Tabus lingüísticos e expressões cristalizadas - let.unb.br
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Artigo publicado em: Revista Acta Semiótica et<<strong>br</strong> />
Lingüística, v. 12, pp. 115-125, 2007.<<strong>br</strong> />
<strong>Tabus</strong> <strong>lingüísticos</strong> e <strong>expressões</strong> <strong>cristalizadas</strong><<strong>br</strong> />
1<<strong>br</strong> />
ORTIZ ALVAREZ, M. L<<strong>br</strong> />
UNB<<strong>br</strong> />
Resumen: En este trabajo analizaremos los tabus <strong>lingüísticos</strong>, a partir de un esbozo y<<strong>br</strong> />
discusión <strong>br</strong>eve de las particularidades de este fenómeno especialmente en la época<<strong>br</strong> />
actual enfatizando especialmente las expresiones idiomáticas <strong>cristalizadas</strong>, las cuales<<strong>br</strong> />
durante mucho tiempo fueron practicamente excluídas por pertenecer a priori a la<<strong>br</strong> />
oralidad, mas que desempeñan un papel muy importante dentro de los valores<<strong>br</strong> />
culturales de una determinada comunidad. A través de este esbozo pretendemos<<strong>br</strong> />
mostrar una visão de mundo desde el punto de vista psicosociológico que tan<<strong>br</strong> />
profundamente ha inteferido en la compleja evolución lingüística.<<strong>br</strong> />
Palavras-clave: tabu lingüístico; expresión idiomática; cultura; significado.<<strong>br</strong> />
Resumo: Neste trabalho, temos de nos referir ao tabu lingüístico para tentar esboçar e<<strong>br</strong> />
discutir <strong>br</strong>evemente as particularidades desse fenômeno especialmente na época<<strong>br</strong> />
contemporânea fazendo especial ênfase nas <strong>expressões</strong> idiomáticas <strong>cristalizadas</strong> as<<strong>br</strong> />
quais durante muito tempo foram automaticamente excluídas por pertencerem à priori<<strong>br</strong> />
à fala, mas que desempenham um papel importantíssimo dentro dos valores culturais<<strong>br</strong> />
de uma comunidade. Através deste esboço pretendemos expor à consideração uma<<strong>br</strong> />
visão do mundo psicossociológico que tão profundamente tem interferido na complexa<<strong>br</strong> />
evolução lingüística.<<strong>br</strong> />
Palavras-chave: tabu lingüístico; expressão idiomática; cultura; significado.<<strong>br</strong> />
0. Introdução
2<<strong>br</strong> />
“A linguagem, está sempre à nossa<<strong>br</strong> />
volta, sempre pronta a envolver<<strong>br</strong> />
nossos pensamentos e sentimentos,<<strong>br</strong> />
acompanhando-nos em toda a nossa<<strong>br</strong> />
vida. Ela não é um simples<<strong>br</strong> />
acompanhamento do pensamento,<<strong>br</strong> />
“mas sim um fio profundamente<<strong>br</strong> />
tecido na trama do pensamento”, é<<strong>br</strong> />
o tesouro da memória e a<<strong>br</strong> />
consciência vigilante transmitida de<<strong>br</strong> />
geração a geração”<<strong>br</strong> />
Hjelmslev<<strong>br</strong> />
A linguagem humana presta-se, como outras formas de comunicação, à troca e<<strong>br</strong> />
à expressão de idéias entre pessoas e como fato social põe em destaque ações,<<strong>br</strong> />
atividades, valores e referenciais do cotidiano do grupo, as experiências individuais e<<strong>br</strong> />
culturais que se veiculam por essa própria linguagem humana, codificada em<<strong>br</strong> />
determinada língua por meio de palavras, frases e textos. Cada povo, portanto, cada<<strong>br</strong> />
cultura, serve-se de imagens diferentes para contornar ou enfatizar certos assuntos de<<strong>br</strong> />
maneira figurada verificando-se assim que a língua nos fornece informação cultural,<<strong>br</strong> />
quer através da sua própria história, quer através da história da cultura que a veicula.<<strong>br</strong> />
Aquilo que a sociedade nos impede de exprimir, aquilo que a linguagem tem<<strong>br</strong> />
de vivo e de pessoal e que é sufocado pelos estereótipos encontra no subconsciente um<<strong>br</strong> />
caminho aberto. Freud mostrou que o inconsciente faz com que sua voz seja ouvida em<<strong>br</strong> />
todas as mensagens que escapam ao nosso controle: lapsos, sonhos, etc. Aquilo que<<strong>br</strong> />
desejamos e foi encoberto pelas convenções sociais se exprime numa nova linguagem,<<strong>br</strong> />
obscura, simbólica, dificilmente decifrável, mas profundamente verdadeira.<<strong>br</strong> />
No entanto, o poder da palavra, enquanto força comunicadora também governa<<strong>br</strong> />
a natureza de certas proibições, aceita ou rejeita, dá manutenção ou substitui valores<<strong>br</strong> />
comuns. Assim, tabus <strong>lingüísticos</strong> e <strong>expressões</strong> <strong>cristalizadas</strong> constituem-se em<<strong>br</strong> />
representações de atitudes co<strong>let</strong>ivas de maior ou menor impacto social. Existem objetos<<strong>br</strong> />
- tabu que não devem ser tocados; lugares -tabu, que não devem ser pisados; ações -<<strong>br</strong> />
tabu que não devem ser praticadas e palavras -tabu que não devem ser proferidas.<<strong>br</strong> />
Além disso, há pessoas - tabu e situações ou estados - tabu.<<strong>br</strong> />
1. O que é tabu?<<strong>br</strong> />
A palavra tabu de origem polinésia significa sagrado, invulnerável, proibido,<<strong>br</strong> />
consagrado, misterioso, impuro e perigoso. Geralmente um vocábulo que passa a ser
considerado tabu está apenas ref<strong>let</strong>indo o sistema de crenças e valores de sociedades.<<strong>br</strong> />
Segundo Wardhaugh (1993) com o recurso aos tabus <strong>lingüísticos</strong>, a sociedade expressa<<strong>br</strong> />
sua desaprovação a certos comportamentos considerados nocivos a seus mem<strong>br</strong>os por<<strong>br</strong> />
motivos de ordem so<strong>br</strong>enatural ou por uma questão de violar um código moral. Tudo<<strong>br</strong> />
parte sempre da crença de que a linguagem oculta um poder capaz de subjugar o<<strong>br</strong> />
homem de forma irremediável. De início seu uso referia-se particularmente a proibições<<strong>br</strong> />
de caráter sagrado, mas seu significado estendeu-se para outras proibições ou<<strong>br</strong> />
inconveniências. Por isso, reiteramos, freqüentemente algumas pessoas temem até<<strong>br</strong> />
pronunciar até o nome de certas doenças. O uso dessas palavras ou <strong>expressões</strong>,<<strong>br</strong> />
consideradas como tabus, sempre é evitado ou contornado por meio de outros recursos<<strong>br</strong> />
<strong>lingüísticos</strong>. Em geral os termos que os designam são substituídos por <strong>expressões</strong><<strong>br</strong> />
eufêmicas. Segundo Monteiro (1986):<<strong>br</strong> />
Quanto à substituição do termo por um sinônimo, cumpre ter<<strong>br</strong> />
em mente que não são os significados ou os referentes dos<<strong>br</strong> />
vocábulos (seres, doenças, objetos etc.) que justificam a<<strong>br</strong> />
crença nos efeitos maléficos dos tabus <strong>lingüísticos</strong>. Por isso é<<strong>br</strong> />
que as pessoas usam com a maior naturalidade, sem medos<<strong>br</strong> />
ou maus pressentimentos, termos conceitualmente análogos<<strong>br</strong> />
às palavras proibidas.<<strong>br</strong> />
A dimensão pragmática de um fenômeno lingüístico como o eufemismo aponta<<strong>br</strong> />
para o contexto extra-lingüístico em que ele surge. Na África, por exemplo, nunca se<<strong>br</strong> />
profere o nome de uma pessoa morta. Por temer à morte, muita gente evita pronunciar o<<strong>br</strong> />
seu nome. Assim, diz-se: bater as botas, empacotar, descanso, dormir, esticar as<<strong>br</strong> />
canelas, bater a caço<strong>let</strong>a, vestir o pijama de madeira, abotoar o pa<strong>let</strong>ó, ir desta para<<strong>br</strong> />
outra etc. Sigrid Luchtenberg (1975, cap. IV) aponta para duas funções principais que<<strong>br</strong> />
presidem à utilização do eufemismo. A primeira, explora o potencial atenuante do<<strong>br</strong> />
eufemismo na referência a tabus sociais ou individuais. É esta a função que o<<strong>br</strong> />
eufemismo cumpre no discurso da delicadeza, quer no plano da interação individual<<strong>br</strong> />
(referência ao aspecto físico ou às capacidades intelectuais) ou social (no plano da<<strong>br</strong> />
designação de profissões menos prestigiadas ou na abordagem de temas socialmente<<strong>br</strong> />
incômodos, como a doença incurável, a morte ou o sexo). A segunda função proposta<<strong>br</strong> />
por Luchtenberg é de desvio da atenção do interlocutor para aspectos particulares de um<<strong>br</strong> />
acontecimento, que o falante quer so<strong>br</strong>epor a outros igualmente ou até mais<<strong>br</strong> />
importantes, mas cuja relevância ele procura estrategicamente atenuar, moldando desta<<strong>br</strong> />
forma a reação do interlocutor às palavras e ao evento de que elas dão conta. Não se<<strong>br</strong> />
trata aqui de uma mentira, mas da revelação de uma verdade parcial ou de uma<<strong>br</strong> />
perspectiva particular so<strong>br</strong>e um acontecimento que poderia ser visto de um prisma mais<<strong>br</strong> />
a<strong>br</strong>angente. Em outras palavras, é uma forma de manipulação (A<strong>br</strong>antes, 2001).<<strong>br</strong> />
A<strong>br</strong>antes (2001) considera que os eufemismos podem ser:<<strong>br</strong> />
3
1. A expressão lingüística de um processo iniciado ao nível conceptual, uma<<strong>br</strong> />
estratégia de natureza onomasiologia de contorno de uma realidade negativa,<<strong>br</strong> />
pela seleção de uma designação suavizante.<<strong>br</strong> />
2. Surge da necessidade da observação de normas que condicionam a interação<<strong>br</strong> />
social. O respeito pelo Outro e a observação destas regras conduz à<<strong>br</strong> />
necessidade de evitar uma referência direta e a substituí-la por uma designação<<strong>br</strong> />
alternativa. Esta é a essência da função de ocultação do eufemismo.<<strong>br</strong> />
3. Além desta função, o eufemismo cumpre ainda o propósito (menos isento) de<<strong>br</strong> />
guiar a atenção do interlocutor para aspectos específicos ou particulares da<<strong>br</strong> />
realidade referida, evitando a menção de partes dessa realidade, que seriam<<strong>br</strong> />
relevantes para uma visão total e imparcial dos acontecimentos em causa. Esta<<strong>br</strong> />
é a função manipuladora de desvio da atenção para aspectos particulares.<<strong>br</strong> />
4. No desempenho destas duas funções (alternada ou conjuntamente) destacam-se<<strong>br</strong> />
várias estratégias lingüísticas ao nível do léxico e da sintaxe, que possibilitam<<strong>br</strong> />
a reconstrução suavizante de uma referência parcial a uma realidade negativa.<<strong>br</strong> />
Entre estas estratégias contam-se a metonímia, a metáfora, ou a construção<<strong>br</strong> />
passiva.<<strong>br</strong> />
Voltando ao tabu lingüístico, podemos classificá-lo como tabus stricto sensu,<<strong>br</strong> />
que se referem à proibição de dizer ou falar o nome de alguma coisa ao qual é atribuído<<strong>br</strong> />
um poder so<strong>br</strong>enatural e cuja infração leva a uma sanção. Por sua vez, o tabu lingüístico<<strong>br</strong> />
lato sensu consiste na proibição do uso de certas <strong>expressões</strong> consideradas como<<strong>br</strong> />
grosseiras ou imorais. Desta forma, objetos, animais (serpente, leão, lobo, urso, le<strong>br</strong>e,<<strong>br</strong> />
sapo, gato, dentre outros), alguns fenômenos como o fogo, a morte, os deuses, as<<strong>br</strong> />
doenças, algumas partes do corpo, gestos, ações podem-se transformar em tabus,<<strong>br</strong> />
também como tocar em certos animais, objetos, praticar determinadas ações e até<<strong>br</strong> />
proferir certas palavras ou <strong>expressões</strong>-tabu tornam-se proibidos.<<strong>br</strong> />
Palavras que são geralmente de origem grega e foram introduzidas no<<strong>br</strong> />
vocabulário da igreja através do latim eclesiástico ou pelo baixo latim são evitadas por<<strong>br</strong> />
acreditar-se que sua simples pronuncia têm muito poder para o mal. Por exemplo, a<<strong>br</strong> />
palavra diabo, satanás ou demônio é odiada e temida. Ela pode ser substituída por um<<strong>br</strong> />
adjetivo (o maligno, o tinhoso, o malvado, dentre outros, ou foneticamente deformada<<strong>br</strong> />
(diacho), também é chamado de o dito cujo, anjo mau, droga, coisa ruim, o capeta,<<strong>br</strong> />
belzebu, etc.. No entanto, a palavra Lúcifer com a qual também se designa o diabo, em<<strong>br</strong> />
latim significa o que traz luz, a estrela da manhã. O termo sogra tem historicamente<<strong>br</strong> />
conotação de pessoa má, que interfere na vida do casal infernizando o genro ou a nora<<strong>br</strong> />
por maldade, por ciúme, pela vontade de proteção do filho ou da filha, por julgar que o<<strong>br</strong> />
genro (ou a nora) não está à altura e que ela (sogra) é indispensável. Muitos evitam a<<strong>br</strong> />
referência minha sogra, usando a expressão a mãe de Fulana (nome da mulher) ou<<strong>br</strong> />
Dona Fulana (nome da sogra). O pior é quando se manifesta desprezo ou até ódio e a<<strong>br</strong> />
sogra é designada como aquela <strong>br</strong>uxa, jararaca e outros disfemismos do mesmo estilo.<<strong>br</strong> />
Já para o vocábulo sogro não existe qualquer tabu, embora muitas vezes se prefira o<<strong>br</strong> />
4
nome, so<strong>br</strong>enome ou apelido com que é conhecido em seu meio: o Sr. Fulano (nome)<<strong>br</strong> />
ou o pai de Fulana (nome da esposa).<<strong>br</strong> />
O homem não se referirá à mulher que vive com ele sem ser casada como<<strong>br</strong> />
amante e muito menos como amásia ou concubina. Será namorada, companheira,<<strong>br</strong> />
amiga. Estes são alguns eufemismos, porém os disfemismos neste tipo de relação<<strong>br</strong> />
também são muito usados: a mina, o caso, o cacho, a outra, a filial, etc. Por outro lado,<<strong>br</strong> />
no caso da amante em relação à esposa, esta será a mulher dele, a mãe de meus filhos<<strong>br</strong> />
ou é citada pelo nome, mas também pode ser designada disfemisticamente como a<<strong>br</strong> />
encrenca ou algum epíteto semelhante. Já o marido se referirá à mulher como a patroa<<strong>br</strong> />
ou pelo seu próprio nome. A mulher (esposa) se referirá a ele pelo nome de batismo,<<strong>br</strong> />
pelo so<strong>br</strong>enome ou até por um apelido. Uma mulher considerada sem compromisso<<strong>br</strong> />
pode referir-se a seu novo par como namorado ou, modernamente, como escort.<<strong>br</strong> />
Os negros durante muito tempo e até hoje são vítimas dos apelativos raciais<<strong>br</strong> />
como resultado do preconceito e discriminação. Em Cuba e no Brasil utilizam-se<<strong>br</strong> />
palavras como pessoa de cor, persona de color cartucho, moreno, preto em vez de<<strong>br</strong> />
negro, mulato ou mestiço para se falar de uma pessoa negra. Assim, a cor da pele ainda<<strong>br</strong> />
é, infelizmente, fator de preconceito, por isso os substantivos negro e negra são<<strong>br</strong> />
freqüentemente substituídos por escuro / escura; escurinho / escurinha ou também por<<strong>br</strong> />
pessoa de cor (sempre se referindo à cor negra). Pode ocorrer também a síncope do r<<strong>br</strong> />
por imitação da linguagem infantil, para denotar afetividade: nego/ nega; neguinho /<<strong>br</strong> />
neguinha. Muitos disfemismos são relacionados ao negro/negra, alguns deles ao se<<strong>br</strong> />
tratar de pessoas corpulentas: negão / negona; negrão/negrona. Algumas definições<<strong>br</strong> />
injuriosas relacionadas às pessoas de raça negra foram retiradas dos dicionários após a<<strong>br</strong> />
campanha contra o preconceito.<<strong>br</strong> />
A palavra velho também se tornou ofensiva, pois ninguém admite mais, salvo<<strong>br</strong> />
em alguns casos, ficar velho. Essas pessoas preferem ser chamados de companheiro ou<<strong>br</strong> />
companheira, pessoas de idade, pessoas mais velhas, experientes ou adultas ou<<strong>br</strong> />
simplesmente da terceira idade. Muitas vezes não nos referimos aos idosos como<<strong>br</strong> />
velhos, mas como velhinhos. As instituições geriátricas cuidam de velhinhos e<<strong>br</strong> />
velhinhas. O termo idoso é o mais usado na linguagem oficial, geralmente como<<strong>br</strong> />
adjetivo: um senhor idoso, uma senhora idosa.<<strong>br</strong> />
Algo semelhante ocorre com referência aos cegos. Ou se usa o diminutivo<<strong>br</strong> />
(ceguinho, ceguinha), ou, o que é mais comum, deficiente visual, ainda que a<<strong>br</strong> />
deficiência não seja comp<strong>let</strong>a. Já com os surdos não há essa preocupação, nem essa<<strong>br</strong> />
complacência. Não se usa diminutivo, embora nas instâncias oficiais se empregue um<<strong>br</strong> />
eufemismo equivalente ao do cego: deficiente auditivo. As jovens de algumas<<strong>br</strong> />
profissões ou ocupações são freqüentemente designadas pelo diminutivo:<<strong>br</strong> />
professorinha, freirinha, costureirinha, empregadinha, etc., o que não ocorre, a não ser<<strong>br</strong> />
excepcionalmente, com as de outras profissões ou ocupações: cantora, modelo,<<strong>br</strong> />
cozinheira, faxineira, babá, telefonista, etc.<<strong>br</strong> />
Segundo Coseriu (1982, p.71) o tabu lingüístico é um fato eminentemente<<strong>br</strong> />
social que veta o uso de certas palavras por razões de natureza emotiva. O tabu<<strong>br</strong> />
5
lingüístico, porém, é apenas um aspecto de um fenômeno mais amplo, que é a<<strong>br</strong> />
interdição de vocabulário e que possivelmente se deve não só a superstições ou<<strong>br</strong> />
crendices, mas também a várias outras razões de índole emotiva ou social; razões de<<strong>br</strong> />
educação, cortesia, boas maneiras, decência, amabilidade, etc. Evitam-se <strong>expressões</strong> e<<strong>br</strong> />
palavras que se consideram demasiadamente cruas ou descorteses ou indecentes. Não<<strong>br</strong> />
concordando plenamente com este critério do autor podemos dizer que às vezes o que<<strong>br</strong> />
para alguns representa uma indecência, não necessariamente o seria para outros, pois<<strong>br</strong> />
cada pessoa representa um mundo, portanto, a mente de cada uma dessas pessoas<<strong>br</strong> />
representa uma imagem diferente da realidade que será interpretada de maneira<<strong>br</strong> />
diferente, particular, ou seja, o que é desagradável para alguém será agradável para<<strong>br</strong> />
outro, o que é admirável para alguém pode ser ridículo para outrem, o que também<<strong>br</strong> />
depende de condutas e temperamentos, de posturas diferentes dos indivíduos dentro do<<strong>br</strong> />
seu meio, da sua realidade e de um dado contexto. Daí a opinião de que a linguagem<<strong>br</strong> />
não é só um fenômeno cultural como constitui, simultaneamente, o fundamento de toda<<strong>br</strong> />
sociedade é a expressão social mais perfeita do homem ( Paz, 1993, p.15).<<strong>br</strong> />
Cada comunidade desde a época primitiva, operando com a lógica, fazia as<<strong>br</strong> />
associações de objetos com valores expressivos dando-lhe um significado a cada coisa<<strong>br</strong> />
de acordo com os níveis de abstração e da realidade que se apresenta fora do nosso<<strong>br</strong> />
cére<strong>br</strong>o, o que leva a uma certa conexão mística entre a palavra e o objeto por ela<<strong>br</strong> />
designado. Por exemplo, certos animais poderiam estar relacionados a coisa ruim,<<strong>br</strong> />
desgraça, azar, (serpente, aura, o latido do cão, gato preto, o uivo do lobo), pronunciar<<strong>br</strong> />
uma palavra tabu também poderia atrair desgraça, infelicidade, para quem a proferisse,<<strong>br</strong> />
o que significa que por trás delas existe o preconceito ou a superstição.<<strong>br</strong> />
Havers (1946), Kany (1960), Gueirós (1979), Ullmann (1973, 1977), Coseriu<<strong>br</strong> />
(1982) e outros autores pesquisando esse campo apontam as características dos tabus.<<strong>br</strong> />
Para Havers existem seis tipos de tabus classificados da forma seguinte: 1) nomes de<<strong>br</strong> />
partes do corpo; 2) fogo; 3) Sol e Lua; 4) nomes de animais; 5) doenças, lesões e<<strong>br</strong> />
anormalidades; 6) nomes de deuses e demônios.<<strong>br</strong> />
Kany, (op.cit.), no entanto, os classifica em tabus de: 1) interdição sexual; 2)<<strong>br</strong> />
interdição de decência; 3) interdição mágico-religiosa; 4) interdição social; 5)<<strong>br</strong> />
interdição política; 6) vícios e defeitos morais e físicos.<<strong>br</strong> />
Ullmann (op.cit), por exemplo, estabelece uma classificação dos tabus<<strong>br</strong> />
alegando que existem três tipos: 1) tabus de medo ou superstição; 2) tabus de<<strong>br</strong> />
delicadeza; 3) tabus de decência ou decoro. No primeiro grupo, o autor inclui as<<strong>br</strong> />
restrições respeito aos mortos, e aos maus espíritos, também como tabus de animais.<<strong>br</strong> />
Aqui também entraria a superstição da palavra esquerdo sendo que em alguns países é<<strong>br</strong> />
muito comum ouvir <strong>expressões</strong> do tipo levantar com o pé esquerdo que significa má<<strong>br</strong> />
sorte, azar, revelando o sentido pejorativo da palavra. No segundo grupo, segundo o<<strong>br</strong> />
autor, estariam os nomes de doenças, a morte, as deficiências físicas, atos criminais<<strong>br</strong> />
(roubo, assassinato). Em Cuba, por exemplo, essa pode a razão pela qual o câncer é<<strong>br</strong> />
chamado muitas vezes de caranguejo ou tumor maligno, a lepra de problemas da pele<<strong>br</strong> />
6
ou mal de São Lázaro, a AIDS de doença ruim ou isso que anda ou doença<<strong>br</strong> />
sexualmente transmissível.<<strong>br</strong> />
O terceiro e último grupo a<strong>br</strong>ange nomes das partes e funções do corpo, sexo e<<strong>br</strong> />
palavras de juramento. No Brasil, por exemplo, para o ato sexual em si, é mais fácil<<strong>br</strong> />
dizer afogar o ganso, molhar o biscoito, fazer João e Maria. Assim, vão-se criando<<strong>br</strong> />
novos nomes, apelidos e eufemismos, para driblar ou adaptar alguns nomes tidos como<<strong>br</strong> />
feios, obscenos, grosseiros. Nesse contexto, a genitália, tanto masculina quanto<<strong>br</strong> />
feminina, são campos férteis para a invenção, a construção do novo, do tabu, do<<strong>br</strong> />
eufemismo social. Por vezes, surgem palavras curiosas, engraçadas, todas nascidas da<<strong>br</strong> />
imaginação humana. Em Cuba, por exemplo, para os órgãos genitais existem varias<<strong>br</strong> />
designações na linguagem coloquial. fondillo, trasero, nalgas (tabu culo) chocho, pipi,<<strong>br</strong> />
la cosita , perilla para designar o órgão genital feminino, em vez de usar a palavra bollo<<strong>br</strong> />
que, em muitos países latinos significa pãozinho. No caso do órgão masculino se usa<<strong>br</strong> />
pito, rabo, miem<strong>br</strong>o, pois é um tabu nomear pelo nome verdadeiro que seria pinga, que<<strong>br</strong> />
no Brasil não tem conotação negativa, é uma bebida alcoólica, a tão conhecida cachaça.<<strong>br</strong> />
Ao tratar-se de relações sexuais, é de praxe o uso de eufemismos ou disfemismos: fazer<<strong>br</strong> />
amor, transar, ficar com alguém, dormir com alguém, levar alguém para a cama,<<strong>br</strong> />
etc..Conseqüentemente, no que se refere às relações sexuais é um tabu usar o verbo<<strong>br</strong> />
singar (transar) e no caso é substituído por hacer el amor, estar (ficar). No Brasil o<<strong>br</strong> />
órgão masculino é chamado de piu-piu, peru, aparelho, arame, arma, banana, bicho,<<strong>br</strong> />
bimba, bordão, cacete, canivete, caralho, chouriço, co<strong>br</strong>a, espada, ferramenta, ganso,<<strong>br</strong> />
instrumento, lenha, lingüiça, mastro, mem<strong>br</strong>o, minhoca, minhocão, negócio, nervo,<<strong>br</strong> />
passarinho, pau, pau-de-cabeleira, piça, picha, picolé, pirulito, pistola, pito, porrete.<<strong>br</strong> />
Já no caso do órgão feminino encontramos aranha, bacalhau, barata, bichochota,<<strong>br</strong> />
bixoxota, bom<strong>br</strong>il, buceta, chochota, concha, crica, gruta-do-amor, lacraia, lasca,<<strong>br</strong> />
negócio, passarinha, perereca, periquita, periquito, xoxota. Para expressar a qualidade<<strong>br</strong> />
ou características seria aranha, barata para o feminino e mastro, espada para o<<strong>br</strong> />
masculino.<<strong>br</strong> />
Assim, ainda há tabus na vida social, sob os efeitos de repressão dos costumes,<<strong>br</strong> />
principalmente aqueles que se referem às práticas sexuais. Muitas vezes as palavras são<<strong>br</strong> />
disfarçadas, por exemplo, puta e prostituta, ramera (quenga em português) por mujer<<strong>br</strong> />
de la vida (mulher da vida, as trabalhadoras da noite, damas da noite). Até os anos 60<<strong>br</strong> />
do século passado eram proibidas as palavras: puta, aborto, masturbação, sexo oral,<<strong>br</strong> />
sexo anal, etc. No caso da palavra transar é comum nestes últimos tempos ouvir o verbo<<strong>br</strong> />
nhanhar, que apareceu na boca de um dos personagens de telenovela. Em Cuba a<<strong>br</strong> />
palavra menstruação é substituída por regra, ou pela expressão estar con la cruz roja<<strong>br</strong> />
(estar com a cruz vermelha). Os homossexuais do sexo masculino são chamados de<<strong>br</strong> />
pato, pássaro, invertido, maricón e as de sexo feminino de invertidas, tortilleras,<<strong>br</strong> />
entanto que no Brasil são chamadas de sapatão, o que mostra o preconceito da<<strong>br</strong> />
sociedade com relação a essas pessoas. Se uma mulher está grávida é comum ouvir<<strong>br</strong> />
está em estado, mas em estado de que?<<strong>br</strong> />
7
Em Cuba, pronunciar as palavras salación, maldito, desgraça pode atrair a má<<strong>br</strong> />
sorte, derramar o sal no chão significa azar, se por acaso cai no chão uma faca e a ponta<<strong>br</strong> />
dela está indicando para a pessoa, significa que lhe vai acontecer alguma coisa ruim. A<<strong>br</strong> />
vassoura atrás da porta também é motivo de superstição.<<strong>br</strong> />
Também palavras de cunho político tendem a tornar-se tabu, por exemplo,<<strong>br</strong> />
terrorista, guerrilheiro.<<strong>br</strong> />
Alguns tipos de fantasias ou de fantasmas originais são transculturais e por que<<strong>br</strong> />
não dizer, universais: existe um compartilhar de elementos tais como a cena primeira, a<<strong>br</strong> />
gravidez, o nascimento, o incesto, a bissexualidade. Essas fantasias originárias vêm<<strong>br</strong> />
sempre envoltas em efeitos de sentido de algo misterioso, perigoso, proibido, impuro e<<strong>br</strong> />
de algo inabordável, e por isso mesmo, pleno de restrições e proibições, isto é, são<<strong>br</strong> />
tabus. Mas pode-se afirmar que, por trás de tais proibições, parece haver um elemento<<strong>br</strong> />
essencial - o poder e que, segundo Freud (1995) está ligado a todos os indivíduos<<strong>br</strong> />
especiais, como reis, sacerdotes ou recém-nascidos, a todos os estados excepcionais,<<strong>br</strong> />
como os estados físicos da puberdade ou nascimento, e a todas as coisas misteriosas,<<strong>br</strong> />
como a doença ou a morte. Wundt, que é citado por Freud (idem, ibidem) liga o poder<<strong>br</strong> />
do tabu, cuja fonte são os instintos humanos mais primitivos ao poder exercido por<<strong>br</strong> />
chefes, reis e sacerdotes que privilegiam as diferenças sociais. Daí a primeira lei<<strong>br</strong> />
totêmica, não matar o animal totêmico, representado pelo chefe. Assim, proibições de<<strong>br</strong> />
uma antigüidade primeva foram externamente impostas a uma geração anterior.<<strong>br</strong> />
Como se percebe alguns pesquisadores acreditam que esses nomes tabus<<strong>br</strong> />
pertencem a dois grandes campos: a) sociais ou morais -substituição de palavras<<strong>br</strong> />
consideradas grosseiras ou imorais (como se vê com os nomes dos órgãos sexuais); b)<<strong>br</strong> />
supersticiosos - substituição de nomes temidos por medo de desgraças, doenças etc. São<<strong>br</strong> />
exemplos: doença do peito (para tuberculose), ramo (para paralisia), macumba,<<strong>br</strong> />
mandinga, urucubaca (para feitiço), mal da pele (para lepra).<<strong>br</strong> />
Gueirós (1965, p.16) apresenta uma classificação mais extensa dos tabus,<<strong>br</strong> />
dividindo-os da maneira seguinte:<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de pessoas<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de parentes<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de autoridades<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes religiosos<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de mortos<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de animais<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de mem<strong>br</strong>os do corpo<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de lugares e circunstâncias<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de doenças e defeitos físicos<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes de alimentos<<strong>br</strong> />
• tabus em nomes vários<<strong>br</strong> />
Evidentemente a classificação de Ullmann (op. cit.) seria baseada na divisão<<strong>br</strong> />
feita por Gueirós (op. cit) que, embora mais detalhada e extensa, carece de visão mais<<strong>br</strong> />
8
explícita e de exemplos mais concretos. Em 1979, Gueiros estabelece dois tipos de<<strong>br</strong> />
tabus <strong>lingüísticos</strong>, o próprio e o impróprio. O primeiro, se refere à proibição de dizer<<strong>br</strong> />
certos nomes e palavras, Caracterizando-se por seu aspecto mágico, religioso ou de<<strong>br</strong> />
crença. Já o segundo tipo, refere-se à proibição de dizer qualquer expressão imoral ou<<strong>br</strong> />
grosseira, sendo, portanto de caráter moral ou de sentimento (Almeida 2007, p. 140)<<strong>br</strong> />
Como é vedado pronunciar uma palavra ou expressão, se esta é tabu, então é<<strong>br</strong> />
preciso achar um recurso ou processo de que se lance mão para exteriorizar a idéia<<strong>br</strong> />
expressa por ela, uma vez que é proibido exprimi-la. Por tal razão, ao nosso ver, os<<strong>br</strong> />
processos seriam:<<strong>br</strong> />
• substituição por meio da gesticulação<<strong>br</strong> />
• substituição por um sinônimo<<strong>br</strong> />
• substituição por uma expressão genérica (doenças graves que são conhecidas por<<strong>br</strong> />
coisa, coisa má, doença ruim; em vez da palavra diabo se usa pecado)<<strong>br</strong> />
• substituição por um estrangeirismo ou dia<strong>let</strong>ismo (na Rússia denominam o cão de<<strong>br</strong> />
sobaka, de procedência irânica.<<strong>br</strong> />
• substituição por um disfemismo (no português são exemplos disfêmicos coisaruim,<<strong>br</strong> />
malvado, maldito referentes ao demônio; no Brasil a lepra é chamada de<<strong>br</strong> />
mal-<strong>br</strong>uto, a tuberculose de doença ruim).<<strong>br</strong> />
• substituição por termo científico (em vez de nomes grosseiros que designam a<<strong>br</strong> />
matéria expelida pelo ânus, termo científico, empregam-se os vocábulos dejeto ou<<strong>br</strong> />
excremento; em vez da palavra cuspir ou escarrar empregam-se os termos salivar,<<strong>br</strong> />
expectorar).<<strong>br</strong> />
• substituição por vocábulos da linguagem infantil (os termos são usados como<<strong>br</strong> />
usualmente aparecem na boca da criança xixi, pipi, etc.)<<strong>br</strong> />
• substituição por antônimo (o termo gravoso pode ser por decência ou por<<strong>br</strong> />
prudência, substituído pelo seu antônimo, por exemplo, de um estúpido (babaca)<<strong>br</strong> />
diz-se não raro é inteligente!<<strong>br</strong> />
• substituição por hipossemia (a necessidade de dissimular determinadas idéias ou<<strong>br</strong> />
reações sentimentais, cuja manifestação nos desconvenha; convite pouco<<strong>br</strong> />
agradável em vez de convite desagradável ).<<strong>br</strong> />
2. As <strong>expressões</strong> idiomáticas<<strong>br</strong> />
A alta incidência e freqüência de uso das <strong>expressões</strong> idiomáticas (EIs) no<<strong>br</strong> />
cotidiano explica-se pelo desejo do falante de suavizar eufemísticamente o que poderia<<strong>br</strong> />
chocar, reforçar o que se deseja enfatizar, ironizar ou sugerir sutilmente o que não se<<strong>br</strong> />
ouse pedir ou criticar diretamente.<<strong>br</strong> />
O uso ou não de uma determinada expressão justifica-se por corresponder a<<strong>br</strong> />
certas expectativas do usuário em relação ao interlocutor e também por ser apropriado<<strong>br</strong> />
ou não ao nível de linguagem em que os falantes estiverem envolvidos. Dessa forma,<<strong>br</strong> />
uma EI pode ser substituída em virtude de outra expressão que se enquadre no padrão<<strong>br</strong> />
culto da língua, segundo a evolução dos costumes e a redistribuição das classificações<<strong>br</strong> />
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sociais. Por exemplo, dar a volta por cima num registro formal da língua comum ou no<<strong>br</strong> />
padrão culto seria reagir; meter os pés pelas mãos intervir de maneira errada; sair de<<strong>br</strong> />
fininho (sair sem ser percebido) acabar em pizza, virar pizza (dar em nada); ser<<strong>br</strong> />
tagarela, falar pelos cotovelos, a<strong>br</strong>ir a torneira ( falar muito); ter língua de trapo, dar<<strong>br</strong> />
com a língua nos dentes ( ser indiscreto); morder a língua, engolir a língua, fechar a<<strong>br</strong> />
torneira (parar de falar); ajustar as contas, pôr em pratos limpos, pôr as cartas na mesa<<strong>br</strong> />
( tirar satisfação de alguém) ficar um arara, cuspir fogo, perder as estribeiras<<strong>br</strong> />
(manifestar ira). Na linguagem comum morrer é deixar a vida, partir para outro<<strong>br</strong> />
mundo, dormir o último sono, fechar os olhos, descansar em paz, partir para uma<<strong>br</strong> />
melhor, deixar o mundo, já não se conta no número dos vivos e outros eufemismos,<<strong>br</strong> />
mas na linguagem popular seria bater as botas, esticar as canelas, vestir o pijama de<<strong>br</strong> />
madeira, abotoar o pa<strong>let</strong>ó, esticar o pernil, fechar o balaio, ir para a terra dos pés<<strong>br</strong> />
juntos, esticar o molambo, dar o ré.<<strong>br</strong> />
3. Considerações finais<<strong>br</strong> />
Existem muitas frases tabus que não são nem devem ser proferidas, objetos<<strong>br</strong> />
que não podem ser tocados, lugares que não deveriam ser visitados. Tudo isso, toda<<strong>br</strong> />
essa proibição é convencional e imposta pela tradição e costume das diversas<<strong>br</strong> />
comunidades diante de certos atos, modos de vida, modos de vestir, fatos, palavras que<<strong>br</strong> />
têm sido considerados como sagrados, religiosos, impuros e que afinal de contas até<<strong>br</strong> />
hoje não poderiam ser violados, pois com certeza seriam sancionados socialmente.<<strong>br</strong> />
Portanto, o tabu é: 1) um fenômeno universal de todos os tempos que aparece em<<strong>br</strong> />
qualquer língua; 2) um resultado da evolução semântica e da interelação axiológica das<<strong>br</strong> />
culturas; 3) uma das formas em que pode ser manifestada a escala valorização dos<<strong>br</strong> />
povos e comunidades; 4) uma via que serve para a motivação na busca das mudanças<<strong>br</strong> />
acontecidas a nível fônico e léxico dentro de uma língua respeito à formação,<<strong>br</strong> />
substituição ou modificação de vocábulos ou frases, por exemplo, a palavra gauche<<strong>br</strong> />
adotada pela língua francesa e de origem germânica, cujo significado inicial era<<strong>br</strong> />
caminho errado; left no inglês tinha antigamente o significado de fraco e indigno; 5) é<<strong>br</strong> />
criador de metáforas.<<strong>br</strong> />
O assunto é vasto e interessa não só os lingüistas, mas também antropólogos,<<strong>br</strong> />
etnólogos, psicólogos e sociólogos, portanto, é necessário impulsar as pesquisas so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />
esse tema. <strong>Tabus</strong> <strong>lingüísticos</strong> e <strong>expressões</strong> <strong>cristalizadas</strong> constituem-se em<<strong>br</strong> />
representações de atitudes co<strong>let</strong>ivas, de maior ou menor impacto social, envolvem-se<<strong>br</strong> />
com as noções do sagrado e se caracterizam pela marca negativa do procedimento.<<strong>br</strong> />
Independentemente de acreditarmos ou não em palavras místicas, mágicas,<<strong>br</strong> />
encantatórias ou tabus, o importante é que existam, pois sua existência revela o poder<<strong>br</strong> />
que atribuímos à linguagem. Esse poder decorre do fato de que as palavras são núcleos,<<strong>br</strong> />
sínteses ou feixes de significações, símbolos e valores que determinam o modo como<<strong>br</strong> />
interpretamos as forças divinas, naturais, sociais e políticas e suas relações conosco. Na<<strong>br</strong> />
medida em que o homem viaja cada vez mais em torno de si mesmo e pelo espaço nu de<<strong>br</strong> />
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suas relações com o mundo que o circunda, a linguagem tenderá a se firmar como o<<strong>br</strong> />
grande espelho de sua consciência e de seu universo.<<strong>br</strong> />
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