15.04.2013 Views

Nº - Os Confrades da Poesia

Nº - Os Confrades da Poesia

Nº - Os Confrades da Poesia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Amora - Seixal - Setúbal - Portugal | Ano V | Boletim Especial <strong>Nº</strong> 52 | Setembro / 2012<br />

EDITORIAL<br />

www.osconfrades<strong>da</strong>poesia.com - Email: osconfrades<strong>da</strong>poesia@gmail.com<br />

«JANELA ABERTA AO MUNDO LUSÓFONO»<br />

O BOLETIM Bimestral Online (PDF) "<strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong>" foi fun<strong>da</strong>do com a incumbência de instituir um<br />

Núcleo de Poetas, facultando aos (<strong>Confrades</strong> / Lusófonos) o ensejo dum convívio fraternal e poético. Pretendemos<br />

ser uma "Janela Aberta ao Mundo Lusófono"; explanando e <strong>da</strong>ndo a conhecer esta ARTE SUBLIME, que praticamos<br />

e gostamos de invocar aos quatro cantos do Mundo, apelando à Fraterni<strong>da</strong>de e Paz Universal. Subsistimos pelos<br />

nossos próprios meios e sem fins lucrativos. Com isto pretendemos enaltecer a <strong>Poesia</strong> Lusófona e difundir as obras<br />

dos nossos estimados <strong>Confrades</strong> que gentilmente aderiram ao projecto "ONLINE" deste Boletim.<br />

“Promovemos Paz”<br />

A Direcção<br />

ESPECIAL «Maria Ivone Vairinho»<br />

Maria Ivone Vairinho foi Presidente <strong>da</strong> Direcção <strong>da</strong> APP, desde Março de 2002 a 14 de Maio de 2011. Não se recandi<strong>da</strong>tou<br />

a novo man<strong>da</strong>to e, em 14 .05.2011, em AG dos associados <strong>da</strong> APP, foi-lhe conferi<strong>da</strong> a categoria de Sócia<br />

Honorária.<br />

POETA<br />

Ser poeta<br />

É bênção<br />

É maldição.<br />

Num desassossego<br />

De inquietação<br />

Na carne sofrer<br />

Dos outros a dor<br />

A alma desnu<strong>da</strong>r<br />

Sem falso pudor.<br />

Num só verso<br />

Condensar o Universo.<br />

Em ca<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong><br />

De corpo despido<br />

Abertas as veias<br />

Deixar jorrar<br />

A dor sublima<strong>da</strong>.<br />

Para ser feliz<br />

Precisar de na<strong>da</strong>.<br />

Maria Ivone Vairinho<br />

27/2/1936 – 7/9/2012<br />

RESSURREIÇÃO<br />

Dentro de mim há sinos a vibrar<br />

Na confiança que foi renasci<strong>da</strong><br />

Em hossanas de alegria a repicar<br />

Num concerto belo d' amor à vi<strong>da</strong>.<br />

A esp´rança na minha porta bateu<br />

Não me pediu licença para entrar<br />

Forte, bela, gloriosa irrompeu<br />

E disse que vinha para ficar.<br />

Fugiu o medo, levou consigo a dor<br />

As lágrimas mil ain<strong>da</strong> por chorar<br />

Eram só fios de luz sem amargor.<br />

E eu, que a dor sofri e nunca gritei,<br />

Sinto a vontade louca de gritar:<br />

-Vi<strong>da</strong>, venci a morte e ressuscitei!<br />

FICHA TÉCNICA<br />

Boletim Mensal Online<br />

Proprie<strong>da</strong>de: Pinhal Dias - Amora / Portugal | Paginação: Pinhal Dias - São Tomé<br />

A Direcção: Pinhal Dias - Presidente / Fun<strong>da</strong>dor; Conceição Tomé - Vice-Presidente / Fun<strong>da</strong>dor<br />

Re<strong>da</strong>cção: São Tomé - Pinhal Dias<br />

Colaboradores: | Carmo Vasconcelos | Euclides Cavaco | Maria Vitória Afonso | Pedro Valdoy | Filipe Papança | São Tomé |<br />

Maria Ivone Vairinho


2 | <strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong> | Boletim Nr 52 | Setembro / 2012<br />

Especial «Maria Ivone Vairinho»<br />

Maria Ivone de Jesus Pinto Manteigueiro Vairinho nasceu na ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Covilhã. Foi aluna <strong>da</strong> Escola<br />

Industrial e Comercial Campos Melo, tendo sido a melhor finalista do seu curso e a melhor aluna <strong>da</strong> Escola.<br />

Completou os cursos de "Formação Geral do Comércio" e "Complementar do Comércio".<br />

Cursos do Instituto Britânico e <strong>da</strong> Alliance Française<br />

É diploma<strong>da</strong> pela Escola Pittea em estenografia portuguesa, francesa e inglesa.<br />

Ain<strong>da</strong> espera concluir o curso de Literatura Portuguesa, que interrompeu por doença grave.<br />

Durante 39 anos, foi funcionária <strong>da</strong> Sacor , depois Petrogal (hoje Galp Energia) devido à fusão de quatro<br />

empresas - Sacor, Sonap, Cidla e Petrosul. Tem muito orgulho na sua carreira profissional, pois foi sempre promovi<strong>da</strong><br />

através de concursos internos e externos, terminando a sua carreira profissional como Secretária do Conselho de<br />

Administração.<br />

LITERÁRIO<br />

Desde muito nova (15 anos) começou a escrever contos, peças de teatro, autos de Natal e poemas, que foram publicados<br />

em diversos jornais e revistas, tendo ganho quatro primeiros prémios em contos (Kemba, a Gazela; Folhas Soltas<br />

do meu Diário, Conto de Natal e Carta de Amor para Minha Mãe) e uma menção honrosa em <strong>Poesia</strong> Lírica no I<br />

Concurso Literário <strong>da</strong> SACOR..<br />

Traduziu muitos livros de Espanhol, Francês e Inglês (entre eles a série Dallas <strong>da</strong> Televisão e Robinson Crusoe).<br />

Obras publica<strong>da</strong>s:<br />

ROMANCES<br />

Linhas Troca<strong>da</strong>s, Amor Cigano (1ª e 2ª Edição), Humilhação de Amor, Uma Mulher Moderna (esgotados)<br />

POESIA<br />

Livro <strong>da</strong> Dor e <strong>da</strong> Esperança ( VEGA - Outubro de 1999 - com prefácio de António Alça<strong>da</strong> Baptista).<br />

Foi colaboradora <strong>da</strong> "Crónica Feminina", nos seus anos de ouro, desde 1957 a 1982.<br />

Também foi colaboradora do jornal "Poetas & Trovadores" e participou em 8 Antologias <strong>da</strong> ASSOCIAÇÃO PORTUGUE-<br />

SA DE POETAS. Tem muitos poemas publicados no Notícias <strong>da</strong> Covilhã, Cyberletter, revista <strong>da</strong> APAE-Campos Melo e<br />

Boletim <strong>da</strong> Associação Portuguesa de Poetas<br />

A sua Bio-Bibliografia foi incluí<strong>da</strong> no livro de José Mendes dos Santos "Escritores do Concelho <strong>da</strong> Covilhã" (página 196<br />

- edição de 1997)<br />

Na Revista Cultural Florin<strong>da</strong>, edição <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>da</strong> Covilhã, no número dedicado aos Poetas do Concelho,<br />

foram publicados quatro poemas de sua autoria.<br />

O seu curriculum, mais alargado, foi incluído na rubrica "Artistas <strong>da</strong> nossa Terra", de Manuel Vaz Correia, que ao longo<br />

de dois anos foi publica<strong>da</strong> semanalmente no jornal "Notícias <strong>da</strong> Covilhã" e deu depois origem ao livro com o mesmo<br />

título, edição <strong>da</strong> Câmara Municipal <strong>da</strong> Covilhã, em 1998.<br />

ARTÍSTICO<br />

O seu contacto com o palco deu-se no teatrinho do Salão Paroquial <strong>da</strong> freguesia de S. Pedro, na Covilhã, onde disse<br />

poesia, cantou e representou peças de sua autoria. Com guião e direcção do Padre José dos Santos Carreto, foi a<br />

protagonista do filme "Dois Caminhos" , que relatava a luta de uma jovem operária, militante <strong>da</strong> JOC, na defesa <strong>da</strong><br />

digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mulher no mundo do trabalho. Pertenceu ao Grupo Cénico do Orfeão <strong>da</strong> Covilhã. Sob a direcção de Carlos<br />

Correia, Dra. Maria <strong>da</strong> Ascensão Albuquerque Duarte Simões e Luís Ferrer representou vários autos de Gil Vicente,<br />

Almei<strong>da</strong> Garrett, Júlio Dantas, José Régio e Luís Stau Monteiro.<br />

No intervalo entre a 1ª e 2ª partes <strong>da</strong> actuação do Orfeão, dizia poemas. Foi "Maria" no "Natal Beirão", <strong>da</strong> autoria do<br />

maestro Padre Mateus <strong>da</strong>s Neves, e "Covilhã" na apresentação do folclore beirão nos espectáculos do Orfeão, que<br />

acompanhou nas suas deslocações a Santarém, Tomar, Abrantes, Guar<strong>da</strong> , Tábua...<br />

Colaborou em concertos <strong>da</strong> "Pró-Arte", dizendo poemas ilustrativos de diversos an<strong>da</strong>mentos de Sinfonias de Beethoven.<br />

Dos muitos recitais de poesia que deu no concelho <strong>da</strong> Covilhã, destaca o seu poema "Lua Branca em Céu de<br />

Agosto", dedicado à Covilhã, dito no Dia <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de no Salão Nobre dos Paços do Concelho e os poemas do Padre<br />

Moreira <strong>da</strong>s Neves e Maria Alberta Menéres ditos na Sessão Solene <strong>da</strong>s Comemorações Marianas, que se realizou na<br />

Covilhã e foi presidi<strong>da</strong> pelo Cardeal D. Fernando Cento, Núncio Apostólico em Portugal.<br />

Com o pseudónimo de Ivone Beirão, em 1958 pertenceu ao Centro de Preparação de Artistas <strong>da</strong> Rádio. Sob a orientação<br />

do Prof. Motta Pereira, gravou programas nos estúdios <strong>da</strong> Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, e estreou-se<br />

num Serão para Trabalhadores no Pavilhão dos Desportos no Parque Eduardo VII . Nessa altura, teve também lições<br />

de arte de dizer com Manuel Lereno. Pertenceu ao Grupo Cénico <strong>da</strong> Casa do Pessoal <strong>da</strong> SACOR e sob a direcção de<br />

Carlos Pinho colaborou em diversos Saraus de <strong>Poesia</strong>. Sob a direcção de Ruy Furtado, representou "A Muralha", de<br />

Calvo Sotelo, "Súplica <strong>da</strong> Cananeia", "Auto <strong>da</strong> Alma", "Auto de Mofina Mendes" e "Pranto de Maria Par<strong>da</strong>", de Gil<br />

Vicente. Representou nos Teatros <strong>da</strong> Trin<strong>da</strong>de e Luísa Toddi e nas instalações <strong>da</strong> Sacor em Cabo Ruivo, Porto e Faro.<br />

Maria Ivone Vairinho foi Presidente <strong>da</strong> Direcção <strong>da</strong> APP, desde Março de 2002 a 14 de Maio de 2011. Não se recandi<strong>da</strong>tou<br />

a novo man<strong>da</strong>to e, em 14 .05.2011, em AG dos associados <strong>da</strong> APP, foi-lhe conferi<strong>da</strong> a categoria de Sócia Honorária.<br />

Directora do Boletim <strong>da</strong> Associação Portuguesa de Poetas, é <strong>da</strong> sua inteira responsabili<strong>da</strong>de a Concepção Gráfica<br />

e Composição Informática . Responsável pelo Grupo de Jograis <strong>da</strong> APP - seleccionando e ensaiando os poemas.<br />

Há quatro anos, na Academia Cultural para a Terceira I<strong>da</strong>de de Oeiras, dá aulas de "Ler...e Dizer - Oito Séculos de<br />

Literatura Portuguesa/<strong>Poesia</strong>". É sócia <strong>da</strong> Associação Portuguesa de Escritores, <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Portuguesa de Autores,<br />

<strong>da</strong> Associação Fernando Pessoa e <strong>da</strong> APAE - Campos Melo (Covilhã). Actualmente é membro de "<strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Poesia</strong>".


ABRAÇA-ME APENAS<br />

(Para meu Marido<br />

2 de Outubro de 1961/2 de Outubro<br />

de 2006)<br />

Abraça-me apenas<br />

Com to<strong>da</strong> a ternura<br />

Que teus braços sejam<br />

Cadeia segura.<br />

Deixa que assim<br />

Deste meu jeito<br />

A minha cabeça<br />

Repouse no teu peito.<br />

Aqui estou protegi<strong>da</strong><br />

Deixemos lá fora a vi<strong>da</strong><br />

Com seus ódios e rancor.<br />

Tudo é paz, sereni<strong>da</strong>de<br />

Águas mansas, tranquili<strong>da</strong>de<br />

Abraça-me apenas, meu amor.<br />

MÃE-TERRA<br />

Anoitecia<br />

Quando cheguei.<br />

Cansa<strong>da</strong>, triste, sozinha<br />

Entrei na casa sombria.<br />

Maria Ivone Vairinho<br />

O silêncio era palpável<br />

De um peso insustentável.<br />

A tua cadeira vazia<br />

Pareceu-me pesa<strong>da</strong>, fria.<br />

Faltava-lhe a moldura<br />

Do teu sorriso<br />

Das tuas mãos<br />

Deforma<strong>da</strong>s e velhinhas<br />

Onde morava o refúgio<br />

Para a minha solidão.<br />

A casa não era a mesma<br />

Tinhas levado contigo<br />

A alma e o coração.<br />

O silêncio fez-se maior.<br />

No corpo senti o gelo<br />

Das paredes de granito<br />

Tapei a boca<br />

A sufocar um grito.<br />

To<strong>da</strong>s as luzes abri<br />

O aquecimento liguei<br />

Mas na<strong>da</strong> me aquecia<br />

Havia hostili<strong>da</strong>de<br />

Na sala de ti vazia.<br />

A brancura <strong>da</strong>s paredes<br />

Tinha uma luz crua<br />

Que quase me agredia.<br />

Na parede do quarto<br />

Donde fugira to<strong>da</strong> a luz<br />

O Cristo amargurado<br />

De espinhos coroado<br />

Pareceu passar para mim<br />

O peso <strong>da</strong> sua cruz.<br />

Especial «Maria Ivone Vairinho»<br />

Meti-me na cama, gela<strong>da</strong>,<br />

Confusa, amargura<strong>da</strong><br />

Triste, mais triste<br />

Que a noite mais escura.<br />

E o relógio compassado<br />

Ia descontando as horas<br />

Dum sono sobressaltado.<br />

<strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong> | Boletim Nr 52 | Setembro / 2012 | 3<br />

De madruga<strong>da</strong>,<br />

O sol veio brincar<br />

Nas persianas desci<strong>da</strong>s<br />

Pondo centelhas doira<strong>da</strong>s<br />

Na cal viva <strong>da</strong>s paredes.<br />

Em ouro, foi desenhando,<br />

Na colcha <strong>da</strong> minha cama,<br />

Ren<strong>da</strong>s de bilros delica<strong>da</strong>s.<br />

Um pássaro cantou<br />

No beiral do meu telhado<br />

No quintal o galo lançou<br />

Um cró-cró desafinado.<br />

Abri de par em par<br />

A janela do meu quarto<br />

E por ela vi entrar<br />

O azul intenso do céu<br />

(Lembrando os olhos teus)<br />

O ar puro <strong>da</strong> Serra<br />

A luz doira<strong>da</strong> do sol<br />

Das tílias o perfume<br />

O cheiro forte <strong>da</strong> terra.<br />

O Zêzere, lá ao fundo<br />

Era fita pratea<strong>da</strong><br />

As montanhas sentinelas<br />

No horizonte perfila<strong>da</strong>s.<br />

A casa encheu-se de luz<br />

O Cristo de espinhos coroado<br />

Com ar doce e resignado<br />

Retomou a sua cruz.<br />

À distância de um abraço<br />

Tinha uma doce velhinha<br />

Com olhos <strong>da</strong> cor do céu.<br />

Acor<strong>da</strong>ra de madruga<strong>da</strong><br />

Sentira a minha chega<strong>da</strong><br />

Esperava um beijo meu.<br />

Oh minha Mãe!<br />

Oh minha Terra|<br />

Conjugação do verbo amar<br />

Fonte <strong>da</strong> água viva<br />

Que dá forças para lutar.<br />

Também eu sou de granito<br />

Desafiando o infinito<br />

Mas em ti, junto de ti<br />

Reconcilia<strong>da</strong> com a vi<strong>da</strong><br />

Já não me sinto perdi<strong>da</strong>.<br />

Minha Mãe-Terra<br />

Meu útero, meu lar<br />

Abre-me os braços<br />

Dá-me o teu regaço<br />

Quero descansar.<br />

Maria Ivone Vairinho<br />

ROSA, CARDO, ROSMANINHO<br />

(MINHA FILHA)<br />

Um homem, uma mulher<br />

Pelo céu foram ungidos<br />

No momento do querer<br />

Almas e corpos unidos.<br />

A semente germinou<br />

Violeta, malmequer<br />

Flor que abriu, desabrochou<br />

Com perfume de mulher.<br />

Água pura <strong>da</strong> nascente<br />

Chuva forte e também mansa<br />

Mar de fogo em sol poente<br />

Arco-íris <strong>da</strong> esperança.<br />

Brasa quente <strong>da</strong> lareira<br />

Brisa que refresca o rosto<br />

Sol que vem bailar na eira<br />

Lua branca em céu de Agosto.<br />

Rouxinol em melodia<br />

Trinando no meu telhado<br />

Pomba, águia, cotovia,<br />

Gaivota no voo planado.<br />

Raízes fun<strong>da</strong>s no chão<br />

É formiga a labutar<br />

Cigarra numa canção<br />

Se tem asas para voar.<br />

Rosa, cardo, rosmaninho<br />

Tão singela no seu jeito<br />

Poema de amor e carinho<br />

De todos o mais perfeito.<br />

Maria Ivone Vairinho<br />

HORTO DAS OLIVEIRAS<br />

-Como foi Job eu não sou<br />

Nem tenho a fé de Abraão<br />

Náufrago que em mar vogou<br />

Sem tábua de salvação.<br />

Não grito não esbravejo<br />

Nem costumo me queixar<br />

Mas tenho dentro do peito<br />

Lágrimas mil por chorar.<br />

Pela angústia domina<strong>da</strong><br />

Neste futuro adiado<br />

Há medo que me tortura<br />

E não desejo mais na<strong>da</strong>:<br />

Que de mim seja afastado<br />

O cálice <strong>da</strong> amargura.<br />

Maria Ivone Vairinho


4 | <strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong> | Boletim Nr 52 | Setembro / 2012<br />

SERRA DA ESTRELA<br />

Meu corpo foi talhado em granito<br />

Meus pés plantados em ribeiros<br />

Que me banham o corpo inteiro.<br />

Nos olhos tenho espaço infinito<br />

Que rasga a linha do horizonte<br />

Que se perde no mar, nos montes.<br />

No meu véu branco de esponsais<br />

Brotam zimbro, mimosas, tojais.<br />

No verde selvagem dos pinheirais<br />

Meu manto de rainha foi tecido<br />

Com urzes e rosmaninho entretecido.<br />

Meu vestido verde bor<strong>da</strong>do<br />

Com rubra barra de papoilas<br />

Espigas doira<strong>da</strong>s<br />

De trigo e ceva<strong>da</strong><br />

Desce pelas encostas escarpa<strong>da</strong>s.<br />

No ventre fecundo<br />

Guardo mananciais<br />

De lava ardente e minerais<br />

Que mostram seu esplendor<br />

Nos picos <strong>da</strong>s Penhas Doura<strong>da</strong>s<br />

Quando o sol enamorado<br />

Em manhãs de ouro matiza<strong>da</strong>s<br />

Crepúsculos avermelhados<br />

Me confessa o seu amor.<br />

Prendem-se minhas mãos nas fráguas<br />

Delas jorram cristalinas águas.<br />

Águas de lava arrefeci<strong>da</strong><br />

Fontes de saúde e vi<strong>da</strong><br />

Irrompendo em borbotões<br />

Tecendo ren<strong>da</strong>s delica<strong>da</strong>s<br />

P'las quebra<strong>da</strong>s dos Covões.<br />

Derretem neves do Inverno<br />

E loucas vão mergulhar<br />

No Poço que é do Inferno.<br />

A água <strong>da</strong>s neves, gela<strong>da</strong><br />

É de novo transforma<strong>da</strong><br />

Pela lava incandescente<br />

Rasga a terra com fragor<br />

Entre nuvens de vapor<br />

Nas termas e nas nascentes.<br />

Sou feita de neve e de granito<br />

Nos olhos tenho espaço infinito<br />

Do verde selvagem dos pinheirais<br />

No ventre fecundo mananciais<br />

De lava ardente e gela<strong>da</strong>s águas<br />

Que jorram cantando pelas fráguas.<br />

Maria Ivone Vairinho<br />

Especial «Maria Ivone Vairinho»<br />

Lua Branca em Céu Azul<br />

Nos Montes Serranos<br />

Já o sol se escondeu<br />

E a lua redon<strong>da</strong> e branca<br />

Vem brilhar no céu.<br />

Surge dos lados de Belmonte<br />

— luzeiro na linha do horizonte<br />

E lua branca em céu azul<br />

É banho de luz e calma<br />

E manto avelu<strong>da</strong>do<br />

— <strong>da</strong>í a pouco estrelado —<br />

Que nos envolve<br />

E reconforta a alma.<br />

A lua sobe<br />

Para logo se afun<strong>da</strong>r<br />

Nos pomares perfumados<br />

E fica entonteci<strong>da</strong><br />

Com o aroma forte e doce<br />

Dos frutos sazonados.<br />

Por entre vergéis e choupos<br />

Ouve o Zêzere sussurrar<br />

E há centelhas de prata<br />

A flutuar pelo ar<br />

Quando mergulha rápi<strong>da</strong><br />

Nas águas cristalinas<br />

Para se ir banhar.<br />

Perfuma<strong>da</strong><br />

Refresca<strong>da</strong><br />

Volta de novo a subir<br />

E o seu rosto redondo<br />

Lembra uma flor a abrir<br />

No ar deslumbrado<br />

Com que fita o casario<br />

Na encosta <strong>da</strong> Serra<br />

Alcandorado.<br />

Lá está ela...<br />

E vai pensando ao vê-la<br />

Que por Deus abençoa<strong>da</strong><br />

Tem a forma de um presépio<br />

Para sempre encastoa<strong>da</strong><br />

Numa enorme e bela Estrela.<br />

Enquanto assim devaneia<br />

Um sorriso aberto<br />

Na face cheia<br />

A torre de Santiago<br />

Esguia e altaneira<br />

— que dá horas à ci<strong>da</strong>de inteira -<br />

Vem lhe lembrar<br />

Que a noite é curta<br />

E está a passar.<br />

Apressa<strong>da</strong><br />

Levemente afoguea<strong>da</strong><br />

Vai cumprimentar a Senhora<br />

Que do outro lado do presépio<br />

Talvez esteja a pensar<br />

Em que berço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

Vai seu Menino deitar.<br />

É forte o aroma do castanheiro<br />

E subtil o perfume <strong>da</strong> roseira<br />

E espraia-se extasia<strong>da</strong><br />

Por to<strong>da</strong> a Cova <strong>da</strong> Beira<br />

Onde pequenas povoações<br />

São miríades de estrelas<br />

Desafiando constelações.<br />

É noite de Agosto<br />

E a lua tem calor<br />

Que lhe abrasa o rosto.<br />

Corre para o Jardim<br />

Para o seu miradouro<br />

Recebe a brisa <strong>da</strong> Serra<br />

Pelas tílias perfuma<strong>da</strong><br />

E deixa-se ali ficar<br />

Um instante... quase na<strong>da</strong>.<br />

Na torre de S. Francisco<br />

Soam três ba<strong>da</strong>la<strong>da</strong>s<br />

Não visitou a ci<strong>da</strong>de<br />

E é quase madruga<strong>da</strong>.<br />

Mete pela Rua Direita<br />

Acha graça às esplana<strong>da</strong>s<br />

Àquelas horas vazias<br />

Mas nos bancos do Pelourinho<br />

— quem diria! —<br />

Ain<strong>da</strong> há quem converse<br />

E se refresque<br />

....um poucochinho.<br />

Sobe a lua mais no céu<br />

Espreita pelas ruelas<br />

Da velha Judiaria<br />

E vai espelhar-se vaidosa<br />

Nos azulejos azuis<br />

Da Igreja de Santa Maria.<br />

Dali parte para o Calvário<br />

Descansa no alpendre<br />

Da Igreja de Santa Cruz<br />

Onde na Semana Santa<br />

Vem repousar Jesus.<br />

Recolhe-se numa prece<br />

E ali se atar<strong>da</strong><br />

Ali permanece<br />

Até que a estrela <strong>da</strong> alva<br />

Aparece.<br />

A ci<strong>da</strong>de desperta<br />

E a prata dos telhados<br />

Por uma estranha alquimia<br />

Toma tons avermelhados.<br />

É com pena que se ergue<br />

Mas antes de se esconder<br />

Atrás dos Montes Serranos<br />

Ain<strong>da</strong> se despede.<br />

Envia um raio prateado<br />

E com ele o seu recado:<br />

— Até amanhã<br />

Presépio <strong>da</strong> Estrela<br />

Pura e doce Covilhã.<br />

Maria Ivone Vairinho


Póstuma Homenagem à Digníssima Ex-<br />

Presidente <strong>da</strong> APP. Com o mais profundo<br />

pesar, partilho com todos os amigos e<br />

poetas esta minha derradeira homenagem<br />

à ilustre DAMA DA POESIA...<br />

MARIA IVONE VAIRINHO<br />

Nestes meus versos sentidos<br />

Que peço p’ra serem lidos<br />

Com tristeza sublinho<br />

Nesta última mensagem<br />

Minha póstuma homenagem<br />

À Dona Ivone Vairinho.<br />

Não podendo estar presente<br />

Quero à Ex-Presidente<br />

Deixar aqui o meu preito<br />

Pelo mérito emprestado<br />

À poesia consagrado<br />

E dela tanto ter feito.<br />

À nossa Associação<br />

Deu brilhante distinção<br />

Com a sua sapiência<br />

Foi qual ilustre figura<br />

Valorizando a cultura<br />

Com notável Excelência.<br />

Da poesia nobre DAMA<br />

Este poema a proclama<br />

SENHORA de alto estatuto<br />

P’lo valor reconhecido<br />

É digna e, lhe é devido<br />

Este tão justo TRIBUTO !...<br />

Euclides Cavaco - Canadá<br />

Requiem a Maria Ivone<br />

Murmúrios dilacerados<br />

rasgam os céus<br />

por entre o silêncio<br />

na amargura dos tempos<br />

Morreu Maria Ivone<br />

nos céus o portal<br />

<strong>da</strong> ternura com cânticos<br />

dos anjos recebem-na<br />

São momentos de tristeza<br />

<strong>da</strong> poesia soltam-se lágrimas<br />

por quem elevou a poesia<br />

com salmos de estrelas<br />

Soltam-se as pedras do poema<br />

homenageando-a nos céus<br />

com relâmpagos de lágrimas<br />

na sau<strong>da</strong>ção de uma chega<strong>da</strong>…<br />

Pedro Valdoy - Lisboa<br />

Setembro 2012<br />

<strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong> | Boletim Nr 52 | Setembro / 2012 | 5<br />

«Póstuma Homenagem dos <strong>Confrades</strong>»<br />

Maria Ivone Vairinho Descansa em Paz, minha queri<strong>da</strong><br />

amiga, MARIA IVONE! É, profun<strong>da</strong>mente abala<strong>da</strong>, que comunico<br />

o falecimento <strong>da</strong> minha excepcional e dedica<strong>da</strong> amiga de<br />

tantos anos, Escritora e Poetisa, Maria Ivone Vairinho, hoje dia 7<br />

de Setembro de 2012 *** Escritora e poetisa, declamadora<br />

brilhante, professora <strong>da</strong> Arte de Dizer, ela dedicou grande parte<br />

<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> à Literatura e à <strong>Poesia</strong>, como Presidente <strong>da</strong> Associação<br />

Portuguesa de Poetas, cargo que exerceu por longos anos,<br />

com grande digni<strong>da</strong>de, competência, dedicação e brilhantismo,<br />

numa entrega desmedi<strong>da</strong> quase até ao limite <strong>da</strong> sua saúde.<br />

Era, para além <strong>da</strong>s letras, uma Mulher excepcional, grande<br />

amiga, grande coração, com quem tive o privilégio de conviver,<br />

e de quem sempre recebi as maiores deferências e, sobretudo,<br />

uma sincera amizade. Eu estou de luto, o Mundo Poético Português<br />

está de luto, pela grande divulgadora <strong>da</strong> Palavra que ora<br />

nos deixou em profun<strong>da</strong> sau<strong>da</strong>de. A sua lembrança perdurará,<br />

decerto, aqui e além fronteiras, nos corações que a admiraram e<br />

que a amaram. *** Seu corpo irá para o Mosteiro dos Jerónimos<br />

amanhã, sábado, dia 8 de Setembro, a partir <strong>da</strong>s 12.30<br />

horas, e o funeral realizar-se-á no domingo para o cemitério de<br />

Camarate *** À família enluta<strong>da</strong>, os meus sentidos Pêsames!<br />

***<br />

Carmo Vasconcelos - Lisboa<br />

Póstuma Homenagem a Maria Ivone Vairinho<br />

(27/2/1936 – 7/9/2012)<br />

Mulher Devota! Mulher Amiga! Mulher de grande elevação poética!<br />

Foi por todos nós reconheci<strong>da</strong> à frente <strong>da</strong> Associação Portuguesa de<br />

Poetas, como Presidente, no seu excelso brio profissional.<br />

Nos seus momentos finais de vi<strong>da</strong> por mim, em 16/8/12 foi congratula<strong>da</strong><br />

com a trova “Tem poder a oração”.<br />

No dia 7/9/12 mudou de «Plano» e continua em nossa memória e em<br />

nome de todos os <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong>; agora consagra<strong>da</strong> no “Pódio<br />

dos Talentos” que viverá para todo o sempre! Paz à sua alma!<br />

Pinhal Dias - Amora<br />

Minha Homenagem Póstuma<br />

A “Maria Ivone Vairinho”<br />

(27/2/1936 – 07/09/2012<br />

Chorem todos os Poetas<br />

Pela Estrela que se apagou<br />

Em nossos corações deixou<br />

Imensa dor glaciar.<br />

Estrela <strong>da</strong> nossa poesia<br />

Que não deixará de brilhar<br />

Na vasta seara que plantou<br />

E a obra poética que nos legou<br />

Mostra bem o seu caminho<br />

Feito de rosas e espinhos<br />

Que agora terminou.<br />

Seus poemas ficarão<br />

Como pe<strong>da</strong>ços de pão<br />

Alimentar a nossa utopia.<br />

Eternamente lembra<strong>da</strong><br />

Maria Ivone Vairinho!<br />

São Tomé - Amora


6 | <strong>Os</strong> <strong>Confrades</strong> <strong>da</strong> <strong>Poesia</strong> | Boletim Nr 52 | Setembro / 2012<br />

A Per<strong>da</strong><br />

Paladina <strong>da</strong> Cultura, <strong>da</strong> Justiça e <strong>da</strong> Bon<strong>da</strong>de<br />

As fotos deste Boletim<br />

são dos autores e<br />

outras <strong>da</strong> Internet<br />

«Póstuma Homenagem dos <strong>Confrades</strong>»<br />

Foi com grande sentimento de tristeza que recebi a infausta notícia.<br />

Uma colega a pedido de Mª João de Sousa e logo de segui<strong>da</strong> Fernando Reis Costa grande admirador de Maria<br />

Ivone e que sabia a amizade que existia entre nós duas.<br />

Deram-me a notícia pelo telemóvel.<br />

Senti um grande choque. Apodera-se de mim um grande sentimento de revolta.<br />

No domingo anterior rezara fervorosamente pela nossa queri<strong>da</strong> amiga na igreja <strong>da</strong> minha terra.<br />

Agora sentia a dúvi<strong>da</strong>, o agnosticismo.<br />

Resta-me ficar com a doce recor<strong>da</strong>ção de um convívio com a doce M;ª Ivone - a paladina <strong>da</strong> Cultura, <strong>da</strong> Justiça<br />

e <strong>da</strong> Bon<strong>da</strong>de.<br />

Há poucos anos dediquei-lhe o soneto:<br />

“Alma de Serrana”<br />

Bonita a tua origem serrana<br />

Te irmanas com urzes e mimosas<br />

Ar saudável, mente sã e lhana<br />

Perfume de plantas olorosas.<br />

No teu âmago a beleza irmana<br />

O Sol de imanências copiosas<br />

Do teu coração docemente emana<br />

Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de a almas ansiosas<br />

Tal como o astro que derrete a neve<br />

O teu coração humano nos aquece<br />

E a nossa alma de momento fortalece<br />

Poeta de boa índole, espírito leve<br />

Cujo trato dia a dia enternece<br />

Alma aberta, nosso ego estremece<br />

Maria Vitória Afonso - Amora<br />

«A Direcção agradece a todos os que contribuíram<br />

para a feitura deste Boletim».<br />

Timoneira<br />

(Homenagem a Maria Ivone Vairinho)<br />

Grande Timoneira!<br />

Ao leme do barco,<br />

poético,<br />

janela para o mar,<br />

os poetas,<br />

haverá que coordenar.<br />

Filipe Papança - Lisboa<br />

Próximo Boletim Nr 53<br />

15/11/12

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!