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VIDA E OBRA DE LEITE LOPES∗

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CA<strong>DE</strong>RNO <strong>DE</strong> FÍSICA DA UEFS 04 (01 e 02): 11-14, 2006<br />

<strong>VIDA</strong> E <strong>OBRA</strong> <strong>DE</strong> <strong>LEITE</strong> LOPES ∗<br />

Francisco Caruso<br />

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas<br />

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ<br />

SAUDAÇÃO A JOSÉ <strong>LEITE</strong> LOPES<br />

É um enorme prazer poder, de público, prestar uma homenagem ao meu querido mestre e<br />

amigo Prof. José Leite Lopes, por ocasião de seu octogésimo sétimo aniversário e gostaria de<br />

agradecer ao meu amigo Helayël por essa oportunidade.<br />

Conheci pessoalmente o Leite em 1981, sendo seu aluno aqui no CBPF no primeiro<br />

curso que ele deu no Brasil, após sua volta do exílio. Foi um curso de Mecânica Quântica e,<br />

desde então, tenho aprendido a admirá-lo em 24 anos de convívio.<br />

Leite Lopes, pernambucano de Recife (talvez devesse dizer “do” Recife), nascido em 28<br />

de outubro de 1918, é hoje um ícone da Ciência e da Cultura no Brasil; um daqueles<br />

brasileiros que nos fazem sentir orgulho de nossas origens. Leite deveria servir de exemplo<br />

para os que estão se formando, principalmente, quando os caminhos imediatistas da ciência<br />

no país, delineados por uma crença difusa na indústria dos papers, turvam a perspectiva de<br />

virmos a ter jovens cientistas do seu porte. Se devêssemos defini-lo com apenas um adjetivo,<br />

∗<br />

O presente texto corresponde à intervenção de Francisco Caruso em homenagem a José Leite Lopes, realizada<br />

em quatro de novembro de 2005, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF. É parte integrante também<br />

da Série Ciência e Sociedade (CS010/05) editada pela Coordenação de Documentação e Informação Científica<br />

do CBPF. O autor gentilmente autorizou sua publicação no Caderno de Física da UEFS, pela qual os editores<br />

são muito gratos.<br />

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Francisco Caruso CA<strong>DE</strong>RNO <strong>DE</strong> FÍSICA DA UEFS 04, (01 e 02): 11-14, 2006<br />

escolheríamos apaixonado. Sua paixão é transcendente; ultrapassa em muito as fronteiras da<br />

Ciência, espalhando-se pela Educação, pela Cultura, pelas Artes e, porque não dizer, pelas<br />

mulheres e pela vida.<br />

É essa paixão, que se nutre de um intelecto vivaz o - a ponto de nos<br />

fazer querer dela compartilhar sempre mais - contagiante motor da dedicação de toda sua<br />

vida à criação de um ambiente propício ao desenvolvimento científico no Brasil, muitas vezes<br />

opondo-se ao poder de forma contundente.<br />

Seu humanismo reflete-se em tudo que faz: na sua permanente preocupação com o papel<br />

ético e social do cientista, na formação científica dos jovens, na sua pintura, quando se emociona<br />

recitando Rilke em alemão ou dando uma entrevista sobre o tema “amor”. Um retrato cubista<br />

desse humanista está traçado no livro Idéias e Paixões, que tive o prazer de preparar, com o<br />

apoio de Amós Troper, como presente de aniversário de 80 anos do Leite.<br />

Talvez seja oportuno relembrar brevemente a trajetória acadêmica de José Leite Lopes.<br />

Ele concluiu seus estudos secundários no Colégio Marista, em sua cidade natal, em 1934.<br />

Bacharelou-se em Química Industrial na Escola de Engenharia de Pernambuco, em 1939. In-<br />

fluenciado por seu grande mestre Luiz Freire, que marcou seu espírito de professor de tal modo<br />

que o tempo não apagou essa influência, Leite deu início aos seus estudos de Física no Rio de<br />

Janeiro, para onde veio com uma bolsa de estudos das indústrias Carlos de Brito, do Recife,<br />

por indicação do Professor Osvaldo Gonçalves de Lima.<br />

Em 1940, ingressou no Curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia, Rio de Janeiro,<br />

concluindo-o em 1942. Nesse mesmo ano trabalhou alguns meses, a convite do Professor Carlos<br />

Chagas, no Instituto de Biofísica, com uma bolsa Guilherme Guinle. Em 1943, com uma<br />

bolsa da Fundação Zerrener, trabalhou no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia,<br />

Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, assistindo aos cursos de Gleb Wataghin e<br />

Mario Schenberg. Com uma bolsa do Governo dos Estados Unidos, dirigiu-se à Universidade<br />

de Princeton, onde trabalhou com J.M. Jauch e fez sua tese de doutorado (Ph.D.), sob a<br />

orientação de Wolfgang Pauli (Prêmio Nobel de Física), durante os anos de 1944 e 1945. Em<br />

outubro de 1945, aos 27 anos, foi nomeado Professor de Física Teórica e Superior da Faculdade<br />

Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro e tomou posse na cátedra em 1946. Em 1948, fez<br />

concurso para cátedra de Física Teórica e Física Superior da Faculdade Nacional de Filosofia<br />

da Universidade do Brasil e recebeu o grau de Doutor em Ciências pela mesma Universidade.<br />

Em janeiro de 1949, juntamente com Cesar Lattes, e com o apoio do Ministro João Alberto<br />

Lins de Barros, de Nelson Lins de Barros e de Henry British Lins de Barros, fundou o Centro<br />

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CA<strong>DE</strong>RNO <strong>DE</strong> FÍSICA DA UEFS 04, (01 e 02): 11-14, 2006 Vida e Obra de Leite Lopes<br />

Brasileiro de Pesquisas Físicas. Em 1949, ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim e, a<br />

convite de Oppenheimer, tornou-se membro do Instituto de Altos Estudos de Princeton.<br />

Entre 1955 e 1964, foi Diretor da Divisão de Ciências Físicas do Conselho Nacional de<br />

Pesquisas. Nos anos de 1956 e 1957, a convite de Richard Feynman, foi Pesquisador Visitante<br />

no California Institute of Technology. Ocupou vários cargos de chefia e de administração<br />

científica no CBPF, no CNPq e na Universidade do Brasil.<br />

Em 1960, organizou a 2a. Escola Latino-Americana de Física no Rio de Janeiro e sugeriu<br />

ao Conselho Técnico-Científico do CBPF que propusesse ao Ministério das Relações Exteriores<br />

e à UNESCO a criação de um Centro Latino-Americano de Física. Entre 1962 e 1964, foi<br />

organizador e coordenador do Instituto de Física da nova Universidade de Brasília. Até 1964<br />

foi membro do Conselho de Curadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), onde<br />

apresentou conferências sobre energia atômica. Nesse ano, aceitou convite para ser Professor<br />

Visitante da Faculdade de Ciências de Orsay, Universidade de Paris, na qual permaneceu até<br />

março de 1967. Em 1969, foi aposentado compulsoriamente da Universidade Federal do Rio<br />

de Janeiro por decreto governamental baseado no AI-5; em conseqüência, aceitou convite da<br />

Universidade Carnegie-Mellon, em Pittsburgh, para onde se transferiu como professor visitante,<br />

durante o ano acadêmico 1969-1970. Foi ainda demitido do Centro Brasileiro de Pesquisas<br />

Físicas por portaria do Presidente desta Instituição. Entre 1970 e 1974, foi professor visitante<br />

da Universidade de Strasbourg I, Université Louis Pasteur e, no ano em que chegou, fundou,<br />

com Michel Paty e outros colegas, os seminários sobre os Fundamentos da Ciência, que, mais<br />

tarde, deram origem à revista Fundamenta Scientiae, que, infelizmente, já não existe mais.<br />

Em 1974, foi nomeado, excepcionalmente, Professor Titular da Universidade Strasbourg I,<br />

pelo Presidente da República Francesa Giscard D’Estaing. De 1975 a 1978 foi Vice-Diretor<br />

do Centro de Pesquisas Nucleares de Strasbourg (Centre de Recherche Nucléaires, CNRS) e<br />

Diretor de sua Divisão de Altas Energias. Voltou ao Brasil, em 1981, para o Centro que havia<br />

fundado, mas não em definitivo. Somente em 1986, após ser convidado pelo então Ministro da<br />

Ciência e Tecnologia, Renato Archer, para dirigir o CBPF, retornou de vez ao Brasil.<br />

José Leite Lopes é autor de uma vasta obra científica, com mais de 80 trabalhos publicados,<br />

dentre os quais destacamos seu importante artigo de 1958, na prestigiosa revista Nuclear<br />

Physics, no qual prediz a existência de bósons vetoriais neutros, juntamente com bósons car-<br />

regados, como veículos da interação fraca, sugerindo a unificação das forças eletromagnéticas<br />

com as forças fracas e postulando a igualdade das constantes fundamentais das interações<br />

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Francisco Caruso CA<strong>DE</strong>RNO <strong>DE</strong> FÍSICA DA UEFS 04, (01 e 02): 11-14, 2006<br />

fraca e eletromagnética. A partir desta hipótese, Leite Lopes nos deu a primeira avaliação<br />

correta da massa dos bósons vetoriais.<br />

Além de suas atividades de pesquisa científica, Leite Lopes preocupou-se sempre com a<br />

Educação e com o papel social do cientista e da Universidade, como atestam suas publicações<br />

sobre estes temas. De fato, é autor de 22 livros, dentre livros-textos e de reflexões sobre<br />

Ciência, e de mais de uma centena de artigos sobre educação e política científica.<br />

Como reconhecimento à sua vasta obra, recebeu o título de Professor Emérito da UFRJ (1984),<br />

da Univ. Louis Pasteur, Strasbourg, França (1986), da Universidade Federal de Pernambuco<br />

(1986) e do CBPF (1992), e o título de Doutor Honoris Causa da UERJ (1989).<br />

É membro de<br />

sete Sociedades Científicas no Brasil e no exterior, tendo recebido as seguintes condecorações:<br />

medalha da Universidade Louis Pasteur de Strasbourg (1986); medalha Carneiro Felipe da<br />

Comissão Nacional de Energia Nuclear (1988); Ordre des Palmes Académiques, do governo<br />

francês no grau de Officier (1989); Ordre National du Mérite, entregue pelo Presidente da<br />

República Francesa no grau de Officer (1989); Prêmio Nacional da Ciência<br />

(1989) e Prêmio México de Ciência & Tecnologia do governo mexicano (1993).<br />

Álvaro Alberto<br />

Inevitavelmente esta apresentação resumida do - fria e formal - curriculum vitae do Prof.<br />

José Leite Lopes é, sem dúvida, incompleta, principalmente porque não reflete o prazer de se<br />

conviver no dia-a-dia com Leite Lopes, de compartilhar de seu idealismo contagiante, de seu<br />

entusiasmo que parece não ter fim.<br />

Concluindo, gostaria de agradecer ao Prof. Leite Lopes por continuarmos a desfrutar do<br />

convívio estimulante com esse homem crítico, perspicaz, irônico, inquieto e, sobretudo, apaixon-<br />

ado. Caríssimo Leite, parabéns e muitos e muitos anos de vida! Muito obrigado.<br />

SOBRE O AUTOR -<br />

Francisco Caruso Neto - Doutor em Física pela Universita degli Studi di Torino, U.D.S.T.,<br />

Itália, é Professor Titular do CBPF e Professor Adjunto da UERJ.<br />

e-mail: caruso@cbpf.br<br />

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