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MATEUS

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INTRODUÇÃO<br />

O EVANGELHO SEGUNDO<br />

<strong>MATEUS</strong><br />

Autoria<br />

Desde o segundo século da era cristã, a tradição da Igreja atribui ao apóstolo Mateus a autoria do<br />

Evangelho que aparece em primeiro lugar nas várias edições da Bíblia (Mt 9.9 e 10.3).<br />

Eusébio, em sua obra História Eclesiástica, no início do século IV, já trazia citações de Papias, bispo<br />

do século II, de Irineu, bispo de Leão e de Orígenes, grande pensador cristão do século III. Todos os<br />

“pais da Igreja” (como ficaram conhecidos os notáveis discípulos de Cristo e teólogos dos primeiros<br />

séculos), concordam em afirmar que este Evangelho foi escrito (ou narrado a um amanuense, pessoa<br />

habilidosa com a escrita), primeiramente em aramaico (hebraico falado por Cristo e pelos jovens<br />

judeus palestinos de sua época) e depois, traduzido para o grego. Apesar das muitas evidências<br />

sobre a existência do original em aramaico, todas as buscas e pesquisas arqueológicas somente encontraram<br />

fragmentos e cópias em grego. Entretanto, os principais estudiosos e teólogos do mundo<br />

não duvidam que o texto grego que dispomos hoje em dia é o mesmo que circulou entre as igrejas<br />

a partir da segunda metade do século I d.C.<br />

Ainda que não apresentando explicitamente o nome do autor, o Evangelho Segundo Mateus,<br />

fornece pelo menos uma grande evidência interna que confirma sua autoria defendida pelos pais da<br />

Igreja. A história da narrativa de um banquete ao qual Jesus compareceu em companhia de grande<br />

número de publicanos e pecadores (pagãos e judeus que não guardavam a Lei e as determinações<br />

dos líderes religiosos da época) é descrita na passagem que começa com as seguintes palavras em<br />

grego original transliterado: kai egeneto autou anakeimeou em te(i) oikia(i). Ou seja: “E aconteceu<br />

que, estando Jesus em casa,...” (Mt 9.10). Considerando que os últimos três vocábulos significam<br />

“em casa”, o trecho sugere que o banquete fosse oferecido “na casa” de Jesus. Contudo, a<br />

passagem paralela em Mc 2.15 revela que essa festa aconteceu “na casa” de Levi, isto é, Mateus<br />

Levi. O texto em Marcos aparece assim transliterado: en te(i) oikia(i) autou, “na casa dele”. O sentido<br />

alternativo de Mt 9.10 esclarece que “em casa” quer dizer “na minha casa”, ou seja, “na casa” do<br />

autor, e isto concorda perfeitamente com Marcos e com os fatos apresentados em todos os Quatro<br />

Evangelhos.<br />

Mateus, que tinha por sobrenome Levi (Mc 2.14), e cujo nome significa “dádiva do Senhor”, era um<br />

cobrador de impostos a serviço de Roma, mas que abandonou uma vida de avareza e desonestidade<br />

para seguir Jesus, o Messias (Mt 9.9-13). Em Marcos e Lucas é chamado por seu outro nome, Levi.<br />

Propósitos<br />

O principal objetivo do Evangelho Segundo Mateus é relatar seu testemunho pessoal sobre o fato de<br />

Jesus Cristo ser o Messias prometido no Antigo Testamento, cuja missão messiânica era trazer o Reino<br />

de Deus até a humanidade. Esses dois grandes temas: o caráter messiânico de Jesus e a presença<br />

do Reino de Deus são indissociáveis e devem ser analisados sempre como um todo harmônico. Cada<br />

qual representa um “mistério” – uma nova revelação do plano remidor de Deus (Rm 16.25-26).<br />

Antes do grande evento da vinda do Messias, como o Filho de Deus (também chamado no AT e<br />

pelo próprio Jesus de “o Filho do homem”), em triunfo e grande glória entre as nuvens do céu, a fim<br />

de estabelecer Seu Reino sobre o planeta todo, terá em primeiro lugar, de vir sob a mais absoluta<br />

humildade entre os homens na qualidade de Servo Sofredor, cônscio de que sua missão será dedicar<br />

a própria vida em sacrifício voluntário a favor da humanidade, especialmente dos que, crendo em<br />

Seu Nome, se arrependerem dos seus pecados, nascendo para uma nova vida (Jo 1.12; 3.16). Esse<br />

é o mistério da missão messiânica. Era um ensino completamente desconhecido para os judeus<br />

do primeiro século da nossa era. Hoje, a maior parte dos cristãos que lêem o capítulo 53 de Isaías<br />

não sentem qualquer dificuldade em identificar a pessoa de Jesus Cristo com o Messias prometido.<br />

Entretanto, os judeus não observaram com cuidado a descrição do Servo Sofredor e deram mais<br />

atenção às promessas de um Messias que viria com grande poder e glória, o que realmente está<br />

registrado no contexto dessa passagem (Is 48.20; 49.3).<br />

Por esse motivo, os judeus do primeiro século esperavam ansiosamente pelo Filho de Davi, um Rei<br />

divino (uma vez que os reis humanos já haviam provado sua incompetência e limitação). O Filho de<br />

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Deus e Rei governará o Reino messiânico (Is 9 e 11 com Jr 33). Nesse Dia, todo pecado e mal serão<br />

extirpados da terra; e a paz e a justiça prevalecerão. O Filho do homem é um ser celestial a Quem<br />

está entregue o governo de todas as nações e reinos da terra.<br />

O mistério do Reino é semelhante e está intimamente ligado ao mistério messiânico. No segundo<br />

capítulo do livro do profeta Daniel temos a descrição da vinda do Reino de Deus em pinceladas<br />

vigorosas e impressionantes. Todo poder que fizer resistência à vontade do Senhor será aniquilado.<br />

O Reino virá todo, completo, de uma só vez, varrendo da sua frente todas as hostes do mal e todo<br />

império contrário a Jesus Cristo. A terra será toda transformada e uma nova ordem, universal e<br />

perfeita será instaurada.<br />

Portanto, tanto a mensagem de Cristo como a Sua pessoa foram totalmente incompreendidas<br />

pelos Seus compatriotas e contemporâneos em geral, incluindo os próprios discípulos. Todavia, a<br />

nova revelação sobre o propósito de Deus é que o Reino deveria vir em humildade e doação: poder<br />

espiritual, antes de vir em plena glória triunfante.<br />

Mateus deixa claro que deseja apresentar, em ordem histórica, o nascimento, ministério, paixão e<br />

ressurreição de Jesus Cristo. Para tanto, ele reúne os fatos em cinco grandes discursos proferidos<br />

pelo Senhor: o chamado, Sermão da Montanha (Mt 5.1 a 7.27); a comissão aos apóstolos (Mt 10.5-<br />

42); as parábolas (Mt 13.1-53); o ensino sobre humildade e perdão (Mt 18.1-35), e a palavra profética<br />

(Mt 24.1 a 25.46). Mateus cita várias passagens e profecias extraídas do Antigo Testamento e, de<br />

fato, interpreta essas profecias como tendo absoluto e certeiro cumprimento em Jesus Cristo; tudo<br />

é escrito e ensinado de um modo que seria para o judeu do século I prova irrefutável, a qual a Igreja<br />

cristã adota até nossos dias.<br />

Data da primeira publicação<br />

Embora alguns estudiosos considerem a forte possibilidade de o Evangelho Segundo Mateus ter<br />

sido escrito na Antioquia da Síria, as evidentes características judaicas do texto original apontam sua<br />

geração para alguma parte da antiga Palestina.<br />

Considerando o fato de a terrível destruição de Jerusalém, ocorrida por volta do ano 70 d.C., ser<br />

ainda considerada um acontecimento futuro (Mt 24.2), e que Mateus, assim como Lucas, terem sido<br />

beneficiados pela leitura dos escritos de Marcos, podemos entender que as primeiras cópias do livro<br />

de Mateus circularam entre os irmãos da recém igreja cristã (chamada de igreja primitiva), quando a<br />

Igreja era em grande parte judaica e o Evangelho pregado quase que exclusivamente aos judeus (At<br />

11.19), por volta dos anos 50 e 60 da nossa era.<br />

Esboço Geral de Mateus<br />

1. Nascimento e infância do Cristo, o Messias (caps. 1,2)<br />

A. A genealogia de Jesus (1.1-17).<br />

B. O anúncio do seu nascimento (1.18 – 25)<br />

C. A adoração ao bebê, filho do Homem, o Salvador (2.1-12)<br />

D. A permanência de Jesus no Egito (2.13-23)<br />

2. Prelúdio do ministério de Jesus Cristo (caps. 3.1 – 4.25)<br />

A. João Batista e seu ministério preparatório para Jesus (3.1-12)<br />

B. O batismo de Jesus Cristo (3.13-17)<br />

C. A grande tentação de Jesus (4.1-11)<br />

D. A investidura do Senhor (4.12-25)<br />

3. O ensino do Rei Jesus Cristo (caps. 5.1 – 7.29)<br />

A. A proposta da Vida no Reino (5.1-16)<br />

B. Os princípios espirituais para se viver no Reino (5.17-48)<br />

C. A Torá e a Lei de Moisés (5.17-20)<br />

D. A lei sobre o assassinato (5.21, 22)<br />

E. A lei sobre o adultério (5.27-30)<br />

F. A lei sobre o divórcio (5.31, 32)<br />

G. A lei sobre os votos (5.33-37)<br />

H. A lei da não resistência (5.38-42)<br />

I. A lei do amor (5.43-48)<br />

4. Aspectos práticos da vida no Reino (caps. 6.1 – 7.12)<br />

A. Sobre as esmolas e ajudas (6.1-4)<br />

B. Sobre a oração (6.5-15)<br />

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C. Sobre a disciplina espiritual do jejum (6.16-18)<br />

D. Sobre o dinheiro (6.19-24)<br />

E. Sobre a ansiedade e preocupações (6.25-34)<br />

F. Sobre o Juízo (7.1-5)<br />

G. Sobre a prudência (7.6)<br />

H. Sobre a oração (7.7-11)<br />

I. Sobre o trato com outras pessoas (7.12)<br />

J. Sobre o caminho estreito do Reino (7.13-29)<br />

5. Demonstrações da soberania de Jesus (caps. 8.1 – 9.38)<br />

A. Poder sobre a impureza (8.1-4)<br />

B. Poder sobre a distância (8.5-13)<br />

C. Poder sobre as enfermidades (8.14-17)<br />

D. Poder sobre os discípulos (8.18-22)<br />

E. Poder sobre a natureza (8.23-27)<br />

F. Poder para perdoar pecados (9.1-13)<br />

G. Poder sobre a lei e as doutrinas (9.14-17)<br />

H. Poder sobre a morte (9.18-26)<br />

I. Poder sobre as trevas (9.27-31)<br />

J. Poder sobre os demônios (9.32-34)<br />

K. Poder sobre doenças da alma e do corpo (9.35-38)<br />

6. A grande missão do Rei Jesus (10.1 – 16.12)<br />

A. A missão é anunciada (10.1 – 11.1)<br />

B. A missão é comprovada (11.2 – 12.50)<br />

C. O consolo aos discípulos de João (11.2-19)<br />

D. A condenação das cidades infiéis (11.20-24)<br />

E. A convocação dos discípulos para Si (11.25-30)<br />

F. As controvérsias sobre o uso do sábado (12.1-13)<br />

G. O pecado imperdoável da incredulidade (12.14-37)<br />

H. Alguns sinais extraordinários (12.38-45)<br />

I. Relacionamentos transformados (12.46-50)<br />

7. A missão tem seu objetivo ampliado (13.1-52)<br />

A. A parábola do semeador (13.1-23)<br />

B. A parábola do trigo e o joio (13.24-30)<br />

C. A parábola do grão de mostarda (13.31, 32)<br />

D. A parábola do fermento (13.33)<br />

E. A parábola do trigo e do joio é explicada (13.34-43)<br />

F. A parábola do tesouro escondido (13.44)<br />

G. A parábola da pérola de grande valor (13.45, 46)<br />

H. A parábola da rede (13.47-50)<br />

I. A parábola do pai de família (13.51, 52)<br />

8. A missão sofre fortes ataques (caps. 13.53 – 16.12)<br />

A. Pelos conterrâneos do Rei (13.53-58)<br />

B. Por Herodes – seguido de milagres (14.1-36)<br />

C. Pelos escribas e fariseus – seguido de milagres (15.1-39)<br />

D. Pelos fariseus e saduceus (16.1-12)<br />

9. A teologia prática de Jesus, o Messias (caps.16.13 – 20.28)<br />

A. Quanto à Sua Igreja (16.13-20)<br />

B. Quanto à Sua morte (16.21-28)<br />

C. Quanto à Sua glória (17.1-21)<br />

D. Quanto à Sua traição (17.22, 23)<br />

E. Quanto a impostos (17.24-27)<br />

F. Quanto à humildade (18.1-35)<br />

G. Alimentar uma fé pura e simples (18.1-6)<br />

H. Sincera preocupação com os perdidos (18.7-14)<br />

I. Disciplina e restauração entre os crentes (18.15-20)<br />

J. Disposição para perdoar tudo e sempre (18.21-35)<br />

K. Quanto aos dramas humanos (19.1-26)<br />

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L. Problemas físicos (19.1, 2)<br />

M. Divórcio e novo casamento (19.3-12)<br />

N. Quanto às crianças e os pequenos na fé (19.13-15)<br />

O. Quanto ao acúmulo de riquezas (19.16-26)<br />

P. Quanto ao Reino (caps.19.27 – 20.28)<br />

Q. Recompensas no Reino (19.27-30)<br />

R. Reconhecimento no Reino (20.1-16)<br />

S. Graduação e promoções no Reino (20.17-28)<br />

10. A proclamação do Rei Jesus (caps. 20.29 – 23.39)<br />

A. O poder do Rei Jesus (20.29-34)<br />

B. A aclamação do Rei Jesus (21.1-11)<br />

C. A purificação realizada pelo Rei Jesus (21.12-17)<br />

D. A maldição da figueira (21.18-22)<br />

E. O desafio ao Rei Jesus (21.23-27)<br />

F. As parábolas do Rei Jesus (21.28 – 22.14)<br />

G. Quanto à rebeldia de Israel (21.28-32)<br />

H. A retribuição a Israel (21.33-46)<br />

I. A rejeição de Israel (22.1-14)<br />

J. Os pronunciamentos do Rei Jesus (caps. 22.15 – 23.39)<br />

K. Em resposta aos herodianos (22.15-22)<br />

L. Em resposta aos saduceus (22.23-33)<br />

M. Em resposta aos fariseus (22.34-40)<br />

N. Questionando os fariseus (22.41-46)<br />

O. Contra os doutores da lei e fariseus (23.1-36)<br />

P. Contra a cidade santa: Jerusalém (23.37-39)<br />

11. As terríveis profecias do Rei Jesus (caps. 24.1 – 25.46)<br />

A. A destruição do Templo (24.1, 2)<br />

B. As indagações dos discípulos (24.3)<br />

C. Os grandes sinais sobre o final dos tempos (24.4-28)<br />

D. O sinal do glorioso retorno de Jesus (24.29-31)<br />

E. Parábolas ilustrando as profecias (24.32 – 25.46)<br />

F. A figueira (24.32-35)<br />

G. Os dias de Noé (24.36-39)<br />

H. Os companheiros (24.40, 41)<br />

I. O pai de família atento (24.42-44)<br />

J. O servo leal (24.45-51)<br />

K. As dez virgens (25.1-13)<br />

L. Os talentos (25.14-30)<br />

M. O grande julgamento dos gentios (25.31-46)<br />

12. O sacrifício do Rei Jesus por nossa Salvação (caps. 26.1 – 27.66)<br />

A. A preparação da Paixão (26.1-16)<br />

B. A Páscoa da Paixão (26.17-30)<br />

C. A traição predita (26.31-56)<br />

D. Os interrogatórios e julgamentos (26.57 – 27.26)<br />

E. Diante do sumo sacerdote (26.57-75)<br />

F. Perante o Sinédrio (27.1-10)<br />

G. Respondendo a Pilatos (27.11-26)<br />

H. A crucificação (27.27-66)<br />

I. Martírio e humilhação (27.27-44)<br />

J. Jesus entrega sua vida (27.45-56)<br />

K. O sepultamento (27.57-66)<br />

13. A ressurreição e a comissão do Rei Jesus (28.1-20)<br />

A. O triunfo de Jesus sobre a morte (28.1-10)<br />

B. A conspiração alegada (28.11-15)<br />

C. A grande comissão dos discípulos (28.16-20)<br />

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A linhagem real de Cristo<br />

(Lc 13.23-28)<br />

Livro da genealogia de Jesus Cristo,<br />

Filho de Davi, Filho de Abraão:<br />

2 Abraão gerou Isaque, Isaque gerou Jacó,<br />

Jacó gerou Judá e seus irmãos,<br />

3 Judá gerou Perez e Zera, de Tamar; Perez<br />

gerou Esrom; Esrom gerou Arão.<br />

4 Arão gerou Aminadabe; Aminadabe gerou<br />

Naassom; Naassom gerou Salmom,<br />

5 Salmom gerou Boaz, de Raabe, e Boaz gerou<br />

Obede, de Rute; Obede gerou a Jessé.<br />

6 Jessé gerou o rei Davi, e o rei Davi gerou<br />

a Salomão, daquela que foi mulher<br />

de Urias1 ;<br />

7 Salomão gerou Roboão; Roboão gerou<br />

Abias; Abias gerou Asa,<br />

8 Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão;<br />

Jorão gerou Uzias;<br />

9 Uzias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz;<br />

Acaz gerou Ezequias;<br />

10 Ezequias gerou Manassés; Manassés<br />

gerou Amom; Amom gerou Josias;<br />

11 Josias gerou Jeconias e a seus irmãos<br />

no tempo em que foram levados cativos<br />

para a Babilônia.<br />

12 Depois do exílio na Babilônia, Jeconias<br />

gerou Salatiel; Salatiel gerou<br />

Zorobabel;<br />

13 Zorobabel gerou Abiúde; Abiúde gerou<br />

Eliaquim, e Eliaquim gerou Azor;<br />

14 Azor gerou Sadoque; Sadoque gerou<br />

Aquim; Aquim gerou Eliúde,<br />

O EVANGELHO SEGUNDO<br />

<strong>MATEUS</strong><br />

15 Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerou<br />

Matã, Matã gerou Jacó;<br />

16 Jacó gerou José, marido de Maria, da qual<br />

nasceu JESUS, denominado o Cristo. 2<br />

17 Portanto, o total das gerações é: de<br />

Abraão até Davi, quatorze gerações; de<br />

Davi até o exílio na Babilônia, quatorze<br />

gerações; e do exílio na Babilônia até<br />

Cristo, quatorze gerações.<br />

A linhagem divina de Cristo<br />

(Lc 2.1-7)<br />

18 O nascimento de Jesus Cristo ocorreu<br />

da seguinte maneira: Estando Maria, sua<br />

mãe, prometida em casamento a José,<br />

antes que coabitassem, achou-se grávida<br />

pelo Espírito Santo.<br />

19 Então, José, seu esposo 3 , sendo um<br />

homem justo e não querendo expô-la à<br />

desonra pública, planejou deixá-la sem<br />

que ninguém soubesse a razão.<br />

20 Mas, enquanto meditava sobre isso,<br />

eis que, em sonho, lhe apareceu um anjo<br />

do SENHOR, dizendo: “José, filho de Davi,<br />

não temas receber a Maria como sua<br />

mulher, pois o que nela está gerado é do<br />

Espírito Santo.<br />

21 Ela dará à luz um filho, e lhe porás o<br />

nome de Jesus, porque Ele salvará o seu<br />

povo dos seus pecados”. 4<br />

22 Tudo isso aconteceu para que se cumprisse<br />

o que o SENHOR havia dito através<br />

do profeta:<br />

1 A expressão “daquela que foi mulher” não se encontra nos originais em grego; entretanto, desde 1611, a Bíblia King James<br />

traz, junto ao texto bíblico, essa explicação rabínica, cujo emprego passou a se observar na maioria das traduções e versões<br />

posteriores, em diversas línguas.<br />

2 A expressão grega christos é o adjetivo verbal semita, equivalente a Messias, que, em hebraico, significa “o Ungido”. No AT,<br />

essa forma designava o rei de Israel (o ungido do Senhor, como em 1 Sm 16.6), o sumo sacerdote (o sacerdote ungido – Lv 4.3).<br />

No plural, essa expressão se refere aos patriarcas em seu ministério de profetas (“meus ungidos” – Sl 105.15). Jesus cumpriu a<br />

profecia messiânica, desempenhando essas três funções.<br />

3 O noivado judaico da época era um compromisso tão solene, que os noivos passavam a se tratar como marido e mulher. A<br />

Lei, contudo, proibia qualquer relação sexual antes do casamento formal. O noivado só poderia ser desfeito por infidelidade, que<br />

era punida com repúdio público e apedrejamento (Gn 29.21; Dt 22.13-30; Os 2.2).<br />

4 Jesus (em hebraico Yehoshú’a) significa Yahweh Salva ou “O SENHOR é a Salvação”. Yahweh é o nome judaico impronunciável,<br />

sagrado e sublime de Deus, na maioria das vezes traduzido por: SENHOR. Em hebraico: (Êx 6.3; Is 41.4). Em grego Egô Eimi.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 1, 2<br />

23 “Eis que a virgem conceberá e dará à<br />

luz um filho, e Ele será chamado de Emanuel”,<br />

que significa “Deus conosco”. 5<br />

24 José, ao despertar do sonho, fez o que<br />

o Anjo do SENHOR lhe tinha ordenado e<br />

recebeu Maria como sua mulher.<br />

25 Contudo, não coabitou com ela enquanto<br />

ela não deu à luz o filho primogênito.<br />

E José lhe colocou o nome de Jesus.<br />

A visita dos sábios do Oriente<br />

2 Após o nascimento de Jesus em Belém<br />

da Judéia, nos dias do rei Herodes, eis<br />

que alguns sábios vindos do Oriente chegaram<br />

a Jerusalém. 1<br />

2 E, indagavam: “Onde está aquele que é<br />

nascido rei dos judeus? Pois do Oriente<br />

vimos a sua estrela e viemos adorá-lo”. 2<br />

3 Quando o rei Herodes ouviu isso, ficou<br />

perturbado e toda a Jerusalém com ele.<br />

4 Tendo reunido todos os príncipes<br />

dos sacerdotes e os escribas do povo,<br />

6<br />

perguntou-lhes onde havia de nascer<br />

o Cristo. 3<br />

5 E eles lhe responderam: “Em Belém da<br />

Judéia, pois assim escreveu o profeta: 4<br />

6 ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de<br />

modo algum és a menor entre as principais<br />

cidades de Judá; pois de ti sairá o<br />

Guia, que como pastor, conduzirá Israel,<br />

o meu povo’”. 5<br />

7 Então Herodes, chamando secretamente<br />

os sábios, interrogou-os exatamente<br />

acerca do tempo em que a estrela lhes<br />

aparecera.<br />

8 Mandou-os a Belém e disse: “Ide, e<br />

perguntai diligentemente pelo menino, e<br />

quando o achardes, comunicai-me, para<br />

que também eu vá e o adore”.<br />

9 Após terem ouvido o rei, seguiram<br />

o seu caminho, e a estrela que tinham<br />

visto no Oriente foi adiante deles, até<br />

que finalmente parou sobre o lugar onde<br />

estava o menino.<br />

5 Mateus demonstra de forma clara e inquestionável que Jesus Cristo é o Messias prometido nas diversas profecias do AT,<br />

como nesse texto de Is 7.14. (Mt 2.15-23; 8.17; 12.17; 13.25; 21.4; 26.54-56; 27.9; cf. 3.3; 11.10; 13.14, etc.) O próprio Jesus usa<br />

as Escrituras para comprovar sua identidade e ministério (Mt 11.4-6; Lc 4.21; 18.31; 24.44; Jo 5.39; 8.56; 17.12, etc.)<br />

Capítulo 2<br />

1 O primeiro calendário foi elaborado por Dionísio Exíguo, de Roma (no século VI) e adotado em todo o mundo predominantemente<br />

cristão. Com o surgimento de novas e mais precisas tecnologias para a medição do tempo, constatou-se que Dionísio<br />

errou em pelo menos 4 anos em relação ao mais antigo calendário romano.<br />

Herodes, chamado “O Grande”, recebeu, do Senado romano, o título de “rei da Judéia” e, por isso, ficou conhecido como “rei<br />

dos judeus”. Durante seu reinado (de 39 a.C. a 4 a.C.) mandou matar todas as crianças de Belém, de até 2 anos de idade. Nessa<br />

época Jesus estaria em seu segundo ano de vida. E os cálculos demonstram que teria nascido quase 5 anos antes do “Anno<br />

Domini” (ano oficial do nascimento do Senhor).<br />

Quanto à expressão “sábios”, como traduzida pela Bíblia King James, refere-se a um grupo de sacerdotes babilônios, gentios,<br />

reconhecidos entre os povos medo-persas como mestres, cientistas, astrônomos, e que se dedicavam ao estudo da medicina e<br />

da astrologia. Algumas versões trazem a expressão “magos”, mas em nossos dias essa palavra tem uma conotação estritamente<br />

mística e ocultista. A tradição das igrejas cristãs acrescenta que eles eram três reis, devido aos três presentes de alto valor monetário<br />

oferecidos a Jesus, mas isso não tem comprovação bíblica.<br />

2 Séculos mais tarde, o astrônomo Kepler calculou que essa imagem de estrela reluzente se tratava da conjunção de Júpiter e<br />

Saturno na constelação de Peixes, em 7 a.C. Na China, o mesmo fenômeno foi observado no ano 4 a.C. e interpretado como o<br />

aparecimento de uma estrela variável, com surgimento e desaparecimento periódicos.<br />

3 Herodes convoca os responsáveis pela vida religiosa e moral da nação judaica. Os sumos sacerdotes eram os membros das<br />

grandes famílias sacerdotais de Jerusalém. Os escribas geralmente pertenciam ao partido político dos fariseus; eram também<br />

doutores da Lei e estudantes profissionais, pagos para estudar e ensinar, ao povo, a Lei e as tradições rabínicas. Também funcionavam<br />

como advogados públicos, sendo-lhes confiada à administração da lei e da ordem, como juízes no Sinédrio (22.35).<br />

Esses dois grupos se unem contra Jesus, em 21.15. Mateus associa com mais freqüência os sumos sacerdotes aos anciãos do<br />

povo (26.3,47; 27.1). O sentido em ambos os casos é o mesmo: os principais responsáveis pelo drama de um povo são seus<br />

líderes e chefes.<br />

4 A palavra “profeta” deriva do grego “pro” que significa “para adiante” ou “à frente” e “phemi” que quer dizer “o que fala”.<br />

O profeta é aquele que traz a mensagem de Deus, o servo que anuncia prioritariamente, antes de tudo, a Palavra do Senhor.<br />

Esse ministério pode incluir a previsão de futuros eventos. Deus continua a falar através de seus profetas nas igrejas de hoje.<br />

Os arautos de Deus nos orientam e ensinam a ouvir o Espírito Santo e a obedecer à Palavra. Entretanto, a Bíblia também nos<br />

adverte quanto aos “falsos profetas”, pessoas que são lideradas por um espírito diferente do Espírito Santo e causam confusão à<br />

comunidade e grande dano a si próprios (Jr 7.4, Jr 14.14, Lm 2.4, Ez 13.6, Mt 7.15, Mt 24.11-24, 2Pe 2.1, Ap 19.20).<br />

5 Mq 5.2; Jo 7.42; Ap 2.27<br />

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10 E vendo eles a estrela, alegraram-se<br />

com grande e intenso júbilo.<br />

11 Ao entrarem na casa, encontraram o<br />

menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se<br />

o adoraram. Então abriram seus<br />

tesouros e lhe ofertaram presentes: ouro,<br />

incenso e mirra. 6<br />

12 E, sendo por divina revelação avisados<br />

em sonhos para que não voltassem para<br />

junto de Herodes, retornaram para a sua<br />

terra, por outro caminho.<br />

A fuga para o Egito<br />

13 Depois que partiram, eis que um anjo<br />

do SENHOR apareceu a José em sonho e<br />

lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e<br />

sua mãe, e foge para o Egito. Permanece<br />

lá até que eu te diga, pois Herodes há de<br />

procurar o menino para o matar”.<br />

14 José se levantou, tomou o menino e sua<br />

mãe, durante a noite, e partiu para o Egito.<br />

15 E esteve lá até a morte de Herodes. E<br />

assim se cumpriu o que o SENHOR tinha<br />

dito através do profeta: “Do Egito chamei<br />

o meu filho”. 7<br />

16 Quando Herodes percebeu que havia<br />

sido iludido pelos sábios, irou-se terrivelmente<br />

e mandou matar todos os<br />

meninos de dois anos para baixo, em<br />

Belém e em todas as circunvizinhanças,<br />

de acordo com as informações que havia<br />

obtido dos sábios.<br />

17 Então se cumpriu o que fora dito pelo<br />

profeta Jeremias:<br />

18 “Ouviu-se uma voz em Ramá, pranto<br />

e grande lamentação; é Raquel que chora<br />

por seus filhos e recusa ser consolada,<br />

pois já não existem”. 8<br />

7 <strong>MATEUS</strong> 2, 3<br />

O retorno para Israel<br />

19 Após a morte de Herodes, eis que um<br />

anjo do SENHOR apareceu em sonho a<br />

José, no Egito, e disse-lhe:<br />

20 “Dispõe-te, toma o menino e sua mãe,<br />

e vai para a terra de Israel; porque já<br />

estão mortos os que procuravam tirar a<br />

vida do menino”.<br />

21 Então, José se levantou, tomou o menino<br />

e sua mãe, e foi para a terra de Israel.<br />

22 Mas, ao ouvir que Arquelau estava<br />

reinando na Judéia, em lugar de seu pai<br />

Herodes, teve medo de ir para lá. Contudo,<br />

tendo sido avisado em sonho por<br />

divina revelação, seguiu para as regiões<br />

da Galiléia.<br />

23 Ao chegar, foi viver numa cidade<br />

chamada Nazaré. Cumpriu-se assim o<br />

que fora dito pelos profetas: “Ele será<br />

chamado Nazareno”. 9<br />

João Batista prepara o caminho<br />

3<br />

(Mc 1.2-8; Lc 3.1-18; Jo 1.6-8,19-36)<br />

Naqueles dias surgiu João Batista pregando<br />

no deserto da Judéia; e dizia:<br />

2 “Arrependei-vos, porque o Reino dos<br />

céus está próximo”. 1<br />

3 Este é aquele que foi anunciado pelo<br />

profeta Isaías: “Voz do que clama no<br />

deserto: Preparai o caminho do SENHOR,<br />

endireitai as suas veredas”.<br />

4 João tinha suas roupas feitas de pêlos<br />

de camelo e usava um cinto de couro na<br />

cintura. Alimentava-se com gafanhotos e<br />

mel silvestre.<br />

5 A ele vinha gente de Jerusalém, de toda<br />

a Judéia e de toda a província adjacente<br />

ao Jordão.<br />

6 Sl 72.10-11; Is 60.6<br />

7 Os 11.1<br />

8 Jr 31.15<br />

9 A expressão hebraica traduzida por “nazareno” significa: desprezível ou desprezado. Nazaré era o lugar mais improvável para<br />

o surgimento ou a residência do Messias, o Ungido de Deus e libertador do povo de Israel (Sl 22.6; Is 11.1; Is 53.3; Mc 1.24).<br />

Capítulo 3<br />

1 João começa seu ministério no deserto da Judéia, uma região árida e estéril, ao longo da margem ocidental do mar Morto.<br />

O Reino dos céus sinaliza o domínio do céu e dos seus valores sobre a terra e o sistema econômico, político, social e religioso<br />

mundial. O povo judeu da época de Cristo esperava esse Reino messiânico (ou davídico) e seu estabelecimento. Foi exatamente<br />

esse o Reino que João anunciou como “próximo”. A rejeição de Cristo pelo povo adiou sua plena concretização até a segunda e<br />

iminente vinda de Cristo (Mt 25.31). O caráter atual do Reino está descrito na série de parábolas (histórias com objetivo didático)<br />

contadas por Jesus em Mt 13.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 3, 4<br />

6 Confessando os seus pecados, eram<br />

batizados por João no rio Jordão.<br />

7 E, vendo ele muitos dos fariseus e dos<br />

saduceus que vinham ao seu batismo,<br />

dizia-lhes: “Raça de víboras, quem vos<br />

ensinou a fugir da ira futura? 2<br />

8 Produzi, sim, frutos que mostrem vosso<br />

arrependimento!<br />

9 Não presumais de vós mesmos, dizendo:<br />

‘Temos por pai a Abraão’; porque eu<br />

vos digo que mesmo destas pedras Deus<br />

pode gerar filhos a Abraão.<br />

10 O machado já está posto à raiz das<br />

árvores, e toda árvore, pois, que não<br />

produz bom fruto é cortada e lançada<br />

no fogo.<br />

11 Eu, em verdade, vos batizo com água,<br />

para arrependimento; mas depois de<br />

mim vem alguém mais poderoso do que<br />

eu, tanto que não sou digno nem de levar<br />

as suas sandálias. Ele vos batizará com o<br />

Espírito Santo e com fogo.<br />

12 Ele traz a pá em sua mão e separará<br />

o trigo da palha. 3 Recolherá no celeiro o<br />

seu trigo e queimará a palha no fogo que<br />

jamais se apaga”.<br />

O batismo de Jesus<br />

(Mc 1.9-11; Lc 3.21,22; Jo 1.32-34)<br />

13 Então Jesus veio da Galiléia ao Jordão<br />

para ser batizado por João.<br />

14 Mas João se recusava, justificando:<br />

“Sou eu quem precisa ser batizado por ti,<br />

e vens tu a mim?”<br />

8<br />

15 Jesus, entretanto, declarou: “Deixe<br />

assim, por enquanto; pois assim convém<br />

que façamos, para cumprir toda a justiça”.<br />

E João concordou.<br />

16 E, sendo Jesus batizado, saiu logo da<br />

água, e eis que se abriram os céus, e viu o<br />

Espírito de Deus descendo como pomba<br />

e vindo sobre Ele.<br />

17 Em seguida, uma voz dos céus disse:<br />

“Este é meu Filho amado, em quem muito<br />

me agrado”.<br />

Jesus é tentado pelo Diabo<br />

(Mc 1.12,13; Lc 4.1-13)<br />

Jesus foi então conduzido pelo Espí-<br />

4 rito, ao deserto, para ser tentado pelo<br />

Diabo.<br />

2 Depois de jejuar quarenta dias e quarenta<br />

noites, teve fome.<br />

3 O tentador aproximou-se então dele e<br />

disse: “Se tu és o Filho de Deus, manda<br />

que estas pedras se tornem em pães”.<br />

4 Jesus, porém, afirmou-lhe: “Está escrito:<br />

‘Nem só de pão viverá o homem,<br />

mas de toda a palavra que sai da boca de<br />

Deus’”. 1<br />

5 Então o Diabo o conduziu à Cidade<br />

Santa, e colocou-o sobre a parte mais<br />

alta do templo e desafiou-lhe:<br />

6 “Se tu és o Filho de Deus, joga-te daqui<br />

para baixo. Pois está escrito: ‘Aos seus<br />

anjos dará ordens a teu respeito, e com<br />

as mãos eles te susterão, para que jamais<br />

tropeces em alguma pedra’”. 2<br />

2 Os fariseus eram a mais influente das seitas do judaísmo no tempo de Cristo. Embora apegados às doutrinas e à ortodoxia,<br />

seu zelo, sem o entendimento espiritual da Lei de Moisés levara-os, ao longo dos séculos, a uma observância estrita das normas e<br />

regras da Lei e das tradições rabínicas. Eram justos aos próprios olhos e inimigos implacáveis de Jesus Cristo (Mt 9.14; 23.2; 23.15;<br />

Mc 12.40; Lc 18.9). Os saduceus, que pertenciam à elite econômica e às famílias sacerdotais, eram anti-sobrenaturalistas (não criam<br />

em milagres e no poder sobrenatural de Deus). Opunham-se às tradições dos ensinos e interpretações dos fariseus e colaboravam<br />

abertamente com os governantes romanos. Uniram-se aos fariseus apenas em suas perseguições a Cristo (Mt 16.1-4,6).<br />

3 Algumas versões trazem a expressão: “...e limpará a sua eira”. A Bíblia King James optou por uma tradução mais clara dessa<br />

frase, a partir do original grego; pois a “pá”, que Jesus traz em sua mão, tem a ver com uma pá de madeira usada para lançar<br />

o cereal triturado ao ar, de modo que a palha, mais leve, fosse carregada pelo vento, e os grãos se amontoassem no solo. Isso<br />

significa “limpar a eira” e reforça o cumprimento da profecia de Malaquias (Ml 3.1-6 e 4.1).<br />

Capítulo 4<br />

1 O objetivo do Diabo era levar Cristo, o Ungido, Filho de Deus, a pecar. Apenas um pecado seria o suficiente, desqualificando o<br />

Salvador, frustrando assim, o plano de Deus para a redenção humana. O objetivo de Deus foi provar que seu Filho – perfeitamente<br />

divino e perfeitamente humano – viveu, contudo, isento de qualquer pecado; sendo, portanto, um Salvador perfeitamente digno<br />

e suficiente (2Co 5.21; Hb 4.15, Rm 8.3; 1Jo 2.16; Tg 1.13). Jesus escolhe uma passagem das Sagradas Escrituras (Dt 8.3) para<br />

responder ao tentador e a todos quantos têm seus valores invertidos por ganância, egoísmo e inveja.<br />

2 O orgulho, arrogância e empáfia do Diabo não lhe permitiram compreender, muito menos aceitar, a resposta que Cristo lhe<br />

dera. O Diabo tenta, então, replicar, usando também uma passagem bíblica (Sl 91.11-12), mas omitindo parte do texto sagrado<br />

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7 Contestou-lhe Jesus: “Também está<br />

escrito: ‘Não tentarás o SENHOR teu<br />

Deus’”. 3<br />

8 Tornou o Diabo a levá-lo, agora para<br />

um monte muito alto. E mostrou-lhe<br />

todos os reinos do mundo em todo o seu<br />

esplendor.<br />

9 E propôs a Jesus: “Tudo isso te darei se,<br />

prostrado, me adorares.<br />

10 Ordenou-lhe então Jesus: “Vai-te, Satanás,<br />

porque está escrito: ‘Ao SENHOR, teu<br />

Deus, adorarás e só a Ele servirás’”. 4<br />

11 Assim, o Diabo o deixou; e eis que<br />

vieram anjos, e o serviram.<br />

Jesus inicia seu ministério<br />

(Mc 1.14-20; Lc 4.14-32; 5.1-11)<br />

12 Jesus, entretanto, ouvindo que João<br />

estava preso, voltou para a Galiléia.<br />

13 E, deixando Nazaré, 5 foi habitar em<br />

Cafarnaum, situada à beira-mar, nos<br />

confins de Zebulom e Naftali.<br />

14 Assim cumprindo-se o que fora dito<br />

pelo profeta Isaías:<br />

15 “Terra de Zebulom e terra de Naftali,<br />

caminho do mar, além do Jordão, Galiléia<br />

dos gentios! 6<br />

16 O povo que jazia nas trevas viu uma<br />

grande luz; e aos que estavam detidos<br />

na região e sombra da morte, a luz<br />

raiou”.<br />

17 Daquele momento em diante Jesus<br />

passou a pregar e dizer: “Arrependei-vos,<br />

porque é chegado o Reino dos céus!”.<br />

18 E, caminhando junto ao mar da<br />

9 <strong>MATEUS</strong> 4, 5<br />

Galiléia, viu Jesus dois irmãos: Simão,<br />

chamado Pedro e André que lançavam a<br />

rede ao mar, pois eram pescadores.<br />

19 Então, disse-lhes Jesus: “Vinde após mim,<br />

e Eu vos farei pescadores de homens”.<br />

20 Eles, imediatamente deixaram suas<br />

redes e seguiram Jesus.<br />

21 Seguindo adiante, viu Jesus outros<br />

dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu e<br />

João, seu irmão, que estavam no barco<br />

com Zebedeu, seu pai, consertando as<br />

redes; e chamou-os.<br />

22 Eles imediatamente deixaram o barco<br />

e seu pai para seguirem a Jesus.<br />

23 E percorria Jesus toda a Galiléia,<br />

ensinando nas sinagogas, pregando o<br />

evangelho do Reino e curando todas as<br />

enfermidades e males entre o povo.<br />

24 E sua fama correu por toda a Síria; e<br />

trouxeram-lhe, então, todos aqueles que<br />

sofriam, acometidos de várias enfermidades<br />

e tormentos, os endemoninhados,<br />

os lunáticos e os paralíticos. E Jesus os<br />

curava.<br />

25 E uma grande multidão da Galiléia,<br />

Decápolis, Jerusalém, Judéia e de além<br />

do Jordão seguia a Jesus.<br />

O sermão do monte<br />

(Lc 6.20-29)<br />

Jesus, vendo as multidões, subiu a<br />

5 um monte e, assentando-se, os seus<br />

discípulos aproximaram-se dele.<br />

2 E Jesus, abrindo a boca, os ensinava,<br />

dizendo:<br />

que não se ajustava a seus intentos. Esse mesmo método de interpretação inescrupulosa da Bíblia tem-se repetido ao longo dos<br />

séculos, na criação e desenvolvimento de diversas seitas heréticas em todo o mundo.<br />

3 Veja Dt 6.16<br />

4 Somente uma análise profunda e detalhada dos diálogos aqui travados entre Satanás e Jesus pode revelar a magnitude dessa<br />

batalha espiritual vencida por Cristo por meio da Palavra de Deus (Dt 6.13; 10.20), bem como a astúcia e o poder do Diabo para<br />

iludir seus oponentes. Satanás, como príncipe do sistema econômico, político e social do nosso planeta (em grego, Kosmos,<br />

que significa: mundo), estava em seu direito ao ofertar a Jesus as glórias de todos os reinos da terra, pois de fato estes lhe foram<br />

entregues por algum tempo (Jo 12.31; 1 Jo 2.15; 5.19; Jo 3.19; Tg 1.27; 4.4). Jesus manteve-se, porém, íntegro e fiel, resistindo<br />

e vencendo a tentação e o tentador.<br />

5 Conforme Lc 4.16-30, Jesus foi expulso de Nazaré, terra onde fora criado, por ter se apresentado ao povo (em um sábado,<br />

na sinagoga) como sendo o Filho de Deus e aquele que veio cumprir as profecias sobre a vinda do Messias, registradas no AT<br />

(Is 61.1-2 a. Veja também Is 9.1-2 e 42.6-7).<br />

6 Os melhores originais em grego trazem a palavra “gentios” (todos aqueles que não são judeus) em vez de “nações” como<br />

consta em várias versões em português.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 5<br />

3 “Bem-aventurados 1 os pobres 2 em espírito,<br />

pois deles é o Reino dos Céus.<br />

4 Bem-aventurados os que choram, porque<br />

serão consolados.<br />

5 Bem-aventurados os humildes, porque<br />

herdarão a terra. 3<br />

6 Bem-aventurados os que têm fome e<br />

sede de justiça, porque serão fartos.<br />

7 Bem-aventurados os misericordiosos,<br />

porque alcançarão misericórdia.<br />

8 Bem-aventurados os limpos de coração,<br />

porque verão a Deus.<br />

9 Bem-aventurados os pacificadores,<br />

porque serão chamados filhos de Deus.<br />

10 Bem-aventurados os que sofrem perseguição<br />

por causa da justiça, porque<br />

deles é o Reino dos Céus.<br />

11 Bem-aventurados sois vós quando vos<br />

insultarem, e perseguirem e, mentindo,<br />

disserem todo o mal contra vós, por<br />

minha causa.<br />

10<br />

12 Exultai e alegrai-vos sobremaneira,<br />

pois é esplêndida a vossa recompensa<br />

nos céus; porque assim perseguiram os<br />

profetas que viveram antes de vós.<br />

O cristão deve ser sal e luz<br />

13 Vós sois o sal da terra. Mas se o sal perder<br />

o seu sabor, com o que se há de temperar?<br />

Para nada mais presta, senão para<br />

se lançar fora e ser pisado pelos homens.<br />

14 Vós sois a luz do mundo. Uma cidade<br />

edificada sobre um monte não pode ser<br />

escondida.<br />

15 Igualmente não se acende uma candeia<br />

para colocá-la debaixo de um cesto. Ao<br />

contrário, coloca-se no velador e, assim,<br />

ilumina a todos os que estão na casa.<br />

16 Assim deixai a vossa luz resplandecer<br />

diante dos homens, para que vejam as<br />

vossas boas obras e glorifiquem o vosso<br />

Pai que está nos céus.<br />

1 A KJ de 1611 traz a expressão inglesa blessed (abençoado, bendito, muito feliz) que foi adotada pela maioria das traduções<br />

em todo o mundo, inclusive pelas mais modernas. “Bem-aventurados” transmite melhor a idéia do original grego makarios referindo-se<br />

a uma felicidade que excede às circunstâncias, que tem a ver com o profundo sentimento de paz e alegria que todos os<br />

que foram “abençoados” com a Salvação em Cristo e Seu Reino devem sentir e desfrutar, mesmo em meio às aflições cotidianas.<br />

Esse discurso, conhecido como Sermão do Monte, é o primeiro dos cinco grandes temas tratados por Jesus (Mt 5 a 7; Mt 10;<br />

13; 18 e em Mt 24 e 25). São ensinos primeiramente dirigidos aos discípulos (convertidos, que desejam proclamar ao mundo<br />

sua fé em Jesus Cristo).<br />

A expressão original: “abre a boca”, significa que Jesus passou a falar mais alto para que pudesse ser ouvido pelas demais<br />

pessoas ao redor. A proclamação do “Reino dos Céus” é o ponto central da pregação de Jesus. Essa expressão vem do hebraico<br />

malekhüth shãmayim. A KJ traduz como “Reino do Céu” mas tanto a palavra grega ouranos como a hebraica shãmayim estão no<br />

plural (céus) e têm o mesmo sentido de “Reino de Deus”. Os judeus, por respeito, não mencionavam o nome de Deus e por isso,<br />

Mateus, sensível a esse dado cultural, chamou o Reino de Deus de Reino dos Céus. O ser humano não tem em si mesmo força<br />

moral e ética para viver como Deus ordena. Por isso Jesus Cristo, que viveu essa plenitude de vida espiritual na terra e venceu o<br />

mundo, vem na forma do Espírito Santo habitar na alma humana para ajudar-nos a viver uma nova vida, com uma nova mentalidade,<br />

como cidadãos do Seu Reino, dirigidos por Deus.A plenitude dessa vida espiritual se dará no futuro (Ap 21.1-4).<br />

2 A primeira estocada de Jesus atinge diretamente o coração arrogante e presunçoso. Jesus conhecia bem os ensinos dos<br />

escribas e fariseus: “Quem cumpre toda a Lei com exatidão é rico no Altíssimo. Quem, além disso, observa literalmente a Halachá<br />

(série de tradições judaicas transmitidas pelos pais de geração a geração) será ainda mais rico”. Jesus não estava dizendo que<br />

não há bênção em obedecer a Lei, mas sim que um coração soberbo e orgulhoso por cumprir ordenanças e preceitos, não poderá<br />

“entrar” (viver com amor, paz, alegria e liberdade) no Reino de Deus. Assim, “pobres em espírito” não é uma contradição nem<br />

se refere a pessoas tímidas ou sem poder econômico. Significa sim, que o discípulo (seguidor) de Jesus, aquele que ama a Deus<br />

sobre todas as coisas, conhece suas limitações e fraquezas e reconhece que sem a graça do Senhor é impossível viver a vida<br />

cristã e que por isso não tem qualquer motivo para se orgulhar, pois o Reino dos Céus é também uma dádiva aos quebrantados,<br />

humildes e arrependidos (Jo 3), e não pode ser alcançado através de qualquer esforço, barganha ou talento humano. Reino dos<br />

Céus é o domínio de Deus sobre toda a criação, as pessoas e o mundo; tanto no presente como no futuro (Mt 5.3; 12.28 e Rm<br />

14.17). Às vezes refere-se também a um lugar e uma vida futura com Deus (2 Tm 4.18).<br />

3 A KJ traz aqui a palavra inglesa meek que pode ser traduzida como: pacífico, gentil, brando, suave, amável, manso, dócil,<br />

submisso, resignado. Entretanto, a palavra: “humilde” é mais fiel ao sentido original do termo em grego e comunica melhor, em<br />

português, a idéia dessa qualidade cristã: defender a justiça com paciência e sem amargura, entregando lutas e desafios ao<br />

Senhor que tudo julga retamente. Esse caráter cristão, moldado pelo Espírito Santo, nos capacita a perseverar na fé em Cristo<br />

ainda que em meio às injustiças, ofensas e falta de reconhecimento neste mundo. A promessa é nada menos do que a terra por<br />

herança. Aqueles que aceitam perder algumas coisas nesta terra e neste tempo, mantendo uma fé serena no Senhor, serão os<br />

reis de toda a terra no futuro (Ap 5.9-14), pois já vivem no presente como cidadãos do Reino. Seres humanos esses cujas vidas<br />

estão sendo transformadas pelo Espírito Santo e cujos frutos de caráter lhes conferem a bênção de serem conhecidos como<br />

“bem-aventurados” (muito felizes).<br />

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A Lei se cumpre em Cristo<br />

17 Não penseis que vim destruir a Lei ou<br />

os Profetas. Eu não vim para anular, mas<br />

para cumprir.<br />

18 Com toda a certeza vos afirmo que, até<br />

que os céus e a terra passem, nem um i 4<br />

ou o mínimo traço se omitirá da Lei até<br />

que tudo se cumpra.<br />

19 Qualquer, pois, que violar um destes<br />

menores mandamentos e assim ensinar<br />

aos homens será chamado o menor no<br />

Reino dos Céus; aquele, porém, que os<br />

cumprir e ensinar será chamado grande<br />

no Reino dos Céus.<br />

20 Porque vos digo que, se a vossa justiça<br />

não exceder a dos escribas e fariseus, de<br />

modo nenhum entrareis no Reino dos<br />

Céus.<br />

21 Ouvistes que foi dito aos antigos: “Não<br />

matarás; mas quem assassinar estará sujeito<br />

a juízo”. 5<br />

11 <strong>MATEUS</strong> 5<br />

22 Eu, porém, vos digo que qualquer que<br />

se irar contra seu irmão estará sujeito a<br />

juízo. Também qualquer que disser a seu<br />

irmão: Racá, será levado ao tribunal. E<br />

qualquer que o chamar de idiota estará<br />

sujeito ao fogo do inferno. 6<br />

23 Assim sendo, se trouxeres a tua oferta<br />

ao altar e te lembrares de que teu irmão<br />

tem alguma coisa contra ti,<br />

24 deixa ali mesmo diante do altar a tua<br />

oferta, e primeiro vai reconciliar-te com<br />

teu irmão, e depois volta e apresenta a<br />

tua oferta.<br />

25 Entra em acordo depressa com teu adversário,<br />

enquanto estás com ele a caminho<br />

do tribunal, para que não aconteça que o<br />

adversário te entregue ao juiz, o juiz te entregue<br />

ao carcereiro, e te joguem na cadeia.<br />

26 Com toda a certeza afirmo que de maneira<br />

alguma sairás dali, enquanto não<br />

pagares o último centavo. 7<br />

4 A Lei e os Profetas representavam a totalidade do AT, que incluía os Escritos (Sl 78.12-16 é um exemplo desses Escritos e se<br />

refere a Êx 7-12 e Nm 13.22, que fazem parte da terceira seção da Bíblia Hebraica). Jesus é o cumprimento das profecias sobre<br />

a vinda do Messias e Seu Reino. Ao mesmo tempo, Ele foi o único ser humano a cumprir de maneira plena e fiel a essência da<br />

vontade de Deus, não se limitando a uma obediência apenas religiosa, formal e exterior. Jesus levou seu amor pelo Pai e pela<br />

humanidade às últimas conseqüências e enfatizou que toda a Palavra de Deus se cumprirá. Nem a menor letra do alfabeto<br />

hebraico: (yod); em grego: i(iôta) que corresponde à letra “i” em português; nem mesmo o menor sinal gráfico (pequeno traço)<br />

que serve para distinguir certas letras hebraicas, e que pode alterar o sentido de uma expressão, serão suprimidos das Sagradas<br />

Escrituras. Jesus usa essa bem elaborada hipérbole para evidenciar a veracidade e autoridade da Palavra de Deus até o final<br />

dos tempos. As próprias Escrituras testemunham acerca de Jesus de Nazaré como Filho de Deus, Messias (Cristo), Rei dos Reis,<br />

Senhor do Universo, nosso Salvador para toda a eternidade (Mc 14.49; Lc 24.27; Jo 10.35; At 18.24; 2Tm 3.16, 2Pe 1.20-21). Jesus<br />

desejava que os doutores da Lei observassem essa verdade nas Escrituras, uma vez que o povo já estava aceitando que Jesus<br />

Cristo era o Messias, pelas obras que realizava e o poder de suas palavras.<br />

5 Jesus toma como exemplo a situação mais drástica da Lei: a morte (Êx 20.13; Dt 5.17) para demonstrar o que significa<br />

compreender e obedecer ao espírito da Lei e não apenas à letra. Ou seja, uma vida no sentido mais amplo e saudável dos mandamentos<br />

de Deus, em vez da interpretação meramente externa e restrita feita pela tradição rabínica. A KJ traz a palavra murder<br />

(assassinar), pois os verbos em hebraico e grego usados nesse texto e em Êx 20.13 têm especificamente esse sentido claro.<br />

6 Jesus demonstra como entender o sentido mais abrangente da Lei, ao relacionar o pecado de tirar a vida de alguém<br />

(assassinato) com erros, aparentemente menos graves, como irar-se contra um irmão ou insultar alguém. A KJ e as versões de<br />

Almeida acrescentam “sem motivo se irar”. Entretanto, os mais antigos e melhores originais gregos não trazem essa expressão.<br />

Jesus revela que a ofensa verbal está no mesmo nível de um assassinato. Racá era uma antiga expressão aramaica rêqâ’ que<br />

originou a palavra hebraica rêquïm usada no tempo dos juízes (Jz 11.3) para indicar pessoas de mau caráter, levianas e traidoras.<br />

De maneira curiosa, essa era uma expressão freqüentemente usada na tradição rabínica, associada ao vocábulo nãbhãl (néscio),<br />

para se referir aos insensatos e sem sabedoria. Já a palavra grega more, traduzida, em algumas versões, como “louco”, tem sua<br />

origem na expressão hebraica moreh (desgraçado), alguém que por não crer em Deus merecia o inferno. O cerne do ensino de<br />

Jesus está em que o pecado que leva alguém a ofender outra pessoa é o mesmo que motiva o assassinato. O vocábulo grego<br />

synedrio cujo correspondente hebraico é sanhedrïn refere-se ao mais alto tribunal dos judeus, que se reunia em Jerusalém. A KJ<br />

traduziu o termo para o inglês council (conselho), por se tratar da reunião dos sábios que julgavam as causas do povo. Synedrion<br />

deu origem à expressão grega presbyterion que significa “corpo de anciãos” (Lc 22.66; At 22.5) e gerousia “senado” (At 5.21).<br />

A expressão “fogo do inferno” tem a ver com o vale de Hinom em hebraico ge’hinnom que deu origem ao nome grego do lugar:<br />

geena. Durante o reinado dos perversos Acaz e Manassés, sacrifícios humanos ao deus amonita Moloque foram realizados em<br />

geena. Josias profanou o vale por causa das oferendas pagãs que realizou naquele lugar (2Rs 23.10; Jr 7.31,32; 19.6). Com o<br />

passar do tempo, esse vale se transformou num grande depósito de lixo, constantemente em chamas, o que fez a palavra geena<br />

significar o lugar dos perdidos, imprestáveis e destinados ao fogo que nunca se apaga.<br />

7 Graças a Jesus temos a bênção do perdão à nossa disposição. Não fosse essa graça seríamos todos consumidos pela Lei.<br />

Os cristãos devem, então, perdoar tudo e a todos, pedir perdão e procurar a paz com todos aqueles que se sentirem ofendidos<br />

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<strong>MATEUS</strong> 5<br />

Adultério no coração<br />

27 Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás<br />

adultério’.<br />

28 Eu, porém, vos digo, que qualquer que<br />

olhar para uma mulher com intenção<br />

impura, em seu coração, já cometeu<br />

adultério com ela.<br />

29 Se o teu olho direito te leva a pecar,<br />

arranca-o e lança-o fora de ti; pois te<br />

é mais proveitoso perder um dos teus<br />

membros do que todo o teu corpo ser<br />

lançado no inferno.<br />

30 E, se tua mão direita te fizer pecar,<br />

corta-a e atira-a para longe de ti; pois te<br />

é melhor que um dos teus membros se<br />

perca do que todo o teu corpo seja lançado<br />

no inferno.<br />

O casamento é sagrado<br />

31 Foi dito também: ‘Aquele que se divorciar<br />

de sua esposa deverá dar a ela uma<br />

certidão de divórcio’.<br />

32 Eu, porém, vos digo: Qualquer que se<br />

divorciar da sua esposa, exceto por imoralidade<br />

sexual, faz com que ela se torne<br />

adúltera, e quem se casar com a mulher<br />

divorciada estará cometendo adultério.<br />

Votos e juramentos<br />

33 Também ouvistes o que foi dito aos antigos:<br />

‘Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente<br />

teus juramentos ao Senhor’.<br />

12<br />

34 Entretanto, Eu vos afirmo: Não jureis<br />

de forma alguma; nem pelos céus, que<br />

são o trono de Deus;<br />

35 nem pela terra, por ser o estrado onde<br />

repousam seus pés; nem por Jerusalém,<br />

porque é a cidade do grande Rei.<br />

36 E não jures por tua cabeça, pois não<br />

tens o poder de tornar um fio de cabelo<br />

branco ou preto.<br />

37 Seja, porém, o teu sim, sim! E o teu<br />

não, não! O que passar disso vem do<br />

Maligno. 8<br />

Jamais use a vingança<br />

38 Ouvistes o que foi dito: “Olho por olho<br />

e dente por dente”.<br />

39 Eu, porém, vos digo: Não resistais ao<br />

perverso; mas se alguém te ofender com<br />

um tapa na face direita, volta-lhe também<br />

a outra.<br />

40 E se alguém quiser processar-te e tirar-te<br />

a túnica, deixa que leve também<br />

a capa.<br />

41 Assim, se alguém te forçar a andar uma<br />

milha, vai com ele duas.<br />

42 Dá a quem te pedir e não te desvies de<br />

quem deseja que lhe emprestes algo. 9<br />

Ame os que o odeiam<br />

43 Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu<br />

próximo e odiarás o teu inimigo’.<br />

44 Eu, porém, vos digo: Amai os vossos<br />

com alguma de suas atitudes. Jesus não entra no mérito se o cristão está certo ou não, apenas ordena que a reconciliação seja<br />

promovida o mais rápido possível e que a iniciativa seja sempre da parte daquele que crê em Deus. Jesus usa o exemplo do judeu<br />

religioso e temente ao Senhor em um de seus atos mais sublimes — o sacrifício oferecido a Deus de acordo com a lei mosaica,<br />

para ensinar que não pode haver culto, oração ou oferta maior do que um coração limpo, sincero, humilde, perdoador e em paz<br />

com Deus e com os semelhantes. Em seguida, por meio de uma parábola, Jesus exorta os cristãos que estão em demanda com<br />

alguém a que se apressem a negociar um acordo e estabeleçam a paz, antes que a questão se prolongue demais e acabe na<br />

justiça onde não há misericórdia, apenas a lei.<br />

8 No AT juramentos em nome do Senhor eram obrigatórios em determinadas ocasiões: quando a palavra necessitava de um<br />

fiador idôneo ou mesmo diante de um voto. A quebra da palavra empenhada era um ato sujeito às penas da Lei (Êx 20.7; Lv 19.12;<br />

Dt 19.10-19). Deus era (e é) o juiz onisciente de toda a falsidade. “...tão certo como o Senhor vive” (1Sm 14.39). Essa ênfase na<br />

santidade dos votos ocorria devido à falsidade costumeira entre as pessoas em seus acordos cotidianos. Jesus ensina que o<br />

verdadeiro cristão deve ser autêntico e sincero em suas afirmações; afastando-se de toda a ambigüidade e falsidade comuns<br />

neste mundo controlado pelas forças do Diabo.<br />

9 Jesus trabalha as questões universais do direito. De fato toda a humanidade participa de um grande julgamento, envolvendo<br />

todos os povos de todos os tempos, no qual Cristo é nosso Advogado e garantia absoluta. Jesus começa citando a antiga Lei da<br />

Retaliação (Lv 24.20). Entre os judeus, na época de Jesus, o ato de bater na face direita de alguém, com as costas da mão, era<br />

um insulto e uma provocação; não exatamente uma agressão. O insultado poderia revidar ou ir ao tribunal pleitear uma punição,<br />

em dinheiro, pela ofensa. Jesus exorta seus discípulos a oferecer a outra face, em sinal de paz e disposição para um acordo. A<br />

próxima ilustração tem a ver com as leis dos fariseus: um credor tinha o direito de exigir a túnica do devedor por uma dívida não<br />

paga. Quando não a recebia por bem, tinha o direito de exigi-la por meio de um processo jurídico. Mas, de acordo com Dt 24.10-<br />

13, deveria ceder a roupa ao dono, conforme suas necessidades diárias de uso. Diante dessas questões jurídicas mesquinhas,<br />

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inimigos e orai pelos que vos perseguem;<br />

45 para que vos torneis filhos do vosso Pai<br />

que está nos céus, pois que Ele faz raiar<br />

o seu sol sobre maus e bons e derrama<br />

chuva sobre justos e injustos.<br />

46 Porque se amardes os que vos amam,<br />

que recompensa tendes? Não fazem os<br />

publicanos igualmente assim? 10<br />

47 E, se saudardes somente os vossos irmãos,<br />

que fazeis de notável? Não agem os<br />

gentios também dessa maneira?<br />

48 Assim sendo, sede vós perfeitos como<br />

perfeito é o vosso Pai que está nos céus.<br />

Como viver no Reino<br />

Guardai-vos de fazer a vossa caridade<br />

6 e obras de justiça diante dos homens,<br />

com o fim de serem vistos por eles; caso<br />

contrário, não tereis qualquer recompensa<br />

do vosso Pai que está nos céus.<br />

2 Por essa razão, quando deres um donativo,<br />

não toques trombeta diante de ti,<br />

como fazem os hipócritas, nas sinagogas<br />

e nas ruas, para serem glorificados pelos<br />

homens. Com toda a certeza vos afirmo<br />

que eles já receberam o seu galardão.<br />

3 Tu, porém, quando deres uma esmola<br />

ou ajuda, não deixes tua mão esquerda<br />

saber o que faz a direita.<br />

13 <strong>MATEUS</strong> 5, 6<br />

4 Para que a tua obra de caridade fique<br />

em secreto: e teu Pai, que vê em secreto,<br />

te recompensará.<br />

A oração modelo<br />

5 E, quando orardes, não sejais como<br />

os hipócritas, pois que apreciam orar<br />

em pé nas sinagogas e nas esquinas das<br />

ruas, para serem admirados pelos outros.<br />

Com toda a certeza vos afirmo que eles já<br />

receberam o seu galardão.<br />

6 Tu, porém, quando orares, vai para teu<br />

quarto e, após ter fechado a porta, orarás<br />

a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,<br />

que vê em secreto, te recompensará plenamente.<br />

7 E, quando orardes, não useis de vãs<br />

repetições, como fazem os pagãos; pois<br />

imaginam que devido ao seu muito falar<br />

serão ouvidos.<br />

8 Portanto, não vos assemelheis a eles;<br />

porque Deus, o vosso Pai, sabe tudo de<br />

que tendes necessidade, antes mesmo<br />

que lho peçais.<br />

9 Por essa razão, vós orareis:<br />

Pai nosso, que estás nos céus!<br />

Santificado seja o teu Nome.<br />

10 Venha o teu Reino.<br />

Seja feita a tua vontade,<br />

assim na terra como no céu.<br />

Jesus exorta os discípulos a serem altruístas. Se credores, a desistir do penhor; se devedores, a dar além do devido, entregando<br />

também a capa que era vestida sobre a túnica. Para o discípulo de Jesus, o direito jurídico já foi abolido na Cruz, a nova ordem é<br />

a Lei do Amor em Cristo. Outra metáfora de Jesus reforça essa idéia. Tem a ver com o costume judaico de se pedir a companhia<br />

de alguém numa viagem pelas perigosas estradas da época. Quando alguém se negava, e acontecia um crime, essa pessoa<br />

era responsabilizada pela sua comunidade local, por não ter atendido ao pedido do viajante. O verbo grego traduzido aqui por<br />

“forçar” advém de uma antiga palavra persa que significa “recrutar à força”. Curiosamente, é a mesma palavra que aparece no<br />

final deste livro, em Mt 27.32, quando os soldados romanos “recrutam à força” Simão, para ajudar Jesus a carregar sua cruz. Os<br />

fariseus haviam imposto uma lei: “devemos acompanhar somente a outro fariseu, não devemos caminhar com os incrédulos”.<br />

Jesus, entretanto, vai além, e ensina que seus discípulos, ao serem solicitados por qualquer viajante a andar 1.609 metros (uma<br />

milha), devem graciosamente estar prontos para caminhar em sua companhia por mais de três quilômetros (duas milhas). Ou<br />

seja, exceder em amor, graça e misericórdia ao que pede a Lei.<br />

10 O termo publicano (palavra latina com origem no grego telõnês) denominava um coletor de impostos a serviço do império<br />

romano. Esses homens eram odiados por causa da impiedade com que exploravam o povo. Para os judeus, o publicano era<br />

imundo, pois estava sempre em contato com os gentios. A palavra “publicano” tornou-se sinônimo de egoísmo, desonestidade,<br />

falsidade, impiedade e incredulidade. Gentios (em hebraico gôyïm e do grego ethnikoi ou Hellênes traduzido pela Vulgata, em<br />

latim, como gentiles) era um termo geral para significar “nações”. Entretanto, na época de Jesus, esse termo era usado pelos<br />

judeus para se referir, em tom discriminatório e preconceituoso, a todas as pessoas que não fossem israelenses. Para os mestres<br />

e doutores da Lei, os “gentios” eram idólatras, imorais e pecadores. Um judeu chamado de gentio significava um publicano; ou<br />

seja, uma pessoa impura, incrédula, mau-caráter, inescrupulosa, impiedosa e digna de todo o desprezo. Jesus resgata o valor<br />

real dos “gentios” (das nações) e convida a todos para Seu Reino (Rm 1.16; Cl 3.11; Gl 2.14; Ap 21.24; 22.2). Jesus conclui essa<br />

parte do seu ensino revelando o segredo da ética cristã: o amor deve fazer muito mais do que a obrigação. Este foi o testemunho<br />

de Cristo e este deve ser o objetivo maior dos cristãos: buscar o amor perfeito do Pai e agir assim, como filhos amados de Deus,<br />

para que outros vejam a luz de Cristo e sejam libertos das trevas deste mundo.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 6<br />

11 Dá-nos hoje o nosso pão diário.<br />

12 Perdoa-nos as nossas dívidas,<br />

assim como perdoamos aos<br />

nossos devedores.<br />

13 E não nos conduzas à tentação,<br />

mas livra-nos do Maligno. 1<br />

Porque teu é o Reino, o poder<br />

e a glória para sempre. Amém.<br />

14 Pois, se perdoardes aos homens as suas<br />

ofensas, assim também vosso Pai celeste<br />

vos perdoará.<br />

15 Entretanto, se não perdoardes aos homens,<br />

tampouco vosso Pai vos perdoará<br />

as vossas ofensas.<br />

Jejuar é adorar a Deus<br />

16 Quando jejuardes, não vos mostreis<br />

com aspecto sombrio como os hipócritas;<br />

pois desfiguram o rosto com a intenção de<br />

mostrar às pessoas que estão jejuando.<br />

17 Tu, porém, quando jejuares, unge tua<br />

cabeça e lava o rosto.<br />

18 Pois, assim, não parecerá aos outros que<br />

jejuas; e, sim, ao teu Pai em secreto; e teu<br />

Pai, que vê em secreto, te recompensará.<br />

14<br />

Investir os recursos no céu<br />

19 Não acumuleis para vós outros tesouros<br />

na terra, onde a traça e a ferrugem destroem,<br />

e onde ladrões arrombam para roubar.<br />

20 Mas ajuntai para vós outros tesouros<br />

no céu, onde a traça nem a ferrugem<br />

podem destruir, e onde os ladrões não<br />

arrombam e roubam.<br />

21 Porque, onde estiver o teu tesouro, aí<br />

também estará o teu coração.<br />

Um corpo iluminado<br />

22 Os olhos são a lâmpada do corpo.<br />

Portanto, se teus olhos forem bons, teu<br />

corpo será pleno de luz.<br />

23 Porém, se teus olhos forem maus, todo<br />

o teu corpo estará em absoluta escuridão.<br />

Por isso, se a luz que está em ti são trevas,<br />

quão tremendas são essas trevas!SSE<br />

Servir somente a Deus<br />

24 Ninguém pode servir a dois senhores;<br />

pois odiará um e amará o outro, ou será<br />

leal a um e desprezará o outro. Não podeis<br />

servir a Deus e a Mâmon. 2<br />

1 Jesus ensina a seus seguidores o caminho da verdadeira adoração e comunicação com Deus. O primeiro passo é a<br />

humildade, em contraste com o estilo dos fariseus, escribas, publicanos e gentios, que viviam uma religiosidade apenas de<br />

aparência, formal e estéril. Os discípulos deveriam também evitar as “vãs repetições”, pois essa era a maneira como os pagãos<br />

(aqueles que não passaram pelo batismo, também chamados de “gentios”) tentavam sensibilizar seus deuses para obter favores.<br />

Nessa época, os adoradores de Baal (1Rs 18.26-28) estavam cativando até judeus fiéis com suas hipocrisias (encenações<br />

teatrais, do grego hupokrites, ator). Por isso Jesus oferece um modelo de oração: O nascimento espiritual dá ao cristão o direito<br />

de ser filho de Deus (Jo 3) e, portanto, pode orar a Deus como quem conversa com seu pai amado (em aramaico: Abba, Mc<br />

14.36; Rm 8.15, Gl 4.6). Devemos desejar e trabalhar pelo estabelecimento do Reino de Deus, em nossas vidas e comunidades,<br />

ao receber pessoalmente o Espírito Santo, que traz salvação, paz, alegria, e a justiça de Cristo. Reino esse que será estabelecido<br />

de forma plena no futuro iminente, quando Jesus voltar, e o último Inimigo for vencido definitivamente (2Ts 2.8; 1Co 15.23-28).<br />

Assim a terra usufruirá a mesma glória de Deus que há nos céus (2Pe 3.13). O cristão reconhece que é o Senhor quem supre<br />

diariamente todas as nossas necessidades, e é grato por isso. A fome, as guerras e outros sofrimentos sociais não ocorrem por<br />

indiferença da parte de Deus, mas pelos pecados dos indivíduos (malignidade) e das nações. Devemos nos lembrar de perdoar<br />

as pessoas que nos devem (bens materiais ou justiça) com a mesma misericórdia e generosidade com que Deus nos perdoa<br />

sempre (1Jo 1.5-9). Observemos como Jesus ressalta a importância do perdão no Reino de Deus (6.14,15). O servo do Senhor é o<br />

alvo favorito dos ataques e artimanhas do Diabo. Mas Deus tem o poder de nos livrar de todo o mal e levar-nos, para lugar seguro,<br />

longe do alcance dos demônios. Não há amargura, decepção, fraqueza, vício, perda ou dor maiores do que o amor e o poder<br />

de Deus (Tg 1.13; 1Co 6.18; 10.14; 1Tm 6.11; 2Tm 2.22). A maioria das versões da Bíblia em português inclui a frase: “...e não<br />

nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal...”. A KJ apresenta a expressão inglesa: “...and do not lead us into temptation...”<br />

(...e não nos induzas à tentação...). Os melhores originais gregos nos permitem traduzir: “...e não nos conduzas à tentação...”. A<br />

palavra grega peirasmos aqui significa “tentação”, podendo significar também: “teste ou provação” em outros trechos. Assim, a<br />

tentação, que do ponto de vista do Diabo é sempre uma cilada para nos destruir, do ponto de vista de Deus é uma oportunidade<br />

para fortalecimento da fé e crescimento espiritual (Lc 22.32). Deus controla o universo visível e invisível, incluindo o Maligno e seu<br />

reino; por isso, é ao Senhor que devemos pedir livramento das tentações e forças para vencer as provações (1Co 10.13). Jesus<br />

deixa bem claro em sua oração-modelo, que o cristão somente consegue a vitória, vigiando e orando. O próprio Jesus venceu<br />

sua grande batalha contra Satanás, com jejum (4.2), e recomendou que seus discípulos também usassem essa arma ao lado das<br />

orações, e do contínuo louvor a Deus, contra os desígnios do Inimigo (9.15; 17.21).<br />

2 Jesus escolhe uma palavra aramaica Mâmon para personificar um dos mais poderosos deuses pagãos de todos os tempos:<br />

o Dinheiro. O adjetivo Mâmon, deriva do verbo aramaico amân (sustentar) e significa amor às riquezas e dedicação avarenta aos<br />

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Descanso na providência divina<br />

25 Portanto, vos afirmo: não andeis preocupados<br />

com a vossa própria vida, quanto<br />

ao que haveis de comer ou beber; nem<br />

pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de<br />

vestir. Não é a vida mais do que o alimento,<br />

e o corpo mais do que as roupas?<br />

26 Contemplai as aves do céu: não semeiam,<br />

não colhem, nem armazenam<br />

em celeiros; contudo, vosso Pai celestial<br />

as sustenta. Não tendes vós muito mais<br />

valor do que as aves?<br />

27 Qual de vós, por mais que se preocupe,<br />

pode acrescentar algum tempo à jornada<br />

da sua vida? 3<br />

28 E por que andais preocupados quanto ao<br />

que vestir? Observai como crescem os lírios<br />

do campo. Eles não trabalham nem tecem.<br />

29 Eu, contudo, vos asseguro que nem<br />

Salomão, em todo o esplendor de sua<br />

glória, vestiu-se como um deles.<br />

30 Então, se Deus veste assim a erva do<br />

campo, que hoje existe e amanhã é lançada<br />

ao fogo, quanto mais a vós outros,<br />

homens de pequena fé?<br />

31 Portanto, não vos preocupeis, dizendo:<br />

Que iremos comer? Que iremos beber?<br />

Ou ainda: Com que nos vestiremos?<br />

15 <strong>MATEUS</strong> 6, 7<br />

32 Pois são os pagãos que tratam de obter<br />

tudo isso; mas vosso Pai celestial sabe<br />

que necessitais de todas essas coisas.<br />

33 Buscai, assim, em primeiro lugar, o<br />

Reino de Deus e a sua justiça, e todas<br />

essas coisas vos serão acrescentadas.<br />

34 Portanto, não vos preocupeis com o<br />

dia de amanhã, pois o amanhã trará suas<br />

próprias preocupações. É suficiente o<br />

mal que cada dia traz em si mesmo.<br />

Amar mais e julgar menos<br />

Não julgueis, para que não sejais<br />

7<br />

julgados. 1<br />

2 Pois com o critério com que julgardes,<br />

sereis julgados; e com a medida que<br />

usardes para medir a outros, igualmente<br />

medirão a vós.<br />

3 Por que reparas tu o cisco no olho de<br />

teu irmão, mas não percebes a viga que<br />

está no teu próprio olho?<br />

4 E como podes dizer a teu irmão: Permite-me<br />

remover o cisco do teu olho,<br />

quando há uma viga no teu?<br />

5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu<br />

olho, e então poderás ver com clareza<br />

para tirar o cisco do olho de teu irmão. 2<br />

6 Não deis o que é sagrado aos cães, nem<br />

interesses mundanos. Jesus orienta seus seguidores a investir suas vidas na conquista de bens espirituais agradáveis ao Senhor<br />

e adverte para a impossibilidade de se servir com lealdade a Deus e ao mesmo tempo amar o deus Dinheiro. Isso não quer dizer<br />

que Jesus seja contra os ricos e prósperos, mas, sim, que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (Gn 13.2; Ec 3.13; 5.10-<br />

19; 10.19; 1Tm 6.10). O dinheiro é para ser usado e as pessoas, amadas. A inversão desses valores tem sido a razão de muitas<br />

desgraças (Is 52.3; 55.1; Rm 4.4; 1Tm 5.18).<br />

3 A palavra grega psyche (alma) significa: “vida”, pois nas Escrituras, “alma” tem um sentido de algo diferente do atual, derivado<br />

da filosofia grega, especialmente a partir de Platão. Na Bíblia, a palavra “alma” vem da expressão hebraica nephesh que significa<br />

“personalidade” e indica o centro das emoções e apetites. Por isso, em toda a Bíblia, o comer e o beber são considerados como<br />

funções da alma. Algumas vezes pode também se referir à vida natural em contraste com a vida espiritual (Hb 4.12). Jesus usa uma<br />

figura de linguagem para ensinar duas verdades: “Deus existe, e você não é Ele”. As preocupações tentam minimizar o poder de<br />

Deus e colocar um peso insuportável sobre nossas costas. A versão de Almeida traduz a expressão grega helikia por “estatura”; porém,<br />

melhores originais e estudos mais acurados, mostram que o termo se refere a tempo e idade. Em certo sentido, essa expressão<br />

de Jesus poderia ser traduzida assim: “Ninguém ultrapassa, nem por meio metro, o ponto final da sua existência na terra”. Por isso,<br />

Jesus recomenda um estudo (análise, consideração filosófica) sobre a maneira cuidadosa, generosa e particular com que Deus trata<br />

cada um dos seres mais simples da terra, e os reveste de grande glória (1Rs 1-11; 1Cr 28; 2Cr 9; 1Rs 10.4-7). Concluindo: temos uma<br />

visão distorcida da vida e de nossas prioridades. Somente a busca do Reino de Deus vai nos colocar em harmonia com o Criador, e,<br />

assim, descobriremos a tão almejada paz, justiça e real felicidade (Jo 6.52-59; Jo 10.10, Rm 3.21-31 e 14.17-18).<br />

Capítulo 7<br />

1 Jesus mostra que é possível ajudar nosso semelhante com conselhos e críticas (v. 5 e 23.13-39), bem como devemos estar<br />

sempre dispostos a aprender, avaliar e ensinar (Rm 2.1; 1Co 5.9; 2Co 11.14; Fp 3.2; 1Jo 4.1; 1Ts 5.21).Entretanto, como cristãos,<br />

nosso dever é amar antes de julgar. Um coração repleto do amor de Deus não será acusador, mesquinho, invejoso, crítico contumaz<br />

ou difamador. A marca do cristão deveria ser seu amor irrestrito e altruísta pelo próximo, em especial por seus irmãos em<br />

Cristo (Jo 13.5; Jo 14.15; Rm 12.10; 1Pe 1.22).<br />

2 Jesus usou muitas histórias (parábolas) e figuras de linguagem para ensinar. Em 19.24, por exemplo, Ele fala de um camelo<br />

passando pelo fundo de uma agulha. Nesta outra hipérbole, Ele compara uma partícula de serragem ou pedaço de qualquer<br />

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<strong>MATEUS</strong> 7<br />

jogueis aos porcos as vossas pérolas, para<br />

que não as pisoteiem e, voltando-se, vos<br />

façam em pedaços.<br />

Perseverança na oração<br />

7 Pedi, e vos será concedido; buscai, e<br />

encontrareis; batei, e a porta será aberta<br />

para vós.<br />

8 Pois todo o que pede recebe; o que busca<br />

encontra; e a quem bate, se lhe abrirá.<br />

9 Ou qual dentre vós é o homem que,<br />

se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma<br />

pedra?<br />

10 Ou se lhe pedir peixe, lhe entregará<br />

uma cobra?<br />

11 Assim, se vós, sendo maus, sabeis dar<br />

bons presentes aos vossos filhos, quanto<br />

mais vosso Pai que está nos céus dará o<br />

que é bom aos que lhe pedirem! 3<br />

12 Portanto, tudo quanto quereis que<br />

as pessoas vos façam, assim fazei-o<br />

vós também a elas, pois esta é a Lei e os<br />

Profetas. 4<br />

Os dois únicos caminhos<br />

13 Entrai pela porta estreita, pois larga é<br />

a porta e amplo o caminho que levam à<br />

perdição, e muitos são os que entram por<br />

esse caminho.<br />

14 Porque estreita é a porta e difícil o caminho<br />

que conduzem à vida, apenas uns<br />

poucos encontram esse caminho! 5<br />

16<br />

Pelo fruto se conhece a árvore<br />

15 Acautelai-vos quanto aos falsos profetas.<br />

Eles se aproximam de vós disfarçados<br />

de ovelhas, mas no seu íntimo são como<br />

lobos devoradores.<br />

16 Pelos seus frutos os conhecereis. É<br />

possível alguém colher uvas de um espinheiro<br />

ou figos das ervas daninhas?<br />

17 Assim sendo, toda árvore boa produz<br />

bons frutos, mas a árvore ruim dá frutos<br />

ruins.<br />

18 A árvore boa não pode dar frutos ruins,<br />

nem a árvore ruim produzir bons frutos.<br />

19 Toda árvore que não produz bons frutos<br />

é cortada e atirada ao fogo.<br />

20 Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.<br />

21 Nem todo aquele que diz a mim: ‘Senhor,<br />

Senhor!’ entrará no Reino dos céus,<br />

mas somente o que faz a vontade de meu<br />

Pai, que está nos céus.<br />

22 Muitos dirão a mim naquele dia:<br />

‘Senhor, Senhor! Não temos nós profetizado<br />

em teu nome? Em teu nome não<br />

expulsamos demônios? E, em teu nome,<br />

não realizamos muitos milagres?’<br />

23 Então lhes declararei: Nunca os conheci.<br />

Afastai-vos da minha presença,<br />

vós que praticais o mal.<br />

O sábio e o insensato<br />

24 Assim, todo aquele que ouve estas<br />

material com uma grande trave (viga) de madeira usada na estrutura de construções, para destacar a humildade, carinho e sensibilidade<br />

que devemos ter para com nosso semelhante, quando tivermos de emitir um juízo, criticar ou aconselhar. Pois somos<br />

sujeitos a erros, fraquezas e dificuldades iguais ou maiores que os de qualquer pessoa.<br />

3 Jesus explica que o bem e o mal têm, às vezes, certa semelhança inicial, podendo enganar alguém ingênuo ou desinformado.<br />

A pedra a que Jesus se refere era parecida com os pães orientais da época: redondos, achatados e endurecidos (por isso o pão<br />

suportava longas viagens e era quebrado para ser servido). A cobra peçonhenta é semelhante às enguias comestíveis, apreciadas<br />

pela culinária da época. O Senhor é Pai bondoso e fica feliz em dar os presentes (dádivas) que seus filhos lhe pedem, mas só Ele<br />

sabe o que é realmente bom para cada um de nós.<br />

4 Este versículo é conhecido em todos os continentes como “A Regra de Ouro”, a manifestação prática do amor cristão.<br />

Orienta-nos Jesus aqui quanto ao procedimento diário: o amor, sem egoísmos, deve ser a força motriz das nossas ações (1Co<br />

13.4-8), concedendo ao próximo o que buscamos para nosso próprio bem. Devemos chegar ao ponto máximo do amor e da fé<br />

em Deus, que é retribuir com o bem a qualquer pessoa que, por algum motivo, nos ferir ou fizer qualquer mal. Foi assim que Deus<br />

respondeu à rebelião e indiferença da humanidade, oferecendo-se em sacrifício, para nos salvar pela Graça (Ef 2.8-9). A “Lei e os<br />

Profetas” é uma referência a toda a Escritura Sagrada, tanto em sua letra como em seu pleno conteúdo (Rm 13.8-10; Mt 5.17).<br />

5 Jesus denomina o caminho para o céu de “porta estreita” ou “caminho difícil”, em algumas versões “caminho apertado”.<br />

Não porque Deus tenha diminuído sua generosidade, graça e desejo de salvar a todos (2Pe 3.9), ao contrário, estamos vivendo<br />

a “Época da Graça” onde todos – mais do que nunca – são bem-vindos ao Reino de Deus. Entretanto, poucos permanecerão<br />

no Caminho, porque jamais foram dele realmente, e não suportam o negar-se a si mesmo, as renúncias do “Eu” nem os apelos<br />

de uma sociedade cada vez mais hedonista e materialista. A idéia e a figura dos dois caminhos é muito anterior a Cristo, data de<br />

400 a.C e foi difundida através do trabalho filosófico de Sócrates. O mesmo pensamento reaparece em duas grandes obras do<br />

primeiro século depois de Cristo: Didaquê e Epístola de Barnabé.<br />

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minhas palavras e as pratica será comparado<br />

a um homem sábio, que construiu a<br />

sua casa sobre a rocha.<br />

25 E caiu a chuva, vieram as enchentes,<br />

sopraram os ventos e bateram com violência<br />

contra aquela casa, mas ela não<br />

caiu, pois tinha seus alicerces na rocha.<br />

26 Pois, todo aquele que ouve estas minhas<br />

palavras e não as pratica é como<br />

um insensato que construiu a sua casa<br />

sobre a areia.<br />

27 E caiu a chuva, vieram as enchentes,<br />

sopraram os ventos e bateram com violência<br />

contra aquela casa, e ela desabou.<br />

E grande foi a sua ruína”.<br />

28 Quando Jesus acabou de pronunciar<br />

estas palavras, estavam as multidões atônitas<br />

com o seu ensino.<br />

29 Porque Ele as ensinava como quem<br />

tem autoridade, e não como os mestres<br />

da lei. 6<br />

Jesus purifica o imundo<br />

Quando Ele desceu do monte, gran-<br />

8 des multidões o seguiram.<br />

2 E eis que um leproso, tendo-se aproximado,<br />

adorou-o de joelhos e clamou:<br />

“Senhor, se é da tua vontade podes purificar-me!”<br />

3 Então, Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe,<br />

dizendo: “Eu quero. Sê limpo!”<br />

E no mesmo instante ele ficou purificado<br />

da lepra.<br />

17 <strong>MATEUS</strong> 7, 8<br />

4 Em seguida, disse-lhe Jesus: “Veja que<br />

não digas isto a ninguém, mas segue,<br />

mostra teu corpo ao sacerdote, e faze a<br />

oferta que Moisés ordenou, para que sirva<br />

de testemunho.” 1<br />

Um comandante romano crente<br />

5 Entrando Jesus em Cafarnaum, dirigiuse<br />

a ele um centurião, suplicando: 2<br />

6 “Senhor, meu servo está em casa, paralítico<br />

e sofrendo horrível tormento”.<br />

7 Então, Jesus lhe disse: “Eu irei curá-lo”.<br />

8 Ao que respondeu o centurião: “Senhor,<br />

não sou digno de receber-te sob o<br />

meu teto. Mas dize apenas uma palavra,<br />

e o meu servo será curado.<br />

9 Porque eu também sou homem debaixo<br />

de autoridade e tenho soldados às<br />

minhas ordens. Digo a um: Vai, e ele vai;<br />

e a outro: Vem, e ele vem. Ordeno a meu<br />

servo: Faze isto, e ele o faz”.<br />

10 Ao ouvir isto, Jesus maravilhou-se, e<br />

disse aos que o seguiam: “Com toda a certeza<br />

vos afirmo que nem mesmo em Israel<br />

encontrei alguém com tão grande fé.<br />

11 Digo-vos que muitos virão do Oriente e<br />

do Ocidente e tomarão lugares à mesa com<br />

Abraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus.<br />

12 Entretanto, os herdeiros do Reino serão<br />

lançados para fora, nas trevas, onde<br />

haverá choro e ranger de dentes”. 3<br />

13 Então disse Jesus ao centurião: “Vai-te,<br />

e da maneira como creste, assim te su-<br />

6 Os doutores da lei (em grego grammateis, nomikoi) e os mestres da lei (em grego nomodidaskaloi) eram técnicos no estudo<br />

da lei de Moisés (Torah). Em princípio era uma função reservada aos sacerdotes. Esdras, um homem de Deus, acumulou as funções<br />

de sacerdote e escriba (em hebraico sôpherïm). Veja Ne 8.9. Com o passar do tempo, os escribas se tornaram extremamente<br />

formais e espiritualmente estéreis. Além disso, muitos se envolveram com o partido político dos fariseus e deixaram de ser imparciais<br />

em relação ao ensino da lei. Jesus, entretanto, ensinava com “exousia”, em grego, “poder sobrenatural” que a todos deixava<br />

maravilhados, pasmos, atônitos (1Co 2.4-5). Isso despertou a inveja e o ódio de muitos “líderes religiosos” contra Jesus Cristo.<br />

Capítulo 8<br />

1 A lei de Moisés (Lv 13,14) ordenava que em casos de doenças de pele, especialmente a lepra, somente um sacerdote ou seu<br />

filho poderia realizar a cerimônia de purificação. O conceito de quarentena (para isolamento e tratamento de doenças infecciosas)<br />

teve início naquela época. Para os judeus, a çãra’ath, palavra hebraica para um dos tipos de hanseníase, simbolizava o pecado,<br />

por ser nojento, contagioso e incurável. Além disso, o sacerdote que tocava no leproso tornava-se cerimonialmente imundo. Jesus<br />

ao curar um homem da mais terrível doença de sua época, revela ao mundo parte de sua natureza e ministério. As instruções<br />

mosaicas para o cerimonial de purificação dos imundos tipificam a nossa redenção em Cristo (Lv 14.2-32).<br />

2 A centúria era uma divisão do exército romano, formada por cem homens e comandada por um centurião. Cornélio, um outro<br />

centurião gentio, convertido, foi notável exemplo de cristão (At 10).<br />

3 A tradição rabínica considerava o judaísmo como uma garantia herdada e absoluta de entrada no Reino de Deus, e por isso<br />

também se dizia: “filhos do reino” (Is 41.8). Embora, os judeus sejam de fato o povo escolhido, Jesus está comemorando a entrada<br />

dos gentios (todos os que não são judeus) no Reino do Pai, como verdadeiros filhos (Sl 107.3; Is 49.12; 59.19; Ml 1.11). Jesus<br />

demonstra seu lado humano ao ficar admirado (surpreso) com a fé e a compreensão que aquele homem, não-judeu, demonstrou<br />

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<strong>MATEUS</strong> 8<br />

cederá!” E naquela mesma hora o servo<br />

foi curado.<br />

Jesus salva, cura e liberta<br />

14 Tendo Jesus chegado à casa de Pedro,<br />

viu a sogra deste acamada, enferma e<br />

com febre.<br />

15 Então, Jesus tocou a mão dela e a febre<br />

a deixou. Em seguida, levantou-se ela e<br />

passou a servi-lo.<br />

16 No início da noite, trouxeram-lhe muitos<br />

endemoninhados; e Ele, com apenas<br />

uma palavra, expulsou os espíritos e<br />

curou todos os que estavam doentes.<br />

17 Assim se cumpriu o que fora dito por<br />

intermédio do profeta Isaías: “Ele tomou<br />

sobre si as nossas enfermidades e pessoalmente<br />

levou as nossas doenças”. 4<br />

A prioridade do discipulado<br />

18 Quando Jesus viu que uma multidão o<br />

rodeava, ordenou que atravessassem para<br />

o outro lado do mar.<br />

19 Então, aproximando-se dele um escriba,<br />

disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei para<br />

onde quer que fores”.<br />

20 Jesus lhe respondeu: “As raposas têm<br />

18<br />

suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos,<br />

mas o Filho do homem não tem<br />

onde repousar a cabeça”.<br />

21 Outro de seus discípulos lhe disse: “Senhor,<br />

permite-me ir primeiro sepultar<br />

meu pai”.<br />

22 Ao que Jesus lhe respondeu: “Segueme<br />

e deixa que os mortos sepultem os<br />

seus próprios mortos”.<br />

Jesus domina as circunstâncias<br />

23 Entrando Jesus no barco, seus discípulos<br />

o seguiram.<br />

24 De repente, sobreveio no mar uma<br />

violenta tempestade, de tal maneira que<br />

as ondas encobriam o barco. Ele, contudo,<br />

dormia.<br />

25 Então, seus discípulos vieram despertá-lo,<br />

clamando: “Senhor, salva-nos!<br />

Vamos todos perecer!”<br />

26 Mas Jesus disse a eles: “Por que estais<br />

com tanto medo, homens de pequena fé?<br />

E, levantando-se, repreendeu os ventos e<br />

o mar, e houve plena calmaria.<br />

27 Então, os homens maravilhados, exclamaram:<br />

“Quem é este que até os ventos e<br />

o mar lhe obedecem?”.<br />

ter acerca do seu poder e autoridade divina. Aproveita o evento para proclamar a salvação para todos os povos e raças (22.1-14;<br />

Lc 14.15-24), ao mesmo tempo em que adverte duramente aos judeus quanto ao fato de que a herança da vida eterna e do Reino<br />

está em crer em Deus e na aceitação de Seu Filho que veio ao mundo para salvar todos os seus. De agora em diante a humanidade<br />

não seria mais dividida entre judeus e gentios (os próximos e os distantes de Deus); mas, sim, entre crentes e descrentes. O padrão<br />

de reconhecimento da herança não repousa mais sobre a nacionalidade ou linhagem judaica, mas numa fé sincera e absoluta no<br />

Senhor (Sl 147.13,20; Mt 4.17; 9.28; Mc 4.40; 11.22; Lc 5.20; Jo 5.37-47; 8.45; At 14.16). Por isso acontecerá que do oriente e do<br />

ocidente (de todo o mundo) virão gentios para o Reino (Is 49.12) e terão o direito de se assentar ao lado dos grandes pais da fé, pois<br />

aceitaram a Graça da Salvação (Ef 2.8). Jesus conclui duramente, que muitos judeus, “herdeiros do Reino” (sacerdotes ou filhos do<br />

reino) tornaram-se “filhos da desobediência” (piores dos que os pagãos e gentios), razão pela qual serão expulsos para o “reino dos<br />

mortos” (sheol, em hebraico e hades, em grego), onde haverá tanto remorso e tristeza que se ouvirá o som do bater dos queixos<br />

das pessoas aterrorizadas. Nesse estado intermediário entre a morte e a ressurreição (sheol ou hades), os salvos gozarão de paz e<br />

descanso, enquanto os incrédulos estarão na escuridão (um lugar chamado: inferno) e sob tormentos. Na ressurreição, os salvos<br />

habitarão plenamente o Reino, e os incrédulos (judeus ou não) sofrerão a segunda morte e serão banidos para o lugar de punição e<br />

fogo eterno ou lago de fogo (em grego ten geennan tou pyros). Onde até mesmo o inferno será lançado (Ap 20).<br />

4 Ao contrário do que alguns céticos e críticos afirmam, Jesus não andava com o AT nas mãos procurando cumprir profecias.<br />

Mas, a cada instante, um evento admirável ocorria e seus discípulos, e todos os que conheciam a Lei e os Profetas testemunhavam,<br />

na pessoa de Jesus o cumprimento de várias profecias messiânicas do AT. Tudo isso diante dos olhos atônitos de todos. Algumas<br />

dessas profecias haviam sido escritas há mais de 1.000 anos antes que Jesus começasse a andar pelas terras da Palestina pregando<br />

a Nova Aliança, como é o caso do Salmo 22 e outros (Sl 2,8,16,40,41,45,68,69,89,102,109,110 e 118). A profecia de Isaías 53.4 (cerca<br />

de 750 a.C segundo os melhores estudos sobre os Papiros do Mar Morto) nos revela que Jesus, o Messias (Palavra hebraica que significa:<br />

Rei Ungido, e que foi traduzida para o grego como: Cristo), refere-se ao ministério de cura e libertação de Jesus, cuja obra lhe<br />

custou caro fisicamente (Mc 5.30, Lc 8.46). Os cristãos, hoje em dia, podem ter uma idéia desse desgaste físico e emocional quando<br />

participam ativamente de qualquer dos ministérios da Igreja: exposição da Palavra, evangelização, louvor, adoração, missões, cura,<br />

libertação, aconselhamento, administração, contribuição, ação social e outros, pois a verdadeira obra cristã requer do Espírito Santo<br />

(que é o próprio Jesus habitando na vida de cada indivíduo que crê) o mesmo poder demandado da pessoa de Jesus Cristo.<br />

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Jesus domina as forças do mal<br />

28 Quando Ele chegou ao outro lado, à<br />

província dos gadarenos, foram ao seu<br />

encontro dois endemoninhados, saindo<br />

dentre os sepulcros. Eram tão agressivos<br />

que ninguém podia passar por aquele<br />

caminho.<br />

29 E, de repente gritaram: “Que temos<br />

nós contigo, ó Filho de Deus? Vieste aqui<br />

para nos atormentar antes do devido<br />

tempo?”<br />

30 Não muito longe deles estava pastando<br />

uma grande manada de porcos.<br />

31 Então, os demônios imploravam a Ele:<br />

“Se nos expulsas, permite-nos entrar<br />

naquela manada de porcos!”<br />

32 E Jesus lhes disse: “Ide!” Assim que<br />

saíram entraram nos porcos. De repente,<br />

toda a manada correu em disparada<br />

e atirou-se violentamente precipício<br />

abaixo, em direção ao mar, e nas águas<br />

pereceram.<br />

33 Aqueles que cuidavam dos porcos fugiram,<br />

foram para a cidade e contaram<br />

tudo, inclusive o que ocorrera com os<br />

endemoninhados.<br />

34 Então toda a cidade saiu ao encontro<br />

de Jesus; e assim que o viram, suplicaram-lhe<br />

que se retirasse da sua região.<br />

Jesus perdoa e cura<br />

E, entrando Jesus num barco, atraves-<br />

9 sou o mar e foi para a sua cidade.<br />

2 E eis que lhe trouxeram um paralítico<br />

19 <strong>MATEUS</strong> 8, 9<br />

deitado em sua maca. Observando-lhes<br />

a fé, disse Jesus ao paralítico: “Tem bom<br />

ânimo, filho; os teus pecados estão perdoados”.<br />

3 Diante disso, alguns escribas diziam<br />

consigo mesmos: “Este homem blasfema!”<br />

4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos,<br />

questiona: “Por que cogitai o<br />

mal em vossos corações?”<br />

5 Pois o que é mais fácil dizer: ‘Os teus<br />

pecados estão perdoados 1 ’, ou: ‘Levantate<br />

e anda?’<br />

6 Entretanto, para que saibais que o Filho<br />

do homem 1 tem na terra autoridade para<br />

perdoar pecados – disse então ao paralítico:<br />

“Levanta-te, toma a tua maca, e vai<br />

para tua casa”.<br />

7 Levantando-se, o homem partiu para<br />

sua casa.<br />

8 Ao ver isso, a multidão se encheu de<br />

temor e glorificava a Deus, pois dera aos<br />

homens tamanha autoridade.<br />

Jesus veio para os necessitados<br />

9 Saindo, viu Jesus um homem chamado<br />

Mateus, sentado na coletoria, e disse-lhe:<br />

“Segue-me!” Ele se levantou e o seguiu.<br />

10 E aconteceu que, estando Jesus em<br />

casa, à mesa, muitos publicanos e pecadores<br />

vieram para cear com Ele e seus<br />

discípulos. 2<br />

11 Quando os fariseus viram isso, perguntaram<br />

aos discípulos dele: “Por que<br />

1 Freqüentemente Jesus refere-se a si mesmo como Filho do Homem (Mc 8.38; 13.26, 14.62; Lc 17.24; 21.27). Ele usou essa<br />

expressão do AT para descrever seu caráter e missão em termos da visão de Daniel (Dn 7.13). O Filho do Homem se humilhou<br />

como verdadeiro ser humano, sendo ao mesmo tempo, o Eterno Vitorioso (Mt 24.30). Além disso, Jesus revestiu essa expressão<br />

com a necessidade e o profundo significado dos seus sofrimentos, morte e ressurreição expiatória (Mc 8.31; 9.31; 10.33; 14.21-<br />

41; Lc 18.31-33; 19.10; Mt 20.18-28; 26.45; Lc 21.25-28; 22.29-30; Mc 13.26-27; 14.24-25,62; Jo 13.31-32).<br />

2 Cafarnaum foi a cidade onde Jesus permaneceu mais vezes e por mais tempo, por isso era chamada de a “cidade de Jesus”<br />

(Mt 4.12,13; 9.9; Mc 2.1; Lc 4.13, 23, 31, 38). Mas, apesar de Cafarnaum ter sido um grande centro comercial, presenciado mais<br />

sinais e recebido mais da presença e da Palavra de Cristo do que qualquer outra localidade, Jesus encontrou ali apenas uns<br />

poucos seguidores. Por isso o Senhor exclama seu “ai” sobre a cidade (Mt 11.23). Hoje Cafarnaum é um campo de entulhos,<br />

chamado Tel Hum. Mateus era um cobrador de impostos a serviço de Roma. Os judeus se referiam a eles como “publicanos<br />

e pecadores”, pois os consideravam “amaldiçoados” como os gentios (Jo 7.49). Jesus viu, porém, em Mateus, um discípulo e<br />

o autor deste Evangelho o chamou, em aramaico akolutheo (Segue-me!), que é uma expressão que significa: “ir atrás de”. Na<br />

época, essa expressão era um convite de honra. O aluno do profeta, em sinal de respeito, passaria a caminhar atrás do seu mestre<br />

(rabino) e, por dois anos, aprenderia as leis do judaísmo. Mateus (Matias, em hebraico), deixa tudo e começa uma nova vida com<br />

Cristo (Lc 5.28). Oferece uma ceia, em sua casa (Lc 5.27), para Jesus, os discípulos e seus muitos amigos pecadores. No Oriente<br />

e naquela época, convidar alguém para cear em casa era uma grande demonstração de amizade e intimidade e por isso recebia<br />

o nome de: “comunhão de mesa”. Isso foi o suficiente para provocar a ira de um grupo de fariseus (hassïdïns – leais a Deus - em<br />

hebraico; eram os sacerdotes e doutores da Lei, temidos por seu rigor e poder político).<br />

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<strong>MATEUS</strong> 9<br />

ceia o vosso mestre com publicanos e<br />

pecadores?”<br />

12 Mas Jesus, ouvindo, responde: “Os<br />

sãos não necessitam de médico, mas sim,<br />

os doentes.<br />

13 Portanto, ide aprender o que significa<br />

isto: ‘Misericórdia quero, e não sacrifícios’.<br />

Pois não vim resgatar justos e sim<br />

pecadores’”. 3<br />

O novo e definitivo vinho<br />

14 Então, chegaram os discípulos de João<br />

e lhe perguntaram: “Por que jejuamos<br />

nós, e os fariseus, muitas vezes, e os teus<br />

discípulos não jejuam?”<br />

15 Respondeu-lhes Jesus: “É possível que<br />

os amigos do noivo fiquem de luto enquanto<br />

o noivo ainda está com eles? Dias<br />

virão, quando o noivo lhes será tirado;<br />

então jejuarão.<br />

16 Ninguém coloca remendo novo em<br />

roupa velha; porque o remendo força o<br />

tecido da roupa e o rasgo aumenta.<br />

17 Nem se põe vinho novo em odres<br />

velhos; se o fizer, os odres rebentarão, o<br />

vinho derramará e os odres se estragarão.<br />

Mas, põe-se vinho novo em odres novos,<br />

e assim ambos ficam conservados”. 4<br />

20<br />

Jesus tem poder sobre a morte<br />

18 Enquanto, Ele estava falando, um dos<br />

dirigentes da sinagoga aproximou-se e,<br />

ajoelhando-se diante dele, rogou: “Minha<br />

filha acaba de morrer; mas vem,<br />

impõe a tua mão sobre ela, e viverá”.<br />

19 Jesus então levantou-se e seguiu com<br />

ele, e seus discípulos os acompanharam.<br />

20 De repente, uma mulher que há doze<br />

anos vinha sofrendo de hemorragia, alcançou-o<br />

por trás e tocou na borda do<br />

seu manto.<br />

21 Pois dizia essa mulher consigo mesma:<br />

“Se eu conseguir apenas lhe tocar as vestes,<br />

serei curada”.<br />

22 Então Jesus voltou-se e assim que viu<br />

a mulher lhe disse: “Anime-se grandemente,<br />

filha, a tua fé te salvou!” E, desde<br />

aquele momento, a mulher ficou sã. 5<br />

23 Quando Jesus chegou à casa do dirigente<br />

da sinagoga e viu os flautistas fúnebres<br />

e a multidão em alvoroço, ordenou:<br />

24 “Retirai-vos daqui! Esta menina não<br />

está morta, mas adormecida”. E todos<br />

zombavam dele.<br />

25 Assim que a multidão foi retirada,<br />

Jesus entrou, tomou a menina pela mão<br />

e ela se levantou.<br />

3 O maior e mais agradável sacrifício (holocausto) para Deus é o nosso amor sincero, sem restrições e em plena fé. A<br />

enfermidade da qual todos padecemos, inclusive muitos religiosos e líderes cristãos, é a distância do mais verdadeiro e puro<br />

amor (em grego: agape) ao Senhor (1Jo 4.16) e aos nossos semelhantes. Jesus pede que os doutores em teologia, filosofia,<br />

direito e ética da época, voltem às Escrituras, leiam atentamente Oséias 6.6, especialmente na edição grega do AT, a Septuaginta<br />

(cerca de 260 a.C.), e entendam que Ele não estava pactuando com o pecado, mas salvando todos aqueles que reconhecerem<br />

nele o Messias, o Filho de Deus.<br />

4 Segundo a lei mosaica, apenas o jejum do Dia da Expiação era obrigatório (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7). Após o exílio na<br />

Babilônia, outros quatro jejuns deveriam ser feitos durante o ano (Zc 7.5; 8.19). Na época de Jesus, os fariseus jejuavam duas<br />

vezes por semana (Lc 18.12). Os casamentos judaicos eram grandes celebrações familiares, cujas festas chegavam a durar<br />

uma semana e, nessas ocasiões, os convidados eram dispensados da obrigação do jejum, uma vez que esse ato era sempre<br />

associado à tristeza. Jesus então faz uma analogia entre as festividades das bodas e seu relacionamento com seus discípulos (os<br />

amigos do noivo), dispensando-os do jejum enquanto o noivo (Ele) estiver presente. Jesus jejuava em particular, mas rejeitava a<br />

observação da Lei de forma legalista e para autoglorificação (Is 58.3-11). O jejum seria praticado por seus discípulos, após sua<br />

ascensão, voluntariamente e para edificação pessoal (Mt 4.2; 6.16-18). Jesus veio estabelecer uma nova ordem para o relacionamento<br />

das pessoas com Deus. A lei deve ceder lugar à graça (o novo vinho, a nova aliança). Os odres eram bolsas feitas de pele<br />

de cabra, onde se conservava o vinho (Gn 27.28; Êx 29.40; Lv 10.9; Sl 104.15; Ec 10.19; 1Tm 5.23; 1Tm 3.8; Tt 2.3; Rm 13.13;<br />

Rm 14.21). À medida que o suco de uvas frescas fermentava, o vinho se expandia. Os odres novos tinham maior resistência e<br />

flexibilidade, e se esticavam. Mas os odres usados e envelhecidos não suportavam a pressão e estouravam, colocando o vinho a<br />

perder. Jesus usa essa metáfora para revelar que seu novo, puro e poderoso ensino não pode ser recebido pelas antigas formas<br />

do judaísmo, nem pelo legalismo religioso.<br />

5 Jesus se agrada da nossa fé e está sempre pronto para nos socorrer em qualquer necessidade. Basta que o procuremos<br />

com sinceridade. O verbo grego sõzein significa “salvar e curar”. A mulher pensou em salvar-se, livrar-se de uma doença horrível<br />

e antiga. Mas Jesus deu-lhe a cura integral, da alma e do corpo, quando a abençoou com a tradicional bênção dos rabinos da<br />

época: “a tua fé te salvou”. Jesus demonstrou que essa não era apenas uma frase religiosa, mas a indicação de que o Reino de<br />

Deus havia chegado para todos aqueles que nele cressem, pois que as palavras de Jesus são acompanhadas de poder.<br />

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26 Então a notícia desse acontecimento<br />

espalhou-se por toda aquela região.<br />

Os cegos passam a ver<br />

27 Partindo Jesus dali, dois homens<br />

cegos o seguiram, clamando: “Filho de<br />

Davi, tem misericórdia de nós!”<br />

28 Entrando Ele em casa, aproximaramse<br />

os cegos, e Jesus lhes perguntou: “Credes<br />

que Eu seja capaz de fazer isto?” E,<br />

responderam-lhe: “Sim, Senhor!”<br />

29 Então, lhes tocou os olhos, dizendo:<br />

“Seja-vos feito conforme a vossa fé”.<br />

30 E os olhos deles foram abertos. Jesus<br />

os advertiu, então, severamente: “Cuidai<br />

para que ninguém saiba disto”.<br />

31 Contudo, ao partirem, propagaram os<br />

feitos de Jesus por toda aquela região.<br />

Os endemoninhados são libertos<br />

32 Após terem se retirado, algumas pessoas<br />

trouxeram a Jesus um homem, mudo<br />

e possuído por um demônio.<br />

33 Assim que o demônio foi expulso,<br />

o mudo passou a falar; e as multidões<br />

admiradas exclamavam: “Jamais se<br />

viu algo assim em Israel!”.<br />

34 Por outro lado, os fariseus maldiziam:<br />

“Ele expulsa os demônios pelo príncipe<br />

dos demônios”.<br />

Todos os enfermos são curados<br />

35 E Jesus ia passando por todas as cidades<br />

e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando<br />

as boas novas do Reino e curando<br />

todas as enfermidades e doenças.<br />

Jesus pede mais discípulos<br />

36 Ao ver as multidões, Jesus sentiu grande<br />

compaixão pelas pessoas, pois que<br />

estavam aflitas e desamparadas como<br />

ovelhas que não têm pastor.<br />

37 Então, falou aos seus discípulos: “De<br />

fato a colheita é abundante, mas os trabalhadores<br />

são poucos.<br />

38 Por isso, orai ao Senhor da seara e pedi<br />

que Ele mande mais trabalhadores para a<br />

sua colheita”.<br />

Jesus envia seus apóstolos<br />

Jesus, tendo chamado seus doze<br />

discípulos, deu-lhes poder para<br />

10<br />

21 <strong>MATEUS</strong> 9, 10<br />

expulsar espíritos imundos e curar todas<br />

as doenças e males.<br />

2 E são estes os nomes dos doze apóstolos:<br />

primeiro, Simão, chamado Pedro, e<br />

André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu,<br />

e João, seu irmão;<br />

3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus,<br />

o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e<br />

Tadeu;<br />

4 Simão, o zelote, e Judas Iscariotes, o<br />

mesmo que traiu a Jesus.<br />

5 Assim, a esses doze homens, enviou Jesus<br />

com as seguintes recomendações: “Não<br />

vos encaminheis aos gentios, nem entreis<br />

em cidade alguma dos samaritanos.<br />

6 Antes, porém, buscai as ovelhas perdidas<br />

da casa de Israel.<br />

7 E, à medida que seguirdes, pregai esta<br />

mensagem: O Reino dos Céus está a<br />

vosso alcance!<br />

8 Curai enfermos, purificai leprosos, ressuscitai<br />

mortos, expulsai demônios. Graciosamente<br />

recebestes, graciosamente dai.<br />

9 Não vos provereis de ouro, nem prata<br />

ou cobre em vossos cinturões.<br />

10 Não leveis sacolas de viagem, nem<br />

uma túnica a mais, segundo par de<br />

sandálias ou um cajado; pois digno é o<br />

trabalhador do seu sustento.<br />

11 Em qualquer cidade ou povoado em<br />

que entrardes, procurai alguém digno<br />

de vos receber; ficai nesta casa até vos<br />

retirardes.<br />

12 E, quando entrardes na casa, saudai-a.<br />

13 Se a casa for digna, que a vossa paz<br />

repouse sobre ela; se, todavia, não for<br />

digna, que a paz retorne para vós.<br />

14 Porém, se alguém não vos receber, nem<br />

der ouvidos às vossas palavras, assim que<br />

sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a<br />

poeira dos vossos pés.<br />

15 Com toda a certeza vos afirmo que<br />

haverá mais tolerância para Sodoma e<br />

Gomorra, no dia do juízo, do que para<br />

aquelas pessoas.<br />

16 Observai! Eu vos envio como ovelhas<br />

entre os lobos. Sede, portanto, astutos<br />

como as serpentes e inofensivos como<br />

as pombas.<br />

17 E, acautelai-vos dos homens; pois que<br />

vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão<br />

nas suas sinagogas.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 10<br />

18 Sereis levados à presença de governadores<br />

e reis por minha causa, para testemunhardes<br />

a eles e aos gentios.<br />

19 Todavia, quando vos prenderem, não<br />

vos preocupeis em como, ou o que deveis<br />

falar, pois que, naquela hora, vos será ministrado<br />

o que haveis de dizer.<br />

20 Isso porque, não sois vós que estareis<br />

falando, mas o Espírito de vosso Pai é<br />

quem se expressará através de vós.<br />

21 Um irmão entregará à morte seu irmão,<br />

e o pai ao filho, e os filhos se rebelarão<br />

contra seus pais e lhes causarão a morte.<br />

22 E, por causa do meu Nome, sereis<br />

odiados de todos. Contudo, aquele que<br />

permanecer firme até o fim será salvo.<br />

23 Quando, porém, vos perseguirem num<br />

lugar, fugi para outro; pois com toda a<br />

certeza vos asseguro que não tereis passado<br />

por todas as cidades de Israel antes<br />

que venha o Filho do homem.<br />

24 O pupilo não está acima do seu mentor,<br />

nem o escravo acima do seu amo.<br />

25 Basta ao discípulo ser como seu mestre,<br />

e ao servo ser como seu senhor. Se chamaram<br />

de Belzebu ao cabeça da Casa, quanto<br />

mais aos membros da sua família!<br />

26 Entretanto, não os temais! Nada há<br />

escondido que não venha a ser revelado,<br />

nem oculto que não venha a se tornar<br />

conhecido.<br />

A entrega do temor a Deus<br />

27 O que vos digo na escuridão, dizei-o à<br />

22<br />

luz do dia; e o que se vos diz ao ouvido,<br />

proclamai-o do alto dos telhados.<br />

28 E, não temais os que matam o corpo,<br />

mas não têm poder para matar a alma.<br />

Temei antes, aquele que pode destruir no<br />

inferno tanto a alma como o corpo.<br />

29 Não se vendem dois pardais por uma<br />

moedinha de cobre? Mesmo assim,<br />

nenhum deles cairá sobre a terra sem a<br />

permissão de vosso Pai.<br />

30 E quanto aos muitos cabelos da vossa<br />

cabeça? Estão todos contados.<br />

31 Por isso, não temais! Bem mais valeis<br />

vós do que muitos passarinhos.<br />

32 Assim sendo, todo aquele que me declarar<br />

diante das pessoas, também eu o declararei<br />

diante de meu Pai que está nos céus.<br />

33 Entretanto, qualquer que me negar<br />

diante das pessoas, também Eu o negarei<br />

diante de meu Pai que está nos céus.<br />

34 Não penseis que vim trazer paz à terra;<br />

não vim trazer paz, mas espada.<br />

35 Pois Eu vim para ser motivo de discórdia<br />

entre o homem e seu pai; entre a filha<br />

e sua mãe e entre a nora e sua sogra.<br />

36 Assim os inimigos do homem serão os<br />

da sua própria família. 1<br />

37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais do<br />

que a mim não é digno de mim; e quem<br />

ama o filho ou a filha mais do que a mim<br />

não é digno de mim.<br />

38 E aquele que não toma a sua cruz e não<br />

me segue, também não é digno de mim.<br />

39 Quem encontra a sua vida a perderá.<br />

1 Jesus não veio trazer a paz no sentido de uma religiosidade cômoda e inconseqüente. O verdadeiro cristianismo é uma mudança<br />

radical de vida com implicações conflituosas, inadequações e até perseguições cruéis. Algumas vezes na própria família (Mq 7.6)<br />

e, com certeza, neste mundo secularizado, materialista e agnóstico. A paz do cristão está em sua plena comunhão com Deus (Jo<br />

14.27) e a terra só verá paz completa na volta do Rei Jesus (Is 2.4). Uma das ofensas que mais feriram o coração de Cristo foi ouvir<br />

dos teólogos da época (seu povo e família) que realizava milagres e sinais no poder de Belzebu (9.34; 12.24-29; Mc 3.22; Lc 11.15-<br />

19; Jo 8.52). Chamar o Filho de Deus – o cabeça da raça humana – de Diabo, foi uma das maiores blasfêmias já ditas na história do<br />

mundo. Belzebu é a forma grega da expressão hebraica Baal-Zebub que se refere a Satanás, o “príncipe dos demônios” e significa:<br />

“senhor das moscas” (2Rs 1.2). Por isso, é preciso muito cuidado ao julgar e expressar publicamente opiniões dessa natureza contra<br />

qualquer pessoa ou movimento cristão. Em 10.38, pela primeira vez em Mateus, aparece a palavra “cruz”. Os cristãos não devem<br />

buscar o sofrimento, nem se desesperar diante dele, mas ter a atitude de Jesus: enfrentar as circunstâncias com fé, humildade e<br />

coragem. O império romano obrigava seus condenados à morte a caminhar com a trave de suas cruzes nas costas até o local da<br />

execução. Os discípulos já haviam visto milhares de judeus serem crucificados, por isso essa ilustração (metáfora) de Jesus foi tão<br />

significativa. O crente, salvo por Cristo, deve carregar consigo a mesma cruz: renunciar a si mesmo, para servir com total dedicação<br />

ao Senhor Jesus, como mortos para as demandas do sistema mundial e do nosso “eu” (Gl 2.20). Por isso, quem busca freneticamente<br />

se dar bem nesta vida, acabará perdendo as bênçãos inerentes à condição dos salvos, agora e eternamente (2Co 5.17). Em<br />

10.42, Jesus conclui esse trecho bíblico fazendo menção notável de recompensa a todos aqueles que ajudam e cooperam com os<br />

servos do Senhor no estabelecimento da nova ordem: o Reino de Deus (1Co 15.58; Gl 6.9; Mt 25.35-36).<br />

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Mas quem perde a vida por minha causa<br />

a achará.<br />

40 Quem vos recebe, a mim mesmo recebe;<br />

e quem recebe a minha pessoa, recebe<br />

aquele que me enviou.<br />

41 Quem recebe um profeta por reconhecê-lo<br />

como profeta, receberá a recompensa<br />

de profeta; e quem recebe um justo<br />

por suas qualidades de justiça, receberá a<br />

recompensa de justo.<br />

42 E quem der, mesmo que seja apenas<br />

um copo de água fria a um destes pequeninos,<br />

por ser este meu discípulo, com<br />

toda a certeza vos afirmo que de modo<br />

algum perderá a sua recompensa”.<br />

João. O arauto de Jesus<br />

Havendo, pois, terminado de ins-<br />

11 truir seus doze discípulos, partiu<br />

Jesus dali para ensinar e pregar nas cidades<br />

da Galiléia.<br />

2 Assim que, no cárcere, João ouviu falar<br />

sobre o que Cristo estava realizando,<br />

enviou dois dos seus discípulos para lhe<br />

perguntarem:<br />

3 “És tu Aquele que haveria de vir ou<br />

devemos aguardar outro?”<br />

4 Jesus, respondendo, disse-lhes: “Ide e contai<br />

a João o que estais ouvindo e vendo:<br />

5 Os cegos enxergam, os mancos caminham,<br />

os leprosos são purificados, os<br />

surdos ouvem, os mortos são ressuscitados,<br />

e as Boas Novas estão sendo pregadas<br />

aos pobres.<br />

6 E, abençoado é aquele que não se escandaliza<br />

por minha causa”.<br />

7 Enquanto saíam os discípulos de João,<br />

23 <strong>MATEUS</strong> 10, 11<br />

começou Jesus a falar às multidões a respeito<br />

de João: O que fostes ver no deserto?<br />

Um caniço agitado pelo vento?<br />

8 E então? O que fostes ver no deserto?<br />

Um homem vestido com roupas finas?<br />

De fato, os que usam roupas finas estão<br />

nos palácios reais.<br />

9 Mas, afinal, o que fostes ver? Um profeta?<br />

Sim, Eu vos afirmo. E mais do que<br />

um profeta!<br />

10 Este é aquele a respeito de quem está<br />

escrito: “Eis que Eu enviarei o meu mensageiro<br />

à frente da tua face, o qual preparará<br />

o teu caminho diante de Ti”. 1<br />

11 Com toda a certeza vos afirmo: Entre<br />

os nascidos de mulher não se levantou<br />

ninguém maior do que João, o Batista;<br />

entretanto, o menor no Reino dos céus é<br />

maior do que ele.<br />

12 Desde os dias de João Batista até agora,<br />

o Reino dos céus é tomado à força, e os<br />

que usam de violência se apoderam dele.<br />

13 Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram<br />

até João.<br />

14 E, se desejarem aceitar, este é o Elias<br />

que havia de vir.<br />

15 Aquele que tem ouvidos para ouvir, que<br />

ouça!<br />

16 Mas, a quem hei de comparar esta geração?<br />

São como crianças que, sentadas<br />

nas praças do mercado, ficam gritando<br />

uma às outras:<br />

17 ‘Nós vos tocamos músicas de casamento,<br />

mas vós não dançastes; entoamos<br />

lamentos fúnebres e não pranteastes!’<br />

18 Assim, veio João, que jejua e não bebe<br />

vinho, e dizem: ‘Este tem demônio’.<br />

1 João Batista foi o último dos profetas do AT e o precursor de Cristo. O mensageiro do Rei (arauto) que veio anunciar a chegada<br />

do Filho de Deus à terra (Ml 3.1; 4.5-6). João estava preso em Maqueros, uma fortaleza inóspita, nas proximidades do mar<br />

Morto (14.3-12; Lc 7.18-35) e desejava confirmar se Jesus era mesmo o Messias profetizado no AT. Jesus manda sua resposta<br />

de maneira inequívoca, assim João poderia descansar e se alegrar no Senhor, pois sua missão estava cumprida: “os cegos<br />

enxergam” e os demais milagres profetizados por Isaías (730 a.C.) sobre as obras que o Messias realizaria quando chegasse (Is<br />

35.5; 61.1). Quem saiu para ver algo tão comum e simples como um pé de cana balançando ao vento, viu e ouviu o maior dos<br />

profetas do AT, parente e amigo amado do Senhor (Lc 1.36; Jo 3.29). Entretanto, aqueles que têm o privilégio de ouvir o Filho de<br />

Deus foram contemplados com bênção ainda maior que João (Ef 5.25-32). Jesus ainda registra o comportamento infantil dos<br />

seres humanos em relação à vinda dos profetas de Deus - são como crianças: se ouvem uma música alegre, tocada com flautas,<br />

nos casamentos (da época), não ficam contentes. Se ouvem uma melodia mais triste, como as executadas nos enterros, não se<br />

emocionam. Ou seja, para muitos, infelizmente, não há como comunicar o Evangelho de modo a que este seja bem compreendido.<br />

Por isso, muito felizes (bem-aventurados) são os que ouvem e aceitam a Palavra de Deus. A KJ de 1611 traz a expressão: “a<br />

sabedoria é justificada por seus filhos” e significa que os frutos (obras) do ensino de João e Jesus são visíveis, palpáveis, práticos<br />

e têm a ver com uma nova e abençoada maneira de viver.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 11, 12<br />

19 Então chega o Filho do homem, comendo<br />

e bebendo, e dizem: ‘Eis aí um glutão e<br />

bebedor de vinho, amigo de publicanos e<br />

pecadores!’ Todavia, a sabedoria é comprovada<br />

pelas obras que são seus frutos”.<br />

Ai dos povos incrédulos<br />

20 Então, começou Jesus a admoestar severamente<br />

as cidades nas quais realizara<br />

numerosos feitos prodigiosos, porque<br />

não se arrependeram:<br />

21 “Ai de ti Corazim! Ai de ti Betsaida!<br />

Porque se os milagres que entre vós<br />

foram realizados tivessem sido feitos em<br />

Tiro e Sidom, há muito que elas se teriam<br />

arrependido, vestindo roupas de saco e<br />

cobrindo-se de cinzas.<br />

22 Entretanto, Eu vos afirmo que no dia<br />

do juízo haverá menos rigor para Tiro e<br />

Sidom, do que para vós outros.<br />

23 E tu, Cafarnaum, te arrogas subir até os<br />

céus? Pois serás lançada no inferno. Porque<br />

se as maravilhas que foram realizadas<br />

em ti houvessem sido feitas em Sodoma,<br />

teria ela permanecido até o dia de hoje.<br />

24 Eu, contudo, vos afirmo que haverá<br />

mais tolerância para com o povo de Sodoma<br />

no dia do julgamento, do que para<br />

contigo”.<br />

Vinde a Cristo, os cansados<br />

25 Naquela ocasião, em resposta, Jesus<br />

proclamou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor<br />

24<br />

dos céus e da terra, pois escondeste estas<br />

coisas dos sábios e cultos, e as revelaste<br />

aos pequeninos.<br />

26 Amém, ó Pai, pois assim foi do teu<br />

agrado!<br />

27 Todas as coisas me foram entregues<br />

por meu Pai. Ninguém conhece o Filho<br />

senão o Pai; e ninguém conhece o Pai a<br />

não ser o Filho, e aquele a quem o Filho<br />

o desejar revelar.<br />

28 Vinde a mim todos os que estais cansados<br />

de carregar suas pesadas cargas, e Eu<br />

vos darei descanso.<br />

29 Tomai vosso lugar em minha canga<br />

e aprendei de mim, porque sou amável<br />

e humilde de coração, e assim achareis<br />

descanso para as vossas almas.<br />

30 Pois meu jugo é bom e minha carga<br />

é leve”. 2<br />

O Senhor do sábado<br />

Naquela época, Jesus passou pe-<br />

12 las lavouras de cereal, em dia de<br />

sábado. Seus discípulos estavam com<br />

fome e começaram a colher espigas e<br />

comê-las.<br />

2 Assim que os fariseus viram aquilo,<br />

disseram-lhe: “Vê! Teus discípulos estão<br />

fazendo o que não é lícito em dia de<br />

sábado!”<br />

3 Mas Jesus lhes respondeu: “Não lestes<br />

o que fez Davi quando ele e seus companheiros<br />

estavam com fome?<br />

2 Corazim, mencionada apenas duas vezes nas Escrituras (aqui e em Lc 10.13) distava cerca de quatro quilômetros ao norte de<br />

Cafarnaum. Betsaida ficava na extremidade ao norte do mar da Galiléia. Tiro e Sidom eram cidades pagãs da Fenícia. Jesus conclui<br />

esse trecho bíblico com uma “resposta” emocionada às graves circunstâncias descritas anteriormente. A expressão: “Graças<br />

te dou” (em grego exomologoumai), significa: “reconheço”. A expressão: “Amém” (em hebraico transliterado amen) vem de uma<br />

raiz que significa “digno de fé” ou “verdade” (Is 65.16), por isso a palavra grega é mera transliteração do hebraico, usada por<br />

algumas versões na forma poética: “em verdade, em verdade”. No AT era, também, uma expressão de concordância (assim seja)<br />

com uma doxologia ou bênção (1Cr 16.36; Sl 41.13). Jesus fez uso dessa expressão com autoridade messiânica, algo incomum<br />

aos rabinos e mestres de sua época (2Co 1.20). Em certo sentido, Jesus pode ser chamado de “o Amém de Deus” (Is 65.16; Ap<br />

3.14). Muitas sinagogas usaram essa expressão, que passou para as primeiras igrejas cristãs (1Co 14.16).<br />

Nos versos 28 a 30 Jesus faz menção às Escrituras (Jr 6.16) e usa mais uma notável ilustração para mostrar como o cristão<br />

pode encontrar descanso para as suas aflições: Jesus aponta para a canga dos bois. Uma trave de madeira robusta, quase<br />

sempre ocupada por dois animais, colocados lado a lado, presos pelo pescoço e ligados ao arado ou carro que deveriam puxar.<br />

Jesus considerou sua cruz (canga), útil e boa (no original grego chrestos). Algumas versões usam a palavra: “suave”. Jesus<br />

considerou seu “fardo” leve, não pesado ou difícil de transportar até seu destino. Para alcançar o pleno descanso devemos<br />

ocupar nosso lugar ao lado de Jesus e partilhar da sua canga; que não era um instrumento de tormento para os animais, mas<br />

um meio útil e cômodo de levar mais carga com menos esforço, evitando os sofrimentos das antigas cordas amarradas pelo<br />

corpo. Jesus quer partilhar sua força conosco. Além disso, bondade, paciência, mansidão, humildade são qualidades que nos<br />

possibilitam trabalhar e descansar com fé no amor e na soberania do Senhor. Uma pessoa assim será querida e amável, e isso a<br />

ajudará a vencer muitos problemas e descansar diariamente em paz.<br />

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4 Como entrou na casa de Deus, e comeram<br />

os pães da Presença, os quais a lei<br />

não lhes permitia comer, nem a ele nem<br />

aos que com ele estavam, mas exclusivamente<br />

aos sacerdotes? 1<br />

5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados,<br />

os sacerdotes no templo violam o sábado<br />

e, contudo, são desculpados?<br />

6 Pois Eu vos afirmo que aqui está quem<br />

é maior do que o templo.<br />

7 Entretanto, se vós soubésseis o que<br />

significam estas palavras: ‘Misericórdia<br />

quero, e não holocaustos’, não teríeis<br />

condenado os que não têm culpa.<br />

8 Pois o Filho do homem é o Senhor do<br />

sábado!”.<br />

Jesus cura no sábado<br />

9 Tendo Jesus saído daquele lugar, foi<br />

para a sinagoga deles.<br />

10 Encontrava-se ali um homem que<br />

tinha uma das mãos atrofiada. Mas, procurando<br />

um motivo para acusar Jesus,<br />

eles o questionaram: “É lícito curar no<br />

sábado?”<br />

11 Ao que Jesus lhes propôs: “Qual de vós<br />

será o homem que, tendo uma ovelha, e,<br />

num sábado, esta cair em um buraco, não<br />

fará todo o esforço para retirá-la de lá?<br />

12 Assim sendo, quanto mais vale uma<br />

pessoa do que uma ovelha! Por isso, é<br />

lícito fazer o bem no sábado”.<br />

13 Então, dirigiu-se ao homem e disse:<br />

25 <strong>MATEUS</strong> 12<br />

“Estende a tua mão”. Ele a estendeu e ela<br />

foi restaurada, ficando sã como a outra.<br />

14 Diante disso, saíram os fariseus e começaram<br />

a conspirar sobre como poderiam<br />

matar Jesus.<br />

Eis meu Servo amado!<br />

15 Mas, Jesus, sabendo disto, afastou-se<br />

daquele lugar. Uma multidão o seguiu e<br />

a todos Ele curou.<br />

16 Contudo, os advertiu para que não<br />

divulgassem suas obras.<br />

17 Ao acontecer isso, cumpriu-se o que<br />

fora dito pelo profeta Isaías:<br />

18 “Eis o meu Servo, que escolhi, o meu<br />

amado, em quem tenho alegria. Farei<br />

repousar sobre Ele o meu Espírito, e Ele<br />

anunciará justiça às nações.<br />

19 Não contenderá nem gritará; nem se<br />

ouvirá nas ruas a sua voz.<br />

20 Não esmagará a cana rachada, nem<br />

apagará o pavio que fumega, até que faça<br />

vencer a justiça.<br />

21 E em seu Nome os gentios colocarão<br />

sua esperança”.<br />

O pecado imperdoável<br />

22 Depois disso, aconteceu que lhe trouxeram<br />

um endemoninhado, cego e mudo; Ele<br />

o curou, de modo que pôde falar e ver.<br />

23 Então, toda a multidão ficou atônita<br />

e exclamava: “É este, porventura, o Filho<br />

de Davi?”<br />

1 O sábado (em hebraico shabbãth) é estabelecido nas Escrituras como princípio: um em cada sete dias deveria ser separado<br />

(santificado) para o descanso. A raiz hebraica da palavra “sábado” é shãbhath, que significa “cessar”. Na Criação, o próprio<br />

Deus legou à humanidade o exemplo da santificação do sábado (Gn 2.2; Êx 20.8-11). Em Êx 16.21-30 há uma menção explícita<br />

sobre o sábado em relação à provisão do maná. O sábado (dia do descanso em homenagem ao Criador) nesse contexto, é<br />

representado como um dom de Deus, visando o repouso e o benefício do povo. Não era necessário trabalhar no sábado (juntar<br />

o maná), pois dupla porção era provida no sexto dia da semana. Os fariseus, no entanto, haviam acrescentado à Lei e ao sábado<br />

uma série imensa de minuciosas regras e observâncias não prescritas por Moisés. Ao entrar pelos campos de trigo, Jesus e seus<br />

discípulos estavam usufruindo um direito concedido pela Lei a todo viajante: comer para satisfazer a fome, sem levar nada (Dt<br />

23.25), mas os fariseus implicaram com o ato de debulhar no sábado (Lc 6.1). Jesus então faz referência a 1Sm 21.1-6, lembrando<br />

que em caso de necessidade, alguns detalhes da lei cerimonial podiam ser suprimidos. Os pães da Presença ou Proposição,<br />

como em algumas versões, referem-se à presença do próprio Deus (Êx 33.14,15; Is 63.9). Os doze pães (cada um simbolizando<br />

uma tribo) representavam uma oferta perpétua, de pão, ao Senhor, mediante a qual Israel declarava consagrar a Deus os frutos<br />

do seu trabalho que, por sua vez, era uma bênção do Senhor (Lv 24.5,9). Esses pães eram colocados na mesa do lugar santo<br />

do tabernáculo, todos os sábados, e depois da cerimônia podiam ser comidos pelo sacerdote e sua família. Ocorre que os<br />

sacerdotes preparavam os pães e os sacrifícios no sábado, mesmo sob a proibição geral do trabalho nesse dia. Jesus então<br />

argumenta que se as necessidades do culto no templo permitiam que o sacerdote profanasse o sábado, com muito mais razão a<br />

missão de Cristo (o Messias) merece a mesma liberdade. Jesus ensina que a ética é mais importante que o ritual, e o espírito da<br />

Lei maior que as letras e os mandamentos. Jesus declara que Ele é Deus, ao afirmar que é Senhor do sábado (Jo 5.17) e enfatiza<br />

que o sábado foi dado à humanidade para o seu bem e não como uma obrigação prejudicial.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 12<br />

24 Mas os fariseus, ao ouvirem isso, murmuraram:<br />

“Este homem não expulsa<br />

demônios senão pelo poder de Belzebu, o<br />

príncipe dos demônios”.<br />

25 Entretanto, Jesus compreendia os pensamentos<br />

deles, e lhes afirmou: “Todo<br />

reino dividido contra si mesmo será<br />

arruinado, e toda cidade ou casa dividida<br />

contra si mesma não resistirá.<br />

26 Se Satanás expulsa Satanás, está dividido<br />

contra ele próprio. Como poderá<br />

então subsistir o seu reino?<br />

27 E se Eu expulso demônios por Belzebu,<br />

por quem os expulsam vossos filhos?<br />

E, por isso, eles mesmos serão os vossos<br />

juízes.<br />

28 Mas, se é pelo Espírito de Deus que<br />

Eu expulso demônios, então, verdadeiramente,<br />

é chegado o Reino de Deus<br />

sobre vós!<br />

29 Ou ainda, como pode alguém entrar<br />

na casa do homem forte e roubar-lhe<br />

todos os bens sem primeiro amarrá-lo?<br />

Só depois disso será possível saquear a<br />

sua casa.<br />

30 Quem não está comigo, está contra<br />

mim; e aquele que comigo não colhe,<br />

espalha.<br />

31 Portanto, Eu vos assevero: Todos os<br />

pecados e blasfêmias serão perdoados<br />

às pessoas; a blasfêmia contra o Espírito<br />

Santo não será, porém, perdoada!<br />

26<br />

32 Qualquer pessoa que disser uma palavra<br />

contra o Filho do homem, isso lhe<br />

será perdoado; porém, se alguém falar<br />

contra o Espírito Santo, não lhe será<br />

isso perdoado, nem nesta época, nem no<br />

tempo futuro.<br />

33 Ou fazei a árvore boa e o seu fruto<br />

bom, ou a árvore má e o seu fruto mau;<br />

pois uma árvore é conhecida pelo seu<br />

fruto.<br />

34 Raça de víboras! Como podeis falar<br />

coisas boas, sendo maus? Pois a boca<br />

fala do que está cheio o coração.<br />

35 Uma boa pessoa tira do seu bom tesouro<br />

coisas boas; mas a pessoa má, tira<br />

do seu tesouro mau, coisas más.<br />

36 Por isso, vos afirmo que de toda a palavra<br />

fútil que as pessoas disserem, dela<br />

deverão prestar conta no Dia do Juízo.<br />

37 Porque pelas tuas palavras serás absolvido<br />

e pelas tuas palavras serás condenado”.<br />

2<br />

O sinal da ressurreição<br />

38 Então alguns dos mestres da lei e fariseus<br />

lhe pediram: “Mestre, queremos ver<br />

de tua parte algum milagre”.<br />

39 Ao que Jesus respondeu: “Uma geração<br />

perversa e adúltera pede um sinal<br />

miraculoso! Todavia, nenhum sinal lhe<br />

será dado, exceto o sinal miraculoso do<br />

profeta Jonas. 3<br />

2 Filho de Davi era um título exclusivo do Messias (Mc 3.22-30; Lc 11.14-22). A vinda e a vida de Jesus eram o evidente cumprimento<br />

das profecias, especialmente de Isaías 42.1-4. Deus, assumindo a forma humana em Jesus, tratou os seres humanos com<br />

misericórdia e delicadeza: como caniços (varas de pesca) que podem ser quebrados ou esmagados com facilidade; ou ainda<br />

como pequenas chamas que podem ser apagadas com um simples movimento. Jesus percebeu, compreendeu (no original grego<br />

eidôs) o que de fato os fariseus estavam tramando. Os judeus já praticavam o exorcismo (At 19.13-16) e Jesus os questionou<br />

sob qual autoridade exerciam essa prática. Jesus já havia vencido Satanás em seus quarenta dias no deserto (4.1-11) e agora<br />

estava invadindo o reino do Maligno (1Jo 3.8), para tirar das trevas as almas de todos aqueles que nele cressem, e para destruir a<br />

“casa do homem forte” (Is 49.24-26; Lc 11.21). Por isso não pode haver neutralidade no Reino de Deus: quem não serve a Cristo<br />

está servindo ao Diabo que é o diretor-geral do sistema (econômico, político, social e religioso) deste mundo. O único pecado<br />

sem perdão é a rejeição consciente e sistemática da salvação graciosa em Cristo e a alegação de que Jesus e o Diabo são a<br />

mesma pessoa ou as duas faces da verdade (o bem e o mal), como pensam algumas correntes filosóficas (Hb 6.4-6; 10.26-31).<br />

Jesus acrescenta que o caráter de uma pessoa será sempre revelado por meio de suas palavras (Tg 3.2) e que essas palavras<br />

pesam na balança da terra e do céu (Pv 18.21). Há três palavras gregas para designar milagres: 1) teras – algo portentoso; 2) dunamis<br />

– poder maravilhoso; 3) semeion – uma prova ou sinal sobrenatural. No passado, muitos líderes de Israel haviam concedido<br />

ao povo provas de sua missão por parte de Deus. Assim, para autenticar a obra de Moisés, o Senhor enviou o maná; para Josué,<br />

o Senhor fez parar o Sol e a Lua; para Samuel, enviou o Senhor, trovões, de um céu claro e limpo, sem tempestades; para Elias,<br />

mandou Deus, fogo do céu; para Isaías, fez recuar a sombra do relógio (da época) do Sol. Mas, para confirmar a obra de Jesus<br />

Cristo, o Messias, seria realizado o maior milagre de todos: Deus ressuscitaria a Seu Filho Jesus da sepultura e esse seria um sinal<br />

ainda maior do que aquele realizado para a conversão de toda a antiga cidade de Nínive (39-41).<br />

3 O AT usa freqüentemente a metáfora: “adúltera” para significar “infiel a Deus”. Os três dias e três noites de Jonas e de Jesus<br />

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40 Portanto, assim como esteve Jonas<br />

três dias e três noites no ventre de um<br />

grande peixe, assim o Filho do homem<br />

estará três dias e três noites no coração<br />

da terra.<br />

41 O povo de Nínive se levantará no Dia<br />

do Juízo com esta geração, e a condenará;<br />

pois eles se arrependeram com a pregação<br />

de Jonas. E eis que aqui está quem é<br />

maior do que Jonas.<br />

42 A rainha do Sul se levantará no Juízo<br />

com esta geração e a condenará, pois ela<br />

veio dos confins da terra para conhecer<br />

os sábios ensinamentos de Salomão. E<br />

eis que aqui está quem é maior do que<br />

Salomão.<br />

43 Quando um espírito imundo sai de<br />

uma pessoa, passa por lugares áridos<br />

procurando descanso, mas não encontra<br />

onde repousar.<br />

44 Então diz: ‘Voltarei para a minha casa<br />

de onde saí’. E, retornando, encontra a<br />

casa desocupada, varrida e arrumada.<br />

45 Diante disso, vai e leva consigo outros<br />

sete espíritos, piores do que ele, e, entrando,<br />

passam a morar ali. E o estado<br />

final daquela pessoa torna-se pior que o<br />

primeiro. Assim também ocorrerá com<br />

esta geração má!”.<br />

27 <strong>MATEUS</strong> 12, 13<br />

A mãe e os irmãos de Jesus<br />

46 Enquanto, Jesus estava pregando à<br />

grande multidão, do lado de fora, sua<br />

mãe e seus irmãos procuravam falar<br />

com Ele.<br />

47 Então alguém o avisou: “Tua mãe e<br />

teus irmãos estão lá fora e desejam falar-te”.<br />

48 Jesus, entretanto, respondeu ao que lhe<br />

trouxera a informação: “Quem é minha<br />

mãe e quem são os meus irmãos?” 4<br />

49 E, estendendo a mão na direção dos<br />

discípulos, afirmou: “Eis minha mãe e<br />

meus irmãos.<br />

50 Pois todo aquele que faz a vontade de<br />

meu Pai que está nos céus, este é meu<br />

irmão, minha irmã e minha mãe”.<br />

A parábola do semeador<br />

(Mc 4.1-20; Lc 8.1-15)<br />

Naquele mesmo dia Jesus saiu de<br />

13 casa e foi assentar-se à beira-mar.<br />

2 Uma grande multidão reuniu-se ao seu<br />

redor e, por esse motivo, entrou num<br />

barco e assentou-se. E todo o povo estava<br />

em pé na praia.<br />

3 Jesus ensinou-lhes então muitas coisas<br />

por meio de parábolas, como esta: “Eis<br />

que um semeador saiu a semear. 1<br />

(Jn 1.17) referem-se ao período que vai da sexta-feira à tarde até o domingo de manhã. A expressão hebraica traduzida por<br />

algumas versões como “baleia”, significa no original: “grande monstro marinho”. A rainha do Sul (também chamada de rainha do<br />

meio-dia) é a mesma rainha de Sabá (1Rs 10) cujo reino ficava a sudoeste da Arábia, onde é hoje o Iêmen. Jesus recorre à história<br />

de Israel para fazer referência ao processo de purificação da idolatria, entre os judeus, durante o cativeiro babilônico, mas cujo<br />

estado atual – de incredulidade e dureza de coração – era muito pior que antes do exílio (Lc 11.24-26).<br />

4 Jesus tinha quatro irmãos (mencionados os seus nomes em Mc 6.3) e mais um número de irmãs não especificado nas<br />

Escrituras. Alguns teólogos defendem a idéia de que esses seriam primos de Jesus, filhos de Alfeu com a irmã da mãe de Jesus<br />

que também se chamava Maria. Mas, Jo 7.5 e At 1.14 os distinguem claramente dos filhos de Alfeu. Jesus aproveita o que seria<br />

uma interrupção do seu discurso para ilustrar a verdadeira fraternidade: uma nova família espiritual à qual todos os cristãos<br />

pertencem e a quem devem amar como à própria mãe e aos irmãos. Em nenhum momento Jesus tem a intenção de divinizar sua<br />

mãe, muito menos de tratá-la sem o devido carinho e respeito.<br />

Capítulo 13<br />

1 Jesus saiu da casa de Simão e André, em Cafarnaum (8.14), e dirigiu-se às margens do “mar da Galiléia”, chamado também de<br />

“o grande lago”. Os hebreus não tinham apreço pelo mar, pois as antigas crenças semíticas diziam que a profundidade (abismo)<br />

personificava o poder do mal que combatia contra Deus. Para Israel, entretanto, Deus era o criador do mar e seu controlador,<br />

fazendo que o mar coopere para o bem da humanidade (Gn 1.9; Gn 49.25; Êx 14,15; Dt 33.13; Sl 104.7-9; Sl 148.7; Mt 14.25-33;<br />

At 4.24). O triunfo final de Deus será acompanhado pelo desaparecimento total do mar (Ap 21.1). A expressão “parábola” vem<br />

do original grego paraboles, que significa, colocar coisas semelhantes, lado a lado, para estabelecer comparação, estudo e tirar<br />

um ensinamento. Em nossa língua, a parábola é uma figura de linguagem em que uma verdade moral ou espiritual é ilustrada<br />

por uma analogia derivada da experiência cotidiana. Com essa parábola, conhecida como “do semeador” Jesus inicia o primeiro<br />

grupo de histórias didáticas sobre o Reino de Deus, registradas em Mateus. Os evangelhos sinóticos contêm cerca de trinta<br />

parábolas. O evangelho segundo João não apresenta parábolas, mas emprega outras figuras de linguagem.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 13<br />

4 Enquanto realizava a semeadura, parte<br />

dela caiu à beira do caminho e, vindo as<br />

aves, a devoraram.<br />

5 Outra parte caiu em terreno rochoso,<br />

onde havia uma fina camada de terra,<br />

e logo brotou, pois o solo não era profundo.<br />

6 Porém, quando veio o sol, as plantas<br />

se queimaram; e por não terem raiz,<br />

secaram.<br />

7 Outra parte caiu entre os espinhos. Estes,<br />

ao crescer, sufocaram as plantas.<br />

8 Contudo, uma parte caiu em boa terra,<br />

produzindo generosa colheita, a cem,<br />

sessenta e trinta por um.<br />

9 Aquele que tem ouvidos para ouvir,<br />

que ouça!”.<br />

O propósito das parábolas<br />

10 Então, os discípulos se aproximaram<br />

dele e perguntaram: “Por que lhes falas<br />

por meio de parábolas?”<br />

11 Ao que Ele respondeu: “Porque a vós<br />

outros foi dado o conhecimento dos<br />

mistérios do Reino dos céus, mas a eles<br />

isso não lhes foi concedido. 2<br />

12 Pois a quem tem, mais se lhe dará, e<br />

terá em abundância; mas, ao que quase<br />

não tem, até o que tem lhe será tirado.<br />

13 Por isso lhes falo por meio de parábolas;<br />

porque, vendo, não enxergam; e<br />

escutando, não ouvem, muito menos<br />

compreendem.<br />

14 Neles se cumpre a profecia de Isaías:<br />

‘Ainda que continuamente estejais ouvindo,<br />

jamais entendereis; mesmo que sempre<br />

estejais vendo, nunca percebereis.<br />

15 Posto que o coração deste povo está<br />

petrificado; de má vontade escutaram<br />

com seus ouvidos, e fecharam os seus<br />

28<br />

olhos; para evitar que enxerguem com os<br />

olhos, ouçam com os ouvidos, compreendam<br />

com o coração, convertam-se, e<br />

sejam por mim curados’.<br />

16 Mas abençoados são os vossos olhos,<br />

porque enxergam; e os vossos ouvidos,<br />

porque ouvem.<br />

17 Pois com certeza vos afirmo que muitos<br />

profetas e justos desejaram ver o que<br />

vedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, e<br />

não ouviram.<br />

Jesus explica essa parábola<br />

18 Portanto, atentai para o que significa a<br />

parábola do semeador:<br />

19 Quando uma pessoa escuta a mensagem<br />

do Reino, mas não a compreende,<br />

vem o Maligno e arranca o que foi<br />

semeado em seu coração. Estas são as<br />

sementes que foram semeadas à beira<br />

do caminho.<br />

20 O que foi semeado em terreno rochoso,<br />

esse é o que ouve a Palavra e logo a<br />

aceita com alegria.<br />

21 Contudo, visto que não tem raiz em<br />

si mesmo, resiste por pouco tempo. E,<br />

quando por causa da Palavra chegam os<br />

problemas e as perseguições, logo perde<br />

o ânimo.<br />

22 Quanto ao que foi semeado entre os<br />

espinhos, este é aquele que ouve a Palavra,<br />

mas as preocupações desta vida e a<br />

sedução das riquezas sufocam a mensagem,<br />

tornando-a infrutífera.<br />

23 Mas, enfim, o que foi semeado em<br />

boa terra é aquele que ouve a Palavra e<br />

a entende; este frutifica e produz grande<br />

colheita: alguns, cem; outros, sessenta; e<br />

ainda outros trinta vezes mais do que foi<br />

semeado”.<br />

2 A expressão original grega, aqui traduzida por “mistérios”, refere-se a revelações especiais a que somente os devotos (crentes,<br />

consagrados) a Jesus Cristo têm acesso. O v.12 anuncia um princípio básico do mundo espiritual: quem aceita a Palavra de<br />

Deus, com humildade e reverência, receberá muitas outras bênçãos do Senhor, mas aos arrogantes e incrédulos, até a parcela<br />

de fé e bênçãos que lhes foi concedida será retirada. Veja os exemplos do “filho pródigo” (Lc 15.17-24) e o que aconteceu com<br />

o Faraó do Egito depois de ter feito pouco caso do aviso de Moisés (Êx 8.1-32; 9.1-12). As coisas de Deus não fazem sentido<br />

para aqueles dotados apenas de crítica racional. Precisam ser iluminados em sua compreensão espiritual e isso é dom de Deus<br />

(Rm 5.15,16; 1Co 2.14-16; Ef 2.8). Os versos 14 e 15 são copiados, palavra por palavra, da Septuaginta (Is 6.9,10), que descreve<br />

o chamado do profeta Isaías, a mensagem que deveria pregar e o estado de calamidade espiritual do povo. Como no tempo de<br />

Isaías, assim também na época de Cristo, os judeus fecharam os olhos à verdade (Mc 4.12). Jesus e Sua Igreja são as últimas<br />

grandes luzes a brilhar neste mundo para todo aquele que quiser abrir os olhos (Ef 3.2-5; 1Pe 1.10-12).<br />

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O trigo e o joio<br />

24 Jesus lhes contou outra parábola: “O<br />

Reino dos céus é semelhante a um homem<br />

que semeou boa semente em seu<br />

campo.<br />

25 Entretanto, quando todos dormiam,<br />

chegou o inimigo dele, lançou o joio<br />

no meio do trigo, e seguiu o seu caminho.<br />

3<br />

26 Assim, quando o trigo brotou e formou<br />

espigas, o joio também apareceu.<br />

27 Os servos do dono da plantação foram<br />

até ele e perguntaram: ‘Senhor, não<br />

semeaste boa semente no teu campo?<br />

Então, de onde vem o joio?’.<br />

28 Ele, porém, lhes respondeu: ‘Um<br />

inimigo fez isso’. Então os servos lhe<br />

propuseram:‘Senhor, queres que vamos<br />

e arranquemos o joio?’<br />

29 Ao que o senhor respondeu: ‘Não, pois<br />

ao tirar o joio, podereis arrancar juntamente<br />

com ele o trigo.<br />

30 Deixai-os, pois, crescer juntos até à<br />

29 <strong>MATEUS</strong> 13<br />

safra, e, no tempo da colheita, direi aos<br />

ceifeiros: ‘Primeiro ajuntai o joio e amarrai-o<br />

em feixes para ser queimado; mas o<br />

trigo, recolhei-o no meu celeiro’”.<br />

O grão de mostarda<br />

31 Outra parábola ainda lhes propôs Jesus,<br />

dizendo: “O Reino dos céus é como<br />

um grão de mostarda, que um homem<br />

tomou e plantou em seu campo.<br />

32 Embora seja a menor dentre todas as<br />

sementes, quando cresce chega a ser a<br />

maior das plantas, e se torna uma árvore,<br />

de maneira que as aves do céu vêm aninhar-se<br />

em seus ramos”.<br />

O fermento<br />

33 E contou-lhes mais outra parábola: “O<br />

Reino dos céus é semelhante ao fermento<br />

que uma mulher pegou e misturou em<br />

três medidas de farinha, até que toda a<br />

massa ficou levedada”.<br />

34 Todas essas coisas falou Jesus à mul-<br />

3 O propósito desta parábola é revelar o método por meio do qual Deus está agindo no mundo durante a era (tempo) do<br />

Evangelho (das Boas Novas de Cristo). Jesus raramente interpretava suas histórias enigmáticas (parábolas). Isso porque sabia<br />

que todas as pessoas que verdadeiramente amavam a Deus entenderiam sua mensagem. Mas, para que nada faltasse aos<br />

discípulos, ele explica algumas delas (18-23; 36-43). O joio é uma erva daninha, também chamada de cizânia ou centeio falso,<br />

que enquanto está crescendo é muito semelhante ao trigo. Apenas quando as espigas se formam é que é possível fazer uma<br />

distinção correta. A farinha de trigo feita com a mistura desse centeio falso é venenosa. A semente de mostarda era a menor<br />

semente que os agricultores da Palestina, na época de Cristo, costumavam semear. Em condições favoráveis, essas “plantas” (no<br />

original grego lachanôn) podiam alcançar cerca de três metros de altura. Jesus aproveita essa ilustração da árvore para lembrar<br />

as Escrituras (Ez 17.23, 31.5; Sl 104.12; Dn 4.12,21). Em Ez 17, por exemplo, a “árvore” é o “Novo Israel”, mas em Ez 41 e Dn 4,<br />

a árvore representa os impérios dos gentios: Assíria e Babilônia (região onde hoje se situa o Iraque). Dessa maneira, a parábola<br />

antecipa o desenvolvimento da Igreja de Cristo. Entretanto, as aves (v.19), como figura do Maligno, completam o quadro da Igreja<br />

visível (na terra) em sua apostasia (tempo de frieza espiritual da Igreja) e revelam aos discípulos que o Reino de Deus, tendo um<br />

início tão humilde quanto a menor das sementes, se expandiria até atingir domínio mundial, envolvendo pessoas de todas as<br />

nações (Dn 2.35-45; 7.27; Ap 11.15). Nas Escrituras, o fermento quase sempre é um símbolo de algo perverso ou impuro. Nesta<br />

parábola, entretanto, significa: crescimento, progresso. A expressão “uma medida” vem do hebraico seah (no original grego: sata)<br />

e corresponde a cerca de seis litros. Ou seja, assim como o bom fermento se alastra pela massa, dessa mesma maneira, o Reino<br />

de Deus envolve a alma da pessoa que recebe o Espírito Santo, e vai moldando seu caráter à imagem de Cristo (2Co 4.1-15). No<br />

v.35, a citação bíblica vem do Sl 78.2-3, sendo que a primeira parte é tirada da Septuaginta (tradução grega do AT) e a segunda<br />

parte, do hebraico. Mateus interpreta esse texto como mais uma profecia sobre Jesus Cristo. A palavra “filhos” neste contexto<br />

e no original significa: “aqueles que pertencem”. No v.41 há uma alusão ao texto hebraico de Sf 1.3, sendo que a palavra grega<br />

anomian, traduzida algumas vezes por “iniqüidade”, e aqui por “mal”, também significa: “ilegalidade”. A expressão “consumação<br />

do século” como aparece em algumas versões, aqui traduzida por “final desta era”, como base a tradução dos melhores originais;<br />

nos quais, a palavra grega, éon, significa mais propriamente: um período de tempo marcante na história da humanidade,<br />

ou seja, uma era. Literalmente: “finalização do éon” ou do período que vai do nascimento de Cristo à sua volta triunfante (Mt<br />

24; 25; Mc 13). A expressão: “fornalha ardente”, mencionada muitas vezes nos textos apocalípticos (Ap 19.20; 20.14), ocorre<br />

mais cinco vezes em Mateus (8.12; 13.50; 22.13; 24.51; 25.30) e em nenhuma outra parte do NT. Não compete à Igreja de Jesus<br />

Cristo arrogar-se o direito de julgar e condenar pessoas antes do Dia do Juízo (a grande colheita). Essa parábola não se aplica<br />

às questões da disciplina comunitária que é tratada em Mt 18; mas, sim, da necessária e inevitável convivência que deve haver<br />

entre cristãos e descrentes enquanto estivermos neste mundo, até a segunda vinda do Senhor (1Co 4.5; 2Co 10.4). Não devemos<br />

nos preocupar em destruir o joio, mas em levar a todos a Palavra da graça salvadora de Jesus Cristo e assim brilharemos por<br />

toda a eternidade (Dn 12.3).<br />

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<strong>MATEUS</strong> 13<br />

tidão por meio de parábolas e nada lhes<br />

dizia sem usar palavras enigmáticas.<br />

35 E assim cumpriu-se o que fora dito por<br />

meio do profeta: “Abrirei em parábolas a<br />

minha boca; proclamarei coisas ocultas<br />

desde a fundação do mundo”.<br />

Jesus explica a parábola do joio<br />

36 Então, Jesus se despediu da multidão e<br />

foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se<br />

dele e pediram: “Explica-nos a<br />

parábola do joio na plantação”.<br />

37 E Jesus explicou: “Aquele que semeou a<br />

boa semente é o Filho do homem.<br />

38 O campo é o mundo, e a boa semente<br />

são os filhos do Reino. O joio representa<br />

os que pertencem ao Maligno.<br />

39 O inimigo que semeou o joio é o Diabo.<br />

A colheita é o final desta era, e os ceifeiros<br />

são os anjos.<br />

40 Da mesma maneira que o joio é colhido<br />

e jogado ao fogo, assim será no fim<br />

desta era.<br />

41 O Filho do homem mandará os seus<br />

anjos, e eles ceifarão do seu Reino tudo<br />

o que causa tropeço e todos os que praticam<br />

o mal.<br />

42 Eles os lançarão na fornalha ardente e<br />

ali haverá pranto e ranger de dentes.<br />

43 Então os justos reluzirão como o sol<br />

no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos<br />

para ouvir, que ouça!<br />

O tesouro escondido<br />

44 O Reino dos céus assemelha-se a um<br />

tesouro escondido no campo. Certo homem,<br />

tendo-o encontrado, escondeu-o<br />

novamente. Então, transbordando de alegria,<br />

vai, vende tudo o que tem, e compra<br />

aquele terreno.<br />

30<br />

A pérola de grande valor<br />

45 Da mesma forma, o Reino dos céus é<br />

como um negociante que procura pérolas<br />

preciosas.<br />

46 E, assim que encontrou uma pérola valiosíssima,<br />

foi, vendeu tudo o que tinha e<br />

a comprou.<br />

Os bons e os maus peixes<br />

47 O Reino dos céus é ainda semelhante<br />

a uma rede que, lançada ao mar, recolhe<br />

peixes de toda espécie.<br />

48 E, quando está repleta, os pescadores<br />

a puxam para a praia. Então se assentam<br />

e juntam os bons em cestos, mas jogam<br />

fora os ruins.<br />

49 Assim também ocorrerá no final desta<br />

era. Chegarão os anjos e irão separar os<br />

maus dentre os justos.<br />

50 E lançarão os maus na fornalha ardente;<br />

e ali haverá grande lamento e ranger<br />

de dentes”.<br />

O mestre é um pai de família<br />

51 Então lhes perguntou Jesus: “Entendestes<br />

todas estas parábolas?” Ao que eles<br />

responderam: “Sim, Senhor”.<br />

52 E Jesus lhes disse: “Portanto, todo<br />

mestre da lei, bem esclarecido quanto ao<br />

Reino dos céus, é semelhante a um pai<br />

de família que sabe tirar do seu tesouro<br />

coisas novas e coisas velhas”. 4<br />

O profeta não é honrado pelos seus<br />

53 Havendo terminado de contar essas<br />

parábolas, retirou-se Jesus dali.<br />

54 Chegando à sua cidade, começou<br />

a ensinar o povo na sinagoga, de tal<br />

maneira que as pessoas se admiravam,<br />

e exclamavam: “De onde lhe vem tanta<br />

4 Depois que os judeus blasfemaram contra o Espírito Santo (12.24-30) e começaram a tramar seu assassinato (12.14), Jesus<br />

passa a revelar aspectos mais profundos sobre o Reino de Deus, apenas aos seus discípulos, preparando-os para continuar<br />

sua obra. O termo grego grammateus (escriba), significa “escrivão” ou “letrado”. Poucos sabiam ler e escrever naquela época e<br />

lugar. Os escribas eram responsáveis por copiar e arquivar as leis e tradições judaicas, e assim se tornaram mestres, doutores e<br />

advogados (Lc 5.21), pois não havia distinção entre a lei de Deus e a dos homens. A sinagoga era a principal instituição religiosa<br />

judaica daqueles dias e podia ser estabelecida em qualquer cidade com mais de dez judeus casados. Teve origem no exílio e<br />

servia de local onde os judeus podiam estudar as Escrituras e adorar a Deus. Jesus, como também Paulo (At 13.15; 14.1; 17.2;<br />

18.4), aproveitou o costume judaico de convidar mestres visitantes para pregar nas sinagogas locais e lhes anunciou a chegada<br />

do Reino de Deus: O Evangelho de Cristo. No original grego, a palavra aqui traduzida por “carpinteiro” é a mesma usada para<br />

identificar o trabalho do “pedreiro”. Jesus, como filho mais velho da família, era o principal ajudante do pai nos trabalhos com<br />

madeira e alvenaria, ofício que desempenhou para cooperar com o sustento da família, após a morte de José (Mc 6.3; Lc 8.19).<br />

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sabedoria e estes poderes para realizar<br />

milagres?<br />

55 Ora, não é este o filho do carpinteiro?<br />

O nome de sua mãe não é Maria, e o de<br />

seus irmãos: Tiago, José, Simão e Judas?<br />

56 Não vivem entre nós todas as suas<br />

irmãs? Portanto, de onde obteve todos<br />

esses poderes?”.<br />

57 E ficavam escandalizados por causa<br />

dele. Entretanto, Jesus lhes afirmou:<br />

“Não há profeta sem honra, a não ser em<br />

sua própria terra, e em sua própria casa”.<br />

58 E Jesus não realizou ali muitos milagres,<br />

por causa da falta de fé daquelas<br />

pessoas. 5<br />

João Batista é decapitado<br />

Por aquele tempo Herodes, o<br />

14 tetrarca, ouviu os relatos sobre os<br />

feitos de Jesus.<br />

2 E disse aos seus servos: “Este é João<br />

Batista; ele ressuscitou dos mortos e,<br />

por isso, nele operam poderes para fazer<br />

milagres.<br />

3 Porque Herodes tinha mandado prender<br />

João, amarrar suas mãos e jogá-lo<br />

na prisão. Isso por causa de Herodias,<br />

mulher de Filipe, seu irmão.<br />

4 Pois João o havia advertido, dizendo:<br />

“Não te é lícito esposá-la”.<br />

5 Herodes, portanto, queria matá-lo, mas<br />

temia o povo, pois este o considerava<br />

profeta.<br />

6 Mas, tendo chegado o dia da celebração<br />

31 <strong>MATEUS</strong> 13, 14<br />

do aniversário de Herodes, a filha de Herodias<br />

dançou diante de todos, e muito<br />

agradou a Herodes.<br />

7 Por conta disso, ele lhe prometeu, sob<br />

juramento, conceder qualquer pedido<br />

que ela desejasse fazer.<br />

8 Foi então que ela, influenciada por sua<br />

mãe, pediu: “Dá-me aqui, num prato, a<br />

cabeça de João Batista”. 1<br />

9 O rei ficou angustiado; contudo, por<br />

causa do juramento e da presença dos<br />

convidados, ordenou que lhe fosse dado<br />

o que ela pedira.<br />

10 Então mandou decapitar João na prisão.<br />

11 Sua cabeça foi levada num prato e entregue<br />

à jovem, que a entregou à mãe.<br />

12 Os discípulos de João vieram, levaram<br />

seu corpo e o sepultaram. E foram contar<br />

a Jesus o que havia acontecido.<br />

A multiplicação dos pães<br />

13 Assim que Jesus ouviu essas coisas, retirou-se<br />

de barco, em particular, para um<br />

lugar deserto. As multidões, entretanto,<br />

ao saberem disso, saíram das cidades e o<br />

seguiram a pé.<br />

14 Quando Jesus deixou o barco, viu<br />

numerosa multidão; sentiu-se movido<br />

de grande compaixão pelo povo, e curou<br />

os seus doentes.<br />

15 Ao final do dia, os discípulos se aproximaram<br />

de Jesus e disseram: “Este é um<br />

lugar deserto, e já está entardecendo.<br />

Manda embora, pois, as multidões, para<br />

5 Existe uma clara correlação entre a fé e a realização dos milagres de Jesus em Mateus (8.10,13; 9.2,22,28,29). A arrogância dos<br />

teólogos e líderes religiosos e a presunção dos que pensavam conhecer a Jesus desde criança, fizeram com que eles perdessem a<br />

maravilhosa oportunidade de receber as preciosas revelações e bênçãos do Messias, o Filho de Deus em pessoa: Jesus Cristo.<br />

Capítulo 14<br />

1 Herodes Antipas, que reinou de 4 a.C. a 39 a.D., era o tetrarca (em grego tetrarches), ou seja, “aquele que rege uma quarta<br />

parte do império”, no caso, a quarta parte da Palestina, mais a Galiléia e a Peréia, que foi herança de seu pai Herodes, o<br />

Grande (Mt 2.1,22), quando dividiu seu reino entre quatro de seus muitos filhos. Depois das maravilhosas viagens de Jesus pela<br />

Galiléia, muito cresceu sua fama em todas as regiões vizinhas, originando muitas idéias sobre sua pessoa e missão (16.13-14).<br />

A consciência pagã, supersticiosa, culpada e amedrontada de Herodes, o fez criar a teoria de que Jesus seria a encarnação do<br />

espírito de João Batista que ele mandara decapitar (Mc 6.16). Herodias era ex-esposa do meio irmão de Herodes, Filipe, tio de<br />

Herodias. Ela fora persuadida a abandonar o marido para casar-se com Herodes Antipas, cometendo assim, incesto (Lv 18.16;<br />

20.21). João Batista falou francamente com o tetrarca e o chamou ao arrependimento; e Herodes sabia que João era homem de<br />

Deus e estava certo em sua denúncia (Mc 6.20). Salomé, filha de Herodias, tinha cerca de 20 anos e dançou de forma lasciva<br />

diante de muitas autoridades, agradando a todos, em especial a Herodes. O grande historiador judeu Flávio Josefo, que viveu<br />

entre os séculos I e II, conta que Salomé veio a se casar com um tio-avô, também chamado Filipe (filho de Herodes, o Grande),<br />

que reinou sobre as terras do norte (Lc 3.1). O prato (v.11), no qual a cabeça de João é apresentada, era uma peça de madeira<br />

onde serviam as carnes nas festas. João permanecera por mais de um ano no cativeiro, devido à indecisão de Herodes, que além<br />

de permitir a visita dos discípulos de João, também gostava de ouvir o profeta (11.2).<br />

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<strong>MATEUS</strong> 14<br />

que possam ir aos povoados comprar<br />

comida”.<br />

16 Jesus, porém, lhes respondeu: “O povo<br />

não precisa ir embora; dai-lhes vós mesmos<br />

algo para comer”.<br />

17 Ao que eles replicaram: “Tudo o que<br />

temos aqui são cinco pequenos pães e<br />

dois peixes!”<br />

18 Mas Jesus lhes disse: “Tragam-nos aqui<br />

para mim”.<br />

19 E mandou que as multidões se assentassem<br />

sobre o gramado. Tomou, então,<br />

os cinco pães e os dois peixes e, olhando<br />

para o céu, os abençoou. Em seguida,<br />

tendo partido os pães, deu-os aos discípulos,<br />

e estes serviram às multidões. 2<br />

20 Todos comeram até ficar satisfeitos,<br />

e os discípulos recolheram doze cestas<br />

cheias de pedaços que sobraram.<br />

21 Os que se alimentaram foram cerca de<br />

cinco mil homens, sem contar as mulheres<br />

e as crianças.<br />

32<br />

Jesus anda sobre o mar<br />

22 Imediatamente após, Jesus insistiu com<br />

os discípulos para que entrassem no barco<br />

e fossem adiante dele para o outro lado,<br />

enquanto Ele despedia as multidões.<br />

23 Assim que mandou o povo embora,<br />

subiu sozinho a um monte para orar. Ao<br />

chegar da noite, lá estava Ele, só.<br />

24 Todavia, o barco já estava longe, no<br />

meio do mar, sendo fustigado pelas ondas;<br />

pois o vento era contrário.<br />

25 Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter<br />

com eles, andando por sobre o mar. 3<br />

26 Quando os discípulos o viram andando<br />

sobre as águas, ficaram aterrorizados<br />

e exclamaram: “É um fantasma!” E gritavam<br />

de medo.<br />

27 Mas, imediatamente, Jesus lhes disse:<br />

“Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!”.<br />

28 Ao que Pedro exclamou: “Senhor! Se<br />

és tu, manda-me ir ao teu encontro por<br />

sobre as águas”.<br />

2 Jesus, triste pela morte do grande amigo João, e não querendo ser confundido com o líder militar que muitos esperavam que<br />

fosse, busca a solitude, um tempo a sós para orar e refletir. Atravessa o mar da Galiléia, deixando Cafarnaum e os territórios de<br />

Herodes Antipas, e segue em direção a Betsaida Júlia. A multidão, entretanto, o vê partir só e caminha cerca de 8 km por uma<br />

região deserta até se encontrar com Cristo nos planaltos do território de Felipe. Era alta primavera na Palestina (que começa no<br />

meio de fevereiro), os campos estavam cobertos de relva e a Páscoa dos judeus estava próxima (Jo 6.4). Jesus se coloca entre a<br />

multidão como o pai no meio de sua família. Esse é o único milagre de Jesus, registrado por todos os evangelistas (Mc 6.30-46; Lc<br />

9.10-17; Jo 6.1-15). Mateus, entretanto, não tem uma preocupação cronológica em relação aos fatos, narra a história no passado<br />

(vv. 1,2,13), pois deseja apresentá-la de modo que as pessoas a gravem na memória. De acordo com a tradição judaica, o chefe<br />

da família proferia, no início de cada refeição, sobre o pão que ele partia, uma “oração de agradecimento” que era chamada de<br />

“bênção” e, por isso, na KJ de 1611, esse termo aparece como blessed (abençoou). Jesus estava revelando ao povo que, assim<br />

como o Pai libertou seu povo do Egito e os alimentou no deserto, Ele estava novamente no meio do seu povo para os salvar,<br />

curar e alimentar. A palavra grega original kophinous, traduzida no vv.20 como “cestas” refere-se a uma pequena cesta de vime ou<br />

folhas de palma, usada para compras domésticas. A “bênção” não acontece por ser costume, mas porque por meio de Jesus, a<br />

fórmula é preenchida com um novo conteúdo: a presença do Cristo, que abre o acesso ao Pai (Jo 1.51). O povo e especialmente<br />

os discípulos viram que a ação de graças de Jesus produziu milagres, e aprenderam que um método milagroso que traz bênçãos<br />

é agradecer pelo pouco que temos, e dividi-lo com o próximo.<br />

3 Jesus “insistiu” para que os discípulos saíssem depressa. A palavra grega usada aqui é enfática e significa “compeliu”,<br />

sugerindo uma forte transição. João registra que depois do milagre dos pães e peixes, as multidões pretendiam proclamar Jesus<br />

rei dos judeus, à força (Jo 6.15), o que indicava uma compreensão totalmente errada da missão de Cristo; nesse momento os<br />

discípulos também haviam sido influenciados por essas idéias e Jesus precisou ser enérgico com eles e enviá-los para o outro<br />

lado do mar. O dia judaico, isto é, o intervalo entre a aurora e o crepúsculo, era dividido em três partes: manhã, meio-dia e tarde<br />

(Sl 55.17). Os judeus distinguiam duas tardes no dia: a primeira começava por volta das três horas, e a segunda ao pôr-do-sol (Êx<br />

12.6, literalmente: entre as tardes). Portanto, os judeus contavam apenas três vigílias. No v. 13, trata-se da primeira tarde; no v. 23<br />

refere-se à segunda. Mateus faz registro de Jesus orando apenas aqui e no Getsêmani (26.36-46). Para os romanos, entretanto, a<br />

noite era dividida em quatro vigílias: 1) das 18 às 21h. 2) das 21h à meia noite. 3) da meia noite às 3h e 4) das 3h às 6h. O estádio<br />

(em grego stadion), termo que aparece em algumas versões, equivalia a 1/8 de milha romana, ou cerca de 185 metros.<br />

Durante a madrugada, Jesus se aproxima do barco sobre o mar revolto e lhes pede para ter bom ânimo (na KJ de 1611 Be of<br />

good cheer!). Literalmente: “tenham coragem”. E, em seguida, revela a razão de se ter ânimo (coragem) e esperança no meio<br />

das aflições: Sou Eu, mas que no original vem grafado: Eu Sou (em grego egô eimi), o nome e o caráter de Deus (Êx 3.14). A<br />

proximidade do Senhor lança fora todo temor, destrói o mal e enche a alma de paz, alegria e vontade renovada de viver. Por isso,<br />

no Reino de Deus, ser é mais importante que ter.<br />

MT_B.indd 32<br />

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29 Então Jesus lhe responde: “Vem!” E Pedro,<br />

deixando o barco, andou por sobre<br />

as águas e foi na direção de Jesus.<br />

30 Todavia, reparando na força do vento,<br />

teve medo, e começando a afundar, gritou:<br />

“Senhor! Salva-me!”<br />

31 Jesus estendeu imediatamente a mão,<br />

segurou-o e lhe disse: “Homem de pequena<br />

fé, por que duvidaste?”.<br />

32 Assim que ambos entraram no barco,<br />

cessou o vento.<br />

33 Então os que estavam no barco adoraram-no,<br />

exclamando: “Verdadeiramente<br />

Tu és o Filho de Deus”. 4<br />

34 Depois de atravessarem o mar, chegaram<br />

a Genesaré.<br />

Jesus curou a todos que o tocaram<br />

35 Quando os homens daquele lugar reconheceram<br />

Jesus, divulgaram a notícia<br />

em toda aquela região e lhe trouxeram<br />

todos os enfermos.<br />

36 Suplicavam então a Ele que ao menos<br />

pudessem tocar na borda do seu manto.<br />

E todos os que nele tocaram ficaram<br />

plenamente sãos.<br />

33 <strong>MATEUS</strong> 14, 15<br />

Jesus, as tradições e a Lei<br />

(Mc 7.1-23)<br />

Então alguns fariseus e escribas,<br />

15 vindos de Jerusalém, foram até<br />

Jesus e questionaram:<br />

2 “Por que os seus discípulos transgridem<br />

a tradição dos anciãos? Visto que eles<br />

não lavam as mãos antes de comer!”.<br />

3 Ponderou-lhes Jesus: “E porque transgredis<br />

vós também o mandamento de<br />

Deus, por causa da vossa tradição?<br />

4 Pois Deus ordenou: ‘Honra a teu pai e a<br />

tua mãe’, e ainda, ‘Quem amaldiçoar seu<br />

pai ou sua mãe seja punido com a morte’.<br />

5 Contudo, vós dizeis que se alguém disser<br />

a seu pai ou a sua mãe: ‘Oferta é ao Senhor<br />

a ajuda que de mim devias receber’;<br />

6 esse jamais estará obrigado a honrar<br />

seu pai ou sua mãe com seus bens. E<br />

assim invalidastes a Palavra de Deus, por<br />

causa da vossa tradição. 1<br />

7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías sobre<br />

vós, denunciando:<br />

8 ‘Este povo me honra com os lábios, mas<br />

seu coração está longe de mim.<br />

9 Em vão me adoram; pois ensinam dou-<br />

4 Apenas Mateus registra esse episódio na vida de Pedro. A expressão em aramaico, usada pelos discípulos para concluir<br />

tudo o que se passou naquela madrugada no meio do mar da Galiléia, aqui traduzida como Verdadeiramente Tu és o Filho de<br />

Deus, significa que aqueles homens haviam reconhecido, sem sombra de dúvida, que Jesus de Nazaré e Deus (Yahweh) são a<br />

mesma pessoa. Genesaré, também conhecida como Planície Estreita, ficava do lado ocidental do mar da Galiléia, ao norte de<br />

Magdala. Essa planície era um grande jardim na Palestina, fértil e todo irrigado, com cerca 6,5 km de extensão e 3 km de largura.<br />

As pessoas receberam a Jesus com grande fé, e muitas maravilhas Ele realizou ali (Mc 5.28; At 19.12).<br />

Capítulo 15<br />

1 Os escribas e fariseus chegaram de Jerusalém para reforçar o grupo dos inimigos de Jesus, que já estava se estruturando, como<br />

no caso dos fariseus com os herodianos (Mc 3.6). Mais tarde, até os saduceus, tradicionalmente rivais dos fariseus, se juntariam aos<br />

perseguidores do Senhor (Mt 16.6). A “tradição dos anciãos” era a interpretação oral e escrita da Lei de Moisés, mas com muitas<br />

outras doutrinas e preceitos que foram sendo adicionados com o tempo; e que tinha autoridade quase igual a da própria Lei, entre<br />

os fariseus (5.43). Todas essas orientações deram origem, mais tarde (200 a.D.) à Mishná, a parte mais importante do Talmude,<br />

que é a fonte da lei judaica. O legalismo e o volume de pequenos preceitos haviam crescido tanto que a simples tradição, por<br />

motivos higiênicos, de se lavar as mãos antes das refeições, tornou-se um ritual de purificação para afastar a mínima possibilidade<br />

de um judeu ter sido contaminado pela poeira vinda de algum pagão (10.14). A ocupação romana intensificou esse estado de<br />

“guerra contra a impureza” mediante o cumprimento de inúmeras doutrinas e obrigações religiosas. A intenção por traz dessas<br />

práticas, entretanto, era conseguir o favor de Deus para a expulsão dos pagãos (romanos). Jesus passa a citar os mandamentos<br />

(Êx 20.12; Dt 5.16; Êx 21.17; Lv 20.9), mostrando como a tradição dos judeus e muitas interpretações e práticas religiosas estavam<br />

em desacordo com a própria Lei e, portanto, se constituíam em maior pecado contra Deus. Por exemplo, se alguém desejava<br />

livrar-se da responsabilidade judaica de cuidar dos pais idosos, era só fazer uma declaração falsa de que havia doado seus bens ao<br />

templo (em hebraico korban, quer dizer, oferta). Assim, os bens dessa pessoa seriam registrados em nome do templo como uma<br />

oferta ao Senhor, até a morte dos pais, quando então se “negociaria” com os escribas, um valor a ser pago para reavê-los. Jesus<br />

censura esse tipo de amor às regras, maior do que o amor devido a Deus e às pessoas (Is 29.13). Adverte que a comida que não foi<br />

preparada segundo as tradições dos antigos mestres não prejudica o corpo ou traz pecado sobre a alma (At 10.10-15). Jesus usa<br />

um vocábulo raro (em grego aphedrôna), que significa: esgoto, privada, latrina. O que profana (em grego koinein), ou seja, torna<br />

uma pessoa comum, impura e, portanto, sem direito a participar do culto público ou, sequer, aproximar-se de Deus em oração, é o<br />

mal concentrado no íntimo do ser humano e que é expresso por meio das palavras da boca (Tg 3.6-12).<br />

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<strong>MATEUS</strong> 15<br />

trinas que não passam de regras criadas<br />

por homens’”.<br />

10 Então, Jesus conclamou a multidão a<br />

aproximar-se e pregou: “Ouvi e entendei!<br />

11 Não é o que entra pela boca o que torna<br />

uma pessoa impura, mas o que sai da<br />

boca, isto sim, corrompe a pessoa”.<br />

12 Então, aproximando-se dele os discípulos,<br />

avisaram: “Sabes que os fariseus<br />

se ofenderam quando ouviram essas tuas<br />

palavras?”.<br />

13 Mas Ele respondeu: “Toda planta que<br />

meu Pai celestial não plantou será arrancada.<br />

14 Deixai-os! Eles são guias cegos guiando<br />

cegos. Se um cego conduzir outro<br />

cego, ambos cairão no buraco”.<br />

15 Então, pediu-lhe Pedro: “Explica-nos a<br />

outra parábola?”.<br />

16 Ao que Jesus replicou: “Também vós<br />

não compreendeis até agora?<br />

17 Não entendeis ainda que tudo o que<br />

entra pela boca desce para o estômago, e<br />

mais tarde é lançado no esgoto?<br />

18 Entretanto, as coisas que saem da boca<br />

vêm do coração e são essas que tornam<br />

uma pessoa impura.<br />

19 Porque do coração é que procedem os<br />

maus intentos, homicídios, adultérios,<br />

imoralidades, roubos, falsos testemunhos,<br />

calúnias, blasfêmias.<br />

20 Essas coisas corrompem o indivíduo,<br />

mas o comer sem lavar as mãos não o<br />

torna impuro”.<br />

Jesus atende ao clamor dos gentios<br />

(Mc 7.24-30)<br />

21 Deixando aquele lugar, Jesus retirouse<br />

para a região de Tiro e de Sidom.<br />

34<br />

22 E eis que uma mulher cananéia, natural<br />

daquelas regiões, veio a Ele, clamando:<br />

“Senhor! Filho de Davi, tem compaixão<br />

de mim! Minha filha está horrivelmente<br />

tomada pelo demônio”.<br />

23 Ele, porém, não lhe respondeu qualquer<br />

palavra. Então, os seus discípulos,<br />

aproximando-se, pediram-lhe: “Manda<br />

essa mulher embora, pois vem gritando<br />

atrás de nós”.<br />

24 Ao que Jesus replicou: “Eu não fui enviado,<br />

senão às ovelhas perdidas da casa<br />

de Israel”. 2<br />

25 Chegou então a mulher e o adorou de<br />

joelhos, suplicando: “Senhor, ajuda-me!”<br />

26 Ao que Jesus lhe respondeu: “Não é<br />

justo tirar o pão dos próprios filhos para<br />

alimentar os cães de estimação”.<br />

27 Ela, porém, replicou: “Sim, Senhor, mas<br />

até os cães de estimação, comem das migalhas<br />

que caem das mesas de seus donos”.<br />

28 Então Jesus exclamou: “Ó mulher,<br />

grande é a tua fé! Seja feito a ti conforme<br />

queres”. E naquele exato momento sua<br />

filha ficou sã.<br />

Outra multiplicação de pães<br />

(Mc 8.1-10)<br />

29 Partiu Jesus dali e foi para a orla do<br />

mar da Galiléia; e, subindo a um monte,<br />

assentou-se ali. 3<br />

30 Então, multidões dirigiram-se a Ele,<br />

levando consigo mancos, aleijados, cegos,<br />

mudos e muitos outros doentes, e os colocaram<br />

aos pés de Jesus; e Ele os curou.<br />

31 O povo ficou atônito quando viu os<br />

mudos falando, os aleijados curados, os<br />

mancos andando e os cegos enxergando.<br />

E louvaram o Deus de Israel.<br />

2 A expressão “cananéia” ocorre muitas vezes no AT, mas no NT, apenas aqui. Tem a ver com os descendentes dos cananeus<br />

que Josué expulsou de Canaã, a Terra Prometida, cuja civilização ficou estabelecida na cidade de Tiro. Marcos chamava essa<br />

senhora de “grega” (gentia), quer dizer, helênica, por causa de sua origem sírio-fenícia (Mc 7.26). A palavra “cães de estimação”<br />

ou “cachorrinhos”, como em algumas versões, vem do grego original kunarion, que significa: pequenos cães de colo. Jesus<br />

precisava deixar claro que a prioridade máxima de sua missão era salvar os judeus. Por algum motivo, aquela senhora grega e<br />

gentia compreendeu perfeitamente a mensagem de Jesus, e reverentemente, usou a própria metáfora do Senhor para reivindicar<br />

seu espaço no coração compassivo de Cristo. A fé daquela mulher humilde mostrou-se maior, mais verdadeira e pura que a fé demonstrada<br />

pelos mestres e líderes religiosos que haviam contestado a santidade (pureza religiosa) de Jesus e seus discípulos.<br />

3 O monte era uma subida para a planície atrás de Cafarnaum, no sentido de quem sobe do mar da Galiléia. Nesse lugar Jesus<br />

costumava pregar, ensinar e curar as muitas pessoas que sempre o procuravam; o mesmo local onde pregou o Sermão do Monte<br />

(5.1). Ao contrário do que pensam alguns teólogos, esse milagre não é apenas outra versão do mesmo fato ocorrido em 14.15-21.<br />

O próprio Jesus destaca claramente os dois acontecimentos (16.9 e10), além do que, essa segunda multiplicação ocorreu em<br />

MT_B.indd 34<br />

14/8/2007, 14:06


32 Chamou Jesus os seus discípulos para<br />

dizer-lhes: “Tenho compaixão destas muitas<br />

pessoas, pois há três dias permanecem<br />

comigo e não têm o que comer. Não quero<br />

mandá-las embora em jejum, porque<br />

podem desfalecer no caminho”.<br />

33 Mas os discípulos lhe disseram: “Onde<br />

poderíamos, encontrar, neste lugar deserto,<br />

pães suficientes para alimentar tantas<br />

pessoas?”<br />

34 Perguntou-lhes Jesus: “Quantos pães<br />

tendes?” Ao que eles responderam: “Sete,<br />

e mais uns pequenos peixes”.<br />

35 Ele mandou, então, que o povo se assentasse<br />

no chão.<br />

36 Tomou os sete pães e os pequenos peixes<br />

e deu graças. Em seguida os partiu e<br />

os entregou aos discípulos, e estes distribuíram<br />

à multidão.<br />

37 Todas as pessoas comeram até se fartarem.<br />

E foram recolhidos sete grandes<br />

cestos, cheios de pedaços que haviam<br />

sobrado.<br />

38 E assim, os que comeram eram quatro<br />

mil homens, sem contar as mulheres e as<br />

crianças.<br />

39 A seguir, Jesus se despediu da multidão,<br />

entrou no barco e foi para a região<br />

de Magadã.<br />

Religiosos pedem um sinal<br />

(Mc 8.11-13)<br />

Os fariseus e os saduceus apro-<br />

16 ximaram-se de Jesus e, para o<br />

provar, pediram que lhes mostrasse um<br />

sinal vindo do céu.<br />

2 Então Ele lhes ponderou: “Quando<br />

começa a entardecer, dizeis: ‘Haverá bom<br />

tempo, pois o céu está avermelhado’.<br />

3 Ou, pela manhã, dizeis: ‘Hoje haverá<br />

tempestade, porque o céu está de um<br />

vermelho nublado’. Sabeis, com certeza,<br />

discernir os aspectos do céu, mas<br />

35 <strong>MATEUS</strong> 15, 16<br />

não podeis interpretar os sinais dos<br />

tempos?<br />

4 Esta geração perversa e infiel pede um<br />

sinal; mas nenhum sinal lhe será concedido,<br />

a não ser o sinal de Jonas”. Jesus se<br />

afastou, então, deles e partiu dali.<br />

O fermento dos religiosos<br />

(Mc 8.14-21)<br />

5 Indo os discípulos para o outro lado do<br />

mar, esqueceram-se de levar pães.<br />

6 E Jesus lhes falou: “Estejais alerta, e<br />

acautelai-vos do fermento dos fariseus<br />

e saduceus”.<br />

7 Entretanto, eles discutiam entre si, dizendo:<br />

“É porque não trouxemos pães”.<br />

8 Percebendo a desavença, Jesus indagou:<br />

“Por que discordais entre vós, homens de<br />

pequena fé, sobre o não terdes pães?<br />

9 Não compreendeis até agora? Nem<br />

sequer lembrais dos cinco pães para<br />

cinco mil homens e de quantas cestas<br />

recolhestes?<br />

10 Nem dos sete pães para aqueles outros<br />

quatro mil e de quantos cestos recolhestes?<br />

11 Como não entendeis que não vos falava<br />

a respeito de pães? E, sim: tende, pois,<br />

cuidado com o fermento dos fariseus e<br />

saduceus”.<br />

12 Compreenderam, então, que não lhes<br />

dissera que se guardassem do fermento<br />

dos pães, mas que se acautelassem da<br />

doutrina dos fariseus e saduceus.<br />

Deus revela Jesus Cristo a Pedro<br />

(Mc 8.27-30; Lc 9.18-21)<br />

13 Quando Jesus chegou à região de Cesaréia<br />

de Filipe, consultou seus discípulos:<br />

“Quem as pessoas dizem que o Filho<br />

do homem é?” 1<br />

14 E eles responderam: “Alguns dizem que<br />

é João Batista; outros Elias; e ainda há<br />

quem diga, Jeremias ou um dos profetas”.<br />

outro lugar (Decápolis, Mc 7.31), com um número diferente de pães e peixes, uma multidão menor, menos sobras recolhidas,<br />

os “cestos” (no original grego spyridas), mencionados aqui eram usados nos mercados da época e maiores do que as alcofas,<br />

pequenas “cestas” de vime ou folhas de palma, usadas na primeira multiplicação (14.20). Jesus toma um rumo diferente, após a<br />

segunda multiplicação, desta vez segue com seus discípulos para Magadã, também conhecida como Magdala e Dalmanuta (Mc<br />

8.10), a cidade de Maria Madalena, que ficava entre Tiberíades e Cafarnaum.<br />

Capítulo 16<br />

1 A cidade de Cesaréia de Filipe ficava ao norte do mar da Galiléia, perto das encostas do monte Hermom. Seu nome antigo era<br />

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<strong>MATEUS</strong> 16<br />

15 Então Jesus interpelou: “Mas vós,<br />

quem dizeis que Eu sou?”.<br />

16 E, Simão Pedro respondeu: “Tu és o<br />

Cristo, o Filho do Deus vivo”. 2<br />

17 Ao que Jesus lhe afirmou: “Abençoado<br />

és tu, Simão, filho de Jonas! Pois isso não<br />

foi revelado a ti por carne ou sangue, mas<br />

pelo meu Pai que está nos céus.<br />

18 Da mesma maneira Eu te digo que tu<br />

és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a<br />

minha igreja, e as portas do Hades não<br />

prevalecerão contra ela. 3<br />

36<br />

19 Eu darei a ti as chaves do Reino dos<br />

céus; o que ligares na terra haverá sido ligado<br />

nos céus, e o que desligares na terra,<br />

haverá sido desligado nos céus”. 4<br />

20 E, então, ordenou aos discípulos que a<br />

ninguém dissessem ser Ele o Cristo.<br />

Jesus prediz seu sacrifício<br />

(Mc 8.31-9.1; Lc 9.22-27)<br />

21 A partir daquele momento Jesus começou<br />

a explicar aos seus discípulos que<br />

era necessário que Ele fosse para Jerusa-<br />

Panéias (em homenagem ao deus grego Pan). O filho de Herodes, Filipe, reconstruiu essa cidade, como parte de sua tetrarquia, e<br />

lhe deu um novo nome, em homenagem a Tibério César e a si mesmo. Essa era, portanto, uma região extremamente pagã. Jesus<br />

costumava se intitular de “o Filho do homem”, expressão que aparece mais de 80 vezes no NT, jamais se referindo a qualquer<br />

outra pessoa. No AT, em Dn 7.13,14, esse título é usado para retratar a personalidade celestial a quem, no final dos tempos, Deus<br />

confiou toda a sua glória, honra e poder (soberania divina).<br />

2 Havia muitas lendas e superstições nessa época e lugar. O próprio Herodes cria na reencarnação de João Batista, que foi<br />

um profeta muito estimado pelo povo e até pelo rei. A volta de Elias foi profetizada em Ml 4.5 e muitos judeus ligavam o nome<br />

de Jeremias ao profeta prometido em Dt 18.15. Contudo, em meio a tantas idéias e correntes religiosas, Pedro (Bar-Jonas ou,<br />

melhor traduzido, filho de Jonas), que falou em nome dos discípulos (v. 20), é agraciado com a maior das revelações que uma<br />

pessoa pode receber de Deus: a compreensão de que Jesus de Nazaré (o Jesus histórico) é o Filho Unigênito de Deus, o Cristo<br />

prometido (Messias, em hebraico), que significa,Ungido. Palavra que, no original hebraico, transmite a idéia de uma pessoa<br />

escolhida por Deus, separada (consagrada, santificada), e revestida de poder para a realização de uma missão divina e específica<br />

na terra (Êx 29.7,21; 1Sm 10.1,6; 16.13; 2Sm 1.14,16). No final do AT, essa palavra passou a ter uma conotação particular: referiase<br />

a um rei ideal, ungido e capacitado por Deus para libertar os judeus dos inimigos pagãos e estabelecer um reino de justiça e<br />

paz (Dn 9.25,26). Por isso, na época de Cristo, o título Messias tendia a uma compreensão política, nacionalista, revolucionária e<br />

militar e isso fez que Jesus evitasse usar o termo em relação à sua pessoa e missão (Mc 8.27-30; 14.61-63). Pedro obteve de Deus<br />

a revelação de que Jesus é o Messias prometido desde a antiguidade, o Cristo. Essa é a pedra (o alicerce) sobre a qual a Igreja<br />

seria construída e nada poderia deter o seu avanço e o cumprimento da sua missão até o Dia do Senhor.<br />

3 Jesus comemora a bênção da revelação de Deus a Simão (nome comum em Israel, com origem no AT) conferindo-lhe um sobrenome<br />

marcante. Jesus conviveu com várias pessoas com o nome de Simão: um dos filhos de José e Maria, seu irmão (Mt 13.55; Mc<br />

6.3), um amigo leproso, na casa do qual foi ungido (Mt 26.6; Mc 14.3), um homem de Cirene, compelido a ajudá-lo a levar sua cruz<br />

e que, mais tarde, tornou-se cristão (Mc 15.21; At 13.1), um fariseu em cuja casa os pés de Jesus foram ungidos (Lc 7.40), Simão<br />

Iscariotes, pai de Judas (Jo 6.71; 12.4; 13.2). Na época dos apóstolos, houve um outro Simão, samaritano, ilusionista, feiticeiro e<br />

enganador, que misturava elementos de magia com ensinos helenísticos e judaicos. Foi o criador da doutrina gnóstica e alegava<br />

ser o principal representante de Deus na terra. Dizia-se convertido ao cristianismo, mas desejou comprar o poder dos apóstolos e<br />

recebeu enérgica repreensão de Simão Pedro (At 8.9-24). Em Pedro, temos o exemplo de que Jesus nos concede um novo nome, a<br />

marca espiritual da salvação e da bravura cristã. O nome Pedro (em grego Petros) significa “pedra separada” ou “homem-pedra”. Na<br />

frase seguinte, Cristo usou a palavra grega petra (“sobre esta rocha”), que significa “leito de rocha resistente” e que não era um nome<br />

próprio. Jesus utilizou a arte dos significados das palavras para ampliar o poder do que desejava comunicar aos seus discípulos,<br />

e não apenas para aqueles dias. Ele não disse “sobre ti, Pedro” ou “sobre teus sucessores”, mas sim “sobre esta rocha” – sobre<br />

esta revelação de Deus e sobre este seu testemunho de fé em Jesus. O uso do tempo futuro do verbo demonstra que a formação<br />

da Igreja ainda estava por acontecer. E, de fato, a Igreja – como a conhecemos hoje – teve início no dia de Pentecostes (At 2). Nos<br />

Evangelhos a palavra Igreja (em grego ekkesia ou ekklesia; e em latim ecclesia) é usada somente por Mateus, aqui e duas vezes em<br />

18.17. Na Septuaginta (o AT em grego), é usada para identificar a congregação (sinagoga) de Israel. Entre os gregos, nos tempos<br />

de Jesus, significava a assembléia dos cidadãos livres e votantes da cidade (At 19.32,39,41). Hades (em grego haidês, e no hebraico<br />

Sheol) é a palavra grega que consta nos originais das Escrituras neste texto e significa o lugar onde estão os espíritos dos que<br />

morreram. Onde, também, os salvos desfrutam de paz e os descrentes de aflições. Todos, no entanto, aguardam a volta de Jesus,<br />

quando os cristãos desfrutarão plenamente das bênçãos da vida eterna e os incrédulos (os que, na terra, rejeitaram a salvação) o<br />

Juízo e a pena da segunda morte: o afastamento eterno de Deus (Gn 37.35; Jó 17.16). Assim sendo, “as portas do Hades” significam<br />

“os poderes da morte” e todas as forças opostas a Cristo. Algumas versões usam a palavra “inferno” (em grego geena que deriva<br />

do hebraico gê’ hinnõm, e significa: lugar de punição para pecadores), como sinônimo de Hades.<br />

4 A partir daquele momento, Jesus estava concedendo a Pedro e aos demais discípulos, poder e autoridade para abrir as portas<br />

da cristandade aos judeus, prosélitos e mais tarde a todos os gentios e pagãos em todo o mundo. Pedro usou essas chaves com<br />

os judeus no dia de Pentecostes (At 2) e para os gentios na casa de Cornélio (At 10). Deus, e não os apóstolos ou discípulos, é<br />

quem inicia o “ligar” e o “desligar” nos céus. Os apóstolos devem proclamar tais fatos (At 5.3,9). Em Jo 20.22-23 Jesus fala de<br />

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lém e sofresse muitas injustiças nas mãos<br />

dos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e<br />

dos escribas, para então ser morto e ressuscitar<br />

ao terceiro dia.<br />

22 Pedro, porém, chamando-o à parte,<br />

começou a admoestá-lo, dizendo: “Deus<br />

seja gracioso contigo, Senhor! De modo<br />

algum isso jamais te acontecerá”.<br />

23 E virando-se Jesus repreendeu a Pedro:<br />

“Para trás de mim, Satanás! Tu és uma<br />

pedra de tropeço, uma cilada para mim,<br />

pois tua atitude não reflete a Deus, mas,<br />

sim, os homens”. 5<br />

24 Então Jesus declarou aos seus discípulos:<br />

“Se alguém deseja seguir-me,<br />

negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e<br />

me acompanhe.<br />

25 Porquanto quem quiser salvar a sua<br />

vida, a perderá, mas quem perder a sua<br />

vida por minha causa, encontrará a<br />

verdadeira vida.<br />

26 Pois que lucro terá uma pessoa se<br />

ganhar o mundo inteiro, mas perder a<br />

sua alma? Ou, o que poderá dar o ser<br />

humano em troca da sua alma?<br />

37 <strong>MATEUS</strong> 16, 17<br />

27 Mas o Filho do homem virá na glória<br />

de seu Pai, com os seus anjos, e então<br />

recompensará a cada um de acordo com<br />

suas obras.<br />

28 Com toda a certeza vos afirmo que<br />

alguns dos que aqui se encontram não<br />

experimentarão a morte até que vejam o<br />

Filho do homem vindo em seu Reino”. 6<br />

A transfiguração de Jesus<br />

Passados seis dias, Jesus tomou<br />

17 consigo Pedro, Tiago e João, irmão<br />

de Tiago, e os levou, em particular, a<br />

um alto monte. 1<br />

2 Ali Ele foi transfigurado na presença deles.<br />

Sua face resplandeceu como o sol, e suas<br />

vestes tornaram-se brancas como a luz.<br />

3 De repente, surgiram à sua frente Moisés<br />

e Elias, conversando com Jesus.<br />

4 Expressando-se Pedro, disse a Jesus:<br />

“Senhor, é bom estarmos aqui. Se desejares,<br />

farei aqui três tendas: uma para ti,<br />

uma para Moisés e outra para Elias”.<br />

5 Enquanto ele ainda estava falando, uma<br />

nuvem resplandecente os envolveu, e<br />

pecados; aqui ele está falando de práticas. Veja um exemplo dessas práticas determinativas em At 15.20. Jesus pede aos discípulos<br />

sigilo quanto à confissão pública de Pedro. Isso porque uma multidão dos seus seguidores queria proclamá-lo libertador<br />

nacional e iniciar logo uma revolução contra Roma. Crescia a inveja dos doutores da lei e líderes religiosos, contra Jesus, e já<br />

planejavam sua morte. O Senhor queria completar sua missão, mas o entusiasmo de Pedro e dos apóstolos poderia precipitar os<br />

acontecimentos (9.30; 12.16; Mc 1.44; 5.43; 7.36; 8.4; Lc 8.56).<br />

5 O Senhor reconheceu nas palavras de Pedro a influência de Satanás; a mesma artimanha que o Inimigo usou no deserto para<br />

tentar persuadi-lo a ter compaixão de si mesmo e trocar o alto custo da sua missão pela glória e os prazeres deste mundo. Jesus<br />

usa a palavra aramaica Enganador, não para dizer que Pedro estava endemoninhado, mas para alertar a todos que é muito fácil<br />

cairmos na ilusão do Diabo e começarmos a pensar com os valores, conceitos e argumentos do pai da mentira. Jesus recorre<br />

à força da linguagem (palavra) e usa a metáfora: “pedra de tropeço”, que no original significa: “rocha de ofensa” ou “motivo de<br />

escândalo” (Rm 9.33), para admoestar Pedro quanto à sua recente revelação, nova posição no Reino de Deus e missão. Assim<br />

como a palavra hebraica traduzida por “Satanás”, a palavra grega “Diabo” significa “Acusador” ou “Caluniador”. Em Jó, essa<br />

expressão (Jo 1.6), no original hebraico, vem sempre acompanhada do artigo definido (o Acusador, o Caluniador, ou ainda, o<br />

Enganador), mas com o passar do tempo essa palavra virou o nome próprio do Inimigo (1Cr 21.1 com 2Sm 24.1; 1Sm 16.14 com<br />

2Sm 24.16; 1Co 5.5; 2Co 12.7; Hb 2.14; Ap 2.9).<br />

6 Uma semana depois desses acontecimentos, Pedro, Tiago e João presenciam o cumprimento dessa profecia na experiência<br />

da transfiguração de Cristo (17.1-8), que foi também uma antevisão da plenitude do Reino, com o Senhor aparecendo em glória<br />

(Dn 7.9-14). A passagem bíblica de 16.13 a 17.8 trata do ministério do discipulado cristão. Os versículos de 13-20 falam da obra<br />

do Messias; de 21-23 tratam da expiação; 24-26 advertem para o custo da missão; 27-17.8 dizem respeito à escatologia com suas<br />

recompensas. Juntos, esses textos, tratam das verdades fundamentais da teologia bíblica do NT.<br />

Capítulo 17<br />

1 Lucas fala em “cerca de oito dias” em seu texto paralelo (Lc 9.28), pois indica os seis dias de intervalo mais o dia em que Jesus<br />

falou e o dia em que a transfiguração aconteceu em algum ponto do monte Hermom (com cerca de 3000 metros de altura), a 20<br />

km de Cesaréia de Filipe. Como prometera, Jesus oferece a alguns discípulos (mais íntimos), uma antevisão da exaltação futura<br />

do Senhor e do pleno estabelecimento do seu Reino. Jesus foi visto em sua forma glorificada. Moisés comparece representando a<br />

antiga aliança e a promessa da salvação (que dentro em breve seria cumprida no sacrifício de Jesus). Elias representa os profetas<br />

e o cumprimento da Palavra de Deus. Lucas acrescenta que conversavam a respeito da iminente morte de Cristo (Lc 9.31). Jesus<br />

é revelado como a realidade gloriosa à qual a totalidade do AT apresenta como o cumprimento de toda a história da redenção<br />

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<strong>MATEUS</strong> 17<br />

dela emanou uma voz dizendo: “Este é o<br />

meu Filho amado em quem me regozijo:<br />

a Ele atendei!”.<br />

6 Ao ouvirem isso, os discípulos prostraram-se<br />

com o rosto em terra e ficaram<br />

atemorizados.<br />

7 Então Jesus, aproximando-se deles,<br />

tocou-os e disse: “Levantai-vos, e não temais!”.<br />

8 Ao erguer os olhos, a ninguém mais<br />

viram, senão somente a Jesus.<br />

9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhes<br />

ordenou: “A ninguém conteis a visão que<br />

tivestes, até que o Filho do homem ressuscite<br />

dentre os mortos”.<br />

10 E os discípulos lhe perguntaram: “Então,<br />

por que os escribas ensinam que é<br />

preciso que Elias venha primeiro?”.<br />

11 Ao que Jesus lhes respondeu: “Elias, com<br />

certeza, vem e restaurará todas as coisas. 2<br />

12 Eu, todavia, vos afirmo: Elias já veio,<br />

mas eles não o reconheceram e fizeram<br />

com ele tudo quanto desejaram. Da mesma<br />

forma, o Filho do homem irá sofrer<br />

nas mãos deles”.<br />

13 Os discípulos entenderam, então, que<br />

era a respeito de João Batista que Ele<br />

havia falado.<br />

A cura do menino possesso<br />

14 Ao chegarem onde se reunia a multidão,<br />

um homem aproximou-se de Jesus,<br />

ajoelhou-se diante dele e clamou:<br />

15 “Senhor, compadece-te do meu filho,<br />

pois tem sofrido horrivelmente com ataques<br />

epiléticos. Muitas vezes cai no fogo,<br />

e outras tantas, na água. 3<br />

16 Apresentei-o aos teus discípulos, mas<br />

eles não conseguiram curá-lo”.<br />

38<br />

17 Então Jesus exclamou: “Ó geração sem<br />

fé e perversa! Até quando estarei convosco?<br />

Até quando vos terei de suportar?<br />

Trazei-me aqui o menino”.<br />

18 E Jesus repreendeu o demônio; este<br />

saiu do menino, que daquele momento<br />

em diante ficou são.<br />

19 Então os discípulos chegaram-se a<br />

Jesus e, em particular, lhe perguntaram:<br />

“Por qual motivo não nos foi possível<br />

expulsá-lo?”.<br />

20 E Ele respondeu: “Por causa da pequenez<br />

da vossa fé. Pois com toda a certeza<br />

vos afirmo que, se tiverdes fé do tamanho<br />

de um grão de mostarda, direis a<br />

este monte: ‘Passa daqui para acolá’, e ele<br />

passará. E nada vos será impossível!<br />

21 Contudo, essa espécie só se expele por<br />

meio de oração e jejum”.<br />

Jesus prediz novamente seu martírio<br />

22 Ao se reunirem na Galiléia, compartilhou<br />

com eles, dizendo: “O Filho do<br />

homem está prestes a ser entregue nas<br />

mãos dos homens.<br />

23 Eles o matarão, mas no terceiro dia<br />

Ele será ressuscitado”. Então, profunda<br />

tristeza abalou os discípulos.<br />

Jesus paga o imposto secular<br />

24 Quando Jesus e seus discípulos chegaram<br />

a Cafarnaum, os cobradores do<br />

imposto de duas dracmas abordaram a<br />

Pedro e questionaram: “O vosso mestre<br />

não paga o imposto das duas dracmas,<br />

ao templo?”.<br />

25 “Sim, paga”, respondeu Pedro. Mas<br />

quando ele entrou em casa, Jesus se<br />

humana, desde o dia em que Abraão foi chamado para obedecer a Deus e abandonou tudo o que tinha, para receber a herança<br />

prometida (Gn 12.2,3; 15.4,5).<br />

Na experiência da transformação de Jesus, Deus Pai intervém na história para consolar o Filho, que já estava a caminho da<br />

crucificação (22-23 com 16-21), e também aos discípulos, a fim de darem toda a atenção às palavras de Jesus e continuarem<br />

firmes na fé após sua morte e ascensão. Bem mais tarde, Pedro vai citar esse evento em suas pregações, como uma das provas<br />

irrefutáveis da divindade de Jesus, o Messias (2Pe 1.16-18).<br />

2 Os mestres da lei (escribas) defendiam, com base em Ml 4.5-6, que Elias deveria reaparecer em Israel para anunciar a vinda<br />

do Messias. Contudo, Jesus demonstrou que foi João, o Batista, a pessoa que cumpriu essa missão profética, pois até suas<br />

vestes, maneira de viver e personalidade revelavam o caráter de um Elias, e esse era o sentido da profecia.<br />

3 A expressão grega original, em algumas versões traduzida por “lunático”, significa: “epilético”. Evidentemente nem todo<br />

ataque epilético tem a ver com possessão demoníaca; mas, neste caso, o menino estava mesmo possuído por um demônio<br />

muito poderoso. Todavia, qualquer discípulo que tivesse fé e comunhão com Deus (jejum e oração) poderia expulsá-lo e curar<br />

o menino.<br />

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antecipou e perguntou-lhe primeiro:<br />

“Simão, qual a tua opinião? De quem<br />

cobram os reis da terra impostos e<br />

tributos? Dos seus filhos ou dos estranhos?”.<br />

26 “Dos estranhos”, respondeu Pedro.<br />

Ao que Jesus concluiu: “Logo, estão, os<br />

filhos, livres dessa obrigação”. 4<br />

27 Entretanto, para que não os escandalizemos,<br />

vai ao mar, lança o anzol,<br />

e o primeiro peixe que fisgar, tira-o,<br />

e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter.<br />

Retira aquela moeda e entregue a<br />

eles para pagar o meu imposto e o teu<br />

também.<br />

Quem é o maior no Reino?<br />

18<br />

(Mc 9.33-37,42-26; Lc 9.46-48)<br />

Naquele momento os discípulos<br />

aproximaram-se de Jesus e perguntaram:<br />

“Quem é o maior no Reino<br />

dos céus?”. 1<br />

2 E Jesus, chamando uma criança, colocou-a<br />

no meio deles.<br />

3 E disse: “Com toda a certeza vos afirmo<br />

que, se não vos converterdes e não vos<br />

tornardes como crianças, de modo algum<br />

entrareis no Reino dos céus. 2<br />

4 Portanto, todo aquele que se tornar humilde,<br />

como esta criança, esse é o maior<br />

no Reino dos céus.<br />

5 E quem recebe uma destas crianças, em<br />

meu nome, a mim me recebe.<br />

Jesus adverte sobre as ciladas<br />

6 Entretanto, se alguém fizer tropeçar um<br />

destes pequeninos que crêem em mim,<br />

39 <strong>MATEUS</strong> 17, 18<br />

melhor lhe seria amarrar uma pedra<br />

de moinho no pescoço e se afogar nas<br />

profundezas do mar.<br />

7 Ai do mundo, por causa das suas ciladas!<br />

É inevitável que tais ofensas ocorram,<br />

mas infeliz da pessoa por meio da<br />

qual elas acontecem!<br />

8 Sendo assim, se a tua mão ou o teu pé te<br />

fizerem cair em pecado, corta-os e lançaos<br />

fora de ti; pois melhor é entrares na<br />

vida, mutilado ou aleijado, do que, tendo<br />

as duas mãos ou os dois pés, seres atirado<br />

no fogo eterno.<br />

9 Se um dos teus olhos te faz pecar, arranca-o,<br />

e lança-o fora de ti, pois melhor<br />

é entrares na vida com um olho só, do<br />

que, tendo os dois, seres lançado no fogo<br />

do inferno.<br />

A parábola da ovelha perdida<br />

(Lc 15.3-7)<br />

10 Tende todo cuidado para que não desprezeis<br />

a qualquer destes pequeninos;<br />

pois Eu vos asseguro que seus anjos nos<br />

céus vêem continuamente a face de meu<br />

Pai celestial. 3<br />

11 Porque o Filho do homem veio para<br />

salvar o que se havia perdido.<br />

12 Que opinião tendes? Se um homem<br />

tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar,<br />

não deixará ele as noventa e nove nos<br />

montes, indo procurar a que se perdeu?<br />

13 E se conseguir encontrá-la, com toda a<br />

certeza vos afirmo que maior contentamento<br />

sentirá por causa desta do que pelas<br />

noventa e nove que não se extraviaram.<br />

4 O imposto das duas dracmas era cobrado anualmente de todos os homens de 20 anos para cima, sendo destinado à manutenção<br />

do templo. Havia cobradores para outros valores e tipos de impostos (Êx 30.13; 2Cr 24.9; Ne 10.32). Valia meio estáter ou siclo,<br />

por pessoa (valor que correspondia a dois dracmas ou dois dias de trabalho braçal). Jesus se antecipa à confusão mental de Pedro,<br />

ao demonstrar que os membros da família real ficam isentos de pagar os impostos do Reino. Assim, Jesus, o Filho de Deus (dono<br />

do templo) não estaria pessoalmente obrigado a arcar com parte do sustento da casa do seu Pai (Lc 2.49). Como Pedro ainda não<br />

tinha entendido a amplitude desse conceito e, além disso, já havia se comprometido com o pagamento, Jesus ilustra para ele, e para<br />

nós, mais esse ensino sobre a Sua pessoa, Reino e Missão, além dos nossos deveres civis e religiosos (Rm 13.7).<br />

Capítulo 18<br />

1 Este é o último grande discurso de Jesus antes de ir para Jerusalém (Mc 9.33 com 17.25). Estavam todos reunidos na casa de<br />

Pedro e Jesus notou que havia se manifestado entre seus discípulos o mal do ciúme, da inveja e da competição por proeminência<br />

no ministério.<br />

2 A expressão grega straphete significa “virar”, “mudar completamente” e está relacionada a uma nova vida voltada<br />

(consagrada) para Deus e não apenas a adoção de certa religiosidade formal. Ser como as crianças, é admitir um novo começo<br />

e dispor-se humildemente a aprender a viver como cidadão do Reino.<br />

3 A referência aos pequeninos pode ser tanto às crianças quanto ao novos (neófitos) na fé cristã. O escândalo e o desprezo<br />

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<strong>MATEUS</strong> 18<br />

14 Da mesma maneira, vosso Pai, que está<br />

nos céus, não deseja que qualquer desses<br />

pequeninos se perca. 4<br />

Como tratar o pecado de um irmão<br />

15 Se teu irmão pecar contra ti, vai e, em<br />

particular com ele, conversem sobre a<br />

falta que cometeu. Se ele te der ouvidos,<br />

ganhaste a teu irmão.<br />

16 Porém, se ele não te der atenção, leva<br />

contigo mais uma ou duas pessoas, para<br />

que pelo depoimento de duas ou três<br />

testemunhas, qualquer acusação seja<br />

confirmada. 5<br />

17 Contudo, se ele se recusar a considerálos,<br />

dizei-o à igreja; então, se ele se negar<br />

também a ouvir a igreja, trata-o como<br />

pagão ou publicano.<br />

18 Com toda a certeza vos asseguro que<br />

tudo o que ligardes na terra terá sido ligado<br />

no céu, e tudo o que desligardes na<br />

terra terá sido desligado no céu.<br />

19 Uma vez mais vos asseguro que, se<br />

40<br />

dois dentre vós concordarem na terra em<br />

qualquer assunto sobre o qual pedirem,<br />

isso lhes será feito por meu Pai que está<br />

nos céus.<br />

20 Porquanto, onde se reunirem dois ou<br />

três em meu Nome, ali Eu estarei no meio<br />

deles”. 6<br />

Quantas vezes se deve perdoar<br />

(Lc 17.3-4)<br />

21 Então, Pedro chegou perto de Jesus e<br />

lhe perguntou: “Senhor, até quantas vezes<br />

meu irmão pecará contra mim, que<br />

eu tenha de perdoá-lo? Até sete vezes?”.<br />

22 E Jesus lhe respondeu: “Não te direi<br />

até sete vezes; mas, sim, até setenta vezes<br />

sete”. 7<br />

A parábola do servo que não perdoou<br />

23 “Portanto, o Reino dos céus pode ser<br />

comparado a certo rei, que decidiu acertar<br />

contas com seus servos.<br />

24 Quando teve início o acerto, foi trazi-<br />

por essas pessoas teriam o efeito de uma cilada (uma armadilha provocada pelo Diabo), afastando-as da verdadeira vida em<br />

Cristo. O provocador de escândalos receberá o mais severo julgamento de Deus. Quanto aos anjos, são seres criados por Deus<br />

para Sua adoração e serviço. Há várias classes de anjos com diversas especialidades. Aqui, Jesus se refere aos anjos guardiões,<br />

destacados pelo Senhor para cuidar das crianças e do povo de Deus em geral (Sl 34.7; 91.11; At 12.15; Hb 1.14).<br />

4 A história da ovelha perdida também se acha em Lc 15.3-7. Ali é aplicada aos incrédulos, mas aqui aos cristãos. O v.14 não<br />

exclui a possibilidade da perdição, mas ressalta que a vontade de Deus é que todos sejam salvos. A pessoa que vai para o inferno,<br />

desde já recusa a salvação e aceita – direta ou indiretamente – a condição de perdido, não porque Deus queira (25.41;1Tm 2.4).<br />

Jesus usou a mesma parábola para ensinar verdades diferentes em situações específicas.<br />

5 Jesus orienta seus discípulos quanto aos passos que devem ser observados para resolver os problemas de relacionamento<br />

interpessoal, pecados evidentes, e casos de excomunhão da igreja (congregação local): 1) Como primeiro passo (muitas vezes<br />

ignorado), o crente que se sente vítima de alguma ofensa ou que descobre um pecado em seu irmão de fé, deve convidá-lo para<br />

uma conversa a sós (ninguém mais deve saber desse assunto) e tentar estabelecer um diálogo honesto, sincero e cordial com<br />

o ofensor, a fim de “ganhar o seu irmão”; ou seja, que haja acertos e reparações (se necessário) para que os dois obtenham<br />

paz e alegria, e sigam servindo ao Senhor, dando bom exemplo ao mundo. 2) No caso da recusa ou indiferença do ofensor, a<br />

pessoa ofendida deve convidar um ou mais irmãos maduros na fé, que chamarão o ofensor para uma conversa em grupo, onde<br />

se buscará o Conselho de Deus, as reparações necessárias e a celebração da paz em Cristo (Gl 6.1-5). Jesus cita o texto de Dt<br />

19.15, da Septuaginta (o AT em grego), incorporando esse justo e sábio princípio da lei mosaica para benefício da Igreja Cristã. 3)<br />

No caso de total indiferença ou falta de arrependimento por parte do ofensor, os líderes espirituais da igreja devem ser informados<br />

pelo grupo que tentou trazer o irmão faltoso ao bom senso e à perfeita comunhão em Cristo. Os líderes devem fazer o possível<br />

para “não perder” o irmão faltoso. No caso de claro desrespeito à Palavra de Deus e à liderança da igreja, então esse pecador<br />

obstinado deve ser afastado da comunhão cristã, ao menos até que recobre a sensatez, reconheça suas faltas e se disponha<br />

sinceramente a viver de acordo com os princípios da Palavra de Deus (1Co 5.4-5; 1Tm 1.20).<br />

6 Essas são promessas dirigidas a todos os discípulos de Cristo (cristãos totalmente consagrados ao Senhor), pois saberão<br />

agir com sabedoria celestial. O v.19 é uma das grandes promessas do Evangelho, em relação à oração. Entretanto, é preciso<br />

observar a conexão desse versículo com o seu contexto imediato e o conteúdo do capítulo. Ou seja, a promessa é dada aos<br />

discípulos reunidos, tendo Jesus Cristo em seu meio (v. 20), com o objetivo de restaurar um irmão que esteja vivendo no erro (pecado<br />

– v. 17). Jesus confirma a autoridade dos discípulos para o exercício dessa função (v. 18 e 16.19), e a promessa é cumprida<br />

porque agem da parte do Pai, em nome do Filho (v. 20). O verdadeiro entendimento e unidade entre os seres humanos é algo<br />

raro, mesmo entre os cristãos. Deus só exige um acordo entre as pessoas: que Jesus Cristo, seu Filho, seja a grande paixão da<br />

humanidade e o ponto comum e central da fé. Jesus é o fator básico da unidade (Jo 17.19-21). É possível discordar e viver em<br />

comunhão, respeito e cooperação no Reino.<br />

7 Os rabis e mestres judaicos ordenavam perdoar até três vezes. Pedro sugeriu um salto espiritual: sete vezes! O número<br />

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do à sua presença um que lhe devia dez<br />

mil talentos. 8<br />

25 Porém, não tendo o devedor como<br />

saldar tal importância, ordenou o seu senhor<br />

que fosse vendido ele, sua mulher,<br />

seus filhos e tudo quanto possuía, para<br />

que a dívida fosse paga.<br />

26 O servo, então, com toda a reverência,<br />

prostrou-se diante do rei e lhe implorou:<br />

‘Sê paciente comigo e tudo te pagarei!’<br />

27 E o senhor daquele servo, teve compaixão<br />

dele, perdoou-lhe a dívida e o deixou<br />

ir embora livre.<br />

28 Entretanto, saindo aquele servo, encontrou<br />

um dos seus conservos, que lhe<br />

estava devendo cem denários. Agarrou-o<br />

e começou a sufocá-lo, esbravejando:<br />

‘Paga-me o que me deves!’<br />

29 Então, o seu conservo, caindo-lhe aos<br />

pés, lhe suplicava: ‘Sê paciente comigo e<br />

tudo te pagarei’.<br />

30 Mas, ele não queria acordo. Ao contrário,<br />

foi e mandou lançar seu conservo<br />

devedor na prisão, até que toda a dívida<br />

fosse saldada.<br />

31 Quando os demais conservos, companheiros<br />

dele, viram o que havia ocorrido,<br />

ficaram indignados, e foram contar ao<br />

rei tudo o que acontecera.<br />

32 Então o rei, chamando aquele servo lhe<br />

disse: ‘Servo perverso, perdoei-te de toda<br />

aquela dívida atendendo às tuas súplicas.<br />

33 Não devias tu, da mesma maneira, com-<br />

41 <strong>MATEUS</strong> 18, 19<br />

padecer-te do teu conservo, assim como<br />

eu me compadeci de ti?’<br />

34 E, sentindo-se insultado, o rei entregou<br />

aquele servo impiedoso aos carrascos,<br />

até que lhe pagasse toda a dívida.<br />

35 Assim também o meu Pai celestial vos<br />

fará, a cada um, se de todo o coração não<br />

perdoardes cada um a seu irmão”.<br />

Casamento e Divórcio<br />

(Mc 10.1-12)<br />

E aconteceu que, concluindo Jesus<br />

19 essas palavras, partiu da Galiléia e<br />

dirigiu-se para a região da Judéia, no outro<br />

lado do Jordão.<br />

2 Grandes multidões o seguiam e a todos<br />

curava ali. 1<br />

3 Alguns fariseus também chegaram até<br />

Ele e, para prová-lo, questionaram-lhe:<br />

“É lícito o marido se divorciar da sua<br />

esposa por qualquer motivo?”. 2<br />

4 E Jesus lhes explicou: “Não tendes lido<br />

que, no princípio, o Criador ‘os fez homem<br />

e mulher’,<br />

5 e os instruiu: ‘Por este motivo, o homem<br />

deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher,<br />

e os dois se tornarão uma só carne’?<br />

6 Sendo assim, eles já não são dois, mas<br />

sim uma só carne. E, portanto, o que Deus<br />

uniu, não o separe o ser humano”. 3<br />

7 Replicaram-lhe: “Então por qual razão<br />

mandou Moisés dar uma certidão de<br />

divórcio à mulher e abandoná-la?”.<br />

perfeito, completo. Mas, Jesus lhe respondeu com uma expressão matemática e filosófica que tende ao infinito. Ou seja: sempre!<br />

O cristão, por sua fé no Senhor, deve perdoar todas as vezes que o ofensor arrependido lhe pedir perdão. Só assim será possível<br />

ao crente compartilhar do amor, misericórdia e generosidade de Deus.<br />

8 Jesus ilustra por que devemos perdoar sem limites. O perdão que Deus nos concedeu, ao nos abençoar com o dom da salvação,<br />

é tão grandioso, que qualquer ofensa que outro ser humano venha a praticar contra nós torna-se irrisória, embora possa nos<br />

fazer sofrer por algum tempo. Perdoar sempre dará mais espaço à plenitude divina em nossa alma. O “talento” era uma medida de<br />

peso, usada para pesar ouro e prata, equivalente, a cerca de 35 quilos. Cada talento valia cerca de 6.000 denários. O “denário” era<br />

uma moeda de prata que equivalia a um dia de trabalho braçal. Deus, finalmente, julgará a todos conforme seu amor longânimo<br />

e justiça severa; e espera de nós o mesmo senso de misericórdia (Tg 2.13).<br />

Capítulo 19<br />

1 Jesus entrou na região da Peréia, em direção a Jerusalém, onde hoje se situa a Jordânia. Na época fazia parte das terras (tetrarquia)<br />

de Herodes Antipas, ficava a leste do rio Jordão, estendendo-se do mar da Galiléia até próximo ao mar Morto (Lc 13.22).<br />

2 Mateus escreveu com o propósito de evangelizar os judeus, por isso, usa a expressão “Reino dos céus” significando “Reino de<br />

Deus”, respeitando o cuidado extremo que os judeus tinham ao pronunciar o nome de Deus. Assim também, Mateus adiciona a frase<br />

“por qualquer motivo” a esse versículo, que não consta do texto paralelo escrito por Marcos (Mc 10.2). Isso, para esclarecer ao leitor<br />

quanto ao ensino de duas escolas rabínicas: Hillel, que permitia ao marido repudiar (rejeitar, mandar embora, abandonar, divorciar),<br />

sua esposa por qualquer motivo que o desgostasse, até mesmo pelo sabor ou preparo de uma refeição. E a escola Shammai, a qual<br />

pregava que o único motivo suficiente para um homem divorciar-se de sua esposa era a infidelidade conjugal comprovada.<br />

3 Mais uma vez os doutores da Lei procuram desmoralizar Jesus, pois o assunto estava dividido, há muitos anos, entre duas<br />

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<strong>MATEUS</strong> 19<br />

8 Ao que Jesus declarou: “Moisés, por causa<br />

da dureza dos vossos corações, vos concedeu<br />

separar-se de vossas mulheres. Mas<br />

não tem sido assim desde o princípio”.<br />

9 Eu, porém, vos afirmo: “Todo aquele<br />

que se divorciar da sua esposa, a não<br />

ser por imoralidade sexual, e se casar<br />

com outra mulher, estará cometendo<br />

adultério”. 4<br />

10 Então os discípulos consideraram: “Se<br />

estes são os termos para o marido e sua<br />

esposa, não é vantagem casar!”.<br />

11 Mas Jesus ponderou-lhes: “Nem todos<br />

conseguem aceitar essa palavra; somente<br />

aqueles a quem tal capacidade é dada.<br />

12 Pois há alguns eunucos que nasceram<br />

assim do ventre de suas mães; outros<br />

foram privados de seus órgãos reprodutores<br />

pelos homens; e há outros ainda<br />

que a si mesmos se fizeram celibatários,<br />

por causa do Reino dos céus. Quem for<br />

42<br />

capaz de aceitar esse conceito, que o<br />

receba”. 5<br />

Jesus abençoa as crianças<br />

(Mc 10.13-16; Lc 18.15-17)<br />

13 Então, trouxeram-lhe algumas crianças,<br />

para que lhes impusesse as mãos e<br />

orasse por elas. Os discípulos, contudo,<br />

os repreendiam.<br />

14 Mas Jesus lhes ordenou: “Deixai vir a<br />

mim as crianças, não as impeçais, pois o<br />

Reino dos céus pertence aos que se tornam<br />

semelhantes a elas”.<br />

15 E, depois de ter-lhes imposto as mãos,<br />

partiu dali. 6<br />

Dificilmente os ricos serão salvos<br />

(Mc 10.17-31; Lc 18.18-30)<br />

16 Eis que alguém chegou perto de Jesus<br />

e consultou-o: “Mestre, que poderei fazer<br />

de bom para ganhar a vida eterna?”. 7<br />

grandes e respeitadas correntes de pensamento. Mas Jesus apela, novamente, para o espírito da Lei e não apenas para a letra.<br />

Jesus leva sua audiência para o princípio da criação e para o pensamento originário de Deus – O Criador – e cita a Septuaginta<br />

(AT em grego), defendendo assim a doutrina da inspiração das Escrituras (Gn 1.27; 2.23-24). Portanto, o propósito divino na<br />

criação é de que marido e esposa se unam de forma a se tornarem a mesma carne, sendo os corpos (o sangue) o meio para<br />

a unidade indissolúvel do parentesco e comunhão, fazendo, assim, do casamento, a mais profunda forma de unidade física e<br />

espiritual. Esse conceito vital deve ser ensinado às pessoas na época do namoro. Elas precisam aprender a namorar (se conhecer<br />

bem) segundo a vontade de Deus. Isso evitaria muitos problemas no casamento.<br />

4 A intenção dos fariseus não era compreender a verdade, mas achar um pretexto para destruir Jesus. Eles recorrem, assim,<br />

à lei de Moisés (Dt 24.1). Mas Jesus demonstra que certas concessões, na história, não foram feitas por serem o plano original<br />

de Deus para a humanidade, mas em atenção aos pedidos insistentes da sociedade; da alma dos homens, dos seus corações<br />

arrogantes, vaidosos e egoístas. Características que acompanharam o ser humano após a sua Queda e que se relacionam com<br />

a influência do Diabo na terra (Gn 3.8-13; 22-24).<br />

5 A palavra “eunuco” (em hebraico sãrïs) é derivada de um termo assírio que significa “aquele que é cabeça” ou “o braço direito”.<br />

No NT, o vocábulo grego eunouchos, é uma derivação de eunen echõ, que pode significar “conservar o leito” ou “manter a padrão”.<br />

Nos escritos de Heródoto aprendemos que nos países orientais os eunucos eram contratados especialmente para tomar conta dos<br />

haréns dos monarcas, sendo, entretanto, reputados como dignos de confiança em todos os sentidos. Em todos os casos, a palavra<br />

refere-se a pessoas da mais alta confiança do rei e pode ser usada no sentido de: “oficial da corte” ou “castrado”. Em At 8.27 ambos<br />

os sentidos estão em foco. Aqui, porém, a expressão original é clara e refere-se ao homem castrado. O judaísmo conhecia apenas<br />

duas categorias de eunucos: Os “feitos pelo homem” (em hebraico sãrïs ’ãdhãm), e aqueles que nasceram congenitamente incapazes<br />

ou sem libido (instinto e desejos sexuais) chamados de “natural” ou “eunuco do sol” (em hebraico sãrïs hammâ). Jesus usou uma<br />

metáfora para mostrar o radicalismo do amor: na união com Deus e com o próximo, na aliança do matrimônio e no ministério cristão.<br />

Jesus surpreende seus inquiridores com uma terceira classe de eunucos: os celibatários, aqueles que, de forma livre e espontânea,<br />

sacrificaram seus desejos naturais e legítimos por amor ao Senhor e para melhor e maior dedicação ao Reino de Deus. Em nenhum<br />

momento Jesus defendeu o asceticismo (doutrina dos primeiros séculos que exigia dos líderes cristãos a total abstinência sexual e<br />

punia severamente os pensamentos impuros). Jesus e Paulo (dois celibatários) deixam claro que não é necessário que um homem<br />

ou uma mulher se privem do casamento para serem bons obreiros ou líderes espirituais da Igreja de Cristo, isso é dom de Deus; e,<br />

portanto, é graça e não maldição. Pessoas com esse dom devem ser orientadas a dedicar-se exclusivamente ao Senhor e à Igreja;<br />

caso contrário, Satanás poderá se aproveitar disso e tentar recrutá-las para servir ao reino do mal (1Co 7.7,8,26,32-35). Orígenes, um<br />

dos pais da Igreja do século II, interpretando erradamente essa palavra de Jesus, entendendo-a de forma literal, mutilou a si mesmo.<br />

6 Era costume dos judeus levar as crianças para serem abençoadas por um rabino que fosse mestre comprovado da Lei. Ao<br />

ouvirem o ensino de Jesus, as pessoas não tiveram dúvidas em enviar seus filhos para receberem a dádiva real (Gn 27). Entretanto,<br />

Jesus aproveitou o evento para pregar sobre a chegada e a disponibilidade do Reino de Deus para todos que o recebessem<br />

com a humildade, sinceridade, fé e alegria das crianças (Mt 6.9; Rm 8.14).<br />

7 Os judeus, no tempo de Cristo, criam que a realização de um grande e único ato digno podia garantir-lhes um lugar<br />

MT_B.indd 42<br />

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17 Questionou-o Jesus: “Por que me perguntas<br />

a respeito do que é bom? Há somente<br />

um que é bom. Se queres entrar na<br />

vida eterna, obedeça aos mandamentos”.<br />

18 Ao que ele perguntou: “Quais?”. E<br />

Jesus lhe respondeu: “Não matarás, não<br />

adulterarás, não furtarás, não darás falso<br />

testemunho,<br />

19 honra a teu pai e a tua mãe, e amarás o<br />

teu próximo como a ti mesmo”.<br />

20 Replicou-lhe o jovem: “A tudo isso<br />

tenho obedecido. O que ainda me falta?”.<br />

21 Jesus disse a ele: “Se queres ser perfeito,<br />

vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos<br />

pobres, e terás um tesouro no céu. Depois,<br />

vem e segue-me”.<br />

22 Ao ouvir essa palavra, o jovem afastou-se<br />

pesaroso, pois era dono de muitas<br />

riquezas. 8<br />

23 Então disse Jesus aos seus discípulos:<br />

“Com toda a certeza vos afirmo que<br />

dificilmente um rico entrará no Reino<br />

dos céus.<br />

24 E lhes digo mais: É mais fácil passar<br />

um camelo pelo fundo de uma agulha do<br />

43 <strong>MATEUS</strong> 19<br />

que um rico entrar no Reino dos céus”. 9<br />

25 Ouvindo isso, os discípulos ficaram<br />

atônitos e exclamaram: “Sendo assim,<br />

quem pode ser salvo?”.<br />

26 Mas Jesus, fixando o olhar neles, revelou-lhes:<br />

“Isso é impossível aos seres<br />

humanos, mas para Deus todas as coisas<br />

são possíveis”.<br />

As recompensas no Reino<br />

27 Então Pedro manifestou-se dizendo:<br />

“Veja! Nós deixamos tudo e te seguimos;<br />

o que será, pois, de nós?”.<br />

28 Jesus lhes respondeu: “Com toda a<br />

certeza vos afirmo que vós, os que me<br />

seguistes, quando ocorrer a regeneração<br />

de todas as coisas, e o Filho do homem se<br />

assentar no trono da sua glória, também<br />

vos assentareis em doze tronos, para julgar<br />

as doze tribos de Israel. 10<br />

29 Também todos aqueles que tiverem<br />

deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe,<br />

filhos ou terras, por causa do meu Nome,<br />

receberão cem vezes mais e herdarão a<br />

vida eterna.<br />

privilegiado no céu. Outros acreditavam que a completa e restrita observância da Lei os levaria ao Reino de Deus. Lucas revela<br />

que esse jovem ocupava posição de grande prestígio (Lc 18.18). Marcos salienta que, ao aproximar-se de Jesus, correu e<br />

ajoelhou-se (Mc 10.17). O jovem possuía tudo o que alguém pode desejar, mas lhe faltava a certeza da vida eterna. Entretanto, ele<br />

não pensou na incompatibilidade que existe entre o mundanismo e o Reino de Deus (6.33). A riqueza gera soberba e arrogância,<br />

provocando rejeição à simplicidade e humildade que existe na fé em Cristo. Após a Queda, o ser humano perdeu a capacidade<br />

de ser bom e fazer o bem (continuamente). Por isso, Deus fez da Salvação um presente (dádiva), não podemos adquiri-lo, só<br />

nos é possível aceitá-lo (Ef 2.8).<br />

8 Jesus mostra que o jovem em questão (assim como algumas pessoas) imaginava obedecer a todos os mandamentos da Lei:<br />

ele não matava, não roubava e não era um mau filho. Acontece que a própria Escritura garante que ninguém é capaz de cumprir<br />

a Lei e, por isso, precisamos desesperadamente da Graça do Senhor. O rapaz tinha tudo, e queria também ser perfeito (em<br />

grego teleios, aperfeiçoado, tendo alcançado a meta). Jesus, contudo, ao relacionar os mandamentos (Êx 20.12-16; Dt 5.16-20;<br />

Lv 19.18) omitiu “não cobiçarás”. Esse era, pois, justamente, o grande obstáculo para que o rapaz recebesse, de graça, a tão<br />

almejada vida eterna. Jesus não está ensinando que todo cristão deva ser pobre, muito menos que todo pobre vai para o céu.<br />

Ele estava provando o coração daquele homem para revelar a ele (e a nós) a necessidade de arrependimento e conversão dos<br />

pecados que, muitas vezes, pensamos que não temos.<br />

9 Jesus recorre a outra metáfora: o maior animal na Palestina em contraste com a menor passagem conhecida pelo povo na<br />

época: o buraco de uma agulha. A expressão também se refere, curiosamente, a uma pequena entrada, situada ao lado da porta<br />

principal da cidade de Jerusalém, por onde (por motivos de segurança) um camelo não podia passar carregado e, mesmo assim,<br />

somente conseguia atravessá-la de joelhos (Mc 10.25). A salvação não é possível pelo esforço humano. É um ato sobrenatural<br />

de Deus, que busca corações humanos onde receba amor incondicional e tenha prioridade absoluta. Ele acrescentará todas as<br />

demais coisas necessárias (6.33-34). O amor ao dinheiro e às riquezas pode escravizar uma pessoa, exacerbando seu egoísmo<br />

e desviando-a do Reino (1Tm 6.9-10). Jesus faz ainda uma alusão ao AT e reafirma que para Deus nada é impossível (Gn 18.14;<br />

Jó 42.2; Zc 8.6-7).<br />

10 A expressão grega palingenesia, aqui traduzida por “regeneração” refere-se ao mundo renovado do futuro (o novo céu e a<br />

nova terra de Ap 21.1). As doze tribos, com as dez tribos do norte (Israel), perdidas séculos antes de Cristo (pela mistura com povos<br />

gentios), serão restauradas para o julgamento (25.31; At 3.20-21; Ap 7.4-8). O outro único uso da palavra “regeneração” tem<br />

a ver com a renovação espiritual das pessoas (Tt 3.5). Jesus ensina que o Reino de Deus não é uma competição, como em quase<br />

tudo nas sociedades humanas. Jesus tranqüiliza Pedro e promete que todos os que tomarem parte em sua batalha, comparti-<br />

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<strong>MATEUS</strong> 19, 20<br />

30 Entretanto, muitos primeiros serão<br />

últimos, e muitos últimos serão primeiros”.<br />

A parábola dos pagamentos<br />

“Portanto, o Reino dos céus é se-<br />

20 melhante a um proprietário que<br />

saiu ao raiar do dia para contratar trabalhadores<br />

para a sua vinha. 1<br />

2 Depois de combinar com cada trabalhador<br />

o pagamento de um denário pelo<br />

dia, os enviou ao campo das videiras. 2<br />

3 Por volta das nove horas da manhã, ao<br />

sair, viu na praça do mercado, outros que<br />

estavam parados, sem ocupação. 3<br />

4 Então lhes disse: ‘Ide vós também trabalhar<br />

na vinha, e Eu vos pagarei o que<br />

for justo’. E eles foram.<br />

5 Tendo saído outras vezes, próximo do<br />

meio dia e das três horas da tarde, agiu<br />

da mesma maneira.<br />

6 Ao sair novamente, agora em torno das<br />

cinco horas da tarde, encontrou outros<br />

que estavam sem trabalho, e indagou<br />

deles: ‘Por qual motivo estivestes aqui<br />

desocupados o dia todo?’<br />

7 E lhe informaram: ‘Porque não houve<br />

alguém que nos contratasse’. Então lhes<br />

falou: ‘Ide igualmente vós para o campo<br />

das videiras’.<br />

8 Ao pôr-do-sol, o senhor da vinha ordenou<br />

ao seu administrador: ‘Chama<br />

44<br />

os trabalhadores e paga-lhes o salário,<br />

começando pelos últimos contratados e<br />

terminando nos primeiros’. 4<br />

9 Chegaram os que haviam sido contratados<br />

em torno das cinco horas da tarde,<br />

e cada um deles recebeu um denário.<br />

10 Quando vieram os que haviam sido<br />

contratados primeiro, deduziram que<br />

receberiam mais; contudo, também estes<br />

receberam um denário cada um.<br />

11 No entanto, assim que o receberam,<br />

começaram a se queixar do proprietário<br />

da vinha,<br />

12 dizendo-lhe: ‘Estes últimos homens<br />

trabalharam apenas uma hora; apesar<br />

disso o senhor os igualou a nós que suportamos<br />

o peso do trabalho e o calor<br />

do dia’.<br />

13 Mas o dono da vinha, explicando,<br />

falou a um deles: ‘Amigo, não estou<br />

sendo injusto contigo. Não combinamos<br />

que te pagaria um denário pelo dia<br />

trabalhado?<br />

14 Sendo assim, toma o que é teu, e vai-te;<br />

pois é meu desejo dar a este último tanto<br />

quanto dei a ti.<br />

15 Porventura não me é permitido fazer o<br />

que quero do que é meu? Ou manifestas<br />

tua inveja porque eu sou generoso?’ 5<br />

16 Portanto, os últimos serão primeiros, e<br />

os primeiros serão últimos. Pois muitos<br />

serão chamados, mas poucos escolhidos”. 6<br />

lharão igualmente das bênçãos de sua vitória completa e eterna. Entretanto, em 20.1-16, Ele adverte os seus seguidores sobre o<br />

perigo de julgar o assunto das recompensas divinas por um padrão meramente político, econômico e financeiro (terreno).<br />

Capítulo 20<br />

1 A declaração de Jesus feita em 10.30, é explicada por meio desta história e repetida em 20.16, enfatizando a soberana generosidade<br />

de Deus Pai. Essa parábola foi registrada apenas em Mateus.<br />

2 O denário ou dinheiro (em latim denarius) era uma moeda romana, de prata. Tinha o mesmo valor de um dracma (em grego<br />

drachma), ou meio shekel judaico. Correspondia a um dia de trabalho de um soldado romano na época de Jesus. Um escrivão<br />

de documentos altamente qualificado, na Palestina daquele tempo, ganhava dois denários por dia.<br />

3 A contagem das horas começava às 6h da manhã. Portanto, a terceira hora correspondia às 9h da manhã e assim por<br />

diante. Nos originais gregos, assim como na tradução KJ de 1611 constam as expressões: “da hora terceira; sexta; nona e da<br />

décima primeira hora”. Entretanto, o Comitê Internacional de Tradução da Bíblia King James decidiu, para melhor compreensão<br />

dessa parábola, pelo uso do atual sistema de divisão do dia natural em 24 horas. Tempo que a Terra leva para fazer uma rotação<br />

completa sobre si mesma.<br />

4 A Lei de Moisés garantia aos trabalhadores pobres (que ganhavam salário mínimo, ou um denário por dia) que fossem<br />

pagos por seus contratadores até o fim do dia ou até que o brilho das primeiras estrelas pudesse ser observado no céu (Lv<br />

19.13; Dt 24.14,15).<br />

5 A parte final deste versículo no original grego é: “...ou o olho teu mau é porque eu bom sou?” Essa expressão está relacionada<br />

ao suposto poder de amaldiçoar que existe nos olhos de uma pessoa que inveja (não apenas do invejoso compulsivo). Desde o<br />

AT (1Sm 18.6-16), havia uma associação entre o olhar perverso e a inveja (daí a expressão popular: mau-olhado).<br />

6 Esta parábola está repleta de ensino e sabedoria. Não é possível um comentário extenso aqui, mas é importante dizer que<br />

Jesus usou uma história bem conhecida dos judeus para esclarecer um pouco mais sobre como é a vida no Reino de Deus.<br />

MT_B.indd 44<br />

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Outra vez Jesus prediz seu sacrifício<br />

(Mc 10.32-34; Lc 18.31-34)<br />

17 Jesus estava, então, pronto para subir a<br />

Jerusalém, quando chamou à parte seus<br />

doze discípulos e lhes falou:<br />

18 “Agora estamos subindo para Jerusalém,<br />

e o Filho do homem será entregue<br />

aos chefes dos sacerdotes e aos escribas.<br />

Eles o condenarão à morte.<br />

19 E o entregarão aos gentios para ser<br />

zombado, torturado e crucificado; mas<br />

ao terceiro dia Ele será ressuscitado!”. 7<br />

É preciso sabedoria para pedir<br />

(Mc 10.35-45)<br />

20 Naquele momento, aproximou-se de<br />

Jesus a esposa de Zebedeu, com seus filhos<br />

e, prostrando-se, fez um pedido a Ele. 8<br />

45 <strong>MATEUS</strong> 20<br />

21 “O que desejas?” - perguntou Jesus. Ela<br />

respondeu: “Ordena que no teu Reino<br />

estes meus dois filhos se assentem um à<br />

tua direita, e o outro à tua esquerda”.<br />

22 “Não sabeis o que pedis!”, contestoulhes<br />

Jesus. “Podeis vós beber o cálice que<br />

Eu estou prestes a beber e ser batizados<br />

com o batismo com o qual estou sendo<br />

batizado?”. E eles afirmaram: “Podemos!”.<br />

23 Então Jesus lhes declarou: “Certamente<br />

bebereis do meu cálice; mas quanto ao<br />

assentar-se à minha direita ou à minha<br />

esquerda, não cabe a mim outorgá-lo.<br />

Esses lugares pertencem àqueles a quem<br />

foram reservados por meu Pai”. 9<br />

24 Ao ouvirem isso, os outros dez ficaram<br />

injuriados contra os dois irmãos.<br />

25 Então Jesus os chamou e explicou:<br />

Desde o AT, muitos mestres e rabinos usavam parábolas para comunicar seus ensinos. Acontece que essa história, em várias<br />

versões, era contada para realçar a doutrina das recompensas divinas, e seguia a mesma linha moral da conhecida fábula de La<br />

Fontaine: “A Cigarra e a Formiga”. A história rabínica, em síntese, era assim: “Um rei recrutou muitos trabalhadores, mas um deles<br />

trabalhou muitos dias para o reino. No dia do pagamento, o rei pagou pouco aos que tinham trabalhado pouco e recompensou<br />

regiamente ao que fora fiel o tempo todo”. Ou seja: muito trabalho, muita recompensa; nenhum trabalho, punição ou nenhuma<br />

recompensa. Jesus, porém, dá um desfecho novo, inusitado e ameaçador ao recontar essa parábola tradicional. Jesus declarou<br />

que Deus dá recompensas aos seus filhos (Mt 5.12,46; 6.1; 5.16; 10.41). Mas, da mesma maneira inequívoca, ensinou que todos<br />

os que servem a Deus com a principal intenção de com isso “merecer” bênçãos e favores, perderão a verdadeira felicidade, aqui<br />

e na eternidade. Quem realiza boas obras contando com as recompensas, vai se aborrecer com a misericórdia e a bondade de<br />

Deus. É por isso que os judeus, especialmente os que mais se esforçavam (escribas e fariseus), começaram a odiar a Jesus. Eles<br />

tinham um lema na época: “A Torá (a Lei) foi dada a Israel para mostrar como adquirir méritos”. É até compreensível que eles se<br />

irritassem com o novo ensino e com a generosidade de Deus; e que muitos deles, como na parábola, de “primeiros” se tornaram<br />

“últimos”, ou como o irmão mais velho, que na história do “filho pródigo” irou-se e excluiu-se da alegria de reaver o irmão perdido<br />

(Lc 15.11-32). Jesus ensina também, através dessa parábola, que os judeus, os primeiros a receber a gloriosa chamada divina,<br />

não serão os primeiros a receber o galardão final (recompensa, prêmio), pois a Salvação não vem da herança racial, nem do<br />

legalismo religioso, mas da generosidade e graça divinas. Assim também, a Salvação é a maior gratificação que um ser humano<br />

pode receber em toda a sua vida e vale por toda a eternidade. Portanto, não existem “salvos de segunda classe”. Uma vez salvo;<br />

salvo de primeira classe e para sempre. Deus é soberano e, absolutamente tudo depende dele. O ser humano não pode fazer<br />

nada para salvar-se, a não ser aceitar humildemente a vontade do Senhor e andar segundo a Palavra. Entretanto, a graça de Deus<br />

pode transformar qualquer fariseu em um dos “primeiros” (novamente), como aconteceu com Saulo de Tarso, nosso irmão Paulo<br />

(At 9.1-31). A frase: “Pois, muitos serão chamados, mas poucos escolhidos”, não consta de alguns manuscritos gregos, embora<br />

faça referência às palavras de Jesus em 19.23-26 e refíra-se a parte de todas as revisões da KJ desde 1611 até hoje.<br />

7 Esta é a última viagem de Jesus a Jerusalém. Teve início na cidade de Efraim (Jo 11.54), passando pela Galiléia (Lc 17.11),<br />

seguindo mais para o sul, chegando a Jericó, passando pela Peréia (Lc 18.35), por Betânia (Lc 19.29), até chegar a Jerusalém (Lc<br />

19.41). Jesus desejou muito celebrar sua última Páscoa com seus discípulos; uma multidão de peregrinos os acompanhava. Jesus<br />

seria o Cordeiro Pascal da humanidade; mas nem seus discípulos mais chegados conseguiam entender por que o Messias haveria<br />

de ser humilhado e morto se as profecias apontavam para um grande libertador, maior que Moisés. Nesta terceira predição sobre o<br />

seu sacrifício, Jesus acrescenta que Ele não seria executado pelos judeus, que o apedrejariam, mas pelos gentios (romanos). Todos<br />

esses detalhes proféticos só fariam sentido na mente dos discípulos após a morte e ressurreição de Jesus (28.6).<br />

8 Marcos nos revela que esses filhos de Zebedeu e Salomé (irmã de Maria, mãe de Jesus) eram os primos do Senhor: Tiago e<br />

João. O pedido foi feito numa reunião com Jesus, solicitada pela mãe dos dois apóstolos (27.56; Mc 10.35; 15.40; Jo 19.25). Tanto<br />

o pedido como a indignação dos outros discípulos revela que todas aquelas pessoas aguardavam para breve o estabelecimento<br />

do poderoso reino do Messias na terra, apesar da clara profecia sobre a Paixão do Senhor.<br />

9 Jesus usa uma metáfora bastante conhecida dos judeus, especialmente no AT (Sl 75.8; Is 51.17-23; Jr 25.15-28; 49.12; 51.7),<br />

quase sempre associada ao juízo e à ira de Deus contra o pecado. A expressão hebraica: beber o cálice significava compartilhar do<br />

destino de alguém. Assim, o cálice refere-se ao castigo divino que Jesus teria de receber em lugar de cada ser humano. O batismo é<br />

outra figura de linguagem que, assim como o cálice, explica o sentido do sofrimento e morte do Senhor (Lc 12.50; Rm 6.3,4). Jesus<br />

demonstra mais uma vez sua absoluta divindade ao revelar que conhecia o destino dos discípulos, mas que não podia usurpar a<br />

MT_B.indd 45<br />

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<strong>MATEUS</strong> 20, 21<br />

“Sabeis que os governadores dos povos<br />

os dominam e que são as pessoas<br />

importantes que exercem poder sobre<br />

as nações.<br />

26 Não será assim entre vós. Ao contrário,<br />

quem desejar ser importante entre vós<br />

será esse o que deva servir aos demais.<br />

27 E quem quiser ser o primeiro entre vós<br />

que se torne vosso escravo.<br />

28 Assim como o Filho do homem, que<br />

não veio para ser servido, mas para servir<br />

e dar a sua vida como único resgate por<br />

muitos”. 10<br />

Os cegos recuperam a visão<br />

(Mc 10.46-52; Lc 18.35-43)<br />

29 Ao saírem de Jericó, uma grande multidão<br />

acompanhava Jesus.<br />

30 De repente, dois cegos, que estavam<br />

assentados à beira do caminho, tendo<br />

ouvido que Jesus passava, puseram-se a<br />

gritar: “Senhor! Filho de Davi, tem misericórdia<br />

de nós”.<br />

31 Entretanto, a multidão os repreendeu<br />

para que se calassem, mas eles clamavam<br />

ainda mais: “Senhor! Filho de Davi! Tem<br />

misericórdia de nós!”.<br />

32 Jesus, parando, chamou-os e lhes<br />

46<br />

perguntou: “O que quereis que Eu vos<br />

faça?”. 11<br />

33 “Senhor! Que se abram os nossos<br />

olhos”, responderam eles.<br />

34 Jesus sentiu compaixão e tocou nos<br />

olhos deles. No mesmo instante os cegos<br />

recuperaram a visão e o seguiram.<br />

Jesus é aclamado pelas multidões<br />

(Mc 11.1-11; Lc 19.28-40; Jo 12.12-19)<br />

Ao se aproximarem de Jerusalém,<br />

21 chegaram a Betfagé, no monte<br />

das Oliveiras. Então, Jesus enviou dois<br />

discípulos, 1<br />

2 e recomendou-lhes: “Ide ao povoado<br />

que está adiante de vós e logo encontrareis<br />

uma jumenta amarrada, com seu<br />

burrico ao lado. Desamarrai-os e trazeios<br />

para mim. 2<br />

3 Se alguém vos questionar algo, deveis<br />

dizer que o Senhor necessita deles e<br />

sem demora os devolverá”.<br />

4 No entanto, isso ocorreu para que se<br />

cumprisse o que fora dito por meio do<br />

profeta:<br />

5 “Dizei à filha de Sião: ‘Eis que o teu rei<br />

chega a ti, humilde e montado num burrico,<br />

um potro, cria de jumenta’”.<br />

autoridade do Pai. Assim, Tiago foi o primeiro dos apóstolos a ser martirizado (At 12.2). A última parte da pergunta de Jesus não<br />

consta de alguns originais gregos, mas é clara em Mc 10.38 e consta de todas as revisões textuais da KJ desde 1611.<br />

10 Não é aconselhável rejeitar a ajuda e o serviço dos nossos companheiros, mas “ser servidos” não deve ser a nossa ambição.<br />

Devemos seguir o exemplo de Jesus que, sendo Deus, entregou “a sua vida” ou “a sua alma” (em grego ten psychen autou) para<br />

pagar toda a punição imposta à humanidade pela quebra da ordem (Lei) de Deus no Éden: a morte eterna. Todo pecado demanda<br />

indenização, expiação e pagamento. A Lei de Deus jamais ordenou sacrifícios humanos; mas, em relação ao pecado original, era<br />

necessário que um ser humano sem pecado fosse imolado. Jesus se ofereceu para pagar nosso “resgate” (em grego lytron), palavra<br />

derivada do verbo grego luo que significa “libertar” e usada na época ao se tratar da alforria de escravos. Jesus usou outra forte metáfora<br />

para comparar seu sacrifício ao ato de pagar o preço pedido pela venda de um escravo muito caro, comprado, todavia, para<br />

ganhar a liberdade. Por isso, os cristãos estão livres, de uma vez por todas, do poder e da escravidão do pecado (do erro) e da pena<br />

da morte eterna. Essa frase de Cristo é uma das poucas ocasiões em que a doutrina da redenção vicária é citada nos Evangelhos<br />

sinóticos (1Tm 2.6). A salvação é oferecida de graça a todos, mas apenas os “muitos” a recebem em seus corações (1Jo 1.12-14).<br />

11 Mateus cita dois cegos, enquanto os demais sinóticos destacam apenas um (Mc 10.46-52; Lc 18.35-43). Realmente eram<br />

dois cegos, ocorre que Bartimeu, devido à sua personalidade, ganhou proeminência. A cura ocorreu durante a saída da Velha<br />

Jericó para a Nova Jericó.<br />

Capítulo 21<br />

1 Betfagé, em hebraico significa “Casa dos Figos” (Lc 19.29). Segundo o Talmude, era uma pequena vila situada a cerca de<br />

um quilômetro a leste de Jerusalém, na encosta sul do monte das Oliveiras. Aqui tem início a última semana da vida humana<br />

de Jesus Cristo.<br />

2 Jesus decide entrar em Jerusalém, desta vez, montado em um jumentinho (Jo 12.15). E isso, sob as homenagens das multidões,<br />

para demonstrar claramente que Ele era o Messias prometido há séculos (Zc 9.9). O Filho de Davi, escolhido para ocupar<br />

seu trono (1Rs 1.33,44). Os potros ou burricos (crias de jumenta), antes de serem submetidos a qualquer trabalho secular, eram<br />

especialmente considerados para trabalhos religiosos (Nm 19.2; Dt 21.3; Sm 6.7), e simbolizavam humildade, paz, e a majestade<br />

de Davi. Mateus revela o cuidado de Jesus em não apartar o jumentinho de sua mãe e levar ambos consigo para sua procissão<br />

triunfal como Rei de Israel.<br />

MT_B.indd 46<br />

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6 Então os discípulos foram e fizeram o<br />

que Jesus lhes havia mandado. 3<br />

7 Trouxeram-lhe a jumenta com o<br />

jumentinho, os selaram com mantas<br />

para cavalgar, e sobre as mantas Jesus<br />

montou.<br />

8 Então, uma grande multidão estendia<br />

suas capas pelo caminho, muitos outros<br />

cortavam ramos de árvores e os espalhavam<br />

pela estrada.<br />

9 E as multidões, tanto as que iam adiante<br />

dele, quanto as que o seguiam, proclamavam:<br />

“Hosana ao Filho de Davi!<br />

‘Bendito seja Ele que vem em o Nome do<br />

Senhor!’ Hosana nas alturas!” 4<br />

10 Assim que Jesus entrou em Jerusalém,<br />

toda a cidade ficou alvoroçada, e comentavam:<br />

“Quem é este?”<br />

11 Então as multidões exclamavam: “Este<br />

é o profeta Jesus, vindo de Nazaré da Galiléia!”.<br />

O templo é casa de oração!<br />

(Mc 11.15-19; Lc 19.45-48)<br />

12 Tendo Jesus entrado no pátio do templo,<br />

expulsou todos os que ali estavam<br />

comprando e vendendo; também tombou<br />

as mesas dos cambistas e as cadeiras<br />

dos comerciantes de pombas.<br />

47 <strong>MATEUS</strong> 21<br />

13 E repreendeu-os: “Está escrito: ‘A minha<br />

casa será chamada casa de oração’;<br />

vós, ao contrário, estais fazendo dela um<br />

‘covil de salteadores’”. 5<br />

14 Então levaram a Jesus, no templo, cegos<br />

e aleijados, e Ele os curou.<br />

15 Entretanto, quando os chefes dos<br />

sacerdotes e os escribas viram as maravilhas<br />

realizadas por Jesus, e as crianças<br />

exclamando no templo: “Hosana ao Filho<br />

de Davi!”, revoltaram-se e indagaram<br />

dele:<br />

16 “Não ouves o que estas crianças estão<br />

proclamando?”. Ao que Jesus lhes respondeu:<br />

“Sim. E vós, nunca lestes: ‘Dos<br />

lábios das crianças e dos recém-nascidos<br />

suscitaste louvor’”.<br />

17 E, deixando-os, saiu da cidade em direção<br />

a Betânia, onde passou a noite. 6<br />

A figueira que não deu fruto<br />

(Mc 11.12-14; 20-25)<br />

18 Ao amanhecer, quando retornava para<br />

a cidade, Jesus teve fome.<br />

19 Avistando uma figueira à beira da<br />

estrada, aproximou-se dela, porém nada<br />

encontrou, a não ser folhas. Então decretou-lhe:<br />

“Nunca mais se produza fruto<br />

3 O próprio Jesus usa a expressão: “Senhor” (Senhor de Israel) como seu título divino (16.18). Mateus usou as profecias registradas<br />

na Septuaginta (AT em grego), em Is 62.11 e Zc 9.9 para mostrar que a maioria do povo havia compreendido que Jesus<br />

era mesmo o Rei-Messias prometido.<br />

4 Hosana é uma expressão grega (hõsanna), que significa “Salva-nos!” e vem do hebraico transliterado (hôshi´â nã´), que quer<br />

dizer: “Salva, Senhor, por misericórdia!” Mateus revela que expressões de júbilo emanavam da multidão, e não que fosse uma<br />

frase só a ser repetida indefinidamente. Essa aclamação do povo é baseada em 2Sm 14.4, Sl 118.25-27 e Sl 148.1-2, cantada<br />

na Festa dos Tabernáculos e, em Mateus, aplicada a Jesus. Como um ato de homenagem régia, o povo pavimentou, com seus<br />

próprios mantos (capas), o caminho por onde passou o Senhor. Com o passar do tempo, a palavra “hosana” tornou-se uma<br />

exclamação de louvor e alegria espiritual.<br />

5 O termo grego original (to hieron), que significa “o templo”, indica toda a área sobre o monte Moriá, ocupada pelos diversos recintos<br />

e a corte do templo. No domingo, após a entrada triunfal, Jesus continua sua obra de purificação da Casa do Senhor, iniciada<br />

três anos antes (Jo 2.14). Uma atitude para demonstrar o quanto os judeus haviam ofendido ao Senhor, permitindo que seus corações<br />

fossem corrompidos pela ganância, dominados pelo pecado, e faltos de amor sincero para com Deus e com seu próximo. Isso<br />

ocorre infelizmente ainda hoje em alguns templos cristãos, e entre seus membros. Jesus citou as Sagradas Escrituras, usando, da<br />

versão Septuaginta (AT em grego), os textos de Is 56.7 com Jr 7.11. As ofertas, taxas e compras de animais para sacrifícios no templo<br />

só podiam ser pagas com moeda hebraica (siclo hebreu), pois as demais moedas eram cunhadas com a imagem de divindades<br />

pagãs ou do imperador, considerado pelos romanos e outros gentios como um deus. Entretanto, esse serviço de troca de moedas<br />

(câmbio), compra e venda de animais, e produtos para os sacrifícios, deveria ser realizado com dignidade, no “grande átrio exterior<br />

dos gentios”, um espaço reservado para essas atividades com mais de 50.000 m 2 . Todavia, os cambistas estavam explorando os<br />

romeiros que vinham de muito longe e com dinheiro gentio para ofertar e sacrificar no templo. Além disso, a venda dos animais cultualmente<br />

aceitáveis transformara-se apenas em lucrativo comércio, tanto que a área antes reservada já não comportava os estandes<br />

de vendas e haviam invadido até o recinto sagrado. Vários sacerdotes lideravam a corrupção institucionalizada no templo, posto que<br />

ao receberem os animais para holocausto, em vez de efetuarem o ritual do sacrifício, matavam apenas alguns deles, e repassavam<br />

todos os demais para comerciantes fraudulentos, que os revendiam sucessivas vezes.<br />

6 Os líderes dos sacerdotes e os doutores da lei viram os milagres de Cristo e temeram por suas vidas e negócios. Tentaram<br />

enredar o Senhor num sofisma, ao alegar que um mestre tão zeloso como Jesus, não deveria deixar que crianças o adorassem<br />

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<strong>MATEUS</strong> 21<br />

em ti!”. E, no mesmo instante, a figueira<br />

ficou completamente seca.<br />

20 E quando viram o que ocorrera, muito<br />

se admiraram os discípulos e exclamaram:<br />

“Como foi possível esta figueira secar tão<br />

depressa?”.<br />

21 Então Jesus explicou-lhes: “Com<br />

certeza vos asseguro que, se tiverdes fé<br />

e não duvidardes, podereis fazer não<br />

apenas o que foi feito à figueira, mas da<br />

mesma forma ordenardes a este monte:<br />

‘Ergue-te daqui e lança-te no mar’, e<br />

assim acontecerá.<br />

22 E tudo o que pedirdes em oração, se<br />

crerdes, recebereis”. 7<br />

Líderes religiosos duvidam de Jesus<br />

(Mc 11.27-33; Lc 20.1-8)<br />

23 Tendo Jesus chegado ao templo, enquanto<br />

ensinava, acercaram-se dele os<br />

chefes dos sacerdotes e os anciãos do<br />

povo e o questionaram: “Com que autoridade<br />

fazes estas coisas aqui? E quem te<br />

deu essa autorização?”. 8<br />

24 Jesus, porém, replicou-lhes: “Eu igualmente<br />

vos lançarei uma questão. Se me<br />

responderdes, também Eu vos direi com<br />

que autoridade faço o que faço.<br />

25 De onde era o batismo de João? Divino<br />

ou humano?”. E eles discutiam entre si,<br />

avaliando: “Se respondermos: divino, Ele<br />

48<br />

nos indagará: ‘Sendo assim, por que não<br />

acreditastes nele?’<br />

26 Porém, se alegarmos: humano, tememos<br />

o povo, pois todos consideram João<br />

como profeta”.<br />

27 Por isso disseram a Jesus: “Não sabemos!”.<br />

Ao que Jesus afirmou-lhes:<br />

“Nem Eu vos direi com que autoridade<br />

procedo. 9<br />

A parábola do pai e dois filhos<br />

28 Agora, qual a vossa opinião? Um homem<br />

tinha dois filhos. Aproximando-se<br />

do primeiro, pediu: ‘Filho, vai trabalhar<br />

hoje na vinha’.<br />

29 Mas este filho lhe disse: ‘Não quero ir’.<br />

Todavia, mais tarde, arrependido, foi.<br />

30 Então chegou o pai até o segundo filho<br />

e fez o mesmo pedido. Então este lhe respondeu:<br />

‘Sim, senhor!’ Mas não foi.<br />

31 Qual dos dois fez a vontade do pai?”.<br />

Ao que eles responderam: “O primeiro”.<br />

Então Jesus lhes revelou: “Com toda a<br />

certeza vos afirmo que os publicanos e<br />

as prostitutas estão ingressando antes de<br />

vós no Reino de Deus.<br />

32 Porquanto João veio para vos mostrar<br />

o caminho da justiça, mas vós não<br />

acreditastes nele; em compensação, os<br />

cobradores de impostos e as meretrizes<br />

creram.Vós, entretanto, mesmo depois<br />

como se fosse Deus. Entretanto, Jesus citou novamente as Escrituras e revelou que mais uma profecia acerca dele se cumpria<br />

naquele momento (Sl 8.2). Jesus foi, então, para a casa dos seus queridos amigos Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, que ficava<br />

em Betânia, uma aldeia no declive oriental do monte das Oliveiras, uns dois quilômetros a leste de Jerusalém.<br />

7 Mateus condensava suas narrativas, em contraste com o texto dos demais autores sinóticos (Marcos e Lucas). Marcos situa a<br />

maldição da figueira na manhã de segunda-feira, mas na terça-feira pela manhã foi que os discípulos, passando por ela outra vez,<br />

a observam completamente aniquilada (Mc 11.12-14, 20-25). Mateus, mais tarde, ao escrever seu Evangelho (testemunho ocular<br />

da vida, mensagem e sinais de Jesus), segundo a inspiração do Espírito Santo, enfatiza o caráter imediato do Juízo de Deus.<br />

Diversas podem ser as inferências teológicas acerca dessa passagem, especialmente em relação a Israel (Os 9.10; Na 3.12). Contudo,<br />

a única aplicação que o próprio Senhor Jesus faz, tem a ver com a eficácia da oração que não duvida do poder de Deus.<br />

8 Aqui começa a terça-feira da chamada “Semana Santa”. O Sinédrio (supremo juiz da corte de Israel) decide apelar para<br />

o legalismo e pede credenciais autorizadas a Jesus por estar realizando um ato oficial no templo. Eles já haviam usado essa<br />

estratégia com João Batista (Jo 1.19-25) e, em outra ocasião, com o próprio Jesus (Jo 2.18-22). Os líderes religiosos sentiam<br />

em Jesus uma forte ameaça à sua posição, privilégios e lucros financeiros ilícitos. Por isso, procuravam apresentá-lo como um<br />

revolucionário, fora da lei, e inimigo de Roma.<br />

9 Grandes oradores e conhecedores do poder da palavra, os líderes religiosos procuram comprometer a Jesus por meio de um<br />

questionamento ardiloso. Jesus é levado a declarar publicamente que era o Messias (como o povo aclamava). Assim poderiam<br />

prendê-lo e entregá-lo aos romanos. A outra opção seria negar sua autoridade divina, passando então a ser totalmente desacreditado<br />

pela multidão que o acompanhava. Jesus apelou para o testemunho de João Batista acerca dele e lhes propôs também<br />

uma questão (Jo 1.32-34).<br />

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de presenciardes a tudo isso, não vos arrependestes<br />

para acreditardes nele. 10<br />

A parábola dos vinicultores maus<br />

(Mc 12.1-12; Lc 20.9-19)<br />

33 E mais, atentai a esta parábola: Havia<br />

um certo proprietário de terras, que<br />

plantou um campo de videiras. Ergueu<br />

uma cerca ao redor delas, construiu um<br />

tanque para prensar as uvas e edificou<br />

uma torre. Finalmente, arrendou essa<br />

vinha para alguns vinicultores e foi<br />

viajar. 11<br />

34 Chegando a época da safra, enviou<br />

seus servos até aqueles lavradores, para<br />

receber os seus dividendos.<br />

35 Porém os lavradores atacaram seus<br />

servos; a um espancaram, a outro mataram,<br />

e apedrejaram o terceiro.<br />

36 Então lhes mandou outros servos, em<br />

maior número do que da primeira vez,<br />

mas os lavradores os trataram da mesma<br />

maneira.<br />

37 Por fim, decidiu enviar-lhes seu próprio<br />

filho, considerando: ‘Eles respeitarão<br />

o meu filho’.<br />

38 Contudo, assim que os lavradores<br />

viram o filho, tramaram entre si: ‘Este<br />

é o herdeiro! Então vamos, nos unamos<br />

para matá-lo e apoderemo-nos da sua<br />

herança’.<br />

39 E assim, eles o agarraram, jogaram-no<br />

49 <strong>MATEUS</strong> 21<br />

para fora da plantação de videiras e o<br />

assassinaram. 12<br />

40 Sendo assim, quando vier o dono da<br />

vinha, o que fará com aqueles lavradores?”.<br />

41 Diante disso, responderam-lhe: “Ele<br />

destruirá esses perversos de forma terrível<br />

e arrendará seu campo de videiras<br />

para outros cultivadores que lhe enviem<br />

a sua parte no devido tempo das colheitas”.<br />

13<br />

42 Então Jesus lhes inquiriu: “Nunca<br />

lestes isto nas Escrituras? ‘A pedra que<br />

os construtores rejeitaram, tornou-se<br />

a pedra angular; e isso procede do<br />

Senhor, sendo portanto, maravilhoso<br />

para nós’.<br />

43 Por isso, Eu vos declaro que o Reino<br />

de Deus será retirado de vós para ser<br />

entregue a um povo que produza frutos<br />

dignos do Reino.<br />

44 Todo aquele que cair sobre esta pedra<br />

se arrebentará em pedaços; e aquele sobre<br />

quem ela cair ficará reduzido a pó!”. 14<br />

45 Depois que os chefes dos sacerdotes e<br />

os fariseus ouviram as parábolas que Jesus<br />

lhes havia contado, compreenderam<br />

que era sobre eles próprios que Jesus<br />

estava falando.<br />

46 E por causa disso procuravam um<br />

motivo para prendê-lo; mas tinham<br />

receio das multidões, porquanto elas o<br />

consideravam profeta.<br />

10 As versões de Almeida invertem a posição dos versículos 29 e 30. Entretanto, a Bíblia King James e a NVI seguem a mesma<br />

ordem original. Jesus resolve o debate com os sacerdotes, propondo duas histórias (as respostas parabólicas de Jesus). A<br />

autoridade maior vem da obediência amorosa e sincera a Deus; não de uma liderança autoritária, maquiavélica e despótica, que<br />

depende apenas de títulos e diplomas e, ainda mais, corrompida pela falta de dignidade. Como podem os eleitos para cuidar da<br />

Casa do Senhor (autoridades eclesiásticas), rejeitar o dono da Casa e o Evangelho do Reino?<br />

11 Segundo a tradição rabínica, uma “torre” deveria ser construída na vinha, para abrigar o responsável pelo campo, que vigiava<br />

a plantação, especialmente quando chegava o tempo da colheita e as uvas ficavam maduras. Era, normalmente, uma plataforma<br />

elevada feita de madeira, com cerca de 5m de altura por 2m de lado.<br />

12 Assim como seria um absurdo que os agricultores de um campo arrendado pudessem herdar essa terra ao assassinar seu<br />

dono, maior loucura foi os líderes espirituais e teólogos da época imaginarem que a incriminação e a crucificação de Jesus Cristo,<br />

o Filho de Deus, lhes garantiria a herança e o domínio de Israel.<br />

13 Ao se escandalizarem com o erro dos outros, sem atentarem para seus pecados, e julgarem severamente os lavradores da<br />

parábola de Jesus, os sacerdotes estavam decretando sua própria punição: os judeus que não aceitassem a verdadeira mensagem<br />

de Deus em Cristo ficariam sem a herança espiritual. No ano 70 d.C. o Templo e toda a cidade de Jerusalém sofreram a<br />

mais arrasadora destruição até hoje registrada em sua história. Uma vez que o Evangelho foi rejeitado pelos judeus, Deus dirige<br />

sua graça salvadora aos gentios, salva e convoca Paulo para ser seu apóstolo (em grego apostellõ, enviado por Deus com uma<br />

missão específica). Já no segundo século da era cristã, a Igreja era composta, quase que totalmente, por não judeus (gentios).<br />

14 Jesus é o alicerce seguro, a pedra fundamental, para todos aqueles que confessam o seu nome e edificam suas vidas nele,<br />

passando assim a fazer parte do grande edifício de Cristo, como pedras vivas (16.18; 1Pe 2.4-5). Entretanto, para os que rejeitam<br />

o Senhor, recusando-se a crer em Jesus, o Cristo (o Messias prometido), Ele se torna em pedra de tropeço e de condenação<br />

MT_B.indd 49<br />

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<strong>MATEUS</strong> 21, 22<br />

A parábola do banquete nupcial<br />

(Lc 14.15-24)<br />

Jesus continuou a pregar-lhes por<br />

22 meio de parábolas, dizendo:<br />

2 “O Reino dos céus é semelhante a um<br />

rei que mandou realizar um banquete<br />

nupcial para seu filho. 1<br />

3 E, por isso, enviou seus servos a conclamar<br />

os convidados para as bodas do filho;<br />

mas estes rejeitaram o chamamento.<br />

4 Uma vez mais, mandou outros servos,<br />

com esta ordem: ‘Dizei aos que foram<br />

convidados que lhes preparei meu banquete;<br />

os meus bois e meus novilhos<br />

gordos foram abatidos, e tudo está preparado.<br />

Vinde todos os convidados para<br />

as bodas do meu filho!’ 2<br />

5 Mas os convidados nem deram atenção<br />

ao chamado dos servos e se afastaram:<br />

um para o seu campo, outro para os seus<br />

negócios.<br />

6 E outros ainda, atacando os servos,<br />

maltrataram-nos e os assassinaram.<br />

7 O rei indignou-se sobremaneira e, enviando<br />

seu exército, aniquilou aqueles<br />

criminosos e incendiou-lhes a cidade. 3<br />

8 Então, disse o rei a seus servos: ‘O banquete<br />

de casamento está posto, contudo<br />

os meus convidados não eram dignos.<br />

9 Ide, pois, às esquinas das ruas e convidai<br />

para as bodas todas as pessoas que<br />

encontrardes.<br />

10 E, assim, os servos saíram pelas estradas<br />

e reuniram todos quantos puderam<br />

50<br />

encontrar, gente boa e pessoas más, e a<br />

sala do banquete das bodas ficou repleta<br />

de convidados.<br />

11 Entretanto, quando o rei entrou para<br />

saudar os convidados que estavam à<br />

mesa, percebeu que um homem não<br />

trajava as vestes nupciais.<br />

12 E indagou-lhe: ‘Amigo, como adentraste<br />

este recinto sem as suas vestes<br />

próprias para as bodas?’ Mas o homem<br />

não teve resposta.<br />

13 Então, ordenou o rei aos seus servos:<br />

‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançaio<br />

para fora, às trevas; ali haverá grande<br />

lamento e ranger de dentes’. 4<br />

14 Portanto, muitos são chamados, mas<br />

poucos, escolhidos!”.<br />

Dai a César o que é de César<br />

(Mc 12.13-17; Lc 20.20-26)<br />

15 E, assim, se afastaram os fariseus, tramando<br />

entre si como fariam para enredar<br />

a Jesus em suas próprias afirmações.<br />

16 Então, mandaram-lhe seus seguidores<br />

juntamente com alguns herodianos, que<br />

lhe questionaram: “Mestre, sabemos que<br />

és íntegro e que ensinas o caminho de<br />

Deus, de acordo com a verdade, sem te<br />

deixares induzir por quem quer que seja,<br />

pois não te seduzes pela aparência das<br />

pessoas.<br />

17 Sendo assim, dize-nos: que te pareces?<br />

É correto pagar impostos a César ou não?”. 5<br />

18 Contudo, Jesus percebeu a má inten-<br />

eterna (Is 8.14-15; Lc 20.17; Rm 9.32; 1Pe 2.6-8). Assim como um vaso de barro se despedaça ao ser arremessado contra uma<br />

rocha, ou é esmagado ao ser atingido por uma enorme pedra, da mesma forma virá a destruição sobre todos aqueles que rejeitarem<br />

o senhorio de Cristo (Is 8.14; Dn 2.34,35,44; Lc 2.34). É importante notar que, mais tarde, o apóstolo Pedro fez questão de<br />

salientar que Jesus era a sua Pedra, Rocha Principal, seu Sustentador, e que cada indivíduo deve aceitar a Pedra (Jesus), para<br />

ser salvo e ganhar a vida eterna (At 4.8-12).<br />

Capítulo 22<br />

1 Jesus apresenta o Reino dos céus em outras parábolas, veja no capítulo 13.<br />

2 A proclamação do Evangelho é o doce e insistente convite do Rei do Universo a todo ser humano, para tomar parte em seu<br />

maravilhoso banquete de núpcias. Ainda assim, muitas pessoas estão de tal forma iludidas com suas exigências presentes e<br />

materiais que se recusam a dar atenção à generosidade divina.<br />

3 Todos aqueles que se apresentam como inimigos declarados do Evangelho, assim como os falsos cristãos, serão destruídos.<br />

Da mesma forma como a cidade de Jerusalém foi completamente arrasada e queimada pelos romanos, no ano 70 d.C.<br />

4 Era costume, naquela época e região, o anfitrião fornecer roupas adequadas ao casamento, para os convidados que não<br />

pudessem comprá-las. Como esse grupo de pessoas veio diretamente das ruas, todos ganharam suas roupas cerimoniais.<br />

Entretanto, um daqueles novos convidados, rejeitou também a hospitalidade e a generosidade do rei. A veste nupcial simboliza a<br />

justificação com a qual Cristo veste todas as pessoas que aceitam o dom gratuito da Salvação (Rm 13.14; Ap 19.8).<br />

5 Os fariseus, como nacionalistas radicais, eram contra o domínio romano. Os herodianos, entretanto, como a própria denominação<br />

revela, apoiavam o império romano de Herodes. Mas, diante de uma ameaça maior, fariseus e herodianos se unem numa<br />

cilada dialética contra Jesus. Os maus se juntam no ataque ao Sumo Bem. Se a resposta de Jesus fosse “Não”, os herodianos<br />

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ção deles e replicou-lhes: “Por que me<br />

tentais, hipócritas?<br />

19 Deixai-me ver a moeda com a qual se<br />

pagais os tributos”. E eles lhe mostraram<br />

um denário.<br />

20 Então lhes indagou: “De quem é esta<br />

figura e esta inscrição?”.<br />

21 Responderam-lhe: “De César!”. Então,<br />

lhes afirmou: “Portanto, dai a César o que<br />

é de César, e a Deus o que é de Deus!”.<br />

22 Ao ouvirem tal resposta, ficaram perplexos<br />

e, afastando-se dele, se retiraram. 6<br />

Os saduceus e a ressurreição<br />

(Mc 12.18-27; Lc 20.27-40)<br />

23 Naquele mesmo dia, os saduceus, que<br />

pregam a inexistência da ressurreição,<br />

aproximaram-se de Jesus com uma<br />

questão: 7<br />

24 “Mestre, Moisés ensinou que se um<br />

homem morrer sem deixar filhos, seu<br />

irmão deverá casar-se com a viúva e darlhe<br />

descendência.<br />

25 Entre nós havia sete irmãos. O primeiro<br />

casou-se e morreu. Como não teve<br />

filhos, deixou a mulher para seu irmão.<br />

26 Da mesma maneira ocorreu com o<br />

segundo, com o terceiro, até chegar ao<br />

sétimo.<br />

51 <strong>MATEUS</strong> 22<br />

27 Finalmente, após a morte de todos, a<br />

mulher também faleceu.<br />

28 Sendo assim, na ressurreição, de qual<br />

dos sete ela será esposa, considerando<br />

que todos foram casados com ela?”<br />

29 Então Jesus lhes esclareceu: “Vós estais<br />

equivocados por não conhecerdes as Escrituras<br />

nem o poder de Deus!<br />

30 Na ressurreição, as pessoas não se casam<br />

nem são dadas em matrimônio; são,<br />

todavia, como os anjos do céu.<br />

31 E, com relação à ressurreição dos mortos,<br />

não tendes lido o que Deus vos declarou:<br />

32 ‘Eu Sou o Deus de Abraão, o Deus de<br />

Isaque e o Deus de Jacó’? Por isso, Ele<br />

não é Deus de mortos, mas sim, dos que<br />

vivem!”. 8<br />

33 Ao ouvir tudo isso, as multidões ficaram<br />

estupefatas com o ensino de Jesus.<br />

O maior dos mandamentos<br />

(Mc 12.28-34)<br />

34 Assim que os fariseus ouviram que<br />

Jesus havia deixado os saduceus sem palavras,<br />

reuniram-se em conselho.<br />

35 E um deles, juiz perito na Lei, formulou<br />

uma questão para submeter Jesus à prova:<br />

36 “Mestre, qual é o maior mandamento<br />

da Lei?” 9<br />

o delatariam ao governador romano, que teria o direito de executá-lo por traição. Se respondesse “Sim”, então os fariseus o<br />

denunciariam diante do povo judeu, por deslealdade a Israel e ao judaísmo.<br />

6 O dinheiro usado no império romano para pagar os impostos chamava-se “denário”. Uma moeda romana, cujo valor correspondia<br />

a um dia de trabalho braçal, criada no governo de Tibério, e que trazia, em um dos lados, o retrato do imperador, e do<br />

outro, a inscrição em latim: “Tibério César Augusto, filho do divino Augusto”. Jesus explana sua tese de forma magistral e deixa<br />

todos atônitos diante de sua devoção ao Pai, sabedoria, simplicidade e coerência. Foi Deus quem deu a César poder e autoridade<br />

(Rm 13.1-7). Todos os governos deste mundo, em todas as épocas, vivem de tributos recolhidos do povo. Entretanto, o governo<br />

espiritual tem sua moeda própria e eterna: fé, amor, bondade, compaixão, misericórdia (Lc 20.20-25; Gl 5.22-26). O Reino de Deus<br />

não é deste mundo. Seu modus vivendi (estilo de vida) é espiritual e visa o benefício de todos os seres e não a exploração do homem<br />

pelo homem. Jesus reconheceu a distinção entre responsabilidades políticas e espirituais. Ao governo devemos impostos e<br />

obediência, política justa. No tributo às autoridades cívicas, apenas retribuímos parte daquilo que oferecem. Para Deus, devemos<br />

nossa adoração, louvor, gratidão, obediência, serviço e a dedicação de todo o nosso ser.<br />

7 Os “saduceus” formavam um partido aristocrático que dominava a vida política dos judeus, inclusive a posição do sumo sacerdote.<br />

Não acreditavam na ressurreição, nem na existência dos anjos e, muito menos, na imortalidade da alma. Para eles, a vida<br />

era apenas um “aqui e agora” e nada mais. Esse era um dos aspectos que mais lhes causava divergências com os fariseus.<br />

8 Os saduceus apresentaram uma questão fechada para Jesus. Eles aceitavam apenas os primeiros cinco livros da Bíblia como<br />

autoridade divina, e há séculos estudavam o assunto sobre o qual interrogaram Jesus. Reivindicaram a lei do levirato (do latim levir,<br />

cunhado), promulgada a fim de proteger as viúvas, garantir as propriedades e a continuidade da linhagem familiar (Dt 25.5,6; Gn 38.8),<br />

para zombar da doutrina da ressurreição defendida por Cristo e com isso desmoralizá-lo. Entretanto, Jesus usou o próprio Pentateuco<br />

para mostrar que eles não estudavam as Escrituras com o devido amor a Deus e por isso erravam. Nos céus não há casamentos e receberemos<br />

novos corpos, como os de anjos, entre os quais não há macho ou fêmea. Portanto, debater esse assunto não faz sentido.<br />

Além disso, os crentes ressuscitados viverão eternamente, uma verdade firmada no caráter de Deus (Êx 3.6; Lc 20.28).<br />

9 Os fariseus eram muito legalistas, tanto que se emaranhavam em suas próprias leis e decretos. Discutiam sempre sobre<br />

quais, dentre suas muitas ordenanças, eram prioritárias para que um judeu alcançasse o Reino dos céus e o Shabbãth (o grande<br />

MT_B.indd 51<br />

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<strong>MATEUS</strong> 22, 23<br />

37 Asseverou-lhe Jesus:<br />

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o<br />

teu coração, de toda a tua alma e com<br />

toda a tua inteligência. 10<br />

38 Este é o primeiro e maior dos mandamentos.<br />

39 O segundo, semelhante a este, é:<br />

‘Amarás o teu próximo como a ti<br />

mesmo’.<br />

40 A estes dois mandamentos estão sujeitos<br />

toda a Lei e os Profetas”.<br />

Jesus é o Senhor de Davi<br />

(Mc 12.35-37; Lc 20.41-44)<br />

41 Estando reunidos os fariseus, Jesus<br />

lhes indagou:<br />

42 “Qual a vossa opinião acerca do Messias?<br />

De quem Ele é filho?”. Ao que eles<br />

lhe afirmaram: “É filho de Davi”.<br />

43 Contestou-lhes Jesus: “Então, como se<br />

explica que Davi, falando pelo Espírito, o<br />

trata de ‘Senhor’? Pois ele afirma:<br />

44 ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Assenta-te<br />

à minha direita, até que Eu ponha<br />

os teus inimigos debaixo dos teus pés’.<br />

45 Considerando que Davi o chama<br />

‘Senhor’, como pode ser Ele seu filho?”. 11<br />

52<br />

46 E ninguém foi capaz de oferecer-lhe<br />

uma só palavra em resposta à questão;<br />

tampouco ousou alguém mais, a partir<br />

daquele dia, dirigir-lhe qualquer outra<br />

pergunta.<br />

Os doutores da Lei falam, mas não agem<br />

(Mc 12.38-40; Lc 11.37-52; 20.45-47)<br />

Então, Jesus pregou às multidões<br />

23 e aos seus discípulos:<br />

2 “Os escribas e os fariseus se assentam<br />

na cadeira de Moisés. 1<br />

3 Fazei e obedecei, portanto, a tudo<br />

quanto eles vos disserem. Contudo, não<br />

façais o que eles fazem, porquanto não<br />

praticam o que ensinam.<br />

4 Eles atam fardos pesados e os colocam<br />

sobre os ombros dos homens. No entanto,<br />

eles próprios não se dispõem a levantar<br />

um só dedo para movê-los.<br />

5 Tudo o que realizam tem como alvo<br />

serem observados pelas pessoas. Por isso,<br />

fazem seus filactérios bem largos e as<br />

franjas de suas vestes mais longas. 2<br />

6 Amam o lugar de honra nos banquetes<br />

e os primeiros assentos nas sinagogas.<br />

7 Gostam de ser cumprimentados nas<br />

Sábado, ou o descanso eterno). Eles haviam interpretado e abstraído do AT um total de 248 preceitos afirmativos. E mais 365<br />

negativos, que acreditavam ser da vontade de Deus, pois o número coincidia com o número de dias do ano. Além disso, o total<br />

desses mandamentos: 613, era o mesmo que o número de letras contidas no Decálogo.<br />

10 Jesus mais uma vez aproveita a oportunidade para mostrar àqueles líderes religiosos e a seus muitos discípulos ao redor, responsáveis<br />

pela continuação do ensino das Escrituras ao povo, que a mentalidade divina e o modo espiritual de raciocinar dife-riam em<br />

muito da limitada e egoísta dialética humana. Jesus então cita Dt 6.5, uma parte do Shema, orações e reflexões diárias dos judeus. Na<br />

Septuaginta (o AT em grego) a palavra aqui traduzida por “inteligência” é, literalmente, “mente” (Mc 12.30). O verbo grego traduzido<br />

aqui por “amarás” não é phileõ, como em algumas versões, que significa uma afeição entre amigos; mas, sim, o verbo agapaõ: uma<br />

obrigação de dedicação absoluta a alguém, determinada pela vontade (Mq 6.8; Am 5.4; Is 33.15; Hc 2.4). Jesus foi o primeiro líder<br />

espiritual judeu a combinar os dois mandamentos de amor, para formar o mais sintético resumo da Lei (Lv 19.18), revelando aos<br />

fariseus, e a todos nós, que não são os muitos regulamentos e leis que tornam uma pessoa santa; mas, sim, seu genuíno e sincero<br />

amor a Deus e a seu próximo mais achegado (familiares), e a seus próximos e vizinhos (comunidade, sociedade).<br />

11 Finalmente, é Jesus quem questiona. Os fariseus eram profundos estudiosos sobre o Messias e sua vinda, como Libertador<br />

de Israel. Entretanto, há séculos interpretavam erroneamente a pessoa e a obra do Messias. Imaginavam um rei, pleno de poderes<br />

divinos, que viria como guerreiro invencível, para libertar Israel do império gentio e conceder saúde, paz e riqueza ao povo judeu.<br />

Conheciam o Messias como Filho de Davi, mas não como o Senhor de Davi (Sl 110.1), tampouco seu domínio espiritual em<br />

amor e humildade (Lc 20.42-44). Jesus desejava que os seus compreendessem que ele era o Messias prometido: o descendente<br />

humano de Davi e o seu divino Senhor.<br />

Capítulo 23<br />

1 Os escribas, doutores e mestres da Lei, bem como os fariseus, partido político religioso que defendia a observância literal<br />

da Torah (Lei) e mais uma série de ordenanças e preceitos por eles criados para situações não diretamente cobertas pela Torah.<br />

Convencidos de que possuíam a correta interpretação da vontade de Deus, afirmavam que a tradição dos anciãos, a lei oral (tôrâ<br />

shebe‘al peh) vinha de Moisés e desde o monte Sinai. Fariseus e escribas eram, portanto, os sucessores autorizados da tradição<br />

de Moisés como mestres da Lei.<br />

2 Os filactérios ou tefilins eram pequenos rolos ou caixinhas de couro que os judeus religiosos usavam presos à testa, perto<br />

do coração, e no braço esquerdo. Essas pequenas cápsulas continham quatro passagens da Torah: Êx 13.1-10 e 11-16; Dt<br />

6.4-9 e 11.13-21. Com o passar do tempo, os judeus começaram a respeitar e honrar esses pequenos recipientes, tanto quanto<br />

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praças e de serem, pelas pessoas, chamados:<br />

‘Rabi, Rabi!’. 3<br />

8 Vós, todavia, não sereis tratados de<br />

‘Rabis’; pois um só é vosso Mestre, e vós<br />

todos sois irmãos.<br />

9 E a ninguém sobre a terra tratai de vosso<br />

Pai; porquanto só um é o vosso Pai,<br />

aquele que está nos céus.<br />

10 Também não sereis chamados de líderes,<br />

pois um só é o vosso Líder, o Cristo. 4<br />

11 Porém o maior dentre vós seja vosso<br />

servo.<br />

12 Portanto, todo aquele que a si mesmo se<br />

exaltar será humilhado, e todo aquele que<br />

a si mesmo se humilhar será exaltado.<br />

13 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque fechais o reino dos<br />

céus diante dos homens. Porquanto vós<br />

mesmos não entrais, nem tampouco deixais<br />

entrar os que estão a caminho! 5<br />

14 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque devorais as casas das<br />

viúvas e, para disfarçar, encenais longas<br />

orações. E, por isso, recebereis castigo<br />

ainda mais severo!<br />

15 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque viajais por mares e<br />

53 <strong>MATEUS</strong> 23<br />

terras para fazer de alguém um prosélito.<br />

No entanto, uma vez convertido, o<br />

tornais duas vezes mais filho do inferno<br />

do que vós!<br />

16 Ai de vós, guias cegos! Porque ensinais:<br />

‘Se uma pessoa jurar pelo santuário, isso<br />

não tem significado; porém, se alguém<br />

jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado<br />

a cumprir o que prometeu’.<br />

17 Tolos e cegos! Pois o que é mais importante:<br />

o ouro ou o santuário que santifica<br />

o ouro?<br />

18 E mais, dizeis: ‘Se uma pessoa jurar pelo<br />

altar, isso nada significa; mas, se alguém<br />

jurar pela oferta que está sobre ele, fica,<br />

assim, comprometido ao seu juramento’.<br />

19 Embotados! O que é mais importante:<br />

a oferta, ou o altar que santifica a oferta?<br />

20 Portanto, a pessoa que jurar em nome<br />

do altar, jura pelo altar e por tudo o que<br />

está sobre ele.<br />

21 E quem jurar pelo santuário, jura pelo<br />

santuário e em nome daquele que nele<br />

habita.<br />

22 E aquele que jurar pelos céus, jura pelo<br />

trono de Deus e em nome daquele que<br />

nele está assentado. 6<br />

as Escrituras, e seu tamanho era considerado um sinal de zelo espiritual de quem os ostentava. Os fariseus acreditavam que o<br />

próprio Deus usava filactérios. Por isso, eram considerados como amuletos de boa sorte e proteção contra o mal. As “franjas”<br />

eram as borlas descritas em Nm 15.37-41 que todo judeu deveria usar. Jesus também as usava nas quatro pontas de seu manto<br />

(em Mt 9.20 são chamadas de “orla”), essas borlas eram um tipo de madeixas de lã, branca e azul, e tinham a singela função<br />

de declarar o amor de quem as usava a Yahweh (o Senhor) e a vontade do seu coração de cumprir a Torah (ou Torá, a Lei) da<br />

maneira mais fiel possível. As borlas tinham o tamanho médio de até 10 cm; entretanto, os fariseus as alongavam muito mais em<br />

sinal de maior espiritualidade. O que Deus criou para ser apenas um lembrete de fé e marca de devoção, tornou-se objeto de<br />

adoração e ostentação (fetiche).<br />

3 Os mestres da Lei e os fariseus gostavam de ocupar os melhores e mais importantes assentos na sinagoga, aqueles que ficam<br />

defronte à representação da arca e que continha os rolos das Escrituras Sagradas. Além disso, os que se assentavam ali podiam<br />

ser facilmente vistos por toda a congregação. Eles também apreciavam muito ouvir as pessoas os chamarem, insistentemente,<br />

aos gritos e em público (nas praças do mercado) de Rabbei (em grego), que significa literalmente em hebraico: “meu professor,<br />

meu mestre!”<br />

4 A expressão “pai” ou “padre” (em hebraico ’abh) não deve ser usada como título de qualquer autoridade religiosa. Jesus faz uma<br />

séria advertência quanto à busca desenfreada por reconhecimento e prestígio, coisas que alimentam a soberba humana. Entretanto,<br />

devemos ter cautela com possíveis aplicações de literalismo insensato dessas passagens. Jesus está ensinando princípios de vida<br />

espiritual a quem só conseguia enxergar regras exatas de comportamento religioso. Os cristãos, líderes (em grego kathegetai, guias<br />

ou dirigentes) ou não, devem ser conhecidos por um espírito e atitudes diaconais (em grego diakonos, servo).<br />

5 “Ai” é uma expressão de profunda tristeza e indignação da parte de Deus, expressa através dos lábios do seu Filho contra<br />

a falsidade (hipocrisia) dos maiores conhecedores das Sagradas Escrituras da época e líderes religiosos dos judeus, o povo do<br />

Cristo (Messias). Essa atitude apenas legalista, arrogante, soberba e desprovida de sincero amor a Deus e às pessoas, fazia que os<br />

“prosélitos” (pagãos e gentios que se convertiam ao judaísmo) se tornassem ainda piores que seus mestres e não tivessem verdadeira<br />

comunhão com Deus, o Pai (em aramaico: abba). Esses líderes religiosos e juízes de direito, eram tão dissimulados que chegavam<br />

a usar suas posições como juristas para processar viúvas ricas ou para fazer que elas lhes legassem suas propriedades.<br />

6 Com relação aos juramentos, Jesus argumenta com os mestres fariseus, com seus próprios pressupostos em relação à Lei,<br />

para lhes revelar o verdadeiro espírito da Lei e a vontade de Deus (5.33-37).<br />

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<strong>MATEUS</strong> 23<br />

23 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã,<br />

do endro e do cominho, mas tendes<br />

descuidado dos preceitos mais importantes<br />

da Lei: a justiça, a misericórdia e<br />

a fé. Deveis, sim, praticar estes preceitos,<br />

sem omitir aqueles! 7<br />

24 Líderes insensíveis! Pois coais o pequeno<br />

mosquito, mas engolis um camelo! 8<br />

25 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque limpais o exterior do<br />

copo e do prato, mas por dentro, estes<br />

estão repletos de avareza e cobiça.<br />

26 Fariseu que não enxerga! Limpa, antes<br />

de tudo, o interior do copo e do prato,<br />

para que da mesma forma, o exterior<br />

fique limpo!<br />

27 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque sois parecidos aos<br />

túmulos caiados: com bela aparência<br />

por fora, mas por dentro estão cheios<br />

de ossos de mortos e toda espécie de<br />

imundície! 9<br />

28 Assim também sois vós: exteriormente<br />

pareceis justos ao povo, mas<br />

vosso interior está repleto de falsidade<br />

e perversidade.<br />

29 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,<br />

hipócritas! Porque construís os sepulcros<br />

dos profetas, adornais os túmulos<br />

dos justos.<br />

54<br />

30 E declarais: ‘Se tivéssemos vivido na<br />

época dos nossos antepassados, não teríamos<br />

tomado parte com eles no assassinato<br />

dos profetas!’<br />

31 Dessa forma, porém, testemunhais<br />

contra vós mesmos que sois filhos dos<br />

que mataram os profetas.<br />

32 Acabai, pois, de encher a medida do<br />

pecado de vossos pais!<br />

33 Cobras venenosas, ninho de víboras!<br />

Como escapareis da condenação do<br />

inferno?<br />

34 Por isso, eis que Eu vos envio profetas,<br />

sábios e mestres. A uns assassinareis<br />

e crucificareis; a outros açoitareis nas<br />

vossas sinagogas e perseguireis de cidade<br />

em cidade.<br />

35 E, dessa maneira, sobre vós recairá todo<br />

o sangue justo derramado na terra, desde<br />

o sangue do justo Abel, até o sangue de<br />

Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes<br />

entre o santuário e o altar. 10<br />

36 Com toda a certeza vos asseguro, que<br />

tudo isso ocorrerá a esta geração”.<br />

O lamento sobre Jerusalém<br />

(Lc 13.34-35)<br />

37 “Ó Jerusalém, Jerusalém, que assassinas<br />

os profetas e apedrejas os que te são<br />

enviados! Quantas vezes Eu quis reunir<br />

os teus filhos, como a galinha acolhe os<br />

7 Oferecer ao Senhor a décima parte (o dízimo) de diversas ervas era uma prática religiosa baseada em Lv 27.30. Embora<br />

o dízimo dos grãos, frutos, vinho e azeite fosse o exigido, dos judeus, pela Lei (Nm 18.12; Dt 14.22-23), os escribas e fariseus<br />

haviam ampliado a lista dos itens especificados na Lei, para incluir o dízimo das menores e mais simples hortaliças. A hortelã<br />

era usada como tempero e para adornar o chão das casas e sinagogas. O endro era usado como medicamento e para perfumar<br />

ambientes. O cominho, que são as sementes de erva-doce, tinha vários usos culinários. Entretanto, o valor comercial dessas<br />

ervas era mínimo; mas os fariseus desejavam mostrar ao povo um zelo religioso que, na verdade, não fazia parte de suas vidas<br />

com Deus e com seus próximos.<br />

8 Os escribas e fariseus coavam com muito cuidado toda água que bebiam através de um pano branco, bem tecido, para ter<br />

certeza de não engolir nenhum pequeno mosquito; considerado pelos religiosos como o menor ser vivo impuro. Entretanto,<br />

figuradamente, engoliam um camelo inteiro, um dos maiores animais impuros para os judeus, ao praticarem uma série de fraudes,<br />

atrocidades e pecados.<br />

9 Por ocasião da celebração da Páscoa, época em que os peregrinos de várias partes da Palestina iam a Jerusalém, e momento<br />

no qual Jesus está falando, era costume pintar, várias vezes, toda a parte exterior dos sepulcros (túmulos) com cal. Isso para que<br />

os túmulos pudessem ser vistos inclusive à noite, uma vez que, pela Lei, se alguém pisasse sobre um túmulo ou área de sepultura<br />

tornava-se instantaneamente impuro (Nm 19.16). Por isso, todos pareciam iguais, limpos, belos e puros; mas em seu interior jazia<br />

a morte, o mau cheiro e a podridão.<br />

10 Os líderes religiosos judaicos no tempo de Jesus estavam acrescentando pecados sobre pecados à longa lista de seus pais<br />

(antepassados) históricos. Jesus também seria um dos profetas martirizados. Seus apóstolos não seriam igualmente aceitos<br />

(10.17,23). E Jesus resume a história dos martírios no AT citando o assassinato de Abel (Gn 4.8; Hb 11.4) e o martírio do profeta<br />

Zacarias registrado no livro de Crônicas. Na Bíblia Hebraica, o último livro do AT (2Cr 24.20-22).<br />

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seus pintinhos debaixo das suas asas, mas<br />

vós não o aceitastes! 11<br />

38 Eis que a vossa casa ficará abandonada!<br />

12<br />

39 Pois eu vos declaro que, a partir de<br />

agora, de modo algum me vereis,<br />

até que venhais a dizer: ‘Bendito é o que<br />

vem em o Nome do Senhor!’” 13<br />

Jesus prediz o final dos tempos<br />

(Mc 13.1-2; Lc 21.5-6)<br />

Então, Jesus saiu do templo e, ao<br />

caminhar, seus discípulos chega-<br />

24<br />

55 <strong>MATEUS</strong> 23, 24<br />

ram mais perto dele para lhe apontar as<br />

construções do templo.<br />

2 Ele, entretanto, lhes observou: “Estais<br />

vendo todas estas coisas? Com toda a<br />

certeza Eu vos afirmo que não ficará aqui<br />

pedra sobre pedra, pois que serão todas<br />

derrubadas”. 1<br />

O princípio das dores<br />

(Mc 13.3-13; Lc 21.7-19)<br />

3 Tendo Jesus se assentado no monte das<br />

Oliveiras, os discípulos chegaram até Ele<br />

em particular e lhe pediram: “Dize-nos<br />

11 O próprio Jesus reconhece que os seus próprios irmãos não o receberam. Deus tem feito tudo para seu povo, mas a rejeição<br />

de Israel ilustra o coração empedernido da raça humana, em relação ao seu Criador (Jo 1.11).<br />

12 Jesus faz referência a 1Rs 9.7-8; Jr 12.7, 22.5 e adverte seu povo. No ano 70 d.C. toda a nação de Israel e, em especial, a<br />

cidade de Jerusalém, foram assoladas e profanadas pelos exércitos pagãos de Roma.<br />

13 Jesus se despede de Jerusalém e do seu povo, declarando que não os ensinaria mais em público até sua volta em glória<br />

no final dos tempos, quando Israel o receberá como o Messias que fora rejeitado (Zc 12.10). De agora em diante a salvação dos<br />

judeus, como de qualquer outra pessoa sobre a face da terra, do mais alto líder religioso ou político ao mais simples ser humano,<br />

só tem uma única possibilidade: a confissão do Senhor Jesus Cristo, como Salvador, Senhor e Filho de Deus (21.9, Sl 118.26).<br />

Capítulo 24<br />

1 O primeiro Templo foi idealizado por Davi (2Sm 7.2; 1Cr 22.8,3; 2Sm 24.18-25). Entretanto, coube a Salomão (em hebraico<br />

transliterado shelômõh, homem de paz), seu filho com Bate-Seba (2Sm 12.24), a honra da sua construção, que teve início no<br />

quarto ano do seu reinado e foi concluída sete anos mais tarde. Mas o filho de Salomão, Reoboão, não deu a mesma atenção ao<br />

Templo e sucessivas pilhagens ocorreram desde Sisaque, do Egito (1Rs 14.26), até a invasão de Nabucodonosor em 587 a.C.<br />

(2Rs 25.9,13-17). Mesmo depois de sua destruição, alguns fiéis ainda iam oferecer sacrifícios entre suas ruínas (Jr 41.5). Hoje<br />

em dia não há qualquer estrutura do antigo Templo de Salomão acima do nível do chão. Porém, curiosamente, sobre os seus<br />

escombros foi construída a mesquita mulçumana, conhecida como “Cúpula da Rocha”, destaque na maioria dos cartões postais<br />

de Israel (2Cr 3.1; 2Sm 24.24). O segundo Templo foi erguido por ocasião do retorno dos exilados da Babilônia, cerca de 537 a.C,<br />

conforme autorização e ajuda de Ciro, rei da Pérsia, e do ministério de Neemias e Esdras (Nm 2.11-20). Toda a área teve de ser<br />

limpa do entulho do primeiro Templo destruído (Ed 1; 3.2-10). A arca havia desaparecido no tempo do exílio e jamais foi encontrada.<br />

No lugar do candelabro de Salomão, com dez lâmpadas, foi colocado um novo, com sete hastes, juntamente com uma mesa<br />

de ouro para os pães da proposição e o altar do incenso. Esses e outros objetos sagrados foram tomados como despojos pelo<br />

rei da Síria, Antíoco IV Epifânio (entre 175 e 163 a.C.), o qual colocou um altar e uma estátua pagã no lugar santo, no dia 15 de<br />

dezembro de 167 a.C. Os macabeus venceram os sírios e purificaram o Templo (1Macabeus 1.54; 4.35-59), substituindo todos os<br />

seus móveis e transformando o Templo numa fortaleza que lhes permitiu resistir durante três meses ao cerco de Pompeu (63 a.C.)<br />

quando foi, então, destruído (os livros dos Macabeus, com alguns outros, não são considerados canônicos, por isso não fazem<br />

parte da maioria das Bíblias evangélicas em língua portuguesa, entretanto, muitos de seus relatos históricos são dignos de crédito).<br />

A terceira construção, chamada de Templo de Herodes, começou no ano 19 a.C., mas seu motivo principal não foi glorificar<br />

a Deus, e, sim, reconciliar os judeus com o seu rei gentio (idumeu). Mesmo assim, o rei teve grande cuidado com a reverência<br />

ao Templo, convocou mil sacerdotes que foram treinados como pedreiros para conduzir a edificação do santuário, e procuraram<br />

construir uma cópia do Templo de Salomão. Em uma área com mais de 144.000 m 2 , ergueu-se uma magnífica estrutura de<br />

pedras creme, adornadas de ouro. Um muro feito com blocos de pedras com 60 cm de largura por até 5 metros de comprimento<br />

circundava o Templo. Contudo, alguns anos após o término da construção, exatamente 40 anos depois da profecia de Jesus,<br />

durante as celebrações da Páscoa judaica, as tropas do comandante romano Tito tomaram posição de combate, às portas de<br />

Jerusalém. A cidade estava em festa e repleta de judeus de todas as partes. Os dois mais poderosos partidos judaicos, que deveriam<br />

estar atentos à defesa da cidade contra Roma, achavam-se em violenta guerra interna, a ponto de incendiarem os estoques<br />

de alimentos um do outro. Somente quando os enormes aríetes dos romanos arrebentaram o primeiro portão de Jerusalém foi<br />

que os políticos decidiram se unir contra o invasor. Tarde demais. Tito incendiou tudo, e até as pedras foram separadas para<br />

colher o ouro derretido que se infiltrara nas junções. O comandante romano deixou apenas um resto da muralha, como símbolo<br />

do aniquilamento de Israel, conhecido em nossos dias como ‘Muro das Lamentações’. Mais de um milhão de judeus morreram<br />

naquela época. Todas as estradas que passavam por Jerusalém estavam tomadas por judeus crucificados. Os sobreviventes foram<br />

vendidos ou negociados como escravos. Israel desapareceu como nação e os judeus foram espalhados pelo mundo inteiro,<br />

sob a maior humilhação já sofrida por um povo até nossos dias. Em homenagem à marcha triunfal de Tito, foi construído o arco<br />

do triunfo, o “Arco de Tito”. Esse monumento persiste em Roma até hoje e mostra, em seus trabalhos de escultura, cenas das<br />

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<strong>MATEUS</strong> 24<br />

quando ocorrerão estas coisas? 2 E qual<br />

será o sinal da tua vinda e do final dos<br />

tempos?”.<br />

4 Então Jesus lhes revelou: “Cuidado, que<br />

ninguém vos seduza.<br />

5 Pois muitos são os que virão em meu<br />

nome, proclamando: ‘Eu sou o Cristo!’, e<br />

desencaminharão muitas pessoas.<br />

6 E vós ouvireis falar de guerras e rumores<br />

de guerras, todavia não vos desespereis,<br />

porque é preciso que tais coisas<br />

ocorram, mas ainda não será o fim.<br />

7 Porquanto, nação se levantará contra<br />

nação, e reino contra reino. Haverá fomes<br />

e terremotos em vários lugares.<br />

8 Contudo, esses acontecimentos serão apenas<br />

como as primeiras dores de um parto.<br />

9 Então eles vos entregarão para serem<br />

afligidos e condenados à morte. E sereis<br />

odiados por todas as nações por serem<br />

meus seguidores.<br />

10 Nessa época, muitos ficarão escandalizados,<br />

trairão uns aos outros e se odiarão<br />

56<br />

mutuamente.<br />

11 Então, numerosos falsos profetas surgirão<br />

e enganarão a muitos.<br />

12 E, por causa da multiplicação da maldade,<br />

o amor da maioria das pessoas se<br />

esfriará.<br />

13 Aquele, porém, que continuar firme<br />

até o final será salvo.<br />

14 E este evangelho do Reino será pregado<br />

em todo o mundo habitado, como<br />

testemunho a todas as nações, e então<br />

chegará o fim.<br />

A grande tribulação<br />

(Mc 13.14-23; Lc 21.7-19)<br />

15 E, assim, quando virdes a profanação<br />

horrível da qual falou o profeta Daniel, no<br />

Lugar Santo (ao ler o profeta entendereis<br />

isso), 3<br />

16 então, os que estiverem na Judéia fujam<br />

para os montes. 4<br />

17 Quem estiver sobre o telhado de sua casa,<br />

não desça para retirar dela coisa alguma.<br />

legiões romanas carregando os objetos sagrados e valiosos do Templo, e os mais valorosos guerreiros judeus algemados. Tito<br />

profanou o Templo, entrando no santo lugar, despojando todo o tesouro e utensílios preciosos, tais como o grande candelabro<br />

de ouro maciço, uma réplica dourada da arca com os preciosos rolos sagrados da Lei, a mesa de ouro e muitos outros objetos<br />

preciosos. Finalmente, o imperador Vespasiano, pai de Tito, declarou toda a nação de Israel como sua propriedade particular e<br />

doou grandes propriedades a seus amigos e colaboradores, entre eles o conhecido historiador judeu e fariseu, Flávio Josefo, cujo<br />

carisma e poder intelectual haviam conquistado a amizade do rei e a cidadania romana.<br />

2 Jesus se retira do Templo e sobe com os discípulos em direção ao monte das Oliveiras - uma cordilheira, a leste de Jerusalém,<br />

do outro lado do vale Cedrom, com quase dois quilômetros de extensão e cerca de 70 metros acima do nível da cidade (Mc<br />

11.1). De agora em diante, nunca mais entrará no Templo. Tudo é parte da grande visão profética de Ezequiel, que viu a glória do<br />

Senhor abandonar a cidade de Jerusalém e o Templo, mais precisamente em direção ao monte das Oliveiras (Ez 8.4-6). Naquele<br />

momento estava se cumprindo a Palavra do Senhor que veio a Ezequiel em 592 a.C. Ao chegar ao alto do monte, Jesus lança<br />

um último olhar sobre a cidade amada que o rejeitou. Ao pôr-do-sol, senta-se com seus discípulos e ficam observando a noite<br />

chegar sobre o Templo e o povo de Jerusalém. Jesus não revela quando sucederão essas coisas, mas responde, em forma de<br />

profecia, às demais questões: O fim dos tempos entre os versículos 4-14; a destruição de Jerusalém entre 15-22 (Lc 21.20), e o<br />

glorioso retorno de Jesus Cristo entre 23-31.<br />

3 A expressão grega, aqui transliterada por bdelugma tes eremoses vem do hebraico shiqquçe shõmem e significa: “a<br />

profanação horrível”, “o sacrilégio terrível”, ou ainda, como em versões antigas: “o abominável da desolação”. Essas são formas<br />

de traduzir o significado literal da frase original: “a coisa abominável que causa horror e repulsa” (Dn 9.27; 11.31; 12.11). Jesus<br />

ressalta que os leitores do livro escrito pelo profeta Daniel poderão compreender melhor o que ele está dizendo. Jesus faz<br />

referência a um tipo de idolatria tão perversa e antagônica a todos quantos crêem no Pai de Cristo, como ocorreu no ano 168 a.C.,<br />

quando o rei Antíoco Epifânio erigiu um altar a Zeus no lugar do altar de Jeová (em hebraico transliterado por Yahweh –<br />

1Macabeus 1.54-59; 6.7; 2Macabeus 6.1-5). Assim também aconteceu no ano 70 d.C., quando os romanos ofereceram sacrifícios<br />

pagãos em Jerusalém, no lugar sagrado, ao proclamar Tito imperador supremo (2Ts 2.4; Ap 13.14-15). A história registra que<br />

muitos cristãos e judeus, pouco antes do ano 70 d.C., lembraram-se das palavras de Jesus, cumpriram à risca as orientações<br />

proféticas e tiveram suas vidas salvas daquelas catástrofes e perseguições. O Grande Retorno de Jesus, em glória, marca o final<br />

da ordem mundana, na qual vivemos. Porém, antes disso, surgirão muitos enganadores, falsos messias (cristos), o tema guerra<br />

e terrorismo dominará a mídia mundial, tribulações, terremotos, vulcões, tempestades, alterações na atmosfera, no clima, falsos<br />

profetas por toda parte, multiplicação da iniqüidade (maldade) e da arrogância cientifica, lascívia, bestialidades, esfriamento do<br />

amor e das virtudes morais e éticas. Todos esses são apenas sinais que criam o ambiente para a manifestação do maior dos<br />

sinais: a pregação do Evangelho até os confins da terra (28.18-20). Então virá o fim.<br />

4 A história registra que muitos cristãos, pouco antes do ano 70 d.C., fugiram de Jerusalém e se refugiaram nas montanhas<br />

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18 E aquele que estiver no campo, não<br />

volte para pegar sua túnica.<br />

19 Serão dias terríveis para as mulheres<br />

grávidas e para as que estiverem amamentando.<br />

20 E orai para que a vossa fuga não ocorra<br />

durante o inverno nem no sábado. 5<br />

21 Porquanto haverá nessa época grande<br />

tribulação, como jamais aconteceu desde<br />

o início do mundo até agora, nem nunca<br />

mais haverá. 6<br />

22 E, se aqueles dias não tivessem sido<br />

abreviados, nenhuma carne seria salva.<br />

Mas, por causa dos eleitos, aquele tempo<br />

será encurtado. 7<br />

23 Então, se alguém vos anunciar: ‘Vede,<br />

aqui está o Cristo!’ ou ‘Ei-lo ali!’ Não<br />

acrediteis.<br />

24 Pois se levantarão falsos cristos e falsos<br />

profetas e apresentarão grandes milagres<br />

e prodígios para, se possível, iludir até<br />

mesmo os eleitos. 8<br />

25 Vede que Eu o preanunciei a vós!<br />

26 Portanto, se vos disserem: ‘Eis que Ele<br />

está no deserto!’- não saiais. Ou ainda:<br />

‘Ele está ali mesmo, nos cômodos de<br />

uma casa!’- não acrediteis.<br />

27 Pois, da mesma maneira como o relâmpago<br />

parte do oriente e brilha até no<br />

ocidente, assim também se dará a vinda<br />

do Filho do homem. 9<br />

57 <strong>MATEUS</strong> 24<br />

28 Onde houver um cadáver, aí se reunirão<br />

os abutres.<br />

O retorno de Cristo em glória<br />

(Mc 13.24-27; Lc 21.25-28)<br />

29 Imediatamente após o tormento daqueles<br />

dias, o sol escurecerá e a lua não<br />

dará a sua luz; e as estrelas cairão do céu,<br />

e os poderes celestes serão estremecidos.<br />

30 Então surgirá no céu o sinal do Filho<br />

do homem, e todos os povos da terra<br />

prantearão e verão o Filho do homem<br />

chegando nas nuvens do céu com poder<br />

e majestosa glória. 10<br />

31 Ele enviará os seus anjos, com poderoso<br />

som de trombeta, e estes reunirão os<br />

seus eleitos dos quatro ventos, de uma a<br />

outra extremidade dos céus.<br />

A lição da figueira: o Dia do Senhor<br />

(Mc 13.28-37; Lc 21.29-36)<br />

32 Portanto, aprendei com a parábola da<br />

figueira: quando, pois, os seus ramos se<br />

renovam e suas folhas começam a brotar,<br />

sabeis que está próximo o verão.<br />

33 Da mesma forma vós: quando virdes<br />

todos esses acontecimentos, sabei que<br />

Ele está muito próximo, às portas. 11<br />

34 Com toda a certeza Eu vos afirmo, que<br />

não passará esta geração até que todos<br />

esses eventos se realizem.<br />

da Transjordânia, onde se localizavam as terras de Pella. Fuga semelhante haverá num período futuro de tribulação conhecido<br />

como a 70 a Semana de Daniel (Dn 9.27). Entretanto, aquelas pessoas que verdadeiramente crêem no Senhor (os salvos, a Igreja),<br />

serão arrebatadas da terra no exato momento em que Cristo cruzar a atmosfera da terra. Os cristãos não precisarão fugir, apenas<br />

devem perseverar até o Dia do Senhor.<br />

5 Gestantes, idosos e pessoas com deficiência física terão maior dificuldade naqueles dias de tribulação e perseguição. Mateus,<br />

como escreve principalmente aos judeus, observa os detalhes do inverno e do sábado, dia em que os judeus somente podiam<br />

caminhar 800 metros.<br />

6 O historiador judeu-romano Flávio Josefo foi testemunha ocular desta terrível tribulação e narra o episódio com palavras parecidas<br />

às de Jesus. Entretanto, aquela grande tribulação foi apenas mais um sinal da maior das tribulações ainda por vir (Dn 12.1).<br />

7 Este último e terrível tempo de aflição será abreviado em relação ao que já havia sido pré-determinado nas profecias (como<br />

a 70 a Semana de Daniel – Dn 9.27, ou os 42 meses mencionados em Ap 11.2; 13.5). Os eleitos são o povo de Deus em todo o<br />

mundo, a Igreja de Jesus Cristo.<br />

8 Compare esta descrição com a pessoa do anticristo revelada em 2Ts 2.9-10.<br />

9 Que ninguém se iluda. A segunda e definitiva volta de Jesus Cristo será um evento portentoso. Em segundos, a glória e o<br />

brilho da sua presença varrerão o planeta, e os salvos (sua Igreja) serão arrebatados, sumindo instantaneamente de toda a terra.<br />

(27, 31, 1Co 15.12; 1Ts 4.16,17). Jesus cita um antigo provérbio para explicar que seu glorioso retorno será tão certo quanto o esvoaçar<br />

dos urubus (abutres: aves falconiformes e vulturídeas comuns no Oriente e Europa) sobre um cadáver. Ou seja, o mundo<br />

está moribundo e os urubus já sobrevoam aqueles que morrerão e lhes servirão de banquete (Lc 17.37).<br />

10 Fenômenos cósmicos acompanharão a volta triunfal do Filho do homem (Mc 8.31, Ap 1.7). O brilho, como um relâmpago,<br />

que o mundo inteiro verá, é a Shekinah: a glória do Senhor (Is 13.10; 24.21-23; 34.4; Ez 32.7-8; Jl 2.10,31; 3.15; Am 8.9, 2Ts<br />

1.6-10; Ap 19.11-16).<br />

11 No Oriente as figueiras anunciam o início do verão, quando renovam seus ramos e novas folhas brotam. Esse evento é tão<br />

certo e esperado quanto o será a volta de Cristo, e por isso todos os cristãos devem estar preparados para não serem apanhados<br />

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<strong>MATEUS</strong> 24<br />

35 O céu e a terra passarão, mas as minhas<br />

palavras jamais passarão.<br />

Só Deus sabe o dia e a hora exatos<br />

(Mc 13.32-37)<br />

36 Entretanto, a respeito daquele dia e<br />

hora ninguém sabe, nem os anjos dos<br />

céus, nem o Filho, senão exclusivamente<br />

o Pai. 12<br />

37 Como aconteceu nos dias de Noé,<br />

assim também se dará por ocasião da<br />

chegada do Filho do homem.<br />

38 Porque nos dias que antecederam ao<br />

Dilúvio, o povo levava a vida comendo<br />

e bebendo, casando-se e oferecendo-se<br />

em matrimônio, até o dia em que Noé<br />

entrou na arca,<br />

39 e as pessoas nem notaram, até que<br />

chegou o Dilúvio e levou a todos. Assim<br />

ocorrerá na vinda do Filho do homem.<br />

40 Dois homens estarão na lavoura: um<br />

será arrebatado, mas o outro deixado.<br />

41 Duas mulheres estarão trabalhando<br />

num moinho: uma será arrebatada, a<br />

outra ficará pra trás.<br />

42 Por isso, vigiai, porquanto não sabeis<br />

em que dia virá o vosso Senhor. 13<br />

43 Contudo, entendei isto: se o proprietário<br />

de uma casa soubesse a que hora<br />

viria o ladrão, se colocaria em sentinela<br />

e não permitiria que a sua residência<br />

fosse violada.<br />

58<br />

44 Portanto, ficai igualmente vós alertas;<br />

pois o Filho do homem virá no momento<br />

em que menos esperais. 14<br />

O destino do bom e do mau servo<br />

(Lc 12.42-46)<br />

45 Sendo assim, quem é o servo fiel e<br />

sábio, a quem o senhor confiou os de<br />

sua casa para dar-lhes alimento no seu<br />

devido tempo?<br />

46 Feliz aquele servo a quem o seu senhor,<br />

quando voltar, o encontrar agindo dessa<br />

maneira.<br />

47 Com certeza vos afirmo que o senhor<br />

confiará a seu servo todos os seus bens.<br />

48 Entretanto, supondo que esse servo,<br />

sendo mau, diga a si mesmo: ‘Meu senhor<br />

está demorando muito’,<br />

49 e, por isso, passe a agredir os seus<br />

conservos e a comer e beber com beberrões.<br />

50 O senhor daquele servo virá num dia<br />

inesperado e numa hora que o servo<br />

desconhece.<br />

51 E o senhor o punirá com toda a severidade<br />

e lhe dará um lugar ao lado dos<br />

hipócritas, onde haverá grande lamento<br />

e ranger de dentes. 15<br />

As virgens sábias e as tolas<br />

Portanto, o Reino dos céus será<br />

semelhante a dez virgens que pe-<br />

25<br />

de surpresa, como acontecerá com o mundo descrente. Jesus ainda afirma que a geração que presenciar o início dos sinais<br />

também verá sua volta triunfal. A expressão “geração” (em grego antigo genea), também podia significar “raça” ou “família” e, por<br />

certo, Jesus fez referência à profecia de que o povo judeu não seria exterminado da terra por mais que seus muitos inimigos, em<br />

todas as épocas, tenham se empenhado nesse objetivo (Mc 13.30; Lc 21.32). As palavras de Jesus são todas mais verdadeiras<br />

e duradouras que o Universo.<br />

12 O Dia do Senhor é uma expressão que se refere ao AT como o dia em que Jesus voltará em glória para levar seu povo (a<br />

Igreja) para a Nova Jerusalém (Am 8.3,9,13; 9.11; Mq 4.6; 5.10; 7.11). Mas o dia exato desse evento a ninguém foi revelado, e<br />

Jesus, enquanto esteve na terra, também não pretendeu saber, pois decidiu em tudo obedecer ao Pai e viver pela fé como todo<br />

ser humano deveria.<br />

13 Jesus dedica seis parábolas para enfatizar a extrema necessidade da vigilância, enquanto estamos vivos na terra e ele não<br />

retorna: O porteiro (Mc 13.35-37). O pai de família (Mt 24.43-44). O servo fiel (24.45-51). As dez virgens (25.1-13). Os talentos<br />

(25.14-30). As ovelhas e os bodes (25.31-46). A vida passa, e passa muito rápido. É preciso estar com a consciência tranqüila de<br />

que amamos ao Senhor e buscamos praticar sua vontade em todas as áreas de nossa vida íntima e relacional.<br />

14 Jesus nos adverte de que perto da sua volta, o mundo estará descrente, religioso talvez, mas sem a convicção da salvação<br />

nem da militância evangélica. O poder do sistema mundial forçará muitos religiosos a se afastarem de Deus e de sua Palavra.<br />

Intérpretes de um “evangelho” que não é o de Cristo conduzirão milhões de pessoas à perdição. Até os cristãos fiéis correrão o<br />

risco de ser enganados por um estilo de vida massificado pelo sistema (globalização do pensamento humanista, cético e hedonista)<br />

e serão apanhados de surpresa pela iminente volta do Senhor. Não é sábio tentar calcular a data do retorno de Jesus. É mais<br />

errôneo, porém, negligenciar esse evento fatal. A expectativa da volta de Cristo confere senso de urgência e dinâmica à missão<br />

evangélica em toda a terra. A parábola do “bom e mau servos” ensina como o filho de Deus deve viver sua vida cristã (45-51).<br />

15 O contexto revela que “hipócrita” é aquele cuja vida prática não corresponde à sua alegada fidelidade a Cristo. A expressão<br />

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garam suas candeias e saíram para encontrar-se<br />

com o noivo. 1<br />

2 Cinco delas eram sábias, mas outras<br />

cinco eram inconseqüentes.<br />

3 As que eram inconseqüentes, ao pegarem<br />

suas candeias, não levaram óleo de<br />

reserva consigo.<br />

4 Entretanto, as prudentes, levaram óleo<br />

em vasilhas, junto com suas candeias. 2<br />

5 O noivo demorou a chegar, e todas ficaram<br />

com sono e adormeceram.<br />

6 À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Eis<br />

que vem o noivo! Saí ao seu encontro!’<br />

7 Então, todas as virgens acordaram e<br />

foram preparar suas candeias. 3<br />

8 As insensatas recorreram às sábias: ‘Dainos<br />

um pouco do vosso azeite, porque as<br />

nossas candeias estão se apagando’.<br />

9 Porém as sábias responderam: ‘Não podemos,<br />

pois assim faltará tanto para nós<br />

quanto para vós outras! Ide, portanto,<br />

aos que o vendem e comprai-o’.<br />

10 Mas, saindo elas para comprar, chegou<br />

o noivo. As virgens que estavam preparadas<br />

entraram com ele para o banquete de<br />

núpcias. E a porta foi fechada.<br />

11 Mais tarde, todavia, chegaram as virgens<br />

imprudentes e clamaram: ‘Senhor!<br />

Senhor! Abre a porta para nós!’<br />

59 <strong>MATEUS</strong> 24, 25<br />

12 Contudo ele lhes respondeu: ‘Com<br />

certeza vos afirmo que não vos conheço’.<br />

13 Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia,<br />

tampouco a hora em que o Filho do<br />

homem chegará. 4<br />

O investimento dos talentos<br />

14 Digo também que o Reino será como<br />

um senhor que, ao sair de viagem, convocou<br />

seus servos e confiou-lhes os seus<br />

bens.<br />

15 A um deu cinco talentos, a outro, dois<br />

e a outro, um talento; a cada um conforme<br />

a sua capacidade pessoal. E, em<br />

seguida, partiu de viagem. 5<br />

16 O que havia recebido cinco talentos<br />

saiu imediatamente, investiu-os, e ganhou<br />

mais cinco.<br />

17 Da mesma forma, o que recebera dois<br />

talentos ganhou outros dois.<br />

18 Entretanto, o que tinha recebido um<br />

talento afastou-se, cavou um buraco na<br />

terra e escondeu o dinheiro que o seu senhor<br />

havia confiado aos seus cuidados.<br />

19 Após um longo tempo, retornou o senhor<br />

daqueles servos e foi acertar contas<br />

com eles.<br />

20 Então, o servo que recebera cinco talentos<br />

se aproximou do seu senhor e lhe<br />

“ranger de dentes” só é usada em Mateus (8.12; 13.50; 22.13; 24.51; 25.30) e tem a ver com o profundo, doloroso e eterno arrependimento<br />

que os incrédulos e os falsos cristãos (hipócritas) sentirão a partir do Dia do Senhor.<br />

Capítulo 25<br />

1 Havia duas fases nos casamentos judaicos típicos da época de Cristo. Na primeira, o noivo ia à casa da noiva e participava da<br />

cerimônia de entrega da noiva. Na outra fase, o noivo voltava e a levava para um grande banquete em sua casa. As virgens eram<br />

damas-de-honra e tinham o dever cerimonial de preparar a noiva para o encontro com o noivo.<br />

2 Essas candeias eram grandes tochas, capazes de permanecer acesas ao ar livre, feitas com longas varas, com trapos<br />

enrolados numa das pontas, embebidos em azeite de oliva. Pequenas candeias de barro eram comumente usadas no interior<br />

das residências.<br />

3 Quando o azeite era consumido pelo fogo cortavam-se as pontas chamuscadas dos trapos e adicionava-se mais óleo para<br />

um novo período médio de iluminação de 15 minutos.<br />

4 Essa parábola é continuação da mensagem de Jesus sobre a necessidade do cristão estar sempre preparado e vigilante, pois<br />

a volta do Senhor é certa, repentina e iminente. Essa expectativa quanto ao glorioso retorno de Jesus confere ética, dinamismo e<br />

senso de urgência à evangelização e ao estilo de vida cristão. A mensagem de Cristo é também um forte apelo aos israelitas em<br />

todo o mundo, para que coloquem sua esperança no Noivo Eterno: O Senhor Jesus. Ele é o Messias prometido. A parábola das<br />

dez virgens, como é conhecido este trecho das Escrituras, não está ensinando que Cristo arrebatará os atentos e preparados espiritualmente<br />

e deixará para trás “crentes” distraídos ou negligentes. Se cinco virgens ficaram sem óleo (o Espírito) é porque nunca<br />

creram verdadeiramente no Senhor, pois todo o que crê – recebe o Espírito Santo – e será salvo (24.13; Jo 1.12; Hb 3.13-14).<br />

5 Um talento correspondia à cerca de 35 quilos de prata pura, o equivalente a 6.000 denários (o denário, como já vimos, era uma<br />

moeda de prata e valia um dia de trabalho de um soldado romano). Deus concede, aos cristãos, fé e capacidades espirituais para,<br />

em primeiro lugar, compreenderem a pessoa e a obra do Seu Filho Jesus, e, em seguida, para servirem no Reino: testemunhando,<br />

anunciando a Salvação e cooperando com o Corpo de Cristo, a Igreja. Curiosamente, o uso atual da expressão portuguesa<br />

“talento”, significando o conjunto de dons, capacidades e habilidades de uma pessoa, originou-se com base nessa parábola<br />

(Lc 19.13). Jesus não está ensinando que o julgamento das pessoas em geral e dos cristãos em particular tem algo a ver com<br />

o esforço pessoal e o pleno uso dos dons e capacidades, pois o caminho da Salvação é bem diferente. O uso dos talentos é<br />

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<strong>MATEUS</strong> 25<br />

entregou mais cinco talentos, informando:<br />

‘O senhor me confiou cinco talentos;<br />

eis aqui mais cinco talentos que ganhei’.<br />

21 Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem,<br />

servo bom e fiel! Foste fiel no pouco,<br />

muito confiarei em tuas mãos para administrar.<br />

Entra e participa da alegria do<br />

teu senhor!’.<br />

22 Assim também, aproximou-se o que<br />

recebera dois talentos e relatou: ‘Senhor,<br />

dois talentos me confiaste; trago-lhe<br />

mais dois talentos que ganhei’.<br />

23 O senhor lhe disse: ‘Muito bem, servo<br />

bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei<br />

em tuas mãos para administrar. Entra<br />

e participa da alegria do teu senhor!’.<br />

24 Chegando, finalmente, o que tinha<br />

recebido apenas um talento, explicou:<br />

‘Senhor, eu te conheço, sei que és um homem<br />

severo, que colhe onde não plantou<br />

e ajunta onde não semeou.<br />

25 Por isso, tive receio e escondi no chão<br />

o teu talento. Aqui está, toma de volta o<br />

que te pertence’.<br />

26 Sentenciou-lhe, porém, o senhor:<br />

‘Servo mau e negligente! Sabias que colho<br />

onde não plantei e ajunto onde não<br />

semeei?<br />

27 Então, por isso, ao menos devíeis ter<br />

investido meu talento com os banqueiros,<br />

para que quando eu retornasse, o<br />

recebesse de volta, mais os juros. 6<br />

28 Sendo assim, tirai dele o talento que<br />

lhe confiei e dai-o ao servo que agora está<br />

com dez talentos.<br />

29 Pois a quem tem, mais lhe será confiado,<br />

e possuirá em abundância. Mas a<br />

60<br />

quem não tem, até o que tem lhe será<br />

tirado.<br />

30 Quanto ao servo inútil, lançai-o para<br />

fora, às trevas. Ali haverá muito pranto e<br />

ranger de dentes’. 7<br />

O juízo final<br />

31 Quando o Filho do homem vier em<br />

sua glória, com todos os anjos, então,<br />

se assentará em seu trono na glória nos<br />

céus.<br />

32 Todas as nações serão reunidas diante<br />

dele, e Ele irá separar umas das outras,<br />

como o pastor separa os bodes das ovelhas.<br />

33 E posicionará as ovelhas à sua direita e<br />

os bodes à sua esquerda.<br />

34 Então, dirá o Rei a todos que estiverem<br />

à sua direita:‘Vinde, abençoados de meu<br />

Pai! Recebei como herança o Reino, o<br />

qual vos foi preparado desde a fundação<br />

do mundo.<br />

35 Pois tive fome, e me destes de comer,<br />

tive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro,<br />

e vós me acolhestes.<br />

36 Quando necessitei de roupas, vós me<br />

vestistes; estive enfermo, e vós me cuidastes;<br />

estive preso, e fostes visitar-me’.<br />

37 Então, os justos desejarão saber: ‘Mas,<br />

Senhor! Quando foi que te encontramos<br />

com fome e te demos de comer? Ou com<br />

sede e te saciamos?<br />

38 E quando te recebemos como estrangeiro<br />

e te hospedamos? Ou necessitado<br />

de roupas e te vestimos?<br />

39 Ou ainda, quando estiveste doente ou<br />

encarcerado e fomos ver-te?’.<br />

apenas uma conseqüência natural na vida diária de quem já foi contemplado, abraçou a fé em Jesus e agora vive a alegria da<br />

Salvação, mesmo em meio aos sofrimentos deste mundo. É um julgamento semelhante àquele pronunciado contra o convidado<br />

que comparece à festa eterna sem vestir-se da justificação (salvação) em Cristo (22.12-14).<br />

6 A palavra “banqueiro” vem do grego trapeza (mesa), e ainda hoje é comum ver essa palavra nas fachadas das instituições<br />

financeiras na Grécia. Na época de Jesus, os “banqueiros” eram pessoas que ficavam sentadas atrás de pequenas mesas e<br />

trocavam dinheiro (21.12). Outra palavra interessante é “juro”, que tinha o sentido de “prole”, ou seja, os juros eram considerados<br />

“filhotes” do principal emprestado ou investido.<br />

7 Os escravos foram libertos e elevados à posição de servos (mordomos), aos quais aquele senhor confiou todos os seus bens.<br />

O servo que não fez uso do talento concedido, agiu assim porque não gostava do seu senhor e desconfiava dele. Não queria<br />

trabalhar e se arriscar apenas para tornar o senhor mais rico. Preferiu a conveniência e a tranqüilidade de uma aparente isenção<br />

de responsabilidade. Os dons e talentos de Deus multiplicam-se quando os utilizamos, pois transformam nossas vidas e ficamos<br />

preparados para receber ainda mais da plenitude do Espírito Santo. O amor de Cristo em nós gera mais amor, a fé mais fé, o<br />

caráter mais caráter de Deus nos crentes, e a obediência à Palavra do Senhor produz uma fonte de virtudes que influencia todo<br />

o ambiente (2Pe 1.3-7).<br />

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40 Então o Rei, esclarecendo-lhes responderá:<br />

‘Com toda a certeza vos asseguro<br />

que, sempre que o fizestes para algum<br />

destes meus irmãos, mesmo que ao menor<br />

deles, a mim o fizestes’. 8<br />

41 Mas o Rei ordenará aos que estiverem<br />

à sua esquerda: ‘Malditos! Apartai-vos de<br />

mim. Ide para o fogo eterno, preparado<br />

para o Diabo e os seus anjos.<br />

42 Porquanto tive fome, e não me destes<br />

de comer; tive sede, e nada me destes de<br />

beber.<br />

43 Sendo estrangeiro, não me hospedastes;<br />

estando necessitado de roupas, não<br />

me vestistes; encontrando-me enfermo e<br />

aprisionado, não fostes visitar-me’.<br />

44 E eles também perguntarão: ‘Mas Senhor!<br />

Quando foi que te vimos com fome,<br />

sedento, estrangeiro, necessitado de roupas,<br />

doente ou preso e não te auxiliamos?’<br />

45 Então o Rei lhes sentenciará: ‘Com<br />

toda a certeza vos asseguro que, sempre<br />

que o deixastes de fazer para algum destes<br />

meus irmãos, mesmo que ao menor<br />

deles, a mim o deixastes de fazer’.<br />

46 Sendo assim, estes irão para o sofrimento<br />

eterno, porém os justos, para a<br />

vida eterna”.<br />

61 <strong>MATEUS</strong> 25, 26<br />

A trama para matar Jesus<br />

(Mc 14.3-9; Lc 22.1-2; Jo 11.45-53)<br />

Tendo Jesus concluído esses en-<br />

26 sinamentos, declarou aos seus<br />

discípulos:<br />

2 “Como sabeis, daqui a dois dias, a Páscoa<br />

será celebrada; e o Filho do homem<br />

será entregue para ser crucificado”. 1<br />

3 Enquanto isso, os chefes dos sacerdotes<br />

e os anciãos do povo se reuniram no<br />

palácio do sumo sacerdote, cujo nome<br />

era Caifás. 2<br />

4 E fizeram um acordo para prender Jesus<br />

por meio de traição e matá-lo.<br />

5 Porém recomendaram: “Que isso não<br />

seja feito durante a festa, para que não<br />

ocorra grande alvoroço entre o povo”.<br />

Jesus é ungido para o sacrifício<br />

(Mc 14.3-9; Jo 12.1-8)<br />

6 E aconteceu que, estando Jesus em Betânia,<br />

na casa de Simão, o leproso,<br />

7 chegou próximo dele uma mulher<br />

portando um frasco de alabastro, repleto<br />

de perfume caríssimo, e lhe derramou<br />

sobre a cabeça, enquanto ele estava<br />

reclinado à mesa.<br />

8 Diante daquela cena, os discípulos se<br />

8 Jesus ensina que o grande pecado do ser humano é a falta do exercício do amor verdadeiro: primeiro em relação ao seu<br />

Criador e depois para com seu semelhante e próximo (Tg 4.1-17). Há duas interpretações escatológicas mais aceitas, sobre<br />

esse aspecto do Julgamento: 1) Vai acontecer no início de um reino milenar na terra e definirá quem terá o direito de fazer parte<br />

do Reino (vv.31,34), com base no tratamento dispensado ao povo israelense (“meus irmãos, mesmo que ao menor deles”<br />

– vv.40-46) no período anterior à Grande Tribulação (vv.35-40, 42-45). 2) Para muitos estudiosos, o Julgamento ocorrerá diante<br />

do Trono Branco no final dos tempos (Ap 20.11-15). Seu objetivo será identificar as pessoas de todas as épocas, culturas,<br />

povos e nações que poderão ingressar no reino eterno dos salvos e aqueles que serão condenados a viver em punição eterna<br />

no inferno (vv.34,36). A base desse julgamento definitivo será a atitude de amor com a qual, aqueles que afirmam crer em Deus,<br />

trataram seus irmãos e semelhantes (1Jo 3.11-24).<br />

Capítulo 26<br />

1 Jesus deixou o templo para nunca mais voltar a ele (24.1). Com a saída de Jesus o templo perdeu sua característica de<br />

habitação de Deus. Em frente ao templo, contemplando Jerusalém, Jesus prediz o futuro e seu glorioso retorno. Depois de um<br />

período de grande atividade, chega o momento do silêncio e do sacrifício maior. Os Evangelhos não relatam quase nada sobre<br />

a juventude de Jesus. Entretanto, narram a história do martírio e do holocausto do Salvador, praticamente, hora a hora. A Paixão<br />

(o sacrifício) e a ressurreição, que inicialmente eram fatos enigmáticos e incompreensíveis para os apóstolos, tornam-se agora<br />

o significado absoluto de suas vidas e obras. A Paixão de Cristo corresponde à Páscoa dos judeus (em hebraico Pêssach que<br />

significa “passar por cima” ou “passar ao lado”): celebração do livramento do povo hebreu do jugo egípcio ocorrido há mais de<br />

35 séculos (Êx 12.13,23,27). Os cordeiros (simbolização de Jesus Cristo) e os cabritos eram sacrificados, em penitência (arrependimento)<br />

pelos pecados cometidos, no dia 14 de Nisã (mês judaico por volta de março e abril). A refeição da Páscoa era comida<br />

no fim dessa mesma tarde. Como o dia judaico começava após o pôr-do-sol do dia anterior, a Festa da Páscoa foi celebrada no<br />

dia 15 de Nisã, uma quarta-feira. Em seguida ocorria a Festa dos Pães sem Fermento (ou Pães Asmos), durava mais sete dias, e<br />

fazia parte das comemorações da Páscoa (Êx 12.15-20; 23.15; 34.18; Dt 16.1-8).<br />

2 Os chefes dos sacerdotes, chamados de “principais” e os anciãos (sábios e líderes religiosos do povo), reuniram-se como<br />

Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) no palácio de Caifás, saduceu, eleito sumo sacerdote (de 18 a 36 d.C), genro e sucessor<br />

de Anás (Jo 18.13), que ocupou o cargo entre os anos de 6 a 15 d.C.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 26<br />

indignaram e comentaram: “Por que este<br />

desperdício?<br />

9 Porquanto esse perfume poderia ser<br />

vendido por alto preço e o dinheiro dado<br />

aos pobres!”.<br />

10 Percebendo isso, Jesus repreendeu-os:<br />

“Por que molestais esta mulher? Ela praticou<br />

uma boa ação para comigo.<br />

11 Pois, quanto aos pobres, sempre os<br />

tendes convosco, mas a mim nem sempre<br />

me tereis.<br />

12 Ao derramar sobre o meu corpo esse<br />

bálsamo, ela o fez como que preparandome<br />

para o sepultamento. 3<br />

13 Com toda a certeza vos afirmo: Em<br />

todos os lugares do mundo, onde este<br />

evangelho for pregado, igualmente será<br />

contado o que essa mulher realizou,<br />

como um memorial a ela”.<br />

O pacto da traição<br />

(Mc 14.10-11; Lc 22.3-6)<br />

14 E aconteceu que um dos Doze, chamado<br />

Judas Iscariotes, foi ao encontro dos<br />

chefes dos sacerdotes e lhes propôs:<br />

15 “O que me dareis caso eu vo-lo entre-<br />

62<br />

gue?”. E lhe pagaram o preço: trinta moedas<br />

de prata.<br />

16 E, desse momento em diante, procurava<br />

Judas uma ocasião apropriada para<br />

entregar Jesus.<br />

A Ceia do Senhor<br />

(Mc 14.12-26; Lc 22.7-23; Jo 13.18-30)<br />

17 No primeiro dia da festa dos Pães<br />

Asmos, os discípulos aproximaram-se de<br />

Jesus e o consultaram: “Onde desejas que<br />

preparemos a refeição da Páscoa?”.<br />

18 Ao que Jesus os orientou: “Ide à<br />

cidade, procurai um certo homem e<br />

falai a ele: ‘O Mestre manda dizer-te: É<br />

chegada a minha hora. Desejo celebrar<br />

a Páscoa em tua casa, juntamente com<br />

meus discípulos.’”<br />

19 Os discípulos fizeram como Jesus<br />

lhes havia instruído e prepararam a<br />

Páscoa. 4<br />

Jesus revela o traidor<br />

(Mc 14.17-21; Lc 22.21-23; Jo 13.21-30)<br />

20 Ao pôr-do-sol, estava Jesus reclinado,<br />

próximo à mesa, com os Doze. 5<br />

3 Era costume, no antigo Oriente, ungir a cabeça dos convidados em dias festivos, que praticamente deitavam-se sobre um tipo<br />

de almofada ou divã, ao redor de uma mesa bem mais baixa do que as nossas. Com o braço esquerdo se apoiavam sobre as almofadas<br />

e com o direito se serviam dos alimentos. Davi escreve um poema em louvor a Yahweh (O nome impronunciável de Deus,<br />

em hebraico: ), no qual descreve a felicidade que há na comunhão com Deus usando a metáfora de uma ceia preparada<br />

pelo Senhor (Sl 23.5). Jesus foi visitar alguns amigos em Betânia, uma aldeia que distava cerca de 3 km de Jerusalém. O anfitrião,<br />

Simão, fora curado de lepra por Jesus (Mc 14.3). Lázaro estava presente, Marta servia e Maria, irmã de Lázaro e Marta, assume a<br />

responsabilidade da hospitalidade amorosa e reverente (Lc 7.46), mas realiza o ato tradicional à sua maneira. Um escravo ungiria<br />

a cabeça do hóspede do seu senhor com óleo e lavaria seus pés com água. Maria ofereceu a mais preciosa e cara essência de<br />

plantas (nardo, palavra persa nard que em sânscrito nalàdá significa “óleo perfumado”) importada da Índia (em grego Myrón).<br />

Marcos (Mc 14.5) informa que o valor daquele alabastro (frasco de mármore lacrado e com gargalo longo, o qual era quebrado no<br />

instante do uso, e cujo conteúdo devia ser todo consumido em uma só aplicação para não perder suas propriedades químicas e<br />

aromáticas) era de 300 denários, o que correspondia ao salário anual de um trabalhador ou soldado romano (20.2; Jo 6.7). Maria<br />

ungiu a cabeça e os pés de Jesus (Mc 14.3-9; Jo 12.1-8) realizando a cerimônia completa de honra e hospitalidade com a qual os<br />

judeus deveriam acolher seus irmãos e amigos, numa demonstração de temor a Deus, humildade e amor ao próximo, princípios<br />

básicos da Torá (os primeiros cinco livros da Bíblia, a Lei de Deus) e dos ensinos de Jesus (Lc 7.44; Jo 13.1-17). Considerando<br />

que Judas traiu Jesus por cerca de 120 denários, é fácil imaginar sua irritação ao ver a atitude de Maria em relação unicamente à<br />

pessoa de Cristo (Jo 12.4-5). Na época da Páscoa era um costume judaico presentear os pobres. Jesus aproveita para esclarecer<br />

os discípulos e amigos quanto à proximidade do seu martírio, salientando que Maria havia compreendido verdadeiramente quem<br />

é Deus, qual o sentido da adoração (que é consagrar a Deus os nossos mais caros afetos), e que estava cuidando da preparação<br />

(somente os nobres tinham seu corpo embalsamado ou mumificado) do seu corpo para o sepultamento. Jesus ainda faz uma<br />

alusão à Lei e afirma que a ajuda e o acolhimento aos mais necessitados é tarefa contínua do povo de Deus todos os dias do ano<br />

(Dt 15.11). Jesus ergue um memorial a Maria, uma pessoa desconhecida na história, mas cujo ato inspira gerações e gerações<br />

em todo o mundo, a ter uma visão correta e prática do que significa amar a Deus.<br />

4 Os discípulos prepararam a Ceia conforme a orientação de Jesus e as prescrições da Lei (Êx 12.1-11) e tiveram de imolar o<br />

cordeiro pascal. Jesus celebrou sua última Páscoa judaica com seus discípulos na véspera da data oficial, pois no dia do feriado<br />

religioso e nacional que marca a Páscoa, Ele mesmo estaria sendo retirado, morto, da Cruz. O Cordeiro Pascal Imolado para a<br />

Salvação de todo aquele que nele crer (Jo 1.12).<br />

5 É interessante notar a ordem dos acontecimentos daquela noite: a refeição pascal; o ato de lavar os pés dos discípulos (Jo<br />

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21 E, durante a refeição, Jesus revelou:<br />

“Com toda a certeza vos afirmo que um<br />

dentre vós me trairá”.<br />

22 Essa declaração consternou a todos e<br />

começaram a indagar, um após outro:<br />

“Senhor! Porventura, serei eu?”.<br />

23 Indicou-lhes Jesus: “Aquele que comeu<br />

juntamente comigo, do mesmo prato,<br />

este é o que vai me trair.<br />

24 O Filho do homem vai, como de fato<br />

está escrito a respeito dele. Mas ai daquele<br />

que trai o Filho do homem! Melhor<br />

lhe seria jamais haver nascido”.<br />

25 Então Judas, que haveria de consumar<br />

a traição, disse: “Acaso, seria eu, meu<br />

Mestre?”. E Jesus afirmou-lhe: “Sim, tu o<br />

declaraste!”. 6<br />

A Ceia do Senhor<br />

(Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1Co 11.23-25)<br />

26 Enquanto comiam, Jesus pegou um<br />

pão, deu graças, quebrou-o, e o deu aos<br />

seus discípulos, recomendando: “Tomai,<br />

comei; isto é o meu corpo”.<br />

27 Em seguida tomou um cálice, deu graças<br />

e o entregou aos seus discípulos, proclamando:<br />

“Bebei dele todos vós.<br />

28 Pois isto é o meu sangue da aliança,<br />

derramado em benefício de muitos, para<br />

remissão de pecados.<br />

63 <strong>MATEUS</strong> 26<br />

29 E vos afirmo que, de agora em diante,<br />

não mais tomarei deste fruto da videira<br />

até aquele dia em que beberei o novo<br />

vinho, convosco, no Reino de meu Pai”.<br />

30 E assim, após terem cantado um hino<br />

de louvor, saíram para o monte das Oliveiras.<br />

7<br />

Jesus prediz a traição de Pedro<br />

(Mc 14.27-31; Lc 22.31-34; Jo 13.36-38)<br />

31 Então Jesus lhes revelou: “Ainda esta<br />

noite, todos vós me abandonareis. Pois<br />

assim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as<br />

ovelhas do rebanho serão afugentadas’. 8<br />

32 Todavia, depois de ressuscitar, seguirei<br />

adiante de vós rumo à Galiléia”.<br />

33 Respondeu-lhe Pedro: “Ainda que<br />

venhas a ser motivo de escândalo para<br />

todos, eu jamais te abandonarei!”.<br />

34 Replicou-lhe Jesus: “Com certeza te asseguro<br />

que, ainda nesta noite, antes mesmo<br />

que o galo cante, três vezes tu me negarás”.<br />

35 Então Pedro lhe declarou: “Mesmo que<br />

seja necessário que eu morra junto a ti, de<br />

modo algum te negarei!”. E todos os discípulos<br />

fizeram a mesma afirmação.<br />

Jesus ora no Getsêmani<br />

(Mc 14.32-42; Lc 22.39-46)<br />

36 Seguiu Jesus com seus discípulos e<br />

13.1-20); a revelação de Judas como o traidor (Mt 26.21-25); a deserção de Judas (Jo 13.30); a instituição da Ceia do Senhor (Mt<br />

26.26-29); os discursos no Cenáculo e a caminho do Getsêmani (Jo 14, 15 e 16); a oração sacerdotal de Jesus (Jo 17); a angústia<br />

de Cristo no Getsêmani (Mt 26.36-46); o desfecho da traição e a prisão de Jesus (Mt 26.47-56).<br />

6 Jesus não foi vítima involuntária das artimanhas do Diabo nem da inveja ou da avareza dos homens. Jesus não foi surpreendido<br />

pelos ardis do inferno nem pelas fraquezas da humanidade. Ele, por sua livre e espontânea vontade, se ofereceu em<br />

obediência ao Pai e em sacrifício (holocausto) para resgate de todo o mundo. Jesus respondeu, decerto, a Judas em voz baixa,<br />

para que os demais discípulos não ouvissem e viessem a impedir o intento do traidor.<br />

7 O NT apresenta quatro relatos sobre a Ceia do Senhor (Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19,20 e em 1 Co 11.23-25). Lucas<br />

e Paulo registraram a ordem de Jesus para que a Igreja continuasse a celebrar a Ceia, como um memorial, até a Sua volta<br />

iminente. Jesus escolheu o pão sem fermento e o vinho comum para serem apenas símbolos (metáforas físicas) do que Ele é<br />

para os crentes (todos os que crêem em Cristo) e do seu ato de sacrifício, para pagar o preço do pecado de todo ser humano.<br />

Por isso, todos os seguidores de Jesus (discípulos) são convidados e devem participar da Ceia do Senhor todas as vezes em<br />

que for celebrada, comendo do pão e tomando do vinho; com consciência pura diante de Deus (1 Co 11.28), louvor e esperança<br />

no coração. A palavra “eucaristia” vem de um termo grego que significa “dar graças”. A primeira “Aliança” foi estabelecida pela<br />

aspersão do sangue de animais sacrificados (Êx 24.8; Jr 31.31; Zc 9.11; Hb 9.19-28). A nova e derradeira “Aliança” foi instaurada<br />

pelo próprio sangue do Filho de Deus, vertido sobre a verga e umbral da Cruz (Hb 8.7-13). Depois de cearem, Jesus e seus<br />

discípulos cantaram um hino tradicional de louvor a Deus, baseado nos salmos 115 a 118, chamado em hebraico Hallel (Louvor)<br />

da Páscoa. Em seguida partiram para o Getsêmani (nome que significa em hebraico “prensa de azeite”), espécie de grande pomar<br />

localizado na encosta inferior do monte das Oliveiras, também chamado de “Jardim das Oliveiras”, um dos locais preferidos de<br />

Jesus para oração e meditação (Lc 22.39; Jo 18.2) e onde se esmagava o fruto das oliveiras para a produção de azeite.<br />

8 Todos os seguidores de Jesus, inclusive os discípulos mais chegados, abandonariam o Senhor antes do final daquela noite<br />

(verso 56) conforme já havia sido profetizado (Zc 13.7).<br />

MT_B.indd 63<br />

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<strong>MATEUS</strong> 26<br />

chegando a um lugar chamado Getsêmani<br />

disse-lhes: “Assentai-vos por aqui,<br />

enquanto vou ali para orar”.<br />

37 Levou consigo a Pedro e aos dois filhos<br />

de Zebedeu, e começando a entristecerse<br />

ficou profundamente angustiado.<br />

38 Então compartilhou com eles dizendo:<br />

“A minha alma está sofrendo dor extrema,<br />

uma tristeza mortal. Permanecei<br />

aqui e vigiai junto a mim”.<br />

39 Seguindo um pouco mais adiante,<br />

prostrou-se com o rosto em terra e orou:<br />

“Ó meu Pai, se possível for, passa de mim<br />

este cálice! Contudo, não seja como Eu<br />

desejo, mas sim como Tu queres”.<br />

40 Mas, ao retornar à presença dos seus<br />

discípulos os encontrou dormindo e<br />

questionou a Pedro: “E então? Não pudestes<br />

vigiar comigo durante uma só hora?<br />

41 Vigiai e orai, para não cairdes em tentação.<br />

O espírito, com certeza, está preparado,<br />

mas a carne é fraca”. 9<br />

42 E afastando-se uma vez mais, orou<br />

dizendo: “Ó meu Pai, se este cálice não<br />

puder passar de mim sem que eu o beba,<br />

seja feita a tua vontade”.<br />

43 Quando voltou, entretanto, surpreendeu<br />

novamente seus discípulos dormindo,<br />

pois não suportaram os olhos<br />

pesados de sono.<br />

64<br />

44 Então, retirou-se novamente, e foi orar<br />

pela terceira vez, proferindo as mesmas<br />

palavras.<br />

45 Passado algum tempo, voltou aos<br />

discípulos e indagou: “Ainda dormis e<br />

descansais? Eis que a hora é chegada!<br />

Agora o Filho do homem está sendo<br />

entregue nas mãos de pecadores.<br />

46 Levantai-vos e sigamos! Eis que meu<br />

traidor está se aproximando”. 10<br />

Jesus é traído e preso<br />

(Mc 14.43-50; Lc 22.47-53; Jo 18.1-11)<br />

47 E, estando Ele ainda a falar, eis que<br />

chegou Judas, um dos Doze, e trazia<br />

consigo uma grande multidão armada<br />

de espadas e porretes, vinda da parte<br />

dos chefes dos sacerdotes e dos líderes<br />

religiosos do povo. 11<br />

48 Mas o traidor havia combinado um<br />

sinal com eles, informando-lhes: “Aquele<br />

a quem eu saudar com um beijo, esse é<br />

quem procurais, prendei-o!”.<br />

49 Então, aproximando-se rapidamente<br />

de Jesus, disse-lhe Judas: “Eu te saúdo, ó<br />

Mestre!”. E lhe deu um beijo.<br />

50 Jesus, contudo, lhe perguntou: “Amigo,<br />

para que vieste?”. os homens avaçaram<br />

sobre Jesust?”. No mesmo instante sobre<br />

Jesus e o prenderam. 12<br />

9 Este é um dos trechos bíblicos onde a completa humanidade de Jesus é retratada com mais evidência (Hb 5.7). Jesus demonstra<br />

que o verdadeiro caráter de uma pessoa se revela nos momentos mais difíceis e dramáticos. Aprendemos também a aceitar<br />

que haverá ocasiões em nossa vida em que teremos de enfrentar o sofrimento sem o apoio, conforto ou companhia dos amigos. O<br />

Senhor, porém, estará sempre presente. Por isso Jesus pede que os discípulos vigiem com Ele. Não apenas para seu consolo, posto<br />

que se afasta dos discípulos à distância de um arremesso de pedra (como se relata nos originais), mas para que eles pudessem se<br />

preparar espiritualmente para a grande batalha. Jesus clama por seu Abba (em aramaico “pai querido”). Experimenta a fraqueza<br />

humana ao extremo, mas sem pecar. Cita Sl 43.5. Busca a orientação e o consolo do Pai. Sente quão terrível é ficar sem o amparo<br />

de Deus, ainda que por instantes, e assume sobre si todo o pecado que a raça humana deveria pagar por sua infidelidade para com<br />

Deus, desde os primórdios (Gn 2.15-17; 3.22-24; 4.1-8). O ato de obediência amorosa e aceitação espontânea de Jesus no Getsêmani<br />

corresponde à tentação no deserto, quando Jesus rejeitou governar o mundo sem Deus. Agora Ele concorda em morrer por<br />

nós com Deus. Por isso, sua morte e ressurreição foram ainda mais relevantes que sua vida de testemunho e milagres, ao contrário<br />

de todos os líderes que a terra já conheceu (1Co 2.2). Contudo, o Pai não responde. O Filho, em agonia, insiste por três vezes (Lc<br />

22.44). Deus fica em silêncio na imensidão da noite; os amigos dormem. Jesus compreende que a resposta às suas aflições já havia<br />

sido dada (Hb 5.8; 12.2). O Pai tinha de permitir o cumprimento da história. Jesus se levanta da batalha, liberto dos seus temores e<br />

aflições; consciente do alto preço a pagar, mas resoluto quanto à sua missão (Lc 22.22; Hb 9.14).<br />

10 A frase de Jesus, nos melhores originais, indica não que ele tenha procurado fugir, mas, sim, que partiu e convocou seus<br />

discípulos para se encontrarem com os oficiais que o procuravam.<br />

11 Judas organiza sua emboscada contra Jesus acompanhado dos mais importantes sacerdotes, mestres da Lei e líderes religiosos<br />

do povo. E cerca de 500 policiais armados e serventes do Sinédrio (Tribunal), destinados a manter a ordem pública; soldados<br />

especiais da corte romana (Jo 18.3), vindos da fortaleza de Antônia, equipados com armas e lanternas (apesar da forte lua cheia da<br />

época), pois conheciam e temiam os poderes sobrenaturais de Jesus, embora Ele nunca os tenha usado em benefício próprio.<br />

12 A palavra grega usada para descrever o beijo de Judas é kataphilein, o mesmo tipo de saudação calorosa com que o pai<br />

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51 Eis que um dos que estavam com Jesus,<br />

estendendo a mão, puxou a espada<br />

e ferindo o servo do sumo sacerdote,<br />

decepou-lhe uma das orelhas.<br />

52 Mas Jesus lhe ordenou: “Embainha<br />

a tua espada; pois todos os que lançam<br />

mão da espada pela espada morrerão!<br />

53 Ou imaginas tu que Eu, neste momento,<br />

não poderia orar ao meu Pai e Ele colocaria<br />

à minha disposição mais de doze<br />

legiões de anjos?<br />

54 Entretanto, como então se cumpririam<br />

as Escrituras, que afirmam que tudo deve<br />

acontecer desta maneira?”.<br />

55 E naquele mesmo instante Jesus se dirige<br />

às multidões indagando-lhes: “Lidero Eu<br />

algum tipo de rebelião, para que venham<br />

contra mim com espadas e porretes e me<br />

prendam? Pois todos os dias estive ensinando<br />

no templo e vós não me prendestes!<br />

56 Todavia, esses fatos todos ocorreram<br />

em cumprimento às Escrituras dos<br />

profetas”. E assim, todos os discípulos<br />

abandonaram a Jesus e fugiram. 13<br />

Jesus diante do tribunal<br />

(Mc 14.53-65; Lc 22.63-71; Jo 18.12-14, 19-24)<br />

57 Então, os que prenderam Jesus o conduziram<br />

à presença de Caifás, o sumo<br />

sacerdote, em cuja residência estavam<br />

reunidos os mestres da lei e os anciãos.<br />

65 <strong>MATEUS</strong> 26<br />

58 Contudo Pedro seguiu a Jesus de longe<br />

até o pátio do sumo sacerdote, entrou e<br />

sentou-se junto aos guardas, para sondar<br />

qual seria o fim daquela ocorrência.<br />

59 Mas os líderes dos sacerdotes e todo<br />

o Sinédrio estavam tentando suscitar<br />

um falso testemunho contra Jesus, para<br />

que tivessem o direito de condená-lo à<br />

morte. 14<br />

60 Todavia, nada encontraram, apesar<br />

de se terem apresentado vários depoimentos<br />

inverídicos. Ao final, entretanto,<br />

compareceram duas testemunhas que<br />

alegaram:<br />

61 “Este homem afirmou: ‘Tenho poder<br />

para destruir o santuário de Deus e reconstruí-lo<br />

em três dias’”. 15<br />

62 Então o sumo sacerdote levantou-se e<br />

interrogou a Jesus: “Não tens o que responder<br />

a estes que depõem contra ti?”.<br />

63 Mas Jesus manteve-se em silêncio.<br />

Diante do que o sumo sacerdote lhe intimou:<br />

“Eu te coloco sob juramento diante<br />

do Deus vivo e exijo que nos digas se tu<br />

és o Cristo, o Filho de Deus!”. 16<br />

64 “Tu mesmo o declaraste”, afirmoulhe<br />

Jesus. “Contudo, Eu revelo a todos<br />

vós: Chegará o dia em que vereis o<br />

Filho do homem assentado à direita do<br />

Todo-Poderoso, vindo sobre as nuvens<br />

do céu!”.<br />

recebeu o filho pródigo (Lc 15.20). Apesar de Judas estar cometendo uma ofensa terrível, Jesus consegue ver na pessoa de<br />

Judas a figura do ser humano distante de Deus: avarento, invejoso, arrogante, iludido, tresloucado e perdido; mas, ainda assim,<br />

alguém a quem Jesus amava e considerava como membro da sua família de discípulos. Da mesma maneira o Senhor amou os<br />

seus próprios algozes (Lc 23.34) e pela salvação de todos nós se entregou (Lc 15.1-2; Jo 3.16).<br />

13 O discípulo amado, João, escrevendo seu Evangelho, após a morte dos protagonistas, esclarece que foi Pedro quem, num<br />

golpe de espada, cortou fora a orelha de Malco, um dos servos do sumo sacerdote (Jo 18.10). Jesus declara que poderia receber<br />

de Deus uma ajuda imediata, com mais de 72.000 anjos (considerando que, naquela época, uma legião era formada por até 6.000<br />

soldados). Lembremos que apenas um anjo foi suficiente para ferir todo o Egito (Êx 12.23-27) e libertar o povo de Israel do cativeiro.<br />

Jesus estava consciente de que a vontade do Pai deveria ser cumprida em todos os detalhes (Zc 13.7). Aceitou tomar o cálice<br />

do sacrifício histórico e servir de holocausto para a libertação do crente (toda pessoa que crê em Sua obra vicária e Palavra).<br />

14 O julgamento de Jesus foi injusto e ilícito por vários motivos, especialmente por ter ocorrido durante a noite e com<br />

testemunhas e acusações forjadas, contrariando as leis judaicas (Dt 19.15) e romanas da época. Jesus foi levado primeiro para<br />

uma audiência perante Anás, ex-sumo sacerdote (Jo 18.12-14, 19.23); depois para julgamento diante de Caifás, sumo sacerdote<br />

em exercício e genro de Anás, e do Supremo Concílio Judaico, chamado de Sinédrio (26.57-68; 27.1). Em seguida, levado ao<br />

julgamento romano, diante de Pilatos (Mc 15.2-5), depois levado à presença de Herodes Antipas (Lc 23.6-12), retornando à<br />

presença de Pilatos (Mc 15.6-15) para conclusão e condenação final.<br />

15 Obrigar um réu a declarar algo sob juramento diante de Deus era uma atitude ilícita, claramente expressa na jurisprudência<br />

israelita, que não tolerava qualquer tipo de tortura ou coação moral e religiosa.<br />

16 Jesus jamais fez tal afirmação. As falsas testemunhas distorceram as palavras de Jesus (Jo 2.19), para forjar uma acusação<br />

de blasfêmia, cuja pena era a morte.<br />

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<strong>MATEUS</strong> 26, 27<br />

65 Diante disso, o sumo sacerdote rasgou<br />

as suas vestes denunciando: “Ele blasfemou!<br />

Por que necessitamos de outras<br />

testemunhas? Eis que acabais de ouvir tal<br />

blasfêmia!”. 17<br />

66 “Que vos parece?”. Responderam eles:<br />

“Culpado e merecedor de morte é!”.<br />

67 Neste momento, alguns cuspiram em<br />

seu rosto e o esmurravam, enquanto outros<br />

lhe desferiam tapas, vociferando:<br />

68 “Profetiza-nos, pois, ó Cristo, quem é<br />

que te bateu?”. 18<br />

Quando Pedro negou a Jesus<br />

(Mc 14.66-72; Lc 22.54-62; Jo 18.15-18, 25-27)<br />

69 Pedro encontrava-se assentado do lado<br />

de fora da casa, no pátio, quando uma<br />

criada, aproximando-se dele, afirmou:<br />

“Tu também estavas com Jesus, o galileu!”.<br />

70 Ele, entretanto, negou a Jesus perante<br />

todos os presentes, declarando: “Não sei<br />

do que falas.”.<br />

71 E, saindo em direção à entrada do<br />

pátio, foi ele reconhecido por outra<br />

criada, a qual o denunciou a todos que ali<br />

se achavam, exclamando: “Este homem<br />

estava com Jesus, o Nazareno!”.<br />

72 Mas Pedro, sob juramento, o negou<br />

uma vez mais, afirmando: “Não conheço<br />

tal indivíduo”..<br />

73 Algum tempo mais tarde, os que estavam<br />

ao redor aproximaram-se de Pedro<br />

e o acusaram: “Com toda a certeza és<br />

igualmente um deles, porquanto o teu<br />

modo de falar o denuncia”. 19<br />

66<br />

74 Então, ele começou a jurar e a pedir<br />

a Deus que o amaldiçoasse caso não estivesse<br />

dizendo a verdade, e exclamou:<br />

“Não conheço esse homem!”. No mesmo<br />

instante um galo cantou.<br />

75 E naquele momento, Pedro se lembrou<br />

da palavra de Jesus que lhe advertira:<br />

“Antes que o galo cante, tu me negarás<br />

três vezes.” E, deixando aquele lugar,<br />

chorou amargamente. 20<br />

Jesus é levado a Pilatos<br />

(Mc 15.1; Lc 23.1-2; Jo 18.28-32)<br />

Assim que o dia amanheceu, to-<br />

27 dos os chefes dos sacerdotes, e os<br />

líderes religiosos, anciãos do povo, conspiraram<br />

para condenar Jesus à morte. 1<br />

2 Então, amarrando-o, levaram-no e o<br />

entregaram a Pilatos, o governador. 2<br />

Judas com remorso suicida-se!<br />

3 E sucedeu que Judas, seu traidor, ao ver<br />

que Jesus havia sido condenado, sentiu<br />

terrível remorso e procurou devolver<br />

aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos as<br />

trinta moedas de prata.<br />

4 E declarou: “Pequei, pois traí sangue<br />

inocente”. Mas eles alegaram: “O que<br />

temos a ver com isso? Esta é tua questão!”.<br />

5 Judas atirou então as moedas de prata<br />

dentro do templo e, abandonando aquele<br />

lugar, foi e enforcou-se.<br />

6 Entretanto, os chefes dos sacerdotes<br />

ajuntaram as moedas e comentaram: “É<br />

17 O sumo sacerdote era proibido pela lei de agir dessa maneira e com tamanha força emocional (Lv 10.6); mas, para caracterizar<br />

seu horror diante do suposto pecado de infâmia e jogar o público presente contra Jesus, ele se permitiu o chamado “ato extremo”.<br />

18 Marcos informa que vendaram os olhos de Jesus (Mc 14.65), o que explica a provocação em tom de zombaria.<br />

19 Pedro, como Jesus, tinha um sotaque indiscutivelmente galileu, facilmente identificado pelos naturais de Jerusalém.<br />

20 A seqüência de erros cometidos por Pedro tem muito a nos ensinar: 1) Demasiada autoconfiança e falta de humildade (v.33).<br />

2) Desobediência ao pedido de Jesus para dedicar-se à vigilância e oração (vv.40-44). Esquecimento quanto às advertências e<br />

conselhos de Jesus (v.75; conforme v.34). Conclusão: grandes quedas na vida cristã são conseqüência da prática de pequenos<br />

erros despercebidos ou tratados com displicência.<br />

Capítulo 27<br />

1 Como a Lei não permitia que o Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) tivesse reuniões juridicamente válidas, durante a noite, formou-se<br />

um outro conselho logo ao nascer do dia com o propósito de oficializar a acusação de “traição” perante a autoridade civil (Lc<br />

23.1-14), mais incriminadora para os romanos do que “blasfêmia” para os juízes judeus; e assim, levar Jesus à sentença de morte.<br />

2 O Sinédrio tinha sido destituído pelo governo romano do seu poder de condenar qualquer cidadão à pena de morte. Por<br />

esse motivo, Jesus só poderia ser executado por ordem expressa de Pilatos, o governador romano da Judéia (26 a 36 d.C.). Sua<br />

residência oficial ficava em Cesaréia, no litoral do Mediterrâneo. Quando visitava Jerusalém, especialmente nas festas nacionais,<br />

para garantir a ordem e ostentar o domínio de Roma, hospedava-se no deslumbrante palácio erguido por Herodes, o Grande,<br />

localizado a oeste do Templo, onde presidiu o julgamento romano de Jesus.<br />

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contra a lei depositarmos este dinheiro<br />

no cofre das ofertas, pois foi obtido a<br />

preço de sangue”.<br />

7 Mas concordaram em usar aquelas<br />

moedas de prata para comprar o Campo<br />

do Oleiro, e formar um cemitério para<br />

estrangeiros.<br />

8 Por esse motivo ele se chama Campo de<br />

Sangue até estes dias.<br />

9 E assim se cumpriu o que fora anunciado<br />

pelo profeta Jeremias: “Então eles tomaram<br />

as trinta moedas de prata, o valor<br />

que lhe atribuíram os filhos de Israel. 3<br />

10 E as usaram para comprar o Campo<br />

do Oleiro, assim como o Senhor me havia<br />

indicado”.<br />

Pilatos lava as mãos<br />

(Mc 15.1-15; Lc 23.1-5, 13-25; Jo 18.33-19.16)<br />

11 Jesus foi conduzido à presença do governador;<br />

e este o interrogou: “És tu o<br />

rei dos judeus?”. Afirmou-lhe Jesus: “Tu<br />

o dizes”. 4<br />

12 Então, passou a ser acusado pelos chefes<br />

dos sacerdotes e pelos anciãos, mas<br />

Ele nada respondeu.<br />

13 Foi quando lhe questionou Pilatos:<br />

“Não ouves a acusação que todos levantam<br />

contra Ti?”<br />

14 Jesus, entretanto, mantinha-se em absoluto<br />

silêncio; e, por isso, ficou o governador<br />

fortemente impressionado.<br />

15 Contudo, por ocasião da festa, era cos-<br />

67 <strong>MATEUS</strong> 27<br />

tume do governador dar liberdade a um<br />

prisioneiro escolhido pelo povo.<br />

16 Detinham eles, naqueles dias, um<br />

criminoso muito conhecido de todos,<br />

chamado Barrabás.<br />

17 Então, Pilatos dirigiu-se à multidão<br />

que ali se havia reunido e lhes propôs:<br />

“A quem desejais que eu vos solte, a Barrabás<br />

ou a este Jesus, que é chamado de<br />

Messias?”.<br />

18 Isso porque tinha conhecimento de<br />

que o haviam entregado por inveja.<br />

19 E aconteceu que estando Pilatos sentado<br />

no trono do tribunal, sua esposa lhe<br />

enviou a seguinte mensagem: “Não faças<br />

nada contra este homem inocente; pois<br />

hoje, em sonho, muitas coisas sofri por<br />

causa dele”. 5<br />

20 Todavia, os chefes dos sacerdotes e os<br />

anciãos influenciaram a multidão para<br />

exigir o livramento de Barrabás e a execução<br />

de Jesus.<br />

21 Então, o governador entregou à multidão<br />

o dilema: “Qual dos dois homens<br />

quereis que eu vos deixe livre?” Exclamaram<br />

eles: “Barrabás!”.<br />

22 Pilatos ainda questionou-lhes: “Se assim<br />

é, que farei de Jesus, que é chamado de<br />

Messias?” Bradaram todos: “Crucifica-o!”.<br />

23 Outra vez insta Pilatos: “Por quê? Que<br />

crime cometeu este homem?”. Apesar de<br />

tudo, a multidão esbravejava ainda mais<br />

furiosa: “Crucifica-o!”.<br />

3 Lucas (At 1.18) informa que Judas comprou um terreno argiloso (Campo de Sangue ou Vale da Matança de Jr 19.1-13 com<br />

Zc 11.12,13 e Jr 18.2-12 com Jr 32.6-9), pois pela lei judaica considerava-se a aquisição em nome da pessoa da qual provinha<br />

o dinheiro, mesmo no caso de falecimento. Enforcou-se e foi empalado (suplício persa usado algumas vezes pelos exércitos<br />

israelenses, Gn 40.19; Et 2.23, e que consistia em espetar o condenado em uma estaca, pelo ânus, deixando-o assim até morrer).<br />

Quando seu corpo caiu apodrecido sobre a terra, partiu-se ao meio. Mateus faz alusão a dois textos do AT para revelar o cumprimento<br />

desta terrível profecia (Jr 32.6-9 e Zc 11.12-13). Era comum citar-se o profeta maior quando se combinavam seus escritos<br />

com profetas menores (assim como Marcos 1,2,3 cita Ml 3.1 e Is 40.3, mas atribui todo o texto a Isaías). Judas sempre teve olhos<br />

somente para si mesmo e seus interesses. Por isso, em vez de chorar e se arrepender como Pedro, não consegue tirar os olhos<br />

de si mesmo e do seu pecado e só viu a morte como solução. Exatamente o que o Diabo espera que todo ser humano faça.<br />

4 Flávio Josefo, historiador judeu que viveu em Roma entre os séculos I e II d.C.; narra vários atos de impiedade e falta de<br />

sabedoria de Pilatos, cujo principal registro na história está ligado exclusivamente à sua atuação na condenação de Jesus. Pilatos<br />

desviava fundos do templo, massacrou alguns samaritanos sem um julgamento justo, foi deposto pelos romanos e suicidou-se<br />

entre os anos 31 e 41d.C.<br />

5 Pilatos era muito supersticioso e pesou-lhe o sonho de sua esposa pagã. Além disso, o nome “Barrabás” em aramaico<br />

significa “filho do pai” e Jesus era conhecido como “Filho do Pai” em relação a Deus. Pilatos percebeu a divindade de Jesus<br />

(Jo 19.11-12). Tentou aproveitar a tradição do indulto de Páscoa para influenciar a multidão a pedir a libertação de Jesus. Mas<br />

o povo, atiçado pelos sacerdotes e anciãos, sedento pela volta do bandido zelote (Mc 15.7,27; Jo 18.40) às suas atividades<br />

MT_B.indd 67<br />

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<strong>MATEUS</strong> 27<br />

24 Percebendo Pilatos que não conseguia<br />

demover o povo, mas, ao contrário, um<br />

princípio de tumulto já era visível, ordenou<br />

que lhe trouxessem água, lavou<br />

as mãos diante da multidão e exclamou:<br />

“Estou inocente do sangue deste homem<br />

justo. Esta é uma questão vossa!”.<br />

25 E todo o povo respondeu: “Caia sobre<br />

nossas cabeças o seu sangue, e sobre nossos<br />

filhos!”.” 6<br />

26 Diante disso, Pilatos soltou-lhes Barrabás,<br />

mandou que Jesus fosse flagelado<br />

e o entregou para ser crucificado. 7<br />

Jesus é humilhado e agredido<br />

(Mc 15.16-20)<br />

27 E sucedeu que os soldados do governador<br />

conduziram Jesus ao Pretório e<br />

agruparam toda a tropa ao redor dele. 8<br />

68<br />

28 Despojaram-no de suas vestes e o cobriram<br />

com um manto vermelho vivo.<br />

29 Trançaram uma coroa de espinhos e a<br />

forçaram sobre sua cabeça. Puseram em<br />

sua mão direita um caniço e, ajoelhandose<br />

diante dele, escarneciam exclamando:<br />

“Salve! Salve! Ó Rei dos Judeus!”.<br />

30 Cuspiram nele e, tirando o caniço de sua<br />

mão, espancavam-lhe com ele a cabeça.<br />

31 Depois de haverem zombado dele,<br />

despiram-lhe o manto e o vestiram com<br />

suas próprias roupas. Em seguida, o levaram<br />

para ser crucificado.<br />

A crucificação do Rei<br />

(Mc 15.22-32; Lc 23.32; Jo 19.17-24)<br />

32 Assim que saíram, encontraram um<br />

homem da cidade de Cirene, chamado<br />

Simão, e o obrigaram a carregar a cruz. 9<br />

subversivas contra Roma, rejeita o “Filho de Deus” e aclama o “filho do homem pecador”. A humanidade, narcisista e hedonista,<br />

tende a ignorar o verdadeiro Deus e seus profetas e se entrega nas mãos de sua própria imagem e caráter, de um seu semelhante<br />

induzido pelo Diabo.<br />

6 Pilatos, de sua cátedra (trono, cadeira, estrado) de juiz, evoca uma tradição judaica de obediência à Lei de Moisés (Dt 21.1-9),<br />

numa tentativa de esquivar-se da responsabilidade de condenar um justo à pena de morte, ainda mais sendo o “Filho de Deus”.<br />

Entretanto, uma pequena multidão ensandecida tomou para si e para seus descendentes todo o ônus daquele julgamento injusto.<br />

Alguns líderes justos se manifestaram contra, mas não foram ouvidos (Lc 23.51). Cerca de 40 anos mais tarde, mesmo antes do<br />

cerco a Jerusalém, o sangue dos judeus jorrava por todo país. Ao final do ano 66 foram trucidados mais de 20.000 judeus em<br />

Cesaréia, por seus próprios concidadãos gentios. Em Citópolis os sírios massacraram 13.000 judeus. Em Alexandria, mais de<br />

50.000 judeus foram chacinados por cidadãos gregos e soldados romanos, e suas casas, reduzidas a cinzas. O massacre em Jerusalém<br />

não poupou nem os bebês. O próprio pátio do templo virou um lago de sangue. Durante o sítio, os poucos sobreviventes<br />

esfomeados eram forçados a roer as próprias sandálias e cintos de couro. Diariamente mais de 500 judeus morriam crucificados,<br />

até que não houvesse mais madeira para confeccionar cruzes. Segundo o historiador Flávio Josefo, mais de um milhão de judeus<br />

foram mortos durante todo o período do sítio romano. Cerca de 97.000 homens jovens que sobreviveram foram vendidos como<br />

escravos, transformados em gladiadores ou morreram na arena do anfiteatro, lutando contra animais ferozes.<br />

7 Pilatos tenta evitar a morte “do divino”, como teria se referido ao Senhor mais tarde, e saciar a sede sanguinária da multidão,<br />

submetendo Jesus a uma terrível sessão de açoites. Esse tipo de castigo era tão cruel que fora proibido aos cidadãos romanos, sob<br />

qualquer motivo. Apenas escravos e provincianos eram chicoteados como preparação para a crucificação. Os chicotes eram feitos<br />

de finas tiras de couro duro, trançadas com pedaços de osso, chumbo e espinhos agudos e venenosos. O martírio de Policarpo, por<br />

exemplo, é descrito nos documentos da comunidade de Esmirna como: “dilacerado pelos açoites, a ponto de ser possível ver os<br />

vasos sanguíneos interiores e a estrutura do seu corpo”. Eusébio relata sobre o flagelo do cristão Doroteu, sob Diocleciano: “até seus<br />

ossos ficaram expostos”. Por isso, eram comuns os flagelados morrerem antes da crucificação. Mas Jesus suportou tudo em silêncio<br />

(Is 53). Muito sacrifício foi oferecido para que os discípulos de hoje possam servir a Cristo com liberdade e alegria.<br />

8 O Pretório era a fortaleza de Antônia, residência de Pilatos quando estava em Jerusalém. Dizia-se que uma “tropa” ou “coorte”<br />

era composta de um décimo dos soldados que formavam uma “legião”, algo entre 360 e 600 homens.<br />

9 Tem início a via crucis ou via-sacra, o caminho da cruz. O Talmude relata que era costume oferecer ao condenado, antes<br />

da crucificação, uma bebida anestesiante, que algumas mulheres piedosas de Jerusalém mandavam preparar às suas custas.<br />

Entretanto (v.34), Jesus nega-se a aceitar esse tipo de alívio (Sl 69.19-21; Pv 31.6; Mc 15.23). A cruz era composta de duas peças<br />

de madeira, uma viga vertical staticulum e outra horizontal antenna. Na primeira, mais ou menos no centro, era fixado um pino de<br />

madeira, chamado de cornu chifre, sobre o qual o crucificado ficava montado. Os crucificados viviam em média cerca de doze<br />

horas. A febre que logo se manifestava causava um tipo de sede ardente. A crescente inflamação das feridas nas costas, mãos<br />

e pés, o ataque dos insetos e aves carniceiras que se aproximavam devido ao odor de sangue e dos excrementos, assim como<br />

a pressão do fluxo sanguíneo contra a cabeça, o pulmão e o coração, e o inchaço de todas as veias provocavam a mais horrível<br />

agonia e dor. Cícero dizia: “A crucificação é o mais cruel e terrível dos castigos”. A execução tinha de ocorrer fora da cidade (Lv<br />

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33 Chegaram a um lugar conhecido como<br />

Gólgota, que significa Lugar da Caveira. 10<br />

34 Deram-lhe para beber uma mistura<br />

de vinho com absinto; mas ele, depois de<br />

prová-la, negou-se a beber.<br />

35 E aconteceu que após sua crucificação,<br />

dividiram entre si as roupas que lhe pertenciam,<br />

jogando sortes.<br />

36 E se acomodaram ali, para o vigiar.<br />

37 Acima de sua cabeça fixaram por escrito<br />

a acusação forjada contra ele: “ESTE<br />

É JESUS, O REI DOS JUDEUS”.<br />

38 Dois ladrões foram crucificados com ele,<br />

um à sua direita e outro à sua esquerda.<br />

39 As pessoas que passavam lançavamlhe<br />

impropérios, balançando a cabeça.<br />

40 E exclamavam: “Ó tu que destróis o<br />

templo e em três dias o reconstróis! Agora<br />

salva-te a ti mesmo. Desce desta cruz,<br />

se és o Filho de Deus!”.<br />

41 Do mesmo modo, os chefes dos sacerdotes,<br />

os mestres da lei e os anciãos<br />

zombavam dele, vociferando:<br />

42 “Salvou a muitos, mas a si mesmo não<br />

pode salvar-se. É o Rei de Israel! Desça<br />

agora da cruz, e passaremos a crer nele.<br />

43 Pregou sua confiança em Deus. Então<br />

que Deus o salve neste instante, se ver-<br />

69 <strong>MATEUS</strong> 27<br />

dadeiramente por ele tem piedade, pois<br />

afirmou: ‘Sou Filho de Deus!’”.<br />

44 Igualmente o ultrajavam os ladrões<br />

que ao seu lado haviam sido também<br />

crucificados. 11<br />

A morte de Jesus na cruz<br />

(Mc 15.33-41; Lc 23.44-49; Jo 19.28-30)<br />

45 Então, profundas trevas caíram por<br />

sobre toda a terra, do meio-dia às três<br />

horas da tarde daquele dia. 12<br />

46 E, por volta das três horas da tarde, Jesus<br />

clamou com voz forte: “Eloí, Eloí, lamá<br />

sabactâni?”, que significa “Meu Deus, Meu<br />

Deus! Por que me abandonaste?”.<br />

47 Mas alguns dos que ali estavam, ao<br />

ouvirem isso, comentaram: “Ele chama<br />

por Elias”. 13<br />

48 Sem demora, um deles correu em<br />

busca de uma esponja, embebeu-a em<br />

vinagre, colocou-a na ponta de um<br />

caniço, ergueu-a até Jesus e deu-lhe a<br />

beber.<br />

49 Entretanto, os outros o censuraram:<br />

“Deixa! Vejamos se Elias vem livrá-lo”.<br />

50 Então Jesus exclamou, uma vez mais,<br />

em alta voz e entregou o espírito. 14<br />

51 No mesmo instante, o véu do santu-<br />

24.14), como um sinal da exclusão da sociedade humana (Hb 13.12). João relata que Jesus saiu da cidade (Jo 19.17) e, segundo<br />

o costume (Mt 10.38), carregou pessoalmente sua cruz. Um seu discípulo africano, chamado Simão, de Cirene (região localizada<br />

na Líbia, onde viviam muitos judeus), foi constrangido (em grego, engareusan – palavra que tem a ver com o costume militar<br />

romano de obrigar os civis a entregar cartas) a seguir o caminho do Calvário, carregando a cruz de Jesus. Mais tarde, Simão e<br />

sua família serviram à comunidade cristã que se formava (Mc 15.21; At 6.9; Rm 16.13).<br />

10 A palavra Gólgota é a tradução latina do nome em aramaico da nossa palavra Calvário. Um monte fora dos muros de Jerusalém,<br />

que, visto de longe, se assemelha a uma caveira humana.<br />

11 Jesus, Deus encarnado, foi cravado e erguido numa cruz entre o céu e a terra, fora da sua cidade amada, como sinal de<br />

vergonha e horror, com uma acusação escrita nas três principais línguas da sua época. Posto entre dois criminosos, foi escarnecido<br />

principalmente pelos mais religiosos e conhecedores das Escrituras. Cumpriram-se todas as profecias sobre o Messias,<br />

notadamente as descritas por Davi no Salmo 22 (mil anos antes do nascimento de Jesus). Cristo morreu pelos nossos pecados<br />

(1Co 15.3-4). Felizes são os que, humildemente, reconhecem esse fato.<br />

12 Jesus foi crucificado às 9 horas da manhã (a terceira hora dos judeus da época, contada desde o raiar do sol). Ao meio dia (12<br />

horas), densas trevas cobriram a terra. Às três da tarde Jesus expirou. As sete frases que Jesus pronunciou durante essas seis horas<br />

de martírio, estão registradas na seguinte ordem: Lc 23.34; Jo 19.26-27; Lc 23.43; Mt 27.46; Jo 19.28; Jo 19.30 e em Lc 23.46.<br />

13 Jesus, num último fôlego, brada em seu dialeto de família, aramaico nazareno, o início do Salmo 22. Chegamos ao mais<br />

profundo do mistério da redenção. O Filho de Deus e Filho do homem experimenta a terrível e momentânea separação do Pai,<br />

para que seu sacrifício pudesse ser aceito e consumado em resgate de todos os que nele cressem em todas as eras (2Co 5.21).<br />

Os circunstantes não compreenderam bem essas palavras e deduziram que Jesus chamava por Elias.<br />

14 Cristo não foi morto diretamente por alguém ou vencido por qualquer infecção (comum aos crucificados na época). Ele, voluntariamente,<br />

e no auge do seu poder espiritual entregou a sua vida humana (Jo 19.31-37). Depois do seu brado de vitória, Jesus<br />

explode seu próprio coração. Especialistas afirmam que foi por isso que, ao perfurarem seu lado com uma lança, imediatamente<br />

verteu uma mistura de sangue coagulado e soro (este tem aparência de água). Esse quadro clínico ocorre nos casos de ruptura<br />

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<strong>MATEUS</strong> 27<br />

ário rasgou-se em duas partes, de alto a<br />

baixo. A terra estremeceu, e fenderam-se<br />

as rochas. 15<br />

52 Os sepulcros se abriram, e os corpos<br />

de muitos santos que haviam morrido<br />

foram ressuscitados.<br />

53 E, deixando as sepulturas, logo após a<br />

ressurreição de Jesus, entraram na cidade<br />

santa e apareceram para muitas pessoas.<br />

54 E aconteceu que o centurião e os que<br />

com ele vigiavam a Jesus, vendo o terremoto<br />

e tudo o que se passava, foram tomados<br />

de grande pavor e gritaram: “É verdade! É<br />

verdade! Este era o Filho de Deus!”.<br />

55 Estavam presentes várias mulheres,<br />

observando de longe; eram discípulas,<br />

que vinham seguindo Jesus desde a Galiléia,<br />

para o servirem. 16<br />

56 Entre as quais estavam Maria Madalena;<br />

Maria, mãe de Tiago e de José; e a<br />

mãe dos filhos de Zebedeu.<br />

O sepultamento do corpo de Jesus<br />

(Mc 15.42-47; Lc 23.50-56; Jo 19.38-42)<br />

57 Ao pôr-do-sol chegou um homem rico,<br />

de Arimatéia, por nome José, o qual havia<br />

se tornado discípulo de Jesus.<br />

58 Teve ele uma audiência com Pilatos<br />

para pedir-lhe o corpo de Jesus, e Pilatos<br />

ordenou que lhe fosse entregue.<br />

59 Então, José tomou o corpo e o envolveu<br />

com um lençol limpo de linho.<br />

60 E o colocou em um sepulcro novo, o<br />

70<br />

qual ele próprio havia mandado cavar na<br />

rocha. E, fazendo rolar uma grande pedra<br />

sobre a entrada do sepulcro, retirou-se.<br />

61 Estavam ali, assentadas em frente ao sepulcro,<br />

Maria Madalena e a outra Maria.<br />

Pilatos manda vigiar o sepulcro<br />

62 No dia seguinte, isto é, no sábado,<br />

reuniram-se os principais sacerdotes e<br />

os fariseus e foram até Pilatos e argumentaram:<br />

63 “Senhor, recordamo-nos de que aquele<br />

enganador, enquanto vivia, prometeu:<br />

‘Passados três dias ressuscitarei’.<br />

64 Manda, portanto, que o sepulcro dele<br />

seja guardado até o terceiro dia, para que<br />

não venham seus discípulos e, raptando<br />

o corpo, proclamem ao povo que ele<br />

ressuscitou dentre os mortos. E esta derradeira<br />

fraude cause mais dano do que a<br />

primeira”.<br />

65 Ao que ordenou Pilatos: “Levai convosco<br />

um destacamento! Ide e guardai o<br />

sepulcro como melhor vos parecer”.<br />

66 Seguindo eles, organizaram um sistema<br />

de segurança ao redor do sepulcro. E<br />

além de manterem um destacamento em<br />

plena vigilância, lacraram a pedra. 17<br />

Jesus foi ressuscitado!<br />

(Mc 16.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-9)<br />

Tendo passado o sábado, ao raiar<br />

do primeiro dia da semana, Maria<br />

28<br />

do pericárdio (o tecido celular que reveste o exterior do coração). Esse episódio anula uma teoria surgida no século XIX, a qual<br />

tentando explicar a ressurreição, alegava que Jesus desmaiou nesse momento, para então despertar no túmulo.<br />

15 Desde Moisés sempre houve, no santuário, uma cortina (véu) de tecido que separava o ambiente do Santo dos Santos (Êx<br />

26.37; 38.18; Hb 9.3). Lugar sagrado onde ninguém podia entrar a não ser o sumo sacerdote, e este apenas no Dia da Expiação.<br />

Este acontecimento foi trágico para os judeus, mas um grande sinal para os cristãos de todos os povos, culturas e épocas: Em<br />

Cristo ficou abolida toda e qualquer separação entre o pecador arrependido (adorador) e Deus, nosso Pai (Jo 14.6). O fato de o<br />

véu ter-se partido de alto a baixo, sem contato humano, demonstra que o próprio Senhor abriu um novo e vivo caminho para Sua<br />

Santa presença (Hb 10.20; Ef 2.11-22). E muitos vieram a ser reconciliados para sempre com Deus (At 6.7).<br />

16 Jesus sempre tratou as mulheres com o respeito e a dignidade que Deus requer, diferentemente da forma como os homens<br />

as tratavam em sua época. Era proibido às mulheres aproximarem-se do crucificado. Aquela cena foi um escândalo. Várias discípulas<br />

seguiram o Senhor desde o início do seu ministério, na Galiléia, e permaneceram servindo até sua morte e novo começo<br />

(28.1; Jo 20.11-18). O perfeito amor lança fora o medo (1Jo 4.18).<br />

17 Dois juízes e membros do Sinédrio, que não compactuaram com a condenação de Jesus, José, da cidade de Arimatéia<br />

(uma próspera aldeia montanhosa a cerca de 32 km ao noroeste de Jerusalém) e Nicodemos (Jo 19.38-39), cuidaram do sepultamento<br />

de Cristo. Trataram das formalidades civis, das despesas, e proveram um túmulo novo (Is 53.9), nunca antes usado, que<br />

pertencia a José de Arimatéia e localizava-se no monte do Calvário (Jo 19.41). Os líderes civis e religiosos, para evitar qualquer<br />

tentativa de remoção do corpo e possível versão sobre a ressurreição do Mestre, violaram o sábado de Páscoa para tomar todas<br />

as providências necessárias e vigiar a área do túmulo.<br />

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Madalena e a outra Maria foram visitar<br />

o túmulo. 1<br />

2 E eis que aconteceu um forte terremoto,<br />

pois um anjo do Senhor desceu dos céus<br />

e, chegando ao túmulo, rolou a pedra da<br />

entrada e assentou-se sobre ela.<br />

3 O anjo tinha o aspecto de um relâmpago,<br />

e suas vestes eram alvas como a<br />

neve. 2<br />

4 Os guardas foram tomados de grande<br />

pavor e ficaram paralisados de medo,<br />

como mortos.<br />

5 Contudo, o anjo dirigiu-se às mulheres<br />

e lhes anunciou: “Não temais vós! Sei que<br />

viestes ver a Jesus, que foi crucificado.<br />

6 Mas aqui Ele não está. Foi ressuscitado,<br />

como havia dito. Vinde e vede vós onde<br />

Ele jazia.<br />

7 Ide caminhando depressa e anunciai<br />

aos seus discípulos: Ele ressuscitou dentre<br />

os mortos e está seguindo adiante de<br />

vós rumo à Galiléia. Lá o vereis. Atentai<br />

para o que vos disse!”.<br />

8 As mulheres abandonaram o túmulo<br />

correndo, amedrontadas, mas com<br />

grande júbilo, e foram imediatamente<br />

anunciá-lo aos seus discípulos.<br />

9 De repente, Jesus veio ao encontro delas<br />

e as saudou: “Alegrai-vos!” Elas se aproximaram<br />

dele, jogaram-se aos seus pés<br />

abraçando-os, e o adoraram.<br />

10 Então Jesus lhes declarou: “Não temais!<br />

Ide e dizei aos meus irmãos que<br />

sigam para a Galiléia, lá eles me verão”.<br />

71 <strong>MATEUS</strong> 27, 28<br />

Os sacerdotes subornam os guardas<br />

11 E sucedeu que enquanto as mulheres<br />

estavam a caminho, alguns dos guardas<br />

foram à cidade e contaram aos<br />

chefes dos sacerdotes tudo o que havia<br />

ocorrido.<br />

12 Então, os chefes dos sacerdotes reuniram-se<br />

em conselho com os anciãos<br />

e tramaram outro plano. Deram aos soldados<br />

vultosa quantia em dinheiro.<br />

13 E lhes recomendaram que declarassem<br />

a todos: “Os discípulos dele vieram<br />

durante a noite e raptaram o corpo, enquanto<br />

cochilávamos.<br />

14 Se isso chegar ao conhecimento do<br />

governador, nós o persuadiremos a vosso<br />

favor e vos livraremos de qualquer reprimenda”.<br />

3<br />

15 Os soldados receberam o dinheiro e<br />

fizeram como haviam sido orientados.<br />

E, por isso, essa versão dos acontecimentos<br />

se conta entre os judeus até o<br />

dia de hoje.<br />

A Grande Comissão<br />

16 Os onze discípulos rumaram para a<br />

Galiléia, em direção ao monte que Jesus<br />

lhes determinara.<br />

17 Assim que o viram, prostraram-se<br />

e o adoraram, mas alguns ficaram em<br />

dúvida.<br />

18 Então, Jesus aproximando-se deles<br />

lhes assegurou: “Toda a autoridade me<br />

foi dada no céu e na terra.<br />

1 Conforme o horário judaico, o domingo começava logo após o pôr-do-sol do sábado. Lucas nos informa que Maria Madalena<br />

e Maria, mulher de Clopas (Lc 24.1; Jo 19.25) saíram de madrugada, ainda escuro (Jo 20.12), para visitar o corpo de Jesus,<br />

lamentar e ungi-lo com mais especiarias. Chegaram ao túmulo com os primeiros raios da aurora na esperança de que lhes fosse<br />

autorizada a entrada para a continuação do ritual fúnebre (período de luto) judaico da época (Mt 28.1; Mc 16.2-3).<br />

2 Deus manda seus anjos anunciarem o nascimento e a ressurreição de Jesus. Ele é concebido e ressuscitado pelo poder do<br />

Altíssimo (Lc 1.35; Rm 6.4; Ef 1.20). Essas mensagens são comunicadas em primeiro lugar a mulheres devotas e humildes e que<br />

receberam um nome simples, mas conhecido em todo o mundo: Maria (forma helenizada do nome hebraico Miriã, que foi derivado<br />

de um antigo vocábulo egípcio Marye, e que significa: princesa, amada, mulher de esperança). O anjo não rolou a pedra para que<br />

Jesus saísse do sepulcro, a pedra foi rolada para que as mulheres e, mais tarde, outras pessoas, entrassem e verificassem o túmulo<br />

vazio, o selo (lacre estatal feito com cordas que envolviam a pedra e eram atadas ao sepulcro com as marcas de Roma e do Sinédrio)<br />

rompido e nenhum outro sinal ou dano. Séculos mais tarde, expedições arqueológicas, como as organizadas pelo General Christian<br />

Gordon, localizaram esse túmulo e confirmaram algumas alterações para acomodar um corpo maior do que o de José de Arimatéia<br />

(segundo a tradição de baixa estatura). Contudo, análises físicas e químicas jamais atestaram qualquer vestígio de restos mortais na<br />

sepultura. O túmulo era novo quando foi oferecido para sepultar o corpo do Senhor e continuou novo após sua ressurreição.<br />

3 Agostinho (354-430 d.C.) observou: “Se acordados, por que permitiram a alguém raptar o corpo de Jesus? E, se dormindo,<br />

como podiam declarar que foram os discípulos?” De qualquer modo seriam todos condenados à morte, não fosse o interesse dos<br />

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<strong>MATEUS</strong> 28<br />

19 Portanto, ide e fazei com que todos os<br />

povos da terra se tornem discípulos, batizando-os<br />

em nome do Pai, e do Filho, e<br />

do Espírito Santo;<br />

72<br />

20 ensinando-os a obedecer a tudo quanto<br />

vos tenho ordenado. E assim, Eu estarei<br />

permanentemente convosco, até o fim<br />

dos tempos”. 4<br />

líderes religiosos judaicos em divulgar uma falsa versão sobre o desaparecimento do corpo de Cristo e levar a população a não<br />

crer na intervenção divina, presenciada por soldados e discípulos, nas primeiras horas daquele domingo no monte Calvário.<br />

4 Jesus recebeu todo o poder de Deus (em grego ) e do Senhor Ressuscitado parte a ordem plenipotenciária: Ide! (literalmente<br />

“indo”, em grego ~). Agora esse “envio” não é provisório, limitado e transitório como em Mt 10, mas definitivo,<br />

ilimitado e permanente. Rompeu-se o estreitamento étnico das sinagogas e abriu-se a Salvação (comunhão com Deus) para<br />

todos os povos, raças e culturas. A comunidade de Jesus que abrange o mundo inteiro substituiu a “velha aliança” pela “nova<br />

aliança”, que congrega toda e qualquer pessoa cujo coração creia no Senhor para ser convertido em discípulo. Jesus ensinou e<br />

demonstrou com a sua própria vida o que significa ser um discípulo do Senhor (obediência a Deus). A tríplice ordem missionária<br />

(discipular, batizar e ensinar a discipular) é emoldurada pela garantia da onipresença de Jesus na alma daquele que crê (o crente).<br />

A essência da Igreja de Jesus é que o Ressuscitado continua vivo e atuante no indivíduo e na comunidade. Ao orarmos, não é<br />

mais necessário buscarmos a Deus nos céus, mas, sim, em nossos corações. A promessa da presença contínua de Deus é a<br />

chave de ouro com a qual vários livros da Bíblia são concluídos (Êx 40.38; Ez 48.35; Ap 22.20).<br />

Jesus, após ressuscitar, apareceu a várias pessoas em diversas ocasiões: a Madalena (Jo 20.11-18), a algumas discípulas<br />

(28.9-10), aos discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.13-33), a Pedro (Jo 21.15-19; Lc 24.34-35), a dez discípulos no Cenáculo (Jo<br />

20.19), aos onze discípulos (Jo 20.24-29), a sete discípulos na Galiléia (Jo 21.24-29), aos onze no monte, na Galiléia (Mt 28.16-17),<br />

a Tiago e a todos os apóstolos (1Co 15.7), a uma multidão no monte das Oliveiras (Lc 24.44-49), ao apóstolo Paulo (At 9.3-8).<br />

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