durante o Sexto Fórum Mundial da Água, com o intuito<br />

de estabelecer as bases para as soluções atuais e futuras.<br />

PERSPECTIVA<br />

Com essa mesma visão pedimos a Bill e Melinda Gates que<br />

nos informassem sobre sua decisão de encontrar soluções<br />

inovadoras para uma questão essencial: o acesso às novas<br />

tecnologias em instalações sanitárias, que sejam de baixo<br />

custo e de grande impacto.<br />

Em 2012 começa o oitavo ano em que nossa revista continua<br />

viajando pela América Latina e pelo mundo para compartilhar<br />

experiências, discussões, reflexões e informações, com o compromisso<br />

de gerar conhecimento e consciência. Agradecemos<br />

por estar conosco durante esses anos e por continuar fortalecendo<br />

esta aspiração. Que este ano de 2012 nos permita<br />

seguir reforçando nossos desafios de transformação, com a<br />

água como o elemento que nos permite fluir e crescer.<br />

Yazmín Trejos<br />

Diretora - aqua Vitae<br />

AquA VitAe 5


cada geraÇÃo tem uma<br />

obrigaÇÃo, e as novas a<br />

cumprem mantendo-se<br />

sensibilizadas sobre<br />

QuestÕes ambientais.<br />

sendo assim, estamos<br />

em dívida porQue nÃo<br />

foi possível transmitir<br />

um vínculo mais vital<br />

com as QuestÕes de água<br />

e saneamento. esta É<br />

uma responsabilidade<br />

inevitável.<br />

Foto: Animaux Corp.<br />

6 AQUA VITAE


por boris ramírez<br />

compromisso<br />

intergeracional<br />

pela água<br />

urgente<br />

AQUA VITAE 7


O<br />

fato de que a água é um bem essencial para a<br />

vida em todas as suas formas, representa razão<br />

suficiente para construir compromissos que assegurem<br />

a conservação das funções hidrológicas,<br />

biológicas e químicas dos ecossistemas que sustentam a própria<br />

vida e permitem recuperar (ou pelo menos manter) sua<br />

qualidade, de forma a garantir o abastecimento para toda a<br />

população atual e futura do planeta.<br />

De acordo com essas premissas, todos nós, seres humanos<br />

do planeta, somos obrigados a ajustar nossas atividades aos<br />

limites e à capacidade autorreguladora da natureza. Cada geração<br />

tem uma obrigação e deve assumir um compromisso<br />

em relação à água que as próximas gerações vão beber, usar<br />

e aproveitar.<br />

8<br />

jovens<br />

de vários países latino-americanos<br />

ergueram suas vozes e nos<br />

contaram seus desejos e desafios<br />

sobre a água<br />

AquA VitAe<br />

Desta forma, em novembro de 2011, foram convocados líderes<br />

latino-americanos para discutir o compromisso intergeracional<br />

com o setor de água como um passo necessário para reorientar<br />

o tratamento e a administração, no sentido de uma gestão<br />

integral, compartilhada e inteligente dos recursos hídricos, a<br />

partir do esquema do Sétimo Diálogo Interamericano sobre<br />

Gestão da Água<br />

Questões fundamentais vêm surgindo há vários anos: No que<br />

falharam as últimas gerações? Como é possível comprometer<br />

mais jovens com a água em uma visão planetária? Qual deve<br />

ser o papel deles na sustentabilidade de um elemento vital<br />

para a existência do Planeta?<br />

A América Latina não quer ficar de braços cruzados perante<br />

esta questão fundamental. Por isso, o tema foi discutido no<br />

ano de 2011 com representantes de 34 países da região, de<br />

setores governamentais, acadêmicos, empresariais, ONGs, sociedade<br />

civil e setores produtivos (agricultura, alimentos, serviços,<br />

comunicações, construção, silvicultura, pecuária, energia,<br />

indústria, mineração, infraestrutura, transporte, habitação,<br />

turismo, saneamento e serviços públicos). Juntos, estes representantes<br />

identificaram três linhas de compromisso:<br />

As perguntas são fundamentais. As respostas<br />

devem ser esclarecedoras. Ensinamos os jovens<br />

latino-americanos a se comprometerem com a<br />

água? Eles sentem-se envolvidos e com algum<br />

nível de responsabilidade com os recursos hídricos?<br />

Se estiverem comprometidos com a água,<br />

como pensam que ela deve ser protegida?<br />

A Aqua Vitae entrevistou jovens latino-americanos.<br />

Estas são suas reflexões, que nos permitem<br />

acumular conhecimento sobre o que eles necessitam<br />

para este vínculo essencial entre os seres<br />

humanos e a água.


• A água é um bem essencial para a vida em todas as suas<br />

formas, razão suficiente para desenvolver compromissos<br />

que garantam a conservação de suas funções hidrológicas,<br />

biológicas e químicas e que permitam recuperar<br />

(ou pelo menos manter) sua qualidade, de forma tal a<br />

garantir o abastecimento para toda a população atual e<br />

futura do planeta.<br />

• Todos os habitantes do planeta estão obrigados a ajustar<br />

as suas atividades aos limites e à capacidade autorreguladora<br />

da natureza. Cada geração tem uma obrigação e<br />

deve assumir um compromisso em relação à água que as<br />

próximas gerações irão beber, usar e aproveitar.<br />

Todas as pessoas, não só no meu país, devem assumir<br />

um compromisso verdadeiro com a água, que vai<br />

desde ensinar em casas e escolas sobre como se pode<br />

conservar e salvar este recurso, até praticar ações<br />

como fechar todas as chaves (torneiras) de nossas<br />

casas, não se prolongando mais tempo do que o<br />

necessário debaixo do chuveiro. Cada ação, por<br />

menor que seja, pode fazer a diferença.<br />

Sinto uma grande responsabilidade, pois na educação<br />

que me foi dada, muitas vezes explicaram-me que a<br />

existência da água está em minhas mãos, nas mãos<br />

da minha geração. Portanto, é muito importante que<br />

eu conheça as táticas para conservação dos recursos<br />

hídricos que a natureza nos oferece.<br />

ADRIANA LÓPEZ SALGADO, 18 anos. El Salvador.<br />

• O compromisso intergeracional deve reorientar para uma<br />

gestão da água integrada, integral, compartilhada e inteligente,<br />

que potencializa o bem-estar social e o desenvolvimento<br />

econômico de forma equitativa, sem comprometer<br />

a integridade dos ecossistemas, ou o direito das gerações<br />

futuras de usá-los como base de sua existência e qualidade<br />

de vida.<br />

Creio que o compromisso que deve existir em<br />

matéria de gestão e utilização dos recursos hídricos<br />

é fundamental e deve reger todas as nossas<br />

atividades, para que girem em torno disso. É de<br />

suma importância ter e criar consciência no cuidado<br />

e na boa gestão deste líquido vital. De minha parte,<br />

me sinto responsável, comprometida e capaz de<br />

fazer a diferença.<br />

Devemos nos comprometer na proteção e boa<br />

gestão deste recurso; as ações que serão realizadas<br />

vão desde algo tão simples como potencializar<br />

o uso em nossa casa, e, em toda atividade em<br />

que nos beneficiemos com o uso de água. Para o<br />

futuro, nosso objetivo deve ser preservar as bacias<br />

hidrográficas, bem como suas margens, evitando<br />

a poluição e o desmatamento para garantir a<br />

qualidade dos efluentes.<br />

EUGENIA HANDAL CHINCHILLA, 17 anos. Honduras.<br />

AquA VitAe 9


Esta mensagem tem tido cada vez mais ressonância. “O primeiro<br />

compromisso que deve ser obtido é o das gerações<br />

atuais, para permitir que os jovens trabalhem plenamente em<br />

suas comunidades, para aprender, perguntar e proteger os recursos<br />

hídricos,” disse Marlitt Puscus, governadora indígena<br />

na região de Cauca na Colômbia, ao indicar que a juventude<br />

indígena está ligada de forma natural com a água e a natureza,<br />

ao passo que aqueles jovens criados em outras regiões não<br />

têm este vínculo.<br />

Estamos unidos à água, e ela nos une porque é vida. Todos<br />

os seres humanos precisam deste recurso vital e estratégico<br />

para o desenvolvimento dos povos. Esta realidade exige que<br />

a sociedade como um todo estabeleça ações necessárias para<br />

garantir que a água - e a vida que dela depende - possam ser<br />

Somos nós, os jovens, que vão cuidar do uso da água<br />

no futuro; se a juventude não for ensinada, o futuro<br />

não prometerá muito, porque apesar da grande<br />

quantidade de água em todo o planeta, apenas uma<br />

pequena parte pode ser usada para consumo. Deve<br />

ser criada a cultura de uso da água e sua reutilização,<br />

quando isto for possível. Cada dia ela fi ca mais<br />

escassa, tornando-se mais difícil levá-la aos locais<br />

de consumo.<br />

Devemos salvar e tentar reutilizar a maior<br />

quantidade de recursos hídricos possível, porque<br />

se nada for feito agora, será tarde demais e só nos<br />

restará lamentar e dizer: por que não fi z isso antes?<br />

Precisamos ser conscientes de que somos milhões<br />

e milhões de pessoas com a mesma necessidade de<br />

tomar banho, beber água, lavar as mãos, escovar os<br />

dentes e puxar a descarga do banheiro.<br />

10<br />

AQUA VITAE<br />

SANTIAGO BAÑUELOS, 15 anos. México.<br />

conservadas para as gerações atuais e futuras. Não se pode<br />

deixar de compartilhar com os jovens uma das principais conclusões<br />

reveladas pela organização WWF no seu Relatório Planeta<br />

Vivo: a Terra excedeu sua capacidade de reposição dos<br />

recursos naturais para as demandas humanas em 30% desde<br />

2008. Atualmente consumimos recursos naturais equivalentes<br />

a 1,3 planetas por ano.<br />

“Talvez o cenário que devamos corrigir é o adultocentrismo,<br />

em que os adultos acreditam ter as respostas e as soluções.<br />

Esquecemos que são as novas gerações que têm uma maior<br />

consciência ambiental e esta é a ponte que devemos utilizar<br />

para aproximá-los do setor hídrico. Sem dúvida nenhuma, eles<br />

o fariam de forma constante”, assinala Marcelo Encalada, representante<br />

da ONU-Habitat da Bolívia e gerente de novas<br />

formas de associativismo pela água que contribuam para comprometer<br />

os jovens de forma natural e orgânica na tarefa de<br />

zelar pelos recursos hídricos.<br />

A professora na escola me ensinou o caminho que<br />

a água faz para chegar à represa, antes de vir até<br />

minha casa. Ensinou também sobre a importância da<br />

água para nosso uso. Eu faço algumas coisas todos<br />

os dias para não desperdiçar água: tomo banhos<br />

mais curtos, quando escovo os dentes não deixo a<br />

torneira aberta.<br />

Em vez de lavar o quintal com a mangueira, uso<br />

um balde com água. São coisas simples que gastam<br />

menos recursos hídricos e que farão com que o<br />

mundo tenha mais água no futuro.<br />

BEATRIZ ALVES SILVA, 10 anos. Brasil.


MÃOS A OBRA<br />

“É preciso muita força de vontade, trabalho duro, e acima<br />

de tudo, conseguir um equilíbrio fi nanceiro, que permitam<br />

ter os recursos econômicos necessários para ações de formação,<br />

treinamento e transferência de tecnologias para as<br />

novas gerações, para que ajudem na consolidação dos objetivos<br />

de acesso, consumo e demanda de água”, comentou<br />

Malva Rosa Baskovich, do Programa de Água e Saneamento<br />

do Banco Mundial.<br />

“Estarão os jovens dispostos a se envolver neste esforço? São<br />

os jovens que vão cuidar do seu uso no futuro; se a juventude<br />

não for ensinada, o futuro não prometerá muito, porque<br />

apesar da grande quantidade de água em todo o planeta,<br />

apenas uma pequena parte pode ser usada para consumo”,<br />

argumentou Santiago Bañuelos, um jovem de 15 anos, que<br />

vive no México.<br />

No presente deve-se cuidar da água, do mar e dos<br />

rios, para proteger as gerações futuras, porque a<br />

água é vida. Sinto-me responsável porque tenho<br />

que ajudar contribuindo com o cuidado da água.<br />

Recomendo à minha irmã e aos meus amigos para<br />

fecharem a torneira quando estão se lavando ou<br />

escovando os dentes, cuidando para que não haja<br />

nunca goteiras ou vazamentos.<br />

Aprendi que o ciclo da água consiste na evaporação<br />

da água do mar que sobe para as nuvens. Quando<br />

estas estão cheias, a chuva cai sobre o mar, rios,<br />

montanhas e se formam os picos nevados que logo<br />

derretem, levando a água para os rios e, em seguida,<br />

desembocando no mar.<br />

FÁTIMA CAVERO, 12 anos. Perú.<br />

Betty Soto, representante regional da organização Water for<br />

people (Água para os povos), sugere-nos como fazê-lo: “É<br />

muito fácil. Devemos ter a clareza de que somos temporários<br />

e de que é nosso dever, como ocorre em todos os aspectos da<br />

vida, nos aproximar dos jovens. Não creio que falhamos em<br />

comprometê-los, visto que muitos jovens já estão trabalhando<br />

pela água. O que não devemos fazer nunca é transformá-los<br />

em alienados, mas sim envolvê-los cada vez mais”.<br />

Por estas razões que os entrevistados sustentam que, como em<br />

outros aspectos da vida, é preciso depositar nas mãos jovens<br />

o futuro de um dos tesouros mais preciosos da humanidade:<br />

a água.<br />

A vida começou na água e sem ela não há nenhuma<br />

vida. Na escola me ensinaram que a água deve ser<br />

muito bem cuidada, já que até 2050, se continuarmos<br />

desperdiçando-a, haverá uma grande escassez. Em<br />

minha casa não colocamos remédios vencidos ou óleo<br />

na máquina de lavar louças, porque isso polui o mar.<br />

Quando tomo um banho longo, também dou banho<br />

no meu gato, porque aprendi que a água não deve<br />

ser desperdiçada. Tento sujar menos minhas roupas<br />

para usar menos detergente e apóio campanhas de<br />

proteção da água nas redes sociais.<br />

LAURA GARCÍA ECHEVERRI, 12 anos. Colômbia.<br />

AQUA VITAE 11


12<br />

AquA VitAe<br />

COMPROMISSOS INTERGERACIONAIS<br />

As autoridades regionais têm discutido e sistematizado seis níveis do compromisso entre as gerações para cuidar da água.<br />

gerenciar políticas<br />

para o manejo da água.<br />

promover os conselhos<br />

de bacia Hidrográfica.<br />

governanÇa<br />

construir uma cultura<br />

da água, atribuindo<br />

responsabilidade à<br />

gestão com políticas<br />

públicas inclusivas e uma<br />

comunicação pública<br />

pertinente aos contextos.<br />

proteção da água e dos<br />

serviços ecossistêmicos.<br />

adaptabilidade, políticas<br />

e pagamentos de<br />

serviços hídricos.<br />

cultura da água<br />

sustentabilidade<br />

financeira<br />

Fonte: Sétimo Diálogo Interamericano sobre a gestão integral da água. Ministério do Meio Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial da<br />

Colômbia. Rede Interamericana de Recursos Hídricos. 2011.<br />

Na minha escola me ensinaram que a água é vital para os seres vivos, plantas e animais; que<br />

é útil para beber, cozinhar, lavar, apagar incêndios e regar as plantas. Tem dois nomes: H 2 O<br />

e água. Podemos vê-la como neve, gelo, granizo e quando cai das nuvens, além de estar nos<br />

rios, mares e lagos.<br />

Minha professora, Isabel Pinto, ensinou-me na Semana da Ciência, que sem água não<br />

vivemos, é a primeira coisa para meu corpo. Ensinou-me que não devo desperdiçá-la, que<br />

devo fechar a torneira quando escovo os dentes, e que não devo jogar lixo nos rios.<br />

STEPHANIE NICOLE CALVO, 7 anos. Panamá.


gestão da água em ambiente em<br />

alteração, enfrentando a mudança<br />

climática. o excesso e a falta de<br />

água como fatores de risco.<br />

mudanÇas<br />

naturais<br />

induzidas<br />

Eu seria a voz para alertar que não utilizemos água<br />

em demasia nas casas e escolas para nossas<br />

necessidades, bem como para que não contaminemos<br />

rios, lagos e fontes de água com resíduos, lixo e óleo.<br />

Devemos proteger as árvores e as florestas, e procurar<br />

fazer campanhas de limpeza em rios, lagos e fontes<br />

de água.<br />

SAMIR SAAVEDRA LÓPEZ, 10 anos. Nicarágua.<br />

informaÇÃo<br />

conHecimento<br />

tecnologia<br />

no abastecimento, consumo<br />

humano, indústria, agricultura,<br />

geração de energia, conservação,<br />

entre outros.<br />

desafios e<br />

necessidades<br />

gestão da informação do<br />

conhecimento e da tecnologia<br />

disponível, para incluir na gestão<br />

integral do recurso hídrico.<br />

Ensinaram-me a importância da água na vida dos<br />

seres vivos, que é um recurso natural renovável e<br />

devemos cuidar dela. Aprendi isso na escola, em<br />

casa e em vários programas de televisão. A forma<br />

de cuidar da água é usando-a de modo racional,<br />

sem contaminar nossos rios e lagos, e cuidando de<br />

nossas florestas.<br />

JOSÉ MIGUEL DELGADO, 14 anos. Venezuela.<br />

AquA VitAe 13


14<br />

Autoridades latino-americanas fazem um balanço sobre o que<br />

cumprimos ou não neste compromisso fundamental.<br />

AquA VitAe<br />

JUVENTUDE, DIVINO COMPROMISSO<br />

MICHELLE BACHELET<br />

Ex-presidente do Chile, diretora da ONU Mulheres.<br />

“Os jovens de comunidades rurais, em especial aqueles que vivem em zonas com baixa densidade populacional, têm problemas<br />

pelo déficit de grandes infraestruturas no transporte e na energia, e pela falta de serviços críticos para a sobrevivência,<br />

como o fornecimento de energia e água. Por isso, devem se comprometer muito mais em melhorar essas condições”.<br />

RIGOBERTA MENCHÚ<br />

Prêmio Nobel da Paz de 1992.<br />

“Agora a Mãe Natureza nos ensina de maneira generosa como cuidar dela e, especialmente, da sua alma que é a água.<br />

Estamos todos empenhados em transferir esses valores ancestrais de geração em geração. Só desta forma poderemos<br />

sobreviver e sermos gratos com nossa Mãe Natureza.”<br />

OSCAR ARIAS<br />

Ex-presidente da Costa Rica, Prêmio Nobel da Paz de 1987.<br />

“As grandes transformações humanas são um imperativo no qual o trabalho mais esperançoso é aquele que realizam as<br />

gerações de jovens. A força arrebatadora da juventude para gerar mudanças é o motor que deve alimentar a todos nós, a<br />

fim de navegar no mar aberto da esperança.<br />

Devemos assinar e nos comprometer com um acordo global no qual declaremos a paz à natureza como nossa principal<br />

aliada na busca do bem-estar e do desenvolvimento. Neste pacto, os jovens devem ser o testemunho vital da mudança,<br />

e a água, a tela, transparente e maravilhosa, de onde flui a força constante na construção de um mundo novo e melhor.”<br />

Pessoalmente sim, estou comprometido, já que todos os seres humanos são responsáveis<br />

por manter os recursos naturais do nosso planeta. Práticas de conservação como fechar a<br />

torneira para lavar a louça, as mãos e escovar os dentes, fomentam nos jovens um sentido de<br />

responsabilidade para a boa gestão da água.<br />

A humanidade está comprometida com a conservação dos recursos hídricos, que devem ser<br />

protegidos para o bem das gerações futuras; os seres humanos de todas as faixas etárias devem<br />

enfatizar os cuidados dos recursos naturais e, acima de tudo, da água, que dá vida.<br />

MAURICIO VARGAS, 16 anos. Costa Rica.


COMPROMISSO URGENTE<br />

Houve uma falha na transmissão de um maior compromisso com os valores transcendentais<br />

da água, o que nos deixa a responsabilidade de melhorar esta situação.<br />

A Aqua Vitae participou do II Encontro de Gestores Comunitários da Água e Saneamento, em setembro de 2011, no<br />

Peru. Este grupo se dedicou a analisar os desafios presentes e futuros da água e do saneamento. Ao colocar em perspectiva<br />

o que foi feito e o que falta fazer, a atenção recai naturalmente nas novas gerações, como agentes fundamentais<br />

para continuar o trabalho. Estas são algumas das chamadas feitas.<br />

MIRTA PAEz<br />

Presidente da Federação Paraguaia de Companhias de Saneamento (FEPAJUS).<br />

“Não se trata de analisar se falhamos ou não em envolver os jovens, o que devemos fazer é chamá-los a agir. Eles têm<br />

a força e o desejo de mudar o mundo, e que maneira melhor de fazer isso do que trabalhando pela água e pelo saneamento?<br />

Esta é uma questão fundamental que eles são capazes de compreender.”<br />

JORGE TARzEk<br />

Vice-presidente da Pepsico América Latina, Brasil.<br />

“A conscientização de comprometer as novas gerações com o setor de recursos hídricos deve começar a partir do setor<br />

empresarial. E como fazemos isso? Com o exemplo, com a responsabilidade de sermos gestores eficientes no uso da<br />

água, promovendo programas e ações concretas, para financiar programas que tenham como desafio a água, as pessoas<br />

e a sustentabilidade”.<br />

CARLOS ENRIquE JuSCAMAITA ARANGuENA<br />

Vice-ministro de Construção e Saneamento do Peru.<br />

“Os jovens não são o futuro do setor hídrico, são o presente. Eles estão comprometidos com o meio ambiente e devemos<br />

nos esforçar para que assumam a proteção da água como uma questão de trabalho e uma realidade de compromisso.<br />

Até hoje não conseguimos envolvê-los”.<br />

REyNA GALINdO<br />

Presidente da Associação Comunitária do Progresso do Século (ACEPROS) de El Salvador.<br />

“Os jovens têm o entusiasmo, o impulso e a vontade de trabalhar. Mas muitas vezes são os adultos que não lhes dão<br />

confiança suficiente. Devemos mudar a nós mesmos, ajudando-os a se envolverem na proteção da água e a lutarem por<br />

suas comunidades<br />

Eu aprendi a fechar as torneiras quando não é necessário deixá-las abertas.<br />

Sinto-me responsável, porque prejudica as despesas econômicas da minha casa<br />

e também o meio ambiente. Devo cuidar da água, para que no futuro não haja<br />

nenhuma escassez e para que as florestas não se transformem em desertos.<br />

ANDRÉS DONIS, 15 anos. Guatemala.<br />

AquA VitAe 15


ECONOmia<br />

16<br />

AquA VitAe


Por BORIS RAMÍREZ<br />

Os números econômicos não deixam dúvidas. O<br />

estado de saneamento de um país pode mo-<br />

delar suas expectativas de desenvolvimento.<br />

De acordo com a Organização Mundial da<br />

Saúde, os investimentos em saneamento nos países menos<br />

desenvolvidos gerariam benefícios com um valor estimado de<br />

US$ 35 bilhões anuais. Para se ter uma ideia do alcance deste<br />

lucro econômico, este valor é maior do que o Produto Interno<br />

Bruto (PIB) gerado em 2010 nos seguintes países da América<br />

Latina, segundo dados do Fundo Monetário Internacional<br />

(FMI): Honduras, com US$ 33,537 milhões; Paraguai, com US$<br />

31,469 milhões, e Nicarágua, com US$ 17,056 milhões; e um<br />

pouco menor do que o PIB de outros países da região, como o<br />

Panamá, com US$ 43,715 milhões; a Bolívia, com US$ 47,796<br />

milhões; o Uruguai, com US$ 47,986 milhões, e a Costa Rica,<br />

com US$ 51,130 milhões, representando uma grande oportunidade<br />

econômica e financeira.<br />

SANEAMENTO:<br />

UM ESFORÇO ECONÔMICO<br />

ObRAS + INvESTIMENTO = LUCRO<br />

É esta a operação financeira certa na região?<br />

Costa Rica 51.130<br />

Uruguai 47.986<br />

Bolívia 47.796<br />

Panamá 43.715<br />

US$35 Bilhões<br />

Honduras 33.537<br />

PIB 2010 (US$ milhões) segundo o FMI.<br />

Paraguai 31.469<br />

Nicarágua 17.056<br />

AquA VitAe 17


Certamente o acesso à água de qualidade e aos serviços de<br />

saneamento tem efeito direto sobre o crescimento econômico<br />

dos países. Isto se deve ao desenvolvimento de condições<br />

ideais nos setores de produção, saúde e educação, que<br />

por sua vez afetam diretamente os indicadores da qualidade<br />

de vida das populações. O principal indicador é que, melhorando<br />

a saúde dos habitantes de um país ou região, os gastos<br />

com cuidados de saúde básicos, hospitalização e funeral são<br />

evitados ou reduzidos. Crianças mais saudáveis podem participar<br />

de modo mais eficaz de processos educativos, somando<br />

mais 200 milhões de dias de frequência escolar em nível mundial,<br />

o que no futuro ajuda a diminuir os índices de pobreza.<br />

Uma menor necessidade de cuidados médicos para mulheres,<br />

crianças e idosos contribui ao mesmo tempo para redistribuir<br />

essas verbas para outros setores necessários para o desenvolvimento,<br />

diz a Organização Mundial da Saúde.<br />

A melhoria da água e do saneamento aumenta a produtividade<br />

diretamente: a redução de doenças diarréicas, devido à<br />

água insuficiente ou de baixa qualidade, significa a recuperação<br />

de 3 bilhões de dias de trabalho estimados no mundo, pois<br />

evita que os trabalhadores percam suas jornadas de trabalho<br />

por causa de doenças ou para cuidar de familiares doentes.<br />

Os recursos financeiros necessários para melhorar a quantidade<br />

e a qualidade da água disponível nos países em desenvolvimento<br />

devem vir de usuários, colaboradores e empresas<br />

operacionais públicas e privadas, afirma o Banco Mundial. O<br />

Relatório Mundial do Desenvolvimento da Água diz que são<br />

necessários de US$ 92,4 bilhões a US$ 148 bilhões por ano<br />

para construir e manter os sistemas de fornecimento, irrigação<br />

e saneamento básicos.<br />

Em novembro de 2011, ao comemorar o Dia Mundial do Banheiro,<br />

foi declarado que deve ser atendido o problema premente<br />

da falta de instalações sanitárias, já que “números da<br />

Unicef indicam que mais de 2,5 bilhões de pessoas não têm<br />

acesso a condições básicas de higiene para fazer suas necessidades”.<br />

Ao ver a diferença que esses banheiros fariam na<br />

economia em escala maior, compreende-se sem dúvida que o<br />

saneamento é uma decisão financeira rentável.<br />

18<br />

AquA VitAe<br />

PARA LEVAR EM CONSIDERAÇÃO<br />

Para entender a situação do ponto de vista econômico, deve-se<br />

levar em consideração três conclusões importantes do estudo<br />

“Saneamiento como negocio: Enfoques para políticas basadas<br />

en la demanda” (Saneamento como negócio: enfoques para<br />

políticas com base na demanda), elaborado por um grupo<br />

interdisciplinar constituído por Urs Heierli, Armon Hartmann,<br />

François Münger e Pierre Walther para a Agência Suíça para o<br />

Desenvolvimento e a Cooperação (SDC), para o Programa de<br />

Água e Saneamento para a América Latina (WSP-LAC), para<br />

o Conselho de Colaboração para o Abastecimento de Água<br />

e Saneamento (WSSCC) e para o Centro Pan-americano de<br />

Engenharia Sanitária e Ciências Ambientais - Unidade de Saneamento<br />

Básico (CEPIS-BS).<br />

NOVAS EStRAtégIAS DE POSICIONAMENtO<br />

• O principal objetivo em matéria de saneamento é o aumento<br />

acelerado de vasos sanitários. é importante reconhecer<br />

que as instalações e os sistemas de esgotos são um<br />

nicho de mercado a ser atendido.<br />

• A sustentabilidade e o rápido crescimento devem dar ao<br />

setor a capacidade de oferecer e gerar emprego.<br />

• As forças do mercado e o setor privado devem agir para<br />

incentivar os governos nacionais a projetar estratégias com<br />

visão de futuro.<br />

• Devem ser preparados planos de saneamento com base na<br />

demanda, sob a liderança dos governos locais.<br />

• É possível superar o desafio de saneamento ao se buscar<br />

impulsionar forças econômicas juntamente com o compromisso<br />

dos governos.<br />

• Assim que o modelo de negócio é lançado, o governo deve<br />

se distanciar de seu papel de prestador de serviços e se<br />

tornar um facilitador e condutor do processo em geral.


EXEMPLO DE MOBILIZAÇÃO DO<br />

SETOR PRIVADO: INSTITUTO TRATA BRASIL<br />

O Instituto trata Brasil surgiu da união de grandes<br />

empresas com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a<br />

sociedade civil sobre a importância da universalização<br />

do saneamento básico no Brasil.<br />

O Instituto é uma OSCIP – Organização da Sociedade<br />

Civil de Interesse Público – que tem como objetivo<br />

coordenar uma ampla mobilização nacional para que<br />

o País possa atingir a universalização do acesso à coleta<br />

e ao tratamento de esgoto.<br />

As ações e estudos feitos pelo trata Brasil repercutem<br />

em todo o país, principalmente alertando as pessoas<br />

e autoridades, através da imprensa, sobre a situação<br />

de carência local no abastecimento de água tratada,<br />

coleta e tratamento de esgotos. Nos últimos anos,<br />

o trata Brasil vem sendo citado em mais de 3.000<br />

matérias por ano, incluindo as principais tV´s, rádios,<br />

jornais, portais e mídia eletrônica. Este espaço na imprensa<br />

representou mais de R$ 90 milhões (US$ 52<br />

milhões de dólares aproximadamente) em resultados<br />

de mídia espontânea no Brasil.<br />

A Aqua Vitae entrevistou o Presidente Executivo do<br />

trata Brasil Edison Carlos.<br />

Como o Trata Brasil surgiu e qual o seu principal<br />

aporte para a sociedade?<br />

O Instituto trata Brasil surgiu da união de grandes<br />

empresas com o objetivo de sensibilizar e mobilizar a<br />

sociedade civil sobre a importância da universalização<br />

do saneamento básico, principalmente o fornecimento<br />

de água potável, coleta e tratamento dos esgotos<br />

que tantos problemas trazem à sociedade. Nosso<br />

principal aporte é contribuir para a melhoria da qualidade<br />

de vida da população, especialmente protegendo<br />

nossos recursos hídricos e o meio ambiente com<br />

impacto na redução da mortalidade infantil.<br />

Quais os principais objetivos e metas do Trata Brasil?<br />

Além de informar e mobilizar a sociedade civil acerca<br />

da importância dos investimentos em saneamento básico,<br />

nossos objetivos são ampliar os investimentos e<br />

os recursos do Poder Público para o desenvolvimento<br />

do setor, de forma a atingir a universalização do saneamento<br />

básico em todo o país até 2025. O trata Brasil<br />

atua com foco na ampliação dos serviços de atendimento<br />

em água tratada e esgotamento sanitário.<br />

O Trata Brasil é uma iniciativa que sai do setor<br />

privado e se transforma em um case de mobilização.<br />

Fale um pouco sobre este diferencial.<br />

As empresas que formam o trata Brasil sempre consideraram<br />

que é fundamental explicar ao cidadão a<br />

importância dos serviços de água e esgotos para que<br />

ele priorize estes serviços na hora de escolher seus<br />

candidatos nas eleições. O Instituto trata Brasil já<br />

surgiu, portanto, como um movimento de mobilização.<br />

Apesar da extrema importância dos serviços<br />

para o meio ambiente, para a qualidade de vida e<br />

saúde da população, o saneamento básico permaneceu<br />

por décadas esquecido pelo poder público.<br />

A ideia de que saneamento básico é obra enterrada<br />

e por isso não dá voto hoje se reduziu, mas infelizmente<br />

ainda continua valendo em várias cidades<br />

brasileiras. é fundamental, portanto, ter um movimento<br />

como o do trata Brasil para que a sociedade<br />

cobre este direito que está previsto na Constituição<br />

do Brasil.<br />

todas as ações desenvolvidas pelo Instituto trata Brasil<br />

visam esclarecer as pessoas e mostrar às autoridades<br />

que a sociedade está mais atenta. Os estudos<br />

e ações são matéria-prima para que a imprensa divulgue,<br />

que os formadores de opinião se posicionem<br />

e que a própria população se mobilize cobrando de<br />

seus governantes a prioridade nos investimentos em<br />

saneamento. Saneamento básico é um direito do cidadão<br />

brasileiro e todos devem se mobilizar para termos<br />

esse direito atendido.<br />

AquA AquA AquA VitAe<br />

VitAe 19


NOVAS ALIANÇAS PARA O CRESCIMENtO<br />

• A prioridade é superar o desafi o de saneamento e higiene,<br />

que exige a participação ativa e o esforço integrado por todos<br />

os interessados: governo, sociedade civil e setor privado.<br />

• A liderança do governo será importante no sentido de atrair<br />

grandes empresas para a construção de sistemas de saneamento<br />

para todos os setores da população. Os governos<br />

locais serão responsáveis pela coordenação das pequenas<br />

e médias empresas, pela sociedade civil e pelas ONgs.<br />

• Uma atividade básica será a de fomentar parcerias nacionais,<br />

sejam formais (missões especiais, grupos consultivos,<br />

comitês nacionais para o saneamento básico) ou informais.<br />

• Também devem ser criadas alianças locais indispensáveis<br />

para converter as grandes estratégias de saneamento nacionais<br />

em ações concretas.<br />

• É necessário envolver o setor privado nas alianças, para<br />

aproveitar sua ação e conhecimento sobre o mercado, os<br />

preços e o estabelecimento de cadeias de abastecimento.<br />

A participação da empresa privada é fator fundamental na<br />

superação dos desafi os que enfrenta o subsetor de saneamento<br />

e higiene.<br />

20<br />

AquA VitAe<br />

80%<br />

de todas as doenças no mundo<br />

decorrem da eliminação<br />

inadequada de dejetos humanos<br />

e de águas contaminadas<br />

com matéria fecal.<br />

Dia Internacional do Banheiro 2011, UNICEF<br />

POLÍtICA DE SUBSÍDIOS INtELIgENtES<br />

• As forças de mercado não podem garantir o interesse e a<br />

participação das empresas privadas. Subsídios (sejam dos<br />

governos, doadores, ONgs ou os subsídios para a água)<br />

desempenham um papel crucial no cumprimento do desafi<br />

o do saneamento, mas devem ser aplicados com extremo<br />

cuidado e de forma sustentável.<br />

• O apoio público para a criação de mercados ou o desenvolvimento<br />

de cadeias de abastecimento é muito mais efi caz<br />

do que o subsídio para as operações básicas.<br />

• O custo de bens e serviços é crucial, e a acessibilidade dos<br />

preços deve ser o foco central de qualquer estratégia. Essa<br />

acessibilidade deve ser tratada através de projetos mais<br />

baratos e não mediante subsídios, já que estes não são<br />

sustentáveis a longo prazo.<br />

• É demasiado caro subsidiar instalações sanitárias com fossas<br />

sépticas até um nível acessível para os segmentos mais<br />

pobres da sociedade, esta é uma ideia que não tem nenhuma<br />

chance de sucesso.<br />

• A única alternativa é um produto mais barato, projetado<br />

para as classes mais baixas. Isto não signifi ca que tenha<br />

que ser um produto de baixa qualidade. Inovações em<br />

design e políticas fl exíveis são essenciais para infl uenciar<br />

a vida cotidiana dos pobres por meio de iniciativas de<br />

saneamento e higiene.<br />

• Os subsídios podem ser definidos de maneira que estabeleçam<br />

e fortaleçam as cadeias de abastecimento. Uma<br />

forma efi caz de usar os subsídios para desenvolver o setor<br />

de saneamento consiste em fi nanciar o treinamento de pedreiros,<br />

comerciantes e empresários. Os mercados rurais de<br />

artigos sanitários são uma boa maneira de fazer com que<br />

as cadeias de suprimentos sejam mais viáveis.


GOVERNO<br />

NACIONAL/LOCAL<br />

SETOR<br />

PRIVADO<br />

As Famílias e as comunidades mobilizam a<br />

demanda. São aqueles que exigem informações,<br />

produtos e serviços de saneamento, porque reconhecem<br />

o valor do saneamento na melhoria da<br />

qualidade de vida e nas oportunidades de desenvolvimento<br />

comunitário.<br />

Os Fornecedores e/ou operadores locais são<br />

aqueles que produzem, comercializam e prestam<br />

localmente serviços de operação e manutenção de<br />

saneamento na localidade.<br />

O Setor privado é o conjunto de organizações<br />

privadas, com ou sem fins de lucro, que oferecem<br />

produtos e serviços de âmbito nacional ou regional<br />

vinculados às tecnologias de saneamento e construção,<br />

formação, treinamento e capacitação, além<br />

de opções financeiras e de microcrédito.<br />

ATORES<br />

ECONÔMICOS DO<br />

SANEAMENTO<br />

FAMÍLIAS E<br />

COMUNIDADES<br />

FORNECEDORES<br />

E OPERADORES<br />

Os governos nacionais/locais são os promotores<br />

e os reguladores do mercado local para o<br />

saneamento. Sua missão é estimular o desenvolvimento<br />

de uma rede de fornecedores e operadores<br />

locais certificados, bem como assegurar a<br />

concepção e implementação de políticas integrais<br />

de educação sanitária e ambiental para o fortalecimento<br />

e liderança da população.<br />

‘‘<br />

Há mais pessoas<br />

com celulares e mais lares<br />

com televisões do que com<br />

instalações sanitárias.<br />

AquA VitAe 21<br />

‘‘


casos: uRBaNo<br />

CIDADE León<br />

caracteríSticaS da comunidade<br />

22<br />

COM ATITUDE<br />

AquA VitAe<br />

fotos: Sistema de Água Potável e de esgoto de león (SaPal)<br />

é uma cidade que cresce como<br />

motor da indústria de calçado e de<br />

serviços do México. Os problemas<br />

de abastecimento, preços mais<br />

elevados e mau tratamento<br />

das águas foram enfrentados<br />

diretamente, para continuar no<br />

caminho do crescimento.<br />

Por BORIS RAMÍREZ<br />

A cidade de León está localizada no Estado de Guanajuato. É a sexta cidade mais populosa do México, com<br />

uma população de 1,7 milhão de pessoas na grande área metropolitana, de acordo com dados do Instituto<br />

Nacional de Geografi a e Informática (INEGI). Esta próspera cidade tem como atividade principal a fabricação e a<br />

produção na indústria de pele de bovinos e suínos, sendo conhecida como a capital do calçado, com produção<br />

tanto para mercados nacionais quanto internacionais. Tem serviços de primeira classe na indústria hoteleira, o<br />

que a torna um dos centros mais importantes do México, com muitas opções de ensino universitário, entretenimento,<br />

gastronomia, lazer, arte e recreação.


Situação inicial<br />

• A bacia do Lerma-Santiago é uma das nove mais<br />

contaminadas no México, os maiores problemas se<br />

devem a descargas no rio Turbio.<br />

• A cidade de León fornece 84,5% da água a esta<br />

sub-bacia do rio Turbio. Alia-se ao fato que León en-<br />

frenta uma crescente procura por recursos hídricos.<br />

• Esta é uma região com poucos rios. Há uma super<br />

exploração há uma sobre-exploração do aquífero e<br />

uma indústria de couro que gera grandes quantida-<br />

des de águas residuais. León tem 571 curtumes<br />

em parques industriais e 225 em áreas urbanas.<br />

• O crescimento da cidade e as atividades industriais<br />

e agrícolas tornam cada vez mais necessário o uso<br />

sustentável da água.<br />

• O resultado desta situação é o aumento do custo<br />

do líquido na região de Bajío, derivado de fatores<br />

como a diminuição da disponibilidade ante o au-<br />

mento constante da procura e o monopólio do re-<br />

curso pelo setor agrícola.<br />

como eSta Situação foi reSolvida?<br />

Em 2007 foi formada a Comissão do Rio Turbio, com<br />

a participação das autoridades de sete municípios do<br />

Estado de Guanajuato e com a participação do Sis-<br />

tema de Água Potável e Saneamento Básico de León<br />

(SAPAL), que se juntou a este conselho na qualidade<br />

de organismo público urbano. A estratégia consistia<br />

em resolver o conflito entre as demandas da popu-<br />

lação urbana e as da indústria local, para reduzir os<br />

graves problemas de abastecimento de água sem<br />

afetar o desenvolvimento econômico da região. Foi<br />

necessário aumentar o volume de água disponível e<br />

reduzir o custo do serviço. A agenda de trabalho se<br />

concentrou nesses temas: poluição dos rios e riscos<br />

de inundação, paralisação da super-exploração dos<br />

aquíferos e gestão correta das descargas de águas<br />

residuais industriais. A aposta era conseguir mais re-<br />

cursos por meio do tratamento de água, resolvendo<br />

os impactos gerados.<br />

reSultadoS<br />

As ações permitiram:<br />

• A ampliação da Estação Municipal de Tratamento<br />

de Esgoto em 2008, com capacidade de mil litros<br />

por segundo.<br />

• A reabilitação de 8 estações (13 l/s) com benefício<br />

para 14.394 habitantes. Foi iniciada a construção<br />

de uma estação de tratamento (30 l/s) e trabalha-se<br />

para gerenciar recursos para seis estações de trata-<br />

mento e para completar a meta antes do final do ano<br />

de 2012.<br />

• A entrada em operação do Módulo de Depuração,<br />

com capacidade de 150 litros por segundo, dedi-<br />

cado ao tratamento de água com elevado teor de<br />

poluentes em nove zonas industriais.<br />

• Produção de 16.000 m3 de biogás por dia como<br />

subproduto do processo de tratamento de água.<br />

• Investimento de US$ 2 milhões para projetos<br />

d e g e r a ç ã o e l ét r i c a e t é r m i c a , i n ic i a d o s n o a n o<br />

de 2010.<br />

• Reutilização de água tratada: 50 litros por segundo<br />

em nove parques industriais e 140 litros por se-<br />

gundo para irrigação em áreas verdes, com sistema<br />

automático de enchimento de tubos em estações<br />

de tratamento. Ambos os projetos começaram em<br />

outubro de 2009.<br />

AquA VitAe 23


casos: RuRal<br />

Os vizinhos e produtores de Minas de San Carlos e Cruz de Eje, na província de<br />

Córdoba, na Argentina, recusaram-se a ficar de braços cruzados e se puseram<br />

a trabalhar para serem mais eficientes com os escassos recursos hídricos em<br />

áreas marginalizadas, com alta produção agrícola e pecuária.<br />

caracteríSticaS da comunidade<br />

Minas de San Carlos e Cruz del Eje, na província de Córdoba, na Argentina, localizam-se na região do Grande<br />

Chaco Sul-americano. Minas está situada a 230 km, e Cruz del Eje, a 150 quilômetros da cidade de Córdoba.<br />

São regiões com problemas de vias de comunicação. Os habitantes se dedicam à criação de bovinos, caprinos,<br />

ovinos e equinos. Na produção agrícola cultivam milho, verduras, frutas e tabaco. Há grandes extensões de<br />

florestas, depósitos de chumbo e prata, e poucos rios atravessam suas terras.<br />

24<br />

AquA VitAe<br />

fotos: instituto nacional de tecnologia agropecuária (inta)<br />

COMUNIDADE<br />

PRODUTORA DETERMINADA A CRESCER<br />

Por BORIS RAMÍREZ


Situação inicial<br />

• Existem duas barragens construídas para irrigar<br />

20.000 hectares de áreas cultivadas e a região<br />

de seca, dedicada ao gado. Nos últimos anos a<br />

diminuição do volume de chuvas aumentou.<br />

• As comunidades, localizadas em 9 distritos (municípios),<br />

estão em uma região semiárida, com precipitações<br />

de 200 a 500 mm por ano, altas temperaturas<br />

no verão e solos de alta permeabilidade<br />

e elevada evapotranspiração.<br />

• O acesso à água para irrigação e consumo diminuiu<br />

devido às alterações climáticas e a floresta<br />

nativa se deteriorou por causa de incêndios e desmatamentos.<br />

Houve um aumento no cultivo da<br />

soja, que chegou a 100% nos últimos 10 anos, e<br />

há uma grande área para a criação de gado, com<br />

animais que consomem entre 2,5 a 5 milhões de<br />

litros de água por dia.<br />

• Em muitas localidades da área os aquíferos baixaram,<br />

diminuindo a qualidade da água pelo aumento<br />

da concentração de sais e bactérias, e em<br />

muitos casos os poços utilizados para água de<br />

consumo humano, da fazenda e para a irrigação<br />

de hortas familiares, secaram.<br />

como eSta Situação foi reSolvida?<br />

No começo de 2006 iniciou-se um processo de organização<br />

socio-territorial para identificar e priorizar problemas<br />

regionais. Foi o ponto de encontro para cooperativas,<br />

Federação Agrária, grupos sociais, municípios,<br />

Ministério da Agricultura e Pecuária e Gestão de Recursos<br />

Hídricos de Córdoba. Foi solicitada assistência<br />

técnica ao Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária<br />

(INTA) e formou-se um Conselho Consultivo para o<br />

Sistema de Irrigação. Foi criado o “Projeto de Melhoria<br />

do Uso da Água na Região”, que formulou um sistema<br />

que contempla dois aspectos : “Extrafinca” para<br />

potencializar o recurso com revestimento e melhoria<br />

dos canais, e “Intrafinca”, projeto de rede interna de<br />

irrigação pressurizada em determinado número de propriedades,<br />

que serviria de modelo para um aumento<br />

gradual na área irrigada pelo sistema.<br />

reSultadoS<br />

No âmbito do Programa de Mitigação da Seca e de<br />

Adoção de Tecnologias de Irrigação Eficiente e de<br />

cursos especializados os resultados obtidos foram<br />

os seguintes:<br />

• Trinta e cinco produtores tiveram sistemas de gotejamento<br />

em extensões de 3 a 6 hectares. Isto<br />

melhorou a eficiência na aplicação da água por<br />

meio de um sistema de irrigação pressurizada.<br />

• Setenta produtores foram treinados no uso eficiente<br />

da irrigação e na comercialização de produtos.<br />

• US$ 162 mil foram investidos pelo Plano Nacional<br />

de Segurança Alimentar do Ministério do Desenvolvimento<br />

Social da Nação. Este investimento foi<br />

complementado por US$ 117 mil em mão de obra<br />

das comunidades, como contrapartida.<br />

• Dez comunidades foram beneficiadas com duas<br />

escolas agropecuárias que contam com internato<br />

misto, onde participam 240 alunos para o período<br />

de fortalecimento organizacional.<br />

• Foram realizados trabalhos de aprofundamento de<br />

três poços em pedra e oito perfurações além da<br />

limpeza e a recuperação de três poços de antigas<br />

minas. Com estas obras se obtém água de excelente<br />

qualidade e taxas de fluxo de 2.000 a 20.000<br />

litros por hora.<br />

• Foram instalados 11 sistemas comunitários compostos<br />

de uma fonte de água comunitária, um<br />

depósito de 10.000 litros e armazenamento em<br />

tanques de 550 litros para cada família.<br />

• Quarenta quilômetros de redes de distribuição de<br />

água, cavados em valas e montados, e a construção<br />

das bases dos tanques.<br />

• Vinte módulos de captação de água com capacidade<br />

para cinco mil litros.<br />

AquA VitAe 25


legislação<br />

26<br />

26<br />

AquA VitAe<br />

AquA VitAe<br />

BALANÇO DAS LEIS:


ÁREAS DE INCERTEZAS NA QUESTÃO DA LEGISLAÇÃO<br />

DETÊM AVANÇOS NA AMÉRICA LATINA<br />

Compilado e revisão das legislações sobre a água<br />

Por BORIS RAMÍREZ<br />

Foto: David Ruiz<br />

AquA VitAe 27<br />

AquA VitAe 27


Fluem pela América Latina as mudanças nas leis<br />

sobre a água nos últimos anos. As iniciativas são<br />

constantes e a maioria dos países da região conduz<br />

mudanças nas suas constituições, leis e organizações<br />

responsáveis pela gestão e utilização dos recursos<br />

hídricos, o que está trazendo mudanças signifi cativas na relação<br />

entre as sociedades e esses recursos.<br />

Mas estas reformas não têm sido uniformes. Uruguai, Bolívia,<br />

Equador, México e Venezuela já declararam a água como um<br />

direito humano nas suas constituições. Peru, Brasil, Chile,<br />

Nicarágua, Colômbia e México reformaram a estrutura institucional<br />

do setor. Os outros países – a maioria – encontramse<br />

no caminho para incluir mudanças legais e institucionais.<br />

Em muitos deles o que persiste é o debate setorial sobre<br />

alterações a serem feitas.<br />

As novas leis concentram-se em “objetivos sobre como possibilitar,<br />

proteger e promover a participação e o investimento<br />

privado; reduzir a pressão sobre os orçamentos estatais e<br />

reorientar o gasto público para outras demandas politicamente<br />

mais urgentes; e melhorar a efi ciência econômica no<br />

aproveitamento dos recursos hídricos e na prestação de serviços<br />

públicos relacionados com a água”, argumenta Andrei<br />

Jouravlev, especialista da CEPAL (Comissão Econômica para<br />

América Latina e o Caribe).<br />

Os debates setoriais discutem constantemente sobre as mudanças<br />

nas leis, já que contemplam tópicos como: a forma e<br />

as condições de fornecimento dos direitos da água, a formulação<br />

e a aplicação de marcos regulamentares, a organização<br />

da institucionalidade necessária para a gestão do uso múltiplo<br />

da água, a viabilidade da criação de mercados de água e a<br />

aplicação de instrumentos econômicos, entre outros.<br />

28<br />

AquA VitAe<br />

Um exemplo disto é o esforço realizado pela GWP (Global<br />

Water Partnership) América Central, com a colaboração da<br />

União Europeia, do Programa de Desenvolvimento das Zonas<br />

Fronteiriças da América Central e do Banco Centro-americano<br />

de integração Econômica no estudo “Situación de los<br />

recursos hídricos en Centroamérica. Hacia una gestión integrada”<br />

(Situação dos recursos hídricos na América Central.<br />

Rumo a uma gestão integrada), que sistematiza aspectos relevantes<br />

do setor, incluindo o quadro institucional e jurídico<br />

do setor de recursos hídricos.<br />

Vamos fazer um apanhado sobre como estamos atualmente<br />

na América Latina com relação a essas leis, com base na aplicação<br />

e busca de informações junto aos órgãos reguladores,<br />

Congressos e Assembléias Legislativas da região.


EQUADOR<br />

• Em sua Constituição declara a água como um direito<br />

humano fundamental.<br />

• Existe a Política Nacional de Água e Saneamento,<br />

publicada em 2002, essa política está formulada<br />

em termos relativamente gerais.<br />

• Foi preparado um anteprojeto da Lei Orgânica dos<br />

Serviços de Água Potável e Saneamento, mas<br />

ainda não foi apresentado ao Congresso, devido a<br />

um debate nacional sobre a questão.<br />

• O Ministério do Desenvolvimento Urbano e Habitação<br />

(MIDUVI) está legalmente encarregado e,<br />

portanto, com poder de estabelecer as políticas<br />

setoriais. No entanto, não existe uma definição<br />

clara dos papéis e das responsabilidades dos diferentes<br />

setores.<br />

PARAGUAi<br />

• Lei n.º 1614/00 de 2000 estabelece um marco re-<br />

gulador e taxas para o setor da água. Amparada por<br />

esta lei foi criada a Agência Reguladora dos Servi-<br />

ços de Saúde (ERSSAN).<br />

• Não existe um órgão de gestão para o setor, mas<br />

a formulação de políticas recai sobre o Ministério<br />

de Obras Públicas e Comunicações, que não tem<br />

desenvolvido políticas setoriais.<br />

• Os serviços de água e saneamento são fornecidos<br />

por três prestadores: Empresa de Serviços de Saúde<br />

do Paraguai (ESSAP), distribuidores de água (entre-<br />

gam água em casa) e Companhias de Saneamento.<br />

BOLÍVIA<br />

• A Lei de Serviços de Água Potável e Rede de Esgoto<br />

proposta em 1999 foi revista em 2000 e se<br />

converteu na Lei n.º 2066, chamada de “Água para<br />

a Vida”.<br />

• Em sua Constituição Política declarou a água como<br />

um direito humano.<br />

• O Ministério da Água foi criado em janeiro de<br />

2006, que unificou atribuições no setor da água<br />

que eram da responsabilidade de três Ministérios:<br />

A água potável e o saneamento estavam sob responsabilidade<br />

do Vice-Ministério de Saneamento<br />

Básico (VSB) do Ministério de Habitação e Serviços<br />

Básicos; a irrigação esteve a cargo do Ministério<br />

dos Assuntos Rurais e a gestão do meio ambiente<br />

estava sob a responsabilidade do Ministério<br />

do Meio Ambiente.<br />

• A regulamentação das empresas prestadoras de<br />

serviços de água potável está a cargo da Autoridade<br />

da Fiscalização e Controle Social de Água<br />

Potável e Saneamento Básico (AAPS), criada no<br />

ano de 2009, que outorga licenças e concessões<br />

para serviços, e estabelece os princípios para fixar<br />

preços, tarifas, taxas e cotas. A AAPS é uma instituição<br />

técnica e operacional pública, com pessoa<br />

jurídica e patrimônio, independência administrativa,<br />

financeira, jurídica e técnica, subordinada ao Ministério<br />

do Meio Ambiente e da Água.<br />

AquA VitAe 29


30<br />

AquA VitAe<br />

BRASIL<br />

• A partir dos princípios e obrigações estabelecidos na Constituição de 1988,<br />

institui-se no Brasil, em 1997, a Política Nacional de Recursos Hídricos e é criado<br />

o Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (SINGREH). Seus fundamentos<br />

são: (i) água como bem de domínio público; (ii) água como recurso<br />

limitado, dotado de valor econômico; (iii) prioridade para consumo humano; (iv)<br />

uso múltiplo das águas; (v) bacia hidrográfica como unidade de planejamento e<br />

gestão; e (vi) gestão descentralizada e participativa.<br />

• Para pôr em prática estes princípios e garantir a descentralização e a participação<br />

social, o SINGREH tem um conjunto de órgãos de decisão composto por<br />

colegiados regionais deliberativos que serão instalados nas unidades de planejamento<br />

e gestão, chamados de Conselho das Bacias Hidrográficas de Rios<br />

Nacionais e Conselho de Bacias Hidrográficas de Rios Estaduais; e por órgãos<br />

executivos das decisões dos colegiados regionais e pelas Agências de Água de<br />

âmbito nacional e estadual.<br />

• A distribuição de competências entre a União (nível federal) e os Estados em<br />

relação ao domínio das águas é a seguinte: a União é proprietária de lagos, rios<br />

e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem<br />

mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam para<br />

o território estrangeiro ou provenham dele; a União é proprietária de energia<br />

hidráulica potencial, pelo que lhe compete explorar diretamente ou mediante<br />

autorização, concessão ou licença, os serviços e instalações de energia e o<br />

aproveitamento enérgico dos cursos de água, em coordenação com os Estados<br />

onde se situem as usinas hidrelétricas; e os Estados são titulares das águas superficiais<br />

ou subterrâneas, correntes, emergentes e em depósito, exceto neste<br />

caso, as derivadas de obras da União.<br />

• A Agência Nacional de Águas (ANA) é uma entidade autônoma, administrativa<br />

e financeira, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, criada pela Lei N.° 9.984<br />

do ano de 2000, para a implementação da Política de Recursos Hídricos. Suas<br />

principais competências são: (i) conceder direitos de uso da água; (ii) fiscalização<br />

dos usos e dos usuários de recursos hídricos; e (iii) a cobrança pelo uso da água<br />

podendo delegar tarefas de agências de operação da água de bacias hidrográficas<br />

que são organismos executivos responsáveis pela execução das decisões<br />

dos respectivos Comitês de Bacias Hidrográficas.<br />

• Mais recentemente, tendo em conta o sucesso da implementação da Agência,<br />

foi adicionada à sua competência a regulamentação do fornecimento de água<br />

para os perímetros de irrigação em regime de concessão pública e a organização<br />

do sistema nacional de segurança dos açudes.


URUGUAi<br />

• Ele foi o primeiro país da América Latina a realizar<br />

um referendo sobre a água.<br />

• As alterações do ano de 2004 à Constituição consagram<br />

o acesso à água potável e aos serviços de<br />

saneamento básico como um direito do povo e<br />

proíbem qualquer forma de participação do setor<br />

privado no setor da água.<br />

• O Ministério da Habitação, Gestão Territorial e Meio<br />

Ambiente é responsável pelas políticas setoriais de<br />

água e saneamento, por meio da Direção Nacional<br />

de Água e Saneamento (DINASA).<br />

• A Unidade Reguladora de Serviços de Energia e<br />

Água (URSEA) tem como responsabilidade regular<br />

as taxas e a qualidade dos serviços.<br />

• O Comitê Consultivo sobre Água e Saneamento<br />

(COASAS) reúne representantes de vários Ministérios,<br />

da sociedade civil, dos usuários e do setor<br />

privado para aconselhar o governo sobre questões<br />

de água potável e saneamento.<br />

COLÔMBIA<br />

• A lei 142 de 1994 (Lei dos Serviços Públicos Nacionais)<br />

e leis subsequentes regulam o setor.<br />

• O Vice-ministério de Água e Saneamento foi criado<br />

no ano de 2006 no âmbito do Ministério do Meio<br />

Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial,<br />

e é responsável por estabelecer a política setorial.<br />

• Este departamento criou 4 programas e seu conteúdo:<br />

Planos Departamentais da Água e Saneamento;<br />

Programa de Saneamento para Assentamentos<br />

(SPA) no âmbito de um Programa de<br />

Melhoramento Global de Bairros; Programa de Saneamento<br />

de Lixões Municipais para aumentar o<br />

volume de água municipal tratada e o Programa de<br />

Lavagem das mãos.<br />

• Mil e duzentas organizações sociais da Colômbia<br />

entregaram, em outubrode 2008, um total de<br />

2.039.000 assinaturas para realizar um referendo e<br />

conseguir declarar a água como um direito humano<br />

na Constituição Política. Os promotores também<br />

queriam que a Constituição garantisse um “mínimo<br />

vital” de água gratuita, protegesse os ecossistemas<br />

e estabelecesse que a gestão da água potável seja<br />

pública. Este referendo foi postergado na Câmara<br />

dos Representantes.<br />

VENEZUELA<br />

• A Lei Orgânica para a Prestação dos Serviços de Água Potável e Saneamento de<br />

dezembro de 2001 tinha a finalidade de transferir a responsabilidade pela prestação<br />

dos serviços aos municípios; criar uma agência reguladora; estabelecer uma<br />

entidade setorial responsável pela formulação de políticas e pelos aspectos financeiros;<br />

e criar uma empresa nacional de água e o estabelecimento de um Fundo<br />

de Assistência Financeira para canalizar os recursos públicos.<br />

• O Ministério do Poder Popular para o Meio Ambiente é responsável pela definição<br />

de políticas de água e saneamento. O Ministério do Poder Popular de Indústrias<br />

de Energia Elétrica e Comércio define encargos máximos e admissíveis<br />

para o setor.<br />

AquA VitAe 31


EL SALVADOR<br />

• Não existe uma lei geral de água nem de água po-<br />

32<br />

tável e saneamento.<br />

• A Administração Nacional de Aquedutos e Esgotos<br />

(ANDA), é o órgão responsável do setor e o princi-<br />

pal provedor de serviços urbanos. Não existe uma<br />

agência reguladora.<br />

• O Ministério da Saúde é responsável pelo controle<br />

da qualidade da água potável. O Ministério do Meio<br />

Ambiente e dos Recursos Naturais é responsável<br />

pela gestão dos recursos hídricos. O Ministério da<br />

Economia aprova ajustes para as taxas de água.<br />

• Desde meados do ano de 2010, o governo de El<br />

Salvador formou uma Comissão Técnica Interinsti-<br />

tucional integrada por 13 instituições do governo re-<br />

lacionadas com a questão da água; sob a condução<br />

da Secretaria Técnica da Presidência e do Ministério<br />

do Meio Ambiente, tem se trabalhado no processo<br />

de Reforma Hídrica Nacional. Participam também<br />

neste ambicioso esforço do estado salvadorenho<br />

ONGs, usuários, agências de bacias hidrográficas,<br />

associações de produtores, universidades e outros<br />

intervenientes ligados à água; e foi estabelecido<br />

como meta para 2012 poder contar com: i) Política<br />

Integral de Recursos Hídricos, ii) Lei Geral de Água,<br />

iii) Estratégia Nacional de Gestão dos Recursos Hí-<br />

dricos, iv) Plano Nacional de Gestão Integrada dos<br />

Recursos Hídricos.<br />

• Da mesma forma, um nível setorial está sendo tra-<br />

balhado para contar com uma Política e uma Lei<br />

de Água Potável e Saneamento; bem como uma<br />

Política e uma Lei de Irrigação e Escoamento.<br />

AquA VitAe<br />

COSTA RICA<br />

• A Lei da Água data do ano de 1942. Mais tarde foi<br />

criado por lei o Instituto de Aquedutos e Esgotos<br />

da Costa Rica (AyA), a Lei de Água Potável e Sa-<br />

neamento Básico e a Lei Geral de Saúde.<br />

• O país não conta com apenas um corpo normativo,<br />

sistemático e coerente que regule de forma global<br />

a proteção, extração, utilização e gestão eficiente<br />

dos recursos hídricos. Estima-se que existam cerca<br />

de 120 leis e decretos que capacitam diversos as-<br />

pectos da gestão da água.<br />

• A prestação de serviços são oferecidas pelas se-<br />

guintes entidades: Instituto de Aquedutos e Es-<br />

gotos da Costa Rica (AyA); Empresa de Serviços<br />

Públicos de Heredia e pelas Associações Admi-<br />

nistradoras de Sistemas de Aquedutos e Esgotos<br />

Sanitários (ASADAS).<br />

• Existem dois projetos de lei apresentados à Assem-<br />

bleia Legislativa, e há uma intenção por parte do<br />

Poder Executivo de transformá-los em apenas um.<br />

• O órgão responsável é o Ministério do Meio Am-<br />

biente, Energia e Telecomunicações. O AyA é o<br />

responsável na questão da água potável.


ARGENTiNA<br />

• Não existe nenhuma lei sobre a água em nível na-<br />

cional. Como a Argentina é um país federal, são as<br />

províncias que têm a responsabilidade de formular<br />

suas políticas do setor e estabelecer as normas em<br />

sua área geográfica de competência.<br />

• A Subsecretaria de Recursos Hídricos, mediante a<br />

Secretaria de Obras Públicas, propõe as políticas<br />

setoriais perante o Ministério do Planejamento<br />

Federal, Investimento Público e Serviços, que é o<br />

órgão responsável em aprová-las.<br />

• Neste âmbito, o Organismo Nacional de Obras Hí-<br />

dricas de Saneamento Básico (ENOHSA) é uma en-<br />

tidade descentralizada dependente da Secretaria de<br />

Recursos Hídricos, encarregada de proporcionar o<br />

financiamento e a assistência técnica aos prestado-<br />

res de serviço de água potável.<br />

PANAMá<br />

• A Lei da Água vigente é o decreto Lei N.° 35 de 1966,<br />

e a lei das bacias hidrográficas é a N.° 44 de 1999.<br />

• O Ministério da Saúde é o órgão responsável do<br />

setor e define as políticas. A Autoridade Nacional<br />

de Serviços Públicos tem a responsabilidade de re-<br />

gulamentar as tarifas dos serviços de água e sanea-<br />

mento nas zonas urbanas.<br />

• A responsabilidade da gestão das bacias hidrográ-<br />

ficas está compartilhada com a Autoridade Nacio-<br />

nal do Meio Ambiente (ANAM), e a Autoridade do<br />

Canal do Panamá (ACP) é responsável pela Bacia do<br />

Canal do Panamá.<br />

NiCARáGUA<br />

• A Lei Geral de Águas Nacionais foi promulgada em<br />

2007. Esta lei prevê a gestão dos recursos hídricos<br />

e não diretamente da água potável.<br />

• A Lei Geral de Águas Nacionais cria um novo Sis-<br />

tema de Administração da Água, composto por um<br />

Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)<br />

como a instância de coordenação de nível superior<br />

para a gestão dos recursos hídricos, pela Autori-<br />

dade Nacional da Água (ANA) e por 21 organismos<br />

de bacia hidrográfica.<br />

• Estabelece o Fundo Nacional de Água (FNA) como<br />

um mecanismo de gestão financeira que opera den-<br />

tro da ANA, cuja função é financiar o Plano Nacional<br />

de Recursos Hídricos, os planos para bacias hidro-<br />

gráficas e demais ações previstas na Lei. O Fundo<br />

será alimentado, entre outros recursos, através do<br />

pagamento de taxas pelo uso da água e seus bens<br />

públicos inerentes, além de multas, doações ou con-<br />

tribuições do Estado. Estabelece igualmente o Re-<br />

gistro Público Nacional de Direitos da Água, que visa<br />

dar segurança jurídica às concessões outorgadas.<br />

• Com relação ao setor de Água Potável e Sanea-<br />

mento, a lei o define como um usuário, mas estabe-<br />

lece que tem a mais alta prioridade, considerando<br />

que a ANA não poderá estabelecer nenhuma taxa<br />

pela exploração e deve fazer um planejamento e in-<br />

ventário dos recursos hídricos que podem ser usa-<br />

dos no futuro com fins de abastecimento humano. A<br />

ANA outorga as concessões aos operadores, tanto<br />

urbanos quanto rurais, e também aprova as normas<br />

de qualidade da água para consumo humano.<br />

AquA VitAe 33


CHiLE<br />

• Tem um Código das Águas e três leis relativas ao<br />

34<br />

regulamento, subsídios e fomento ao investimento<br />

privado em irrigação e drenagem, além de 15 decre-<br />

tos diferentes contidos em todo o setor.<br />

• O Ministério de Obras Públicas outorga as conces-<br />

sões e promove o abastecimento de água e o sa-<br />

neamento básico em zonas rurais através do seu<br />

Departamento de Programas de Saneamento.<br />

• A responsabilidade regulamentar em áreas urbanas<br />

é compartilhada pelo órgão regulador econômico,<br />

pela Superintendência de Serviços de Saneamento<br />

(SISS) e pelo Ministério da Saúde, que estabelece<br />

as normas de qualidade sobre água potável.<br />

• O Código das Águas define simultaneamente<br />

a água como um bem nacional de uso público e<br />

como bem econômico, o que possibilita sua gestão<br />

de acordo com diretrizes e códigos da propriedade<br />

privada, constitucionalmente protegida. Esta defini-<br />

ção promove o regulamento do uso e o acesso aos<br />

recursos hídricos, principalmente através do “mer-<br />

cado da água”, no qual prioriza a dinâmica da oferta<br />

e da procura.<br />

• O titular que obtém o direito à água deve decla-<br />

rar onde e quando usará a água, seja para os fins<br />

solicitados ou para usos alternativos posteriores,<br />

podendo manter indefinidamente este direito sem<br />

usá-lo. Desde a reforma do Código das Águas existe<br />

um pagamento pelo não uso deste direito.<br />

AquA VitAe<br />

HONDURAS<br />

• Antes do ano de 2009, o quadro jurídico estava<br />

constituído por uma lei de Aproveitamento das<br />

Águas Nacionais que havia sido aprovada em 1927,<br />

que tinha muitas fragilidades e carecia de uma polí-<br />

tica nacional para o setor.<br />

• Em agosto de 2009, o Congresso aprovou a Lei<br />

Geral das Águas. Atualmente trabalha-se em seu<br />

regulamento.<br />

• A nova lei contém 101 artigos e altera o decreto N.º<br />

131 de 12 de janeiro de 1982 da Constituição da<br />

República de Honduras, ao declarar a água como<br />

um direito humano, submetendo seu uso preferen-<br />

cial ao consumo das pessoas para a preservação de<br />

sua vida e saúde.<br />

• O comando do setor estará a cargo da Secretaria<br />

de Estado nos Gabinetes de Recursos Naturais e<br />

Meio Ambiente (SERNA), e cria como organismo<br />

descentralizado, a Autoridade da Água, com um<br />

braço técnico que integra serviços meteorológicos<br />

e hidrológicos em uma única instituição.<br />

• No início de 2010, o Congresso Nacional aprovou<br />

um Plano de Nação para o ano de 2023, que inclui<br />

uma unidade de planejamento chamada “a conta<br />

hidrográfica”. Assim, ambos os decretos permitem<br />

desenvolver os esforços no sentido de uma gestão<br />

integrada dos recursos hídricos em Honduras.


PERU<br />

• A Lei de Recursos Hídricos N.º 29338 foi aprovada<br />

em março de 2009.<br />

• Esta lei declara que não há nenhum direito de pro-<br />

priedade particular sobre a água e mantêm elemen-<br />

tos anteriores como: sistema de direitos transferí-<br />

veis, possibilidade de revogar os direitos devido à<br />

falta de pagamento e prioridades de atribuição.<br />

• O Sistema Nacional de Gestão de Recursos Hídri-<br />

cos foi criado com o objetivo de articular as ações e<br />

os processos de gestão nas bacias, nos ecossiste-<br />

mas e nos bens associados.<br />

• Foi fortalecida a criação da Agência Nacional da<br />

Água, criada no ano de 2008, como responsável<br />

por monitorar e controlar o uso do recurso e finan-<br />

ciar obras.<br />

GUATEMALA<br />

MÉXiCO<br />

• A Lei de Águas Nacionais de 1992 foi alterada<br />

em 2004.<br />

• As políticas federais que regem as concessões para<br />

o uso da água são estabelecidas pela Comissão Na-<br />

cional de Águas (CONAGUA), uma dependência<br />

autônoma da Secretaria do Meio Ambiente e dos<br />

Recursos Naturais (SEMARNAT).<br />

• A CONAGUA estabelece um sistema nacional de<br />

informação e publica informações sobre o sistema<br />

de águas nacionais, além de preparar balanços sobre<br />

a quantidade e a qualidade da água em nível regional.<br />

• Em 1992, a Lei de Águas Nacionais contempla a<br />

transferência de certas funções, tanto em nível fe-<br />

deral quanto estadual, para as instituições recém<br />

criadas com relcação às das bacias hidrográficas,<br />

incluindo decisões financeiras, através da criação de<br />

um Sistema Financeiro da Água.<br />

• A legislação baseia-se na Constituição, que declara a água como um bem de domínio público inalienável e<br />

imprescritível. Também garante o direito à saúde, ao meio ambiente e à autonomia municipal.<br />

• O setor conta com um conjunto de normas dispersas em todo o sistema jurídico, que abordam proble-<br />

mas de foco limitado, relacionados com a prestação do serviço, proteção de fontes hídricas, qualidade e<br />

tratamento de água. O órgão responsável da Água e do Saneamento é o Ministério da Saúde Pública e<br />

da Assistência Social, enquanto o Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais rege questões<br />

relativas à água como recurso, a gestão de bacias hidrográficas e assuntos relacionados com a gestão da<br />

qualidade ambiental.<br />

• Os municípios são responsáveis por prestar os serviços de água potável e de saneamento básico.<br />

• Em 2007, a comissão de Recursos Hídricos do Congresso, juntamente com a do Meio Ambiente, Ecologia<br />

e Recursos Naturais, propôs uma nova lei para a utilização e a gestão sustentável da água.<br />

• No ano de 2008 foi estabelecido o Gabinete Específico da Água como órgão responsável por coordenar<br />

esforços em políticas, planos e orçamentos do setor.<br />

• A Política Nacional da Água e sua Estratégia foram emitidas em 2011.<br />

AquA VitAe 35


AMBIENTE<br />

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS<br />

Por BORIS RAMÍREZ<br />

VALOR SOB A TERRA<br />

36<br />

AquA VitAe<br />

Foto: Nasa Earthobservatory


Os aquíferos são recursos pouco conhecidos, cada vez mais usados e<br />

com regulamentação escassa. Na América Latina, são fundamentais para<br />

o desenvolvimento sustentável e, a cada dia, é mais alto o brado para<br />

conhecê-los, entendê-los e protegê-los.<br />

Cientistas brasileiros descobriram, em agosto de<br />

2011, indícios da existência de um rio subterrâneo<br />

que corre abaixo do rio Amazonas, a 4 mil metros<br />

de profundidade. A descoberta foi feita pelos especialistas<br />

de geofísica do Observatório Nacional brasileiro,<br />

chefi ados pelo professor Valiya Hamza e pela geofísica Elizabeth<br />

Tavares Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas.<br />

Foram estudados 241 poços perfurados pela Petrobras nas<br />

décadas de 1970 e 1980 para extração de petróleo e, de<br />

acordo com esses estudos, abaixo do Amazonas correria um<br />

rio subterrâneo de semelhante extensão, mas com o dobro da<br />

largura e o triplo de descarga fl uvial. A descoberta ganhou<br />

o nome de rio Hamza, em homenagem ao acadêmico que<br />

orientou a pesquisa.<br />

“Este recurso de água subterrânea está em uma região onde<br />

há água doce e abundante na superfície. Por isso, perfurar<br />

poços para captar esta água não é economicamente viável.<br />

Todavia, a região oeste do Brasil, no estado do Acre e nos<br />

Andes peruanos, há zonas mais secas, onde esta água poderia<br />

ser aproveitada. Além disso, como no Amazonas, o rio<br />

Hamza desemboca no Oceano Atlântico, na região da Ilha do<br />

Marajó, o que modifi ca a salinidade da água e faz surgir um<br />

ecossistema de vida aquática diferente. Um dado interessante<br />

é que embora seja bastante intenso, o fl uxo de água não foi<br />

considerado na estimativa do balanço hídrico da região”, comenta<br />

o professor Hamza.<br />

Esta recente descoberta volta a dar destaque ao signifi cado<br />

do valor estratégico e da necessidade de proteção dos recursos<br />

hídricos subterrâneos, coincidindo com uma das colocações<br />

que o Fórum de Água das Américas preparou como<br />

um dos temas regionais para ser tratado no Sexto Fórum<br />

Mundial da Água, na França.<br />

É importante ter clareza sobre o papel de todas as fontes de<br />

água, inclusive as subterrâneas, “para manter um equilíbrio,<br />

aceito pela sociedade, entre a conservação dos ecossistemas<br />

aquáticos, seus serviços aos demais ecossistemas e ao uso<br />

para as atividades econômicas”, conforme explica Fernando<br />

Veiga, gerente de Serviços Ambientais da organização The<br />

National Conservanci.<br />

‘‘<br />

Calcula-se que as<br />

águas subterrâneas<br />

representam 98% do<br />

volume total de água<br />

doce de todo o planeta.<br />

FUNDAMENTAIS E ESTRATÉGICOS<br />

Calcula-se que as águas subterrâneas representam 98% do<br />

volume total de água doce disponível em todo o planeta.<br />

Estão armazenadas em aquíferos localizados em diferentes<br />

níveis de profundidade: desde os que estão pouco profun-<br />

dos, sem confi namento, situados a apenas alguns metros de<br />

profundidade, até sistemas confi nados, a vários quilômetros<br />

sob a superfície.<br />

“Na América Latina e no Caribe, a água subterrânea é um<br />

recurso vital que desempenha um papel estratégico cada vez<br />

mais importante para o desenvolvimento sustentável. Ela será<br />

ainda mais importante nos próximos anos, à medida que a<br />

escassez de água e o aumento das variações climáticas virarem<br />

grandes preocupações mundiais. Por exemplo, o Sistema<br />

Aquífero Guarani (SAG) – localizado nas fronteiras entre Brasil,<br />

Argentina, Uruguai e Paraguai – é uma das maiores reservas<br />

mundiais de água doce, com uma superfície de 1,2 milhões<br />

de km² e uma capacidade de armazenamento estimada em<br />

40.000 km³”, argumenta a especialista em águas subterrâneas<br />

Michela Miletto, em um estudo conjunto da Organização<br />

de Estados Americanos (OEA).<br />

Em nossa região, está sendo desenvolvido um importante programa<br />

chamado de Aquíferos Transfronteiriços das Américas,<br />

cujo principal objetivo é melhorar a compreensão, o intercâmbio<br />

e a comunicação sobre assuntos científi cos, socioeconômicos,<br />

jurídicos, institucionais e ambientais, relativos ao gerenciamento<br />

dos aquíferos transfronteiriços. (Vide quadro)<br />

A rota traçada é de conscientização e difusão do conhecimento<br />

de que esses aquíferos são recursos pouco conhecidos, cada vez<br />

mais usados e com regulamentação escassa.<br />

AQUA VITAE 37<br />

‘‘


38<br />

AQUÍFEROS SÃO...<br />

Aquíferos são depósitos subterrâneos de água acumulados<br />

em terrenos rochosos permeáveis, dispostos sob<br />

a superfície, por onde circulam grandes volumes de<br />

água subterrânea de ótima qualidade para o consumo<br />

humano, mas com um ecossistema de extrema fragilidade,<br />

em especial, em caso de contaminação. Tanto os<br />

aquíferos como as águas superficiais são fluidos, livres e<br />

não respeitam nenhum limite geográfico administrativo.<br />

A diferença entre a quantidade de precipitação e a<br />

quantidade de água que flui nos rios é filtrada no solo,<br />

formando os aquíferos. A filtragem depende das características<br />

físicas dos terrenos rochosos: se a camada<br />

impermeável forma uma depressão, pode surgir um<br />

lago subterrâneo. Por outro lado, se a camada impermeável<br />

estiver inclinada, é possível que se forme um<br />

rio subterrâneo.<br />

Diferentes materiais podem formar os aquíferos, tais<br />

como barro, areia, conchas e pedra calcária. Neles podemos<br />

encontrar água doce e salgada, que preenche<br />

diferentes tamanhos de fendas e poros. Em geral, a<br />

água doce fica na parte mais alta, e a salgada, na mais<br />

profunda. Quando confinada, a água do aquífero está<br />

sob pressão. Isto possibilita sua elevação em um poço<br />

na parte superior do aquífero (e, em alguns lugares<br />

até sobre a superfície de terra) sem ser preciso uma<br />

bomba, criando-se, assim, um rio artesiano livre.<br />

AquA VitAe<br />

nível hidrostático<br />

água doce<br />

água salgada<br />

rio<br />

lago<br />

sistema de aquífero superfi cial<br />

unidade semiconfi nadora<br />

sistema de aquífero intermediário<br />

CRITÉRIOS<br />

DOS SETORES<br />

• Enquanto a extração e distribuição de água forem<br />

unilaterais em uma bacia compartilhada, sempre<br />

haverá afetação das capacidades de recarga das<br />

fontes de água, principalmente dos aquíferos, cuja<br />

natureza por si só é bastante vulnerável. Carmen<br />

Maganda, Doutora em Antropologia Social pelo<br />

Centro de Pesquisas e Estudos Superiores em Antropologia<br />

Social (CIESAS), México.<br />

• Nas zonas áridas e semiáridas, os recursos de água<br />

subterrânea têm uma relevante importância no<br />

abastecimento para consumo humano e irrigação.<br />

Para conhecer bem seu valor, é necessário relacionar<br />

e analisar a demanda de água disponível, para um<br />

uso racional do recurso. Rodolfo García, Doutor<br />

em Ciências Geológicas da Universidade Nacional de<br />

Salta, Argentina.<br />

• Em muitas regiões do mundo, o valor econômico<br />

da água subterrânea está aumentando devido ao<br />

crescimento populacional e ao desenvolvimento<br />

econômico (e, por fi m, ao aumento da demanda de<br />

água). Outros motivos são a contaminação de bacias<br />

de água superfi cial e, cada vez mais, a variação climática<br />

e a necessidade de contar com um recurso à<br />

prova de secas. Karin Kemper e Stephen Foster.<br />

Bank-Netherlands Water Partnership Program.<br />

Fonte: Secretaria do Meio Ambiente e Recursos<br />

Naturais, México.<br />

bomba<br />

bomba<br />

bomba<br />

areia<br />

poço superfi cial<br />

Sistema de aquífero<br />

afundamento<br />

geológico


RECOMENDAÇÕES MAIS PROFUNDAS<br />

O Programa Hidrológico Internacional da UNESCO e da OEA para a América Latina e Caribe concentra seu trabalho<br />

nos aquíferos transfronteiriços. Em 2008, foram feitas as recomendações abaixo com o propósito de chamar a atenção<br />

para esta realidade.<br />

LEGISLAÇÃO NACIONAL<br />

Avançar na definição e avaliação dos aquíferos<br />

de cada país da região.<br />

Consolidar a legislação sobre águas subterrâneas,<br />

como resultado da política hídrica.<br />

Priorizar o conhecimento sobre os aquíferos.<br />

Realçar o âmbito legislativo da identidade do<br />

regime legal das águas subterrâneas.<br />

Aumentar o conhecimento desses reservatórios<br />

como zonas de recarga e descarga, bem como<br />

sua importância no ciclo hidrológico.<br />

Conduzir uma gestão adequada e os registros de<br />

usos para a proteção do recurso hídrico, tanto em<br />

sua quantidade quanto em sua qualidade.<br />

Na região, já foram identificados 59 aquíferos transfronteiriços: 35 na América do Sul, 13 na América Central, 8 na América do<br />

Norte e 3 no Caribe. Os mais extensos estão na América do Sul. Veja alguns deles.<br />

Nome do Aquífero Localização Extensão<br />

GUARANÍ Argentina/Brasil/Paraguai/Uruguai 1.3 milhões km 2<br />

TOBA/IRENDA/CHACO TARIJEÑO Argentina/Bolivia/Paraguai 600 mil km 2<br />

CAIUÁ/BAURU/ACARAI Brasil/Paraguai 300 mil km 2<br />

PANTANAL Bolivia/Brasil/Paraguai 130 mil km 2<br />

TITICACA Bolivia/Peru 120 mil km 2<br />

PERMO/CARBONÍFERO Brasil/Uruguai 41 mil km 2<br />

LITORANEO/CHUI Brasil/Uruguai 41 mil km 2<br />

LITORAL/CRETÁCICO Argentina/Uruguai 40 mil km 2<br />

SALTO/SALTO CHICO Argentina/ Uruguai 32 mil km 2<br />

AGUA DULCE Bolivia/Paraguai 30 mil km 2<br />

BOA VISTA/SERRA DO TUCANO/NORTH SAVANNA Guiana/Brasil 24 mil km 2<br />

Fonte: Sistema Internacional de Aquíferos Compartilhados<br />

ENTENDIMENTO SOBRE<br />

AQUÍFEROS TRANSFRONTEIRIÇOS<br />

Formar um esforço de cooperação que implique no<br />

intercâmbio de dados e informações.<br />

Avançar paulatinamente rumo à elaboração de planos<br />

coordenados entre os países que compartilham um<br />

mesmo aquífero.<br />

A criação de mecanismos de coordenação favoreceria<br />

o processo de intercâmbio e a adoção de medidas<br />

benéficas para uma melhor gestão do recurso hídrico.<br />

Acertar entendimentos binacionais ou regionais que<br />

considerem a unidade dos aquíferos transfronteiriços.<br />

A coordenação, por sua vez, pode se enquadrar em<br />

um esquema institucional simples que a facilite e<br />

sustente.<br />

-<br />

AquA VitAe 39


Breves do mundo<br />

Destaques mundiais em reuso da água<br />

É cada vez maior o número de cidades e países que usam águas<br />

recicladas, como um mecanismo inovador para dar sustentabilidade<br />

aos recursos hídricos. Água reciclada é aquela que, após<br />

o uso em atividades domésticas, industriais ou de produção<br />

intensiva, recebe um tratamento que permite – de acordo com<br />

o cumprimento de alguns padrões – sua reintegração a sistemas<br />

hidráulicos, voltando a ser usada. Uma pesquisa da Agência de<br />

Proteção Ambiental dos Estados Unidos reconhece os exemplos<br />

abaixo:<br />

• Namíbia: Na capital, Windhoek, as águas residuais são altamente<br />

tratadas, sendo reutilizadas como água potável. É o único exemplo<br />

de reúso direto no mundo.<br />

• Austrália: A água reciclada destina-se a vários usos: produção<br />

de neve para estações de esqui, uso em privadas e irrigação de<br />

plantações.<br />

• Japão: As águas recicladas são usadas na irrigação de parques,<br />

campos de golfe e de esportes, assim como na lavagem de automóveis,<br />

no controle de incêndios e em diversas aplicações em<br />

edifícios comerciais e residenciais.<br />

• Reino Unido: As águas residuais tratadas são usadas em atividades<br />

como criação de peixes, lavagem de automóveis e irrigação<br />

de campos de golfe.<br />

• Paquistão: as águas residuais tratadas são usadas na irrigação de<br />

hortaliças, do trigo e de cultivos de pasto para o gado.<br />

Maior hidroelétrica do mundo<br />

é movida com a força do mar<br />

A Coréia do Sul concluiu a construção da maior usina de<br />

energia hidrelétrica do mundo, impulsionada pelo movimento<br />

da água das marés e com capacidade para gerar<br />

eletricidade para meio milhão de pessoas. Seis dos dez geradores<br />

da usina entraram em funcionamento no início de<br />

setembro de 2011, de forma progressiva, depois de sete<br />

anos de construção na costa ocidental sul-coreana. O complexo<br />

hidrelétrico conta com uma capacidade de geração de<br />

254.000 kW por dia.<br />

Dois meses depois, a usina sul-coreana de Shihwa começou<br />

a funcionar a 100% de sua capacidade, o que poderá<br />

reduzir o consumo de petróleo do país em 860 mil barris<br />

anuais, evitando também a emissão de 320 mil toneladas de<br />

CO2 na atmosfera.<br />

Esta enorme obra de engenharia aproveita os recursos<br />

hídricos da Coréia para usar menos combustíveis fósseis. As<br />

turbinas foram instaladas às margens de um lago artificial<br />

criado em frente ao mar, próximo à cidade de Seul. São movidas<br />

pela força da água quando impulsionadas pelas marés.<br />

O investimento na obra foi de US$335 milhões.<br />

O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, ressalta que<br />

este projeto é uma prova da intenção do governo da Coréia<br />

de desenvolver as energias renováveis. “Esta usina não<br />

é apenas um símbolo de crescimento verde, mas representa<br />

uma tendência que o mundo deverá seguir”, indicou o chefe<br />

do país.<br />

40<br />

Fonte: Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos<br />

AquA VitAe<br />

Fonte: Water.org<br />

Trabalho coletivo<br />

A zona de lagos de Sanjiangyuan, situada no planalto do<br />

Tibete, é um exemplo mundial de sucesso no aproveitamento<br />

integral dos recursos hídricos. Lá, nascem três dos<br />

mais importantes rios da Ásia: o Amarelo, o Yangtsé e o<br />

Mekong. E, mesmo assim, a região estava a ponto de secar.<br />

As nascentes destes três grandes rios, especialmente a do rio<br />

Amarelo, sofriam com a deterioração do ecossistema local<br />

causada pelo excesso de pastagem e por outras atividades<br />

humanas na região.<br />

Com um programa aperfeiçoado de modificação de atividades<br />

humanas, deu-se início em 2005 o desenvolvimento do<br />

“Programa de Melhoria do Meio Ambiente de Sanjiangyuan”.<br />

O projeto teve um investimento de US$1,12 bilhão e incluiu<br />

métodos para reduzir a erosão do solo, como chuva artificial e<br />

realocação das famílias pastoris da região, obrigando 50.000<br />

tibetanos a deixar o lugar.<br />

“A área lacustre de Sanjiangyuan teve um aumento de<br />

245 km² nos últimos seis anos”, detalhou Li Xiaonan, subdiretor<br />

do Escritório de Proteção Ecológica da reserva natural.<br />

Fonte: Agência de Notícias Xinhua.<br />

Everglades, na Fórida, recebe o maior<br />

investimento federal para<br />

proteção de terrenos úmidos<br />

Preocupados com a qualidade da água e com sua proteção,<br />

um grupo de fazendeiros do estado da Flórida se uniu em<br />

uma iniciativa do governo dos Estados Unidos, que visa investir<br />

US$100 milhões para que estes consumidores de água<br />

se comprometam a não construir em áreas protegidas e a<br />

cuidar de seus terrenos no parque Everglades, uma ampla<br />

região subtropical pantanosa de grande importância para o<br />

meio ambiente e para a proteção de recursos hídricos.<br />

“A restauração do norte do parque Everglades é fundamental<br />

para os habitantes da Flórida e para os Estados Unidos”,<br />

declarou o secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom<br />

Vilsack, ao anunciar o programa que protegerá um ecossistema<br />

único no mundo, para o qual é destinado o maior<br />

investimento federal dedicado a um único Estado para a proteção<br />

de terrenos úmidos.<br />

O investimento dará impulso à restauração do parque Everglades<br />

e contará também com a ajuda dos fazendeiros, que<br />

receberão recursos em troca do compromisso de não construir<br />

numa área de mais de 9700 hectares nas proximidades<br />

do lago Okeechobee, o maior de água doce da Flórida e o<br />

sétimo dos Estados Unidos.<br />

Os pecuaristas se comprometerão a proteger seus terrenos,<br />

com a ideia de recuperar e garantir a conservação destes<br />

ecossistemas, que combinam a proteção da fauna, da flora<br />

e da água. Assim, áreas de pastagem passarão a ser terrenos<br />

úmidos, que criarão novos habitats naturais e absorverão<br />

substâncias contaminantes que hoje prejudicam o lago Okeechobee<br />

e o parque Everglades.<br />

Fonte: Parque Nacional do Everglades, Flórida.


o novo desafio tecnológico de Bill Gates<br />

sanitário 2.0<br />

Revolucionar o mercado da computação há 36<br />

anos com a criação do Microsoft Windows não foi<br />

suficiente para ele. Agora, Bill Gates pretende<br />

promover o que chama de “reinvenção do vaso<br />

sanitário”. Ele e a esposa investirão US$45 milhões<br />

em ciência e tecnologia sanitária<br />

Por FUNDAÇÃO BILL E MELINDA GATES<br />

tecnologIa<br />

AquA VitAe 41


O<br />

programa de água, saneamento e hi-<br />

giene da Fundação Bill e Melinda Gates<br />

desafi ou recentemente 22 universidades<br />

a apresentarem propostas de projetos de<br />

um vaso sanitário higiênico, que não use água e que<br />

seja seguro, econômico para os habitantes de países<br />

em desenvolvimento e que não precise estar conectado<br />

a um sistema de esgoto. Oito universidades ganharam<br />

bolsas para “reinventar o vaso sanitário”.<br />

A fundação Gates lançou o Desafi o “Reinvente o Vaso<br />

Sanitário” para unir os avanços científi cos e tecnológicos<br />

e criar uma nova privada que transforme os dejetos<br />

em energia, água limpa e nutrientes. O Desafi o<br />

“Reinvente o Vaso Sanitário” tem as seguintes metas:<br />

• Dar soluções aos defeitos do vaso sanitário do<br />

século XVIII, que não mais satisfaz as necessidades<br />

atuais de 2,6 bilhões de pessoas sem acesso<br />

a saneamento básico;<br />

• Dedicar recursos e a atenção pública para a necessidade<br />

de um novo modelo de vaso sanitário;<br />

42<br />

AquA VitAe<br />

SANITÁRIO<br />

OS SANITÁRIOS DE HOJE<br />

1,1 BILHÃO DE<br />

PESSOAS NÃO TÊM<br />

ACESSO A UM<br />

SANITÁRIO<br />

CAPTAÇÃO<br />

OS SANITÁRIOS DE HOJE<br />

OU DEFECANDO AO AR LIVRE<br />

POPULAÇÃO UTILIZANDO LATRINAS<br />

CUSTO POR PESSOA PARA<br />

INSTALAR E MANTER ESGOTO<br />

DEJETOS HUMANOS QUE VÃO PARA OS RIOS<br />

INACESSÍVEL<br />

OS SANITÁRIOS DE HOJE<br />

TRANSPORTE<br />

TRATAMENTO<br />

OS SANITÁRIOS DE HOJE<br />

• Gerar inovação entre uma maior comunidade de<br />

pesquisa e desenvolvimento;<br />

• Apoiar a pesquisa e o desenvolvimento no nível<br />

superior para a criação de um vaso sanitário que:<br />

• Seja higiênico e sustentável para as populações<br />

mais pobres do mundo;<br />

• Tenha um custto operacional de US$0,05 por<br />

usuário por dia;<br />

• Não seja poluente, mas que gere energia e recupere<br />

sais minerais, água e outros nutrientes;<br />

• Seja projetado para uso em residência unifamiliar.<br />

• Criar um vaso sanitário que não precise de água<br />

para evacuar os dejetos nem de um sistema séptico<br />

para processá-los e armazená-los.<br />

• Criar um vaso sanitário que sirva de base para<br />

uma indústria sanitária, que possa ser facilmente<br />

adotado por empresários de zonas urbanas de<br />

baixos recursos.<br />

• Criar conscientização sobre esta pesquisa com a<br />

publicação de artigos em revistas científi cas e em<br />

vários meios.


BOLSAS DE ESTUDO PARA O DESAFIO<br />

“REINVENTE O VASO SANITÁRIO”<br />

Inovação acadêmIca<br />

Um vaso sanitário que produza carvão biológico,<br />

sais minerais e água limpa. O professor M. Sohail,<br />

da Universidade de Loughborough, e sua equipe,<br />

propõem o desenvolvimento de um vaso sanitário<br />

que transforme as fezes em um combustível de alto<br />

potencial energético através de um processo que<br />

combina a carbonização hidrotermal da massa fecal,<br />

seguida por sua combustão. O processo receberá<br />

energia do calor gerado durante a fase de combustão,<br />

recuperando a água e os sais presentes nas fezes e<br />

na urina.<br />

Transformar o vaso sanitário em um gerador de<br />

eletricidade para uso local. O professor Georgios<br />

Stefanidis e sua equipe da Universidade de Tecnologia<br />

de Delft propõem um sistema de sanitário que<br />

aplique a tecnologia de micro-ondas para transformar<br />

os dejetos humanos em eletricidade. Os dejetos são<br />

gaseificados usando plasma criado por micro-ondas<br />

em um equipamento especial. O processo gera o<br />

“syngas”, uma mistura de monóxido de carbono (CO)<br />

e hidrogênio (H2). O syngas é armazenado em uma<br />

célula de combustível de óxido sólido para a geração<br />

de eletricidade. Este sistema será capaz de atender a<br />

casas individuais ou a grupos familiares inteiros.<br />

Um vaso sanitário que elimina a urina e recupera<br />

a água limpa de forma imediata. A Dra. Tove Larsen,<br />

do Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia<br />

Aquática, e o Dr. Harald Gründl, da empresa de<br />

desenho industrial EOOS, pretendem projetar e construir<br />

um modelo funcional de vaso sanitário que remova<br />

a urina, recupere a água e que seja fácil de usar,<br />

atrativo, higiênico e proporcione água para o banheiro.<br />

Um sistema sanitário comunitário que mineraliza<br />

os dejetos humanos e recupera água limpa, nu-<br />

trientes e energia. O professor Christopher Buckley<br />

e sua equipe da Universidade de Kwazulu-Natal se<br />

propõem a criar um protótipo e avaliar um sistema de<br />

vasos sanitários que seja capaz de captar a urina em<br />

sistemas sanitários comunitários, eliminando os contaminantes<br />

de forma segura, ao mesmo tempo em<br />

que recupera materiais valiosos como água e dióxido<br />

de carbono.<br />

Uma usina de produção de carvão biológico<br />

(“biochar”) alimentada por dejetos humanos.<br />

Brian Von Herzen, da Fundação do Clima, e o professor<br />

Reginald Mitchell, da Universidade de Stanford em<br />

Palo Alto, Califórnia, pretendem projetar, construir e<br />

testar um sistema autossuficiente que faça a pirólise<br />

(decomponha material orgânico a altas temperaturas<br />

sem oxigênio) de dejetos humanos transformando-<br />

-os em uma espécie de carvão biológico usado para<br />

a captura e armazenamento de carbono. O sistema<br />

deverá ser capaz de processar duas toneladas diárias<br />

de dejetos humanos em uma instalação localizada<br />

nas regiões mais pobres de Nairóbi, Quênia.<br />

Um vaso sanitário que usa desidratação mecânica<br />

e incineração de fezes para recuperar recursos<br />

e energia. A professora Yu-Ling Cheng e sua<br />

equipe do departamento de Engenharia Química e<br />

Química Aplicada da Universidade de Toronto propõem<br />

desenvolver uma tecnologia que trate o fluxo<br />

de dejetos sólidos por desidratação mecânica e incineração,<br />

tratando as fezes em 24 horas. Há também<br />

a proposta de desenvolver um método de tratamento<br />

para a urina por meio de filtragem por membranas e<br />

desinfecção ultravioleta. A terceira área da pesquisa<br />

se dedicará ao projeto com base no usuário, para determinação<br />

da interface, que se acredita ser a melhor<br />

para a demanda da tecnologia sanitária.<br />

AquA VitAe 43


Um vaso sanitário de energia solar que gere hidrogênio<br />

e eletricidade para uso local. O professor<br />

Michael Hoffman, do Instituto Tecnológico da<br />

Califórnia, propõe o projeto de um sistema doméstico<br />

autossuficiente de vasos sanitários e tratamento<br />

de águas servidas ativado por energia solar. O painel<br />

solar converte os raios solares em energia suficiente<br />

para ativar um reator eletroquímico projetado pelo<br />

professor Hoffman para decompor a água e os dejetos<br />

humanos em gás de hidrogênio. Depois, é possível<br />

armazenar o gás em células de combustível de<br />

hidrogênio para contar com uma fonte de energia de<br />

reserva para operação noturna ou em condições de<br />

pouca luminosidade solar.<br />

Um vaso sanitário de fluxo pneumático e extração<br />

de urina por desidratação. O professor How Yong<br />

Ng e sua equipe da Universidade Nacional de Cingapura<br />

propõem o desenvolvimento de um conjunto sanitário<br />

descentralizado, com fluxo pneumático modificado<br />

e extração de urina por desidratação, que sirva para<br />

cinco ou seis casas, com coleta e tratamento independente,<br />

de urina e fezes, para recuperação de água e nutrientes.<br />

O sistema sanitário recuperará a energia por<br />

combustão das fezes, e a água limpa por um processo<br />

de dessalinização e adsorção avançado.<br />

44<br />

AquA VitAe<br />

Foto: Wikipedia<br />

GRANDES<br />

EXPECTATIVAS<br />

autoridades mundiais do setor de água e sanea-<br />

mento esperam ansiosamente os resultados desta<br />

iniciativa, considerada uma nova revolução sanitária.<br />

• “É necessário ter vários projetos de banheiros sus-<br />

tentáveis que ajudem a reduzir pela metade a quantidade<br />

de pessoas no mundo que não têm acesso a<br />

qualquer tipo de privada, estimada em 1,1 bilhão de<br />

pessoas”. Ban Ki Moon, Secretário-Geral da organização<br />

das Nações Unidas (ONU).<br />

• “Acreditamos que podemos reciclar a energia, os<br />

minerais e a água. Queremos reinventar o vaso sanitário<br />

de modo que seja barato, não custando mais do<br />

que alguns centavos, e que os mais pobres queiram<br />

/ possam?usar, gerando, assim, minerais, energia e<br />

água”. Frank Rijsberman, diretor da Fundação para<br />

o Saneamento da Água e Higiene.<br />

• “Nós, das comunidades, somos os maiores beneficiários<br />

de projetos como o do senhor Gates. É importante<br />

que pessoas tão promissoras de todo o mundo<br />

voltem o olhar para o problema da falta de privadas,<br />

levando muitos outros a prestarem atenção e a<br />

se interessarem neste enorme problema”. Elizalda<br />

Márquez, dirigente comunitária, associação Saneamento<br />

e Água Potável O Engenho, Nazca, Peru.


INTERNACIONAL<br />

A segurança alimentar, o desenvolvimento e a qualidade de<br />

vida estão ameaçados<br />

CHINA<br />

SEDENTA<br />

Enquanto aproveita um rápido desenvolvimento econômico, o país mais povoado<br />

do mundo enfrenta uma escassez de água cada vez mais grave. Com baixa<br />

disponibilidade per capita nas regiões do norte chinês, o aumento do consumo<br />

levou à sobre-exploração de água super cial e subterrânea. Soma-se a isso a<br />

contaminação de fontes que degradam os escassos recursos disponíveis<br />

Aescassez de água na China se manifesta<br />

em diversos aspectos, tais como reduções<br />

na quantidade de água, consequências<br />

ambientais atribuíveis à insufi ciência<br />

e sobre-exploração de recursos hídricos, e redução<br />

da qualidade da água devido à poluição. Desde a década<br />

de 1980, a China sofre com uma escassez de<br />

água cada vez maior e mais frequente na indústria urbana,<br />

no consumo doméstico e na irrigação agrícola.<br />

Em anos com circunstâncias hídricas normais, 300<br />

de suas 662 cidades terão insufi ciência no abastecimento<br />

de água, e 110 passarão por uma defi ciência<br />

severa; 30 das 32 áreas metropolitanas com mais de<br />

um milhão de habitantes se veem em difi culdades<br />

para atender à demanda hídrica. Ao mesmo tempo,<br />

YONG JIANG<br />

Enciclopédia da Terra. www.eoearth.org<br />

a alta demanda de água aumentou a exploração dos<br />

recursos hídricos, em especial, no norte chinês, causando<br />

degradação ambiental, esgotamento da água<br />

no subsolo, intrusão da água do mar e colapso dos<br />

solos. Houve também redução na qualidade da água<br />

em muitas áreas em que as fontes de água de boa<br />

qualidade são insufi cientes para cobrir a demanda.<br />

Entre 2002 e 2003, cerca de 25 bilhões de metros<br />

cúbicos de água deixaram de ser usados devido à poluição.<br />

Aproximadamente 47 bilhões de metros cúbicos<br />

de água consumida eram provenientes de fontes<br />

degradadas, que não atendiam sequer os padrões de<br />

pré-tratamento. Esse número representa quase 10%<br />

do total do abastecimento de água na China – 563,3<br />

bilhões de metros cúbicos em 2005.<br />

AquA VitAe 45


FATORES DE CONTRIBUIÇÃO<br />

Muitos fatores contribuem para a escassez de água<br />

na China. A distribuição natural dos recursos hídricos<br />

é desigual no território chinês, já que a maioria<br />

deles fica no sul do país. No entanto, as necessidades<br />

socioeconômicas locais precisam de água principalmente<br />

nas regiões norte e leste da China. O<br />

norte da China abriga 45,2% da população do país,<br />

mas conta apenas com 19,1% dos recursos hídricos<br />

do país. Essa discrepância na distribuição faz decair<br />

muito a disponibilidade de água em muitas áreas ao<br />

norte do Rio Amarelo. Em particular, nas bacias do<br />

Rio Amarelo (Huang)-Huai-Hai, onde estão as megacidades<br />

Beijing e Tianjin, o volume de recursos hídricos<br />

renováveis varia de 314 m3 per capita por ano na<br />

bacia do rio Hai a 672 m3 per capita por ano na bacia<br />

do rio Amarelo, ficando abaixo (ou muito próximos)<br />

do nível limite de 500 m3 per capita por ano, que é<br />

comumente considerado um indicador de escassez<br />

absoluta de água. Com a pouca disponibilidade de<br />

água, muitas áreas do norte chinês se veem sujeitas<br />

a um alto risco de escassez de água. Para mitigar<br />

este risco e seu possível impacto, é necessário haver<br />

não só um manejo efetivo do recurso hídrico, mas<br />

também considerações por parte do governo para<br />

que as decisões socioeconômicas sejam compatíveis<br />

com a capacidade dos recursos hídricos locais.<br />

A China teve um repentino desenvolvimento socioeconômico<br />

desde a década de 1980. Com um<br />

crescimento do PIB de 9,7% por ano desde 1990, a<br />

China é uma das economias de maior crescimento<br />

no mundo. Ao mesmo tempo, experimentou uma<br />

acelerada urbanização, já que sua população mais<br />

que dobrou em pelo menos 25 anos, representando,<br />

em 2005, 43% da população mundial (NBSC, 2006).<br />

46<br />

AquA VitAe<br />

Estas transformações socioeconômicas, somadas à<br />

grande e crescente população chinesa, intensificam<br />

ainda mais o conflito entre a oferta e a demanda de<br />

água, criando uma necessidade de água cada vez<br />

maior. Além disso, o crescimento econômico do país<br />

é impulsionado pela industrialização com uso extensivo<br />

– e não intensivo – dos recursos naturais. Em<br />

2004, a China contribuiu com apenas 4% do PIB global,<br />

e seu consumo de recursos naturais foi de 15%<br />

de madeira, 28% de aço, 25% de alumínio e 50% do<br />

cimento do mundo.<br />

A poluição da água intensifica a escassez ao degradar<br />

a qualidade da água disponível. Apesar do rápido<br />

desenvolvimento socioeconômico, o desenvolvimento<br />

do saneamento básico tem sido insuficiente<br />

para acompanhar o nível crescente da necessidade<br />

de tratamento de águas servidas. Com regulamentações<br />

pouco rigorosas, a poluição da água na China<br />

aumenta e se espalha, variando cada vez mais as<br />

fontes de poluição. Como a poluição da água afeta<br />

mais corpos de água com volumes menores e menos<br />

suficientes para assimilar os contaminantes que são<br />

neles descarregados, o norte do país, com sua escassez<br />

de água, sofre um maior impacto pela poluição<br />

do que o sul, onde há abundância de água. A qualidade<br />

da água na China é medida em uma escala de<br />

5 graus, agrupada e descrita como “bom” (graus de<br />

I a III) e “ruim” (graus IV e V). Estes últimos não são<br />

aceitáveis para beber ou nadar. De 2003 a 2006, a<br />

proporção de águas monitoradas que apresentou má<br />

qualidade variou de 50% a 82% nas bacias do norte,<br />

se comparadas à variação de 18 a 28% nas do sul.<br />

‘‘‘‘ AquA<br />

40% da população mundial estão na China,<br />

que tem apenas 7% dos recursos de água global.<br />

Instituto Público de Assuntos Ambientais.


‘‘‘‘<br />

AÇÃO<br />

65,9 milhões é a quantidade de hectares em terrenos<br />

úmidos na China, menos da metade tem proteção.<br />

O governo chinês reconheceu os problemas com fon-<br />

tes de água e está tomando medidas para promover<br />

o uso sustentável da água, o que inclui a revisão da<br />

legislação sobre água para melhor o manejo de recursos<br />

hídricos. O Conselho de Estado estabeleceu<br />

metas para as políticas de manejo dos recursos hídricos,<br />

com ações como o fortalecimento do manejo de<br />

bacias, a proteção das fontes de água potável, o combate<br />

à poluição transfronteiriça das águas, o fomento<br />

à economia de água na agricultura e o aumento da<br />

proporção de tratamento de águas servidas no meio<br />

urbano para o ano de 2010. Uma parte do Plano Quinquenal<br />

para o Desenvolvimento de Fontes de Água<br />

(em sua sigla em inglês, FYPWRD) inclui planos de<br />

ação e métodos de implementação, refletindo uma<br />

mudança estratégica em prol de um desenvolvimento<br />

sustentável dos recursos hídricos, com o aumento da<br />

distribuição de água, desenvolvimento de sistemas de<br />

direitos à água, implementação de manejo de distribuição<br />

de acordo com a demanda e melhoria da eficiência<br />

do uso da água.<br />

Concomitante às ações governamentais, a população<br />

também terá um papel cada vez mais importante no<br />

manejo no recurso hídrico. Em áreas rurais, as associações<br />

de usuários de água (na sigla em inglês,<br />

WUAs) se transformaram em uma forma popular de<br />

Instituto Público de Assuntos Ambientais.<br />

participação pública no manejo de recursos hídricos.<br />

Foram estabelecidas mais de 20.000 organizações<br />

de usuários de água no setor agrícola, principalmente<br />

na forma de WUAs, para usar e gerenciar a água de<br />

forma efetiva. Desde 1994, o número de organizações<br />

não governamentais (conhecidas como ONGs)<br />

também aumentou rapidamente, em resposta à necessidade<br />

política de uma alternativa à intervenção<br />

estatal para proteger o meio ambiente. Uma pesquisa<br />

feita pela União Chinesa de Proteção Ambiental em<br />

2005 constatou um total de 2.768 ONGs ligadas à<br />

questão do meio ambiente na China. Elas participam<br />

ativamente do manejo de recursos hídricos, promovendo<br />

a conservação e proteção da qualidade da<br />

água. Um bom exemplo é o Mapa de Poluição da<br />

Água na China, criado e gerenciado pelo Instituto de<br />

Assuntos Públicos e Ambientais, uma ONG ligada à<br />

questão ambiental, para divulgar as fontes da poluição<br />

hídrica e sua distribuição.<br />

A industrialização constante e o crescimento da população<br />

combinados à urbanização continuarão impondo<br />

desafios para o manejo da água na China. Até 2020,<br />

a previsão é de que população chinesa ultrapasse 1,4<br />

bilhão de habitantes, o que reduzirá ainda mais a disponibilidade<br />

de água.<br />

AquA VitAe 47


48<br />

AquA VitAe<br />

SOLUÇÕES<br />

Enfrentar a escassez de água na China exige uma abordagem holística, integrada<br />

e científi ca, com esforços coordenados para o longo prazo. Como um primeiro<br />

passo, a China deve melhorar ou estabelecer sistemas institucionais que registrem<br />

e regulem a extração e o uso da água de acordo com os direitos da água<br />

claramente defi nidos e legalmente aplicáveis. É impossível alcançar um manejo<br />

efetivo dos recursos hídricos sem que o uso da água esteja regulamentado e controlado<br />

por sistemas institucionais.<br />

Em segundo lugar, os enfoques do mercado merecem mais atenção na agenda<br />

política, em vez de apenas esperar que as medidas de engenharia, por si, só,<br />

resolvam a escassez de água. Hoje há muita preocupação na China sobre o impacto<br />

negativo sofrido pelas classes pobres por haver um preço na água. Direitos<br />

à água transferíveis, somados a um preço para ela, podem mitigar os efeitos de<br />

um eventual preço e, ao mesmo tempo, resolver a escassez de água. Por exemplo,<br />

em áreas com pouca água, é possível implantar programas de incentivo que<br />

imponham tarifas cada vez maiores ao uso excessivo, redistribuindo os recursos<br />

obtidos nesta cobrança no fomento à economia de água, com um orçamento equilibrado.<br />

Para facilitar e regular a implementação de enfoques de mercado, o governo<br />

deve desenvolver regulamentações, condições e programas de assistência.<br />

Em terceiro lugar, o governo deve orientar seus esforços para criar capacidade e<br />

desenvolver sistemas de suporte de decisões baseados em pesquisa e dados. A<br />

tomada de decisões baseada na pesquisa científi ca e em dados confi áveis é a base<br />

de um manejo efetivo dos recursos hídricos, podendo ainda contribuir para a devida<br />

elaboração de políticas. Hoje, não há sistemas sufi cientes de suporte de decisões<br />

para cada bacia que integra os processos biofísicos e hidrológicos de água, em<br />

contrapartida, é baixo o grau de desenvolvimento nos sistemas sistemas existentes.<br />

‘‘<br />

US$39 bilhões por ano é o custo da<br />

escassez em safras perdidas, menor<br />

produção industrial e produção.<br />

Instituto Público de Assuntos Ambientais.<br />

‘‘


Quando a Organização das Nações Unidas reconheceu o direito humano<br />

à água e ao saneamento básico em 2010, a humanidade deu<br />

um passo coletivo rumo à evolução. Mas só isso não basta. O sistema<br />

econômico dominante de um capitalismo de mercado desenfreado<br />

e desregulado, sem limites para o crescimento, levou o planeta à<br />

beira de uma crise ecológica e gerou desigualdades de renda e injustiça<br />

econômica sem precedentes na História recente. Agora, nos<br />

vemos diante de uma situação de concentração extrema do poder<br />

econômico e de recursos, causadora tanto da degradação quanto da<br />

exclusão social, econômica e ambiental da maioria das pessoas do<br />

mundo. Enquanto não houver uma oposição a este sistema, o mero<br />

reconhecimento do direito à água e ao saneamento básico não será<br />

suficiente para abastecer com água e saneamento bilhões de pessoas<br />

que não os têm.<br />

Para implementar de fato o espírito do direito à água e ao saneamento<br />

básico para todos os homens e mulheres, é necessário enfrentar<br />

o sistema econômico atual e trabalhar para criar novas políticas<br />

econômicas, sociais e de recursos em função dos princípios de inclusão,<br />

equidade, diversidade, sustentabilidade e democracia. Devemos<br />

promover práticas sustentáveis de produção local de alimentos e bens<br />

de consumo, bem como a substituição dos combustíveis fósseis por<br />

fontes de energia seguras e alternativas. As estruturas econômicas<br />

devem ser elaboradas para transferir o poder econômico e político ao<br />

âmbito local, tirando-o da escala mundial, e o poder das corporações<br />

transnacionais e do capital especulativo devem se ajustar ao Estado<br />

de Direito e submeter-se a ele. A febre da privatização de cada área,<br />

antes considerada um patrimônio comum, tem de cessar.<br />

Por ser um recurso de fluxo necessário para a vida e para saúde do<br />

ecossistema - este, é um elemento insubstituível -, temos de considerá-lo<br />

como um patrimônio público e um bem de todos, preservando-o<br />

sempre como tal, no Direito e na prática. A água doce é<br />

essencial para nossa existência, por isso, as leis de Administração<br />

Pública devem protegê-la em prol do bem comum, e não em benefício<br />

individual. É claro que há uma dimensão econômica na água, mas<br />

por fazer parte da Administração Pública, os governos são obrigados<br />

OPINIãO<br />

MAUDE BARLOW<br />

Prêmio Nobel Alternativo de 2005<br />

Presidenta do Conselho Canadense e da Organização Food and Water Watch<br />

EXCLUSÃO DA ÁGUA<br />

DE ACORDOS COMERCIAIS<br />

Para implementar de fato o espírito do direito à água e ao saneamento<br />

básico para todos, temos que enfrentar o sistema econômico atual e<br />

trabalhar para criar novas políticas econômicas, sociais e de recursos<br />

em função dos princípios de inclusão, equidade, diversidade,<br />

sustentabilidade e democracia.<br />

a proteger as nascentes com o objetivo de preservá-las para o uso a<br />

longo prazo de toda a população, e não apenas de uns poucos privilegiados.<br />

Isto requer excluir a água de todos os acordos comerciais<br />

e de investimento e tirar das grandes empresas o poder de fazer<br />

exigências dos governos em virtude de tais acordos, já que o poder<br />

público pode tomar medidas para limitar a atividade corporativa a<br />

fim de proteger as bacias hidrográficas e as diversas fontes de água.<br />

Outra necessidade para garantir o direito à água e ao saneamento<br />

é desafiar o paradigma de desenvolvimento com base no mercado,<br />

concentrando todo o trabalho de desenvolvimento em enfoques<br />

voltados para os Direitos Humanos, resistentes à dominação da<br />

ideologia de livre mercado. Segundo Ellen Dorsey, da Fundação Wallace,<br />

esta abordagem asseguraria uma importante participação das<br />

pessoas afetadas pelos programas de desenvolvimento, trataria das<br />

causas fundamentais da pobreza, da discriminação e da exclusão, e<br />

priorizaria as comunidades marginalizadas em termos de direitos e<br />

práticas. Ela sugere que o nome dos “Objetivos de Desenvolvimento<br />

do Milênio” mude para “Direitos de Desenvolvimento do Milênio”.<br />

À medida que avançamos para definir e ampliar a noção do direito à<br />

água e ao saneamento básico, precisamos também explorar maneiras<br />

de ampliar a definição de direitos para abarcar os de terceira geração,<br />

como o direito à livre determinação, os direitos coletivos e de grupos<br />

e o direito aos recursos naturais locais.<br />

Devemos adotar leis, como fez o Equador, que afirmem que os ecossistemas<br />

e comunidades naturais têm o direito inalienável de existir,<br />

crescer e se desenvolver, e, enquanto possível, devemos deixar a água<br />

onde está e compreender seu papel vital na nutrição dos ecossistemas<br />

e na proteção do funcionamento saudável do ciclo hidrológico.<br />

Para isso, é imprescindível apoiarmos a campanha para fazer com<br />

que a ONU adote a Declaração Universal dos Direitos da Mãe Terra,<br />

a fim de que, com o tempo, esta sirva de suporte para a Declaração<br />

Universal dos Direitos Humanos.<br />

A Revista Aqua Vitae não emite nenhuma opinião sobre os critérios expressados<br />

nesta seção, entretanto, somos uma tribuna aberta a diferentes perspectivas em<br />

relação ao tratamento dos recursos hídricos.<br />

AquA VitAe 49


SAÚdE<br />

50 50<br />

A ÁGUA EM SITUAÇÕES<br />

DE EMERGÊNCIA<br />

Serviços de água como abastecimento e esgoto são vulneráveis a<br />

desastres, podem ocorrer danos nas instalações, rompimento das<br />

tubulações e interrupção das operações por cortes de energia elétrica.<br />

AquA VitAe<br />

Fotos: NASA


TON VLUGMAN<br />

Consultor de Saúde e Meio Ambiente da Organização<br />

Pan-americana de Saúde / Organização Mundial da Saúde<br />

Após um desastre, a água passa a ser o bem mais importante<br />

para a população afetada, de modo que a escassez ou contami-<br />

nação deste recurso pode ter consequências bastante graves<br />

para a saúde pública.<br />

A água é um dos principais meios de transmissão de doenças. Por isso, as<br />

autoridades devem garantir sua potabilidade ao abastecer as populações afetadas<br />

e com as quantidades adequadas. Para proteger a higiene pública, as<br />

autoridades também devem garantir a existência adequada de saneamento<br />

básico, descarte de resíduos, higiene dos alimentos, não deixando de prevenir<br />

a reprodução de vetores de transmissão de doenças.<br />

Além do abastecimento de água, há outros setores que podem ser afetados<br />

por grandes desastres, como os serviços de saúde, as telecomunicações,<br />

o fornecimento de energia e a infraestrutura e serviços de transporte. Da<br />

perspectiva da saúde, os planos nacionais, regionais e locais de preparação<br />

e prevenção a desastres devem incluir todos esses setores.<br />

As emergências interrompem a vida socioeconômica e prejudicam infraestruturas<br />

físicas e serviços, extrapolando o controle das autoridades afetadas.<br />

A água potável é o principal recurso que deve ser proporcionado às populações<br />

afetadas por desastres. Deve-se dar prioridade máxima às áreas<br />

onde houve aumento dos riscos de saúde, em especial, as de alta densidade<br />

demográfica e em que houve interrupções graves de serviços. Como<br />

prioridade secundária, estão as áreas com alta concentração populacional<br />

que sofreram interrupções moderadas nos serviços, ou as áreas como uma<br />

média demográfica moderada, mas com graves interrupções. Já o terceiro<br />

item na lista de prioridades corresponde às áreas com pouca população e<br />

com menos interrupções dos serviços.<br />

AquA AquA VitAe VitAe 51<br />

51


IMPACTOS ESPECÍFICOS<br />

E MEDIDAS PREVENTIVAS NOS<br />

SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA<br />

Os principais riscos para as instalações de abastecimento<br />

de água em um desastre são os danos físicos<br />

que podem ser causados pelo impacto do desastre.<br />

No entanto, o maquinário pesado das operações de<br />

socorro também pode afetar hidrantes, válvulas, tubulações<br />

e conexões domésticas. É frequente que<br />

a água das tubulações seja contaminada durante as<br />

inundações, uma vez que é possível a entrada de resíduos<br />

e contaminantes pelas novas fendas, em especial,<br />

quando a pressão da água é baixa e as usinas<br />

de tratamento estão inundadas. Os componentes dos<br />

sistemas de água podem apresentar falhas devido a<br />

mudanças na qualidade da água, por exemplo, por<br />

contaminação química ou cinzas vulcânicas. Além<br />

disso, é possível haver curtos-circuitos, interrupções<br />

do fornecimento de energia elétrica e falhas nos serviços<br />

de comunicação e transporte.<br />

Principais medidas preventivas. A localização da<br />

estação de tratamento de água deve ser adequada e<br />

projetada com estruturas resistentes a impacto. A fim<br />

de reduzir a dependência do abastecimento auxiliar<br />

de energia, é possível usar sistemas de gravidade ou<br />

duas conexões elétricas independentes.<br />

Os geradores de emergência devem ser instalados<br />

em componentes essenciais do sistema, por exemplo,<br />

nas estações de tratamento e nas bombas, devendo<br />

ser inspecionados e ligados regularmente, de<br />

preferência uma vez por semana. Nas áreas mais vulneráveis,<br />

recomenda-se descentralizar as fontes de<br />

água, operações, armazéns, equipamentos de emergência<br />

e postos de abastecimento. O sistema deve<br />

ter, pelo menos, a capacidade de prestar um serviço<br />

parcial em caso de emergência. Como os sistemas<br />

52<br />

AquA VitAe<br />

maiores são mais vulneráveis, recomenda-se ter vá-<br />

rios recursos e subunidades interligadas. Os sistemas<br />

de ralos são mais recomendáveis que os de ramificações,<br />

pois permitem o uso de vias alternativas e<br />

uma maior flexibilidade. É aconselhável assegurar a<br />

instalação de válvulas para a conexão ou desconexão<br />

de subsistemas e, se possível, duplicar as principais<br />

linhas de distribuição.<br />

A instalação de válvulas de comporta aumentará a<br />

flexibilidade do sistema na conexão ou no isolamento<br />

de subsistemas, conforme o caso. Por último, os reservatórios<br />

de armazenamento de água devem estar<br />

distribuídos de forma uniforme em todo o sistema.<br />

É necessário estabelecer práticas de operações e<br />

manutenção dos equipamentos e instalações, de<br />

modo a incluir o abastecimento de armazéns, a manutenção<br />

e atualização de registro, a consulta a manuais<br />

dos equipamentos e plantas dos sistemas, instalações<br />

e estações. É preciso proteger instalações<br />

e equipamentos e armazenar gás, cloro e outros reativos.<br />

Muitas vezes, os modelos computadorizados<br />

podem ajudar a localizar danos ocultos e otimizar o<br />

controle do sistema. É possível melhorar os sistemas<br />

de transporte e comunicação se houver rádios e telefones<br />

portáteis suficientes. É necessário contar com<br />

veículos de transporte adequados e mapas que indiquem<br />

rotas alternativas.


TERREMOTOS E DESMORONAMENTOS<br />

Impactos. O solo pode ficar saturado de água (liquefação<br />

do solo), causando choque de falhas geológicas, movi-<br />

mentações do solo e desmoronamentos. Os tanques,<br />

reservatórios e estações de bombeamento podem ficar<br />

inoperantes, causando mudanças ou perdas de aquíferos.<br />

A pressão da água pode diminuir devido a vazamentos.<br />

Em contrapartida, a demanda pode aumentar por causa<br />

dos incêndios e do número crescente de pessoas que<br />

armazenam água. É frequente o rompimento ou a quebra<br />

de intersecção e conexões das tubulações (aproximadamente<br />

a cada 100 m). Muitas vezes, os revestimentos<br />

e suportes de poços (perfurados e de outros tipos) são<br />

fraturados por cisalhamento, e as estruturas de concreto<br />

podem se quebrar, prejudicando edifícios.<br />

ERUPÇÕES VULCÂNICAS<br />

Impactos. Em caso de erupção vulcânica, é possível<br />

ocorrer a perda de aquíferos e mudanças na qualidade<br />

da água devido aos contaminantes vulcânicos (enxofre,<br />

dióxido de enxofre, ácido sulfúrico e clorídrico, flúor, metano<br />

e mercúrio). As estruturas e os equipamentos (por<br />

exemplo, os hidrantes de incêndio) podem ser esmagados,<br />

destruídos ou enterrados. Além disso, os incêndios<br />

são frequentes, os filtros de ar obstruídos podem causar<br />

falhas nos motores, e outros componentes do sistema<br />

de água também podem ser danificados com a densa<br />

sedimentação (cinzas e lama).<br />

Prevenção. Em termos de prevenção, é importante identificar<br />

as áreas perigosas, montar mapas de riscos e elaborar<br />

um plano adequado para uso e evacuação dos terrenos.<br />

É recomendável ter estruturas com declives e telhados<br />

lisos. Telhados e janelas que ficarem de frente para o vulcão<br />

podem ser protegidos com lâminas de metal. Pode-<br />

-se estabelecer na área um programa de monitoramento<br />

de vulcões e de monitoramento regular da qualidade da<br />

água (pH, temperatura, enxofre e flúor), que podem ajudar<br />

a prever uma erupção. É possível também identificar instalações<br />

que coletem e analisem as cinzas para determinar<br />

se há substâncias tóxicas. É necessário armazenar filtros<br />

de ar, bocas de filtros e roupas de proteção.<br />

AquA VitAe 53


54<br />

AquA VitAe<br />

FURACÕES<br />

Impactos. Os escombros transportados pelo ar e<br />

pelo vento causam danos físicos nas estruturas, prin-<br />

cipalmente em telhados, portas e janelas. De modo<br />

geral, árvores e postes da rede telefônica são arrancados,<br />

rompendo as tubulações. As estações de captação<br />

de água e tubulações podem se entupir com os<br />

escombros e sedimentos. As chuvas intensas causam<br />

inundações e danos (especialmente no equipamento<br />

elétrico). Em particular, as áreas costeiras estão sujeitas<br />

a uma grave erosão. Além disso, as vias de acesso<br />

podem ficar bloqueadas.<br />

Prevenção. Na medida do possível, devem-se estabelecer<br />

instalações em vales estreitos, nas partes<br />

altas de morros ou em áreas costeiras. É necessário,<br />

também, aplicar às estruturas técnicas de construção<br />

à prova de furacões. Aconselha-se plantar árvores<br />

como quebra-vento, mas não se deve plantá-las muito<br />

próximas às instalações. As tubulações não devem<br />

acompanhar o curso de um rio nem estar paralelas à<br />

costa, devendo-se também reduzir a quantidade de<br />

tubulações que cruzem rios.<br />

É preciso verificar se os grandes tanques de armazenamento<br />

estão cheios antes de uma tempestade,<br />

a fim de evitar rupturas. Esses tanques devem ter<br />

uma sustentação adequada e estar ajustados internamente.<br />

A instalação de válvulas de fechamento manual<br />

ou de regulagem automática de fluxo ajudará a<br />

evitar perdas nos reservatórios. É necessário instalar<br />

e fechar obturadores para chuvas. Aconselha-se melhorar<br />

a estrutura dos pontos de captação de rios e<br />

instalar válvulas de limpeza nas tubulações. Antes da<br />

chegada do furacão, é importante limpar os filtros e<br />

fechar os pontos de captação de água.


INUNDAÇÕES<br />

Impactos. O dano das inundações é causado pelas ondas e cor-<br />

rentes de água que transportam resíduos, podendo prejudicar as<br />

margens dos rios e derrubar construções. É possível haver uma<br />

grave contaminação dos recursos hídricos: bacteriológica (pelas<br />

águas residuais), química e física (pelos sedimentos). A danificação<br />

de vias e pontes e a grande quantidade de lama fazem com<br />

que muitas áreas fiquem inacessíveis.<br />

Prevenção. A consulta a mapas de riscos, que indicam os níveis<br />

de inundação e as zonas de risco, possibilitará a construção de<br />

instalações acima dos níveis de inundação. As estruturas deverão<br />

resistir à pressão da água (devem ser reforçadas em pontes, e<br />

as tubulações subaquáticas devem estar sob bordas de proteção).<br />

Caso as instalações estejam em uma zona de inundação,<br />

as bombas, o equipamento elétrico e os controles devem estar<br />

num lugar elevado ou devem ser de desmontagem rápida para<br />

que sejam armazenados em lugar seguro.<br />

É possível tomar algumas medidas para controlar a inundação,<br />

como a instalação de diques, represas ou canais de desvio.<br />

Sacos de areia podem evitar alguns riscos das inundações, mas<br />

é necessário haver participação da população e infraestrutura<br />

adequada. Telas também podem ajudar a evitar a erosão. Recomenda-se<br />

que todos os sistemas automáticos contem com<br />

mecanismos manuais de substituição, e que as estações de tratamento<br />

tenham um canal de desvio que permita a desinfecção<br />

da água não tratada.<br />

Antes da inundação, devem-se lavar os filtros, encher os reservatórios<br />

de armazenamento e aumentar as reservas de substâncias<br />

químicas. Depois de retirada a água da inundação, é<br />

necessário enxaguar o sistema de distribuição e desinfetar os<br />

pontos de abastecimento. É importante aconselhar as pessoas<br />

afetadas que deixem a torneira aberta por pelo menos dez minutos<br />

antes de usar a água.<br />

AquA VitAe 55<br />

55


pré-desastre<br />

Esta fase visa a tomada de medidas<br />

para evitar ou reduzir o impacto,<br />

capacitar pessoal além de<br />

desenvolver, testar e atualizar os<br />

planos de operação que entrarão<br />

em ação na fase 2.<br />

56<br />

AquA VitAe<br />

SECAS<br />

Impactos. Durante as secas, o sistema de distribui-<br />

ção pode ressecar, causando vazamentos e entu-<br />

pimento nas tubulações. Além disso, como a con-<br />

centração de contaminantes é maior, a qualidade da<br />

água diminui.<br />

Prevenção. É necessário contar com vários tipos de<br />

fontes de água. Nos setores agropecuários, industriais<br />

e municipais, é preciso introduzir esquemas de<br />

conservação de água para aumentar os reservatórios<br />

de armazenamento e permitir a redistribuição. É necessário<br />

identificar e preparar as fontes alternativas<br />

de onde será transportada a água, em caminhões,<br />

para a população afetada.<br />

FASES DE UM DESASTRE<br />

resposta frente<br />

à emergência<br />

Aqui, devem ser tomadas medidas<br />

para abordar as áreas identificadas<br />

como prioritárias de controle da<br />

saúde ambiental. Esta fase dura sete<br />

dias, mas os períodos mais críticos<br />

são o de prevenção e os três primeiros<br />

dias (a resposta imediata).<br />

reaBiLitaÇÃo<br />

Esta fase implica na recuperação,<br />

a curto prazo, dos níveis<br />

dos serviços de saúde ambiental<br />

antes do desastre e na aplicação<br />

de medidas de longo prazo para<br />

a reconstrução.


ALTO PERFIL<br />

DEVEMOS PROMOVER<br />

PRAGMATISMO E EFICIÊNCIA<br />

Por YAZMÍN TREJOS<br />

O<br />

engenheiro Benedito Braga está<br />

certo de que a resolução dos desafi<br />

os da água e do saneamento deve<br />

ser o resultado de “uma combinação<br />

na qual, sem dúvidas, os governos nacionais desempenham<br />

um papel muito importante, uma<br />

sociedade civil organizada, empresários, o setor<br />

acadêmico, e associações profi ssionais. Todos<br />

têm um papel neste processo, na criação de<br />

um momento que mostre que cada um tem<br />

lugar para jogar esse jogo”, e que sem dúvida<br />

alguma é vital, ético, necessário e humano.<br />

De que maneira efetiva os líderes do setor<br />

devem responder, – e não retórica – aos<br />

grandes desafi os da água?<br />

Devemos ser pragmáticos, não é possível resolver<br />

problemas reais com declarações políticas<br />

corretas, bonitas e que só servem para<br />

promover pessoas. Só conseguiremos resolver<br />

efetivamente este problema na medida em<br />

que a equação econômica e política seja devidamente<br />

resolvida, e ela por si só é intrincada,<br />

porque os orçamentos dos governos são decididos<br />

de maneira política, e não poderia ser<br />

diferente, porque a política é a arte de resolver<br />

os confl itos de interesse. Nós não podemos<br />

imaginar que só exista água e saneamento,<br />

temos que pensar também na educação, no<br />

transporte, na energia, e em outros setores<br />

que demandam recursos da mesma maneira<br />

que a água, o saneamento, a navegação, a<br />

Fotos : Carmen Abdo<br />

Benedito Braga, presidente<br />

do 6° Fórum Mundial<br />

da Água 2012, convoca<br />

todos os atores envolvidos,<br />

para que se chegue a um<br />

entendimento a respeito<br />

de que o setor da água<br />

é um conjunto, um<br />

sistema, e para que tenha<br />

legitimidade institucional,<br />

necessita de um espaço.<br />

AQUA VITAE 57


agricultura, então, para resolver este problema, em primeiro<br />

lugar devemos motivar a classe política. Acho que atualmente<br />

a classe política está motivada, porque, desde que se criou<br />

o Conselho Mundial da Água em 1997 até os dias de hoje,<br />

temos observado mediante os fóruns mundiais da água, que<br />

as Nações Unidas estabeleceram no ano passado um acordo<br />

para o problema da água em Johannesburgo, ao declarar que<br />

o acesso a água e ao saneamento é um direito humano, então<br />

agora existe uma motivação política, há um interesse político.<br />

Agora o que falta é encontrar fi nanciamento.<br />

E como vamos fi nanciar estes projetos? Como vamos tornar<br />

realidade algo que já está no imaginário do político?<br />

Precisamos encontrar uma maneira de mostrar à classe política<br />

que os investimentos no saneamento darão um resultado<br />

também político. É por isso que defendo o pragmatismo para<br />

a solução deste problema: todos nós sabemos que investir um<br />

dólar em saneamento signifi ca investir sete em saúde pública,<br />

temos todas essas estatísticas, mas devemos enxergar um<br />

pouco além, devemos mostrar um pouco mais à classe política,<br />

pois isso redundará em benefícios de natureza política, e<br />

não só de natureza social, material, etc. Por outro lado, temos<br />

que ter métodos efi cientes de atribuição de recursos, para que<br />

aquilo que está planejado realmente aconteça: precisamos de<br />

recursos de fi nanciamento que sejam inteligentes, efi cientes<br />

e efi cazes, e enquanto não tenhamos estas duas coisas muito<br />

claras, não vamos resolver o problema da água e do saneamento.<br />

Portanto, o enfoque tem que estar no benefício político<br />

do saneamento e na metodologia efi caz e efi ciente de<br />

fi nanciar o sistema de saneamento.<br />

Acho que devemos ser pacientes. Estive com o rei Gustavo da<br />

Suécia, e ele me dizia que há 150 anos Estocolmo tinha um<br />

volume expressivo no que dizia respeito às águas residuais.<br />

Diferentemente da situação atual, quando as pessoas podem<br />

nadar nos lagos de Estocolmo, pois agora têm uma qualidade<br />

de água muito boa. Essa conquista levou 150 anos. Os ingleses<br />

levaram entre 30 e 50 anos para limpar o Tâmisa, a América<br />

Latina acaba de perceber esse problema. Não podemos<br />

nos mostrar ansiosos e dizer: “Dentro de 5 anos, a metade<br />

da população terá acesso à rede de saneamento, pois vamos<br />

incrementar o acesso em 50% em 10 anos”, isso seria um<br />

statement retórico.<br />

Quais são os planos e programas que devem ser desenvolvidos,<br />

para passar da discussão às soluções quanto<br />

ao acesso à água potável e ao saneamento integral?<br />

58<br />

AQUA VITAE<br />

Parece-me que é uma uma combinação na qual, sem dúvidas,<br />

os governos nacionais desempenham um papel muito importante.<br />

No entanto, acho que a sociedade civil organizada, os<br />

empresários, o setor acadêmico, as associações profi ssionais,<br />

todos têm seu papel na criação de um momento que vai mostrar<br />

justamente que cada um tem sua posição nesse jogo:<br />

o governo para organizar em âmbito nacional, os governos<br />

locais (não podemos esquecer dos governos locais!), porque<br />

são eles os que detêm o domínio, a administração dos serviços<br />

públicos de água e saneamento. Na maioria dos países, os serviços<br />

de saneamento são públicos, as concessões fi cam com<br />

as empresas privadas, ou com os serviços autônomos, mas<br />

legalmente, a responsabilidade é do governo local, do gestor,<br />

não do governador, nem do presidente. Portanto, esse ator<br />

tem que estar bastante envolvido na questão. Eu não sei se<br />

esses gestores estão preparados para essa mudança de paradigma.<br />

De maneira que este é um dos temas predominantes<br />

no 6º. Fórum Mundial da Água de 2012.<br />

Qual é o problema em privatizar ou não os serviços de<br />

água e como resolver essa questão?<br />

Eu acho que a questão-chave é “como as pessoas de baixo<br />

recurso podem ter acesso à água e ao saneamento”, e não se<br />

o serviço deve ser oferecido pelo setor privado, público, misto,<br />

etc. O rico já tem acesso à água e ao saneamento. Eu tenho<br />

dados do Brasil, do Banco Mundial, em que se verifi ca uma<br />

classifi cação por rendimentos, 10% mais ricos têm acesso a<br />

água e ao saneamento, e os pobres são os que carecem de


tal acesso, e 90% das empresas de saneamento do Brasil são<br />

públicas. A qualidade da água dos rios é diferente dependendo<br />

do acesso a água e do saneamento, são diferentes usos<br />

da água. Nesse ponto estou de acordo plenamente de que,<br />

na medida em que resolvamos o problema do saneamento<br />

público da água, vamos resolver o problema da qualidade do<br />

recurso em nossos rios, porque a indústria já está toda enquadrada.<br />

Portanto, dizer que privatizar o serviço de saneamento<br />

é um mau caminho, porque isso não faz com que as classes<br />

mais baixas tenham acesso a este serviço, não é verdade, é<br />

um falso problema. O problema real é como dar esse acesso<br />

a eles. E aí estamos na mesma linha do pragmatismo inicial,<br />

que comentei aqui. Uma empresa pública não pode fi car em<br />

vermelho, para dar água à população mais necessitada tem<br />

que trabalhar de maneira correta desde o ponto de vista empresarial,<br />

tem que trabalhar com recuperação de seus custos,<br />

se não pretende ter ganhos, tudo bem, não há nenhum problema.<br />

Veja como o Chile resolveu esta questão: criaram um<br />

programa de rendimentos mínimos, em que todos pagam a<br />

água, a energia, inclusive os de menores recursos e a empresa,<br />

pública ou privada, também cobra.<br />

De que maneira devem se estabelecer as relações entre<br />

os atores, para conseguir acordos que sejam mensuráveis<br />

e realistas?<br />

Só podemos trabalhar com o sistema do “ganha-ganha”, porque<br />

se não, sempre fi caremos na retórica, e aí se dará um<br />

confl ito eterno entre os ambientalistas – que dirão que os<br />

capitalistas estão consumindo o planeta – e os capitalistas,<br />

que dirão que os ambientalistas são uns poetas, que não vão<br />

a nenhum lugar. Este sistema ainda não existe, e é isso o que<br />

estamos procurando. Por exemplo, propor as perguntas corretas<br />

sobre o saneamento, não se trata só de privatização. É<br />

uma questão de subsídio às classes trabalhadoras, para que<br />

possam ter acesso, e é o governo e a coletividade que têm de<br />

facilitar essa colaboração. Por exemplo, muitos criticaram o<br />

programa do governo Lula quando criou a bolsa família, mas<br />

a migração interna diminuiu muito após este programa. Claro<br />

que existem distorções, mas vamos trabalhar com as exceções<br />

para dar a notícia? Ainda não contamos com a equação correta,<br />

pois para isso precisamos fazer as perguntas corretas:<br />

Como faço o subsídio para aquele mais necessitado?, Como<br />

crio sistemas efi cientes para o tratamento dos resíduos?, De<br />

que maneira resolveremos o problema da pobreza na África,<br />

onde não existe nenhuma condição favorável para tanto?<br />

Com a ajuda humanitária, com o EPS norte-americano, não se<br />

resolverá. Temos que criar um sistema em que todos ganhem,<br />

esse é o ponto do que falamos, desse pragmatismo, isso que<br />

tem que fi car claro entre os ambientalistas e os desenvolvimentistas,<br />

ou a iniciativa privada, cujo objetivo é obter lucro e<br />

que portanto reclama, ao ter que realizar uma compensação<br />

ambiental, já que isto poderia fazer com que se tornassem<br />

i n e fi c i e n t e s, ou os agricultores que reclamam porque têm que<br />

pagar pela água.<br />

Quem deveria ser o responsável ou qual deve ser o sistema<br />

que permita dar continuidade aos compromissos<br />

assumidos – em nível regional, nacional e global – no<br />

setor, para que tais compromissos sejam efetivamente<br />

realizados e tenham cumprimento de prazos ?<br />

O setor da água é um conjunto, um sistema, e para que tenha<br />

legitimidade institucional no governo precisa de um espaço,<br />

assim como temos um Ministério de Energia, um de Ambiente,<br />

é preciso ter um da Água. Isto é importante, mas não<br />

imprescindível: o importante é ter, como no caso do Brasil,<br />

uma coordenação efi ciente entre os setores, para que a água<br />

seja contemplada em todos eles. Essa coordenação é efetivamente<br />

muito interdisciplinar, como sabemos, teremos a Rio<br />

+20. Estive com o Embaixador André Correia do Lago, organizador<br />

da conferência, e ele entende que a água desempenha<br />

um papel muito importante para o desenvolvimento sustentável,<br />

para o crescimento verde, para a redução da pobreza.<br />

Não precisamos uma convenção internacional sobre a água,<br />

mas que os governos nacionais e locais entendam o papel<br />

da água para o desenvolvimento, o uso efi ciente da mesma<br />

na agricultura, sua reutilização na indústria, o uso da mesma<br />

para gerar energia elétrica, que serve como via de transporte<br />

bem mais barato e efi ciente, que tem menos impacto no meio<br />

ambiente. De maneira que o setor da água trabalhe junto com<br />

outros setores no sentido de planifi car de maneira harmoniosa,<br />

e acho que neste sentido a Agência Nacional das Águas<br />

(ANA) no Brasil é um exemplo para o mundo, pois coordena<br />

um sistema nacional, que engloba planos estatais, de bacias,<br />

plano nacional, de recursos hídricos, que tem que interagir<br />

com os outros setores. Nós, do setor da água, queremos ser<br />

AQUA VITAE 59


tão holísticos como se fôssemos o governo. A CONAGUA do<br />

México tem uma missão que vai um pouco além da missão da<br />

ANA, pois a CONAGUA trabalha junto aos comitês de bacias<br />

hidrográfi cas e outros, de uma maneira mais centralizada. No<br />

Brasil existe uma descentralização maior, em função de um<br />

domínio da água por parte dos Estados. Há rios estatais e<br />

rios federais. No México só existem rios federais, e isso é uma<br />

diferença muito grande neste processo de descentralização.<br />

Já se realizaram cinco fóruns mundiais da água, com<br />

acertos e críticas. Que devemos esperar como resultados<br />

tangíveis do 6º. Fórum Mundial da Água 2012 em<br />

Marselha na França?<br />

Este é o Fórum das Soluções, os outros foram fóruns em que<br />

abrimos a discussão com todos os interessados no tema da<br />

água, já que um fórum é um lugar em que todo mundo chega<br />

e diz o que pensa sobre um determinado assunto. Agora, o<br />

que tem de diferente este fórum? Neste fórum, estamos pe-<br />

60<br />

AQUA VITAE<br />

PROPULSOR MUNDIAL<br />

dindo para que as pessoas venham, e em vez de falar de problemas,<br />

falem de soluções, e para isto criamos uma estrutura<br />

temática diferente, que por meio de um bottom-up approach<br />

(do inglês, uma abordagem ascendente) e, conversamos com<br />

400 instituições no lançamento do fórum, para saber quais<br />

são suas prioridades. Estabelecemos, então, 12 prioridades,<br />

dentro do conceito de desenvolvimento sustentável, divididas<br />

em três grandes eixos: o bem-estar da sociedade, o desenvolvimento<br />

econômico e a manutenção do planeta azul. São três<br />

grandes eixos, temos essas 12 prioridades e criamos três condições<br />

bem-sucedidas para chegar àquelas prioridades, que<br />

são: o governo, o fi nanciamento e a capacitação. O Enabling<br />

Environment, (do inglês, o ambiente facilitador) como nós<br />

o chamamos, percorre todas as prioridades propostas, e faz<br />

que a diferença deste fórum seja, a que estamos procurando<br />

metas para cada uma destas prioridades e que, uma vez estabelecidas<br />

as metas, os mesmos participantes proponham<br />

soluções que possam fazer viável o processo. Essa é a ideia,<br />

essa é a diferença em relação aos outros fóruns.<br />

‘‘ inteligentes, efi cientes e efi cazes, e enquanto não<br />

tenhamos estas duas coisas muito claras, não vamos<br />

resolver o problema da água e do saneamento.<br />

Durante um grande período da sua vida, Benedito Braga dedicou-se a impulsionar o tema da<br />

água e do saneamento na agenda das prioridades, tanto em seu país, Brasil, como em nível<br />

mundial. Isto o levou a desempenhar uma variedade de cargos internacionais, para se converter<br />

em propulsor do tema.<br />

• Vice-presidente do Conselho Mundial da Água.<br />

• Responsável pela organização dos Fóruns Mundiais da Água em Haia, Kioto e México.<br />

• Presidente do 6º. Fórum Mundial da Água 2012 em Marselha, na França.<br />

• Diretor da Agência Nacional das Águas do Brasil (ANA).<br />

• Presidente do Programa Hidrológico Internacional (PHI) da UNESCO.<br />

• Professor de Engenharia Civil e Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Brasil.<br />

• Autor de mais de 200 artigos técnico-científi cos, 25 livros e capítulos de livros sobre a gestão dos<br />

recursos hídricos.<br />

• Recebeu o Prêmio da Associação Internacional de Recursos Hídricos em Madri no ano de 2002, em<br />

reconhecimento às contribuições técnicas e científi cas para o avanço da gestão de recursos hídricos<br />

de caráter global.<br />

• Membro do Conselho Editorial da Revista Aqua Vitae.<br />

‘‘precisamos de recursos de fi nanciamento que sejam


CULTURA<br />

www.projetohydros.com<br />

Há urgência em realizarmos ações concretas<br />

e cotidianas para preservar a água do planeta.<br />

SOBRE O<br />

PROJETO HYDROS<br />

A Fundação Kaluz, o Grupo Empresarial Kaluz<br />

e seus grupos empresariais: Mexichem, Elementia,<br />

Bx+ e Mexvi, durante os últimos quatro<br />

anos, publicaram a série de livros de fotografia<br />

Hydros - em quatro volumes-, concebida para<br />

ser um canal de conscientização que chegou a<br />

líderes nacionais, regionais e mundiais. Convencidos<br />

da transcendência do conteúdo já gerado<br />

nesta série editorial, foi criado o Projeto Hydros,<br />

a fim de massificar esta mensagem em todos<br />

os cantos da América Latina e do mundo. Para<br />

isso, criaram o hotsite www.projetohydros.com,<br />

onde estão disponíveis fotografias, campanhas<br />

publicitárias, sequências para exposições itinerantes,<br />

material pedagógico para jovens e um<br />

vídeo como principal produto de comunicação<br />

da iniciativa. Todo esse material está disponível<br />

para download no hotsite, em espanhol, inglês<br />

e/ou português, para uso livre e gratuito. Por<br />

isso, foram criados em diferentes formatos e tamanhos<br />

com o objetivo de facilitar a difusão.<br />

Para maiores informações entre em contato pelo e-mail:<br />

aquavitae@mexichem.com


‘‘<br />

Como criadora, é sempre estimulante participar de propostas em que há<br />

diferentes pontos de vista sobre um assunto, neste caso, a diversidade de<br />

perspectivas em relação ao tema ‘água’, tão cotidiano e tão enigmático. Foi muito<br />

gratifi cante ver meu trabalho no meio de todas essas maneiras de enfocar e<br />

entender a importância real do assunto, o que me transformou numa pessoa<br />

muito mais sensível e crítica em relação ao meu entorno.<br />

.<br />

O<br />

Projeto Hydros tenta mostrar o vínculo entre o<br />

planeta e o ser humano em relação à água, do<br />

qual ainda não estamos conscientes. Levantamos<br />

a questão: “Como me relaciono com a água?”.<br />

Não sabemos. Está na hora de percebermos tudo o que fazemos<br />

com ela na construção da realidade de uma pessoa, de<br />

uma cidade, de um negócio ou de um país, e como cada uma<br />

dessas ações afeta o presente, o hoje, o agora.<br />

62<br />

AQUA VITAE<br />

PRODUTOS DE COMUNICÃO<br />

www.projetohydros.com<br />

Sussy Vargas, Costa Rica.<br />

Com este objetivo, a iniciativa cria um espaço virtual, o hotsite<br />

www.projetohydros.com, que disponibiliza fotografi as,<br />

campanhas publicitárias, sequências para exposições itinerantes,<br />

material pedagógico para crianças e um vídeo como<br />

seu principal produto de comunicação. Todos os que entram<br />

em contato com o Projeto Hydros se transformam em “Embaixadores<br />

da Água”, através dos produtos de comunicação<br />

disponíveis neste hotsite.<br />

‘‘


‘‘<br />

Graças ao Hydros, eu consegui capturar a vida através de uma ótica nunca<br />

imaginada. Desde que comecei a estudar fotografi a, quis sempre colocar a<br />

minha maneira de captar a realidade para melhorar condições de vida, realizar<br />

mudanças sociais signifi cativas e preservar algo que o mundo está pedindo<br />

desesperadamente: uma memória coletiva. Acredito que neste projeto eu<br />

consegui tudo isso junto.<br />

VíDEO: A ÁGUA EM NÓS<br />

O vídeo Hydros é a principal ferramenta de conscientização<br />

do projeto, sobre a verdadeira relação que temos com a<br />

água. As possibilidades são variadas: publique no seu mural<br />

do Facebook ou faça o download para compartilhá-lo posteriormente<br />

no seu ambiente de trabalho, com sua família e<br />

amigos. A resolução do vídeo também permite sua transmissão<br />

em televisão aberta. Crie infi nitas possibilidades!<br />

Compartilhe este vídeo e use-o para fazer parte dessa mudança!<br />

‘‘<br />

Sergio Rodríguez, Colômbia.<br />

AQUA VITAE 63


‘‘<br />

Acredito que a fotografi a é capaz de proporcionar uma comunicação efi ciente por<br />

meio de seu efeito do real. Mas é, sobretudo, capaz de provocar refl exões sobre<br />

novas formas de olhar o que sempre vemos. A fotografi a pode elevar o banal<br />

ao singular, o conhecido ao desconhecido, o que é, neste momento da história,<br />

imprescindível para que haja cada vez mais pessoas engajadas com o tema da água.<br />

Compartilhar esse novo entendimento e fazer uma pequena contribuição para<br />

64<br />

disseminar essa consciência, para o bem do planeta e a continuidade da vida,<br />

IMAGENS DA GALERIA<br />

Uma fotografi a pode dizer muitas coisas. No hotsite do projeto,<br />

você poderá escolher entre mais de 200 fotografi as<br />

de artistas latino-americanos e europeus que dão apoio ao<br />

desafi o de ser um embaixador da água. São imagens que<br />

mostram esse vínculo inconsciente do ser humano com o líquido<br />

da vida. Não há problemas com o tamanho do arquivo<br />

da foto, pois há a opção de compartilhá-la ou baixá-la em<br />

tamanho pequeno, médio ou, até mesmo, em alta resolução<br />

para que se possa imprimir em papel fotográfi co. Escolha<br />

uma ou várias fotos e conscientize também através da arte.<br />

AQUA VITAE<br />

foi um prazer e um privilégio.<br />

Patrícia Gatto, Brasil.<br />

EXPOSIÇÕES<br />

É tempo de agir e, por isso, é nosso dever massifi car esta<br />

mensagem. Então, criamos diferentes versões de exposições<br />

de fotografi as para que possam fi car expostas em qualquer<br />

tipo de espaço público, tais como escolas, estações do metrô,<br />

pontos de ônibus, centros comunitários, postos de saúde,<br />

parques, museus e lojas. Sabemos que as possibilidades são<br />

muito diferentes, por isso, você pode escolher entre exposições<br />

com apenas oito ou com até 26 imagens, disponíveis<br />

em arquivos PDF, com a qualidade de impressão necessária<br />

para que a exposição seja impressionante. Pense grande, exponha<br />

esta mensagem e faça parte desta corrente do bem.<br />

‘‘


‘‘<br />

A iniciativa Hydros me deu a oportunidade de sair da inércia,<br />

fazendo com que eu deixasse de ser espectadora. Hoje posso fazer parte<br />

da mudança, através da fotografi a: uma foto não é o resultado de uma<br />

ocorrência, mas, sim, do conhecimento, que passa a ser o fi ltro interior<br />

do fotógrafo, que tem sua própria alma e sua própria energia, sem deixar<br />

de fazer parte de um universo.<br />

TEXTOS EDUCATIVOS<br />

Crianças e adolescentes precisam receber esta mensagem. É<br />

importantíssimo! Eles são indispensáveis para que possamos<br />

realmente criar uma nova forma de relacionamento com<br />

a água. Pense nos grupos de crianças e jovens aos quais<br />

essa mensagem pode ser levada. Pense nas escolas em que<br />

podem ser aplicadas atividades lúdicas com o conteúdo de<br />

todo este projeto. Criamos duas opções: um manual com<br />

atividades para todo o ano letivo e outro com atividades<br />

que podem ser implementadas antes, durante e depois da<br />

exibição do vídeo, das exposições e de outros materiais. Seja<br />

um embaixador da água de verdade, para crianças e adolescentes,<br />

e escolha algumas escolas ou grupos que possam ser<br />

conscientizados graças à sua participação.<br />

Carmen Abdo, Costa Rica/Brasil.<br />

CARTAZES E ADESIVOS<br />

Cada um de nós, embaixadores da água, podemos também<br />

intervir em nossos espaços cotidianos, como o escritório, o<br />

carro, as portas e os espelhos de qualquer um de nossos ambientes<br />

e, até mesmo, em nossa própria casa. Para isso, projetamos<br />

uma campanha publicitária composta por cartazes,<br />

adesivos, banners, móbiles, jogos americanos, entre outros,<br />

que você pode pegar individualmente ou em conjunto. Você<br />

tem a opção de usar uma única peça ou montar seu próprio<br />

kit. O importante é não se acanhar para levar a conscientização<br />

ao dia a dia de todos.<br />

‘‘<br />

AQUA VITAE 65


SITES DE INTERESSE<br />

www.worldwaterforum6.org<br />

SEXTO FÓRUM MUNDIAL DA ÁGUA<br />

Na página oficial do Sexto Fórum Mundial<br />

da Água 2012, a ser realizado na cidade<br />

francesa de Marselha, é possível encontrar<br />

tudo sobre a organização, os temas,<br />

as comissões e todos os documentos oficiais<br />

relativos ao slogan do evento: “O<br />

Tempo das Soluções”, organizado em<br />

doze prioridades e três condições a fim<br />

de que se cumpram compromissos que<br />

governos, a sociedade, setores financeiros<br />

e especialistas debateram em torno<br />

das questões do setor hídrico, do acesso<br />

à água por todos, dos impactos das mudanças<br />

climáticas e da segurança alimentar.<br />

O Sexto Fórum Mundial da Água é<br />

tido como a maior reunião de líderes do<br />

setor água e saneamento básico, e é realizado<br />

a cada três anos, desde 1997.<br />

www.h2ouse.org<br />

H2OUSE<br />

Interessante site desenvolvido pelo<br />

Departamento de Recursos Hídricos<br />

Urbanos do Conselho de Conservação<br />

da Califórnia, graças a um acordo de<br />

cooperação com a Agência de Proteção<br />

Ambiental dos Estados Unidos. O<br />

Conselho reúne 315 empresas de abastecimento<br />

de água urbana, organismos<br />

públicos de defesa do consumidor e<br />

outros interessados em melhorar o abastecimento<br />

de água e a conservação dos<br />

recursos hídricos da Califórnia. O site instrui<br />

o usuário e apresenta conselhos para<br />

medir o consumo de água em suas diversas<br />

atividades. Foi criado para ser uma<br />

enciclopédia virtual, destinada a orientar<br />

a manipulação racional e sustentável dos<br />

recursos hídricos em nossas casas.<br />

64<br />

AquA VitAe<br />

www.webradioagua.org.br<br />

RADIO ÁGUA - BRASIL<br />

Plataforma que usa técnicas de ensino interativo,<br />

valendo-se da metodologia de<br />

mediação e aprendizagem colaborativa.<br />

Tem como meta contribuir para melhorar<br />

os processos de comunicação e promoção<br />

do conhecimento sobre o assunto<br />

água. Através de co-produções e publicações<br />

em áudio, o portal combina esforços<br />

para gerenciar o conhecimento<br />

educativo interativo e informações<br />

técnico-científicas, a fim de estimular na<br />

sociedade civil a construção de uma<br />

cidadania ativa, promotora da sustentabilidade<br />

dos recursos hídricos na bacia<br />

do rio Paraná. Divulga também materiais<br />

para a proteção de bacias na América<br />

Latina e no Caribe. A Rádio Água é um<br />

projeto do Centro Internacional de Hidroinformática<br />

(CIH).<br />

www.water.europa.eu<br />

WATER INFORMATION<br />

SYSTEM FOR EUROPE<br />

Associação criada pela Comissão Européia<br />

do Meio Ambiente, pelo Centro<br />

Comunitário de Pesquisa e pelo Eurostat,<br />

que se reúnem para trabalhar no<br />

desenvolvimento e na aplicação de<br />

uma política de água. Essa sociedade<br />

tripartida será o marco de referência<br />

de instituições da União Europeia,<br />

assim como de autoridades locais, regionais<br />

e nacionais quando o assunto<br />

for água. Ela disponibiliza informações,<br />

dados e pesquisas a profissionais que<br />

trabalham no setor hídrico, embora<br />

também transmita informações ao público<br />

em geral. Neste portal, é possível<br />

encontrar informações agrupadas<br />

em seções sobre legislações de água,<br />

dados e indicadores, assim como projetos<br />

de pesquisa e relações de links<br />

de projetos europeus sobre o assunto.<br />

www.cenca.imta.mx<br />

CENTRO DE CONHECIMENTO<br />

DA ÁGUA DO MÉXICO<br />

Centro especializado em informações<br />

relativas ao setor hídrico do México e<br />

do mundo. Tem como objetivo atender<br />

às demandas de informações científicas<br />

e tecnológicas dos profissionais dos setores<br />

de água e meio ambiente. Além<br />

disso, se propõe a difundir o conhecimento<br />

sobre o assunto ao público em<br />

geral, através da prestação de serviços<br />

bibliotecários, divulgação de conhecimentos<br />

tecnológicos e assessoria em<br />

projetos e desenvolvimento de unidades<br />

e sistemas de informação. Conta<br />

com três linhas de serviços: os tradicionais,<br />

relacionados à consulta e empréstimo<br />

de material documental dos<br />

acervos de livros e periódicos; os de<br />

assessoria, para a criação e implantação<br />

de serviços de informação tecnológica<br />

através de comunicados periódicos; e,<br />

por fim, os serviços especializados a<br />

pedido dos interessados em ter acesso<br />

aos materiais.<br />

www.iwha.ewu.edu<br />

ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL<br />

DE HISTÓRIA DA ÁGUA<br />

Fundada em agosto de 2001, esta Associação<br />

reúne um grande número de<br />

historiadores da água e de outros ramos<br />

interessados no assunto, além de responsáveis<br />

políticos com interesse na história<br />

do recurso hídrico. Estes intelectuais<br />

vêm de uma ampla gama de disciplinas<br />

acadêmicas e de instituições públicas<br />

e privadas. Agrupados, compartilham<br />

ideias e experiências que poderiam elucidar<br />

os complexos processos de formação<br />

de usos dos recursos hídricos, junto<br />

com suas contingências e precedentes<br />

históricos. Entre seus objetivos, é possível<br />

destacar o estímulo, a promoção e<br />

o fomento da compreensão histórica e<br />

a pesquisa da relação entre a água e o<br />

ser humano; o estímulo de um vínculo<br />

mais forte entre engenheiros, cientistas,<br />

planejadores e outros profissionais; a<br />

promoção da consciência pública sobre<br />

o papel da água na história mundial e a<br />

da participação cidadã na solução dos<br />

problemas relacionados ao uso dos recursos<br />

hídricos.


É preciso despertarmos a consciência de um novo<br />

cotidiano, tanto individual quanto coletivo, que restaure<br />

nossa relação milenar com o planeta. É preciso alinhar<br />

nossas intenções, mentes e consciências com hábitos,<br />

estilos de vida e modos de produção de consumo<br />

renovados, para desfrutarmos de uma nova intimidade<br />

com a água e avançarmos no caminho da prosperidade<br />

e do futuro comum da humanidade.<br />

Hydros IV – Cotidiano


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