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REVISTA MOSAICUM - fasb

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<strong>REVISTA</strong> <strong>MOSAICUM</strong><br />

FACULDADE DO SUL DA BAHIA / FASB<br />

Volume 1<br />

Número 1 Jan. / Jul. 2005


FUNDAÇÃO FRANCISCO DE ASSIS<br />

Presidente: Lay Alves Ribeiro<br />

FACULDADE DO SUL DA BAHIA - FASB<br />

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO SUL DA BAHIA - ISESB<br />

Diretor-acadêmico: Valci Vieira dos Santos<br />

Diretor-administrativo: Sélcio de Souza Silva<br />

CONSELHO EDITORIAL:<br />

Bernardina Maria de Sousa Leal<br />

Jaceny Maria Reynaud<br />

Marcos Hiroshi Nishi<br />

Raimundo Enedino dos Santos<br />

Sélcio de Souza Silva<br />

Valci Vieira dos Santos<br />

REVISÃO:<br />

Sélcio de Souza Silva<br />

Valci Vieira dos Santos<br />

COLABORAÇÃO:<br />

Gustavo Aveiro de Araújo<br />

Jacqueline L. L. Marcelino<br />

CAPA:<br />

Leandro Oliveira Cruz<br />

F A SB<br />

F a c u l d a d e d o<br />

S u l d a B a h i a<br />

<strong>REVISTA</strong> <strong>MOSAICUM</strong><br />

É uma publicação do Núcleo de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade do Sul da<br />

Bahia e do Instituto Superior de Educação do Sul da Bahia<br />

Periodicidade semestral.<br />

Os artigos apresentados são de inteira responsabilidade de seus autores.<br />

ADMINISTRAÇÃO E REDAÇÃO:<br />

CONSELHO CIENTÍFICO:<br />

Enelita de Souza Freitas (UNEB)<br />

João Adorís Pandolf (Unilinhares)<br />

Lélia Maria Pereira Duarte (PUC - Minas)<br />

Lenice Amélia de Sá Martins (UNEB)<br />

Maria Bernardete Pereira Bezerra (UESC)<br />

Miguel Bahl (UFPR)<br />

Olga Suely S. de Souza (UNEB / CESESB)<br />

Raimundo E. dos Santos (UNEB/FASB)<br />

Wellington Renan da V. Reis (FASB/Unilinhares).<br />

Rodrigo Leão (Programa Marinho, Conservation<br />

International Brasil)<br />

ORGANIZAÇÃO:<br />

Jaceny Maria Reynaud<br />

DIAGRAMAÇÃO E EDITORAÇÃO:<br />

Fernanda Reynaud / Caroline Duarte S. Zôrzo<br />

Revista Mosaicum<br />

Revista Científica da FASB/ISESB<br />

Núcleo de Pós-graduação, pesquisa e extensão - NUPPE<br />

Rua Graciliano Viana, 79 - Bela Vista<br />

CEP: 45995-000 - Teixeira de Freitas - BA<br />

Fone: (73) 292 4820 - Fax (73) 292 4819<br />

E-mail: nuppe@ffassis.edu.br


FACULDADE DO SUL DA BAHIA / FASB<br />

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO / NUPPE<br />

Revista<br />

Mosaicum<br />

<strong>REVISTA</strong> <strong>MOSAICUM</strong><br />

Teixeira de<br />

Freitas/BA<br />

F A S B<br />

F a c u l d a d e d o<br />

S u l d a B a h i a<br />

v. 1 n. 1 p. 1 - 100<br />

ISSN: 1808-589X<br />

2005


Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

6<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB


APRESENTAÇÃO<br />

A coletânea de textos, que aqui se apresenta, é resultado de<br />

um projeto que há algum tempo temos procurado desenvolver na<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB. Ele nasceu do desejo de vermos<br />

sistematizadas nossas idéias e de tornar possíveis nossos sonhos,<br />

qual seja o de criar um espaço da escrita, onde nós, docentes,<br />

pudéssemos socializar os conhecimentos advindos das mais diversas<br />

áreas.<br />

A FASB já nasceu preocupada não só com a construção do<br />

ensino, mas também com sua inserção na comunidade, por intermédio<br />

de projetos sociais, além de estar em sintonia com a imprescindível<br />

produção acadêmica. Seu apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão,<br />

desde sua gênese, corrobora sua filosofia: a de construir um ensino<br />

superior de qualidade. Para tanto, não perdeu de vista a necessidade<br />

de incentivar a produção científica de seus professores.<br />

Nesse sentido, procuramos “batizar” a revista com um nome<br />

que desse conta de traduzir nosso objetivo: oportunizar mais um<br />

veículo de comunicação escrita aos docentes, em suas mais variadas<br />

formações acadêmicas, provenientes de cursos plurais, escritores de<br />

temáticas que transitassem entre as diversas ciências. Aflorou-se,<br />

assim, em nossas mentes, o sugestivo nome <strong>REVISTA</strong> <strong>MOSAICUM</strong>.<br />

A Revista, tal qual um mosaico, reúne artigos originários dos<br />

diferentes campos do saber. Muitos deles trazem resultados de<br />

pesquisas oriundas de cursos de pós-graduação, a exemplo de cursos<br />

lato sensu mantidos pela própria Faculdade.<br />

O leque de textos se abre com o artigo intitulado “Marketing:<br />

tecnologia democrática ou de elite?”, cuja discussão se volta para a<br />

importância do marketing, instrumento de mudança atitudinal e<br />

alteração de comportamento de consumo.<br />

Em seguida, aparece “Envolvimento sustentável e etnoecologia:<br />

reflexões para implementação da educação ambiental”. Nele, as<br />

autoras propõem evidenciar questões do meio ambiente, sob o olhar<br />

holístico da Educação Ambiental, num verdadeiro resgate dos saberes<br />

ecológicos tradicionais.<br />

“O II Plano Nacional de Desenvolvimento (1974-1979)”, terceiro<br />

artigo da coletânea, busca analisar as possíveis mudanças<br />

empreendidas pelo II PND na economia brasileira.<br />

Com “A singularidade da sala de aula”, a temática educação<br />

se faz presente como objeto de estudo. O artigo traz discussões no<br />

campo das relações intersubjetivas no âmbito da sala de aula, onde<br />

a experiência educacional passa a ser vista como um consentimento<br />

ou rendição, deixando de ser percebida tão somente como uma<br />

intervenção.<br />

O Planeta Terra tem sido alvo de preocupações dos mais<br />

diversos atores sociais. O texto “Atores sociais: futuros exilados do<br />

planeta?” lança sobre o leitor várias indagações que o levam a pensar<br />

sobre as possíveis soluções e respostas em prol da harmonia entre<br />

Homem e Natureza.<br />

O sexto artigo, denominado “A importância da leitura na<br />

construção do conhecimento e da criticidade docente e discente”,<br />

discorre a respeito da dialética da leitura do mundo versus a leitura<br />

da palavra. Demonstra, ademais, sua contribuição para a construção<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

8<br />

e intervenção crítica da relação educador-educando.<br />

Ainda no âmbito das discussões educacionais, o artigo “A<br />

mediação da aprendizagem como característica do planejamento de<br />

ensino” coloca em evidência a importância da aprendizagem, a partir<br />

dos procedimentos metodológicos presentes no planejamento de<br />

ensino. A autora embasa seu texto na Experiência da Aprendizagem<br />

Mediada, do psicopedagogo Reuven Feuerstein.<br />

O meio ambiente volta a ser objeto de estudo em “Aspectos<br />

relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o seqüestro<br />

de carbono”. Seu autor, através de pesquisa bibliográfica em<br />

periódicos, anais de simpósios, teses, etc., analisa os principais<br />

aspectos que influenciam o êxito de um reflorestamento.<br />

“Gestão do conhecimento: uma forma emergente de<br />

competitividade organizacional” pretende apresentar, em linhas gerais,<br />

novas formas de gestão no mundo globalizado.<br />

Educação, mote preponderante nesta coletânea de artigos,<br />

encontra, mais uma vez, espaço em “A internet na era da comunicação<br />

virtual: o grande desafio para a educação do novo milênio”. Seu tema<br />

central, a internet, é vista pelo autor do artigo como um importante<br />

instrumento e fonte de informações, imprescindíveis à educação dos<br />

novos tempos. Por isso, a necessidade de discutir e questionar o<br />

papel do educador na era da educação virtual.<br />

Esta coletânea se encerra com a presença da análise de texto<br />

literário. Seu autor discute a tensão homem/cidade, com fulcro em<br />

obras de dois grandes escritores das literaturas portuguesa e<br />

brasileira. Pretende demonstrar como a linguagem é importante nas<br />

relações que o homem estabelece com seus pares e seu entorno.<br />

Esperamos, pois, com a Revista Mosaicum, inaugurar um<br />

novo tempo na Faculdade do Sul da Bahia: tempo de frutíferas<br />

produções acadêmicas e científicas.<br />

Agradecemos a todas as pessoas que contribuíram para a<br />

realização deste primeiro número. À mantenedora da FASB, Fundação<br />

Francisco de Assis, em especial à Irmã Cristina, que, de modo<br />

disponível, viabilizou os recursos financeiros para sua publicação.<br />

Prof. Sélcio de Souza Silva<br />

Prof. Valci Vieira dos Santos<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


SUMÁRIO<br />

MARKETING: TECNOLOGIA DEMOCRÁTICA OU DE ELITE?<br />

Alexandre Segovia da Silveira 11<br />

ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ETNOECOLOGIA: REFLEXÕES PARA<br />

IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

Ana Paula de Matos e Renata Lopes Corrêa 18<br />

O II PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO (1974-1979)<br />

Antônio Genilton Sant’Anna 23<br />

A SINGULARIDADE DA SALA DE AULA<br />

Bernardina Leal 30<br />

ATORES SOCIAIS: FUTUROS EXILADOS DO PLANETA?<br />

Jaceny Maria Reynaud<br />

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO<br />

E DA CRITICIDADE DOCENTE E DISCENTE<br />

James Figueredo da Silva 48<br />

A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO CARACTERÍSTICA DO<br />

PLANEJAMENTO DE ENSINO<br />

Jessyluce Cardoso Reis 58<br />

ASPECTOS RELACIONADOS AO PLANTIO DE FLORESTAS<br />

EXCLUSIVAMENTE PARA O SEQÜESTRO DE CARBONO<br />

Marcos Hiroshi Nishi 71<br />

GESTÃO DO CONHECIMENTO: UMA FORMA EMERGENTE DE<br />

COMPETITIVIDADE ORGANIZACIONAL<br />

Rosana Silva do Carmo 82<br />

A INTERNET NA ERA DA COMUNICAÇÃO VIRTUAL: O GRANDE<br />

DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO DO NOVO MILÊNIO<br />

Sélcio de Souza Silva 87<br />

A TENSÃO HOMEM/CIDADE NO DISCURSO POÉTICO DE CESÁRIO<br />

VERDE E DRUMMOND<br />

Valci Vieira dos Santos 96<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

40<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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MARKETING: TECNOLOGIA<br />

DEMOCRÁTICA OU DE ELITE?<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Alexandre Segovia da Silveira¹<br />

A utilização das ferramentas de Marketing, Produto, Preço, Praça e<br />

Promoção, e se esta utilização está a serviço da dominação da sociedade<br />

moderna com o simples propósito de acumulação tem sido alvo de<br />

criticas e estudos. Estamos experimentando o marketing como<br />

instrumento de mudança atitudinal e alteração de comportamento de<br />

consumo, ao mesmo tempo em que assistimos a campanhas<br />

institucionais de conscientização contra o fumo e prevenção contra a<br />

aids, apenas para citar algumas, com grandes resultados sociais. Esta<br />

tecnologia está a serviço de apenas uma elite que a utiliza para sua<br />

manutenção ou está a serviço da população de forma democrática,<br />

levando comunicação e conhecimento para todos?<br />

Palavras-chave: marketing, acumulação, democracia, elite, tecnologia.<br />

ABSTRACT<br />

The use itself of tools of Marketing, Product, Market and Promotion as<br />

well as if this use is at service of the dominating modern society with<br />

the simple purpose of accumulation has been the target of criticism<br />

and studies. We are investigating marketing as an instrument of<br />

changing attitudes and also of changing consuming behavior while we<br />

are observing institutional campaign like the one of the awareness<br />

against smoking and prevention of AIDS, just to mention some of the<br />

most relevant campaign with great social results. Is this technology at<br />

service of only an elite that uses it for its own sake or is it democratically<br />

available to people in general, leading communication and knowledge<br />

to everybody?<br />

Key Words: marketing, accumulation, democracy, elite, technology.<br />

A utilização do composto de Marketing, bem como, se esta<br />

utilização está a serviço da dominação das sociedades modernas com<br />

o simples intuito de acumulação, tem sido alvo de críticas e estudos.<br />

Estamos experimentando o Marketing como instrumento de mudança<br />

atitudinal e alteração de comportamento de consumo, como uma busca<br />

de novos mercados ou fragmentação de mercados existentes, ao mesmo<br />

¹Alexandre Segovia da Silveira é especialista em Docência Superior e Gestão<br />

Empresarial e professor e coordenador do Curso de Administração com Habilitação em<br />

Marketing da FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB 11


Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

12<br />

Alexandre Segovia da Silveira<br />

tempo em que assistimos a campanhas institucionais de<br />

conscientização contra o fumo e prevenção contra a aids, apenas para<br />

citar algumas, com grandes resultados sociais. Esta tecnologia está a<br />

serviço de apenas uma elite que a utiliza para sua manutenção ou<br />

está a serviço da população de forma democrática, levando<br />

comunicação e conhecimento para todos?<br />

De acordo com Baran e Sweezi (1966, p. 114),<br />

somente no capitalismo o excesso surge como um problema geral, afetando a<br />

todos em qualquer época. Desta fonte nasce toda uma série de atitudes e<br />

interesses de importância decisiva para o caráter e funcionamento da sociedade<br />

capitalista. (...) Surgem, portanto, atitudes e políticas mais complexas, a<br />

princípio lentas e experimentais, mas que crescem de objetivo e de impulso à<br />

medida que se desenvolve o capitalismo. (...) Sua justificação racional deriva<br />

do fato de que o universo de excesso na oferta é a insuficiência na procura; ao<br />

invés de reduzir a oferta, preferem estimular a procura.<br />

Com base nessa afirmação, pode-se entender o grande problema<br />

que ocorre nos sistemas de livre iniciativa: a escala de produção adquire<br />

extrema amplitude, desencadeando um processo de multiplicação da<br />

variedade de produtos e serviços e paralelamente, uma busca<br />

incessante de mercados seguros para eles. Como solucionar tal<br />

situação?<br />

Ao final da Primeira Grande Guerra, ocorreu um acelerado<br />

desenvolvimento industrial e a excessiva produção, conseqüente deste<br />

fato, começou a provocar situações críticas em vários países,<br />

principalmente nos Estados Unidos, com a famosa depressão de 1929,<br />

quando a produção passou a exceder o consumo. Verificou-se, então,<br />

que era necessário inverter os pólos do problema e criar e buscar o<br />

consumidor onde quer que ele estivesse. Pode-se dizer que data desta<br />

época o florescimento do Marketing. Surgido da segmentação dos<br />

departamentos de produção e vendas no interior das empresas, o<br />

marketing converteu-se atualmente no componente mais importante<br />

da estratégia de vendas. Ele se insere no bojo da dinâmica do capital<br />

em sua busca incessante por eficiência e maximização dos lucros. E<br />

mais, o setor adquiriu tamanha complexidade que passou a se<br />

organizar em empresas autônomas como um ramo de empresas<br />

produtivas.<br />

O MARKETING<br />

Compreendido por alguns autores como ciência e por outros<br />

como técnica ou simplesmente conjunto de funções, o marketing é<br />

definido como um processo gerencial envolvendo as atividades de<br />

análise, planejamento, implementação e controle, colocadas em<br />

programas cuidadosamente formulados, objetivando a troca voluntária<br />

de valores. Significa ainda a seleção de mercados-alvo, com o propósito<br />

de alcançar os objetivos organizacionais, objetivos estes baseados em<br />

termos das necessidades e desejos dos mercados-alvo, utilizando um<br />

conjunto de instrumentos chamados composto de marketing - projeto<br />

do produto, determinação de preço, comunicação e distribuição<br />

(KOTLER, 1978, p. 21).<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Marketing: tecnologia democrática ou de elite?<br />

Esse conceito passou a ser o fundamento da política e da prática<br />

de pequenas, médias e grandes empresas em toda parte, que<br />

começaram a compreender a diferença entre vendas e marketing e a<br />

organizar-se para desenvolver este último. Assim, em termos de suas<br />

características básicas, - conjunto de compradores e mercados,<br />

presentes e potenciais; amplitude total dos produtos e serviços a venda,<br />

presentes e potenciais; sistema de distribuição constantemente<br />

mudando e desenvolvendo-se, o que aproxima o mercado e os produtos<br />

e, finalmente, conjunto de capacidades (conhecimento, dinheiro e<br />

tempo) que integra estrategicamente mercados, produtos e distribuição.<br />

O conceito de marketing provoca uma mudança nas maneiras<br />

tradicionais de encarar um negócio para uma perspectiva mais<br />

fundamental e dinâmica de mudanças nos compradores, mercados,<br />

modelos de distribuição e competição.<br />

Com o desenvolvimento de suas técnicas, esse conceito<br />

extrapolou sua função na área mercadológica e passou a ser aplicado<br />

em outros segmentos da sociedade. Segundo Kotler (1978, p. 29),<br />

as organizações que não visam ao lucro tais como museus, universidades,<br />

igrejas e órgãos governamentais, estão vendo o marketing como uma nova<br />

maneira de enfocar suas relações com seu público. As nações em<br />

desenvolvimento examinam os princípios de marketing a fim de observarem<br />

como seus sistemas internos de distribuição podem ser melhorados e concorrer<br />

de forma mais eficiente nos mercados mundiais.<br />

Nos últimos trinta anos, as atividades de marketing, tais como<br />

as conhecemos hoje, começaram a ser utilizadas na política e um<br />

exemplo dessa aplicação foi a campanha de John Kennedy contra<br />

Richard Nixon, nas eleições americanas de 1960 e de Fernando Collor<br />

de Mello, no Brasil, em 1991.<br />

A aplicação dessas técnicas nos diversos segmentos de nossa<br />

sociedade tem obtido, segundo as instituições especializadas em<br />

marketing, resultados altamente satisfatórios na concretização de seus<br />

objetivos e prova disso são os inúmeros casos de sucesso relatados e<br />

premiados anualmente por entidades de classe e órgãos de<br />

comunicação, confirmando sua eficácia na resolução de problemas<br />

ditos mercadológicos. Tais “cases” vão desde lançamento de grandes<br />

empresas ou produtos e serviços altamente sofisticados até uma<br />

simples comunicação de mudança de endereço, passando por inúmeros<br />

outros tipos de campanhas de cunho social, político e econômico.<br />

TECNOLOGIA DEMOCRÁTICA OU DE ELITE?<br />

Se até aqui ficou demonstrada a importância do marketing como<br />

um conjunto de técnicas aplicadas à intermediação do binômio<br />

produção/consumo, como um sistema planejado e implementado para<br />

obtenção de relações desejadas de troca, várias questões fundamentais<br />

afloram e levam à discussão do assunto para um outro plano: o<br />

marketing é realmente uma tecnologia democrática ou simplesmente<br />

um componente fundamental de acumulação capitalista? Em nível<br />

social, quais as suas contribuições para os indivíduos? Se, segundo<br />

Kotler, o marketing preocupa-se com o desenvolvimento, a manutenção<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Alexandre Segovia da Silveira<br />

e/ou regulação das relações de troca que envolvem produtos, serviços,<br />

organizações, pessoas, lugares ou causas, qual a carga ideológica<br />

que essa preocupação carrega?<br />

Neste momento, faz-se necessária uma retomada de alguns<br />

pontos que já foram citados anteriormente e, sem a pretensão de se<br />

aprofundar em uma análise sociológica, situar de maneira mais clara<br />

o processo de produção de bens e serviços dentro do sistema<br />

capitalista:<br />

O que um homem realmente precisa? Algumas centenas de gramas de comida<br />

todos os dias, aquecimento e abrigo, dois metros para se deitar, e alguma<br />

forma de trabalho que lhe proporcionará uma sensação de realização. E isso<br />

é tudo, sob o aspecto material. Todos sabemos disso, mas recebemos uma<br />

lavagem cerebral de nosso sistema econômico, até que terminemos numa<br />

tumba, debaixo de uma pirâmide de prestações, hipotecas, utensílios<br />

absurdos, brinquedos que desviam nossa atenção da estupidez de tudo isso<br />

(HAYDEM, 1963, p. 27).<br />

Já foi dito que no capitalismo a escala de produção adquire<br />

uma amplitude muito grande, resultado dos mecanismos<br />

concentradores e centralizadores do capital. A área produtiva assume<br />

assim, características diferenciadas, traduzindo-se uma tendência<br />

das empresas a um maior enrijecimento, dificultando a sua adaptação<br />

às flutuações econômicas. Ao mesmo tempo, desencadeia-se um<br />

processo de multiplicação da variedade de produtos e serviços e,<br />

paralelamente, a adoção de novos procedimentos técnicos pelos<br />

empresários numa busca incessante de mercados seguros para o<br />

escoamento da produção. É óbvio que mudanças de tal profundidade<br />

revertem, simultaneamente, em diferenciações significativas na<br />

sociedade como um todo. Amplia-se a categoria de trabalhadores<br />

ditos improdutivos, os chamados white collars, ligados à órbita da<br />

realização da mais-valia, diversificando-se, desta maneira, a escala<br />

de remunerações. Surge um novo estrato social denominado de nova<br />

classe média e nesses termos diferencia-se, mais ainda, a divisão<br />

técnica e social do trabalho, produto de desenvolvimento dos diversos<br />

momentos da produção, permitindo o aparecimento de um mercado<br />

consumidor capaz de absorver grande parte da diversificação<br />

constante de mercadorias. Neste ponto, o pólo se inverte e cabe à<br />

produção criar a necessidade do consumo.<br />

A necessidade que se sente desse objeto é criada pela percepção deste. O objeto<br />

de arte, tal como qualquer produto, cria um público capaz de compreender a<br />

arte e de apreciar a beleza. Portanto, a produção não cria somente um objeto<br />

para o sujeito mas também um sujeito para o objeto. Logo, a produção gera o<br />

consumo: 1º- fornecendo-lhe sua matéria; 2º- determinando o modo de consumo;<br />

3º- criando no consumidor a necessidade de produtos que começaram por<br />

simples objetos. Produz, por conseguinte, o objeto de consumo, o modo de<br />

consumo, o instinto do consumo. De igual modo, o consumo engendra a vocação<br />

do produtor, solicitando-lhe a finalidade da produção sob a forma de uma<br />

necessidade determinante (MARX, 1977, p. 210).<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Marketing: tecnologia democrática ou de elite?<br />

CONCLUSÃO<br />

A maior divergência entre os defensores e os críticos do<br />

marketing surge exatamente neste ponto. Por um lado, os primeiros<br />

defendem que<br />

o ponto básico para o emprego das técnicas do marketing reside nas<br />

necessidades e desejos humanos. A humanidade precisa de comida, ar, água,<br />

roupa e abrigo para sobreviver. Além disso, as pessoas desejam recreação,<br />

educação e outros serviços. Elas têm preferências notáveis por tipos específicos<br />

de bens e serviços básicos (KOTLER, 1980, p. 31).<br />

As políticas e práticas agressivas de marketing têm sido<br />

grandemente responsáveis pelo alto padrão de vida na América do<br />

Norte.<br />

Hoje, através de um marketing de massa de baixo custo,<br />

consumimos produtos que antes eram considerados de luxo e que<br />

ainda são classificados dessa forma em muitos outros países. Em<br />

contraposição, os críticos são mais incisivos:<br />

Nos últimos anos o campo de marketing foi considerado como feito de artistas<br />

de segunda classe, trapaceiros, picaretas e distribuidores de mercadorias de<br />

segunda mão. Muitos de nós já fomos ludibriados pelo trapaceiro; e todos nós<br />

já fomos alguma vez levados a comprar toda espécie de coisas que, na verdade,<br />

não precisávamos e que, mais tarde, descobrimos que nem ao menos queríamos<br />

(FARMER, 1965, p. 43).<br />

No plano ético, a atividade do marketing tem suscitado questões<br />

que vêm desde os tempos antigos. Filósofos como Platão, Aristóteles e<br />

Tomás de Aquino achavam os comerciantes não-produtivos e<br />

gananciosos. Os comerciantes eram vistos como pessoas que tiravam<br />

vantagem de clientes indefesos ao comprarem barato e venderem caro.<br />

Hoje, os especialistas de marketing são acusados de levar as pessoas<br />

a comprarem coisas que não desejam. Os clientes são vistos como<br />

vítimas de vendas de alta pressão e, às vezes, ardilosas. Destaquemse<br />

aqui o surgimento do Código de Defesa do Consumidor e o trabalho<br />

das organizações especializadas na aplicação desse código (PROCON,<br />

CEDECON etc.). Na realidade, este código funciona como um mediador<br />

entre os estabelecimentos: industriais, comerciais ou mesmo órgãos<br />

públicos - e os consumidores, ou seja, entre os abusos praticados<br />

pelas técnicas aplicadas de marketing e os consumidores. E as críticas<br />

não param aí. O marketing é acusado ainda de desperdiçar o dinheiro<br />

público nas atividades desenvolvidas por governos ou órgãos públicos;<br />

de se intrometer nos assuntos pessoais dos indivíduos quando é<br />

desenvolvida uma atividade de pesquisa de opinião ou mercadológica;<br />

de manipulador do mercado-alvo quando coloca em ação toda a sua<br />

técnica em busca dos objetivos determinados.<br />

Resumindo o que foi analisado até aqui, conclui-se que o<br />

marketing é uma atividade inerente e fundamental ao sistema<br />

capitalista, portanto mantenedor do mesmo. Não se deve, porém,<br />

atribuir-lhe a responsabilidade direta pela geração das necessidades<br />

do consumo. Estas já se fazem presentes na forma determinada,<br />

assumida pela produção dentro do sistema, no qual a atividade do<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

16<br />

Alexandre Segovia da Silveira<br />

marketing se presta ao papel de fio condutor na intermediação do<br />

binômio produção/consumo. Justifica-se assim, pelo alto grau de<br />

eficácia funcional destas técnicas, a amplitude que adquiriu, no modo<br />

de produção capitalista, a sua utilização pela maioria absoluta das<br />

empresas produtoras de bens e serviços e mais, porque essa atividade<br />

extrapolou o âmbito comercial e passou também a ser utilizado, com<br />

as devidas adaptações, em outros segmentos da sociedade. E<br />

justamente por esse seu amplo espectro de ação, é que surge o que se<br />

tornaria a maior crítica feita ao marketing atualmente: sua capacidade<br />

de transformar tudo em produto, não importando se o que se deseja<br />

fazer chegar ao consumidor sejam pessoas, organizações, valores,<br />

causas ou idéias. Prova disso são os conceitos e os depoimentos dados<br />

por especialistas na área política, por exemplo.<br />

Segundo Torquato do Rego (1985, p. 74), marketing é um<br />

conjunto de atividades planejadas para trabalhar o candidato enquanto<br />

produto. Entre elas destacam-se a pesquisa de mercado eleitoral, o<br />

planejamento do conceito do candidato, a determinação de estratégias, o<br />

planejamento de mídia, o esquema promocional e a organização geral da<br />

campanha.<br />

Num artigo sobre marketing político, Marcos Cobra, ao comentar a<br />

eficácia do marketing em satisfazer necessidades latentes que objetivem a<br />

uma comprovada melhoria na qualidade de vida do consumidor, afirma que<br />

“o candidato passa agora a ser encarado como um produto e a ele se torna<br />

aplicável o conceito dos ‘Quatro Ases do Marketing’ do professor Raimar<br />

Rícher: análise, adaptação, ativação e avaliação” (COBRA, 1985, p. 40).<br />

A adoção das técnicas de marketing por outros segmentos, que<br />

não os comerciais dentro da nossa sociedade, ainda é uma realidade<br />

nos dias atuais.<br />

Segundo Kotler (1978, p. 13),<br />

em anos recentes, o marketing tornou-se um assunto de interesse crescente<br />

para os gerentes das organizações que não visam ao lucro, tanto públicas como<br />

privadas. Os conceitos, instrumentos e modelos que têm funcionado tão<br />

eficazmente para controlar os produtos e serviços no setor que visa ao lucro,<br />

estão se tornando cada vez mais relevantes à administração dos produtos e<br />

serviços do setor que não visa ao lucro. As organizações que não visam ao lucro<br />

defrontam-se com uma infinidade de problemas que seriam analisados como<br />

simples problemas de marketing, se estivessem no setor que visa ao lucro.<br />

A utilização dessas técnicas para vender organizações, pessoas,<br />

valores, causas, idéias e até cultura, acentua mais ainda o marketing<br />

como força de dominação, pois o poder da técnica acaba resultando<br />

no domínio dos economicamente mais fortes sobre a sociedade como<br />

um todo. Daí, o seu caráter ideológico.<br />

De qualquer maneira, o marketing tem o seu papel de destaque<br />

na sociedade brasileira atual. Como toda tecnologia, é democrática<br />

enquanto conhecimento num sistema de livre iniciativa, onde todos<br />

que quiserem e tiverem condições podem fazer uso dela, porém<br />

questionável enquanto finalidade social e benefícios que proporcionam<br />

aos indivíduos, principalmente num país com tantas diferenças sociais<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


e econômicas como o nosso. Ainda como toda tecnologia, o marketing<br />

traduz a ideologia de quem dele se utiliza, ficando claro, nesse caso, o<br />

seu papel como reprodutor do sistema capitalista.<br />

Apesar de polêmico, considerado por muitos como o salvador<br />

da sociedade e no pensamento de outros como o corruptor da sociedade,<br />

o marketing vem ampliando cada vez mais seu raio de ação e aplicação<br />

e, assim, uma coisa não se pode negar: como método organizacional e<br />

estratégico funciona. E com muita eficácia.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Marketing: tecnologia democrática ou de elite?<br />

ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. A embalagem do sistema.<br />

a publicidade no capitalismo brasileiro. São Paulo: Livraria Duas<br />

Cidades, 1985.<br />

BARAM, P. A.; SWEEZY, P.M. Capitalismo monopolista. Rio de<br />

Janeiro: Zahar, 1966.<br />

FARMER, Richard N. Would you want your daughter to marry a<br />

marketing man?, Journal of Marketing, jan. 1965, p.43.<br />

COBRA, Marcos. O produto candidato político. Revista Marketing,<br />

1985, n. 146, p. 40<br />

FIGUEIREDO, Ney Lima. Direito ao poder: estratégias de marketing<br />

político. Campinas: Cartgraf, 1986.<br />

HAYDEN, Sterling. Wanderer. New York: Alfred A. Knopf, 1963.<br />

KOTLER, Philip. Marketing. São Paulo: Atlas, 1980.<br />

KOTLER, Philip. Marketing para organizações que não visam lucro.<br />

São Paulo: Atlas, 1978.<br />

LAGNEAU, Gérard. A sociologia da publicidade. São Paulo: Editora<br />

da Universidade de São Paulo, 1981.<br />

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo:<br />

Martins Fontes, 1977.<br />

REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Marketing político e<br />

governamental. São Paulo: Summus, 1985.<br />

ROCHA, Everaldo P. Guimarães. Magia e capitalismo. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1985.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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18<br />

ENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ETNOECOLOGIA:<br />

REFLEXÕES PARA IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO<br />

AMBIENTAL<br />

Ana Paula de Matos¹ e Renata Lopes Corrêa²<br />

RESUMO<br />

Trata-se de um estudo referente às questões ambientais, abordadas<br />

em um contexto holístico acerca da Educação Ambiental. Busca alertar<br />

a respeito das conseqüências danosas acumuladas ao longo do<br />

processo evolutivo do homem, considerado progresso em relação ao<br />

ambiente natural. Diante de tal insustentabilidade do modelo de<br />

desenvolvimento vigente, propõe uma análise a respeito da discussão<br />

atual sobre sustentabilidade, onde visa uma reflexão sobre a mudança<br />

de paradigma de Desenvolvimento Sustentável para Envolvimento<br />

Sustentável, considerando que desenvolver é a antítese de envolver.<br />

Desta forma, pretende propor um resgate dos saberes ecológicos<br />

tradicionais, utilizados pelas comunidades tradicionais durante sua<br />

apropriação dos recursos naturais, objetivando formar subsídios para<br />

o desenvolvimento de práticas eficientes para a Educação Ambiental.<br />

Palavras-chave: envolvimento sustentável, etnoecologia, comunidades<br />

tradicionais, educação ambiental.<br />

ABSTRACT<br />

It’s a study about environmental questions, introduced in a holistic<br />

context concerning Environmental Education. It searches to alert about<br />

damaging consequences accumulated over men developing process,<br />

considered as progress, in relation to natural environment. In face of<br />

such devastation caused by the current development model, proposes<br />

an analysis about the current discussion about preservation, where<br />

searches a reflection about the paradigm change from sustainable<br />

development to sustainable engagement, considering developing as an<br />

antithesis of to engage. In this way, this study intents to propose a rescue<br />

of traditional ecological knowledge, used by traditional communities during<br />

their appropriation of natural resources, purposing to form subsidy to<br />

the development of efficient experiences to the Environment Education.<br />

Key Words: sustainable engagement, ethnic ecology, traditional<br />

communities, environmental education.<br />

¹ Ana Paula de Matos é especialista em Docência Superior, professora da FASB,<br />

Coordenadora Técnica do Núcleo de Educação Ambiental e Difusão de Práticas<br />

Sustentáveis – NEAM.<br />

² Renata Lopes Corrêa é especialista em Docência Superior.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Ana Paula de Matos e Renata Lopes Corrêa<br />

APRESENTAÇÃO<br />

Historicamente, o homem vem interagindo com o meio ambiente<br />

(terra, atmosfera, água...) e seres vivos (animais, vegetais e<br />

semelhantes), estabelecendo, assim, complexas relações nem sempre<br />

mútuas ou simultâneas. No entanto, atualmente, esquecemo-nos de<br />

avaliar de forma complexa estas inter-relações, o que nos levou a<br />

simplificar o mundo para melhor entendê-lo, resultando na<br />

fragmentação do conhecimento, o qual tem sido utilizado como<br />

fundamento na gestão das relações com o planeta, o que explica o<br />

caráter imediatista e centralizado na forma de planejamento e<br />

implementação das atividades humanas.<br />

Como reflexo disto, atualmente, os recursos do planeta, após<br />

intensiva exploração e ocupação pelo homem, chegam aos seus limites,<br />

a ponto de esgotarem-se. Assim, é de suma importância que<br />

reavaliemos nossos parâmetros e indicadores de desenvolvimento/<br />

progresso.<br />

Desta forma, acreditamos que, através de um resgate dos<br />

valores e práticas tradicionais, presentes em nossa cultura, seja<br />

possível identificar novos parâmetros, os quais devem conciliar<br />

crescimento econômico com preservação e conservação ambiental. Para<br />

tanto, faz-se necessária uma mudança de postura da sociedade, a<br />

qual deve passar pela incorporação de uma consciência individual e<br />

coletiva na utilização racional das potencialidades ambientais, de forma<br />

que estas não sejam exterminadas.<br />

Entendemos, portanto, que a construção dessa consciência<br />

ecológica e mudança de conduta, apresentam-se na atualidade como<br />

um grande desafio e requisito primordial no alcance da<br />

sustentabilidade, a qual é a única maneira de manter e continuar o<br />

processo de civilização da humanidade.<br />

Diante deste contexto e frente à visível insustentabilidade do<br />

modelo econômico atual de desenvolvimento/progresso, pretendemos<br />

reiterar a necessidade de uma profunda reflexão, buscando nos<br />

desfazermos de nossa visão antropocêntrica, para que possamos<br />

redescobrir, ao invés de criar um modelo inédito baseado na realocação<br />

dos recursos, partindo do resgate do saber etnologico que respeite os<br />

limites impostos pela natureza e que incorporem percepções da<br />

realidade, que envolvam não apenas o homem, mas a natureza, a<br />

sociedade e o mundo sobrenatural, em uma proposta de envolvimento<br />

sustentável, criando assim bases/informações à prática de uma<br />

educação ambiental orientada para as mudanças de comportamento<br />

e, principalmente, de sensibilidade.<br />

SUSTENTABILIDADE, ETONOECOLOGIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL<br />

O princípio criado para desenvolvimento sustentável funda-se<br />

numa política ambiental que não bloqueia o desenvolvimento<br />

econômico, porém com uma gestão racional dos recursos naturais.<br />

A exploração econômica do meio ambiente deve se dar dentro<br />

dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas, entendida<br />

esta como aquela que resguarde a renovação dos recursos renováveis<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

20<br />

Envolvimento Sustentável e Etnoecologia: reflexões para implementação da educação ambiental<br />

e a exploração não predatória dos recursos não renováveis, de forma<br />

que possam servir às gerações futuras, envolvendo então, um modo<br />

de vida dentro dos limites do possível, devendo ser interpretado em<br />

termos de desaceleração do ritmo de utilização de matéria e energia.<br />

O DS então é visto como o novo modelo a ser buscado,<br />

apresentando como plano de ação para alcançar a sustentabilidade a<br />

Agenda 21. Esta, acertadamente, discorre não apenas sobre a<br />

problemática ambiental e suas soluções, mas também sobre a<br />

interdependência entre essas e as questões sociais, como: pobreza,<br />

saúde e educação.<br />

No entanto, o conceito de DS vive hoje um paradoxo. Absorvido<br />

na atualidade pelo discurso oficial, incorporado à retórica e programas<br />

governamentais e institucionais, na prática tem apresentado resultados<br />

acanhados diante do necessário: “Muitas tentativas de tradução do<br />

conceito de DS em ações práticas coerentes têm sido marcadas por<br />

uma história de fracassos” (VIANA, 1999, p. 21).<br />

O mesmo autor nos coloca que a problemática se enseja na<br />

distância entre o discurso e a prática, ou seja, entre os tomadores de<br />

decisão e a realidade, uma vez que o processo convencional de tomada<br />

de decisões normalmente não envolve as populações tradicionais de<br />

forma efetiva. A conseqüência disto é que as decisões são tomadas<br />

com base em informações e interpretações equivocadas, pois são<br />

raríssimos os técnicos e autoridades que conhecem a realidade<br />

socioeconômica e cultural das populações envolvidas. Desta forma,<br />

estes atores-chave não são incorporados e respeitados nos processos<br />

de tomada de decisões, as quais devem ser coerentes com a realidade<br />

destes e com o ideário da sustentabilidade.<br />

Normalmente, a participação destes tem um caráter cosmético<br />

ou utilitarista. No primeiro caso, são feitas reuniões mal organizadas,<br />

apenas para legitimar decisões tomadas à distância, para garantir<br />

uma roupagem mínima exigida por investidores internacionais e<br />

governos. No segundo caso, a participação é eficiente na coleta do<br />

conhecimento destes para a elaboração de projetos. Mas, na verdade,<br />

raramente as populações são envolvidas de forma a compartilhar as<br />

decisões em todas as etapas de um projeto de intervenção: concepção,<br />

implementação e avaliação.<br />

Neste sentido, faz-se necessária a adoção de métodos que criem<br />

condições para uma participação efetiva, e que obedeçam a um código<br />

ético básico, possibilitando assim uma transferência de poder e<br />

conhecimentos, resultando no envolvimento das populações<br />

tradicionais.<br />

Neste estudo, adotamos a definição de Mendes (1994) sobre<br />

envolvimento, o qual nos diz que, o termo se refere às articulações do<br />

ser humano com o ambiente que o cerca, considerando não apenas o<br />

natural, mas todas as inter-relações de existência, e concordando com<br />

Viana (1999) que nos relata que, envolver é a antítese de desenvolver,<br />

o que significa para as populações tradicionais a perda do envolvimento<br />

econômico, cultural e ecológico com o Meio Ambiente.<br />

Acreditamos, ainda, que junto com o envolvimento, perde-se a<br />

dignidade, o saber e o conhecimento tradicionais de manejo, que, ao<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Ana Paula de Matos e Renata Lopes Corrêa<br />

contrário do que se pensa, podem conservar os ecossistemas naturais<br />

de forma mais efetiva do que os sistemas tecnológicos convencionais.<br />

Diante do exposto, Viana (1999) nos propõe ainda uma<br />

segunda reflexão, a qual nos remete a pensar se não seria coerente<br />

mudar o nosso paradigma de “Desenvolvimento Sustentável” para<br />

“Envolvimento Sustentável”. Este novo paradigma deve ser entendido<br />

como o conjunto de políticas e ações direcionadas para fortalecer o<br />

envolvimento das sociedades com os ecossistemas locais. Para tanto,<br />

é necessário resgatar os laços sociais, econômicos, espirituais,<br />

ecológicos e culturais; sendo este último no sentido de um resgate<br />

etnoecológico para a apropriação da compreensão e conhecimento<br />

dos grupos tradicionais nos seus modos de relacionar-se com a<br />

natureza, alternativos àqueles fundados na lógica da sociedade<br />

dominante, para o alcance da sustentabilidade em todas as suas<br />

dimensões.<br />

Neste sentido, cabe aqui elucidar o termo Etnoecologia, que<br />

poderia ser concebido como o estudo científico do conhecimento ecológico<br />

tradicional, visando avaliar [sic], a partir de fundamentos ecológicos, as<br />

atitudes intelectuais e práticas que um determinado grupo populacional<br />

executa durante sua apropriação dos recursos naturais (MARQUES, 1995;<br />

TOLEDO, 1992 apud NORDI, 1997, p. 133).<br />

Entendemos, então, que pesquisas etnoecológicas devem ser<br />

realizadas objetivando gerar subsídios para a identificação de modelos<br />

produtivos que possam ser utilizados para a implantação da<br />

sustentabilidade, uma vez que identificam os conhecimentos<br />

acumulados e memorizados pelas comunidades tradicionais, sendo<br />

estes não escritos, decorrentes de experiências que se refletem na<br />

consciência e na prática que os indivíduos têm em relação ao<br />

ambiente. Neste contexto, a etnoecologia vem validar a interação<br />

desses conhecimentos, os quais não degradam, ao longo do tempo,<br />

os recursos que utilizam, concretizando, desta forma, modelos de<br />

reprodução destas práticas, preocupados com a manutenção da<br />

diversidade biológica e cultural.<br />

Acreditamos que, com este novo paradigma de<br />

sustentabilidade, envolvimento sustentável, possamos buscar reverter<br />

o distanciamento do homem em relação ao meio ambiente. Cremos<br />

que, uma vez a sociedade envolvida com os ecossistemas locais,<br />

possam ser fortalecidos os vínculos econômicos, sociais, espirituais,<br />

culturais e ecológicos. Entendemos, então, que, a partir deste<br />

processo, poder-se-á criar bases para a implementação de uma<br />

educação ambiental consciente e eficiente, atingindo níveis maiores<br />

de sensibilidade. Desta forma, criaremos condições favoráveis para a<br />

mudança de atitudes, valores e práticas, ou seja, de comportamento.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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Faculdade do Sul da Bahia - FASB<br />

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22<br />

Envolvimento Sustentável e Etnoecologia: reflexões para implementação da educação ambiental<br />

REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Constituição. Constituição 1988: Texto Constitucional de 5<br />

de outubro de 1988 com as alterações adotadas pelas Emendas<br />

Constitucionais n° 1/92 a 26/00 e Emendas Constitucionais de Revisão<br />

n° 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições<br />

Técnicas, 2000. art. 225, p.124.<br />

BRASIL. Lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação<br />

ambiental, institui a Política Nacional de Educação ambiental e dá<br />

outras providências. Diário Oficial [da] República federativa do<br />

Brasil, Brasília, 28 abr. 1999.<br />

GONÇALVES, C. W. P. Natureza e sociedade: elementos para uma<br />

ética da sustentabilidade. In: QUINTAS, José Silva. (Org.). Pensando<br />

e praticando a educação ambiental na gestão do meio ambiente.<br />

Brasília: Ed. IBAMA.<br />

LEIS, H. R.; D’AMATO, J. L. O ambientalismo como movimento vital:<br />

análise de suas dimensões histórica, ética e vivencial. In: CAVALCANTI,<br />

Clóvis. (Org.). Desenvolvimento e natureza: estudos para uma sociedade<br />

sustentável. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. cap. 5, p. 77-103.<br />

MENDES, A. D. Envolvimento e desenvolvimento: introdução à simpatia<br />

de todas as coisas. In: CAVALCANTI, C. (Org.). Desenvolvimento e<br />

natureza: estudos para uma sociedade sustentável. 3. ed. São Paulo:<br />

Cortez, 2001. cap. 4, p. 54–76.<br />

NORDI, N. Etnoecologia e desenvolvimento sustentável. In: FÓRUM<br />

DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 4.; ENCONTRO DA REDE BRASILEIRA<br />

DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 1. 1997, Rio de Janeiro. Cadernos. Rio<br />

de Janeiro: INESC, 1997. p. 133 –136.<br />

UNION OF CONCERNED SCIENTISTS. Alerta dos cientistas do mundo<br />

a sociedade. Washington, DC, Washington, 18 de novembro de 1992.<br />

In: DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 7. ed. São<br />

Paulo: Gaia, 2001.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


O II PLANO NACIONAL DE<br />

DESENVOLVIMENTO (1974-1979)<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Antônio Genilton Sant’Anna ¹<br />

O II PND, plano estratégico de desenvolvimento econômico, instituído<br />

para o período 1974-1979, teve como diretrizes fundamentais o<br />

desenvolvimento dos setores de bens de capital e de insumos básicos,<br />

bem como fortalecer a empresa privada nacional. Este trabalho<br />

pretende analisar o II Plano Nacional de Desenvolvimento, buscando<br />

constatar se o mesmo representou uma mudança significativa nos<br />

rumos até então tomados pela economia brasileira ou se se trata apenas<br />

de uma continuação do modelo que vigorava no País em decorrência<br />

dos planos anteriores.<br />

Palavras-chave: II PND, plano estratégico, diretrizes, desenvolvimento,<br />

modelo.<br />

ABSTRACT<br />

The II PND, strategical plan of economic development, instituted for<br />

the period 1974-1979, had as basic lines of direction the development<br />

of the sectors of basic raw materials and industrial goods as well as<br />

strengthen the national private company. This work intends to analyze<br />

the II National Plan of Development, searching to evidence the same if<br />

it represented a significant change in the routes until then taken by<br />

the Brazilian economy or if it deals with only a continuation of the<br />

model that invigorated in the Country in result of the previous plans.<br />

Keys Words: II PND, strategical plan, lines of direction, development,<br />

model.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Consolidada no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND),<br />

provavelmente o maior programa de intervenção estatal já ocorrido<br />

em nosso país, a estratégia de desenvolvimento econômico, adotada<br />

em 1974 pelo governo Geisel, propunha um novo direcionamento ao<br />

processo de desenvolvimento da economia brasileira. As diretrizes<br />

básicas do plano visavam ao ajuste da estrutura industrial do país<br />

focando o desenvolvimento dos setores de bens de capital e insumos<br />

básicos e o fortalecimento da empresa privada nacional.<br />

Tal como planejado, o II PND transformou de forma significativa<br />

¹ Antônio Genilton Sant’Anna é especialista em Docência Superior e Gestão<br />

Empresarial e professor da FASB.<br />

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24<br />

Antônio Genilton Sant’Anna<br />

nosso parque industrial, implantando pólos de insumos básicos e de<br />

bens de capital. Foi um plano de desenvolvimento extremamente<br />

ambicioso e de grande audácia, que contrariou as expectativas de<br />

muitos economistas, enfrentando o primeiro choque de petróleo e as<br />

adversidades da crise internacional, ao invés de submeter-se à cartilha<br />

ortodoxa recomendada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Por<br />

ter sido implementado por um regime autoritário, dito de direita, há<br />

certo desconforto por parte da intelectualidade, dita de esquerda, que<br />

em grande parte ocupou o meio acadêmico, após o fim desse regime,<br />

em se analisar este período e a maneira de pensar daqueles que<br />

conduziram a economia brasileira nessa época. Este ranço ideológico,<br />

em grande medida, prejudica o perfeito e isento entendimento dos<br />

fatos, distorcendo e ignorando importantes acontecimentos cujos<br />

resultados, em grande medida, colhemos atualmente:<br />

Num momento extremamente delicado da conjuntura econômica nacional e<br />

internacional, o II PND daria um passo decisivo em direção ao fortalecimento<br />

do parque industrial brasileiro, tornando-o mais autônomo e dotado de uma<br />

sólida indústria de insumos básicos e de bens de capital. Sem desprezar os<br />

interesses estrangeiros no país, reforçou a produção local e fortaleceu a posição<br />

dos empresários brasileiros, dando-lhes um lugar ao sol no setor de bens de<br />

capital. O II PND não aniquilou a poderosa indústria de eletroeletrônicos,<br />

automóveis e demais bens duráveis, que tivera seus anos dourados nos<br />

Governos Costa e Silva e Médici, mas apenas deslocou o pólo dinâmico da<br />

acumulação de capital no Brasil, por um certo período, para o setor de bens<br />

de produção, viabilizando, inclusive, a expansão futura daquele segmento<br />

(MANTEGA, 1997, p. 5).<br />

A POLÍTICA MACROECONÔMICA<br />

Após cinco anos de crescimento expressivo, em março de 1974<br />

o cenário econômico sinalizava que a era do “milagre econômico” estava<br />

chegando ao fim. A inflação, que até então se mantivera sob controle,<br />

voltava a subir. O choque do petróleo de 1973 redundara em um<br />

aumento generalizado dos preços internacionais. As matérias-primas,<br />

os bens intermediários e os bens de capital, que abasteciam o “motor”<br />

que impulsionava o “milagre econômico” brasileiro, eram, em grande<br />

parte, importadas. Em 1974 o balanço de pagamentos apresentaria<br />

um rombo comercial de US$ 4,69 bilhões e um déficit em conta corrente<br />

de US$ 7,12 bilhões.<br />

Foi diante desse quadro que o novo governo teve que definir<br />

sua estratégia econômica. O modelo anterior, calcado no<br />

desenvolvimento do setor de bens de consumo duráveis, já não se<br />

mostrava capaz de capitanear o processo. Anteriormente ao choque<br />

do petróleo de 1973, os números das contas externas brasileiras<br />

mantinham-se relativamente equilibradas. Isso ocorria, em parte,<br />

devido à grande liquidez do mercado financeiro internacional. Havia<br />

grande oferta de dinheiro, resultando em taxas de juros reduzidas.<br />

Foi neste contexto que o então ministro Delfim Netto estimulou a<br />

contração de pesados empréstimos para “turbinar” nosso crescimento,<br />

acelerando o processo de endividamento da economia brasileira. Vale<br />

ressaltar que essa captação de poupança externa não ocorreu devido<br />

à escassez de poupança interna. A reforma financeira implementada<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


O II plano nacional de desenvolvimento (1974-1979)<br />

por Roberto Campos e Otávio Gouvêa de Bulhões e complementada<br />

pelo próprio Delfim Netto criou as ORTNs – Obrigações Reajustáveis<br />

do Tesouro Nacional, importante instrumento de correção das dívidas<br />

pelos índices de inflação, além dos juros. Isso possibilitou disponibilizar<br />

ao setor produtivo uma gama de recursos para investimentos oriundos<br />

do Sistema Financeiro da Habitação, dos bancos comerciais e dos<br />

bancos de investimento. Havia, porém, uma grande quantidade de<br />

empresas multinacionais estrangeiras instaladas no país. Estas<br />

preferiam utilizar empréstimos externos para viabilizar seus<br />

investimentos. Muitas empresas nacionais também preferiam se<br />

aproveitar das facilidades advindas da Resolução 63 e da Lei nº 4.131,<br />

que o governo havia concebido para dar acesso aos empréstimos<br />

externos. Esses dispositivos permitiam às instituições financeiras<br />

localizadas no Brasil captar recursos no exterior e repassá-los para as<br />

empresas brasileiras. Há um certo consenso de que foram essas<br />

facilidades que levaram a um endividamento externo excessivo e de<br />

certa forma desnecessário, e que nos tornou excessivamente<br />

vulneráveis aos humores das taxas de juros externas. As conseqüências<br />

se fizeram sentir na crise dos anos 80. Essa facilidade de endividamento<br />

externo elevou a dívida externa brasileira de US$ 3,8 bilhões, durante<br />

quase toda a década de 60, para US$ 12,6 bilhões no final de 1973.<br />

Parcela significativa desse valor acumulou-se nas reservas<br />

internacionais, que alcançou o patamar de US$ 6,1 bilhões no final de<br />

1973, uma vez que a balança comercial mantinha-se equilibrada,<br />

havendo até mesmo superávits na balança comercial, ficando os déficits<br />

circunscritos às transações correntes. Com o expressivo aumento dos<br />

preços do petróleo (cerca de quatro vezes) e o conseqüente aumento<br />

dos preços dos bens de produção, dos quais éramos excessivamente<br />

dependentes, a importação de bens de produção passou a constituirse<br />

na principal dificuldade ao nosso crescimento.<br />

Privilegiado pela política econômica anterior, o complexo<br />

industrial de bens duráveis de consumo, após um crescimento<br />

espetacular por quase 6 anos seguidos, dava sinais de saturação. O<br />

esgotamento da capacidade ociosa e, principalmente, o aumento das<br />

matérias-primas importadas e do petróleo, encareciam<br />

significativamente esses produtos e impactavam sobremaneira a<br />

indústria automobilística. E fora esta justamente a indústria que<br />

capitaneara o processo até então, crescendo à taxa de 25% ao ano<br />

durante esse período.<br />

As residências da classe média brasileira já dispunham de bens<br />

duráveis, como geladeiras, fogões, batedeiras e outros eletrodomésticos,<br />

além de automóvel. Muitas famílias já ostentavam um segundo veículo<br />

na garagem. Até mesmo nas classes sociais de baixa renda notava-se<br />

o consumo de televisores e outros bens duráveis.<br />

Eram evidentes, porém, os sinais de esgotamento do padrão de<br />

acumulação de bens duráveis. No final de 1973 as fábricas não<br />

conseguiam atender as encomendas. Disputavam matérias-primas e<br />

componentes, provocando uma elevação dos preços.<br />

O novo governo que assumia em 1974 tinha que optar entre<br />

fazer um ajuste conservador, nos moldes do FMI, e conseqüentemente<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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26<br />

Antônio Genilton Sant’Anna<br />

promover uma recessão geral, ou buscar outra alternativa de ajuste<br />

que viabilizasse a continuação do crescimento. Foi esta segunda opção<br />

a adotada e que resultou no II PND. A pauta de importações indicava<br />

uma forte dependência de bens de produção do país. Portanto, depois<br />

de um longo período de substituição de importações de bens de<br />

consumo duráveis e não duráveis, chegara a hora de cuidar de<br />

substituir as importações de insumos básicos e de bens de capital.<br />

Assim, esse segmento deveria passar a crescer a taxas maiores do<br />

que o setor de bens duráveis e a capitanear o crescimento da economia<br />

como um todo. O II PND pretendia implantar um conjunto ambicioso<br />

de projetos de bens de capital e insumos básicos, com taxas de<br />

crescimento do produto inferiores àquelas obtidas pelo I PND. Era<br />

necessário fazer uma pequena desaceleração da economia, bem como<br />

direcionar recursos para os setores contemplados pela nova política.<br />

1974 encerrou-se com um PIB de 9,7%, em contraste aos 13,6% de<br />

1973. Em 1975 a taxa de crescimento do PIB caiu para 5,4%,<br />

resultado de uma desaceleração implementada em função da inflação<br />

que subira para 34,5% em 1974 e voltava a preocupar, mas não a<br />

ponto de levar à renúncia da opção pelo crescimento. Tão logo ela<br />

baixou, para 29% no ano seguinte, a equipe econômica retoma os<br />

investimentos, resultando em um PIB de 9,7% em 1976.<br />

Com um déficit comercial acumulado de mais de US$ 10<br />

bilhões de 1974 a 1976 e um déficit em conta corrente de quase US$<br />

20 bilhões nesse mesmo período, decide-se por nova desaceleração,<br />

resultando em um crescimento de 5,7% em 1977 e de 5,0% em 1978,<br />

mantendo, porém, os programas de Insumos Básicos, Bens de Capital<br />

e Energia.<br />

Com o II PND, a participação da produção de bens de capital<br />

na in-dústria de transformação subiu de 11,3% em 1970 para 15,4%<br />

em 1975, permanecendo nesse patamar até 1980. Por sua vez, a<br />

participação da indústria de bens de consumo duráveis no produto,<br />

que vinha crescendo exponencialmente desde o início dos anos 50,<br />

pas-sando de 2,5% em 1949 para 5,1% em 1959, e 11,3% em 1970,<br />

atinge a marca dos 13,3% em 1975 e estabiliza-se nesse patamar,<br />

ficando em 13,5% em 1980. Apesar de ter parado de crescer a taxas<br />

de 23% como havia ocorrido entre 1968 a 1974, conservou sua<br />

importância relativa, obtida nos últimos 30 anos. Entre 1975 e 1980,<br />

a taxa média de crescimento anual desse setor foi de 8,7%. Apesar<br />

de ser bem menor do que antes, essa taxa é expressiva em qualquer<br />

lugar a qualquer tempo. Na verdade, o segmento da indústria de<br />

transformação que vinha perdendo terreno, seja para bens de capital<br />

e intermediários, seja para os bens de consumo duráveis, era o setor<br />

de bens de consumo não-duráveis, cuja participação regride de 72,8%<br />

em 1949 para 34,4% em 1980. Conclui-se, portanto, que não houve<br />

mudança na estrutura da economia brasileira a partir da expansão<br />

do setor de bens de capital, mudando apenas a ênfase de um segmento<br />

para outro, ainda incipiente, do parque produtivo brasileiro, até ele<br />

preencher uma lacuna na estrutura produtiva, que se refletia na<br />

balança comercial.<br />

Entretanto, se o II PND não modificou a estrutura econômica<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


O II plano nacional de desenvolvimento (1974-1979)<br />

no Brasil, esse plano alterou substancialmente as relações do país<br />

com o exterior. Foi criada uma estrutura industrial complementar,<br />

reduzindo a dependência em relação ao exterior, reduzindo as<br />

importações de equipamentos e de numerosos insumos básicos.<br />

Conseguimos também assimilar um segmento importante da tecnologia<br />

industrial, decorrendo daí, certa autonomia no segmento de tecnologia<br />

de médio porte e as conseqüentes adaptações às especificidades<br />

brasileiras. O II PND conseguiu também alterar a correlação de forças<br />

entre o capital estrangeiro e o nacional, privilegiando,<br />

substancialmente, o capital nacional.<br />

É comum encontrarmos críticos atrozes, que consideram o II<br />

PND um programa econômico megalomaníaco, autoritário, que teria<br />

subestimado o impacto da crise mundial dos anos 70, principalmente<br />

no que concerne ao primeiro choque do petróleo de 1973. Fato evidente,<br />

porém explicável. Era muito difícil , em 1974, prever com precisão a<br />

amplitude da crise internacional em gestação naquele momento.<br />

Muitos daqueles, que de alguma maneira tiveram um entendimento<br />

diferenciado, buscando soluções através de ajustes recessivos, só<br />

fizeram por enfraquecer suas economias. Exemplos disso são Argentina<br />

e Chile.<br />

CRISE FINANCEIRA E DÍVIDA EXTERNA<br />

A partir de 1974, o crescente déficit de transações correntes<br />

foi sendo coberto pelo ingresso de capitais externos, resultando em<br />

um crescimento exponencial da dívida externa, conforme nos mostra<br />

o quadro abaixo:<br />

Ano Déficit*<br />

1973 US$ 1,7<br />

1974 US$ 7,1<br />

1975 US$ 6,7<br />

1976 US$ 6,0<br />

1977 US$ 4,0<br />

1978 US$ 7,0<br />

* em bilhões<br />

Os recursos externos entravam na mesma velocidade e o ano<br />

de 1978, o último do Governo Geisel, fechou com reservas de US$<br />

11,9 bilhões, maior, portanto que os US$ 6,4 bilhões recebidos em<br />

1973. A dívida externa, porém, subira de US$ 12,6 bilhões em 1973<br />

para US$ 43,5 bilhões em 1978. Como porcentagem do PIB, subira de<br />

7,9% em 1973 para 15,2% em 1978. Apesar de aumentar a<br />

vulnerabilidade financeira do país, era difícil não pegar esses recursos<br />

internacionais, oferecidos a um custo relativamente baixo. A taxa de<br />

juros nominal média dos empréstimos ao Brasil esteve em torno de<br />

10% ao ano. E o spread havia subido de 1% antes de 1973, para 2%<br />

entre 1974 e 77. O grande problema residia no tipo de dívida, contraída<br />

com taxas de juros flutuantes e com prazo médio de 5 anos, curto<br />

diante dos até então praticados há 10 anos. Essa situação iria resultar<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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28<br />

Antônio Genilton Sant’Anna<br />

em componente primordial da crise dos anos 80, com o segundo<br />

choque do petróleo e o choque dos juros de 1979.<br />

Determinar quem foi o maior responsável pelo crescimento<br />

da dívida externa brasileira nessa época, se foi o financiamento dos<br />

projetos do II PND ou se foi a deterioração dos termos e da qualidade<br />

da dívida e da conta petróleo, é tarefa muito difícil. Entretanto, mesmo<br />

na hipótese pouco provável de que o II PND tivesse sido responsável<br />

por todo o aumento da dívida externa líquida, de US$ 25,4 bilhões<br />

entre 1973 e 1978, esse montante foi amplamente compensado pelo<br />

aumento nas exportações verificado no início dos anos 80, quando<br />

os projetos implantados pelo II PND começaram a gerar frutos.<br />

Somente nos anos de 1983 e 1984, a balança comercial acumulou<br />

um superávit de US$ 19,5 bilhões, resultado da substituição de<br />

importações de bens de produção e do aumento das exportações de<br />

insumos básicos. Portanto, o II PND quitou suas dívidas com o<br />

resultado de sua política. Podemos concluir, portanto, que os<br />

empréstimos contraídos para viabilizar o II PND não foram os<br />

principais responsáveis pelo tamanho da dívida externa brasileira<br />

dos anos 80.<br />

CONCLUSÕES<br />

Por representar projetos com longo prazo de maturação, cujos<br />

efeitos não apareceriam de imediato, no final dos anos 70 era<br />

prematuro tirar conclusões sobre quais seriam as repercussões do II<br />

PND para a economia brasileira. Porém isso foi feito. Prematuras e<br />

carregadas de componentes ideológicos, as avaliações feitas nessa<br />

época levaram a diagnósticos pessimistas, que foram reforçados pelo<br />

cenário de crise que se instaurou no final dessa década. Foi isso que<br />

levou vários autores respeitáveis a concluir que o II PND acabou em<br />

1976, quando do agravamento das condições econômicas nacionais<br />

e internacionais. Apesar de, nesse ano, o governo ter promovido um<br />

ajuste no plano, no sentido de reduzir o ritmo de crescimento<br />

aplacando as tendências inflacionárias, sacrificou apenas o<br />

secundário preservando o essencial. Reviu metas de projetos<br />

prioritários, no entanto não estabeleceu mudanças de rumo. O II<br />

PND certamente não agravou a dívida externa como visto<br />

anteriormente e reduziu a vulnerabilidade externa do país, por meio<br />

da substituição de importações e aumento das exportações, conforme<br />

análise de Antônio Barros de Castro, no início dos anos 80.<br />

Se tivéssemos optado por um ajuste ortodoxo, nos moldes do<br />

FMI, certamente nossa dependência financeira teria se agravado.<br />

Teríamos amargado a recessão e o desemprego, a exemplo de Chile e<br />

Argentina, sem, no entanto nos livrarmos da crise da dívida dos anos<br />

80. Optar por uma ação anticíclica, na boa tradição keynesiana,<br />

parece ter sido, se não o melhor, um bom caminho.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


REFERÊNCIAS<br />

O II plano nacional de desenvolvimento (1974-1979)<br />

ABREU, Marcelo de Paiva et al. A ordem do progresso: cem anos de<br />

política econômica republicana. Rio de Janeiro: Campus, 1990.<br />

ASSIS, José Carlos de. A chave do tesouro. RJ: Paz e Terra, 1983.<br />

CAMPOS, Roberto. A lanterna na popa. RJ: Topbooks, 1994.<br />

CASTRO, Antônio Barros de e SOUZA, Francisco Eduardo Pires de. A<br />

economia brasileira em marcha forçada. RJ: Paz e Terra, 1985.<br />

FALCÃO, Armando. Geisel: do tenente ao presidente. RJ: Nova<br />

Fronteira, 1995.<br />

GALVEAS, Ernane. A saga da crise. RJ: Forense Universitária, 1985.<br />

GOLDENSTEIN, Lídia. Repensando a dependência. RJ: Paz e Terra,<br />

1994.<br />

GOMES, Severo Fagundes. Tempo de mudar. Porto Alegre: Global,<br />

1977.<br />

LESSA, Carlos. A estratégia do desenvolvimento 1974-76: sonho e<br />

Fracasso. RJ: Tese de Professor Titular da Universidade Federal do<br />

Rio de Janeiro, mimeo, 1978.<br />

MANTEGA, Guido. O governo Geisel, o II PND e os economistas.<br />

RELATÓRIO DE PESQUISA nº 3, 1997, SP: FGV, 1997.<br />

REICHSTUL, Henri Philippe; COUTINHO, Luciano G. “Investimento<br />

estatal 1974- 980: ciclo e crise” em Desenvolvimento Capitalista no<br />

Brasil n. 2. SP: Brasiliense, 1983.<br />

SIMONSEN, Mário Henrique. Inflação, gradualismo e tratamento<br />

de choque. RJ: APEC, 1970.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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30<br />

A SINGULARIDADE DA SALA DE AULA<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Bernardina Leal¹<br />

O texto problematiza a sala de aula enquanto locus privilegiado de relações<br />

intersubjetivas. Esse espaço aglutinador de conhecimentos, sentimentos,<br />

atitudes e idéias é investigado em seus diferentes e conflitivos aspectos.<br />

O imediatismo do dia-a-dia escolar é contraposto à necessidade de<br />

redimensionamento do saber e fazer educativos. Os pressupostos que<br />

fundamentam o empreendimento educacional são escavados e<br />

oportunizam questionamentos a respeito da infância, adultez e<br />

procedimentos educacionais. A imagem do professor é investigada e a<br />

acepção originária da palavra professor é resgatada a fim de imprimirlhe<br />

novos sentidos. O problema da reciprocidade entre o ensinar e o<br />

aprender é aprofundado em sua complexidade. Apenas aparentemente<br />

simples, esta relação provoca desdobramentos ininterruptos e exige<br />

reflexão. A sala de aula é, deste modo, colocada em questão e faz emergir<br />

a imagem da oficina como alternativa metodológica capaz de resgatar o<br />

caráter vivencial do ato educativo. A experiência educacional deixa de<br />

ser percebida como uma intervenção e passa a ser vislumbrada como<br />

um consentimento ou mesmo uma rendição.<br />

Palavras-chaves: sala de aula, professor, oficina, ensinar, aprender.<br />

ABSTRACT<br />

“O que mata um jardim é esse olhar vazio de<br />

quem por ele passa indiferente”.<br />

This text questions the classroom as a privileged locus for intersubjective<br />

relationships. This mustering space of knowledge, feelings, attitudes and<br />

ideas is investigated on its different and conflictive aspects. The immediate<br />

schooling routine is opposed to the need of redimensioning theory and<br />

practice. The presupositions that support the educacional<br />

entrepreneurship are developed and enables questions related to<br />

childhood, adults and didatic procedures. The teacher image is<br />

investigated and the original meaning of the word “teacher” is reestablished<br />

and expanded. The problem of reciprocity between teaching and learning<br />

is deepened on its complexity. Only apparently simple, this relationship<br />

provokes continous results and requires reflexion. This way classroom is<br />

placed onto question and gives room for the image of a workshop as a<br />

methodogical alternative able to rebuilt the lively aspect of the act of<br />

teaching. The educacional experience turns out to be a consent or even a<br />

surrender and no more an intervention.<br />

Key Words: classroom, teacher, workshop, teaching, learning.<br />

Mário Quintana<br />

¹ Bernardina Leal é mestre em Educação pela UnB, professora da FASB e<br />

coordenadora dos cursos de pós-graduação do Núcleo de Pós-Graduação, Pesquisa e<br />

Extensão da FASB.


Bernardina Leal<br />

A despeito das dimensões físicas, das condições do mobiliário,<br />

da disposição das carteiras, da quantidade de pessoas, das instituições<br />

que a abrigam, a sala de aula continua a ser um espaço privilegiado<br />

de contato humano. É esse espaço aglutinador de conhecimentos,<br />

sentimentos, atitudes, idéias, palavras e gestos, que nos desafia. Dele<br />

emergem diferentes linguagens, possibilidades de contato entre<br />

pessoas. Estaremos atentos ao que possa acontecer? Seremos capazes<br />

de colocarmo-nos à espreita dos encontros que a sala de aula nos<br />

propiciará? Conteremos nosso impulso controlocador de antecipar e<br />

impossibilitar o novo?<br />

Diante do imediatismo do dia-a-dia escolar (realização de<br />

tarefas, organização de recursos, manutenção da rotina, exigências<br />

de aperfeiçoamento profissional, luta por melhores condições de<br />

trabalho), lembraremo-nos de detalhes que nos fazem gente? Estaremos<br />

sensíveis aos apelos que nos lançam? Conseguiremos percebê-los?<br />

Talvez seja preciso dispormo-nos a rever nossa prática escolar<br />

cotidiana. Redimensionar o saber e o fazer na comunidade estudantil.<br />

Investigar nossas relações inter-subjetivas. Reorganizar as formas do<br />

trabalho pedagógico. Investigar os pressupostos que fundamentam o<br />

empreendimento educativo. Questionar conceitos estabelecidos.<br />

Perguntarmo-nos sobre infância, adolescência e adultez. Afirmarmos<br />

menos. Duvidarmos mais. Elaborarmos novas perguntas.<br />

Trilhar os caminhos por onde leva a filosofia impõe-nos estes e<br />

outros tantos desafios. Trata-se de um processo de busca. Não há<br />

garantias de alcances. Caminhamos em direção ao que ainda há de<br />

desconhecido na sala de aula (aquilo do qual nossos saberes ainda<br />

não se apropriaram). Apostamos que algo novo possa emergir de cada<br />

encontro, de cada discussão, de cada pensar diferente do nosso, de<br />

cada novo questionamento, de cada reflexão. Enfim, de cada aula.<br />

Interessa-nos o espaço subjetivo da sala de aula. É ele o local do<br />

confronto entre a antecipação e o acontecimento. Dele pode emergir o<br />

novo.<br />

Somos gente. Não parece óbvio? Como terá isto se tornado tão<br />

óbvio a ponto de não mais o questionarmos? Por que as coisas têm<br />

parecido tão evidentes, banais, antecipáveis e até mesmo naturais?<br />

Precisamos voltar a estranhá-las. Tratarmos com menos intimidade e<br />

descaso o contexto educacional. Espantarmo-nos diante do que ocorre<br />

a cada dia nas escolas. Preocuparmo-nos com os espaços educativos<br />

transfigurados em salas de aula. Resistirmos à indiferença. É possível<br />

que voltemos a nos maravilhar. Quem sabe algo nos surpreenda. Talvez<br />

o novo queira se mostrar naquilo que pensamos já conhecer. Pode ser<br />

que nos-so olhar viciado não nos permita identificá-lo. Será preciso<br />

ocuparmo-nos desta outra obviedade: ver.<br />

Se ver não é algo assim tão simples, será necessário um<br />

cuidadoso exame das atividades a serem desenvolvidas no contexto<br />

educacional. Exatamente por não sabermos tudo o que delas poderá<br />

advir, precisamos estar atentos. Não se trata de antecipar o que<br />

ocorrerá, mas de tornarmo-nos sensíveis aos acontecimentos.<br />

Concentrarmo-nos no que fazemos. Dedicarmos nossa atenção uns<br />

aos outros. Compartilharmos a admiração pela vida. Talvez devamos<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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32<br />

A singularidade da sala de aula<br />

retomar a simplicidade das coisas profundas e nos determos em<br />

observar o que já existe e pode estar despercebido. Não será necessário<br />

fabricar situações que nos levem a pensar. Veremos as mesmas coisas<br />

de outro modo.<br />

Mais do que papéis desempenhados, nós, professores e alunos,<br />

revelamos em nossos fazeres educativos maneiras de ser e agir<br />

impossíveis de se ocultar. São nossas posturas que nos revelam, não<br />

os discursos dos quais nos apropriamos. Teremos que aprender a<br />

conjugar os verbos na forma reflexiva: vermo-nos, pensarmo-nos,<br />

questionarmo-nos, investigarmo-nos, duvidarmos de nossas próprias<br />

palavras. Nesta busca por nós mesmos, encontraremos muita gente.<br />

É desta gente que estamos a falar. Toda essa gente que habita os<br />

espaços educativos nos quais transitamos. Às vezes estamos tão<br />

apressados, tão indiferentes! Tudo nos parece tão igual! Não nos damos<br />

conta ... Detenhamo-nos um pouco diante da palavra professor.<br />

Pensemos mais cuidadosamente no que se passa entre professor e<br />

aluno.<br />

Professor é aquele que ensina, preconiza ou realiza algo. Ele<br />

instrui, leciona, faz conhecer. Em sua prática diária, em seu ofício, o<br />

professor ministra o ensino de conteúdos específicos de diferentes áreas<br />

do saber. Ele dá ensino ao aluno. O aluno é aquele que recebe instrução<br />

e/ou educação de algum professor ou mestre. É um estudante, um<br />

educando ou discípulo. É ainda “aquele que tem escassos<br />

conhecimentos em certa matéria, ciência ou arte; um aprendiz”, nos<br />

afirma o dicionário.<br />

Ainda que soltas, descontextualizadas, sem qualquer<br />

comentário ou justificativa que as circundem, as definições dos termos<br />

“professor” e “aluno”, expressas acima, revelam traços ainda<br />

determinantes das práticas de ensino realizadas nos espaços<br />

educativos. Se o professor é aquele que ensina e instrui, ao aluno só<br />

resta ser aquele que recebe instrução e aprende. Simples. Imediato.<br />

Óbvio. Ação e reação. Causa e efeito. Carência e suprimento. Fins e<br />

meios. Quantas outras tantas obviedades se concentrariam nesta<br />

relação?<br />

O problema é que entre ensinar e aprender não parece haver<br />

uma relação recíproca simples. Nem tudo o que se aprende é ensinado.<br />

Nem tudo o que se ensina é aprendido. Além de não dicotômica, esta<br />

relação é descompassada e, dificilmente, harmônica. Ela também<br />

carece de certas condições para ocorrer e, ainda assim, não garante<br />

que isto aconteça. Nem sempre o que aprendemos é porque alguém<br />

nos ensinou. Nem sempre o que ensinamos, alguém aprende. Exige<br />

tempo e cuidado, além de muita disposição. Extrapola a simples<br />

transmissão e recepção de conteúdos. Alcança o espaço das relações<br />

interpessoais. Neste espaço articulam-se contradições, travam-se<br />

conflitos, interpõem-se interesses. A complexidade do fenômeno<br />

educativo e a riqueza do contexto peculiar de cada fazer pedagógico<br />

contrariam radicalmente a aparente imediatez da relação ensinoaprendizagem<br />

na qual se inserem o professor e o aluno.<br />

Entre o professor e o aluno ocorre um processo dinâmico e<br />

mútuo de ensinar e aprender. Trata-se de um processo educativo e,<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Bernardina Leal<br />

como tal, implica em mudanças, alterações. Um estado inicial é<br />

mudado, transformado em outro. Ações são exercidas entre pessoas<br />

que interagem. Situações problemáticas se formam. Pensar estas<br />

situações se faz imperativo.<br />

Todavia, pensar a relação professor-aluno no ambiente<br />

educacional não parece ser prioridade. Seja por não dispormos de<br />

tempo, seja porque o pensar esteja freqüentemente relacionada à idéia<br />

de poder e autoridade exclusiva a alguns, ou mesmo pela falta de<br />

espaço nos currículos escolares. O fato é que entre professor e aluno<br />

não nos parece se passar nada diferente daquilo que já sabemos. Pensar<br />

esta relação implicaria inquietá-la, perguntar sobre a situação de sua<br />

existência, colocá-la em questão.<br />

Despretensioso, humilde e, ao mesmo tempo, audaz, o professor<br />

não se limitaria a saber algo e depois transmiti-lo a seus alunos. Ele<br />

procuraria ter suas próprias experiências e, então, se empenharia em<br />

compartilhá-las. Não se preocuparia em repassar o que foi aprendido.<br />

Mostraria a maneira com a qual ele próprio abriu-se ao que foi<br />

aprendido. Transmitiria sua inquietude, sua relação com os textos,<br />

sua abertura.<br />

Ao aluno seria possibilitado o estudar. Talvez seja isto o que o<br />

estudante mais precise aprender: a estudar. As escolas não se envolvem<br />

com isto. Elas não têm tempo para o estudar, o pensar, o ler, o escutar,<br />

o silenciar ou o encontrar. As escolas estão ocupadas com habilidades,<br />

conteúdos, pensamentos, leituras, falas, silenciamentos, encontros.<br />

Ocupam-se de nomes que descrevem coisas já estabelecidas.<br />

Interessam-se pelo que já existe, não pelo que precisa ser inventado.<br />

Onde poderia o aluno encontrar um espaço para falar e ouvir<br />

palavras novas, se tudo o que lhe é transmitido já foi dito, ouvido e<br />

repetido? Como poderiam ocorrer-lhe idéias novas se tudo o que é<br />

consagrado como saber já foi pensado e explicado? Que novos saberes<br />

poderia buscar se já se sabe tudo nas instituições que o educam? Que<br />

condições teria para estudar se não há tempo para isto? Como estudaria<br />

se não o deixam aprender?<br />

Em “Imagens do Estudar”, Larrosa (2000) nos convida a<br />

acompanhar, junto com ele, um jovem a estudar. O autor cria a<br />

figura de um estudante que não está se preparando para exames,<br />

tampouco redigindo um trabalho final de curso e nem mesmo se<br />

preocupa com seus próprios afazeres rotineiros. Nada o ameaça, nada<br />

o destrói. Não cumpre qualquer tarefa designada. Nenhuma obrigação<br />

se mistura ao seu estudo. Não guarda lembranças. Não anseia por<br />

projetos. Livre de vínculos e pretensões, simplesmente estuda. Atenção,<br />

concentração, ensimesmamento. Estas são dimensões do<br />

despreendimento do estudante. Ele fabrica, com seu próprio corpo,<br />

uma espécie de guarita, uma proteção de vazio que nada atravessa.<br />

Por não ver e não ouvir assemelha-se a um vidente, ao gesto daquele<br />

que se coloca inteiramente à escuta. Como os antigos adivinhos que<br />

pagavam com a cegueira o preço de sua visão privilegiada, o estudante<br />

fecha os olhos e ouvidos a tudo o que não é estudo.<br />

Uma imagem como esta nos desconcerta. Ou questionamonos<br />

profundamente ou, então, nos apressamos em justificar a<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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34<br />

A singularidade da sala de aula<br />

impossibilidade de transpô-la para os espaços educativos que<br />

conhecemos. Talvez, em qualquer um dos casos, tenhamos receio de<br />

perder o controle da situação de estudo. O governo dos estudantes e<br />

de seus estudos, suas leituras e vivências nos parecem muito caro.<br />

Tudo isto escaparia de nosso poder. Absorto em livros, desraigado de<br />

todo o resto, por onde andaria o estudante? Como saberíamos o que<br />

estaria a se passar com ele? Que provas teríamos de sua aprendizagem<br />

e de nossa ensinança? Continuaria sendo necessária nossa presença?<br />

O que nos restaria fazer?<br />

Estamos acostumados a não ter tempo. Este tem sido nosso<br />

álibi constante. O tempo fugaz, urgente e cumulativo tem nos<br />

consumido. Ele não nos concede pausas. Temos pressa em quase tudo<br />

o que fazemos. Nossos empreendimentos educativos não seriam<br />

diferentes. Somos levados a demarcar tempos e espaços de leituras, a<br />

agilizar interpretações, a apressar escritas, a acelerar falas e escutas,<br />

enfim, a encurtar ainda mais o tempo. Não temos pensado a<br />

possibilidade de alargá-lo, expandi-lo, ampliá-lo. Não temos ao menos<br />

tentado fazê-lo. Suportaríamos um estudante que vaga e divaga, que<br />

dá voltas e corre o risco de perder-se em suas leituras? Um estudante<br />

disperso, envolto em seus pensamentos, demorado em infindáveis<br />

estudos, não nos pareceria uma afronta? Sem marcas, indefinido, como<br />

o reconheceríamos? Como nos reconheceríamos? Talvez o<br />

invejássemos. Isto o faria insuportável.<br />

Se o estudante que estuda e aprende se converte numa ameaça<br />

ao professor que pensa poder ensiná-lo ou se é o professor quem<br />

ameaça o estudo do estudante, a relação entre eles se perdeu, já não<br />

faz mais sentido. É preciso dotá-la de novos sentidos. Reavivá-la. Pensála<br />

de outro modo. Inaugurar outros espaços para sua realização. Rever<br />

seu cotidiano. Verificar e criticar seus fundamentos. Transformá-la<br />

num mútuo labor significativo.<br />

Quem sabe em uma nova relação o professor deixe de ser apenas<br />

aquele que ensina, leciona e instrui. Talvez o professor venha a ser<br />

aquele que professa, que se coloca publicamente, que pronuncia<br />

palavras desafiadoras. Um sujeito que elabora sua própria fala. Aquele<br />

que se pronuncia e se faz ouvir. Alguém que não mais renuncie à sua<br />

condição de sujeito. Que não mais precise que lhe digam quem é. Um<br />

professor que resista a currículos, programas, métodos, recursos,<br />

supervisões e treinamentos impostos. Uma pessoa que aprenda a ler,<br />

escrever e falar de novo. Que se faça perguntas. Professe-se.<br />

Este professor terá se distanciado da sala de aula o suficiente<br />

para poder revê-la com perplexidade e interrogá-la. Poderá percebê-la<br />

em detalhes e formas que ainda não tinha visto. Sentir-se-á afastado<br />

do lugar que habitava, um pouco estrangeiro, embora na mesma terra.<br />

Terá que reinterpretar e reordenar as coisas em sua nova experiência.<br />

O que antes parecia inquestionável será indagado, desnaturalizado.<br />

Estará em condições de pensar e perguntar. O professor se confundirá<br />

com o aprendiz. Aprenderá enquanto estiver pensando e interrogando<br />

seu próprio ensinar.<br />

Professor e aprendiz, dotado de vida, corpo, linguagem e história<br />

próprias, este sujeito poderá experienciar seu pensar. Não mais se<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Bernardina Leal<br />

limitará a desempenhar um papel definido e esperado de um professor.<br />

Tornar-se-á visível a si mesmo. Vendo-se, perceberá que vê, entende<br />

e significa, por si mesmo, a realidade. Não se cansará diante da<br />

exigência de interpretação e reinterpretação de realidades novas. Não<br />

se cansará porque estará também a se fazer novo. Movendo-se entre<br />

os alunos e refletindo com eles, o professor dará chances aos alunos<br />

para que afirmem suas próprias individualidades. Convivendo com<br />

os alunos poderá propiciar perspectivas de pensamento conjunto.<br />

Juntos e cada um a seu modo, professor e alunos poderão realizar<br />

experiências do pensar. Terão chances de manter em aberto a própria<br />

relação. Não se preocuparão com conclusões. Não tenderão a elas. É<br />

provável que nem mesmo as desejem. Por que haveriam de querer<br />

concluir rapidamente uma experiência?<br />

O aluno terá chances de entender e dar sentido ao que faz.<br />

Não mais se colocará como um tarefeiro a executar ordens alheias.<br />

Não se restringirá a cumprir projetos de outrem. Tomará decisões.<br />

Correrá riscos. Sentirá a angústia e ansiedade de escolher o que<br />

fazer de si mesmo. Dará significados às suas ações. Terá liberdade<br />

para criar-se, muito mais que uma vez, mas não poderá mais se<br />

apoiar na obrigação ou norma prévia. Sua eleição implicará em<br />

deliberação e compromisso. Pensará sobre seu próprio pensar e o<br />

pensar de outros. Questionará a ambiciosa adultez que o cerca.<br />

Mas para que a relação professor-aluno se transforme num<br />

processo investigativo das situações vividas, é preciso que ambos<br />

saibam das convenções normalmente utilizadas para organizar o<br />

contexto educacional. É necessário perceber que muito do que se<br />

apresenta como natural ao professor é, na verdade, fruto de<br />

construções históricas e sociais realizadas pelos homens e, portanto,<br />

sujeito a revisões. Que não se trata de aceitar incondicionalmente,<br />

mas de questionar o que se apresenta como realidade educacional.<br />

Que as coisas não podem ser simplificadas de modo a parecerem<br />

inofensivas.<br />

As atividades de ensino e aprendizagem comportam<br />

experiências sociais e intersubjetivas diversas. São perspectivas<br />

através das quais se percebem as pessoas, se compreendem e<br />

produzem conhecimentos, se problematizam questões éticas, estéticas<br />

e afetivas. Questões relativas à resistência, formação e transformação<br />

ocorrem ininterruptamente. É preciso não apenas tentar harmonizar<br />

as relações que se estabelecem, mas problematizá-las. Não há como<br />

decidir o que é correto, melhor ou pior. Não cabe ao professor transferir<br />

suas formas de compreensão ao aluno, nem o contrário. Professor e<br />

aluno, se atentos ao movimento contínuo que os altera e modifica<br />

constantemente a própria relação, aprenderão a se conhecer de forma<br />

incompleta. Inseguros a respeito um do outro, cada qual terá que<br />

se esforçar para que haja um encontro. Inseguros a respeito da própria<br />

relação entre eles, a farão nova. Interrogativos, duvidarão da<br />

estrutura, constituição e ordem do tão conhecido processo ensinoaprendizagem.<br />

Ensinar e aprender deixará de ser um par contrastante.<br />

Ensinar e aprender se transformará em um par fundante. E onde<br />

ocorrerá esta nova relação? Que espaço a abrigará? Repensar a sala<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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36<br />

A singularidade da sala de aula<br />

de aula tornase imperativo. Que tal imaginá-la uma oficina?<br />

Se a oficina é o lugar onde se exerce um ofício; se este ofício é<br />

realizado com arte; se desta arte surgem artefatos, verificam-se<br />

transformações, emergem diferenças, elaboram-se maneiras, jeitos,<br />

artimanhas; se por iniciativa e vontade própria – de ofício – falas<br />

irradiam idéias e novas idéias irrompem; se encontros acontecem, se<br />

acontecimentos se encontram; se oficiam-se preocupações e ocupações;<br />

se cuidados são produzidos; se sensações são criadas; se emoções<br />

são vivificadas; se intensa e profundamente suscita-se o desejo; se a<br />

experiência se prolonga e renova, então é sobre este lugar que quero<br />

falar: A Oficina.<br />

Esta área de contato humano, sempre menos formal que as<br />

dimensões escolares e acadêmicas usuais, mais ativa e provocadora,<br />

menos valorizada hierarquicamente nos Congressos e Simpósios, mais<br />

convidativa e instigante, materializa, ao meu ver, a arte do<br />

envolvimento. Envolvimento que implica movimento, que exige um<br />

contínuo volver, que revela o que cada um traz em si, o que se encerra<br />

em cada pessoa, o que podemos conter e nos importa. O compromisso<br />

de fazer-se presente, de confundir-se, misturar-se. A decisão em tomar<br />

parte de um grupo, de intrometer-se numa atividade. A opção por<br />

mesclar palavras, idéias, gestos e opiniões. A iniciativa de<br />

compromissar-se em ouvir, falar, silenciar, pensar com o outro. A<br />

ousadia de tentar abrir espaço à divergência, à concordância, à<br />

diferença...<br />

A oficina, por seu caráter vivencial, pelo contato presencial que<br />

pressupõe e afirma, por envolver gente, nem sempre alcança o status<br />

social e reconhecimento merecidos. Este tipo de trabalho diverge do<br />

conhecido trabalho acadêmico legitimado pelas características de<br />

isolamento, distanciamento e privacidade. A oficina não acontece<br />

apenas entre pares. Não se restringe a um grupo de amigos. Não busca<br />

críticas favoráveis. Dispensa referências, grifos e notas de rodapé. Os<br />

autores consagrados, quando convidados, se fazem presentes,<br />

compõem o diálogo. Não carecem ser explicados em longos enunciados.<br />

Não exigem tradutores ou intérpretes. São convidados por serem o<br />

que são, não por serem amigos. Podem não possuir idéias<br />

convergentes, pode ser que nem mesmo façam parte do mesmo círculo<br />

social. Ainda que não gratos, são convidados. A oficina acontece,<br />

também, entre estranhos. Ocupa espaços públicos. Faz-se coletiva.<br />

Expõe-se. Não teme ser contaminada por pessoas, mas ao contrário,<br />

precisa delas. Constitui-se de palavras, idéias, emoções e sentimentos<br />

carentes de corpos para encarnar. Não teme ser simples. Simplicidade<br />

aqui não significa estado bruto ou redução. Simplicidade, neste caso,<br />

é o resultado de um grande esforço de lapidação. Saem os excessos, o<br />

acúmulo, tudo o que é desnecessário ou ornamental. Fica o simples,<br />

nu.<br />

Assim se dá uma oficina de filosofia. Destes modos se envolvem<br />

os “filosofeiros”, assim identificados por uma criança num destes<br />

encontros. Eles exercitam um pensar coletivo e investigador. São eles<br />

as crianças e jovens, seus professores, os pais, todos os que partilham<br />

os encontros propiciados. Estes “filosofeiros” colocam em questão a<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Bernardina Leal<br />

obviedade das coisas, inquietam-se diante de fatos corriqueiros,<br />

problematizam o contexto no qual estudam, trabalham, convivem.<br />

Ocupam-se das questões que elaboram com vigor e nas respostas que<br />

alcançam são reticentes. Tornam-se insaciáveis. Estão sempre à busca<br />

de mais e mais perguntas, novas e outras respostas. Às vezes parecem<br />

acomodar-se após uma jornada. De súbito inquietam-se. Novamente<br />

lançam-se na incessante procura. Mesmo repetidas, algumas questões<br />

se fazem novas. É que embora tenham a mesma estrutura lingüística,<br />

elas já não significam o mesmo, possuem novos sentidos.<br />

Estes artífices têm muito trabalho, dão trabalho, dividem<br />

trabalhos. Sabem quão trabalhoso é viver. Desconfiam: Talvez não<br />

seja bem assim. Colocam em suspenso: E se não for deste jeito?<br />

Resistem à autoridade: Quem disse ser assim? Provocam: Que tal<br />

pensarmos de diferentes maneiras? Refletem: Podemos repensar,<br />

redimensionar, rever? Buscam fundamentos: O que é isto, afinal?<br />

Convidam ao diálogo: Que tal pensarmos juntos? Esclarecem:<br />

Pensarmos juntos, não o mesmo, não do mesmo modo, mas entre<br />

nós.<br />

Não. As oficinas de filosofia não são assim. Elas se fazem assim<br />

e de muitas outras maneiras, algumas impossíveis de antecipar. Como<br />

prevê-las? Indesejável antecipá-las. Prepará-las, sim. Precipitá-las, não.<br />

Propiciá-las, talvez. Antes de ocorrer, no período de tempo que a<br />

antecede, na organização dos recursos, na seleção de textos, diante<br />

das possibilidades de procedimentos, na pré-ocupação com os temas<br />

suscitados, a oficina, ela própria, antecipa-se. Toma, de súbito, a<br />

cena. Mas sempre trapaceia. Raramente continua a mesma. Faz-se<br />

outra no momento de sua realização. Nunca se sabe como chegará.<br />

Ela despontará como um evento, acontecimento que imporá uma<br />

quebra na rotina do previsto. É este um dos aspectos mais fascinantes<br />

de uma discussão filosófica coletiva: ela não se deixa antever. Atrai e<br />

surpreende. Exige disposição. Nem sempre agrada. Às vezes<br />

desconcerta. Muitas vezes incomoda.<br />

Não é fácil, embora seja prazeroso fazer parte de uma oficina<br />

filosófica. “Ai, quanto trabalho me dá querer-te como eu quero!”,<br />

reclama Garcia Lorca e, num relance, nos faz pensar que as coisas<br />

com as quais mais nos envolvemos, às quais bem queremos, nos dão,<br />

quase sempre, muito trabalho... Este trabalho que a oficina exige, de<br />

dispor-se ao outro, de relacionar e articular pensamentos, idéias e<br />

palavras, de se expor a enfrentamentos e críticas, gera também uma<br />

certa agonia, um certo desconforto. Não me parece possível, contudo,<br />

evitar tal desconforto. Se procuramos entender, se nos preocupa o<br />

viver, se nos sensibiliza o cotidiano nosso e de outrem, se nos comove<br />

a infância, se nos alcançam certos apelos, não há como deixar de<br />

ouvir estes chamados. Somos impelidos à resposta. Tornamo-nos<br />

correspondentes. Situamo-nos junto. Respondemos ao lado.<br />

Quem integra uma oficina, a constitui. Insere-se num campo<br />

de ação. Inscreve-se. Uma vez inscrito, circunscreve um espaço do<br />

qual faz parte e no qual outras pessoas são recebidas. Em qualquer<br />

momento pode iniciar-se um diálogo filosófico. O interesse do grupo, a<br />

espontaneidade das participações e o nível de envolvimento de cada<br />

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38<br />

A singularidade da sala de aula<br />

um nas questões levantadas suscitam os desdobramentos próprios<br />

de uma investigação filosófica. Este exercício do pensar não se dá<br />

apenas como treino ou preparação, mas como um processo de busca<br />

individual e coletivo que inclui saberes, políticas, afetos. A incompletude<br />

destas oficinas revela-se no não esgotamento de suas possibilidades<br />

de realização, na tendência a prosseguimentos ou prolongações.<br />

Alongar a atividade implicará na busca de novos processos<br />

investigativos, novas possibilidades de ação, percepção e relação. Lidar<br />

de modos distintos com situações não-usuais favorece um pensar mais<br />

aberto, sensível à diferença, preocupado com o outro dos outros e<br />

também com o outro de si.<br />

A oficina traz consigo esta aparente contradição: é coletiva, na<br />

medida em que acolhe significados comuns, inter-subjetivos, mas é<br />

também individuante, pois exige um pensar que não repita nem imite<br />

o outro, um pensar que seja tão livre quanto possível. Esta combinação<br />

de aspectos individuais e coletivos consubstancia o entre do encontro.<br />

Da diversidade irrompe algo comum, surge certa unidade. Emerge,<br />

então, um grupo. Neste espaço comum, amplo o bastante para cobiçar<br />

diferenças, perspectivas individuais são colocadas em interação com<br />

o outro. Este local de partilha, este espaço existencial e interpretativo<br />

é um estar junto. Não há apropriação. Não se trata de um patrimônio<br />

ou propriedade. O que emerge deste encontro não pertence a um sujeito<br />

ou objeto. É algo que se cria na relação que se estabelece, algo que se<br />

dá sem ter pertencido. Estruturado e regido por uma dinâmica única,<br />

pode ser considerado puro acontecimento. Cada oficina se faz única,<br />

una e solitária. Não se trata, porém, de uma solidão resultante do<br />

isolamento. Esta solidão se dá pela desapropriação. É como estar a<br />

sós, em companhia de outros, sabendo-os “outros”, despojados, todos,<br />

daquilo que cada um poderia ter por próprio.<br />

Este espaço de diferença, de interrogação constitui-se,<br />

inevitavelmente, de questionamentos múltiplos. Indaga-se sobre os<br />

objetos, sobre os saberes, sobre os outros, sobre cada um e sobre si<br />

mesmo. Há o suposto de que o pensar se desperte por uma pergunta.<br />

Nos limites deste espaço delineado, não apenas pelo outro, mas também<br />

pelas fronteiras da subjetividade de cada um, ocorre um processo de<br />

múltiplas transformações. O comum se revela na diferença. Nada está<br />

isolado. Tudo o que precede ou dá seguimento a uma colocação,<br />

afirmação ou pergunta está em relação. Daí a especificidade de cada<br />

experiência do pensar. Se o que ocorre é uma relação sustida no tempo,<br />

à medida que as pessoas atravessam o espaço recém-criado da<br />

discussão coletiva, ela se torna única. Não se repete. Faz-se experiência.<br />

Perpassa cada um naquele momento, naquela relação, com aquele<br />

grupo. Surge de um encontro, num espaço discursivo que nã pertence<br />

a um ou a outro. Este espaço desapropriado, simbolizado pelo círculo<br />

que se forma, cria um limite constituído pelas pessoas que o<br />

conformam, mas também circunscreve um espaço vazio interno, um<br />

entre.<br />

Entre: o espaço que vai de um lugar a outro; um intervalo que<br />

une e, ao mesmo tempo, separa; o espaço no qual algo se encontra; o<br />

meio-termo, o intermédio. O entre é o espaço próprio da oficina. É<br />

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ainda o apelo que ela nos faz: entre, entranhe-se, atreva-se. Venha<br />

conosco. Sinta-se convidado. Entre, entre nós. O “entre” é uma figura<br />

da entrada, do entrar, do intrometer-se, do estar metido no meio, de<br />

estar junto.<br />

Em uma oficina não há como não entrar. Não se pode assistir<br />

de fora, como uma palestra. Em uma oficina se entra ou não se atende,<br />

nem entende o apelo. Atendemos o chamado. Nós somos entrantes.<br />

Somos aqueles que estão prestes a começar; em pleno devir. Quando<br />

decidimos entrar, passamos de fora para dentro. Não estamos mais à<br />

parte. Fazemos parte. Incluímo-nos. Introduzidos nas entranhas de<br />

uma discussão filosófica coletiva, aprofundamos nossas e outras idéias,<br />

penetramos nossos e outros pensamentos, nos enfiamos na trama<br />

que tecemos com fios desiguais. São diferentes tonalidades, espessuras<br />

e tamanhos que misturam-se. O tecido é uno. Os fios, variados. O<br />

ofício, comum.<br />

Este trabalho artesanal que se opera numa oficina inclui<br />

dedicação, tempo, atenção. Neste espaço, trabalha-se a matéria-prima<br />

dos textos. É preciso esforço. Há que se extrair arte desta matéria.<br />

Uma vez percebida como matéria de arte, selecionada e talhada, adquire<br />

forma, vivifica o até então imaginado. Como na fabricação de um móvel<br />

rústico, não se despreza a beleza anterior da árvore. Com carinho, ao<br />

contrário, valoriza-se os nós, as nuances de cores, a tessitura, a forma<br />

natural. A intervenção do artesão não se faz violenta, mas respeitosa.<br />

Ele admira a beleza da árvore e atua nela de forma também bonita. A<br />

árvore se transforma em madeira, a madeira em móvel, o móvel em<br />

artesanato, o artesão, em tudo isto. Talvez nem seja mais uma<br />

intervenção. Quem sabe já se trate de um consentimento, uma mútua<br />

rendição.<br />

É destes lugares onde exerço meu ofício, de minhas oficinas<br />

que gosto de falar. Sobre estes tantos espaços criados, diversamente<br />

espalhados, pluralmente constituídos, animadamente compartilhados,<br />

já não posso seguir dizendo que são meus. A não ser por força do<br />

linguajar habitual, não o teria feito. Não, não são as minhas oficinas.<br />

Nunca me pertenceram. Quem sabe eu tenha pertencido a elas. Delas<br />

fiz e faço parte. Nelas continuamente me transformo. Desaproprieime<br />

de mim mesma e continuo a despreender-me a cada novo encontro.<br />

Recebi e recebo muitos outros. Compartilhamos espaços. Muitos<br />

também se desapegam, não apenas daquilo que sabem ou acumulam,<br />

mas de si mesmos. Que alívio! Sem nossas cargas, cargos e títulos,<br />

desobrigados de nossos discursos, deixamos nossa idéias avançar,<br />

recuar, romper. Cada fala, gesto, atitude, silêncio e escuta é então<br />

valorizado. Nestas oficinas, o exercício de estar com o outro, de ser<br />

gente, de estar no mundo é feito com arte. É artefato.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Bernardina Leal<br />

BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. São Paulo: Martins Fontes,<br />

2000.<br />

LARROSA, Jorge. Pedagogia profana. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.<br />

LEAL, Bernardina; KOHAN, Walter; RIBEIRO, Álvaro. Filosofia na<br />

escola pública. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.<br />

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ATORES SOCIAIS: FUTUROS EXILADOS DO PLANETA?<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Jaceny Reynaud¹<br />

“É preciso transformar a maneira de conduzir a sociedade<br />

e o conceito de que o benefício financeiro deve ser<br />

conseguido a qualquer custo. Temos que mudar o<br />

sistema de valores e as regras do livre comércio.<br />

Dignidade humana e sustentabilidade são a base da nova<br />

sociedade civil que está emergindo.”<br />

RESUMO<br />

Fritjof Capra<br />

A abordagem que se pretende dar ao presente artigo é a de que os<br />

atores sociais, neste início do novo milênio, necessitam repensar os<br />

fundamentos civilizacionais e espiritualistas da crise pela qual passa<br />

o Planeta Terra. A característica mais premente deste momento é<br />

justamente a instalação persistente, angustiante, de dúvidas à respeito<br />

do assunto e da falta de respostas para as mesmas. Lutar por utopias?<br />

Será utopia lutar por uma democracia ecológico-social? Deve o<br />

indivíduo buscar a criação de uma nova espiritualidade e a<br />

reconciliação com o Cosmos? Devem-se buscar novas possibilidades<br />

de re-encantar o Planeta, e com isso re-encantar o olhar do ator social,<br />

convocando-o a uma mudança de consciência, a um repensar de quem<br />

é ele e qual o seu lugar no Cosmos? De que maneira o indivíduo deve<br />

e pode fazer isto? São perguntas que estarão presentes durante a<br />

elaboração deste artigo que tem como objetivo, a tentativa na busca<br />

de soluções e respostas para as questões acima formuladas sobre o<br />

Planeta Terra.<br />

Palavras-chave: planeta Terra, conscientização, ecologia, holístico,<br />

movimentos ambientalistas.<br />

ABSTRACT<br />

The approach we intend to give to the present article, is that the social<br />

actors, at the beginning of millennium, need to rethink the civilizational<br />

and spiritual foundations of the crisis which the Planet Earth<br />

passes.The more urgent feature of the present historical moment, is<br />

exactly the persistent, distressing installation, of doubts and of the<br />

lack of answer for them. Fighting for utopias? Would fighting for<br />

ecological -social democracy be an utopia? Does the individual owe to<br />

look for the creation of a new spirituality and reconciliation with it the<br />

Cosmos? Must we look for new possibilities to reenchant the Planet,<br />

and with that re-enchanting the social actor’s glance, then being<br />

¹ Jaceny Maria Reynaud é mestre em Engenharia de Produção e Sistemas / CTC /<br />

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, é professora da FASB e coordenadora<br />

de extensão do Núcleo de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da FASB.


Jaceny Reynaud<br />

requested to a change of conscience, to a rethink of who is the Planet<br />

and what its place in the Cosmos? How must the individuals do this<br />

and how can we do this? These are questions that will be present<br />

during the elaboration of this article, and that have as only objective,<br />

the attempt of search for solutions and answers for the questions<br />

above formulated, or at least, to make us think on the current events<br />

that are happening in the Planet called Earth.<br />

Key Words: planet Earth, awareness, ecology, holistic, environmental<br />

movements.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Na contemporeneidade, pode-se afirmar que o imenso poder<br />

detido pela ciência – através do próprio Homem – torna-se capaz de<br />

subjugar a ambos, ou seja, o indivíduo e a natureza (ARENDT, 1994).<br />

A questão relevante é a busca de uma maneira ambientalmente<br />

coerente de habitarmos com qualidade de vida esse Planeta. Essa<br />

variável encontra-se contextualizada nas mutações técnico-científicas<br />

que envolvem a modernidade. Em contrapartida, dessas mudanças<br />

engendram-se fenômenos de desequilíbrios ecológicos, além do<br />

considerável crescimento demográfico presente, e que se não forem<br />

tomadas atitudes emergenciais e conciliadoras, ameaçam a<br />

continuação da vida em sua superfície.<br />

O presente trabalho aborda novas tentativas e a busca pelos<br />

atores sociais, de correntes ambientalistas - seja na forma de pensar,<br />

sentir, viver, avaliar e de portar-se frente ao fragmentado Planeta onde<br />

habita - sob um novo olhar. Olhar este, que pode ser legitimado como<br />

“holístico” e onde o indivíduo “tenta” interagir com liberdade,<br />

proximidade e, principalmente, com maior sensibilidade frente à<br />

Natureza.<br />

Esta busca de um novo modelo de vida - diferente do estilo<br />

presente, que envolve questões então consideradas primordiais, seja<br />

de ordem sócio-econômica-política (que pode ser traduzida em estresse,<br />

depressão, desemprego, problemas financeiros, marginalidade<br />

opressiva, solidão, ociosidade) traz introjetado um objetivo único:<br />

melhoria da qualidade de vida para o indivíduo. Este está<br />

intrinsecamente ligado à esperança de um funcionamento perfeito do<br />

Planeta e onde ele possa encontrar subsídios sustentáveis para sua<br />

sobrevivência e para as gerações futuras (que pode vir acompanhado<br />

de criatividade, cultura, pesquisa, da reinvenção do meio ambiente,<br />

solidariedade, sensibilidade).<br />

Faz parte de suas aspirações, a construção de uma sociedade<br />

democrática, integrada, justa, solidária, em paz e feliz. O indivíduo<br />

quer e precisa ter bem estar no local onde vive. Não um bem estar<br />

efêmero, materialista, mas uma felicidade consciente, à custa da<br />

vivência, da experimentação, sentindo segurança. O indivíduo deve<br />

ter a certeza de que o Planeta Terra não desaparecerá no amanhã, sob<br />

riscos de: proliferação e acidentes nucleares, aquecimento global,<br />

destruição da camada de ozônio, perda da biodiversidade, poluição<br />

mundial, do ar e das águas, perda do solo e desertificação, acidentes<br />

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42<br />

Atores sociais: futuros exilados do planeta?<br />

com transporte de resíduos tóxicos, pressões migratórias produzidas<br />

pela explosão demográfica, intensificação da depleção dos recursos<br />

naturais, além do aumento da taxa de mortalidade entre as populações<br />

dos países mais pobres, devido à fome e pestes.<br />

MOVIMENTOS AMBIENTALISTAS<br />

Historicamente, o indivíduo faz parte da natureza, como agente<br />

ambiental – semelhante aos outros animais – principalmente quando<br />

iniciou a produção de seus alimentos, criando uma relação dependente,<br />

em prol de sua sobrevivência.<br />

Já na época da Primeira Revolução Industrial, o mesmo passou<br />

a ser fator de considerável importância nas transformações sobre a<br />

Terra, pois com a invenção da máquina, a exploração dos recursos<br />

naturais só tendeu a aumentar. Esta Revolução elevou o crescimento,<br />

em mais de 100 (cem) vezes, a produtividade da mão-de-obra. Na época,<br />

a relativa escassez de indivíduos limitava o progresso da exploração<br />

dos recursos aparentemente infindáveis da natureza. Sendo que, esta<br />

lógica ainda perdura, mas atualmente o padrão de escassez mudou:<br />

têm-se abundância populacional e conseqüentemente de mão-de-obra<br />

e escassez de recursos naturais.<br />

Numa retrospectiva histórica - cronológica, do Movimento<br />

Ambientalista, observa-se que a partir da década de 50, iniciou-se um<br />

processo perceptivo mais sério dos indivíduos – principalmente nos<br />

meios acadêmicos – sobre questões ambientais e de sua inerente ligação<br />

à perpetuação da vida sobre o Planeta, sendo desta década a idéia de<br />

Ecossistema e Teoria Geral dos Sistemas.<br />

Já, a partir de 1960, ocorreu, então, o despertar do que se<br />

denominou consciência ecológica, que também pode ser encarada como<br />

uma revolução ambientalista; de modo que, isso levou forçosamente<br />

os indivíduos a darem início a uma mudança universal e profunda<br />

nos seus valores, e transformarem a sua percepção acerca do mundo<br />

a que pertencem.<br />

Esta década foi marcada pelo conflito de interesses entre<br />

desenvolvimentistas (visavam incrementar economicamente a atividade<br />

humana) e preservacionistas (buscavam restringir tal atividade); no<br />

entanto, a noção de meio ambiente como fator restritivo, deu lugar à<br />

noção de meio ambiente como parceiro. Com o aparecimento de diversos<br />

grupos ambientalistas e de Organizações Não-Governamentais (ONG’s),<br />

as questões ambientais consolidaram-se e projetaram-se sobre a<br />

opinião pública mundial.<br />

Na década de 70, o ambientalismo não-governamental apareceu<br />

totalmente institucionalizado nas sociedades européia e americana,<br />

culminando com a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o<br />

Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como Conferência<br />

de Estocolmo / Suécia, realizada em 1972. Esta foi um marco histórico<br />

na política internacional, onde se iniciou o envolvimento do sistema<br />

político (governos e partidos) com o assunto, reunindo representantes<br />

de diferentes governos, para discussão da necessidade de controlar os<br />

fatores que vinham causando degradação ecológica. Nesta Primeira<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Jaceny Reynaud<br />

Conferência, ficou estabelecido também, o Plano de Ação Mundial para<br />

o Meio Ambiente, com destaque para o Programa Internacional de<br />

Educação Ambiental.<br />

Na década de 80, como resultado das discussões que ocorreram<br />

durante a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio<br />

Ambiente e Desenvolvimento ou Conferência de Estocolmo (1972), foi<br />

produzido pela Comissão Brundtland (1983) e publicado em 1987, o<br />

Relatório Nosso Futuro Comum, apresentando pela primeira vez o que<br />

se conceituou de Desenvolvimento Sustentável, ou seja, “(...) aquele<br />

que atende às necessidades do presente, sem comprometer a<br />

possibilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias<br />

necessidades”. (CMMAD, 1998, p.46). Conseqüentemente, nessa<br />

década, os Partidos Verdes tornaram-se mais expressivos e a maioria<br />

das democracias ocidentais, já estavam em fase de institucionalização<br />

das questões ambientais.<br />

Após a divulgação do Relatório Nosso Futuro Comum, as<br />

Organizações das Nações Unidas - ONU realizaram a ECO-92 ou RIO-<br />

92, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, que teve como objetivo de<br />

maior relevância discutir propostas do Relatório acima mencionado,<br />

além de comemorar os 20 (vinte) anos da Conferência de Estocolmo,<br />

Suécia.<br />

Observa-se que, nas décadas de 1970 e 1980, os desastres<br />

ambientais – com conseqüências em níveis mundiais – de Seveso,<br />

Bhopal, Chernobyl, Basel, Valdez, entre outros, provocaram um<br />

dramático crescimento da conscientização ambiental em toda a Europa.<br />

É de relevância lembrar que os danos ambientais causados pelas<br />

catástrofes, que ocupam a mídia recentemente, são considerados<br />

pequenos, quando comparados aos danos cumulativos que, em sua<br />

maioria passam desapercebidos – e que são provocados por grande<br />

número de poluentes menores – sendo que, a maioria deles está<br />

legitimado pelos seus países de origem.<br />

Na década de 90, institui-se o DIA DA TERRA, reunindo milhões<br />

de pessoas em redor do mundo, como símbolo dos esforços para “salvar<br />

o Planeta” e chegando-se ao consenso de que, a década de 90 seria a<br />

Década do Meio Ambiente. Das discussões que se estabeleceram na<br />

ECO-92, elaboraram-se documentos considerados relevantes como a<br />

Carta da Terra ou Declaração do Rio 92 e a Agenda 21, pela sua<br />

representatividade junto aos vários países participantes. Esta década<br />

veio imbuída de um ambientalismo projetado sobre as realidades locais<br />

e globais, abrangendo os principais espaços da Sociedade Civil, do<br />

Estado e do Mercado e constituindo-se, ainda, em um processo de<br />

maior cooperação solidária entre nações e indivíduos.<br />

Após a ECO-92 realizou-se a RIO + 5, na cidade do Rio de<br />

Janeiro, Brasil, que foi uma revisão independente com relação aos 05<br />

(cinco) anos subseqüentes, na concentração de esforços para<br />

implementação dos prováveis resultados da ECO-92. Esse encontro<br />

teve sua iniciativa lançada por Organizações Não-Governamentais,<br />

tendo à sua frente o Conselho da Terra – entidade que tem na<br />

presidência Maurice Strong (canadense, que secretariou tanto a ECO-<br />

92, quanto a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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44<br />

Atores sociais: futuros exilados do planeta?<br />

Desenvolvimento ou Conferência de Estocolmo, em 1972). Nessa revisão<br />

foi retirada a necessidade dos países envolvidos tentarem,<br />

emergencialmente, implantar as diretrizes que norteiam o<br />

Desenvolvimento Sustentável. A reunião da RIO + 5 incluiu a<br />

participação da Sociedade Civil como um todo, Setores Públicos e<br />

Privados, além dos Conselhos Nacionais de Desenvolvimento<br />

Sustentável ou Similares.<br />

De 26 de agosto a 04 de setembro de 2002, ocorreu a RIO +10<br />

– Conferência das Organizações das Nações Unidas, ONU, em<br />

Johannesburgo, África do Sul – onde mais uma vez, se debateu sobre<br />

a implantação do Desenvolvimento Sustentável, em nível global. Uma<br />

das problemáticas mais acentuadas do evento, foi a dificuldade de<br />

convencimento na participação maciça de todos os países para com o<br />

assunto. Observou-se, principalmente, com relação aos países reativos<br />

a assinaturas de determinados protocolos, como os países<br />

potencialmente ricos, que, estes, não querem adotar compromisso<br />

rígido contra a degradação ambiental e a pobreza. Entre estes<br />

compromissos figuram a destinação (acordada durante a ECO-92), de<br />

0,7% de seu PIB para auxílio do desenvolvimento como um todo, em<br />

paí-ses que dele necessitam.<br />

A idéia central é ampliar o acesso dos indivíduos ao saneamento<br />

básico, reduzir as agressões à biodiversidade e incentivar o uso de<br />

fontes renováveis de energia. Mesmo assim, o Plano de Ação, aprovado<br />

por líderes de 189 países reunidos na Cúpula Mundial para o<br />

Desenvolvimento Sustentável, deixou grande parte dos participantes<br />

insatisfeitos. Isso porque o documento final está sendo considerado<br />

apenas ”... uma simpática carta de boas intenções...”, segundo definição<br />

de Rubens Harry Born, da ONG Vitae Civilis e representante do Fórum<br />

Brasileiro de Organizações Não-Governamentais nas negociações.<br />

Mesmo assim, restaram boas notícias, como, a adesão do<br />

Canadá e Rússia ao Protocolo de Kyoto, Japão. Nele, as negociações<br />

entre os países envolvidos têm o comprometimento de reduzir as<br />

emissões dos gases que causam o efeito estufa.<br />

Em análise final, parte-se do pressuposto de que existem pelo<br />

menos três tópicos relevantes, naquilo que se espera na melhoria da<br />

qualidade de vida do indivíduo: segurança alimentar e desenvolvimento<br />

rural, urbanização e menos poluição, além de garantia nos itens básicos<br />

(saúde, educação, moradia, emprego, segurança e saneamento básico),<br />

tendo como conseqüência, a melhoria geral dos padrões de vida das<br />

populações pobres do planeta.<br />

Uma observação interessante que se pode fazer, no entanto, é<br />

que essas populações costumam ser as mais atingidas pela degradação<br />

ambiental e as que têm menos condições de proteger-se; por outro<br />

lado, essas mesmas populações são responsabilizadas por parte dos<br />

danos causados ao meio ambiente, isso tendo como justificativa, sua<br />

necessidade de sobrevivência premente, além da ignorância relacionada<br />

à manutenção dos recursos naturais.<br />

Entretanto, é animador saber que a conscientização dos<br />

problemas ambientais está provocando muitos países, principalmente<br />

os mais desenvolvidos, a iniciarem a disseminação das idéias e recursos<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Jaceny Reynaud<br />

financeiros para a melhoria da qualidade de vida do planeta.<br />

Deve-se reconhecer que os problemas ambientais e ecológicos<br />

do mundo são problemas sistêmicos, interligados e interdependentes,<br />

que exigem mudanças de valores, passando da expansão para a<br />

conservação, da quantidade para a qualidade, da dominação para a<br />

parceria. Essa forma de repensar o conjunto de sistema de valores<br />

constitui o que se pode denominar de paradigma holístico, ou seja,<br />

visão do mundo como um todo integrado, e não como um conjunto de<br />

partes dissociadas.<br />

O ambientalismo superficial aceita o paradigma mecanicista<br />

dominante, é antropocêntrico e atribui apenas valor de uso aos recursos<br />

naturais; tende a aceitar, por omissão, a ideologia do crescimento<br />

econômico a qualquer custo ou endossá-lo abertamente. Atualmente,<br />

manifesta-se na denominada lavagem verde, onde as organizações<br />

provocam mudanças ambientais maquiadas, com objetivos escusos no<br />

que tange às relações públicas, aplicando recursos em publicidade e<br />

promoção de imagem verde. No entanto não elaboraram mudanças<br />

reais nos processos que englobam sua linha de produção, instalações<br />

e condições de desenvolvimento de sua infra-estrutura, para melhor<br />

atender as condições de trabalho de seus colaboradores internos e<br />

externos. Ou seja, não implantam com seriedade as Normas da<br />

Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT. Entre estas estão a<br />

ISO 9000, ISO 14000, OHST 18000, SA 8000 , AS 1000, entre outras<br />

que estão sendo elaboradas rotineiramente, como uma forma de<br />

proteção ao indivíduo e ao planeta.<br />

Já quando se trata da Ecologia Profunda, esta envolve mudança<br />

de visão responsável com relação ao mundo, reconhecendo o valor<br />

intrínseco de todos os seres vivos. Encara o indivíduo simplesmente<br />

como um determinado fio da teia da vida, substituindo a ideologia do<br />

crescimento econômico pela idéia da sustentabilidade ecológica, ou<br />

seja, as organizações podem optar em produzir e receber ou não<br />

embalagens para seus produtos, podem traçar estratégias em pesquisas<br />

para desenvolver substitutos, adotar outros produtos e práticas, além<br />

de investirem na busca de solução para quaisquer conflitos ambientais<br />

em que estejam envolvidas.<br />

Outro fator importante existente na atualidade é que há um<br />

crescimento expressivo de profissionais: pesquisadores, cientistas,<br />

escritores, autores, enfim, indivíduos que se envolvem e contextualizam<br />

as práticas ambientais e que estão presentes na mídia, tornando-se<br />

formadores de opinião. Isso pode ocorrer seja através da criação de<br />

novas filosofias de vida, como por exemplo, a Antroposofia (Sabedoria<br />

do Homem), de livros, filmes, organização de programas de debates,<br />

textos em revistas de circulação mundial, entre outros.<br />

Esses atores sociais buscam chamar a atenção globalmente e<br />

têm poder de argumentação junto às populações, numa tentativa de<br />

sensibilização de que o Meio Ambiente e os Recursos Naturais estão<br />

fragilizados, são finitos e que necessitam de cuidados especiais, para<br />

que possam interagir da melhor forma possível com o indivíduo.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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46<br />

Atores sociais: futuros exilados do planeta?<br />

CONCLUSÃO<br />

Construção de uma sociedade democrática, integrada, justa e<br />

solidária, são itens considerados necessários para que haja qualidade<br />

de vida para os indivíduos.<br />

E por conta disso, há perguntas que devem ser formuladas,<br />

antes de qualquer tomada de decisão, como por exemplo:<br />

Para que o indivíduo possa ser possuidor do tipo de sociedade<br />

que almeja, como deverá agir? Combinando os sonhos futuros com a<br />

razão, a utopia com a técnica, a imaginação com a lógica?<br />

Incentivar a participação popular nos movimentos ambientalistas,<br />

enquanto os indivíduos, em sua grande maioria, não tem<br />

esclarecimento suficiente nem para separar o lixo doméstico para a<br />

reciclagem?<br />

Tentar o entendimento das populações pobres de que muitos<br />

alimentos estão contaminados com agrotóxicos, se muitos indivíduos,<br />

nem alimentação têm no seu cotidiano?<br />

Então, como fica o processo de globalização em face ao<br />

crescimento da pobreza em nível planetário?<br />

- O mito do Mercado passa pela Modernidade, Pós-Modernidade e /<br />

ou Globalização?<br />

- O que está ocorrendo afinal? É a pergunta, que todos nós fazemos.<br />

O ecodesenvolvimento pode vir a ser uma alternativa para<br />

promoção do bem-estar do indivíduo e valorização dos recursos<br />

naturais, dentro de uma visão sistêmica Meio Ambiente/Indivíduo/<br />

Natureza, onde projetos de desenvolvimento possam ser promotores<br />

de melhoria da qualidade de vida humana e compromissados com o<br />

Meio Ambiente.<br />

O crescimento deve estar imbuído de uma melhor distribuição<br />

de renda, uma gestão responsável dos ecossistemas e o uso racional<br />

dos recursos naturais.<br />

Deve haver, ainda, discussões em torno do que é o Sujeito<br />

Ecológico e de que critérios o mesmo deve ser possuidor. Quanto ao<br />

conceito de Desenvolvimento Sustentável, apesar de ser um conceito<br />

elaborado, há duas décadas, para “dar conta” das necessidades por<br />

que passa o Planeta e garantir o seu futuro, o mesmo não leva em<br />

conta as desigualdades geográficas territoriais, socioeconômicas,<br />

políticas, que permeiam as diferentes regiões terrestres e as dificuldades<br />

encontradas para sua plena aplicação. O indivíduo deve ter um<br />

envolvimento sustentado com o seu local e com as questões ambientais<br />

que ali se inserem, para que se possa aplicar integralmente um outro<br />

conceito, pertence à Agenda 21, ou seja, Agir localmente, mudar<br />

globalmente ou Agir globalmente, mudar localmente.<br />

Concluindo, para que possa existir uma consciência ecológica,<br />

por parte do indivíduo, torna-se imperioso que, primeiramente, haja<br />

um processo de sensibilização com relação às questões ambientais,<br />

passando por um processo de reflexão sobre o assunto, para que,<br />

então, ele possa introjetar essas questões conscientemente, podendo<br />

então vir a ser um formador de opinião, argumentação e idéias.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


REFERÊNCIAS<br />

Jaceny Reynaud<br />

ARENT, Hannah. A condição humana. São Paulo: Scipione, 1994.<br />

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de Janeiro: Ática, 1996.<br />

CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura<br />

emergente. São Paulo: Cultrix, 1982.<br />

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os (des) caminhos do meio<br />

ambiente. 2 ed. São Paulo: Contexto, 1990.<br />

GUATTARI, Félix. As três ecologias. Tradução de Suely Rolnik. 4 ed.<br />

Campinas, SP: Papirus, 1993.<br />

LEIS, Héctor Ricardo. O labirinto: ensaios sobre ambientalismo e<br />

globalização. Co-edição. São Paulo / Blumenau: Gaia e Universidade<br />

Regional de Blumenau, 1996.<br />

MAIMON, Dália. Passaporte verde – gestão ambiental e competitividade.<br />

Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996.<br />

MARBURG, Sandra. Gerenciamento ecológico – eco management.<br />

São Paulo: Cultrix, 1993.<br />

<strong>REVISTA</strong> FINANÇAS E DESENVOLVIMENTO. Rio de Janeiro: Fundação<br />

Monetária Internacional e Banco Mundial, 1996. V. 16, n. 4.<br />

<strong>REVISTA</strong> DE CIÊNCIAS HUMANAS. Florianópolis: UFSC, 1996. V. 14.<br />

UNGER, Nancy Mangabeira. O encantamento do humano: ecologia<br />

e espiritualidade. São Paulo: Loyola, 1991.<br />

Gravações de Vídeo. A espiritualidade numa economia de mutação.<br />

Debate do Programa de Rede de Televisão do MEC.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA CONSTRUÇÃO DO<br />

CONHECIMENTO E DA CRITICIDADE DOCENTE E<br />

DISCENTE<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

James Figueredo da Silva 1<br />

Demonstra a importância da leitura na formação docente e sua<br />

contribuição para a construção e intervenção crítica da relação<br />

educador – educando. Aborda a leitura como elemento relevante.<br />

Destaca as possibilidades despertadas na sua dimensão no processo<br />

educativo. Discute a dialética da leitura do mundo X a leitura da<br />

palavra. Extrapola o conceito e visão didática da leitura com vistas ao<br />

questionamento científico. Trata da relação entre a educação e o<br />

conhecimento e o seu estabelecimento por meio da criticidade e do<br />

papel do educador-pesquisador como uma prática cotidiana e<br />

indispensável.<br />

Palavras-chave: leitura, conhecimento, leitura de mundo, criticidade<br />

na ação docente.<br />

ABSTRACT<br />

It demonstrates the reading importance on the educational<br />

improvement and its contribution for the critical construction and<br />

intervention on the relation between educators-educating. It boards<br />

the reading as an important element. It highlights the roused<br />

possibilities on its dimension on the educational process. It discusses<br />

the dialectic of reading of the world X reading of the word. Going<br />

further its didactic concept and vision with a scientific view of the<br />

matter. It regards the relation between education and knowledge and<br />

its settlement through criticism and the educator responsibilities as<br />

an everyday and indispensable practice.<br />

Key Words: reading, knowledge, reading the world, criticism in the<br />

educational action.<br />

A COMPREENSÃO DA LEITURA NO PROCESSO EDUCATIVO<br />

Demonstrar a importância da leitura na formação docente e<br />

sua contribuição para a construção e intervenção crítica da relação<br />

educador – educando é a proposta que será abordada nesta produção<br />

científica.<br />

Conceber a leitura não somente como fonte única e completa<br />

do conhecimento é o passo primeiro para o estabelecimento de um<br />

¹James Figueredo da Silva é especialista lato sensu em Docência Superior, professor<br />

da FASB e da Rede Particular de Ensino em Teixeira de Freitas – Bahia.


James Figueiredo da Silva<br />

projeto educativo competente que interaja na construção crítica do<br />

educando, extrapolando os conceitos puramente didáticos da atividade<br />

docente. A dimensão da leitura precisa ser compreendida como<br />

premissa indissociável da relação conhecimento e criticidade, como<br />

base da capacitação do educador e o caminho a ser trilhado para a<br />

construção crítica do educando. É a atividade pela qual a visão do<br />

mundo, a percepção contextual dos fatos e cenários em que a educação<br />

se encontra inserida se estabelecem, contribuindo na construção de<br />

uma cidadania forte, consciente por meio de uma educação libertadora.<br />

O ato de ler relaciona-se com a atitude assumida ao ato de<br />

estudar. O estudo exige disciplina e responsabilidade na ampliação<br />

dos horizontes, possibilitados pela leitura, de maneira que permita a<br />

criação e recriação do conhecimento e não apenas mera descodificação<br />

e repetição do que já foi dito.<br />

A responsabilidade crítica no ato de estudar é premissa para<br />

uma docência verdadeira e compromissada com o conhecimento e a<br />

libertação do educando e do educador, uma vez que a educação só<br />

será concebida a partir da presença, tanto do educador quanto do<br />

educando, que, por meio da ação dialética, tanto ensina quanto<br />

aprende.<br />

Ler é uma competência do ser humano; ensinar a ler é<br />

competência docente que precisa ser extrapolada para além do simples<br />

ato de alfabetização e vivenciada como ação crítica de descoberta e<br />

criação do conhecimento, sob as abordagens de Freire (2002), com<br />

uma prática educativa através da corporeificação das palavras pelo<br />

exemplo do educador.<br />

Essa abordagem crítica sobre a leitura é que concede ao<br />

educador a visão dinâmica do processo de ensino - aprendizagem, de<br />

modo que o ato de ler assume uma importância significativa na<br />

construção do conhecimento. É necessário que o educador consiga<br />

revelar a dimensão na condução criativa e crítica da compreensão<br />

pela leitura.<br />

A inquietação pela leitura desperta, há muito tempo, os<br />

pensamentos de muitos pesquisadores e, por conseguinte, deve<br />

inquietar também os professores, pois estes lidam diretamente com<br />

os educandos numa relação contínua de descoberta dos ideários de<br />

Freire (1993, apud ITERRA, 2001), que aborda o ato de estudar como<br />

processo intrínseco ao da construção da leitura do mundo e, em sua<br />

decorrência, a leitura da palavra.<br />

A responsabilidade docente, neste processo educativo libertador,<br />

é muito bem traduzido nos trabalhos de Hoffmann (1998, 2000), os<br />

quais abordam o comprometimento como o diferencial decisivo para<br />

se atingir a essência da dialética - conhecimento e criticidade:<br />

Diria, em síntese, que os professores não são culpados pelos resultados obtidos<br />

pelos alunos, mas são, sim, responsáveis. Serão, entretanto, culpados se não<br />

forem comprometidos no sentido de buscarem o seu aperfeiçoamento e se não<br />

preservarem a sensibilidade ao lidar com a complexidade do processo.<br />

(HOFFMANN, 1998. p. 17, grifo do autor).<br />

Este trabalho científico procura essencialmente abordar a<br />

leitura como elemento relevante, destacando as possibilidades<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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50<br />

A importância da leitura na construção do conhecimento e da criatividade docente e discente<br />

despertadas na sua dimensão dentro do processo educativo,<br />

extrapolando seu conceito e visão didática com vistas ao<br />

questionamento científico.<br />

Encarar a educação e o conhecimento, sob a ótica<br />

epistemológica, sem desviar do sentido social e político, permitirá a<br />

obtenção de resultados que contribuam para o melhor estabelecimento<br />

da relação ensino – aprendizagem, sendo esta produção um passo<br />

decisivo para encarar o conhecimento como bem a ser construído por<br />

meio da obtenção de respostas a questionamentos voltados para a<br />

formação docente, de um ser competente, conscientemente inacabado<br />

e, sobretudo, com uma visão de mundo crítica, que permita um papel<br />

diferenciador para intervenção e construção da relação educador –<br />

educando, partindo da tomada de consciência de que “ensinar exige<br />

compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”<br />

(FREIRE, 2002, p. 110).<br />

A LEITURA NA FUNDAMENTAÇÃO DA CONSTRUÇÃO E DO<br />

ESTABELECIMENTO DO CONHECIMENTO E DA CRÍTICA<br />

A leitura é o sonho, o desejo revelador do sentido do mundo<br />

que se inicia culturalmente em nossa sociedade desde o ingresso nas<br />

primeiras séries escolares. O aprender a ler fascina as crianças pela<br />

ansiedade dessa descoberta, motiva os jovens na busca pelo<br />

conhecimento e informação e entusiasma os mais velhos, aos quais<br />

não foi dado o direito de passar pela educação escolar; e, por isso, são<br />

iludidos a crer na sua falta de capacidade para a leitura.<br />

Essa ligação puramente mecanicista da leitura com o simples<br />

ato de descodificação de signos ou de devoramento acrítico de enormes<br />

conteúdos, ainda que por mais conceituados sejam seus autores, já<br />

fora alertada por pesquisadores como Luckesi et al. (2001), Freire (2000,<br />

2001, 2002) e muitos outros.<br />

É necessária uma ação educativa no sentido de desmistificar a<br />

dimensão e a importância da leitura e, sobretudo, a competência e o<br />

poder dos leitores nos desdobramentos das análises, não somente de<br />

textos escritos, mas também interpretando e, verdadeiramente, lendo<br />

as circunstâncias do nosso cotidiano, através da leitura crítica do<br />

mundo em que se vive, ao qual se pode chamar de cenário da própria<br />

existência humana. Sendo assim, o pano de fundo, no qual,<br />

indiscutivelmente, irá refletir as ações e posturas sociais e pedagógicas<br />

assumidas. Essa descoberta da leitura se reflete na compreensão de<br />

que “a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico<br />

do ser humano, porque ela nada mais é do que um ato de compreensão<br />

do mundo, da realidade que nos cerca e em meio à qual vivemos”<br />

(LUCKESI et al, 2001. p. 122).<br />

Esse exercício constante da leitura é próprio do ser humano, é<br />

uma capacidade desenvolvida através da condição pensante da espécie<br />

humana; desenvolvendo-a pode-se estar compreendendo a dimensão<br />

e o papel do ato docente, não somente como construção do<br />

conhecimento didático, mas sim, como forma de revelar a<br />

potencialidade de intervenção no mundo através das atitudes e<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


James Figueiredo da Silva<br />

posturas que forem assumidas.<br />

Aprender a ler e ensinar a ler são, portanto, tarefas<br />

importantíssimas para o estabelecimento da construção crítica do<br />

conhecimento no processo educativo. Freire (2002) traz orientações<br />

sobre as competências docentes nos seus escritos quanto à exigência<br />

da pesquisa como preparação constante e infinda do educador. Para<br />

ele, o conhecimento deve ser compreendido como processo evolutivo<br />

e contínuo, fruto de dedicação, estudo e da pesquisa, afirmando que<br />

“ensinar inexiste sem aprender...” (FREIRE, 2002, p. 26).<br />

O espírito pesquisador é indiscutivelmente indissociável da<br />

figura do educador. O educador-pesquisador não pode ser encarado<br />

como um modelo, mas sim, como uma prática cotidiana e<br />

indispensável para o conhecimento crítico, coerente à sua prática<br />

humana.<br />

Essa concepção da leitura transporta sua análise ao prisma<br />

da informação e do conhecimento. Nessa dimensão, percebe-se que<br />

a leitura do mundo precedendo à da palavra, e esta leitura, por sua<br />

vez, depreendendo a própria leitura do mundo, estabelece a dialética<br />

na práxis educativa como no processo pedagógico da ação-reflexãoação.<br />

Essa compreensão não pode ser intimidada ao puro<br />

depreendimento de seqüências ideológicas, mas sim como na visão<br />

de Morin (2002), que encara essa percepção no foco da responsabilidade<br />

individual e global do ser humano, e especificamente dos<br />

agentes da educação.<br />

Morin (2002) aborda a importância da compreensão humana<br />

no processo educativo. Perceber-se humano e parte deste processo<br />

histórico, criador e destruidor, que traz para o homem a<br />

responsabilidade de criar a história através da compreensão do<br />

conhecimento; esse é o propósito da missão espiritual da educação<br />

defendida por Morin (2002), que enaltece a responsabilidade do<br />

educador como mediador desta leitura do mundo:<br />

Educar para compreender a matemática ou uma disciplina determinada é<br />

uma coisa; educar para a compreensão humana é outra. Nela encontra-se a<br />

missão propriamente espiritual da educação: ensinar a compreensão entre<br />

as pessoas como condição e garantia da solidariedade intelectual e moral da<br />

humanidade (MORIN, 2002, p. 93).<br />

Nesse cenário, é preciso a noção clara da relação entre a<br />

educação e o conhecimento e, a partir desse, o conhecimento, o seu<br />

estabelecimento por meio da criticidade. Cortella (2001) fala da estreita<br />

relação do conhecimento com a história humana e aborda a sua<br />

complexa dimensão indissociável da condição natural enquanto seres<br />

humanos, principalmente da construção do conhecimento nos<br />

vínculos epistemológicos e políticos, compromissados com a ruptura<br />

do pessimismo ingênuo que aborda a educação com neutralidade:<br />

(...) o bem imprescindível para nossa existência é o Conhecimento, dado que ele,<br />

por se constituir em entendimento, averiguação e interpretação sobre a realidade,<br />

é o que nos guia como ferramenta central para nela intervir; ao seu lado se coloca<br />

a Educação (em suas múltplas formas), que é o veículo que o transporta para ser<br />

produzido e reproduzido (CORTELLA, 2001, p. 45, grifos do autor).<br />

Sem dúvida alguma, esse tema interage, de maneira magnífica,<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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52<br />

A importância da leitura na construção do conhecimento e da criatividade docente e discente<br />

no processo ensino–aprendizagem, nas figuras do educador e do<br />

educando, pois Luckesi et al. (2001), Demo (2002) e Hühne (2002)<br />

estabelecem a correlação da construção do conhecimento crítico pela<br />

leitura, no papel diferencial a ser desempenhado pelo educador e pelo<br />

educando, como sujeitos ou objetos nas suas atividades dialéticas na<br />

educação.<br />

Educador e educando serão objetos, caso se mantenham na<br />

ingenuidade e neutralidade combatidas por diversos educadorespesquisadores,<br />

conforme Freire (2000, 2001, 2002) e Cortella (2001).<br />

Por conseguinte, serão sujeitos se extrapolarem os limites da leitura<br />

com o compromisso científico orientado por Salomon (1997), Bagno<br />

(2002) e Japiassu citado por Hühne (2002), emergindo por sobre e<br />

indo além do texto, atingindo uma dimensão de leitura do mundo e<br />

leitura da palavra voltada para a construção do conhecimento e da<br />

criticidade docente e discente, de maneira, sobretudo científica, ética<br />

e decente.<br />

Com essa análise, não se pode classificar qualitativamente,<br />

em escala de importância, a ponto de sobrepor a leitura do mundo ou<br />

a leitura da palavra, uma em relação à outra. É preciso, portanto,<br />

compreender a dialética criadora do conhecimento crítico.<br />

A primeira leitura – a leitura do mundo – e que precede a leitura<br />

da palavra, precisa ser voltada para a descoberta, para a análise da<br />

realidade em que se encontram os fatos estudados. Conhecer a<br />

realidade para nela poder intervir, criando, recriando e transformando<br />

indivíduos em cidadãos, informação em conhecimento e posturas em<br />

atitudes críticas.<br />

Ao realizar a leitura da palavra, o leitor deve estabelecer uma<br />

relação de diálogo com o autor, com o texto e suas idéias. É essa<br />

leitura que tornará possível o processo de comunicação entre as várias<br />

descobertas e levará para além das fronteiras os conhecimentos<br />

construídos em variadas épocas e situações. Fazer a leitura da palavra<br />

refere-se não só ao seu depreendimento, mas à compreensão maior<br />

das informações contidas no texto e que, através da análise crítica, o<br />

leitor poderá intervir e transformar essa informação em conhecimento,<br />

pois a sua postura, enquanto sujeito diante do texto, lhe concede a<br />

posição de criador de conhecimento e criticidade.<br />

Com o estabelecimento desse processo, a leitura da palavra<br />

remete novamente à leitura do mundo, como um processo infindo e<br />

contínuo de formação e construção docente, o que distancia os<br />

educadores da condição de repetidores de formulações já postuladas.<br />

Por conseguinte, é esse processo que os aproxima da condição de<br />

descobridores e reveladores do conhecimento crítico e da educação<br />

libertadora por meio do estudo, da reflexão e da compreensão pela<br />

leitura.<br />

A preocupação com a descoberta e construção do verdadeiro<br />

ato de ler revela a necessidade de agir com cuidado e responsabilidade<br />

na ação cotidiana da educação, pois, atuando como educadores –<br />

pesquisadores, deve-se estar imbuído para construção do novo e do<br />

inédito, na educação, e que se mostra diferente a cada dia a partir da<br />

reflexão da ação da prática educativa. A atenção necessária, ao se<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


James Figueiredo da Silva<br />

abordar o conhecimento como verdade já concebida, deve estar<br />

presente nessa ação pesquisadora dos educadores para que se tenha<br />

a clara percepção de que<br />

face à verdade, devemos padecer de profunda insegurança. [...] Ao invés de<br />

vivermos das evidências e das teorias certas, como se fôssemos proprietários<br />

da verdade, precisamos viver de aproximações da certeza e da verdade. Porque<br />

somos seus pesquisadores, e não seus defensores. A este respeito torna-se<br />

imprescindível uma opção crítica (JAPIASSU apud HÜHNE, 2002, p. 32).<br />

Essa perspectiva interage com a contínua e infinda formação<br />

docente que, a partir do posicionamento crítico para construção do<br />

conhecimento na dialética docente–discente, exige uma reflexão sobre<br />

a sua ação na prática educativa.<br />

Essa reflexão abrange duas dimensões. A primeira, uma<br />

dimensão retrospectiva, por dirigir um novo olhar sobre a prática e<br />

sobre a reflexão realizada; a segunda, uma dimensão prospectiva, no<br />

sentido de compreensão e de reconstrução de uma nova teoria e uma<br />

nova abordagem sobre a leitura e a sua importância para a construção<br />

do conhecimento e da criticidade.<br />

LEITURA – CONHECIMENTO – CRITICIDADE: PRINCÍPIOS<br />

ESSENCIAIS PARA O ESTABELECIMENTO DA PRÁXIS EDUCATIVA<br />

É notório que a educação é parte integrante do complexo<br />

conjunto da sociedade. Por outro lado, seria incoerente reservar à<br />

educação a missão singular de solucionar todos os problemas sociais.<br />

Uma educação libertadora reconhece o seu papel como engrenagem<br />

no sistema social e compreende o conhecimento como conquista<br />

cidadã a ser construído por meio do exercício contínuo da leitura –<br />

do mundo e da palavra – e da criticidade como postura e atitude<br />

reveladora do real sentido da atividade docente.<br />

A construção do conhecimento pela leitura crítica não é<br />

obrigação específica e genuína da escola, mas, é sua competência e,<br />

também dos educadores, essa relação como princípio imprescindível<br />

para o estabelecimento da práxis educativa.<br />

A decorrência da leitura da palavra, a partir da leitura do<br />

mundo, é abordada por Freire (2002), Cortella (2001) e outros. Porém,<br />

a relação entre conhecimento e criticidade está mais intimamente<br />

ligada a um processo dialético, recíproco e estrutural. O<br />

posicionamento e a atuação crítica são salutares no processo de<br />

construção do conhecimento; este – o conhecimento – por sua vez,<br />

conduz e contribui para a dimensão desta mesma atuação crítica.<br />

O ato da crítica é um juízo, pois, não se pode considerar a<br />

crítica pela crítica, apenas como pensamento contrário à determinada<br />

exposição de idéias; é preciso que haja conhecimento sobre a questão<br />

para o estabelecimento do debate e do posicionamento crítico. A crítica<br />

é um instrumento de grandeza imprescindível na construção do conhecimento.<br />

Através da sua ação e concebendo-a como ato intelectual,<br />

consegue-se compreender as idéias implícitas no texto ou no discurso.<br />

Sobre o pensar e agir crítico, verifica-se que<br />

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54<br />

A importância da leitura na construção do conhecimento e da criatividade docente e discente<br />

(...) a tarefa da crítica não é trazer verdades para se opor à falsidade; mas<br />

realizar um trabalho interpretativo com relação a pensamentos e discursos<br />

dados, para explicitar o implícito ou fazer falar seu silêncio, de tal modo que a<br />

abertura de um novo campo de pensamento através da crítica revela a<br />

descoberta de uma obra de pensamento, enquanto a destruição da coerência<br />

e da lógica do que foi explicitado revela que descobrimos uma ideologia. [...]<br />

Obviamente, tem-se medo da crítica, pois se a crítica não traz conteúdos<br />

prévios, mas é descoberta de conteúdos escondidos, então ela é muito perigosa<br />

(...) (CHAUÍ apud HÜHNE, 2002, p. 20).<br />

Em meio a essa indissociável ação tríplice – da leitura, do<br />

conhecimento e da criticidade – é fundamental pontuar o conhecimento<br />

também sob os aspectos filosóficos e epistemológicos. Seguindo o<br />

raciocínio e o estudo de Garcia (apud HÜHNE, 2002), e, partindo do<br />

francês “connaissance”, descobre-se o conhecimento significando<br />

nascer (naissance) com (com). Decorre-se daí a condição humana de<br />

processar e construir conhecimento que, naturalmente, determina a<br />

diferenciação dos homens sobre as demais espécies.<br />

Construir o conhecimento crítico deriva da ação humana de<br />

descoberta e interpretação da sua realidade e de seu reconhecimento<br />

nessa interpretação – por meio da dialética da leitura do mundo e<br />

leitura da palavra – fazendo “nascer” a cada instante uma nova abordagem<br />

que, à luz da epistemologia, faz com que os homens se percebam,<br />

se conheçam e se elaborem, determinando o conhecimento como uma<br />

forma de estar no mundo, reconhecendo a sua importância nesse<br />

processo contínuo de construção. “E o processo do conhecimento<br />

mostra aos homens que eles jamais são alguma coisa pronta na medida<br />

em que estão sempre nascendo de novo, quando têm a coragem de se<br />

mostrarem abertos diante da realidade” (GARCIA apud HÜHNE, 2002, p. 34).<br />

Esses princípios são essenciais na missão social e profissional<br />

da educação, não apenas sob os aspectos filosóficos e epistemológicos,<br />

mas, sobretudo, nos aspectos históricos e políticos, quando se adota<br />

posicionamentos e posturas, enquanto educadores, voltados à<br />

libertação do educando e para a sua transformação em cidadãos críticos<br />

que lêem o mundo e que lêem a palavra, construindo o conhecimento<br />

de maneira a contribuir para o estabelecimento da práxis educativa.<br />

ATITUDE DOCENTE - UM CAPÍTULO À PARTE<br />

O papel social da escola é uma problematização que tem<br />

despertado interesses e debates por parte dos profissionais da<br />

educação, quanto ao seu funcionamento, suas ferramentas, seus<br />

instrumentos e, principalmente, quanto à sua eficiência para que se<br />

possa atingir as suas proposições pedagógicas quando comparadas<br />

aos anseios sociais da comunidade atendida pela escola.<br />

Sobre esse aspecto, é muito comum e consensual o<br />

apontamento das falhas do processo educacional, das deficiências da<br />

escola, dentre outras ponderações institucionais, contudo, não se<br />

apresenta o mesmo consenso quando se trata de apontar culpados e<br />

responsáveis pelos fracassos da escola e pelo baixo rendimento dos<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


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alunos. Sempre há direcionamentos diversos a respeito dessas<br />

responsabilidades, explicitando através do acusamento múltiplo o<br />

descontentamento com a escola.<br />

Os vários culpados citados nessas problematizações não<br />

podem sobre medida eximir-se de culpa alguma, uma vez que<br />

indiscutivelmente estão ligados ao funcionamento da escola, pois<br />

comumente citam-se os pais, os professores, os próprios alunos, as<br />

leis que regimentam a educação e a escola, a condição socioeconômica<br />

da família dos alunos, além da própria escola, como se essa tivesse<br />

vontade e direcionamento próprios, independente de demais fatores.<br />

Este envolvimento e dependência da escola com o meio social não<br />

podem ser negados, pois é sabido que “a escola não funciona desse<br />

jeito, por vontade própria. [...] A escola não passa de uma peça numa<br />

engrenagem ainda maior que é a sociedade” (CECCON et al, 1999, p. 79).<br />

Essa interação dependente com a sociedade não pode transpor<br />

para a escola a responsabilidade unilateral, neste processo de<br />

construção do conhecimento e estabelecimento dialético da relação<br />

ensino-aprendizagem. Se concebido assim, a escola seria colocada<br />

numa condição, que segundo a afirmação de Cortella (2001), é<br />

vocacional e salvadora na sua missão, conduzindo desta maneira a<br />

atuação da escola para uma concepção de otimismo ingênuo que,<br />

sem dúvida alguma, valoriza o papel e a importância da inserção<br />

social da escola, mas ingenuamente lhe confere um poder absolutista<br />

como responsável pela solução dos problemas sociais que, acima de<br />

tudo, não foram por ela criados.<br />

Encarar a educação como objeto vivo e em constante mutação<br />

e interação com a sociedade, é o paradigma a ser quebrado por muitos<br />

teóricos que vislumbram o processo educacional pré-determinado<br />

por currículos e conceitos, dispostos em uma seqüência ora lógica,<br />

ora caótica e estereótipa aos alunos envolvidos diretamente no<br />

processo ensino-aprendizagem.<br />

A leitura é o instrumento que estará sempre presente na<br />

prática e no cotidiano do professor ao longo da sua atividade docente.<br />

O foco variável é justamente a dimensão, a importância que o professor<br />

irá conceder à leitura no processo de construção do conhecimento<br />

crítico do aluno e na sua própria e contínua formação.<br />

No ambiente da sala de aula, o professor precisa reconhecer a<br />

sua autonomia como mediador do processo educativo e elaborar as<br />

estratégias para a sua prática docente à sua maneira para que, através<br />

da leitura, consiga extrapolar o sentido crítico da sua ação docente.<br />

Essa tomada de atitude se dá mediante a descoberta da<br />

responsabilidade criadora e transformadora de cidadãos, de<br />

conhecimento e da criticidade capaz de intervir no meio social, que<br />

compete ao educador na sua atividade profissional, desde que ele<br />

reconheça na sua atitude docente as noções direcionais da sua prática.<br />

É preciso ter claro nas mentes dos educadores que o ato de educar<br />

para libertação deve estar intrinsecamente ligado aos seus ideais de<br />

vida.<br />

Com que objetivo se vive? Para que se ensina? O compromisso<br />

e a competência são valores indissociáveis à análise desses<br />

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56<br />

A importância da leitura na construção do conhecimento e da criatividade docente e discente<br />

questionamentos.<br />

Essa abordagem não é inédita, nem tão pouco recente. Dilemas<br />

são constantes nas práticas pedagógicas de vários educadores, tendo<br />

em vista questões como o para que ensinar e o como ensinar. Gil Neto<br />

(1996) debate esses conceitos em sua obra acrescendo-os com outro<br />

questionamento importantíssimo para o planejamento pedagógico. O<br />

seu posicionamento baseia-se na afirmação de que, “(...) é oportuno<br />

retomar aqui e agora a questão do para quê e para quem vamos<br />

ensinar o Português. E daí a sua decorrência: o como iremos<br />

ensinar”(GIL NETO, 1996, p. 18, grifo do autor).<br />

Essa parece ser a chave para os demais desdobramentos, não<br />

só no que compete ao ensino da Língua Portuguesa como na prática<br />

da docência em sua plenitude, pois uma vez identificado o seu público<br />

estudantil, e, principalmente, os seus anseios e dificuldades, diante<br />

da aprendizagem, já se estabelecem de fato os rumos para a composição<br />

das práticas pedagógicas e dos conteúdos a serem empregados<br />

– o quê e o como.<br />

Cabe, porém, uma atenção especial no que diz respeito às<br />

dificuldades identificadas na comunidade a ser trabalhada, para que<br />

não se crie uma expectativa negativa quanto às potencialidades dos<br />

alunos, transmitindo esse sentimento de forma inconsciente e não<br />

intencional (SOARES, 1997).<br />

A busca incessante por algo novo, na relação com os alunos no<br />

processo educacional, é o anseio que deve inquietar todo o profissional<br />

de docência em qualquer área do magistério, para que haja a ratificação<br />

da contribuição da práxis, com a formação de indivíduos dotados de<br />

uma criticidade ativa e dinâmica, para a compreensão do contexto<br />

maior de que os períodos compostos por subordinação não se dão apenas<br />

nos livros, mas estão presentes no plano extenso da composição da<br />

sociedade que delimita e determina os caminhos do ensino tradicional.<br />

Por fim, é preciso a vigília constante em prol da escola, dos<br />

educandos, da própria educação e, acima de tudo, pela cidadania<br />

crítica, de modo que a atuação do educador, quer de Língua Portuguesa,<br />

quer das ciências exatas, quer de outros ofícios do magistério seja<br />

transformadora e que consiga atingir a sua plenitude de competência<br />

através dos conceitos de Freire (2002, p. 110), com a percepção de<br />

que “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de<br />

intervenção no mundo”:<br />

Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar<br />

certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir<br />

minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos.[...] Tão importante<br />

quanto ele, o ensino dos conteúdos, é o meu testemunho ético ao ensiná-los.<br />

É a decência com que o faço (FREIRE, 2002, p. 116).<br />

Para o exercício desta tomada de atitude educacional de forma<br />

libertária e autônoma, como prega Freire (2002), faz-se necessário<br />

que, em determinados momentos, sejam adotados, na prática docente,<br />

posturas, atitudes e compromissos críticos que só se tornam possíveis<br />

com a ação simples e completa do papel do educador: a ousadia, o<br />

comprometimento e a inovação .<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


REFERÊNCIAS<br />

James Figueiredo da Silva<br />

BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 9. ed. São<br />

Paulo: Edições Loyola, 2002.<br />

CECCON, Claudius et al. A vida na escola e a escola da vida. 34. ed.<br />

Petrópolis: Vozes, 1999.<br />

CORTELLA, Mário Sérgio. A escola e o conhecimento: fundamentos<br />

epistemológicos e políticos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

DEMO, Pedro. Educação & conhecimento – relação necessária,<br />

insuficiente e controversa. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se<br />

completam. 39. ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

_______. Política e educação. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001.<br />

_______. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática<br />

educativa. 23. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.<br />

GIL NETO, Antônio. A produção de textos na escola. 4. ed. São Paulo:<br />

Edições Loyola, 1996.<br />

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. – Pontos & contrapontos: do<br />

pensar ao agir em avaliação. 5. ed. Porto Alegre : Mediação, 1998.<br />

_______. Avaliação – mito & desafio: uma perspectiva construtiva.<br />

29. ed. Porto Alegre: Mediação, 2000.<br />

HÜHNE, Leda Miranda (Org.). Metodologia científica: cadernos de<br />

textos e técnicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2002.<br />

ITERRA – Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma<br />

Agrária. Paulo Freire – um educador do povo. 2. ed. Veranópolis :<br />

Gráfica e Editora Peres, 2001.<br />

LUCKESI, Cipriano et al. Fazer universidade: Uma proposta<br />

metodológica. 12. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2001.<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.<br />

5.ed. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 3. ed. São<br />

Paulo: Martins Fontes, 1997.<br />

SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 15.<br />

ed. São Paulo: Ática, 1997.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central.<br />

Normalização e apresentação de trabalhos científicos e<br />

acadêmicos: guia para alunos, professores e pesquisadores da UFES.<br />

5. ed. rev. e ampl. Vitória: A Biblioteca, 2001.<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Biblioteca Central.<br />

Guia para normalização de referências: NBR 6023/2000. Vitória: A<br />

Biblioteca, 2001.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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58<br />

A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO<br />

CARACTERÍSTICA DO PLANEJAMENTO DE ENSINO<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Jessyluce Cardoso Reis¹<br />

O presente artigo versa sobre a importância da mediação da<br />

aprendizagem , a partir dos procedimentos metodológicos presentes<br />

no planejamento de ensino , face às necessidades da utilização de<br />

uma prática pedagógica, que corrobore avanços significativos nos<br />

aspectos relacionados ao conhecimento . A proposta de se trabalhar<br />

a mediação da aprendizagem, a partir do planejamento de ensino,<br />

tem como aparato teórico a Experiência da Aprendizagem Mediada<br />

do psicopedagogo Reuven Feuerstein, que preconiza uma concepção<br />

de educação onde a ação mediadora do professor deva ser previamente<br />

elaborada com base em critérios mediacionais, com vistas à superação<br />

dos mediados frente aos desafios, sendo, portanto, o objetivo deste<br />

trabalho: analisar como se dá a ressignificação da aprendizagem<br />

numa aula mediada; avaliar a ressonância da prática pedagógica<br />

trabalhada a partir do planejamento de ensino, que tenha como<br />

característica a mediação da aprendizagem.<br />

Palavras-chave: mediação, planejamento de ensino, aprendizagem.<br />

ABSTRACT<br />

The present article turns on the importance of the mediation of the<br />

learning, from the metodologics procedures gifts in the planning of<br />

education, face to the needs of the practical use of one pedagogical<br />

one, that corroborates significant advances in the aspects related to<br />

the knowledge. The proposal of if working the mediation of the learning<br />

from the planning of education, have as theoretical apparatus the<br />

Experience of the Learning Mediated of the psicopedagogo Reuven<br />

Feurestein where it praises a conception of education where the<br />

mediating action of the professor must previously be elaborated on<br />

the basis of mediacionais criteria with sights the mediated overcoming<br />

of the front to the challenges.<br />

Key Words: mediation, planning of education, learning.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Estudos acerca das questões relacionadas à função do<br />

planejamento no contexto pedagógico, ainda suscitam discussões no<br />

espaço educativo, dada a concepção conservadora de alguns<br />

educadores em relação ao ato de planejar. Em muitos casos, a<br />

resistência em repensar o planejamento parte de questões relacionadas<br />

¹Jessyluce Cardoso Reis é especialista em Docência Superior, professora da FASB e<br />

coordenadora do curso de Pedagogia e Normal Superior da FASB


Jessyluce Cardoso Reis<br />

à finalidade a que este foi submetido durante muito tempo: o de<br />

documento meramente burocrático, desvinculado da intervenção<br />

pedagógica.<br />

Essa questão mantém-se desafiando a perspectiva de uma<br />

educação que promova a mudança no espaço pedagógico. Ë comum<br />

encontrarmos educadores que ainda trabalham o planejamento de<br />

ensino desarticulado da realidade, onde a mediação da aprendizagem<br />

não representa nenhuma relevância do ponto de vista metodológico.<br />

Como conseqüência desse pensamento, o ato de planejar o<br />

ensino tornou-se sinônimo de desconforto e inquietude para os<br />

professores que não o concebem como fator relevante para a práxis<br />

pedagógica; sendo o referido processo visto apenas como um recorte<br />

da ação docente que pouco tem a contribuir para a educabilidade<br />

cognitiva do sujeito do conhecimento.<br />

Considerando a complexidade dinâmica do aprendizado em<br />

qualquer nível em que o ser humano se encontre, é que propõe-se<br />

estreitar a relação entre o conhecimento e o aprendiz, a partir de<br />

critérios de mediação elencados no planejamento de ensino, os quais<br />

serão trabalhados de acordo com a especificidade de cada situação<br />

de aprendizagem, em que a mediação funcionará como um mecanismo<br />

de intervenção pedagógica através da ação mediadora do professor.<br />

Nesse contexto, inserem-se as crenças do professor, no sentido<br />

de considerar o planejamento de ensino como sendo a base de<br />

veiculação da ação docente, onde a qualidade e a intensidade da<br />

interação mediada serão previamente estabelecidas, de acordo com o<br />

nível de complexidade dos conteúdos a serem trabalhados. Afinal, o<br />

papel do professor /mediador , transcende a simples função de alguém<br />

que ensina. Como salienta Feuerstein (1994, p. 6) “é a figura do<br />

mediador que intervirá, que induzirá à análise, à dedução e à<br />

percepção. Ele transmitirá as motivações e estratégias. Ajudará a<br />

interpretar a vida”.<br />

Aqui a aprendizagem é compreendida como um processo de<br />

auto- plasticidade, onde o professor/mediador tem muito a contribuir<br />

a partir de ações antecedidas no planejamento de ensino.<br />

Ao compreender o ser humano como um organismo biológico e<br />

sociocultural que necessita interagir com o ambiente para estabelecer<br />

novas teias de conhecimento e, conseqüentemente, a modificabilidade,<br />

o mediador da aprendizagem perceberá a necessidade de planejar<br />

categoricamente a ação docente, considerando que a intervenção<br />

educacional pode transformar significativamente as limitações<br />

causadas pela falta de mediação. Nessa perspectiva, é necessário<br />

compreender que o planejamento servirá de plataforma científica que<br />

sustentará a crença do professor, uma vez que este sistema de crenças<br />

é fator determinante no ato de educar. Assim sendo, ao planejar o<br />

ensino, o docente estabelecerá critérios de mediação para as possíveis<br />

ações frente aos desafios pertinentes à prática pedagógica.<br />

A forma como o aprendiz é conduzido frente ao conhecimento e<br />

como está exposto aos estímulos é, sem dúvida, fator decisivo no<br />

processo de aprendizagem, ocasionando diferenças acentuadas no nível<br />

de cognição de uma pessoa para outra, o que desencadeará os<br />

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60<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

problemas de aprendizagem , os quais nem sempre a escola encontra<br />

resposta. Sobre essas diferenças, argumenta Feurestein (1990):<br />

Há grande diferença entre as pessoas, assim no grau ao qual elas se tornam<br />

transformadas e modificadas, por meio da assimilação de novos estímulos. E,<br />

ainda mais, há massas de indivíduos que são totalmente não-afetados pela<br />

exposição ao estímulo, isto é , são indivíduos não-modificados em suas<br />

respostas em seus comportamentos.<br />

As respostas para superação de tais diferenças podem partir<br />

de uma concepção docente, onde os mecanismos pedagógicos sejam<br />

previamente planejados e executados de forma sistêmica, considerando<br />

como eixo norteador do processo as trocas entre o educando<br />

e o educador, geridas na mediação da aprendizagem.<br />

Nesse conjunto, o planejamento ocupa um lugar ímpar na<br />

organização da prática docente, que consiste em prever, orientar e<br />

incentivar a aprendizagem dos alunos, sendo, portanto, parte integrante<br />

da dinâmica pedagógica que precisa ser revitalizada, por<br />

compreender também a planificação da ação humana, sem a qual o<br />

conhecimento não acontece. Assim sendo, assegurar a racionalização<br />

e coordenação do trabalho pedagógico, a partir da previsão das<br />

ações docentes com base em critérios de mediação previamente<br />

analisados, evitará a rotina e a improvisação, além de garantir a<br />

qualidade e coerência do trabalho docente. Como explica Lucena e<br />

Sales (2000):<br />

Como em qualquer outra instância da vida, o trabalho docente precisa ser<br />

planejado com clareza, como se fosse um mapa que tem a função de direcionar,<br />

orientar as atividades do professor. Compreendendo dessa maneira, o professor<br />

nunca precisará de carbono para o planejamento, porque ele é seu e não do<br />

seu diretor, nem supervisor . É um instrumento de competência do seu<br />

trabalho, um requisito de organização.<br />

Em suma, o presente artigo trata de um trabalho que vem sendo<br />

realizado na disciplina de Didática II com os alunos-estagiários das<br />

séries iniciais do Ensino Fundamental do curso de Pedagogia, da<br />

Faculdade do Sul da Bahia - FASB/ Instituto Superior de Educação<br />

do Sul da Bahia – ISESB e objetiva apresentar novas perspectivas<br />

para o processo ensino-aprendizagem a partir do planejamento de<br />

ensino com base nos estudos sobre a Experiência da Aprendizagem<br />

Mediada, feitos pelo psicopedagogo Reuven Feuerstein, que considera<br />

a mediação como fator indispensável em qualquer situação de<br />

aprendizagem.<br />

O PROCESSO DE MEDIAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA DA<br />

HUMANIDADE<br />

As contribuições dos estudos realizados sobre a importância<br />

da mediação, ao longo da história da humanidade, é um fator a ser<br />

considerado no processo ensino-aprendizagem, por caracterizar a<br />

mediação entre as comunidades, como sendo a principal causa da<br />

evolução. Foi da capacidade de se comunicar e manifestar sentimentos,<br />

que os seres humanos passaram a explorar seu poder criativo, sua<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Jessyluce Cardoso Reis<br />

capacidade de pensar e transformar o mundo, imprimindo significados<br />

através das suas descobertas .<br />

Dotados desse poder de transformar e criar através das trocas<br />

estabelecidas no contexto sociocultural, o homem provocou mudanças<br />

profundas e decisivas para a sociedade. A exemplo dos grandes marcos<br />

históricos, temos a revolução neolítica, provocada pela capacidade da<br />

produção coletiva, e agora nos defrontamos com a revolução do<br />

conhecimento, sendo esta última dotada de necessidades emergentes<br />

para o funcionamento da sociedade contemporânea – a necessidade<br />

de mediar e promover o conhecimento.<br />

Ao analisarmos diversos contextos históricos, fica claro que a<br />

me-diação não depende só da linguagem na qual a interação ocorre .<br />

O fato da pessoa agir só verbalmente não garante a mediação e,<br />

conseqüentemente, a aprendizagem. Vemos aí a necessidade que o<br />

ser humano teve e tem de criar estratégias de mediação que garantam<br />

o aprendizado , independente dos grupos étnicos, entidades culturais<br />

ou camadas socioeconômicas.<br />

Em Tebar (1994), vemos um exemplo clássico do processo de<br />

mediação da nossa cultura :<br />

O indígena que constrói uma canoa a partir de uma árvore caída pode não<br />

dizer nada a seus filhos, mas convidá-los para observar suas atividades. Sua<br />

intenção de passar aos filhos os objetivos de sua atividade aumentará o<br />

pensamento de representação deles e as observações das atividades que<br />

conduzem a esse objetivo os tornará capazes de dissociar os objetivos dos<br />

meios necessários para alcançá-los. As intenções do pai em mediar estão claras<br />

nas maneiras com as quais ele adapta suas atividades para torná-las visíveis,<br />

compreendidas e finalmente imitadas pelos seus filhos.<br />

Vê-se que a aprendizagem mediada por outro ser humano é<br />

indispensável na criação de pré-requisitos cognitivos, na medida em<br />

que o mediador humano assinala as possibilidades globais que se<br />

encontram na solução das situações que desafiam o homem ao longo<br />

do seu processo de sujeito aprendiz. Constituindo assim, a natureza<br />

do conhecimento, vivenciada pelas sociedades através das trocas estabelecidas,<br />

ou seja, mediadas. Como afirma Fonseca (2000) :<br />

A aprendizagem assim é compreendida como uma mudança de comportamento<br />

provocada pela experiência de outro ser humano e não meramente pela<br />

experiência própria e prática em si , ou pela repetição ou associação automática<br />

de estímulos e respostas.[...] Neste contexto, a aprendizagem humana não se<br />

explica ou esgota apenas pela integridade biológica dos genes e dos<br />

cromossomos , nem se limita a uma exposição direta a objetos, acontecimentos,<br />

atitudes e situações, mas emerge de uma relação indíviduo–meio que é<br />

mediatizada por outro indivíduo mais experiente , cujas práticas e crenças<br />

culturais são transmitidas às gerações futuras, promovendo zonas mais amplas<br />

de desenvolvimento cognitivo crítico e criativo.<br />

Noutras palavras, o desenvolvimento cognitivo do ser humano<br />

pauta-se no desenvolvimento cognitivo dos seus mediadores, sendo a<br />

aprendizagem, portanto, resultado do nível de interações socioculturais<br />

que o homem estabelece ao longo da sua vida, do contrário, ocorre a<br />

privação cultural que reflete nas disfunções cognitivas , ou seja,<br />

funções cognitivas pouco desenvolvidas, como pudemos observar em<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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62<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

alguns exemplos de privação cultural ocorridos ao longo da história<br />

da sociedade humana, como o caso das “duas meninas Amala e Kamala<br />

que foram descobertas em 1921, numa caverna da Índia, vivendo entre<br />

lobos. Ambas apresentavam hábitos alimentares diferentes dos nossos.<br />

Locomoviam-se apoiando nas mãos e nos pés, adotando a marcha<br />

quadrúpede. O presente caso nos mostra que o indivíduo isolado do<br />

processo de mediação humana, dificilmente vencerá os problemas<br />

decorrentes do meio no qual está inserido.<br />

Partindo deste princípio, observa-se que a aprendizagem não<br />

se restringe apenas ao processo individual, mas sociocultural que se<br />

situa no cerne das relações culturais, contribuindo para o<br />

desenvolvimento humano nas esferas psicológica , filosófica e<br />

antropológica. A história nos mostra que a mediação foi e continua<br />

sendo fator decisivo para o desenvolvimento humano, o conhecimento<br />

compartilhado de geração em geração, a exemplo das grandes descobertas,<br />

que serviram como base para novas descobertas.<br />

Diante de tais reflexões, urge fazer uma releitura da<br />

importância da mediação no processo ensino-aprendizagem, como<br />

pressuposto do nível significativo do conhecimento , a partir das<br />

condições e intenções metodológicas pautadas no planejamento de<br />

ensino.<br />

RETOMADA HISTÓRICA DO PLANEJAMENTO DE ENSINO<br />

O planejamento de ensino, por muito tempo, foi concebido como<br />

um documento para atender apenas às exigências burocráticas das<br />

instituições educacionais, portanto, descontextualizado da realidade<br />

social. Sendo valorizado ao longo da história apenas pela concepção<br />

técnica, onde o professor copia anualmente dos livros didáticos ou<br />

dos planos dos anos anteriores objetivos, conteúdos, recursos,<br />

estratégias e avaliação, repetindo a mesma receita para diferentes<br />

clientelas, com efeito, esse padrão de planejamento não estabelece<br />

um vinculo estreito com o aprendiz.<br />

Uma característica comum neste tipo de planejamento são as<br />

estratégias de ensino desvinculadas do propósito da ação reflexiva do<br />

aluno, ao contrário, embasado em procedimentos conteudistas, onde<br />

o professor é o provedor do conhecimento e o aluno um mero receptor<br />

de conhecimentos estéreos, desprovido de significados sociais ou<br />

mesmos emocionais, reduzido a um modelo mimético de educação .<br />

Mesmo sendo um aspecto relevante à vida humana em suas<br />

diversas dimensões , o ato de prever as ações pedagógicas, através do<br />

planejamento do ensino, até então não tinha sido incorporado como<br />

parte integrante do fazer pedagógico, caracterizando-se inclusive como<br />

um processo de desconforto no cotidiano docente, como afirma<br />

Theodoro (1993) citado por Lucena e Sales (2002) no texto Carbono<br />

para Planejamento, sobre o diálogo de uma professora iniciante na<br />

profissão com uma amiga:<br />

É sobre o maldito planejamento de ensino. Eu não sei por onde começar [...].<br />

– Lá na escola quem faz o plano é a Dona Chiquinha. Ela datilografa as cópias<br />

com carbono para facilitar. Imagine se eu vou perder tempo com isso. O diretor<br />

nem verifica: ele pega, dá uma olhada por cima e tranca na gaveta.<br />

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Por não atender às necessidades emergentes da educação<br />

contemporânea, esse modelo de planejamento vem sendo superado<br />

gradativamente pela perspectiva crítica do fazer pedagógico, que<br />

prioriza o aprendizado a partir das interações entre o sujeito que ensina<br />

e o sujeito que aprende, revelando-se como um processo dinâmico.<br />

Nessa concepção, o planejamento de ensino tem o papel fundamental<br />

de estabelecer a relação dialética entre o conhecimento e o contexto<br />

social, manifestando a ação transformadora a partir da mediação da<br />

aprendizagem, por compreender que a falta de mediação significativa<br />

e diversificada no processo de aprendizagem, mais especificamente<br />

no período da infância, provoca ressonâncias na vida adulta, como<br />

podemos constatar no exemplo:<br />

Todas as interações de aprendizagem se pode dividir em dois grupos:<br />

aprendizagem direta e aprendizagem mediada. A aprendizagem mediada por<br />

outro ser humano é indispensável para a criança dado que a ajuda a criar<br />

aqueles pré-requisitos cognitivos que logo fazem que a aprendizagem direta<br />

seja efetiva (FEUERSTEIN, 1990).<br />

Visando à superação dos obstáculos da existência humana,<br />

através da ação educativa consciente, é que se faz necessário repensar<br />

o planejamento a partir da ação mediada, onde a dialogicidade ganha<br />

relevância na revitalização da relação docente-discente.<br />

Vivemos hoje a era do conhecimento, portanto os rumos que<br />

envolvem o processo pedagógico mais precisamente o planejamento<br />

do ensino, deve primar pela articulação das diretrizes do trabalho<br />

docente às necessidades sociais e culturais emergentes, tendo como<br />

referencial a autonomia intelectiva e emocional elucidada a partir da<br />

ca-pacidade de abstração do sujeito.<br />

Mais do que um roteiro organizado das atividades didáticas, o<br />

planejamento de ensino, neste novo momento da educação, assume<br />

um papel genuinamente político e social no sentido de favorecer a<br />

ação-reflexão-ação da prática pedagógica, a ser manifestada pela ação<br />

mediadora do professor. Neste contexto, a aprendizagem mediada<br />

apresenta relevantes contribuições ao desenvolvimento sociocultural<br />

do homem, por compreender que o desenvolvimento cognitivo do<br />

mediador/professor é indissociável do desenvolvimento cognitivo do<br />

mediado/aluno. Como afirma Fonseca (2000):<br />

O desenvolvimento cognitivo de uma criança é inseparável do desenvolvimento<br />

cognitivo dos seus mediatizadores, sejam eles pais, médicos ou professores. A<br />

aprendizagem ocorre, conseqüentemente, num contexto social, na base de<br />

multimediações humanas.<br />

Inseridos num contexto social onde a instrumentalização da<br />

ação deve ser previamente analisada, com vistas à superação dos desafios<br />

decorrentes, quer seja do índice de problemas relacionados à deficiência<br />

de aprendizagem ou mesmo dos casos da inclusão escolar, o<br />

planejamento escolar tem, assim, nesta nova concepção de ensino,<br />

apresentado como guia de diretrizes que asseguraram o trabalho<br />

docente com base em princípios pré-estabelecidos, porém flexíveis, a<br />

serem desenvolvidos de acordo com o ritmo da mediação estabelecida<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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64<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

entre professores e educandos. De acordo com essa visão pedagógica,<br />

o planejamento assume uma concepção política pautada na valorização<br />

do conhecimento que o aluno traz consigo e na capacidade que o<br />

professor deve ter de planificar suas ações para mediar esse e outros<br />

conhecimentos.<br />

A MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO UM PROCEDIMENTO<br />

METODOLÓGICO A SER CONSIDERADO NO PLANEJAMENTO DE ENSINO<br />

Partindo deste resgate histórico do planejamento de ensino,<br />

temos necessidades emergentes a serem vencidas e convencidas pelo<br />

processo ensino-aprendizagem. Para tanto, é necessário que o<br />

planejamento de ensino assuma um caráter de pesquisa e reflexão<br />

das ações docentes, sendo característica fundamental à mediação, a<br />

ser desdobrada, através dos procedimentos metodológicos, como<br />

resposta aos objetivos a serem alcançados pelo professor.<br />

Vemos a mediação como elemento norteador da relação<br />

professor-aluno, por ser a sala de aula um espaço de promoção do<br />

conhecimento formal, e, sendo o ato de planejar a prévia da ação<br />

docente, faz-se necessário fazermos uma retrospectiva da sua<br />

ressonância na prática pedagógica nessa perspectiva histórica.<br />

Considerando que o desenvolvimento cognitivo do ser humano<br />

não é só resultado do processo de amadurecimento do organismo<br />

biológico , mas das interações que os mesmos estabelecem ao longo<br />

da sua vida, ao assumir o papel de mediador o professor utiliza-se de<br />

procedimentos metodológicos que possibilitem o mesmo a se interpor<br />

entre o aluno e o conhecimento. Dessa maneira, a modalidade de<br />

interação entre professor e aluno assume aspectos que vão desde a<br />

mediação gestual , cinética , expositiva, até a interação verbal , onde<br />

a eficiência da mediação não dependerá só do conteúdo, mas das<br />

condições metodológicas que incentivam a participação do aluno na<br />

construção desse conhecimento. Concordamos neste sentido com<br />

Feuerstein (2000) quando afirma que:<br />

O mediador ajuda a interpretar a vida criando no indivíduo disposições que<br />

influenciam no seu funcionamento de forma estrutural. O que influi é o modo<br />

como se ensina. Para saber como uma pessoa aprende, devemos saber como<br />

pensa o educador.<br />

O planejamento de ensino que prioriza a mediação como<br />

condição sine qua non, para a construção do conhecimento, traz, em<br />

seu cerne, elementos necessários à revitalização do espaço da sala de<br />

aula. A exemplo disso, temos as aulas contextualizadas, onde o aluno<br />

é protagonista do conteúdo científico a ser trabalhado, através da<br />

representação da sua história de mundo. Afinal, ao planejar as<br />

atividades pedagógicas, o professor tem que considerar em primeira<br />

instância os níveis antropológico e filosófico da clientela, direcionando<br />

os objetivos a serem alcançados através de um caráter dialógico que<br />

se manifesta pela qualidade da mediação. Ao assumir o papel de<br />

mediador, que seleciona, filtra, organiza, nomeia e dá significado ao<br />

mundo, possibilita a transcendência das ações, superando assim os<br />

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mecanismos tradicionais do ensino. Essas intenções, ao serem<br />

selecionadas previamente no planejamento de ensino, garantirão a<br />

eficiência e a flexibilidade da aprendizagem. Ao prever critérios de<br />

mediação que viabilizem o processo pedagógico, o professor-mediador<br />

proporcionará à cada indivíduo a realização das metas socioculturais<br />

da educação, e uma dessas metas é a preparação do sujeito para ser<br />

um aprendiz independente. Sendo que esses benefícios têm que se<br />

diferenciar tanto no conteúdo quanto nas ferramentas simbólicas que<br />

oferece a uma determinada cultura.<br />

Ressaltamos, porém, que os desafios aqui mencionados acerca<br />

do estigma do planejamento desvinculado da prática, ainda não foram<br />

superados. É comum, no dia-a-dia da coordenação pedagógica, nos<br />

diversos níveis de ensino, a resistência à sistematização do<br />

planejamento. Cremos que, em muitos casos, isso ocorre pelo<br />

desconhecimento das reais funções do planejamento para a prática<br />

pedagógica. Esse comportamento explica a cristalização da sala de<br />

aula que, por sua vez, reflete na evasão, repetência e ausência de um<br />

vínculo positivo entre os alunos e a escola.<br />

Acreditamos que o ato de planejar não pode ser desvinculado<br />

da vontade do professor em promover a mudança, a partir da<br />

participação efetiva da comunidade escola, mais especificamente do<br />

aluno, na recriação do espaço educativo. De acordo com as suas<br />

crenças na possibilidade de um fazer pedagógico transformador, o<br />

professor pode vencer as barreiras impostas pelas condições que,<br />

muitas vezes, são delegadas pelas políticas educacionais, como, por<br />

exemplo, a falta de recursos pedagógicos na rede pública de ensino, a<br />

partir da intensidade da mediação. Segundo Feuerstein (1990. p. 3):<br />

Somente se proporcionarmos uma experiência de aprendizagem mediada<br />

adequada, poderemos conseguir a realização das metas socioculturais da<br />

educação. E a preparação para que o sujeito se transforme num aprendiz<br />

independente.<br />

Como sinaliza Feuerstein, as interações entre o professor e o<br />

aluno são fatores determinantes no desenvolvimento cognitivo do<br />

sujeito. De acordo com essa concepção, a relação professor-aluno<br />

assume um caráter dialógico, superando o mecanismo tradicional do<br />

ensino.<br />

Considerar a mediação como característica fundamental a ser<br />

priorizada no planejamento de ensino, é considerar a própria natureza<br />

do desenvolvimento social, que só é possível pela interação humana.<br />

O professor, ao assumir o papel de mediador da aprendizagem, precisa<br />

agregar à sua prática elementos que o ajudem a compreender o<br />

ambiente dinâmico da sala de aula, o qual tem como dispositivo para a<br />

aprendizagem a curiosidade representada pelo nível de interesse que<br />

o educando manifesta face à mediação qualitativa adotado por cada<br />

mediador. Ao planejar critérios de mediação que viabilizem a relação<br />

interativa entre professor-aluno, o educador planeja a própria superação<br />

dos entraves comuns ao processo ensino-aprendizagem.<br />

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66<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

CRITÉRIOS UNIVERSAIS DE MEDIAÇÃO<br />

Na perspectiva de um modelo de educação que considere a<br />

interação das relações discente-docente, como elemento necessário e<br />

que, conseqüentemente, deva ser considerado a partir dos<br />

procedimentos metodológicos previamente elaborados no planejamento<br />

de ensino, assegura ao mediador a condição de uma educação<br />

preventiva ao trabalhar com critérios de mediação que facilitem o<br />

desenvolvimento cognitivo dos alunos, utilizando-os como condição<br />

para qualidade da aprendizagem mediada uma série de dez<br />

parâmentos universalmente utilizados nas mais diversas situações<br />

de aprendizagem, sendo portanto indispensáveis na elaboração dos<br />

procedimentos metodológicos do ensino:<br />

- Intencionalidade e reciprocidade;<br />

- Transcendência;<br />

- Mediação de significado;<br />

- Mediação de sentimento de competência;<br />

- Mediação da regulação e controle do comportamento;<br />

- Mediação de comportamento/compartilhamento;<br />

- Mediação da diferenciação individual e psicológica;<br />

- Planejamento dos objetivos;<br />

- Mediação do desafio;<br />

- Automodificação<br />

Segundo Feuerstein (1985), destes dez, os três primeiros,<br />

intencionalidade e reciprocidade e a mediação da transcendência e<br />

mediação de significado são condições necessárias para que se possa<br />

qualificar uma interação de mediação de aprendizagem. Estas três<br />

tidas como responsáveis pelo que todos os seres humanos têm em<br />

comum: a modificabilidade das estruturas cognitivas. Os outros<br />

parâmetros de mediação não são condições uniformemente necessárias,<br />

nem devem ser sempre presentes; porém ajudam na diversificação<br />

dos procedimentos metodológicos. Os primeiros três têm natureza<br />

universal e podem ser encontradas em todas as civilizações. Os outros<br />

refletem e são diretamente responsáveis pelo processo de diversificação<br />

da humanidade em termos de estilos cognitivos, sistemas de<br />

necessidades, motivação, tipos de habilidade dominadas e estrutura<br />

do conhecimento.<br />

Para melhor compreensão de como estes parâmetros de<br />

mediação se inserem no planejamento de ensino, cabe definir a<br />

manifestação dos mesmos através da ação do professor-mediador:<br />

Intencionalidade e reciprocidade<br />

Ao mediar a aprendizagem, o professor-mediador utiliza-se da<br />

intencionalidade quando orienta, selecionando, interpretando e<br />

focando a atenção do educando nos estímulos. Para esse critério, Kozulin<br />

(apud ASSIS, 2002) nos chama a atenção:<br />

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Todo ato educativo deveria ser seguido por uma proposta intencional por parte<br />

do educador. O educador deve transmitir intencionalmente aos seus mediados<br />

algo que ultrapasse o objeto da tarefa, buscando demonstrar uma forma de<br />

fazer, interpretar e transcender a tarefa em si mesma.<br />

Mediação de transcendência<br />

A intenção do professor de fazer com que o aluno se sinta<br />

competente, transcende o objetivo imediato da aquisição da habilidade<br />

e da competência. Ao fazer uso da ação multidisciplinar, o mediador<br />

desperta no educando a reflexão e o estabelecimento de relações entre<br />

a diversidade de fatos. O ato de transcender o conhecimento trata-se<br />

de ultrapassar um ato concreto e dotá-lo de uma significação cognitiva<br />

e afetiva, buscando processos regulares que superem o próprio<br />

conteúdo vivido.<br />

Mediação de significado<br />

A mediação de significado conduz o educando a encontrar a<br />

razão de ser dos conteúdos estudados , na medida em que a mediação<br />

está pautada na explicação dos fatos estudados de forma mais<br />

compreensiva. Na mediação de significado, reside toda transmissão<br />

mediada de valores , atitudes culturais e pessoais do mediador para<br />

com o mediado. É o fator da interação que mais mobiliza o aspecto<br />

afetivo, envolvendo toda a crença de mundo do mediador e do mediado.<br />

Segundo Assis (2002):<br />

A mediação de significado é a ponte entre o plano cognitivo e o plano afetivoemocional.<br />

Quando o mediador transmite significados ao mediado, não só dá<br />

a sua visão de mundo, mas também prepara o outro para que ele igualmente<br />

possa ter a sua própria visão de mundo, a sua própria interpretação.<br />

Assim, uma interação humana só é enriquecida quando é provida<br />

de significado.<br />

Mediação de sentimento de competência<br />

A necessidade de dotar o educando de competências adequadas<br />

a seu estágio de desenvolvimento, implica em torná-la capaz de<br />

aprender dados necessários para solucionar problemas. A mediação<br />

de competência oferece ao educando possibilidades de enfrentar certas<br />

situações, para isso é necessário que o mediador passe para o educando<br />

o sentimento de domínio, criando situações necessárias a partir do<br />

desenvolvimento da autoconfiança.<br />

O mediador tem o papel de preparar o mediado, instrumentalizálo,<br />

para fazer emergir o sentimento internalizado de competência.<br />

Mediação de auto-regulação e controle<br />

A regulação mediada cria flexibilidade e plasticidade para<br />

modificar o individuo no tocante à inibição e à iniciação. Ela acelera o<br />

comportamento por meio da orientação do individuo para a autoreflexão.<br />

A mediação de auto-regulação relaciona-se diretamente com<br />

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68<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

a metacognição, ou seja, a ação cognitiva do sujeito em pensar sobre<br />

a sua própria ação, implicando um controle de seus processos de<br />

funcionamento. A promoção desse controle é feita pelo mediador,<br />

que, em diversas instâncias, inibe fortemente a impulsividade e a<br />

resposta por ensaio e erro do mediado.<br />

Mediação de compartilhamento<br />

A mediação de comportamento compartilhado está relacionada<br />

com a interdependência mediador-mediado e com a de indivíduos<br />

em geral, o ato de compartilhar desenvolve a empatia por meio da<br />

interação social. Esse critério, de modo geral, desenvolve a capacidade<br />

do mediado de compartilhar, evocando o aspecto humanitário ao<br />

interagir suas experiências de vida.<br />

Mediação individual e psicológica<br />

A diferenciação individual e psicológica pode melhor ser desenvolvida<br />

por meio de processo de mediação, que é precedido e<br />

acompanhado por compartilhamento de comportamento, evitando<br />

assim os sentimentos de rejeição e abandono em relação ao espaço<br />

educativo. Aqui, o mediador deve enfatizar e questionar a posição do<br />

mediado frente ao meio em que vive, proporcionando reflexões que o<br />

remetem à própria singularidade.<br />

Planejamento de objetivos<br />

Mediar esse processo envolve encorajar e orientar o mediado<br />

para que defina o objetivo e estabeleça os meios, incluindo as metas<br />

necessárias, para alcançá-lo. Neste aspecto mediacional, o mediador<br />

induz sistematicamente a produção de representação antecipatória<br />

e a projeção das relações.<br />

Desafio<br />

A melhor maneira de se mediar o comportamento desafiador<br />

é permitir ao individuo que ele se depare com situações novas de<br />

uma forma gratificante. Para isso, cabe ao mediador encorajar o<br />

educando e evitar a superproteção do indivíduo frente a novas<br />

necessidades.<br />

Automodificação<br />

Otimizar a natureza da inteligência é o critério de mediação<br />

estabelecido para a automodificação. Acreditar na modificabilidade<br />

do ser humano é um fator indispensável ao processo ensinoaprendizagem,<br />

a conscientização do ser humano como modificável<br />

implica acreditar na imprevisibilidade e na superação das<br />

expectativas.<br />

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PROPOSTA DE ESTRUTURAÇÃO DO PLANO DE ENSINO DE AULA<br />

MEDIADA<br />

ESCOLA:<br />

CARACTERISTICA DA CLIENTELA:<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

OBJETIVOS<br />

CONTEÚDOS<br />

PROCEDIMENTOS<br />

METODOLÓGICOS<br />

CRITÉRIO DE<br />

MEDIAÇÃO<br />

RECURSOS<br />

REFERÊNCIAS:<br />

Jessyluce Cardoso Reis<br />

No modelo de planejamento de ensino proposto, o professormediador<br />

estabelecerá, de acordo com o conteúdo trabalhado , critérios<br />

de mediação que tenham uma estreita relação com os procedimentos<br />

metodológicos; ou seja, os critérios de mediação a serem selecionados<br />

devem contextualizar os procedimentos. Assim, o professor-mediador<br />

cria novas possibilidades de operacionalizar os objetivos a serem alcançados.<br />

O professor-mediador não pode perder de vista que, em<br />

uma aula independente da intensidade do conteúdo, dos objetivos<br />

propostos ou do tempo estipulado, para que o trabalho pedagógico<br />

seja significativo, devem ser utilizados os dez critérios de mediação<br />

propostos.<br />

A ressignificação da escola parte de um planejamento de ensino<br />

que contemple a mediação da aprendizagem como principal<br />

característica, não perdendo de vista o compromisso do professor.<br />

Como afirma Lucena (2002, p. 30) “o planejamento é uma parte do<br />

compromisso do professor com a ética, com a qualidade, não sendo<br />

uma atividade isolada”.<br />

Na medida em que os educadores tomarem consciência de que<br />

mediar a aprendizagem não é tarefa exclusiva dele, mas resultado de<br />

uma ação participativa entre mediador e mediados, será mais fácil<br />

promover a mudança. Neste contexto, um planejamento de ensino<br />

que priorize a mediação apresenta-se como uma nova forma de viver<br />

o espaço educativo.<br />

CONCLUSÃO<br />

Pesquisas realizadas enfatizam a importância da aprendizagem<br />

mediada nos mais diversos contextos sociais, pela contribuição que<br />

os critérios de mediação podem favorecer à ação humana quando bem<br />

direcionados. No caso específico da formação de professores, vemos e<br />

vivenciamos em situações práticas ou mesmo pelo depoimento de<br />

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muitos acadêmicos, a relevância que o presente estudo tem<br />

acrescentado à prática pedagógica, pelo fato de agregar valores ao<br />

planejamento de ensino e redirecionar a ação docente. Para além do<br />

ato de ensinar, estes estudos proporcionam um olhar diferente para o<br />

processo de aquisição do conhecimento, na medida em que a ação<br />

docente não pode ser desvinculada da ação do educando. Eis o mistério<br />

da mediação!<br />

De acordo com a experiência que vem sendo realizada com os<br />

alunos-estagiários das séries iniciais do Ensino Fundamental do Curso<br />

de Pedagogia da FASB-Faculdade do Sul da Bahia ISESB-Instituto<br />

Superior de Educação do Sul da Bahia, evidencia-se a importância<br />

da utilização da mediação como intervenção no processo ensinoaprendizagem.<br />

Apesar da mediação ser um processo antigo na história<br />

da humanidade, a proposta de um planejamento voltado para a<br />

superação dos desafios impostos ao espaço educativo, a partir dos<br />

critérios universais de mediação, é algo novo e que nos cabe enquanto<br />

educadores vivenciá-lo.<br />

Os resultados dos estudos relacionados à experiência da<br />

aprendizagem mediada têm evidenciado a necessidade de inovar o<br />

espaço educativo, a partir da ressignificação do Planejamento de Ensino<br />

que contemple a mediação como requisito necessário à prática<br />

pedagógica.<br />

REFERÊNCIAS<br />

A mediação da aprendizagem como característica do planejamento de ensino<br />

FEUERSTEIN, Reuven. Instrumental enrichment. Baltimore:<br />

University Park Press, 1980.<br />

FEUERSTEIN, Reuven. Mediated learnig experience –An Outline of<br />

the proximal etiology for differencial development of cognitive functions.<br />

Nova Iorque: ICP , 1975.<br />

FONSECA, Vitor da. Aprender a aprender : a educabilidade cognitiva.<br />

Porto Alegre, RS : Artes Médicas, 1998.<br />

LIMA, Maria Socorro Lucena .Aprendiz da prática docente: a didática<br />

no exercício do magistério. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha , 2002.<br />

TÉBAR, Lorenzo Belmonte. O otimismo educativo de Reuven<br />

Feuerstein. Revista Psicopedagógica, p. 9-15, 1994.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


ASPECTOS RELACIONADOS AO PLANTIO DE FLORESTAS<br />

EXCLUSIVAMENTE PARA O SEQÜESTRO DE CARBONO<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Marcos Hiroshi Nishi¹<br />

Este estudo objetivou analisar os principais aspectos que influenciam<br />

o êxito de um reflorestamento, destinado exclusivamente ao seqüestro<br />

de carbono. Para isto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em<br />

periódicos, anais de simpósios, teses etc. que abordam o tema. Entre<br />

os aspectos pesquisados destacaram-se: seleção de local, preparo de<br />

solo, clima, seleção de espécies e espaçamento. Ao analisar-se cada<br />

um dos aspectos, verificou-se que em cada um deles, as pesquisas<br />

diretamente relacionadas ao tema são ainda incipientes, mas, por<br />

outro lado, há muitos dados que indiretamente podem auxiliar na<br />

realização e direcionamento de novas pesquisas específicas, visando<br />

aumentar a eficiência do seqüestro de CO 2 da atmosfera e sua fixação<br />

na superfície terrestre, por um período mais longo possível.<br />

Palavras-chave: seqüestro de carbono, floresta plantada, pesquisa<br />

florestal.<br />

ABSTRACT<br />

This study aimed at to analyze the main aspects that influence the<br />

success of a reforestation, destined exclusively to the carbon<br />

sequestry. For this, a bibliographical research was accomplished in<br />

newspapers, annals of symposia, theories, etc., that approach on the<br />

theme. Enter the researched aspects stood out: place selection, soil<br />

preparation, climate, selection of species and spacing. When analyzing<br />

each one of the aspects it was verified that, in each one of them, the<br />

researches directly related to the theme they are still incipient, but<br />

there are still many data that indirectly can aid in the accomplishment<br />

and to indicate of new specific researches, seeking to increase the<br />

efficiency of carbon sequestry of the atmosphere and his fixation in<br />

the terrestrial surface, for a possible longer period.<br />

Key Words: carbon sequestry, planted forest, forest research.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Mudanças Climáticas referem-se a um dos temas ambientais<br />

mais importantes em pauta neste momento. Há uma preocupação<br />

crescente de que se não forem tomadas medidas para a diminuição da<br />

emissão dos “gases de efeito estufa”, teremos como conseqüência um<br />

aumento cada vez maior na temperatura média da superfície terrestre<br />

¹ Marcos Hiroshi Nishi é mestre em Engenharia Florestal e professor da FASB.<br />

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e, também, mudanças nos padrões climáticos que poderão alterar as<br />

condições básicas de manutenção da vida sobre o planeta.<br />

Um acordo governamental, em nível mundial, está sendo<br />

proposto, visando à diminuição do efeito estufa. Este acordo começou<br />

a ser discutido no final da década de oitenta, tendo como fruto o<br />

protocolo de Kyoto, estabelecido em 1997, no Japão. Neste Protocolo<br />

estão previstos três mecanismos de flexibilização para alcance das<br />

metas preestabelecidas para os países: implementação conjunta e<br />

comércio de emissão, em que ambos, permitem a negociação entre<br />

países do anexo I (países desenvolvidos) e, MDL (Mecanismo de<br />

Desenvolvimento Limpo), que abre possibilidades aos países em<br />

desenvolvimento participarem de projetos de carbono.<br />

O Protocolo de Kyoto, em seu artigo 2°, lista ainda uma série<br />

de políticas e medidas que os países do Anexo-1 podem implementar e<br />

desenvolver para cumprir seus compromissos de redução de emissões.<br />

Esses países podem, de acordo com as circunstâncias nacionais<br />

próprias:<br />

- Estimular a eficiência energética;<br />

- Pesquisar, promover, desenvolver e incrementar tecnologias<br />

ambientais inovadoras, tecnologias de seqüestro de CO 2 e novas formas<br />

de energia renovável;<br />

- Proteger e promover melhorias de sumidouros e reservatórios de<br />

GEE;<br />

- Promover práticas de manejo sustentável de florestas;<br />

- Promover aflorestamentos;<br />

- Promover reflorestamentos;<br />

- Promover formas sustentáveis de agricultura;<br />

- Reduzir progressivamente as imperfeições de mercado, tais como,<br />

subsídios e incentivos e isenções fiscais em todos os setores emissores<br />

de GEE.<br />

Como podemos observar, existem dois principais campos de<br />

atividade econômica, onde investimentos podem contribuir para reduzir<br />

a emissão líquida de GEE ou aumentar a taxa de seqüestro de CO2 da<br />

atmosfera:<br />

- Geração e uso de energia;<br />

- Uso da terra e florestas.<br />

Marcos Hiroshi Nishi<br />

Vale lembrar que as florestas, consideradas apenas como<br />

sumidouros (sinks) de CO2, são responsáveis por, aproximadamente,<br />

20% da emissão de GEE através de desflorestamento, queimadas e<br />

incêndios. Portanto, iniciativas que inibam as práticas destas atividades<br />

devem ser incentivadas.<br />

O plantio de florestas, além de proporcionar o seqüestro de<br />

carbono, possibilita a troca de CO 2 ativamente com a atmosfera.<br />

Segundo WARING & SCHLESINGER (1985), citados por SCHROEDER<br />

(1992), em média, o equivalente ao conteúdo total de CO 2 na atmosfera<br />

passa através da vegetação ter-restre a cada 7 anos e cerca de 70% da<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Aspectos relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o sequestro de carbono<br />

troca total ocorre através dos ecossistemas florestais.<br />

Em função dos mecanismos de flexibilização previstos no<br />

Protocolo de Kyoto, um novo mercado está sendo criado, o dos “créditos<br />

de carbono”.<br />

Apesar de alguns países, liderados pelos Estados Unidos<br />

(responsáveis por mais de 36% das emissões de GEEs), não terem<br />

ratificado este Protocolo, a expectativa que se tem é de que o início do<br />

funcionamento deste mercado é uma questão de tempo. De olho neste<br />

mercado, algumas empresas como a Plantar, Texaco e Renault, dentre<br />

outras, já começam a montar projetos de carbono no Brasil,<br />

relacionados à área florestal.<br />

Neste contexto, surge a necessidade de realizar estudos sobre<br />

os diversos fatores que influenciam na implantação de florestas<br />

exclusivamente para o seqüestro de carbono.<br />

Este estudo objetivou analisar os principais aspectos físicos,<br />

bióticos e relacionados às práticas silviculturais que influenciam o<br />

êxito de um aflorestamento ou reflorestamento, destinados exclusivamente<br />

ao seqüestro de carbono.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Os dados foram obtidos pesquisando-se literaturas que tratam<br />

diretamente do tema “seqüestro de carbono”. Foram utilizados também<br />

aqueles obtidos em trabalhos que não tratavam diretamente do tema,<br />

mas que possuíam alguns resultados que pudessem ser associados<br />

ao tema proposto.<br />

Para isso, consultou-se, além das literaturas (periódicos, anais<br />

de simpósios, teses etc.), professores ligados à área e material<br />

encontrado na internet.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Seleção de local<br />

Locais que possuem solos com textura mais argilosa são mais<br />

indicados do que aqueles com textura mais arenosa, devido ao tamanho<br />

menor das suas partículas e conseqüente maior superfície específica<br />

destes, o que resulta em capacidade maior de acomodação da matéria<br />

orgânica (Barros, comunicação pessoal).<br />

Na realidade, o armazenamento médio de carbono, resultante<br />

do plantio de nova floresta, será a diferença entre o carbono corrente<br />

no sítio e o adicional ou reposição de carbono resultante do crescimento<br />

da plantação (SCHROEDER, 1992).<br />

A estratégia mais efetiva para minimizar as emissões líquidas<br />

de CO2 depende da situação atual da terra disponível, da taxa de<br />

crescimento esperada para a floresta, da eficiência na qual a colheita<br />

será usada e da perspectiva de tempo. Para áreas onde altas<br />

produtividades podem ser alcançadas, emissões líquidas de carbono<br />

podem ser minimizadas pelo plantio e subseqüente colheita de árvores<br />

para uso de produtos com longa duração ou para fornecer energia em<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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Marcos Hiroshi Nishi<br />

substituição à queima de combustível fóssil. Por outro lado, para<br />

áreas com elevado estoque de biomassa e baixa expectativa de<br />

crescimento, a melhor escolha é simplesmente deixar o povoamento<br />

original existindo (MARLAND & MARLAND, 1992).<br />

A qualidade do sítio, além de afetar a produção de biomassa,<br />

afeta a sua distribuição nos diferentes componentes das árvores.<br />

Reis et al. (1985), avaliando a distribuição da biomassa nos<br />

diferentes componentes das árvores em função da qualidade do sítio,<br />

concluíram que a biomassa varia com a qualidade do sítio, exceto<br />

para a copa e casca, tendo sido observado que a biomassa alocada<br />

para as raízes, aos 6 anos de idade, no local menos produtivo foi<br />

130% superior quando comparada à do local mais produtivo.<br />

Verificaram também que a qualidade do sítio também é um importante<br />

fator na determinação da idade de estabilização do acúmulo de<br />

biomassa.<br />

Esses autores observaram que a estabilização do acúmulo de<br />

biomassa de Eucalyptus grandis, na região de cerrado, ocorreu aos<br />

51 meses em sítio de melhor qualidade e, acima de 67 meses, em<br />

sítio de pior qualidade, em povoamentos estabelecidos em<br />

espaçamentos de 3,0 X 2,0 metros.<br />

A utilização de áreas degradadas pela atividade agrícola e<br />

principalmente pecuária representa uma boa opção para o seqüestro<br />

e armazenamento de CO 2 da atmosfera na biomassa viva e morta.<br />

Isto porque o carbono armazenado nesses solos e na biomassa viva<br />

existente é extremamente baixo e a implantação de florestas de rápido<br />

crescimento nessas áreas, com o uso de tecnologia e material genético<br />

adequados, implicará em aumento substancial da produção de<br />

biomassa (REIS et al.,1994).<br />

Há, no entanto, a certeza de que as quantidades de carbono<br />

que podem ser imobilizadas nestes solos são limitadas, devido ao<br />

efeito “tampão” dos solos, que impede um aumento contínuo no<br />

acúmulo do carbono(TATE III, 1992).<br />

Em solos ácidos há a manutenção da manta orgânica, pois<br />

não há atividade microbiana suficiente para a mineralização desta.<br />

Quanto à localização, as baixadas são mais propícias a este<br />

tipo de atividade que as encostas, pois além de não terem problemas<br />

de escorrimento superficial, possuem maior fertilidade, acumulando<br />

assim, maiores quantidades de carbono.<br />

Há um grande paradigma quanto à exposição solar. Locais<br />

que apresentam exposição norte estão sujeitos a maiores<br />

temperaturas, implicando em maior taxa de crescimento e,<br />

conseqüentemente, maior ciclagem de carbono. Por outro lado, locais<br />

que apresentam exposição sul, por estarem sujeitas a menores<br />

temperaturas, apresentam menor taxa de decomposição da matéria<br />

orgânica, o que implica em um maior tempo de carbono seqüestrado.<br />

Assim sendo, há a necessidade de se realizarem estudos que avaliem<br />

como se comporta a ciclagem do carbono nestas duas exposições.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Aspectos relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o sequestro de carbono<br />

Preparo de solo<br />

De acordo com Clevelário Júnior (1996), o solo é o principal<br />

armazenador da matéria orgânica da floresta, e, conseqüentemente,<br />

de carbono, sendo responsável por quase 50% da massa total do<br />

sistema.<br />

Ainda segundo Dixon et al. (1994, citados por MALHI et al,<br />

1999), 69% do estoque total de carbono dos ecossistemas florestais<br />

do mundo estão estocados como matéria orgânica do solo e 31% como<br />

biomassa viva. Na zona boreal, 84% do carbono está na matéria<br />

orgânica do solo e somente 16% na biomassa viva ativa, enquanto nos<br />

trópicos o carbono é distribuido mais ou menos igualmente entre a<br />

vegetação e o solo.<br />

Assim, o uso de práticas de manejo que promovam alterações<br />

no conteúdo de matéria orgânica do solo florestal pode causar efeitos<br />

significativos no balanço geral de carbono (GOMES, 2000).<br />

Apesar desta constatação, no manejo convencional das florestas<br />

há uma preocupação quase que exclusiva com o volume e o valor da<br />

parte aérea produzida, com pouca ou quase nenhuma ênfase ao estoque<br />

de carbono do solo (CANNELL et al.,1983; citados por MALHI et al.,<br />

1999).<br />

As práticas visando o aumento da matéria orgânica no solo,<br />

além de contribuírem diretamente para o aumento do carbono estocado<br />

no solo, influenciam indiretamente o armazenamento do carbono na<br />

biomassa viva, pois melhoram as condições físicas e químicas do solo,<br />

aumentando assim a produção de biomassa.<br />

O preparo do solo visa, de modo geral, a melhoria de sua<br />

estrutura física e química, de forma a propiciar um aumento na<br />

produção florestal através de práticas que visam a redução da matocompetição;<br />

a redução da compactação do solo para permitir uma<br />

melhor penetração do sistema radicular; a modificação da profundidade<br />

efetiva do solo; a melhoria da infiltração de água e da drenagem; e a<br />

melhoria da disponibilidade de nutrientes.<br />

Entretanto, segundo Johnson (1992), de maneira geral, há uma<br />

perda líquida de carbono no solo com o seu preparo, sendo que a<br />

magnitude das perdas depende da severidade dos distúrbios<br />

provocados no solo e das características do sítio.<br />

Os sistemas intensivos de preparo incluem a queima dos<br />

resíduos, aração, gradagem, subsolagem e terraceamento, provocando<br />

grandes distúrbios no solo em diferentes profundidades no seu perfil<br />

e, conforme TURNER e LAMBERT (2000), provocam o aumento da<br />

decomposição da matéria orgânica sobre o solo e ao longo do seu<br />

perfil.<br />

A erosão afeta a quantidade de carbono no solo de duas<br />

maneiras. Ao degradar o solo, provoca a redução de sua produtividade<br />

e, conseqüentemente, reduz a quantidade de carbono que retorna ao<br />

solo através dos resíduos. Além disso, provoca a redistribuição da<br />

superfície do solo, que é rica em carbono, removendo-o de um local e<br />

depositando em outros (GREGORICH et al., 1998).<br />

O uso de práticas de manejo para o controle de erosão pode<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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Marcos Hiroshi Nishi<br />

melhorar a produtividade e assim ajudar a manter ou, possivelmente,<br />

aumentar o armazenamento do carbono no solo.<br />

A queima, particularmente em nossos solos intemperizados,<br />

deve ser estritamente proibida, pois em sendo eles muito mais dreno<br />

que fonte, não há a retenção da matéria orgânica mineralizada,<br />

ocorrendo, assim, o retorno precoce do carbono para a atmosfera.<br />

A alocação de carbono para o sub-bosque em florestas plantadas<br />

pode atingir valores bastante elevados, especialmente para as áreas<br />

que estão sendo implantadas com espaçamentos mais amplos e em<br />

florestas manejadas para o uso múltiplo com idade de rotação mais<br />

longa (REIS et al.,1994). Assim, a utilização de capinas químicas apenas<br />

durante a fase inicial dos plantios, quando a matocompetição é intensa,<br />

poderia ser uma boa prática quando o objetivo do manejo é<br />

exclusivamente a captura de carbono.<br />

O potencial para aumento da capacidade de armazenamento<br />

de CO2 nas florestas é freqüentemente limitado pela disponibilidade<br />

insuficiente de nutrientes, sendo que esta limitação pode ser superada<br />

facilmente pela suplementação apropriada de nutrientes através da<br />

fertilização (HUETTL; ZOETTL, 1992).<br />

A fertilização, geralmente, causa um aumento no carbono no<br />

solo, dado o seu efeito esperado sobre a produtividade primária<br />

(JOHNSON,1992).<br />

A utilização de fertilizantes necessária para o aumento da<br />

produção florestal total é uma prática fundamental para minimizar as<br />

perdas de carbono no solo devido aos distúrbios provocados pelas<br />

práticas de preparo de solo e conseqüentemente para a maximização<br />

do aumento total do carbono no sistema florestal (TURNER; LAMBERT,<br />

2000).<br />

O efeito líquido da implantação e manejo de plantações de Pinus<br />

radiata e Eucalyptus grandis, na Austrália, sobre o carbono orgânico<br />

do solo foi avaliado por Turner e Lambert (2000).<br />

Usando técnicas de comparação entre plantações maduras e<br />

florestas nativas adjacentes (parcelas pareadas) e de cronosseqüências,<br />

concluíram que os distúrbios no solo provocados pelas operações de<br />

implantação das florestas resultaram na decomposição do carbono<br />

do solo e em perdas de carbono em diferentes taxas e em diferentes<br />

pontos do perfil do solo.<br />

Essas perdas poderiam ser compensadas pela acumulação de<br />

carbono na vegetação, entretanto, o período onde o efeito líquido é<br />

nulo varia com as diferentes plantações, mas a escala de tempo é de<br />

décadas.<br />

Afirmam ainda que as plantações de rápido crescimento, com<br />

rotações curtas e manejadas com práticas intensivas, levarão à<br />

maximização das perdas de carbono orgânico do solo, principalmente<br />

se não houver modificação do status nutricional global do sistema.<br />

Assim, se o objetivo do manejo é maximizar o acúmulo do<br />

carbono no sistema florestal (solo e planta), há necessidade de se evoluir<br />

de um sistema intensivo de preparo de solo para práticas que<br />

minimizem os distúrbios no solo, que controlem a erosão, que promovam<br />

o rápido desenvolvimento da floresta e melhorem o status<br />

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Aspectos relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o sequestro de carbono<br />

nutricional da mesma. Isto poderia ser alcançado com o uso de práticas<br />

de cultivo mínimo ou reduzido, já utilizadas por muitas empresas<br />

florestais do Brasil.<br />

O cultivo mínimo torna-se uma alternativa altamente viável,<br />

pois, ao contrário do sistema convencional, promove um revolvimento<br />

mínimo do solo, e a permanência da cobertura do solo, além de liberar<br />

o carbono mais lentamente ao sistema. Outra vantagem desse sistema<br />

é a solução de problemas como pragas, erosão e transpiração de água<br />

do solo.<br />

Clima<br />

A resposta não é simples porque o incremento de temperatura,<br />

produto do aquecimento global, estimado pelos modelos de previsão<br />

poderia beneficiar mais algumas espécies em detrimento de outras.<br />

É necessário, então, utilizar-se espécies adaptadas em cada<br />

tipo de clima (temperatura, quantidade de água, ventos, etc), para<br />

que haja um máximo de incremento, em termos de volume na floresta<br />

e, como conseqüência, o máximo de carbono fixado.<br />

Logicamente, locais que possuam climas, por exemplo, com<br />

temperaturas medianas, ausência de déficit hídrico e pouca incidência<br />

de ventos, são mais propícias a este fim (Paiva, comunicação pessoal).<br />

Seleção de espécies<br />

Há uma diversidade enorme entre espécies e sua capacidade<br />

no que diz respeito ao seqüestro de carbono. Em termos gerais, as<br />

árvores de vida longa com alta densidade de madeira armazenam mais<br />

carbono por volume que as árvores de vida curta, densidade de madeira<br />

baixa e crescimento rápido. Mesmo assim, isto não significa que o<br />

seqüestro de carbono envolvendo as árvores grandes, de<br />

desenvolvimento lento, é necessariamente melhor que as plantações<br />

de árvores de crescimento rápido, e vice-versa (MOURA-COSTA, 1996).<br />

Há a certeza apenas de que plantas que possuem uma grande<br />

capacidade fotossintética são mais propícias a seqüestrar com maior<br />

eficiência o carbono que as demais. Neste contexto, espécies rústicas,<br />

que produzam muita biomassa para o sistema e que tenham rápido<br />

crescimento parecem ser as mais indicadas para este fim.<br />

O sistema radicular tem papel importante neste contexto, pois<br />

este representa o carbono que compõe a matéria orgânica do solo. É<br />

de se supor então que espécies que possuam um sistema radicular<br />

bem distribuído horizontal e verticalmente tenham maiores<br />

possibilidades de imobilizar maiores quantidades de carbono no solo.<br />

Neste sentido, o sistema radicular é de grande importância,<br />

pois o carbono estocado no mesmo irá compor o pool de carbono<br />

orgânico do solo.<br />

Ao se considerar a estratégia de reduzir a quantidade de CO2<br />

emitida para a atmosfera pelo aumento do tempo de vida do carbono<br />

orgânico, a seleção de espécies com maior alocação de carbono ao<br />

sistema radicular é desejada.<br />

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Marcos Hiroshi Nishi<br />

Eucalyptus spp. possuem elevada eficiência fotossintética, ou<br />

seja, mesmo apresentando área foliar relativamente baixa em relação<br />

à produção de biomassa, representam um grupo de espécies bastante<br />

eficiente no seqüestro de carbono (BASSMAN, 1983, citado por REIS<br />

et al., 1994).<br />

Bernardo (1995) concluiu que a produção de biomassa variou<br />

com o espaçamento e com o material genético (espécie / procedência)<br />

estudado.<br />

Ao avaliar a produção e alocação de biomassa em plantas de<br />

Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus pellita e Eucalyptus urophylla,<br />

estabelecidos em diferentes espaçamentos na região do cerrado de<br />

Minas Gerais, Ladeira et al.(1997), encontraram que a distribuição<br />

da biomassa nos diversos componentes das árvores variou com a<br />

espécie.<br />

O aumento da biomassa dos vegetais depende, em última<br />

instância, do potencial genético de cada material para fixar e alocar<br />

carbono e absorver água e nutrientes, o que varia em função de fatores<br />

edafoclimáticos, como a radiação solar, temperatura, disponibilidade<br />

de água e nutrientes (CROMER, 1984, citado por CONTRERAS<br />

MARQUES, 1997) e de fatores bióticos, como doenças, pragas e<br />

competição com outras plantas que crescem no mesmo espaço físico.<br />

Além disso, a alocação de biomassa e nutrientes para os<br />

diferentes componentes da planta depende, entre outros, da espécie,<br />

da densidade de plantios, da qualidade do sítio e da idade (REIS;<br />

BARROS,1990).<br />

Sendo a biomassa definida como quantidade, expressa em<br />

massa, do material vegetal em um dado ecossistema, a quantidade<br />

de carbono estocada no tronco é diretamente proporcional à densidade<br />

da madeira, que, por sua vez, varia com a espécie e com o sítio.<br />

Assim, a seleção da espécie a ser utilizada para uso exclusivo no<br />

seqüestro de carbono deve levar em consideração esta variável, ou<br />

seja, para um mesmo potencial produtivo, quanto maior a densidade,<br />

maior a quantidade de carbono estocado. Generalizando, podemos<br />

afirmar que a seleção da espécie para a captura de carbono deve<br />

levar em consideração o potencial de produção de biomassa e não<br />

simplesmente o volume.<br />

A evolução nos trabalhos de seleção de material genético e<br />

técnicas de manejo mais adequadas têm permitido aumento<br />

substancial da produtividade das florestas plantadas, tendo assim a<br />

possibilidade de se ter aumento contínuo no seqüestro de carbono.<br />

Assim, programas para seleção de material genético mais<br />

eficiente na captura e armazenamento de carbono devem ter como<br />

ponto de partida os resultados e informações obtidos nos programas<br />

já instalados.<br />

Atualmente, a pesquisa para elucidar os efeitos de elevados<br />

níveis de CO 2 sobre a fisiologia, bioquímica e produtividade das plantas<br />

é realizada em câmaras de topo aberto, como as utilizadas na Unidade<br />

de Crescimento de Plantas da UFV, ou em sistemas denominados<br />

FACE (Free Air CO 2 Enrichment), que são sistemas de campo<br />

utilizados em alguns países desenvolvidos e que simulam de forma<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


Aspectos relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o sequestro de carbono<br />

mais real os possíveis efeitos de futuras concentrações de CO2<br />

atmosférico em cultivos e florestas.<br />

Espaçamento<br />

A escolha do espaçamento a ser utilizado depende, entre outros<br />

fatores, da espécie a ser utilizada, da qualidade do sítio, e do produto<br />

final a ser obtido.<br />

Em uma fase inicial, a biomassa necessariamente é maior em<br />

espaços mais reduzidos que nos mais amplos. Essa diferença tende a<br />

se reduzir com o aumento da idade da população, até igualar-se o<br />

peso de matéria seca em todos os espaçamentos (PEREIRA, 1990).<br />

Estudando os efeitos do espaçamento sobre o crescimento e a<br />

eficiência nutricional em plantios de Eucalyptus camaldulensis,<br />

Eucalyptus pellita e Eucalyptus urophylla, na região de Três Marias,<br />

Minas Gerais, Bernardo (1995) observou que nos espaçamentos mais<br />

densos a maior competição entre plantas resultou na estabilização do<br />

acúmulo de biomassa em menores idades que aquelas observadas em<br />

espaçamentos mais amplos, para as três espécies estudadas.<br />

Observou ainda que, nos espaçamentos mais abertos, houve<br />

uma maior alocação de biomassa para os componentes das árvores<br />

que não são explorados comercialmente, ou seja, folhas, raízes laterais<br />

e raízes com diâmetro superior a dois milímetros. Já a biomassa de<br />

raízes pivotantes estimada por hectare, por meio de equações de<br />

regressão, aumentou com a idade e com a redução do espaçamento,<br />

independentemente da espécie estudada.<br />

A escolha de espécies tolerantes à competição intraespecífica<br />

seria então uma alternativa para um grande acúmulo de biomassa<br />

inicial, pois isto permitiria a utilização de espaçamentos pequenos, o<br />

que resultaria em maiores quantidades de carbono.<br />

Segundo Contreras Marques (1997), de modo geral, a produção<br />

de matéria seca da copa de povoamentos de Eucalyptus camaldulensis<br />

e Eucalyptus pellita, aos sete anos de idade, localizados no cerrado de<br />

Minas Gerais, aumentou com o espaçamento, devido à maior<br />

disponibilidade de recurso como água, luz, nutrientes e espaço,<br />

resultando em menor desrama e, por conseguinte, maior superfície<br />

fotossintetizante.<br />

Verificou ainda que, para os espaçamentos iguais ou superiores<br />

a 3,0 X 3,0 metros, o sítio ainda se encontrava sub-utilizado, indicando<br />

que a idade de rotação deve ser mais elevada para povoamentos<br />

estabelecidos em espaçamentos mais amplos.<br />

Em povoamentos de Eucalyptus camaldulensis e Eucalyptus<br />

pellita plantados no cerrado da região de João Pinheiro, Minas Gerais,<br />

aos 52 meses de idade, Reis et al. (1997) verificaram que, à medida<br />

que as plantas são arranjadas em espaçamentos mais adensados, a<br />

contribuição das raízes para a biomassa total vai diminuindo,<br />

demonstrando que a árvore aloca grande parte dos fotoassimilados<br />

para a produção do sistema radicular em espaçamentos amplos.<br />

Em relação à produção de manta orgânica, Ladeira (1999)<br />

observou que a produção de manta orgânica acumulada, por unidade<br />

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de área, aos sete anos de idade, aumentou a densidade populacional,<br />

em povoamentos de Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus pellita e<br />

Eucalyptus urophylla, na região de Três Marias, Minas Gerais.<br />

Segundo Schroeder (1992), quanto maior a duração da rotação,<br />

maior o acúmulo de biomassa durante o tempo e maior a produção<br />

média de carbono.<br />

Uma alternativa poderia ser o plantio inicial com espaçamentos<br />

mais adensados, para acelerar a captura do carbono e efetuar<br />

desbastes, quando o crescimento da floresta se estagnar. Se os<br />

desbastes forem em processo contínuo, poderiam ter pouco efeito no<br />

armazenamento médio de carbono na biomassa. Assim que as árvores<br />

são removidas sua biomassa poderá ser reposta pelo aumento de<br />

crescimento das árvores remanescentes.<br />

Os desbastes aumentam o retorno do carbono ao solo pela<br />

deposição de resíduos das árvores e pela decomposição de raízes.<br />

Contudo, os distúrbios no solo durante a colheita podem levar a uma<br />

aceleração na decomposição da matéria orgânica (TURNER; LAMBERT,<br />

2000). Além disso, o uso final da madeira oriunda dos desbastes deve<br />

ser considerado, em função da sua taxa de decomposição.<br />

Deve-se ressaltar que estudos de acúmulo de biomassa, na<br />

área florestal, são praticamente restritos a povoamentos de eucalipto,<br />

havendo então, pouquíssimos estudos referentes às espécies nativas.<br />

CONCLUSÕES<br />

Foi verificado, pela revisão de literatura realizada, que existem<br />

muitas indagações sobre o plantio de florestas exclusivamente para o<br />

seqüestro de carbono, havendo necessidade do desenvolvimento de<br />

novas pesquisas mais aprofundadas para fundamentar as tomadas<br />

de decisões técnicas, referentes ao reflorestamento e se obtenha êxito<br />

quanto à eficiência do seqüestro de carbono nos plantios para este<br />

fim.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Marcos Hiroshi Nishi<br />

BARROS, N. F. Professor Doutor do Departamento de Solos da UFV.<br />

CLEVELÁRIO JÚNIOR, J. Distribuição de carbono e de elementos<br />

minerais em um ecossistema florestal tropical úmido baixomontano.<br />

Viçosa, UFV, 1996, 135 p. (Tese D.S.)<br />

CONTRERAS MARQUEZ, C. E. Estudo silvicultural e econômico de<br />

povoamentos de eucalipto na região de cerrado de Minas Gerais.<br />

Viçosa, UFV, 1997, 131 p. (Tese M.S.).<br />

GOMES, A. N. Manejo de florestas plantadas exclusivamente para<br />

captura de carbono. Viçosa, UFV, 2000, 11 p.<br />

GREGORICH, E. G.; GREER, K .J.; ANDERSON, D. W. & LIANG, B. C.<br />

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and tillage research, 47 (3-4): 291-302, 1998.<br />

HUETTL, R. F.; ZOETTL, H.W. Forest fertilization: its potential to<br />

increase the CO 2 storage capacity and to alleviate the decline of the<br />

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Aspectos relacionados ao plantio de florestas exclusivamente para o sequestro de carbono<br />

global forests. Water, air, and soil pollution, 64: 229-249, 199 2.<br />

LADEIRA, B. C.; REIS, G.G.; REIS, M. G. F.; SILVA, J. F. Biomassa de<br />

eucalipto em sítios de baixa produtividade em Minas Gerais, Brasil.<br />

In: CONFERÊNCIA IUFRO SOBRE SILVICULTURA E<br />

MELHORAMENTO DE EUCALIPTOS, 3, 1997, Salvador, Anais...<br />

Colombo, PR: EMBRAPA, p. 48-53,1997.<br />

MALHI, Y.; BALDOCCHI, D. D. & JARVIS, P. G. The carbon balance of<br />

tropical, temperate and boreal forests. Plant, cell and environment,<br />

22: 715-740, 1999.<br />

MARLAND, G. & MARLAND, S. Should we store carbon in trees? Water,<br />

air, and soil pollution, 64: 181-195, 1992.<br />

MOURA-COSTA, P. Tropical forestry practices for carbon sequestration:<br />

A review and case study from southeast Asia. Ambio, 25: 279-283,<br />

1996.<br />

PAIVA, H. N. de. Professor, Doutor do Departamento de Engenharia<br />

Florestal da UFV.<br />

PEREIRA, A. R. Biomassa e Ciclagem de Nutrientes Minerais em<br />

Povoamentos Jovens de Eucalyptus grandis e Eucalyptus urophylla,<br />

em Região de Cerrado. Viçosa, UFV, 1990, 167 p. (Tese D. S.).<br />

REIS, M. G. F. & BARROS, N. F. Ciclagem de nutrientes em plantios<br />

de eucalipto. In: BARROS, N. F. & NOVAIS, R. F. Relação solo –<br />

eucalipto. Viçosa, MG, Folha de Viçosa, 1990. 330 p.<br />

REIS, M. G. F.; KIMMINS, J. P.; REZENDE, G. C.; BARROS, N. F.<br />

Acúmulo de biomassa numa seqüência de idade de Eucalyptus grandis<br />

plantado no cerrado em duas áreas com diferentes produtividades.<br />

Revista Árvore, 9: 149-162, 1985.<br />

REIS, M. G. F.; REIS, G. G.; VALENTE, O. F.FERNANDES, H. A. C.<br />

Seqüestro e armazenamento de carbono em florestas nativas e<br />

plantadas dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. In:<br />

WORKSHOP EMISSÃO X SEQUESTRO DE CO2: UMA NOVA<br />

OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS PARA O BRASIL, 1994, Rio de<br />

Janeiro, Anais... Rio de Janeiro, RJ, CVRD/FBDS, p. 157-195, 1994.<br />

REIS, M.G.F.; REIS, G.G.; VALENTE, O.F. Potencial de Seqüestro de<br />

Carbono pelas Florestas Brasileiras. Ação ambiental, nº21, p.20-22,<br />

2002.<br />

SCHROEDER, P. Carbon storage potential of short rotation tropical<br />

tree plantations. Forest ecology and management, 50: 31-41, 1992.<br />

TATE III, R. L. Soil organic matter biological and ecological effects.:<br />

Krieger Publishing Company. Malabar, Florida, 1992.<br />

TURNER, J. & LAMBERT, M. Change in organic carbon in forest<br />

plantation soils in eastern Australia. Forest ecology and<br />

management, 133 (3): 231-247, 2000.<br />

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GESTÃO DO CONHECIMENTO: UMA FORMA<br />

EMERGENTE DE COMPETITIVIDADE ORGANIZACIOANAL.<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Rosana Silva do Carmo¹<br />

Gestão do Conhecimento é um modelo emergente que rompe com os<br />

paradigmas da era industrial. A globalização da economia, o cenário<br />

competitivo e o crescente nível de exigência do consumidor<br />

pressionam as organizações a buscarem novas formas de gestão<br />

para manterem-se competitivas. Este artigo apresenta em linhas<br />

gerais as formas da criação, extração e o compartilhamento do<br />

conhecimento organizacional.<br />

Palavras–chave: informação, conhecimento, compartilhamento.<br />

ABSTRACT<br />

Knowledge management is on emergent model, that breaks up with<br />

the paradigms of the industrial era. The globalization of the economy,<br />

the competitive scenery and the growing level of the consumer´s<br />

demand, they press organizations to look for new management forms,<br />

to maintain themselves competitive. This article presents in general<br />

lines forms of creation, extraction and sharing of the organizational<br />

knowledge.<br />

Key Words: informations, knowledge, to share.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O advento da era industrial no início do século XX praticamente<br />

forçou o surgimento da Administração Científica, cujo nascimento,<br />

impulsionado pela expansão da Revolução Industrial na América,<br />

criou uma nova realidade para as organizações, forçando-as a<br />

investirem no controle da produção. Em 1880, havia cerca de<br />

2.700.000 trabalhadores industriais nos Estados Unidos. O número<br />

subiu para 8.400.000 em 1920. Essa escala de operações exigia o<br />

desenvolvimento de métodos que fossem capazes de equacionalizar a<br />

relação homem x máquina, que até então encontrava-se fora de<br />

qualquer parâmetro administrativo.<br />

Como precursor de um movimento que tentou resolver os<br />

problemas enfrentados pela indústria naquela época, Frederick Taylor<br />

¹Rosana Silva do Carmo é mestre em Administração, professora da FASB e professora<br />

e coordenadora dos cursos de Administração em Gestão de Negócios e Agronegócios<br />

do CESESB.


Rosana Silva do Carmo<br />

implantou a Administração Científica, cujos princípios ignoravam<br />

absolutamente o potencial intelectual do homem. Necessariamente<br />

apropriada ao contexto industrial, a administração Científica, além<br />

de atender aos anseios da Indústria, abriu as portas para que outros<br />

modelos de Administração fossem sugeridos. O âmbito da<br />

Administração tornou-se então um campo fértil para o surgimento de<br />

novas e grandes idéias, todas voltadas para o mesmo objetivo: tornar<br />

as empresas competitivas e necessariamente lucrativas.<br />

Em busca da competitividade, as empresas vêm utilizando<br />

todos os recursos administrativos sugeridos por estudiosos e copiando<br />

os mais bem sucedidos empresários do mundo. A essas propostas<br />

de Administração, chamamos de “Estratégias Empresariais”. Segundo<br />

Oliveira, (1999, p. 28)<br />

estratégia é a situação em que existe uma identificada, analisada e efetiva<br />

interligação entre os fatores externos e internos da empresa, visando otimizar<br />

o processo de usufruir as oportunidades ou evitar as ameaças ambientais<br />

perante os pontos fracos e fortes da empresa.<br />

Como exemplo, a recente globalização da economia trouxe ao<br />

empresariado novas necessidades, diferentes do passado,<br />

incentivando-os pela procura de novos modelos de gestões que sejam<br />

capazes de fazê-las subsistirem a esse novo cenário. O gerenciamento<br />

dos ativos físicos, apesar de sua importância para a lucratividade da<br />

empresa, não é mais o único meio de garantir a sobrevivência da<br />

empresa, face à turbulência causada pelo impacto que a globalização<br />

causou aos mercados mundiais, oferecendo aos consumidores um<br />

leque de opções , que os levaram a um alto nível de exigência quanto<br />

à qualidade e ao preço de serviços e produtos.<br />

Diante dessa nova realidade, percebe-se que as empresas<br />

chegaram a um ponto de estagnação estratégica que as levam a um<br />

ponto de convergência tecnológica, incentivando-as a investir no capital<br />

intelectual como a única saída para uma possível diferenciação diante<br />

dos seus concorrentes.<br />

COMO CONCORRER NESSE AMBIENTE TÃO COMPETITIVO?<br />

Diante das tendências mundiais, o êxito das organizações<br />

dependerá mais da sua capacidade de explorar o potencial intelectual<br />

existente nos seus ativos humanos, do que nos seus ativos físicos.<br />

A era pós-industrial exigirá imperativamente criatividade e<br />

inovação, que são atributos adquiridos como frutos do estímulo<br />

ao potencial intelectual presente nas pessoas e que só podem emergir,<br />

quando estimulados por uma política de recursos humanos diferente<br />

de tudo que foi aprendido com a era Industrial.<br />

Cerca de 28% das empresas norte-americanas, até 1998, já<br />

haviam aderido à moderna Gestão do Conhecimento, como nova<br />

sistemática de trabalho no ambiente organizacional. Quatro anos<br />

depois, 96% se renderam a essa nova exigência do mundo empresarial.<br />

As organizações da era da informação estão deixando de basearse<br />

em Recursos e passando a basear-se em Conhecimento, que<br />

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84<br />

Gestão do Conhecimento: uma forma emergente de competitividade organizacioanal<br />

passa a ser a fonte de inovação, competitividade e de renovação<br />

empresarial.<br />

COMO CRIAR CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO?<br />

Inicialmente, através da Informação. Segundo Bateson (1979),<br />

a informação consiste em diferenças que fazem a diferença. A<br />

Informação proporciona um novo ponto de vista para a interpretação<br />

de objetos, tornando visíveis significados antes invisíveis ou lança<br />

luz sobre conexões inesperadas, tornando-se um meio necessário para<br />

extrair e construir o conhecimento, acrescentando-lhe algo ou<br />

reestruturando-o. Segundo Machlup (1983), o conhecimento é<br />

identificado com as crenças e compromissos de quem os detém.<br />

O volume de informação, entretanto, precisa ganhar<br />

significado, para que possa transformar-se em conhecimento. Assim,<br />

a informação é um fluxo de mensagens, enquanto o conhecimento é<br />

produto desse fluxo, sustentado pelas crenças e compromissos de quem<br />

as detém.<br />

Numa dimensão ontológica, uma organização não pode criar<br />

conhecimento sem indivíduos. A organização deve apoiar os indivíduos<br />

criativos e lhes proporcionar um contexto que propicie a criação do<br />

conhecimento. A criação do conhecimento amplia organizacionalmente<br />

o conhecimento criado pelos indivíduos, cristalizando-o como<br />

parte da rede de conhecimentos da organização. Esse processo ocorre<br />

dentro de uma comunidade de interação, que se expande e atravessa<br />

as barreiras organizacionais.<br />

Numa dimensão epistemológica entretanto, o conhecimento<br />

pode encontrar-se de formas tácita e explícita. O tácito é pessoal,<br />

contextual e apresenta dificuldades na formulação e comunicação, o<br />

explícito é codificado, pode ser facilmente transmissível de forma sistemática<br />

e formal.<br />

A informação e o conhecimento podem ser trabalhados em<br />

um contexto, cujo resultado dependerá necessariamente de quem os<br />

manipula. Sendo assim, a empresa precisa desenvolver uma dinâmica<br />

que torne possível a transformação da informação em conhecimento.<br />

COMO TRANSFORMAR INFORMAÇÃO EM CONHECIMENTO?<br />

Criando condições para que o fluxo de informações ganhe<br />

significado e se transforme em conhecimento. Para isso, é necessário<br />

que a organização valorize e apóie a criatividade dos indivíduos,<br />

proporcionando-lhes uma interação que ultrapasse as fronteiras<br />

organizacionais.<br />

A reciprocidade de informações, dentro de um contexto<br />

organizacional, possibilitará o encontro do conhecimento tácito, que<br />

é pessoal e incorporado ao indivíduo, com o conhecimento explicito,<br />

que é formal, sistematizado e pode ser facilmente externalizado.<br />

Nos modos de conversão de conhecimentos, Nonaka e Takeuchi<br />

(1997) defendem que os fenômenos ocorridos durante as trocas de<br />

experiências, se manifestam das seguintes formas:<br />

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Socialização - onde o indivíduo compartilha seu conhecimento tácito<br />

através de linguagem, observação, imitação e prática.<br />

Externalização - onde o indivíduo compartilha seu conhecimento tácito<br />

com várias outras pessoas e de forma não-direta.<br />

Combinação – um conhecimento já explícito é compartilhado também<br />

de forma explícita.<br />

Internalização – o conhecimento explícito é compartilhado de forma<br />

explícita, sendo que o receptor o transforma em conhecimento implícito.<br />

A forma de promover esse compartilhamento constitui o<br />

desafio que as empresas enfrentam para gerir seus conhecimentos.<br />

COMO COMPARTILHAR CONHECIMENTO NA ORGANIZAÇÃO?<br />

Os estudiosos da Gestão do Conhecimento apresentam<br />

metodologias que essencialmente incluem a identificação dos ativos<br />

intelectuais existentes, a criação de uma estrutura organizacional<br />

que tenha como base uma dinâmica de compartilhamento do<br />

conhecimento em todos os níveis. Este compartilhamento pode<br />

acontecer formal ou informalmente. A organização deve adotar uma<br />

metodologia que melhor se adeqüe à sua realidade.<br />

O compartilhamento informal pode ocorrer enquanto os<br />

funcionários trocam idéias, pedem conselhos ou ajudam-se entre si.<br />

A organização pode estimular esse compartilhamento tácito,<br />

simplesmente promovendo encontros que favoreçam o intercâmbio,<br />

a exemplo de viagens e feiras de conhecimento. A organização poderá<br />

promover também o compartilhamento formal, utilizando-se de<br />

técnicas já não tão modernas, como as palestras, recursos<br />

audiovisuais, manuais e livros, ou poderá adotar a alta tecnologia dos<br />

computadores para a disseminação dos conhecimentos de forma<br />

codificada e armazenada. Certamente será necessário criar um<br />

mapeamento que facilite aos seus funcionários a localização das<br />

fontes do conhecimento, ou seja , quem os detém ou onde encontrálos<br />

de forma sistematizada. Como esse processo tem como base o<br />

relacionamento entre pessoas, é natural que o compartilhamento<br />

apresente dificuldades, tendo em vista que as pessoas foram<br />

acostumadas a acreditar que seriam mais valorizadas se guardassem<br />

seus conhecimentos consigo, e os usassem para exercer poder na<br />

organização.<br />

Na era do conhecimento, entretanto, as organizações poderão<br />

utilizar os diversos recursos da Tecnologia da Informação, como fortes<br />

aliadas do compartilhamento e armazenamento do conhecimento. Não<br />

importa a metodologia, serão vencedoras as organizações que forem<br />

capazes de gerir seus Conhecimentos de tal forma a transformá-los<br />

em Ativos Intelectuais.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Na era industrial administrava-se máquinas e Taylor ficou<br />

consagrado pelo seu talento em medir a produção destas e das pessoas.<br />

Na era da informação, entretanto, as máquinas são similares,<br />

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Gestão do Conhecimento: uma forma emergente de competitividade organizacioanal<br />

produzem produtos similares em qualidade, preço e funcionalidade. E<br />

agora? Onde encontrar a real vantagem competitiva que subsista à<br />

próxima inovação?<br />

A maioria das organizações brasileiras ainda não despertou<br />

para a importância da Gestão do Conhecimento, como uma vantagem<br />

competitiva realmente sustentável. Chegamos numa era em que só o<br />

capital intelectual fará a diferença entre os atributos competitivos<br />

nas organizações.<br />

Será necessário o rompimento com os antigos paradigmas da<br />

era industrial, que essencialmente restringiam-se à aquisição de<br />

máquinas modernas e ao controle burocrático de freqüência,<br />

pontualidade e cálculos trabalhistas dos funcionários. Será necessário<br />

criar ambientes organizacionais que estimulem a criatividade e o feeling<br />

inerente às pessoas, de forma a permitir a criação e o compartilhamento<br />

do conhecimento.<br />

Só as pessoas poderão responder à organização, aquela<br />

pergunta que não quer calar: e agora, a tecnologia estagnou? As<br />

pessoas responderão: não, a tecnologia se aperfeiçoará infinitamente,<br />

enquanto o homem, que é o seu criador, tiver a chance de aperfeiçoar<br />

a sua criatura, através da multiplicidade do conhecimento.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ANGELONE, M. Organizações do conhecimento. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />

BARROSO, A; GOMES, E . Tentando entender a gestão do conhecimento.<br />

Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro – mar./<br />

abr. 1999.<br />

BATESON, G. Steps to an ecology of mind. Londres: Paladin, 1973.<br />

MACHLUP, F. Semantic quirks in studies of informations, org. F.<br />

Machlup e U. Mansfield. Nova York, 1983.<br />

NONAKA, I ; TAKEUCHI, H. A criação do conhecimento na empresa:<br />

como as empresas japonesas geram a dinâmica da organização. Rio<br />

de Janeiro: Campus, 1997.<br />

OLIVEIRA, D. P. R. Excelência na administração estratégica: a<br />

competitividade para administrar o futuro das empresas. São Paulo:<br />

Atual,1999.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


A INTERNET NA ERA DA COMUNICAÇÃO VIRTUAL: O<br />

GRANDE DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO DO NOVO<br />

MILÊNIO<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Sélcio de Souza Silva¹<br />

Este artigo pretende discutir a Internet como uma grande ferramenta<br />

e fonte de informações indispensáveis à educação dos novos tempos,<br />

que exigem, ao incorporar as novas tecnologias, desenvolvidas pela<br />

sociedade da informação, um novo posicionamento do professor, que<br />

passa, no ensino presencial, se não a usá-la, ainda, de forma pouco<br />

exploratória, a questioná-la, quanto ao acesso ao conhecimento, aos<br />

seus recursos e ao seu próprio papel na condição de educador na era<br />

da educação virtual.<br />

Palavras-chave: internet, ferramenta, sociedade da informação,<br />

conhecimento, novas tecnologias, ensino presencial, educação virtual.<br />

ABSTRACT<br />

This article intends to discuss Internet as a powerful tool as well as a<br />

source of indispensable information to the schooling of the new times.<br />

From the moment new technologies developed by the society of<br />

information are incorporated in our everyday life, it is required from<br />

the teacher a new position .Thus, the teacher in the presence schooling<br />

starts whether to use Internet, although in a sub exploring way or to<br />

evaluate it considering the access provided to knowledge, the resources<br />

provided and his own role as an educator in the schooling virtual area<br />

Key Words: internet, tool, society of information, knowledge, new<br />

technologies, presence schooling, virtual schooling.<br />

A ERA VIRTUAL<br />

Entramos na era virtual e ela nos tem forçado a refletir sobre o<br />

papel da educação e da escola nesse mundo em plena transformação.<br />

Precisamos refletir, ainda, sobre a necessidade de um maior e<br />

diferenciado uso dos novos recursos da comunicação na educação,<br />

uma vez que já vivemos na chamada sociedade dos mass media e<br />

temos, aí, todo um recurso tecnológico que poderá estar auxiliando<br />

no processo ensino-aprendizagem, desde que saibamos usá-los, de<br />

maneira consciente. Por isso, é imprescindível que o professor, como<br />

um dos principais personagens desse processo, deixe de estar<br />

preparado para trabalhar com essa cultura audiovisual voltada para<br />

¹ Sélcio de Souza Silva é mestre em Educação, diretor-administrativo da FASB e<br />

professor da UNEB.<br />

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Sélcio de Souza Silva<br />

as mídias, que determinam e exigem uma nova linguagem e uma nova<br />

postura, no âmbito da relação homem-técnica. Juan Carlos Tedesco<br />

nos faz entender um passado não tão longínquo e um presente que<br />

nos exige novas habilidades:<br />

Ver era um critério importante de verdade. Agora a manipulação da imagem e<br />

as possibilidades que se abrem de construir “realidades virtuais” obrigam a<br />

estabelecer uma relação distinta com a imagem. Ver já não é suficiente. Agora<br />

é necessário que se ensine a usar os meios para evitar que a imagem nos<br />

manipule, o que abre a porta para toda uma linha de ação educativa futura<br />

baseada em formar para o uso crítico dos meios (TEDESCO, 1995, p. 1995).<br />

Sabemos, porém, que o computador, em se tratando de novas<br />

tecnologias, não é a primeira tecnologia, por excelência, que adentrou<br />

a sala de aula; além desta nova tecnologia de recurso multimídia², a<br />

televisão, assim como outras máquinas de comunicação (instrumentos<br />

de uma nova razão, segundo Pretto (2001, p. 43), tais como: vídeo,<br />

computadores, multimídias, foram e continuam sendo uma realidade<br />

didático-pedagógica às escolas. A esse respeito, Nelson de Luca Pretto<br />

assim se pronuncia:<br />

(...) ampliam-se as possibilidades de comunicação, tendo a televisão um papel<br />

de destaque, já que passa a funcionar associada a todos esses vários canais<br />

de comunicação, articulada em grandes redes. Esta passa a ter, então, a função<br />

de reconstruir a história, melhor dizendo, as histórias (PRETTO, 2001, p. 38).<br />

É somente após a Segunda Guerra Mundial, que se tem início<br />

a chamada crise da modernidade. O advento das máquinas, por meio<br />

de indústrias de informática e da comunicação, significa a superação<br />

do homem pela sua criação, pelos meios de comunicação e informação,<br />

provocando, produzindo transformações profundas na vivência das<br />

pessoas.<br />

Pretto (2001) considera, ainda, que a primeira revolução<br />

tecnológica tem a ver com os meios de transportes e a segunda com a<br />

combinação da informática com a telefonia³. Por conseguinte, a<br />

primeira é chamada de telêmica, voltada para a velocidade de veículos<br />

sofisticados, e a segunda de telemática 4 , ciência que trata da<br />

manipulação e utilização da informação através do uso combinado de<br />

computador e meios de telecomunicação.<br />

É por conta de uma nova ordem mundial que, atualmente,<br />

“a circulação tornou-se a figura-chave da nova civilização: circulação dos<br />

automóveis, circulação das imagens, circulação da moda, tudo se move, se<br />

dissolve, é substituído. Isto é o teletropismo, uma nova figura do nomadismo”<br />

(Apud PRETTO, 2001, p. 36) e, às vezes, o que se percebe é que não há,<br />

2 Tem a função de apresentar e recuperar a informação, veiculado no computador de<br />

maneira integrada, multissensorial, intuitiva e interativa.<br />

3 O telefone, por exemplo, já funciona como um dispositivo de tele-presença, uma vez<br />

que não leva apenas uma imagem ou uma representação da voz: transporta a própria<br />

voz (LÉVY, 2001, p. 28-29).<br />

4 [De tele (comunicação) + (infor) mática]<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


A Internet na era da comunicação virtual: o grande desafio para a educação do novo milênio<br />

da parte educacional, questionamentos de incorporação crítica. Qual<br />

novo ser humano queremos formar e como utilizar da melhor forma<br />

possível os recursos disponíveis? Ser humano, este, que está inserido<br />

no mundo da comunicação virtual, que exige uma nova escola e um<br />

novo modelo de professor, capazes de interagir com o mundo de<br />

informação e de tecnologias. Como nos aponta Nelson de Luca Pretto:<br />

Nas últimas décadas um movimento de aproximação entre as grandes<br />

indústrias do mundo eletrônico, dos equipamentos, da informática, da<br />

informação, de entretenimento e cultural promove um desenvolvimento<br />

significativo dos sistemas de comunicação em todo o planeta, provocando um<br />

deslocamento na perspectiva de mundo, em praticamente todas as áreas do<br />

conhecimento e introduzindo uma outra e nova razão (outro paradigma?) mais<br />

global e mais complexa. As ciências, as artes, a publicidade, o lazer, as técnicas,<br />

tudo, enfim, vai se transformando, colocando em crise os valores que<br />

constituíram as bases da sociedade moderna (PRETTO, 2001, p. 28).<br />

Para Morin (2001), a educação deve levar em consideração<br />

alguns paradigmas, a exemplo de “As cegueiras do conhecimento”,<br />

que se insinuam, muitas vezes inconscientemente, e que fogem da<br />

verificação empírica e da coerência lógica das teorias. Mas, que se<br />

revelam, sobretudo, nas zonas invisíveis dos paradigmas da sociedade<br />

moderna, pois eles são inconscientes, embora alimentam o pensamento<br />

consciente, controlando-o e, conseqüentemente, determinam conceitos,<br />

comandam discursos e/ou teorias:<br />

Portanto, o paradigma efetua a seleção e a determinação da conceptualização e<br />

das operações lógicas. Designa as categorias fundamentais da inteligibilidade e<br />

opera o controle de seu emprego. Assim, os indivíduos conhecem, pensam e<br />

agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles” (MORIN, 2001, p. 25).<br />

A partir da segunda metade do século XIX, o mundo incorpora<br />

à sua história o telégrafo, o telefone, a fotografia e o cinema, dando<br />

início ao período de comunicação generalizada. Desde então, até a<br />

metade do século XX, ele presencia duas grandes guerras mundiais<br />

que trarão, sem sombra de dúvida, modificações de ordem política,<br />

social e cultural, tendo como ponto de partida a comunicação de massa,<br />

que teve auxílio dos novos meios eletrônicos que se sofisticam através<br />

de pesquisas para uma futura ampliação de proporção planetária.<br />

Segundo Starr (1996), as expectativas quanto ao uso e incorporação<br />

de tecnologias, na história da educação, principalmente do século XX (século<br />

de fracassos no âmbito das inovações educacionais), foram decepcionantes,<br />

“não pelas razões que geralmente se afirma – execução deficiente, dinheiro<br />

insuficiente, resistência dos professores – mas por causa de um obstáculo<br />

mais fundamental: a lógica da sala de aula” (STARR, 1996, p. 20) 5 .<br />

Isso quer dizer que, segundo Lucena e Fuks (2000, p. 23) “os<br />

filmes, o rádio e a televisão requeriam muito trabalho e esforço técnico<br />

específicos que dificultaram a sua relação com a sala de aula”. Por<br />

isso que, na intenção de simplificar o uso destas tecnologias,<br />

acrescentou-se a elas os slides, o retroprojetor e o videocassete, embora<br />

de maneira limitada.<br />

5 Tradução do original feita pelo próprio autor do artigo.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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Sélcio de Souza Silva<br />

Na pretensão de criar um novo espaço, denominado por Lévy<br />

(2001), espaço virtual, capaz de abarcar diversas manifestações<br />

culturais, que seria ligado por redes telemáticas de comunicação, é<br />

que o sistema educacional pode contar com a utilização de<br />

mecanismos de comunicação, como Groupware AulaNet 6 , para<br />

melhor aquisição, informação e conhecimento, onde a velocidade<br />

desses sistemas de telecomunicação tomou dimensões maiores, a<br />

ponto de virtualizar os sentidos do corpo:<br />

O telefone para a audição, a televisão para a visão, os sistemas<br />

telemanipulações para o tato e a interação sensório-motora, todos esses<br />

dispositivos virtualizam os sentidos. E, ao fazê-lo, organizam a colocação em<br />

comum dos órgãos virtualizados (LÉVY, 2001, p. 28).<br />

Nesse sentido, é que o computador, na atualidade, é utilizado<br />

como editor de texto, como planilha eletrônica, como meio de comunicação<br />

e pesquisa; e, até mesmo, como entretenimento, seja extra ou intra contexto<br />

escolar: escutar, olhar, ler equivale finalmente a construir-se, segundo<br />

Lévy (2001, p.37). E, no caso da Internet, que entrou na vida cotidiana<br />

de um percentual da população, não poderia deixar de estar na dinâmica<br />

da escola, incorporados à prática educativa dos estudantes e professores.<br />

Pretto, em seu livro ‘Uma escola com/sem futuro’, nos diz que<br />

“as máquinas da comunicação passam, portanto, a sinalizar o dia-a-dia<br />

de todos e, mesmo em seu espaço mais íntimo, (a casa) elas estão presentes<br />

e colocam as pessoas em permanente contato com o mundo exterior”<br />

(PRETTO, 2001, p. 41).<br />

A INTERNET COMO COMUNICAÇÃO VIRTUAL<br />

A Internet é uma rede mundial de computadores que permite<br />

a conexão e o intercâmbio de informações e serviços na maior parte<br />

do mundo, atingindo mais de 160 países e diferentes entidades<br />

(acadêmicas, governamentais, comerciais e privadas). Seu principal<br />

recurso é a simples transferência de dados de um lugar a outro em<br />

qualquer parte do mundo, onde houver um cabo de fibra ótica,<br />

conectado a um computador, diminuindo as distâncias e<br />

possibilitando o acesso à informação por intermédio de variados<br />

programas, tais como Unix, Dos, Windows, Mac, Linux, etc. Na<br />

palavras de Heide & Stilborne, a Internet é definida<br />

como uma rede de computadores interligada, mas independentes. Em menos<br />

de duas décadas, transformou-se em uma rede altamente especializada de<br />

comunicações, utilizada principalmente para fins militares e acadêmicos,<br />

em um bazar eletrônico de massa (HEIDE; STILBORNE, 2000, p. 22).<br />

A EDUCAÇÃO NA ERA DA INTERNET<br />

Não há mais como negar, a sala de aula tradicional, sem<br />

atrativos e, muitas vezes, baseada no modelo clássico de transmissão-<br />

6 Grupo de trabalho software criado para ser usado numa rede que serve um grupo de<br />

usuários trabalhando num projeto relacionado.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


A Internet na era da comunicação virtual: o grande desafio para a educação do novo milênio<br />

memorização-reprodução de conhecimentos, não seduz o aluno e nem<br />

mesmo o acadêmico. Nesse sentido, cresce o desinteresse pela aula,<br />

uma vez que os nossos alunos vivem, atualmente, na chamada “geração<br />

digital”, provocando, assim, uma lacuna enorme entre o modelo<br />

tradicional e os recursos tecnológicos, usados pelas crianças em seus<br />

próprios lares.<br />

Eventualmente, não podemos mais conceber uma educação,<br />

em plena era da cibercultura, promotora da mudança paradigmática<br />

em informação e comunicação de nosso tempo, como um ambiente,<br />

ainda, baseado no falar-ditar do mestre, sem nenhuma participação<br />

do aluno, que se posicionava de forma passiva mediante a transmissão.<br />

Hoje, o professor deixou de ser a figura central da sala de aula<br />

e passa a ocupar outros lugares e assumir outros papéis, no contexto<br />

educativo, onde a Internet já não é mais nenhum inimigo, mas se<br />

revela como um grande suporte no processo educacional. Assim, a<br />

partir das experiências com o ciberespaço 7 , a Internet, as hipermídias 8<br />

ou os sofwares, alguns professores se despertam para a noção de<br />

interatividade que a máquina pode proporcionar aos alunos que<br />

atingem zonas de trabalho que nunca haviam imaginado.<br />

Por isso, o professor terá de aprender a se comunicar com as<br />

“máquinas”, por meio de um telefone ou Web-cam 9 ; caso contrário,<br />

ver-se-á perdido num mundo onde ele precisa urgentemente dominar,<br />

uma vez que o ciberespaço atinge, de maneira inovadora, os processos<br />

comunicacionais dos novos tempos, pois necessita de uma tecnologia<br />

avançada, ainda não manipulada pela maioria esmagadora dos<br />

professores. O novo cenário comunicacional exige não mais a lógica<br />

da transmissão, mas passa para a interatividade.<br />

O professor terá que, em contato com sites de informação, de<br />

cultura, de comércio, que auxiliam na busca por pesquisas,<br />

proporcionar espaços propícios para o desenvolvimento da<br />

aprendizagem. Conciliar esses mecanismos e conteúdos da Internet,<br />

favorecendo o ensino-aprendizagem, mediados pelo professor, é o<br />

grande desafio para o novo milênio frente a esses dispositivos<br />

tecnológicos em uso, atualmente.<br />

Daí o papel e lugar do professor ganharem novas perspectivas.<br />

Alguns adjetivos já são, então, comuns, tais como: produtor, animador,<br />

avaliador, mediador, informador e pedagogo e outros como: Idealizadorcoordenador<br />

de projeto, corretor independente, tutor mentor,<br />

Webmaster 10 , autor professor e gestor de cursos.<br />

Lucena e Fuks (2000) consideram vantajoso o uso da Internet<br />

em relação aos métodos tradicionais, apresentando-nos seis outros<br />

gerados pelas atividades com a rede:<br />

- A disseminação com o propósito de distribuir a informação<br />

7 Refere-se a todos os sites que se pode acessar eletronicamente. Se ocomputador<br />

está conectado à Internet ou a uma rede semelhante, então ele existe no ciberespaço.<br />

8 Termo usado quando se agrega som, imagens, textos, gráficos e as técnicas de<br />

hipertexto. Hipertexto é exatamente um texto não-linear, no qual o usuário pode<br />

escolher caminho, assunto e velocidade. É, na verdade, um editor de texto e um<br />

banco de dados.<br />

9 Pequena câmera de menos de 10 centímetros, que dispensa o uso de placa de captura<br />

de vídeo no PC e que com um ímã pode ser fixada sobre o monitor.<br />

10 Pessoa que administra, executa ou supervisiona um web site.<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

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Sélcio de Souza Silva<br />

(apresentação da informação sobre o curso);<br />

- a facilitação com propósito de dar apoio e assistência ao estudante<br />

(ambientes MUD, os grupos e listas de discussão, os chats (salas de<br />

bate-papos pela Internet);<br />

- a colaboração interna no grupo (trabalho colaborativo entre alunos<br />

através dos mecanismos de comunicação disponíveis);<br />

- A colaboração externa, da interação com agentes e com comunidades<br />

do conhecimentos externo ao curso (professores visitantes);<br />

- o desenvolvimento gerativo-elaboração de conteúdo (desenvolvido pelo<br />

aluno de home pages);<br />

- O desenvolvimento de papéis: responsabilidades simuladas a um<br />

grupo de pessoas (um moderador; outro, advogado do diabo; e um<br />

terceiro é o relator).<br />

Observa-se que alguns desses métodos já foram identificados<br />

com a chegada do computador à escola, oportunizando assim benefícios<br />

à educação antes mesmo que a WWW pudesse ser realidade no contexto<br />

escolar. Tal fato indica que devemos aproveitar o legado da informática<br />

na educação dos anos passados.<br />

Com a multiplicação de valores locais e da comunicação<br />

generalizada entre as sociedades, nesse final de século, Pretto (1995)<br />

adverte que as possibilidades de se contar a História também se<br />

multiplicam e o futuro perde o sentido de um processo evolutivo linear.<br />

O autor defende que um novo lugar, agora não mais físico, não mais<br />

geográfico, assume o papel de lugar público. Esse novo lugar pode ser<br />

a tela da televisão ou o espaço virtual das redes telemáticas de<br />

computadores. Os computadores já ocupam seu lugar nesse momento<br />

de transição, comportando-se como um instrumento de trabalho que<br />

é portador de uma nova maneira de pensar e de trabalhar, incluindo<br />

aí o ato de pesquisar e de educar.<br />

Os novos projetos educacionais podem ser viabilizados pelo<br />

maior uso dos novos recursos tecnológicos da comunicação a serviço<br />

da educação. Não basta, entretanto, colocar os velhos conteúdos e as<br />

velhas formas de ensinar nos novos meios de transmissão. É preciso<br />

que os educadores percebam o novo campo que se amplia e que reflitam<br />

um novo papel para a educação, integrando-se a esse conjunto de<br />

transformações. As dificuldades de compreensão do momento histórico<br />

em que vivemos apresentam resistências para se “incorporar a<br />

imaginação, a afetividade, uma nova razão, não mais operativa e sim<br />

baseada na integridade e na globalidade” (PRETTO, 1995, p. 320).<br />

A questão humanista deve ser levada em consideração, pois o<br />

mundo atual exige que seja formado um ser humano participativo,<br />

que saiba dialogar com os novos valores tecnológicos. Segundo Pretto<br />

(1995), não se pode formar simplesmente uma mão-de-obra barata<br />

para uma sociedade tecnológica, um ser humano-mercadoria, receptor,<br />

passivo.<br />

O papel da tecnologia na escola será, portanto, de contribuir<br />

para universalizar o conhecimento e a informação. A integração mais<br />

efetiva entre a educação e a comunicação só se dará quando os novos<br />

meios estiverem como fundamento de uma nova educação, não como<br />

instrumentalidade pura e simples de velhas práticas educativas. A<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005


A Internet na era da comunicação virtual: o grande desafio para a educação do novo milênio<br />

nova escola ambicionada e em construção deve estabelecer uma relação<br />

crítica permanente com o mundo que a cerca, valorizando a<br />

criatividade, a comunicação e os valores da sociedade em<br />

transformação. Para Lucena e Fuks, “a ‘escola’, reduto persistente da<br />

época industrial, com seu horário rígido e currículo alienante, teve<br />

que redefinir o perímetro das suas paredes e incorporar a nova<br />

tecnologia de comunicação” (LUCENA; FUKS, 2000, p. 119).<br />

Para que a tecnologia faça frente aos maiores problemas da<br />

educação superior, ela deve, segundo Davies (1995), responder a três<br />

questões: pode a Internet tornar o aprendizado mais acessível? Ela<br />

pode promover a melhoria do aprendizado? Ela atende aos quesitos<br />

acima, mantendo, senão reduzindo, os custos unitários da educação?<br />

Das três questões acima, interessa-nos mais os benefícios que<br />

a World Wide Web pode trazer para o aprendizado. Encontra-se, na<br />

literatura, um debate sobre a existência de atributos únicos nesse<br />

meio que podem promover o aprimoramento do aprendizado. O debate<br />

se origina da observação de que, depois de cinqüenta anos de pesquisa<br />

sobre as diversas mídias educacionais, nenhum consistente e<br />

significante efeito dos meios foi demonstrado, pois o uso educacional<br />

da televisão é um exemplo: inicialmente, havia muitas expectativas de<br />

que a televisão poderia ter certas características que levariam a<br />

melhorar o aprendizado dos alunos, mas nada foi encontrado. Alguns<br />

argumentam que, possivelmente, nenhum efeito pode ser demonstrado,<br />

porque qualquer progresso no aprendizado que possa ocorrer advirá<br />

de um projeto educacional, não dos meios à disposição do ensino.<br />

A questão tornou-se mais complexa quando a Web começou a<br />

ser usada como um instrumento para o aprendizado, em oposição aos<br />

meios para desenvolver, de forma mais ampla, um conteúdo prédeterminado.<br />

Como um mero instrumento de aprendizado, ela passou<br />

a ser usada como um veículo para pesquisar e recuperar informações,<br />

de maneira rápida e fácil. É importante proporcionar ambientes nos<br />

quais a aprendizagem possa ser ativamente facilitada. E, para que<br />

isso aconteça, faz-se necessária a utilização da Internet na intenção<br />

de oportunizar o desenvolvimento de experiências de aprendizagem<br />

cooperativa, a partir de ambientes informatizados.<br />

O desenvolvimento do aprendizado com a Web é, simplesmente,<br />

saber como, de maneira efetiva, explorá-la nas situações de ensinoaprendizagem.<br />

O autor lembra que, ao contrário de uma sala de aula,<br />

onde as conversações desaparecem, o instrumento permite que cada<br />

opinião seja capturada para futuro exame, elaboração e extensão. O<br />

resultado é mais rico, não em função do instrumento em si, mas porque<br />

o caminho escolhido pelo professor tornou-se possível pelo instrumento.<br />

A WEB E A APRENDIZAGEM<br />

Vale salientar que a Web é uma ferramenta adequada ao novo<br />

ambiente de aprendizagem, capacitando o estudante a ter acesso a<br />

novas oportunidades por meio da Internet, sem ter que dominar<br />

enigmáticos comandos do computador. Os estudantes podem, por<br />

exemplo, debater questões levantadas durante seus cursos regulares<br />

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com outros acadêmicos. As conversações virtuais eletrônicas são<br />

também suportadas pelo correio eletrônico, que permite o contato com<br />

o professor diretamente ou com outras pessoas registradas nos grupos<br />

de discussão. A Web suporta a interação por uma comunicação<br />

assíncrona (as contribuições não ocorrem ao mesmo tempo) ou por<br />

uma comunicação síncrona (ao vivo, em tempo real). Os estudantes<br />

têm a flexibilidade de fazer parte de uma sala de aula virtual a partir<br />

de qualquer conexão da Internet no mundo.<br />

Sabemos também que a Web permite novas formas de<br />

aprendizagem. Quando nas mãos de professores capazes, pode<br />

desempenhar um proeminente papel no desenvolvimento de habilidades<br />

nos estudantes, tais como pensamento crítico, solução de problemas,<br />

comunicação escrita e a capacidade de trabalhar colaborativamente.<br />

O professor pode encorajar os estudantes a explorar a Web com um<br />

determinado objetivo e, a partir desse material, julgar a autenticidade<br />

dos dados e o peso das evidências, comparar os diferentes pontos de<br />

vista sobre a questão, analisar e sintetizar as diversas fontes de<br />

informação e construir seu próprio entendimento do tópico ou da<br />

questão que eles têm na mão.<br />

A verdade é que estamos diante de uma mudança de<br />

paradigmas. Muitos de nossos educadores ainda não experimentaram<br />

o potencial das tecnologias colaborativas em suas salas de aula e/ou<br />

em suas escolas, uma vez que a maioria das capacidades discuti-das<br />

até aqui ainda não está disponível às escolas. As universidades<br />

precisam de pioneiros na aplicação de tecnologia para a aprendizagem.<br />

Entretanto, percebemos que os administradores das universidades,<br />

na jornada rumo ao século XXI, estão diante de um desafio que não<br />

significa mais apenas a inclusão das novas tecnologias informacionais<br />

nos processos educacionais, mas a sua utilização como mais uma<br />

ferramenta indispensável para o ensino-aprendizagem.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Sélcio de Souza Silva<br />

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utilizando a Multimídia. Dissertação (Mestrado). Instituto de Física e<br />

Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, 2000, cap. 3.<br />

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DRUCKER, Peter F. Educação e sociologia. São Paulo: Melhoramentos, 1975.<br />

EDUCAÇÃO, Laboratório do presente apresenta a sala do futuro.<br />

São Paulo, ano 26, n. 219, p. 22-23, jul./1999.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.<br />

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HEIDE, Ann; STILBORNE, Linda. Guia do professor para a Internet:<br />

completo e fácil. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.<br />

LÉVY, Pierre. O que é o virtual. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Ed. 34, 2001.<br />

LUCENA, Carlos; FUKS, Hugo. A educação na era da Internet: professores<br />

e aprendizagem na Web. Rio de Janeiro: Clube do Futuro, 2000.<br />

MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários à educação do futuro.<br />

São Paulo: Cortez, Brasília, DF: Unesco, 2001.<br />

NOVA ESCOLA, O micro invade a sala: a didática nunca mais será a<br />

mesma. São Paulo, Fundação Victor Civita, ano XIII, nº 110, p.10 a<br />

17, mar. 1998.<br />

PRETTO, Nelson de Luca. Uma escola sem/com futuro. Campinas: Papirus, 2001.<br />

STARR, Robin M.; MILHEIM, William D. Educacional. Uses of the<br />

Internet: an exploratory survey. educational technology magazine.<br />

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TEDESCO, Juan Carlos. O novo pacto educativo: educação<br />

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A TENSÃO HOMEM/CIDADE NO DISCURSO POÉTICO DE<br />

CESÁRIO VERDE E DRUMMOND<br />

RESUMO<br />

Revista Mosaicum - N°1 - Ano I - Jan. / Jul. 2005<br />

Valci Vieira dos Santos¹<br />

O espaço urbano sempre exerceu fascínio sobre o homem. Escritores<br />

e poetas, das mais diferentes épocas e dos mais diferentes lugares,<br />

se debruçaram sobre esse espaço, a fim de desvendar-lhe alguns<br />

mistérios. Cesário Verde, poeta português e Carlos Drummond de<br />

Andrade, poeta brasileiro, são dois desses escritores que, através do<br />

discurso poético, procuraram discutir a tensão que o homem<br />

estabelece com a cidade.<br />

Palavras-chave: homem, cidade, discurso, tensão.<br />

ABSTRACT<br />

The urban atmosphere has always exerted fascination on the human<br />

being. Writers and Poets, from a great variety of epochs and places,<br />

have bent over this atmosphere, in order to reveal some of its misteries.<br />

Cesário Verde, a portuguese poet and Carlos Drummond de Andrade,<br />

a brazilian poet, are two of this kind of writers that through the poetic<br />

speech aimed to discuss the tension established from the relationship<br />

between the human being and the city.<br />

Key Words: human being, city, speech, tension.<br />

Marx e Engels afirmam, em A ideologia alemã, que a “linguagem<br />

é a consciência real”. Bakhtin diz que a “consciência constitui um fato<br />

socio-ideológico”, pois a realidade da consciência é a linguagem (Apud<br />

FIORIN, 1988). Para os dois primeiros autores, a linguagem não se<br />

constitui num domínio autônomo, visto que se trata de expressão da<br />

vida real. É, portanto, um fenômeno complexo e que dá margem ao<br />

estudioso lançar-lhe olhares sob diversos aspectos: fisiológico, psíquico,<br />

social e físico, etc. A linguagem é, ademais, um instrumento que o<br />

homem usa para estabelecer contatos e interagir socialmente, uma<br />

vez que vive em sociedade e tem, dessa forma, necessidade de<br />

comunicar-se com seus pares, num processo de interlocução.<br />

A linguagem concebida como uma atividade interativa que os<br />

homens utilizam para compartilhar suas idéias e opiniões e que, por<br />

outro lado, faculta-lhes a prática dos mais diferentes atos, acabou<br />

por despertar interesse de especialistas de diversas áreas do co-<br />

¹Valci Vieira dos Santos é mestre em Literaturas de Língua Portufguesa, professor<br />

da UNEB e diretor acadêmico da FASB.<br />

2 Apud FIORIN, José Luiz.Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 1988. p.35.


Valci Vieira dos Santos<br />

nhecimento, em particular a Lingüística Textual, para quem a<br />

linguagem passou a ser vista não somente como um processo de<br />

comunicação em si, mas também como meio de ação sobre as relações<br />

humanas.<br />

Uma vez concebida a linguagem como atividade, a Análise do<br />

Discurso volta-se para o estabelecimento das relações existentes entre<br />

a língua e os seus usuários, levando em consideração as manifestações<br />

lingüísticas dos indivíduos, num determinado espaço e tempo, e a<br />

observação de certas intenções que carregam no bojo de seu discurso.<br />

Assim, a AD passa a considerar, também, a linguagem como forma de<br />

o homem inteirar-se socialmente e também como modo de expressão<br />

da intencionalidade.<br />

Essa nova perspectiva de conceber o discurso como objeto<br />

cultural, ideológico, como lugar de interação entre o indivíduo e o seu<br />

universo, mas também de confrontos, tem angariado uma<br />

multiplicidade de adeptos, a exemplo da pesquisadora Eni P. Orlandi<br />

(2001), para quem “o discurso é palavra em movimento, prática de<br />

linguagem” (p.15), além de “tornar possível tanto a permanência e a<br />

continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e<br />

da realidade em que ele vive” (p.15). Trata-se, a bem da verdade, de<br />

visualizar o discurso a partir não somente do ponto de vista da<br />

transmissão de informação, mas sobretudo dos diversos sentidos que<br />

ele imprime ao texto, segundo as condições de cunho histórico,<br />

lingüístico e social que aparecem nas cenas enunciativas, consoante<br />

as condições de produção, portanto.<br />

O certo é que, a linguagem, ao ser trabalhada, traz marcas<br />

plurais e mutáveis, passando pelas diversas instâncias do discurso,<br />

num processo de interação que o homem mantém com o seu<br />

semelhante. O saber discursivo se faz presente nas diversas áreas do<br />

conhecimento, e leva em conta os vários aspectos situacionais e<br />

retóricos – culturais, ideológicos, sociais, históricos etc., os quais, por<br />

seu turno, constituem a estrutura de funcionamento da linguagem.<br />

Dentre as muitas áreas do saber humano, o campo da literatura<br />

é, certamente, um dos mais férteis para a instauração do ato interativo<br />

entre autor/leitor. Não são poucos os autores que têm escrito sobre a<br />

relação que o homem mantém com o espaço urbano. Nessa relação,<br />

tem sido discutido principalmente a tensão que o homem, ao longo da<br />

construção de sua história, vem demonstrando estabelecer com a<br />

cidade, principalmente pelo fato desta, às vezes, impor-lhe necessidades<br />

de ordem econômica, social, educacional etc., as quais nem sempre<br />

estiveram ao seu alcance, gerando, portanto, conflitos e desejos não<br />

satisfeitos.<br />

Tanto a literatura brasileira quanto a portuguesa possuem<br />

grandes escritores que se sentiram atraídos por essa relação quase<br />

sempre conflituosa que o homem demonstra possuir com o espaço<br />

urbano. É como se um exercesse fascínio sobre o outro, desde quando<br />

se descobriram interdependentes.<br />

Dois autores, grandes artesãos da palavra, foram escolhidos<br />

para a construção deste tecido. A proposta é, pois, refletirmos um<br />

pouco sobre a importância que a linguagem tem para as relações que<br />

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A tensão homem/cidade no discurso poético de Cesário Verde e Drummond<br />

o homem estabelece com os seus pares e o seu meio, a partir da<br />

observação do texto literário e de seu universo aberto aos múltiplos<br />

olhares e leituras. Para tanto, de um lado, encontra-se um poeta<br />

português que viveu na segunda metade do século XIX, Cesário Verde.<br />

O grande poeta que transitou livremente entre o campo e a cidade; de<br />

outro, um dos grandes expoentes da produção poética brasileira, Carlos<br />

Drummond de Andrade.<br />

O corpus selecionado para análise levou em conta temas ligados<br />

ao cotidiano urbano e se constitui de excertos dos poemas “O<br />

Sentimento dum Ocidental” e “Cristalizações”, do poeta português; e<br />

“Prece de mineiro no Rio”, do poeta brasileiro.<br />

O presente estudo objetiva, pois, com base na reflexão de<br />

aspectos discursivos dos poemas selecionados, extrair elementos que<br />

corroborem o processo de produção dos textos literários e em que<br />

circunstâncias se deram tal feitura.<br />

De início, detenhamos a atenção no poema intitulado O<br />

Sentimento dum Ocidental, publicado em 1880, numa homenagem<br />

que o poeta Cesário Verde fez ao tricentenário do autor de Os Lusíadas.<br />

O poema encontra na capital portuguesa um cenário e uma<br />

personagem, simultaneamente. Trata-se do sujeito lírico que deambula<br />

pelas ruas da cidade afeito às descrições minuciosas dos lugares e<br />

ambientes. Preocupado com a vertente social de um espaço por<br />

intermédio do qual as pessoas se definem, passa a descrever cenas<br />

que compõem quadros marcados por imagens da vida burguesa<br />

citadina e das massas trabalhadoras.<br />

As estrofes que se seguem ilustram o sentimento do eu lírico,<br />

diante das múltiplas impressões sensoriais face às ruas familiares de<br />

Lisboa:<br />

Nas nossas ruas, ao anoitecer,<br />

Há tal soturnidade, há tal melancolia,<br />

Que as sombras, o bulício,o Tejo, a maresia<br />

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.<br />

O céu parece baixo e de neblina,<br />

O gás extravasado enjoa-me, perturba;<br />

E os edifícios, com as chaminés, e a turba<br />

Toldam-se duma cor monótona e londrina.<br />

O discurso do sujeito poético, eivado de sentimentos<br />

denunciadores da soturna melancolia da cidade, revela-nos marcas<br />

que se opõem ao status quo vigente. É o discurso revelador de uma<br />

Lisboa da segunda metade do século XIX; um discurso que carrega<br />

em si o projeto de denunciar o desequilíbrio social dos habitantes de<br />

Lisboa: as expressões “desejo absurdo de sofrer”, “enjoa-me, perturba”,<br />

por exemplo, corroboram a visão que o poeta tem da cidade<br />

metamorfozeada pelo gás extravasado, pelos edifícios e chaminés,<br />

responsáveis também pela nova cor que os céus da cidade adquire, e<br />

que o remete ao céu cinzento de Londres, símbolo do capitalismo da<br />

época.<br />

O contato do eu lírico com a realidade exterior que lhe salta<br />

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aos olhos, fortemente marcada pelo uso dos verbos embrenhar, no<br />

verso “Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos”; errar, no<br />

verso “Ou erro pelo cais que se atracam botes”; sair, no verso “E saio.<br />

A noite pesa, esmaga. Nos/ Passeios de lajedo arrastam-se as impuras;<br />

ou, ainda, no verbo entrar, em “Entro na brasserie; às mesas de<br />

emigrados/ Ao riso e à crua luz joga-se o dominó”, se constitui num<br />

instrumento de denúncia que o poeta faz das mazelas de uma cidade,<br />

em que os diferentes tipos sociais ganham corpo e representam os<br />

contrastes do novo panorama social, político e econômico: a Lisboa do<br />

último quartel do século XIX, tentando estar em sintonia com o ideal<br />

de desenvolvimento industrial, expansão comercial e cultural dos<br />

demais países europeus. Tais impressões são facilmente perceptíveis<br />

no discurso que se instala nos versos: “Ocorrem-me em revista,<br />

exposições, países: / Madrid, Paris, Berlim, Sampetersburgo, o mundo!”<br />

Os versos “Voltam os calafates, aos magotes, / De jaquetão ao<br />

ombro, enfarruscados, secos” trazem à tona, na voz do eu poético,<br />

sentimento de opressão, depressão, diante das novas figuras que<br />

passam a circular nas ruas de Lisboa, figuras estas que traduzem o<br />

quadro paradoxal que se vislumbra na nova realidade social. De um<br />

lado, “Casas de confecções e modas resplandecem”; de outro, “pedeme<br />

sempre esmola um homenzinho idoso”.<br />

Assim, o eu lírico assume a posição do sujeito que protesta<br />

contra a civilização, numa explícita denúncia social, ao mesmo tempo<br />

que evoca experiências de repetidas deambulações pela “velha cidade”<br />

que o deprime e nauseia. Em “E em terra num tinido de louças e<br />

talheres/ Flameja, ao jantar, alguns hotéis da moda”, a expressão<br />

“hotéis da moda” ilustra a presença dessa “nova civilização”, ao passo<br />

que em<br />

E nestes nebulosos corredores<br />

Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;<br />

Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,<br />

Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.<br />

o vocábulo saudade demonstra o grau de sentimento do eu lírico diante<br />

de cenas que consegue visualizar à medida que deambula pela cidade.<br />

A mesma voz denunciadora de “O Sentimento dum Ocidental”<br />

também se faz presente em “Cristalizações”, poema que, segundo o<br />

próprio autor, contém “versos agudos, gelados”. Com uma diferença:<br />

o sujeito lírico do poema, que assume o papel de um narrador, é um<br />

burguês que perambula pela cidade e tudo encontra “alegremente<br />

exacto”, até que se dá conta da dureza da vida dos calceteiros e dos<br />

trabalhadores de um modo geral. O contato com tal realidade exterior<br />

surpreende-o e fere-o, a ponto de denunciar a injustiça de que são<br />

vítimas as pessoas comuns da cidade grande.<br />

O discurso de denúncia do sujeito poético é construído a partir<br />

das constantes referências sensoriais que vão sendo sentidas à medida<br />

que o poeta se depara com o que assiste e vê:<br />

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100<br />

A tensão homem/cidade no discurso poético de Cesário Verde e Drummond<br />

Faz frio. Mas, depois duns dias de aguaceiros,<br />

Vibra uma imensa claridade crua.<br />

De cócoras, em linha os calceteiros,<br />

Com lentidão, terrosos e grosseiros,<br />

Calçam de lado a lado a longa rua.<br />

Nota-se, inicialmente, a presença do tato: Faz frio; em seguida,<br />

em imensa claridade, a visão passa a relatar os diferentes quadros<br />

descritos pelo poeta, numa verdadeira tela impressionista: de cócoras,<br />

em linha os calceteiros/com lentidão, terrosos e grosseiros.<br />

No sucedâneo de versos que compõem o poema, as demais<br />

referências sensoriais ganham espaço e dão o tom ao discurso marcado<br />

pela oposição entre pessoas simples e aquelas que representam a<br />

burguesia lisboeta, a exemplo dos versos “Cheira-me a fogo, a sílex, a<br />

ferragem; / Sabe-me a campo, a lenha, a agricultura”, em que o olfato<br />

e gosto representam um anúncio dos quadros esboçados seguintes,<br />

representativos do discurso que demonstra a rudeza e a força dos<br />

trabalhadores, assim como a condição de subserviência tão bem<br />

descrita através das expressões “Homens de carga” e “as bestas vão<br />

curvadas!”:<br />

Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!<br />

Que vida custosa! Que diabo!<br />

E os cavadores pousam as enxadas,<br />

E cospem nas calosas mãos gretadas,<br />

Para que não lhes escorregue o cabo.<br />

De outro lado, versos como “Donde ela vem! A actriz que tanto<br />

cumprimento/ E a quem, à noite na platéia, atraio/ Os olhos lisos<br />

como polimento/ Com seu rostinho estreito, friorento” fazem oposição<br />

à descrição dos trabalhadores dos versos anteriores, com suas “calosas<br />

mãos gretadas”, uma vez que o uso de adjetivação sugestiva, para<br />

demonstrar toda a fragilidade da atriz, “rostinho estreito, friorento”,<br />

acaba por valorizar as figuras dos homens que realmente controem o<br />

país. Nos versos seguintes, o discurso em defesa das figuras do povo,<br />

personagem coletiva, ilustram exatamente a impressão que o burguês<br />

passa a ter daquela gente simples que acaba por surpreendê-lo:<br />

Povo! No pano cru rasgado das camisas<br />

Uma bandeira penso que transluz!<br />

Com ela sofres, bebes, agonizas;<br />

Lisgrões de vinho lançam-lhe divisas,<br />

E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!<br />

Assim, na estrofe acima, destaca-se toda a empatia do sujeito<br />

da enunciação pelo Povo, figura coletiva que glorifica, num flagrante<br />

destaque pelas suas qualidades, que representa, simbólica e<br />

linearmente, num plano horizontal, que se opõe ao vertical, da altivez<br />

pretensiosa da figura que surge incontinenti: a da atriz.<br />

Em última análise, encontra-se no bojo do discurso do poeta,um<br />

claro comentário social acerca das características de um e de outro<br />

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tipo social, numa flagrante crítica à sociedade, que se dá por intermédio<br />

de sensações captadas por ele, onde se exalta o povo em detrimento<br />

da classe burguesa, simbolizada na figura da atriz “impaciente sobre<br />

as botinhas de tacões agudos, pezinhos rápidos, de cabra.”<br />

Uma vez dada por conclusa a reflexão em torno de aspectos<br />

discursivos em poemas de Cesário Verde, concentramos, a seguir, a<br />

nossa atenção em fragmentos do poema “Prece de mineiro do Rio”, de<br />

Carlos Drummond de Andrade, em que os discursos das realidades<br />

rural e urbana se evidenciam. Trata-se de dois poetas que, em tempos<br />

distintos, produzem um discurso para denunciar a nova tensão entre<br />

o homem e a cidade.<br />

“Prece de mineiro no Rio” é um poema que faz parte do livro<br />

intitulado A Vida Passada a Limpo. O poeta se encontra na cidade do<br />

Rio de Janeiro, símbolo da confusão, e se sente sozinho, por isso pede<br />

a visita do “Espírito de Minas”. Ao pedir a presença do “Espírito de<br />

Minas”, o poeta invoca a cidade de Itabira, que representa a<br />

possibilidade de resgatar da memória as lembranças de sua infância,<br />

os gestos naturais, “mesmo brusco ou pesado.” Só esse “espírito<br />

mineiro, circunspecto” pode, talvez, conservar na alma do poeta “a<br />

metade do que fui (foi) de nascença”.<br />

Há, portanto, na voz do poeta, não apenas uma invocação aos<br />

ventos de suas origens (conserva em mim ao menos a metade/ do que<br />

fui de nascença e a vida esgarça), mas uma prece, claramente<br />

demarcada pelo verso inicial: “Espírito de Minas, me visita”. É uma<br />

súplica de quem se acha “perdido” na cidade grande, ilustrada por<br />

expressões a exemplo de “voz e buzina se confundem” ou “não quero<br />

ser um móvel num imóvel.”<br />

Nas expressões acima mencionadas, o jogo dos verbetes “voz”,<br />

“buzina”, “móvel”, “imóvel” marcam o tom do discurso que se quer<br />

denunciador do estado de espírito do sujeito poético, que às vezes se<br />

encontra entre “o real e o irreal”. E o fato de estar entre “o real e o<br />

irreal” acaba por criar nele um conflito, já que as lembranças de sua<br />

infância podem ser sufocadas pela dura realidade do Rio de Janeiro.<br />

O discurso que perpassa todo o poema sob análise é, dessa<br />

forma, um discurso marcado por elementos saudosistas de sua terra<br />

natal, a exemplo da expressão “azulada serrania, onde galopam<br />

sombras e memórias”, presente nos versos seguintes:<br />

(...) Não te sinto<br />

a soprar da azulada serrania<br />

onde galopam sombras e memórias<br />

de gente que, de humilde, era orgulhosa<br />

e fazia da crosta mineral<br />

um solo humano em seu despojamento.<br />

Por outro lado, o discurso do sujeito poético que denuncia o<br />

furto de memórias da infância, claramente flagrado pela confusão da<br />

cidade, também denuncia a falta de conhecimento dessas memórias,<br />

e por isso “os que zombam de ti não te conhecem”. Trata-se, portanto,<br />

de um discurso revelador de uma situação social, em que as imagens<br />

da infância do eu lírico se chocam com as da cidade grande. Por isso,<br />

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A tensão homem/cidade no discurso poético de Cesário Verde e Drummond<br />

o sujeito-criador desse discurso questiona o sufocamento do seu “gesto<br />

natural”, do seu “discreto amor” pela dureza da realidade que se lhe<br />

afigura.<br />

Mas o des(conserto) da condição de ser solitário é reforçado<br />

pelo mesmo expediente inicial, isto é, o uso de expressões, ao final do<br />

poema, que marcam uma cadência típica de preces: “Minas, Minas<br />

além do som, Minas Gerais.”<br />

Como se depreende das reflexões que acabamos de fazer acerca<br />

dos poemas de Cesário Verde e Carlos Drummond de Andrade, a<br />

linguagem neles trabalhada revela-nos as diversas nuances que o<br />

sujeito poético utiliza na transmissão de sua mensagem, bem como o<br />

papel que assume a cada nova investida que faz no universo da<br />

comunicação.<br />

Assim, acreditamos ser possível evidenciar a importância que<br />

o discurso tem no processo de interlocução, sobretudo quando o texto<br />

em questão é o literário, uma vez que a riqueza de sua construção<br />

possibilita ao leitor “viajar” nas artimanhas do eu lírico, tornando-se,<br />

quase sempre, um copartícipe dessa (des)construção.<br />

A linguagem é, dessa forma, um instrumento a serviço do<br />

homem, voltada para a comunicação interativa. Por seu intermédio,<br />

os indivíduos estabelecem relações sociais, culturais, históricas, etc.,<br />

e transcendem a sua própria experiência.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro:<br />

Nova Aguilar, 1988.<br />

BARTHES, Roland. Da leitura. In: O rumor da língua. Trad. Mário<br />

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Campinas, SP.: Ed. da Unicamp, 1998. p.15-37.<br />

CHARAUDEAU, Patrick. Análise do Discurso: controvérsias e<br />

perspectivas. In: MARI, H. et al. (Org.) Fundamentos e dimensões da<br />

análise do discurso. Belo Horizonte, Carol Borges – Núcleo de Análise<br />

do Discurso Fale-UFMG, 1999. p. 27-43.<br />

CULLER, Jonathan. Teoria Literária: introdução. Trad. Sandra<br />

Vasconcelos. São Paulo: Beca Traduções Culturais, 1999.<br />

ECO, Umberto. Leitura do texto literário. Lector in fabula. Trad.<br />

Mary Del Piori. Brasília: Ed. da UNB, 1984.<br />

ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Trad. Hildegard<br />

Feist. São Paulo: Moderna, 1982<br />

FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo:<br />

Contexto, 1994.<br />

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FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1988.<br />

JAKOBSON, Roman. Lingüística e Comunicação. São Paulo: Cultrix,<br />

1995. p. 118-162.<br />

KOCH, Ingedore Villaça. A interação pela linguagem. São Paulo:<br />

Contexto, 2001.<br />

MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em análise do<br />

discurso. Trad. Freda Indursky. Campinas, SP.: Pontes: Editora da<br />

UNICAMP, 1989.<br />

MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática para o discurso literário.<br />

Trad. Marina Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 1999.<br />

MARI, Hugo et al. (Orgs.). Fundamentos e dimensões da análise do<br />

discurso. Belo Horizonte: Carol Borges Ed., 1999.<br />

MOISÉS, Massaud. A análise literária. São Paulo: Cultrix, 1991.<br />

ORLANDI, Eni Pulcinelli et al. Vozes e contrastes: discurso na cidade<br />

e no campo. São Paulo: Cortez, 1989.<br />

RANCIÈRE, Jacques. Políticas da escrita. Trad. Rachel Ramalhete.<br />

São Paulo: Editora 34, 1995.<br />

SITYA, Celestina V. Moraes. A Lingüística textual e a análise do<br />

discurso: uma abordagem inter-disciplinar. Frederico Westphalen-RS:<br />

Ed. Dda URI, 1995.<br />

VERDE, Cesário. O Livro de Cesário Verde. Lisboa: Verbo, [19—].<br />

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INSTRUÇÕES AOS COLABORADORES<br />

A Revista <strong>MOSAICUM</strong> é uma publicação semestral e aceita<br />

trabalhos originais que sejam classificados em uma das seguintes<br />

modalidades:<br />

- resultados de pesquisas sob a forma de artigos, ensaios e<br />

resumos de teses, dissertações ou monografias;<br />

Os trabalhos devem ser apresentados em disquete (Winword),<br />

ou enviados via Internet para: Coordenação de Extensão – NUPPE:<br />

nuppe@ffassis.edu.br segundo as normas definidas a seguir:<br />

1. Na primeira página devem constar: a) título do artigo; b)<br />

nome(s) do(s) autor(es), endereço, telefone, e-mail para contato; c)<br />

instituição a que pertence(m) e cargo que ocupa(m).<br />

2. Resumo (português) e Abstract (língua estrangeira): com no<br />

mínimo 200 palavras e no máximo 250, cada um, de acordo com a<br />

NBR 6028. Logo em seguida, as Palavras-chave (português) e Key<br />

words (língua estrangeira), cujo número desejado é de no mínimo três<br />

e no máximo cinco.<br />

3. As figuras, gráficos, tabelas ou fotografias, quando<br />

apresentados em folhas separadas, devem ter indicação dos locais<br />

onde devem ser incluídos, ser titulados e apresentar referências de<br />

sua autoria/fonte. Para tanto devem seguir a Norma de apresentação<br />

tabular, estabelecida pelo Conselho Nacional de Estatística e publicada<br />

pelo IBGE em 1979.<br />

4. As notas numeradas devem vir no rodapé da mesma página<br />

em que aparecem, assim como os agradecimentos, apêndices e informes<br />

complementares.<br />

5. 0 sistema de citação adotado por este periódico é o de autordata.<br />

As citações bibliográficas ou de site, inseridas no próprio texto,<br />

devem vir entre aspas ou em parágrafo com recuo e sem aspas,<br />

remetendo ao autor. Quando o autor faz parte do texto, este deve aparecer<br />

em letra cursiva, observando e respeitando a língua portuguesa;<br />

exemplo: De acordo com Freire (1982, p. 35), etc. Já quando o autor<br />

não faz parte do texto, este deve aparecer no final do parágrafo, entre<br />

parênteses e em letra maiúscula, como no exemplo a seguir: A<br />

pedagogia das minorias está a disposição de todos (FREIRE, 1982, p. 35).<br />

As citações extraídas de sites devem, além disso, conter o endereço<br />

(URL) entre parênteses angulares e a data de acesso. Para qualquer<br />

referência a um autor deve ser adotado igual procedimento. Deste<br />

modo, no rodapé das páginas do texto devem constar apenas as notas<br />

explicativas estritamente necessárias, que devem obedecer à NBR<br />

10520, de 2002.<br />

6. Sob o título Referências deve vir, após parte final do artigo,<br />

em ordem alfabética, a lista dos autores e das publicações conforme a<br />

NBR 6023/2002, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).<br />

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7. Os artigos devem ter, no máximo, 30 páginas, e as resenhas<br />

até 4 páginas. Os resumos de teses/dissertações devem ter no mínimo<br />

250 palavras e no máximo 500, e conter título, autor, orientador,<br />

instituição, e data da defesa pública.<br />

Atenção: os textos só serão aceitos nas seguintes dimensões no<br />

Winword 97 ou 2000:<br />

• letra: Times New Roman 12;<br />

• tamanho da folha: A4;<br />

• margens: 2,5 cm;<br />

• espaçamento entre as linhas: 1,5 linha;<br />

• parágrafo justificado.<br />

8. As colaborações encaminhadas à revista são submetidas à<br />

análise do Conselho Editorial, atendendo critérios de seleção de<br />

conteúdo e normas formais de editoração, sem identificação da autoria<br />

para preservar isenção e neutralidade de avaliação. A aceitação da<br />

matéria para publicação implica a transferência de direitos autorais<br />

para a revista.<br />

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Os editores<br />

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