Vila Rica - Unama
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Estimulado contudo dos remorsos da consciência, cuidou em mandar dous<br />
Índios práticos a São Paulo a tomar alguma inteligência dos seus parentes sobre o<br />
estado em que se achava o seu crime; estes lhe facilitaram o acesso ao Governador<br />
Artur de Sá e Menezes, recentemente chegado àquela Capitania; falou-lhe Artur de<br />
Sá com afabilidade e lhe prometeu o perdão em nome d'El-Rei, contanto que ele<br />
fizesse certo o descobrimento que denunciava do Rio das Velhas.<br />
Bem se pode considerar o estado em que se achariam as Minas por todo este<br />
tempo, em que só o despotismo e a liberdade dos facinorosos punham e revogavam<br />
as leis a seu arbítrio. O interesse regulava as ações, e só se cuidava em avultar em<br />
riquezas, sem se consultarem os meios proporcionados a uma aquisição inocente. A<br />
soberba, a lascívia, a ambição, o orgulho e o atrevimento tinham chegado ao último<br />
ponto.<br />
Aprestado o Borba, e socorrido de muitos parentes e amigos, acompanhou a<br />
Artur de Sá, chegou ao Rio das Velhas; deu ao manifesto este descobrimento, e se<br />
fez digno, pela grandeza das suas faisqueiras, que o Governador o premiasse com a<br />
patente de Tenente-General de uma das praças do Rio de Janeiro.<br />
Pouco tempo se demorou Artur de Sá no Rio das Velhas; lavrado o mais fácil<br />
daqueles ribeiros, se retirou outra vez para São Paulo, substituindo-lhe uma espécie<br />
de jurisdição no Cível e no Crime o Mestre de Campo dos Auxiliares, Domingos da<br />
Silva Bueno, Guarda-Mor das Repartições das Terras e Datas Minerais, criado pelo<br />
mesmo Governador.<br />
Com a ausência de Artur de Sá, como corpo sem cabeça, tornaram as Minas<br />
à primeira desordem: as distâncias das quatro Comarcas já penetradas, e cheias de<br />
um grande número de povoadores de diferentes Capitanias, que tinham entrado,<br />
dificultavam as providências de um só homem, em quem ainda não acabavam de<br />
reconhecer os povos a jurisdição de que estava encarregado.<br />
Por este tempo se começaram a suscitar os ódios entre os filhos de São Paulo e<br />
os naturais de Portugal, que eles denominavam Buabas. Dous religiosos, cujos nomes<br />
e religiões se não declaram por se evitar o escândalo, fomentaram todo o calor desta<br />
desunião. Viviam eles na liberdade que permitia o País, e a impulsos de uma<br />
desordenada ambição atravessara com três arrobas de ouro o fumo e a cachaça, ou<br />
aguardente da terra, para a venderem monopolizadamente pelo mais alto preço.<br />
Quiseram logo praticar o mesmo com a carne dos gados, e encontrando a oposição dos<br />
Paulistas, resolveram acabar com eles, expelindo-os de uma vez das Minas, que eles<br />
haviam conquistado, e em que estavam estabelecidos com as suas famílias e fábricas.<br />
Sucedendo uns fatos a outros, e tomando corpo a emulação, conseguiram os<br />
Europeus a expulsão e despejo dos Paulistas pelos anos de 1709 para 1710,<br />
regendo-os nesta ação os dous Chefes, Manuel Nunes Viana, com o caráter de<br />
Governador, com que o decoravam os seus, e Antônio Francisco, com o de Mestre<br />
de Campo, por nomeação do mesmo Viana.<br />
Quais fossem estes dous homens, o dão bem a conhecer as notas que se<br />
ajuntaram ao Canto Quinto e Sexto e, posto que pelo que respeita a Viana se citasse só<br />
o testemunho do Conde de Assumar em uma carta registada no Livro n° 7 da<br />
Secretaria do Governo das Minas Gerais, no mesmo Livro se encontram infinitas outras,<br />
que acusam as intrigas, sublevações e desordens que ele continuava a maquinar nos<br />
distritos, onde vivia, do Rio das Velhas, as quais por brevidade se não transcrevem.<br />
Quanto a Antônio Francisco, o mesmo Conde dá um testemunho do seu caráter na<br />
carta escrita ao Doutor Valério da Costa Gouvea, Ouvidor da Comarca do Rio das<br />
Mortes, datada em 14 de março de 1718, páginas 22 e 23; nela se lêem estas palavras:<br />
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