Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
SEROES DA PROVÍNCIA<br />
— Desde então a sociedade escrupulosa obrigou-a a procurar<br />
esta solidão. Deves supor se lhe terão sorrido os dias passados aqui.<br />
E no entretanto tu esquecia-la na capital.<br />
— Oh! minha mãe... juro-lhe...<br />
— Não jures, Filipe; ora para que vais tu jurar? Confessa, é<br />
melhor; e arrepende-te, que é mais nobre.<br />
— Eu sou um miserável, minha mãe.<br />
— Que nome tão feio! Agora cais-me em um outro extremo.<br />
É preciso emendar o mal feito.<br />
— E como ?<br />
— De uma maneira possível.<br />
— Pois quer...<br />
— Então que é? Hesitas em fazer justiça, quando não hesitaste<br />
em cometer a culpa...<br />
— E consente...<br />
— Ordeno, se ainda podem ter para ti valor as minhas ordens.<br />
— Mas essas são para mim uma bênção do Céu, creia-me! —<br />
exclamou Filipe, apoderando-se da mão de sua mãe e beijando-lha<br />
com efusão.<br />
Um movimento de Maria Clementina deu a conhecer que ela<br />
despertava, enfim, de seu sono tranquilo ao rumor do diálogo, que se<br />
travara entre D. Joana e seu filho. Esta correu ao encontro de Maria<br />
Clementina, ocultando por este movimento a presença de Filipe.<br />
— V. Ex." aqui! — disse Maria Clementina sobressaltada ao abraçar<br />
D. Joana.<br />
— Estava a gostar de a ver dormir...<br />
E depois de a beijar afectuosamente, D. Joana afastou-se, descobrindo<br />
assim a figura de Filipe, que se conservara imóvel a distância.<br />
Maria Clementina, dando com os olhos nele, estremeceu, exclamando<br />
:<br />
— Oh! meu Deus.<br />
— É meu filho — disse D. Joana, beijando-a na fronte com carinhosa<br />
solicitude.<br />
Maria Clementina vacilou, deixou-se cair no banco em que estivera<br />
sentada, e pelas faces, que passavam de uma súbita palidez a um<br />
intenso rubor, deslizaram as lágrimas que lhe inundavam os olhos...<br />
Nisto assomava na extremidade de uma das ruas a velha Roberta<br />
com o copo de água e chá, que D. Joana lhe pediu.<br />
Esta correu a encontrá-la para lhe encobrir a turbação dos dois.<br />
— Agradecida pelo incómodo que teve. Agora faz-me um favor?<br />
Ajuda-me a cortar um ramo de japoneiras ? — E aproximando-se de<br />
Roberta, acrescentou a meia voz: — Deixemos sós os dois; este é o<br />
tal alferes...<br />
— É este! — disse Roberta, olhando para Filipe com olhos espantados<br />
e com certa indignação. — E logo foi a ele que eu...<br />
— Está bom, deixemo-los, que tudo se há-de arranjar.