Poesia - Academia Brasileira de Letras
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Não haverá mais nem um operário,<br />
Não haverá mais nem uma rosa.<br />
Eu mesma estarei sepultada<br />
Debaixo <strong>de</strong> pedra e dilúvio.<br />
Em cima das pedras, sozinho,<br />
Um urubu vestido com as cores do arco-íris<br />
Dará milho ao fantasma <strong>de</strong> Deus.<br />
O filho pródigo<br />
Serenamente? A alma insatisfeita<br />
Viemos cortando as águas tenebrosas,<br />
Impulsionados pelos ventos largos.<br />
Meu pai me espera na varanda amena.<br />
(“Digo sim ao meu filho<br />
Que volta para sugar meu sangue,<br />
Acompanhado dos pássaros do meio-dia<br />
Voando entre as arcadas tristes.<br />
Solto na frente a estátua número três.<br />
Se ouvem os clarins das vitrolas.”)<br />
E todos me felicitam vivamente.<br />
Tenho uma gran<strong>de</strong> ação a cumprir:<br />
Falta-me coragem...<br />
O peso <strong>de</strong>sta ação a cumprir<br />
Pesa <strong>de</strong>mais sobre mim.<br />
Além disto preciso eliminar<br />
O céu, o inferno, o purgatório.<br />
Serei talhado à imagem e semelhança da pedra.<br />
Girândolas, foguetes, abraços.<br />
Meu irmão:<br />
188<br />
Murilo Men<strong>de</strong>s