15.04.2013 Views

Documento - Proteção Radiologica

Documento - Proteção Radiologica

Documento - Proteção Radiologica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa<br />

Mestrado em Radiações Aplicadas às tecnologias da Saúde<br />

Protecção Contra Radiações<br />

EPIDEMILOGIA APLICADA<br />

A Justificação do risco<br />

Actualidade e desenvolvimentos da exposição<br />

radiológica em medicina<br />

Rui Esteves<br />

2011


A Justificação do risco radiológico<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 2


A Justificação do risco radiológico<br />

Índice<br />

I. Introdução ........................................................................................................................... 4<br />

<strong>Proteção</strong> <strong>Radiologica</strong> ................................................................................................................. 4<br />

II. Desenvolvimento ................................................................................................................ 6<br />

Risco radiologico ....................................................................................................................... 7<br />

III. Conclusão .......................................................................................................................... 10<br />

IV. Referências ........................................................................................................................ 13<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 3


A Justificação do risco radiológico<br />

I. Introdução<br />

<strong>Proteção</strong> Radiológica<br />

Com o abandono da hipótese do limiar de dose-resposta para os efeitos<br />

mutagenicos e carcinogénicos provocados pela radiação, o objetivo de<br />

minimizar estes efeitos tornou-se mais evidente com a proteção radiológica.<br />

Foram recomendadas e seguidas varias guidelines na prossecução desse<br />

objetivo sempre que qualquer atividade utilizasse radiações ionizantes. Destas<br />

recomendações surgem os 3 princípios teóricos da proteção radiológica, que se<br />

traduzem por:<br />

Justificação – Toda a atividade que utilize radiações ionizante não<br />

deve ser justificada, a menos que desta utilização advenha um<br />

benefício para a pessoa exposta para a sociedade em geral<br />

Otimização – Principio (ALARA) diz que a dose ou o risco de<br />

exposição deve ser mantido tão baixo quanto razoavelmente possível,<br />

acautelando sempre todos os fatores económicos e sociais.<br />

Limitação da Dose – O risco de exposição e o resultado das dose<br />

individuais estão sujeitas a um controlo dos limites de operação.<br />

A limitação das doses são impostas com o objetivo de se reduzir os efeitos<br />

determinísticos da radiação, e em consequência os efeitos estocásticos. No<br />

entanto não se espera um proteção completa contra os efeitos mutagénicos e<br />

carcinogenicos da radiação, uma vez que pode não existir limiar para estes<br />

efeitos. Os limites impostos são considerados suficientemente baixos para evitar<br />

os efeitos mutagénicos e carcinogénicos.<br />

As instalações de imagiologias estão sujeitas a certas regras para poderem<br />

funcionar, que estão implícitas nas guidelines recomendadas :<br />

Desenho apropriado para o desempenho em radiologia<br />

Planeamento cuidadoso e operacionalização de procedimentos,<br />

incluindo a calibração de equipamentos radiológicos<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 4


A Justificação do risco radiológico<br />

Programa de proteção contra radiações bem delineado<br />

Assegurar se os trabalhadores se encontram todos credenciados para<br />

manipular os equipamentos de produção da radiação, bem como se<br />

estão treinados e supervisionados<br />

Plano de proteção pronto para responder com eficiência a uma<br />

emergência radiológica em caso de incidente com radiações<br />

As doses de radiação com origem nos atos médicos em adição ás doses<br />

provenientes do Radão ambiental instalado nos materiais utilizados na<br />

construção das habitações, são as fontes de radiação mais importantes e que<br />

contribuem com maior exposição ás radiações ionizantes para os membros do<br />

público em geral. Existem ainda outras fontes de exposição que requerem<br />

proteção contra radiações, como a deposição de milhões de metros cúbicos de<br />

material radioativo proveniente das muitas centrais nucleares a nível mundial, do<br />

desmantelamento das fontes de radiação médica, produtos reagentes<br />

farmacêuticos, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos entre muitas outras<br />

contaminações.<br />

Os efeitos da radiação na saúde são muito diversos, e podem variar desde<br />

efeitos carcinogénios, malformações neonatais, e desordens herditários ,<br />

podendo manifestar-se, meses ou até mesmo décadas após a irradiação.<br />

A natureza, a frequência e a severidade dos efeitos, dependem da qualidade da<br />

radiação em questão, tal como com a dose e as condições em que ocorre a<br />

exposição. Para muitos efeitos, as radiossensibilidades variam com a taxa de<br />

proliferação celular e com o inverso do grau de diferenciação da celular, para as<br />

células expostas, respetivamente. Este é o resultado dos efeitos da radiação na<br />

fase embrionária e em crianças em desenvolvimento. No entanto, muitos efeito<br />

necessitam de altas taxas de dose para ocorrerem. De modo a minimizar os<br />

efeitos da dose de radiação ionizante, torna-se necessário a imposição de limites<br />

de dose.<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 5


A Justificação do risco radiológico<br />

II. Desenvolvimento<br />

A Tomografia Computorizada (TC), foi uma das maiores descobertas de sempre<br />

na área da medicina, e desde a sua<br />

descoberta dos raios x por Roentgen em<br />

1884 até Hunsfield inventar a TC, não<br />

houve nenhuma técnica que superasse o<br />

seu desenvolvimento exponêncial.<br />

Os analistas industriais fazem uma previsão<br />

de que até ao ano de 2015, serão fabricados<br />

e instalados perto de 60000 unidades de TC<br />

em todo o mundo.<br />

O êxito nestes equipamentos deve-se ao facto de serem aparelhos com uma<br />

grande sensibilidade e também com uma especificidade bastante alta.<br />

Consegue-se uma grande resolução espacial e em consequência um melhor<br />

diagnóstico.<br />

O grande objetivo desde a sua invenção sempre foi o da redução dos tempos de<br />

aquisição, no entanto desde muito cedo se percebeu que a dose de radiação<br />

teria que aumentar para se obter uma resolução espacial que os médicos<br />

queriam (e muitos ainda hoje querem) sempre melhor, mesmo que para isso<br />

tenham que ultrapassar os limites.<br />

Inicialmente a dose coletiva era considerada um bom indicador de exposição á<br />

radiação, em que a TC com uma frequência de 5% iria contribuir com 34% da<br />

dose coletiva para todas as modalidades radiológicas, acreditamos que em<br />

alguns países industrializados essa contribuição atingia valores da ordem dos<br />

60-70%. 1,2<br />

Dentro da TC, houve muitos desenvolvimentos, sendo a TC Cardiaca talvez o<br />

mais visível, isto tendo em referência o aumento da incidência de doenças<br />

cardiovasculares nos países desenvolvidos.<br />

Fig.2 - Crescimento do número de exames<br />

de TC realizados entre 1980-2005<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 6


A Justificação do risco radiológico<br />

Os desenvolvimentos tecnológicos têm vindo a permitir ao longo do tempo uma<br />

redução da dose por exame, sendo que inicialmente se realizavam exames de<br />

TC crânio, tórax, abdómen com doses que podiam ir de 5mSv-20mSv por<br />

exame, hoje em dia para esses mesmos exames na maioria dos casos não se<br />

ultrapassa os 5mSv.<br />

O problema surge com o aumento descontrolado do número de pedidos de<br />

exames, sem qualquer critério. É este aumento que contribui para o aumento do<br />

risco radiológico deste excelente método de imagem. Alguns estudos<br />

evidenciaram um aumento dos pedidos, nomeadamente TC-angiográficos, que<br />

contribuem bastante para a dose. 4<br />

Existe um controlo de qualidade apertado na maioria das instalações e<br />

equipamentos de TC, onde são testadas as<br />

suas capacidade e perfomances, varias<br />

vezes em períodos curtos. Estes<br />

profissionais devem assegurar a redução de<br />

ocorrências em que qualquer parâmetro saia<br />

dos limiares de segurança recomendados.<br />

Também os profissionais envolvidos na<br />

manipulação e na obtenção da imagem<br />

nestes equipamentos, são pessoas<br />

altamente qualificadas e com uma formação de grande nível. Assim, podemos<br />

afirmar que estes equipamentos são os equipamentos mais estáveis em<br />

imagiologia.<br />

Risco radiológico<br />

Nos países mais desenvolvidos há indicação de altas taxas de frequência na<br />

realização de exames de TC, sendo este um fenómeno em crescimento.<br />

Assim, para além do problemas determinísticos da radiação, temos vindo a<br />

assistir a um aumento do risco carcinogénico, devido ao aumento do número de<br />

repetições de exames de TC, que chega a ser da ordem das 5 repetições num<br />

curto intervalo de tempo, resultando em doses individuais que podem rondar os<br />

100mSv.<br />

Fig. 1 - Risco de contrair Cancro do<br />

pulmão e do cólon ao longo da vida<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 7


A Justificação do risco radiológico<br />

Na área da pediatria, as frequências dos pedidos de exames nos países<br />

africanos, asiáticos e europeus que participaram num estudo da IAEA, eram da<br />

ordem dos 20, 16 e 5%, respetivamente, de todos os outros exames de TC. Nas<br />

14 das 16 instalações participantes no estudo mais de 10% tiveram um<br />

crescimento no número de TC pedidos entre 2007-2009. Neste estudo verificou-<br />

se, que em certos países desenvolvidos a existência de situações em que os<br />

Niveis de Referência e Diagnóstico (NRD) eram claramente ultrapassados.<br />

Sendo a radiação um fenómeno de dose cumulativa, estamos a assistir ao<br />

aumento dos efeitos estocásticos.<br />

Desde a descoberta dos Rx por Roentgen, é muito provável que as doses<br />

efetivas individuais nunca foram tão altas como agora que chegam a ser da<br />

ordem dos 100mSv. Estas exposições com estes níveis, são muito difíceis de<br />

justificar médicamente. Alguns relatórios mostram que 20-70%, tem falta de<br />

critérios de adequação. Á um grande numero de razões para a ocorrência deste<br />

fenómeno, que traduzem por a prática de medicina defensiva, vontade dos<br />

pacientes, interesses financeiros, alguns fatores dos sistemas de saúde,<br />

interesses industriais, falta de consciência na utilização dos meios existentes e<br />

uma grande falta de compreensão e responsabilidade. Embora sejam os<br />

radiologistas os responsáveis por verificar a adequação dos pedidos ás<br />

necessidades dos pacientes, estudos demonstram que dispendem menos de<br />

5% do seu tempo a faze-lo. Também existem falhas graves na comunicação ao<br />

paciente de eventos de exposição acidental.<br />

Alguns relatórios foram publicados sobre a exposição de pacientes que sofreram<br />

mais de 10 exposições em poucos anos, o que se vai traduzir no<br />

desenvolvimento de vários estudos epidemiológicos para aferir a correlação do<br />

aumento do risco cancerígeno com as doses recebidas pelos pacientes.<br />

A monitorização das doses recebidas pelos pacientes, ao longo da vida, será<br />

concerteza uma das soluções para a resolução deste problema de saúde<br />

pública.<br />

Novas situações exigem novas ferramentas e aplicação de medidas mais<br />

eficazes. O historial de irradiação dos pacientes é um indicador importante da<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 8


A Justificação do risco radiológico<br />

exposição radiológica. Neste sentido são dois aspetos muito importantes, como<br />

informações sobre exames radiológicos anteriores, e a dose de radiação<br />

implicada. Estes são fatores decisivos para que exista uma boa justificação, ou<br />

não, para a realização de determinado exame que use a radiação ionizante.<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 9


A Justificação do risco radiológico<br />

III. Conclusão<br />

O uso generalizado de TC representa, provavelmente, o avanço mais importante<br />

em radiologia diagnóstica.<br />

No entanto, em comparação com as simples radiografias a tomografia<br />

computadorizada envolve doses muito mais altas de radiação, (com aumentos<br />

na ordem das centenas de vezes) resultando em um aumento significativo da<br />

exposição à radiação na população, sendo um problema de saúde pública que<br />

nos últimos anos tem tido um grande desenvolvimento, sendo necessários mais<br />

estudos epidemiológicos.<br />

O aumento do uso de TC e as doses de radiação que derivam desse mesmo<br />

aumento na população veio melhorar o nosso conhecimento do potencial<br />

carcinogénio das baixas dose de radiações especialmente nas crianças.<br />

Esse conhecimento sobre os riscos cancerígenos ao longo da vida a partir de<br />

baixas doses de radiação ionizante está em grande parte relacionado com o<br />

seguimento dos sobreviventes da bomba atómica - agora com mais de 50 anos<br />

– e com os de outros estudos epidemiológicos de grande escala.<br />

Essas considerações sugerem que os riscos estimados e associados com o TC<br />

não são hipotéticas – isto é, não são baseados em modelos ou extrapolações<br />

Ao contrário, eles baseiam-se diretamente nas taxas de aumento das neoplasias<br />

em consequência das doses radiação - relacionadas entre adultos e crianças<br />

que no passado foram expostos às mesmas doses de radiação ionizante<br />

À luz destas considerações, e apesar do facto de que a maioria dos diagnósticos<br />

TC estão associados a taxas de êxito muito favorável, em que a relação risco-<br />

benefício é bastante aceitável, há contudo, fortes argumentos de que estão a ser<br />

efetuados exames sem serem devidamente aplicados os princípios ALARA<br />

nomeadamente a justificação, sendo esta uma prática iminente com origem<br />

numa medicina defensiva por parte de alguns clínicos.<br />

Existem publicações que questionam o uso da TC bem como a repetição de<br />

múltiplos TC’s, alguns contextos:<br />

Casos de trauma (por vezes o doente tem pedidos de TC de todas as<br />

regiões do corpo, quando uma simples radiografia resolveria a situação)<br />

Apreensões judiciais<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 10


A Justificação do risco radiológico<br />

Cefaleias crónicas,<br />

Utilização como ferramenta de diagnóstico de apendicite aguda em<br />

crianças<br />

Alguns radiologistas pediátricos sugeriram que talvez um terço do TC poderia<br />

ser substituído por métodos alternativos ou não realizada em tudo.<br />

Parte do problema é que os médicos muitas vezes veem na TC os mesmos<br />

efeitos de outros procedimentos radiológicos, apesar de as doses de radiação<br />

serem tipicamente muito maiores.<br />

Numa pesquisa recente efetuada nos EUA, por radiologistas e médicos das<br />

urgências, cerca de 75% de todo o grupo subestimou significativamente a dose<br />

de radiação de uma tomografia computadorizada, destes cerca de 53% eram<br />

radiologistas. Cerca de 91% dos médicos das urgências, não acredita que a TC<br />

aumenta o risco de vir a sofrer de cancro o que é bastante grave para ocorrer<br />

em profissionais tão qualificados.<br />

Existem vários métodos para reduzir a dose global de radiação na população<br />

proveniente dos exames de TC:<br />

Redução da dose individual (aplicando protocolos dedicados)<br />

Utilização do AEC (controle de exposição automático)<br />

Substituir o uso do TC, por outras opções, tais como ultrassonografia e<br />

ressonância magnética (MRI), alguns estudos colocam a questão do TC<br />

versus ultrassonografia para o diagnóstico de apendicite. Ou no caso de<br />

estudos hepáticos a substituição do TC por RMI.<br />

Otimização das prescrições e redução dos pedidos de exames<br />

Do ponto de vista individual, quando a tomografia computorizada é justificada<br />

pela necessidade médica, como qualquer exame que utilize radiação ionizante,<br />

o risco diminui em relação às informações diagnósticas. No entanto, é verdade<br />

que cerca de um terço de todos os exames de TC não são justificados pela<br />

necessidade médica, e parece ser provável, cerca de 20 milhões de adultos e,<br />

sobretudo, mais de 1 milhão de crianças por ano nos países desenvolvidos são<br />

irradiados desnecessariamente.<br />

Torna-se imperativo a realização de mais estudos de correlação epidemiológica<br />

sobre estes assuntos para que esta discussão seja divulgada e difundida, com a<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 11


A Justificação do risco radiológico<br />

máxima lucidez e profissionalismo, por parte das entidades envolvidas, nunca<br />

esquecendo as questões éticas e deontológicas que se impõem.<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 12


A Justificação do risco radiológico<br />

IV. Referencias<br />

1. B. W. Robert MM. Public Health and Preventive Medecine. 14th ed.<br />

Stanford, Coneticut: Appleton and Lange; 2004.<br />

2. Ronald M. Summers M PhD. Guest Editorial Dose Reduction in CT: The<br />

Time Is Now . 2010 ;1201–1202.<br />

3. A. Patersona(a) DPF, North Carolina U. REVIEW Dose reduction in<br />

paediatric MDCT: general principles. Clinical Radiology . 62507 e 517.<br />

4. Brenner DJ, Hall EJ. Computed Tomography — An Increasing Source of<br />

Radiation Exposure. New England Journal of Medicine. 2007 ;2277-2284.<br />

Texto respeitando o Novo Acordo Ortográfico<br />

Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa 13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!