15.04.2013 Views

A Pessoa Total, Tricotomia ou Dicotomia? - gospel literatura

A Pessoa Total, Tricotomia ou Dicotomia? - gospel literatura

A Pessoa Total, Tricotomia ou Dicotomia? - gospel literatura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

por<br />

Anthony Hoekema<br />

Um dos aspectos mais importantes da visão cristã do homem é a de<br />

que devemos vê-lo em sua unidade, como uma pessoa total. Os seres<br />

humanos têm sido imaginados como consistindo de partes separadas e,<br />

algumas vezes, de partes distintas, que são, dessa forma, abstraídas da<br />

totalidade. Assim, nos círculos cristãos, tem sido crido do homem como<br />

consistindo tanto de “corpo” e “alma” como de “corpo”, “alma” e “espírito”.<br />

Tanto os cientistas seculares como os teólogos cristãos, contudo, estão<br />

reconhecendo gradativamente que tal entendimento dos seres humanos<br />

está errado, e que o homem deve ser visto como uma unidade. Visto que<br />

nossa preocupação é com a d<strong>ou</strong>trina cristã do homem, devemos dar uma<br />

nova olhada para o ensino bíblico a respeito dos seres humanos, para ver<br />

se de fato isto é assim.<br />

O que devemos observar primeiro de tudo é que a Bíblia não<br />

descreve o homem cientificamente; na verdade,<br />

o julgamento (dos teólogos) é que a Bíblia não nos dá nenhum<br />

ensino científico a respeito do homem, nenhuma “antropologia”<br />

que deveria <strong>ou</strong> poderia estar em competição com uma<br />

investigação científica do homem nos vários aspectos de sua<br />

existência <strong>ou</strong> com a antropologia filosófica. [1]<br />

Além disso, a Bíblia não usa uma linguagem científica exata. Ela usa<br />

termos como alma, espírito e coração mais <strong>ou</strong> menos indistintamente. Isto<br />

é por causa<br />

das partes do corpo que são tidas, não primariamente do ponto de vista de<br />

suas diferenças <strong>ou</strong> de suas inter-relações com <strong>ou</strong>tras partes, mas como<br />

significando <strong>ou</strong> enfatizando os diferentes aspectos do homem total em<br />

relação a Deus. Do ponto de vista da psicologia analítica e da fisiologia, o<br />

uso do Antigo Testamento é caótico: ele é o pesadelo do anatomista<br />

quando qualquer parte pode ser entendida como sendo a totalidade. [2]<br />

Portanto, não é impossível construir uma psicologia bíblica exata e<br />

científica. Alguns têm tentado fazer isso. Um dos mais notáveis nessa<br />

tarefa é Franz Delitzsch, cujo livro System of Biblical Psychology foi<br />

originalmente publicado em 1855. Mas mesmo Delitzsch teve que admitir<br />

que “a Escritura não é um livro escolástico [or didática] de ciência” e que<br />

“é verdade que em assuntos psicológicos, assim tão p<strong>ou</strong>co quanto em<br />

assuntos éticos <strong>ou</strong> dogmáticos, a Escritura abrange (<strong>ou</strong> contém) qualquer<br />

sistema proposto na linguagem das escolas”. [3]<br />

Em 1920, o teólogo holandês Herman Bavinck escreveu um livro<br />

entitulado Biblical and Religi<strong>ou</strong>s Psychology (Psicologia Bíblica e Religiosa).<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 1 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Semelhantemente a Delitzsch, ele admitiu que<br />

[a Bíblia] não nos fornece uma psicologia popular <strong>ou</strong> científica mais do que<br />

ela nos proporciona uma narrativa [schets] da história, geografia,<br />

astronomia <strong>ou</strong> agricultura...Mesmo se alguém desejasse tentar, seria<br />

impossível retirar da Bíblia uma psicologia que pudesse satisfazer as<br />

nossas necessidades. Porque não somente seria impossível ter uma<br />

narrativa completa de todos os vários dados, mas também as palavras que<br />

a Bíblia usa, tais como espírito, alma, coração e mente, foram emprestadas<br />

da linguagem popular dos judeus daqueles dias, ordinariamente<br />

possuindo um conteúdo diferente daquele que associamos com esses<br />

termos, e nem sempre usados no mesmo sentido. As Escrituras nunca<br />

usam conceitos abstratos e filosóficos, mas sempre falam a rica linguagem<br />

do dia a dia. [4]<br />

Embora não derivemos uma antropologia <strong>ou</strong> psicologia científica exata da<br />

Bíblia, podemos aprender da Escritura muitas verdades importantes a<br />

respeito do homem. Na verdade, isso é o que tentamos fazer nos capítulos<br />

anteriores deste livro. Deveríamos nos lembrar novamente que a coisa<br />

mais importante que a Bíblia diz a respeito do homem é que ele está<br />

inescapavelmente relacionado a Deus. Berk<strong>ou</strong>wer coloca este assunto da<br />

seguinte maneira: “Podemos dizer sem medo de contradição que a coisa<br />

mais notável no retrato bíblico do homem rep<strong>ou</strong>sa nisto: que nunca chama<br />

a atenção para o homem em si mesmo, mas exige a nossa atenção mais<br />

plena para o homem em sua relação com Deus.” [5] Podemos acrescentar<br />

que a Bíblia também dirige nossa atenção para o homem à medida em que<br />

ele se relaciona com os <strong>ou</strong>tros seres humanos e com a criação. [6] Em<br />

<strong>ou</strong>tras palavras, as Escrituras não estão primariamente interessadas nas<br />

“partes” constituintes do homem <strong>ou</strong> na sua estrutura psicológica, mas nos<br />

relacionamentos que ele mantém.<br />

TRICOTOMIA OU DICOTOMIA?<br />

Vez por <strong>ou</strong>tra, entretanto, tem sido sugerido que o homem deveria ser<br />

entendido como consistindo de certas “partes” especificamente distintas.<br />

Um desses entendimentos é usualmente conhecido como tricotomia — a<br />

idéia que, segundo a Bíblia, o homem consiste de corpo, alma e espírito.<br />

Um dos proponentes mais antigos da tricotomia, como vimos, é Irineu, que<br />

ensinava que enquanto os incrédulos possuiam somente almas e corpos,<br />

os crentes adquiriam espíritos adicionais, que eram criados pelo Espírito<br />

Santo. [7] Um <strong>ou</strong>tro teólogo que usualmente está associado com a<br />

tricotomia é Apolinário de Laodicéa, que viveu de 310 a aproximadamente<br />

390 AD. A maioria dos intérpretes atribuem a ele a idéia de que o homem<br />

consiste de corpo, alma e espírito <strong>ou</strong> mente (pneuma <strong>ou</strong> n<strong>ou</strong>s), e que o<br />

Logos <strong>ou</strong> a natureza divina de Cristo tom<strong>ou</strong> o lugar do espírito humano na<br />

natureza humana que Cristo assumiu. [8] Berk<strong>ou</strong>wer, contudo, assinala<br />

que Apolinário desenvolveu primeiro a sua cristologia errônea em um<br />

contexto de dicotomia. [9] Mas J. N. D. Kelly diz que é uma questão de<br />

importância secundária se Apolinário era um dicotomista <strong>ou</strong> tricotomista.<br />

[10]<br />

A tricotomia foi ensinada no século XIX por Franz Delitzsch, [11] J. B.<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 2 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Heard, [12] J. T. Beck, [13] e G. F. Oehler. [14] Mais recentemente tem sido<br />

defendido por escritores como Watchman Nee, [15] Charles R. Solomon<br />

(que afirma que através do seu corpo, o homem relaciona-se com o<br />

ambiente, através de sua alma com os <strong>ou</strong>tros, e do seu espírito com Deus),<br />

[16] e Bill Gothard. [17] É interessante observar que a tricotomia é também<br />

defendida na antiga e na nova Scofield Reference Bible. [18] A despeito<br />

deste apoio, devemos rejeitar a visão tricotomista da natureza humana.<br />

Primeiro, ela deve ser rejeitada porque ela parece fazer violência à unidade<br />

do homem. A palavra em si mesma sugere que o homem pode ser separado<br />

em três “partes”: a palavra tricotomia é formada de duas palavras gregas,<br />

tricha, “tríplice” e temnein, “cortar. Alguns tricotomistas, incluindo Irineu,<br />

até sugeriram que certas pessoas tinham os seus espíritos cortados,<br />

enquanto que <strong>ou</strong>tras não.<br />

Segundo, devemos rejeitá-la porque ela freqüentemente pressupõe uma<br />

antítese irreconciliável entre espírito e corpo. Realmente, a tricotomia<br />

originada na filosofia grega, particularmente na concepção de Platão, que<br />

possuia também um entendimento tríplice da natureza humana. Herman<br />

Bavinck levanta uma discussão útil deste assunto no seu livro Biblical<br />

Psychology. Ele assinala que em Platão e em <strong>ou</strong>tros filósofos gregos havia<br />

uma aguçada antítese entre as coisas visíveis e as invisíveis. O mundo<br />

como substância material não foi criado por Deus, diziam os gregos, mas<br />

sempre esteve contra ele. Um poder intermediário se fazia necessário para<br />

que pudesse haver ligação entre o mundo e Deus, e, assim, haver<br />

harmonia entre eles — este era o mundo da alma. A idéia do homem,<br />

encontrada no pensamento grego, pensa Bavinck, é semelhante: o homem<br />

é um ser racional que possui razão (n<strong>ou</strong>s), mas ele é também um ser<br />

material que tem um corpo. Entre esses dois deve haver uma terceira<br />

realidade que age como mediador: a alma, que é capaz de dirigir o corpo<br />

em nome da razão. [19]<br />

A Bíblia, contudo, não ensina qualquer tipo de distinção aguda entre<br />

espírito (<strong>ou</strong> mente) e corpo. Segundo as Escrituras, a matéria não é má<br />

porque foi criada por Deus. A Bíblia nunca denigre o corpo humano como<br />

uma fonte necessária do mal, mas o descreve como um aspecto da boa<br />

criação de Deus, que deve ser usado no serviço de Deus. Para os gregos o<br />

corpo era considerado “uma sepultura para a alma” (soma sema) que o<br />

homem alegremente abandonava na morte, mas esta idéia é totalmente<br />

estranha às Escrituras.<br />

Devemos rejeitar também a tricotomia porque ela faz uma aguda distinção<br />

entre o espírito e a alma que não encontra suporte algum nas Escrituras.<br />

Podemos ver isto mais claramente quando observamos que as palavras<br />

hebraica e grega traduzidas como alma e espírito são freqüentemente<br />

usadas indistintamente nas Escrituras.<br />

1. O homem é descrito na Bíblia tanto como alguém que é corpo e alma<br />

como alguém que é corpo e espírito: “Não temais aqueles que matam o<br />

corpo mas não podem matar a alma” (Mt 10.28); “Também a mulher, tanto<br />

a viúva como a virgem, cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao<br />

Senhor, assim no corpo como no espírito” (1 Co 7.34); “Como o corpo sem<br />

o espírito está morto, assim a fé sem as obras é morta” (Tg 2.25).<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 3 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

2. A dor é atribuída tanto à alma como ao espírito: “Levant<strong>ou</strong>-se Ana e,<br />

com amargura de espírito, or<strong>ou</strong> ao Senhor, e chor<strong>ou</strong> abundantemente” (1<br />

Sm 1.10); “Porque o Senhor te cham<strong>ou</strong> como a mulher desamparada e de<br />

espírito abatido; como a mulher da mocidade, que fora repudiada, diz o<br />

teu Deus” (Is 54.6); “Agora está angustiada a minha alma” (Jo 12.27);<br />

“Ditas estas c<strong>ou</strong>sas, angusti<strong>ou</strong>-se Jesus em espírito” (Jo 13.21);<br />

“Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava, em<br />

face da idolatria dominante na cidade” (At 17.16); “(Porque este justo [Ló],<br />

pelo que via e <strong>ou</strong>via quando habitava entre eles, atormentava a sua alma<br />

justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles)” (1 Pe 2.8).<br />

3. O l<strong>ou</strong>vor e o amor a Deus são atribuídos tanto a alma como ao espírito:<br />

“A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus<br />

meu Salvador” (lc 1.46-47); “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o<br />

teu coração e de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a<br />

tua força” (Mc 12.30).<br />

4. A salvação é associada tanto à alma como ao espírito: “Acolhei com<br />

mansidão a palavra implantada em vós, a qual é poderosa para salvar as<br />

vossas almas” (Tg 1.21); “...entregue a Satanás, para a destruição da<br />

carne, a fim de que o espírito seja salvo, no dia do Senhor” (1 Co 5.5).<br />

5. O morrer é descritivo tanto como uma partida da alma como do espírito:<br />

“Ao sair-lhe a alma (porque morreu), deu-lhe o nome de Benoni” (Gn<br />

35.18); “E estendendo-se três vezes sobre o menino, clam<strong>ou</strong> ao Senhor, e<br />

disse: Ó Senhor meu Deus, que faças a alma deste menino tornar a entrar<br />

nele” (1 Rs 17.21); “Não temais os que matam o corpo e não podem matar<br />

alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma<br />

como o corpo” (Mt 10.28); “Nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Sl<br />

31.5); “E Jesus clamando <strong>ou</strong>tra vez com grande voz, entreg<strong>ou</strong> o<br />

espírito” (Mt 27.50); “Volt<strong>ou</strong>-lhe o espírito, ela imediatamente se<br />

levant<strong>ou</strong>”(Lc 8.55); “Então Jesus clam<strong>ou</strong> em alta voz: Pai, nas tuas mãos<br />

entrego o meu espírito!” (Lc 23.46); “E apedrejavam a Estevão que invocava<br />

e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!” (At 7.59).<br />

6. Aqueles que já haviam morrido eram algumas vezes chamados tanto de<br />

almas e <strong>ou</strong>tras vezes de espíritos: Mt 10.28, citado acima; “Quando ele<br />

abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que tinham sido<br />

mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que<br />

sustentavam” (Ap 6.9); “e a Deus, o juíz de todos, e aos espíritos dos justos<br />

aperfeiçoados “ (Hb 12.23); “Pois também Cristo morreu...para conduzirvos<br />

a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado em espírito, no qual<br />

também foi e preg<strong>ou</strong> aos espíritos em prisão, os quais n<strong>ou</strong>tro tempo foram<br />

desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de<br />

Noé” (1 Pe 3.18-20).<br />

Os tricotomistas freqüentemente apelam para duas passagens do Novo<br />

Testamento: Hb 4.12 e 1 Ts 5.23, para dar suporte ao seu conceito, mas<br />

nenhuma dessas passagens prova o ponto deles.<br />

Hebreus 4.12 diz o seguinte:<br />

Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 4 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito,<br />

juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos do<br />

coração.<br />

Estas palavras descrevem o poder penetrante da palavra de Deus. O autor<br />

de Hebreus não pretende dizer que a palavra de Deus causa uma divisão<br />

entre uma “parte” da natureza humana chamada alma e <strong>ou</strong>tra “parte”<br />

chamada espírito, assim como não pretende dizer que a palavra causa<br />

uma divisão entre as juntas do corpo e a medula encontrada nos ossos. A<br />

linguagem é figurativa. A cláusula seguinte aponta para o intento do autor:<br />

ele deseja dizer que a palavra de Deus discerne “os pensamentos e atitudes<br />

(<strong>ou</strong> intenções) do coração”. A palavra de Deus (seja ela entendida como a<br />

Escritura <strong>ou</strong> como Jesus Cristo) penetra nos recônditos mais interiores de<br />

nosso ser, trazendo à luz os motivos secretos de nossas ações. Esta<br />

passagem, na verdade, está em paralelo com um texto de Paulo: “[o<br />

Senhor] não somente trará à plena luz as c<strong>ou</strong>sas ocultas das trevas, mas<br />

também manifestará os desígnios dos corações” (1 Co 4.5). Não há,<br />

portanto, nenhuma razão para se entender Hebreus 4.12 como ensinando<br />

uma distinção psicológica entre alma e espírito como sendo duas partes<br />

constituintes do homem.<br />

A <strong>ou</strong>tra passagem é 1 Tessalonicenses 5.23, onde se lê:<br />

O mesmo Deus da paz voz santifique em tudo; e o vosso espírito,<br />

alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda<br />

de nossos Senhor Jesus Cristo.<br />

Deveríamos observar primeiro que esta passagem não é uma afirmação<br />

d<strong>ou</strong>trinária, mas uma oração. Paulo ora para que seus leitores<br />

tessalonicenses possam ser santificados e completamente preservados <strong>ou</strong><br />

guardados por Deus até que Cristo volte novamente. A totalidade da<br />

santificação, pela qual Paulo ora, é expressa no texto por duas palavras<br />

gregas. A primeira, holoteleis, é derivada de holos, significando a<br />

totalidade, e telos, significando a finalidade <strong>ou</strong> o alvo; a palavra significa “a<br />

totalidade de modo que se alcance o alvo”. A Segunda palavra, holokleron,<br />

derivada de holos e kleros, porção <strong>ou</strong> parte, significa “completa em todas<br />

as suas partes”. É interessante observar que na segunda metade da<br />

passagem, ambos o adjetivos holokeron e o verbo teretheie (“possam ser<br />

guardados <strong>ou</strong> preservados”) estão no singular, indicando que a ênfase do<br />

texto está sobre a totalidade da pessoa. Quando Paulo ora pelos<br />

tessalonicenses para que o espírito, alma e corpo possam ser guardados,<br />

ele não está tentando separar o homem em três partes, mais do que Jesus<br />

pretendeu fazer em quatro partes quando disse: “Amarás o Senhor teu<br />

Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu<br />

entendimento e de toda a tua força (Lc 10.27). Esta passagem, portanto,<br />

também não proporciona qualquer base para a visão tricotômica da<br />

constituição do homem. [20]<br />

A <strong>ou</strong>tra idéia usualmente sustentada a respeito da constituição do homem<br />

é a chamada dicotomia — a idéia de que o homem consiste de corpo e<br />

alma. Esta visão tem sido mais largamente sustentada do que a<br />

tricotomia. Nossa rejeição de tricotomia significa que devemos optar pela<br />

dicotomia? Um número de teólogos afirma esta crença. L<strong>ou</strong>is Berkhof, por<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 5 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

exemplo, crê que “a representação dominante da natureza do homem na<br />

Escritura é claramente dicotômica”. [21]<br />

É minha convicção, contudo, que nós deveríamos rejeitar tanto a<br />

dicotomia como a tricotomia. Como cristãos deveríamos certamente<br />

repudiar a dicotomia no sentido em que os antigos gregos a ensinaram.<br />

Platão, por exemplo, formul<strong>ou</strong> a idéia de que o corpo e a alma devem ser<br />

tidos como duas substâncias distintas: a alma pensante, que é divina, e o<br />

corpo. Visto que o corpo é composto de substância inferior chamada<br />

matéria, ele é de um valor inferior à da alma. Na morte simplesmente o<br />

corpo se desintegra, mas a alma racional (<strong>ou</strong> n<strong>ou</strong>s) retorna “aos ceús”, se o<br />

seu curso de ação foi justo e honrado, e continua a existir para sempre. A<br />

alma é considerada uma substância superior, inerentemente indestrutível,<br />

enquanto que o corpo é inferior à alma, mortal, e condenado à destruição<br />

total. Não há no pensamento grego, portanto, lugar algum para a<br />

ressurreição do corpo. [22]<br />

Mas mesmo à parte do entendimento grego da dicotomia, que é claramente<br />

contrário à Escritura, devemos rejeitar o termo dicotomia como tal, visto<br />

que ele não é uma descrição exata da visão bíblica do homem. A palavra<br />

em si mesma é objetável. Ela vem de duas raízes gregas: diche,<br />

significando “dupla” <strong>ou</strong> “em duas”; e temnein, significando “cortar”. Ela,<br />

portanto, sugere que a pessoa humana pode ser cortada em duas “partes”.<br />

Mas o homem nesta presente vida não pode ser separado dessa maneira.<br />

Como veremos, a Bíblia descreve a pessoa humana como uma totalidade,<br />

um todo, um ser unitário.<br />

O melhor modo de determinar a visão bíblica do homem como uma pessoa<br />

total é examinar os termos usados para descrever os vários aspectos do<br />

homem. Antes de fazer isso, contudo, duas observações devem ser feitas:<br />

(1) Como foi dito, a preocupação primária da Bíblia não é a constituição<br />

psicológica <strong>ou</strong> antropológica do homem mas a sua capacidade inescapável<br />

de relacionar-se com Deus; e (2) devemos sempre Ter em mente que J. A.<br />

T. Robinson diz a respeito do uso que o Antigo Testamento faz destes<br />

termos: “Qualquer parte pode ser tomada pelo todo”, [23] e o que G. E.<br />

Ladd afirma a respeito do uso que o Novo Testamento faz dessas palavras:<br />

“A recente erudição tem reconhecido que termos como corpo, alma e<br />

espírito não são diferentes, faculdades separadas do homem mas<br />

diferentes modos de ver a totalidade do homem.” [24]<br />

Com isto em mente, nós trataremos primeiro das palavras do Antigo<br />

Testamento e, então com as encontradas no Novo Testamento.<br />

AS PALAVRAS DO ANTIGO TESTAMENTO<br />

Começamos com a palavra hebraica nephesh, mais comumente<br />

traduzida como “alma”. O léxico Hebraico de Brown, Driver e Briggs [25]<br />

dá dez significados para essa palavra, da qual os mais importantes para o<br />

nosso propósito são: “o ser mais interior do homem”, “o ser vivo” (usado a<br />

respeito de homens e animais), [26] “o homem em si<br />

mesmo” (freqüentemente usado como um pronome pessoal: eu mesmo, ele<br />

mesmo, etc.; neste sentido pode significar o homem como um todo), “o<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 6 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

lugar dos apetites”, “o assento das emoções”. A palavra pode, algumas<br />

vezes, se referir a uma pessoa falecida, com <strong>ou</strong> sem meth (“morta”). É<br />

algumas vezes dito que a nephesh morre.<br />

Está claro, portanto, que a palavra nephesh pode significar a pessoa<br />

total. Edmond Jacob diz o seguinte: “Nephesh é o termo usual para a<br />

natureza total do homem, para o que ele é e não apenas pelo que tem...<br />

Por isso a melhor tradução em muitos casos é ‘pessoa’”. [27]<br />

A palavra hebraica seguinte é ruach, usualmente traduzida como<br />

“espírito”. O significado da raíz desta palavra é “ar em movimento”; ela é<br />

freqüentemente usada para descrever o vento. Brown-Driver-Briggs listam<br />

nove significados, incluindo os seguintes: “espírito”, “animação”,<br />

“disposição”, “espírito de vida e ser que respira morando na carne de<br />

homens e animais” (somente um exemplo deste último: Ec 3.21), “assento<br />

das emoções”, “órgão de atos mentais”, “órgão da vontade”. Ruach,<br />

portanto, sobrepõe-se em significado a nephesh. W. D. Stacey diz:<br />

Quando a referência é feita ao homem em sua relação com Deus, ruach é o<br />

termo mais provável para ser usado..., mas quando referência é feita ao<br />

homem em relação a <strong>ou</strong>tros homens, <strong>ou</strong> o homem vivendo a vida comum<br />

dos homens, então nephesh é mais provável, se um termo psíquico é<br />

exigido. Em ambos os casos a totalidade do homem está envolvida. [28]<br />

Portanto, não deve ser pensado de ruach como um aspecto separado do<br />

homem, mas como a pessoa total vista de determinada perspectiva.<br />

Olhamos a seguir para as palavras do Antigo Testamento usualmente<br />

traduzidas como “coração”: lebh e lebhabh. Brown-Driver-Briggs dá dez<br />

significados para estas duas palavras, incluindo os seguintes: “o homem<br />

mais interior <strong>ou</strong> alma”, “mente”, “resoluções da vontade”, “consciência”,<br />

“caráter moral”, “o homem em si mesmo”, “o lugar dos apetites”, “o assento<br />

das emoções”, “o assento da coragem”. F. H. Von Meyenfeldt, em seu<br />

estudo final da palavra, conclui que lebh <strong>ou</strong> lebhabh usualmente<br />

representa a pessoa total e tem uma significação predominantemente<br />

religiosa. [29]<br />

A palavra coração não somente é usada no Antigo Testamento para<br />

descrever o assento do pensamento, do sentimento e da vontade; é<br />

também a sede do pecado (Gn 6.5; Sl 95.8, 10; Jr 17.9), a sede da<br />

renovação espiritual (Dt 30.6; Sl 51.10; Jr 31.33; Ez 36.26), e o lugar da fé<br />

(Sl 28.7; 112.7; Pv 3.5).<br />

Mais do que qualquer <strong>ou</strong>tro termo do Antigo Testamento, a palavra coração<br />

significa o homem no mais profundo centro de sua existência, e como ele é<br />

no mais profundo do seu ser. Herman Dooyeweerd, o filósofo holandês,<br />

entendeu o coração na Escritura como sendo “a raiz religiosa da existência<br />

total do homem”. [30] A filosofia que ele desenvolveu enfatiza que o<br />

coração é o centro e a fonte de toda a atividade religiosa, filosófica e moral<br />

do homem. Ray Anderson chama o coração de “o centro do eu subjetivo”.<br />

Ele é “a unidade do corpo e da alma na verdadeira ordem deles — ele é a<br />

pessoa”. [31]<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 7 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Todos esses três termos examinados do Antigo Testamento, portanto,<br />

descrevem o homem em sua unidade e totalidade, embora olhando-o de<br />

aspectos ligeiramente diferentes. H. Wheeler Robinson comenta: “Não é<br />

possível fazer uma diferenciação exata das províncias cobertas pelo<br />

‘coração’, nephesh e ruach, pela simples razão de que tal diferenciação<br />

exata nunca foi feita.” [32]<br />

A próxima palavra é basar, usualmente traduzida como “carne”. Brown-<br />

Driver-Briggs lista seis significados, incluindo os seguintes: “”carne” (para<br />

o corpo), “parentesco de sangue”, “homem contra Deus como fraco e<br />

errante”, “raça humana”. N. P. Bratsiotis diz que basar é mais<br />

freqüentemente usado no Antigo Testamento para “o aspecto externo e<br />

carnal da natureza humana”. [33] Ele continua a dizer que quando basar é<br />

distinto do aspecto externo do homem e nephesh é entendido como sendo<br />

o aspecto interno, mesmo assim nunca devemos pensar destas palavras<br />

como descrevendo um dualismo de alma e corpo no sentido platônico.<br />

Ao contrário, basar e nephesh devem ser entendidos como aspectos<br />

diferentes da existência do homem como uma entidade dual. É<br />

precisamente esta totalidade antropológica enfática que é determinante<br />

para a natureza dual do ser humano. Ela exclui qualquer noção de uma<br />

dicotomia entre basar e nephesh...como irreconciliavelmente opostos uma<br />

a <strong>ou</strong>tra, e revela o relacionamento psico-somático mútuo entre elas. [34]<br />

A palavra basar é freqüentemente usada para descrever o homem em sua<br />

fraqueza. H. W. Wolff observa que freqüentemente basar descreve a vida<br />

humana como débil e fraca, dando como exemplo deste uso Jeremias 17.5<br />

– “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu<br />

braço”. [35]<br />

Basar pode algumas vezes denotar a pessoa total, não apenas o aspecto<br />

físico. [36] Mas ela pode também ser juntada com nephesh em maneiras<br />

que referem ao homem total. Clarence B. Bass, comentando as palavras do<br />

Antigo Testamento para “corpo”, afirma:<br />

Corpo e alma são usados quase que indistintamente, sendo que a alma<br />

indica o homem como um ser vivo, e corpo (carne) denota-o como uma<br />

criatura corporalmente visível...Esta unidade de corpo e alma [tem]<br />

conduzido alguns escritores a concluir que o Antigo Testamento carece de<br />

uma idéia do corpo físico como uma entidade discreta...Mais<br />

propriamente, contudo, o Antigo Testamento vê o corpo e a alma como<br />

coordenadas que se interpenetram em funções para formar um todo<br />

simples. [37]<br />

Basar, portanto, também é freqüentemente usado no Antigo Testamento<br />

para denotar a pessoa total, embora com ênfase no lado exterior.<br />

Assim, o mundo do pensamento do Antigo Testamento exclui totalmente<br />

qualquer espécie de dicotomia <strong>ou</strong> dualismo que pinte o homem como feito<br />

de duas substâncias distintas. Como H. Wheeler Robinson diz, “a ênfase<br />

final deve cair sobre o fato de que os quatro termos [nephesh, ruach, lebh e<br />

basar]...simplesmente apresentam aspectos diferentes da unidade da<br />

personalidade.” [38]<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 8 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

AS PALAVRAS DO NOVO TESTAMENTO<br />

A primeira palavra do Novo Testamento que examinaremos é<br />

psyche, a palavra grega equivalente a nephesh, usualmente traduzida<br />

como “alma”. O léxico do Novo Testamento Grego de Arndt-Gingrich lista<br />

um número de significados para esta palavra, alguns dos quais são:<br />

“princípio de vida”, “vida terreal”, “assento da vida mais interior do<br />

homem” (incluindo sentimentos e emoções), “a sede e o centro da vida que<br />

transcende o que é terreno”, “aquilo que possui vida: uma criatura<br />

viva” (plural, pessoas). [39]<br />

Eduard Schweizer afirma que psyche é usado freqüentemente nos<br />

Evangelhos para descrever o homem total, [40] para representar a<br />

verdadeira vida em distinção da vida puramente física, [41] e para referirse<br />

à existência dada por Deus que sobrevive à morte. [42] Schweizer diz<br />

que Paulo usa psyche quando se refere à vida natural e à vida verdadeira;<br />

ele freqüentemente usa a palavra para descrever a pessoa. [43] No Livro do<br />

Apocalipse psyche pode ser usada para denotar a vida após a morte (como<br />

em 6.9). [44] Está claro, portanto, que psyche, como nephesh,<br />

freqüentemente significa a pessoa total.<br />

Agora nos voltamos para a palavra pneuma, o equivalente do Novo<br />

Testamento a ruach, que quando se refere ao homem é mais usualmente<br />

traduzida como “espírito”. O léxico de Arndt-Gingrich dá oito significados,<br />

incluindo os seguintes: “o espírito como parte da personalidade humana”,<br />

“o ego de uma pessoa”, “uma disposição <strong>ou</strong> estado de mente”. Schweizer<br />

diz que Paulo usa pneuma para as funções físicas do homem, que ele é<br />

freqüentemente um paralelo de psyche, e que pode denotar o homem como<br />

um todo, com ênfase mais forte sobre o seu psíquico do que sobre a sua<br />

natureza física. [45]<br />

George Ladd, numa discussão da psicologia paulina, diz-nos que no<br />

pensamento de Paulo o homem serve a Deus com o espírito e experimenta<br />

a renovação no espírito. Paulo algumas vezes contrasta o pneuma com o<br />

corpo como a dimensão mais interior em contraste com lado exterior do<br />

homem (2 Co 7.1; Rm 8.10). Pneuma pode descrever a auto-consciência do<br />

homem( 1 Co 2.11). [46] W. D. Stacey argumenta que Paulo não vê o<br />

pneuma como algo que somente o regenerado tem: “Todos os homens têm<br />

pneuma desde o nascimento, mas o pneuma cristão, na comunhão com o<br />

Espírito de Deus, assume um novo caráter e uma nova dignidade” (Rm<br />

8.10). [47]<br />

É interessante observar que pneuma pode se referir à vida após a morte.<br />

Como já vimos, Hebreus 12.23 descreve santos mortos como “os espíritos<br />

dos justos aperfeiçoados”, e ambos, Cristo (Lc 23.46) e Estevão (At 7.59),<br />

como moribundos encomendando seus espíritos a Deus o Pai <strong>ou</strong> Deus o<br />

Filho. Cristo é também dito ter pregado aos “espíritos em prisão”,<br />

obviamente se referindo a pessoas falecidas (1 Pe 3.19).<br />

Pneuma também é em grande parte sinônimo de psyche, as duas palavras<br />

freqüentemente usadas indistintamente no Novo Testamento. Ladd,<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 9 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

contudo, sugere uma distinção entre elas: “O espírito é freqüentemente<br />

usado a respeito de Deus; a alma nunca é usada dessa forma. Isto sugere<br />

que pneuma representa o homem em seu lado voltado para Deus,<br />

enquanto que psyche representa o homem em seu lado humano.” [48] Em<br />

geral, eu concordo com isto, mas há duas exceções. Por exemplo, a psyche<br />

é descrita algumas vezes como l<strong>ou</strong>vando e magnificando o Senhor (Lc<br />

1.46), e Tiago nos diz a respeito da palavra em nós implantada que é capaz<br />

de salvar as nossas almas (psychas, Tg 1.21). Pneuma, está claro, pode ser<br />

usado como designativo da pessoa total; como psyche, ele descreve um<br />

aspecto do homem em sua totalidade.<br />

A próxima palavra que olharemos é kardia, a palavra do Novo Testamento<br />

equivalente a lebh e lebhabh, usualmente traduzida como “coração”.<br />

Arndt-Gingrich dá o seguinte sentido principal da palavra: “a sede da vida<br />

física, espiritual e mental”. Ele é também descrito como o centro e a fonte<br />

da totalidade da vida mais interior do homem, com seu pensamento,<br />

sentimento e vontade. O coração é também dito ser o lugar de morada do<br />

Espírito Santo.<br />

Johannes Behm semelhantemente descreve o coração no Novo Testamento<br />

como o principal órgão da vida psíquica e espiritual, o lugar no ser<br />

humano no qual Deus testemunha de si mesmo. O coração é o centro da<br />

vida mais interior de uma pessoa: de seus sentimentos, entendimento, e<br />

vontade. O coração significa a totalidade do ser interior do homem, a parte<br />

mais profunda dele; ele é sinônimo de ego, a pessoa. Kardia é<br />

supremamente o centro no homem para o qual Deus se volta, no qual a<br />

vida religiosa está enraizada, e que determina a conduta moral. [49]<br />

Anteriormente já observamos que lebh no Antigo Testamento é também<br />

usado para indicar o coração como a sede do pecado, a sede da renovação<br />

espiritual e o lugar da fé. Isto também é verdade de kardia. Além disso,<br />

podemos observar que as <strong>ou</strong>tras virtudes cristãs são descritas como<br />

kardia. O amor é associado com o coração em 2 Tessalonicenses 3.5 e 1<br />

Pedro 1.22. A obediência é ligada ao coração em Romanos 6.17 e em<br />

Colossenses 3.22. O perdão é associado ao coração em Mateus 18.35. O<br />

coração é ligado com humildade em Mateus 11.29, e é descrito como o<br />

assento da pureza em Mateus 5.8 e Tiago 4.8. A gratidão é associada com<br />

o coração em Colossenses 3.16, e a paz é dita guardar o coração em<br />

Filipenses 4.7.<br />

Em uma seção de sua Dogmatics na qual ele trata com “o homem como<br />

alma e corpo”, Karl Barth, falando do coração no Novo e no Antigo<br />

Testamentos, diz:<br />

Se fôssemos verdadeiros com os textos bíblicos deveríamos dizer do<br />

coração que ele é in nuce o homem total em si mesmo, e, portanto, não<br />

somente o locus de sua atividade mas de sua essência...Assim, o coração<br />

não é meramente uma realidade mas a realidade do homem, ambos – da<br />

totalidade da alma e da totalidade do corpo. [50]<br />

Assim, novamente aqui vemos a ênfase bíblica na totalidade do homem.<br />

Kardia significa a pessoa total em sua essência mais interior. No coração a<br />

atitude básica do homem para com Deus é determinada, seja de fé <strong>ou</strong> de<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 10 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

incredulidade, de obediência <strong>ou</strong> de rebelião.<br />

Embora estritamente falando o Antigo Testamento não tenha uma palavra<br />

para corpo, ele usa basar para descrever o aspecto físico do homem, sua<br />

carne. No Novo Testamento há duas palavras para corpo: sarx e soma.<br />

Arndt-Gringrich lista oito significados para sarx, usualmente traduzidos<br />

como “carne”; entre <strong>ou</strong>tros significados estão: “corpo”, “um ser humano”,<br />

“natureza humana”, “limitação física”, “o lado exterior da vida”, e “o<br />

instrumento desejoso do pecado” (particularmente nos escritos de Paulo).<br />

Sarx no Novo Testamento, então possui dois significados principais: (1) o<br />

aspecto externo, físico da existência do homem — neste sentido ele pode<br />

ser usado do homem como um todo; e (2) carne como a tendência dentro<br />

do homem caído para desobedecer a Deus em todas as áreas da vida. [51]<br />

Neste segundo sentido, encontrado principalmente nas epístolas de Paulo,<br />

não devemos restringir o sentido de sarx como se referindo somente ao que<br />

usualmente chamamos de “pecados da carne” (pecados do corpo); ao<br />

contrário, deveríamos entendê-lo como referindo-se aos pecados cometidos<br />

pela pessoa total. Na lista das “obras da carne” (ta erga tes sarkos)<br />

encontrada em Gálatas 5.19-21, onde cinco de quinze dizem respeito aos<br />

pecados do corpo; o restante diz respeito ao que chamamos de “pecados do<br />

espírito”— como ódio, discórdia, ciúme, e que tais. Assim, mesmo quando<br />

a palavra sarks é usada neste segundo sentido, ela diz respeito à pessoa<br />

total, e não apenas a uma parte dela.<br />

Agora nos voltamos para a palavra soma, usualmente traduzida como<br />

“corpo”. Arndt-Gingrich dá cinco significados, incluindo os seguintes: “o<br />

corpo vivo”, “o corpo da ressurreição”, e “a comunidade cristã <strong>ou</strong> igreja”.<br />

Clarence B. Bass, num artigo sobre o corpo nas Escrituras, também lista<br />

cinco definições da palavra soma: “a pessoa total como uma entidade<br />

diante de Deus”, “o locus do espiritual no homem”, “o homem total como<br />

destinado para a membrezia no reino de Deus”, “o veículo para a<br />

ressurreição”, e “o lugar do teste espiritual em termos do qual o<br />

julgamento acontecerá”. [52] Ele chega à seguinte conclusão:<br />

Assim, está claro que o corpo é usado para representar a totalidade do<br />

homem, e milita contra qualquer idéia da visão bíblica do homem como<br />

existindo à parte da manifestação corporal, a menos que seja durante o<br />

estado intermediário [que é, o estado entre a morte e a ressurreição]. [53]<br />

Podemos resumir nossa discussão das palavras bíblicas usadas para<br />

descrever os vários aspectos do homem, como segue: o homem deve ser<br />

entendido como um ser unitário. Ele tem um lado físico e um lado mental<br />

<strong>ou</strong> espiritual, mas não devemos separar esses dois. A pessoa humana deve<br />

ser entendida como uma alma corporificada <strong>ou</strong> um corpo<br />

“espiritualizado” (“animado”). [54] A pessoa humana deve ser vista em sua<br />

totalidade, não como uma composição de diferentes “partes”. Este é o<br />

ensino claro de ambos os Testamentos. [55]<br />

UNIDADE PSICOSOMÁTICA<br />

Embora a Bíblia veja o homem como uma totalidade, ela também<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 11 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

reconhece que o ser humano possui dois lados: o físico e o não-físico. Ele<br />

possui um corpo físico, mas ele também é uma personalidade. Ele tem<br />

uma mente com a qual ele pensa, mas também um cérebro que é parte do<br />

seu corpo, e sem o qual ele não pode pensar. Quando as coisas andam<br />

errada com ele, é necessária uma cirurgia, mas <strong>ou</strong>tras vezes ele pode<br />

precisar de um aconselhamento. O homem é uma pessoa que pode,<br />

contudo, ser vista de dois ângulos.<br />

Como, então, haveremos de expressar esses “dois lados” do homem? Já<br />

observamos as dificuldades relacionadas com o termo dicotomia. Alguns<br />

tem falado de um dualismo, [56] enquanto <strong>ou</strong>tros preferem o termo<br />

dualidade, fazendo maior justiça à unidade do homem. Berk<strong>ou</strong>wer, por<br />

exemplo, explica que “a dualidade e o dualismo não são idênticos de forma<br />

alguma, e...uma referência ao momento dual na realidade cósmica não<br />

implica necessariamente em dualismo.” [57] Semelhantemente, Anderson<br />

diz que “devemos fazer uma distinção entre uma ‘dualidade’ do ser no qual<br />

uma modalidade de diferenciação é constituída como uma unidade<br />

fundamental, e um ‘dualismo’ que opera contra essa unidade”. [58]<br />

Minha preferência, contudo, é falar do homem como uma unidade psicosomática.<br />

A vantagem desta expressão é que ela faz plena justiça aos dois<br />

aspectos do homem, ao mesmo tempo em que enfatiza a sua unidade. [59]<br />

Podemos ilustrar isto olhando para o relacionamento entre a mente e o<br />

cérebro. Reconhecendo que o homem deveria ser tido como uma unidade<br />

com muitos aspectos que constituem um todo indivisível, Donald M.<br />

MacKay faz três comentários significativos a respeito da relação entre<br />

mente e cérebro:<br />

Nós não precisamos retratar a ‘mente’ e o ‘cérebro’ como duas espécies<br />

‘substâncias” que se interagem. Não precisamos pensar dos eventos<br />

mentais e dos eventos cerebrais como dois conjuntos distintos de<br />

eventos...Parece-me suficientemente melhor descrever os eventos mentais<br />

e seus eventos cerebrais correlatos como os aspectos “interiores” e<br />

“exteriores” de uma e da mesma seqüência de eventos, que em sua plena<br />

natureza são mais ricos — tem mais para eles — do que pode ser expresso<br />

tanto numa categoria mental como física, isoladamente. [60]<br />

Nós os estamos considerando [minha experiência consciente e as obras do<br />

meu cérebro] como dois aspectos igualmente reais de uma e da mesma<br />

unidade misteriosa. O observador externo vê um aspecto, como um padrão<br />

físico da atividade cerebral. O próprio agente conhece um <strong>ou</strong>tro aspecto<br />

como sua experiência consciente...O que estamos dizendo é que estes<br />

aspectos são complementares. [61]<br />

O homem, então, existe num estado de unidade psico-somática. Assim,<br />

fomos criados, assim somos agora, e assim seremos após a ressurreição do<br />

corpo. Porque a redenção plena inclui a redenção do corpo (Rm 8.23; 1 Co<br />

15.12-57), visto que o homem não é completo sem o corpo. O futuro<br />

glorioso dos seres humanos em Cristo inclui ambos, a ressurreição do<br />

corpo e uma nova terra purificada e aperfeiçoada. [62]<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 12 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

O ESTADO INTERMEDIÁRIO<br />

Agora, enfrentaremos uma pergunta importante: O que dizer a respeito do<br />

período entre a morte e a ressurreição, o chamado “estado intermediário”?<br />

Quando uma pessoa morre, o que acontece? Visto que alguém não é<br />

completo sem o corpo, então uma pessoa cessa de existir até ao tempo da<br />

ressurreição? Ou ela “existe” num estado completamente inconsciente? Ou<br />

imediatamente após a morte recebe a ressurreição do corpo? Ou ela recebe<br />

uma espécie de corpo intermediário, para ser substituído mais tarde por<br />

um corpo ressuscitado?<br />

A idéia de que o homem cessa de existir entre a morte e a ressurreição,<br />

sustentada pelas Testemunhas de Jeová e pelos Adventistas do Sétimo<br />

Dia, deve ser rejeitada como não-bíblicas. [63] A idéia de que após a morte<br />

as pessoas recebem imediatamente corpos “intermediários” também não<br />

encontra base nas Escrituras. O contraste no Novo Testamento é sempre<br />

entre o corpo presente e o corpo ressuscitado (cf. Fp 3.21; 1 Co 15.42-44).<br />

Os aderentes dessa idéia, às vezes, citam 2 Coríntios 5.1 para provar que<br />

receberemos tais corpos “intermediários”: “Sabemos que, se a nossa casa<br />

terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um<br />

edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus.” Mas esta passagem<br />

fala a respeito da casa eterna no céu. Se tivéssemos que entender esta<br />

“casa eterna” como se referindo a um novo corpo, ela não designaria um<br />

corpo “intermediário”, temporário. [64]<br />

Uma <strong>ou</strong>tra idéia, usualmente chamada de “sono da alma”, é a de que o<br />

homem, <strong>ou</strong> sua “alma” , existe num estado inconsciente entre a morte e a<br />

ressurreição. Esta idéia tem sido sustentada por vários grupos cristãos.<br />

João Calvino escreveu sua primeira obra teológica, Psychopannychia, para<br />

combater os ensinos do sono-da-alma sustentados pelos anabatistas da<br />

sua época. [65] Mais recentemente, esta posição tem sido defendida por G.<br />

Vander Leeuw, [66] Paul Althaus [67] e Oscar Cullmann. [68]<br />

Herman Dooyeweerd, rejeitando a dicotomia alma-corpo, afirma um novo<br />

entendimento dos dois aspectos do homem: coração e “função de<br />

capa” (functie-mantel), sendo este último termo relativo ao corpo, que é a<br />

totalidade de sua existência temporal e a estrutura inteira de todas as<br />

suas funções temporais. [69] O coração e a função-de-capa não devem ser<br />

entendidos como duas substâncias distintas dentro do ser humano, mas<br />

ao contrário, como descrevendo o homem em sua totalidade unitária.<br />

Mas isto não responde à nossa pergunta sobre o que acontece ao ser<br />

humano entre a morte e a ressurreição. Quando a Dooyeweerd foi<br />

perguntado: Que espécie de funções podem ainda ser deixadas para a<br />

“alma” (anima rationalis separata, alma racional separada) quando ela<br />

separada de sua conjunção temporal com as funções pre-psíquicas [70]<br />

(i.e., pós a morte), sua resposta foi: “Nada” (niets!). [71] Em sua resposta,<br />

contudo, Dooyeweerd<br />

Não nega a existência continuada da alma após a morte, nem ele<br />

apresenta o estado da alma desincorporada como sendo de inconsciência.<br />

Todavia, por privar a alma de suas funções temporais, ele parece deixar<br />

somente o mais indefinido dos aspectos no lugar das almas racionais<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 13 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

desincorporadas. [72]<br />

No mesmo raciocínio, Berk<strong>ou</strong>wer afirma que nós não deveríamos concluir<br />

da “negativa” de Dooyeweerd de que ele rejeita a idéia da comunhão com<br />

Cristo após a morte. [73]<br />

Quando Dooyeweerd pronunci<strong>ou</strong> o seu “nada!”, ele estava respondendo a<br />

uma questão a respeito de uma idéia do homem que ele próprio não<br />

subscrevia: a de que o homem possuía duas “partes” separadas, um corpo<br />

mortal inferior e uma “alma racional” superior, indestrutível e imortal — o<br />

ensino dos filósofos gregos antigos. Assim, nós não seríamos justos com<br />

Dooyeweerd se aplicássemos suas palavras ao seu próprio entendimento<br />

do estado intermediário. Não obstante, devemos admitir que a afirmação é<br />

enigmática. Ela tem conduzido muitas a levantar questões a respeito da<br />

posição de Dooyeweerd a respeito do estado dos crentes entre a morte e a<br />

ressurreição. [74]<br />

O ensino central da Bíblia a respeito do futuro do homem é o da<br />

ressurreição do corpo. Mas o Novo Testamento indica que o estado dos<br />

crentes entre a morte e a ressurreição é o de alegria provisória, expressa<br />

no dito de Paulo de ser “incomparavelmente melhor” do que o estado aqui<br />

na terra (Fp 1.23). Se isto é assim, a condição dos crentes durante o<br />

estado intermediário não pode ser um estado de não-existência <strong>ou</strong> de<br />

inconsciência.<br />

Algumas vezes o Novo Testamento simplesmente diz que o crente<br />

continuará a existir neste estado de alegria provisória:<br />

Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o<br />

que hei de escolher. Ora, de um e de <strong>ou</strong>tro lado est<strong>ou</strong> constrangido, tendo<br />

o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.<br />

(Fp 1.22-23)<br />

Jesus, respondendo ao pecador penitente, disse: “Em verdade te digo que<br />

hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23.43)<br />

Temos, portanto, sempre ânimo, sabendo que, enquanto no corpo,<br />

estamos ausentes do Senhor; visto que andamos por fé, e não pelo que<br />

vemos. Entretanto estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo<br />

e habitar com o Senhor. (2 Co 5.6-8)<br />

Na passagem aos Filipenses Paulo contrasta “o viver na carne” com “partir<br />

e estar com Cristo”, sugerindo claramente que é possível para uma pessoa<br />

não mais estar vivendo no presente corpo e, todavia, estar com Cristo —<br />

um estado que é muito melhor que o presente estado. Particularmente<br />

significativo neste ponto é a passagem de 2 Coríntios, onde Paulo<br />

contrasta o “enquanto no corpo” (endem<strong>ou</strong>ntes en to somati) com o estar<br />

“ausente do corpo” (ekdemesai ek t<strong>ou</strong> somatos). Se Paulo tivesse<br />

pretendido descrever a bênção do crente após a ressurreição, ele poderia<br />

Ter usado uma expressão como “ausentes deste corpo”, sugerindo que os<br />

crentes então estariam “habitando” um novo corpo. Mas ele simplesmente<br />

“ausentes do corpo”, dizendo aos seus leitores que ele está pensando de<br />

uma existência entre o corpo presente e o corpo da ressurreição. Observe<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 14 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

que, em ambas as passagens, Paulo afirma que é possível para os crentes<br />

estarem com Cristo, mesmo quando eles não mais vivem em seus<br />

presentes corpos e antes deles receberem seus corpos ressuscitados.<br />

Em <strong>ou</strong>tras vezes, contudo, o Novo Testamento usa as palavras<br />

“alma” (psyche) <strong>ou</strong> “espírito” (pneuma) para se referir aos crentes enquanto<br />

eles continuam a existir entre a morte e a ressurreição. A palavra “alma” é<br />

usada nas seguintes passagens:<br />

Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mt 10.28).<br />

Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas daqueles que<br />

tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do<br />

testemunho que sustentavam (Ap 6.9).<br />

A palavra “espírito é usada nos seguintes textos:<br />

Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém<br />

celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja<br />

dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos<br />

espíritos dos justos aperfeiçoados. (Hb 12.22-23)<br />

Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos<br />

injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado<br />

no espírito, no qual também foi e preg<strong>ou</strong> aos espíritos em prisão, os quais<br />

n<strong>ou</strong>tro tempo foram desobedientes quando a longanimidade de Deus<br />

aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual p<strong>ou</strong>cos,<br />

a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água. (1 Pe 3.18-20)<br />

Assim, às vezes, o Novo Testamento diz que nós que somos crentes,<br />

continuaremos a existir num estado provisório de alegria entre a morte e a<br />

ressurreição, enquanto que em <strong>ou</strong>tras vezes ele diz que as “almas” <strong>ou</strong><br />

“espíritos” dos crentes ainda existirão durante aquele estado. Mas a Bíblia<br />

não usa palavras como “alma” e “espírito” no mesmo modo que nós o<br />

fazemos; dessa forma, estas passagens estão pretendendo tão somente nos<br />

dizer que os seres humanos continuarão a existir entre a morte e a<br />

ressurreição, enquanto esperam a ressurreição do corpo. A Bíblia não nos<br />

dá qualquer descrição antropológica da vida nesse estado intermediário.<br />

Podemos especular a respeito dela, podemos tentar imaginar a que esse<br />

estado será, mas não podemos formar nenhuma idéia clara da vida entre a<br />

morte e a ressurreição. A Bíblia ensina sobre ela, mas não a descreve.<br />

Como Berk<strong>ou</strong>wer diz, o que o Novo Testamento nos conta a respeito do<br />

estado intermediário não é nada mais do que um sussurro. [75]<br />

Embora o homem exista agora no estado de unidade psico-somática, esta<br />

unidade poderá ser temporariamente rompida no tempo da morte. Em 2<br />

Coríntios 5.8 Paulo ensina claramente que os seres humanos podem<br />

existir à parte de seus corpos presentes. O mesmo ponto é assinalado em<br />

duas <strong>ou</strong>tras passagens do Novo Testamento:<br />

A fim de que sejam os vossos corações confirmados em santidade, isentos<br />

de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor<br />

Jesus Cristo, com todos os seus santos. (1 Ts 3.13)<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 15 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Pois se cremos que Jesus morreu e ressuscit<strong>ou</strong>, assim também Deus,<br />

mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem. (1<br />

Ts 4.14)<br />

Ambos os textos falam a respeito dos “santos” e “daqueles que dormem<br />

com Cristo”, como existindo após a morte e antes da ressurreição —<br />

observe que a ressurreição daqueles que dormiram em Cristo é<br />

mencionada mais tarde em 1 Tessalonicenses 4.16. [76] Pode ser<br />

observado também que neste verso a expressão “mortos em Cristo”<br />

claramente sugere que os crentes falecidos ainda estão em algum estado<br />

de existência antes da ressurreição.<br />

O estado normal do homem é o da unidade psico-somática. No tempo da<br />

ressurreição ele será restaurado plenamente ao da unidade e, assim, uma<br />

vez mais, será tornado completo. Mas nós devemos reconhecer que,<br />

segundo o ensino bíblico, os crentes podem existir temporariamente num<br />

estado de alegria provisória, mesmo fora de seus corpos presentes durante<br />

o “tempo” entre a morte e a ressurreição. Este estado intermediário e,<br />

contudo, incompleto e provisório. Nós anelamos para a ressurreição do<br />

corpo e a nova terra como o clímax final do programa redentor de Deus.<br />

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS<br />

O entendimento do homem como uma pessoa total, como foi desenvolvido<br />

neste capítulo, tem importantes implicações práticas.<br />

Primeira, a igreja deve estar preocupada com a pessoa total. Em sua<br />

pregação e em seu ensino a igreja deve dirigir-se não somente às mentes<br />

daqueles a quem ela serve, mas também às suas emoções e suas vontades.<br />

A pregação que meramente comunica informação intelectual a respeito de<br />

Deus <strong>ou</strong> da Bíblia está seriamente inadequada; os <strong>ou</strong>vintes devem ser<br />

despertados em seus corações e movidos a l<strong>ou</strong>var a Deus. Os professores<br />

na escola dominical devem fazer mais do que simplesmente dar aos alunos<br />

uma rota de “conhecimento” versos da Bíblia <strong>ou</strong> das afirmações<br />

d<strong>ou</strong>trinárias; seu ensino deve exigir uma resposta que envolva todos os<br />

aspectos da pessoa. Os programas da igreja para a juventude não deveria<br />

negligenciar o corpo; os esportes e as atividades externas deveriam ser<br />

encorajadas como um aspecto da vida cristã globalizada.<br />

Em sua tarefa evangelista e missionária, a igreja deveria lembrar-se<br />

também que ela está tratando com pessoas completas. Embora o propósito<br />

principal de missões seja confrontar as pessoas com o evangelho, de forma<br />

que elas possam se arrepender de seus pecados e serem salvas através da<br />

fé em Cristo, todavia a igreja nunca deve se esquecer que os objetos de sua<br />

empreitada missionária têm necessidades tanto físicas quanto espirituais.<br />

Com isto em mente, o fato de que o homem é um ser unitário, deveríamos<br />

evitar expressões como “salvar a alma” quando descrevendo a tarefa do<br />

missionário, e deveríamos optar por uma abordagem holística <strong>ou</strong><br />

abrangente em missões. Esta abordagem, que algumas vezes é conhecida<br />

como “o ministério da palavra e das ações”, direciona o missionário a estar<br />

preocupado não somente a respeito de ganhar convertidos para Cristo,<br />

mas também em melhorar as condições de vida desses convertidos e seus<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 16 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

vizinhos, trabalhando em áreas como agricultura, dietética e saúde. O<br />

estabelecimento de escolas para a educação cristã dos nacionais e a<br />

manutenção de clínicas e hospitais tanto para o cuidado da saúde<br />

rotineira como da emergencial, entretanto, não deve ser considerado como<br />

estranho à província da atividade missionária da igreja, mas como um<br />

aspecto essencial dela. Arthur F. Glasser, ex-deão da Escola de Missões<br />

Mundiais do Seminário Teológico Fuller (California), diz que na tarefa como<br />

missionários cristãos,<br />

O desenvolvimento da fé individual e interior deve ser acompanhado por<br />

uma obediência solidária e exterior ao mandato cultural extensamente<br />

detalhado na Santa Escritura. O mundo deve ser servido, não evitado. A<br />

justiça social deve ser promovida, e as questões de guerra, racismo,<br />

pobreza e desequilíbrio econômico devem se tornar uma preocupação ativa<br />

e participativa daqueles que professam crer em Jesus Cristo. Não é<br />

suficiente que a missão cristã seja redentora; ela também deve ser<br />

profética. [77]<br />

A escola deveria também estar preocupada a respeito da pessoa total.<br />

Embora um dos principais propósitos da escola seja a instrução<br />

intelectual, o professor nunca deveria esquecer que o aluno que está<br />

ensinando é uma pessoa total. A escola, portanto, não deveria treinar<br />

apenas a mente, mas deveria apelar para as emoções e vontade, visto que<br />

o ensino eficaz deve produzir no aluno tanto o amor pela matéria como um<br />

desejo de aprender mais a respeito dela. Além disso, as escolas deveriam<br />

evidenciar uma preocupação pelo corpo assim como pela mente. Os<br />

esportes de espectadores, no qual p<strong>ou</strong>cos jogam e muitos meramente<br />

observam, têm o seu lugar, mas muito mais importante para o corpo<br />

discente como um todo é um bom programa de educação física, com uma<br />

ênfase nos esportes de jogos internos que envolvam todos os estudantes.<br />

O conceito da pessoa total tem também implicações para a vida de família.<br />

Os pais crentes ficarão preocupados em ensinar a seus filhos a respeito de<br />

Deus, em treiná-los na vida cristã, e a discipliná-los em amor quando<br />

carecem disto. Mas os pais devem também estar preocupados a respeito de<br />

assuntos como uma dieta saudável e própria para o cuidado do corpo.<br />

Está sendo cada vez mais reconhecido hoje que um programa regular de<br />

exercício físico é essencial para uma boa saúde; os pais, portanto,<br />

deveriam tentar ensinar a seus filhos o cuidado do corpo, não somente por<br />

preceito mas também pelo exemplo.<br />

Além disso, o conceito da pessoa total tem implicações para a medicina.<br />

Em reconhecimento do fato de que o homem é uma unidade psicosomática,<br />

a ciência médica desenvolveu recentemente uma abordagem<br />

chamada medicina holística. [78] A medicina holística tem sido definida<br />

como “um sistema de saúde que enfatiza a responsabilidade pessoal para<br />

a própria saúde e empenha-se por um relacionamento cooperativo entre<br />

todos os envolvidos em proporcionar cuidados de saúde.” [79] Os<br />

praticantes da saúde holística “enfatizam a necessidade da busca pela<br />

pessoa total, incluindo condição física, nutrição, maquiagem emocional,<br />

estado espiritual, valores de estilo de vida e ambiente.” [80]<br />

Num livro fascinante entitulado Anatomy of an Illness (“Anatomia de uma<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 17 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Doença”) Norman C<strong>ou</strong>sins faz um comentário de que um dos aspectos<br />

mais importantes na recuperação de uma doença está na “vontade de<br />

viver”: “A vontade de viver não é uma abstração teórica, mas uma<br />

realidade fisiológica com características terapêuticas.” [81] C<strong>ou</strong>sins relata<br />

que centenas de médicos lhe têm dito que “nenhum remédio que eles<br />

podem dar aos pacientes foi tão potente como o estado de alma que um<br />

paciente traz para sua própria doença.” [82] Segundo C<strong>ou</strong>sins, nos<br />

exercícios de graduação da Escola de Medicina da Universidade John<br />

Hopkins em 1975, o Dr. Jerome D. Frank disse aos graduandos “que<br />

qualquer tratamento de uma doença que não ministre também ao espírito<br />

humano é grosseiramente deficiente.” [83] A Conclusão é clara: A cura e a<br />

manutenção da saúde física envolve a pessoa total. Médicos, enfermeiras,<br />

pastores e pacientes devem sempre ter isto em mente. [84]<br />

Finalmente, o conceito da pessoa total tem implicações importantes para a<br />

psicologia e para o aconselhamento. Estudos recentes de psicologia têm<br />

levado a uma nova ênfase na totalidade do homem — uma ênfase que é<br />

chamada algumas vezes de “teoria organísmica”. [85] Hall and Lindzey<br />

afirmam que a nova ênfase em psicologia sobre a pessoa total é uma<br />

reação contra o dualismo mente-corpo, a psicologia das faculdade, e o<br />

behaviorismo (comportamentalismo). Esta nova ênfase, eles dizem, tem<br />

sido grandemente aceita:<br />

Quem há em psicologia hoje que não seja um proponente dos principais<br />

princípios da teoria organísmica que o total é algo além da soma de suas<br />

partes, que o que acontece a uma parte acontece ao todo, e que não há<br />

nenhum compartimento separado dentro do organismo? [86]<br />

Os conselheiros devem lembrar-se também do fato de que o homem é uma<br />

pessoa total. Eles deveriam ser treinados a reconhecer os problemas que<br />

requerem a especialidade de <strong>ou</strong>tros além de si mesmos, e deveriam<br />

encaminhar seus aconselhandos, quando necessário, a médicos e<br />

psiquiatras. Os problemas mentais não deveriam ser tidos como<br />

totalmente distintos dos problemas físicos, porque nenhum tipo de<br />

problema está sempre separado do <strong>ou</strong>tro. Visto drogas anti-depressivas<br />

podem curar certos tipos de depressão, um conselheiro sábio fará uso<br />

desses meios. Pacientes que possuem problemas muito profundos, de fato,<br />

podem mais eficazmente ser curados através de esforços combinados de<br />

uma equipe terapêutica, consistindo, talvez, de um psicólogo, um<br />

assistente social, um médico e um psiquiatra. [87]<br />

O conselheiro não deveria pensar de uma saúde mental e espiritual como<br />

coisas totalmente separadas. Visto que o homem é uma pessoa total, o<br />

espiritual e o mental são aspectos de uma totalidade, de forma que cada<br />

aspecto influencia e é influenciado pelo <strong>ou</strong>tro. Howard Clinebell diz o<br />

seguinte: “A saúde espiritual é um aspecto indispensável da saúde mental.<br />

Os dois podem estar separados somente numa base teórica. Nos seres<br />

humanos vivos, a saúde espiritual e mental estão inseparavelmente<br />

entrelaçadas.” [88]<br />

Algumas vezes o conselheiro pastoral pode pensar que a mera<br />

citação dos versos da Bíblia pode ser tudo o de que necessita para ajudar o<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 18 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

membro da igreja a resolver um difícil problema espiritual. Mas um<br />

entendimento do homem como uma pessoa total conduz-nos a perceber<br />

que tal abordagem pode ser totalmente inadequada. David G. Benner, num<br />

artigo no qual ele desafia a opinião comum de que a personalidade<br />

humana pode ser dividida em duas partes, uma “parte” espiritual e uma<br />

psicológica, ilustra seu ponto da seguinte maneira:<br />

A tentação, portanto, de rotular a dificuldade de uma pessoa em aceitar o<br />

perdão de Deus de seus pecados como um problema espiritual deve ser<br />

resistido a fim de deixar o conselheiro muitíssimo aberto para tratar com<br />

ambos os aspectos, psicológico e espiritual, daquele problema. Assumir<br />

natureza espiritual essencial e proceder por meio de uma apresentação<br />

explícita de certas verdades bíblicas é esquecer que o perdão, esteja ele<br />

sendo dado <strong>ou</strong> recebido, é mediado por processos psico-espirituais da<br />

personalidade e, portanto, esses <strong>ou</strong>tros fatores psicológicos podem<br />

também estar envolvidos e <strong>ou</strong>tras técnicas sejam apropriadas. [89]<br />

O conselheiro cristão, portanto, deveria ver os problemas de seus<br />

aconselhandos como problemas da pessoa total. Ele deveria não somente<br />

tratar com o aconselhando como uma pessoa total, mas deveria também<br />

tentar restaurá-lo à sua totalidade, que é a marca de uma vida saudável e<br />

piedosa. [90]<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 19 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

NOTAS:<br />

[1] G. C. Berk<strong>ou</strong>wer, De Mens het Beeld Gods (Kampen: Kok, 1957), p. 211.<br />

Cf. Ray S. Anderson, On Being Human (Grand Rapids: Eerdmans, 1982), p.<br />

213.<br />

[2] John A. T. Robinson, The Body (London: SCM Press, 1952), p. 16.<br />

[3] A System of Biblical Psychology, (Edinburgh: T & T Clark, 1867), p. 16.<br />

[4] Bijbelsche en Religieuze Psychologie (Kampen: Kok, 1920), p. 13.<br />

[5] Man, p. 195.<br />

[6] Ver acima, p. 75-82 (texto em inglês)<br />

[7] Ver acima, p. 34-35 (texto em inglês).<br />

[8] Ver L<strong>ou</strong>is Berkhof, History of Christian Doctrines (Grand Rapids:<br />

Eerdmans, 1937), p. 106-107; J. L. Neve, A History of Christian Th<strong>ou</strong>ght<br />

(Philadelphia: United Lutheran Publication H<strong>ou</strong>se, 1943), p. 126;<br />

Anderson, On Being Human, p. 207-8.<br />

[9] Man, p. 209. Ver também o comentário de A. Grillmeier citado em n.20.<br />

Dichotomy é a idéia de que o homem deve ser entendido como consistindo<br />

de duas “partes”, corpo e alma.<br />

[10] J. N. D. Kelly, Early Christian Doctrines (London: Black, 1958), p. 292.<br />

[11] System of Biblical Psychology, pp. Vii, 247-66.<br />

[12] The Tripartite Nature of Man (Edinburgh: T & T Clark, 1866).<br />

[13] Outlines of Biblical Psychology, (Edinburgh: T & T Clark, 1877), p. 38.<br />

[14] Theology of the Old Testament, edit. G. E. Day (1873; Grand Rapids:<br />

Zondervan), 149-51.<br />

[15] The Release of the Spirit (Indianapolis: Sure F<strong>ou</strong>ndation, 1956), 6.<br />

[16] The Handbook of Happiness (Denver: Heritage H<strong>ou</strong>se Publications,<br />

1971), 28; ver também p. 27-58.<br />

[17] Wilfred Brockelman, Gothard, The Man and his Ministry: An Evaluation<br />

(Santa Barbara: Quill Publications, 1976), 85-96.<br />

[18] The Scofield Reference Bible (New York: Oxford University Press, 1909),<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 20 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

no texto de 1 Ts 5.23; The New Scofield Reference Bible (New York: Oxford<br />

University Press, 1967) no texto de 1 Ts 5.23.<br />

[19] Bijbelsche en Religieuze Psychologie, 53. Cf. TDNT, 6:395.<br />

[20] Sobre a interpretação de Hb 4.12 e 1 Ts 5.23, ver Bavinck, Bijbelsche<br />

Psychologie, 58-59; L<strong>ou</strong>is Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas: Luz<br />

Para o Caminho, 199....), p.......; Berk<strong>ou</strong>wer, Man, 210; Sobre Hb 4.12 ver<br />

também F. F. Bruce, The Epistle to the Hebrews, in the New International<br />

Commentary sobre a série do Novo Testamento (Grand Rapids: Eerdmans,<br />

1964), 80-83; Para uma defesa do pensamento tricotômico, ver F.<br />

Delitzsch, The Epistle to the Hebrews, (Edinburgh: T. & T. Clark, 202-14,<br />

especialmente 212-14.<br />

[21] Teologia Sistemática, p..........; cf ª H. Strong, Systematic Theology, vol.<br />

2 (Philadelphia: Griffith and Rowland, 1907), 483-88; J. T. Mueller,<br />

Christian Dogmatics, (St. L<strong>ou</strong>is: Concordia, 1934), 184; H. C. thiessen,<br />

Introductory Lectures in Systematic Theology (Grand Rapids: Eerdmans,<br />

1949), 225-26; Gordon H. Clark, The Biblical Doctrine of Man (Jefferson,<br />

MD: The Trinity F<strong>ou</strong>ndation, 1984), 33-45.<br />

[22] Cf o meu livro A Bíblia e o Futuro, (pp 86-87 edição em inglês). Sobre<br />

este ponto ver também Berk<strong>ou</strong>wer, Man, 212-22.<br />

[23] The Body, 16.<br />

[24] G. E. Ladd, A Theology of the New Testament (Grand Rapids:<br />

Eerdmans, 1974), 457.<br />

[25] Francis Brown, S. R. Driver, e Charle Briggs, Hebrew and English<br />

Lexicon of the Old Testament (New York: H<strong>ou</strong>ghton Mifflin, 1907).<br />

[26] Provavelmente o exemplo mais conhecido do uso dessa palavra se<br />

referindo ao homem seja Gn 2.7 – “Então form<strong>ou</strong> o Senhor Deus ao<br />

homem do pó da terra, e lhe sopr<strong>ou</strong> nas narinas o fôlego da vida, e o<br />

homem pass<strong>ou</strong> a ser alma vivente (nephesh chayyah)”.<br />

[27] “Psyche”, TDNT, 9:620.<br />

[28] The Pauline View of Man (London: Macmillan, 1956), 90.<br />

[29] F. H. Von Meyenfeldt, Het Hart (Leb, Lebab) in het Oude Testament<br />

(Leiden: E. J. Brill, 1950), 218-19.<br />

[30] Wijsbegeerte der Wetsidee, vol. 1 (Amsterdam: H. J. Paris, 1935), 30.<br />

[31] On Being Human, 211.<br />

[32] The Christian Doctrine of Man (Edinburgh: T. & T. Clark, 1911), 26.<br />

[33] “Basar”, na obra de G. Johannes Botterweck e Helmer Ringgren,<br />

editores, Theological Dictionary of the Old Testament, (Grand Rapids:<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 21 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

Eerdmans, 1977), p. 325.<br />

[34] Ibid., 325.<br />

[35] Anthropologie des Alten Testaments (Munich: Chr. Kaiser, 1973), 55.<br />

[36] F. B. Knutson, “Flesh”, ISBE, 2.314.<br />

[37] “Corpo”, ibid., 1:528-29. Observe também o comentário de J. Pedersen:<br />

“Alma e corpo [no uso do Antigo Testamento] são tão intimamente unidos<br />

que uma distinção não pode ser feita entre eles. Eles são mais do que<br />

‘unidos’; o corpo é a alma em sua forma exterior” (Israel: Its Life and<br />

Culture, vol. 1 [London: Oxford University Press, 1926], 171).<br />

[38] The Christian Doctrine of Man, 27.<br />

[39] William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the<br />

New Testament and Other Early Christian Literature (Chicago: Univsersity<br />

of Chicago Press, 1957).<br />

[40] “Psyche”, TDNT, 9:639.<br />

[41] Ibid., 642.<br />

[42] Ibid., 644.<br />

[43] Ibid., 648.<br />

[44] Ibid., 654.<br />

[45] “Pneuma”, TDNT, 6:435.<br />

[46] Ladd, A Theology of the New Testament, 461-63.<br />

[47] The Pauline View of Man, 135.<br />

[48] New Testament Theology, 459.<br />

[49] “Kardia”, TDNT, 3:611-12.<br />

[50] Church Dogmatics (Edinburgh: T. & T. Clark, 1960), III/2, 436.<br />

[51] Um estudo mais antigo, embora competente, a respeito do significado<br />

de sarx nos escritos de Paulo é o de Wm. P. Dickson, St. Paul’s Use of the<br />

Terms Flesh and Spirit (Glasgow: Maclehose, 1883). Um estudo mais<br />

recente é o de J. A. Robinson, The Body (1952.<br />

[52] “Body, ISBE, 1:529.<br />

[53] Ibid.<br />

[54] Barth, Church Dogmatics, III/2, 350.<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 22 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

[55] Em acréscimo aos estudos da visão bíblica sobre a pessoa total referida<br />

acima, podemos enumerar os seguintes: G. C. Berk<strong>ou</strong>wer, “The Whole<br />

Man”, em Man, 194-233; C. A. Van Peursen, Body, S<strong>ou</strong>l, Spirit: A Survey of<br />

the Body-Mind Problem, (London: Oxford University Press, 1966); H.<br />

Ridderbos, Paul: Na Outline of His Theology (Grand Rapids: Eerdmans,<br />

1975), 64-68, 114-26; Rudolf Bultmann, Theology of the New Testament,<br />

vol. 1 (New York: Scribner, 1951), 190-227; Werner G. Kümmel, Man in the<br />

New Testament (London: Epworth, 1963); Robert Jewett, Paul’s<br />

Anthropological Terms (Leiden: E. J. Brill, 1971).<br />

[56] John Cooper, “Dualism and the Biblical View of Human Beings”,<br />

Reformed J<strong>ou</strong>rnal 32, no. 9 e 10 (Setembro e Outubro de 1982).<br />

[57] Man, 211.<br />

[58] On Being Human, 209. Ver também Robert H. Gundry, Soma in Biblical<br />

theology (Cambridge: Cambridge University Press, 1976), 83. Gundry<br />

prefere “dualidade” ao invés de “dualismo” como sendo ensinado em<br />

ambos os Testamentos, particularmente nos escritos de Paulo.<br />

[59] Este termo também é usado por John Murray, “Thrichotomy”, em sua<br />

obra Collected Writings of John Murray, vol. 2 (Edinburgh: Banner of Truth<br />

Trust, 1977), 33 (“o homem é um ‘ser psico-somático”); e por G. W.<br />

Bromiley, “Anthropology”, ISBE, 1:134 (“o homem tem um lado físico e um<br />

lado espiritual...ambos pertencem conjuntamente a uma unidade psicosomática”);<br />

ver também Henry Stob, Ethical Reflections (Grand Rapids:<br />

Eerdmans, 1978), 226.<br />

[60] Donald M. MacKay, Brains, Machines and Persons (Grand Rapids:<br />

Eerdmans, 1980), 14.<br />

[61] Ibid., 83. Mais nesse livro (p. 101) MacKay descreve a vida futura do<br />

cristão dum modo no qual ele parece deixar lugar somente para a<br />

ressurreição do corpo e não para uma existência continuada do crente no<br />

estado intermediária (ver abaixo, p. 218-22). Se esta é a posição de<br />

MacKay, eu não concordaria com ele. Podemos ainda, contudo, aceitar as<br />

afirmações feitas nas citações acima como descrições corretas da unidade<br />

da mente com o cérebro durante esta presente vida.<br />

[62] Ver esse assunto no meu livro A Bíblia e o Futuro, capítulos 17 e 20.<br />

[63] Ver meu trabalho The F<strong>ou</strong>r Major Cults (Grand Rapids: Eerdmans,<br />

1963), 345-71.<br />

[64] Para uma interpretação diferente da “casa eterna no céu”, ver A Bíblia<br />

e o Futuro, pp. 104-6 (em inglês).<br />

[65] Ver Calvino, Tracts and Treatises of the Reformed Faith, ,vol. 3, (Grand<br />

Rapids: Eerdmans, 1958), 413-90.<br />

[66] Onsterfelijkheid of Opstanding, (Assen: Van Gorcum, 1936).<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 23 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

[67] Die Letzten Dinge, (1922: Gütersloh: bertelsmann, 1957).<br />

[68] Immortality of the S<strong>ou</strong>l or Resurrection of the Dead? (New York:<br />

Macmillan, 1964), 10-11.<br />

[69] William G. Y<strong>ou</strong>ng, “The Nature of Man in the Amsterdam Philosophy”,<br />

Westminster Theological J<strong>ou</strong>rnal 22, no. 1 (Novembro, 1959):7.<br />

[70] A saber, as funções aritméticas, especiais, físicas e orgânicas.<br />

[71] Herman Dooyeweerd, “Kuyper’s Wetenschapsleer”, Philosophia<br />

Reformata 4 (1939): 204.<br />

[72] Y<strong>ou</strong>ng, “The Nature of Man”, 10.<br />

[73] Man, 256.<br />

[74] Ver a discussão de Berk<strong>ou</strong>wer sobre este assunto em Man, 255-257.<br />

[75] De Wederkomst van Christus, vol. 1 (Kampen: Kok, 1961), 79. Sobre o<br />

estado intermediário, ver adicionalmente Berk<strong>ou</strong>wer, The Return of Christ,<br />

(Grand Rapids: Eerdmans, 1972), 32-64; e A Bíblia e o Futuro, 92-108<br />

(texto inglês)<br />

[76] Sobre esses versos ver W. Hendriksen, I and II Tessalonians, no<br />

Comentário do Novo Testamento (Grand Rapids: Baker, 1955); Leon<br />

Morris, The First and Second Epistles to the Thessalonians, in the New<br />

International Commentary on the New Testament Series (Grand Rapids:<br />

Eerdmans, 1959).<br />

[77] “Missiology”, no Evangelical Dictionary of Theology, editado por Walter ª<br />

Elwell (Grand Rapids: Baker, 1984), 726. Ver também William Dyrness, Let<br />

the Earth Rejoice: A Biblical Theology of Holistic Mission (Westchester, IL:<br />

Crossway Books, 1983); Francis M. Dubose, God who Sends: a Fresh<br />

Quest for Biblical Mission (Nashville: Broadman Press, 1983); e J. H. Boer,<br />

Missions: Heralds of Capitalism <strong>ou</strong> Christ? (Ibadan, Nigeria: Day Star Press,<br />

1984).<br />

[78] The American Holistic Medical Association foi fundada em Maio de<br />

1978.<br />

[79] “Holistic Medicine”, Encyclopedia Americana, vol. 14 (Danbury, CT:<br />

Grolier, 1983), 294.<br />

[80] Ibid.<br />

[81] New York: Norton, 1979, 44.<br />

[82] Ibid., 139.<br />

[83] Ibid., 133.<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 24 of 25<br />

22/3/2008


A <strong>Pessoa</strong> <strong>Total</strong>, <strong>Tricotomia</strong> <strong>ou</strong> <strong>Dicotomia</strong>?<br />

[84] Entre a <strong>literatura</strong> volumosa sobre a medicina holística, os seguintes<br />

estudos podem ser observados: David Allen, Whole Person Medicine<br />

(Downers Grove: InterVarsity Press, 1980); Ed Gaedwag, Inner Balance:<br />

The Power of Holistic Healing (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1979);<br />

Jack La Patra, Healing: The Coming Revolution in Holistic Medicine (New<br />

York: McGraw, 1978); Morton Walker, <strong>Total</strong> Health: The Holistic Alternative<br />

to Traditional Medicine (New York: Everest H<strong>ou</strong>se, 1979).<br />

[85] Ver “Organismic Theory” na obra de Calvin S. Hall e Gadner Lindzey,<br />

Theories of Personality, (New York: John Wiley, 1970), 298-337. Observe a<br />

bibliografia no final do capítulo.<br />

[86] Ibid., 330<br />

[87] Karl Menninger The Vital Balance (New York: Viking Press, 1963), 335.<br />

[88] Mental Health Thr<strong>ou</strong>gh Christian Community (Nashville: Abingdon,<br />

1965), 20.<br />

[89] “What God Hath Joined: The Psychospiritual Unity of Personality”, The<br />

Bulletin: Christian Association for Psychological Studies 5, no. 2 (1979): 11.<br />

[90] Sobre a pessoa total, veja também Salvatore R. Maddi, Personality<br />

Theories (Homewood, IL: Dorsey Press, 1980).<br />

Capítulo 12 do excelente livro “Criados à Imagem de Deus”, da Cultura<br />

Cristã.<br />

http://www.monergismo.com/<br />

Este site da web é uma realização de<br />

Felipe Sabino de Araújo Neto ®<br />

Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.<br />

TOPO DA PÁGINA<br />

Estamos às ordens para comentários e sugestões.<br />

Livros Recomendados<br />

Recomendamos os sites abaixo:<br />

Academia Calvínia/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela /Textos da reforma / Thirdmill<br />

Editora Cultura Cristã /Editora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova<br />

http://www.monergismo.com/textos/antropologia_biblica/tricotomia_hoekema.htm<br />

Page 25 of 25<br />

22/3/2008

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!