Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Poemas<br />
Canção do exílio<br />
Murilo Men<strong>de</strong>s<br />
Minha terra tem macieiras da Califórnia<br />
on<strong>de</strong> cantam gaturamos <strong>de</strong> Veneza.<br />
Os poetas da minha terra<br />
são pretos que vivem em torres <strong>de</strong> ametista,<br />
os sargentos do exército são monistas, cubistas,<br />
os filósofos são polacos ven<strong>de</strong>ndo a prestações.<br />
A gente não po<strong>de</strong> dormir<br />
com os oradores e os pernilongos.<br />
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.<br />
Eu morro sufocado<br />
em terra estrangeira.<br />
Nossas flores são mais bonitas<br />
nossas frutas mais gostosas<br />
mas custam cem mil réis a dúzia.<br />
Ai quem me <strong>de</strong>ra chupar uma carambola <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />
e ouvir um sabiá com certidão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>!<br />
167<br />
O poeta Murilo<br />
Men<strong>de</strong>s nasceu em<br />
Juiz <strong>de</strong> Fora (MG),<br />
em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
1901, e faleceu em<br />
Lisboa (Portugal),<br />
em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />
1975. Algumas<br />
obras: Poemas<br />
(1930), Tempo e<br />
eternida<strong>de</strong> (com Jorge<br />
<strong>de</strong> Lima, 1935), As<br />
metamorfoses (1944),<br />
Mundo enigma<br />
(1945), Contemplação<br />
<strong>de</strong> Ouro Preto<br />
(1954), Poliedro<br />
(1974), Ipotesi (ed.<br />
italiana, 1978).