Fabrícia Vieira de Araújo - XVIII Encontro Regional (ANPUH-MG)
Fabrícia Vieira de Araújo - XVIII Encontro Regional (ANPUH-MG)
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O PIBID enquanto possibilitador <strong>de</strong> novas reflexões<br />
acerca da prática docente do profissional <strong>de</strong> História<br />
<strong>Fabrícia</strong> <strong>Vieira</strong> <strong>de</strong> <strong>Araújo</strong>*<br />
Manuel Batista <strong>de</strong> Sá Filho**<br />
Mislele Souza da Silva***<br />
O PIBID – Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong> Iniciação à Docência –<br />
financiado pela Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior<br />
(CAPES) busca estreitar a relação entre futuros/as docentes e a escola pública; <strong>de</strong>sta<br />
forma, além <strong>de</strong> aprofundar os estudos, ampliando o leque <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong><br />
oportunida<strong>de</strong>s, valoriza a profissão, sendo que o programa se torna um incentivo para<br />
aqueles/as que preten<strong>de</strong>m exercer a docência. O Subprojeto História (Campus Santa<br />
Mônica) foi contemplado na terceira edição do PIBID/UFU, no 2° semestre <strong>de</strong> 2011, e,<br />
assim como nas edições anteriores, “o foco [...] está no estreitamento das relações da<br />
Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia com as escolas públicas da educação básica, espaço<br />
propício para a formação inicial e continuada dos professores” 1 . Assim, acreditamos que<br />
estreitar os laços da aca<strong>de</strong>mia com a educação básica po<strong>de</strong> trazer novas orientações e<br />
possibilida<strong>de</strong>s à relação entre historiadores/professores com a escola pública.<br />
Acreditamos que o saber é construído nessa relação entre escola e universida<strong>de</strong>, e, por<br />
meio <strong>de</strong>sse diálogo, po<strong>de</strong>mos nos preparar melhor para um dia assumirmos uma sala <strong>de</strong><br />
aula, ou melhor: a atuação na escola.<br />
Muitas vezes, o saber produzido nas universida<strong>de</strong>s é visto como algo separado<br />
da escola, como se a aca<strong>de</strong>mia só produzisse o conhecimento e os professores das<br />
escolas básicas apenas o repassassem. Na própria formação dos/as graduandos/as, po<strong>de</strong>-<br />
* Estudante do 9° período do curso <strong>de</strong> graduação em História pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.<br />
Professora orientadora: Regina Ilka <strong>Vieira</strong> Vasconcelos. Bolsista do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong><br />
Iniciação à Docência – PIBID, da CAPES – Brasil.<br />
** Estudante do 5° período do curso <strong>de</strong> graduação em História pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.<br />
Professora orientadora: Regina Ilka <strong>Vieira</strong> Vasconcelos. Bolsista do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong><br />
Iniciação à Docência – PIBID, da CAPES – Brasil.<br />
*** Estudante do 5° período do curso <strong>de</strong> graduação em História pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.<br />
Professora orientadora: Regina Ilka <strong>Vieira</strong> Vasconcelos. Bolsista do Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong><br />
Iniciação à Docência – PIBID, da CAPES – Brasil.<br />
1 Conforme EDITAL Nº 001/2011/CAPES PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE<br />
INICIAÇÃO À DOCÊNCIA – PIBID. DETALHAMENTO DO PROJETO INSTITUCIONAL.<br />
Disponível em<br />
Acesso em: 30 jan.2012.
se perceber certo preconceito, por parte da Universida<strong>de</strong> e dos professores, quanto às<br />
disciplinas pedagógicas. Na nossa gra<strong>de</strong> curricular estão separadas áreas da pesquisa e<br />
do ensino; e dá-se, por vezes, mais valor à pesquisa acadêmica. Isso é explícito quando<br />
percebemos que, em alguns editais <strong>de</strong> seleção para programas <strong>de</strong> pós-graduação, a<br />
iniciação científica é mais valorizada do que o PIBID.<br />
O PIBID, ao propiciar o contato dos/as graduandos/as da área <strong>de</strong> licenciatura<br />
com o cotidiano escolar, permite que o mesmo conheça este universo, e, ao a<strong>de</strong>ntrá-lo,<br />
tal realida<strong>de</strong> já não será vista com tanto espanto. Apesar das especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada<br />
escola, é importante que o futuro professor tenha conhecimento das normas que regem o<br />
trabalho escolar, além das leis (fe<strong>de</strong>rais e estaduais) que orientam a educação brasileira,<br />
iniciativas estas proporcionadas pelo Subprojeto História e que serão mais bem<br />
abordadas posteriormente.<br />
A instituição <strong>de</strong> ensino participante <strong>de</strong>ste subprojeto é a Escola Estadual<br />
Professor Leônidas <strong>de</strong> Castro Serra, situada na Avenida José Fonseca e Silva, n. 990, no<br />
Bairro Luizote <strong>de</strong> Freitas, em Uberlândia. Conta com a coor<strong>de</strong>nação da Professora<br />
Regina Ilka <strong>Vieira</strong> Vasconcelos e colaboração da Professora Marta Emisia Jacinto<br />
Barbosa, do Instituto <strong>de</strong> História da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. A supervisora<br />
na Escola participante é a Professora Giselda Paiva Xavier. O grupo conta com nove<br />
bolsistas, selecionados via edital específico: Aline Ferreira Antunes, Diego Marcos<br />
Silva Leão, Ester Castelar Britto, <strong>Fabrícia</strong> <strong>Vieira</strong> <strong>de</strong> <strong>Araújo</strong>, Hugo Men<strong>de</strong>s Miranda,<br />
Manuel Batista <strong>de</strong> Sá Filho, Marcelo Gimenes, Mislele Souza da Silva e Natália Félix<br />
<strong>de</strong> Melo. São todos alunos dos Cursos <strong>de</strong> Graduação em História da UFU, em diferentes<br />
períodos dos turnos matutino e noturno.<br />
Através da realida<strong>de</strong> da E. E. Profº Leônidas e das inquietações que se<br />
apresentam no que se refere ao ambiente escolar e formação do professor, buscamos<br />
traçar um plano <strong>de</strong> ação, que visava o aprendizado dos bolsistas e também a<br />
colaboração com o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s da própria Escola. Para nossa<br />
preparação e planejamento das ativida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas, são realizadas<br />
reuniões periódicas na Escola, com a Professora Supervisora Giselda, e na<br />
Universida<strong>de</strong>, com as professoras Regina Ilka e Marta Emisia. Nessas reuniões, ocorrem<br />
a discussão sobre textos e filmes, reflexões sobre as observações realizadas,<br />
planejamentos e avaliações das ações do Subprojeto.
Dessa maneira, abordaremos a seguir um pouco sobre os trabalhos que<br />
realizamos na Escola, a fim <strong>de</strong> situarmos brevemente parte das propostas indicadas no<br />
Subprojeto, para que então, posteriormente, reflitamos acerca das contribuições do<br />
PIBID na formação do futuro professor <strong>de</strong> história, tendo como base nossas<br />
experiências.<br />
As ativida<strong>de</strong>s da primeira fase do Subprojeto, que, em linhas gerais, prioriza a<br />
realização do diagnóstico da escola, já foram concretizadas no 2° semestre <strong>de</strong> 2011.<br />
Inicialmente, construímos, com a ajuda da Coor<strong>de</strong>nadora e da Supervisora, um<br />
questionário socioeconômico e cultural que foi respondido pelos alunos dos 8° s anos e<br />
do PAV – Programa Acelerar para Vencer, além <strong>de</strong> fichas para a <strong>de</strong>scrição do espaço<br />
físico, para a <strong>de</strong>scrição da situação do corpo discente e do corpo docente, outras para<br />
especificar o ambiente da biblioteca, seu acervo geral e os livros <strong>de</strong> História, e uma<br />
ficha <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> entrada e saída <strong>de</strong> livros. Tudo isso para que pudéssemos conhecer<br />
melhor a realida<strong>de</strong> do espaço escolar e seus sujeitos. Algumas <strong>de</strong>ssas fichas já foram<br />
preenchidas, outras estão sendo respondidas.<br />
No questionário socioeconômico e cultural, procuramos apreen<strong>de</strong>r, por exemplo,<br />
o local on<strong>de</strong> mora o/a estudante, sua naturalida<strong>de</strong>, classe social, se trabalha, algum dado<br />
sobre os seus responsáveis, se possui computador e se tem acesso à internet, sua opinião<br />
em relação a alguns aspectos da Escola em que estuda, em relação ao bairro on<strong>de</strong> mora,<br />
as disciplinas que consi<strong>de</strong>ra mais interessantes e a razão <strong>de</strong> tal preferência, o que faz nos<br />
momentos <strong>de</strong> lazer, a frequência com que pratica a leitura, se participa das festas em seu<br />
bairro, ou se frequenta teatro e cinema.<br />
Além <strong>de</strong>sse questionário, outra ativida<strong>de</strong> que realizamos, e que colaborou para o<br />
maior conhecimento em relação aos alunos, foi a pesquisa na pasta <strong>de</strong> matrícula <strong>de</strong> cada<br />
estudante, situada na secretaria da Escola. Tivemos contato com as notas <strong>de</strong> todas as<br />
disciplinas obtidas por cada discente, nas diferentes séries em que estudavam, além <strong>de</strong><br />
outras informações, como por exemplo, se é beneficiário do Programa Bolsa Família e<br />
se veio <strong>de</strong> outra escola. Assim, comparamos os dados respondidos pelos alunos no<br />
questionário que aplicamos com aqueles que estão em suas fichas <strong>de</strong> matrícula, o que<br />
propiciou uma importante oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão sobre as condições <strong>de</strong> vida daqueles<br />
alunos, em relação à sua situação escolar.<br />
Outra ativida<strong>de</strong> que concretizamos na escola está vinculada à Semana da<br />
Consciência Negra. Colaboramos com a organização do evento, com a realização <strong>de</strong>
cine-<strong>de</strong>bates, mesa redonda, oficina e palestra. Os bolsistas do PIBID na Escola foram<br />
divididos em grupos, cada equipe ficou responsável por elaborar e coor<strong>de</strong>nar<br />
<strong>de</strong>terminado trabalho, e, assim, no dia 20 <strong>de</strong> Novembro, foram apresentadas as<br />
seguintes ativida<strong>de</strong>s: exibição dos filmes “Martin Luther King, uma perspectiva<br />
histórica”, “Matizes”, “Vida Maria” e “Vista a minha pele”, seguida <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate; a mesa<br />
redonda “Corpolatria – as doenças da vaida<strong>de</strong>”; a oficina “Produção <strong>de</strong> zines” e uma<br />
palestra referente a drogas.<br />
Os alunos da Escola po<strong>de</strong>riam escolher uma das ativida<strong>de</strong>s da qual participar, já<br />
que seriam apresentadas no mesmo horário, e tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer a<br />
inscrição na semana do evento. Procuramos trabalhar com temas que consi<strong>de</strong>ramos<br />
importantes, que abarcassem um pouco do universo jovem e que estivessem<br />
relacionadas com a disciplina História. O resultado foi bastante positivo, com a presença<br />
<strong>de</strong> muitos alunos, que levantaram questões instigantes como <strong>de</strong>sdobramentos dos temas<br />
apresentados.<br />
Na segunda fase do Subprojeto, que compreen<strong>de</strong> o 1° semestre <strong>de</strong> 2012,<br />
observa-se uma maior intervenção por parte dos bolsistas no espaço escolar. Em um<br />
primeiro momento, tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer melhor o espaço da biblioteca,<br />
já que um trabalho <strong>de</strong> organização e <strong>de</strong> doação <strong>de</strong> livros didáticos que não são utilizados<br />
foi concretizado.<br />
Também construímos e aplicamos novo questionário socioeconômico e cultural<br />
<strong>de</strong>stinado aos docentes, quando procuramos apreen<strong>de</strong>r, por exemplo, o local on<strong>de</strong> estes<br />
profissionais resi<strong>de</strong>m, se são responsáveis pelo sustento <strong>de</strong> suas famílias, o nível <strong>de</strong><br />
formação que possuem, o tempo que atuam na escola, a opinião <strong>de</strong> cada um sobre a<br />
organização do trabalho semanal, sobre o currículo, sobre o Plano Nacional <strong>de</strong><br />
Educação para o período <strong>de</strong> 2011 a 2020, a gestão na escola pública, sobre o<br />
relacionamento com os alunos, a formação dos futuros professores, além <strong>de</strong> questões<br />
referentes às suas fontes <strong>de</strong> leituras, relação com o sindicato, a satisfação com a sua<br />
profissão, <strong>de</strong>ntre outras. Além do mais, também foram construídos questionários<br />
<strong>de</strong>stinados aos <strong>de</strong>mais funcionários da Escola, para nos situarmos com maior clareza em<br />
relação à organização da gestão da Escola.<br />
Outra ativida<strong>de</strong> realizada ao longo <strong>de</strong>ste semestre foi a primeira fase do trabalho<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> cartas por parte <strong>de</strong> alunos dos 8° s e 9° s anos, matriculados no turno da<br />
manhã, possibilitando uma reflexão sobre suas famílias, amigos, escola, bairro e cida<strong>de</strong>.
Tendo a permissão dos pais e da direção, reservamos um dia <strong>de</strong> cada mês para que os<br />
estudantes pu<strong>de</strong>ssem ir à Escola no período da tar<strong>de</strong>, para a realização <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>.<br />
Em cada mês trabalhamos com um tema diferente. Inicialmente, apresentamos algum<br />
ví<strong>de</strong>o relacionado ao assunto e, em seguida, discutimos o tema com os estudantes, para<br />
que, posteriormente, cada um pu<strong>de</strong>sse construir sua carta e produzir uma imagem, tendo<br />
com base sua própria experiência e as discussões travadas.<br />
Divulgamos o blog PIBID História para que a comunida<strong>de</strong> escolar conheça<br />
nossos trabalhos, para a postagem das ativida<strong>de</strong>s concretizadas pelos estudantes e para<br />
publicarmos assuntos relacionados à disciplina História.<br />
A utilização da sala <strong>de</strong> informática – há algum tempo <strong>de</strong>sativada e reativada pela<br />
equipe <strong>de</strong> bolsistas do PIBID – tornou-se um espaço para a divulgação do blog entre os<br />
alunos da Escola contribuiu enormemente para a divulgação do blog. Levamos os<br />
alunos até esse espaço: a maioria teceu comentários positivos em relação ao blog, fez<br />
suas próprias postagens e apreciou a experiência <strong>de</strong> fazer uma ativida<strong>de</strong> fora do âmbito<br />
da sala <strong>de</strong> aula.<br />
Por fim, outro trabalho que <strong>de</strong>senvolvemos no Leônidas <strong>de</strong> Castro e que<br />
gostaríamos <strong>de</strong> ressaltar no presente texto é o Projeto Tomada <strong>de</strong> Leitura. Nesta<br />
ativida<strong>de</strong>, além do <strong>de</strong>senvolvimento da prática <strong>de</strong> leitura, observamos a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
interpretação <strong>de</strong> textos por parte dos alunos. Percebemos seu pouco hábito <strong>de</strong> leitura, e,<br />
a partir <strong>de</strong>sse problema, participamos do projeto no segundo semestre <strong>de</strong> 2011. O<br />
principal objetivo, inicialmente, era o <strong>de</strong> preparar os estudantes para a “Prova Brasil”.<br />
Neste semestre, o projeto continua sendo efetivado por alguns bolsistas e é<br />
<strong>de</strong>senvolvido com os alunos do 5º ano e do PAV I, assim como no ano passado.<br />
Atualmente, estamos abordando textos relacionados à área <strong>de</strong> História, com os<br />
estudantes, como uma forma <strong>de</strong> contribuir com a professora <strong>de</strong> português com o<br />
processo <strong>de</strong> aprendizagem das crianças, no quesito leitura e interpretação <strong>de</strong> texto, além<br />
<strong>de</strong> oportunizar um maior contato com assuntos históricos por parte <strong>de</strong>sses discentes.<br />
Para balizar nossas ativida<strong>de</strong>s no espaço escolar, travamos contato com textos<br />
referentes à educação, à escola pública, ao ensino <strong>de</strong> história, além <strong>de</strong> leis e documentos<br />
internos, como o Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar. As leituras<br />
possibilitaram-nos reflexões sobre a prática docente, sobre as leis que regem o âmbito<br />
educacional brasileiro e também auxiliaram nossa inserção no ambiente escolar. Entre<br />
os textos lidos, <strong>de</strong>stacam-se o <strong>de</strong> Elza Nadai, “O ensino <strong>de</strong> História no Brasil: trajetória
e perspectivas”, que focaliza as condições <strong>de</strong> legitimação da disciplina história no<br />
currículo escolar <strong>de</strong> 1º e 2º graus, “realçando seus pressupostos teórico-metodológicos,<br />
bem como as principais mudanças ocorridas ao longo da trajetória escolar, [...] a<br />
situação contemporânea, assinalando as principais propostas que vêm sendo sugeridas e<br />
as suas perspectivas” (NADAI, 1993, 143).<br />
Para a compreensão do nosso contexto contemporâneo, fundamental é o texto <strong>de</strong><br />
Marcos Silva, “Contra o horror pedagógico” (SILVA, 2000), que questiona as políticas<br />
públicas <strong>de</strong> educação dos anos 1990, marcadas por privatizações, estado <strong>de</strong>clinante do<br />
trabalho e guiadas pela lógica empresarial no binômio <strong>de</strong>spesas versus rentabilida<strong>de</strong>.<br />
Segundo o autor, nos anos 1990, se <strong>de</strong>senvolveram políticas que priorizaram o<br />
investimento<br />
em equipamentos, como computador para prédios que, por vezes, não<br />
possuem telefone, eletricida<strong>de</strong> nem sequer água!, e tratar fatores<br />
humanos-professores, funcionários e alunos- como merecedores do<br />
mínimo investimento, o que se observa especialmente nos salários<br />
sem aumentos dos dois primeiros grupos,em nome do fetiche da<br />
moeda estável. (SILVA, 2000,88)<br />
No ensino <strong>de</strong> história, esta situação se exemplifica, ainda segundo o autor, nas<br />
diferentes diretrizes educacionais, em que “a necessida<strong>de</strong> política e i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong><br />
ignorar a ação social <strong>de</strong> diferentes sujeitos, buscando constantes conceituais (mesmo<br />
que sejam fragílimas) justificadoras <strong>de</strong> uma análise <strong>de</strong>dicada à homogeneização da<br />
História” (SILVA, 2000, 91). No bojo <strong>de</strong> sua crítica, o autor traz à tona a possibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se encarar o ambiente escolar enquanto produtor <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a<br />
ousadia criativa no dia-a-dia da sala <strong>de</strong> aula. Nesses critérios, o ensino <strong>de</strong> história passa<br />
a ser visto como parte da luta pelo direito à cidadania cultural, com a adoção <strong>de</strong> projetos<br />
alternativos, multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes na cena pública e aprendizagem no <strong>de</strong>bate.<br />
Entre outros textos lidos para a compreensão <strong>de</strong>sse contexto, encontram-se as<br />
Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais, o Plano Nacional <strong>de</strong> Educação 2011-2020, Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases<br />
n.9.394/96 e o Currículo Básico Comum para o Estado <strong>de</strong> Minas Gerais (CBC/<strong>MG</strong>),<br />
documento produzido pela Secretaria <strong>de</strong> Educação do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, que rege<br />
os conhecimentos e as habilida<strong>de</strong>s e competências a serem adquiridos<br />
pelos alunos na educação básica, bem como as metas a serem<br />
alcançadas pelo professor em cada ano, é uma condição indispensável<br />
para o sucesso <strong>de</strong> todo sistema escolar que pretenda oferecer serviços<br />
educacionais <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> à população. A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conteúdos
ásicos comuns (CBC) para os anos finais do ensino fundamental e<br />
para o ensino médio constitui um passo importante no sentido <strong>de</strong><br />
tornar a re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Minas um sistema <strong>de</strong> alto<br />
<strong>de</strong>sempenho. (MINAS GERAIS, 2005,10)<br />
Os CBCs abordam os conteúdos fundamentais <strong>de</strong> cada disciplina, que não<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser ensinados e que o aluno não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Buscamos,<br />
com as discussões propostas, <strong>de</strong>bater sobre a concepção <strong>de</strong> currículo e seu processo <strong>de</strong><br />
elaboração, visto que estes não são conteúdos prontos a serem passados aos alunos. São<br />
uma construção e seleção <strong>de</strong> conhecimentos e práticas produzidas em contextos<br />
concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagógicas.<br />
Conhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e reinterpretados em cada<br />
contexto histórico. Para Miguel Arroyo, o trabalho docente per<strong>de</strong> autonomia ao ser<br />
ditado por preocupações exclusivas do mercado <strong>de</strong> trabalho. Ao reduzirmos o currículo<br />
a uma concepção pragmática e utilitarista passamos a encarar os alunos como <strong>de</strong>siguais,<br />
<strong>de</strong>svalorizando seu ritmo próprio <strong>de</strong> aprendizagem (GONZÁLEZ ARROYO, 2007).<br />
A<strong>de</strong>ntrando o campo das práticas e disputas que envolvem o campo educacional,<br />
importante tem sido a leitura <strong>de</strong> “Pedagogia do Oprimido”, <strong>de</strong> Paulo Freire, para nossas<br />
reflexões. Freire assinala sua preocupação com a humanização, dado que seu oposto se<br />
impõe enquanto realida<strong>de</strong> histórica e ontológica. Sua pedagogia envolve uma<br />
<strong>de</strong>scoberta crítica, relacionada à libertação. De acordo com o autor, em um primeiro<br />
momento, as classes oprimidas possuem medo da liberda<strong>de</strong>, dado que a opressão cria<br />
modos <strong>de</strong> vida estanques. A conquista da liberda<strong>de</strong> exige permanente busca e<br />
preenchimento do vazio <strong>de</strong>ixado pela expulsão do conteúdo veiculado pelo opressor<br />
(FREIRE, 2005).<br />
Para os futuros docentes, o PIBID garante uma discussão mais rica e profunda<br />
dos aspectos que permeiam a educação pública em sua totalida<strong>de</strong>. Estimula os<br />
envolvidos a pensar alternativas para a educação, a partir da observação <strong>de</strong> suas<br />
fragilida<strong>de</strong>s. O fato <strong>de</strong> ser um projeto longo (com duração <strong>de</strong> 2 anos por subprojeto)<br />
permite um diálogo mais consistente com as escolas, que <strong>de</strong>vem ser as maiores<br />
beneficiárias do Programa. Para muito além <strong>de</strong> um assistencialismo, o que o Programa<br />
<strong>de</strong>ve trazer à tona são as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudança e como efetivá-las.<br />
Entre as ativida<strong>de</strong>s para os próximos semestres, propomos o aprofundamento do<br />
reconhecimento dos diversos grupos sociais presentes na escola; organização <strong>de</strong> visitas<br />
à Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia; produção <strong>de</strong> materiais didáticos, como ví<strong>de</strong>os e
mídias que possam ser revertidos em material <strong>de</strong> utilização do professor e continuida<strong>de</strong><br />
da análise dos aspectos estruturais, visto que o projeto passará a se <strong>de</strong>dicar a ativida<strong>de</strong>s<br />
com um maior caráter <strong>de</strong> ações interventivas, em diálogo com a comunida<strong>de</strong> escolar.<br />
Portanto, compreen<strong>de</strong>mos que o PIBID possibilita-nos um maior contato com o<br />
meio escolar, diferentemente do que nos é proporcionado pelos Estágios<br />
Supervisionados obrigatórios, oferecidos pelo curso <strong>de</strong> História da Universida<strong>de</strong><br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. É uma significativa experiência que nos permite conhecer o<br />
funcionamento em geral <strong>de</strong> uma escola pública, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os trabalhos na secretaria, on<strong>de</strong><br />
são realizadas as matrículas dos estudantes, até a sala dos professores, on<strong>de</strong><br />
compartilhamos diferentes experiências, com outros profissionais e <strong>de</strong> outras áreas do<br />
conhecimento. Sendo assim, possibilita-nos conhecer o trabalho que vai além do<br />
educador em uma sala <strong>de</strong> aula, como também as próprias normas e regimentos<br />
escolares, além da função <strong>de</strong> outros funcionários, para assim valorizar a relação entre<br />
professor, aluno e <strong>de</strong>mais profissionais que atuam na escola.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
CAPES. Edital n. 001/2011/CAPES. Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação à<br />
Docência – PIBID. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. Detalhamento do Projeto<br />
Institucional. Disponível em:<br />
. Acesso em: 2 jun. 2012.<br />
CAPES. Edital n. 001/2011/CAPES. Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação à<br />
Docência – PIBID. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia. Detalhamento do Subprojeto<br />
História – Campus Santa Mônica. Disponível em:<br />
Acesso em: 30 jan.<br />
2012.<br />
FREIRE,Paulo. Pedagogia do oprimido. 40. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 2005.<br />
GONZÁLEZ ARROYO, Miguel. Indagações sobre currículo: educandos e<br />
educadores: seus direitos e o currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria <strong>de</strong><br />
Educação Básica, 2007.<br />
MINAS GERAIS. Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Minas Gerais. Conteúdo Básico<br />
Comum - CBC. Conteúdos Básicos Curriculares <strong>de</strong> História do Ensino Fundamental.<br />
Belo Horizonte: SEE, 2005.
NADAI, Elza. O ensino <strong>de</strong> História no Brasil: trajetória e perspectivas. Revista<br />
Brasileira <strong>de</strong> História, São Paulo, v.13, n.25/26, p.143-162, set. 1992/ago.1993.<br />
SILVA, Marcos A. da. Contra o horror pedagógico. Ensino <strong>de</strong> história, exclusão social<br />
e cidadania cultural. História e Perspectivas. Uberlândia, v.1, n.23, p.85-98, jul./<strong>de</strong>z.,<br />
2000.