Quem é Chico Mendes - Biblioteca da Floresta

Quem é Chico Mendes
Francisco Alves Mendes Filho, acreano,
nasceu em 15 de dezembro de 1944,
no seringal Porto Rico, em Xapurí, filho
de Francisco Alves Mendes e Iraci Lopes
Mendes. Ainda criança enfrentou as dificuldades
da vida de um seringueiro,
acompanhando o pai na lida dos seringais.
Com apenas 11 anos (1955) iniciou
seu trabalho como extrativista, atividade
que exerceu até 1976.
O seringueiro Chico Mendes começou
a enfrentar as primeiras pressões dos
seringalistas a partir de 1969, agravadas
pela nova conjuntura política nacional
(golpe militar de 1964), e iniciou sua luta
pela autonomia dos seringueiros de sua
região (Xapuri), ainda de forma isolada.
O Brasil vivia o período militar responsável
por desenvolver uma política de
incentivo ao crescimento econômico e
integração do território nacional. A Amazônia
tinha que crescer economicamente
e ter seu território, com uma imensidão
de florestas, ocupado por brasileiros. Durante
a década de 70 houve um grande
incentivo à implantação de fazendas para
criação de gado. Os seringais acreanos, já
em processo de falência desde o fim da
Segunda Guerra mundial devido a retirada
dos investimentos norte americanos,
começaram a ser vendidos. Grandes áreas
de floresta - os tradicionais seringais -
foram adquiridas a preço muito baixo. Os
compradores vieram, em sua maioria, da
região sul e centro-sul do Brasil. Muitos
seringueiros, ribeirinhos e indígenas acabaram
sendo expulsos de forma violenta
de suas colocações.
Logo surgiram os primeiros focos de
resistência, contra os fazendeiros. Para
defender a floresta da qual eles dependiam,
foram organizados os chamados
“empates”: inúmeros seringueiros e seringueiras
formavam correntes de mãos

dadas para impedir o desmatamento, ou
cercavam o grupo de trabalhadores encarregados
do desmatamento e os forçavam
a suspender a derrubada.
Primeiras Lutas
Foi neste contexto que Chico Mendes
se destacou participando ativamente dos
“empates”. Além de organizar várias ações
em defesa da posse da terra, incentivou
e participou da fundação do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia (do
qual foi escolhido para secretário geral)
em 1976. No ano seguinte voltou para
Xapuri, sendo eleito vereador pelo MDB,
acreditando que a política poderia ajudálo
na organização dos trabalhadores em
seu município. Neste período surgiram as
primeiras ameaças de morte.
O Vereador Chico Mendes, aproveitando
uma crise entre os dois partidos existentes,
MDB e ARENA, foi eleito vice-presidente
da Câmara Municipal de Xapuri
fazendo da mesma um fórum de debates
entre lideranças sindicais, populares e religiosas
(1979). Em plena ditadura militar,
estas atividades eram consideradas subversivas.
As autoridades locais o submeteram
à interrogatórios e até tortura.
Em outubro de 1979, em meio a uma
forte pressão liderada pelas duas bancadas
na Câmara, ele renunciou à presidência.
Em 1980 Chico Mendes viu mais um
amigo, Wilson Pinheiro, líder comunitário,
presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Brasileia - Acre ser
cruelmente assassinado. Revoltados, os
posseiros daquela região emboscaram e
mataram o fazendeiro Nilo Sérgio de Oliveira,
suspeito de ser o mandante. Mesmo
não tendo participado do episódio
da morte deste fazendeiro, Chico Mendes
foi seguido durante 60 dias por pistoleiros
da região.
Na década de 80 foi fundado o Partido
dos Trabalhadores (PT). No Acre Chico
transformou-se num de seus fundadores
e dirigentes. Em 1981 ele assumiu a direção
do Sindicato de Xapuri do qual foi
presidente até o momento de sua morte.
Nas eleições de novembro de 1982,
Chico Mendes candidatou-se a deputado
estadual pelo PT não conseguindo
eleger-se. Em outubro de 1985, aconteceu
o primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros
em Brasília, sob sua liderança.
Neste encontro foi criado o Conselho Nacional
dos Seringueiros (CNS). A partir do
evento, a luta dos seringueiros começou
a ganhar repercussão nacional e internacional,
principalmente, com a proposta
da “União dos Povos da Floresta”, uma
articulação com os povos indígenas para
unir os interesses de índios e seringueiros
em defesa da floresta amazônica. A proposta
incluiu a criação da reforma agrária
dos seringueiros: uma reserva florestal
para os seringueiros com o nome de Reserva
Extrativista.
Reconhecimento e apoio
Internacional
A partir da repercussão dos vários
empates liderados por Chico Mendes,
em 1987, alguns membros da ONU (organização
das Nações Unidas) visitaram-no
em Xapuri para ver de perto a
devastação da floresta e a expulsão de
seringueiros, causadas por projetos financiados
por bancos internacionais.
Em viagem aos Estados Unidos, Chico
Mendes confirmou as denúncias ao

Senado norte-americano e à direção de
um banco financiador, o BID, que suspendeu
seus financiamentos. E Chico foi acusado
por fazendeiros e políticos de prejudicar
o “progresso” do Estado do Acre.
Conquistas do movimento
Graças a esses esforços, destacandose
em defesa da ecologia e por não se
intimidar diante das ameaças que sofria,
Chico Mendes recebeu vários prêmios e
reconhecimentos, nacionais e internacionais.
Ele continuou a expor suas idéias, defender
seu povo e denunciar a ação predatória
contra a floresta, denunciando as
ações violentas dos fazendeiros da região
contra os trabalhadores de Xapuri, em seminários,
palestras e congressos por várias
regiões do Brasil. Mas seu grande sonho -
que só concretizou-se após sua morte - foi
a implantação das primeiras reservas extrativistas
criadas no Estado do Acre, além
da desapropriação do Seringal Cachoeira,
de Darly Alves da Silva, em Xapuri.
No 3º Congresso Nacional da CUT, Chico
Mendes voltou a denunciar as ameaças
que ele e vários seringueiros vinham
sofrendo, juntamente com outros trabalhadores
rurais de diversas regiões do
país. Ao final do Congresso, ele foi eleito
suplente da direção nacional da CUT. Em
22 de dezembro de 1988, Chico Mendes
foi assassinado, covardemente em sua
casa, deixando dois filhos: Sandino, de 2
anos, e Elenira, de 4.
A luta dos seringueiros e dos grupos
indígenas com apoio das organizações
nacionais e internacionais, para manter
a floresta em pé e regularizar a situação
fundiária das populações remanescentes
do ciclo da borracha, - gerou em 1989 os
Projetos de Assentamento Extrativistas
(PAE) e, em 1990 as Reservas Extrativistas
(RESEX).
Nas Reservas Extrativistas, não há títulos
individuais de propriedade. Elas foram
criadas para atender à idéia do respeito à
cultura e as formas tradicionais de organização
e de trabalho dos seringueiros,
que continuam a realizar a extração de
produtos de valor comercial como a borracha,
a castanha e muitos outros, bem
como a caça e a pesca não predatórias,
juntamente com pequenos roçados de
subsistência em harmonia com a regeneração
da mata. As RESEX foram criadas,
também, em outras partes do Brasil beneficiando
milhares de seringueiros, castanheiros,
ribeirinhos, pescadores e outras
populações que praticam atividades
tradicionais.

Fontes de consulta
ALMEIDA Mauro W. Barbosa de; Seringueiros
Acreanos: Lideranças, Estratégias, Visibilidade,
Reivindicações e Ambientalismo, Universidade
Estadual de Campinas-UNICAMP.
Gonçalves, Carlos Walter Porto; Geografando
nos Varadouros do Mundo, Brasília: Ibama,
2003.
Comitê Chico Mendes; Chico Mendes: O
homem da floresta. http://www.chicomendes.
org/chicomendes01.php
Comitê Chico Mendes; Curriculum Vitae.
http://www.chicomendes.org/chicomendes01.
php
Comitê Chico Mendes; Deputado Estadual.http://www.chicomendes.org/chicomendes01.php
Comitê Chico Mendes; Chico no Exterior.
http://www.chicomendes.org/chicomendes01.
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