IDEAL_ED20_web - Instituto Camargo Corrêa
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Número 20 • Dezembro de 2012 Transformação<br />
desde a raiz<br />
Ações desenvolvidas em<br />
Pedro Leopoldo (MG) viram<br />
referência em investimento<br />
social privado
nesta edição<br />
Número 20 | dezembro de 2012<br />
10 ideal comunitário<br />
3 Editorial<br />
4 Entrevista Para Eduardo Giannetti, falar do futuro é falar de economia e também de<br />
bem-estar, felicidade e valores culturais<br />
8 Panorama Social Em 2050, o mundo terá mais de 1 bilhão de idosos, mas<br />
preconceito com a velhice ainda é problema, alerta a ONU<br />
10 Infância Investimento social do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> em Pedro Leolpoldo (MG),<br />
primeira cidade a receber o programa Infância Ideal, vira referência<br />
18 Educação Mais de 140 escolas públicas, em 13 municípios, já foram reformadas pelos<br />
mutirões do Juntos pela Escola Ideal<br />
24 Empreendedorismo Agricultores de Apiaí (SP) experimentam trocar a cultura<br />
convencional do tomate pelo cultivo de morangos orgânicos<br />
28 Voluntariado Nove Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) são reconhecidos na<br />
primeira edição do Prêmio Idealista<br />
31 Perfil Em Ingá (PB), a profissional da Alpargatas Rosângela Pereira da Silva é líder em<br />
solidariedade<br />
32 Inovações Sustentáveis Pela terceira vez, Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> premia<br />
iniciativas sustentáveis de suas empresas<br />
36 Ações&Parcerias Projeto do <strong>Instituto</strong> e do BNDES oferece capacitação voltada para<br />
a modernização da administração municipal<br />
37 Interação<br />
38 Artigo A pesquisadora Flávia Marques destaca o diálogo entre o rural e o urbano a<br />
favor do desenvolvimento sustentável
editorial<br />
Resultados de um<br />
investimento social inovador<br />
Crianças brincando sorridentes à sombra de uma frondosa árvore simbolizam os<br />
sentimentos comuns desta época de fim de ano: alegria, esperança, confiança no futuro.<br />
Para nós, do <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>, as crianças na foto de capa desta edição de Ideal<br />
Comunitário – alunos de um dos Centros Municipais de Atenção à Infância de Pedro<br />
Leopoldo (MG) beneficiados pelos projetos do programa Infância Ideal – simbolizam<br />
também os resultados de um ciclo de cinco anos que agora se encerra.<br />
Em 2007, iniciamos a implantação da nova estratégia de investimento social do<br />
Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>. Pedro Leopoldo foi uma das primeiras cidades a receber as<br />
ações desenhadas dentro de uma lógica inovadora de se fazer projetos sociais no setor<br />
privado. Em 2012, a experiência do <strong>Instituto</strong> e da InterCement na cidade mineira virou<br />
um estudo de caso, feito pela Fundação Dom Cabral. Tornamo-nos referência, mas são<br />
os sorrisos e os depoimentos dos vários beneficiários dos projetos ouvidos na reportagem<br />
de capa da edição o motivo real dos nossos esforços.<br />
Os resultados do trabalho do <strong>Instituto</strong> também estão bem ilustrados na matéria<br />
sobre o projeto Juntos pela Escola Ideal. Os mutirões organizados pelo <strong>Instituto</strong> e pelas<br />
empresas do Grupo já reformaram mais de 140 escolas em 13 municípios brasileiros.<br />
Outro dado importante neste balanço de 2012 são as 5.979 horas de trabalho voluntário<br />
acumuladas pelos profissionais do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> reconhecidos na primeira<br />
edição do Prêmio Idealista. E, para não ficarmos apenas em números, registramos<br />
também o sabor da inovação com a experiência vivida por agricultores de Apiaí (SP)<br />
ao trocar a cultura do tomate com uso de agrotóxicos pelos morangos orgânicos, com o<br />
apoio do programa Futuro Ideal.<br />
No próximo ano, temos como desafio dar continuidade ao alinhamento do trabalho<br />
do <strong>Instituto</strong> com politicas públicas locais, tendo em vista as mudanças nas administrações<br />
municipais. Outra tarefa será implantar o modelo de investimento social nas<br />
unidades da InterCement recentemente adquiridas da Cimpor, bem como apoiar ações<br />
sociais nos países onde a empresa está presente, especialmente Portugal e Moçambique.<br />
Ao final de 2013, esperamos colher resultados ainda melhores e novamente dividir<br />
com todos e todas os sentimentos de alegria, esperança e confiança no futuro.<br />
Francisco de Assis Azevedo, diretor executivo do <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
Foto: EduaRdo Rocha/RR<br />
“Tornamo-nos referência,<br />
mas são os sorrisos dos<br />
beneficiários dos projetos<br />
o motivo real dos nossos<br />
esforços.”<br />
ideal comunitário 3
Foto: BEl PEdRosa<br />
entrevista<br />
Eduardo Giannetti<br />
Desenvolvimento<br />
é ser feliz<br />
Eduardo Giannetti faz a<br />
economia dialogar com o<br />
que de mais humano há<br />
em nós: a busca do bemestar<br />
e da felicidade.<br />
4 ideal comunitário<br />
As múltiplas perguntas que se impõem no atual contexto pós-crise econômica<br />
mundial e de plena crise planetária ambiental estão contempladas em grande<br />
parte da reflexão e produção científica do economista e professor Eduardo Giannetti.<br />
Em seus diversos livros e artigos, ele consegue refletir ao mesmo tempo<br />
sobre conceitos econômicos, felicidade e o futuro – o do planeta e o de cada um<br />
de nós. Giannetti consegue mostrar que esta mistura aparentemente insólita faz<br />
todo o sentido e, por duas vezes, ganhou o prêmio Jabuti, maior prêmio literário<br />
do país: em 1994, com o livro Vícios privados, benefícios públicos?, e em 1995, com<br />
As partes & O todo. Atualmente, leciona no Insper <strong>Instituto</strong> de Ensino e Pesquisa.<br />
Nesta entrevista exclusiva concedida a Ideal Comunitário, ele fala de assuntos<br />
tão complexos quanto integrados, como o binômio crescimento econômico/<br />
bem-estar humano, o papel e desafios das cidades e da educação e a emergência<br />
de um modelo original de organização social brasileira calcado em nossos valores<br />
e identidades. Sempre com a profundidade e a clareza dos grandes mestres.
Como convivem crescimento econômico e bem-estar?<br />
Durante muito tempo, os economistas e cientistas sociais acreditaram<br />
que havia uma correlação direta e linear entre crescimento<br />
econômico e melhoria do bem-estar humano. A grande<br />
descoberta recente e surpreendente foi que essa relação não é<br />
tão simples como parecia ser. O que as pesquisas mostram, para<br />
muitos países, é que existe uma relação forte entre crescimento<br />
da renda média por habitante, de um lado, e bem-estar subjetivo,<br />
de outro, nos estágios iniciais, quando o país vem de um nível<br />
muito baixo de renda. Mas, a partir de certo nível, essa correlação<br />
direta não se mantém. Em países com renda per capita de<br />
US$ 20 mil por ano, a renda continua crescendo, mas os indicadores<br />
de bem-estar subjetivo não acompanham mais. Isso vale<br />
para Europa, Estados Unidos, Japão, países que alcançaram nível<br />
de renda muito alto, principalmente após a 2ª Guerra Mundial,<br />
e que já não apresentam mais a relação entre o crescimento<br />
da renda média per capita e melhoria do bem-estar subjetivo.<br />
Quais as possibilidades de mudança pós-crise econômica global,<br />
pensando na hipótese de que o binômio crise/oportunidade<br />
seja oportuno? Ou seja, a escassez e crise planetária (ambiental,<br />
econômica) abrem também oportunidades de se produzir e<br />
consumir dentro de uma lógica menos linear e mais sistêmica,<br />
baseada na ética, na colaboração e compartilhamento?<br />
Isso tudo no mundo ideal. Na prática, o que a crise econômica<br />
representa é um retrocesso. Os países ficam extremamente voltados<br />
para recuperar os níveis anteriores de crescimento, reduzir<br />
desemprego e todas as considerações que não são estritamente<br />
de ordem econômica ficam para um plano secundário. Há também<br />
uma tentação protecionista e uma ênfase muito grande em<br />
estimular, às vezes a um custo elevado, a volta do crescimento<br />
econômico nos países. Considerações ligadas a meio ambiente,<br />
por exemplo, ficam em segundo plano. Seria de se esperar, se<br />
houvesse mais discernimento no mundo, que uma crise dessa<br />
proporção levasse a uma revisão e questionamento dos valores.<br />
E levantar a pergunta que precisa ser feita: o que esperar do<br />
crescimento econômico para a melhoria de vida e bem-estar humano?<br />
Na prática, o que acontece é o contrário. Os países estão<br />
muito viciados em crescimento e expansão das possibilidades<br />
de consumo. Quando você retira essa “droga”, há uma crise de<br />
abstinência, ficam esperando voltar ao mundo anterior à crise.<br />
a crise não abre uma brecha para movimentos cidadãos, iniciativas<br />
civis que acabam forçando os países a repensarem<br />
essas estruturas e lógica do crescimento?<br />
Alguns desses movimentos não têm ligação direta com a crise<br />
econômica. São desdobramentos da mudança tecnológica. O fato<br />
é que, quando se está com o nível de desemprego tão alto, como<br />
se vê hoje na Europa, todas as outras considerações ficam em segundo<br />
plano. O nível médio de desemprego hoje na Comunidade<br />
Europeia é de 11% e em alguns países, como a Espanha, chega<br />
a 25%. Em relação ao bem-estar humano, a variável econômica<br />
de maior impacto é o emprego. As pessoas desempregadas involuntariamente,<br />
ou seja, as que desejariam estar trabalhando, mas<br />
não estão, são as que apresentam maiores proporções de infelizes,<br />
suicidas e para-suicidas (que simulam atos suicidas).<br />
O emprego como conhecemos não está em extinção?<br />
Ele parece que está em extinção até que lhe falte (risos). O<br />
Keynes [ John Keynes], economista britânico, tem uma frase<br />
que eu gosto. “Para aqueles que lutam pelo pão diário, o ócio<br />
é um prêmio ardentemente desejado até que eles o conquistam.”<br />
É muito mais complicado para o ser humano viver fora<br />
da divisão do mundo do trabalho, mesmo com um bom seguro<br />
desemprego. O nível de bem-estar fica muito rebaixado.<br />
Qual a posição do Brasil e países do Sul neste cenário. Sentimos<br />
o impacto da crise, mas nem tanto... O que nos diferencia<br />
em relação ao outro bloco?<br />
O Brasil teve uma boa reação desta vez. O país era um quadro<br />
de hipersensibilidade: toda vez que o mundo piorava um pouquinho<br />
o Brasil entrava nessa situação de desequilíbrio macroeconômico.<br />
Bastava um resfriado lá fora e virava uma pneumonia<br />
seguida de UTI aqui dentro. Dessa vez foi completamente diferente.<br />
O mundo está passando pela pior crise desde a depressão<br />
dos anos 30 e o Brasil conseguiu assimilar o impacto da crise a<br />
um custo relativamente baixo. O que nos permitiu essa maior<br />
resiliência foram três coisas: o equilíbrio das contas externas, o<br />
dinamismo do mercado doméstico, especialmente a nova classe<br />
média, e a continuidade das políticas econômicas. Apesar da<br />
alternância de poder, houve uma continuidade na condução da<br />
política econômica. O Brasil conseguiu mostrar uma capacidade<br />
de resistência. Houve recessão, mas foi mais fraca que no resto<br />
ideal comunitário 5
entrevista<br />
eduardo Giannetti<br />
do mundo e a economia voltou com força em 2010. Há muito<br />
tempo não se vê na vida brasileira um nível de confiança em<br />
relação ao futuro como o que se abriu da crise mundial para<br />
cá. É uma onda ascendente que começa com o Plano Real, em<br />
1994/95, mas só se consolida nos últimos dez anos, com este<br />
fenômeno extraordinário da mobilidade social no país. Nos últimos<br />
dez anos, o crescimento da renda dos 10% mais ricos da população<br />
foi parecido com o crescimento da renda da Alemanha,<br />
1,5% a 2% ao ano. Se considerada a renda dos 10% mais pobres,<br />
foi parecido com o crescimento da China, 8% a 9% ao ano.<br />
Com este otimismo e resistência à crise, o Brasil pode servir de<br />
modelo para mudanças econômicas e sociais globais?<br />
Mudança global, acho que seria pretensão. Mas é momento de<br />
o país se perguntar se deseja seguir a trilha percorrida pelos países<br />
altamente desenvolvidos ou se pretende buscar algum tipo<br />
de originalidade que leve em conta nossa identidade e valores.<br />
Se tudo der certo no Brasil, se resolvermos nossas mazelas,<br />
como saneamento, segurança, ensino fundamental, que tipo de<br />
país seremos? Um país do sul dos EUA? Ou será que nossos valores<br />
são outros e deveremos buscar oferecer outro padrão, diferente<br />
do padrão ocidental herdado do Iluminismo europeu?<br />
Há indícios de que caminhamos para algo neste sentido?<br />
Um momento como este nos permite sonhar. Acho que é o<br />
momento de buscar o que pode ser esse caminho de originalidade<br />
na vida brasileira. Tenho uma intuição compartilhada com<br />
outros: essa originalidade está muito ligada à permanência, na<br />
cultura brasileira, de elementos pré-modernos de origem afro-<br />
-indígena. O que temos de diferente é nossa disposição mais<br />
generosa em relação à afetividade, nossa espontaneidade. O que<br />
o filósofo Rousseau chamava de “o doce sentimento da existência”.<br />
Se conseguirmos integrar a conquista de um certo padrão<br />
civilizatório tecnológico, com a valorização desses elementos da<br />
afetividade, espontaneidade – o que eu chamo de “a vitalidade<br />
iorubá filtrada pela ternura portuguesa” – num projeto de identidade<br />
brasileira, teríamos algo a dizer ao mundo. O modelo de<br />
corrida ao consumo não é a única forma de se organizar uma<br />
sociedade. Existe um outro caminho.<br />
6 ideal comunitário<br />
Sugestões de leitura<br />
• O Mercado das Crenças<br />
(Editora companhia das letras, 2003)<br />
• Nada é tudo: ética, economia e brasilidade<br />
(Editora campus, 2000)<br />
Mas daí o eixo da sociedade se desloca...<br />
Desloca-se do econômico para as relações pessoais. O mundo<br />
todo está buscando alternativas e acho que hoje, quem sabe, o<br />
Brasil, por sua característica de integração de muitas matrizes<br />
modernas e pré-modernas, esteja bem posicionado para oferecer<br />
alguma originalidade nesta busca.<br />
e as cidades, que papel teriam na promoção de um desenvolvimento<br />
mais sustentável? Que horizonte de mudanças<br />
podemos vislumbrar para as questões caóticas (trânsito, insegurança,<br />
superpopulação, precariedade da saúde e educação)?<br />
Quais os principais desafios que os novos prefeitos vão<br />
enfrentar quando tomarem posse este ano?<br />
A cidade é onde as coisas acontecem na vida prática do cidadão.<br />
O Brasil ainda tem tremendas dificuldades em resolver questões<br />
que os países desenvolvidos já resolveram no século XIX, como,<br />
por exemplo, o saneamento básico. Estamos no século XXI com<br />
cerca de 40% ou mais de domicílios sem acesso a coleta de esgoto,<br />
o que é completamente injustificável. Os problemas de<br />
ordem municipal num país onde existem 5.565 municípios são<br />
de extraordinária diversidade. As grandes metrópoles brasileiras<br />
estão vivendo um problema de mobilidade urbana pelo crescimento<br />
muito rápido da frota automotiva e pelo descaso com o<br />
transporte público. No momento em que deveríamos investir<br />
em metrô e transporte público de qualidade, o que vemos é o<br />
governo dar estímulo ao carro particular. Em São Paulo, os carros<br />
são responsáveis pelo transporte de 28% dos passageiros e<br />
ocupam 78% do espaço viário. A média de ocupação dos carros<br />
em São Paulo é de quatro passageiros. Isso está acontecendo<br />
também em Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre. São Paulo<br />
também vive um problema gravíssimo de segurança pública e<br />
déficit na saúde, que foi o mote da campanha eleitoral.<br />
e o potencial criativo das cidades?<br />
Cada caso é um caso, cidades menores são mais aptas a mudanças<br />
rápidas. Um exemplo bom é o Rio de Janeiro, que viveu por décadas<br />
uma situação de desesperança e, de alguns anos para cá, está numa<br />
maré ascendente, fazendo conquistas e olhando para seu futuro de<br />
maneira muito mais generosa. Existem grandes projetos de recupe-
• Auto-engano<br />
(Editora companhia das letras, 1997)<br />
• As partes & o todo<br />
(Editora siciliano, 1995)<br />
• Vícios privados, benefícios públicos?<br />
Editora companhia das letras, 1993)<br />
ração urbana como o da zona portuária e que vão mudar a paisagem<br />
urbana e a qualidade de vida do Rio. Sempre que vou ao Rio volto<br />
com a impressão de que a cidade está vivendo um momento de virada,<br />
e para melhor. Coisa que eu não sinto quando vou a Salvador,<br />
uma cidade em momento de decadência e falta de perspectivas.<br />
Qual o valor e a potência da educação neste contexto em que<br />
o empoderamento do cidadão ainda é uma ideia que encontra<br />
resistências e o acesso é limitado por diversos fatores?<br />
Como ultrapassar barreiras e quais as possibilidades do sistema<br />
educacional brasileiro?<br />
O Brasil universalizou o acesso ao Ensino Fundamental no final<br />
dos anos 80; os EUA completaram este movimento na década<br />
de 90 do século XIX. Demoramos um século para garantir<br />
o acesso da totalidade das crianças de 7 a 14 anos a esta fase<br />
da educação formal. No entanto, tem muita gente completando<br />
o Ensino Fundamental sem ter adquirido as competências,<br />
o conhecimento associado a este grau educacional. Um dado<br />
espantoso apareceu em pesquisa do Ibope e não me saiu mais<br />
da cabeça, acionando alarmes sobre o que se passa na educação<br />
brasileira. O instituto fez uma pesquisa para aferir a extensão<br />
do analfabetismo funcional no Brasil, um critério bastante<br />
exigente que inclui conseguir interpretar um texto, relacionar<br />
ideias, separar fato de opinião, fazer operações aritméticas. Foi<br />
constatado que 38% dos egressos do Ensino Superior no Brasil<br />
são analfabetos funcionais. Ou seja, mais de um terço dos que<br />
completam a faculdade não são plenamente alfabetizados. Não<br />
adianta imaginar que temos 98% das crianças com acesso ao<br />
Ensino Fundamental se não existe uma contrapartida de realidade<br />
educacional que justifique a obtenção deste grau.<br />
No seu livro Felicidade, a troca de ideias e a conversa filosófica<br />
entre amigos é fonte de bem-estar. este aspecto de transcendência<br />
da vida humana, muitas vezes visto com preconceito<br />
pela ciência, seria importante de ser retomado?<br />
A pergunta que está por trás disso é: o que torna uma vida humana<br />
digna de ser vivida? Percebo que o caminho que hoje se<br />
apresenta não é bom nem do ponto de vista da sustentabilidade,<br />
nem do ponto de vista da realização que ele proporciona. Não é<br />
Felicidade<br />
(Editora companhia<br />
das letras, 2002)<br />
O Valor do Amanhã<br />
(Editora companhia<br />
das letras, 2005)<br />
sustentável porque não é generalizável. Se atingirmos um padrão<br />
de consumo parecido com o que há hoje nos EUA, o planeta não<br />
comporta. O que os norte-americanos consomem de eletricidade<br />
para ar condicionado é mais do que o uso de energia elétrica<br />
de todo o continente africano para todas as finalidades. China e<br />
Índia estão seguindo os passos desse caminho que não levará a<br />
um bom termo. Pelo bem, pelo mal, teremos de encontrar alternativas.<br />
A outra dimensão é que esse caminho da corrida pelo<br />
consumo também não entrega a felicidade que promete. Essas<br />
duas realidades colocam a necessidade de se repensar as maneiras<br />
de se organizar a vida em sociedade. Quais são os valores que<br />
deveriam presidir uma vida humana que não esteja totalmente<br />
calcada no sucesso econômico? Tendo a crer que uma alternativa<br />
relevante é um modo de vida em que as relações pessoais e a<br />
busca da expressão no campo da arte, da ciência ou da religião<br />
possam ter um peso muito maior do que têm hoje.<br />
a proposta de Felicidade gira em torno destes assuntos e é<br />
bastante inspiradora.<br />
A proposta é indagar sobre o que permanece vivo e o que caducou<br />
na promessa de felicidade oriunda do projeto iluminista do<br />
século XVIII: alcançar padrões crescentes de realização humana<br />
através do crescimento da riqueza e dos padrões de consumo.<br />
Estamos em condição de fazer uma avaliação crítica desse sonho<br />
iluminista e do que ele não contemplou. Um limite muito central<br />
é a ideia de que esse processo civilizatório calcado na racionalidade<br />
entristece o animal humano. Uma ideia que abordo no livro é<br />
que todo sofrimento humano resulta da incongruência entre os<br />
desejos e o curso dos acontecimentos. Há duas maneiras de corrigir<br />
essa inconsistência: ou você altera o mundo de forma que ele<br />
possa atender seus desejos, ou você altera os seus desejos. O projeto<br />
iluminista é o primeiro caminho, no sentido de transformar<br />
radicalmente o mundo de modo que ele atenda às aspirações<br />
humanas. O caminho oriental tradicional é o outro – eu mudo<br />
minhas preferências e desejos de modo que nada possa afetar<br />
minha paz e tranquilidade. No fundo, todo ser humano combina<br />
um pouco das duas estratégias. O que se está buscando no mundo<br />
é um reequilíbrio das duas possibilidades de redução do que<br />
nos causa sofrimento e sensação de frustração na vida.<br />
ideal comunitário 7
panorama social<br />
Mundo terá<br />
1 bilhão de<br />
idosos em 2050<br />
Nos próximos dez anos, o número de pessoas com mais<br />
de 60 anos no planeta vai aumentar em quase 200 milhões,<br />
superando a marca de 1 bilhão de pessoas. Em 2050, serão 2<br />
bilhões, o equivalente a 20% da população mundial e superando<br />
o número de jovens de até 15 anos. Os números constam<br />
no relatório divulgado pelo Fundo de População das Nações<br />
Unidas (UNFPA, na sigla em inglês).<br />
Segundo o UNFPA, o envelhecimento da população será<br />
mais perceptível nos países emergentes. Para o Brasil, a previsão<br />
é que o número de idosos triplique até 2050, passando de 21<br />
milhões para 64 milhões de pessoas – ou seja, passarão a representar<br />
30% da população brasileira.<br />
Os números quantificam um desafio mundial: o da inclusão<br />
dos idosos. O relatório do órgão das Nações Unidas ressalta<br />
que um dos maiores problemas enfrentados pelas pessoas<br />
mais velhas é o preconceito. Jordelina Schier, coordenadora do<br />
Núcleo de Estudos da Terceira Idade (Neti) da Universidade<br />
Federal de Santa Catarina, ressalta que este preconceito está<br />
ligado à persistência de mitos sobre o envelhecimento. “Nossa<br />
Acesso à educAção<br />
Nas famílias com renda per capita de até ¼ do<br />
salário mínimo, estão na escola...<br />
8 ideal comunitário<br />
noção de velhice é de que o velho é inativo, deixou de produzir,<br />
não precisa fazer ou aprender mais nada”, comenta. O próprio<br />
estudo do UNFPA mostra que, ao contrário do que diz o senso<br />
comum, os idosos são, muitas vezes, quem sustenta financeiramente<br />
as famílias.<br />
Inverter esta lógica, diz Jordelina, é tarefa da educação. “É<br />
preciso ensinar que a velhice faz parte da vida e que, mesmo velhos,<br />
temos habilidades que podem e devem ser aproveitadas”,<br />
afirma a coordenadora do Neti. Ela ressalta que oportunidades<br />
educativas também devem ser oferecidas aos idosos, inclusive<br />
para que se aprenda a conviver com as limitações que naturalmente<br />
surgem com a idade.<br />
A coordenadora do Neti lembra que o Brasil já avançou na<br />
construção de políticas públicas para a população idosa. O Estatuto<br />
do Idoso ganhou, inclusive, destaque no relatório do<br />
UNFPA. Jordelina cita, também, a Política Nacional de Saúde<br />
do Idoso. Porém, ela lembra: “São dispositivos legais. Depende<br />
da sociedade civil formar grupos de pressão para exigir as ações<br />
que concretizem estas políticas.”<br />
dados da Pesquisa Nacional por amostra de domicílio 2011 (Pnad)<br />
mostram a relação entre a renda da família e a frequência escolar:<br />
Nas famílias com renda per capita maior que 1<br />
salário mínimo, estão na escola...<br />
69,1% 88,9%<br />
das crianças de 4 a 5 anos<br />
97,4% 99,2%<br />
das crianças de 6 a14 anos<br />
85,2% 83,7%<br />
dos jovens de 15 a 17 anos
PArA OuVir MElhOr AS CriANçAS<br />
A Childhood Brasil e o Conselho Nacional de Justiça firmaram,<br />
em outubro, um termo de cooperação para incentivar o<br />
Depoimento Especial de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas<br />
de violência sexual. O objetivo é assegurar o direito das<br />
crianças e dos adolescentes à justiça de forma protegida.<br />
Direto ao ponto<br />
Patricia Santin, gerente da área de<br />
Infância e Adolescência da Fundação<br />
Telefônica Vivo, fala sobre<br />
a campanha colaborativa É da<br />
nossa conta! Trabalho Infantil e<br />
Adolescente. A campanha propõe<br />
que os cidadãos tornem-se agentes<br />
multiplicadores contra o trabalho<br />
infantil nas redes sociais.<br />
o objetivo da campanha é dar visibilidade ao tema do trabalho infantil e adolescente.<br />
Por que ainda é preciso investir nesta estratégia?<br />
Nas duas últimas décadas, o Brasil reduziu muito o número de crianças em situação de<br />
trabalho infantil, e isso se deve as políticas públicas de enfrentamento ao trabalho infantil<br />
como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) e mais recentemente<br />
o Bolsa Família. Mas, segundo o último senso do IBGE ainda temos 3,7 milhões de<br />
crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no país, mais da metade delas<br />
concentrada nas regiões Norte e Nordeste. Na última década a velocidade de redução<br />
caiu muito, o que indica que as atuais estratégias de enfrentamento ao trabalho infantil<br />
precisam ser revistas. O país é signatário das principais convenções internacionais<br />
e se comprometeu a erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016 e todas<br />
as formas até 2020. Nessa velocidade de queda, o país não cumprirá a meta. Então,<br />
ainda é sim necessário investir no combate ao trabalho infantil e principalmente na<br />
conscientização da população, porque temos uma cultura de aceitação do trabalho<br />
infantil que atrapalha o seu enfrentamento.<br />
Por que trabalhar com as redes sociais?<br />
Nos últimos anos, as redes sociais têm nos dados excelentes exemplos de mobilização<br />
da sociedade civil. Queremos aproveitar todo esse potencial para mobilizar o cidadão<br />
comum para a causa do combate ao trabalho infantil, orientando e mostrando o que<br />
cada um pode fazer.<br />
No Depoimento Especial, a criança é entrevistada por<br />
um profissional capacitado, fora da sala de audiência, em<br />
um local acolhedor e amigável. A parceria prevê capacitações<br />
à distância e cursos presenciais, qualificando profissionais<br />
do Judiciário que realizam as entrevistas.<br />
Há cerca de 40 salas de Depoimento Especial instaladas<br />
no Brasil. Até o fim do ano, outras 38 devem ser implantadas.<br />
Letra Miúda: CONsElhOs NaCIONaIs<br />
o <strong>Instituto</strong> de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea)<br />
divulgou relatórios do projeto “conselhos nacionais:<br />
perfil e atuação dos conselheiros”. Na página http://<br />
www.ipea.gov.br/participacao/relatorios/114-novos-<br />
-relatorios-sobre-perfil-dos-conselheiros-nacionais-disponiveis<br />
podem ser consultados os perfis de todos os<br />
órgãos participativos ligados às políticas sociais.<br />
conheça alguns dos conselhos envolvidos nas áreas<br />
de atuação do <strong>Instituto</strong> camargo corrêa:<br />
Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da<br />
Criança e do Adolescente é responsável pela definição<br />
das diretrizes para a Política Nacional de Promoção,<br />
Proteção e defesa dos direitos de crianças<br />
e adolescentes e pela gestão do Fundo Nacional da<br />
criança e do adolescente.<br />
Cnas – Conselho Nacional de Assistência Social é<br />
responsável por aprovar e coordenar a Política Nacional<br />
de assistência social, além de gerir o Fundo<br />
Nacional de assistência social.<br />
Cnes - Conselho Nacional de Economia Solidária<br />
tem função consultiva e propositiva e é espaço de<br />
interlocução permanente entre governo e sociedade<br />
civil.<br />
CNE – Conselho Nacional de Educação é responsável<br />
por definir as normas da educação nacional e<br />
assessorar o Ministério da Educação.<br />
ideal comunitário 9
Foto: NEllo auN<br />
Trabalho que dá<br />
resultado<br />
10 ideal comunitário<br />
INFâNcIa
Modelo de referência<br />
e inovador, método<br />
de investimento social<br />
privado desenvolvido<br />
pelo <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong><br />
<strong>Corrêa</strong> tem gerado<br />
transformações<br />
importantes em Pedro<br />
Leopoldo (MG)<br />
DirEiTO A briNCAr E APrENDEr<br />
crianças brincam em um dos centros Municipais de atenção à<br />
Infância: todos os profissionais da educação infantil do município<br />
foram capacitados em projeto do Infância Ideal<br />
ideal comunitário 11
Foto: NEllo auN<br />
12 ideal comunitário<br />
InfâncIa<br />
ATENçãO àS gESTANTES<br />
Maria de lourdes coordena o Escola da Gestante, que virou política<br />
pública assumida pelo município<br />
Muita coisa mudou na cidade de Pedro Leopoldo, na Região<br />
Metropolitana de Belo Horizonte (MG), desde 2007,<br />
quando a InterCement, empresa do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>,<br />
começou a implantar na cidade ações sociais que seguiam o<br />
novo modelo de atuação criado naquele ano pelo <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong><br />
<strong>Corrêa</strong> (ICC). Passados cinco anos, os projetos tornaram-se<br />
objeto de um estudo de caso realizado pela Fundação<br />
Dom Cabral (FDC). O objetivo da análise foi documentar e<br />
avaliar a experiência após esse período de atuação na cidade.<br />
Para Nisia Werneck, que coordenou o estudo, o modelo de Investimento<br />
Social Privado (ISP) desenhado pelo <strong>Instituto</strong> para<br />
o Grupo é inovador. “Tem gerado transformações importantes<br />
em Pedro Leopoldo e nos outros municípios onde está presente”,<br />
afirmou a pesquisadora [veja entrevista à pág. XX].<br />
A primeira ação desenvolvida de acordo com esse novo<br />
modelo foi o programa Infância Ideal e a primeira cidade<br />
a recebê-lo foi Pedro Leopoldo. Construído a partir de um<br />
novo plano de ação, realizado em 2007, que também definiu<br />
qual seria o público das ações desenvolvidas, o programa<br />
visa defender os direitos da infância por meio de uma atuação<br />
integrada entre o <strong>Instituto</strong>, organizações sociais locais, empresa<br />
e grupos parceiros. Para isso, é criado um Comitê de<br />
Desenvolvimento Comunitário (CDC) que participa de todas<br />
as etapas, desde a definição de prioridades, até o desenho<br />
e acompanhamento dos projetos.<br />
De acordo com a coordenadora do Infância Ideal, Juliana<br />
Di Thomazo, a primeira tarefa do CDC é definir as áreas<br />
prioritárias de atuação. “Para tanto, em oficinas realizadas<br />
com o grupo, fazemos o que chamamos de ‘desenho de cenário<br />
da infância’, no qual usamos informações sobre as políticas<br />
públicas e ações realizadas por organizações sociais, além de<br />
dados oficiais sobre a situação das crianças e dos adolescentes<br />
no município”, explica.<br />
Em Pedro Leopoldo, o CDC definiu quatro prioridades:<br />
capacitar profissionais da educação infantil; aprimorar o atendimento<br />
de gestantes e recém-nascidos; fomentar o lazer e a<br />
cultura e reduzir o índice de gravidez na adolescência. Foram,<br />
então, formados subgrupos para desenvolver projetos relacionados<br />
a cada tema. Mais tarde, outra meta foi adicionada: integrar<br />
e fortalecer os vários serviços de saúde, educação e assistência<br />
social do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e<br />
do Adolescente no município.<br />
Para além da metodologia, a experiência do <strong>Instituto</strong>, da<br />
InterCement e da comunidade de Pedro Leopoldo torna-se<br />
referência em investimento social especialmente pelos resultados<br />
alcançados. “Esta experiência tem nos trazido resultados<br />
empresariais significativos, além do senso de realização por<br />
construirmos um legado para além das conquistas econômicas”,<br />
diz o presidente da InterCement, José Édison Barros<br />
Foto: NEllo auN
DESDE A bArrigA<br />
camila (na capa do número 9 de Ideal comunitário) foi uma das<br />
primeiras mulheres atendidas pelo Escola da Gestante, onde<br />
aprendeu a dar banho no bebê. agora, a fi lha Juju, de 3 anos, é<br />
acompanhada no centro de atenção à saúde da Mulher e da criança<br />
Franco. “Pedro Leopoldo foi nosso primeiro passo e nossa<br />
inspiração para os seguintes. Hoje, todas as nossas fábricas desenvolvem<br />
trabalho semelhante.”<br />
eSCOla para MãeS<br />
Os relatos dos realizadores e dos benefi ciários dos diversos<br />
projetos desenvolvidos no município dão uma medida mais<br />
exata do sucesso das ações. Por exemplo: quando conheceu o<br />
projeto Escola da Gestante, a agente de saúde Camila Moreira,<br />
20 anos, era uma adolescente tímida que cursava o último<br />
ano do Ensino Médio e havia engravidado “por acidente”,<br />
como ela diz. Hoje, Camila frequenta a Clínica de Saúde da<br />
Mulher e da Criança acompanhada da fi lha, a simpática Maria<br />
Júlia – ou Juju, como ela faz questão de ser chamada –, que<br />
já completou 3 anos. O projeto foi fundamental para Camila<br />
inclusive na hora de dar a notícia da gravidez à família e lidar<br />
com a reação da mãe, que, a princípio, não aceitou muito bem<br />
a situação. Lá ela também esclareceu muitas dúvidas a respeito<br />
da gravidez e aprendeu como agir no momento que mais<br />
temia: a hora do banho do neném.<br />
Além da participação dos pais nos cuidados com os recém-<br />
-nascidos, planejamento familiar e direitos da mulher, o projeto<br />
inclui discussões sobre higiene, saúde bucal, alimentação,<br />
a modifi cação do organismo durante a gravidez, o desenvolvimento<br />
do feto e a importância da amamentação. O trabalho<br />
ajuda as mães de primeira viagem, mas também as mulheres<br />
que já têm mais de um fi lho e, muitas vezes, não receberam todas<br />
as informações que precisavam. Há ainda as que passaram<br />
pelo programa e voltam quando engravidam novamente.<br />
O trabalho da Escola da Gestante vai além do acompanhamento<br />
médico. O objetivo é aprimorar a atenção às mulheres<br />
durante a gravidez e, assim, diminuir os índices de mortalidade<br />
materno-infantil. Para isso, é preciso oferecer um pré-natal<br />
adequado, o que requer um trabalho em vários níveis. “O pré-<br />
-natal adequado é a construção de toda a saúde do cidadão”,<br />
ressalta a médica Maria de Lourdes Costa, coordenadora do<br />
projeto. Maria de Lourdes destaca, ainda, a importância da<br />
humanização do atendimento aos pacientes.<br />
O projeto foi assumido pela prefeitura de Pedro Leopoldo<br />
e estendido para toda a rede do Serviço Único de Saúde<br />
da cidade, atendendo cerca de 800 mulheres por ano. “Temos<br />
como premissa que nossos projetos fortaleçam as políticas públicas<br />
e não sejam ações paralelas, desconectadas. Um projeto<br />
transformar-se em uma política pública é o maior sinal de que<br />
estamos cumprindo essa meta”, avalia Juliana Di Th omazo.<br />
iNteGraçãO É a palaVra<br />
Atuando em conjunto com a Escola da Gestante está o Programa<br />
de Educação Afetivo Sexual (Peas), cujo foco é a di-<br />
ideal comunitário 13<br />
Foto: NEllo auN
14 ideal comunitário<br />
INFâNcIa<br />
minuição dos índices de gravidez não planejada, de doenças<br />
sexualmente transmissíveis, do uso de drogas, da violência e dos<br />
problemas de relacionamento na adolescência. O projeto surgiu<br />
em 2009, com a formação de duas turmas facilitadoras, que<br />
desenvolvem atividades com adolescentes entre 13 e 15 anos e<br />
seus familiares. Logo em seguida, foi formada uma nova turma<br />
e atualmente está sendo desenvolvido um trabalho para a criação<br />
de uma equipe técnica local de caráter permanente.<br />
A atuação integrada é um dos objetivos do último projeto iniciado<br />
no município, o Recriar em Rede. O objetivo é promover o<br />
fortalecimento do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e<br />
do Adolescente através da mobilização e capacitação continuada<br />
dos profissionais da infância e da juventude; da articulação dos<br />
diversos serviços e setores; da sistematização de práticas, conhecimentos<br />
e planos produzidos pela rede e do reordenamento e<br />
a qualificação do serviço de acolhimento institucional prezando<br />
pelo direito de toda criança à convivência familiar e comunitária.<br />
Outro projeto que integra o Infância Ideal é o Lazer, Esporte<br />
e Cultura (LEC), que atende crianças de 0 a 6 anos. O LEC se<br />
divide em duas ações: Brincar e Aprender, que criou um espaço de<br />
brincar na Quinta do Sumidouro, povoado de Pedro Leopoldo, e<br />
Nadar e Crescer, que oferece aulas de natação para crianças com<br />
problemas respiratórios e palestras informativas sobre saúde.<br />
Foto: NEllo auN<br />
FOrMaçãO de eduCadOreS<br />
Desde que a prefeitura municipalizou a educação infantil, o<br />
atendimento a crianças de 0 a 6 anos em Pedro Leopoldo é realizado<br />
em 12 escolas municipais, três anexos em escolas estaduais<br />
e 13 Centros Municipais de Atenção à Infância (Cemais). Este<br />
ano, todos os profissionais dessas instituições receberam certificação<br />
pela Fundação Pedro Leopoldo (FPL) após concluir um<br />
curso de formação continuada iniciado em 2008. O grupo de<br />
coordenação – que inclui diretoras, vice-diretoras, pedagogas das<br />
escolas de educação infantil e coordenadoras dos Cemais – recebeu<br />
certificado de especialização em Educação Infantil.<br />
O curso fez parte de um projeto do programa Infância Ideal.<br />
Segundo a chefe da Divisão de Ensino da Secretaria Municipal<br />
de Educação da cidade, Denise Botelho, esse trabalho em conjunto<br />
foi fundamental. “A qualidade do atendimento, o envolvimento<br />
dos profissionais da empresa e a certeza que eles – ICC<br />
e InterCement – têm do caminho que estão trilhando dão uma<br />
tranquilidade imensa para a gente que está na secretaria e para os<br />
pais também”, comenta.<br />
A assistente administrativa Arlete dos Santos, 41 anos, buscava<br />
uma creche para a filha Scarleth, na época recém-nascida,<br />
quando decidiu visitar o Cemai perto de sua casa. “Fui a algumas<br />
escolinhas particulares em Sete Lagoas, onde trabalho, mas<br />
iNTEgrAçãO E rESulTADOS<br />
denise, da secretaria de Educação, e cynthia, das Faculdades Integradas de Pedro leopoldo, destacam compromisso<br />
do Icc e da Intercement e os resultados alcançados na educação infantil
quando conheci o Cemai, me encantei”, lembra. Com pouco<br />
mais de três meses de vida, Scarleth já frequentava o Centro. “A<br />
adaptação foi mais difícil para mim porque, no início, ficava com<br />
o coração apertado por me separar dela. Mas sempre me senti<br />
muito tranquila sabendo que ela estava no Cemai, que é como<br />
uma extensão da casa da gente”, diz Arlete. Hoje, prestes a completar<br />
4 anos de idade, Scarleth fica no Centro das 8h às 17h. Lá<br />
a menina faz suas refeições, toma banho, tira uma soneca depois<br />
do almoço e brinca, brinca, brinca.<br />
GraNde deSaFiO, GraNdeS MudaNçaS<br />
Um diferencial dessa formação é que ela não foi voltada somente<br />
para a equipe pedagógica. “Queríamos construir a ideia<br />
de que todo profissional que trabalha em uma instituição de<br />
educação infantil é um educador”, afirma a professora Cynthia<br />
Terra, das Faculdades Integradas de Pedro Leopoldo,<br />
coordenadora pedagógica do projeto. Assim, além de professores,<br />
supervisores e diretores, toda a equipe de apoio – auxiliares<br />
de serviços gerais, porteiros, cozinheiras – também<br />
recebeu formação.<br />
Uma das profissionais formadas pelo projeto foi Dilcéia<br />
Mendes, que trabalha em um Cemai há seis anos. Junto com a<br />
coordenadora da instituição, Ana Gabriela Viana, ela vivenciou<br />
todo o processo de mudança após a municipalização e o curso de<br />
formação. “Minha carreira deu uma guinada. Tínhamos o rótulo<br />
de ‘crecheiras’ e hoje somos vistas e respeitadas como educadoras”,<br />
afirma orgulhosa. Apesar de gratificante, não foi nada fácil.<br />
“Era tanta informação que cheguei a pensar que não daria conta,<br />
mas tive muito apoio da minha coordenadora, muita vontade de<br />
aprender e de ajudar a melhorar o perfil da creche.”<br />
De acordo com Ana Gabriela, uma das principais mudanças<br />
que o projeto proporcionou foi o modo como as profissionais<br />
passaram a enxergar e a tratar os meninos e meninas.<br />
“Quando assumi a creche, elas viam as crianças como robozinhos:<br />
‘eu mando, você obedece’. A partir do curso de formação,<br />
as crianças passaram a ser vistas como sujeitos de direito”, diz<br />
Ana. Segundo a coordenadora, as educadoras tinham potencial,<br />
mas precisavam muito do suporte e do estímulo que a formação<br />
ofereceu. “Hoje, elas perguntam para as crianças qual brincadeira<br />
preferem e não se importam se veem alguma delas mexendo<br />
na terra, por exemplo. Antes isso era impensável.”<br />
CONFiANçA<br />
arlete, com a filha scarleth e o marido Ronaldo: “o cemai é como<br />
uma extensão da casa da gente.”<br />
PrOFiSSiONAiS DA EDuCAçãO<br />
a educadora dilcéia (à esq.) orgulha-se de não ser mais crecheira;<br />
a coordenadora ana comemora as mudanças<br />
Foto: NEllo auN<br />
Foto: NEllo auN<br />
ideal comunitário 15
16 ideal comunitário<br />
InfâncIa<br />
DirEiTOS iNTEgrAiS<br />
Projetos reforçaram os serviços de atenção e a rede de proteção<br />
aos direitos de crianças e adolescentes<br />
e O traBalHO CONtiNua<br />
A metodologia de investimento social privado que foi desenvolvida em Pedro<br />
Leopoldo a partir da implementação do programa Infância Ideal foi tão bem<br />
sucedida e fortaleceu de tal forma a relação entre empresa e comunidade que<br />
a expansão das ações do ICC no município está acontecendo de forma acelerada.<br />
Este ano, teve início o programa Escola Ideal, que visa contribuir com a<br />
melhoria da qualidade da educação pública do ensino fundamental. Para isso,<br />
foi estabelecida uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação, que<br />
propôs a ampliação do programa para as escolas de educação infantil. Dentro<br />
do Escola Ideal estão os projetos: Sistema de Gestão Integrado, Juntos pela<br />
Escola Ideal, Ler: Prazer e Saber, Jornal Escolar, Educação Inclusiva, Escrita<br />
para Todos e Grupo Livre de Estudos e Formação.<br />
Além da troca de informação entre os projetos, formando uma rede de<br />
atuação integrada, foi também criada, a partir da mobilização dos profissionais<br />
da InterCement, uma rede de voluntários formada pela própria comunidade.<br />
O programa Ideal Voluntário, do ICC, tem como objetivo criar condições para<br />
que os profissionais das empresas do Grupo exerçam sua cidadania através do<br />
voluntariado. Além das ações permanentes, realizadas pelos grupos de voluntários,<br />
o programa realiza o Dia do Bem-Fazer, evento anual de incentivo ao<br />
voluntariado. Em Pedro Leopoldo, o evento reuniu, este ano, cerca de três mil<br />
pessoas. Dentre elas estava Camila Moreira, a agente de saúde que aparece no<br />
início desta reportagem, que ajudou a pintar as paredes do Cemai frequentado<br />
por sua filha Juju.<br />
Foto: NEllo auN<br />
PaRcERIas<br />
o intercâmbio entre empresa, poder público<br />
e organizações comunitárias foi de fundamental<br />
importância para o sucesso do<br />
programa Infância Ideal em Pedro leopoldo.<br />
conheça todas as parcerias do <strong>Instituto</strong><br />
camargo corrêa e da Intercement:<br />
Projeto de formação de professores – secretaria<br />
Municipal de Educação de Pedro leopoldo,<br />
Fundação Pedro leopoldo, Fundação<br />
José hilário de souza, <strong>Instituto</strong> avisa lá.<br />
lazer, esporte e cultura – associação de<br />
Moradores antônio Francisco lisboa, academia<br />
alta Energia.<br />
Escola da gestante – Pastoral da criança,<br />
secretaria Municipal de saúde, hospital e<br />
Maternidade doutor Eugênio Gomes de<br />
carvalho, conselho Municipal dos direitos<br />
da criança e do adolescente, lyons club,<br />
sociedade são Vicente de Paulo, Fundação<br />
José hilário de souza, Rotary club, lar solidário<br />
lagoa.<br />
Programa de Educação Afetivo Sexual<br />
– Prefeitura Municipal de Pedro leopoldo<br />
(secretarias de Educação, saúde, desenvolvimento<br />
social), centro de Referência<br />
de assistência social (cras), centro de Referência<br />
Especializado de assistência social<br />
(creas), conselho Municipal dos direitos da<br />
criança e do adolescente, conselho tutelar,<br />
consultoria Integrar.<br />
Proteção integral e Atuação em rede na<br />
garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes<br />
– associação Brasileira de Magistrados,<br />
Promotores de Justiça e defensores<br />
Públicos da Infância e da Juventude (aBMP).
inovação e referência<br />
são as marcas do programa<br />
infância ideal<br />
Especialista em análise econômica do desenvolvimento<br />
urbano, a professora associada da Fundação Dom Cabral, Nisia<br />
Werneck, coordenou o estudo de caso Novas Fronteiras do<br />
Investimento Social: aprendizagens de uma experiência, que<br />
avaliou o investimento social da <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> no município<br />
de Pedro Leopoldo (MG). O estudo contou, ainda, com o<br />
trabalho das pesquisadoras Juliana Travassos e Flávia Alvim.<br />
O que mais lhe chamou a atenção durante a pesquisa?<br />
O modelo de trabalho. As ações são bem feitas porque nasceram<br />
de um projeto bem feito. E, mais importante que o<br />
projeto em si, foi o processo que, além de ser um sucesso, é<br />
replicável. É um modelo que dá para trabalhar em qualquer<br />
localidade, que pode gerar vários tipos de ação. É um modelo<br />
de referência, inovador e tem gerado transformações importantes<br />
não só em Pedro Leopoldo, mas também nos outros<br />
municípios onde está presente.<br />
Qual é a inovação desse modelo de trabalho?<br />
A conexão. É muito comum as empresas criarem os institutos<br />
e delegarem para aquela área toda a ação social. No caso<br />
do programa Infância Ideal, houve interação entre o <strong>Instituto</strong><br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> (ICC) e a empresa (InterCement). O<br />
ICC não é o executor, ele é gestor, fornece conhecimento,<br />
tecnologia. Mas quem executa é a InterCement. E há conexão<br />
também com a comunidade. A empresa não chegou com<br />
um projeto pronto. Ele foi construído em conjunto com os<br />
moradores da cidade. Foi um diagnóstico participativo e isso<br />
é um grande diferencial de atuação.<br />
Qual a principal razão desse novo modelo ter tido êxito em<br />
Pedro Leopoldo?<br />
O fato de tratar dos problemas que efetivamente a cidade estava<br />
necessitando que fossem resolvidos. O que foi priorizado<br />
era o que efetivamente estava atormentando e preocupando<br />
as pessoas. Para isso, a empresa estabeleceu contato com or-<br />
ganizações locais que desenvolviam experiências exitosas nos<br />
setores que a comunidade apontou como problemas. Além de<br />
servir de estímulo, isso fortaleceu as instituições, que tiveram<br />
o trabalho reconhecido e servindo de modelo. É um processo<br />
que encurta o caminho e todo mundo ganha. A organização<br />
aumenta seu impacto e a comunidade vê o resultado mais depressa.<br />
Outro aspecto foi o compartilhamento da governança<br />
do projeto. Por meio do Comitê de Desenvolvimento Comunitário<br />
a empresa fechou o ciclo de participação, as coisas se<br />
integraram, não fi caram separadas umas das outras. A atuação<br />
se deu de modo transversal em todo o ciclo do projeto.<br />
Quais as vantagens do investimento social privado para as<br />
empresas e a comunidade?<br />
Ao trabalhar dessa forma, a empresa conquista a confi ança<br />
da comunidade e cria um capital social. É uma espécie de<br />
“saldo no banco”. É preciso gerar capital econômico, mas o<br />
capital social também é importante e esse conceito é uma<br />
coisa nova. Ele é um ativo intangível da empresa e que está<br />
sendo muito valorizado. Ela cria uma relação de confi ança e,<br />
com isso, consegue resolver problemas de forma mais fácil.<br />
Se um dia for preciso ampliar a fábrica, por exemplo, é muito<br />
mais provável que as pessoas acreditem nos compromissos<br />
que a empresa assumir porque elas sabem que, todas as vezes<br />
que fi zeram um acordo, ele foi cumprido. E quanto mais<br />
você usa o capital social, mais ele cresce. E, da forma como<br />
o trabalho é feito, ele se estende à comunidade, cria um canal<br />
de comunicação que estreita as relações. As organizações<br />
que participam do programa em Pedro Leopoldo têm um<br />
relacionamento com o governo que gera uma possibilidade<br />
maior de articulação. Isso é capital social pra elas também.<br />
ideal comunitário 17<br />
Foto: tatI WEXlER
Foto: MaRIaNa GuERRa<br />
Educação BásIca<br />
Pondo a mão na massa pela<br />
EDuCAçãO<br />
DE QuAliDADE<br />
18 ideal comunitário<br />
Projeto Juntos pela Escola<br />
Ideal mobiliza voluntários<br />
para reformar escolas públicas<br />
e transforma os mutirões em<br />
oportunidades educativas
Melhorar a qualidade da educação nas escolas públicas de<br />
Ensino Fundamental exige transformações em vários níveis, a<br />
começar pelo mais aparente: as condições físicas das escolas. De<br />
tão óbvio, parece até tolice chamar a atenção para o fato de que as<br />
instituições de ensino devem ter estrutura adequada para acolher<br />
bem alunos e professores. Mas não há nada de tolo, nem mesmo<br />
superficial na tarefa de melhorar a aparência e a infraestrutura<br />
das instituições. Uma escola bonita é um convite ao aprendizado<br />
e cuidar deste espaço tem também o seu valor pedagógico.<br />
Tudo isso tem sido experimentado pelas mais de cem escolas<br />
beneficiadas pelos mutirões já realizados pelo projeto Juntos<br />
pela Escola Ideal. A iniciativa, que faz parte do programa Escola<br />
Ideal do <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>, mobiliza voluntários das<br />
empresas do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> e da comunidade escolar<br />
para trabalharem na reforma das escolas participantes. As transformações,<br />
no entanto, vão bem além da aparência e começam<br />
antes dos voluntários colocarem a mão na massa, nos tijolos e<br />
nas tintas.<br />
Desde o início do projeto em 2008, quando foram realizados<br />
os primeiros mutirões na Paraíba, em parceria com o <strong>Instituto</strong><br />
Alpargatas, o Juntos alia ao seu objetivo principal – a revitalização<br />
e melhoria das instalações físicas das escolas – oportunidades<br />
para que os participantes e beneficiários aproveitem o potencial<br />
pedagógico dos mutirões. Para isso, foram desenvolvidas dois<br />
guias de atividades: um voltado aos voluntários, com foco no significado<br />
do voluntariado e com dicas técnicas sobre o trabalho<br />
na reforma, e outro para a escola, com orientações para que os<br />
educadores desenvolvam atividades que incentivam a reflexão<br />
sobre a relação de cada um com o espaço escolar e a preservação<br />
do patrimônio público.<br />
No último ano, este aspecto do projeto foi reforçado, com a<br />
inclusão de um encontro formativo oferecido aos educadores das<br />
escolas que receberão os mutirões. A formação foi realizada nos<br />
cinco municípios que passaram a receber o projeto em 2012 –<br />
Santana do Paraíso, Pedro Leopoldo, Ijaci (MG), Guajará-Mirim<br />
(RO) e Ipojuca (PE). Lúcia Helena Nilson, consultora do projeto,<br />
conta que os encontros mostraram-se importantes para que os<br />
participantes do mutirão pudessem trocar ideias sobre como tirar<br />
do papel as propostas da cartilha. “É uma formação para que as<br />
pessoas conheçam o guia e o que o projeto propõe”, diz Lúcia.<br />
“Não é simplesmente ‘ir lá e arrumar a escola’. Isso não criaria<br />
nenhuma possibilidade de ligação ou afeto dos alunos e da comunidade<br />
com a escola, que é o que as atividades buscam incentivar.”<br />
CONHeCer, partiCipar, Cuidar<br />
O guia indica atividades para serem realizadas antes, durante e<br />
depois do mutirão e, como resume Lúcia, estão assentadas sobre<br />
a ideia de que “para manter a escola, é preciso gostar dela”.<br />
O momento anterior à reforma é dedicado ao reforço dos laços<br />
afetivos entre os alunos e a instituição de ensino. Sob o mote<br />
“conhecer para amar”, são sugeridas atividades que resgatam<br />
a história da escola ou a importância dela para a comunidade.<br />
“Isso pode ser feito com entrevistas com os professores, com<br />
moradores do bairro”, exemplifica Lúcia. Outras formas de resgate<br />
são a realização de exposições sobre a história da instituição<br />
ou a redação de textos e poesias que falem da escola.<br />
A realização do mutirão em si é outro momento que pode<br />
ser aproveitado para reforçar os laços com a escola. Afinal, como<br />
diz a cartilha “Amar é participar”. As crianças podem participar<br />
da mobilização, fazendo cartazes ou panfletos. Os alunos também<br />
podem entrevistar os participantes e registrar as atividades<br />
dos voluntários. Com a escola reformada, o foco das atividades é<br />
reforçar os valores do cuidado e da preservação da escola.<br />
JuNTOS EM iPOJuCA (PE)<br />
Voluntários da comunidade e do consórcio cNcc – camargo<br />
corrêa cNEc trabalham no mutirão na Escola Municipal<br />
Nossa senhora de Fátima<br />
ideal comunitário 19<br />
Foto: MaRIaNa GuERRa
Educação BásIca<br />
Foto: MaRIaNa GuERRa<br />
CriANçAS TAMbÉM PArTiCiPAM<br />
Em Ipojuca (PE – à esq.), estudantes de Pedagogia criam atividades especiais; em santana do Paraíso (MG),<br />
elas realizam tarefas simples, como limpar mesas e cadeiras, sob a supervisão dos voluntários adultos<br />
Aldeniza Souza Batista Martins, articuladora do Escola<br />
Ideal na Secretaria Municipal de Educação de Guajará-Mirim,<br />
ressalta a diferença entre os mutirões realizados antes e depois<br />
da formação. “As atividades educativas não estavam ocorrendo<br />
antes e a formação fez todos verem que o mutirão não é só<br />
pintar a escola, mas também é educar”, relata.<br />
Aldeniza diz que até mesmo a ideia de mutirão, do fazer<br />
juntos, enfrentava alguma resistência nas escolas. Por isso,<br />
também os funcionários, como as cozinheiras, participaram<br />
da formação no município. A consultora Lúcia elogia a experiência,<br />
repetida em Ipojuca. “Isso faz com que todos se sintam<br />
parte do processo de transformação pelo qual a escola vai<br />
passar”, afi rma.<br />
traNSFOrMaçãO<br />
Os mutirões do Juntos pela Escola Ideal reformaram, até outubro<br />
deste ano, 145 escolas em cinco estados. Quando o projeto<br />
nasceu na Paraíba, praticamente junto com a instalação<br />
do programa Escola Ideal no estado, a intenção era resolver<br />
a situação emergencial de algumas instituições. “Visitamos<br />
escolas, especialmente na zona rural, que haviam sido construídas<br />
há 20 anos e nada tinha sido feito depois. Algumas<br />
tinham condições bastante precárias, como ausência de banheiros<br />
ou água encanada”, conta Francisco de Assis Azevedo,<br />
diretor executivo do ICC. A ideia dos mutirões surgiu<br />
20 ideal comunitário<br />
como uma solução imediata, mas ao mesmo tempo sem deixar<br />
que as reformas fossem um fi m em si mesmo. “O projeto visa<br />
maior envolvimento das pessoas, da comunidade, dos pais na<br />
vida da escola”, lembra Azevedo.<br />
Na Paraíba, até o momento, foram reformadas 121 instituições<br />
de ensino em seis municípios, sempre com a participação<br />
dos profi ssionais da Alpargatas e do <strong>Instituto</strong> Alpargatas (IA)<br />
na execução. “Todo o processo é monitorado, avaliado e seus<br />
resultados são divulgados para a comunidade”, diz Berivaldo<br />
Araújo, diretor executivo do IA. “Dele resulta um ambiente<br />
escolar mais apropriado ao aprendizado, maior motivação dos<br />
professores e melhor rendimento por parte dos alunos.”<br />
A experiência da Escola Municipal Antônio José de Andrade<br />
confi rma a afi rmação de Berivaldo. Maria Leozilda Alves<br />
da Silveira, diretora e professora da escola, localizada na<br />
zona rural de Mogeiro, diz que o mutirão realizado em 2009<br />
ainda ecoa pelos corredores e salas de aula. “A gente percebia<br />
que tinha um certo desinteresse, uma falta de estímulo, talvez<br />
por conta da situação da escola antes, que não tinha uma boa<br />
aparência, não convidava o aluno a estar na escola”, diz Leozilda,<br />
lembrando que a instituição não tinha água encanada nem<br />
sistema de esgoto. “Hoje, a gente vê que os alunos perceberam<br />
as mudanças. Aumentou a participação nas aulas, nos projetos.”<br />
A diretora diz que a euforia das crianças com o fato de a<br />
escola estar mais bonita e ter um ambiente apropriado para re-<br />
Realização<br />
Parceria<br />
Prefeituras e Secretarias de Educação de:<br />
Alagoa Nova (PB)<br />
Campina Grande (PB)<br />
Guarabira (PB)<br />
Ingá (PB)<br />
Mogeiro (PB)<br />
Serra Redonda (PB)<br />
Apiaí (SP)<br />
Ipojuca (PE)<br />
Foto: FERNaNdo laRa
etarias de Educação de:<br />
(PB)<br />
)<br />
Cuidando da Escola – Guia de implantação de ações pedagógicas para preservação do patrimônio público escolar<br />
ceber os alunos da Educação Infantil ao 5º ano do Fundamental<br />
foi aproveitada desde o início e ainda é aproveitada. “Logo<br />
depois, nós conversamos com os alunos: ‘Tá bonita a escola?<br />
Vamos fazer nossos combinados pra continuar assim?’ E, para<br />
nosso orgulho, está tudo certinho e no lugar até hoje.”<br />
MãO Na MaSSa<br />
As reformas das escolas acontecem em três fases: há as reuniões<br />
com os voluntários e com a comunidade escolar; a reforma prévia<br />
dos espaços, onde são feitas as intervenções maiores como<br />
instalações hidráulicas ou construção de salas, e o mutirão em<br />
si, quando os voluntários reúnem-se para os toques fi nais. Tudo<br />
isso para garantir tanto o envolvimento da comunidade, como a<br />
parceria com o Poder Público, já que as prefeituras também são<br />
parceiras dos projetos e entram com contrapartidas na realização<br />
das reformas. Além, é claro, do engajamento dos profi ssionais<br />
do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> com o voluntariado e a causa<br />
da educação básica de qualidade.<br />
Cuidando<br />
da Escola<br />
Guia de implantação de ações pedagógicas<br />
para para preservação preservação do do patrimônio patrimônio público público escolar escolar<br />
Cuidando da Escola – Guia de implantação de ações voluntárias para preservação do patrimônio público escolar<br />
Cartilha<br />
da ESCOla<br />
CArTilhAS<br />
Icc desenvolveu<br />
guias para escolas<br />
e voluntários com<br />
foco foco na preservação<br />
do patrimônio<br />
Cuidando<br />
Cuidando<br />
da da Escola Escola<br />
Guia Guia de de implantação implantação de de ações ações voluntárias<br />
voluntárias<br />
para para para preservação preservação preservação do do do patrimônio patrimônio patrimônio público público público escolar escolar escolar<br />
Cartilha dO<br />
VOlUNtÁriO<br />
JuNTOS EM MuiTOS lugArES<br />
até outubro de 2012, o Juntos pela Escola Ideal reformou:<br />
145<br />
escolas em 13<br />
de 5<br />
estados<br />
rondônia<br />
Guajará-Mirim<br />
Empresa parceira: Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
Paraíba<br />
campina Grande, alagoa Nova, Guarabira, Ingá, Mogeiro<br />
e serra Redonda<br />
Empresa parceira: Alpargatas/<strong>Instituto</strong> Alpargatas<br />
Pernambuco<br />
Ipojuca<br />
Empresa parceira: Estaleiro Atlântico Sul/ Consórcio CNCC<br />
– <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> CNEC<br />
Minas gerais<br />
Pedro leopoldo, Ijaci e santana do Paraíso<br />
Empresa parceira: InterCement<br />
São Paulo<br />
apiaí e Itaoca<br />
Empresa parceira: InterCement<br />
municípios<br />
ideal comunitário 21
educação Básica<br />
“Quando nos reunimos com os pais e professores, a ideia<br />
é mostrar à comunidade que só faremos o mutirão se houver<br />
envolvimento da comunidade”, conta Jidel Santos, articulador<br />
do Escola Ideal em Ipojuca (PE). “Quando as pessoas botam<br />
a mão na massa, o aluno vê e diz ‘meu pai pintou’, ‘minha mãe<br />
pintou’, e isso gera mais cuidado e preservação.” Nem sempre<br />
é fácil convencer as pessoas. Jidel conta a história de uma mãe<br />
que, durante um dos encontros, reclamou dizendo que não deixaria<br />
de fazer a feira para trabalhar de graça. No entanto, depois<br />
da conversa, ela foi a primeira a chegar na escola no dia do<br />
mutirão. “E até hoje, quando passo por ela na rua, ela pergunta<br />
quando vai ser o próximo.”<br />
Em Ipojuca, os mutirões são realizados alternadamente<br />
pelos profissionais do Consórcio CNCC – <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
CNEC e do Estaleiro Atlântico Sul. No último mutirão realizado<br />
na cidade, cerca de 30 voluntários participaram da reforma<br />
da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, na zona ru-<br />
Foto: FERNaNdo laRa<br />
22 ideal comunitário<br />
ral do município. Outro diferencial das ações no município é a<br />
atenção especial com as crianças. Uma parceria com a Faculdade<br />
de Ipojuca garante a presença de estudantes de Pedagogia, que<br />
realizam atividades de recreação com as crianças.<br />
E o envolvimento das crianças com o mutirão parece ser,<br />
mesmo, um destaque nos mutirões. Almir de Aguiar Silva, analista<br />
de laboratório sênior da InterCement em Santana do Paraíso,<br />
liderou o mutirão realizado em outubro na Escola Municipal<br />
João Matias de Oliveira e diz que o que mais lhe chamou<br />
a atenção foi o interesse das crianças em participar. “Elas querem<br />
ajudar de verdade, então tivemos que achar um jeito delas<br />
participarem com tarefas que pudessem realizar”, conta. A<br />
criançada, feliz da vida, tirou todas as cadeiras das salas e, com<br />
pano, água e sabão, limparam todas. Isso sem deixar de expressar<br />
a alegria de participar da transformação da sua escola cantando<br />
no karaokê improvisado pelos voluntários, com um violão<br />
e um microfone.<br />
JuNTOS EM SANTANA DO PArAíSO (Mg)<br />
Profissionais da Intercement participam do mutirão na Escola Municipal João Matias de oliveira, o terceiro do projeto no município
ANTES E DEPOiS<br />
antiga escola no bairro Fazenda, em Itaoca (sP), foi demolida<br />
e reconstruída por voluntários ao longo de 5 meses<br />
histórias<br />
de mutirões<br />
guAJArÁ-MiriM (rO)<br />
as comunidades indígenas e ribeirinhas do município,<br />
localizado na fronteira com a Bolívia e à beira do Rio<br />
Mamoré, também foram contempladas pelos mutirões<br />
do Juntos pela Escola Ideal realizados por voluntários<br />
da construtora camargo corrêa. a logística é complicada,<br />
pois as escolas estão localizadas a muitas horas de<br />
barco do núcleo urbano de Guajará-Mirim. outro diferencial<br />
dos mutirões realizados no município é que eles<br />
têm sido também uma oportunidade de ressocialização<br />
de homens e mulheres presidiários, que participam das<br />
atividades de reforma.<br />
iTAOCA (SP)<br />
Foram mais de cinco meses de mutirão. Entre outubro<br />
de 2011 e abril deste ano, a comunidade do Bairro<br />
Fazenda, na zona rural, reuniu-se todos os fi nais de semana<br />
para praticamente reconstruir a única escola da<br />
região. a antiga escola de madeira e sem nenhum banheiro<br />
deu lugar a um prédio em alvenaria, colorido e<br />
adequado para receber as crianças, jovens e adultos<br />
que frequentam a instituição de manhã, à tarde e à<br />
noite. o trabalho contou com a participação de profi ssionais<br />
da Intercement e de empresas fornecedoras.<br />
iJACi (Mg)<br />
No município mineiro, os dois mutirões realizados em<br />
2012 tornaram-se eventos comunitários. Nos dias em<br />
que os voluntários reuniram-se para fi nalizar a reforma<br />
das escolas, os profi ssionais da Intercement também<br />
organizaram uma rua de lazer. uma banda formada por<br />
voluntários da fábrica esteve entre as atrações, que incluíam<br />
ainda apresentações de dança e teatro e brincadeiras<br />
para as crianças.<br />
ideal comunitário 23<br />
Foto: dIVulGação
Foto: RM MEdEIRos Em<br />
EMPREENdEdoRIsMo<br />
terra de tomate,<br />
MOrANgO<br />
quer virar rei<br />
24 ideal comunitário
Primeiras colheitas<br />
Juraci e Jair comemoram<br />
resultados com os morangos<br />
orgânicos e já planejam a<br />
safra de 2013<br />
Projeto Semeando Futuros<br />
estimula pequenos<br />
agricultores de Apiaí (SP)<br />
a adotarem o cultivo de<br />
orgânicos como alternativa<br />
de produção e renda<br />
Com um sorriso largo no rosto, Juraci de Oliveira Rosa conta que herdou da<br />
mãe o amor pela agricultura e por Apiaí, cidade de cerca de 26 mil habitantes<br />
no Vale do Ribeira, quase na divisa de São Paulo com o Paraná. “Não saio daqui<br />
por nada”, diz Jura, como prefere ser chamada. Na lavoura desde criança, conhece<br />
bem a rotina dos agricultores da região, que tem na cultura de hortaliças,<br />
especialmente do tomate, o seu forte e, graças a isso, uma fama não muito boa<br />
de uso exagerado de agrotóxicos. “Mas logo vamos ser referência em morango.<br />
E orgânico!”, aposta Jura. A novidade veio com o projeto Semeando Futuros,<br />
realizado pelo <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>, através do programa Futuro Ideal,<br />
InterCement, empresa de cimentos do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> que tem uma<br />
fábrica na cidade, e o <strong>Instituto</strong> Meio. O trabalho em Apiaí prevê certificação<br />
orgânica e envolve 32 famílias da Associação dos Pequenos Produtores Rurais<br />
do Bairro Garcias (APPRBG).<br />
Jura, também vice-presidente da entidade, está no grupo de agricultores que<br />
integram o projeto. No segundo semestre deste ano, eles colheram suas primeiras<br />
caixas da fruta e estão animados. No ano que vem, vão investir novamente<br />
na nova cultura e já prometem até uma Festa do Morango na colheita. “Quem<br />
viu nossos resultados se animou e quem plantou está contente”, diz a agricultora.<br />
Lars Diederichsen, fundador do <strong>Instituto</strong> Meio, explica que os pequenos<br />
produtores receberam capacitação técnica em cultivo para orgânicos – algo que a<br />
maioria nunca havia experimentado – e suporte para a compra de insumos, bem<br />
como de sistemas de irrigação para as lavouras e acompanhamento constante<br />
de um engenheiro agrônomo. “Nosso objetivo é fortalecer a agricultura familiar<br />
sustentável na região de Apiaí, através de investimentos e ações que melhorem a<br />
produtividade, incentivem o uso de técnicas agroecológicas e agreguem valor aos<br />
produtos por meio da certificação orgânica”, diz Diederichsen. Desde o início<br />
do trabalho, 11 produtores já conseguiram a certificação, resultado animador<br />
para um período de menos de um ano.<br />
Diederichsen conta que a ideia também é dar aos agricultores instrumentos<br />
para que consigam se tornar independentes. “A cultura tradicional do tomate de-<br />
Foto: RM MEdEIRos<br />
ideal comunitário 25
EMPREENdEdoRIsMo<br />
pende de muito agrotóxico e de intermediários, que fornecem<br />
sementes e insumos, mas depois vendem os produtos pagando<br />
um preço por eles estipulado”, diz. “Nosso desafio é diminuir a<br />
dependência do tomate e quebrar a cultura e a crença de que<br />
somente é possível plantar e colher usando pesticidas químicos”.<br />
Esta tarefa inclui os agricultores, que precisam ser convencidos<br />
de que a mudança de cultura vale a pena, mas também da<br />
comunidade. Por isso, os morangos orgânicos foram apresentados<br />
à população em festas escolares e no festival gastronômico<br />
local, evento tradicional de Apiaí. “Conseguimos uma barraca,<br />
enfeitamos inteira com morangos, ficou a coisa mais linda”,<br />
lembra Jura. O sucesso foi tamanho que, em uma das festas, o<br />
suco de morango vendeu mais que cerveja.<br />
SãO CriaNçaS<br />
No início do projeto, os agricultores enfrentaram muitas<br />
dificuldades até que as plantações “vingassem”. Das famílias<br />
participantes, 26 plantaram morangos, mas apenas 15 conseguiram<br />
colher. “Tivemos problemas com as mudas e com o clima,<br />
entre outras situações. No meu caso, por exemplo, plantei 6<br />
mil pés e no final fiquei com 2 mil”, conta Jura. Ainda assim, o<br />
resultado e a qualidade dos frutos surpreenderam. “Tanto que<br />
todos vão plantar novamente”, afirma.<br />
aS tÉCNiCaS dO OrGÂNiCO<br />
• Reciclagem do material orgânico descartado na propriedade para elaboração de<br />
adubos orgânicos - como a compostagem e produção de húmus de minhoca.<br />
• Técnicas de conservação do solo e da água para evitar o processo de erosão e<br />
contaminação, como cultivo com cobertura do solo.<br />
• Utilização de adubos e corretivos para o solo que tenham passado por processos de<br />
nenhuma ou mínima interferência química, como rochas moídas e biofertilizantes.<br />
• Cultivo associado de diversas espécies vegetais e animais para promover um ambiente<br />
diversificado, evitando assim pragas e doenças específicas de uma mesma cultura<br />
• Manejo de pragas e doenças de plantas utilizando métodos mecânicos, físicos<br />
e vegetativos (isenção do uso de agrotóxicos) e a não utilização de organismos<br />
geneticamente modificados no cultivo.<br />
26 ideal comunitário<br />
“O morango é igual criança”, define o agricultor Jair Rodrigues<br />
Machado, 67 anos. “Tem que estar todo dia cuidando,<br />
para garantir que fique bem”, diz Machado, que nunca havia<br />
plantado a fruta e trabalhava há 30 anos no cultivo do tomate,<br />
seguindo a cultura convencional, com agrotóxicos. Apesar da<br />
resistência inicial, ele aprovou o trabalho no modo orgânico.<br />
“Plantei pouco, meio preocupado, mas estou feliz com o resultado<br />
e vou plantar de novo”, garante. Ele destaca no projeto<br />
o suporte técnico constante que os produtores receberam. “O<br />
técnico esclareceu todas as dúvidas, acompanhou de perto. Sem<br />
isso, não teríamos colhido nada”, afirma.<br />
O técnico em questão é o engenheiro agrônomo Shigueo<br />
Sumi, no projeto desde o início. Foi ele quem sugeriu aos produtores<br />
que plantassem morangos, a partir do perfil das propriedades<br />
e do clima da região – Apiaí fica em uma das áreas<br />
mais frias de São Paulo. Shigueo conta que a experiência no<br />
Vale do Ribeira tem sido muito estimulante. “Boa parte dos<br />
agricultores não tinha qualquer noção de cultivo orgânico, muitos<br />
desconheciam questões de nutrição de solo, por exemplo,<br />
fator que reduz em muito o uso de agrotóxicos”, diz. “Agora,<br />
vejo alguns que não acreditavam que o trabalho seria possível<br />
já investindo em orgânicos nas suas propriedades. Percebi neles<br />
uma mudança real de paradigma”, avalia o agrônomo. “Nossa<br />
SEM AgrOTóxiCO<br />
Pulverização<br />
com pimenta é<br />
alternativa usada<br />
no cultivo dos<br />
morangos<br />
Foto: RM MEdEIRos
egião estava contaminada. Espero que a gente<br />
consiga mudar um pouco a cabeça das pessoas”,<br />
afirma a presidente da APPRBG, Marina Gomes<br />
da Rosa Cordeiro, também agricultora e artesã.<br />
plaNejaMeNtO<br />
Para garantir e otimizar as vendas, bem como<br />
evitar intermediários, os produtores rurais da AP-<br />
PRBG se uniram em cooperativa. Receberam,<br />
ainda como parte do projeto, uma qualificação<br />
em gestão. “Isso abriu a cabeça de todo mundo.<br />
Hoje, temos definida nossa missão, traçamos planos<br />
e metas”, conta Jura. O interesse do município<br />
e do governo federal nos orgânicos também<br />
anima os agricultores. “A merenda escolar hoje é<br />
feita preferencialmente com produtos orgânicos<br />
e agroecológicos. Aqui, os fornecedores seremos<br />
nós, produtores da região”, diz a agricultora.<br />
Além da fruta in natura, os participantes do<br />
projeto pretendem comercializar produtos feitos<br />
com o excedente da produção. Para tanto, estão<br />
construindo na sede da associação uma cozinha<br />
industrial. Essa etapa do trabalho tem sido acompanhada<br />
de perto por Ingrid Feldhaus, agricultora<br />
e também nutricionista. “Todo projeto está<br />
adequado às normas sanitárias. Nossa ideia é<br />
aproveitar tudo, não apenas do morango, mas de<br />
toda produção orgânica da cooperativa, fazendo<br />
geleias, doces, conservas. Queremos ser referência<br />
aqui no Vale”, diz Ingrid, que também ficou<br />
animada com o retorno da plantação. “Queremos<br />
inspirar outros agricultores a partir dos nossos resultados.<br />
Quando as pessoas veem que funciona,<br />
vão atrás”, afirma a nutricionista.<br />
Os planos da cooperativa, no entanto, não se<br />
resumem aos morangos. Com o lucro obtido pela<br />
nascente agroindústria, a associação pretende investir<br />
em projetos voltados para a melhoria da<br />
qualidade de vida de toda comunidade. Um dos<br />
projetos é um mutirão de saúde.<br />
Orgânicos e<br />
não-orgânicos:<br />
quanta diferença<br />
a agricultura convencional caracteriza-se principalmente pelo uso<br />
de adubos químicos e agrotóxicos para controle de pragas e doenças.<br />
“Já a agricultura orgânica utiliza uma série de técnicas alternativas,<br />
inclusive o não uso de produtos químicos”, explica a professora<br />
Roseli Frota de Moraes salles, coordenadora da Pós-Graduação em<br />
agricultura orgânica da Pontifícia universidade católica do Paraná<br />
(Puc-PR). o cultivo de orgânicos também se destaca por minimizar<br />
impactos ambientais.<br />
Entre as vantagens do cultivo orgânico está a possibilidade de se<br />
usar áreas de preservação ambiental, onde não é liberada a agricultura<br />
convencional. “os orgânicos também são uma fonte de renda<br />
a mais, principalmente em áreas onde predomina a agricultura familiar”,<br />
comenta Roseli. Em apiaí, ocorrem essas duas situações – os<br />
agricultores envolvidos no projeto são donos de pequenas propriedades<br />
e na região há muitas áreas de Preservação Permanente.<br />
o cultivo agroecológico e de orgânicos é uma resposta ao preocupante<br />
uso de agrotóxicos em todo o mundo, que ganhou força logo<br />
após a II Guerra Mundial e teve seu “ápice” na década de 1970. Muitos<br />
deles já foram proibidos em vários países e no Brasil, embora<br />
alguns agrotóxicos banidos no exterior continuem sendo usados<br />
por aqui. Estudos indicam que o contato muito intenso com estes<br />
produtos, seja na aplicação ou no consumo de alimentos, provocam<br />
sequelas gravíssimas, como maior incidência de câncer. “a partir disso,<br />
começou um processo de conscientização e tanto a produção<br />
como o consumo de produtos orgânicos ou similares ganham força<br />
a cada ano”, comenta Roseli.<br />
No Brasil, o fato de o produto ser orgânico agrega um diferencial<br />
que gera um preço final de 20% a 40% maior que o convencional, o<br />
que melhora a renda dos produtores, mas restringe a demanda. os<br />
grandes compradores de produtos orgânicos, hoje, são os Estados<br />
unidos e países europeus. Já a oceania é o maior produtor de orgânicos<br />
na atualidade.<br />
ideal comunitário 27
Foto: MaNoEl douRados FotoGRaFIa<br />
VoluNtaRIado<br />
idealismo<br />
reconhecido<br />
Primeira edição do<br />
Prêmio Idealista<br />
contempla 9 Gaivs que<br />
realizaram, cada um,<br />
mais de 350 horas de<br />
ações voluntárias em<br />
seis meses<br />
28 ideal comunitário<br />
Idealista, segundo os dicionários, é um sinônimo para sonhador. O que não signifi ca que<br />
aqueles que acreditam em um mundo ideal vivam em um faz de conta. Na vida real, muitas<br />
pessoas trabalham para concretizar sonhos e transformações sociais, tarefa que não é fácil, nem<br />
tem fi m. Como forma de incentivar os sonhadores que trabalham nas empresas do Grupo<br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> a estruturarem planos que ajudem a aproximar o real e o ideal, o <strong>Instituto</strong><br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> (ICC) criou o Prêmio Idealista. Lançada em janeiro deste ano, a premiação<br />
faz parte do programa Ideal Voluntário e incentiva o voluntariado corporativo homenageando<br />
os Grupos de Ação Ideal Voluntário (Gaivs) que, ao longo de seis meses, somarem 350 horas<br />
em ações. Os Gaivs são os núcleos de voluntariado formados por profi ssionais das empresas do<br />
Grupo em cada unidade de negócio. Além do reconhecimento, os Gaivs recebem uma quantia<br />
de R$ 3 mil para destinarem a novos projetos nas instituições que atendem.<br />
No segundo semestre de 2012, foram conhecidos os primeiros Idealistas. Ao todo,<br />
nove Gaivs ultrapassaram as 350 horas em atividades de voluntariado ao longo do ano<br />
[os grupos são apresentados na página 28] Entre setembro e outubro, foram realizadas cerimônias<br />
de premiação nas empresas ou nas instituições benefi ciadas pelo trabalho de cada<br />
grupo. Além de um troféu para o grupo, os voluntários também receberam itens que os<br />
identifi cam como Idealistas, como botons e camisetas.<br />
Já a quantia em dinheiro será utilizada, nos próximos meses, em projetos desenhados<br />
conjuntamente pelos Gaivs e as instituições benefi ciadas. A tarefa foi relativamente fácil,<br />
uma vez que as ações já são realizadas de forma contínua. O Gaiv Tempo de Educar,
SANTA hElENA DE gOiÁS<br />
Membros do Gaiv tempo de Educar exibem seus “diplomas” de “idealistas”.<br />
formado por 17 voluntários da Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
que atuam na obra da Ferrovia Norte Sul em Santa Helena de<br />
Goiás (GO), realiza atividades dentro do Plano Mobilização<br />
Social pela Educação, uma iniciativa do Ministério da Educação<br />
(MEC) que visa incentivar a participação dos pais e da<br />
comunidade na escola e na vida escolar das crianças. O grupo<br />
vai utilizar o prêmio para desenvolver ações para que os pais,<br />
alunos e professores deem continuidade ao trabalho quando a<br />
obra terminar, em 2014. A ideia é realizar atividades que levem<br />
as famílias para dentro da escola e preparar as escolas para receber<br />
esses pais.<br />
pÚBliCOS diVerSOS<br />
As cerca de 300 pessoas participantes dos Gaivs “idealistas”<br />
dedicaram-se a temas diversos, da construção de casas populares<br />
à criação de oportunidades de cultura e entretenimento<br />
para comunidades carentes, idosos e dependentes químicos. As<br />
iniciativas dos Idealistas do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> contemplam<br />
milhares de pessoas.<br />
Só o trabalho do Tempo de Educar envolve 6 mil alunos<br />
do Ensino Fundamental das escolas municipais e 2,5 mil pais.<br />
Participante do Gaiv, Fernando Mendes conta que a escolha por<br />
trabalhar com o Mobilização Social se deu porque os voluntários<br />
acreditam que a educação é fundamental para o desenvolvimento<br />
das pessoas e da comunidade. “Além disso, é premissa<br />
da Construtora deixar um legado depois da obra e a educação é<br />
algo que vai contribuir para a evolução do município”, diz.<br />
A importância da dedicação e envolvimento dos voluntários<br />
para as instituições e os benefi ciários das ações pode ser<br />
medida pelo relato de Alex Sandro Teixeira, 20 anos. Há cinco<br />
meses e meio na Instituição Padre Haroldo, que oferece tratamento<br />
para jovens dependentes químicos da região de Campinas<br />
(SP), ele acompanhou todo o trabalho do Gaiv Carona<br />
Solidária e quando questionado do que mais gostou responde:<br />
“Elas participam. Tem um pessoal que vem e não participa.<br />
Elas vêm e riem com a gente.”<br />
“Elas” são as oito profi ssionais do Centro de Soluções Compartilhadas,<br />
com sede em Americana (SP), que realizam atividades<br />
aos sábados na Padre Haroldo, oferecendo distração aos jovens de<br />
18 a 24 anos que passam a semana numa rotina cheia por conta<br />
do tratamento. “Existem projetos em creches, abrigos, asilos, or-<br />
fanatos, porém não tínhamos visto algum em uma comunidade<br />
terapêutica voltada para o tratamento de dependência química”,<br />
explica Maria Eduarda Aloisi de Oliveira, líder do Gaiv. “O nosso<br />
objetivo principal é mostrar para esses jovens que eles também têm<br />
um lugar, que eles podem se reabilitar e encontrar um emprego,<br />
algo que gostem de fazer, ter uma família futuramente”, diz.<br />
O educador social da instituição Wendel Okino Lourenço<br />
afi rma que as atividades que elas desenvolvem podem ser<br />
simples, como um bingo, mas são novidades para os jovens e<br />
mostram a possibilidade de diversão sem o uso da droga. “O<br />
pessoal fi ca até eufórico para saber o que vai ter no sábado”,<br />
conta o jovem Alex.<br />
HOraS a MaiS<br />
Atender todos estes públicos exige mesmo muita dedicação.<br />
Para surpresa do ICC, os Gaivs premiados somaram 5.979<br />
horas, em 90 ações realizadas. “Estimamos alcançar entre 5 e 10<br />
Gaivs e tivemos uma surpresa com 9 vencedores que, inclusive,<br />
ultrapassaram muito a média de 350 horas”, conta Mariana<br />
Baère, analista de projetos do programa Ideal Voluntário. As<br />
horas são contabilizadas a partir do cadastro da primeira ação<br />
no portal do programa, lançado junto com a premiação. No<br />
sexto mês, a contagem recomeça. São somadas as horas de trabalho<br />
voluntário de até dez pessoas, mesmo que o grupo seja<br />
maior. Em 2013, as premiações serão realizadas em março, junho,<br />
setembro e dezembro. Nos três primeiros, serão realizadas<br />
as cerimônias restritas aos Gaivs e envolvidos. Já dezembro será<br />
o mês ofi cial de homenagem a todos os vencedores do ano.<br />
Como todas as ações são registradas no portal Ideal Voluntário,<br />
o <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> faz um acompanhamento<br />
qualitativo das ações e incentiva que o Gaiv refl ita sobre<br />
a capacidade transformadora dele. “A ação deve estar<br />
voltada para mudar determinada realidade e não um problema<br />
específi co”, resume Mariana. Assim como o Prêmio Idealista,<br />
o portal tem funcionado desde o início como um instigador<br />
de ações mais estruturadas e perenes. Já no momento<br />
do cadastro no site, o Gaiv precisa colocar qual sua missão,<br />
crença e objetivo. Criado também para estreitar a relação do<br />
<strong>Instituto</strong> com os voluntários e para estruturar uma rede de<br />
voluntários, o portal tinha, até novembro, 1.470 voluntários e<br />
211 Gaivs compartilhando informações.<br />
ideal comunitário 29
VoluNtaRIado<br />
Os primeiros idealistas<br />
Acorde<br />
hM Engenharia - Barretos (sP)<br />
Fundação – dezembro/2011<br />
Integrantes – 5<br />
atuação – Proporcionar, com a música,<br />
atividades para as crianças e adolescentes<br />
do conjunto habitacional Newton<br />
siqueira sopa, evitando que fi quem nas<br />
ruas, convivendo com a violência e as<br />
drogas.<br />
Administrativo ijaci<br />
Intercement - Ijaci (MG)<br />
Fundação – Fevereiro/2012<br />
Integrantes – 13<br />
atuação – contribuir com a comunidade<br />
local. dentre as ações desenvolvidas,<br />
estão: contribuições com os desalojados<br />
de lavras, carnaval da solidariedade,<br />
dia das Mães, arraiá e Páscoa da<br />
3ª Idade Páscoa no Núcleo assistencial<br />
casa do Vovô.<br />
Carona solidária<br />
centro de soluções compartilhadas<br />
(csc) - americana (sP)<br />
Fundação – Fevereiro/2012<br />
Integrantes – 8<br />
atuação – oferecer cultura, conhecimento<br />
e distração aos jovens de 18 a 24<br />
anos que fazem parte da comunidade<br />
terapêutica Padre haroldo para dependentes<br />
químicos. Foram realizadas ações<br />
como: tarde de Páscoa, confecção de<br />
artesanato, esportes, gincanas, hip hop.<br />
30 ideal comunitário<br />
Escola de meninos<br />
Intercement– Pedro leopoldo (MG)<br />
Fundação – Janeiro/2012<br />
Integrantes – 7<br />
atuação – Práticas esportivas e de cidadania<br />
com 44 alunos de 7 a 13 anos<br />
do município. Foram realizadas palestras<br />
educativas; primeiro torneio do<br />
dia Bem-Fazer; apresentação no desfi le<br />
de 7 de setembro e reforma do espaço<br />
cedido ao projeto pela Escola Estadual<br />
Julio cezar.<br />
grupo de ação solidária<br />
alpargatas– Ingá (PB)<br />
Fundação – Novembro/2009<br />
Integrantes – 200<br />
atuação – construção de casas populares<br />
na comunidade do entorno da<br />
fábrica. Para arrecadar fundos, a equipe<br />
vende rifas. as famílias são escolhidas<br />
de acordo com a necessidade e emergência<br />
das condições de moradia.<br />
Nações unidas<br />
Intercement– são Paulo (sP)<br />
Fundação - dezembro/2011<br />
Integrantes – 3<br />
atuação – Fomentar o desenvolvimento<br />
pessoal e social das famílias das<br />
comunidades Real Parque e Jardim<br />
Panorama, em parceria com o Projeto<br />
casulo. arrecadou R$ 14 mil com campanha<br />
da Nota Fiscal Paulista e realizou<br />
gincana da família.<br />
Pais pela Educação lúdica<br />
Intercement– apiaí e Itaoca (sP)<br />
Fundação – Março/ 2012<br />
Integrantes – 20<br />
atuação – Envolver os pais da fábrica e<br />
da comunidade na educação das crianças<br />
que estudam na Escola Municipal<br />
de Educação Infantil Elisa dos santos,<br />
em apiaí. os pais aprendem a usar<br />
elementos lúdicos para complementar<br />
e reforçar os conteúdos trabalhados<br />
pela escola.<br />
Tempo de Educar<br />
construtora camargo corrêa – santa<br />
helena de Goiás (Go)<br />
Fundação – Março/2012<br />
Integrantes – 17<br />
atuação - atuar na mobilização social<br />
pela educação. Participou da criação de<br />
um indicador para avaliar a aproximação<br />
entre pais /professores e alunos e<br />
o desempenho dos alunos. contempla<br />
6 mil alunos do Ensino Fundamental e<br />
2,5 mil pais.<br />
Zé Coque em Ação<br />
construtora camargo corrêa - araucária<br />
(PR)<br />
Fundação - Novembro/2009<br />
Integrantes - 3<br />
atuação - desenvolve atividades alinhadas<br />
às ações ambientais e sociais do<br />
consórcio ccPR em araucária.
líder em<br />
SOliDAriEDADE<br />
Organizar, orientar e inspirar são as tarefas de Rosângela Pereira<br />
da Silva dentro e fora da fábrica da Alpargatas em Ingá (PB)<br />
Quando a oportunidade de ser voluntária bateu à porta,<br />
Rosângela Pereira da Silva demonstrou não só vontade de ajudar,<br />
mas também capacidade de liderança. São essas as duas<br />
virtudes que a levaram a tomar a frente da criação do Grupo<br />
de Ação Ideal Voluntário (Gaiv) Ação Solidária, formado por<br />
profissionais da fábrica da Alpargatas na cidade de Ingá (PB).<br />
O trabalho começou a partir de uma demanda dos moradores<br />
do entorno da fábrica.<br />
“Muitas pessoas vinham à porta da fábrica pedindo alimentos<br />
e ajudas de todos os tipos. Então a gente montou um grupo<br />
para ajudar”, conta Rosângela. Para dar conta dessa demanda,<br />
o grupo cadastrou 20 famílias em 2009 com as quais se comprometeu<br />
a distribuir cestas básicas pelo período de três meses.<br />
Foi a primeira ação organizada do Gaiv Ação Solidária, que<br />
atualmente conta com 10 membros efetivos e 160 voluntários.<br />
O trabalho constante em prol das famílias mais pobres de<br />
Ingá foi reconhecido pelo Prêmio Idealista. Hoje, o Gaiv organiza<br />
mutirões para a construção de casas populares de alvenaria<br />
para famílias que necessitam de moradia. Já foram construídas<br />
e entregues seis casas na cidade de Ingá. A meta é fazer uma<br />
casa por ano. Para isso, há pelo menos três etapas de trabalho.<br />
Primeiro, é feita a seleção das famílias. O critério é não ter nenhuma<br />
renda fixa e morar em casa de taipa ou barro. “A gente conversa<br />
com a família e exige que eles participem do mutirão”, explica<br />
PERFIl<br />
Rosângela. “É uma forma de aumentar os laços dos moradores com<br />
a nova casa.” Depois, o grupo solicita à empresa a doação de brindes<br />
– bolas, calçados, sandálias –, que são rifados para levantar o dinheiro<br />
necessário à reforma. Por fim, organizam o mutirão.<br />
lideraNça lá e Cá<br />
Rosângela começou a trabalhar na Alpargatas em 1995. Era<br />
operadora de costura. Com o tempo, foi promovida a monitora,<br />
depois líder e, há quatros anos, supervisora de produção. Atualmente,<br />
com 17 anos de empresa, ela compara o crescimento<br />
dentro da fábrica com o trabalho que exerce junto à comunidade.<br />
“O trabalho voluntário exige de você ser líder e na Alpargatas<br />
também exerço liderança, tenho que influenciar as pessoas,<br />
fazer elas se sentirem bem em fazer aquele trabalho”, compara.<br />
Ela diz que o voluntariado uniu mais a sua equipe e tem certeza<br />
que as ações têm influência no alto índice de satisfação<br />
dos profissionais da Alpargatas: 93% segundo pesquisa interna<br />
realizada em 2011.<br />
Líder nata, Rosângela acabou virando também uma espécie<br />
de “orientadora” das famílias beneficiadas pelo trabalho dos voluntários.<br />
“Houve um casal que brigou e queria se separar e,<br />
antes de se separarem, o marido ligou pra mim. Eu combinei de<br />
ele ir lá em casa para a gente conversar e eles acabaram não se<br />
separando, estão juntos e até hoje me ligam”, conta.<br />
ideal comunitário 31<br />
CASA NOVA<br />
Rosângela em visita<br />
a uma das famílias<br />
beneficiadas pelos<br />
mutirões
Foto: aRQuIVo PEssoal<br />
inovaÇÕes sustentáveis<br />
Sustentabilidade<br />
na prática<br />
Grupo <strong>Camargo</strong><br />
<strong>Corrêa</strong> premia<br />
iniciativas<br />
sustentáveis de<br />
suas empresas<br />
32 ideal comunitário<br />
A terceira edição do Prêmio Inovação Sustentável demonstrou a solidez do compromisso<br />
do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> e de seus profi ssionais com a inovação e com a sustentabilidade.<br />
Dividido em duas modalidades, Ideia Sustentável e Prática Sustentável, o prêmio contou com<br />
459 trabalhos inscritos e teve como novidade o foco maior nas práticas, reconhecendo assim, as<br />
iniciativas que já estão em andamento.<br />
A cerimônia de entrega do prêmio foi realizada em 22 de outubro no Museu Brasileiro da<br />
Escultura, em São Paulo. Foram 21 projetos fi nalistas em sete categorias [conheça os fi nalistas e<br />
premiados no quadro à pág. 34].<br />
Participaram da premiação 1.284 profi ssionais das 12 empresas que fazem parte do Grupo<br />
dentro e fora do Brasil. “É impressionante como a mobilização interna ocorre com base no<br />
compromisso dos profi ssionais do Grupo com este tema”, disse Carla Duprat, diretora de Sustentabilidade<br />
do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>.<br />
Foram 373 trabalhos inscritos na modalidade Prática, um aumento de 28% em relação à<br />
edição anterior. Segundo Carla, o número maior de inscrições na modalidade Prática Sustentável<br />
revela que as ideias das edições anteriores viraram ações reais e houve progresso e inovação nos<br />
últimos anos. “É uma demonstração de que os conceitos de sustentabilidade estão cada vez mais<br />
incorporados às práticas de gestão de nossas empresas”, afi rmou Vitor Hallack, presidente do<br />
Conselho de Administração da <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> S.A.<br />
Uma novidade deste ano foi ter Gestão da Água como categoria única na modalidade Ideia<br />
Sustentável. A decisão de focar esforços em uma única categoria visa antecipar as discussões<br />
sobre cooperação e uso racional desse recurso natural, tendo em vista que 2013 foi escolhido pela<br />
Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional da Água.<br />
Nesta categoria, o vencedor foi o projeto Atitude Azul: Programa de Gestão e Consumo<br />
Responsável de Água, desenvolvido por profi ssionais da InterCement. Consiste na implementação,<br />
em todas as plantas da empresa no Brasil e na Argentina, de um sistema para a gestão de<br />
água, buscando a redução da captação e do consumo.<br />
Vale ressaltar também que nessa categoria, pela primeira vez na realização do prêmio, três<br />
empresas do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> inscreveram um projeto conjunto. O Projeto Viol foi desenvolvido<br />
em conjunto pela <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> Desenvolvimento Imobiliário (CCDI), Construtora<br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> e Participações Morro Vermelho (PMV) e tem como objetivo estabelecer<br />
um novo padrão de sustentabilidade com o reuso de águas. O outro fi nalista foi o projeto Ahorro<br />
de Agua y Energia em Horno 6 Olavarría, da InterCement.
Foto: GaBRIEl aNdRadE<br />
grANDES ObrAS PElA iNFâNCiA<br />
Premiado na categoria comunidade, projeto da construtora camargo corrêa visa o enfrentamento da violência<br />
sexual contra crianças e adolescentes<br />
Na mesma categoria, porém na modalidade Prática Sus-<br />
tentável, quem levou o prêmio foi o Acquasave® by Tavex. O<br />
processo de fabricação de tecidos é baseado na reciclagem e na<br />
redução do consumo de água e de energias térmicas na produção,<br />
especialmente na etapa de descoloração de tecidos.<br />
Apesar dos esforços conjuntos, Gestão da Água foi a categoria<br />
que recebeu o menor número de inscrições na modalidade<br />
Prática Sustentável. “Isso só confirmou a necessidade de um<br />
impulso corporativo nessa direção”, disse Carla Duprat.<br />
prátiCaS VeNCedOraS<br />
A Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> foi premiada na categoria<br />
Comunidade pelo programa Grandes Obras pela Infância.<br />
A iniciativa, realizada em parceria com o <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong><br />
<strong>Corrêa</strong> e a Childhood Brasil, visa enfrentar a exploração sexual<br />
de crianças e adolescentes no entorno de grandes obras. A<br />
Construtora é a primeira empresa do ramo da construção civil<br />
a realizar um projeto próprio relacionado ao tema. As ações<br />
incluem a conscientização dos profissionais das obras para que<br />
se tornem agentes no enfrentamento da violência sexual e iniciativas<br />
de fortalecimento das redes de proteção dos direitos<br />
das crianças e adolescentes.<br />
Na categoria Saúde e Segurança, o Sistema Dilúvio, implementado<br />
por equipe da Tavex Corporation, foi o vencedor. O<br />
sistema de combate a focos de incêndios nas estufas de ar quente<br />
evita que os brigadistas tenham de entrar nos equipamentos<br />
para extinguir o fogo. “Em termos de números, deixamos apenas<br />
de usar os extintores. Mas se pensarmos em pessoas, a segurança<br />
que temos neste tipo de projeto é muito valiosa”, destacou<br />
Marcelo Bueno, integrante da equipe vencedora.<br />
A Recycomb, empresa da InterCement na Argentina, foi<br />
premiada na categoria Cadeia de Valor com o projeto El Velo-<br />
ciraptor. Os profissionais desenvolveram um equipamento para<br />
triturar madeira inservível e aproveitá-la em fornos de cimento.<br />
A ideia surgiu depois que a Recycomb rompeu contrato com as<br />
fornecedoras de sabugo de milho, denunciadas por terem trabalhadores<br />
em condições questionáveis. “Foi uma alternativa<br />
para resolver vários problemas de uma vez, de forma rentável<br />
e inovadora”, disse Pablo Maldonado, líder de Planta e Operações<br />
Externas da Recycomb.<br />
Na categoria Agenda Climática, a CPFL Energia foi<br />
premiada pela criação da CPFL Renováveis, voltada para<br />
a geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis,<br />
em especial parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas<br />
(PCHs) e usinas termelétricas movidas a biomassa. A empresa<br />
também foi premiada na categoria Gestão de Resíduos<br />
com as Lâmpadas Revitalizadas. As lâmpadas de iluminação<br />
pública recuperadas e reutilizadas custam 50% menos do que<br />
uma convencional. “Acima da questão financeira, essa técnica<br />
pode trazer reduções muito expressivas de consumo de recursos<br />
naturais na fabricação e produção de lâmpadas e seus<br />
componentes”, destaca Rodolfo Nardez Sirol, diretor de Meio<br />
Ambiente da CPFL Energia.<br />
A primeira edição do Prêmio Inovação Sustentável foi realizada<br />
em 2008 e surgiu para incentivar a adoção e multiplicação<br />
de ações sustentáveis dentro do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>. A<br />
segunda edição aconteceu em 2010. Neste ano, os vencedores<br />
passaram pela avaliação de um júri formado por 55 jurados especialistas<br />
nas categorias avaliadas.<br />
NA INTeRNeT<br />
v Todos os projetos inscritos no Prêmio Inovação sustentável 2012 estão disponíveis para<br />
consulta no site www.premiocamargocorrea.com.br<br />
Foto: aNa VItalE<br />
ideal comunitário 33
cRÉdItos: dIVulGação<br />
inovaÇÕes sustentáveis<br />
OS FINALISTAS DO PRÊMIO INOVAÇÃO SUSTENTÁVEL<br />
MODAliDADE PrÁTiCAS<br />
CATEgOriA COMuNiDADE<br />
Programa grandes Obras pela infância - Construtora<br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
Visa o enfrentamento da exploração sexual de crianças<br />
e adolescentes nas áreas de infl uência das obras da<br />
construtora. conta com ações internas voltadas à<br />
sensibilização e ao envolvimento de seus profi ssionais e,<br />
externas, no trabalho para o fortalecimento da Rede de<br />
Proteção dos direitos de crianças e adolescentes.<br />
Projeto Mão Amiga - Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong>/<br />
Mineroduto Minas-rio<br />
objetiva a profi ssionalização de mulheres e geração de<br />
emprego e renda no setor com a criação de um polo de<br />
confecção em Pedra dourada (MG).<br />
Cooperativa de Confecção em Americana (SP) - Tavex<br />
Corporation<br />
Implantação de uma incubadora de cooperativas de trabalho<br />
de costura no município, com foco no público de 18 a 24<br />
anos e pessoas com difi culdades de ingressar no mercado.<br />
CATEgOriA gESTãO DE ÁguA<br />
34 ideal comunitário<br />
CATEgOriA CADEiA DE VAlOr<br />
Acquasave® by Tavex - Tavex Corporation<br />
a coleção de tecidos é fabricada em processos baseados na reciclagem e na redução do<br />
consumo de água e de energias térmicas, mediante uma combinação de métodos que<br />
garantem a rápida descoloração. Em alguns casos, reduz a zero o consumo de água<br />
durante o processo de tintura do tecido.<br />
El Velociraptor - interCement<br />
É um projeto de desenho, ajuste e desenvolvimento de<br />
um equipamento móvel para a trituração de madeira em<br />
desuso para serem usadas como biomassa em fornos de<br />
cimento. Foi desenvolvido pela Recycomb para substituir o<br />
sabugo de milho fornecido por empresas denunciadas por<br />
manterem trabalhadores em condições insalubres.<br />
Adesão da br Distribuidora ao Programa na Mão Certa -<br />
Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
o programa realiza ações conjuntas entre entes públicos<br />
e privados para o enfrentamento da exploração sexual de<br />
crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras.<br />
Programa Valor: implementando medidas de rSE na<br />
cadeia de valor – interCement<br />
conjunto de práticas e ações que visam inserir as pequenas<br />
e médias empresas fornecedoras da loma Negra e Ferrosur<br />
Roca, na argentina, no mundo da Responsabilidade social<br />
Empresarial (RsE).<br />
gestão de Água via Plataforma Sistrata - Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
criação de um sistema de monitoramento de águas e efl uentes no projeto do Mineroduto Minas-Rio em tempo real.<br />
Prática de reuso de Água no Projeto Cyclone 4 - Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
Reuso de água da estação de tratamento de esgoto, do sistema de decantação da central de concreto, da água utilizada na<br />
rampa de lavagem da ofi cina de manutenção e até dos aparelhos de ar condicionado.
CATEgOriA gESTãO DE rESíDuOS<br />
lâmpadas revitalizadas - CPFl Energia<br />
Projeto de revitalização de lâmpadas da iluminação pública<br />
nas regiões onde o Grupo cPFl Energia é concessionário.<br />
o piloto foi realizado em campinas, em dezembro de<br />
2011. Pretende-se que seja adotada em outros municípios,<br />
prevendo-se reuso de 90% de lâmpadas queimadas, cerca<br />
de 298 mil unidades/ano.<br />
Programa bolsa de resíduos - Construtora <strong>Camargo</strong><br />
<strong>Corrêa</strong><br />
o sistema de interface que coloca em contato as obras com<br />
o mercado de recicladores ampliou a comercialização dos<br />
resíduos em 45%.<br />
Eco Agregado - interCement<br />
É um novo produto criado a partir da reutilização dos<br />
subprodutos das centrais dosadoras de concreto, que<br />
chegavam a gerar 4.000 toneladas/mês de resíduo.<br />
CATEgOriA AgENDA CliMÁTiCA<br />
Criação da CPFl<br />
renováveis - CPFl<br />
Energia<br />
a empresa, que gera<br />
energia a partir de<br />
fontes renováveis<br />
provenientes de<br />
parques eólicos, pequenas centrais hidrelétricas (Pchs)<br />
e usinas termelétricas movidas a biomassa, é líder em<br />
geração de energia limpa e renovável, segundo a agência<br />
Nacional de Energia Elétrica.<br />
Programa de redução de Consumo de Combustível -<br />
Construtora <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
consiste no treinamento, capacitação e conscientização<br />
dos operadores de caminhão basculante, visando à<br />
redução do consumo de diesel.<br />
gestão de Carbono interCement - interCement<br />
desde que foi implementado modelo de gestão, a produção<br />
de cimento cresceu 27% sem aumento das emissões de co2.<br />
CATEgOriA SAÚDE E SEgurANçA<br />
Sistema Dilúvio – Tavex Corporation<br />
consiste na implantação de tubos que permitem a<br />
injeção de vapor para conter um foco de incêndio sem<br />
necessidade de o brigadista adentrar o interior das estufas<br />
de ar quente. Está em funcionamento desde 2010.<br />
Fórum de Segurança no Transporte - interCement<br />
Realiza reuniões semestrais com os transportadores<br />
para discutir temas relativos à sustentabilidade, saúde<br />
e segurança. uma das ações é a criação de um selo de<br />
qualidade concedido aos transportadores.<br />
Patrullero com hy-rail - interCement<br />
É um dispositivo mecânico que melhora as condições de<br />
mobilidade, conforto e segurança dos profi ssionais que<br />
realizam o patrulhamento das ferrovias.<br />
MODAliDADE iDEiA<br />
CATEgOriA gESTãO DA ÁguA<br />
Atitude Azul – Programa de gestão de Água e Consumo<br />
responsável- interCement<br />
o projeto prevê a recirculação e reaproveitamento da água<br />
usada pela indústria no processo de resfriamento de gases<br />
e equipamentos na fabricação do cimento. Inclui ainda o<br />
estímulo ao consumo responsável nas residências por meio<br />
de campanhas. a previsão é economizar um volume de<br />
água equivalente ao consumo anual de 104 mil pessoas.<br />
Ahorro de agua y energia em horno 6 Olavarría -<br />
interCement<br />
o projeto aumentou a efi ciência no consumo de água<br />
e energia da usina olavarría da loma Negra a partir<br />
do acompanhamento sistemático, por 10 anos, da<br />
produtividade do Forno 6.<br />
Projeto Viol – gestão de Água - PMV/CCDi/Construtora<br />
<strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong><br />
a combinação de estratégias de reuso, tratamento de esgoto<br />
e economia de água em um grande complexo predial em são<br />
Paulo deve gerar economia anual de água de até 45%.<br />
ideal comunitário 35
aÇÕes&parcerias<br />
Gestão pública em foco<br />
Sete projetos de modernização da gestão municipal, resultados do projeto Cidade<br />
Integrada, são os mais novos frutos da parceria entre o ICC e o BNDES<br />
Fruto da parceria entre o <strong>Instituto</strong> <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> (ICC)<br />
e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social<br />
(BNDES), o projeto Cidade Integrada formou funcionários e<br />
gestores públicos para trabalharem pela modernização da gestão<br />
nos municípios de Alpestre (RS), Guajará-Mirim (RO) e<br />
Apiaí (SP). Com a proposta de aumentar a arrecadação dos<br />
municípios a fi m de torná-los menos dependentes dos recursos<br />
federais e conquistar mais efi ciência na gestão, os grupos<br />
– formados majoritariamente por funcionários de carreira,<br />
representantes das mais diversas secretarias – receberam capacitação<br />
para desenhar projetos com foco na administração<br />
tributária. O resultado foram sete propostas, que agora estão<br />
prontas para sair do papel.<br />
Iniciada em 2011, a capacitação foi realizada pela Ofi cina<br />
Municipal. Em cada encontro, grupos temáticos diagnosticaram<br />
os problemas, identifi caram soluções e estruturaram<br />
os projetos. Foram pensados três projetos em cada município,<br />
sendo que, ao fi nal, Guajará-Mirim optou por fundir os<br />
seus em um só.<br />
Os projetos foram apresentados em um seminário de encerramento<br />
realizado em agosto, em São Paulo. Com o suporte<br />
da Ofi cina Municipal, passaram por ajustes indicados pelo<br />
BNDES e agora chegaram a um momento-chave. “O nosso<br />
próximo desafi o é fazer com que os projetos aconteçam”, pontua<br />
Joaquim Cordeiro, do Departamento de Economia Solidária<br />
da área de Agropecuária e Inclusão Social do BNDES.<br />
36 ideal comunitário<br />
Juntos, ICC, BNDES e Ofi cina Municipal estão levando as<br />
propostas elaboradas aos prefeitos eleitos.<br />
Mikael Linder, que coordenou os projetos na Ofi cina Municipal,<br />
estima que os projetos serão executados no primeiro trimestre<br />
de 2013. As perspectivas de ampliação desse trabalho não<br />
param por aí. “Mediante o êxito desse projeto piloto, o ICC já está<br />
se estruturando para continuar o apoio a municípios na gestão<br />
pública”, conta Felipe Soares, analista do programa Futuro Ideal.<br />
A viabilização dos projetos pode se dar por meio de recursos<br />
próprios ou de fi nanciamentos do banco de fomento.<br />
Os projetos foram elaborados de acordo com os critérios do<br />
Programa de Modernização da Administração Tributária e da<br />
Gestão dos Setores Sociais Básicos (BNDES PMAT), voltado<br />
para municípios de até 150 mil habitantes e que apoia projetos<br />
voltados à modernização da administração tributária, a fi m de<br />
gerar aumento de receita ao município. Já Alpestre, que está<br />
recebendo royalties da Usina Hidrelétrica Foz de Chapecó,<br />
pretende também utilizar recursos próprios.<br />
Guajará-Mirim pode captar até R$ 2 milhões para colocar<br />
em prática uma alteração na arrecadação tributária que<br />
deve quadruplicar o que o município recebe atualmente. Por<br />
isso, de acordo com Izabel Hayden, diretora da escola de Ensino<br />
Fundamental Saul Bennesby que participou da formação,<br />
o Cidade Integrada foi recebido com bastante entusiasmo,<br />
pois representou a possibilidade de melhorar uma situação<br />
urgente de carência de recursos.
interaÇÃo<br />
Que no próximo ano sigamos<br />
compartilhando estes valores.<br />
Feliz 2013!<br />
ideal comunitário 37
Foto: aRQuIVo PEssoal<br />
artiGo<br />
Flávia Marques<br />
Consumo urbano,<br />
desenvolvimento rural<br />
FlÁViA MArQuES<br />
é doutora em<br />
desenvolvimento<br />
Rural, professora do<br />
curso de agronomia<br />
da universidade<br />
Federal do Rio Grande<br />
do sul e membro da<br />
associação Brasileira de<br />
agroecologia.<br />
38 ideal comunitário<br />
Uma visão idealizada de urbanidade como<br />
sinônimo de progresso equivocadamente gerou<br />
uma noção mais ou menos generalizada de que<br />
o ambiente, a população e os costumes rurais são<br />
a representação de atraso. No entanto, em várias<br />
partes do mundo, a discussão sobre desenvolvimento<br />
sustentável, qualidade ambiental, equidade<br />
social, segurança alimentar e novos padrões<br />
de consumo tem mudado<br />
as expectativas em relação a<br />
este “rural”.<br />
Se pensarmos que somos<br />
todos consumidores e que<br />
aquilo que consumimos deve<br />
ser produzido por alguém,<br />
em algum lugar e com base<br />
em um conjunto de recursos<br />
(inclusive os naturais), é chegada<br />
a hora de nos perguntarmos<br />
de onde vem o que comemos. Ou melhor:<br />
o que estamos apoiando e reproduzindo quando<br />
consumimos alguma coisa? Com isto, pode-se introduzir<br />
justamente um dos pontos mais relevantes,<br />
neste momento, na construção de uma outra<br />
ruralidade: a relação com o urbano. Embora não<br />
seja a única conexão, o consumo é um dos laços<br />
mais relevantes entre rural e urbano.<br />
No mundo todo, crescem experiências de<br />
aproximação como, por exemplo, os Grupos de<br />
Aquisição Solidária na Itália, a rede da Associação<br />
pela Manutenção da Agricultura Camponesa<br />
na França ou as inúmeras cooperativas de<br />
consumidores – conhecidas como Co-ops – na<br />
Grã Bretanha, Estados Unidos e Norte europeu.<br />
A literatura especializada começa a identifi car<br />
Embora não seja<br />
a única conexão, o<br />
consumo é um dos laços<br />
mais relevantes entre<br />
rural e urbano.<br />
estes processos como Redes Agroalimentares<br />
Alternativas (Alternative Food Networks).<br />
No Brasil, iniciativas similares também<br />
crescem especialmente nas grandes cidades.<br />
Mas aproximar-se de quem produz pode ser,<br />
simplesmente, retomar antigas estratégias,<br />
como ir à feira, aquelas onde são os próprios<br />
agricultores que ofertam seus produtos. As feiras<br />
de agricultores crescem<br />
em todo o país e,<br />
embora não representem<br />
sozinhas uma solução<br />
para o abastecimento de<br />
alimentos, têm sido importantes<br />
para melhorar<br />
o acesso a produtos com<br />
identidade e qualidade e<br />
para gerar renda para a<br />
agricultura familiar.<br />
Todavia, é importante retirar esta questão<br />
tão fundamental da esfera das escolhas ou preferências<br />
individuais. É preciso reposicioná-la<br />
no centro do debate de um projeto coletivo para<br />
o futuro.<br />
Especifi camente, a busca de sustentabilidade<br />
para a agricultura exige transições que vão<br />
além de adaptações ou da substituição de práticas<br />
e insumos por algo menos impactante ou<br />
‘ecologicamente correto’. Além de mudanças de<br />
paradigma do ponto de vista técnico, é necessário<br />
tratar a questão política e socialmente, articulando<br />
as várias esferas envolvidas, no campo e<br />
na cidade, ampliando a possibilidade de diálogos<br />
e compartilhamento de responsabilidades e<br />
compromissos.
expediente<br />
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO<br />
DA CAMARGO CORRÊA S.A.<br />
Presidente: Vitor Hallack<br />
Vice-presidentes: a.C. Reuter, Carlos Pires Oliveira dias e luiz<br />
Roberto Ortiz Nascimento<br />
CONSELHO DELIbERATIVO DO<br />
INSTITuTO CAMARGO CORRÊA<br />
Presidente: Rosana <strong>Camargo</strong> de arruda Botelho<br />
Vice-presidente: Renata de <strong>Camargo</strong> Nascimento<br />
Conselheiros: Carla duprat, dalton dos Santos avancini, daniela<br />
arantes alves lima, daniela <strong>Camargo</strong> Botelho de abreu Pereira,<br />
elisa <strong>Camargo</strong> de arruda Botelho, Francisco Tancredi, Henrique<br />
ernesto de Oliveira Bianco, José Édison Barros Franco, luiz<br />
eduardo de <strong>Camargo</strong> Nascimento, Marcio Garcia de Souza, Márcio<br />
Utsch, Maria Regina <strong>Camargo</strong> Pires Ribeiro do Valle, Maria Tereza<br />
Pires Oliveira dias Graziano, Naima Bennani Nascimento, Olga<br />
Colpo, Raphael antonio Nogueira de Freitas, Ricardo Fonseca de<br />
Mendonça lima e Vitor Hallack<br />
INSTITuTO CAMARGO CORRÊA<br />
Presidente do Grupo <strong>Camargo</strong> <strong>Corrêa</strong> e do <strong>Instituto</strong>: Vitor<br />
Hallack<br />
Diretor executivo: Francisco de assis azevedo<br />
Superintendente: Rogerio arns Neumann<br />
Coordenadora de comunicação: Clarissa Kowalski<br />
Coordenadores de programas: Flávio Seixas, Jair Resende,<br />
Juliana di Thomazo e Toni Niccolini<br />
Analistas de projetos: ariane duarte, Felipe Furini, Gisele<br />
Pennella, lívia Guimarães e Mariana Ramos de Baère<br />
Assistente administrativo: Bárbara Gomes<br />
Auxiliar administrativo: Maria de lourdes Furtado dos Santos<br />
REVISTA <strong>IDEAL</strong> COMuNITÁRIO<br />
COMITÊ EDITORIAL<br />
Carla duprat, Clarissa Kowalski, Fernanda Guerra, Francisco de<br />
assis azevedo, Rogerio arns Neumann, Kalil Farran, Marcello<br />
d’angelo, Mauricio esposito, Olga Colpo, Ricardo Mastroti, Veet<br />
Vivarta<br />
PRODuÇÃO EDITORIAL<br />
Máquina Public Relations<br />
EDITORA<br />
Cristina Charão<br />
TExTO<br />
ana Cláudia Mielke, ana dangelo, Cristina Charão, Fernanda<br />
Santos, Giselle Godoi e Patrícia Ribas<br />
ARTE<br />
irene lafetá Sesana – studio1101<br />
CAPA<br />
Nello aun – foto<br />
IMPRESSÃO<br />
leograf<br />
COMuNICAÇÃO DO GRuPO CAMARGO CORRÊA<br />
CAMARGO CORRÊA S.A.<br />
Marcello d’angelo, Mauricio esposito, Cintia Mesquita<br />
de Vasconcelos<br />
ALPARGATAS<br />
Cássia Navarro<br />
INTERCEMENT<br />
Fernanda Guerra<br />
CONSTRuTORA CAMARGO CORRÊA<br />
denise Pragana e Verena Ferreira<br />
TAVEx CORPORATION<br />
andrea Shimada e Bianca Kapsevicius Gonçalves<br />
ENTRE EM CONTATO<br />
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avenida Brigadeiro Faria lima, 3600<br />
11º andar - itaim Bibi - São Paulo, SP - CeP 04538-132<br />
www.institutocamargocorrea.org.br<br />
Tel.: (11) 2383-9333<br />
e-mail: instituto@institutocamargocorrea.org.br<br />
Realização Parceiro<br />
ideal comunitário 11
InfâncIa como prIorIdade<br />
Programa Infância Ideal, que visa a<br />
garantia integral dos direitos da criança<br />
e do adolescente, foi o primeiro a ser<br />
implementado no município, com ações<br />
que incluíram a formação de todos<br />
profissionais da educação infantil.