“Banco Judeu” do Bom Retiro - Arquivo Histórico Judaico Brasileiro
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GeNeaLoGia<br />
Uma das singularidades <strong>do</strong> diplomata, político<br />
e escritor pernambucano Joaquim Nabuco<br />
(1849-1910) foi o uso <strong>do</strong> seu ex-libris na construção<br />
de sua persona pública. O ex-libris é<br />
imagem pré-escolhida para marcar a posse de livros. Ela<br />
é impressa, mas, em alguns casos, pode ser um carimbo<br />
coloca<strong>do</strong> nas páginas iniciais <strong>do</strong>s livros que formam uma<br />
biblioteca. Serve não só para dar unidade, mas também<br />
identidade. É um signo de pertencimento.<br />
Joaquim Nabuco usou o seu ex-libris não somente nos<br />
livros, se é que utilizou nesta atividade. Usou-o principalmente<br />
mandan<strong>do</strong> a amigos, como o historia<strong>do</strong>r Oliveira<br />
Lima (1867-1928), o crítico José Veríssimo (1857-1916),<br />
dentre outros, como se fosse um retrato de sua alma.<br />
Pelo menos, foi como que eles perceberam.<br />
O resulta<strong>do</strong> desta imagem na construção <strong>do</strong> personagem<br />
Joaquim Nabuco foi tão bem sucedi<strong>do</strong>, que ela extrapolou<br />
os limites e uso de um ex-libris, para tornar-se<br />
o seu corpo simbólico. Marca tão forte e expressiva que,<br />
modernizada, foi usada no logotipo oficial <strong>do</strong> “ANO JO-<br />
AQUIM NABUCO”.<br />
o eX-lIBrIs <strong>do</strong> “Touro ala<strong>do</strong>”<br />
O seu ex-libris nasceu de um estu<strong>do</strong> feito pelo amigo<br />
Barão <strong>do</strong> Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Junior,<br />
1845-1912, em Paris. Seria o seu brasão no caso<br />
<strong>do</strong> recebimento de um título de nobreza. Não há muita<br />
<strong>do</strong>cumentação sobre o episódio, pois não temos o relato<br />
completo <strong>do</strong> seu surgimento. Creio que Rio Branco e<br />
Nabuco tenham troca<strong>do</strong> impressões até a versão final<br />
ser desenhada pela Maison Agry (Rua Castiglione nº 14<br />
em Paris, fundada em 1825 e com atividades até hoje).<br />
Não há a assinatura da empresa, porém sabe-se que o<br />
ex-libris de Rio Branco foi desenha<strong>do</strong> por ela. Nabuco<br />
escreveu apenas: “Este desenho foi feito pelo Rio Branco<br />
em Paris” (CUNHA: 137).<br />
Neste estu<strong>do</strong>, ele aban<strong>do</strong>nou, ou melhor, diminuiu a<br />
importância <strong>do</strong>s ancestrais já brasona<strong>do</strong>s, os Pais Barre-<br />
34<br />
semi-ótiCa dO eX-liBRis de JOaQuim NaBuCO<br />
A IMPORTÂNCIA DE LER O PROFETA DANIEL<br />
PAULO VALADARES *<br />
to, morga<strong>do</strong>s da Bilheira em Portugal e <strong>do</strong> Cabo no Pernambuco<br />
e criou uma imagem para os plebeus Nabuco<br />
de sua varonia, trazen<strong>do</strong>, para a heráldica luso-brasileira,<br />
figuras que não tinham si<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s ainda em brasões<br />
desta região. O cria<strong>do</strong>r optou pelo Nabuco, originário de<br />
Escalhão, família de origem modesta, segun<strong>do</strong> Gilberto<br />
Freyre (1900-1987), “talvez de sangue sefardim ou judaico”<br />
(NABUCO: 37).<br />
A escolha <strong>do</strong> “touro ala<strong>do</strong>” babilônico partiu de um<br />
jogo de associações complexas, mas que podem ser decodificadas<br />
de forma simples. O “touro ala<strong>do</strong>” babilônico<br />
remete à história de Nabuco<strong>do</strong>nosor (Nabuco, na<br />
grafia antiga) e a escravidão <strong>do</strong>s judeus contada no livro<br />
de Daniel. Quan<strong>do</strong> Giuseppe Verdi (1813-1901) escreveu<br />
a opera Nabucco (1842), também usou o tema bíblico<br />
para protestar contra a ocupação estrangeira de seu país<br />
e criou, dentre tantas belas canções da ópera, a excelsa<br />
“vá pensiero, sull’ ali <strong>do</strong>rate (...)”.<br />
É claro que Nabuco sabia da história bíblica. Ele automaticamente<br />
associou o seu abolicionismo à escravidão