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obras - BEMaior

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SERÕES DA PROVÍNCIA<br />

Era uma das diligências da Companhia Viação Portuense, que<br />

escolhera aquele dia solene para inauguração das suas viagens.<br />

Não inventamos. Os viajantes que receberam nesta jornada um<br />

acolhimento de príncipes, eram pela maior parte desta cidade, e ainda<br />

hoje não terão por certo esquecido a honraria que um engano lhes<br />

proporcionou.<br />

Quando o presidente, chegando ao carro, se preparava talvez<br />

para recitar os primeiros períodos da sua alocução, deu de chapa<br />

com um rosto rubicundo e jovial, que, surgindo a um dos postigos,<br />

disse para os circunstantes:<br />

— Guarda dentro, guarda dentro, e à vontade. Safa! Não se pode<br />

viajar incógnito por esta terra.<br />

Os espectadores fizeram uma careta expressiva, porque haviam<br />

reconhecido a pessoa que assim lhes falava.<br />

— Então isso faz-se, José? — disse-lhe em tom de amuo um dos<br />

enganados.<br />

— É célebre! — continuava este, e depois de descer do carro<br />

e recebendo de um criado o saco de viagem. — É célebre! Viemos<br />

em triunfo! Nunca imaginei que me estavam reservadas estas glórias!<br />

Com que preparavas-te para me recitar a tua felicitação, não é assim?<br />

— dizia para o orador municipal, que começava a achar graça ao sucedido.<br />

— Escapamos de boa, meus senhores — disse depois para os<br />

seus companheiros de jornada — escapamos de boa! A eloquência<br />

do município! Que pesadelo! E os foguetes ? Com os diabos! Esgotaram<br />

a provisão? Depressa! depressa! Olá, João das Pipas, acende<br />

outra vez o morrão, meu homem. Perdeste o teu tempo e a tua ciência.<br />

Mas não tem dúvida. Vocês, sem querer, saudaram um grande acontecimento—<br />

a inauguração da Companhia Viação Portuense, da qual<br />

eu possuo vinte e três acções. Não sabem o que saudaram com esses<br />

foguetes? Saudaram o Minho, saudaram Braga, saudaram o progresso,<br />

os melhoramentos desta nossa terra, o engrandecimento da província,<br />

do comércio e da agricultura. Não vos arrependais, meus amigos; não<br />

choreis o dinheiro do município, que estourou agora nos ares. São<br />

de bom agouro estes estouros. São palmas dadas a um grande cometimento.<br />

Não estivesse eu com fome, que vos dissera já aqui quanto<br />

há a esperar desta caranguejola em que eu vim mais estes cavalheiros,<br />

meus amigos, de quem me despeço hoje, porque já agora aproveito<br />

a ocasião para ir a Barcelos na comitiva real. Pensai vós nisto, e dai<br />

por bem empregada a pólvora que consumistes. Todavia ponde-vos<br />

outra vez a postos, que suas majestades não tardam, e preparai também<br />

os guarda-chuvas, porque já sinto cair as primeiras pingas.<br />

E, terminando este aranzel, que os circunstantes escutaram<br />

com um sorriso nos lábios, o jovial accionista da Companhia Viação<br />

Portuense dirigiu-se, a correr, para a estalagem vizinha.<br />

O seu prognóstico era verdadeiro. A chuva principiava a cair;<br />

e quando os coches reais entraram na vila era já tal a cópia de água,

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