LUIZ GONZAGA DE ALVARENGA - Webnode
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<strong>LUIZ</strong> <strong>GONZAGA</strong> <strong>DE</strong> <strong>ALVARENGA</strong><br />
1
Luiz Gonzaga de Alvarenga<br />
BREVE TRATADO<br />
SOBRE<br />
O SOM<br />
E A<br />
MÚSICA<br />
4
Título original da obra:<br />
Introdução à Arte e a Ciência da Música. CDU – 78.01<br />
Bolsa de Publicações José Décio Filho. Prêmio de 1991.<br />
1ª. Edição: Gráfica de Goiás – CERNE. 1992. Brasil.<br />
Título atual da obra:<br />
Breve Tratado sobre o Som e a Música<br />
Copyright © 1992 – 2009, Luiz Gonzaga de Alvarenga.<br />
Edição atual revista, corrigida e ampliada. Revisão 3.2 (Nov. 2009).<br />
Todos os direitos reservados.<br />
Proibida a reprodução sob qualquer forma.<br />
A reprodução não-autorizada desta obra, no todo<br />
ou em parte, constitui infração da lei de direitos autorais.<br />
(Lei 9610/98)<br />
Capa: do autor.<br />
5
PLANO DA OBRA<br />
Prefácio do Autor, 12<br />
Capítulo I – O Fenômeno Sonoro: Análise Física<br />
1.1 – Estudo físico do som, 13<br />
1.2 – Estudo matemático do som, 16<br />
1.2.1 – Estudo da senóide, 17<br />
1.2.2 – Freqüências das vibrações sonoras, 19<br />
1.3 – Características do som puro , 21<br />
1.3.1 – Produção simultânea de dois sons puros: efeitos, 21<br />
1.4 – Som complexo, 27<br />
1.4.1 – Timbre, 28<br />
1.4.2 – Parciais, 28<br />
Capítulo II – O Fenômeno Sonoro: Análise Psico-Fisiológica<br />
2.1 – Propriedades psicológicas do som, 31<br />
2.2 – Fenomenologia da percepção sonora, 32<br />
2.2.1 – Anatomia do ouvido, 32<br />
2.2.2 – Fisiologia da audição, 34<br />
2.3 – Psicofísica da audição, 35<br />
2.3.1 – Audibilidade, 35<br />
2.3.2 – Discriminação do som, 42<br />
2.3.3 – A audição binaural, 43<br />
2.4 – O cérebro: centro analítico e integrador do fenômeno<br />
sonoro, 43<br />
2.4.1 – A dominância dos hemisférios cerebrais, 43<br />
2.4.2 – As ondas cerebrais, 47<br />
Capítulo III – Sonometria<br />
3.1 – Intervalos consonantes e dissonantes, 51<br />
3.2 – Experiência com o monocórdio, 51<br />
3.3 – Gamas e escalas musicais, 52<br />
3.4 – Intervalos de notas sucessivas, 54<br />
3.4.1 – Tom maior, tom menor e semitom maior, 54<br />
3.5 – Sustenidos e bemóis, 56<br />
3.6 – Gama cromática, 56<br />
3.7 – Gama temperada, 57<br />
3.8 – Intervalos e afinação musical, 58<br />
3.9 – Acordes, 59<br />
3.10 – Harmônicos, 59<br />
6
3.11 – Medidas de intervalos musicais, 60<br />
3.11.1 – O cent e o savart, 60<br />
Capítulo IV – Notação e Ritmo<br />
4.1 – Notação musical básica, 63<br />
4.1.1 – As notas musicais, 63<br />
4.1.2 – Pauta ou pentagrama, 63<br />
4.1.3 – As figuras e os tempos, 66<br />
4.1.4 – As pausas, 67<br />
4.1.5 – Sinais de alteração ou acidentes, 68<br />
4.1.6 – Valores de duração, 69<br />
4.2 – Compassos, 72<br />
4.2.1 – Compassos simples, 74<br />
4.2.2 – Compassos compostos, 76<br />
4.2.3 – Compassos mistos, 78<br />
4.2.4 – Notação e uso de compassos, 79<br />
4.2.5 – Notação abreviada, 82<br />
4.3 – Andamento ou cinética musical, 85<br />
4.4 – Dinâmica, 90<br />
4.5 – Ritmo, 94<br />
4.5.1 – Alterações rítmicas, 96<br />
Capítulo V – Estrutura do Discurso Musical<br />
5.1 – Intervalos, 103<br />
5.1.1 – Consonância e dissonância dos intervalos, 108<br />
5.1.2 – Inversão de intervalos, 109<br />
5.2 – Escalas, 110<br />
5.2.1 – Modos das escalas, 111<br />
5.2.2 – Escalas do modo maior, 113<br />
5.2.3 – Escalas do modo menor, 117<br />
5.2.4 – Tonalidades das escalas, 118<br />
5.2.5 – Escalas relativas, 121<br />
5.2.6 – O sistema modal, 122<br />
5.2.7 – Escalas artificiais, 127<br />
5.2.8 – Escalas diatônicas com duplos acidentes, 131<br />
5.2.9 – Escalas cromáticas, 133<br />
Capítulo VI – A Melodia<br />
6.1 – Elementos da forma musical, 135<br />
6.1.1 – Partes integrantes da melodia, 136<br />
6.1.2 – A célula rítmica, 136<br />
7
6.1.3 – Elementos acessórios da melodia, 137<br />
6.2 – Ornamentos melódicos, 137<br />
6.2.1 – Apogiatura, 138<br />
6.2.2 – Portamento, 141<br />
6.2.3 – Trinado ou trilo, 142<br />
6.2.4 – Mordente, 146<br />
6.2.5 – Grupeto, 147<br />
6.2.6 – Notas glisadas ou flatté, 148<br />
6.2.7 – Arpejo, 149<br />
6.2.8 – Tirata ou Floreio, 150<br />
6.3 – Transposição, 150<br />
Capítulo VII – A Harmonia<br />
7.1 – Princípios de Harmonia, 155<br />
7.2 – Teoria dos acordes, 156<br />
7.3 – Tríades ou acordes de três sons, 157<br />
7.3.1 – Inversão de tríades, 159<br />
7.3.2 – Harmonia das tríades – acordes a quatro vozes, 162<br />
7.4 – Teoria das progressões, 164<br />
7.4.1 – Movimentos, 164<br />
7.4.2 – Cadências, 166<br />
7.4.3 – Notas auxiliares, 169<br />
7.5 – Métodos de indicação de acordes - baixo cifrado e<br />
tablatura, 171<br />
7.6 – Acordes de quarta, sexta e sétima – a quatro<br />
ou mais vozes, 173<br />
7.6.1 – Acorde de sétima, 173<br />
7.6.2 – Acorde de quarta suspensa, 178<br />
7.6.3 – Acorde de sexta, 179<br />
7.7 – Acordes exóticos, 181<br />
7.7.1 – Acorde de nona, 181<br />
7.7.2 – Acorde de décima primeira, 183<br />
7.7.3 – Acorde de décima terceira, 183<br />
7.8 – Poliacordes, 184<br />
7.9 – Acordes sinônimos, 185<br />
7.10 – Substituição de acordes, 186<br />
7.10.1 – Extensão e alteração de acordes de dominante, 187<br />
7.10.2 – Introdução de novos acordes de dominante, 188<br />
7.10.3 – Substituição por acordes de passagem menores, 188<br />
7.11 – Modulação de acordes, 188<br />
7.12 – Harmonização, 192<br />
7.12.1 – Harmonização de um intervalo melódico, 192<br />
8
Capítulo VIII – Vozes, Instrumentos e Orquestra<br />
8.1 – O aparelho fonador, 195<br />
8.1.1 – A linguagem, 196<br />
8.1.2 – A fala, 197<br />
8.2 – Vozes, 198<br />
8.2.1 – O canto, 200<br />
8.3 – Instrumentos, 200<br />
8.3.1 – Instrumentos transpositores, 202<br />
8.3.2 – Instrumentos de corda, 202<br />
8.3.3 – Instrumentos de sopro, 212<br />
8.3.4 – Instrumentos de percussão, 218<br />
8.4 – A orquestra – sinopse da evolução histórica, 222<br />
8.4.1 – A estrutura da orquestra moderna, 224<br />
8.4.2 – A figura e a função do regente, 226<br />
8.4.3 – A partitura musical, 227<br />
8.4.4 – O coro, 229<br />
8.5 – Variantes de formações instrumentais, 232<br />
Capítulo IX – Formas de Composição e de Expressão Musical<br />
9.1 – A sintaxe musical, 233<br />
9.2 – Contraponto ou música polifônica, 234<br />
9.3 – Invenção, 238<br />
9.4 – Fuga, 238<br />
9.5 – A forma musical clássica, 239<br />
9.5.1 – Música descritiva ou música de programa, 241<br />
9.5.2 – A música popular moderna, 246<br />
Capítulo X – A Linguagem e a Estrutura da Música<br />
10.1 – O significado da música, 251<br />
10.2 – Interpretação e execução musical, 252<br />
10.3 – A estrutura musical e a teoria da informação, 253<br />
Capítulo XI – A Evolução da Forma e da Teoria Musical<br />
11.1 – A origem da música, 259<br />
11.2 – A música na Grécia antiga, 261<br />
11.2.1 – A teoria musical grega, 266<br />
11.3 – A música na Roma antiga, 274<br />
11.3.1 – A teoria musical romana, 274<br />
11.4 – A música cristã antiga: monodia, 276<br />
11.4.1 – A teoria musical cristã primitiva, 278<br />
9
11.5 – A música cristã antiga: polifonia, 283<br />
11.5.1 – A teoria musical do mensuralismo, 284<br />
11.6 – Da renascença ao barroco, 286<br />
11.6.1 – As teorias do período pré-clássico, 286<br />
11.7 – Do clássico ao romântico, 290<br />
11.7.1 – A teoria musical da época pré-moderna, 291<br />
11.8 – A influência árabe, 293<br />
Capítulo XII – A Música do Século XX<br />
12.1 – Da crise da linguagem musical à nova música, 295<br />
12.2 – A expansão do universo sonoro, 298<br />
12.2.1 – O serialismo e a música concreta, 298<br />
12.2.2 – A música eletrônica, 300<br />
12.2.3 – A música eletroacústica, 302<br />
12.2.4 – As tendências musicais contemporâneas e modernas, 302<br />
12.3 – As teorias e formas musicais do século XX, 303<br />
12.3.1 – Princípios da atonalidade, 303<br />
12.3.2 – O dodecafonismo, 303<br />
12.3.3 – A estética da música concreta, 307<br />
12.3.4 – O microtonalismo, 310<br />
12.3.5 – A música estocástica, 310<br />
12.3.6 – A música fractal, 311<br />
12.4 – A teoria matemática da nova música, 312<br />
Capítulo XIII – Sistemas de áudio<br />
13.1 – Sistemas analógicos e digitais, 317<br />
13.1.1 – Processadores de dinâmica, 339<br />
13.2 – A síntese do som, 344<br />
13.2.1 – A síntese eletrônica, 348<br />
13.2.2 – A evolução das máquinas musicais, 361<br />
13.2.3 – A síntese de voz, 365<br />
13.3 – Comunicação digital e protocolo MIDI, 369<br />
13.3.1 – Codecs e plug-ins, 372<br />
13.4 – As gravações digitais, 373<br />
13.4.1 – Formatos de áudio, 373<br />
13.5 – A gravação em estúdio, 376<br />
13.5.1 – O estúdio profissional, 376<br />
13.5.2 – O estúdio doméstico (home studio), 382<br />
13.6 – O som automotivo, 386<br />
10
Capítulo XIV – A composição musical<br />
14.1 – A educação musical, 391<br />
14.2 – Acerca de regras e cânones na composição musical, 392<br />
14.3 – Algumas questões sobre a composição erudita moderna, 394<br />
14.4 – Algumas idéias sobre a composição musical em geral, 396<br />
14.5 – A composição, a de-composição e a<br />
re-composição musical, 400<br />
14.6 – O direito autoral, 401<br />
Índice geral, 405<br />
Apêndice, 407<br />
Bibliografia, 411<br />
Re-de-composições do Autor, 420<br />
11
Prefácio do autor<br />
Umas das atividades culturais mais abrangentes do mundo moderno é a produção,<br />
difusão e fruição da música, em todos os seus aspectos, desde as formas eruditas<br />
apresentadas nos palcos de todo o mundo, até a música popular e folclórica de todos os<br />
tipos, cuja (omni)presença na mídia não precisa ser ressaltada.<br />
Um novo livro sobre o som e a música é uma iniciativa desafiadora, sob todos os<br />
aspectos. O desafio ainda é maior, se se tratar de apresentar um guia realmente<br />
abrangente, que vá da música erudita, sua história e formação, até a música popular,<br />
passando por todos os aspectos técnicos envolvidos com o som: gravação, reprodução,<br />
equipamentos eletrônicos de todo tipo, processos de síntese sonora; desde a música<br />
erudita (com toda a teoria musical tradicional), até a música eletroacústica.<br />
Uma das propostas desta obra é de que ela seja ampla e consistente, sem entretanto<br />
se tornar uma obra pesada. Outro objetivo é tentar suprir o mercado com um livro que<br />
aborde toda a teoria básica (que não está ao alcance da maioria) em uma forma de fácil<br />
compreensão. Tudo isto intercalado por abundantes informações acerca de práticas<br />
musicais, composição e sonorização, e também com uma abundância de notas de péde-página<br />
capazes de elucidar qualquer assunto.<br />
Atualmente, a maior fonte de pesquisas sobre qualquer assunto é a Internet. Por<br />
oferecer todo tipo de informação ela se tornou, verdadeiramente, uma gigantesca<br />
biblioteca universal.<br />
Isto poderia significar que escrever um livro novo sobre estes assuntos seria uma<br />
tarefa inútil e redundante, até mesmo porque seria impossível competir com a Internet,<br />
devido à sua vastidão e atualização constante.<br />
Entretanto, o que muitas vezes nela se encontra são informações muito dispersas, o<br />
que impede um aproveitamento real, a quem não estiver disposto a uma pesquisa em<br />
profundidade..<br />
Há um ditado antigo que diz: quando não é possível vencer um adversário, una-se<br />
a ele. Então, é esta a proposição desta obra. A Internet é aqui usada como fonte de<br />
direta de pesquisas (para a consolidação do texto escrito), e também como uma fonte<br />
alternativa de consulta, com a citação dos sites e links necessários para o<br />
aprofundamento de grande quantidade de itens informativos (o autor não se<br />
responsabiliza pelos sites porventura desativados).<br />
Deste modo, o que esta obra se propõe é, de um lado, oferecer o máximo de<br />
informação de uma maneira amena e acessível, de outro lado, tornar a Internet uma<br />
parceira neste empreendimento<br />
Como seria inviável aprofundar todos os pormenores de cada assunto aqui<br />
abrangido, o que aumentaria a quantidade de páginas e de volumes, então fica aqui<br />
assinalada esta “parceria”. Ela permitirá ao pesquisador interessado aprofundar o<br />
assunto que desejar.<br />
12
CAPÍTULO I<br />
O FENÔMENO SONORO: ANÁLISE FÍSICA<br />
1.1 Estudo físico do som<br />
Na física, o estudo do som é denominado acústica.<br />
Toda vibração das moléculas de ar que atinge o cérebro pelo sentido da audição é<br />
chamado de som.<br />
O som é produzido pelo choque entre corpos rígidos (sólidos), fluidos (líquidos) ou<br />
elásticos (gases). Além de produzir o som, estes corpos podem também transportá-lo,<br />
ou seja, o som pode se propagar através deles, pela vibração das moléculas do meio. A<br />
propagação do som é circuncêntrica.<br />
Há duas formas de vibração, que podem ser visualizadas através de uma<br />
experiência. Toma-se uma mola, e faz-se com que ela vibre. É fácil perceber que a<br />
mola pode vibrar de dois modos diferentes: no sentido transversal, perpendicular à<br />
direção do movimento, e no sentido longitudinal, que ocorre na própria direção do<br />
movimento.<br />
Na vibração transversal, a mola agita-se para cima e para baixo, sendo que esta<br />
agitação (chamada frente de onda) desloca-se ao longo da mola. Na vibração<br />
longitudinal o movimento de propagação é realizado com uma frente comprimida,<br />
seguida de outra distendida; este movimento percorre, também, toda a extensão da<br />
mola. 1<br />
A vibração das moléculas no ar pelo qual o som se propaga é no sentido<br />
longitudinal, na mesma direção à qual o som se desloca. É o mesmo que dizer que o<br />
som se propaga no ar através de uma vibração longitudinal. Tal como no exemplo da<br />
mola, as moléculas de ar, ao receberem a vibração sonora, agrupam-se em partes<br />
concentradas seguidas de partes rarefeitas, num movimento que se comunica às<br />
moléculas vizinhas, fazendo com que a vibração se propague. Este movimento é<br />
denominado onda de compressão, ou onda sonora. É evidente que o que se desloca é<br />
esta onda sonora, e não as moléculas de ar. O corpo que recebe a onda sonora é<br />
sacudido pela vibração das moléculas de ar que lhe estão próximas, e não pelas<br />
moléculas de ar adjacentes ao corpo que produziu o som.<br />
1 Note-se que a frente de onda é composta de duas partes: uma “positiva” e outra “negativa”, na vibração<br />
transversal (esta vibração pode ser melhor visualizada pela observação da superfície de um lago, quando<br />
cai uma pedra e formam-se as ondas concêntricas); uma distendida e outra comprimida, na vibração<br />
longitudinal.<br />
13
O deslocamento da vibração tem a sua velocidade de propagação em função do<br />
meio ou material (corpo) pelo qual se desloca, sendo o meio mais comum, o ar. No<br />
vácuo, o som não se propaga, porque não existe este meio. Os sólidos transmitem o<br />
som melhor que os líquidos, e estes, melhor do que os gases.<br />
Em condições atmosféricas normais, a velocidade média de propagação do som é<br />
de cerca de 330 metros por segundo. A 20 graus centígrados de temperatura, a<br />
velocidade de propagação é de 343 metros por segundo; a 25 graus, 346 metros por<br />
segundo. 2 Na água, a velocidade atinge 1498 metros por segundo. A velocidade de<br />
propagação é tanto maior quanto a temperatura e quanto menor a umidade relativa do<br />
ar.<br />
A experiência descrita a seguir mostrará como o som é produzido e como ele se<br />
propaga.<br />
Toma-se um diapasão, que é uma forquilha de metal cujas hastes vibram quando<br />
percutidas, e põe-se o mesmo a vibrar, com um golpe. Esta vibração, no primeiro<br />
momento, quando a haste se desloca para um dos lados (lado 2, p. ex. – tenha-se em<br />
mente que o movimento das duas hastes é idêntico e simultâneo), 3 ela cria uma frente<br />
de moléculas comprimidas desse lado, e uma frente de rarefação de moléculas no lado<br />
oposto.<br />
No instante seguinte, inverte-se a situação: a haste se desloca para o lado oposto ao<br />
seu primeiro movimento; com isto, a frente anteriormente comprimida se rarefaz,<br />
enquanto que a frente rarefeita se comprime. Isto acontece sucessivamente,<br />
provocando uma variação periódica de densidade do meio vibratório (o ar), num<br />
movimento circular e concêntrico (em todas as direções) cuja origem é o diapasão. 4 As<br />
vibrações produzidas são mais fortes na origem, amortecendo-se à medida que se<br />
distanciam desta.<br />
2 Quanto mais denso o ar, melhor a propagação do som, em razão da menor distância entre as moléculas.<br />
Em altas altitudes, o som se propaga com mais dificuldade.<br />
3 No desenho, evidentemente, o movimento está exagerado.<br />
4 Evidentemente, a representação da figura limita-se às duas dimensões do papel.<br />
14
A onda sonora produzida pelo diapasão não é constante; o som é ouvido somente<br />
por uns poucos instantes após ele ter sido golpeado. Assim, a sua vibração se amortece<br />
com o tempo, isto é, a intensidade do som decresce com o tempo.<br />
Além do amortecimento, o som pode apresentar também os seguintes fenômenos<br />
físicos: reflexão (eco ou reverberação; retardo); difração; interferência; ressonância;<br />
refração.<br />
A reflexão acontece quando as ondas encontram um obstáculo plano e rígido pela<br />
frente.<br />
Este fenômeno dá origem ao que se chama eco, que é o retorno do som ao ser ou<br />
objeto que lhe deu origem. O som original é denominado som direto.<br />
Quanto à reverberação, é o fenômeno da reflexão múltipla do som, em recintos<br />
fechados. Quando o som direto começa a se extinguir (amortecer), o ouvinte passa a<br />
ouvir o som refletido, o que prolonga a sensação auditiva.<br />
No caso da reverberação, pode ocorrer o que se denomina retardo, que é a<br />
recepção de um mesmo som por via direta e por via refletida, o que provoca, também,<br />
um eco no som, prejudicando sua percepção.<br />
A difração é a transposição de obstáculos pelo som, pelo desvio que ocorre nas<br />
suas extremidades ou aberturas. Assim, o som se enfraquece, mas não se extingue.<br />
15
Os fenômenos da refração, interferência e ressonância serão vistos à frente, após a<br />
assimilação de outros conceitos.<br />
Além do som amortecido (que se extingue após algum tempo), é possível produzir<br />
também o chamado som constante, ou onda sonora constante. Neste caso, sua duração<br />
no tempo depende de outras circunstâncias, dependendo da forma pela qual ela foi<br />
produzida. Ondas sonoras constantes podem ser produzidas usando ressoadores<br />
acústicos, tubos sonoros, geradores eletrônicos de som, etc.<br />
1.2 Estudo matemático do som<br />
O estudo das vibrações sonoras, ou, como também são denominadas, oscilações<br />
sonoras, pode ser facilitado pelo uso de representações gráficas equivalentes. Estas<br />
representações gráficas são denominadas funções senoidais, ou mais simplesmente,<br />
senóide. 5<br />
A senóide (onda senoidal ou onda sinusoidal) é uma função matemática que define<br />
uma variação simétrica e periódica qualquer em relação ao tempo; esta função<br />
matemática é então colocada (isto é, traçada) nas coordenadas retangulares XY, onde<br />
X representa o eixo horizontal, e Y o eixo vertical. O ponto onde ambos os eixos se<br />
cortam representa o valor zero da função. O eixo Y possui valores positivos (para<br />
cima) e valores negativos (para baixo), enquanto que o eixo X possui unicamente<br />
valores positivos (para a direita).<br />
A função senoidal pode ser construída assim: ao fazer girar o raio do círculo, no<br />
sentido horário (A para B para C para D para A), encontram-se valores positivos e<br />
negativos em torno de um eixo. Os valores começam em um valor máximo positivo;<br />
caem ao valor zero; atingem um valor máximo negativo; sobem ao valor zero; atingem<br />
novamente o valor máximo positivo.<br />
5 As ondas resultantes podem também ser chamadas de formas de onda.<br />
16
A função matemática senoidal, ou senóide, representada no gráfico anterior<br />
equivale a uma vibração ou oscilação cujo movimento periódico é constante. O gráfico<br />
a seguir mostra uma oscilação cujo movimento periódico não se mantém, ou seja, a<br />
oscilação amortece com o tempo (é o caso do som produzido pelo diapasão).<br />
1.2.1 Estudo da senóide<br />
O eixo Y representa a intensidade (máxima e mínima) das oscilações (i), e o eixo X<br />
representa o tempo decorrido (t).<br />
Os pontos denominados a, c e e são denominados nós da senóide; os pontos b, d<br />
são denominados ventres, vales ou antinodos da senóide.<br />
A distância entre os nós a, e, define o período T da onda sonora, ou seja, o<br />
intervalo de tempo que decorre entre o início do primeiro movimento da vibração e o<br />
fim do segundo movimento. O inverso do período (1/T) define a freqüência F (também<br />
denominada altura – pitch) da onda sonora, que é o número ou quantidade de<br />
vibrações (ou oscilações) por unidade de tempo (em segundos). Sendo o inverso do<br />
período, então:<br />
F = 1/T<br />
17
Sendo o período T indicado em ciclos, a freqüência será definida em ciclos por<br />
segundo (C/s), ou, conforme a terminologia moderna, em Hertz (Hz). 6<br />
O período T indica a duração de um único ciclo:<br />
T = 1/F<br />
Sendo assim, pode-se calcular o período de uma nota determinada. Por exemplo, a<br />
nota LÁ de afinação, em 440 Hz, possui um período (ou ciclo) de:<br />
T = 1/440 = 1000/440 = 2,3 ms<br />
A unidade ms significa: milésimo de segundo; assim, o resultado é lido: 2,3<br />
milésimos de segundo. A troca de 1 por 1000 refere-se à quantidade de milissegundos<br />
em um segundo: 1000 milissegundos, o que facilita o cálculo.<br />
Em relação ao eixo X, a senóide possui duas partes: a parte superior, denominada<br />
semi-ciclo positivo, e a parte inferior, denominada semi-ciclo negativo. Os dois semiciclos<br />
em conjunto representam o movimento completo da vibração sonora<br />
(densificação e rarefação). 7 Cada semi-ciclo varia em torno de um eixo zero, atingindo<br />
dois picos de valores, um positivo, para cima (+V) e outro negativo (-V), para baixo.<br />
É possível, entretanto, que a onda seja totalmente positiva ou totalmente negativa. 8<br />
Veja-se a figura a seguir.<br />
No gráfico à esquerda, a senóide varia em torno de um eixo de valor positivo<br />
(+V2), variando entre o valor zero e um máximo valor positivo (+V1). 9<br />
6<br />
Esta unidade, Hertz (Hz) foi assim denominada em homenagem ao físico alemão Heinrich Hertz, que<br />
descobriu no século XIX a existência das ondas eletromagnéticas, preconizadas pelo físico inglês James<br />
Clerk Maxwell.<br />
7<br />
Evidentemente, qualquer som puro é formado por uma seqüência extensa de semi-ciclos positivos e<br />
negativos, cuja quantidade define a sua duração no tempo.<br />
8<br />
São, entretanto, ondas senoidais que são geradas unicamente em instrumentos eletrônicos. Este tema<br />
será desenvolvido no Capítulo XIII.<br />
9<br />
O valor correspondente ao eixo V1 é maior do que o valor correspondente ao eixo de V2.<br />
18
No gráfico à direita, a senóide varia em torno de um eixo negativo (-V1), subindo<br />
ao valor zero e descendo ao máximo valor negativo (-V2). 10<br />
Em qualquer caso, o valor ou medida da onda é dado pela diferença entre o eixo<br />
zero e o máximo da onda: é o chamado valor de pico da onda (Vp). É este valor que<br />
permite definir a altura (intensidade) de um som. A diferença entre o máximo positivo<br />
e o máximo negativo da onda é chamado de valor pico-a-pico (Vpp), valor este<br />
utilizado em algumas medidas de potência. 11<br />
1.2.2 Freqüências das vibrações sonoras<br />
As vibrações sonoras são divididas, quanto à freqüência, em três tipos:<br />
• as ondas sonoras propriamente ditas, ou faixa audível, que abrange a faixa<br />
aproximada entre 16 a 20 Hz até 20.000 Hz;<br />
• as ondas sonoras infra-sônicas, ou infra-sons, cuja freqüência está abaixo de<br />
16 a 20 Hz;<br />
• as ondas sonoras ultra-sônicas, ou ultra-sons, cuja freqüência está acima de<br />
20.000 Hz.<br />
As duas últimas não podem ser percebidas pelo ouvido humano. Entretanto,<br />
animais podem perceber os infra-sons (os elefantes, p. ex.), e os ultra-sons (os cães<br />
e os morcegos, p. ex.).<br />
A faixa audível, 12 por sua vez, pode ser subdividida em três partes:<br />
• Os sons graves, ou sons de mais baixa freqüência;<br />
• Os sons médios, ou sons de média freqüência;<br />
• Os sons agudos, ou sons de mais alta freqüência.<br />
A voz masculina (na conversação) geralmente fica compreendida entre as<br />
freqüências de 100 a 200 Hz, e a feminina, entre 200 e 400 Hz. Deste modo, a voz<br />
masculina é mais grave (ou grossa), e a feminina, mais aguda (mais fina).<br />
10 O valor correspondente ao eixo –V1 é mais positivo (menos negativo) do que o valor correspondente<br />
ao eixo –V2, que o valor mais negativo (máximo negativo).<br />
11 Outros valores, tais como o valor eficaz de uma onda senoidal, ou valor RMS, como também a<br />
chamada potência PMPO (ambos medidos em Watts), serão vistos no Capítulo XIII.<br />
12 Os sons audíveis, de um modo geral, podem ser provocados fisicamente pela vibração de cordas,<br />
colunas de ar, discos e membranas. A vibração de cordas tensionadas produz ondas sonoras cuja<br />
freqüência é função do seu comprimento e da sua espessura. Um tubo fechado em uma das pontas ressoa<br />
em uma freqüência característica, que é função do seu comprimento e da sua espessura. Em discos ou<br />
membranas, a freqüência é proporcional à raiz quadrada da tensão e inversamente proporcional ao seu<br />
raio.<br />
19
No canto, as freqüências mais agudas não ultrapassam 1.500 Hz. Quanto aos<br />
instrumentos musicais, a freqüência máxima está por volta de 4.200 Hz (entretanto,<br />
seus harmônicos – veja-se adiante o seu significado – podem ir até a freqüência de<br />
16.000 Hz ou mais). Nos dois casos, existem as faixas de especialização que cobrem,<br />
ou mais os sons graves, ou mais os sons agudos.<br />
Os gráficos a seguir mostram as faixas de sons citadas, em termos de freqüências.<br />
É evidente que os sons agudos (em que as senóides estão menos espaçadas) são os<br />
de mais elevada freqüência, dentro da faixa audível.<br />
A faixa audível pode ser analisada com relação à formação dos sons e com relação<br />
à percepção dos sons.<br />
Por formação dos sons, aqui, entende-se tanto como a formação através da voz (o<br />
canto), como através de instrumentos (criação ou reprodução). No primeiro caso, os<br />
sons musicais (tipos de vozes) variam conforme sejam emitidos por homens ou por<br />
mulheres; no segundo, conforme o instrumento ou aparelho capaz de gerar ou<br />
reproduzir o som musical desejado. Os tipos de vozes serão analisados mais à frente, no<br />
capítulo VII. Quanto aos instrumentos, além do capítulo VII, outras possibilidades<br />
serão vistas no capítulo XII.<br />
Com relação à percepção dos sons, o ouvido pode perceber e captar uma ampla<br />
gama de sons, naturais e artificiais. Teoricamente, a faixa de percepção varia de 20 a<br />
20.000 Hz, mas ela varia em função de causas diversas, sendo a principal a idade; as<br />
pessoas mais idosas têm reduzida a sua faixa audível, principalmente na faixa de<br />
agudos.<br />
II) A distância entre os pontos b e d, ou distância entre os ventres da senóide,<br />
define a amplitude A (também denominada intensidade, potência ou volume) da onda<br />
sonora. A amplitude A define matematicamente, através da representação gráfica, o<br />
valor da intensidade sonora da vibração, considerada fisicamente; quanto maior a<br />
distância entre os ventres, em relação ao eixo X, maior a amplitude da onda sonora, ou<br />
seja, mais intenso o som. Se a distância entre ventres é pequena, o som é menos<br />
intenso.<br />
As senóides a seguir representam exemplos de ondas sonoras de diferentes<br />
intensidades.<br />
20
O gráfico da esquerda representa uma onda sonora cuja intensidade é maior do que<br />
a intensidade da onda mostrada no gráfico à direita.<br />
A intensidade sonora percebida varia conforme a freqüência, conforme se verá<br />
mais adiante. De acordo com a intensidade, e para uma mesma freqüência, os sons se<br />
denominam:<br />
• Som forte, ou som de grande intensidade;<br />
• Som médio, ou som de média intensidade;<br />
• Som fraco, ou som de pequena intensidade.<br />
Sob o ponto de vista acústico, o aumento e a diminuição da intensidade do som são<br />
denominados, respectivamente, crescendo e diminuindo (ou decrescendo).<br />
1.3 Características do som puro<br />
Até aqui foram estudadas as características denominadas altura (ou freqüência) e<br />
intensidade, em relação ao som de freqüência única e constante (também denominado<br />
som puro).<br />
O som periódico amortecido ou não constante possui outras características, além<br />
das anteriores. É a duração, definida como o intervalo de tempo decorrido entre o<br />
momento em que o som é produzido até o momento em que desaparece.<br />
A duração pode ser representada graficamente nos eixos XY. Esta não é uma<br />
função senoidal; 13 o eixo Y representa a intensidade da onda sonora (i), e o eixo X<br />
representa o tempo decorrido (t). 14<br />
O tempo que decorre entre o início 0 e o instante t’’’ representa a duração do som.<br />
Percebe-se que existe um intervalo de tempo entre este início e o instante no qual a<br />
vibração atinge a intensidade máxima (i’); é o intervalo 0 a t’. A intensidade máxima<br />
dura apenas o intervalo t’ a t’’; em seguida, decorre outro intervalo de tempo até o<br />
momento em que o som se extingue; é o intervalo t’’ a t’’’. A parte inicial é<br />
13 Para ser uma função senoidal, os valores devem variar periodicamente entre dois máximos, um<br />
positivo e outro negativo, sempre passando pelo valor zero.<br />
14 Esta é uma forma de onda apenas aproximativa; uma abordagem mais exaustiva a respeito deste<br />
tópico será feita no Capítulo XIII.<br />
21
denominada, em física, transiente de partida, e em música, ataque; o intervalo t’ a t’’ é<br />
denominado sustentação, laço ou estado estável, e a parte final, t’’ a t’’’, é denominada<br />
queda ou decaimento. O ataque e o decaimento são também denominados transitórios.<br />
O intervalo total, 0 a t’’’ (ou duração), não demora mais do que alguns décimos de<br />
segundo; a memória auditiva pode retê-lo por um tempo maior.<br />
1.3.1 Produção simultânea de dois sons puros: efeitos<br />
Quando duas ou mais ondas sonoras puras são produzidas simultaneamente,<br />
ocorrem os seguintes fenômenos:<br />
I) Fase: quando o início, os máximos e mínimos e o fim de duas ondas 15 sonoras de<br />
mesma freqüência e diferentes intensidades coincidem entre si, diz-se que elas estão<br />
em fase.<br />
No gráfico anterior, as duas ondas estão superpostas para melhor visualização da<br />
coincidência dos ciclos.<br />
Quando os ciclos não são coincidentes, as ondas não estão em fase.<br />
Nos gráficos abaixo, há uma diferença de fase de 90º no primeiro (o início do ciclo<br />
superior corresponde ao valor máximo, ou ventre positivo, da onda inferior), enquanto<br />
que no segundo a diferença de fase é de 180º (o valor máximo na onda superior<br />
coincide com o valor mínimo na onda inferior).<br />
No segundo caso, se as ondas forem perfeitamente iguais e a diferença de fase for<br />
exatamente de 180º, as duas ondas sonoras cancelam-se mutuamente em intensidade, e<br />
a onda resultante seria nula.<br />
15 Não há diferença entre chamar de onda ou de ciclo.<br />
22
Se a fase for de 0º exato, as intensidades se somam, e a onda resultante tem o dobro<br />
da intensidade de cada onda formadora.<br />
II) Batimento: denomina-se batimento de freqüência ao fenômeno pelo qual duas<br />
ondas sonoras de freqüências bem próximas entre si (e soando juntas) 16 dão como<br />
resultado uma terceira freqüência, correspondente à diferença de freqüências entre elas.<br />
Assim, um som com uma freqüência de 200 Hz, soando junta com outro na freqüência<br />
de 170 Hz, seu batimento dará origem (auditiva, ou virtual) a outra freqüência igual a<br />
30 Hz (200 – 170 = 30 Hz), modulada em amplitude (veja-se o item seguinte).<br />
III) Modulação: é o nome específico do efeito que resulta do batimento entre<br />
ondas de freqüências ligeiramente diferentes, mas de intensidades iguais. O resultado é<br />
uma onda de freqüência equivalente à diferença entre elas e cuja intensidade varia: é a<br />
chamada modulação em amplitude (AM – Amplitude Modulation). 17<br />
16 Mas não necessariamente de mesma intensidade.<br />
17 Existe, igualmente, a chamada Modulação em Freqüência (FM – Frequency Modulation), na qual a<br />
onda resultante não varia em amplitude, e sim em freqüência.<br />
23
IV) Interferência: 18 é o fenômeno que ocorre quando duas ondas sonoras<br />
provindas de duas fontes diferentes se encontram e interferem entre si. Entre em som<br />
forte e um som fraco, a interferência pode ser construtiva ou destrutiva. A interferência<br />
construtiva ocorre se os sinais estiverem em fase, quando então somam as suas<br />
intensidades; a interferência destrutiva ocorre se os sinais estiverem com fases<br />
desiguais, quando um anula o outro, seja parcial ou totalmente (neste caso, as diferença<br />
de fase deve ser igual a 180º).<br />
V) Ondas periódicas não senoidais: são as ondas resultantes do batimento entre<br />
duas (ou mais) ondas senoidais periódicas de intensidades e freqüências diferentes<br />
entre si. Neste caso, a onda resultante é uma onda periódica, mas, pelo fato das<br />
intensidades das ondas ora se ora se somarem, ora se cancelarem parcialmente (ou<br />
totalmente), em razão da diferença de fase (por serem de freqüências desiguais), elas<br />
formarão uma onda resultante de formato irregular, ou seja, uma onda não senoidal de<br />
freqüência igual à diferença de suas freqüências.<br />
VI) Ressonância: 19 é o fenômeno pelo qual um corpo vibratório em repouso,<br />
aproximado de outro corpo vibratório idêntico, que esteja em vibração, passa a vibrar<br />
nesta mesma freqüência, embora com menor intensidade.<br />
18 É uma das características do som citadas anteriormente.<br />
19 Outra das características do som citadas anteriormente.<br />
24
Este fenômeno deve-se a que certos corpos, denominados corpos vibratórios ou<br />
corpos vibrantes, ao receberem a vibração das moléculas de ar vindas de outro corpo<br />
de mesmas características, e pelo fato de eles mesmos vibrarem naturalmente nesta<br />
mesma freqüência quando percutidos (freqüência esta que é própria do corpo), passam<br />
a vibrar como o tivessem sido.<br />
O movimento ressonante é também denominado movimento simpático.<br />
VII) Refração: 20 é o fenômeno que ocorre quando uma vibração sonora passa de<br />
um meio para outro (por exemplo, do ar para uma chapa de vidro). Neste caso, ocorre<br />
uma mudança na direção de propagação desta mesma onda.<br />
VIII) Harmônicos: são as freqüências múltiplas da freqüência fundamental F. Por<br />
exemplo, uma onda sonora de freqüência igual a 200 Hz terá como freqüências<br />
múltiplas: 400 Hz (segundo harmônico); 600 Hz (terceiro harmônico); 800 Hz (quarto<br />
harmônico); etc. Existem, então, os harmônicos de ordem ímpar (primeiro – ou a<br />
própria fundamental; terceiro, quinto, etc.) e os harmônicos de ordem par (segundo,<br />
quarto, sexto, etc.). 21<br />
A fundamental confunde-se com o primeiro harmônico (são a mesma freqüência).<br />
O segundo harmônico (2F) tem o dobro da freqüência fundamental; o terceiro<br />
harmônico (3F) tem o triplo da freqüência fundamental, etc.<br />
IX) Efeito doppler: ocorre quando um determinado som é ouvido se aproximando<br />
ou se distanciando rapidamente do ouvinte. No primeiro caso, o som se torna mais<br />
20 Última das características do som citadas anteriormente.<br />
21 Um tubo ressoador fechado emite apenas os harmônicos de ordem ímpar.<br />
25
agudo; no segundo caso, o som se torna mais grave (sempre como uma ilusão auditiva,<br />
porque para um ouvinte postado dentro do objeto que provoca o som – um automóvel<br />
buzinando, por exemplo – o som se mantém igual, em freqüência). Se o objeto e o<br />
ouvinte estão ambos parados, a freqüência não se altera (como mostra a primeira<br />
figura).<br />
O efeito doppler ocorre porque o comprimento de onda das vibrações diminui, no<br />
sentido do movimento, o que implica em aumento da freqüência (o som se torna<br />
agudo). No lado oposto, o comprimento de onda aumenta, implicando em diminuição<br />
da freqüência (o som se torna mais grave). O mesmo fenômeno ocorre se é o ouvinte<br />
que se aproxima ou se distancia rapidamente de um objeto vibrante.<br />
Denominando f’ a freqüência recebida pelo observador e f a freqüência emitida pela<br />
fonte, temos duas possibilidades:<br />
Aproximação: f’ > f<br />
Afastamento: f’ < f<br />
Essas grandezas são relacionadas pela expressão:<br />
v = velocidade da onda<br />
, onde:<br />
26
vF = velocidade da fonte<br />
vo = velocidade do observador<br />
f = freqüência real emitida pela fonte<br />
f’ = freqüência aparente recebida pelo observador.<br />
Os sinais mais (+) ou menos (-) que precedem o vo ou vF, na equação são<br />
utilizados nas seguintes condições:<br />
X) Atenuação: é o enfraquecimento das ondas de som, o que pode ocorrer por<br />
vários motivos: a distância percorrida; 22 o encontro com obstáculos; o uso de<br />
amortecedores, abafadores, isolantes ou absorvedores de som. O enfraquecimento<br />
corresponde à diminuição da intensidade sonora original. Em função da distância, ou<br />
em função do material que originou a onda sonora (o diapasão, p. ex.), a atenuação<br />
corresponde ao amortecimento.<br />
1.4 Som complexo<br />
O som complexo é um som rico em harmônicos; ele difere do som puro em duas<br />
características: a) embora seja uma onda periódica, não é uma onda senoidal; b) ao<br />
contrário do som puro, que possui uma única freqüência, ele possui vários harmônicos,<br />
além da freqüência fundamental.<br />
Deve-se ao matemático francês Fourier a demonstração, em 1822, de que toda onda<br />
complexa é formada pela soma de várias ondas senoidais, ou harmônicos. 23 Tal é o<br />
chamado Teorema de Fourier, que se pode enunciar assim: “uma onda periódica<br />
qualquer, não senoidal, é formada pela superposição de certo número de seus<br />
harmônicos”. O som complexo é também chamado de som composto.<br />
Entre os principais tipos de sons complexos, tem-se: 1) aquele que é formado pela<br />
freqüência fundamental e todos os seus harmônicos (de qualquer ordem), e cuja onda<br />
22 A intensidade sonora cai 6 decibéis cada vez que se dobra a distância. Assim, uma intensidade (que foi<br />
medida) de 90 dB a 2 metros, será de 84 dB a 4 metros e de 78 dB a 8 metros.<br />
23 A demonstração do teorema de Fourier veio como resultado final de uma série de conjecturas feitas<br />
acerca das oscilações harmônicas, um tema muito comum nos séculos XVI a XVIII (“controvérsia da<br />
corda vibrante”). Entre outros, Galileu, Mersenne, Daniel Bernoulli e Lagrange trataram do assunto.<br />
27
esultante forma uma onda denominada onda triangular; 2) aquele que é formado pela<br />
freqüência fundamental e pelos harmônicos de ordem ímpar, e cuja onda resultante é<br />
denominada onda quadrada.<br />
A onda triangular também é conhecida pelo nome de onda dente-de-serra, devido<br />
ao seu formato específico. A figura a seguir mostra um exemplo desta onda: 24<br />
1.4.1 Timbre<br />
As notas iguais produzidas por diferentes instrumentos musicais permitem que se<br />
distinga a sua origem, em função do número de harmônicos que possuem: é o que dá o<br />
timbre do instrumento, ou sua coloração tonal. O timbre depende do número, da ordem<br />
e da intensidade dos diferentes harmônicos associados ao som fundamental (mas não<br />
depende das suas fases), e são específicos para cada instrumento (ou seja, cada<br />
instrumento tem o seu timbre característico). A mistura dos harmônicos com o som<br />
fundamental não modifica a altura, somente o timbre.<br />
Em resumo, pode-se dizer que o som tem as seguintes características: 25<br />
• Intensidade: é a potência sonora percebida;<br />
• Altura: é a freqüência percebida pelo ouvido;<br />
• Duração: é o intervalo de tempo durante o qual o som é ouvido;<br />
• Timbre: é o som típico de cada instrumento;<br />
• Ataque: é o intervalo de tempo que o timbre leva para ser percebido.<br />
1.4.2 Parciais<br />
Os sons senoidais associados ao som fundamental são denominados parciais.<br />
Quando estes sons estão em série harmônica, ou seja, uma fundamental e seus<br />
harmônicos, o som é dito musical, e tem sua altura perfeitamente determinada. Quando<br />
não estão em série harmônica, o som não tem altura definida (exceto se um dos sons<br />
componentes é bastante intenso, como no caso do som produzido por um sino), e não é<br />
24 Variação apenas positiva, no exemplo dado.<br />
25 Outras características tais como vibrato e portamento, serão vistas no Capítulo XIII.<br />
28
periódico. Estão neste caso os sons produzidos por membranas, placas, hastes<br />
metálicas vibrantes, etc. Estes sons são utilizados em música para marcar o ritmo<br />
(tambor, caixa, címbalos, pratos, etc.).<br />
29
CAPÍTULO II<br />
O FENÔMENO SONORO: ANÁLISE PSICO-FISIOLÓGICA<br />
2.1 Propriedades psicológicas do som<br />
Até aqui, estudou-se o som em relação às suas propriedades físicas; com relação às<br />
suas propriedades psicológicas, ou quanto à percepção, o som pode ser:<br />
• ruído ou barulho: é todo som desagradável ao ouvido;<br />
• som fonêmico: é o som que forma a palavra falada ou cantada;<br />
• som musical: é o som que participa da música. 26<br />
O ruído ou barulho é um som aperiódico muito complexo e geralmente de bem<br />
curta duração, no qual um dos sons parciais pode predominar. Sua altura é<br />
indiscernível, em função de sua brevidade. Ruídos, então, são parciais de curtíssima<br />
duração.<br />
A amplitude e a fase dos componentes do ruído são distribuídas estatisticamente<br />
(aleatoriamente), sendo difícil determinar sua ordem harmônica. Deste modo, o ruído<br />
pode ser: gaussiano; ruído branco (que contém todas as freqüências, assim como a luz<br />
branca contém todas as cores); 27 ruído estocástico; etc.<br />
A figura a seguir é um exemplo de onda (ou som) que pode ser caracterizada como<br />
ruído.<br />
De um modo geral, o ruído é indesejável quando vem junto com outros sons<br />
desejados. Além disso, muitas vezes tem um efeito aterrorizante sobre o homem,<br />
principalmente se é súbito e provocado em momento de tensão. Com alto nível de<br />
intensidade, o ruído tem efeito destrutivo sobre o corpo humano; tal efeito, no entanto,<br />
está vinculado à idade do ouvinte, pois, de modo geral, os jovens toleram maior<br />
quantidade de ruídos que os mais idosos.<br />
Quando é mais intenso, em presença de outro som (denominado principal), o ruído<br />
pode produzir o efeito de mascaramento, que faz com que a habilidade de perceber o<br />
som principal diminua, como resultado de uma ação inibitória no sistema nervoso<br />
(tentar se fazer ouvir ao lado de uma máquina barulhenta mostra bem o efeito do<br />
mascaramento). Este efeito é mais intenso quando as freqüências do som principal e do<br />
ruído são próximas.<br />
O som fonêmico constitui a voz falada ou cantada. Os fonemas constituem a menor<br />
unidade do sistema sonoro da linguagem. Pelo estudo da fonação, sabe-se que a voz<br />
pode articular todos os tipos de sons: surdos, sonoros, nasais e orais; são estes sons,<br />
com características diferenciadoras (p. ex., um som vibrante simples alveolar<br />
diferencia-se de outro som, que seja vibrante múltiplo alveolar) estudadas pela fonética<br />
26 Como se verá oportunamente, a música pode conter simultaneamente todos estes sons citados.<br />
27 Um exemplo do denominado ruído branco é o som produzido por um aparelho de TV ligado em um<br />
canal que esteja fora do ar.<br />
31
e pela fonologia, que vem a constituir os fonemas. O canto pode ser ou não<br />
acompanhado por sons musicais (música), sendo o canto não acompanhado<br />
denominado a capela (a capella)<br />
O som musical é o som que participa da música. É evidente que o canto,<br />
principalmente o não acompanhado, constitui um som musical; a voz pode emitir todas<br />
as notas musicais, em uma tessitura ou alcance que vai do baixo (nota mais grave) ao<br />
tenor (ou contra-tenor) nota mais aguda, ou do contralto (nota mais grave) ao soprano<br />
(nota mais aguda), conforme a voz seja masculina ou feminina.<br />
Entretanto, o som musical propriamente dito é o som produzido por instrumentos<br />
musicais. Este som é a nota musical. Embora a nota possa ser produzida pelos mais<br />
variados tipos de instrumentos (de sopro, corda, etc.), ressoando em cada um com um<br />
timbre diferente característico do instrumento, ela é reconhecida sem nenhuma<br />
dificuldade pelo ouvido. Uma nota DÓ3, por exemplo, é reconhecida mesmo quando<br />
tocada em instrumentos diferentes, com timbres diferentes.<br />
2.2 Fenomenologia da percepção sonora<br />
A compreensão da estrutura sonora exige o conhecimento preliminar do sentido<br />
físico da audição, ou sensação auditiva, que é o fenômeno objetivo, bem como do<br />
fenômeno psicológico da percepção e apreciação do som, o qual ocorre na mente, e<br />
constitui o fenômeno subjetivo. No primeiro caso, estuda-se o órgão anatômico<br />
responsável pela sensação de audição, que é o ouvido; no segundo caso, estuda-se o<br />
modo pelo qual o cérebro percebe a estrutura sonora, e que, sabe-se atualmente, é uma<br />
função do hemisfério cerebral direito.<br />
2.2.1 Anatomia do ouvido<br />
O ouvido, para um estudo esquemático, é dividido em três partes: ouvido externo;<br />
ouvido médio; ouvido interno.<br />
O ouvido externo é constituído pela pavilhão auditivo (orelha) e o canal auditivo<br />
externo, ou meato auditivo externo, o qual termina no tímpano.<br />
O pavilhão auditivo tem características direcionais (direcionalidade, ou localização<br />
espacial do som), além de servir como uma espécie de amplificador sonoro. Quanto ao<br />
canal auditivo, sendo um tubo fechado em uma das extremidades, ele possui uma<br />
32
freqüência de ressonância, freqüência esta que foi verificada experimentalmente situarse<br />
em torno de 3.800 Hz. 28<br />
O ouvido médio fica contido numa cavidade do osso temporal, denominada<br />
cavidade timpânica. Na parede interna do tímpano ficam contidas as janelas oval, na<br />
parte superior, e redonda, na inferior. O ouvido médio contém os ossículos<br />
denominados martelo, bigorna e estribo, cujos nomes se devem às suas configurações<br />
físicas, e cuja função é acoplar ou unir mecanicamente o tímpano ao caracol ou cóclea,<br />
através da janela oval.<br />
Uma das funções do ouvido médio é proteger o ouvido interno dos sons de alta<br />
intensidade ou mudanças súbitas de pressão (que se realiza em cerca de 1/10 de<br />
segundo), o que ele faz, seja contraindo o tímpano, seja afastando o estribo da janela<br />
oval, através de dois conjuntos de músculos. Por outro lado, a ação destes músculos<br />
ajudam na percepção de sons graves (correspondentes a uma conversação normal) em<br />
um meio sonoro de intenso barulho. No ouvido médio se encontra também a Trompa<br />
de Eustáquio, que se liga à garganta e equilibra a pressão interna de acordo com a<br />
pressão atmosférica.<br />
O ouvido interno, também chamado labirinto, consiste em uma série de espaços, ou<br />
labirinto ósseo (que inclui o vestíbulo, os canais semicirculares e a cóclea) no interior<br />
dos ossos, dentro do qual se encontra o labirinto membranoso, que é um sistema<br />
fechado de bolsas e canais que se comunicam. O labirinto membranoso se encontra<br />
cheio de um líquido, a endolinfa, e é rodeado pela perilinfa, a qual preenche o labirinto<br />
ósseo; é composto de duas bolsas, o utrículo e o sáculo. Iniciando no sáculo encontrase<br />
o canal coclear, ou condutor coclear, que é um tubo longo enrolado dentro da<br />
perilinfa da cóclea.<br />
A cóclea é enrolada helicoidalmente em torno de um eixo central chamado<br />
modiolus, tomando a forma de um cone arredondado, ou concha de caracol. Ela possui<br />
uma membrana mediana, que a divide em dois canais (ou rampas): o canal vestibular e<br />
o canal timpânico, os quais se comunicam na extremidade da cóclea (chamada ápex ou<br />
helicotrema).<br />
28 Uma segunda zona de ressonância ocorre próximo aos 13.000 Hz (13 Khz).<br />
33
Esta membrana central, que contém o canal central, chamado duto ou canal<br />
coclear, o qual abriga o órgão essencial da audição, o órgão de Corti, é chamada de<br />
membrana basilar ou lâmina espiral. Ela possui cerca de 25.000 filamentos ou fibras<br />
de comprimento decrescente na direção do seu vértice, e mais larga na ponta.<br />
No ouvido interno, os canais semicirculares se comunicam com o utrículo, e<br />
relacionam-se com o sentido de equilíbrio ou orientação corporal.<br />
2.2.2 Fisiologia da audição<br />
O ouvido externo recebe os sons no pavilhão e os conduz pelo canal auditivo até a<br />
membrana do tímpano. A onda sonora que atinge o tímpano provoca o movimento da<br />
janela oval, movimento este transmitido pelos ossículos (martelo, bigorna e estribo),<br />
produzindo uma onda que se propaga através do líquido que preenche a cóclea (a<br />
perilinfa do canal vestibular)<br />
A cóclea é preenchida por um fluido, e sua superfície interna possui cerca de<br />
20.000 células nervosas em forma de cílios ou filamentos, distribuídos ao longo da<br />
membrana basilar. A onda sonora provoca a vibração destes cílios. Esta membrana tem<br />
a capacidade de vibrar (entrar em ressonância) em pequenas gamas de freqüência, dos<br />
agudos (perto da janela oval) aos graves (perto da janela redonda). Esta ressonância<br />
não ocorre abaixo de 20 Hz ou acima de 20.000 Hz.<br />
As variações de pressão no fluido que preenche o canal vestibular se transmitem ao<br />
canal timpânico; deste modo, quando a janela oval se curva para dentro, a janela<br />
redonda (que é uma membrana no canal timpânico) curva-se para fora. São estas<br />
mudanças de pressão que afetam os cílios da membrana basilar (que é parte da lâmina<br />
espiral), e o movimento desta provoca variações de condutância elétrica da membrana<br />
das células ciliadas, i. é, provoca a passagem de um impulso elétrico através das fibras<br />
nervosas do nervo auditivo até o cérebro, o qual traduz este impulso elétrico como<br />
som.<br />
As freqüências nas quais as células ciliadas vibram com mais intensidade são<br />
chamadas de bandas críticas. 29 Os sons são então processados (na membrana basilar)<br />
em sub-bandas, que são as bandas críticas. Cada banda corresponde a uma seção de<br />
aproximadamente 1,3 mm na cóclea. Sua largura crítica difere conforme a faixa de<br />
freqüência: abaixo de 500 Hz, as bandas são constantes e iguais a 100 Hz; para cima,<br />
cada banda tem uma largura cerca de 20% maior do que a anterior. 30<br />
As células ciliadas, em conjunto com as fibras nervosas primárias a elas ligadas,<br />
realizam seletivamente a análise do som em relação à sua freqüência. Isto significa que<br />
29 Este foi um conceito introduzido pelo fisiólogo Harvey Fletcher.<br />
30 Para a banda crítica foi criada uma unidade especial: o bark. Um bark corresponde à largura de uma<br />
banda crítica.<br />
34
a organização das vias e centros auditivos é tonotópica: 31 somente partes limitadas<br />
delas exercem atividade neuronal, em relação a uma freqüência determinada.<br />
Esta “análise” ocorre porque os cílios ou filamentos vibram em função da<br />
freqüência sonora. No vértice, as fibras ressoam com os agudos; no meio, com os<br />
médios; na base, com os graves. É no ouvido interno, então, que as características<br />
sonoras de freqüência, intensidade e timbre podem ser percebidas. Assim, pode-se<br />
dizer que a membrana basilar separa um som complexo em seus componentes<br />
fundamentais. Isto porque o ouvido interno, sendo um tubo em forma de espiral,<br />
constitui um sistema acústico ressonante bem complexo.<br />
A transferência de energia do ar ao ouvido é realizada com grande eficiência, pois<br />
o tímpano reflete muito pouco da energia incidente, transmitindo sua maior parte; os<br />
sinais nervosos são função do número de filamentos excitados, sendo que o número de<br />
impulsos elétricos enviados ao cérebro pela membrana basilar é proporcional ao<br />
quadrado da intensidade do som. Como a distribuição de amplitude ao longo dos<br />
filamentos da membrana basilar é assimétrica aos máximos de amplitude, seu centro de<br />
gravidade se desloca em função desta, originando uma variação subjetiva da altura do<br />
som. Assim, os sons pouco intensos são subjetivamente mais agudos, com relação às<br />
freqüências média e baixas, enquanto que os sons de mais alta freqüência são algo mais<br />
graves do que os sons mais intensos, de mesma freqüência.<br />
É na cóclea que se realiza a separação das diversas freqüências sonoras (20 Hz a<br />
20.000 Hz), ao longo do seu comprimento:<br />
Em relação à complexidade do estímulo (sons de natureza complexa), os neurônios<br />
respondem em função dos níveis de análise em que se especializam. Quanto mais<br />
elevado o seu nível de análise, menos eles responderão aos sons de natureza simples.<br />
Existem neurônios que respondem no início ou no final do estímulo acústico; outros<br />
podem responder a determinadas freqüências, e serem inibidos por outras. É de se<br />
notar, contudo, que é somente o cérebro que realiza a análise e a interpretação<br />
definitiva dos sinais sonoros. Antes de investigar a ação do cérebro no fenômeno da<br />
percepção, é conveniente avaliar algumas particularidades concernentes às sensações<br />
sonoras e sua medida. É o que se fará a seguir.<br />
2.3 Psicofísica da audição<br />
2.3.1 Audibilidade<br />
Antes de prosseguir, e para que se entendam as unidades de áudio que serão<br />
usadas, o quadro seguinte mostra a relação numérica entre os valores:<br />
31 Tonotópica: de tonos, tom e topos, lugar. Cada parte responde a um tom diferente.<br />
35
Nome Valor Símbolo<br />
pico 10 -12 ou 0,000000000001 p<br />
nano 10 -9 ou 0,000000001 n<br />
micro 10 -6 ou 0,000001 µ<br />
mili 10 -3 ou 0,001 m<br />
unidade 32 1<br />
kilo 10 3 ou 1000 k<br />
mega 10 6 ou 1000000 M<br />
O ouvido humano, como já se disse, é capaz de perceber vibrações sonoras entre 16<br />
a 20 Hz até 20.000 Hz (20 kHz). A pressão exercida pela onda sonora, para que esta<br />
seja ouvida, não pode ser inferior a um mínimo, denominado limite de audibilidade. 33<br />
A sensibilidade máxima do ouvido situa-se entre freqüências de 1.000 Hz até 4.000<br />
Hz (1 kHz até 4 kHz). O ouvido não possui uma sensibilidade linear ao som; isto<br />
porque ele pode perceber intensidades de som em intervalos tão distantes entre si<br />
quanto um sussurro ou o rugir de um motor de avião a jato, a um metro de distância,<br />
sem que sofra qualquer dano ou perca a sensibilidade. 34 Isto ocorre porque a maioria<br />
dos sons é formada por uma composição de freqüências, e não por sons de freqüência<br />
única. 35<br />
A intensidade de um som puro é, por definição, a potência sonora medida em uma<br />
área unitária perpendicular à direção do som. A eletroacústica mede este som através<br />
de um microfone calibrado, acoplado a um medidor de intensidade sonora. Esta<br />
potência sonora é medida em watts por centímetro quadrado (W/cm 2 ), sendo que a<br />
medida geral de intensidade (ou potência) de um sinal sonoro é dada em Watts (W).<br />
Os medidores de intensidade sonora não medem diretamente a intensidade do som,<br />
mas a dão em relação a um determinado nível de referência. Deste modo, já não se fala<br />
mais em intensidade sonora, e sim, em nível de intensidade sonora (NIS). Como o<br />
ouvido responde a uma gama de freqüências muita ampla, costuma-se usar uma escala<br />
logarítmica. Deste modo, foi criada uma unidade de medida logarítmica para medir o<br />
NIS: é o decibel (dB). Por definição, o decibel é igual a:<br />
NIS = 10 log I/Iref<br />
I é a intensidade de um som dado, e Iref é um sinal de referência, cujo valor é igual<br />
a 10 -16 W/cm 2 (10.000 pW/cm 2 ). Assim, a medida de um nível qualquer de intensidade<br />
sonora é dada em decibéis.<br />
32<br />
A unidade é qualquer: Hz (Hertz); Watts (W); decibéis (dB); etc. Qualquer das unidades pode ser<br />
subdividida em: décimos (0,1); centésimos (0,01); milésimos (0,001). Tenha-se em conta que as<br />
unidades nos EUA são separadas por vírgula (cada três casas) e ponto (a unidade). Por exemplo,<br />
1.000,00 (em unidades do Brasil) fica 1,000.00 (no sistema de unidades dos EUA).<br />
33<br />
Este limite está apenas ligeiramente acima da vibração molecular do próprio ar que circunda o ouvido.<br />
Esta pressão constitui cerca de um bilionésimo da pressão atmosférica. A audibilidade é medida em<br />
Newtons por metro quadrado (N/m 2 ), e os limites de audibilidade são: de 0,00001 N/m 2 (correspondente<br />
a uma potência de 1 picowatt/m 2 ) até 100 N/m 2 . A relação entre a potência máxima e a mínima é de 130<br />
dB, ou de 10 13 (NEPOMUCENO, 1968).<br />
34<br />
Evidentemente, a exposição contínua e repetida a sons de alta intensidade pode acabar provocando<br />
danos na audição.<br />
35<br />
Após a percepção do som, o cérebro realiza uma integração durante certo período, durante o qual é<br />
avaliada a média dos níveis sonoros. A percepção, então, é do volume médio das intensidades sonoras<br />
recebidas pelos ouvidos.<br />
36
O valor de 10 -16 W/cm 2 é o valor mínimo de intensidade sonora percebida, em<br />
condições de laboratório. O indivíduo, dentro de uma câmara anecóica, 36 é submetido à<br />
audição de um sinal sonoro de 1.000 Hz, em um nível audível. Este nível é atenuado<br />
até que o sinal não seja mais ouvido (o que ocorre para o valor de 10 -16 W/cm 2 ). Essa<br />
intensidade sonora é, então, o limiar de audição, para esta freqüência. Repetindo-se a<br />
experiência para outras freqüências, obtém-se uma curva em função da freqüência, que<br />
será o limiar da audição.<br />
Antes de continuar, em razão da confusão que se faz com relação aos termos<br />
usados na psico-acústica, são dados os termos em inglês das grandezas mais<br />
conhecidas: 37<br />
intensidade sonora sound intensity<br />
audibilidade loudness<br />
nivel de intensidade sonora (NIS) sound intensity level<br />
freqüência frequency<br />
altura pitch<br />
A intensidade sonora (sound intensity) é a energia sonora transmitida por unidade<br />
de tempo através de uma área unitária; mede a magnitude do som. A sua medida é feita<br />
em relação ao valor padrão Io = 10 -12 watts/m 2 = 10 -16 watts/cm 2 , correspondente ao<br />
limiar de audição. 38<br />
O gráfico a seguir mostra o chamado campo de audibilidade, ou campo de audição<br />
do ouvido humano:<br />
No limiar da dor, a potência chega a cerca de 1 watt/m 2 .<br />
As áreas relativas à música e voz, dentro do campo de audibilidade, estão no<br />
gráfico a seguir:<br />
36<br />
Câmara ou sala fechada, onde se eliminam todos os ruídos e ecos possíveis.<br />
37<br />
Algumas vezes os termos audibilidade e intensidade sonora (ou sonoridade) são conhecidos como<br />
audibility e loudness.<br />
38 2 2 2<br />
A unidade de medida é dada em erg/segundo/cm , watts/m ou watts/cm .<br />
37
Existem outras unidades de medida para a intensidade sonora, 39 mas a mais comum<br />
é a que usa a escala logarítmica de decibel (dB).<br />
A medida da intensidade de dois sons puros é dado pela seguinte relação:<br />
I = 10 log P1/P2 ,<br />
sendo I o valor da intensidade sonora (NIS, ou SL = sound intensity level), e P1 e P2 as<br />
intensidades sonoras a serem relacionadas. 40<br />
Medidas acuradas realizadas em laboratórios através de instrumentos apropriados<br />
permitem afirmar que, para dois sons de mesma freqüência, 41 um dos quais tem duas<br />
vezes a potência do outro (por exemplo, quando um tem a potência de 20 W, e o outro,<br />
de 10 W), eles possuem uma relação entre si de 3 decibéis (3 dB), 42 o que significa<br />
que, em termos de intensidade sonora, o som mais forte, ainda que duas vezes mais<br />
potente, tem apenas três vezes a intensidade sonora (perceptível) do som mais fraco. 43<br />
Para que o ouvido possa perceber o dobro do nível de intensidade sonora (NIS), a<br />
potência tem que ser multiplicada por dez (100W!). 44 Neste caso, o acréscimo do NIS é<br />
igual a 10 dB.<br />
O gráfico a seguir mostra a relação logarítmica entre vários valores de intensidade<br />
(ou potência) sonora.<br />
39 Outros valores de audibilidade usados são: phon (fon) e sone (son).<br />
40 A medida de um fortíssimo (SL = 10 -3 watts/m 2 ) é de 90 dB, e a medida de um pianíssimo (SL = 10 -9<br />
watts/m 2 ) é de 30 dB.<br />
41<br />
Deve-se perceber que o nível de audibilidade é uma medida logarítmica, enquanto que a intensidade<br />
sonora é uma medida linear.<br />
42<br />
Ou seja: 10 log (P2/P1) = 10 log 10 = 10 dB.<br />
43<br />
Ou seja: 10 log (P1/P2) = 10 log 2 = 3 dB.<br />
44<br />
Ou dividida por dez (1 W!), para se perceber a metade da intensidade sonora. A diminuição do NIS<br />
também é de 10 dB.<br />
38
O ouvido é tão sensível que pode perceber pequeníssimas diferenças de<br />
intensidade. Em termos de audibilidade, 1 dB (um decibel) é considerado a menor<br />
diferença perceptível, em relação ao NIS. 45 Isto ocorre para freqüências entre 50 Hz e<br />
10.000 Hz, desde que o nível (NIS) esteja 50 dB acima do limiar de sensação, para<br />
aquela freqüência. Em condições especiais de laboratório, é possível perceber<br />
variações de até 0,3 dB.<br />
Se há necessidade de uma medida mais rigorosa, ou medida padrão, para se<br />
conseguir o chamado nível sonoro absoluto (absolute sound level), faz-se a medida<br />
usando um nível padrão, ou nível de referência:<br />
I = 10 log Pm/Pref ,<br />
onde Pm indica a intensidade que se quer medir, e Pref a intensidade sonora de<br />
referência (nível padrão).<br />
Para níveis sonoros, o valor padrão escolhido é igual a 20 microPascals, ou 2<br />
bilionésimos da pressão atmosférica (20µPa ou 0,02 mPa). Uma intensidade neste nível<br />
é equivalente ao valor de 0 (zero) decibéis (0 dB).<br />
Poderia ser pensado que a pressão atmosférica iguala todos os sons, em relação à<br />
sua altura. Entretanto, esta seria uma presunção errada. O ouvido não responde de<br />
modo linear a todas as freqüências (como já se disse, há uma maior sensibilidade entre<br />
1.000 Hz e 4.000 Hz).<br />
O gráfico mostrado a seguir, denominado curva de audibilidade, mostra a relação<br />
entre o nível de pressão sonora e a freqüência (a curva pontilhada mostra o limiar de<br />
audibilidade).<br />
45 Just Noticeable Difference, ou JND.<br />
39
A percepção da audibilidade (loudness) depende da freqüência e do timbre (número<br />
de parciais) do som. A audibilidade tem por unidade o fon (phon). 46 As curvas acima<br />
mostram a relação entre intensidades sonoras de sons de freqüências diferentes (valores<br />
de NIS em função da freqüência). Pode-se perceber, por exemplo, que um som de 50<br />
dB de NIS em 1.000 Hz tem o mesmo nível de audibilidade que um som de 70 dB de<br />
NIS em 80 Hz. 47<br />
0 fon corresponde a 0 dB em 1.000 Hz<br />
10 fons correspondem a 10 dB em 1.000 Hz<br />
20 fons correspondem a 20 dB em 1.000 Hz<br />
O nível de intensidade sonora em fons (IF) é igual a:<br />
IF = 10 log J/Jo<br />
Sendo: J a intensidade sonora desejada, e Jo a intensidade sonora de referência.<br />
A 1000 Hz, a intensidade física (em Watts) de um som de 40 fons é igual a:<br />
10 4 = J/10 -16 , de onde:<br />
J = 10 -12 W<br />
A medida do nível de audibilidade é uma medida física, na qual se tomam,<br />
arbitrariamente, valores em dB (0 dB, 10 dB, 20 dB, etc., na freqüência de 1.000 Hz).<br />
A necessidade de estabelecer uma grandeza puramente psicológica levou à criação do<br />
46 Ou seja, a unidade do nível de audibilidade é dada em FON (ou fon). Entretanto, a medida da<br />
audibilidade é dada em SON. Os sons audíveis estendem-se ao longo de uma faixa de intensidade<br />
fisiológica de cerca de 120 fons. Uma outra unidade é dada pela medida da pressão acústica. Ela é dada<br />
em bares (bar) ou milibares.<br />
47 Note-se que as curvas internas é que possuem medida em fon.<br />
40
SON, 48 que é uma unidade de medida que compara as intensidades sonoras de dois<br />
sons, um parecendo duas vezes mais audível que o outro.<br />
Como já se disse, os níveis de intensidade sonora que o ouvido pode suportar<br />
variam entre limites extremos. Tais limites, derivados da curva de audibilidade, podem<br />
ser plotados de uma forma mais compreensível, conforme se pode ver no gráfico a<br />
seguir.<br />
Os limites indicados, de 20 a 140 dB, definem o chamado campo de audibilidade. 49<br />
Os níveis de intensidade sonora cujas variações mínimas são perceptíveis variam em<br />
função da freqüência ou altura do som.<br />
À medida que aumenta a altura do som, este vai passando de grave para agudo.<br />
Existe, então, uma relação entre a propriedade psicológica pela qual o som pode ser<br />
mais grave ou mais agudo, e a sua freqüência, que é a propriedade física do som. Como<br />
se pode perceber pelo gráfico anterior, o ouvido tem a sua maior sensibilidade entre as<br />
freqüências de 3.500 Hz até 4.000 Hz, dando-se a máxima eficiência para a percepção<br />
dos sons graves.<br />
A relação matemática entre freqüência e altura (i. é, entre a propriedade física do<br />
som e o modo como ele é percebido subjetivamente) é uma relação logarítmica:<br />
48<br />
O termo (de medida) SON (ou sone) foi criado por S. S. Stevens em 1936. Um sone compara-se ao<br />
volume de um som senoidal puro de 40 fons.<br />
49<br />
Uma orquestra executando uma peça musical pode chegar a 100 dB; os concertos de rock atingem 110<br />
dB. O som de um jato militar alcança 140 dB. O tímpano se rompe a 160 dB.<br />
41
Existe também uma relação entre certos sons graves e agudos: embora difiram em<br />
freqüência, eles soam de maneira semelhante. É o caso, p. ex., de duas notas DÓ<br />
sucessivas de um teclado de piano, que parecem soar igualmente, embora uma seja<br />
mais aguda que a outra. Em relação às suas freqüências, elas possuem uma relação<br />
entre si de 2:1 (dois para 1), ou seja, a mais aguda possui o dobro da freqüência da<br />
mais grave. A distância musical entre elas, ou intervalo musical entre as duas notas, é<br />
chamado de oitava. Assim, existe um intervalo de uma oitava quando a freqüência<br />
superior ou mais alta é o dobro da freqüência inferior. 50<br />
A percepção da freqüência e da sucessão de um som depende de sua duração. Se a<br />
duração de um som de freqüência igual a 1.000 Hz, p. ex., for menor do que 0,04<br />
segundos (40 milissegundos ou 4 centésimos de segundo), ele será percebido como um<br />
som de freqüência mais grave. 51 Se o tempo entre dois sons é insuficiente para<br />
estabelecer a freqüência do primeiro (cerca de 40 milissegundos), antes que o segundo<br />
chegue, o conjunto aparece simultâneo, ao invés de sucessivo. Percebe-se, então, que o<br />
tempo mínimo requerido para que um som puro possa excitar o ouvido, de forma a ser<br />
percebido como tal, está relacionado às suas respostas (do ouvido) a transitórios. 52 Se<br />
um som é ouvido por um tempo muito longo, o cérebro tende a desviar-se de sua<br />
percepção, porque a atenção se relaxa. É o chamado limiar de saturação, que está entre<br />
6 a 10 segundos (na duração do som).<br />
O ouvido humano (ideal) pode perceber até 280 níveis diferentes de intensidades,<br />
bem como é capaz de discriminar cerca de 1.400 intervalos de altura, dentro da faixa<br />
de 20 Hz até 16.000 Hz, e muitas vezes estabelecendo perfeitamente a altura, em<br />
variações de freqüência da ordem de 3 Hz (como o ouvido é mais sensível em<br />
freqüências graves, nesta faixa, mudanças de freqüências de até 1 hz podem ser<br />
detectadas). 53<br />
As curvas (gráfico) de Fletcher & Munson mostradas atrás mostram que a<br />
percepção da menor variação em freqüência, de um modo geral, varia ao longo da<br />
faixa audível; esta percepção depende da freqüência do som, da intensidade sonora, de<br />
sua duração, da velocidade de alteração, e por fim, do treinamento auditivo de cada<br />
individuo.<br />
2.3.2 Discriminação dos sons<br />
Uma outra característica notável do ouvido humano é a sua capacidade de<br />
discriminação de sons. Isto significa que, dentre um complexo de sons<br />
simultaneamente percebidos, o ouvido pode distinguir e separar os sons (desde que não<br />
mascarados por ruídos) que lhe interessam, não obstante a sua confusão aparente (isto,<br />
obviamente, dentro de determinados limites – a discriminação somente será possível se<br />
os sons possuírem, mais ou menos, intensidades iguais).<br />
50 A oitava é sempre a nota que se repete na freqüência metade ou dupla da primeira nota de saída. Deste<br />
modo, MI é a oitava inferior de MI2, e MI3 é a oitava superior desta última (veja-se o próximo capítulo).<br />
51 Ou então ele perde as suas características, não podendo ser discernidas a sua intensidade ou altura. O<br />
limiar de percepção, também chamado de espessura do presente ( Ө ), está entre 0,04 e 0,05 segundos.<br />
52 Transitórios são sons de pequena duração.<br />
53 Esta percepção de variação de freqüência foi determinada experimentalmente, mas apenas na faixa<br />
próximo a 1.000 Hz. Entretanto, a maioria das pessoas, ao redor de 100 Hz, pode detectar mudanças na<br />
freqüência em até 0,3 Hz (3 décimos de Hz). Entre as pessoas de ouvido afinado, afirma-se que Mozart<br />
era capaz de comparar a afinação de um instrumento com outro, ouvido dias antes, e determinar a<br />
variação na afinação em até um quarto de tom.<br />
42
2.3.3 A audição binaural<br />
Outra das características da audição humana é a percepção de direcionalidade.<br />
O cérebro é capaz de receber através dos ouvidos os sinais sonoros, processar estes<br />
sinais e estimar a localização espacial de sua origem. Para fazer isto, ele usa vários<br />
indícios presentes no som. Os dois mais importantes são a diferença de intensidade<br />
interaural (IID – interaural intensity difference) e a diferença de tempo interaural<br />
(ITD – interaural time difference). No primeiro caso, significa que o ouvido percebe<br />
com maior intensidade o som que ele recebe diretamente (e que está do seu lado,<br />
relativamente ao corpo do ouvinte). 54 No segundo caso, a diferença de tempo entre a<br />
recepção de cada ouvido é que realmente permite ao cérebro perceber a localização<br />
espacial da fonte sonora, distinguindo entre os lados direito e esquerdo. 55 A máxima<br />
diferença em tempo para a recepção está por volta de 0,45 ms (0,00045 s). 56<br />
Devido a esta diferença de tempo, o sistema nervoso central registra cada sinal<br />
recebido e estabelece a direção da onda sonora.<br />
Conforme se pode ver na figura, o som atinge primeiro o ouvido esquerdo (a<br />
pessoa sendo vista de cima), e assim este ouvido recebe uma maior intensidade sonora<br />
do que o outro:<br />
Esta audição, chamada de audição binaural, permitiu a criação de efeitos<br />
psicoacústicos na reprodução de músicas gravadas. O efeito estéreo (dois canais<br />
independentes de som) e o efeito surround (5 canais) usam este princípio para dar a<br />
sensação espacial ao som. 57<br />
2.4 O cérebro: centro analítico e integrador do fenômeno sonoro<br />
2.4.1 A dominância dos hemisférios cerebrais<br />
O cérebro tem sido bastante estudado, principalmente a partir do século XIX.<br />
Extensas e demoradas experiências realizadas tanto por fisiólogos quanto por<br />
psicólogos levaram à conclusão, aceita atualmente pela Ciência, de que o córtex<br />
cerebral possui centros sensoriais, correspondentes aos sentidos, e centros psíquicos,<br />
responsáveis pela linguagem, memória, movimentos, etc.<br />
O ponto exato do cérebro onde ocorre o conhecimento e o reconhecimento dos sons<br />
das palavras ouvidas, ou chamado centro das representações auditivas das palavras,<br />
54<br />
Para simular isto, basta distribuir desigualmente os sons de um fone de ouvido ou que vão para os<br />
alto-falantes, o que se faz com o controle Balance ou Equilíbrio.<br />
55<br />
A diferença de recepção de cada sinal sonoro se torna zero, se a fonte está diretamente à frente do<br />
ouvinte.<br />
56<br />
Para uma velocidade do som de 330 m/s e uma distância entre ouvidos de 15 cm.<br />
57<br />
Um tipo especial de som binaural, denominado Holophonic Sound (Som Holofônico), foi criado pelo<br />
argentino Hugo Zuccarelli. Maiores informações podem ser encontradas no site (que contém demos<br />
deste tipo de som): http://www.binaural.com/bindemos.html. Também em: http://www.theaudio.com/.<br />
43
ou centro de Werwicke, é na região denominada lobo temporal esquerdo, exatamente<br />
na primeira circunvolução temporal esquerda. A audição musical e a correspondente<br />
compreensão e reconhecimento posterior dos sons musicais é realizada por certo<br />
número de células deste centro, que se especializam unicamente neste sentido; isto<br />
ocorre mesmo que a educação musical seja meramente superficial. Quando este subcentro<br />
(se assim se pode chamá-lo) adquire predominância por influências hereditárias<br />
e educacionais, o indivíduo se torna do tipo auditivo, ou seja, capaz de ouvir<br />
mentalmente a música. A lesão deste centro acarreta a impossibilidade de entender a<br />
música (afasia musical sensorial ou amusia sensorial auditiva). Embora o indivíduo<br />
continue capaz de cantar e de ler música (se para isto recebeu o treinamento<br />
necessário), ele não consegue distinguir nem reconhecer os sons que ouve, nem é capaz<br />
de apreender o encadeamento melódico dos mesmos.<br />
A educação ou alfabetização é possível pela especialização das células existentes<br />
no lobo parietal esquerdo, na prega curva à esquerda. É aí que se localiza o centro das<br />
representações visuais das palavras lidas, ou centro de Kussmaul. Este centro permite<br />
ao indivíduo adquirir a compreensão dos sinais gráficos, ou a capacidade de leitura. Já<br />
a alfabetização musical (leitura musical, ou leitura de partituras) especializa certo<br />
número de células deste centro, permitindo a compreensão dos sinais gráficos<br />
musicais. Estas células especializadas formam o centro das representações visuais das<br />
notas musicais lidas, que é um sub-centro do centro de Kussmaul. A predominância de<br />
funcionamento deste centro torna o indivíduo em um tipo: o tipo visual, que para poder<br />
evocar e sentir a música, necessita imaginar o texto escrito, ou seja, ler mentalmente a<br />
partitura. Este tipo é bastante comum entre os regentes de orquestra. A lesão deste<br />
centro acarreta a impossibilidade de continuar a ler as notas musicais, embora o<br />
indivíduo continue capaz de cantar, escrever música, tocar instrumentos musicais, bem<br />
como compreender a música ouvida. Este tipo de lesão é denominado alexia musical<br />
ou cegueira musical, uma outra modalidade de afasia musical sensorial. 58<br />
Já há muito tempo que se sabe que o cérebro possui duas metades, chamadas<br />
hemisfério cerebral esquerdo e hemisfério cerebral direito. Os hemisférios cerebrais<br />
desenvolvem-se assimetricamente, em termos de função cujo efeito mais evidente é o<br />
uso preferencial da mão direita (ou, menos comum, da mão esquerda). Desde o século<br />
XIX têm sido relatadas as funções relativas ao hemisfério esquerdo do cérebro, em sua<br />
relação com o sistema nervoso, tais como a inteligência, a linguagem e as formas<br />
complexas de percepção e de atividade.<br />
As pesquisas levadas a efeito na décadas de 1950 e 1960, principalmente por Roger<br />
W. Sperry, Jerre Levy e outros, propiciaram a extraordinária descoberta de que cada<br />
hemisfério, em certo sentido, percebe a realidade à sua maneira, e que somente a<br />
58 Maiores informações sobre este tema podem ser encontradas nos artigos O Poder da Música, da<br />
Revista Viver Mente&Cérebro n o . 149, jun. 2005, Ed. Duetto (www.vivermentecerebro.com.br).<br />
44
comunicação entre os hemisférios, realizada através do corpo caloso, reconcilia e<br />
integra diferentes percepções, dando a impressão de percepção única. Até 1950,<br />
considerava-se o hemisfério esquerdo como o dominante, e dizia-se que o hemisfério<br />
direito era o secundário ou subordinado. Hoje em dia, atribui-se ao hemisfério<br />
esquerdo as funções de controlar a linguagem, o pensamento lógico e a abstração,<br />
enquanto que ao hemisfério direito é atribuído o governo do pensamento concreto, da<br />
intuição e da formação de imagens. Enquanto o hemisfério esquerdo possui uma<br />
modalidade de processamento verbal e analítica, a modalidade de processamento no<br />
hemisfério direito é rápida, complexa, configuracional e intuitiva, com percepção<br />
cognitiva espacial e sintética. Em outras palavras, o cérebro esquerdo pensa por<br />
palavras, enquanto que o cérebro direito pensa por imagens.<br />
Ao hemisfério cerebral mais desenvolvido é atribuída tanto a personalidade quanto<br />
os modos de percepção de uma pessoa. O ouvido direito e o campo visual direito, bem<br />
como os gestos expressivos que acompanham as palavras e que são realizados pela<br />
mão direita, são controlados pelo hemisfério esquerdo; 59 ocorre o contrário para o<br />
outro hemisfério. É difícil existir, no entanto, uma excessiva ou completa lateralização<br />
hemisférica cerebral, sendo por outro lado, bastante comum a assimetria lateral ou<br />
predominância de um ou outro hemisfério. Pessoas exclusivamente hemisfério<br />
esquerdo ou hemisfério direito são raras, exceto aquelas submetidas à comissurotomia,<br />
operação que corta as fibras ou comissuras que interligam os hemisférios, 60 ou aquelas<br />
submetidas a eletrochoques unilaterais. 61<br />
De acordo com o fisiólogo Vadim L. Deglin, do Instituto Sechenov de Fisiologia e<br />
Fisicoquímica da Evolução, da Academia de Ciências da URSS (antiga União<br />
Soviética), em Leningrado, as pessoas hemisfério esquerdo têm uma percepção sonora<br />
deteriorada ou degradada dos sons complexos, inclusive os sons musicais. Elas<br />
mostram-se desafinadas ou incapazes de repetir uma melodia ouvida, e preocupam-se<br />
menos com esta do que com o ritmo, que procuram marcar. Uma pessoa hemisfério<br />
esquerdo não consegue distinguir entre grupos simples de quatro notas musicais, com<br />
uma ou duas notas diferentes; para elas, as notas soam de modo semelhante.<br />
Pessoas hemisfério direito, por sua vez, identificam de modo fácil e rápido as<br />
melodias a elas apresentadas, reproduzindo-as com facilidade e perfeição e sem<br />
qualquer desafinação, mesmo após algum tempo decorrido de sua apresentação. Não<br />
conseguem, no entanto, classificar os tipos de sons.<br />
O pesquisador japonês Tadanobu Tsunoda, do Instituto de Pesquisa Médica da<br />
Faculdade de Medicina de Tóquio, em uma comunicação ao colóquio da Unesco,<br />
realizado em 1981, informou que o cérebro é capaz de discernir os componentes<br />
59<br />
Pessoas cuja linguagem é controlada pelo hemisfério direito tendem a agitar a mão esquerda.<br />
60<br />
Também chamado de corpo caloso.<br />
61<br />
Este tipo de tratamento, como também as operações cirúrgicas, era encarado pela medicina<br />
psiquiátrica como recurso extremo para conseguir controlar pacientes acometidos de graves psicoses.<br />
45
estruturais do som, e que a dominância do hemisfério para a linguagem pode ser<br />
alterada, com base na estrutura dos sons ouvidos. Com o auxílio de um sintetizador de<br />
sons, ele descobriu que o hemisfério esquerdo é dominante quando as freqüências dos<br />
formantes (picos de freqüência característicos dos sons vocálicos) sejam inarmônicos,<br />
e haja um grau mínimo de modulação de freqüência.<br />
Desenvolvendo suas pesquisas, Tsunoda concluiu que o hemisfério dominante<br />
sofre a influência do ambiente auditivo e lingüístico. Sua mais importante descoberta<br />
foi a de que há uma diferença no perfil da dominância cerebral entre os japoneses, 62<br />
por um lado, e europeus ocidentais, por outro.<br />
Entre os japoneses há uma dominância do hemisfério esquerdo para vogais e<br />
sílabas, e do hemisfério direito para sons de timbre constante e tonalidade pura. Entre<br />
europeus, ocorre o contrário.<br />
Para Tsunoda, as funções da emoção e da linguagem e a função lógica baseada na<br />
linguagem, no povo japonês, apóiam-se no hemisfério verbal, enquanto que o ocidental<br />
especializa a linguagem e as funções lógicas correlatas no hemisfério verbal, mas<br />
separa a emoção no hemisfério não-verbal. No povo japonês, os sons relacionados com<br />
emoção são processados no cérebro esquerdo, cuja dominância aumenta com o<br />
desenvolvimento da fala, inclusive para as funções emocionais, em razão do vínculo<br />
entre sons e experiências relacionadas com a emoção. Como o mesmo ocorre com os<br />
não-japoneses com respeito à dominância do cérebro direito, para sons e funções<br />
relacionadas com emoção, conclui-se que a lateralidade é adquirida por meio da<br />
linguagem materna. Desse modo, entre os japoneses, evidencia-se uma correlação entre<br />
sons relacionados com emoção e experiências relacionadas com emoção, no hemisfério<br />
esquerdo, enquanto que esta correlação, nos ocidentais, evidencia-se no hemisfério<br />
direito. Uma conseqüência interessante é o fato de que o cérebro dos japoneses<br />
processa os sons de instrumentos musicais japoneses no hemisfério esquerdo; já os<br />
sons dos instrumentos musicais ocidentais são processados no hemisfério direito. O<br />
cérebro dos ocidentais, por sua vez, processa no hemisfério direito tanto os sons dos<br />
instrumentos japoneses quanto os sons dos instrumentos ocidentais. 63<br />
62 E incidentalmente, entre polinésios.<br />
63 O jornalista japonês Masaomi Ise, do jornal Japan on the Globe, em 2002 escreveu a respeito deste<br />
assunto, afirmando que a pesquisa de Tsunoda teria descoberto que os sons dos insetos são processados<br />
no hemisfério esquerdo (o da linguagem) entre japoneses, enquanto que, entre ocidentais, os ruídos e os<br />
sons dos insetos são processados no hemisfério direito (o hemisfério ligado à música). Por esta razão, a<br />
linguagem japonesa seria, também, extremamente rica no que se refere aos sons onomatopaicos, ou seja,<br />
aqueles que tentam reproduzir os sons animais e da natureza.<br />
46
A especialização funcional dos hemisférios pode ser desenvolvida por treinamento<br />
especializado, até tornar-se uma habilidade definida e definitiva. Desse modo, o gosto<br />
ou apreciação estética da música pode se tornar apurado, tornando possível perceber<br />
nuances de notas bem como avaliar corretamente estruturas melódicas em seus<br />
aspectos tonais ou harmônicos, desenvolvendo-se, assim, um refinado senso estético de<br />
apreciação musical.<br />
2.4.2 As ondas cerebrais<br />
O cérebro, como órgão ordenador e integrador da consciência, interage através do<br />
sistema nervoso com os diversos sensores distribuídos ao longo do corpo humano, e<br />
que formam os sentidos. O cérebro não age passivamente na recepção desse maciço<br />
bombardeio de informações que lhe chegam do mundo exterior; ele efetua uma<br />
constante e interminável varredura ou procura intensiva de padrões, estruturas e<br />
configurações, as quais são continuamente comparadas com outros padrões ou<br />
configurações arquivadas na memória, em um contínuo processo de aprendizagem<br />
(busca e assimilação de informação + processamento + memória).<br />
O processo de aprendizagem reúne funções seletivas e funções construtivas: o<br />
processo seletivo preliminar ocorre durante a recepção contínua e repetida de estímulos<br />
neutros em conjunto com estímulos específicos; apenas quando a ocorrência desses<br />
estímulos simultâneos ultrapassa os limites do acaso, uma configuração é selecionada e<br />
reconhecida. Em seguida, vem um processo de seleção mais refinado, quando ocorre a<br />
comparação e a separação das informações recebidas.<br />
A função construtiva ordena os acontecimentos em uma escala de significados. As<br />
informações comparadas e selecionadas se tornam signos e símbolos; com eles o<br />
cérebro elabora ou constrói os conceitos. Tanto estes, quanto os signos e símbolos, são<br />
arquivados na memória. Este processo, a assimilação da informação, acontece em um<br />
nível inconsciente e contínuo.<br />
Quando um estímulo qualquer supera um determinado patamar de excitação ele<br />
atrai a atenção sobre si, ou seja, chega ao nível consciente. Por comparação, analogia<br />
ou outras análises, o cérebro qualifica a informação: por origem (qual dos sentidos lhe<br />
deu causa); prioridade (se é um estímulo de dor, de prazer, de indução ao pânico, etc.);<br />
importância (se o cérebro deve ou não ocupar-se desse estímulo).<br />
A varredura ou processo exploratório assemelha-se à leitura das linhas de um livro,<br />
onde os olhos se movem à procura das palavras. Com relação ao cérebro, no entanto,<br />
não existem movimentos mecânicos; o que existe é um movimento, ou mais<br />
corretamente, uma oscilação elétrica, ou onda cerebral elétrica, onde impulsos elétricos<br />
intermitentes analisam continuamente outros impulsos elétricos intermitentes<br />
provindos dos órgãos dos sentidos. Embora este processo tenha maior realce nos<br />
órgãos da visão (pelo menos nas pessoas sem deficiência visual), ele atua igualmente,<br />
embora atraindo menor atenção do cérebro, na audição.<br />
Extensas pesquisas dos fisiólogos levaram à descoberta de que os ritmos corporais,<br />
tais como batidas do coração, ondas cerebrais ou ritmo respiratório tendem a entrar em<br />
sincronismo com determinados ritmos musicais, principalmente os de forte marcação. 64<br />
Aliás, é sabido como os ritmos musicais podem alterar o ânimo, seja para revigorar,<br />
exaltar ou deprimir, entre outros estados emocionais possíveis.<br />
64 É o que acontece quando alguém, inconscientemente, marca com os pés o ritmo de uma banda<br />
desfilando na rua.<br />
47
A razão desta extraordinária afinidade do cérebro com o ritmo provém do seu<br />
próprio ritmo natural (ou a freqüência de suas oscilações elétricas exploratórias).<br />
Deve-se ao pesquisador alemão Hans Berger a descoberta, em 1928, dos ritmos<br />
elétricos cerebrais. Tais são as ondas alfa, beta, delta e theta.<br />
As ondas alfa têm uma freqüência entre 8 a 12 ou 13 Hz; as ondas beta variam de<br />
14 até 30 Hz; as ondas delta variam de 0,5 a 4 Hz; finalmente, as ondas theta variam de<br />
4 a 7 Hz. Suas características estão relacionadas no gráfico.<br />
De acordo com o fisiólogo inglês W. Gray Walter, as ondas alfa e beta estão<br />
intimamente ligadas aos padrões de percepção e de consciência: as ondas alfa são<br />
típicas de um estado de relaxamento físico e mental, sem imagens visuais, enquanto<br />
que as ondas beta são características do estado mental ativo, irrequieto, preocupado.<br />
Pesquisas recentes levaram à descoberta de que a música e o som podem mudar a<br />
atividade das ondas cerebrais; já era conhecido há tempos, contudo, o fato de que<br />
certos padrões sonoros podem alterar a consciência, do mesmo modo que a meditação,<br />
trazendo o relaxamento corporal e um estado mental de alerta (embora sem tensão),<br />
lucidez e devaneio controlado. 65<br />
Como já se disse, o ritmo cerebral característico do estado de relaxamento é o ritmo<br />
alfa; ele pode ser induzido por certos trechos de música clássica (principalmente o<br />
barroco), em movimentos lentos.<br />
O pesquisador búlgaro Lozanov utilizou estes efeitos da música para criar a<br />
Sugestologia, ou Método Lozanov, com o qual ele conseguiu melhorar<br />
extraordinariamente o processo de aprendizagem, notadamente de idiomas, bem como<br />
desenvolver a memória e até o desempenho atlético.<br />
Igualmente o famoso Método Silva de Controle Mental, utilizado para o<br />
desenvolvimento da memória e da inteligência, faz extenso uso do ritmo alfa para<br />
conseguir os seus objetivos.<br />
65 Estados mais profundos, como o transe, podem ser conseguidos através de métodos musicais<br />
característicos da Índia, Ásia Central e África.<br />
48
Em resumo, pode-se dizer que a música integra dois fenômenos: o fenômeno<br />
objetivo, que é o som produzido externamente; e o fenômeno subjetivo, que é som<br />
percebido. Ambos são integrados na consciência (integração mental), dando origem à<br />
apreciação estética, que é o produto também tanto da educação musical quanto do<br />
ambiente cultural, sendo também característica do momento histórico.<br />
49
CAPÍTULO III<br />
SONOMETRIA<br />
3.1 Intervalos consonantes e dissonantes 66<br />
Intervalo é a distância ou diferença em altura entre duas notas, em tons ou semitons<br />
(veja-se o item 3.4). Psicologicamente, denomina-se intervalo consonante, ou<br />
consonância, ao intervalo que produz no ouvido uma sensação agradável, de repouso.<br />
Fisicamente, o intervalo é consonante quando as notas que o produzem têm um ou<br />
mais harmônicos em comum com a fundamental, sendo mais consonante quanto maior<br />
o número destes harmônicos. Intervalo dissonante, ou dissonância, psicologicamente, é<br />
aquele que produz tensão. Fisicamente, diz-se que o intervalo é dissonante quando<br />
possui poucos harmônicos em comum com a fundamental; os harmônicos, neste caso,<br />
podem diferir entre si por um tom ou meio tom.<br />
A avaliação do que seja som consonante ou dissonante é subjetiva, e varia<br />
conforme o grau de cultura e a educação musical da época.<br />
3.2 Experiência com o monocórdio<br />
Toma-se o monocórdio 67 e regula-se a sua corda para vibrar em 256 Hz,<br />
equivalente à nota DÓ 68 Se o cavalete for deslocado exatamente para o ponto<br />
intermediário da corda, ela passa a vibrar uma oitava acima, em 512 Hz (o dobro da<br />
freqüência), também uma nota DÓ.<br />
Quando duas cordas vibram em uma mesma nota (DÓ1, p.ex.), diz-se que estão em<br />
uníssono. O uníssono é representado pela razão 1:1. A oitava (diapason) 69 é o som que<br />
vibra no dobro da freqüência; está representada pela razão 1:2.<br />
Por deslocamentos sucessivos do cavalete, faz-se a corda vibrar em pontos<br />
intermediários: a 8 /9, a 4 /5, a ¾, a 2 /3, a 3 /5, a 8 /15 de seu comprimento total. As vibrações<br />
sonoras de cada ponto são diferentes entre si, mas todas têm um ponto em comum com<br />
a fundamental: têm com ela uma relação matemática, e formam com ela uma sucessão<br />
sonora. Dois pontos são os mais importantes: o ponto correspondente a 2 /3 do<br />
66 Veja-se o item 5.1.1.<br />
67 O monocórdio é uma caixa de madeira com uma corda capaz de vibrar e emitir sons determinados,<br />
através da variação do seu comprimento feita por um cavalete.<br />
68 Oportunamente, serão abordadas as relações entre freqüência e nota musical, e sua padronização.<br />
69 São os nomes em grego, dos intervalos sonoros.<br />
51
comprimento total (a denominada quinta – diapente); e o ponto correspondente a ¾ do<br />
comprimento total (a denominada quarta – diatessaron). 70<br />
O produto de 2 /3 por ¾ dá a fração 1 /2, associada à oitava. A divisão ( 2 /3):( 3 /4) é<br />
igual a 8 /9, que representa um tom (é a diferença entre uma quinta e uma quarta). 71 A<br />
oitava, então, é composta por duas quartas e um tom: 3 /4 x ¾ x 8 /9 = ½. 72<br />
As vibrações em cada um dos pontos dados representam a gama denominada gama<br />
natural, e cada vibração (correspondente a uma nota musical) recebe um nome: 73<br />
Notas DÓ1 RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ2<br />
Freqüência 1 9/8 5/4 4/3 3/2 5/3 15/8 2<br />
Em relação aos comprimentos das cordas, tem-se:<br />
Notas DÓ1 RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ2<br />
Comprimentos 1 8/9 4/5 3/4 2/3 3/5 8/15 2<br />
Há, então, uma relação entre as freqüências da corda em vibração e o seu<br />
comprimento. Como se viu, para 2 /3 do comprimento da corda, obtém-se 3 /2, ou 1,5<br />
vezes a freqüência original, equivalente à quinta ou dominante (SOL em relação a<br />
DÓ).<br />
De acordo com a gama natural, as consonâncias perfeitas são (em relação ao<br />
comprimento da corda): o uníssono (1/1), a quarta ( 4 /3), 74 a quinta perfeita ou justa ( 3 /2)<br />
e a oitava ( 2 /1). Consonâncias imperfeitas são: o intervalo de terça (ou terceira) maior<br />
( 5 /4) ou terça menor ( 6 /5) e o intervalo de sexta maior ( 5 /3) ou sexta menor ( 8 /5).<br />
São dissonantes os intervalos de segunda maior ( 9 /8), segunda menor ( 10 /9), sétima<br />
maior ( 15 /8), sétima menor ( 16 /9) e todos os intervalos aumentados ou diminuídos<br />
(sustenidos e bemóis). 75<br />
As relações matemáticas derivadas das vibrações relativas aos diversos<br />
comprimentos da corda indicam o seguinte: quando um som dá uma vibração, a sua<br />
oitava dá duas vibrações; quando dá duas vibrações, a sua quinta dá três vibrações;<br />
quando dá três vibrações, a sua quarta dá quatro vibrações, e a sexta, cinco vibrações, e<br />
assim por diante.<br />
3.3 Escalas e gamas musicais<br />
Existem infinidades de sons intermediários entre os sons mais graves e os sons<br />
mais agudos, porém, só se tomam os que formam com o som fundamental intervalos<br />
definidos, representados por números inteiros. Nestes intervalos definidos, dos quais só<br />
se vai de um para outro por saltos ou degraus, estão as denominadas notas musicais.<br />
70 Estas razões podem ser obtidas a partir de quatro números inteiros, os quais correspondem,<br />
respectivamente, a uma corda de comprimento igual a 12 partes (o uníssono); à sua metade 6 (a oitava);<br />
a 8 partes (a quinta); a 9 partes (a quarta).<br />
71 A diferença é representada por uma divisão. O valor do tom ver-se-á a seguir, no item 3.4.1.<br />
72 A razão 1:2, como se viu, representa a oitava.<br />
73 Veja-se o item seguinte, para a origem dos nomes das notas.<br />
74 Assim chamada por ser a quarta nota após a nota DÓ1.<br />
75 A compreensão de cada um desses termos se dará após a leitura dos Capítulos IV e V.<br />
52
Denomina-se escala musical à série ascendente ou descendente de oito notas<br />
sucessivas, a partir da nota fundamental, sendo a última semelhante à primeira, mas<br />
situada uma oitava acima ou abaixo. 76 As notas sucessivas da escala formam, com a<br />
nota fundamental, intervalos de segunda, terça (ou terceira), quarta, quinta, sexta,<br />
sétima e oitava. É importante frisar que o que define uma escala, seja ascendente ou<br />
descendente, é a sua primeira nota, denominada tônica ou fundamental. Deve haver<br />
uma perfeita continuidade harmônica entre as notas, quando tocadas sucessivamente,<br />
ou seja, o ouvido não deve perceber nenhuma irregularidade.<br />
Denomina-se gama musical à sucessão de sete notas. Existem várias gamas<br />
musicais: a gama natural; a gama de Zarlin ou de Ptolomeu; a gama de Pitágoras; 77 a<br />
gama diatônica; a gama cromática; a gama temperada; etc. A gama musical forma uma<br />
série de notas que recebem os seguintes nomes (no Brasil):<br />
DÓ RÉ MI FÁ SOL LÁ SI.<br />
Este sistema silábico deve-se ao monge beneditino italiano Guido D’Arezzo (995-<br />
1050), o qual percebeu uma relação entre as notas musicais e as sílabas dos versos do<br />
hino ao padroeiro dos músicos, São João Batista:<br />
UT queant laxit<br />
REsonare fibris<br />
MIra gestorum FAmuli tuorum<br />
SOLve polluti<br />
LAbis reatum<br />
Sancte Ioannes<br />
A nota SI é a reunião do último verso, Sancte Ioannes; 78 quanto à primeira nota, foi<br />
mais tarde trocada de UT para DÓ, para melhor entoação.<br />
O reverendo John Curven (1816-1880) inventou o processo denominado tonic solfá,<br />
ou solmização, utilizando esses nomes das notas da escala para facilitar o processo<br />
de cantar e entoar.<br />
As notas musicais são conhecidas, principalmente em certos países da Europa,<br />
pelas letras: C D E F G A B , na mesma seqüência. 79<br />
As diversas gamas sucessivas recebem, convencionalmente, índices que designam<br />
as gamas inferiores (DÓ-1 DÓ-2 DÓ-3 ; etc.) e as gamas superiores (DÓ2 DÓ3 DÓ4 etc.),<br />
sendo a gama central a de índice 1: DÓ1 RÉ1 MI1 FÁ1 etc., sendo DÓ1 dada pelo DÓ<br />
grave do violoncelo.<br />
O piano geralmente tem um alcance de sete oitavas, desde LA-2 (27 Hz) até LÁ6<br />
(3.480 Hz), sendo que a série completa dos sons musicais se estende por oito oitavas: 80<br />
76<br />
Este é o sistema mais conhecido (que é a escala de oito notas). Outros tipos de escalas serão vistos no<br />
Capítulo V. A escala, de qualquer modo, sempre tem uma nota a mais que a gama: E = G + 1.<br />
77<br />
A gama pitagórica será estudada em detalhes no Capítulo XI.<br />
78<br />
A sensível (sexta nota) foi designada de TI, na tonalidade maior, e SI, na tonalidade menor. A nota<br />
DÓ vem de Domino (Senhor).<br />
79<br />
As notas podem ser escritas em maiúsculas ou minúsculas (DÓ, Dó ou dó), se adotada a forma do<br />
Brasil. Pela nomenclatura européia, devem ser escritas em maiúsculas: C, D, E, F, G, A, B (neste texto<br />
seram usadas ambas nomenclaturas).<br />
80<br />
De acordo com os físicos, em nove oitavas, que se estendem de -1 até 9 (-1 1 2 3 4 5 6 7 8 9).<br />
53
DÓ-2 DÓ-1 DÓ1 DÓ2 DÓ3 DÓ4 DÓ5 DÓ6 DÓ7.<br />
O DÓ mais grave, DÓ-2 (16 Hz) é emitido pelo grosso bordão do órgão.<br />
O LÁ3 é adotado como padrão de freqüência para afinação. Entretanto, sempre houve<br />
confusão entre físicos e músicos, no que se refere à freqüência de notas musicais. Os<br />
primeiros preferem números inteiros, em potências exatas de 2; os músicos preferem<br />
guiar-se pelo ouvido. Deste modo, para os primeiros, DÓ3 vale 256 Hz, enquanto que<br />
os últimos preferem 261 Hz. 81 A confusão é maior quando se trata de conhecer<br />
freqüências de outras notas, pois alguns se guiam pelos intervalos temperados (vide<br />
item 3.7). Além disso, até meados do século XIX, não existia uma padronização<br />
mundial quanto às freqüências das notas. 82 O padrão de afinação, LÁ3, ao final deste<br />
século tinha 455 Hz na Inglaterra e 461 Hz nos EUA. Em 1859, uma Comissão<br />
Internacional escolheu o valor de 435 Hz como padrão de afinação. Tal valor foi<br />
modificado para 440 Hz em 1939 em uma Conferência Internacional, valor este<br />
confirmado pela Organização Mundial de Padrões (Standards) em 1953. 83 Entretanto,<br />
mesmo nos EUA, esta padronização não vingou, pois algumas orquestras ainda usam o<br />
tom em LÁ3 com 442 Hz e até 444 Hz.<br />
É fácil calcular a freqüência de qualquer outra nota que se queira, pelo intervalo<br />
natural. Basta multiplicar a fundamental pela relação de intervalo. Por exemplo:<br />
3.4 Intervalos de notas sucessivas<br />
MI3 = 261 x 5/4 = 326 Hz (aproximadamente).<br />
3.4.1 Tom maior, tom menor e semitom maior 84<br />
Os intervalos entre notas quaisquer são obtidos dividindo-se entre si seus intervalos<br />
em relação à nota fundamental.<br />
Os intervalos consecutivos são calculados tomando-se a relação entre as notas,<br />
como se mostra a seguir.<br />
9/8 = 1 ; 5/4 = 10/9 ; 4/3 = 16/15 ; etc.<br />
1 9/8 5/4<br />
81 DÓ3 é a tecla DÓ central do piano.<br />
82 No século XVIII, o tom de afinação LÁ3 podia valer 415 Hz, 422,5 Hz ou até 428 Hz. Historicamente,<br />
as orquestras tendem a agudizar (tornar mais agudo) o tom de afinação.<br />
83 Pelo intervalo temperado, LÁ3 em 435 Hz corresponde a DÓ3 igual a 261 Hz.<br />
84 O semitom também é chamado meio-tom.<br />
54
Encontram-se, então, três tipos de intervalos:<br />
• O intervalo 9 /8, encontrado entre as notas DÓ-RÉ, FÁ-SOL, LÁ-SI,<br />
denominado tom maior. Representa-se por T (ou M).<br />
• O intervalo 10 /9, encontrado entre as notas RÉ-MI, SOL-LÁ, denominado<br />
tom menor. Representa-se por t (ou m).<br />
• O intervalo 16 /15, encontrado entre as notas MI-FÁ E SI-DÓ, denominado<br />
semitom maior. Representa-se por s.<br />
A gama natural compreende três tons maiores, dois tons menores e dois semitons<br />
maiores (na gama natural estão as notas chamadas notas naturais):<br />
DÓ RÉ MI FÁ SOL LÁ SI DÓ<br />
T t s T t T s<br />
Outros intervalos podem ser obtidos por multiplicação das relações. O intervalo<br />
DÓ-MI, p. ex., equivale a 9 /8 x 10 /9 = 5 /4.<br />
A diferença entre o tom maior e o tom menor corresponde à razão dos intervalos 9 /8<br />
e 10 /9, ou seja, 81 /80. É denominada coma sintônica, 85 e é a menor diferença perceptível<br />
pelo ouvido. É importante compreender que o tom não representa a nota (o seu som), e<br />
sim o intervalo ou variação de freqüência entre duas notas. Do mesmo modo, deve-se<br />
perceber que uma coisa é o intervalo que dá o tom maior, 9/8; outra coisa é o intervalo<br />
que dá o valor da coma, 81 /80, que é igual à diferença entre o tom maior e o tom menor.<br />
Coma, então, é a menor variação de freqüência perceptível.<br />
O tom é percebido quando duas notas são tocadas em sucessão. Para duas notas<br />
tocadas simultaneamente, experiências em laboratório determinaram a existência do<br />
que é chamado de banda crítica de intervalo. 86 Quanto maior a separação em<br />
freqüência entre as duas notas (p. ex., com separação de oitava), resulta que os sons<br />
fiquem fora dessa banda, e o cérebro consegue discernir cada freqüência. Isto não<br />
acontece quando as freqüências são mais próximas (como é o caso de duas notas<br />
diatônicas sucessivas, na escala); neste caso, os sons situam-se dentro da banda crítica<br />
de intervalo, e o cérebro não é capaz de discernir (na membrana basilar) as<br />
informações relativas a cada nota. Apenas ouvidos treinados conseguiriam realizar esta<br />
distinção, mesmo assim percebendo certa “aspereza” no som.<br />
A gama natural não é suficiente para a música, pois esta necessita de notas<br />
intermediárias entre as notas sucessivas daquela. Estas notas intermediárias equivalem<br />
ao intervalo entre o tom menor e o semitom maior, ou 10/9 = 25/24.<br />
16/15<br />
Este intervalo é denominado semitom cromático menor (é a diferença de variação<br />
entre RÉ-MI e MI-FÁ), sendo o semitom cromático maior dado pela relação entre o<br />
tom maior e o semitom maior: 9/8 = 135/128.<br />
16/15<br />
85 A coma sintônica é a diferença entre a terça pitagórica e a terça natural. No Capítulo XI se verá o<br />
valor da coma pitagórica ou simplesmente, coma.<br />
86 Veja-se o item 2.2.2.<br />
55
O semitom cromático maior é mais conhecido pela denominação de semitom<br />
maior, e o semitom cromático menor, pela denominação de semitom menor.<br />
3.5 Sustenidos e bemóis<br />
Denomina-se sustenido à nota elevada de um semitom menor, ou seja, sustenido de<br />
uma nota musical é a nota cuja freqüência é igual a 25 /24 da sua. Indica-se o sustenido<br />
com o símbolo # . A nota RÉ#, por exemplo, tem freqüência relativa 9 /8 x 25 /24 = 75 /64.<br />
Bemol de uma nota musical é uma nota de freqüência igual a 24 /25 da sua própria,<br />
ou seja, um semitom menor abaixo. Indica-se com o símbolo . A nota MIb tem<br />
freqüência relativa 5 /4 x 24 /25 = 6 /5.<br />
As notas com sustenidos e bemóis recebem a denominação de notas com acidentes.<br />
Percebe-se que, ao aumentar a nota RÉ de um semitom menor, ela não se torna<br />
exatamente igual à nota MI abaixada de um semitom menor, isto porque 6 /5 é maior do<br />
que 75 /64. O intervalo entre as duas notas corresponde a 128 /125, que é maior do que a<br />
coma 81 /80. Também RÉb é maior do que DÓ#. Deste modo, duas notas formando<br />
intervalo de um tom, a nota sustenida da mais grave não é idêntica à nota bemol da<br />
mais aguda.<br />
3.6 Gama cromática<br />
Gama cromática é a série de notas naturais e notas alteradas por sustenidos e<br />
bemóis, compreendidos em uma escala. 87 Em teoria, a gama natural cromática teria 21<br />
notas (todas as notas possíveis e distintas, realizadas pela voz humana e pelos<br />
instrumentos musicais); estas notas, contudo, seriam difíceis de tocar em instrumentos<br />
de teclado, pelo excesso de teclas que haveria. Para estes, somente igualar as notas<br />
sustenidas e as notas bemóis não resolveria o problema da transposição de escalas<br />
(vide item 6.3).<br />
Na prática, a gama cromática compreende somente 18 notas:<br />
Como foi visto, o intervalo de freqüência para uma quinta é de 3 /2. Se for tocada no<br />
piano uma série de quintas ascendentes, após doze quintas retorna-se à nota DÓ, oito<br />
oitavas acima. Entretanto, 3 12 /2 12 = 129, e 2 8 = 128, o que implica uma discrepância,<br />
porque os resultados deveriam ser iguais. Tal discrepância ocorre também com outros<br />
intervalos. Deste modo, exige-se uma acomodação da escala cromática, que atenda às<br />
exigências práticas de afinação dos instrumentos musicais de som fixo. Isto se<br />
consegue com a gama denominada gama temperada.<br />
87 Gama diatônica, ou escala diatônica, é a gama cromática sem as notas alteradas em semitom.<br />
56
3.7 Gama temperada<br />
Gama temperada é a gama cromática na qual o intervalo de oitava é dividido em 12<br />
intervalos iguais, ao invés de 21 ou 18, 88 e estão em uma relação de freqüências de<br />
1: 12 √2 , ou 1:1,0594631. 89 Para realizar a gama temperada, é necessário:<br />
• Confundir o tom maior com o tom menor, abaixando-se o primeiro e<br />
elevando-se o segundo;<br />
• Confundir o semitom maior com o semitom menor: MI# - FÁ; SI# - DÓ;<br />
FÁb – MI; DÓb – SI;<br />
• Confundir uma nota sustenida com a bemol imediatamente superior: SOL#<br />
- LÁb; SIb – LÁ#; etc.<br />
As diferenças de intervalo entre a gama natural e a temperada são inferiores a uma<br />
coma, e, portanto, imperceptíveis. Com esta gama, a transposição torna-se fácil. A<br />
escala cromática temperada é a seguinte:<br />
DÓ DÓ# RÉ RÉ# MI FÁ FÁ# SOL SOL# LÁ LÁ# SI DÓ<br />
RÉb MIb SOLb LÁb SIb<br />
1 1,059 1,122 1,189 1,260 1,335 1,414 1,498 1,587 1,682 1,782 1,888 2<br />
1 16/15 9/8 6/5 5/4 4/3 45/32 3/2 8/5 5/3 225/128 15/8 2/1<br />
C C# D D# E F F# G G# A A# B C<br />
Db Eb Gb Ab Bb<br />
Deste modo, a oitava fica dividida em doze segmentos, cada um deles equivalente a<br />
um semitom (semitom maior).<br />
Na nomenclatura européia, os acidentes podem estar ou não em sobrescrito: C # D b<br />
D # E b F # G b G # A b A # B b (ou: C# Db D# Eb F# Gb G# Ab A# Bb). A posição da<br />
88 As notas naturais, nesta gama, formam a escala denominada diatônica.<br />
89 Valor normalmente arredondado para 1,059. Um valor com mais casas decimais seria: 1,059463094.<br />
57
nota é assim apresentada (exemplo): E b 2 ou Eb2. O modo maior é subentendido, ou<br />
indicado pela palavra maj (C maj), e o modo menor é indicado pela letra m ou pela<br />
palavra min: Am (LÁ menor); Ab m (LÁ bemol menor); C min (DÓ menor).<br />
3.8 Intervalos e afinação musical<br />
Intervalos justos são aqueles representados por proporções de números inteiros.<br />
Exemplos: 2:1, ou intervalo de oitava; 3:2, ou intervalo de quinta.<br />
Intervalos temperados são os representados por proporções de números irracionais.<br />
Exemplo: 2 ½ :1 = 1,4142... (este é o trítono temperado).<br />
A afinação é a organização das notas musicais de modo que os intervalos possam<br />
ser, todos, expressos por números racionais.<br />
O limite de um sistema de afinação justa é dado pelo fator primo de maior valor.<br />
Exemplos:<br />
45:32 = (5 * 3 2 ):(2 5 ) ; neste caso, o limite é igual a 5.<br />
21:20] = (7 * 3):(5 * 2 2 ) ; neste caso, o limite é igual a 7.<br />
Relação de freqüência para cada intervalo musical:<br />
Intervalo musical Relação<br />
terça menor pitagórica 32/27<br />
terça menor temperada 1,189<br />
terça menor justa 6/5<br />
terça maior justa 5/4<br />
terça maior temperada 1,26<br />
terça maior pitagórica 81/64<br />
quarta pitagórica ou justa 4/3<br />
quarta temperada 1,335<br />
quinta temperada 1,498<br />
quinta pitagórica ou justa 3/2<br />
oitava 2<br />
Na escala temperada, usando-se o valor de 440 Hz para LÁ3, encontram-se as<br />
seguintes freqüências para as notas:<br />
58
3.9 Acorde 90<br />
Acorde é a produção simultânea de várias notas musicais. Pode ser consonante ou<br />
dissonante, de acordo com os intervalos entre as notas. Acorde simples é o produzido<br />
com duas notas; acorde composto, quando produzido com mais de duas notas. Os<br />
acordes simples mais constantes são formados pelos intervalos de:<br />
2/1 3/2 4/3 5/4 6/5<br />
Oitava Quinta Quarta Terça maior Terça menor<br />
DÓ-DÓ DÓ-SOL DÓ-FÁ DÓ-MI MI-SOL<br />
O acorde perfeito maior consta de três notas: fundamental; terceira e quinta; o<br />
acorde perfeito menor compreende a fundamental, terceira menor e quinta. Exemplos:<br />
Acordes maiores Acordes menores<br />
DÓ – MI - SOL LÁ – DÓ - MI<br />
FÁ – LÁ - DÓ FÁ – LÁb - DÓ<br />
MI - SOL# - SI DÓ – MIb – SOL<br />
O acorde menor é um pouco menos consonante do que o acorde maior. 91<br />
3.10 Harmônicos<br />
São as freqüências múltiplas da fundamental, ou ainda, são as notas musicais cujos<br />
intervalos com a fundamental mantém uma relação matemática proporcional à série<br />
dos números inteiros 1, 2, 3, ..., n, sendo n=1 o som fundamental. O intervalo entre<br />
dois harmônicos é igual ao quociente de seus números de ordem: por exemplo, o<br />
intervalo entre o quinto e o terceiro harmônico é igual 5/3.<br />
90 Este tema será desenvolvido no Capítulo VII.<br />
91 Zarlino o chamava de affetto tristo (sentimento ruim).<br />
59
Relações harmônicas com a fundamental DÓ1:<br />
O primeiro harmônico é a própria fundamental (intervalo 1:1); é o uníssono;<br />
O segundo harmônico é a oitava da fundamental (intervalo 2:1) ou DÓ2;<br />
O terceiro harmônico, de intervalo 3:1, é a quinta de DÓ2, ou SOL2;<br />
O quarto harmônico, de intervalo 4:1, é a quarta do terceiro harmônico ou oitava do<br />
segundo, ou DÓ3;<br />
O quinto harmônico, de intervalo 5:1, é a terceira do quarto harmônico (intervalo<br />
5:4) e a sexta do terceiro harmônico (intervalo 5:3), ou MI3;<br />
O sexto harmônico, de intervalo 6:1, é a quinta do quarto harmônico (intervalo 3:2)<br />
ou a oitava do terceiro harmônico (intervalo 6:3), ou SOL3;<br />
O sétimo harmônico, vizinho de SIb, é muito pouco usado;<br />
O oitavo harmônico é a oitava do quarto harmônico, ou DÓ4.<br />
Na gama de Zarlino, a série de harmônicos é a seguinte:<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />
DÓ1 DÓ2 SOL2 DÓ3 MI3 SOL3 DÓ4 RÉ4 MI4 FÁ4 SOL4<br />
3.11 Medidas de intervalos musicais<br />
3.11.1 O cent e o savart<br />
Como foi visto no capítulo anterior, o ouvido tem uma sensibilidade máxima entre<br />
3.500 e 4.000 Hz, próximo à zona de ressonância de 3.800 Hz do ouvido externo.<br />
Também se disse que o ouvido pode perceber intervalos de sons bem próximos<br />
entre si, e que a percepção em freqüência varia ao longo da faixa audível. Para medir<br />
estes intervalos de som muito pequenos, foram criadas as unidades de medida<br />
chamadas de cent e savart.<br />
O cent é uma unidade de medida que divide o intervalo de ½ tom, ou semitom<br />
(cujo valor é de 2 1/12 = 1,0594631), em 100 partes. A equação que relaciona estas<br />
unidades é a seguinte:<br />
i 100 = 2 1/12 , ou, logaritmicamente:<br />
100 log i = 1/12 log 2<br />
log i = log 2/1200<br />
Resolvendo, encontra-se a seguinte relação matemática:<br />
(1,0005777) 100 = 1,0594631 = 2 1/12<br />
Isto significa que o intervalo que corresponde a um centésimo de um semitom é<br />
igual a 1,0005777. Como em uma oitava existem 12 intervalos, tem-se então:<br />
12*100 = 1.200 (cents)<br />
60
Ou seja, existem 1.200 cents em um intervalo de oitava.<br />
Quanto ao savart, para encontrá-lo, é imposta a condição de que log i seja igual a<br />
1/1000:<br />
log i = 0,001<br />
Isto determina um valor de i igual a 1,002355, maior que o valor anterior<br />
(1,0005777). Implica também que há mais cents do que savarts, em uma oitava. Sendo<br />
a oitava um dobro de intervalo (a freqüência dobra, em uma oitava), deve-se ter a<br />
seguinte relação matemática:<br />
Assim,<br />
Como log i = 0,001, tem-se:<br />
i x = 2<br />
x*log i = log 2, ou:<br />
x = log 2/log i<br />
x = 0,30103/0,001 = 301<br />
RELAÇÃO ENTRE AS UNIDA<strong>DE</strong>S<br />
1 oitava = 1200 cents = 301 savarts<br />
1 savart = 1200/301 = 3,98 cents<br />
Sabendo-se que há 301 savarts em uma oitava, pode-se calcular o menor intervalo<br />
dentro dessa escala de outro modo:<br />
i 301 = 2;<br />
i = 301 √2<br />
i = 1,0023055,<br />
valor este encontrado anteriormente.<br />
61
4.1 Notação musical básica<br />
CAPÍTULO IV<br />
NOTAÇÃO E RITMO<br />
A notação atual da música (acadêmica) é o resultado de um longo<br />
desenvolvimento, principalmente a partir do século XI, quando tiveram início as<br />
primeiras tentativas de anotação musical. 92<br />
4.1.1 As notas musicais<br />
Os elementos básicos da música são as notas musicais, as quais podem variar em<br />
altura, duração e intensidade (dinâmica e ataque). As notas musicais são em número de<br />
sete, de acordo com a gama natural; usa-se, entretanto, a escala de oito notas (em<br />
oitavas sucessivas), distribuídas em dois grupos de quatro notas, denominados<br />
tetracordes 93 (grupo de notas este que é a base para a construção de escalas).<br />
DÓ RÉ MI FÁ – SOL LÁ SI DÓ<br />
1º tetracorde (inferior) 2º tetracorde (superior)<br />
Para o ouvido, esta escala formada por dois tetracordes, que cobre uma oitava, é<br />
completa em si mesma. Esta escala é também denominada escala diatônica, porque<br />
não possui nenhuma nota alterada, seja por sustenido, seja por bemol. É também<br />
denominada escala maior, ou escala em DÓ maior, porque existe um intervalo de dois<br />
tons maiores entre a primeira e a terceira nota (DÓ-MI), denominado intervalo de<br />
terça. Ela pode ser ascendente, como a anterior, ou descendente, como abaixo:<br />
DÓ SI LÁ SOL – FÁ MI RÉ DÓ<br />
Nos dois casos, cada tetracorde é composto de dois tons e meio (dois tons maiores<br />
mais um semitom – T T s), com um intervalo entre eles de um tom, e com um<br />
intervalo de um semitom entre a terceira e a quarta nota, e entre a sétima e a oitava<br />
nota, na escala ascendente, ou entre a primeira e a segunda nota, e entre a quinta e a<br />
sexta nota, na escala descendente.<br />
4.1.2 Pauta ou pentagrama<br />
Para que se possa identificar a altura de uma nota em uma representação musical<br />
escrita, são usados grupos de cinco linhas e quatro espaços intermediários,<br />
denominados pautas ou pentagramas. A posição da nota da pauta define a sua altura;<br />
entretanto, o nome da nota musical somente será identificado com a ajuda de um sinal<br />
especial, denominado clave, que é colocado em uma das linhas da pauta. 94 Existem três<br />
tipos de clave:<br />
92 Este tema será desenvolvido no Capítulo XI.<br />
93 Definindo de um modo mais rigoroso, tetracorde é a seqüência de quatro notas compreendidas dentro<br />
de uma quarta justa.<br />
94 As linhas são contadas de baixo para cima.<br />
63
Clave de SOL, cujo símbolo é o seguinte:<br />
Clave de FÁ, que tem o seguinte símbolo:<br />
Clave de DÓ, com o símbolo:<br />
Colocadas nos pentagramas, as claves podem ser escritas em diferentes linhas: 95<br />
Na clave de SOL, o símbolo pode ser colocado na primeira ou na segunda linha;<br />
mais comumente nesta última.<br />
Na clave de FÁ, o símbolo pode ser colocado na terceira ou na quarta linha; mais<br />
comumente na quarta.<br />
Na clave de DÓ, o símbolo pode ser colocado na primeira, segunda, terceira ou<br />
quarta linha.<br />
As claves mais utilizadas são as claves de SOL e de FÁ; com o símbolo na segunda<br />
linha (SOL) e quarta linha (FÁ), respectivamente.<br />
A seguir, nomes pelas quais algumas claves são conhecidas internacionalmente:<br />
Com o uso da clave, a nota pode ser identificada pela sua posição no pentagrama<br />
(na mesma posição, a nota tem nomes diferentes, de acordo com a clave). As notas,<br />
95 Geralmente, quando se trata de uma pauta extensa de música, coloca-se uma barra no início da clave.<br />
Em pequenos trechos que servem como exemplos, não são necessárias.<br />
64
com a clave de SOL e de FÁ, usadas nas segunda e quarta linhas respectivamente,<br />
ficarão assim<br />
Clave de SOL:<br />
Clave de FÁ:<br />
Relação entre as claves:<br />
Cada uma das claves permite indicar uma extensão ou faixa de som, em relação à<br />
altura:<br />
• Sons médios e agudos: indicados pela clave de SOL, na primeira e segunda<br />
linha.<br />
• Sons médios e agudos: indicados pela clave de DÓ, na primeira e quarta<br />
linha.<br />
• Sons médios e graves: indicados pela clave de FÁ, na terceira e quarta<br />
linha.<br />
O uso simultâneo das claves de SOL e FÁ permite abranger uma grande extensão<br />
em altura (oitavas).<br />
Usando unicamente a clave de SOL, notas mais graves ou mais agudas podem ser<br />
representadas com a ajuda de linhas suplementares da pauta (o uso excessivo delas é<br />
evitado utilizando-se a clave de DÓ):<br />
65
Pode-se escrever até o máximo de cinco linhas suplementares, seja abaixo ou acima<br />
da pauta; com isto, consegue-se abranger uma extensão de quatro oitavas.<br />
Clave de percussão:<br />
Esta clave serve para representar instrumentos de percussão de altura não definida,<br />
como a bateria ou tambor. As notas são posicionadas arbitrariamente na pauta,<br />
indicando apenas as suas alturas relativas. Assim, as notas de instrumentos com som<br />
mais agudo são colocadas em linhas mais altas, para mostrar (apenas relativamente) a<br />
sua altura em relação a um outro instrumento de percussão que, por soar mais grave,<br />
terá as suas notas colocadas em linhas mais baixas.<br />
Entretanto, os instrumentos de percussão afináveis utilizam notação com as claves<br />
melódicas mostradas. Os tímpanos, por exemplo, são escritos na clave de FÁ.<br />
Série Harmônica:<br />
Denomina-se série harmônica ao conjunto de sons que começam com a<br />
fundamental e incluem os sons harmônicos desta nota, e que são conhecidas pela<br />
ordem de sucessão (estão assinalados os harmônicos, do 2º. até o 16º.): 96<br />
4.1.3 As figuras e os tempos<br />
A duração das notas musicais é representada por sinais ou figuras que definem o<br />
tempo de cada uma delas.<br />
A música divide-se em trechos ou partes iguais, denominados compassos. Cada<br />
compasso tem uma duração em tempo definida por uma fórmula, denominada fórmula<br />
de compasso. Normalmente, o compasso pode ter:<br />
• Dois tempos, ou compasso binário;<br />
• Três tempos, ou compasso ternário;<br />
• Quatro tempos, ou compasso quaternário.<br />
96 A fundamental confunde-se com o primeiro harmônico; assim, o dobro da fundamental é o segundo<br />
harmônico.<br />
66
Estes tempos do compasso são então definidos pelos tempos das notas.<br />
O tempo relativo das notas é dado no quadro a seguir, onde é dada a figura da nota,<br />
seu nome e o seu valor. 97<br />
A nota de maior duração é a semibreve, e a de menor duração é a semifusa.<br />
Existem, além dessas, algumas notas pouco usuais, que são:<br />
A colocação das hastes das notas é feita, regra geral, do seguinte modo: viradas<br />
para cima, até o segundo espaço; viradas para baixo, da terceira linha para cima.<br />
Exceção: quando muitas notas de pequeno valor são escritas agrupadas (com várias<br />
notas seguidas, as notas podem ser unidas entre si).<br />
4.1.4 As pausas<br />
A música não é feita somente com as notas musicais; certas passagens podem ou<br />
devem ser enfatizadas com o uso de silêncios ou pausas entre as notas dos compassos,<br />
com maior ou menor duração. O valor das pausas é equivalente ao valor da nota à qual<br />
estão ligadas.<br />
97 Os nomes das notas, naturalmente, obedecem às posições respectivas das linhas, em cada clave.<br />
Quanto ao valor, depende unicamente do nome da figura (ou seja, uma semibreve sempre valerá quatro<br />
tempos – veja-se o quadro).<br />
67
4.1.5 Sinais de alteração ou acidentes<br />
Os sinais de alteração ou acidentes são as alterações utilizadas para elevar ou<br />
abaixar o som de uma nota em um semitom ou em um tom (dois semitons), dentro de<br />
um mesmo compasso (ou, se usados junto à clave, modificam todas as notas de todos<br />
os compassos, exceto se modificadas pelo bequadro). 98<br />
Os sinais de alteração são os seguintes:<br />
O sustenido ( # ) e o dobrado sustenido ( ) são alterações ascendentes, enquanto<br />
que o bemol ( ) e o dobrado-bemol ( ) são alterações descendentes.<br />
Exceções: quando o sustenido (#) modifica uma nota alterada por um dobrado<br />
sustenido ( ), o efeito será descendente; quando o bemol ( ) modifica uma nota<br />
alterada por um dobrado-bemol ( ), o efeito será descendente.<br />
98 A nota modificada estará sempre à direita do sinal de alteração. Se houver necessidade de mudar o<br />
sinal ainda dentro do compasso, usa-se o sinal de bequadro.<br />
68
O bequadro ( ) tem duplo efeito: é ascendente quando modifica uma nota alterada<br />
em bemol ( ), e descendente quando modifica uma nota alterada em sustenido (#).<br />
O dobrado sustenido ( ) e o dobrado-bemol ( ) são sempre ascendente o<br />
primeiro e descendente o segundo.<br />
Os sinais de alteração podem ser fixos, ocorrentes e de precaução. São fixos<br />
quando fazem parte da arrumação da clave, e o seu efeito dura por todo o trecho. São<br />
ocorrentes quando dominam somente o compasso onde se encontram. Chamam-se de<br />
precaução quando colocados para evitar erros de leitura.<br />
A alteração da nota final de compasso ligada à inicial do compasso seguinte afeta<br />
igualmente esta nota.<br />
4.1.6 Valores de duração<br />
Valores simples: são os valores de cada nota. Os valores simples obedecem a uma<br />
subdivisão binária:<br />
69
Ponto de diminuição: quando um ponto é colocado acima ou abaixo de um valor<br />
(indicado pela nota), indica subtração de metade da duração deste valor.<br />
Ponto de aumento:<br />
A duração das notas ou dos espaços pode ser aumentada, colocando-se um, dois ou<br />
três pontos à sua direita. Cada ponto aumenta a duração da nota em metade do seu<br />
valor, e cada ponto a mais, pelas metades sucessivas. Como cada nota de maior valor<br />
vale o dobro da anterior, de menor duração, o ponto equivale a adição à nota, de outra<br />
nota com metade do seu valor. 99<br />
Os compassos assim formados são denominados compassos compostos, pois<br />
obedecem a uma divisão ternária. Este é um recurso indispensável para indicar a<br />
divisão de um valor de tempo em três partes, por não se dispor de notas com valores<br />
equivalentes a um terço, um sexto, um nono, etc.<br />
Valores compostos: são os valores das notas, quando acrescidas de um ponto de<br />
aumento.<br />
99 O valor acrescido de um ponto de aumento chama-se valor composto.<br />
70
Se no compasso é colocada a figura (nota) de menor valor, ao invés do ponto de<br />
aumento, deve-se colocar um sinal de ligação acima ou abaixo das notas, indicando<br />
que à primeira nota é acrescida a metade de sua duração. Este sinal é denominado<br />
ligadura ou legato.<br />
A ligadura indica, então, a união de dois ou mais valores que possuem a mesma<br />
altura. A ligadura pode significar também que todo um trecho musical deve ser<br />
executado sem interrupção de som; da primeira à última nota, todas são executadas<br />
ligadamente.<br />
Ela permite estender a duração de uma nota além de um compasso, o que o ponto<br />
não permite (este só pode ser usado dentro do compasso).<br />
A ligadura serve também para indicar o fraseado.<br />
A ligadura nunca é usada para ligar pausas.<br />
71
Costuma-se também, para indicar a ligadura, escrever a palavra legato acima ou<br />
abaixo do grupo de notas a se ligar.<br />
O prolongamento do valor da duração da nota a um tempo indeterminado, à<br />
escolha do executante, é indicado pelo sinal denominado fermata, coroa, ponto de<br />
órgão ou, quando colocado sobre uma pausa, suspensão (as palavras longa ou curta<br />
sobre a fermata indicam uma sustentação maior ou menor do som).<br />
A pausa geral de todos os instrumentos da orquestra é dada pelo sinal G.P., na<br />
partitura.<br />
4.2 Compassos<br />
Denomina-se tempo ao movimento que fixa a duração absoluta do valor. Os tempos<br />
podem ser fortes, que são mais acentuados, e fracos, os que recebem menor<br />
acentuação. Um conjunto de tempos forma o que se chama compasso.<br />
A música é formada por uma sucessão de compassos. Ao conjunto da pauta e da<br />
notação, formando uma peça musical, denomina-se partitura. Também quando<br />
impressa comercialmente (em papel), a música completa (sua anotação musical) recebe<br />
o nome de partitura.<br />
Os tempos das notas servem para variar os movimentos da música, determinando a<br />
divisão do trecho musical em partes iguais, ou grupos de tempos iguais (são os<br />
compassos). Os compassos devem ter sempre a mesma duração.<br />
Os compassos podem ser simples ou compostos. Nos compassos simples, cada<br />
tempo é indicado por um valor simples, dando uma subdivisão binária em seus tempos.<br />
Nos compassos compostos, cada tempo é indicado por um valor composto, dando uma<br />
subdivisão ternária em seus tempos. 100<br />
Na escrita do compasso, cada um é separado do compasso seguinte por uma linha<br />
divisória vertical denominada travessão. No final de um trecho musical, ou na<br />
separação de períodos, são colocadas duas linhas verticais, denominadas travessão<br />
duplo ou travessão dobrado, ou mesmo pausa final.<br />
100 Mais à frente, se desenvolverá esta abordagem. Basta, por enquanto, saber que os compassos podem<br />
ser binários, ternários, quaternários, quinários, setenários, etc.<br />
72
A fórmula do compasso é indicada por uma fração colocada no início da pauta,<br />
logo após a clave, onde o numerador determina o número de tempos do compasso e o<br />
numerador indica a figura ou nota representativa da unidade de tempo.<br />
As unidades de tempo, com os números respectivos, são os seguintes:<br />
As leituras dos tempos do compasso são feitas da seguinte forma:<br />
Exemplos de fórmula de compasso:<br />
73
4.2.1 Compassos simples<br />
Os compassos simples têm o tempo indicado por um valor que dá uma subdivisão<br />
binária no tempo.<br />
Os compassos simples mais usados têm frações com denominador 4, 8 ou, dizendo<br />
de outra maneira, as unidades de tempo mais usadas são as semínimas e as colcheias. O<br />
compasso 4/4 é também indicado por C, o compasso 2/2 por , 101 e o compasso 4/2<br />
por .<br />
O compasso pode ser marcado por batidas de pé ou de mão que indiquem os<br />
tempos que o compõem no trecho em execução. A seguir, os diversos movimentos da<br />
mão que permitem a marcação dos compassos simples.<br />
101 O compasso 2/2 também é indicado pelo nome alla breve.<br />
74
A marcação do compasso, além de obedecer aos tempos, tem uma acentuação,<br />
denominada acentuação métrica. O compasso binário tem dois tempos, sendo que o<br />
primeiro tempo é forte ou acentuado (tesis), e fraco ou não acentuado (arsis) o segundo<br />
tempo.<br />
No compasso ternário, o primeiro tempo é forte, e fracos os segundo e terceiro<br />
tempos.<br />
No compasso quaternário o primeiro tempo é forte, sendo fraco o segundo, o<br />
terceiro e o quarto tempo.<br />
O compasso quaternário pode escrever-se também como um tempo binário duplo<br />
(dois grupos de dois tempos).<br />
O segundo acento não tem a mesma força que o primeiro; é meio forte.<br />
Observações relativas aos compassos:<br />
1) As notas de menor valor do compasso devem ser executadas de modo que a sua<br />
duração somada tenha a mesma duração da maior nota:<br />
2) Os compassos devem ter a mesma duração em tempo:<br />
75
3) As pausas são contadas do mesmo modo que as notas (veja-se a intercalação de<br />
notas menores entre dois tempos, no segundo e no terceiro compasso):<br />
4) A contagem do tempo é também denominada pulsação rítmica ou simplesmente<br />
pulsação. A execução do compasso, sendo determinada pela fórmula do compasso<br />
como também pelos valores das notas, é modificada pela adição do ponto de aumento<br />
às notas, relativamente à pulsação:<br />
5) Em geral, o primeiro compasso de uma música não é completo, podendo ter ou<br />
não pausas que lhe completem a medida de tempo, de acordo com a sua fórmula de<br />
compasso:<br />
Neste segundo caso, o último compasso deve completar o valor de tempo que falta<br />
ao primeiro.<br />
4.2.2 Compassos compostos<br />
Compassos compostos são aqueles cujos tempos têm uma divisão ternária. São<br />
obtidos pela multiplicação da fração do compasso simples por 3/2.<br />
Exemplo:<br />
76
Deste modo, os compassos compostos são representados por frações cujo<br />
numerador é 6, 9 ou 12 (derivados respectivamente dos compassos simples binário,<br />
ternário ou quaternário), e o denominador é uma figura que vale um terço de tempo.<br />
Para se encontrar o números de tempos nos compassos compostos, divide-se o<br />
numerador por 3 (a unidade de tempo é representada por uma figura pontuada).<br />
Exemplo:<br />
Para se encontrar o correspondente compasso simples, toma-se a fração que indica<br />
o compasso composto e divide-se o numerador por 3 e o denominador por 2:<br />
Deve ser observado que os compassos compostos não possuem unidade de<br />
compasso; possuem apenas unidade de tempo (a unidade de compasso só pode ser<br />
representada por uma figura única).<br />
Os compassos binários mais freqüentes são:<br />
77
A acentuação métrica dos tempos dos compassos compostos é a mesma dos<br />
compassos simples.<br />
Um compasso composto com tempo de 12/8 pode ser tanto um compasso composto<br />
binário quanto um compasso quaternário, dependendo da acentuação.<br />
Os compassos ternários mais utilizados são:<br />
Os compassos compostos podem também ser marcados por batidas de mão:<br />
4.2.3 Compassos mistos<br />
Além dos compassos simples e compostos, existem também os chamados<br />
compassos mistos ou compassos assimétricos: o compasso quinário, ou compasso de<br />
cinco tempos (com um binário seguido de um ternário, ou vice-versa), e o compasso<br />
setenário, ou compasso de sete tempos. Este último pode ser formado por um ternário<br />
seguido de quaternário, por um quaternário seguido de ternário ou pela combinação<br />
binário + ternário + binário.<br />
Os compassos mistos mais comuns são os seguintes:<br />
78
Os compassos também podem ser escritos assim:<br />
4.2.4 Notação e uso de compassos<br />
A divisão de períodos é indicada pela duplicação de linhas, e cada compasso é<br />
separado do seguinte por uma linha ou travessão:<br />
Para indicar o final de um trecho, duas linhas duplicadas (uma fraca e uma forte)<br />
são colocadas no final do compasso:<br />
Duas linhas duplicadas (sendo uma delas mais forte), com dois pontos no centro, de<br />
cada lado do compasso, indicam que ele deve ser repetido (é o que se chama ritornello<br />
ou retrocesso):<br />
79
Se uma série de compassos diferem entre si apenas nos últimos (é o que se chama<br />
Casa 1 e Casa 2): executa-se esta indicação tocando-se, uma vez, até a Casa 1; em<br />
seguida, repete-se o trecho desde o início, mas ao chegar à Casa 1, pula-se e executa-se<br />
o compasso da Casa 2 (pode indicar apenas as Casas ou escrever 1ª. vez e 2ª. vez):<br />
Para se executar um trecho novamente, desde o início, indica-se D.C. (Da Capo =<br />
da cabeça):<br />
Para se retornar, não ao início da música, mas a um compasso qualquer, indica-se<br />
D.S. (Dal segno = do sinal):<br />
Quando se executa um trecho e deve-se passar para a parte final da música, usa-se<br />
a indicação : al (al coda):<br />
Quando um trecho deve ser repetido, usam-se as palavras bis ou due volte:<br />
A repetição de meio, um ou dois compassos é indicada com o sinal ou :<br />
80
Para repetir-se uma passagem arpejada com acordes ou bicordes, escreve-se a<br />
palavra símile, por sobre o compasso:<br />
O trêmulo de acordes tem sua escrita simplificada da seguinte maneira:<br />
O silêncio ou pausa de dois ou mais compassos (nas partes de coros e orquestra) é<br />
indicado pelo número relativo aos compassos em repouso, sobre um traço:<br />
Exemplos simplificados de execução de compassos:<br />
81
Inicia-se o compasso 1 até o compasso 8; volta-se ao início e executa-se até o<br />
compasso 11. Volta-se ao compasso 9 e executa-se até o compasso 12, mas saltando o<br />
compasso 11.<br />
Executam-se os compassos 1 a 8; em seguida, volta-se ao início e executa-se a<br />
música até encontrar a palavra FINE (FIM).<br />
Executam-se os compassos 1 a 8; na indicação dal segno al coda volta-se ao início<br />
e executam-se os compassos 1 a 4, pulando para o compasso 9 na indicação al coda, e<br />
executando até o compasso 12. Repetem-se os últimos quatro compassos.<br />
4.2.5 Notação abreviada<br />
Abreviaturas são sinais convencionais que servem para indicar a repetição de uma<br />
ou mais notas, ou indicar outras abreviações que facilitam a leitura.<br />
As fórmulas de compasso são abreviadas assim: binárias simples, com o número 2;<br />
as ternárias simples, com o número 3; e as quaternárias simples, com o número 4.<br />
82
Linha ou sinal de oitava é o sinal (indicação: 8ª.) que indica, quando colocado<br />
acima ou abaixo da nota ou grupo de notas, que é executada a sua oitava superior ou<br />
inferior. Este sinal permite abreviar linhas suplementares:<br />
Executa-se:<br />
A mesma indicação, antecedida da palavra “con”, indica que a nota é executada<br />
juntamente com a sua oitava superior ou inferior:<br />
Executa-se:<br />
Notas ou grupos de notas podem ser abreviadas com o sinal / (veja-se, atrás,<br />
repetição de compassos):<br />
Executa-se:<br />
Ou, com grupo de notas ligadas:<br />
Executa-se:<br />
83
Também:<br />
Executa-se:<br />
A repetição de sons sucessivos, 102 com valores de maior duração, é indicada<br />
usando-se pontos e traços para indicar a quantidade de valores a se repetir:<br />
a) Valores simples (as figuras abreviadas são executadas conforme a fórmula do<br />
compasso):<br />
Igualmente, nos valores compostos:<br />
102 Um conjunto de notas que se repetem com insistência num trecho musical é denominado Ostinato.<br />
84
As quiálteras podem ser abreviadas colocando-se sobre a figura o número de<br />
figuras a se repetir:<br />
4.3 Andamento ou cinética musical<br />
O valor de uma obra musical pode ser avaliado em função dos sentimentos que ela<br />
é capaz de evocar, e que traduzem o seu caráter e a sua vitalidade ou vigor. E o que<br />
determina este caráter é o ritmo 103 e o movimento, ou variação do andamento (também<br />
chamada agógica), isto é, a sua maior ou menor velocidade de execução. O andamento<br />
é medido por um determinado número de pulsações ou tempos por minuto, sendo cada<br />
pulsação representada, em geral, por uma semínima; em música, então, o ritmo é o<br />
modo como um determinado andamento é executado. O ritmo estabelece perfeitamente<br />
a identidade da música, bem como caracteriza a sua origem e os seus fundamentos<br />
étnicos e culturais.<br />
Uma composição pode ter vários tipos de andamento, do mais lento ao mais rápido.<br />
Este andamento pode ser descrito em pormenores, por meio de palavras indicadas na<br />
partitura. Por motivos históricos, as palavras mais usadas são do idioma italiano,<br />
Há três tipos de andamento: andamento lento ou vagaroso (que se subdivide em<br />
dois andamentos: bem vagaroso e vagaroso); andamento moderado; andamento rápido.<br />
103 Ritmo, em física, é o movimento ou alternância regularmente repetida, ou recorrente no tempo.<br />
85
Velocidade dos andamentos:<br />
• Andamentos bem vagarosos: variam de 40 a 66 (ou 69) semínimas 104 por<br />
minuto;<br />
• Vagarosos: 66 (ou 69) a 108 (ou 120) semínimas por minuto;<br />
• Andamentos moderados: variam de 108 (ou 126) a 120 (ou 152) semínimas<br />
por minuto;<br />
• Andamentos rápidos: variam de 120 (ou 152) a 208 semínimas por minuto.<br />
Largo Lento e solene 40-66<br />
Adágio Devagar, calmo 66-76<br />
Andante A passo 76-108<br />
Moderato Moderado 108-120<br />
Allegro Rápido 120-168<br />
Presto Muito rápido 168-208<br />
A descrição pormenorizada do andamento, mudança de andamento, dinâmica,<br />
caráter, expressão ou estilo em música pode ser feita pelo uso de termos ou frases, que<br />
estão listadas a seguir. 105<br />
A capriccio à vontade<br />
A piacere à vontade<br />
A tempo no andamento inicial<br />
Accarezzevole acariciante<br />
Accellerando accel. acelerando<br />
Ad libitum ad lib. livre interpretação do andamento<br />
Affetuoso ou Affabile affet. afetuoso<br />
Affretando ou Stringendo affret. string. apressando, agitando<br />
104 Ou oscilações por minuto. O andamento é medido pelo metrônomo, aparelho mecânico regulável<br />
utilizado em música para dividir o tempo e marcar o compasso (o metrônomo foi inventado em 1710).<br />
105 Para um maior repertório de palavras, consulte-se o site: http://www.meloteca.com/dicionario-<br />
musica-italiano-portugues.htm.<br />
86
Agitato agitado, com agitação<br />
Alla marcia com carácter de marcha<br />
Allargando allarg. mais devagar, alargando,<br />
retardando<br />
Allegro assai muito depressa<br />
All’ottava 8va. a oitava<br />
Animato animado<br />
Appassionato appas. com muito sentimento, apaixonado<br />
Arco arcada<br />
Arpeggiando arpeg. arpejando<br />
Assai muito, bastante<br />
A tempo retomar o tempo original<br />
Attaca subito continuação sem interrupção<br />
Ben marcato bem marcado<br />
Brillante bril. com movimento brilhante, vigoroso<br />
Cadenza cad. cadência<br />
Calanto cal. calando-se, diminuindo<br />
Cantabile com execução expressiva, cantável<br />
Con anima com alma<br />
Con brio com brio, com vigor<br />
Con fuoco fogoso, vivo<br />
Con moto com movimento<br />
Com spirito de modo gracioso<br />
Crescendo cresc. aumentando gradualmente de<br />
intensidade<br />
Da Capo D.C. repetir do princípio<br />
Dal segno D.S. do sinal<br />
Deciso com decisão, de modo decidido<br />
Decrescendo decresc. diminuindo gradualmente de<br />
intensidade<br />
Diminuendo dim. Idem<br />
Divisi dividido<br />
Dolce com suavidade, com doçura<br />
Doloroso dolorosamente<br />
Enérgico com energia<br />
Expressivo express. expressivamente, com expressão<br />
Forte f. forte, com intensidade<br />
Forte-piano fp significa ataque forte de uma nota,<br />
seguido de uma execução em<br />
piano.<br />
Fortissimo ff. muito forte, com altíssima<br />
intensidade<br />
Finale último andamento de uma obra em<br />
vários andamentos<br />
Giocoso jocoso, alegre<br />
Giusto justo, exato<br />
Glissando deslizando<br />
Graziozo gracioso, com graciosidade<br />
Incipit designa as primeiras notas de um<br />
trecho musical<br />
87
In tempo retomada do andamento inicial<br />
Incalzando apressando o andamento<br />
Legato leg. ligado, sem aspereza<br />
Leggero (leggiero) legg. ligeiro, com muita docilidade<br />
Lusingando lisongeiro, adulador<br />
Ma nom troppo mas não muito<br />
Ma nom molto idem<br />
Maestoso majestoso (de caráter solene, mas<br />
não necessariamente lento)<br />
Mancando diminuindo pouco a pouco<br />
Mano destra m.d. mão direita<br />
Mano sinistra m.s. mão esquerda<br />
Marcato marc. marcado, acentuado, realçado<br />
Martellato martelado<br />
Mezza voce a meia-voz<br />
Mezzo forte som com intensidade média<br />
Meno menos<br />
Meno mosso mais devagar; menos movimentado<br />
Mesto andamento musical triste ou aflito<br />
Mezzo forte m.f. meio forte<br />
Misterioso misterioso<br />
Molto muito<br />
Molto vivace muito animado<br />
Morendo diminuindo até o pianíssimo,<br />
morrendo<br />
Mosso com movimento animado, rápido<br />
Opus op. obra<br />
Passionato com paixão<br />
Pedale ped. pedal (pedal direito do piano)<br />
Perdendosi perd. diminuindo até o pianíssimo<br />
Pesante pesadamente<br />
Piacevole agradavelmente<br />
Piú mais<br />
Piú allegro mais depressa<br />
Piú lento mais lento<br />
Piú mosso mais movimentado; mais depressa<br />
Pizzicato pinçado (com o dedo)<br />
Poco pouco<br />
Poco a poco pouco a pouco<br />
Poco a poco crescendo crescendo gradativamente<br />
Portamento arrastando a voz<br />
Raddolcendo suavizando<br />
Rallentando rall. retardando, reduzindo o andamento<br />
Ravvivando avivando, com mais vivacidade<br />
Rillasciando relaxando, abrandando o<br />
andamento<br />
Rinforzando rinf. reforçando, aumentando de<br />
sonoridade<br />
Risoluto resolutamente, com resolução<br />
Ritenuto rit. retido, demorado, detido (em geral,<br />
88
subitamente)<br />
Ritardando ou Rattenendo rit. contendo, retardando o andamento<br />
Rubato movimento livre sem alterar o<br />
ritmo; com liberdade de<br />
andamento<br />
Semplice com simplicidade<br />
Sempre sempre<br />
Senza sem<br />
Simile igual, similar<br />
Scherzando scherz. brincando; com execução leve e<br />
graciosa; gracejando<br />
Sforzando sfz. esforçando, acentuando<br />
Smorzando smorz. extinguindo<br />
Sordino surdina (con sordini com surdinas;<br />
senza sordini sem surdinas)<br />
Sostenuto sustentado<br />
Sotto voce em meia voz; fracamente<br />
Spianato muito liso e igual<br />
Staccato stac. destacado<br />
Stringendo string. Apressando, acelerando<br />
gradualmente o<br />
andamento<br />
Súbito subitamente<br />
Súbito piano subitamente suave<br />
Tacet ficar em silêncio (plural: tacent)<br />
Tempo giusto em movimento médio<br />
Tempo primo volta ao movimento ou andamento<br />
inicial<br />
Tenuto, Tenendo ten. sustentado, apoiado (nota bem<br />
sustentada)<br />
Tranquilo tranqüilo; com movimento mais<br />
moderado<br />
Tre corde t.c. soltar o pedal esquerdo do piano<br />
(pedal doce)<br />
Tremolo trem. trêmulo<br />
Tutti pleno; todos os instrumentos da<br />
orquestra tocando juntos<br />
Una corda u.c. uso do pedal esquerdo do piano<br />
Vivo com vivacidade<br />
Vuota pausa geral<br />
Todas estas expressões dão origem a uma diversidade de modos de indicar o<br />
andamento. 106 Exemplos:<br />
Allegro moderato Moderadamente rápido.<br />
Presto con fuoco Extremamente rápido e com expressão intensa.<br />
Andante Cantabile Velocidade moderada, entoando as notas como<br />
em uma canção.<br />
106 A expressão a battuta (com o compasso), é uma indicação que aparece após uma passagem<br />
(cadência, por exemplo) tocada livremente, ad libitum.<br />
89
Adagio Melancolico Lento e melancólico<br />
Allegro con brio Alegre com vigor<br />
Allegro ma nom troppo Alegre, mas não muito<br />
Andante sostenudo Com andamento sustentado<br />
As diversas indicações, em que pese a riqueza de expressões, não atingem o<br />
objetivo de precisar o modo absoluto do andamento; a indicação pode ser iniciada de<br />
modos diferentes por executantes diferentes. Esta incerteza na duração do tempo é<br />
evitada com as indicações do metrônomo. Por exemplo, = 120 significa um<br />
andamento igual a 120 pulsações por minuto (ou 120 semínimas por minuto).<br />
4.4 Dinâmica<br />
As notas existentes nos compassos podem ser tocadas com diferentes intensidades,<br />
sendo que as várias intensidades recebem o nome de colorido. Existem sinais<br />
convencionais que indicam os graus de intensidade; estes sinais são escritos por baixo<br />
do pentagrama, e indicam o grau de força ou suavidade com que as notas deverão ser<br />
tocadas. Estes sinais são chamados sinais dinâmicos. Deste modo, dinâmica (em<br />
música) significa a graduação da intensidade sonora. Tal como as indicações de<br />
andamento, possuem valor apenas relativo, traduzindo imperfeitamente a intenção do<br />
compositor.<br />
A gama de intensidades, do som mais fraco até o som mais forte, é a seguinte:<br />
fff molto fortissimo com a máxima força<br />
ff fortissimo muito forte<br />
f forte forte<br />
mf mezzo forte meio forte<br />
mp mezzo piano meio suave<br />
p piano suave<br />
pp pianissimo muito suave<br />
ppp molto pianissimo o mais suave possível; bem fraco<br />
Indicações intermediárias:<br />
fp começando forte e continuando levemente<br />
mfp começando com meia força e continuando levemente<br />
pf começando levemente e continuando forte<br />
mpf começando com meia docilidade e continuando forte<br />
Uma execução orquestral pode ter uma faixa dinâmica de intensidades que varia<br />
aproximadamente entre 20 dB até 100 dB.<br />
Os contrastes dinâmicos, ou variação dinâmica abrangida por uma partitura, são os<br />
seguintes (níveis em dB e em sones):<br />
ppp pp p mp mf f ff fff<br />
20/30 40 55 60 64 75 85 95/100<br />
0,5 1 2 4 8 16 32 64<br />
Correlação média entre níveis dinâmicos (volume), Watts (Wm -2 ) e decibéis:<br />
90
Nível<br />
dinâmico<br />
Intensidade<br />
Wm -2<br />
Nível em<br />
dB<br />
fff 10 -2 100<br />
ff 10 -3 90<br />
f 10 -4 80<br />
mf 10 -5 70<br />
mp 10 -6 60<br />
p 10 -7 50<br />
pp 10 -8 40<br />
ppp 10 -9 30<br />
Outros modos de indicar as variações de intensidades:<br />
a) Pelo uso de alocuções:<br />
b) Pelo uso de sinais colocados sob o pentagrama:<br />
O primeiro sinal indica aumento de intensidade, e o segundo, indica diminuição de<br />
intensidade.<br />
Alguns efeitos especiais em música podem ser conseguidos através da indicação<br />
feita por alguns sinais colocados na partitura musical. A seguir, será apresentado um<br />
quadro com os sinais mais comuns e a sua significação (estes e outros sinais serão<br />
vistos em detalhes, mais à frente):<br />
91
Além destes, existem outros sinais especiais, capazes de indicar a intensidade ou<br />
expressão desejada, em música. Estes sinais são denominados articulações, e fixam as<br />
acentuações dinâmicas.<br />
As articulações se dividem em:<br />
1) Legato, ligado ou ligadura: é uma linha curva colocada sobre ou sob as<br />
notas. Indica: a) que as notas iguais não são repetidas, mas sim, que a<br />
primeira nota é prolongada por toda a extensão da duração da(s) seguinte(s);<br />
b) que as notas desiguais ligadas são tocadas sem interrupção, isto é,<br />
executam-se ligadamente.<br />
2) Staccato ou destacado: é indicado por pontos de diminuição colocados sobre<br />
ou sob as notas, significando que elas são executadas separadamente uma<br />
das outras, com um som curto e destacado, como se entre elas houvesse<br />
sinais de pausa (o staccato abrevia o valor de tempo da nota pela metade).<br />
As articulações podem se relacionar com notas encadeadas ou com notas isoladas.<br />
Do primeiro tipo, tem-se:<br />
a) Legato propriamente dito (grafado com um semicírculo que limita o grupo e<br />
figuras, ou com o termo legato), onde a nota inicial é executada com acentuação e a<br />
desinência (terminação) é aspirada:<br />
b) Staccato propriamente dito (grafado com um ponto sobre a nota), onde cada nota<br />
é executada separadamente: 107<br />
107 O staccato indica uma execução entrecortada por pausas.<br />
92
Execução:<br />
c) Staccato doce ou portato, onde a ligadura é acrescentada para se conseguir um<br />
staccato menos picado:<br />
Execução:<br />
d) Martelato ou staccatissimo, indicado com ponto alongado acima ou abaixo da<br />
nota, significando que esta é executada de um modo duro, secamente:<br />
Com relação a notas isoladas, existem vários sinais, mostrados a seguir.<br />
O sinal colocado acima ou abaixo da nota, ou as letras sfz (sforzata) colocadas<br />
sob a mesma, indicam que a nota é executada mais fortemente:<br />
O sinal > ( ou ), abaixo ou acima da nota, indica uma intensidade menor que a<br />
anterior ( ), ou seja, a nota é executada menos fortemente.<br />
O sinal – , denominado traço horizontal, pequena linha, portato ou tenuto (ou<br />
tenuta), indica que a nota deve ser sustentada e executada com bastante sonoridade (o<br />
mesmo, se colocar-se sob ou sobre a nota a abreviatura “ten.”).<br />
93
De um modo geral, aumenta-se a intensidade nas linhas melódicas ascendentes e<br />
diminui-se a intensidade nas linhas melódicas descendentes.<br />
4.5 Ritmo<br />
Ritmo é a distribuição das várias durações dos sons na música; é também o modo<br />
como o andamento é executado. É representado pela combinação de dois ou mais<br />
valores, e evidencia-se na execução pelos acentos fortes e fracos.<br />
Os ritmos distinguem-se:<br />
a) Pela divisão de sua estrutura; neste caso, podem ser binários, quando se<br />
submetem à divisão binária; ternários, quando se submetem à divisão ternária;<br />
irregulares, quando não se enquadram nestas duas divisões.<br />
Pela prosódia musical, ou pela sua delimitação, e se evidenciam pelas acentuações<br />
iniciais e finais, ou seja, pelo ictus (ictus inicial ou ictus final). O tempo forte ou<br />
acentuação forte do compasso recebe o nome de tésis, e o tempo fraco ou acentuação<br />
fraca do compasso recebe o nome de arsis. Então, pela sua delimitação, os ritmos se<br />
dividem em:<br />
• Téticos<br />
• Protéticos<br />
• Anacrústicos<br />
94
• Acéfalos ou decapitados<br />
• Decaudados ou sem cauda<br />
Todos eles têm a suas desinências ou terminações bem determinadas: a desinência<br />
masculina e a desinência feminina. A desinência masculina termina sobre o tempo<br />
forte (tésis), e o ritmo é denominado ritmo masculino; a desinência feminina termina<br />
sobre um tempo fraco e tem o ictus final sobre o último tempo forte; o ritmo então é<br />
denominado ritmo feminino (as terminações femininas são indicadas com o sinal<br />
Téticos:<br />
).<br />
(Beethoven, Sonata para piano e violino).<br />
Protéticos ou anacrústicos: precedem o ictus inicial ou movimento forte. O ictus<br />
inicial e a primeira nota seguinte são acentuados:<br />
(Beethoven, Sonata Op. 13).<br />
Acéfalos ou decapitados: são ritmos téticos que tiveram suprimidos o ictus inicial;<br />
começam por um contratempo:<br />
Decaudados ou sem cauda: neste caso, o ritmo não tem o ictus final. Este pode vir<br />
marcado no baixo (acompanhamento):<br />
95
4.5.1 Alterações rítmicas<br />
São todas as alterações de compasso que permitem modificar o ritmo. Elas<br />
permitem uma maior liberdade ao compositor, bem como demonstram a sua<br />
criatividade.<br />
As alterações podem ser realizadas:<br />
• Pela introdução de grupos de notas que alteram a fórmula do compasso;<br />
• Pela alteração da acentuação normal;<br />
• Pela mudança de articulação.<br />
No primeiro caso, denominam-se quiálteras ao grupo de figuras que alteram o<br />
número estabelecido na fórmula de compasso (ou seja, modificam a proporção<br />
estabelecida pela subdivisão de valores).<br />
As quiálteras têm várias denominações, segundo o número de notas:<br />
• Duas notas, duas-quiálteras;<br />
• Três notas, três-quiálteras ou tercina;<br />
• Quatro notas, quatro-quiálteras;<br />
• Cinco notas, cinco-quiálteras ou quintina;<br />
• Seis notas, seis-quiálteras ou sixtina;<br />
• Sete notas, sete-quiálteras ou septina, etc.<br />
As quiálteras são representadas colocando-se sobre os grupos de figuras uma cifra<br />
que denota a quantidade de figuras de sua composição.<br />
As quiálteras abrangem três casos:<br />
• grupos ternários dentro da subdivisão binária;<br />
• grupos binários dentro da subdivisão ternária;<br />
• grupos irregulares.<br />
Como já se sabe, a subdivisão binária dá os algarismos 2, 4, 8, 16, 32, 63, que<br />
formam os seguintes grupos binários:<br />
A subdivisão ternária dá os algarismos 3, 6, 12, 24, 48, 96, que formam os<br />
seguintes grupos ternários:<br />
96
Os grupos que não estão contidos na subdivisão binária e na ternária formam os<br />
chamados grupos irregulares: 5, 7, 9, 10, 11, 13, 14, 15, 17, etc. Há três casos<br />
possíveis.<br />
1º. Caso: grupos ternários dentro de uma subdivisão binária.<br />
Dentro de uma subdivisão binária os grupos ternários podem aparecer em três<br />
ocasiões:<br />
a) Na subdivisão de um tempo do compasso simples:<br />
b) Na subdivisão de um compasso inteiro:<br />
c) Ocupando a subdivisão de uma parte do tempo (nos compassos simples ou<br />
compostos):<br />
2º. Caso:<br />
Dentro de uma subdivisão ternária, os grupos binários podem aparecer em duas<br />
ocasiões:<br />
a) Na subdivisão de um tempo do compasso composto:<br />
b) Na subdivisão do compasso ternário inteiro:<br />
3º. Caso:<br />
Os grupos irregulares podem aparecer em duas ocasiões:<br />
a) Na subdivisão binária:<br />
97
) Na subdivisão ternária:<br />
Exemplos de grupos de quiálteras equivalentes a uma semínima (do lado esquerdo<br />
estão as quiálteras, e do lado direito, os grupos normais da subdivisão binária):<br />
Exemplos de grupos de quiálteras equivalentes à semínima pontuada (do lado<br />
esquerdo estão as quiálteras, e do lado direito, os grupos normais da subdivisão<br />
ternária):<br />
98
Utiliza-se o número indicativo de figuras aumentadas sob uma ligadura, para<br />
representar a quiáltera:<br />
Há várias formas pelas quais os grupos irregulares podem ser executados. Eles<br />
podem receber acentuações que os dividem em grupos binários e ternários, segundo a<br />
posição no compasso e a unidade rítmica.<br />
Exemplos:<br />
As três-quiálteras e as seis-quiálteras podem ser representadas por valores de<br />
diferentes durações, bem como podem ter pausas entremeadas.<br />
99
As quiálteras também podem ser aumentativas (ou expansivas), quando excedem o<br />
número de notas indicado na fórmula do compasso; e diminutivas (ou contrativas),<br />
quando têm número de notas inferior ao indicado.<br />
Outra forma de alteração rítmica além da quiáltera é pela mudança na acentuação<br />
normal do compasso. Esta mudança é denominada síncope. Sincopar, então, é alterar<br />
deliberadamente esta acentuação, o que implica em uma variação do ritmo.<br />
Existem três modos de realizar a síncope:<br />
a) Pela acentuação dos tempos fracos:<br />
b) Pela ligação do tempo fraco ao tempo forte seguinte:<br />
c) Pela variação do compasso:<br />
Quando as notas que formam a síncope têm a mesma duração, diz-se que ela é<br />
regular; irregular em caso contrário.<br />
Exemplo de síncope regular:<br />
100
Exemplo de síncope irregular:<br />
E por último, a alteração rítmica pode ser conseguida pela articulação da nota num<br />
tempo fraco do compasso, ou parte fraca do tempo, antecedida de uma pausa (isto é, o<br />
tempo forte é preenchido por pausa). É o que se denomina contratempo.<br />
101
102
5.1 Intervalos<br />
CAPÍTULO V<br />
ESTRUTURA DO DISCURSO MUSICAL<br />
Intervalo, como definido no item 3.4, é a distância sonora existente entre duas<br />
notas musicais. Estas notas podem ser simultâneas, e o intervalo é denominado<br />
intervalo harmônico, ou podem ser sucessivas, e o intervalo é chamado intervalo<br />
melódico. Neste caso, ele ainda pode ser ascendente, quando a sucessão de notas é<br />
ascendente, ou pode ser descendente, quando a sucessão de notas é descendente.<br />
Na escala diatônica tem-se intervalos de tom (t) e de semitom (s):<br />
O semitom é o menor intervalo na música. O semitom pode ser:<br />
a) Maior ou diatônico: é o intervalo existente entre notas vizinhas, que possuem<br />
nomes diferentes.<br />
b) Menor ou cromático: é o intervalo existente entre duas notas vizinhas que<br />
possuem o mesmo nome.<br />
c) Enarmônico: é o intervalo existente entre duas notas diferentes, mas que<br />
soam igualmente.<br />
103
O tom é formado de dois semitons, sendo um cromático, e outro, diatônico:<br />
O semitom diatônico separa duas notas de nomes diferentes, e o semitom cromático<br />
separa notas de nomes iguais.<br />
Teoricamente, o intervalo de tom se divide em 9 comas, sendo uma coma a<br />
diferença entre o semitom cromático e o semitom diatônico.<br />
Há uma contradição entre a teoria física e a teoria musical no que se refere ao<br />
intervalo de tom. A primeira diz que o semitom cromático possui 4 comas, e o semitom<br />
diatônico, 5 comas; a segunda afirma que o semitom cromático possui 5 comas, e 4<br />
comas o semitom diatônico. Esta contradição foi anulada com a adoção do sistema<br />
temperado, que dá a cada semitom 4 ½ comas.<br />
Os intervalos distinguem-se:<br />
a) Quanto ao gênero, pela quantidade de graus que abrangem; neste caso, são ditos<br />
intervalos simples, quando estão contidos na oitava, e compostos, quando a<br />
ultrapassam. São denominados:<br />
• Intervalos de segunda;<br />
• Intervalos de terceira ou terça;<br />
• Intervalos de quarta;<br />
• Intervalos de quinta;<br />
• Intervalos de sexta;<br />
• Intervalos de sétima;<br />
• Intervalos de oitava;<br />
• Intervalos de nona (já ultrapassando a oitava);<br />
• etc.<br />
104
O intervalo de 1ª. é dito pseudo-intervalo ou uníssono (formado pela tônica e sua<br />
dupla).<br />
b) Quanto à espécie, podem ser diatônicos, cromáticos e enarmônicos. Nos<br />
diatônicos predominam os intervalos da escala diatônica; nos cromáticos, predominam<br />
intervalos em semitons; e nos enarmônicos, predominam as passagens enarmônicas. Os<br />
intervalos cromáticos e os enarmônicos são usados conjuntamente aos diatônicos; o<br />
enarmônico usado para modular tons afastados.<br />
c) Quanto ao número de tons e semitons que compõem o intervalo, podem ser:<br />
• Justos ou perfeitos;<br />
• Maiores;<br />
• Aumentados;<br />
• Menores;<br />
• Diminuídos ou diminutos.<br />
Os intervalos justos ou perfeitos são aqueles que jamais se alteram para maior ou<br />
menor; são: o uníssono, a quarta, a quinta e a oitava:<br />
Os demais intervalos são chamados intervalos maiores:<br />
Quando aumentados de um semitom, os intervalos justos e os maiores tornamse<br />
aumentados:<br />
105
A quarta aumentada é também denominada trítono ou tritom.<br />
Os intervalos maiores, quando subtraídos de um semitom, tornam-se menores:<br />
Quando subtraídos de um semitom, os intervalos justos e os menores tornam-se<br />
diminuídos ou diminutos:<br />
A segunda diminuta é nula, nos instrumentos temperados.<br />
As alterações de intervalos podem ser melhor visualizadas através do quadro<br />
mostrado a seguir.<br />
106
Como se viu, a extensão de um intervalo pode ser aumentada ou diminuída.<br />
Aumenta-se de duas maneiras: elevando a nota superior, ou abaixando a nota inferior.<br />
Igualmente, para diminuir o intervalo: abaixa-se a nota superior ou eleva-se a nota<br />
inferior. Percebe-se, então, que há uma ordem de tamanho nos intervalos. Do menor<br />
para o maior, tem-se: diminutos; menores ou justos; maiores ou justos; aumentados. 108<br />
O quadro mostrado a seguir (quadro de intervalos) contém todos os intervalos<br />
possíveis; os mostrados entre parênteses são intervalos pouco usuais (o tom – tom<br />
maior – será representado, doravante, pela letra t minúscula).<br />
INTERVALO DISTÂNCIA<br />
Segunda menor (1 s)<br />
Segunda maior t (2 s)<br />
(Segunda aum.) t + s (3 s)<br />
(Terça dim.) t (2 s)<br />
Terça menor t + s (3 s)<br />
Terça maior 2 t (4 s)<br />
(Terça aum.) 2 t + s (5 s)<br />
(Quarta dim.) 2 t (4 s)<br />
Quarta justa 2 t + s (5 s)<br />
Quarta aum. 3 t (6 s)<br />
Quinta dim. 3 t (6 s)<br />
Quinta justa 3 t + s (7 s)<br />
Quinta aum. 4 t (8 s)<br />
(Sexta dim.) 3 t + s (7 s)<br />
Sexta menor 4 t (8 s)<br />
Sexta maior 4 t + s (9 s)<br />
(Sexta aum.) 5 t (10 s)<br />
Sétima dim. 4 t + s (9 s)<br />
Sétima menor 5 t (10 s)<br />
Sétima maior 5 t + s (11 s)<br />
(Oitava dim.) 5 t + s (11 s)<br />
Oitava justa 6 t (12 s)<br />
(Oitava aum.) 6 t + s (13 s)<br />
108 Os maiores e os justos são exclusivos, isto é, excluem-se entre si: se há um, não há o outro.<br />
107
Intervalos teóricos, não usados, são os seguintes: super-aumentados (são os<br />
intervalos aumentados, acrescidos de um semitom); sub-diminutos (são os intervalos<br />
diminutos, com um semitom a menos).<br />
Os intervalos formados na escala diatônica são:<br />
2ª. – menores (graus III e VII) 109 e maiores (graus (I, II, IV, V e VI);<br />
3ª. – menores (graus II, III, VI e VII) 110 e maiores (graus I, IV e V);<br />
4ª. – justas, com exceção de FÁ-SI, que é aumentada;<br />
5ª. – justas, com exceção de SI-FÁ, que é diminuta;<br />
6ª. – menores (graus III, VI e VII) e maiores (graus I, II, IV e V);<br />
7ª. – menores (graus II, III, V, VI e VII) e maiores (graus I e IV);<br />
8ª. – justas.<br />
Os intervalos formados na escala cromática são:<br />
2ª. – menores, maiores, aumentados e diminutos;<br />
3ª. – menores, maiores, aumentados e diminutos;<br />
4ª. – justos, aumentados e diminutos;<br />
5ª. – justos, aumentados e diminutos;<br />
6ª. – menores, maiores, aumentados e diminutos;<br />
7ª. – menores, maiores, aumentados e diminutos;<br />
8ª. – justos.<br />
5.1.1 Consonância e dissonância dos intervalos<br />
É importante considerar que o conceito de consonância e de dissonância variou muito,<br />
ao longo dos séculos. O acorde de quarta, por exemplo, pode ser ambos (geralmente, é<br />
considerado dissonante quando situado sobre o baixo); já o acorde de terceira, antes<br />
considerado dissonante, passou a ser considerado consonante a partir do início do<br />
século XIV (distinção esta que foi feita pelo monge Walter Odington). Além disso,<br />
nem sempre se considerou que a dissonância era desagradável ao ouvido, o que forçou<br />
a que a música paulatinamente a aceitasse (o que veio a ocorrer principalmente a partir<br />
do fim do século XIX).<br />
Os intervalos possuem uma qualidade sonora determinada pela série harmônica<br />
(fundamental mais harmônicos) referente a cada nota, podendo ser consonantes ou<br />
dissonantes. Os primeiros são aqueles que não pedem resolução sobre outro intervalo,<br />
enquanto que os últimos pedem resolução sobre um intervalo consonante.<br />
Os intervalos consonantes são o uníssono, a terça, a quinta, a sexta e a oitava,<br />
enquanto que são dissonantes os intervalos de segunda e sétima. A quarta pode ser<br />
consonante ou dissonante, e o trítono é considerado neutro. Os intervalos de terça e<br />
sexta são chamados de variáveis ou imperfeitos, porque podem variar a sua<br />
classificação (de maior para menor ou vice-versa) e continuar consonantes, isto é,<br />
109 Conforme se verá no item 5.2, as notas ou graus da escala podem ser assim representadas, pela ordem<br />
sucessiva: I II III IV V VI VII VIII. O grau III, em intervalo de segunda, representa o intervalo MI-FÁ, e<br />
o grau VII representa o intervalo SI-DÓ.<br />
110 O grau II, em intervalo de terceira, representa o intervalo RÉ-FÁ (FÁ é a terceira nota após a nota<br />
RÉ).<br />
108
sejam maiores ou menores, são consonantes. Os intervalos de quarta, quinta e oitava<br />
são chamados invariáveis ou perfeitos, porque se deixarem de ser justos, tornam-se<br />
dissonantes, isto é, não podem variar a sua classificação e continuarem consonantes.<br />
QUADRO <strong>DE</strong> CARACTERÍSTICAS SONORAS<br />
INTERVALO CARACTERÍSTICA<br />
Segunda menor Dissonância forte<br />
Segunda maior Dissonância branda<br />
Terça menor Consonância relativa<br />
Terça maior Consonância relativa<br />
Quarta justa Consonância ou dissonância<br />
Quinta justa Consonância pura<br />
Sexta diminuta Dissonância<br />
Sexta menor Consonância relativa<br />
Sétima diminuta Consonância relativa<br />
Sétima menor Dissonância branda<br />
Sétima maior Dissonância forte<br />
5.1.2 Inversão de intervalos<br />
Inverter um intervalo significa transportar a nota grave uma oitava acima, ou descer<br />
a nota aguda em uma oitava. Esta inversão pode ser realizada somente com os<br />
intervalos simples; o intervalo composto só pode ser invertido se a nota grave for<br />
transportada duas oitavas acima, ou se a nota aguda for transportada duas oitavas<br />
abaixo (a inversão é ascendente se a nota grave for para o agudo; descendente, no caso<br />
contrário):<br />
No primeiro exemplo, de FÁ-SI resultou, após a inversão, em SI-FÁ, esta última<br />
nota transportada uma oitava acima.<br />
No segundo exemplo, de DÓ-RÉ resultou, após a inversão, em RÉ-DÓ, sendo que<br />
esta última nota foi transportada duas oitavas acima.<br />
A oitava justa, quando invertida, não forma um intervalo, e sim o uníssono; a<br />
oitava aumentada e a oitava diminuta, quando invertidas, criam um intervalo de<br />
semitom cromático:<br />
109
A segunda, após invertida, torna-se sétima e vice-versa; a terça, após a inversão,<br />
torna-se sexta, e vice-versa; etc.<br />
Após a inversão os intervalos maiores tornam-se menores, e vice-versa; os<br />
intervalos aumentados tornam-se diminutos, e vice-versa; a assim por diante. Deste<br />
modo, por exemplo, a inversão de uma quarta maior transforma-se em quinta menor;<br />
uma terça menor invertida transforma-se em sexta maior.<br />
5.2 Escalas<br />
Uma escala é uma sucessão ou progressão de notas, a partir de uma nota inicial<br />
denominada tônica, até a sua oitava, podendo ser em sentido ascendente ou<br />
descendente. As escalas se distinguem entre si pelos intervalos entre as notas. As notas,<br />
ou como também são chamadas, graus da escala, são representadas por algarismos<br />
romanos: I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, sendo a primeira nota, ou fundamental, a<br />
tônica, a mais importante da escala. 111 Os graus são assim denominados:<br />
I Tônica<br />
II Sobretônica ou supertônica<br />
III Mediante<br />
IV Subdominante<br />
V Dominante<br />
VI Submediante ou superdominante ou sobredominante ou relativa menor<br />
VII Sensível ou sétima; subtônica<br />
VIII Tônica ou oitava<br />
Depois da tônica, o grau mais importante é o V, ou dominante, que tem um efeito<br />
importante (função dominante) na melodia e na harmonia. A tônica (primeiro grau) não<br />
é constituída necessariamente pela nota DÓ; pode ser qualquer uma das sete notas. A<br />
escala toma, então, o nome do seu primeiro grau.<br />
Os graus das escalas podem ser conjuntos ou disjuntos. Na escala de DÓ maior, por<br />
exemplo, 112 DÓ e RÉ são graus conjuntos, porque são notas vizinhas, e DÓ constitui o<br />
111 De acordo com o sistema tonal que se desenvolveu no Ocidente nos últimos três séculos.<br />
112 Vide itens seguintes.<br />
110
primeiro grau, ou tônica. Em uma escala cuja tônica seja SOL, por exemplo, a nota LÁ<br />
constitui o segundo grau, e são consideradas notas conjuntas; o mesmo ocorre em<br />
relação à nota FÁ, também considerada nota conjunta, em direção ao grave. Desta<br />
maneira, o movimento melódico pode ser ascendente ou descendente, por grau<br />
conjunto:<br />
Os graus disjuntos, ou saltos de intervalo, são constituídos por notas cujos<br />
intervalos são maiores do que o intervalo de segunda:<br />
5.2.1 Modos das escalas<br />
A escala diatônica possui cinco tons e dois semitons, num total de doze semitons<br />
dentro da oitava.<br />
Os tons e os semitons da escala diatônica podem ser dispostos de dois modos<br />
diferentes: no modo maior e no modo menor (em função dos graus modais: III ou<br />
mediante, e VI ou superdominante, assim chamados por caracterizarem o modo).<br />
O modo tem a sua tonalidade estabelecida pela primeira nota (que é também a<br />
oitava), ou nota principal. A modalidade é caracterizada pela seqüência de tons e<br />
semitons, que dá a cada modo uma sonoridade característica.<br />
Escalas nos modos maior e menor:<br />
Modo maior:<br />
No modo maior, existe um intervalo de terça maior (2 t) entre os graus I e III, e um<br />
intervalo de sexta maior (4 t + s) entre os graus I e VI:<br />
Modo menor:<br />
No modo menor, existe um intervalo de terça menor (t +s) entre os graus I e III, e<br />
um intervalo de sexta menor (4 t) entre os graus I e VI:<br />
111
Subjetivamente, o modo menor tem um efeito tristonho, melancólico, enquanto que<br />
o modo maior tem um efeito subjetivo de alegria, exuberância.<br />
Existem três tipos de escala no modo menor:<br />
1) Escala menor natural ou relativa. Esta escala possui um semitom entre os graus<br />
II e III, e outro semitom entre os graus V e VI:<br />
2) Escala menor harmônica. Percebe-se, na escala menor natural que o grau VII é<br />
separado do grau VIII por um intervalo de tom, o qual não caracteriza a nota sensível<br />
(que possui uma atração pela tônica). Fazendo-se uma alteração ascendente no grau<br />
VII, forma-se um intervalo de semitom deste grau VII para o grau VIII (e também um<br />
intervalo de 2ª, aumentada do grau VI para o grau VII). Esta escala possui, então, um<br />
semitom entre os graus II e III, outro semitom entre os graus V e VI, e um terceiro<br />
entre os graus VII e VIII:<br />
3) Escala menor melódica. Para evitar o intervalo de 2ª. aumentada, dissonante e de<br />
difícil entoação, faz-se as seguintes modificações: na escala ascendente, coloca-se uma<br />
alteração ascendente no grau VI; na escala descendente, conservam-se as notas<br />
primitivas (é conveniente recordar que, quando uma nota alterada volta a ser normal<br />
pelo uso do sinal de bequadro, seu efeito é contrário ao do sinal de alteração anterior.<br />
Por exemplo, uma nota alterada por sustenido, ao voltar ao normal, o efeito é como se<br />
ela tivesse sido alterada por um bemol):<br />
112
Na escala descendente o grau VII passa a chamar-se subtônica, devido ao<br />
desaparecimento do intervalo de semitom do grau VII para o grau VIII (o intervalo de<br />
semitom entre estes graus caracteriza uma atraca entre eles, pelo que o grau VII recebe<br />
o nome de sensível).<br />
Uma parte ascendente desta escala menor melódica é conhecida como escala de<br />
jazz menor:<br />
5.2.2 Escalas do modo maior<br />
A escala fundamental no modo maior é a escala em DÓ maior. Esta escala é<br />
formada por dois grupos de quatro notas, denominadas tetracordes, contendo cada um<br />
dois tons e um semitom diatônico:<br />
A escala maior é derivada do modo jônico; ela já era usada há séculos, na música.<br />
Durante a Idade Média ela aparecia apenas nas canções e danças populares, sendo<br />
condenada pela Igreja Católica de Roma, que se referia a ela como modus lascivus<br />
(modo lascivo). Com o estabelecimento das leis da harmonia a partir do século XVI,<br />
esta escala tornou-se extremamente importante na música ocidental.<br />
Como já foi visto, uma escala pode ser iniciada por qualquer nota (grau ou tônica);<br />
entretanto, sua ordem harmônica (harmonia no sentido de que a nota musical é<br />
formada por um espectro sonoro constituído de uma freqüência fundamental e várias<br />
freqüências harmônicas) 113 deve ser semelhante à ordem harmônica da escala de DÓ<br />
maior. Isto significa que em uma escala cuja nota inicial é diferente de DÓ, a sucessão<br />
de suas notas deve soar (em altura diferente) de modo semelhante à sucessão de notas<br />
da escala cuja nota inicial é a nota DÓ; isto só se torna possível, entretanto, se uma ou<br />
mais notas dessa escala sofrer alteração acidental (sustenido ou bemol). Diz-se que<br />
uma escala é tanto mais próxima de outra quanto menor o número de suas notas que<br />
113 Harmonia musical pode ser definida como a ressonância simultânea de múltiplos sons de variadas<br />
alturas. Entre os gregos antigos, a harmonia era entendida como uma sucessão bem ordenada de sons,<br />
em um esquema modal.<br />
113
seja preciso alterar; dessa forma, uma escala mais próxima de DÓ maior é a escala de<br />
SOL maior, porque somente uma nota dessa escala deve sofrer alteração:<br />
Na escala em SOL maior, a nota FÁ, ou grau VII, sofreu uma alteração ascendente<br />
(sustenido) para que o intervalo entre os graus VI e VII pudesse ser de tom, e o<br />
intervalo entre os graus VII e VIII, de semitom.<br />
Regra de formação de escalas maiores:<br />
a) Por deslocamento em direção à dominante: a partir da dominante de qualquer<br />
escala (grau V), que é também a nota inicial do segundo tetracorde, toma-se este e<br />
converte-se-o para se tornar o primeiro tetracorde da nova escala; em seguida,<br />
adiciona-se um semitom (sustenido) à sensível (grau VII) desta nova escala, mantendose<br />
o sustenido nas notas já alteradas: 114<br />
114 A contagem de sustenidos se faz apenas com as primeiras sete notas.<br />
114
) Por deslocamento em direção às subdominantes: partindo da subdominante de<br />
qualquer escala (grau IV ascendente ou grau V descendente, a partir da tônica), podese<br />
construir uma nova escala, apenas alterando por um semitom descendente (bemol) a<br />
sensível da escala anterior, que se torna a subdominante da escala formada: 115<br />
115 Observe-se que, assim como na construção anterior (a partir da dominante), com os sustenidos, a<br />
quantidade de bemóis da escala refere-se às primeiras sete notas.<br />
115
A formação de escalas por progressão de quintas sucessivas tem a seguinte<br />
característica: após doze quintas, as escalas que partem de DÓ, tanto no sentido da<br />
dominante, quanto no sentido da subdominante, encontram-se novamente,<br />
enarmonicamente, no DÓ inicial, formando um ciclo denominado ciclo das quintas:<br />
116
Assim, a escala de DÓ maior, teoricamente, pode ser representada tanto pela escala<br />
de SI# (uma quinta acima de MI#) quanto pela escala de RÉbb (uma quinta acima de<br />
LÁbb). O ciclo das quintas mostra igualmente que as notas SI# e RÉbb são<br />
enarmonicamente equivalentes à nota DÓ.<br />
5.2.3 Escalas do modo menor<br />
Como já foi visto, o que caracteriza uma escala menor é o intervalo de terça menor<br />
entre os graus I e III, e o intervalo de sexta menor entre os graus I e VI.<br />
A lei de formação das escalas menores segue o mesmo princípio que o das escalas<br />
maiores, ou seja, segue o ciclo das quintas, com a única diferença que a nota de partida<br />
é LÁ, que é a relativa menor de DÓ maior: 116<br />
116 Conforme se verá no item 5.2.5.<br />
117
5.2.4 Tonalidade das escalas<br />
A tonalidade de uma escala é definida em relação à sua nota tônica, ou<br />
fundamental. Isto significa que todas as outras notas tendem para esta nota<br />
fundamental, que é o centro tonal da composição musical. 117 Deste modo, diz-se que<br />
música tonal é a música escrita em uma certa tonalidade, ou seja, que tem um centro<br />
tonal (a tônica e seu acorde correspondente). Enquanto a modalidade depende de certos<br />
intervalos característicos (modo maior e menor), a tonalidade depende somente da<br />
altura da nota.<br />
Existem tonalidades de nome semelhante (mesma tônica), mas que diferem na<br />
modalidade: são as tonalidades homônimas. Por exemplo, RÉ maior e RÉ menor, são<br />
tons homônimos.<br />
Os graus tonais são o I (tônica), o IV (subdominante) e o V (dominante), pois são<br />
eles que caracterizam o tom da escala. Observe-se que cada escala (escala em DÓ<br />
maior, p. ex.) indica o seu tom. Como a maioria das escalas (maiores e menores) é<br />
formada por muitos acidentes ou alterações (sustenidos e bemóis), ao invés de escrevêlos<br />
ao longo da pauta, eles são colocados de uma vez 118 entre o sinal de clave e a fração<br />
do compasso, no que se denomina armação ou armadura da clave. Este sistema de<br />
armação de clave é denominado sistema tonal, e é uma extensão da idéia de tonalidade.<br />
117 A tônica define um tom central e, em torno dela, deste centro tonal, gravitam a harmonia e a melodia.<br />
118 São os sinais fixos. São cancelados quando necessário, pelos sinais ocorrentes ou de adequação<br />
(bequadro ou duplo-bequadro).<br />
118
Uma outra escrita, para a escala maior (clave de DÓ, apenas sustenidos):<br />
A diferença, neste caso, é que as notas estão uma oitava abaixo.<br />
Na escala menor harmônica (vide item 5.2.1), o sinal de alteração da sensível não é<br />
escrito na armadura, colocando-se-o ocorrentemente, toda vez que a nota sensível<br />
aparecer. As alterações que surgem no decorrer do trecho são denominadas acidentais.<br />
119
As alterações que anulam os efeitos das alterações acidentais são colocadas entre<br />
parênteses; são denominadas alterações de prevenção.<br />
Para que se possa distinguir a tonalidade de um trecho musical, deve-se orientar<br />
pela armadura ou armação da clave, pois esta indica imediatamente a tônica maior e a<br />
sua relativa menor. 119 O sistema tonal tem trinta tons, sendo quinze no modo maior e<br />
quinze no modo menor (uma nota de partida, sete tons formados com sustenidos e sete<br />
tons formados com bemol). A identificação tonal pela armadura da clave é a seguinte:<br />
a) Clave armada com sustenidos: a tônica procurada está um grau acima (um grau<br />
abaixo, na menor) do último sustenido, que é a alteração da sensível:<br />
b) Clave armada com bemóis: o último bemol altera a subdominante, e a tônica<br />
procurada esta cinco graus acima dele (três acima, na menor):<br />
119 Veja-se o item a seguir.<br />
120
As regras de formação de escalas maiores, vistas no item 5.2.2, permitem perceber<br />
porque o último sustenido é a alteração da sensível, e o último bemol a alteração da<br />
subdominante.<br />
Para se conhecer o modo, a observação da armadura não é suficiente. Como já foi<br />
falado, na escala menor o sinal de alteração da sensível só é colocada na pauta,<br />
ocorrentemente (não é colocado na armadura). Esta característica da escala menor<br />
permite diferencia-la da escala maior, em relação ao modo. Por exemplo, um trecho<br />
cuja armadura possua dois sustenidos pode estar em RÉ maior ou em SI menor; para<br />
saber com certeza, basta verificar se a nota LÁ (a nota LÁ é a quinta de RÉ e a sétima<br />
de SI) aparece com sustenido nos primeiros ou nos últimos compassos. Se aparecer, ela<br />
é a sensível (grau VII) do modo menor, e a tônica é a nota SI. Caso contrário, ela (a<br />
nota FÁ) é a dominante (grau V) do modo maior, e a tônica é a nota RÉ:<br />
Um método simplificado de identificação de tonalidade é o seguinte: se um trecho<br />
musical começar e terminar pela mesma nota, é quase certo que esta é a tônica.<br />
5.2.5 Escalas relativas<br />
Cada escala maior tem uma escala relativa menor, cuja armadura é a mesma (a<br />
propósito, escalas que possuem a mesma entoação, mas diferem na grafia, são<br />
denominadas escalas enarmônicas; por exemplo, são enarmônicas as escalas em SI<br />
121
maior e DÓb maior), assim, LÁ menor é a relativa menor de DÓ maior, porque suas<br />
armaduras são iguais, ou seja, não possuem acidentes; SI menor é a relativa menor de<br />
RÉ maior, porque ambas possuem dois sustenidos nas respectivas armaduras. A<br />
mediante da escala menor é a tônica da correspondente escala relativa maior, e a<br />
sobredominante da escala maior é a tônica da correspondente escala relativa menor (a<br />
tônica da escala maior se encontra na terça menor; a tônica da escala menor se encontra<br />
no sexto grau da escala maior):<br />
5.2.6 O sistema modal<br />
O conceito de modo já foi dado no item 5.2.1. Para que se possa entender o sistema<br />
modal, deve ser feita uma digressão histórica.<br />
A idéia de escala foi formulada na antiga Grécia; eram nomeadas segundo as<br />
diversas regiões:<br />
• Escala dórica;<br />
• Escala frigia;<br />
• Escala lídia;<br />
• Escala mixolídia.<br />
Eram escritas em ordem descendente, sendo suas notas iniciais respectivas: MI,<br />
RÉ, DÓ e SI:<br />
Estas escalas foram adotadas na Idade Média (séculos IV a VI d.C.) com as<br />
seguintes alterações: de descendente passaram a ascendentes (o grave se apresentando<br />
como o repouso da tônica); substitui-se o termo escala por modo, e trocou-se as notas<br />
iniciais e/ou os nomes das escalas. Assim, a escala grega dórica tornou-se o modo<br />
dórico, iniciando em RÉ; o modo lídio passou a iniciar em FÁ e o frígio em MI. A<br />
122
escala lídia, por sua vez, tornou-se o modo jônico, iniciando em DÓ. A escala<br />
mixolídia tornou-se o modo lócrio, iniciando em SI, e a escala ascendente iniciada em<br />
SOL passou a se chamar modo mixolídio. A escala iniciada em LÁ foi denominada<br />
modo eólio. Com isto, foram criados sete modos, um para cada nota natural:<br />
Note-se que os modos jônico e eólio coincidem com as escalas diatônicas naturais<br />
maior e menor.<br />
Os modos dórico, frígio, lídio e mixolídio derivados das escalas gregas tomaram o<br />
nome de modos autênticos, sendo que os equivalentes hipo das escalas 120 são os modos<br />
plagais ou derivados:<br />
120 Ou seja, começados com o prefixo hipo. Eram escalas que iniciavam uma quarta abaixo.<br />
123
Os modos autênticos e plagais foram usados na música sacra ou litúrgica, sendo<br />
por isto conhecidos como Modos Gregorianos 121 ou Modos Eclesiásticos. Os modos<br />
autênticos foram adotados por Santo Ambrósio, bispo de Milão, servindo para as<br />
melodias mais agudas, e os modos plagais foram adotados por São Gregório, servindo<br />
para as melodias mais graves.<br />
Os Modos Eclesiásticos possuem também uma denominação numérica:<br />
Outros modos menos usados são:<br />
121 O Canto Gregoriano, em razão de sua importância histórica, será visto em maiores detalhes no<br />
Capítulo XI.<br />
124
Os Modos Gregorianos, como foi dito, formam um sistema tonal próprio para as<br />
músicas litúrgicas, diferindo do sistema tonal próprio da chamada música profana ou<br />
mundana, principalmente pela ausência de sinais de alteração e pelo deslocamento dos<br />
semitons diatônicos. São, pois, essencialmente diatônicos. É permitido abemolar<br />
somente a nota SI, para evitar o passo melódico do trítono (quarta aumentada, de FÁ a<br />
SI natural), o qual era denominado diabolus in musica, por ser o seu som considerado<br />
sinistro. 122<br />
No canto litúrgico ou gregoriano surgem frequentemente, na recitação dos salmos,<br />
notas denominadas dominantes 123 ou de repercussão. Essas notas, com as respectivas<br />
finais de cada modo, representam as características modais e variam de um para outro<br />
modo (as letras F e D representam, respectivamente, a nota final e a nota dominante de<br />
cada modo):<br />
122 Denomina-se falsa relação, o se fazer ouvir, simultaneamente ou consecutivamente, dois sons<br />
considerados incompatíveis (como é o caso do trítono).<br />
123 Não confundir com o grau V.<br />
125
Temos, então:<br />
• A dominante do 1º., 4º. e 6º. modo é a nota LÁ<br />
• A dominante do 3º., 5º. e 8º. modo é a nota DÓ<br />
• A dominante do 2º. modo é a nota FÁ<br />
• A dominante do 7º. modo é a nota RÉ<br />
O sistema modal foi usado durante toda a Idade Média como fonte para todas as<br />
melodias. Entretanto, tornou-se insuficiente com a crescente complexidade oriunda da<br />
polifonia (várias linhas melódicas simultâneas), com o que uma nova linguagem<br />
harmônica foi se desenvolvendo, surgindo, por volta do século XVII, o sistema<br />
denominado tonal, que envolve o conceito de escalas maiores e menores diatônicas.<br />
Cada um dos modos pode ser transportado para qualquer tonalidade (vide item<br />
6.3), produzindo cinco escalas alternativas (o jônico e o eólio coincidem com a escala<br />
diatônica); as escalas determinando a harmonia, e os modos determinando as variações<br />
melódicas:<br />
Modo jônico: é o antecessor da escala maior diatônica:<br />
Modo dórico: é um modo menor, diferindo da escala menor natural somente na<br />
sexta nota;<br />
Modo frígio: difere da escala menor natural na 2ª. nota:<br />
126
Modo lídio: difere da escala maior diatônica na 4ª. nota:<br />
Modo mixolídio: difere da escala maior diatônica na 7ª. nota:<br />
Modo eólio: foi o antecessor da escala natural diatônica menor:<br />
Modo lócrio: é um modo incomum, pouco usado na música ocidental. É mais<br />
usado na música do Japão e Índia:<br />
5.2.7 Escalas artificiais<br />
As escalas artificiais são escalas criadas a partir da divisão da oitava em intervalos<br />
diferentes daqueles que caracterizam as escalas diatônicas. Os principais tipos de<br />
escalas artificiais são as seguintes.<br />
I) Escala pentatônica:<br />
É uma escala de cinco notas, surgida na China por volta de 5.000 a.C., 124 e que<br />
serve de escala básica para canções folclóricas de vários países. 125 A pentatônica maior<br />
não possui a 4ª. e a 7ª. nota da escala maior diatônica, e a pentatônica menor não<br />
possui a 2ª. e a 6ª. nota da escala natural menor:<br />
124 Uma tendência moderna quer indicar: a.E.C. (antes da Era Comum), o que é uma seqüela da nefasta<br />
linguagem politicamente correta. Não é o que se segue neste texto.<br />
125 Por exemplo, a escala japonesa “escala in sen” (que é substituta para o modo frígio em MI), com as<br />
notas MI, FÁ, LÁ, SI, RÉ, e as suas variações: FÁ, LÁ, SI, RÉ, MI (segundo modo); SI, RÉ, MI, FÁ,<br />
LÁ (quarto modo), etc.<br />
127
O segundo modo da escala pentatônica maior em SI bemol algumas vezes é<br />
chamado de escala pentatônica suspensa: 126<br />
II) Escala de tons inteiros ou escala de Debussy:<br />
É uma escala constituída por intervalos iguais de tom. 127 Esta escala não possui um<br />
centro tonal específico, possuindo uma sonoridade difusa, em virtude da ausência da<br />
sensível. 128<br />
Há somente duas escalas de tons inteiros: a escala iniciada em DÓ, e a escala<br />
iniciada em DÓ# (ou Réb):<br />
III) Escala diminuta:<br />
Nesta escala, a oitava é dividida em oito intervalos, contendo nove notas, em uma<br />
seqüência de tom e semitom. Possui quatro centros tonais: a 1ª., 3ª., 5ª. e 7ª. notas,<br />
sendo então necessário apenas três escalas diminutas para cobrir as doze notas da<br />
escala cromática. A primeira escala inicia em DÓ, a segunda escala inicia em DÓ# /<br />
Réb e a terceira escala em RÉ:<br />
126<br />
As escalas pentatônicas maior, menor e suspensa podem ser usadas sobre acordes maiores, menores<br />
e suspensos, respectivamente.<br />
127<br />
A escala hexatônica de tons inteiros é uma escala de seis notas, também separadas por intervalos<br />
iguais de tom.<br />
128<br />
Ela soa exatamente igual, independente da nota pela qual for iniciada.<br />
128
IV) Escala dominante diminuta:<br />
Tem o mesmo padrão da escala anterior, com os mesmos centros tonais potenciais,<br />
ou seja: 1ª., 3ª., 5ª. e 7ª. notas. A única diferença é o ponto de partida, pois começa com<br />
um intervalo de semitom. Ela tem uma sonoridade característica e grande<br />
maleabilidade. Por poder ser harmonizada com uma grande quantidade de acordes<br />
alterados, ela se tornou largamente utilizada no jazz.<br />
Basicamente, existem três escalas de dominante diminuta (as escalas mostradas são<br />
iniciadas em DÓ, RÉb e RÉ):<br />
V) Escala alterada:<br />
É uma fusão dos modos lídio (que tem o grau IV aumentado) e mixolídio (que tem<br />
o grau VII diminuído). 129 Esta escala pode ser empregada com harmonias de tônica e<br />
com harmonias de dominante. Podem ser construídas escalas alteradas sobre os doze<br />
graus da escala cromática:<br />
129 As primeiras quatro notas repetem o padrão do modo lídio, e as quatro últimas, o padrão do modo<br />
mixolídio. Esta escala, com a sua sonoridade característica, além de ser utilizada na música folclórica do<br />
Nordeste brasileiro, é empregada também tanto na música popular brasileira quanto no jazz.<br />
129
VI) Escalas artificiais derivadas da escala diatônica maior:<br />
São consideradas dissonantes, e por isso são pouco empregadas. Possuem um único<br />
centro tonal.<br />
Uma escala artificial pode ser transposta para qualquer outro tom, desde que a<br />
seqüência de intervalos se mantenha. Elas são: escala enigmática em DÓ; escala<br />
napolitana em DÓ; escala menor napolitana em DÓ; escala menor cigana em DÓ:<br />
VII) Escala maior de Blues:<br />
É uma escala de seis sons (hexatônica) muito usada em músicas de jazz e rock (os<br />
graus são: I, III, IV, V, VI, I). Os graus III, V e VII são abaixados, e os graus II e VII<br />
não são considerados (mas podem ser usados como notas de passagem):<br />
VIII) Escala Bebop:<br />
É uma escala de oito sons, da qual existem quatro tipos: maior (maior + #5);<br />
dominante (mixolídia + #7); menor (dórica + #3); meio-diminuta (lócria + #5):<br />
130
IX) Escala aumentada:<br />
É outra escala de seis sons, com uma seqüência de terceiras menores e segundas<br />
menores alternadas. Existem quatro tipos: os que começam em DÓ, DÓ#, RÉ e RÉ# :<br />
X) Escala Cigana ou Húngara Menor:<br />
XI) Escala Cigana Espanhola:<br />
5.2.8 Escalas diatônicas com duplos acidentes<br />
São escalas usadas (embora raramente) como tonalidades secundárias, onde<br />
aparecem com alterações ocorrentes. O seu uso sendo desnecessário, são apresentadas<br />
apenas a título de curiosidade.<br />
Escalas com duplos sustenidos: são formadas a partir da escala ascendente de DÓ#<br />
maior, tomando-se como tônica da nova escala a primeira nota do segundo tetracorde,<br />
com alteração ascendente de semitom, no grau VII:<br />
131
As escalas sucessivas são construídas da mesma maneira, obtendo-se as escalas de:<br />
As escalas contêm:<br />
• RÉ# - 7 sustenidos e 2 duplos, ou 9 sustenidos;<br />
• LÁ# - 7 sustenidos e 3 duplos, ou 10 sustenidos;<br />
• MI# - 7 sustenidos e 4 duplos, ou 11 sustenidos;<br />
• SI# - 7 sustenidos e 5 duplos, ou 12 sustenidos;<br />
• FÁ - 7 sustenidos e 6 duplos, ou 13 sustenidos;<br />
• DÓ - 7 sustenidos e 7 duplos, ou 14 sustenidos.<br />
Escalas com duplos bemóis: são formadas a partir da escala descendente em DÓb<br />
maior, seguindo-se o mesmo critério anterior:<br />
As escalas sucessivas são:<br />
132
5.2.9 Escalas cromáticas<br />
Escala cromática é uma escala contendo uma sucessão de doze notas, separadas<br />
entre si por intervalos de semitom. Qualquer escala diatônica pode ser transformada em<br />
escala cromática:<br />
Para que os graus possam ser transformados (tanto em escalas no modo maior<br />
quanto no modo menor), seguem-se as seguintes regras:<br />
1) Na sucessão ascendente, altera-se:<br />
• Com sustenido os graus naturais;<br />
• Com dobrado sustenido os graus sustenizados;<br />
• Com bequadro os graus bemolizados;<br />
2) Na sucessão descendente, altera-se:<br />
• Com bemol os graus naturais;<br />
• Com dobrado-bemol os graus bemolizados;<br />
• Com bequadro os graus sustenizados.<br />
133
Para que a escala diatônica seja transformada em escala cromática, basta repetir os<br />
graus antecedentes com alterações ascendentes, nas sucessões ascendentes, ou com<br />
alterações descendentes, nas sucessões descendentes, seguindo as regras descritas.<br />
* Veja-se o item 7.6.1.<br />
** Veja-se o item 7.4.2.<br />
Quadro de divisões da oitava<br />
Em doze partes iguais Escala cromática<br />
Em seis partes iguais Escala de tons inteiros<br />
Em quatro partes iguais Acorde de sétima diminuta*<br />
Em três partes iguais Acorde aumentado**<br />
Em duas partes iguais Intervalo de trítono<br />
134
6.1 Elementos da forma musical<br />
CAPÍTULO VI<br />
A MELODIA<br />
Os elementos fundamentais da música são: ritmo, melodia e harmonia. No Capítulo<br />
IV foi visto o que seja ritmo, sua organização e estrutura. Neste capítulo será abordado<br />
um outro elemento da música: a melodia.<br />
A melodia, ou discurso musical, é uma sucessão de sons cujo encadeamento, sob o<br />
os aspectos tonal e rítmico, é lógico, coerente e ordenado, formando um fraseado com<br />
um sentido musical que é percebido pelo ouvido. A melodia é constituída por um ou<br />
mais temas, em desenvolvimento linear, e é vinculada ao ritmo, que lhe dá a<br />
acentuação.<br />
A melodia pode ser classificada, segundo a sua progressão de sons, em:<br />
a) Gradual (ascendente ou descendente), também chamada por grau conjunto:<br />
b) Por salto melódico, que pode ser por terças, quartas ou quintas:<br />
c) Por uma combinação de ambas as progressões:<br />
A linha melódica, ou progressão melódica, tem uma forma caracterizada por<br />
momentos de tensão e distensão interior, em proporção equilibrada. Deste modo, linhas<br />
melódicas ascendentes devem ser contrabalançadas por linhas melódicas descendentes,<br />
e vice-versa, dando à melodia uma evolução fluida natural.<br />
A melodia também pode ser classificada segundo a sua estrutura. Neste caso, podese<br />
distinguir duas espécies de melodia: a melodia temática e a melodia ampla.<br />
A melodia temática é aquela cuja estrutura contém um ou mais temas:<br />
135
A melodia ampla é aquela em cuja estrutura se nota uma desenvoltura mais ampla:<br />
6.1.1 Partes integrantes da melodia<br />
A melodia possui uma estrutura, ou forma estrutural, sendo os seus elementos<br />
integrantes o período, a frase e o motivo temático, ou célula rítmica.<br />
O período é uma linha melódica que apresenta um todo completo; termina por um<br />
repouso que é denominado cadência. De um modo geral, o período pode abranger oito<br />
ou dezesseis compassos. Os períodos mais comuns possuem 8 ou 16 compassos,<br />
subdivididos em duas frases ou quatro motivos (células).<br />
A frase é uma parte ou fragmento da melodia com certa autonomia; no exemplo<br />
anterior, os compassos 1 a 4 e 5 a 8 formam duas frases sucessivas (quando a frase<br />
abrange quatro compassos, é denominada frase quadrada). A frase melódica possui um<br />
contorno, perfil ou curva melódica, que por assim dizer flutua em torno da nota tônica<br />
da frase, denominada centro tonal.<br />
O motivo, ou célula rítmica, é uma fração da frase que também possui autonomia<br />
relativa. Em virtude de sua importância, a célula rítmica constituirá um tópico<br />
autônomo, a ser estudado a seguir.<br />
6.1.2 A célula rítmica<br />
Assim como a linguagem falada em sua estrutura fonética é composta por sílabas,<br />
vocábulos e frases, também a linguagem musical, estruturalmente, é constituída de<br />
notas, motivos ou incisos e frases.<br />
Como se sabe, a linguagem falada necessita do vocábulo como elemento<br />
fundamental para as suas construções. É um fenômeno universalmente reconhecido<br />
que o vocábulo não pode conter mais de um acento tônico, independente do número de<br />
sílabas que contenha. Deste modo, o vocábulo recebe apenas um acento de intensidade,<br />
ou acentuação, contendo as demais sílabas menor intensidade, ou não acentuação.<br />
Disto decorre um dualismo na lei constitutiva do vocábulo: átono-tônico; leve-forte;<br />
não-acentuado-acentudado, sendo que a sucessão periódica de intensidades menores ou<br />
maiores dá à linguagem uma manifestação reconhecidamente rítmica.<br />
Do mesmo modo na linguagem musical o motivo, cuja sucessão forma a melodia,<br />
terá sempre uma apenas, de suas notas acentuadas, alternando-se com notas não<br />
136
acentuadas. O motivo, ou célula rítmica, é formado então por um conjunto de notas<br />
com uma articulação não acentuado-acentuado, ou, dito de outra maneira, com uma<br />
articulação impulso-repouso, onde a nota acentuada corresponde ao repouso:<br />
A sucessão de acentuações recebe o nome de ritmo, e o retorno regular do acento,<br />
no desenvolvimento das frases, recebe o nome de cadência ou pontuação cadencial da<br />
melodia. É importante perceber que a nota acentuada ou nota principal está sempre<br />
adiante da barra divisória.<br />
6.1.3 Elementos acessórios da melodia<br />
Os elementos acessórios da melodia são: notas de soldura ou junção; notas<br />
elípticas; cesura.<br />
Notas de soldura ou junção são notas que unem frases diferentes:<br />
Notas elípticas são notas com dupla função: finalizar uma frase ou período e ao<br />
mesmo tempo iniciar o seguinte período:<br />
Cesura é o repouso que separa uma frase ou um inciso de outro:<br />
6.2 Ornamentos melódicos<br />
Ornamentos, ou artifícios melódicos são notas estranhas que se acrescentam à obra<br />
musical, com a finalidade de adorná-la. Os ornamentos permitem explorar os graus<br />
137
diatônicos vizinhos à nota essencial sobre a qual se apóiam. São extensamente usadas<br />
nas músicas folclóricas dos diversos países, cujos cantos, muitas vezes improvisados,<br />
são adornados com grupos de notas denominadas melismas.<br />
Melismas são várias notas cantadas com uma só sílaba, ao contrário do canto<br />
silábico, em que se usa uma nota por sílaba. Estas improvisações cantadas foram, ao<br />
longo do tempo, sendo incorporadas à música acadêmica, com a finalidade de<br />
enriquecer a melodia, sem prejudicar a harmonia.<br />
A virtuosidade dos cantores veio a influenciar a prática interpretativa instrumental, à<br />
medida que os instrumentistas adotavam estes improvisos, tornando-os definitivos.<br />
Desse modo, o uso satisfatório do instrumento musical passou a depender, igualmente,<br />
da perícia ou virtuosidade do artista. Além disso, quando a prática se generalizava, ela<br />
era incorporada às próprias composições musicais, com o que passavam a ser exigidas<br />
de todos os instrumentistas.<br />
Os ornamentos podem ser considerados sob dois aspectos:<br />
a) Como notas estranhas aos acordes, ou aspecto harmônico, abrangem quatro<br />
espécies: notas de passagem; apogiaturas; antecipação; retardo (vide item 7.4.3 – Notas<br />
auxiliares).<br />
b) Como notas acessórias da melodia, ou aspecto melódico, abrangem oito<br />
espécies: apogiatura; portamento; trinado; mordente; grupeto; notas glisadas ou flatté;<br />
arpejo; tirata ou floreio.<br />
6.2.1 Apogiatura<br />
A apogiatura ou apojatura pode ser longa, breve e dupla.<br />
A apogiatura longa tira à nota original (nota principal) no compasso simples, a<br />
metade do seu valor, se divisível por dois, e 2/3 se for divisível por três (ou seja, do<br />
valor binário e ternário, respectivamente). No compasso composto toma o valor inteiro<br />
da primeira nota ligada:<br />
138
A acentuação forte deve cair sobre a apogiatura; a nota seguinte recebe uma<br />
acentuação mais leve:<br />
Apogiaturas breves ou acicaturas: são pequenas notas de rápido valor que<br />
precedem a nota principal e da qual tiram uma mínima parte de seu valor. São<br />
representadas por uma colcheia cortada: . Como o seu valor é tirado da nota que lhe<br />
segue, são, quase sempre, executadas muito rapidamente, dependendo unicamente do<br />
andamento do trecho.<br />
A apogiatura breve apresenta-se de dois modos:<br />
I) Simples: com uma só nota;<br />
II) Dobrada: com duas notas.<br />
A apogiatura breve simples pode ser acentuada vigorosamente ou levemente.<br />
1) Ela é acentuada vigorosamente:<br />
a) Quando colocada em um desenho melódico que se move arpejando:<br />
b) Quando colocada antes da nota inicial, reforçando o tempo forte:<br />
c) Quando reforça a parte melódica com uma apogiatura a oitava:<br />
d) Quando colocada antes de uma nota repetida:<br />
Em todos os casos, a nota principal nunca deve perder a sua acentuação, como<br />
ocorre com a apogiatura longa.<br />
139
2) Ela é acentuada levemente:<br />
a) Quando, em um apoio de certas notas da melodia, representa uma parte inferior:<br />
b) Quando se torna mais cantante, em um intervalo distante:<br />
c) Quando se acha sobre uma terminação feminina:<br />
d) Quando antecedendo uma nota sincopada:<br />
II) Apogiatura dobrada ou dupla: é a combinação de duas apogiaturas, superior e<br />
inferior, em intervalos de 2ª. ou maior intervalo. São executadas com rapidez,<br />
dependendo do movimento, e acentuando-se a nota principal. O seu valor é tirado da<br />
nota que lhe sucede.<br />
A apogiatura dobrada pode ser:<br />
a) Por meio das notas de passagem inferior e superior:<br />
b) Por meio das notas de passagem superior e inferior:<br />
c) Por meio de uma nota harmônica e de uma nota de passagem superior:<br />
140
d) Com duas notas harmônicas tocadas antes da nota principal:<br />
6.2.2 Portamento<br />
Portamento é a passagem ligada de um som a outro. O valor do portamento é tirado<br />
da figura principal. Pode ser de duas espécies:<br />
A primeira espécie é composta de notas de passagem que ligam dois graus de um<br />
movimento melódico: 130<br />
A segunda espécie tem a terça preenchida por uma nota de passagem, com a nota<br />
principal acentuada:<br />
Em partituras mais antigas usava-se o sinal :<br />
130 Execução e interpretação são palavras equivalentes.<br />
141
6.2.3 Trinado ou trilo<br />
Trinado ou trilo é a execução rápida de duas notas vizinhas, que se alternam<br />
rapidamente por toda a duração da nota principal. O som auxiliar é sempre o superior,<br />
no intervalo de um tom ou de um semitom. O trinado deve se submeter à divisão do<br />
compasso. É indicado com o sinal ou com a abreviatura tr colocada sobre a nota<br />
principal. Executa-se começando, normalmente, pela nota superior:<br />
O trinado pode ter notas de preparação e de terminação ou uma conjugação delas:<br />
1) Trinado com preparação e sem terminação ou conclusão:<br />
2) Trinado com preparação e terminação:<br />
3) Trinado sem preparação, mas com terminação:<br />
4) Trinado sem preparação e sem terminação:<br />
Existem vários tipos de preparação:<br />
a) Começando por uma apogiatura:<br />
142
) Começando por uma apogiatura longa:<br />
c) Começando pela nota de passagem inferior:<br />
As notações (grafias) anteriores se devem a Bach e Beethoven, respectivamente.<br />
Outras notações conhecidas:<br />
Os acidentes necessários à modificação são indicados com os sinais # ou<br />
colocados em cima da indicação do trinado.<br />
Tipos de terminação:<br />
a) Terminação indicada com sinal de trinado:<br />
b) Terminação com uma nota de antecipação:<br />
143
c) Terminação sobre uma marcha melódica descendente:<br />
As terminações podem ser feitas de vários modos:<br />
a) Quando se quer a terminação, indica-se com os sinais ou (quando não<br />
há indicação, o trinado termina na nota principal):<br />
b) Nas sucessões melódicas ascendentes, as terminações são combinadas com uma<br />
nota de antecipação:<br />
c) Nas sucessões melódicas descendentes, retarda-se geralmente antes da<br />
antecipação:<br />
E, se a nota é pontuada, o trinado termina nela, combinando-se com uma<br />
antecipação e retardando-se na conclusão:<br />
144
d) O trinado que se acha sobre uma nota ligada a outra de menor duração mas de<br />
mesma altura, considera-se esta última como fora do trinado:<br />
A execução do trinado é feita com grande rapidez, exceto nas notas mais graves,<br />
quando a velocidade deve ser menor para que não se perca a sonoridade.<br />
Exemplos de trinados:<br />
a) Trinados numa sucessão diatônica ascendente:<br />
b) Trinado numa sucessão descendente de graus disjuntos:<br />
O trinado pode ser executado aceleradamente, com batimentos progressivamente<br />
mais rápidos, passando-se de um só batimento a 2, 3, 4, 6, 8, 9 e mais:<br />
O trinado também pode ser executado continuamente entre as notas de uma<br />
melodia:<br />
145
6.2.4 Mordente<br />
Mordente é o batimento da nota principal com a sua segunda inferior. Entra no<br />
compasso tomando o tempo da nota principal. Quando sobre notas curtas, demora-se<br />
um pouco sobre a nota principal. Nunca é ritmada em tresquiáltera. Pode ser simples,<br />
com três notas, ou dobrado, com cinco notas:<br />
1) Simples direto. Indica-se com o sinal . Compreende três notas, e a nota de<br />
passagem é a superior:<br />
2) Simples indireto. Indica-se com o sinal . Compreende três notas, e a nota<br />
de passagem é a inferior:<br />
3) Composto ou dobrado direto. Indica-se com o sinal . Compreende cinco<br />
notas, e a nota de passagem é a superior:<br />
4) Composto ou dobrado indireto. Indica-se com o sinal . Compreende cinco<br />
notas, e a nota de passagem é a inferior:<br />
O mordente composto é também denominado pequeno trinado; a sua execução é<br />
realizada no tempo da nota sobre a qual ele está indicado, com rapidez e acentuando-se<br />
a nota principal. O mordente direto é também denominado mordente invertido ou nota<br />
trinada.<br />
Quando a nota de passagem deve ser alterada, indica-se com # ou .<br />
Executa-se com rapidez, acentuando-se a nota principal:<br />
146
6.2.5 Grupeto<br />
O grupeto é formado por um pequeno grupo de três ou quatro notas, onde se<br />
combina a nota principal com a nota de passagem superior e inferior. O grupeto entra<br />
no compasso tirando uma parte da nota principal, e outra parte final da nota<br />
antecedente. Representa-se por meio de um sinal em forma de S maiúsculo, em posição<br />
horizontal: (pode ser indicado também com as figuras ), ou em posição vertical,<br />
S , quando então se denomina grupeto invertido (neste caso, a execução começa com a<br />
nota inferior):<br />
Os valores mais breves unem-se ao grupeto (p. ex., uma colcheia em movimento<br />
rápido):<br />
Sobre uma nota de retardo, esta se liga à primeira nota do grupeto, como neste<br />
exemplo a seguir:<br />
147
Quando o sinal está colocado entre duas notas principais, o grupeto é executado<br />
começando da segunda metade da nota precedente, tirando o valor da nota que o<br />
antecede, mas colocando-o como terminação dessa nota:<br />
Quando o sinal está colocado entre duas notas do mesmo grau, ou com uma nota<br />
pontuada no lugar da principal, o ornamento compõe-se de três notas e tira o seu valor<br />
da primeira nota:<br />
O grupeto termina no primeiro ponto, ou no segundo, se houver dois.<br />
6.2.6 Notas glisadas ou flatté<br />
Notas glisadas ou flatté consistem em um grupo de duas ou mais notas que<br />
antecedem a nota principal. Entra no compasso tirando o valor da nota que lhe segue.<br />
A acentuação deve cair sobre a nota principal. Há duas espécies:<br />
1) A primeira espécie é composta por notas que procedem por graus:<br />
148
2) A segunda espécie é composta por duas notas de passagem, uma inferior e outra<br />
superior, tendo ao meio a nota principal:<br />
6.2.7 Arpejo<br />
Arpejo 131 é a repetição sucessiva das notas de um acorde, do grave para o agudo e<br />
vice-versa. O arpejo é indicado de várias formas: com pequenas notas; com uma linha<br />
ondulada ou tremulada; com um semicírculo; com a palavra arpejo (arp.); com um<br />
traço transversal sobre o acorde ou sobre a cauda das figuras:<br />
O arpejo tira o seu valor das notas principais:<br />
A execução do arpejo, se não houver indicação em contrário, é iniciada pela base<br />
do acorde.<br />
131 Embora pouco usual, pode usar também a expressão harpejo (de harpa, harpejar).<br />
149
Quando deve começar pela nota superior, leva um sinal em forma de aspas sobre a<br />
linha tremulada, ou é representada com um sinal especial, ou com notas,:<br />
Se existir um ponto acima ou abaixo do acorde a ser arpejado, a execução é feita<br />
fazendo desaparecer sucessivamente cada nota. A rapidez ou execução mais lenta do<br />
arpejo depende do caráter e do andamento do trecho que está sendo executado.<br />
6.2.8 Tirata ou floreio<br />
Tirata ou floreio é um grupo abundante de notas intercaladas entre duas notas da<br />
melodia. Entra no compasso tirando o valor da nota que o antecede:<br />
De acordo com o número de figuras que contenha, pode ser dividido em vários<br />
grupos ou acentuações, tomando-se as primeiras notas como um grupeto, e dividindose<br />
o restante em vários grupos de notas iguais. Desse modo, sua execução depende dos<br />
valores das figuras, da quantidade e do modo como se acham agrupadas as notas, e do<br />
movimento do trecho melódico. As figurações diferentes devem ser levadas em conta,<br />
conforme a diferença entre os valores. As cadências e os recitativos indicados com<br />
pequenas notas devem ser executados tendo-se em conta o caráter e o andamento do<br />
trecho.<br />
6.3 Transposição<br />
Transposição é o ato de transportar uma obra musical para uma tonalidade<br />
diferente da original. A transposição exige um conhecimento perfeito dos intervalos,<br />
escalas e armaduras. Ela pode ser:<br />
• Escrita, que é a transposição por escrito, feita na própria partitura;<br />
• Em tempo de execução;<br />
• Lida, que é a execução em um tom diferente do original escrito na obra<br />
musical (esta última maneira é muito difícil, e exige considerável prática).<br />
A utilidade da transposição está na adaptação do trecho musical à tessitura da voz<br />
do cantor, ou em facilitar a execução de composições cujas armaduras possuem muitos<br />
acidentes. A transposição não permite a mudança do modo maior para o modo menor,<br />
ou vice-versa.<br />
A transposição em somente um semitom não exige a troca de posição das notas:<br />
150
Quando há acidentes no original, a transposição é feita em tons inteiros, para cima<br />
ou para baixo.<br />
A transposição escrita não oferece grandes dificuldades. Se a tonalidade original é<br />
conhecida, e sabendo-se o número de intervalos a transportar, é suficiente construir a<br />
armadura no tom para o qual se quer fazer a transposição e escrever as notas de acordo,<br />
inclusive os acidentes (para conservar os intervalos originais, devem ser acrescentados<br />
os acidentes que forem necessários):<br />
A transposição exige três operações a serem executadas:<br />
1) substituir a clave original por outra que permita nomear as notas do novo tom,<br />
sem troca de posição (entre os sons originais e os transportados haverá sempre um<br />
mesmo intervalo);<br />
2) constituir a nova tonalidade conforme o intervalo entre a tônica original e a<br />
nova;<br />
3) efetuar o movimento das alterações ocorrentes.<br />
Sendo as claves mais usadas as claves de SOL 2ª. linha e FÁ 4ª. linha, a<br />
transposição nos diversos intervalos é realizada utilizando as seguintes claves de<br />
transposição:<br />
A segunda etapa, como já se disse antes, é simplesmente construir a armadura<br />
segundo a tônica transposta.<br />
151
A terceira etapa, ou terceira operação, é o movimento das alterações ocorrentes, o<br />
qual está ligado à teoria das quintas ascendentes e descendentes. Há quatro casos<br />
possíveis:<br />
1º. Caso: a nova armadura possui maior número de sustenidos, ou menor número<br />
de bemóis (como quando se transporta de DÓ maior para SOL maior, em que há um<br />
sustenido a mais, ou quando se transporta de DÓb maior para SOLb maior, onde há um<br />
bemol a menos).<br />
Nesse caso, o número de alterações entre os dois tons diz quantas e quais notas (na<br />
ordem dos sustenidos, por quintas ascendentes) serão lidas, com alteração ascendente<br />
de semitom cromático (a nota FÁ, nos dois casos, será lida com alteração ascendente<br />
de meio tom cromático: SOL-LÁ-SI-DÓ-RÉ-MI-FÁ# -SOL).<br />
2º. Caso: a nova armadura possui maior número de bemóis, ou menor número de<br />
sustenidos (como quando se transporta de DÓ maior para FÁ maior, em que há um<br />
bemol a mais, ou quando se transporta de DÓ# maior para FÁ# maior, em que há um<br />
sustenido a menos).<br />
Nesse caso, o número de alterações entre os dois tons diz quantas e quais notas (na<br />
ordem dos bemóis, por quintas descendentes) serão lidas com alterações descendentes<br />
de semitom cromático (a nota SI, nos dois casos, será lida com alteração descendente<br />
de meio tom cromático).<br />
Nos dois casos, as notas alteradas serão lidas:<br />
3º. Caso: a armadura original é constituída de bemóis, e a nova armadura, de<br />
sustenidos (como quando se transporta de FÁ maior para SOL maior); ou<br />
inversamente, a armadura original é constituída de sustenidos, e a nova armadura, de<br />
bemóis (como quando se transporta de SOL maior para FÁ maior). 132<br />
Nesse caso, soma-se o número de alterações, cujo total será a quantidade de notas a<br />
se alterar; ascendentemente ou descendentemente, conforme a nova tonalidade seja de<br />
sustenidos ou bemóis.<br />
No exemplo dado (cuja clave de transição é DÓ 4ª. linha, acima, ou DÓ 3ª. linha,<br />
abaixo, conforme a tabela dada: transposição de sétima, duas notas tomadas na ordem<br />
dos bemóis – SI-MI – serão lidas com alteração descendente).<br />
4º. Caso: quando o total da adição dá um número maior que sete (como quando se<br />
transporta de LÁ maior para RÉb maior). 133<br />
Neste caso, elevam-se os acidentes em excesso em dois semitons cromáticos<br />
(quando predomina a ordem ascendente), sendo a nova tonalidade constituída de<br />
sustenidos; ou abaixa-se em dois semitons para o caso contrário (quando predomina a<br />
ordem descendente).<br />
132 Transposição em um tom maior (FÁ-SOL).<br />
133 Neste caso, transposição de quatro tons (4 t).<br />
152
Transportando-se de LÁ maior para RÉb (uma quinta abaixo, o que implica que<br />
todas as notas também são transportadas uma quinta abaixo – veja-se o quadro abaixo),<br />
tem-se: três sustenidos do original, mais cinco bemóis do novo tom, o que dá oito<br />
acidentes. A nota excedente, a oitava (SI), é abaixada em dois semitons cromáticos.<br />
Por quintas: SI-MI-LÁ-RÉ-SOL-FÁ-SI.<br />
Nesse último caso, todas as notas participam do movimento de semitom cromático,<br />
havendo movimento de dois semitons apenas nas excedentes de sete.<br />
153
154
CAPÍTULO VII<br />
A HARMONIA<br />
No capítulo anterior abordou-se um dos elementos da música, a melodia. Neste<br />
capítulo, será abordado o seu último elemento (sob o ponto de vista clássico): a<br />
harmonia.<br />
7.1 Princípios de harmonia<br />
A harmonia é a combinação simultânea de dois ou mais sons. Em sua disposição e<br />
sucessão ela segue as leis da tonalidade e do ritmo; em sua estrutura, a harmonia é<br />
vertical, enquanto que a melodia é horizontal.<br />
A harmonia tem a sua fundamentação no sistema harmônico. Como já foi visto,<br />
acima de uma nota fundamental existem outras notas, denominadas notas harmônicas,<br />
que soam simultaneamente com ela.<br />
Os intervalos têm grande importância no que se refere à série harmônica; p. ex., os<br />
quatro primeiros harmônicos são a oitava, a quinta, a oitava seguinte e a terceira<br />
consecutiva. 134 Este sistema harmônico influiu decisivamente no modo de cantar, bem<br />
como no desenvolvimento do canto, que por sua vez influiu na evolução da música.<br />
A harmonia surgiu por volta dos séculos IX e X, quando se descobriu que era<br />
possível cantar em intervalos outros que não o uníssono e a oitava. Provavelmente, um<br />
dos primeiros tratados a abordar o assunto foi Musica Enchiriadis, escrito no século X,<br />
que investigou o uso de melodias duplicadas em quartas e quintas paralelas. Esta<br />
técnica foi denominada organum, o qual se apresenta do seguinte modo:<br />
Esta situação evoluiu para o reforço das vozes em quatro partes, pelo dobramento<br />
da melodia, tanto na voz superior (vox principalis) quanto na voz paralela na parte<br />
inferior (vox organalis):<br />
134 Os harmônicos são tanto mais ouvidos (percebidos) quanto mais grave a nota emitida como<br />
fundamental.<br />
155
Finalmente, em meados do século XV acrescentou-se uma terceira voz combinando<br />
com a quinta, formando-se o denominado acorde perfeito (DÓ-MI-SOL):<br />
Com a introdução do acorde perfeito, houve um enorme avanço na técnica de<br />
composição musical, onde o extenso emprego da harmonia e do contraponto provocou<br />
o progressivo abandono do sistema modal, vindo a ser usado o sistema tonal<br />
maior/menor. Este sistema tonal, junto com o acorde perfeito, tornou-se o fundamento<br />
básico da teoria musical desde 1700 até o início do século XX.<br />
7.2 Teoria dos acordes<br />
Acorde, como foi visto, é a sobreposição de duas ou mais notas soando<br />
simultaneamente:<br />
A combinação de dois sons simultâneos é denominada bicorde (ou, como visto<br />
anteriormente, intervalo):<br />
Com relação à sua natureza, os bicordes podem ser consonantes ou dissonantes.<br />
São consonantes quando provocam uma sensação de repouso. São consonâncias: o<br />
uníssono; a oitava; a terceira; a sexta maior; a sexta menor; a quarta; a quinta justa<br />
(vide item 5.1.1).<br />
Os bicordes são dissonantes quando produzem uma sensação de inquietude, dando<br />
a impressão de movimento. As dissonâncias dividem-se em principais e secundárias.<br />
As dissonâncias principais são: a segunda; a sétima; a nona. As dissonâncias<br />
secundárias são todos os bicordes aumentados e diminutos.<br />
O emprego das dissonâncias é submetido às condições de tensão (ou preparação) e<br />
resolução, sendo preparação o ato de apresentar como consonância o som dissonante, e<br />
resolução, a quebra da dissonância. Essa resolução é feita em sucessão descendente:<br />
156
A sucessão de acordes consonantes denomina-se harmonia consonante; quando<br />
nesta sucessão existem acordes dissonantes, diz-se que a harmonia é dissonante. As<br />
notas sobre as quais os acordes dissonantes se resolvem são denominadas notas<br />
atrativas.<br />
7.3 Tríades ou acordes de três sons<br />
O acorde de três sons é denominado tríade, ou acorde perfeito. Como é constituído<br />
pela fundamental, terceira e quinta, e sabendo-se que o intervalo de terceira pode ser<br />
maior ou menor, então a tríade pode ser maior ou menor (em ambos, a quinta é justa ou<br />
perfeita):<br />
Entretanto, a quinta também pode ser aumentada ou diminuta; neste caso, o acorde<br />
pode ser de quinta aumentada (com dois intervalos sobrepostos de terceira maior) e de<br />
quinta diminuta (com os dois intervalos de terceira, menores):<br />
Cada um dos quatro diferentes tipos de tríade – maior, menor, aumentada, diminuta –<br />
possui três inversões, resultando um total de 12 x 12 = 144 tríades, sendo 36 de cada<br />
tipo. Cada nota de cada tríade pode desempenhar três funções: tônica; 3ª.; 5ª.<br />
Considerando-se apenas os quatro tipos de tríades em suas posições fundamentais,<br />
cada nota pode desempenhar doze funções diferentes. Ou seja, para cada uma das doze<br />
notas (da escala cromática) existem 144 usos diferentes. As tríades podem ser<br />
primárias, que são aquelas construídas sobre a tônica, grau IV, grau V e oitava; e<br />
também secundárias, que são aquelas construídas sobre os graus II, III, VI e VII, ou<br />
notas respectivas das escalas. Ambas as tríades utilizam um total de doze notas. É o<br />
que se chama harmonia triádica.<br />
Se a nota mais grave fica na base do acorde, diz-se que este acorde está no estado<br />
fundamental.<br />
157
A tríade pode ser: perfeita maior; perfeita menor; de quinta diminuta e de quinta<br />
aumentada, e pode ser construída sobre qualquer grau da escala, em qualquer<br />
tonalidade:<br />
Nesta escala maior harmonizada existem três acordes perfeitos maiores (graus I,<br />
IV, V), três acordes menores (graus II, III, VI) e um acorde de quinta diminuta (grau<br />
VII).<br />
Nesta escala menor existem três acordes perfeitos menores (graus I, IV, V), três<br />
acordes perfeitos maiores (graus III, VI, VII) e um acorde de quinta diminuta (grau<br />
II). 135<br />
Desse modo, em qualquer tonalidade existem sete tríades diatônicas. A passagem<br />
na escala de um acorde para outro cria o efeito de movimento de tensão (ou<br />
preparação) e resolução.<br />
Os acordes relacionam-se entre si de duas maneiras:<br />
a) Por terem notas em comum, geralmente a terceira ou a quinta. Os acordes<br />
com notas comuns são, por graus:<br />
135 Vide item 7.4.2.<br />
158
) Por proximidade ou vizinhança, sem possuírem nenhum acorde em comum:<br />
Um acorde pode ser desdobrado para formar uma linha melódica; o exemplo a<br />
seguir mostra o desdobramento do acorde perfeito de DÓ maior:<br />
7.3.1 Inversão de tríades<br />
A inversão de tríades, ou inversão de acordes, tem por finalidade obter uma maior<br />
variedade harmônica e melódica. Como foi visto, as tríades apresentam-se<br />
originalmente em sua posição ou estado fundamental, no qual a tônica ou fundamental<br />
é a nota mais grave do acorde. O acorde é denominado acorde invertido, quando a nota<br />
159
mais grave, ou baixo, não é a fundamental. O baixo ou nota mais grave do acorde<br />
invertido é denominado baixo de inversão.<br />
As inversões são assim realizadas:<br />
Primeira inversão: toma-se a tríade de DÓ maior no estado fundamental e eleva-se<br />
a tônica em uma oitava; assim, a terceira nota torna-se a nota mais grave. O acorde é<br />
denominado acorde de sexta, porque é composto de uma terceira (menor) e uma sexta<br />
(menor).<br />
Segunda inversão: eleva-se a terceira em uma oitava, e a quinta ficará agora como a<br />
nota mais grave. O acorde é denominado acorde de quarta e sexta, porque é composto<br />
de uma quarta (justa) e uma sexta (maior).<br />
A tríade maior na posição fundamental tem sete semitons entre a tônica e a 5ª. Nas<br />
duas inversões, a primeira compreende oito semitons entre a 3ª. e a tônica superior. A<br />
segunda inversão compreende nove semitons entre a 5ª. e a 3ª. superior. A soma total<br />
dos semitons é igual a 24 (7 + 8 + 9), sendo que a oitava tem doze semitons. A soma<br />
do resto dos semitons também é igual a doze (5 + 4 + 3).<br />
Acorde cerrado:<br />
Acorde alargado tônica:<br />
Todos os acordes possuem o mesmo centro tonal e a mesma tonalidade, aplicandose<br />
cada um conforme o movimento procurado.<br />
A posição do acorde pode ser indicada de dois modos: o numérico e o alfabético. O<br />
método numérico será visto oportunamente, quando se falar do baixo cifrado e<br />
tablatura (vide item 7.5). No método alfabético, coloca-se uma letra ao lado do número<br />
romano que designa o grau do acorde.<br />
160
Fundamental I II III IV V VI VII I *<br />
1ª. inversão Ib IIB IIIb IVb Vb VIb VIIb Ib<br />
2ª. inversão Ic IIc IIIc IVc Vc VIv VIIc Ic<br />
* Quando os números romanos aparecem sozinhos, a letra a é subentendida.<br />
Cada um dos graus pode ser o baixo ou fundamental de cada inversão:<br />
Tal como a tríade no modo maior, também pode inverter-se as tríades dos modos<br />
menor, aumentado (quinta aumentada) e diminuta (quinta diminuta).<br />
Inversões da tríade menor:<br />
As inversões do acorde perfeito menor compõem-se de dois intervalos de terceira<br />
maior e sexta maior, na primeira inversão, e de quarta justa e sexta menor, na segunda<br />
inversão. Veja-se a seguir as inversões em todos os graus, no modo menor:<br />
Inversões da tríade aumentada:<br />
161
As inversões do acorde de quinta aumentada compõem-se dos intervalos de terceira<br />
maior e sexta menor, na primeira inversão, e de terceira maior e sexta menor, na<br />
segunda inversão.<br />
Inversões de tríade diminuta:<br />
As inversões do acorde de quinta diminuta compõem-se dos intervalos de terceira<br />
menor e sexta maior, na primeira inversão, e de quinta diminuta e sexta maior, na<br />
segunda inversão.<br />
7.3.2 Harmonia das tríades – acordes a quatro vozes<br />
As tríades nos modos maior e menor são as formas de acordes mais importantes na<br />
música.<br />
Para a sua utilização a quatro partes, ou a quatro vozes, uma das três notas deve ser<br />
duplicada ou dobrada. As notas que são geralmente duplicadas são a fundamental (que<br />
reforça tanto a sonoridade do acorde quanto o seu centro tonal) e a quinta (que<br />
estabiliza o acorde).<br />
A construção dos acordes a quatro partes é baseada nas vozes: baixo, tenor,<br />
contralto e soprano, que são as quatro categorias básicas da voz humana.<br />
Para se obter, então, a harmonia (acorde perfeito) a quatro vozes, duplica-se a nota<br />
mais grave do acorde, passando-a para a clave de FÁ, obtendo-se o baixo fundamental:<br />
Na formação do acorde a quatro vozes evita-se dobrar a terceira, porque tende a<br />
enfraquecer a fundamental, e proíbe-se expressamente 136 a duplicação da sensível ou<br />
grau VII da escala (quando o intervalo é de semitom; se o intervalo é de tom, o grau<br />
VII é denominado subtônica), porque pode originar um movimento de oitava paralela,<br />
movimento este também proibido pela harmonia clássica.<br />
Para se conseguir uma linha melódica mais elegante, pode-se suprimir uma das<br />
notas que compõem a tríade (maior ou menor); a nota suprimida é a quinta da<br />
fundamental, evitando-se suprimir a terceira, devido ao seu caráter modal.<br />
As notas das vozes são colocadas do seguinte modo:<br />
136 Proibição esta, evidentemente, feita pela harmonia acadêmica ou clássica.<br />
162
Observe-se que as hastes das notas do soprano e tenor são viradas para cima,<br />
enquanto que para o contralto e baixo, as hastes são viradas para baixo. O exemplo a<br />
seguir mostra a disposição das vozes no acorde de DÓ menor:<br />
Para se evitar uma disposição desequilibrada de intervalos, evitam-se distâncias<br />
superiores a uma oitava entre o tenor e o contralto, e entre o contralto e o soprano; já<br />
entre o baixo e o tenor são comuns intervalos maiores que a oitava.<br />
O exemplo a seguir mostra uma disposição intervalar desequilibrada:<br />
A harmonia pode ser disposta de duas maneiras:<br />
a) Por aproximação, com acordes denominados acordes cerrados (notas unidas):<br />
Na harmonia por aproximação, cada tríade tem três diferentes posições:<br />
163
Na primeira posição, a parte superior tem a oitava; na segunda posição, a parte<br />
superior tem a terceira; e na terceira posição a parte superior tem a quinta. Estas<br />
disposições das notas dos acordes são obtidas, como já visto, através de inversões.<br />
b) Por afastamento, mais apropriado para vozes, quarteto vocal ou instrumental,<br />
com harmonia ampla (os acordes denominam-se alargados):<br />
7.4 Teoria das progressões<br />
7.4.1 Movimentos<br />
É possível perceber, na harmonia, dois movimentos distintos:<br />
1) Movimento melódico, que é a sucessão isolada de cada parte; pode ser conjunto,<br />
em sucessão de grau por grau, ou por saltos (disjunto), que vai por saltos de intervalos<br />
maiores que a segunda:<br />
2) Movimento harmônico, onde as partes combinam-se em sons simultâneos. O<br />
movimento harmônico pode ser: paralelo, direto ou reto; contrário; oblíquo.<br />
No movimento paralelo as vozes sobem ou descem simultaneamente:<br />
No movimento contrário, as vozes se movem em direções contrárias, ou em<br />
oposição:<br />
164
No movimento oblíquo, somente uma voz sobe ou desce, enquanto a outra<br />
permanece no mesmo grau.<br />
Destes movimentos, o que oferece mais problemas é o movimento paralelo. Em<br />
especial, devem ser evitados os movimentos em quintas e/ou oitavas paralelas<br />
(consecutivas); isto porque a oitava destrói o senso de harmonia, ao passo que a quinta<br />
dá a impressão de que existem duas tonalidades conjuntas:<br />
Devem ser evitados também os movimentos em quintas ou oitavas ocultas (tais<br />
movimentos ocorrem quando duas partes, partindo de um intervalo qualquer, com<br />
exceção dos dois citados, vão em movimento direto à sua quinta ou oitava):<br />
Esta regra, contudo, é menos rígida; o movimento pode ser realizado se a voz<br />
superior se move por uma única nota, ou se as vozes baixo e soprano não estão<br />
envolvidas. O salto de trítono (três tons) numa voz era expressamente proibido pela<br />
harmonia clássica. Segundo as regras estabelecidas principalmente entre os séculos<br />
XVI e XVII, o movimento melódico de uma voz devia ser realizado nos menores<br />
intervalos possíveis.<br />
A harmonia clássica admite somente as oitavas e quintas realizadas por graus<br />
conjuntos:<br />
165
Para se obter uma perfeita concatenação harmônica, os acordes devem ser ligados<br />
entre si de modo a conservarem, na medida do possível, os sons comuns que têm entre<br />
si.<br />
A sucessão de tríades em fundamental permite observar o seguinte:<br />
a) Notas comuns resultam tanto da sucessão de terceiras ou sextas quanto de<br />
quintas ou quartas, no movimento melódico do baixo:<br />
b) Quando o baixo se move em grau conjunto, deve dar-se às partes o movimento<br />
contrário, para evitar as quintas e oitavas paralelas (neste caso, não há notas comuns):<br />
7.4.2 Cadências<br />
Na música tonal, os graus I, IV e V são aqueles nos quais se constroem os acordes<br />
primários. Os acordes nos outros graus são denominados acordes secundários.<br />
A seqüência de acordes primários (por exemplo, I-IV-V-I) é importante porque<br />
indica o fim de uma frase musical. Estes finais são denominados cadências.<br />
Cadências, então, são pontos de repouso que caracterizam o fim da frase musical;<br />
são indicados pela seqüência de acordes primários. A cadência serve como sinal de<br />
pontuação na música.<br />
A cadência está relacionada às regras de progressão de acordes, na harmonia<br />
diatônica. As mudanças de acordes devem ser organizadas, dentro da tonalidade, de<br />
modo a colocar o acorde de tônica como acorde central. O efeito de consonância e<br />
dissonância na mudança ou sucessão de acordes tem relevo fundamental.<br />
Normalmente, a cadência ocorre próxima, ou no final de uma melodia ou frase<br />
melódica.<br />
166
Existem quatro espécies de cadências nas progressões de acordes primários:<br />
1) Cadência perfeita ou cadência autêntica: é a resolução do acorde do grau V<br />
(dominante) para o grau I (tônica), ou seja, é a cadência que termina em V-I<br />
(progressão V-I). A cadência perfeita tem uma equivalência musical idêntica à do<br />
ponto final na obra literária:<br />
2) Cadência plagal ou eclesiástica: é a resolução do acorde do grau IV<br />
(subdominante) para o grau I (tônica). Esta cadência tem também uma característica de<br />
ponto final, ou de ponto de exclamação (ela forma a progressão harmônica do AMÉM<br />
ao final da maioria dos hinos eclesiásticos):<br />
3) Cadência imperfeita ou meia-cadência: é a progressão de qualquer acorde<br />
(geralmente, os graus II, IV, VI ou I) para o acorde de grau V (dominante). Esta<br />
cadência não tem o caráter conclusivo das outras, por isto é denominado meiacadência.<br />
Tem uma característica de vírgula ou de ponto-e-vírgula, de acordo com o<br />
contexto:<br />
4) Cadência interrompida ou cadência evitada: é o movimento do grau V<br />
(dominante) para o grau VI (sobredominante), ao invés de ir para o grau I. Tem o<br />
efeito equivalente a dois pontos ou travessão; deste modo, não aparece ao final da obra<br />
musical, em sim em seu interior. 137<br />
137 A cadência soa como se fosse “suspensa”, e por isto é facilmente reconhecível, quando ocorre.<br />
167
As cadências que terminam em um tempo forte denominam-se cadências<br />
masculinas; as terminadas em um tempo fraco são denominadas cadências femininas.<br />
Existe uma cadência especial, denominada cadência de terceira de picardia; 138 esta<br />
cadência termina uma tonalidade menor com um acorde maior, com o que se consegue<br />
uma variedade harmônica pouco comum:<br />
Há também um acorde cadencial denominado acorde de quarta e sexta (segunda<br />
inversão de acorde de tônica, Ic), que, apesar de ser um acorde de tônica, tem a função<br />
de dominante. O intervalo de quarta é um intervalo ambíguo; algumas vezes aparece<br />
como consonante, outras vezes como dissonante. De um modo geral, é considerado<br />
dissonante quando situado sobre o baixo:<br />
As quatro cadências principais dão, na tonalidade maior, um sentido de<br />
movimento, combinando-se a consonância e dissonância em acordes de tensão e<br />
resolução. Este efeito só é conseguido na tonalidade menor na escala harmônica, onde<br />
as regras de cadência podem ser aplicadas:<br />
138 E que era muito usada entre os séculos XVI e XVIII.<br />
168
Nesta escala existem dois acordes menores (graus I, IV); dois acordes maiores<br />
(graus (V, VI); dois acordes diminutos (graus II, VII); e um acorde aumentado (grau<br />
III).<br />
A sucessão de acordes, ou seja, o movimento de um acorde para outro provoca uma<br />
mudança harmônica denominada sucessão harmônica. Esta sucessão, como já se viu,<br />
deve ser lógica, coerente e satisfatória; uma sucessão desordenada de acordes denotaria<br />
somente confusão sonora. 139 Assim, os acordes devem ligar-se segundo regras<br />
empíricas que levam em consideração a psicologia e a estética, formando um discurso<br />
musical que desenvolve uma pontuação ao estilo de um discurso literário. 140<br />
A sucessão de acordes mais freqüente na harmonia são as seguintes:<br />
7.4.3 Notas auxiliares<br />
GRAU NOME SEQÜÊNCIA<br />
I Tônica Qualquer acorde<br />
II Sobretônica III, IV, V, VI, VII<br />
III Mediante VI, IV, II, V<br />
IV Subdominante V, I , VI, II, VII ou III<br />
V Dominante I, VI, III ou IV<br />
VI Sobredominante II, V, IV ou III<br />
VII Sensível I, VI, III ou V<br />
Notas auxiliares são aquelas que se distinguem das notas essenciais da harmonia<br />
básica. São importantes na criação da melodia e da harmonia, porque criam<br />
dissonâncias.<br />
Os principais tipos de notas auxiliares são: 1) apojatura; 2) nota de passagem; 3)<br />
antecipação; 4) retardo. 141 Com exceção da primeira, todas as outras ocorrem no tempo<br />
fraco do compasso.<br />
1) Apojaturas são notas que aparecem como ornamentos entre as notas reais, sem<br />
alterá-las. Podem ser de dois tipos: superiores e inferiores, e podem ocorrer por terças<br />
ou sextas paralelas ou de modo cromático (os intervalos de quarta e sexta sobre a<br />
tônica – vide item 7.4.2 – soam como uma apojatura dupla, que devem resolver-se no<br />
acorde de dominante):<br />
139 Seria o mesmo que tocar um sucessão de acordes desencontrados, como o fazem aqueles que não<br />
sabem utilizar um instrumento musical e tocam notas de modo aleatório. Entretanto, como se verá<br />
oportunamente, também há espaço na música para a chamada música aleatória.<br />
140 Estas considerações teóricas, como não poderia deixar de ser, referem-se à música acadêmica<br />
tradicional, e são pouca ou nada seguidas na composição erudita moderna. Mesmo assim são parte do<br />
corpo teórico da música, e por isso mesmo devem estudadas e assimiladas.<br />
141 Vide item 6.2.1. Aqui estas noções são re-abordadas, após terem incorporando novos conceitos.<br />
169
A apojatura pode surgir no tempo forte e resolver-se indo um tom ou semitom ao<br />
tempo fraco:<br />
2) A nota de passagem 142 aparece entre notas harmônicas separadas por intervalo<br />
de segunda ou terça, com a função de uni-las melodicamente. Assim como as<br />
apojaturas, podem ocorrer por terças ou sextas paralelas, cromaticamente ou por si<br />
mesmas:<br />
A antecipação é o recurso pelo qual uma nota é tocada antes do tempo esperado,<br />
sendo frequentemente usada na cadência. Tem, geralmente, uma duração menor que a<br />
nota real à qual se antecipa:<br />
142 As notas de passagem surgem nas apojaturas dobradas, como se viu no item 6.2.1.<br />
170
O retardo é o oposto da antecipação; tem o seu movimento atrasado. A sua<br />
utilização dá maior relevo à dissonância, e o trecho onde é utilizado toma forte aspecto<br />
emotivo:<br />
7.5 Métodos de indicação de acordes - baixo cifrado e tablatura<br />
A posição dos acordes pelo método alfabético já foi vista no item 6.6.1. Quanto ao<br />
método numérico, existem dois métodos: o baixo cifrado e a tablatura.<br />
O baixo cifrado (também denominado baixo contínuo ou baixo figurado) é um<br />
processo estenográfico de indicar uma harmonia do acompanhamento. É indicado por<br />
cifras que representam a sucessão de acordes da melodia que acompanha a harmonia<br />
(ou seja, o baixo que faz o acompanhamento, ou que é a base ou linha melódica mais<br />
grave da música). Este método foi muito utilizado durante o período barroco, 143 sendo<br />
atualmente muito usado na execução de instrumentos de corda e de sopro, tanto<br />
populares quanto eruditos.<br />
Basicamente, o baixo cifrado indica o acorde e a sua posição por meio de uma nota<br />
e uma cifra.<br />
Baixo cifrado:<br />
Execução:<br />
143 Em virtude de sua indicação pouco precisa, ela abria a possibilidade de improvisação por parte do<br />
executante, o qual devia, por outro lado, ter domínio da técnica instrumental e bastante conhecimento da<br />
teoria.<br />
171
A tablatura é um método gráfico de escrita musical que deve ter surgido<br />
paralelamente à invenção dos primeiros instrumentos de corda. É um modo bastante<br />
prático e intuitivo de indicar o solo ou dedilhado (ou sopro) dos instrumentos, e muito<br />
fácil de ser lida. A tablatura foi muito usada ao longo dos séculos, principalmente na<br />
música flamenca, popular e de alaúde. Sua maior limitação é o fato de não fornecer<br />
informações acerca do compasso e da duração das notas, nem permite perceber a<br />
estrutura harmônica da peça musical.<br />
A tablatura destina-se à cifragem da música em seu todo, não apenas para o baixo<br />
(acompanhamento). É uma progressão musical que descreve qual nota deverá ser<br />
tocada em cada corda (em instrumentos de corda), ou soprada em qual orifício (em<br />
instrumentos de sopro).<br />
A escrita é feita em linhas pontilhadas, onde se indicam as cordas a serem<br />
dedilhadas (no exemplo acima, indicam-se as seis cordas de um violão: MI, LÁ, RÉ,<br />
SOL, SI, MI, de baixo para cima). Nos vazios entre cada divisão da linha pontilhada,<br />
colocam-se cifras (números); o 0 (zero) significa que a linha é dedilhada solta, e cada<br />
número, que a corda é dedilhada apertando-se a divisão correspondente. Deixando-se<br />
um espaço maior ou menor entre cada cifra, indica-se uma duração maior ou menor da<br />
nota.<br />
O exemplo a seguir mostra parte de uma tablatura para contrabaixo, 144 da música<br />
Jealous Guy, de John Lennon:<br />
144 O contrabaixo possui quatro cordas: MI, LÁ, RÉ, SOL.<br />
172
7.6 Acordes de quarta, sexta e sétima – a quatro ou mais vozes<br />
No item 7.3.2 teve início a abordagem a respeito da harmonização a quatro vozes.<br />
A partir deste ponto será continuada aquela abordagem, incluindo vários tipos de<br />
acordes para quatro ou mais vozes. Pela sua importância, o acorde de sétima será visto<br />
em primeiro lugar.<br />
7.6.1 Acorde de sétima<br />
Acorde de sétima é aquele que se origina do acréscimo de uma terça às tríades<br />
construídas sobre cada nota da escala. 145 Todos os acordes de sétima devem conter as<br />
notas tônica, terceira, quinta e sétima, e, na posição fundamental, cada um deles deve<br />
compreender três terças (maiores ou menores) verticais sobrepostas, com um intervalo<br />
de sétima entre a nota inferior e a superior. 146<br />
I) Acorde de sétima de dominante (sobre o grau V):<br />
Com a evolução da harmonia das tríades logo ficou ressaltada a importância do<br />
acorde de dominante (grau V). E com a escrita a quatro vozes, 147 ao invés de<br />
simplesmente se dobrar a tônica, a quarta nota foi considerada uma continuação da<br />
tríade, acrescentando-se uma terça menor sobre a quinta, o que fazia com que o<br />
intervalo entre a tônica e esta nova nota fosse de sétima menor. Este acorde, construído<br />
sobre a quinta nota da escala diatônica (V), foi chamado de acorde de sétima de<br />
dominante.<br />
O acorde de sétima de dominante é construído sobre uma tríade maior, com uma<br />
sétima menor (constituído pelas notas MI, SOL#, SI, RÉ). É composto por intervalos<br />
de terça, quinta e sétima, ou três terças verticais (maiores ou menores) sobrepostas:<br />
145 Desse acréscimo (sobre a escala de DÓ maior), surgem dez tipos diferentes de acordes.<br />
146 Em sua obra Traité d’analyse harmonique, o musicólogo francês Jacques Chailley afirma que é um<br />
erro considerar que a formação de acordes se faça pela superposição de terças. Para ele, os acordes são<br />
formados pela superposição das harmônicas das séries. Esta interpretação, contudo, apenas usa palavras<br />
diferentes para explicar o mesmo fenômeno musical.<br />
147 O acorde a quatro ou mais vozes é o acorde perfeito ao qual se acrescenta uma nota dissonante. Esta<br />
nota costuma ser a sétima (menor) acima da tônica.<br />
173
A indicação do acorde é a seguinte. Um pequeno algarismo 7 (sete), acima e ao<br />
lado do algarismo romano que representa o grau da escala: V 7 .<br />
Ritmicamente, este é um acorde de movimento, porque exige uma resolução<br />
(devido à sua dissonância) em outro acorde consonante, que pode ser o grau I ou o grau<br />
VI; nos dois casos, a resolução acontece baixando-se a sétima em um semitom. Em DÓ<br />
maior, por exemplo, a resolução é de FÁ para MI:<br />
As inversões do acorde de sétima de dominante compõem-se dos seguintes<br />
intervalos: terça menor; quinta diminuta e sexta menor na primeira inversão; de terça<br />
menor, quarta justa e sexta maior, na segunda inversão; de segunda maior, quarta<br />
aumentada e sexta aumentada, na terceira inversão:<br />
As inversões do acorde de sétima de dominante têm as seguintes resoluções:<br />
II) Acordes de sétima maior e de sétima menor (derivados das escalas maior e<br />
menor diatônicas):<br />
a) Acorde de sétima maior:<br />
174
Acorde de sétima maior é aquele que surge quando a nota extra 148 é acrescentada à<br />
tríade da tônica (grau I) e produz um intervalo de sétima maior sobre a nota tônica. 149<br />
As sétimas maiores possuem os seguintes acordes: sétima menor com sétima<br />
maior; sétima menor com quinta aumentada; sétima maior com quinta aumentada; e o<br />
próprio acorde de sétima maior.<br />
Os acordes de sétima maior são usados nos graus I e IV maiores e VI menores.<br />
Embora tenham a mesma função do acorde maior comum, a sua sonoridade é algo<br />
diferente.<br />
b) Acorde de sétima menor:<br />
Acorde de sétima menor é aquele que surge quando a nota extra é acrescentada à<br />
tríade da tônica (grau I) e produz um intervalo de sétima menor sobre a nota tônica.<br />
Estes são os acordes do grupo de sétimas menores: acorde de sétima menor<br />
(formado pelo acréscimo de um intervalo de sétima menor a uma tríade menor); acorde<br />
de sétima meio-diminuta (ou sétima menor com quinta diminuta), formado pelo<br />
acréscimo de um intervalo de sétima menor a uma tríade diminuta (na qual a quinta<br />
nota é abemolada); acorde de sétima diminuta (formado pelo acréscimo de um<br />
intervalo de sétima menor a uma tríade diminuta).<br />
Os acordes de sétima menor são usados nos graus II, III e VI maiores, e nos graus<br />
I e IV menores.<br />
III) Acordes de sétima secundária:<br />
Denomina-se acorde de sétima secundária ao acorde que contenha um intervalo de<br />
sétima e seja constituído em um grau da escala que não seja a dominante (V). Os<br />
acordes de sétima secundária podem ser construídos (e invertidos) nas escalas maior e<br />
menor.<br />
A resolução do acorde de sétima secundária, de um modo geral, é no acorde que<br />
tenha a tônica uma quarta acima ou uma quinta abaixo de sua própria tônica (a sétima<br />
abaixa em um semitom, como no acorde de sétima de dominante).<br />
IV) Em todos os graus, a construção dos acordes de sétima pode ser feita:<br />
148 O intervalo entre a tônica e a nota extra é de uma sétima menor; entretanto, o termo sétima menor é<br />
reservado para os acordes de sétima construídos sobre as tríades menores (ou seja, o nome é<br />
determinado pela tríade, e não pelo intervalo entre a tônica e a sétima).<br />
149 O acorde de sétima construído sobre a subdominante (grau IV) também é chamado de sétima maior.<br />
175
a) A partir da escala maior diatônica:<br />
Na escala diatônica maior, podem ser construídos os seguintes acordes de sétima<br />
(pelo acréscimo de intervalos de terça sobre cada nota da escala maior):<br />
Sétima maior de DÓ (grau I) Tríade maior mais sétima maior<br />
Sétima menor de RÉ (grau II) Tríade menor mais sétima menor<br />
Sétima menor de MI (grau III) Tríade menor mais sétima menor<br />
Sétima maior de FÁ (grau IV) Tríade maior mais sétima maior<br />
Sétima (dominante) de SOL (grau V) Tríade maior mais sétima menor<br />
Sétima menor de LÁ (grau VI) Tríade menor mais sétima menor<br />
Sétima meio diminuta de SI ou<br />
sétima menor com quinta diminuta (grau<br />
VII)<br />
Tríade diminuta mais sétima menor<br />
Quanto ao acorde de sétima construído sobre a nota sensível da escala (grau VII),<br />
formado pelo acréscimo de uma terça maior à tríade diminuta, ele é chamado de<br />
acorde de sétima meio-diminuta, ou sétima menor com quinta diminuta (a tríade é<br />
diminuta, mas a sétima não).<br />
Outros acordes são derivados de tríades maiores com sétimas menores. Eles são: a<br />
própria sétima de dominante (ou simplesmente sétima), originado de uma tríade maior<br />
mais uma sétima menor; o acorde de sétima com quinta aumentada, originada de uma<br />
tríade aumentada mais uma sétima menor; o acorde de sétima com quinta diminuta,<br />
originada de uma tríade diminuta mais uma sétima menor.<br />
b) A partir das escalas menores diatônicas:<br />
Os acordes de sétima construídos a partir da escala menor relativa natural são<br />
idênticos aos construídos sobre a escala maior. Entretanto, se for utilizada a escala<br />
menor harmônica, surgem três novos tipos de acordes de sétima, que são: o acorde<br />
menor com sétima maior (sobre o grau I), constituído de uma terça maior sobre uma<br />
tríade menor; o acorde de sétima maior com quinta aumentada (sobre o grau III); e o<br />
acorde de sétima diminuta (construído sobre o grau VII), que se verá a seguir.<br />
176
Acorde menor com sétima maior de LÁ (I) Tríade menor com sétima maior<br />
Sétima meio-diminuta de SI (II) Tríade diminuta com sétima menor<br />
Sétima maior com quinta aum. de DÓ (III) Tríade aumentada com sétima maior<br />
Sétima menor de RÉ (IV) Tríade menor com sétima menor<br />
Sétima (dominante) de MI (V) Tríade maior com sétima menor<br />
Sétima maior de FÁ (VI) Tríade maior com sétima maior<br />
Sétima diminuta de SOL (VII) Tríade diminuta com sétima diminuta<br />
O acorde menor com sétima maior é construído sobre a tônica, sendo constituída de<br />
uma terça maior sobre uma tríade menor (o que dá um intervalo de sétima maior entre<br />
a tônica e a sétima nota).<br />
O acorde de sétima maior com quinta aumentada é construído sobre a nota<br />
mediante (grau III) da escala, sendo formada pela sobreposição de uma terça menor à<br />
tríade aumentada.<br />
Acorde diminuto ou de sétima diminuta, é o acorde de sétima construído sobre a<br />
sensível (grau VII) da escala diatônica. Este acorde é formado por terças menores<br />
sobrepostas, e cada uma de suas notas (1ª. , 3ª., 5ª. e 7ª.) pode ser dobrada sem alterar a<br />
sua estrutura (as inversões são enarmonicamente equivalentes entre si). Este acorde faz<br />
parte, simultaneamente, de quatro tonalidades diferentes, podendo constituir-se em<br />
uma excelente forma de transição de uma para outra das tonalidades. Como tanto a<br />
nota extra quanto a quinta nota da tríade são bemolizadas, a sétima formada não é<br />
maior nem menor, mas corresponde (enarmonicamente) a um intervalo de sexta maior.<br />
Se a tônica for dobrada na voz superior, forma-se outra terça menor. Deste modo, a<br />
oitava é dividida em quatro intervalos iguais de uma terça menor cada.<br />
O acorde de sétima diminuta é empregado na harmonia para realizar a modulação<br />
(vide item 7.11).<br />
O acorde do grau VII, ou grau sensível, é formado por uma terça maior e uma<br />
tríade diminuta sobreposta (o intervalo da sétima é menor).<br />
Este é o acorde de sétima da sensível:<br />
Este acorde tem a sua resolução sobre o acorde de tônica:<br />
177
V) Resumo geral dos acordes de sétima, em DÓ maior:<br />
Sobre a escala de DÓ maior podem ser construídos dez tipos diferentes de acordes<br />
de sétima (usou-se a notação usual de cifras):<br />
7.6.2 Acorde de quarta suspensa<br />
O acorde de quarta suspensa é formado pela inclusão da quarta nota à tríade maior<br />
construída sobre a fundamental, em substituição à terceira (o acorde no qual a quarta<br />
substitui a terça é chamado de acorde suspenso); se o acorde é de sétima de dominante,<br />
ele passa a se chamar acorde de sétima com quarta suspensa.<br />
178
A resolução da dissonância é geralmente feita em um movimento descendente de<br />
semitom, pelo qual a quarta se transforma em terça, no movimento seguinte.<br />
7.6.3 Acorde de sexta<br />
Acorde de sexta ou sexta acrescentada é o acorde resultante do acréscimo da sexta<br />
nota da escala a uma tríade maior. Se a sexta nota é acrescentada a uma tríade menor,<br />
obtém-se um acorde menor com sexta. No acorde de nona, se a sexta nota substitui a<br />
sétima, o acorde é chamado de acorde de sexta com nona. A seguir, é mostrada uma<br />
relação de acordes de sexta com a respectiva notação cifrada:<br />
Alguns acordes de sexta recebem nomes especiais, como é o caso do acorde de<br />
sexta napolitana (N6) e os acordes de sexta aumentada (A6); sexta francesa, sexta<br />
alemã e sexta italiana. O acorde de sexta napolitana é a primeira inversão do acorde de<br />
sobretônica, com a fundamental e a quinta abaixadas de um semitom. Este acorde não<br />
é dissonante, e tem a sua resolução ao mover-se para a dominante ou para o acorde de<br />
quarta e sexta.<br />
Os acordes de sexta podem ser construídos sobre o grau VI (abemolado) de<br />
qualquer escala maior, ou no grau VI natural da escala maior ou menor. O intervalo<br />
179
característico é de uma sexta aumentada. Sua resolução é para o acorde de quarta e<br />
sexta ou o acorde de dominante.<br />
O acorde de sexta francesa é composto pela fundamental, terceira maior, quarta<br />
aumentada e uma sexta aumentada.<br />
O acorde de sexta italiana é composto pela fundamental, terceira maior e uma sexta<br />
aumentada (a terceira é redobrada e a quinta é omitida).<br />
O acorde de sexta alemã é composto pela fundamental, terceira maior, quinta<br />
abemolada e uma sexta aumentada.<br />
180
7.7 Acordes exóticos<br />
Alguns acordes algo diferentes dos anteriores também são utilizados na harmonia,<br />
por suas características diferenciadas. São os acordes de nona, de décima primeira e<br />
décima terceira. Para formá-los, basta acrescentar ao acorde de sétima da dominante<br />
uma nota situada a uma nona, décima primeira ou décima terceira da fundamental.<br />
Todas elas são notas dissonantes, e se resolvem descendo.<br />
Estes três acordes são muito utilizados nos acordes de jazz.<br />
7.7.1 Acorde de nona<br />
Nos acordes vistos até agora, foram vistas as tríades formadas pelas primeira,<br />
terceira e quinta notas, e a sétima acrescentada, formando acordes de sétima.<br />
Os acordes que serão vistos a seguir são acordes que usam as segunda, quarta e<br />
sexta notas. Os tipos de acordes formados pelo uso dessas notas são denominados de<br />
acorde de nona acrescentada, quarta suspensa e sexta (a denominação nona<br />
acrescentada é para diferenciar estes acordes dos acordes de nona produzidos pela<br />
superposição de terças às tríades, e que incluem também a sétima). Os acordes de<br />
quarta suspensa e sexta são semelhantes aos acordes de décima primeira e décima<br />
terceira, respectivamente, que também serão estudados.<br />
Como já se sabe, a nona da fundamental é a mesma que a segunda, apenas que está<br />
uma oitava acima. Assim, ao se acrescentar a segunda ou a nona nota de uma escala à<br />
tríade maior formada sobre a fundamental dessa escala, forma-se um acorde<br />
constituído pela primeira, segunda (nona), terceira e quinta notas, denominado acorde<br />
de nona acrescentada. A segunda nota pode ser acrescentada às tríades tanto menores<br />
quanto maiores, sendo que o acorde menor possui o mais dissonante intervalo, ou<br />
intervalo de segunda menor, entre a segunda e a terceira nota abemolada.<br />
As progressões que utilizam os acordes de nona podem encadear este acorde de<br />
várias maneiras: com outro acorde, do qual esta dissonância faça parte, embora como<br />
nota consonante; encadeando com outro acorde, no qual a nota apareça também como<br />
dissonante; resolver a nona por grau conjunto, no acorde encadeado.<br />
O acorde de nona que inclui a sétima é denominado acorde de nona estendido.<br />
Acordes estendidos são todos aqueles que incluem uma nota acima da oitava, a partir<br />
da tônica. São também denominados extensões, e cada um pertence a uma dessas<br />
famílias: dominante, maior ou menor, porque são construídos sobre os acordes de<br />
sétima de dominante, sétima maior, ou menor com sétima. A tonalidade do acorde<br />
estendido é determinada pelos intervalos de terça e sétima. Se são ambos menores ou<br />
maiores, o acorde é menor ou maior; quando a terça é maior e a sétima é menor, o<br />
acorde é uma sétima de dominante. Variações do acorde básico, também chamados<br />
acordes alterados, são obtidas elevando ou abaixando a quinta nota ou a nota<br />
acrescentada.<br />
181
Os acordes alterados de nona são aqueles nos quais cada uma das quatro notas<br />
acima da tônica pode ser alterada: a terça pode ser maior ou menor; a quinta pode ser<br />
diminuta, justa ou aumentada; a sétima pode ser diminuta, menor ou maior; a nona<br />
pode ser menor, maior ou aumentada.<br />
Como já foi dito, os acordes alterados de nona podem ser agrupados em três<br />
famílias: dominantes; menores; maiores. 150 Elas podem ser divididas em duas classes:<br />
os acordes que tem apenas uma nota alterada (a quinta ou a nona); os que tem duas<br />
notas alteradas (a quinta e a nona). A alteração da quinta pode ser por abaixamento de<br />
um semitom (tornando-se diminuta), ou por elevação de um semitom (tornando-se<br />
aumentada).<br />
A seguir, são mostrados doze acordes (em DÓ maior) alterados de nona, com<br />
respectivas notações de cifras: 151<br />
Como se viu, existem três tipos de acordes de nona: acordes maiores com sétima e<br />
nona; acordes menores com nona; e acordes de sétima de dominante com nona. Neste<br />
150 A família das dominantes é a que apresenta a maior quantidade de nonas alteradas (oito acordes).<br />
151 As expressões nona maior e nona menor são reservadas para os acordes de nona construídos sobre as<br />
sétimas correspondentes.<br />
182
último caso, os acordes são também chamados de acorde de nona de dominante, e a<br />
nona pode ser maior, menor ou aumentada.<br />
Os acordes de nona maior são usados em tonalidade maior, e os de nona menor são<br />
usados em tonalidade menor (intervalos de nona maior e nona menor,<br />
respectivamente):<br />
7.7.2 Acorde de décima primeira<br />
Tal como os acordes de nona, os acordes de décima primeira são construídos no<br />
grau V, embora também possam sê-lo nos graus I, II ou IV. Este acorde é composto<br />
com o acréscimo ao acorde de sétima da dominante, da quarta nota da escala diatônica,<br />
situada a uma décima primeira da fundamental (nos acordes maiores a terça ou a quinta<br />
podem ser omitidas, na harmonia a quatro partes). Eles são, teoricamente, acordes de<br />
seis notas, sendo as mais importantes a fundamental, a sétima e a décima primeira. A<br />
quatro partes, este acorde compreende a fundamental, a terceira, a sétima e a décima<br />
primeira. São notas dissonantes, que resolvem (em geral) descendo.<br />
7.7.3 Acorde de décima terceira<br />
O acorde de décima terceira é composto quando se repete a sexta nota da escala<br />
diatônica uma oitava acima, criando-se o intervalo de décima terceira. Assim, ele se<br />
compõe da fundamental, terceira, sétima e décima terceira, com a mesma resolução do<br />
acorde de décima primeira.<br />
183
7.8 Poliacordes<br />
Dois acordes que soam juntos são denominados poliacordes, ou acordes politonais.<br />
Eles devem conter, pelo menos, os elementos básicos de seus acordes constituintes.<br />
Os poliacordes podem assumir várias formas, sendo que, atualmente, uma das<br />
formas mais comuns é a execução do acorde com uma nota no baixo que não é a sua<br />
tônica.<br />
A maioria dos acordes estendidos ou alterados pode ser considerada como<br />
poliacordes (embora, nesse caso, não contenham todas as notas de um acorde estendido<br />
ou alterado, sendo as notas omitidas mais comuns, a 3ª. e a 5ª.). Por exemplo, o acorde<br />
de sétima maior e nona é formado pela sobreposição de uma tríade de DÓ maior (DÓ-<br />
MI-SOL) e uma tríade de SOL maior (SOL-SI-RÉ). As duas tríades, como um só<br />
acorde, dão o som do acorde de DÓ com sétima maior e nona.<br />
Este tipo de acorde pode ser visto como um acorde bitonal, embora seja mais<br />
considerado como um acorde com baixo alterado. Sua notação usa uma barra<br />
separando as notas (não as figuras, mas os símbolos), sendo que o primeiro indica o<br />
acorde, e o segundo, a nota do baixo. Na execução, sempre que o símbolo do<br />
poliacorde for encontrado, pode ser tocada apenas a tríade superior, ou esta mais o<br />
baixo alterado.<br />
Os acordes (maiores) com baixo alterado mais utilizados são: RÉ/DÓ (D/C) e<br />
MI/DÓ (E/C), sendo a primeira nota a do baixo (em D/C, o acorde é de RÉ maior com<br />
a nota DÓ no baixo):<br />
Outros acordes (maiores) com baixo alterado são: FÁ#/DÓ (F#/C); SOL/DÓ<br />
(G/C); SIb/DÓ (Bb/C):<br />
A nota no baixo pode ser qualquer nota, além da nota DÓ.<br />
184
7.9 Acordes sinônimos<br />
Dependo do instrumento utilizado, o executante não poderá tocar todas as notas<br />
presentes no acorde. Neste caso, algumas das notas podem ser omitidas. O acorde<br />
resultante poderá ter, também, inversão em uma ou mais notas. Este acorde, com notas<br />
idênticas à do acorde original, têm o nome de acorde sinônimo.<br />
Acordes sinônimos, então, são acordes constituídos das mesmas notas, embora com<br />
denominações diferentes. Eles são utilizados quando é necessário simplificar a<br />
execução dos acordes, omitindo uma nota e realizando uma inversão. Algumas notas<br />
também podem ser substituídas.<br />
No primeiro exemplo mostrado a seguir, a omissão da 3ª. nota de C 9acr (DÓ com<br />
nona acrescentada) produz um acorde de três notas chamado C 2 (DÓ com segunda).<br />
Invertendo-se a nota DÓ para deixar a nota SOL como fundamental, as três notas<br />
formarão um acorde G 4sus (SOL com quarta suspensa), que é um acorde com a tônica<br />
uma quinta acima. Os demais exemplos têm a mesma interpretação.<br />
185
7.10 Substituição de acordes<br />
A substituição de acordes não é mais do que a introdução de variações em uma<br />
seqüência de acordes. È um processo semelhante ao da improvisação, com a diferença<br />
de que, enquanto a improvisação se faz na melodia, a substituição de acordes é feita no<br />
acompanhamento harmônico.<br />
Com relação ao andamento e à melodia, as tônicas permanecem as mesmas,<br />
alterando-se apenas as outras notas, aquelas que criam a harmonia dos acordes.<br />
A substituição pode ocorrer de duas maneiras: pela alteração de alguns dos<br />
acordes; pelo acréscimo de acordes extras à progressão original.<br />
Em uma progressão qualquer de acordes, pode-se estender ou alterar os acordes<br />
dados de modo a produzir uma harmonia diferente, sem, entretanto, alterar<br />
significativamente a progressão. A função básica do acorde alterado permanece a<br />
mesma; apenas, um novo conjunto de notas é escolhido para criar uma nova harmonia<br />
sobre a tônica original.<br />
Por exemplo, um acorde de LÁ menor pode se tornar: LÁ menor com sétima; LÁ<br />
menor com nona acrescentada; SOL com quarta suspensa; DÓ com sexta; DÓ com<br />
sétima maior.<br />
Um exemplo simples de substituição é quando se toca um acorde de DÓ com<br />
sétima ao invés de DÓ maior. Suponha-se uma passagem de um compasso de DÓ<br />
maior para outro compasso em FÁ maior, por exemplo, cada um com quatro pulsações.<br />
Ao se fazer a substituição, a terceira e a quarta pulsações do primeiro compasso são<br />
trocadas por um acorde de DÓ com sétima. Neste caso, a progressão seria assim: DÓ<br />
maior (meio compasso, ou duas pulsações) para DÓ com sétima (meio compasso, ou<br />
duas pulsações) para FÁ maior (compasso completo, ou quatro pulsações).<br />
186
Se a música está na tonalidade de FÁ, o DÓ é o acorde de dominante (grau V) e o<br />
FÁ é o de tônica (grau I). Deste modo, há uma cadência perfeita quando DÓ se resolve<br />
em FÁ. A tônica desce uma quinta. A adição da nota extra (SIb) ao DÓ maior cria o<br />
DÓ com sétima, o que enfatiza a resolução.<br />
Se a música, ao contrário, estiver na tonalidade de DÓ, esta nota seria o acorde de<br />
tônica (grau I) e FÁ seria o acorde de subdominante (grau IV). Deste modo, o DÓ com<br />
sétima se tornaria uma sétima de tônica (ou seja, construída sobre a 1ª., e não sobre a<br />
5ª. nota da escala). Mesmo assim continuaria sendo um acorde de sétima de dominante.<br />
Em cada caso, se a tônica sobe ou desce, a substituição da sétima de dominante é<br />
uma forma de estender o acorde original. A sétima de dominante torna-se um acorde<br />
de passagem.<br />
Um acorde de sétima com a função de acorde de dominante (grau V) em uma<br />
progressão poderá ter duas substituições: por um acorde menor com sétima ou por um<br />
acorde de décima primeira de dominante.<br />
Por exemplo, na tonalidade de DÓ maior: a progressão C-F-G7-C, cada acorde<br />
com quatro pulsações. As duas primeiras pulsações do terceiro compasso podem ser<br />
executadas com um acorde de RÉ menor com sétima, e as duas seguintes continuam<br />
em SOL com sétima. Ou seja, a substituição é feita por um acorde menor com sétima<br />
construído sobre a nota que está uma quinta acima daquela do acorde de sétima de<br />
dominante. O novo acorde menor com sétima é o acorde de sobretônica (grau II) da<br />
tonalidade em relação à qual o acorde com sétima original era o acorde de dominante.<br />
A substituição pode ser feita também por um acorde de décima primeira de<br />
dominante. Neste caso, a primeira e a segunda pulsação do terceiro compasso é<br />
substituída por duas pulsações tocadas com SOL décima primeira. A décima primeira<br />
de dominante pode ser considerada um poliacorde.<br />
7.10.1 Extensão e alteração de acordes de dominante<br />
Os acordes mais envolvidos em substituições são os da família de dominante, isso<br />
porque todos os acordes de dominante possuem uma terça maior e uma sétima menor.<br />
A alteração das demais notas pode ser feita da várias formas: a 5ª., recebendo um<br />
sustenido, o acorde transforma-se em sétima com quinta aumentada (7 + 5); recebendo<br />
um bemol, transforma-se em sétima com quinta diminuta (7 – 5). A 9ª., recebendo um<br />
sustenido, produz um acorde de sétima com nona aumentada (7 + 9); recebendo um<br />
bemol, produz uma acorde de sétima com nona menor (7 – 9).<br />
Se um acorde de dominante é seguido por outro uma quarta acima, ele pode ser<br />
substituído por um acorde com uma quinta ou a nona alterada. Por exemplo, uma<br />
progressão DÓ-FÁ. Uma opção é substituir DÓ por DÓ com nona (C9) e FÁ por FÁ<br />
com sétima (F7). Em seguida, introduz-se um acorde alterado nas duas últimas<br />
pulsações do compasso em DÓ com nona e DÓ com sétima mais nona aumentada (C7<br />
+ 9) ou DÓ com sétima mais nona menor (C7 - 9).<br />
Se o acorde de dominante é seguido por outro um semitom abaixo (como, por<br />
exemplo, um compasso em DÓ seguido de outro em SI, na tonalidade FÁ maior),<br />
segue-se o mesmo procedimento anterior.<br />
187
7.10.2 Introdução de novos acordes de dominante<br />
O item anterior mostrou como se pode realizar a substituição, quando um acorde de<br />
dominante é seguido de outro situado uma quarta acima ou um semitom abaixo do<br />
original. Entretanto, outras opções também podem ser utilizadas, além das mostradas.<br />
Ao invés de utilizar uma versão alterada ou estendida do acorde original, este pode ser<br />
substituído por um novo acorde de dominante construído sobre a tônica situada uma<br />
quinta diminuta acima do primeiro acorde (isto, desde que o acorde provenha da<br />
família de dominante, e não das familias maior ou menor). Entretanto, o novo acorde<br />
de dominante não substitui completamente o primeiro; ele é inserido entre os dois<br />
acordes originais, funcionando como uma conexão entre eles (o acorde é introduzido<br />
apenas nas duas últimas pulsações do compasso).<br />
Exemplos:<br />
I) DÓ, uma quarta acima de SOL. Neste caso, pode-se construir um novo<br />
acorde de dominante sobre DÓ sustenido (C#), que é a tônica uma quinta<br />
diminuta acima ou abaixo de SOL, e usá-lo para substituir as duas últimas<br />
pulsações do compasso em SOL. O novo acorde pode ser estendido e/ou<br />
alterado: para DÓ sustenido com nona (C# 9) ou DÓ sustenido com nona<br />
sétima mais nona aumentada (C# 7 + 9), por exemplo.<br />
II) SOLb, um semitom abaixo de SOL. Constrói-se, então, um novo acorde de<br />
dominante sobre RÉb, ou a tônica uma quinta diminuta acima ou abaixo de<br />
SOL. O acorde é então usado para substituir as duas últimas pulsações do<br />
compasso em SOL. O novo acorde pode ser um RÉ bemol com sétima<br />
(RÉb7) ou, por exemplo, estendido para RÉ bemol com nona (RÉb9).<br />
7.10.3 Substituição por acordes de passagem menores<br />
Os acordes menores construídos sobre as notas mediante (grau III) e submediante<br />
(grau VI) da escala podem, igualmente, ser introduzidos em seqüências de acordes. Por<br />
exemplo, em uma mudança de DÓ para FÁ. Sendo esta uma progressão de I para IV, a<br />
segunda metade do primeiro compasso pode receber um acorde de RÉ menor (grau II)<br />
e a primeira metade do segundo compasso, um acorde de MI menor (grau III). Deste<br />
modo, os dois acordes menores agem como acordes de passagem.<br />
Em um acorde em LÁ menor, pode ser introduzida uma quinta diminuta. Em uma<br />
progressão do tipo II-V-I (por exemplo: RÉmenor para SOL sétima para DÓ maior), as<br />
duas últimas pulsações em RÉ menor podem ser executadas com um acorde de RÉ<br />
menor com quinta diminuta (Dm-5) ou então, de RÉ meio-diminuto (Dm7-5).<br />
7.11 Modulação de acordes<br />
Como já se sabe, a tonalidade é o conjunto de sons da escala na qual a tônica<br />
exerce o papel de centro tonal. Um determinado trecho pode ter mais de uma<br />
tonalidade; nesse caso denomina-se principal, a tonalidade predominante e<br />
secundárias, as tonalidades às quais se pode passar, através de modulações.<br />
Modulação, então, é a passagem de uma tonalidade para outra, no decorrer de um<br />
trecho. É um recurso técnico cujo objetivo é proporcionar variedade tonal, ou seja,<br />
enriquecer a harmonia. A relação entre as tonalidades e os acordes, ilustrada no ciclo<br />
188
das quintas, permite uma mudança de tonalidade (modulação) de modo natural (as<br />
alterações cromáticas não constituem modulação).<br />
Quando o trecho muda de tonalidade e volta em seguida à tonalidade original, dizse<br />
que a modulação é de passagem ou transitória. Para que a modulação seja possível,<br />
é necessário que a tonalidade esteja claramente definida. Um requisito para isto, como<br />
se viu no início deste item, é a existência de um centro tonal. 152 Outros requisitos são:<br />
organização dos acordes por tríades (sobreposição de terças), e a organização dos<br />
acordes por cadências (I-IV-V-I ou I-II-V-I, por exemplo).<br />
Há três tipos de modulação:<br />
I) Modulação aos tons vizinhos. Tons vizinhos são aqueles que possuem a mesma<br />
armadura, bem como aqueles que diferem entre si por um único sinal de alteração ou<br />
acidente, que pode ser sustenido ou bemol (vide item 5.2.2). Cada tom maior ou menor<br />
pode ter cinco tons vizinhos, que são: a) o seu tom relativo; b) os tons (superior e<br />
inferior) encontrados à sua quinta; c) os relativos desses dois tons.<br />
Os tons vizinhos de DÓ maior são: LÁ menor, seu relativo; SOL maior e MI<br />
menor, que possuem um sustenido a mais; FÁ maior e RÉ menor, que possuem um<br />
bemol a mais.<br />
Os tons vizinhos de LÁ menor são: DÓ maior, seu relativo; MI menor e SOL<br />
maior, que possuem um sustenido a mais; RÉ menor e FÁ maior, que possuem um<br />
bemol a mais.<br />
Como se vê, na escala de DÓ maior o acorde de tônica tem a função de dominante<br />
na escala de FÁ maior e de subdominante na escala de SOL maior. Assim, fica fácil<br />
modular de DÓ maior para SOL maior; basta se considerar o acorde de DÓ maior<br />
como acorde de subdominante em SOL maior, fazendo-se daí a progressão para a<br />
dominante (RÉ maior) e desta para a tônica de SOL maior. Esta modulação, que utiliza<br />
o acorde comum às duas tonalidades como acorde de transição, é denominada<br />
modulação diatônica.<br />
152 Desde o século XIX que vem se manifestando a tendência a um afastamento da tonalidade, com o<br />
centro tonal tornando-se vago e impreciso. Neste caso, evidentemente, não se pode falar em modulação.<br />
Apenas a presença da cadência no movimento harmônico é capaz de confirmar que existe uma<br />
tonalidade (centro tonal|) na peça musical. A modulação só acontece se houver a mudança de um centro<br />
tonal para outro, pela mudança de tonalidade.<br />
189
Pode-se também modular diretamente partindo de uma tonalidade em direção a<br />
outra (pelo mesmo método do ciclo das quintas): caminhando na direção da dominante<br />
ou na direção da subdominante. No primeiro caso, o acorde de dominante (grau V) da<br />
tonalidade inicial torna-se o acorde de tônica (grau I) da nova tonalidade; no segundo<br />
caso, o acorde de subdominante (grau IV) da tonalidade inicial torna-se o acorde de<br />
tônica (grau I) da nova tonalidade. A modulação de DÓ para FÁ, no sentido da<br />
subdominante, pode ir diretamente ou através do acorde transitivo, que no caso é SIb.<br />
II) Modulação para acordes distintos e de tons afastados. Este processo exige uma<br />
alteração cromática; exige, também, uma nota que seja comum aos acordes.<br />
III) Modulação enarmônica: esta modulação também usa o acorde transitivo, mas<br />
uma ou mais das notas do acorde transformam-se enarmonicamente em outro acorde,<br />
numa tonalidade diferente. Os acordes de sétima diminutos, sexta napolitana e sexta<br />
alemã são muito usados neste tipo de modulação (principalmente o acorde de sétima<br />
diminuta, que pode ter quatro centros tonais).<br />
Na modulação em direção à dominante, o acorde menor sobre o grau II torna-se<br />
maior, tomando a função de dominante da nova tonalidade; o grau IV maior<br />
transforma-se em um acorde diminuto, tomando a função de acorde VII na nova<br />
tonalidade; o grau VII diminuto muda para menor, tomando a função de acorde III.<br />
O mesmo princípio pode ser considerado na direção da subdominante, ou então<br />
esse outro princípio: o acorde menor no grau III original torna-se diminuto, tomando a<br />
função de acorde VII da nova tonalidade; o grau V maior muda para menor, tomando a<br />
função de acorde no grau II; o grau VII diminuto torna-se maior, tomando a função do<br />
acorde IV da tonalidade final.<br />
O exemplo a seguir mostra uma modulação de DÓ maior para SOLb maior, usando<br />
a sétima diminuta como nota de passagem (e que é considerada uma modulação<br />
difícil):<br />
190
A mesma modulação, usando a sexta napolitana como nota de passagem entre as<br />
duas tonalidades:<br />
A modulação de um semitom acima ou abaixo da tonalidade original pode ser<br />
conseguida com o emprego enarmônico do acorde de sexta alemã (nos exemplos,<br />
modulação de DÓ maior para RÉb maior e de RÉb maior para DÓ maior):<br />
A repetição de pequenos trechos musicais em alturas diferentes é denominada<br />
progressão modulante (é uma forma de transposição sobre a marcha). Pode ser ou não<br />
combinada com a modulação:<br />
191
7.12 Harmonização<br />
É sabido que toda melodia traz implícita uma harmonia básica. 153 Entretanto, uma<br />
seqüência ou progressão de acordes também sugere uma melodia. 154 É por esta razão<br />
que estes elementos da música estão estreitamente ligados. O domínio da harmonia, ou<br />
da harmonização, exige um conhecimento amplo da teoria dos acordes, principalmente<br />
a progressão básica I-IV-V (vide item 7.4.2). Como já se sabe, todos os acordes<br />
construídos sobre os vários graus de escala devem estar relacionados com estes três<br />
acordes básicos, em que aparecem a tônica, a terça e a quinta. O acréscimo de outras<br />
notas ocorre após a perfeita familiarização com estes acordes. Isto leva à formação de<br />
acordes com quatro ou mais notas (ou, o que é o mesmo, a quatro ou mais vozes).<br />
O acréscimo de novas notas forma acordes mais sonoros, mas com a mesma função<br />
harmônica do acorde fundamental. 155<br />
A harmonização não é apenas uma composição de acordes a três, quatro ou mais<br />
notas. A própria seqüência de acordes faz parte da harmonização, e o compositor<br />
experiente sabe como empregar acordes complexos, cuja progressão harmônica pode<br />
ser bastante diferente daquela conduzida tão somente com o uso de acordes a três<br />
notas.<br />
7.12.1 Harmonização de um intervalo melódico<br />
Os intervalos melódicos (aqueles formados, como já se viu, por duas notas<br />
sucessivas) que compõem uma melodia são os fatores principais que fazem com que<br />
uma melodia seja harmonizada por determinados acordes, ao invés de outros.<br />
Seja, por exemplo, o intervalo de terça maior DÓ-MI. Sua harmonização pode ser<br />
feita de várias maneiras: pode se fazer corresponder a cada nota um acorde (um acorde<br />
153<br />
A harmonia seria a parte estrutural vertical da melodia, estrutura esta constituída pelos variados<br />
acordes. Mesmo em uma melodia simples, a memória auditiva retém, por certo tempo, as notas tocadas.<br />
Cria-se, deste modo, um sentido de verticalidade paralelo à sucessividade das notas da melodia.<br />
154<br />
É o que acontece com as notas mais agudas, cuja seqüência, muitas vezes, pode constituir uma<br />
melodia.<br />
155<br />
Conforme já se viu, o acorde de três notas é um acorde consonante, o que não é o caso dos acordes de<br />
mais de três notas, que são dissonantes em maior ou menor grau.<br />
192
para DÓ, outro acorde para MI), desse modo produzindo uma progressão harmônica.<br />
Ou o próprio intervalo pode participar de uma seqüência de acordes, ou seja, estas<br />
notas, DÓ-MI, podem fazer parte do acorde (por exemplo, RÉ com nona; RÉ menor<br />
com nona; etc.).<br />
193
194
CAPÍTULO VIII<br />
VOZES, INSTRUMENTOS E ORQUESTRA<br />
8.1 O aparelho fonador<br />
O aparelho fonador, ou aparelho fonatório, é constituído por três sistemas: o<br />
respiratório ou subglotal, o fonatório ou laringeal e o articulatório ou supralaringeal.<br />
O primeiro é formado pelos pulmões, músculos pulmonares, brônquios e traquéia.<br />
Este sistema serve como um fole que leva ar para a laringe.<br />
O segundo sistema é constituído pela laringe, que é um anel cartilaginoso. Dentro<br />
dela se encontram as cordas ou pregas vocais. Entre estas cordas existe um espaço<br />
chamado glote. Quando este espaço se fecha, as cordas vibram com a passagem do ar,<br />
ajudando a formar os sons que constituem a voz humana.<br />
O sistema articulatório é formado pelas cavidades ou caixas de ressonância oral<br />
(bucal) e nasal 156 e pelos órgãos faringe, língua, palato, nariz, dentes e lábios.<br />
O aparelho fonador funciona como um tubo acústico, que, se fosse um cilindro<br />
perfeito, emitiria apenas a freqüência fundamental e os respectivos harmônicos.<br />
Entretanto, devido aos numerosos estrangulamentos e expansões, cujas dimensões<br />
podem ser ainda alteradas pela contração dos músculos, tudo isso modifica a<br />
156 A cavidade nasal serve para formar os sons nasalados. Propriamente, ela não faz parte do trato vocal<br />
principal.<br />
195
intensidade, a altura, a freqüência e outras características da voz humana. 157 As<br />
cavidades oral e nasal, agindo como ressoadores, alteram a altura e o timbre da voz. A<br />
caixa torácica também extrema relevância na determinação deste timbre.<br />
Padrões diferentes de difração do som se formam em cada estrangulamento do<br />
tubo, e quando os sons vibrantes saem da boca, eles criam um padrão de difração que<br />
constitui a fonte sonora para quem ouve. Embora as ondas sonoras se propaguem em<br />
todas as direções, a intensidade é maior em frente ao órgão emissor (a boca). Os<br />
fonemas de alta freqüência (por exemplo, os sons sibilantes, que contêm s e ç) são mais<br />
bem ouvidos à frente.<br />
A emissão da voz tende a deformar os fonemas, se a intensidade da vocalização é<br />
elevada. Uma conversa animada pode chegar a 60 ou 70 decibéis; 158 Acima deste<br />
valor, a pronúncia é prejudicada, porque o aumento da intensidade (pela alteração das<br />
dimensões do tubo fonador) obriga a que a voz passe para uma freqüência mais<br />
elevada (um registro mais alto). O aumento simultâneo da freqüência e da intensidade<br />
torna ininteligíveis os fonemas. A discriminação das vogais reduz progressivamente,<br />
tornando quase impossível diferenciá-las.<br />
A velocidade de articulação das palavras (freqüência de sílabas pronunciadas por<br />
minuto) varia na fala comum, mas tem um valor constante para cada pessoa. Uma fala<br />
espontânea está próxima de 200 sílabas/minuto, enquanto que o máximo chega a 500<br />
sílabas/minuto. O limite individual não é imposto pela insuficiência mecânica de<br />
concatenação das contrações musculares, e sim em razão da saturação dos mecanismos<br />
de elaboração da fala. 159<br />
O ato de respirar é fundamental tanto na conversação quanto no canto, sendo que<br />
deve ser treinado e disciplinado, neste último caso. A inspiração e a expiração devem<br />
ser controladas no canto, para permitir o acompanhamento correto do andamento da<br />
música, em sincronismo com os instrumentos musicais. Mesmo no canto a capela,<br />
entretanto, a respiração deve permitir a emissão correta dos sons musicais no<br />
andamento certo.<br />
A vibração das cordas vocais produz as oscilações de ar que ressonam nas<br />
cavidades bucal e nasal; estas oscilações de ar sofrem um processo articulatório<br />
voluntário que produz a fala e o canto. Ou seja, produz a voz.<br />
8.1.1 A linguagem<br />
A formação dos vários tipos de sons que entram na linguagem articulada depende<br />
de qual parte do trato vocal está sendo utilizada. As cavidades bucal e nasal formam<br />
vários tipos de sons: sibilantes, produzidos pelos dentes; sonoros ou agradáveis,<br />
produzidos por processos estacionários; explosivos, produzidos por processos<br />
transitórios.<br />
157 O timbre e a tessitura da voz são características pessoais; deste modo, o canto é, também, uma<br />
característica pessoal. Cantores podem ter aperfeiçoada a voz, mas não podem ser criados. Uma pessoa<br />
só pode se tornar um cantor se possuir as características inatas que lhe permitam isso.<br />
158 A conversão normal envolve uma energia da ordem de 10 -6 Watts.<br />
159 No canto, a emissão silábica depende do andamento e do ritmo da música. Normalmente, cada sílaba<br />
acompanha cada nota da melodia.<br />
196
Na linguagem, estes sons são chamados de fonemas, e se dividem em: vogais (que<br />
formam os sons vocálicos); consoantes (que formam os sons consonantais);<br />
semivogais. De um modo geral, eles podem ser orais ou nasais.<br />
A articulação dos fonemas produz um tipo de som complexo denominado sílaba. A<br />
sílaba é um grupo sonoro pronunciado em uma única expiração. Toda sílaba tem por<br />
base uma vogal.<br />
Dependendo do processo de formação dos sons consonantais, eles recebem vários<br />
nomes. Por exemplo, (o exemplo não é abrangente) sons oclusivos (p; b; t; d; g; k);<br />
sons nasais (m; n; nh); sons fricativos (f; v; s; ss; ch; z; j). Estes últimos são<br />
importantes, sob o ponto de vista acústico, porque a sua energia espalha-se por uma<br />
larga banda de freqüências, ou seja, estes sons formam um amplo espectro de<br />
freqüência.<br />
8.1.2 A fala<br />
A fala é uma atividade dinâmica contínua, constituída pela emissão ou fluxo de<br />
som articulado em frases.<br />
Os sons sucessivos da fala, em seus vários parâmetros constituintes, determinam a<br />
sua identificação com um idioma específico. Essa emissão ou fluxo de som é<br />
característica de cada idioma. Um idioma, então, pode ser caracterizado apenas pela<br />
sua emissão específica de sons. 160 Cada idioma utiliza um número limitado de sons (os<br />
fonemas, em número aproximado de trinta 161 ), os quais podem ser agrupados para criar<br />
palavras, frases, etc.<br />
As características seletivas de ressonância do trato vocal criam as diferenças de<br />
cada som vocálico, pelo agrupamento de energia sonora em regiões particulares de<br />
freqüência. Estas regiões reforçadas com maior intensidade são denominadas<br />
formantes. A sua posição relativa em uma escala de freqüência determina o espectro de<br />
cada vogal, e em conseqüência, a sua qualidade acústica. Conforme o movimento da<br />
língua e as modificações do tamanho relativo das cavidades, as formantes mudam<br />
continuamente de freqüência.<br />
A freqüência fundamental do som vocal emitido varia entre 90 Hz (baixo) até 300<br />
Hz, em pessoas de voz estridente ou voz muito aguda. Embora estas freqüências<br />
pareçam muito baixas, deve-se perceber que a elas se juntam várias freqüências<br />
harmônicas.<br />
Os sons das vogais (denominadas, como se disse, formantes, em razão dessa<br />
formação harmônica), possuem as seguintes freqüências: 162<br />
160 Comparando-se, por exemplo, os idiomas italiano e japonês, nota-se a sonoridade cantante do<br />
primeiro e a dureza explosiva do segundo. Estas são características que refletem os temperamentos de<br />
cada povo. Igualmente, os cantos de cada um destes povos diferem enormemente entre si, cada um<br />
refletindo aspectos culturais específicos, cada um exigindo a sua própria modalidade musical.<br />
161 Em geral, o número de fonemas possíveis de serem articulados está limitado pelas restrições físicas<br />
do trato vocal. É por este motivo que o número total de fonemas é pequeno. Como a maioria dos idiomas<br />
falados no mundo possui a mesma origem, vários fonemas são comuns a eles. Ou seja, os mesmos sons<br />
ocorrem na maioria das línguas faladas no mundo.<br />
162 De um modo geral, um fonema se torna reconhecível com a presença de três a seis formantes (picos<br />
de freqüência).<br />
197
Vogais Freqüências em Hz<br />
a 800 – 1200<br />
e 400 - 600<br />
i 200 - 400<br />
o 400 - 600<br />
u 200 - 400<br />
O espectro de freqüência da voz humana vai de 100 Hz até 10.000 Hz, 163 sendo que<br />
o máximo de energia emitida situa-se entre 300 Hz e 3.000 Hz. Uma conversação<br />
normal tem uma faixa dinâmica (variação entre a menor e a maior intensidade de<br />
emissão) de 30 dB. A uma distância de quatro metros, uma conversação tem uma<br />
pressão da ordem de 1 N/m 2 (audibilidade de 95 fons).<br />
8.2 Vozes<br />
A voz humana pode ser dividida fazendo-se uma distinção entre vozes graves,<br />
médias e agudas. Cada uma dessas divisões é denominada registro. Empiricamente,<br />
cada registro é denominado: voz de peito; voz mista; voz de cabeça.<br />
Geralmente, existe um intervalo de oitava entre as vozes masculinas e as vozes<br />
femininas. As vozes masculinas são mais graves, ainda que, antes da adolescência, 164<br />
possa ser bastante aguda. As vozes femininas, de um modo geral, são mais agudas.<br />
As vozes que produzem o canto musical podem ser masculinas ou femininas,<br />
jovens ou adultas. 165<br />
As vozes masculinas se dividem em: baixo; barítono; tenor; contratenor. 166<br />
As vozes femininas se dividem em: contralto (alto); meio-soprano (mezzosoprano);<br />
soprano. As vozes mais comuns são: meio-soprano, para as mulheres;<br />
barítono, para os homens.<br />
De um modo geral, cada voz tem uma tessitura 167 de treze sons, sendo que as vozes<br />
solistas podem ir além disso.<br />
Em termos de freqüência, tem-se a seguinte relação:<br />
Vozes Freqüência em Hz<br />
Baixo 85 a 320<br />
Barítono 100 a 380<br />
Tenor 130 a 440<br />
Contralto 170 a 640<br />
Soprano 250 a 850<br />
A tessitura musical aproximada das diferentes vozes é mostrada a seguir:<br />
163 Na conversação normal, a faixa de freqüência vai de 120 Hz até 9.000 Hz.<br />
164 O registro de voz de um pré-adolescente pode ser descrito tanto como contralto como soprano. A voz<br />
da criança do sexo feminino tem uma extensão similar, mas com uma sonoridade mais suave.<br />
165 Os nomes que as definem descrevem a extensão e o timbre de cada diferente tipo de voz.<br />
166 O contratenor é uma voz masculina com uma sonoridade forte e bastante elevada. Na Inglaterra,<br />
durante os séculos XVII e XVIII, ela era muito apreciada, entrando em declínio posteriormente.<br />
Entretanto, voltou a ser valorizada a partir do século XX.<br />
167 Tessitura é a extensão dos sons abrangida pela voz ou por instrumentos musicais.<br />
198
As claves utilizadas para as vozes são: clave de SOL para soprano, meio-soprano,<br />
tenor e contralto; clave de FÁ para barítono e baixo.<br />
A extensão da escala vocal, desde a parte mais grave da voz masculina do baixo até<br />
a parte mais aguda da voz feminina do soprano, abrange quatro oitavas: 168<br />
O registro total de graves até agudos da voz humana, DÓ 1 até DÓ 5 , corresponde às<br />
três regiões centrais da escala total (que vai de DÓ -2 até DÓ 7 ):<br />
Faixa Intervalo Freqüência em Hz<br />
Grave DÓ 1 a DÓ 2 64 a 128<br />
Média DÓ 2 a DÓ 4 128 a 512<br />
Aguda DÓ 4 a DÓ 5 512 a 1024<br />
Estas faixas de voz correspondem às seguintes escalas do piano:<br />
168 Estas quatro oitavas compreendem à inteira tessitura da voz humana (inclusive solistas), e<br />
representam a parte essencial do domínio musical.<br />
199
8.2.1 O canto 169<br />
O canto sem o acompanhamento de instrumentos musicais tem a denominação de<br />
canto a capela. O canto coletivo, entoado por muitas vozes, é denominado coro, orfeão<br />
ou canto orfeônico. 170<br />
O canto coral pode ser executado em uníssono 171 ou a muitas partes ou vozes. O<br />
coro em uníssono ou monodia acompanhada é quando todas as vozes cantam a mesma<br />
melodia, ou quando cada voz faz o acompanhamento harmônico da melodia. Se a<br />
melodia se apóia em um acompanhamento de acordes (canção acompanhada), recebe a<br />
denominação de música homofônica, sendo denominada música monódica ou música<br />
monofônica a melodia cantada por uma só voz. Com várias vozes, se elas se movem ou<br />
cantam de modo independente uma da outra em várias linhas melódicas, formando um<br />
conjunto harmônico, a música é denominada polifonia.<br />
O coro pode ser formado de vozes iguais ou vozes mistas. No primeiro caso, são<br />
masculinas (adultos e/ou meninos) ou femininas, com os mesmos limites vocais<br />
(registros). No segundo caso, denomina-se coro misto ou quarteto vocal. O quarteto<br />
vocal é constituído pelas vozes de soprano, contralto, tenor e baixo. Em alguns casos,<br />
pode haver dois grupos de sopranos e dois grupos de contraltos.<br />
8.3 Instrumentos<br />
Denomina-se escala geral ao conjunto dos sons emitidos pelos instrumentos<br />
musicais, em sua totalidade. A sua extensão abrange oito oitavas, e divide-se em cinco<br />
regiões, que são:<br />
Faixa Intervalo Freqüência em Hz<br />
Sub-grave DO -2 a DÓ 1 26 a 64<br />
Grave DÓ 1 a DÓ 2 64 a 128<br />
Média DÓ 2 a DÓ 4 128 a 512<br />
Aguda DÓ 4 a DÓ 5 512 a 1024<br />
Sobre-aguda DÓ 5 a DÓ 7 1024 a 4096<br />
169 Este item tem maior desenvolvimento em 8.4.4.<br />
170 Orfeão tem o significado de coro.<br />
171 Difere, no entanto, do canto orfeônico, por exigir maior técnica vocal e interpretativa.<br />
200
Instrumentos musicais: são instrumentos artificiais capazes de emitir notas<br />
musicais em várias extensões de oitava. Dividem-se em três famílias principais:<br />
instrumentos de corda; instrumentos de sopro; instrumentos de percussão (ou batida).<br />
Paralelamente à divisão clássica dos instrumentos musicais surgiram outras tentativas<br />
de fazer esta divisão. A razão para isto deve-se à imensa quantidade de instrumentos<br />
musicais existentes em todo o mundo (tanto no presente quanto no passado, além de<br />
instrumentos desaparecidos ou mesmo que se modificaram quase completamente) cuja<br />
multiplicidade nem sempre se enquadra na classificação tradicional.<br />
O número de instrumentos musicais orquestrais, folclóricos 172 e populares conhecido é<br />
vastíssimo, cerca de 40.000, sendo que apenas 308 são típicos (123 de sopro, 95 de<br />
corda e 90 de percussão, 40 deles derivados do tambor). 173<br />
No final do século XIX, Victor Mahillon, curador do museu do Conservatório de<br />
Bruxelas tentou uma forma de classificação com base no elemento produtor de som.<br />
Em 1914 surgiu mais uma forma de classificação, baseada no sistema Dewey de<br />
classificação decimal até hoje usado em bibliotecas. Esta forma, uma melhora no<br />
sistema de Mahillon, deveu-se a Erich von Hornbostel e Curt Sachs, e por isto é<br />
conhecida como Sistema de Classificação Hornbostel-Sachs (ou Sachs-Hornbostel).<br />
Este é um sistema complexo, que tenta incluir todos os instrumentos musicais<br />
existentes.<br />
Por ele, os instrumentos musicais são assim divididos: idiofones; membranofones;<br />
cordofones; aerofones (ou aerófonos); eletrofones. Atualmente, cerca de 300 tipos<br />
básicos 174 estão classificados, enquadrados nestas cinco categorias.<br />
Este é, entretanto, um sistema que interessa mais aos historiadores, musicólogos e<br />
demais interessados na pesquisa cronotópica de todos os instrumentos musicais<br />
existentes.<br />
Os instrumentos mencionados neste Breve Tratado correspondem apenas aos mais<br />
utilizados atualmente na música orquestral ocidental, com a inclusão de alguns entre os<br />
mais conhecidos, entre os instrumentos populares.<br />
De um modo geral, os instrumentos musicais são constituídos das seguinte<br />
maneira: elemento produtor de som (cordas, palhetas, tubos, membranas); o corpo, ou<br />
suporte mecânico do instrumento; caixa de ressonância, que é uma câmara que serve<br />
para aumentar a intensidade dos sons produzidos pelo instrumento; elementos de<br />
formação do som (arco, plectro, baqueta, martelo, fole, bocal, teclas); elementos de<br />
controle do som (pedais, trastos, chaves, válvulas).<br />
As claves utilizadas na música instrumental são as seguintes:<br />
I) Clave de SOL na segunda linha: 175 a maior parte dos instrumentos de<br />
madeira (flauta; clarinete; oboé); os metais mais agudos (trompa; trompete;<br />
172 Alguns instrumentos folclóricos são do tipo lamellaphones (lamella: placa fina de metal ou outro<br />
material), nos quais o som se produz ao tanger as placas.<br />
173 O suíço-brasileiro Anton Walter Smetak (1913-1984) criou cerca de 150 instrumentos musicais<br />
diferentes e originais, de todos os tipos. Igualmente, assim vem fazendo o brasileiro Fernando Sardo.<br />
174 Os chamados litofones são instrumentos musicais de pedra, em geral, bastante primitivos. Eles se<br />
enquadram na categoria idiofone, como instrumentos de percussão feitos de pedras.<br />
175 Ocupando a primeira linha, a clave de SOL permite representar uma tessitura mais aguda. Na<br />
segunda linha, o DÓ central do piano ocupa a primeira linha suplementar inferior. Por isso, esta clave é<br />
usada para representar a mão direita em instrumentos de teclado.<br />
201
flugelhorn 176 ); bandola; bandolim; corne-inglês; corneta; clarinete;<br />
harmônico; harpa; órgão; piano; saxofone; saxhorne; violino; violão;<br />
violoncelo (sons agudos).<br />
II) Clave de FÁ na quarta linha: 177 instrumentos de registro grave (violoncelo<br />
contrabaixo; fagote; trombone (baixo)); harmônio; harpa; órgão; piano;<br />
saxhorne; timbales; trompa (alguns sons); tuba; tímpanos.<br />
III) Clave de DÓ:<br />
• na terceira linha: trombone (alto) e viola;<br />
• na quarta linha: fagote (alguns sons agudos); trombone (tenor);<br />
violoncelo. 178<br />
8.3.1 Instrumentos transpositores<br />
Instrumentos transpositores são aqueles nos quais a notação das suas partituras está<br />
a uma altura diferente (mais alta ou mais baixa) do que aquela realmente executada. 179<br />
Isso significa que o executante toca o que está escrito na partitura; o instrumento, no<br />
entanto, soa na tonalidade que lhe é própria. Por exemplo, um clarinete, que é afinado<br />
em SI bemol, terá a partitura escrita em DÓ maior, mas a execução soará em SI bemol.<br />
Outro exemplo: as trompas emitem a nota FÁ sempre que a escrita for DÓ. Neste caso,<br />
sua parte na partitura está escrita uma quinta acima daquela que é emitida pelo<br />
instrumento. 180<br />
Existem motivos de ordem prática e de ordem técnica para que isto seja assim. Para<br />
o executante tudo se torna mais fácil; se a composição possui uma armadura com<br />
muitos bemóis ou sustenidos não haverá necessidade de transportar para outra<br />
tonalidade; basta tocar o que está escrito. Para o regente de orquestra, contudo, há a<br />
dificuldade de transportar mentalmente a altura em que soam os instrumentos<br />
transpositores para a altura real.<br />
8.3.2 Instrumentos de corda 181<br />
Instrumentos de corda são aqueles nos quais o som das notas musicais é produzido<br />
pela vibração das cordas tensionadas. Neste caso, a corda é o elemento que produz o<br />
som. Quando percutida, pinçada ou friccionada por um arco, ela vibra e produz um<br />
som característico.<br />
No passado, as cordas eram feitas de tripas de animais, principalmente do carneiro.<br />
Atualmente, podem ser feitas de vários materiais: fibras naturais (seda; algodão);<br />
176<br />
Também: flugelhorne, flügelhorn, ou filiscorno (fliscorne). É um trompete com um timbre mais<br />
suave.<br />
177<br />
A clave de FÁ é utilizada na escrita da mão esquerda dos instrumentos de teclado. A escrita na<br />
terceira linha possibilita um registro algo mais agudo. Era utilizada, no passado, para a voz de barítono;<br />
entretanto, este uso é raro, atualmente.<br />
178<br />
A clave de DÓ foi criada, inicialmente, para representar as vozes humanas. Cada voz era escrita com<br />
a clave de DÓ em uma das linhas. O contralto era representado com a clave na terceira linha, o tenor na<br />
quarta linha e o meio-soprano, com a clave de DÓ na segunda linha. Atualmente, é limitado o seu uso.<br />
Na terceira linha, usa-se para o fagote, e ocasionalmente, em passagens agudas do trombone. Em<br />
partituras antigas, encontra-se o seu uso no vocal.<br />
179<br />
O tipo mais simples de transposição é o de uma oitava.<br />
180<br />
Em outros casos, as notas podem estar escritas uma quarta abaixo das que são ouvidas.<br />
181 String instruments.<br />
202
plástico (nylon); crinas de animais; metais puros ou combinados (enrolados à volta de<br />
outro material). Constituem fios simples ou cabos compostos de fibras trançadas em<br />
redor de um núcleo.<br />
Elas são montadas e distendidas ao longo do corpo do instrumento, de modo que<br />
possam vibrar livremente. Várias cordas de vários diâmetros ou espessuras são usadas,<br />
dependendo do instrumento. Cada uma vibra em um tom específico, que é função do<br />
seu diâmetro e do seu comprimento. A afinação é feita com o uso de cravelhas que<br />
permitem controlar a sua tensão. Geralmente, as cordas são montadas sobre uma caixa<br />
de ressonância, que serve para amplificar o volume do som produzido. 182<br />
As cordas podem ser colocadas a vibrar por três métodos:<br />
• Por fricção com um arco<br />
• Por pinçamento<br />
• Através de percussão<br />
De acordo com a forma como as cordas são postas em vibração, os instrumentos se<br />
dividem em:<br />
a) Instrumentos de corda friccionada (ou tocadas por arco): a fricção de um arco de<br />
corda faz a corda tensa vibrar, produzindo uma nota musical rica em harmônicos. A<br />
duração da nota pode se estender muito, devido à vibração contínua provocada pela<br />
fricção. Esta forma é usada nos seguintes instrumentos: violino; viola ou violeta;<br />
violoncelo; contrabaixo; dulcimer; 183 rabeca (popular).<br />
O violino é um instrumento com quatro cordas, afinadas de quinta em quinta. De<br />
baixo para cima: SOL RÉ LÁ MI. Sua tessitura é a seguinte:<br />
182 A mudança da afinação de uma ou mais cordas é denominada scordatura.<br />
183 O dulcimer (dulce + melos, música doce) é um instrumento que se toca com arco ou com os dedos.<br />
Surgiu originariamente na Europa, a partir do instrumento alemão scheitholt, mas é mais conhecido<br />
como um instrumento das montanhas Apalaches, nos EUA.<br />
203
O seu som é produzido quando o arco fricciona a corda, enquanto os dedos da mão<br />
esquerda fazem trasto no braço. 184 A indicação do arco é dada pelos sinais:<br />
U = arco em baixo<br />
V = arco em cima<br />
O violino, geralmente, é responsável pela melodia, pelo solo, e quase sempre forma<br />
o grupo mais numeroso da orquestra. Executa-se sobre o ombro esquerdo do músico.<br />
Seu som agudo só é superado pelo flautim. Como cada grupo de instrumentos da<br />
orquestra tem um naipe que imita a voz humana, o violino possui a som do soprano.<br />
GLOSSÁRIO BREVE 185<br />
Acordes (chords): é um ataque rápido, que se consegue passando o arco sobre duas<br />
ou mais cordas, ao mesmo tempo.<br />
Collé: é um arrasto rápido do arco, para cima ou para baixo.<br />
Col legno (com o arco): significa que deve ser friccionado o lado do arco, e não o<br />
da seda (ou crina), sobre a corda.<br />
Con sordino (com surdina): o violino é tocado com um dispositivo denteado que<br />
prende as cordas por cima do cavalete, que abafa as vibrações, o que produz uma<br />
sonoridade surda.<br />
Détaché: é uma forma de tocar as notas de uma maneira destacada, de uma forma<br />
lenta.<br />
Emissão de harmônicos naturais ou artificiais: o harmônico natural é indicado<br />
pelo sinal , e o artificial, com o sinal .<br />
Martellé (martelado). É um toque arrastado, para cima e para baixo.<br />
Pizzicato (beliscado): é o toque das cordas beliscando-as com os dedos. 186<br />
Ricochét: arrastar o arco de modo saltitante, apenas para baixo.<br />
Sautillé: arrastar o arco de modo saltitante, para cima e para baixo.<br />
Staccato (destacado): tocar cada nota destacadamente.<br />
Sul ponticello (sobre o cavalete): é a passagem do arco o mais próximo possível do<br />
cavalete do instrumento, quando então obtém-se um som selvagem, com aura de<br />
mistério.<br />
Sul tasto (sobre a pestana): ao contrário do anterior, é a passagem do arco bastante<br />
próximo à pestana.<br />
Tremolo (trêmulo): é a execução de uma nota isolada com uma repetida e rápida<br />
passagem do arco pela corda, e que se indica colocando-se sobre a haste da nota um<br />
número indeterminado de linhas: .<br />
184<br />
O braço do violino não possui escala temperada, de divisões fixas. O executante procura as notas pelo<br />
ouvido, subindo ou descendo as cordas com a mão esquerda, pressionando os trastos, enquanto que, com<br />
a mão direita, ele passa o arco sobre as cordas.<br />
185<br />
O site http://www.theviolinsite.com/index.html apresenta vídeos ilustrativos sobre a execução deste<br />
instrumento musical.<br />
186<br />
Escreve-se arco, quando o intérprete tiver que voltar a esse.<br />
204
A viola ou violeta é um instrumento um pouco maior que o violino. Tem uma<br />
sonoridade mais débil. Também é executado sobre o ombro esquerdo. Suas cordas são<br />
afinadas em C, G, D, A. Tem a seguinte tessitura:<br />
A viola é o instrumento que na orquestra representa o contralto. Possui os mesmos<br />
recursos técnicos do violino. O seu timbre é bastante expressivo.<br />
As violas medievais dividiam-se em duas famílias: 1) Viole da gamba (ou viola de<br />
perna, tocadas verticalmente e seguradas no chão, entre os joelhos). São elas: violas<br />
maiores, ou tenor e baixo. O instrumentista é chamado violista. 2) Viole da braccio (ou<br />
viola de braço, tocadas verticalmente e apoiadas no queixo e nos joelhos. São elas:<br />
violas menores, ou soprano e contralto (são os violinos atuais).<br />
O violoncelo, ou cello, tem um registro mais grave que o do violino. Possui quatro<br />
cordas, afinadas em C, G, D, A. 187 Tem a seguinte tessitura:<br />
187 O ressalto que levanta as cordas, no meio do corpo do violoncelo, é denominado ponte.<br />
205
Seus recursos técnicos são os mesmos do violino e da viola. Na orquestra,<br />
representa o tenor. Tem um timbre quente, aveludado, podendo ser usado como<br />
instrumento solo, na música dramática. Devido ao seu tamanho, apóia-se no chão, por<br />
meio de um espigão de metal, e o executante segura-o entre os joelhos, estando<br />
sentado.<br />
O contrabaixo é o maior e o de tessitura mais grave dos instrumentos de arco.<br />
Possui quatro cordas, afinadas em G, D, A, E (descendentes), e a sua afinação é em<br />
quartas, ao invés de quintas. Está na oitava inferior à do violoncelo. Sua tessitura é a<br />
seguinte:<br />
O som real das notas soa uma oitava abaixo (mais grave), e o seu timbre é brusco e<br />
seco. O papel principal do contrabaixo é o de reforçar os baixos da orquestra; não é,<br />
entretanto, um instrumento ágil. Devido a suas cordas vibrarem com maior lentidão,<br />
não pode ser usado em passagens e escalas rápidas. Em razão do seu tamanho, apóia-se<br />
no solo por meio de um espigão de metal, e o executante toca-o em pé ou sentado em<br />
um banco alto.<br />
Corresponde ao registro de voz do baixo.<br />
Comparação aproximada de tamanhos (violino, viola, cello, contrabaixo):<br />
206
) Instrumentos de cordas pinçadas ou dedilhadas: neste caso, se faz vibrar as<br />
cordas por pinçamento com os dedos. As cordas se movem quando puxadas pelos<br />
dedos do executante. O uso dos dedos é comum nos seguintes instrumentos: alaúde;<br />
cítara; lira; harpa; instrumentos de arco (no pizzicato), e nos instrumentos populares:<br />
violão, viola caipira, guitarra, bandolim; banjo.<br />
Entre os instrumentos acima, somente a harpa faz parte da orquestra. Quanto ao<br />
violão, é usado apenas ocasionalmente, como instrumento solo.<br />
A harpa é formada por 47 cordas em comprimentos diferentes, esticadas dentro de<br />
uma espécie de triângulo, cada corda representando uma determinada nota. As suas<br />
cordas são tocadas por pinçamento. Possui sete pedais, um para cada nota da escala<br />
(três para o pé esquerdo e quatro para o pé direito), com os quais pode-se subir um<br />
semitom ou um tom todas as cordas ligadas ao pedal. A harpa é afinada na escala<br />
diatônica de DÓ bemol maior. A sua tessitura (que é quase igual a do piano) é a<br />
seguinte:<br />
A harpa permite dois recursos técnicos bastante característicos, que são o arpejo e<br />
o glissando. O arpejo consiste na execução das notas do acorde uma após a outra, ao<br />
invés de simultaneamente. Indica-se com o sinal colocado antes do acorde. O<br />
glissando (do francês glisser, deslizar) consiste no deslizamento ou escorregamento<br />
rápido da mão ao longo de uma corda, em direção ascendente e descendente.<br />
Por outro lado, a harpa oferece certas dificuldades nas modulações e passagens<br />
cromáticas.<br />
207
O violão é um instrumento de cordas de uma surpreendente sonoridade. 188 É,<br />
simultaneamente, um instrumento popular e eurudito, ainda que não tenha um lugar<br />
definitivo na orquestra. Possui seis cordas, afinadas ascendentemente em E, A, D, G,<br />
B, E. Sua tessitura é a seguinte:<br />
Ao contrário dos instrumentos de corda friccionada, cujos braços não possuem<br />
divisões, o violão possui um braço dividido por filetes de metal (chamados trastos), 189<br />
segundo a escala temperada, onde cada divisão corresponde a um semitom. 190 Deste<br />
modo, a nota desejada é facilmente localizada, procurando-se o trasto correspondente.<br />
As notas podem ser tocadas isoladamente (soladas, ou seja, tocando solos) e/ou<br />
formando acordes (acompanhamento).<br />
Há também o violão de sete cordas, 191 muito usado em choros e sambas, e violões<br />
de oito, dez e até doze cordas.<br />
Com um design absolutamente inovador, há também as guitarras clássicas<br />
frameworks (com seis ou sete cordas):<br />
O violão, como se disse, não faz parte da orquestra, mas é usado ocasionalmente<br />
como instrumento solista.<br />
c) Instrumentos tangidos manualmente por plectro: além dos dedos, usa-se ou a<br />
paleta ou a dedeira 192 nos seguintes instrumentos: violão, violão tenor, viola caipira,<br />
guitarra, bandolim; banjo, cavaquinho; baixolão, cítara; etc.<br />
188<br />
Costuma-se dizer, acerca do violão, que é o instrumento mais fácil de tocar mal, e o mais difícil de<br />
tocar bem.<br />
189<br />
Os instrumentos sem trastos são chamados de instrumentos fretless (informação adicional:<br />
definitivamente, o termo não é trastes).<br />
190<br />
Alguns instrumentos de corda orientais possuem uma divisão em quarto de tom, por trasto.<br />
191<br />
Em tese de doutorado, Comunicação intercultural: o choro, expressão musical brasileira, o<br />
violonista Luis Filipe de Lima afirma que "o que define o violão de sete cordas - que tem origem<br />
obscura e até hoje ainda não devidamente investigada, ligada provavelmente aos ciganos russos que se<br />
reuniam no bairro carioca do Catumbi, em meados do século XIX - não é a corda ‘a mais’, mas sim sua<br />
singular maneira de tocar; a principal característica do sete cordas é o emprego das ‘baixarias’, frases<br />
de contracanto improvisadas nos bordões e que são utilizadas no samba, no choro e em outros<br />
gêneros.” Fonte: http://cliquemusic.uol.com.br/br/home/home.asp.<br />
208
Nenhum desses instrumentos faz parte da orquestra.<br />
O baixolão (designação do instrumento Acoustic Bass Guitar) é um instrumento de<br />
quatro cordas, semelhante ao violão, capaz de soar em freqüências bem baixas (não<br />
tanto quanto o baixo acústico). Pode ser acústico ou plugado (eletrificado, com<br />
captador e pré-amplificador embutido). O violão tenor (nos EUA, triolin), é um violão<br />
de afinação semelhante ao banjo (e também ao bandolim, embora em altura diferente).<br />
Foi introduzido no Brasil pelo violonista Garoto, em 1933. O cavaquinho é um<br />
instrumento de quatro cordas, afinadas em G, D, A, E. O bandolim é um pequeno<br />
instrumento de quatro cordas, com a mesma afinação. A guitarra é um instrumento de<br />
doze cordas, que possui uma escala temperada tal qual o violão (é capaz de produzir<br />
música em várias texturas diferentes, seja um improviso melódico como um trompete<br />
ou um saxofone, seja acompanhando solistas ou fazendo a função de instrumento<br />
harmônico em um combo, ou até mesmo desempenhando arranjos e composições solo<br />
como piano ou um órgão). O banjo é constituído de um pandeiro acoplado a um braço;<br />
possui quatro cordas, afinadas como o violino. A cítara é um instrumento que possui de<br />
trinta a trinta e nove cordas, das quais quatro servem para a melodia, e o restante para o<br />
acompanhamento. O guitolão, guitarrão ou citolão (ou citolon/citolom, aumentativo<br />
depreciativo de cítola) é um tipo de guitarra portuguesa (cordofone de braço). 193<br />
Instrumentos de cordas menos conhecidos são o moonlander, uma guitarra drone 194 de<br />
18 cordas, e o moodswinger, uma cítara elétrica de 12 cordas, afinadas em quintas: E-<br />
A-D-G-C-F-A#-D#-G#-C#-F#-B.<br />
d) Instrumentos tangidos mecanicamente por plectro: no caso, o plectro é desferido<br />
mecanicamente contra a corda, fazendo-a vibrar. É usado principalmente no cravo<br />
(clavicembalo, em italiano).<br />
O cravo é um instrumento no qual o teclado aciona um mecanismo que faz com<br />
que um plectro seja desferido contra uma corda determinada. A sua extensão é de cinco<br />
192 A paleta (plectro ou palheta) é uma pequena chapa que se segura com os dedos, usada para pinçar a<br />
corda do instrumento. A dedeira é usada em volta do polegar, com o mesmo objetivo. Outra forma muito<br />
usada por violonistas é pinçar as cordas com as unhas, que se deixam crescer o suficiente.<br />
193 No artigo A NOVA MÚSICA ANTIGA, de Manuel Morais, encontrado em<br />
ttp://novamusicaantiga.blogspot.com/2005/08/9a-citolo-guitarro-ou-guitolo.html, afirma-se haver uma<br />
diferença entre o guitarrão e a guitarra portuguesa.<br />
194 Drone é um efeito harmônico ou monofônico de acompanhamento no qual a nota é soada, sustida ou<br />
repetida continuamente por toda a peça musical, ou uma parte dela. Neste última caso, ela estabelece a<br />
tonalidade na qual o resto da peça é executada. Instrumentos “drone”, muito usados na Índia, foram<br />
também usados por compositores ocidentais (Haydn, Beethoven, Bartok, etc) para criar uma sonoridade<br />
rústica ou arcaica, típica de músicas folclóricas. Instrumentos deste tipo foram/são usados por<br />
compositores contemporâneos, tais como: La Monte Young, Giacinto Scelsi, Arnold Dreiblatt, Alvin<br />
Lucier, Ellen Fullman, Loren Rush, Robert Erickson, etc.<br />
209
oitavas, a partir do FÁ. É bastante usado como instrumento de acompanhamento, sendo<br />
que a sua melhor performance está na execução de músicas barrocas. Tem um uso<br />
muito difundido em conjuntos de câmara (trio, quarteto, etc.).<br />
e) Instrumentos de corda percutida (por percussão): é o processo pelo qual uma<br />
corda é atingida por uma baqueta ou martelo. É o método usado no piano.<br />
O piano (abreviação de pianoforte) é um instrumento no qual as teclas acionam um<br />
mecanismo que golpeia ou percute as cordas, por meio de pequenos martelos forrados<br />
de feltro. As cordas são esticadas sobre uma caixa de ressonância, que lhes amplia o<br />
som. Quando se deixa de pressionar a tecla, o seu som é abafado com o uso de<br />
pequenas peças de madeira, forradas de feltro, chamadas abafadores. Estes abafadores<br />
servem para interromper a vibração das cordas que foram percutidas, quando do<br />
acionamento da tecla correspondente.<br />
Os abafadores das cordas podem ser anulados através do uso de um pedal,<br />
chamado pedal forte. Quando acionado este pedal, as cordas podem vibrar livremente<br />
(ou seja, as notas musicais soam por mais tempo).<br />
Há um outro pedal, chamado de pedal de surdina. Ele desloca os martelos para o<br />
lado, fazendo com que as cordas sejam apenas parcialmente golpeadas, com o que se<br />
obtém um som suave.<br />
Outra possibilidade técnica do piano é a sua capacidade de variar a intensidade<br />
sonora, apenas exercendo-se uma maior ou menor pressão sobre as teclas. Isto permite<br />
um matiz dinâmico impossível de conseguir no cravo.<br />
Um tipo especial de piano, o piano de cauda (Grand Piano), pode ser<br />
ocasionalmente usado como instrumento solista na orquestra, mas também não faz<br />
parte dela.<br />
O piano de cauda tem a seguinte tessitura:<br />
210
Os vários métodos de produção de sons nos instrumentos de corda podem ser<br />
usados em qualquer dos instrumentos citados. Por exemplo, pode-se tocar um um<br />
piano por pinçamento, um violão com um arco, ou um violino, por percussão. 195<br />
Toda esta diversidade de execução ressalta a riqueza sonora dos instrumentos de<br />
corda, que também oferecem a possibilidade de usar técnicas diversas capazes de<br />
enriquecer a música produzida. Tais técnicas demonstram, igualmente, a virtuosidade<br />
do instrumentista capaz de dominá-las. 196<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
• Harmônicos: é a produção de harmônicos de um som, sem a freqüência<br />
fundamental. Estes harmônicos são produzidos quando o músico coloca<br />
levemente o dedo sobre um dos nós harmônicos da corda. Isso faz anular a<br />
freqüência fundamental, e somente os harmônicos soam. Em instrumentos<br />
pinçados, isso produz um timbre cristalino; em instrumentos de arco, produz<br />
notas mais suaves.<br />
• Surdina:é o abafamento da intensidade do som produzido. Consegue-se isto<br />
usando uma peça de madeira que é colocada sob as cordas, perto do cavalete. É<br />
usado no violino, cello, contrabaixo e viola.<br />
• Glissando: é o deslizamento rápido sobre a corda enquanto ela soa, produzindo<br />
um aumento ou diminuição da freqüência, que passa por todas as notas<br />
intermediárias. Pode ser feito em qualquer instrumento com braço,<br />
preferivelmente os sem trastos.<br />
• Vibrato: é uma ligeira alteração na altura da nota. Nos instrumentos com<br />
braço, usa-se a mão que controla a altura para fazer a corda vibrar.<br />
• Trêmulo (tremolo): é o toque rápido e repetido de uma mesma corda, por<br />
pinçamento ou percussão. Em geral, é realizado com um rápido movimento de<br />
palheta. É muito usado no bandolim.<br />
• Slide (deslizar): é uma outra variação do glissando. Neste caso, usa-se um tubo<br />
de metal ou vidro envolvendo o dedo. Muito usado por guitarristas de blues.<br />
• Fret noise (ruído do trasto): é o ruído de fricção quando se desliza o dedo em<br />
cordas mais grossas dos instrumentos que possuem trastos. É uma técnica usada<br />
em violões e em baixos acústicos.<br />
• Tapping (batendo): é a batida das mãos sobre o instrumento. Como técnica<br />
jazzística (e também no rock and roll), é a batida da mão esquerda no braço do<br />
instrumento, sobre os pontos de flexão ou sobre os trastos. No samba<br />
(principalmente na bossa nova), a batida é feita com os dedos da mão direita<br />
sobre o corpo do instrumento (sobre a caixa de ressonância).<br />
• Bend (dobrar ou afrouxar): variação na altura da nota, conseguida com o uso de<br />
uma alavanca que permite movimentar o cavalete. Usado principalmente por<br />
guitarristas de rock.<br />
195 Entre os instrumentos de teclado, é conveniente citar o órgão, que é um instrumento no qual o som é<br />
produzido pela pressão do ar soprado através de fileiras de tubos (modernamente, a pressão do ar é<br />
conseguida eletricamente; no passado, usavam-se foles). Os tubos são graduados em tamanho e<br />
espessura, com o que se consegue um grande alcance ou tessitura de sons. Uma das características do<br />
órgão é que ele pode imitar o som de outros instrumentos, pelo uso de jogos de boca ou de palheta. Um<br />
tipo de órgão portátil é o acordeão (acordeon), que é considerado um instrumento de sopro mecânico,<br />
mas que também tem um teclado (há também um instrumento variante, a sanfona, que é um acordeão<br />
simplificado).<br />
196 Algumas delas já foram vistas no tópico violino, mas serão aqui repetidas.<br />
211
Os instrumentos que usam teclas também podem se chamados de intrumentos de<br />
teclado. Há quatro tipos de teclado: o teclado percussor, que inclui os seguintes<br />
instrumentos: piano, clavicórdio, celesta, clavineta; 197 o teclado pinçante, com os<br />
instrumentos: cravo e espineta; 198 o teclado de foles, com os instrumentos: órgão,<br />
acordeão, sanfona e bandoneón; 199 o teclado eletrônico, que inclui os instrumentos:<br />
sintetizadores, workstations, arranjadores e controladores.<br />
8.3.3. Instrumentos de sopro 200<br />
Nos instrumentos de sopro, o som é produzido pela vibração de uma coluna de ar<br />
em um tubo. Os instrumentos de sopro dividem-se em dois grupos: madeiras e<br />
metais. 201 Estes dois grupos dividem-se em três outros:<br />
a) Instrumentos de embocadura livre: são a flauta e o flautim (instrumentos de<br />
metal, mas de timbre puro), no qual o ar incide sobre um orifício em aresta ou bisel. 202<br />
A flauta é um instrumento tubular de madeira ou metal (ou também porcelana,<br />
plástico, resina, baquelite, níquel, prata, ouro, etc.) com uma série de furos ou orifícios,<br />
que pode ter ou não uma cabeça na saída do som. O bocal (ou embocadura) onde se<br />
produz o sopro pode ser na ponta ou na parte lateral.<br />
Há dois tipos de flauta:<br />
• A flauta fechada (closed flute), em que a corrente de ar flui diretamente pelo<br />
seu interior.É constituída por um corpo cilíndrico e uma cabeça parabólica.<br />
Inclui a flauta de bico (wistle flute), na qual se sopra o ar pela ponta em bico, e<br />
a flauta doce (recorder flute).<br />
197<br />
A clavineta (Clavinet Hohner) é um instrumento derivado do Cembalet (que é uma espécie de piano<br />
elétrico). É um instrumento eletro-mecânico, com 60 cordas internas.<br />
198<br />
A espineta é um pequeno cravo; é um instrumento barroco, de cordas pinçadas.<br />
199<br />
O bandoneón, ou concertina, é um instrumento musical de palhetas livres (aerófono), mais<br />
semelhante à sanfona do que ao acordeão.<br />
200<br />
Wind instruments.<br />
201<br />
Ou brass e woodwind. Esta divisão, para ser mais técnica, deveria ser: instrumentos de timbre puro<br />
(com poucos ou nenhum harmônico), correspondentes aproximados dos sons emitidos instrumentos de<br />
madeira; e instrumentos de timbre complexo (com vários harmônicos), correspondentes aproximados<br />
dos sons emitidos por instrumentos metálicos. Na realidade, alguns instrumentos classificados como<br />
madeira (como a flauta, p. ex.), são atualmente construídos de metal (prata, p. ex.).<br />
202<br />
Entre os vários tipos de flauta, existem: a flauta de tamborileiro, ou pífaro, que é uma flauta de três<br />
furos, e a ocarina, que é uma flauta globular de bisel. Talvez o tipo mais antigo de flauta seja o aulos,<br />
que era usada na antiga Grécia.<br />
212
• A flauta aberta (open flute), nas quais o intérprete usa seus lábios para formar a<br />
corrente de ar que vai lateralmente para a borda interna do instrumento (é a<br />
flauta travessa, flauta transversal ou flauta de sopro lateral). Tem corpo<br />
cilíndrico, de metal, com seis ou sete orifícios, sem cabeça.<br />
É um instrumento extremamente ágil, comparável ao violino. É afinada em DÓ, e<br />
tem a seguinte tessitura:<br />
O tipo mais comum de flauta é a chamada flauta doce, de bico (geralmente, feita de<br />
madeira ou plástico).<br />
O flautim tem aproximadamente a metade do comprimento da flauta, e sua altura<br />
de som é uma oitava mais aguda. Suas notas, contudo, escrevem-se uma oitava abaixo<br />
do real, para evitar o uso desnecessário de linhas suplementares. Possui um som<br />
límpido e brilhante, usado para descrever cenas movimentadas ou fantásticas. 203<br />
Há também a chamada Flauta de Pan, constituída de vários tubos paralelos de<br />
comprimentos variados.<br />
Um tipo singular de instrumento que combina sopro com teclado é a escaleta,<br />
também conhecida como flauta de pastor.<br />
b) Instrumentos de palheta: alguns instrumentos possuem uma ou duas lâminas,<br />
chamadas palhetas, colocadas no bocal. Podem ser:<br />
203 O flautim também é conhecido como piccolo.<br />
213
1) Com uma palheta ou instrumentos de palheta simples: 204 clarinete (clarineta) e<br />
saxofone. 205 A palheta única provoca as vibrações da coluna de ar no interior do tubo.<br />
O clarinete é um tubo feito de madeira (ébano ou ebonite) ou metal, com um bocal<br />
cônico e com chaves (botões metálicos) que servem para tapar os orifícios que os<br />
dedos não alcançam. Tem um timbre puro, e possui quatro registros: grave; médio;<br />
agudo; superagudo.<br />
É um dos instrumentos de sopro de maior agilidade, cuja ampla tessitura permite<br />
arpejos eficazes. Há três tipos de clarinete quanto ao tipo de afinação: em DÓ; em SI<br />
bemol; em LÁ. Os mais utilizados atualmente são os dois últimos.<br />
É um instrumento transpositor. Possui uma rica sonoridade, com um timbre algo<br />
sombrio, na oitava mais grave (cujo registro é chamado de charamella). Já os agudos<br />
são bastante expressivos. É um instrumento indispensável em orquestras, bandas, etc.<br />
Uma das suas variações é o clarinete baixo, com tons mais graves, o qual é afinado<br />
em SI bemol e soa uma nona mais baixo que a sua notação na partitura. 206 As tessituras<br />
do clarinete são as seguintes:<br />
O saxofone é um instrumento de metal (geralmente, dourado), com um timbre que<br />
o situa entre os instrumentos de madeira e os de metal (vale dizer, com um timbre já<br />
algo complexo, o que significa que possui vários harmônicos). Há sete tipos de<br />
saxofone, mais os mais usados são: soprano; alto; tenor; baixo. É geralmente utilizado<br />
como solista. É um dos principais instrumentos do jazz clássico, bem como das bandas<br />
militares. 207<br />
204 Single-reed instruments.<br />
205 Existem também: a) a gaita (harmônica de boca), cujo som é produzido por palhetas livres, que são<br />
sopradas. É bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Existem também as chamadas<br />
Orquestras de Harmônicas, compostas somente de gaitas; b) a gaita-de-foles (gaita escocesa, piob mhor<br />
ou great highlands bagpipes), muito usada em regimentos militares escoceses.<br />
206 Existe também um pequeno clarinete afinado em MI bemol (uma quarta mais alto que a em SI<br />
bemol), conhecido como requinta. Um outro tipo, mais grave, é conhecido como clarone.<br />
207 O saxofone permite a emissão dos chamados superagudos ou harmônicos, que são notas que estão<br />
fora de sua extensão natural. Esta emissão se consegue pela combinação de algumas posições.<br />
214
2) Com duas palhetas. Neste caso, elas vibram uma contra a outra. Os<br />
instrumentos de palheta dupla 208 são: oboé; corne-inglês; fagote; contrafagote. São<br />
instrumentos de timbre puro.<br />
O oboé é um instrumento de formato cônico, feito de madeira (mais comumente)<br />
ou plástico. O som do oboé é áspero e nasalado, e seu timbre soa com um caráter<br />
bucólico e pastoril. Possui pequena extensão de sons, mas uma maior variedade de<br />
timbres. Não depende de regulagem para afinação, e por isso, a sua nota LÁ serve<br />
como padrão de afinação para todos os instrumentos da orquestra.<br />
Tem sido usado frequentemente como instumento solista. Por ser capaz de produzir<br />
efeitos matizados, tornou-se o instrumento preferido dos compositores clássicos. Sua<br />
tessitura é a seguinte:<br />
O corne-inglês é um instrumento de madeira, na verdade um oboé-contralto, com<br />
um tubo mais largo e comprido, que soa uma quinta abaixo do oboé (sendo, por isso,<br />
usado como baixo do grupo dos oboés). É um instrumento transpositor; sendo assim, a<br />
sua partitura é escrita uma quinta mais alta que o som real. Tem uma sonoridade<br />
comovente, melancólica e saudosista. A sua tessitura é a seguinte:<br />
208 Double-reed instruments.<br />
215
O fagote é um instrumento de tubo cônico, dobrado em si mesmo devido ao seu<br />
comprimento. Tem a função do violoncelo, dentre os instrumentos de madeira. A sua<br />
sonoridade tem grande força de expressão: sombrio e dramático nos tons baixos, ou<br />
cômico e burlesco, nas notas mais altas. Não é um instrumento transpositor; as oitavas<br />
graves são escritas na clave de FÁ, enquanto que as oitavas agudas são escritas na<br />
clave de DÓ, quarta linha. Tem a seguinte tessitura:<br />
O contrafagote tem um tom mais baixo que o fagote, sendo por isto considerado o<br />
contrabaixo dos instrumentos de madeira. Ele soa uma oitava mais grave do que a<br />
partitura escrita.<br />
c) Instrumentos de bocal ou embocadura: trompa; trompete; trombone; tuba. 209<br />
Estes instrumentos são de metal, com um timbre complexo (o que lhes dá um som<br />
metálico).<br />
A trompa é formada por um tubo enrolado em si mesmo, que termina em um<br />
pavilhão aberto, ou campânula. 210 Possui um mecanismo de pistões que lhe permite<br />
emitir quase toda a escala cromática. A produção dos sons é controlada pelos lábios do<br />
executante, os quais, quando comprimidos contra o bocal, atuam como palheta dupla.<br />
A trompa é um instrumento transpositor, e é afinada em FÁ ou em DÓ. Tem a<br />
seguinte tessitura:<br />
209 Existe também a corneta ou clarim, que é um instrumento cilíndrico enrolado em si mesmo e com<br />
bocal largo (campânula), muito utilizado nas Forças Armadas.<br />
210 Sob o ponto de vista físico-acústico, é extremamente difícil calcular teoricamente a freqüência<br />
emitida por instrumentos formados por cilindros que terminam em tubos que se alargam (a campânula).<br />
216
A coloração tonal da trompa é rica e expressiva, podendo emitir desde sons doces e<br />
suaves até sons ásperos e secos. Entre os recursos técnicos que lhe modificam o timbre,<br />
tem-se a surdina (indica-se com o sinal + sobre a nota que se pretende modificar) e o<br />
abafador, que é uma alteração conseguida com a introdução da mão na campânula.<br />
Comprimindo-se com bastante pressão os lábios contra o bocal, obtém-se um som<br />
duro, metálico, denominado cuivré.<br />
O trompete (trombeta ou pistom) é um tubo cilíndrico enrolado, que termina em<br />
uma seção cônica com uma campânula, tendo o bocal em forma de taça. Também<br />
possui um mecanismo de pistões, que lhe dão capacidade cromática. 211<br />
É geralmente afinado em DÓ, SI bemol ou LÁ, sendo um instrumento transpositor<br />
nestas duas últimas. É considerado o soprano dos instrumentos de metal. É um<br />
instrumento ágil (exceto nas passagens muito rápidas), exigindo boa técnica<br />
respiratória do executante. Tem um som muito estridente, e a sua tessitura é a seguinte:<br />
O trombone é formado por um tubo cilíndrico dobrado sobre si mesmo, com uma<br />
vara corrediça que desliza ao longo do tubo, como um êmbolo, o que permite variar o<br />
comprimento da coluna de ar. Tem uma sonoridade nobre e potente, mas também pode<br />
ser doce. Os tipos mais usados são: trombone tenor, em SI bemol; trombone baixo, em<br />
SOL. Não é um instrumento transpositor. Suas notas, assim como no violino, devem<br />
211 Um outro tipo de trompete é o flugelhorne (flügelhorn ou filiscorno). É um trompete com um timbre<br />
diferenciado, mais suave, com afinação em SI bemol. Seu tubo é mais estreito, e a campânula, mais<br />
larga. É muito usado por músicos de jazz. Alguns outros tipos de instrumentos de sopro: saxhorn, que é<br />
um instrumento parecido com a trompa; bombarda, que é antecessor do fagote; bombardino (euphonium<br />
ou eufônio), parente da trompa e da tuba.<br />
217
ser procuradas de ouvido, pois não possuem posições marcadas. Não é um instrumento<br />
solista, na orquestra. Possui a seguinte tessitura:<br />
A tuba é o maior instrumento de sopro e o de som mais grave e profundo. Seu<br />
mecanismo de pistões lhe permitem executar toda a escala cromática. O tipo mais<br />
usado é a tuba baixo ou saxofone contrabaixo, que se usa para reforçar o baixo. Não é<br />
um instrumento transpositor. É escrito na clave de FÁ, e tem a seguinte tessitura:<br />
8.3.4 Instrumentos de percussão 212<br />
Instrumentos de percussão são todos aqueles nos quais o som é produzido por<br />
batidas, isto é, quando percutidos pelo executante. A percussão pode se dar com as<br />
mãos, com baquetas de madeira, varetas de metal, macetas, etc. São instrumentos<br />
rítmicos, ou seja, conduzem o ritmo musical. Dividem-se em dois grupos: os<br />
instrumentos com som de altura determinada (tímbales ou tímpanos) e os instrumentos<br />
com som de altura indeterminada (caixa, bombo, pratos, triângulo, pandeiros ou<br />
pandeiretas).<br />
212 Percussion instruments.<br />
218
Os timbales são formados por uma caixa semi-esférica de cobre, com a parte<br />
superior revestida de uma membrana de plástico ou couro, esticada. São colocados em<br />
suportes no chão, ou em tripés. Podem ser afinados com exatidão, inclusive durante a<br />
execução (o que se consegue com pedais), com notas de altura determinada. São<br />
usados em dois (um par) ou mais, juntos. 213 Com um par, usa-se um para as notas<br />
graves e o outro para as notas agudas. São percutidos com baquetas de madeira.<br />
Possuem a seguinte tessitura (um par):<br />
Um dos recursos técnicos dos tímbales é o trêmulo (indica-se com o sinal<br />
sobre a nota), que é a execução rápida de uma mesma nota.<br />
A caixa é um pequeno tambor, tendo de cada lado uma membrana de plástico ou<br />
couro esticada, sendo que sobre a membrana inferior existem cordas (denominadas<br />
bordões), que lhe dão um som característico, mas indefinido. É percutido com baquetas<br />
de madeira, na membrana superior. A sua notação, que apenas indica o ritmo, é escrita<br />
na clave de SOL, na linha correspondente à nota DÓ.<br />
O bombo é um tambor grande, com uma membrana de plástico ou couro esticada<br />
de cada lado. A percussão desta membrana com uma maceta 214 provoca um som grave<br />
e indefinido. A sua notação, também rítmica, é escrita na clave de FÁ, no espaço<br />
correspondente à nota DÓ.<br />
213 O timbale ou tímpano pode produzir notas de alturas diferentes. Há no máximo quatro tímpanos de<br />
diferentes larguras, cada um com uma extensão de notas diferentes. É percutido através de duas baquetas<br />
com cabeça de feltro.<br />
214 A caixa-clara, ou tambor de guerra, é um tambor grande e estreito que se leva pendurado ao ombro<br />
através de um suporte, ou colocado sobre um tripé. É muito usado em bandas (civis e militares) e<br />
fanfarras. É percutido em um ou ambos os lados, com pesadas baquetas de madeira.<br />
219
Pratos ou címbalos (chimbal) são instrumentos de percussão formados por dois<br />
discos de metal, algo côncavos. Quanto mais grossos são os pratos, mais agudo o seu<br />
som; quanto maior o seu diâmetro; mais grave será a sua sonoridade. O seu som tem<br />
uma altura indefinida, e é conseguido batendo-se um contra o outro, ou por percussão,<br />
individualmente, com baquetas de madeira. Sua notação é escrita na clave de FÁ, e<br />
podem ter as seguintes indicações: laisser vibrar (deixar vibrar), que significa que os<br />
pratos são deixados a vibrar até que o som desapareça, e séc (seco), que significa que o<br />
som deve ser abafado, logo em seguida à percussão.<br />
O triângulo é uma vara de aço dobrada em forma triangular, tendo um dos vértices<br />
aberto. É tocado com uma vareta ou martelo de aço ou ferro, por percussão. Produz um<br />
som de altura indefinida, mas muito claro e penetrante, claramente audível mesmo nos<br />
movimentos mais dinâmicos, quando o som da orquestra atinge o seu auge. É usado<br />
quando se pretende obter efeitos especiais de som. A sua notação é escrita em clave de<br />
SOL, em uma só linha, ao lado da qual se escreve o seu nome.<br />
O pandeiro, ou pandeireta, é uma espécie de pequeno tambor, com apenas um lado<br />
coberto por uma membrana de couro ou plástico esticada sobre um arco circular, onde<br />
se encontram inseridos pequenos discos de metal, denominados guizos ou soalhas. Ele<br />
pode ser percutido ou agitado com a mão, produzindo um som tilintante. Sua notação é<br />
em clave de SOL, na linha correspondente à nota SOL, ou em uma só linha.<br />
220
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Bateria: Equipamento musical formado por cinco tambores: um bumbo, um surdo,<br />
uma caixa (ou tarola), dois tom-toms (tímbales), um chimbal e dois pratos de ataque.<br />
Outros componentes são o prato de condução (ride) e o bloco sonoro (crash). 215<br />
Bloco: é um cilindro, tubo, esfera, ovóide ou caixinha, de madeira ou plástico, ocos<br />
e/ou com rasgos laterais, em cinco ou mais tamanhos, sobre os quais se bate com<br />
baquetas duras de madeira.<br />
Carrilhão de orquestra (sinos de orquestra); é formado por tubos ocos de<br />
diferentes tamanhos e espessuras, pendurados paralelamente ou em grupos em um<br />
suporte, e que soam a diferentes alturas quando percutidos. Isto se faz usando pequenos<br />
martelos, geralmente com cabeça de plástico, na extremidade superior do carrilhão.<br />
Castanholas: são pequenas peças de madeira (duas, em forma de castanha),<br />
côncavas de um lado, e que, na mão, se batem uma contra a outra, produzindo assim<br />
um som rítmico forte e característico.<br />
Celesta: é um instrumento de teclado semelhante ao piano, que se toca como ele.<br />
Glockenspiel (carrilhão): é um instrumento formado de cerca de trinta placas de<br />
metal de tamanhos variados, colocadas lado a lado, em duas fileiras, cada uma soando<br />
em uma nota diferente. Sua percussão é realizada através de uma baqueta rígida.<br />
Gongo (tantã): é um enorme disco de metal que se pendura em uma barra circular<br />
de ferro ou em uma estrutura de madeira, e que é percutido com uma maça pesada.<br />
Produz um som forte e intenso.<br />
Matraca (chicote): é uma tábua à qual são presas peças móveis de metal. Quando<br />
agitada, produz vários estalos sucessivos.<br />
Tarol: é o menor tambor da orquestra. É como a caixa clara, com a metade do seu<br />
tamanho e mais fina, mas de som semelhante. É tocado com duas baquetas.<br />
Xilofone: é semelhante ao glockenspiel, mas as suas placas são de madeira, que se<br />
colocam sobre uma caixa de ressonância. Também são percutidas com uma baqueta de<br />
madeira.<br />
Há uma grande quantidade de instrumentos populares, que foram utilizados ao longo<br />
dos séculos pelas diversas sociedades, em todo o mundo. 216 Modernamente, eles são<br />
conhecidos pelo nome de instrumentos folclóricos, que são aqueles instrumentos<br />
utilizados nas diversas manifestações musicais populares, sem que façam parte da<br />
orquestra. O Brasil oferece uma rica variedade de instrumentos populares e folclóricos.<br />
Entre outros, podem ser citados: 1) instrumentos usados em baterias de escolas de<br />
samba: surdo; repique; caixa; tamborim; chocalho; ganzá; cuíca; agogô; reco-reco;<br />
pandeiro; prato; apito. 2) instrumentos usados em orquestra de maracatu: gongué; tarol;<br />
caixa-de-guerra; alfaia. 3) outros instrumentos: berimbau; rebolo cônico de madeira;<br />
zabumba de madeira; afuchê; platinela circular dupla; bongô, etc.<br />
215<br />
A bateria é muito utilizada em pequenos conjuntos musicais, nos gêneros rock, pop, jazz, etc. Não é<br />
um instrumento de orquestra.<br />
216<br />
Em 1978, na China central, em uma tumba próxima ao rio Yangsté, foram desenterrados 124<br />
instrumentos musicais antigos, 64 dos quais eram carrilhões de bronze. Calcula-se que são do período<br />
chamado Período dos Reinos Combatentes, que existiu entre 475 e 221 a.C.<br />
221
GLOSSÁRIO BREVE (TRILÍNGÜE)<br />
Português Inglês Italiano<br />
bombo bass drum gran cassa<br />
carrilhão glockenspiel campanette,<br />
222<br />
campanelli<br />
carrilhão de tubular bells campane,<br />
orquestra, sinos<br />
campanelle<br />
clarinete clarinet clarinetto<br />
clarinete baixo bass clarinet clarinetto basso<br />
contrabaixo double bass contrabasso<br />
contrafagote double bassoon contrafagotto<br />
corne-inglês cor anglais corno inglese<br />
fagote bassoon fagotto<br />
flauta flute flauto<br />
flautim piccolo flauto piccolo<br />
harpa harp arpa<br />
oboé oboe oboe<br />
pandeiro tambourine tamburino,<br />
tamburo basco<br />
pratos cymbals piatti, cinelli<br />
tímpanos kettle drums timpani<br />
triângulo triangle triangolo<br />
trompa horn corno<br />
trompete trumpet tromba<br />
viola viola viola<br />
violino violin violino<br />
violoncelo cello violoncello<br />
xilofone xylophone silofono<br />
8.4 A orquestra – sinopse da evolução histórica<br />
A palavra orquestra surgiu do grego orkhesta, que era, na Grécia antiga (por volta<br />
do século V a.C.), o local mais próximo ao público, dentro do palco. Deriva do verbo<br />
orkhestai – dançar.<br />
Em razão de a Igreja Católica ter proibido os instrumentos em suas cerimônias<br />
religiosas, por considerá-los pagãos, estes só eram usados nas festas populares e<br />
profanas, utilizados por trovadores (troubadours) e jograis.<br />
Na baixa Idade Média, a música religiosa desenvolveu-se em várias vozes, em uma<br />
polifonia coral cada vez mais complexa que não admitia o uso de instrumentos, sempre<br />
em canto a capela.<br />
Curiosamente, foi a criação da ópera, em 1597, que levou à necessidade de usar<br />
instrumentos em conjunto. A ópera, que tentava simular as tragédias gregas,<br />
necessitava de um acompanhamento musical para os recitativos ou declamações que se<br />
faziam no palco. Mas isso acabou também com a polifonia vocal. Na ópera, os<br />
instrumento musicais, que deviam apenas acompanhar o cantor, fornecendo a<br />
harmonia, ao fazê-lo, forçaram a volta à homofonia 217 ou monodia. Foi quando surgiu<br />
217 Homofonia: significa música ou canto em uníssono. Designa-se heterofonia a prática de executar em<br />
várias partes a mesma melodia.
também o basso continuo (baixo contínuo), ou acordes em baixo-contínuo, que se<br />
notavam (na partitura) em forma de linguagem cifrada. O canto monódico e o baixocontínuo<br />
foram os elementos básicos da música barroca, na qual Claudio Monteverde<br />
(ou Monteverdi, 1567-1643) foi quem mais se destacou.<br />
A orquestra, como um conjunto ordenado e integrado de instrumentistas<br />
executando harmoniosa e concatenadamente uma obra musical, surgiu na ópera Orfeu<br />
(1607), de Monteverde. Nesta, ele revolucionou as concepções musicais vigentes, pela<br />
intensa utilização de instrumentos musicais (principalmente de cordas 218 ), que serviam<br />
para acompanhar os solistas no palco.<br />
O florentino naturalizado francês, Jean-Baptiste Lully (Giovanni Batista Lulli,<br />
1632-1687) acrescentou aos instrumentos utilizados por Monteverde um pequeno<br />
grupo de instrumentos de sopro, e usava a orquestra para fazer executar uma abertura<br />
às óperas, abertura esta denominada ouverture française, a qual era composta de uma<br />
introdução lenta e majestosa, um rápido movimento e um final ou desfecho lento. Sua<br />
orquestra era constituída por doze instrumentos de corda, doze de sopro e um par de<br />
tímpanos, utilizados como instrumentos de percussão.<br />
No período a seguir, três grandes compositores influem consideravelmente na<br />
evolução da orquestra: Jean-Philippe Rameau (1683-1764) na França, Johann<br />
Sebastian Bach (1685-1750) na Alemanha e Georg Friedrich Händel (1685-1759) na<br />
Inglaterra. 219 Este último, além de adicionar-lhes as harpas, tambores, carrilhões e<br />
trompas, experimentou também novos instrumentos, como a viola marinha e o<br />
contrafagote; além disso, explorou o caráter expressivo dos violoncelos e o caráter<br />
fantástico dos fagotes. Por último, dividiu os violinos em cinco grupos.<br />
Durante o século XVII, as cordas tornaram-se o núcleo ao qual se juntava flautas<br />
doces, obóes, fagotes, e algumas vezes, trompas e trompetes. O cravo era o<br />
instrumento que preenchia as harmonias e dava unidade ao conjunto.<br />
Em seguida, os nomes principais são Christoph Willibald Gluck (1714-1787),<br />
Joseph Haydn (1732-1809) e Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). O primeiro<br />
introduziu o trombone, novos instrumentos de percussão, suprimiu o alaúde e o<br />
clavicórdio, e pesquisou os sons do oboé. Haydn fez ressaltar os instrumentos de corda<br />
e utilizou a surdina nos violinos e nos trompetes. Mozart, além de explorar o clarinete<br />
(recém inventado), fez da harmonia um dos pontos básicos de suas obras. Por esta<br />
época, a orquestra contava com os seguintes instrumentos: 10 primeiros violinos, 10<br />
segundos violinos, quatro violas, quatro violoncelos, dois contrabaixos, duas flautas,<br />
dois oboés, quatro trompas, dois fagotes, dois trompetes, três clarinetes, um órgão e<br />
vários tímpanos. No final do século XVIII o cravo caiu em desuso, e as madeiras<br />
passaram a ser usadas aos pares. Nesta época tomou forma a denominada orquestra<br />
clássica, cuja composição instrumental foi utilizada por Ludwig van Beethoven (1770-<br />
1827) e Franz Peter Schubert (1797-1828).<br />
Na verdade, com Beethoven a formação da orquestra sofreu grande mudança. Entre<br />
as novas concepções que ele idealizou, destacam-se: a introdução do trombone, no<br />
concerto; a utilização de pratos, bombo e triângulo; a divisão dos violoncelos em duas<br />
partes, e das violas em três ou quatro partes; a utilização dos tímpanos para acentuar o<br />
ritmo musical. Tal como foi constituída por ele, a orquestra tornou-se essencialmente<br />
218<br />
A orquestra de Monteverde, pela grande quantidade de instrumentos de corda, era chamada de<br />
guitarra enorme.<br />
219<br />
Ainda que tenha nascido em Halle an der Saale, norte da Alemanha, Händel (Haendel), foi para a<br />
Inglaterra em 1710 (ou 1711), onde conheceu a fama e realizou as suas melhores obras. Neste país, criou<br />
e dirigiu, por incumbência real, a Royal Academy of Music.<br />
223
omântica, e como tal foi considerada o instrumento perfeito para os compositores que<br />
se seguiram.<br />
A partir de Schubert, Jacob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) e<br />
Gioacchino Antonio Rossini (1792-1868), os instrumentos de metal e bateria<br />
assumiram grande importância na orquestra, sendo também usados extensamente os<br />
trompetes de pistão, clarinetes-baixo, saxhornes e as tubas.<br />
O período seguinte caracterizou-se pelo gigantismo das orquestras, nas quais se<br />
buscava efeitos de massa. Louis Hector Berlioz (1803-1869) foi o grande expoente<br />
desta tendência. Também com ele a orquestra se definiu e se fixou.<br />
Ao longo do século XIX, os trombones, que antes eram usados apenas em música<br />
sacra e óperas, vieram para dentro da orquestra. O número de instrumento de madeira e<br />
metal aumentou, definindo os naipes.<br />
A única mudança que veio em seguida ocorreu com Richard Wagner (1813-1883),<br />
que a ocultou do público. Ele também passou a utilizar mais as expressões sonoras dos<br />
instrumentos de metal, inclusive mandando que se fabricassem outros, conforme as<br />
suas especificações.<br />
No movimento impressionista, ou reação impressionista, buscou-se a<br />
individualização dos grupos instrumentais (naipes orquestrais), dando às cordas, muitas<br />
vezes, apenas o papel de acompanhamento.<br />
Ao final do século XIX a orquestra aumentou ainda mais, aumentando o número de<br />
instrumentos de madeira e metal. Entretanto, por volta de 1910 começaram a surgir<br />
obras que exigiam orquestras menores.<br />
Foi principalmente com Igor Fiodorvitch Stravinsky (1882-1971) que mudou a<br />
concepção da orquestra clássica, pelo realce que ele deu aos instrumentos de sopro e<br />
percussão. O esquema utilizado em sua obra, Sagração da Primavera, tornou-se<br />
praticamente uma formação clássica de orquestra. 220<br />
8.4.1 A estrutura da orquestra moderna<br />
A orquestra moderna, denominada sinfônica ou filarmônica, 221 não possui um<br />
número fixo de instrumentos; geralmente, é composta por cerca de 100 instrumentos,<br />
sendo aproximadamente uns 60 de corda, 15 de madeira, uns 12 ou 13 de metal e<br />
outros 10 ou 12 de percussão. É formada pelos seguintes grupos: nos instrumentos de<br />
corda, 30 violinos, sudivididos em grupos de primeiros e segundos violinos; 222 10<br />
violas, 10 violoncelos e de quatro a oito contrabaixos. Os instrumentos de madeira são<br />
encontrados aos pares, havendo duas flautas (uma alternando com o flautim), dois<br />
oboés (um alternando com o corne-inglês), dois clarinetes e dois fagotes. Quanto aos<br />
instrumentos de metal, são geralmente: duas trombetas, duas a quatro trompas, três<br />
trombones e uma tuba.<br />
A orquestra moderna é constituída, geralmente, dos seguintes instrumentos:<br />
220 A formação orquestral era a seguinte: cinco flautas; cinco oboés; cinco clarinetes; cinco fagotes;<br />
cinco trompas; cinco trompetes; três trombones; duas tubas; quatro tímpanos; mais a bateria, os violinos,<br />
violas, violoncelos e contrabaixos.<br />
221 A orquestra filarmônica (que é uma orquestra sinfônica: o nome sinfônica diz respeito ao fato de<br />
vários músicos tocarem harmoniosamente em conjunto) tem esse nome por ser mantida ou pelos<br />
próprios músicos, ou por uma entidade ou sociedade beneficente privada, ou por um patrono.<br />
222 Uma atenção especial é dada ao chamado primeiro-violino (spalla). É o violinista que fica do lado<br />
esquerdo do maestro. É o último a entrar no palco, e, antes de se sentar, comanda a afinação geral da<br />
orquestra, antes da apresentação (neste momento, ele faz um sinal para o primeiro oboísta da orquestra,<br />
para que este emita a nota LÁ de afinação). Algumas orquestras podem ter mais de um spalla.<br />
224
O número de instrumentos e a disposição geral dos instrumentos da orquestra<br />
variaram muito ao longo dos séculos, sendo uma disposição mais aceita, atualmente, a<br />
seguinte:<br />
De uma forma mais gráfica:<br />
225
O pódium é o lugar onde fica o regente ou maestro da orquestra. A disposição dos<br />
naipes (famílias de instrumentos: cordas; madeira; metais; percussão) no palco, na<br />
atualidade, fixou-se na posição mostrada acima.<br />
O número de instrumentos, por outro lado, não é fixo, Os primeiros-violinos<br />
variam entre 14 e 16 instrumentos; os segundos-violinos, 223 entre 12 e 14; as violas,<br />
entre oito e doze; os violoncelos, entre oito e dez; e os contrabaixos, entre seis e oito<br />
instrumentos; quatro a cinco tímpanos; uma ou duas harpas.<br />
As orquestras mais completas usam, além dos instrumentos já citados: quatro<br />
trompas; três trompetes; três trombones; uma tuba; um clarinete baixo; dois clarinetes;<br />
um flautim; duas flautas; dois fagotes; um contrafagote; dois oboés; um corne-inglês.<br />
Por fim, os instrumentos de percussão: carrilhão; sinos de orquestra; gongo; triângulo;<br />
tímpano; pratos; etc.<br />
8.4.2 A figura e a função do regente 224<br />
As primeira orquestras não possuíam regente; os instrumentistas se reuniam quase<br />
sempre ao redor do cravo, de um piano ou de um violino. Somente por volta de 1800<br />
foi que surgiu a figura do regente, que tinha a função de conduzir a orquestra, 225 o que<br />
fazia com uma batuta, o que perdura até hoje. Na verdade, é praticamente impossível<br />
fazer com que a enorme quantidade de instrumentos da orquestra se conduzam em<br />
conjunto, sem esta regência.<br />
Regente, maestro, diretor-de-orquestra ou chefe-de-orquestra é o músico que não<br />
só dirige a orquestra, mas também conduz os seus ensaios, buscando a melhor<br />
interpretação da peça musical. 226 O regente busca interpretar a música escrita na<br />
partitura, (às vezes seguindo diretrizes personalíssimas), procurando ser o mais fiel à<br />
obra do compositor. Cabe também a ele realizar a harmonização (arranjos) de peças<br />
musicais, ou mesmo elaborar a partitura.<br />
Durante a regência, é função do maestro manter o equilíbrio dos instrumentos,<br />
evitando que aqueles de sons potentes interfiram com os de sons suaves. É também sua<br />
função indicar a entrada dos diversos grupos de instrumentos (entradas e cortes), bem<br />
223 A altura das notas dos primeiros-violinos é sempre mais alta que a dos segundos-violinos.<br />
224 Veja-se o site http://thinkingapplied.com/conducting_folder/conducting1.htm, para artigos de Lee<br />
Humphries sobre regência. Veja-se também Técnicas de Arranjo e Orquestração, no site<br />
http://www.nics.unicamp.br/jonatas/aulas/arranjo/index.html. Igualmente, o artigo Conducting, em<br />
http://en.wikipedia.org/wiki/Conducting. Um artigo interessante (The Music Conductor) pode ser<br />
encontrado em http://www.buzzle.com/editorials/3-2-2005-66502.asp.<br />
225 A regência pode ser de: orquestras (sinfônicas, filarmônicas, de óperas, de concertos, de balés, de<br />
dança, etc.), de conjuntos de câmara; de corais.<br />
226 Cabe igualmente, ao regente, controlar a afinação dos diversos instrumentos musicais.<br />
226
como marcar os tempos e os compassos, controlar a dinâmica, o andamento, o<br />
equilíbrio, marcar o fraseado, controlar as diversas articulações, etc. 227<br />
As suas indicações devem ser feitas com clareza, por gestos com a mão direita ou<br />
com a batuta, ao mesmo tempo em que indica a expressão musical desejada (a<br />
dinâmica) com a mão esquerda.<br />
Por todas estas atividades e exigências, percebe-se que a regência de uma orquestra<br />
exige uma combinação de sensibilidade, comunicação perfeita com os músicos e com o<br />
público, bem como um perfeito conhecimento da obra executada.<br />
8.4.3 A partitura musical<br />
Denomina-se partitura à representação gráfica da música que é executada por um<br />
ou mais instrumentos, por uma voz ou por um coro de vozes, ou por uma combinação<br />
destes. 228 Na partitura, os instrumentos são indicados de cima para baixo, e sua<br />
indicação é feita assim (ordem dos naipes): madeira; metais; percussão; cordas.<br />
Uma ordenação comum de partitura é a seguinte:<br />
227 Em algumas regências, como a de música Barroca, o regente deve procurar a melhor localização<br />
espacial para execuções alternadas entre concertino e ripieno.<br />
228 A leitura da partitura corre paralelamente à audição constante dos sons dos vários instrumentos<br />
musicais (de suas notas e acordes), que devem ser memorizados, bem como da audição de obras<br />
musicais orquestradas.<br />
227
O caso mais simples é a partitura para um só instrumento. Com dois instrumentos,<br />
um pode executar o solo, enquanto o outro faz o acompanhamento. Neste caso, cada<br />
um tem a sua própria partitura. Quando há muitos instrumentos, como é o caso da<br />
orquestra, eles são ordenados em partes sobrepostas, na partitura do regente, cada um<br />
recebendo a sua própria parte. Aplica-se o mesmo se a interpretação é vocal.<br />
Uma outra composição comum da partitura é essa:<br />
• madeiras (flautim; flautas; oboés; clarinetes em SI bemol; fagotes);<br />
• metais (trompas em FÁ; trompetes em FÁ; trombones tenor; trombone<br />
baixo e tuba);<br />
• percussões (tímpanos; triângulo; címbalos; bombo);<br />
• cordas (1 os . violinos; 2 os . violinos; violas; violoncelos; contrabaixos).<br />
Algumas vezes, o contrabaixo compartilha a pauta do violoncelo; neste caso,<br />
escreve-se ao lado: violoncelo e contrabasso. Se houver um instrumento solista, este<br />
entra antes das cordas (sua colocação no exemplo dado seria entre os tímbales e os<br />
primeiros violinos). Se houver a harpa, ela vem entre a percussão e as cordas. Também<br />
as vozes (o coro), se houver, vem logo acima das cordas.<br />
A disposição do coro, na partitura, é a seguinte (de cima para baixo):<br />
Adiantando algo do que será dito no próximo capítulo, as formas musicais clássicas<br />
(que tem origem no período clássico da música – vide Capítulo XI) possuem uma<br />
estrutura repetitiva, onde um tema melódico, ou tema principal, é apresentado pelos<br />
instrumentos de corda e repetido, em vários momentos seguidos, pelos outros<br />
instrumentos. Deste modo, quando da leitura da partitura, deve-se procurar identificar<br />
o tema principal, as diferentes figuras rítmicas e melódicas e estar atento às indicações<br />
de andamento, dinâmica, harmonia, modificações de timbre, transposições, etc. O<br />
movimento que é executado pela maioria dos instrumentos é denominado ripieno, e<br />
por todos eles, tutti orquestral.<br />
A disposição dos instrumentos em relação à altura é aproximadamente a seguinte –<br />
agudos até os baixos: flauta; oboé; uma parte média compreendendo os violinos;<br />
trompa e fagote; violeta; violoncelo; contrabaixo. Isto implica em que uma grande<br />
extensão em altura é abarcada pelos mesmos:<br />
228
O desenvolvimento melódico e harmônico é distribuido pelos diversos<br />
instrumentos, com as notas se fundindo e se multiplicando entre eles, em unidades<br />
sonoras homogêneas e equilibradas, e com a melodia ou tema principal sendo exposta<br />
e reexposta pelos diversos instrumentos.<br />
Quando há o coro, ele se situa entre os instrumentos de corda (mais à frente) e os<br />
de sopro e percussão (ao fundo):<br />
8.4.4 O coro<br />
O coro (coral; conjunto vocal; do grego chóros e do latim chorus) é uma forma de<br />
manifestação coletiva artística conhecida desde a antiguidade. Na Grécia antiga, o coro<br />
foi criado por Meauro (também conhecido como Tísias). Era ligado aos cultos<br />
religiosos e danças sagradas, mas servia também aos dramas encenados, com um misto<br />
de poesias, canto e dança.<br />
O canto cristão coletivo nasceu nas catacumbas de Roma, onde era conhecido<br />
como Cantochão, ou cantus planus (cantus-planus). Este era um canto monódico, ou<br />
seja, com todas as vozes cantando na mesma altura. Na baixa Idade Média, era o<br />
conjunto ou grupo da comunidade que cantava em um recinto poligonal dentro da<br />
igreja, junto ao altar, lugar conhecido como coro.<br />
Por volta dos séculos VII e VIII, evoluiu para uma espécie de polifonia com o<br />
organum, cantado em quintas paralelas e conhecido como Cantus Firmus (Canto<br />
Firme). A polifonia somente se tornou mais aparente a partir do século XI, com o<br />
surgimento do Cantus Floridus e do Contraponto. 229 O coro atingiu o seu auge no<br />
século XIII, com estruturas a três, quatro ou mais vozes. Havia, então, três formas: o<br />
Conductus, mais festivo; o Rondellus; o Motetus (motete). 230 No século XIV, com<br />
Guillaume de Machaut (c.1310-1377), surge a Missa, em que se cantavam as cinco<br />
partes da cerimônia católica: Kyrie; Gloria; Credo; Sanctus, Hosana e Benedictus;<br />
Agnus Dei. 231<br />
229 Criado pelo músico inglês John Dunstable (c. 1370-1453).<br />
230 Com o motete surgiu a polirritmia, de onde se desenvolveu o Contraponto.<br />
231 Os compositores mais expressivos deste período são (entre outros): Josquim Des Pres; Orlandus<br />
Lassus; Palestrina; Johannes Ockeghem (ao qual se atribui um motete com nada menos que 36 vozes).<br />
229
Com a Reforma, iniciada por Lutero, a música coral esteve ameaçada de<br />
desaparecer das igrejas reformadas, mas não o foi porque ele próprio era músico. Em<br />
1524, Lutero criou uma coletânea de cânticos religiosos (Enchiridion), que se tornou<br />
muito conhecida.<br />
O coro começou a assumir a sua forma moderna a partir do século XV, quando<br />
começou a deixar o recinto das igrejas e a se tornar mais profano. A sua expressão<br />
máxima ocorreu com Bach e Händel, com os gêneros Paixão, Cantata e Oratório.<br />
Pela sua formação, o coro pode ser: infantil, juvenil, adulto, masculino, feminino,<br />
misto, coro de câmara, coro de orquestra. Ele não depende do apoio dos instrumentos<br />
da orquestra, pois as vozes podem ser a capela.<br />
O coro geralmente tem um solista, como também tem um regente. É bastante usado<br />
em músicas sacras, 232 e possui os mesmos naipes (de voz) que o dos instrumentos:<br />
O canto a capela de duas ou mais vozes distribui-se, geralmente, assim: duo (duas<br />
vozes); trio (três vozes); quarteto (quatro vozes); 233 quinteto (cinco vozes); sexteto<br />
(seis vozes); septeto (sete vozes); octeto (oito vozes); 234 noneto (nove vozes). O mais<br />
comum é o quarteto vocal.<br />
GLOSSÁRIO BREVE 235<br />
Accentus: canto do celebrante que preside a liturgia católica, 236 ao qual o coro ou<br />
os solistas respondem em uníssono (concentus).<br />
Anthem (hino): peça cantada (mas não em latim) sem acompanhamento nos<br />
ofícios religiosos protestantes. Pode ser: full anthem (hino completo), que é cantado do<br />
início ao fim pelo coro; verse anthem (hino com versículos), em que um ou mais<br />
solistas cantam acompanhados por instrumentos, em seções alternadas com o coro.<br />
Antífona: elemento muito antigo da liturgia católica, que é cantado geralmente no<br />
início e no fim de um salmo ou de um cântico bíblico.<br />
Cantata: é um oratório em menor escala, que também utiliza o coro, orquestra e<br />
solistas.<br />
Doxologia: é uma forma laudatória utilizada na liturgia no fim de um salmo, hino<br />
ou outra oração. O canto dos salmos e cânticos da Liturgia das Horas é concluído com<br />
o Gloria Patri et Fílio et Spiritui Sancto (Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo).<br />
Graduale: parte do Ordinário (conjunto de cantos váriáveis de missa para missa),<br />
normalmente em estilo melismático, cantado entre a Epístola e o Evangelho. Indica<br />
também o livro que continha estes cânticos.<br />
232 Principalmente nas Missas, nas sinfonias corais, nos motetes, etc. Aliás, o coro polifônico foi a forma<br />
predominante de música durante o período entre o Renascimento e o Barroco.<br />
233 O quarteto clássico é constituído por soprano; contralto; tenor e baixo.<br />
234 O octeto clássico é formado por um baixo, um barítono, dois tenores, dois contraltos e duas sopranos.<br />
235 Estes são os gêneros de música no canto coral religioso.<br />
236 Para maiores informações sobre a liturgia católica e outras informações relevantes, veja-se o site<br />
http://tribomusica.br.tripod.com/inicio/id3.html<br />
230
Gregoriano: canto coral monofônico sacro, cantado a capella.<br />
Hino: poema estrófico a Deus, Cristo ou aos santos, que termina com uma<br />
doxologia à Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).<br />
Horas (Liturgia das): ofício litúrgico católico que consiste na recitação e canto de<br />
salmos e cânticos bíblicos enquadrados por antífonas, e escuta de leituras da Bíblia e<br />
da Tradição da Igreja.<br />
Hosana: aclamação feita em vários momentos da liturgia católica.<br />
Introito: primeiro canto da missa católica; cântico de entrada. 237<br />
Kyriale: livro litúrgico com as melodias do Comum ou Ordinário da Missa, cujo<br />
primeiro canto é o Kyrie.<br />
Kyrie eleyson: Primeiras palavras da tripla invocação que dá início ao Ordinário<br />
da Missa, aparecendo assim em primeiro lugar nas missas polifónicas ou corais que<br />
não incluem o Próprio, mas apenas as partes comuns. 238<br />
Lauda: o mesmo que canto de louvor.<br />
Laudes: oração matinal da liturgia das Horas. Junto com as orações de Vésperas e<br />
Completas, forma a parte mais importante do Ofício.<br />
Lamentações: músicas baseadas no Livro das Lamentações do profeta Jeremias,<br />
utilizadas na liturgia católica da semana anterior à Páscoa (Semana Santa).<br />
Litania: é uma oração dialogada, rezada ou cantada, constituída por uma série mais<br />
ou menos longa de invocações seguidas de respostas curtas.<br />
Liturgia: conjunto de celebrações públicas da Igreja, que pode ter ou não canto e<br />
acompanhamento instrumental.<br />
Magnificat: cântico evangélico atribuído por São Lucas a Maria: Magnificat anima<br />
mea Dominum. É rezado ou cantado na oração litúrgica de Vésperas (ao fim da tarde).)<br />
Miserere: significa Tende compaixão. Aparece muitas vezes nos textos litúrgicos<br />
católicos.<br />
Missa: é cantada em cantochão, e se baseia nas cinco partes da missa católica:<br />
Kyrie; Gloria; Credo; Sanctus, Hosana e Benedictus; Agnus Dei (nas liturgias da<br />
Palavra e Eucarística).<br />
Motete (moteto): é um coral com poucas vozes (duas ou três) de caráter sacro. É<br />
executado a capela, em estilo contrapontístico, sendo cantado em latim.<br />
Oratório: É uma composição musical religiosa ou profana, executada com coro e<br />
orquestra (algumas vezes, com solistas). Surgiu no século XVI na Itália. A princípio, se<br />
executava em teatros (tal como a ópera), passando posteriormente para o recinto das<br />
igrejas e das salas de concerto. Tem um estilo comparável à ópera.<br />
Ofertório: canto da missa católica cantado durante a apresentação das oferendas,<br />
em seguida ao Credo.<br />
Requiem: palavra tirada do canto inicial: Requiem aeternam dona eis, Domine<br />
(Dá-lhes, Senhor, o eterno descanso). Missa rezada para as pessoas falecidas.<br />
Salmo: poema cantado retirado do Livro dos Salmos, do Antigo Testamento. Os<br />
salmos são utilizados na Liturgia Católica, tanto na Missa quantos nos sacramentos em<br />
geral. Foram musicados por inúmeros compositores.<br />
Stabat Mater: são cantos gregorianos, a várias vozes, da liturgia católica.<br />
Surgiram no século XIII. Narram os sofrimentos da Virgem Maria durante o Calvário<br />
de Cristo; por isso, foram incorporados ao ofício das missas de Nossa Senhora das<br />
Dores e da Sexta-Feira da Paixão.<br />
Tantum ergo: hino católico cantado em latim durante a bênção do Santíssimo<br />
Sacramento.<br />
237 Foi abolido da liturgia pelo Concílio Vaticano II.<br />
238 A reforma litúrgica do Concílio Vaticano II transformou-o em: “Senhor, tende piedade de nós”.<br />
231
Te Deum: hino católico de louvor a Deus, cantado, em latim, em ocasiões solenes.<br />
Versículo: parte de um cântico litúrgico que é entoado por um solista, e ao qual o<br />
coro ou a assembléia responde com um responsório ou aclamação.<br />
Vésperas: oração católica da liturgia das Horas, que é feita ao final da tarde. É<br />
também cantada nas festividades religiosas mais solenes, muitas vezes com<br />
acompanhamento instrumental.<br />
8.5 Variantes de formações instrumentais<br />
Conjuntos instrumentais clássicos:<br />
O conjunto instrumental clássico por exelência é o chamado conjunto camerístico<br />
(conjunto de câmara). O conjunto camerístico executa a música de câmara, que é<br />
constituída por peças musicais que se executam com um pequeno número de<br />
instrumentos solistas. Geralmente, este tipo de música é executada em recintos<br />
pequenos (de dimensão muito menor do que aquela exigida por uma orquestra). A<br />
composição geral de um conjunto camerístico varia entre três até nove instrumentos,<br />
sendo a sua formação instrumental a seguinte:<br />
Trio: a) de cordas: violino; viola; violoncelo<br />
b) de piano: piano; violino; violoncelo<br />
Quarteto: a) de cordas: 2 violinos; viola; violoncelo<br />
b) de piano: piano e trio de cordas<br />
Quinteto: a) de cordas: quarteto de cordas e: viola ou violoncelo ou<br />
contrabaixo<br />
b) de piano: piano e quarteto de cordas<br />
c) de sopro: flauta; oboé; clarinete; baixo; trompa<br />
Sexteto: de cordas: 2 violinos; 2 violas; 2 violoncelos<br />
Septeto: (Beethoven): clarinete; fagote; trompa; viola; violino;<br />
violoncelo; contrabaixo<br />
(Saint-Saëns): piano; trompete; 2 violinos; viola; violoncelo;<br />
contrabaixo<br />
Octeto: (Mendelssohn): 4 violinos; 2 violas; 2 violoncelos<br />
(Schubert): clarinete; fagote; trompa; 2 violinos; viola;<br />
violoncelo; contrabaixo<br />
Noneto: a formação é a mesma do quinteto mais quarteto<br />
Acima de 09 componentes, e até 20, o grupo é considerado uma Orquestra de<br />
Câmara ou Cameratta.<br />
232
CAPÍTULO IX<br />
FORMAS <strong>DE</strong> COMPOSIÇÃO E <strong>DE</strong> EXPRESSÃO MUSICAL<br />
9.1 A sintaxe musical<br />
A música, sob o aspecto melódico, é um conjunto de sons que se desenvolvem por<br />
seqüências de impulso-repouso. Este conjunto de sons recebe o nome de célula ou<br />
inciso. Assim, célula ou inciso é o menor conjunto que envolve a pulsação impulsorepouso.<br />
Se uma célula serve de base a um desenvolvimento musical, ou seja, se ela é<br />
desenvolvida como tema, é então denominada motivo temático, ou simplesmente,<br />
motivo. Um motivo bastante conhecido é o mostrado abaixo, que é constituído pelos<br />
dois primeiros compassos da Quinta Sinfonia de Beethoven:<br />
Denomina-se conjunto a uma quantidade qualquer de valores; duas ou três células<br />
juntas formam um conjunto denominado semi-frase, e duas semi-frases formam um<br />
conjunto chamado frase. Quanto à frase, é um conjunto que tem sentido completo ou<br />
quase completo, e pode consistir em um ou mais motivos. A conclusão de uma frase é<br />
feita, em geral, por meio de uma cadência que lhe dá a necessária pontuação:<br />
Quando a frase tem um sentido completo, ou quando diversas frases se encadeiam<br />
e atingem um ponto final, elas formam um período. O período tem um comprimento<br />
normal de oito compassos, sendo que os quatro primeiros formam uma frase<br />
incompleta, que se resolve nos quatro compassos seguintes. Se a frase ocupar um lugar<br />
importante, ela adquire a função de tema, que é o conjunto central sobre o qual a obra<br />
musical é gerada. Todos os demais conjuntos da obra mantêm com o tema uma relação<br />
estrutural, sendo dela deduzidos. Um tema pode ser decomposto em motivos, que por<br />
sua vez podem ser reagrupados em novas unidades com função de tema, se for uma<br />
frase, ou de motivo temático, se forem unidades pouco extensas.<br />
Uma obra pode ter várias peças ou seções. Se um período é perfeitamente<br />
delimitado, ele forma uma dessas seções. Seção temática é aquela sobre a qual as<br />
outras seções ou peças de uma obra se baseiam, ou da qual derivam. Uma obra<br />
constituída por duas seções tem a estrutura, esquema ou forma binária. Esta forma<br />
seria o equivalente, na linguagem musical, à pergunta que é seguida da correspondente<br />
resposta, sendo que a seção interrogativa começa na tônica e termina na dominante, e a<br />
segunda seção começa na dominante, e, por uma seqüência modulante, retorna à<br />
tônica. Algumas formas binárias podem ter quatro compassos adicionais para um<br />
encerramento suave da obra, onde parte do tema principal é repetido. É o que se<br />
denomina coda.<br />
A forma ternária apresenta o esquema A-B-A, onde a terceira seção reaparece<br />
como uma repetição exata da primeira seção A. A seção B é um episódio (vide item<br />
233
9.3) que contrasta com a primeira e terceira seção, pela utilização de tons e elementos<br />
diferentes, Cada seção é harmonicamente completa, mas pode-se ter uma coda em<br />
acréscimo à terceira seção.<br />
9.2 Contraponto ou música polifônica<br />
Denomina-se contraponto (do latim punctus contra punctus), ou ponto (nota)<br />
contra ponto (nota), ou música polifônica, à combinação de diversas linhas melódicas<br />
independentes, embora desenvolvendo-se com coerência harmônica e formando uma<br />
unidade. 239<br />
Os princípios básicos da técnica do contraponto são os seguintes:<br />
1) Interesse melódico e independência, que se podem conseguir quer<br />
empregando a frase ou tema, quer imitando-a (imitação) em uma voz distinta<br />
e em diferentes alturas;<br />
2) Interesse rítmico, que se pode conseguir acentuando-se a independência de<br />
cada uma das vozes;<br />
3) O uso do baixo como base dos acordes.<br />
A independência no movimento implica em um desenvolvimento horizontal<br />
(contraponto), enquanto que a harmonia implica em desenvolvimento vertical (acorde).<br />
Existem diversas espécies de contraponto:<br />
I) Nota contra nota, em que há somente consonâncias (C.f. ou C.F. significa Cantus<br />
Firmus, 240 que é a melodia que serve de base para a elaboração de outras vozes, no<br />
estilo contrapontístico):<br />
II) Duas notas contra uma, onde há sempre consonâncias nos tempos fortes, e<br />
consonâncias ou dissonâncias por graus conjuntos, nos tempos fracos:<br />
239 A técnica do contraponto teve início no século IX com a sobreposição do Tenor sobre o Canto<br />
Firmus, e teve o seu apogeu cerca de oitocentos anos depois, nos séculos XVII e XVIII, com J. S. Bach,<br />
que foi um dos seus maiores expoentes. O tratado de J. J. Fux, Gradus ad Parnassun, de 1725, é uma<br />
das primeiras obras que tratam do assunto.<br />
240 O Conductus é uma forma medieval em que uma voz realiza um contraponto incipiente sobre o<br />
Cantus Firmus.<br />
234
III) Quatro notas contra uma, onde no primeiro tempo há sempre consonâncias,<br />
havendo sempre dissonâncias por graus conjuntos entre duas consonâncias:<br />
IV) Sincopado: nesta espécie de contraponto, podem existir dissonância ou<br />
consonância no tempo forte, enquanto que no tempo fraco há consonância:<br />
V) Florido: neste caso, as espécies anteriores estão reunidas em uma única voz:<br />
Denomina-se contraponto invertido ou contraponto inversível, quando em duas<br />
peças, na primeira, a primeira voz é o contraponto e a segunda voz é o cantus firmus, e<br />
na segunda peça, a primeira voz é o cantus firmus, e a segunda, o contraponto.<br />
O contraponto, além de inversível, pode ser imitado, que é quando uma voz<br />
reproduz (de modo exato ou livre), o conjunto ou um subconjunto de uma outra voz. A<br />
forma mais rigorosa de imitação contrapontística é denominada cânone.<br />
A primeira voz é denominada dux, ou antecedente, e as seguintes, que a imitam<br />
com perfeição, comes, ou conseqüente; cada uma dessas, por sua vez, pode converterse<br />
em dux, em relação às que lhe respondem. Quando duas (ou quatro) vozes<br />
recomeçam ad libitum uma peça que chegou ao fim, esta é chamada de cânone infinito,<br />
235
circular ou perpétuo. As vozes também podem cantar o cânone em seqüências<br />
sucessivas (reiniciando a melodia), ou seja, uma voz começando quando outra já<br />
cantou alguns compassos. 241<br />
No exemplo a seguir, o comes (conseqüente) é uma imitação à quinta inferior do<br />
dux (antecedente):<br />
Quando o comes (conseqüente) tem o mesmo sentido do dux (antecedente) em<br />
sucessão crescente ou decrescente, diz-se que o movimento é progressivo; se os<br />
sentidos são contrários, diz-se que o movimento é retrógrado, ou seja, cânone<br />
retrógrado, porque o comes imita o dux, mas em movimento contrário.<br />
No exemplo a seguir, o movimento é retrógrado:<br />
Quando na imitação as duas notas do comes ou conseqüente tem maior valor do<br />
que as do dux ou antecedente, trata-se de uma imitação por aumento (cânone por<br />
aumento); no caso de as notas tomarem valor menor, a imitação e por diminuição<br />
(cânone por diminuição).<br />
Os aumentos ou diminuições não precisam ser, necessariamente, proporcionais. Por<br />
exemplo, uma semínima pode aumentar para mínima, breve, etc. Se os valores estão<br />
separados por pausa, diz-se que a imitação é interrompida.<br />
Na imitação, o ritmo pode mudar, o que origina a denominada imitação rítmica. As<br />
notas do dux sendo iguais com ritmo diferente, a imitação é chamada imitação sônica.<br />
Se as notas dos tempos fortes do dux são fracas no comes, e as notas dos tempos fracos<br />
do comes são fortes no dux, a imitação é chamada imitação por contratempo. Se no<br />
contratempo uma voz apenas acompanha outra voz, sem imitá-la nem trocar de parte<br />
com ela, o contratempo é denominado contratempo simples.<br />
Se a peça não for do gênero imitação, qualquer conjunto dele será uma variação<br />
temática. Assim, a imitação dá origem ao processo denominado variação temática, que<br />
pode ser: harmônica; rítmica; ornamental melódica; polifônica ou contrapontística. A<br />
variação harmônica pode ser: pelo homônimo; pela cromatização da tônica; por<br />
mudança de acidentes (substituição de regiões harmônicas ou de funções tonais). A<br />
variação rítmica pode ocorrer por mudança de ritmo, com a inclusão ou não do<br />
andamento ou compasso. Na variação ornamental melódica, são acrescentadas notas<br />
241 Quando todas as vozes reiniciam com o mesmo som, o cânone é chamado de cânone em uníssono.<br />
236
melódicas ou ornamentais à melodia. Na variação polifônica, o sujeito serve de base a<br />
outras construções. As formas de variação podem ser por seções ou por melodias<br />
contínuas.<br />
No desenvolvimento de uma obra, qualquer seqüência melódica, à exceção do<br />
sujeito ou de partes livres, pode ser uma imitação, variação temática ou então o<br />
processo mais complexo da construção musical, que é a transformação, a qual, por sua<br />
vez, se origina da variação temática.<br />
Por transformação, entende-se:<br />
I) Interversão, que é a distribuição diferente de um conjunto. No exemplo a seguir,<br />
são possíveis seis distribuições (abc, acb, bac, bca, cab, cba): 242<br />
II) Mudança de acento, que são os deslocamentos de partículas do sujeito, onde<br />
estas recebem maior ou menor acentuação, e com isso, maior ou menor proeminência<br />
(no exemplo, a nota FÁ decresceu em acentuação, e a nota MI aumentou):<br />
III) Cancelamento ou preenchimento de partes temáticas, que é o cancelamento ou<br />
preenchimento de uma ou várias notas, em um tema:<br />
IV) Contorno temático, que é a interpenetração de várias linhas melódicas:<br />
242 Que são as seis permutações matemáticas possíveis para os elementos a, b, c.<br />
237
V) Compressão temática, que é a reunião de temas, ou parte desses, em acordes, o<br />
que permite sintetizar (resumir) melodias:<br />
9.3 Invenção<br />
A Invenção é uma peça contrapontística e imitativa a duas ou três vozes, que tem<br />
os seus antecedentes históricos na interpretação musical da Antiguidade e Idade Média,<br />
cuja tradição musical oral, aliada à ausência de escrita musical, incentivava a liberdade<br />
de interpretação (cujos excessos às vezes desvirtuavam ou mutilavam a obra original<br />
do compositor). Quem mais explorou este gênero de música foi Johann Sebastian<br />
Bach.<br />
A Invenção se divide em três seções: a) exposição, na qual todos os elementos para<br />
o desenvolvimento são inicialmente apresentados; b) episódio, onde se desenvolvem os<br />
elementos apresentados na exposição; c) re-exposição, que é a re-apresentação do<br />
tema, tantas vezes quantas forem o número de vozes, sendo a última apresentação<br />
realizada no tom principal.<br />
Na exposição, encontra-se o tema e o contratema, que é um contraponto inversível<br />
realizado com o tema, bem como partes livres, que completam a harmonia e fornecem<br />
mais elementos para o desenvolvimento.<br />
As funções tonais, na exposição, são a tônica (grau I), dominante (grau V) e tônica<br />
(grau I). Quando na terminação do tema as condições não são propícias para a entrada<br />
da dominante, costuma-se acrescentar um prolongamento, o qual recebe o nome de<br />
coda, a qual, por sua vez, fornece elementos para novos desenvolvimentos.<br />
A exposição, quando modulada aos tons vizinhos, constitui a seção da Invenção<br />
denominada episódio. Esta modulação, ou apresentação nos tons vizinhos, é<br />
intercalada por desenvolvimentos de elementos deduzidos da própria exposição, que<br />
recebem o nome de divertimentos.<br />
9.4 A fuga<br />
A Fuga é uma forma musical também contrapontística e imitativa, onde uma ou<br />
mais vozes se combinam no desenvolvimento de um tema de caráter bem determinado<br />
e de tonalidade definida. É considerada a mais elaborada composição contrapontística,<br />
onde as vozes apresentadas no início da composição se superpõem e se perseguem, reaparecendo<br />
em vários locais, e em várias alturas de som.<br />
238
Na Fuga o tema (ou motivo) recebe o nome de sujeito (ou sujeito melódico), e é<br />
acompanhado, em geral, de um contra-sujeito, o qual é escrito em contraponto<br />
inversível. O sujeito é pouco extenso e bem caracterizado. Denomina-se resposta à<br />
imitação do sujeito, a uma quinta acima ou a uma quarta abaixo deste. No primeiro<br />
caso, a imitação é exata, e a resposta é chamada real; no segundo caso, introduzem-se<br />
modificações nos intervalos (mutações), e a resposta é denominada tonal.<br />
A Fuga pode ser descrita em relação à sua textura, ou processo, e em relação à sua<br />
forma ou estrutura.<br />
Sob o ponto de vista da textura, os elementos importantes da Fuga são: o tema ou<br />
sujeito, do qual já se falou; o contra-sujeito, que é a continuação da voz do sujeito,<br />
simultaneamente com a resposta, e em contraponto (ou seja, em uma linha melódica<br />
contrária) a esta; o episódio, que são fragmentos ou motivos derivados do sujeito ou do<br />
contra-sujeito, que surgem de modo contrastante em meio aos vários reaparecimentos<br />
do tema.<br />
Quanto à estrutura, a Fuga é constituída de três seções: exposição; seção média ou<br />
episódio; seção final ou stretto. Na exposição, o tema é exposto por cada uma das<br />
vozes que intervêm na fuga; na seção média, são introduzidos um ou mais episódios<br />
ricamente modulatórios, frequentemente intercalados por pausas; na seção final o<br />
sujeito volta à tonalidade inicial em vários compassos, e termina com uma conclusão<br />
(coda). É comum a entrada abreviada da resposta, sobrepondo-se ao tema antes que<br />
esse termine; esse processo dá intensidade ao clímax, pelo que é muito usado na seção<br />
final da Fuga, dando-lhe o nome (stretto).<br />
Outro recurso expressivo da Fuga é o que se denomina a pedal, que é um som<br />
prolongado, geralmente no baixo, sobre o qual são colocados vários acordes, e que<br />
pode aparecer como seção cadencial no final da Fuga. O a pedal pode ser um trinado<br />
ou trêmulo, quando então é denominado pedal figurado, e que pode ser de tônica,<br />
dominante, etc.<br />
9.5 A forma musical clássica<br />
A forma musical clássica por excelência é a forma denominada Sonata (sonata, do<br />
italiano suonare, tocar). Este estilo musical começou a aparecer por volta do século<br />
XVI, como música instrumental, devido à deficiência do estilo barroco, que não<br />
possuía desenvolvimento temático. 243 Referia-se, originalmente, a peças para<br />
instrumentos de cordas, e opunha-se à tocata (para cravo ou órgão) e à cantata (para<br />
canto). Tem raízes na denominada Chansom, uma música vocal de origem francoflamenga.<br />
Foi na época de Mozart, Beethoven e Haydn que a forma Sonata atingiu a<br />
sua maior complexidade, chegando ao apogeu. A partir do final do século XVIII, a<br />
sonata ficou restrita a composições para piano ou instrumentos solistas, geralmente<br />
divididas em 3 ou 4 movimentos. 244<br />
A Sonata é uma forma musical que tem um desenvolvimento único, e é<br />
constituída de três seções: exposição; desenvolvimento temático; re-exposição. Na<br />
exposição é feita a apresentação do tema (exposição temática), que se divide em dois<br />
grupos ou temas. Após uma pequena introdução, é apresentado o primeiro tema, o qual<br />
consiste em uma melodia concisa e rítmica, de caráter masculino, na tonalidade da<br />
243 No estilo barroco, o tema era continuamente tomado e retomado pelas diversas vozes ou pelos<br />
diversos instrumentos, até esgotar todas as possibilidades polifônicas, quando então terminava. Mesmo<br />
Bach não conseguiu mais do que isto.<br />
244 Uma forma de sonata de execução fácil, para principiantes, é denominada sonatina.<br />
239
tônica. Em seguida, uma passagem modulante serve de ponte e conduz ao segundo<br />
tema, que tem um caráter mais lírico e mais feminino, o qual traz novos e<br />
constrastantes elementos ao tema inicial, e onde predomina o interesse melódico. Sua<br />
tonalidade pode estar na dominante ou na relativa maior ou menor. Os temas podem<br />
também vir invertidos, com o assunto lírico em primeiro lugar.<br />
A exposição termina com uma coda, após o que vem o desenvolvimento da Sonata<br />
(isto se o primeiro tema não for repetido totalmente, de novo).<br />
No desenvolvimento, os temas apresentados na exposição atingem o clímax. O<br />
desenvolvimento temático é livre, com tonalidade modulante, e são muito usados os<br />
recursos musicais de modulação, tensão dinâmica, cadências imperfeitas e<br />
interrompidas, etc., para expressar um conflito dramático.<br />
Na re-exposição, são apresentados os mesmos temas iniciais, e na mesma ordem da<br />
exposição, mas com algumas modificações no tom emocional, bem como modificações<br />
técnicas (o segundo tema, por exemplo, se encontra na tonalidade da tônica). Pode<br />
terminar com uma coda. O conflito cessa, e o equilíbrio retorna, no final. A reexposição<br />
pode ser literal ou exata; abreviada ou variada.<br />
A forma Sonata tem um esquema ternário (A1-B-A2). Normalmente, é composto de<br />
três ou quatro andamentos. Quando escrita para conjunto, recebe o nome de duo, trio,<br />
quarteto, etc. Quando escrita para orquestra, recebe o nome de Sinfonia, e se um<br />
instrumento se destaca fazendo o solo, toma o nome de Concerto.<br />
A Sinfonia é a adaptação da forma Sonata à orquestra. Haydn, Mozart e Beethoven<br />
deram-lhe sua conformação clássica, com quatro movimentos: allegro; largo, andante<br />
ou adágio;minueto ou scherzo; 245 finale ou rondó (este último movimento tem caráter<br />
mais emotivo).<br />
A Sinfonia difere do Concerto, porque não possui destaque de nenhum<br />
instrumento; cada um tem várias participações ocasionais, e a orquestra de cordas se<br />
incumbe da melodia principal.<br />
O Concerto é um dos gêneros mais importantes da música erudita. É uma forma<br />
musical escrita para um instrumento solista, com acompanhamento de orquestra. Se um<br />
conjunto de instrumentos da orquestra funciona como solista (conjunto este<br />
denominado concertino), em oposição ao restante da orquestra, 246 a obra é denominada<br />
Concerto Grosso. 247 O Concerto é constituído de três partes (três andamentos),<br />
correspondentes ao primeiro, segundo e quarto andamento da forma sonata. No<br />
primeiro andamento é incluída a cadência (cadenza), que é uma parte destinada à<br />
exibição do virtuosismo do solista. 248 Se há mais de um solista (por exemplo, dois ou<br />
três), o Concerto recebe o nome de Concerto Duplo ou Concerto Triplo. A segunda<br />
parte é lenta. O terceiro movimento realiza a conclusão da obra.<br />
Alguns Concertos podiam possuir dois ou quatro movimentos, e até mesmo<br />
começar com a música lenta.<br />
245<br />
Foi Beethoven quem transformou o minueto em scherzo. Ele colocou, também, um coral no último<br />
movimento.<br />
246<br />
O tutti. O ripieno é um grande conjunto de instrumentistas, dentro da orquestra, que se opõe<br />
(musicalmente) ao concertino.<br />
247<br />
Esta forma de composição foi muito usada no século XVIII, mas já não é mais usada. Os primeiros<br />
que foram escritos eram para dois violinos principais, com acompanhamento de outros dois violinos,<br />
viola e baixo contínuo. Posteriormente, adquiriu uma forma mais definitiva, em que se escrevia para três<br />
instrumentos principais , com acompanhamento de orquestra.<br />
248<br />
O concerto tem como principal característica a melodia executada por um instrumento solista, que é<br />
acompanhado pela orquestra. Por exemplo, num concerto para violino, o violinista se destaca em uma<br />
exibição solo, que é a cadenza. Quando ele termina, a orquestra retorna e conclui a primeira parte.<br />
240
9.5.1 Música descritiva ou música de programa<br />
A música descritiva, também chamada de musica programática, é aquela<br />
composição que, através de passagens instrumentais específicas, suscita imagens na<br />
mente do ouvinte, tal como se a música estivesse “contando” uma história. Existem<br />
então, na música programática, passagens dramáticas, emotivas, alegres, tristes,<br />
nostálgicas, bucólicas, ou seja, passagens musicais capazes de evocar tais sentimentos<br />
no ouvinte.<br />
Há três tipos principais: sinfonia descritiva; abertura de concerto; poema<br />
sinfônico. 249<br />
A sinfonia descritiva foi muito popular no século XIX, geralmente de fundo<br />
romântico, com forte inspiração na literatura e na pintura. São exemplos de sinfonias<br />
descritivas: Sinfonia Italiana (Mendelssohn); Sinfonia Primavera (Schumann).<br />
A abertura era normalmente a peça que se executava no início das óperas. As<br />
aberturas de concerto, entretanto, eram obras descritivas em um só movimento, e<br />
escritas especificamente para orquestras (quase sempre na forma sonata), para serem<br />
tocadas em concertos.<br />
Exemplos de aberturas: Abertura Carnaval (Dvórak); Abertura 1812<br />
(Tchaikovsky); As Hébridas (Mendelssohn).<br />
O poema sinfônico é uma peça musical inicialmente desenvolvida por Franz Liszt.<br />
São peças descritivas mais longas, mas de forma mais livre. Além de Liszt, outros<br />
compositores também escreveram poemas sinfônicos: Dança Macabra (Saint-Saëns);<br />
Uma Noite no Monte Calvo (Mussorgsky); Till Eulenspiegel; Don Juan; Assim Falou<br />
Zaratustra (Richard Strauss).<br />
GLOSSÁRIO BREVE 250<br />
Allemande: é uma dança original da Alemanha, de movimento moderado e caráter<br />
sério. Geralmente, constitui o trecho principal da suíte. É escrita em compasso binário<br />
ou ternário.<br />
Balada (ballade): é um poema musical escrito usando temas lendários ou<br />
fantásticos. É também o nome dado às composições instrumentais de forma livre e<br />
caráter patético, como, p. ex., as baladas para piano de Brahms, Chopin e outros. Como<br />
poema, era feito para solo ou coro (estribilos curtos, cantados pelo solista e repetidos<br />
pelo coro) usando acompanhamento de piano ou orquestra.<br />
Balé (Ballet): é o nome que se dá tanto a um estilo de dança quanto à sua<br />
performance. O termo deriva do italiano ballare (bailar).<br />
Barcarola: é um tipo de música imitativa, escrita em compasso 6 /8. Seu ritmo e<br />
estilo faz lembrar as ondas do mar.<br />
Basso ostinato: é uma frase musical repetida diversas vezes na parte mais grave de<br />
uma composição musical.<br />
Berceuse: melodia cantada, usada para fazer adormecer as crianças. O seu<br />
acompanhamento imita o balançar do berço. É escrita nos compassos ¾ ou 6 /8.<br />
Algumas foram compostas por Chopin, Bramhs, Godard, e outros.<br />
Bolero: é uma dança espanhola, que se acompanha às vezes com violão e<br />
castanholas. Tem compasso ¾ e andamento moderado. São famosos os boleros de<br />
Ravel e Moszkowski, escritos para orquestra.<br />
249 O poema sinfônico é uma obra sem forma concreta, de caráter programático e rapsódico.<br />
250 São gêneros de danças e de formas musicais.<br />
241
Bourée: antiga dança francesa, semelhante à rigadoun. Tem um caráter alegre,<br />
composta em compasso 4 /4, com freqüentes notas sincopadas no terceiro e quarto<br />
tempo.<br />
Burlesca: é uma forma musical de estilo e caráter burlesco (cômico, ridículo),<br />
geralmente escrita no compasso ternário.<br />
Canção: é uma composição poética, de caráter popular, que é cantada a uma ou<br />
mais vozes, com ou sem acompanhamento, com uma melodia que se adapta a um<br />
determinado texto (letra). Atualmente, refere-se mais às formas do canto popular.<br />
Cânone: composição cujo tema, iniciado por uma única voz, é imitado<br />
rigorosamente até o fim, por outras vozes. O cânone pode ser repetido em uníssono,<br />
oitava ou outros intervalos. Pode ser por aumento ou diminuição dos valores dos<br />
tempos.<br />
Cantata: é uma forma musical que surgiu na Itália, no século XVII. À diferença da<br />
tocata, executada por instrumentos de teclado, e da sonata, composta para<br />
instrumentos de corda, caracteriza-se por ser cantada. Desenvolveu-se durante o<br />
Barroco, atingindo o seu apogeu com Bach.<br />
Cavatina: diminutivo italiano de cavata, a produção do tom de um instrumento,<br />
cujo plural é cavatine. É um termo musical, originalmente para uma canção curta de<br />
caráter simples. Costumava ser usada em movimentos, cenas ou trechos líricos de um<br />
oratório ou ópera. 251 Atualmente, pode ser uma simples e melodiosa cantiga ou toada.<br />
Chacona: Peça instrumental em forma de variações, com um tema de caráter<br />
grave. Possui oito compassos no máximo, e escreve-se sobre um basso ostinato.<br />
Concertino: um pequeno grupo de instrumentos (um grupo de solistas) em um<br />
concerto grosso. Pode-se considerar igualmente como um pequeno concerto.<br />
Concerto: apresentação pública de uma obra musical, que pode ser com um ou<br />
mais solistas e orquestra.<br />
Concerto grosso: a principal variedade de um concerto Barroco, para um pequeno<br />
grupo de solistas (concertino) e um grupo de instrumentistas dentro da orquestra<br />
(ripieno). No concerto grosso, há um diálogo concertino-ripieno (mas podem também<br />
tocar juntos).<br />
Courante: é uma dança aristocrática francesa, em compasso ternário, que se inseria<br />
na suíte.<br />
Czarda: dança popular húngara, da qual Liszt compôs duas peças.<br />
Divertimento: é uma forma musical leve e sem pretensões. Nos séculos XVII e<br />
XVIII, indicava um intermezzo ou dança que se inseria nas óperas e comédias-balés.<br />
Pode ser composto para um ou mais instrumentos, e tem uma série de movimentos<br />
alternados e livres.<br />
Elegia: é uma composição vocal ou instrumental de caráter terno e melancólico.<br />
Estudo (étude): composição musical de forma livre, que transmitem inovações<br />
técnicas de execução instrumental. São famosos os estudos de Cramer, Czerny,<br />
Chopin, Clementi, Moscheles, entre outros.<br />
Fado: canção urbana originária de Lisboa (mas que se canta de forma diferente em<br />
Coimbra e no Porto). Tem acompanhamento da guitarra portuguesa.<br />
Fandango: dança popular espanhola (andaluza), em compasso ternário 3 /4 ou 3 /8,<br />
que se acompanha com guitarra e castanholas.<br />
251 Um exemplo famoso de Cavatina é o 5o. Movimento do Quarteto de Cordas No. 13 de Luwdig van<br />
Beethoven. Há também uma peça de música conhecida como “Cavatina”, composta por John Williams,<br />
que foi usada como tema da trilha sonora do filme The Deer Hunter (O Franco-Atirador), produzido em<br />
1978 com direção de Michael Cimino.<br />
242
Fantasia (fantaisie): Composição instrumental sem forma determinada. Em seu<br />
início, tinha certa semelhança com a fuga, da qual, entretanto, se diferenciou<br />
posteriormente. Neste estilo, há obras de Bach, Mozart, Beethoven, Chopin,<br />
Schumann, Schubert, Liszt, Paganini, etc.<br />
Gagliarda (gallarda; galharda; galiarda): dança de corte de origem italiana, de<br />
extrema vivacidade e caráter alegre e jocoso. Muito comum no início do século XVI.<br />
Gavota: é uma dança francesa, de caráter gracioso e elegante, comum no século<br />
XVI. Foi introduzida no reinado de Luiz XV.<br />
Giga: dança bastante movimentada em compasso 6 /8 ou 12 /8, com origem na<br />
Inglaterra, entre as gentes do mar.<br />
Habanera: dança de origem provavelmente afro-cubana, em compasso 2 /4.<br />
Humoresque: designa uma peça instrumental que apareceu no século XIX, com<br />
sentido humorístico.<br />
Improviso (impromptu): composição ou execução musical feita de momento, de<br />
improviso. È um gênero muito utilizado no jazz. 252<br />
Interlúdio: Uma pequena peça instrumental entre duas cenas ou atos de uma ópera.<br />
Intermezzo: peça que tinha diversos papéis na evolução dos gêneros líricos. No<br />
século XVI, era um espetáculo completo, com dança, canto e música instrumental. No<br />
século XVII, além de inserir-se em festas em palácios, inseria-se também nas<br />
mudanças de cena, para distrair o público.<br />
Introdução: seção inicial de uma peça, que não começa diretamente pelo tema.<br />
Lied (canção): 253 palavra alemã (plural: lieder) usada para designar canções<br />
românticas acompanhadas por piano, principalmente as compostas por Schumann e<br />
Brahms. 254 É, então, uma forma musical originária do Romantismo alemão. Nada mais<br />
é do que uma melodia vocal, ou balada, normalmente composta para um cantor,<br />
podendo ter também mais de um solista. Era constituída por uma estrutura musical<br />
harmônica e bastante elaborada, organizada a partir de um poema (a música se<br />
adaptava ao texto, que tem função fundamental). O lied pode ser composto de duas<br />
formas: ao estilo estrófico, em que se repete a mesma frase musical em todos os versos<br />
do poema, e no estilo durchkomponiert, no qual cada verso tem a sua própria melodia.<br />
Madrigal: é uma peça curta, para três, quatro, cinco, seis ou até oito vozes. Tem<br />
um caráter profano. Executa-se em estilo contrapontístico, com grande uso da<br />
imitação. Tem duas variedades, o ballet (bailado) e o ayre (canção). A primeira é uma<br />
pela mais ligeira, parecida com uma dança; a segunda se cantava a uma ou mais vozes.<br />
A uma voz, acompanhava-se por alaúde ou viola; a várias vozes, podia ter ou não<br />
acompanhamento. Aborda assuntos heróicos, pastoris e até libertinos.<br />
Marcha: peça musical de grande regularidade rítmica, geralmente escrita para<br />
banda ou orquestra, em compasso 2 /4, 4 /4 e até 6 /8. O seu estilo e caráter dependia do<br />
objetivo; podia, então, ser marcha militar, 255 religiosa, fúnebre, nupcial, etc.<br />
Mazurca (mazurka): dança nacional da Polônia. É de caráter gracioso e<br />
melancólico.<br />
Minueto (minuet): antiga dança de origem francesa. É escrito em compasso<br />
ternário, em um estilo elegante e gracioso. Podem integrar a ópera (Rameau; Lully),<br />
suítes (Bach; Haendel) ou sinfonias (Haydn).<br />
252<br />
O termo Tiento designa uma obra instrumental de caráter bastante improvisativo, comum no século<br />
XVI.<br />
253<br />
Equivalente à chanson francesa e ao song americano.<br />
254<br />
Robert Alexander Schumann (1810-1856); Johannes Brahms (1833-1897).<br />
255<br />
Ficaram famosas as marchas militares do compositor norte-americano John Philip Sousa (1854-<br />
1932).<br />
243
Noturno (nocturne): é uma composição poética, breve, de caráter romântico e<br />
sentimental. Deve este nome ao fato de ser executada ao ar livre, à noite. A partir de<br />
Chopin, esta forma definiu-se como peça musical para piano.<br />
Ópera: é uma peça teatral ou um drama encenado com música. Possui trechos<br />
cantados (em que as falas são cantadas – árias), e trechos recitados (récitas ou<br />
recitativos), com acompanhamento orquestral, e que se alternam. Os trechos<br />
“recitados” são como que a conversa efetuada pelos atores (em algumas óperas, as<br />
récitas eram acompanhadas ao cravo). Em certos casos, as récitas eram puramente<br />
instrumentais. Os cantos são, geralmente, individuais, não havendo coro. Quando um<br />
solista se destaca com virtuosismo em sua apresentação, o gênero é chamado bel-canto<br />
(estilo comum na ópera italiana). Surgiu no final do século XVI, em Florença, como<br />
uma tentativa de recriar a tragédia grega. A ópera divide-se em duas categorias: a ópera<br />
séria ou melodramática; a ópera cômica ou bufa.<br />
Opereta: era uma pequena peça musical derivada da ópera cômica, com partes<br />
faladas e cantadas.<br />
Passacaglia (passacale ou passacalha): forma de composição que se baseia em um<br />
tema que se repete constantemente no baixo, e em variações sobre este tema, na<br />
melodia.<br />
Pastoral: composição de caráter campestre e pastoril, própria para ser executada<br />
em órgão, principalmente durante o Natal.<br />
Pavana: antiga dança espanhola, lenta e grave, muito comum no século XVI.<br />
Polca: dança de origem bohêmia, derivada do minueto.<br />
Polonesa (polonaise): dança nacional da Polônia, de caráter enérgico e solene,<br />
escrita em compasso ternário. 256<br />
Prelúdio (prelude): peça musical que serve de introdução a óperas, cantatas, fugas,<br />
ou até para algumas composições para piano ou órgão. 257<br />
Rapsódia: composição musical escrita para orquestra, ou mesmo para um único<br />
instrumento (piano, violino, etc.). Tem forma livre, em se encadeiam e se desenvolvem<br />
temas populares ou folclóricos.<br />
Ricercare: palavra italiana que designava, nos séculos XVI e XVII, uma forma<br />
instrumental com caráter de improvisação.<br />
Rigadoun: antiga dança provençal, de caráter vivaz, composta em duas ou três<br />
partes no compasso 2 /2, 2 /4 ou 4 /4.<br />
Ripieno: o conjunto orquestral em um concerto grosso, em oposição ao concertino.<br />
Romança: composição para canto, de caráter romântico. Podia ser, também, de<br />
caráter puramente instrumental.<br />
Rondó (rondo): composição de caráter jocoso, que repete continuamente o mesmo<br />
motivo ou frase.<br />
Saibara: é um gênero musical desenvolvido, por séculos, na corte do Japão.<br />
Saltarello: antiga dança italiana, saltitante e de rápido andamento, em compasso<br />
6 /8.<br />
Sarabanda: dança originária da Espanha, mais lenta que o minueto. Surgiu no<br />
século XVI.<br />
Scherzo: composição instrumental em compasso ternário, de estilo brilhante, com<br />
um andamento jocoso e alegre.<br />
Seguidilla: canção e dança tradicional da Espanha, de ritmo vivo e compasso 3 /4 e<br />
3 /8.<br />
256<br />
Algumas polonesas foram escritas por Chopin em modo menor, adquirindo assim um caráter<br />
delicado e melancólico.<br />
257<br />
Chopin e Lisz compuseram prelúdios sinfônicos, e Verdi, um prelúdio para o 3º. ato da Traviata.<br />
244
Serenata: é um concerto vocal ou instrumental executado (geralmente ao ar livre)<br />
em estilo leve e comunicativo, com um caráter gracioso e amoroso.<br />
Sonata: obra instrumental em três ou quatro andamentos, para um ou mais<br />
intérpretes.<br />
Sonata da chiesa (sonata de igreja): composição instrumental da época barroca,<br />
para execução em igrejas.<br />
Sonata de câmara: derivada da suíte de danças, no início do século XVIII foi<br />
acrescida de movimentos introdutórios.<br />
Sonatina: pequena sonata.<br />
Suíte: é uma forma de música instrumental que se desenvolveu na Alemanha e na<br />
França nos séculos XVII e XVIII. Consiste em uma sequência de movimentos de<br />
dança na mesma tonalidade, mas variando no andamento: prelúdio, allemande,<br />
courante, sarabande e gigue, podendo ser incluídos outros movimentos adicionais, tais<br />
como: minueto, gavotte, ciaccona, siciliana, passepied, bourée, etc. Voltou a florescer<br />
no final do século XIX, com características mais livres.<br />
Tarantela: dança e música de origem napolitana, constituída de movimentos vivos,<br />
em compasso 3 /8 e 6 /8.<br />
Tocata: é uma forma musical de estrutura livre e de caráter virtuosístico, composta<br />
para instrumentos de teclado: cravo, órgão e piano. Surgiu no século XVI. No século<br />
XVIII, era comum ser seguida de uma fuga.<br />
Trio-sonata: sonata composta para dois violinos e um baixo-contínuo (cravo e<br />
violoncelo).<br />
Tutti: parte de uma apresentação da qual participam todos os instrumentos da<br />
orquestra.<br />
Valsa (waltz): dança de roda muito comum nos salões vienenses do século XIX,<br />
que se dançava com músicas em compasso ternário, e que podiam ser lentas,<br />
moderadas ou rápidas. São famosas as valsas de Richard Strauss.<br />
Variações (variations): é qualquer modificação na execução de um tema ou motivo<br />
musical.<br />
Verismo: palavra que designa uma corrente literária italiana, bem como diversas<br />
óperas de finais do século XIX e princípios do século XX.<br />
Villanella: canção popular a três e quatro vozes, de origem napolitana, muito<br />
comum na Itália do século XVI.<br />
Villancico: é um tipo de canto religioso espanhol, conhecido desde finais do século<br />
XVI. Possui raízes na música profana e na tradição religiosa.<br />
Zingaresca: peça musical de origem cigana.<br />
245
Classicamente, o nome de uma obra musical começa pela palavra Opus (Op.),<br />
recebendo em seguida indicações do seu número e, se necessário, da parte que<br />
interessa. Pode ser também indicado o tom (tonalidade) e o modo da escala (se maior<br />
ou menor). Por exemplo: Op. 9 N. 2 indica a segunda parte (ou item) da nona obra do<br />
compositor. Outros exemplos:<br />
Etude in C, Op. 10, No. 1 (Estudo em DÓ maior, Op. 10, N. 1): indica o primeiro item<br />
da décima obra do compositor, realizada em DÓ maior.<br />
Prelude No. 4 in MI- (Prelúdio N. 4 em MI Menor): indica a quarta obra do<br />
compositor, sua tonalidade (MI) e modo (modo menor). 258<br />
Ballade No. 3 in Ab, Op. 47 (Balada N. 3 em LÁ bemol maior, Op. 47): indica o nome,<br />
o número, a tonalidade (LÁ bemol) e o modo da obra (modo maior).<br />
Ballade No. 4 in F-, Op. 52 (Balada N. 4 em FÁ menor, Op. 52): indica o nome, o<br />
número, a tonalidade (FÁ) e o modo da obra (modo menor).<br />
Em alguns casos, a obra de um autor (ou catálogo que identifica suas obras) é<br />
identificada por iniciais, seguidas de um número. Alguns exemplos:<br />
As iniciais HWV, seguidas por um número, identificam as obras do compositor George<br />
Frederic Handel (HWV significa Handel-Werke-Verzeichnis).<br />
As iniciais RV, seguidas de um número, identificam as obras de Antonio Vivaldi,<br />
segundo o catálogo de Peter Ryom's, Ryom Verzeichnis.<br />
As iniciais KV, seguidas de um número, identificam a obra de Mozart, de acordo com<br />
o catálogo de Köchel (Köchel Verzeichnis).<br />
9.5.2 A música popular moderna<br />
Na música popular moderna, as canções são, em geral, construídas em várias<br />
seções, com diversos compassos cada. Talvez o esquema mais usado seja o<br />
denominado esquema A-B-A, com três seções: apresentação; seção intermediária<br />
(desenvolvimento); re-exposição.<br />
Na apresentação, a primeira parte da música, que contém o tema, é apresentada,<br />
podendo ser ou não repetida. A seção intermediária ou central é desenvolvida de modo<br />
contrastante, e por isso a modulação é bastante usada nesta seção, levando a música a<br />
uma nova tonalidade, onde ela pode permanecer por um tempo variado. Finalmente, na<br />
seção final, o tema inicial é re-exposto, podendo ter algumas variações.<br />
Na música popular, onde o canto tem um desenvolvimento de instrumentos, pode<br />
haver um desenvolvimento unicamente instrumental (tipo cadenza), após o quê, na reexposição,<br />
volta o canto acompanhado.<br />
258 Note-se que a tonalidade menor é indicada pelo sinal - , ao lado do nome da nota que indica a<br />
tonalidade. A tonalidade maior não necessita ser indicada.<br />
246
Há cinco gêneros principais reconhecíveis, na moderna música popular: 259<br />
1) Músicas mais rítmicas que melódicas, com ou sem vocal. São, quase todas, músicas<br />
de salão (para dançar). Exemplos: mambo; bolero; cha-cha-chá (chachacha); rumba;<br />
salsa; marcha; merengue; calipso; baião; foxtrote (fox-trot); swingue (swing); tango;<br />
lambada; fandango; etc.<br />
2) Músicas lentas, mais melódicas que rítmicas. São músicas vocais, (individual ou<br />
grupo). As letras são intelectualizadas e/ou de fundo romântico. São músicas para<br />
ouvir e/ou dançar (danças lentas). Exemplos: MPB; samba carioca; modinha; bossanova;<br />
jovem guarda; etc.<br />
3) Músicas rápidas, rítmicas e melódicas. Também são vocais (individual ou grupo),<br />
geralmente com letras românticas ou de temas mundanos, quase sempre superficiais.<br />
São muito mais para dançar do que para ouvir (danças rápidas). Exemplos: música<br />
sertaneja, frevo; axé-music; samba; pagode; carnaval; forró; 260 etc.<br />
4) Músicas fortemente rítmicas, com alguma melodia, mas sem vocal. De um modo<br />
geral, todas elas se enquadram na chamada música eletrônica (executada em discotecas<br />
dançantes), sendo músicas exclusivas para dançar. Exemplos: house; house music;<br />
tech-house; techno; hard-techno; acid techno; industrial techno; trance; hard trance;<br />
acid trance; Gabba; happy hardcore; dance music; trip hop; charme; ambient house,<br />
ambient techno, ambient dub, IDM, ambience, etc.<br />
5) Músicas fortemente rítmicas, sem nenhuma ou pouca melodia, mas com vocal<br />
(individual ou em grupo). Sua característica principal é possuírem um canto não<br />
melódico, repetitivo, com rimas que seguem o ritmo. Possuem, em geral, letras com<br />
forte apelo popular ou com conteúdo de denúncia social. São quase que exclusivas para<br />
dançar. Exemplos: reggae; funk; rap; hip-hop; etc. 261<br />
Há várias formações possíveis para conjuntos instrumentais populares (que<br />
adquirem, neste caso, o nome genérico de banda). 262 As mais conhecidas são: 1) banda<br />
militar; 2) fanfarra; 3) banda de jazz; 4) banda de rock (rock and roll); 5) conjuntos<br />
musicais populares.<br />
1) A banda militar é um conjunto instrumental usado em desfiles, apresentações<br />
civis, militares, etc. É composta de um número variável de instrumentos de madeira,<br />
metais e de percussão. Sua formação mais característica é a seguinte:<br />
259 Á exceção do jazz e do rock, e de suas principais variantes. Entretanto, o esquema apresentado é tão<br />
somente uma aproximação descritivo/explicativa, que se pode tomar cum granus salis.<br />
260 Há uma explicação interessante a respeito da palavra forró. Alguns dizem que durante a Segunda<br />
Guerra Mundial os EUA montaram uma base militar no nordeste brasileiro, formada por unidades<br />
militares deste país. Para criar um clima de confraternização, o comandante, periodicamente, promovia<br />
bailes abertos à comunidade (“para todos”, ou seja, em inglês: for all). A peculiar pronúncia nordestina<br />
teria transformado a palavra em “forró”.<br />
261 O rap é um gênero musical que surgiu nos EUA na década de 1970, em que o inglês falado nas ruas<br />
era cantado com ritmo e poesia (Rhythm and Poetry), em uma espécie de batida (rap) rápida. Tem sua<br />
origem na música jamaicana, nas músicas cantadas em versos rápidos nas ruas (o toast), em cima de<br />
músicas reggae ouvidas nos Sounds Systems, que eram possantes equipamentos sonoros. As batidas<br />
eram feitas originalmente em tambores, que acompanhavam a declamação de textos ou de versos quase<br />
sempre improvisados. A rigor, o rap é uma das formas do hip-hop (dentro do gênero MC – Master of<br />
cerimonies). O Mestre de cerimônias é aquele que declama os textos. Há também o DJ (Disck-jockey),<br />
ou operador de discos, que faz animação de festas.<br />
262 O nome banda é usado para designar qualquer conjunto instrumental (por exemplo, banda de<br />
acordeões).<br />
247
Bombardas (2)<br />
Clarinetes em MI bemol (2)<br />
Clarinetes em SI bemol (4 a 16)<br />
Cornetas em SI bemol (2)<br />
Eufônio (1)<br />
Fagotes (2)<br />
Flauta e flautim<br />
Oboés (2)<br />
Percussão<br />
Saxofone alto em MI bemol (1)<br />
Saxofone tenor em SI bemol (1)<br />
Trombone baixo (1)<br />
Trombones tenor (2)<br />
Trompas em FÁ ou MI bemol (4)<br />
Trompetes em SI bemol (2)<br />
Trompetes tenor (2)<br />
2) A fanfarra é uma banda em cuja formação entram apenas instrumentos de metal<br />
e de percussão. Tem a seguinte formação padrão:<br />
Bombardas em MI bemol (tubas baixo) (2)<br />
Bombardas em SI bemol (tubas contralto) (2)<br />
Corneta soprano em MI bemol (1)<br />
Cornetas em SI bemol (8)<br />
Eufônios em SI bemol (tubas tenor) (2)<br />
Fliscorne em SI bemol (saxhorne alto) (1)<br />
Saxhornes em MI bemol (trompas tenor) (3)<br />
Saxhornes em SI bemol (trompas barítono) (2)<br />
Trombone baixo (1)<br />
Trombones tenor (2)<br />
3) A banda de jazz é um conjunto musical que interpreta o jazz e suas derivações.<br />
Compunha-se, inicialmente, de oito instrumentos. 263 Posteriormente, esta formação<br />
passou a se chamar combo, sendo que a banda propriamente dita possui, atualmente, 15<br />
ou mais instrumentos. A banda de jazz é dirigida por um regente (bandleader).<br />
Algumas apresentações são chamadas de drum sessions. 264<br />
263 Piano, contrabaixo, trombone, corneta, clarinete, saxofone, banjo e tambores.<br />
264 As drum sessions (drum-sessions; drumsessions) ocorrem quando vários músicos se reúnem para<br />
tocar informalmente, com muita improvisação.<br />
248
O jazz nasceu em New Orleans, EUA, entre 1890 e 1910. Surgiu do blues, dos<br />
spirituals e do ragtime, respectivamente canções de escravos, hinos religiosos e<br />
músicas populares escritas. Atingiu o auge na década de 1930, quando tocado por<br />
várias bandas, nos clubes famosos da época. Nesta época, o estilo de jazz chamava-se<br />
swing. A partir de 1940 surgiram os estilos bebop e o hard bebop, mas que tiveram<br />
pouca aceitação. Por esta razão foi criado o estilo cool, mais intelectualizado e de<br />
grande apelo popular. A partir de 1960 começou a surgir o free-jazz, estilo que, ao se<br />
misturar com o rock, derivou para o chamado jazz fusion (ou simplesmente, fusion).<br />
Com o advento da música eletrônica uma vertente do jazz transformou-se<br />
radicalmente, dando origem às variantes: músicas techno, new age e drum’n’bass. Os<br />
estilos que podem ser classificados nesta categoria musical contam-se às dezenas, entre<br />
os quais se podem citar: bebop; hard bop; cool; blues; freejazz; fusion; jazz rock; acid<br />
jazz; r&b (rhythm and blues); reggae; funk; hip hop; rap; etc. Da fusão do r&b com a<br />
música gospel (evangélica), nos anos 1950 e 1960, surgiu a chamada música soul (soul<br />
music), cujas vertentes mais conhecidas são: white soul; Detroit soul; Memphis soul;<br />
New Jack Swing e Nu soul; Philly soul (Filadélfia); Quiet storm (uma variedade mais<br />
suave).<br />
4) O rock (rock and roll; rock’n’roll), é uma manifestação musical moderna, talvez<br />
a forma musical mais conhecida em todo o mundo. É sempre executado em grupo, com<br />
um conjunto musical chamado banda de rock. Esta não segue um estilo musical<br />
definido, podendo interpretar uma entre dezenas de variações possíveis (vide box). Sua<br />
formação básica é a seguinte: baixo; guitarra elétrica; bateria; teclado; voz.<br />
Fora do jazz, e antes que surgisse o rock, havia dois estilos principais de música nos<br />
EUA: a country music (branca), 265 e o blues (negra). O rock surgiu no sul dos EUA na<br />
década de 1950, como uma vertente de cinco gêneros musicais distintos: o Northern<br />
Band Rock’n’roll (Bill Halley); o New Orleans Dance Blues (Little Richard); o<br />
Chicago Rhythm and Blues (Chuck Berry); o Menphis Country Rock, ou Rockabilly<br />
(Elvis Presley); e os Boys Bands (Frankie Lymon e The Teenagers). Tornou-se um<br />
fenômeno mundial a partir da década de 1960, com o surgimento dos conjuntos Beatles<br />
e Rolling Stones.<br />
O surgimento do rock provocou uma amálgama de estilos, os quais foram aproveitados<br />
por músicos e bandas em todos os EUA. Na década de 1960 surgiu a chamada música<br />
pop, e na década de 1970, o heavy metal e o rock progressivo, além do punk e do póspunk.<br />
Todos estes estilos vieram a desembocar na New Wave e na Ambient music. 266<br />
Atualmente, contam-se às dezenas os estilos de rock existentes, dos quais alguns<br />
exemplos são: hard rock; hardcore; folk rock; space rock; glam rock; grunge; new<br />
wave; punk; pós-punk; stoner rock; krautrock; acid rock; extreme metal; hard metal;<br />
heavy metal, rockpop; noise rock; música psicodélica; rock alternativo; rock<br />
progressivo; rock sinfônico; drone doom, etc.<br />
265 Da country music surgiu, como um sub-gênero, a chamada honky-tonky music (também: honkatonks,<br />
honkey-tonks, tonks ou tunks). Esta é um tipo de música de entretenimento tocada em bares do sul e do<br />
sudoeste dos EUA. O termo também está ligado a vários estilos de música americana do século XX.<br />
266 O termo ambient music (música ambiente) foi criado por Brian Eno nos anos 1970, e refere-se a<br />
qualquer tipo de música que se ouve, mas à qual não se presta atenção. A Ambient Music, como gênero<br />
musical, pode incluir elementos de vários estilos, tais como o jazz, a música eletrônica, a new age, o<br />
rock and roll, a música clássica moderna, o reggae, a traditional music e a noise music.<br />
249
5) Os conjuntos musicais populares são aqueles que se formam para executar um<br />
gênero dentro de um amplo espectro possível: 267 samba; samba urbano; marcha,<br />
modinha; bossa nova; MPB; choro; 268 chorinho; maxixe; tropicália; sertaneja; axé;<br />
embolada; frevo; lambada; baião; forró; música folclórica; música dançante; etc. Sua<br />
formação básica varia conforme o gênero, e pode incluir os seguintes instrumentos<br />
(nem todos em um mesmo conjunto): percussão (variados instrumentos); violão; viola<br />
(popular); guitarra; baixo, bateria; piano; gaita; sanfona; acordeon; saxofone; voz.<br />
267 Geralmente, associados a movimentos culturais populares.<br />
268 Alguns conjuntos de choro tem a seguinte formação: dois violões; cavaquinho; pandeiro; clarineta.<br />
250
CAPÍTULO X<br />
A LINGUAGEM E A ESTRUTURA DA MÚSICA<br />
10.1 – O Significado da Música 269<br />
Como fenômeno perceptivo, o som musical possui uma conotação ambígua; o seu<br />
conceito se dilui no paradoxo da impossibilidade de definir o que seja música, e definir<br />
um pelo outro constituiria um sofisma.<br />
Não existe uma definição perfeita para o que seja música. É uma arte, mas é<br />
também uma manifestação social e cultural. É lazer e diversão, e suas várias formas<br />
atingem todas as camadas sociais. De todo modo, é sempre uma manifestação humana.<br />
O fato é que não existe o chamado som musical; o que existe é uma estrutura<br />
sonora que abrange os vários tipos de sons que podem ser percebidos, e cuja relação<br />
entre si vai muito além dos conceitos tradicionais, tais como harmonia, ritmo, melodia,<br />
contraponto, fraseologia, forma, orquestração, etc. Na verdade, elas apontam para mais<br />
longe, para o próprio sentido ou significado da música. 270<br />
É sabido que a música estrutura-se fundamentalmente sobre os seguintes<br />
elementos: ritmo, melodia e harmonia. Por trás destes elementos, no entanto, existe a<br />
idéia musical, que ao ser colocada como discurso, obedece a toda uma esquemática<br />
própria de uma linguagem estruturada, sendo a sua gramática constituída pela<br />
harmonia, e a sintaxe, pela fraseologia musical. Assim como o discurso literário<br />
obedece a regras próprias de estruturação, tanto lingüística quanto estética, e assim<br />
como a expressão do discurso literário na oratória verbal é pontilhada de nuances de<br />
interpretação, que o tornam (o discurso literário) menos ou mais eloqüente, assim<br />
também o discurso musical assenta-se sobre procedimentos obrigatórios de expressão<br />
e/ou interpretação.<br />
O poder de expressão da música se manifesta principalmente na impressão<br />
profunda que ela produz sobre o psiquismo humano, excitando os sentimentos e as<br />
paixões. Mas ela é capaz de evocar também um conteúdo ideativo, embora a um nível<br />
inconsciente, com imagens figurativas mascaradas por uma tessitura emocional. Isto<br />
ocorre principalmente nos gêneros onde a música acompanha interpretações cênicas,<br />
como na ópera, teatro, dança, e modernamente, no cinema. Isto é tanto mais certo<br />
269 A chamada Semiótica da Música mereceu uma quantidade extensa de artigos na Internet. Entre<br />
outros, podem ser citados: O que é a Semiótica da Música, de Gil Nuno Vaz, encontrado no site<br />
http://www.pucsp.br/pos/cos/rism/oqe-gil.htm (veja-se também o site<br />
http://www.pucsp.br/pos/cos/rism/index.html, da RISM – Rede Interdisciplinar de Semiótica da<br />
Música); também o artigo em formato PDF: Comunicação, Semiótica e Música, de Maria Cristina<br />
Fernandes, em http://reposcom.portcom.intercom.org.br/.<br />
270 “Victor Zuckerkandl, em Sound and Symbol (1956) – um livro esplêndido –, diz que essa diferença<br />
[diferença de percepção musical por ouvintes sem sensibilidade musical (nota de LGA)] assinala a<br />
distinção específica da música, separando-a de todos os demais fenômenos acústicos. A música, em<br />
suma, tem não apenas ordem – o ruído de um motor também tem. Ela tem significado: aponta para algo<br />
que vai além dos elementos sonoros que a compõem. A distância entre ouvir sons e apreender uma<br />
melodia é a mesma que há entre ouvir palavras e compreender o que dizem – ou, pior ainda, entre<br />
compreender o mero sentido verbal das frases e reconhecer a que elas se referem na vida real.” Citação<br />
feita por Olavo de Carvalho, no artigo A Consciência sem Consciência (13/03/2009). In:<br />
. Sound and Symbol é o primeiro volume da<br />
obra Music and the External World, sendo o segundo volume, Man the musician. Victor Zuckerkandl é<br />
também autor de The Sense of Music (1959).<br />
251
quando se sabe que as emoções, expectativas, as cenas dramáticas e as descrições de<br />
cenários são conduzidas ou manipuladas num fio diretor em nível inconsciente, pelo<br />
fundo musical. Os trechos musicais correspondentes à narrativa cênica, onde existem<br />
cenas de amor, ação, humor, violência, suspense, etc., são bastante expressivos e<br />
inconfundíveis, e evocam imediatamente o tipo de ação a que estão ligados, assim que<br />
ouvidos.<br />
A constelação dos fenômenos sonoros somente pode ser compreendida quando se<br />
vincula um sentido ou significado ao som musical; assim, ele deixa de ser somente um<br />
símbolo, para integrar-se ao universo cultural, o qual é próprio do domínio humano.<br />
Neste caso, ele passa a constituir o denominado signo sonoro.<br />
De acordo com o notável saxofonista de jazz norte-americano, Archie Shepp, os<br />
signos constituídos pelos sons musicais podem existir em três níveis: o nível de<br />
estruturação, para os compositores; o nível de organização, para o executante; e o nível<br />
de integração, para o ouvinte. Ele afirma ainda que, conforme a música seja uma<br />
organização sonora (frase, ritmo, tema) ou somente uma sucessão de sonoridades, ela<br />
será intelectual ou sensorial, mas sempre agindo sobre a sensibilidade do ouvinte. E<br />
antes de adquirir qualquer significado, ela será sempre um fenômeno sonoro.<br />
Embora a música encontre sua maior ressonância na sensibilidade emotiva, é<br />
inegável que ela é capaz, como já se disse, de evocar representações mentais, imagens<br />
e recordações, provando que o signo musical pode estar ligado a significados, se não<br />
em um nível puramente intelectual, pelo menos num nível semântico que o integre.<br />
Assim, se a música não constitui uma linguagem cognoscitiva ou simbólica, ela pode<br />
pelo menos constituir uma linguagem evocativa, que se caracteriza pela possibilidade<br />
de expressar o acontecer psíquico de um sujeito, o seu estado de espírito (ao contrário<br />
da primeira, capaz de comunicar conceitos e expressões simbólicas), e sempre<br />
existindo nos três níveis definidos por Shepp. E se a linguagem musical não possui os<br />
signos capazes de permitir o raciocínio (os conceitos), ela, por outro lado, incentiva a<br />
intuição (insight) e a imaginação, alargando poderosamente o espírito.<br />
10.2 – Interpretação e Execução Musical<br />
Uma obra musical não é uma obra acabada e definitiva; é, na realidade, uma<br />
aproximação à intenção do compositor, aproximação esta que é realizada pelo<br />
intérprete ou executante. Esta interpretação, naturalmente, deve ser buscada na prévia<br />
análise do texto musical escrito, ou partitura. Isto pode exigir sólidos conhecimentos<br />
estéticos e musicais (harmonia e análise musical), aliados a uma sensibilidade e uma<br />
técnica apurada. A expressão musical, ou momento da execução da obra musical, não<br />
está submetida ao arbítrio ou aos caprichos do intérprete; as inflexões, variações de<br />
andamento, intensidade, articulações e combinações rítmicas, melódicas e harmônicas,<br />
etc., não surgem de uma ação livre, mas sim do sentimento estético-artístico que é um<br />
fator endógeno do seu psiquismo, influenciado pelo encadeamento lógico das notas da<br />
obra que executa. A obra musical interpretada é deste modo, uma obra musical<br />
recriada.<br />
A música moderna agregou um fato novo e extremamente relevante à evolução da<br />
interpretação musical. Tal fato é a reprodução mecânica, assim denominada a<br />
reprodução da música por meios mecânicos (ou mais exatamente, eletromecânicos). A<br />
música já não depende da presença do intérprete, a não ser em um primeiro momento<br />
(ou independe dele, na denominada música eletroacústica – vide capítulos XII e XIII),<br />
252
no qual ela é gravada em discos ou em fitas magnéticas. A partir daí sua reprodução<br />
depende unicamente do ouvinte.<br />
Este fato novo da reprodução mecânica da música não garante, ao contrário do que<br />
se possa pensar, um acabamento final e definitivo à obra musical, pois novas<br />
dificuldades se introduzem, como as diferenças acústicas ambientais entre o local da<br />
gravação (feita em ambientes acústicos ideais, os estúdios de gravação) e o local da<br />
reprodução (geralmente ambientes domésticos, de acústica pobre), bem como as<br />
diferenças provenientes do equipamento utilizado na reprodução, sempre inferior ao<br />
utilizado na gravação. Além disso, duas gravações diferentes, realizadas com<br />
orquestras (executantes) e maestros diferentes nunca são iguais; cada obra gravada traz<br />
como que a assinatura musical do maestro ou da orquestra que a executou (vide item<br />
seguinte).<br />
A obra musical não se desvincula do veículo de sua execução. Isto diz respeito aos<br />
instrumentos musicais mais convenientes à expressão das diversas formas musicais, o<br />
que naturalmente implica em dizer que a gama de emoções que o compositor deseja<br />
transmitir com a sua obra exige um instrumental próprio capaz de exprimir a história<br />
delineada na obra musical, com todos os fatos, impressões e sentimentos que lhe são<br />
inerentes. Uma música sacra, por exemplo, somente pode ser executada<br />
convenientemente em um órgão; jamais em uma guitarra elétrica. 271 Com relação aos<br />
sentimentos que se deseja expressar, existem instrumentos adequados a cada um. Se a<br />
flauta está ligada à sensualidade, o oboé e o fagote podem expressar nostalgia ou<br />
melancolia, e o violino, o devaneio e o lirismo. Já o clarinete e o saxofone são<br />
instrumentos que possuem um som másculo e agressivo, próprio dos intelectualmente<br />
inquietos. O som do violoncelo é o preferido pelos intelectuais introspectivos. Os<br />
introvertidos apreciam o som do violão, enquanto que os extrovertidos preferem o<br />
pistom, ou trompete, com o seu som forte e vibrante. E se os intelectuais místicos<br />
preferem o órgão, o piano é claramente o preferido pelos românticos.<br />
Desta maneira, como pode-se ver por todo o exposto, a expressão completa da obra<br />
musical somente atingirá o seu objetivo se utilizar os instrumentos claramente ligados<br />
ao caráter da música que se quer exprimir, separando cuidadosamente suas funções e<br />
enfatizando-os nos movimentos necessários. 272<br />
10.3 – A Estrutura Musical e a Teoria da Informação<br />
O conceito de informação está ligado aos conceitos de código e repertório. Código<br />
é o conjunto de elementos de uma linguagem (linguagem matemática, musical, etc.). O<br />
repertório diz respeito às possíveis combinações dos elementos de um código, que um<br />
sujeito dito receptor é capaz de possuir. Deste modo, a informação é o acréscimo de<br />
novos elementos, ou combinação de elementos ao repertório do receptor. No repertório<br />
deste incluem-se, naturalmente, uma vasta quantidade de códigos, tanto maior quanto<br />
maior seja a complexidade (nível de especialização) do mesmo. A quantidade de<br />
informação transmitida ao receptor é diretamente proporcional à originalidade dos<br />
elementos da linguagem (código) que forem utilizados. Assim, quanto maior a<br />
271<br />
É evidente que esta é uma consideração clássica, normalmente desmentida pelas ousadias da música<br />
da atualidade.<br />
272<br />
E, sem dúvida, a música deve estar inserida no contexto de sua execução. Nos cinema moderno,<br />
como todos os grandes diretores sabem, a trilha sonora tem grande responsabilidade pelo sucesso junto<br />
ao público, da película cinematográfica.<br />
253
originalidade, maior a quantidade de informação. Isto não implica necessariamente em<br />
um enriquecimento do repertório do receptor (maior conhecimento), pois a relação<br />
entre informação e significado é bastante complexa.<br />
A informação pura é isenta de significado, ou de sentido; a informação somente<br />
assume significado após ser decodificada, analisada e estruturada segundo os esquemas<br />
de assimilação de dados do receptor, por comparação ou inferência com estruturas de<br />
informação previamente assimiladas pelo mesmo. Uma informação com alta taxa de<br />
elementos novos é mais original que outra que somente contenha elementos<br />
conhecidos (assimilados), os dois extremos sendo marcados pela banalidade e<br />
monotonia (elementos conhecidos e previsíveis) de um lado, e pela originalidade e<br />
ininteligibilidade (todos os elementos desconhecidos) de outro. Deste modo, pode-se<br />
dizer que há uma relação elementar entre informação e significado: quanto maior a<br />
primeira, menor o segundo, e vice-versa.<br />
Para que uma linguagem seja possível, ela deve conter uma relativamente alta taxa<br />
de elementos repetitivos (com alta probabilidade de ocorrência), isto é, deve ser<br />
altamente redundante (vários símbolos para um mesmo elemento; vários significados<br />
para um mesmo padrão – pattern – de informação). Além disso, na linguagem deve ser<br />
mantido um equilíbrio entre informação e significado; a ordenação dos seus elementos<br />
constitutivos deve ter como limites, de um lado, a univocidade (denotação) e de outro a<br />
ambigüidade (conotação).<br />
No item anterior foi dito que a obra musical jamais é acabada e definitiva; Umberto<br />
Eco afirma que toda obra de arte é fundamentalmente ambígua, onde um único<br />
significante suporta uma pluralidade de significados. Ela não se reduz a um conceito<br />
lógico e unívoco, mas é resultado de uma organização dos seus elementos expressivos,<br />
e qualquer mudança na relação desses elementos alteram-lhe o sentido. Esta<br />
pluralidade de significados, no entanto, resulta de deliberada intenção do autor, o que,<br />
no caso das obras musicais, aplica-se principalmente à música do século XX; música<br />
serial, aleatória, concreta, eletrônica (neste ponto, deve-se lembrar que a música<br />
medieval – flamenga – tinha os chamados cânones enigmáticos, onde dísticos em latim<br />
deveriam ser decifrados pelos intérpretes, para que o cânone se realizasse – vide item<br />
11.5).<br />
Já foi falado, no capítulo II, sobre o conceito de ruído na música. Na teoria da<br />
informação, considera-se ruído a toda alteração (acidental ou provocada) do conteúdo<br />
ou partes do conteúdo de uma informação. Assim, na palavra MÚSICJ, a letra J é<br />
correspondente a um ruído surgido ou introduzido na informação original, que é,<br />
evidentemente, MÚSICA. Percebe-se então que o ruído é indesejável, durante a<br />
transmissão de uma informação.<br />
Esquematicamente, a transmissão envolve: o transmissor; um canal de transmissão;<br />
o(s) receptor(es). O canal de transmissão é o veículo pelo qual a transmissão da<br />
informação atinge o receptor; é tanto mais fiel (melhor qualidade de transmissão)<br />
quanto menos ruídos afetarem a mensagem ou informação. Esta conceituação sobre<br />
ruído, bem como tudo o que foi falado até aqui sobre o assunto não abrange todas as<br />
possibilidades do universo sonoro. Conforme o contexto musical, mesmo sons<br />
musicais podem ser considerados como ruídos, como é o caso dos acordes de afinação<br />
que os instrumentistas efetuam antes do início da execução musical, e que são<br />
indesejáveis à audição desta. As modernas gravações musicais procuram eliminar até<br />
os ruídos provenientes do toque em teclas, cordas, etc, deixando unicamente o som da<br />
254
nota emitida. 273 Por outro lado, gravações ao vivo incluem ruídos ambientes (inclusive<br />
os próprios acordes de afinação) que acabam se incorporando ao espetáculo, dando-lhe<br />
um dinamismo imprevisto na partitura musical.<br />
Já há algum tempo os ruídos, mesmo os considerados desagradáveis, foram<br />
incorporados às obras dos compositores, inicialmente para criar um fundo sonoro 274 e<br />
atualmente fazendo parte da própria composição musical, como é o caso, p. ex., da<br />
música concreta. 275 Para a teoria da informação, não existe diferença estrutural entre<br />
ruído e sinal (informação), vale dizer entre ruído e música.<br />
Abraham Moles lançou mão da teoria da informação, para realizar um estudo<br />
crítico da mensagem musical. Sua conclusão é que, ao invés de a teoria musical<br />
acadêmica encontrar apoio científico nesta, encontra tão somente uma refutação de<br />
seus princípios considerados mais sólidos. Para Moles, a teoria musical está eivada de<br />
contradições, e ele procura ressaltar a imprecisão e a indefinição dos conceitos<br />
estabelecidos sobre harmonia, contraponto, composição, tonalidade, etc. Segundo ele, a<br />
notação musical ainda não é capaz de indicar com precisão a verdadeira idéia musical<br />
do compositor, e também sofre distorções na execução, devido a variações orquestrais,<br />
variações de afinação, interpretações de regência, ambiente acústico, entre outros<br />
fatores.<br />
A ambigüidade da mensagem musical toma limites insuspeitados, quando se<br />
analisa a estrutura sonora sob os aspectos de níveis ou gradações dinâmicas, gradações<br />
de altura, distâncias harmônicas e melódicas, etc., quando então se notam diferenças<br />
significativas entre as execuções de diferentes regentes. A incerteza é tão grande que a<br />
duração, por exemplo, da Nona Sinfonia, tem um afastamento de 15%, ou<br />
aproximadamente dez minutos, entre a duração da mesma com regência de Toscanini<br />
(63,25 minutos) e com regência de Furtwangler (73,50 minutos), tendo o regente G.<br />
Ward no meio termo (com 68,50 minutos).<br />
273 Koellreuter (Hans-Joachim Koellreuter, compositor suíço-brasileiro, musicólogo e fundador da<br />
Escola Livre de Música Pró-Arte de São Paulo – 1915-2005) denomina mescla, a esta combinação de<br />
som e ruído.<br />
274 Richard Strauss exigia uma máquina de vento em sua obra Dom Quixote (1898), para simular<br />
moinhos de vento. Erik Satie compôs uma música para o balé Parade, apresentado em 1917, onde<br />
utilizava um fundo sonoro composto de sons de sirene, dínamos e máquinas de escrever. Edgard Varèse<br />
utilizou sons de sirene em sua obra Ionisation (1930-31).<br />
275 Pierre Shaeffer compôs em 1948 a obra denominada Estudos de Ruído, para demonstrar que nem só<br />
com sons musicais se pode criar a música, e que é possível transformar o próprio ruído em música.<br />
255
A música, como arte, baseia-se em sólidos princípios científicos, como se viu nos<br />
primeiros três capítulos desta obra. A teoria musical que se desenvolveu<br />
principalmente a partir do século XVII (sistema tonal; modos maior e menor; teoria<br />
dos acordes; etc.), bem ou mal, serviu como um sistema teórico capaz de fundamentar<br />
a produção de uma grande quantidade de peças musicais que ainda são extensamente<br />
executadas em todos os palcos musicais do mundo. A crítica de Moles é cientificista, e<br />
quer exigir algo que talvez seja impossível de se fazer, que é tornar científica, uma<br />
categoria de produção humana que talvez não se enquadre desta maneira. Assim como<br />
a intuição serve ao cientista, ao artista serve a inspiração, e ambas as produções devem<br />
reger-se pelos seus próprios métodos. Método científico, no primeiro caso; método<br />
artístico, no segundo. A música, como arte, exige três instâncias: a composição (o<br />
compositor e a sua inspiração); a reprodução (o intérprete e a sua técnica ou<br />
virtuosismo); a audição (o ouvinte e o seu senso artístico). O método artístico interfere<br />
unicamente nas duas primeiras (por exemplo, se ao compositor cabe anotar a sua<br />
música, cabe ao intérprete saber lê-la e executá-la com maior ou menor perfeição). 276<br />
Entretanto, as variações de interpretação dificilmente serão percebidas pelo ouvinte<br />
médio (que constitui a grande maioria da audiência).<br />
Em função da ambigüidade da mensagem musical, bem como do repertório do<br />
indivíduo receptor, o qual é função principalmente de sua educação formal e cultura<br />
musical, o conjunto desta mensagem apresenta-se como uma sucessão variável de<br />
feixes ou blocos cuja originalidade é função do número de repetições e da<br />
complexidade dos elementos musicais. A atenção do ouvinte varia principalmente na<br />
razão da maior ou menor originalidade da mensagem, a qual, se muito alta, pode levar<br />
o ouvinte a rejeitá-la, por chocar-se com os seus esquemas culturais já consolidados,<br />
não encontrando ressonância neles. Este é o motivo porque muitas obras musicais<br />
somente são aceitas pelo público muitos anos depois de sua primeira apresentação,<br />
quando então já se tornaram banais, pela contínua reapresentação (ou pela assimilação,<br />
pelo público, das novas estruturas de informação). É o caso, p. ex., de Stravinsky, com<br />
a sua obra Sagração da Primavera, que escandalizou a platéia em sua primeira<br />
apresentação. Também a excessiva redundância pode provocar a diminuição do<br />
interesse do ouvinte, bem como a banalidade (pouca originalidade).<br />
Moles afirma que a obra musical, sob a forma de mensagem, pode ser traduzida<br />
sob o aspecto semântico (simbolismo lógico) ou sob o aspecto estético (estado<br />
subjetivo), esta última sendo bem mais rica em elementos, de onde se infere que<br />
comporta uma maior quantidade de informações (inclusive com um nível elevado de<br />
redundância).<br />
A estrutura de uma mensagem qualquer é determinada pelas suas regras internas<br />
que a organizam e ao seu repertório de símbolos; as notações operatórias presentes na<br />
partitura formam o campo de possibilidades para a estruturação de um esquema de<br />
música, onde a parte semântica assume valor preponderante. Por exemplo, ao<br />
executante interessa muito mais o esquema operatório (leitura e interpretação da<br />
partitura) do que o aspecto estético de fruição da música que executa (exceto, é claro,<br />
nos improvisos, quando o executante deixa-se levar por esta fruição).<br />
276 Veja-se, como complemento a este tema, o artigo As Metáforas na Música, de Frederico Richter, na<br />
Revista Brasiliana Número 4 - Janeiro de 2000 (da Academia Brasileira de Música, cujo site encontra-se<br />
em http://www.abmusica.org.br/).<br />
256
A informação estética e a informação semântica na mensagem musical podem ser<br />
discriminadas ou separadas experimentalmente através de processos de filtragem.<br />
Como foi visto, a incerteza na obra musical está ligada a variações (parâmetros de<br />
afastamento) de timbre, dinâmica, transitórios de ataque, variações dinâmicas, etc., os<br />
quais se ordenam na dimensão geral de nível (aspecto dinâmico da execução). Deste<br />
modo, pode-se destruir seletivamente a parte estética da mensagem (num processo<br />
denominado de desbaste infinito), pela degradação progressiva do nível dinâmico, até a<br />
vizinhança de zero. O resultado dessa anulação é que não restará da parte estética<br />
senão os elementos temporais (variações de duração e ritmo, desvios de valores das<br />
notas, etc.). A inteligibilidade, no entanto, fica preservada, pois os trechos ainda<br />
poderão ser reconhecidos ou recuperados (reescritos) por músicos experientes. A<br />
inteligibilidade está, então, ligada à informação estética.<br />
A informação semântica, por sua vez, para ser destruída, exige o processo<br />
denominado de inversão, que é o equivalente da execução musical ao contrário, o que<br />
só é possível com uso de gravadores magnéticos de fita. A inversão destrói o sentido<br />
do discurso musical, deixando-o ininteligível; a articulação ou encadeamento de<br />
seqüências de objetos sonoros, no entanto, não é afetada. A conseqüência disto é que<br />
alguns fatores considerados pela teoria musical como extremamente importantes, como<br />
a resolução dos acordes e o retorno à dominante, tornam-se, segundo Moles,<br />
irrelevantes, como o sugere as experiências que realizou, onde grupos de ouvintes nãomúsicos<br />
(ou seja, desacostumados à audição musical) manifestaram preferência pela<br />
música (obras de compositores conhecidos) executada de modo inverso, à execução no<br />
modo direto. Sua conclusão é que esta inversão temporal permitiu revelar a influência<br />
da cultura e dos costumes sociais na elaboração das estruturas musicais, bem como<br />
denunciou seu convencionalismo, quando não o seu dogmatismo, e que, se o indivíduo<br />
não for cerceado por regras de apreciação musical derivadas ou impostas pelo seu<br />
ambiente sócio-cultural, ele pode preferir músicas exóticas e de alto grau de<br />
originalidade, em detrimento da música harmônica ou tonal.<br />
257
258
CAPÍTULO XI<br />
EVOLUÇÃO DA FORMA E DA TEORIA MUSICAL<br />
11.1 – A origem da Música<br />
A palavra música tem a sua origem no grego musiké téchne, ou seja, a arte das<br />
musas. 277 É uma forma de manifestação artística que invade todas as culturas e<br />
sociedades, em todo o mundo e ao longo de toda a história humana conhecida.<br />
Em sociedades mais primitivas 278 a música tem uma forte conotação religiosa,<br />
sendo utilizada em cerimônias, rituais, festas e funerais. Nestas sociedades primitivas,<br />
o ritmo predomina sobre a melodia, que costuma ser bastante monótona. 279<br />
De acordo com a Wikipédia, 280 “a história da música envolve ao menos:<br />
• As origens culturais da música em cada grupo humano estudado.<br />
• As influências culturais e sociais que a música exerce e sofre ao longo de<br />
seu desenvolvimento.<br />
• A origem e evolução de seus sistemas musicais característicos (que<br />
envolvem suas estruturas rítmicas, melódicas e harmônicas).<br />
• O desenvolvimento das formas musicais, gêneros e estilos.<br />
• A história dos instrumentos musicais e técnicas associadas à sua execução.<br />
• A influência mútua entre a música e os demais movimentos culturais.<br />
• A origem e evolução dos sistemas teóricos utilizados para estudá-la,<br />
incluindo sistemas de notação e análise musical.<br />
• As principais personalidades envolvidas na sua evolução. Os compositores<br />
e músicos que marcaram cada período ou gênero específico ou que<br />
impulsionaram o desenvolvimento de novas formas, estilos e gêneros.<br />
• A cronologia de todos estes temas”.<br />
Ainda de acordo com a Wikipédia, “os métodos usados no estudo da história da<br />
música podem incluir a análise de manuscritos e iconografia, o estudo de textos<br />
críticos ou literários, a associação entre música e linguagem e a relação entre a música<br />
277 Ou também é proveniente da palavra grega mousike, arte de compor melodias.<br />
278 A conotação da palavra primitivo não é a de sociedade atrasada, e sim de sociedade nãoindustrializada,<br />
ou mesmo de sociedade ágrafa (cujo conceito antropológico é o de: sociedade que não<br />
conhece a escrita). As sociedades ditas primitivas podem ser (e geralmente são) bastante complexas em<br />
sua estrutura social e cultural.<br />
279 Mário de Andrade (ANDRA<strong>DE</strong>, 1958) afirma que as músicas indígenas (entre os Bororôs, Macuchis,<br />
Vapichanas, Coroados, etc.) são de grande complexidade rítmica, mas extremamente pobres sob o ponto<br />
de vista melódico. Pesquisas mais recente (tais como a do antropólogo belga Etiénne Samain, da<br />
Unicamp, que recolheu material musical em bruto junto aos índios Kamayurás e Urubu-Kaapor, no alto<br />
Xingu, entre 1977 e 1982), confirmam estas características. Quanto à etnóloga e compositora Marlui<br />
Miranda, cujos CDs, IHU - Todos os sons e 2 IHU Kewere: Rezar dão a impressão de que a música<br />
indígena é bastante melódica, deve ser lembrado que as músicas foram adaptadas de cânticos indígenas,<br />
e além disso, arranjadas e gravadas com instrumentos orquestrais.<br />
280 WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico.<br />
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=M%C3%BAsica&oldid=3789646. Acesso em:<br />
11 Nov 2006. O tema encontra-se no verbete: História da Música (recomenda-se a consulta a esta<br />
enciclopédia, para maiores informações). Foi aqui reproduzido devido à sua abrangência.<br />
259
e a sociedade. A análise de artefatos arqueológicos e a documentação etnográfica<br />
também são instrumentos úteis a este campo do conhecimento”.<br />
A origem da música se perde nas eras mais remotas, pois sempre esteve presente<br />
entre os mais antigos povos. Cada povo teve os seus próprios instrumentos musicais, e<br />
o seu próprio tipo de música. Para os povos mais antigos, a música tinha origem<br />
divina.<br />
Não existe documentação escrita sobre a música das sociedades mais recuadas no<br />
passado. No máximo, existem alguns monumentos de pedra com figuras esculpidas,<br />
onde se podem ver grupos de executantes com os seus respectivos instrumentos<br />
musicais. Mas o sistema musical é totalmente desconhecido, não se conhecendo as<br />
tonalidades, escalas, notações, etc., que usavam. 281 Quanto à teoria musical, restam<br />
unicamente alguns resquícios das teorias musicais de alguns povos, como o indiano, o<br />
chinês e outros.<br />
Alguns historiadores pensam que o sistema musical se desenvolveu a partir da<br />
China e da Índia, daí se espalhando à Pérsia e Egito, e deste último, à Grécia antiga.<br />
Outros afirmam uma maior antiguidade. 282<br />
Na Índia antiga existia a mesma escala de sete sons, embora com uma disposição<br />
diferente da atual. 283 A nota fundamental era denominada swara, à qual seguiam-se as<br />
notas: richalda, gadhara, machyama, parchama, dahirita e nicheda, cujas primeiras<br />
sílabas sa, ri, ga, ma, pa, da, ni, serviam de nomenclatura para a respectiva<br />
vocalização. Entre os graus distribuíam-se, de modo desigual, intervalos menores<br />
denominados sruti, sendo que havia quatro sruti entre o primeiro e o segundo grau, três<br />
sruti entre o segundo e o terceiro grau, etc. O principal e o mais antigo instrumento<br />
musical era a vina, semelhante a uma grande cítara; havia também uma grande<br />
profusão de instrumentos de corda, sopro e percussão.<br />
A escala chinesa antiga era constituida de cinco sons, na escala denominada<br />
pentatônica, 284 que correspondia aos cinco planetas então conhecidos: Mercúrio,<br />
Júpiter, Saturno, Vênus e Marte; aos cinco elementos: madeira, água, terra, metal e<br />
fogo; às cinco direções: norte, sul, leste, oeste e centro; e às cinco cores: preto, violeta,<br />
amarelo, branco e vermelho. Por volta de 2630 a.C., durante o reinado de Hoang Ti, o<br />
sábio Ling Lun sistematizou a arte da música, demonstrando a existência de um som<br />
fundamental (denominado huang chung) gerador dos outros sons, os quais derivam<br />
deste por uma progressão natural de quintas ascendentes e quartas descendentes<br />
resultantes da combinação tripla com a dupla, numa sucessão de sons limitados a uma<br />
oitava. Aos cinco sons originais ele acrescentou outros, inclusive semitons, criando<br />
uma escala cromática de doze sons, cujos intervalos eram chamados lu. 285 A escala<br />
281 Ainda na atualidade, os indígenas nativos de diversas regiões em todo o mundo possuem suas<br />
próprias concepções e suas próprias interpretações a respeito da música e de como executá-la. Por<br />
exemplo, enquanto que o músico ocidental dá extrema importância à altura da nota, o indígena pode dar<br />
mais relevância ao timbre do instrumento (como vários pesquisadores já constataram). Além disso,<br />
conforme já se viu, os modos e as escalas variam bastante, assim como a quantidade de notas usadas.<br />
282 Veja-se em uma extensa argumentação sobre a origem da música.<br />
283 A música da Índia se caracteriza pelo que se chama raga. A raga é o nome dado aos modos da música<br />
indiana (também, composição poética cujo acompanhamento obedece a estes modos).<br />
284 É importante compreender que a oitava, nesta escala, continua sendo a nota igual ao dobro (ou a<br />
metade) da freqüência da primeira nota da escala. Assim, a oitava não é, necessariamente (embora possa<br />
ser, como no caso da escala pentatônica em FÁ maior), a sexta nota da escala pentatônica.<br />
285 As escalas chinesas surgiram a partir dos sons emitidos por tubos acústicos. A chamada teoria dos<br />
doze tubos e das cinco notas é extremamente antiga na literatura da China, tendo sido citada por autores<br />
como Liu Pu-wei e Sima Qian.<br />
260
completa era dividida em duas séries de sons, denominados, respectivamente, série<br />
perfeita (FÁ-SOL-LÁ-SI-DÓ-RÉ) e série imperfeita (DÓ-SI-MI-FÁ-SOL-LÁ).<br />
Entretanto, na prática a escala realmente utilizada era a de cinco sons, excluindo-se as<br />
notas SI-MI e todos os sustenidos. As cinco notas eram designadas: Kung, sciang, kio,<br />
tsie, yu. 286 Modernamente, são denominadas: lieu (FÁ), u (SOL), y (LÁ), sciang (SI),<br />
tscie (DÓ), kong (RÉ), fan (MI), sendo a notação escrita de cima para baixo e da direita<br />
para a esquerda. O principal instrumento chinês era o kin, uma espécie de alaúde com<br />
sete cordas de seda, existindo também variados instrumentos de sopro, cordas e<br />
percussão. A música chinesa, tal como é hoje conhecida, é tanto melódica quanto<br />
rítmica, e acredita-se ainda hoje que sirva para espantar os maus espíritos.<br />
Da música egípcia pouco se conhecia até meados da década de 1930, quando foram<br />
descobertos documentos coptas provenientes da Armênia, os quais lançaram luzes<br />
sobre a notação musical dos antigos egípcios. Do estudo destes documentos descobriuse<br />
que sua escala musical era manifestamente idêntica à escala musical moderna<br />
(escala menor).<br />
Da análise dos documentos coptas, realizada por diversos arqueólos e historiadores<br />
da arte (Universidade de Princeton, Museu Metropolitano de Arte, Museu Roerich,<br />
entre outras instituições), resultou a descoberta revolucionária de que os egípcios<br />
conheciam a harmonia, a dissonância, os intervalos de microtom, e possuíam uma<br />
notação avançada para a duração ou valor das notas musicais (onde usavam círculos de<br />
tamanho e cores diferentes), escrita em partituras musicais. As composições musicais<br />
encontradas entre os documentos coptas eram do tipo religioso (hinos sacros), que,<br />
depois de re-escritas em notação moderna e executadas, mostraram ter um caráter<br />
solene e majestoso, nada devendo às composições sacras do Ocidente.<br />
11.2 A música na Grécia antiga<br />
Embora esparsos e fragmentários, os conhecimentos musicais dos gregos antigos<br />
foram os únicos que sobreviveram até a era moderna, permitindo reconstituir parte do<br />
seu sistema musical.<br />
A música grega possuía instrumentos de corda, sopro e percussão; entretanto,<br />
destes últimos eram usados apenas o tambor, o címbalo, o sistro 287 e o triângulo, sendo<br />
banidos os mais barulhentos. Dos instrumentos de sopro, as trompas só eram utilizadas<br />
nas ocasiões dos desfiles militares. Os mais conhecidos instrumentos gregos eram a lira<br />
e a cítara, considerados instrumentos nacionais. As flautas, chamadas auloi, eram<br />
bastante utilizadas.<br />
Os principais teóricos gregos foram: Platão; Euclides; Aristóteles; Pitágoras;<br />
Aristóxenes; Alípio de Alexandria; Philolau; Architas; Eratosthenes; Didimo;<br />
Ptolomeu. As principais escolas ou doutrinas musicais foram a pitagórica e a<br />
aristoxênica.<br />
286 Alternativamente: kong, zhi, chang, yu e kio. As cinco notas eram chamadas notas puras, em<br />
contraposição a duas outras notas introduzidas pelo rei Wen: pien khong e pien zhi.<br />
287 O sistro é um instrumento de percussão, tipo chocalho. Era feito de bronze, madeira ou faiança (um<br />
tipo de porcelana). No antigo Egito, os sistros eram usados em rituais religiosos e mágicos.<br />
261
Um dos mais antigos textos gregos (escrito por volta de 300 a.C.) que abordam a<br />
divisão das escalas musicais é atribuído (supostamente) a Euclides, e é conhecido pelo<br />
nome de Sectio Canonis (Divisão de um monocórdio)”. Essa atribuição de autoria<br />
deve-se à forma de apresentação da obra, que se compõe de uma breve introdução<br />
sobre as causas dos sons e suas alturas, enquanto quantidades relativas, e mais vinte<br />
proposições acerca da matemática musical, apresentadas sob a forma de teoremas<br />
(nessa obra, os intervalos são expostos como razões entre números inteiros).<br />
Os gregos chamavam de isotoni ou omotoni os sons de mesma altura, e de<br />
diastema aos intervalos entre dois sons diferentes. Os intervalos tinham as seguintes<br />
denominações: hemitonion (semitom); tonos (tom); trihemitonion (3ª. menor); ditonion<br />
(3ª. maior); diastessaron (4ª. dim.); diapende (5ª. justa); diapson (oitava). Além destes<br />
eram usados o tritonon (4ª. aum. e 5ª. dim.); pentatonon (7ª. menor); tetratonon (6ª.<br />
menor). A sexta maior (tetratonon mais hemitonion) eram menos usados.<br />
Os intervalos que seguiam por graus conjuntos (tom e semitom) eram chamados<br />
intervalos simples, e intervalos compostos os que continham grande quantidade de<br />
intervalos simples. Quando executados simultaneamente, eram chamados intervalos<br />
consoantes (syphona ou sinfonia) ou intervalos dissonantes (diaphona ou diafonia),<br />
sendo consoantes a quarta e a oitava, e dissonantes os demais. A dissonância não era<br />
permitida no acompanhamento.<br />
O sistema musical grego era baseado no tetracorde, denominado teleuse, uma série<br />
de quatro sons nos quais os sons extremos eram fixos 288 e os internos podiam variar em<br />
altura. 289 De acordo com as variações dos intervalos entre os quatro graus, distinguiamse<br />
os três gêneros: tetracorde diatônico; tetracorde cromático; tetracorde enarmônico.<br />
No diatônico não havia nenhuma alteração; no cromático, havia alteração de semitom;<br />
e no enarmônico, alteração de quarto de tom. O centro tonal era o agudo, pois os<br />
tetracordes eram descendentes:<br />
O gênero diatônico seguia por tom, tom e semitom; o cromático, por tom (3ª.<br />
menor ou 2ª. aum.), semitom e semitom; e o enarmônico, por dois tons (3ª. maior),<br />
quarto-de-tom e quarto-de-tom. Cada um destes gêneros tinha uma expressão própria<br />
(ethos); assim, o gênero diatônico era considerado majestoso e solene, sendo o gênero<br />
mais usado por ser o mais fácil e natural de se executar. O cromático era o mais<br />
artístico e mais difícil, próprio para a música instrumental. O enarmônico era o mais<br />
elevado e perfeito, mas o menos usado.<br />
288 Os sons extremos, que eram fixos, tomavam o nome de cordas fixas.<br />
289 Os sons médios ou internos tomavam o nome de cordas móveis.<br />
262
Dois tetracordes podiam ser encadeados por junção (synaphé) ou separação<br />
(diazeuxis), havendo neste um intervalo de um grau entre os tetracordes, enquanto que<br />
no primeiro a nota final do primeiro tetracorde coincidia com a nota inicial do segundo<br />
tetracorde.<br />
A escala completa era constituída de quatro tetracordes, idêntica à moderna escala<br />
de LÁ menor melódica, só que em sentido descendente:<br />
Para completar duas oitavas era juntada a nota LÁ ao grave, e mais um SIb central<br />
de função modulante, e o sistema assim constituído tomava o nome de sistema perfeito.<br />
O tetracordes hyperboleon e diezeugmenon, e mezon e hypaton eram encadeados por<br />
junção, enquanto que os tetracordes diezeugmenon e mezon eram encadeados por<br />
separação.<br />
Na música atual as cadências são executadas principalmente sobre a nota DÓ (grau<br />
I, tônica) e sobre a nota LÁ (grau V, dominante). Na música grega era possível<br />
cadenciar sobre qualquer dos sons da série diatônica, do que resultavam sete modos,<br />
denominados segundo a sua localização geográfica. Os modos se formavam pela<br />
junção dos respectivos tetracordes (junção por separação):<br />
Tetracordes dóricos: MI-RÉ-DÓ-SI LÁ-SOL-FÁ-MI<br />
Tetracorde frígios: RÉ-DÓ-SI-LÁ SOL-FÁ-MI-RÉ<br />
Tetracordes lídios: DÓ-SI-LÁ-SOL FÁ-MI-RÉ-DÓ<br />
O modo dórico tinha caráter melancólico e austero. O modo frígio foi criado por<br />
Mársis, da Frígia, e tinha um caráter vivo, enérgico e brilhante, embora licencioso. O<br />
modo lídio é atribuído a Anfion, e seu caráter era ambíguo: ora triste, ora animado e<br />
encantador. Havia também o modo eólio (eólico, ou hiperdórico), de caráter grandioso,<br />
usado nas monodias teatrais, e o modo iônico (jônico), de caráter enérgico e ardente.<br />
Destes modos, considerados originais, derivavam-se outros pelo transporte, uma<br />
oitava abaixo, do tetracorde mais agudo, e acrescentando um som no grave:<br />
Pela aplicação do mesmo processo aos outros modos, obtinha-se:<br />
263
Atribui-se à poetisa Safo a criação do modo denominado mixolídio, cuja estrutura<br />
foi muito discutida pelos teóricos gregos:<br />
Para os gregos, o modo fundamental, ou modo nacional por excelência, era o<br />
dórico ou doristi, sobre o qual se construiu o sistema denominado teleion (sistema<br />
perfeito).<br />
A notação musical grega era dupla, sendo uma derivada de um alfabeto primitivo,<br />
denominado krusis, e outra aplicada à música vocal, denominada lexis, que usava o<br />
alfabeto grego comum. As pausas eram indicadas por modificações da letra lambda<br />
(Λ).<br />
A teoria musical era estudada sob o nome de Harmônica. Estudavam-se os sons,<br />
intervalos, sistemas, gêneros, tons ou troppos, a modulação (metábola ou metabole) e a<br />
melodia (melopéia). A harmonia era exclusivamente monódica, à qual os instrumentos<br />
ajuntavam periodicamente sons de sustentação.<br />
Os elementos rítmicos eram estudados com o nome de Musica. A música grega era<br />
gandemente enriquecida pelo ritmo, pois não era considerada uma arte isolada, e sim,<br />
relacionada à poesia e à dança. Deste modo a rítmica abrangia a melodia, a palavra e a<br />
dança (movimento corporal).<br />
Aristóxenes estabeleceu para as três artes uma única quantidade de tempo, ou<br />
unidade de medida de tempo, denominada tempo primeiro, indivisível, correspondente<br />
ao som mais curto, à sílaba mais breve da poesia, e ao gesto mais rápido da dança.<br />
Tinha um múltiplo, correspondente ao seu dobro. Da junção destes dois valores eram<br />
constituídos os pés (rítmos), que tinham de três a seis tempos primeiros, divisíveis em<br />
partes iguais ou desiguais, onde uma correspondia ao pé se erguendo para dançar<br />
(arsis) e a outra correspondia ao pé batendo no chão (thesis): 290<br />
290 O sinal gráfico representa um tempo longo; o sinal gráfico , um tempo curto.<br />
264
Estes dois movimentos (thesis e arsis), repetidos, acentuavam a frase musical<br />
(kola), pela prótase (1º. membro) e apódase (2º. membro). A reunião dos dois kolas<br />
determinava a extensão do período métrico da poesia ou da música, e vários períodos<br />
seriados constituíam a estrofe. A reprodução da estrofe pelos mesmos motivos do ritmo<br />
denominava-se antistrofe.<br />
A música tinha grande importância social, e era cantada por cantadores ambulantes<br />
denominados rapsodos, os quais, acompanhando-se na lira de quatro cordas, louvavam<br />
os heróis, os feitos épicos e os deuses. Havia o predomínio de certas melodias, às quais<br />
se atribuía influência mágica e moral. Eram denominados nomos (ou nomoi), tendo<br />
sido inventados por Grisotemi de Creta e aperfeiçoados por Terpandro, famoso músico<br />
e poeta. Havia o nomoi aulético, para flauta, e aulódico, para flauta e canto. Podiam ser<br />
frígios, eólios, dactílicos, iambicos, e quando cantados sobre dois ou três modos eram<br />
denominados bi-partidos ou tri-partidos. Eram designados conforme o deus que<br />
louvavam: nomos pítico, dedicados a Apolo; ditirambo, dedicados a Dionísio ou Baco.<br />
Os ditirambos eram cantados e dançados em movimentos rápidos, por um coro de 50<br />
pessoas vestidas como sátiros, e acompanhados por instrumentos musicais. Eram em<br />
geral improvisados, com abundância de metáforas em linguagem eloqüente. O<br />
ditirambo foi um dos precursores da tragédia, gênero do teatro grego (a palavra<br />
tragédia é derivada de tragus, uma pele de carneiro que os dançarinos do ditirambo<br />
levavam ao dorso).<br />
No teatro grego, o elemento principal era o coro, o qual comentava o<br />
desenvolvimento do drama, interpretava peças líricas acompanhadas de flautas, ao<br />
mesmo tempo que executava movimento de mímica e dança adequados ao assunto. O<br />
lugar do coro era no centro do teatro, na orkhesta. Dividia-se em duas fileiras, uma<br />
defronte a outra, trocando posição de acordo com o caráter do drama e dos cantos.<br />
Quando se movimentava ao redor do altar de Dionísio, tomava o nome de coro<br />
circular. O coro entrava solenemente na orquestra após a primeira cena, e lá ficava até<br />
o fim da repreesentação. Os cantos eram divididos em: párodos, ao entrar na orquestra;<br />
stásima, cantado entre as partes do diálogo; kommos, uma espécie de lamentação<br />
coletiva; e o êxodo, na saída. Na tragédia, o drama era dividido em: prólogo; párodos;<br />
stásima; episódio; êxodo.<br />
A música coral dos antigos gregos não conhecia a polifonia, pelo que o canto coral<br />
era essencialmente monódico.<br />
265
11.2.1 A teoria musical grega<br />
A base do sistema musical grego eram os sete sons (heptacordo) da lira, que<br />
formavam a escala diatonal. Estes sons tinham correspondência com os sete planetas<br />
da astronomia grega, e tinham as seguintes denominações: hypate; parypate; lichanos;<br />
meze; trite; paranete; nete. Estas notas eram correspondentes às cordas da lira, às quais<br />
ajuntava-se outra, acessória: proslambanomene.<br />
A série de oito sons era formada por dois conjuntos de quatro sons (tetracordes ou<br />
teleuses), os quais podiam ser conjuntos ou disjuntos. O tetracorde conjunto tinha por<br />
base a lira heptacorda, e o disjunto tinha por base a lira octacorda.<br />
Os tetracordes conjuntos e disjuntos formavam os modos, os quais eram<br />
organizados segundo a nota inicial, a forma e a posição dos graus da escala, na<br />
extensão da oitava. Não existia o centro tonal baseado na tônica; regiam a forma dos<br />
modos centrais pela meze, ordenada invariavelmente no quinto grau descendente. Este<br />
som era denominado som diapasônico, e era ele que regulava o temperamento da lira.<br />
O quarto som ascendente ou descendente, devido ao acento tônico da meze,<br />
subentendia o hymen ou hyphen de ligação (conjunção) ou disjunção. Os teleuses<br />
denominavam-se, segundo as posições grave, média, disjunta e aguda: hypaton; mezon;<br />
diezeugmenon; hyperboleon, cada um constituindo um plano:<br />
Como já se disse, as notas originaram-se das cordas da lira. Inicialmente, eram<br />
apenas quatro, cujo tetracorde foi denominado mezon (cordas médias); a este tetracorde<br />
juntou-se outro, posteriormente, o hypaton (cordas graves), e mais um som foi<br />
acrescentado, dando oito notas. Em seguida, duplicou-se a a oitava, com o surgimento<br />
do tetracorde diezeugmenon (cordas separadas) e hyperboleon (cordas agudas). O som<br />
correspondente ao SI atual (clave de SOL, terceira linha), podia ser substituído pelo<br />
Sib. Deste modo, formava-se um novo tetracorde, denominado sinemenon (cordas<br />
unidas), sendo que os quinze sons anteriores formavam o sistema perfeito.<br />
O sistema, composto de quinze sons, era formado por duas séries de dois<br />
tetracordes disjuntos cada uma, precedidos da fundamental mediana LÁ. Compreendia<br />
a escala do modo central MI-MI, com os tetracordes hypon e hyper da dominante MI:<br />
A nota central LÁ (diapasônica) estabelecia a normal do plano mezon para as<br />
transposições de modo (hypon ou hyper), as quais não alteravam os intervalos do<br />
sistema de 15 notas (as transposições eram indicadas pela colocação extrema, aguda ou<br />
grave, da meze, e a conseqüente centralização da hypate). Com isto, o registro mais<br />
grave ou mais agudo das vozes era ampliado, sem quebra do ethos modal. O transporte<br />
sobre os diversos graus, ou transposição, tinha o nome de tom, que era a altura em que<br />
começava o modo:<br />
266
Ou:<br />
O sistema perfeito tinha a seguinte distribuição:<br />
O sistema fixo e completo, denominado sistema perfeito imutável, era composto de<br />
18 notas (quando atingia a terceira dominante extrema, MI):<br />
MI-FÁ-SOL-LÁ-SI-DÓ-RÉ-MI-FÁ-SOL-LÁ-SI-DÓ-RÉ-MI-FÁ-SOL-LÁ<br />
O sistema completo, orientado pela diapasônica do moderno sistema tonal (DÓ),<br />
fica assim esquematizado:<br />
Os planos do sistema eram: hypaton, hypon, mezon, mezon e hyper.<br />
O sistema completo era fundamentado em cinco modos centrais, que se<br />
denominavam: dórico; jônico; frígio; eólio; lídio, cuja diapasônica tinha a posição<br />
fixada pela meze, que oscilava entre o LÁ médio e a sua quinta superior. A posição<br />
grave ou aguda era indicada pela junção do prefixo hipo ou hiper (hipojônico ou<br />
hiperjônico, hipodórico ou hiperdórico, etc.). Desse modo, a designação prefixo +<br />
modo indicava a transposição superior ou inferior do modo, cuja escala iniciava-se pela<br />
quinta central, denominada meze. Esta quinta, ou mediana, tinha a função de tônica<br />
modal (ou seja, a mesma função atrativa da tônica atual):<br />
Dórico: MI - RÉ - DÓ - SI - LÁ - SOL - FÁ - MI<br />
Frígio: RÉ - DÓ - SI - LÁ - SOL - FÁ - MI - RÉ<br />
Lídio: DÓ - SI - LÁ - SOL - FÁ - MI - RÉ - DÓ<br />
Jônico: SI - LÁ - SOL - FÁ - MI - RÉ - DÓ - SI<br />
Eólio: LÁ - SOL - FÁ - MI - RÉ - DÓ - SI - LÁ<br />
267
A organização dos modos gregos pode ser melhor entendida vertendo-os para o<br />
sistema moderno, ou seja, traduzindo os teleuses, pela transposição da meze e<br />
conseqüente inversão estrutural da nova escala temperada:<br />
Heptacordo: SOL - LÁ - SI - DÓ - RÉ - MI - FÁ<br />
Octacordo: DÓ - RÉ - MI - FÁ - SOL - LÁ - SI - DÓ<br />
O modo dórico distingue-se da escala menor moderna pelo semitom do sexto e<br />
sétimo graus, e pelo tom entre o sétimo e o oitavo grau (o modo dórico era<br />
considerado, como se viu, o modo nacional):<br />
O modo jônico tem a mesma disposição de intervalos que a escala maior moderna:<br />
O modo frígio começa com um semitom e acaba com um tom entre o sétimo e o<br />
oitavo graus (este modo era destinado ao ditirambo, que era a forma poética de culto ao<br />
deus Dionísio, de cujo culto originou-se o drama satírico e a tragédia):<br />
O modo eólio tem uma disposição diferente para os intervalos de tom e semitom:<br />
O modo lídio diferencia-se da escala maior pelo semitom entre o quarto e o quinto<br />
grau:<br />
268
O modo mixolídio, por sua vez, distingue-se da escala maior moderna pelo tom<br />
situado entre o sétimo e o oitavo grau:<br />
O modo mixolídio, SOL-SOL, é o modo de indeterminação. Isto em razão do FÁ<br />
natural, nota essencial, a qual exclui a sensível e conduz uma cadência sobre o acorde<br />
da subdominante DÓ.<br />
Do modo mixolídio, a extrema SOL compõe a meze do modo frígio; FÁ é a meze<br />
do modo lídio, e DÓ é a dominante do modo hipolídio, na ordem crescente (na<br />
interpretação moderna). Para que no modo mixolídio DÓ se torne a meze ou tônica, a<br />
seqüência, de:<br />
SOL – FÁ – MI – RÉ – DÓ – SI – LÁ – SOL<br />
descendente, passa a ser:<br />
do qual, sua inversão no modo hipo se torna:<br />
O movimento dos modos centrais era determinado à maneira numérica<br />
descendente; o movimento ascendente era tomado pela transposição da meze e da<br />
hypate transformada em proslambanomene, ou vice-versa:<br />
O sistema dos cinco modos centrais fixava o acento rítmico (meze), ou seja, a<br />
tônica ou final na quinta descendente (que no sistema moderno constitui a dominante<br />
na quinta ascendente). A nota diapasônica da escala diatônica no modo dórico MI-MI,<br />
que era a nota LÁ, tornou-se a nota DÓ no sistema moderno, tonal. A ordem diatônica<br />
dos gregos tinha a dominante como primeira e última nota das escalas nos cinco modos<br />
centrais.<br />
269
Os dois pilares da teoria musical na Grécia antiga eram Pitágoras e Aristóxenes, e<br />
suas divergências permanecem motivo de celeuma entre os teóricos até os dias de hoje.<br />
Pitágoras baseou-se nas relações numéricas dos harmônicos e fundou uma teoria<br />
matemática da música, da qual dizia constituir a harmonia das esferas. 291 É-lhe<br />
atribuída a descoberta do acorde perfeito.<br />
Alguns historiadores suspeitam que Pitágoras trouxe a sua ciência musical do<br />
Egito, que ele visitou. É certo, contudo, que os princípios teóricos que estabeleceu,<br />
baseados na análise das vibrações sonoras produzidas pelo monocórdio, influenciaram<br />
enormemente o desenvolvimento posterior da música. 292<br />
Platão, ao especular sobre o Demiurgo e a formação do universo (em sua obra Timeu),<br />
introduziu uma série numérica (1, 2, 3, 4, 8, 9, ...). Desta série, outras seqüências<br />
podiam ser derivadas, por interpolação, usando as médias aritmética e harmônica. 293<br />
Uma das séries numéricas básicas (que se poderia prosseguir indefinidamente) seria a<br />
seguinte: 1, 2, 3, 4, 6, 8, 9, 12. Esta, entretanto, é a base da harmonia musical<br />
pitagórica. Suas relações (encontradas no monocórdio) formam a harmonia: DÓ (1);<br />
FÁ ( 4 /3); SOL ( 3 /2); 294 DÓ (2), ou fundamental, quarta, quinta e oitava.<br />
As proporções 3 /2 e 4 /3, das quais surgem as quintas e quartas, quando combinadas,<br />
dão a oitava:<br />
3 /2 x 4 /3 = 12 /6 = 2 (ou 2:1) 295<br />
Através das proporções de quintas e quartas, Pitágoras chegou à escala:<br />
291 A tese dos intervalos entre notas musicais serem resultado de razões numéricas foi aprofundada por<br />
Claudio Ptolomeu, em seu tratado Harmonica. Mas ele foi mais além, pois afirmou que essas relações<br />
matemáticas eram a essência e a causa das harmonias tanto da alma humana como dos movimentos dos<br />
astros. No livro Mistério Cosmografico, o astrônomo Kepler, talvez influenciado pelas afirmações de<br />
Ptolomeu, especulou acerca da proporção entre os corpos celestes e sobre a harmonia existente entre as<br />
partes do cosmos. Para ele, os modos ou tons musicais se reproduziam nas extremidades dos<br />
movimentos dos planetas. Assim, a relação musical ligada a cada planeta seria: Mercúrio, 5:12 ou uma<br />
oitava e uma terça menor; Vênus, 24:25 ou um sustenido; Terra, 5:16 ou um semitom; Marte, 2:3 ou<br />
uma quinta; Júpiter, 5:6 ou uma terça menor; Saturno, 4:5 ou uma terça maior (para Kepler, a Terra<br />
ressoaria as notas MI-FÁ-MI).<br />
292 Os gregos antigos não possuíam suficientes conhecimentos científicos que lhes permitissem conhecer<br />
a essência do fenômeno sonoro, ou seja, a composição complexa que resulta da superposição de<br />
freqüências. Sua análise empírica não permitia ultrapassar os quatro primeiros harmônicos. A escala<br />
pitagórica baseava-se nos intervalos de oitava, quinta e quarta e respectivas sucessões alternadas, uma<br />
quinta acima ou uma quarta abaixo, na escala.<br />
293 Os gregos inventaram um instrumento para encontrar mecanicamente as médias proporcionais,<br />
chamado mesolábio. Quantos às relações puramente matemáticas das médias aritmética e harmônica, o<br />
autor grego Jamblico afirma que este conhecimento foi trazido do Egito por Pitágoras.<br />
294 A quinta acima tem a proporção 3/2, e a quinta abaixo, 2/3.<br />
295 A oitava pode ser representada pela razão 2:1 (uma oitava acima) e pela razão 1:2 (uma oitava<br />
abaixo).<br />
270
cujos intervalos são os seguintes:<br />
Deste modo, o tom inteiro pitagórico é igual a 9 /8 ou 1,125, e o semitom diatônico<br />
pitagórico é igual a 256 /243 ou 1,053.<br />
O valor 256 /243 é o valor do intervalo FÁ# - SOL. Mas, na seqüência das quartas e<br />
quintas, o intervalo FÁ – FÁ# é igual a ( 729 /512)/( 4 /3) ou 2187 /2048, que é igual a 1,067.<br />
Este é o semitom cromático pitagórico, que é um pouco maior do que o semitom<br />
diatônico pitagórico.<br />
Aristóxenes baseou-se na acústica prática, e desprezando a mensuração das cordas,<br />
organizou o temperamento sonoro de acordo com as exigências do sentido auditivo<br />
(com isso, a sua escala aproxima-se bastante da escala temperada). Ele diminuiu de<br />
uma coma os intervalos iniciais dos dois tetracordes ( 9 /8, 9 /8), e aumentou de uma coma<br />
os intervalos de semitom cadenciais (graus I-II, V-VI) para os tetracordes disjuntos:<br />
Como se sabe, a sucessão de quintas seriadas origina uma contradição: a série<br />
DÓ-SOL-RÉ-LÁ-MI (C-G-D-A-E), ou 1:2:3:4:5 (C -> E),<br />
revela o som MI (E) como o quinto harmônico, o que é igual a 1x3x3x3x3 = 81 (a<br />
multiplicação por 3 é em virtude da relação de quinta com a fundamental, que é igual a<br />
3 /2). Como a seriação em oitavas tem uma relação de 2:1, para encontrar a quinta oitava<br />
de MI basta multiplicar: 5x2x2x2x2 = 80 ou 1,0125. A relação 81 /80 é o valor da coma<br />
sintônica em relação ao uníssono 80 /80 (nota MI). 296<br />
O valor da coma pitagórica, ou simplesmente coma, por sua vez, resulta da<br />
diferença entre 12 quintas pitagóricas, ( 3 /2) 12 e sete oitavas, 2 7 , que deveriam coincidir,<br />
mas que resulta a seguinte diferença:<br />
( 3 /2) 12 = 1,01364 297<br />
2 7<br />
Também na seqüência de quartas e quintas encontra-se o valor da coma:<br />
( 2187 /2048) = 531441 = 1,01364 298<br />
( 256 /243) 524288<br />
296 A relação 81 /80 é exatamente igual a 1,0125, valor este bem próximo de 1 (um). No solfejo clássico, é<br />
comum afirmar-se que doze quintas correspondem a sete oitavas. Matematicamente, seria o mesmo que<br />
afirmar que 3 12 = 2 19 , o que não é exatamente correto, pois 531441 é diferente de 524288; entretanto,<br />
531441 / 528288 é aproximadamente igual a 1, e o ouvido não é capaz de perceber tal diferença.<br />
297 Ou, com mais casas decimais, o valor de 1,01364326477.<br />
298 A proporção 74 /73 dá o valor 1,0137, que se aproxima do valor de 1,01364.<br />
271
Os pitagóricos afirmavam existir nove comas entre o 2º. e o 3º. som do tetracorde<br />
ascendente; Ptolomeu, por sua vez, atribuía oito comas a esse intervalo diatônico. Em<br />
todo caso, os dois tetracordes disjuntos do modo dórico apresentavam uma diferença<br />
de uma coma a mais na fórmula de Pitágoras, ou uma coma a menos na fórmula de<br />
Aristóxenes. Esta contradição (como se verá) somente foi resolvida no século XVI,<br />
com a adoção da escala temperada. 299<br />
Pitágoras usava como base a escala diatônica crescente DÓ-SI:<br />
Aristóxenes usava a escala descendente FÁ-MI:<br />
Na gama pitagórica, a base SI/DÓ (ascendente), ou 256 /243, que é a fórmula do<br />
semitom pitagórico, é obtida pela progressão de oitavas e quintas perfeitas, do<br />
fundamental:<br />
Oitavas: 1 – 16 – 32 – 64 – 128 – 256<br />
Quintas: 1 – 3 – 9 – 27 – 81 – 243<br />
Na gama aristoxênica, a base FÁ/MI, ou 16 /15, que é a fórmula do semitom<br />
aristoxênico, o som 16 é obtido pela progressão das oitavas do fundamental (2x2x2x2),<br />
e o som 15 pela multiplicação (5x3) do quinto harmônico parcial.<br />
A ordem de quintas e oitavas justas é encontrada pela multiplicação (ou divisão)<br />
pelos fatores primos da razão 3 /2; assim, encontra-se a progressão da coma pela<br />
sucessiva multiplicação por 3 (quintas subseqüentes):<br />
Deste modo, encontra-se a seguinte progressão da coma: 1 , 3 , 9 , ... , equivalente<br />
às diferenças entre numeradores e denominadores nas relações:<br />
299 A existência da coma faz acumular dissonâncias, à medida que se sobe ou desce na escala musical.<br />
Não há uma solução matemática para esta inconguência, pois não há um resultado exato para 12 √2 , que<br />
está na base do semitom do intervalo elementar da gama temperada de doze notas. Assim, a escala<br />
temperada é apenas uma aproximação. Não há uma gama musical perfeita.<br />
272
Essa progressão mostra que o sistema aristoxênico apresenta melhor equilíbrio<br />
harmônico que o pitagórico, pois na progressão 1:3:9, por quintas sucessivas, a<br />
diferença atinge a um tom (que é igual a nove comas, segundo a teoria pitagórica).<br />
A diferença de uma coma nas escalas de Pitágoras e Aristóxenes deu como<br />
conseqüência a criação de dois gêneros de composição, denominados modo sintônico<br />
de Ptolomeu e modo diatônico de Didimo, expressos nos tetracordes:<br />
Pela teoria grega, as seqüências de quintas naturais, ordenadas por quintas, dão por<br />
resultado as terceiras harmônicas, e estas, ordenadas por quintas, dão por resultado as<br />
segundas diatônicas, das quais se volta à ordem das quintas, e assim sucessivamente:<br />
Escala sistemática de quintas tonais:<br />
FÁ – DÓ – SOL – RÉ – LÁ – MI – SI<br />
Escala harmônica de terceiras consonantes:<br />
DÓ – MI – SOL – SI – RÉ – FÁ – LÁ<br />
Escala modal de segundas diatônicas:<br />
SOL – LÁ – SI – DÓ – RÉ – MI – FÁ<br />
Qualquer das três fundamentais FÁ-DÓ-SOL pode originar a série de quintas<br />
tonais, terceiras harmônicas e segundas diatônicas:<br />
Assim, os sete sons diatônicos se distribuem em ordem numérica, na escala<br />
melódica ascendente ou descendente, por segundas, terceiras ou quintas, se<br />
273
eproduzindo por classes de oitavas superiores ou inferiores. Das quintas perfeitas se<br />
extraem, por intervalos, os três gêneros: diatônico, cromático e enarmônico. 300<br />
A escala pitagórica se adaptou melhor à sucessão melódica (ascendente) pela<br />
menor aproximação dos semitons cadenciais. Entretanto, com a evolução da música à<br />
polifonia, a escala de Aristóxenes ajustou-se melhor à combinação de sons simultâneos<br />
e consonantes.<br />
Foi somente com o surgimento de novos instrumentos musicais (exigidos pela<br />
orquestra), em variados timbres e tons, que vieram a surgir novas dificuldades, tais<br />
como diferenças de altura e de afinação. Essas dificuldades, como já se disse, foram<br />
resolvidas com a adoção da escala temperada.<br />
11.3 A música na Roma antiga<br />
Ao tempo da conquista romana, a Grécia há muito já havia ultrapassado o apogeu<br />
de sua civilização, e se encontrava em franca decadência. A cultura musical grega,<br />
fragmentária e dispersa já nesta época, ainda assim foi assimilada (principalmente em<br />
sua forma popular e corrompida) pela civilização romana, que a adaptou à sua própria<br />
feição.<br />
Roma teve também os seus teóricos da música, entre os quais se contam Vitrúvio,<br />
Censorino e Macróbio. 301<br />
Boécio (c. 480-524) e Cassiodorus (c. 485-560) estudaram os escritos sobre música<br />
de Pitágoras, Ptolomeu, Euclides, Aristóxeno, Platão e Aristóteles. Boécio dividiu a<br />
música em três categorias fundamentais (em sua obra De institutione musica): a musica<br />
mundana, que representava a harmonia do universo; a musica humana, que<br />
representava a harmonia do corpo humano; a musica instrumentalis, que era integrada<br />
pela música vocal e instrumental. Ele foi o primeiro a fazer a divisão de instrumentos<br />
musicais nas três categorias: cordas, sopro e percussão.<br />
Os instrumentos musicais romanos eram a tíbia, uma flauta idêntica ao aulos<br />
grego, e a fítula, parecida ao moderno oboé. Conheciam e usavam a lira e a cítara<br />
grega, bem como instrumentos de sopro de uso militar, tais como a tromba reta e o<br />
lituus, recurvo e de som alto.<br />
Houve época em Roma (durante o império) que a música floresceu<br />
extraordinariamente, dando origem a uma profusão de escolas de canto e dança. Os<br />
múisicos eram bastante considerados, e os próprios imperadores não se furtavam a<br />
estudá-la, como foi o caso de Nero, Adriano, Calígula e Alexandre Severo.<br />
11.3.1 A teoria musical romana<br />
Do modo dórico grego fez-se a transcrição para o modo dórico romano, com a<br />
transposição da nete grega (RÉ) para o plano hypon:<br />
300 Pode-se entender agora o motivo dos movimentos descendentes e ascendentes. As quintas geradas<br />
tendem o seu movimento para a nota geratriz, e o movimento atrativo de quinta ascendente opera-se em<br />
razão da inversão do movimento de quinta descendente. Aí se vê a importância dada pelos gregos ao<br />
acento (meze) da quinta mediana.<br />
301 Plutarco, não citado nessa relação por ser grego, nasceu em uma época (45-120?) em que a música<br />
romana já se sobressaía. Ele fez algumas observações a respeito do assunto. Entre outras coisas, afirmou<br />
que se deviam usar as notas longas para (representar) a tristeza, e as curtas para (representar) a alegria.<br />
274
transcrição esta que, se fosse feita pela forma direta de movimento:<br />
MI – FÁ – SOL – LÁ – SI – DÓ – RÉ – MI<br />
se tornaria impraticável, em razão do acento tônico vir a recair na nota SI (que se<br />
relaciona com a ordem cromática, pela sucessão de quintas perfeitas):<br />
Na escala grega dórica normal, o deslocamento a um grau inferior faria a hypate<br />
assinalar-se à nota RÉ, e a nete (ou paranete, conforme o início da escala, conjunta ou<br />
disjunta dos dois tetracordes) à nota DÓ, o que faria lichanos (SOL) vir a ocupar a<br />
posição de meze, o que daria à oitava a forma do modo frígio, considerado um modo<br />
licencioso:<br />
No modo dórico romano foi mantida a diapasônica LÁ,<br />
com o que surgem as relações consonantes de terceiras harmônicas, onde pode-se ver<br />
que as formas modais maior e menor se apresentam entrelaçadas, no movimento<br />
ascendente:<br />
a) RÉ – FÁ – LÁ (menor)<br />
b) FÁ – LÁ – DÓ (maior)<br />
E, tanto na estrutura do modo dórico grego:<br />
a) MI – SOL – SI (menor)<br />
b) SOL – SI – RÉ (maior)<br />
quanto na anterior, verifica-se que em suas construções modais a forma menor precede<br />
a maior, sendo que os extremos das escalas encontram-se no intervalo natural de<br />
sétima menor.<br />
Os outros modos romanos tinham a seguinte relação com os modos gregos:<br />
275
Outras formas se originaram do próprio dórico romano (formas excedentes),<br />
mantendo as seguintes relações com o sistema modal grego:<br />
11.4 A música cristã antiga: a monodia<br />
As primeiras comunidades cristãs, em Roma, eram inicialmente avessas à música,<br />
que identificavam com fanfarras de guerra ou com músicas sensuais de dança de<br />
acompanhamento de mitos pagãos. O próprio ambiente místico das catacumbas,<br />
entretanto, inspirava a uma manifestação religiosa por meio de cantos de louvor,<br />
embora isto fosse feito de maneira improvisada, pois não sabiam utilizar as melodias<br />
mais apropriadas ao seu intento. Foi somente no ano de 54 d.C. que o apóstolo Pedro<br />
trouxe às comunidades cristãs de Roma o seu conhecimento de melodias auferido em<br />
Antioquia, onde vivera muito tempo. 302 Eram melodias muito antigas, ligadas aos<br />
cânticos sagrados dos hebreus.<br />
No ano 323, com a transformação do Cristianismo em religião oficial, a música<br />
abandonou as catacumbas e adentrou as igrejas. Esta permissão deu início a lutas no<br />
clero, com relação aos privilégios do canto; em 650, o Concílio de Chalons proibiu o<br />
canto das mulheres nas igrejas. Um conflito se instalou também entre a tendência<br />
oriental, com suas complicadas melodias e o canto florido com melismas, e a tendência<br />
ocidental, que defendia o canto mais simples e modesto. O uso de instrumentos<br />
musicais nas igrejas foi durante longo tempo proibido, só se permitindo com muito<br />
custo, e após longa proibição, o uso do órgão.<br />
Com a rápida difusão do Cristianismo, as autoridades eclesiásticas procuraram<br />
unificar tudo o que se referia ao rito, o que incluía o canto litúrgico. Os primeiros que<br />
se ocuparam desses cantos foram Ambrósio, Clemente, Basílio, Hilário, Silvestre e<br />
Gregório, que foram bispos ou Papas da Igreja Católica. Ambrósio, bispo de Milão de<br />
374 a 397, a quem se atribui a determinação dos quatro modos autênticos, introduziu<br />
em sua diocese o rito e o canto que trazem o seu nome, e que foram estendidos a toda a<br />
Igreja por Gregório, que deu uma ordenação definitiva ao rito e ao cântico litúrgico,<br />
302 Esta não foi uma iniciativa voluntária de Pedro; somente ocorreu desse modo porque ele teve que ir a<br />
Roma, para defender-se das acusações que lhe fazia a comunidade judaica em Jerusalém (e, por ter a<br />
cidadania romana, ele tinha esse privilégio).<br />
276
passando este a denominar-se canto gregoriano. Ele escolheu e coordenou os cantos,<br />
em função das datas religiosas, com suas festas e cerimônias, em um livro denominado<br />
Antifonário. É-lhe atribuída a determinação dos modos relativos plagais.<br />
O canto gregoriano foi a única forma de música religiosa na Europa durante quase<br />
mil anos; as suas características são a de música puramente vocal, sem<br />
acompanhamento instrumental. É uma música essencialmente diatônica, monódica,<br />
sem contraponto. Além disso, não possui compassos; sua melodia tem origem,<br />
claramente, na oração recitada.<br />
Nos primeiros tempos do Cristianismo, as melodias litúrgicas foram buscadas no<br />
culto hebraico, sendo simplificadas pela retirada do acompanhamento instrumental e<br />
pela eliminação do cromatismo. Estes últimos eram considerados sensuais, pois<br />
recordavam as práticas pagãs gregas (de onde passaram aos hebreus). As melodias<br />
eram cantadas inicialmente em uníssono coral. No século II, as Constituições<br />
Apostólicas instituíram a prática de um solista recitar os salmos, com os fiéis dando<br />
respostas fáceis. Com isto, surgiram diversos processos de cantar a melodia litúrgica: o<br />
solo salmódico, onde só havia participação coral nas doxologias e nas exclamações<br />
finais (Amém; aleluia); o canto responsorial, no qual solo e coro se sucediam, e o canto<br />
antifônico, no qual havia alternância de coros.<br />
Pela sua afinidade com o ritmo oratório, e em função da linha melódica, no sentido<br />
do texto e da respiração, o canto gregoriano admitia uma pequena pausa, denominada<br />
distinção, entre as partes da frase musical. As últimas (ou última) notas da frase eram<br />
alongadas aproximadamente ao dobro dos valores anteriores, que eram mais ou menos<br />
iguais entre si. Segundo a natureza do texto sacro, as melodias do canto gregoriano se<br />
dividiam em diversas espécies, algumas em verso, outras em prosa (salmos, antífonas,<br />
hinos, seqüências), podendo ser silábicas (nos primeiros séculos) ou melismáticas. O<br />
canto gregoriano mais tarde recebeu o nome de Cantochão, ou Cantus Planus, em<br />
razão de os sons serem sempre iguais, tanto na duração quanto na intensidade.<br />
Os mais importantes centros musicais surgiram em Bizâncio, no oriente europeu;<br />
na Síria e Antioquia, na Ásia; em Milão, na Itália; em Sevilha, na Espanha; em<br />
Poitiers, na França; mas a principal foi a Schola Cantorum, fundada em Roma por<br />
Gregório Magno, que foi Papa de 590 a 604.<br />
No período áureo do canto gregoriano, nos séculos VI até VIII, desenvolveu-se a<br />
prática (originada em Bizâncio, no século IV) pela qual uma voz sustentava um som<br />
modal, 303 enquanto uma outra voz entoava a melodia. Com a prática, e do<br />
desenvolvimento das escolas de canto coral, originou-se o costume de uma das duas<br />
vozes do coro entoar o contracanto (vox organalis) de quintas ou quartas paralelas, no<br />
agudo da melodia (vox principalis ou tenor) ou sobre o Cantus Firmus no qual se<br />
baseava o trecho. A esta prática chamavam cantar um Organum, que era um tipo de<br />
composição decorativa, com a finalidade de embelezar cerimônias religiosas (outra<br />
denominação era Diafonia). O Organum era ainda uma melodia essencialmente<br />
monódica; as duas ou três vozes cantavam em paralelismo absoluto, formando<br />
melodias distintas que podiam ser cantadas simultaneamente com a melodia tenor.<br />
Deste modo, ainda não havia harmonia (sucessão de acordes), muito embora<br />
estivessem se formando os seus primeiros e rudimentares esboços. Esta polifonia<br />
rudimentar surgiu das manifestações musicais populares (os trovadores), de onde elas<br />
passaram às igrejas.<br />
303 Tônica, tenor, de tener, manter a melodia.<br />
277
No século VIII surgiram duas formas novas de música litúrgica: os Tropos,<br />
trazidos de Bizâncio, nos quais se interpolavam, com frases inventadas, as<br />
vocalizações sobre vogais do texto. Destas interpolações se originaram cantos<br />
independentes, denominados Seqüências ou Prosas. Outras formas se originaram<br />
igualmente do canto gregoriano, que foram os melodramas litúrgicos: as Paixões, os<br />
Mistérios e os Milagres.<br />
Além do Organum, outra forma rudimentar de polifonia era o Falso-Bordão, que<br />
era uma forma de acompanhamento a três vozes, por terceiras e sextas, e que era<br />
também de origem popular. Constava de uma melodia principal, o Cantus Firmus ou<br />
tenor, e terceiras e quintas, mas o baixo (bordão) era cantado a uma oitava acima. Daí<br />
resultavam as terceiras e sextas. Assim como o Organum, o Falso-Bordão é antes uma<br />
forma de acompanhamento do que um contraponto, pois há em ambos simultaneidade<br />
de movimento e de melodia.<br />
11.4.1 Teoria musical cristã primitiva<br />
I) O canto gregoriano:<br />
O canto gregoriano tem oito modos, tons ou tropos, sendo quatro denominados<br />
autênticos e quatro plagais. Eram designados aos pares:<br />
• Protus autêntico e plagal (1º. e 2º. modos)<br />
• Deuterus autêntico e plagal (3º. e 4º. modos)<br />
• Tritus autêntico e plagal (5º. e 6º. modos)<br />
• Tetrardus autêntico e plagal (7º. e 8º. modos)<br />
Os modos autênticos foram criados pelo Papa Ambrósio sobre o teleuse:<br />
RÉ – MI – FÁ – SOL<br />
Este teleuse compõe as mezes dos quatro modos iniciais:<br />
LÁ – SI – DÓ – RÉ<br />
do sistema central, excluindo-se o modo dórico, cuja meze é a diapasônica LÁ. Isto<br />
implica em que há notável diferença entre as construções:<br />
LÁ – SOL – FÁ – MI – RÉ e:<br />
RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ<br />
278
Gregório, como se disse, levantou sobre este primeiro plano, autêntico, a série de<br />
tons plagais para o antifonário eclesiástico sobre o teleuse:<br />
LÁ – SI – DÓ – RÉ<br />
Entre os modos gregos e os tons de Igreja há duas diferenças principais: a)<br />
enquanto que os primeiros são descendentes, os segundos são ascendentes; b) a tônica<br />
tem o seu repouso no agudo, nos primeiros, e no grave para os modos autênticos, ou na<br />
quarta nota nota para os modos plagais. Além disso, outro grau domina o tom de<br />
Igreja: quinto ou sexto nos autênticos (quinto nos modos I, V e VII; sexto no modo III)<br />
e sexto ou sétimo nos plagais (sexto nos modos II e VI; sétimo nos modos IV e VIII).<br />
Este é o som de sustentação (denominado tenor) sobre o qual são entoadas a maior<br />
parte das sílabas do canto. De um modo geral, a dominante corresponde ao grau V<br />
acima da tônica (final) nos modos autênticos, e ao grau III acima da tônica nos modos<br />
plagais.<br />
Como o modo autêntico e respectivo plagal têm um final comum, verifica-se o<br />
modo pela extensão da melodia. Quando ela se desenvolve sempre acima da final, indo<br />
além do grau V, diz-se que é modo autêntico; quando desce abaixo da final, está no<br />
modo plagal. Se a melodia permanecia em uma extensão comum aos dois modos,<br />
decidia-se pela dominante. A única exceção era se a dominante fosse a nota SI, som<br />
extremo do trítono (FÁ-SI), quando era afastada, o que resultava em afastamento do<br />
plagal.<br />
II) Inícios da notação musical:<br />
A música, enquanto se manteve exclusivamente monódica, não possuía uma<br />
notação ou linguagem que permitisse escreve-la com exatidão. A notação européia teve<br />
início na escrita ou notação denominada ekfonética, oriunda dos povos gregos e<br />
orientais. De início, usavam-se dois tipos de notação musical, a literal e a neumática,<br />
sendo a primeira a mais antiga. Esta foi pouco a pouco sendo substituída por símbolos<br />
denominados neumas, que tinham por função dar ao cantor uma idéia aproximada da<br />
melodia.<br />
A notação alfabética ou literal, nos primeiros anos do Cristianismo, tinha uso<br />
exclusivamente didático. O som mais grave do monocórdio (LÁ, primeiro espaço da<br />
clave de FÁ na moderna notação) tinha por designação a letra A, tendo as seguintes<br />
designações em sucessão ascendente: B, C, D, até P. Em seguida, as letras A, B, C, D,<br />
E, F, G foram reservadas à primeira oitava; as minúsculas a a g designavam a oitava<br />
seguinte. Posteriormente, as notas mais agudas foram designadas por minúsculas<br />
superpostas: , , etc. A nota SOL, no grave, era representada pela letra grega grega<br />
gama ( Γ ). 304<br />
Às notas alteradas por acidentes acrescentavam-se os sufixos is para sustenido (Cis<br />
= DÓ#) e es para bemol (Des = Réb). O Sib era indicado pela letra H.<br />
Na notação moderna encontram-se ainda vestígios da notação literal; os sinais das<br />
claves, por exemplo, são variações de letras, as quais tomaram várias formas ao longo<br />
dos anos:<br />
304 Ainda hoje a notação por maiúsculas vigora nos países europeus e EUA.<br />
279
A notação neumática, por sua vez, indicava unicamente o movimento (ascendente<br />
ou descendente) da melodia. Empregava sinais ideográficos que tinham origem nos<br />
acentos grave e agudo colocados sobre as sílabas do texto, sinais estes denominados<br />
punctus (acento grave) e virga (acento agudo). O acento grave indicava abaixamento, e<br />
era representado por um traço oblíquo, descendente da esquerda para a direita ( ).<br />
O acento agudo tinha uma inclinação contrária ( ), e indicava elevação de som. À<br />
união dos dois sons dava-se o nome de ligadura, podendo representar dois ou três sons<br />
de alturas diferentes. O quadro a seguir mostra a evolução da notação, ao longo dos<br />
séculos:<br />
O neuma era a base da notação gregoriana. Era definido pelas suas notas (pode-se<br />
escrever de uma a quatro notas no mesmo neuma) e pelos intervalos (para cima ou para<br />
baixo) entre estas notas. As notas que o compõem são desenhadas como um um rombo<br />
(diamante), um ponto quadrado ou uma linha realçada ( ). Começa sempre no<br />
ínicio de uma sílaba, e é sempre lido da esquerda para a direita; de baixo para cima<br />
quando as notas são escritas na mesma coluna. Nele, podem haver até três alterações<br />
de altura. Existem quinze (1+2+4+8) neumas diferentes, cada um com o seu próprio<br />
nome: 305 Punctum ou Virga (1); Podatus (2); Clivis (2); Scandicus (ou Scandidus) (3);<br />
Torculus (3); Porrectus (3); Climacus (ou Climaus) (3); Virga praetripunctis (4);<br />
Scandus flexus (4); Torculus resupinus (4); Pes subtripunctis (4); Porrectus resupinus<br />
(4); Porrectus flexus (4); Climacus resupinus (4); Virga subtripunctis (4).<br />
305 O algarismo entre parênteses indica a quantidade de notas.<br />
280
Um processo diferente foi utilizado na escola de Aquitânia, onde se usavam<br />
neumas em forma de ponto, e que eram colocadas acima e abaixo de uma linha,<br />
colorida de vermelho. 306 A esta linha juntou-se posteriormente outra, de cor verde ou<br />
amarela, sendo atribuído um som fixo a cada uma, som este que podia ser FÁ ou DÓ<br />
(as maiúsculas F ou C eram colocadas no início da linha); além disso, colocavam-se<br />
entre elas pontos correspondentes aos sons intermediários. A figura a seguir<br />
exemplifica o uso desta notação. 307<br />
A notação neumática apresentava variados problemas: dificuldades no estudo e<br />
aprendizagem da música; ambigüidade dos sinais indicativos, que variavam tanto na<br />
forma quanto no que indicavam; excesso de símbolos; etc. Tudo isto demonstrava a<br />
necessidade de uma reforma no sistema musical até então conhecido. Esta reforma veio<br />
a ser feita por Guido de Arezzo (ou Guittone de Arezzo).<br />
Guido de Arezzo foi um monge beneditino do mosteiro de Pomposa, tendo vivido<br />
de 995 a 1050. Escreveu seis obras, que foram compendiadas por Martinho Gerbert,<br />
abade do mosteiro beneditino de San Biagio, em duas obras escritas em 1774. A base<br />
do novo sistema de notação gráfica e leitura musical de Guido resumia-se na seguinte<br />
fórmula: toda nota, sobre a mesma linha, tem o mesmo som. Já nos dois séculos antes<br />
o monge Hucbaldo empregara as linhas, escrevendo sobre elas, conforme a entoação,<br />
as sílabas a serem cantadas. Do sistema adotado em Aquitânia, Guido incluiu uma<br />
terceira linha, correspondente à nota LÁ, com a letra A, e deposi uma quarta linha,<br />
conforme o canto se estendia para o grave ou para o agundo, e sobre estas linhas<br />
colocava as neumas, aproveitando tanto as linhas quanto os espaços para a indicação<br />
dos graus da escala. Desse modo, as neumas indicavam, além da direção do<br />
movimento da voz, o intervalo exato entre as notas a serem entoadas.<br />
As neumas evoluíram no século XII para a chamada notação romana ou notação<br />
quadrada, 308 e notação coral alemã ou Cravo de Ferradura. Assim, o movimento da<br />
voz deixou de ter indicação linear (linha contínua) para ter indicação puntual, ou por<br />
pontos intermediários (as notas). As figuras das notas surgiram bem mais tarde.<br />
306 As partituras eram inicialmente feitas e copiadas à mão. Com a invenção da impressão mecânica por<br />
Gutenberg, em 1455, logo começaram a surgir os primeiros livros impressos (por volta de 1480),<br />
contendo notação musical. As linhas eram impressas primeiro, em vermelho; em seguida, as cabeças de<br />
notas e o texto.<br />
307 Representa uma página de um manuscrito medieval (cerca de 1590) que representa a escrita de um<br />
coral gregoriano, com neumas em cinco linhas. Imagem disponível em<br />
http://www.euronet.nl/users/warnar/Old_books.html. Acesso em 14/09/2006.<br />
308 As notas quadradas eram escritas vazadas (brancas) ou coloridas. A diferença mostrava o valor da<br />
nota.<br />
281
A primeira e terceira linhas da pauta traziam no início as notas F (FÁ) e C (DÓ), no<br />
que foi o ponto de partida para o uso de claves. A clave de SOL surgiu no século XII,<br />
passando a ser extensamente usada no século XIII.<br />
Guido de Arezzo sistematizou também a utilização da sucessão diatônica de sons<br />
denominada hexacorde. O hexacorde era constituído por seis sons, e constava de dois<br />
tons, um semitom e dois tons (2t + s + 2t). Havia três modos, iniciados respectivamente<br />
em DÓ, SOL e FÁ, com as denominações de hexacorde natural, hexacorde duro e<br />
hexacorde mole:<br />
Cada um tinha as seguintes características: o hexacorde natural não possuía a nota<br />
SI; o hexacorde duro (hexachordum durum) continha o SI natural, ou duro, que era<br />
representado, na notação de Guido de Arezzo, por neumas em forma quadrada, no<br />
caso, a minúscula b que se denominava b durum ou b quadro (quadrado), da qual se<br />
originou a palavra bequadro; o hexacorde mole continha o SI bemol, que se<br />
representava pela minúscula b com perfil arredondado 309 (ou mole), denominada b<br />
molle, da qual se originou a palavra bemol. O caráter do hexacorde era dado pela<br />
presença ou ausência da nota SI. A mudança de um a outro hexacorde (por extensão da<br />
voz) fazia mudar os nomes das notas (a isto, denominava-se mutação). 310 Como<br />
aparecia somente um semitom, este era chamado MI-FÁ. Assim, os sons anteriores e<br />
posteriores do semitom eram chamados UT-RÉ e SOL-LÁ, independente de sua<br />
entoação real.<br />
Para representar as pausas, um sistema de notação mensural foi desenvolvido. No<br />
início, as pausas (que não tinham um valor exato) eram indicadas por barras curtas no<br />
topo da linha ou linhas usadas. Na notação mensural, as pausas eram mostradas por<br />
linhas verticais que atravessavam a pauta. O número de pulsos era determinado pelo<br />
comprimento da linha vertical: uma pausa de um pulso ocupava um espaço; a de dois<br />
pulsos ocupava dois espaços, etc.<br />
Os nomes das notas (tais como são conhecidas modernamente) 311 surgiram da<br />
solmização 312 do hexacorde, cujo processo de memorização era facilitado pela<br />
entoação da primeira estrofe do hino a S. João Batista. Os nomes das notas resultaram<br />
das sílabas iniciais dos versos. 313<br />
O sistema musical compreendia vinte sons, do grave na primeira linha, clave de FÁ<br />
(nota SOL) ao agudo no quarto espaço, clave de SOL (nota MI). Para auxiliar a fixação<br />
309 Também chamada b rotundum.<br />
310 Ou seja, se o registro se voz se tornava mais grave ou mais agudo, o hexacorde era movido para baixo<br />
ou para cima, para começar em uma outra nota.<br />
311 A notação moderna é chamada de notação ortocrônica, e data principalmente do início do século<br />
XVI, que foi quando as notas começaram a ser escritas em formato arredondado.<br />
312 O processo de solmização foi inventado por John Curwen.<br />
313 Vide item 3.3. A nota Ut foi trocada para DÓ, por Giovani Battista Doni, no século XVII, devido à<br />
sua difícil entoação. A sétima nota, SI, surgiu quando da transição do sistema hexacorde para o de<br />
oitava, no século XVII.<br />
282
das mutações, Guido dispunha os sons de modo que correspondessem às juntas e<br />
pontas dos dedos das mãos, no que se denominava mão guidoniana.<br />
11.5 A música cristã antiga: polifonia (séculos X a XV)<br />
No final do século XII surgiu uma escola de música em estilo polifônico em Paris:<br />
a escola de Notre Dame (Schola Cantorum). Entretanto, nos séculos anteriores já se<br />
esboçava aquilo que viria a desembocar na polifonia. 314 No século IX, acrescentou-se à<br />
voz principal (vox principalis), que era um cantochão, uma segunda voz, a voz organal<br />
(vox organalis). Esta era uma duplicação da voz principal uma quarta ou quinta abaixo.<br />
Entretanto, a voz organal aos poucos começou a se libertar da voz principal, e acabou<br />
sendo escrita acima dela, tornando-se uma voz mais aguda 315 (por volta do século XI).<br />
Depois, a voz organal se tornou também independente, ao executar várias notas contra<br />
apenas uma, que era sustentada pela voz principal. 316<br />
Atribui-se a dois organistas da escola de Notre Dame, Léonin e Perotin (mestres de<br />
coro da Catedral), a criação final da música polifônica para três ou quatro vozes<br />
simultâneas, nos séculos XII e XIII.<br />
O período anterior às primeiras manifestações da polifonia, na música ocidental, é<br />
denominado o período da Ars Antiqua (Arte Antiga), em contraposição à Ars Nova<br />
(Arte Nova), própria da fase em que a polifonia se ergueu como a máxima<br />
manifestação musical. 317 A Ars Nova se distingue pela nova notação, surgida entre os<br />
séculos XII e XIV, na qual já se pode saber a duração das notas, no sistema<br />
denominado Mensuralismo.<br />
A nova música recebeu a denominação de musica mensuralis (música medida), em<br />
oposição ao canto gregoriano, denominado musica plana, que não possuía medida de<br />
tempo.<br />
A introdução da notação de tempo, na música, ou métrica musical, surgiu como uma<br />
necessidade natural da música polifônica. Se era possível manter o compasso em uma<br />
música monofônica, isto se tornou irrealizável na polifonia. Para que os cantores não<br />
saíssem do compasso, eles deviam seguir intervalos de tempo fixos, o que se só se<br />
realizou à medida que a métrica musical se aperfeiçoava na própria evolução da<br />
notação. 318<br />
As vozes se coordenaram, evitando as dissonâncias: essas eram as regras do<br />
contraponto. Este começou a se esboçar no Discante (discantus), no qual as vozes<br />
tinham movimento contrário, cada uma executando uma melodia própria.<br />
O Discante admitia inicialmente somente intervalos de oitava e quinta. Também<br />
inicialmente era a duas vozes, sendo que o cantor improvisava a segunda voz<br />
(discante) da leitura da melodia, chamada melodia tenor, ou Canto Firme (Cantus<br />
314 Um tipo rudimentar de polifonia chamado Gymel surgiu na Inglaterra, no século XV. As duas partes<br />
paralelas evoluem em intervalos de terceira ou sexta.<br />
315 A esse Organum deu-se o nome de Organum livre.<br />
316 Esse Organum ficou conhecido pelo nome de Organum melismático (século XII).<br />
317 Esta manifestação polifônica, de início puramente vocal e sem o acompanhamento de instrumentos,<br />
viria a ser tornar orquestral, com uma utilização cada vez mais crescente de instrumentos musicais.<br />
318 Para uma excelente explanação sobre este tema, veja-se: SZAMOSI, Géza. Lei e Ordem no Fluxo do<br />
Tempo (a música polifônica e a revolução científica), in: Tempo & Espaço – As Dimensões Gêmeas. Rio<br />
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.<br />
283
Firmus). As vozes, porém, ainda eram ritmicamente iguais (punctus contra punctus, ou<br />
nota contra nota). Ao final do século XII surgiu o Discante florido, a três vozes,<br />
manifestamente mensuralista. Esta terceira voz era denominada triplum. Uma quarta<br />
voz foi acrescentada, denominada quadriplum. Posteriormente, essas vozes tomaram<br />
outras denominações. A terceira se chamou contra-tenor (a primeira era o tenor, e a<br />
segunda, o discante); se entoada acima do tenor era o contratenor altus (alta vox e<br />
alto); se entoada abaixo, era o contratenor bassus (baixo). O alto, no timbre mais grave<br />
era chamado alto contra (contr’alto, em italiano). A voz mais aguda (discante) tomou<br />
o nome de superius (supremus, ou soprano, em italiano). Ao canto grave, denominavase<br />
barítono. Tais foram as origens dos registros das vozes.<br />
O Discante compreendia: o Organum, semelhante ao Organum gregoriano, embora<br />
com valores proporcionais; o Motete, geralmemte a três vozes; o Rondó ou Rondeau,<br />
forma de música medieval francesa, que surgiu com os trovadores, e onde a mesma<br />
melodia era sucessivamente cantada por todas as vozes; Oquetus 319 (oquet, soluço),<br />
onde se atribuía cada nota da melodia a uma das vozes, enquanto as outras faziam<br />
pausa; Conductus, 320 em que o Canto Firme e outras vozes eram de livre invenção do<br />
compositor.<br />
O apogeu do desenvolvimento do contraponto vocal foi no século XV, na região de<br />
Flandres, entre a Bélgica e o norte da França. Na verdade, uma das primeiras grandes<br />
fases da música ocidental, de características polifônicas vocais, foi esta, a chamada<br />
música flamenga.<br />
Estes músicos desenvolveram tanto os meios técnicos quanto os artifícios do<br />
contraponto; a eles é devida a forma de composição denominada Fuga (que<br />
inicialmente indicava somente a imitação e o cânone), bem como as formas musicais<br />
da Missa e do Motete cantados. Os maiores nomes desta época são, entre outros,<br />
Johannes Ockeghem, Jacob Obrecht, Josquim Des Prés.<br />
A música flamenga era apurada e extremamente técnica. Entre os vários processos<br />
do cânone (cânones que repetiam o tema em uníssono, oitava ou outros intervalos;<br />
cânones por aumento ou diminuição dos valores de duração, etc.) havia o cânone de<br />
caranguejo, no qual se fazia repetição invertida do tema; o cânone de espelho, com<br />
inversão dos intervalos da resposta, e o cânone enigmático, no qual o modo de<br />
reprodução do tema devia ser decifrado de um dístico em latim: “canta como os<br />
hebreus” significava que a música era para ser lida da direita para a esquerda; “clama<br />
sem cessar” indicava a omissão de todas as pausas; “trocar o dia pela noite”, que as<br />
notas pretas tinham o valor das brancas, e vice-versa. Desse modo, se o dístico não<br />
fosse decifrado, o cânone não se realizaria.<br />
11.5.1 A teoria do mensuralismo (séculos X a XV)<br />
Quando se começou a cantar a várias vozes, para se tornasse possível a<br />
coordenação destas, percebeu-se a necessidade da fixação da duração dos sons. Para<br />
isto, introduziram-se notas de diversas formas (figuras), no que denominou Notação<br />
Proporcional.<br />
O ponto de partida dessa notação foram os neumas punctus (puctum) e virga, em<br />
sua forma quadrada (essas duas formas de neumas de uma nota surgiram no século<br />
319 No oquetus ou hocket as notas da melodias alternam-se rapidamente com as pausas; as notas e as<br />
pausas, igualmente, complementam-se entre si, criando complicados padrões de ritmos.<br />
320 Do Conductus surgiu a homorritmia (concordância de uma nota, em termos de ritmo, com as notas de<br />
outras partes, executadas simultaneamente), que está na base da harmonia.<br />
284
XIII). A virga ( ), em sua forma rítmica, era chamada longa (uma nota longa), e o<br />
punctus ( ) era chamado brevis (breve), ou curto. No final do século XIII surgiu o<br />
símbolo da semibreve ( ), derivada da breve quadrada, com metade da sua duração.<br />
No final do século XIV já havia cinco símbolos sendo usados: a máxima ou duplex<br />
longa (igual a duas longas); a longa; a breve; 321 a semibreve; e um novo valor,<br />
chamado minima (a menor). O símbolo era o mesmo que o da semibreve, mas tinha a<br />
mais uma haste. Nos séculos XIV e XV vieram valores ainda menores: a semiminima,<br />
a fusa e a semifusa. 322<br />
Aos poucos, as figuras que indicavam as durações mudaram de forma; de início<br />
eram pretas, sendo que a partir do século XV tornaram-se brancas, isto é, desenhava-se<br />
somente o contorno:<br />
O tempo se dividia em perfeito (correspondente ao ternário atual) e imperfeito<br />
(binário), correspondentes a grupos de dois e três tempos, respectivamente. Além<br />
destes, havia a prolação, que também podia ser perfeita ou imperfeita. O tempo<br />
perfeito era indicado por um círculo, e o tempo imperfeito era indicado por um semicírculo.<br />
Um ponto no centro de cada um indicava que a prolação era perfeita:<br />
O semi-círculo passou a indicar o compasso quaternário simples; a partir do século<br />
XV, a necessidade de indicar andamentos mais rápidos imoôs o uso das figuras de<br />
prolação com a metade de seu valor real. Com isto, o sinal C foi cortado ao meio, e<br />
assim é usado até hoje : o primeiro sinal indica o compasso 4/4, e o segundo indica o<br />
compasso 2/2. A barra de divisão de compasso surgiu inicialmente no século XVI. A<br />
pauta tanto podia ser em cinco linhas, para música vocal, ou em até 15 linhas, para<br />
música instrumental, sendo que as denominadas tavolaturas (para órgão e alaúde) dos<br />
séculos XV a XVIII empregavam em geral seis linhas.<br />
Um dos mais influentes teóricos desta época foi o compositor Philippe de Vitry<br />
(1291-1361), que veio a se tornar o bispo de Meaux. Esta época, que inicialmente fora<br />
marcada por uma contínua e profunda preocupação com a teoria musical, com o<br />
advento da Ars Nova veio a ser enfatizado o valor da prática contra a pura teorização<br />
de “princípios gerais”. Uma das conseqüências desta nova orientação foi a abolição da<br />
distinção que se fazia entre os valores de tempo perfeitos e imperfeitos.<br />
Guillaume de Machaut veio a introduzir os isorritmos, que são padrões de tempo<br />
em que uma mesma série temporal se repete em sucessão, não necessariamente com as<br />
321 A breve era a unidade de tempo, contendo três semi-breves e valendo um terço da longa.<br />
322 A razão para o surgimento dessas notas de cada vez menor duração foi devido aos movimentos da<br />
música, que estavam se tornando cada vez mais rápidos. As pausas respectivas surgiram em<br />
simultaneidade com as notas.<br />
285
mesmas melodias. Tornou-se frequente o uso de melodias que se liam nos dois<br />
sentidos.<br />
11.6 Da Renascença ao Barroco (séculos XV a XVII)<br />
A música sacra, que dominou imponente por mil anos, quase foi abolida das<br />
cerimônias católicas, em razão dos excessos a que chegou. Somente não o foi em<br />
virtude da genialidade de alguns compositores sacros, tais como Pierluigi da Palestrina,<br />
Josquin Des Près, Orlando di Lasso, Thomas Byrd, etc., verdadeiros mestres da arte<br />
musical. Na música de Palestrina (século XV) o coro continuava sem intervenção<br />
instrumental, mas, embora as vozes cantassem livres, já existia uma disposição de<br />
acordes.<br />
Quanto à música não religiosa, durante o período do Renascimento e da Reforma o<br />
estilo musical continuou altamente influenciado pela música flamenga, a qual se<br />
irradiou para a França, Alemanha, Itália e Inglaterra. No século XVI, numerosas<br />
formas musicais surgiram, tais como a Frottola italiana, o Lied polifônico alemão; o<br />
Villancico espanhol e o Madrigal italiano e inglês.<br />
Com o Renascimento, procurou-se definir mais satisfatoriamente o estilo,<br />
desenvolvendo-se métodos racionais de composição 323 e buscando-se a clareza e o<br />
equilíbrio. Iniciou-se também o desenvolvimento de música instrumental para<br />
conjuntos de câmara. Também nesse período começou a surgir a harmonia, que já<br />
vinha sendo esboçada desde a época da Ars Nova. O Madrigal, uma forma<br />
desenvolvida da Frottola, difundiu-se por toda a civilização européia. Nele, um coro de<br />
cinco vozes move-se livremente, sem Canto Firme, cada voz desenvolvendo um tema<br />
diferente. Polifônico, já prenuncia o acorde harmônico, teorizado por Zarlin.<br />
No século XVII, no período denominado Barroco, surgiu a música dramática, as<br />
formas do recitativo e do melodrama e o gênero sinfonia.<br />
11.6.1 As teorias do período pré-clássico<br />
I) A teoria musical:<br />
Com relação aos modos e escalas, após a primeira sistematização teórica realizada<br />
por Guido de Arezzo, com os seus hexacordes de difícil aprendizagem e ainda mais<br />
difícil uso, pelas complicações que resultavam do horror medieval ao diabolus in<br />
musica (o trítono), surgiu em 1547 a obra de Heinrich Glareanus, Dochekachordon (Os<br />
Doze Modos). Glareanus, que era professor em Bale, apresentou nesta obra, pela<br />
primeira vez, a gama:<br />
DÓ – RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ – SI – DÓ<br />
A escala moderna (DÓ-DO) não existiu antes do século XVI. Antes dessa época,<br />
ela era dividida aritmeticamente (uma quarta, UT-FÁ, depois uma quinta, FÁ-UT)<br />
como no modo plagal do lídio FÁ-FÁ:<br />
Modo lídio autêntico : FÁ – SOL – LÁ – SI – DÓ – RÉ – MI - FÁ<br />
Modo hipolídio plagal: DÓ – RÉ – MI – FÁ – SOL – LÁ – SI – DÓ<br />
323 Na música européia por volta de 1600, as notas alteradas cromaticamente não eram notadas (escritas)<br />
na partitura, mas deveriam ser supridas na execução. Isto era chamado de ficta, ou música ficta (musica<br />
falsa ou dissimulada).<br />
286
Glareanus elevou para doze o número de modos existentes, que era de oito, sendo<br />
que entre os quatro adicionados se encontrava o modo maior de UT, que terminou por<br />
se sobrepor aos demais. Segundo ele, o modo diatônico UT-UT, com a divisão sobre<br />
SOL (e não sobre FÁ) era extremamente praticado e vulgarizado na maioria dos países<br />
da Europa. Este modo é uma transposição do tom lídio grego à quinta dominante, na<br />
forma hipo. Embora tenha sido chamado de modo jônico por Glareanus, era de fato o<br />
hipolídio romano, transposto e alterado.<br />
No século XVII, a harmonia e a tonalidade (que é harmônica) se consolidaram, e<br />
com elas a escala maior de DÓ. A tríade tonal se fixou nos acordes de fundamental,<br />
terça e dominante, e os graus da tonalidade se definiram. Também as claves se<br />
definiram, assim como a pauta, em duas séries de cinco linhas (o sistema de onze<br />
linhas, ou dois pentagramas, é denominado endecagrama):<br />
ou:<br />
As notas se tornaram redondas, com hastes ao lado; fixaram-se os sinais numéricos<br />
indicadores de compasso. Surgiu a barra de divisão dos compassos, e as partituras<br />
tornaram-se comuns.<br />
Nos melodramas e madrigais de Cláudio Monteverde, este sistematizou pela<br />
primeira vez o acorde de sétima de dominante nas cadências, abrindo caminho para os<br />
acordes de cinco e mais sons. As sétimas e nonas eram atacadas sem preparação, e as<br />
terças usadas abusivamente. Utilizando o acorde de sétima diminuta, ele estabeleceu o<br />
caráter estético da dissonância 324 como acorde de movimento que deve se resolver na<br />
consonância.<br />
II) A teoria matemática:<br />
O padrão de afinação vigente por toda a Idade Média foi o padrão pitagórico, cuja<br />
afinação total é dada no quadro a seguir:<br />
Nota C C# D Eb E F F# G G# A Bb B C<br />
Razão 1:1 2187:2048 9:8 32:27 81:64 4:3 729:512 3:2 6561:<br />
4096<br />
27:16 16:9 243:128 2:1<br />
Cents 0 114 204 294 386 498 612 702 816 906 996 1110 1200<br />
Antes que surgisse e se impusesse a escala temperada, uma outra escala, chamada<br />
escala mesotônica de ¼ de coma, ou simplesmente, escala mesotônica, foi usada<br />
extensamente na Europa, por séculos, 325 em substituição à escala pitagórica.<br />
A diferença entre a escala pitagórica e a escala mesotônica é a seguinte: 326<br />
Pitagórica C o D o E o F o G o A o B o C2 o<br />
Mesotônica C o D -1/2 E -1 F +1/4 G -1/4 A -3/4 B -5/4 C2 o<br />
324 Ainda que de um modo incipiente, a dissonância já surgia nos madrigais sacros de Palestrina.<br />
325 E que ainda foi usada até meados do século XIX.<br />
326 Os índices indicam o grau de variação de cada nota da segunda escala em relação à primeira.<br />
287
Gioseffo Zarlin (ou Zarlino) nasceu em Chiozza, Veneza, em 1517 (1519?), e<br />
morreu em 1590. Ele foi mestre-de-capela de São Marcos. Foi ele quem abriu os<br />
caminhos para as leis da harmonia, ao reconhecer a existência da terça maior na<br />
relação 4:5. Até então, só estavam estabelecidas as relações pitagóricas de oitava,<br />
quinta e quarta, 1:2:3:4, a partir da fundamental. Ele introduziu uma nova gama<br />
diatônica, que era derivada dos seis primeiros números inteiros.<br />
Partindo dos sons grave e agudo, encontrou o acorde DÓ-MI-SOL e o acorde FÁ-<br />
LÁb-DÓ, com os mesmos intervalos:<br />
De onde se deduz:<br />
A proposição de Zarlin é que todos os intervalos estão contidos e formados na<br />
corda (do monocórdio), que é o seu princípio e fundamento.<br />
A afinação justa de Zarlin é dada no quadro a seguir:<br />
Nota C D E F G A B C<br />
Razão 1:1 9;8 5:4 4:3 3:2 5:3 15:8 2:1<br />
Cents 0 204 386 498 702 884 1088 1200<br />
Zarlin modificou a gama cromática pitagórica, substituindo as freqüências das<br />
notas MI, LÁ e SI.<br />
Esta modificação, no entanto, não resolveu o problema da transposição.<br />
Galileu Galilei (1564-1642) já tinha determinado que as razões dos intervalos<br />
musicais eram dependentes, não do comprimento das cordas nem da sua espessura,<br />
mas da proporção existente entre as freqüências das vibrações sonoras. Entretanto,<br />
Galileu não conseguiu encontrar uma fórmula matemática para a vibração das cordas.<br />
A equação da freqüência de vibração das cordas só veio a ser descoberta por F.<br />
Marin Mersenne (1588-1648), um religioso da Ordem dos Mínimos, 327 o qual mostrou<br />
que ela é inversamente proporcional ao seu comprimento e à raiz quadrada da sua<br />
densidade linear, sendo proporcional à raiz quadrada da sua tensão:<br />
327 Ele escreveu a obra Harmonie Universelle.<br />
288
Mersenne foi quem, pela primeira vez, estabeleceu estas leis da acústica das cordas,<br />
leis físicas que continuam sendo usadas. 328<br />
Simon Stevin (1548-1620) calculou por volta do ano 1600 uma divisão igual a da<br />
oitava em doze intervalos, mas sem defender o seu uso.<br />
O temperamento igual, que se tornaria a solução para este problema, já tivera uma<br />
tentativa de formulação matemática em 1577. Isto foi feito pelo árabe F. Salinas 329<br />
(1513-1590), em sua obra De musica. Nesta obra, ele propunha que a oitava fosse<br />
dividida em doze partes proporcionalmente iguais e com semitons iguais. Isto dava a<br />
seguinte escala:<br />
C D E F G A B C<br />
1:1 6:2 3:2 12:25 12:27 4:23 12:211 2:1<br />
Ambos, Stevin e Salinas, construíram instrumentos de teclado com 19 divisões da<br />
oitava, afinados em um temperamento mesotônico expandido (com 2/7 de coma e 1/3<br />
de coma respectivamente; o último dava uma divisão quase igual).<br />
Estas foram tentativas que também não vingaram.<br />
Outros depois vieram teorizar a respeito. O físico do século XVII, Christiaan<br />
Huygens (1629-1695) publicou em 1691 um trabalho, Novus Cyclus Harmonicus, no<br />
qual propunha a divisão da oitava em 31 intervalos iguais (o que ele fazia usando os<br />
logaritmos).<br />
Foi só no século XVII que surgiu um sistema que resolvia o problema do<br />
temperamento. Esta conquista (a adoção final da escala temperada) deveu-se a André<br />
Werchmeister (ou Werckmeister), que estabeleceu sua teoria em 1691.<br />
A evolução contínua dos instrumentos musicais e o surgimento da harmonia<br />
obrigaram à adoção da escala temperada. A concepção harmônica baseada na escala<br />
única de DÓ maior tinha por fundamento as relações entre intervalos harmônicos, e<br />
não as relações entre intervalos melódicos. Assim, a escala básica determinava uma<br />
tonalidade cuja disposição de tons e semitons não podia variar, quando se fizesse a<br />
transposição para outro grau. Ora, o que ocorria era que no sistema não temperado, os<br />
mesmos acordes em graus diferentes soavam como se estivessem em modos diferentes.<br />
Havia, além disso, a dificuldade técnica de construir instrumentos de teclado com as<br />
teclas referentes aos sons enarmônicos.<br />
A solução para todas estas dificuldades foi igualar os semitons cromático e<br />
diatônico através de uma ligeira desafinação das quintas, imperceptível à audição.<br />
Deste modo, a escala ficou dividida em doze semitons iguais, com uma relação<br />
matemática de 12 √2 entre cada um.<br />
Na escala temperada, o tom maior (por exemplo, entre DÓ e RÉ) se divide em 9<br />
comas: 330<br />
328 Mersenne descreveu um sistema de divisão da oitava em 53 tons, divisão esta proposta por autores<br />
gregos antigos. Esta é, literalmente, uma escala de comas pitagóricas, formadas por sucessões de<br />
quintas. No final do século XIX, R. H. M. Bonsaquet e Tanaka Shohé construíram instrumentos afinados<br />
neste temperamento igual de 53 tons por oitava.<br />
329 Salinas foi um teórico que, juntamente com Zarlin, tentou resolver o problema da afinação musical.<br />
330 A oitava temperada, por ter seis semitons, comporta 9 x 6 = 54 comas.<br />
289
Paralelamente à busca da escala perfeita, os teóricos afligiam-se também com o<br />
problema da consonância e da dissonância dos sons.<br />
Mersenne foi o primeiro a ter a audácia intelectual de admitir que as dissonâncias<br />
pudessem, pelo hábito de se as ouvir, adquirir uma feição agradável à audição.<br />
Preocupou-se também em saber o motivo pelo qual, das divisões da corda até seis<br />
partes iguais surgiam consonâncias, enquanto que a divisão por sete originava um<br />
intervalo dissonante.<br />
Mesmo Descartes não se furtou a tal contribuição. Em sua obra Compendium<br />
Musicae (1619), ele tentou explicar, através de métodos puramente geométricos, as<br />
razões dos intervalos consonantes.<br />
11.7 Do Clássico ao Romântico (séculos XVIII a XIX)<br />
O período conhecido como Classicismo, no século XVIII, foi talvez o mais fértil na<br />
história da música, tanto em músicos excepcionais quanto em obras em grande<br />
quantidade e de altíssima qualidade. Ainda nos dias atuais, a maioria da música<br />
executada nos teatros e salões de música é deste período. 331<br />
A música instrumental, até o período Barroco, encontrou diversas formas de<br />
manifestação, tais como a Fantasia, a Canção (Chanson), o Capricho, a Ária, a Sonata<br />
(antiga), etc. Todas estas formas, livre divertimento no estilo fugato, não possuíam<br />
nenhum princípio de desenvolvimento temático; se baseado em tema popular, o<br />
andamento e os desenvolvimentos contrapontísticos faziam logo cedo o tema perderse,<br />
nada restando ao final, de sua natureza originária. Se o compositor inventava um<br />
tema, este era tomado e retomado várias vezes, até se esgorarem as possibilidades,<br />
quando então o movimento terminava. Um exemplo deste tipo de construção é a obra<br />
de Bach, Os Concertos de Brandenburgo. Qualquer que fosse a construção do tema,<br />
trechos podiam ser arbitrariamente juntados em forma de, por exemplo, Suíte,<br />
Concerto Grosso ou Abertura (sendo que desta última havia a Abertura francesa e a<br />
Abertura italiana).<br />
Os membros da escola de Mannheim, juntamente com a escola de Viena (que<br />
contestava a prioridade dos primeiros) lançaram os fundamentos da forma denominada<br />
Sonata, com a sua variedade tanto em música de câmara (quarteto) quanto em música<br />
orquestral (Sinfonia).<br />
A palavra sonata nasceu na península itálica; de início, designava unicamente uma<br />
peça instrumental (um instrumento musical).<br />
331 No conhecimento popular, qualquer música erudita é denominada de música clássica.<br />
290
A origem da Sonata e da Sinfonia clássica não foi estabelecida com exatidão;<br />
alguns pesquisadores pretendem que ela deriva da antiga Abertura, no tipo introduzido<br />
por Scarlatti, e que era composta da sucessão Allegro, Adágio e Allegro, numa peça<br />
única, sendo que posteriormente os trechos tomaram forma autônoma, aos quais se<br />
intercalou a Suíte. Outra corrente diz que ela se originou da própria Suíte, fosse por<br />
processo de condensação, fosse por processo de ampliação ou desenvolvimento de<br />
cada tempo, onde se introduziu a repetição (ripresa) que falta à Suíte. A definição das<br />
características da Sonata moderna, em suas linhas estruturais, deve-se a Phillip<br />
Emmanuel Bach, filho de Johann Sebastian Bach. Quanto ao desenvolvimento<br />
temático da Sonata, esta encontrou em Haydn sua mais alta expressão. Em sua forma<br />
final, a Sonta tornou-se a mais fecunda expressão musical que qualquer forma ou<br />
gênero jamais teve.<br />
Outras formas fixadas no Classicismo foram, no melodrama, a Ária, o Recitativo<br />
Acompanhado e a Abertura (Ouverture). A máxima expressão musical do período, no<br />
gênero da Ópera, Mozart, é considerado o clássico por excelência.<br />
A fase Romântica (século XIX) foi uma fase de idealismos, sentimentos e paixões<br />
expressos em música; os temas tornam-se psicológicos, procurando interpretar<br />
intenções e expressões sentimentais. A concepção temática procura, por meio da<br />
musicalidade romântica, contar uma história, um drama. Os coros se sobressaem nas<br />
orquestras (Beethoven); a Ópera se amplia em ciclos (Wagner). Os temas são buscados<br />
nas lendas medievais, nórdicas, gaulesas; no exótico, no místico, no religioso e no<br />
fantástico. Também o sofrimento e a dor são cultivados. No período Romântico, a<br />
orquestra clássica atinge, com Beethoven, a sua perfeição. Deve-se-lhe a forma<br />
denominada Peça Característica, a qual se desenvolve em um instrumento solista<br />
(introduzido por Vivaldi).<br />
O Drama Lírico, com Wagner, 332 retorna à concepção grega de música como fusão<br />
de todas as artes (Arte das Musas): ele pretende fundir música, poesia, dança e pintura,<br />
numa arte total; adota o Estilo Recitativo, no qual a orquestra age como comentadora<br />
da ação, aprofundando os valores dramáticos da obra. Para isto, a obra toma vários<br />
temas musicais, os quais são chamados de Motivo Condutor (Leitmotif). 333 A cada<br />
elemento do entrecho dramático (personagens, fatos, situações) é atribuído um motivo<br />
condutor, que o apresenta e retorna sempre que cada um destes elementos entra em<br />
foco, pelo desenvolvimento da ação dramática.<br />
11.7.1 A época pré-moderna (séculos XVIII a XIX)<br />
O período Clássico-Romântico (séculos XVIII a XIX) foi também abundante em<br />
teóricos da música. 334<br />
332 Wilhelm Richard Wagner (1813-1883) foi um dos expoentes do Romantismo. Suas óperas,<br />
grandiosas, tiveram enorme influência na música. Uma de suas principais obras operísticas é o chamado<br />
ciclo do anel ou tetralogia do anel (Anel dos Nibelungos), baseados na antiga mitologia germânica. Suas<br />
óperas Parsifal; Lohengrin e Tannhäuser, por sua vez, são baseadas no esoterismo cristão. Todas estas<br />
obras eram, e ainda são encenadas no famoso Teatro de Ópera de Bayreuth (Bayreuth Festspielhaus).<br />
333 O Motivo Condutor foi aproveitado pelo rádio, cinema e televisão. Nestes, a trilha sonora ou fundo<br />
musical é o motivo condutor do programa como um todo, de acordo com a característica psicológica<br />
deste: drama, comédia, suspense, etc. Também cada cena tem o seu acompanhamento apropriado, bem<br />
como cada ator tem a sua trilha musical específica.<br />
334 A consolidação final da escala temperada se deu com a publicação, por Johann Sebastian Bach, da<br />
obra Cravo bem temperado, cujos dois volumes datam, respectivamente, de 1722 e 1744.<br />
291
Jean-Phillipe Rameau (1683-1764) foi o codificador das leis da harmonia. Ele<br />
também debateu a origem e a necessidade da dissonância, bem como proclamou a<br />
supremacia do modo maior.<br />
Adam Serre tentou explicar a origem da dissonância, e afirmou a necessidade de<br />
existirem dois fundamentais, para que pudesse haver o encadeamento harmônico tonal.<br />
Outros teóricos foram: Tartini; Blainville; Bethst; Reber; Bazin; Durand; Lavignac;<br />
D’Alembert; Sorge; Balliére; Catel; Chretien; De Momigny; Derode; Savard; Choron;<br />
Reicha; Boely; Fétis; Durutte; etc.<br />
O maior matemático da época, Leonard Euler (1707-1783) apresentou em sua obra<br />
Tentamen novae theoriae musicae, de 1739, uma teoria algébrica acerca da divisão da<br />
oitava e do grau da consonância dos intervalos musicais. Nesta obra, ele defende que a<br />
música deve ser uma combinação de sons capaz de criar uma harmonia agradável.<br />
Entretanto, em razão da complexidade matemática de sua teoria, ela não foi aceita<br />
pelos músicos da época.<br />
Em 1863, o físico alemão Hermann von Helmholtz (1821-1894) publicou a obra<br />
Sensations of Tone, que lançou as bases definitivas da ciência da acústica.<br />
Todos os citados se preocuparam em encontrar fundamentos sólidos para a ciência<br />
dos sons, mas suas teorizações e especulações, por correrem paralelamente ao<br />
desenvolvimento da tradição musical acadêmica (realizada por músicos), não<br />
chegaram a influenciar (com algumas exceções) a teoria musical secularmente<br />
enraizada.<br />
As teorizações puramente musicais podem ser separadas, segundo as suas<br />
concepções, em dois grupos principais:<br />
a) os melodistas, para os quais a gama é a melodia primitiva e natural, da qual<br />
os sons se combinam harmonicamente segundo os seus intervalos;<br />
b) os harmonistas, para os quais os sons formam acordes em razão de<br />
afinidades oriundas das relações de seus intervalos, sendo então destes<br />
acordes, classificados por ordem de altura em que a gama melódica se<br />
forma.<br />
Deve-se a Augustin Savard, em sua obra Cours complet d'harmonie théorique et<br />
pratique, de 1853, a divisão da harmonia em dois grupos: harmonia consonante e<br />
harmonia dissonante. Pertencem à primeira os acordes maior e menor e suas posições<br />
nos graus das escalas modais (a quinta diminuta sendo consonante sobre o sétimo grau<br />
da escala maior e sobre o segundo e sétimo graus da escala menor). À segunda<br />
pertencem os acordes de sétima de dominante e nona de dominante, maior e menor; de<br />
sétima de sensível e de sétima diminuta (com as regras de resolução desta última).<br />
Coube a Antoine-Joseph Reicha (ou Anton Reicha, 1770-1836) a sistematização da<br />
harmonia nos seguintes acordes clássicos: perfeitos, maior e menor; quintas, diminutas<br />
e aumentadas; sexta aumentada; sétimas maior, menor e sensível; nona maior e menor.<br />
No período Clássico, fase de formação e consolidação da Sonata e da Sinfonia, a<br />
harmonia permanecera estritamente polifônica, com os movimentos a quatro vozes.<br />
Com o movimento Romântico, os acordes começaram a surgir mais isolados e<br />
independentes; e se no período anterior se sucediam preparação, ataque e resolução da<br />
dissonância (o que implicava em movimento de partes polifônicas), no período<br />
seguinte os acordes se individualizaram.<br />
292
Debussy utilizou uma tríade tonal seguida por outra em outro grau; César Franck<br />
fazia uso de antecipações do acorde seguinte, bem como retardos do acorde<br />
antecedente, numa harmonização onde o acorde deixava de ser tonal. Empregava<br />
também conjuntos de sons modulados em sucessão, antecipando por vezes a<br />
atonalidade. Chopin usou extensamente a dissonância e o cromatismo, e não se furtou a<br />
aceitar o trítono (Mazurca N. 15, em DÓ maior). Com o cromatismo de Wagner,<br />
Mahler e Strauss, a estrutura tonal foi sendo progressivamente abandonada. É Debussy,<br />
no entanto, o elo musical entre a música do período Romântico e a música do período<br />
Moderno (século XX). Ele criou um conceito novo de tonalidade ao considerar os<br />
acordes como fenômenos sonoros autônomos; pelo uso de escalas exóticas e ao<br />
substituir a tonalidade harmônica pela tonalidade melódica.<br />
11.8 A influência árabe<br />
Para os árabes, a música era a ciência de compor melodias (do grego mousiki). O<br />
nome dado pelos árabes para a teoria grega da música era Qilm al-musiqa, que se<br />
distinguia da teoria árabe propriamente dita, ou Qilm al-ghinaa'.<br />
Foi no final do século VIII e início do século IX que os árabes começaram a sofrer<br />
a influência das traduções que se faziam das obras gregas. Em meados do século IX, as<br />
teorias musicais de Ptolomeu, Euclides, Aristoxenes e outros autores já eram<br />
conhecidas e discutidas.<br />
Assim como se estudava a música no Ocidente, nos cursos do Quadrivium, também<br />
os árabes a estudavam. Um dos primeiros árabes que se interessaram pelo tema foi Al-<br />
Kindi (d.874), que escreveu sete tratados a respeito, dos quais três não sobreviveram.<br />
Em seguida veio Al-Farabi, que escreveu Al'kitab Al'kabiir, no qual incluiu imensa e<br />
detalhada informação sobre musica, de um modo geral, e sobre os instrumentos<br />
musicais, em especial.<br />
Além de músico praticante, Al-Farabi era também matemático e físico, e isto<br />
permitiu-lhe compreender as bases físicas do som, a acústica e o canto, sob o aspecto<br />
fisiológico.<br />
Ele descreveu um instrumento musical que era usado em seu tempo, o Al-Tunboor<br />
Al-Baghdadi.<br />
Os pesquisadores que conhecem a influência do conhecimento árabe sobre a<br />
música, além de perceberem a influência grega, também perceberam a própria<br />
influência árabe sobre a cultura musical do ocidente, inclusive com relação ao nome de<br />
vários instrumentos musicais. 335<br />
Assim, por exemplo, palavras como lute, guitarra e adufe 336 vem das palavras<br />
árabes Al-‘ud, qithara e Al-duff.<br />
Mas não apenas o nome de instrumentos musicais são uma herança árabe; também<br />
o uso de vários deles foi passado desta maneira. É possível que toda a familia de<br />
tambores tenha passado para a Europa Ocidental atraves de contato árabe, ou foi<br />
divulgada por esse meio. 337<br />
335<br />
Influência esta que foi passada através da Espanha, que recebeu a influência mourisca.<br />
336<br />
O adufe é um tamborim quadrado.<br />
337<br />
Para maiores informações sobre este tema, veja-se o artigo História da Música Árabe, de Wafaaq<br />
Salman, no site http://www.kfssystem.com.br/loubnan/music01.html.<br />
293
294
CAPÍTULO XII<br />
A MÚSICA DO SÉCULO XX<br />
12.1 – Da crise da linguagem musical à nova música<br />
Assim como a sociedade européia sofreu uma série de profundas transformações<br />
nos campos econômico, social, ideológico, político, científico, etc., também a música<br />
passou por profundas modificações com o alvorecer do novo século. Desde a última<br />
metade do século anterior já vinham ocorrendo mudanças: ritmos mais complexos,<br />
novos instrumentos, novos timbres, novas formas e novas estruturas, e uma continuada<br />
evolução da harmonia. A crise na linguagem musical, no entanto, instalou-se<br />
exatamente na contestação deste princípio considerado imutável, do qual se formou o<br />
arcabouço da música nos três séculos anteriores: a tonalidade. Em busca de uma nova<br />
linguagem, a música do novo século procurou principalmente desvincular-se das<br />
exigências da harmonia tonal, com o que acabou descambando no relativismo musical.<br />
O período de fermentação musical do qual surgiu a Música Nova vai de 1880 a<br />
1900, quando surgiram diversos compositores buscando novas formas de expressão,<br />
rompendo com o Romantismo e criando novos conceitos musicais. Com Gustav<br />
Mahler (1860-1911) a tonalidade se expande, embora ainda sob controle (uso de<br />
intervalos afastados; acordes com dez ou mais sons); Claude Debussy (Achile-Claude<br />
Debussy, 1862-1918), influenciado pela corrente Impressionista nas artes, foi além e<br />
criou um novo conceito de tonalidade, bem como aboliu os conceitos tradicionais de<br />
harmonia e forma. Na tentativa de libertar-se da tonalidade, Debussy usou acordes sem<br />
ligação, terças aumentadas, sucessões de quintas e nonas, superposições tonais, acordes<br />
sem resolução, escalas exóticas, etc. Suas composições abriram o caminho e dirigiram<br />
o curso para a música que viria a seguir.<br />
Outros inovadores foram Richard Strauss (1864-1949), do qual algumas obras<br />
foram escritas de modo que a harmonia não possuísse coesão tonal, e Alexandre<br />
Scriabin (ou Aleksander Scriabin, 1872-1915) simbolista russo que se postava na<br />
vanguarda musical com o seu supercromatismo anárquico e o seu acorde místico<br />
(composto por seis notas).<br />
A personalidade mais original da música, e que inovou em todos os setores, não<br />
foi, no entanto, um músico profissional. O norte-americano Charles Ives (1874-1954),<br />
embora desvinculado dos movimentos musicais europeus do início do século XX,<br />
renovou a linguagem musical de uma maneira revolucionária. Embora suas obras<br />
somente tenham começado a ficar conhecidas quase um quarto de século após sua<br />
publicação (Ives era financeiramente independente, e publicou todas as suas obras, que<br />
distribuía de graça a quem lhe solicitasse), é sabido que se antecipou aos principais<br />
movimentos musicais deste século. De maneira totalmente independente, desenvolveu<br />
a bitonalidade, a politonalidade e a atonalidade, antes que surgissem na música<br />
européia. Usou ritmos simultâneos, ritmos assimétricos, compassos diferentes,<br />
mudanças de intensidade, descompassos, um mesmo compasso; em outras obras,<br />
chegou a abolir o compasso. Fez experiências com música em quarto-de-tom, 338 e com<br />
desvio de diapasão fixo. Experimentou também novas relações de acordes; em suas<br />
obras encontram-se antecedentes da música aleatória, da música concreta e da música<br />
338 Ives compôs três peças para serem executadas em dois pianos afinados com diferença de ¼ de tom.<br />
Também escreveu uma obra chamada Algumas Impressões Sobre Quartos de Tom.<br />
295
espacial. E tudo isto antes que surgisse a vanguarda européia representada por<br />
Stravinsky, Bartok, Schoemberg, Hindemith e vários outros. 339<br />
É difícil estabelecer, em qualquer período histórico, quem foi o pioneiro, aquele que<br />
foi o mais ousado em estabelecer novos parâmetros sobre qualquer tipo de arte. Mesmo<br />
na música, o pioneirismo de pessoas como Debussy, Wagner, e até mesmo Ives,<br />
resultaram tão somente de uma reação aos excessos de formalização e de regras<br />
ocorridos no passado, ou até mesmo como uma revolta contra uma tendência anterior,<br />
revolta esta que surge da necessidade de produzir algo novo e independente. Tomandose<br />
um período histórico bem anterior, com formas musicais que praticamente já não se<br />
usam, mesmo assim pode ser encontrado um verdadeiro pioneiro, que ainda hoje<br />
assombra os musicólogos. Dizer que em pleno século XV alguém tinha toda esta<br />
ousadia, pode chocar. Entretanto, o epíteto de ousado pode, com certeza, ser atribuído<br />
ao músico medieval Carlo Gesualdo, príncipe de Venosa (c.1560-1614). Entre os<br />
vários madrigais que compôs encontram-se obras com um romantismo que seria<br />
apropriado ao século XIX, cromatismos extremados à moda de Wagner e,<br />
incrivelmente, obras atonais. Como bem cita Otto Maria Carpeaux, “sua modernidade<br />
parece inesgotável” (CARPEAUX, s/d, p. 27).<br />
Um outro visionário da música foi Ferruccio Busoni (1866-1924). Já em 1907 ele<br />
propunha o uso de instrumentos eletrônicos, a expansão da linguagem tonal e inclusão<br />
de procedimentos micro-tonais na composição. Alguns de seus alunos de composição<br />
viriam a se tornar célebres, como Edgard Varèse, Kurt Weill, Egon Petri e Stefan<br />
Wolpe. Sua estética, que pode ter influenciado compositores como Alois Hába,<br />
Schoemberg, Varése, Sorabdji, 340 entre outros, somente viria a ter reconhecimento a<br />
partir da década de 1980. 341<br />
Da mesma época de Ives, e muito elogiado por ele, há também o compositor Charles<br />
(Carl) Sprague Ruggles (1876-1971), que também desenvolveu um estilo altamente<br />
dissonante, e algumas vezes se antecipando à atonalidade de Schoemberg.<br />
No período que vai de aproximadamente 1910 até 1925, surgiram vários<br />
movimentos musicais, dentre os quais se destacam: o Expressionismo, o Futurismo e o<br />
denominado Espírito Novo, vinculado à estética musical de Eric Satie.<br />
O Expressionismo foi um movimento estético que surgiu vinculando amplos<br />
setores das artes, no início do século. Constitui uma ruptura com movimentos<br />
anteriores, principalmente o Impressionismo, aos moldes de Debussy. Em<br />
contraposição a este, que visava a reprodução de impressões provindas do mundo<br />
exterior, o Expressionismo buscava externar a vida psíquica, subjetiva, do compositor.<br />
Os nomes preponderantes são Arnold Schoemberg, Alban Berg e Anton Webern, os<br />
quais atuavam em Viena. De início, as obras expressionistas eram desprovidas de<br />
tonalidade (atonais), bem como atemáticas. Esta tendência, que não satisfazia os<br />
compositores, evoluiu (com Schoemberg) para a codificação dodecafônica, um método<br />
339 Copland afirma que Ives publicou uma coleção de 114 canções (das quais, provavelmente ele, Ives,<br />
jamais ouviu a maioria), compostas em um período de trinta anos. Entre as mais importantes, Copland<br />
aponta: Where the Eagle (1900); Paradise Lost; Charlie Rutlage; The Indians; Ann Street; Maple<br />
Leaves; The See’r; The New Reever; The Swimmers; Two Little Flowers; Like a Sick Eagle; The Greatest<br />
Man (estas últimas do período 1919-1921) (COPLAND, 1969, p. 141).<br />
340 Kaikhosru Shapurji Sorabdji (1892-1988), compositor e pianista britânico de origem parse.<br />
341 Em sua música, Busoni entrelaça várias linhas melódicas, formando um tema complexo em<br />
contraponto. Suas obras finais não tinham uma tonalidade determinada. Por ter sido influenciado por<br />
compositores dos séculos XVII e XVIII, Busoni parece estar na origem do chamado neoclassicismo.<br />
296
que procurava a renovação da própria linguagem musical. O dodecafonismo, dando<br />
uma possibilidade de organização coerente às composições musicais, foi uma evolução<br />
sobre a atonalidade pura. Tanto Berg quanto Webern compuseram várias obras<br />
seguindo as teorias de Schoemberg.<br />
O Movimento Futurista Italiano foi fundado em 1909 por Filippe Marinetti, através<br />
do manifesto Foundation and Manifesto of Futurism. Em 1913, o artista plástico Luigi<br />
Russolo (1885-1947), lançou o manifesto L'Arte dei Rumori (A arte dos ruídos), e em<br />
1914, o manifesto Enharmonic Notation for the Futurist Intonarumori.<br />
O Futurismo contribuiu bastante para a ampliação do universo sonoro e musical do<br />
início do século XX. Foi precursor do Concretismo, com relação à expansão do campo<br />
sonoro, ao incorporar o ruído à criação musical. Para os futuristas, a música, sendo um<br />
universo sonoro abrangente, não poderia rejeitar os sons do cotidiano, tais como ruídos<br />
de fábrica, apitos, etc. 342<br />
Com relação ao movimento chamado Espírito Novo (também uma reação ao<br />
Romantismo), este propugnava que o som deveria ser considerado não como um<br />
símbolo, mas como uma verdadeira realidade sonora, de onde o subjetivismo estaria<br />
completamente ausente, e a linguagem se desenvolveria com clareza e sem partes<br />
inúteis. Os compositores filiados a esta estética foram Satie, Ravel, Stravinsky e Falla.<br />
Um ponto que se ressaltou, com relação a Stravinsky, foram as suas inovações em<br />
ritmo, harmonia e timbre orquestrais.<br />
Este espírito novo na música foi adotado na França, pelo chamado grupo dos<br />
Seis; 343 na Alemanha, paralelamente, e enquanto isso se desenvolvia (1920) o<br />
movimento denominado Nova Objetividade, que visava principalmente conseguir<br />
repercussão social e política para a sua música. Entre os membros deste movimento<br />
contam-se, entre outros, Ernst Kreneck e Paul Hindemith.<br />
Vários movimentos e correntes musicais se sucederam, onde a estética de<br />
vanguarda procurou com esforço renovar a linguagem musical, considerada esgotada.<br />
Entre os caminhos encontrados incluem-se principalmente a redescoberta da música<br />
popular e folclórica (já iniciada por Debussy), onde diversos compositores se<br />
inspiraram: Maurice Ravel, Stravinsky, Manuel de Falla, Janaceck, Kodály, Bela<br />
Bartok e Heitor Villa-Lobos.<br />
Outra tentativa de solucionar a crise de expressão musical foi o Neoclassicismo,<br />
movimento desenvolvido de 1918 a 1939, o qual se constituiu em um retorno à música<br />
clássica e a barroca. Este movimento buscava uma estética concisa e objetiva, firmada<br />
em modelos conhecidos, onde o que interessava era o estilo, e não a linguagem<br />
empregada. Ravel, Hindemith e Stravinsky foram os principais músicos que aderiram<br />
ao movimento neoclássico. Stravinsky, no entanto, juntamente com Serguei Prokofiev,<br />
levou a cabo uma produção criadora de modo independente, desvinculada de qualquer<br />
escola.<br />
Uma grande influência sobre a música veio dos ritmos e elementos musicais<br />
existentes no jazz americano. Começando com Debussy, em 1917, em seguida Satie,<br />
Stravinsky, Ravel, Milhaud, Hindemith, Honegger, Kreneck e Copland foram alguns<br />
dos compositores que utilizaram estes elementos. Os instrumentos musicais clássicos<br />
passaram a ser tocados de uma nova forma; além disso, instrumentos tais como o<br />
saxofone, clarinete, trombone, etc., foram enriquecidos com a originalidade trazida<br />
pela estrutura rítmica e de timbres pouco usuais, existentes no jazz.<br />
342 O movimento viria a ter continuidade nas propostas posteriores de Stockhausen e John Cage.<br />
343 Ou, como eram chamados, Les Six: Georges Auric, Arthur Honegger, Darius Milhaud, Francis<br />
Poulenc, Germaine Tailleferre, Louis Durey.<br />
297
12.2 A expansão do universo sonoro<br />
A partir de 1948, a música atingiu um novo patamar, marcado pela renovação não<br />
só das formas de organização do discurso musical, quanto pela introdução de técnicas e<br />
métodos de captação, manipulação, transformação e reprodução do som, com o uso<br />
intensivo dos novos equipamentos elétricos e eletrônicos colocados à disposição dos<br />
músicos.<br />
O precursor da nova orientação que se seguiria foi Edgard Varèse, 344 que buscou<br />
novos princípios musicais, além da melodia, ritmo e harmonia: tensão e relaxação,<br />
concentração e dissolução, além de ter dado contribuições originais no campo do<br />
ataque rítmico e da acentuação dinâmica. Na América, embora a música rebelde e<br />
iconoclasta de Charles Ives ainda não fosse conhecida, além de Varèse (que se educara<br />
na Europa), outras figuras altamente originais surgiram, trazendo teorias acerca do som<br />
que subvertiam completamente as regras tradicionais: Henry Cowell (1897-1965), do<br />
qual algumas obras lembram as experimentações formais dos antigos flamengos<br />
medievais, 345 e John Cage (1912-1992), precursor da indeterminação e do aleatório na<br />
música, e cujas influências vem do teatro Nô japonês e do budismo Zen. Cage dá valor<br />
principalmente à realidade sonora, ressaltando cada fragmento de som e procurando<br />
mesclar em doses exatas prolongados silêncios com múltiplos conjuntos de<br />
organizações sonoras; isto quanto não usa o próprio silêncio como uma realidade<br />
musical (do qual sua obra 4’33”, de 1952, é o exemplo perfeito). 346<br />
12.2.1 O serialismo e a música concreta<br />
Com Webern, Olivier Messiaen 347 , Krzysztof Penderecki, Luigi Dallapicolla e<br />
Pierre Boulez, 348 entre outros, o Serialismo (como a técnica dodecafônica também é<br />
conhecida) teve um grande desenvolvimento técnico. Messiaen, principalmente,<br />
344 Edgard Victor Achile Charles Varèse (1883-1965). Varèse inventou o termo “som organizado”, que<br />
significava que certos timbres e ritmos podiam ser agrupados juntos, criando uma nova definição de<br />
som. Também demonstrou a grande gama de sons existentes nos instrumentos de percussão. Fez extenso<br />
uso de instrumentos eletrônicos, pelo que é conhecido como o Pai da Música Eletrônica.<br />
345 Cowell é o criador dos chamados clusters (blocos sonoros). Em suas execuções ao piano, ele tocava<br />
diretamente as cordas em seu interior. Este método foi muito copiado posteriormente.<br />
346 Na “execução” desta obra, os músicos se limitam a segurar os seus instrumentos musicais pelo tempo<br />
indicado (ou outro qualquer), após o que abandonam o palco (sugere-se aos espectadores que ouçam o<br />
ruído do teatro, que seria o “som do silêncio”). Entretanto, Cage, como um iconoclasta da música, quer<br />
derrubar todos os ídolos. Um dos seus trabalhos musicais é formado pelo conjunto Europeras 1 & 2<br />
(1987), realizados para a Frankfurt Opera. São formadas por fragmentos de óperas dos séculos XVIII e<br />
XIX. Estas obras, escritas a convite de Heinz-Klaus Metzger (crítico musical) e Reiner (ou Rainer)<br />
Riehm (ou Riehn) (compositor), conselheiros da Ópera citada, tinham por objetivo ser “uma irreversível<br />
negação da ópera como tal”. Posteriormente, em 1990, vieram as Europeras 3 & 4. Cage inspirou<br />
compositores minimalistas tais como Morton Feldman, La Monte Young, Terry Riley, Philip Glass e<br />
Steve Reich.<br />
347 Olivier Eugène Prosper Charles Messiaen (1908-1992). Considerado um dos maiores compositores<br />
do século XX, Messiaen usava escalas especiais, e suas músicas, bastante lentas, são de fundo religioso<br />
(talvez por ter sido organista da igreja parisiense La Trinité, grande parte de suas obras foi escrita para<br />
órgão). Krzysztof Penderecki (1933- ), inicialmente pós-serialista, eventualmente retornou ao sistema<br />
tonal, com alguns elementos atonais.<br />
348 Pierre Boulez (1925- ). Compositor e maestro, é um dos principais representantes da música serial.<br />
Usa o som eletrônico em suas peças. Entre suas obras, podem ser citadas Polyphonie X (1951);<br />
Structures; Pli Selon Pli (1962), Répons (1981), Anthèmes II (1997) e Marteaus sans Maitre. Fundou,<br />
em 1970, o Institute de Recherche et Coordination Acoustique/Musique – IRCAM, para a pesquisa de<br />
tecnologias musicais.<br />
298
procurou aplicar a técnica serial não somente à altura do som, como também à duração,<br />
intensidade e ataque, e se inspirou no ritmo da música indiana, além de procurar<br />
utilizar os sons e ruídos naturais em suas composições.<br />
Ao serialismo propriamente dito seguiu-se o chamado Serialismo Integral, no qual<br />
se acrescentavam, à série de alturas, uma série de durações, uma série de intensidades e<br />
uma série de timbres. Seu desenvolvimento se deve aos compositores Karel<br />
Goeyvaerts, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen e Henry Pousseur.<br />
Já a música concreta procurou não a incorporação do ruído ao discurso musical,<br />
mas sim torná-lo parte da própria linguagem musical. Com Pierre Schaeffer (1910-<br />
1995), 349 os sons heterogêneos do cotidiano, coletados de modo empírico e colados ao<br />
modo da linguagem cinematográfica, tornam-se música, de uma forma totalmente<br />
original. Na música concreta, os ruídos são manipulados e modificados até se<br />
conseguir uma organização musical sem qualquer norma estrutural ou temática, e<br />
completamente atonal. 350<br />
Em 1951 a Radiodifusão e Televisão Francesa (RTF) criou um estúdio de música<br />
que seria usado pelo Grupo de Pesquisas de Música Concreta (formado por Pierre<br />
Schaeffer, 351 o engenheiro de som Jacques Poullin e pelo compositor Pierre Henry).<br />
Entre 1951 e 1953, diversos compositores vieram a este estúdio para criar música<br />
concreta, em especial Karlheinz Stockhausen, Pierre Boulez e Olivier Messiaen. Entre<br />
os dias 8 a 18 de junho de 1953, o grupo, presidido por Schaeffer, realizou a Primeira<br />
Jornada Internacional de Música Experimental na UNESCO, em Paris.<br />
Um gênero de música que se desenvolveu juntamente com a música concreta foi a<br />
música aleatória, onde o acaso e a indeterminação são a norma, e da qual Cage lançou<br />
os fundamentos. 352 Nesta, o compositor deixa ao intérprete a liberdade de participar da<br />
criação da música, ao improvisar sobre elementos da obra previamente indicados.<br />
Introduz-se, deste modo, a ambigüidade na obra musical, a qual jamais é a mesma, a<br />
cada execução. O acaso, na obra musical, também pode ser incorporado ao nível do<br />
compositor. Mas, levada ao extremo, naquelas categorias em que o compositor se<br />
limita a indicar diretrizes por sinais aproximativos de tempo, dinâmico, altura, etc.,<br />
retorna-se à época da notação neumática, na qual a execução sofria por falta de notação<br />
simbólica, e jamais por excesso, como nesta última. Entre os cultores deste gênero de<br />
música, além do próprio Cage, contam-se Boulez, Stockhausen, Xenakis, e vários<br />
outros. Este último edificou todo um sistema teórico próprio, incorporando o cálculo<br />
de probabilidades, a teoria dos jogos, a teoria dos conjuntos e a lógica matemática à<br />
música, no que se denominou música estocástica.<br />
349 Veja-se adiante maiores referências sobre Schaeffer.<br />
350 Em maio de 1948, junto com Pierre Henry, Schaeffer apresentou a composição de música concreta<br />
Étude aux chemins de fer, feita a partir de gravações de locomotivas em movimento. Em 1950,<br />
apresentaram a música concreta Symphonie pour un Homme Seul.<br />
351 Schaeffer fizera pesquisas de ruídos na música ao longo dos anos de 1948 a 1950. Mas desde 1942<br />
fazia pesquisas no Studio d’Essai (que em 1946 passaria a se chamar Club d’Essai).<br />
352 A aleatoriedade de Cage tem raízes mais profundas, e remonta ao chamado método ou algoritmo de<br />
Würfelspiel (lance da sorte; também: Glücksspiel, jogo da sorte, jogo de dados). Este método, baseado<br />
no lançamento de dados, foi usado por compositores como Mozart e Haydn. Em 16 de maio de 1969,<br />
Cage, juntamente com Lejaren Hiller, apresentou a composição HPSCHD na Universidade de Illinois.<br />
Esta obra, de caráter aleatório, baseou-se nos trabalhos de Hiller e Leonard Issacson (1959). A técnica<br />
desenvolvida nestes experimentos foi posteriormente chamada de rules-driven-by-noise (preceitos<br />
dirigidos por ruido).<br />
299
12.2.2 A música eletrônica<br />
Entende-se por música eletrônica a música que é criada e/ou executada através de<br />
instrumentos eletrônicos. 353<br />
Já em 1944 o compositor Paul Boisselet criara uma série de composições em que<br />
usava uma combinação de conjuntos instrumentais, osciladores e Ondas Martenot. 354<br />
Os compositores Olivier, Edgard Varèse, Pierre Boulez, Darius Milhaud, Arthur<br />
Honegger, Maurice Jarre e André Jolivet também utilizaram este aparelho em suas<br />
obras.<br />
A Música Eletrônica (Elektronische Musik) propriamente dita começou a se<br />
desenvolver no início da década de 1950, de um modo paralelo à música concreta. 355<br />
Como aconteceu com a música concreta, uma das causas da origem da música<br />
eletrônica foi a inadequação dos instrumentos musicais tradicionais às exigências da<br />
música serial, que impunha precisão exata e sons novos na aplicação da série. 356 Além<br />
disso, essa tendência representava um desejo de radicalização das idéias estéticas<br />
propostas inicialmente por Webern e em seguida pelo concretismo e o serialismo.<br />
Pierre Boulez, que estudara composição com Messiaen e René Leibowitz, foi um<br />
dos primeiros a aderir às possibilidades abertas por este tipo de música, que suprimia o<br />
intérprete e onde o compositor podia atuar diretamente sobre a matéria-prima<br />
constituída por sons produzidos em laboratório e gravados em fita.<br />
No início da década de 1950, Werner Meyer-Eppler, foneticista e especialista em<br />
acústica do Instituto de Fonética da Universidade de Bonn, na Alemanha, realizava<br />
experiências com síntese sonora, buscando sua aplicação em música. Ele e o<br />
compositor Herbert Eimert juntaram-se a Robert Beyer, da Nordwestdeutscher<br />
Rundfunk, NWDR, e criaram o Estúdio de Música Eletrônica de Colônia, onde viria a<br />
se desenvolver a elektronische musik (música eletrônica). Juntaram-se a eles Fritz<br />
Winckel, Ernst Krenek, Henry Pousseur, Pierre Boulez e Bruno Maderna.<br />
Posteriormente, vieram se juntar ao grupo Györgi Ligeti, Gottfried Michael König,<br />
Karel Goeyvaerts e Karlheinz Stockhausen. Este último tornou-se um dos nomes<br />
principais na música eletroacústica.<br />
As técnicas de gravação e montagem, embora semelhantes às realizadas nos<br />
estúdios da RTF em Paris, eram aplicadas somente aos sons de origem eletrônica, que<br />
eram gerados por osciladores. O material sonoro, basicamente formado por ondas<br />
senoidais e por ruídos, era manipulado por meio de processos de síntese, filtragem,<br />
modulação de amplitude e reverberação, sendo em seguida fixado em fita magnética.<br />
353 Esta é a concepção tradicional. Por ela, a composição faz parte do conceito de música concreta<br />
(devido ao uso de instrumentos eletrônicos analógicos do tipo osciladores, gravadores, etc). Atualmente,<br />
a composição da música é realizada utilizando principalmente sintetizadores e computadores, que são<br />
instrumentos eletrônicos digitais. Atualmente, pode-se dizer que a música concreta e a música eletrônica<br />
se fundiram na chamada música eletroacústica.<br />
354 Esta foi uma criação do francês Maurice Martenot. Em 1928 ele apresentou no Conservatório de<br />
Paris (durante uma apresentação de uma obra de Dmitrios Levidis) um instrumento musical constituído<br />
de um oscilador, teclado e alto-falante, o qual produzia uma nota por tecla.<br />
355 A primeira gravação de música eletrônica foi a obra Desert, de Edgard Varèse (1954). O primeiro<br />
álbum de música eletrônica feito por bandas foi lançado pelo grupo Silver Apples (1967)<br />
356 Em 1923 surgiu um instrumento chamado Theremin, inventado pelo cientista russo Lev Sergeivich<br />
Termen (na forma francesa, Léon S. Theremin). Era uma espécie de oscilador que produzia ondas<br />
sonoras pelo processo de realimentação. Neste, o controle era feito pela posição das mãos do executante<br />
no espaço próximo a uma antena em volta do aparelho. Não tinha controle de altura, e a dificuldade e<br />
imprecisão da execução fizeram com que fosse logo abandonado.<br />
300
Nos Estados Unidos da América, Vladimir Ussachevsky começou em 1951 a fazer<br />
experiências com música concreta e eletrônica, e em 1952, juntamente com Otto<br />
Luening, criou o Estúdio de Música Eletrônica de Colúmbia-Princeton (que<br />
posteriormente mudaria o nome para Centro de Música Eletrônica de Colúmbia-<br />
Princeton – Columbia-Princeton Electronic Music Center). Em 1953 Ussachevsky<br />
encontrou-se, na França, com Pierre Schaeffer, Pierre Henry e outros compositores<br />
europeus, no Primeiro Congresso de Música Experimental.<br />
Ainda nos EUA, ao final da década de 1950 e durante a década de 1960, após um<br />
período inicial de exploração técnica da composição eletrônica, os compositores<br />
passaram a combinar com esta tanto elementos da música tradicional quanto do teatro,<br />
intercalados com montagens gravadas de comerciais de televisão, 357 projeção de filmes<br />
ou fotogramas fixos, e uma infinidade de luzes piscantes. Entre os compositores, além<br />
dos já citados, estão Morton Subotnick, Salvatore Martirano, George Crumb, Eric<br />
Salzman, Ralph Shapey, Lejaren Hiller, etc. Posteriormente, vieram os compositores<br />
Meredith Monk e Joan La Barbara, que trabalham misturando recursos audiovisuais<br />
como vídeo, teatro, dança, etc. 358<br />
Os primeiros programas de computador para composição de música foram escritos<br />
por Lejaren Hiller (1924-1994), da Universidade de Illinois, nos meados da década de<br />
1950. 359 Hiller collaborou com Leonard Issacson na primeira composição significativa<br />
de música por computador, a Illiac Suite (1957). Posteriormente, utilizou técnicas de<br />
indeterminação, serialismo e experimentos tonais. Em 1959, junto com Issacson, foram<br />
um dos pioneiros em utilizar o computador para a geração de estruturas musicais.<br />
Uma verdadeira revolução nos métodos de produção de som viria a ocorrer no<br />
início de 1957, quando surgiu o primeiro sintetizador eletrônico de som, o qual<br />
começou a ser utilizado no agora denominado Centro de Música Eletrônica de<br />
Columbia-Princeton. O primeiro sintetizador foi o Mark I, construído pela RCA. Em<br />
seguida veio o Mark II (1959), que, pelo seu custo elevado, foi alugado pela RCA para<br />
o Centro.<br />
Também nos Laboratórios Bell, em 1957, estava se fazendo a síntese de música por<br />
computador, com Max Mathews e John Pierce.<br />
Na década de 1960, John Chowning montou uma instalação universitária de música<br />
computacional na Universidade Stanford.<br />
Com a síntese eletrônica, qualquer aspecto do som podia ser submetido ao mais<br />
perfeito controle: diapasão, duração, ataque, decadência, timbre, intensidade, etc. Além<br />
disso, domínios sonoros antes isolados se fundiram; possibilidades inconcebíveis<br />
(como, por exemplo, expressar a voz de um soprano com os trinados característicos<br />
dos pássaros) se tornaram reais, e as mais complexas estruturas sonoras ficaram<br />
repentinamente disponíveis. A síntese artificial possibilitou a obtenção de timbres com<br />
a curva dinâmica desejada, ou famílias de sons do mesmo timbre, com as relações de<br />
hierarquia que o compositor desejasse impor. 360<br />
357<br />
Que iniciara recentemente as suas transmissões comerciais.<br />
358<br />
É o que se denomina, atualmente, Multi-music.<br />
359<br />
Hiller fundou o Estúdio de Música Experimental (Experimental Music Studio) na Universidade de<br />
Illinois no início da década de 1950.<br />
360<br />
A moderna música computadorizada é denominada Computer-music. Utiliza os vastos recursos da<br />
informática na síntese sonora, na formação das estruturas musicais e em diversas simulações de<br />
instrumentos musicais.<br />
301
12.2.3 A música eletroacústica 361<br />
Da fusão da música concreta e da eletrônica surgiu o que se convencionou chamar<br />
de música eletroacústica. A rigor, esta é apenas uma instância histórica na evolução da<br />
música erudita moderna, cujo hibridismo não pode ser colocado em um rótulo ou<br />
definição, por mais abrangentes que possam ser. 362<br />
Sob um determinado aspecto estético, nega-se que a música eletroacústica seja tão<br />
somente a produção de música com o auxílio de equipamentos elétricos; neste caso,<br />
procura-se colocar o conceito de escritura por trás da prática composicional em<br />
estúdio. O termo definiria, então, uma estética composicional que, longe de apenas<br />
sustentar-se nas conquistas tecnológicas, quer representar uma seqüência no<br />
desenvolvimento da linguagem musical ocidental.<br />
12.2.4 As tendências musicais contemporâneas e modernas<br />
Na década de 1960 surgiu na Europa o movimento chamado Compositional<br />
Anarchy, do qual surgiu o Kolner Manifest (1960). O crítico e teórico musical Heinz-<br />
Klaus Metzger foi o seu porta-voz.<br />
Neste período (1962-1963) aconteceram em Wiesbaden alguns festivais,<br />
organizados pelo lituano George Maciunas. Maciunas (que definia a si mesmo como<br />
um anti-artista, que praticava a anti-arte), criou o chamado Grupo Fluxus, que se<br />
opunha aos valores burgueses, às galerias e ao individualismo. A estética predominante<br />
do movimento (que marcou as artes das décadas de 1960 e 1970), na música, foi<br />
influenciada por Cage.<br />
Em uma era pós-Cage, os nomes de Paul Griffiths, 363 David Ernst, Peter Manning e<br />
Steve Reich (entre outros) surgiram para tentar definir novos rumos, novas<br />
conceituações e novos horizontes musicais. Em várias tendências musicais, surgiram<br />
os nomes de Louis Andriessen, Gottfried Michael Koenig, Luis de Pablo, Alberto<br />
Evaristo Ginastera, François Bayle, Igor Lintz-Maues (Maués), Gilberto Mendes, etc.<br />
Outra forma que surgiu, nas composições de Kurt Weill, Maurício Kagel<br />
(compositor argentino radicado na Alemanha) e Hans Werner Henze foi o chamado<br />
Teatro musical, herdeiro da ópera e da música de cabaré típicos dos anos 1920-1930,<br />
com obras que refletem engajamento político e conteúdo de crítica aos valores<br />
burgueses.<br />
O crescente desgaste das formas musicais do século XX, como o serialismo, a<br />
música eletrônica, a aleatória, o teatro musical e o concretismo, levou compositores<br />
como Stokhausen, Ligeti e Luciano Berio a incorporarem à sua técnica composicional<br />
elementos da música polifônica dos povos da África Central.<br />
No final da década de 1970 surgiu o chamado Classicismo Pós-Moderno ou Novo<br />
Tonalismo, movimento que buscou re-integrar o tonalismo à música. Este retorno,<br />
prenunciado no Neo-Classicismo de Mahler, tornou-se bem marcado nas composições<br />
de John Adams, Thomas Adès, Arvo Pärt, Michael Nyman, Alfred Schnittke, Howard<br />
361 Em 1973, François Byle criou o termo acusmática, na tentativa de desfazer quaisquer tipo de<br />
equívocos, com relação à música eletroacústica.<br />
362 Para uma completa abordagem acerca do seja a música eletroacústica e a moderna música erudita em<br />
geral, veja-se o site http://www.artnet.com.br/~pmotta/, do GAS Grupo de Artes Sônicas. Para<br />
informações sobre a música eletroacústica no Brasil, veja-se o site http://www.sbme.com.br/index.htm,<br />
da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica.<br />
363 Griffiths é autor de alguns livros bastante influentes, Modern Music e Modern Music and after. Com<br />
tradução em português, existe a obra A Música Moderna. Uma história concisa e ilustrada de Debussy a<br />
Boulez.<br />
302
Skeptom, Krzysztof Penderecki (que iniciara pelo serialismo), Philip Glass, Steve<br />
Reich e Sofia Gubaidulina. Entre os compositores que se voltaram para a música tonal<br />
e modal estão os minimalistas americanos Terry Riley, Steve Reich e Phillip Glass.<br />
Este último compôs trilhas sonoras para o cinema (Koyanisqaatsi e Mishima).<br />
As mais recentes tendências e modismos musicais da música erudita incluem:<br />
Nova simplicidade – Defendida pelo alemão Wolfgang Rihm, visa uma estética da<br />
liberdade da arte em uma forma musical despojada, sem dificuldades e livre do peso da<br />
sua carga histórica;<br />
Nova complexidade: é representada principalmente pelo compositor inglês Brian<br />
Ferneyhough. Busca resgatar a importância estrutural do serialismo integral, em uma<br />
forma musical capaz de expressar toda a complexidade e multiplicidade do homem<br />
moderno.<br />
Música espectral: é representada pelos franceses Tristan Murail, Michael Levinas e<br />
Gerard Grisey. Este tipo de música surge a partir do estudo de espectros sonoros de<br />
instrumentos e sons do cotidiano, usando recursos da eletrônica e informática.<br />
Música política: é uma forma de composição de conteúdo político-ideológico que<br />
quer demonstrar o engajamento do compositor em causas sociais, políticas e/ou<br />
ecológicas. Alguns representantes: Helmut Lachenman e Willy Correa de Oliveira.<br />
12.3 As teorias e formas musicais do século XX<br />
12.3.1 Princípios da atonalidade<br />
A exaustão do sistema tonal, que já vinha em crise, conduziu ao princípio da<br />
atonalidade levado a cabo por Schoemberg, inicialmente de modo integral, num<br />
completo relativismo musical onde as doze notas da escala cromática adquiriam<br />
completa autonomia, dando como conseqüência a liberação completa da dissonância e<br />
em que as cadências estavam abolidas. Como princípio harmônico, o atonalismo<br />
conduziu a uma apresentação de motivos curtos, grandes intervalos melódicos,<br />
relações harmônicas complexas, além de assimetrias rítmicas e melódicas.<br />
Para chegar ao atonalismo, Schoemberg tomou como axiomas a organização<br />
arbitrária da escala diatônica, o aspecto subjetivo do contraste consonância-dissonância<br />
e a ausência de notas e zonas atrativas.<br />
Em seguida ao atonalismo total, Schoemberg chegou ao período atonal-organizado,<br />
onde procurou um princípio unificador no Contraponto, na Fuga, no Cânone e na<br />
polifonia. Na contínua busca deste princípio, e procurando também consolidar e<br />
estruturar a nova linguagem musical, ele chegou à técnica dodecafônica, forma de<br />
composição baseada em uma série de notas diferentes, arrumadas em ordem<br />
seqüencial, em um método que veio a ser chamado Serialismo ou Dodecafonismo.<br />
12.3.2 O Dodecafonismo<br />
O dodecafonismo foi criado por Arnold Schoemberg (ou Schöenberg) (1874-<br />
1951), 364 Ernst Krenek (1900-1991), Alban Berg (1885-1935) e Anton Webern (1883-<br />
1945), que formaram a chamada Escola de Viena. A principal intenção deles era acabar<br />
364 O dodecafonismo foi oficialmente apresentado na obra Five Piano Pieces, Opus 23 (1923).<br />
303
com a importância do papel central da tônica e com a hierarquia da tonalidade em<br />
relação às notas da escala. 365<br />
O sistema dodecafônico baseia-se na colocação ou ordenação de uma série<br />
geradora composta de doze sons diferentes (sem repetição) e sem relação tonal, em<br />
uma disposição arbitrária escolhida pelo compositor. O princípio básico é o de que<br />
cada uma das doze notas da escala cromática deve ter o mesmo número de ocorrência,<br />
em cada composição musical. O uso destes sons em uma oitava e em qualquer ritmo<br />
constitui uma série (uma linha de tons, ou linha serial), e somente esta série será usada<br />
na composição.<br />
Por exemplo, a seguinte série de doze notas (ou série original: O): 366<br />
Esta é a série original:<br />
RÉ – DÓ# – SOL# – SI – RÉ# – LÁ – SOL – FÁ# – MI – FÁ – DÓ – LÁ#<br />
Outras séries poderão ser usadas, desde que sejam simétricas à primeira.<br />
Entretanto, nenhuma série pode ser iniciada, sem que a anterior tenha terminado.<br />
Há três arranjos possíveis para a formação de séries simétricas:<br />
I) Por retrogradação, que é a leitura da série original, do fim para o início. Isto<br />
forma a série chamada série retrógrada (ou série R):<br />
II) Por inversão, que forma a série chamada série inversa (ou série I):<br />
Explicação:<br />
A série formada (original), começando por RÉ, define a seguinte série: 367<br />
365<br />
O dodecafonismo foi introduzido na América Latina pelo compositor argentino Juan Carlos Paz<br />
(1897-1972), através do Agrupación Musica Nueva, fundado em Buenos Aires em 1937. No Brasil, esta<br />
técnica foi introduzida pelo alemão H. J. Koellreuter, que para cá emigrou em 1939 (ou 1937), e veio a<br />
fundar o Movimento Música Viva no Rio de Janeiro, em 1940. Ambos, Paz e Koellreuter, a aprenderam<br />
do musicólogo e regente alemão Hermann Scherchen. Koellreuter teve como continuadores de sua obra,<br />
Guerra Peixe e Cláudio Santoro.<br />
366<br />
Este exemplo foi adaptado da excelente obra de Aaron Copland, A Nova Música (COPLAND, 1969,<br />
p. 110).<br />
367<br />
Uma série pode começar com qualquer nota.<br />
304
RÉ RE# MI FÁ FÁ# SOL SOL# LÁ LÁ# SI DÓ DÓ#<br />
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11<br />
Deste modo, a série original que foi formada pelo compositor fica com a seguinte<br />
numeração:<br />
RÉ DÓ# SOL# SI RÉ# LÁ SOL FÁ# MI FÁ DÓ LÁ#<br />
0 11 6 9 1 7 5 4 2 3 10 8<br />
O que a inversão faz é substituir cada intervalo do original pelo seu complemento.<br />
Por exemplo, DÓ# (11), que é a segunda nota 368 tem o complemento igual a 12 –<br />
11 = 1, ou seja, RÉ# (que é igual a MIb). A nota seguinte, SOL# (6) tem o<br />
complemento igual a 12 – 6 = 6, que é a própria nota SOL# (que é igual a LÁb). A<br />
nota SI(9) tem por complemento 12 – 9 = 3, ou FÁ. E assim por diante.<br />
III) Por retrogradação da inversão (série RI):<br />
Esta série de doze sons deve assegurar uma unidade tanto melódica quanto<br />
harmônica. Ou seja, a série é usada para a criação dos elementos da composição, como<br />
melodia, acordes, motivos e temas, em quantas combinações o compositor consiga<br />
realizar, pelo que a sua ordenação deve ser rigorosamente mantida.<br />
Exemplo de escolha de temas:<br />
Nos temas formados, as séries podem tomar qualquer forma rítmica.<br />
Pelo princípio das séries, qualquer um dos tons pode aparecer simultaneamente,<br />
para formar intervalos ou acordes (dividindo a série em diversas vozes):<br />
A série pode ser transposta para outro diapasão (por semitons): 369<br />
368<br />
A primeira nota, RÉ, não se altera, mas fica uma oitava acima (cada nota seguinte deve ser lida no<br />
segundo quadro).<br />
369<br />
Um número de 0 a 11, seguido da letra da forma (O – I – R – RI), mostra o número de transposição.<br />
Por exemplo: O2 indica a forma Original, transposta, que se inicia na segunda classe de alturas. No caso<br />
da Retrogradação (R) e da Retrogradação da Inversão (RI), a última nota determina o nível de<br />
transposição.<br />
305
Pode ser também ser tocada nas oitavas aguda ou grave.<br />
Permite-se a repetição imediata dos sons ou grupo de sons; entretanto, proíbe-se a<br />
repetição do som assim que ele tenha sido deixado de lado, antes que todos os outros<br />
tenham sido usados. Proíbe-se também a repetição de qualquer som na oitava:<br />
Dá-se o nome de agregado às doze classes de alturas em uma série. Ou seja,<br />
qualquer série de doze sons é um agregado, e vice-versa. O termo série, a rigor, aplicase<br />
unicamente à série ordenada pela qual a passagem ou obra musical é construída.<br />
A forma fundamental com cada uma de suas formas derivadas pode dar origem a<br />
48 combinações melódicas, por transposição a cada um dos demais graus da escala<br />
dodecafônica. 370<br />
As séries podem ser simétricas ou assimétricas. Nas primeiras existe uma ordem<br />
rigorosa na relação entre os intervalos, e são próprias para formas musicais fechadas ou<br />
estáticas; as segundas são mais próprias para a expressão musical de motivos, em<br />
forma aberta. Uma série pode conter seis acordes de duas vozes, ou quatro de três, ou<br />
três de quatro, ou dois de seis, ou um acorde integral de doze sons. Acrescentando-se a<br />
estes dezesseis acordes as suas respectivas inversões, e mais as onze inversões do<br />
acorde integral, resultam 43 acordes. A transposição destes acordes aos onze graus<br />
restantes da escala forma um total de 473 acordes, que constituem os recursos<br />
harmônicos de uma série.<br />
Outros processos, tais como as séries circulares, com marchas diretas e retrógradas,<br />
as séries segmentadas em dois até seis grupos melódicos, o contraponto, a<br />
superposição na ordem direta, retrógrada ou mista, de planos harmônicos duplos ou<br />
triplos, etc., tudo isto dá uma noção da variedade infinita de recursos que se podem<br />
conseguir de uma série dodecafônica.<br />
370 Embora a permutação de doze elementos possa chegar a 479.001.600 combinações possíveis, nem<br />
todas elas têm seqüências musicais viáveis.<br />
306
A série pode ser representada, como foi visto, pelos números 0 a 11. Esta oitava, por se<br />
repetir, forma uma série do tipo 7 + 12k, ou o conjunto [p] = {p + k o 12}. O conjunto<br />
Z12 = {[0], [1], [2], ..., [11]} é chamado o conjunto dos inteiros módulo 12; cada [p] é<br />
chamado de classe de equivalência do inteiro p (módulo 12). A adição neste conjunto é<br />
trivial, e cria equivalências de números que diferem entre si de um múltiplo de 12. A<br />
inversão da série é representada pela substituição de cada número da série pelo seu<br />
simétrico em relação à adição em Z12; 371 quanto à transposição (por semitons), é<br />
representada pela adição de k (módulo 12) a cada número da série. A retrógrada é a<br />
série lida do fim para o começo. Transposições, inversões e retrogradações são<br />
transformações do tipo translações e simetrias. As transformações de simetria podem<br />
se associar às isometrias do plano e constituir uma estrutura de grupo. 372<br />
12.3.3 A estética da música concreta<br />
A chamada Música Concreta (Musique Concrète) surgiu das experiências levadas a<br />
efeito pelo francês Pierre Schaeffer com os ruídos e os sons do cotidiano. 373 Tendo o<br />
Serialismo encontrado grandes dificuldades devido às limitações dos instrumentos<br />
musicais tradicionais, alguns compositores passaram a fazer experiências com<br />
gravadores e reprodutores de som, colocados na época à disposição do mercado<br />
consumidor.<br />
O registro físico dos sons teve início com Thomas Young (Vibroscópio, 1807), Edward<br />
Léon Scott de Martinville (Fonautógrafo, 1857) e Charles Cross (projeto do<br />
Paléophone, 1877). Em 1878 (ou 1877) Thomas Edison patenteou o Fonógrafo, cuja<br />
gravação era feita em cilindros de cera, inicialmente, e posteriormente em cilindros de<br />
metal. Em 1898, Valdemar Poulsen criou o Telegraphone. O Gramofone foi inventado<br />
em 1888 por Emile Berliner. Basicamente, tinha o mesmo princípio do fonógrafo<br />
quanto à reprodução do som, com a diferença na leitura da agulha. Enquanto no<br />
fonógrafo a agulha lia a profundidade do sulco, no gramofone a agulha lia os sulcos<br />
lateralmente (em ziguezague). Berliner também substituiu os cilindros por discos, com<br />
a rotação padronizada (a partir de 1927) em 78 rpm. Mas todos eles eram muito<br />
primitivos. O Magnetofone inventado em 1935 era melhor, mas ainda era caro e pouco<br />
confiável. Mesmo no início da década de 1950, um gravador de qualidade do tipo<br />
Ampex 400 estava além do alcance da maioria dos orçamentos dos Centros de<br />
Pesquisa Musicais.<br />
Schaeffer passou a usar gravadores comerciais (ele primeiro, e depois Pierre Henry<br />
e Pierre Boulez) para a gravar os sons originados do espaço sonoro ambiente, cujos<br />
371 A inversão da série principal, que se pode representar por I(P), obtém-se de P: a) mantendo a<br />
primeira nota; b) mantendo os intervalos entre duas notas consecutivas, porém trocando o sentido.<br />
Assim, o intervalo ascendente passa a descendente e vice-versa.<br />
372 No site http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/indice_autores.html pode ser encontrado o excelente<br />
artigo do matemático português José Francisco Rodrigues: A Matemática e a Música. Veja-se também o<br />
site do prof. Luis Netto, em: http://members.tripod.com/caraipora/assuntos.htm, uma extensa coleção de<br />
artigos sobre música e matemática. Uma teoria avançada sobre as relações entre a música e a geometria<br />
foi recentemente publicada por Callender, Quinn e Tymoczko: Generalized Voice-Leading Spaces.<br />
Disponível em: http://www.music.princeton.edu/~dmitri/geometry.pdf.<br />
373 A Radiodifusão Francesa apresentou pela primeira vez um Concerto de Ruídos em 5 de outubro de<br />
1948, concebido e realizado por Pierre Schaeffer.<br />
307
fenômenos sonoros foram concebidos como realidades concretas. Entre 1952 e 1953, o<br />
chamado grupo de musique concrete fez uma extensa e variada análise em laboratório<br />
dos diversos sons lingüísticos e ruídos variados, submetidos a aparelhos de medida<br />
para determinação das suas propriedades, tanto sob o prisma da fonética quanto da<br />
acústica.<br />
Para uma apreciação formal da estética da música concreta, são transcritos a seguir<br />
vinte e cinco verbetes apresentados originalmente pelo musicólogo Luís Cosme. 374<br />
1. Antecipação (Prélèvement). – Todo o movimento que produz um som cujo efeito é<br />
registrado numa placa de disco ou sobre uma fita magnetofone 375 constitui uma antecipação.<br />
As antecipações podem, pois, ser registros de som ‘direto’ ou registros de sons obtidos com o<br />
auxílio de registros prévios.<br />
2. Classificação material dos objetos sonoros. – É preciso definir uma classificação<br />
material dos objetos obtidos por antecipação, antes mesmo de submetê-los a uma análise<br />
técnica ou estética. Essa classificação é fundamentada no comprimento temporal do objeto no<br />
seu meio de rendimento e distingue: o modelo, o fragmento e o elemento.<br />
3. Modelo. (Êchantillon). – Uma antecipação de qualquer comprimento (da ordem de<br />
alguns segundos a um minuto, por exemplo), que não é escolhida por nenhum meio de<br />
rendimento bem definido, tem o nome de modelo.<br />
4. Fragmento. – Um objeto sonoro da ordem de alguns segundos no qual se distingue um<br />
‘meio de rendimento’ chama-se fragmento, com a condição de não apresentar desenvolvimento<br />
nem repetição.<br />
5. Elementos. – Se a análise for levada ainda mais longe, até isolar um dos componentes do<br />
objeto sonoro (componente que, aliás, isolado, o ouvido mal poderia escutar, e cujo som direto,<br />
em todo o caso, não permite análise), diz-se que o fragmento foi decomposto em ‘elementos’.<br />
Exemplos de elementos: um ataque, um final, uma parte da matéria de uma nota complexa.<br />
6. Classificação musical dos objetos sonoros. – Uma vez definido o ‘meio de rendimento’<br />
que constitui o objeto sonoro, por uma pura limitação de sua duração, é necessário fazer um<br />
julgamento de valor sobre o seu conteúdo, quando aparece mais simples ou mais complexo.<br />
Assim devem ser definidas: a monofonia, o grupo, a célula e a nota complexa.<br />
7. Monofonia. – O corte no tempo não permite dissociar sons concomitantes. Somente o<br />
ouvido tem a possibilidade de dissociar, de abstrair esses sons concomitantes em elementos<br />
monofônicos, que serão em seguida estudados por si mesmos, por escuta seletiva. A<br />
monofonia, uma superposição de sons, é, pois, o equivalente de uma melodia distinguida pelo<br />
ouvido num conjunto polifônico.<br />
8. Grupo. Uma monofonia (da ordem de alguns segundos) estudada por suas repetições ou<br />
sua evolução, recebe o nome de grupo.<br />
9. Célula. – Um grupo é formado por definições sejam de células, sejam de notas<br />
complexas. Uma célula é um conjunto sem repetição nem desenvolvimento, que não apresenta<br />
os caracteres definidos da nota complexa. Trata-se, em geral, de complexos do mesmo tempo,<br />
densos e de evolução rápida (em ritmo, timbre ou tessitura), onde as notas, mesmo complexas,<br />
mal seriam discerníveis.<br />
10. Nota complexa. – Todo elemento de uma monofonia que apresente claramente um<br />
início, a matéria e um fim, recebe, por analogia com uma nota de música (a qual tem sempre<br />
estas características simples), o nome de nota complexa.<br />
11. Grosse note. – Uma nota complexa pode ser ou muito breve ou muito longa. Chama-se<br />
‘grosse note’ uma nota complexa cujo ataque, matéria ou fim sejam superficialmente<br />
desenvolvidas. Se esse desenvolvimento ultrapassa certos limites, tem-se, antes, um grupo no<br />
qual a evolução poderá ser analisada em ritmo, timbre e tessitura.<br />
374 A transcrição destes verbetes visa perpetuar um texto ainda atual, e que de outra maneira estaria<br />
perdido para os pesquisadores, por se encontrar como parte de uma obra literária rara, esgotada e difícil<br />
de ser encontrada.<br />
375 Evidentemente, a tecnologia mudou, mas as idéias básicas permanecem.<br />
308
12. Estruturas. – O conjunto dos materiais que o compositor dá, no início, recebe o nome<br />
de estruturas. São, ou células, ou notas complexas. Podem ser também notas comuns,<br />
combinadas ou não, partindo de instrumentos diretos, clássicos, exóticos ou experimentais.<br />
13. Manipulações. – Toda a técnica que modifica a estrutura, previamente a qualquer<br />
ensaio, tem o nome de manipulação. As manipulações são transmutações, transformações ou<br />
modulações.<br />
14. Transmutação. – Toda manipulação cujo efeito se dirige essencialmente à matéria da<br />
estrutura, sem alterar sensivelmente sua forma, tem o nome de transmutação.<br />
15. Transformação. – Toda manipulação que se destina, antes, a mudar a forma da<br />
estrutura do que a sua matéria, é uma transformação.<br />
16. Modulação. – Se, sem visar particularmente a uma transmutação ou uma<br />
transformação, se faz variar, seletivamente, um dos parâmetros que caracterizam uma<br />
estrutura, ou mais geralmente, se nos aplicamos a fazer evoluir o som dado num dos três<br />
planos de referência de todo domínio sonoro (plano das tessituras, da dinâmica e do timbre),<br />
efetuar-se-á, por definição, uma modulação do som ou da estrutura considerada em tessitura,<br />
dinâmica ou timbre.<br />
17. Parâmetros caracterizando um som. – Os parâmetros de variação de um som podem<br />
entender-se, seja no sentido clássico (que são três: extensão, intensidade e duração), seja no<br />
sentido concreto (em número muito maior), e, à noção de parâmetros, é preferível a noção de<br />
‘plano de referência’ (ver verbetes II, III e VIII).<br />
18. Plano de referência. – Um fenômeno sonoro, tão complexo quanto se pode imaginar<br />
ou encontrar na prática, admite, finalmente, três planos de referência suscetíveis de defini-lo<br />
completamente:<br />
a) plano melódico ou tessitura (evolução do, ou dos parâmetros de extensão na<br />
duração). Ver verbete VII;<br />
b) plano dinâmico ou formas (evolução dos parâmetros de intensidade na duração).<br />
Ver verbete V;<br />
c) plano harmônico ou timbres (evolução recíproca entre os parâmetros de intensidade<br />
e de extensão);<br />
c) plano harmônico ou timbres (evolução recíproca entre os parâmetros de intensidade<br />
e de extensão representando a evolução dos espectros). Ver verbete VI.<br />
19. Processos de execução. – Entende-se por processo de execução o conjunto de processo<br />
que, a partir de estruturas dadas e após aplicação das manipulações adequadas, realizam a<br />
execução da obra desejada. Estes processos são em número de três: as preparações, a<br />
montagem e o ‘mixage’.<br />
20. Preparação. – As técnicas de preparação (forçosamente limitadas ao emprego de<br />
estruturas musicais ou paramusicais clássicas, isto é, de notas mais ou menos complexas)<br />
consistem em utilizar os instrumentos de música, clássicos, exóticos ou modernos, como fontes<br />
de sons, sem respeitar as regras do seu emprego tradicional. É assim que um piano pode<br />
constituir uma fonte quase indefinida de sons, indo do ruído musical da percussão pura ao som<br />
contínuo.<br />
21. Montagem. – As técnicas da montagem consistem na reunião dos objetos sonoros por<br />
simples justaposição, colando, de um a um, os fragmentos registrados em faixas.<br />
22. ‘Mixage’. – O processo de montagem não permite a superposição polifônica. O<br />
‘mixage’, ao contrário, consiste em superpor, em concomitância, as monofonias e em registrar<br />
o resultado.<br />
23. Música espacial. – Chama-se música espacial toda a música que se procura com a<br />
localização no espaço dos objetos sonoros, fora da projeção das obras em público.<br />
24. Espacialização estática. – Considera-se espacialização estática toda projeção que se<br />
faz ouvir tal qual monofonia emitida de uma fonte bem localizada. Essa espacialização teria<br />
sido, por conseguinte, prevista no momento do ‘mixage’, efetuada em faixas sincrônicas, mas<br />
distintas e projetadas respectivamente por fontes sonoras distintas, reais ou virtuais.<br />
25. Espacialização cinemática. – Chama-se espacialização cinemática toda projeção que<br />
tem por efeito fazer descrever trajetórias, os objetos sonoros, à medida do seu desenvolvimento<br />
temporal. Esse efeito terá sido, pois, previsto em princípio, no momento da concepção da obra;<br />
309
será realizado em presença do público, por um operador – regente encarregado de realizar a<br />
espacialização cinemática com o auxílio de um aparelho apropriado. (COSME, 1967, p. 112-<br />
119).<br />
12.3.4 O Microtonalismo<br />
A exploração microtonal não é algo recente; já os gregos utilizavam o quarto-detom<br />
no tetracorde enarmônico. Neste século, entre os que conceberam obras<br />
microtonais estão Charles Ives, Richard Stein, Mager, Baglioni, Busoni, Moellendorf,<br />
Wyschnegradsky, Obujov, Fould, Appleby, Partch, Alóis Haba e vários outros, entre<br />
experimentadores da prática de composição microtonal e teóricos microtonalistas.<br />
Um dos teóricos que mais se destacaram foi Juan Carrillo, o qual escreveu uma<br />
profusão de ensaios e tratados para defender suas idéias. Carrillo dividiu o tom em 16<br />
partes, conseguindo com isto a divisão da oitava em 96 partes. Neste sistema, cada<br />
semitom tem 9 partes, um quarto-de-tom tem 5 partes, um oitavo de tom tem 3 partes,<br />
um dezesseis avos de tom tem 3 partes.<br />
O tom, ao ser dividido em quartos, fornece 24 (4 x 6, sendo 6 o número de<br />
intervalos na oitava) sons diferentes por oitava. Dividido em 5, dá 30 sons; em 6, dá 36<br />
sons. Prosseguindo, ao chegar a 10, obtém-se 60 microtons por oitava; nos décimos<br />
estão compreendidos os quintos ( 2 /10), os semitons ( 5 /10) e os tons ( 10 /10). A divisão por<br />
11 é impraticável; na divisão por 12, estão compreendidos os sextos, quartos, terços e<br />
semitons. Na divisão por 15 estão inclusos os terços e quintos de tons. Para 16, a oitava<br />
terá 96 microtons. Os semitons se tornam impraticáveis na divisão ímpar, sendo que<br />
por isto eles só são produzidos na divisão par do tom (4º., 6º., 8º., 10º., 12 avos, 14<br />
avos, 16 avos). Na distância de um tom existem 135 microtons<br />
(16+15+14+13+12+11+10+9+8+7+6+5+4+3+2), o que completa 810 microtons, em 6<br />
tons.<br />
O americano Harry Partch (1901-1974), além de realizar composições microtonais,<br />
dedicou-se igualmente à construção de vários instrumentos próprios para uma escala de<br />
43 sons por oitava (cítaras, marimbas, etc.). Construiu também um harmônio<br />
(chromelodeon) e um órgão (ptolemy).<br />
Uma variação do microtonalismo surgiu com a técnica criada pelo compositor<br />
húngaro Györgi Ligeti, a micropolifonia. A técnica é conhecida como massa sonora<br />
(cluster), em que um grupo de solistas move suas vozes para cima e para baixo, em<br />
tons variados, em uma estrutura que prescinde do ritmo e da melodia, e cuja harmonia<br />
produz variações de timbres vocais no tempo. 376<br />
12.3.5 A música estocástica<br />
Processo estocástico é aquele no qual intervém uma função matemática capaz de<br />
gerar números ao acaso, aleatórios. Para o compositor grego Iannis Xenakis (1922-<br />
2001), de formação matemática, a música estocástica é aquela que é indeterminada em<br />
seus detalhes, mas que ainda assim, tem um propósito determinado e previsível. Deste<br />
modo, ele recusou a pura aleatoriedade, expressa nas obras de John Cage.<br />
Em cada uma de suas composições, Xenakis utilizou o cálculo de probabilidades, a<br />
teoria dos jogos, a teoria dos conjuntos, a álgebra de Boole, a lógica matemática, a<br />
376 Sua obra Lux Aeterna, de 1966, foi utilizada como parte da trilha sonora do filme 2001, de Stanley<br />
Kubrik.<br />
310
geometria (distribuição aleatória de pontos en um plano), a lei de Maxwell-Boltzmann,<br />
a lei das Restrições Mínimas, as Cadeias de Markov e a distribuição gaussiana. 377<br />
Na aplicação do processo estocástico, a introdução do fator acaso é feita<br />
tradicionalmente pelo lançamento de dados. 378 Este método pode também ser usado na<br />
música aleatória, para se encontrar, por exemplo, a ordem das várias partes de uma<br />
peça musical (o advento do computador tornou radicalmente mais fácil gerar números<br />
ao acaso). Em sua obra Metastasis, 379 ele usou um gerador aleatório para transformar<br />
as notas musicais de vários agregados musicais constituídos de formas diferentes.<br />
Ao processo estocástico podem se juntar outros métodos. Por exemplo, na<br />
composição de 1962, Herma, as notas eram, em primeiro lugar, repartidas em um<br />
número finito de conjuntos, dos quais outros subconjuntos podiam surgir por operações<br />
tais como união, interseção e complemento. Ao final, as notas de tais subconjuntos<br />
eram ordenadas aleatoriamente.<br />
Xenakis fez uso da eletrônica, mais propriamente de instrumentos analógicosdigitais.<br />
Ele também inventou um novo processo de criação de som. Neste, a própria<br />
onda é transformada em algo que se pode ser ouvir. 380<br />
12.3.6 A música fractal e a granular<br />
I) A música fractal: 381<br />
A música fractal é produzida através do mesmo processo pelo qual um algoritmo é<br />
aplicado de modo iterativo sobre uma função matemática para se construir uma figura<br />
geométrica.<br />
Atualmente, os modelos fractais têm contribuido para se conseguir resultados<br />
extremamente interessantes na música.<br />
Os fractais (sob uma perspectiva geométrica), surgiram originalmente dos trabalhos<br />
do matemático Benoit Mandelbrot (1924- ), o qual criou os chamados conjuntos de<br />
Mandelbrot, ou geometria fractal. Esta é uma nova concepção de geometria, cuja<br />
figura, o fractal, é uma forma que tem a característica da auto-similaridade, 382 ou<br />
característica de repetir um padrão determinado com pequenas e constantes variações.<br />
Os conjuntos mais famosos são o conjunto Julia e o conjunto Mandelbrot:<br />
377 Xenakis expôs as suas idéias na obra Formalized Music. Ele foi diretor do CEMAMU (Centre d’<br />
Études de Mathématiques et Automatique Musicales), em Paris.<br />
378 A associação matemática pode ser feita entre um evento musical e as suas várias possibilidades<br />
musicais: o uso de instrumentos, de formas de tocar, etc. Esta é uma aplicação do grupo de<br />
transformação de similaridade em um dado. O chamado método de Markov utiliza dois dados viciados,<br />
com regras de uso para ambos. Musicalmente, isto leva à introdução de novas e imprevistas estruturas<br />
musicais. Uma extensa abordagem sobre a composição musical moderna usando a matemática pode ser<br />
vista em Méthodes algébriques en musique et musicologie du XXe siècle: aspects théoriques,<br />
analytiques et compositionnels, em: http://recherche.ircam.fr/equipes/repmus/moreno/resumethese.html.<br />
379 Composta para o festival de Donaueschingen de 1953.<br />
380 Este tema será desenvolvido no próximo capítulo.<br />
381 Veja-se o texto MÚSICA DO SÉCULO XXI - FRACTALIDA<strong>DE</strong> SIMBÓLICA NUMA ESTÉTICA<br />
PARADOXAL, de Eufrasio Prates e Sonia Guedes de Medeiros, em<br />
http://www.geocities.com/Eureka/8979/fracsim.htm.<br />
382 A característica da auto-semelhança ou auto-similaridade implica que cada parte de um fractal é<br />
similar à forma total.<br />
311
A característica da auto-semelhança nos fractais pode ser reproduzida na música,<br />
criando composições com estruturas musicais auto-semelhantes. A composição, feita<br />
por computador, utiliza uma imagem fractal convertida em pixels, 383 sendo que cada<br />
cor é convertida para uma nota musical. Assim como a imagem da figura fractal resulta<br />
de um processo iterativo que se aplica a uma função matemática, assim também a<br />
música resulta de um algoritmo iterativo, que a constrói. 384<br />
II) A música granular: 385<br />
A música granular baseia-se em uma idéia que foi apresentada inicialmente pelo<br />
físico húngaro Dennis Gabor. Para ele, todos os fenômenos sonoros seriam baseados<br />
na combinação de unidades indivisíveis de informação, o quantum sonoro ou quantum<br />
de som.<br />
Por um processo de síntese e de modulação em freqüência, formam-se grãos<br />
sonoros cuja composição espectral tem sonoridades que podem ser manipuladas, pelo<br />
aumento ou retirada de pontos que formam o grão sonoro.<br />
Assim como a música fractal, a música granular possui sonoridade imprevistas. 386<br />
12.4 A teoria matemática da nova música<br />
I) A análise de Fourier:<br />
O matemático Leonard Euler (1707-1783) apresentou um modo de medir o grau de<br />
consonância de um intervalo através da fórmula:<br />
em que pi são números primos e mi expoentes inteiros, de modo que o intervalo I esteja<br />
associado ao número racional:<br />
383 Pixel (picture + element) é o menor ponto que forma uma imagem. A quantidade de pixels de uma<br />
imagem define a sua resolução. Um pixel colorido é composto por um conjunto de 3 pontos: verde,<br />
vermelho e azul, e cada pixel pode exibir 256 tonalidades diferentes (8 bits ou 2 8 = 256). Combinando as<br />
três cores, resulta 16 milhões de cores. O pixel preto-e-branco reproduz 256 tonalidades de cinza,<br />
incluindo o branco e o preto.<br />
384 Um programa freeware para compor música fractal pode ser conseguido no site<br />
http://www.geocities.com/SiliconValley/Haven/4386/.<br />
385 Mais sobre este tipo de música pode ser visto no Capítulo XIII.<br />
386 Ambas podem ser altamente hipnóticas, e por isto a sua audição não deve ser feita por longos<br />
períodos.<br />
312
Esta intervenção de Euler não agradou aos músicos da época; mesmo assim, foi um<br />
início para as teorizações que se seguiriam.<br />
Uma satisfatória teoria matemática do som só veio a ser desenvolvida a partir do<br />
século XVIII, com as contribuições de Isaac Newton (1642-1727), Taylor (1685-1731)<br />
e Johan Bernoulli (1667-1748). Este último estabeleceu, em 1727, a primeira análise<br />
das deformações da corda vibrante, na qual demonstrou que a corda vibratória tem a<br />
forma senoidal:<br />
v = sen ω x , (A = k)<br />
Em seguida, com os trabalhos de Euler, 387 Daniel Bernoulli e Lagrange, a teoria<br />
continuou a se desenvolver, vindo desembocar na contribuição de D’Alembert, que<br />
apresentou uma solução para a equação das ondas, em particular para ondas senoidais.<br />
Mas a análise matemática somente veio a se completar com os trabalhos de Fourier<br />
(Jean-Baptiste Joseph Fourier, 1768-1830), que através dos estudos de propagação do<br />
calor em corpos sólidos, demonstrou que qualquer função matemática pode ser<br />
decomposta como uma soma de senos e cossenos. 388<br />
A análise matemática de Fourier mostra que uma composição espectral é composta<br />
de uma série de freqüências superpostas, que dão origem a uma onda de formato<br />
complexo, denominada resultante. Quando as freqüências componentes mantêm entre<br />
si uma relação matemática determinada, esta forma de onda resultante assume certos<br />
formatos especias (onda quadrada, onda triangular, onda dente-de-serra, etc.).<br />
A determinação da equação de Fourier que corresponde a uma forma de onda<br />
qualquer é denominada análise de onda. Esta análise faz uso das chamadas séries de<br />
Fourier, bem como das equações delas deduzidas.<br />
Em forma de equação, as séries de Fourier têm a seguinte disposição:<br />
J = f(x) = A0 + A1 sen(x) + A2 sen(2x) + A3 sen(3x) + ... + An sen(nx) +<br />
+ B1 cos(x) + B2 cos(2x) + ...+ Bn cos(nx)<br />
A análise de Fourier consiste na determinação dos coeficientes Ao, A1, A2, ..., B1,<br />
B2, etc., da equação anterior, através de operações que eliminam todos os termos, com<br />
exceção da quantidade desejada, que é então calculada.<br />
Os coeficientes são calculados por meio das integrais:<br />
387<br />
Cujos resultados mostravam que os modos simples de vibrações podiam ser combinados com<br />
amplitudes An arbitrárias.<br />
388<br />
Isto só não se aplica aos chamados sistemas caóticos, que são representados por um modelo<br />
conceitual denominado fractal (a música fractal foi vista no item anterior).<br />
313
Um método de resolução é o seguinte:<br />
Colocando-se uma onda dente-de-serra como uma função trigonométrica, verificase<br />
que ela apresenta uma variação linear, entre J = - e J = + , ou seja, um ciclo<br />
completo:<br />
Exprimindo analiticamente esta variação linear entre x = 0 e x = 2 , obtém-se:<br />
J = f(x) = x -<br />
Aplicando-se a primeira equação, resulta:<br />
Aplicando-se a segunda equação, obtém-se:<br />
Como:<br />
obtém-se:<br />
314<br />
, e
e:<br />
daí:<br />
Portanto:<br />
A1 = -2 ; A2 = -2 ; A3 = -2 ; A4 = -2 ; etc.<br />
1 2 3 4<br />
Da terceira equação resulta:<br />
Como:<br />
Como todos os coeficientes B1, B2, B3, B4, etc., são nulos, a equação de Fourier<br />
fica assim:<br />
J = 2(senx + 1sen2x + 1sen3x + 1sen4x + ... + 1sennx)<br />
2 3 4 n<br />
A análise desta equação permite deduzir que a onda resultante é formada por uma<br />
sucessão de ondas senoidais, em que as freqüências são múltiplas da fundamental em<br />
razões de números inteiros (F, 2F, 3F, 4F, etc.) e as amplitudes de cada uma vão<br />
decrescendo na razão 1/n. 389<br />
Assim como se fez a análise para uma onda dente-de-serra, também se pode fazê-la<br />
para qualquer outro tipo de onda, senoidal ou não senoidal, 390 e descobrir as suas<br />
freqüências constituintes. 391<br />
II) As Wavelets:<br />
389 Ou seja, a onda tringular é formada por uma freqüência fundamental e uma série de todos os<br />
harmônicos desta fundamental, com amplitudes decrescentes na razão 1/n.<br />
390 Ondas complexas de todo tipo: quadradas, triangulares, pulsantes, irregulares, etc.<br />
391 Uma variante dessa análise é a chamada FFT (Fast Fourier Transform, ou Transformada Rápida de<br />
Fourier), que permite obter uma maior correspondência com o conteúdo espectral.<br />
315
Em oposição à análise de Fourier de curto-período (short-time), a denominada<br />
análise Wavelet divide o plano tempo-freqüência em regiões não uniformes. Em outras<br />
palavras, Wavelets são ondas pequenas com propriedades determinadas que as tornam<br />
adequadas a servir de base para a decomposição de outras funções, exatamente como<br />
os senos e cossenos servem de base para decomposições (análise) de Fourier.<br />
A Transformada Wavelet é um modo matemático de processamento de sinais com<br />
uma vantagem sobre a análise clássica de Fourier: as suas funções-base (wavelets) não<br />
pertencem a um espaço finito de soluções. Assim, existem (teoricamente) infinitas<br />
possibilidades de se projetar wavelets com propriedades especiais, voltadas para<br />
aplicações específicas. As Transformadas Wavelets podem ser consideradas como<br />
formas de representação de tempo-freqüência, e assim, relacionadas com a análise<br />
harmônica. Deste modo, a análise de sinais com wavelets permite a extração de dados<br />
coerentes tanto no domínio da freqüência quanto no do tempo.<br />
O sinal é representado em termos de tempo finito ou do rápido decaimento de uma<br />
forma de onda. É o que se chama de séries de Wavelets.<br />
A análise com Wavelets é uma espécie de decomposição “atômica” na qual se<br />
busca os componentes básicos dos sinais, os “átomos”. Uma vez descritos, estes<br />
“átomos” tornam mais fácil combinar e produzir novas “moléculas”. As wavelets<br />
também podem ter caráter fractal, com padrões que se repetem em escalas diferentes.<br />
A música, sob este ponto de vista, é somente uma superposição e uma combinação<br />
temporal de átomos musicais. Como a música possui padrões de oscilação e transientes<br />
que se repetem no tempo, e que possuem uma determinada composição de freqüências<br />
(por exemplo, em uma partitura musical há um arranjo de átomos – as notas, que<br />
possuem duração e freqüência determinadas), então a análise com Wavelets aplica-se<br />
com perfeição às técnicas de síntese sonora e musical.<br />
As técnicas Wavelet começaram a ter essa aplicação na década de 1980. 392<br />
392 Extensas considerações sobre as Wavelets podem ser encontradas na Wikipédia, tanto em<br />
http://en.wikipedia.org/wiki/Wavelet quanto em http://pt.wikipedia.org/wiki/Wavelet. Artigos no<br />
formato PDF podem ser encontrados em<br />
http://atoc.colorado.edu/research/wavelets/bams_79_01_0061.pdf e em<br />
http://www.ams.org/notices/199706/walker.pdf (inclui análise de Fourier). Amplo material sobre<br />
Wavelets pode ser encontrado no site http://www.amara.com/current/wavelet.html.<br />
316
13.1 Sistemas analógicos e digitais<br />
CAPÍTULO XIII<br />
SISTEMAS <strong>DE</strong> ÁUDIO<br />
No início (décadas de 1950 a 1960), a musica eletrônica era feita com instrumentos<br />
eletrônicos puramente analógicos, feitos com válvulas eletrônicas (vacuum tube). 393<br />
Estes instrumentos e equipamentos, os mesmos que se usavam nos laboratórios da<br />
indústria fonográfica (que também investia na pesquisa e desenvolvimento de<br />
equipamento de som doméstico), surgiram da evolução da eletrônica e da física<br />
acústica, que se pesquisava nas universidades e centros tecnológicos.<br />
Um processo físico analógico é aquele que não sofre qualquer descontinuidade em sua<br />
evolução, e é medido por grandezas contínuas. Por exemplo, um termômetro marca<br />
continuamente a temperatura, sem nenhum salto em suas medidas. Matematicamente, a<br />
medida é feita através dos chamados números reais, dos quais não se pode dizer que<br />
haja apenas um número entre outros dois dados, por menor que seja o intervalo entre<br />
eles. Assim, entre dois números quaisquer, por mais próximos que estejam, existem<br />
infinitos números.<br />
I) Processo analógico:<br />
O processo analógico atua sobre o sinal elétrico buscando, em geral, manipulá-lo<br />
sem que ele perca as suas características formativas. A amplificação analógica deve ser<br />
linear, ou seja, o sinal elétrico deve manter as suas características. Uma amplificação<br />
não-linear irá alterar o sinal, deformando-o.<br />
O sinal analógico, entretanto, é difícil de ser manipulado, pois está mais sujeito a<br />
ruído, distorção, desvio de fase, atenuação, etc.<br />
De um modo geral, um sinal analógico exige que os circuitos associados a ele<br />
sejam lineares, ou seja, entre a entrada (INPUT) e a saída (OUTPUT) a forma do sinal<br />
deve ser a mesma, mesmo que seja uma (OUTPUT) maior que a outra (INPUT):<br />
393 Há basicamente dois tipos de componentes eletrônicos: os ativos (válvulas e transistores) e os<br />
passivos (resistores, capacitores, indutores). São componentes isolados, de tamanho visível.<br />
Instrumentos e/ou aparelhos analógicos usam a tecnologia analógica, com componentes ativos e<br />
passivos. Instrumentos digitais usam a tecnologia digital. São montados com os chamados circuitos<br />
integrados, com componentes (ativos e passivos) integrados, embutidos em chips. De um modo geral, o<br />
aparelho digital possui os chamados circuitos lógicos, ou circuitos que funcionam segundo a lógica<br />
binária: AND, OR, NO, XOR. Nos modernos aparelhos eletrônicos de áudio o processamento de som é<br />
feito sobre o sinal digital (ou um sinal analógico transformado em digital).<br />
317
Há vários tipos de distorções que um circuito analógico pode sofrer.<br />
Um tipo de distorção é chamado distorção harmônica (DH), distorção por<br />
saturação ou distorção por amplitude, que ocorre quando o sinal de entrada é muito<br />
forte (possui um nível além do especificado). Neste caso, o sinal de saída é cortado e a<br />
sua deformação 394 introduz na saída, além da freqüência fundamental, outros sinais de<br />
freqüências múltiplas. 395<br />
Outro tipo de distorção é a distorção por intermodulação (DI). Ela surge devido à<br />
não linearidade do sistema de amplificação. Assim, se dois sinais, um de 60 Hz e outro<br />
de 6.000 Hz são aplicados à entrada de um amplificador, ao invés de surgirem apenas<br />
estes dois sinais na saída, surgem outros sinais, correspondentes à soma e diferença do<br />
sinal de maior freqüência com o sinal de 60 Hz e os seus múltiplos harmônicos (120<br />
Hz, 180 Hz, etc.). 396<br />
II) Processo digital:<br />
O processamento digital, por sua vez, não é feito sobre o sinal musical contínuo<br />
(em relação à medida de valores elétricos), mas sobre as séries numéricas<br />
correspondentes a amostras (em rápido intervalo) do sinal musical contínuo, e cuja<br />
representação é descontínua; este é o referencial digital:<br />
394<br />
Que provoca (na audição) a sensação de um som “rasgado”. Isto, entretanto, é muitas vezes um efeito<br />
desejado.<br />
395<br />
A relação do valor eficaz de todos os harmônicos para o valor eficaz total do sinal, tomado em<br />
porcentagem, define a chamada distorção harmônica total (DHT, ou THD).<br />
396<br />
É equivalente ao processo de batimento de freqüências, que já se viu. Neste caso, as somas e<br />
diferenças são chamadas de bandas laterais, em relação à freqüência de 6.000 Hz.<br />
318
Um processo físico digital é aquele que sofre descontinuidade em sua evolução, ou<br />
seja, é marcado por saltos em suas medidas. Sua medida é feita por grandezas<br />
descontínuas (também chamadas de grandezas discretas). Por exemplo, uma contagem<br />
de pessoas. Esta medida é feita através dos chamados números inteiros. São chamados<br />
assim porque, entre dois números consecutivos, não existe nenhum número<br />
intermediário. A representação digital costuma ser feita pelos números binários 0 (que<br />
indica ausência de sinal) e 1 (que indica a presença de um sinal).<br />
Tanto os instrumentos (aparelhos) analógicos quanto os digitais podem lidar com<br />
sinais elétricos analógicos, mas somente os instrumentos digitais podem lidar com os<br />
sinais digitais. Por exemplo, a forma de onda a seguir (analógica) pode ser manipulada<br />
ou processada tanto por instrumentos analógicos quanto digitais:<br />
Já o sinal digital, como o mostrado a seguir, só pode ser processado por aparelhos<br />
digitais:<br />
Qualquer sinal analógico pode ser transformado em sinal digital. Isto é feito pelo<br />
processo de amostragem. A amostragem (sampling) envolve a leitura do nível elétrico,<br />
da freqüência e da forma de onda (analógica) em intervalos de tempo precisos; a<br />
amostragem é realizada periodicamente, e a sua freqüência (amostragens por unidades<br />
de tempo) deve ser no mínimo duas vezes maior do que a maior freqüência musical a<br />
ser amostrada.<br />
De acordo com o teorema da amostra, que se deve a Nyquist, se um sinal contínuo de<br />
banda limitada não tiver componentes de freqüência superior a fe, o sinal original<br />
poderá ser recuperado sem distorção se a amostra for feita a pelo menos 2fe por<br />
segundo (a chamada freqüência de Nyquist). Pode ser usado um filtro passa-baixas, ou<br />
filtro prévio à amostra, para assegurar que se cumpram as condições do teorema. Na<br />
década de 1970, os fabricantes Sony e Philips desenvolveram um sistema chamado<br />
PCM (Pulse Code Modulation) de armazenamento de áudio em formato digital. Neste<br />
sistema, o áudio é transformado em uma série de amostras, cada uma com uma<br />
amplitude. No CD são feitas 44.100 amostras por segundo (44,1 kHz) com uma<br />
amplitude de 16 bits, ou seja, 65 mil valores diferentes (2 16 = 65.536). O PCM não<br />
prevê o uso de nenhum tipo de compressão, assim, o CD pode armazenar apenas 74<br />
minutos de música.<br />
A amostragem é um processo matemático semelhante ao processo de integração<br />
que permite encontrar a área sob uma curva qualquer (no gráfico, a largura das colunas<br />
319
determina a freqüência da amostragem; quanto maior o número, mais estreitas, o que<br />
garante uma melhor amostra):<br />
Taxas de amostragem típicas vão de 15.000 Hz (15 kHz) a 44.100 Hz (44,1 kHz), o<br />
que significa, de 15.000 a 44.000 amostragens realizadas por segundo. 397 A amostra é<br />
armazenada (gravada) em sua representação digital binária, de 0 e 1, onde cada dígito<br />
constitui uma unidade de informação, que é denominada bit. Os bits são agrupados<br />
para formar uma seqüência (que pode ser de 8, 398 16, 32 ou 64 bits), sendo que quanto<br />
maior a seqüência, maior será a resolução, que é o que determina o ruído e distorção na<br />
reprodução (quanto maior a resolução, menor o ruído e a distorção).<br />
O sinal digital transformado pode ser reconstituído de volta para analógico. 399 A<br />
reconstituição do sinal analógico a partir de um sinal digital envolve a adição de uma<br />
componente falsa de baixa freqüência (alias frequency), resultante de uma baixa<br />
freqüência de amostra.<br />
A gravação do sinal digital é realizada em unidades eletrônicas denominadas<br />
memórias RAM (Random Access Memory ou Memória de Acesso Aleatório) ou suas<br />
variações. Pode ser também gravado em Hard Disk (o chamado Disco Rígido), ou em<br />
qualquer outra unidade eletrônica de gravação de informações (disquetes, memórias<br />
flash, pen drives, 400 etc.).<br />
A amostragem pode ser realizada em sistemas monofônicos ou em estereofonia de<br />
dois canais. Quanto aos tempos de amostragem, podem variar de alguns segundos até<br />
vários minutos.<br />
Os elementos básicos da eletricidade são: a voltagem ou tensão, que se mede em volts<br />
(V); a corrente elétrica, medida em ampéres (I); a potência elétrica dissipada, que se<br />
mede em Watts (W). Em qualquer circuito elétrico, W = V x I.<br />
Os instrumentos de áudio se dividem em quatro grupos:<br />
I) instrumentos para gravação do som (microfone; gravador magnético; etc.);<br />
397 Em um DVD-áudio, esta amostragem chega a 192 KHz, e em um sistema do tipo DSD (Direct<br />
Stream Digital), pode chegar a 2,8224 MHz (2.822.400 Hz). É o chamado sistema Super Áudio CD –<br />
SACD. (Para maiores informações sobre o processo de digitalização, veja-se o site:<br />
http://paginas.terra.com.br/lazer/py4zbz/teoria/digitaliz.htm).<br />
398 A seqüência de oito bits é chamada de byte. A 44,1 KHz, usam-se 16 bits.<br />
399 Existem equipamentos para fazer a conversão analógico/digital (ADC – Analog to Digital Converter)<br />
e digital/analógico (DAC - Digital to Analog Converter).<br />
400 O chamado pen drive, também chamada memória USB Flash Drive, é um minúsculo dispositivo de<br />
memória que pode ser carregado até em um chaveiro, e que pode armazenar de 256 Mb até 16 Gb (256<br />
Mb, 512 Mb, 1 Gb, 2 Gb, 4 Gb, 8 Gb, 16 Gb. Mb = Mega bytes; Gb = Giga bytes).<br />
320
II) instrumentos para reprodução do som (pré-amplificador; amplificador; tocadiscos;<br />
toca-CD; receiver; alto-falantes; etc.);<br />
III) instrumentos para geração e/ou processamento do som (gerador ou oscilador;<br />
filtros de passagem; misturador; mesa de mixagem; limitador; compressor; expansor;<br />
etc.);<br />
IV) instrumentos de medida de áudio (osciloscópio; unidades VU; etc).<br />
I) Equipamentos de gravação de som:<br />
O aparelho utilizado para gravar sons é o gravador magnético de fita. O gravador<br />
mais simples faz a gravação em duas pistas da fita magnética, geralmente em duas<br />
velocidades de gravação. Uma característica da gravação analógica é o chamado<br />
chiado de fita, o qual aumenta quando se transfere a gravação de uma fita para outra.<br />
Ruídos deste e de outros tipos são combatidos com o uso de redutores de ruído, que<br />
são filtros elétricos capazes de atenuá-los. 401 A fita magnética deve possuir uma boa<br />
relação sinal/ruído. A cabeça magnética de gravação utiliza uma freqüência elevada<br />
(freqüência de bias) que se mistura às freqüências de áudio, na gravação. Gravadores<br />
profissionais (utilizados em estúdios) oferecem a possibilidade de ajuste deste sinal,<br />
para que ele se adapte às características da fita magnética.<br />
Modelo de moderno gravador cassete portátil de quatro pistas:<br />
O microfone é o equipamento transdutor que transforma os sinais sonoros 402 em<br />
ondas elétricas. Existem quatro tipos básicos de microfone: de capacitor (ou de<br />
condensador); dinâmico; de fita; de zona de pressão. Pode ter uma chave interruptora<br />
liga-desliga (ON-OFF).<br />
Os principais parâmetros relacionados com o microfone são: resposta de<br />
freqüência, nível de saída, alcance dinâmico e resposta polar.<br />
O primeiro parâmetro, resposta de freqüência, indica a possibilidade de o<br />
microfone ser utilizado para gravar um determinado tipo de instrumento.<br />
401<br />
Os principais sistemas industriais de combate ao ruído são os sistemas Dolby e DBX (possuem<br />
função analógica).<br />
402<br />
Deve ser percebido, aqui, que as ondas sonoras recebidas pelo microfone são sinais analógicos.<br />
321
Normalmente, deve ser usado um tipo capaz de responder a freqüências mais elevadas<br />
do que o usualmente necessário (os agudos ficam mais perceptíveis). 403<br />
O nível de saída do microfone pode ser determinante para o ganho do amplificador<br />
(eles estão em uma relação inversa: quanto maior um menor o outro). Os microfones<br />
de capacitor têm os mais altos níveis de saída, e os de fita, os mais baixos níveis.<br />
O alcance dinâmico representa as medidas que se faz a certa distância da fonte<br />
sonora. Se esta distância não for obedecida, o sinal de saída do microfone pode ficar<br />
sobrecarregado e apresentar distorção.<br />
A resposta polar é a medida da sensibilidade do microfone a sons provenientes de<br />
várias direções. Normalmente, esta medida é expressa em um gráfico ou diagrama. O<br />
microfone sensível a freqüências provenientes de todos os lados é chamado de<br />
omnidirecional. O microfone cardióide e o hipercardióide (ou supercardióide) são<br />
sensíveis a uma direção especifíca (em frente ao microfone), dentro de um determinado<br />
ângulo, menor no segundo caso. 404 Os microfones de fita são sensíveis aos sons que<br />
vêm tanto da frente quanto de trás, mas não dos lados (é a resposta em oito).<br />
Tipos de gráficos de resposta polar:<br />
O microfone de zona de pressão tem uma resposta única, hemisférica.<br />
Comparação entre os microfones cardióde e hipercardióide:<br />
O microfone, quando situado muito próximo a sistemas de reprodução do som<br />
(alto-falantes), tende a realimentar o sinal sonoro, em um processo crescente que cria<br />
assobios e oscilações parasitas que prejudicam gravações ou execuções (é o que se<br />
chama microfonia). Dispositivos chamados anti-singing ajudam a evitar a microfonia.<br />
403 Em algumas gravações pode ser necessário evitar o uso de microfones com sensibilidade a baixas<br />
freqüências (abaixo do que se deseja). Isto evita a captação de ruídos ambientes.<br />
404 Microfones de capacitor ou dinâmicos oferecem estas respostas polares (são do tipo hipercardióide).<br />
322
O captador é um dispositivo eletrônico (um transdutor) que capta as vibrações<br />
mecânicas geradas por instrumentos musicais (geralmente de cordas) e as converte em<br />
sinais elétricos, que são em seguida processados (amplificados ou gravados). O<br />
captador é uma peça que se acopla (acoplamento) a instrumentos elétricos e a<br />
instrumentos acústicos, 405 não elétricos.<br />
Há dois tipos básicos de captadores: os magnéticos (single coil e humbuckers), 406<br />
que equipam guitarras, baixos, etc., os piezoelétricos, para instrumentos semi-acústicos<br />
e acústicos (por exemplo, o violão clássico).<br />
Os captadores magnéticos trabalham com o campo magnético entre o imã dos<br />
captadores e as cordas que vibram (as cordas devem ser de metal). 407 Os piezoelétricos<br />
usam cristais (de quartzo, titanato de bário ou titanato de chumbo) que geram tensões<br />
elétricas quando mecanicamente comprimidos (são usados com cordas de nylon). 408<br />
Os captadores também podem ser passivos, constituídos de núcleo/bobina/corda 409<br />
e ativos, quando incorporam um estágio de pré-amplificação no próprio captador. 410<br />
Os fatores que devem ser levados em consideração quanto à escolha de captadores<br />
são o nível de saída e a resposta de freqüência.<br />
A posição do captador pode ser no corpo, braço, meio ou ponte (parte onde se<br />
fixam as cordas). 411<br />
II) Equipamentos de reprodução de som:<br />
O aparelho usado para reprodução do som é o amplificador 412 (que, junto com o<br />
equalizador, realiza a parte essencial do processamento de som). Os parâmetros mais<br />
importantes de um amplificador são: ganho, resposta de freqüência (faixa de<br />
freqüência), sensibilidade de entrada, potência de saída, tempo de resposta, fator de<br />
lentidão, fator de amortecimento, ruído e alcance dinâmico.<br />
Modelo de amplificador de potência: 413<br />
405 O que os músicos chamam de uma interpretação acústica é exatamente o uso de instrumentos não<br />
elétricos, clássicos. Não significa que microfones não possam ser usados, principalmente se o auditório é<br />
muito grande.<br />
406 Os primeiros possuem uma bobina, e os segundos, bobina dupla.<br />
407 A impedância do captador magnético é de cerca de 10.000 Ohms (são de baixa impedância).<br />
408 Sua impedância característica é de cerca de 100.000 Ohms (são de alta impedância)..<br />
409 Geram uma tensão de cerca de 1 volt.<br />
410 Geram cerca de 10 volts de tensão.<br />
411 Podem ser acoplados vários captadores a um instrumento. As guitarras elétricas possuem um botão<br />
seletor para escolha do captador.<br />
412 Existem dois módulos de amplificação: o amplificador de entrada (que pode ser um préamplificador),<br />
para amplificar os baixos sinais dos microfones e captadores, e o amplificador de saída,<br />
ou amplificador de potência.<br />
413 Os modernos amplificadores digitais usam a técnica chamada D.Sound, para reproduzir fielmente o<br />
som dos CDs, com alta qualidade sonora e mínimo ruído. Mesmo pequenos aparelhos, do tipo CD-<br />
Player, asseguram a reprodução perfeita de graves (ou os chamados Super Graves. O sistema chamado<br />
D-AGC assegura um som de alta qualidade e permite o melhor benefício com os graves gerados pelo S-<br />
XBS). Permite também o aumento do volume ao máximo sem que ocorra distorção.<br />
323
Em um amplificador perfeito, o ganho deveria ser constante (linear) em todas as<br />
freqüências. Assim, se não há uma linearidade no ganho das diversas faixas de<br />
freqüência, diz-se que há distorção de freqüência, no amplificador. O amplificador<br />
perfeito deveria ter uma atenuação de 0 dB em uma faixa de freqüências entre 20 Hz a<br />
20.000 Hz. Na prática, tal especificação é de: – 3 dB em 30 Hz e – 3dB em 20.000 Hz,<br />
e ±1 dB entre 40 e 18.000 Hz. Esta faixa de freqüência é também chamada de curva de<br />
resposta de freqüência, do amplificador. 414<br />
Além do ganho, a curva de resposta de freqüência é o parâmetro que melhor define<br />
a qualidade do amplificador. Quando se aplica um sinal de onda quadrada em sua<br />
entrada, como esta onda possui uma infinidade de harmônicos ímpares, fica fácil testar<br />
a curva de resposta. Uma onda de saída distorcida ou deformada pode indicar<br />
acentuação ou atenuação de alguns harmônicos, ou mesmo a introdução de alguns que<br />
não existiam, e até a mudança da relação das fases entre os diferentes harmônicos.<br />
Os gráficos a seguir indicam, pela forma da onda quadrada de saída, outras<br />
distorções (além das já vistas) que podem ocorrer quando a curva de resposta de<br />
freqüência não é perfeitamente linear:<br />
A sensibilidade de entrada diz respeito ao nível mínimo de tensão ou voltagem<br />
(normalmente dada em milivolts: mV) que é necessária para que o amplificador<br />
alcance a potência máxima de saída. Quando há um excesso neste nível de entrada, isto<br />
pode acarretar distorções, no sinal de saída. 415<br />
414<br />
Esta curva, de um modo geral, é medida em uma determinada potência de saída. Para uma potência<br />
diferente, a curva pode ser diferente.<br />
415<br />
A distorção muitas vezes é um efeito desejado, principalmente no caso de apresentações de rock, em<br />
que se distorce (de propósito) o som de uma guitarra elétrica, por exemplo.<br />
324
A potência de saída é o volume total de som que o amplificador é capaz de<br />
proporcionar, sem distorcer o sinal sonoro. 416 Esta potência deve estar relacionada com<br />
o tamanho do local, de sua acústica, do nível de ruído do ambiente, da potência das<br />
caixas acústicas, etc. Se a potência é insuficiente, o sinal pode ser aumentado por um<br />
pré-amplificador, antes de ser amplificado. 417<br />
A potência de saída é medida em Watts (W). Há vários métodos para se determinar<br />
esta potência. A medida mais útil é o método RMS (Root Mean Square, Valor Médio<br />
Quadrático ou Raiz Quadrada da Média Aritmética), que mede a potência média que o<br />
amplificador suporta em diversas freqüências. As medidas denominadas potência<br />
musical, ou Watts de pico (chamadas de potência PMPO, ou potência PEP) dão apenas<br />
a potência de pico em uma determinada freqüência, o que é, manifestamente, uma<br />
medida enganosa. A potência nominal em RMS dos amplificadores pode ir de 5 W até<br />
15.000 W.<br />
O tempo de resposta refere-se à velocidade com a qual o amplificador responde às<br />
variações de voltagem do sinal de entrada. Esta medida é dada em microssegundos<br />
(µs). Se o tempo de resposta for lento, a onda de saída pode ficar deformada ou<br />
distorcida. O chamado fator de lentidão, que é uma medida dada em volts por<br />
microssegundo, é a velocidade máxima de mudança da voltagem de saída em função<br />
da mudança no sinal de entrada. Se o fator de lentidão for pequeno, isto provoca<br />
distorção em notas que são tocadas com ataque forte.<br />
O fator de amortecimento é a medida do controle do amplificador (de seu sinal<br />
elétrico de saída) sobre o diafragma do alto-falante ao qual está conectado. Como o<br />
sinal elétrico de saída é uma onda bastante complexa, formada por múltiplas<br />
freqüências, o diafragma tem de responder de forma instantânea e seguir exatamente<br />
esta voltagem, que muda com bastante rapidez. Quando o sinal elétrico impulsiona o<br />
diafragma, ele deve ter o seu impulso mecânico na proporção da intensidade do sinal;<br />
se este começa a cair de nível, o impulso deve ser amortecido. A eficiência do controle<br />
do alto-falante é dada, então, pelo fator de amortecimento. Os valores deste fator<br />
variam entre menos de 10 até mais de 200. Quanto mais elevado for este número, mais<br />
eficiente é o controle sobre o alto-falante.<br />
O ruído em um amplificador pode ter duas origens: o zumbido, que é proveniente<br />
da rede elétrica (que pode ser de 50 ou 60 Hz, conforme o país), 418 e o chamado ruído<br />
branco, que é gerado pelo movimento aleatório dos elétrons nos próprios componentes<br />
do circuito. Um amplificador de boa qualidade deve apresentar uma relação sinal/ruído<br />
de – 60 dB. Isto significa que, para o máximo de voltagem na entrada do amplificador,<br />
o ruído na saída deverá estar 60 dB abaixo do sinal de saída desejado. Neste caso, o<br />
alcance dinâmico máximo do amplificador é de 60 dB.<br />
O alcance dinâmico diz respeito à diferença de volume entre os sons mais potentes<br />
e os menos potentes, que o amplificador pode reproduzir. De um modo geral, o<br />
amplificador deve ter um alcance dinâmico no mínimo 10 dB maior do que o dos sons<br />
que deve reproduzir. 419<br />
416 Há um controle chamado volume mestre (master volume), que serve para ajustar o volume de todos<br />
os canais ao mesmo tempo, sem afetar o equilíbrio entre eles.<br />
417 O sinal proveniente de um microfone, de um captador elétrico de instrumento musical, etc.<br />
418 O zumbido (hum) pode ser eliminado através de uma escolha conveniente da distribuição dos<br />
componentes do amplificador na placa suporte (placa mãe ou placa de circuito impresso, antigamente<br />
chamada de chassis).<br />
419 Dependendo da peça musical (em uma obra, por exemplo, de Tchaikovsky), a música tem um alcance<br />
dinâmico muito grande, variando de níveis pouco audíveis até grandes potências sonoras (tutti). Uma<br />
banda de rock (principalmente o hard rock), por outro lado, tem alcance dinâmico pequeno, pois o nível<br />
de volume praticamente não varia, durante a apresentação. Entretanto, se o alcance dinâmico do<br />
325
O alto-falante é o dispositivo transdutor de saída, capaz de transformar sinais<br />
elétricos em ondas sonoras. É constituído de uma bobina elétrica (bobina móvel) à qual<br />
está ligada, mecanicamente, um cone (que geralmente é de papelão, celulose ou<br />
alumínio) que vibra na proporção da freqüência do sinal elétrico que recebe do<br />
amplificador. Os cones podem ter 5, 6, 8, 10, 12 ou 22 polegadas (conforme a<br />
finalidade), com potência máxima entre 50 a 5.000 watts RMS. 420<br />
Os tipos básicos de alto-falantes são: reprodutores de sons graves e médio-graves 421<br />
(woofers); reprodutores de médios (mid-range ou mid-bass); reprodutores de sons<br />
agudos (tweeters). Há também o sub-woofer (ou subwoofer), para freqüências abaixo<br />
de 100 Hz (e que tem duas bobinas).<br />
Todo circuito elétrico possui características de resistividade, de indutância e de<br />
capacitância. Resistividade é a resistência oferecida por um componente à passagem<br />
da corrente elétrica. O componente associado é chamado de resistência ou resistor, e a<br />
sua medida é dada em Ohms (Ω). Indutância é o parâmetro que relaciona a corrente<br />
elétrica com o fluxo magnético que surge quando um fio é percorrido por uma corrente<br />
elétrica. O componente associado é chamado de indutor ou bobina elétrica, e sua<br />
medida é dada em henrys (H). A resistência que um indutor oferece à passagem da<br />
corrente elétrica é chamada de reatância indutiva (XL). A capacitância é a medida da<br />
carga elétrica que um capacitor (também chamado de condensador) é capaz de conter.<br />
Sua medida é dada geralmente em microfarads (µF). Os circuitos que oferecem<br />
reatância ou indutância são chamados circuitos reativos. A resistência que um<br />
capacitor oferece à passagem da corrente elétrica é chamada de reatância capacitiva<br />
(XC). A impedância (Z) de um circuito elétrico é a combinação da resistência R do<br />
circuito com a reatância indutiva (R + XL) ou capacitiva (R + XC), e nestes circuitos<br />
elétricos a corrente elétrica está adiantada ou atrasada (sua fase) em relação à voltagem<br />
ou tensão elétrica alternada 422 aplicada ao circuito. A impedância indica a oposição<br />
total que um circuito oferece ao fluxo de corrente alternada, ou qualquer outra corrente<br />
variável numa dada freqüência. Em um circuito elétrico, normalmente existe a<br />
impedância de entrada (Ze ou Zi) e a impedância de saída (Zs ou Zo). Sempre que dois<br />
circuitos são interligados, devem ser iguais a Zo do primeiro com a Zi do segundo. É o<br />
que se denomina casamento de impedâncias.<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Amp: o mesmo que amplificador.<br />
Balanceamento: é o cancelamento ou minimização de ruídos, de natureza<br />
eletromagnética, que são induzidos nos cabos do sistema de áudio. 423<br />
amplificador for pequeno, assim que houver uma pausa, qualquer ruído (que antes era abafado) poderá<br />
ser ouvido.<br />
420 A potência que um alto-falante suporta é determinada pela máxima temperatura que a bobina móvel<br />
pode suportar sem queimar. A temperatura máxima depende dos materiais empregados em sua<br />
fabricação (fios), mas principalmente do seu tamanho. O tipo de fio usado na bobina móvel influi na<br />
qualidade do som reproduzido.<br />
421 Abaixo de 300 Hz. Se for um woofer apenas para sons graves, abaixo de 120 Hz.<br />
422 A corrente elétrica pode ser contínua (DC ou CC), tal como a oferecida por baterias ou geradores de<br />
CC, ou pode ser alternada (AC ou CA), tal como a energia da rede elétrica. Neste último caso, a<br />
alternância de polaridade (positivo e negativo) ocorre a 50 ou 60 ciclos por segundo.<br />
423 Geralmente, o balanceamento é necessário nos circuitos amplificadores (OpAmp, ou amplificadores<br />
operacionais), em que se deseja que a saída de sinal seja nula, se não houver nenhum sinal na entrada.<br />
326
Impedância: é a impedância da bobina do alto-falante, que pode ser de 2, 3, 4, 8<br />
ou 16 Ohms (os subwoofers podem apresentar bobinas com 2 até 10 Ohms).<br />
Latência (lag): é a diferença de tempo decorrida entre o início de um evento e o<br />
instante em que os seus efeitos se tornam perceptíveis.<br />
Op-amp: amplificador operacional. É, basicamente, um amplificador diferencial<br />
que tem um grande ganho de voltagem . É um chip de circuito integrado. Os op-amp<br />
servem para construir filtros e amplificadores.<br />
Ping Pong Delay: é um som saltitante, que muda do canal direito para o esquerdo e<br />
vice-versa, em um sistema estéreo.<br />
Potência de pico: é a máxima potência que pode ser aplicada ao alto-falante por<br />
curtos períodos.<br />
Potência nominal: é a potência nominal contínua do alto-falante, ou seja, este<br />
parâmetro informa a potência que o alto-falante pode suportar por longos períodos sem<br />
sofrer danos.<br />
Resposta de freqüência: é a variação de freqüências que o alto-falante pode<br />
reproduzir.<br />
Sensibilidade: é o SPL 424 (pressão sonora) que um alto-falante produz a uma<br />
determinada freqüência (geralmente, de 1 kHz), a um metro à sua frente. Sua medida é<br />
dada em decibéis, pela fórmula SPL = 10 log (ρ/ρref) 2 = 20 log (ρ/ρref), onde ρ é a<br />
pressão sonora dada e ρref é a pressão sonora de referência (a pressão do som também<br />
pode ser medida em dinas/cm 2 ).<br />
Vintage effects: refere-se às características sonoras (tanto do som puro quanto do<br />
som distorcido) que são exclusivas das válvulas.<br />
Vintage: refere-se a equipamentos (antigos e modernos) construidos com válvulas<br />
a vácuo (termoiônicas).<br />
Os alto-falantes são colocados dentro de caixas de madeira (ou plástico, fibra,<br />
acrílico, etc.) chamadas caixas acústicas, caixas de som ou sonofletores. Sua<br />
finalidade é impedir que as ondas sonoras dianteiras e traseiras emitidas pelos altofalantes<br />
se misturem, o que causa interferência destrutiva e anula o som. Também são<br />
usadas para melhorar a acústica da reprodução sonora.<br />
As caixas acústicas simples podem possuir um alto-falante (woofer), dois altofalantes<br />
(woofer e tweeter) ou três alto-falantes (woofer, mid-range, tweeter). Com três,<br />
é mais fácil a reprodução da faixa de áudio (de 20 Hz a 20 kHz).<br />
Com mais de um alto-falante, o sinal elétrico que chega do amplificador deve<br />
passar por um circuito divisor de freqüências (crossover), que é um filtro eletrônico<br />
que distribui as freqüências (para dois ou três alto-falantes).<br />
Em aparelhos de som de alta fidelidade são usadas caixas acústicas aos pares, para<br />
se obter o efeito estereofônico. Em cinemas e home-theaters são usados múltiplas<br />
caixas acústicas para se obter o efeito chamado surround. 425 Em estúdios de gravação,<br />
as caixas acústicas são conhecidas como monitores (são do tipo crossover).<br />
424 SPL (Sound Pressure Level, ou Nível de Pressão Sonora). É um parâmetro de medida de potência<br />
que surgiu devido ao grande incremento do som automotivo O SPL determina a eficiência com que o<br />
alto-falante produz altas intensidades sonoras. Assim, um alto-falante de 100 W, se alimentado por um<br />
amplificador de 50 W, fornece a mesma intensidade de som que outro de 200 W, se ambos tiverem o<br />
mesmo SPL (a potência de saída é determinada pelo amplificador). O SPL dá a pressão sonora em dB a<br />
um metro do alto-falante. Mais informações sobre alto-falantes no item 13.6.<br />
425 O sistema surround, usado em sistemas home theater, usa cinco fontes ou cinco canais (e por isto é<br />
conhecido como Sistema 5.1), sendo três principais à frente (ao centro, à direita e à esquerda) e duas<br />
fontes auxiliares atrás (à direita e à esquerda). O efeito surround possibilita dar uma sensação de<br />
movimento ao som.<br />
327
Os parâmetros de construção de caixas acústicas foram estudados inicialmente pelo<br />
engenheiro Neville Thielle em um trabalho, Loudspeakers in Vented Boxes,<br />
posteriormente ampliado por Richard Small em tese de doutorado. Este trabalho<br />
basilar, que definiu os parâmetros de análise de alto-falantes e caixas acústicas, tornouse<br />
conhecido como Teoria de Thiele-Small, ou Parâmetros Thielle-Small (ou<br />
Parâmetros T/S).<br />
PARÂMETROS TÉCNICOS<br />
D – valor efetivo do diâmetro do alto-falante, em metros.<br />
F3 – corte de -3 dB na freqüência, em Hz.<br />
Fb – freqüência de ressonância da caixa (caixas com duto).<br />
Fc – freqüência de ressonância do sistema (caixas seladas).<br />
Fs – freqüência de ressonância do alto-falante quando utilizado em freeair.<br />
É o ponto em que o alto-falante apresenta a máxima impedância.<br />
Re – resistência, em Ohms, do alto-falante (quando submetido a uma<br />
corrente elétrica contínua).<br />
Sd – área de radiação do alto-falante, em metros.<br />
Vas – volume acústico do alto-falante, em metros.<br />
Vd – volume linear máximo de deslocamento do alto-falante, em metros 3 .<br />
Xmax – excursão linear máxima de pico de um alto-falante, em metros.<br />
Os modelos básicos de caixa acústica são: aberta (free-air); selada (ou fechada);<br />
com duto. 426<br />
Estes modelos se sub-dividem em: free-air; 427 selada; em duto (ou refletora de<br />
graves); push-pull (simples, de 4ª. ordem e de 6ª. ordem); passa-banda (band-pass)<br />
(simples, de 6ª. ordem e de três volumes); isobárica (simples e com duto).<br />
426 Pode ter uma parte selada.<br />
427 Verdadeiramente, esta não é uma caixa acústica. O alto-falante é colocado em um suporte ou peça<br />
única de madeira, o que prejudica a resposta em baixas-freqüências.<br />
328
Cada modelo básico tem as suas vantagens e desvantagens.<br />
Selada:<br />
Vantagens: pequeno volume; excelente resposta a transientes; 428 facilidade de<br />
construção.<br />
Desvantagens: distorção mais acentuada do que em caixa com duto; falta de<br />
ventilação para o conjunto magnético do subwoofer.<br />
Com duto:<br />
Vantagens: de três a quatro decibéis mais eficiente do que a caixa selada; menor<br />
distorção; conjunto magnético com constante refrigeração.<br />
Desvantagens: dificuldade de construção; exige cuidados especiais na construção<br />
do duto.<br />
Band-pass:<br />
Vantagens: indicada para som automotivo<br />
Desvantagens: dificuldade de construção.<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Caixa amplificadora: caixa acústica com amplificador embutido.<br />
Footswitch: controle que aciona booster e tweeter em caixa amplificadora.<br />
Minijack: conector para fone de ouvido, de 1/8” (também chamado P2 ou<br />
bananinha), que se usa em algumas caixas.<br />
Mute: chave que desliga o som dos alto-falantes.<br />
P.A. (Public Address): sistema de som dirigido ao público (ou grandes platéias).<br />
Sound Reinforcement: sistema de som para pequenos lugares.<br />
Tela ortofônica: tecido ou grade utilizado na frente de caixas acústicas.<br />
428 Os transientes são sinais de curta duração. Sendo muito breves, pouco impressionam os ouvidos em<br />
termos de volume, mas melhoram bastante a qualidade do som.<br />
329
III) Equipamentos de processamento de som:<br />
O processamento de som é qualquer tipo de alteração que se faça nas características<br />
originais do som. Isto geralmente é feito para corrigir deficiências, melhorar a<br />
audibilidade e até mesmo para criar efeitos especiais, o que se faz em estúdios e em<br />
palcos.<br />
As principais formas de processamento do som são: alteração da curva de<br />
freqüência, alteração do volume, alteração da dinâmica, filtro de ruídos, filtro de<br />
passagem, alteração da fase, alteração da altura. Outras modificações incluem a adição<br />
de eco, de novos harmônicos e reverberação.<br />
A alteração da curva de freqüência é feita através de controles de tonalidade que<br />
atuam no timbre. Os controles mais simples atuam em duas ou três faixas de<br />
freqüência:<br />
a) Controle em duas faixas (2 band): atuam nos graves (Low ou Lo) e nos agudos<br />
(High ou Hi), seja aumentando-os, seja atenuando-os.<br />
O controle de baixos normalmente começa a 100 Hz (ou seja, todos os sinais<br />
abaixo desta freqüência serão incrementados ou atenuados em até 13 dB).<br />
O controle de agudos geralmente começa em 2,5 kHz, e tem aumentos ou<br />
decrementos de até 14,5 dB.<br />
b) Controle em três faixas (3 band): neste caso, o controle atua também nas<br />
freqüências médias (Médium ou Mid).<br />
O controle de baixos (shelving) inicia em 80 Hz, com aumentos ou decrementos de<br />
até 12 dB.<br />
O controle de médios normalmente é centrado em 500 Hz. O nível varia de até 10<br />
dB.<br />
O controle de agudos (shelving) geralmente começa em 3,65 kHz, e o nível do<br />
sinal varia em até 10 dB.<br />
Os controles de três faixas mais antigos eram pré-ajustados nas freqüências de 100<br />
Hz, 1 kHz e 10 kHz; já as modernas mesas de som possuem freqüências centrais de 80<br />
Hz, 2,5 kHz e 12 kHz, sendo que os controles ajustam a intensidade do sinal de cada<br />
faixa. 429<br />
Os controles mais complexos podem abranger até sete faixas de freqüência: super<br />
graves, médios graves, graves, médios, agudos, agudo médio, super agudo. 430<br />
Controles mais complexos do que o controle de tonalidade são os controles de<br />
equalização. Entende-se por equalização o ajuste dos graves, médios e agudos em um<br />
amplificador ou em uma mesa de som, através dos seus controles. 431 É também o<br />
acerto da resposta das caixas acústicas.<br />
429<br />
Em mesas de mixagem e também sob a forma de pedal (ou pedaleira, que se controla no palco)<br />
existem um ou dois controles sweep de freqüência, o qual, além do controle lift/cut (sobe/corta) também<br />
permite deslocar a freqüência central do controle ao longo do espectro sonoro. O pedal chamado wahwah<br />
é um equalizador sweep com nível fixo de lift.<br />
430<br />
Em alguns casos, o controle de Super Graves pode ser feito em dois modos: Tight (moderado) e<br />
Boom (máximo).<br />
431<br />
Ou potenciômetros. Há dois tipos de pontenciômetros: os girantes e os deslizantes. Em qualquer caso,<br />
o controle deve ficar inicialmente na posição neutra, no meio. A atenuação de freqüências se dá para a<br />
esquerda ou para baixo, e o reforço, para a direita ou para cima.<br />
330
A equalização é feita através de equalizadores, que são aparelhos constituídos por<br />
uma série de filtros eletrônicos que abrangem uma ampla faixa, atuando em bandas de<br />
freqüências. 432<br />
Há vários tipos de filtros de equalização: 433 peaking (pico), shelving,<br />
semiparamétrico, paramétrico, gráfico e paragráfico.<br />
O peaking atua sobre uma freqüência central (principal) e suas vizinhas, próximas:<br />
Já o filtro shelving atua em todas as freqüências acima (agudos) ou abaixo (graves)<br />
de uma determinada freqüência f:<br />
O equalizador semiparamétrico é um tipo de filtro que possui dois controles<br />
(botões ou knobs): um acentua ou atenua a freqüência, e outro escolhe a freqüência<br />
principal sobre o qual o filtro atuará (de modo semelhante a de um filtro de peaking), e<br />
em que faz a varredura (dentro da banda de freqüência). Pode possuir uma chave que<br />
aumenta ou diminui a largura de banda:<br />
O equalizador paramétrico possui um controle adicional, chamado controle Q ou<br />
controle de largura de banda. O Q 434 é a inclinação lateral (slope) de cada lado da<br />
432 Os modernos amplificadores e equalizadores digitais utilizam uma técnica de equalização chamada<br />
S-XBS ou S-XBS+ (S-XBS plus). Modelos Panasonic usam o DAGC (Digital Áudio Gain Control).<br />
433 A equalização envolve os seguintes parâmetros: sweep e filtragem. Sweep é a varredura de freqüência<br />
sobre a freqüência central. Filtragem é o corte de freqüências indesejáveis.<br />
331
freqüência central. Associado a um controle de varredura de freqüência (sweep), isto<br />
permite uma modelagem precisa do som. No gráfico, pode-se ver que o incremento ou<br />
decremento no nível de saída pode se dar de modo abrupto (alto Q) ou de modo suave<br />
(baixo Q):<br />
Além do controle sweep, há, como se viu, o controle shelving, que controla a<br />
inclinação da curva. 435<br />
O equalizador paramétrico costuma ter três controles: escolha da freqüência central<br />
(Frequency); ganho ou atenuação desta freqüência (Level); largura da banda passante<br />
ou valor de Q (Bandwidth).<br />
Parte de um equalizador paramétrico, com os três controles e respectivas curvas:<br />
Modelo de equalizador paramétrico digital (processamento digital com operação<br />
analógica):<br />
Há um tipo de equalizador mais complexo, chamado equalizador gráfico (EQ).<br />
Originalmente projetado para estúdios, hoje é encontrado até em equipamentos<br />
domésticos. Ele usa controles (potenciômetros) do tipo deslizantes chamados faders<br />
(ou sliders), colocados paralelamente (alguns modelos possuem até 31 controles por<br />
canal). 436 Cada fader controla uma banda de freqüências (a freqüência central daquela<br />
banda em especial). Uma banda pode abranger uma oitava, meia oitava, um terço ou<br />
um sexto de oitava. Os equalizadores gráficos mais comuns são os de oitava (com 10<br />
controles ou bandas), meia oitava (18 controles) e um terço de oitava (31 controles). A<br />
posição central do fader e chamada flat (plano). Cada fader pode ser anulado por uma<br />
chave chamada de bypass. Neste caso, o filtro respectivo não atua. Se todas as bandas<br />
434<br />
Este parâmetro, Q, é o fator de mérito que define a seletividade e a faixa ou banda passante.<br />
435<br />
Os filtros mais usados em mesas analógicas de pequeno porte são shelvings nas altas e baixas<br />
freqüências, e sweeps em médias freqüências.<br />
436<br />
O controle também pode ser feito por pedal.<br />
332
do equalizador gráfico forem aumentadas para o máximo, isto cria uma resposta<br />
desigual de freqüência (é o que se denomina ripple effect). 437<br />
O equalizador paragráfico é o próprio equalizador paramétrico com uma interface<br />
gráfica digital. Ele é encontrado em equipamentos digitais e virtuais (em<br />
computadores). Mesas digitais com displays em cristal líquido (LCD) apresentam<br />
equalizadores paramétricos com interface gráfica.<br />
Modelo de equalizador gráfico de 31 bandas:<br />
O filtro de ruídos (noise gate) tem por função eliminar ruídos indesejáveis. Ele<br />
evita a passagem do chiado de fundo, que costuma ser bastante desagradável.<br />
Geralmente, o noise gate é produzido sob a forma de pedal. Seus controles são: limiar<br />
(treshold), que regula o nível de sinal necessário para que o filtro se “abra” e deixe<br />
passar o sinal; liberação (release), que mantém o filtro “aberto” até que a nota tenha<br />
desaparecido.<br />
O filtro de passagem é projetado para deixar passar freqüências ou banda de<br />
freqüências. É um tipo de filtro passivo. 438 Os tipos de filtros de passagem mais<br />
comuns são o filtro passa-baixas (low-pass ou Lo Pass Filter: LPF) que atenua os<br />
agudos e o filtro passa-altas (high-pass ou Hi Pass Filter: HPF), que atenua os<br />
graves. 439<br />
O ponto a partir do qual as freqüências são atenuadas (no passa-baixo) ou começam<br />
a passar (no passa-alto) é denominado ponto de corte, ou freqüência de corte (cutoff ou<br />
cut-off frequency). O filtro pode ter este controle (controle do ponto de corte: a<br />
freqüência a partir da qual os sons são cortados). 440<br />
437 Em sistemas domésticos (na reprodução), a posição geral dos controles deve seguir a curva Fletcher-<br />
Munson. Em sistemas profissionais de gravação, a equalização serve para compatibilizar os vários<br />
instrumentos musicais utilizados.<br />
438 Como já se viu, há basicamente dois tipos de componentes eletrônicos: os ativos e os passivos. O<br />
filtro passivo é construído com apenas os componentes passivos.<br />
439 O filtro elétrico separa as componentes senoidais de uma onda complexa.<br />
440 Os filtros utilizados no equalizador paramétrico possuem dois pontos de corte, um inferior e outro<br />
superior. Estas freqüências, freqüência de corte inferior (fci) e freqüência de corte superior (fcs),<br />
delimitam a sua faixa de atuação. A largura de banda do filtro (Bandwidth) corresponde à diferença fcs –<br />
fci. Cada limite da largura de banda é chamado de 3 dB down point.<br />
333
As freqüências médias também podem ser atenuadas, com isto destacando os<br />
graves e os agudos:<br />
A seletividade do filtro (notch filter) é importante para que seja feita uma boa<br />
equalização, principalmente quando é necessário filtrar freqüências indesejáveis. A<br />
seletividade depende do valor do Q (quanto mais alto este valor, maior a seletividade):<br />
A alteração do volume (amplitude) se faz através do controle de volume. Alguns<br />
controles de botão (knob) possuem a opção (quando puxados para fora) de aumentar o<br />
volume da faixa média. 441<br />
Os volumes de cada canal estereofônico podem ser variar um inversamente ao<br />
outro: quando um aumenta, o outro diminui. Isto é feito pelo controle de equilíbrio<br />
(balance). 442<br />
A alteração da fase, ou deslocamento de fase (phase), é uma preocupação no<br />
momento de projetar e instalar equipamento de som, mas é também um resultado<br />
desejado no processamento de som, em que se usam os efeitos de phasing e flanging.<br />
No primeiro caso, deve-se cuidar, por exemplo, de ligar os alto-falantes em fase<br />
uns com os outros. Isto evita que algumas freqüências baixas sejam canceladas.<br />
No segundo caso, o deslocamento de fase é algo desejável, para que se consiga<br />
produzir efeitos sonoros especiais.<br />
441 O controle de volume atua sobre o sinal da entrada ou entre estágios, podendo reduzi-lo a zero. O<br />
controle de ganho, por outro lado, que existe em apenas alguns equipamentos, é capaz de alterar o ganho<br />
de um estágio de amplificação. Em alguns casos, este controle pode ser projetado de modo a fazer com<br />
que o estágio fique sobrecarregado, o que produz distorção no sinal e se torna um efeito especial<br />
desejado.<br />
442 Há um controle semelhante a este, denominado pan control ou panpot (panoramic potentiometer).<br />
Ele controla o sinal mono (monofônico) de cada canal do som estéreo, direcionando-o à esquerda ou<br />
direita.<br />
334
Os principais efeitos são (além dos dois já citados, amplitude e fase): atraso<br />
(delay); eco (echo); coro (chorus); vibrato; reverberação (reverb); flange; pitch/shifting<br />
harmony.<br />
O delay é um pequeno atraso que é provocado entre os dois sinais divididos,<br />
provocando uma duplicação do sinal. 443<br />
O delay pode ser simples, múltiplo, multi-tap e ping-pong.. O efeito simples resulta<br />
da soma do sinal original com o sinal atrasado. O múltiplo é gerado pela reinserção<br />
repetida do sinal atrasado. O delay multi-tap é gerado a partir de um único e longo<br />
delay, o qual é repetido em intervalos diferentes, gerando múltiplas repetições. O delay<br />
ping-pong é obtido direcionando alternadamente cada repetição para os canais<br />
esquerdo e direito da saída de áudio.<br />
O quadro a seguir mostra os tempos em milissegundos para cada tipo:<br />
Quando o atraso do segundo sinal atinge mais do que alguns milissegundos, ouvese<br />
uma repetição definida do som, que é o eco. Se os efeitos desse tipo variam de<br />
forma rápida e aleatória, as alterações de atraso e de altura das notas fazem parecer<br />
como se vários instrumentos estivessem tocando juntos. Este é o efeito de chorus.<br />
O chorus geralmente é produzido em estéreo, usando delays mais longos que o<br />
flanger (10 a 30ms).<br />
O efeito de vibrato resulta das rápidas flutuações de altura causadas pelos circuitos<br />
de delay.<br />
O efeito de reverberação (reverb) resulta das múltiplas repetições de eco, tão<br />
próximas entre si que o cérebro já não consegue distingui-las. A reverberação é um<br />
som contínuo, que enfraquece lentamente.<br />
O objetivo da reverberação é a simulação de um espaço acústico (ambiência). Estes<br />
efeitos são alcançados pela utilização de uma série complexa de delays de um mesmo<br />
sinal que diminuem em amplitude e percepção, de modo a simular o comportamento<br />
acústico de um espaço real.<br />
O geradores de reverberação são classificados em relação ao tipo de espaço<br />
simulado (room type). Os tipos mais comuns são: room, hall, plate e spring.<br />
Os efeitos de phaser e flanging (flanger) surge quando um sinal idêntico é<br />
dividido em dois e cada um é gravado ou reproduzido em equipamento separados, com<br />
deslocamentos de fase de um para o outro.<br />
443 Um único intérprete, por exemplo, parecerá estar tocando em dupla, em uníssono.<br />
335
O efeito de phaser foi criado em gravações analógicas, colocando dois gravadores<br />
em velocidades ligeiramente diferentes um do outro.<br />
Nos sistemas digitais, o flanger é obtido de modo semelhante ao phaser, com<br />
atrasos de 1 a 20ms e um modulador que varia o atraso de um modo regular ou<br />
randômico (aleatório).<br />
O efeito pitch shifiting/harmony (pitch shifters) funciona comprimindo ou<br />
expandindo o sinal que está sendo processado. O pitch shifter é um efeito que muda a<br />
altura de um sinal de áudio em tempo real.<br />
Para transpor um som para cima, o sinal é tocado mais rápido, o que o torna mais<br />
curto. Por isso, é preciso copiar segmentos do sinal processado e adicioná-lo ao sinal<br />
resultante para eliminar a diferença temporal.<br />
Para tornar o som mais grave, o sinal é reproduzido mais lentamente, o que requer<br />
o corte de algumas seções do sinal para diminuir sua duração.<br />
Delays e feedbacks podem ser adicionados para criar uma defasagem em relação ao<br />
sinal original e não deixar um som artificial e uniforme.<br />
O inverso do processo pitch shift é o time stretching, que é o processo de mudar a<br />
velocidade ou duração de um sinal de áudio, sem afetar sua altura (o pitch shift não<br />
altera a velocidade). O modo mais simples de mudar esta duração é pela reamostragem<br />
(resample).<br />
Esta é uma operação matemática que reconstrói uma forma de onda contínua de<br />
suas amostras, e em seguida faz nova amostragem a uma diferente razão (rate). Ao ser<br />
executado na freqüência de amostragem original, o som vai soar mais lento ou mais<br />
rápido (a altura vai variar conforme a velocidade).<br />
GLOSSÁRIO BREVE 444<br />
Ambiência: refere-se ao ambiente onde se executa uma música. Inclui os<br />
parâmetros de potência musical necessária, eco, reverberação, tamanho da sala ou<br />
espaço físico, etc. Pode referir-se também ao espaço acústico original de uma<br />
gravação.<br />
Analog delay: é o atraso realizado em um circuito analógico.<br />
Chorus: é um processo que simula a ação de vários instrumentos musicais em<br />
conjunto.<br />
Delay time: controla o tempo que o buffer vai atrasar o som, ou seja, quanto tempo<br />
irá decorrer entre o sinal original e as repetições.<br />
Delay: é o atraso provocado em um sinal elétrico de entrada.<br />
Densidade: controle que trata da quantidade de reflexões (ecos), estando ligado à<br />
quantidade de superfícies difusoras da sala. Quanto maior a irregularidade dessas<br />
superfícies, maior o número de ecos, e maior a densidade da reverberação.<br />
Depth: mostra a relação entre o delay mínimo e máximo. Por exemplo, 6:1 pode<br />
gerar uma varredura de 1 a 6 ms ou de 3 a 18 ms.<br />
Difusão: usado em conjunto com o parâmetro densidade, este controle trata do<br />
modo de decaimento dos ecos, e por isto está relacionada com as propriedades<br />
acústicas das superfícies da sala. Diz respeito aos tempos de reflexão: salas com grande<br />
difusão apresentam reflexões em intervalos muito irregulares; em salas de baixa<br />
difusão, os intervalos tendem a ser mais regulares.<br />
444 Uma completa enciclopédia sobre todos os termos abordados neste Breve Tratado pode ser<br />
encontrada em Ears: ElectroAcoustic Resource Site, no site http://www.ears.dmu.ac.uk/.<br />
336
Feedback (realimentação): controla a quantidade de sinal atrasado a ser reinjetada<br />
na entrada do efeito. Quanto maior o feedback, maior o número de repetições e o<br />
tempo de decaimento do efeito. Se o feedback é positivo (em fase, acentua harmônicos<br />
pares, som mais metálico) ou negativo (fora de fase, acentua harmônicos ímpares, som<br />
mais "quente").<br />
Filtro passa-baixa : normalmente, em ambientes acústicos reais, as frequências<br />
mais altas são atenuadas nos sons atrasados, e essa atenuação aumenta<br />
proporcionalmente ao número de repetições. A simulação desse efeito é feita usando-se<br />
um filtro passa-baixa, a cada repetição do sinal.<br />
Flanger (flanging): é o efeito pelo qual um sinal fica duplicado, sendo que um<br />
deles recebe um delay ou aceleração; isto provoca uma flutuação do sinal final.<br />
Frequency shifting: é um processo que soma uma constante a todas as freqüências<br />
de entrada. Em geral, isto rompe a relação matemática dos harmônicos, provocando um<br />
som artificial, de timbre metálico. É um processo antigo, de tecnologia analógica, que<br />
não é mais usado.<br />
Oitavador: é o dobramento ou divisão sucessiva do sinal de entrada em oitavas<br />
(para cima e para baixo).<br />
Overdrive: é a saturação de um sinal de entrada. Como a saturação provoca<br />
distorção, quanto maior a saturação, mais distorcido fica o timbre final do instrumento.<br />
Pitch Shifting (pitch scaling): é a multiplicação de todas as freqüências de um<br />
sinal de entrada por uma constante, de modo que a saída tenha o mesmo som, mas a<br />
uma altura mais alta. Alguns algoritmos tentam preservar os formantes do sinal<br />
original.<br />
Pitch: é a mudança de afinação do sinal de entrada, pela elevação ou abaixamento<br />
da altura em intervalos de semitom.<br />
Predelay: controla o tempo (no reverb) que decorre entre o sinal original e os<br />
primeiros ecos (em uma sala real, os primeiros ecos chegam depois do sinal original).<br />
O tempo de predelay (em geral, abaixo de 50 ms) permite determinar o tamanho da<br />
sala: predelay curto para ambientes menores, e longo para simular ambientes maiores.<br />
Rate: controle da velocidade com que o modulador varia a o delay. Por exemplo,<br />
Rate = 0,1 Hz significa que o efeito fará uma varredura de um ciclo a cada 10<br />
segundos.<br />
Reverberação (reverb): é o eco sucessivo provocado em um sinal musical. A<br />
reverberação pode ser controlada. Um reverb mais curto simula uma sala pequena, de<br />
pouca reverberação. O reverb longo simula amplos espaços físicos (onde há maior<br />
reverberação).<br />
Size: é a determinação do tamanho da sala que está sendo simulada pelo efeito<br />
reverb. É dada em volume cúbico.<br />
Tap-tempo: botão (knob) existente em alguns aparelhos, que serve para programar<br />
o tempo de delay em um determinado andamento.<br />
Taxa de modulação : em pitch shifters, determina a frequência da modulação.<br />
Transposição:é um parâmetro básico em pitch shifters. Podem existir dois<br />
controles: a) um harmônico, que permite transposições em passos de um semitom; b)<br />
um ajuste fino, que permite um ajuste em passos menores (em centésimos de tom).<br />
Muitas vezes, os efeitos de pitch shifiting são usados em combinação com outros<br />
efeitos, exigindo controles como feedback, delay e modulação.<br />
Trêmulo (tremolo): é uma variação bem rápida e constante no volume de um<br />
sinal.<br />
337
IV) Instrumentos de medida de áudio:<br />
O osciloscópio é um instrumento que permite a visualização das ondas ou sinais<br />
elétricos, em uma ampla faixa de freqüências, que vão de áudio até altas freqüências.<br />
As formas de onda visualizadas podem ser analógicas ou digitais.<br />
Modelo de osciloscópio moderno:<br />
O medidor VU é um instrumento que permite monitorar o nível de um sinal<br />
elétrico. 445 Há dois tipos, o VU e o PPM. O VU não reage a picos instantâneos de<br />
volume, e por isto é mais usado em sistemas domésticos. O medidor PPM (peek<br />
programme meters), por sua vez, reage a qualquer pico instantâneo, e por isso é mais<br />
usado em modelos profissionais e mesas de mixagem. Os modelos analógicos usam<br />
ponteiro indicador, enquanto que os digitais utilizam leds 446 ou telas LCD.<br />
Modelos de medidores VU:<br />
O VU Meter tem leitura próxima à resposta do ouvido humano e responde ao nível<br />
médio RMS do sinal. Pode medir nível de entrada (Input Level) ou nível de saída<br />
(Output Level).<br />
Há também um VU chamado VU Bargraph. Neste, as barras de indicação se<br />
iluminam na proporção da intensidade do sinal:<br />
445 O VU analógico geralmente tem um mostrador com escala variando de -20 dB até +3 dB. A parte da<br />
escala entre 0 db e +3 db é a faixa de saturação do sinal. A melhor medida, normalmente, é quando o<br />
ponteiro está em 0 dB ou logo abaixo. Entretanto, uma medida de +3 dB nem sempre indica distorção do<br />
sinal, principalmente se for rápida.<br />
446 LED é a abreviação de light emission diode, ou diodo de emissão de luz.<br />
338
Outros aparelhos usados tanto na gravação quanto no processamento de som são os<br />
compressores, limitadores, expansores e noise gates.<br />
Alguns termos em Inglês:<br />
adição de eco echo addition<br />
adição de reverberação reverb addition<br />
armazenagem storage<br />
cancelamento de ruído noise cancellation<br />
compressão de dados data compression<br />
compressão de nível level compression<br />
efeitos sonoros sound effects<br />
equalização equalization<br />
filtragem filtering<br />
realce enhancement<br />
remoção de eco echo removal<br />
remoção de reverberação reverb removal<br />
transmissão transmission<br />
13.1.1 Processadores de dinâmica<br />
Outros equipamentos processadores de dinâmica são os limitadores, compressores,<br />
expansores e pedaleiras<br />
O limitador é um amplificador que tem um ganho variável.<br />
A limitação é um processo usado para reduzir o alcance dinâmico de um<br />
amplificador. Geralmente, é usada para impedir picos de potência repentinos, que<br />
podem causar danos aos ouvidos e até mesmo aos equipamentos. É também a base de<br />
funcionamento dos CAV (controles automáticos de volume) usados em receptores e<br />
para controlar os níveis de gravação.<br />
No controle de limitação (threshold) o ganho é controlado por um circuito que<br />
mede o nível do sinal de entrada. O ganho é linear até que este nível ultrapasse um<br />
valor pré-determinado. Deste modo, assim que o valor é ultrapassado, o ganho é<br />
reduzido instantaneamente, de modo que o sinal de saída permaneça constante. O nível<br />
em que isto ocorre é denominado limiar. Este nível pode ser controlado através de um<br />
controle de limiar. Assim que o nível diminui, o ganho volta ao valor original,<br />
cessando a limitação de sinal. Um controle de liberação (release) determina a rapidez<br />
com que a limitação cessa de agir, sendo que o tempo pode variar de alguns<br />
milissegundos até cerca de 1 a 2 segundos. Se a velocidade for muito rápida, isto pode<br />
ocasionar distorção do sinal.<br />
339
O compressor tanto pode comprimir quanto limitar um sinal. 447 A compressão<br />
ajuda a reduzir variações do nível de saída de vários instrumentos musicais, variações<br />
estas produzidas pelas diferenças entre as notas altas e baixas, entre cordas diferentes,<br />
etc.<br />
A compressão melhora a audibilidade e a qualidade do som, e pode permitir a<br />
sustentação de uma nota sem aumentar a distorção. Como a audição se realiza sobre o<br />
volume médio (intensidades médias) do som, se a dinâmica é pequena e o nível médio<br />
é alto, a sensação é de que o volume total é alto. Para uma dinâmica maior, 448 a<br />
sensação auditiva é de que o volume médio é menor.<br />
O compressor evita que a voz de um cantor seja sobrepujada pelo som dos<br />
instrumentos musicais, 449 mas também ajuda a destacar estes instrumentos.<br />
O compressor possui os mesmos controles que o limitador (limiar e liberação). Ao<br />
contrário do limitador, o compressor não atua no ganho, e sim na razão entrada/saída<br />
do amplificador. Com o sinal abaixo do limiar, esta razão é de 1:1 (ou seja, sem<br />
compressão, a razão entrada/saída é linear); se esta razão é alterada para 2:1, a<br />
voltagem de saída aumenta apenas 0,5 volts para cada aumento de 1 volt na entrada. A<br />
figura a seguir mostra várias razões de compressão, até 10:1. 450<br />
A relação também pode ser dada em decibéis.<br />
Por exemplo, se o limite foi fixado em -10 dB, em uma taxa de 2:1, com um sinal<br />
de entrada de -5 dB (ou seja, 5 dB acima do limiar), a saída fica em -10 + 2,5 = 7,5 dB.<br />
Com uma taxa de 4:1, para o mesmo limiar, com 0 dB de entrada (10 dB acima do<br />
limiar), a saída fica com -10 + 2,5 = 7,5 dB. 451 A taxa de compressão depende do<br />
material (voz e/ou instrumentos musicais) utilizados.<br />
Instrumentos muito percussivos e rítmicos podem exigir maiores taxas (razões) de<br />
compressão. Já os instrumentos de sons mais suaves, como também o canto de voz<br />
suave, exigem baixas taxas de compressão.<br />
O achatamento do nível do sinal de saída é função do threshold, da taxa de<br />
compressão e do nível do sinal de entrada. Se o limite for muito baixo, a redução de<br />
ganho (gain reduction) em níveis altos é maior. Quanto maior for o sinal acima do<br />
limite, maior é a redução do ganho. Em altas taxas de compressão, suaviza-se o efeito<br />
447 Existem os chamados compressores/limitadores de sinal, que executam essas funções em um único<br />
equipamento.<br />
448 Ou seja, quando há grande diferença de intensidade sonora entre os vários momentos de uma<br />
execução musical.<br />
449 Um controle dinâmico simples é feito pelo próprio cantor, quando canta mais perto ou mais longe do<br />
microfone.<br />
450 Uma relação maior que 10:1 tem uma saída tão pequena comparada com a entrada que o<br />
equipamento é considerado um limitador.<br />
451 Os valores são assim encontrados: 5/2 = 2,5 ; 10/4 = 2,5.<br />
340
de transição (evitando o joelho brusco, ou hard knee), fazendo-se uma compressão<br />
progressiva, de modo que a transição seja suave (joelho suave ou soft knee).<br />
Os compressores têm um controle de ganho adicional no circuito de saída, o que<br />
permite que, depois da compressão, o sinal possa ser reforçado em um valor fixo, o que<br />
resulta em um aumento no volume do som. Até atingir o limiar, todos os sinais são<br />
aumentados nesta taxa fixa. Por exemplo, na razão dada de 4:1, com um aumento fixo<br />
de 7,5 dB, todos os sinais são aumentados neste valor. Se o sinal de entrada estiver<br />
entre o limiar e 0 dB, a saída varia suavemente, com valores maiores do que os de<br />
entrada; em 0 dB, compressão e ganho se anulam, e a saída continua em 0 dB. A<br />
compressão começa a partir deste nível (0 dB), ficando os sinais de saída abaixo dos<br />
sinais de entrada. Isto permite um aumento do nível médio de sinal, sem comprometer<br />
o equipamento. Para que os transientes não se percam, eles também recebem um<br />
tratamento especial.<br />
O tratamento de transientes pelo compressor é realizado por um circuito chamado<br />
detector RMS (Root Mean Square), que mede os sinais de entrada e extrai o seu valor<br />
médio. Desta maneira, os transientes, apesar de sua curta duração, 452 não se perdem<br />
(são ignorados pelo compressor), e enriquecem o som ouvido.<br />
Antes de continuar este tema, deve ser visto o que sejam os elementos ou<br />
parâmetros chamados ADSR. 453<br />
Quando uma nota é formada em um instrumento musical, seja através do<br />
pressionamento de uma tecla, a percussão de uma superfície, o dedilhar de uma corda,<br />
ou até mesmo através do sopro, a nota (o seu som) não surge instantaneamente.<br />
Dependendo do instrumento, pode decorrer algum tempo entre o seu início, sua<br />
permanência (ou sustentação) e o seu desaparecimento. ADSR significa attack, decay,<br />
sustain e release, que são os momentos respectivos em que a nota surge inicialmente<br />
com o máximo de intensidade (attack - ataque), perde um pouco de intensidade (decay<br />
- decaimento), se sustenta (sustain - sustentação) e desaparece progressivamente<br />
(release - diminuição): 454<br />
452 Os transientes possuem grande amplitude, mas curta duração, por volta de alguns milissegundos.<br />
453 Este tema será desenvolvido no próximo item.<br />
454 Denomina-se perfil sonoro o tempo de vida de um som, desde o início do ataque até a sua extinção<br />
total.<br />
341
Os compressores podem controlar estes parâmetros, de modo a manter a<br />
“naturalidade” do som. Mas podem também ajudar a realçar tempos de ataque pouco<br />
fortes ou encontrar valores ideais de diminuição. 455 Os parâmetros de ataque e<br />
diminuição podem ser fixos, em alguns compressores mais simples. Os compressores<br />
mais completos incluem, além destes controles, o controle chamado hold (retenção).<br />
O tempo de ataque demora, em compressores analógicos, de algumas centenas de<br />
microssegundos a algumas dezenas de milissegundos. Nos compressores digitais o<br />
tempo de ataque pode ser zero ou até negativo, mas também pode chegar a alguns<br />
segundos. Os tempos de retenção e de diminuição são bem mais longos, podendo<br />
variar de alguns milissegundos até vários segundos.<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Attack (ataque): indica a velocidade com que o compressor deve atuar. 456 A<br />
sensibilidade do compressor depende desta velocidade, sendo proporcional a ela. 457<br />
Compression: efeito de compressão realizado sobre o sinal.<br />
Ganho antes de threshold: alguns compressores podem funcionar como<br />
amplificadores antes do limite ser atingido. Ou seja, o sinal é amplificado até certo<br />
limite, e depois é comprimido.<br />
Hold (retenção): 458 tempo durante o qual o compressor permanece com um ganho<br />
reduzido e constante, após o nível de entrada ter caído abaixo do limiar.<br />
Knee (joelho): determina o tipo de compressão, podendo variar de uma<br />
compressão forte (hard), que é feita bruscamente, ou uma compressão leve (soft), que é<br />
feita de um modo suave.<br />
Ratio (ou compress ratio – taxa ou relação de compressão): é a relação entre o<br />
sinal de entrada e o sinal de saída do compressor. Mostra o ajuste da proporção pela<br />
qual o som deve ser comprimido quando superar o limite estabelecido pelo threshold.<br />
Release (diminuição): indica o tempo que o compressor leva para iniciar a<br />
descompressão, ou seja, voltar gradativamente ao ganho máximo.<br />
Side chain: O compressor é composto por um amplificador de ganho controlável<br />
pela tensão (VCA) e um detector (o side chain) que, a partir do sinal de entrada, gera<br />
essa tensão. Quanto maior o sinal de entrada, maior a tensão gerada, e menor o ganho<br />
do amplificador. O detector é um circuito que opera lado a lado com o VCA.<br />
Slow attack: ataque lento.<br />
Threshold (limite ou limiar): indica o limite a partir do qual o compressor passa a<br />
funcionar. Estabelece o limite máximo que o sinal pode atingir.<br />
Expansores (expanders) são aparelhos que aumentam dinâmica. 459 Eles fazem o<br />
contrário dos compressores, ou seja, dão altas variações de saída para pequenas<br />
variações de entrada.<br />
455<br />
Uma diminuição demorada faz com que os sons finais fiquem muito baixos, pela diminuição da<br />
sustentação, mas uma diminuição rápida pode provocar flutuações de intensidade. Além disso, a<br />
diminuição deve ser curta o suficiente para que o compressor se recupere entre notas sucessivas. Para<br />
ataques muito fortes, usa-se um tempo maior de diminuição. O ganho se reduz rapidamente com o<br />
ataque, e volta ao normal lentamente, devido à lenta diminuição.<br />
456<br />
Ou seja, é o tempo que demora para detectar o nível do sinal de entrada e fazer a compressão<br />
correspondente.<br />
457<br />
Quando a compressão é muito forte, ocorrem estalidos (cliques) no som.<br />
458<br />
Nem todos os compressores possuem este parâmetro.<br />
459<br />
O nível dos sons fracos fica mais distante do nível dos sons fortes.<br />
342
Neste caso, o threshold é o limiar a partir do qual o expansor trabalha; entretanto,<br />
são os valores abaixo desse limiar que mudam. A relação de expansão também é<br />
trocada, sendo que o primeiro número, agora, se torna menor que o segundo.<br />
A principal função de um expansor é trabalhar como noise gate, ou seja, como<br />
controlador de ruídos e outros sons fracos captados pelo sistema. 460<br />
O processamento da dinâmica também pode ser feito através de pedaleiras.<br />
As pedaleiras modernas utilizam amostragem (sampling) de 96 kHz, o que provê<br />
uma resposta de freqüência plana entre 40 Hz e 20 kHz. Graças a uma conversão<br />
analógico/digital (A/D/A) de 24 bits, a faixa dinâmica também é excelente. Como são<br />
muito usados os amplificadores valvulados, que possuem uma riqueza de harmônicos,<br />
as características descritas permitem conservar a fidelidade sonora.<br />
As pedaleiras modernas também usam processadores e decodificadores DSP<br />
(Digital Signal Processor – Processador Digital de Sinal), com arquitetura de 32<br />
bits. 461 Utilizam equalização Lo, Mid e Hi. A relação sinal/ruído (SNR – Signal Noise<br />
Relation) chega a 110 dB.<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Arena: uma das programações de ambiência de uma pedaleira.<br />
Auto wah: variação automática do wah-wah.<br />
Banco (Bank): é um conjunto de patches. Os bancos e patches são selecionados<br />
com os pedais da direita e da esquerda.<br />
By-pass: estado no qual o sinal que entra no ZOOM sai sem nenhuma modificação.<br />
O bypass “desliga” temporariamente os efeitos. Ele é acionado apertando os dois<br />
pedais ao mesmo tempo.<br />
Combo: é a combinação de dois equipamentos em um só.<br />
De-esser: um equalizador ou filtro inserido na entrada da side chain responderá<br />
mais às freqüências realçadas e menos às que forem atenuadas. Se o filtro inserido<br />
realçar as freqüências no início da faixa de agudos, o compressor só atuará nessa<br />
região, permanecendo sem compressão nas demais freqüências. Como é nesta região<br />
que situam-se os cicios (“ssssss”) da voz, estes serão atenuados, sem prejuízo dos<br />
demais fonemas. Este compressor especial é chamado de-esser.<br />
460 O expansor também pode ser usado para melhorar o sinal de alguns instrumentos, principalmente<br />
aqueles nos quais o único som que importe seja o do ataque. A bateria, por exemplo, deve ser ouvida<br />
apenas no momento da percussão. O resto do som deve ser abafado, para não ficar ressoando. O uso de<br />
um expansor de limite alto faz com que só o nível de ataque seja escutado, e seja cortado o som<br />
ressonante que vem em seguida.<br />
461 Os microprocessadores evoluíram de uma arquitetura de 4 bits (na década de 1970) para uma<br />
arquitetura atual de até 64 bits. Naturalmente, a capacidade de processamento e arquivamento em<br />
memória evoluiu em uma proporção fantástica, de 2 4 para 2 64 .<br />
343
Ducker (ducking): é o processo pelo qual um sinal é usado para comprimir outro.<br />
Isto é usado em estúdios de rádio ou TV para abaixar o volume da música no momento<br />
em que o locutor começa a falar. Para ser feito, a voz do locutor vai para um<br />
compressor, mas sem “ir ao ar”. A saída de side chain deste compressor é ligada à<br />
entrada de side chain de outro compressor, pelo qual passa a música. A voz do locutor<br />
gera uma tensão de controle que age no outro compressor, o qual atenua o som da<br />
música, deixando sobressair a voz do locutor. 462<br />
Ensemble: conjunto, grupo. Pequeno agrupamento de intérpretes, que pode<br />
englobar instrumentistas e cantores.<br />
FDN (feedback delay network): método usado para simular a reverberação.<br />
Hall: uma das programações de ambiência de uma pedaleira.<br />
Input gain: ganho (do sinal) de entrada.<br />
Mute: O estado de mute (sem som) é acionado apertando os dois pedais por mais<br />
de um segundo.<br />
Patch (pedaço, remendo): é uma lista pré-programada de efeitos. Cada patch<br />
representa um conjunto de até dez tipos de efeitos no som (módulos) ao mesmo tempo.<br />
A pré-seleção do patch é feita ligando o ZOOM com o pedal apertado. Com isso,<br />
o patch selecionado com os pedais só será acionado depois que os dois forem apertados<br />
ao mesmo tempo.<br />
Pedal: a pedaleira é composta de dois pedais, esquerdo e direito .<br />
Pedal tuner: Um pedal que se usa para afinar instrumentos.<br />
Presets (preset): pré-fixados, pré-ajustados; pré-fixar.<br />
Room: uma das programações de ambiência de uma pedaleira.<br />
Spring: uma das programações de ambiência de uma pedaleira.<br />
Tape Echo: um método antigo de produzir efeitos de eco, através de loops em uma<br />
fita de áudio.<br />
Tiled Room: uma das programações de ambiência de uma pedaleira.<br />
Wah-wah (wahwah): é uma palavra imitativa (onomatopáica) do som de alteração<br />
da ressonância de notas musicais como se fossem duas sílabas seguidas: uá-uá. Além<br />
do controle de pedal para guitarra elétrica, 463 este efeito pode ser usado também com<br />
trompetes e trombones.<br />
13.2 A síntese do som<br />
O processo de síntese penetra no próprio cerne da constituição formal do sinal<br />
musical, em sua realidade físico-matemática. A análise matemática descobriu (análise<br />
esta realizada pelo matemático francês Fourier) que todo sinal complexo é constituído<br />
por uma soma de sinais periódicos senoidais. A síntese, partindo desses sinais, seja por<br />
adição ou por subtração de sinais, procura tanto reconstituir os sinais sonoros de<br />
instrumentos musicais conhecidos, como também criar sons incomuns, jamais ouvidos.<br />
A composição eletrônica permite colocar sob controle do músico todas as<br />
especificações ou parâmetros relacionados com o som. Além da freqüência (altura),<br />
volume (intensidade), duração, timbre e audibilidade (loudness), ele pode também<br />
modificar outros fatores, tais como:<br />
462<br />
Os tempos de ataque e de diminuição devem ser relativamente longos para que a operação se dê de<br />
um modo suave.<br />
463<br />
Um tipo muito conhecido de controle wah-wah de pedal é o Jim Dunlop Cry Baby (ou Crybaby).<br />
344
• vibrato (variação lenta da freqüência central de uma nota),<br />
• trêmulo (variação lenta da amplitude da freqüência de uma nota),<br />
• portamento ou glissando (variação contínua de freqüências entre duas notas, e<br />
que passa por todas as freqüências intermediárias).<br />
Mas, principalmente, o compositor tem sob o seu controle a própria estrutura da<br />
forma de onda que constitui a nota musical, com o seu timbre característico. Este<br />
controle pode ser realizado com o denominado gerador de envelope ou gerador de<br />
envoltória, o qual, por assim dizer, dá forma a um complexo de ondas senoidais<br />
simultaneamente presentes em um determinado ponto.<br />
Envolvente, envelope ou envoltória é a curva que descreve a variação da<br />
intensidade em relação ao tempo, do comportamento sonoro das ondas musicais, e que<br />
é constituída pelos períodos de ataque, queda, sustentação e amortecimento.<br />
O gerador de envoltória, de início, possuía somente os estágios ou segmentos de<br />
ataque (attack) e amortecimento (release):<br />
Posteriormente foram acrescentados os estágios de decaimento ou queda (decay) e<br />
sustentação ou permanência (sustain), como mostrados a seguir (alguns modelos mais<br />
sofisticados de controle possuem até oito estágios):<br />
Estes equipamentos de controle de envelope, ou envoltório, são mais conhecidos<br />
pela expressão ADSR (attack, decay, sustain, release), e fazem parte do sistema básico<br />
da síntese do som. 464<br />
O controlador de envoltória, conhecido como gerador de envelope, é, na síntese<br />
do som, a unidade responsável pela manipulação do tempo. Para que se possa<br />
compreender isto, deve-se saber como é o comportamento das notas musicais, em<br />
relação à envoltória (envelope). O violino, por exemplo, quando o arco começa a<br />
deslizar sobre a corda, o som leva uma fração de segundo tanto para surgir, enquanto a<br />
corda é arrastada pelo arco (deve-se lembrar que aqui há uma mescla, constituída pelo<br />
som da nota e pelo ruído do arco ao atingir a corda), quanto para atingir a intensidade<br />
máxima. Além disso, assim que o arco é retirado o som ainda continua sendo ouvido<br />
(amortecendo rapidamente) devido a que as cordas continuam vibrando e reverberando<br />
no corpo do violino. No caso do órgão eletrônico, o som desaparece logo em seguida à<br />
retirada do dedo da tecla (permanece apenas a memória auditiva).<br />
464 E de seu processamento dinâmico, como já se viu.<br />
345
O gerador de envelope controla a unidade de saída, e com isto a quantidade de<br />
harmônicos presentes na saída, e que vão conformar ou caracterizar o timbre ou<br />
coloração tonal desejada; desta maneira, é possível reproduzir qualquer tipo de timbre,<br />
e até mesmo criar timbres incomuns.<br />
PARÂMETROS BÁSICOS<br />
Start-time: início do tempo em segundos.<br />
Duration: duração da nota em segundos.<br />
Frequency: freqüência da nota em Hertz.<br />
Amplitude: amplitude da nota (entre 0 e 1).<br />
Amp-env: amplitude do envelope. Uma lista de coordenadas de valor/tempo que<br />
determina a evolução da audibilidade através do tempo.<br />
Hard Cliping: quando o ataque é ceifado.<br />
Index-env: modulação do envelope. Uma lista de coordenadas de valor/tempo que<br />
determina a evolução da modulação do envelope no tempo.<br />
Index: índice de modulação.<br />
Soft cliping: quando o ataque não é ceifado, e sim arredondado.<br />
A formação do timbre é uma etapa extremamente importante na simulação artificial<br />
dos sons característicos dos diversos instrumentos musicais.<br />
O timbre pode ser dividido em dois grupos de freqüências: as fundamentais, que<br />
determinam o alcance de afinação de um instrumento, e os harmônicos, que<br />
determinam a qualidade sonora, ou timbre propriamente dito. 465<br />
Tabela do alcance das freqüências fundamentais de alguns instrumentos<br />
INSTRUMENTOS FUNDAMENTAIS HARMÔNICOS<br />
Baixo 41 – 300 Hz 1 – 7 kHz<br />
Guitarra 82 – 1300 Hz 1 – 4 kHz<br />
Piano 28 – 4180 Hz 5 – 8 kHz<br />
Pratos 300 – 560 Hz 1 – 15 kHz<br />
Violão 41 – 280 Hz 1 – 15 kHz<br />
Violino 196 – 3120 Hz 4 – 15 kHz<br />
A análise que determina a composição harmônica é realizada e visualizada pelo<br />
chamado analisador de espectros 466 (um aparelho que se assemelha ao osciloscópio.<br />
Mas há também analisadores de espectro virtuais, que são softwares específicos para<br />
computadores, e que realizam esta função). A figura a seguir é um exemplo de<br />
resultado gráfico de análise harmônica:<br />
465<br />
Como já se sabe, um dos fatores mais importantes na determinação da coloração tonal é a<br />
denominada composição harmônica do som.<br />
466<br />
No ouvido humano, a análise espectral do som é feita pela cóclea.<br />
346
A composição harmônica do som mostra que os instrumentos musicais se<br />
distribuem basicamente em três grupos ou categorias, que englobam praticamente<br />
todos os tipos.<br />
A primeira categoria inclui os sons compostos por uma freqüência fundamental de<br />
nível elevado, com uma pequena quantidade de harmônicos cuja intensidade decresce<br />
rapidamente com o aumento da freqüência. Esta conformação de onda produz sons<br />
claros e suaves, típicos das flautas e instrumentos assemelhados. O espectro de<br />
freqüências 467 é mostrado a seguir:<br />
Na segunda categoria, a uma freqüência fundamental estão associados vários<br />
harmônicos de nível quase igual. Esta conformação produz um som brilhante e<br />
delicado, típico dos instrumentos de corda:<br />
Na última categoria, certos harmônicos são enfatizados em relação à fundamental,<br />
o que dá um som que pode ser vibrante, ou então meio abafado. Nesta categoria estão,<br />
por exemplo, o oboé e o clarinete (a figura mostra também as formas de onda<br />
características de cada instrumento):<br />
Como já foi visto, formantes são picos de energia em uma região do espectro<br />
sonoro, fazendo realçar os parciais que se encontram nessa região de ressonância. Eles<br />
são um fator importante na caracterização do timbre de alguns instrumentos. Enquanto<br />
o espectro de cada nota de um instrumento pode variar consideravelmente com a<br />
altura, as regiões dos formantes permanecem estáveis, seja qual for a frequência da<br />
467 Que surge da análise feita por um aparelho eletrônico chamado analisador de espectros, que se<br />
assemelha ao osciloscópio. Mas há também analisadores de espectro virtuais, que são softwares<br />
específicos para computadores, e que realizam esta função.<br />
347
nota. Deste modo, os formantes são como uma espécie de assinatura de uma<br />
determinada fonte sonora. A caixa de ressonância de instrumentos como o piano e a<br />
maioria dos instrumentos de corda possui regiões de formantes específicas, as quais<br />
modulam as vibrações geradas pelas cordas e com isso alteram o espectro do<br />
instrumento.<br />
Quando um espectro qualquer é modulado (multiplicado) pelo formante da caixa de<br />
ressonância do instrumento, o espectro de onda resultante segue o envelope do<br />
formante (o último gráfico mostra a forma de onda final): 468<br />
As frequências (em Hz) dos dois primeiros formantes para alguns instrumentos de<br />
sopro são dadas na tabela a seguir:<br />
Instrumento 1º. Formante (Hz) 2º. Formante (Hz)<br />
Clarinete 1.500 - 1.700 3.700 - 4.300<br />
Corne-inglês 930 2.300<br />
Fagote 440 - 500 1.220 - 1.280<br />
Flauta 800 -<br />
Oboé 1.400 3.000<br />
Trombone 600 - 800 -<br />
Trompa 400 - 500 -<br />
Trompete 1.200 - 1.400 2.500<br />
Tuba 200 - 400 -<br />
13.2.1 A síntese eletrônica<br />
A síntese eletrônica propriamente dita pode ser feita de várias maneiras:<br />
a) Síntese por Fourier, que pode ser:<br />
a1) Aditiva: várias senóides (uma fundamental e os seus harmônicos ou várias<br />
freqüências sem quaisquer relações harmônicas entre si) são misturadas até se<br />
conseguir o sinal complexo desejado. O processo por síntese aditiva permite um maior<br />
controle da distribuição de freqüências (espectro de freqüências), bem como qualquer<br />
combinação de timbre, altura ou envolvente. Neste processo, uma onda complexa é<br />
formada pela adição de certo número de freqüências senoidais puras:<br />
468 Naturalmente, qualquer processo de síntese de som instrumental deve levar em consideração estes<br />
parâmetros.<br />
348
Para se conseguir a síntese de um único som são necessários pelo menos 38<br />
geradores de freqüências, ou osciladores, sem o que não se consegue criar o timbre<br />
desejado. A síntese por adição é um processo mais complicado que o processo de<br />
síntese por subtração, mas é um processo mais preciso.<br />
a2) Subtrativa: neste caso, uma onda complexa é passada por filtros de separação<br />
de freqüência, até se conseguir a forma de onda desejada. Este processo é mais<br />
utilizado na sintetização analógica por pulsos (PAS ou Pulse Analog Synthetising ou<br />
Sistema de Sintetização Analógica por Pulsos), um método usado em órgãos<br />
eletrônicos.<br />
O processo por síntese subtrativa será utilizado para a descrição de um sintetizador<br />
(em sua configuração básica):<br />
O teclado (keyboard controller) é um teclado eletrônico musical 469 que pode<br />
alcançar até cinco oitavas, e é projetado de modo a que cada tecla possa gerar um nível<br />
próprio de voltagem de controle, diferente do nível gerado pelas outras teclas, sendo<br />
que os graves geram níveis mais baixos que os agudos. A voltagem gerada pela tecla<br />
controla a altura da freqüência que é gerada pela unidade denominada VCO (voltagecontroller<br />
oscillator), que é um oscilador de freqüência; a sua freqüência e a forma de<br />
onda são controladas pela quantidade de voltagem que recebem do teclado, quantidade<br />
esta que resulta da maior ou menor pressão sobre a tecla ou da velocidade com que é<br />
tocada.<br />
O teclado gera também um sinal de controle (gate), o qual informa aos geradores<br />
de envoltória (ADSR) se uma tecla está sendo ou não pressionada. Os geradores de<br />
envoltória, por sua vez, controlam a unidade denominada VCF (voltage-controller<br />
filter), que é um filtro controlado por voltagem. Este filtro é do tipo passa-baixo (lowpass),<br />
o que significa que ele filtra as freqüências altas (acima do ponto de corte),<br />
deixando as mais baixas passarem. Como uma composição harmônica (ou espectro<br />
469 O teclado eletrônico digital tornou-se, por si mesmo, um instrumento musical específico.<br />
349
harmônico) é influenciada pelo número de freqüências presentes, isto significa que,<br />
conforme o ponto de corte de freqüências, mais ou menos harmônicos estarão<br />
presentes na saída do filtro. Esta saída é aplicada à unidade denominada VCA (voltagecontroller<br />
amplifier), um dispositivo amplificador que, por sua vez, tem o valor de<br />
amplificação (ganho) alterado em função do sinal de controle que recebe do ADSR.<br />
A unidade denominada LFO (low-frequency oscillator) é um oscilador de<br />
baixíssima freqüência (de 1/60 Hz a 20 Hz), com o qual se pode modular o VCO, o<br />
VCF e o VCA. Esta modulação permite produzir certos efeitos de som, tais como<br />
vibrato, trêmulo, trinado, reverberação, ou até o efeito de multiplicação de vozes ou<br />
instrumentos, denominado coro (chorus).<br />
As notas sintetizadas podem ser reproduzidas de imediato ou armazenadas em um<br />
dispositivo denominado seqüenciador (sequencer). 470 A seqüência gravada pode ser<br />
reproduzida com total fidelidade, ou então copiada, juntada com outras seqüências, ou<br />
então partes de várias seqüências podem servir para criar uma outra seqüência<br />
totalmente diferente.<br />
Antes de passar a outros processos de síntese digital de sons, é conveniente ver as<br />
formas de modulação.<br />
Formas de modulação:<br />
1) Modulação em amplitude (AM – amplitude modulation). 471<br />
A onda modulada em amplitude tem sua amplitude proporcional ao valor<br />
instantâneo do sinal modulante: 472<br />
2) Modulação em freqüência (FM – frequency modulation).<br />
A onda modulada em freqüência tem freqüência instantânea proporcional ao valor<br />
instantâneo do sinal modulante:<br />
470 Um sequenciador é um software usado em gravações de músicas. Ele permite que o executante,<br />
tocando vários instrumentos (guitarra, teclado, etc.) em momentos diferentes, consiga misturá-los<br />
utilizando o sequenciador, imitando um conjunto musical.<br />
471 É um processo idêntico ao batimento de freqüências.<br />
472 Em razão da simetria do sinal modulado, foi criado um tipo de modulação que aproveita apenas uma<br />
das faixas (ou bandas) laterais: é a modução SSB (single side band, ou banda lateral simples). Mas esta<br />
modulação não é usada para os objetivos vistos neste texto.<br />
350
3) Modulação em fase (PM – phase modulation). 473<br />
A onda modulada em fase tem fase instantânea proporcional ao valor instantâneo<br />
do sinal modulante:<br />
b) Síntese por Freqüência Modulada (FMS – Frequency Modulation Synthesis<br />
ou Síntese por Freqüência Modulada): neste processo, uma senóide é controlada por<br />
outra, e a gama de harmônicos (da qual resulta o timbre, ou coloração tonal) 474 é<br />
determinada pela diferença de freqüência entre as duas senóides, bem como pelo nível<br />
de modulação. 475 A síntese digital de som por meio da modulação de freqüência (FM)<br />
pode ser usada para processar sinais de áudio em tempo real. Esta é uma aplicação do<br />
efeito Doppler, o qual pode ser visto como um caso particular de modulação em<br />
freqüência (FM). O efeito Doppler pode ser obtido usando o atraso (delay), com o uso<br />
de linhas de atraso variável. 476<br />
c) Síntese por formatação de onda (WSS - Wave-shaping Synthesis): como o<br />
timbre de uma forma de onda está associado ao número de harmônicos, se uma forma<br />
de onda for passada por um elemento não linear, novos harmônicos serão criados.<br />
Quando um sinal senoidal é aplicado a um sistema não linear (que pode ser um<br />
amplificador, por exemplo), este sinal aparece distorcido na saída do sistema, deixando<br />
de ser senoidal. 477 Como todo sinal distorcido é um sinal complexo, cujo espectro de<br />
freqüências contém, além da fundamental (o sinal puro, senoidal e linear aplicado à<br />
entrada do sistema), existem agora outras freqüências, em relação harmônica com a<br />
freqüência fundamental. Através de um processamento matemático (denominado<br />
polinômio de Chebishev), podem ser determinados os componentes desejados de<br />
freqüências.<br />
473 FM e PM são denominadas modulações angulares. Note-se a semelhança das formas de onda.<br />
Matematicamente, a onda FM tem variações de fase proporcionais à integral do sinal modulante. Já a<br />
onda modulada em fase tem variações de freqüência proporcionais à derivada do sinal modulante.<br />
474 A síntese por FM não resulta em um som satisfatório, e por isto é pouco utilizada.<br />
475 A modulação é o mesmo que batimento de freqüências, só que em freqüências mais elevadas.<br />
476 A primeira implementação desse tipo foi feita por John Chowning, em 1973. Veja-se, a respeito, o<br />
artigo de Sérgio Freire, Implementação da Síntese FM, que se pode baixar em<br />
http://www.cefala.org/sbcm2005/papers/12381.pdf.<br />
477 A síntese por técnicas de distorção pode ser realizada por modulação FM, por waveshaping e por<br />
síntese granular.<br />
351
A técnica waveshaping, também conhecida como distorção não-linear e<br />
processamento não-linear, foi usada inicialmente por Jean-Claude Risset em 1969.<br />
Tornou-se mais conhecida depois que seus princípios teóricos foram publicados em<br />
artigos técnicos de Daniel Arfib, James Beauchamp e Marc Lebrun (que às vezes é<br />
apresentado equivocadamente como o seu criador). A síntese por modulação e<br />
waveshaping utiliza os processos de ring modulation, amplitude modulation e<br />
frequency modulation.<br />
Um dos métodos utilizados para a síntese digital de som que usa os processos dos<br />
sistemas dinâmicos não-lineares (NLD – Non-Linear Dynamic) é o método FracWave,<br />
que utiliza um controle paramétrico de funções não-lineares para a síntese de sons<br />
através de processos recursivos. Neste processo, seqüências numéricas que são<br />
produzidas por equações não-lineares são amostradas e armazenadas em um buffer,<br />
sendo utilizadas como tabelas de consulta (DW - dynamic wavetable). 478<br />
d) Síntese por Tabela de Ondas (WTS – Wavetable Synthesis): consegue-se esta<br />
síntese simplesmente tocando segmentos de áudio digital para produzir um som<br />
realístico de um instrumento ou som sintético. Os segmentos de áudio são armazenados<br />
como uma tabela de formas de onda (previamente gravadas), e tocadas a diferentes<br />
velocidades para produzir alturas diferentes de cada nota musical. Na tabela de ondas,<br />
cada forma de onda possui uma região de loop (repetição constante). Esta região tem<br />
início depois que o segmento de attack do áudio digital tenha tocado e repete-se<br />
enquanto a nota é sustentada (tocada). Então, o segmento release do áudio digital<br />
completa a nota. Envelopes e moduladores são frequentemente combinados com a<br />
síntese AM para dar alguma variedade ao sinal, que é um pouco repetitivo.<br />
e) Síntese por defasagem, que é uma combinação dos processos de sintetização<br />
por FM e por formatação de onda.<br />
f) Síntese por amostragem, processo já visto.<br />
g) Síntese por Aritmética Linear (LAS – Linear Arithmetic Synthesis): Este é um<br />
processo que combina as sínteses subtrativa, por FM e por amostragem. A produção de<br />
um timbre é feita por quatro módulos sintetizadores completos, que fornecem formas<br />
478 O método FracWave está ligado aos processos de síntese que se vinculam à análise de Fourier.<br />
Maiores informações podem ser encontradas em: A NON-LINEAR SOUND SYNTHESIS METHOD -<br />
Jônatas Manzolli, Furio Damiani, Peter Jürgen Tatsch e Adolfo Maia Jr., em<br />
http://gsd.ime.usp/wsbcm/2000/papers/manzolli.pdf. Também em: Sistemas Dinâmicos Não-Lineares<br />
aplicados ao Design Sonoro - Marcelo Albejante Hoffmann e Jonatas Manzolli, em<br />
http://www.proceedings.scielo.br/pdf/smct/n1/n1a08.pdf.<br />
352
de onda tradicionais ou amostras ((sampler). O timbre sintetizado pode receber o<br />
acréscimo de efeitos digitais, tais como realce, atenuação ou apagamento de<br />
freqüências (efeito de equalização); reverberação ou eco; atraso ou retardo de<br />
freqüências (delay); etc. Os sons distintos podem ser editados (mixados, filtrados,<br />
modulados, etc.), podendo originar as mais diferentes e complexas estruturas sonoras<br />
que o compositor desejar.<br />
h) Síntese por desenho da forma de onda. Neste processo de síntese, faz-se o<br />
desenho da forma de onda desejada em uma mesa especial 479 chamada UPIC (o<br />
esquema a seguir é o processo mais antigo):<br />
Equipamento utilizado modernamente:<br />
O UPIC pode ser usado para desenhar ondas, envelopes (envoltórias), compor uma<br />
página ou fazer mixagens.<br />
479 Esta é uma invenção do CEMAMU (CENTER OF EDUCATION IN MATHEMATICS AND<br />
AUTOMATION OF MUSIC - http://www.synrise.de/docs/types/c/cemamu.htm), um centro de<br />
composição musical criado pelo compositor Xenakis.<br />
353
O próprio computador pode ser usado para elaborar sinais complexos, impossíveis<br />
de serem desenhados a mão livre (o sinal é definido ao se gerar uma versão com<br />
amostragem de 50.000 Hz, ou 50.000 amostras por segundo, em um computador que<br />
usa probabilidades pré-fixadas):<br />
A modelagem de formas complexas é uma parte da matemática chamada Modelagem<br />
Geométrica, cujas contribuições mais conhecidas são as curvas de Bezier, as b(asic)splines<br />
e o algoritmo de Boor. A modelagem utilizando as curvas de Bezier pode<br />
chegar a graus muito elevados, dificultando o processamento. Assim, usa-se uma<br />
seqüência de curvas de grau menor, denominada spline, para modelar a mesma forma<br />
complexa. Este método permite que se edite apenas partes da curva, sem alteração do<br />
restante da mesma.<br />
i) Síntese de Som 3D. Este processo baseia-se em um banco de sons do<br />
sintetizador, ou em amostras de som armazenadas. Cada amostra de som é associada a<br />
um objeto que caracteriza um determinado som; esta é uma fonte sonora (a fonte<br />
sonora é o objeto que caracteriza o som). A fonte sonora permite classificar uma<br />
hierarquia de classes de objetos, que herdam as características da classe de objetos<br />
base. Três classes podem ser derivadas: a fonte sonora impulsiva; a fonte sonora<br />
cíclica; a fonte sonora de altura variável.<br />
A primeira modela as característica da fonte sonora que reproduz a amostra uma<br />
única vez (por exemplo, uma explosão).<br />
A segunda modela as características da fonte sonora que reproduz a amostra<br />
enquanto esta estiver ativada (é o caso, por exemplo, de uma buzina).<br />
Da terceira podem ser derivadas duas outras, que permitem implementar algoritmos<br />
que alteram a altura e a intensidade do som produzido, com base nos diferentes<br />
fenômenos que modelam. Assim, sons característicos de fricção, turbulência ou que<br />
354
esultam do deslocamento sobre um tipo de superfície ou em um meio qualquer podem<br />
ser implementados.<br />
j) Síntese granular. O conceito básico da síntese granular é o quantum sonoro,<br />
tal como foi apresentado pelo físico húngaro Dennis Gabor. Para ele, todos os<br />
fenômenos sonoros seriam baseados na combinação de unidades indivisíveis de<br />
informação. A distinção entre um clique e uma unidade sonora somente ocorre se esta<br />
tiver uma duração superior a 1 ms.<br />
Segmentos sonoros encadeados em seqüência seriam percebidos como uma textura<br />
sonora contínua, exceto se a duração de cada segmento excedesse a 100 ms.<br />
A síntese granular é feita pela combinação de uma grande quantidade de grãos,<br />
cuja duração é inferior a 50 ms. O quantum sonoro, então, é um aglomerado ou<br />
superposição de massas sonoras, que são chamadas de eventos sonoros.<br />
Esses eventos podem ser criados a partir de qualquer tipo de forma de onda<br />
senoidal ou complexa, ou de um sinal gerado por síntese FM, ou então, de uma<br />
amostra digital (sample). A manipulação dos parâmetros básicos destes eventos traz<br />
como resultado enormes variações na textura final.<br />
A sintetização de um grão sonoro pode ser feita a partir de uma operação de<br />
envelopamento, na qual se multiplica o sinal por uma envolvente que tenha entre 1 ms<br />
e 100 ms. A função proposta por Gabor, e que se tornou a mais utilizada, é a função<br />
gaussiana:<br />
A composição espectral que surge do envelopamento de um sinal pode ser vista na<br />
figura a seguir, sendo que a figura final é o grão sintetizado:<br />
Quando se visualiza a composição do sinal em sua freqüência e o modo como ela<br />
varia ao longo do tempo, pode-se perceber a formação (gráfica) de cada grão,<br />
percebendo-se que cada um é formado por grande quantidade de pontos: 480<br />
480 Um som qualquer exige a soma de centenas ou milhares de grãos sonoros.<br />
355
Assim, a introdução ou a retirada de pontos (por meio de softwares específicos)<br />
implica na alteração da quantidade de grãos, o que, por sua vez, modifica a sonoridade.<br />
Os parâmetros de controle do processo de síntese granular são: amplitude<br />
(intensidade); freqüência (afinação); densidade (quantidade de grãos por segundo);<br />
tamanho (duração do grão); tempo de ataque e decaimento (envelope); espectro<br />
harmônico (timbre). A forma de onda do grão irá depender destes parâmetros.<br />
As partículas de sons, ou grãos sonoros, podem estar já gravadas ou sintetizadas, e<br />
podem ser arranjadas de diversas maneiras. Os grãos sonoros podem ser percebidos<br />
como pontos, nuvem de pontos, rugosidades ou como linhas.<br />
A composição individual de cada grão é feita através da modulação em frequência<br />
(FM), que se pode fazer reiteradamente (a portadora é modulada; a resultante é<br />
novamente modulada; etc). 481<br />
A música granular, então, está relacionada com as técnicas granulares de<br />
síntese/ressíntese. 482<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Brassage: procedimento de fatiar um som em uma série de segmentos, que são em<br />
seguida juntados novamente.<br />
Glitch (interferência, defeito, imperfeição): estruturação e manipulação de<br />
pequenos defeitos sonoros (cliques).<br />
Grão: refere-se a uma pequena partícula ou porção de som, que pode ser<br />
combinada com outras para criar outros sons ou eventos sonoros de maior<br />
complexidade ou de maior duração.<br />
Microsom: é a concepção e a representação do som como partícula. Na definição<br />
de Curtis Roads, 483 significa uma micro-escala temporal, escala esta que abrange desde<br />
o umbral da percepção do timbre (centenas de microsegundos) até a duração de objetos<br />
sonoros de breve duração (cerca de 100 ms).<br />
Síntese/Ressíntese Granular: a síntese granular baseia-se no princípio da síntese<br />
de amplitude. Além da síntese direta de grãos, os sons acústicos também podem ser<br />
“granulados”, com parâmetros de altura e tempo separados.<br />
k) Síntese vetorial (VS - Vector Synthesis): 484 é uma técnica de modificação de<br />
forma de onda que usa um processo de atenuação cruzada (crossfader). É feita com um<br />
joy-stick que controla quatro formas de onda em um quadrado. Quando se move para<br />
um dos cantos do quadrado, a forma de onda correspondente torna-se a dominante, e as<br />
outras são atenuadas. Quando o joy-stick está no centro do quadrado, uma combinação<br />
linear das formas de onda é produzida.<br />
481<br />
Há um software shareware chamado Granulab, cujo download pode ser feito no site<br />
http://hem.passagen.se/rasmuse/Granny.htm. Maiores informações sobre a síntese granular podem ser<br />
vistas no site http://acd.ufrj.br/lamut/cropsite/cc00/cc00e.htm.<br />
482<br />
Um dos primeros compositores a usar esta técnica foi o norte-americano Curtis Roads, em sua obra<br />
Prototype (1975). Mais recentemente, o compositor Barry Truax também se dedicou a esta técnica.<br />
483<br />
Originalmente ligado à obra do compositor Iannis Xenakis, este termo está atualmente ligado à obra<br />
do compositor Curtis Roads.<br />
484<br />
Maiores informações sobre este e os próximos métodos de síntese podem ser encontradas no site<br />
http://www.cim.mcgill.ca/~clark/nordmodularbook/nm_book_toc.html.<br />
356
O fade (atenuação) indica um aumento ou diminuição gradual no volume de áudio de<br />
uma fonte sonora. Uma canção pode ser gradualmente reduzida ao silêncio em seu<br />
término (fade-out) ou pode ser aumentada gradualmente do silêncio inicial (fade-in). A<br />
operação (fader) pode ser executada através de um botão (knob) rotatório ou girante,<br />
ou um controle deslizante. O fader pode ser analógico (quando controla a resistência<br />
ou a impedância da fonte) ou digital, quando controla um DSP (Digital Signal<br />
Processor – Processador Digital de Sinal). Um crossfader funciona essencialmente<br />
como dois faders conectados lado a lado, mas com controles opostos. Assim, quando<br />
uma fonte é incrementada, a outra é atenuada simultaneamente.<br />
l) Síntese por seqüenciamento de onda: (WSS - Wave Sequencing Synthesis):<br />
este processo, derivado do anterior (vector synthesis) utiliza 255 formas de onda.<br />
Várias formas de onda do conjunto podem ser usadas/atenuadas em seqüência,<br />
seguindo um sinal de controle.<br />
m) Síntese por audio-rate crossfading (ARC): esta é uma técnica que envolve o<br />
uso de crossfaders sendo modulados por freqüências de áudio. Combina dois sinais,<br />
s_1(t) e s_2(t), controlados por um sinal modulante, m(t), dando o sinal s_out(t):<br />
s_out(t) = K*[(1+m(t))*s_1(t) + (1-m(t))*s_2(t)] = K*[m(t)*s_1(t) - m(t)*s_2(t)<br />
+ s_1(t) + s_2(t)]<br />
É equivalente a uma modulação em amplitude ou em anel (ring-modulation).<br />
n) Síntese por Modulação em Amplitude (AMS - Amplitude Modulation<br />
Synthesis): é realizada pela combinação de dois sinais, uma portadora e um sinal<br />
modulante. A portadora é multiplicada por um sinal de modulação unipolar (unipolar<br />
modulation signal). 485 A portadora pode ser alterada de duas maneiras:<br />
n1) O sinal de modulação é usado como um envelope aplicado à portadora para<br />
determinar a amplitude, no tempo, dos sinais de áudio.<br />
n2) O sinal modulante é usado para conformar a amplitude da portadora de modo a<br />
criar dois sinais adicinais de freqüência, conhecidos como bandas laterais (sidebands),<br />
formando sons harmônicos ou não-harmônicos:<br />
485 Um sinal unipolar contém somente valores positivos, normalmente entre 0 e 1.<br />
357
o) Síntese por Modulação em Anel (RM - Ring Modulation Synthesis): este<br />
processo é quase idêntico ao anterior (síntese por AM), com a diferença que usa um<br />
sinal modulante bipolar (este é simplesmente um sinal que tem valores positivos e<br />
negativos). Deste modo, qualquer sinal de áudio normal pode ser usado como<br />
modulador de uma portadora (que pode ser um outro sinal de áudio). Este processo de<br />
síntese pode criar bandas laterais (sidebands) pelo mesmo modo que na síntese AM,<br />
com a diferença que a portadora, no caso, é cancelada. 486<br />
p) Síntese por Wave Terrain (WTS – Wave Terrain Synthesis): 487 é uma extensão<br />
do processo de síntese por tabela de ondas (wavetable), que usa tabelas 2-D wavetable<br />
(tabelas de ondas em duas dimensões). Devido à quantidade de memória necessária,<br />
usa-se uma superfície chamada terrain, que é definido por uma operação matemática<br />
chamada função terrain. 488 Duas 1-D wavetables são usadas para definir as<br />
coordenadas nesta superfície 2-D.<br />
Chamando as duas ondas 1-D de x(t) e y(t), onde t é a lista wavetable (wavetable<br />
index), daí a saída da síntese terrain é conseguida pela ação da função terrain z(x,y)<br />
sobre x(t) e y(t). Os sinais x(t) e y(t) definem uma Órbita em terrain, a qual seleciona<br />
os valores de saída.<br />
Exemplo de superfície terrain:<br />
q) Síntese por Função de Onda Formativa (FOF- Fonction d'Onde<br />
Formantique): esta é uma técnica de criar formas de onda com uma forma espectral<br />
específica (specific spectral shape). Os sons são produzidos a partir de uma seqüência<br />
de pulsos de excitação na forma de ondas senoidais envelopadas. O fator de geração<br />
486<br />
A síntese RM é freqüentemente usado pelo Vocoder para criar um som de voz “robótico” (veja-se o<br />
próximo item).<br />
487<br />
Este método de síntese é desenvolvido na obra de Curtis Roads, Computer Music Tutorial.<br />
488<br />
No caso, uma função matemática de duas variáveis. A síntese WT pode ser feita facilmente com um<br />
software freeware chamado CSound. O CSound pode gerar ou transformar sons por meio da compilação<br />
de dois arquivos (em formato texto): um com terminação .orc (orquestra) e outro .sco (“score” ou<br />
partitura). No primeiro arquivo é montado um dispositivo de um ou mais instrumentos, por meio da<br />
interligação de subrotinas (ugens) como: osciladores, filtros, geradores de ruído, envoltórias, etc. No<br />
segundo, colocam-se as instruções relativas ao desempenho dos instrumentos: nota, duração, altura, etc.<br />
358
destas excitações determina a freqüência fundamental da região formante. A amplitude<br />
dos harmônicos é determinada pela forma do envelope aplicado a cada senóide. A<br />
razão de geração das excitações determina a freqüência fundamental de uma região<br />
formante. A amplitude dos harmônicos é determinada pela forma do envelope. Quanto<br />
mais curto o envelope, mais gradual a inclinação na amplitude harmônica no domínio<br />
de freqüência. Quanto mais extenso, mais rápido se reduzem as amplitudes dos<br />
harmônicos, o que estreita a largura da região formante. A forma do envelope pode ser<br />
mudada, permitindo que se produzam timbres dinâmicos. Muitas formas de onda de<br />
excitação são adicionadas, cada uma provendo uma diferente região formante.<br />
r) Síntese por Autômatos Celulares (CAS – Cellular Automata Synthesis): 489 Este<br />
processo de síntese procura estudar as formas musicais como se fossem organismos<br />
vivos, 490 com base na automação celular. O que se chama de Cellular Automata é<br />
parte da teoria das Máquinas de Estado Finito (Finite State Machines), no qual o estado<br />
do sistema é representado por valores binários (0 e 1) em um conjunto de células. Estes<br />
valores são atualizados regularmente com base no valor das células vizinhas, de acordo<br />
com uma regra qualquer.<br />
Um exemplo de automação celular é o chamado jogo da vida, um programa<br />
desenvolvido pelo matemático de Princeton John Conway. A atualização dos valores<br />
das células é baseada no número de vizinhos “vivos”, de acordo com algumas regras.<br />
Para certas escolhas de limites, padrões e população inicial, um comportamento<br />
dinâmico e persistente se torna perceptível. Neste jogo, cada célula tem um valor<br />
binário (0 ou 1); com valor 1 a célula está “viva”, e com valor 0, está “morta”. 491<br />
s) Síntese evolutiva por segmentos sonoros (SESS, ou Essynth): este é um<br />
processo similar à evolução biológica, em que ocorrem processos de reprodução e<br />
seleção de uma população de indivíduos; neste caso, os indivíduos são os segmentos<br />
sonoros. O processo de reprodução é feito com os operadores genéticos crossover e<br />
mutação, e utiliza uma medida de adequação do indivíduo: sua distância de Hausdorff<br />
492 ao conjunto-alvo de indivíduos que condicionam a evolução. O indivíduo com a<br />
menor distância é escolhido para participar do processo de reprodução, na próxima<br />
geração, e será o resultado sonoro da síntese evolutiva na próxima geração. 493<br />
t) Síntese por Modelagem Física (PhM - Physical Modeling Synthesis): esta<br />
síntese é feita pela simulação das propriedades físicas de um instrumento musical real<br />
489 Além da Cellular Automata (autômatos celulares), outros processos buscam estudar a emulação da<br />
vida, com consequentes desenvolvimento de algoritmos geradores de seqüências de padrões sonoros: os<br />
Algoritmos Genéticos, a Modelagem Evolucionista, a Inteligência Artificial (IA), a Robótica Autônoma,<br />
a Computação Evolutiva, Enxames de Partículas, Redes Neurais Artificiais, Sistemas Imunes Artificiais,<br />
Vida Artificial, entre outras. Para mais informações, veja-se: CAETANO, Marcelo; MANZOLLI,<br />
Jônatas e ZUBEN, Fernando von. Bio-Música, Aplicações de Inteligência Artificial e Algoritmos Bio-<br />
Inspirados em Música, em http://www.proceedings.scielo.br/pdf/smct/n1/n1a02.pdf. Veja-se também:<br />
OLIVEIRA, Luis F. As Contribuições da Ciência Cognitiva à Composição Musical, em<br />
http://cogprints.org/4506/ (solicitar arquivo PDF).<br />
490 Esta idéia parece ser devida a SCHOENBERG, o qual dizia que a composição musical consiste de<br />
estruturas funcionando de modo similar a um organismo vivo.<br />
491 Para maiores informações, e sobre como criar música com este sistema, veja-se: MIRANDA,<br />
Eduardo Reck. SOBRE AS ORIGENS E A EVOLUÇÃO DA MÚSICA, em<br />
http://www.rem.ufpr.br/rem.html (Revista Eletrônica de Musicologia).<br />
492 Podem ser usadas também as chamadas métricas morfológicas.<br />
493 Veja-se: FORNARI, José Eduardo; MANZOLLI, Jônatas; MAIA Jr, Adolfo. Síntese Evolutiva de<br />
Segmentos Sonoros – SESS, em http://www.proceedings.scielo.br/pdf/smct/n1/n1a04.pdf.<br />
359
ou fictício, e matematicamente pela definição de excitadores e ressonadores (exciters<br />
and resonators). Os primeiros definem como os ressonadores irão “disparar” o modelo<br />
físico, para que comece a gerar som. Os ressonadores simulam a resposta do<br />
instrumento, o que normalmente define a forma como os elementos físicos do<br />
instrumento irão vibrar. 494<br />
A modelagem física pode ser aplicada a qualquer tipo de instrumento musical, mas<br />
obtém maior sucesso na modelagem dos processos físicos envolvidos com os<br />
instrumentos de corda e de sopro. Nestes casos, o processo de geração de som pode ser<br />
descrito como uma excitação de uma linha de transmissão ou guia de onda. As<br />
equações que descrevem estas estruturas são bastante simples, e podem ser<br />
implementadas facilmente, por meios computacionais.<br />
Em uma guia de onda ou linha de transmissão, as partes vibrantes de um<br />
instrumento acústico são divididas em segmentos curtos, sendo que nestes segmentos<br />
uma parte é transmitida adiante, e outra é refletida para o segmento anterior.<br />
Há também um tempo de atraso na propagação entre segmentos, atraso este que<br />
pode variar com a freqüência do sinal. Isto resulta em uma dispersão espectral, que<br />
pode ser útil na modelagem de sons complexos, tais como címbalos.<br />
u) Síntese por programação MAX/MSP: a manipulação do som digital pode ser<br />
feita através do chamado ambiente de programação MAX/MSP.<br />
Max é um ambiente de desenvolvimento gráfico para música e multimímida que foi<br />
criado há décadas pela companhia de software Cycling'74, e tem sido extensamente<br />
usado por compositores, intérpretes, projetistas de software, pesquisadores e artistas.<br />
Max foi originalmente escrito por Miller Puckette como um editor Patcher para o<br />
Macintosh na década de 1980, de modo a permitir criar música em computador. 495 É<br />
um programa altamente modular, com inúmeras rotinas na forma de bibliotecas<br />
compartilhadas. Uma API 496 permite o desenvolvimento de novas rotinas (external<br />
objects). Como resultado, foram desenvolvidas muitas extensões comerciais e nãocomerciais<br />
para o programa, que o deixaram mais versátil. Devido a esta versatilidade,<br />
e devido à sua interface gráfica (GUI – Graphical User Interface), este programa tem<br />
sido reconhecido como a melhor linguagem para o desenvolvimento interativo de<br />
softwares aplicados à música.<br />
O MSP (estas são as iniciais de Miller S. Puckette) surgiu como um pacote addon<br />
497 para permitir ao Max manipular áudio digital em tempo real. Um segundo pacote<br />
do Max/MSP chamado Jitter (Max/Jitter) 498 foi liberado em 2003, adicionando vídeo<br />
em tempo real, 3-D, entre outras implementações.<br />
494<br />
Este modo de geração de som é bastante complexo, e exige computação pesada.<br />
495<br />
Em 1996, foi liberado por Puckette um programa freeware chamado PD (Pure Data).<br />
496<br />
API (Application Programming Interface - Interface de Programação de Aplicativos) é um conjunto<br />
de rotinas e padrões estabelecidos por um software para utilização de suas funcionalidades por<br />
programas aplicativos. É composta por uma série de funções acessíveis por programação, as quais<br />
permitem utilizar características do software que nem sempre interessam ao usuário comum. Os sistemas<br />
operacionais costumam ter várias destas interfaces, com funções de armazenar ou acessar arquivos,<br />
dados, etc. Ou então programas de desenho geométrico que possuem uma API específica para criar<br />
automaticamente entidades de acordo com padrões definidos pelo usuário. Mais recentemente, surgiram<br />
os chamados plug-ins, os quais são acessórios que complementam a funcionalidade de um programa. O<br />
criador do programa principal fornece uma API específica para que outros criem os plug-ins, os quais<br />
melhoram as funcionalidades do programa original.<br />
497<br />
Add-on, ou addon, é o nome de qualquer acessório que melhore ou aperfeiçoe aquilo a que ele é<br />
acrescentado.<br />
498<br />
Há também o Max/FTS (Faster Than Sound).<br />
360
GLOSSÁRIO BREVE<br />
DFT (discrete Fourier transform): transformada discreta de Fourier.<br />
DWG (digital waveguide): guia de ondas digital; é um eficiente método de<br />
modelar a propagação de ondas.<br />
FFT (fast Fourier transform): transformada rápida de Fourier.<br />
FIR (finite impulse response): resposta de impulso finito.<br />
IIR (infinite impulse response): resposta de pulso finito.<br />
LPC (linear predictive coding): código de predição linear.<br />
STFT (short-time Fourier transform): transformada de Fourier de curto-período.<br />
13.2.2 A evolução das máquinas musicais 499<br />
Talvez o primeiro aparelho elétrico musical construído tenha sido The Musical<br />
Telegraph (ou Harmonic Telegraph), inventado por Elisha Grey em 1870, e que<br />
alcançava duas oitavas. E o primeiro construído com base na teoria das séries<br />
harmônicas de Helmholtz, e que possibilitava o controle de timbres sonoros a partir da<br />
adição ou supressão dos harmônicos, foi o Thelharmonium, inventado por Thadeus<br />
Cahill em 1887:<br />
Em 1909, Melvin Severy inventou o Choralcello. Em 1915, Lee De Forest<br />
inventou o Audion Piano.<br />
Em 1927, A. Givelet e E. E. Coupleaux inventaram o The Clavier à Lamps, e em<br />
1929, construíram um aparelho chamado Piano Radio-Électrique. Em 1930,<br />
apresentaram o The Coupleaux-Givelet Organ, que combinava um sistema de válvulas<br />
à vácuo com um sistema de controle de som através de cartões perfurados.<br />
Em 1931, na Alemanha, Wolja Saraga inventou o Saraga-Generator. Em 1939, F.<br />
Samis, nos EUA, inventou um aparelho chamado The Singing Keyboard. Em 1948, os<br />
australianos Percy Grainger e Burnett Cross construíram o aparelho chamado The Free<br />
Music Machine.<br />
Em 1933, Givelet e Coupleaux apresentaram o Orgue des Ondes. Este aparelho<br />
usava 700 osciladores a válvula (em um total de 1.000 válvulas) para criar 70 notas<br />
musicais em 10 diferentes timbres. Ele era capaz de fazer a síntese aditiva e subtrativa<br />
de sons:<br />
499 Para uma completa relação de todos os aparelhos musicais elétricos e eletrônicos inventados entre<br />
1870 e 1990, veja-se o site http://www.obsolete.com/120_years/. Veja-se também: PARADISO, Joseph.<br />
Electronic Music Interfaces, em http://web.media.mit.edu/~joep/SpectrumWeb/SpectrumX.html.<br />
361
Em 1951 foi fundado o Estúdio de Música Eletrônica de Colônia, Alemanha, o qual<br />
ainda utilizava equipamentos isolados (gravadores, filtros, amplificadores, osciladores,<br />
etc.) para criar a música eletrônica. O mesmo tipo de equipamento era usado por<br />
Vladimir Ussachevsky na Universidade de Colúmbia, em 1951.<br />
Em 1952, Harry Olsen e Hebert Belar inventaram o RCA Synthetizer I e II.<br />
Em 1957 foi instalado o Mark I (e logo em seguida o Mark II) na Universidade de<br />
Columbia, o qual foi utilizado por Vladimir Ussachevsky (e outros) para a síntese de<br />
música no Centro de Música Eletrônica de Columbia-Princeton (na foto, imagem do<br />
Mark II):<br />
Max Mathews e John Pierce escreveram um dos primeiros programas de síntese de<br />
som por computador (de grande porte) em 1957, na Bell. O programa era chamado<br />
Music I e apresentava uma única voz, uma forma de onda triangular, não possuia<br />
ADSR e só controlava a afinação, a intensidade e a duração. O Music I deu origem a<br />
uma série de programas posteriores, como o Music II, o Music III e o Music IV.<br />
Em 1964, um jovem pesquisador, Ray (Raymond) Kurzweil (ou Kurtzweil)<br />
programou um computador (que ele próprio tinha montado) para analisar os padrões<br />
musicais de composições famosas e reproduzir estes padrões em músicas de estilo<br />
similar.<br />
Nos primeiros sintetizadores eletrônicos, toda a interligação entre módulos, que<br />
servia como programação, era feita através de patches (cabos):<br />
362
O pesquisador dr. Joseph A. Paradiso montou este sintetizador modular entre os<br />
anos de 1974 e 1978:<br />
Este sintetizador também era todo interligado por patches, como mostra a figura a<br />
seguir:<br />
Na década de 1980 surgiu o Digisound 80 Modular Sinthetizer:<br />
363
Com a evolução da eletrônica e o surgimento dos transistores, começaram a surgir<br />
os primeiros seqüenciadores e teclados de mesa (na foto, o Y-22 Music Sequencer):<br />
Um dos primeiros sintetizadores de teclado a serem usados comercialmente em<br />
ampla escala foi o MOOG, criado por Robert Moog, em 1963. Originalmente<br />
analógico, foi transformado posteriormente em um sintetizador digital, do qual<br />
surgiram versões cada vez mais aperfeiçoadas: 500<br />
Na época atual, estes seqüenciadores e teclados são construídos com chips de<br />
circuito integrado e com microprocessadores, e incorporam uma extensa quantidade de<br />
efeitos sonoros:<br />
Além destes equipamentos, o músico atual também pode usar programas<br />
(softwares) especializados em composição musical. O aspecto gráfico de um deles<br />
pode ser visto a seguir: 501<br />
500<br />
O MOOG foi utilizado pelo músico Wendy Carlos para fazer a trilha sonora do filme Laranja<br />
Mecânica.<br />
501<br />
Uma abordagem completa acerca de seqüenciadores, teclados e sintetizadores pode ser encontrada<br />
no site http://www.synthfool.com/pics.html.<br />
364
Existem também softwares específicos para a criação e edição de partituras, dos<br />
quais os mais conhecidos são: Mozart, Encore, Finale, Personal Composer,<br />
QuickScore.<br />
13.2.3 A síntese de voz<br />
a) Aspectos técnicos da voz e do canto.<br />
a1) A voz:<br />
A voz tem dois componentes: o tipo básico de voz, produzido pelas cordas vocais,<br />
e a sua modulação (timbre ou entonação).<br />
O tipo básico de voz varia em altura, mas permanece constante quanto ao tipo em<br />
si mesmo. É o que permite distinguir as pessoas, ao ouvi-las. Tem um aspecto dual. A<br />
voz pode ser: forte ou fraca; grossa ou fina (grave ou aguda); rápida ou lenta; estridente<br />
ou modulada (cultivada ou não cultivada); nasalada ou não nasalada; agradável ou<br />
desagradável (lisa ou áspera); autoritária ou submissa (enérgica ou titubeante).<br />
Quanto à modulação, é o modo como as freqüências são amplificadas<br />
dinamicamente ou atenuadas. Isto é feito pela boca e pela língua, enquanto se fala. É o<br />
que diferencia uma pessoa de outra; é uma característica individual. 502<br />
Na fala, a freqüência varia pouco. As cordas vocais e o resto do trato vocal podem,<br />
no máximo, dar uma inflexão às palavras e frases. 503<br />
O sinal de modulação é chamado formante, porque é ele que forma a voz básica,<br />
chamada portadora devido ao fato de que é ela que carrega o sinal formante. Este<br />
sinal, por seu lado, carrega a informação e tem freqüência muito mais baixa que a da<br />
portadora.<br />
a2) O canto:<br />
As vozes, com relação ao canto (freqüência ou altura), podem ser graves, médias<br />
ou agudas. Seja na conversação, seja no canto, as vozes refletem as características<br />
individuais de timbre e tipo.<br />
502 A modulação é o que torna diferente a pronúncia de um Oh (óóó) e um Ah (ááá).<br />
503 Deve-se perceber que a pronúncia correta e completa das palavras, a articulação coerente das frases, o<br />
encadeamento e a expressão lógica do pensamento, dependem tanto da educação formal quanto do<br />
contexto cultural onde se fala o idioma.<br />
365
Os sons que participam do canto são os seguintes:<br />
• Vogais: são os componentes essenciais da voz cantada; são pouco ruidosas e<br />
podem ser prolongadas à vontade (exemplo: a – áááááááááá).<br />
• Consoantes vocalizadas: são consonantes que usam as cordas vocais. Também<br />
podem ser prolongadas. Podem ser nasais ou orais.<br />
• Consoantes não vocalizadas: podem ser prolongadas, mas só usam a vibração<br />
sonora gerada pelo fluxo de ar, sem usar as cordas vocais. Estas consoantes não<br />
têm altura definida. Exemplo: ch; f; s.<br />
• Consoantes aspiradas: são breves, vocalizadas e não prolongáveis. Exemplo:<br />
g; d; b.<br />
No canto, a freqüência emitida pelas cordas vocais segue uma melodia, não estando<br />
relacionada com a inflexão.<br />
A principal característica da voz cantada é o prolongamento de alguns sons<br />
(fonemas). Como algumas sílabas devem ser prolongadas mais que outras, o intérprete<br />
prolonga os fonemas (aqueles que podem ser prolongados), de modo a produzir um<br />
som belo e artístico.<br />
GLOSSÁRIO BREVE 504<br />
Ataque em altura diversa: ocorre quando a sílaba é cantada em uma altura<br />
diferente do valor da nota.<br />
Velocidade: é a medida, no tempo, da emissão do canto silábico. Como este se liga<br />
às notas, se o fonema se prolongar, ele irá abranger mais de uma nota.<br />
Deslocamento temporal: ocorre devido a diferenças na duração da sílaba cantada<br />
(ou na duração da pausa).<br />
Defasamento: ocorre devido às diferenças, no tempo, entre os cantos de cada<br />
cantor.<br />
Variações (jitter): são variações leves e rápidas da freqüência cantada. Podem ser:<br />
• Jitter ressonante: são alterações no timbre da voz durante a emissão da nota<br />
(pela alteração da forma da boca).<br />
• Jitter de volume (potência ou intensidade): são as variações involuntárias no<br />
volume da nota cantada.<br />
Vibrato: são variações regulares e suaves da freqüência fundamental. Seus<br />
parâmetros são os seguintes:<br />
• Freqüência mínima: é a freqüência da oscilação do vibrato. Seu intervalo<br />
comum situa-se entre 5 e 9 Hz. 505<br />
• Razão da freqüência: é a razão de incremento na velocidade do vibrato,<br />
quando uma nota alta é cantada. O seu valor é o número de semitons acima do<br />
Lá 4 (440 Hz) necessários para aumentar a freqüência de vibração em 1 Hz.<br />
• Atraso: é a diferença em tempo antes que se dê o início do vibrato. É expresso<br />
em centésimos de segundo.<br />
504 São as características técnicas do canto.<br />
505 Por exemplo, uma nota de 800 Hz (emitida por voz) pode ser modulada em 8 Hz, criando uma<br />
sonoridade característica do vibrato (com a freqüência variando entre 792 e 808 Hz).<br />
366
• Tempo de elevação: é o tempo durante o qual a potência do vibrato aumenta<br />
suavemente antes de atingir o valor máximo. É expresso em centésimos de<br />
segundo.<br />
• Profundidade: é a amplitude máxima do vibrato. É expresso em centésimos do<br />
tom.<br />
• Razão de freqüência: permite incrementar a profundidade do vibrato quando<br />
uma nota alta é cantada. O seu valor é o número de semitons acima do Lá 4 (440<br />
Hz) necessários para aumentar a profundidade do vibrato em um semitom.<br />
Exemplo: com uma profundidade de 1/5 de um tom e uma relação de<br />
freqüência de uma oitava, um Lá 4 será cantado com uma profundidade de 1/5<br />
de um tom, e um Lá 5 com uma profundidade de um semitom + 1/5 de tom.<br />
Estas características técnicas permitem a síntese da fala e do canto. 506 Para isto, três<br />
técnicas podem ser utilizadas:<br />
1. Por simulação do canal vocal<br />
2. Pelo uso de elementos gravados<br />
3. Por síntese formante.<br />
1. Por simulação do canal vocal:<br />
Talvez a primeira máquina capaz de simular o funcionamento do órgão vocal<br />
humano tenha sido a construída por Wolfgang Ritter von Kempelen (1734-1804). O<br />
seu instrumento era funcional e teve êxito em suas demonstrações, mas era de<br />
manuseio extremamente incômodo. Esta dificuldade, aliás, foi uma característica de<br />
todas as máquinas (eletromecânicas) que vieram depois, tais como o Voder (criado pela<br />
Bell Laboratories e apresentado na Feira Mundial de 1939) 507 e o Vocoder (Voice<br />
Encoder, ou Voice Operated Recorder, de 1940), que, além dessa dificuldade,<br />
distorciam bastante os fonemas criados.<br />
2. Pelo uso de elementos gravados:<br />
Por este processo, vários fonemas e grupos de fonemas são gravados, a partir de<br />
um único indivíduo. Essas amostras são então usadas para reconstruir a voz humana.<br />
Este processo, apesar de dar excelentes resultados, exige grande quantidade de<br />
processamento e de memória (de computador), e por isso é pouco usado.<br />
3. Por síntese formante:<br />
Esta síntese baseia-se na análise do som da voz, e na simulação eletrônica ou<br />
digital (por computador) dos formantes. Os parâmetros ligados a esta síntese são:<br />
altura; largura dos formantes (largura dos intervalos de freqüência); intensidade. É,<br />
atualmente, o processo de simulação vocal mais utilizado.<br />
506 Para maiores informações sobre a síntese do canto, veja-se o site http://www.myriadonline.com/resources/docs/harmony/portugues/index.htm,<br />
acerca do software Virtual Singer.<br />
507 Um dispositivo também chamado Vocoder (Voice Coder) foi desenvolvido por Homer Dudley nos<br />
Laboratórios Bell em 1936.<br />
367
) Síntese por Vocoder:<br />
Uma das formas de fazer a síntese da fala é através do Vocoder. Vocoding é uma<br />
forma de processamento que permite que o timbre de um sinal seja modificado pelo<br />
timbre de outro sinal. Um vocoder é um efeito de som que faz a voz humana soar de<br />
modo artificial, com um tom metálico e monótono, tal qual um robot.<br />
O vocoder tem por objetivo substituir a portadora da voz por outra. Então, ela<br />
muda o som da voz, mas não muda a mensagem falada. O vocoder pega formantes e<br />
portadora de fontes externas e separa-os em bandas ou faixas (regiões de freqüências).<br />
Em seguida, o envelope (ou modulação) é extraido de cada banda formante, o que é<br />
feito por um filtro passa-baixas. Em seguida, as bandas formantes são moduladas sobre<br />
as bandas portadoras, resultando bandas misturadas no sinal de saída:<br />
A portadora pode ser feita falar ou cantar. A voz humana pode ser usada como<br />
formante, e um instrumento musical pode ser usado como portadora. 508 Ou seja, podese<br />
fazer com que o instrumento fale. Cada banda pode ser modificada de várias<br />
maneiras. 509<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Acoustic simulator: é a simulação de instrumentos acústicos, em instrumentos<br />
elétricos.<br />
Pitch Bend: mecanismo existente em alguns sintetizadores, que permite a alteração<br />
do tom de uma tecla (para cima ou para baixo) 510 ou então, a distorção de um som.<br />
Sampler: é um aparelho (ou software) capaz de gravar qualquer som em sua<br />
memória digital, através de um sinal de áudio direto. Possue complexos parâmetros de<br />
edição, com os quais é possível copiar, deletar, filtrar, mixar, combinar em sequência e<br />
transpor as formas de onda amostradas.<br />
Seqüenciador: é um gravador digital capaz de armazenar informações digitais em<br />
diferentes canais de gravação digital. Pode apresentar diversas pistas de gravação<br />
(multitrack), memória para armazenar as informações gravadas, sincronização, bem<br />
como pode ter diferentes formas de gravação. Registra informações do tipo: notas<br />
tocadas, ataque e duração da nota, variações de sensibilidade das notas tocadas,<br />
variações dos controles de pitch, volume e velocidade.<br />
508 Para um excelente programa freeware de análise acústica (PRAAT), veja o site<br />
http://www.fon.hum.uva.nl/praat/ (para tutoriais e manuais), e para download, veja-se o site<br />
http://www.fon.hum.uva.nl/praat/download_win.html.<br />
509 Mais detalhes sobre o Vocoder podem ser vistos em http://www.sirlab.de/linux/descr_vocoder.html,<br />
ou então na Wikipédia, em http://en.wikipedia.org/wiki/Vocoder. Para download de programa freeware,<br />
veja-se: http://www.sirlab.de/linux/download_vocoder.html. Há também o AnalogX Vocoder, um<br />
programa freeware que pode ser baixado de sites de downloads.<br />
510 Em um total de 24 notas (12 para cima e 12 para baixo).<br />
368
c) Síntese por PSOLA (Pitch-Synchronous Overlap and Add). Este é um método<br />
que pretende superar a artificialidade do Vocoder, introduzindo uma entonação<br />
emocional na voz. 511 O PSOLA é um método que permite manipular a altura e a<br />
duração de um sinal sonoro de voz. Pode ser feita também a sintetização de coros de<br />
vozes. 512<br />
13.3 Comunicação digital e protocolo MIDI<br />
Os equipamentos eletrônicos analógicos e digitais produzem sinais elétricos que<br />
devem ser compatíveis entre si, para que possam trabalhar em conjunto.<br />
Antes de tudo, há que existir uma padronização nesta compatibilização, o que exige<br />
que os equipamentos sejam construídos segundo regras e padrões específicos da<br />
indústria.<br />
Denomina-se interface ao dispositivo, programa (software) 513 ou aparelho que seja<br />
capaz de interconectar dois ou mais dispositivos eletrônicos, ou que permita a interação<br />
entre usuário e equipamento. O que a interface geralmente faz é compatibilizar<br />
sistemas diferentes, e torná-los capazes de trocar informações entre si. A interface<br />
também permite a comunicação entre programas de software.<br />
Denomina-se periférico a todo equipamento que não faça parte do sistema central<br />
(a CPU, por exemplo). 514 A conexão entre periféricos pode ser feita com cabos que<br />
transmitem o sinal digital em série ou em paralelo (veja-se adiante).<br />
A base da comunicação digital é o byte, que é formado por oito bits. 515 A indústria<br />
criou em 1961 516 o padrão chamado ASCII (American Standard Code for Information<br />
Interchange – Código Padrão Americano para Troca de Informações), que é um<br />
conjunto de códigos que representam números, letras, pontuação e outros caracteres.<br />
Cada caracter é representado por oito bits ou um byte (o quadro a seguir mostra uma<br />
parte da codificação ASCII):<br />
511 Para uma excelente introdução ao tema, veja-se: ZOTTER, Franz. Emotional Speech, em<br />
http://www.spsc.tugraz.at/courses/AdvancedSignalProcessing/Speech%20Synthesis/zotter_report.pdf.<br />
Veja-se também VINE, D.S.G. e SAHANDI, R. Synthesising Emotional Speech By Concatenating<br />
Multiple Pitch Recorded Speech Units, em http://iscaspeech.org/archive/speech_emotion/spem_157.html.<br />
Um processo semelhante é a síntese SOLAFS<br />
(Synchronized Overlap-Add, Fixed Synthesis), que está explanada em HEJNA, Don e MUSICUS, Bruce<br />
R. The SOLAFS TimeEscale Modification Algorithm. Disponível em<br />
http://www.ee.columbia.edu/~dpwe/papers/HejMus91-solafs.pdf. Acesso em 08/01/2007.<br />
512 SCHNELL, Norbert et al. Synthesizing a choir in real-time using Pitch Synchronous Overlap Add<br />
(PSOLA), em http://recherche.ircam.fr/equipes/analysesynthese/peeters/ARTICLES/Schnell_Peeters_2000_ICMC_OperaK.pdf<br />
.<br />
513 Em informática, a parte física de um computador é chamada de hardware, e a parte lógica<br />
(constituída de sistema operacional mais os programas de todo tipo) é chamada de software.<br />
514 O computador é composto de CPU (ou unidade de processamento de dados), memórias e periféricos.<br />
São periféricos: teclado; impressora; terminal de vídeo; modem; mouse; leitor/gravador de CD/DVD;<br />
scaner, microfone; alto-falantes; câmara de vídeo; etc<br />
515 Esta é a combinação binária, cuja base 2 é representada por 0 e 1. Há também (em informática) a<br />
representação através da numeração chamada hexadecimal, baseada no número 16.<br />
516 Atualmente, usa-se o padrão ASCII 1967. O padrão ASCII é um código de oito bits com 128<br />
caracteres.<br />
369
Quando os equipamentos estão próximos entre si, a sua interligação pode ser feita<br />
de duas maneiras: por cabos seriais ou cabos paralelos.<br />
No primeiro caso, os caracteres ASCII são transmitidos em série, um após o outro:<br />
A vantagem desta ligação é a simplicidade do cabo; sua desvantagem é a lentidão<br />
na transmissão dos dados, bem como a exigência de um protocolo de comunicação,<br />
capaz de separar os caracteres de forma que não se misturem.<br />
No segundo caso, a transmissão de dados é feita de modo paralelo (no exemplo, a<br />
transmissão da letra A): 517<br />
Quanto a esta ligação, sua vantagem é a rapidez da transmissão; 518 sua<br />
desvantagem é a necessidade de um cabo de construção mais complexa.<br />
O número decimal do caracter 01000001 (letra A) é 65. Este número resulta da<br />
transformação da base binária em base decimal.<br />
517<br />
Uma impressora pode ser ligada com cabo serial, cabo paralelo, e modernamente, com cabos USB<br />
(ver nota 560).<br />
518<br />
Apesar de mais rápida, a transmissão de bits em paralelo não é adequada para grandes distâncias<br />
(além de poucos metros), como acontece com a transmissão de bits em série.<br />
370
Por inversão do número, acha-se: 10000010. Em seguida, multiplica-se cada dígito<br />
0 ou 1 pela seqüência 2 0 2 1 2 2 2 3 2 4 2 5 2 6 2 7 (em um total de oito multiplicações),<br />
somando-os entre si: 519<br />
1.0 + 0.2 + 0.4 + 0.8 + 0.16 + 0.32 + 1.64 + 0.128 = 1 + 64 = 65<br />
Quando há necessidade de interligar equipamentos distantes, a intercomunicação<br />
pode se dar de modo assíncrono ou síncrono. No primeiro caso, a transmissão de<br />
dados ocorre em intervalos irregulares, com blocos de dados de tamanho também<br />
irregular. Na transmissão síncrona, por outro lado, os blocos de dados são do mesmo<br />
tamanho, o que permite uma maior velocidade de transmissão.<br />
Na comunicação síncrona existe o chamado protocolo de comunicação. 520<br />
O protocolo MIDI (Musical Instrument Digital Interface – Interface Digital para<br />
Instrumento Musical) é um sistema de transmissão digital de informações, encarregado<br />
de interligar vários instrumentos musicais eletrônicos. 521 A informação é trocada em<br />
um pacote de três palavras e é enviada/recebida serialmente entre duas UART<br />
(Universal Asynchronous Receiver Transmitter – Transmissor Receptor Universal<br />
Assíncrono). Cada palavra é composta de 10 bits (8 + 2 bits), porque, como é uma<br />
comunicação assíncrona entre dois dispositivos, deve ter, além dos 8 bits de dados, 2<br />
bits de sinalização de início e final de palavra.<br />
Na transmissão, cada mensagem MIDI é recebida em paralelo por uma UART, que<br />
a converte em um formato serial. A comunicação serial é feita entre os dispositivos a<br />
uma taxa de transmissão de 31.250 bits por segundo (31,25 kbps).<br />
Um arquivo MIDI, basicamente, é uma partitura digitalizada, pois contém<br />
instruções para produzir o som de instrumentos musicais (notas, timbres, ritmos,<br />
efeitos, etc.), que que podem ser utilizadas por um seqüenciador 522 ou por um<br />
sintetizador para a geração dos eventos musicais desejados. 523<br />
Ainda que tecnicamente o termo MIDI indique que seja um protocolo, o termo é<br />
usado igualmente para se referir aos diversos componentes do sistema, como<br />
adaptadores, conectores, arquivos, cabos, etc. Assim, qualquer dispositivo capaz de<br />
reconhecer este padrão pode executar, transmitir ou manipular uma composição<br />
musical. Aliás, a própria composição musical é conhecida como um arquivo MIDI. 524<br />
O compositor pode tocar vários instrumentos musicais interligados por conexões<br />
MIDI, através de um controlador. 525<br />
O sistema MIDI usa códigos digitais para informar notas musicais, volume, troca<br />
de timbres, acionamento de pedais e outros. Mas também traz informações analógicas,<br />
como configurações de equipamentos de estúdio.<br />
519 Lembrar que a multiplicação por zero resulta em zero.<br />
520 Tipos atuais de protocolos: TCP/IP (Transfer Control Protocol); POP3 (Post Office Protocol versão<br />
3); IMAP4 (Internet Message Access Protocol versão 4); SNMP (Simple Network Management<br />
Protocol); Modbus.<br />
521 Teclados, guitarras, computadores, sintetizadores, seqüenciadores, samplers, etc.<br />
522 Um seqüenciador registra ao longo do tempo os comandos MIDI que forem executados pelo músico<br />
em um instrumento (por exemplo, um teclado).<br />
523 Uma gravação MIDI ocupa muito pouco espaço, seja na memória digital, seja em mídia gravável<br />
(CD). Em média, ocupa 30 kbytes de memória.<br />
524 O arquivo é MIDI, mas a extensão usada no arquivo gravado é MID (. MID).<br />
525 Controladores são dispositivos usados para gerar mensagens MIDI para a aplicação que se fizer<br />
necessária.<br />
371
Seqüenciadores são softwares que permitem criar arquivos na extensão MID. Um<br />
arquivo MID compreende mensagens que informam ao sintetizador qual o instrumento<br />
utilizado em cada um dos 16 canais do padrão MIDI, quais notas estão sendo tocadas a<br />
cada instante, sua duração, intensidade, etc., canal por canal.<br />
O protocolo MIDI é uma padronização conhecida como GM (General MIDI), 526<br />
que define uma tabela de instrumentos de modo tal que cada um está associado a um<br />
número de programa (patch) específico.<br />
O padrão GM define 128 instrumentos (ou vozes), além de um conjunto de 47<br />
baterias. Deste modo, uma música composta em um sintetizador com o padrão GM, se<br />
executada em um outro sintetizador com o mesmo padrão, os mesmos instrumentos<br />
serão utilizados, canal por canal. 527<br />
As placas de som em computador usam o processo de síntese por WaveTable<br />
(Tabela de Ondas). Por este processo, realiza-se a gravação digital de amostras de<br />
instrumentos reais em um chip de memória - o banco de sons - que depois são<br />
utilizadas quando o arquivo MID é reproduzido. Este processo de síntese é capaz de<br />
proporcionar um som bastante satisfatório, e por isto é um dos mais usados, para a<br />
síntese de instrumentos musicais.<br />
Geralmente, os modernos instrumentos musicais eletrônicos possuem uma entrada<br />
MIDI IN e uma saída MIDI OUT, sendo que o cabo de interconexão é um simples<br />
cabo de áudio, 528 com plugs DIN de cinco pinos (são conhecidos como plugs Philips).<br />
13.3.1 Codecs e plug-ins<br />
Codec (Co-Dec): é o acrônimo de Codificador/Decodificador, dispositivo de<br />
hardware ou software que codifica ou decodifica sinais. Existem dois tipos de codecs:<br />
o codec sem perda (lossless) e o codec com perda (lossy).<br />
O codec sem perda serve para codificar som e imagem durante a compressão do<br />
arquivo original, de forma que este não se altere. Assim, depois de descomprimido, o<br />
novo arquivo será idêntico ao original. Esse tipo de codec gera arquivos codificados<br />
que são de duas a três vezes menores que os arquivos originais. 529<br />
O codec com perda codifica um sinal com uma perda de qualidade definida, cujo<br />
objetivo é o de alcançar maior taxa de compressão. Para que esta perda de qualidade<br />
passe imperceptível, ela deve ser balanceada com a taxa de compressão. 530 Estes<br />
codecs comprimem arquivos de aúdio e vídeo a taxas bastante elevadas (cerca de dez a<br />
doze vezes). 531<br />
526 Além do padrão GM, existe o padrão GS, criado pelo fabricante Roland (que acrescenta alguns<br />
instrumentos ao padrão GM) e o XG, criado pelo fabricante Yamaha.<br />
527 Entretanto, é conveniente que o mesmo tipo de placa de áudio usado na composição seja usado na<br />
reprodução, para que não haja modificações de timbre.<br />
528 Com dois condutores e uma malha de blindagem.<br />
529 Codecs para áudio: wavpack, flac, shorten, monkey's audio. Codecs para vídeo: HuffYUV, lossless<br />
MJPEG, FFmpeg Video 1.<br />
530 Por exemplo, quando dois instrumentos tocam juntos, e um toca mais baixo que o outro, ele é<br />
suprimido.<br />
531 É o caso, por exemplo, do Ogg Vorbis e do MP3. Outros codecs deste tipo são: AC3 e WMA, para<br />
áudio, e Xvid, DivX, Theora, Soreson, WMV7, WMV8 e WMV9, para vídeo.<br />
372
A taxa de bits (bitrate) é uma das medidas da qualidade de um arquivo que foi<br />
comprimido com um codec com perdas. Esta taxa (dada em Kbits/s) representa o<br />
tamanho final desejado para o arquivo. 532<br />
Plug-in (plugin): é um programa de computador 533 que serve para acrescentar<br />
funções particulares ou específicas a outros programas.<br />
13.4 As gravações digitais<br />
Toda gravação digital utiliza um tipo de formato de áudio, dentre os vários<br />
utilizados pela indústria. Entre eles, existem os formatos abertos, utilizados pela<br />
maioria dos programas de gravação, e os formatos fechados ou formatos proprietários,<br />
restritos a algumas marcas industriais.<br />
13.4.1 Formatos de áudio 534<br />
13.4.1.1 - Arquivos de formato aberto 535<br />
AIFF (Audio Interchange File Format): é o formato padrão de arquivos de áudio<br />
usado pelo Apple, nos computadores Mac. É similar ao arquivo Wav.<br />
AU: é o formato padrão de arquivos de áudio usado pela Sun, Unix e Java. O áudio<br />
nestes arquivos pode ser codificado em PCM ou comprimido com os codecs ulaw,<br />
alaw ou G729.<br />
AUP: formato utilizado nos projetos de áudio do software Audacity.<br />
CUE SHEET/CUE FILE: é um arquivo de texto (arquivo ASCII, plaintext ou<br />
metadata) que detalha o layout das trilhas de áudio de um CD ou DVD, ou seja, como<br />
as trilhas devem ser tocadas.<br />
DCT: é um codec de formato variável projetado para ditados. Pode ser encriptado..<br />
FLAC (Free Lossless Audio Codec): é um codec de compressão sem perdas, 536 e<br />
por isto, a taxa de compressão não é boa. Pode ser usado para arquivos do tipo PCM,<br />
onde a qualidade é importante.<br />
GSM/GSM-AMR (AMR-NB): sistema projetado para o uso em telefonia, mantém<br />
a qualidade de voz. 537 Arquivos wav podem ser codificados com o codec GSM. O<br />
AMR-NB (Adaptive Multi-Rate Narrowband) é um vocoder usado em dispositivos de<br />
telefonia móvel de terceira geração, na compressão de áudio com baixas taxas de<br />
bitrate.<br />
MKA: formato de áudio da Matroska, empresa que pretende transformar seus<br />
codecs em formatos-padrão da indústria de áudio e vídeo. 538 O MKA é de formato<br />
532 Uma taxa de 1 Kbit/s (1.000 bits por segundo) significa que, a cada segundo, o codec tem 1.000 bits<br />
do arquivo final para usar. Assim, um se um arquivo de som de 8 segundos é comprimido a esta taxa, o<br />
arquivo final terá 8 kbits ou 1 kbyte. Desse modo, quanto maior a taxa de bits, melhor a qualidade do<br />
arquivo final.<br />
533 Plug-ins não são o mesmo que extensões de arquivos, pois estes modificam ou adicionam<br />
funcionalidades.<br />
534 Para mais informações sobre padrões, formatos de áudio e codecs, veja-se o site:<br />
http://www.portaldigitro.com.br/pt/tecnologia_glossario-tecnologico.php?index=0.<br />
535 É importante distinguir entre o formato (por exemplo: Wav) e o arquivo do formato, que sempre tem<br />
um ponto que o antecede (por exemplo: .wav)<br />
536 Todos os outros codecs aqui discutidos são do tipo lossy (com perdas).<br />
537 Tem um bom compromisso entre o tamanho do arquivo e a qualidade de voz.<br />
538 MKV é a sigla do formato para video digital do padrão Matroska, mais avançado que o AVI. MKV é<br />
um container de dados de vídeo. Deste modo, ele permite conter vários dados resultantes de diferentes<br />
373
livre, não restrito por patentes. É derivado do formato MCF (Multimedia Container<br />
Format).<br />
MP3: atualmente, o formato MPEG Layer-3 é o mais popular para baixar e<br />
arquivar músicas da Internet. Ele trabalha eliminando porções praticamente inaudíveis<br />
do arquivo de áudio, comprimindo a um décimo do original. É recomendado para<br />
arquivar músicas, mas não voz. Com a popularização do MP3, a taxa de bits de 128<br />
Kbits/s (16 Kbytes/s) foi muito utilizada, pois era a menor taxa de bits que o MP3<br />
podia utilizar. Com os atuais codecs, é possível gerar arquivos a 64 Kbytes/s de<br />
excelente qualidade. 539<br />
MP4: é o formato MPEG-4 international standard. M4A é a extensão para os<br />
arquivos que usam este padrão de áudio.<br />
OGG VORBIS: é um formato livre, open source, 540 liderado pela Xiph.org<br />
Foundation, que suporta uma variedade de codecs, sendo o mais popular o codec de<br />
áudio Vorbis. Os arquivos Vorbis são frequentemente comparados, em termos de<br />
qualidade, aos arquivos MP3, mas ainda são pouco conhecidos. 541<br />
RAW: um arquivo deste tipo pode conter áudio em qualquer codec, mas é mais<br />
usado com o PCM. É muito usado para testes técnicos.<br />
VOB (Vídeo Object): é um formato container (em MPEG-2) usado em DVDs, que<br />
carrega, além do arquivo de vídeo, o arquivo de áudio, as legendas e os menus<br />
(VobSubs).<br />
VOC: padrão de áudio utilizado nas placas de som Sound Blaster.<br />
VOX: este formato usa o codec Dialogic ADPCM (Adaptive Differential Pulse<br />
Code Modulation). Os arquivos de formato Vox são similares aos arquivos wav, exceto<br />
pelo fato de que ele não contém nenhuma informação sobre si mesmo. É um formato<br />
ultrapassado. 542<br />
WAV: arquivo de áudio padrão usado principalmente nos computadores com<br />
sistema operacional Windows. É geralmente usado para armazenar arquivos nãocomprimidos<br />
(PCM), ou arquivos com qualidade CD, o que significa que pode ser de<br />
tamanho muito grande – cerca de 10 MBytes por minuto de música. Mas pode ser<br />
codificado com uma variedade de codecs, para reduzir o seu tamanho; por exemplo, os<br />
codecs GSM ou MP3. 543<br />
tipos de codificações (codecs) de vídeo, tais como DivX, XviD, etc, e, em vídeo digital, x264, o<br />
KMPlayer e o VirtualDubMod (para que os arquivos funcionem corretamente deve ser instalado o K-<br />
Lite Mega Codec Pack).<br />
539 O padrão MPEG inclui os formatos: MP3 e MP2. O MP3 (MPEG1 Layer 3) foi desenvolvido em<br />
1987 por Fraunhofer-Gesellschaft. Utiliza um banco de filtros e algoritmos de compactação para reduzir<br />
os arquivos de músicas em uma relação de 12:1, com pouca perda de qualidade. Ele usa um sistema<br />
chamado Perceptual Noise Shaping, o qual utiliza um banco de filtros para pegar amostras do sinal, e,<br />
através do algoritmo de compactação, gerar um novo sinal menor em tamanho, mas com a mesma<br />
qualidade.<br />
540 O software chamado open source (código aberto) não tem limitações de propriedade, podendo ser<br />
modificado por quem puder e quiser fazê-lo. O software aberto é advogado pela GNU General Public<br />
License, pela Free Software Foundation e pelo The Open Source Movement (ou Open Source Initiative).<br />
541 Assim como o MP3, o formato Ogg pode ter até cerca de 10 horas de gravação de áudio. É<br />
atualmente suportado pelo container de vídeo OGM (Ogg Media File), substituto eficaz para o formato<br />
de vídeo AVI.<br />
542 O padrão VOX inclui os formatos: Dialogic ADPCM e o Pika ADPCM/8.000 Hz.<br />
543 O padrão WAV inclui os formatos: ACM Waveform; DVI/IMA ADPCM; A/mu-Law Wave;<br />
Windows PCM; PCM Raw Data.<br />
374
13.4.1.2 Formatos Proprietários<br />
AA: formato Audio Books.<br />
AAC/AAC+: São marcas registradas que se referem ao sistema HE-AAC v1 e<br />
HE-AAC v2 (High-Efficiency Advanced Áudio Coding). O formato AAC é baseado<br />
no padrão Dolby MPEG4. Uma versão protegida contra cópias deste formato foi<br />
desenvolvida pela Apple para permitir o download 544 de suas músicas na iTunes Music<br />
Store. Outro formato AAC é o AAC+/Parametric Stereo.<br />
AC3: formato de codec Dolby Digital de compressão de áudio com perda. Contém<br />
seis canais de som, com cinco canais para a faixa normal (20 Hz – 20.000 Hz) e um<br />
canal (20 Hz – 120 Hz) para os efeitos de baixa freqüência do sub-woofer, usados em<br />
sistemas Home Theater.<br />
APE (não suportado): o formato de arquivo .ape da Monkey's Audio é considerado<br />
capaz de conseguir cerca de 50% de compressão, sem perda na qualidade de áudio. Os<br />
formatos Monkey são: ape e apl.<br />
ATRAC (.wav): é o antigo formato Sony ATRAC. Tem sempre uma extensão de<br />
arquivo do tipo .wav. São abertos com os drivers 545 ATRAC3.<br />
CDA: formato Audio Tracks.<br />
DSS: os arquivos Digital Speech Standard são formatos de propriedade da<br />
Olympus. Não são muito utilizados.<br />
DVF: é um formato proprietário da Sony, para arquivos de voz comprimida; é mais<br />
usado nos gravadores de ditado Sony (dictation recorders). Pode exigir um plug-in<br />
Sony para serem carregados.<br />
LPAC (Lossless Predictive Audio Compression): é um codec API de alta<br />
performance usado no Winamp.<br />
MOD: formato MOD Music.<br />
MPC: padrão Media Player Classic, da Musepack. É um player similar ao<br />
Windows Media Player, mas com mais formatos. Permite bitrates de 160 a 320 kbits/s.<br />
Produz arquivos com a extensão: .mpc. Antigamente era conhecido como MPEGplus,<br />
MPEG+ ou MP+.<br />
MP+: arquivo de compressão da Musepack, que oferece melhor qualidade de áudio<br />
do que o MP3. Produz arquivos com a extensão: .mp+. É baseado no MPEG-1 Audio<br />
Layer 2 Standard (MP2), com alguns melhoramentos. Há também o MPC/+ (MPC<br />
Plus). Outro formato Musepack: mpp.<br />
M4P: formato dos arquivos protegidos ITunes. O ITunes é um equipamento da<br />
família Ipod (player Apple de áudio digital), desenvolvido pela Apple Computer para<br />
organizar e reproduzir música digital.<br />
MSV: é outro formato proprietário Sony, para arquivos de voz comprimidos<br />
Memory Stick. Pode exigir um plug-in Sony para serem carregados.<br />
OFR: formato OptimFROG.<br />
RA: é o formato Real Audio (RealNetworks) projetado para streaming de áudio na<br />
Internet. Os arquivos de formato .ra podem ser armazenados no computador, em uma<br />
forma auto-contida (self-contained fashion). Ou seja, os dados de áudio estão todos<br />
dentro deste arquivo. Os formatos Real Audio podem ser: ra, rax, rmm, ram, rpm, rm,<br />
rmvb.<br />
544 O termo download significa baixar, retirar arquivos (de qualquer tipo) da rede Internet; o termo<br />
upload significa levar arquivos para um site qualquer, onde ficarão disponíveis para download.<br />
545 Há uma diferença entre drivers e drives. Os primeiros são softwares (programas que complementam<br />
o programa principal), e os segundos, hardwares (por exemplo, o drive de disquete é um equipamento<br />
físico que integra os computadores, e onde disquetes são gravados ou lidos).<br />
375
RAM: é um arquivo de texto que contém um link para um endereço da Internet no<br />
qual estejam armazenados arquivos Real Audio. Os arquivos .ram não possuem áudio,<br />
eles próprios.<br />
SNG (song): um dos formatos usados pelos softwares Anvil Studio e Evolution<br />
Audio Lite.<br />
SPX: formato Speex.<br />
TTA: formato True Audio Codec.<br />
VQF: formato sonoro de compressão derivado do MP3, criado pela Yamaha. É<br />
cerca de 35% menor do que um arquivo MP3 equivalente.<br />
WMA: é o formato proprietário da Microsoft, o Windows Media Audio. Foi<br />
projetado com as proteções (contra cópia) da Digital Rights Management (DRM).<br />
WV: formato WavPack.<br />
III) Outros formatos:<br />
ATRAC: com as extensões de arquivo .oma, .omg ou .atp, é o mais novo estilo de<br />
formato proprietário da Sony, tendo sido projetado para uso com minidiscos. Os<br />
arquivos deste tipo não podem ser abertos por alguns softwares. É similar ao MP3.<br />
3.5 A gravação em estúdio<br />
Grooves 546 é o nome que se dá às gravações de áudio. Refere-se tanto à gravação<br />
profissional em estúdio quanto à gravação feita em nível doméstico.<br />
13.5.1 O estúdio profissional<br />
O estúdio profissional de gravação pode ser utilizado para a gravação de jingles,<br />
comerciais, execuções instrumentais, performances de bandas de todo tipo, play-backs,<br />
etc. Uma configuração ideal de estúdio profissional pode ter os seguintes<br />
equipamentos: mesa ou mixer para som direto (mesa de edição), computador e/ou<br />
laptop, softwares, gravador analógico, teclados, sintetizadores analógicos e digitais,<br />
microfone direcional, microfone de lapela, captadores, gravador Mini Disk (MD),<br />
câmera filmadora, par de monitores amplificados, headphone, metrônomo, placa de<br />
som, interface MIDI, pedestais para microfones (varas de boom), abafador de<br />
microfone, cabos de interligação (áudio e MIDI), racks para equipamentos, fontes de<br />
alimentação, transformadores, estabilizadores, no-breaks,etc.<br />
Toma-se como regra que os amplificadores (pré e amp) sejam valvulados (usem<br />
válvulas à vácuo), porque eles dão um som melhor do que os transistorizados.<br />
Normalmente, não há necessidade de instrumentos musicais, os quais serão<br />
providos pelos músicos ou bandas.<br />
Uma configuração básica pode ser formada com microfone, teclado, mesa de som,<br />
placa de áudio, pré-amp/amp, monitores e cabos de interligação (e demais acessórios).<br />
Esquema de interligação:<br />
546 Do verbo to groove, entalhar, fazer sulcos. A gravação nos antigos discos de vinil se dava através de<br />
sulcos feitos no disco. Por analogia, usa-se esta expressão para as gravações de áudio. O termo groove,<br />
por outro lado, indica partes da música que se repetem, determinando os ritmos.<br />
376
O equipamento central na gravação profissional do som é a chamada mesa de<br />
mixagem (mixing console ou mixer), mesa de edição ou mesa de som. Na sala de<br />
controle, ela recebe todos os sinais elétricos provenientes dos microfones e dos<br />
captadores elétricos dos instrumentos musicais situados no estúdio principal. O mixer<br />
também pode receber sinais de todo tipo de equipamento, tais como supressores de<br />
ruído, compressores, aparelhos de eco, harmonizadores, etc, e enviá-los aos diversos<br />
canais do gravador da mesa de gravação, nos níveis apropriados. Posteriormente, uma<br />
remixagem reduz todos os sinais para o sistema estereofônico de dois canais, de uso<br />
doméstico.<br />
O Digital Audio Workstation (DAW) é um sistema projetado para gravar, editar e fazer<br />
play back de áudio digital. Basicamente, é um sistema de manipulação de sons<br />
gravados. É uma combinação de software de áudio multipistas com um hardware de<br />
alta qualidade, incluindo conversores ADC e DAC, além de um editor de áudio. Tudo<br />
isto com baixo ruído, alta resolução de gravação e excelente faixa dinâmica.<br />
Embora os computadores possam ser considerados como DAW, 547 o termo refere-se a<br />
equipamentos (ou softwares) 548 específicos para estas funções. Tais equipamentos são<br />
as mesas de mixagem ou mesas de edição, que possuem inúmeros controles<br />
integrados. 549<br />
A disposição dos microfones é fundamental para uma boa gravação.<br />
Principalmente para a captação de baixas freqüências (de baixos, contrabaixos, etc.),<br />
547 Para isto o computador deve estar provido da sound card (placa de som, ou placa de áudio). A placa<br />
padrão para computadores PC tornou-se, praticamente, a placa Sound Blaster. As placas de som usam<br />
dois processos para transformar som digital em analógico: a síntese FM e a síntese Wavetable. Por muito<br />
tempo, os computadores Macintosh foram os preferidos para este tipo de operação. Com o crescente<br />
aperfeiçoamento do PC e a crescente oferta de hardware e software, os computadores PC atingiram a<br />
excelência nesta atividade.<br />
548 Os softwares mais conhecidos são: Logic Pro, Pro Tools, Peak, Vision, Cubase SX, MAX/MSP,<br />
Cakewalk SONAR, Digital Performer, Adobe Audition, Sound Forge, McFunSoft Audio Editor/Studio,<br />
Reason (comerciais); Audacity, Ardour, QuartzAudioMaster, Anvil Studio, Evolution Audio Lite, Bandin-a-Box<br />
(freeware).<br />
549 Veja-se o verbete: Digital Áudio Workstation, que se encontra na Enciclopédia Virtual Wikipédia<br />
(http://en.wikipedia.org/wiki/Digital_audio_workstation), para um completo esclarecimento acerca deste<br />
tema.<br />
377
que são as mais difíceis de serem gravadas. A gravação em linha, na qual o microfone<br />
é “plugado” diretamente ao gravador, costuma ser muito utilizada. Ou então, o<br />
microfone vai ligado a um pré-amplificador, antes de ir ao gravador.<br />
Há duas posições gerais para os microfones: a do par espaçado, 550 em que os<br />
microfones são posicionados entre 2 a 2,50 m entre si, formando um triângulo<br />
eqüilátero no qual o instrumento fica no vértice oposto; a do par coincidente, em que<br />
os microfones são colocados juntos, apontando para dentro, e posicionados entre 2 e<br />
2,50 m do instrumento.<br />
A aproximação do microfone ao instrumento musical aumenta o volume, sem que a<br />
reverberação aumente. Já o distanciamento, além de diminuir o volume, tende a<br />
aumentar o grau de reverberação.<br />
Se caixas acústicas forem usadas, elas devem ser posicionadas o mais distante<br />
possível dos microfones, até mesmo para evitar o efeito de microfonia. 551 O nível do<br />
instrumento deve ser sempre maior do que o som vindo das caixas.<br />
Se houver microfonia, o reposicionamento do microfone pode ser feito encontrando<br />
a freqüência aproximada na qual ela ocorre. Usando a fórmula λ = 344/f , encontra-se o<br />
comprimento de onda desta freqüência, e o microfone pode ser deslocado em<br />
distâncias iguais à metade ou ao quarto-de-onda da mesma. 552<br />
Para captar sons ambientes, um dos microfones pode ficar posicionado junto ao<br />
instrumento, e outro mais distante, será posto voltado para a sala, auditório, etc. O<br />
nível deste microfone pode ser maior do que o outro, e na mixagem, o controle de<br />
balanço ajuda a encontrar o som mais agradável de gravação.<br />
O som a ser gravado 553 deve ser testado tanto com fones de ouvido quanto em<br />
relação aos níveis indicados nos medidores VU. O nível total deve estar um pouco<br />
abaixo do nível inicial de distorção. Estes testes também ajudam no posicionamento<br />
final dos microfones e no controle da reverberação.<br />
Os sinais dos microfones podem retornar para o estúdio, para fones de ouvido<br />
individuais, permitindo que cada músico ou intérprete ouça a música enquanto toca ou<br />
canta.<br />
Em instrumentos acústicos, o uso do microfone é chamado de microfonação. 554<br />
Atualmente, a maioria das gravações é feita digitalmente, ao invés de serem<br />
analógicas. Alguns sofwares ajudam a fazer combinações de cabeçotes e caixas<br />
acústicas, bem como alterar vários parâmetros (por exemplo, o posicionamento dos<br />
microfones). Podem também emular as propriedades sonoras das válvulas, como<br />
também o timbre característico dos amplificadores a válvulas. 555<br />
550 Esta técnica é mais utilizada em gravações não profissionais.<br />
551 É uma realimentação sonora que provoca um assobio agudo.<br />
552 Por exemplo, para uma freqüência de 1.000 Hz, encontra-se o valor de 34,4 cm (que é o comprimento<br />
de onda), que dá as distâncias de 8,6 cm (um quarto-de-onda) e de 17,2 cm (metade da onda).<br />
553 Devem ser feitas várias gravações (takes) de uma mesma música, aproveitando-se a melhor.<br />
554 Em razão da vasta quantidade de informações acerca deste tema, sugere-se o acesso ao site<br />
http://www.sallaberry.com.br/pt/utilidades/microfonacao.htm (para microfonação de baterias) e ao<br />
fórum http://paginas.terra.com.br/educacao/audiolist/faq/faq_mic_modelo.htm, para informações gerais.<br />
555 Um dos melhores softwares, no caso, é o AmpFarm (linha Mac), que emula vários amplificadores<br />
considerados clássicos: 1959 Fender Bassman, 1965 Fender Twin, 1964 Fender Deluxe, 1964 Marshall<br />
JTM 45, 1968 Marshall Plexi, 1990 Marshall JCM 800, 1960 Vox AC 30, 1963 Vox AC 30 com topboost,<br />
1994 Mesa Boogie Dual Rectifier Trem-overb combo, 1995 Mesa Boogie Dual Rectifier head,<br />
1989 Soldano Super Lead Overdrive head, 1987 Soldano X88R Preamp e 1996 Matchless Chieftain.<br />
378
O uso adequado de medidores VU permite encontrar um melhor alcance dinâmico<br />
e uma melhor relação sinal-ruído, 556 de forma a que sejam atenuados os chiados de<br />
fundo e de fita.<br />
Exemplos de mesas de som:<br />
O mixer de estúdio é dividido em módulos. Cada módulo possui os diversos<br />
controles necessários usados durante uma gravação: controle de ganho de entrada para<br />
microfone e linha, atenuação de entrada, 557 equalização em diversas freqüências, sinal<br />
de retorno, saída auxiliar e os controles chamados de panning e fader. Todos os sinais<br />
que passam pelo mixer podem ser monitorados por áudio (alto-falante) ou por medida<br />
do sinal elétrico, através de medidores VU ou PPM.<br />
A gravação analógica dos múltiplos sinais elétricos provenientes do mixer é feita<br />
em um gravador de estúdio multipistas ou multifaixas (multitrack), ou gravador de<br />
vários canais. Assim, cada instrumento musical é gravado em um canal separado,<br />
sendo que a fita é chamada de fita master de múltiplos canais. Essa fita master é<br />
remixada e reduzida para o sistema estéreo, de dois canais. Isto produz uma outra fita<br />
master de dois canais, da qual serão tiradas todas as cópias em fitas e discos CD. 558<br />
Qualquer que seja o tipo de gravação, a preocupação é sempre com os problemas<br />
acústicos: evitar que ruídos e sons indesejáveis sejam captados pelos microfones; evitar<br />
reflexões de som no interior do ambiente (que podem ocasionar desagradáveis ondas<br />
estacionárias); evitar ecos e reverberações, etc. Precauções simples como portas que<br />
fecham hermeticamente, cortinas pesadas, vidraças duplas e móveis colocados em<br />
ângulo muitas vezes resolvem os problemas acústicos mais simples. O ar condicionado<br />
muitas vezes introduz ruídos, que devem ser atenuados.<br />
Para evitar ruídos elétricos, o rack 559 da sala de controle deve ter um bom<br />
aterramento. Além disso, os cabos que interligam os microfones, captadores e<br />
instrumentos musicais à sala de controle devem ser de boa qualidade. Fones de retorno<br />
auxiliam os músicos, e um bom metrônomo no estúdio também pode ajudar, durante a<br />
gravação, para controlar o andamento.<br />
556 De acordo com a curva do campo de audibilidade (ver item 2.3.1), o espectro de potência da música<br />
cai rapidamente a partir de 400 Hz. Assim, como o nível de ruído é praticamente constante dentro (e<br />
além) da faixa de áudio, ele fica mais evidente nas freqüências mais altas, o que dá a impressão de que o<br />
ruído da energia concentra-se nesta parte do espectro de áudio. Desse modo, o aumento da faixa de<br />
freqüências torna necessário melhorar a relação sinal-ruído do sistema.<br />
557 A atenuação do sinal de entrada em mesas de som, mixers ou processadores de modo a evitar<br />
distorção por excesso de volume pode ser feita através de circuitos ou resistências denominadas Pad.<br />
558 O atual sistema de reprodução comercial de música evoluiu do antigo sistema de discos de vinil<br />
(chamados Hi-Fi e long-play) para o sistema de gravação digital em discos chamados CD (Compact<br />
Disc) ou CD-ROM. Os mais comuns possuem capacidade de 650 Mbytes (74 minutos de gravação) ou<br />
700 Mbytes (80 minutos). Alguns podem chegar a 870 Mbytes (99 minutos). O CD de música comercial<br />
é do tipo CD-R (apenas leitura); o CD gravável é do tipo CD-RW (lê e escreve). No CD podem ser<br />
gravados arquivos de áudio, fotos, textos, vídeos, etc.<br />
559 No rack ficam a mesa de som, os medidores VU, computador, gravador, etc.<br />
379
Um esquema simples de estúdio de gravação é dado a seguir:<br />
O estúdio de gravação ideal deve ter assoalho e teto falsos, revestimento acústico e<br />
uma rede bem planejada de cabos de boa qualidade interligando os equipamentos.<br />
Toda a parte elétrica deve ser projetada de modo a atender às necessidades de potência<br />
dos equipamentos, com o uso de estabilizadores e de no-breaks, além de receber um<br />
bom aterramento.<br />
Os estabilizadores são equipamentos elétricos projetados para manter a tensão<br />
(voltagem) da rede elétrica estável, independente das variações que possam ocorrer.<br />
Podem ser monofásico e bifásicos (entre 3,5 a 50 Kva) ou trifásicos (entre 3 a 350<br />
Kva).<br />
O no-break é um equipamento que permite que os equipamentos continuem<br />
alimentados, mesmo que a energia comercial acabe. Sua autonomia depende de vários<br />
fatores, tais como o consumo total, a capacidade do no-break, etc.<br />
Há no-breaks que são também estabilizadores.<br />
Além de equipamentos elétricos de qualidade, a serem usados na alimentação geral,<br />
é conveniente também se fazer um bom aterramento, que tanto serve para evitar<br />
zumbidos (hums), quanto para evitar que o equipamento se queime, devido a<br />
sobrecargas elétricas. Além disso, todos os equipamentos devem ser interligados com<br />
cabos e conectores de boa qualidade.<br />
380
Para garantir uma alimentação de energia limpa, isenta de ruídos na linha, costumase<br />
usar o chamado Condicionador de energia. Ele é formado por uma série de<br />
dispositivos para alcançar esta finalidade:<br />
A conexão dos equipamentos entre si é feita geralmente através de um painel de<br />
conexões (patchbays), com 24 ou 48 (2x24) vias (pares de jacks), com conectores<br />
(plugs ou jacks) dos tipos: TRS ¼”; conector RJ-45 (ou 8P8C); conector BNC (para<br />
conexão de cabos coaxiais); jack mono (plug banana); jack estéreo; plug MIDI (ou<br />
plug DIN de cinco pinos) ou interface MIDI; plug RCA; conector XLR (para conexões<br />
de linhas balanceadas).<br />
As conexões podem ser feitas através de unidades UA (interface de áudio e MIDI),<br />
com protocolo USB para comunicação com computadores. 560<br />
Um padrão de conexão é o seguinte: entradas XLR, 1/4" TRS e digital ótica; saídas<br />
1/4" TRS, RCA e digital ótica, além de conexões MIDI IN/OUT. 561<br />
Outros tipos de plugs utilizados em mídia: USB e digital ótico:<br />
Os cabos de interligação podem ser: cabo blindado mono (um condutor interno);<br />
cabo blindado estéreo (dois condutores internos); cabo coaxial; cabo óptico.<br />
560 A conexão USB – Universal Serial Bus – tornou-se um padrão universal de conexão de periféricos de<br />
todo tipo, na forma PnP (Plug and Play), em que não há necessidade de re-configurar o computador. O<br />
barramento USB (USB 1.1) trabalha entre 1,5 Mbps até 12 Mbps (uma versão recente – o USB 2.0 –<br />
pode chegar a 400 Mbps).<br />
561 Uma função chamada DIRECT MONITOR permite monitorar o sinal de entrada sem latência.<br />
381
13.5.2 O estúdio doméstico (home studio)<br />
Há que se considerar o seguinte: um estúdio doméstico pode estar direcionado para<br />
a gravação ou para a produção de música.<br />
I) Gravação musical: 562<br />
No primeiro caso, a quantidade de equipamentos necessários depende da<br />
necessidade e da disponibilidade de recursos.<br />
Para a gravação, um esquema básico será constituído de microfone, captador, préamp,<br />
computador, mesa de som e gravador (e demais acessórios).<br />
Há a necessidade de uma sala isolada acusticamente, onde ficarão os músicos,<br />
intérpretes e instrumentos.<br />
Todas as considerações feitas para a gravação profissional também valem para a<br />
gravação doméstica.<br />
O esquema básico de gravação é o seguinte:<br />
II) A produção de música:<br />
Entende-se por produção de música a utilização de equipamentos para produzir<br />
música através de sintetizadores ou computadores, seja através de execução direta<br />
através de teclados ou outros instrumentos musicais (ligados via MIDI), seja através da<br />
re-mixagem de samples ou músicas já existentes.<br />
Neste caso, não há necessidade de uma sala isolada acusticamente.<br />
Em sua expressão mais simples, um estúdio de produção musical pode se limitar a<br />
um teclado e um computador (e softwares), equipamentos por si só suficientes para<br />
uma produção musical de qualidade.<br />
Sendo usado um computador, é importante escolher uma boa placa de som (sound<br />
card), para uma perfeita transferência e conversão de áudio. As melhores devem<br />
oferecer conversão de 24-bit, com sample-rates de até 96 kHz, entradas e saídas de<br />
áudio analógicas balanceadas ou não-balanceadas, entradas e saídas de aúdio digitais<br />
562 Amplas informações sobre como montar um estúdio de gravação podem ser encontradas nos artigos<br />
de Miguel Ratton, em http://www.music-center.com.br/.<br />
382
S/PDIF 563 e entrada e saída MIDI. Devem também oferecer gravação multipistas<br />
(multitrack). A saída da placa de som vai conectada aos monitores através de cabos<br />
RCA TS ou TRS, ou P-10.<br />
III) Edição e mixagem: 564<br />
Entende-se por edição a limpeza de uma gravação de áudio: separando as partes em<br />
que não há som; eliminando as duplicações; fazendo a junção de arquivos de áudio;<br />
realizando crossfades. 565<br />
Modernamente, a faixa de áudio é dividida de um modo que inclui alguns<br />
parâmetros não-técnicos, mas que são bastante utilizados para definir as freqüências<br />
musicais: 566<br />
Faixa Intervalo Nome<br />
Graves 20 Hz a 200 Hz Peso<br />
Médio-graves 200 Hz a 1 KHz Corpo<br />
Médio-agudos 1 KHz a 6,3 KHz Definição<br />
Agudos 6,3 KHz a 20 KHz Brilho<br />
Conforme o instrumento, outros termos são utilizados, tais como kick (abreviação<br />
de kick drum, bumbo de bateria); pegada; estalo; presença; clareza.<br />
Para a equalização realizada durante uma mixagem, consideram-se as freqüências<br />
(ou alcance de freqüência) de acordo com a tabela (parcial) seguinte:<br />
Bumbo (corpo) 50 Hz a 110 Hz<br />
Bumbo (estalo) 1 kHz a 3 kHz<br />
Bumbo (kick) 5 kHz a 7 kHz<br />
Caixa (corpo) 200 Hz a 560 Hz<br />
Caixa (pegada) 2 kHz a 5 kHz<br />
Gongo (brilho) 7,5 kHz a 10 kHz<br />
563 Sony/Philips Digital Interface. É um padrão de transferência de áudio em formato digital, sem perdas.<br />
Existem dois padrões: um que utiliza cabos de cobre e outro que utiliza cabos de fibra óptica. O S/PDIF<br />
é um conector de áudio que vem em algumas placas de áudio. Outros protocolos de transferência de<br />
áudio são o TDIF (Tascam Digital Interface) e ADAT Optical. Ambos trabalham com o padrão MDM<br />
(Modular Digital Multitrack) de gravação multipistas (outras definições podem ser encontradas em<br />
http://www.sweetwater.com/expert-center/).<br />
564 Um artigo bastante completo acerca de edição (com a utilização do software Ardour) pode ser<br />
encontrado no site http://estudiolivre.org/tiki-index.php?page=ardour+edicao&bl (o home -<br />
http://estudiolivre.org/tiki-index.php?page=ardour+manual&bl - apresenta um manual completo deste<br />
software, o Ardour, que é uma estação de trabalho de áudio digital para Linux e MacOSX).<br />
565 O crossfade é uma transição suave de uma região de áudio para outra.<br />
566 São nomes utilizados principalmente em estúdios de gravação de som. Para mais termos, veja-se o<br />
site http://www.paginadosom.com.br/index.html (Dicionário Ilustrado de Áudio Básico).<br />
383
Guitarra (corpo) 200 Hz a 300 Hz<br />
Piano (presença) 2,5 kHz a 5 kHz<br />
Tarol (corpo) 200 Hz a 300 Hz<br />
Timbales (corpo) 200 Hz a 300 Hz<br />
Ton-tons (corpo) 100 Hz a 500 Hz<br />
Ton-tons (estalo) 2 kHz a 7 kHz<br />
GLOSSÁRIO BREVE 567<br />
Fill Track: copia uma região tantas vezes quanto necessário para completar a<br />
trilha, até a marca final da sessão atual.<br />
Grabber: é usado para movimentar uma região selecionada para um outro lugar.<br />
No modo Time, move-se todo o áudio (parte selecionada); no modo Separation, a<br />
região selecionada é retirada do áudio, podendo ser colocada em qualquer outra parte.<br />
Lock: impede uma região de ser movida, organizada ou modificada em quase<br />
qualquer forma.<br />
Mute: cria uma região de silêncio durante a reprodução.<br />
Nudge: movimentação de uma região.<br />
Overdub: é uma sobreposição de uma gravação sobre outra, sem que se perca a<br />
anterior (todas as duas ficam audíveis).<br />
Overlap: sobreposição de partes de duas regiões de áudio.<br />
Pencil: é usado para “escrever” o áudio (uma parte da waveform), sem ter que<br />
gravar novamente. Os modos são: free-hand, para desenho a mão livre; Line, triangle,<br />
square e random, para desenhar objetos geométricos ou polígonos disformes. Para<br />
inserir MIDI, o tempo da nota pode ser modificado (custom note).<br />
Playlist: lista de regiões dispostas cronologicamente.<br />
Rec: inicia uma gravação.<br />
Remove: remove a região da trilha (é uma ação não-destrutiva).<br />
Scrubber: é utilizado para a escuta de uma determinada região.<br />
Selector: é usado para selecionar uma região sonora, ou parte dela.<br />
Sessão: é cada uma das operações de edição e mixagem, que gera um único<br />
arquivo de áudio final.<br />
Sessão atual: a operação de edição e mixagem em curso.<br />
Smart tool: conjunto de demais ferramentas.<br />
Split: divisão de uma região a partir da posição do cursor.<br />
Strip Threshold: escolha da duração mínima a ser considerada como silêncio, ou<br />
seja, quantos milissegundos antes (Region Start Pad) e depois (Region End Pad) da<br />
região devem ser mantidos.<br />
Toggle envelope visibility: exibe ou oculta a região de ganho do envelope.<br />
Track: cada uma das trilhas de áudio.<br />
TrackHeight: uma opção para aumentar ou diminuir a altura de qualquer track<br />
(com várias opções de altura).<br />
Trimmer: é a diminuição ou expansão de uma região sonora, sem alterar o som. O<br />
trimmer padrão (standard) apenas mostra ou oculta partes da região de som; e o<br />
trimmer TCE (Time Compression Expansion), ao encurtar ou expandir, também<br />
modifica o som.<br />
Virtual track: uma trilha virtual que pode ser mapeada/atribuída a uma trilha real.<br />
Zooming (zoom): permite aumentar ou diminuir a visão dos arquivos de áudio ou<br />
MIDI, o que facilita a edição.<br />
567 Os softwares de referência são o Pro Tools LE e o Ardour.<br />
384
IV) Processamento/edição de áudio MP3:<br />
Após a criação de música, esta deve ser colocada em forma de arquivo, usando um<br />
dos vários formatos existentes. Os atuais formatos mais comuns são o Wav, que é o<br />
formato padrão da Microsoft, e o MP3.<br />
É comum, em estúdios, extrair áudios de CDs para criar samples (amostras) de<br />
áudio, que poderão ser usadas em criações musicais. O termo que os audiófilos usam é<br />
ripar (de rip, tirar, extrair). Este é o processo pelo qual se extrai o áudio de um CD<br />
para o computador. A gravação no computador pode ser feita no formato padrão Wav<br />
ou, através de um encoder, convertida para MP3. 568<br />
A gravação em MP3 é sempre recomendada, porque os arquivos ficam pequenos, e<br />
com isto permitindo, posteriormente, gravar mais músicas em um único CD<br />
(atualmente a maioria dos equipamentos toca música neste formato).<br />
Para fazer boas gravações em MP3, se necessário, deve-se usar o fade-out e o cut.<br />
O primeiro é um efeito pelo qual a música vai diminuindo devagar de volume, até<br />
chegar ao silêncio. O segundo efeito permite eliminar espaços silenciosos entre duas<br />
músicas. 569<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Bitrate (bit-rate): é a taxa de compactação. Geralmente usa-se 128 kbps, ou seja, um<br />
processamento de 128 kbytes por segundo. Isto gera um arquivo de bom tamanho,<br />
com qualidade próxima de CD. Quanto mais baixo o bitrate, menor será o tamanho e<br />
a qualidade do áudio.<br />
CO<strong>DE</strong>C (COder, <strong>DE</strong>Coder): são algoritmos para processamento de formatos.<br />
Cut: corte ou encurtamento de intervalos entre músicas. 570<br />
Decoder: circuito eletrônico ou software que decodifica um sinal codificado.<br />
Encoder: software que extrai áudio de CD e faz (entre outras) a conversão de<br />
formato WAV para MP3. Também conhecido como ripper ou grabber.<br />
Fade-out: diminuição progressiva do final da música. 571<br />
Ripper: software de extração de áudio de CD e de conversão de formatos.<br />
Ripar: é o processo de extração do áudio de um CD para o computador.<br />
Sample: são trechos retirados de outras músicas, e usados para produzir novas.<br />
Sampler: equipamento que armazena sons, e os reproduz da maneira que se desejar.<br />
Exemplo de uma sala doméstica de produção/gravação de música (home studio), de<br />
porte médio:<br />
568 A ripagem também pode ser feita diretamente para MP3.<br />
569 Os efeitos respectivos podem ser conseguidos através dos programas freeware Mp3Trim e<br />
Mp3DirectCut, os quais podem ser baixados de qualquer site de downloads.<br />
570 O Mp3DirectCut permite ver o gráfico da música; escolhe-se o intervalo, aciona-se cut, e salva-se o<br />
resultado (sempre ouvindo a música, para conferir o resultado).<br />
571 Na prática, usa-se um intervalo entre cinco e dez segundos de fade-out.<br />
385
13.6 O som automotivo 572<br />
Som automotivo é a sonorização levada a cabo em veículos pesados, carros de<br />
passeio, utilitários esportivos, lanchas, iates, etc., usando equipamentos de som de<br />
elevado desempenho. 573<br />
Há três categorias de som automotivo:<br />
• Alta-fidelidade (Hi-Fi): mais conhecida como QS – Quality-Sound. O objetivo<br />
é a reprodução da música em alta fidelidade no interior do veículo, com o<br />
máximo de dinâmica, detalhamento e linearidade.<br />
• SPL (Sound Pressure Level): são sistemas cujo objetivo é maximizar a pressão<br />
sonora dos alto-falantes, usando múltiplos subwoofers e/ou calculando caixas<br />
acústicas com reforço de freqüência. Uma sub-categoria também conhecida por<br />
SQPL tenta aliar SPL e alta fidelidade. A SPL tem a ênfase dada nas<br />
freqüências graves do espectro audível (menos que 100 Hz).<br />
• Trio elétrico: voltada para a reprodução da música em volumes altos e para<br />
fora do veículo. Muitas vezes o som resultante é distorcido e não linear. São<br />
usados para animar festas.<br />
572 Explicações bastante completas acerca de som automotivo podem ser vistas no verbete Som<br />
Automotivo, na Wikipédia, em http://pt.wikipedia.org/?title=Som_automotivo. Também em:<br />
http://idealgratis.com/cursos_gratuito/som_automotivo/curso_som_automotivo_p01.php. Acerca das<br />
categorias e campeonatos, veja-se: http://www.zetecclub.com/somautomotivo.asp.<br />
573 O custo do equipamento de som, às vezes, supera em muito o valor do veículo.<br />
386
A utilização intensiva de som automotivo por usuários levou a um tipo de<br />
competição ou campeonato de som, nas categorias QS, SPL e Trio Elétrico, em que se<br />
busca escolher quem tem o melhor equipamento de som instalado.<br />
Entidades e organizações de usuários foram criadas para realizar estas competições.<br />
As entidades mais conhecidas (nas várias categorias) são: IASCA (International Auto<br />
Sound Challenge Association), DbDragRacing, 101 Eventos, MTM, Meca.<br />
A categoria de competição mais difícil é a Quality Sound, e a mais popular é a<br />
SPL, que possui diversos calendários e etapas.<br />
Os equipamentos usados em som automotivo são:<br />
1) Fontes de diversos tipos (Head-Unit) 574 :<br />
• CD-Player 575<br />
• Auto DVD-Player<br />
• Toca-fita<br />
• iPod<br />
• Pen-drive<br />
2) Sistemas de divisão de som (Equalizer/Crossover):<br />
• Equalizadores<br />
• Divisores de freqüências (ativos e/ou passivos)<br />
2) Sistemas de amplificação (Amplifiers) que podem ser:<br />
• Amplificador de potência (entre 30 W e 15.000 W RMS), de 2 ou 4<br />
canais<br />
• Amplificador marítimo<br />
• Amplificador de banda 4 canais<br />
• Amplificador digital<br />
• Módulo de potência 2 e 3 canais<br />
3) Sistemas de alimentação de energia:<br />
• Baterias (entre 75 a 150 Ah)<br />
• Fusíveis e disjuntores<br />
• Mega capacitores (até 3 Farads de capacidade)<br />
• Cabos de alta corrente, alta tensão e baixa tensão<br />
4) Sistemas de conversão de energia elétrica em ondas sonoras e seus suportes:<br />
• Alto-falantes tweeters, mid-ranges (ou mid-bass), woofers e subwoofers<br />
• Caixas acústicas, sonofletores<br />
574 Pode incluir o Receiver, ou Sintonizador AM/FM (alguns podem sintonizar estações de rádio via<br />
satélite), ou um Módulo HD de recepção de sinal digital de rádio.<br />
575 Com possibilidade de ouvir inclusive arquivos Wav e MP3 (ou outros formatos de arquivo).<br />
387
5) Outros:<br />
• Telas de LCD<br />
• Controle remoto<br />
• Painel de controle<br />
ALTO-FALANTES EM SOM AUTOMOTIVO<br />
Os alto-falantes utilizados em som automotivo são os mesmos de qualquer sistema<br />
de som. Os mais comuns são do tipo eletrodinâmico, pois transformam a energia<br />
elétrica recebida do amplificador em energia acústica por meio de um transdutor<br />
mecânico-elétrico-acústico constituído de uma bobina móvel imersa em um campo<br />
magnético mantido por um imã permanente.<br />
As principais características de um falante eletrodinâmico são:<br />
Resposta em freqüência: corresponde à curva da pressão sonora emitida pelo altofalante,<br />
medida em relação ao conjunto das freqüências audíveis. As freqüências são<br />
eletricamente emitidas com a mesma potência nominal, de 20 Hz a 20.000 Hz. Esta<br />
medida define o alto-falante como pertencente a um grupo ou tipo (ver a seguir).<br />
Impedância nominal: é a resistência característica da bobina do alto-falante<br />
somada ao valor da sua capacitância/indutância, definido como o valor mínimo<br />
encontrado logo acima da ressonância em baixa freqüência.<br />
Resistência: é definida como a resistência ôhmica (em ohms) do fio de cobre da<br />
bobina.<br />
Potência: A Norma Brasileira NBR 10303 define a Potência Nominal como a<br />
potência máxima em Watts RMS (Root Mean Square) aplicável ao alto-falante no<br />
período mínimo de duas horas, dentro da faixa de freqüencias para a qual foi<br />
construído. 576<br />
Sensibilidade: é o nível de pressão sonora, em dB, emitido pelo falante com 1<br />
(um) watt RMS, a um metro de distância. Serve para identificar os alto-falantes mais<br />
eficientes e que aproveitam melhor a potência dos amplificadores.<br />
Parâmetros Thiele-Small: identificam para o projetista os dados necessários para<br />
o cálculo do volume e do tipo caixa acústica mais aconselhável para um dado altofalante.<br />
Cinco grupos diferentes de freqüências podem ser definidas para a reprodução dos<br />
alto-falantes, e que servem para definir os seus tipos:<br />
Subwoofer: são projetados para as freqüências mais baixas, comumente entre 20<br />
Hz a 120 Hz. Tem grande capacidade de absorção de potência, alta excursão do cone e<br />
bobinas longas.<br />
Woofer: abrangem as freqüências de 20 Hz a 3.000Hz. Mas se o sistema emprega<br />
sub-woofers, sua resposta é limitada às freqüências de 50 Hz a 500 Hz. Tem boa<br />
576 A Potência Musical surgiu como uma definição padronizada pelo IHF (Institute of High Fidelity)<br />
como uma forma de incorporar o sinal tipicamente musical em vez de sinais senoidais às medições. É<br />
considerada como sendo cerca de 2 vezes a potência RMS. Quanto à Potência Musical de Pico<br />
Operacional (PMPO), corresponde ao pico do programa musical. Tecnicamente, é uma medida sem<br />
confiabilidade, criada pela indústria para dar a impressão de que o equipamento é bem potente.<br />
388
capacidade de absorção de potência. Em sistemas mais simples, como por exemplo os<br />
de duas vias, podem reproduzir a faixa completa até 300 Hz.<br />
Mid-bass: são usados para freqüências entre 80 Hz e 500 Hz. São muito usados em<br />
sistemas multi-vias com divisores ativos, em portas e tampas traseiras.<br />
Mid-range: para freqüências de 300 Hz a 4.000 Hz. São normalmente usados em<br />
sistemas de tres ou mais vias, podendo ser fechados, abertos ou tipo domo. Definem a<br />
qualidade do som, já que reproduzem a faixa de freqüências com maior presença e que<br />
necessita de mais definição (nessa faixa ficaa a maioria dos instrumentos musicais, e<br />
também a voz humana).<br />
Tweeter: Para freqüências na faixa dos agudos, de 3.000 Hz a 20.000 Hz.<br />
Normalmente bastante diretivos, são fundamentais na localização da imagem sonora.<br />
Podem ser construídos com cone, domo ou utilizando cristais piezoelétricos.<br />
GLOSSÁRIO BREVE<br />
Ausência de ruído no sistema: relação sinal-ruído com boas características, sem<br />
interferências ou ruídos dos acessórios, mecanismos de transporte, antena elétrica, etc.<br />
Booster: um dos dois tipos de amplificadores empregados em som automotivo, que<br />
reforça a saída de potência. O booster trabalha com baixa impedância de entrada,<br />
banda de passagem limitada e nível mais alto de ruídos que um módulo de potência<br />
que recebe o sinal de um pré-amplificador em alta impedância. O booster amplifica o<br />
sinal enviado pelas saídas amplificadas da unidade principal.<br />
Door-pods: caixas acústicas usadas nas portas dos veículos, para instalação de<br />
mid-ranges.<br />
Kit componente: conjunto de dois alto-falantes (um tweeter e um mid-bass) e um<br />
divisor de freqüências (crossover).<br />
Imagem: mede a definição da imagem estéreo, colocando o ouvinte no centro do<br />
espetáculo, definindo bem a origem dos sons, esquerdo, direito e frontal, e<br />
proporcionando profundidade de som.<br />
Manta acústica: tratamento feito no interior das portas de automóveis para evitar<br />
ressonâncias e selar a parte de trás do alto-falante original da porta.<br />
Mosfet: o segundo tipo de amplificador usado em som automotivo. O mosfet<br />
amplifica o sinal enviado pelas saídas RCA da unidade principal. São amplificadores<br />
com fontes de alimentação do tipo PWM (Pulse Wide Modulation – Modulação por<br />
Largura de Pulso), 577 e pertencem quase sempre à classe AB. 578<br />
Nível de ruído: é o ruído presente no interior de um veículo, correspondente à<br />
soma de seu ruído interno (ruído do motor, vibrações, ressonâncias, assobios, pequenas<br />
batidas, etc.), e do ruído externo (ruído ambiente mais o ruído causado pelas condições<br />
da pista). Em média, atinge de 75 a 90 dBA. 579<br />
Separação de frequência: Característica de um som bem definido, sem mistura<br />
dos diferentes timbres instrumentais.<br />
577<br />
O PWM pode ser usado tanto em fontes de alimentação quanto nos módulos de amplificação.<br />
578<br />
As classes de amplificadores são: A, B, AB, C, D (ou PWM, também conhecido como amplificador<br />
de dois estados), F.<br />
579<br />
Em acústica são usadas as medidas: 1) dBA, ou curva de ponderação na qual o medidor responde de<br />
modo análogo ao sistema auditivo humano, atenuando as freqüências abaixo de algumas centenas de Hz<br />
e aquelas acima de 6000 Hz; 2) dBC, ou curva de ponderação na qual o medidor emula a audição<br />
humana em níveis sonoros elevados. É a curva utilizada quando o medidor de decibéis (decibelímetro)<br />
não permite a opção de medida linear.<br />
389
Slew-rate: rapidez com que um circuito op-amp pode responder a sinais elétricos<br />
de grande amplitude (é uma taxa de variação). O valor de slew-rate deve ser mínimo<br />
(slew-limit), para evitar distorções.<br />
Staging: representa a capacidade de um sistema de reproduzir uma ambiência,<br />
principalmente através do som frontal.<br />
Tuning: o sistema de sonorização é parte do que se chama tuning, que é a arte de<br />
personalizar carros (em sua aparência, performance e sistemas sonorizados).<br />
Unidade de painel: o mesmo que aparelho de som para carro em painel.<br />
A seguir, duas formas de ligação de som automotivo:<br />
Forma básica:<br />
Forma complexa:<br />
390
14.1 A educação musical<br />
CAPÍTULO XIV<br />
A COMPOSIÇÃO MUSICAL<br />
Na Europa, ao longo de quase toda a Idade Média, qualquer pessoa nascida em<br />
famílias abastadas era educada nas Artes Liberais, que eram constituídas pelo Trivium<br />
(Lógica, Gramática e Retórica), disciplinas que se enquadravam na Linguagem (as<br />
letras), e pelo Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), disciplinas<br />
ligadas à Matemática (os números).<br />
A organização do saber, evidentemente, estava inserida em uma visão de mundo<br />
característica da época. 580 Deste modo, este tipo de formação intelectual proporcionava<br />
um conhecimento sólido acerca do que devia ser aprendido.<br />
A formação em música não era um complemento nem uma disciplina optativa;<br />
fazia parte do conjunto de conhecimentos que todos deveriam assimilar. Por esta<br />
razão, as pessoas das classes abastadas tinham um conhecimento real acerca da música,<br />
sob todas as formas em que esta se apresentasse. Evidentemente, esta educação não<br />
tinha por objetivo formar músicos (mas também não se furtava a isto).<br />
Quanto à música “popular” (do povo), esta era representada pelos menestréis e<br />
jograis.<br />
O aprendizado prático da música 581 era feito de mestre a discípulo. Esta relação foi<br />
rompida com a Revolução Francesa de 1789, que a substituiu pela educação musical<br />
através de um processo institucional: o Conservatório, que rompia a relação mestrealuno,<br />
por se tornar mais impessoal. Neste caso, um mestre ensinava vários alunos, de<br />
uma só vez.<br />
Conforme diz Harnoncourt, este foi um processo nitidamente político de<br />
manipulação ou doutrinação das pessoas. Por ele, procurava-se a uniformização e a<br />
simplificação dos estilos musicais (HARNONCOURT, 1988, p. 29).<br />
Enquanto que a música erudita anterior se dirigia às pessoas cultas, que tinham<br />
aprendido a linguagem musical, a nova forma de educação musical restringia-se apenas<br />
aos interessados com vocação musical. Embora aparentemente esta possibilidade<br />
estivesse aberta a todos, o que acontecia na realidade era que se restringia este acesso.<br />
Ainda que a classe abastada, devido à tradição histórica, mantivesse a sua cultura<br />
musical, esta modificação estrutural forçou a que os compositores começassem a<br />
compor uma música mais fácil e acessível (idem, p. 30).<br />
A música “de conservatório” fez firmar uma tendência que procurava ditar os<br />
cânones e as regras da música (o Romantismo), tendência esta que só foi rompida pelos<br />
compositores que procuravam uma nova maneira de fazer música. 582<br />
580 As formações superiores mais comuns eram o Direito e a Medicina.<br />
581 Com a intenção de formar músicos.<br />
582 De acordo com Copland, o Romantismo alemão, predominante ao final do século XIX, só foi<br />
ultrapassado através, de um lado, da ação dos compositores russos (Mussorgsky, Stravinsky, Prokofiev,<br />
etc.) e, por outro lado, de alguns compositores europeus (Busoni, Kreneck, etc.), que levaram ao estilo<br />
neoclássico. A este respeito, Copland diz que sofreu, em sua formação musical, as limitações repressoras<br />
do conservador Rubin Goldmark (adepto do Romantismo), repressão esta que só fez aguçar o seu<br />
interesse pela música “proibida” (COPLAND, 1969).<br />
391
14.2 Acerca de regras e cânones na composição musical<br />
Este inconformismo e iconoclastia não foram uma prerrogativa dos músicos deste<br />
período. Desde sempre, os compositores de vanguarda (de cada época) se rebelaram<br />
contra as regras, inovando na maneira de compor, executar ou de usar os instrumentos<br />
musicais.<br />
Apenas citando uns poucos exemplos: Telemann (Georg Philipp Telemann, 1681-<br />
1767), em sua Suíte de Darmstadt, em DÓ maior, inovou, quando fez ouvir um grupo<br />
solista, quando se esperava um tutti. Ele também colocou a flauta em oposição ao<br />
fagote, algo que não se fazia. Chopin utilizou o proibido trítono em sua Mazurca N.15<br />
em DÓ maior. Wagner e Debussy utilizaram estranhos cromatismos, em sua música.<br />
Mesmo os grandes compositores não se furtavam a utilizar idéias ou soluções<br />
musicais encontradas por outros compositores.<br />
Haendel, por exemplo, utilizou fragmentos de obras mais antigas (pegou partes de<br />
composições de Pergolesi 583 ).<br />
Puccini 584 foi acusado por Jules Massenet de ter plagiado a sua obra, Manon<br />
Lescaut (1893). Também foi acusado por Ernest Daudet de ter plagiado uma obra dele;<br />
de ter roubado de Victorien Sardou as idéias para a ópera Tosca; e, pelo americano<br />
Maurice Barrymore, de ter roubado a idéia, para o seu drama Nadjeska (1884), do falso<br />
fuzilamento do herói na cena final. Nem por isto Puccini deixou de ser considerado um<br />
dos maiores autores de ópera de todos os tempos. 585 Na verdade, em suas mãos, as<br />
idéias de outros tomavam uma grandeza inesperada.<br />
A composição musical também foi palco para a expressão de misticismo e<br />
esoterismo de vários compositores.<br />
A ópera de Mozart, a Flauta Mágica, é um repositório de temas numerológicos. A<br />
data da estréia foi meticulosamente escolhida, o que aconteceu em 1791 (1+7+9+1 =<br />
18), no dia 30 7embro (30 de Setembro), o que, para os maçons (e Mozart era maçom),<br />
corresponde a 1 8bro (1 de Outubro). Consta que o espetáculo teve início às 18<br />
horas. 586 O personagem Sarastro, desta ópera, surge na cena final do primeiro ato em<br />
um carro puxado por seis leões. Ele tem 18 participações, e canta em 180 (18x10)<br />
compassos. Cada uma de suas árias tem melodias de 18 notas. Os sacerdotes de<br />
Sarastro (18) têm uma intervenção de seis linhas de texto, que ocupam 18 compassos.<br />
Na obra musical de Bach, seus cânones exibem aspectos estruturais que, analisados<br />
matematicamente, contêm simetrias (ou reflexões) e translações, cujas operações de<br />
composição permitem formar um grupo de transformação que se torna um grupo<br />
musical.<br />
Mas apenas sob o aspecto numerológico, Bach também apresenta um aspecto<br />
inusitado. Consciente ou inconscientemente, Bach usou números bíblicos e números<br />
cósmicos em sua obra. Nesta, havia, e há, um simbolismo de números que não parece<br />
ser apenas um jogo intelectual.<br />
583<br />
Giovanni Battista Pergolesi, 1710-1736. Apesar de ter vivido apenas vinte e seis anos, Pergolesi<br />
firmou-se como uma das personalidades mais influentes na música do século XVIII.<br />
584<br />
Giacomo Antonio Domenico Michele Secondo Maria Puccini, 1858-1924, foi compositor italiano de<br />
óperas.<br />
585<br />
O grande inventor norte-americano T. A. Edison enviou para Puccini um fonógrafo com a tuba de<br />
ouro, que trazia a seguinte mensagem: Outros farão inventos maiores do que o meu. Mas ninguém fará<br />
música melhor do que Puccini.<br />
586<br />
Para a numerologia egípcia, os números 3 e 6 são masculinos, e 5 e 8, femininos. Já os números 7 e<br />
18 possuem caráter sagrado.<br />
392
De acordo com o alfabeto latino, o nome Bach tem a soma 2+1+3+8 = 14. Assim, a<br />
Paixão de João tem 14 coros e 14 versos de corais; na Paixão de Mateus, Cristo canta<br />
em 14 recitativos; a Weihnachtsoratorium tem 14 corais e 14 árias, e assim por diante.<br />
Há também um simbolismo rosacruz em sua obra. Na verdade, Bach utilizou vários<br />
elementos da Fama Fraternitais em sua simbologia de números, 587 em que se pode<br />
deduzir o nome de Christian Rosenkreutz. 588<br />
Beethoven, por seu lado, procurava proclamar a trindade divina em suas obras. Ele<br />
escreveu 32 sonatas para piano, sendo que as três últimas foram produzidas<br />
conjuntamente e numeradas Opus 109-111. Opus 111 desenvolve-se em função de 2, 3<br />
e 32: no primeiro andamento, aos 18 compassos de introdução segue-se o primeiro<br />
tema, apresentado de duas maneiras: a primeira frase tem 3 + 3 notas, repetidas uma<br />
vez, seguidas de 5 + 5 notas de novo repetidas, totalizando 32 notas.<br />
Ele também atribuiu à sua principal obra religiosa, a Missa Solemnis, o número<br />
Opus 123, que proclamava a trindade cristã.<br />
O uso do acaso na composição musical não é uma idéia contemporânea. Guido<br />
d’Arezzo utilizava recursos algorítmicos para compor música, com um método que<br />
consistia em construir uma tabela de correspondência entre as vogais de um texto em<br />
Latim e as notas do Modo Gregoriano.<br />
O compositor Philipp de Vitry (século XIII) também usou a repetição cíclica de<br />
padrões rítmicos, em seus motetes.<br />
Mozart, Haydn e Bach usaram o método chamado Würfelspiel (jogo de dados) para<br />
escolher padrões musicais ao acaso. Tabelas com motivos musicais eram préselecionadas,<br />
e escolhidas aleatoriamente com os dados.<br />
Em 1959, Lejaren Hiller e Leonard Issacson criaram várias técnicas para a geração<br />
de estruturas musicais. E em 1967-69, Cage usou os mesmos métodos de composição<br />
de Mozart e de Hiller-Issacson para criar a obra HPSCHD.<br />
Xenakis, em 1971, apresentou em seu livro Formalized Music a descrição de um<br />
sistema composicional baseado em Processos Estocásticos. Outros compositores e<br />
pesquisadores, igualmente, fizeram uso de processos composicionais baseados em<br />
Cadeias de Markov.<br />
*<br />
Educação musical (do músico e do público); inconformismo; inovação; influências;<br />
crenças; aleatoriedade. Estas são alguns das permanentes questões que cercam a<br />
criatividade musical, seja em sua execução, seja em sua criação, e que parecem ter<br />
recrudescido do século XVIII até a atualidade. Na verdade, existem várias influências<br />
por trás da criação artística musical, sendo que talvez a mais importante seja o<br />
momento histórico.<br />
Em cada época, o público recebe e assimila novas formas musicais, e os<br />
compositores buscam se adequar a esta forma. Mas, paradoxalmente, parece que a<br />
criação musical atual está destoante do público (público educado para a música<br />
erudita), que continua a se apegar à tradição musical de séculos passados.<br />
O que se entende hoje por música erudita moderna (a música eletroacústica) tem<br />
pouco ou nada a ver com a música dos séculos XVII a XIX. Entretanto, e por outro<br />
lado, o repertório musical realmente presente nos palcos de teatros da Europa, EUA e<br />
587 HOUTEN, Kees van e KASBERGEN, Marinus. Os Segredos dos Números em Bach. São Paulo,<br />
Editora Três, Revista Planeta n. 164, maio 1986, p. 40-46.<br />
588 Suposto autor de dois manifestos surgidos no século XVII (Fama Fraternitatis, em 1610, e Confessio<br />
Fraternitatis, em 1615), os quais lançaram as bases da instituição denominada Fraternidade Rosa-Cruz.<br />
393
Oriente, ainda é constituído pelo Barroco, Classicismo e Romantismo. 589 A música<br />
eletroacústica realmente não atrai grande número de ouvintes, e sua maior repercussão<br />
permanece dentro do circuito universitário.<br />
Devido a esta incongruência, seria válido tentar descobrir as razões para que isto<br />
aconteça. E uma pesquisa deste tipo deve começar pela própria educação musical, tal<br />
como ela ocorre, na atualidade.<br />
Um fato não notado é que a música padece do mesmo processo histórico de<br />
substituição que atacou a filosofia clássica.<br />
No final do século XIX e início do século XX, toda a filosofia tradicional que,<br />
vinda dos gregos e ao longo de toda a Idade Média formara um gigantesco Corpus de<br />
conhecimento analítico, de repente sofreu intenso e mortífero ataque da Escola de<br />
Viena, ou também Círculo de Viena, formado por um grupo de pensadores (Hans<br />
Hahn, Otto Neurath, Philipp Frank, Herbert Feigl, Friedrich Waisman, Kurt Gödel,<br />
Karl Menger, Victor Kraft, Moritz Schlick, Theodor Adorno, Ludwig Wittgenstein,<br />
Rudolf Carnap) que começaram a se reunir em Viena nas primeiras duas décadas do<br />
século XX. O pensamento epistemológico representado por eles praticamente<br />
substituiu a filosofia antiga por uma filosofia (e por uma lógica) crítica e positivista,<br />
baseada em proposições que se supunham demonstráveis, e completamente estranha<br />
aos postulados de Platão e Aristóteles. Toda a filosofia anterior foi jogada ao lixo da<br />
história.<br />
Curiosamente, foi também nesta cidade que a chamada Primeira Escola de Viena,<br />
representada pelos compositores clássicos (do Classicismo) Amadeus Mozart, Joseph<br />
Haydn, Ludwig van Beethoven, Franz Schubert, Anton Bruckner, Johannes Brahms e<br />
Gustav Mahler (entre outros), foi severamente atacada em suas bases pela Segunda<br />
Escola, representada pelo grupo de compositores modernos formado por Arnold<br />
Schoenberg e seus discípulos Alban Berg e Anton Webern, cuja música se<br />
caracterizava pela atonalidade e dodecafonismo. Em seguida, com Schaeffer,<br />
Stockhausen e outros, a música tomou definitivamente novos rumos. 590<br />
14.3 Algumas questões sobre a composição erudita moderna<br />
O que se entende atualmente por composição erudita moderna é tão somente uma<br />
forma que tenta englobar várias tendências. Uma possibilidade de entendimento sobre<br />
o tema deveria apresentar respostas para as seguintes questões:<br />
1) se a música é efetivamente composta; 591<br />
589 Em todos os lugares citados há um pujante e vigoroso circuito musical de apresentações de músicas e<br />
de óperas, um fenômeno musical quase inexistente no Brasil. Enquanto que a freqüência a estas<br />
apresentações inclui a classe média em geral, no Brasil, as apresentações eruditas (clássicas) estão<br />
limitadas às elites, únicas a se interessarem por este tipo de fruição estética. Todo o esforço do grande<br />
maestro Villa-Lobos, no Brasil, tentando criar um público educado musicalmente, redundou em<br />
fracasso, por motivos que estavam além do seu alcance.<br />
590 Com a música concreta e a música eletrônica hoje amalgamadas na música eletroacústica, a música<br />
em si passou a ser encarada como uma vertente da engenharia. A própria formação de músicos, na<br />
atualidade (em institutos superiores), quase nada tem a ver com o que se fazia nos séculos passados. Os<br />
atuais cursos superiores (pós graduação) nesta área estão eriçados de termos que nada dizem à música<br />
tradicional, e exigem mais conhecimentos de técnicas de engenharia eletrônica do que propriamente<br />
conhecimento musical tradicional. Veja-se, a respeito, um exemplo de currículo (parcial) de estudos<br />
musicais em http://www.universiabrasil.net/mit/21/21M361/PDF/syllabus_21M361.pdf.<br />
591 Até metade do século XX, praticamente, nenhum compositor que não tivesse acesso a intérpretes<br />
poderia ouvir a sua obra composta (às vezes, sequer conseguia publicá-la em forma de partitura). A este<br />
394
2) se ela se submete a leis de ordenação composicional. 592<br />
3) se na reprodução há a intervenção de músicos instrumentistas;<br />
4) se a reprodução é um evento musical ou um evento social e/ou ambiental;<br />
5) se a música é efetivamente ouvida (por um público qualquer).<br />
A primeira questão remete para a possibilidade a ser admitida de que a composição<br />
ao estilo clássico foi praticamente extinta, substituída que foi pela experimentação,<br />
pela montagem, pela síntese de sons, pela (des)organização ou (re)organização do<br />
espaço sonoro, o qual foi pulverizado em micropartículas sonoras.<br />
Antigamente, os compositores clássicos diziam ouvir a música em suas mentes, e<br />
sabiam o que resultaria das notas colocadas no papel. Modernamente o “compositor”<br />
dificilmente sabe o que resultará de suas “composições musicais”. 593<br />
Além disso, os modernos processos de síntese de som colocaram a possibilidade de<br />
produzir sons exóticos, difíceis de (re)produzir em instrumentos musicais comuns, e<br />
por isto, impossíveis de serem “ouvidos” na imaginação. 594<br />
Aqui também se remete ao problema da notação musical, que se tornou incapaz de<br />
reproduzir (graficamente) as novas possibilidades e complexidades sonoras.<br />
• Perguntas: É necessária uma nova notação musical? Uma notação nova e<br />
complexa caracteriza uma composição erudita? O que é uma “composição”<br />
erudita moderna? Os aparentemente inesgotáveis métodos de síntese sonora<br />
irão finalmente apresentar um som que rompa a monotonia da composição por<br />
estes métodos?<br />
A segunda questão quer verificar se uma composição musical ainda deve se<br />
submeter às várias regras da composição clássica: cadência, harmonia, escalas, etc.<br />
• Pergunta: Quais são as regras (se é que as possui) da composição erudita<br />
moderna? Há necessidade de regras?<br />
A terceira questão quer verificar se ainda são necessários, realmente,<br />
instrumentistas para a reprodução de obras composicionais, ou se ela será reproduzida<br />
puramente por meios eletrônicos. 595<br />
respeito, Copland diz que somente a partir da década de 1920, principalmente devido ao surgimento do<br />
rádio e à criação de associações de compositores (a International Composers’ Guild, a American Music<br />
Guild e a Composers’ Music Corporation) que os músicos da América puderam publicar e até mesmo<br />
ouvir a execução de suas obras. De todo modo, a composição musical clássica era feita laboriosamente<br />
pela escrita (à mão) da música em partituras. Atualmente, este processo é facilitado pelo computador.<br />
592 A composição “moderna”, por assim dizer, é um processo de criação e audição direta da música, que<br />
nem sempre é (ou será) escrita em partitura. Essa própria escrita, entretanto, pode ser feita em<br />
computadores, enquanto se ouve a música criada. Atualmente, até mesmo a gravação musical é um<br />
processo que está ao alcance dos músicos. Apenas uma instância continua inacessível à maioria: a<br />
distribuição comercial de uma obra (distro). A mera divulgação, por outro lado, pode ser feita em grande<br />
escala através da Internet.<br />
593 O filme Amadeus (1984) tem uma cena ilustrativa a este respeito, quando Salieri põe os olhos sobre<br />
uma partitura de Mozart e é arrebatado pela música que ele “ouve” ao lê-la.<br />
594 Na verdade, a moderna composição musical se situa entre duas vertentes: entre o acaso e o<br />
determinismo que surgem das várias possibilidades de produção de sons.<br />
595 Entretanto, muitas composições eletroacústicas não descartam a presença de instrumentistas, ainda<br />
que sua atuação possa ser não-ortodoxa (por exemplo, um saxofonista que toca continuamente uma<br />
única nota).<br />
395
• Pergunta: Como deve ser uma execução de uma música erudita moderna? A<br />
orquestra ainda é viável? Ela deve continuar existindo? A orquestra deve ser<br />
usada para tal finalidade?<br />
Quanto à quarta questão, ela envolve o aspecto da fruição da música. Na verdade,<br />
remete a perguntas fundamentais que jamais foram respondidas, acerca da natureza da<br />
música, de sua finalidade, de seus aspectos estéticos.<br />
• Perguntas: A música deve agradar, comover, espantar, transformar, ofender,<br />
provocar, escandalizar? Uma apresentação musical é um evento artístico, ou<br />
um evento social que intervém no ambiente onde se reproduz a música? 596<br />
Por fim, a última, mas não menos importante questão, que envolve a relação entre<br />
compositor e público.<br />
• Perguntas: A música erudita moderna é efetivamente ouvida? Ou a música é<br />
composta apenas para tornar conhecido o compositor em seu meio, e fazer com<br />
que ele ganhe prêmios de composição? A qual público se destina a composição<br />
erudita moderna? Existe um público para ela?<br />
14.4 Algumas idéias sobre a composição musical em geral<br />
Em artigo, 597 o compositor e matemático Jônatas Manzolli 598 apresenta três<br />
sistemas de composição, baseados em três níveis de estruturação musical.<br />
Tais níveis seriam: o nível micro-estrutural, com eventos sonoros que possuem<br />
duração de milissegundos (pulsos, ruídos, etc.); o nível macro-estrutural, com eventos<br />
sonoros (notas, frase, ritmos, etc.) da ordem de segundos; o nível interativo, no qual<br />
não importa a duração dos eventos, mas a dinâmica da composição. Neste último nível,<br />
se daria a integração entre compositor e instrumentista.<br />
Com base nesta estrutura, Manzolli apresenta três sistemas de composição 599 que a<br />
acompanham:<br />
• O sistema micro-estrutural ou atômico, cujo objetivo principal é a criação de<br />
novos timbres. Os elementos da estrutura são as Células Sonoras (com duração<br />
máxima de 20 milissegundos), que se juntam para criar Cadeias ou Blocos<br />
Sonoros (com duração de segundos). Estas Cadeias seriam os Cristais Sonoros,<br />
que formam um novo timbre.<br />
• O sistema macro-estrutural, que é representado por eventos MIDI. Seu objetivo<br />
é desenvolver uma narrativa musical por meio da superposição de níveis<br />
sonoros, com complexidade polifônica, auto-organização por deformação de<br />
ciclos rítmicos, alternância de séries e modos e mudanças de altura e dinâmica.<br />
596 A moderna composição musical quer intervir (apesar de que isso não é uma coisa nova) no próprio<br />
ambiente onde se (re)produzirá a música, criando verdadeiros hapennings musicais.<br />
597 MANZOLLI, Jônatas. Auto-Organização: Um Paradigma Composicional. Disponível em<br />
http://www.anppom.iar.unicamp.br/anais/anais8/pdf/comp/comppainel2.pdf. Acesso em 04/11/2006.<br />
598 Coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora – NICS, da Unicamp.<br />
599 Para Manzolli, o “ato de composição é baseado nas escolhas pessoais do compositor num domínio<br />
sonoro”.<br />
396
• O sistema dinâmico-estrutural ou interativo. Neste, propicia-se ao intérprete a<br />
possibilidade de explorar as peculiaridades do sistema musical. O compositor<br />
cria algoritmos nos quais o material sonoro é gerado automaticamente, sendo<br />
que estes eventos são interpretados e transformados pelo executante. Novos<br />
eventos formam novas estruturas, criando uma Cadeia Gerativa. Além disso,<br />
em cada nova execução, surgirão novos e diferentes elementos.<br />
A música eletroacústica parece ter-se apegado unicamente ao primeiro nível (com<br />
repercussão no terceiro), porque a atual produção musical, 600 por mais exóticos que<br />
sejam os novos timbres criados, permanece em uma zona de sombra e não consegue<br />
romper uma monotonia omnipresente nestas criações.<br />
Desde as primeiras pesquisas sobre ruído realizadas por Schaeffer, a música concreta<br />
(e por extensão, a música eletroacústica) tem se debruçado sobre as formas de produzir<br />
ruídos e timbres inusitados, e com eles (tentar) compor um tipo diferente de música.<br />
Para se ter uma noção deste processo, são parafraseadas aqui as idéias (conforme o<br />
compositor Jorge Antunes) 601 subjacentes à composição eletroacústica:<br />
1. Uma sucessão veloz de sons pontuais dá origem à linha (som sustentado).<br />
2. Entre o som pontual e a linha sonora há uma fase intermediária, o chamado pontoressonância<br />
(som seco reverberado, ou um som breve que é seguido de uma<br />
ressonância qualquer).<br />
3. A aglomeração caótica de sons pontuais dá origem a uma nuvem de pontos.<br />
4. A linha resultante da acumulação de sons pontuais de emissão repetitiva veloz é uma<br />
linha rugosa. Sons rugosos são os produzidos através da fricção, da raspagem, do<br />
trêmulo, dos atos de amarrotar, rasgar, agitar, embaralhar, entrechocar, etc.<br />
5. No limite, a linha rugosa se torna uma linha sustentada contínua. Isto se verifica<br />
quando a alta densidade de amostragem micro-sonora já não mais permite a percepção<br />
dos grãos do som.<br />
6. A acumulação vertical de sons sustentados dá origem aos espectros sonoros, que<br />
tanto podem ter o caráter de clusters harmônicos ou inarmônicos, mas também podem<br />
se comportar como largas bandas cambiantes de freqüência.<br />
O ouvinte médio parece que não se deixa afetar pelas complexidades tímbricas<br />
dessas composições, como também parece rejeitar produções musicais autoorganizativas<br />
ou que se renovam a cada execução. Na verdade, a música eletroacústica<br />
parece que não levou em consideração o caráter conservador deste ouvinte. E, ao invés<br />
de tentar se adaptar a ele, o apoda de musicalmente deseducado e infenso às modernas<br />
sonoridades.<br />
De acordo com Fernando Iazzetta,<br />
600 Não apenas isto. Parece existir uma proliferação de dissertações e teses em cursos superiores de<br />
música (pós graduação), cujo tema atrator parece reduzir-se à criação de novas formas de síntese de<br />
som, como se isso fosse uma contribuição de peso para a música como um todo.<br />
601 ANTUNES, Jorge. DOSSIER M-8: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA DA MÚSICA<br />
COMPUTACIONAL ALGORÍTMICA BRASILEIRA. Disponível em<br />
http://www.rem.ufpr.br/REMv5.2/vol5.2/Antunes/Antunes.htm. Acesso em 13/11/2006. Jorge Antunes é<br />
violinista, regente e compositor, um dos precursores da música eletroacústica no Brasil. Criou a técnica<br />
de composição denominada Música Cromofônica, na qual desenvolveu uma teoria da correspondência<br />
entre os sons e as cores.<br />
397
Ao mesmo tempo que as composições do presente se tornavam enigmáticas para<br />
o grande público, a chamada cultura de massa oferecia informação cada vez<br />
mais variada e acessível. O surgimento dos meios de gravação no final século<br />
XIX e o desenvolvimento da indústria fonográfica durante o século XX<br />
colocaram à disposição dos ouvintes uma quantidade e diversidade de músicas<br />
de todas as épocas, gêneros e estilos que jamais ocorrera em nenhum outro<br />
período histórico. Assim, a música do passado, especialmente aquela baseada no<br />
confortável arcabouço do tonalismo, tornou-se a música do presente durante o<br />
século XX. 602<br />
E poder-se-ia completar, avançando no século XXI.<br />
Mas de todo modo, ainda resta o sistema macro-estrutural, que, se considerado<br />
conjuntamento com o método do contraponto, pode resultar em uma música erudita<br />
moderna que venha a alcançar o gosto do ouvinte.<br />
E ainda:<br />
... o contraponto [pode ser] decomposto em Estruturas Gerativas e Processos<br />
Construtivos. Desta forma, é apresentado como uma ferramenta sistêmica que<br />
está presente na bagagem técnica dos compositores de várias épocas e<br />
especialmente do século XX. Elementos micro-estruturais estão nos mais<br />
diferentes processos contrapontísticos. O elemento primordial é o Intervalo<br />
Musical que organizado em Modos, Escalas e Séries, forma um substrato para a<br />
construção de um Motivo, Cantus Firmus e Tema, através de Saltos, Graus<br />
Conjunto e Cromático e Microtons. 603<br />
O estudo do contraponto induz o estudante a (sic) convivência com métodos de<br />
estruturação sonora, noções de simetria, equilíbrio e organização de texturas e<br />
pode levá-lo à superposição ostensiva de camadas sonoras como na<br />
micropolifônia concebida por LIGETI. Estes conceitos são essenciais para<br />
composição musical, até mesmo para o aluno que queira se dedicar a criação<br />
eletroacústica. 604<br />
O método do contraponto não é a solução definitiva (nem única) para produzir boa<br />
música. Mas, definitivamente, ele torna mais rica a composição musical, libertando-a<br />
de sua excessiva ligação ao puro aspecto tímbrico e da monotonia dos sons<br />
eletroacústicos, em que não há melodia ou motivo condutor. Aliás, a este respeito,<br />
Schoemberg já alertava para o fato de que, sem variação no motivo, isto traria como<br />
conseqüência a monotonia. 605<br />
602 IAZZETTA, F. O que é Música (Hoje). Disponível em<br />
http://www.eca.usp.br/prof/iazzetta/texto.html. Acesso em 19/12/2006. Veja-se também:<br />
GUBERNIKOFF, Carole. METODOLOGIAS <strong>DE</strong> ANÁLISE MUSICAL PARA MÚSICA<br />
ELETROACÚSTICA. Revista Eletrônica de Musicologia. Vol XI, setembro/2007. Disponível em:<br />
http://www.rem.ufpr.br/REMv11/10/10-carole-analise.html.<br />
603 MANZOLLI, Jônatas. CONTRAPONTO: TÉCNICAS CONTEMPORÂNEAS. Disponível em<br />
http://www.nics.unicamp.br/jonatas/aulas/arranjo/aula06/contraponto.html (Cache Google). Acesso em<br />
23/12/2006. Aconselha-se a leitura deste artigo, que traz grande quantidade de idéias acerca da<br />
composição musical em geral, e do contraponto em particular.<br />
604 Manzolli, idem.<br />
605 Mas também alertava para o fato de que o excesso de mudança traria estranheza, incoerência e falta<br />
de lógica.<br />
398
Para ele [Schoemberg] o compositor deve preservar elementos essenciais para<br />
dar unidade a obra. O estudo do contraponto tem a mesma necessidade de<br />
estruturação e variação. Transgredir postulados é uma forma de invenção<br />
musical. Conhecê-los, em alguns momentos reiterá-los e em outros reinventálos,<br />
também o é. 606<br />
Talvez a maior dificuldade que hoje se apresenta ao compositor seja a de ser,<br />
realmente, original. Além disso, atualmente, parece que se esgotaram as possibilidades<br />
da música concreta e do serialismo, e da própria atonalidade em geral. 607<br />
De acordo com o musicólogo e violinista Harry L. Crowl, 608<br />
... many things have changed in the world of musical creation, such as the<br />
alleged denial of serialism, or of any formal system of atonality, or the return<br />
tonalism, or even to modalism. 609 There is also, an infinite amount of<br />
information about musical systems from all civilizations and times from all over<br />
the world. So, it has become even more difficult for a composer to be original<br />
these days. In our case, we decided some time ago to choose a musical language<br />
that be coherent with a personal taste as well as with our historical<br />
background. 610<br />
O advento do serialismo, em princípio, buscou superar o esgotamento da<br />
tonalidade, proporcionando, por outro lado, a possibilidade de criar uma música<br />
realmente original, baseada nas infinitas variações da técnica dodecafônica.<br />
Entretanto, Schoemberg (que formalmente estava ligada à tradição românticoalemã),<br />
não procurou descartar os elementos tradicionais (frase, motivo, período,<br />
sentença, tema e melodia), e os seus modos de articulação para criar o discurso<br />
musical.<br />
Em sua obra os Fundamentos da Composição Musical, ele faz a distinção entre<br />
idéias musicais, de um lado, e de outro, lógica e coerência. Também diz que a<br />
composição é subdividida em partes, ou blocos, que são seus componentes<br />
essenciais. 611<br />
A música eletroacústica, por seu lado, preocupada unilateralmente com o timbre<br />
(cuja técnica básica foi descrita no quadro anterior, técnica esta que se repete<br />
eletronicamente com os inesgotáveis sistemas de sintetização sonora), em que pese a<br />
606 Manzolli, ibidem.<br />
607 Sem, é claro, negar ou desmerecer as suas contribuições, mas agregando as suas teorizações.<br />
608 O norte-americano Harry Lamott Crowl é professor-conferencista na Universidade Federal de Ouro<br />
Preto desde 1984, tendo sido Coordenador do Departamento de Música de 1986 a 1988, e de 1990 a<br />
1992.<br />
609 Modalismo é o uso de outras notas na escala maior tradicional, criando uma relação de intervalo<br />
dentro da escala, o que produz algumas vezes exóticos timbres dissonantes.<br />
610 “Muitas coisas tem mudado no mundo da criação musical, tais como a alegada negação do<br />
serialismo, ou de qualquer sistema formal de atonalidade, ou o retorno [ao] tonalismo, ou mesmo ao<br />
modalismo. Há, também, uma quantidade infinita de informação acerca de sistemas musicais de todas a<br />
civilizações, em todos os tempos, de todo o mundo. Assim, tem-se tornado cada vez mais difícil que um<br />
compositor seja original, em nossos dias. Em nosso caso, decidimos há algum tempo escolher uma<br />
linguagem musical que fosse coerente com o gosto musical assim como com a nossa perspectiva<br />
histórica.” CROWL, Harry Lamott. STUDY ON LOGIC PRINCIPLES APPLIED TO MUSICAL<br />
COMPOSITION. Disponível em http://www.rem.ufpr.br/REMv1.1/vol1.1/harry.html. Acesso em<br />
02/08/2006.<br />
611 Isto corresponde a uma espécie de dissecação da música: funcionalmente, ela seria formada pelas<br />
suas notas constituintes; estruturalmente, pelos seus blocos musicais.<br />
399
sua abstrusidade e complexidade e a apurada tecnologia envolvida, carece de um<br />
elemento fundamental (e assim, todas as composições neste sentido): um senso estético<br />
capaz de comover o ouvinte. 612<br />
Parece que reside aí neste ponto o Nó Górdio da questão musical. Talvez<br />
resolvendo-o, seja dada uma definitiva resposta à permanente questão:<br />
− O que é a música?<br />
14.5 A composição, a de-composição e a re-composição musical<br />
Há duas formas de criação musical: a tradicional, usando instrumentos musicais<br />
conhecidos (naturais ou sintetizados), e a sintética, em que são criados sons inusitados,<br />
através dos vários processos de síntese sonora existentes.<br />
A tradicional geralmente é usada para a produção de música em alguns dos<br />
múltiplos gêneros populares conhecidos (como também a música erudita clássica);<br />
quanto à sintética, é mais voltada para a produção de música eletroacústica, música<br />
ambience (por exemplo, música techno, dark ambient 613 ), etc.<br />
Ambos podem ser feitos por processos totalmente eletrônicos. Atualmente, o<br />
compositor tem à sua disposição um vasto arsenal de equipamentos (hardware) e<br />
programas (sofware) para a criação musical.<br />
E nem é necessário dispor de custosos equipamentos. O poder de processamento<br />
dos computadores PC já atingiu um patamar mais do que razoável, 614 e a quantidade de<br />
programas existentes (freeware, shareware e comerciais) 615 é suficiente para se<br />
conseguir o objetivo desejado.<br />
Para a criação musical tradicional, os softwares permitem experimentar qual o<br />
melhor instrumento musical a ser usado em melodias e/ou harmonias.<br />
O quadro a seguir mostra uma relação (parcial) de instrumentos que podem ser<br />
sintetizados pelo programa Evolution Audio Lite (freeware):<br />
612 A música, sendo um objeto cultural, e portanto histórico, ela deve estar inserida igualmente no<br />
“gosto” do ouvinte. Este gosto, evidentemente, reflete a educação musical (e a tradicional) de um povo.<br />
No Brasil não há esta tradição, não existe um gosto por óperas ou por apresentações de música erudita<br />
(como os há, por exemplo, na classe média norte-americana e européia). A chamada música clássica não<br />
consegue agradar o grande público, e só é ouvida em (eventuais) apresentações gratuitas. E se a música<br />
clássica não consegue este feito, como o poderia fazer a música eletroacústica?<br />
613 Dark ambient é um termo geral para qualquer espécie de ambiente musical de atmosfera gótica.<br />
Envolve, quase sempre, o uso extensivo de reverberação para criar espaços sonoros assustadores,<br />
profundos, com estranhos sussurros, cânticos corais melancólicos, ecos de trovões e explosões de<br />
artilharia distante.<br />
614 Embora considerados superiores, os computadores Apple (Macintosh) são de custo mais elevado.<br />
615 Freeware são programas gratuitos; shareware são programas de custo mais baixo, que podem vir em<br />
forma de avaliação ou demonstração (demo), seja com recursos limitados, seja com validade provisória.<br />
Os programas comerciais são de elevado custo.<br />
400
Além do programa citado, outros excelentes programas freeware podem ser<br />
usados, tais como o Anvil Studio, o Audacity, o QuartzAudioMaster, entre outros.<br />
Há também a possibilidade de criar a chamada música automática, com o software<br />
MidiMath. 616<br />
Muitas vezes, basta um teclado e um computador (e os softwares) para se produzir<br />
todo tipo de música que se queira.<br />
Para uso profissional, podem ser usados (entre outros), os programs Csound,<br />
Mozart, Encore, Finale, Personal Composer, QuickScore, AudioSculpt, 617<br />
OpenMusic, 618 SoundHack, 619 FruityLoops Studio Producer Edition, Program4Pc DJ<br />
Musica Mixer, etc.<br />
Além da composição direta (usando ou não o teclado), algumas composições<br />
podem usar o que se chama de samples (amostras), que são trechos de músicas que<br />
serão misturadas e alteradas para se criar uma outra música completamente diferente.<br />
Já a remixagem (remix), por outro lado, é o nome que se dá ao processo de<br />
modificar uma música por inteiro. 620<br />
14.6 O direito autoral<br />
O fato de uma determinada composição musical estar na Internet (sob qualquer<br />
forma) não implica em que ela não seja protegida por direitos autorais (lei de<br />
copyright).<br />
Conforme diz Emerson Rezende,<br />
616<br />
Veja-se o site http://midimath.tucajon.com/, para baixar arquivo em formato PDF e o software<br />
respectivo.<br />
617<br />
É um software que permite “esculpir” sons de forma visual. Literatura a respeito pode ser encontrada<br />
em http://mediatheque.ircam.fr/articles/textes/.<br />
618<br />
OpenMusic (OM) é uma linguagem de programação visual baseada em CommonLisp.<br />
619<br />
É um software (freeware) processador de espectro de áudio para o Mac. Veja-se em<br />
http://www.soundhack.com/freeware.php.<br />
620<br />
Essa modificação, quase sempre, é feita por um DJ. Ele coloca uma batida animada e efeitos<br />
adicionais, e cria uma versão dançante da música remixada. Há vários tipos de remix: Trance Remix,<br />
Dance Remix, Hybrid Remix, Vocal Remix, Hard Remix, etc.<br />
401
Como se sabe, a Internet colocou de cabeça para baixo todos os conceitos de<br />
proteção de direitos autorais, principalmente depois do surgimento das chamadas<br />
redes peer-to-peer (P2P) onde a única regra que impera é compartilhar tudo com<br />
todos - e não pagar nada. Por isso, não vá pensando que toda e qualquer música<br />
ou texto que tenha sido produzido por alguém - se não o próprio dono do podcast<br />
621 - esteja liberada para reprodução ou divulgação sem autorização prévia. 622<br />
A lei de direito autoral sobre músicas visa proteger os compositores, dando-lhes<br />
direitos exclusivos sobre a sua música (em partes ou no todo). Para usá-la, deve-se<br />
pedir a permissão do(s) legítimo(s) proprietário(s). É o que se chama licenciar a<br />
música.<br />
Nos EUA, existem dois tipos de copyright.<br />
O primeiro é o copyright representado pelo símbolo © (uma letra C com um<br />
círculo à volta). Esta é a proteção legal para melodias, lyrics e arranjos da música. A<br />
posse do copyright geralmente é do artista que escreveu e/ou participou da escrita e/ou<br />
composição da música (letra e/ou canção).<br />
O segundo copyright é sobre a gravação. É representado pelo símbolo (uma<br />
letra P com um círculo em torno dela). Esta proteção cobre todos os tipos de<br />
gravações: tapes, discos de vinil, CDs, DVDs, etc. 623<br />
Qualquer utilização comercial da canção exige o licenciamento do proprietário do<br />
copyright, bem como uma licença do intérprete.<br />
Para resolver o problema dos direitos autorais, surgiu o chamado Creative<br />
Commons. O Creative Commons (CC) é uma organização sem fins lucrativos,<br />
destinada a expandir a quantidade de trabalho criativo, para que os interessados<br />
possam, por meios legais, compartilhar e criar trabalhos com base em outros. 624<br />
E para tornar mais fácil o compartilhamento de música para uso não comercial,<br />
surgiu a chamada Open Music (Música Livre). 625 Deste modo, músicas em MP3 ficam<br />
disponíveis sob a licença Attribution-Non Commercial-ShareAlike da Creative<br />
Commons. Ficam permitidas, neste caso, a audição de rádios via Internet e o download<br />
de músicas, que podem ser livremente compartilhadas. Ficam permitidos também o<br />
remix, as canções cover (cover songs) e o sampling. 626<br />
621 Podcast é uma nova maneira de receber conteúdo de áudio e vídeo pela Internet. O usuário assina<br />
gratuitamente os canais desejados, e com isto passa a receber as atualizações. Os arquivos (músicas,<br />
vídeos, etc.) serão baixados para o computador, automaticamente (sem necessidade de acessar o site) ou<br />
conforme as preferências do usuário. Podcasting é um tipo de transmissão de programas de áudio que<br />
utiliza feeds RSS (RDF Site Summary – são listas de atualizações de conteúdo) para distribuir o<br />
conteúdo. Veja-se o site http://www.terra.com.br/podcast/capa.htm. Streaming, por outro lado, é uma<br />
recepção (em fluxo) de áudio ou vídeo da Internet. Ou seja, a música é ouvida, enquanto o arquivo vai<br />
sendo carregado. As extensões .m3u e .pls são listas de reprodução de música (playlist).<br />
622 REZEN<strong>DE</strong>, Emerson. O cuidado com a questão dos direitos autorais. Disponível em<br />
http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI504463-EI4795,00.html. Acesso em 11/01/2007.<br />
623 Muitas vezes, a propriedade intelectual não é do próprio compositor, pois ele pode ter cedido os<br />
direitos a uma companhia gravadora.<br />
624 As licenças Creative Commons foram precedidas pela Open Publication License (OPL) e pela GNU<br />
Free Documentation License (GFDL).<br />
625 É o mesmo conceito da open source (código livre), de aplicação em softwares de computador.<br />
626 Veja-se em http://www.opensource.org/docs/definition.php, The Open Source Definition. Também<br />
em http://magnatune.com/info/openmusic.<br />
402
Com relação à música (áudio em geral), há três tipos de licença: 627<br />
• Licença Padrão, pela qual a música é licenciada conforme os termos desejados<br />
pelo seu autor;<br />
• Licença Sampling, pela qual qualquer um pode usar partes da música<br />
licenciada, com restrições a cópias e a distribuição comercial;<br />
• Share Music, pela qual a música fica licenciada para ser distribuída via Internet,<br />
com restrição ao remix e ao uso comercial. 628<br />
No Brasil, conforme diz a advogada especializada Daniela Schaun Jalil, o<br />
Direito Autoral é o conjunto de normas jurídicas que visam (sic) regular as<br />
relações oriundas da criação e da utilização de obras intelectuais (artísticas,<br />
literárias ou científicas) - entendida estas como as criações do espírito, sob<br />
qualquer forma exteriorizadas - sendo disciplinado a nível nacional e<br />
internacional e compreendendo os direitos de autor e os direitos que lhes são<br />
conexos. As normas autorais impõem a todos os integrantes da sociedade<br />
respeito a essas criações do espírito humano ao passo que outorga aos seus<br />
criadores o exercício de prerrogativas exclusivas. 629<br />
627 A obra musical, como um conteúdo digital, pode ter o seu acesso protegido ou limitado pela<br />
tecnologia DRM (Digital Rights Management), sigla que abrange qualquer das tecnologias criadas com<br />
esta finalidade (não é o mesmo que tecnologia de proteção contra cópias).<br />
628 Para maiores informações, veja-se o site da Creative Commons no Brasil, em<br />
http://creativecommons.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=63&Itemid=1 ou em<br />
http://creativecommons.org/learnmore/. Também no site Free Music Project, encontrado em:<br />
http://freemusic.freeculture.org/media/view/media/faq. O upload (e download) de músicas sob o sistema<br />
Creative Commons pode ser feito neste mesmo site, em: http://freemusic.freeculture.org/.<br />
629 JALIL, Daniela Schaun. Direitos Autorais sobre a música na Internet. Disponível em:<br />
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4410. Acesso em 11/01/2007.<br />
403
404
ÍNDICE GERAL<br />
Prefácio do autor ................................................................................. 12<br />
Capítulo I – O Fenômeno Sonoro: Análise Física ....................... 13<br />
Capítulo II – O Fenômeno Sonoro: Análise Psico-Fisiológica .... 31<br />
Capítulo III – Sonometria ............................................................... 53<br />
Capítulo IV – Notação e Ritmo ...................................................... 63<br />
Capítulo V – Estrutura do Discurso Musical ............................... 103<br />
Capítulo VI – A Melodia ................................................................ 135<br />
Capítulo VII – A Harmonia ............................................................. 155<br />
Capítulo VIII – Vozes, Instrumentos e Orquestra ............................. 195<br />
Capítulo IX – Formas de Composição e de Expressão Musical ... 233<br />
Capítulo X – A Linguagem e a Estrutura da Música ................. 251<br />
Capítulo XI – A Evolução da Forma e da Teoria Musical ........... 259<br />
Capítulo XII – A Música do Século XX ........................................ 295<br />
Capítulo XIII – Sistemas de áudio .................................................. 317<br />
Capítulo XIV – A composição musical .......................................... 391<br />
Índice Geral ....................................................................................... 405<br />
Apêndice ............................................................................................ 407<br />
Bibliografia ........................................................................................ 411<br />
Re/de/composições do autor .............................................................. 419<br />
405
406
APÊNDICE<br />
(Os nomes de regentes e de orquestras relacionados neste apêndice não pretendem esgotar a<br />
totalidade, mas tentam apresentar os mais conhecidos e representativos. As omissões devem<br />
ser entendidas como não propositais).<br />
Regentes de Orquestra:<br />
I) No mundo:<br />
Aaron Copland (EUA)<br />
Alexander Mair Courage Jr. (EUA)<br />
Alexander Micklethwaite (EUA)<br />
Alexander Polishchuk (Ucrânia/Rússia)<br />
Andre Previn (França)<br />
Andrei Anikhanov (Rússia)<br />
Antonio Pappano (Itália)<br />
Arturo Toscanini (Itália)<br />
Benjamin Britten (Inglaterra)<br />
Bernard Haitink (Holanda)<br />
Carlo Maria Giulini (Itália)<br />
Cha-bum Koo (Coréia do Sul)<br />
Charles Dutoit (EUA)<br />
Claudio Abaddo (Itália)<br />
Claus Peter Flor (Alemanha)<br />
Clemens Heinrich Krauss<br />
(Alemanha)<br />
Christoph von Dohnányi<br />
(Alemanha)<br />
Christoph Eschembach (Polônia)<br />
Craig Smith (Inglaterra)<br />
Daniel Barenboim<br />
(Argentina/Israel)<br />
David Zinman (EUA)<br />
Dimitri Mitropoulos (Grécia)<br />
Edo de Waart (Holanda)<br />
Edward van Beinum (Holanda)<br />
Ennio Morricone (Itália)<br />
Elena Herrera (Cuba)<br />
Ernest Ansermet (Suiça)<br />
Ernest Bour (França)<br />
Florin Totan (Romênia)<br />
Frans Brüggen (Holanda)<br />
Franz Welser-Most (Áustria)<br />
Fritz Reiner (Hungria)<br />
Georg Solti (Hungria/Inglaterra)<br />
Giuseppe Pietraroia (Itália)<br />
Giuseppe Sinopoli (Itália)<br />
Günther Herbig (República<br />
Checa/Alemanha)<br />
Gustavo Dudamel (Venezuela)<br />
Hans Graf (Alemanha/EUA)<br />
Heinz Bongartz (Alemanha)<br />
Helmuth Rilling (Alemanha)<br />
Herbert Blomstedt (EUA)<br />
407<br />
Herbert Von Karajan<br />
(Inglaterra/Alemanha)<br />
Hermann Abendroth (Alemanha)<br />
Hermann Scherchen (Alemanha)<br />
Horst Förster (Alemanha)<br />
Hugh Ross (EUA)<br />
Ilya Musin (Rússia)<br />
Jiri Kout (República Checa)<br />
John Elliot Gardiner (Inglaterra)<br />
José Antonio Abreu (Venezuela)<br />
José Serebrier (Uruguai)<br />
Julian James Wachner (EUA)<br />
Karl Böhm (Alemanha)<br />
Karl Foster (Alemanha)<br />
Ken Takashi (Japão)<br />
Kent Nagano (Japão)<br />
Krzysztof Penderecki (Polônia)<br />
Kurt Masur (Polônia)<br />
Leonard Bernstein (EUA)<br />
Leonard Slatkin (EUA)<br />
Lorin Maazel (França)<br />
Philipe Herreweghe (Bélgica)<br />
Pierre Boulez (França)<br />
Marek Janowski<br />
(Polônia/Alemanha)<br />
Mikhail Valievich Pletnev (Rússia)<br />
Myung-Whun Chung (Coréia do<br />
Sul)<br />
Nicholas Ward (Inglaterra)<br />
Nicolaus Harnoncourt (Áustria)<br />
Osvaldo Ferreira (Portugal)<br />
Otto Ackermann (Romênia)<br />
Paavo Järvi (Estônia)<br />
Pedro Neves (Portugal)<br />
Peter Eötvös (Hungria)<br />
Peter Manning (Inglaterra)<br />
Rainer Riehm (Alemanha)<br />
René Jacobs (Bélgica)<br />
Richard Westerfield (EUA)<br />
Ronald Zollman (Bélgica)<br />
Rossen Milanov (Bulgária)<br />
Sebastien Weigle (Alemanha)<br />
Seigi Osawa (Japão)<br />
Semion Bychkov<br />
(Rússia/Alemanha)<br />
Sergiu Comissiona (Romênia)
Sergiu Celibidache (Romênia)<br />
Sixten Ehrling (Suécia)<br />
Szymon Goldberg (Polônia/EUA)<br />
Timothy Vernon (Canadá)<br />
Ton Koopman (Holanda)<br />
Trevor Pinnock (Inglaterra)<br />
Valery Gergiev (Rússia)<br />
Victor Hugo Toro (Chile)<br />
Vladimir Altschuler (Rússia/EUA)<br />
II) No Brasil:<br />
Abel Rocha<br />
Aderbal Duarte<br />
Alberto Nepomuceno<br />
Alceo Bocchino<br />
Alessandro Sangiorgi<br />
Alex Klein<br />
Alfredo da Rocha Vianna<br />
(Pixinguinha)<br />
Almeida Prado<br />
Antônio Carlos Borges Cunha<br />
Antônio Carlos Jobim<br />
Camargo Guarnieri<br />
Carlos Alberto Figueiredo<br />
Carlos Lima<br />
Carlos Moreno<br />
Celso Antunes<br />
Ciro Tabet<br />
Cláudio Cruz<br />
Claudio Santoro<br />
Cyro Pereira<br />
Damiano Cozzela<br />
David Junker<br />
Diogo Pacheco<br />
Edino Krieger<br />
Edson Elias<br />
Eduardo José Soares Lages<br />
Eleazar de Carvalho<br />
Erlon Chaves<br />
Ernst Mehlicht-Strasse<br />
Ernst Widmer<br />
Evgueni Nikolaev Ratchev -<br />
- (Bulgária/Brasil)<br />
Fatima Calixto<br />
Francisco Mignone<br />
Francisco Paulo Russo<br />
Frederico Gerling Junior<br />
Furio Franceschini<br />
George Olivier Toni<br />
Gilberto Mendes<br />
Giovanni Andreoli<br />
Gilson José de Azeredo Peranzzetta<br />
Giuseppe Cataldo<br />
Heitor Villa-Lobos<br />
Henrique Gregori<br />
408<br />
Vladimir Fedoseyev (Rússia/EUA)<br />
Wilhelm Furtwängler (Alemanha)<br />
William Larue Jones (EUA)<br />
Yan Pascal Tortelier (Torteller)<br />
(França)<br />
Yoram David (Israel/EUA)<br />
Yuli Turovsky (Rússia)<br />
Zubin-Mehta (Índia)<br />
Henrique Morelenbaum<br />
Hermes Coelho<br />
Isaac Karabtchewsky<br />
João Carlos Martins<br />
João Lyrio Tallarico<br />
João Maurício Galindo<br />
John Neschling<br />
Jorge Antunes<br />
José Maurício<br />
Júlio de Castro<br />
Julio Medaglia<br />
Lamberto Baldi<br />
Leo Peracchi<br />
Leonardo Bruno Ferreira<br />
Levino Ferreira de Alcântara<br />
Lirio Panicalli<br />
Lívio Tragtenberg<br />
Luis Carlos Durier<br />
Luis Gustavo Petri<br />
Lutero Rodrigues<br />
Mara Campos<br />
Marcelo Vizani<br />
Marieddy Rosseto<br />
Martin Brawnvieser<br />
Michele Fiuza<br />
Miguel Arqueróns<br />
Moacir Santos<br />
Nedir Salomão<br />
Norton Morozowicz<br />
Osvaldo Colarusso<br />
Osvaldo Ferreira<br />
Otávio Henrique Soares Brandão<br />
Piero Bastianelli (Itália/Brasil)<br />
Radamés Gnatalli<br />
Raul do Valle<br />
Ricardo Prado<br />
Ricardo Tacuchian<br />
Roberto Duarte<br />
Roberto Martins<br />
Roberto Minczuck<br />
Roberto Schnarrenberg<br />
Roberto Tibiriçá<br />
Rogério Duprat<br />
Ronaldo Bologna<br />
Sá Pereira
Samuel Kerr<br />
Sandino Hohagen<br />
Silvio Baccarelli<br />
Silvio Barbato<br />
Souza Lima<br />
Túlio Colacciopo<br />
Orquestras no Mundo:<br />
I) Nos Estados Unidos da América:<br />
Orquestra de Filadélfia<br />
Orquestra de Louisville<br />
Orquestra Filarmônica de Dresden<br />
Orquestra Filarmônica de Israel<br />
Orquestra Filarmônica de Los<br />
Angeles<br />
Orquestra Filarmônica Real de<br />
Liverpool<br />
Orquestra Filarmônica de Munique<br />
Orquestra Filarmônica de Nova<br />
York<br />
Orquestra Sinfônica de Birmingham<br />
Orquestra Sinfônica de Bombaim<br />
Orquestra Sinfônica de Boston<br />
Orquestra Sinfônica de Chicago<br />
Orquestra Sinfônica de Dallas<br />
Orquestra Sinfônica de Detroit<br />
Orquestra Sinfônica de Houston<br />
Orquestra Sinfônica de Milwaukee<br />
Orquestra Sinfônica de Minneapolis<br />
(ou Orquestra de Minnesota)<br />
Orquestra Sinfônica de Montreal<br />
Orquestra Sinfônica de Sacramento<br />
Orquestra Sinfônica de Saint Louis<br />
Orquestra Sinfônica de São<br />
Francisco<br />
Orquestra Sinfônica do Alabama<br />
Orquestra Sinfônica do Arizona<br />
Orquestra Sinfônica de Atlanta<br />
Orquestra Sinfônica Nacional de<br />
Washington<br />
Outras:<br />
Orquestra Barroca de Portland<br />
Orquestra de Câmara Gulbenkian<br />
Orquestra de Percussão da<br />
Universidade de Oklahoma<br />
II) Na Europa e Ásia:<br />
Orquestra da Accademia di Santa<br />
Cecília (Roma)<br />
Orquestra de Amsterdam<br />
Orquestra de Leipzig<br />
Orquestra da Ópera Nacional de<br />
409<br />
Turíbio Santos<br />
Vladimir Fiuza<br />
Vitor Diniz (Portugal/Brasil)<br />
Walter Lourenção<br />
Paris<br />
Orquestra de Paris<br />
Orquestra da Rádio de Colônia<br />
Orquestra da Rádio de Frankfurt<br />
Orquestra da Rádio Sueca<br />
Orquestra Filarmônica Chinesa<br />
Orquestra Filarmônica de Berlim<br />
Orquestra Filarmônica de Dresden<br />
Orquestra Filarmônica de<br />
Estocolmo<br />
Orquestra Filarmônica de Helsinque<br />
Orquestra Filarmônica de Israel<br />
Orquestra Filarmônica de Londres<br />
Orquestra Filarmônica de Monte Carlo<br />
Orquestra Filarmônica de Moscou<br />
Orquestra Filarmônica de Praga<br />
Orquestra Filarmônica de Roma<br />
Orquestra Filarmônica de Roterdam<br />
Orquestra Filarmônica de Seul<br />
Orquestra Filarmônica de Viena<br />
Orquestra Filarmônica Real<br />
Orquestra Kirov of the Mariinsky<br />
Theatre<br />
Orquestra Metropolitana de Lisboa<br />
Orquestra Nacional de Espanha<br />
Orquestra Nacional da França<br />
Orquestra Nacional da Rússia<br />
Orquestra Real da Escócia<br />
Orquestra Sinfônica da BBC<br />
Orquestra Sinfônica da Nova<br />
Zelândia<br />
Orquestra Sinfônica da Rádio da<br />
Baviera<br />
Orquestra Sinfônica da Rádio<br />
Difusão da China<br />
Orquestra Sinfônica da Rádio<br />
Nacional da Bulgária<br />
Orquestra Sinfônica de Estocolmo<br />
Orquestra Sinfônica de Gunma<br />
(Japão)<br />
Orquestra Sinfônica de Helsinque<br />
Orquestra Sinfônica de Londres<br />
Orquestra Sinfônica de Madri<br />
Orquestra Sinfônica de Melbourne<br />
Orquestra Sinfônica de Milão
Orquestra Sinfônica de Moscou<br />
Orquestra Sinfônica de Munique<br />
Orquestra Sinfônica de São Petersburgo<br />
Orquestra Sinfônica de Toronto<br />
Orquestra Sinfônica de Viena<br />
Orquestra Sinfônica Nacional Checa<br />
Orquestra Sinfônica Nacional da<br />
Irlanda<br />
Orquestra Sinfônica NHK de<br />
Tóquio<br />
Orquestra Sinfônica WDR de<br />
Colônia<br />
Real Orquestra Sinfônica de Sevilha<br />
Outras:<br />
Orquestra de Câmara de Moscou<br />
Zurich Tonhalle Orchestra<br />
Orquestra Estatal Bávara<br />
Orquestra Estatal da Coréia do Norte<br />
Orquestra do Teatro da Ópera de<br />
Roma<br />
Emmanuel Music Orchestra<br />
New England Conservatory<br />
Longy School of Music<br />
IIIa) Na América do Sul:<br />
Orquestra Filarmônica de Buenos<br />
Aires<br />
Orquestra Filarmônica da UNAM<br />
(México)<br />
Orquestra Sinfônica de Buenos<br />
Aires<br />
Orquestra Sinfônica Nacional do<br />
Chile<br />
IIIb) No Brasil:<br />
Orquestra Filarmônica do Espírito<br />
Santo<br />
Orquestra Filarmônica de Juiz de<br />
Fora<br />
Orquestra Filarmônica de Rio Claro<br />
Orquestra Sinfônica de Americana<br />
Orquestra Sinfônica Brasileira<br />
Orquestra Sinfônica de Belo<br />
Horizonte<br />
Orquestra Sinfônica do Teatro<br />
Nacional de Brasília<br />
410<br />
Orquestra Sinfônica Municipal de<br />
Campinas<br />
Orquestra Sinfônica de Curitiba<br />
Orquestra Sinfônica de Goiânia<br />
Orquestra Sinfônica de Minas<br />
Gerais<br />
Orquestra Sinfônica Lyra Mojimiriana<br />
Orquestra Sinfônica Nacional<br />
Orquestra Sinfônica da Paraíba<br />
Orquestra Sinfônica do Paraná<br />
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre<br />
Orquestra Sinfônica de Recife<br />
Orquestra Sinfônica de Ribeirão<br />
Preto<br />
Orquestra Sinfônica de Santa<br />
Catarina<br />
Orquestra Sinfônica do Estado de<br />
São Paulo<br />
Orquestra Sinfônica da Rádio Clube<br />
do Brasil<br />
Orquestra Sinfônica de Taubaté<br />
Orquestra Sinfônica do Theatro<br />
Municipal do Rio de Janeiro<br />
Orquestra Sinfônica da UFMT<br />
Orquestra Sinfônica da Escola de<br />
Música da UFRJ<br />
Orquestra Sinfônica da USP<br />
Outras (Brasil):<br />
Camerata Florianópolis<br />
Oficina de Música de Curitiba<br />
Orquestra Bachiana Filarmônica<br />
Coral Baccarelli<br />
Orquestra de Câmara Arturo<br />
Toscanini (USP)<br />
Orquestra de Câmara Da Cappo<br />
Orquestra de Câmara de Blumenau<br />
Orquestra Nova Filarmônia de São<br />
Paulo<br />
Orquestra Nova Sinfonieta de São<br />
Paulo<br />
Orquestra Sinfônica Petrobrás Pró-<br />
Música<br />
Rio Jazz Orquestra<br />
Sociedade Filarmônica Pietro<br />
Mascagni de Jaboticabal
I) Livros:<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
ADORNO, T. W. Filosofia da Nova Música. São Paulo: Perspectiva, 1989.<br />
AIRES, Margarida de Mello et al. Fisiologia Básica. Rio de Janeiro, Guanabara<br />
Koogan, 1985.<br />
ALALEONA, Domingos. História da Música, desde a antiguidade até nossos dias.<br />
São Paulo: Ricordi Brasileira, 1953.<br />
ALBET, Montserrat. A música contemporânea. Biblioteca SALVAT de Grandes<br />
Temas. Rio de Janeiro: Salvat Editora do Brasil, 1979.<br />
ANDRA<strong>DE</strong>, Mário de. Pequena História da Música. São Paulo: Livraria Martins<br />
Editora, 1958.<br />
ANTUNES, Jorge. Notação na música contemporânea. Brasília, DF: Sistrum<br />
Edições Musicais, 1989.<br />
ARCANJO, Samuel. Lições elementares de teoria musical. São Paulo: Ricordi,<br />
1960.<br />
BAPTISTA, Raphael. Tratado de Regência: Aplicada à Orquestra, à Banda de<br />
Música e ao Coro. 2ª. ed. São Paulo: Irmãos Vitale, 2000.<br />
BARRAUD, Henry. Para compreender as músicas de hoje. São Paulo: Perspectiva,<br />
1975.<br />
BENNET, Roy. Elementos básicos da música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,<br />
1998.<br />
BITTENCOURT, Paulo Taques e BITTENCOURT, Hélio Taques. Curso “ESSE”<br />
de Alta Fidelidade. Fundamentos psicoacústicos. São Paulo: Edições Monitor, 1962.<br />
BLATTER, Alfred. Instrumentation and orchestration. New York: Schimer Books,<br />
1980.<br />
BOULEZ, Pierre. A música hoje. São Paulo: Perspectiva, 1986.<br />
BRAGA, Breno. Introdução à análise musical. São Paulo: Musicália, 1975.<br />
BUCHER, Hannelore. Harmonia funcional e prática. Uma abordagem natural para<br />
desfazer o mito da complexidade da harmonia. 2ª. ed. Vitória, ES: Mastering Piano<br />
Books, 2001.<br />
BURROWS, John e WIFFEN, Charles. Guia de Música Clássica. Rio de Janeiro:<br />
Jorge Zahar Editor, 2006.<br />
CARPEAUX, Otto Maria. Uma nova história da música. Rio de Janeiro: Ediouro,<br />
s/d.<br />
CHERRY, Colin. A Comunicação Humana. São Paulo: Cultrix/EDUSP, 1971.<br />
COPLAND, Aaron. A Nova Música. Rio de Janeiro: Gráfica Editora Record, 1969.<br />
COSME, Luís. Introdução à Música. Rio de Janeiro: Edições de Ouro Culturais,<br />
1967.<br />
CURSO <strong>DE</strong> MÚSICA. The Open University. São Paulo: Edições IUB, s/d.<br />
<strong>DE</strong>NYER, Ralph. Toque: curso completo de violão e guitarra. Rio de Janeiro: Rio<br />
Gráfica Editora, 1983.<br />
DUARTE, Aderbal. Percepção musical. Salvador, Bahia: Ed. Boa Nova, 1996.<br />
ECO, Umberto. Obra Aberta. 2ª. ed. São Paulo: Perspectiva, 1971.<br />
ERNST, David. The evolution of Electronic Music. New York: Schirmer,<br />
Macmillan, 1977.<br />
FERRAZ, Silvio. Música e repetição. São Paulo: Educ, 1998.<br />
FOUILLÉ, A. Física das Vibrações. Enciclopédia Técnica Universal Globo. Porto<br />
Alegre: Editora Globo, 1970.<br />
411
GRANET, Marcel. O Pensamento Chinês. Rio de Janeiro: Contraponto Editora<br />
Ltda, 1997.<br />
GRIFFITHS, Paul. A música moderna: uma história concisa e ilustrada de Debussy<br />
a Boulez. Rio de Janeiro: Zahar, 1987.<br />
GROUT, Donald Jay; PALISCA, Claude V. História da música ocidental. 2. ed.<br />
portuguesa. Lisboa: Gradiva Publicações, 2001.<br />
HARNOUNCOURT, Nikolaus. O discurso dos sons. Caminhos para uma nova<br />
compreensão musical. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.<br />
HARRIS, Rex. Jazz. As suas origens e o desenvolvimento que adquiriu, desde os<br />
ritmos primitivos africanos à evoluída musica ocidental dos nossos dias. Lisboa,<br />
Portugal: Editora Ulisseia, 1952.<br />
HIN<strong>DE</strong>MITH, Paul. Treinamento Elementar para Músicos. São Paulo: Ricordi<br />
Brasileira, 1988.<br />
INTRODUÇÃO À MÚSICA, Fascículos 1 e 2. Rio de Janeiro: Salvat Editores do<br />
Brasil. 1983.<br />
IZZO, Miguel. Noções elementares de música. Rio de Janeiro: Irmãos Vitale<br />
Editores, 1946.<br />
KÁROLYI, Otto. Introdução à música. Enciclopédia SALVAT dos grandes<br />
compositores. Rio de Janeiro: Editora Salvat do Brasil, 1985.<br />
KIEFER, Bruno. História e Significado das Formas Musicais. Porto Alegre:<br />
Movimento, 1970.<br />
KOELLREUTTER, H. J. Contraponto modal do século XVI. São Paulo: Novas<br />
Metas, 1989.<br />
KONDRATOV, A. Sons e Sinais. Brasília, DF: Coordenada Editora de Brasilia,<br />
1972.<br />
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630 Esta bibliografia refere-se à primeira versão desta obra, de 1992.<br />
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Revista Brasiliana da ABM<br />
http://acd.ufrj.br/lamut/home.htm<br />
Lamut - Laboratório de Música e Tecnologia da UFRJ<br />
http://www.acceder.gov.ar/es/<br />
Red de Contenidos Digitales del Patrimonio Cultural<br />
http://arts.ucsc.edu/EMS/Music/index.html<br />
Electronic Music Studios at the University of California, Santa Cruz<br />
http://arts.ucsc.edu/EMS/Music/tech_background/tech_background.html<br />
Artigos sobre acústica, MIDI, matemática da música eletrônica, etc<br />
http://www.audicoelum.mus.br/#www.audicoelum.mus.br<br />
Música sacra<br />
http://www26.brinkster.com/basspoint/<br />
Bass Point – O seu Portal do Contrabaixo<br />
http://www.boosey.com/pages/cr/composer/<br />
Completo site de compositores eruditos no mundo<br />
http://www.btinternet.com/~jon.hardman/midi.htm<br />
Arquivos MIDI<br />
http://www.carstereo.com.br/<br />
Revista CarestereoTuning Brasil<br />
http://www.classicalarchives.com/<br />
Biografias e gravações MIDI de compositores clássicos<br />
http://www.classicos.hpg.ig.com.br/composia.htm<br />
Biografias de compositores em geral<br />
http://cliquemusic.uol.com.br/br/home/home.asp<br />
Música brasileira<br />
http://club.idecnet.com/~modegar/paginas/prensacastellano.htm<br />
Revistas de áudio e vídeo em espanhol<br />
http://www.clubedoaudio.com.br/<br />
Revista Digital Áudio e Vídeo<br />
631 Salvo exceções, estes sites não são mencionados ao longo do texto.<br />
415
http://www.concerto.com.br/contraponto.asp?id=192<br />
Revista Eletrônica sobre Concertos Musicais<br />
http://www.compomus.mus.br/<br />
Laboratório de Composição Musical<br />
http://www.cpdl.org/wiki/index.php/Main_Page<br />
Choral Public Domain Library<br />
http://www.crlm.paris4.sorbonne.fr/mt/tsources.html<br />
Centre de Recherches – Langages Musicaux (Bibliografia - 1600 a 1900)<br />
http://www.dicionariompb.com.br/<br />
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira<br />
http://www.dropmusic.com.br/<br />
Revista Eletrônica sobre Música<br />
http://www.ejazz.com.br/default.asp<br />
Jazz e música instrumental brasileira<br />
http://eleandrodaflauta.blogspot.com/2008/10/muita-polmica-envolve-forma-comoo.html<br />
Site geral sobre música, instrumentos e textos musicais<br />
http://fcalixto.blogspot.com/2009/03/apostilas-manuais-livros-etutoriais.html?showComment=1237955820000<br />
Arranjos musicais, partituras e textos sobre música<br />
http://www.freemusicdir.com/<br />
Músicas em formato midi<br />
http://www.geocities.com/aochiadobrasileiro/<br />
Compositores, intérpretes, história do samba, do carnaval, etc.<br />
http://www.guiadohardware.net/revista<br />
Revista digital voltada ao hardware<br />
http://www.humanas.ufpr.br/rem/numeros.html<br />
Revista Eletrônica de Musicologia (1996-2002)<br />
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/<br />
enciclopedia/arttec/home/dsp_home.cfm<br />
Nomes e biografias de compositores de música eletroacústica no Brasil<br />
http://www.icbeuu.com.br/linksss.htm<br />
Links culturais<br />
http://www.lastfm.com.br/music/<br />
Músicas e Vídeos musicais<br />
416
http://mac-texier.ircam.fr/<br />
Compositores contemporâneos no mundo<br />
http://mikediasdrum.blogspot.com/2009/10/tecnica-do-maestro.html<br />
Técnicas de regência<br />
http://www.musitec.com.br/<br />
Revista Áudio Música & Tecnologia<br />
http://letras.terra.com.br/novidades.php<br />
Letras de música em ordem alfabética<br />
http://www.meloteca.com/dicionario-musica-italiano-portugues.htm<br />
Dicionário Italiano-Português de Música<br />
http://www.meloteca.com/musicos-maestros.htm<br />
Nomes de maestros em Portugal<br />
http://www.musicaeadoracao.com.br/tecnicos/sonorizacao/glossario_termos.htm<br />
Glossário de termos técnicos de acústica, eletrônica e música<br />
http://www.paginadosom.com.br/<br />
Página do Som<br />
http://www.palaciodosmusicos.com/index.php?option=com_weblinks&Itemid=345<br />
Site português (Portugal) sobre música e músicos<br />
http://www.palcoprincipal.com/artigos/artigo.php?id=12<br />
Programação de eventos musicais<br />
http://www.partiturasencore.com/p_partituras.htm<br />
Partituras para o software Encore<br />
http://www.portalnet.net/midbrasil/<br />
Arquivos de música em MIDI e MP3<br />
http://www.portalnet.net/midbrasil/datas.htm<br />
Sons e músicas MIDI para datas especiais<br />
http://www.pozzallo.net/labormusic/<br />
Curso de piano on-line<br />
http://www.revistaautosom.com.br/index.htm<br />
Revista Autosom Tuning & Dub<br />
http://www.revistahomestudio.com.br/<br />
Revista Home Studio<br />
417
http://www.scena.org/index.asp<br />
Revista La Scena Musicale<br />
http://www.sohns-musica.com.ar/index.html<br />
Partituras: Barroco, Clássico, etc.<br />
http://site.guitarplayer.com.br/editorial/index.asp?id=584<br />
Revista Guitar Player<br />
http://www.soundonsound.com/<br />
Revista digital SoundonSound<br />
http://surf.to/paulinyi<br />
Biblioteca Virtual de Partituras<br />
http://www.teoria.com/indice.htm<br />
Teoria musical<br />
http://www.terra.com.br/podcast/capa.htm<br />
Música em podcast<br />
http://www.theaudio.com/<br />
Pesquisa em áudio, aparelhos e componentes<br />
http://www.unicamp.br/cdmc/pesquisadores_c.html<br />
Centro de Documentação de Música Contemporânea (Brasil)<br />
http://www.unicamp.br/cdmc/regentes.html<br />
Relação de regentes brasileiros<br />
http://www.universomusical.com.br/<br />
Revista Musical<br />
http://www.usp.br/osusp/<br />
Site da Orquestra Sinfônica da USP<br />
http://viola-de-arco.blogspot.com/<br />
Estudo sobre acústica e violas<br />
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_experimental_musicians<br />
Música experimental<br />
http://whiplash.net/<br />
Rock e Heavy Metal<br />
418
VI) Programas de TV:<br />
Instrumental SESC Brasil<br />
Programa Mosaicos: TV Cultura<br />
Programa Clássicos: TV Cultura<br />
Programa Noites Clássicas: TV Cultura<br />
Programa Ensaio: TV Cultura<br />
Programa Sr. Brasil: TV Cultura<br />
419
RE/<strong>DE</strong>/COMPOSIÇÕES DO AUTOR 632<br />
1. Answer to Ives (05’ 28)<br />
2. Cantabo Domine (02’ 13)<br />
3. Chanson des Étoiles (03’ 48)<br />
4. Debunking Debussy (12’ 44)<br />
5. Double Melody (02’ 20)<br />
6. Erratic Sounds (02’ 50)<br />
7. Fairies Melody (02’ 20)<br />
8. Loose Grand Pianos (08’ 46)<br />
9. Quase Samba (01’ 55)<br />
10. Rise_UFO (00’ 29)<br />
11. Sky Blues (01’ 50)<br />
12. Sonidos (01’ 11)<br />
13. Speech-hceepS (01’ 26)<br />
14. Strange Jazz (03’ 50)<br />
15. Travessia de Aníbal (02’ 41)<br />
A primeira e a quarta são re/definições-re/criações (por mixagem) das obra de<br />
Charles Ives (Unanswered Questions) e de Claude Debussy (Prélude à l’Aprè-Midi<br />
d’un Faune), respectivamente. A segunda, terceira, sexta, sétima, décima, décima<br />
segunda e décima-quinta são obras experimentais, sendo que a sexta (Erratic Sounds) é<br />
um exemplo cabal da música eletroacústica; a sétima (Fairies Melody) é um curioso<br />
experimento melódico (a melodia foi gerada sinteticamente, sendo em seguida mudado<br />
o tratamento instrumental); a décima-segunda (Sonidos), e a décima-quinta (Travessia<br />
de Aníbal), incorporam elementos da música fractal/granular (na terceira, Chanson des<br />
Étoiles, o ruído de fundo é proposital).<br />
A décima (Rise_UFO) e a décima-terceira (Speech-hceepS) 633 obras são<br />
experimentos em som. Destas duas, a primeira, apesar de parecer ter sido gerada<br />
sinteticamente, é tão-somente um trecho de música cantada que foi re-transformado à<br />
exaustão (pelo uso de inversão, mistura, decomposição espectral, etc), até tomar o<br />
formato estranho que apresenta. Já a segunda é um trecho de discurso tratado de modo a<br />
se apresentar simultaneamente no sentido direto e inverso, na reprodução.<br />
A quinta (Double Melody) e a décima-primeira (Sky Blues) são remixagens a<br />
partir das músicas Cavatina 634 e Trilha, 635 com um toque pessoal na reorganização<br />
(escolhendo e cortando trechos, mudando andamentos, efetuando cortes, realizando<br />
sobreposições, etc). A oitava composição (Loose Grand Pianos) é um tema livre,<br />
original e instigante.<br />
Na nona (Quase Samba), uma batida sintética de samba é interpolada por uma<br />
variação melódica tocada em xilofone. Na décima-quarta (Strange Jazz), o formato de<br />
jazz vai gradativamente sofrendo uma interferência de uma batida de samba/bossa nova,<br />
até que esta domine os movimentos finais.<br />
632 Estas composições foram realizadas utilizando alguns dos softwares mencionados no item 14.5. O<br />
download das músicas pode ser feito a partir do site: http://www.4shared.com/ , diretamente do link:<br />
http://www.4shared.com/dir/10484059/6cf4c26e/sharing.html.<br />
633 Na inversão é possível perceber a contundência virulenta do autor do discurso, Hitler.<br />
634 De John Williams, usada como tema do filme O Franco-Atirador.<br />
635 Encontrada na Internet, sem referência de autoria.<br />
420