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uMa NOVa escOLa<br />
Para NOssOs jOVeNs<br />
Quem é o jovem <strong>de</strong> hoje e como a escola se prepara para se relacionar com ele? Quais os<br />
espaços <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> juvenil e qual o papel do ambiente escolar nesse<br />
processo? Essas e outras questões foram apresentadas pela professora Carla Linhares<br />
Maia, em uma vi<strong>de</strong>oconferência realizada no dia 4 <strong>de</strong> abril a partir do Colégio Imaculada<br />
Conceição <strong>de</strong> Belo Horizonte para todas as outras obras e escolas da Re<strong>de</strong> <strong>Filhas</strong> <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong>.<br />
Carla Maia é graduada em História, doutoranda em educação e membro do Observatório da<br />
Juventu<strong>de</strong> na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Trabalhou<br />
como professora do ensino fundamental e médio por 15 anos e hoje atua na formação <strong>de</strong><br />
educadores. Carla conce<strong>de</strong>u a seguinte entrevista à revista EM REDE:<br />
1. Po<strong>de</strong>mos dizer que o “mundo dos jovens”<br />
está distante do “mundo da escola”? Ou, em outras<br />
palavras, que o que a escola oferece e propõe não<br />
correspon<strong>de</strong> aos reais interesses dos estudantes?<br />
É difícil respon<strong>de</strong>r a essa pergunta <strong>de</strong> forma simples,<br />
já que envolve uma relação <strong>de</strong> estudantes e escola, que<br />
vem <strong>de</strong> longa data e que é preciso ser bem compreendida.<br />
Em primeiro lugar, é importante dizer que o mundo do<br />
jovem está na escola, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Pesquisas mostram<br />
que gran<strong>de</strong> parte da população juvenil está presente na<br />
escola, principalmente no Ensino Fundamental, sendo que<br />
no Ensino Médio essa a<strong>de</strong>são é um pouco menor. Mas é<br />
no ambiente escolar que crianças e jovens passam a maior<br />
parte <strong>de</strong> seu tempo. Durante o dia, passam <strong>de</strong> quatro a<br />
quatro horas e meia e, se pensarmos em termos da vida,<br />
as crianças, adolescentes e jovens passam gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong><br />
seu tempo nesse espaço escolar.<br />
Por outro lado, esses jovens se encontram, também,<br />
fora da escola. O mundo é muito maior e mais amplo<br />
do que o ambiente escolar; extrapola o universo da<br />
escolarização. O mundo apresenta uma gama variada <strong>de</strong><br />
vivências culturais, sociais, políticas, entre outras, que nem<br />
sempre são gestadas <strong>de</strong>ntro da escola. É preciso consi<strong>de</strong>rar,<br />
ainda, que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> jovens <strong>de</strong>ixam a escola,<br />
e o fazem, muitas vezes, porque não se interessam pelo<br />
que a escola lhes oferece. Pesquisas mostram que muitos<br />
jovens afirmam que a escola não lhes oferece aquilo que<br />
eles necessitam.<br />
Como eu disse, é um cenário complexo: <strong>de</strong> um lado<br />
há um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> jovens que permanecem e<br />
valorizam a escola, como espaço que aten<strong>de</strong> a seus anseios<br />
e projetos <strong>de</strong> vida. Esses jovens valorizam a escola porque<br />
ela lhes confere certificação, é um espaço <strong>de</strong> prazer, <strong>de</strong><br />
socialização, com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar seus pares e<br />
amigos. De outro lado, há aqueles que não têm interesse<br />
pelo que ela lhes oferece.<br />
6 Em Re<strong>de</strong> <strong>Filhas</strong> <strong>de</strong> <strong>Jesus</strong> - Ano IV - Número 06 - 2009<br />
A escola não po<strong>de</strong> ser pensada como uma instituição<br />
total que dá conta <strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>mandas da juventu<strong>de</strong>,<br />
como transferência <strong>de</strong> saber, socialização, espaço <strong>de</strong><br />
preservação e transmissão do acervo cultural e histórico.<br />
Nenhuma instituição po<strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r por todas as<br />
<strong>de</strong>mandas. O que acontece é que a escola <strong>de</strong>ixa a <strong>de</strong>sejar<br />
e acaba dialogando pouco com as outras instituições,<br />
que po<strong>de</strong>m completar o que lhe falta. A meu ver, a escola<br />
precisa repensar os modos como se relaciona com os outros<br />
saberes, com os gestores <strong>de</strong> outras instituições e espaços<br />
sociais e culturais. Mais do que isso: precisa dialogar com<br />
os próprios estudantes para saber quais são seus outros<br />
espaços <strong>de</strong> vivência e experiência. Ela necessita perceber<br />
quais são as especificida<strong>de</strong>s do ambiente escolar para<br />
melhor se posicionar no cenário complexo on<strong>de</strong> se insere<br />
a juventu<strong>de</strong>.<br />
2. Qual <strong>de</strong>ve ser o caminho para que a escola seja<br />
um espaço que acolha a juventu<strong>de</strong> contemporânea em<br />
toda a sua complexida<strong>de</strong>?<br />
Não há uma resposta <strong>de</strong>finitiva, completa para essa<br />
pergunta. Na verda<strong>de</strong>, há vários caminhos e várias pistas a<br />
serem seguidos. Não há nenhuma instituição que dê conta<br />
<strong>de</strong> todas as <strong>de</strong>mandas e que consiga respon<strong>de</strong>r a todas as<br />
questões. O mais importante é, antes <strong>de</strong> mais nada, a escola<br />
se reconhecer como uma entre tantas outras instituições e<br />
experiências sócio-culturais existentes, para dialogar com<br />
elas. É preciso abrir-se para o diálogo, para ir ao encontro e<br />
conhecer outros espaços <strong>de</strong> vivência e expressão juvenis.<br />
E, assim, i<strong>de</strong>ntificar aquilo que lhe é específico: um espaço<br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento, transferência <strong>de</strong> saber,<br />
espaço <strong>de</strong> reflexão e socialização etc. É preciso repensar<br />
métodos <strong>de</strong> ensino e aprendizagem e, mais do que isso,<br />
repensar o discurso e a relação que estabelece com os<br />
jovens em toda sua rica diversida<strong>de</strong>. Enfim, percorrer esse<br />
caminho só será possível a partir <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong><br />
conhecer as tantas experiências que estão dando certo.<br />
Projetos <strong>de</strong> escolas e re<strong>de</strong>s públicas, Organizações Nãogovernamentais,<br />
como a Ação Educativa, <strong>de</strong> São Paulo.