15.04.2013 Views

veja mais clicando aqui - Jakobsson Estúdio

veja mais clicando aqui - Jakobsson Estúdio

veja mais clicando aqui - Jakobsson Estúdio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Rio de Janeiro: a favelização, o desinvestimento, a deterioração dos costumes, a inse-<br />

gurança pública e, sobretudo, a posterior fusão, que subordinara os interesses de uma<br />

cidade acostumada à sua independência a um estado atrasado e corrupto.<br />

D. Sebastião batera-se em sua cruzada pelo Rio até os limites de suas forças. Lutou<br />

contra tudo e contra todos. Até na Igreja, que era sua própria corporação, encontrou<br />

dificuldades. Foi repreendido <strong>mais</strong> de uma vez pelo cardeal Dom Jaime Câmara<br />

e, em sigilo, pelo próprio Papa João XXIII.<br />

Tanto fez que acabou sumindo misteriosamente dois anos antes da inauguração da<br />

nova capital. Após rezar uma missa dominical na matriz de Guaratiba, seguira para<br />

uma reunião com os opositores da construção de Brasília em um restaurante chamado<br />

A Casa dos Quibes, na verdade pouco <strong>mais</strong> que um boteco na avenida Marrocos, em<br />

Bangu. O encontro não correu bem. Vários eleitores do presidente Juscelino — veio<br />

gente até de Nova Iguaçu — haviam se infiltrado no bar e tumultuaram o discurso do<br />

religioso. O clima subiu a temperaturas dignas do Saara e o pau comeu. Ao final, os<br />

seguidores do bispo foram desbaratados à porrada. O próprio Dom Sebastião desapareceu<br />

na confusão e ja<strong>mais</strong> foi encontrado de novo.<br />

Pois é. Desde que perdeu o marido, a portuguesa meteu na cabeça que Dom Sebastião<br />

não havia morrido na batalha da Casa dos Quibes. Insuflada pelos sermões sebastianistas<br />

de Padre Miguel, acreditava piamente que o bispo havia de reaparecer e<br />

restaurar a grandeza e a autonomia do Rio de Janeiro.<br />

Com o passar dos anos começou a ser acometida de delírios. Via Dom Sebastião nos<br />

lugares <strong>mais</strong> estranhos, dentro do tanque de sua casa, jogando bola de gude com os<br />

alunos na hora do recreio no meio do campo do colégio do seu neto, recolhendo<br />

oferendas de macumba nas encruzilhadas do Parque Roial, pregando para crianças assustadas<br />

agarradas à barra das saias das mães, negociando uma pechincha na venda<br />

da varanda, saboreando as frutas <strong>mais</strong> maduras do jardim pedregoso que era o quintal<br />

de sua casa, fritando castanha-de-caju com óleo de dendê em uma casinha no<br />

Guarabu e por aí afora. A cada visão correspondia uma queixa na delegacia do bairro.<br />

Queria que alguém fosse lá resgatar o pobre Dom Sebastião e convencê-lo a reassumir<br />

suas funções de defensor perpétuo do Rio de Janeiro. No princípio, a tiragem<br />

ainda a recebia, anotava seu pleito e prometia providências. Com o passar do tempo,<br />

contudo, os antigos colegas de Juliano Moreira foram se aposentando e a portuguesa<br />

não lograva <strong>mais</strong> sequer ser ouvida pela Polícia. Por isso é que, mês sim outro também,<br />

ela empreendia a longa jornada até Meriti para informar o paradeiro de Dom<br />

17<br />

|<br />

maldito juscelino

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!