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PEDRAS NIA BOTINA - Nosso Tempo Digital

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JUVÊNCIO CONTA<br />

COMO FOI<br />

O MASSACRE<br />

NA PENITENCIÁRIA<br />

No dia 20 de dezembro último, através<br />

de uma rebelião, os mais de mil presos da<br />

Penitenciária Central do Estado (PCE) assumiram<br />

o controle do estabelecimentb. Entre<br />

escombros e feridos, as autoridades sempre<br />

procuraram transmitir à opinião pública<br />

a impressão de que tudo estava sob Controle<br />

e em ordem. Na verdade, não havia controle<br />

e muito menos ordem. Apesar do forte<br />

aparato policial-militar mobilizado durante<br />

todo esse período, as tentativas de fuga<br />

muitas bem sucedidas se repetiam sucessivamente.<br />

Graças à orientação do dr. Saulo Martins,<br />

então diretor da PCE, não houve violências<br />

desmedidas nas primeiras tentativas<br />

de controlar a rebelião. E, tanto da parte<br />

dele como do governador Hosken de Novaes<br />

e do secretário da Justiça Túlio Vargas,<br />

que estiveram na Penitenciária em visita de<br />

inspeção, houve o reconhecimento de que<br />

eram justas as reivindicações dos presidiários<br />

no sentido de serem, no mínimo, tratados<br />

como seres humanos.<br />

Se é verdade que a sublevação estourou<br />

porque muitos presos viram seus planos de<br />

fuga frustrados, não é menos verdade que o<br />

extremismo de suas reações era motivado<br />

pelas condições desumanas a que estavam<br />

submetidos.<br />

Um levante dessa natureza, embora de<br />

)OrC6eS bem mmnu's. ocorr;<br />

PM PROMOVEU<br />

DE SADISMO NA<br />

1 r<br />

—Q<br />

_,•'<br />

1.974, quando um grupo de presos conseguiu<br />

fugir em viaturas da polícia e tendo<br />

como refém o então diretor da PCE, dr.<br />

Chemin Guimarães. Os fugitivos foram recapturados<br />

em Registro, quando estavam a<br />

caminho de São Paulo.<br />

Desde então, a PCE viveu a rotina massacrante<br />

de todas as penitenciárias os pre<br />

sos mantidos como ratos enjaulados, homicídios<br />

e suicíuios esporádicos e algumas fugas<br />

isoladas.<br />

Há mais ou menos um ano, o dr. Saulo<br />

Iviartins assumiu a direção do estabelecimento<br />

e se esforçou ao máximo para humanizar<br />

o tratamento aos presos, eliminando a<br />

tortura, o castigo desumano e cruel e tentando<br />

oferecer melhorias gerais. O êxito<br />

desse esforço foi, porém, limitadíssimo<br />

por falta de recursos materiais e, pincipalmente,<br />

humanos.<br />

Por parte do Governo e do Poder Judiciário,<br />

de um modo geral, tratam-se os presos<br />

como se trata o lixo: joga-se no latão,<br />

alguém leva embora e ninguém mais lembra<br />

uele só as moscas e os vermes.<br />

SITUAÇÃO INSUSTENTÁVEL<br />

Á medida que se aproximavam as festas<br />

de fim de ano (1982), como sempre<br />

acontece nesse período, as angústias dos<br />

presos chegavam ao limite da resistência.<br />

Para quem a vida não vale mais nada, qualquer<br />

aventura é jogada sob todos os riscos.<br />

As tentativas de fuga através de escadas<br />

ou "terezas" quase sempre resultavam em<br />

fracasso, com recapturas, feridos e mortos.<br />

Nas, para fugir do caldeirão do diabo, qualquer<br />

esforço merece ser feito.<br />

Durante 4 meses um grupo de "engenheiros"<br />

trabalhou na escavação de um túnel<br />

a partir de uma cela e que deveria atingir<br />

o outro lado do muro ainda antes do<br />

Natal. A requintada obra que não dispensara<br />

nem o ventilador e a iluminação elétrica<br />

- daria evasão a cerca de 100 pr'sos. O<br />

1<br />

a1en uncia<br />

FESTIVAL<br />

PCE<br />

porque, quando faltavam alguns palmos de<br />

perfuração a Polícia Militar descobriu a trama.<br />

O túnel foi estourado e estourados ficaram<br />

os nervos dos presos,<br />

Na noite do dia 19 de dezembro a PM<br />

desbaratou o plano de fuga, e, ao meio dia<br />

do dia 20, os presos desbarataram o esquema<br />

de seguranÇa interna do presídio. Os<br />

cerca de 40 policiais-militares, precariamente<br />

armados, não conseguiram o domínio da<br />

situação e os reforços só chegaram de Curitiba<br />

uma hora depois do estouro. As dezenas<br />

de quilos de munição gasta pela PM deixaram<br />

alguns presos feridos, mas não impediram<br />

que a fúria dos sublevados deixasse<br />

o prédio e suas instalações em ruínas através<br />

de incêndios e depredações.<br />

Contra fuzis, metralhadoras e revólvo<br />

res da PM os presos só dispunham de facas,<br />

estoques, paus e ferramentas. A orientação<br />

do diretor da PCE impediu a chacina, que<br />

seria inevitável se permitisse à PM empreender<br />

uma repressão fulminante. Mas, ao<br />

término do levante, o presídio em ruínas<br />

estava sob o controle dos detentos, iniciando-se<br />

uma sequência de negociações, denúncias<br />

e promessas de atendimento às<br />

exigiências do presídio.<br />

Havia uma conclusão muito clara: os<br />

problemas eram sérios, graves e exigiam<br />

soluções imediatas e também de longo prazo.<br />

Na sequência, à opinião pública informava-se<br />

que tudo voltara ao normal e que<br />

as soluções estavam em curso. Mas, semanas<br />

depois, o diretor Saulo Martins viu-se<br />

forçado a renunciar ao cargo e justificou<br />

a atitude acusando a Secretaria da Justiça<br />

de não cumprir com suas responsabilidades<br />

no trato da gravíssima situação geral na Penitenciária.<br />

E bem verdade que as tentativas do dr.<br />

Saulo de dominar a situação através de negociações<br />

e sem violência não apresentavam<br />

resultados positivos, diante da omissão por<br />

ele apontada ao se demitir, mas a forma com<br />

rH -d --. ín- :- U<br />

14 - -

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